Ao assumir o poder, Deodoro invalidou os efeitos legais da Constituição
de 1824, passando a governar através de decretos e tal como um ditador acumulava as funções legislativas e executivas da República. Fez várias mudanças, dentre elas a expulsão da família real portuguesa do Brasil, a extinção da vitaliciedade do Senado, a dissolução das assembleias provinciais e das câmaras municipais. Nomeou governadores para a administração os Estados (antigas províncias) e intendentes para a administração dos municípios. Procedeu-se à “grande naturalização” que possibilitava a naturalização dos estrangeiros residentes no Brasil. Separou Igreja do Estado, estabeleceu a liberdade de culto religioso, regulamentou o casamento e o registro civil e secularizou os cemitérios. Procedeu a reforma do Código Criminal, a organização judiciária do país, a reforma do ensino e do sistema bancário. Ainda no seu governo, adotou-se a nova bandeira nacional (mantendo-se o retângulo verde e o losango amarelo imperiais, acrescentando- se na parte central, uma esfera azul com estrelas que representam os estados e uma faixa com a inscrição “Ordem e Progresso”, de inspiração positivista. A música de Francisco Manuel da Silva, tocada desde o período do império, foi oficializada como Hino Nacional brasileiro. Enfim, a administração do governo provisório procurou conciliar os diversos interesses dos grupos sociais predominantes. FORMAÇÃO DA SOCIEDADE
A sociedade sentia-se traída e enganada principalmente a alta
sociedade. A ideia de República não era o objetivo ideológico da maioria da população. Uma parte da elite considerava que o governo monárquico não mais atendia a seus interesses, principalmente depois da abolição. Os latifundiários, principalmente do Vale do Paraíba Paulista desejavam maior apoio do governo.
Outros latifundiários que anteriormente morreriam para defender a
Monarquia mostravam-se apáticos e decepcionados porque a abolição, sem nenhum ressarcimento foi para eles, um golpe de morte e falência.
A população cresceu de pouco mais de 14 milhões de habitantes para
mais de 33 milhões. Os trabalhadores desse período, em grande parte imigrantes, tinham precárias condições de trabalho, sendo que suas manifestações e greves contra estas condições eram consideradas casos de polícia. Os trabalhadores deste período da história brasileira tinham uma jornada de trabalho extremamente longa, não havia férias, aposentadoria ou descanso semanal remunerado.
Pouco a pouco os trabalhadores começaram a se organizar e a criar
associações de auxílio mútuo. A maior greve destes trabalhadores ocorreu em São Paulo, em 1917, envolvendo cerca de 45 000 pessoas, paralisando a cidade por vários dias. Em virtude do início da industrialização brasileira, a classe operária cresceu grandemente, formando a base da sociedade na República Velha.
Eclodiram também as ideologias, antes concentradas em círculos
restritos, como o liberalismo e o positivismo já presentes antes da proclamação; o socialismo, com a fundação de jornais; e o anarquismo, forte entre operários brasileiros e, principalmente, estrangeiros. Os intelectuais se sentiam entusiasmados em ideias e ações.
A República nasceu de um golpe militar. O Exército tendo consciência
de que era o único corpo de guerra existente, derrubou o governo. ESTRUTURA POLÍTICO ECONÔMICA
O Governo Provisório, montado na noite de 15 de novembro decretou
regime republicano federativo. O Governo assegura a continuidade da administração pública, tanto civil quanto militar, bem como da justiça. Respeito aos direitos individuais e confirma continuar respeitando acordos e compromissos do regime anterior.
Com a mudança do nome do país para Estados Unidos do Brasil
autorizavam-se os estados a elegerem constituintes. Antes de tais providências serem tomadas o Governo Provisório tinha a tarefa de legislar enquanto não se reunisse uma Assembleia Constituinte.
Depois do decreto que instaurava de fato a república, foi o estopim para
a ditadura militar. Pois não havia nenhum órgão legislativo funcionando e a Constituição de 1824 deixava de vigorar.
Tudo se passa como se o Brasil não tivesse aproveitado, senão muito
modestamente, a oportunidade proporcionada por uma economia internacional em vigoroso crescimento no período mais pujante de uma ordem internacional liberal e marcada pela vigência do padrão-ouro. Embora mais favorável do que o observado durante o Império, o desempenho da economia foi marcadamente inferior ao do período posterior a 1930, na comparação com países vizinhos e também com os mais desenvolvidos, à vista do comportamento do PIB per capita, mas sobretudo no que diz respeito à industrialização; processo que a historiografia estabelece como o marco qualitativo de ascensão a etapas superiores de desenvolvimento econômico.
