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De acordo com Santaella (2005), toda a variedade Os resultados cor roboram a premissa de
e multiplicidade das formas de linguagens estão múltiplas sintaxes dos mecanismos de busca, de
primordialmente sustentadas em três matrizes Monteiro (2002), posto que as características de
de linguagem-pensamento: a sonora, a visual e a heterogeneidade e multiplicidade, principalmente de
verbal. E a partir dessas, todas as combinações e signos e de linguagens no ciberespaço, apresentam-
misturas são possíveis. Aliás, os mecanismos de se também na indexação e busca virtuais.
busca operacionalizam regimes de signos muito
complexos, sobre os quais se pretendeu aproximar E, ainda, os resultados obtidos a partir dos dados
da compreensão por meio da teoria das matrizes da analisados revelam ser adequada a criação de uma
linguagem-pensamento. categorização dos mecanismos de busca apoiada
nos paradigmas semióticos e da linguagem, de modo
Complementando as ideias, entende-se que a que, coerentemente às matrizes da linguagem estão
organização das obras simbólicas operada por operantes em mecanismos de busca três matrizes
mecanismos de busca está virtualizada e apresenta, virtuais de organização e de busca da informação
ainda, outras características, a saber: a conexão, a e do conhecimento no ciberespaço, quais sejam: a
heterogeneidade, a multiplicidade, a a-significância sonora, a visual e a verbal.
e a cartografia, ou seja, conceitos deleuzianos do
Rizoma (MONTEIRO, 2002; 2009). Dessas três matrizes da linguagem supõe-se que
operam todas as hibridizações de signos e de
A utilização do termo “mecanismos de busca” neste linguagens, bem como de organização e de busca
trabalho compreende toda a arquitetura de um search da informação e do conhecimento no ciberespaço.
engine. Embora sejam variadas, as arquiteturas dos
mecanismos de busca contemplam três etapas, que A FENOMENOLOGIA E A SEMIÓTICA
são a captura de conteúdo, a indexação e a busca
(PAGE; BRIN, 1998). Neste trabalho, optou-se pela utilização de teorias
específicas, sendo a fenomenologia e a semiótica
Nesse contexto, a busca em si é aquela que põe em de tradição peirciana as bases conceituais para
conexão usuário e máquina, na qual o usuário utiliza- esta investigação. Com isso, faz-se necessária a
se de uma interface que oferece uma caixa de entrada, introdução, ainda que breve, desses assuntos,
query, para que o usuário apresente sua intenção para o entendimento da análise dos dados e dos
de busca. É neste ponto que a multiplicidade e a resultados obtidos.
heterogenidade de signos e de linguagens podem
ser verificadas e refletem a sintaxe de indexação Para o filósofo Charles Sanders Peirce (1839-1914),
operada de acordo com os critérios estabelecidos o fundamento observacional é o primeiro grande
pelos algoritmos de ordenação e apresentação dos trabalho que a filosofia (fenomenologia) deve realizar.
resultados. Nesse passo, após debruçar-se sobre a experiência,
ela mesma, Peirce concluiu que só há três elementos
O objetivo da pesquisa foi verificar em que medida formais ou categorias universalmente presentes em
as matrizes da linguagem correspondem à indexação todos os fenômenos (SANTAELLA, 1995).
virtual dos estoques informacionais no ciberespaço,
bem como seu modus análogo de busca, visando A palavra fenômeno deriva de phaneron, ou seja,
a consolidar uma categorização dos mecanismos qualquer coisa que aparece de qualquer modo
de busca baseada na semiótica das matrizes da à mente, sendo que, na concepção de Peirce,
linguagem e contribuir para o desenvolvimento da os fenômenos não possuem nenhuma moldura
Linha de Pesquisa em Representação e Organização preestabelecida, e ainda:
do Conhecimento no Ciberespaço.
