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NO BRASIL URBAN O
R achel Soihet
d om éstico das m ulheres. Além disso, as con cep ções de honra e de casa
m ento das mu lheres p obres eram considerad as perigosas à moralidade da
nova socied ad e qu e se form ava.1
As im p osições da nova ord em tinham o resp ald o da ciên cia, o
paradigma do momento. A medicina social assegurava com o características
femininas, p or razões biológicas: a fragilidade, o recato, o p redomínio das
faculdades afetivas sobre as intelectuais, a su bord inação da sexu alid ad e à
vocação m aternal. Em op osição, o homem conju gava à sua força física
uma natureza autoritária, empreended ora, racional e uma sexu alidade sem
freios. As características atribuídas às mulheres eram su ficientes para justi
ficar qu e se exigisse delas uma atitude de su bmissão, um com p ortam ento
que não maculasse sua honra. Estavam impedidas do exercício da sexu ali
dade antes d e se casarem e, d ep ois, deviam restringi-la ao âmbito d esse
casam ento. Cesare Lombroso, m éd ico italiano e nome conceitu ad o da
criminologia no final d o sécu lo XIX, com base nesses p ressu p ostos, argu
mentava qu e as leis contra o adu ltério só d everiam atingir a m u lher não
predisposta p ela natureza para esse tipo de comportamento. Aquelas dota
das de erotismo intenso e forte inteligência, seriam despidas do sentim en
to de m aternid ad e, característica inata da mulher normal, e consid erad as
extrem am ente p erigosas. Constituíam-se nas criminosas natas, nas p rosti
tutas e nas lou cas qu e deveriam ser afastadas do convívio social.2
O Código Penal, o com p lexo ju diciário e a ação p olicial eram os re
cursos utilizados p elo sistema vigente a fim de disciplinar, controlar e esta
belecer normas para as mulheres dos segmentos populares. Nesse sentido,
tal ação procu rava se fazer sentir na m od eração da linguagem dessas mu
lheres, estimulando seu s “hábitos sadios e as boas m aneiras”, reprimind o
seus excessos verbais.
A violência seria p resen ça marcante nesse p rocesso. Ainda mais qu e
naqu ele m om ento a postura das classes d ominantes era mais de coerção
do qu e de d ireção intelectual ou moral. A análise do caráter multiforme da
violência qu e incid ia sobre as m ulheres p obres e das resp ostas p or ela
encontrad as para fazer face às m azelas do sistema ou d os agentes de sua
op ressão é fundamental. Cabe consid erar não só a violência estrutural qu e
incidia sobre as mu lheres, mas também aquelas formas esp ecíficas d ecor
rentes de sua cond ição de gênero; esses aspectos se cruzam na maioria das
situações.
Mas com o penetrar no passado dessas mulheres que praticamente não
d eixaram vestígios de seu cotid iano? Durante largo tem p o, som ente os
feitos dos heróis e as grand es d ecisões políticas eram considerados dignos
de interesse para a história. A partir de 1960, juntamente com outros subal
H ISTÓ RIA DAS M ULH ERES N O BRASIL
Embora o casam ento para a classe dominante fosse a ú nica via legiti
mada de u nião entre um hom em e uma mulher, constitu ind o-se para a
H ISTÓ RIA DAS M ULH ERES N O BRASIL
A mulher ficava com o encargo dos filhos sem pais, com o a Machona,
outra das p ersonagens do rom ance, qu e ningu ém sabia ao certo se era
“viúva ou desquitada” e cu jos “filhos não se pareciam uns com os ou tros”.9
A liberdade sexual das mulheres populares p arece confirmar a idéia de
qu e o controle intenso da sexu alid ad e feminina estava vincu lad o ao regi
me d e p rop ried ad e privada. A p reocu p ação com o casam ento crescia na
p rop orção dos interesses patrimoniais a zelar. No Brasil d o sécu lo XIX, o
casam ento era boa op ção para uma parcela ínfima da p op u lação qu e p ro
curava unir os interesses da elite branca. O alto cu sto das d esp esas matri
moniais era um dos fatores que levavam as camadas mais p obres da p op u
lação a viver em regime de concu binato.10
As m oças brancas, mas pobres “sem d otes e sem casam ento, aband o
navam os sobren om es de família para viver em concu bin atos d iscretos,
usando apenas os primeiros nom es”. Assim, concu binas, mães solteiras ou
filhas ilegítimas viviam em sua maioria no anonim ato.11
A v.ida familiar destinava-se, esp ecialm ente, às mu lheres das camadas
mais elevadas da sociedade, para as quais se fomentavam as aspirações ao
casamento e filhos, cabendo-lhes d esempenhar um papel tradicional e res
trito. Qu anto àquelas d os segmentos mais baixos, mestiças, negras e m es
mo brancas, viviam menos protegidas e sujeitas à exp loração sexu al. Suas
relações tendiam a se desenvolver dentro de um outro padrão de moralidade
qu e, relacionad o p rincipalm ente às dificu ld ades econ ôm icas e d e raça,
contrap u nha-se ao ideal de castidade. Esse com p ortam ento, no entanto,
não chegava a transformar a maneira p ela qual a cultura d ominante en ca
rava a qu estão da virgindade, nem a p osição privilegiada do sexo op osto.
