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TERMO DE COMPROMISSO DE CESSAÇÃO DE CONDUTA COMO MEIO DE


RESOLUÇÃO DE CONFLITOS: ANÁLISE DE CASO PRÁTICO ENVOLVENDO O SETOR
DE EMBALAGENS FLEXÍVEIS

COMMITMENT OF CONDUCT CEASING AFFIDAVIT AS A MEANS OF CONFLICT


RESOLUTION: ANALYSIS OF A CASE STUDY INVOLVING THE FLEXIBLE
PACKAGING SECTOR

Guilherme Pinato Sato


Procurador Federal
Especialista em Direito Público

SUMÁRIO: 1 Breve Relatório do Processo Administrativo


em Análise; 2 A Caracterização do Cartel; 3
Possibilidade de Firmar Termo de Cessação sem
Reconhecimento de Culpa; 4 O Programa de
Compliance; 5 O Termo de Cessação como Meio de
Proteção dos Interesses Públicos Primários; 6
Conclusões; Referências.
RESUMO: O presente artigo versa sobre a análise de determinado caso concreto ainda
sob a égide da Lei n. 8.884/94, no qual determinada empresa do setor de embalagens e
seu dirigente propuseram termo de compromisso de cessação de conduta como meio de
fazer cessar as supostas atividades nocivas à livre concorrência, bem como adotar
obrigações de fazer, mais especificamente programas preventivos (compliance) para as
boas práticas comercial e concorrencial. Nesse contexto, o artigo visa a definir os dois
instrumentos de acordos substitutivos de sanção, ou seja, o termo de compromisso de
cessação de conduta e o acordo de leniência, suas vantagens e desvantagens, segundo o
estudo do caso concreto. Por fim, o texto demonstra as vantagens de se ter firmado o
termo de cessação no caso em comento, não somente para os compromissários, mas
também para toda a sociedade, ao ser assegurada e preservada a livre concorrência no
setor de embalagens.
PALAVRAS-CHAVE: Cartel. Termo de Compromisso de Cessação de Conduta. Programa
de Compliance. Acordos Substitutivos de Sanção. Proteção aos Interesses Públicos
Primários.
ABSTRACT: The present paper analyses a concrete case still under the Law No.
8.884/94, in which a certain company of the packings sector and its leader proposed a
commitment of conduct ceasing affidavit as a means to interrupt the supposed harmful
activities to the free competition, as well as to adopt obligations of doing, more
specifically preventive programs (compliance) for the good commercial and competition
practices. In that context, the article seeks to define the two instruments of sanction
agreement substitutes, in other words, the commitment of conduct ceasing affidavit and
the compliance agreement, theirs advantages and disadvantages, according to the study
of the concrete case. Finally, the text demonstrates the advantages of accomplishing the
commitment of conduct ceasing affidavit in the commented case, not only for the
compromisers, but still for the whole society, when was insured and preserved the free
competition in the packings sector.
KEYWORDS: Cartel. Commitment of Conduct Ceasing Affidavit. Compliance Program.
Substitute Sanction Agreements. Protection to the Primary Public Interests.

1 BREVE RELATÓRIO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO EM ESTUDO

Trata-se da análise do termo de compromisso de cessação de conduta proposto


pelos requerentes, que integraram o polo passivo em processo administrativo (PA n.
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08700.005281/2007-96) que estava em trâmite na Secretaria de Desenvolvimento


Econômico. Aos referidos compromissários foram imputadas condutas supostamente
ilícitas, descritas nos artigos 20, incisos I, II e III, e 21, incisos I, II e III, da Lei n.
8.884/941. A Procuradoria do CADE e o MPF foram contrários à ratificação da proposta,
uma vez que, em se tratando de cartel, entendiam que deveria haver a confissão de
culpa pelos proponentes, ou ao menos o reconhecimento dos fatos a eles imputados,
bem como a majoração da multa de 10 a 15% do faturamento.
Em julgamento realizado pelo CADE, por maioria os conselheiros aceitaram o termo
de cessação de conduta, tendo o processo sido suspenso durante o período de
cumprimento, e posteriormente arquivado, quando da execução de todas as suas
cláusulas.

