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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BRASÍLIA – UNICEUB

FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

CURSO DE PSICOLOGIA

AUTOCONHECIMENTO EM CONTEXTO CLÍNICO


?
UMA ABORDAGEM BEHAVIORISTA RADICAL

Luiz Anísio Vieira Batitucci

BRASÍLIA

Novembro / 2001
Luiz Anísio Vieira Batitucci

AUTOCONHECIMENTO EM CONTEXTO CLÍNICO

UMA ABORDAGEM BEHAVIORISTA RADICAL

Monografia apresentada à Faculdade de


Ciências da Saúde, do Centro
Universitário de Brasília – UNICEUB,
como requisito para obtenção do
Certificado de Graduação em
Psicologia, sob a orientação da Profa.
Dra. Alessandra Rocha de
Albuquerque.

BRASÍLIA

Novembro / 2001
SUMÁRIO

Behaviorismo, conhecimento e autoconhecimento ...................................... 01

A proposta Behaviorista Radical ................................................................................... 01

A Análise do Comportamento ....................................................................................... 03

Conceituando autoconhecimento ................................................................................... 07

Como o indivíduo aprende sobre si mesmo .................................................................... 09

Autoconhecimento em um contexto clínico .............................................. 14

Desenvolvendo o hábito do cliente se observar............................................................... 15

A análise funcional ........................................................................................................ 18

Algumas técnicas, seus objetivos e fundamentos ....................................... 21

Breves considerações sobre o uso de técnicas aversivas ................................................ 23

Auto-registro................................................................................................................. 25

Biblioterapia ................................................................................................................. 27

Contra-condicionamento / Dessensibilização sistemática ................................................ 28

Ensaio comportamental ................................................................................................. 31

FAP (Functional Analytic Psichotherapy) ...................................................................... 31

Considerações finais ................................................................................ 35

Referências Bibliográficas........................................................................... 40
RESUMO

A presente monografia teve por objetivo abordar um tema muito comum em


clínica, o autoconhecimento. Neste trabalho, o homem é visto como um ser pertencente à
natureza, capaz de modificar o meio em que vive e ser modificado por ele, capaz de
aprender com suas experiências e com as experiências de sua espécie, ou seja, um ser em
contínua interação com o meio em que vive e que é ativo no seu processo de evolução. O
autoconhecimento é visto como a possibilidade do indivíduo se conhecer e estar atento às
condições em que age e às conseqüências dessas ações, ampliando a possibilidade de agir
de forma mais adaptada e funcional no meio em que vive, e promovendo uma melhoria na
sua qualidade de vida. São apresentadas algumas técnicas que podem auxiliar no processo
de autoconhecimento, seus objetivos e fundamentos, não com uma visão tecnicista, mas
como ferramentas de apoio ao processo terapêutico. “Ao tomarmos consciência podemos
planejar nossa existência” (Gomide, 1998, p.149).
BEHAVIORISMO, CONHECIMENTO
E AUTOCONHECIMENTO

Antes de discorrer sobre qualquer tema em Psicologia, faz-se necessário

escolher uma fundamentação teórica sob a qual tal análise será feita. Este trabalho está

fundamentado em dois conjuntos de princípios que se completam, a saber: Análise do

Comportamento como ciência e Behaviorismo Radical como filosofia desta ciência. Cabe,

então, tecer algumas considerações a respeito dessa fundamentação.

A proposta Behaviorista Radical

Segundo Pires-Sério (2000), pode-se resumir os traços básicos da proposta

Behaviorista Radical para a psicologia, destacando quatro aspectos: a) os objetos de estudo

da psicologia são da mesma natureza, têm as mesmas dimensões que os demais fenômenos

do mundo físico ao nosso redor; b) isto vale também para os fenômenos psicológicos

chamados de privados, os eventos que não se apresentam para estudo como a maioria dos

fenômenos do mundo ao nosso redor; c) ao tratar com tais fenômenos, a psicologia não

precisa supor um tipo de conhecimento diferente do conhecimento científico, afinal, as

ciências que estudam o mundo ao nosso redor também lidam com coisas que não podem

ver ou medir diretamente; e d) estes fenômenos não exigem métodos especiais para que

possam ser estudados. A autora sugere um quinto aspecto para a caracterização do

Behaviorismo Radical: o modelo causal de seleção por conseqüências. “Em linhas gerais,

segundo o modelo de seleção por conseqüências, o comportamento humano seria o

resultado de três processos de variação e seleção: a seleção natural, o condicionamento

operante e transformação das culturas.” (Pires-Sério, 2000, p.166).


Tendo por base esses pressupostos, o autoconhecimento implica conhecer a

história da espécie humana, a história do próprio indivíduo e a cultura em que está

inserido. Ao contrário do que muitos acreditam, o Behaviorismo Radical não propõe que o

homem seja produto do meio em que vive, mas que ele seja produto da interação com o

meio em que vive, ou seja, ele age sobre o meio e sofre a ação desse meio de forma

contínua, e entender as variáveis envolvidas nesse processo de interação é fundamental

para quem busca uma melhoria na qualidade de vida. Nesta concepção, segundo Todorov

(1981), o homem é visto como parte da natureza, não está acima dela como supunham os

pensadores pré-darwinianos, nem é simples máquina respondendo a estímulos ambientais.

A idéia de interação entre o indivíduo e o meio também amplia a idéia de liberdade do ser

humano, já que não o limita a responder a estímulos como propunha Watson em 1913, nem

a agir determinado por um mundo inacessível a ele, mas de mostrar a possibilidade que o

homem tem de se modificar, modificando o meio em que vive, escolhendo sob quais

contingências vai estar submetido e modificando essas próprias contingências. É uma

forma de ver o homem não como um ser pré-determinado a ser como é, mas um ser que

está se aperfeiçoando e que não é passivo nesse processo.

Os homens agem sobre o mundo, modificam-no e, por sua vez, são

modificados pelas conseqüências de sua ação. Alguns processos que

o organismo humano compartilha com outras espécies alteram o

comportamento para que ele obtenha um intercâmbio mais útil e mais

seguro em determinado meio ambiente. Uma vez estabelecido um

comportamento apropriado, suas conseqüências agem através de

processos semelhantes para permanecerem ativas. Se por acaso o


meio se modifica, formas antigas de comportamento desaparecem,

enquanto novas conseqüências produzem novas formas. (Skinner,

1978, p.15 em Todorov, 1981)

A Análise do Comportamento

A análise do comportamento é uma linguagem da psicologia que vê

seu objeto como o estudo de interações organismo-ambiente.

Interessa-se especialmente pelo homem, mas estuda também

interações envolvendo outros animais sempre que houver algum

motivo para supor que tais estudos possam ajudar no esclarecimento

de interações homem-ambiente. (Todorov, 1982)

Muitas foram as tentativas, ao longo da história, de tentar entender o

porquê do homem fazer o que faz. As explicações que delegam as causas do que o homem

faz a uma entidade subjacente e inacessível a ele, tendem a paralisar a curiosidade e a

pesquisa pois põem um ponto final na busca de respostas sobre as variáveis envolvidas na

relação do homem com o seu meio. Visto que é fácil observar os próprios sentimentos e

estados internos, torna-se igualmente fácil supor que são estas as causas do

comportamento. Sendo assim, muito pouco poderia ser feito para readaptar um indivíduo

com comportamentos ditos anormais, já que não seria possível ter acesso ou promover

mudanças nesses estados mentais. Algumas questões poderiam ser lançadas para uma

reflexão sobre o assunto: Qual a vantagem de dividir o homem em corpo x mente? Como

saber até que ponto suas ações seriam mediadas pelo corpo e pela mente, para que seja
possível estudar e agir de forma eficaz em casos de intervenção terapêutica? Seria mais

viável ver o homem como um ser integral, um organismo completo e capaz de interagir e

ser ativo no seu processo de desenvolvimento, capaz de aprender com sua história e a

história de sua espécie e, com tudo isso, ainda ser capaz de ser estudado e entendido com

os mesmos princípios que regem toda a natureza?

