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PATOLOGIA UROLÓGICA
Infecção do tracto
urinário
LUÍS COSTA*, PAULO PRÍNCIPE**
RESUMO
A Infecção do Tracto Urinário (ITU) é um termo utilizado numa grande variedade de situações clíni-
cas, desde a bacteriúria assintomática até à urossépsis e morte.
É um dos problemas médicos mais frequentes, com apresentações clínicas diversas e dependentes 35 anos a iatrogenia (ex: cateterismo
do órgão atingido: pielonefrite, cistite, prostatite e uretrite. uretral ou cirurgia ginecológica), a obs-
O seu correcto diagnóstico e tratamento são essenciais para limitar a morbilidade e mortalidade trução por HBP e as disfunções miccio-
desta patologia e para evitar o uso prolongado ou desnecessário de antibióticos, limitando os cus- nais (causadas por prolapsos gineco-
tos e efeitos adversos destes fármacos, prolongando a sua eficácia e impedindo a selecção de estir- lógicos e/ou incontinência) são os prin-
pes resistentes. cipais factores de risco responsáveis
pelo aumento da incidência das ITU
Palavras-chave: Infecção; Trato Urinário.
nesta faixa etária.
O diagnóstico de ITU deve acentar
na realização de urocultura com o res-
INTRODUÇÃO pectivo antibiograma, o que garante a
escolha do antibiótico mais adequado,
ITU é uma resposta infla- limitando os custos e efeitos adversos
QUADRO I
É uma infecção grave, que atinge o renal, também pode estar elevada. O
parênquima e pelve renal. sedimento urinário pode mostrar leuco-
Afecta, mais frequentemente, os indi- citúria, eritrocitúria, proteinúria e a pre-
víduos do sexo feminino e os relativa- sença de nitritos (estes nem sempre pre-
mente imunodeprimidos, como os sentes, dado que a polaquiúria frequen-
doentes diabéticos e idosos. temente impede a estase urinária ne-
Os patogénios são, sobretudo, as cessária para a redução dos nitratos).
bactérias aeróbias Gram negativas, O sedimento pode também apresentar
como a Escherichiae coli, a Klebsiella, cilindros, quer de glóbulos rubros, quer
Proteus, Pseudomonas, Serratia, Citro- de leucócitos, sinal patognomónico de
bacter e Enterobacter. São também co- atingimento renal.
muns espécies Gram positivas, como o É importante ter a noção, no entan-
Enterococcus faecalis e o Staphylococcus to, que este quadro, sendo o «clássico»,
aureus. não é, necessariamente, o mais fre-
A porta de entrada, na esmagadora quente. Calcula-se que cerca de 30%
maioria das vezes, é a via ascendente, dos quadros diagnosticados como Cis-
a partir do tracto urinário inferior. Ou- tite aguda, em doentes apiréticos, são,
tras, menos frequentes, são as vias he- de facto, pielonefrites1. Nas crianças a
matogénea, a linfática ou por extensão apresentação é especialmente engana-
directa. dora, podendo apresentar unicamente
O quadro típico é o de um doente dor abdominal difusa e náuseas.
febril, com dor lombar e sintomas ge- Perante uma infecção urinária é, as-
rais, como astenia e anorexia. Pode sim, necessário ter um elevado nível de
apresentar sintomas urinários irrita- suspeita clínica.
tivos, como disúria, polaquiúria e im- A pielonefrite aguda é um diagnósti-
periosidade, e a urina apresenta-se tur- co clínico, não necessitando de confir-
va e com odor intenso. mação por exames de imagem. A eco-
A febre é, tipicamente, elevada e a dor grafia renovesical, o exame mais pedi-
lombar, geralmente descrita como «sur- do nestas situações, é normal em cer-
da», é de intensidade moderada e não ca de 70% dos casos4. É, no entanto, um
sofre irradiação. exame recomendável nas formas graves
Os sintomas urinários podem prece- e em caso de má resposta terapêutica.
