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ASPECTOS DO FALAR MATO-GROSSENSE: PERSPECTIVAS FONÉTICA E

SOCIOLINGUISTICA 1

Fernando Soares Ferreira de Santana2


Glória Hannah Fanaia de Almeida 3
Lucimara Aparecida da Silva Brischiliari4
Lucineia Fernandes da Silva5

RESUMO: Este artigo tem como objetivo estudar os fenômenos linguísticos que ocorrem no
falar mato-grossense, tendo como perspectiva a fonética e a sociolinguística. Contribuindo
para os estudos dialetais do país, pretende-se fazer uma comparação com falares característicos
da região e falares de outros estados do Brasil.

Palavras-chave: Cuiabanês. Porto-Estrelense. Fenômenos Linguísticos.

1. INTRODUÇÃO
Sabemos que o falar do Mato Grosso se difere de região para região. Tanto pela
dimensão territorial do estado, o terceiro maior do país; sua localização geográfica, sendo
limítrofe de vários outros e estados e principalmente pela colonização típica de cada região.
Paulistas, paranaenses e gaúchos estão entre os maiores grupos de migrantes para o Mato
Grosso. Haja vista a diversidade advinda dessas migrações, foram então se formando falares já
um pouco diferenciados.
Mas, sobretudo, o falar da Baixada Cuiabana é peculiar e diferencia no que diz respeito
ao falar Mato-grossense. Os mais antigos moradores ainda preservam o cuiabanês, sobretudo
no que diz respeito às manifestações fonéticas e lexicais, com palavras tipicamente encontradas
na região:

PALAVRAS SIGNIFICADOS EXEMPLOS


Leva-e-tráz Fofoqueiro “Claudio é um grande Leva-
e-tráz.”
Londjura Distância. Longe, muito “Vamos andar essa londjura
distante toda?”

1
Artigo produzido como requisito parcial de avaliação na disciplina de Fonética e Fonologia do Português sob a
orientação da Prof.ª Dr. ª Lilian Elisa Minikel Brod no curso de Letras da Universidade do Estado de Mato
Grosso.
2
Acadêmico do curso de Licenciatura em Letras da Universidade do Estado de Mato Grosso.
3
Acadêmico do curso de Licenciatura em Letras da Universidade do Estado de Mato Grosso.
4
Acadêmico do curso de Licenciatura em Letras da Universidade do Estado de Mato Grosso.
5
Acadêmico do curso de Licenciatura em Letras da Universidade do Estado de Mato Grosso.
Malemá Popular de ‘mal e mal’ “– E aí cumpadre como vai?
– Vou indo malemá...”
Moage Frescura. Enrolação. “Pare de moage e vamos
logo.”
Vôte! “Deus me livre”. Expressão “Vôte! Nunca mais eu volto
de medo e espanto. lá!”

O rotacismo é um dos fenômenos desse falar e este consiste na troca da consoante “L”
por “R”. De acordo com JOSÉ “Cuiabá é uma cidade que apresenta também um falar
característico. E uma das marcas muito presentes na comunidade cuiabana [..] é a variação entre
as consoantes africadas e as fricativas [ʧ] [ʤ] e [] []” (LIMA, p. 664)

Apesar da mídia, principalmente televisiva, o falar cuiabano ainda se preserva.


“ Mesmo os que tem contato direto e constante com a cidade, que são
os mais jovens, participam das atividades de lazer com outros grupos
sociais, vêem televisão, ouvem rádio, vão ao estádio, lêem jornais e
estudam em Cuiabá, mesmo entre eles, podemos notar as características
da fala dos mais idosos, sendo que ambas as gerações se compreendem
e comunicam naturalmente desse modo. (DRUMMOND, p.65)
Segundo a pesquisadora, os mais jovens aprendem novos vocabulários e acrescentam
ao seu vocabulário aprendido com os mais velhos. Não há troca, apenas acrescentam.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Alguns dos fenômenos fonéticos do português brasileiro são:

2.1. Monotongação
“Mudança fonética que consiste na passagem de um ditongo a uma vogal simples.
Para pôr em relevo o Fenômeno da Monotongação chama-se, muitas vezes,
monotongo, à vogal simples resultante, principalmente quando a grafia continua
a indicar o ditongo e ele ainda se realiza numa linguagem mais cuidadosa. Entre
nós há, nesse sentido o monotongo ou /ô/, ai /a/, ei /ê/ diante de uma consoante
chiante [...]. ” (CÂMARA JR.,1977, p.170)
Exemplos: Manteiga → [man’tega]
Olhar → [‘ɔja]

2.2. Ditongação
Ditongação é um fenômeno linguístico que consiste em transformar um som monotongo
(uma única silaba ou um único som) em um duplo som. É o desdobramento de um segmento
em dois.
Exemplos: Após → [a’pɔjs]
Arroz → [a´roIs]

2.3. Rotacismo
Rotacismo é a troca do R pelo L ou vice-versa. O fonema que é alvéolo-dental passa a
ser palatal. Também pode ocorrer pelo fato da língua estar mais acomodada. Ao se falar pobreza
ao invés de problema, o falante terá que levantar menos a ponta da língua, ocorrendo uma
acomodação linguística, ou seja, é mais fácil pronunciar a primeira que a segunda palavra.
Exemplos: Voltar → [vor’tar]
Placa → [‘pak]

2.4. Elevação de Vogal


Esse fenômeno consiste em se elevar as vogais [e,,,] em [i] e [u].

Exemplos: Ajeitado → [a’ejtad]

2.5. Desnasalização
Caracteriza-se por eliminar o som nasal das vogais que estão depois da sílaba tônica, o
que é uma tendência natural da língua. O fonema nasal torna-se oral.
Exemplos: Homem → [hõmi]

2.6. Palatização
2.6.1. Palatização da fricativa
A fricativa se torna africada.
Exemplo: Vocês → [vo’sei]

2.6.2. Palatização da oclusiva


Exemplo: Dente → [‘dẽt]
2.7. Nasalização
Essa nomenclatura se dá quando o fonema oral se torna nasal.
Exemplo: Vinho → [vinU]

2.8. Apócope
É o apagamento de segmento final, produzindo formas apocopadas.
Exemplos: muito → [‘muj]
Freire → [‘frei]

2.9. Aférese
Caracteriza o apagamento de segmento inicial de palavra, produzindo formas aferéticas.
Exemplos: namorar → [enamo’rar]
José → [‘zE]

2.10. Síncope
Apagamento de segmento medial, produzindo formas sincopadas.
Exemplo: Maior → [m]

2.11. Yeísmo
Quando o falante troca um fonema por [i]~, chamamos este fenômeno de Yeísmo.
Exemplo: Lote → [lóti]

2.12. Retroflexão
A Retroflexão, basicamente, seria quando um tepe é substituído por um retroflexo.
Exemplo: [pͻt] → [pͻt]

[cͻt] → [cͻt].

3. METODOLOGIA
Para este artigo, foram entrevistadas duas pessoas. Ambos vieram de Porto Estrela, que
está localizado na região sudoeste do estado de Mato Grosso, porém estão localizados em
regiões distintas da cidade.
Analisando os dados e transcritos foneticamente pode-se montar um perfil individual,
com suas particularidades notados com fenômenos linguísticos e fonéticos. Foi usado um
gravador do tipo de bolso para as entrevistas. Estas ocorreram naturalmente, com temas
diversos acerca da vida de cada um, sem conhecimento prévio dos entrevistados sobre o tema
real a analisar: o falar regionalizado com suas especificidades.

3.1. Dos entrevistados


Para preservar a identidade dos entrevistados, nomearemos tais como “Entrevistado 1”
e “Entrevistado 2”.
O primeiro entrevistado (entrevistado 1) tem 67 anos de idade, é natural de Voltinha-
MT, foi trabalhador de serviços braçais, a maior parte de sua vida esteve na zona rural. É
alfabetizado e segundo relata teve grandes dificuldades para estudar. Atualmente ele se encontra
aposentado.
O segundo entrevistado (entrevistado 2) possui 17 anos de idade, é acadêmica do curso
de Licenciatura Plena em Letras, natural de Porto Estrela - MT. Viveu a maior parte de sua vida
na zona urbana.

Entrevistado Idade Escolaridade Limites Profissão


Entrevistado 1 67 Alfabetizado Zona rural Aposentado
Entrevistado 2 17 Superior incompleto Zona urbana Estudante

3.2. Das regiões citadas na entrevista

 Voltinha é uma comunidade rural, pertencente a Porto Estrela, no estado de


Mato Grosso;

 Porto Estrela é um município brasileiro do estado de Mato Grosso. Localiza-se


a uma latitude 15º19'28" sul e a uma longitude 57º13'39" oeste, estando a uma
altitude de 134 metros. Possui uma área de 2.065 km² e sua população estimada
em 2004 era de 4283 habitantes.
4. FATORES SOCIAIS RELACIONADOS À VARIAÇÃO LINGUISTICA:

4.1. Localização Geográfica


A variação que ocorre em função da localização geográfica é chamada de variação
diatópica. No nível vocabular pense em variantes como “ macaxeira”, “aipim” ou “mandioca.
No nível fonético, há o caso de variação de “telefone” (com “e” fechado ou “e”
pronunciado aberto).
Bem como possibilidades do “s” de “festa” (com ou sem chiado), ou o “r” de “porta”
(retroflexo), ou o “r” típico do Rio de Janeiro.

4.2. Grau de Escolaridade


Considerando grupos de pessoas que produzem “pranta” ao invés de “planta” e “brusa”
no lugar de “blusa”.
No primeiro caso tipicamente são faladas por pessoas de baixa escolaridade. Temos aqui,
portanto, um exemplo de variação linguística motivada pela escolarização. Expressões como
“nóis vai” são fortemente associadas a grupos sem escolarização.

4.3. Faixa Etária


Indivíduos jovens e idosos se expressam de formas diferentes, isto fica mais evidente
no vocabulário. Expressões tipicamente jovens como “já é”, já fazem parte do linguajar. Mais
notadamente no pronome “nós” trocado pela expressão “a gente”, faz parte principalmente do
vocabulário entre os mais jovens.

4.4. Gênero
Talvez de forma mais inibida as diferenças entre gêneros nos falares também existem.
Expressões como “chiquérrimas” ou “carésimo” são tipicamente associadas ao falar feminino
ao passo que “afinzaço” ou “cansadaço” associa-se mais ao gênero masculino.
A mudança linguística é bem perceptível no vocabulário, e este é absolutamente
dinâmico e adaptável a novas realidades. Por isso palavras novas surgem a todo momento como
“deletar”, e outras. Falares do tipo “pranta” não são menos comunicativas do que “plantas”,
nem tampouco “deletar” deixa de ser compreendido por ser uma palavra nova. Os fatores
acima relacionados compreendem diferenças entre os falares, porém esse artigo não
desconsiderará tais fatores, mas complementará com linguajares próprios do mato-grossense,
em vocabulário e em pronuncia.
5. FENÔMENOS LINGUÍSTICOS OBSERVADOS NO FALAR PORTO-
ESTRELENSE:

