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Catarina Baptista

201372014
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 Fontes de Direito

As normas de direito encontram a sua fonte regularmente na lei. Consideram-se leis todas
as disposições genéricas provindas dos órgãos estaduais competentes. As leis, escritas, são as
fontes imediatas do direito (art. 1º nº 1). Fonte imediata do direito é também, embora de uma
maneira muito limitada, o direito consuetudinário costume, contudo este não é mencionado
nos arts. 1º e ss do Código Civil.
Além das fontes imediatas do direito, existem também as fontes mediatas, nos termos dos
arts. 2º, 3º e 4º do Código Civil, isto é, os assentos (do Tribunal pleno, estes assentos são
proferidos em recurso para o mesmo Tribunal, ou seja, quando há dois acórdãos do Supremo
Tribunal de Justiça, que relativamente à mesma questão de Direito tenham estabelecido
relações diametralmente opostas- revogado pelo acórdão do Tribunal Constitucional 810/93
de 7 de Dezembro em que declarou inconstitucional a emissão de doutrina com força
obrigatória geral), os usos (só valem quando a Lei o determinar. Por si só não são fonte de
Direito Civil) e a equidade (os tribunais podem decidir os casos que lhe sejam presentes
segundo o princípio da equidade- igualdade-, sendo que a mesma só é admitida quando haja
uma disposição legal que o permita e quando ainda as partes assim o convencionarem),
respetivamente. Por outro lado é necessário ter em conta certas decisões do Tribunal
Constitucional, que ao declararem inconstitucionalidade ou ilegalidade de uma norma ou de
uma lei, têm força obrigatória geral, nos teros dos arts. 281º e 282º da C.R.P., conduzindo á
revogação “ex tunc”, isto quer dizer, desde a sua entrada em vigor , das normas ou leis em
causa.
O Código Civil, ao enunciar nos seus artigos 1º a 4º as fontes do direito, parece querer
afastar o direito consuetudinário. No entanto, isto seria uma solução positivista, que a própria
lei (art. 10º C.C.) exclui pois não está nas mãos do legislador proibir de todo a formação do
costume. Uma lei que admite a existência de lacunas, não pode ter querido que fosse excluída,
a priori toda a formação de lacunas de direito consuetudinário. Contudo a formação de direito
consuetudinário é limitada. Incontestavelmente, o Código Civil admite o direito
consuetudinário estrangeiro e local, cabendo a prova da sua existência àquele que o invocar
(art. 348º C.C.).

Resumo:

Direito Fontes imediatas


Lei (art. 1º nº1 C.C.)
Direito Consuetudinário (não está legislado na parte das fontes, art. 348º C.C.)

Fontes mediatas
Assentos (art. 2º C.C.)
Usos (art. 3º C.C.)
Equidade (art. 4º C.C.)
Constitucionalidade ou Ilegalidade leis ou normas (arts. 281º e 282º C.R.P.)
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 Princípios fundamentais do Direito Civil

Existem oito, diferentes, princípios base para as normas do Direito Civil, são os
mesmos:
1. O reconhecimento da pessoa e dos direitos de personalidade
2. O princípio da autonomia privada
3. O princípio da boa-fé
4. A Responsabilidade Civil
5. A concessão de personalidade jurídica às pessoas coletivas
6. A propriedade privada
7. A família
8. O fenómeno sucessório ou sucessão por morte

 O reconhecimento da pessoa e dos direitos de personalidade

As pessoas singulares surgem como pessoas no sentido jurídico, quer dizer,


adquirem personalidade, no momento do nascimento completo e com vida (art. 66º nº1 C.C.).
Não é preciso, além destes pressupostos, qualquer outra intervenção (reconhecimento ou
atribuição) da ordem jurídica. A personalidade adquire-se, pura e simplesmente, pelo
nascimento. Na medida em que o art. 66º nº1 C.C., aceita a personalidade, perfeita e indivisa,
de toda a pessoa humana, reconhece e garante simultaneamente a condição elementar de
igualdade e dignidade da mesma.
No domínio do direito privado, o âmbito da personalidade é igual para todos os
homens. Cada um é suscetível de ser titular de todos os direitos privados que existem dentro
da ordem jurídica privada ou que venham a ser admitidos por ela. São estas as consequências
do princípio fundamental da igualdade jurídica que norteia todo o direito privado,
estabelecendo para todos igual capacidade.
Nas ordens jurídicas coletivistas, por sua vez, a personalidade não é uma
qualidade inata da pessoa, mas é atribuída aos homens, de acordo, aliás, com o carácter
positivista daquelas ordens. Assim, a afirmação de que o homem possui personalidade tem
apenas significado (ou valor) normativo. O facto de as pessoas possuírem personalidade
explica-se unicamente pela necessidade da sua participação no tráfico jurídico. Fica assim
evidente a interdependência existente entre o regime jurídico da personalidade consagrado
por uma dada ordem jurídica e a conceção do homem que está subjacente a esta mesma
ordem.
A aquisição da personalidade segundo o art. 66 nº1 pressupõe, portanto: o facto
do nascimento (sendo que nascimento é a separação do feto do corpo materno); que o
nascimento seja completo (momento em que o feto se separa inteiramente do corpo da mãe,
não significa que o cordão umbilical esteja cortado); e que o nascimento seja com vida (depois
da sua separação do corpo materno, a criança tem que ter vivido).
Sob a epígrafe “começo da personalidade”, o nº2 do art. 66º C.C. regula ainda a
situação jurídica dos nascituros (“os direitos que a lei reconhece aos nascituros dependem do
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seu nascimento”). O conceito de “nascituro” do nº2 do art. 66º C.C. abrange duas situações: o
nascituro propriamente dito (“nasciturus”) e ainda o não concebido (“ nondum conceptus”).
Porém, em nenhuma destas duas situações o nascituro possui personalidade, nem sequer
personalidade condicionada pelo nascimento. Os casos em que a lei reconhece direitos aos
nascituros contêm-nos os arts. 952º (doações a nascituros); 1855º (perfilhação nascituros);
1878º (poder paternal aos nascituros); 2033º nº 1 2 nº2 alínea a) (capacidade sucessória dos
nascituros) e 2240º (administração da herança ou legado a favor do nascituro). Dentro destes
casos os arts. 1855º e 2033 nº1 pressupõem a existência de nascituros já concebidos.
Existe mais um caso, de elevada importância, em que o nascituro pode ter direitos
a exercer- porém tal deverá acontecer por intermédio dos seus representantes legais- depois
de ter nascido. Isto é, caso o nascituro tenha sofrido lesões enquanto ainda estava no ventre
materno, lesões essas que façam nascer uma criança doente, deformada ou até sem
viabilidade. Este caso suscita imensos problemas que apenas podem ser aflorados, porém uma
coisa é certa: no momento em que ocorreu a lesão, a criança, em virtude de ser apenas um
“nascituro” não possuía personalidade, de modo que na altura da lesão não era titular de
direitos, neste caso de personalidade, cuja violação lhe atribuiria o direito de ser indemnizado.
Não sendo possível atribuir ao nascituro uma personalidade limitada ou fazer
retroagir a personalidade da criança nascida ao momento da lesão, visto não haver nenhum
fundamento legal para o efeito, a ordem jurídica não pode, porém, negar o facto evidente de
que, face à realidade biológica, o nascituro e a criança nascida são idênticos. Assim, do mesmo
modo que a lei estabelece uma conexão entre o nascimento e a personalidade, deve também
estabelecer uma ligação entre o nascimento e as lesões anteriormente sofridas e verificadas.
No momento do nascimento, as lesões sofridas pelo nascituro tornam-se lesões da própria
criança, isto é, um ser com personalidade. Nestes termos, ao ter nascido, a criança adquiriu
um direito à indemnização e de acordo com a lei que faz depender a personalidade do
nascimento completo e com vida, não conhecendo qualquer tipo de personalidade limitada ou
com efeitos retroativos.
A aquisição de personalidade (art. 66º nº1 C.C.) dá simultaneamente origem aos
direitos de personalidade (art. 70º a 81º C.C.) na medida em que são direitos inatos, direitos
originários. Eles pertencem à pessoa como manifestação de personalidade, facto esse
resultante da sua própria colocação sistemática. Nesta qualidade não sofrem restrições,
podendo sofrê-las apenas quanto ao seu exercício. O bem jurídico protegido pelos direitos de
personalidade é o próprio ser da pessoa. Neste sentido os direitos de personalidade são
direitos subjetivos.
A aquisição de personalidade nos termos do art. 66º nº1 C.C. dá origem à
capacidade jurídica. Segundo o art. 67º C.C., a capacidade jurídica consiste em “as pessoas
poderem ser sujeitos de quaisquer relações jurídicas, salvo disposição em contrário”. Por
outras palavras, a capacidade jurídica corresponde à suscetibilidade de uma pessoa ser titular
de direitos e de obrigações. Esta é uma qualidade estática e é inerente à personalidade. Assim,
quem possui personalidade possui também capacidade jurídica, sendo que esta última não
pode ser renunciada (art. 69º C.C).
No entanto, à luz dos textos dos arts. 66º nº1 e 67º C.C. os dois conceitos nãos são
rigorosamente idênticos. De facto, ao contrário do conceito de capacidade jurídica, a
personalidade não é abrangida pela restrição do art. 67º “salvo disposição em contrário”. A
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personalidade é insuscetível de quaisquer limitações e ressalvas, bem diferentes da
capacidade jurídica, que pode ser mais ou menos circunscrita ou cuja medida exata pode variar
segundo as circunstâncias da vida do individuo, assumindo, assim, uma dimensão quantitativa.
O art. 67º estabelece a regra da capacidade, que é uma capacidade de gozo: todas
as pessoas sendo iguais perante a lei, gozam da possibilidade de serem titulares de direitos e
obrigações, isto é, de serem sujeitos de quaisquer relações jurídicas privadas, a não ser que
essa possibilidade esteja expressamente excluída. As disposições que impedem o gozo de
certos direitos têm carácter de exceção. As exceções ocorrem quando se verificam “qualidades
minguantes” na própria pessoa, a respeito de determinados direitos estritamente pessoais.
Assim, estas podem surgir em relação ao casamento, à perfilhação e à feitura do testamento.
Como exceções não constam expressamente na lei.
Da capacidade jurídica (como a capacidade de gozo) distingue-se a capacidade
negocial. Enquanto a lei nos define, no art. 67º C.C., o que entende por capacidade jurídica, o
mesmo não sucede com a definição de capacidade negocial, pois o conceito não é utilizado
pela lei. Pode-se afirmar que capacidade negocial consiste na idoneidade de adquirir ou
exercer direitos ou, então de, assumir e cumprir obrigações por ato próprio com eficácia
jurídica.
A capacidade negocial diz respeito à participação no tráfico jurídico por meio de
atos autónomo-privados e refere-se nesta medida tanto a negócios estritamente pessoais
como a atos ou negócios do comércio jurídico geral. A capacidade negocial pressupõe a
capacidade jurídica, assim, uma pessoa pode ter capacidade jurídica sem possuir
simultaneamente a capacidade negocial, contudo a situação inversa (possuir capacidade
negocial sem possuir capacidade jurídica) está logicamente excluída. Tal como a capacidade
jurídica, também capacidade negocial é uma qualidade da pessoa. Representa assim o
elemento dinâmico.
Efetivamente, de nada serve a capacidade jurídica, como elemento estático, se
não for completada com meios técnico-jurídicos que a dinamizem, isto é, meios de agir para
adquirir direitos e assumir obrigações. Os direitos adquirem-se e as obrigações assumem-se
mediante a participação no tráfico jurídico, de acordo com o princípio da autonomia privada
ou da autonomia da vontade. Para esta participação no tráfico jurídico é necessária a
capacidade negocial que serve para dar sentido à capacidade jurídica: quem participa no
tráfico jurídico faz uso da possibilidade de adquirir direitos, uma vez que já é suscetível de ser
o seu titular.
A participação no tráfico jurídico, de acordo com o princípio da autonomia
privada, pressupõe que as pessoas estão em condições de agir com base na sua vontade,
pressupõe, portanto, que elas possuem o discernimento necessário para querer entender os
negócios que praticam bem como os efeitos pretendidos com eles. Apenas as pessoas nestas
condições têm capacidade negocial para participar no tráfico jurídico e adquirir, assim, o gozo
de direitos.
Se estes direitos forem de natureza estritamente pessoal, de modo que não
podem ser assumidos por outrem em nome em vez do titular, a capacidade para se tornar
titular daqueles direitos chama-se capacidade negocial do gozo. Esta capacidade está prevista
no art. 1600º C.C., com remissão para o art. 1601º C.C (capacidade para casar, e indiretamente
capacidade para fazer a promessa de casamento- art. 1591º C.C.), art. 1850º C.C. (capacidade
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para perfilhar), e art. 2188º C.C. (capacidade testamentária). Nos outros casos, a capacidade
para participar no tráfico jurídico chama-se capacidade de exercício. Segundo a convenção da
lei, esta capacidade adquire-se quando se atinge a maioridade. Por isso um homem normal e
maduro, sendo maior, possui a plena capacidade de exercício (art. 130º C.C.).
Antes da maioridade, as pessoas carecem, em princípio, desta capacidade,
precisamente por serem menores. Mas existem casos, que mesmo após terem atingido a
maioridade não possuem a capacidade de exercício, sendo que tal deve-se ao facto dos
sujeitos apresentarem “qualidades minguantes” que não a menoridade. Nestas situações fala-
se de incapacidades que resultam de fatores existentes e situados nas próprias pessoas.
Contrariamente à capacidade negocial, a capacidade jurídica não pressupõe discernimento ou
a vontade de entender e querer, uma vez que diz respeito à mera titularidade e não se refere à
idoneidade da participação no tráfico jurídico. Faltando a alguém a capacidade negocial de
gozo, o negócio não pode realizar-se validamente, mas faltando a alguém a capacidade de
exercício, de modo que apenas não pode agir por ato próprio, há um representante legal que
age em seu nome, suprindo assim a falta da capacidade, ou há um assistente que viabiliza,
mediante o seu consentimento, os atos do incapaz.
A capacidade negocial (de gozo e de exercício) não faz parte do conceito jurídico
da pessoa ou do conceito de personalidade, visto referir-se apenas à atuação da pessoa.
Além de se vincular por atos praticados de acordo com a autonomia privada, por
via negocial, a pessoa pode também ser obrigada em consequência de um facto ilícito que
cometeu. Chama-se capacidade delitual a idoneidade de uma pessoa responder por factos
ilícitos. Esta situa-se no campo da responsabilidade extracontratual, não negocial, e resulta da
violação culposa de um direito absoluto ou de um interesse legalmente protegido. Esta
capacidade é, para o campo extracontratual, o equivalente da capacidade negocial para o
âmbito contratual.
Os pressupostos da capacidade delitual são naturalmente autónomos e
independentes dos da capacidade negocial, visto referirem-se a um tipo de responsabilidade
essencialmente diferente. A lei define a capacidade delitual de uma maneira negativa, não
dizendo quem a possui, mas explicando quem não responde por um facto ilícito praticado (art.
488º C.C.). Neste artigo, a lei exige para que haja capacidade o pressuposto do entender ou
querer, do discernimento, embora não atendendo para o seu preenchimento ao limite fixo da
maioridade, estabelecido para a capacidade negocial de exercício, mas um limite de idade
muito inferior, variável conforme o caso concreto. A razão desta diferenciação explica-se
sobretudo pelo alcance desigual da vontade no caso da capacidade negocial e no caso da
capacidade delitual. A sanção consiste numa indemnização que, em certos casos, pode ser
limitada por motivos de equidade, como consta nos arts. 489º, 494º e 496º C.C.
Não se exige qualquer capacidade delitual para se poder verificar a
responsabilidade pelo risco ou a responsabilidade por factos lícitos. Estes casos não estão
logicamente conexos com a capacidade civil de agir. Podem verificar-se independentemente
daquela capacidade em virtude da simples titularidade de um direito, resultante da capacidade
jurídica. A responsabilidade pelo risco e por factos lícitos baseia-se em princípios autónomos.
Quanto ao termo da personalidade, o art. 68º nº1 constata que ela cessa com a
morte, e apenas com a morte. A maior parte das legislações não conhece uma disposição
equivalente: por um lado, supõe-se que a morte está subtraída à vontade do homem (não se
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pode consentir válida e legalmente numa lesão de que resulta a morte- art. 81º e 340º nº2
C.C.), por outro lado, o efeito jurídico da morte, naturalmente, não pode ser outro que o fim
da personalidade.
A morte pode ser natural, como é o caso do art. 68º nº1, ou pode ser uma morte
presumida, como são os casos dos arts. 114º e 115º C.C.. A declaração da morte presumida,
feita nos termos dos arts. 114º e 115º C.C., produz os mesmos efeitos que a morte natural,
contudo não dissolve o casamento (art.115º C.C.), embora o torne dissolúvel por divórcio (art.
1781 alínea b) C.C.) ou por um novo casamento (art. 116º - 1ª parte- C.C.), que, por sua vez,
conduz ao divórcio no caso de o ausente regressar ou estar vivo (art. 116º - 2ª parte- C.C.)
A morte natural não se verifica necessariamente com a paragem do coração, da
circulação ou da respiração, onde poderá haver hipóteses de reanimação, mas sempre com a
morte cerebral, isto é, quando o cérebro deixa de funcionar por completo. Na grande maioria
dos casos, é a paragem da circulação que caracteriza a morte, mas também há casos onde a
irrigação sanguínea se mantém, apesar das lesões do sistema nervoso central irreversíveis e
incompatíveis com a vida humana.
Daí nasce a necessidade de se determinar o momento a partir do qual é lícita a
recolha de órgãos do corpo de uma pessoa, sem se recorrer ao risco da pessoa ainda estra viva
(determinação feita pelo DL nº 553/76, de 13 de Julho). É evidente que precisa de ser
enfatizado que nem a colheita de órgãos nem as circunstâncias que esta é feita devem violar a
dignidade pessoal (art. 1º CRP) e os direitos de personalidade do dador falecido (art. 71º C.C.).
Finalmente, no contexto da morte, o art. 68º C.C. estabelece, ainda, duas
importantes presunções. O nº 2 do art. 68º C.C. afirma que “Quando certo efeito jurídico
depender da sobrevivência de uma pessoa outra pessoa, presume-se, em caso de dúvida, que
uma e outra faleceram ao meso tempo”. Com este preceito, a lei estabelece uma presunção
relativamente à simultaneidade da morte, a chamada “comoriência”. Por outro lado, o nº2 do
mesmo artigo prevê a situação diferente, em que não existem dúvidas da morte: “Tem-se por
falecida a pessoa cujo cadáver não foi encontrado ou reconhecido, quando o desaparecimento
se tiver dado em circunstâncias que não permitam duvidar da morte dela”. Neste preceito, não
se trata de uma possibilidade da morte, mas sim de uma situação que não permite dúvidas em
relação à morte, embora não seja possível encontrar o cadáver ou identificar o mesmo. Aqui
não estamos em face de uma situação de morte presumida.
À semelhança dos seus efeitos prévios, a personalidade dá também origem a
alguns efeitos tardios, efeitos esses com uma natureza jurídica diferente. Enquanto a aquisição
da personalidade é antecedida a um período de gestação em virtude do qual a ordem jurídica -
sem possibilidade de ignorar aquele facto biológico – atribui certos direitos ao nascituro
(embora condicionados pelo nascimento), o termo da personalidade não é seguido de um
período correspondente. A situação biológica é completamente diversa. Quando o art. 68º nº1
C.C., dispõe que “a personalidade cessa com a morte”, fala de um facto a todos os títulos
definitivo. Não há quaisquer “prolongamentos” da personalidade para depois da morte. Por
isso é necessário ter em conta que, em consequência do art. 68º nº1 C.C., esta personalidade
cessou de vez, como tal para um morto não existe nenhum preceito equivalente ao art. 66º
nº2 C.C..
Feitas estas ressalvas, é de mencionar neste contexto, primeiramente o caso
previsto no art. 71º nº1 C.C.: “Os direitos de personalidade gozam igualmente de proteção
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depois da morte do respetivo titular”. Há quem afirme que este preceito significa um desvio à
regra do art. 68º C.C:, em certa medida. Isto equivale a dizer que a personalidade em caso de
ofensas a pessoas falecidas ainda não tinha acabado definitivamente, uma vez que é possível
ofender post mortem. Mas esta posição não é de seguir. O art. 71º nº1 C.C., confere direitos
próprios às pessoas legitimadas para defender a integridade moral do falecido, a serem
exercidos, precisamente, no interesse deste. Do facto das pessoas que possuem a legitimidade
para agirem no interesse do falecido, resulta também do facto de elas apenas poderem exigir
que se tomem a “providências adequadas”, não podendo exigir que se lhes paguem
indemnizações.
Uma outra questão oportuna é a de saber se o dano da morte, provocado por um
facto ilícito, dá origem a um direito de indeminização, pela perda da vida, na pessoa da própria
vítima, transmitindo-se estes direito para os seus herdeiros. A corrente doutrinal, claramente,
maioritária pronuncia-se pela positiva. A premissa lógica sobre a qual se baseia a opinião
maioritária é a de que o dano nasce com o início da ação causadora da morte. Quer dizer, o
dano da própria morte nasce quando o mortalmente lesado ainda está vivo. Apesar de tal
facto parecer ilógico, o dano nasce apenas com a ocorrência da morte, ou seja, já no fim dos
efeitos da ação. Portanto, para haver dano da morte, é necessário que a pessoa lesada tenha
efetivamente morrido. Sendo a morte apenas o facto causador do dano, sendo que o mesmo
nasce após a personalidade ter findado. Deste modo, o direito à indeminização apenas pode
ter nascido após a verificação da morte, pois esta é o pressuposto para o próprio dano. Sem a
morte, o dano não existe. Deste modo, é impossível que o dano da morte faça parte da
herança: segundo o art. 2031º, a sucessão abre-se no momento da morte do seu autor, mas
apenas sobre os direitos patrimoniais de que o de cujos já era titular anteriormente.
Contudo, o dano morte é perfeitamente suscetível de ser indemnizado, uma vez
que esta solução decorre da conjugação dos arts. 495º nº1 e 496º C.C.. Diz o nº2 do art. 496º
C.C.: “Por morte da vítima, o direito à indemnização por danos cabe, em conjunto, ao
cônjuge… (e) aos filhos” ou a outros familiares, podendo ser atendidos os danos não
patrimoniais sofridos pela vítima (art. 496º nº3 – 2ª parte, 1ª alternativa – C.C.). Fica assim
claro que a lei não nega o direito a indemnização do dano da morte. Mas esta indemnização
não cabe a quaisquer herdeiros na qualidade de herdeiros, mas pertence aos familiares por
direito próprio, na medida em que este lhes foi atribuído pelo disposto do art. 296º nº2 C.C..
Ainda podem ser mencionadas, como efeitos tardios da personalidade, as várias
hipóteses de disposição para depois da morte. Trata-se, nestes casos, de disposições de
vontade, tomadas em vida, mas destinadas a produzir os seus efeitos somente após a morte.
Para assegurar o cumprimento das disposições feitas, existe o instituto da testamentaria (arts.
2320º e ss C.C.). O testamenteiro fica encarregado de vigiar o cumprimento do testamento e
das disposições nele contidas (art. 2320º C.C.), tendo as atribuições que o testador lhe
conferir, dentro dos limites da lei (art. 2325º C.C.)

