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Pensar, Depressa e Devagar

Thinking, Fast and Slow (2011) devia ser o livro utilizado nas escolas para fazer a
introdução à Psicologia, com isto quero dizer que o livro é de tal forma fundamental na
compreensão da cognição humana que se torna obrigatório. O livro vai ao fundo daquilo
que somos, e porque vemos o mundo desta forma. O livro não pode transformar-nos, mas
pode deixar-nos muito mais conscientes daquilo que nos comanda. O livro é de tal forma
fundamental que vários livros, bestsellers sobre o comportamento humano, se têm baseado
nos estudos aqui apresentados - Fooled by Randomness: The Hidden Role of Chance in Life
and in the Markets (2001), Freakonomics: A Rogue Economist Explores the Hidden Side of
Everything (2005), Predictably Irrational: The Hidden Forces That Shape Our Decisions
(2008), The Drunkard's Walk: How Randomness Rules Our Lives (2009).

Daniel Kahneman ganhou o prémio nobel da Economia em 2002! É isso, um psicólogo


ganhou o nobel da economia. Durante mais de 30 anos Kahneman, e o seu colega Amos
Tversky que morreu em 1996 e que teria recebido o Nobel conjunto caso estivesse vivo em
2002, trabalharam questões fundamentais na chamada área da economia comportamental
("behavioral economics"). A sua maior preocupação foi procurar compreender o que
contribui para o enviesamento das decisões que as pessoas tomam, aquilo que alguns
catalogaram de "psicologia da estupidez". No fundo Kahneman e Tversky passaram
décadas a desmontar toda a nossa máquina cognitiva e exemplificam como muito daquilo
que utilizamos para nos garantir a sobrevivência num mundo inconstante e altamente
variável, nos conduz também à produção de erros, por vezes muito graves.
PARTE I - Dois Sistemas
À medida que ia lendo a primeira parte do livro, "Two Systems", parecia que estava ler uma
espécie de atlas de toda a ciência cognitiva com que tenho trabalhado na última década,
incluindo os avanços e contribuições da neurociência. Uma síntese poderosa e
belissimamente formulada sobre o funcionamento da nossa cognição. A conceptualização é
tão boa que consegue passar por cima de toda a problemática que vimos discutindo desde
Descartes a propósito da Razão e da Emoção. Kahneman, não perde tempo com essa
divisão, aceita os avanços da neurociência, e coloca tudo num único plano, não dando
espaço a bom e mau, preocupando-se, apenas e só, com a variação do tempo de resposta.
Kahneman define a nossa cognição como simplesmente alicerçada num sistema a duas
velocidades, o Sistema 1 e o Sistema 2. A inteligência desta conceptualização assenta no
modo como vai construir todo o livro, assumindo ambos os sistemas como personagens de
uma mesma história.
"System 1 operates automatically and quickly, with little or no effort and no sense of
voluntary control."
"System 2 allocates attention to the effortful mental activities that demand it, including
complex computations. The operations of System 2 are often associated with the subjective
experience of agency, choice, and concentration." Kahneman
O que acontece então nas nossas tomadas de decisão é que existe uma constante tentativa
do Sistema 1 de responder a tudo, porque é muito mais rápido, simplesmente intui. Este
apenas pára quando o que é pedido se torna complexo demais, e é obrigado a recorrer ao
Sistema 2. Ou seja, o Sistema 2 é digamos mais "preguiçoso", só entra em ação quando o
Sistema 1 não consegue dar conta do recado, para realizar processamento mais complexo.
As ilustrações criadas pelo New York Times e pelo Financial Times com a Lebre e a
Tartaruga dizem tudo sobre os Sistemas 1 e 2 (imagens abaixo). Deste modo o que acontece
é que muitas das decisões que tomamos são baseadas em análises intuitivas daquilo que nos
é apresentado. E esta intuição consegue funcionar muitíssimo bem a maior parte das vezes.
Quando atravessamos a rua, conseguimos rapidamente decidir qual é o momento certo para
atravessar, e se devemos correr ou podemos avançar calmamente. Quando se aproxima
alguém de nós, o Sistema 1 consegue rapidamente identificar a cara da pessoa e responder
quem é, e como devemos reagir. O que temos é então um sistema de cognição, Sistema 1,
que é muito rápido e automático, ou seja não temos de o ativar conscientemente, ele reage
com toda a informação emocional e estereotipada que temos.
Os Sistemas 1 e 2. Ilustração de David Plunkert (NYT)

Por outro lado o Sistema 2 é acionado de modo consciente para realizar uma decisão, para
ponderar os prós e contras, exige esforço da nossa parte, realiza cálculos de hipóteses e age
segundo lógicas aprendidas, não se baseia na intuição. O sistema 2 entra em acção com
esforço, quando somos obrigados a realizar decisões complexas que exigem ponderação
complicada, como cálculo matemático mental. As nossas pupilas são o reflexo exterior do
Sistema 2. As pupilas dilatam e encolhem consoante o cérebro está mais profundamente
activo, ou seja são um claro indicador da quantidade electricidade activa no nosso cérebro.
"System 2 is the only one that can follow rules, compare objects on several attributes, and
make deliberate choices between options. The automatic System 1 does not have these
capabilities. System 1 detects simple relations (“they are all alike,” “the son is much taller
than the father”) and excels at integrating information about one thing, but it does not deal
with multiple distinct topics at once." Kahneman
Depois de apresentados os dois sistemas, Kahneman vai passar toda a primeira parte do
livro a detalhar situações em que o Sistema 1 se sobrepõe ao Sistema 2 e nos leva a cometer
decisões erradas: esforço e atenção; controlador preguiçoso; máquina associativa;
facilitador cognitivo; normas, surpresas e causas. Algumas destas situações são
verdadeiramente preocupantes, e deveriam ser mais discutidas entre nós, assumidas como
uma realidade, para que pudéssemos compreender melhor como funcionamos no nosso dia-
a-dia, e como tomamos decisões. Resumo aqui apenas algumas destas:

Esforço e Atenção (irritação, açúcar e juízes)


O sistema 2 pode ocupar quase todo o nosso pensamento, mas nós não podemos deixar de
continuar a monitorar a nossa biologia e o mundo que nos rodeia. Neste sentido quando o
Sistema 2 está demasiado ocupado, é o Sistema 1 quem decide, e isso pode conduzir a
problemas. Por outro lado o Sistema 2 quando extensivamente utilizado provoca um
esgotamento dos recursos no cérebro, o que leva a cedência de decisões para o Sistema 1.
Estudos realizados mostram que quando estamos sob esforço cognitivo cedemos muito
mais facilmente à tentação.
"Imagine that you are asked to retain a list of seven digits for a minute or two. You are told
that remembering the digits is your top priority. While your attention is focused on the
digits, you are offered a choice between two desserts: a sinful chocolate cake and a
virtuous fruit salad. The evidence suggests that you would be more likely to select the
tempting chocolate cake when your mind is loaded with digits… People who are
cognitively busy are also more likely to make selfish choices, use sexist language, and make
superficial judgments in social situations." Kahneman
No caso do chocolate faz todo o sentido, porque outros estudos demonstraram que para
poder conseguir manter performance mental, a ingestão de glucose era fundamental para
manter o mesmo nível de açúcar no cérebro e assim conseguir manter o Sistema 2 ativo.
Um estudo apresentado por Kahneman é deveras preocupante, porque diz respeito à justiça
e aos homens que tomam decisões nos tribunais todos os dias. No estudo feito com juízes
que decidem sobre liberdade condicional, foi identificado que mais de 65% das decisões
afirmativas de liberdade condicional eram tomadas logo após as refeições, e que à medida
que o dia ia avançando as negativas iam aumentando. O cansaço vai-se apoderando do juiz,
e este vai recorrendo cada vez mais à intuição para tomar decisões.

