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NA ATUALIDADE
Resumo
Com a expansão da internet, concentrada nas redes sociais, começou-se a novas formas de o sujeito
produzir sua subjetividade. Desta forma, o presente trabalho visa investigar o lugar das redes na
produção subjetiva dos seus usuários. Com base no exposto, desenvolveu-se uma pesquisa
bibliográfica, em bancos de dados como Scielo e Pepsic, de caráter qualitativo, para a busca de
conhecimentos básicos sobre o tema. Buscou-se identificar como as redes sociais se introduzem na
construção psíquica dos usuários. Os resultados obtidos possibilitaram analisar e refletir sobre como
as redes podem ser importantes aliados para a elaboração de sofrimentos psíquicos.
Palavras-chave: Redes sociais; Subjetividade; Psicologia.
Abstract
With the expansion of the internet, focused on social networks, new forms of subjectivity began
to be produced by the subject. In this way, the present work aims to investigate the place of
networks in the subjective production of its users. Based on the above, a bibliographic research
was developed, in databases such as Scielo and Pepsic, of qualitative character, to search for
basic knowledge about the subject. Sought to identify how social networks are introduced in
the psychic construction of users. The results obtained allowed to analyze and reflect on how
networks can be important allies for the elaboration of psychic sufferings.
Keywords: Social networks; Subjectivity; Psychology.
INTRODUÇÃO
Atualmente, 26% da população mundial têm acesso a internet, o que corresponde a 1,7
bilhão de pessoas, segundo o Relatório Anual da União Internacional de Telecomunicações
(FOLHA.COM, 2010). As redes sociais acompanham esse crescimento com um número
significativo de usuários, pois a cada cinco internautas, quatro se relacionam em sites pela
internet, além de atrair mais de 1,5 bilhões de pessoas em todo o mundo. As redes sociais vêm
se transformando em uma nova forma de ser e estar na sociedade. A partir de perfis virtuais, os
indivíduos podem construir identidades de acordo com seus valores e preferências,
selecionando o que será exposto ou omitido sobre si mesmos, num processo de estetização do
self, priorizando aspectos positivos destes usuários, o que intensificou a constituição de
identidades múltiplas.
Sabe-se que o sujeito necessita se relacionar com as demais pessoas, e, na atualidade
essas relações podem ocorrer de diversas maneiras, como através do contato interpessoal em
diversos contextos, como vizinhança, escolas, grupos políticos, religiosos, entre outros. Um dos
principais meios, se não um dos principais, é o meio virtual, através da internet, das mídias
sociais e das redes sociais.
As redes sociais vêm se transformando em uma nova forma de ser e estar na sociedade.
A partir de perfis virtuais, os indivíduos podem construir identidades de acordo com seus
valores e preferências, selecionando o que será exposto ou omitido sobre si mesmos, num
processo de estetização do self, priorizando aspectos positivos destes usuários, o que
intensificou a constituição de identidades múltiplas.
O avanço da tecnologia trouxe mudanças em todos as áreas da vida humana, afetando
as relações sujeito-mundo e originando novas subjetividades. A internet e as redes sociais
inovaram as formas de acesso ao saber e à comunicação, trazendo a possibilidade de o sujeito
se relacionar virtualmente com pessoas de todo o mundo e construir identidades.
Diante dessa gama de possibilidades de ser e estar no mundo virtual surge então a
questão desta pesquisa: Qual o lugar das redes sociais no processo de subjetivação do sujeito
na atualidade? O propósito deste artigo é lançar um olhar sobre o lugar que as redes sociais vêm
ocupando na vida das pessoas e no processo de construção da subjetividade. Sua ênfase recai
sobre o modo como essas relações virtuais engendram novos processos de subjetivação
fortemente transformados e que abrem margem para a produção de uma nova forma de ser e
estar no mundo.
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METODOLOGIA
DISCUSSÕES
de informações e a descentralização das mesmas, para que, caso houvesse uma invasão, tais
informações não fossem perdidas. Tal sistema hoje é conhecido como a internet.
