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Um Pirata para o Natal

Anna Campbell
Sinopse
Há um pirata na mansão!

O que a filha do vigário Bess Farrar fará quando o arrojado novo conde, que as
fofocas dos homens pintam como um pirata cruel, a beija no dia em que se
conheceram? Então, beijá-lo de volta, é claro! Agora Lorde Channing promete
reivindicar a linda atrevida, apesar da interferência dos moradores, uma tempestade
de neve, escândalo, e um burro malandro. O primeiro Natal em terra do galante
capitão naval promete caos e uma vida de paixão de tirar o fôlego.

Perseguida pelo pirata ...

Bess Farrar pode ser uma inocente moça de aldeia, mas sabe o suficiente sobre o
mundo para duvidar dos motivos de Lorde Channing quando ele a beija no mesmo
dia em que se encontram. Afinal, as fofocas locais insistem que antes deste arrojado
libertino tornar-se um conde, ele navegou os sete mares como um pirata cruel.

Enfeitiçado pela filha do vigário...

Até que ele inesperadamente herda um título, o honorável escocês Rory Beaton
dedicou sua vida aventurosa à Marinha Real. Mas ele altera seu curso para novas
águas tempestuosas quando conhece a adorável e brilhante Bess Farrar. Agora este
marinheiro ousado fará o que for preciso para convencer a moça a se animar para
lançar-se em seus braços e partir para o pôr do sol.

Um Natal marcado pela confusão.

Cortejando aquela mulher vivaz, o novo conde de Channing encontra-se envolvido


com as moradoras casamenteiras, um vigário excêntrico, a confusão de identidades,
uma tempestade de neve, escândalo, e um burro malandro. A vida no mar nunca foi
tão emocionante.
Capítulo Um

Penton Wyck, Northumberland, dezembro 1822

Tudo começou com o burro.


Em busca da estrela para o teatro da véspera de Natal, Bess Farrar
apresentou-se na porta de Penton Abbey. Um vento cortante assobiou ao
redor dela e a promessa de neve tingia o ar. Ela bateu os pés em suas meias-
botas para restaurar alguma sensação para os dedos dos pés.
Enquanto esperava um inaceitável tempo para alguém responder a sua
batida, encolhida em seu casaco e maldizendo os latifundiários que tomaram
residência na comunidade e, em seguida, ignoraram suas obrigações. As
comemorações da natividade eram uma longa tradição em Penton Wyck.
Assim como de longa data era a tradição que o senhor da casa providenciasse
o burro.
O novo conde não iria se esquivar de seu dever apenas por jogar duro
para o conseguir. Não se ela tinha alguma coisa a dizer sobre isso. E
certamente que tinha.
Suspirando, olhou para a impressionante fachada elizabetana da Abbey,
observando os sinais de negligência na pedra dourada. Como era triste ver a
bela antiga casa amada. Todos na aldeia tinham a esperança de que o novo
Lorde Channing fosse mais vigoroso e envolvido na vida local que o anterior.
Até agora, as indicações eram de que ele iria revelar-se ainda menos eficaz do
que seu falecido irmão, cujas boas intenções havia falhado, vítimas de
problemas de saúde ao longo de sua vida.
Uma pena que o novo conde prometia ser uma decepção. Mas o que se
poderia esperar de um homem com a fama de ser um pirata? E ainda mais um
escocês.
Eventualmente, a porta pesada abriu e uns olhos inquisidores de óculos
olharam para fora das sombras. ― Sua senhoria não está em casa.
― Boa tarde. ― Ela endireitou os ombros e fixou o homem com o
olhar de verruma que sempre colocava os paroquianos recalcitrantes na linha.
― Meu nome é Elizabeth Farrar. Meu pai é o vigário de St. Martin.
Como seu senhor saberia se tivesse o cuidado de mostrar seu rosto na
igreja.
Estranhamente, sua introdução pareceu confundir o homem, que não
era um mordomo. Sua senhoria ainda estava para empregar uma equipe
interna. Outro ponto que ela teria que tratar com ele. O principal meio de
subsistência da aldeia baseava-se em encontrar trabalho na abadia, e tinha
havido dificuldades desde que o conde anterior havia se mudado para a Itália
por causa de sua saúde.
― Você é a senhorita Farrar? ― Ele soou como se não acreditasse nela.
― Sim.
― Hum, boa tarde. E sua senhoria ainda não está em casa.
― Eu vou esperar.
― Ele não é esperado de volta hoje.
Porque o jovem Will Potts trabalhava nos estábulos e repassava
qualquer notícia sobre as ações na abadia, ela sabia que era uma mentira.
Colou um sorriso educado no rosto, e manteve seu tom firme, mas
determinado. ― Eu ainda gostaria de esperar.
O homem, quem quer que fosse, provou que não era mais imune para
aquele tom decidido do que os aldeões. A pesada porta deu um rangido gótico
quando ele a abriu totalmente.
― Então, por favor entre. ― Suas palavras foram mais acolhedoras do
que o seu tom.
Naquela tarde sombria, o grande salão estava escuro e sem conforto, e
quase tão frio quanto a entrada da porta. Pondo os pés naquela caverna de
pedra frígida, estéril de toda a decoração, ninguém diria que o Natal estava
apenas a uma semana de distância. ― Certamente o seu senhor quer um fogo
na lareira. Este lugar é como um túmulo.
O homem alto de óculos e mangas de camisa era magro e parecia
precisar de uma boa refeição. Isso era o resultado de não contratar um
cozinheiro, Bess queria dizer a ele e a seu amo ausente.
Ele engoliu e até o pomo de Adão balançou. ― Sua senhoria não está
aqui, eu lhe disse.
― Espero que ele retorne antes que eu congele em um bloco de gelo. ―
Ela se sentou em uma das duas cadeiras de carvalho esculpido encostadas
contra a parede. O salão estava praticamente desprovido de móveis, e à luz
ténue, as janelas altas com seus vitrais apareciam mais fúnebres do que
heráldicas.
― Se você deixa uma nota, eu prometo entregá-la.
Seus lábios se firmaram quando ela se moveu para encontrar um lugar
confortável na cadeira implacável. O nobre conde de Channing não quer que
os visitantes permaneçam. As indicações eram que ele não queria visitantes de
todo.
Pena para o nobre conde de Channing.
― Assim, ele pode ignorá-la, da forma como ignorou minha outra
correspondência? ― Ela perguntou docemente.
O homem de aparência estudiosa evitou os olhos dela. ― Sua senhoria
tem estado ocupado desde que assumiu, senhorita Farrar.
Bess olhou ao redor do empoeirado, quarto vazio. ― Não com assuntos
domésticos.
― Sua senhoria…
Sua senhoria surgiu.
Pelo menos Bess partiu do princípio de que o homem de cabelos
castanhos desgrenhados que irrompeu pela porta no outro extremo do
corredor devia ser o novo senhor indescritível de Penton Abbey. Ele passou
por ela, brandindo um maço de papéis.
― Aquela maldita vassoura Farrar está me perseguindo novamente,
Ned. Eu pensei que lhe pedi para colocá-la fora. ― Seu sotaque escocês
acrescentou um tom exótico a suas observações irritadas.
Ele não a vira enquanto sua longa passada devorara o piso frio. Seria
difícil notar um exército naquela penumbra, especialmente com o céu escuro
pela neve.
― Rory, pelo amor de Deus ―, o outro homem gaguejou, lançando a
Bess um olhar envergonhado.
Bess se levantou e realizada uma reverência superficial. ― Boa tarde,
meu senhor.
Ele se virou para ela. Era tão alto quanto seu amigo, mas muito mais
musculoso. Um personagem mais formidável por completo, ela já poderia
dizer. ― Assim quem diabo é você?
Ela permitiu-se um sorriso frio. ― Eu acredito que sou a maldita
vassoura Farrar.
― Oh, inferno, ― ele murmurou, olhando para ela estupefato. Parecia
tão chocado quanto se uma destas cadeiras de carvalho pesado se tivesse
levantado, inclinado e lhe pedisse para dançar.
Ela fez uma pausa para fazer um balanço do novo senhor da casa. O
anterior conde, seu irmão, tinha morrido há seis meses, e tinha estado no
estrangeiro durante dois anos antes disso. Desde sua morte, fofocas tinham
corrido abundantes sobre Rory Beaton, o herdeiro. Histórias confusas sobre
um canalha licencioso que tinha levado uma vida sem lei navegando os
oceanos do mundo.
Examinando-o agora, Bess estava inclinado a confiar no rumor. Do seu
cabelo vermelho até às suas grandes botas, ele era cada centímetro um homem
que comandava o palco. Ainda mais piratas eram os olhos verdes brilhantes
com a sua centelha de diabrura.
Nunca tinha encontrado alguém que se aproximasse tanto da imagem
de um pirata, um sedutor maligno, e um aventureiro imprudente.
Ela tinha passado a vida na pacífica Penton Wyck. Era perfeitamente
natural que seu coração saltasse uma batida na presença de um notório patife.
Ou então isso disse ela a si mesma enquanto erguia o queixo e encarava
sua senhoria de cima. O que, para seu aborrecimento, foi mais difícil do que o
habitual. Ela era uma mulher alta, mas o novo conde se elevava sobre ela de
uma forma muito desconcertante.
Também desconcertante era sua arrogância casual. Para não mencionar
aqueles que piscares de boa aparência.
― Maneiras devem estar a prêmio ao norte da fronteira ―, disse ela
suavemente, mesmo quando lembrou a si mesma que seria mais político o
adular.
Seu comentário empertigado fez a sua grande e expressiva boca se
contrair. ― Se você se introduziu em minha casa sem ser convidada, moça,
deve contentar-se com o que tem.
― Rory... ― o outro homem baliu.
Channing arqueou uma sardônica sobrancelha vermelho-acastanhada
em sua direção. ― Não tem algumas cartas para escrever?
O homem corou, mas para o seu crédito se manteve firme. ― Eu
odiaria fofoca desagradável estragando a sua chegada a Penton.
Tarde demais para isso, Bess poderia ter dito a eles. Os moradores não
estavam longe de trancar suas filhas e chamar a milícia.
Outra contração da boca intrigante do conde. Apesar de tudo, a
sugestão de riso fascinou Bess. Mesmo sabendo muito bem que ele estava
rindo dela.
― Não há necessidade de rodeios, Ned. Você teme pela segurança desta
senhora uma vez que esteja fora de vista.
― Ele deve? ―, Perguntou ela, suprimindo o desejo de informar o seu
senhor que ela era mais do que um jogo para qualquer desprezível escocês,
pirata ou não.
Quando esses olhos profundos pousaram nela, estremeceu. Com um
nervosismo que fez uma paródia de suas palavras corajosas. E com outra coisa
que ela não conseguia identificar.
― Eu poderia te comer em uma mordida e ninguém poderia me
impedir.
Seus olhos se estreitaram para o desafio. ― Eu ia ficar em seu pescoço.
Para sua surpresa, ele riu com satisfação sem restrições. O som alegre
ecoou pelas paredes de pedra quando ele jogou os papéis em uma caixa antiga
contra a parede. Um olhar revelou que eram as cartas que ela tinha escrito
desde que ele chegara um mês atrás. ― Sim, você pode, mesmo assim.
― Rory, devo protestar, ― Ned disse destemidamente.
Channing passou a mão pelo grosso cabelo ruivo e considerou seu
assistente magro com impaciência. ― Och1, pode sair, rapaz. A senhora está
segura e ela sabe disso. E assim como a sua reputação. Isto é o campo. Nós

1
Och. (Principalmente na Escócia, Irlanda) interjeição geral da confirmação, afirmação, e muitas vezes a
desaprovação.
podemos conversar um pouco sem deixar toda a língua da aldeia sacudindo. ―
Ele fez uma pausa. ― De qualquer forma, quem vai saber?
― Sua Senhoria pode ser difícil ―, disse o homem, voltando-se para ela
se desculpando. ― Talvez fosse melhor se você viesse uma outra vez.
Bess, que, apesar de tudo, estava apreciando este encontro não
convencional, sorriu. Era muito mais divertido fazer batalha com o Sua
Senhoria em pessoa do que através de resmas de cartas ignoradas. ― Por que
eu iria querer fazer isso, Sr. …
― White, senhorita Farrar. Edward White. ― Ele se inclinou com uma
polidez até agora inexistente no conde. ― Eu sou secretário de Sua Senhoria.
― E mordomo e cozinheiro e oficial de justiça. E companheiro de
bordo de vinte anos. É uma coisa boa você ser tão endiabradamente
indispensável, ou eu poderia não ter a amabilidade de o ter pairando como
uma velha.
― Levei quatro semanas para colocar os olhos em Lorde Channing ―,
disse ela calmamente. ― Agora tenho-o à minha mercê, nem cavalos selvagens
me poderiam arrastar para longe.
― Bravo, senhorita Farrar, ― Channing disse secamente. ― Talvez você
se junte a mim na biblioteca. ― Ele fez um gesto com uma mão de dedos
longos em direção à porta por onde surgira. ― Você tem claramente muito a
dizer. Eu prefiro evitar congelar até a morte, enquanto você me arengar.
― Como é impressionantemente cooperativo, meu senhor. ― Ela
combinava com o seu tom enquanto o precedia através do corredor para a
biblioteca. O quarto era desprovido de livros, mas, pelo menos, continha uma
mesa, algumas cadeiras, e um fogo.
Ela olhou para as prateleiras cheias de teias de aranha com
consternação. ― Não tinha ideia de que a casa estivesse tão negligenciada.
Embora tendo em conta que os funcionários remanescentes foram demitidos
seis meses atrás, eu devia ter adivinhado.
Channing cruzou para derramar um brandy da garrafa que se
encontrava sobre a mesa. Ele levantou a garrafa em sua direção. ― Você?
Ela abafou o começo de um riso. Se ele pensou que seu
comportamento pouco ortodoxo a iria dissuadir, teria uma decepção. ― Não,
obrigada.
― Eu vou ter que beber algum bom uísque abaixo de Speyside. ― Ele
pegou sua bebida e atravessou para o fogo com uma inquietação que agitava o
ar. Havia algo incrivelmente convincente sobre o novo conde. Um estalo de
energia que Bess só agora percebia que estava faltando em sua vida. ― Você
conhecia meu irmão?
― Esta é uma comunidade pequena, meu senhor. Claro que conheci.
Ele estava com a saúde debilitada nos últimos anos.
― Ele deixou a casa se destruir e arruinar.
― Antes de partir para a Itália, ele era um bom proprietário e muito
consciente sobre os cuidados para os moradores.
― Eu estou supondo que você se certificou de que o fosse.
Ela não respondeu. Mesmo que fosse verdade. Com seu pai perdido em
sonhos de Bizâncio e o conde sendo um inválido, alguém tinha que se levantar
pelos moradores. ― Meus pêsames sobre a sua morte.
Channing deu de ombros. ― Eu não o conhecia. A minha mãe levou-
me para longe de Penton Wyck como uma criança pequena, e depois que meu
pai morreu, casou-se com um escocês com quatro filhas. Ela nunca pôs os pés
na Inglaterra novamente. George era quinze anos mais velho que eu e um
verdadeiro Sassenach2. Ele tinha pouca utilidade para a sua família bárbara do
norte.

2
Sassenach é derivado da palavra gaélica escocesa sasunnach, que significa literalmente "Saxão", e
originalmente usada por falantes de gaélico para se referir a quem não fala gaélico. Um termo usado pelos
habitantes Gaélicos das Ilhas Britânicas para se referir aos habitantes Inglêses.
Bess franziu a testa. Ao crescer, ela ouvira falar sobre a condessa
fugitiva. Mas a explicação prosaica de Lorde Channing trouxe de volta a
história da família amargamente infeliz por trás o velho escândalo.
Talvez este passado conturbado explicasse a selvageria do conde.
Certamente explicava por que parecia que devia usar um kilt, mesmo que
agora ele estivesse vestido simplesmente com uma calça de montar e um
casaco azul escuro.
― Tenho certeza de que, mesmo nas Highlands, um homem sabe o
suficiente para contratar alguns funcionários quando se muda para uma casa
desse tamanho.
― Eu tenho os mais importantes.
― Os cavalariços, você quer dizer?
Ele deu de ombros novamente e apontou para um sofá de couro gasto.
― Sim. Os cavalos têm prioridade. Ned e eu podemos aguentar até
descobrirmos o costume da terra.
Cautelosamente, ela sentou-se, então espirrou na nuvem de poeira que
explodiu ao seu redor. ― Aguentá-lo… ― Ela acrescentou peso irônico às
palavras. ― …dificilmente convém à sua dignidade como conde de Channing,
porém, não é? Você precisa definir um padrão.
Ele apoiou um quadril na grande mesa de mogno coberta de papéis e
considerou-a sem hesitação. ― Entende? É por isso que me surpreendeu,
senhorita Farrar.
― Porque eu sou ousada o suficiente para apontar o seu dever? ―
Obrigou-se a encontrar os olhos dele, enquanto algumas partes femininas
bobas dela queriam rir e corar e vibrar os cílios.
Ela era muito velha para tal absurdo. Severamente disse a si mesma que
o pecado sempre vinha disfarçado de beleza. Foi assim que atraiu você. Mas
na luz cinzenta gritante através da janela em suas costas, Lorde Channing era
o homem mais espetacular que ela já vira em todos os seus reconhecidamente
resguardados vinte e seis anos.
Ele balançou a cabeça e pegou uma faca para papel de prata que passou
à toa de uma mão elegante para a outra. ― Não, porque desde o tom de suas
cartas, eu esperava uma solteirona digna de cinquenta anos. Não a garota mais
bonita da aldeia.
― A mais bonita… ― Ela fechou a boca com um estalo. O que na
Terra? Ele poderia estar flertando com ela? Ninguém flertava com ela. Todo
mundo estava muito ocupado aguardando suas instruções. Entre os
problemas de saúde do falecido Lorde Channing e a posição de autoridade de
seu pai, uma posição que ele alegremente ignorava, ela se tornara a mão
orientadora de Penton. ― Você está tentando me deixar doce, meu senhor.
Devia se envergonhar.
Outro meio sorriso. A parte dela que com toda a certeza que não era
uma solteirona ardia por vê-lo sorrir corretamente. ― Um pouquinho de
açúcar sempre adoça relações, Senhorita Farrar. Uma lição que não deve
desviar quando você estabelecer a lei para seus superiores.
O abrandamento momentâneo depois de seu elogio desapareceu. ―
Você não é meu superior.
Ele riu e se levantou. ― Em todos os sentidos, exceto o mais mundano,
isso é, sem dúvida, verdade. Mas um mês irritante foi mais propenso a fazer-
me ignorá-la do que seguir seu comando.
Irritante? A arrogância do homem. Ela apertou os dentes e se esforçou
para soar educada. ― Achei que você gostaria de receber alguns conselhos
sobre assuntos locais.
Seus olhos vincados com irônica diversão. Ainda nenhum sorriso. E ela
adoraria vê-lo sorrir. ― Não, você pensou que iria me levar do jeito que você
levou o meu irmão e isso não vai acontecer.
― Quando você está, obviamente, a fazê-lo de forma brilhante em suas
próprias terras ―, ela respondeu asperamente, apontando ao redor da sala
desordenada com eloquente escárnio.
― Você é uma condenada moça, senhorita Farrar.
Sua admiração aberta tocou a mesma parte tola de seu coração que
tinha aquecido ao ouvi-lo chamá-la bonita. ― A linguagem, meu senhor.
― Por que deveria me importar com minhas maneiras? Você
dificilmente foi um modelo de decoro.
Ela corou de mortificação, não atração reprimida. Amaldiçoando-o. Ele
estava certo. Seu pai ficaria horrorizado por ouvi-la. Mas então, a alma de seu
pai era gentil e mansa. Ninguém nunca tinha usado qualquer uma dessas
palavras para descrevê-la. Por outro lado, seu pai iria hesitar e não faria nada
enquanto o mundo desabava sobre ele.
― Eu imploro seu perdão, meu senhor ―, disse ela rigidamente.
― Agora, não venha toda empertigada para mim. Nossa franca troca de
pontos de vista é uma mudança refrescante da habitual tolice eloquente
inglesa. ― Para seu alarme, ele veio e se sentou ao lado dela. O sofá tinha
muito espaço para dois. Mas a personalidade forte de Channing fez Bess se
sentir como se ele estivesse demasiado perto. Nervosa, ela se afastou.
Ela se preparara para lembrá-lo que ele tinha obrigações, mas não foi o
que emergiu. ― Como você sabe?
― Sei o quê?
Suas bochechas estavam em chamas. ― Que eu sou a… garota mais
bonita da aldeia. Você não pôs os pés em Penton Wyck.
― Eu tenho sido claramente negligente, se você é um exemplo das
vistas que eu tomaria na rua. Tenho certeza de que as pessoas devem vir de
muito longe para ter um vislumbre da linda paisagem local.
Seus lábios se apertaram em sua provocação. Assim como ninguém
flertava com ela, ninguém brincava com ela também. Não tinha certeza se
deveria incentivá-lo. Esta discussão brincalhona fez o cabelo na parte de trás
de seu pescoço formigar. Ela era uma mulher voluntariosa que passara a
primeira juventude. Não estava acostumada a homens tratando-a como um
objeto de desejo. Mas certamente não estava equivocada sobre o interesse de
Lorde Channing.
A menos que depois de um mês encerrado na abadia, ele estivesse
entediado o suficiente para flertar com qualquer coisa em saias. Esse
pensamento baixo esmagou sua desinquieta excitação. Aquele homem tinha
estado ao redor do mundo. Mesmo alguém tão inexperiente quanto Bess viu
que as meninas seriam loucas para ele onde quer que fosse. A uma solteirona
sisuda de vila não era provável que o entusiasmasse.
Ela olhou-o, sem favor. ― Meu senhor, estou começando a pensar que
eu deveria ter pedido ao Sr. White para ficar.
Ele ignorou o comentário. Sua história com ele indicou que ele tinha
uma grande capacidade de ignorar o que não queria ouvir.
― Senhorita Farrar, você deve ser a mocinha mais bonita da aldeia,
porque é a mocinha mais bonita que eu já vi ―, disse ele em voz baixa, e por
um momento ressonante, a provocação recuou e algo mais profundo pairou
entre eles.
Ele sorriu plenamente, apenas para ela. E seu coração deu uma
cambalhota tripla em seu peito. Foi a sensação mais estranha. A respiração
presa na garganta de Bess quando ela olhou nos olhos dele, afogando-se em
rico veludo verde. Em algum lugar no fundo de sua mente, uma voz avisou
que enfrentar este leão em particular no seu covil era um ato imprudente. O
pirata conde era um perigo para mais do que navios de linha3.
De repente, ela já não se sentia como o governante sábio de seu
próprio reino. Em vez disso ela se sentiu como uma garota inexperiente
confrontada com o mistério eterno da potente masculinidade. Ela se levantou,