Nascimento
(art. 66º nº 1 C.C.)
Personalidade (art. 70º a 81º C.C.)

Capacidade Jurídica (art. 67º C.C.)

Capacidade de Agir (art. 130º C.C.)

Capacidade negocial Capacidade Delitual

Atos autónomo-privados Por culpa Pelo risco


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 O princípio da autonomia privada

É o poder atribuído aos particulares de autogoverno da sua esfera jurídica.


Segundo este princípio, os particulares podem estabelecer a ordenação das respectivas
relações jurídicas, constituindo-se, modificando-as e extinguindo-as, determinando assim o
seu conteúdo. Manifesta-se também no poder de livre exercício dos seus direitos de livre gozo
dos seus bens pelos particulares que caracteriza essencialmente o direito subjetivo. As pessoas
têm assim a liberdade de concluir ou não o ato jurídico, mas uma vez celebrado ficam fixados
os seus efeitos.

 O princípio da boa fé

É um princípio basilar da ordem jurídica e exprime a preocupação desta pelos


valores ético-jurídicos da comunidade. Assume grande importância no domínio dos contratos.
Não é definível mas refere-se á inconsistência do mal que uma determinada conduta pode
infringir a terceiros.
Boa fé em sentido objetivo constitui uma regra jurídica; é um princípio normativo
transpositivo e extralegal. Aplicado aos contratos, constitui uma regra de conduta segundo a
qual os contraentes devem agir de modo honesto, correto e leal, não só impedindo assim
comportamentos desleais como impondo deveres de colaboração entre eles. Boa fé em
sentido subjetivo tem em vista a situação de quem jugal atuar em conformidade com o direito,
por desconhecer ou ignorar qualquer vicio.

 Responsabilidade Civil.

“Nunca ninguém tem culpa, nunca ninguém é responsável, (…) ”. Parece que
podemos concordar com esta observação. Sempre que ocorre um facto causador de um dano
não há ninguém que se sinta responsável por ele e, de modo igual, também não há ninguém
que aceite arcar com o prejuízo sofrido. Portanto, o que é que importa é sacudir a
responsabilidade ou o prejuízo, fazendo ombrear outros com eles.
Sofrer um dano significa ter sido violado, em princípio, num direito subjetivo. Um
direito subjetivo é a expressão do facto de a ordem jurídica, designadamente o direito privado,
ter reconhecido a uma pessoa um “domínio” sobre um bem. Todavia, na medida em que a
pessoa tem o “domínio” sobre o bem é precisamente ela quem assume os riscos que lhe são
inerentes, inclusive o de se verificar um dano ou um prejuízo. Apenas nos precisos casos em
que a ordem jurídica prevê que a violação de um direito subjetivo acarreta o dever de
indemnizar, o prejuízo acaba por ser afastado de quem o sofreu.
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O direito privado considera a pessoa humana um ser responsável, melhor dizendo:
auto-responsável, e, por conseguinte, o Código Civil diz no seu artigo 130º: “Aquele que
perfizer dezoito anos de idade adquire plena capacidade de exercício de direitos, ficando
habilitado a reger a sua pessoa e a dispor dos seus bens.” Com esta disposição a lei civil
reconhece autonomia à pessoa humana. Isto significa que uma pessoa pode, de acordo com a
sua vontade, tratar em princípio de si própria e dos seus bens com todo o cuidado mas
também com o descuido que achar por bem, podendo ser diligente ou negligente, como lhe
convém ou como corresponde à sua maneira de ser.
De facto, o homem possui capacidade para, conforme a sua vontade autónoma,
determinar as suas condutas, estabelecer metas, criar ou conformar relações sociais ou
jurídicas, escolher e estabelecer o seu modo de vida, aceitar desafios ou assumir
responsabilidades. A possibilidade de agir neste sentido significa ter liberdade. Contudo, antes
de agir, o homem deve ponderar os efeitos e os riscos da sua ação (para ele próprio, para
familiares, para terceiros ou até para a comunidade), refletir sobre as consequências e
procurar antever os resultados de acordo com a experiência, os conhecimentos, as
informações e os aconselhamentos de que dispõe e dentro do humanamente previsível. De
facto, a consciência de incluir na sua decisão de agir (ou a consciência de assumir ou de se
identificar com) os efeitos e as consequências dos atos que vierem a ser praticados modera e
limita a liberdade de decisão do agente no sentido de evitar voluntarismos, arbitrariedades ou
abusos ou de correr riscos de modo irrefletido. Agir livremente significa por isso assumir os
riscos e as consequências dos atos praticados, ou seja, ser responsável. É precisamente este
modo de agir que representa uma prerrogativa e um ónus do homem. Por outro lado, é
também precisamente este modo de agir que muitas vezes não é seguido.
Acresce que o homem há-de assumir também riscos independentemente da sua
vontade. Porque viver significa arcar com os riscos próprios da vida. Estes riscos são vários,
mudando com a evolução dos tempos, e podem afetar tanto a pessoa como os seus bens. Há
riscos cuja concretização pode mesmo arruinar a existência privada da pessoa (a doença, a
invalidez, a morte, a dissolução do casamento/da união de facto e a responsabilidade civil).
Estes riscos da vida não podem ser eliminados por ninguém, embora possa-se tentar evitá-los
ou, em parte, atenuá-los ou adiá-los.
Todavia, casos há – e são muitos – em que a concretização do risco e, com ele, a
ocorrência do dano, não se conseguem prevenir ou são até o preciso resultado da conduta
negligente da pessoa prejudicada. Nestes casos a verdade é a de que a pessoa prejudicada
assume todos os efeitos danosos. Ela arca com os prejuízos sofridos na sua pessoa ou nos seus
bens (“Casum sentit dominus”). De facto, uma pessoa não se pode subtrair de todo aos riscos
que a ameaçam na sua vida ou nos seus bens. Esta é a realidade. E é desta realidade que parte
a lei civil: o prejuízo é suportado por quem o sofrer – como já constatámos. Contudo, a justeza
do princípio de que o prejuízo é de suportar por parte de quem o tiver sofrido gere logo
dúvidas quando olharmos para as circunstâncias concretas em que ele pode ter surgido.
Contudo, nem sempre o princípio “casum sentit dominus” parece adequado ou justo.
É neste contexto que surge a responsabilidade civil. A sua razão de ser e função
fundam-se na necessidade de deslocar um dano ocorrido de quem o sofreu, o lesado, para
aquele que o causou, o lesante, e isto de acordo com determinados critérios legais, iguais para
todos. A responsabilidade civil pressupõe assim a ocorrência de um dano e o dever de
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indemnizar este dano, precisamente por parte do lesante, na medida em que o dano vai para
além do risco geral de vida que o lesado deve assumir (em sintonia com as conceções
reinantes e o estado de evolução social). Nestes termos, deve indemnizar aquele a quem o
facto causador do dano é imputado por lei.
Segundo o art. 562º C.C. “quem estiver obrigado a reparar um dano deve
reconstituir a situação que existiria, se não se tivesse verificado o evento que obriga à
reparação.” Vale o princípio da reconstituição natural. Neste contexto “o dever de indemnizar
compreende não só o prejuízo causado, como os benefícios que o lesado deixou de obter em
consequência da lesão” (art. 564º nº1 C.C.), ou seja, a indemnização abrange ainda os
chamados lucros cessantes. Todavia, “a indemnização é fixada em dinheiro, sempre que a
reconstituição natural não seja possível, não repare integralmente os danos ou seja
excessivamente onerosa para o devedor” (art. 566º nº 1 C.C.).
Os danos e a correspondente responsabilidade civil poderão encontrar o seu
fundamento num contrato, um negócio jurídico, ou fora dele. Daí que se distingue a
responsabilidade contratual da responsabilidade extracontratual, ambos compreendidos pelo
conceito da “responsabilidade civil em sentido amplo”. Contudo, a responsabilidade contratual
e extracontratual têm origens bem distintas. Na primeira, a razão última para a
responsabilidade resulta sempre de vínculos criados por uma vontade autónomo-privada,
sendo de avaliar, por isso, o resultado danoso em função desta vontade privada. Na segunda,
bem pelo contrário, não se trata de ajuizar vontades autónomo-privadas e os resultados dela
decorrentes mas são de avaliar, isso sim, condutas ilícitas, ou seja, condutas desconformes
com a lei, às quais esta reage normalmente com efeitos sancionatórios.
A sistematização do C.C., ao regular a matéria da responsabilidade civil, diferencia
entre as duas modalidades referidas, atendendo às suas origens distintas, e trata-as em
contextos diferentes. A responsabilidade contratual aparece, deste modo, inserida na matéria
do não cumprimento do contrato (arts. 790.º e ss.). A responsabilidade extracontratual, por
seu lado, ocupa o seu lugar entre as fontes das obrigações, sendo precisamente a última
destas (arts. 483º e ss.). O C.C. equipara na sua terminologia a responsabilidade
extracontratual à responsabilidade civil, utilizando assim um conceito de “responsabilidade
civil em sentido restrito”. Esta diferenciação corresponde, de resto, também ao facto de a
responsabilidade contratual atender à violação de direitos relativos, que obrigam apenas as
partes entre si (art. 406º nº 1- 1ª parte: “pacta sunt servanda- C.C.), enquanto a
responsabilidade extracontratual respeita à violação de direitos absolutos, cuja observância se
impõe a todos.
Por via de regra, a responsabilidade do lesante é individual e respeita a atos
próprios. O princípio-base em que assenta é o facto de o lesante ter agido com culpa o que
exprime, por isso mesmo, uma censura ao seu comportamento. É na culpa, e não tanto na
necessidade de reparar os danos causados ao lesado, que reside a justificação originária da
responsabilidade. Visto nestes termos, a responsabilidade tem um fundamento ético,
decorrente da conceção do homem como um ser auto-responsável.
Quanto à responsabilidade contratual, o art. 798º C.C. determina: "O devedor que
falta culposamente ao cumprimento da obrigação torna-se responsável pelo prejuízo que
causa ao credor." Em ordem a fortalecer a posição do credor, e ainda tendo em conta a origem
autónomo-privada do vínculo obrigacional, o art. 799º nº 1 C.C., acrescenta: "Incumbe ao
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devedor provar que a falta de cumprimento ou o cumprimento defeituoso da obrigação não
procede de culpa sua." Quer dizer, a lei presume a culpa do devedor, cabendo a este o ónus de
provar que não a teve. A intenção da lei é a de não permitir ao devedor uma "saída" fácil e de
contribuir para que obrigações assumidas sejam também cumpridas. A culpa é apreciada nos
termos aplicáveis à responsabilidade civil (art. 799º nº 2 C.C.). No que toca à responsabilidade
civil encontramos a regra fundamental no art. 483º nº 1 C.C.. Aqui lê-se: "Aquele que, com
dolo ou mera culpa, violar ilicitamente o direito de outrem ou qualquer disposição legal
destinada a proteger interesses alheios fica obrigado a indemnizar o lesado pelos danos
resultantes da violação." A responsabilidade aqui consagrada é uma responsabilidade por
factos ilícitos, baseada na culpa e, por isso mesmo, subjetiva. O art. 483º nº 1 C.C., estabelece
uma sanção: O lesante que culposamente, de maneira propositada ou negligente, violar de
modo ilícito, ou seja, em desrespeito à lei, um direito, mais precisamente um direito absoluto,
de outrem fica obrigado a indemnizar o lesado pelos danos, quer dizer, todos os danos
sofridos. Estes podem ser danos patrimoniais, morais e não patrimoniais (art. 496º C.C.).
Todavia, o lesado, querendo ver os seus danos reparados, não se encontra numa situação
muito cómoda. Ao contrário do que sucede ao credor na responsabilidade contratual, é a ele
que incumbe provar a culpa do autor da lesão (art. 487º, nº 1 - 1ª parte- C.C.). O lesado arca,
portanto, com o ónus da prova.
A culpa é apreciada pela diligência de um bom pai de família, em face das
circunstâncias de cada caso (art. 487º nº 2 C.C.), de acordo com os cuidados necessários no
tráfico jurídico. Além de provar a culpa do lesante, que há-de individualizar para o efeito, o
lesado deve provar ainda que existe, entre o dano que sofreu e o facto danoso, um nexo de
causalidade adequada. Isto é, o facto danoso era, dentro do razoável e humanamente
previsível, susceptível de provocar o dano sofrido. A ocorrência do dano nestes termos indicia
regularmente a ilicitude do facto.
Obviamente, a atribuição do ónus da prova pode dificultar ou mesmo obstar à
obtenção de uma indemnização, em princípio devida, se o lesado não consegue provar os
pressupostos enunciados no art. 483º nº 1 C.C., designadamente o da culpa. Por isso, em
determinadas situações, a própria lei procedeu a uma redistribuição, melhor dizendo, a uma
inversão do ónus da prova ao presumir a culpa do lesante, sendo certo que isto não significa o
abandono do princípio da culpa. Temos aqui os casos da responsabilidade das pessoas
obrigadas à vigilância de outrem (art. 491º C.C.), dos danos causados por edifícios ou outras
obras (art. 492º C.C.) e dos danos causados por coisas, animais ou atividades perigosas (art.
493º C.C.). Se nas situações referidas tiver ocorrido um facto danoso, as pessoas respondem
pelos danos causados, salvo se provarem que cumpriram os seus deveres e que nenhuma
culpa houve da sua parte. Também não respondem se os danos eram inevitáveis de todo, visto
a culpa, eventualmente existente, não ter sido decisiva, de modo que não há razão para uma
censura.
Em certas constelações danosas típicas, os tribunais, ao apreciar os factos de
acordo com a experiência da vida, procedem à uma prova "prima facie" e, presumem, deste
modo, a culpa do lesante. Também estas presunções judiciais (art. 351º C.C.) acabam por
facilitar o ónus da prova que incumbe ao lesado.
Atendendo ao princípio da culpa, não responde pelas consequências do facto
danoso quem, no momento em que o facto ocorreu, estava, por qualquer causa, incapacitado
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de entender ou querer (art. 488º nº 1- 1ª parte- C.C.). Nestas circunstâncias, uma pessoa não
pode agir culposamente e é, por isso mesmo, inimputável. A falta de imputabilidade é
presumida nos menores de sete anos e nos interditos por anomalia psíquica (art. 488º nº 2
C.C.). Esta presunção é ilidível mediante prova em contrário (art. 350º nº 2 C.C.). Todavia, a lei
não ignora que a incapacidade de querer e entender pode resultar, ela mesma, de um agir
culposo do lesante. Se este se colocou culposamente nesse estado, sendo este transitório,
responde (art. 488º nº 1- parte final- C.C.).
Do ponto de vista do lesado, que vê preenchidos todos os pressupostos da
responsabilidade por factos ilícitos menos o da culpa, devido à falta da imputabilidade do
autor da lesão, a situação não é confortante. É difícil argumentar que tal situação faz parte do
risco geral de vida do lesado. A lei sentiu o problema e dispõe, quanto à indemnização por
pessoa não imputável, "se o ato causador dos danos tiver sido praticado por pessoa não
imputável, pode esta, por motivo de equidade, ser condenada a repará-los, total ou
parcialmente" (art. 489º nº 1- 1ª parte- C.C.). Todavia, esta solução da lei é subsidiária: apenas
se aplica desde que não seja possível obter a devida reparação das pessoas a quem incumbe a
vigilância do não imputável (art. 489º nº 1- 2ª parte- C.C.), de acordo com o previsto no art.
491º C.C.. Mas sempre que estas pessoas não respondem será o não imputável a reparar os
danos nos termos definidos pelo artigo 489º nº1- 1ª parte- e nº 2 C.C.).
Por outro lado, também o lesante pode sentir que a aplicação rigorosa do
princípio da culpa o atinge de uma maneira não merecida. Na verdade, o lesante pode ter
agido apenas com culpa leve, houve da parte dele simples negligência, como tantas vezes
acontece na vida, mas o prejuízo causado é muito elevado. Todavia, segundo a regra-base do
art. 483º C.C., em caso de culpa, o dever de indemnizar abrange todos os danos causados ao
lesado. Neste contexto, em situações de culpa leve, o art. 484º C.C. permite uma limitação da
indemnização. Aqui, a lei atenua os efeitos sancionatórios da responsabilidade por factos
ilícitos a favor do lesante e à custa do lesado. Mas este deve aceitar o resultado, uma vez que
não pode contar, em todas as situações, com a diligência dos outros.
A responsabilidade por factos ilícitos, baseada no princípio da culpa, não tem
resposta para os casos em que surgem danos independentemente de culpa mas em que não é
de aceitar como justo que sejam suportados pelo lesado que os sofreu. Para estes casos há um
tipo de responsabilidade civil independentemente de culpa, ou seja, a responsabilidade pelo
risco, como responsabilidade objetiva. Contudo, de acordo com o art. 483º nº 2 C.C., "só existe
obrigação de indemnizar independentemente de culpa nos casos especificados na lei", o que
significa que há, a seu respeito, uma tipicidade ou "numerus clausus".
A responsabilidade pelo risco constitui, ao lado da responsabilidade por factos
ilícitos, uma modalidade autónoma com fundamentos próprios para a deslocação do dano de
quem o sofreu para quem o causou, imputando-o desta maneira ao lesante. O seu
fundamento reside no raciocínio que os danos resultantes de atividades lícitas, úteis e
socialmente aceites por serem indispensáveis, mas com riscos inerentes e nem sempre de
evitar, devem ser assumidos, caso o risco se concretize, por quem exercer esta atividade,
tirando dela os seus proveitos, mas não por quem ficar prejudicado por elas. Aplica-se ao
agente a velha máxima "ubi commoda, ibi incommoda".
O C.C. regula a responsabilidade pelo risco nos arts. 499º C.C. e seguintes, sendo
de realçar aqui os arts. 502º C.C. (danos causados por animais que resultem do perigo especial
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da sua utilização), 503º C.C. (danos provenientes dos riscos próprios de veículos de circulação
terrestre) e 509º C.C. (danos causados por instalações de energia elétrica ou gás), sendo certo
que este último caso se distingue um pouco dos dois primeiros, dado que a responsabilidade
não resulta de uma atividade mas é inerente à instalação. Há, além do C.C., muitas leis
especiais que vieram a contemplar novos casos da responsabilidade pelo risco.
Além da responsabilidade por factos ilícitos e da responsabilidade pelo risco, o
C.C. conhece ainda uma outra modalidade de responsabilidade civil que é a responsabilidade
por factos lícitos. Esta última não encontra, porém, no C.C. um regime geral. Os casos, todos
excecionais, estão regulados de maneira dispersa na lei (ver os arts. 339º nº2; 1322º nº 1;
1347º nº 3; 1348º nº 2; 1349º nº 3; e 1367º C.C.). Nestes casos, o titular de um direito é
obrigado a tolerar determinadas intervenções mas obtém, em contrapartida, um direito de ser
indemnizado pelos danos sofridos. Pode ser referido como paradigmático o caso do estado de
necessidade previsto no art. 339º C.C..
Segundo o art. 339º n.º 1 C.C. "é lícita a ação daquele que destruir ou danificar
coisa alheia com o fim de remover o perigo atual de um dano manifestamente superior, quer
do agente, quer de terceiro." Trata-se de uma situação de emergência. É esta que justifica e
torna lícita a ação danosa, destrutiva ou danificadora de uma coisa, da parte do lesante.
Todavia, "o autor da destruição ou do dano é obrigado a indemnizar o lesado pelo prejuízo
sofrido, se o perigo for provocado por sua culpa exclusiva; em qualquer outro caso, o tribunal
pode fixar uma indemnização equitativa e condenar nela não só o agente, como aqueles que
tiraram proveito do ato ou contribuíram para o estado de necessidade."
Acontece que todas as modalidades de responsabilidade civil que foram
mencionadas e que têm o seu regime no C.C. se mostram insuficientes quando a
responsabilidade individual não pode ser apurada. De facto, o funcionamento de instalações
técnicas sofisticadas, a informatização de muitos processos, o fabrico robotizado em grandes
séries, a automatização da produção acompanhada por uma cadeia anónima de atos isolados e
especializados, os meios de transporte e de distribuição modernos, etc. impossibilitam
praticamente sempre a individualização de um lesante e, além disso, impedem de todo o
apuramento de culpas pessoais que possam existir. Nas condições referidas aparece indicado
que os danos causados sejam imputados a quem utilizar estes modos de produção e tirar deles
os seus lucros. Para este efeito, foi introduzido pelo DL n.º 383/89, de 6 de Novembro, um
regime especial que regula a responsabilidade do produtor como mais uma forma de
responsabilidade objetiva que não pressupõe nem culpa nem ilicitude. Em princípio, o produto
deve ter sido corretamente utilizado.
Em muitas circunstâncias sucede que a causação de um dano resulta de atos
praticados por vários autores. Se assim for, todos eles respondem civilmente por atos próprios
pelos danos que hajam causado (art. 490º C.C.). De acordo com o disposto no art.497º nº 1
C.C., a sua responsabilidade perante o lesado é solidária. Como explica o art. 512º nº 1- 1ª
parte- C.C., "a obrigação é solidária, quando cada um dos devedores responde pela prestação
integral e esta a todos libera." Por isso, "o credor tem o direito de exigir de qualquer dos
devedores toda a prestação" (art. 519º nº 1- 1ª parte- C.C.). Este regime de responsabilidade
solidária coloca o lesado numa posição muito vantajosa: ele pode, de entre os vários autores
do facto danoso, escolher aquele onde lhe é mais fácil obter a indemnização pelo prejuízo
sofrido. Obviamente, o lesado pode receber a sua indemnização apenas uma vez. Na verdade,
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a satisfação do seu direito por um dos lesantes responsáveis (art. 490º C.C.) produz a extinção,
em relação ao lesado, das obrigações dos restantes devedores da indemnização (art. 523º
C.C.). Estes hão-de acertar, agora, as contas entre si, o que sucede com o recurso ao direito de
regresso regulado no art. 524º C.C.. "O devedor que satisfizer o direito do credor além da parte
que lhe competir tem direito de regresso contra cada um dos condevedores, na parte que a
estes compete."
Em todos os casos de responsabilidade regulados pelo C.C., descritos até agora, o
lesante, ao qual incumbe ressarcir o lesado dos danos sofridos, responde por atos próprios.
Contudo, há casos em que alguém tem de responder por atos de outrem. Esta
responsabilidade por atos de outrem verifica-se tanto na responsabilidade contratual com na
extracontratual.
Na responsabilidade contratual compete ao devedor o cumprimento da sua
obrigação para com o credor. "O devedor cumpre a obrigação quando realiza a prestação a
que está vinculado" (art. 762º nº1 C.C.) ao credor certo (art. 769º C.C.), no lugar certo (art.
772º nº 1 C.C.) e dentro do prazo certo (art. 777º nº 1 C.C.). Mas com frequência o devedor
não pode ou não precisa de cumprir em pessoa. Nestes casos serve-se de um auxiliar no
cumprimento e, consequentemente há-de assumir a responsabilidade pelos atos deste. Para o
efeito, o C.C. prevê no art. 800º nº 1 C.C.: "O devedor é responsável perante o credor pelos
atos ... das pessoas que utilize para o cumprimento da obrigação, como se tais atos fossem
praticados pelo próprio devedor." Estamos aqui em face de uma responsabilidade muito
severa destinada a assegurar que obrigações uma vez assumidas por efeito de uma vinculação
autónomo-privada são também cumpridas. Vale, de novo, o princípio "pacta sunt servanda",
consagrado no art. 406º nº1- 1ª parte- C.C..
Mas também na responsabilidade extracontratual, na responsabilidade civil em
sentido restrito, encontramos, à parte o art. 491º C.C. já referido, um exemplo, aliás
importante, em que alguém responde por atos praticados por outrem. É o caso da
responsabilidade do comitente pelos atos do seu comissário, regulado no art. 500º C.C..
"Aquele que encarrega outrem de qualquer comissão responde, independentemente de culpa,
pelos danos que o comissário causar, desde que sobre este recaia também a obrigação de
indemnizar" (art. 500º nº 1 C.C.).
O art. 500º C.C. é um caso da responsabilidade pelo risco no que respeita ao
comitente. Este assume, independentemente de culpa sua, o risco de o seu comissário causar
danos ao incorrer em responsabilidade civil – ou por factos ilícitos, ou pelo risco, ou por factos
lícitos – e ao ficar obrigado de indemnizar, por causa disso, o lesado. Apenas quando a
obrigação de indemnizar, por efeito da responsabilidade civil, se tiver concretizado, primeiro,
na pessoa do comissário, esta obrigação é assumida, a seguir, pelo comitente em relação ao
lesado. Para o lesado esta solução da lei significa uma melhoria considerável quanto às suas
possibilidades de vir a ser indemnizado. Comitente e comissário respondem-lhe solidariamente
(art. 497º nº 1 C.C.) de modo que o lesado pode pedir a indemnização a quem lhe parece mais
oportuno. Normalmente será o comitente que se vê obrigado a indemnizar o lesado, mas pode
não ser assim. O comitente que indemnizar o lesado tem o direito de exigir do comissário o
reembolso de tudo quanto haja pago, exceto se houver também culpa da sua parte (art. 500º
nº 3- 1ª parte- C.C.). Quer dizer, o direito de reembolso apenas existe se só o comissário tiver
agido com culpa. Esta solução da lei está perfeitamente correta, uma vez que não
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corresponderia às suas decisões valorativas se o autor de uma lesão, causada culposamente,
ficasse isento da sua responsabilidade unicamente em virtude do facto de ter havido um
terceiro que se viu obrigado, por lei, a indemnizar o lesado. Porém, se houver culpa
igualmente do lado do comitente aplicam-se as regras do art. 497º nº 2 C.C., que determina
que "o direito de regresso entre vários responsáveis existe na medida das respectivas culpas e
das consequências que delas advieram, presumindo-se iguais as culpas das pessoas
responsáveis." Acrescenta-se que do disposto nos arts. 500º nº 3 C.C., e 497º nº 2 C.C., resulta
ainda que não há direito de reembolso ou de regresso contra o comissário quando este tiver
incorrido em responsabilidade civil por facto não culposo.
De qualquer maneira, "a responsabilidade do comitente só existe se o facto
danoso for praticado pelo comissário no exercício das suas funções" (art. 500º nº 2 C.C.), mas
não por ocasião das mesmas. Significa isto que o comitente pode afastar a sua
responsabilidade para com o lesado se provar que o comissário agira fora das suas funções,
uma possibilidade que um devedor que no cumprimento da sua obrigação se servir de um
auxiliar (art. 800º C.C.) não tem nem pode ter. Trata-se de situações de interesse não
comparáveis, visto na responsabilidade contratual existir uma vinculação prévia a ato lesivo,
vinculação essa em relação à qual há uma estrita obrigação do cumprimento.
O lesante que for chamado a cumprir a sua obrigação de indemnizar o lesado,
responde para o efeito com todos os seus bens susceptíveis de penhora (art. 601º- 1ª parte-
C.C.), ou seja, com os ativos do seu património. Ora, como referimos, a responsabilidade civil é
susceptível de destruir uma pessoa, na medida em que o seu património pode ficar
completamente arruinado sob o peso das indemnizações. Por isso mesmo devem existir
caminhos em ordem a limitar a responsabilidade. E, de facto, estas limitações existem, quer
por via negocial quer por via legal, mas apresentam uma grande heterogeneidade que dificulta
qualquer esforço de sistematização.
É logo o art. 602º C.C. que nos diz ser possível negociar uma limitação da
responsabilidade por convenção na medida em que permite, salvo quando se trate de matéria
subtraída à disponibilidade das partes, limitar a responsabilidade do devedor a alguns dos seus
bens no caso de a obrigação não ser voluntariamente cumprida. E também o nº 2 do art. 800º
C.C., prevê, face à responsabilidade severa estabelecida no seu nº 1, que esta pode ser
convencionalmente excluída ou limitada, mediante acordo prévio dos interessados, desde que
a exclusão ou limitação não compreenda atos que representem a violação de deveres
impostos por normas de ordem pública. As partes têm, portanto, um espaço negocial bastante
amplo para compor os seus interesses nesta matéria.
Cláusulas limitativas ou exclusivas da responsabilidade podem ser estabelecidas
também por via de declarações negociais unilaterais sempre que a lei não as proíba. De
qualquer maneira, a lei encara as cláusulas limitativas com reserva ao determinar, no art. 809º
C.C., que "é nula a cláusula pela qual o credor renuncia antecipadamente a qualquer dos
direitos que lhe são facultados nos casos de não cumprimento ou mora do devedor, salvo o
disposto no nº 2 do artigo 800º C.C.." Há quem entenda que a norma do art. 809º C.C. deve ser
interpretada restritivamente.
Um outro meio negocial, mas já fora do C.C., com vista a circunscrever a
responsabilidade a apenas uma parte do património consiste na adoção de uma forma jurídica,
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adequada para efeito desejado. Contudo, existem também limitações da responsabilidade por
força da lei, já previstas no próprio C.C..
Temos neste contexto, em primeiro lugar, a culpa do lesado. "Quando um facto
culposo do lesado tiver concorrido para a produção ou agravamento dos danos, cabe ao
tribunal determinar, com base na gravidade das culpas de ambas as partes e nas
consequências que delas resultaram, se a indemnização deve ser totalmente concedida,
reduzida ou mesmo excluída" (art. 570º nº 1 C.C.). Se a responsabilidade do lesante se basear
numa simples presunção de culpa, a culpa do lesado, na falta de disposição legal em contrário,
até exclui o dever de indemnizar da parte do lesante (art. 570º nº 2 C.C.). Também no caso
previsto no art. 505º C.C., a responsabilidade do lesante com base no art. 503º C.C. é excluída
pela culpa do lesado. De resto, ao facto culposo do lesado é equiparado o facto culposo dos
seus representantes legais e das pessoas de quem ele se tenha utilizado (art. 571º C.C.), uma
disposição, aliás, em sintonia com o disposto no art. 800º C.C..
Além das duas situações já referidas, há mais casos de exclusão da
responsabilidade que encontramos nos arts. 505º C.C. e 509º nº 2 C.C., nomeadamente
quanto a danos devidos à força maior. Em todos os casos de exclusão da responsabilidade o
lesante fica isento da indemnização. Noutras situações, o C.C., como de resto já vimos várias
vezes, recorre a critérios, nem sempre infalíveis, de equidade para limitar o montante da
responsabilidade. São de lembrar os arts. 339º nº 2; 489º nº 1; 494º; 496º nº3, ou 503º nº 2
C.C.. A lei procura aqui permitir que venha a ser estabelecido um justo equilíbrio entre os
interesses e expectativas em causa. Repetidas vezes, o C.C. recorre à fixação de limites
máximos como sucede, por exemplo, nos casos previstos nos arts. 504º nº 2 e 3; 508º e 510º
C.C..
Por fim podem ser mencionados os casos em que a lei se serve da figura da
separação dos patrimónios, prevista no art. 601º- 2ª parte- C.C.. Surgem-nos como exemplos a
responsabilidade limitada do menor, nos termos dos arts. 127º nº 1 alínea c) e 1649º nº 2- 2ª
parte- C.C.; a responsabilidade do herdeiro limitada aos bens da herança (art. 2071º C.C.); a
responsabilidade dos cônjuges pelas dívidas contraídas, limitada ou aos bens comuns ou aos
bens próprios de cada um deles (arts. 1695º e 1696º C.C.) ou a responsabilidade por dívidas da
associação sem personalidade jurídica, limitada em princípio ao património que constitui o seu
fundo comum (art. 198º C.C.). Porém, todas estas limitações da responsabilidade, nas suas
várias configurações e constelações, muitas vezes não satisfazem. Uma proteção eficaz contra
as consequências patrimoniais ruinosas que podem decorrer da responsabilidade são os
seguros. Os seguros são quase sempre indicados em casos de responsabilidade civil objetiva,
onde a concretização dos riscos danosos pode dar origem a prejuízos muito avultados ou
mesmo incalculáveis que ultrapassam as capacidades económicas do lesante, de qualquer
lesante. Por isso, é a lei que em muitas situações deste tipo – e com o objetivo de proteger o
lesante e também a sociedade – impõe um seguro obrigatório. Mas também para os riscos
gerais de vida (doença, invalidez, desemprego, etc.) e os casos da responsabilidade civil
subjetiva ou da responsabilidade contratual, um seguro, mesmo não obrigatório, pode ser
vantajoso em atenção às circunstâncias concretas, embora possa não abranger os danos
causados com dolo ou culpa grave. O recurso ao seguro não significa, todavia, a eliminação dos
riscos. Os riscos subsistem, uma vez que não podem ser eliminados. Apenas as consequências
da sua concretização são deslocados para o seguro. A proteção patrimonial por meio do
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seguro, por seu lado, leva a uma coletivização dos danos bem como da responsabilidade, que
deixa de ser individual. Esta conclusão põe em causa o sistema valorativo em que assenta a
responsabilidade. Sendo porém indiscutível a necessidade social do seguro, a coletivização daí
resultante deve ser atenuada por meio de um sistema de individualização dos prémios de
seguro, que beneficia quem não causar danos e onera quem os produzir. O sentimento da
responsabilidade individual deve ser preservado e, na medida em que a obrigação de
indemnizar constitui uma sanção, o efeito sancionatório não pode ser iludido por completo.
Em contrapartida, também deve ser mencionado que a existência do seguro torna possível
correr riscos económicos que, doutra maneira, talvez não fossem assumidos. Sob este aspeto o
seguro constitui um apoio a atividades dinâmicas e empreendedoras.

