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Pensamento Urbano, Ciência e Filosofia

Como o pensamento urbano atual está situado dentro da discussão


sobre os limites da ciência e da filosofia? O que o pensamento urbano
tem a ver com as discussões entre diversidade e metateorias, pós-
modernidade e modernidade? Sobre modernidade, Marshall
Bermann, em “Tudo que é Sólido Desmancha no Ar”, afirmava:
“Existe um tipo de experiência vital – experiência de tempo e espaço,
de si mesmo e dos outros, das possibilidades e perigos da vida – que
é compartilhada por homens e mulheres em todo o mundo, hoje.
Designarei esse conjunto de experiências como ‘modernidade’.” (2)
David Harvey (3), em “Condição Pós-moderna”, desenvolve essa
percepção de Bermann e nos fala que o sentido de ruptura ou de
transição do pensamento ou de uma cultura são percepções ou
reflexos de novas experiências e sentimentos relacionados ao tempo
e ao espaço, isto é, quando as relações de tempo e espaço mudam
perceptivelmente, há um sinal de forte transição cultural, econômica,
social, política. E não há nada mais relacionado à experiência de
tempo e espaço na cultura de uma sociedade, figura metafísica, do
que a sua imagem física: a cidade. Nesse sentido, segundo Harvey,
“O ambiente construído constitui um elemento de um complexo de
experiência urbana que há muito é um cadinho vital para se forjarem
novas sensibilidades culturais. A aparência de uma cidade e o modo
como os seus espaços se organizam formam uma base material a
partir da qual é possível pensar, avaliar e realizar uma gama de
possíveis sensações e práticas sociais”. (4)
Essa percepção estimula o pensador a voltar o seu olhar para a
cidade, como uma rica e contraditória fonte de reflexões. Além disso,
conduz a uma incessante busca, nos domínios ‘não-urbanos’ (ao
menos diretamente), de respostas a novas e inquietantes questões
relacionadas ao seu objeto primeiro, que neste caso é a cidade. Há,
dessa forma, um fluxo recíproco de influências, entre o urbano e o
não-urbano, e tudo parece se encaixar dentro de uma discussão
maior que é o pensamento humano (urbano ou não), do qual fazem
parte a ciência (observação da realidade) e filosofia (reflexão sobre
a realidade).
Dessa forma, surgem algumas inquietações. Entre elas, uma mais
provocadora: estaria a ciência em crise? E quanto à diversidade de
idéias sem ideais, que foi (e ainda é) a pós-modernidade, em sua
contraposição ao ideal sem diversificações, que foi o modernismo:
seria essa pós-modernidade uma extensão deste último ou
realmente uma ruptura? Ou seria apenas modernidade em crise?
Não se sabe ao certo se essas perguntas guardam respostas claras
ou definitivas, sabe-se apenas que são incômodas e afetam a
postura do pensador ou ‘cientista’ urbano, à medida que ficam
suspensas no ar, exalando odor de uma sociedade em
decomposição.
Falemos então da necessidade de se discutir o pensamento urbano
junto às questões da filosofia e da ciência. Como assim filosofia? O
que Descartes, Marx, Foucault, Derrida, para citar alguns exemplos,
têm a ver com as posturas e os pensamentos urbanos? Seria
ingenuidade pensar que Corbusier escreveu a sua Carta de Atenas
fechado em uma redoma (feita em vidro e concreto por Mies), isolado
do mundo e das idéias que pairavam no ar. O provável é que
Decartes tenha freqüentado a sua cabeceira. A Bauhaus, antes de
ser da arquitetura, foi uma escola de idéias estéticas conduzida pelos
avanços da ciência e das novas idéias da filosofia alemã. Ampliando
a discussão estética e trazendo para a arquitetura, podemos ousar
dizer, para a insatisfação de seus mentores e discípulos, que o
“deconstrutivismo” na arquitetura, foi mais uma vertente retórica do
pós-modernismo (5). E podemos ir mais longe: o pós-modernismo foi
uma extensão alegórica do modernismo, pois não houve uma clara
ruptura de espaço e tempo do objeto arquitetônico e urbano dito pós-
moderno. A ruptura foi filosófica, em alguns casos apenas retórica.