Freqüentemente as pessoas analisam as circunstâncias em que vivem e

fazem previsões acerca do que outras pessoas farão, comportando-se de acordo com essas

previsões. Skinner (1978), segundo Todorov (1982), parte da constatação deste senso de

ordem para um estudo científico do comportamento. Este aperfeiçoa e completa a

experiência comum, quando busca e demonstra as relações entre circunstâncias e

comportamentos de uma forma mais precisa, descrevendo leis que atuam sobre os

comportamentos. Mas, segundo Skinner (1974), “afirmar que o comportamento humano é

regido por leis não é o mesmo que dizer que as leis que o governam são tão simples ou

‘mecânicas’ quanto aquelas que se aplicam ao funcionamento de uma geladeira” (p. 202).

Essa passagem do livro Sobre o Behaviorismo de Skinner deixa claro que a ciência do

comportamento não busca simplificar o homem ou explicá-lo com base em modelos

teóricos, mas procura entender como esse homem interage com o meio em que vive.

Segundo Malerbi e Matos (2000), a formulação de uma interação entre o organismo e o

meio deve especificar três aspectos: a ocasião na qual a resposta ocorre; a própria resposta;

e as conseqüências da resposta. A inter-relação destes três elementos denomina-se

contingência.

Os homens, assim como os animais de outras espécies, comportam-se

no mundo em que vivem e tais comportamentos produzem


modificações nesse mundo. As modificações ambientais, que são

conseqüências das ações dos organismos, influenciarão os seus

comportamentos futuros, selecionando um repertório de

comportamentos apropriados para aquele meio particular (Skinner,

1981 em Malerbi & Matos, 2000). A vida de um determinado

indivíduo, portanto, envolve uma história de relações de seus

comportamentos com o ambiente. Para se entender porque um

organismo comporta-se de uma certa maneira é necessário retroagir à

sua história individual, isto é, às relações entre comportamentos e

conseqüências ocorridas no passado. Esta análise é objeto de estudo

de uma área da Psicologia denominada Análise do Comportamento

(Skinner, 1974 em Malerbi & Matos, 2000)

Segundo Skinner (1978 em Todorov, 1982), o material a ser analisado pelo

Analista do Comportamento provém de várias fontes: observações casuais, observação de

campo controlada, observação clínica, observações controladas do comportamento em

instituições, estudo do comportamento humano e infra-humano em laboratório. Quando o

foco está na compreensão do comportamento, a partir da realização de pesquisas

experimentais, fala-se de Análise Experimental do Comportamento.

A Análise Experimental do Comportamento busca relações funcionais entre

variáveis, controlando rigorosamente as condições experimentais, geralmente em

laboratório, manipulando variáveis independentes (mudanças no ambiente) e observando

os efeitos em variáveis dependentes (mudanças no comportamento). É uma linguagem,


uma forma de se estudar o comportamento e sua interação com o meio. Não é uma

simplificação do que ocorre no cotidiano (ambiente natural), mas um modelo que utiliza o

conceito de contingência como um meio para a identificação de relações funcionais,

buscando descobrir leis e princípios gerais que estão presentes nas ações recíprocas entre o

meio ambiente e organismos (Gomide, 1998). Ela é, como resume Honing (1966 em

Todorov, 1982), caracterizada pelo uso conjunto dos seguintes aspectos: “estudo intensivo

do comportamento do indivíduo; controle rigoroso do ambiente experimental; uso de uma

resposta repetitiva que produz pouco efeito imediato no ambiente; meios eficazes de

controle do comportamento do sujeito; observação e registro contínuo do comportamento;

programação de estímulos e registro de eventos automáticos”.

Uma outra subdivisão da Análise do Comportamento é a Análise

Comportamental Aplicada, ou seja, a aplicação dos conhecimentos obtidos através das

observações e pesquisas em campo ou em laboratório. São diversas as aplicações ou áreas

de atuação da análise comportamental, sendo algumas delas: atuação clínica,

organizacional, escolar, esporte, hospitalar. O enfoque deste trabalho está na aplicação

clínica da análise do comportamento ou Terapia Comportamental como é comumente

chamada. Seria difícil tentar definir em poucas palavras a proposta da Terapia

Comportamental, Rangé (1988) tenta defini-la de uma forma muito objetiva como segue:

Pode ser considerada como terapia comportamental uma prática que

se baseia em uma perspectiva naturalista em psicologia e em um

modelo sociopsicológico do comportamento segundo o qual não há

diferença qualitativa entre o comportamento normal e o

comportamento anormal: ambos são o resultado de um processo de


aprendizagem e são mantidos pelos mesmos princípios, não sendo

necessários à intervenção psicoterápica a atribuição de rótulos ou

traços de personalidade nem o exame de suportas patologias

subjacentes. (p. 20)

É baseada em uma perspectiva naturalista, à em medida que é

fundamentada nos princípios da aprendizagem – condicionamento clássico, operante,

modelação, modelagem, instrução, etc; e em um modelo sociopsicológico, ao passo que

assume que essa aprendizagem ocorre dentro de um modelo social em que o indivíduo está

inserido, não havendo diferença qualitativa entre o que é denominado comportamento

normal e anormal e, dessa forma, o comportamento seria considerado anormal dependendo

do seu afastamento das normas sociais do grupo referencial, ou seja, é uma análise

contextual. A mudança de um comportamento (normal ou anormal) é baseada em uma

análise funcional do mesmo e envolve a especificação das condições de mudança de forma

que uma avaliação – por parte do psicólogo e do cliente - possa ser feita a qualquer

instante.

Conceituando autoconhecimento

Consultando um dicionário pode-se obter o seguinte significado para a

palavra conhecer: distinguir; e para a palavra conhecimento: ato ou efeito de conhecer. Já

o prefixo auto pode ter como significado: de si mesmo. Dessa forma pode-se estabelecer

uma relação entre esses conceitos, sendo ela: autoconhecimento como ato ou efeito de

conhecer a si mesmo. O que seria então conhecer a si mesmo em uma perspectiva

behaviorista, e como fazê-lo?


O autoconhecimento é apenas o conhecimento no qual o sujeito que

produz conhecimento é também o objeto conhecido. A especificação

‘auto’ refere-se ao objeto do conhecimento e não à forma ou maneira

que o conhecimento é produzido. Para o behaviorismo radical o

autoconhecimento não é imediato; ao contrário, ele é sempre mediado

por outros. ... Assim, se quisermos apurar nosso autoconhecimento

devemos, em primeiro lugar, voltar nossa atenção para apurar o

comportamento de nosso grupo em relação a nós e não voltar nossa

atenção para apurar o nosso próprio comportamento. Ele será apurado

apenas como conseqüência do refinamento social. (Pires-Sério, 2000,

p. 170).

Neste trecho, Pires-Sério trata da importância da relação social do

indivíduo na produção do seu autoconhecimento. É a comunidade verbal que conseqüencia

os comportamentos autodescritivos, modelando-os, ensinando o indivíduo a descrever seu

comportamento em função de antecedentes e conseqüentes (análise funcional). Fica aqui

uma questão para reflexão: O homem pode conhecer-se melhor isolando-se do mundo

social em que vive, ou observando-se interagindo com este mundo? Esta não é uma

questão muito simples de ser respondida, alguns poderiam dizer que estando isolado o

homem poderia observar-se melhor sem a interferência de outras variáveis, “teria mais

tempo para ele mesmo”. Outros poderiam dizer que se isolando não poderia conhecer-se

melhor do que em sociedade, visto que ao isolar-se estaria observando-se em uma condição
diferente, ou seja, ele iria obter um autoconhecimento no contexto de isolamento e não no

contexto social em que vive.