No Rio de Janeiro, apesar de a grande maioria das mu lheres da classe
trabalhad ora não contrair o casam ento formal, ele se afigurava com o um
MULH ERES PO BRES E VIO LÊN CIA N O BRASIL URBAN O
Manoel n ão au xiliava a ela d eclaran te na d esp esa com essa crian ça;
q u e h oje às 7 h oras e vinte m inu tos mais ou m en os d eixou seu serviço
e foi p rocu rar o falecid o a fim d ele d ar algum d in h eiro p ara com p ra d e
leite p ara a referid a crian ça e ch egan d o em casa p ed iu a ele esse d i
n h eiro, resp on d en d o-lh e ele q u e n ão d ava n em um vin tém , d esesp e
rad a p orq u e sou b e q u e seu filhinho n em leite tinha tom ad o h oje al-
tercou com o falecid o q u e p rocu rou b ater n ela d eclaran te, ch egan d o
m esm o a atracá-la.
Em relação às acu sações que lhe são feitas, Tereza retru ca qu e não
p egou em faca conform e dizem as testem u nhas, p orqu anto as m esm as
eram suas inimigas e bu scavam diariamente intervir em sua vida privada.
Segundo Roque:
in d o à casa on d e resid e en con trou su a am ásia Tereza Barreto b astan te
alcoolizad a e ap ós a sua en trad a, ele, ofen d id o, teve p equ en a discus
são com a filha de sua am ásia de nom e R aim unda, e em seguida a isso
sua am ásia Terez a at racou-se com ele ofendido e lançando a m ão em
um a fa ca , com esta deu-lhe diversos golpes, resu ltan d o os ferim en tos
q u e ap resen ta, [grifo n osso]
Viver am asiad o com a acu sad a q u e lhe aju da n o trab alh o d e su a arte.
Esta tem gên io b astan te alterad o e p or isso está sem p re em q u estão
com ele. Q u e p or vezes tem já se sep arad o d a m esm a p elas q u estões
q u e têm tido [...] h oje ao en trar a m esm a com eçou com u m a gran d e
q u estão com ele, e estan d o com u ma p an ela d e arroz, lan çou -lh e [...]
q u an d o se atracaram ten d o Adelaid e lh e d ad o so co s e lhe arran h ad o
com as u n h as, ferin d o-o, o q u e levou a ju n tarem -se p essoas na p orta.
Uma situ ação bastante diversa daquela estereotip ad a para os d ois se
xos é a da costureira baiana Isabel Maria de Jesu s, que mantinha o amante,
era nove anos mais velha do qu e ele, qu e revela iniciativa consegu ind o-
lhe um emp rego e que, ao ser aband onada, extravasou seus d esenganos e
frustrações, ao invés de se au toflagelar em nome de uma su p osta “nature
za fem inina”. Isabel afirmou em seu d ep oim ento ter sido amante do
p ernambucano Gastão Ribeiro dos Santos, solteiro, sabend o ler e escrever,
recebed or da Companhia de S. Cristóvão.
forma, o praça qu e com p areceu ao local diz ter encontrad o “esse senhor
esp ancan d o a senhora p resente a qual achava-se com a rou pa m anchad a
de sangue. Qu e ele interveio dizendo ao senhor para não mais esp ancar a
sen hora”. A violência física foi, portanto, o recu rso utilizado p elo esp oso,
frente ã situ ação qu e o incomodava de ser qu estionad o, no caso, p ela
m anu tenção de uma amante.