[...] não se restringia a algo que podemos sentir, e agora, esforço e resistência, díada... O terceiro
perceber, inferir, lembrar, ou a algo que podemos está ligado às ideias de generalidade, continuidade,
localizar na ordem espaço-temporal que o senso crescimento, representação, mediação, tríada.
comum nos faz identificar como sendo o ‘mundo (1995, p. 18).
real’. Fenômeno é qualquer coisa que aparece à mente,
seja ela meramente sonhada, imaginada, concebida, Na primeira vez em que Peirce divulgou suas ideias,
vislumbrada, alucinada... Um devaneio, um cheiro, as categorias foram restringidas estritamente aos
uma ideia geral e abstrata da ciência... Enfim, qualquer fenômenos mentais, sendo a obra intitulada
coisa. (SANTAELLA, 1995, p. 16). “Sobre uma nova lista das categorias”. Treze
anos mais tarde, Peirce estendeu-as a todos os
Na filosofia de Peirce, todos os fenômenos fenômenos da natureza e do universo, desta
apreendidos pela mente humana são reduzidos a três vez intitulando-as “Um, dois, três: categorias
categorias lógicas, são elementos formais, filamentos fundamentais do pensamento e da natureza.”
mais gerais, abstratos e universais de todo o universo. (SANTAELLA, 2005).
De acordo com Santaella:
A terceira categoria fenomenológica é o “crescimento
Essas categorias não podem ser confundidas
contínuo”, autogeração, semiose infinita, mediação,
com entidades puras. Há infinitas modalidades
de categorias particulares que habitam todos ação de gerar outro signo, ou seja, um interpretante
os fenômenos. Essas, no entanto, são as mais do primeiro já é signo. É nessa categoria que
elementares e universais, tão gerais que podem ser nasce a semiótica peirciana, os estudos semióticos
vistas mais como tons, humores ou finos esqueletos e a classificação dos signos. Nesse ponto,
do pensamento do que como noções definitivas. São Peirce amplia a noção de signo para aquém do
pontos para os quais todos os fenômenos tendem a signo genuíno (signo terceiro), e as categorias
convergir. (SANTAELLA, 1995, p. 17). fenomenológicas são reintrojetadas dentro da
semiótica (SANTAELLA, 1995).
No percurso de desenvolvimento dos estudos de
Peirce, foram aplicadas diferentes denominações Essa também pode ser entendida como uma teoria
para nomear as categorias, pois em cada campo lógica do signo e ocupa posição especial na filosofia
ou fenômeno elas assumem naturezas variadas, de Charles Sanders Peirce (1839-1914), pois o estudo
porém o substrato lógico-formal das categorias sobre os signos nos mais variados campos do saber
se mantém sempre. Buscando diferenciar o levaram a compor sua tese anticartesiana de que
suas categ orias e evitar o uso de ter mos todo pensamento se dá em signo e, principalmente,
fi losofi camente carregados de sentido, Peirce na continuidade do signo.
utilizou termos esvaziados de qualquer conteúdo
material, reduzindo-os à sua natureza puramente Nesse sentido, a tese de Peirce fundamentou sua teoria
lógica, e denominou suas categorias universais sígnica do conhecimento, de que todo pensamento
como primeiridade (mônada), secundidade é continuação de outro pensamento e que leva a
(relação diádica) e terceiridade (relação triádica) outro. Esse processo é denominado autogeração ou
(SANTAELLA, 1995). semiose infinita (SANTAELLA, 1995).
Apesar de o signo ser o primeiro da tríade da teoria Embora exista grande quantidade de signos, os
dos signos (signo, objeto e interpretante), é o objeto principais e mais divulgados nas apresentações
que determina o interpretante de modo mediato sobre semiótica são três e dizem respeito ao signo
(ou seja, mediado pelo signo). Pois ocorre que na em relação ao seu objeto, sendo esses tipos de
semiótica se atribui ao signo uma primazia lógica, signos denominados ícones, índices e símbolos.
pelo seu caráter vicário de representação. No entanto, Peirce também investigou o signo na
relação em si mesmo e o signo em relação ao seu
A semiótica, como ciência humana, emergiu em interpretante e desenvolveu uma tipologia de signos
diferentes pontos do mundo e se concretizou que ficou muito conhecida e contempla sua tradição
a partir do crescimento do uso de informação triádica (quadro 1).
