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Cada presente é definido por aquelas imagens que lhe são sincrônicas:
cada agora é o agora de uma determinada recognoscibilidade.
Nele a verdade está, até à explosão, carregada de lemporalidade. (...)
Não que o passado lance a sua luz sobre o presente ou que o presente lance
a sua luz sobre o passado, mas "imagem" é, ai, aquilo em que o pretérito se
junta, de modo fulgurante, com O agora, em uma constcJação.
Noutras palavras: "imagem" é a dialética em paralisação. ( ) ...
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LlIgar c imagem
Memória e imagem
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Lu gar e ima gem
e de criação de gado. Rocha (1995: 120) relata que o mito de fundação da cidade
recupera a narrativa legendária da doação da sesmaria de Santana a Jerônimo de
Ornellas (1744) e, mais tarde, da desapropriação de uma parte desse território, a
ponta da península, para a fixação definitiva dos casais açorianos (1772), ali
"arranchados" por vinte anos. Essa desapropriação originou o vilarejo de São
Francisco dos Casais, transformado em seguida em Freguesia Nossa Senhora da
Madre de Deus de Porto Alegre (1773). Ponanto, Pono Alegre nasceu de uma
pequena colônia de casais açorianos estabelecidos, em 1752, em território alheio:
a Sesmaria de Santana. Daí ser chamada de Porto dos Casais.
Em 26 de março de 1772, um edital eclesiástico divide a Freguesia de
Nossa Senhora da Conceição de Viamão em duas. O antigo Porto dos Casais se
u'ansforma na Freguesia de São Francisco. Quase um ano depois, em 18 de janei
ro de 1773, um novo edital rebatiza-a, e ela passa a se chamar Madre de Deus de
Pono Alegre. O então governador da Província de São Pedro do Rio Grande do
Sul, José Marcelino de Figueiredo, ordena a transferência da Câmara Municipal
de Via mão para Pono Alegre. Com esse ato, a antiga colônia açoriana se torna
capital da província. Além de centro administrativo, a cidade se transforma em
área militar. Paliçadas de madeira são construídas em torno da cidade. As estrei
tas ruas da Pono Alegre colonial são projetadas como um labirinto, possuindo
nítido caráter defensivo. Em 1809, ela se transforma em vila e, 13 anos depois, em
1822, em cidade (cf. http://www.ponoalegre.rs.gov.br/dadosger/historia.htm).
Não é nosso objetivo esmiuçar a história da cidade. Há, porém, dois
eventos marcantes, de repercussão nacional, que, de alguma maneira, se vincu
lam ao local que analisaremos: o Parque da Redenção. O primeiro evento, que
durou dez anos e que atingiu a cidade, foi a Guerra dos Farrapos (1835 a 1845),
também conhecida como Revolução Farroupilha. Pono Alegre se encontrava
fortificada, o que não impediu que, em 20 de setembro de 1835, fosse invadida
pelas tropas rebeldes. Os Imperiais, em 1836, retomaram a cidade, que, a partir
de então, sofreria três intermináveis cercos até 1838 (http://wlVw.ponoalegre.rs.
gov.br/dadosger/historia.htm). Embora não tenhamos averiguado registros his
tóricos do fato, é muito possível que essas milícias tenham utilizado "A Várzea" -
o atual parque - para acampar antes dos ataques, pela sua proximidade com o
portão da cidade, situado perto da atual Santa Casa de Misericórdia. Foi a re
sistência a esses cercos que deu à cidade o título de "Mui Leal e Valorosa", ins
crito em seu brasão, em cuja imagem emblemática, entre outros símbolos, tam
bém figura um portão.
Mais tarde, um segundo evento, a Guerra do Paraguai (1865 a 1870),
transforma a capital gaúcha na cidade mais próxima dos locais de manobras mi
litares. A cidade recebe dinheiro do governo central, além de serviço telegráfico,
novos estaleiros, quartéis, melhorias na área portuária e construção do primeiro
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A origem mais remota do parque nos remete aos Campos da Várzea, uma
área pública de 69 hectares que servia de acampamento para os carreteiros e na
qual permanecia o gado destinado ao abastecimento da cidade.
