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A responsabilidade da Igreja pela sociedade

H. Richard Niebuhr

Extratos do texto publicado no capítulo 5 de Latourette, Kenneth Scott (ed.).


The Gospel, The World and the Church [O Evangelho, o Mundo e a Igreja]. Harper
Bros, 1946. Tradução do inglês por Magali do Nascimento Cunha. 1

O SIGNIFICADO DA RESPONSABILIDADE CRISTÃ

Responsabilidade pelo quê e para com quem

Ser responsável é ser capaz e ser requerido a prestar contas de alguma coisa a
alguém. A idéia de responsabilidade, com a liberdade e a obrigação que ela implica,
tem seu lugar no contexto das relações sociais. Ser responsável é ser um ser na
presença de outros seres, em quem se está vinculado e para quem se é capaz de
responder livremente; responsabilidade inclui serviço ou cuidado com as coisas que
pertencem à vida comum dos seres.

A questão sobre a quem se deve prestar contas é tão importante quanto aquela
sobre pelo quê se deve responder. A responsabilidade de governantes na sociedade
política varia não apenas com o número de funções que eles exercem mas também
com a soberania a quem eles devem prestar contas de sua liderança.

A doutrina do direito divino torna reis responsáveis para com Deus somente e os
exime de toda obrigação de responder às pessoas. Um tipo extremo de doutrina
democrática ensina que governantes são responsáveis apenas para com as pessoas
que eles governam ou para com a maioria dessas pessoas. Muitas democracias
modernas se apóiam em uma concepção de responsabilidade mais profunda e menos
popular, ambos governantes e povo sendo considerados como responsáveis perante
alguns princípios universais – Deus, Natureza ou Razão – bem como uns pelos outros.
A diferença entre essas duas concepções de democracia é muito grande. Para o
primeiro tipo, a vontade das pessoas é soberana e torna qualquer coisa certa ou
errada; os representantes das pessoas são obrigados a obedecer ao desejo popular.
De acordo com a segunda concepção, há uma lei moral para com a qual as próprias
pessoas devem lealdade e a qual governantes, legisladores e tribunais são obrigados
a obedecer mesmo em oposição à vontade popular. Tal concepção de responsabilidade
está implícita na Carta de Direitos.

Os tipos de responsabilidade

A dupla referência do conceito de responsabilidade se torna mais clara por meio de


um exame da natureza da irresponsabilidade.

Uma pessoa pode ser irresponsável, é claro, no sentido de que a ela faltam as
verdadeiras qualificações de um ser. Porém, se ela tem a liberdade ou a habilidade de
responder, ela pode ser moralmente irresponsável no sentido de que ela se recusa a
dar conta dos bens comuns àqueles para quem ela deve uma resposta, ou no sentido
de que ela oferece uma falsa prestação de contas das coisas que lhe foram confiadas.

O primeiro tipo de irresponsabilidade aparece na atitude pública, uma vez


explicitamente adotada por algumas grandes corporações e ainda de alguma forma
em voga, como quando grandes preocupações industriais ou financeiras resistem ao
1
Nota: Os trechos entre [colchetes] são observações da tradutora
2

direito do público da prestação de contas dos valores humanos e monetários. O


segundo tipo de irresponsabilidade aparece na vida econômica, nos atos criminosos de
devedores que falsificam contas.

Do ponto de vista político, o primeiro tipo de irresponsabilidade é manifestado na


busca das nações por soberania, isto é, no seu clamor por serem não serem
subjugadas a qualquer outro poder além delas mesmas, ou de se justificarem por
fazerem alguma coisa que pareça necessária para preservar a existência nacional. O
segundo tipo de irresponsabilidade na vida política pode ser encontrado no desperdício
de recursos naturais e particularmente na exploração política de vidas humanas, em
nome de algum alto ideal.

A escala da responsabilidade

É claro, a partir destes exemplos e da reflexão na experiência ordinária, que os


elementos em responsabilidade “para com quem” e “pelo quê” estão fortemente
conectados. O “pelo quê” um homem é responsável depende em parte pelo menos do
“para quem” ele deve prestar contas. Se ele deve dar resposta a uma nação, precisa
considerar mais valores do que se ele deve responder apenas aos investidores de uma
empresa. Alguns dos conflitos perenes entre representantes de instituições políticas e
econômicas parecem dever-se ao fato de que os primeiros geralmente têm gerações
futuras em mente, enquanto os últimos raramente têm, sejam eles líderes
trabalhistas ou empresários.

Se um homem responde às demandas de um Deus universal então os próximos por


quem ele é responsável não são apenas os membros da nação a qual ele pertence,
mas os membros da sociedade global sobre a qual Deus preside. Se alguém deve
prestar contas a Deus, que prova os “corações e reinos”, então este alguém deve
responder por atos invisíveis bem como atos explícitos.

Responsabilidade é uma característica da vida social dos homens, mas o conteúdo da


responsabilidade varia com a natureza da sociedade a qual os homens entendem-se
pertencer. Na companhia de Deus e de espíritos imortais até a responsabilidade
familiar é maior e mais inclusiva do que na reunião de nações e de homens que são
considerados como seres puramente temporais. Quando os homens sabem que estão
perante um juiz infinito e criador o conteúdo de sua obrigação torna-se infinito;
precisam exercitar a liberdade moral em todas as áreas da existência; nenhuma parte
da conduta permanece indiferente ou sujeita à pura necessidade; o homem não pode
agir em lugar algum sem a liberdade e a obrigação de ação moral.

Responsabilidade para com Deus

Estas reflexões sobre a natureza geral da responsabilidade definiram parcialmente a


forma da prestação de contas da Igreja. A comunidade cristã deve conceber sua
responsabilidade nos termos da membresia na sociedade divina e universal; ela sabe
que deve resposta a Deus que é Senhor do céu e da terra, de tudo com o qual ela
lida.

É necessário, no entanto, se o senso peculiar das obrigações da Igreja está para ser
ressaltado, definir o Ser para o qual ela é respondente: Deus-em-Cristo e Cristo-em-
Deus. Na verdade, a Igreja mesma deve ser descrita nestes termos como a
comunidade que responde ao Deus-em-Cristo e ao Cristo-em-Deus [grifo da
tradutora]. Um grupo que não reconhece sua obrigação de prestar contas a este Deus
e a este Cristo pode-se chamar igreja mas é difícil vincular significado específico ao
termo. Sem o senso de dependência moral e obrigação em relação ao Cristo, falta a
3

esse grupo a realidade moral da Igreja. Ela pode ser uma associação religiosa de
alguma sorte mas não é igreja no sentido histórico da palavra.

No Novo Testamento a Igreja aparece, antes de tudo, como a reunião


daqueles que respondem ao chamado de Jesus e depois como a fraternidade
daqueles que esperam a sua volta [grifo da tradutora]. Em ambas as instâncias a
Igreja responde mais do que a um Jesus histórico. Os discípulos respondem a ele
como aquele que tem autoridade. Ele é um profeta e mais do que um profeta. Ele
tem palavras de vida eterna. Há um conteúdo universal, eternizado, poderoso, do qual
não se pode escapar no que ele diz e faz. Quando eles respondem a ele e o seguem,
eles respondem e seguem uma realidade eternal na temporal. Ao esperarem seu
retorno, eles antecipam a vinda de um ser não finito e passageiro, mas de um ser que
representa a vitória da vida sobre a morte, do amor sobre o mal. Perante o seu trono
de julgamento, eles esperam ser chamados a prestar contas não pelo seu tratamento
ao limitado número de amigos e próximos do Jesus finito, mas a todos os doentes,
presos, famintos e sedentos homens do mundo – os próximos, irmãos e companheiros
de um ser onipresente. É ao Deus-em-Cristo, ao universal, ao absoluto e
incondicionado no particular que a igreja primitiva presta contas.

Além disso, a igreja primitiva sente sua responsabilidade para com Deus-em-Cristo
não apenas como uma comunidade escatológica caminhando na direção de um
julgamento final e inclusivo, mas também como um grupo espiritual, consciente da
presença do vivo Espírito de Jesus Cristo, que é o Espírito de Deus. Em todo momento
a reunião dos cristãos bem como cada cristão presta contas ao Senhor presente que
está no meio de cada duas ou três pessoas reunidas em seu nome. Sua
responsabilidade não é simplesmente uma preparação para responder no futuro por
todas as suas palavras e atos, mas uma contínua abertura de todo o livro da vida à
atividade inspetora e corretora do sempre presente Espírito de Deus.

Nós devemos inverter a fórmula agora e perceber que o ser para quem a Igreja
responde é o Cristo-em-Deus bem como o Deus-em-Cristo. A Igreja olha não somente
para o absoluto no finito mas para o princípio redentor no absoluto. Deus, ela crê e
confessa, é amor; Ele é misericórdia; Ele amou o mundo de tal maneira que deu Seu
filho amado para sua redenção; é Sua vontade que os ímpios não pereçam mas que
se arrependam de seus caminhos e vivam. Ser uma igreja cristã é ser uma
comunidade que está sempre consciente e sempre responda ao princípio redentor do
mundo, ao Cristo-em-Deus, o Redentor.

Responsabilidade universal

Torna-se claro que o conteúdo da responsabilidade da Igreja é amplamente


determinado pela natureza daquele para quem ela presta contas. Desde que é Deus-
em-Cristo para quem ela responde, o conteúdo de sua responsabilidade é universal.
Ela não é uma corporação com contabilidade limitada. Todos os seres existentes no
mundo são criaturas deste criador e preocupação do seu redentor. As questões “quem
é o meu próximo?” e “o que é bom?” devem ser respondidas de uma forma
totalmente inclusiva por uma Igreja que vive na presença de Deus e na expectativa da
vinda em poder do seu Senhor. Todos os homens e todas as sociedades e todos os
domínios do ser, pertencem à vizinhança na qual esta comunidade de cristãos precisa
desempenhar suas funções para o bem comum. O que quer que seja, é bom no
mundo deste Deus-em-Cristo. Ele pode ser pervertido, pecador, dividido; mas não é
mau, pois Deus-em-Cristo o fez e o mantém.

Tal responsabilidade universal é incompatível com um espiritualismo que limita a


preocupação da igreja a valores não materiais, com um moralismo que não
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compreende o valor do pecador e da nação pecadora, com um individualismo que


torna a humanidade como um todo e suas sociedades menos preocupação de Deus do
que pessoas individuais, e com qualquer daquelas teorias particularistas e politeístas
de valor e responsabilidade que substituem o Deus-em-Cristo por outra divindade
como a fonte do ser que tem valor. Além disso, desde que é o Cristo-em-Deus para
quem se deve prestar contas, o conteúdo da responsabilidade é sempre misericórdia.

A Igreja não é responsável pelo julgamento ou destruição de qualquer dos seres do


mundo de Deus, mas pela conservação, reforma, redenção e transfiguração de
quaisquer criaturas que sua ação toque. O que quer que possa ser dito em termos da
parábola escatológica sobre o papel futuro da Igreja como juíza das nações, nada
pertence à sua presente responsabilidade, pela qual ela não pode responder senão
àquele que deu sua vida como resgate e de quem toda atividade foi uma busca e
salvação dos perdidos.

RELIGIÃO IRRESPONSÁVEL

Desta descrição geral da responsabilidade da Igreja nós nos movemos agora para a
consideração de sua prestação de contas da sociedade. A natureza da última deve ser
iluminada para nós de alguma forma se nós consideramos, antes de tudo, os
caminhos nos quais a Igreja tem sido e pode ser socialmente irresponsável. Dois tipos
de tentações parecem prevalecer especialmente na história: a tentação do
mundanismo e a do isolacionismo. No caso do primeiro o “para com quem”, no caso
do último o “pelo quê” da responsabilidade é definido erroneamente.

A igreja mundana

A primeira sorte de irresponsabilidade ou perversão da responsabilidade social cristã


resulta da substituição da própria sociedade humana por Deus-em-Cristo. Ao invés de
“O que Deus quer?” a questão na mente da igreja que caiu em tentação é “O que a
nação ou a civilização quer?” Ela pensa em si mesma como responsável para com a
sociedade por Deus ao invés de ser responsável para com Deus pela sociedade.

Nesta situação a igreja está mais preocupada com a aprovação ou desaprovação


social do que com o julgamento divino, e o seu fim é mais a promoção da glória da
sociedade do que a de Deus. As sociedades para com as quais cristãos podem se
sentir responsáveis são várias. Seja uma nação, seja em outro a humanidade como
um todo; sejam os conservadores, sejam os radicais ou a parte revolucionária de um
grupo cultural no qual a igreja vive. A religião social em distinção da religião que é fiel
ao Deus-em-Cristo é prontamente identificável quando a unidade humana, cuja glória
ela busca, é uma nação, como no caso da parcela da igreja na Alemanha que
vinculou a causa cristã com a do Nacional Socialismo. Esse tipo de religião não é
prontamente identificável quando a unidade cuja glória a ser promovida é a
humanidade como um todo. Bergson, por exemplo, em sua excelente discussão das
“Duas fontes de Moralidade e Religião” afirma que a religião defensiva é conectada
com sociedades fechadas, tais como nações, mas ao relacionar a religião da aspiração
à sociedade aberta da humanidade como um todo ele aparentemente não afirma
suficientemente que a humanidade como um todo é também finita. Do ponto de vista
da fé cristã, uma igreja humanista é fortemente semelhante a uma igreja nacionalista.
A substituição do infinito e absoluto Deus por qualquer sociedade envolve a Igreja
num tipo de irresponsabilidade no curso do qual ela, na verdade, trai quem ela busca
servir.

O que é verdade na diferença entre responsabilidade pela menor ou maior sociedade


humana é verdade também na diferença entre o senso de prestação de contas aos
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mais conservadores e aos mais revolucionários elementos na sociedade. De um modo


geral, a religião social do tipo descrito, que depende da aprovação pública, busca a
estima daquelas partes da sociedade que se estabeleceram em poder e beneficiam-se
do prestígio vinculado à autoridade tradicional. A igreja mundana é normalmente uma
igreja que busca manter a antiga ordem na sociedade e com ela o poder dos
monarcas e aristocratas, dos donos de propriedades e de outros direitos outorgados.

Entretanto, a tentação ao mundanismo surge também uma igreja começa a ganhar a


aprovação de um grupo radical ou revolucionário que busca aumentar seu poder e de
tal grupo. A primeira tentação é grande por causa do interesse da Igreja na ordem
estabelecida, a última por causa do seu interesse na reforma da ordem injusta, mas
nos dois casos se ela busca ganhar a boa vontade simplesmente do grupo ou de
partes da sociedade e faz-se responsável por elas suprindo certos valores religiosos.
Essa igreja torna-se irresponsável num sentido cristão já que ela substituiu homens
por Deus.

Este tipo de mundanismo é uma coisa mutante. Ele aparece como Cristianismo feudal,
capitalista e proletário, como nacionalismo e internacionalismo, como a defesa da fé
das classes educadas ou das deseducadas.

Falsa profecia e falso sacerdócio

A igreja que caiu nesta tentação [do mundanismo] busca suprir os grupos dos quais
depende com graça sobrenatural ou com apoio religioso de um tipo ou de outro. Ela
tenta prestar contas a homens pelo seu serviço dos valores religiosos. Ela é um
mediador de Deus não no sentido profético mas na forma dos falsos profetas. Ela
tende a declarar para a sociedade que a sua forma de organização e os seus costumes
são ordenados pelo Divino, de que ela goza da proteção especial e do favor de Deus,
de que ela é um povo escolhido. Muitas proclamações e sermões no Dia de Ação de
Graças oferecem exemplos precisos de tal mundanismo piedoso.

Dito novamente, uma igreja social secularizada pode assumir ajudar uma sociedade
humana em sua busca dos grandes valores de paz e prosperidade. Ela pode fazer isto
tentando persuadir homens de que a ordem que está em vigor tem uma sanção
divina, ao ameaçar todos os protestos contra ela com punição sobrenatural e
alcançando resultados positivos com outras campanhas mais ou menos creditáveis.
Em tempos antigos e por meio do povo não-cristão o método usual de ganhar
aprovação divina era por meio do sacrifício. Em tempos mais sofisticados a religião
social pode tentar servir à sociedade por meios efetivos subjetivos e psicológicos,
buscando suprir não tanto um sobrenatural como uma ajuda natural, psicológica. Ela
pode tentar gerar uma “dinâmica moral” por meio de culto, alívio das tensões por
meio de ajuda com oração e estimular a “boa vontade” por meio de meditação. Ela
pode voltar o seu trabalho educacional em um esforço para criar “bons cidadãos” ou
revolucionários efetivos.

A linha entre a conduta cristã que é responsável para com Deus e aquela que é
responsável para com a sociedade é sempre difícil de se descobrir em tais situações,
mas quando um culto se torna subjetivo, isto é, dirigido para mudanças socialmente
desejadas por aqueles que cultuam, e a educação se torna moralista, pode-se assumir
com segurança que se está lidando com uma religião mundana.

A tentação deste tipo de irresponsabilidade é particularmente grande no mundo


moderno. É grande porque sociedades humanas, na forma de nações e de civilizações,
tornaram-se muito poderosas e parecem segurar em suas mãos tanto as bênçãos
como as maldições que devem ser alcançadas por homens.
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A crença de que o destino da humanidade depende das decisões dos líderes do


império é amplamente conhecida e onipresente. A tentação é aumentada pela ilusão,
longamente alimentada de progresso social, que leva os homens a acreditarem que o
significado da existência humana deve ser realizado em alguma organização das
sociedades humanas que habitam o planeta. Novamente, a tendência de olhar para
todas as questões de um ponto de vista social tem aumentado a tentação da Igreja de
se considerar responsável para com a sociedade.

Muitas ciências sociais, inclusive a sociologia da religião, tende a erigir a própria


sociedade num tipo de primeiro princípio, a fonte de todos os movimentos e
instituições humanos. Isto não apenas descreve a relação da religião com outras
funções na vida social mas parece explicá-la como nada além de uma função social.
Quando a Igreja aceita esta visão de si mesma dá evidência de sua completa queda
no mundanismo, já que substituiu Deus pela civilização e pela sociedade como autores
e fim de sua existência.

O isolacionismo na Igreja

A mais importante razão, sem qualquer dúvida, para o prevalecer de tal “religião
social” nas igrejas cristãs modernas é sua reação contra o isolacionismo que
caracterizou muitas delas por longo tempo. Isolacionismo é a heresia oposta ao
mundanismo. Ele aparece quando a Igreja busca responder a Deus mas o faz somente
para si mesma.

A igreja isolada é entusiasticamente consciente do fato de que deve responder ao


Deus-em-Cristo por todos os seus atos e por todos os valores que ela administra. Mas
ela pensa de si mesma como o ser para quem ela deve responder e considera os
grupos seculares com os quais ela vive como algo fora da preocupação divina. Sua
atitude em relação a esses grupos é como a de certos israelitas em relação aos
gentios, ou dos gregos em relação aos bárbaros – eles estão além do limite. O que é
requerido da Igreja, de acordo com esta concepção, é o intenso desenvolvimento de
sua própria vida e a guarda cuidadosa de sua santidade.

Essa religião de santidade é intensivamente autocentrada tanto com respeito ao


cristão individual quanto com respeito à comunidade cristã. Ela entende as sociedades
secularizadas como antagonistas da Igreja Cristã e como além da possibilidade de
redenção. Elas não são apenas mortais mas cheias de pecado e devem ser evitadas o
máximo possível porque o contato com elas é degradante. A Igreja, por outro lado, é
a comunidade daqueles que devem ser salvos do pecado bem como da morte. É a
arca da salvação e a preocupação de seus oficiais e da tripulação é ver se ela navega
de forma segura através das tempestades que trazem destruição a outros grupos e
outros homens.

Não é injusto chamar esta religião de santidade de irresponsável, pois ela o é no


exato sentido de que renuncia à prestação de contas das sociedades seculares. Ela
rejeita não apenas o nacionalismo mas a nacionalidade, não apenas o mundanismo
mas o mundo. A política e a economia e algumas vezes a vida familiar de grupos
humanos são considerados pelos advogados extremistas da fé de santidade como
degradante demais para contato. Por isso, a igreja isolada renuncia a todo interesse
nessas funções sociais e com o repúdio tende a abandonar as sociedades seculares à
sua própria ação.

A história da Igreja contém muitos exemplos de isolacionismo mais ou menos


extremos. O Cristianismo do segundo século, representado nas epístolas de João, na
Didaqué e outros escritos contemporâneos, tendeu a tornar o mandamento de não de
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amar o mundo nem as coisas que estão no mundo em uma sanção para separar a
comunidade cristã das sociedades políticas e culturais daquele tempo. Ele pensou a
Igreja como uma nova sociedade para a qual o mundo tinha sido criado e para a qual
foi destinado o governo do mundo. No movimento monástico a tentação do
isolacionismo tinha que ser combatida a todo tempo pelos grandes reformadores que
buscaram fazer do monge um servo da humanidade ao invés daquele que persegue
sua própria santidade. Seitas protestantes também foram tentadas a perseguir um
tipo de perfeccionismo que era altamente autocentrado enquanto outra vertente da
religião protestante era tão espiritualista e individualista que a vida concreta das
sociedades seculares foi na verdade ignorada como além das possibilidades da
responsabilidade da igreja espiritual.