Raul termina, porém, por ser absolvid o, a ju stiça recon h ecen d o o
caráter privado da questão.
Também nessa outra situação fica configurad a a mentalidade vigente
em relação ao adultério. A fidelidad e obrigatória era im p ossível d e ser
mantida p elo homem cuja sexualidade era excessivam ente exigente, resva
lando a qualquer “sed u ção”. Julgava-se dever da esp osa a com p reensão de
tais “fraquezas”.
REAGIN DO A REJEIÇÃO
cessid ad es da m esm a”. Dep reen d e-se da ênfase d essas afirm ações uma
tentativa de ju stificar a atitude p revaricadora de José, já qu e ele cu mp ria
aquilo qu e a socied ad e consid erava o seu d ever p rincipal, ou seja, o su s
tento de Sofia. Assim, fica im plícito qu e ele teria d ireito a certas “lou cu
ras”, no caso uma amante bem mais nova do que aquela com quem convi
via há muitos anos.
Sofia, de início, perseguira Henriqueta, sobre a “qual recaíam ressen
timentos p rofu nd os p ela circu nstância, de haver conqu istad o o objeto de
seu amor, leviana ou traiçoeiram ente no seu p róprio lar, até então feliz”.
Dep ois, mu dando de idéia, adquiriu um revólver, do qu e foi informad o
José p or uma carta anônima à qual ele não deu maior importância, d izen-
a acu sad a é m orad ora à rua Luiz G am a, antiga Esp írito San to, solteira,
h ab itu ad a ao com ércio d o am or e d as em oções da m u d an ça d e am an
te, o q u e a faz agir mais p or cálcu lo d o q u e p or sen tim en to.
d u ran te três an os, Seb astião freq ü en tou a sua casa d eixan d o d e o fa
zer d e algu ns dias a esta p arte; q u e h oje ven d o-o n o b ilhar da rua S.
Jorge, 79, ali en trou com a in ten ção d e o m atar, levan d o p ara esse fim
a pistola aqui p resen te com a qual d esfech ou u m tiro em Seb astião,
q u e errou o alvo e falhou o seu in ten to, in do o projétil ferir ao d on o
d o b oteq u im q u e na ocasião jogava b ilhar com Seb astião; q u e a p isto
la, a d eclaran te com p rou on tem em u ma casa da Av. Passos e o fez já
com o in ten to d e com ela m atar Seb astião.
M ULH ERES PO BRES E VIO LÊN CIA N O BRASIL URBAN O
Tal d ep oimento, caso seja verdadeiro, revela uma total ingenu id ade e
falta de assistência de Flausina, d ecorrente de sua con d ição de mu lher
pobre. Sem advogado para acompanhá-la na Delegacia, teria sido fatal esse
tipo de d eclaração.
Porém, as d eclarações de Sebastião e de outras testem unhas d eixam
dúvidas qu anto à fid elid ad e do d ep oim ento acima. Disse Sebastião qu e
não deu atenção a Flausina qu and o esta pediu qu e ele a acom p an hasse.
Continuou a jogar bilhar d istraidamente e de rep ente ouviu o estam p id o
de um tiro. Tal seqü ên cia revela muito mais uma atitude impulsiva de
Flausina diante do d escaso, qu e Sebastião a relegava, o qu e não foi, p o
rém, levado em conta. Acresce que a acusada esporad icamente praticava o
meretrício, ap resen tand o em sua ficha quatro d etenções p or vadiagem ,
além de ter sido presa três vezes p or briga com Sebastião.
Esses fatos d evem ter contribu íd o para o júri cond ená-la à p ena de
dez anos e quinze dias de prisão celular, algo exagerad o face ao ocorrid o.
Além d isso, sua ap elação foi recusad a e, na verdade, esta d eve ter sid o
uma forma de depurar o ambiente de pessoa tão nefasta: mulher insubmissa,
agressiva, e ainda meretriz, traind o o mod elo de p assividad e e d om es
ticidade, essencial à sua absolvição.