QUADRO 1
Classificação dos signos
Quanto à tríade ícone, índice e símbolo, que é o e na classificação dos signos em uma perspectiva
signo em relação ao seu objeto, vale ressaltar que semiótica. Também é importante salientar que no
o ícone não representa apenas seus objetos por interior das matrizes opera a lógica recursiva, ou
semelhança e isomorfismo, como nas percepções seja, nota-se que são observados em cada uma das
visuais: desenhos, imagens, pinturas e diagramas, matrizes os caracteres de cada uma das categorias
mas também por percepções mentais e auditivas. fenomenológicas e da classificação dos signos. Os
Os ícones são tão abstratos que não representam aspectos da linguagem sonora são identificáveis
mais que sentimentos e formas, pois a qualidade na linguagem visual e as características de ambas
significante do ícone provém de suas qualidades aparecem na linguagem verbal.
(MONTEIRO, 2006).
De acordo com Santaella (2005), a matriz sonora
Já o signo indicial está em conexão dinâmica com está para a primeiridade e é uma questão do ícone, a
a realidade, por ora o que quer que seja “real”, e matriz visual está para a secundidade e é uma questão
envolve a existência de seu objeto. O índice é um do índice, e a matriz verbal está para a terceiridade
signo segundo e se a secundidade for uma existência e é uma questão do símbolo. Assim, para compor
de fato, o índice é genuíno, se a secundidade for uma o diagrama das matrizes foram fixados três eixos
referência, então o índice é degenerado. classificatórios, de modo que o eixo da sintaxe está
para a matriz sonora, o eixo da forma está para a
Quanto ao signo simbólico, suas características matriz visual e o eixo do discurso está para a matriz
principais são a generalidade da lei, a regra, o verbal (SANTAELLA, 2005).
hábito ou a convenção da qual o signo símbolo é
associado. E sua função como signo dependerá Mas dizer que a matriz sonora está para a
dessa força viva que governará e determinará seu primeiridade não a impede de expandir-se para os
interpretante. domínios da secundidade e da terceiridade, pois
essas são reintrojetadas no interior dessa matriz.
No âmbito deste trabalho, o signo é sempre um O mesmo pode-se dizer sobre a matriz visual
existente, um registro fixado em qualquer suporte que estende para o domínio icônico e simbólico
digital e acessível virtualmente por meio dos as investigações das formas visuais. Do mesmo
programas de computador e das conexões no modo, pode-se dizer que também a matriz verbal
ciberespaço. apresenta no seu interior correspondências com
os caracteres icônicos e indiciais. Por exemplo,
Nesse sentido, o ícone puro e enquanto mera
o caso dos adjetivos e dos discursos descritivos,
qualidade de sentimento, ou pura qualidade, se perde
proeminentemente icônicos, e o caso dos
no momento mesmo do registro ou fixação do signo
pronomes, por exemplo ‘este’, ‘aquele’, que
em qualquer tipo de suporte. Vale notar que, no
mantêm relações existenciais com seus objetos e
interior da semiótica, opera a lógica da recursividade
também é o caso das narrativas.
e em cada nível ou campo fenomênico as categorias
são reintrojetadas. Com base nessas orientações para o estudo das
linguagens, Santaella elaborou um diagrama
MATRIZES DA L I N G UA G E M - (diagrama 1) que compreende 27 modalidades
PENSAMENTO dentro de cada matriz (aqui explicitadas 9, no interior
delas). Estas estão distribuídas nas três matrizes
A teoria das matrizes da linguagem-pensamento, primordiais – a sonora, a visual e a verbal. Em cada
a sonora, a visual e a verbal, foi postulada por nível são introjetadas as categorias fenomenológicas
Santaella (2005), que se baseia fundamentalmente e se investigam seus caracteres correspondentes no
nas categorias universais da fenomenologia peirciana diagrama das matrizes.