2 A CARACTERIZAÇÃO DO CARTEL

As condutas descritas são caracterizadas como formação de cartel entre os agentes


econômicos, que têm como objetivo auferir o maior lucro possível, por meio de
atividades coordenadas entre si, relacionadas tanto à produção e fornecimento dos
produtos, bem como à fixação de preços. A respeito da definição de cartel, cite-se
excerto da obra de Gesner de Oliveira e João Grandino Rodas:
O cartel constitui um acordo entre os concorrentes com o objetivo de
maximização conjunta de lucro. Assim, em vez de as empresas
concorrerem entre si, passam a coordenar suas ações de forma a obter os
maiores lucros possíveis, em detrimento dos consumidores. Quando
ocorre este tipo de ação concertada, a quantidade produzida é menor e o
preço maior, reduzindo o bem-estar.2
Trata-se assim de condutas anticoncorrenciais praticadas pelos agentes
econômicos, com inegável prejuízo para toda a coletividade, de não poder usufruir de
uma concorrência sadia que corresponda à diversificação de produtos e serviços a preços
competitivos. Tal prática deve ser combatida, seja por cominação de sanções elevadas,
seja por acordos substitutivos de sanção.
A caracterização de cartel é de difícil constatação pelas autoridades
anticoncorrenciais, pois os agentes econômicos realizam acordos, reuniões secretas e, no
mais das vezes, tais atividades ilícitas ocorrem por muitos anos, sem o conhecimento da
autoridade antitruste.
Menciona-se aqui, a título de ilustração, o comunicado de 8 de dezembro de 20113,
em que a Autoridade da Concorrência francesa (Autorité de la concurrence) autuou 4
empresas do setor de detergentes e de sabão em pó que praticaram cartel entre 1997 a
2004, envolvendo as empresas Unilever, Procter & Gamble, Henkel e Colgate Palmolive.
Os referidos agentes econômicos realizavam três ou quatro encontros secretos por ano,
em hotéis e restaurantes de Paris, acordando os preços e promoções que cada um faria
individualmente.
Nas reuniões, cada empresa tinha um nome secreto: Hugues para Henkel, Pierre
para Procter & Gamble, Laurence ou Louis para Unilever e Christian para Colgate. O seu
objetivo era dominar o mercado, eliminar a concorrência entre si e evitar uma guerra de
preços. Os aumentos de preços eram decididos em negociações, a fim de preservar a
posição das diferentes marcas.

1 A Lei n. 8.884/94 foi revogada pela Lei n. 12.529/2011, publicada no DOU de 01.11.2011 e retificada em
2 OLIVEIRA, Gesner; RODAS, João Grandino. Direito e economia da concorrência. Rio de Janeiro: Renovar,
2004. p. 42.
3 FRANÇA. Autorité de la concurrence. Comuniqués de 2011, 8 décembre 2011: Cartel des lessives. [Décision
n° 11-D-17 du 8 décembre 2011 relative à des pratiques mises en oeuvre dans le secteur des lessives].
Disponível em: <http://www.autoritedelaconcurrence.fr/user/standard.php?id_rub=388&id_article=1734>.
Acesso em: 17 jan. 2013.
3

Á guisa de exemplo de atividades coordenadas entre si, as empresas envolvidas


decidiram, para o ano de 2003, pela proibição de se fazer qualquer gratuidade, tal como
vender dois produtos pelo preço de um, como também estipularam as políticas
promocionais relacionadas ao calendário, à forma e ao montante a ser vendido,
estipulando um parâmetro para cada produto. Essas empresas restringiram a
concorrência por seis anos, mantendo os seus produtos a preços elevados, situação que
não ocorreria se não houvesse esse conluio.
No citado caso francês, houve a realização de acordo de leniência (procédure de
clémence) em que, pelo fato da Unilever ter levado ao conhecimento da autoridade
antitruste a existência do cartel, não foi a ela aplicada qualquer sanção. Às demais
empresas, que também participaram posteriormente do acordo de leniência, foram
cominadas multas, cujos valores foram diminuídos de 15 a 25%, segundo a gravidade de
cada conduta e as informações levadas à autoridade pública. A Unilever teve isenção de
pena, Henkel foi condenada a 92,3 milhões de euros, Procter & Gamble a 240 milhões de
euros e Colgate Palmolive a 35 milhões de euros.
Graças à realização de acordos na esfera administrativa, a autoridade francesa teve
ciência da conduta ilícita praticada pelos agentes econômicos que, em troca, tiveram
isenção da pena ou mitigação dela, segundo a ordem cronológica das delações, bem
como a gravidade das condutas dos envolvidos.
Assim, houve total ciência da prática de condutas ilícitas pela Administração
Pública, bem como o pagamento de multas pelos agentes econômicos, com inegável
salvaguarda do interesse público, ou seja, a proteção à concorrência no setor de
detergentes e sabão em pó na França. Os agentes econômicos reconheceram as
condutas ilícitas em acordo com o Poder Público, bem como pagaram as multas
administrativas, e assim mantiveram preservadas suas imagens perante os
consumidores.
Esse exemplo demonstra que o agente regulador, além de mediar as lides entre as
empresas, ou entre elas e os consumidores, deve resguardar o interesse da coletividade
na busca da livre concorrência, relacionada à diversificação de produtos e serviços, bem
como à competição entre os agentes econômicos. Ao garantir a competição entre os
agentes privados, haverá inegavelmente a atualização dos produtos e serviços segundo
os anseios dos consumidores, cujos preços diminuirão, fazendo com que mais indivíduos,
que antes se encontravam excluídos, tenham a eles acesso.
Nesse sentido deve ser a atuação da Administração Pública, quando da aplicação de
multas ou celebração de acordos com os particulares, devendo atuar para a consecução
do interesse público.