Em seu início, a internet era mais utilizada para compartilhamento de informações e
pesquisas acadêmicas, sendo a década de 1990 marcada pelo seu advento, onde cada vez mais,
mais pessoas puderam ter acesso a esse veículo. Nessa época, alguns grupos de mídia
começaram a emergir, como por exemplo, jornais.
Segundo o dicionário Michaelis, mídia se refere a todos os veículos de propagação de
informações e entretenimento que estabelecem algum tipo de influência sobre as pessoas, como
revistas, jornais, cinema, internet, telefones, e até mesmo a imprensa. Segundo Silveira (2004),
a mídia foi instituída como um meio de comunicação em massa, inserida no nascimento de uma
sociedade de massa no final do século XIX. Assim, pode ser entendida como um sistema em
constante mudança, onde diversos veículos exercem diversos papéis. No entanto, aqui, o
sujeito, na maioria das vezes, apenas recebe a informação, não há muitas oportunidades de
troca. Por outro lado, as mídias sociais foram pensadas para permitir a divulgação de conteúdos
enquanto é estabelecida a interação com outras pessoas, ainda que essa interação seja em
segundo plano, como por exemplo, redes sociais, blogs, wikis, entre outros.
Diferente do que pensamos, as redes sociais não são oriundas da internet, surgiram para
prover a necessidade do sujeito de criar vínculos com os demais, e compartilhar experiências e
interesses. Até o boom da internet na década de 1990, o e-mail era a única forma de
comunicação virtual. Apesar de não ser uma rede social, foi a partir dele que se percebeu a
necessidade de inventar um meio mais globalizante, sendo criado o chat. A partir do chat vieram
outras redes sociais, como o MSN Messenger, Skype, MySpace, Orkut, Facebook, Twitter,
entre outros. Também surgiram redes sociais com assuntos mais específicos como o LinkedIn,
Flickr, Pinterest, entre outros.
As redes sociais (e a internet) como novo espaço para produção de conteúdo subjetivo
Desta forma, as redes sociais viabilizam uma nova forma de socialização, diferente das
viabilizadas em outros espaços, ligada à circulação da informação e do conhecimento. onde a
comunicação face a face tem sido cada vez menos frequente. Diante disso, Santos; Cabestré;
Moraes (2011) esclarecem que a internet se tornou bastante acessada devido ao fato de as
pessoas poderem vivenciar novos contextos.
Ao ingressar em um ambiente como o das redes sociais, tal como salientaram Nicolaci-
da-Costa (2005a) e Rosa; Santos (2013, 2014), o sujeito além de ter a oportunidade de se
relacionar independentemente dos limites de tempo e de espaço, tem, também, a possibilidade
de se apresentar a partir de diferentes narrativas sobre si mesmo, narrativas essas que podem
ser verdadeiras ou falsas (os famosos “fakes”), bem como de adquirir autoconhecimento à
proporção em que escreve e é correspondido por seus contatos virtuais.
Essa dinâmica de migração para as redes sociais é vista por Frangoso, Rebs e Barth
(2011) como a organização de uma vinculação de identidade múltipla e conexa; de experiência
formada pelo vínculo com dois lugares, o físico e o virtual. A partir disso, pode-se deduzir que,
embora sejam ambientes diversos, com realidades diferentes, há uma correlação entre o que
ocorre nas redes sociais e fora delas, uma vez que um ambiente alude ao outro e vice-versa
(ROSA & SANTOS, 2013).
Há estudos que apontam que as relações estabelecidas entre os grupos que se formam
dentro e fora das redes sociais é benéfica tanto para o aperfeiçoamento das relações
interpessoais, como também para a promoção do capital social (ELLISON, STEINFIELD, &
LAMPE, 2007; RECUERO, 2005). Apesar de existir um receio de que os relacionamentos
virtuais venham a substituir os relacionamentos tidos como reais e de que haja certo isolamento
social destes usuários, pode-se perceber que essas interações virtuais podem ajudar na
continuidade dos relacionamentos que já existem no mundo real e tendem a fortalecê-los,
quando essas relações não se dão de forma isolada (NICOLACI-DA-COSTA, 2005b).