DIAGRAMA 1
As três matrizes e suas modalidades
b) indexação e busca dos documentos visuais versus lógica de representação está presente em todas as
matriz visual, eixo da forma; matrizes, sejam elas sonoras, visuais ou verbais.
QUADRO 2
Corpus de pesquisa
Essas representações podem ser arquivos MIDI mecanismos que operam a indexação e a busca
(Musical Instrument Digital Interface) e CMN (Common baseadas em conteúdos sonoros e musicais (figura
Music Notation). 1). Esse, embora seja semelhante quanto ao
aspecto colaborativo dos usuários na construção
A extração do tema e a classificação dos itens no e na edição dos conteúdos da base de dados, não
índice utilizam esses parâmetros para identificar é afiliado à Wikipédia.
diferenças sutis entre os recursos analisados e
sistematizá-los, proporcionando velocidade na O conteúdo da coleção na base de dados
busca. Contudo, a busca por conteúdos musicais compõe-se de melodias e temas musicais, e a
pode ser executada por meio de outra metodologia base foi planejada para ser pesquisável, editável
de busca em áudio denominada transcrição. Essa e expandível. O Musipedia é uma iniciativa de
técnica converte uma expressão de busca em uma Rainer Typk, mas é mantido por muitos outros
representação que viabiliza a busca em bases de colaboradores para idealizar a logomarca, planejar
dados de áudio completo, por exemplo, composta a interface, traduções para outras línguas, novos
por arquivos WAV e MP3, e/ou em índices de implementos para o sítio, e os próprios usuários
conteúdo musical, porém essa abordagem exige mais são editores dos registros da base.
tempo para responder a uma consulta do usuário
(REISS; SANDLER, 2002). Esses registros podem conter um pedaço da faixa
da música, um arquivo MIDI, a informação
No ciberespaço, elegeu-se o domínio de busca textual sobre a obra e o seu compositor, e por
Musipedia como corpus para a investigação desses último, mas não menos importante, o código
FIGURA 1
The Musipedia: melody search engine
de Parson, que representa o contorno melódico linguagem sonora, quanto nos estudos sobre a
contido no documento. indexação e busca maquínicas da música, ou seja,
aquela operada pelos mecanismos de busca.
Esse mecanismo aceita buscas com base no ritmo,
em que o usuário pode expressar sua intenção A linguagem sonora é ainda domínio do acaso –
batendo ritmicamente no teclado da máquina, e a mais livre; a recepção do som emitido por um
também opera com a inserção direta de som, seja a usuário no ato da busca pode ser interferida por
voz do usuário cantando um trecho da música, ou outros sons do ambiente natural no percurso para
tocando algum instrumento musical perante um o ambiente digital da máquina. Esse aspecto é
microfone conectado em uma máquina com acesso enfatizado tanto em relação aos mecanismos de
em rede. Nesse caso, é necessário um mínimo de busca sonoros e musicais no tratamento de ruídos,
tempo de gravação, por exemplo, 10 segundos de quanto nos estudos da matriz sonora. De acordo
gravação seriam necessários para extrair padrões com Santaella (2005), na modalidade dinâmica das
como notas, tons e qualificar a expressão de busca gestualidades, especificamente na submodalidade a
em uma representação sonora e musical para gestualidade sonora no espaço externo, a sintaxe sonora
compará-la aos documentos contidos nos índices se hibridiza com o ambiente arquitetônico. De
ou base de dados de conteúdos completos. modo correlato, os mecanismos de gravação e de
tratamento da expressão da busca também se situam
Quanto ao aspecto da linguagem sonora e sua nessa problemática.