Afinal, a “deconstrução arquitetônica” surgiu inspirada nas colagens
literárias e nos fragmentos de textos sugeridos por Derrida (6). E o
pós-modernismo dos sem esperanças e sem ideais encontra na
filosofia pós-moderna a inspiração perfeita, através do seu
pragmatismo e efemeridade (7). E o que dizer de Marx em relação
aos pensadores urbanos? Qualquer semelhança entre o edifício-
máquina e o operário que é uma peça da revolução não é mera
coincidência. Assim podemos aproximar Marx do modernismo, por
suas idéias que tendem ao iluminismo, idéias científicas. Por outro
lado, surpreendentemente, há um pouco de pós-modernidade em
Marx (ou diríamos marxismo no pós-moderno). Não no projeto
iluminista, mas na consciência do efêmero, da transição, da
complexidade da vida moderna:
“Todas as relações fixas, enrijecidas, com seu travo de antiguidade
e veneráveis preconceitos e opiniões, foram banidas; todas as novas
relações se tornam antiquadas antes que cheguem a se ossificar.
Tudo que é sólido desmancha no ar, tudo que é sagrado é
profanado...” (8).
Filosofia e ciência são, pois, reflexão e observação, respectivamente.
No pensamento urbano, cada uma dentro de seus limites e
aplicabilidades (quando aplicáveis), filosofia e ciência apresentam a
sua força.
Parece então ficar mais claro o porquê de se reunir em uma
discussão o pensamento urbano, a ciência e a filosofia, sob o
enfoque da crise da modernidade. Trata-se, afinal, de uma discussão
sobre como olhar a cidade. Mas que aspectos desse olhar podem
interessar nessa discussão? Talvez revisitando Bachelard, segundo
o qual “o espaço compreendido pela imaginação não pode ficar
sendo o espaço indiferente abandonado à medida e reflexão do
geômetra” (9). Talvez a própria idéia de cidade, enquanto ‘artefato’
claro e definido, gerando a idéia de uma grande máquina, controlável
e definível. O que seria, então, a cidade? Talvez não um objeto
concreto, mas uma sucessão de fenômenos, alguns não tão
concretos e palpáveis.
Há um outro aspecto, talvez o mais importante e com certeza
polêmico, que não está na cidade em si, mas na própria designação
da disciplina que se encarrega de compreendê-la: a ciência urbana.
Essa designação leva à aceitação de que o estudo do fato urbano
deveria ser conduzido dentro dos rigores do método científico (10).
Se o objetivo da ciência urbana é compreender a cidade como objeto
e sintetizar a sua complexidade em esquemas compreensíveis e
racionais, passíveis de descrição e transcrição, surge uma
contradição com o espírito pós-moderno, que não distingue, neste
caso, o sujeito e o objeto do conhecimento. Enquanto ciência, a
disciplina deveria buscar domínio e controle sobre o espaço e o
tempo, outra forte contradição com o espírito da pós-modernidade,
que não acreditava na ciência como a principal responsável pelo
progresso e emancipação do homem. Enfim, parece ser contraditório
falar de uma ciência urbana pós-moderna. Por quê?
Vejamos: se a idéia da pós-modernidade é realmente a sua “total
aceitação do efêmero, do fragmentário, do descontínuo e do caótico”
(11), há uma negação à própria existência do cientista, que é o
elemento responsável pelo controle, pela unidade, pela continuidade
e pela ordem. Harvey chega a sugerir que no campo da arquitetura e
do projeto urbano, o pós-modernismo é uma ruptura com a idéia
modernista e “cultiva um conceito do tecido urbano como algo
necessariamente fragmentado, um palimpsesto de formas passadas
superpostas umas às outras e uma colagem de usos correntes,
muitos dos quais podem ser efêmeros”. Está aí a grande contradição:
como ser efêmero e portanto pós-moderno, se a própria atuação do
cientista urbano enquanto pesquisador ou planejador é carregada de
um espírito definidor, idealizador? O planejador urbano, mesmo que
admita uma postura fragmentária e de superposições, tende a
apresentar um produto único, contínuo, planificado (12). Uma “obra
de autor” e não de autores em sucessiva construção, como propõe a
filosofia pós-moderna.
