Circuitos Osciladores
Rafael Alves Fuhrmann, Acad.
Departamento de Engenharia Elétrica
Universidade Federal de Mato Grosso, UFMT
Cuiabá, Brasil
Resumo— Circuitos osciladores são aqueles
que convertem uma tensão DC numa onda alternada
de frequência desejada, podendo ser desde quadrada
até as senoidais. Neste sentido, apresentou-se
sinteticamente alguns circuitos osciladores,
abrangendo-se desde duas técnicas para produção de
ondas quadradas, até os osciladores senoidais para
uma ampla gama de frequências, de onde pode-se
observar a facilidade de construção dos osciladores
senoidais RC bem como a qualidade de suas ondas.
Palavras chaves: Osciladores, multivibrador
astável, oscilador linear.
Abstract—Oscillator circuits are the ones
that converts DC voltage in AC waves of desired
frequency, whose waveform can be either square
or sinusoidal. In that sense, this work presented
some oscillator circuits, covering the linear and
non-linear ones that can be designed to a wide
range of frequencies. This work concludes
showing the THD of the RC oscillators.
Key words: Oscillators, astable multivibrator,
linear oscillator.
I. INTRODUÇÃO
Circuitos osciladores são aqueles cuja
função é produzir uma onda alternada sem a
necessidade de nenhuma excitação externa, de
forma que seja possível a produção de sinais
alternados, quadrados e triangulares a partir de
uma alimentação DC.
Neste sentido, estes dispositivos são
categorizados quanto a frequência de oscilação,
indo desde os de baixa frequência até além do
EHF – Extra High Frequency – como também
caracterizados quanto à forma de onda e como
esta é produzida.
II. OSCILADORES NÃO LINEARES
Entende-se como oscilador não linear,
conforme categorizado por Sedra e Smith
(2004), aqueles que produzem ondas não
senoidais, ou seja, que levam à sua saída ondas
retangulares, triangulares, dentre outras formas.
Nestes, faz-se uso de elementos não
lineares como comparadores de relaxação e
elementos digitais, bem como ramos RC para
promover a temporização.
II.I. MULTIVIBRADORES ASTÁVEIS
Multivibradores são circuitos que podem
operar em diferentes modos relativos à
estabilidade do sinal de saída. No contexto dos
circuitos osciladores, os multivibradores
astáveis compreendem um conjunto de circuitos
que são capazes de produzir ondas retangulares.
O termo astável vem do fato de que estes
circuitos não apresentam um sinal fixo em
regime permanente, sendo portanto alternados.
Este tipo de oscilador pode ser implementado
tanto com o emprego de dispositivos discretos
como AOPs, quanto através de CIs dedicados.
A. MULTIVIBRADOR ASTÁVEL A AOP
Este tipo de circuito utiliza um
comparador de relaxação acrescido de uma
malha de realimentação negativa ligada a um
capacitor de temporização. Esquematicamente
mostrado na Figura 1.
Seu funcionamento consiste na
progressiva comutação da tensão de saída para
+Vsat e -Vsat com base na mudança da tensão
sobre o capacitor, que é carregado e
descarregado em virtude de Vo sempre assumir
um valor extremo.
A temporização ocorre por meio do ramo
RC formado em consequência da aproximação
do terra virtual do AOP em sua entrada
inversora, de forma que os tempos em +Vsat e
-Vsat dependem da constante τ do circuito.