A comunidade verbal gera ‘consciência’ quando ensina um indivíduo

a descrever seu comportamento passado e presente e o

comportamento que ele provavelmente irá exibir no futuro, e a

identificar as variáveis das quais os três são função. (Skinner, 1980

em Gomide, 1998, p. 147)

Como o indivíduo aprende sobre si mesmo

Desde pequenas, as pessoas aprendem a descrever seus sentimentos – que

são estados corpóreos - através da mediação verbal das pessoas que estão ao seu redor, o

que Skinner (1974) denomina comunidade verbal. Essa comunidade verbal desenvolve

comportamentos autodescritivos com perguntas do tipo “O que você está fazendo?” e

reforçando adequadamente as respostas. Pode-se adquirir um autoconhecimento razoável a

respeito dos comportamentos manifestos porque a comunidade verbal tem acesso a eles e

pode selecionar as respostas mais adequadas, refinando continuamente o repertório

discriminativo e descritivo do indivíduo. A dificuldade está quando surgem perguntas ou

afirmações sobre eventos internos como: “O que você está sentindo?”, “Está com dor?”,

“Você parece deprimido”, “Está com medo?”. Apesar do indivíduo ter acesso a estes

eventos, a comunidade verbal não pode modelar de forma acurada as respostas

autodescritivas dos mesmos, visto que não tem parâmetros de comparação entre o que o

indivíduo realmente está sentindo e o que ele está descrevendo, utilizando-se para isso de

comparações e metáforas associadas a eventos públicos.


Deste modo o conhecimento e o relato dos eventos privados é

normalmente mais grosseiro e inexato. O indivíduo poderá sentir

dores físicas com muita intensidade, mas terá provavelmente muitas

dificuldades ao descrevê-las a um médico: mesmo que ele possa

localizá-las com razoável precisão, ele certamente terá muitas

dificuldades para dizer de que tipo de dor se trata. Por um lado, ele

não adquiriu um repertório verbal adequado para descrever com

precisão o que ele sente e, por outro lado, como isto decorre da falta

de um treinamento para realizar discriminações refinadas. o indivíduo

na verdade não ‘conhece’ com precisão o que ele está sentindo. ... A

comunidade verbal tem, certamente, muito menos confiança neste

tipo de relato: se alguém diz que ‘está desesperado’, podemos achar

que ele talvez esteja exagerando; talvez esteja apenas ‘triste’ ou então

‘algo deprimido’ ou quem sabe ‘preocupado’ ou ‘angustiado’. Talvez

ele esteja querendo apenas atrair a nossa atenção. Se pouco depois o

indivíduo tentar suicidar-se, já não duvidaremos de seu relato

anterior, porque este terá sido corroborado por um inequívoco evento

público. No entanto, os estados subjetivos são raramente

acompanhados por eventos públicos assim inequívocos, tornando

difícil para o indivíduo distinguir entre eles, e tornando o seu relato

pouco confiável para a comunidade (Malerbi & Matos, 2000)


O trecho citado não visa diminuir ou aumentar a importância dos

sentimentos em um processo de autoconhecimento, mas tenta refletir sobre como se dá o

processo de conhecimento/autodescrição dos eventos internos/sentimentos. As pessoas têm

sentimento e isso é inegável, o difícil é duas pessoas terem os mesmos conceitos sobre um

determinado sentimento de forma que possam comunicá-lo satisfatoriamente. Para que isso

ocorresse, elas deveriam ter passado por experiências semelhantes no processo de

aquisição do repertório autodescritivo destes eventos/sentimentos, já que o uso de cada

palavra – comportamento – também foi selecionado pelas conseqüências de sua emissão

perante a comunidade verbal. Outra questão importante a ser refletida: é mais importante

saber descrever detalhadamente o que se sente ou saber as condições em que o sentimento

ocorre?

Quanto podemos saber sobre o que alguém está sentindo, e como o

que é sentido pode ser mudado? Não é suficiente perguntar a outra

pessoa como ou o que ela está sentindo, porque as palavras que ela

usará para responder foram adquiridas, como se sabe, de pessoas que

não sabiam exatamente do que estavam falando. ... Todas as palavras

usadas para designar sentimentos começaram como metáforas, e é

significativo que a transferência sempre tenha sido do público para o

particular. Nenhuma palavra parece ter sido originalmente cunhada

para denominar um sentimento. (Skinner, 1995, p. 20)


Assumindo o homem em um processo de interação com o meio em que

vive, e podendo modificá-lo, parece que há uma maior probabilidade dele modificar o

meio quando conhece sob quais condições sente o que sente (quando, onde, com quem, de

que forma, etc.), melhorando assim sua qualidade de vida, do que simplesmente

descrevendo o que sente. A descrição do sentimento é importante para comunicação com

outros indivíduos, mas mesmo assim só irá descrever em parte o que é sentido e não

garante uma boa compreensão. Comunicando as condições sob as quais o sentimento

ocorre, as pessoas podem ter acesso a condições semelhantes e compreender com mais

segurança o que realmente aconteceu e está acontecendo com o indivíduo.

O exemplo de Malerbi e Matos (2000), citado anteriormente, realça essa

importância também no contexto clínico. Uma pessoa que diz estar “desesperada” pode

dizê-lo quando não sabe o que comprar de presente para o filho que faz aniversário no dia

seguinte, ou dizê-lo quando está desempregada e repleta de dívidas. Mesmo sabendo sobre

esse “quadro”, uma pessoa “desesperada” por não saber o que comprar para o filho pode

estar sofrendo muito mais e necessitando mais de auxílio terapêutico que a outra que está

desempregada. As duas podem descrever de forma muito parecida os seus sentimentos,

mas estar passando por situações muito distintas que exigem comportamentos distintos

para resolvê-las. Daí surge a importância de entender o indivíduo segundo o contexto em

que vive, são os três níveis de determinação do comportamento: filogenético (história da

espécie); ontogenético (história do indivíduo); e cultural (história da sociedade).

Essa idéia é de grande importância no processo de autoconhecimento em

terapia, pois o cliente vai estar descrevendo sentimentos e o psicólogo deve buscar

entender sobre estes sentimentos segundo o ponto de vista do cliente, ou seja, fazendo uma
análise funcional das condições em que o comportamento ocorre e estando atento às

funções das palavras usadas pelo cliente. Como então a Terapia Comportamental pode

auxiliar uma pessoa que busca um autoconhecimento? Esse assunto será abordado no

próximo capítulo.
AUTOCONHECIMENTO EM UM CONTEXTO CLÍNICO

É comum ouvir falar sobre autoconhecimento, mas o que as pessoas

buscam quando se referem a ele, e como alcançá-lo? Quando alguém busca seu

autoconhecimento, normalmente quer saber mais sobre sua relação com as outras pessoas e

com o mundo; como pode aproveitar melhor o seu potencial; como enfrentar seus medos e

obstáculos da vida; o porquê da sua forma de agir, pensar e sentir; ou seja, como pode

extrair o máximo de felicidade da sua vida. Como sugere Torós (1997), não cabe à terapia

comportamental eliminar ou resolver os problemas do cliente, mas dotá-lo de uma série de

ferramentas com as quais poderá valer-se na sua vida diária. Como diria um ditado

popular: “não é dar o peixe, mas ensinar a pescar”, e isso é feito aproveitando as próprias

experiências e repertórios bem adaptados já desenvolvidos pelo cliente, ajudando-o a

eliminar, quando necessário, comportamentos inadequados e a desenvolver novas

habilidades que, por um motivo ou outro, não teve oportunidades de desenvolver.

“A primeira consideração que deve ser feita é que o comportamento do

cliente tem uma função” (Delitti, 1997, p.39). Um ponto importante a ser observado é que

os comportamentos, adequados ou inadequados, têm uma função no meio em que o cliente

vive - foi selecionado pelas suas conseqüências - cabendo ao terapeuta descobrir o porquê

destes comportamentos terem-se instalado e como se mantêm. Não adianta simplesmente

remover um comportamento inadequado sem antes analisar a função deste na vida do

indivíduo. Comportamentos podem ser inadequados vistos socialmente, mas podem ser a

única alternativa que o cliente encontrou para se afastar de eventos aversivos (isolamento

social, apanhar, etc) ou para se aproximar de eventos reforçadores (como carinho, afeto,

reconhecimento, etc). Cabe ao terapeuta ajudá-lo a desenvolver novos repertórios que


possam substituir aqueles inadequados, promovendo a obtenção de conseqüências tão ou

mais reforçadoras.

Para conseguir isso, a ferramenta mais valiosa à disposição do analista do

comportamento, segundo Delitti (1997), é a análise funcional. É através dela que o

psicólogo vai analisar os comportamentos do seu cliente em termos de antecedentes e

conseqüentes, ou seja, os três termos de análise do comportamento propostos por Skinner

(1974).

Desenvolvendo o hábito do cliente se observar

Há uma enorme variação entre as pessoas quanto ao grau de

autoconhecimento que possuem, pois essa habilidade vai sendo

adquirida de acordo com a história de vida de cada um, que o fez

estar mais ou menos atento a si mesmo, por razões diversas.

(Barbosa, 1994)

Como sugere Barbosa (1994), nem sempre as pessoas conseguem fazer

uma auto-observação e sofrem muitas vezes por desconher as razões de seu agir, pensar ou

sentir. É muito comum ouvir dizer que são desta ou daquela forma e por isso não podem

fazer muito para mudar. Algumas vezes buscam a terapia na tentativa de se sentir melhor e

de se aceitar como são, sem acreditar na possibilidade de mudança.

Tanto o terapeuta quanto o cliente têm muito a ganhar com o

desenvolvimento do hábito de auto-observação por parte do cliente: o terapeuta, por obter

informações mais precisas para a sua análise funcional, podendo intervir de uma forma

mais eficaz; o cliente, por aumentar a probabilidade de discriminação das contingências às


quais está submetido no seu dia-a-dia podendo, assim, interagir de forma mais funcional.

Não quer dizer que ele deva saber descrever todas as contingências envolvidas em sua

história - mesmo porque discriminar (responder de forma diferente a estímulos diferentes)

não implica necessariamente em conseguir descrever - mas que possa entender que se

tornou o que é a partir das experiências que viveu, e que sua forma de interagir com o meio

vai ser de grande importância sobre o que ele será no futuro. É a idéia de interação

contínua do indivíduo com o meio.

Alguns questionamentos ao longo das sessões auxiliam neste processo de

auto-observação, são perguntas que geralmente contêm as palavras: quando, desde quando,

onde, com quem, como, qual a freqüência e qual a conseqüência de determinados

comportamentos, quais as alternativas já tentadas e suas conseqüências. Para alguns

clientes, estas não são perguntas muito fáceis de serem respondidas e cabe ao terapeuta

ajudá-los reformulando as questões e sugerindo formas mais fáceis de respondê-las, bem

como reforçando aproximações sucessivas de uma resposta cada vez mais precisa e

completa.

Algumas tarefas para casa também podem ter um bom resultado. São

questões lançadas, ou pedidos de que observe, no seu dia-a-dia, situações em que

determinados comportamentos ocorrem com maior freqüência (públicos ou privados; como

já foi visto, sentimentos e emoções também são comportamentos), quais as conseqüências,

como as pessoas reagem, quais as alternativas possíveis e conseqüências esperadas.

Baseando-se nestes dados, o terapeuta pode pedir que o cliente varie gradualmente a

topografia de alguns comportamentos, aumentando assim a probabilidade de serem

reforçados no ambiente natural e, dessa forma, sua freqüência será aumentada. Novas
variações graduais podem ser sugeridas até que um comportamento mais adaptado possa

ser emitido.

É importante ressaltar que o autoconhecimento por si só não é suficiente

para que ocorram mudanças. Não é só por saber sobre as contingências que controlam seu

comportamento que o indivíduo vai conseguir reagir no sentido de mudar sua forma de

interagir com o mundo, mesmo porque muitas vezes as pessoas têm idéia do que controla

seus comportamentos e nem por isso conseguem melhorar sua relação com o meio. O

processo de autoconhecimento em terapia deve proporcionar ao indivíduo novas

experiências com as quais ele poderá ampliar o seu repertório, selecionando novos

comportamentos mais adaptativos e funcionais para a sua vida e reforçando aqueles

comportamentos já adaptados, bem como dessensibilizando-o quanto a eventos que ao

longo de sua história tornaram-se aversivos e que hoje geram reações emocionais

desagradáveis. “A terapia consiste, não em levar o paciente a descobrir a solução para seu

problema, mas em mudá-lo de tal modo que seja capaz de descobri-la.” (Skinner, 1998,

p.417).

As técnicas aplicadas no contexto clínico nada mais são do que a

possibilidade de que o cliente passe por experiências pelas quais não passou (algumas

dessas técnicas, seus objetivos e fundamentos, serão analisadas no próximo capítulo). Mas

como saber quais as experiências que são mais apropriadas para o indivíduo? Como

auxiliá-lo a superar o medo que muitas destas experiências podem provocar? Daí a

importância de uma análise cuidadosa da forma com que o cliente aprendeu a interagir com

o seu meio, quais os passos que já deu e suas conseqüências, e quais os primeiros passos
que podem ser dados para que a mudança ocorra de forma gradual e sempre orientada

pelas necessidades do próprio cliente. Isso é feito através da análise funcional.

A análise funcional

A análise funcional, nesta perspectiva, é um dos instrumentos mais

valiosos para a prática clínica, pois é a partir dela que é possível o

levantamento correto dos dados necessários para o processo

terapêutico. ... A identificação de variáveis e explicitação das

contingências que controlam o comportamento permitem que sejam

levantadas hipóteses acerca da aquisição e manutenção dos

repertórios considerados problemáticos e, portanto, possibilita o

planejamento de novos padrões comportamentais. (Delitti, 1997,

p.39)

Nem sempre é clara a relação que um comportamento tem com suas

conseqüências, em certos casos pode até parecer que não têm relação e que não tem motivo

nenhum para que um comportamento ocorra. Visto que o analista do comportamento no

contexto clínico depende dos relatos do cliente para sua análise funcional, esta dificuldade

pode estar relacionada à falta de habilidades do cliente em se observar em termos de

antecedentes e conseqüentes de suas ações – importância da auto-observação; ao repertório

verbal adquirido pelo cliente - repertório esse também selecionado por suas conseqüências;

às diferenças entre as contingências responsáveis pela instalação e pela manutenção do

comportamento – tornando difícil, em alguns casos, a identificação do que mantém o

comportamento no presente; à habilidade do terapeuta em identificar as variáveis


envolvidas; e às próprias contingências que controlam a interação entre terapeuta e cliente

– vínculo, respeito, confiança, etc.

Cabe ao terapeuta descobrir porque (em que contingências) este

comportamento se instalou e como ele se mantém. Esta descoberta se

faz pela análise funcional que, em clínica, envolve pelo menos três

momentos da vida do cliente: sua história passada, seu

comportamento, sua relação com o terapeuta. (Delitti, 1997, p.39)

A análise funcional envolve a descrição de três termos os quais preenchem

os requisitos de que falam Malerbi e Matos (2000) para a formulação de uma interação

entre um organismo e o seu meio: a ocasião na qual a resposta ocorre; a própria resposta; e

as conseqüências da resposta. Segue um exemplo simplificado de parte de uma análise

funcional de um caso fictício:

Antecedentes Comportamentos Conseqüências


Procurar revistas e
2o grau, colegas da
Passado

Reforçamento social,
livros que contêm
escola que contam os amigos riem e dizem
piadas. Contar piadas
piadas que [S] é muito legal
para os amigos
e descontraído.
Alguns amigos gostam e
Presente

reforçam [S], outros


Presença de amigos no
dizem que ele é muito
trabalho Contar piadas
indiscreto com as
piadas e afasta as
colegas.

Supondo, neste exemplo, que [S] tem uma queixa de “não conseguir parar

de contar piadas”, e com isso ele afasta algumas pessoas que são, de certa forma,

importantes para ele. Conhecendo um pouco mais da história de [S] descobre-se que há

alguns anos o seu grupo social reforçava muito o seu comportamento de contar piadas
(instalação do comportamento), e que hoje nem sempre é bem sucedido com este

comportamento, mas algumas vezes é muito reforçado socialmente (manutenção do

comportamento). Pode ser que [S] não tenha conseguido discriminar em que situações ele é

reforçado e em que situações é punido pelo comportamento em questão. Com o auxílio da

análise funcional pode-se ter uma maior clareza destes contextos. Em alguns casos, o

simples questionamento do terapeuta a respeito das situações em que ele agrada mais os

amigos, as situações em que afasta pessoas importantes para ele - quando, com quem,

onde, etc - pode ser suficiente para que discrimine as situações mais apropriadas para a

emissão deste comportamento e comece a interagir com o seu meio social de uma forma

mais adequada, sendo reforçado naturalmente neste meio. [S] dizer que não consegue

deixar de contar piadas pode estar relacionado ao fato de que a probabilidade dele ser

reforçado, na maior parte das vezes, é grande (reforçamento intermitente – não é fácil

discriminar o esquema de reforçamento). Como já foi colocado anteriormente, nenhum

comportamento pode ser dito adequado ou inadequado visto de forma isolada, e a análise

funcional é a ferramenta que vai auxiliar no entendimento das condições em que os

comportamentos ocorrem e as conseqüências que os mantêm.

