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2.1.
Introdução
A importância do ensino
secundário pode justificar-se “ Enquanto processo educativo, a educação para a
cidadania visa contribuir para a formação de pessoas
com recurso a uma diversidade responsáveis, autónomas, solidárias, que conhecem e
de argumentos, mas talvez o exercem os seus direitos e deveres em diálogo e no respeito
principal resida no facto de pelos outros, com espírito democrático, pluralista, crítico e
criativo. A escola constitui um importante contexto para a
constituir uma etapa fundamental aprendizagem e o exercício da cidadania e nela se refletem
na transição de alunas e alunos preocupações transversais à sociedade, que envolvem
para o início da vida adulta, diferentes dimensões da educação para a cidadania. ”
o que acarreta desafios e Fonte: Educação para a Cidadania - Linhas Orientadoras,
disponível em: http://www.dge.mec.pt/educacao-para-
responsabilidades. cidadania-linhas-orientadoras-0
D
urante esta última fase da
escolaridade obrigatória em cânones da ciência, e que a escola ensina,
Portugal, na sequência da tem, por isso, não apenas a função de
publicação da Lei n.º 85/2009, enriquecimento de saberes em quem aprende,
de 27 de agosto, é-lhes traçado um cenário mas também a tarefa de desenvolvimento da
ainda mais complexo de um mundo de que reflexividade dos e das adolescentes, neste
eles e elas fazem parte, trazendo-se para a caso alunas e alunos do ensino secundário,
discussão assuntos que requerem um grau ampliando as lentes com que olham à
de sofisticação epistemológica crescente, sua volta, com que perscrutam as suas
que se espera que elas e eles acompanhem, experiências e identificam nelas e em redor
e também lhes é exigido que desenvolvam preconceitos, desigualdades e diferentes
competências de gestão do conhecimento formas de opressão e de dominação.
e de tomada de decisão. Ao mesmo tempo,
pede-se-lhes que façam escolhas vocacionais Pondo de parte qualquer visão tradicional
ligadas, ou não, ao prosseguimento de da escola, enquanto mero veículo de
estudos pós-secundários, que terão conhecimentos dominantes e estáticos,
necessariamente impacto nas respetivas inscritos numa matriz curricular que teria sido
trajetórias individuais futuras. pensada para um modelo de aluno abstrato,
e dos e das discentes, como meros/as
O conhecimento historicamente construído recetores/as de informação, que aprenderiam
e em constante atualização, alicerçado nos numa lógica de ensino transmissivo, importa
por: Cristina C. Vieira (coord.), Maria Helena Loureiro e Lina Coelho 063
GUIÃO DE EDUCAÇÃO conhecimento, Género e cidadania no Ensino Secundário
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ENQUADRAMENTO TEÓRICO l Género e Currículo
1 A taxa de ‘abandono precoce de educação e formação’ (nova designação adotada, para substituir a expressão ‘abandono
escolar precoce’) refere-se à percentagem de indivíduos dos 18 anos aos 24 anos sem o ensino secundário completo, que não
estão a frequentar nem ofertas da educação nem outras ofertas equivalentes de formação qualificantes. Embora os números tenham
vindo a diminuir desde 2006, Portugal era, em 2014, o terceiro país da União Europeia com maior taxa de abandono precoce de
educação e formação para os rapazes (20.7%) ficando em quarto lugar neste indicador no caso das raparigas (14.1%), segundo
informações do Eurostat, disponíveis em http://ec.europa.eu/eurostat/statistics-explained/index.php/Early_leavers_from_educa-
tion_and_training#Analysis_by_sex (consultado a 17 de maio de 2015).
2 Dados disponíveis em: http://www.pordata.pt/Portugal/Taxa+de+abandono+precoce+de+educa%C3%A7%C3%A3o+e+form
a%C3%A7%C3%A3o+total+e+por+sexo-433 (consultado a 18 de março de 2017).