Um d ad o im p ortante é qu e, ap esar de o d escrito acim a se constitu ir
num crime passional, em nenhu m momento foi lembrado o artigo qu e lhe
era corresp ond en te do Cód igo Penal, ou seja, o estad o de p rivação de
sentid os e de inteligência para ju stificar a atitude de Flausina, com o se
fazia de forma corriqu eira com relação aos idênticos crimes masculinos na
época.
qu e arriscaram viver sua sexu alid ad e, com outro p arceiro qu e não seu
marido, foram assassinad as em nome da “legítima d efesa da honra”.36
Esse cen ário aju d a a com p reen d er a p reocu p ação exp ressa d e um
anônim o pai p ortu gu ês, aflito com a p erm anência no Brasil de su a filha
Celeste Aurora Vieira, com ap enas 17 anos. Mantend o-se em Portugal, na
corresp ond ên cia trocad a com Celeste, o pai lim ita-se a lem brá-la da im
p ortância d e se m anter virgem. A 15 de ju lho de 1901 era ele bem exp lí
cito:
Receb i a tua carta a qual estim ei sab er n otícias tuas, Au rora. O q u e te
p eço é q u e ten h as m uito juízo, n ão te fies em p rom etim en to d e h o
m em n en h u m , tem juízo q u e és m uito crian ça [...] Se ten s juízo n ão m e
q u eiras d ar algu m d esgosto, d este teu pai q u e mil felicid ad es te d ese
ja, ad eu . Até a vista.
No rol das acu sações qu e faz a Eleu zina, fala d os “nam orad os qu e
ela arranjava e aband onava am iú d e” e inclu sive d e qu e esta lhe fora
apontad a em uma Exp osição do Convento da Ajuda com o m ulher p ú bli
ca. Verifica-se do d ep oim ento de Ed son tod o o em p en h o em ap resentar
uma visão negativa de Eleu zina, para ju stificar qu e a p rática de relações
sexu ais mantida com a mesma em nada teria contribu íd o para d eflorá-la,
ela qu e já vinha ap resentand o traços tão com p rom eted ores para uma
m oça digna.
A angústia de Eleuzina, diante do d esconhecim ento de seu corp o,
levou -a a confessar à senhora da casa ond e morava qu e d esejava ser exa
minada para, no caso de já se achar de fato deflorada, arranjar um homem
qu e a p rotegesse, isso porque já não via cond ição de consegu ir casam en
to, caso se confirm asse a sua suspeita de não ser mais virgem.
Eleu zina, na sua ansiedad e, foi levada a uma enferm eira da materni
dade Angélica de Magalhães, que revelou ter sido procurada em princípio
de novembro por uma mocinha cu jo nome ignora, acompanhada de Dona
Lucília de Oliveira, p essoa qu e estava send o tratada na maternid ade de
uma moléstia de ovários; que a referida mocinha pediu-lhe com insistência
qu e a exam inasse a fim de verificar se estava ou não d eflorad a; qu e, de
início, tinha querido se esquivar dessa incu m bência, mas, dada a insistên
cia com qu e a moça pedia o exame,
fê-la subir a um a mesa de exam e e fin giu que a t inha exam inado, sem
que de fat o o fiz esse, visto que absolut ament e não lhe tocou e nem viu
as part es sexuais da m enor referida, tanto mais qu e a depoent e sofre da
vista, e p or este p rocesso n ão podia sab er se ela estava ou n ão d eflorad a;
q u e é verd ad e ter dito a ela q u e p od ia se casar, p orq u e tan to se casam
as solteiras e as viúvas, mas o fez sem q u erer afirm ar ou n egar q u e ela
já estivesse ou n ão d eflorada; q u e ela p róp ria foi q u em d isse à d ep o
en te já ter tido relações sexu ais com h om en s e p or isso a d ep oen te, à
vista d essa in form ação ouvida da sua p róp ria b oca, ficou con ven cid a
d e q u e ela já n ão mais era d on zela, [grifo n osso]
M ULH ERES PO BRES E VIO LÊN CIA N O BRASIL URBAN O
exp lica-se a p osição assumida por algumas das mu lheres injuriadas ante a
atitude de seus perseguidores.
Os crimes com etid os em nome da d efesa da honra fem inina eqü iva
liam àqueles cometidos pelos homens, no caso da infidelidade da mulher.
Percebe-se, portanto, p or parte dos agentes ju ríd icos, uma tend ência a
consid erar as mulheres que defendessem sua honra com o m ereced oras de
tolerância, aceitand o-se para o seu ato a ju stificativa do “estad o de
irresponsabilid ad e p enal por privação de sentid os e inteligência”.