O governo republicano, objetivando sua estabilidade e tranquilidade para
negociações com o exterior e implementação do novo pacto de poder, procurou tirar os militares do jogo e reduzir o nível de participação popular. Procurou cooptar as oligarquias a fim de formar sua sustentação política, governando “por cima” da multidão, vista como obstáculo à implantação do novo regime. ESTRUTURAS JURIDICAS E PENSADORES
As mudanças promovidas pelo governo provisório provocaram reações
adversas em todas as camadas sociais. As elites agrárias não aceitavam o autoritarismo de Deodoro da Fonseca e almejavam a descentralização do poder. O Congresso Constituinte tornava-se assim um crescente foco de oposição ao governo provisório e clamava por uma nova constituição.
Assim, uma junta militar reuniu-se em Assembleia Constituinte para
discutir acerca de uma nova Constituição que marcaria de fato o início da República e em 24 de fevereiro de 1891 foi promulgada a primeira Constituição da República do Brasil. Esta constituição foi inspirada no modelo liberal da Constituição dos Estados Unidos que se fundamenta na descentralização do poder dividido entre os Estados. A elaboração do texto constitucional gerou discussões acaloradas dada a polêmica acerca da definição das competências que deveriam pertencer à União e aos Estados. Em virtude disso surgiram duas correntes antagônicas no plenário, correntes estas que dividiu os Constituintes em unionistas e federalistas. Os primeiros, inclinados a dar mais poderes à União e os segundos em transferir para os estados o centro das competências, dando-lhes, por conseguinte, o máximo possível de autonomia e de recursos tributários.
Por fim a Constituição de 1891 estabeleceu que a República Federativa
dos Estados Unidos do Brasil seria constituída de 20 estados autônomos econômica e administrativamente. O Presidente, o Vice-presidente, os Senadores e os Deputados seriam eleitos diretamente pelo sufrágio universal masculino. O presidente seria eleito para um mandato de quatro anos, não sendo permitida a reeleição no período seguinte. Seria da competência da Presidência a nomeação e exoneração dos seus Ministros, sancionar leis e deliberações do Senado e da Câmara. O Poder Legislativo seria da competência do Congresso Nacional. Os senadores e os deputados seriam eleitos para o mandato de nove e três anos, respectivamente. O Rio de Janeiro passou a ser a sede do Governo Federal. O Poder Judiciário teria como órgão superior o Supremo Tribunal Federal, e seria composto por juizes federais. Cada Estado elegeria seu governador e sua assembléia legislativa e seria autônomo para se organizar administrativamente. Os municípios também ganharam autonomia político-administrativa.
O voto seria universal, masculino e aberto. Poderiam votar todos os
brasileiros que tinham o direito a liberdade individual. Foi instituído o instituto do “Hábeas-Corpus”, declaradas as inviolabilidades do domicilio e da correspondência, estabelecidas às liberdades de pensamento, de locomoção, de imprensa, de culto religioso, de associações e reuniões para fins pacíficos.
As mudanças constitucionais não abalaram os alicerces que
sustentavam a dominação dos senhores de terras, muito pelo contrário, fortaleceram a tendência de enfraquecimento do poder central (cujas raízes remontam ao tempo do Segundo Império) e o fortalecimento das antigas Províncias, agora transformadas em Estados Federados, cujo controle havia caído nas mãos das oligarquias.
Foi instaurada a Comissão Militar de Sindicâncias e Julgamentos, um
tribunal de exceção, com direito, inclusive de decretar pena de morte. O Governo nomeou uma Comissão de juristas, chamada Comissão dos Cinco que em 1890 começou a elaborar a Constituição. CONCLUSÃO
A República Velha pode assim ser descrita como um período de
compromissos, não apenas entre passado e futuro, mas também entre as oligarquias regionais batendo-se por diferentes agendas, e sobretudo entre o conservadorismo monetário, que encontrava apoio na doutrina e na prática internacionais, e seus adversários conjunturais, às vezes os chamados “papelistas”, e mais frequentemente os próprios interesses ditos “hegemônicos” associados ao café.
A República Velha alterou várias instituições na esfera social. A tradição
das unidades de fontes legislativas foi rompida com a federalização, introduzindo a legitimação de uma política estadual. A separação do Estado da Igreja dá origem a um sistema político-jurídico laico. A Constituição de 1891 promoveu mudanças institucionais, entretanto, o que realmente se verificava era a preocupação da manutenção privilégios das classes dominantes. A Constituição de 1891 foi totalmente omissa em relação aos direitos sociais. REFERÊNCIAS
CASTRO, Flávia Lages de. História do Direito Geral e Brasil. 7ª Ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2009.
SALGADO, Universidade. Direito na Primeira República. Disponível em: