Médico filmou suicídio assistido de mulher saudável
ALEMANHA
Um médico alemão ajudou uma mulher saudável a suicidar-se. Indicou-lhe a combinação
exacta de drogas a ingerir, filmou os últimos momentos da vida de Bettina Schardt e mostrou o filme numa conferência de imprensa. A controvérisa está instalada. O caso desencadeou uma tempestuosa controvérsia, não só pela maneira como o Dr. Roger Kusch divulgou o seu papel naquela morte - convocando uma conferência de imprensa onde divulgou alguns dos últimos momentos de Bettina - mas também pelas razões do suicídio. Bettina, de 79 anos, não sofria de dores crónicas nem de doença terminal. Era saudável e apenas queria evitar ser internada num lar. Seguindo a combinação sugerida pelo médico, Bettina Schardt ingeriu as drogas na sala de estar de sua casa em Würzburg, na semana passada, e ali morreu sozinha, diante de uma câmara de filmar. Cinco dos 16 estados alemães vão pressionar o Governo federal, esta sexta-feira, para que restrinja as leis que permitem o suicídio assistido, depois de um médico ter revelado como instruiu uma mulher saudável a matar-se. A iniciativa legislativa que esta sexta-feira será desencadeada por cinco dos 16 "länder" alemães para que sejam restringidas as leis que autorizam o suicídio assistido visa tornar ilegal que as empresas façam lucro ensinando as pessoas a suicidarem-se. A chanceler Angela Merkel, que lidera a conservadora União Democrática Cristã (CDU), disse na quarta-feira a uma televisão alemã que se opõe ao suicídio assistido "qualquer que seja a forma de que se revista". No entanto, políticos progressistas alertaram contra a alteração precipitada das leis vigentes. "Nada de decisões-relâmpago", disse Peter Struck, líder parlamentar dos sociais-democratas do SPD. "Nada de leis imediatistas que depois redundam em nada." O suicídio não é ilegal na Alemanha, nem o suicídio assistido. No entanto, a morte misericordiosa e a eutanásia acarretam um forte estigma no país por causa dos programas eugénicos nazis que eliminaram mais de 70 mil deficientes mentais e físicos antes e durante a II Guerra Mundial. Kusch, médico em Hamburgo e antigo senador estadual, indicou a Bettina a quantidade adequada da droga antimalárica cloroquina e do tranquilizante diazepam para produzir a mistura fatal que a deixou inconsciente e em seguida lhe parou a respiração. O médico não lhe administrou as drogas, pelo que não infringiu qualquer lei alemã. Disse aos jornalistas, em Hamburgo, que instalou a câmara e deixou-a sozinha. "Disse-lhe adeus e saí", declarou Kusch. Mostrou também fragmentos do vídeo em que Bettina confirmou que estava a pôr voluntariamente termo à vida. Num bilhete de despedida a Kusch, Bettina assegurava que tinha planeado a sua própria morte "sorridente e de forma sistemática". "Se esta minha maneira de morrer o ajudar na sua luta, o objectivo da minha vida – conseguir a liberdade de morrer com dignidade - terá sido atingido", escreveu Bettina Schardt.