3
Um navio da linha era um tipo de navio de guerra naval construída a partir do século 17 até meados do
século 19 para tomar parte na tática naval conhecida como a linha de batalha.
alisando as saias em uma tentativa de esconder a sua inquietação. ― Eu… eu
devo ir.
Ela esperava que ele risse dela novamente. Um homem mundano como
este não teria dificuldade em adivinhar sua reação puramente feminina para
ele.
Ele olhou para ela a partir do sofá. Sem sorrir. Em seguida, a expressão
predatória abandonou seu rosto e ele parecia quase inofensivo. Ou, pelo
menos, tão inofensivo como um homem de sua atração conseguia. ― Não se
apresse a sair. Você deve ter vindo com um propósito específico, algo que
uma carta não vai conseguir.
― Minhas cartas não realizaram qualquer coisa ―, ela respondeu com
voz trêmula.
― Bem, talvez um pedido em pessoa consiga o que elas não fizeram ―,
disse ele facilmente, curvando-se contra o encosto do sofá. ― Venha,
senhorita Farrar… ― Ele parou. ― Você assinou todas as suas cartas E.
Farrar. O que o E representa?
Ela nem sequer pensou em se recusar a responder. ― Elizabeth. Mas
todo mundo me chama Bess.
Ela pegou um brilho de satisfação nos olhos dele. ― Eu gosto disso.
Levantando-se e afastando-se dele fez maravilhas para sua confiança.
Seu espírito habitual revivido. ― Eu não posso imaginar uma ocasião em que
vá usá-lo.
Quando suas pálpebras baixaram, ele mais uma vez tornou-se toda a
ameaça sensual. ― Eu certamente posso.
― Lorde Channing…
― Por que você veio aqui, minha encantadora Senhorita E. Farrar?
― Não deve escarnecer, ― ela respondeu. ― Eu vim aqui para o burro
de Natal.
Capítulo Dois

Rory estudou a moça formosa em pé na frente dele, a mulher que


estranhamente parecia imaginar que poderia empurrá-lo ao redor. Maldição,
ela tinha mais ousadia do que qualquer oficial arrogante ordenando a um
aspirante humilde para saltar para suas funções.
Certamente sua presunção deveria ser irritante. Em vez disso, ele ficou
encantado. E intrigado. O atraiu de uma forma que não se lembrava de sentir
antes.
Através de sua vida turbulenta, ele tinha visto mais mulheres bonitas do
que merecia. Ele tinha desejado e conquistado, e chamara a si mesmo um cão
de sorte pelo privilégio. Mas nunca se sentiu tão feliz como quando
argumentou com Ned lutando para trazer essa mulher teimosa na linha.
Pobre Ned. Bess Farrar era muito uma cerveja inebriante para o seu
paladar. Mas para um capitão que tinha navegado os sete mares e vivera para
contar o conto, ela era o ajuste perfeito. Esse vestido cinza recatado com sua
gola alta de renda seria enganar para o resto do mundo, mas nunca para ele.
Ela poderia ver-se como um gato doméstico manso, mas ele leu-lhe
imediatamente a alma de tigre.
― Você está me chamando de burro, senhorita Farrar? ―, Ele
perguntou, e saboreou o choque em seus profundos olhos azuis.
Foi divertido mantê-la fora de equilíbrio. Toda vez que ele a fez vacilar,
ela perdeu esse assustador ar de determinação e parecia mais jovem e mais
doce. Ele não tinha perdido quão perturbada ela ficara quando a chamara de
bonita.
Bom Deus superior. Seu elogio não a deveria ter surpreendido. Todo
homem em Penton Wyck deveria estar com extrema necessidade de óculos.
Porque ela era bonita. Inferno, ela era linda, com seu rosto de ossos
fortes e nariz arrogante e queixo teimoso. No oceano, as circunstâncias
mudavam em um segundo e o perigo surgia do nada. A terra seca,
aparentemente, oferecia os mesmos desafios.
Ele imediatamente reconheceu que o seu destino estava com aquelas
feições puras sob essa exuberância severamente restrita de cabelo louro trigo.
Seu futuro tinha chegado para o grande salão, levando a melhor sobre Ned,
em seguida, virou a magia sobre o próprio Rory.
Esta mulher era para ele. Ainda não tinha certeza o que sentia sobre
isso, mas a conclusão era inevitável.
― Perdão?
Se ele não tivesse ficado tão deslumbrado, quase teria pena da confusão
em seus olhos espectaculares. ― Você disse que está procurando o burro de
Natal.
Seu absurdo pelo menos quebrou sua solenidade e ela riu, um som
musical baixo que ele poderia ouvir pelo resto de sua vida. A Senhorita Farrar
produzia um impacto mais poderoso do que qualquer tempestade no
Atlântico. Tudo o que um marinheiro podia fazer era fechar as portas, segurar
o leme firme, e rezar para chegar a um porto seguro.
― Oh, eu realmente o terei convencido que eu sou a criatura mais rude
no mundo ―, disse ela. ― Não, quero dizer um burro real. O nome dela é
Daisy e ela é a peça central do teatro da natividade.
― E eu possuo este animal fabuloso?
― Sim. O seu falecido irmão nos deixava usá-la à vontade. Mas eu não
queria tomar sem a sua permissão para dispor dela.
Ele abriu os braços em toda a parte de trás do sofá e esticou as pernas.
― Daí me encurralar em pessoa sobre esta questão, em vez de me bombardear
com cartas como você fez sobre todo o resto.
Ela fez um gesto de impotência. ― Você provavelmente acha que eu
estou excedendo minha autoridade.
Ele ergueu as sobrancelhas. ― Provavelmente?
Ela corou mais deliciosamente. ― Muito bem, então, definitivamente
excedi a minha autoridade. Mas o tempo é curto e as minhas intenções são
boas.
Seus lábios assumiram um toque irônico. ― Muitos bons navios
fracassaram por causa das boas intenções do capitão. Boas intenções nunca
salvaram um homem de afogamento.
― A menos que um espectador bem intencionado impeça esse
marinheiro do afogamento.
Ele riu em suave apreciação. Ele soube imediatamente que ela não seria
um prêmio fácil de ganhar. Era inteligente e acostumada a ter o seu próprio
caminho. O que só fazia o jogo mais interessante, pelo céu. ― Eu vou te dar
esse ponto.
Ela pareceu surpresa novamente. ― Estamos contando os pontos?
― Certamente estamos. ― Quando ele se levantou, ela hesitou voltando
através do desgastado tapete turco. Não tinha medo dele, mas em algum nível
muito feminino, reconheceu a alegação que ele colocou em cima dela.
Poderosas correntes de atração e resistência redemoinhavam entre eles. Ele
precisava de toda a sua habilidade como navegador para traçar um caminho
seguro através destes estreitos perigosos. ― Seria melhor mostrar-me esse
burro.
― Não há nenhuma necessidade que os dois enfrentemos o frio, meu
senhor. Tudo que preciso é a sua permissão, e vou levá-la para Penton para o
ensaio de amanhã.
Moça tola. Como se, tendo a encontrado, ele pretendesse deixar a
senhorita Farrar escapar tão facilmente. ― Eu tenho o desejo de ver Daisy.
― Mas está prestes a nevar.
― Então não há tempo a perder.
Essa boca exuberante, uma promessa de paixão se Rory já tinha visto
um, numa linha rebelde, olhou para ele do outro lado da sala, como se
representasse uma estranha e potencialmente perigosa nova espécie. ― Você é
um homem muito incomum, Lorde Channing.
Ele sorriu para a moça franca. ― Você não tem ideia, Srta. Farrar.
― Será que é porque você é um pirata?
Por um momento, ele se sentiu no controle da situação. O sentimento
tinha sido, infelizmente fugaz. Ele parou em seu caminho para a porta e olhou
para ela com espanto. ― O que na terra você disse?
Ela parecia envergonhada e fez um gesto de desculpas com uma mão.
― Eu sinto muito. Talvez você não gosta de pessoas mencionando a sua
ocupação anterior.
― Minha anterior ocupação ―, ele repetiu muito lentamente. ― Como
um pirata.
― Toda a aldeia fala nisso.
― Sim?
― Você deve ter esperado que as pessoas falassem sobre você. E dado
que tem sido um recluso desde a sua chegada, é inevitável que os rumores
estejam voando.
― Rumores inevitáveis. ― Rory fez uma pausa. ― Que eu sou um
pirata.
A Senhorita Farrar estudou-o e diabo a levasse, a compreensão encheu
seu rosto adorável. ― Vendo que estava livre para tomar o título, eu imagino
que você já se reformou.
― Eu não teria tanta certeza sobre isso.
Ela olhou para ele com incerteza, mas passou diante. Ele elogiou sua
determinação. ― Não há necessidade de se sentir estranho sobre seus crimes
do passado, meu senhor. Aqui em Penton Wyck, tomamos as pessoas como
as encontramos.
― Isso é certo?
― Sim. ― Seu tom era firme. ― Quando as encontramos.
Ele suspirou e passou a mão pelo cabelo. ― Você está prestes a
começar a chatear novamente. Sinto em meus ossos piratas.
Ela fez um gesto conciliador. ― Eu sei que você acha que eu não tenho
direito de sermão. Afinal, sou apenas filha do vigário.
Ele não se incomodou escondendo sua diversão. ― Isso iria soar mais
convincente se você injetasse uma onça pequenina de humildade genuína em
seu tom.
Ela lançou-lhe um olhar impaciente. ― Penton Wyck é pequena e
isolada e os moradores dependem uns dos outros. Contamos com o senhor da
casa grande.
― Se meu irmão não estava bem, não posso imaginar que fosse um
pilar da comunidade.
― Mas ele era. Tudo bem, ele não estava entre nós tanto quanto
poderia ter gostado, mas desempenhou o seu papel. Empregou os moradores
na casa e na propriedade, apoiou aqueles em necessidade, frequentava a igreja
até que ficou doente demais para controlá-lo. Todos nós sinceramente
lamentámos quando faleceu. Ele era um bom homem.
Um pensamento horrível atingiu Rory, e ele franziu a testa. ― Você
estava apaixonada por ele?
Ela encontrou seu olhar. ― Eu o amava. Ele era o homem mais gentil
que eu já conheci. Todos em Penton tinham seu irmão na mais alta estima.
O alívio dele, completamente desproporcionado em relação ao período
de tempo que ele e a Senhorita Farrar tinham sido familiarizados. Seus
sentimentos por seu irmão não tinham ido além da amizade. ― Me desculpe,
eu não o conhecia.
― Eu sei.
― Agora você está sobrecarregada com um senhor desconhecido.
Sua voz era sincera quando ela se aproximou. ― Você não tem que ficar
desconhecido.
― E já que a conversa está acontecendo, eu sou um pirata, e pior, um
pirata da Escócia. Estou surpreso que os moradores não tenham fugido para
as montanhas. O que mais eles estão dizendo?
― Isso não é o suficiente?
Ele podia dizer pela sua expressão que havia mais. Ele adivinhou que
seu estado de solteiro na idade avançada de trinta e dois anos o deixou
exposto a acusações de perseguir as moças. Especialmente quando
combinadas com os rumores ridículos de piratas.
― Agora eu suponho que você quer que eu encha a casa com criados
―, disse ele em um longo tom de sofrimento. É claro que pretendia contratar
algum pessoal para Abbey, mesmo alguém que tinha passado a vida a bordo
de um navio compreendida o suficiente sobre grandes casas para entender que
precisavam de uma equipe. Mas havia algo prazeroso em ter uma menina
bonita olhando por seu bem-estar.
― Você certamente precisa de ajuda.
― Eu gosto da vida simples.
Ela não recompensou aquilo com uma resposta. ― O que aconteceu
com todos os móveis? O grande salão costumava conter mais do que apenas
duas cadeiras desconfortáveis.
― Desencoraja os visitantes.
― Nem todos eles.
― Não. ― Se ele soubesse que a mulher na outra extremidade dessas
cartas o admoestando era tão impressionante, teria solicitado direto uma
reunião. ― De acordo com os advogados, meu irmão esvaziou o lugar
enquanto estava na Itália com a ideia de alugá-lo, então nada veio do plano.
Há pilhas de móveis espalhados entre os sótãos e os celeiros.
― Eu não me lembro da casa sendo tão sombria também. Quando eu
era uma menina, sua senhoria muitas vezes tinha festas. Um momento alto era
o jantar de Natal para os moradores, em seguida, um baile nessa noite.
Quando teve conhecimento da sua herança inesperada, Rory tinha
apenas ancorado em Portsmouth após uma viagem tempestuosa de New
South Wales. Ele não havia recebido com satisfação a mudança em suas
circunstâncias. Passara o último mês lutando para aceitar o abandono de uma
carreira que amava a favor da vida cercada de terra em uma Inglaterra menos
familiar do que qualquer oceano.
Agora, ele sentiu como uma pontada por o casamento difícil de seus
pais ter virado seu irmão em um estranho. O falecido conde tinha se
destacado em grande parte das recentes discussões com advogados e homens
de negócios. Mas, pela primeira vez, ouvindo a Senhorita Farrar, ele ganhou
um senso de George como homem e não apenas um predecessor. ― Meu
irmão morreu em idade de procriar um herdeiro. Na verdade, eu sempre
assumi que ele se casou e teve filhos. Nunca esperei herdar.
― Nesse caso, você deve apreciar o meu conselho ―, disse ela, o humor
fazendo seus olhos azuis brilharem.
Ele teve um pensamento súbito, extremamente esperto, digno do rei
pirata que ela o acusou de ser. ― Você é claramente um recurso, senhorita
Farrar, que eu seria um tolo de ignorar.
― Oh?
A sílaba suspeita o fez querer rir. Ela era rápida, este milagre de uma
mocinha. Sua brusca mudança de atitude iria bater nela como improvável. ―
Eu vou colocar você no comando de preparar a casa para o Natal.
Ela endireitou-se e olhou-o com cautela. ― Certamente, uma anfitriã
permanente é uma solução melhor.
― É tarefa demais para você? ―, Ele disse em uma voz piedosa com
intenção de levantar sua penugem. ― Afinal de contas, é muito mais fácil dar
ordens de longe do que sujar as mãos abordando o problema.
― Eu estou ocupada com o teatro.
― E aqui está você, me dizendo que Penton Wyck está sofrendo
porque eu não emprego pessoas suficientes. Estou supondo que com a
ausência do meu irmão, a vida tem sido realmente difícil nos últimos anos.
Isso é muito ruim de você, Senhorita Farrar. Ou está me enganando sobre as
dificuldades locais, ou colocando seus próprios desejos egoístas à frente das
necessidades dos seus vizinhos. O que esse senhor reverendo, seu pai, disse?
Especialmente neste momento de boa vontade a todos os homens. ― Estalou
a língua e estabeleceu uma expressão benevolente e inocente no rosto.
Ele pegou um flash rapidamente escondida de culpa. ― Meu pai diria
que era inapropriado para uma senhora solteira, que não é uma familiar, fazer
de anfitriã da casa de um solteiro.
Ah, amante era uma bela palavra. Embora se ele queria Senhorita Farrar
em sua cama, sabia que ele teria que convencê-la a se casar com ele.
Rory se perguntou por que a perspectiva não o fazia ganir com horror.
Ele sempre evitou complicações que levassem a uma mulher sempre. Meia
hora da companhia da Senhorita Farrar e ele estava louco para proclamar os
banhos.
Até hoje estava toda a sua vida navegando à deriva. Agora ele tinha
mapas precisos e o vento atrás dele.
Ela compartilharia essa afinidade poderosa? A conversa variou além da
habitual educada trocada com um conhecido e uma senhora respeitável. Mas
ele tinha aprendido com suas cartas que ela não era a mais convencional das
criaturas, por toda a sua insistência no dever e obrigação.
― Então, senhorita Farrar, ― ele disse em um tom de repreensão. ― É
claro que você e meu irmão trabalharam juntos para o bem comum. Não vai
me estender a mesma cortesia?
― Você não é como o seu irmão.
― Certamente, sua reputação vai estar segura estando cercada com uma
multidão de ajudantes.
Ela suspirou. ― Você acha que eu sou um absurdo.
Ele escondeu um sorriso. Ele tocou seus instintos em cheio na mosca.
Suas intenções estavam longe de ser puras. Embora isso significasse
casamento, também significava ganhar a sua rendição gloriosamente sensual.
Ela fora feita para sua cama. E ele pretendia vê-la lá rapidamente.

Ainda não estava nevando, mas Rory podia sentir o cheiro no ar


quando eles deixaram a casa através do labirinto de cozinhas e despensas. A
Senhorita Farrar caminhou ao lado dele com a marcha de uma mulher do
campo habituada à terra firme. Ela estava mais em casa na terra seca do que
ele. Embora ele gradualmente encontrasse seus pés nesta nova vida que
deveria aprender a habitar.
Um rubor marcando suas bochechas. Talvez por causa do vento frio,
talvez porque ela estava com um homem que agitava seu sangue. Ele claro
esperava que o segundo motivo fosse o mais acertado. Ele lhe emprestara um
casaco para a sua excursão para pegar Daisy, e entre este, o lenço que ela tinha
tirado do bolso e amarrado sobre seu cabelo brilhante, e suas meias-botas
sensatas, ela parecia prestes a marchar para a China.
― Eu espero que você saiba onde encontrar Daisy. ― Sua respiração
formando nuvens quando falou. Estranho por se sentir tão
desconfortavelmente frio e ao mesmo tempo superaquecido. ― Está muito
frio para ir para as extremidades da propriedade.
― Você não a viu?
Ele balançou sua cabeça. ― Talvez eu tenha. Inspeccionei tanto gado
nas últimas semanas, que todas as vacas e ovelhas e porcos se tornaram uma
névoa na minha mente. Eu sou um homem do mar, não um agricultor.
Ela enviou-lhe um olhar solidário. ― Você vai ter que aprender rápido,
ou a cada parceiro a norte de Londres vai tentar enganá-lo. O que você precisa
é um bom administrador.
― Você conhece alguém?
― Não na aldeia. E Banks, o administrador do seu irmão, se aposentou
no ano passado. Seu filho está trabalhando como assistente para o homem do
Lorde Leath para sul em Yorkshire. Talvez a chance de promoção e um
regresso a casa possa persuadi-lo a voltar.
― Você vê?
― Vejo o quê? ―, Perguntou ela e para a sua satisfação, não se retirou
quando tomou seu cotovelo para ajudá-la sobre uma possa de lama.
Ele nunca a tinha tocado antes. Seu braço era forte e esbelto em suas
mãos, e até mesmo através de várias camadas de boa lã inglesa, ele poderia
jurar que sentiu sua vitalidade. Tocá-la certamente ajudou a afastar o frio.
Ela não podia estar mais longe das belezas delicadas que se
aglomeravam ao seu redor quando ele chegou a Londres em posse de seu
título. Fora cínico o suficiente para notar que as senhoras que podiam flertar
com um filho mais novo tinham planos muito mais graves para um rico conde
solteiro. Não que ele não tivesse dinheiro antes mesmo de herdar. Ele tinha
levado prêmios suficientes em alto mar para se estabelecer muito bem, de
fato.
― Como eu preciso de sua ajuda.
― Eu posso olhar para encontrar-lhe uma boa anfitriã, também.
― Você é a única pessoa a quem vou confiar a casa. ― Ele atraiu uma
golfada de ar de inverno e pegou o cheiro dela. Lavanda e limão. Ligeiramente
adstringente. Como ela. Com uma nota de base de mel doce. Novamente
como ela.
O caminho levou-os através do bosque de inverno. Folhas mortas
estalavam sob as botas e árvores nuas estendiam seus ramos para o céu
estanho. Quando ela se virou para estudá-lo, a luz sombria a transformou em
uma criatura de mistério sedutor. ― Não tenho certeza.
Foi melhor do que um não. Especialmente quando ele ainda a tocava.
Ele puxou-a para uma parada. ― Posso fazer algo por você em troca?
Um telhado novo para a igreja? Os reparos na casa paroquial?
― Não, obrigado. Seu irmão manteve tudo em ordem.
Mais uma vez, seu irmão santo. O rapaz parecia nunca ter colocado um
pé errado. ― Não há nada que eu possa fazer para convencê-la a me ajudar?
― Na realidade…
― Sim?
Ela enviou-lhe um sorriso rápido. ― Você pode se arrepender de ter
perguntado.
Rory tinha um pressentimento de que ela poderia estar certa. Por outro
lado, quando ela entrasse na casa, estaria sob seus pés e pronta para ser
cortejada. Ela não estava tão à frente dele como ela imaginava. ― Me teste.
― Você pode restabelecer a festa de Natal da vila.
Ele a olhou de forma constante. ― Isso significa ter a casa em
condições rapidamente.
― Somente as salas públicas. Apenas o grande salão de verdade.
― Sim, muito bem. Eu concordo.
Sua capitulação rápida obviamente a surpreendeu. ― Eu ainda não
terminei.
Ele teve um pressentimento que poderia haver mais. Nada do que ele
tinha visto até agora indiciava que ela era um alvo fácil. Embora ele ainda
segurasse o seu braço, o que tinha se provado mais simples do que ele
esperava. ― O quê mais?
― O José do teatro quebrou a perna.
Sinos do inferno. Representação nunca tinha sido seu forte. Em rapaz,
antes que ele tivesse ido para o mar, suas irmãs em Edimburgo adoravam
vestir-se e representar. Ele tinha preferido equitação ou jogar um jogo áspero
de futebol. ― José?
― Sim. ― Ela encolheu os ombros. ― Se você sente que é abaixo de sua
dignidade…
Ele bufou. ― Qualquer um que foi um aspirante esperto percebe que
todas as noções de dignidade batem para fora dele rapidamente.
Seu sorriso brilhante fez seu coração pular tolo como um salmão
subindo um regato escocês. ― Então você vai fazer isso?
― Sim, se você prometer deixar minha casa pronta e executar esta festa
de Natal ― e nunca me enviar outra carta.
― Obrigado! ― Por um momento, ele pensou que ela poderia abraçá-lo,
mas, infelizmente, ela pensou melhor. Olhou-o pensativa, enquanto
continuaram ao longo do caminho. ― Eu espero que você vá me ajudar com a
casa.
― Se eu devo, ― ele disse, escondendo sua alegria. Dias em companhia
da senhorita Farrar. Dias para convencê-la de que ele seria um marido bem
endiabrado. E tudo o que tinha a fazer era preparar o jantar de Natal para um
monte de caipiras.
― Excelente.
― Quem está fazendo de Maria?
Ela encontrou seus olhos e, finalmente, percebeu que eles estavam de
braços dados. Com uma perturbação que sugeria que ela não estava habituada
aos ardis de cavalheiros determinados, o libertou. ― Sou eu.
Maravilhoso. ― Então é melhor eu ter certeza que tenho esse asno
indescritível.
Eles saíram em um campo com um riacho correndo por ele. Um portal
e uma cerca separavam o bosque do prado. Ao longe, um estábulo aberto
abrigava um burro preto pequenino.
― Fique aqui, ― a Senhorita Farrar disse, colocando a mão em seu
braço. ― Daisy pode ser excitável quando deixada à sua própria sorte.
Ele gostara que ela o tocasse tão inconscientemente. ― Ainda dando
ordens, Srta. Farrar?
Ela lançou-lhe um olhar impressionado. ― É para o seu próprio bem.
Ela morde.
Eu também. ― Eu me curvo ao seu conhecimento local.
Ele se inclinou sobre a porta e viu como a senhorita Farrar atravessou
lentamente a grama na direção de Daisy. Com docilidade aparente, o burro
virou-se para observar sua aproximação. Então, quando a senhorita Farrar a
uma questão de metros de distância, ela trotou para fora do estábulo.
A senhorita Farrar fez uma pausa para levantar uma cabeçada de um
gancho antes de sair em perseguição. Mais uma vez o burro esperou até que a
senhorita Farrar estava perto o suficiente para pegá-lo ela chutou as pernas
traseiras se virou para Rory. Rory não era especialista em burros, mas parecia-
lhe que Daisy estava tendo uma boa risada às custas da senhorita Farrar.
A senhorita Farrar continuou com uma paciência tenaz que indicava
que este jogo não era nada novo. As orelhas do burro se moviam para trás e
para a frente, mas apenas quando ela estava quase em cima dele se deu conta
que podia ouvir cantar.
E era uma música que ele conhecia bem.
― Rule, Britannia! Britannia, rule the waves. Britons never, never, never will be
slaves4.
Rory caiu na gargalhada. ― Sério?
Infelizmente, sua hilaridade assustou Daisy e ela pulou fora.
― Coloque-lhe a cabeçada! ― A senhorita Farrar gritou atrás dela.
Ele mergulhou no caminho de Daisy, mas ela facilmente o evitou. ―
Ela é um diabo escorregadio.
― Cante para ela. Ela gosta disso.
Ele lançou à moça louca um olhar duvidoso. ― Não pelo que eu posso
ver.
― Experimente.
A senhorita Farrar estava encantadora. O ar frio e o exercício deram
cor para suas bochechas e um brilho nos olhos. Nenhum homem com sangue
nas veias iria perder quão graciosa ela ficou correndo atrás daquele demônio
disfarçado como um burro.
― Outra ordem.
A senhorita Farrar esqueceu-se de si o suficiente para rosnar. ― Por
favor.
Ele escondeu um sorriso e se juntou a ela na canção patriótica. A
senhorita Farrar tinha uma voz bonita, um verdadeiro soprano com uma
borda rouca que aquecia seu sangue em desafio ao ar frio. Suas vozes se
misturavam de uma maneira que ele esperava predissesse outro harmonioso
ingresso no futuro.
Durante vários minutos agitados ― Britannia tornou-se menos robusta
pela segunda vez ― tentaram encurralar Daisy. Mas ela era inteligente demais
para deixá-los apoiá-la contra a cerca.

