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CURSO DE PSICOLOGIA
BRASÍLIA
Novembro / 2001
Luiz Anísio Vieira Batitucci
BRASÍLIA
Novembro / 2001
SUMÁRIO
Auto-registro................................................................................................................. 25
Biblioterapia ................................................................................................................. 27
Referências Bibliográficas........................................................................... 40
RESUMO
escolher uma fundamentação teórica sob a qual tal análise será feita. Este trabalho está
Comportamento como ciência e Behaviorismo Radical como filosofia desta ciência. Cabe,
da psicologia são da mesma natureza, têm as mesmas dimensões que os demais fenômenos
do mundo físico ao nosso redor; b) isto vale também para os fenômenos psicológicos
chamados de privados, os eventos que não se apresentam para estudo como a maioria dos
fenômenos do mundo ao nosso redor; c) ao tratar com tais fenômenos, a psicologia não
ciências que estudam o mundo ao nosso redor também lidam com coisas que não podem
ver ou medir diretamente; e d) estes fenômenos não exigem métodos especiais para que
Behaviorismo Radical: o modelo causal de seleção por conseqüências. “Em linhas gerais,
inserido. Ao contrário do que muitos acreditam, o Behaviorismo Radical não propõe que o
homem seja produto do meio em que vive, mas que ele seja produto da interação com o
meio em que vive, ou seja, ele age sobre o meio e sofre a ação desse meio de forma
para quem busca uma melhoria na qualidade de vida. Nesta concepção, segundo Todorov
(1981), o homem é visto como parte da natureza, não está acima dela como supunham os
A idéia de interação entre o indivíduo e o meio também amplia a idéia de liberdade do ser
humano, já que não o limita a responder a estímulos como propunha Watson em 1913, nem
a agir determinado por um mundo inacessível a ele, mas de mostrar a possibilidade que o
homem tem de se modificar, modificando o meio em que vive, escolhendo sob quais
forma de ver o homem não como um ser pré-determinado a ser como é, mas um ser que
A Análise do Comportamento
porquê do homem fazer o que faz. As explicações que delegam as causas do que o homem
pesquisa pois põem um ponto final na busca de respostas sobre as variáveis envolvidas na
relação do homem com o seu meio. Visto que é fácil observar os próprios sentimentos e
estados internos, torna-se igualmente fácil supor que são estas as causas do
comportamento. Sendo assim, muito pouco poderia ser feito para readaptar um indivíduo
com comportamentos ditos anormais, já que não seria possível ter acesso ou promover
mudanças nesses estados mentais. Algumas questões poderiam ser lançadas para uma
reflexão sobre o assunto: Qual a vantagem de dividir o homem em corpo x mente? Como
saber até que ponto suas ações seriam mediadas pelo corpo e pela mente, para que seja
possível estudar e agir de forma eficaz em casos de intervenção terapêutica? Seria mais
viável ver o homem como um ser integral, um organismo completo e capaz de interagir e
ser ativo no seu processo de desenvolvimento, capaz de aprender com sua história e a
história de sua espécie e, com tudo isso, ainda ser capaz de ser estudado e entendido com
fazem previsões acerca do que outras pessoas farão, comportando-se de acordo com essas
previsões. Skinner (1978), segundo Todorov (1982), parte da constatação deste senso de
comportamentos de uma forma mais precisa, descrevendo leis que atuam sobre os
regido por leis não é o mesmo que dizer que as leis que o governam são tão simples ou
‘mecânicas’ quanto aquelas que se aplicam ao funcionamento de uma geladeira” (p. 202).
Essa passagem do livro Sobre o Behaviorismo de Skinner deixa claro que a ciência do
teóricos, mas procura entender como esse homem interage com o meio em que vive.
meio deve especificar três aspectos: a ocasião na qual a resposta ocorre; a própria resposta;
contingência.
simplificação do que ocorre no cotidiano (ambiente natural), mas um modelo que utiliza o
buscando descobrir leis e princípios gerais que estão presentes nas ações recíprocas entre o
meio ambiente e organismos (Gomide, 1998). Ela é, como resume Honing (1966 em
Todorov, 1982), caracterizada pelo uso conjunto dos seguintes aspectos: “estudo intensivo
resposta repetitiva que produz pouco efeito imediato no ambiente; meios eficazes de
Comportamental, Rangé (1988) tenta defini-la de uma forma muito objetiva como segue:
assume que essa aprendizagem ocorre dentro de um modelo social em que o indivíduo está
do seu afastamento das normas sociais do grupo referencial, ou seja, é uma análise
que uma avaliação – por parte do psicólogo e do cliente - possa ser feita a qualquer
instante.