Na verdade, não parece ter havido uma clara ruptura no espaço e no
tempo, entre a modernidade e a suposta pós-modernidade, pois os
produtos dos planejadores urbanos se contradizem com o discurso
da diversidade e da efemeridade. São (em sua maioria) produtos
planejados e idealizados para serem definitivos no espaço e no
tempo: para não crescerem, não mudarem, não se adaptarem.
Além do planejamento em si, a própria postura científica apresenta-
se como algo contraditório. Muito se fala que a pós-modernidade é
uma ruptura ao “projeto iluminista”, no qual o modernismo teria sido
o auge. Se o ideal iluminista carrega a busca de um ideal, o pós-
moderno recusa ideais em nome das idéias. Talvez na literatura, nas
artes plásticas ou na filosofia o pensamento pós-moderno tenha
encontrado menos contradições e tenha se estabelecido mais
firmemente. Nos campos da cientificidade, no entanto, há uma
barreira lógica, que mesmo assim não é admitida por muitos pós-
modernos. Em outras palavras, como abalar o espírito iluminista sem
abalar a própria idéia de ciência? Afinal, a ciência, qualquer que seja,
é experimental, parte da observação (que vem da própria definição
de ciência).
Como abalar o sentido de ciência no estudo do fato urbano (como
desejam os pós-modernistas) se a sua disciplina traz claramente em
sua designação o rigor e a definição científica? É o caso do
urbanismo. Como falar de um urbanismo pós-moderno se a própria
idéia de sintetizar o tema urbano em uma disciplina, sob os domínios
de um ‘cientista urbano’ é contrária aos princípios (ou à falta de
princípios) pós-modernos? Poderíamos, então, indagar: se a pós-
modernidade prega o fim do “espírito científico”, estaríamos diante do
fim da ciência urbana? O fim do urbanismo?
Se o estudo da cidade é, pois, objeto de uma “ciência urbana”, é
imprescindível discutir o conceito de ciência e entender o que alguns
pensadores têm definido como “crise paradigmática” (13).
Como contraposição a essa idéia de ‘fim da ciência’, muitos cientistas
e filósofos contemporâneos acreditam na reconstrução da idéia de
ciência, e que o seu conceito ‘moderno’, que está vinculado ao
projeto iluminista de ordem, controle e síntese, tem sido substituído
por uma percepção da desordem, do descontrole, da diversidade.
Segundo Harvey (14), no campo das ciências, a pós-modernidade se
caracteriza por uma espécie de recusa à eterna busca de “leis
universais” para o funcionamento do universo. Como exemplo, cita
as idéias de Kuhn e Feyerabend,e a ênfase na descontinuidade e na
diferença na história e a primazia dada por Focault a “correlações
polimorfas em vez da casualidade simples ou complexa”.
Nesse sentido, John Horgan (15), um dos editores da revista
Scientific American, autor de “O fim da ciência – uma discussão sobre
os limites do conhecimento científico” – um título mais pós-moderno
que esse parece impossível – nos apresenta o rumo dos diversos
campos da ciência nesse fim de século, transição de milênio. No
capítulo intitulado “O fim da filosofia”, fala dos paradigmas de Thomas
Kuhn (que abandonou a física pela filosofia) e da “anarquia” de Paul
Feyerabend. Falando sobre uma possível crise na ciência pós-
moderna (que segundo Boaventura Santos é uma crise
paradigmática) Horgan (16), citando Kuhn, afirma: “A maioria dos
cientistas nunca questiona o paradigma. Eles resolvem os enigmas,
problemas que reforçam e estendem o alcance do paradigma em vez
de questioná-lo.(...) Há sempre anomalias, fenômenos que o
paradigma não consegue explicar ou até o contradizem. As
anomalias são freqüentemente ignoradas, mas, se acumuladas,
podem provocar uma revolução (também chamada mudança de
paradigma)”. Ainda citando as idéias que Thomas Kuhn apresentou
em ‘A estrutura das revoluções científicas’, Horgan (17) comenta:
“algumas áreas, como a economia e outras ciências sociais
[podemos incluir a ciência urbana], nunca se mantém fiéis por muito
tempo a um único paradigma, porque tratam de problemas para os
quais nenhum paradigma será suficiente. As áreas que atingem o
consenso – ou a normalidade, tomando emprestado o termo de
Kuhn, só o conseguem porque seus paradigmas correspondem a
algo real na natureza, algo verdadeiro.” Tudo parece mais uma vez
confuso? Onde se encaixam nessas observações o interesse do
pensamento urbano? Antes de chegar lá, destaquemos algumas
idéias de Feyerabend, citadas por Horgan (18), que muito nos
esclarecem sobre as idéias pós-modernas dentro das ciências: “a
Filosofia não pode fornecer uma metodologia ou uma racionalidade
para a ciência, pois não há racionalidade a explicar.’ Ainda segundo
Feyerabend, “os intelectuais influentes, com seu zelo pela
objetividade, matam esses elementos pessoais. Não são libertadores
da humanidade, mas criminosos”. Segundo Horgan, ele atacava a
ciência porque reconhecia – e temia – o seu poder, o seu potencial
de eliminar a diversidade do pensamento e da cultura humanos.