Máquina Associativa, (dinheiro e o individualismo)


O nosso cérebro tem uma enorme capacidade para despoletar associações de ideias, várias
em simultâneo. Como tal quando nos dizem Dia, imediatamente pensamos em Noite, se
dizem Comer imediatamente pensamos em comer algo. Kahneman refere-se a este poder
associativo, como um efeito de priming, ou seja um efeito de impressão de ideias no nosso
cérebro, e diz que este efeito não acontece apenas com conceitos e palavras, mas pode
acontecer com acções e emoções. Num estudo pediram a um grupo de jovens para andar
durante um espaço de tempo a um ritmo inferior duas vezes ao seu normal, no fim da
experiência as palavras que mais lhes vinham à ideia eram: "esquecimento, velho e
solitário". Noutro estudo pessoas são levadas a acreditar que estão a testar auscultadores, e
é-lhes pedido para abanarem a cabeça na vertical, para cima e para baixo, indicando o gesto
"Sim". A outras é-lhes pedido que abanem para os lados, na horizontal, indicando o gesto
"Não". Os primeiros começam a concordar com aquilo que estão a ouvir nos auscultadores,
enquanto que os segundos acabam por maioritariamente discordar do que ouvem. Isto para
além de demonstração dos efeitos de priming, é mais uma prova da importância e do
impacto da nossa fisiologia e biologia sobre o nosso pensamento, sobre o nosso
discernimento do mundo.
“The world makes much less sense than you think. The coherence comes mostly from the
way your mind works.” Kahneman
Num experimento feito por Kathleen Vohs, ela demonstrou que quando imprimimos a ideia
de dinheiro (por palavras ou imagens) na cabeça de estudantes, estes mudam de atitude.
Passam a investir o dobro do tempo a tentar resolver um problema, e a ter menos vontade
de investir tempo a ajudar os colegas na resolução de problemas. Quando se sentam ao pé
dos outros estudantes, têm uma tendência para se sentar mais afastados uns dos outros que
os estudantes que não receberam qualquer priming de dinheiro. Assim como têm uma maior
preferência por estar sozinhos. Isto é tudo aquilo que as correntes do Individualismo
defendem, e forma toda a base do objectivismo defendido por Ayn Rand. Para fugir ao
extremo oposto do colectivismo russo, Rand extremou a sua ideia de sociedade, e acabou
por desenhar uma ideia totalmente assente num viés cognitivo. A ideia de um "Homo
Economicus", perfeitamente racional e baseado no interesse próprio apenas, tal como
definido por Richard Thaler and Cass Sunstein em Nudge: Improving Decisions About
Health, Wealth, and Happiness (2008).
"The general theme of these findings is that the idea of money primes individualism: a
reluctance to be involved with others, to depend on others, or to accept demands from
others… findings suggest that living in a culture that surrounds us with reminders of money
may shape our behavior and our attitudes in ways that we do not know about and of which
we may not be proud. Some cultures provide frequent reminders of respect, others
constantly remind their members of God, and some societies prime obedience by large
images of the Dear Leader. Can there be any doubt that the ubiquitous portraits of the
national leader in dictatorial societies not only convey the feeling that “Big Brother Is
Watching” but also lead to an actual reduction in spontaneous thought and independent
action?" Kahneman
Efeito de halo, (corrigindo exames)
É a tendência que temos para gostar ou desgostar tudo sobre uma pessoa - incluindo coisas
sobre as quais nada sabemos dessa pessoa. Para explicar este efeito Kahneman apresenta
um exemplo próprio brilhante e que dirá muito a quem é professor.
"Early in my career as a professor, I graded students’ essay exams in the conventional way.
I would pick up one test booklet at a time and read all that student’s essays in immediate
succession, grading them as I went. I would then compute the total and go on to the next
student. I eventually noticed that my evaluations of the essays in each booklet were
strikingly homogeneous. I began to suspect that my grading exhibited a halo effect, and
that the first question I scored had a disproportionate effect on the overall grade. The
mechanism was simple: if I had given a high score to the first essay, I gave the student the
benefit of the doubt whenever I encountered a vague or ambiguous statement later on. This
seemed reasonable. Surely a student who had done so well on the first essay would not
make a foolish mistake in the second one! But there was a serious problem with my way of
doing things. If a student had written two essays, one strong and one weak, I would end up
with different final grades depending on which essay I read first I had told the students that
the two essays had equal weight, but that was not true: the first one had a much greater
impact on the final grade than the second. This was unacceptable." Kahneman
Para acabar com este problema, Kahneman passou a corrigir os exames, questão a questão,
e não aluno a aluno, para evitar qualquer contágio de halo entre as perguntas. Apesar disso
refere, que os efeitos dessa decisão levaram a resultados que lhe custaram a aceitar. Porque
agora verificava discrepâncias grandes entre as respostas dos mesmos alunos, o que o
deixava com vontade de alterar algumas notas, porque se sentia desconfortável em termos
de coerência da avaliação. Mas diz que apesar disso, sabia que agora estava a ser mais
justo, já que a coerência que existia antes, não existia realmente mas estava a ser criada
artificialmente pelo seu cérebro.

