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com
2 Fiscalização
3 Assembleia Geral
4 Estado Enquanto Accionista
6 Não Concorrência
Administradores 7 Responsabilidade
na Administração 8 Novas Responsabilidades
Editorial
A importância da reforma do direito de descrição das alterações introduzidas, os nossos clientes e empenhamo-nos em tinacionais, incluindo sociedades cotadas
societário de 2006, incidente sobre os chegou o tempo de apresentar análises desenvolver esse relacionamento. em bolsa e conhecidos grupos internacio-
modelos de governação das sociedades criticas sobre os reflexos da reforma ope- nais, portugueses e estrangeiros.
anónimas, a simplificação ou elimina- rada. É este o contributo que se pretende Os advogados da APDC possuem extensa
ção de actos e procedimentos registrais, com a primeira Aware da APDC. e intensa experiência, no acompanhamen- Fazemos votos de que aprecie a Aware
e implementando um novo regime da to da vida e das operações das empresas, da APDC. O nosso propósito é criar um
dissolução e liquidação de sociedades A APDC é uma área chave da Abreu sociedades e grupos de sociedades, em instrumento que seja simultaneamente
comerciais, levou-nos a tomar a opção Cardigos & Associados (ACA). A nossa matéria de responsabilidade de ad- informativo e de leitura agradável. Ficare-
de centrar a primeira Aware da Área de filosofia consiste no exercício da advo- ministradores e corporate governance, mos a aguardar os seus comentários, as-
Prática de Direito Comercial (“APDC”) cacia, em áreas de especialidade no âm- na formação, negociação e análise de sim como sugestões de temas a tratar em
nas inovações levadas a efeito, apre- bito do direito comercial, numa lógica de contratos comerciais e nas relações com a futuras Awares.
sentando uma primeira análise crítica funcionamento de grupo, por advogados Autoridade da Concorrência e outras Au-
das suas parcelas mais significativas. com experiência e formação variadas. A toridades de Regulação Sectorial. A nossa Bem-vindos à primeira Aware da Área de
Os escassos meses decorridos desde a nossa missão é a melhoria continua da experiência resulta do aconselhamento Prática de Direito Comercial!
entrada em vigor dos textos legislativos qualidade do serviço a prestar asseguran- quotidiano e contínuo, ao longo dos anos,
da reforma, não permitem que a nossa do um valor acrescentando para o cliente, aos inúmeros clientes da ACA, que abran-
abordagem se possa valer de doutrina a honorários competitivos e com custos gem o empresário individual, investidores Miguel de Avillez Pereira
ou jurisprudência. Mas, esgotada a fase controlados. Valorizamos a relação com e das maiores empresas nacionais e mul- miguel.avillez.pereira@abreucardigos.com
Administração de Sociedades
Novas regras e modelos
de organização
que respeita à administração das so- turas, com poupança assinalável de executivas. Embora os membros
Armando Martins Ferreira
armando.m.ferreira@abreucardigos.com ciedades, são as seguintes: custos. Este modelo dá expressão da comissão executiva sejam ad-
às boas práticas de governo soci- ministradores, limitou-se a sua
i) Aparecimento de um novo mo- etário, através do reforço da coope- remuneração a uma quantia fixa,
Novo CSC:
Fiscalização
Conselho Fiscal e ROC
Miguel Teixeira de Abreu, Paulo Cordeiro de Sousa, Marta Romano de Castro, Alexandra Courela e Leonardo Marques dos Santos
Análise Critica funções, assegurando a existência contabilísticas, à fiscalização da eficá- , o qual, adivinhamos continuará
O artigo 278º do CSC estabelece as de qualificações técnicas. Parale- cia do sistema de gestão de riscos, a ser o preferido considerando os
três modalidades de administração e lamente, também a possibilidade de do sistema de controlo interno e do custos elevados de implementação
fiscalização1 . A redacção não é feliz. contratação de peritos para coadjuva- sistema de auditoria interna não repre- do novo sistema e o facto de a sua
Com efeito, a alínea a) do mencio- rem o exercício das funções do órgão sentam uma possibilidade da interfe- adopção ser uma mera faculdade;