Chegavam à Varzea as carretas de Santo Antonio da
Patrulha, que a esse tempo, já se mostrava interessada no progresso do
fabrico de assucar branco e mascavo. Os carreteiros, em numerosas
carretas, chegavam à Varzea geralmente pela estrada do meio, largavam
bois próximo à chácara do Major Moraes. Era bonito de ver-se aquella
turma de cinco e seis carretas em llnhas apropriadas ao trabalho, e a
boiada, em número de cincoenta a sessenta cabeças, se dirigindo à
aguada mais próxima na mesma varzea, e bem assim os animais de
montaria, que ficaram depois a solta. (... ) Eram os dias mais alegres para
aquella população, a feira rural que vinha em visita à capital. (Coelho,
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1935: 32)
O local foi doado à urbe em 24 de outubro de 1807 pelo governador
Paulo José da Silva Gama "para os utilíssimos e necessários fins de conservação
de gados que matam nos açougues desta vila". Uma cláusula do contrato e ta
belecia que a área não poderia ser alienada sem expressa autorização de Dom
João V!. Foi essa cláusula que salvou o arual parque, impedido por Dom Pedro I
de ser loteado e vendido em 1826, por estar destinado a ser local para exercícios
militarcs. De 1867 a 1872, consu·uiu-se nesse local uma capela, a do Senhor do
Bom Fim, que veio a alterar o nome de Campos da Vá.rzea para Campos do Bom
Fim, sedimentando o nome do bairro que arualmente ali existc: o bairro do Bom
Fim.
Ary Veigas Sanhudo ( 1979: 108), em Crônicas de minha cidade, afirma que
o local "era bom mato, com excelente caça, onde inúmeras vezes encontravam
seguro abrigo os escravos fugidos". Já Lazzarotto (J 982: 85) explicita que, após a
abolição da escravatura, "os negros foram abandonados4 no Campo do Bom Fim,
que passou a se chamar Campo da Redel/ção".
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o local era formado, até o final do século XIX, por poucas casas velhas e
algumas chácaras. Todo o resto era mato com caça, onde muitas vezes os escravos
refugiados encontravam abrigo. Após a Abolição, muitos libertos, sem ter para
onde ir, instalaram-se nessa região, que passou a se chamar extra-oficialmente
Campos da Redenção. Só no final da década de 1920 é que houve o processo de
povoamento do bairro, com a chegada de membros da comunidade judaica, que
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Fonte: hllP://W\'I1w.aredencao.com.br/planta.htm
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Vista atual. No primeiro plano, limitando o parque, e oferecendo frente ao prédio retangular que ocupa
um quarteirão- O Colégio Militar - situa-se a avenida José Bonifácio. Em diagonal ao Colégio Militar, à
direita, está o estádio Ramiro Souto. A construção circular à esquerda d9 Estádio é o amai Auditório
Araújo Vianna, local de eventos, apresentações music-.lis e assembléias. A esquerda, envolto por trilhas e
árvores frondosas, locaIi7.am-sc o lago e a ca1eleria de nosso convil,e. Na parte superior da foro, o parque faz
limite com a atual praça Argentina, onde se pode ver ainda um "frade de pt'Clra"- espécie de pequeno
poste onde se amarravam os cavalos antes de adentrar pelo portão da cidade, que se situava logo 3diante.
Fonte: btlp:llwww.aredencao.com.br
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O amigo José Agustoni nos enviou duas [otos que tirou da Redenção lá
no início da década de 80, quando "brincava" com um pequeno laboratório de
fotografia P&B. Uma tem o pórtico do Colégio Militar e a outra foi numa manhã
com neblina de abril (não lembra o ano) quase na esquina da João Pessoa com a
José Bonifácio.
Ele tem um site na Internet, com muitos links interessantes e com muitas
fotos de Ilíí?bCams de Pono Alegre e de várias cidades do mundo. O endereço do
site é: http://planeta.terra.com.br.lazer/zeca (setembro/2002).
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Neblina de abril.