A primeira parte do livro trabalha ainda - controlador preguiçoso; facilitador cognitivo;


normas, surpresas e causas - mas não se pode aqui resumir tudo. O livro é todo ele um
grande manual, que se deve ler, reler, consultar e voltar a consultar. Antes de terminar, esta
parte Kahneman faz um resumo das características que definem o nosso Sistema 1.
"Characteristics of System 1
. generates impressions, feelings, and inclinations; when endorsed by System 2 these
become beliefs, attitudes, and intentions
. operates automatically and quickly, with little or no effort, and no sense of voluntary
control
.can be programmed by System 2 to mobilize attention when a particular pattern is
detected (search)
. executes skilled responses and generates skilled intuitions, after adequate training
. creates a coherent pattern of activated ideas in associative memory
. links a sense of cognitive ease to illusions of truth, pleasant feelings, and reduced
vigilance
. distinguishes the surprising from the normal
. infers and invents causes and intentions
. neglects ambiguity and suppresses doubt
. is biased to believe and confirm
. exaggerates emotional consistency (halo effect)
. focuses on existing evidence and ignores absent evidence (WYSIATI)
. generates a limited set of basic assessments
. represents sets by norms and prototypes, does not integrate
. matches intensities across scales (e.g., size to loudness)
. computes more than intended (mental shotgun)
. sometimes substitutes an easier question for a difficult one (heuristics)
. is more sensitive to changes than to states (prospect theory)*
. overweights low probabilities*
. shows diminishing sensitivity to quantity (psychophysics)*
. responds more strongly to losses than to gains (loss aversion)
. frames decision problems narrowly, in isolation from one another" Kahneman