Assim, a italiana Biasina Siciliano, com 33 anos, analfabeta, d om ésti
ca, narra sua situação de casada há doze anos com o comp atriota Vicente
Pinola, marítimo, atualmente desempregado e d oente, com quem teve três
filhos. Acentua ter sempre vivido “honestamente, trabalhand o tanto quan
to permitem suas forças para auxiliar seu marido na m anu tenção da famí
lia”; u ltimamente, estava sofrend o o asséd io de Francisco Santoro, tam
bém , italiano qu e “a todo transe qu er obrigar a d ep oen te a com ele ter
relações sexu ais”.
Q u e d e início Santoro se utilizava de b oas m an eiras, m as n ão con se
gu in d o ‘q u eb rar a severa linha de con d u ta traçad a p ela d ep oen te, p as
sou p ara o terren o das am eaças’, in clusive u ltim am en te este lhe tem
m ostrad o arm as e lhe tem d eclarad o q u e ‘p or b em ou p or mal havia a
d ep oen te d e a ele en tregar seu co rp o ’, q u e face a tais am eaças, esta
con tou o q u e se vem p assan d o a um a família q u e m ora con sigo na
m esm a casa; q ue inclusive San toro d izen d o-se am igo d e seu m arid o,
p rocu rava sem p re ir visitá-la nas ocasiões d e au sên cia d o m esm o, tor
tu ran d o-a com suas p reten sões. Q u e h oje cerca d e 6 h oras da tard e,
com o n ad a tivesse q ue d ar aos filhos p ara com er, seu m arid o, m esm o
d oen te saiu d e casa p ara com p rar um p ou co d e café.39
N esse in tervalo, en q u an to Biasin a en tregava-se aos seu s trab alh os
d om ésticos, na cozin h a, ali ap areceu Fran cisco San toro q u e n ão só a
teria agarrad o b ru talm en te, com o lhe d issera q u e “h oje, p or b em ou
p or mal, a d ep oen te havia de a ele se en tregar”. Pron tam en te, reagiu a
agred id a, resp on d en d o-lh e que só p raticava esse ato com seu m arid o.
San toro am eaçou -a d e m orte e já ten d o “on tem ten tad o m atá-la com
u m p u nh al, am ed ron tou a d ep oen te p or tal m an eira q u e em d esesp ero
d e cau sa lan çou m ão de uma faca d e cozin h a q u e ali en con trou e com
ela, d eu várias cu telad as em seu ofen sor, não só p ara dele se livrar
como p a ra desafront ar sua honra ult rajada ”. [grifo n osso]
A defesa de Biasina e as dos demais processos da mesma natureza
pesquisados não se pautaram em aspectos essenciais: o significado da violên
cia contra a mulher, o desrespeito à pessoa humana, à integridade individual
da mulher, ao direito desta dispor de seu corpo. A defesa acentuou tão-somen
MULH ERES PO BRES E VIO LÊN CIA N O BRASIL URBAN O
Foi sob u ma atm osfera d e tal ord em q u e viveu Mariana Jan ib elli. Du
ran te algu m tem p o, op rim id a, insultada, vilip en d iad a n o sen tim en to
m ais p u ro e mais sagrad o q ue a sua alma d e m oça d ign a ven erava,
am eaçad a, sem p od er recorrer à d efesa d o seu pai, in cap az de am p ará-
la e socorrê-la d ad o o fato d e viver sem p re em estad o d e em b riagu ez,
ela se viu forçad a a agir em certo m om en to p ara p ôr term o a u m a vida
d e difícil, sen ão imp ossível con tin u ação.
A infidelidade
feminina era,
em geral, p u n id a
com a m orte.
No Brasil, d e acord o
com o cód igo p en al
d e 1890, só a m u lh er
era p en alizad a
p or ad u ltério.
H IS TÓ RIA DAS M ULH ERES N O BRASIL
N OTAS
(1) Rach el Soih et. Condição fem in in a e fo rm a s de violência-, m u lh eres p ob res e ord em u rb an a
(1890-1920). Rio d e Jan eiro : Foren se Un iversitária, 1989. p. 8; Martha d e Ab reu Esteves. M eninas
perdidas: o cotid ian o d o am or n o Rio d e Jan eiro d a “Belle Ép o q u e”. São Pau lo: Paz e Terra, 1989.
p. 123
(2) Cesare Lom b roso, G u glielm o Ferrero. La fem m e crim inelle et la prost it uée [trad u ction d e
1’italien l, 1896. As referên cias à m ed icin a social p od em ser en con trad as em Ju ran d ir Freire Costa.