Mocellin (2007), por sua vez, constatou que os usuários de redes sociais também estão
interessados em procurar amigos e grupos antigos, e, assim, poder recuperar de alguma forma
o passado. Para este autor, as redes sociais não seriam apenas uma maneira de reaver antigas
amizades, mas também de reestruturar a própria identidade com base em uma construção
embasada no apoderamento do passado para que se possa construir o futuro, como propõe
Giddens (2002).
Como observado por Fortin e Araújo (2013), a experiência que os usuários vivenciam
através dos recursos da internet, e pode-se incluir as redes sociais, é como um espaço que
propicia a liberdade e onde os indivíduos navegam, se comunicam e ainda podem utilizar esses
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recursos com fins sexuais. Recuero (2008) sugere que a vinculação a grupos nas redes sociais
é uma forma de revelar e delinear a identidade dos seus usuários.
Podemos compreender que a participação em redes sociais redimensiona a produção
intersubjetiva porque o sujeito pode se relacionar com várias pessoas ao mesmo tempo. Assim,
a grande quantidade de pessoas interagindo simultaneamente é algo novo em relação à
antigamente, onde a presença física era indispensável.
Deste modo, cada sujeito pode vir a ter um “mundo subjetivo” oculto e, ao mesmo
tempo, compartilhado, o qual não é partilhado com todos de sua rede, apenas com pessoas
específicas. Embora há algum tempo atrás já houvesse essa troca na internet e nas redes sociais,
na atualidade, os usuários, além do suporte visual para revelar e dar sentido a esse “mundo
subjetivo”, contam também com o suporte de outros usuários, que podem ser conhecidos ou
não, ao se conectarem e discutirem suas experiências, sentimentos, entre outras questões, com
conteúdo subjetivo. No espaço virtual há, de fato, uma extensão do universo intersubjetivo.
Segundo Baudrillard (1999), o fenômeno da produção de conteúdos subjetivos em redes sociais
traz um fator negativo, como, por exemplo, a oportunidade de fazer parecer real algo que na
verdade não o é, inibe a troca genuína entre os usuários e produz certa ilusão sobre a vida por
meio de simulações.
Nesse cenário, a chamada “estetização do self”, como traz Pinheiro (2008), recai na
exposição de interesses e estilos de vida nas redes sociais. A alienação de si mesmo, a fantasia
referente ao conteúdo emocional que as vivências virtuais adquirem para os usuários, por um
lado, são apontados como possíveis efeitos das redes sociais na subjetividade, a qual provoca
um desapego da fantasia e da imaginação e disfarça o real (FERREIRA-LEMOS, 2011).
Todavia, por outro lado, a divulgação de escolhas advindas da autoidentificação nas redes
sociais também são consideradas um momento no qual o sujeito pode comparar e reconsiderar
suas escolhas, bem como, de experimentar, de modo subjetivo, novas formas de ser e de agir
(NICOLACI-DA-COSTA, 2005b).
O desprendimento subjetivo e emocional que os indivíduos dedicam às atividades que
realizam na internet e nas redes sociais é visto como resultado de um possível mal-estar e de
uma suposta desilusão que o novo aparato tecnológico produz na subjetividade, tal como
enfatizam Gómez e González (2008).
Neste contexto, pode-se considerar que há um mal-estar generalizado que afeta os
indivíduos na atualidade, fazendo com que elas se manifestem e compartilhem o que expõem
nas redes sociais em busca de uma suposta autorrealização plena. Esse sentimento acaba por se
efetivar em uma celebração do que é insignificante, tal como atestam Gómez e González (2008).