nado artigo 278º do CSC refere que a de fiscalização – alínea l) do artigo rência na gestão efectiva da sociedade ii) Inquestionável é a alteração
fiscalização pode ser estruturada com 420º - representa uma outra vertente não consubstanciando uma situação verificada ao nível das sociedades
recurso a um Conselho Fiscal, no en- desta profissionalização. de fiscalização subjectiva. cotadas em bolsa que obrigatoria-
tanto o n.º 1 do artigo 413º que visa O n.º 2 do artigo 420º cria um du- mente terão que adoptar o novo
concretizar a composição desse Con- Os conceitos de independência e plo grau de controlo (Assembleia Ge- modelo (Conselho Fiscal);
selho Fiscal admite que este possa imparcialidade são também eles ex- ral e Conselho Fiscal) sobre o Revisor iii) Criou duas outras modalidades
ser composto por um Fiscal Único. plorados e valorizados neste novo dis- Oficial de Contas e sobre a preparação de estruturação da administração e
Assim, o défice de eficácia do positivo legal. Com efeito, o membro da documentação contabilística e de fiscalização as quais nos parecem
sistema de fiscalização mantém-se, do Conselho Fiscal quanto a quem, prestação de contas. Paradoxalmente complexas e pesadas em termos
porquanto, os objectivos de atri- conforme acima mencionado, se e- nas situações em que o órgão de fis- organizacionais sem que a sua
buição das funções de fiscalização xige a formação universitária, tem, calização é composto por um Fiscal adopção seja obrigatória. Mais
a um órgão colegial, independente igualmente que ser independente. Su- Único, o qual inclui, entre as suas uma vez parece estarmos perante
e multidisciplinar não são alcança- cede que o conceito de independência competências, a preparação da docu- soluções legislativas cuja con-
dos. O Fiscal Único continua a ser plasmado no n.º 5 do artigo 414º do mentação contabilística e dos docu- cretização e aplicação prática será
um mero órgão de revisão oficial de CSC é, em nossa opinião, demasiado mentos de prestação de contas, apenas pouco significativa.
contas. vago podendo abarcar situações que o a Assembleia Geral exerce algum tipo iv) As grandes empresas, que não
legislador não pretendia contemplar. de controlo. sejam obrigadas a adoptar o siste-
Por outro lado, os limites estabe- Paralelamente, o legislador optou, no ma previsto na alínea a) do artigo
lecidos no n.º 2 do artigo 413º que que se refere às incompatibilidades 278º do CSC, tenderão a adoptar
determinam a obrigatoriedade de co- dos membros do Conselho Fiscal e Nota final a modalidade prevista na alínea
legialidade do orgão (Conselho Fis- considerando a dignidade e importân- O legislador pretendeu criar um c) desse mesmo artigo, no qual, o
cal) são, na nossa opinião, excessivos cia da matéria, por autonomizar esta sistema completo e multi-orgânico de Conselho de Supervisão servirá de
porquanto, sociedades comerciais questão num novo artigo – 414º A. controlo/fiscalização da sociedade a intermediário entre os accionistas
com grande impacto no panorama ser efectuada por um órgão colegial, e o Conselho de Administração,
económico-financeiro português Infelizmente, esta preocupação contudo, o resultado final nem sem- algo que nos parece positivo.
muito facilmente não ultrapassam de valorização não redundou na cria- pre foi alcançado. Senão vejamos:
os limites estabelecidos na lei e as- ção de mecanismos de controlo, pelo i) Criou uma modalidade de es- 1
Sem prejuízo de se encontrar previsto
sim poderão continuar a adoptar que temos que salientar como menos truturação da administração e fis- no n.º 2 do mesmo artigo a possibilidade
como orgão de fiscalização um Fis- positiva, a inexistência de um órgão calização composta por um Con- de uma quarta modalidade de administra-
cal Único. externo a quem seja atribuída a com- selho de Administração e por um ção e fiscalização, nos casos especifica-
mente previstos na lei, nos termos da qual
Mais uma vez ficam comprometi- petência de fiscalização destas incom- Conselho Fiscal mas permitiu que
se prevê a existência de um administrador
dos os objectivos de colegialidade e patibilidades bem como a fiscalização o Conselho Fiscal fosse composto único e de um fiscal único.