correspondência aos mecanismos de busca da
música, salienta-se que o fato de a linguagem sonora Embora outros aspectos também possam
estar contemplada na categoria fenomenológica ser correspondidos entre a matriz sonora e a
de primeiridade e de domínio semioticamente operacionalização da organização virtual da
icônico apresenta certa complexidade para seu linguagem sonoro no ciberespaço, a partir dos
entendimento e uso, pois os ícones apenas podem mecanismos de busca, o que se pretendeu argumentar
apresentar qualidades, possibilidades e sugestões. foi a correspondência do eixo da sintaxe na matriz
sonora para o estudo da organização virtual dos
Outro aspecto que se detectou nesta investigação conteúdos sonoros em bibliotecas digitais virtuais
é o fato de que, do ponto de vista semiótico, faz-se e mecanismos de busca.
imprescindível que o usuário de busca detenha certo
conhecimento da organização da linguagem sonora, Nesse sentido, salienta-se que o principal elemento
níveis que se aproximam do legi-signo, para interagir na sintaxe sonora é o tempo, de modo que, se há
de acordo com regras, leis e convenções desse regime tempo na música, há também uma sintaxe, ou
semiótico, ou seja, o usuário precisa ter hábito, no seja, um modo de organização ou regra em que os
sentido peirciano, para lidar proveitosamente com eventos sonoros ocorrem no tempo, uma ordem
esses mecanismos. de repetição que engendra uma gramática própria.
Paradigma visual dos mecanismos de busca O mecanismo de busca Retrievr foi criado por
Langreiter Christian e aplicado em 2006 para indexar
No caso da linguagem visual, do ponto de vista e buscar na base de dados de fotos Flickr do Yahoo!
tecnológico, a indexação maquínica de imagens Segundo seu criador, não é uma ferramenta eficiente
está baseada em operações de extração e análise de busca, mas uma maneira criativa e divertida de
de atributos próprios das formas visuais. No explorar coleções de fotos. Para utilizar o mecanismo
contexto das tecnologias da informação podem de busca Retrievr é oferecida uma caixa de busca
ser fotos digitais, imagens digitalizadas, imagens simples e em branco, também sendo ofertadas
gráficas criadas diretamente em programa quatro opções de tamanho de pincel e um espectro
de edição de imagens (tais como caricaturas, de onze cores, a partir dos quais o mecanismo de
desenhos gráficos, logomarcas etc.), fotos digitais busca baseia-se nas expressões visuais feitas pelo
de satélites, imagens médicas digitalizadas, usuário para retornar recursos visuais que mais ou
imagens de assinaturas digitais e biomédicas. menos combinam ou se aproximam da sua intenção
de busca (figura 2).
Na literatura encontram-se algumas definições
diferentes para referir-se a esse campo de estudo, No Retrievr destaca-se a proeminência de aspectos
tais como Content-Based Image Retrieval (CBIR), fenomenológicos de primeiridade, ou seja, características
Quer y By Image Content (QBIC), em menos dos recursos visuais que se aproximam das formas não
frequência como Content-Based Visual Information representativas descritas na matriz visual, formas que
Retrieval (CBVIR) e os aspectos comumente nada representam, apenas apresentam-se, como, por
abordados são a cor, a textura, a forma e a exemplo, as cores. As cores são altamente sugestivas e
espacialidade (IDRIS; PANCHANATHAN, 1997 ambíguas, dizem apenas sobre atributos internos das
apud GOODRUM, 2000). formas visuais, isto é, pura possibilidade.