Figura 1: Multivibrador astável
implementado com o AOP 741
O período da oscilação é calculado
segundo a equação (HOROWITZ, HILL, 2015):
T =2,2 R f C (1)
A simulação no MultiSIM® é mostrada
abaixo:
Figura 2: Simulação no MultiSIM para o multivibrador
astável
B. MULTIVIBRADOR ASTÁVEL COM O CI
555
O CI 555 é um circuito integrado que
implementa internamente um par de
comparadores que alimentam um flip-flop, cujo
efeito de memória é utilizado no controle do
sinal de saída.
Apesar deste CI ser apresentado como
um multivibrador astável, pode também operar
em modos mono e biestáveis, por meio de
arranjos adequados. Todavia, uma distinção
importante deve ser feita em relação ao circuito
Figura 3: CI 555 no modo de operação astável
anterior: neste, a onda produzida não se alterna
em polaridade, estando o sinal contido ora em
nível alto, ora em zero.
Um circuito aplicando o 555 é mostrado
na figura anterior. Sua operação, de forma
semelhante à implementação com AOP, depende
dos níveis de tensão medidos sobre um
capacitor que é continuamente carregado ou
descarregado, de forma que a temporização seja
dada pelo ramo de carregamento compreendido
pelo capacitor e por resistores.
Assim, conforme a tensão sobre o
capacitor excursiona entre os limiares de
2 1
V e V , o flip-flop interno é
3 cc 3 cc
comutado entre os níveis alto e baixo para a
produção da onda de saída. Abaixo é mostrada a
forma de onda produzida pelo oscilador:
Figura 4: Simulação para o modo astável do CI 555
III. OSCILADORES LINEARES
São os que produzem ondas senoidais,
todavia sem empregar necessariamente apenas
elementos essencialmente lineares na sua
construção.
O princípio básico consiste na
construção de um circuito com realimentação
positiva cujo ganho de malha fechada seja
unitário, com uma fase de 0° entre os dois
sinais; tal condição é chamada de Critério de
Barkhausen. Um diagrama de blocos
esquemático é mostrado abaixo para esta
situação:
Figura 5: Diagrama de blocos de um oscilador genérico.
Fonte: Sedra e Smith (2004)
 Neste sentido, sendo A o ganho do
amplificador e β o ganho do circuito de
realimentação, o ganho total é dado pela
expressão:
A ( j ω)
A f ( j ω)= (2)
1−A ( jω)β( jω)
Desta forma, satisfazendo-se o critério
de Barkhausen, A ( jω)β( jω)=1 , o ganho
tenderia ao infinito. Como argumentado por
Sedra e Smith (2004), isto pode ser
compreendido no fato de que a oscilação é
produzida sem a aplicação de um sinal externo.
Na prática, o que ocorre é a amplificação do
ruído inerente aos materiais semicondutores
(BOYLESTAD e NASHELSKY, 2011).
A. OSCILADOR POR DESLOCAMENTO DE
FASE
É a configuração que implementa mais
diretamente o princípio anteriormente
introduzido. Consiste, basicamente, no uso de
um amplificador classe A com uma malha de
realimentação que promove um deslocamento
de fase de 180°, de forma que a realimentação
seja positiva. Uma implementação com
amplificador operacional é mostrada a seguir,
adaptada de Horowitz e Hill (2015).
A operação deste circuito pode ser
decomposta em duas partes essenciais: a
primeira consiste no AOP trabalhando como
amplificador inversor com um ganho de -36; já
a segunda é uma rede de atraso cujos valores
foram escolhidos de tal forma que na frequência
de oscilação – 1 kHz – apresentem um
deslocamento de fase de 60°.
Conforme Boylestad e Nashelsky
(2011), a frequência de oscilação para este
circuito é dada pela equação (3).
Figura 6: Oscilador de deslocamento de fase
implementado com um amplificador operacional LMC
6482
1
f= (3)
2 π RC √ 6
1
Além disso, β= de sorte que para
29
cumprir o critério de Barkhausen o ganho do
amplificador deva ser maior que 29,
compensando-se assim os desvios da idealidade
dos componentes.
Este oscilador apresenta em sua saída
um sinal relativamente distorcido. Todavia, se
este for tomado do último estágio da malha RC,
consegue-se uma senoide consideravelmente
“limpa”, como mostrado no resultado da
simulação:
Figura 7: Formas de onda produzidas pelo oscilador de
deslocamento de fase. Em azul, o sinal tomado na saída
do último estágio RC, enquanto em vermelho é o sinal
tomado na saída do AOP.
B. OSCILADOR EM PONTE DE WIEN
É um oscilador senoidal que utiliza dois
circuitos RC para produzir a realimentação
necessária ao circuito. Uma implementação com
amplificador operacional é mostrada abaixo.
De forma simplificada, o oscilador
acima consiste num circuito de avanço-atraso
(Malvino, 1997) formado pelos capacitores e
resistores que, na frequência de ressonância,
levam à entrada não-inversora uma tensão igual
1
à V .
3 out
R1
Por conta disso, ≥2 para que as
R2
oscilações ocorram, seguindo a simbologia da
figura acima. A frequência de ressonância,
considerando o circuito de avanço-atraso, é dada
pela expressão:
1
f r= (4)
2 π √ R1 R2 C 1 C 2
 D. OSCILADOR COLPITTS

Este oscilador, diferentemente dos outros

senoidais anteriormente apresentados, utiliza um
circuito tanque LC para a promoção da fase e
ganho necessários à oscilação. Por conta de suas
características, o oscilador Colpitts trabalha com
uma banda de frequências muito maior que os
circuitos anteriores.