3 POSSIBILIDADE DE FIRMAR TERMO DE COMPROMISSO DE CESSAÇÃO DE


CONDUTA SEM RECONHECIMENTO DE CULPA

Um ponto controverso sobre o termo de compromisso de cessação de conduta


proposto pelos compromissários ocorre nos casos de configuração de cartel em que
poderia haver acordo administrativo sem reconhecimento de culpa, diferentemente do
que se dá nos acordos de leniência, em que há necessidade dele.
O acordo de leniência está previsto no artigo 35-B4 da Lei n. 8.884/94, para cuja
efetivação são necessárias confissão do ilícito, identificação dos demais autores,
apresentação de provas acerca do fato imputado e cessação imediata da conduta ilícita,
dentre outros requisitos. Após cumprir as cláusulas do acordo, o interessado terá em seu
favor a extinção da ação punitiva, ou ao menos a sua diminuição de um a dois terços. A
delação deve trazer necessariamente fatos desconhecidos pela SDE, bem como o
requerente não pode ter estado à frente da conduta ilícita.

4 Acordo de leniência previsto no artigo 86 da Lei n.12.529/2011.


4

No que concerne ao segundo tipo de acordo substitutivo de sanção analisado, ou


seja, o termo de compromisso de cessação de conduta, ele é previsto no artigo 535 da Lei
n. 8.884/94, e a proposta deve ser analisada segundo requisitos de conveniência e
oportunidade pelo CADE. Pode ser estipulada até o início de julgamento do processo pelo
plenário da autarquia federal, devendo ser fixadas multa para o caso de descumprimento
parcial ou total de suas cláusulas e contribuição para o Fundo de Direitos Difusos, em
caso de caracterização de cartel. Não há necessidade de reconhecimento de culpa,
tampouco dos fatos ocorridos.
Pode por fim o CADE alterar o compromisso durante sua vigência, se oneroso para
o compromissário, desde que acautelados os interesses da coletividade. Note-se o
cuidado do legislador em resguardar o interesse público primário, e não se ater somente
ao secundário, ou seja, ao intuito financeiro, podendo o CADE modificar o compromisso
em favor do administrado, se oneroso, desproporcional.
Diferentemente do acordo de leniência, que visa sobretudo à apuração das
condutas dos envolvidos segundo os relatos do delator, o termo de compromisso de
cessação de conduta almeja não somente a cessação delas, mas a imposição ao
compromissário de obrigações de fazer, indo ao encontro dos interesses da sociedade, na
persecução de boas práticas comerciais.
O reconhecimento de culpa nos termos de compromisso não contribui para o
propósito de reconciliação e diminuição de litígios. No caso em comento, ainda não havia
provas suficientes e a comprovação do ilícito mostrava-se altamente improvável, mas
com o acordo, a suposta conduta ilícita seria imediatamente cessada e o pactuado seria
resguardado, em caso de descumprimento, como título executivo extrajudicial.