FIGURA 2
Retrievr: search by sketch / search by image
Nota-se que, semioticamente, a cor é mera governam a ocorrência dos signos, a autora cita os
possibilidade e pode encarnar em diversas formas; a esteriótipos que, por mais estilizados e singulares
cor é pura qualidade, mas quando materializada em que possam ser, sempre apresentam algum traço
um corpo é atributo desse corpo e, por isso, pode relacionado ao objeto que referenciam. São
ser denominada um sin-signo icônico. Os resultados exemplos os desenhos de castelos, de coqueiros,
assemelham-se à expressão de busca pela qualidade, mas também podemos dizer de bonés, de camisas,
que no exemplo anterior refere-se à qualidade de parafusos e de aparatos técnico-industriais.
de verde, contudo os resultados são ambíguos e
sugestivos. Esse mecanismo também considera o No ciberespaço, elegeu-se o mecanismo de busca
volume de coloração, no exemplo citado, com muito VizSeek, desenvolvido pela empresa VizSpace &
verde, mas também operacionaliza a localização da HotSpot, que busca recursos visuais de desenhos
cor pela espacialidade nas formas visuais. industriais elaborados bi e tridimensionalmente
(figura 3).
Todavia, as formas visuais também assumem níveis
representativos e os exemplos mais apropriados Nesse mecanismo, o atributo principal para
podem ser extraídos das formas figurativas. Pois relevância dos resultados é a forma. Nele também
a forma, nesse caso específico, se entendida se oferecem recursos próprios das formas visuais
gestalticamente, apresenta o binômio figura-fundo. para elaboração da expressão de busca, tais como
A figura, nesse caso, é uma forma organizada, que círculos, quadros, retângulos, triângulos, linhas retas
possui contornos e se diferencia por intensidade do e curvas e ferramentas de desenho a mão livre.
fundo que é amorfo, indefinido e inorgânico.
Quanto à correspondência da operacionalização
De acordo com Santaella (2005), as formas figurativas dos signos visuais nesse mecanismo específico e a
em nível de primeiridade estão relacionadas à matriz visual, é relevante o aspecto mimético das
qualidade, ou seja, à figura sui generis, e nesse caso, formas figurativas, do qual se pode descrever uma
o usuário recria qualquer objeto, mas atribuindo cadeia de relações semióticas. A forma feita pelo
a ele uma realidade plástica. No nível de leis que usuário imita o objeto na base de dados, que imita,
FIGURA 3
VizSeek: powerful shape search and ontology engine
por sua vez, o objeto referenciado. O signo, nesse seja, navegação em centros urbanos globais de forma
caso, está sendo determinado pelo objeto dinâmico totalmente simulada no programa em tela.
da realidade, aquele produto industrial no mundo
externo que consta também no catálogo de vendas No caso da linguagem visual, situada no nível de
das empresas fornecedoras no mundo real. secundidade (índice), a relação de existência e
presentidade parece, hipoteticamente, diminuir a
A seguir, analisa-se o domínio de busca geoespacial complexidade de busca, pois o usuário se depara
Google Earth (figura 4). com os recursos de desenho e coloração utilizados
para buscar conteúdos visuais. A forma dos
Quanto ao aspecto da linguagem, embora seja desenhos bi e tridimensionais, seus atributos, como
possível utilizar palavras para localizar algum ponto a coloração, a posição e a figura são o que parecem
específico no espaço geográfico, pode-se dizer operar a lógica da indexação e da busca nesses
também que essas palavras operam semioticamente mecanismos baseados em conteúdos visuais.
como índices, domínio da categoria fenomenológica
de secundidade. Esse programa específico utiliza Paradigma verbal dos mecanismos de busca
predominantemente fotos de satélites, portanto,
são programas dominantemente visuais. E essas Quanto à linguagem verbal, os mecanismos de
formas de representação visual correspondem busca apresentam a maior audiência para captar
perfeitamente à modalidade da figura como registro. todo tipo de conteúdo. Bem mais conhecidos como
mecanismos de busca textual (linguagem verbal
Em relação aos mapas, embora sejam também escrita), esses buscadores parecem apresentar o
imitativos, e ainda, indiciais, a proeminência da ação menor grau de complexidade para utilização dos
sígnica dos mapas recai sobre as convenções pelas usuários. Talvez isso se deva ao hábito que a maioria
quais eles são governados. É certo que as imagens dos usuários tenha com os signos simbólicos, bem
georreferenciais são registros físicos que mantêm como à convencionalidade de seus empregos e usos.
conexão dinâmica com seus objetos, são diádicas, Fenomenologicamente, esses mecanismos estão em
mas principalmente com respeito aos mapas, o que relação à categoria de terceiridade e os caracteres
vale são os tratados e convenções fronteiriças. dessa categoria são a representação, a generalidade,
a mediação, lei ou regra.