Responsabilidade Civil

 Subjetiva: indeminização
depende da culpa do lesante
 Objetiva: indeminização é
feita independentemente da
culpa do lesante

Modalidades:
 Factos lícitos (exceção – art.339º, 1349º nº3, 1367º C.C.)
 Riscos (exceção/sem culpa – art.499º e ss C.C. - Responsabilidade
exceção, pois só existe nos casos previstos na lei.
Responsabilidade civil que uma pessoa tem sem culpa ou
independentemente da culpa. Desenvolve uma atividade geradora
de risco para os outros)
 Factos ilícitos (regra geral [5 pressupostos] – responsabilidade civil
subjetiva porque assenta na culpa do agente – art.483º C.C.)
5 Pressupostos:
• Ilicitude (violação do direito de outrem ou qualquer
Necessários para a
disposição destinada a proteger interesses alheios)
indeminização (base legal art.
• Facto voluntário do agente (comportamento
483º C.C.):
dominado pela vontade do agente- que não é
 Restauração “in natura”:
hipnotizado, instrumentalizado, coagido, manietado)
art. 562º C.C.
• Culpa (dolo [intenção de causar danos]; mera culpa
 Restauração por
ou negligencia (art. 494º C.C.) [omissão do dever de
equivalente pecuniário:
cuidado e de diligencia])
art. 566º C.C.
• Dano (patrimonial [danos cessantes – art.564º C.C. e
 Compensação
danos emergentes – art.564º C.C.]; moral e Não
monetária: art. 496º
Patrimoniais)
C.C.
• Nexo causalidade (ligação causal entre o facto
gerador do dano e o próprio dano.)


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 Responsabilidade Contratual: utilizada na falta de cumprimento das


obrigações emergentes de um contrato, de negócios unilaterais, ou da lei
(art. 798º e ss C.C.) Sentido amplo
 Responsabilidade Civil Extracontratual: violação de direitos absolutos ou da
prática de certos atos que causam prejuízo a outrem (483º e ss C.C.)

 Ilegitimidades conjugais

(arts.1682º a 1687º C.C.)


Conjunto de normas que dizem respeito às ilegitimidades conjugais.
Diz-se ilegitimidade e não incapacidade porque os cônjuges não têm legitimidade para celebrar
certos negócios jurídicos sem o consentimento um do outro. Assim, não são incapacidades
mas ilegitimidades para agir sem o consentimento do cônjuge.
Consequências para a atuação de um cônjuge sem o consentimento do outro quando tal é
exigido. Art.1687: anulabilidade, a pedido do cônjuge no prazo de 6 meses após o
conhecimento mas antes do decurso de 3 anos.

 Domicílio

Ligação entre a pessoa e um determinado lugar; a conexão que se faz está


disciplinada nos arts.82º e seguintes.
Em termos jurídicos, o domicílio é muito importante, é através dele que se fixa, por
exemplo a competência dos tribunais, o lugar de prestação
(Art.82º- Domicílio voluntário geral – depende da vontade da pessoa e, é esse que se
aplica na generalidade dos casos.; Art.83º - a pessoa pode escolher um domicílio
profissional, para efeitos da sua profissão; Art.84º - domicílio electivo – vale para
certos negócios; Domicílio legal: Art.85º - menores e interditos, Art.87º - empregados
públicos, Art.88º - agentes diplomáticos portugueses)
O conceito de Domicílio voluntário geral, é nos fornecido pelo art. 82º CC, e
coincide com o lugar da residência habitual.
Não se trata do local onde a pessoa se encontra em cada momento, isto é, não
coincide com o paradeiro, cuja noção se pode descortinar no art. 82º/2 CC.
No art. 82º/1 CC, diz que a pessoa que residir alternadamente em diversos lugares,
tem-se por domiciliada em qualquer deles. Assim uma pessoa pode ter mais de um
domicílio, se tem duas ou mais residências habituais.
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A residência pode ser ocasional se a pessoa vive com alguma permanência, mas
temporária, ou ocasionalmente, num certo local. A residência ocasional, não faz surgir
um domicílio, embora na falta de domicílio de uma pessoa, funcione como seu
equivalente (art. 82º/2 CC).
Em regra, o estabelecimento do domicílio, bem como o seu termo, resultam de um ato
voluntário. Este ato voluntário não é, porém, um negócio jurídico, mas sim um simples
ato jurídico, verificando-se a produção, por força da lei, dos efeitos jurídicos
respectivas, mesmo que a pessoa em causa não os tivesse em mente ou até os
quisesse impedir.
Ao lado do domicílio voluntário geral, a lei reconhece um domicílio profissional e um
domicílio electivo.
O domicílio profissional (art. 83º CC), verifica-se para as pessoas que exercem
uma profissão e é relevante para as relações que esta se referem, localizando-se no
lugar onde a profissão é exercida.
O domicílio electivo (art. 84º CC), é um domicílio particular, estipulado, por escrito,
para determinados negócios jurídicos. As partes convencionam que, para todos os
efeitos jurídicos, se têm por domiciliadas ou em certo local, diferente do seu domicílio
geral ou profissional.
O domicílio legal ou necessário, é um domicílio fixado por lei, portanto
independentemente da vontade da pessoa.
Os critérios de distinção entre domicílio voluntário e o legal ou necessário, são: (1) a
vontade do indivíduo; (2) quando ele escolhe é voluntário, quando não escolhe é legal
ou necessário.
É regido pelo art. 85º CC.:
• Caso os pais sejam casados, o menor tem domicílio no lugar de residência da
família (art. 85º/1 - art. 1673º CC, residência de família);
• Caso os pais não sejam casados (juntos), o menor tem domicílio na residência
comum dos pais;
• Caso não exista residência de família, o menor tem domicílio, o do progenitor a
cuja guarda estiver (art. 85º/1 CC);
• Caso o menor esteja entregue a terceira pessoa ou a estabelecimento de
educação ou assistência, o menor tem como domicílio o do progenitor que exerce o
poder paternal (art. 85/2 CC);
• Caso de tutela, o menor tem como domicílio o do tutor (art. 85º/3 CC);
• No caso de interdito, o domicílio é o do tutor (art. 85º/3).
No art. 85º/5 CC, há uma lacuna, pois diz que estas disposições acima expostas só
valem para o domicílio no território nacional. No entanto não se refere qual o regime
para o domicílio no estrangeiro. Por analogia aplica-se o art. 82º CC, Domicílio Geral
Voluntário.
O domicílio funciona como critério geral de competência para a prática de atos
jurídicos; como ponto legal de contacto não pessoal; e fixa do Tribunal competente para a
propositura da ação local para a abertura da sucessão, art. 2031º CC.