Estes dois tipos de irresponsabilidade, mundanismo e isolacionismo, são


evidentemente interdependentes na medida que qualquer extremo tende a levar a
uma reação em direção à sua antítese. A tendência geral da Igreja no século XX tem
sido em direção a uma concepção de responsabilidade social que virtualmente a fez
um agente da sociedade secular. Sob essas circunstâncias não é impossível que um
forte contra-movimento será levantado e que cristãos busquem formas de vida da
igreja que sejam independentes da sociedade secular não apenas na base mas
também no propósito.

A verdadeira medida da responsabilidade da Igreja não está para ser encontrada, no


entanto, na atenção a qualquer extremo ou na busca de uma posição de conciliação
entre eles mas, mais ainda, na atenção aos dois aspectos da responsabilidade cristã
no caminho verdadeiro. A relação com Deus e a relação com a sociedade não
devem se confundir como é o caso na religião social, nem separadas uma da
outra como é o caso do isolacionismo cristão; elas devem ser mantidas na
unidade da responsabilidade para com Deus pelo próximo [grifo da tradutora].

A IGREJA COMO APÓSTOLA, PASTORA E PIONEIRA

A responsabilidade da Igreja para com Deus pelas sociedades humanas sem dúvida
varia com a mudança de posições delas mesmas e das nações, mas deve ser descrita
numa forma geral pela referência às funções apostólicas, pastorais e pioneiras da
comunidade cristã.

Responsabilidade apostólica

A Igreja é, por natureza e pormandamento, uma comunidade apostólica que existe


para anunciar o Evangelho a todas as nações e fazer delas discípulos de Cristo. A
função da Igreja como mensageira apostólica para indivíduos é precisa, mas a ênfase
nela não deve levar ao obscurecimento de sua missão com os grupos sociais.

O Evangelho deve ser anunciado de diferentes formas quando é pregado para a


América ou para a Rússia, da forma como é proclamado para indivíduos americanos
ou russos. Aqui, novamente, nenhuma distinção absoluta pode ser feita, mas parece
importante e imperativo que a Igreja deve liberar sua responsabilidade apostólica ao
visualizar as necessidades dos homens em suas sociedades bem como em seu
isolamento perante Deus. Isto parece ser o mais urgente em nosso tempo porque a
descrença, o medo e o pecado do homem aparecem mais dramaticamente na vida
pública como nunca. O fenômeno do nacionalismo é religioso por natureza; da mesma
forma é o culto da civilização que parece permear as sociedades democráticas. De um
lado, os grupos sociais tornam-se idólatras num sentido que poucos dos indivíduos
que neles estão são; por outro lado, a idolatria dos grandes grupos parece emergir
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daquele desgosto com Deus e o sentido da vida para os quais o evangelho fornece a
cura.

Assim como para a Igreja Apostólica, é função da comunidade cristã proclamar para
as grandes sociedades humanas, com toda a persuasão e imaginação, a sua
disposição, com toda a capacidade que ela tem de tornar-se tudo para todos os
homens, que o centro e o coração de todas as coisas, o Ser primeiro e último, é todo
bem e completo amor. É função da Igreja convencer não apenas homens mas a
humanidade, de que o bem que aparece na história, na forma de Jesus Cristo, não foi
derrotado mas levantou-se triunfantemente da morte. Hoje estas mensagens são
pregadas para indivíduos mas sua relevância para nações e civilizações não é
destacada de forma adequada.

A Igreja ainda não fez, na sua natureza apostólica, a transição de uma era
individualista para uma era social, o que movimentos históricos exigem. Quando ela
não toma seriamente a sua responsabilidade social ela muito freqüentemente pensa
sobre a sociedade como uma forma da existência humana física e não espiritual e ela
tende, portanto, a confinar o seu cuidado com a sociedade ao interesse na
prosperidade e na paz de homens em suas comunidades.