4
"Rule, Britannia!" é uma canção patriotic britânica, originada no poema "Rule, Britannia" de James
Thomson com música de Thomas Arne em 1740. Está fortemente associada à Marina Real (Royal Navy),
assim como à Armada Britânica (British Army).
Fazendo uma pausa para recuperar o fôlego, Rory considerou o burro
com desagrado. ― Ela está brincando com a gente.
― É claro que está.
― Eu vou comprar-lhe um outro burro.
― Isso é bobagem. ― A senhorita Farrar enviou-lhe o mesmo olhar
impaciente que ele tinha dado ao burro. ― Ele só tem persistência.
― E cantando.
― E cantando.
― Ela não aprova o meu desempenho.
― Ela está apenas tirando sua medida.
― Eu tenho a dela. E não acho que devemos desencadear este rufião na
minha aldeia.
Ele parou, chocada. Bem, o que você sabe? Todos os dias desde que
herdou, se sentiu como um intruso. Nunca antes tinha referido Penton Wyck
como seu. Talvez, graças à senhorita Farrar, ele se reconciliou com essa farsa
de conde.
― Não me diga que você está deixando um mero animal doméstico o
derrotar, meu senhor. Certamente um pirata tem mais espírito.
Ele realmente tinha que afastar a senhorita Farrar dessa coisa toda de
pirata. Mas antes que pudesse falar, Daisy fez uma corrida repentina para a
outra extremidade do campo. No momento em que chegou junto dela, ele não
tinha fôlego para nada, apenas maldições abafadas. Este último mês a viver
como um amante de terra firme o deixara mole.
― God rest ye merry, gentlemen5, ― A senhorita Farrar cantou,
aproximando-se de Daisy com o cabresto escondida atrás das costas. Rory não
estava convencido que cantar tivesse qualquer efeito sobre a besta maldita,
mas quando a música lhe prendeu a atenção, ela avançou furtivamente a partir

5
God Rest You Merry, Gentlemen (Deus repousa alegre no homem gentil )é uma canção treadicional de
Natal inglesa. É uma das mais antigas canções existentes, datada do século 16 ou anterior. A mais antiga
edição impressa conhecida da canção está data de cerca de 1760.
do outro lado. O burro estava mais perto de um canto do que alguma vez
tinha conseguido. No último minuto, ele abriu os braços e incitou alto. O
burro começou e perdeu sua orientação o suficientes para se afastar.
― Muito bem, Lorde Channing, ― a senhorita Farrar disse, em seguida,
retomou a cantar quando foi sobre o burro esmagado contra a sebe. ― Agora
cante.
― Tidings of comfort and joy, comfort and joy6.
Daisy recuou.
Rory se aproximou.
Daisy se esquivou, mas ele cortou sua fuga.
― Cuidado, ela…
― Morde. ― Ele pulou para fora do alcance bem a tempo de evitar os
grandes dentes afundando em seu braço. Mas havia um novo rasgo em seu
casaco. ― Tem certeza de que ela não vai correr solta entre os cidadãos
cumpridores da lei?
― Ela gosta do jogo. Ela sabe que é a favorita. ― A senhorita Farrar
tirou vantagem do ataque de Daisy a Rory deslizando o cabresto sobre a
cabeça.
Para surpresa de Rory, o burro estava calmo quando a senhorita Farrar
pegou a liderança. ― Você exagera a complexidade de seus processos de
pensamento.
― Você vai aprender. ― A senhorita Farrar conduziu Daisy em direção
ao portão. ― Eu aconselho a não subestimá-la. Afinal de contas, José é
responsável por ela no dia.
Ele revirou os olhos enquanto a seguia. ― Deus me salve.
Quando encontrou o olhar marrom conhecedor de Daisy, ele se
perguntou se a senhorita Farrar estava certa sobre o jumento sendo um gênio

6
Tidings of comfort and joy, comfort and joy (Oh, mensagens de conforto e alegria, conforto e alegria).
Mesma canção que a anterior.
do crime. Neste momento, ela parecia tão doce quanto o açúcar, e ele quase
acreditou, até se lembrar da perseguição a que os levara.
Seus pensamentos focados em perseguir um prêmio muito mais
interessante do que um burro briguento. Seu olhar se estabeleceu na senhorita
Farrar.
Elizabeth.
Bess.
Nenhum grande tarefa. Ela era adorável em sua estranha variedade de
roupas e suas botas enlameadas. Correndo em volta do campo perdera seu
lenço. O exercício tinha afrouxado seus cabelos louros ondulando e
emoldurado no rosto vívido.
Rory abriu o portão e recuou para deixar Bess e Daisy passar à frente
dele. ― Embora eu não acredite que tenhamos estabelecido termos para seu
uso.
Bess fixou os olhos azuis escuros assustados sobre ele. ― O que você
quer dizer? Nós sempre usamos Daisy. É tradição.
Um sorriso malandro esticou os lábios enquanto fechava o portão. ―
Sim, mas agora há uma nova mão no leme de Penton Abbey, ou tinha se
esquecido?
― Mas… você ajudou a pegá-la. E se não vamos tê-la, todo mundo vai
ficar tão decepcionado. ― Sua voz firmada. ― Isso vai fazer uma má
impressão.
― Eu queria vê-la para descobrir se ela vale a pena.
Bess se iluminou. ― Você está se oferecendo para vendê-la? Tenho
certeza de que podemos definir um preço.
Ele apoiou as costas contra a cerca e cruzou os braços. ― Não vender,
alugar.
Ela franziu a testa. ― Quanto?
Sem desviar sua atenção de Bess, ele enganchou o calcanhar da bota na
trave mais baixa da cerca. ― Não o quanto, o quê.
Ela pareceu nitidamente desconfortável. Mais uma vez ele aplaudiu seus
instintos. ― Você está sendo amaldiçoadamente enigmático, meu senhor.
― Estou apenas negociando o aluguer justo por este animal magnífico,
senhorita Farrar.
Bess olhou em dúvida para o pequeno jumento, enlameado e
despenteado depois de viver fora durante todo o verão. ― E o que poderia
ser?
― Nada muito ruinoso. ― Triunfo mau o inundou enquanto olhava
sem piscar em Bess. ― Um beijo pequenino, e Daisy é sua para o teatro.
Capítulo Três

― Me b-beijar? ― Bess gaguejou, olhando horrorizada para o homem


bonito e confiante largado elegantemente na frente dela. Estava tão chocada
que esqueceu de prender Daisy, mas felizmente Lorde Channing estava em
posse de seu juízo e a pegou antes que escapasse.
― Sim, foi isso que eu disse, ― ele disse a ela calmamente, como se
fosse um homem civilizado e não um canalha perverso. Porque certamente
apenas canalhas perversos iam por aí beijando senhoras que mal conheciam.
― A fofoca estava certa ―, ela murmurou, demasiado confusa para
segurar sua língua.
― Que eu sou um oportunista?
― Que você é um… um libertino.
Sua risada baixa enviou música sedutora ondulando através de sua pele.
― Meu Deus, parece que tenho entretido os locais com abundância ainda
antes mesmo de representar como José.
― O que não significa que este local em particular tem de proporcionar
entretenimento para você, meu senhor.
Channing arrastou uma expressão de arrependimento em seu rosto. ―
Claro que não. Por favor, perdoe-me por perguntar. ― Ele virou-se para abrir
o portão e começou a levar Daisy de volta do jeito que chegaram.
― Onde você está indo? ―, Perguntou Bess, confusa.
― Eu estou colocando Daisy de volta em seu campo. Tenho certeza
que você vai encontrar um outro burro. Um pouco apertado, um pônei vai
caber a conta.
Bess pegou um grunhido entre seus dentes. Ela conhecia Lorde
Channing por apenas uma tarde, e já o contava como a pessoa mais irritante
que já conhecera. Suas mãos se apertaram nos bolsos volumosos do casaco
enquanto olhava para sua retirada.
Ele tinha levado mais dez passos antes de ela falar. ― Eu não disse não.
Ele puxou Daisy e virou-se para Bess. ― Você não disse que sim.
― Você me assustou. Eu não estou acostumada a libertinos exigindo
meus favores em troca de concordar com pedidos perfeitamente razoáveis.
Seu sorriso era descuidado. ― Estou tão contente por estar ampliando
seus horizontes.
Seu ar despreocupado bagunçou seu temperamento. Ele costumava
obviamente beijar mulheres sem pensar. Ela não podia ser tão casual sobre a
ideia, mesmo que apostando que ele sabia como beijar uma menina até encher
seus sonhos. ― Você está provando-se digno da sua reputação.
― Como um escocês, um pirata e um namorador?
― Quando você nos empresta Daisy, está ajudando a comunidade.
― Olhando dessa maneira, também você quando me beija.
O diabo insolente. Ela queria chamar seu blefe. E se não era um blefe,
dizer-lhe que ele poderia manter Daisy, ir para longe e apodrecer em seu
pobre mausoléu, vazio de uma casa.
Mas desde que ele tinha mencionado beijar, ela não podia deixar de
olhar para aquela boca móvel. Havia algo tão sensual sobre a forma de seus
lábios. O lábio superior precisamente esculpido, o inferior mais cheio. Os
vincos nos cantos insinuando riso.
Claro que ele estava rindo dela. Acreditava que realizara uma mão
vencedora, enquanto ela estava prestes a jogar suas cartas e declarar-se
derrotada.
Infelizmente, ele estava certo.
― Um beijo?
Ele pareceu surpreso. Em seguida, satisfeito.
Então predatório.
Nervos ataram o seu estômago, ela hesitou recuando. Não apenas
porque ia beijá-lo, mas por causa de como ia beijá-lo. Duvidava muito que
estivesse seu padrão habitual de parceiro. Este homem tinha visto o mundo,
enquanto ela nunca tinha passado Newcastle. E apostaria que ele tinha
deixado as meninas em todos os portos exóticos beijadas ao ponto de tontura.
Pensando em beijá-lo certamente a deixava tonta.
Ele arqueou uma sobrancelha ruiva. ― Isso é um sim?
― Você é um homem impertinente, Lorde Channing ―, disse ela, sem
saber se o comentário era um ou um insulto.
― Eu prometo que você vai gostar.
Ela fez um som de desprezo, assim como a emoção batendo em seu
sangue lhe prometia o mesmo, na verdade, ela iria gostar. ― Pelo bem maior,
eu posso aguentar um beijo.
Ele riu suavemente e caminhou em direção a ela, rebocando Daisy. ―
Não há necessidade de se encolher, minha pequena solteira de aldeia. Eu vou
fazer que seu primeiro beijo seja memorável.
Encolher? Ela ia lhe mostrar o que era encolher. ― Não é o meu
primeiro beijo ―, ela retrucou, antes que pudesse se conter.
Deus do céu, ela poderia soar mais desastrada? Calor mortificando
inundou seu rosto, fazendo uma paródia do dia frio.
― Oh? ― Agora, a peste o levasse, ele parecia mais interessado do que
nunca. ― A filha do vigário tem um passado obscuro. Quão intrigante. Talvez
você possa me ensinar uma coisa ou duas.
― Não seja ridículo ―, disse ela com voz trêmula, enrolando as mãos
em punhos até que suas unhas se cravaram em suas palmas. Daisy começou a
mordiscar a grama seca do inverno.
― Quem era o rapaz de sorte? ― Os olhos de Channing brilharam com
diabrura. ― Ou foi mais de um?
― Você não está agindo como um cavalheiro, meu senhor ―, disse ela
rigidamente.
― Mas eu estou agindo como um escocês, um pirata e um libertino.
― Não há necessidade de soar tão orgulhoso de si mesmo. ― Reunindo
cada grama de coragem, ela deu um passo em frente. ― Muito bem. Estou
pronta.
Ele a agarrou pelo braço. ― Eu gostaria de ter um outro burro para
poder trocar por algum entusiasmo.
Interrompendo o forrageamento de Daisy, ele encurtou suas rédeas e
puxou-a em direção à floresta. Atravessou a grama aberta com um passo
determinado, e porque segurava o braço de Bess, ela foi também, mais
confusa do que nunca. Não menos importante, porque enquanto ela se
ressentia de Channing a encurralando para essa barganha vergonhosa, não se
ressentia de todo da ideia de beijá-lo.
Ela devia estar perdendo a cabeça.
― Você não vai me beijar? ― Encolheu-se por a questão surgir mais
como uma queixa que um protesto. Ele a tocou mais cedo, mas agora, com
beijos em um futuro próximo, era extremamente consciente da mão forte
enrolada em torno de seu braço.
― Que vergonha, senhorita Farrar. Você não tem cuidado com sua
reputação?
― Minha reputação?
Ele baixou a voz, embora não houvesse ninguém, exceto Bess e Daisy
para ouvi-lo. ― Se eu te beijar a céu aberto, alguém pode nos ver.
Amaldiçoado, ele estava certo. Mesmo em uma tarde fria, miserável
como este, um de seus trabalhadores poderia passar e vislumbra-los
abraçando-se na beira de um campo vazio.
A ansiedade mantinha Bess estranhamente silenciosa enquanto Lorde
Channing a escoltou para o abrigo das árvores. Como tinha chegado a um
ponto em que o novo conde estava prestes a beijá-la? Como tinha chegado a
um ponto onde ela queria que ele a beijasse?
Pela primeira vez, ela desejou que Daisy agisse. Mas, fiel à sua natureza
teimosa, ela caminhou atrás deles quieta como um cordeiro. Talvez, como
Bess, o burro reconhecera Lorde Channing como incontrolável, e decidiu que
cooperação era a melhor estratégia.
― Pare de pensar ―, Channing murmurou, puxando-a fora do caminho
em uma clareira isolada. Mesmo no meio do inverno, as árvores desfolhadas
que se aglomeram em torno deles ofereciam privacidade. ― Eu posso ouvir
sua mente agitada como uma roda de moinho. Isso está me colocando fora de
meu caminho.
― Não posso evitar ―, disse ela vacilante.
― Não vai ser tão ruim quanto você imagina.
O problema era que ela não imaginava por um único momento que
seria ruim. Estava convencida de que ia ser realmente muito bom. O tipo de
beijo que fazia o anseio de uma menina.
Geralmente Bess estava contente com sua vida isolada. Ela receava o
pensamento de alguém quebrar essa tranquilidade fazendo-a ansiar por algo
além de Penton Wyck.
O conde soltou Bess no meio da pequena clareira e ela imediatamente
sentiu falta do toque da mão grande e capaz. Amarrou Daisy a um ramo,
usando um nó incrivelmente complicado que era uma lembrança do seu
passado marítimo. Deus, ele devia ter sido um pirata de primeira linha. Um
olhar daqueles olhos verdes intensos e qualquer comerciante iria
imediatamente entregar sua carga.
Ela sempre se considerou com força de vontade. Comparada a Lorde
Channing, ela era uma muda em um turbilhão.
― Ela vai fugir ―, disse Bess.
― Não, ela não vai. Esse nó vai aguentar através de um vendaval ártico.
― A sobrancelha interrogativa arqueou uma vez. ― Você está pensando em
fugir também?
O burro cheirava as folhas espalhadas pela grama marrom. Bess passou
de um pé para o outro. ― Então você não iria deixar-nos ter Daisy para o
teatro.
― Muito certo. ― O sorriso em seus olhos não alcançou seus lábios. ―
Se os moradores soubessem os sacrifícios que você está disposta a fazer em
seu nome.
― Eu prefiro que eles nunca saibam sobre o… negócio de má
reputação ―, disse ela com firmeza, mesmo que seu coração acelerasse tão
rápido com a antecipação do pecado, se sentiu tonta. ― Por favor, acabe com
isso.
Ela se levantou, fechou os olhos e apertou os lábios, em seguida, abriu
os olhos novamente quando Lorde Channing caiu na gargalhada.
― Algo diverte Sua Senhoria? ―, Ela perguntou friamente.
Levou um exasperante longo tempo para parar de rir. ― Você disse que
já fez isso antes.
― Eu fiz.
Duas vezes. Há muito, muito tempo atrás.
― Então você tem claramente razão de queixa.
Seus olhos se estreitaram. ― Eu certamente tenho agora.
Seu olhar suavizou e ele estudou seu rosto, como se quisesse pintá-la. A
atitude espinhosa e defensiva recuou e se desvaneceu na expectativa de alento.
Ela segurou o penetrante olhar por tanto tempo quanto pôde antes que
olhou para o chão coberto de folhas. Suas bochechas quentes e as mãos a em
na cintura.
Ele pegou as mãos trémulas. Mesmo através de suas luvas, ela sentiu o
choque de calor. Seu olhar voou para se prender em seu rosto. Ele pareceu
atento e inesperadamente suave. Um sorriso apareceu em um canto de seus
lábios. ― Acredite em mim, sua virtude está segura, senhorita Farrar. Está
amaldiçoadamente frio para tirar nossas roupas.
Ela queria se opor à sua linguagem e sua menção de se despir, mas
estando ali segurando suas mãos, seu vocabulário condimentado foi a última
de suas preocupações. Afinal de contas, um pirata iria expressar-se
fortemente. E ele estava errado. Seja qual for a temperatura do ar, ela se sentia
pronta para ficar chamas.
― O acordo é um beijo ―, ela lembrou.
― Se eu colocar meu braço em volta de sua cintura, você estará
propensos a tomar um susto e fugir?
De repente, ele ficou muito mais perto. Ela nunca tinha sido tão
consciente da altura e força de alguém.
― Não.
― Você não parece muito certa.
― Eu fiz um negócio, meu senhor.
― Louvo os seus princípios, senhorita Farrar. ― Ele puxou-a para seu
corpo.
Para sua mortificação, ela guinchou como um gatinho assustado com
todos os sentidos alerta para a sua proximidade. O ar cheirava a frio e limpo,
com uma pitada de folhas de outono. Lorde Channing cheirava a quente e
limpo, com uma pitada de sal. Talvez durante todos esses anos de pirataria, o
mar tivesse se entranhado em sua pele.
Antes que ela pudesse parar a si mesma, fechou os olhos e respirou essa
esplêndida essência. Um zumbido de prazer escapou dela e de sua coluna
vertebral curvada até que ela se acomodou contra ele com o ajuste mais
perfeito.
Calor radiante a cercava. Extraordinário como era agradável a sensação
de estar nos braços de um homem em um dia de inverno.
Com uma desenvoltura que derreteu seus ossos em mel, inclinou-lhe o
queixo. ― Prepare-se para a abordagem, senhorita Farrar.
Os lábios de Lorde Channing roçaram os dela. Calor escorria por ela.
Por um momento, ele não fez nada alarmante, e através do ataque de
sensações, admitiu que tudo foi bastante agradável. Definitivamente
sobreviveria à experiência. Seu abraço se apertou e ele ajustou sua postura até
que ela estava mais perto do que nunca.
Em seguida, seus lábios se moviam mais propositadamente, e o mundo
deu uma guinada fora de seu eixo para ir dançar entre as estrelas.
Ela não tinha ideia que seus lábios eram tão sensíveis. Cada nervo em
seu corpo focado na pressão persuasiva. Não confiando em suas pernas para
segurá-la, ela levantou as mãos para os ombros dele. Seu som suave de
aprovação chiou através dela como um raio.
Ela se afogou em calor e anseio. Esse beijo a fez ansiar. Ela tinha razão
para temê-lo.
Bess engasgou quando ele passou a língua contra a costura de sua boca.
Que coisa estranha a fazer.
Ele fez isso de novo, aproveitando-se de seus lábios entreabertos.
Choque tornou-se em uma corrida de resposta irresistível. Ela endureceu com
o prazer surpreendente transformado em incerteza. Aquilo era perversamente
carnal e muito além dessas experiências preliminares quando ela imaginou-se
apaixonada aos dezoito anos.
Suas mãos espalmadas em seu poderoso peito para afastá-lo, mas, para
sua vergonha, Lorde Channing foi quem trouxe o intervalo inebriante ao fim.
Ele deu um passo para trás e a soltou.
Sem o seu apoio, ela tropeçou. Ele pegou suas mãos para impedi-la de
cair em uma pilha humilhante. Seu sangue corria como uma torrente em fúria
e seus lábios queimando. Com uma simples palavra dele, ela daria um passo
para seus braços e lhe pediria para fazer tudo novamente.
Ela não tinha ideia que um beijo poderia deixá-la tão boba. Como era
irritante.
A expressão de Lorde Channing era inquisitiva e quase terna. As
pálpebras pesavam sobre aqueles olhos profundos. Ele estava respirando sem
firmeza, mas seu aperto era firme.
Impotente ― e Bess não era uma mulher acostumada a se sentir
impotente, ela olhou para ele, querendo dizer alguma coisa inteligente e
desdenhosa. Mas aquele beijo tinha lhe roubado toda a capacidade para o
discurso. Ela tremeu ao recordar aqueles segundos em chamas quando a
ponta de seda de sua língua invadiu sua boca. Isso a deveria ter revoltado.
Teria, se ele lhe tivesse dito o que pretendia. Em vez disso a exploração
desenfreada tinha derretido todas as defesas. A deixou quente. Curiosa.
Fez querer… mais.
Ao seu som fraco de angústia, ele franziu a testa. ― Você está bem?
Não, ela não estava, mas o orgulho veio em seu socorro. Bess ajeitou e
puxou as mãos livres. Ela poderia ficar em seus próprios pés, amaldiçoá-lo.
Engolindo para aliviar a garganta seca, disse a si mesma que podia falar, e ir
embora, e ir em frente com sua vida, e absolutamente nada havia mudado.
Um beijo de um pirata não a transformava em uma pessoa diferente. Ela ainda
era a competente, gestora, independente Bess Farrar.
Competente, gestora, independente, solitária Bess Farrar.
Ela engoliu em seco novamente e forçou sua voz para trabalhar. Parecia
arranhada e fora da prática. ― Perfeitamente.
As sobrancelhas expressivas se inclinando quando ela não conseguiu
controlar o engate em sua resposta, mas estava grata que ele não a contradisse.
Ela disse a si mesma para se afastar, mas parecia estar plantada onde estava.
Ele roçou os lábios nos dela. Incapaz de resistir, ela fechou os olhos e
beijou-o de volta.
Algo macio e frio escovou sua bochecha. Ela abriu os olhos aturdidos
para ver a neve caindo do céu cinza pesado.
Quando ele se afastou com relutância indisfarçável, ela lambeu os lábios
e abafou um gemido. Podia sentir o gosto de neve e de Lorde Channing.
Como era… perturbador.
― O… o arranjo foi um beijo.
Uma torção daquela boca fascinante, ainda mais fascinante agora que
ele a beijou. ― Apenas algo a considerar. ― Ele olhou para o céu. ― Eu acho
que nós precisamos levar Daisy para o celeiro, não é?
A mudança abrupta do encantamento proibido para a realidade
prosaica deixou seu combate se ajustar. ― Vou levá-la para a casa paroquial.
Nós temos um ensaio amanhã à tarde.
― Ela pode ficar nos estábulos de Abbey. Assim que você começar
com a casa, imagino que vai estar lá a maior parte do tempo, deixando as
coisas prontas. Falta apenas uma semana até o Natal, minha querida senhorita
Farrar. Sem tempo a perder.
O brilho persistente diminuiu quando considerações de ordem prática
se tornaram primordiais. Mas a queda suave de neve lembrou-lhe que apenas
momentos atrás, ela estava perdida em seus braços. Se esforçou para soar
como se não tivesse estado beijando Sua Senhoria com um entusiasmo que a
fez corar. ― Você é muito prepotente.
Ele riu suavemente. ― Isso vem com o título. Eu era um perfeito
cordeiro quando capitaneava meu navio.
Era a sua vez de rir. Ela não acreditava isso por um segundo. ― Você
estava falando sério sobre a realização de um jantar de Natal para a aldeia?
― Claro. Você deve saber agora que eu sou um homem de palavra.
Um beijo. Ele tinha prendido a sua palavra lá, também. Com apenas um
pouco mais nos momentos finais.
A picada não era por ele a ter beijado. A picada era porque ela gostara
muito. Demais.
Ainda assim, ela pagou o preço que ele pediu e agora conseguiu o que
queria. Mesmo que contasse o preço não em centavos, mas em suspiros de
admiração sem fôlego. ― Eu tenho a sua autorização para o pessoal da casa, e
disposição, e decorá-la para a festa?
― Espero que você me diga o que está fazendo.
Era justo, uma vez que ele estava financiando tudo. ― E você vai para a
igreja amanhã às quatro e representa José?
― Eu disse que faria. ― Ele fez uma pausa. ― E eu vou levar Daisy.
― Eu o advirto de que a casa será ruidosa e confusa até que eu tenha
terminado.
Ele lançou-lhe um olhar zombeteiro. ― Você está tentando me afastar
disso?
Ela estava convencida de que, entrando, este arranjo fora um erro. Mas
pareceria um idiota caprichoso se saísse agora, quando ele concordou com
tudo o que ela pediu.
Se ao menos não tivesse tanta certeza de que lorde Channing tinha seus
próprios planos, e que esses planos incluíam mais beijos no mínimo.
― Não.
Quando satisfação astuta brilhou em seus olhos, o clamor de apreensões
aumentou para um grito. ― Excelente. Depois do almoço, então?
Capítulo Quatro