3 Para uma leitura mais precisa dos indicadores e para uma visão comparativa entre os países da OCDE, consultar o Relatório
Education at Glance 2015 – Interim Report. Update of employment and educational attainments, segundo o qual em algumas
nações, incluindo Portugal, a diferença entre homens e mulheres jovens com baixas qualificações pós-secundárias é superior a
quatro pontos percentuais, com prejuízo para o sexo masculino. Disponível em: http://www.oecd.org/edu/EAG-Interim-report.
pdf. Ver também o Relatório relativo a 2016, disponível em: http://www.oecd.org/edu/education-at-a-glance-19991487.htm
(consultado a 20 de abril de 2015).
por: Cristina C. Vieira (coord.), Maria Helena Loureiro e Lina Coelho 065
GUIÃO DE EDUCAÇÃO conhecimento, Género e cidadania no Ensino Secundário
particular dos adolescentes do mesma que permita, por um até certo ponto o insucesso
sexo masculino4 (a chamada lado, desenvolver modos detetado e estarem
“crise dos rapazes”). de educar que deem, na base de diferentes
àqueles e àquelas que mais escolhas (vocacionais)
Nos países da oCDE dificuldades sentem na e de comportamentos
os rapazes são duas escola, iguais possibilidades evidenciados por alunas
de sucesso (tanto escolar e alunos nesta etapa
vezes mais propensos
como educativo), não só nos da escolaridade, com
do que as raparigas a termos comummente aceites repercussões inegáveis para
considerar que a escola pelas instituições de ensino, o futuro, quer continuem ou
é uma perda de tempo e mas também de acordo com não a estudar.
diferem delas em cinco novos padrões de referência
e de avaliação. Este olhar As mudanças trazidas com
pontos percentuais
atento não pode deixar de a transversalização da
mais elevados, ao nos alertar, por outro lado, educação para a cidadania5,
‘concordarem’ ou para o facto de o Decreto-lei aliadas à produção de
‘concordarem muito’ referido, embora mencione materiais e documentos de
com a afirmação de que finalidades, princípios e referência e à organização
a escola tem contribuído objetivos para o ensino de oficinas de formação
secundário, nunca se referir de docentes, são um sinal
pouco para os preparar
explicitamente às questões de positivo de que há espaço
para a vida adulta género inerentes às diferenças na escola e abertura por
quando deixarem o entre os sexos, que se sabe parte da tutela para a
ensino formal poderem também explicar lecionação de conteúdos não
(oCDE, 2015b: 36).
Perante os números “ Não obstante a distância que medeia entre os discursos e as prácticas,
as escolas começaram a ser progressivamente entendidas como organi-
apresentados e trazendo para zações dotadas de margens de autonomia, como espaços onde educa-
o debate o poder desigual dores e educandos devem assumir uma postura crítica e interventora,
outorgado a mulheres e traduzida na definição e implementação de projectos que lhes interes-
homens pelas convenções sem e que sejam localmente significativos. Estamos a reportar-nos a uma
sociais de género para concepção de professor[a] que, enquanto profissional, se assume como
perscrutar o currículo do agente de inovação e mudança, nomeadamente em termos de inter-
venção curricular, e de escolas entendidas como unidades organizacio-
ensino secundário, a questão
nais de decisão que reconhecem o[/a] aluno[/a] como co-construtor[/a]
que devemos colocar enquanto
profissionais da educação
do seu percurso de aprendizagem. ”
é a de como construir uma Jorge Adelino Costa e colegas, 2004: 6.
teoria e uma prática da
4 Esta relação dos rapazes com a escola, que traz para a discussão o seu menor envolvimento, o seu mais rendimento e o seu
mais problemático comportamento em comparação com as raparigas, é amplamente debatida no documento de Michael
Kimmell (2010), disponível em: http://menengage.org/wp-content/uploads/2014/06/Boys_and_School_A_Background_Paper_
on_the_Boys_Crisis.pdf. Veja-se ainda o estudo com o título O papel dos homens na igualdade de género: estratégias e insights
europeus, publicado em 2013 e disponível em: http://ec.europa.eu/justice/gender-equality/files/gender_pay_gap/130424_fi-
nal_report_role_of_men_en.pdf (consultado a 10 de março de 2015).
5 Consultar o site da Direção-Geral da Educação, para mais informação sobre o trabalho desenvolvido na área da Educação para
a Cidadania, em: http://www.dge.mec.pt/educacao-para-cidadania (consultado em 17 de março de 2017).
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