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Diante dessa assertiva, fica claro, tal como postula Bauman (2001), com seus conceitos de
fluidez e de vida para o consumo, que as relações entre os indivíduos conectados por redes
sociais, em nível global, aparentam se reduzir ao que é supérfluo, ao consumismo e à satisfação
do prazer. Desta forma, essas novas formas de se relacionar em um ambiente virtual, trazem
um olhar mais amplo do que aparenta ser, uma vez que neste ambiente, viabilizado pela internet
e pelas redes sociais, os indivíduos além de interagir e se inserirem em grupos, reforçam o seu
capital social (ELLISON ET AL., 2007), expõem seus trabalhos, e ainda podem utilizar as redes
sociais para o autoconhecimento (ROSA & SANTOS, 2014A).
Há estudos que apresentam a estetização do self nas redes sociais como um elemento
importante para a produção subjetiva. Segundo Turkle (1997, 2011), a inserção no chamado
mundo virtual não altera somente as relações interpessoais, mas também a forma como se é,
pois há viabilidade de criação de um eu virtual. Neste sentido, os indivíduos tendem, cada vez
mais, a confiar os próprios sentimentos às redes sociais e menos às pessoas mais próximas, se
tornando inseguros nas relações interpessoais face a face e com dificuldade em se sentirem
completos e satisfeitos ao estarem em diversos ambientes. Ainda segundo a autora, os
indivíduos não expõem tudo, apenas algumas informações de suas verdadeiras identidades nas
redes sociais.
Os trabalhos de Nicolaci-da-Costa (1998, 2005a) e de Recuero (2008, 2009) tiveram
grande impacto por evidenciarem, respectivamente: que a expressão do self nas redes sociais e
os desdobramentos subsequentes dessa maneira de se expressar podem, sim, acarretar efeitos
na produção subjetiva dos usuários; que a elaboração e o empoderamento de si mesmo, que as
redes sociais propiciam, agem como uma produção subjetiva semelhante aos antigos diários,
produção essa que vem se apresentando com uma configuração e tomando outra proporção na
atualidade.
Salimkhan, Manago, & Greenfield (2010) e Zhao et al., (2008), trazem que, ao se revelar
e interagir nas redes sociais, os usuários tendem a idealizar ou a elaborar uma nova construção
identitária que se aproxime do ideal de identidade que o sujeito almeja e/ou do que a sociedade
espera como ideal identitário. Já Fonseca (2010) e Neves & Portugal (2011), trazem uma outra
linha de pensamento, onde a criação de perfis corresponde à oportunidade de descobrir a si
mesmo no ambiente virtual e, portanto, retrata aspectos próprios das identidades reais dos
usuários. Neste segundo ponto de vista, pode-se presumir que os usuários procuram, através
das redes sociais, um modo de testar novas formas de ser e até de produzir novas identidades
na internet e nas redes sociais.
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Ainda sobre esse contexto, autores como Corredor, Pizón e Gerrero (2011) ressaltam
que estamos vivendo uma cultura cujo descentralização do self e dos sentimentos de pertença a
um grupo ou comunidade tem sido uma das consequências da globalização e do deslocamento
da interação cotidiana para os dispositivos virtuais. Esses autores destacam ainda que a
existência de um mundo descentralizado dá lugar à produção de identidades que os indivíduos
experimentam para dar lógica à experiência de si. Carrera (2012), por sua vez, acrescenta essa
ideia ao citar o uso de fotos como uma forma de sentido ao que é exposto e a si mesmo, a partir
da reação dos demais usuários que visualizam e comentam os perfis e os conteúdos postados.
Aqui, pode-se salientar a divergência e, ao mesmo tempo, o alinhamento das
possibilidades da manifestação e estetização do self dos usuários que, ao mesmo tempo em que
ressaltam a influência do mercado consumista como elementos alienantes, também destacam a
manifestação, a experenciação ou a estetização do self como fatores relevantes para a produção
subjetiva na atualidade. Como consequência dessas duas linhas de pensamento divergentes e,
ao mesmo tempo, complementares, surge um novo olhar que dá ao outro o poder de legitimar
o que se posta nas redes sociais. Dessa forma, os usuários estariam cada vez mais mergulhando
em um espaço influenciado pelo mercado, onde eles possuem alguma liberdade de se expressar
e estetizar o self a partir dos recursos da internet e das redes sociais.