der, em alguns dias, a febre, a dor lom- Nestas situações serve, não para con-
bar e os sintomas gerais (o que corres- firmar o diagnóstico, mas para excluir
ponde a um quadro de cistite inicial, complicações, como a presença de obs-
com posterior ureterite e pielonefrite). trução do aparelho excretor ou abce-
No exame físico, a par da febre, de- dação.
paramo-nos com um doente taquicárdi- Não existe necessidade em realizar
co, taquipneico, muitas vezes com dis- outros exames de imagem como a uro-
tensão abdominal e dor à palpação re- grafia endovenosa de eliminação (altera-
nal bimanual e à percussão do ângulo da em 25% dos casos, mas pouco práti-
costovertebral do lado afectado (o cha- ca) e a tomografia computorizada. Esta
mado sinal de Murphy). última deve ser reservada para formas
Em termos analíticos, ocorre leucoci- complicadas.
tose com neutrofilia, com desvio esquer- Estabelecido o diagnóstico, impõe-se
do, ou seja, presença de formas jovens o início da terapêutica.
no esfregaço. Ocorre, também, aumen- Os doentes com bom estado geral,
to dos níveis de proteínas de fase agu- com formas pouco graves, podem ser
da, como a LDH, a PCR e o fibrinogénio. tratados em ambulatório.
A TGO, enzima presente no parênquima Deve iniciar-se antibioterapia oral,
cos» no trato urinário, tais como: cálcu- fazem parte das doenças sexualmente
los, refluxo vesico-ureteral, pielonefrite transmissíveis (DST).
crónica, malformações congénitas, obs- A escorrência uretral e a disúria do-
trução, etc. A remoção destes «focos» é minam o quadro clínico, podendo, em
geralmente curativa. caso de infecções repetidas e mal tra-
Quando a reinfecção urinária é a tadas, evoluir para estenose da uretra
causa da cistite de repetição, a doente com o aparecimento de sintomas obs-
deve ser avaliada quanto à existência de trutivos. A quantidade de escorrência é
factores de risco tais como: pobre inges- muito variável, sendo tipicamente
tão hídrica com diminuição da frequên- abundante e purulenta na uretrite go-
cia das micções, uso de diafragmas nocócica.
e/ou de espermicidas, excesso de cui- O diagnóstico é feito por exame e cul-
dados de higiene com o uso de produ- tura do esfregaço da uretra. Aproxima-
tos que diminuem a flora comensal e a damente 30% dos homens infectados
obstipação. Em algumas mulheres é com N. gonorrhoeae têm concomitante-
possível estabelecer relação entre a acti- mente infecção por Chlamydia.
vidade sexual e a infecção. O hábito de A uretrite gonocócica deve ser trata-
urinar após o coito pode por si só di- da com ceftrixone (250 mg IM em dose
minuir as recorrências. única) ou com fluoroquinolonas (cipro-
Quando, apesar da correcção destes floxacina (250 mg PO) ou norfloxacina
factores de risco permanecem as in- (800 mg). Deve ser sempre associada
fecções de repetição, deve-se utilizar a uma tetraciclina ou azitromicina dada
terapêutica farmacológica. a presença provável de infecção com
Antibioprofilaxia contínua em baixas Chlamydia.
doses diminuiu as recorrências 95% As uretrites não gonocócicas são
mais eficazmente que o placebo. (Man- tratadas com uma tetraciclina, eritro-
giarotti, Pizzini and Fanos, 2000; Nicolle micina ou azitromicina. É fundamental
and Ronald, 1987). Em geral é utiliza- não esquecer o tratamento simultâneo
do o TMP-SMX ou a nitrofurantoína em do parceiro sexual (e recomendar o uso
toma única diária, ou então após o coito de preservativo).
nas mulheres em que as infecções sur-
gem relacionadas com a actividade se-
xual.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Nas mulheres pós-menopausa está
indicada a reposição intravaginal de es- 1. Schaeffer A. Infections and inflamma-
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