Rory não dormiu bem. A memória de segurar Bess em seus braços não
era tanto um tormento como uma promessa de mais para vir. Sentia-se tão
animado e no limite como um aspirante inexperiente enfrentando sua primeira
batalha no mar.
Bess, também, tinha sido inexperiente. Seja qual fosse o canalha que a
tinha beijado fizera um mau trabalho. Ela devia estar em seus vinte e poucos
anos, mas beijou como uma menina doce, os lábios fechados e com cautela. A
inocência dela o havia tocado, reforçando a sua resolução vacilante para não a
levar muito longe.
Embora qualquer homem de princípios diria que já havia tomado tudo
longe demais, roubando esse beijo casto. Ela era uma senhora virtuosa, a filha
de um vigário, nem menos. E eles tinham acabado de se conhecer.
Mas ele não podia deixá-la ir sem saborear um pouco. E tinha sido
gloriosa.
Se o destino fosse gentil, ele não iria esperar muito tempo para saboreá-
la novamente.
Na manhã seguinte, os seus planos lascivos atingiram um problema.
Quando saiu de seu quarto ― ele dormira até mais tarde do que o habitual
após suas inquietações noturnas ― pessoas de todas as idades andavam no
grande salão. Os aldeões, ele assumiu, sob o comando da mulher com que
pretendia se casar.
Ned White se juntou a ele no topo da escada. ― Você não me disse que
era todas as mãos no convés, esta manhã, Rory.
Rory atirou em seu amigo um olhar divertido. ― Eu rendi-me a uma
força superior, rapaz.
A atenção de Ned caiu em Bess, toda ocupada em seu vestido cinza
simples e avental sensato. Uma impressão minada pela cor de suas bochechas
e os fios esvoaçantes de cabelo dourado. ― Uma mulher de aparência fina, a
senhorita Farrar.
― Sim.
― Uma esposa ideal para um novo conde e uma forma de conhecer e
criar laços com seus vizinhos.
Droga, Ned o conhecia muito bem. Isso resultava de navegarem juntos
pelos últimos vinte anos. ― Ela é uma mulher com suas próprias ideias.
Qualquer pessoa que a tome terá que dizer adeus a uma vida quieta e qualquer
esperança de uma pequena esposa mansa para suavizar as preocupações e
saltar para suas ordens.
― Sim, bem, alguns poderiam dizer depois que um homem atravessou
os oceanos do mundo, uma pequena esposa mansa parece monótona em
comparação.
― Sim, alguns podem.
― Seus inquilinos parecem ter muito respeito por ela.
Era verdade. Rory tinha servido com capitães suficientes, bons e maus,
para verificar o respeito que tinham por Bess. para não mencionar o carinho.
Era difícil fazer corresponder esse líder capaz com a menina ensombrada que
tinha beijado na neve.
Rory mudou de assunto. ― Você sabia que há um rumor no exterior
que eu sou um pirata?
Ned bufou com a risada. ― Você?
― Sim.
― Bem, diabos me levem. Quando você não está devastando o Spanish
Main7, você vai içar o Jolly Roger8 no mastro da Abbey para dizer ao mundo
casa do senhor dos saqueadores?
― Você não tem graça ―, disse Rory, tentando não sorrir.
― Eu acho que tenho.
― Você sempre acha. ― Ele fez uma pausa. ― Como por Hades9
começaram os contos tontos como este?
Ned deu de ombros. ― O primo de alguém ouviu alguma coisa do
primo de alguém que ouviu algo de alguém passando de carruagem por
Londres. Você sabe como essas coisas funcionam.
― Devo dizer alguma coisa? Ou será apenas adicionar combustível para
o fogo?
― Eu suspeito que isso vai morrer de sua própria vontade quando não
forrar as paredes da casa com mapas marcados com um X.
― Muito divertido. E não ajuda.
― Oh, você me magoa. Com seu facão. Apenas não me faça andar na
prancha.
― Eu não posso levar muito mais hilaridade, rapaz. Vamos anunciar
nossa presença conhecida?
Ned fez uma reverência irônica. ― Depois de você, meu senhor.
Rory lançou o seu mais antigo amigo um olhar irônico e se aproximou
da balaustrada. ― Bom Dia a todos.

7
Spanish Main – refere-se às possessões costeiras espanholas em torno do Mar do Caribe e do Golfo do
México.
8
Jolly Roger é o nome dado às típicas bandeiras piratas, mais concretamente à típica bandeira cujo fundo
é preto e tem uma caveira branca com dois ossos cruzados.
9
Inferno
Ele estava acostumado a lidar com sua tripulação através do barulho de
vento, ondas e velas, pelo que sua voz facilmente cortou toda a conversa. Fez-
se silêncio e como um, trinta rostos se viraram para cima. As expressões eram
como ele esperava. Dadas as fofocas estranhas sobre suas façanhas antes de
vir para Penton Wyck, a cautela era inevitável. Mas hostilidade estava
felizmente ausente. Em vez disso ele leu curiosidade e interesse.
Automaticamente procurou Bess. Sua expressão era mais difícil de
interpretar. Se ela tivesse encontrado o sono evasivo, também? Talvez ela
passasse as horas desde que eles se separaram revivendo seu beijo. Maldição,
ele bem esperava que sim.
Ela mergulhou em uma mesura e como se seu movimento tirasse a
multidão de um feitiço, as outras mulheres oscilaram em mesuras e os homens
se curvaram. Rory supôs que teria que se acostumar com essas homenagens a
seu posto.
― Obrigado por terem vindo através da neve para preparar Penton
Abbey para o meu primeiro Natal aqui. É uma grande casa antiga e precisa
voltar à vida. ― O chamassem francês se não era aprovação no olhar azul
constante de Bess. ― Vocês não me conhecem ainda, e eu não os conheço.
Mas trabalhando juntos por uma causa comum é a melhor maneira de
descobrir a coragem de um homem. Espero que pelo tempo em que
estaremos bebendo um brinde para a temporada e a tora10 esteja em chamas
na lareira, vocês vão me considerar um de vós e um sucessor digno ao meu
falecido e respeitado irmão. ― Ele gesticulou em direção a Bess. ― Senhorita
Farrar sabe onde guardar tudo, tratem com ela. Este velho lobo do mar não
tem ideia de como acomodar equipamento em terra firme.
Como ele esperava, o fim auto-depreciativo ao seu discurso tornou
mais leve a solenidade que resultou de mencionar seu irmão. Ainda provocou
algumas risadas.

10
Tronco de Natal
Ned estava ao lado dele. ― Você quer dizer para deixá-los entregues a
isso?
― Não seja um tolo, rapaz. ― Rory enviou-lhe um sorriso temerário. ―
Eu tenho uma filha de vigário para apanhar. Não vou deixar a formosa
Senhorita Farrar fora da minha vista.
Ned sorriu de volta. ― Ela não tem uma chance.
Rory permaneceu especialmente ciente da localização de Bess. Agora
ela estava debaixo de uma das janelas, falando com um senhor idoso de preto
que parecia conter alguma autoridade. ― Peço a Deus que você esteja certo.
Ned olhou para ele em choque. ― Bem, isso leva o biscoito.
― O quê? ―, Perguntou Rory, sem desviar sua atenção de Bess.
― Você deve estar apaixonado por ela.
Calor desconhecido ardeu em suas bochechas. Droga, Rory não tinha
corado desde a sua primeira viagem. Um menino de convés crescia rápido.
― Eu só conheci a moça ontem. ― A fofoca estava certa sobre uma
coisa, pelo menos, ele tinha mais experiência com o belo sexo do que era bom
para ele. Mas amor? Isso era um território desconhecido.
Ned olhou presunçoso. ― Eu nunca pensei ver o dia.
― Ela é uma criatura adorável.
― Sem dúvida.
― E inteligente e capaz.
― Indiscutivelmente.
― Um homem de propriedade precisa de uma esposa. Ele não pode
permanecer o mesmo imprudente auto-centrado bastardo da sua juventude.
― Especialmente quando ele se apaixona. Em todos os nossos anos
juntos, eu nunca o vi menos do que confiante de suas chances com uma
mulher. Tem sido endiabrado irritante. Se você está inseguro sobre esta
senhora, é porque ela não é apenas uma mulher, ela é a mulher.
― White, você tenta minha paciência ―, ele retrucou. ― Venha e
coloque essa imaginação fértil para trabalhar movendo móveis.
― Sim, sim, senhor. ― Ned teve a temeridade de saudar antes de correr
descendo as escadas para participar de uma festa se desenrolando no salão.
Rory não o seguiu imediatamente. Ned White o conhecia melhor do
que qualquer outra alma na terra. Melhor do que a família em Edimburgo, que
deixara aos onze anos e raramente vira desde então. Então, enquanto ele
adoraria descartar as divagações do companheiro como declamações
sentimentais, em algum lugar no fundo de sua alma, elas atingiram a verdade.
Em vez de se juntar a seus inquilinos, ele ficou olhando pensativamente
a Bess que continuava dando instruções. Seu alegre desrespeito por sua
presença o irritou. E o fato de que o irritou o enfureceu ainda mais.

O dia correu por em um turbilhão de atividade física que lembrava a


Rory de seus dias nos escalões inferiores, trabalhando como um escravo em
um navio de guerra. Claro, ele poderia retirar-se para sua biblioteca e deixá-los
ir em frente, mas onde estava a diversão nisso?
Apenas pegou raros segundos sozinho com Bess, mas teve o privilégio
de observá-la em ação. Pelo céu, ela era uma criatura fascinante. Ele podia vê-
la feliz durante todo o dia.
Se os ventos soprassem justos, ele ia vê-la para o resto da sua vida.
Não percebeu que outras pessoas tinham comentado seu interesse pela
bela filha do vigário até que se encontrou na biblioteca com o companheiro
vestido de preto que tinha notado antes. Embora a casa terminasse, Rory
apreciara esta oportunidade para conhecer seus inquilinos. Obadiah Simpson
era um médico aposentado que tinha viajado por todo o país. Um homem de
sofisticação incomum para aquele sossego.
― Ela é uma moça muito boa, a senhorita Bess ―, disse o velho,
empilhando volumes encadernados em couro nas prateleiras recentemente
espanadas. Rory acabara de trazer outra caixa de livros dos celeiros.
― Ela é ―, disse ele, curioso onde Simpson queria chegar. Casualmente,
escovou teias de aranha e poeira de suas mangas. Pensou que a casa estava
suja até que ele começou a verificar os restantes edifícios.
― Ela é muito apreciada na aldeia.
Rory tinha visto isso por si mesmo. ― Você está tentando me avisar,
Dr. Simpson?
O velho se virou, um livro agarrado em sua mão. ― De modo nenhum.
Estou apenas fazendo conversa.
― Como diabos você está.
― Bem, talvez não inteiramente. ― Prendeu os penetrantes olhos
cinzentos em Rory. ― Tem em mente atrair a jóia da nossa pequena
comunidade?
― Isso seria uma decisão precipitada quando eu só conheci a moça
ontem.
Simpson olhou-o de forma constante. ― Você me parece um sujeito
que faz a sua mente sem adiamentos.
Simpson tinha esse direito. ― Eu nem sei se a Senhorita Farrar gosta de
mim.
― Ela gosta.
A gratificação que inundou Rory o fez sentir-se como um colegial
fantasiando sobre de uma menina bonita. ― Você está fazendo de
casamenteiro?
O sorriso de Simpson era conhecedor. ― Eu duvido que precise
exercer muito para colocá-los juntos.
― Nós quase não falamos durante todo o dia ―, Rory protestou. Foi
lamentavelmente verdade. Ele tinha imaginado que, com Bess sob seu teto, as
oportunidades de flerte seriam abundantes. Não contara com as multidões
que pululavam pela casa ou a atenção diligente de Bess ao dever. Ela estava
muito ocupada na limpeza, organização, reparos e a colocação de mobiliário,
para paquerar.
― Mas você olhou. ― Simpson fez uma pausa. ― Assim com ela.
― Isso é uma boa notícia.
Simpson fez uma careta. ― Agora, não vá pensando que ela é uma de
suas garotas fáceis de Londres. A menos que suas intenções sejam honestas,
você pode definir suas vistas em outro lugar.
Rory riu de novo, sem saber se a ser incomodado ou tocado na
interferência do velho. ― Será que lhe ocorreu que está indo além de seus
direitos?
Simpson deu um grunhido de desprezo e voltou aos livros nas estantes.
― Eu conheço Bess de toda a sua vida. Só um tolo confundiria a maneira
franca por ousadia. Se esse tolo se confundir, ela tem pessoas lutando para
protegê-la.
― Incluindo um pai ―, Rory disse suavemente. ― Quem certamente
deveria estar dizendo essas coisas para mim se alguém o deve fazer.
― Ah, o vigário. ― Simpson se inclinou para levantar outra braçada de
livros a partir da caixa a seus pés.
Depois de um tempo, Rory percebeu que Simpson não pretendia dizer
mais nada sobre o reverendo John Farrar. De repente ele ficou curioso sobre
o homem que esperava que se tornaria seu sogro. Talvez ele pudesse ir à igreja
no domingo depois de tudo. ― Sr. Simpson, minhas intenções em relação à
senhorita Farrar não são de sua conta.
― É uma pena ―, Simpson disse placidamente, continuando com seu
trabalho.
― Por quê?
― Porque conseguir Bess para si pode ser mais suave se você tiver
alguma ajuda.
Os olhos de Rory se estreitaram sobre o homem. ― Você não sabe
nada sobre mim, além da conversa selvagem que tenho ouvido nos últimos
dias.
― Você é a coisa mais excitante que aconteceu em Penton Wyck desde
que Daisy se soltou no teatro de Natal há cinco anos e comeu o chapéu de
bispo de Durham.
Apesar de tudo, Rory riu. ― Bem, isso me coloca no meu lugar.
― Temos a tendência de levar as pessoas como as encontramos aqui,
meu senhor. ― Ele continuou placidamente organizando as prateleiras. ―
Bess faria uma boa esposa.
― Sem dúvida. Mas eu iria ser um bom marido para ela?
Simpson fixou um olhar crítico sobre ele. ― Isso é com você. Não
pense que a vai tentar com seu título e riqueza. Não funcionou para o seu
irmão. Não vai funcionar para você.
Rory franziu a testa, surpreso e não totalmente satisfeito, embora
fizesse sentido. Seu irmão a beijara? Se tivesse, lhe ensinara-lhe pouco. ― Meu
irmão queria se casar com Bess?
― Ele queria. Mas ela não o queria.
Agora, isso foi interessante. ― A maioria das mulheres iria saltar sobre
o título de condessa.
Simpson balançou a cabeça em desapontamento. ― Lá vai você,
pensando nela como uma de suas moças volúveis. Nossa Bess só vai se casar,
onde suas afeições se encontrarem. E não imagine que o seu irmão era sua
única chance também.
― Havia outros? ― Claro que houve. Rory não era o único homem na
Inglaterra com os olhos em sua cabeça.
― Sir Gavin Spiers no vale vizinho, era um. E Henry Browne, o
advogado de seu irmão, não era cego para a grande esposa que ela seria para
qualquer um. E isso foi só no ano passado.
― No entanto, ela é solteira.
― O vigário tem uma fortuna respeitável, embora você não se aperceba
disso olhando para o pobre desordenado. E a avó de Bess deixou a ela uma
boa quantia, quando faleceu há três anos. Nossa menina pode se dar ao luxo
de ser exigente.
Rory não tinha certeza se isso era uma boa notícia ou não. Droga, Ned
estava certo. Ele sempre confiou em seu jeito com as mulheres. Agora,
quando se importava, não podia deixar de se perguntar o que tinha que faltava
aos outros pretendentes de Bess.
Ainda assim, um coração fraco nunca ganhara uma senhora honesta. Se
ele pudera navegar para uma tempestade de gelo no Estreito de Bering,
certamente poderia conquistar aquela moça temível. ― Então deixe-me ver se
entendi. Você está disposto a promover o meu namoro, enquanto eu me
comportar?
A faísca nos olhos de Simpson o fazia parecer mais jovem e malicioso.
― Você só precisa se comportar até um certo ponto. Um companheiro que
foi um pirata deve saber que linhas atravessar.
― Eu não…
― Este é o lugar onde vocês dois estão se escondendo ―, disse Bess,
apressando-se para a biblioteca com uma vassoura em uma das mãos.
O coração de Rory deu uma guinada na visão dela. Uma sensação
estranha, não totalmente bem-vinda.
― Você já está a meio do caminho, meu senhor, ― Simpson murmurou
apenas para os ouvidos de Rory.
A meio do caminho? Rory tinha uma sensação de que o vento soprara
muito além de seu destino e agora empurrava-o em direção ao próximo porto.
― Estávamos com medo que você pretendesse nos dar outro trabalho ―, ele
disse, ignorando o velho presunçoso que achava que sabia de tudo.
― Precisamos ir e trabalhar no teatro. ― Seu vestido cinza estava
enrugado e sujos, e uma risca de sujeira adornava uma alta maçã do rosto. Sua
respiração engatou com a forma como ela era real. Era tão viva que fazia o ar
farfalhar. Ele queria pegá-la contra ele e nunca deixá-la ir.
Ele conseguiu segurar um suspiro teatral. Ela não precisava saber como
minara suas defesas fatalmente. Ou pelo menos não ainda. ― O trabalho
parece ser a sua palavra favorita, senhorita Farrar.
― Você vai ficar feliz quando a casa estiver adequada para viver nela.
Ele esperava passar por todo este caos até a casa estar apto para ela
viver ali. Olhou para fora da janela para ver um rastro de moradores, muitos
dos quais agora conhecia pelo nome, descendo o caminho. ― Estão todos no
teatro?
― Alguns deles. Mas não está completamente abandonado, agora tem
dois criados e quatro empregadas para cuidar de você. E uma cozinheira. A
Sra. Hallam assumiu as cozinhas, pelo que você vai ser poderosamente grato,
eu tenho certeza.
― Isso é um diabo de uma horda para servir um homem.
― Você também vai precisar de um mordomo e governanta, mas terão
que vir de Newcastle ou Londres.
― Mais malditos estranhos vagando ao redor da minha casa? ― Ele
encostou um quadril na mesa e cruzou os braços. Esta foi a conversa mais
longa que tinha conseguido durante todo o dia. Mesmo sabendo que Simpson
pesava cada palavra, Rory não tinha pressa para acabar com ela.
Realmente estava em um mau caminho. Se alguém lhe houvesse dito
ontem que iria discutir criados apenas para o deleite de conversar com uma
bonita moça, ele o teria chamado de ignorante.
Ele tinha uma suspeita desagradável que a maior cabeça dura de toadas
seria a do novo conde de Channing.
A mocinha bonita olhou com desaprovação. ― Você realmente não
tem cuidado com seus arranjos domésticos, meu senhor?
Enquanto eles incluíssem Bess Farrar, ele se importava muito por seus
arranjos domésticos.
― Não muito. ― Ele se levantou para tirar a vassoura dela e sustentá-la
contra a parede. ― Boa tarde, Dr. Simpson. Gostei de fazer o conhecer.
― Adeus, Dr. Simpson. Obrigado por ajudar ―, disse Bess.
Simpson não olhou para cima a partir dos livros, mas de onde ele
estava, Rory pegou o sorriso do homem. ― Eu não teria perdido isto por nada
no mundo, minha querida.
Rory como regra não apreciava as pessoas se intrometendo em seus
assuntos, mas o velho tinha sido condenadamente informativo. E se a
aprovação local do seu namoro significava assistência, ele aceitaria uma certa
quantidade de intervenção.
Quando pegou o braço de Bess, consciência física estalou através dele.
Será que ela compartilhava esta reação volátil? Ela reagira ligeiramente no
contato.
― Eles gostam de você, ― Bess disse suavemente enquanto a
acompanhava-a para o grande salão.
Uma sugestão de suor limpo aquecia o cheiro dela. A ideia dela
trabalhando para alcançar seu conforto despertou um prazer primitivo. ― Não
fique tão surpresa.
Sua risada foi irônica. ― Eu não tinha certeza de que gostariam. Ou não
tão rapidamente.
Seu aperto aumentou quando ele parou. ― O que no Hades isso
significa?
― Depois de toda a conversa.
Ele realmente tinha que enfrentar os rumores de seu passado nefasto,
mas agora tinha coisas mais importantes para descobrir. ― Contanto que você
goste de mim, eu posso viver com um pouco de hostilidade dos vizinhos.
O espanto nos olhos dela acalmou sua breve incerteza. Ele não tinha
falta de auto-confiança, mas os acontecimentos nas últimas vinte e quatro
horas o dixaram vacilar. Ele sabia que ia casar, uma nômada infância infeliz e
todos os anos no mar, o convenceram do valor de uma família estável. Mas
sempre rejeitara a ideia de amor à primeira vista como uma fantasia romântica.
Estava Ned certo? Será que ele amava Bess Farrar? Diabo se sabia. O
que sabia era que tinha visto e conhecido em seus ossos que ela era a única
para ele.
Ela franziu a testa. ― Você não pode imaginar que eu saio por aí
beijando homens de quem não gosto.
― Mesmo se houver um burro na balança?
Seu rubor o encantava. ― Mesmo por Daisy.
Ele passou a mão pelo seu braço e apertou seus dedos. Para sua
surpresa, ela retornou a pressão. Resumidamente ele considerou beijá-la
novamente, mas a casa estava infestada de empregadas domésticas.
O que daria um pouco de privacidade, mas agora não era para ser.
Lamentavelmente ele a soltou quando saiu para o corredor. Duas
mulheres jovens estavam polindo os móveis recém-substituídos, enquanto
outra enfiou algum azevinho em um vaso em cima da lareira acima de um
fogo ardente.
― Bom Deus ―, ele respirou, tomando a transformação do espaço
anteriormente estéril. No último mês, ele e Ned tinham acampado na casa.
Agora examinava a grande sala iluminada através de limpas janelas gradeadas.
Pela primeira vez, ele pensou em Penton Abbey como um lar e não apenas
uma casa. ― Você fez milagres.
Quando ele avançou para dentro do quarto, as criadas fizeram uma
reverência e saíram. O primeiro passo casamenteiro de Simpson?
― Obrigado. Eu esperava que você ficasse satisfeito. ― A sinceridade
na voz de Bess aqueceu seu coração quase tanto quanto tinha segurar a mão
dela. ― Seu irmão seria tão feliz de ver a Abbey voltando à vida.
O irmão que se tinha proposto a ela. O irmão com quem tinha mais em
comum do que ele suspeitava, se ambos estavam no encalço da mesma
mulher.
baús de carvalho pesado e cadeiras e mesas dispunham-se em torno das
paredes. Alguns deviam datar dos dias em que a casa tinha sido uma abadia
real. ― Isto é exatamente correto.
O sorriso dela foi aprovador quando deu um passo adiante para lançar
a mão sobre a bela escultura sobre a lareira. A inerente sensualidade do gesto
o fez sentir o seu toque em sua pele nua.
― Eu tenho certeza que você vai querer algo mais aconchegante para os
quartos da família, mas pelo menos a Abbey não é uma concha vazia.
Ele podia sentir a diferença. Não tinha nada a ver com móveis e tudo a
ver com a presença viva de Bess. ― Graças a você.
― Eu odiava ver o lugar tão degradado ―, disse ela. ― Esta casa tem
sido sempre o centro da vida da aldeia.
― Quanto mais tempo eu ficar… ― Quanto mais tempo ele falaria com
Bess. ― … Mais eu sinto que conheço George. Isso é outra coisa que tenho
que lhe agradecer. A este ritmo, você vai ganhar os direitos de Daisy para o
próximo século.
A rosa em suas bochechas se aprofundou. ― Eu… eu prefiro beijos a
tarefas domésticas.
Choque e prazer competiram em sua mente. ― Você está me pedindo
para beijá-la de novo?
Seus olhos se viraram para baixo, e de repente ela pareceu
tocantemente jovem. ― Eu seria tão descarada?
O que não era, ele notou com satisfação, um não. ― Vou ver o que
posso fazer ―, ele disse suavemente, calor devasso rodando pelo seu sangue
de uma maneira que não era de todo leve.
― Não aqui ―, disse ela rapidamente, submetendo-o a um flash de
olhos azuis antes de olhar para baixo novamente. Então, ela endireitou-se e
tornou-se a mulher que havia comandado a sua casa. ― E agora não.
Precisamos recolher Daisy e ir para a aldeia. Vamos nos atrasar é o que é.
Aqui não significava em outro lugar. E não agora certamente significava
mais tarde.
Rory mal podia esperar.

As questões de Rory sobre o vigário encontraram respostas no caminho


para o ensaio. Penton Wyck incluía uma rua agradável com várias lojas bem
abastecidas, uma bela praça de mercado11, e fileiras de atraentes casas em
enxaimel12. Para um homem pouco habituado a muito entusiasmo pelo Natal,
um belo toque foi o da vegetação decorando as casas.
A rua coberta de neve levava direto das portas da sua propriedade
através da vila a um complexo de edifícios de pedra: uma igreja Tudor, ele
adivinhou que teria sido construída após a Abbey foi requisitada dos monges
beneditinos; a reitoria simples dataria do século passado; vários anexos; e uma

11
Market Cross no original – consiste em uma estrutura usada para marcar uma praça de mercado em
cidades onde historicamente o direito de realizar um mercado regular ou feira foi concedido pelo rei, um
bispo ou um barão.
12
O Enxaimel é uma antiga técnica construtiva, na qual uma estrutura de
madeiras encaixadas tem seus vãos preenchidos com tijolos ou taipa.
estrutura impressionante e antiga, com imponentes portas com altura de
vários andares.
― É um celeiro do dízimo13 ―, disse Bess. ― É onde realizamos os
nossos ensaios.
― Magnifico ―, Rory disse, com intenção. A arquitetura era simples,
mas o tamanho do celeiro tirava o fôlego. Ele puxou uma Daisy recalcitrante
para a frente. O burro tinha vindo brincando todo o caminho a partir da
Abadia. Apenas um par de coros de “Greensleeves”14 a tinha mantido em
movimento. ― Os monges devem ter sido rica em seu tempo.
Ela olhou para ele. ― Eles eram. É por isso que esses ávidos Beatons
estavam tão determinados a reivindicar Penton Abbey quando os mosteiros
foram dissolvidos. Deve ter sido daí que vieram de suas tendências de
pirataria.
― É injusto culpar um homem por seus antepassados ―, Rory
protestou, quando uma figura decrépita, inclinando-se em uma batina preta
desbotada, surgiu entre as portas abertas. Só quando ele se aproximou Rory
percebeu que o homem estava acima da altura média. A escala monumental
do celeiro o havia diminuído.
― Boa tarde minha querida. Saiu para um passeio? ― Os olhos azuis
familiares vagaram sobre Rory sem nenhum indício de curiosidade. Rory
adivinhou a identidade do homem antes de Bess falar.
― Boa tarde, Papai, ― disse ela. ― Estamos praticando para o teatro de
Natal.
― Muito bem, muito bem. ― Ele sorriu vagamente e levantou uma mão
fina para coçar Daisy atrás das orelhas.

13
Tithe barn no original - era um tipo de celeiro usado em grande parte do norte da Europa na Idade
Média para o armazenamento de rendas e dízimos - um décimo da produção de uma fazenda que era dada
à Igreja. Estavam normalmente associado com a igreja da vila ou da reitoria e os agricultores
independentes colocavam seus dízimos lá.
14
Greensleeves é o nome de uma canção folclórica inglesa, que serve como base para a forma musical
intitulada "romanesca".
― Lorde Channing, posso apresentar o meu pai, John Farrar, vigário de
St. Martin?
― O que é que você diz? ―, Perguntou o velho. ― Lorde Channing?
Pensei que realizei um serviço memorial por ele no verão passado. O coro
cantou o hino William Byrd. Bastante tocante, também. Meu Deus, estou
ficando esquecido.
― O novo Lorde Channing, Papai. Eu disse-lhe que o irmão do conde
tinha herdado. Ele é um homem do mar. Levaram vários meses para localizá-
lo.
― Oh, sim, sim ―, disse o vigário, e Rory iria apostar que ele não
prestou atenção.
Pelo menos ela não havia dito a seu pai era um pirata.
― Você tem uma filha linda, vigário ―, disse Rory, varrendo o chapéu
forrado de pelo de castor e curvando-se, um processo complicado quando
tinha que se certificar que Daisy não se afastava dele.
― Linda, sim. ― O vigário sorriu com a aprovação beatífica que poderia
significar qualquer coisa. Rory só percebeu que o vigário tinha ouvido e
compreendido quando ele continuou. ― Assim como a mãe dela. Sua mãe era
a garota mais bonita que já vi. Ela poderia ter casado com qualquer um. Estou
terrivelmente feliz porque se casou comigo.
― Ela sempre disse que tinha o coração mais puro do mundo, papai ―,
disse Bess, sua voz quente com carinho.
― Meu senhor, bem-vindo a Penton Wyck. ― O vigário se inclinou na
direção de Rory. ― Eu suponho que você não tem interesse em Bizâncio15? Se
tiver, estou escrevendo um artigo sobre Anna Porphyrogenita16 e as

15
O Império Bizantino foi a continuação do Império Romano durante a Antiguidade Tardia e Idade
Média. Sua capital foi Constantinopla (a moderna Istambul), originalmente conhecida como Bizâncio.
Inicialmente parte oriental do Império Romano (frequentemente chamada de Império Romano do
Oriente), sobreviveu à fragmentação e ao colapso do Império Romano do Ocidente no século V e
continuou a prosperar, existindo por mais de mil anos até sua queda diante da expansão dos turcos
otomanos em 1453.
16
Anna Porphyrogenita - era a Grande Princesa consorte de Kiev; ela era casada com Grão Príncipe
Vladimir, o Grande. Anna era filha do imperador bizantino Romano II e da Imperatriz Theophano. Ela
negociações para seu casamento com Vladimir, o Grande. Me lisonjeio por ter
encontrado algumas informações interessantes nas crônicas a que não tinham
sido dadas o seu devido valor.
― Não é a minha área de especialização, senhor, mas eu fui a
Constantinopla.
A nebulosidade desapareceu dos olhos do Vigário e estabeleceu o olhar
inesperadamente agudo em Rory. ― Você esteve, na verdade? Eu adoraria
ouvir o que viu. A visitei como um jovem antes de receber as ordens sagradas.
― Terei todo o prazer de informá-lo sobre o meu tempo lá ―, disse
Rory.
O vigário fez um gesto para a porta da casa paroquial, a poucos passos
de distância. ― Não há tempo como o presente.
― Papai, as pessoas estão esperando por nós. Talvez Sua Senhoria
poderia vir outro dia.
Com a mudança de foco de Bizâncio para as celebrações de Natal, a
imprecisão do vigário retornou. ― Outro dia. Sim certamente. Ansioso por
isso. Teatro de Natal e tudo. ― Ele se arrastou para fora, resmungando por
cima do ombro, ― Faça o que achar melhor, Bess. Você sempre toma a
decisão certa. Uma bênção de tê-la. Uma bênção.
― Bom dia, senhor ―, disse Rory ao recuar para trás, mas o vigário não
respondeu.
A expressão de Bess transmitiu um carinho tolerante pela
excentricidade de seu pai. ― Ele só ouve metade do que você diz. Não há
nada de errado com sua mente, foi um dos graduados mais inteligentes de seu
ano em Oxford, mas tem dificuldade em dobrar sua atenção para questões
práticas. Está perdido em seus livros na maioria das vezes.
― Eu ficaria feliz em falar com ele sobre minhas viagens.

também era irmã dos imperadores Basílio II Bulgaroktonos (O Caçador-Bulgar) e Constantino VIII. Anna
era uma Porphyrogenita, uma filha legítima nascida na câmara púrpura especial do palácio do imperador
bizantino. A mão de Anna foi considerada um importante prêmio que levando alguns a teorizar que
Vladimir tornou-se cristão apenas para se casar com ela.
― Ele gostaria disso. Quando encontra um assunto interessante, ele é
um bom conversador. ― Ela fez uma pausa. ― Simplesmente não há muitos
assuntos que acha interessantes.
Rory assistiu a saída do pai de Bess pelo vicariato e fora da vista. Tanto
ficou claro do que o havia intrigado. A reação estranha do Dr. Simpson
quando ele perguntou sobre o vigário. Ainda mais, a posição de Bess de
autoridade na aldeia. Com o falecido conde um inválido e o vigário vagando
entre os fantasmas de antigos impérios, não admira que ela se encontrasse
supervisionando o bem-estar de Penton Wyck.
― Daisy! Daisy!
Os gritos urgentes de Bess perfuraram suas reflexões. ― Oh inferno.
O burro tinha aproveitado a distração de Rory para esticar o pescoço e
atacar os bonitos enfeites de Natal que decoravam a varanda da casa
paroquial. O que tinha sido uma vez um arranjo elaborado de azevinho,
vermelho e fitas prata era agora um aro irregular para a fogueira.
Capítulo Cinco

Para Bess, os quatro dias seguintes correram por uma onda de atividade
e uma decepcionante falta de beijos.
Além do oficial de justiça, o mordomo e a governanta, a Abbey estava
agora composta por dentro e por fora. Através de toda a agitação, Lorde
Channing provou ser um homem de maneiras fáceis e humor rápido. Ele até
foi na em igreja no domingo e conseguiu manter-se acordado durante o
sermão mortalmente maçante de seu pai sobre algum ponto obscuro da
tradução do grego do Novo Testamento. Os moradores já se referiam ao
lorde pirata do solar com orgulho em vez de suspeita.
Bess estava menos satisfeita com a forma como o conde tão
rapidamente se tornara extremamente importante para ela. Seu dia só
começava quando ele a recebia em Penton Abbey, e o brilho esmaecia quando
eles se separavam à noite. Ainda mais assustador, ela então passava cada noite
ansiando para aproveitar a sua presença novamente.
Ninguém deveria tornar-se tão… necessário tão rapidamente. Afinal, o
que ela sabia sobre ele?
Exceto que as horas de trabalho em conjunto lhe ensinaram muito
sobre Lorde Channing. Sua atração inicial em breve aumentou com respeito e
admiração, e algo que poderia amadurecer em amizade.
Ele não era de todo arrogante. Estava sempre pronto para compartilhar
uma palavra amiga com os aldeões. Seu irmão tinha sido um bom homem,
mas não tinha a capacidade do atual conde para encontrar um terreno comum.
Bess já poderia dizer que o novo regime de Penton Abbey seria
consideravelmente mais democrático do que o anterior. Se Channing levasse
seus ideais libertários para Londres quando tomasse seu assento na Câmara
dos Lordes, horrorizaria os velhos reacionários no Parlamento.
Não que ela aprovasse todas as mudanças. Sua Senhoria poderia estar
preparado para ouvir conselhos, mas ela logo percebeu que ele possuía
opiniões fortes. Em algumas questões que ela não poderia influenciá-lo, da
maneira amaldiçoada, que ele a acusara de mover seu irmão. Felizmente, ele
tinha o charme e inteligência para atingir os seus fins sem criar ressentimento
indevido nos aldeões, ou nela.
Talvez ele não estivesse tão desajustado fazendo o seu caminho no
Parlamento depois de tudo.
Deveria ter sido um capitão notável, toda vontade de aço revestida de
persuasão de veludo. Era uma lição de liderança, observando-o virar
moradores antes cautelosos em aliados. Ela tinha uma suspeita desagradável
que ele a manobrava habilmente.
Ele de alguma forma tinha tornado o seu interesse na filha do vigário
conhecido. Interesse que, aparentemente, encontrou a aprovação de todos,
exceto, talvez, da filha do vigário. Bess logo notara olhares de soslaio e
sorrisos manhosos, para não mencionar a conspiração para deixá-la sozinha
com sua senhoria sempre que possível.
Ela não tinha certeza se deveria ficar grata pelas maquinações dos
vizinhos, ou ressentir-se. Certamente não se importava de ficar sozinha com
Channing. Se ele a beijasse novamente, ela se importaria ainda menos.
Ela e o conde estavam sozinhos agora. Eles estavam nos estábulos e ela
estava preparando uma Daisy inquieta para a representação do dia seguinte.
Sua Senhoria assistia-as do corredor, de braços cruzados em cima do portão
do estábulo. Os tratadores estavam notavelmente ausentes, embora no meio
do dia, devessem estar trabalhando arduamente.
― Adeste, fidelis ―, ela cantou quando Daisy se afastou do grupo de fitas
brilhantes que ela detinha.
Lorde Channing riu. ― Ela opõe-se à imprecisão histórica de seus
enfeites. Eu duvido que os burros reais saíssem como pequenos arlequins.
Bess lançou-lhe um olhar pouco impressionado. ― Você não ajuda.
― E se eu cantar também? ― Sua sorriso provocante deixou seu
coração bobo dançando uma gavotte17, pulando como se fosse primavera em
vez do mais profundo inverno.
― Você poderia tentar.
― Eu prefiro assistir a batalha real entre você e essa besta problemática.
É ótimo entretenimento. Daisy é a única criatura em Penton Wyck que não
salta para o seu lance.
Bess drapeou as fitas sobre a borda da manjedoura e agarrou o cabresto
de Daisy para mantê-la imóvel. ― Ela não é o único animal problemático que
eu vejo.
Ele riu suavemente. ― Não saltei para o seu mero comando, senhorita
Farrar? Eu empreguei metade da vila, e agora não posso abrir uma porta em
minha própria casa sem tropeçar em alguma caipira tola espanando a
porcelana. Eu esvaziei todos os mantimentos dentro de cem quilômetros para
alimentar seus amigos e vizinhos no dia de Natal. Fiquei acordado até da
depois da meia-noite aprendendo as falas para o seu maldito teatro, você
pensa que sou um maldito estudante sentado em seu exame de tradução de
latim.
― Linguagem ―, disse ela, tentando fazer com que os dedos
trabalhassem com sua destreza habitual quando enroscou uma fita vermelha

17
Gavotte é uma dança popular de origem francesa dos séculos XVII e XVIII.
em torno do arnês. Ela simplesmente não podia controlar sua reação trêmula
a Lorde Channing. Nunca tinha estado tão fisicamente ciente de ninguém.
Tampouco podia esquecer o quão maravilhoso fora quando ele colocou os
braços em volta dela.
Maldito seja, e sua influência ruinosa sobre a sua língua, desde então ele
tinha agido como um perfeito cavalheiro. Mesmo sendo um cavalheiro rápido
para pegar seu braço ou tocar seu ombro ou segurar a mão dela para subir um
degrau. Ou pegar sua cintura para levantá-la nas costas de Daisy quando
interpretava Maria.
Mas não houvera mais beijos. E enquanto ela esperava em suspense
ofegante para ele beijá-la novamente, esses provocantes pequenos toques a
foram deixando louca.
― É a minha casa e eu sou um marinheiro. Ficaria desapontada se eu
não deixasse escapar uma palavra indevida ocasional.
Ele poderia estar certo. Uma sua parte fraca se emocionava ao pensar
na vida excitante que ele levou. Ela adorava Penton Wyck. Mas não seria
humana se não ansiasse ocasionalmente por novos horizontes. Lorde
Channing trouxe esses novos horizontes para sua porta. ― Você não tem
muito a reclamar. José tem apenas três falas.
Outro sorriso curvou a boca fascinante. Uma boca em que ela não
conseguia parar de pensar. Tinha uma simples prova o convencido de que não
valia a pena beijá-la? Fora muito ansiosa? Muito desajeitada? Será que ele a
encontrara arrogante? Esta não foi a primeira vez que ele se referiu a ela
dando-lhe ordens.
Só que ela tinha certeza de que, desde o início, ele tinha seguido suas
próprias inclinações. Ele jogava um jogo profundo, na superfície podia ser
todo cooperação, mas no final, Bess Farrar dançava a sua música, e não o
contrário.
Qual era exatamente a sua música? Evidentemente nada de beijos, a
praga o levasse.
A horrível e vergonhosa verdade era que o beijo foi a coisa mais
emocionante que já tinha acontecido com ela. Revisitar esses quentes
segundos a mantinha acordada à noite e agitada durante todo o dia. A febre
não encontrava alívio. Aquele beijo a deveria ter chocado, afinal, eles apenas
tinham acabado de se conhecer e ela tinha ouvido falar sobre a sua reputação,
mas quando tudo acabou, tudo o que queria era mais.
E nenhum filha de um bom vigário deveria dedicar tanto tempo a
pensar sobre beijos.
Claramente ela não era boa.
Não que Lorde Channing fizesse muito para tirar proveito de sua
pecaminosidade.
Ele estava falando com ela como se não tivesse nada mais importante
em sua mente que o teatro de Natal. ― Sim, mas José é responsável por Daisy.
É o papel mais difícil em todo o show. Você só precisa sentar-se lá, parecendo
bonita.
― Obrigada ―, disse ela, hesitante. Que diabo ia ela fazer quando ele
dizia essas coisas? Se ele realmente achava que ela era bonita, porque na terra
que não fazia algo sobre isso?
Como beijá-la novamente.
― Você quer aqueles para alguma coisa especial?
― Perdão?
Channing apontou para onde o burro mastigava as fitas preparadas para
seu adorno. ― Oh, Daisy, você é uma coisa podre.
Channing riu novamente. ― Eu lhe disse que o controle de Daisy era
um grande esforço.
Não tanto esforço como controlar um conde pestilento. ― Cante para
ela.
O, meu amor é como uma rosa vermelha, vermelha
Rebentando de novo em junho;
O, meu amor é como a melodia
Docemente tocada em sintonia.
Como és formosa, minha linda moça,
Tão profundamente apaixonado estou
E eu te amarei ainda, minha querida,
Até que os mares sequem.

A voz melodiosa de barítono de Lorde Channing passou levemente


através dos nervos de Bess como seda sobre o vidro. A respiração presa em
sua garganta ela se sentiu tonta e quente. Até se lembrou que era apenas uma
canção, e sua senhoria não queria dizer nada escolhendo-a, exceto que sabia
que a letra.
Ele tinha uma propensão irritante a cantar canções de amor para Daisy.
Elas tinham o mesmo efeito sobre o burro como em Bess. Um forte desejo de
aconchegar-se ao cantor. Daisy aproximou-se do portão e ficou paralisada,
dando a Bess uma chance de resgatar as fitas mutiladas.
Consternada, inspecionou cada fita de cetim colorido enquanto aquela
suave voz escocesa cantava sobre amor verdadeiro e sempre retornando a ela,
embora estivesse a quilômetros. Naquele momento, desejou que Lorde
Channing estivesse a quilômetros de distância. Pelo menos, em seguida, ela
poderia encontrar alguma paz.
Só que já sabia que ia sentir falta dele, se ele partisse. A deixava louca, a
deixava inquieta, a fazia desejar. Mas vê-lo colocava seu mundo direito. Ela
tinha uma sensação de que a cada dia se tornou mais irremediavelmente
apaixonada pelo novo senhor malandro da mansão.
Ela ficou imóvel e em transe, tão em transe como Daisy, quando
Channing chegou ao fim. E lamentou que ele parasse.
― Eu não tenho certeza se deveria deixá-la montar Daisy amanhã.
― Oh? ― Excitação a cravou e Bess olhou para cima a partir das fitas
em ruínas que tinha dificuldade em ver. Aquela canção sentimental
amaldiçoada deixou sua visão enevoada.
Ele quisera dizer que iria roubar outro beijo antes de deixar Daisy se
juntar ao teatro? Bess não se importava que ele voltasse atrás em sua palavra,
contanto que terminasse essa espera intolerável.
Mas Lorde Channing não estava olhando para ela. Ele estudava Daisy,
suas impressionantes sobrancelhas avermelhadas franzidas em desagrado. ―
Ela é lei para si mesma. E se ela se empina?
Decepção, tão má como era injustificada, oprimindo Bess, e ela
respondeu com uma nota suave. ― Ela nunca fez antes.
― Há sempre uma primeira vez.
― Com todo mundo olhando, ela é bastante a prima donna. ― Bess lutou
para soar com sua calma habitual, uma mulher exemplar que nunca pensaria
em trocar beijos. ― Você pode não acreditar, mas ela sempre se comporta
perfeitamente quando ela está no teatro de Natal. Bem, além de dois anos
atrás, quando ela comeu o novo capote da Sra. Pickering. E um par de anos
antes que, quando deu cabeçadas no Bispo de Durham. Mas ninguém gosta
dele de modo que foi quase um serviço público.
Channing riu enquanto as orelhas longas de Daisy piscaram como se ela
seguisse cada palavra da discussão. Talvez o fizesse. Depois de andar a montar
em dez procissões, Bess tinha desenvolvido um saudável respeito pela
inteligência do burro, assim como a vontade para travessuras. Embora, como
disse a Channing, Daisy geralmente cooperava com as celebrações de Natal.
Ela gostava da música.
― Eu poderia colocá-la em Sparta, meu cavalo.
Apesar de seus sentimentos confusos e perturbadores, Bess deu uma
risada curta. ― Esse monstro negro na cabine ao lado? Ele tem três vezes o
tamanho de Daisy.
― E é dez vezes melhor comportado.
― Maria não montou em um cavalo puro-sangue em Belém. Se ela
tivesse, tenho certeza que o gerente teria dado um quarto para ela, mesmo que
tivesse que expulsar um convidado com transporte menos aristocrático.
Channing olhou-a com curiosidade. ― Estou convencido de que você é
uma revolucionária, senhorita Farrar.
Suspirando, ela desistiu de qualquer tentativa de salvar as fitas. ― Eu?
― Sim. Você tem um diabólico pouco respeito pela posição. Eu mesmo
vi você empurrar um conde ao redor.
Ah não. Ela tinha razão para se preocupar. Ele realmente achava que
ela estava muito gestora. Não admira que não a tivesse beijado novamente. ―
Sinto muito, meu senhor.
Ele pareceu assustado. ― Eu só estou brincando. Não há necessidade
de farpear para cima.
Channing falou de ânimo leve, mas isso não significava que sua crítica
não era sincera. Ela baixou a cabeça e respondeu com mansidão atípica. ―
Como você deve me amaldiçoar. Eu não fiz nada, apenas estabeleci a lei.
Quero dizer bem, mas estou tão acostumada a estar no comando que esqueço
que outras pessoas podem ter seus próprios planos.
― Eu tenho.
― Esquece que as outras pessoas têm as suas próprias ideias?
Ele sorriu e abriu o portão. ― Não, eu tenho planos. Montes deles.
Agora venha comer alguma coisa. O excesso de trabalho a está transformando
em piegas.
Bess facilitou um sorriso em resposta, embora sua bondade apenas
lembrou o quanto gostava dele. Não queria Lorde Channing decidindo que ela
era desagradavelmente arrogante. Queria que ele ainda pensasse que era a
garota mais bonita da aldeia, boba e superficial como a deixava. ― Pelo menos
você deve apreciar a cozinheira que te encontrei. A Sra. Hallam é um tesouro.
Ele a olhou penetrante enquanto ele se afastou para deixá-la sair. ― Eu
aprecio tudo que você fez. Você e os moradores tornaram Penton Abbey em
uma casa de que um homem pode ter motivo de orgulho. E vocês todos
trabalharam até ao osso para o realizar.
Depois de trancar a porta, ele deu um tapinha a Daisy na despedida. Os
olhos do burro fechados em êxtase. Para Channing, ela quase se comportava
como uma criatura civilizada. Todos gostavam do novo conde.
Incluindo Bess.
― Você está pagando-lhes.
Ele encolheu os ombros. ― Eles fizeram isso por mais do que os
salários. Eles fizeram isso por amor. E você também.
Calor picou as bochechas de Bess. Oh senhor ela era tão transparente?
Como era vilmente humilhante. Fora por isso que ele não a tinha beijado?
Porque ele viu o quão completamente pegajosos os olhos dela estavam em
cima dele? ― Nós queremos que se sinta bem-vindo ―, disse ela, sem jeito.
― Eu faço. Estou até começando a amar o antigo lugar do jeito que
você, obviamente, faz.
Um tal alívio poderoso inundou-a que sua cabeça girava. Ele estava
falando sobre seu amor pela casa, não pela mal controlada propensão dela por
ele. ― Estou feliz.
Channing tomou seu braço da maneira como costumava fazer. No
início, ela se perguntou se isso era um sinal de favor especial. Mas, como ele
nunca foi além de uma escolta educada, que ela realizadora que significava
nada mais do que um gesto amigável. Mas isso não impediu seu coração
insensato virando cambalhotas com o toque de sua mão.
― Eu realmente nunca tive uma casa antes.
Deliberadamente Bess desacelerou para uma parada. Ela era
dolorosamente curiosa sobre a sua vida antes dele chegar em Penton Wyck. ―
Nem mesmo como um menino?
― Minha mãe nunca poderia ficar na Inglaterra, ou em seu casamento
com meu pai. Ela retornou para a Escócia, uma vez que tinha providenciado o
herdeiro e o suplente, conforme necessário. Com seu dever cumprido, sentiu-
se livre para seguir suas inclinações. Por todos os relatórios, o meu pai teve o
prazer de se livrar dela. Não era uma união feliz. Você deve saber um pouco
disso. A vila é um viveiro de fofocas.
― Naturalmente, havia histórias. Mas ninguém sabia o que aconteceu
com sua mãe depois que ela saiu, e seu pai certamente não iria contar a
ninguém. Foi tudo muito tempo atrás.
― Isso me faz sentir velho ―, disse ele com essa diversão intermitente
que era tanto uma parte dele. Para seu pesar, ele soltou o braço dela e a
encarou, sacudindo a cabeça. ― Que vergonha, senhorita Farrar.
― Você não é velho. Você é… você está apenas bem ―, disse ela, e
corou ainda mais do que ela tinha feito quando temia que ele tivesse
adivinhado seu carinho por ele.
― Ora, muito obrigado ―, disse ele, e ela sabia que ele estava tentando
não rir.
Com grande esforço, colocou de lado seu desconforto. Se ele estava
com vontade de confiar, nada iria afastá-la. ― Mas certamente você tinha uma
casa na Escócia?
― Minha mãe se casou novamente quando eu tinha nove anos. Um rico
advogado de Edimburgo. Nós vivemos com ele e suas quatro filhas por um
par de anos, embora Mamma ficasse logo inquieta e infeliz novamente. Ela não
era talhada para o casamento.
― Isso não parece muito divertido.
Ele fez um gesto de desprezo. ― Eu gostava do meu padrasto e foi
divertido ter irmãs, quando elas não estavam me deixando louco com seu riso.
Mas eu estive lá apenas por dois anos. Fui para o mar quando tinha onze anos.
Os estábulos tranquilos promoviam intimidade. O ar abafado agradável
de cavalos, couro e feno embalava Bess em uma sensação de calor, conforto e
segurança. ― O que aconteceu com sua mãe?
― Há dez anos, caiu de um cavalo saltando uma cerca que ninguém no
seu perfeito juízo iria tentar. Ela quebrou o pescoço.
Emoção pungente apertou sua garganta. Ele parecia não ter ninguém.
Ela mal podia acreditar que tinha vivido uma vida tão desprovida de afeto.
Para um homem de seu espírito generoso, era um desperdício trágico. O
mesmo coração louco que dançava com a visão dele pedia que ela o segurasse
com força nos braços e prometesse que ele nunca estaria sozinho novamente.
Ela resistiu ao impulso. Ele era um homem orgulhoso e sua pena o
aturdiria. ― Eu sinto muito.
― Também eu. Apesar de todos os seus defeitos, eu a amava, e acho
que eu era a única pessoa no mundo que chegou a entendê-la.
Ela colocou a mão em seu braço e tentou ignorar a forma como o
contato fez seu pulso pular. ― Você viu o seu pai depois de deixar Penton
Wyck?
Ela teve um vislumbre fugaz de tristeza antiga e bem escondida. ― Nós
nos reunimos três vezes, duas vezes quando eu era um rapaz, e uma vez
quando eu estava em Londres como um jovem oficial. Nós estávamos muito
pouco familiarizados um com o outro para formar qualquer vínculo real,
apesar dos nossos laços de sangue. Você o conhecia?
― Quando eu era uma criança. Ele era muito parecido com o seu
irmão. Quieto. Consciente. Gentil. Mas eu era muito jovem para conhecê-lo
bem. ― Ela apertou seu braço. ― Me desculpe, eu não posso te dizer mais.
― Isso ajuda. Sinto que estou à deriva na névoa. Há tanta coisa que não
sei, e tudo aqui é tão estabelecido de longa data. Maioritariamente vivi a bordo
do navio. Ocasionalmente um navio e me senti como casa, meu primeiro
comando em particular. Ela era uma querida. Mas…
― Não é o mesmo que esta casa onde seus antepassados dominaram
desde a Guerra das Rosas.
Ele colocou a mão sobre a dela nua onde ele circulou seu braço. Seu
toque a sacudiu com o choque cru. ― Exatamente. Eu sabia que você ia
entender. Assim, quando cheguei a este lugar, apreciei seus pensamentos.
Estou acostumado a lidar com um navio, não com uma grande propriedade.
Eles caminharam em direção às portas do estábulo, de braços dados
novamente. ― Dirijo a casa de meu pai desde os doze anos. Estou um pouco
habituada a assumir o comando. Após a morte de minha mãe, eu tive que o
fazer. Papai teria todo o prazer de ficar sem comer por uma semana quando
está em busca de alguma referência obscura sobre Juliano, o Apóstata18.
― Não é muito excitante para uma jovem.
― Eu fui deixada para correr solta, diz minha tia.
― Sua tia? ― Eles entraram no quintal nevado atrás da casa.
― Sim, a irmã de minha mãe. Ela vive em Newcastle, juntamente com
as minhas quatro belas primas, todas elas fizeram casamentos vantajosos.
― Ela nunca tentou lhe encontrar um marido?
― Ela me levou para entrar na sociedade local, mas eu não fui tomada.
― Bess se encolheu lembrando como se sentira desajeitada e provincial nas
assembléias de Newcastle.
A perplexidade de Channing de alguma forma acalmou a dor. ― Eu não
posso imaginar por que não. É absolutamente encantadora.

18
Flávio Cláudio Juliano (em latim Flavius Claudius Iulianus; Constantinopla, 331 - Maranga,
atual Samarra, 23 de junho de 363 d.C.) foi um imperador romano, que reinou desde o ano 361 d.C. até a
sua morte, dois anos depois. Foi o último imperador pagão do mundo romano, e por isso ficou conhecido
na história como "o Apóstata", por não professar a fé cristã num período em que o cristianismo já era
aceito e até incentivado por seus antecessores desde Constantino I.
Ela parou tão abruptamente que sua mão caiu de seu braço. ―
Ninguém nunca me chamou assim.
― Você me encantou compondo a Abbey e organizando um jantar de
Natal e, o mais terrível de tudo, a encenação.
― Eu fiz você fazer tudo isso, ― ela murmurou, mesmo enquanto seu
coração se expandiu sob o seu louvor.
― Não, você me fez querer fazê-lo. Há uma diferença.
Ela estudou-o. Uma nuvem baixa escondeu o sol, mas o brilho branco
da neve o jogou em relevo gritante. ― Você é um homem amável, Lorde
Channing.
Era a sua vez de parecer desconfortável. ― Absurdo. É por demais
evidente que, se Newcastle não caiu a seus pés, há algo de errado com
Newcastle, não você. Quantos anos você tinha?
― Dezesseis pela primeira vez, dezoito a última. ― Em todos os anos
ocupados desde então, ela tinha quase esquecido a ignomínia de não se ter
destacado e da decepção amarga e volúvel da tia.
― Você é uma original, senhorita Farrar. Acredite em mim, em
Londres, você seria o brinde da cidade. Como um segundo filho humilde, eu
teria sido completamente abaixo de sua elevada qualidade. Você me iria cortar
direto e se afastaria valsando nos braços de um marquês bonito, com
cinquenta mil por ano.
Ela riu ironicamente. ― Que absurdo você fala. ― Especialmente
quando ela tinha certeza de que, mesmo como um segundo filho humilde, ele
se destacaria como excepcional.
― Pelo menos o meu absurdo a fez sorrir. Será que nenhum colega tem
o cérebro para ver que jóia você é?
Suas bochechas aquecidas sob sua admiração. Se eles não tivessem
estado a céu aberto, com um interrupção provável a qualquer momento, ela o
beijaria novamente.
Decidiu então ali que a próxima chance que tivesse, lhe iria pedir para
beijá-la. Certamente que a luz em seus olhos indicava que iria cooperar.
E se ele não queria parar em beijos?
Excitação malvada se refletiu em sua barriga enquanto contemplava
mais do que beijos. Embora soubesse que dirigia em águas perigosas. ―
Houve um cavalheiro que minha tia favorecia.
― Mas você não fez?
― Não. Ele tinha quarenta e cinco anos e seis filhos.
― Deve ter havido mais alguém.
― Como você sabe?
Seu olhar era zombeteiro. ― Você disse que tinha sido beijada antes. ―
Como era interessante. Parecia que sua mente estava ocupada com
beijos também. ― Havia um homem muito agradável, sem perspectivas. ― Ela
não tinha pensado em Tom Wilson em anos. ― Ele gostava de mim, mas
precisava se casar por dinheiro. Minha porção é respeitável, mas não o
suficiente para restaurar uma propriedade em ruínas e apoiar uma família
extensa de parentes indigentes.
― Será que ele se casou com o dinheiro?
― Eu ouvi dizer que ele se casou com uma viúva rica de York.
― E eu aposto que ele passou todos os dias desde então amaldiçoando
o seu destino.
Ela riu. ― Eu duvido. Nosso pequeno de romance foi muito de menino
e uma menina, e não algo que enche seu coração ao longo de uma vida. Eu
nem me lembro como ele era, embora, no momento, pensei que era
incrivelmente bonito.
― Eu nunca te esqueceria. Tenho certeza de que ele também não.
Ela tentou não aproveitar a intervenção de Channing como um sinal de
que ele se importava com ela. Seria tão fácil confundir a sua bondade com
algo mais. ― Espero que ele tenha. Foi tudo tão bobo. Embora eu me
convenci de que era uma grande paixão e chorei no meu travesseiro durante
semanas quando cheguei em casa. Mas então acabei com as coisas aqui.
― À espera de seu príncipe encantado.
Embora a piada tocasse demasiado perto do osso, ela forçou uma
risada. Tinha um forte pressentimento de que o beijo de Lorde Channing a
tinha acordado do sono encantado. ― Ele deve ter perdido o meu endereço.
― Estes príncipes são endiabrados e descuidados, por Deus. É melhor
ficar com condes.
― Vou me lembrar disso ―, disse ela levemente, dizendo-se mais uma
vez que seria uma idiota por dar muito peso a sua provocação.
Lorde Channing parecia estranhamente satisfeito consigo mesmo
quando recuou para deixar Bess precedê-lo para dentro. Confusa e instável,
Bess entrou na cozinha lotada, cheia de ricos, aromas picantes onde a Sra.
Hallam e seus assistentes assavam pudins e tortas para o jantar de Natal.
Hoje Bess e o conde tinham falado como amigos, como iguais, e ele
tinha sido rápido com alguns elogios bonitos. Em seguida, a paquera,
brincadeiras quase eriçadas entre eles tinham desaparecido brevemente e eles
tinham tocado em algo mais profundo.
Isso significava mais beijos, ou um tipo diferente de proximidade onde
os beijos não tinham lugar? E se ela escolhesse beijos, eles iriam arruinar isso,
essa preciosa e frágil amizade antes que tivesse a chance de florescer?
Capítulo Seis