(3) A Pacot ilha. São Luís, 31 jan .1890. p . 3. A pud Maria d a G lória G u im arães Correia. Nos fios
da t ram a: q u em é essa m u lh er?, 1996. [m im eo.]; Maria O dila Leite d a Silva D ias. Q uot idiano ep o d er
em São Paulo no século XIX. São Pau lo: Brasilien se, 1984. p . 10.
(4) Maria O d ila d a Silva D ias. Op. cit., p . 47. Joan a Maria Ped ro. M ulheres honest as e m ulheres
faladas: u m a q u estão d e classe. Florian óp olis: Ed itora d a UFSC, 1994. p . 144-145.
(5) Processo Lídia de Oliveira. Arq u ivo N acion al. N. 688, m aço 881, GA, 04 n ov .1906.
(6) Jo a n a Maria Ped ro . Op. cit., p . 155.
(7) Tal fato p od e ser d ep reen d id o d a con su lta aos cen sos e p rocessos p en ais, n os q u ais gran d e
n ú m ero d e m u lh eres n ão eram casad as, e em ou tras fon tes co m o n o rom an ce O Cortiço, q u e forn ece
valiosas in form ações sob re o cotid ian o d os p op u lares, em q u e a m aioria d as p erson agen s n ão se
casava.
(8) Aluísio A zeved o. O Cortiço. São Pau lo: Ática, 1981. p. 30.
(9) Id. Ibid., p .46.
(10) Eni d e M esq u ita Sam ara. A fam ília brasileira. São Pau lo: Brasilien se, 1983. p . 42. [col.
Tu d o é h istória].
(11) Maria O d ila d a Silva Dias. Op. cit.
(12) Processo M aria Cândida. Arq u ivo N acion al, n. 363, caixa 1920, GA. 23 d e z .1891.
(13) Processo M adalena A ugust a Frederica. Arq u ivo N acion al, n. 481, caixa 1018, GA. 2 n ov.
1890.
(14) Processo Francisca Dut ra D'Almeida. Arqu ivo N acion al, n. 3548, m aço 944, GA. 2 o u t.1892.
(15) Sid n ey Ch alh ou b . Trabalho, lar e botequim. O cotid ian o d os trab alh ad ores n o Rio d e
Jan eiro d a Belle Ép o q u e. São Pau lo: Brasilien se, 1986. p. 155.
(16) M arilen a Ch au í. Repressão sexual. São Pau lo: Brasilien se, 1984. p . 79.
(17) Processo A rm inda M arques de Oliveira. Arq u ivo N acion al, m aço 174. Prim eiro Triib u n al
d o Jú ri. 27 jun . 1917.
(18) Processo M aria da Silva. Arq u ivo N acion al, m aço 168. Arq u ivo d o Prim eiro Trib u n al d o
Jú ri. 19 ab r. 1917.
(19) Sid n ey Ch alh ou b . Op. cit. p. 155.
(20) Pro cesso An tôn ia Jo se p h a Maria da C on ceição. Arq u ivo N acion al, n. 1085, m aço 894, GA.
20 ou t. 1904.
(21) Sid n ey Ch alh ou b . Op. cit., p . 113-
(22) P rocesso Th ereza d e Sá Barreto. Arq u ivo N acion al, m aço 63- Arq u ivo d o Prim eiro Trib u
nal d o Jú ri, 03 a g o .1906.
(23) Processo M aria A delaide e A nt ônio do Couto. Arq u ivo N acion al, n. 4098, m aço 948, GA.
17 a g o .1894.
(24) P ro cesso H en riq u eta Maria d a C o n ceição . Arq u ivo N acion al, n. 9830, caixa 1903, GF. 03
ou t. 1896.
(25) Pro cesso Arm ên ia Alves Pereira. Arq u ivo N acion al, n. 885, caixa 769, GA. 30. ago. 1905.
(26) Maria O d ila d a Silva D ias. Op.cit.
(27) Ferri. Sociologia Crim inal, p. 573- A pud Evaristo d e M oraes. Crim inalidade Passional.
São Pau lo: Saraiva, 1933. p . 11.
H ISTÓ RIA DAS M ULH ERES N O BRASIL