PARTE II e III - Definição de Intuição e a Previsão do Futuro


Na segunda parte Kahneman continuará a trabalhar as questões dos desvios de cognição,
indo ao âmago dos métodos que utilizamos para raciocinar, ou sejas as heurísticas que
utilizamos, tais como - Lei dos Números Pequenos; Âncoras, Disponibilidade, Risco,
Padrões estatísticos, Regressão à média. Depois na terceira parte entra no campo da
Ultraconfiança, e apresenta os problemas do excesso de confiança na análise apresentando
elementos como - ilusão de compreensão ou a ilusão de validade que conduzem a um dos
tópicos mais interessantes de todo o livro a Intuição dos Especialistas. O capítulo começa
com uma afirmação controversa, mas com a qual me identifico bastante,
"Professional controversies bring out the worst in academics. Scientific journals
occasionally publish exchanges, often beginning with someone’s critique of another’s
research, followed by a reply and a rejoinder. I have always thought that these exchanges
are a waste of time. Especially when the original critique is sharply worded, the reply and
the rejoinder are often exercises in what I have called sarcasm for beginners and advanced
sarcasm. The replies rarely concede anything to a biting critique, and it is almost unheard
of for a rejoinder to admit that the original critique was misguided or erroneous in any
way. On a few occasions I have responded to criticisms that I thought were grossly
misleading, because a failure to respond can be interpreted as conceding error, but I have
never found the hostile exchanges instructive." Kahneman
A discussão segue depois para a análise do exemplo dado por Gladwell em Blink, dos
especialistas em arte que percepcionavam que a obra em análise pelo museu era falsa, só
não sabiam explicar porquê. Ou seja, Gladwell apresenta o caso como sendo um dos
exemplos do poder da intuição dos especialistas. Mas Kahneman não crê nessa explicação,
diz-nos que na verdade se os especialistas tivessem realizado um verdadeiro trabalho de
inquérito teriam descoberto porque era falsa. Kahneman vai explicar a seguir que a Intuição
não é mais do que o Reconhecimento de algo que já se fez ou encontrou antes, citando a
definição de intuição dada por Herbert Simon,
“The situation has provided a cue; this cue has given the expert access to information
stored in memory, and the information provides the answer. Intuition is nothing more
and nothing less than recognition.” Kahneman
Isto responde em parte ao facto pelo qual muitas das previsões futuristas de especialistas
não funcionam. Kahneman apresenta vários estudos que demonstram preto no branco que
ter utilizado grandes especialistas (corretores de bolsa, analistas políticos, etc.) ou um
conjunto de macacos para tomar decisões teria tido o mesmo resultado, o estudo que mais
me impressionou foi exactamente o dos correctores da bolsa. Num estudo feito pelo próprio
a pedido de uma empresa de Wall Street para procurar definir um melhor sistema de
compensação pelas competências, Kahneman ficou ele próprio surpreendido, porque não
encontrou qualquer relação entre as competências dos correctores de bolsa e os seus
resultados, como ele diz: "The results resembled what you would expect from a dice-rolling
contest, not a game of skill". A razão para isto não está verdadeiramente na falta de
competências dos correctores, a razão para isto está no objecto em análise, porque o mundo
é muito mais difícil e variável do que queremos acreditar. Kahneman tenta então definir as
actividades nas quais faz sentido questionar especialistas. Ou seja, é apenas expectável
encontrar argumentos sólidos e leituras relevantes feitas por especialistas sobre o futuro
quando estas dizem respeito a:
"- an environment that is sufficiently regular to be predictable"
"- an opportunity to learn these regularities through prolonged practice" Kahneman
Quando ambas as condições existem, então a intuição funcionará com todo o poder das
competências. O xadrez é o exemplo de um ambiente regular que permite ser treinado
através da prática prolongada das 10 mil horas de mestria. O mesmo se pode dizer dos
Médicos ou Bombeiros quando encontram sistema complexos mas ordenados. O que
acontece nestas situações é que "o Sistema 1 aprendeu a utilizar os sinais para guiar as suas
acções, mesmo quando o Sistema 2 não aprendeu a nomear os sinais ou as acções".
Ilustração de James Ferguson (FT)