É uma parte da tarefa apostólica continuar a função profética de pregar o


arrependimento. As boas novas sobre a glória do bem divino não são corretamente
proclamadas nem corretamente ouvidas se não são combinadas com as más notícias
sobre a grande justiça que prevalecerá no mundo de Deus. É impossível para a Igreja
na Alemanha declarar à nação alemã que não é vontade de Deus que essas pessoas
pecadoras pereçam sem ao mesmo tempo declarar à nação que suas transgressões
devem ser reconhecidas e condenadas. Assim também a Igreja Apostólica na América
não pode anunciar a misericórdia de Deus sem apontar como essa nação transgride os
limites estabelecidos aos homens quando defrauda os negros e recusa-se a se
condenar, pela forma indiscriminada com que fez a guerra no seu uso de bombardeio
aniquilador, ou lida com nações derrotadas no espírito da retribuição ao invés do de
redenção.

Não é suficiente que a Igreja realize sua função apostólica ao falar aos governos. Sua
mensagem é para as nações e sociedades, não para as autoridades. Uma Igreja
verdadeiramente apostólica pode na verdade dirigir-se a presidentes, legisladores,
reis e ditadores como os profetas e Paulo fizeram no passado; mas como eles, ela
será menos inclinada a liderar com os poderosos do que com as grandes massas, com
a comunidade, da forma como existe, dos humildes. Como a Igreja deve levar adiante
sua tarefa apostólica em nosso tempo é um dos problemas mais difíceis a serem
enfrentados. Seus hábitos e costumes, suas formas de falar e seus métodos de
proclamação vêm de um tempo quando indivíduos, mais do que sociedades, estavam
no centro da atenção. Responsabilidade para com o Deus Vivo requer, neste
caso como em todos os outros, uma consciência do momento presente e suas
necessidades, uma vontade de reconstruir os hábitos de cada um a fim de
que as necessidades do próximo possam ser alcançadas, uma prontidão para
deixar a tradição a fim de que a grande tradição do serviço possa ser seguida
[grifo do autor].

Pastora dos perdidos

A Igreja realiza sua responsabilidade para com Deus pela sociedade ao levar adiante
sua função pastoral bem como apostólica. Ela responde ao Cristo-em-Deus ao ser
pastora das ovelhas, a que busca os perdidos, a amiga dos publicanos e pecadores,
dos pobres e desesperados. Por causa do seu interesse pastoral em indivíduos a
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Igreja se viu forçada a interessar-se por ações ou instituições políticas e econômicas.


Muitos dos primeiros líderes do movimento do evangelho social foram pastores cuja
preocupação por indivíduos moradores de favelas, os pobres, os prisioneiros e os
doentes os levou a atacar as raízes sociais da miséria humana e a compreender a
natureza coletiva do pecado humano. O interesse genuíno por indivíduos sempre
levará a tais resultados.

A Igreja não pode ser responsável para com Deus pelos homens sem se tornar
responsável por suas sociedades. Como a interdependência de homens cresce na
civilização industrial e tecnológica, a responsabilidade por lidar com as grandes redes
de interrelação cresce. Se a ovelha individualmente deve ser protegida, o rebanho
deve ser guardado.

A responsabilidade pastoral da Igreja pela sociedade é, no entanto, direta bem como


indireta. Compaixão e preocupação pelo povo judeu como um todo, interesse pastoral
nas nações derrotadas e nos vencedores que se colocam em grande perigo moral
caracterizam a Igreja que responde para com Deus, que não apenas cria os homens
mas também suas sociedades. Esta missão pastoral da Igreja com as nações inclui
todas as medidas de alívio e libertação em larga escala pelas quais os tempos
clamam. Não pode ser suficiente para a Igreja conclamar os governos das nações a
alimentarem os famintos e vestirem os despidos. Ação direta é requerida aqui como
em toda parte.

A Igreja como pioneira social

Finalmente, a responsabilidade social da Igreja precisa ser descrita como a do


pioneiro. A Igreja é aquela parte da comunidade humana que responde primeiro ao
Deus-em-Cristo e ao Cristo-em-Deus. É a parte sensível e responsiva em toda
sociedade e na humanidade como um todo. É aquele grupo que ouve a Palavra de
Deus, que vê os seus julgamentos, que tem a visão da ressurreição. Em suas relações
com Deus ela é a parte pioneira da sociedade que responde a Deus em nome de toda
a sociedade, de alguma forma, devemos dizer, como a ciência é pioneira em
responder ao padrão ou à racionalidade em experiência e como os artistas são os
pioneiros em responder à beleza.

