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Alberto Caeiro é o Mestre que Fernando Pessoa opõe a si mesmo, com o qual tem que
aprender a: viver sem dor, a envelhecer sem angústia, a combater o vício de pensar, a ser um ser
uno e não fragmentado.
Apresenta-se como um simples Guardador de Rebanhos que apenas se importa em ver,
de forma objetiva e natural, a realidade com a qual contacta a todo o momento. Assim, este
heterónimo representa a antítese de Pessoa ortónimo, um “remédio” para a dor de pensar e a
angústia perante o mistério da existência que tanto atormentaram Pessoa ortónimo. Passeando
e observando a natureza e o mundo, Caeiro personifica o sonho da reconciliação com o
universo, com a harmonia pagã e primitiva da Natureza. Constrói os seus poemas a partir de
matéria não poética, mas é o poeta da Natureza e do olhar, o poeta da simplicidade, da
objetividade das sensações, o poeta da realidade imediata e do real objetivo, negando mesmo
a utilidade do pensamento. Para ele, a natureza/mundo é sempre diferente, por isso, pasma-se
com a “eterna novidade das coisas”, como se fosse uma criança e aproveita cada momento da
vida e cada sensação provocada, apreciando a beleza das coisas na sua originalidade e na sua
simplicidade.
Como foi afirmado anteriormente, Alberto Caeiro, poeta da natureza, primitivo e
inculto, foi a primeira grande criação heteronímica de Fernando Pessoa, representando
estéticas, possuindo ideias e sentimentos de que o seu criador - Pessoa ortónimo - não partilha.
Em Caeiro, Fernando Pessoa vai reencarnar a reação contra séculos de metafísica e de
idealismo, criando-lhe, propositadamente, uma biografia de poeta bucólico, ignorante das letras
e quase sem convívio nem cultura, por não querê-lo contaminado por nenhuma doença do
pensamento e da civilização. Efetivamente, a poesia de Alberto Caeiro representa o naturalismo
e o positivismo, mas sobretudo a metafísica do não pensar, a contemplação serena da natureza
(apreendida pelos sentidos) aproveitando o património natural que é de todos, mas que muitos
ignoram porque não o sabem ver nem sentir. Caeiro é, assim, um fenomenista (a realidade
objectiva é construída a partir dos sentidos), cujo olhar fortemente objetivo e inteiramente
pagão atribui a cada objeto que vê, descreve ou sente a sua realidade verdadeira e única.
Autodeclara-se, nos seus versos, como o Descobridor da Natureza, o Argonauta das sensações
verdadeiras. Intuitivamente, este poeta descreve o mundo sem pensar nele, e cria um conceito
de universo que não contém uma interpretação. A sua poesia é sensacionista, “Eu não tenho
filosofia: tenho sentidos. A sensação é tudo, e o pensamento uma doença”. Por sensação, Caeiro
entende a sensação das coisas tal como são, sem acrescentar quaisquer elementos do
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pensamento pessoal, convenção, sentimento ou qualquer outro lugar da alma, procurando ser
um animal humano que a natureza produziu –“ A luz do Sol vale mais que os pensamentos/De
todos os filósofos e todos os poetas.”.
Assume-se pagão, liberto de ideias religiosas, aceitando, quando muito, a religião do
Panteísmo, “Não creio em Deus/porque nunca o vi... /Mas se Deus é as flores e as árvores/ e os
montes e o sol e o luar/ Então acredito nele a toda a hora/ e a minha vida é uma comunhão
pelos olhos e pelos ouvidos.”.
Toda a obra de Caeiro fala por si, com a voz que lhe é própria e naquela linguagem
simples, espontânea, solta, traduzida no verso livre, liberta de convenções poéticas, filosóficas,
sociais ou de qualquer outra ordem, vivendo no presente intemporal das crianças e dos animais,
Saúdo todos os que me lerem.../ E ao lerem os meus versos pensem/ Que sou qualquer coisa
natural - /Por exemplo, a árvore antiga/ À sombra da qual quando crianças/ Se sentavam com
um baque, cansados de brincar..., numa atitude de constante atonia corporal de quem se deita
ou senta e vê o sol e ouve passar o vento.
A poesia de Caeiro é, sem dúvida, incivilizada e primitiva, natural e simples, adequada a
um homem cuja aldeia onde nasceu é o centro do mundo. Caeiro é a nossa reconciliação com o
universo, representa o regresso à idade idílica da harmonia com a natureza, apreendida pelo
imediatismo da sensação, por isso desprovida de análises introspetivas e subjetivas. Ele é o
"Guardador de rebanhos", a quem só interessa ver de forma objetiva e natural o que o cerca.
No fundo, Caeiro não passa de um civilizado que se refugia por detrás de um realismo ingénuo,
que aconselha a não pensar para esquecer os infortúnios da vida.