Conceituando autoconhecimento
o prefixo auto pode ter como significado: de si mesmo. Dessa forma pode-se estabelecer
uma relação entre esses conceitos, sendo ela: autoconhecimento como ato ou efeito de
p. 170).
uma questão para reflexão: O homem pode conhecer-se melhor isolando-se do mundo
social em que vive, ou observando-se interagindo com este mundo? Esta não é uma
questão muito simples de ser respondida, alguns poderiam dizer que estando isolado o
homem poderia observar-se melhor sem a interferência de outras variáveis, “teria mais
tempo para ele mesmo”. Outros poderiam dizer que se isolando não poderia conhecer-se
melhor do que em sociedade, visto que ao isolar-se estaria observando-se em uma condição
diferente, ou seja, ele iria obter um autoconhecimento no contexto de isolamento e não no
são estados corpóreos - através da mediação verbal das pessoas que estão ao seu redor, o
que Skinner (1974) denomina comunidade verbal. Essa comunidade verbal desenvolve
respeito dos comportamentos manifestos porque a comunidade verbal tem acesso a eles e
afirmações sobre eventos internos como: “O que você está sentindo?”, “Está com dor?”,
“Você parece deprimido”, “Está com medo?”. Apesar do indivíduo ter acesso a estes
autodescritivas dos mesmos, visto que não tem parâmetros de comparação entre o que o
indivíduo realmente está sentindo e o que ele está descrevendo, utilizando-se para isso de
dificuldades para dizer de que tipo de dor se trata. Por um lado, ele
precisão o que ele sente e, por outro lado, como isto decorre da falta
na verdade não ‘conhece’ com precisão o que ele está sentindo. ... A
que ele talvez esteja exagerando; talvez esteja apenas ‘triste’ ou então
sentimento e isso é inegável, o difícil é duas pessoas terem os mesmos conceitos sobre um
determinado sentimento de forma que possam comunicá-lo satisfatoriamente. Para que isso
perante a comunidade verbal. Outra questão importante a ser refletida: é mais importante
ocorre?
pessoa como ou o que ela está sentindo, porque as palavras que ela
vive, e podendo modificá-lo, parece que há uma maior probabilidade dele modificar o
meio quando conhece sob quais condições sente o que sente (quando, onde, com quem, de
que forma, etc.), melhorando assim sua qualidade de vida, do que simplesmente
outros indivíduos, mas mesmo assim só irá descrever em parte o que é sentido e não
ocorre, as pessoas podem ter acesso a condições semelhantes e compreender com mais
importância também no contexto clínico. Uma pessoa que diz estar “desesperada” pode
dizê-lo quando não sabe o que comprar de presente para o filho que faz aniversário no dia
seguinte, ou dizê-lo quando está desempregada e repleta de dívidas. Mesmo sabendo sobre
esse “quadro”, uma pessoa “desesperada” por não saber o que comprar para o filho pode
estar sofrendo muito mais e necessitando mais de auxílio terapêutico que a outra que está
mas estar passando por situações muito distintas que exigem comportamentos distintos
terapia, pois o cliente vai estar descrevendo sentimentos e o psicólogo deve buscar
entender sobre estes sentimentos segundo o ponto de vista do cliente, ou seja, fazendo uma
análise funcional das condições em que o comportamento ocorre e estando atento às
funções das palavras usadas pelo cliente. Como então a Terapia Comportamental pode
auxiliar uma pessoa que busca um autoconhecimento? Esse assunto será abordado no
próximo capítulo.