Foto de AguslOni, anos 1980.
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Imagem e texto
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infravermelho que não se deixam mais pressionar na forma do livro: foto e mapa
das ruas - o conhecimento mais preciso do detalhe e do todo. Dessas extre
midades do campo visual lemos as mais belas amostras" (Benjamin, 1987: 196).
Sobre essas imagens que são os mapas urbanos, aliás, parece haver uma repri
menda suril aos geógrafos, cartógrafos e gráficos:
empresta seu nome a um lugar da cidade: a sua Casa de Cultura. E esse poeta
quem consegue nos pôr, os porto-alegrenses, rodos de acordo, independen-
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O Mapa
Mário Quintana
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Notas
São Paulo, Atica (Coleção Grandes COSTA, Maria Fraga D. 1997. "O
Cientistas Sociais, n. 50). p. 21 9-40. verdadeiro fundador de Pono Alegre".
RG CUI""'l, Pono Alegre, m""o-abril.
--- o 1 987. "Paris, a cidade no espelho. p. 16-7.
Declaração de amor dos pOCIaS e
DESESSARDS, Karya. 1 997. "A nossa
artistas à 'capital do mundo"', em
Pono Alegre". RG Culrura, Pono
Imagens do pellSamemo. 2a ed. São Paulo,
Alegre, março-abril. p. 32.
Brasiliense (Obras Escolhidas, vol. 2).
EIFLER, Ellen W 1 997. "Parque
BINS, Patrícia. 1997. "Porro Alegre Farroupilha: universo democrático"
J\'\emória". RG Culrura, Pono Alegre, RG Cu/rura, Pono Alegre, março-abril.
março-abril. p. 19. p. 10.
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Lugar c imagem
LOIZOS, Peter. 2002. "Vídeo, filme e ROCHA, Ana Luiza Carvalho da. 1995.
fotografias com documentos de "A irracional idade do belo e a estética
pesquisa", em BAUER, Marlin & urbana no Brasil", em MESQUlTA,
GASKELL, George (eds.). Pesqllisa Zilá & BRANDÃO, Carlos (orgs.).
qua/iuuiva COII/ texto imagem e som: um
.
7em'rónos
' do cotidiano: lima illlrodu(ão a
manual prático. Perrópolis, Vozes. p. Ilavos olhares e experiências. Pono
137-55. Alegre/Santa Cruz do Sul,
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estudos históricos e 2004 - 34
Res/llllo
Como uma representação social contemporãnea de um espaço público urbano
pode revelar as suas transformações? Com o objetivo de relletir sobre
significados visíveis e encobertos da imagem, detivemo-nos na análise de um
espaço tomando-o como lugar. Selecionamos o desenho pictórico, o mapa
pictórico e a fotografia como imagens capazes de evocar lugares. Essas
imagens, associadas a textos de diferentes origens, permitem oferecer alguma
recognoscibilidade às transformações sociais.
Palavras-chave: espaço, espaço público, lugar, imagem fotográfica, imagem
plctonca, lmagem e texto.
. � . .
Abst1"tlct
How can a contemporary social representation of an urban public space reveal
its transformations? It is in order to rellect upon lhe visible and hidden
meanings ofthe image that we [ry to analyse a space considering it as a place.
We have selected pictorial drawing, pictorial map and photography as images
thar are able to evoke places. T hese images, associated to tex[s of different
origins, allow us to recognize some social transformations.
](ey words: space, public space, place, image, photography, pictorial image,
image and tex!.
Rés1I11Ié
Comment une représentation sociale contemporaine d'un espace urbain
public peut-elle révélcr ses transformations? Dans le bOt de rélléchir sur les
signifiés visibles et cachés de l'image, naus avons entrepris I'analyse d'un
espace en tam que lieu. Naus avons sélectionné le dessin pictural, la carte
picturale et la photographie comme des images capables d'évoquer des lieux.
Ces images, associées à des textes d'origine différeme, permettem d'offrir
quelque recognitibilité aux transformations sociales.
MOls-c/és: espace, espace publique, lieu, image photographique, image
plctonque, Image et texte.
• • •
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