Este foi um exemplo muito simplificado de uma análise funcional. É

importante lembrar que nenhum comportamento pode ser definido em termos simples de

causa/efeito, os comportamentos são multideterminados, contextualizados e dinâmicos, daí

a importância de uma análise funcional pormenorizada e também dinâmica. “O

behaviorismo radical enfatiza o contexto e o significado. Tire algo do seu contexto e ele

perderá o seu significado. Ponha este algo em um novo contexto e ele significará outra

coisa” (Kohlenberg & Tsai, 2001, p. 4).


ALGUMAS TÉCNICAS, SEUS OBJETIVOS
E FUNDAMENTOS

Os procedimentos utilizados em uma terapia comportamental vão além de

um conhecimento estritamente empírico, são baseados em princípios comportamentais

estudados minuciosamente pela ciência do comportamento. Apesar da palavra técnica

lembrar os conceitos mecanicistas do behaviorismo clássico (ou metodológico), todas as

abordagens em Psicologia usam suas técnicas próprias ou emprestadas, e todas as

profissões, como a educação, a medicina e o esporte, têm suas técnicas sem por isso serem

consideradas mecanicistas/tecnicistas ou perderem seu sentido humano. Segundo Aurélio

Buarque de Holanda (1999), técnica é uma “maneira, jeito ou habilidade especial de

executar ou fazer algo”. Pode-se dizer então que técnica em terapia comportamental é um

jeito ou habilidade especial do psicólogo de proporcionar ao cliente o contato com novas

experiências, podendo adquirir com elas novos repertórios e habilidades; ou auxiliá-lo a

passar por experiências não tão novas, mas com um repertório mais adaptado e com

maiores possibilidades de reforço. Visto que cada um possui uma história própria, as

técnicas devem ser dinâmicas, adaptadas a cada contexto e a cada cliente, caso contrário

serão simples receitas com chances reduzidas de sucesso.

Se um cliente tem medo de dirigir, não adianta fazê-lo acreditar que é fácil

ou que milhares de pessoas dirigem sem problemas, nem somente remover o seu medo

com uma técnica de contra-condicionamento/dessensibilização, mas deve-se analisar quais

os déficits comportamentais que o impedem de dirigir, quais as respostas emocionais

eliciadas pelo contato com este evento, como o seu meio social interfere nisso. Se o medo

for proveniente de conseqüências de um déficit comportamental no passado (por exemplo


não ter agilidade no volante e ter causado um acidente), eliminando o medo e não

ampliando seu repertório, são grandes as chances dos mesmos comportamentos serem

emitidos e conseqüenciados de forma semelhante à do passado; e se o medo foi fortalecido

pelo seu grupo social, também devem ser levadas em consideração as reações deste grupo

quando o cliente tentar enfrentar o medo.

Como o terapeuta não pode antever todas as circunstâncias com as

quais o paciente vai se defrontar, deve também estabelecer um

repertório de autocontrole através do qual o paciente seja capaz de se

ajustar às circunstâncias à medida que surjam. (Skinner, 1998, p.414)

Por mais completa que seja, a análise funcional não contém todas as

variáveis que estão envolvidas nos comportamentos do cliente. Sabendo disso, o terapeuta

deve estar atendo aos indícios de que algumas variações do comportamento do cliente

podem não ser reforçadas pelo seu ambiente e até mesmo punidas. Estas questões devem

ser colocadas para o cliente, e alguns repertórios para lidar com as mesmas devem ser

estabelecidos ou fortalecidos.

Segundo Caballo (1999), deve-se considerar que as técnicas são

ferramentas úteis que podem ser incorporadas ao repertório de habilidades do terapeuta,

mas que só devem ser empregadas após uma análise minuciosa do problema ou problemas

do cliente, a qual determinará as técnicas provavelmente mais adequadas em cada caso.

Entende-se então que o uso de técnicas em um processo terapêutico, quando este for

necessário, deve ser contextualizado. Deve-se trabalhar com o cliente quais os objetivos

da técnica, quais os resultados e obstáculos esperados, vantagens e desvantagens do


procedimento. Faz-se também necessário um acompanhamento com feedback de cada

resultado obtido, sinalizando cada aproximação bem sucedida e comentando com o cliente

como ele reagiu à técnica, seus sentimentos, receios, sucessos, fracassos, o que esperava e

o que obteve.

Breves considerações sobre o uso de técnicas aversivas

Ao longo da história pôde-se observar o surgimento de muitas técnicas de

controle aversivo, principalmente por parte de behavioristas metodológicos. Talvez por

esta razão, para muitos profissionais o uso de técnicas aversivas é uma das características

dos behavioristas mas, segundo Rangé (1988), estas não são de exclusividade deles, apesar

de serem os únicos a claramente assim denominá-las. São muitas as técnicas de

confrontação com o cliente, exposição a contingências aversivas e retirada de reforços que

outras abordagens também utilizam, a diferença é que na terapia comportamental estes

termos são claramente definidos. Mas isso não quer dizer que as técnicas utilizadas devam

ser aversivas, pelo contrário, o uso de procedimentos aversivos se faz necessário quando

faltam recursos terapêuticos não-aversivos alternativos e se, e somente se, os benefícios

resultantes destes procedimentos forem superiores aos custos. Em alguns casos, como em

certos comportamentos auto-destrutivos, elas podem ser a única alternativa e, como bem

descreve Rangé (1988), nestes casos “tem sido inclusive defendida a idéia de que, ao

contrário, anti-ético seria não utilizá-las, uma vez que não seria aceitável ter conhecimento

de um procedimento efetivo para modificar um mal reconhecido pela própria pessoa ou seu

responsável legal e não utilizá-lo em benefício dela” (p. 19).

O uso indiscriminado e estereotipado destas técnicas, em situações que

exigiriam uma análise muito mais ampla e contextualizada, pode ser visto no filme
“Laranja Mecânica”, no qual procedimentos aversivos foram empregados deixando o

indivíduo sem repertório para lidar com situações simples do dia-a-dia. Como já foi

colocado anteriormente, não adianta eliminar um comportamento mal adaptado sem

estabelecer um repertório bem adaptado para que o indivíduo possa extrair do seu meio o

necessário para sua sobrevivência. Além disso, existem muitas formas de se eliminar um

comportamento mal adaptado, sendo que o uso de técnicas aversivas é apenas uma delas.

Sidman (1995), adverte sobre o uso de procedimentos coercitivos,

afirmando que “aqueles que recomendam e usam choque ou outros instrumentos de

coerção estão agora descobrindo que têm de se defrontar com as conseqüências de seu

próprio comportamento. ... Qualquer um familiarizado com a literatura experimental e

qualquer observador experiente da conduta fora do laboratório sabe que a coerção, se não

puder ser enfrentada de qualquer outra maneira, finalmente gera contracontrole” (p.23). O

autor ainda afirma que o uso de punição pode ser necessário em casos de emergência (por

exemplo segurar uma pessoa com comportamento autodestrutivo), mas será sempre um

tratamento de último recurso, nunca um tratamento de escolha, pois “reforçamento

positivo, não punição, é a marca da análise do comportamento” (p.25).

Pelos motivos descritos, e tendo como principal referencial teórico a obra

de Skinner - que sempre deu ênfase aos procedimentos não aversivos; este trabalho vai

focalizar o uso de técnicas e procedimentos não aversivos. Devido ao número e à extensão

das técnicas existentes, foram selecionados apenas alguns exemplos mais generalizados

(com ampla aplicação) e mais relacionados ao processo de autoconhecimento. Existem

muitas técnicas específicas para lidar com problemas específicos como transtornos
alimentares, disfunções sexuais, inabilidades sociais, incontinência urinária, dentre outros

que podem ser encontrados em livros especializados no assunto.