Figura 8: Oscilador de ponte de Wien

implementado com o AOP LM 358

C. OSCILADOR EM QUADRATURA

É um oscilador que possui dois sinais de

saída senoidais defasados em 90º, justificando a Figura 10: Oscilador Colpitts com
nomenclatura. Seu funcionamento consiste na BJT em Emissor Comum
aplicação de elementos que promovam A realimentação desta configuração é
realimentação em acordo com o critério de obtida por meio do divisor de tensão capacitivo
Barkhausen. Uma versão com AOPs descrita do circuito tanque, que é acoplado à base do
por Soliman (2012) é mostrada abaixo: amplificador em Emissor Comum, acima
mostrado, fazendo-se uso de um acoplamento
capacitivo.
Como o circuito tanque possui
inerentemente uma frequência de ressonância,
esta é a mesma de operação do oscilador, sendo
dada pela equação:
1
f r= (5)
2 π √ LC eq
Em que Ceq é a capacitância equivalente
série do divisor de tensão capacitivo, dada pela
equação:
C C
C eq= 1 2 (6)
C1 +C 2
O ganho B da rede de realimentação na
Figura 9: Oscilador de quadratura com controle de
amplitude. Adaptado de Soliman, 2012 configuração acima é dado pela razão entre os
capacitores, a saber:
Neste circuito, os integradores C
B= 2 (7)
encadeados promovem o deslocamento de 90° C1
entre as ondas de saída, enquanto o amplificador Sendo A o ganho do estágio
inversor de ganho unitário provê os 180 o de amplificador, faz-se necessário que A > B.
defasagem necessários para a oscilação. Os Segundo Malvino (1997), uma realimentação
resistores R3 e R4 controlam a amplitude, de leve, ou seja, com B não muito maior que a
sorte que a oscilação ocorre para R3 = R4. unidade já é suficiente para que as oscilações
A frequência é dada pela equação (4), da tenham início.
ponte de Wien.
 E. OSCILADOR CLAPP
O oscilador Clapp é bastante semelhante
ao Colpitts, com a diferença de que seu circuito
tanque possui um capacitor extra em série com o
indutor L. Esta capacitância deve ser
sensivelmente menor que a dos capacitores do
divisor de tensão.
Isto faz com que a capacitância
equivalente do circuito seja aproximadamente
igual àquela em série com o indutor,
promovendo uma maior estabilidade em
frequência ao circuito, uma vez que os
capacitores do divisor se compõe com as
capacitâncias de junção do transístor.
Figura 11: Oscilador Clapp usando um BJT
em Emissor Comum
Deste modo, a frequência de ressonância
passar a ser a mesma dada pela Equação (5),
com a ressalva de que a capacitância
equivalente ali pode ser substituída por C 3 caso
o valor deste esteja bem dimensionado.
F. OSCILADOR PIERCE A CRISTAL
Este oscilador faz uso de um cristal que
com o efeito da piezoeletricidade se comporta
como um circuito tanque em sua frequência de
ressonância. Cristais para osciladores
apresentam altos fatores de qualidade, o que
permite a construção de osciladores muito mais
precisos em alta frequência que os
anteriormente mostrados.
Figura 12: Oscilador Pierce
com cristal e JFET
O oscilador de Pierce é uma das
configurações mais populares no que tange aos
circuitos a cristal, dada a sua simplicidade e
baixo custo, sendo usada em microcontroladores
para produção do Clock. Uma versão para
produção de senoides é mostrada abaixo.
IV. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os osciladores acima descritos
compreendem uma introdução às várias técnicas
para produção de ondas alternadas, abrangendo
desde circuitos lineares aos não lineares. Numa
sucinta análise do primeiro caso, nota-se que no
que concerne a produção de ondas quadradas, a
utilização de CIs como o 555 se mostram boas
práticas dado que o custo desses CIs é muito
baixo e apresentam um desempenho satisfatório.
Já nos osciladores senoidais, uma
atenção deve ser dada à faixa de frequências de
interesse. Os circuitos RC, embora de fácil
montagem e boa estabilidade estão limitados a
frequências que não alcançam o 1 MHz.
Todavia, em baixas frequências seu uso é
deveras justificado pela qualidade das ondas.
Abaixo é mostrada uma tabela com as
distorções harmônicas totais – THD na sigla em
inglês – para os osciladores RC. Deve-se
ressaltar que os dados foram obtidos por meio
de simulação, de sorte que algumas
características do circuito podem não ter sido
completamente representadas.
Tabela 1 – Comparação da pureza espectral dos
osciladores RC apresentados
Frequência da
Oscilador THD%
fundamental
Deslocamento 1 kHz 4,5% - 5%
de fase
Ponte de Wien 11 kHz 2% - 5%
Quadratura 1 kHz 5%
Comparativamente, os osciladores LC
dependem de cuidados maiores em sua
montagem para que sua pureza se enquadre em
padrões aceitáveis, uma vez que seu controle de
amplitude depende, primariamente, das não-
linearidades dos transístores empregados.
 Apesar disso, o fato de sua capacidade
em frequência ser grandemente superior aos dos
RC, justifica seu emprego, possibilitando o uso
dos osciladores LC na produção de portadoras
de rádio-frequência, por exemplo.

REFERÊNCIAS

[1] SEDRA, Adel S., SMITH, Kenneth C.

MICROELECTRONIC CIRCUITS. Oxford
University Press, 5º Ed. New York: 2004.
[2] BOYLESTAD, Robert L., NASHELSKY, Louis.
ELECTRONIC DEVICES AND CIRCUIT
THEORY. Pearson, 11° Ed. 2011.
[3] SOLIMAN, Ahmed M. TWO INTEGRATOR
LOOP QUADRATURE OSCILLATORS: A
REVIEW. Journal of Advanced Research.
Elsevier. Giza: 2012.
[4] MALVINO, Albert Paul. ELETRÔNICA:
Volume II. Pearson, Makron Books. 4o Ed. São
Paulo: 1997.
[5] HOROWITZ, Paul; HILL, Winfield. THE ART
OF ELECTRONICS. Cambridge University
Press. 3o Ed. New York: 2015.