Ao destacar a compulsão da sociedade consumista, na qual estamos inseridos e que
exerce a sua singularidade sem limites, de criar mais liberdades para o indivíduo, Bauman
(BAUMAN & DESSAL, 2014) destaca que estamos implicados em um movimento oscilante
de valores que alterna entre a celebração da liberdade e a necessidade de se sentir seguro. Assim,
considerando a insegurança e a vulnerabilidade não apenas como habilidades humanas, mas
também como elementos do poder político, Bauman ainda discorre sobre a conversão do medo
originário em medo da autoridade que um homem pode exercer sobre o outro. Em sua opinião,
o princípio do prazer freudiano é estimulado pelo mercado, mas, ao mesmo tempo, o princípio
de realidade cobra sua continuidade e mostra como o indivíduo está sujeito a uma realidade
repressora e insegura que devemos reelaborar a todo tempo.
Dessal (BAUMAN & DESSAL, 2014), por sua vez, ressalta que o legado teórico de
Freud envolve um lugar privilegiado em relação ao conceito de pulsão. O sujeito do
inconsciente, nessa ótica, não goza de nenhuma liberdade no que se refere à busca pelo prazer.
Pelo contrário, é submisso de um impulso que o leva a um prazer de natureza antagônica, prazer
esse que advém da oposição entre a pulsão de vida e a pulsão de morte. Nesse prazer, a partir
da teoria energética de Freud, não há segurança ou bem-estar absolutas. Por isso, nas palavras
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de Dessal, Freud talvez houvesse percebido outra fonte de mal-estar na civilização: a do homem
com ele mesmo.
Diante das várias interrogações decorrentes do não saber, a satisfação, o bem-estar e o
que se entende por felicidade estariam deturpados pelas razões internas da organização da
subjetividade. A inclusão no mundo da linguagem corrompe a essência da necessidade humana,
lançando-a em um ciclo insuportável, segundo Dessal (BAUMAN & DESSAL, 2014). Nas
palavras de Bauman (BAUMAN & DESSAL, 2014), esses constructos freudianos são o maior
e o mais durável de seus ensinamentos que nos permitem falar sobre o indizível:
Através deste diálogo, Dessal (BAUMAN & DESSAL, 2014) afirma que o legado
teórico de Freud nos faz repensar a situação do sujeito diante do abandono inicial e o coloca
diante de perguntas sem respostas, que escapam à compreensão e à realidade objetiva. Podemos
perceber que as nossas primeiras inquietações sobre a oportunidade de elaboração psíquica ao
adentrar nas redes sociais permanecem em aberto. Considerando que o bem-estar só pode ser
concebido, na teoria freudiana, como algo temporário e que o alívio eterno das pulsões de
nossas vidas somente seria possível, como traz Freud, no gozo absoluto, ou seja, na morte
(Moreira, 1995), estaríamos destinados ao fracasso ao procurar também algum tipo de bem-
estar ou de felicidade nas redes sociais.
Para Dessal (BAUMAN & DESSAL, 2014), ainda que o modelo econômico do
capitalismo se mantenha porque absorve favoravelmente os dispositivos da subjetividade, os
objetos vistos como objetos de desejo não conseguem controlar o próprio desejo, que não se
satisfaz jamais com o seu objeto, mas se recarrega e continua em seu eterno movimento em
direção ao nada. Dessa forma, se considerarmos a felicidade e o bem-estar como objetos do
desejo disseminados pelos usuários nas redes sociais, podemos presumir que estaríamos
suscetíveis a uma busca desenfreada que culminaria na frustração.