Dentre as técnicas relacionadas a seguir, o Auto-registro e a Biblioterapia

têm como foco principal a auto-observação, podendo produzir mudanças no

comportamento de forma “indireta”, à medida que colocam em destaque algumas relações

do cliente com o seu meio. Já a Dessensibilização Sistemática, o Ensaio Comportamental e

a FAP (Functional Analytic Psichotherapy) são técnicas que modificam os

comportamentos à medida que o terapeuta os conseqüencia em uma interação direta com o

cliente.

Auto-registro

O auto-registro consiste em pedir que o cliente registre as condições em

que determinados comportamentos ocorrem (antecedentes e conseqüentes). É uma forma

simplificada do cliente fazer sua própria análise funcional, servindo também de subsídio

para a análise funcional do terapeuta. Pode-se escolher alguns comportamentos-problema

juntamente com o cliente e pedir que registre, quando ocorrerem, o que acontecia à sua

volta, quem estava presente, como as pessoas estavam agindo, o que sentia, o que pensava,

o que aconteceu após o comportamento ser emitido, o dia e o horário, etc. Caso o cliente

encontre dificuldades em fazer os registros, o terapeuta pode auxiliar com exemplos na

própria terapia, ampliando o repertório verbal autodescritivo - melhorando a comunicação

de eventos internos e descrição da topografia dos comportamentos; e desenvolvendo a

habilidade de auto-observação, ampliando a percepção sobre as variáveis envolvidas no

seu agir (como, quando, onde, com que freqüência, etc).


Fazer com que o paciente observe e registre sistematicamente seu

próprio comportamento é consistente com o princípio do paciente

como colaborador e agente de mudança. Também é consistente com o

princípio comportamental da medição observacional direta dos

problemas de interesse (Caballo, 1999, p. 587).

Em muitos casos, o próprio ato de registrar os comportamentos em função

de antecedentes (pessoas envolvidas, locais, etc) e conseqüentes (reação das pessoas,

mudanças físicas no ambiente, etc) pode ser suficiente para que o cliente discrimine as

relações funcionais destas ações, já que as variáveis envolvidas estarão em destaque. Pode

discriminar que um mesmo comportamento emitido com algumas variações (mudanças na

topografia ou no contexto) aumenta a probabilidade de ser seguido de conseqüências mais

favoráveis, ou que determinados comportamentos não produzem efeitos tão bons quanto

imaginava e que outros são muito mais eficazes do que supunha. Dessa forma, mesmo que

não tenha condições de modificar esses comportamentos, o auto-registro vai auxiliá-lo a

elaborar hipóteses e questionamentos que serão analisados com o terapeuta no decorrer das

sessões. Um registro mais sistemático pode auxiliar o cliente a discriminar as

conseqüências de suas ações a curto, médio e longo prazo, promovendo o desenvolvimento

de um repertório mais eficiente para a sua vida, uma vez que muitos comportamentos

produzem conseqüências reforçadoras em um primeiro momento, mas aversivas a

médio/longo prazo – e o inverso também é válido.

Ciente de que fazer o auto-registro também é um comportamento,

conseqüências que podem reforçá-lo ou puni-lo, bem como as dificuldades em realizá-lo


devem ser objeto de atenção do terapeuta. As conseqüências mais reforçadoras para o

comportamento de auto-registro, como já é de se esperar, são as próprias mudanças,

normalmente graduais, na emissão dos comportamentos-problema (freqüência, topografia,

contexto, etc). É interessante que o auto-registro seja implementado de forma gradual, ou

seja, pode-se inicialmente pedir que o cliente registre a freqüência com que o

comportamento ocorre, por exemplo: quantos maços de cigarro fuma por dia e quais os

horários. Novos pedidos de registro podem ser feitos solicitando que registre, além dos

horários, o que sentia e pensava enquanto fumava, os locais e ocasiões em que mais

fumava, ocasiões em que não fumava de forma alguma, etc.

Os dados devem ser registrados em condições que propiciem sua

manutenção, não adianta pedir que o cliente registre os dados enquanto trabalha e é

cobrado pelo chefe que termine suas tarefas; ou quando chega cansado do trabalho e não

pensa em outra coisa a não ser tomar um banho, lanchar e dormir; nem mesmo quando tem

outros eventos concorrentes mais reforçadores como festas ou grupos sociais. Dessa forma

o pedido de registro tornar-se-ia um estímulo aversivo do qual o cliente tenderia a se

esquivar, ou até faria um registro sem muito cuidado apenas como forma de esquiva das

cobranças do terapeuta, em ambos os casos o auto-registro poderia ser ineficaz. Uma forma

de facilitar o registro é pedir que o cliente tenha sempre à mão um bloco de papel ou

caderneta onde possa, quando achar conveniente, anotar os dados solicitados (no ônibus,

em intervalos no trabalho, em casa, depois do almoço, etc).

Biblioterapia

A Biblioterapia refere-se ao emprego de materiais escritos (livros, textos,

etc). Segundo Caballo (1999), alguns requisitos devem ser considerados para uma
utilização com êxito da biblioterapia, dentre eles: habilidades de leitura que sejam

compatíveis com o nível da leitura indicada; e a capacidade de generalização do que foi

lido para o ambiente natural do cliente;

É interessante que o terapeuta tenha lido ou que leia junto com o cliente o

material sugerido, para que possam tirar um proveito maior. O terapeuta pode sugerir que o

cliente faça relações do que foi lido com sua vida, modelos bem ou mal sucedidos,

soluções de problemas, etc. O feedback do cliente pode auxiliar o terapeuta a formar uma

relação de livros com os contextos mais apropriados para indicações futuras.

Contra-condicionamento / Dessensibilização sistemática

O relaxamento e a ansiedade são respostas que se inibem

reciprocamente. Como resultado, se um estímulo provocador de

ansiedade com pouca potência se apresenta quando o paciente está

relaxado, terá lugar o contra-condicionamento. Tal estímulo já não

provocará ansiedade, mas, pelo contrário, evocará a resposta de

relaxamento. Outras respostas, além do relaxamento, podem inibir

também a ansiedade. (Caballo, 1999, p.169)

A dessensibilização sistemática foi desenvolvida por Wolpe (1958) e é uma

forma de contra-condicionamento, ou seja, visa eliminar um condicionamento respondente

que produz ansiedade/medo, estabelecendo um novo condicionamento que gera uma

resposta contrária a essa ansiedade (por exemplo: relaxamento). Rimm e Masters (1974,

em Caballo, 1999) tecem algumas considerações que devem ser observadas antes da

aplicação desta técnica. Uma delas é saber se o medo em questão é racional (subproduto de
perigos reais) ou é irracional (quando o indivíduo tem a habilidade de enfrentar a situação

ou o objeto temido e não existe um perigo claro inerente).

A dessensibilização sistemática é apropriada para temores irracionais.

No caso de temores racionais baseados em déficit das habilidades,

deve-se ensinar as habilidades apropriadas, se for possível, à pessoa

em questão. No caso de medos racionais de perigo, é necessário

aconselhar o indivíduo sobre a propriedade de seus temores. (Caballo,

1999, p.175).

Deve-se, também, averiguar se o cliente tem respostas de ansiedade/medo

quando imagina os eventos aversivos e se é capaz de responder de forma satisfatória ao

relaxamento – para isso é necessário um treino anterior de relaxamento. É importante

também que esteja em questão um medo específico, ou um pequeno conjunto de medos.

Em todos os casos, é necessário que a resposta de relaxamento seja mais forte do que a

resposta aversiva condicionada, caso contrário pode ocorrer o inverso, ou seja, o cliente

pode associar o relaxamento com a resposta de ansiedade.