Por isso, pode-se dizer que os
mecanismos de busca geográficos FIGURA 4
são proeminentemente visuais porque Google Earth
lidam com formas de representações
visuais, mas as leis que governam
as fronteiras são especialmente, em
nível fenomenológico, de terceiridade,
e correspondem semioticamente
aos legi-signos, ou seja, nível de
convenções e hábitos que governam
a ação dos signos.
Para Santaella (2005), a matriz verbal tem seu eixo na linguagem natural, termos qualitativos podem
classificatório no discurso. Com efeito, são a descrição, ser argumentos de busca em sities em geral, em
a narração e a dissertação as três modalidades ou especial, uma modalidade de buscadores, como os
princípios organizadores da sequencialidade discursiva. especializados em compras, como o Buscapé (figura
Nesse seguimento é o sistema de símbolos que tem 5) e seus similares nacionais e internacionais.
função representativa, já que as palavras estão ligadas
simbolicamente aos seus objetos. Mas “não se trata, Qualidades e especificações de produtos,
portanto, de uma taxonomia fixa, mas de focos de descrição de preços e tags associadas fazem parte
inteligibilidade para os modos analógicos, existenciais do repertório descritivo de seus objetos. Nessa
e lógicos através dos quais o discurso escrito realiza as categoria, pode-se ilustrar também o mecanismo
suas armações.” (SANTAELLA, 2005, p. 367). A9 da Amazon (figura 6), que opera similarmente
em seu acervo de livros.
É c u r i o s o o b s e r va r q u e o s
mecanismos de busca que operam FIGURA 5
os signos verbais, embora de BuscaPé: Comparação de produtos e pesquisa de preços
outra complexidade, estão sendo
pensados a partir dos estudos do
discurso, quer sejam ontologias,
lógicas discursivas, semânticas,
hermenêuticas, entre outras.
Outra observação é importante:
todas as palavras/ter mos/
conceitos utilizados para a busca
são considerados parte do todo,
metonímias, ligações conceituais
para os discursos de informação e de
conhecimento no ciberespaço que,
logicamente, representam e estão
ligados a um corpus de conhecimento.
A lei de representação, contida FIGURA 6
no signo simbólico, faz com que A9.com: Innovations in search technologies
esse signo gere outro signo a ser
interpretado, de modo que de
palavras isoladas passamos para
as proposições, destas para os
discursos. Da mesma forma ocorre
com os buscadores, no continuum das
ligações de contexto.
Logo, no nível de primeiridade, a
linguagem descritiva representa uma
tentativa de traduzir, por meio do
verbal, o mundo de qualidades dos
objetos. Assim é que, em razão de
os mecanismos de busca operarem
Não obstante, qualquer mecanismo de busca geral, e racional. Aqui é o território do signo genuíno de
ou especializado em blogs, pode ir ao encontro de terceiridade fenomenológica. Pode-se situar o Google
poesias, consideradas, por Santaella (2005), o campo livros ou o Google Scholar (figura 9, a seguir) como
de virtualidades qualitativas da linguagem, portanto, exemplos típicos dessa modalidade.
outro exemplo da modalidade do discurso descritivo,
que a autora classifica como quase não verbal, Contudo, há ainda os mecanismos híbridos em que
registro dos sentimentos, de qualidades. ocorrem processos de intersemiose, tal é o caso em
que uma linguagem é utilizada para indexar e buscar
No discurso narrativo o modo de expressão produtos majoritariamente de outras linguagens,
proeminente é o fato concreto, das experiências por exemplo, quando se utiliza o texto (linguagem
singulares. A lógica do discurso narrativo é o verbal) para buscar música (linguagem sonora) e/
mundo que se move: da temporalidade das histórias ou fotos (linguagem visual).