Enfim, em uma típica expressão anti-iluminista, Feyerabend afirma:
“a própria verdade é um termo retórico”.
Pois bem. Todos esses discursos foram proferidos por filósofos e
cientistas, mas na verdade poderiam estar registrados em manifestos
pós-modernos e anti-modernistas da arquitetura e do urbanismo,
como nos escritos de Charles Jencks (19) ou nos manifestos
deconstrutivistas de Zaha Hadid, de Libeskind, ou de Peter
Eisenman, referindo-se a Derrida. Muitas vezes, no entanto, todos
esses discursos mais pareciam retóricos do que práticos. É verdade
que o modernismo também foi carregado de intensa retórica, de
utopias sociais, revolução através da arquitetura, construção,
produção. O sentimento do final do século XX, comparado ao espírito
do seu início é algo como se o mundo tivesse crescido demais e a
experiência de espaço e tempo assimilada pelo homem
contemporâneo não suportasse mais o ritmo da “construção do
progresso”. A era da comunicação substitui a era da industrialização.
O pensamento urbano industrial, que requeria produção em série
(soluções em massa) passara a ser substituído pelo pensamento
urbano da informação e das múltiplas redes de socialização,
caracterizadas pela diversidade formal e pela descentralização da
produção (como as favelas, por exemplo). Mas a questão urbana, em
essência, parece insistir no ensaio de laboratório, em que o produto
do planejamento tem sido a imposição de um modelo. Mesmo que
aquele seja um modelo localizado e único, ele tende a ser
permanente e limitado enquanto proposta, enquanto idéia. Ainda tem
sido autoral, ao invés de coletivo. Estático, ao invés de dinâmico. E o
espaço real não é autoral, especialmente o espaço público, a cidade.
Seria suficiente, então, para uma ciência urbana que se diz pós-
moderna, apenas inserir prefácios e manifestos discursivos que
pregam a fragmentação, a diversidade e a efemeridade? Haveria,
dessa forma, uma forte contradição, pois o que viria depois seria uma
síntese, um “falso consenso”, uma imagem congelada da realidade
dinâmica. Um projeto, por mais diversificado e localizado que se
propõe ser, é um ensaio fotográfico, quando na verdade a realidade
é imagem em movimento (no espaço e no tempo).
Torna-se fácil, então, acreditar numa postura pós-moderna na
literatura, na filosofia e nas artes-plásticas, mas torna-se suspeito
defender o fim da ciência e do iluminismo no exercício e na
elaboração de produtos que continuam sendo intrinsecamente
‘iluministas’, pois se apresentam como ideais, sínteses. Seria, então,
o pós-modernismo na cidade apenas um desabafo à intensidade
produtiva do modernismo? Como definir se a atitude de um
planejador ou de um pesquisador urbano é uma atitude pós-
moderna? A única alternativa seria negar a existência do cientista, do
urbanista, e juntamente com ele, o fim de sua ciência, o fim do
urbanismo.