Por outro lado os correctores da bolsa ou os cientistas políticos que fazem previsões de
longo-prazo trabalham num ambiente de validade zero. No fundo os seus falhanços são
apenas um reflexo da total imprevisibilidade dos eventos que eles estão a tentar prever.
Leonard Mlodinow escreveu todo um livro sobre as questões da aleatoriedade da vida a
propósito destes estudos, The Drunkard's Walk: How Randomness Rules Our Lives (2009).
Mas um dos exemplos mais interessantes que Kahneman nos dá é da análise da história do
século XX.
"The idea that large historical events are determined by luck is profoundly shocking,
although it is demonstrably true. It is hard to think of the history of the twentieth century,
including its large social movements, without bringing in the role of Hitler, Stalin, and Mao
Zedong. But there was a moment in time, just before an egg was fertilized, when there was
a fifty-fifty chance that the embryo that became Hitler could have been a female.
Compounding the three events, there was a probability of one-eighth of a twentieth century
without any of the three great villains and it is impossible to argue that history would have
been roughly the same in their absence. The fertilization of these three eggs had
momentous consequences, and it makes a joke of the idea that long-term developments are
predictable." Kahneman
PARTE IV - "Prospect Theory"
Na quarta parte do livro Kahneman dedica-se a apresentar o seu trabalho no campo das
Escolhas, e é aqui que apresenta a sua grande teoria, responsável pelo Nobel recebido em
2002 - Prospect Theory. Amos e Kahneman descobriram uma falha nas teorias económicas,
que previam os comportamentos das pessoas com base em lógicas racionais quantificáveis.
Os economistas acreditavam que as pessoas procuravam sempre maximizar os seus ganhos
- “maximize utility" - mas isso verificou-se não ser verdade, por causa de falhas ao nível
cognitivo, como por exemplo a Aversão à Perda. Quantos de nós são capazes de agir
racionalmente e optar por vender a nossa casa por menos dinheiro do que nos custou? A
teoria fica demonstrada no exemplo abaixo:
- Se forçados a escolher entre receber garantidamente 500€ ou ter 50% de chance de
ganhar 1.000€, a maioria de nós irá optar pela coisa certa. Mas se a escolha for entre
perder garantidamente 500€, ou ter 50% de chance de perder 1.000€, a maioria de nós
preferirá jogar -

PARTE V
A quinta e última parte é dedicada aos seus mais recentes trabalhos no campo da análise da
felicidade e bem estar. Deste capítulo o que mais me interessou foram as suas análises e
comparações entre o processo de storytelling e o modo como criamos e guardamos
memórias das nossas experiências. Neste processo o autor definiu um novo patamar
cognitivo, a que chamou os Dois Eus ("Two Selves"), que não estão relacionados com os
Sistemas 1 e 2, mas antes com o Eu que Experiencia, e o Eu que Recorda. Nos seus estudos
demonstrou que a nossa memória segue uma lógica de "Peak-end rule", em que apenas
preserva o pico da experiência e o modo como acaba, negligenciando a duração da
experiência. Já falei disto num artigo na Eurogamer - A Memória da Experiência. Deixo um
excerto desse artigo,
"Aprendemos assim que existe um conflito entre o Eu que experimenta, e o Eu que
relembra. Somos seres feitos de histórias, e a nossa mente constrói continuamente histórias
sobre as nossas experiências. Estas descobertas vêm de algum modo lançar mais alguma
luz sobre as razões pelas quais estruturamos as narrativas em modelos que possuem um
início, um meio, e um fim. O que interessa de cada história que nos contam, é o modo
como começa pelo seu contexto, depois o seu momento alto, o clímax, e finalmente o modo
como acaba. Assim não só explicamos a necessidade de linearidade, seguir estes três
momentos, mas explicamos ainda melhor a obsessão que temos pelos finais felizes nas
histórias." Zagalo, in Eurogamer.pt

O livro é grande por isso a quantidade de dados, estudos, experimentos e casos é enorme. A
quantidade de teorização apresentada para suportar cada um destes é ainda maior. Como
dizia no início isto deveria ser um livro obrigatório em qualquer introdução ao mundo da
Psicologia. É um dos livros maiores da área para leigos, capaz de nos ajudar a ir além do
mero senso comum, do expectável, das crenças. É já um clássico, e um dos grandes livros
obrigatórios.

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