controlo acima mencionados. dos pressupostos para a adopção obri- por um Fiscal Único, porquanto,
2
Um aspecto que nos parece bas- gatória de um dos modelos de admi- os requisitos subjacentes à obri- Note-se que com a redacção deste novo
tante positivo é a intenção de profis- nistração e fiscalização. gatoriedade de adopção de um CSC deixa de ser obrigatória a inclusão
sionalização subjacente às alterações Conselho Fiscal são demasiados no Conselho Fiscal de um ROC.
introduzidas quanto ao órgão fiscali- Existe um alargamento de com- exigentes. Em suma temos uma 3
Note-se, a título meramente exemplifica-
zador. Efectivamente, o n.º 4 do ar- petências do órgão de fiscalização e, nova modalidade de fiscalização
tivo que lhes compete não só a verificação
tigo 414º do CSC, torna obrigatória a em consequência, um aumento das que visa substituir a anterior mas da exactidão do balanço e demonstração
inclusão no Conselho Fiscal2 de um suas responsabilidades3 . No entanto, as sociedades poderão continuar a de resultados, como sucedia na versão
membro que tenha um curso supe- parece-nos que as novas competências utilizar o antigo sistema - Conselho anterior, mas de todos os documentos de
rior adequado ao exercício das suas subjacentes à verificação das políticas de Administração + Fiscal Único - prestação de contas.
3 Nº 12 - Novembro - 2006
Assembleia
Duarte de Athayde
Global
duarte.athayde@abreucardigos.com
O DL 76-A/2006 de 29 de
Março consagra uma sé-
rie de medidas que visam adap-
Sublinha-se que se trata de uma
nova forma de presença, o que não
se confunde de todo com as formas
facilita a constituição de sociedades
Portuguesas por investidores não
residentes, o que, numa sociedade
tar as regras sobre constituição e admitidas de representação. aberta e de livre circulação de capi-
funcionamento das assembleias- tais, é positivo.
-gerais à moderna sociedade de Colocam-se no entanto alguns
comunicação. As assembleias já desafios, pois a lei exige que a so- Por fim, os meios telemáticos
não são apenas gerais, são tam- ciedade encontre os meios adequa- aplicam-se também às assembleias-
bém globais. dos a assegurar a autenticidade gerais universais, constituídas pela
das declarações e a segurança das totalidade dos sócios com dispensa
De facto, a partir de agora, comunicações, sem contudo os es- de prévias formalidades de convo-
permite-se que uma assembleia- pecificar. A certificação digital das cação.
-geral, convocada por correio assinaturas será sem dúvida um dos
electrónico, se realize por meios caminhos. O voto por correspondência é de
telemáticos, com exercício de entre estas alterações a que coloca
voto por correspondência. O recurso a meios telemáticos questões mais complexas. Diz a lei
tem assim algumas consequências que se os estatutos não proibirem
A convocação por correio elec- curiosas: temos de admitir, por ex- o voto por correspondência devem
trónico é uma evolução perfeita- emplo, que o presidente da mesa, regular o seu exercício… e se não
mente normal e esperada do re- com todas as funções e competên- o fizerem?
gime (que já previa convocatórias cias inerentes ao seu cargo, não
por carta registada com aviso de esteja fisicamente presente na re- Se as sociedades nada fizerem, o
recepção). A validade desta con- união. voto por correspondência dá-se por
vocação depende do prévio con- admitido. Mas, sem regulamentação
sentimento dos accionistas. Por outro lado, os sócios que adequada, a sociedade pode ver-se
participem à distância podem es- envolvida em questões graves e de
Ainda que nada se diga sobre tar fora do país, sobretudo sendo difícil solução.