5.1. Análise das Entrevistas


Foram entrevistadas duas pessoas de diferentes gêneros, escolaridade, idade e espaço
geográfico, ambos do estado de Mato Grosso.
O Entrevistado 2 teve uma maior base educacional. Durante sua vida, seu sotaque
ribeirinho foi se perdendo por falta de contato com pessoas daquela região, isso se deu, pois,
sua família mudou-se para Barra do Bugres. O Blog Manual do Mundo explica que o sotaque
é originado pela nossa bagagem cultural e histórica:
“No interior de São Paulo, por exemplo, o “r” acentuado tem origem no jeito de falar
dos índios tupis. Já no Rio de Janeiro, segundo os historiadores, o “s” chiado, que
parece um “x”, nasceu com a transferência da família real portuguesa para a cidade,
em 1808. E em Santa Catarina, o sotaque cantado mais forte tem influência direta da
imigração de portugueses da ilha de Açores.” (MANUAL DO MUNDO, 2013)
A diferença de idade, escolaridade e bagagem cultural são fatorem observados nos dois
entrevistados. Além do Entrevistado 2 estar cursando Letras, sua família inteira está inserida
neste ramo da docência: seu pai é formado em Letras, sua mãe é pedagoga e sua irmã também
está cursando Letras.
Por conta da internet e das redes sociais, várias comunidades e vários grupos estão
conectados. PAES e SOUZA afirmam que “[..] convivendo com grupos estranhos de fora da
localidade, os jovens acrescentam ao seu vocabulário novos vocábulos [...]” (2014) isto faz com
que os jovens se distanciem mais ainda da linguagem dos mais velhos, tanto que, na perspectiva
lexical, as duas entrevistas são completamente diferentes.
O Entrevistado 2 também se alimentava constantemente da cultura mato-grossense,
inclusive dançava em um grupo de “Siriri”, que é uma dança folclórica típica do Centro-Oeste
do Brasil.
O Entrevistado 1 não chegou a terminar o ensino fundamental por motivos pessoais e,
por isto, não tem a mesma variedade lexical do Entrevistado 2, que perdeu grande parte do
sotaque. O Entrevistado 2 relata que era bem marcante na infância, quando morava em um sítio
com seus pais em Porto Estrela, cidade de Mato Grosso.
Por conta desta bagagem, é difícil perdermos nosso sotaque, porém, quando nossa
realidade tem uma mudança brusca, este sotaque que carregamos pode se perder um pouco,
pois, a todo tempo, estamos absorvendo falares que nos cercam com constância. Segundo o
IBGE, mais de 38% da população mato-grossense é formada por migrantes de outros estados.
Isso com certeza influência constantemente no falar da população, apesar de que os moradores
mais antigos gostam de preservar a cultura que carregam na língua.
“A sociedade sempre sofreu alterações tanto no campo político, social, religioso
como no lingüístico. À medida que o tempo decorre, as alterações na sociedade vão
se tornando cada vez mais céleres em decorrência do processo de evolução por que
passa o mundo. Em se tratando do campo lingüístico, a migração tem trazido
significativas e rápidas mudanças no falar de muitos povos no mundo inteiro. Em
Cuiabá, por exemplo, o contato direto ou indireto com pessoas de outras localidades
do país, vem provocando mudanças no falar. Os migrantes levam consigo um falar
regional que é posto em presença de um outro falar.” (LIMA, p. 664)
Alguns fenômenos que são característicos da região como a palatização, a nasalização
e a desnasalização, não são tão frequentes na fala dos entrevistados pois, dentro do período de
quinze minutos da entrevista, ambos não demonstraram estes fenômenos com frequência,
chegando a até nem produzir outros.