 Ausência
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Utiliza-se o termo ausência para significar o facto de certa pessoa se não encontrar
na sua residência habitual. O sentido técnico, rigoroso, de “ausência”, traduzido num
desaparecimento sem notícias, ou nos termos da lei, do desaparecimento de alguém “sem que
dele de saiba parte” (art. 89º/1 CC), que o termo ausência é tomado, para o efeito de
providenciar pelos bens da pessoa ausente, carecidos de Administração, em virtude de não ter
deixado representante legal ou voluntário (procurador).
Para o Direito este facto só é preocupante quando ele determina a impossibilidade
ou a dificuldade de atuação jurídica do ausente no seu relacionamento com matérias que
exigem a intervenção dessa pessoa. Nomeadamente quando essa ausência determina a
impossibilidade do ausente gerir o seu próprio património, fala-se em ausência simples ou
ausência qualificada.
As consequências da ausência
· A ausência de um cônjuge, por um período não inferior a três anos, dá direito ao outro
cônjuge pedir o divórcio litigioso (art. 1781º CC, alterado pelo DL 47/98).
· A ausência de um cônjuge, admite ao outro o poder administrar os bens próprios do
ausente.
· A ausência de um dos progenitores, é causa de concentração do exercício paternal no
outro cônjuge.
· A ausência de ambos os cônjuges, pode determinar a aplicação do regime da tutela, se
essa ausência for superior a seis meses.
· A ausência de uma pessoa, pode dar lugar a aplicação de medidas cautelares ou
conservatoriais dos seus bens.
· A ausência dos membros, do órgão de gestão de uma sociedade, pode constituir
fundamento para ser requerida falência de uma empresa.
. Para que se verifique a ausência é necessária uma decisão judicial.
Elementos que integram o conceito de ausência qualificada
1. Não presença da pessoa;
2. Em determinado lugar (lugar este de residência habitual);
3. Ignorância geral do seu paradeiro por parte das pessoas com quem o ausente mantém
contactos sociais mais próximos.
Esta ignorância tem como consequência a impossibilidade de contactar essa
pessoa, para obter certas providências no sentido da gestão dos seus bens.
A ideia chave do regime da ausência, é a de estabelecer meios destinados a assegurar a
Administração do ausente, dado que não é possível contactar com ele para providenciar tal
respeito.
Os pressupostos de que a lei faz depender a nomeação de um curador provisório,
são o desaparecimento de alguém sem notícia, a necessidade de prover acerca da
Administração dos seus bens e a falta de representante legal ou de procurador (art. 89º CC).
A presunção da lei, nesta fase, é de um possível regresso do ausente; tanto o Ministério
Público como qualquer interessado, têm legitimidade para requerer a curadoria provisória e as
providências cautelares indispensáveis (art. 91º CC), a qual deve ser definida a uma das
seguintes pessoas: (1) cônjuge; (2) algum ou alguns dos herdeiros presumidos; (3) ou alguns
dos interessados na conservação dos bens (art. 92º CC). O curador funciona como um simples
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administrador (art. 94º CC), devendo prestar caução (art. 93º CC) e apresentar anualmente ou
quando o Tribunal o exigir (art. 95º CC).
A curadoria provisória termina quando, nos termos da lei (art. 98º CC):
a) Pelo regresso do ausente;
b) Se o ausente providenciar acerca da Administração dos bens;
c) Pela comparência da pessoa que legalmente represente o ausente ou de procurador
bastante;
d) Pela entrega dos bens aos curadores definitivos ou ao cabeça-de-casal, nos termos do art.
103º CC.
e) Pela certeza do ausente.
Para a ausência presumida a lei prevê como forma de suprimento a curadoria provisória.
A probabilidade de a pessoa ausente não regressar é nessa fase maior, visto que a
lei a possibilita o recurso à justificação da ausência no caso de ele ter deixado representante
legal ou procurador bastante art. 99º CC).
Como requisitos é necessário:
a) Ausência qualificada
b) Existência de bens carecidos de Administração;
c) Certo período da ausência.
A legitimidade para o pedido de instauração da curadoria definitiva pertence
também aqui ao Ministério Público ou a algum dos interessados, sendo estes, contudo, além
do cônjuge, os herdeiros do ausente e todos os que tiverem sobre os seus bens qualquer
direito dependente da sua morte.
A curadoria definitiva termina (art. 112º CC).
a)Pelo regresso do ausente;
b) Pela notícia da sua existência e do lugar onde reside;
c) Pela certeza da sua morte;
Para a ausência justificada. A lei prevê como forma de suprimento a curadoria definitiva.

 Morte presumida

Assenta no prolongamento anormal do regime da ausência. Há uma inversão da


probabilidade de o ausente estar vivo.
Decorridos dez anos sobre a data das últimas notícias, ou passados cinco anos, se
entretanto o ausente completar oitenta anos de idade, os interessados para o efeito do
requerimento da curadoria definitiva, têm legitimidade para pedirem a declaração de morte
presumida do ausente (art. 114º/1 CC). Contudo, se a pessoa ausente for menor, é necessário
que decorram cinco anos sobre a data declarada a morte presumida (art. 114º/2 CC).
Com fundamento numa alta probabilidade prática da morte física do ausente, o
art. 115º CC, prescreve que a declaração da morte presumida produz os mesmos efeitos que a
morte.
Mas, por exemplo o casamento não cessa isso facto (art. 115º CC), embora o art.
116º CC dê ao cônjuge do ausente a possibilidade de contrair novo casamento sem
necessidade de recorrer ao divórcio.
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Na esfera patrimonial, em caso de regresso, verifica-se um fenómeno de sub-
rogação geral, isto é, tem o ausente direito:
a) Aos bens diretamente adquiridos por troca com os bens próprios do seu património (sub-
rogação direta);
b) Aos bens adquiridos com o preço dos alienados, se no documento de aquisição se fez
menção da providência do dinheiro (sub-rogação indireta);
c) Ao preço dos bens alienados (sub-rogação diretas).
E, obviamente, ser-lhe-á devolvido o património que era seu, no estado em que se
encontrar. Havendo, porém, má-fé dos sucessores, o ausente tem direito também à
indemnização do prejuízo sofrido (art. 119º CC).

 Pessoas Singulares

Como dito anteriormente, as incapacidades resultam de deficiências, de


“qualidades minguantes”, da própria pessoa que afetam ou diminuem, de alguma forma, o seu
discernimento ou as suas capacidades volitivas. Assim, corresponde à capacidade negocial de
gozo a incapacidade negocial de gozo, e à capacidade de exercício corresponde a incapacidade
de exercício.
Regra geral, todas as pessoas são capazes de gozar a titularidade de quaisquer
direitos privados, salvo disposição legal em contrário (art. 67º C.C.). Estas restrições surgem
em casos em que existe uma proibição absoluta de celebração de negócios de natureza
estritamente pessoal, encontrando-se assim as razões para a proibição num “capitis
deminutio”, quer dizer, na falta das qualidades necessárias para a pessoa poder ser titular
daqueles direitos. A incapacidade reside na própria pessoa do incapaz. Trata-se de situações
excecionais em que as pessoas por eles abrangidas não podem ascender à titularidade de
direitos e obrigações de carácter pessoal por virtude das suas próprias insuficiências. As
pessoas são incapazes porque lhes falta o discernimento mínimo necessário, o que causa a
vedação à aquisição de certos direitos pessoais. Tal situação conduz à não ativação da sua
capacidade de gozo.
Como se trata de negócios de natureza estritamente pessoal a incapacidade então
não é suprível: não há ninguém que se possa substituir ao incapaz vir a ser validamente titular
da relação jurídica. E, assim, a consequência normal para um negócio celebrado por quem não
tiver capacidade é a sua nulidade.
Os casos das incapacidades de gozo são apenas três: as incapacidades resultantes
dos impedimentos absolutos que obstam ao casamento (art. 1601º C.C.); a incapacidade para
perfilhar (art. 1850º C.C.); e a incapacidade de testar (art. 2189º C.C.). Nestes três casos é
perfeitamente clara a sua natureza de preceitos de exceção. São elucidativos a este respeito o
principio geral do art. 1600º C.C.; o conteúdo do art. 1850º nº1 C.C.; e a regra do art. 2188º
C.C..
A redação dos preceitos em causa mostra com nitidez que a lei, para excluir a
titularidade daqueles direitos pessoais, não atua diretamente sobre a capacidade jurídica, mas
recorre ao expediente técnico-jurídico de coarctar, por completo, a possibilidade de agir. A lei
não nega a titularidade como tal. Assim sendo, no fundo a figura da incapacidade negocial de
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gozo parece dispensável: podia distinguir-se entre incapacidades de exercício insupríveis
(negócios estritamente pessoais); e supríveis (negócios gerais).
Apenas um dos três casos a lei decreta, seguindo o princípio geral, nulidade: no
caso do testamento, feito por um incapaz (art. 2190º C.C.). Nos outos dois casos são anuláveis
(art. 1631º alínea a) C.C. e art. 1861º nº1 C.C.). Tal diferença deve-se devido ao facto de ser
inadmissível “qualquer interessado” poder invocar, ao abrigo do art. 286º C.C., a invalidade de
um casamento ou perfilhação, pondo em causa as relações jurídicas familiares respetivas.
Tirando os casos da incapacidade negocial de gozo, todas as pessoas possuem, em
princípio, a capacidade de exercício desde que tenham atingido a maioridade. É a partir deste
momento que, na convicção da lei, as pessoas têm o discernimento mínimo e necessário para
poderem participar no tráfico jurídico geral. Além disso, a aquisição de capacidade de
exercício, mediante a sua ligação à maioridade, é também ditada por exigências de segurança
do tráfico jurídico. Seria intolerável se a averiguação da capacidade de exercício fosse feita
caso a caso, em cada ato de participação no comércio jurídico.
Porém, excecionalmente, a capacidade de exercício pode ser adquirida antes da
maioridade: trata-se do caso quando uma pessoa é emancipada pelo casamento. O art. 130º
C.C. (efeitos da maioridade) é claro, aquele que perfizer dezoito anos de idade adquire
capacidade de exercício de direitos, ficando também habilitado a reger a sua pessoa e a dispor
dos seus bens. Esta aquisição faz-se por simples comando da lei, independentemente da
vontade do individuo e sem necessidade de qualquer contrapartida por parte deste. Quanto à
parte da emancipação, consta no art. 133º C.C. Este artigo afirma que a emancipação atribui
ao menor a plena capacidade de exercício de direitos, salvo o disposto no art. 1649º C.C.. Esta
resulta unicamente do casamento do menor como mero efeito legal (art. 132º C.C.)e, por
razões de segurança do tráfico jurídico, consta do registo civil. Mas também o emancipado
pelo casamento, não obstante da sua capacidade de exercício, continua menor até ter
completado os seus dezoito anos (art. 122º C.C.), embora seja tratado como maior (art. 133º
C.C.).
No entanto existem situações em que as pessoas carecem da capacidade de
exercício, à semelhança das incapacidades de gozo, por causa de certas qualidades residentes
nas próprias pessoas que, em última análise, se podem reconduzir a um defeito de vontade, à
falta do discernimento necessário para a participação no tráfico jurídico negocial. Esta
“qualidades minguantes” levam à incapacidade de exercício. São três as situações em que
existem incapacidades de exercícios: a menoridade (art. 122º a 129º C.C.); a interdição (art.
138º a 151º C.C.); e a inabilitação (art. 152º a 156º C.C.). A incapacidade nas duas primeiras
modalidades é geral: o incapaz não pode reger a sua pessoa, nem dispor dos seus bens; na
terceira modalidade a incapacidade é específica, podendo ser geral conforme os casos
concretos decididos pelo tribunal.
As incapacidades de exercício, contrariamente às incapacidades de gozo, não
dizem respeito a negócios estritamente pessoais, sendo por isso supríveis. Os negócios
celerados sem o devido suprimento serão anuláveis. Por meio destas incapacidades (tanto de
gozo como negociais) a lei visa a proteção do incapaz contra as suas insuficiências, pois estas
podem causar-lhe prejuízos. A ordem jurídica parte do pressuposto de que o incapaz não está
em condições para proteger a sua pessoa ou para cuidar, devidamente, dos seus bens ao
participar no tráfico jurídico geral, ou então mesmo para praticar certos negócios estritamente
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pessoais. Porém, para se tentar viabilizar esta participação recorre-se aos meios de suprimento
das incapacidades. Apenas nos negócios estritamente pessoais o incapaz está realmente
excluído, uma vez que não pode haver tais meios. Por outro lado, a proteção dada aos
incapazes tem de ser conciliada com as exigências do tráfico jurídico moderno. Deste modo, as
soluções da lei quanto ao regime das incapacidades (fixação da idade de maioridade) e dos
seus meios de suprimento (representação legal) são, necessariamente, soluções de
cumprimento.
Se a incapacidade não fosse suprível os incapazes ficariam excluídos de todo o
tráfico jurídico geral, sendo este resultado intolerável para a ordem jurídica. Devido a tal facto,
ela consagra dois meios/institutos para o suprimento da incapacidade: a representação legal e
a assistência.
Como as incapacidades visam a proteção do próprio incapaz, os meios de
suprimento funcionam com a mesma finalidade. Por isso, a atuação de representantes, cuja
escolha e nomeação o incapaz não interveio, nunca pode colocar o incapaz numa situação
jurídica inferior àquela que teria sem essa intervenção. Os representantes legais podem ser
(atendendo a cada situação concreta de uma menoridade ou interdição): os detentores do
poder paternal (arts. 124º; 1877º e ss C.C.), o tutor (arts. 139º; 143º e ss; 1921º e ss, mas 144º,
1877º e ss C.C.) e o administrador de bens (arts. 1971º nº2, 1922º, 1967º e ss, 139º C.C.). Nos
dois primeiros casos, a representação diz respeito à pessoa do incapaz (com a exceção dos
atos estritamente pessoais) e aos seus bens, porém os poderes do tutor são menos amplos
que os poderes dos pais (argumentum ex art. 144º C.C.); no terceiro caso, a representação
estende-se apenas aos bens do incapaz, existindo ao lado de quem é representante legal
quanto à sua pessoa ou ao lado daquela cuja representação relativamente aos bens do menor
tiver sido restringida (art. 1888º C.C.). No entanto, em certos atos a praticar pelo
representante, a validade depende sempre da autorização do tribunal, independentemente do
tipo de representação legal (arts. 1889º e ss, 1938º, 1971º nº1 C.C.). O representante legal age
em vez do incapaz e representa-o judicialmente e extrajudicialmente. Assistentes são, em
consonância com a forma de incapacidade, o curador (art. 153º nº1 C.C.) para os inabilitados
ou, nos negócios estritamente pessoais (na lei apenas está consagrado para o casamento e a
respetiva convenção antinupcial), os detentores do poder paternal ou o tutor (arts. 1604º
alínea a), 1612º e 1708º nº2, em contraposição ao art. 1850º nº2 C.C.) para os menores de
dezoito anos. No caso do art. 154º nº 2 C.C., o curador é representante legal.

Capacidade Jurídica (art. 67º C.C.)

Incapacidade Jurídica (deve-se às “qualidades minguantes”)

Incapacidades Negociais de Gozo Incapacidades exercício

Incapacidade casamento (art. 1601º C.C.) Menoridade (art. 122º a 129º C.C.)

Incapacidade perfilhação (art. 1805º nº1 C.C.) Interdição (art. 138º a 151º C.C.)

Inabilitação (art. 152º a 156º C.C.)


Incapacidade para testar (art. 2189º C.C.)
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Assim, a primeira modalidade das incapacidades de exercício resulta da