As inquietações então persistem; menos como perguntas (afinal não
se esperam respostas, pelo menos não deste autor) e mais como
reflexões, suposições, auto-provocações. Haveria, realmente,
soluções? Se a pós-modernidade prega (ou pregava) o fim ou a
transitoriedade da verdade, como definir a atividade do planejador
urbano? Se o produto de sua verdade não deve ser entendido como
algo absoluto, onde está a sua autoridade intelectual e o seu domínio
técnico? Como, então, atuar sobre as cidades sem um ato de poder?
O que constatamos é que lidar com a ciência é realmente um desafio
ousado no mundo atual, principalmente quando os seus efeitos não
mais são apenas anti-estéticos, mas são também anti-éticos. Quanto
mais se torna difícil responder às perguntas iniciais, mas fácil é
admitir a sua importância e urgência. Tantas inquietações filosóficas
tendem a gerar crises, que não são apenas metodológicas, mas
paradigmáticas como sugere Boaventura Santos (20), isto é, crises
que afetam não apenas o método, mas as bases conceituais, os
princípios. O fato é que diante da ameaça ao espírito científico,
inclusive dentro do pensamento urbano, parece ter havido uma
espécie de reação, que poderíamos “apelidar” de “racionalismo
esclarecido” (assim como os déspotas). O que se tem atualmente,
então, são duas posturas contemporâneas, resultantes da reflexão
entre modernidade e pós-modernidade sobre as ciências (que têm-
se refletido, como veremos, no pensamento urbano). A primeira, da
qual já falamos, prega o fim da ciência, enquanto definidora de
verdades, por defender a diversidade, o descontrole, a “relatividade
absoluta” (evidentemente contraditória). Essa é a “pós-modernidade
anti-iluminista”, sem ideais, sem padrões, sem objetivos lógicos. Por
outro lado, há os que defendem não o fim da ciência, mas a sua crise,
uma crise construtiva, de onde sai fortalecida. A ciência moderna
estaria em crise, mas o espírito científico estaria mais forte do que
nunca (e mais do que nunca ousado). Seria este o velho espírito
moderno rejuvenescido pelos tempos atuais, ou uma vertente do
espírito pós-moderno, que contraria o anti-iluminista?
Segundo Harvey (21), “os novos desenvolvimentos na matemática –
acentuando a indeterminação (a teoria da catástrofe e do caos, a
geometria dos fractais) - , o ressurgimento da preocupação na ética,
na política e na antropologia (...) – tudo isso indica ampla e profunda
mudança na estrutura do sentimento”, e esses exemplos indicariam
a rejeição de metateorias (interpretações teóricas de larga escala
pretensamente de aplicação universal). Harvey, no entanto, parece
não se dar conta de que esses “novos desenvolvimentos na
matemática”, definidos como “ciências da complexidade” (que
incluem caos (22), fractais, sistemas adaptáveis complexos...) são
exatamente a resposta positivista do pós-modernismo à “crise do
pensamento científico moderno”. São mais do que nunca uma
retomada do projeto iluminista. Algo que até parece contraditório. Em
outras palavras, os “complexologistas” mudam os paradigmas, mas
mantêm (e até fortalecem) as intenções racionais, a busca por regras
universais, enfim, a “cientificidade”. É um novo espírito científico, em
nome da diversidade.
Nesse sentido, podemos citar John Holland (23), conceituado
‘complexologista’, autor de ‘Ordem Oculta’, ao afirmar que muitos de
nossos problemas - balança de mercado, sustentabilidade, AIDS,
defeitos genéticos, saúde mental, vírus de computador, - estão
centrados em certos sistemas de extraordinária complexidade. Os
sistemas que guardam tais problemas - economia, ecologia, sistema
imunológico, embriologia, sistema nervoso, redes de computação, -
parecem ser tão diversos quanto seus problemas. Apesar das
aparências, contudo, os sistemas compartilham significantes
características e são definidos como sistemas adaptáveis complexos
(CAS). Isso é mais do que uma terminologia. Isso assinala a intuição
de que há princípios gerais que governam todos os comportamentos
dos CAS, princípios que ajudariam a resolver os problemas que a
lógica euclidiana deixou para trás.