As botas de Rory rangeram quando ele vagou pela neve, Bess a seu
lado. Ele puxou um trenó meio cheio de azevinho, hera, e pinhas. Estavam
ambos vestidos como tinham estado em sua primeira tarde juntos, com
casacos, botas, cachecóis e luvas grossas. Mais uma vez, Bess tinha pegado
emprestado um casaco para vestir sobre o seu próprio casaco mais feminino.
Ao redor deles, a floresta estava escura e silenciosa. Era no meio da
tarde, mas pesadas nuvens antecipavam o crepúsculo. Com os sentidos
afinados por um milhar de tempestades no mar lhe disseram que o mau
tempo estava a caminho. Eles provavelmente não deveriam ficar fora por
muito mais tempo, mas estava relutante em acabar com esses momentos
privados com Bess.
Se juntaram a um grupo de recolha de vegetação para a casa. Então,
como tantas vezes aconteceu nestes últimos dias, os outros tinham se afastado
para deixá-lo sozinho com Bess. Se seu namoro falhasse, ele não podia culpar
a oposição local. Os aldeões tinham feito tudo o que podiam para promover
seu cortejo.
Um cortejo que o deixava intrigado, frustrado e encantado. Quanto
mais via de Bess, mais gostava dela. E mais se convencia de que ela era a
mulher para ele.
Mas este crescente respeito triturava contra sua necessidade premente
de tê-la em sua cama. Seu impulso mais forte era derrubá-la, em seguida, tratar
de um casamento rápido. E ela merecia mais do que isso. Sem mencionar que,
depois de todos os aldeões conspirando em seu nome, ele lhes estaria
retribuindo falsamente desonrando sua querida.
Mas a perspectiva de meses sofrendo no campo do desejo deixou a
ponto de explodir.
Ele não tinha certeza de que ela o aceitaria. Sim, ela gostava dele o
suficiente, e aceitava seu toque com gratificante facilidade. Mas isso significava
que o queria? Mesmo que o fizesse, iria se casar com ele? A descoberta de que
ela tinha recusado uma série de cavalheiros elegíveis, incluindo seu irmão,
tinha amachucado a sua confiança.
Droga, ele não estava acostumado à agonia da dúvida sobre coisa
alguma, muito menos uma mulher. Mas, em seguida, Bess Farrar foi a
primeira mulher que realmente importou. Era impossível traçar seu curso com
seu habitual élan inabalável.
― Há algum visco branco. ― Ela apontou para um galho mais alto. ―
Estamos com sorte de ver algum. Ele geralmente não cresce tão a norte.
Se ela tivesse sido como qualquer outra conquista ligeira, ele faria uma
piada sobre beijá-la e então a beijaria. Ao contrário, ele cruzou para cortar sua
descoberta, usando uma serra ligada a uma vara longa.
― Bem visto, ― disse ele, ridicularizando como alegre e protetor ele
parecia quando se sentia tão terrivelmente quente e incomodado. ― Eu não
saía atrás de verdura de Natal desde que era um rapaz.
Bess olhou-o com curiosidade, enquanto recolhia o emaranhado de
folhas e frutos do chão coberto de neve embalando-o para o carrinho. Depois
de um par de horas, eles tinham caído em um padrão de trabalho eficiente.
Ela era uma alegre companhia. Mas ele já sabia disso desde que compartilhava
a tarefa hercúlea de montar a casa. Ela era alegre com todos. Era uma
admissão humilhante, mas Rory chegou a um ponto em que estava pronto
para ir de joelhos e implorar por algum sinal de que era especial.
Sabia que não era razoável. Conheciam-se havia menos de uma semana,
e enquanto ele reconheceu imediatamente a atração queimando, ela estava
muito menos acostumada ao flerte. No dia seguinte a ele a beijar, ela deu a
entender que ficaria feliz em fazê-lo novamente. Mas, desde então, se afastava
de qualquer coisa abertamente sedutora. Talvez o conhecimento mais
próximo a fizesse decidir que não queria beijá-lo depois de tudo.
Naquele momento, cortaria a perna esquerda de bom gado apenas por
uma palavra de encorajamento. Por algum contato físico que ela iniciasse, ele
cortaria as duas pernas.
― O que você fazia no navio no Natal?
Ele encolheu os ombros. ― Nada nesta escala. Nós teríamos algo
agradável para jantar e partilharíamos rum extra. Eu teria lido a história da
natividade da Bíblia para a tripulação, e se os homens estivessem ansiosos, eles
cantariam algumas canções. E, claro, tudo dependia do tempo e do inimigo.
Uma vez vendavais nos Açores nos mantiveram saltando por uma quinzena.
Ninguém celebrou muito naquele ano.
― Que vida de aventuras que você levava. ― Sua expressão era
melancólica. ― Pode encontrar as coisas em Penton Wyck maçantes em
comparação.
Ele pegou a alça do trenó, marchando alguns metros mais
profundamente dentro da floresta. ― Não tem sido maçante até agora.
― Você chegou em um momento de movimentado. As coisas vão
tranquilizar a partir de agora até à primavera.
― Então estou ansioso para desfrutar da minha espetacular casa nova e
conhecer meus rendeiros. ― Uma em particular.
Ela parou de cortar alguns ramos de um arbusto de azevinho.
Equilibrou a sua serra de cabo longo no trenó, ele cruzou para ajudar e notou
seu tremor. ― Está ficando mais frio. E mais escuro. Talvez devêssemos
regressar.
Ele fez a oferta com relutância, porque, apesar do zumbido constante
de frustração, estava se divertindo. Vagando pela neve com uma mocinha
bonita e a promessa de um fogo ardente, quando ele voltasse para casa para
uma agradável tarde. O aroma das madeiras aguçava seus sentidos, e o ar
estava fresco como uma maçã nova.
Bess olhou para cima através dos ramos nus para o céu de chumbo. ―
Provavelmente deveríamos. O tempo está se fechando.
Como que a confirmar a sabedoria de retornar, uma rajada de vento
gelado assobiou por entre as árvores. Rory assumiu o comando do trenó. ―
Mantenha-se junto de mim, assim você não escorregará.
Ela imediatamente passou a mão enluvada através de seu braço. Seu
sangue aqueceu apesar do frio piorando.
Depois de sofrer através da intensificada ventania durante uma árdua
hora, Rory percebeu que estavam muito mais longe de casa do que ele
pensava. E agora lutavam com a neve, assim como o vento. ― Está um dia
perfeito para ponche de rum. Vou fazer quando chegarmos.
Bess sorriu, mas ele notou a preocupação em seus olhos quando
pressionava sobre através da neve espessada. Quando ele olhou para trás, suas
trilhas tinham desaparecido completamente.
― Os moradores vão desfrutar disso.
Rory piscou os flocos de neve que aderiam a seus cílios. ― E você?
― Sou uma das moradoras. ― Ela se aproximou. Ele esperava que não
fosse apenas porque a temperatura despencou. ― Sinto muito. Trouxe-a
demasiado longe.
Não longe o suficiente, ele pensou ironicamente.
O clima se deteriorou com uma rapidez alarmante. Apenas alguns
minutos atrás via claramente o caminho à frente. Agora, até mesmo os
enormes carvalhos em ambos os lados apareciam como cinza, sombras
indistintas.
― Nós precisamos encontrar abrigo até o pior passar, ― disse ele,
gritando através do vento, embora Bess lutasse mesmo ao lado dele. ― Existe
algum lugar?
― Há uma cabana de lenhador aqui perto se não nos desviamos muito
do nosso caminho.
Ele abandonou o trenó e agarrou a mão de Bess. Amaldiçoando-se
depois de a ter encontrado, a deixasse congelar até a morte. ― Vamos
encontra-la.
Eles abriram caminho para a frente contra o vento. Ele fez uma paródia
sobre a espessura de sua roupa, cortando e congelando sua pele. Inclinou Bess
atrás dele assumindo o peso, mas sabia de seu progresso desigual que ela
achava difícil seguir, mesmo usando-o como um quebra-vento.
Eventualmente, ela o puxou para uma parada ofegante. ― Deve haver
uma trilha fora do caminho aqui. Oh, essa neve é um incômodo. Eu nem
tenho mais certeza de onde estou.
Ele lançou um braço em volta dos ombros dela. Através de seu casaco
grosso, a sentiu tremer de tensão. ― Vamos encontrá-la. Não estudei o papel
de José para ser preso em uma nevasca na véspera de Natal
Mesmo na penumbra, ele pegou seu olhar irônico. ― No próximo ano,
vou fazer-lhe o Anjo do Senhor. Em seguida, você vai saber sobre texto. Esse
papel tem páginas.
Ele deu um bufo de risada, enquanto saudou a coragem dela. Senhorita
Farrar não era uma menina histérica ao primeiro sinal de problemas. ―
Ninguém em sua mente correta iria me lançar como um anjo.
― Está certo sobre isso. Que pena que não há piratas na história de
Natal.
― Eu não estou…
― Aqui está ela, a trilha para a cabana.
Eles se voltaram direto para o vento norte frígido e ele precisou de
todo o seu fôlego para continuar. Bess liderava enquanto a neve se empilhava
em torno deles, mais profunda a cada minuto. Ele amarrou o cachecol mais
forte em torno de suas orelhas que ardiam. Não era uma tarefa fácil para uma
só mão no meio de uma nevasca. Mas não havia maneira no inferno que ele
soltasse a mão de Bess. E não apenas porque se ela ficasse muito à frente, ele
provavelmente a perderia.
A mente lógica de Rory disse-lhe que a trilha estava a poucos metros.
Parecia quilômetros. O vento era poderoso o suficiente para forçá-lo para trás,
a menos que aplicasse toda a sua força contra ele. A neve pesada cegava pelo
que somente quando ele estava no alpendre da cabana percebeu que haviam
chegado ao seu destino.
Empurrou a porta. Ela não se moveu. Seu cérebro estava tão
congelado, demorou vários segundos para tatear para o primitivo barbante e
prego travão.
― Vamos, ― disse ele ofegante, cambaleando para dentro e finalmente
liberando Bess.
O quarto estava escuro como uma mina de carvão. O vento açoitava o
edifício de madeira, por isso não era muito mais silencioso dentro do que fora.
Através do rugido dos elementos, ele ouviu Bess tropeçando e estendeu a mão
para ela.
Sua mão pousou em algo macio e redondo. Mesmo antes de seu
suspiro assustado, ele sabia que tinha tocado seu peito. De repente não estava
frio. Por um instante queimou, com a mão enrolada para moldar sua carne
antes de a tirar.
― Eu imploro seu perdão, senhorita Farrar. ― Era difícil parecer
pesaroso, mas, por outro lado, não a queria fugindo para a neve para escapar
de suas atenções.
Depois de uma raspagem, um brilho suave afugentou as trevas. Ela
acendeu uma lâmpada. ― Foi um acidente.
Daquela vez, talvez.
Evitando os olhos dela para que não visse o quão desesperadamente ele
a queria, olhou ao redor da pequena cabana. Estava inesperadamente bem
equipada. Prateleiras cobriam as paredes, maioritariamente repletas de
ferramentas, mas viu alguns alimentos e suprimentos médicos básicos. Ainda
melhor, havia uma lareira e um bom estoque de madeira.
― Por Deus, isso é um palácio.
Ela riu, sacudindo aquele momento constrangedor de quando ele lhe
tocou o peito com uma facilidade que encontrou desanimadora. Sua mão
ainda formigava com o calor.
― Não é bem assim. Mas o clima aqui muda em um piscar de olhos.
Abrigo disponível pode significar a diferença entre a vida ou a morte.
― Eu fiquei surpreso quão rápido a neve veio.
Ela foi verificar os estoques de alimentos. ― Estamos em
Northumberland. Não é lugar para fracotes.
― Então podemos ficar presos por um tempo? ― Ele esperava não
parecer muito feliz com isso.
Os móveis eram adequados, mas básico. A mesa tosca, quatro cadeiras
finas com assentos de palha. E um divã contra uma parede. Duas janelas
fechadas e a estrutura da chaminé.
Inclinou-se para acender um fogo enquanto Bess acendeu uma segunda
lâmpada. E ele tentava, o que era diabolicamente difícil, não pensar sobre a
cama e estar sozinho com ela por horas a fio.
― Nesta época do ano, a tempestade costuma se afastar rápido. Em
janeiro e fevereiro, as pessoas podem ficar presas por vários dias se as coisas
se complicam.
Dias? E uma cama? Tornou-se ainda mais difícil se concentrar em obter
uma faísca do barril de pólvora. ― Vamos perder a representação.
― Espero que não. Ouvi que um novo ator fará sua estréia com um
papel espetacular como José.
Rory riu de onde se ajoelhava diante da lareira. Ela realmente era uma
alma corajosa. Seus anos no mar deram-lhe um profundo apreço pela
coragem. Esta moça iria colocar seus leais companheiros envergonhados. ―
Ele é bom com o burro pelo menos.
Os gravetos atearam satisfatoriamente, as chamas lambendo
avidamente os cepos maiores. Pelo menos eles não corriam o risco de
congelar.
― Ele é bom com o fogo, também.
― Não sou nenhum aristocrata inútil, ― ele disse secamente. ― A vida
em um navio prepara um homem para qualquer circunstância, incluindo
encontrando-se sozinho com uma menina bonita no meio de uma tempestade
de neve.
Ela lançou-lhe um olhar zombeteiro. ― E parece que lhe ensina a usar a
bajulação, também.
Ele apenas falou a verdade, mas se começasse a dizer-lhe o quão
maravilhosa era, não confiava em si mesmo para não oferecer a prova física de
sua admiração. ― O que diabos você está fazendo?
Ela lutava contra a porta aberta e o vento através da sala. Ele se
inclinou sobre o fogo para manter o brilho frágil do calor vivo.
― Vou buscar um pouco de neve para derreter para a água. Nós temos
os ingredientes para a sopa. Você está com fome?
Sim, e não apenas para a sopa. ― Algo quente seria bom.
Ela esteve fora apenas momentos. A porta se fechou atrás dela
enquanto lutava por seu caminho de volta para dentro da cabana. Ele cruzou
para levar o pote de ferro pesado cheio com neve e colocou-o no gancho
acima das chamas.
― Vou ter que cumprimentar o proprietário por seus arranjos. ― Ela
dirigiu-se para a prateleira de suprimentos e começou a classificar ingredientes.
Rory não sorriu quando puxou uma cadeira até a mesa e sentou-se.
Quando os aldeões tinham conspirado para avançar seu namoro, ele tinha se
divertido e sensibilizado. E certamente apreciara qualquer oportunidade de ter
Bess para si mesmo.
Mas agora, por causa dessa conspiração, um potencial desastre se
aproximava. Pelo menos do ponto de vista de Bess.
― Se ficar aqui a noite toda, haverá repercussões, ― disse ele
gravemente.
― Vai correr tudo bem. ― Ela trouxe duas cebolas, um pedaço de
bacon dissecado, e alguns nabos murchos, batatas e cenouras para a mesa.
Ele não esperava que ela entrasse em colapso, em histeria. Bess era feita
de um material mais forte do que isso. Mas, certamente, a ameaça de
escândalo merecia mais atenção do que ela deu a alguns velhos vegetais. ― Sua
reputação estará em pedaços.
Ela voltou para as prateleiras. ― Temos também cevada, e ervilhas. Nós
definitivamente não vamos passar fome.
― Ótimo. Você ouviu o que eu disse?
Ela carregava um par de frascos. ― Há camomila para o chá, e algum
tipo de bebida alcoólica. É provavelmente material velho, mas pode ajudar a
nos mantermos quentes.
Rory pegou seu pulso antes que ela se afastou novamente. Com o
quarto aquecido, ambos tiraram suas luvas, então ele sentiu o pulso acelerado
sob seus dedos. Ela não estava tão calma como apareceu na superfície. ―
Bess?
Ela olhou-o com admiração. ― Você nunca me chamou Bess antes.
Ele soltou um suspiro impaciente. ― Esqueça isso. Eu só quero que
você saiba que sou um homem de honra.
Suas pálpebras piscaram para baixo e ela olhou para sua mão grande
bronzeada que rodeava o pulso pálido. ― Isto não é Londres ou até
Newcastle. As pessoas aqui compreendem que as emergências acontecem.
― Se ficarmos sozinhos até de manhã, não há nenhuma ajuda para o
que devemos fazer.
Ela se afastou e voltou para a prateleira onde pegou um par de taças,
uma faca afiada, e uma concha. ― Não vou fazer agitação.
― Você não terá que fazer.
Ela olhou para trás, olhos azuis profundo e sério na luz dourada. Ele
percebeu que ela estava plenamente consciente dos problemas em que se
encontravam. ― Vamos atravessar essa ponte quando chegarmos lá.
― Nós poderíamos tentar voltar para a Abbey. Não pode ser muito
mais que dois quilómetros.
Seus lábios se viraram para baixo em negaçã. ― No escuro em uma
nevasca? E ambos a pé e não vestindo para este tempo? Estaríamos levando
nossas vidas em nossas próprias mãos.
- Evitaríamos o escândalo.
- Eu prefiro ficar viva. ― Ela começou a cortar uma cebola com uma
eficiência impressionante. ― Cresci neste vale. Confie em mim quando digo
que isso é provável que não seja mais do que uma nevasca.
Uma nevasca? O mundo exterior estava uivando de terror branco. Mas
ele pôs de lado outros argumentos pelo momento. Como ela disse, não
ganhava nada antecipando problemas. Eles estariam presos ali até que a
tempestade se afastasse.
Ele se casaria com ela no dia seguinte, com escândalo ou sem
escândalo, mas ela claramente não compartilhava seu entusiasmo pela ideia,
demônios. ― Posso ajudar?
Ela olhou para cima com um sorriso rápido. E alívio visível por ele
mudar de assunto. ― Duvido que tenha força para os cubos de bacon. Posso
dar a você? Pode precisar de um machado.

― Que horas são? ― Bess perguntou da mesa onde permanecia sobre


sua tigela vazia. Rory se sentou na cama do outro lado da sala, as pernas
esticadas sobre o colchão duro.
A sopa improvisada havia sido surpreendentemente saborosa, e agora
bebiam chá de ervas em canecas de estanho. A cabana era acolhedora, e
haviam retirado seus abrigos pesados que colocaram em frente ao fogo.
Ele posou seu chá e pegou o relógio de bolso. ― Quase oito.
Quando se aventurou fora por mais neve, se atrapalhou ao redor na
escuridão. A nevasca ainda se enfurecera, mas se acostumara ao vento e não
se apercebera.
― Está ficando mais frio novamente.
― Sim. ― Ele estendeu a mão para ela e esperou não estar cometendo
um erro confiando em sua força de vontade. Mas não podia suportar não a ter
para si, no entanto tão longe. ― O calor do corpo é a melhor maneira para se
aquecer.
Prazer o encheu quando ela cruzou para pegar a mão dele, ajoelhado
sobre a cama baixa. Ele deslizou o braço ao redor dela e colocou-a perto a seu
lado, puxando para cima os cobertores até que formaram um casulo contra a
parede.
― Você está tremendo ―, disse ele com desânimo. Estendeu a mão
para o frasco de licor caseiro que tinha colocado no chão ao lado da cama. ―
Beba um pouco isso. Pode ajudar.
Ela tirou uma mão para fora sob o cobertor e pegou o frasco. Levou-o
aos lábios e tomou um gole, então sufocou. ― Isso é horrível.
Ele riu quando tomou de volta o frasco e testou seu conteúdo. Sim, ela
estava certa. Era sangrentamente terrível, mas uma vez que os vapores
desapareceram, apreciou o calor se espalhando. ― Bem, nós estamos presos
aqui. Alguma ideia de como passar o tempo? Se eu tivesse um baralho de
cartas poderia ensinar-lhe piquet19.
― Eu posso jogar piquet.
Ele a aconchegou mais perto. Lembrou sua parte animal que lhe
ofereceu o calor do corpo, não o calor da paixão. Difícil lembrar quando a
tocava. ― Senhorita Farrar, você tem claramente um mau passado.
― Não muito ―, ela murmurou em seu peito. ― Seu irmão me ensinou.
― Sim? ― Ridículo ter ciúmes de um homem morto.
― Quando você está doente, tem um monte de tempo para preencher.
Eu costumava visitar a Abbey e ler para ele. Um dia ele estava entediado com
a história e as cartas sugeriram em seu lugar.
Rory lutou para não imaginar uma cena íntima no mesmo quarto onde
ele dormia sozinho e ansioso desde que encontrara Bess. Era muito mais
provável que ela e seu irmão tivessem estado em uma das salas públicas do
andar de baixo.
Ele era um tolo por se atormentar. Se Bess tivesse querido o falecido
conde de Channing, ela teria se casado com ele.
― Vou ter que me certificar que todas as cabanas na minha propriedade
estejam abastecidas com cartas de jogar. ― Ele ofereceu o licor áspero, mas
ela balançou a cabeça. Enfrentou um outro golo, em seguida, selou o frasco e
colocou-o ao lado da cama. Apesar de sua situação terrível, sentia-se
ridiculamente contente. Bess era macia e quente em seus braços, e seu aroma
rico, tingido com fumaça de lenha, encheu seus sentidos.

19
Piquet é um jogo de cartas jogado desde finais do século 15 em Inglaterra.
Ele descansou sua bochecha em seu cabelo brilhando. Uma sugestão de
lã molhada também provocou suas narinas, apesar de o fogo os secar nas
últimas horas. Mas por trás disso, ela era uma deliciosa mulher.
Com toda a sua força, ele se esforçou para se comportar como um
cavalheiro solícito, e não um sedutor voraz. Afinal, a sua presença em seus
braços era uma marca de confiança duramente conquistada. Ela claramente
não tinha nenhuma ideia de como o seu sangue subia à sua proximidade, nem
como ele lutava contra a necessidade de arrastá-la debaixo dele e aquecê-la da
melhor maneira que sabia.
Desde que fora para o mar, teve poucas relações com senhoras
virtuosas. O tipo de garota que sucumbia a um marinheiro sabia que ele seria
afastado na próxima maré. Bess, por toda a sua força, vigor e coragem, lhe
parecia tão dolorosamente frágil agora. Ele detestava a ideia de assustá-la com
o seu desejo ousado.
Se ela fosse uma de suas amantes luxuriosos, ele cairia nela em um
piscar de olhos. Mas ela não era. Era a casta filha de um vigário, e ele não
tinha ideia de como mudar seus sentimentos de cordialidade à paixão. Ela era
pura e perfeita, e ele a queria que tão ferozmente, se sentiu pronto para
explodir em chamas.
― Me desculpe, tê-lo metido nisto.
Ele saiu de seu ninho para satisfazer seu olhar azul solene. ― Como
isso é culpa sua? A menos que tenha alguma influência com os deuses da neve
que eu não conheça. Se você tem, pelo amor de Deus, peça-lhes que se
afastem.
Ela sorriu, mas seu coração não estava nele. ― Eu te fiz sair cortando
verduras de Natal. Na verdade, eu o envolvi em ter um Natal na Abbey em
primeiro lugar.
― Pequena garota tonta, não percebeu que em cada passo do caminho,
eu fiz exatamente o que quis?
Ela estudou-o, franzindo a testa em confusão. ― Fez?
― Sim. A menos que você me empurrasse para fora da minha miséria
solitária, nunca viria a conhecer os moradores, ou você.
― Oh. ― Ela colocou mais esforço em seu sorriso. ― Estou feliz.
― Por que eu me integrei?
― Sim. E porque te conheci, também.
Caro Senhor, ele sofria para beijá-la. Para fazer mais. Somente com o
maior esforço é que resistiu puxá-la contra ele. Tinha sido ousado o suficiente
para beijá-la no primeiro dia. Agora muito dependente do que aconteceu entre
eles para tal imprudência.
Seu sorriso desapareceu, substituído por uma expressão de intenção
que corroeu seu frágil auto-controle. ― Eu sei como gostaria de passar o
tempo.
― Poderíamos trocar histórias de vida. Embora, sem dúvida, as minhas
a iriam chocar.
― Talvez o fizessem. ― Ela fez uma pausa. ― E talvez eu queira ser
chocada.
Ele não entendia. ― Bess?
Ela lambeu os lábios e elevou o queixo em um ângulo desafiante. ―
Lorde Channing, você poderia por favor me beijar de novo?
Capítulo Sete

