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Ser ou não ser? O que faz a diferença?

Prof. PhD. Carlos Velázquez


De dois jornais de importante circulação, embora de origens e tendências diferenciadas,
reproduzo aproximadamente as frases seguintes. Uma declara: “(…) centenas de inocentes que os
terroristas islâmicos tem vitimizado na Europa (...)”; enquanto a outra denuncia: “(…) dezenas de
miliares de civis assassinados no oriente médio, isto é o verdadeiro terrorismo (...)”. Para além das
implicações do objeto abordado, chama minha atenção o radicalismo com que ambas matérias se
contrapõem. O que pensar dessa oposição? Será que um dos jornalistas está mentindo? A técnica de
coleita de dados de um é melhor que a do outro? Um deles tem maior capacidade interpretativa?
Enfim, se quer saber minha opinião, acho que nenhuma dessas questões é pertinente. Ambos
jornalistas são excelentes e escrevem para jornais respeitáveis. O que origina a aparente oposição é
uma constatação que, desde meados do século passado, a ciência se esforça por superar. Sim, isso
mesmo, a ciência: apurar dados, interpretá-los e publicá-los, mesmo que seja num meio de difusão
massiva —e talvez, sobretudo por isso— gera conhecimento, e conhecimento é sinônimo de
ciência.
Como disse, a meados do século passado, gente do calibre de Albert Enstein, Carl Popper, Carl
Gustav Jung ou Thomas Kuhn, por citar alguns exemplos, iniciaram uma crítica à pretensa
objetividade da ciência moderna; não que a ciência não devesse ser objetiva, o que esses pensadores
apontavam era (e ainda é) a incapacidade, inerente ao ser humano, de ser, por princípio, objetivo.
Como assim? Veja só nossos jornalistas: Um diz que os terroristas são os orientais e o outro sugere
que são os ocidentais. O que fica claro, é que cada um deles fala desde uma perspectiva particular
ou, como diz a psicologia, cada um tem sua construção subjetiva sobre o assunto. A questão é que
ninguém pode negar que o assassínio de ocidentais inocentes é terrorismo; como não podemos
deixar de reconhecer que, se o parâmetro consiste no assassínio de inocentes, muitas intervenções
ocidentais no oriente também são terroristas. Por outras palavras, se queremos ter uma ideia mais
próxima da integralidade do objeto, é absolutamente necessário que escutemos o maior número de
perspectivas possível. Um nome bonito para isso é intersubjetividade.
Mas não se iluda, não é tão simples assim. E, por estranho que pareça, o principal problema para
a aplicação desta postura científica talvez seja o ego do cientista, pois, para início de contas, teria de
aceitar que, apesar de toda sua capacidade e brilhantismo, ele sozinho não vai descobrir tudo. Aliás,
é pior que isso, nem sequer a humanidade junta teria capacidade para saber tudo. Dito ao contrário,
o cientista teria que partir da convicção de que, na melhor das hipóteses, conseguirá estruturar de
forma ampla, articulada e flexível sua visão subjetiva sobre o objeto de investigação. Pode parecer
pouco mas, se o pesquisador (e entenda-se por pesquisador todo sujeito à procura de qualquer tipo
de saber) é capaz de adotar essa postura humilde, ele terá melhor disposição de confrontar seus
pontos de vista com os de outros pesquisadores de sua área e, incluso, de outras áreas, o que só pode
ser muito enriquecedor. Infelizmente, topamos aqui com outro assunto cabeludo, e é que,
justamente por causa de posturas egoicas (acho), parece que a sociedade moderna esqueceu-se de
que as diversas áreas que constituem sua ciência correspondem a recortes de fenômenos complexos,
feitos com intenção de facilitar estudos minuciosos em favor de uma única perspectiva. O que quero
dizer é que o mundo real não é dividido em áreas e que, se um estudo especializado nos ocupa ao
ponto de impedir-nos outras visões e competências, obviamente esse estudo não nos prepara para a
vida.
Diante de constatações como estas, pesquisadores contemporâneos esforçam-se por mudar nossas
tradições científicas modernas. A guisa de exemplo poderia citar a Teoria da Complexidade,
encabeçada por Edgar Morin, o Pensamento Sistêmico de Fritjof Capra, o Paradigma Analítico
Junguiano ou os Estudos Culturais, a partir de pensadores como Raymond Williams, Richard
Hoggart e Stuart Hall. Basicamente, o que esses movimentos professam é o abandono da pretensão
de objetividade e exaustividade do pesquisador, o confronto intersubjetivo de seus achados e, sobre
tudo, a abordagem transdisciplinar do objeto, a fim de torná-lo, de fato, útil e responsável em sua
aplicação à vida real.
A “parada”, como dizem meus alunos, é que isto implica fortemente a reformulação de nossas
também tradicionais formas de estudo, pois fica claro que o assunto não é entupir os estudantes com
técnicas especializadas na perspectiva única de garantir a progressividade rítmica de produções
igualmente especializadas. Obviamente tampouco se trata de repasse de informações e protocolos
para perenizar lógicas vigentes; sobre tudo não quando tanto nos ufanamos de que, na era da
informação, toda e qualquer informação é facilmente acessível. Acredite professor, o que diferencia-
o do aluno não é a informação que você retêm e, acredite estudante, muita informação não te iguala
ao professor. Como dizia, o que faz a diferença é a capacidade de gerenciar e articular a informação
precisa, na situação adequada. Ora, se o mundo está em constante mudança, é evidente que o que
um bom profissional, de qualquer área, deve desenvolver, acima de tudo, é sua capacidade de
adaptar-se a mutações reais e, para nossa infelicidade, essas mudanças não reconhecem recortes
epistemológicos nem se enquadram em padrões absolutamente previsíveis.
Apreender técnicas é muito importante, pois elas oferecem a possibilidade do embate concreto
com o real, a famosa “mão na massa”. E é sabido e aceito que a experiência concreta é
indispensável enquanto suporte de toda atividade intelectual. No entanto, como disse há pouco, o
que faz a diferença é a gestão articulatória da informação, e isso é pensamento crítico. Você tem
razão se já está antecipando que esse lance do pensamento crítico tampouco é tão simples assim;
talvez estejamos falando da mais sofisticada conquista da espécie humana. A questão é que o
pensamento, como qualquer outra função, precisa de treino para desenvolver-se e fortalecer-se. Para
início de contas, o pensamento trabalha com dados abstratos e, para tanto, precisa apreender a
distinguir seu material. Em palavras de gente, isto significa que o pensamento precisa apreender a
teorizar. Mas não basta o sujeito ter suas próprias teorias sobre tudo, lembre que o ser humano tende
a fazer construções subjetivas, é necessário conversar com outras subjetividades, sobretudo se elas
também têm teorias importantes e, já que nem sempre isso é possível presencialmente, um jeito
eficaz é ler o que essas pessoas escreveram.
Uma vez que o material do pensamento é abundante e nutridor podemos, de fato, começar a gerir
as informações e isto implica movimentos, recolocações, combinações e comparações. Em suma, as
imagens mentais que você descriminou precisam ser movimentadas, colocadas em ação. De forma
esquemática isto pode ser apresentado assim: imagens + ação = imaginação. Pois é, você entendeu.
Além de refletir sobre o que fazemos e conhecer outras teorias é importantíssimo fortalecer a
imaginação, só que, com cautela. A imaginação sem o constante confronto e ajuste com situações
reais pode levar-nos ao que os doutores da mente chamam de esquizofrenia, se não, de que forma
você explicaria a convicção de alguns cientistas de que o consumo indiscriminado e progressivo
pode ser sustentável?! Tome isto a guisa de exemplo.
O que fazer? Bom, talvez a melhor notícia que tenho a lhe dar é que tudo isto depende
decisivamente de cada indivíduo. Assim, agora que você entendeu o processo, pode aprender muitas
técnicas e refletir sobre elas, ler muito, comentar as leituras e procurar apresentações sistematizadas
de acesso a grandes teorias, mesmo que, em aparência, elas não tenham aplicação prática imediata,
você e eu sabemos que está fortalecendo o pensamento. Por outro lado, literatura fantástica, poesia,
filmes, teatro, dança, música, esportes, artes visuais, etc., são ótimas formas de treinar a
imaginação, principalmente se você participa e não apenas assiste, e à condição de que o artista, no
caso de ser espectador, não esteja lhe convidando, desesperadamente, a envolver-se com suas
próprias patologias.
É claro que certas disponibilidades institucionais podem facilitar nossas vidas nesse percurso
científico. E a esse respeito tenho uma boa dica: fique atento pois, a partir do curso de jornalismo,
mas em extensão transdisciplinar, muito em breve você poderá escutar alguma coisa sobre Estudos
Culturais.

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