a forma desse consentimento, em sócios estrangeiros ou não residen-
nosso entender, por razões de bom tes. Em última instância a reunião A começar pelo valor a dar aos
senso e prudência, deve ser explí- da assembleia-geral da sociedade votos emitidos em relação a pro- propostas subsequentes, até ao máxi-
cito e por escrito, e pode ter um portuguesa pode ter lugar apenas postas de deliberação posteriores. A mo de cinco dias seguintes à assem-
carácter geral, válido para todas e entre ausentes, quer estejam todos lei prevê duas alternativas mas não bleia, pode potenciar terríveis nego-
quaisquer convocatórias futuras. concentrados noutro país ou disper- consagra uma solução supletiva. ciações do sentido de voto. Além de,
sos por vários, até porventura cada apesar da lei o não dizer, só ser admis-
Quanto à utilização de meios um no seu… Esse facto não afecta Aliás, ambas as alternativas su- sível para sócios que já haviam votado
telemáticos, note-se antes de mais a nacionalidade e a lei aplicável à geridas pela lei têm deficiências. por correspondência no momento da
que a assembleia-geral continua a sociedade, desde que a sua sede Determinar que os votos emitidos deliberação original, sob pena de se
ser uma reunião de sócios o que se mantenha em Portugal, nem a por correspondência são sempre colidir com as regras sobre quórum
significa que todos têm de estar sua residência para efeitos fiscais, negativos em relação a propostas da assembleias-gerais e até com o
em contacto ao mesmo tempo. O desde que aqui se localize a sua di- apresentadas ulteriormente pode, na princípio de igualdade entre sócios.
que se flexibiliza é a forma dos recção efectiva. prática, impedir a apresentação de
sócios se colocarem em contacto tais propostas ainda que por vezes É essencial que as sociedades co-
uns com os outros: o contacto Desta forma, o novo regime totalmente justificadas e até ne- merciais portuguesas desde já adap-
ou a presença já não tem de ser facilita a participação de não resi- cessárias. tem os seus estatutos ou adoptem
física, pode verificar-se através dentes no capital de sociedades um regulamento interno que permita
de meios telemáticos. Portuguesas ou dito de outra forma, Autorizar a emissão de votos sobre evitar este tipo de problemas.
4 Nº 12 - Novembro - 2006
Regime
de Incompatibilidades
Ana Sofia Batista
à luz do “novo” CSC
Anasofia.batista@abreucardigos.com
O Decreto-Lei nº 76-A/2006, de
29 de Março, que inter alia al-
terou profundamente o Código das
os restantes artigos remetem são
as vertidas nos artigos 414º, nº 5
(Composição Qualitativa) e 414º-
co ou revisor oficial de contas (ou
por remissão, com as necessárias
adaptações, i) do artigo 374º-A,
grupo (alínea e) do nº 1 do artigo
414º-A), os que exerçam funções
em empresa concorrente e actuem
Sociedades Comerciais (doravante, A (Incompatibilidades), incluí- membros da assembleia geral; em representação ou por conta
“CSC”) aprovado pelo Decreto-Lei dos na Secção II do Capítulo IV ii) do artigo 423º-B, membros da desta ou que, por qualquer outra
nº 262/86, de 2 de Setembro, veio do Título IV do CSC, sob o tema comissão de auditoria, e iii) do forma, estejam vinculados a in-
estabelecer um regime mais aper- “Fiscalização”. artigo 434º, membros do conselho teresses da empresa concorrente,
tado de incompatibilidades para o geral e de supervisão), os que, de e os que exerçam funções de ad-
exercício das funções de membro Falando apenas nas alterações modo directo ou indirecto prestem ministração ou de fiscalização de
dos órgãos sociais nas sociedades em nossa opinião mais relevantes, serviços ou estabeleçam relação cinco sociedades, exceptuando
anónimas. estabelecem aquelas disposições comercial significativa com a so- inter alia as sociedades de advo-
que não podem ser eleitos mem- ciedade ou com sociedade com gados (alínea h) do nº 1 do artigo
As regras gerais para as quais bros do conselho fiscal, fiscal úni- ela em relação de domínio ou de 414º-A).
5 Nº 12 - Novembro - 2006
A lei não só clarificou conceitos dois mandatos, de forma continua ou de 2006 uma deliberação estatuindo
como alargou o universo de situa- intercalada (artigo 414,º nº 5). que os requisitos de independência
ções geradoras de incompatibili- e o regime de incompatibilidades
dade. Estas regras aplicam-se às so- quanto à eleição de determinados
ciedades emitentes de acções ad- cargos sociais não se aplicam aos
A enumeração e definição das mitidas à negociação em mercado serviços prestados por advogados,
situações geradoras de incompatibi- regulamentado e às sociedades, não por força dos princípios fundamen-
lidade traduziu um “apertar de ma- totalmente dominadas por outra so- tais a que estão sujeitos por força
lhas” do crivo destinado a assegurar ciedade que adopte este modelo, que do Estatuto da Ordem dos Advoga-
a independência na fiscalização e ultrapassem durante dois anos con- dos, maxime da sua necessária inde-
administração das sociedades. secutivos dois de três limites (nº 2 do pendência. Recomenda a delibera-
artigo 413º). Ou sejam, aplicar-se-ão ção a criação de norma interpretativa
Por outro lado, estabelece a lei a sociedades anónimas de alguma que esclareça o acima com clareza.
– artigo 414º para o conselho fiscal, dimensão.
artigo 423º-B para a comissão de A Comissão do Mercado de Va-
auditoria e artigo 434º para o con- Assim sendo, nos casos das so- lores Mobiliários parece no entanto
selho geral e de supervisão, estes ciedades acima descritas, poderá ter opinião contrária, que parece
por remissão para o artigo 414º - a entender-se que advogados que lhes estar já a aplicar às sociedades co-
obrigatoriedade de um dos membros prestem serviços jurídicos, mesmo tadas.
desses órgãos colectivos ser inde- em regime de avença ou de presta-
pendente. Considera-se indepen- ção ocasional de serviços (ou seja, Apesar de nos parecer que o es-
dente, nos termos da lei, a pessoa sem estarem sujeitos a contrato de pírito da disposição não seria tão
que não esteja associada a qualquer trabalho) poderiam ser impedidos abrangente como a deliberação da
grupo de interesses específicos na de exercer funções, maxime, como Ordem dos Advogados indica, tam-
sociedade, nem se encontre em cir- presidente ou secretário da mesa da bém nos parece que limitar de forma
cunstância susceptível de afectar a assembleia geral, ou até ser desti- tão radical as funções que os advo-
isenção da análise ou decisão, nome- tuídos sem justa causa, ou até serem gados podem exercer será ir muito
adamente por ser titular, ou actuar atacadas as assembleias gerais a que longe.
em nome ou por conta de titulares, presidam.
de participações qualificadas iguais Resta-nos assim aguardar por
ou superiores a 2% do capital social, O Conselho Geral da Ordem dos eventuais alterações legislativas ou
ou por ter sido reeleita por mais de Advogados aprovou em 29 de Junho interpretativas.
6 Nº 12 - Novembro - 2006
Responsabilidade
na Administração,
Rita Sousa Maltez
Direito dos Accionistas
rita.s.maltez@abreucardigos.com
Reparou
nas Suas Novas
Inês Sequeira Mendes
ines.s.mendes@abreucardigos.com
Responsabilidades?
A s recentes alterações intro-
duzidas pelo DL 76-A/2006,
de 29 de Março ao Código do Re-
gisto Comercial (CRC) não só foram
muitas como, algumas, representam
uma verdadeira revolução (ainda que
relativamente silenciosa) no que res-
peita ao sistema e funções do registo
comercial, criando responsabilidades
adicionais para as sociedades e seus
representantes.