menoridade. Segundo a lei, é menor quem ainda não tenha completado dezoito anos de idade
(art. 122º C.C.). Os menores carecem de capacidade para o exercício de direitos (art. 123º- 2ª
parte- C.C.), isto é, a sua incapacidade é geral: tal deve-se pois estes não estão habilitados a
reger a sua pessoa e a dispor dos seus bens, não têm capacidade para adquirir direitos ou
assumir obrigações por ato próprio (ou por meio de um representante voluntário) por via
negocial. A não ser que a lei abra exceções (art. 123º- 1ª parte- C.C.), esta incapacidade só
termina com a maioridade ou a emancipação pelo casamento (art. 129º e 132º C.C.).
A incapacidade dos menores é suprida pelo poder paternal (arts. 124º, 1877º e ss
C.C.- principalmente o art. 1881º nº1 C.C.) e, subsidiariamente, pela tutela (art. 124º, 1921º e
ss C.C.), devendo os menores, em tudo quanto não seja ilícito ou imoral, obedecer a seus pais
ou ao seu tutor e cumprir os seus preceitos (art. 128º C.C.). Contudo, nos casos previstos no
art. 1888º nº1 alíneas a)-c) C.C., bem como no art. 1922º, há lugar a uma administração de
bens que funciona, relativamente aos bens por ela abrangidos, ao lado do poder paternal ou
da tutela.
O poder paternal, a tutela e administração de bens são formas de representação
legal do menor com âmbitos diferentes. O poder paternal diz respeito à pessoa e aos bens do
menor (art. 1885º e ss, 1888º e ss C.C.) e o mesmo acontece com a tutela (art. 1935º C.C.); a
administração de bens, por outro lado, refere-se apenas aos bens dos menores a ela confiados
(art. 1971º C.C.).
Em alguns casos especialmente previstos (arts. 1889º, 1892º, 1938º, 1971º nº1
C.C.), os respetivos representantes legais necessitam da autorização do tribunal para poderem
validamente celebrar determinados atos quanto aos bens do menor. Além disso, aos tutores e
administradores de bens (mas não a quem exerce o poder paternal) certos atos são proibidos
(arts. 1937º; 1971º nº 1 C.C.). É apenas com estas medidas de precaução que a lei considera
suficientemente acautelados os interesses patrimoniais dos menores. Caso contrário, o
sistema de representação dos menores poderia ser extremamente perigoso para estes,
sujeitos como estão a quem não escolheram.
Quanto às pessoas chamadas a representar os menores, basta lembrar que o
poder paternal pertence aos pais ou ao progenitor que tiver a guarda do filho (arts. 1901º a
1912º C.C.); a tutela e a administração de bens cabem a quem tiver sido designado para o
efeito (arts. 1927º e ss; 1967º e ss C.C.).
Normalmente é assim a atuação dos representantes legais que supre, por vezes
com a autorização do tribunal, a incapacidade dos menores. Por outro lado, existem casos em
que os próprios menores possuem, excecionalmente, capacidade de exercício.
As exceções mais importantes e mais significativas vêm reguladas no art. 127º
C.C., sendo a mesmas: os atos de administração ou disposição de bens que o maior de
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dezasseis anos tenha adquirido pelo seu trabalho; os negócios jurídicos próprios da vida
corrente do menor que, estando ao alcance da sua capacidade natural, só impliquem
despesas, ou disposições de bens, de pequena importância; e os negócios jurídicos relativos à
profissão, arte ou ofício, que o menor- independentemente da sua idade- tenha sido
autorizado a exercer, ou os praticados no exercício dessa mesma profissão, arte ou ofício.
Nestes casos o legislador pressupõe que o menor já possui o discernimento
necessário e o poder de avaliação suficiente para agir em conformidade com os seus interesses
e assumir as respetivas responsabilidades. De acordo com a 1ª parte doo art. 123º C.C., o art.
127º C.C. quebra a regra rígida, estabelecida em consideração à segurança do tráfico jurídico,
que a capacidade de exercício só se adquire com a maioridade ou com a emancipação pelo
casamento, conferindo assim alguma flexibilidade àquela solução.
A razão da flexibilidade reside no facto de a maturidade e o discernimento,
imprescindíveis como pressupostos da capacidade para o exercício de direito, não se
adquirirem de maneira instantânea, de um momento para o outro, quando se atinge a
maioridade, mas serem o resultado de uma evolução gradual. Deste a modo, a lei tem de
considerar não só as exigências da segurança do tráfico jurídico mas também o direito à
autodeterminação e autorregulamentação da pessoa, na medida em que esta está em
condições para fazer uso dos seus direitos e para atuar de uma maneira cada vez mais
responsável. Estas considerações encontram-se materializadas no disposto do art. 127º C.C.,
de uma forma ponderada.
O art. 127º, ao permitir de modo limitado a participação de menores no tráfico
jurídico, está concebido e formulado de modo a afastar prejuízos ou desvantagens
patrimoniais dos menores ou a manter perdas eventuais dentro de limites calculáveis.
A alínea a) do nº1 do art. 127º C.C. diz respeito aos rendimentos do trabalho do
menor ao qual competem os respetivos atos de disposição e administração, ficando excluída a
administração dos pais (alínea d9 do nº1 art. 1888º C.C.). Por outras palavras, é o menor que
dispõe dos frutos do seu trabalho, porém tal não impede uma eventual obrigação do menor
contribuir para os encargos da via familiar, de acordo com o art. 1874º nº2 C.C., e sem prejuízo
da eventual utilização dos rendimentos do menor, permitida nos termos do art. 1896º C.C..
Ao contrário da alínea a) do nº1 do art. 127º C.C., a alínea c) do mesmo refere-se à
própria relação jurídica profissional do menor e, ainda, a todos os negócios jurídicos relativos a
esta, nomeadamente os que são praticados no seu exercício (exemplo art. 83º C.C.).
O nº2 do art. 127º C.C. providencia, dentro da finalidade de evitar prejuízos
patrimoniais não calculáveis para o menor, quanto à responsabilidade deste pelos atos
compreendidos no art. 127º nº1 alínea c) C.C. da seguinte forma: “Pelos atos relativos à
profissão, arte ou ofício do menor e pelos atos praticados no exercício dessa profissão, arte ou
ofício do menor só respondem os bens de que o menor tiver disposição”. Os bens abrangidos
são, visto a lei não estabelecer ressalvas, todos os bens de que o menor dispõe e não
eventualmente apenas os mencionados no art. 127º nº1 alínea a) C.C.. De qualquer modo, a
limitação da responsabilidade pelo nº2 do art. 127º C.C. conduz à criação de um património
separado.
A disposição, dentro do corpo do art. 127º, que apresenta o maior grau de
flexibilidade é a alínea b) do nº1 do mesmo. Este preceito permite fazer face a uma grande
diversidade de situações, atendendo ao respetivo caso concreto. A exceção à incapacidade em
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virtude do estipulado no art. 127º nº1 alínea b) C.C., assenta em três pressupostos: deve
tratar-se de um negócio próprio da vida corrente do menor, isto é, de um negócio do tipo cuja
celebração é habitual ou familiar; o negócio deve estar ao alcance da sua capacidade natural,
sendo certo que esta capacidade natural evolui com a idade crescente do menor; o negócio só
implica despesas, ou disposições de bens, de pequena importância, critério esse que, na atual
sociedade de consumo, depende de fatores objetivos e subjetivos, inclusive a condição do
menor.
Aparentemente, a alínea a) do nº1 do art. 127º C.C. tem em vista apenas os
negócios que possam impor a condição patrimonial do menor, aliás de acordo com a
orientação predominante do art. 127º C.C.. Mas não se pode tirar daqui a conclusão de que
para negócios vantajosos o menor já seria capaz. É verdade que- além do regime, regra do art.
123º C.C.- nada se dispõe na Parte Geral de uma maneira direta acerca de negócios favoráveis
ao menor, que apenas aumentam os seus bens. Quanto a estes negócios, os respetivos
preceitos encontram-se entre as disposições respeitantes à capacidade de receber doações
(art. 951º C.C., com destaque para o seu nº2) e relativas ao exercício do poder paternal
relativamente aos bens dos filhos (art. 1890º C.C.).
O art. 951º C.C. (aceitação por parte de incapazes) determina o seguinte: “1- As
pessoas que não têm ‘capacidade para contratar’ não podem aceitar doações com encargos
senão por intermédio dos seus representantes legais.; 2- Porém, as ‘doações puras’ feitas a
tais pessoas produzem efeitos independentemente da aceitação em tudo o que aproveite os
donatários.”.
O art. 1890º C.C., por sua vez, diz: “1- Se ao filho for deixada herança ou legado,
ou for feita proposta de doação que necessite de ser aceite (caso do art. 951º C.C.), devem os
pais aceitar a liberalidade, se o puderem fazer legalmente (alínea l) do nº1 art. 1889º C.C.), ou
requerer ao tribunal, no prazo de trinta dias, autorização para aceitar ou rejeitar.; 2- Se
decorrido aquele prazo sobre a abertura da sucessão ou sobre a proposta de doação, os pais
nada tiverem providenciado, pode o filho ou qualquer dos seus parentes, o Ministério Público,
o doador ou algum interessado nos bens deixados requerer ao tribunal a notificação dos pais
para darem cumprimento ao disposto no número anterior, dentro do prazo que lhes for
assinado.; 3- Se os pais nada declararem dentro do prazo fixado, a liberalidade tem-se por
aceite, salvo se o tribunal julgar mais conveniente para o menor a rejeição.”
Tendo em conta a redação não muito precisa do art. 951º C.C. e o procedimento
complicado do art. 1890º C.C., talvez não seja inapropriado recorrer ao previsto na última
parte do nº2 do art. 1878º C.C. (segundo o qual os pais devem, de acordo com a maturidade
dos filhos, reconhecer-lhes autonomia na organização da própria vida) para fazer uma leitura
do art. 127º nº1 alínea b) C.C., no sentido de este abranger também a aceitação de doações de
pequena importância, próprias da vida corrente do menor e ao alcance da sua capacidade
natural, sobretudo sendo certo que a aceitação de uma doação remuneratória (art. 941º C.C.)
pelo menor estaria a coberto da alínea c) do nº1 do art. 127º C.C..
Além das exceções à incapacidade de exercício admitidas pelo art. 127º C.C.,
outras está previsto no art. 1289º C.C. nº2 C.C. (capacidade para adquirir por usucapião), no
art. 1957º nº1 C.C. (convocação do conselho da família) e talvez no art. 1981º nº1 alínea a) C.C.
(consentimento do adotando maior de catorze anos). No que diz respeito a determinadas
decisões estritamente pessoais de menores com mais de dezasseis anos é de mencionar o art.
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1886º C.C. que confere a “maioridade em assuntos religiosos”. Além disso, o art. 1850º C.C.
confere ao menor de dezasseis anos a capacidade para perfilhar e o art. 2189º alínea a) C.C.,
reconhece a capacidade de testar do menor emancipado pelo casamento.
Não tem capacidade para contrair casamento o menor com mais de dezasseis
anos (art. 1600º C.C. em ligação com o art. 1604º alínea a) C.C.), sendo necessário para o
suprimento desta incapacidade a autorização expressa dos pais ou do tutor do menor (art.
1612º nº1 C.C., podendo o tribunal suprir a autorização; art. 1612º nº2 C.C.), que agem aqui
como os seus assistentes, visto não poderem agir em vez dele como representantes legais
dada a natureza pessoal do casamento. O casamento do menor leva sempre à sua
emancipação (art. 132º C.C.) e, quando devidamente autorizado, leva ainda à atribuição da
plena capacidade de exercício com se fosse maior (art. 133º C.C.).
O casamento do menor é válido, mesmo que não autorizado (arts. 1627º e 1631º
alínea a) C.C.), uma vez que não se verifica nenhum impedimento decisivo, conduzindo à
emancipação do menor (art. 1333º- 1ª parte- C.C.). Mas este não adquire plena capacidade de
exercício (art. 133º- última parte- C.C.) na medida em que continua a ser considerado menor
quanto à administração dos bens que leve para o casal ou que posteriormente lhe advenham
por título gratuito até à maioridade (art. 1649º nº1 C.C.). Os bens assim subtraídos à
administração do menor são administrados, conforme o caso concreto, pelos pais, tutor ou
administrador de bens; além disso, não respondem por dívidas contraídas por um ou ambos os
cônjuges durante o período da menoridade (art. 1649º nº2 C.C.).
Deste modo, o menor fica emancipado, tendo, por exemplo, segundo o art. 2189º
alínea a) C.C., a capacidade de testar, mas está, quanto à administração dos seus bens,
praticamente na mesma situação que resulta do art. 127º C.C. sem casamento.
Os negócios jurídicos celebrados pelo menor que não estiverem a coberto do art.
127º C.C. ou de outros preceitos que preveem exceções à incapacidade são anuláveis (art.
125º C.C.). A anulabilidade existe nos casos em que o representante legal, porventura, tenha
autorizado, de antemão, o menor a celebrar os negócios, uma vez que a lei não reconhece
semelhante autorização. Sendo anulável o negócio, a anulabilidade pode ser invocada por
meio de ação, no interesse do menor, de acordo com os pressupostos estabelecidos nas
alíneas a) a c) do nº1 do art. 125º C.C., dentro do prazo de um ano. Contudo, este prazo não
tem relevância quando se verificar a hipótese, ressalvada pelo art. 125 nº1 C.C e prevista no
art. 287º nº2 C.C..
Todavia não há lugar à anulação dos atos jurídicos que vierem a ser praticados em
cumprimento de uma obrigação nos termos do art. 764º C.C.. Com as soluções dadas por este
artigo, a lei procura encontrar um equilíbrio entre a preocupação de afastar prejuízos
patrimoniais do incapaz , por outro lado, e a necessidade de assegurar a estabilidade das
prestações efetuadas, e com isso a segurança do tráfico jurídico, por outro lado.
Legitimidade para invocar a anulabilidade dos negócios do menor, com base na
menoridade deste, têm-na apenas as pessoas mencionadas nas alíneas a) a c) do nº1 do art.
125º C.C., que devem exercer o seu direito no interesse do menor, mas não a outra parte que
tiver contratado com ele, visto a anulabilidade do negócio ter sido estabelecida no interesse
do menor (art. 287º nº 1 C.C., em ligação com o artigo 125º nº1 C.C.). Quer dizer, o risco da
menoridade cabe (com exceção doo caso regulado no art. 126º C.C.) sempre à outra parte.
Estas soluções legais explicam-se pelo facto de todo o sistema dos arts. 122º a 129º C.C. estar
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destina à proteção do menor, cujos interesses a lei pretende defender. Sendo assim, a
menoridade também não é, por via de regra, um elemento relevante para efeitos de um erro
que torno o negócio anulável nos termos dos arts. 251º e 247º C.C., pois de outro modo podia
ladear-se o sistema de proteção resultante do art. 125º C.C.. A legitimidade para invocar a
anulabilidade dos negócios jurídicos do menor podem ser anulados, com base na menoridade,
segundo o art. 125º nº 1 alínea a) C.C., a requerimento, conforme os casos, do progenitor que
exerça o poder paternal, do tutor ou do administrador de bens, desde que a ação seja
proposta no prazo de um ano a contar do conhecimento que o regulamento haja tido do
negócio impugnado, mas nunca depois de o menor atingir a maioridade ou ser emancipado,
salvo o disposto no art. 131º C.C.
Portanto, os representantes legais dispõem do prazo de um ao a partir do
momento em que obtiveram efetivamente conhecimento do negócio concluído pelo menor a
pedir anulação. Eles possuem um direito potestativo com vista à anulação, podendo tomar três
atitudes em relação ao negócio: propositura de uma ação destinada à anulação do negócio
(tudo passado como se o negócio nunca tivesse acontecido); decurso do prazo sem tomar
nenhuma iniciativa; confirmação do negócio ao abrigo do art. 125º nº2 C.C. (em consonância
com o art. 288º nº 1 C.C.)- feita expressa ou tacitamente (art. 288º nº3 C.C.), o negócio torna-
se válido ab initio, como se nunca tivesse sido inválido, tendo assim a confirmação dos efeitos
retroativo (art. 288º nº4 C.C.), embora com resultados em sentido contrário.
Se o poder paternal for exercido por ambos os pais (art. 1901º nº1 C.C.), as
medidas de anulação ou confirmação devem ser tomadas de comum acordo (art. 1901º nº2
C.C.). Contudo, a confirmação é feita com intervenção judicial quando se trata de atos que os
pais não podiam celebrar como representantes do menor (arts. 125º nº2 – última parte-,
1889º, 1892º e 1894º C.C.); o mesmo sucede, de resto, nos casos da representação do menor
por um tutor ou administrador de bens (arts. 125º nº2- última parte-, 1938º, 1971º nº1 C.C.).
Ao contrário da invocação da anulabilidade, que deve ser feita por ação, a
confirmação não está sujeita a forma especial e até pode ser feita tacitamente, embora
pressuponha sempre uma vontade confirmativa. Como a confirmação pode ser tácita, é fluida
a delimitação entre esta e o silêncio que consiste no simples deixar expirar o prazo, facto este
que tem muita importância para uma confirmação feita tacitamente sem autorização judicial.
Efetivamente, apenas pode haver uma confirmação tácita válida quando o
representante legal podia atuar sem autorização judicial. Sendo necessária a autorização, a
confirmação será expressa, procedendo o tribunal de acordo com os arts. 1889º C.C. e 1892º
C.C. (autoriza) ou 1894º C.C. (confirma a confirmação dos pais, feita sem autorização judicial
prévia). Quanto ao simples deixar expirar o prazo, sem vontade confirmativa, que solidifica o
negócio anulável, parece que esta solução não é admissível nos casos em que a lei prevê a
autorização/confirmação do tribunal.
O prazo de um ano, previsto na alínea a) do nº1 do art. 125º C.C., reduz-se em
termos correspondentes se durante o seu decurso o menor atingir a maioridade ou for
emancipado. Nestes casos, o direito de invocar a anulabilidade fica a pertencer, como direito
originário (não derivado), ao menor.
No segundo condicionalismo previsto pela lei, na verdade, o negócio celebrado
pelo menor pode ser anulado, com base na menoridade, de acordo com a alínea b) do nº1 do
art. 125º C.C., a requerimento do próprio menor, no prazo de um ano a contar da sua
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maioridade ou emancipação. A aplicação desse preceito pressupõe que ainda não tenha
havido confirmação nem decurso do prazo para invocar a anulabilidade, de modo que o
negócio continua anulável, produzindo os seus efeitos apenas de uma maneira provisória.
Então o menor tem, dentro do prazo de um ano, três possibilidades: propositura de uma ação,
com vista a anulação do negócio; decorrer o decurso do prazo; confirmação do negócio ao
abrigo do art. 125º nº2- 1ª parte C.C.. Neste última hipótese é necessário que o menor saiba
que o seu ato anterior estava ferido de anulabilidade para se poder verificar agora uma
confirmação válida. O antigo menor em virtude de ser plenamente habilitado a reger a sua
pessoa e a dispor dos seus bens (art. 130º C.C.), pode também confirmar aqueles atos que já
foram impugnados pelos seus representantes legais ao abrigo da alínea a) do nº1 do art. 125º
C.C., desde que ainda não exista uma sentença anulatória transitada em julgado.
Por outro lado, o art. 125º nº1 alínea a) C.C., última alternativa, em ligação com o
art. 131º C.C., retira ao antigo menor o direito de invocar a anulabilidade se estiver pendente
contra ele, na altura em que atinge a maioridade, uma ação de interdição ou inabilitação.
Nesta hipótese, é necessário aguardar que a respetiva sentença transite em julgado. Se a ação
for julgada improcedente, devem aplicar-se, por via de analogia, as regras do art. 125º nº1
alínea b) C.C.: decisivo para a contagem do prazo de um ano e então, não a data da
maioridade, mas o dia em que a sentença transitou em julgado, contando que este dia seja
posterior àquela data.
Também o art. 126º veda ao menor o direito de invocar a anulabilidade se el, para
praticar o ato, tenha usado dolo com o fim de se fazer passar por maior ou emancipado. Dolo,
segundo o art. 253º nº1 C.C., é: “(…)a intenção ou consciência de induzir ou manter em erro
(…)”. Não basta, assim, a simples afirmação de ser maior, é preciso algo mais que possa
preencher os requisitos do art. 253º nº1 C.C.. Por outro lado, é apenas o dolo em relação à
maioridade ou emancipação que está em causa, não um eventual dolo em relação a outros
elementos. A ideia subjacente ao art. 126º é a do abuso do direito, na sua forma do “venire
contra factum proprium”. Além disso, o preceito visa fomentar a segurança do tráfico jurídico,
tendo em ainda certos objetivos sancionatórios para o menor.
Discute-se se esta proibição de invocar a anulabilidade também tem efeitos contra
os herdeiros do menor. O problema surge no contexto da alínea c) do nº1 do art. 125º C.C.,
que consagra o terceiro condicionalismo para anular os negócios praticados pelo menor. Os
negócios jurídicos celebrados pelo menor podem ainda ser anulados por requerimento de
qualquer herdeiro do menor, no prazo de um ano a contar da morte deste, ocorrida antes de
expirar o prazo referido na alínea anterior. A aplicação do art. 125º nº1 alínea c) C.C.,
pressupõe um negócio que ainda continua anulável por não se terem esgotado as hipóteses da
sua anulação, decorrentes das alíneas a) ou b) do nº1 do art. 125º C.C. designadamente da
alínea b). Dentro deste condicionalismo o herdeiro tem o para efeitos de anulação um prazo
de um ano a partir da morte do menor, podendo tomar três atitudes: propositura de uma ação
com vista a anulação do negócio; limitar-se a deixar passar o prazo; confirmação do negócio
(art.288º nº1 C.C.), não obstando à confirmação a pendência de uma ação de anulação,
proposta nos termos das alíneas a) ou b) do nº1 do art. 125º C.C..
É aqui que se coloca a pergunta de saber se o herdeiro pode também anular o
negócio do “de cujus” menor se na pessoa deste estão preenchidos os pressupostos do art.
126º C.C.. Tendo em conta que o herdeiro sucede na posição patrimonial do “de cujus”, parece
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correto aplicar a proibição do art. 126º C.C. aos herdeiros. Com isso não se atribui o dolo ao
próprio herdeiro, mas atribui-se-lhe a situação criada e deixada pelo menor em virtude de este
ter agido com dolo. É nesta posição pré-existente que os herdeiros sucedem. E esta situação
faz com que lhe faltem os pressupostos para o exercício do direito de anulação. Uma outra
questão é a de saber se o dolo do menor exclui, além disso, o direito de anulação dos
representantes legais (art. 125º nº1 alínea a) C.C.). A resposta deve ser negativa por duas
razões: o texto do art. 126º dirige-se unicamente ao menor; e a exclusão do direito dos
representantes legais seria um contrassenso: eles não são abrangidos pelo ratio do art. 126º
C.C.. Na verdade, o regime das incapacidades protege “indiscriminadamente”, até
“cegamente”, o menor em manifesto detrimento do tráfico jurídico negocial, aqui considerado
como menos digno de proteção, em virtude da respetiva decisão valorativa d o legislador que
optou nesse sentido. Agido o menor com dolo, altera-se o citério quanto à maior dignidade de
proteção: o interesse a proteger passa agora a ser o da vítima do dolo, não do menor. Por
outro lado, o art. 126º C.C., em caso algum, pode esvaziar os poderes dos representantes
legais. A estes cabes sempre (arts. 1877º e 1878º nº1 C.C.) como direito-dever, a tarefa de
corrigir os atos do menor.
Finalmente, é de referir a possibilidade de surgirem, ao abrigo do art. 125º nº1,
várias pessoas legitimadas ao mesmo tempo. Mas do art. 125º nº1 C.C., decorre também a
possibilidade de coexistência de legitimações simultâneas, embora não a respeito de toda as
suas alíneas.
Assim, a legitimidade prevista na alínea b) do nº1 exclui qualquer outra
legitimidade, seja ao abrigo da alínea c), seja com base na alínea a), porque apenas pode existir
em exclusivo.
Dentro da alínea a) donº1 do art. 125º C.C. é possível haver, para determinados
negócios de disposição, uma legitimidade corrente de pais ou tutor, por um lado, e de
administrador de bens, por outro. De igual modo será possível haver vários legitimados com
base na alínea c) no nº1 do art. 125º C.C., visto este preceito falar de qualquer herdeiro para
invocar a anulabilidade dos negócios celebrados pelo menor e este pode ter deixado mais do
que um herdeiro, todos legitimados, embora no seu conjunto (art. 2091º nº1 C.C.).
Pode, também, haver legitimidades simultâneas, e concorrentes, ao abrigo das
alíneas a) e c) do nº1 do art. 125º C.C. Assim, por exemplo, se o menor, tendo concluído um
negócio sem ter capacidades para o efeito, morrer antes de ter atingido a maioridade e deixar
um descendente, herdeiro legítimo segundo os arts. 2131º e 2133º nº1 alínea a) C.C., e se os
representantes legais, nessa altura, tomarem conhecimento do negócio, terão legitimidade
para pedir a anulação tanto os representantes legais (alínea a) do nº1 art. 125º C.C.) como o
herdeiro do menor (alínea c) do nº1 art. 125º C.C.), ambos dentro do prazo de um ano.
Decisiva para a aplicação da alínea c) é que os herdeiros não devem ser privados de direitos
que o menor teria ou viria a ter antes de expirado o prazo da alínea b), isto é todo o tempo
anterior ao fim daquele prazo- e não apenas o tempo que começa a contar a partir da
maioridade. Mas se o menor tiver agido com dolo, a legitimidade apenas pertence aos
representantes legais.
Por outro lado, se os próprios representantes legais forem os herdeiros do menor,
segundo os arts. 2131º e 2133º nº1 alínea b) C.C., eles podem estar duplamente legitimados se
a morte tiver ocorrido antes da maioridade do menor (alíneas a) e c) o nº1 do art. 125º C.C.);
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se a morte se verificar depois da maioridade, estão legitimados apenas ao abrigo da alínea c)
do nº1 do art. 125º C.C. (supondo que não tiveram conhecimento do negócio para efeitos da
alínea a) do nº1 do art. 125º C.C.). Mas sempre que o menor agiu com dolo é retirado aos
herdeiros o direito de pedir a anulação do negócio, não obstante uma eventual dupla
legitimação como representantes legais.

Menoridade Incapacidade Geral (art. 123º -2ª parte- C.C.)


(art. 122º C.C.)
Não estão habilitados a reger a sua
Só termina com a maioridade pessoa e a dispor dos seus bens e
(art. 129º C.C.) ou com a não tem capacidade para adquirir
emancipação (art. 132º C.C.) Por vezes a atuação dos direitos e assumir obrigações por
representantes legais é ato próprio.
suprida (art. 127º C.C.)
A não ser que a lei abra
exceções (art. 123º- 1ª
parte- C.C.)
Suprida pelo poder paternal (art. 124º e 1877º e ss
C.C.) e subsidiariamente pela tutela (art. 124º e
1921º e ss C.C.) e pela administração de bens
(1888º nº1 alíneas a) a c) e 1922º C.C.) Menores têm que obedecer aos
pais e cumprir os preceitos dos
Dispõem de um prazo para a anulação de
mesmos (art. 128º C.C.)
ações de menores (art. 125º C.C.)

