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INTRODUGAO Uma histéria das histérias? que Uma historia das histérias ou, mais explicitamente, por que ndo “A histéria da historia”? A historia, mesmo se a tomarmos em seu sen- mais amplo como um tinico tipo de atividade, é, nao obstante, muito cada. Pragas, invasGes, migracSes; fundacées, crescimentos e de- imentos de arranjos constitucionais e sistemas politicos; guerras, ¢ civis, revolugOes, mudangas na religido e na cultura, graduais iptas, formacio de varios tipos de identidades coletivas — confes- nacionais, ideolégicas —, a inevitavel historia da percepgao dos mentos de Deus com o homem: tudo isso, e muito mais, é corre- considerado histéria. Algumas histdrias sao praticamente apenas as; outras sdo quase andlises puras, atemporais — essencialmente, entos de dados estruturais ou culturais. A historia se aproxima de géneros ¢ linhas de estudo, desde epopeias e mitos de ori- Bate ciéncias sociais diversas, passando também por biografias, dramas, cas politicas € morais, etnografias, romances, inquéritos e investiga- Es judiciais. Pelo que sabemos, Herddoto foi o primeiro a usar o termo (investigagao) para aquilo a que chamamos histéria, Para Homero, a ‘Uo ror a rato um histor era alguém que fazia um julgamento baseado nos fatos resultan= tes de uma investigasios portanto, a ligacio entre historia e investigagio & ‘muito antiga ‘Como essa variedade poderia se converter em uma tinica narrativa his- torica, “A histéria da historia"? Ha uma resposta que, por ser em certo gratt ‘necesséria para uma narrativa, se torna ébvia: estabelecendo um término, ‘um ponto final a0 qual os episédios do enredo se subordinam e para o qual contribuem, tornando-se assim momentos em uma progressio. No caso da historia da escrita historica — um género que s6 passou a existir no século XX —, foi inevitavel, dados o periodo e sua cultura historiografica, que isso acontecesse mais comum ¢ facilmente se colocando como ponto final o estado presente do tema (ou aquilo que se supunha sé-lo). No inicio do século XX, esse estado presente era caracterizada — de varias formas, mas com razodvel nivel de consenso — como histéria pura ou “cientifica’, ou (tacitamente) como histéria “profissional’, todas talvez identificadas com a “ideia de histéria” ou com o estudo do passado “por si sé”. A historia pro- Gssional, con particular era associada explicita ou simplesmente & pesquisa sistematica de arguivos e ao exame criti sonsiderado elemento constitutivo de toda e qualquer historia séria, Den- tro desse consenso geral poderia haver divergéncias de opiniao, como por exemplo a discussao entre J. B. Bury eG. M. Trevelyan sobre se a historia seria uma “ciéncia” ou uma “arte” e sobre até que ponto um historiador em busca de sua “ciéncia” deveria se preocupar em estabelecer leis (andtema para R, G. Collingwood em seu clissico livro A ideia de histéria, 1946). ‘Mas apesar dessas diferengas havia consenso suficiente para fornecer as bases para uma grande e seleta narrativa da historia da historiografia, na qual os historiadores eram destacados e avaliados por seus papéis, necessa- riamente parciais, mas tteis (ou talvez relapsos), na progressio geral para as opinides do historiador do século XX e sua pritica consolidada, Nesse sentido foi possivel escrever “A histéria da histéria’ ‘Nao quero ser compreendido como alguém que simplesmente deni- {gre as premissas subjacentes a essa possbilidade, como se falasse de um episédio cultural pasado. As questbes centrais — sobretudo a da hist6- ria como relato da verdade e, ao menos idealmente, imparcial — jé eram muito antigas e, mesmo modificadas, ainda estdo presentes — para aqueles entre nds que consideram importante a diferenca entre, digamos, histéria a Optica Lerddoto de un passo importante wo distinglt, Histirias da obra de ‘embora pio tenha {um espectro do que um valor absoluto — obviamente a verdade Wa mais para Polibio do que para Tito Livio —, mas alguém que fica Jumente (e talvea intencionalmente) na extremidade negativa dessa ‘como Godofredo de Monmouth (no cabe aqui discutir 0 caso indi ), conta mais como um parodista ou imitador da historia, ilo isso pode ser verdade, mas também é verdade que estabelecer rande narrativa da hist6ria da historiografia adotando como ponto- Jum consenso profissional do século XX foi uma estratégia pobre Iejonista que eliminou ou colocou em segundo plano muitas perguntas jessantes e potencialmente esclarecedoras sobre as abordagens & escrita brica, e mesmo sobre o proprio passado, o que era prética corrente em ius ¢pocas. Por exemplo, a imensa e fascinante questio dos motivos in- ayelmente diversos para se escrever histéria. O que as pessoas no pas- Jp achavam interessante no seu passado e por qué? A quais “passados” feram levadas a direcionar a atengao e 0 que determinava a maneira que ‘olhiam para apresentar esses "passados"? Como ou por que isso mudava Jongo do tempo ou como respostas diferentes a essas perguntas em um inico periodo refletem e expressam diferencas dentro da cultura? Por que jergitam novos géneros de escrita historica? Decerto nao apenas ou inva- lavelmente como resultado de certa curiosidade ‘cientifica” preexistente, smbora esse tenha sido algumas vezes um dos fatores. Este liveo tem por objetivo fornecer respostas a essas perguntas. Nio ‘gue elas tenham sido totalmente ignoradas, pois historiadores da histo- Fiografia jé se ocuparam em dividir seu tema de estudo tanto em termos dle género quanto de método. Mas ha um equilibrio a ser corrigido e um Compromisso a ser firmado. Tentei me concentrar aqui na questo dos pas- sados que as pessoas escolheram para si, € por qué, e também em como clas pesquisaram e apresentaram esses passados. Dificilmente isso pare- a ‘Wir nr ay Hanis - ceri revolucionirio, mas, como qualquer estratégia, essa também envolve sacrificios. Em especial, ao agrupar historiadores de acordo com o tema de estuco muitas vezes descuidei da rigidez cronolégica — uma ligdo que 6s historiadores aprenderam quando se distanciaram dos anais. Assim, 08 historiadores “alexandrinos’, por exemplo, so tratados aqui como parte da historia dos embates entre 03 gregos e o império persa, embora 03 auto- res cujas obras chegaram aos nossos dias tenham escrito muito mais tarde, durante o império romano, Ou, talvez de maneira ainda mais controverti- da, as consideragdes acerca da Biblia e sua influéncia na historiografia s6 foram feitas a partir do impacto no mundo pagio, nos primeiros séculos da Cristandade, e no, como exigiria a cronologia, entre os historiadores egipcios e babildnios e Herddoto. Portanto, as intencdes de Uma histéria das histérias so reconhecer a pluralidade das “historias” e os interesses nelas contidas e rejeitar a ambi- io de construir uma tinica grande narrativa tendo o presente como pon- to-final, o que vejo nao apenas como inadmissivelmente prescritivo, mas também como redutor das possibilidades de exploracdo, Hé, no entanto, certas omissdes sugeridas nesse titulo que propositalmente fogem da ideia de abrangéncia, Nao se tentou tratar da historiografia fora da tradigao cul- tural europeia (para a qual Egito e Babil6nia contribuiram), em particular (8 casos drabe e chinés, Tais exclusdes se devern meramente a limitagdes de espago, tempo e conhecimento do autor. Outra omissio talvez precise de uma explicagio melhor, por ser, 20 menos em certa medida, arbitréria e porque a linha de demarcacio é inconstante. Embora 0 termo hist6rias j& sejaem si generoso, a forma como eu o adotei exclui biografias e memérias. Em um livro que corre o isco de tentar incluir coisas demais, julguei que essa era uma medida necesséria, ainda que os critérios nem sempre sejam ficeis de se aplicar: memérias so muito préximas da hist6ria testemunhal, as obras do tipo “Vida e época” sio um género misto. ‘Uma palavra ainda precisa ser dita a respeito do tratamento de histérias individuais, que naturalmente variam muito em densidade e complexida- de, assim como em acessibilidade ao leitor moderno. & razodvel pressupor ‘que a maior parte dos leitores deste livro nao tera lido muitas ou a maioria das obras de histéria aqui discutidas; na verdade, essa é uma das justifica- tivas para este livro, Assim, um dos principais desafios é tentar comparti- har a sensagdo da experiéncia de ler essas histérias, bem como aquilo que Cini sir das histiviaa? i Mais proveltoso nelas, Para multos historiadores, talvez a maioria, a ‘em sido uma arte lenta e vagarosa, com frequéncia exigindo mui- jumes. 4 historia no & exclusivamente dedicada & narrativa, mas a ia tem sido ha muito tempo o seu niicleo. Portanto, apenas transmi- lenges e opinides do historiador nao ¢ suficiente: é preciso tentar iitir nao somente a estrutura da narrativa, mas também sua textura quulidades. Nesse ponto, historias — que muitas vezes incorporam liumnentos de dados, investigacdes, argumentacées e analises — tam- ‘e assemelham a romances. Assim, tentei mostrar aqui, quando me feet adequado, como uma densa narrativa histérica pode ser um pro- Weelético e multifacetado, Ao tentar destacar as qualidades especiais das Wrlas, nao apenas lancei mao de uma grande quantidade de citacdes, is tentei, de forma simpatica e levando em conta as épocas em que foram jetitas, transmitir as qualidades literdrias que formam a maior parte da wriéncia da leitura dessas obras. Porém, essa apreciagio deve ser vis- Wi dentro de um contexto mais amplo e talvez como contribuicdo para 0 ‘Melhor entendimento dese contexto: as abjetivas de bistoriadores num deter rminado periodo, as convencdes que deram forma a seus escritos ea Imancira como essas convengSes mudaram. Também abordei as relacies. Hos historiadores comus Fontes que tornaram seu trabalho possivel ecm, Parte o condicionaram —e tratei ainda, de forma breve, da questo da fide- Mignidade particular do esctitor, Conhecer esse aspecto & em parte, com- Preender os historiadores e consequentemente compreender a experincia e lé-los; a histéria nunca pode ser, por defini¢io, um empreendimento puramente literério. Nao fiz, entretanto, nenhuma tentativa no sentido de destacar determinados erros — em todo caso, falta-me o conhecimento necessirio para tanto. E isso 0 que fazem os historiadores modernos, e eles Jo precisam da minha ajuda. De qualquer forma, uma lista desse tipo se- ria insuportavelmente tediosa de se ler. A historiografia em si nlo € apenas um género (amplo), que exibe con- Uduidadese enascimenios bem como aliens eos deaiengia actin bhém parte da cultura ocidental como um todo — asvezes uma i influente ¢ até mesmo central —, assim como 6 obviamente um recepticu- lo para as questoes dessa cultura, e sofre influéncia de suas Nutuacbes, AS Sociedades europelas, em épocas diferentes e com énfases variadas, con- feriram uma importancia imensa as versbes de seus passados e as nocdes Ww Uni TOF as HOTA de desenvolvimento historico, Essas sociedades também se apossaram de escritos hist6ricos para seus objetivos lendarios, heroicos, trigicos e patéti- cos, e de temas histéricos para a poesia, a dramaturgia ea pintura (no sécu- Jo XVII, a pintura *histérica” era considerada o género pictérico méximo), para retdrica exemplar, inspiradora e ameacadora. [deias de historia ede aspectos do passado se interligaram com ideias de religiao, moral e politica — e em parte as constitu‘ram. Foram ideias que personificaram a autori- dade e forneceram meios para questiond-la, Elas forneceram, talver.acima de tudo, focos de alianca, autoidentificagao e “meméria” para coletividades &tnicas, nacionais,religiosas, politicas, culturaise socias, e assim ajudaram 1 formi-las, Versdes do passado foram sugeridas — por vezes de maneira indireta, mas frequentemente com visivel angiistia — como diagnésticos de males ou apuros contempordneos. Estamos acostumados a pensar a histéria intelectual da Europa em ter- mos de hist6ia da filosofia, da ciéncia e da religido, da arte, da literatura e das ideias de ordem sociale autoridade politica. Mas a historia das ideias a respeito do pasado, conforme expressa nos escritos histdricos, e como 0 presente se coloca em relacdo a isso também faz parte dessa historia; este livro pretende contribuir para essa compreensio, Dentre seus principais Componentes estio as concepgdes da distingdo da eivilizagdo europeia, em contraste principalmente com os impérios da Asia; as nogdes de virtude re- publicana, personificadas na Roma antiga, supostamente corrompida pela conquista ¢ luxtiria; e 0 mito da Roma Eterna como senhora do mundo, que se transmutou na ideia de um império cristo. A Biblia contribuiu com conceitos de transgressio coletiva, castigo e redengio. A partir do século XVTencontramos a nogio, em grande parte derivada do historiador roma- 1no Ticito, de uma antiga liberdade dos povos “germanicos” e da existén- cia de “antigas constituigGes’, com autoridade extensiva ao presente, que (5 paises europeus supostamente creditam & sua invasio pelos birbaros “goticos”. A escrita historica do século XVIII incorporou os conceitos de progresso da “sociedade civil, principalmente em associagio com 0 co- mércio, e de fim da “anarquia feudal” (ou, em termos marxistas, a subs- tituigdo da nobreza feudal pela hegemonia burguesa). © século XIX foi a grande era da preocupagio com a identidade nacional, a0 lado das ideias de libertacao nacional e de criacdo do Estado-nagdo como a forma politica normal. Isso se transformou na aspiragio moderna de dar voz a minorias mi ara as srs " das, Bin outris palavens 6 bistdeia, para citar pens as iafludocias wepublicana, cristi, constitucionalista, sociolégi- Dporlanto um esforco consciente para nao tratar a histdria da his- fia isoladamente, mas sim para estar ciente do seu lugar na cultu- ampla, das influéncias culturais e politicas sofridas, e das formas su historia abrigou, transformou e transmitiu essas influéncias, lira das historias pode e deve ser mais do que um registro de con- vase fraquezas de historiadores e das escolase tradigdes as quais in; ela propria é um empreendimento histérico, uma das formas is tentamos compreender o passado.

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