Essa incansável busca de uma autorrealização, acaba em uma cultura individualista e
narcisista, segundo Lasch (1983). Nesta cultura, os indivíduos concentram seus interesses neles
próprios e na busca pelo seu bem-estar, idealizado na figura do sucesso, do reconhecimento de
suas conquistas e das realizações pessoais às custas do coletivo. O resultado latente dessa busca
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pode ser compreendido como o foco do que entendemos por carpe diem, os indivíduos não
mais se interessam pelo passado ou pelo futuro, transformando essa incansável busca pelo
prazer, o consumismo e, consequentemente, o estilo de vida narcisista em uma condição
humana.
Contudo, Twenge, Konrath, Foster, Campbell e Blushman (2008) trazem uma visão
diferente à de que as opiniões dos demais usuários seriam um fator essencial na produção
identidades e de buscar pela aceitação do outro. Nesta visão, a relação com o outro aconteceria
no imaginário através da criação dos perfis e das postagens, consistindo-se mais como uma
relação do sujeito consigo mesmo do que com o outro.
Em meio a essa concepção oposta, é correto entender que, ainda que haja uma tendência
narcísica de o sujeito querer se fazer presente nas redes sociais, de imaginar um universo de
diversas possibilidades de se exibir e de constituição do self nesse espaço virtual, também é
frequente o uso das redes sociais para observar, sem que o outro, os perfis, os conteúdos
postados e como esse outro se relaciona com os demais. Para ilustrar esse movimento, pode-se
observar um estudo realizado por Chou e Edge (2012), onde eles perceberam que alguns
usuários enxergavam os demais mais felizes e realizados no Facebook que eles próprios. Dessa
forma, podemos compreender que esses movimentos opostos contribuem para a expressão do
self e, ao mesmo tempo, para as relações que se estabelecem com os demais usuários das redes
sociais, transformando-se em um movimento lógico entre a relação identidade-alteridade, que
se expressa em meio às postagens de modo geral, comentários e às interações.
Para respaldar essa assertiva, retorno à Nicolaci-da-Costa (2005a) e Rosa; Santos (2013,
2014), com a premissa de que, com a possibilidade de compartilhar imagens, vídeos e textos e
de receber uma devolutiva sobre o que se é publicado nas redes sociais, há, de fato, um processo
de produção subjetiva e elaboração psíquica por parte dos usuários que procuram, no espaço
virtual, lidar com seus sofrimentos psíquicos.
O espaço das redes sociais é um espaço que favorece a escrita, que pode dar visibilidade
às palavras que nos conduzem ao indizível. Assim, Freud (1914/1991d) afirma que por esse
espaço se constituir como um receptáculo intersubjetivo para os indivíduos, o sujeito tem, então,
um lugar de expressão que pode fazer com que ele recorde e elabore, não apenas a parir da
influência exercida pelos demais usuários, como também sob influência das irregulares
manifestações do desejo. Então, em meio às frustrações irremediáveis e às dificuldades
essenciais à vida, o sujeito do inconsciente acaba encontrando, nas redes sociais, um auxílio
para seus desejos e necessidades, os quais são expostos através da palavra escrita e de imagens.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
tais como conflitos pessoais, lutos e dificuldades particulares de cada sujeito. Assim, pode-se
entender a importância do ambiente virtual na produção dos usuários é, nesse sentido, positiva.
A partir dos resultados obtidos, se faz pertinente compreender melhor como essas
relações virtuais, os indivíduos estão fisicamente separados, é experenciada psiquicamente e
como a continuidade dessas relações são elaboradas subjetivamente por esses indivíduos que
produzem versões de si mesmos nas redes sociais. Tal compreensão pode nos auxiliar, enquanto
profissionais do tratamento psíquico, para que possamos nos aproximar desses usuários, através
das ferramentas utilizadas por eles, de forma a promover o bem-estar psicossocial desses
usuários e promover a melhora do seu convívio social.
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