A segunda modalidade das incapacidades de exercício surge como efeito de uma


interdição. Esta medida será tomada quando alguém por anomalia psíquica, surdez-mudez ou
cegueira, se mostre incapaz de governar a sua pessoa e reger os seus bens (art. 138º nº1 C.C.).
São estes os únicos fundamentos que a lei conhece e admite a este respeito. A interdição tem
como consequência a incapacidade geral de exercício de direitos. Esta refere-se apenas a
maiores de idade (art. 138º nº2- 2º parte- C.C.), visto que não tem sentido os menores serem
abrangidos por este regime, uma vez que a própria menoridade consiste num regime que
também não permite os que por ele são abrangidos de participar no tráfico jurídico.
A interdição, tal como a menoridade, conduz a uma incapacidade geral, visto os
interditos não estarem em capacidade para participar por ato próprio no tráfico jurídico. A
interdição pode resultar unicamente de uma das causas previstas no nº1 doo art. 138º C.C.,
quando um sujeito é incapaz de governar a sua pessoa e os seus bens, tendo aquela
incapacidade ficado demonstrada, através de sinais notórios ou evidentes. Esta incapacidade
terá de apresentar um carácter permanente. No que diz respeito às “qualidades minguantes”
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enumeradas no art. 138º nº1 C.C. devem ser duradouras ou habituais (não obstante a
ocorrência de intervalos lúcidos) e, além disso, devem subsistir para poderem constituir
fundamento suficiente de uma interdição.
A interdição não se verifica sem mais com a existência dos pressupostos
enunciados no art. 138º nº1 C.C., mas necessita de ser decretada por decisão judicial na
sequência de uma ação dirigida a este fim. No respetivo processo são dadas ais interditando
todas as garantias processuais e materiais correspondentes à gravidade do ato da interdição. O
tribunal decide não em função do pedido da ação mas no interesse do interditando, dispondo
de uma margem de decisão apreciável. No uso das faculdades conferidas ao tribunal, é
permitido que também se decrete a inabilitação quando inicialmente tinha sido pedida a
interdição, mas também permite que se decrete a interdição quando só tinha sido pedida a
inabilitação. É preciso ter em conta que a interdição, se por um lado visa a máxima proteção
possível, constitui, porém, uma intervenção bastante forte e grave na vida e na personalidade
de uma pessoa, que devido a tal vê o seu livre desenvolvimento condicionado. Assim, o
interditando dispõe sempre e obrigatoriamente de um defensor que o representa no processo.
Segundo o art. 141º nº1 C.C., a interdição pode ser requerida pelo cônjuge do
interditando, pelo seu tutor ou curador (se este já estiver inabilitado), por qualquer parente
sucessível ou pelo Ministério Público. Se o interditando estiver sob poder paternal só os
progenitores é que podem exercer o poder paternal, e o Ministério Público têm legitimidade
para requer a interdição (art. 141º nº2 C.C.). Estas legitimidades são autónomas, isto é, o
Ministério público pode atuar contra a vontade dos pais (com máxima prudência), e estes não
precisam da autorização daquele. Campo de aplicação do nº2 do art. 141º C.C. deve ser
regularmente o caso em que a interdição é requerida antes de o menor ter atingido a
maioridade (arts. 131º, 125º nº1 alínea a), 124º C.C.).
Os pais devem agir de comum acordo (art. 1901º nº2 C.C.); havendo desacordo,
será suficiente o reconhecimento de apenas um deles, sem a necessidade de recorrer
previamente ao tribunal para sanar o desacordo entre eles (previsto no art. 1901º nº2 C.C.),
visto a interdição servir, em primeiro lugar, os interesses do interditando e tendo em conta as
garantias formais e materiais dadas a este no próprio processo de interdição.
Mas já durante o processo de interdição pode mostrar-se a necessidade de
providenciar especialmente acerca da pessoa e/ou dos bens do interditando nos casos não
abrangidos pelo regime do art. 131º C.C., onde o interditando ainda se encontra sujeito ao
poder paternal. Para esse efeito serve a disposição do art. 142º C.C..
Nas situações previstas pelo art. 142º C.C. podem ser decretadas providências
cautelares, inclusive a interdição provisória, para impedir que ao interditando advenha um
prejuízo. As medidas a decretar dependem do prudente arbítrio do juiz, a exercer no interesse
do interditando. Para o efeito, o art. 142º C.C. distingue duas situações: na hipótese prevista
no nº1 trata-se da nomeação de um tutor provisório que celebre certos atos (os autorizados
pelo tribunal), que não podem ser adiados se não podem causar prejuízo ao menor – tutor ad
hoc-; na hipótese prevista no nº2, é urgente e necessário providenciar quanto à pessoa e bens
do interditando, possuindo o tutor uma competência normal- tutor provisório. A interdição
provisória está condicionada pela existência de duas circunstâncias: ter de prosseguir o
processo; e a necessidade urgente de providenciar quanto à pessoa e aos seus bens. Além das
medidas previstas no art. 142º C.C., há mais um meio especial para proteger o interditando
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durante o decurso da ação até ao trânsito em julgado da sentença. Este meio consiste na ação
de anulação prevista no art. 149º C.C..
Prejuízo significa uma desvantagem patrimonial em termos objetivos (exemplo:
doações, negócios com prestações não equivalentes, etc.). Para a sua verificação deve
atender-se à situação e às virtualidades criadas no próprio momento da conclusão do negócio.
Se a lei atendesse a prejuízos que poderiam surgir no futuro, em consequência de evoluções
posteriores ao negócio, quase ninguém contrataria com um interditando e este não ficaria
protegido nos seus atos mas excluído de todo do tráfico jurídico. É justamente para afastar
este resultado que o art. 149º nº 1 C.C. aponta para o prejuízo no momento do próprio
negócio.
Por outro lado a exigência de publicidade da ação de interdição visa a proteção de
terceiros, prevenindo-os contra uma eventual anulação dos atos do interditando, depois de
decretada a interdição, com base no prejuízo causado. Deste modo, a estabilidade dos
negócios do interditando torna-se calculável, pois a outra parte pode contratar em termos que
evitem prejuízos.
No que diz respeito aos negócios celebrados antes de anunciada a propositura da
ação, não há regime especial para eles: são anuláveis ao abrigo do disposto sobre incapacidade
acidental (art. 150º C.C.), regulado no art. 257º C.C.. Segundo este preceito, uma declaração
negocial feita por quem não tinha o livre exercício da sua vontade, ou prestada por quem no
momento da declaração se encontrava acidentalmente incapacitado de entender o sentido da
mesma é anulável, contando que, porém, o facto seja notório ou conhecido da parte à qual
fora dirigida. A aplicação do art. 257º C.C. neste contexto não se limita, todavia, aos negócios
celebrados antes da propositura da ação. Como é óbvio, o art. 257º C.C. protege o
interditando também depois desta data.
A sentença que decreta a interdição definitiva está sujeita ao registo civil
obrigatório (art. 147º C.C.). É a partir do momento do registo que o regime de interdição
funciona plenamente. Enquanto a sentença não constar no registo, a interdição, embora
produzindo os seus efeitos, não pode ser invocada contra um terceiro de boa fé (art. 147º,
1920º-C C.C.). Está de boa fé quem não conhece a sentença nem razoavelmente deve
conhecê-la. Em relação ao terceiro de boa fé o interdito é maio, embora um maior
condicionando e protegido por regras que se lhe aplicam como interditando com o seu
processo ainda pendente, de acordo com os conhecimentos e a perspetiva do terceiro.
A regra do art. 147º C.C. destina-se à segurança do tráfico jurídico fomentada pela
publicidade do registo, visto a interdição definitiva respeitar o estado civil. Por isso, em relação
a terceiros de má fé (isto é, terceiros que conhecem a sentença definitiva, embora ainda não
registada), a interdição pode ser invocada mesmo sem registo, por causa da sua finalidade
protetora em relação ao interdito, mas também devido ao conhecimento que o terceiro tem
da situação débil deste.
A “cadeia de proteção” é, deste modo, a seguinte: até à propositura da ação,
regime de incapacidade acidental; durante o decurso da ação, regime da incapacidade
acidental, reforçado pelo regime resultante dos arts. 142º e 149º C.C.; após o transito em
julgado da sentença mas antes do seu registo, regime da interdição, embora não invocável
contra terceiros de boa fé para quem as coisas se passam como se a ação ainda estivesse
pendente; a seguir ao registo, regime da interdição sem quaisquer restrições.
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A incapacidade dos interditos é suprida pela tutela, ou seja, por uma das formas
de representação legal. A tutela deo9wppllfinitiva cabe às pessoas designadas no art. 143º
C.C., pela ordem no mesmo referida. Desta forma, a tutela cabe primeiro ao cônjuge do
interdito, salvo se este estiver separado judicialmente de pessoas e bens ou separado de facto
por culpa sua ou se for por outra causa legalmente incapaz (art. 143º nº1 alínea a) C.C.). No
caso previsto no art. 143º nº1 alínea b) C.C., os pais deve indicar de acordo (art. 1901º nº2
C.C.) a pessoa que querem ver incumbida da tutela. Na falta de acordo, cabe ao tribunal
escolhe a pessoa mais indicada. Mas se apenas um dos pais designar uma pessoa presume-se o
acordo entre eles conforme o disposto no art. 1902º C.C.. De salientar, ainda, o grau de
intervenção concedido ao tribunal na nomeação do tutor (art. 143º nº1 alíneas c) e d) e nº2
C.C.). o tribunal pode, depois de ter ouvido o conselho de família (que não possui poder de
decisão), designar o tutor por ordem diversa da legalmente prevista. Se esta solução, por um
lado, confere uma maior flexibilidade à atuação do tribunal, aumenta, por outro lado, o
intervencionismo estatal na sua vida familiar, o que pode ser menos salutar.
Relativamente à escusa da tutela e à exoneração do tutor, o respetivo regime vem
estabelecido no art. 146º C.C.. Por escusa entende-se a atitude de quem pretende não ser
nomeado tutor, não iniciando sequer o exercício do cargo, por exoneração entende-se a
substituição no cargo depois de este ter sido exercido pelo exonerado. Escusa e exoneração
pressupõem a existência de razões atendíveis. No entanto, o regime estabelecido no nº1 do
art. 146º C.C. veda ao cônjuge do interdito e aos descendentes e ascendentes deste a
possibilidade de pedir a escusa da tutela bem como a exoneração daquele cargo. Ao fim de
cinco anos, porém, os descendentes podem pedir a exoneração, havendo outros descentes
idóneos. No caso de a ordem pela qual a tutela é deferida nos termos do art. 143º C.C. ter sido
violada, sem que para tal haja as razões justificativas do nº2, existe a possibilidade de pedir a
escusa ou requerer a exoneração por parte do indevidamente nomeado.
Se a tutela recair, nos termos do art. 143º C.C., no pai ou na mãe, estes exercem o
poder paternal como se dispõe nos arts. 1878º e ss (art. 144º C.C.). Esta solução da lei baseia-
se no facto da tutela e do poder paternal apresentarem diferenças quanto ao seu conteúdo,
conferindo a tutela poderes menores do que o poder paternal (exemplo: art. 1935º nº1 C.C.).
Assim, recaindo a tutela sobre os pais, estes continuam investido no poder paternal tal como o
exercem em relação a filhos menores, sem as limitações que caracterizam o exercício da
tutela.
Quando a tutela não recair sobre os pais, aplicam-se-lhe em todo o que não seja
regulado de uma maneira especial pelos arts. 139º a 151º C.C. as regras respeitantes à tutela
destinada a suprir o poder paternal, bem como as regras respeitantes aos outros meios
previstos para este fim (art. 1921º a 1972º C.C.), feitas as necessárias alterações (art. 139º-
última parte- C.C.). Nesta linha, chama-se a atenção para o art. 145º, o qual salienta como
dever especial do tutor o cuidado da saúde do interdito. Vemos assim a tutela, como instituto
da representação legal destinado a suprir a incapacidade de exercício, nos aparece em duas
diferentes situações: esta pode ser um meio de suprir o poder paternal; ou pode ser um meio
para suprir a incapacidade do interdito. Na primeira hipótese o regime legal encontra-se nos
arts. 1921º e ss C.C. e 1962º e ss C.C.; na segunda hipótese, as disposições legais aplicáveis são
estes mesmos preceitos, na medida em que os arts. 139º e 151º C.C. não estabelecem um
regime especial. Ao lado da tutela, nas suas duas funções, pode surgir ainda, conforme as
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necessidades do caso concreto, a administração de bens (art. 139º- última parte- C.C, em
ligação com os arts. 1921º e ss, 1967º e 1972º C.C.).
Sendo assim necessário o tutor suprir a incapacidade para o exercício de direitos
do interdito, pode haver situações em que este próprio possui, a título de exceção,
capacidade. A este respeito são aplicáveis ao interdito as disposições que regulam as exceções
à incapacidade por menoridade, consequência que decorre do facto de o interdito ser
juridicamente equiparado ao menor (art. 139º- 1ª alternativa- C.C.). Aplicam-se, assim, ao
interdito os arts. 123º a 128º C.C., sendo de salientar a importância dos arts. 125º, 126º e 127º
C.C., e para este as exceções à incapacidade.
Os negócios do interdito que não forem praticados ao abrigo do art. 127º C.C. (ou
de outros preceitos que estabelecem exceções à sua incapacidade) são anuláveis nos termos
do art. 125º C.C.. Assim, a anulação dos negócios do interdito pode ser requerida pelo tutor
(no ano a seguir ao conhecimento), pelo próprio interdito (no ano posterior ao levantamento
da interdição) e por um herdeiro do interdito (dentro do ano depois da morte). Por outro lado,
a anulabilidade é sanável mediante confirmação do tutor (se ele podia ter praticado o ato
como representante) ou mediante confirmação do próprio interdito, levantada a interdição,
ou mediante a confirmação do herdeiro.
A interdição pode ser levantada quando cessarem as causas que a tinham
determinado (art. 151º- 1ª parte- C.C.). Mas até ao levantamento a incapacidade continua a
ser geral e permanente. O levantamento pressupõe um requerimento visando este objetivo,
não se verificando portante, automaticamente com a cessação das causas que deram origem à
interdição. Tem legitimidade para o requerimento o próprio interdito ou as pessoas que tem
legitimidade para requerer a interdição (art. 151º C.C.). Isto significa que, para efeitos de
requerer o levantamento da interdição, o interdito possui excecionalmente capacidade de
exercício (e judiciaria). Esta exceção destina-se a favorecer a reintegração do interdito no
tráfico jurídico geral, de modo a que passe a participar nele por meio de atos próprios. O
processo de levantamento corre por apenso ao anterior processo de interdição.
Com o trânsito em julgado da sentença que ordena o levantamento termina o
estado de interdição, mas não necessariamente também a incapacidade de exercício, pois a
interdição pode ser levantada decretando-se a inabilitação que a substitua, quando haja
incapacidade que o justifique. Desta maneira, tanto o início como o termo da interdição são
decretados por sentenças judiciais. Porém, para que o levantamento da interdição possa ser
invocado deve constar no registo civil, como facto obrigatoriamente sujeito a registo, não se
aplicando aqui o regime previsto no art. 147º C.C..

Interdição “Qualidades Minguantes” (art. 138º nº1 C.C.)

Pode ser requerida pelas Incapacidade de exercício


pessoas presentes no art.
141º C.C. Não tem capacidade
para participar no
tráfico jurídico

Durante o processo de interdição Como a menoridade


pode existir necessidade de
providenciar de forma especial (art.
142º C.C.)
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Suprida pela tutela, que cabe às pessoas


 Tutor “ad hoc” (art. do art. 143º C.C. (nessa ordem)
142º nº1 C.C.): certos
atos Escusa e Exoneração (art. 146º C.C.)
 Tutor provisório (art.
142º nº2 C.C.):
competência normal

Além destas medidas o art. Prazo anulação


149º C.C. disponibiliza outra presente no art. 125º
forma de proteção (a anulação) C.C.)

Negócios celebrados  Antes da propositura da ação: incapacidade


acidental (art. 150º e 257º C.C.)
 Durante o decurso da ação: incapacidade
acidental (art. 150º e art. 257º C.C.) mais os
arts. 142º e 149º C.C.
 Após o trânsito em julgado, mas sem o
registo: regime interdição (não invocável
contra terceiros de boa fé)
 Após trânsito em julgado, com registo:
regime interdição

Pode ser levantada quando cessarem as Tem legitimidade para requerer o


causas que levaram a esta incapacidade levantamento o próprio interdito ou as
(art. 151º C.C.) pessoas que tem legitimidade para
requerer a interdição (art. 151º C.C.)

A terceira modalidade das incapacidades de exercício é a inabilitação. Esta


destina-se, à semelhança da interdição, a maiores mas constitui uma intervenção mais fraca e
menos ampla do que esta.
Segundo o art. 152º C.C., as pessoas sujeitas à inabilitação podem ser indivíduos
com anomalia psíquica, surdez-mudez e cegueira, porém não de um modo tão grave como o
da interdição, assim como aqueles que pela sua habitual prodigalidade ou pelo abuso de
bebidas alcoólicas ou estupefacientes se mostrem incapazes de reger o seu património de uma
forma conveniente. O art. 152º C.C. comtempla desta forma dois grupos de pessoas
diferentes. O primeiro é quem apresenta características necessárias para uma interdição, mas
sem a gravidade exigida para justificar tal medida. O segundo grupo é constituído por pessoas
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que em virtude de determinados vícios são incapazes de reger convenientemente o seu
património.
Enquanto a interdição pressupõe, de acordo com o nº1 do art. 138º C.C., que
alguém se mostre incapaz de governar a sua pessoa e bens, a inabilitação refere-se a quem se
mostra incapaz de reger o seu património (art. 152º- última parte- C.C.) e ainda a quem não
seja incapaz de todo de reger a sua pessoa e os seus bens (art. 152º- 1ª parte- C.C.). Trata-se
portanto de casos em que uma pessoa se encontra com uma capacidade diminuída.
Como acontece em todos os casos de incapacidade, também a inabilitação visa
proteger, em primeiro lugar, os interesses do inabilitado contra a sua própria deficiência. Mas
ela pode beneficiar, sobretudo no caso das pessoas abrangidas no segundo grupo do art. 152º
C.C., também outros interessados na administração conveniente do património do inabilitado,
que serão o cônjuge, os herdeiros e até a própria comunidade que de outra maneira podia vir
a ter de assegurar o mínimo de existência ao incapaz.
Além dos pressupostos enunciados no art. 152º C.C. e dos efeitos regulados nos
arts. 153º a 155º C.C., é aplicável à inabilitação, com as necessárias adaptações, o regime da
interdição (art. 156º C.C.). Assim, sempre que os arts. 152º a 155º C.C. não prevejam soluções
específicas para a inabilitação, deve recorrer-se ao regime estabelecido para a interdição,
como regime supletivo. Aplicam-se deste modo, por força do art. 156º C.C., os arts. 138º nº2,
140º, 141º, 142º, 143º, 146º a 151º C.C. e, sobretudo, o art. 139º na parte remissiva para as
disposições da menoridade, para os arts. 123º a 128º, designadamente os arts. 125º, 126º e
127º C.C. e para as disposições dos arts. 1967º e ss C.C. como meio de suprir o poder paternal.
Tal como a interdição, também a inabilitação necessita de ser decretada por
sentença, sendo necessário o respetivo requerimento, proposto por ação (arts. 156º e 141º
C.C.). Nas ações de interdição e inabilitação trata-se de duas petições iniciais diferentes. Até ao
registo da sentença que decrete a inabilitação vale para o inabilitando, “mutatis mutandis”, o
regime de proteção estabelecido para os negócios do interditando, por força do art. 156º C.C.,
ou seja, as regras da incapacidade acidental, as medidas previstas pelos arts. 142º e 149º C.C.,
o regime art. 147º e, finalmente, o sistema de inabilitação decretada sem restrições.
Depois de decretada a inabilitação, os inabilitados são assistidos por um curador a
cuja autorização estão sujeitos os atos de disposição de bens entre vivos e todos os atos do
inabilitado que, conforme as circunstâncias, forem especificados na sentença (art. 153º nº1
C.C.). Os atos são, desta maneira, praticados pelo próprio inabilitado, dependendo da sua
validade da autorização do curador que supre a incapacidade do inabilitado. Assim, o curador
não celebra qualquer ato em vez do inabilitado, mas a sua assistência consiste em autorizar
(ou não autorizar) os atos que são praticados pelo incapaz. O curador age ao lado do
inabilitado ou impede-o de agir. Se o curador não autorizar um ato pretendido pelo inabilitado,
a autorização pode ser judicialmente suprida. (art. 153º C.C.) Todavia, se a administração do
património do inabilitado for entregue nos termos do art. 154º C.C., no todo ou em parte, ao
curador, a incapacidade do inabilitado é suprida pela representação e não pela assistência,
levando o curador agir pelo inabilitado. O regime da inabilitação é maleável, conforme a
diminuição da capacidade do inabilitado.
Assim, quanto aos atos de disposição de bens entre vivos, o tribunal pode limitar-
se a submeter apenas determinados atos especificados à autorização do curador (art. 153º nº1
– 2ª parte- C.C.); mas o tribunal pode ir mais longe, fazendo depender da autorização do
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curador todos os atos presentes no art. 153º nº1- 1ª parte- C.C.; finalmente, quando a
gravidade da situação do inabilitado o justifique, pode ser decretada a administração de bens
do inabilitado (art. 154º nº1). No regime de inabilitação, instaurado nos termos do art. 153º, o
inabilitado tem capacidade para quaisquer atos de mera administração quanto aos seus bens,
isto é, atos que não afetem a sua substância. Havendo, porém, administração de bens ao
abrigo do art. 154º C.C., o inabilitado já pode praticar tais atos na medida em que não são
abrangidos pela competência do curador. Ainda há outras competências do curador que
constam expressamente na lei (arts. 1769º nº3 e 2082 nº2 C.C.).
Quanto à pessoa do inabilitado, o art. 153º C.C. nada prevê, de modo a que este
tem capacidade para reger a sua pessoa e concluir os negócios pessoais que lhe dizem
respeito. Além disso, o inabilitado pode sempre concluir os negócios para os quais possui
capacidade ao abrigo do art. 127º C.C. (por remissão dos arts. 156º e 139º C.C.).
A inabilitação pode ser levantada de acordo com os pressupostos presentes nos
arts. 156º e 151º e 155º C.C.. Estes pressupostos são relativamente “violentos” para os
inabilitados por causa dos vícios que podem levar a tal incapacidade. No entanto, o legislador
entende que é necessária uma prova duradoura relativamente à superação do respetivo vicio.
Daí o prazo de cinco anos para o caso dos inabilitados por vícios, nos outros casos o
levantamento depende meramente do desaparecimento da deficiência.