Este tipo de responsabilidade social pode ser ilustrado com referência ao povo hebreu
e ao remanescente profético. Os israelitas, como os grandes profetas ao final
reconheceram, tinham sido escolhidos por Deus para guiar todas as nações a Ele. Era
aquela parte da raça humana que foi pioneira em entender a vaidade do culto idólatra
e em obedecer à lei do amor fraterno. Assim, nele todas as nações foram
eventualmente abençoadas. A idéia de responsabilidade representativa é ilustrada
particularmente por Jesus Cristo. Como tem sido freqüentemente apontado pela
teologia, dos tempos do Novo Testamento em diante, ele é o primogênito de muitos
irmãos não apenas em ressurreição mas em render obediência a Deus. Sua obediência
foi um tipo de pioneirismo e obediência representativa; ele obedeceu em nome dos
homens, e então mostrou o que os homens podiam fazer e estimulou uma resposta
divina, em seguida, em direção a todos os homens que ele representava. Ele discerniu
a misericórdia divina e apoiou-se nela como representante de homens e pioneiro por
eles.

Este pensamento de pioneirismo ou responsabilidade representativa tem sido de


alguma forma obscurecido durante os muitos séculos pela ênfase excessiva no
individualismo. Sua expressão nos termos legais da teologia tradicional é estranha e
por vezes sem sentido a ouvidos modernos. Ainda com nossa compreensão do
caminho em que vida está envolvida com vida, da forma no qual o ser e a sociedade
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estão unidos, da forma em que pequenos grupos de uma nação agem pelo todo,
parece que nós devemos avançar na direção de uma concepção similar à hebraica e
medieval.

Neste sentido representativo, a Igreja é aquela parte da sociedade humana, e aquele


elemento em cada sociedade particular, que caminha na direção de Deus, que como o
sacerdote age, presta culto a Ele por todos os homens, crê e confia Nele em nome de
todos; que é a primeira a obedecer a Ele quando se torna consciente de um novo
aspecto de Sua vontade. A sociedade humana, em todas as suas divisões, e em todos
os seus aspectos, não crê. Suas instituições estão baseadas na descrença, na falta de
confiança no Senhor do céu e da terra. Mas a Igreja concebeu sua fé em Deus e
move-se no espírito desta confiança como a esperançosa e obediente parte da
sociedade.

Com ética, ela é a primeira a arrepender-se dos pecados da sociedade e ela se


arrepende em nome de todos. Quando se torna aparente que a escravidão é
transgressão do mandamento divino, então a Igreja se arrepende dela, abandona-a,
abole-a de si mesma. Ela faz isto não como a comunidade santa separada do mundo
mas como uma pioneira e representante. Ela se arrepende do pecado de toda a
sociedade e lidera o ato social de arrependimento. Quando as instituições que
pertencem à sociedade são sujeitas a questionamento porque sofrimento inocente
ressalta o seu antagonismo à vontade de Deus, então a Igreja assume mudar seu
próprio uso dessas instituições e lidera a sociedade na sua reforma. Da mesma forma,
a Igreja se torna pioneira e representativa da sociedade na prática da igualdade
perante Deus, na reforma de instituições de poder, na aceitação da responsabilidade
mútua de indivíduos uns pelos outros.

Em nosso tempo, com suas dramáticas revelações dos males do nacionalismo, do


racismo e do imperialismo econômico é evidente a responsabilidade da Igreja de
repudiar essas atitudes dentro de si mesma e agir como pioneira da sociedade ao
fazê-lo. A proclamação apostólica de boas e más notícias para as raças de cor
[contextualizando seria melhor: pessoas de cor] sem um pioneiro repúdio à
discriminação racial na Igreja, contém uma nota de insinceridade e descrença. A
profética denúncia do nacionalismo sem uma resoluta rejeição do nacionalismo na
Igreja é por demais retórica. Como a representante e a pioneira da humanidade, a
Igreja encontra sua responsabilidade social quando, em sua própria organização de
pensamento e ação, ela funciona como uma sociedade mundial, não dividida por raça
[contextualizando, melhor seria: cor da pele], classe ou interesses nacionais.

Esta parece ser a maior forma de responsabilidade social da Igreja. É a direta


demonstração de amor a Deus e ao próximo mais do que uma repetição do
mandamento para si mesma e para os outros. É demonstração radical de fé. Quando
esta responsabilidade está sendo exercida não há mais qualquer questão sobre a
realidade da Igreja. Na ação pioneira e representativa, da resposta a Deus-em-
Cristo, a Igreja invisível torna-se visível e a ação de Cristo é reduplicada
[grifo do autor].

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