AUTOCONHECIMENTO EM UM CONTEXTO CLÍNICO
buscam quando se referem a ele, e como alcançá-lo? Quando alguém busca seu
autoconhecimento, normalmente quer saber mais sobre sua relação com as outras pessoas e
com o mundo; como pode aproveitar melhor o seu potencial; como enfrentar seus medos e
obstáculos da vida; o porquê da sua forma de agir, pensar e sentir; ou seja, como pode
extrair o máximo de felicidade da sua vida. Como sugere Torós (1997), não cabe à terapia
ferramentas com as quais poderá valer-se na sua vida diária. Como diria um ditado
popular: “não é dar o peixe, mas ensinar a pescar”, e isso é feito aproveitando as próprias
cliente tem uma função” (Delitti, 1997, p.39). Um ponto importante a ser observado é que
vive - foi selecionado pelas suas conseqüências - cabendo ao terapeuta descobrir o porquê
indivíduo. Comportamentos podem ser inadequados vistos socialmente, mas podem ser a
única alternativa que o cliente encontrou para se afastar de eventos aversivos (isolamento
social, apanhar, etc) ou para se aproximar de eventos reforçadores (como carinho, afeto,
mais reforçadoras.
(1974).
(Barbosa, 1994)
uma auto-observação e sofrem muitas vezes por desconher as razões de seu agir, pensar ou
sentir. É muito comum ouvir dizer que são desta ou daquela forma e por isso não podem
fazer muito para mudar. Algumas vezes buscam a terapia na tentativa de se sentir melhor e
informações mais precisas para a sua análise funcional, podendo intervir de uma forma
Não quer dizer que ele deva saber descrever todas as contingências envolvidas em sua
não implica necessariamente em conseguir descrever - mas que possa entender que se
tornou o que é a partir das experiências que viveu, e que sua forma de interagir com o meio
vai ser de grande importância sobre o que ele será no futuro. É a idéia de interação
auto-observação, são perguntas que geralmente contêm as palavras: quando, desde quando,
clientes, estas não são perguntas muito fáceis de serem respondidas e cabe ao terapeuta
como reforçando aproximações sucessivas de uma resposta cada vez mais precisa e
completa.
Algumas tarefas para casa também podem ter um bom resultado. São
Baseando-se nestes dados, o terapeuta pode pedir que o cliente varie gradualmente a
reforçados no ambiente natural e, dessa forma, sua freqüência será aumentada. Novas
variações graduais podem ser sugeridas até que um comportamento mais adaptado possa
ser emitido.
para que ocorram mudanças. Não é só por saber sobre as contingências que controlam seu
comportamento que o indivíduo vai conseguir reagir no sentido de mudar sua forma de
interagir com o mundo, mesmo porque muitas vezes as pessoas têm idéia do que controla
seus comportamentos e nem por isso conseguem melhorar sua relação com o meio. O
experiências com as quais ele poderá ampliar o seu repertório, selecionando novos
longo de sua história tornaram-se aversivos e que hoje geram reações emocionais
desagradáveis. “A terapia consiste, não em levar o paciente a descobrir a solução para seu
problema, mas em mudá-lo de tal modo que seja capaz de descobri-la.” (Skinner, 1998,
p.417).
possibilidade de que o cliente passe por experiências pelas quais não passou (algumas
dessas técnicas, seus objetivos e fundamentos, serão analisadas no próximo capítulo). Mas
como saber quais as experiências que são mais apropriadas para o indivíduo? Como
auxiliá-lo a superar o medo que muitas destas experiências podem provocar? Daí a
importância de uma análise cuidadosa da forma com que o cliente aprendeu a interagir com
o seu meio, quais os passos que já deu e suas conseqüências, e quais os primeiros passos
que podem ser dados para que a mudança ocorra de forma gradual e sempre orientada
A análise funcional
p.39)
conseqüências, em certos casos pode até parecer que não têm relação e que não tem motivo
contexto clínico depende dos relatos do cliente para sua análise funcional, esta dificuldade
verbal adquirido pelo cliente - repertório esse também selecionado por suas conseqüências;
faz pela análise funcional que, em clínica, envolve pelo menos três
os requisitos de que falam Malerbi e Matos (2000) para a formulação de uma interação
entre um organismo e o seu meio: a ocasião na qual a resposta ocorre; a própria resposta; e
Reforçamento social,
livros que contêm
escola que contam os amigos riem e dizem
piadas. Contar piadas
piadas que [S] é muito legal
para os amigos
e descontraído.