4 O PROGRAMA DE COMPLIANCE6

Dentre as propostas constantes no acordo estavam o cumprimento de programas


de adequação das condutas empresariais e o treinamento dos seus funcionários, visando
à prevenção de cometimento de futuras práticas anticoncorrenciais. A empresa
apresentou os relatórios das atividades relacionadas aos programas de compliance,
podendo o CADE enviar nesse período representantes à sua sede para acompanhar o
desenvolvimento das condutas pactuadas.
O programa de compliance é realizado por meio de métodos de treinamento e
fiscalização, com o intuito de zelar no ambiente da empresa pelo estabelecimento de
boas práticas concorrenciais. O termo, na língua portuguesa, significa a conformidade
com as leis, os regulamentos internos e externos e os princípios corporativos que
garantam as melhores práticas do mercado.
Trata-se de medidas e iniciativas com o intuito de aumentar a percepção dos
funcionários da empresa quanto ao cumprimento das leis, principalmente no que tange à
norma antitruste. Deve ser nomeado um dirigente para coordenar e executar o
programa, de forma que seus objetivos sejam implementados e reforçados. O compliance
officer é o agente executor, possuindo responsabilidade e poderes para tanto.
Vale aqui ressaltar que o agente executor deve ter credibilidade entre os
funcionários, ou seja, não deve ter se envolvido em condutas impróprias de qualquer
natureza. O compliance officer deve identificar as práticas comerciais ou grupos de
funcionários que possam estar mais expostos, suscetíveis a questões de natureza
concorrencial. São realizadas palestras, sessões de treinamentos regulares e distribuição

5 Compromisso de cessação previsto no artigo 85 da Lei n.12.529/2011.


6 FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DE SÃO PAULO (FIESP). CENTRO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO
DE SÃO PAULO (CIESP). Direito concorrencial: manual de práticas concorrenciais FIESP. Disponível em:
<http://www.fiesp.com.br/indices-pesquisas-e-publicacoes/direito-concorrencial-manual-de-praticas-
concorrencial/>. Acesso em: 17 jan. 2013.
5

de folhetos; os empregados que não respeitarem o programa estarão sujeitos a


penalidades disciplinares.

5 O TERMO DE COMPROMISSO COMO MEIO DE PROTEÇÃO DOS INTERESSES


PÚBLICOS PRIMÁRIOS

Conforme os artigos 129-B e G do Regimento Interno do CADE7 consolidado em 02


de agosto de 2011, legislação vigente na época em que foi firmado o termo de cessação,
somente era obrigatória a confissão de culpa em termos de compromisso se tivesse
havido anteriormente acordo de leniência, pois haveria prejuízo injustificável e
desestímulo ao primeiro agente econômico que confessou a prática ilícita e ajudou nas
investigações, em relação ao segundo que, ao realizar posterior termo de compromisso,
não seria impelido a admitir os fatos ilícitos e a prática delituosa. Assim, com base no
Regimento Interno do CADE na época dos fatos, não havia empecilhos à efetivação de
termo de compromisso no presente processo, uma vez que, além das investigações
incipientes, não tinha sido firmado acordo de leniência.
Prosseguir o processo administrativo com a realização do termo de compromisso de
cessação de conduta não significa a sujeição da autarquia ao agente privado, uma vez
que se trata de um efeito próprio da negociação, ou seja, a solução breve do conflito por
meio de obrigações de fazer, de dar (contribuição ao FDD) e o próprio deslinde do
processo administrativo em que, no caso em estudo, não havia provas firmes e sérias
contra os compromissários.
No termo de compromisso não há flexibilização das garantias e valores de ordem
econômica, apenas se estimula o agente a cessar imediatamente sua atividade
supostamente lesiva, pois, tendo em vista que o processo administrativo em análise
ainda estava em trâmite, o dano não estava caracterizado; assim, o mais importante
para o interesse público primário era a imediata cessação da atividade ilícita e adoção de
medidas preventivas, inibitórias das condutas supostamente ilícitas.