5.2. Transcrição das entrevistas

 Entrevistado 1:
PALAVRAS TRANSCRIÇÃO FENÔMENOS

Acontecendo [‘akõteseno] Monotongação

Aguentava [gẽ’tav] Aférese

Anos [‘an] Desnasalização e Monotongação

Aposentei [puzentei Aférese

Cabeceira [‘kabjse] Elevação de vogal

Cáceres [‘kasjjs] Elevação de vogal

Colhendo [‘kͻjen] Yeísmo e Elevação de vogal

Considerar [csidea] Elevação de vogal

Convivo [kn’vjv] Elevação de vogal

De possuir [depusu’i] Elevação de vogal

Deixou [de’to] Palatização da Fricativa

Desisti izizty] Palatização

Doutrina [du’tina] Elevação de vogal e Monotongação


Filhos [‘fj] Elevação de vogal

Homens [‘õmj] Monotongação e Elevação de vogal

Igualmente [igaumen’i] Rotacismo e Elevação de Vogal

O meu interesse [‘#’me#inte’resso] Elevação de vogal

Para (não [‘pa] Apócope

Para aqui [‘p #‘kj] Áfrase

Passou por cima [‘passo#‘p #‘sjm] Elevação de vogal e Monotongação

Pelo (adjetivo) [‘pe] Rotacismo

Porque [pke] Elevação de vogal e Retroflexão

Pouco [‘pko ] Síncope

Punhado [p’ỹad] Elevação de vogal

Roçando [o’sãn] Elevação de vogal

Torou [to’o] Monotongação

Trabalhava [taba’jav] Yeísmo

Trás [‘tajs] Ditongação

Vezes [‘vejs] Elevação de vogal e Monotongação

Vivendo no meio [‘vjvẽn# ‘n #’mej] Elevação de vogal

Voltava [vͻ’tav] Rotacismo e Retroflexão

Voltinha [‘vͻtjỹ] Rotacismo e Retroflexão

 Entrevistado 2:
PALAVRAS TRANSCRIÇÃO FENÔMENOS

Amigos [a’migU] Elevação de vogal

Artes [‘arts] Síncope

Computador [com’pUtado Retroflexão

Esta/Estava [‘ta#’tava] Aférese

Fazer [fa’ze] Apócope


Irmã [‘imɐ̃] Retroflexão

Meninos [mi’ninU] Elevação de vogal

Mudar [mU'd] Apócope

Nós [‘nɔjs] Ditongação

Para [‘pra] Monotongação

Pequenininha [pi’kininiña] Elevação de vogal

Porque [pke] Elevação de vogal e Retroflexão

Porto Estrela [pots’trela] Síncope e Retroflexão

Serviço [sejsU] Retroflexão

Vejamos agora, na tabela abaixo, uma relação do total de fenômenos linguísticos


encontrados no falar de cada informante:

FENÔMENO INFORMANTE TOTAL


Entrevistado 1 Entrevistado 2
Aférese 3 1 4
Apócope 1 2 3
Desnasalização 1 0 1
Ditongação 1 1 2
Elevação de vogal 16 4 20
Monotongação 7 1 8
Nasalização 0 0 0
Palatização 2 0 2
Retroflexão 3 4 7
Rotacismo 4 0 4
Síncope 1 2 3
Yeísmo 2 0 2
41 15 56
Foram constatados um total de cinquenta e seis ocorrências de fenômenos nas duas
entrevistas. Quarenta e uma ocorrências no Entrevistado 1 e quinze ocorrências no
Entrevistado 2.
Elevação de vogal, Monotongação e Rotacismo são os fenômenos mais observados na
fala do Entrevistado 1. Predomina na fala do Entrevistado 2 a Elevação de vogal e Retroflexão.
Os fenômenos mais observados em ambas as entrevistas foram Monotongação, Retroflexão e,
a constante Elevação de vogal.
Examinando as tabelas pode-se inferir que apesar dos dois entrevistados serem da
mesma região ocorrem fenômenos similares, mas também outros diferentes.
Fatores como idade, escolaridade são de fato o que evidenciam essas diferenças.
Palavras como “tipo assim”, “bacana” e “a gente” encontradas no falar do Entrevistado 2, não
ocorrem no falar do Entrevistado 1.
Sobretudo palavras como “aperreado” e “nós” pertence mais a fala do Entrevistado 1.
Quanto ao fator escolaridade pode-se notar que o Entrevistado 1, possui maior
dificuldade em se expressar na norma culta, não observado na Entrevistada 2.
Palavras como “dutrina”, “puzentei” e “cumecei” são evidenciadas na fala do
Entrevistado 1.

5.3. Comparação dos entrevistados


Algo muito observado na comparação entre as duas entrevistas é que, o Entrevistado 2,
por possuir maior base escolar e carregar uma bagagem cultural diferente, não possui tantos
fenômenos linguísticos em sua fala, apenas alguns bem comuns no falar de vários outros
estados.
Podemos exemplificar isso através dessa fala: “é uma cidade muito piquinininha
[pi’kininiña]”. Observamos que ela faz substituição das duas primeira vogais “e” pela semivogal
“i”, este fenômeno é conhecido como elevação de vogal, que ocorre quando o falante eleva as vogais
média altas [e, ] e média baixas [,] para as vogais altas [i] e [u].

Este fenômeno chega a ser tão comum que não é alvo de preconceito linguístico.