Inabilitação “Qualidades Minguantes” (art. 152º C.C.)

Regime presente nos É completado com o regime da


arts. 152º a 156º C.C. interdição (art. 156º C.C.) e com Não de uma forma tão grave como
o regime da menoridade (art. a dos interditos.
139º C.C.)
Tem de ser decretada por Não conseguem reger o seu
sentença (art. 156º e 141º C.C.) património
 Antes da propositura da ação: Suprida por um curador
incapacidade acidental (arts. 150º e (art. 154º C.C.)
Até ser decretada vale para 257º C.C.)
o inabilitado: “mutatis  Durante o decurso da ação: Age ao lado do inabilitado ou
mutandi”, isto e um regime incapacidade acidental (arts. 150º e impede-o de agir; a sua
de proteção (art. 156º C.C.) 257º C.C.) mais arts. 142º e 149º autorização pode ser suprida
C.C. judicialmente (art. 153º C.C.); se
 Após trânsito em julgado, sem o património tiver sido entregue
registo: regime inabilitação ao curador, este age pelo
 Após trânsito em julgado, com inabilitado
registo: regime inabilitação
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 Pessoas Coletivas

São organizações constituídas por uma colectividade de pessoas ou por uma massa de
bens, dirigidos à realização de interesses comuns ou colectivos, às quais a ordem jurídica
atribui a Personalidade Jurídica.
É um organismo social destinado a um fim lícito que o Direito atribui a susceptibilidade de
direitos e vinculações.
Trata-se de organizações integradas essencialmente por pessoas ou essencialmente por
bens, que constituem centros autónomos de relações jurídicas.
Há, duas espécies fundamentais de Pessoas coletivas: as Corporações e as Fundações.
As Corporações, têm um substracto integrado por um agrupamento de pessoas singulares
que visam um interesse comum, egoístico ou altruístico. Essas pessoas ou associados
organizam a corporação, dão-lhe assistência e cabe-lhe a sua vida e destino.
As Fundações, têm um substracto integrado por um conjunto de bens adstrito pelo
fundador a um escopo ou interesse de natureza social. O fundador pode fixar, com a atribuição
patrimonial a favor da nova Fundação, as directivas ou normas de regulamentação do ente
fundacional da sua existência, funcionamento e destino.
A função economico-social do instituto da personalidade coletiva liga-se à realização de
interesses comuns ou colectivos, de carácter duradouro.
Os interesses respeitantes a uma pluralidade de pessoas, eventualmente a uma
comunidade regional, nacional ou a género humano, são uma realidade inegável: são os
referidos interesses colectivos ou comuns. Alguns desses interesses são duradouros,
excedendo a vida dos homens ou, em todo o caso, justificando a criação de uma organização
estável.
Tanto as corporações como as fundações necessitam do substrato para adquirem a
persoalidade jurídica. Este é o conjunto de elementos da realidade extra-jurídica, elevado à
qualidade de sujeito jurídico pelo reconhecimento.
O substracto é imprescindível para a existência da Pessoa Coletiva:
a) Elemento Pessoal, verifica-se nas Corporações. É a colectividade de indivíduos que se
agrupam para a realização através de actividades pessoais e meios materiais de um escopo ou
finalidade comum. É o conjunto dos associados. E o Elemento Patrimonial, intervém nas
Fundações. É o complexo de bens que o fundador afectou à consecução do fim fundacional.
Tal massa de bens designa-se habitualmente por dotação. Nas Corporações só o Elemento
Pessoal é relevante, só ele sendo um componente necessário do substracto da Pessoa
Coletiva. Pode existir a corporação, sem que lhe pertença património. Por sua vez nas
Fundações só o Elemento Patrimonial assume relevo no interior da Pessoa Coletiva, estando a
actividade pessoal – necessária à prossecução do escopo fundacional – ao serviço da afectação
patrimonial – estando subordinada a esta, em segundo plano ou até, rigorosamente, fora do
substracto da Fundação. Parece portanto, que: 1) Nas Corporações, é fundamental apenas o
Elemento Pessoal, sendo possível, embora seja uma hipótese rara, a inexistência de um
património; este, quando existe, está subordinado ao elemento pessoal; 2) Nas Fundações, é
fundamental o Elemento Patrimonial, sendo a actividade pessoal dos administradores
subordinada à afectação patrimonial feita pelo fundador e estando ao serviço dela;
beneficiários e fundadores estão, respectivamente, além e aquém da Fundação.
b) Elemento Teleológico: a Pessoa Coletiva deve prosseguir uma certa finalidade,
justamente a fim ou causa determinante da formação da colectividade social ou da dotação
fundacional. Torna-se necessário que o escopo visado pela Pessoa Coletiva satisfaça a certos
requisitos, assim: 1) Deve revestir os requisitos gerais do objectivo de qualquer negócio
jurídico (art. 280º CC). Assim, deve o escopo da Pessoa Coletiva ser determinável, física ou
legalmente, não contrária à lei ou à ordem pública, nem ofensivo aos bons costumes (art. 280º
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CC); 2) Deve se comum ou colectivo. Manifesta-se a sua exigência quanto às sociedades.
Quanto às Associações que não tenham por fim o lucro económico dos associados não há
preceito expresso, formulando a sua exigência, mas esta deriva da razão de ser do instituto da
personalidade coletiva. Quanto às Fundações a exigência deste requisito não oferece dúvidas
estando excluída a admissibilidade duma Fundação dirigida a um fim privado do fundador ou
da sua família; com efeito, dos arts. 157º e 188º/1 CC, resulta a necessidade de o escopo
fundacional de ser de interesse social; 3) Põe-se, por vezes, o problema de saber se o escopo
das Pessoas coletivas deve ser duradouro ou permanente. Não é legítima a exigência deste
requisito em termos da sua falta impedir forçosamente a constituição de uma Pessoa Coletiva.
c) Elemento Intencional: trata-se do intento de constituir uma nova pessoa jurídica,
distinta dos associados, do fundador ou dos beneficiários. A existência deste elemento radica
na circunstância de a constituição de uma Pessoa Coletiva ter na origem um negócio jurídico: o
ato da constituição nas Associações (art. 167º CC), o contracto de sociedade para as
sociedades (art. 980º CC) e o ato de instituição nas Fundações (art. 186º CC). Ora nos negócios
jurídicos os efeitos determinados pela ordem jurídica dependem, em termos que
posteriormente serão explicitados, da existência e do conteúdo duma vontade
correspondente. Falta também o elemento intencional nas Fundações de facto e nas
Fundações fiduciárias. Estamos perante a primeira figura (Fundação de facto) quando um
indivíduo pretende criar ou manter uma obra de utilidade pública, financiando-a com uma
certa parte do seu património, mas sem contrair um vínculo jurídico correspondente,
podendo, em qualquer momento, pôr termo à afectação desses bens àquele fim. Estamos
perante a segunda figura (Fundação fiduciária) quando se dispõe a favor de uma certa Pessoa
Coletiva já existente, para que ela prossiga um certo fim de utilidade pública, compatível com
o seu próprio escopo. São uma manifestação típica de liberdades com cláusula modal.
d) Elemento organizatório: a Pessoa Coletiva é, igualmente, por uma organização
destinada a introduzir na pluralidade de pessoas e de bens existente uma ordenação
unificadora.
Ambas as pessoas coletivas necessitam de órgãos para reger a mesma.Esses órgãos
são um conjunto de poderes organizados e ordenados com vista à prossecução de um certo
fim que se procede à formulação e manifestação da vontade da Pessoa Coletiva, sendo assim
que a Pessoa Coletiva consegue exteriorizar a sua vontade (coletiva).
É o instrumento jurídico através do qual se organizam as vontades individuais que formam
e manifestam a vontade coletiva e final da associação. São o elemento estrutural, não tendo
realidade física. (“É através dos órgãos que a Pessoa Coletiva, conhece, pensa e quer”
(Marcello Caetano)).
Os atos dos órgãos da Pessoa Coletiva têm efeito meramente internos para a satisfação
dos fins dessa Pessoa Coletiva.
É o centro de imputação de poderes funcionais com vista à formação e manifestação da
vontade juridicamente imputável à Pessoa Coletiva, para o exercício de direitos e para o
cumprimento das obrigações que lhe cabem. Não tem todos os poderes e nem todos os
direitos que cabem à Pessoa Singular, só tem Capacidade de Exercício para aquilo que lhe é
especificamente imposto.
A cada órgão são atribuídos poderes específicos segundo uma certa organização interna,
que envolve a determinação das pessoas que os vão exercer. Os titulares são os suportes
funcionais atribuídos a cada órgão, o qual denomina-se competência do órgão. O orgão
individual – decide e o orgão deliberativo – delibera.
Os órgãos podem ser singulares ou colegiais. Esta distinção resulta do suporte do órgão ser
constituído por uma (singular) ou várias (colegial) pessoas.
Há duas classificações quanto á competência: 1) Órgãos Activos: atende-se ao facto de os
órgãos exprimirem uma vontade juridicamente imputável à Pessoa Coletiva. Que se subdivide
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em órgãos internos e órgãos externos. Cabe ao órgão formar a vontade da Pessoa Coletiva ou
projectar para o exterior a vontade da Pessoa Coletiva; 2) Órgãos Consultivos: limita-se a
preparar elementos informadores necessários à formação da deliberação ou decisão final.
A modalidade de atribuição da Personalidade Jurídica à Pessoa Coletiva, varia consoante a
categoria da mesma. O reconhecimento pode ser:
a) Normativo: a Personalidade Jurídica da Pessoa Coletiva é atribuída por uma norma
jurídica a todas as entidades que preenchem certos requisitos inseridos nessa norma
jurídica. Este pode ainda ser:
· Incondicionado: quando a atribuição da Personalidade Jurídica só depende da
existência de um substracto completo. Não são necessárias mais exigências.
· Condicionado: quando a ordem jurídica, já pressupõe certos requisitos de
personificação.
b) Individual, por Concessão ou Específico: verifica-se quando esse reconhecimento
resulta de um certo ato de autoridade, ato esse que é da Personalidade Jurídica uma
entidade concreta.
c) Explícito: quando a norma legal ou o ato de autoridade contém específica ou
diretamente a atribuição da personalidade. Art. 158º/1 CC, de acordo com este artigo
relativamente às Associações, o princípio do reconhecimento da Personalidade Jurídica
por concessão. De acordo com este princípio, só o reconhecimento especial, concedido
caso a caso, pelo Governo ou seus representantes, converte o conjunto de pessoas
(associadas) ou a massas de bens, num centro autónomo de direitos e obrigações,
elevando-os juridicamente à condição de Pessoas coletivas.
O reconhecimento das Fundações é da competência da autoridade administrativa, sem
indicar concretamente qual seja essa autoridade. Haver que recorrer, pois, para este efeito, às
leis que delimitam a competência dos órgãos da Administração estadual.
O fim das pessoas coléticas é um elemento exterior à estrutura desta.
O fim, traduz-se na prossecução dos interesses humanos que são definidos quando se
decide da criação da Pessoa Coletiva.
O fim tem de: a) Estar determinado: a exigência desta característica decorre da essência
dasua existência; b) Ser comum ou colectivo: daqui resulta a possibilidade de se constituir uma
Pessoa Coletiva com fins egoísticos; c) Ser lícito: o fim da Pessoa Coletiva tem de satisfazer os
requisitos legalmente definidos.
As Pessoas coletivas têm de ter uma certa permanência e um caracter duradouro. É
possível perante o sistema jurídico português constituir-se uma Pessoa Coletiva para um único
fim, no entanto, tem de ter uma determinada durabilidade.
Estas tem por critério a composição do substracto quanto ao primeiro dos elementos
integradores: as Corporações são colectividades de pessoas, as Fundações são massas de bens.
As Corporações são constituídas e governadas por um agrupamento de pessoas (os
associados), que subscrevem originariamente os estatutos e outorgam no ato constitutivo ou
aderem posteriormente à organização. Os associados dominam através dos órgãos da
corporação, podendo mesmo alterar os estatutos.
As Fundações são instituídas por um ato unilateral do fundador de afectação de uma
massa de bens a um dado escopo de interesse social. O fundador, além de indicar no ato da
instituição o fim da Fundação e de especificar os bens que lhe são destinados, estabelecerá de
uma vez para sempre as normas disciplinadoras da sua vida e destino.
As Corporações visam um fim próprio dos associados, podendo ser altruístico, e são
governadas pela vontade dos associados. São regidas por uma vontade imanente, por uma
vontade própria, que vem de dentro e, por isso, pode dizer-se que têm órgãos dominantes.
As Fundações visam um interesse estranho às pessoas que entram na organização
fundacional; viam um interesse do fundador de natureza social e são governadas pela vontade
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inalterável do fundador, que deu o impulso inicial à Fundação e, desse modo, a animou com a
vontade necessária à sua vida. São reguladas, pois, por uma vontade transcendente, por uma
vontade de outrem, que vem de fora e, por isso, pode dizer-se que têm organização
servientes.
Esta classificação – Associações, Fundações, Sociedades – não tem um carácter unitário,
porque as Associações e sociedades são Pessoas coletivas de tipo corporativo e por isso
impõem-se as Fundações.
Por outro lado, as Associações e Fundações, integram uma mesma categoria oposta às
sociedades, porque estas visam fins económicos e aquelas não.
A tipificação legal das Associações, Fundações e sociedades é notória no Código Civil. Este
regula a matéria das Associações e Fundações no cap. II, dedicado às Pessoas coletivas, arts.
167º seg. - Associações; arts. 185º seg. - Fundações.
O art. 157º (as disposições do presente capítulo são aplicáveis às Associações que não
tenham por fim o lucro económico dos associados, às Fundações de interesse social, e ainda às
sociedades, quando a analogia das situações o justifique.), é o primeiro artigo do Código Civil
onde se estabelece o regime das Pessoas coletivas. Esclarece este artigo, que se aplica
diretamente às Fundações sem fim lucrativo; às Fundações de interesse social e também às
sociedades sempre que a analogia das situações o justifique.
No art. 157º CC, o legislador entendeu que há três tipos de Pessoas coletivas.
No ordenamento jurídico português, há em termos legais uma separação de Pessoas
coletivas de Direito Público em Associações e Fundações.
Os arts. 167º a 184º CC, visam regular as Associações em sentido restrito.
O legislador faz distinções entre Pessoas coletivas e sociedades (art. 2033º/2 CC. Na
sucessão testamentária ou contratual têm ainda capacidade: b) As pessoas colectivas e as
sociedades).
No entanto, quando se fala de Pessoas coletivas, não se quer excluir as sociedades. A
Pessoa Coletiva abrange sempre as sociedades.
Na ordem jurídica portuguesa há sociedades comerciais e as sociedades civis sob a forma
comercial.
O legislador usa palavra Pessoa Coletiva num sentido amplo (encontram-se abrangidas as
entidades susceptíveis de personificação) e restrito (as sociedades).
Sociedade, é uma associação privada com fim económico lucrativo. Nos termos do art. 1º
nº2 do Código das Sociedades Comerciais, a sociedade é comercial quando tenha por objecto a
prática de atos de comércio e adopte um dos diversos tipos regulados nesse código.
A sua caracterização faz-se em, função do seu objecto e da sua organização formal.
Podem revestir quatro formas: 1 Sociedades em nome colectivo: nestas sociedades cada
sócio responde individualmente pela sua entrada e responde ainda solidariamente e
subsidiariamente pelas organizações sociais (art. 175º nº1 CSC). Neste caso, se um dos sócios
satisfizer do passivo social mais que aquilo que lhe competia, tem direito de regresso sobre os
demais sócios (art. 175º/3 CSC); 2. Sociedade por quotas de responsabilidade limitada: cada
sócio responde apenas pela realização da sua quota e solidariamente pela dos demais sócios
até à completa realização do capital social. No entanto não responde em geral pelas dívidas
sociais (art. 197º/1/3 CSC); 3. Sociedades anónimas: cada sócio responde apenas pela
realização das acções que subscreveu. Uma vez realizado o seu capital, o sócio não responde
nem pela realização da quota dos demais sócios, nem pelas dívidas sociais; 4. Sociedades em
Comandita: nestas sociedades o regime de responsabilidade dos sócios é misto: há sócios
comanditados que são aqueles que respondem como sócios das sociedades em nome
colectivo e há os sócios comanditários, estes respondem apenas pela sua entrada na sociedade
(art. 477 seg. CSC).
Catarina Baptista
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Caracterizam-se pela circunstância de não terem por objecto a prática de atos de comércio
nem o exercício de quaisquer actividades previstas no Código Comercial. No entanto, a lei
comercial portuguesa admite a possibilidade dessas sociedades civis adoptarem as formas
comerciais para efeito de estruturação das quatro formas que pode revestir a sociedade
comercial. Neste caso, passam a chamar-se sociedades civis sob forma comercial e ficam,
sujeitas às disposições do Código das Sociedades Comerciais. No entanto, não ficam sujeitas a
um conjunto de obrigações específicas das sociedades comerciais. São Pessoas coletivas com
Personalidade Jurídica.
São aquelas que não têm por objecto a prática de atos comerciais e estão sujeitas ao
regime do Código Civil. Aplicam-se-lhes as disposições do art. 980º seg. CC. Estas sociedades
civis simples, distinguem-se das sociedades civis sob forma comercial, dada a forma que
revestem, que está relacionada com a sua organização formal.
Tem ainda uma outra característica que é o facto de ficarem subordinadas ao regime da lei
civil.
No que toca à responsabilidade dos sócios destas sociedades, segue-se o modelo de
responsabilidade dos sócios das sociedades em nome colectivo.
Para além da responsabilidade dos bens de entrada, diz o art. 997º CC, que eles também
têm ainda a responsabilidade pessoal e solidariamente pelas dívidas sociais.
As pessoas coletivas para inicarem a sua personalidade e se constituírem necessitam de
três distintos: 1. Organização do substracto da Pessoa Coletiva; 2. Reconhecimento da Pessoa
Coletiva; e 3. Registo da Pessoa Coletiva.
No que toca à organização do substracto da pessoa coletiva, tem de se ter em atenção os
requisitos e formalidades comuns à constituição da Pessoa Coletiva.
A existência de um conjunto de pessoas ou existência de um conjunto de bens
organizados, por forma a assegurarem a prossecução de certos fins tutelados pelo Direito
(substracto).
A personalidade coletiva assenta numa realidade social que implica a reunião de pessoas
determinadas, pessoas essas que prosseguem um certo fim que lhes é comum e que também,
criam um património que é determinado à realização de certos objectivos colectivos, que essas
pessoas entendem como socialmente relevantes.
Depois, segue-se o negócio jurídico. Negócio esse que se manifesta numa vontade
adequada à realização dos objectivos que nos propusermos e através deste regime jurídico do
Código das Sociedades Comerciais, adequamos o tal substracto à realização de um fim.
À formação do substracto das Associações referem-se os arts. 167º e 168º CC. A primeira
destas disposições, no seu n.º 1, refere-se ao chamado ato de constituição da associação,
enunciando as especificações que o mesmo deve conter; o n.º 2 refere-se aos chamados
estatutos.
O ato de constituição da associação, os estatutos e as suas alterações estão sujeitos a
exigências de forma e publicidade.
Devem constar de escritura pública, verificando-se, em casos de inobservância desta
exigência, a sanção correspondente ao vício de forma: nulidade. Deve-se, além disso, o ato de
constituição e os estatutos ser publicados no Diário da República, só pena de ineficácia em
relação a terceiros, cabendo oficiosamente ao notário remeter o respectivo extracto para a
publicação, bem como à autoridade administrativa e ao Ministério Público a constituição e
estatutos, bem como a alteração destes (art. 168º/2 CC).
Note-se que a falta de escritura pública, provocando a nulidade do ato de constituição e
dos estatutos, impede o reconhecimento da associação, a qual figurará por falta deste
requisito legal (art. 158º CC), como associação sem Personalidade Jurídica (art. 195º e segs.).
A formação do substracto da sociedade pressupõe um contracto de sociedade.
Catarina Baptista
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A lei estabelece ainda para as sociedades comerciais e para as civis sob forma comercial a
escritura pública, que tem de abranger o pacto social.
A natureza do ato constitutivo varia em função do seu tipo. Há no entanto dois pontos de
contacto: denominação (Relaciona-se com um requisito prévio comum à constituição das
Pessoas coletivas. O chamado certificado de admissibilidade da firma ou denominação.