7 Art. 129-B - A proposta de compromisso somente poderá ser apresentada, ao Conselheiro-Relator ou ao


Presidente do CADE, uma única vez. (Inserido pela Resolução n. 46, de 4 de setembro de 2007). Parágrafo
único - O protocolo da proposta de compromisso não implica confissão quanto à matéria de fato nem
reconhecimento da ilicitude da conduta objeto do processo administrativo ou da averiguação preliminar.
(Inserido pela Resolução n. 46, de 4 de setembro de 2007). Art. 129-G - Nos casos em que houver sido
celebrado acordo de leniência pela SDE, o compromisso de cessação deverá necessariamente conter
reconhecimento de culpa por parte do compromissário. Nos demais casos, a exigência da confissão de culpa
ficará a critério do CADE. (Inserido pela Resolução n. 46, de 4 de setembro de 2007). Disponível em:
<http://www.cade.gov.br/upload/regimento%20interno%20consolidado.pdf>. Acesso em: 17. jan. 2013. O
atual Regimento Interno do Cade (novo RICADE), consolidado em 29 de maio de 2012, em seus artigos 179
e 186, que se referem respectivamente ao termo de cessação e ao acordo de leniência, pouco alterou os
institutos substitutivos de sanção mencionados no Regimento Interno revogado. Todavia, enquanto que na
primeira norma citada havia referência no acordo de leniência à necessidade de reconhecimento de culpa,
no novo RICADE deve haver reconhecimento por parte do compromissário de participação na conduta
investigada. Transcrevo aqui excertos dos artigos 179 e 186 do novo RICADE: Art. 179 - Qualquer
representado interessado em celebrar o compromisso de cessação de que trata o art. 85 da Lei n. 12.529,
de 2011, deverá apresentar requerimento do termo ao Cade, dirigido ao Conselheiro-Relator, se os autos do
processo administrativo já houverem sido remetidos ao Tribunal, na hipótese do art. 74 da Lei n. 12.529, de
2011; ou ao Presidente do Cade, se o procedimento preparatório de inquérito administrativo, o inquérito
administrativo ou o processo administrativo ainda estiverem em curso na Superintendência-Geral. [...] § 5º
- O protocolo do requerimento de termo de compromisso não implica confissão quanto à matéria de fato
nem reconhecimento da ilicitude da conduta objeto do processo administrativo, do inquérito administrativo
ou do procedimento preparatório de inquérito administrativo. Art. 186 - Nos casos em que houver sido
celebrado acordo de leniência pela Superintendência-Geral, o compromisso de cessação deverá,
necessariamente, conter reconhecimento de participação na conduta investigada por parte do
compromissário. Parágrafo único - Nos demais casos, em que não houver sido celebrado acordo de
leniência, a exigência do reconhecimento de participação na conduta investigada ficará a critério do
Tribunal. (Disponível em: <http://www.cade.gov.br/upload/Resolu%C3%A7%C3%A3o%201_2012%20-
%20RICADE%20%282%29.pdf>. Acesso em: 17 jan. 2013).
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Frise-se, como bem salienta o jurista italiano Sabino Cassese, citado por Floriano
Peixoto de Azevedo Marques Neto8, que as autoridades independentes não perdem seu
caráter de legitimidade, estando elas subordinadas não ao princípio da legalidade, mas à
règle de droit, ou seja, a persecução do interesse público primário poderá estar no mais
das vezes na realização de acordos do que no prosseguimento estrito de processo
administrativo, cujo resultado ainda era incerto.
Cabe ao CADE, ao analisar e julgar os processos administrativos, encontrar a
melhor solução, não só entre as partes envolvidas, mas também à coletividade,
principalmente aos que ainda nem têm acesso ao serviço e produtos. Para cumprir tal
desiderato, o Estado regulador deve escolher, quando possível, a medida menos
restritiva aos direitos dos envolvidos, desde que assegurado o interesse da sociedade.
Assim, além da penalidade que pode ser aplicada ao final do processo administrativo, há
outras já citadas como substitutivas de sanção: o acordo de leniência e o termo de
cessação de conduta. A aplicação da medida menos gravosa possível se deve ao
interesse público na manutenção da empresa, assegurando a livre concorrência leal, bem
como os vínculos empregatícios e a riqueza por ela gerados.
A maioria dos conselheiros do CADE aprovou o acordo, pois, como foi fixado no
voto vogal do conselheiro Luiz Carlos Delorme Prado9, a exigência de fixação de culpa fica
a critério da própria autarquia federal, diferentemente do que ocorre no acordo de
leniência, em que a sua assunção é obrigatória. Segundo esse voto condutor, no termo
de compromisso, em havendo a confissão de culpa, não haveria extinção de punibilidade,
tampouco diminuição da pena. Por fim, aduz o conselheiro que o termo de cessação
tornar-se-ia mais gravoso que o acordo de leniência, uma vez que este admite a extinção
de punibilidade ou a diminuição da pena; assim, ao firmar o termo de cessação com a
confissão de responsabilidade, o compromissário poderia responder posteriormente na
esfera criminal, com provável condenação na cível, pelas diversas demandas individuais
ou coletivas dos consumidores.
Vale ainda ressaltar que o presente processo administrativo encontrava-se em seu
início na Secretária de Desenvolvimento Econômico e então, com poucas provas colhidas,
a celebração do termo de compromisso mostrava-se mais eficiente do que o acordo de
leniência, impondo aos compromissários condutas de obrigação de fazer, contribuição ao
Fundo de Direitos Difusos e aplicação de multa diária, em caso de descumprimento total
ou parcial. Tratava-se de medida de economicidade e eficiência em relação a um longo
processo administrativo com condenação incerta e possibilidade de posterior contestação
em juízo.
Ao realizar a atividade consensual, o suposto transgressor tem o seu ponto de vista
considerado na elaboração das cláusulas do ajuste, o que é fundamental para o êxito,
pois a decisão participativa significa, sobretudo, uma maior probabilidade de que o
próprio compromissário venha a cumprir o que ele mesmo estipulou. Embora se deva
ressaltar que mesmo realizando a interlocução, a bilateralidade, a última palavra
continua sendo da Administração Pública, por meio do ato administrativo, pois não há
renúncia ao poder decisório.
Se na delegação do serviço público cabe ao Estado fiscalizar e controlar, ou seja,
atuar ativamente para que o particular-delegado cumpra as cláusulas contratuais entre si
avençadas, já no que se refere às atividades econômicas stricto sensu, o papel do Estado
é subsidiário, regulatório, tendo como objetivo a proteção dos princípios econômicos
insculpidos na Constituição Federal em seu artigo 170, dentre os quais podemos ressaltar
a proteção aos consumidores, à propriedade privada e à livre concorrência.