ficcionais ou não, da locução de
um jogo de futebol, o grau zero do FIGURA 7
acontecimento, no meio eletrônico, Google Blog: pesquisa Google de blogs
os blogs, diários de vidas comuns,
com sua cronologia decrescente de
registro de atualizações. Com efeito,
os buscadores especializados em
blogs, como o Google Glog (figura
7), contam e trazem a estatística
dessa incrível audiência dos posts:
narrativas virtuais.
A compreensão do conceito
agenciamento faz-se necessária
para o entendimento da filosofia
É comum encontrar mecanismos que oferecem deleuzeana, que pressupõe fluxos semióticos de
caixas de busca em que se inserem palavras-chave signos, quer sejam linguagens e fluxos materiais de
para buscar fotos, músicas, vídeos, e dessa razão, corpos, quer sejam homens e máquinas (DELEUZE;
pode-se deduzir que, se a caixa de busca é para GUATTARI, 1995).
entrada de palavras-chave, essas são semelhantes
aos termos indexados. Nesse caso, os termos estão Nesse sentido, especialmente a busca em si
no lugar lógico de um documento que pode ser uma mesma, no ciberespaço, põe em conexão o sujeito
página Web, ou um arquivo de apresentação, entre cognoscente, denominado usuário, e a máquina,
outros. Por exemplo: quaisquer sejam os mecanismos de busca. Logo,
trata-se de agenciamentos maquínicos muito
Fizy: permite ouvir música diretamente na página complexos, de modo que o objeto estudado foi
dos resultados de busca, sem a necessidade de se ao mesmo tempo semiótico e material. E partindo
abrir a mídia de áudio em outro programa; desta perspectiva epistemológica que se realizou este
estudo, com base na semiótica peirciana.
Blinkx: permite encontrar e assistir aos vídeos
oriundos de diversas fontes em linha; Em relação à interface de busca entre homens e
Yippy: um mecanismo de metabusca em que as máquinas, devem ser compreendidos todos os
páginas Web podem ser navegadas sem se sair da periféricos de entrada e saída da informação, ou
interface mesma do mecanismo. seja, as caixas de som representam a interface
sonora pela qual o usuário entra em contato com os
resultados de músicas. E os microfones conectados
CONSIDERAÇÕES FINAIS
ou embutidos nas máquinas são as interfaces que
Os mecanismos de busca, por estarem inseridos possibilitam ao usuário expressar suas intenções
no contexto das tecnologias de informação e de busca em mecanismos de busca sonoros. E,
comunicação, são permanentemente acrescidas de assim por diante, nos diversos regimes de signos
novos aparatos tecnológicos e, por isso, encontram- envolvidos na organização e busca virtuais em
se em constante modificação. De modo que o diferentes linguagens que compreendem os variados
estudo sobre as categorias dos mecanismos de estoques informacionais maquínicos.
De modo abrangente, pode-se observar que, se Finalizando, o estudo em tela não se encerra com
na linguagem sonora a sintaxe se engendra no este trabalho, pois o objeto, devido à sua dinâmica
tempo, no caso da linguagem visual, a forma, no ciberespaço, impõe constante monitoramento
ou regras sintáticas pelas quais as formas de teórico e intelectual, para que se acompanhe
representação visual são organizadas, engendram-se compreensivamente o avanço sociotécnico dos
mais prontamente no espaço. produtos de informação e de conhecimento, nesse
caso, os mecanismos de busca, pertinentes aos ______. A organização virtual do conhecimento no ciberespaço: os
agenciamentos do sentido e do significado. 2002. 267 f. Tese
estudos da área de ciência da informação. (Doutorado em Comunicação e Semiótica) - Programa de Pós-
Graduação em Comunicação e Semiótica, Pontifícia Universidade
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