Nº 12 - Novembro - 2006
O modelo clássico
O estatuto e poderes do presiden-
te do conselho de administração são
reforçados, passando este a dispor
de voto de qualidade sempre que o
número de membros do conselho de
administração seja par. Clarifica-se
a metodologia de eleição de admi-
nistradores por listas e sua realiza- assembleia geral, se os estatutos o internacionais de corporate gover- de um ROC para efeitos de revisão
ção entre accionistas minoritários e determinarem; - a designação de nance, de que já eram expressão, legal continua a ser indispensável
estabelece-se um regime da faltas, pessoa colectiva para o conselho de entre nós, as Recomendações e o apenas quando sejam ultrapassados
que se traduz no reforço do dever administração executivo; - a represen- Regulamento sobre o Governo das dois dos limites previstos no artigo
de diligência, do controlo accionista tação de um administrador por outro; Sociedades da CMVM, as adminis- 262º do CSC.
sobre a administração e do estatuto -a designação de administradores trações das sociedades emitentes Não obstante, cremos que a im-
dos administradores “executivos”. substitutos. Mantém-se a possibili- de valores mobiliários admitidos à portante alteração ocorrida no quadro
Mantém-se a possibilidade de a so- dade de a sociedade optar por ter um negociação em mercado regulamen- do dever de diligência exigível aos
ciedade optar por ter um adminis- administrador único, se o seu capital tado e as sociedades que, não sendo órgãos de governação de todas as
trador único, se o seu capital não não ultrapassar €200.000. Por outro totalmente dominadas por outra so- sociedades tenderá a estimular, pelo
ultrapassar €200.000. Regista-se lado, e à semelhança do modelo clás- ciedade, que adopte este modelo, menos aos mais avisados, a imple-
a possibilidade de segregação de sico, implementa-se a segregação de durante dois anos consecutivos, ul- mentação de estruturas de adminis-
funções de supervisão no interesse funções de supervisão no interesse trapassem dois dos seguintes limites: tração, mas também de fiscalização,
dos accionistas, a cargo do conselho dos accionistas, a cargo do conselho - total do balanço - €100.000.000; profissionais e conformes.
geral e de supervisão, das funções de geral e de supervisão, das funções de - total das vendas líquidas e outros
fiscalização e certificação a cargo de fiscalização e certificação, a cargo de proveitos - €150.000.000; e - núme- De facto, o novo artigo 64º do
um revisor oficial de contas. um revisor oficial de contas. ro de trabalhadores empregados em CSC consagra elementos objectivos
média durante o exercício - 150; de aferição do dever de diligência
O modelo dualista Reforço das normas de con- passam a estar sujeitas à dupla fis- dos órgãos sociais, de entre eles
Procura-se solucionar as dificul- teúdo permissivo. Flexibilizam-se calização de um conselho fiscal e de destacando-se “a disponibilidade,
dades que conduziram à sua pouca as estruturas de organização pos- um revisor oficial de contas ou uma a competência técnica e o conhe-
expressão prática aproximando-o do síveis e a possibilidade de adição de sociedade de revisores oficiais de cimento da actividade da socie-
modelo clássico, sobretudo quando comissões e estruturas organizativas contas que não seja membro daquele dade adequados às suas funções” e
este funciona com a comissão exe- supletivas, conquanto se mantenha a órgão. a menção à exigência de “dever de
cutiva no quadro de um conselho de proibição da combinação de elemen- cuidado” e a “elevados padrões de
administração alargado (“conselho tos típicos de cada modelo nos órgãos As sociedades por quotas. A re- diligência profissional…”, o que não
de administração executivo, con- de existência obrigatória. forma não consagrou quaisquer alte- deixará de ter reflexos, quer no que
selho geral e de supervisão e revi- rações ao modelo de gestão aplicável se refere à protecção dos interesses
sor oficial de contas”). Confere-se Consagração de requisitos ex- às sociedades por quotas. Estas con- dos credores em geral, quer no que
maior autonomia às partes, passando clusivos aplicáveis às sociedades tinuam em geral a poder ser incorpo- se refere à responsabilização dos
a ser possível também neste modelo: anónimas de dimensão relevante. radas e a existir apenas com um órgão membros dos órgãos societários com
- a eleição dos administradores pela Influenciada pelas melhores práticas obrigatório: a gerência. A designação funções executivas e de gestão.
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