A seguir é descrita uma forma de aplicação desta técnica:

1) Elaboração de uma escala hierárquica de eventos relacionados a um

medo específico, ordenada do evento menos aversivo (por exemplo falar sobre o objeto

temido) para o mais aversivo (por exemplo o contato direto com o objeto temido);

2) Realização de um treinamento em relaxamento, sendo uma das formas

mais comuns o relaxamento progressivo de Jacobson (1938). Deve-se permanecer neste


passo até que a resposta de relaxamento seja devidamente instalada no repertório do

cliente;

3) Aplicação do relaxamento. Quando o cliente já estiver relaxado, pede-se

que pense no primeiro item da hierarquia (o terapeuta pode descrever alguma situação

relacionada a ele), o cliente sinaliza (levantando o polegar, por exemplo) quando respostas

de ansiedade forem eliciadas. O terapeuta pede que imagine algo que o tranqüilize,

refazendo os passos do relaxamento. Novamente o terapeuta pede que imagine o evento

anterior, reiniciando o ciclo. Quando este item da hierarquia não mais produzir respostas

de ansiedade/medo, pode-se passar para o próximo item. Alguns itens podem demorar mais

de uma sessão, outros podem ser feitos em uma mesma sessão, mas é importante

prosseguir para o próximo item apenas quando o anterior não mais eliciar respostas de

ansiedade/medo. O procedimento terá chegado ao fim quando o último item da hierarquia

não mas produzir respostas de ansiedade/medo.

4) Avaliação da necessidade de, aos poucos, fazer com que o cliente entre

em contato in vivo com o estímulo aversivo, espera-se que a resposta de relaxamento seja

generalizada para a situação real, podendo ser usado o procedimento de relaxamento

também na situação in vivo.

Existem muitas variações desta técnica e é importante que o terapeuta

adapte a técnica a cada caso. Em alguns, apenas o relaxamento já é eficaz, em outros, pode

ser necessário o procedimento apenas in vivo, o importante é estar atento aos princípios

que estão envolvidos na técnica. Um exemplo de variação do relaxamento progressivo de

Jacobson e procedimentos de dessensibilização pode ser encontrado em Manual de


Técnicas de Terapia e Modificação do Comportamento, de Vicente E. Caballo (1999),

Capítulo10.

Ensaio comportamental

Uma forma de modelagem muito utilizada é o ensaio comportamental.

Segundo Wolpe (1981), o terapeuta representa alguém ante o qual o cliente fica

impropriamente ansioso e inibido. O terapeuta lança questões que, segundo o cliente,

acontecem no ambiente natural, e o cliente interage como faria normalmente. O terapeuta

pode observar as respostas inadequadas (hesitantes, defensivas, tímidas, etc) e sugerir

outras respostas, repetindo o procedimento. A cada instante o terapeuta observa respostas

fisiológicas indicadoras de ameaça como suor, relato de taquicardia, entre outras, tentando

criar uma condição não aversiva - se possível reforçadora - proporcionando uma inibição

ou extinção daquelas respostas. À medida que o procedimento é executado, espera-se que o

cliente sinta-se mais à vontade para interagir; que possa ampliar seu repertório verbal e

interacional para que aumente a probabilidade de sucesso na interação. Quanto mais

próximo da condição natural for o ensaio, maior a probabilidade de que o cliente emita

comportamentos semelhantes em seu ambiente natural, aumentando assim suas chances de

ser reforçado - obter conseqüências adaptativas, “agradáveis”, afastar-se de situações

aversivas, etc.

FAP (Functional Analytic Psichotherapy)

A FAP, Psicoterapia Analítica Funcional, é mais do que uma técnica em

psicoterapia, é uma metodologia que utiliza princípios do Behaviorismo Radical para atuar
em um contexto clínico, com maior ênfase à relação terapêutica em si e aos

comportamentos que ocorrem durante a sessão.

A FAP tem a sua base na investigação de como o reforçamento, a

especificação de comportamentos clinicamente relevantes e a

generalização podem ser obtidos dentro das limitações de uma

situação típica de tratamento em consultório. ... A modelagem direta e

o fortalecimento de repertórios comportamentais mais adaptativos

através do reforçamento são centrais no tratamento analítico-

comportamental. (Kholenberg & Tsai, 2001, p.9)

Um ponto-chave da FAP é o entendimento de que quanto mais próximo das

suas conseqüências (tempo e espaço) um comportamento estiver, maiores serão os efeitos

de um processo de reforçamento. Sendo assim, “os efeitos do tratamento serão mais

significativos se os comportamentos-problema e as melhoras ocorrerem durante a sessão”

(Kholenberg & Tsai, 2001, p.11) e, conseqüentemente, quando as respostas mais bem

adaptadas ocorrerem, devem ser reforçadas imediatamente – de preferência o reforçador

deve ser natural e não arbitrário, passível de ocorrer no ambiente natural do cliente,

possibilitando a generalização para contextos fora da terapia.

A FAP ressalta a importância que têm três tipos de comportamentos que

podem ocorrer durante a sessão, denominados comportamentos clinicamente relevantes

(CRB): os problemas do cliente que ocorrem na sessão (CRB1); os progressos do cliente

que ocorrem na sessão (CRB2); e a interpretação dos próprios comportamentos pelo

cliente, poder-se-ia dizer que ele começa a fazer suas próprias análises funcionais (CRB3).
Cinco regras são sugeridas por Kholenberg e Tsai (2001) como uma forma

de nortear o trabalho do terapeuta:

1) Prestar atenção aos CRBs: os comportamentos-problema que podem

surgir ao longo das sessões devem ser consequenciados e modelados diretamenta ao longo

da sessão. “Um terapeuta habilidoso em observar a ocorrência, na sessão, de instâncias do

comportamento clinicamente relevante, tenderá a reagir, naturalmente, no sentido de

reforçar, extinguir e punir o comportamento em questão, propiciando o desenvolvimento

de alternativas úteis para a vida diária” (Kholemberg & Tsai, 2001, p.29);

2) Evocar CRBs: é proporcionar as condições necessárias para que ocorram

os comportamentos clinicamente relevantes durante a sessão. Pode ser feito através de

questionamentos ou outros procedimentos como dramatizações, em casos de timidez, e

conversas sobre assuntos relevantes;

3) Reforçar CRBs: apesar de serem poucos os reforçadores disponíveis em

uma sessão com um cliente adulto – apenas ações e reações interpessoais entre cliente e

terapeuta; esta regra tem grande importância, pois visa aumentar a freqüência de

comportamentos adequados que podem ser generalizados para o contexto natural;

4) Observar os efeitos potencialmente reforçadores do comportamento do

terapeuta em relação aos CRBs do cliente: essa regra pode auxiliar a efetivação da regra

anterior, uma vez que o valor reforçador de um evento depende do contexto e da relação

que tem com o comportamento em questão. O terapeuta deve estar atento aos efeitos de

seus comportamentos sobre os comportamentos do cliente, selecionando possíveis

reforçadores (gestos, assuntos, elogios, etc) para consequenciarem comportamentos bem

adaptados do mesmo;
5) Fornecer interpretações de variáveis que afetam o comportamento do

cliente: consiste na especificação de relações funcionais (antecedentes, comportamentos e

conseqüentes) e na reinterpretação de afirmações do cliente em termos dessas relações

funcionais – modelando o repertório verbal do cliente e dirigindo sua atenção às variáveis

envolvidas no controle de seus comportamentos.

Apesar de ser uma metodologia recente, com um livro publicado em 1991 e

traduzido para o português em 2001, seus princípios estão nas obras de Skinner (1945,

1953, 1957, 1974, etc), princípios estes há muito experimentados e comprovados pela

ciência do comportamento. A diferença principal está na tentativa de aplicar estes

princípios diretamente no contexto de terapia.