8 MARQUES NETO, Floriano Peixoto de Azevedo. Regulação estatal e interesses públicos. São Paulo:
Malheiros, 2002. p. 206.
9 CONSELHO ADMINISTRATIVO DE DEFESA ECONÔMICA (CADE). PA n. 08700.005281/2007-96. Voto do
conselheiro Luis Carlos Delorme Prado. Disponível em:
<http://www.cade.gov.br/temp/D_D000000386011161.pdf>. Acesso em: 17 jan. 2013.
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Assim, hodiernamente, além do contrato ser o mecanismo de atuação do Poder


Público na delegação da prestação de serviços de interesse público, tem ele função
primordial em atividades econômicas stricto sensu, especificamente na solução
consensual de conflitos entre os agentes econômicos ou entre estes e os consumidores.
Sobre essa nova forma de intervencionismo econômico do Estado, que não é mais
unilateral e impositiva, mas sim sob a égide do contrato, da cooperação, ensinam os
juristas franceses Manuel Delamarre e Timothée Paris:
[...] cette idée d’intervention plus souple des collectivités publiques dans
le secteur économique se manifeste sourtout par l’utilisation de formes
nouvelles d’action, éloignées de l’intervention unilatérale. L’utilisation
croissante du contrat comme mode de l’action publique est sans doute
une bonne expression de ces nouvelles formes d’interventionnisme
économique.10
No caso em comento, tratando-se de atividade econômica stricto sensu, os
requerentes apresentaram o termo de compromisso, tendo o conselheiro relator
concedido prazo de trinta dias à Procuradoria Federal do CADE para a negociação dos
termos. Por fim, restou estipulado no acordo que a contribuição ao Fundo de Direitos
Difusos fosse majorada para além dos iniciais R$ 2 milhões propostos pelos
compromissários.
O mais importante para a sociedade, ou o interesse primário a ser resguardado, era
inegavelmente a imediata cessação da suposta conduta transgressora do que
necessariamente o reconhecimento da culpa. Foram também levados em conta para a
aprovação do termo de compromisso os bons antecedentes dos compromissários e que
não havia ocorrido busca e apreensão de documentos pela SDE na sede da empresa.
A empresa compromissária comprovou o efetivo cumprimento das cláusulas do
termo de compromisso, que foram:
a) Em relação ao programa de compliance, que são regras internas de
prevenção a infrações concorrenciais e com treinamento de seus
empregados, a empresa enviou ao CADE dois relatórios acerca do
cumprimento do programa, que teve duração de um ano, após a celebração.
b) Comprovação de recolhimento das contribuições pecuniárias ao Fundo de
Direitos Difusos, seja pela empresa, seja pelo seu ex-empregado.
c) Envio de relatórios a cada quatro meses, até o término do termo,
informando o cumprimento de todas as atividades realizadas e relacionadas
às obrigações constantes no pactuado.
d) Possibilidade de livre acesso das autoridades concorrenciais às dependências
da empresa e cooperação técnica acerca dos esclarecimentos na fabricação,
armazenamento e comercialização de embalagens flexíveis.
Portanto, no caso em tela, o termo de compromisso de cessação de conduta foi
instrumento hábil para a cessação imediata da suposta conduta nociva à livre
concorrência, tendo os compromissários, além do pagamento de contribuição ao Fundo
de Direitos Difusos, cumprido obrigações de fazer. Por terem os compromissários
executado efetivamente as cláusulas, não houve necessidade de aplicação de multa.