LINHAS TEMÁTICAS
Caeiro considera que a única via para atingir a felicidade é não pensar, libertando-se de
tudo o que possa perturbar a apreensão objetiva da realidade concreta. Nada existe para além
daquilo que é perceptível aos órgãos dos sentidos. Assim, nega a realidade sujeita à análise do
pensamento, propondo mesmo a “aprendizagem de desaprender”, isto é, a consciência e o
pensar são sinónimos de dor.” O pensamento gera infelicidade (“pensar incomoda como andar
à chuva”, “Pensar é estar doente dos olhos”). Defende que as coisas valem por si mesmas e
existem de facto como as vemos (afirmação da existência /negação dos significado das coisas):
“Cada coisa é o que é”; recusa a introspeção e a subjetividade e a sua lição constante é : “O
único sentido íntimo das coisas / É elas não terem sentido íntimo nenhum”. Portanto, para este
heterónimo, as coisas não têm significado: têm existência. Estas afirmações remetem para a
filosofia de vida do “carpe diem”, que defende o fruir da realidade, de uma forma livre e
despreocupada. Não quer saber do passado nem do futuro, vive o presente (imediatismo).
Para o Mestre, o mundo é sempre diferente, sempre múltiplo, por isso aproveita cada
momento da vida e cada sensação provocada, apreciando a beleza das coisas na sua
originalidade e na sua simplicidade.
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O POETA DO OLHAR: o primado das sensações
“A sensação é a única realidade para nós”
“Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...”
O POETA PANTEÍSTA
Assume-se pagão, liberto de ideias religiosas, aceitando, quando muito, a religião do
Panteísmo, “Não creio em Deus/porque nunca o vi... /Mas se Deus é as flores e as árvores/ e os
montes e o sol e o luar/ Então acredito nele a toda a hora/ e a minha vida é uma comunhão
pelos olhos e pelos ouvidos”.
A ideia de comunhão absoluta com a Natureza resulta uma visão pagã da existência, que
consiste na descrença total na transcendência; a única verdade é a sensação. O poeta não
acredita em Deus porque nunca o viu e recusa a metafísica tradicional de base religiosa. Caeiro
procede então a uma espécie de reconstituição de ideia de Deus, sob o signo da Natureza, isto é,
evidencia uma atitude panteísta, na medida em que acredita que as coisas naturais são divinas,
numa perspetiva de misticismo naturalista, amando as coisas em si mesmas.
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EM SUMA, Alberto Caeiro:
É lírico, instintivo, espontâneo, ingénuo
Recusa o PENSAR das coisas, as causas, os efeitos, Deus, etc. O pensamento é uma
doença que só traz sofrimento e dor.
É sensacionista, privilegia as sensações puras (SENTIR), sobretudo as visuais, porque não
foram contaminadas pelo pensamento
Deambula pela natureza e contempla-a com serenidade
É o poeta da Natureza, vive em comunhão com ela e de acordo com as suas leis
É panteísta porque acredita que as coisas naturais são divinas
É o poeta do real objectivo, recusa a introspecção
É o poeta do imediato. Por isso, vive o presente, não quer saber de passado nem de
futuro
A poesia de Caeiro é, sem dúvida, incivilizada e primitiva, natural e simples, adequada a
um homem cuja aldeia é o centro do mundo. Caeiro é a nossa reconciliação com o universo,
representa o regresso à idade idílica da harmonia com a natureza, apreendida pelo imediatismo
da sensação, por isso desprovida de análises introspectivas e subjectivas. Ele é o "Guardador de
rebanhos", a quem só interessa ver de forma objetiva e natural o que o cerca.
No fundo, Caeiro não passa de um civilizado que se refugia por detrás de um realismo
ingénuo, que aconselha a não pensar para esquecer os infortúnios da vida.
Linguagem e estilo: Sendo Caeiro apologista da simplicidade, é natural que a sua linguagem seja
simples, com efeito, sobressaem apenas a comparação para clarificar a forma como se relaciona
com a natureza, o polissíndeto e a anáfora, usados com o objectivo de salientar o tom coloquial
e a simplicidade do sujeito poético. Outro aspecto interessante, relativamente à expressividade
do poema é, sem dúvida, a pontuação, especialmente as reticências, que traduzem a
emotividade do sujeito poético
* verso livre, métrica irregular e ausência de rima
* linguagem simples, familiar, espontânea
*predomínio do presente do indicativo
* vocabulário e imagística do campo semântico da natureza
* predomínio do Presente do Indicativo
* recurso significativo à coordenação
* recursos expressivos: comparações, metáforas, anáforas e repetições
Bibliografia
Amélia Pinto Pais, Para compreender Fernando Pessoa; Areal, 2000
BOM ESTUDO!