 Rotacismo:
“[...]é comum haver pressa em dizer que o rotacismo, processo fonológico ou metaplasmo
bastante produtivo no dialeto caipira, resulta da herança linguístico-cultural alicerçada nas culturas
e línguas indígenas e africanas. ” (SANTIAGO, p.26)
 Monotongação:
Em sua pesquisa sobre monotongação em porto Alegre, TOLEDO nos mostra que, a
monotongação não está presente somente no dialeto mato-grossense:
Ditongo decrescente Forma com manutenção do Forma com apagamento do
ditongo ditongo
[ow] l[ow]co l[o]co
[ej] f[ej]ra f[e]ra
[aj] c[aj]xa c[a]xa
(TOLEDO, p.96)
Ele ainda afirma que “Dentre esses ditongos, alguns podem sofrer uma regra variável
de apagamento do glide. Há um consenso entre os estudos sobre variação de ditongos de que a
aplicação dessa regra de redução ocorre somente nos ditongos [ow], [ej] e [aj] [...]” (p.96)
O Entrevistado 1 possui muitos fenômenos de monotongação: “Minha dutrina
[du’tina] é cunformi diz a parte do mandamento né”. Observamos também que há uma

elevação de vogal na palavra “conforme”, que é pronunciada “cunformi” [cf].

 Ditongação
ARAGÃO afirma que “A ditongação, ao que tudo indica, é um fenômeno
essencialmente fonético causado por necessidades eufônicas, não tendo, assim, existência no
sistema da língua, mas em sua realização na fala. ” (p.173)
ARAGÃO, citando outro autor, explica que a “transformação de uma vogal em ditongo:
um segmento vocálico desdobra-se em dois segmentos, isto é, produz-se um processo de
diferenciação tímbrica (ou ditongação) no interior de uma semivogal em posição pré ou pós-
vocálica. ” (ARAGÃO apud XAVIER E MATEUS, p.173). Ela ainda aprofunda dizendo que
é um fenômeno comum da língua portuguesa e a ditongação pode ocorrer em vários casos.
Este fenômeno é encontrado na fala do Entrevistado 1, quando diz: “então eles saia,
corria logo né, e eu ficava pra trais [‘tajs]”. A Entrevistada 2 apresenta este fenômeno quando

estava contando sobre seus amigos do grupo de dança de siriri, uma dança típica da região
centro-oeste: “Nois [‘nɔjs] éramos em quase vinte amigos”.

 Retroflexão
Em ambas as entrevistas observa-se um uso muito frequente de [] no lugar []. Isto

não significa que a realização desta troca seja errada, mas, quando isto ocorre, na fonética e
fonologia, chamamos de Retroflexão. Este é um fenômeno Linguístico muito comum, mas que
as pessoas não têm conhecimento, tendendo a agir com preconceito, que aqui chamamos de
preconceito linguístico, em relação aos falantes que fazem tal uso.
De acordo com Brandão “O –R retroflexo foi, durante certo tempo, apenas mencionado
como característica do chamado dialeto caipira [..]”
A indícios de que o r retroflexo tenha vindo do contato do português de Portugal com o
indígena. Os portugueses traziam palavras como: [animaɫ], [faɫta] e [caɫma].
No Tupi não existe r nem l, eles tinham dificuldade para produzir estes sons, por isto,
produziam [fata], [cama] e entre outros.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesse estudo foram comentados alguns tipos de processos fonológicos que ocorrem no
falar mato-grossense e apresentada uma comparação entre falantes desta região, tendo como
base a perspectiva fonética e sociolinguística. O objetivo desta pesquisa é aprofundar e
contribuir para os estudos linguísticos do estado de Mato Grosso, levando em conta os falares
de Porto Estrela (ribeirinho).
Concluímos que diversos fatores podem influenciar o falar de um sujeito. Esses fatores
irão traçar um perfil linguístico do falante ao longo de sua vida, mostrando a origem de sua
variação linguística. Através das entrevistas, foram observamos que alguns fenômenos são
comuns, não só no falar mato-grossense, mas também em outros falares de outros estados que
produzem os mesmos fenômenos.

REFERÊNCIAS

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Linguísticos, Sinop, v. 6, n. 12, p. 16-30, jul./dez. 2013.

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Paraíba e do Ceará. Revista da ABRALIN, v.8, n.1, p. 163-184, jan./jun. 2009

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DIÓZ, Renê. G1 Globo. Mais de 38% da População de MT São Migrantes de Outros


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