Kholenberg e Tasi (2001) finalizam seu livro FAP - Psicoterapia Analítica

Funcional. Criando relações terapêuticas intensas e curativas, com a seguinte afirmação:

Este livro é a nossa interpretação do processo psicoterapêutico. Foi

baseado no Behaviorismo Radical e no nosso comportamento que

tem sido modelado por contingências fornecidas pelos nossos

clientes. Da mesma forma que outras interpretações, seu valor será

medido pela sua utilidade. Se este livro produzir apenas uma intensa e

significativa relação terapeuta-cliente, que de outra forma não

ocorreria, então, para nós ele terá sido válido. (p. 228)
CONSIDERAÇÕES FINAIS

O autoconhecimento é um tema amplo e não poderia ser esgotado em um

único trabalho, mesmo porque o principal objetivo desta monografia não foi este, mas sim

o de fazer uma análise sobre os conceitos e princípios envolvidos em um processo de

autoconhecimento e como pode este tema ser abordado em um contexto de terapia. De

acordo com uma fundamentação Behaviorista Radical – radical por tentar chegar à raiz das

coisas, não se distraindo pelo superficial (Kohlenberg & Tsai, 2001); o homem foi visto

como um ser integral, um organismo completo e capaz de interagir e ser ativo no seu

processo de desenvolvimento, capaz de aprender com sua história e com a história de sua

espécie e, com tudo isso, ainda ser capaz de ser estudado e entendido com os mesmos

princípios que governam a natureza. E o fato de saber sobre os princípios envolvidos no

seu agir não o impede de extrair o máximo de felicidade de sua vida, pelo contrário, vai

dotá-lo de um repertório mais coerente e funcional possibilitando-o interagir com maior

liberdade e eficácia em seu meio. Dessa forma, também poderá experimentar uma maior

gama de sensações que os eventos agradáveis podem produzir, bem como estará preparado

para lidar com as sensações não muito agradáveis, fruto de outros acontecimentos como

perda e frustração.

Aqueles que compreendem a teoria ou a história da música não

acham, por isso, a música menos apreciável; tampouco aqueles que

compreendem as técnicas artísticas ou a História da Arte deixam, por

essa razão, de apreciar a pintura. É verdade que uma certa ponta de

mistério pode ser reforçadora e podemos ser particularmente tocados


pelo aparentemente inexplicável; todavia, se não existissem

vantagens compensadoras, os educadores teriam muito a explicar.

(Skinner , 1974, p.207)

Autoconhecimento foi definido como ato ou efeito de conhecer a si mesmo,

conhecimento este que está intimamente relacionado à comunidade verbal na qual está

inserido o sujeito que busca se conhecer. Esta comunidade modela o repertório verbal do

indivíduo com facilidade quando o que está em foco são eventos públicos, mas quando a

atenção é dirigida aos eventos privados, o que se tem são inferências apoiadas em

comparações e metáforas relacionadas a eventos públicos. Isso não quer dizer que os

sentimentos não existam, pelo contrário, sua existência é inquestionável. O que é

questionado é a capacidade do indivíduo de comunicá-los de forma acurada, daí a

necessidade de uma análise contextual de quando, como, onde, com qual freqüência, com

quem, determinados sentimentos ocorrem.

“Como as pessoas sentem é freqüentemente tão importante quanto aquilo

que elas fazem” (Skinner, 1989, p.3 em Kohlenberg & Tsai, 2001, p.75). Outro ponto

importante a ser observado quando se fala de sentimentos, é que eles são comportamentos

– com a peculiaridade de serem encobertos; pois a definição de comportamento, segundo

Skinner (1961), inclui a atividade total do organismo (pensamentos, sentimentos,

movimentos, etc). Por isso, são governados pelos mesmos princípios que os

comportamentos ditos públicos. Como comportamentos de um organismo não são causas

de comportamentos no mesmo organismo, os sentimentos não são responsáveis pelo que o

indivíduo faz, mas são também produtos de uma interação do indivíduo com o meio.
Millenson (1967), ao falar sobre Causas Fictícias do Comportamento, faz referência a

eventos observáveis que são “acidentalmente” relacionados a outros eventos também

observáveis, como as reações corporais observáveis pelo próprio indivíduo. Um exemplo

disso é quando algo acontece e alguém corre. Este indivíduo, ao descrever o que

aconteceu, pode relatar suas reações corporais (por exemplo dizer que teve medo: com

taquicardia, sudorese, etc) e o que fez (correu). Uma análise um tanto precipitada levaria

alguém a dizer que o indivíduo correu porque teve medo, ou talvez que ele teve medo

porque correu; mas após uma análise mais cuidadosa, poder-se-ia chegar à conclusão de

que ele correu e teve medo porque algo aconteceu. Não é porque uma das reações veio

antes que ela necessariamente é a causa da que veio depois - mesmo porque nem sempre

que alguém tem medo, ele corre, e vice-e-versa. Tudo depende de um contexto amplo a ser

analisado, não se pode falar de como o indivíduo agiu, o que pensou, o que sentiu, sem

saber o contexto em que isso aconteceu. “Tire algo do seu contexto e ele perderá o seu

significado. Ponha este algo em um novo contexto e ele significará outra coisa.”

(Kohlenberg & Tsai, 2001, p. 4)

São estes princípios que vão direcionar o terapeuta durante o processo de

autoconhecimento do cliente, já que qualquer tipo de terapia envolve, em uma primeira

análise, o conhecer a si mesmo. O cliente normalmente busca a terapia na tentativa de se

relacionar melhor com as outras pessoas e com o mundo, aproveitar melhor o seu potencial

e extrair o máximo de felicidade de sua vida. Não cabe ao terapeuta resolver os problemas

do cliente, mas dotá-lo de uma série de ferramentas com as quais poderá valer-se na sua

vida diária. Isso é feito aproveitando e ampliando os repertórios bem adaptados que o

cliente possui, ajudando-o a eliminar, quando necessário, comportamentos inadequados e a


desenvolver novas habilidades que, por um motivo ou outro, não teve oportunidade de

desenvolver.

Partindo do princípio de que tanto os comportamentos ditos normais (bem

adaptados, funcionais ou adequados) quanto os ditos anormais (mal adaptados, não

funcionais ou inadequados) são governados pelos mesmos princípios de aprendizagem, e

que todo comportamento do cliente tem uma função, o terapeuta não decide o que é ou não

funcional para o cliente, utiliza-se da Análise Funcional como forma de organizar os dados

da interação do cliente com o seu meio: a ocasião na qual as respostas ocorrem; as próprias

respostas; e as conseqüências destas respostas. Com isso ele pode, juntamente com o

cliente, levantar hipóteses acerca da instalação e manutenção de determinados

comportamentos, bem como sobre suas funções e conseqüências a curto, médio e longo

prazo. Como sugere Ingberman (1997), quando ensinada ao cliente, a análise funcional

ajuda-o a estabelecer seus próprios controles nas situações de sua vida, é um processo de

liberdade no manejo dessas situações.

Como todas as profissões têm suas técnicas, a Psicologia não poderia ser

diferente. Cada abordagem desenvolveu suas próprias técnicas ou adaptou técnicas já

existentes a fim de que pudesse proporcionar os melhores resultados aos clientes. Devido

ao número e à extensão dos procedimentos desenvolvidos sob princípios comportamentais,

foram selecionados apenas alguns exemplos com uma aplicação mais generalizada, como o

auto-registro e o ensaio comportamental. Deve-se destacar que as técnicas são apenas

instrumentos auxiliares ao processo terapêutico e, em muitos casos, nem precisam ser

utilizadas. A mediação verbal – entrevista - é a principal ferramenta à disposição do


terapeuta, propiciando a interação com o cliente, bem como a obtenção dos dados

necessários para uma análise funcional.

O que é autoconhecimento? Como alcançá-lo e qual o papel da terapia? No

decorrer deste trabalho tentou-se responder a estas perguntas, de forma direta ou indireta. E

da mesma forma que os princípios que fundamentam esta monografia, os conceitos e as

idéias propostas aqui não são fechados ou estáticos, pois a mesma foi escrita em um

contexto, um lugar no tempo e no espaço, sendo produto de interações do autor com o seu

meio, com um repertório verbal também selecionado pelas conseqüências. Em outras

palavras, foi o melhor que pôde ser alcançado a partir das experiências adquiridas até o

momento. A frase que melhor resume o que foi exposto não poderia ser outra: “Ao

tomarmos consciência podemos planejar nossa existência” (Gomide, 1998, p.149)


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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comportamento /Vicente E. Caballo: tradução Marta Donila Claudino. São Paulo:
Santos Editora.

Delitti, M. (1997). Análise funcional: o comportamento do cliente como foco da análise


funcional. Em: M. Delitti (org). Sobre comportamento e cognição. Vol 2. Santo
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