Para a ciência urbana, esse novo olhar sobre as ciências parece ter
surgido como uma grande saída: o equilíbrio desejado entre a
diversidade e a fragmentação da cidade e a necessidade
metodológica do rigor cientifico (24). Essa questão tem sido tratada
com bastante atenção por uma série de pesquisadores urbanos, nos
últimos anos. Ora de forma matemática, ora de forma teórica e
conceitual, esses cientistas (Hillier (25), Batty, Frankhauser) estão
lançando mão de ferramentas - como os computadores - e de novos
conceitos, para entender ou atuar sobre a cidade contemporânea,
seja de forma discursiva, estética ou matemática. São posturas pós-
modernas, pois destacam a diversidade e a complexidade como
variáveis indispensáveis. São modernas, pois não descartam a razão
iluminista como base científica. Estamos, portanto, em um período
em que tem sido muito comum se apropriar das diversidades e
saborear as divergências, ao invés de tentar classificar, rotular,
extinguir ou retomar estilos e tendências.
Enfim, há uma crise, pois a evolução do conhecimento parte da
consciência dos conflitos e por isso as crises são contínuas. Às vezes
essas crises são superficiais e outras vezes simbolizam rupturas.
Mas diante de tanta diversidade, qual posição nós, pensadores do
universo urbano, deveríamos tomar? Talvez seguir o conselho de
“um certo” Feyerabend (26): “Não tenho posição! Quem tem uma
posição fica sempre imobilizado, parafusado. Eu tenho opiniões que
defendo um tanto vigorosamente, depois descubro como são tolas e
desisto delas!”.
notas
1
Versão revisada e atualizada de texto originalmente publicado no
caderno Escritos Urbanos, do Programa de Pós Graduação em
Desenvolvimento Urbano da Universidade Federal de Pernambuco,
em 2000.
2
BERMAN, M. Tudo que é sólido desmancha no ar. 4ed. São Paulo,
Companhia das Letras, 1986, p. 15.
3
HARVEY, D. Condição Pós-Moderna. 7ed. São Paulo, Edições
Loyola, 1998.
4HARVEY, D. Idem, Ibidem, p. 69.
5
PAPADAKIS, M (Editor). Art & Design The New Modernism –
Deconstructionist Tendencies in Art. London, Academy Group, 1988.
6
PAPADAKIS, M (Editor). Architectural Design - Deconstruction III.
London, Academy Editions, 1994.
7
Segundo HARVEY, D. Op. Cit., p. 91.
8
Manifesto Comunista, de Marx e Engels, citado por HARVEY, D. Op.
Cit., p.97.
9
BACHELARD, G. A filosofia do Não; O novo espírito científico; A
poética do Espaço. São Paulo, Abril Cultural, 1979, p. 196.
10
BARDET, G. O Urbanismo. São Paulo, Papirus Editora, 2001.
11
HARVEY, D. Op. Cit., p. 96.
12
LACAZE, J. Os Métodos do Urbanismo. São Paulo, Papirus Editora,
2001.
13
SANTOS, B. Introdução a uma Ciência Pós-Moderna. Portugal,
Edições Graal, 1989.
14
HARVEY, D. Op. Cit., p. 19.
15
HORGAN, J. O fim da ciência – um discurso sobre os limites do
conhecimento científico. São Paulo, Companhia das Letras, 1998.
16
HORGAN, J. Idem, Ibidem, p. 61.
17
HORGAN, J. Idem, Ibidem, p. 66.
18
HORGAN, J. Idem, Ibidem, p. 67.
19
JENCKS, C. The Architecture of the Jumping Universe, 2ed. London,
Academy Editions, 1997.
20
SANTOS, B. Op. Cit..
21
HARVEY, D. Op. Cit., p. 19.
22
GLEICK, J. Caos - A Criação de uma Nova Ciência. 4ed. São Paulo,
Editora Campus, 1991.
23
HOLLAND, J. HiddenOrder - how adaptation builds complexity. 3ed.
USA, Perseus Books, 1998, p. 4.
24
BATTY, M ; LONGLEY, P. Fractal Cities - A Geometry Form and
Funcion. 1ed. London, Academic Press, 1994.
25
HILLIER, B.; HANSON, J. The Social Logic of Space. London,
Cambridge Universe Press, 1997.
26
HORGAN, J. Op. Cit., p. 70.

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