Alguns amigos gostam e
Presente
Supondo, neste exemplo, que [S] tem uma queixa de “não conseguir parar
de contar piadas”, e com isso ele afasta algumas pessoas que são, de certa forma,
importantes para ele. Conhecendo um pouco mais da história de [S] descobre-se que há
alguns anos o seu grupo social reforçava muito o seu comportamento de contar piadas
(instalação do comportamento), e que hoje nem sempre é bem sucedido com este
comportamento). Pode ser que [S] não tenha conseguido discriminar em que situações ele é
análise funcional pode-se ter uma maior clareza destes contextos. Em alguns casos, o
simples questionamento do terapeuta a respeito das situações em que ele agrada mais os
amigos, as situações em que afasta pessoas importantes para ele - quando, com quem,
onde, etc - pode ser suficiente para que discrimine as situações mais apropriadas para a
emissão deste comportamento e comece a interagir com o seu meio social de uma forma
mais adequada, sendo reforçado naturalmente neste meio. [S] dizer que não consegue
deixar de contar piadas pode estar relacionado ao fato de que a probabilidade dele ser
reforçado, na maior parte das vezes, é grande (reforçamento intermitente – não é fácil
comportamento pode ser dito adequado ou inadequado visto de forma isolada, e a análise
importante lembrar que nenhum comportamento pode ser definido em termos simples de
behaviorismo radical enfatiza o contexto e o significado. Tire algo do seu contexto e ele
perderá o seu significado. Ponha este algo em um novo contexto e ele significará outra
profissões, como a educação, a medicina e o esporte, têm suas técnicas sem por isso serem
executar ou fazer algo”. Pode-se dizer então que técnica em terapia comportamental é um
passar por experiências não tão novas, mas com um repertório mais adaptado e com
maiores possibilidades de reforço. Visto que cada um possui uma história própria, as
técnicas devem ser dinâmicas, adaptadas a cada contexto e a cada cliente, caso contrário
Se um cliente tem medo de dirigir, não adianta fazê-lo acreditar que é fácil
ou que milhares de pessoas dirigem sem problemas, nem somente remover o seu medo
eliciadas pelo contato com este evento, como o seu meio social interfere nisso. Se o medo
ampliando seu repertório, são grandes as chances dos mesmos comportamentos serem
pelo seu grupo social, também devem ser levadas em consideração as reações deste grupo
Por mais completa que seja, a análise funcional não contém todas as
variáveis que estão envolvidas nos comportamentos do cliente. Sabendo disso, o terapeuta
deve estar atendo aos indícios de que algumas variações do comportamento do cliente
podem não ser reforçadas pelo seu ambiente e até mesmo punidas. Estas questões devem
ser colocadas para o cliente, e alguns repertórios para lidar com as mesmas devem ser
estabelecidos ou fortalecidos.
mas que só devem ser empregadas após uma análise minuciosa do problema ou problemas
Entende-se então que o uso de técnicas em um processo terapêutico, quando este for
necessário, deve ser contextualizado. Deve-se trabalhar com o cliente quais os objetivos
resultado obtido, sinalizando cada aproximação bem sucedida e comentando com o cliente
como ele reagiu à técnica, seus sentimentos, receios, sucessos, fracassos, o que esperava e
o que obteve.
esta razão, para muitos profissionais o uso de técnicas aversivas é uma das características
dos behavioristas mas, segundo Rangé (1988), estas não são de exclusividade deles, apesar
termos são claramente definidos. Mas isso não quer dizer que as técnicas utilizadas devam
ser aversivas, pelo contrário, o uso de procedimentos aversivos se faz necessário quando
resultantes destes procedimentos forem superiores aos custos. Em alguns casos, como em
certos comportamentos auto-destrutivos, elas podem ser a única alternativa e, como bem
descreve Rangé (1988), nestes casos “tem sido inclusive defendida a idéia de que, ao
contrário, anti-ético seria não utilizá-las, uma vez que não seria aceitável ter conhecimento
de um procedimento efetivo para modificar um mal reconhecido pela própria pessoa ou seu
exigiriam uma análise muito mais ampla e contextualizada, pode ser visto no filme
“Laranja Mecânica”, no qual procedimentos aversivos foram empregados deixando o
indivíduo sem repertório para lidar com situações simples do dia-a-dia. Como já foi
estabelecer um repertório bem adaptado para que o indivíduo possa extrair do seu meio o
necessário para sua sobrevivência. Além disso, existem muitas formas de se eliminar um
comportamento mal adaptado, sendo que o uso de técnicas aversivas é apenas uma delas.
coerção estão agora descobrindo que têm de se defrontar com as conseqüências de seu
qualquer observador experiente da conduta fora do laboratório sabe que a coerção, se não
puder ser enfrentada de qualquer outra maneira, finalmente gera contracontrole” (p.23). O
autor ainda afirma que o uso de punição pode ser necessário em casos de emergência (por
exemplo segurar uma pessoa com comportamento autodestrutivo), mas será sempre um
de Skinner - que sempre deu ênfase aos procedimentos não aversivos; este trabalho vai
das técnicas existentes, foram selecionados apenas alguns exemplos mais generalizados
muitas técnicas específicas para lidar com problemas específicos como transtornos
alimentares, disfunções sexuais, inabilidades sociais, incontinência urinária, dentre outros
cliente.
Auto-registro
simplificada do cliente fazer sua própria análise funcional, servindo também de subsídio
juntamente com o cliente e pedir que registre, quando ocorrerem, o que acontecia à sua
volta, quem estava presente, como as pessoas estavam agindo, o que sentia, o que pensava,
o que aconteceu após o comportamento ser emitido, o dia e o horário, etc. Caso o cliente
mudanças físicas no ambiente, etc) pode ser suficiente para que o cliente discrimine as
relações funcionais destas ações, já que as variáveis envolvidas estarão em destaque. Pode
favoráveis, ou que determinados comportamentos não produzem efeitos tão bons quanto
imaginava e que outros são muito mais eficazes do que supunha. Dessa forma, mesmo que
elaborar hipóteses e questionamentos que serão analisados com o terapeuta no decorrer das
de um repertório mais eficiente para a sua vida, uma vez que muitos comportamentos
seja, pode-se inicialmente pedir que o cliente registre a freqüência com que o
comportamento ocorre, por exemplo: quantos maços de cigarro fuma por dia e quais os
horários. Novos pedidos de registro podem ser feitos solicitando que registre, além dos
horários, o que sentia e pensava enquanto fumava, os locais e ocasiões em que mais
manutenção, não adianta pedir que o cliente registre os dados enquanto trabalha e é
cobrado pelo chefe que termine suas tarefas; ou quando chega cansado do trabalho e não
pensa em outra coisa a não ser tomar um banho, lanchar e dormir; nem mesmo quando tem
outros eventos concorrentes mais reforçadores como festas ou grupos sociais. Dessa forma
esquivar, ou até faria um registro sem muito cuidado apenas como forma de esquiva das
cobranças do terapeuta, em ambos os casos o auto-registro poderia ser ineficaz. Uma forma
de facilitar o registro é pedir que o cliente tenha sempre à mão um bloco de papel ou
caderneta onde possa, quando achar conveniente, anotar os dados solicitados (no ônibus,
Biblioterapia
etc). Segundo Caballo (1999), alguns requisitos devem ser considerados para uma
utilização com êxito da biblioterapia, dentre eles: habilidades de leitura que sejam
É interessante que o terapeuta tenha lido ou que leia junto com o cliente o
material sugerido, para que possam tirar um proveito maior. O terapeuta pode sugerir que o
cliente faça relações do que foi lido com sua vida, modelos bem ou mal sucedidos,
soluções de problemas, etc. O feedback do cliente pode auxiliar o terapeuta a formar uma
resposta contrária a essa ansiedade (por exemplo: relaxamento). Rimm e Masters (1974,
em Caballo, 1999) tecem algumas considerações que devem ser observadas antes da
aplicação desta técnica. Uma delas é saber se o medo em questão é racional (subproduto de
perigos reais) ou é irracional (quando o indivíduo tem a habilidade de enfrentar a situação
1999, p.175).
Em todos os casos, é necessário que a resposta de relaxamento seja mais forte do que a
resposta aversiva condicionada, caso contrário pode ocorrer o inverso, ou seja, o cliente
medo específico, ordenada do evento menos aversivo (por exemplo falar sobre o objeto
temido) para o mais aversivo (por exemplo o contato direto com o objeto temido);
cliente;
que pense no primeiro item da hierarquia (o terapeuta pode descrever alguma situação
relacionada a ele), o cliente sinaliza (levantando o polegar, por exemplo) quando respostas
de ansiedade forem eliciadas. O terapeuta pede que imagine algo que o tranqüilize,
anterior, reiniciando o ciclo. Quando este item da hierarquia não mais produzir respostas
de ansiedade/medo, pode-se passar para o próximo item. Alguns itens podem demorar mais
de uma sessão, outros podem ser feitos em uma mesma sessão, mas é importante
prosseguir para o próximo item apenas quando o anterior não mais eliciar respostas de
4) Avaliação da necessidade de, aos poucos, fazer com que o cliente entre
em contato in vivo com o estímulo aversivo, espera-se que a resposta de relaxamento seja
adapte a técnica a cada caso. Em alguns, apenas o relaxamento já é eficaz, em outros, pode
ser necessário o procedimento apenas in vivo, o importante é estar atento aos princípios
Capítulo10.
Ensaio comportamental
Segundo Wolpe (1981), o terapeuta representa alguém ante o qual o cliente fica
fisiológicas indicadoras de ameaça como suor, relato de taquicardia, entre outras, tentando
criar uma condição não aversiva - se possível reforçadora - proporcionando uma inibição
cliente sinta-se mais à vontade para interagir; que possa ampliar seu repertório verbal e
próximo da condição natural for o ensaio, maior a probabilidade de que o cliente emita
aversivas, etc.
psicoterapia, é uma metodologia que utiliza princípios do Behaviorismo Radical para atuar
em um contexto clínico, com maior ênfase à relação terapêutica em si e aos
(Kholenberg & Tsai, 2001, p.11) e, conseqüentemente, quando as respostas mais bem
deve ser natural e não arbitrário, passível de ocorrer no ambiente natural do cliente,
cliente, poder-se-ia dizer que ele começa a fazer suas próprias análises funcionais (CRB3).
Cinco regras são sugeridas por Kholenberg e Tsai (2001) como uma forma
surgir ao longo das sessões devem ser consequenciados e modelados diretamenta ao longo
de alternativas úteis para a vida diária” (Kholemberg & Tsai, 2001, p.29);
uma sessão com um cliente adulto – apenas ações e reações interpessoais entre cliente e
terapeuta; esta regra tem grande importância, pois visa aumentar a freqüência de
terapeuta em relação aos CRBs do cliente: essa regra pode auxiliar a efetivação da regra
anterior, uma vez que o valor reforçador de um evento depende do contexto e da relação
que tem com o comportamento em questão. O terapeuta deve estar atento aos efeitos de
adaptados do mesmo;
5) Fornecer interpretações de variáveis que afetam o comportamento do
traduzido para o português em 2001, seus princípios estão nas obras de Skinner (1945,
1953, 1957, 1974, etc), princípios estes há muito experimentados e comprovados pela
medido pela sua utilidade. Se este livro produzir apenas uma intensa e
ocorreria, então, para nós ele terá sido válido. (p. 228)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
único trabalho, mesmo porque o principal objetivo desta monografia não foi este, mas sim
acordo com uma fundamentação Behaviorista Radical – radical por tentar chegar à raiz das
coisas, não se distraindo pelo superficial (Kohlenberg & Tsai, 2001); o homem foi visto
como um ser integral, um organismo completo e capaz de interagir e ser ativo no seu
processo de desenvolvimento, capaz de aprender com sua história e com a história de sua
espécie e, com tudo isso, ainda ser capaz de ser estudado e entendido com os mesmos
seu agir não o impede de extrair o máximo de felicidade de sua vida, pelo contrário, vai
liberdade e eficácia em seu meio. Dessa forma, também poderá experimentar uma maior
gama de sensações que os eventos agradáveis podem produzir, bem como estará preparado
para lidar com as sensações não muito agradáveis, fruto de outros acontecimentos como
perda e frustração.
conhecimento este que está intimamente relacionado à comunidade verbal na qual está
inserido o sujeito que busca se conhecer. Esta comunidade modela o repertório verbal do
indivíduo com facilidade quando o que está em foco são eventos públicos, mas quando a
atenção é dirigida aos eventos privados, o que se tem são inferências apoiadas em
comparações e metáforas relacionadas a eventos públicos. Isso não quer dizer que os
necessidade de uma análise contextual de quando, como, onde, com qual freqüência, com
que elas fazem” (Skinner, 1989, p.3 em Kohlenberg & Tsai, 2001, p.75). Outro ponto
importante a ser observado quando se fala de sentimentos, é que eles são comportamentos
movimentos, etc). Por isso, são governados pelos mesmos princípios que os
indivíduo faz, mas são também produtos de uma interação do indivíduo com o meio.