10 DELAMARRE, Manuel; PARIS, Timothée. Droit administratif. Paris: Ellipses, 2009. p 232.
8

CONCLUSÕES

O interesse público primário restou assegurado, ou seja, a proteção da livre


concorrência do mercado de embalagens, havendo segurança do cumprimento da
obrigação de fazer, seja pela cominação de multas, seja pelo fato de que referido
documento de consenso era título executivo extrajudicial. Preteriu-se o prosseguimento
de processo administrativo, que se iniciava com poucas provas colhidas e a posterior
necessidade de ampla defesa e contraditório, até a decisão final do colegiado do CADE
que, em caso de condenação, abriria a possibilidade de contestação pela via judicial.
Houve por fim inegável economia de recursos públicos na apuração de suposto
ilícito, além da efetivação de medidas concretas de cessação de suposta prática ilícita, e
obrigações preventivas, educativas (compliance) por parte dos compromissários, em prol
da sociedade.

REFERÊNCIAS

CONSELHO ADMINISTRATIVO DE DEFESA ECONÔMICA (CADE). PA n. 08700.005281/2007-96.


Voto do conselheiro Luis Carlos Delorme Prado. Disponível em:
<http://www.cade.gov.br/temp/D_D000000386011161.pdf>. Acesso em: 17 jan. 2013.

CONSELHO ADMINISTRATIVO DE DEFESA ECONÔMICA (CADE). Regimento interno do CADE,


consolidado em 02 de agosto de 2011. Disponível em:
<http://www.cade.gov.br/upload/regimento%20interno%20consolidado.pdf>. Acesso em: 17 jan.
2013.

CONSELHO ADMINISTRATIVO DE DEFESA ECONÔMICA (CADE). Novo Regimento interno do CADE,


consolidado em 29 de maio de 2012. Disponível
em:<http://www.cade.gov.br/upload/Resolu%C3%A7%C3%A3o%201_2012%20-
%20RICADE%20%282%29.pdf>. Acesso em: 17 jan. 2013.

DELAMARRE, Manuel; PARIS, Timothée. Droit administratif. Paris: Ellipses, 2009. (Optimum).

FRANÇA. Autorité de la concurrence. Comuniqués de 2011, 8 décembre 2011: Cartel des lessives.
[Décision n° 11-D-17 du 8 décembre 2011 relative à des pratiques mises en oeuvre dans le secteur
des lessives]. Disponível em:
<http://www.autoritedelaconcurrence.fr/user/standard.php?id_rub=388&id_article=1734>. Acesso
em: 17 jan. 2013.

FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DE SÃO PAULO (FIESP). CENTRO DAS INDÚSTRIAS DO
ESTADO DE SÃO PAULO (CIESP). Direito concorrencial: manual de práticas concorrenciais FIESP.
Disponível em: <http://www.fiesp.com.br/indices-pesquisas-e-publicacoes/direito-concorrencial-
manual-de-praticas-concorrencial/>. Acesso em: 17 jan. 2013.

MARQUES NETO, Floriano Peixoto de Azevedo. Regulação estatal e interesses públicos. São Paulo:
Malheiros, 2002.

OLIVEIRA, Gesner; RODAS, João Grandino. Direito e economia da concorrência. Rio de Janeiro:
Renovar, 2004.

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