A denominação social acaba por desempenhar uma função correspondente à do nome nas
pessoas individuais. Constitui o momento de individualidade das Pessoas coletivas.
O Código Civil, apenas se refere à denominação no art. 167º/1 (quanto a Associações). Esta
matéria veio a ser regulamentada no DL n.º 42/89 de 3 de Fevereiro (de forma genérica)) e a
sede (Havendo uma sede fixada nos estatutos é irrelevante uma sede de facto, ou seja, o lugar
onde funciona normalmente a Administração principal (art. 159º CC). A fixação da sede nos
estatutos é obrigatória quanto às Associações (art. 167º/1 CC); pode alargar à sede das
Pessoas coletivas a distinção entre domicílio voluntário e legal. O papel da vontade é
extremamente amplo na escolha do lugar da sede.).
Todas as Pessoas coletivas necessitam de ser registadas. Assim, existem dois tipos: há o
registo geral e os vários registos especiais. O que mais interessa é o regime geral, visto que ser
feito no ficheiro central da Pessoa Coletiva, que existe no Registo Nacional da Pessoa Coletiva
(arts. 29º e 36º-a, DL 42/89). Além do registo geral há alguns registos especiais de Pessoa
Coletiva.
O regime de constituição de Associações é o dos arts. 167º e 168º CC.
Este ato sobre a sua natureza jurídica, distingue o ato constitutivo das Associações e das
sociedades, num distingue contracto, noutro distingue ato constitutivo. Quase toda a doutrina
vê o ato como equiparado.
O ato de constituição é plurilateral e de fim comum. O contracto seria fundamentalmente
um negócio ou contracto de terceiros. O ato de constituição tem natureza contratual.
Deve conter escritura pública. É necessário que nessa escritura pública se satisfaçam um
conjunto de exigências mínimas de conteúdo (art. 167º nº1 C.C).
No entanto, para o ato ter eficácia plena, é necessário que haja publicidade da associação
e dos seus estatutos (art. 168º nº2 e 3 C.C.).
A publicidade faz-se pela remessa do estrato de escritura de constituição ao Ministério
Público; à entidade administrativa (Governo Civil) e ao jornal oficial (Diário da República).
Para assegurar devidamente a publicidade, a lei impõe que o próprio notário promova essa
publicidade oficiosamente, a expensas da associação.
O DL 42/89, no seu art. 46º nº1 obriga que os notários comuniquem ao RNPC todos os atos
respeitantes à constituição de Associações que fizeram no mês anterior, sendo este prazo de
15 dias do mês subsequente. Sem estatutos não se pode dar forma à associação.
Além das menções obrigatórias do art. 167º/1 CC, os associados podem especificar nos
estatutos um certo número de matérias, tal como refere o art. 167º nº2 C.C..
No entanto, o Código Civil, prevenindo o caso dos associados serem mais distraídos, vem
supletivamente estabelecer um conjunto de normas que vigorarão e se aplicarão às
Associações caso os associados não especifiquem as matérias (arts. 159º, 162º, 163º, 164º,
166º C.C.).
O estatuto deve ainda constar de escritura pública (art. 168º CC), e estar sujeito ao regime
da publicidade.
Ao reconhecimento da associação refere-se o art. 158º nº1 C.C., ressalta claramente que o
reconhecimento das Associações resulta de um normativo explícito.
Catarina Baptista
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Assim, hoje, uma associação constituída por escritura pública e com a observância de
todos os requisitos do art. 167º C.C., adquire automaticamente Personalidade Jurídica.
Estamos aqui perante o reconhecimento explícito, (normativo explícito) embora a lei possa
fazer depender Associações de outras formalidade.
Quanto ao reconhecimento das sociedades civis, este é normativo implícito. No plano
geral, pode-se dizer que o registo não é um elemento da aquisição de Personalidade Jurídica
das Associações. Não é um ato que confere Personalidade Jurídica a essas entidades.
Para as sociedades civis simples, pode-se dizer que o seu registo não é requisito da sua
personificação jurídica
As sociedades civis simples seguem um regime muito próximo da constituição da
Associações.
A constituição de uma sociedade simples, para que obtenha personificação, é necessário
que haja constituída por escritura pública, embora esta forma não seja imposta pelo regime
específico do contracto de sociedade que vem previsto no art. 980º C.C..
Por analogia ao art. 158º CC, deve-se constituir uma sociedade simples por escritura
pública, mas esta não é imposta.
O art. 981º nº1 C.C., só impõe escritura pública para o contracto da sociedade, quando tal
seja exigido pela natureza dos bens com que os sócios entram para a sociedade.
Se os sócios entrarem com bens imóveis nessa afectação de bens, a escritura é exigida. Se
essa forma legal não for observada quando imposta pelas razões do regime consagrado no art.
981º C.C., diversas ocorrências poderá surgir.
No caso da personificação, a primeira consequência da não escritura é a não aquisição de
Personalidade Jurídica. O ato constitutivo de uma sociedade simples é válido, no entanto essa
sociedade não tem Personalidade Jurídica.
Se houver preterição do disposto no art. 981º/1 CC, as coisas passam de modo diferente.
As consequências da inobservância da escritura pública são diversas, a da não escritura pública
é a do art. 981º C.C..
O art. 981º nº1 C.C., não ficam dúvidas de que a razão determinante da exigência de forma
legal, está ligada ao facto de poderem ser imóveis os bens com que os sócios entram para a
sociedade.
Segundo o regime estabelecido no art. 291º C.C., a inobservância de forma legal deveria
determinar a nulidade do contracto. Contudo, o art. 981º nº2 C.C., estatui que esse contracto
só é totalmente nulo se não poder converter-se segundo o disposto no art. 293º C.C.. De
acordo com o art. 981º nº2 C.C., há aqui a aplicação alternativa do regime de conversão e de
redução.
A constituição das Fundações conduz-se ao esquema geral de constituição de
Associações, e não se afasta muito desses aspectos gerais.
O facto do substracto das Associações ter natureza patrimonial, coloca o acento tónico da
organização desse próprio substracto, tenha de ser colocado em todo o conjunto de bens.
Este conjunto de bens que são afectos aos fins da Fundação, chama-se dotação ou
instituição.
Marcello Caetano, diz que é a manifestação de vontade pela qual o instituidor afecta o
património à realização de certo fim duradouro.
O art. 185º C.C., é expresso em permitir a instituição de Fundações por testamento ou por
ato inter vivos, devendo o instituidor indicar no ato de instituição o fim da Fundação e
especificar os bens que lhe são destinados e podendo ainda providenciar sobre a sede,
organização, funcionamento e eventual transformação ou extinção do ente fundacional. Em
qualquer destes casos estamos sempre perante um negócio jurídico formal, unilateral e
gratuito.
Catarina Baptista
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A instituição por testamento, tem características diferentes da instituição de herdeiro ou
legatário. Todavia este ato, quando contido num testamento, tem características diferentes
das que lhe cabem quando praticado entre vivos. Assim, é livremente revogável até ao
momento da morte do testador, mas torna-se irrevogável quando o testador faleça.
Por outro lado, se os bens destinados à Fundação consistem na totalidade ou numa quota
do património do falecido, aplicam-se à instituição certas normas privativas da instituição de
herdeiro (por ex. arts. 2301º, 2068º C.C.). Têm que ser observados os requisitos dos arts.
2204º a 2210º ss. C.C..
A instituição entre vivos,trata-se de um negócio unilateral, o Código Civil (art. 457º)
reconhece a eficácia vinculativa da promessa unilateral de uma prestação, embora só nos
casos previstos na lei (art. 185º C.C.).
A instituição só se torna irrevogável quando for requerido o reconhecimento ou principiar
o respectivo processo oficioso. Portanto, até esse momento, pode o fundador revogar a
disposição (art. 185º nº3 C.C.).
O art. 185º nº4 C.C., segundo o qual os herdeiros do instituidor não é permitido revogar a
instituição por força das normas sobre a sucessão legitimária. Tal solução está aliás em
conformidade com a regra do art. 226º C.C..
Resulta igualmente do mesmo art. 185º/3/4, que o ato de instituição não pode ser
revogado com fundamento em supereminência de filhos legítimos ou outra causa própria da
revogação das doações.
As formalidades inerentes à instituição das Fundações, são determinadas pela natureza do
respectivo negócio ou ato subjacente à própria instituição.
Há também lugar a cumprimento de certas formalidades para a publicação do ato de
instituição (art. 185º nº5 e 168º nº2 e 3 C.C. - sempre que a constituição da Fundação conste
de escritura pública).
Esta forma de publicidade é observada no caso da instituição por ato entre vivos e
também tem de ser observada quando se trate de instituição mortis causa (art. 2205º C.C.).
O princípio dominante do regime de elaboração dos estatutos das fundações, é que o
instituidor pode elaborar os estatutos. Se não os elaborou, neste caso temos de distinguir se a
Fundação foi instituída por ato entre vivos, ou por testamento.
No entanto, em qualquer dos casos, ao elaborar esses estatutos, temos de ter sempre em
conta e na medida do possível a vontade real ou presumível do fundador (art. 187º/3 CC). Se
se trata de instituição de Fundação de ato inter vivos, a elaboração parcial ou total dos
estatutos cabe à entidade competente para o reconhecimento da Fundação (art. 187º CC).
Se a instituição for feita por testamento, na falta ou insuficiência dos estatutos compete
aos executores do testamento elabora-los e completá-los e têm o prazo de um ano
posteriormente à abertura da sucessão (art. 187º nº1 - parte final- nº 2 - 2ª parte- C.C.).
Se os executores do testamento não elaboraram ou completaram os estatutos desse
prazo, a incumbência passa para a entidade competente para o reconhecimento da Fundação
(art. 187º nº2 C.C.).
Independentemente da sua forma de elaboração, os estatutos de uma Fundação estão
sempre sujeitos aos formalismos da publicidade estipulados para o ato constitutivo.
O reconhecimento da Fundação é sempre um reconhecimento individual e da
competência da autoridade administrativa. Este reconhecimento é mais complexo que o das
Associações. Pode ser requerido pelo próprio instituidor como pelos herdeiros ou executores
testamentários (art. 185ºnº2 C.C.). Pode ainda ser requerido oficiosamente pela entidade
competente para reconhecer a sociedade.
O reconheciemnot das fundações só pode ser concebido quando a Fundação tenha
presente dois requisitos: um fim de interesse social; e os bens que foram afectados a essa
Fundação sejam considerados suficientes para prossecução do fim da Fundação, ou quando
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esses bens embora insuficientes no ato da instituição, a entidade administrativa entenda que o
suprimento dessa insuficiência seja fundamentalmente possível.
Quando a Administração Pública reconhece a Fundação, esse ato de reconhecimento faz
com que por esse efeito adquira de imediato Personalidade Jurídica e este mesmo ato de
reconhecimento, envolve a aceitação dos bens que são atribuídos pelo instituidor à Fundação.
Quando a Administração nega o reconhecimento da Fundação, é preciso saber o que fazer
aos bens afectados à Fundação.
O art. 158º nº2 C.C., aplicável às Fundações, prescreve o reconhecimento por concessão
ou individual, da competência da autoridade administrativa.
Já são porém, discricionários os poderes de apreciação resultantes, no que toca ao
reconhecimento das Fundações do art. 188º C.C.: deve ser negado o reconhecimento no caso
de o fim da Fundação não ser considerado de interesse social, bem como no caso de
insuficiência do património à Fundação.
Dos dois requisitos atrás focados, a lei só contempla o segundo.
O reconhecimento só pode ser negado quando não haja fundadas expectativas do
suprimento da insuficiência. Havendo essas expectativas, a insuficiência patrimonial que se
verifique no momento do reconhecimento não é por si causa impeditiva desse
reconhecimento (art. 188º nº2 C.C.).
Se essas expectativas se não vierem a verificar, tem de se entender que a Fundação pode
ser extinta pela própria entidade que é competente para fazer o reconhecimento. Isto por
analogia do art. 192º nº2 alínea a) C.C..
Se o património da afectação for definitivamente insuficiente, há que distinguir a situação
do instituidor ser vivo ou se ele já faleceu no ato da negação do reconhecimento. Se ele for
vivo, os bens ficam para o instituidor; se já tiver falecido, também se tem de fazer uma nova
distinção com base no facto do instituidor ter ou não deixado uma disposição a tal respeito; se
o instituidor tiver previsto o facto do não reconhecimento, segue-se o que ele estabeleceu; ou
se o instituidor nada previu, a entidade competente para o reconhecimento da Fundação,
deverá designar uma Fundação de fim análogo à qual esses bens deverão ser entregues, sem
que essa Fundação os possa rejeitar.
A cessação da personalidade da Pessoa Coletiva, resulta da sua extinção. Esta tem três
momentos:
1. Dissolução: opera pela verificação de um facto, que é capaz de determinar a extinção
da Pessoa Coletiva. É um facto dissolutivo, ocorrido este, inicia-se o processo de extinção.
Continua a ter Personalidade Jurídica, porque enquanto não for extinta não está
impossibilitada de retomar a sua actividade normal (art. 1019º CC). Não é um fenómeno
irreversível.
2. Liquidação: consiste na ultimação dos assuntos em que a Pessoa Coletiva estava
envolvida, e no apuramento total dos bens desta. Para isso é necessário realizar o activo
patrimonial (liquidez) e pagar o passivo da sociedade. Feito isso, apuramos o acervo.
3. Sucessão: o destino a dar ao património da Pessoa Coletiva, mediante a atribuição a
outras pessoas, sejam colectivas ou privadas (art. 166º C.C.).
As associações dissolvem-se ou extinguem-se, através de três causas:
a) Pela vontade dos associados (art. 182º/1-a CC): essa vontade tem de ser expressa em
Assembleia-geral e a deliberação tem de ser tomada por voto conforme de 3/4 de
associados. A menos que o estatuto exija um número de votos superior (art. 172º CC -
art. 175º/4/5 CC).
b) Por disposição da lei (art. 182º/1-e/2 CC): (a) pelo decurso do prazo das Associações
temporárias; (b) facto essencialmente previsto no estatuto ou no pacto social; (c) pelo
falecimento ou desaparecimento de todos os associados; (d) pela declaração de falência
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ou de insolvência (arts. 181º e 182º CC). Em (a) e (b) é licito aos associados deliberarem
no sentido da continuação da Pessoa Coletiva.
c) Por decisão Tribunal (art. 182º/2 CC): esta reporta-se sempre a situações relacionadas
com o fim da Pessoa Coletiva, ocorridos após a sua constituição. Estas situações
reduzem-se aos seguintes fins:
- Realização plena do fim, art. 182º/2-a (1ª parte);
- Verificação de causas que impliquem defeitos no fim, nomeadamente causas que
impliquem inidoneidade do objecto negociável ou fim ilícito e contrário à ordem
pública, art. 182º-a (2ª parte) -c- d CC).
- Quando a prossecução do fim não seja coincidente com o fim fixado no ato de
constituição (art. 182º/2-d CC).
A ação pode ser proposta por qualquer interessado ou pelo Ministério Público, se verificar-
se algumas destas causas.

Existem dois tipos de causas para a dissolução das Fundações:


1. Pelo decurso do prazo daquelas que foram constituídas por certo período de tempo;
pela verificação de qualquer facto que tenha sido previsto no ato da constituição; por
declaração de falência, art. 192º nº1 alíneas a), b), c); art. 193º- 1ª parte- C.C..
2. Pela entidade que tem competência para o seu reconhecimento, art. 192º nº2 C.C..
Podem não determinar a extinção da Fundação em caso de alteração do fim (art. 190º nº3
C.C.) da Fundação. Nos casos em que foi preenchido o fim, em caso de impossibilidade de
superveniência do fim ou de falta de superveniência do interesse social do fim.
A Administração tem o dever de informar a entidade com capacidade e com competência
para reconhecer a Fundação, casos se verifiquem as causas previstas nas alíneas deste artigo.
Há algumas particularidades que ocorrem nas Fundações, em relação às Associações, no
caso do regime da extinção: algumas das hipóteses previstas no art. 192º nº2 C.C., podem
implicar a dissolução das Fundações se efectivamente assim for determinado pela entidade
competente para o reconhecimento;
- Insuficiência superveniente do património para o fim previsto;
- Podem ainda ser dissolvida a Fundação, quando ocorra a situação prevista no art.
191º nº2 C.C..
Se tal ocorrer, uma das soluções possíveis consiste na determinação da incorporação da
Fundação noutra Pessoa Coletiva capaz de satisfazer o encargo. Cabe à entidade competente
para o reconhecimento da Fundação fazê-lo.
Há um conjunto de pontos comuns a todos estes órgãos, e há especificidades próprias de
cada um deles.
O ato de designação do titular do órgão pode ocorrer mediante eleição, nomeação ou
título jurídico similar; através deste ato o associado fica investido na qualidade de titular do
órgão.
Para além deste ato de nomeação ou eleição, há ainda o contracto, constituindo este o
título de relações estabelecidas entre a Pessoa Coletiva e a pessoa singular, sendo nesse
contracto que se fixam os direitos e as obrigações de cada uma das partes.
O Código Civil, atribui à Assembleia-geral competência para eleger os titulares dos órgãos
sociais (art. 170º/1 CC). A natureza supletiva desta norma resulta do facto de ela própria
admitir que o estatuto estabeleça outra ordem de escolha.
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Este facto envolve não só a possibilidade de se estabelecer outro processo de escolha, mas
também a possibilidade de a designação ser da competência de outro órgão e já não da
Assembleia-geral.
A duração do mandato é matéria omissa na lei e por isso fica na disposição dos associados,
fica deixado à sua autonomia a duração do mandato dos titulares dos órgãos.
A regra de oiro em matéria de cessação das funções dos titulares dos órgãos é da sua
revogabilidade a todo o tempo (art. 170º/2 CC). O n.º 3 deste artigo estabelece a excepção.
O órgão executivo das Associações é a Administração. Resulta pois, que a função da
Administração é essencialmente externa.
O art. 162º CC, estabelece uma regra imperativa no tocante à composição dos conselhos
de Administração, ao determinar que a Administração tem que ser um órgão colegial, e
constituída por um número ímpar de titulares, em que um deles exerça a função de
presidente.
O conselho de Administração de uma associação também tem limites, limites esses que
são estabelecidos ao prever-se a existência de um Conselho Fiscal e também ao ser prevista a
existência de uma Assembleia-geral com competências próprias reservadas (art. 172º/2 CC).
Em regra estão reservados ao conselho de Administração, todos os atos de gestão da vida
social, nomeadamente as competências para a representação da Pessoa Coletiva, em juízo e
fora dele (art. 163º CC). Os estatutos podem estabelecer um regime diferente do art. 163º/1
CC, atribuindo a representação a outro que não a Administração. A Administração por sua vez
designa representantes, mas só é oponível a terceiros se estes tiverem conhecimento (art.
163º/2 CC).
A Administração pode ainda designar representantes para a representar em juízo ou fora
dele. É o órgão com competência para requerer a convocação da Assembleia-geral.
Quando os associados decidam proceder à liquidação da associação, os membros da
associação, os membros do conselho de Administração passam a exercer as funções de
administradores liquidatários.
No que toca ao funcionamento das sociedades, a lei só estabelece imperativamente em
relação a três matérias:
· Quórum de reunião;
· Quórum constitutivo ou de funcionamento;
· Quórum deliberativo.
A convocação da Administração é da competência do seu presidente, não estabelecendo a
lei qualquer norma quanto à periodicidade do seu funcionamento.
Os estatutos podem estabelecer uma certa periodicidade, mas também podem deixar á
consideração do presidente da Administração a convocação do órgão em qualquer altura.
Para que a Administração possa funcionar validamente, tem de estar presente a maioria
dos seus titulares. É o que resulta do art. 171º/1 CC.
O ato de designação do titular pode ocorrer por eleição ou por nomeação (designação).
A relação obrigacional, é o conjunto de deveres e direitos que a pessoa fica vinculada, tal
como a Pessoa Coletiva.
Estes cargos são preenchidos por eleição (art. 170º/1 CC), compete à Assembleia-geral
eleger os órgãos (natureza supletiva, pode haver outra forma de escolha).
A nível de Responsabilidade Civil, as pessoas coletivas devem responder pelos factos dos
seus órgãos, agentes ou mandatários que produzam o inadimplemento de uma obrigação em
sentido técnico (art. 165º C.C.), aplicável às Associações, às Fundações e também às
sociedades, por assim o justificar a analogia das situações (art. 157º C.C.).
Do art. 198º C.C. resulta, ser necessário para o surgimento da obrigação de indemnizar que
tenha havido culpa do devedor no não cumprimento, estabelecendo-se no art. 799º C.C., uma
presunção refutável da culpa dos órgãos ou agentes da Pessoa coletiva pelo inadimplemento
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da obrigação. Mas é óbvio, que para existir responsabilidade contratual das Pessoas coletivas,
é necessário que o contracto, donde emerge a obrigação infringida, tenha sido celebrado por
quem tinha poderes para vincular a pessoa coletiva em causa. São porém, problemas
diferentes: o da representação de poderes e o da responsabilidade por não cumprimento de
uma obrigação eficazmente assumida pela Pessoa Coletiva.
O art. 165º C.C., estatui que as Pessoas coletivas respondem nos mesmos termos em que
os comitentes pelos atos ou omissões dos seus comissários (art. 800º CC..).

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