Millenson (1967), ao falar sobre Causas Fictícias do Comportamento, faz referência a
disso é quando algo acontece e alguém corre. Este indivíduo, ao descrever o que
aconteceu, pode relatar suas reações corporais (por exemplo dizer que teve medo: com
taquicardia, sudorese, etc) e o que fez (correu). Uma análise um tanto precipitada levaria
alguém a dizer que o indivíduo correu porque teve medo, ou talvez que ele teve medo
porque correu; mas após uma análise mais cuidadosa, poder-se-ia chegar à conclusão de
que ele correu e teve medo porque algo aconteceu. Não é porque uma das reações veio
antes que ela necessariamente é a causa da que veio depois - mesmo porque nem sempre
que alguém tem medo, ele corre, e vice-e-versa. Tudo depende de um contexto amplo a ser
analisado, não se pode falar de como o indivíduo agiu, o que pensou, o que sentiu, sem
saber o contexto em que isso aconteceu. “Tire algo do seu contexto e ele perderá o seu
significado. Ponha este algo em um novo contexto e ele significará outra coisa.”
relacionar melhor com as outras pessoas e com o mundo, aproveitar melhor o seu potencial
e extrair o máximo de felicidade de sua vida. Não cabe ao terapeuta resolver os problemas
do cliente, mas dotá-lo de uma série de ferramentas com as quais poderá valer-se na sua
vida diária. Isso é feito aproveitando e ampliando os repertórios bem adaptados que o
desenvolver.
que todo comportamento do cliente tem uma função, o terapeuta não decide o que é ou não
funcional para o cliente, utiliza-se da Análise Funcional como forma de organizar os dados
da interação do cliente com o seu meio: a ocasião na qual as respostas ocorrem; as próprias
respostas; e as conseqüências destas respostas. Com isso ele pode, juntamente com o
comportamentos, bem como sobre suas funções e conseqüências a curto, médio e longo
prazo. Como sugere Ingberman (1997), quando ensinada ao cliente, a análise funcional
ajuda-o a estabelecer seus próprios controles nas situações de sua vida, é um processo de
Como todas as profissões têm suas técnicas, a Psicologia não poderia ser
existentes a fim de que pudesse proporcionar os melhores resultados aos clientes. Devido
foram selecionados apenas alguns exemplos com uma aplicação mais generalizada, como o
decorrer deste trabalho tentou-se responder a estas perguntas, de forma direta ou indireta. E
idéias propostas aqui não são fechados ou estáticos, pois a mesma foi escrita em um
contexto, um lugar no tempo e no espaço, sendo produto de interações do autor com o seu
palavras, foi o melhor que pôde ser alcançado a partir das experiências adquiridas até o
momento. A frase que melhor resume o que foi exposto não poderia ser outra: “Ao
Ingberman, Y.K. (1997). A análise funcional de um caso de depressão. Em: Delitti, Sobre
comportamento e cognição. Vol 1. Santo André: ARBytes.
Kohlenberg, J.R. & Tsai, M. (2001). Psicoterapia analítica funcional. Criando relações
terapêuticas intensas e curativas. 1a Edição. Santo André: ESETec Editores
Associados.
Rangé, B.P. (1988). Algumas notas sobre ética e psicologia comportamental, Em:
H.W.Lettner e B.P. Range (Orgs), Manual de psicoterapia comportamental. São
Paulo: Manole.
Sidman, M. (1995). Coerção e suas implicações. Tradução Maria Amália Andery e Tereza
Maria Sério. Campinas, S.P.: PSY II.
Skinner, B.F. (1971). Para além da liberdade e da dignidade / B.F. Skinner: tradução
Joaquim Lourenço Duarte Peixoto. Lisboa - Portugal: Edições 70.
___________ (1974). Sobre o behaviorismo / B.F. Skinner: tradução Maria da Penha
Villalobos. 10a ed. - São Paulo: Cultrix.
Wolpe, J. (1981). Prática da terapia comportamental. 4a Ed. São Paulo: Brasiliense SA.