O rosto marcante de Lorde Channing ficou tenso com o choque. Sua


mandíbula endureceu e um músculo piscou de forma irregular em sua face.
Parecia que ela lhe pedira para atirar em seu melhor amigo.
A cama de repente pareceu insuportavelmente pequena. Doente com a
humilhação, Bess se contorceu para escapar do braço agora que percebera que
ele o colocara sobre ela por razões puramente práticas. Suas bochechas
queimavam mais quente do que seu fogo habilmente construído. ― Eu sinto
muito. Fui estúpida em perguntar.
― É Muito perigoso te beijar aqui. ― Ele parecia austero e resoluto, e
não de todo como o homem alegre que brincava com ela sobre seu mítico
passado mau.
― Eu disse que não vou rebentar um escândalo.
― Mas se eu te beijar ― diabos a levem, moça, você vai sentar-se quieta
um momento? ―, é mais do que certo do que o nascer do sol que vou fazer
algo digno de um escândalo.
Intrigada, ela parou de empurrar e estudou suas feições sombrias.
Confio em sua honra.
Seus lábios se torceram em auto-escárnio. Bem, isso faz um de nós.
A respiração profunda lutou contra a tontura. ― Eu… Eu gostei
quando você me beijou antes.
― Eu também.
Isso era algo. Ela agarrou sua coragem com as duas mãos e apertou-a
até que chiou. ― Então por que você não fez isso de novo?
― Porque você é uma mulher virtuosa, e fofocas atravessam esta vila
maldita como uma inundação por um vale seco
― As pessoas vão pensar que nos beijámos, de qualquer forma.
― As pessoas vão pensar muito mais do que isso, ― disse ele
severamente. ― Se eu te beijar, eles estarão certos.
Monumental decepção a esmagou. Ele a dissuadiu suavemente, mas a
rejeição ainda era rejeição. Ela recuou para tentar escapar. ― Por Favor,
esqueça que eu disse alguma coisa.
Apesar de seus esforços, lágrimas obstruíam sua voz. Ela nunca tinha
convidado a atenções de um homem antes. Após o fiasco de hoje, mesmo se
sua vida dependesse disso, não iria convidá-los novamente.
Mas, oh, como isso a empurrava para o desejo tão desesperadamente, e
saber que Channing nada sentia em troca.
― Bess, você torna isto tão impossível. ― Ele soou como se ela o
testasse até os confins da resistência.
Ainda assim, ela não olhava para ele. ― Prometo que não vou
envergonhá-lo novamente.
― O quê? ― Os poucos centímetros que ela conseguira reivindicar de
volta entre eles desapareceram quando ele a pegou com as mãos cruéis e
empurrou-a de costas. Ele pairava sobre ela, grande e poderoso e, a menos
que estivesse enganada, fumegante. Ela deveria estar com medo. Mas afundara
tanto em pecado desde que conhecera Channing, que o sangue devasso dela
subiu de excitação feminina. E um retorno muito atrasada do espírito.
― Você tem a culpa. Me fez pensar que gosta de mim.
Ele olhou para ela como se estivesse perdendo a cabeça. ― Eu gosto de
você.
Ela ergueu o queixo e olhou para ele. ― Eu quero dizer… gostar de
mim.
― Eu gosto.
Ele claramente não entendia. O que era estranho. Ele era uma das
pessoas mais perceptivas que conhecia. ― Você beijou-me.
― Eu fiz.
Ela franziu a testa enquanto seu temperamento aguilhoava. ― Se você
não está atraído por uma moça, é mau a beijar.
― É mau a beijar de qualquer maneira.
― Exatamente, ― disse ela, tão desesperada para marcar um ponto
contra ele que mal sabia com o que concordou. ― E é mau a isolar e chamá-la
bonita, e… e fazê-la se sentir especial.
― Você é especial.
Bess imediatamente descartou isso como mais uma tentativa de acalmar
seus sentimentos feridos. ― É mau tocá-la, e tomar-lhe o braço e olhar para
ela como se quisesse beijá-la novamente.
― Da maneira que estou olhando para você agora?
Algo em sua voz embargou qualquer resposta em sua garganta.
Confusa, ela olhou para o rosto dele. O afeto inabalável desses profundos
olhos verdes deixou seu coração rodando como bêbado.
Channing na verdade parecia como se pretendesse morde-la como um
bombom entre os dentes brancos. Ele se inclinou sobre ela, prendendo-a
entre o peito impressionante e o braço apoiado no travesseiro perto de sua
cabeça. Contra seu lado, seu corpo estava agradavelmente pesado e quente.
― S… sim, ― ela finalmente forçou a sair entre os lábios que pareciam
tão secos como areia. Seu pulso batia com tanta força que sacudiu todo o seu
corpo. Ela começou a tremer, e não, para a sua vergonha, com medo mas com
antecipação frenética. ― Bem desse jeito.
Seus olhos escureceram na concentração escaldante. Ninguém em toda
a vida de Bess tinha olhado para ela com tal foco em chamas. Sua respiração
engatou e sua cabeça nadou até que tudo o que viu foi o rosto dele. Seus
lábios se curvaram em um sorriso que a deixou tonta de desejo.
Se este fosse mais provocação, ela nunca o perdoaria.
― Finalmente, uma resposta certa.
― Isso significa… ― gaguejou ela, sem comando consciente, uma mão
deslizou do braço dele para moldar seu ombro.
― É que estou prestes a compor toda a maldade de que me acusam de
ser muito mau, de fato? Sim, é isso.
― Ah ― disse ela fracamente, então não voltou a falar, porque os lábios
de Lorde Channing lhe roubaram o fôlego.
Este foi intensamente diferente da última vez que ele a beijou. Da outra
vez fora uma pergunta. Esta foi uma conquista. Ele passou os braços sobre ela
e rolou para ficarem frente a frente. Seu calor e perfume masculino a
rodearam. Essa essência rica inundou seus sentidos com a promessa de
emoção, aventura e ousadia. E casa e sustento e segurança ao longo da vida.
Ela não deveria se sentir segura. Afinal, ele era um pirata e um sedutor,
e ela o tinha conhecido havia menos de uma semana. Mas nenhum desses
bons avisos sensatos tocou seu coração. Seu coração lhe disse que estava em
casa.
Rory Beaton era sua casa.
Então, quando sua língua sacudiu contra seus lábios, ela obedeceu à
silenciosa proposta e os separou. Ele explorou a boca dela com uma
carnalidade chocante. Ela provou camomila e álcool bruto, delicioso quando
combinado com o sabor característico de Channing.
Quando ela moveu sua língua contra a dele, ele rosnou de
encorajamento. Ela fez isso de novo e o beijo se tornou uma dança
incendiária de lábios e línguas. Um pulso profundo bateu na boca do
estômago, fazendo-a sentir vazia, carente e nervosa. Ela se contorceu para se
aproximar, frenética para facilitar esse desejo quente, doloroso. Toda regra
que viveu por caiu em torno dela como pinos de boliche atingidos pela bola.
Nada fora do círculo dos braços de Channing importava. Tudo o que
importava era a paixão queimando entre eles, e sua necessidade de saber mais,
sentir mais.
Ele brincou em seus lábios, mordendo e lambendo e provocando-a. Ela
pegou rapidamente e provocou-o de volta até que ele, o astuto mundano,
gemeu e deu-lhe mais daqueles longos, beijos desesperados. Como se ele
morresse de sede no deserto e só Bess oferecesse doce água fresca.
Ela lhe disse que a fazia sentir-se especial. Quando ele a beijou como se
o mundo fosse acabar se parasse, ele a fazia se sentir como uma deusa. Como
isso podia ser errado?
Timidamente, ela enterrou suas mãos em seu cabelo espesso e sedoso,
segurando-o perto para mais beijos. Ele sussurrou palavras escocesas
incoerentes de apreciação contra os lábios e bochechas. O suave sotaque de
sua voz deixou seus ossos como xarope fundido. Encorajada acariciou seu
pescoço e rosto, sentindo o início de sua barba picando no queixo. Tudo o
que ele fazia, tudo o que ele era a fascinava.
Ele rolou de costas e subiu em cima dela. Sua boca traçando caminhos
de fogo sobre seu rosto enquanto ela enrolava suas mãos através de suas
costas poderosas. Ele encontrou um local onde seu ombro se curvava em seu
pescoço. Beijos aí a fizeram tremer, e quando ele mordeu delicadamente, ela
gritou e arranhou o fino tecido de sua camisa.
Ele descansou em um cotovelo e se inclinou para tomar sua boca
novamente. Ela o encontrou, sem hesitar, deslizando os dedos nos cachos em
sua nuca. Ele oferecia tal banquete de diferentes texturas deliciosas, que ela
mal sabia por onde explorar em seguida. Em algum lugar no fundo de sua
mente espreitava a certeza de que este intervalo glorioso não podia durar, que
ela tinha que espremer cada gota dessa experiência enquanto pudesse.
Seu beijo foi tão esmagador que ela não percebeu imediatamente que
ele lhe tinha aberto os botões que desciam de sua gola. Quando o ar escovou
sua pele, ela recuou para ver o corpete escancarado sobre seus seios.
― Channing? ― Ela sussurrou, mais em maravilha do que protesto.
Sabia que deveria ter medo, mas mais forte do que o medo era a confiança
instintiva.
― Rory, ― Ele murmurou, deslizando a mão sob sua camiseta para
reivindicar seu peito. A palma da mão era quente e confiante em sua carne, e
quando ele rolou seu mamilo entre dois dedos, o calor a queimou. O auge
apertava com prazer que beirava a dor.
Quando ele deslizou a frágil cobertura para longe, os olhos queimaram
com a visão de seu peito nu. ― Você é tão bonita, que toma minha respiração.
Bess sabia que deveria impedi-lo, mas o fogo em seus olhos a fez
aquiescente quando ele tomou esse ponto frisado entre os lábios. Quando
puxou sobre ela, segurou sua cabeça em suas mãos, pressionando-o mais
perto. O calor explodiu e ela se contorcia contra ele, implorando por mais.
Nunca se sentiu assim em sua vida.
Ele olhou para cima de seu peito e beijou-a novamente. Quando
lentamente lhe tirou a saia, ela murmurou em consentimento. Ele significava
pecado, mas agora, o maior pecado seria abandonar essa paixão antes que ela
chegasse ao seu destino.
Quando ele a tocou entre as pernas, ela resistiu ao choque. Comprimiu
os dedos com uma onda quente, e gemeu com a necessidade excruciante. Ele
estava tão perto de onde ela sofria por senti-lo.
Ele levantou a cabeça e olhou para ela com uma expressão averiguadora
que perfurou sua alma. Ela foi além de fingir e não fez nenhuma tentativa de
esconder sua impaciência. Não tinha nenhum vagão com orgulho ou
prudência. Tudo o que ela queria era Rory.
― Por favor? ― Ela sussurrou com cada grama de desejo em seu
coração. ― Por favor, não pare.
Por um momento inteiro, a rede do desejo deixou-os em cativeiro.
Ofegante, ela esperou por ele para continuar, para inicia-la naquele mistério
final. Suas mãos eram duras nos quadris. Seu corpo era grande e poderoso
acima dela. O rosto refletia sua fome insuportável.
Em seguida, no espaço de um piscar de olhos, sua expressão fechou e
ele se transformou em um estranho. Por trás de seus olhos, cortina bateram
em cima de todo aquele calor, desejo e necessidade.
― Rory? ― Perguntou ela com voz trêmula, colocando o queixo dele
com a mão trêmula. Resumidamente, ele permaneceu imóvel sob o toque dela,
e ela se perguntou se tinha confundido sua retirada. Então, ele afastou a
cabeça e se deslocou até que seu corpo não tocou mais o dela.
Gelo envolveu sua alma quando ele estendeu a mão e puxou sua
camiseta sobre o peito. ― Bess, isso não pode ser. Eu sinto muito.

Quando o belo ardor desenfreado no rosto de Bess desbotou para


espanto ferido, o coração de Rory se apertou em um osso duro de
arrependimento. Arrependimento foi um gosto amargo na boca, também,
quando apenas alguns segundos atrás, tudo o que poderia saborear era Bess
Farrar.
― Por que você parou? ― Perguntou ela, com o rosto pálido, onde
antes tinha brilhado com prazer.
Sabendo que não poderia confiar em si mesmo tão perto da tentação,
ele rolou para fora da cama e se levantou. ― Eu precisei.
Ela se sentou. Calma substituiu a devastação em seus olhos. ― É assim?
― Sim. ― Ele recuou até suas pernas atingirem uma cadeira e desabou
sobre ela. Francamente, não estava se sentindo muito seguro. ― Eu não
deveria ter deixado tudo chegar tão longe.
― Não, você não devia ―, ela lançou.
Agitando os dedos ponderando uma ação mundana, ela abotoou o
corpete. Mas era tarde demais. A memória de seu peito sob sua mão iria
persegui-lo até que morrer. Ele respirou fundo irregular e lutou para manter a
compostura. E desejou que a cabana maldita fosse do tamanho de Blenheim
Palace20. Bess permanecia perigosamente ao seu alcance, e sua honra mal era
agarrada por seus dedos.
Rory abaixou a cabeça e olhou sem ver o chão de madeira áspera.
Olhando para ela o machucava.
Como ele amaldiçoou sua consciência inconveniente, mas não podia
discutir com as suas conclusões. Cada princípio que ele tinha recuou em dar a
Bess Farrar sua primeira experiência sexual em uma cabana pobre sem
promessas trocadas.
Ele tinha pecado antes. Claro que tinha. Mas arruinar esta moça
brilhante era um pecado muito além de qualquer que ele havia cometido em
sua turbulenta e fanfarrona vida.
Quando olhou para seu rosto adorável, lera a rendição incondicional.
Uma vez, pensara que era o que queria dela. Mas descobriu que não era tão
egoísta como acreditara. Apanhada em seu primeiro gosto de paixão, ela
perdeu toda a visão de seu bem-estar.

20
O Palácio de Bleinheim é um monumental palácio rural, situado em Woodstock, Oxfordshire,
Inglaterra. É a única residência rural não-episcopal a ostentar o título de "palácio". Foi construído entre
1705 e cerca de 1722.
Se ele a tomasse agora, ele iria mostrar o seu prazer. Ele a trataria com
respeito e cuidado.
Continuaria sendo um erro grave.
― Espero que você me perdoe. Não me comportei como um
cavalheiro.
Ela apertou os lábios. ― Na minha opinião, você está se comportando
muito como um cavalheiro, meu senhor.
Não havia sussurros doces de Rory agora, ele notou, escondendo um
estremecimento. Sua recusa de sua generosidade de tirar o fôlego claramente a
picara. Ele podia suportar sua raiva. Sua dor o deixou sentindo como se ela o
eviscerasse com uma faca de manteiga. Cada palavra que dizia apenas parecia
ampliar o abismo entre eles.
Ele desejava pegá-la em seus braços, mas ele estava severamente ciente
de como precariamente mantinha o controle. Se a tocasse, a senhorita Farrar
iria enfrentar o dia seguinte como uma mulher caída. Este maravilhoso,
brilhante, novo sentimento que crescia entre eles se tornaria uma coisa de
vergonha e segredos.
Ele não podia suportar isso.
Repetiu o que havia reconhecido quando, ansioso e imprudente, ela
implorou para ele não parar. Bess Farrar merecia melhor.
― Bess…
Ela suspirou, um som de tal miséria que o fez querer uivar como uma
criança sem mãe. ― Eu sinto muito. Estou agindo como uma bruxa.
Empolamento sexual frustrado não o deixou se sentindo muito alegre
também. Perguntou-se por que fazer a coisa certa deixava furiosa e a ele
miserável. Onde estava a justiça nisso? ― Não.
Ele nunca tinha visto tanto esforço colocado em um sorriso para tão
pouco efeito. Suas mãos em punhos contra a vontade de pegá-la contra ele.
Porque enquanto isso pudesse confortar, não seria como tudo iria terminar.
Dane-se tudo para o inferno.
― Você está tentando ser gentil. ― Olhos baços levantados sobre ele. ―
Você é um bom homem, meu senhor.
Se ela conhecesse os demônios de luxúria em guerra pela posse de sua
alma, não diria isso. ― Não, eu não sou.
Ela conseguiu uma risada abafada. ― Eu não sou uma bruxa e você não
é um bom homem? Parece que não podemos concordar com qualquer coisa.
Ela se esforçou para fazer o melhor de uma situação que não tinha
como ser melhor. Por Deus, ela o humilhou. ― Por favor, me escute.
Exceto que diabo poderia ele disse? Como ele poderia formar uma
explicação coerente da agitação deste turbilhão de impulsos contraditórios? E
se começasse a tranquilizá-la com palavras de que a queria mas tinha que se
afastar para a segurança dela, ele sabia que iria continuar a demonstrar o
desejo em ações. Da próxima vez não iria encontrar a força para parar.
― Não, não agora. ― Sua voz falhou e suas mãos cavaram as mantas
cinzentas grossas. Ele odiava ter empurrado esta criatura viva tão perto da
ruptura. ― Lorde Channing, eu ficaria muito grata se nós não discutirmos
mais isso. Acho… eu acho que estou muito cansada.
― Bess, pelo amor de Deus…
― Sim, pelo amor de Deus, meu senhor, por favor… por favor, me
deixe em paz.
― Muito bem ―, disse ele severamente. Apesar do risco ao seu
controle, ele sofria por falar com ela, para explicar o que tinha acontecido,
para fazê-la entender. Mas parecia tão exausta e triste, que não podia suportar
a forçar.
Ela deixou-se cair na cama e virou as costas. Por um longo momento,
ele olhou para os ombros curvados eloquentemente, sofrendo uma mistura
turva de saudade e remorso. Ele sabia que fizera uma maldita confusão
daquilo, mas não sabia como corrigi-la.
Eventualmente, com um profundo suspiro, ele levantou-se e alimentou
o fogo antes de puxar o capote. Quando seus dedos tocaram o rasgão que
Daisy tinha feito em sua manga, ele jurou sob sua respiração. A lembrança da
primeira vez que beijou Bess não era exatamente bem-vinda agora.
Ele juntou as cadeiras para formar uma cama improvisada. Longe de
ser tão confortável como a que Bess ocupava em eriçado silêncio. Mas mesmo
que ela lhe permitisse dormir ao seu lado, ele sabia que era melhor não testar a
sua força de vontade.
Rory se encostou em uma cadeira e apoiou os pés em outra. A madeira,
ferro-duro sob seu traseiro, serviu como mais um lembrete do preço da
virtude. Mas seja lá o que fosse que seu lado mau queria, ele sabia em sua alma
que tinha feito a coisa certa.
Se apenas Bess pensasse assim também.
Ele tirou seu relógio de bolso. Apenas passava das nove horas. Ele
sentiu como se tivesse vivido uma vida inteira na última hora. Seus
pensamentos se desviaram para aqueles beijos milagrosas, mas trouxe a si
mesmo curto. As coisas estavam difíceis o bastante, sem se torturar sobre o
que poderia estar fazendo agora, em vez de tentar organizar o seu longo corpo
de uma maneira que não o deixasse mancando amanhã.
Lá fora o vento gritava como uma alma penada. Ao contrário das
previsões otimistas de Bess, a tempestade não mostrou nenhum sinal de
diminuir. Ia ser um inferno de uma longa noite.
Capítulo Oito

Rory acordou de seu cochilo inquieto para ver a porta abrir. Esticando-
se dolorosamente, ele levantou uma mão para esfregar a rigidez do pescoço.
Não recomendava dormir a noite em duas cadeiras.
― Ned? ― Ele perguntou, admirado quando seu amigo entrou na
cabana, batendo a neve de suas botas. ― Que diabo você está fazendo nesta
nevasca?
Ned fechou a porta atrás de si. ― Agora está uma bela noite. Você
escolheu um lugar imprevisível para ficar.
Rory percebeu que o vento não uivava. ― Como você nos encontrou?
― Quando você e a senhorita Farrar não voltaram, as pessoas ficaram
preocupadas, mas não podiam sair na tempestade. Uma vez que a neve
diminuiu, eu vim atrás de você. Quando encontrei o trenó, soube que não
podia estar longe.
Bess tinha se mexido quando Ned chegou e agora se sentou sem dar a
Rory um olhar. Ela parecia desgrenhada e exausta. O estômago de Rory se
contraiu com se tivesse sido esfaqueado pela culpa quando viu marcas de
lágrimas em suas bochechas. A tinha machucado quando levara aquele
encontro selvagem para um fim, o que nunca tinha sido sua intenção. Droga,
ele a deveria ter deixado mais suavemente, mas ao mesmo tempo, estivera a
um milhão de quilómetros de sua própria equanimidade.
Quando Rory desviou o olhar de Bess, ele pegou um brilho
especulativo nos olhos de Ned. Parecia que ela tinha sobrevivido a uma
tempestade de neve. Infelizmente também parecia completamente que fora
levada para a cama.
― Você está sozinho?
― Sim, eu tentei chegar aqui à frente da multidão. Mas eles não estão
muito atrás de mim.
As palavras de Ned eram um aviso. Rory e Bess estiveram sozinhos por
horas, e, a menos que fosse cuidadoso, estariam irremediavelmente
comprometidos. Ele queria que ela se casasse com ele, mas não porque tinha
que fazer. E ele não podia suportar a ideia de pessoas fofocando sobre ela.
― Boa noite, Sr. White, ― ela disse, levantando e alisando as mãos para
baixo de suas saias vincadas. ― Obrigado por ter vindo nos encontrar.
― É o meu prazer, senhorita Farrar. ― Ned gostava de Bess, e ele
apreciava sua vivacidade e competência. Nada daquilo iria salvá-los do
escândalo, se os moradores escolhessem interpretar os acontecimentos
daquela noite a uma luz lasciva. Culpa esfaqueou Rory de novo ao recordar o
quão perto estivera de tornar qualquer pensamentos em realidade lasciva.
― Que horas são? ― Bess correu os dedos pelo cabelo caído e dividiu-o
em três vertentes para entrançar. Seus movimentos foram rápidos e ágeis,
enquanto confinava a massa de ouro amarfanhada. Os dedos de Rory coçaram
para tocar aquela linda juba. Seus princípios cansativos não o impediam de
querer.
― Logo depois da meia-noite ―, disse Ned, endireitando seus óculos.
Rory olhou diretamente para o amigo. ― Se as pessoas sabem que
estivemos juntos todo esse tempo, haverá o diabo para pagar.
Bess se moveu em torno da cabana, arrumando e afastando vestígios de
ocupação. Apesar de suas circunstâncias terríveis, Rory encontrou sua
tranquila gestão doméstica hipnotizante. Qualquer homem teria sorte de
voltar para casa para uma esposa como Bess. Boa, fiel e brilhante.
E agora, um milhão de quilômetros fora de alcance, mesmo estando
apenas a metros de distância.
― Vou dizer que não vi nada de inconveniente ―, disse Ned.
― Não é bom o suficiente. ― Rory estudou as características
acadêmicas do amigo. ― A reputação de uma senhora está por um fio, e eu
juro que a Senhorita Farrar é tão pura agora como era quando entrou na
cabana.
Era quase a verdade. Mas, quando ela endireitou a cama e dobrou os
cobertores, os ombros de Bess endureceram.
― O que você gostaria que eu fizesse? ― Perguntou Ned.
― Diga às pessoas que me encontrou no oco de uma árvore ou
protegido sob um banco, e você e eu chegámos juntos na cabana para
encontrar a senhorita Farrar. Vou dizer que ela e eu fomos separados na
tempestade. Todo o inferno se soltou, então não há nenhuma razão para
alguém duvidar de nossa história, especialmente se você me apoiar.
― Claro que eu vou. ― Ned sorriu para Bess que tinha parado para
observá-los com o cenho franzido perturbado. ― Eu nunca vou permitir que
alguém questione sua virtude, senhorita Farrar.
Ela conseguiu dar um sorriso para Ned. Novamente evitou os olhos de
Rory. ― Obrigado, Sr. White. Você é muito gentil.
Ned virou-se para Rory. ― Vá e role na neve até o seu casaco ficar
molhado. Ninguém vai acreditar em uma palavra dessa história se o virem tão
quente e seco.
Rory reprimiu uma risada sarcástica. Se apenas Ned soubesse o quão
perto ele esteve de mergulhar de cabeça na neve depois que abandonou Bess
naquele momento crucial. Severamente se dirigiu para fora e puxou um ramo
pendurado. A gelada neve molhada que caiu em cascata pelo pescoço parecia
penitência adequada para suas culpas.
No momento em que seus salvadores chegaram, a cabana estava
imaculada, e Bess e seus dois companheiros se sentavam em volta da mesa, a
imagem de inocência. Apenas Rory notou que quando ela compartilhou uma
narração ligeiro de suas aventuras com os aldeões, nem uma vez olhou em sua
direção.

O ar suave de Bess não desaparecera pelo tempo em que os


participantes se reuniram na Abbey no dia seguinte para a procissão da
véspera de Natal. Rory, descendo as escadas pronto para representar S. José,
sentiu um desejo muito pouco santo para esmagar alguma coisa quando viu
suas feições abatidas e cansadas. A mulher vestida do azul celeste de Maria
parecia que tinha percorrido um longo caminho duro para chegar a Belém.
Ela tinha estado trabalhando com os seus criados, esta manhã,
supervisionando a colocação da vegetação exuberante para marcar o Yuletide21,
e verificando arranjos para a festa do dia seguinte. Mas se ela manteve, pelo
menos, a um quarto de distância dele. Ele apenas podia assumir que o fizera
por opção.
A sabedoria indicou que com o escândalo pairando, a discrição era o
melhor curso, mesmo que ansiasse por a encontrar em um canto e fazê-la
dizer-lhe o que estava errado. Depois de a segurar em seus braços, era tortura
fingir que eram meros conhecidos. Ficara tímida depois da noite passada? Ela
tinha sido uma inocente depois de tudo, e ele tinha feito mais do que
suficiente para chocar a filha virginal de um vigário.

21
Yule ou Yuletide é um festival observado pelos povos históricos germânicos, depois passando por
reformulações cristianizadas resultando na agora conhecida Festa de Natal.
― Senhorita Farrar, você está bem? ― Perguntou Rory sob sua
respiração enquanto todos os outros se aglomeraram ao redor da esposa do
ferreiro, e seu bebê que era Jesus da peça.
― Perfeitamente, ― Bess disse em uma voz plana, sem olhar para ele.
Ele estava diabolicamente cansado daquele olhar azul opaco escorregando
através dele como se ele fosse uma outra peça de mobiliário.
Pior. Bess sempre prestou atenção ao mobiliário.
― Você tem certeza?
― Perfeitamente.
― Bem, isso é… bom, ― ele disse, não acreditando nela por um
momento. Ele olhou para o visco suspenso acima de sua cabeça e se
perguntou como ela reagiria se a pegasse pela cintura e a beijasse. Ela
provavelmente diria “perfeitamente” naquela voz educada que não se parecia
em nada com a mulher que ele conhecia.
Dr. Simpson, vestido como o estalajadeiro, aproximou-se para fazer
uma pergunta e ela se virou para ele com alívio mal escondido. Rory andou
descontente contra a parede e observou o processo com um ar de icterícia.
Ele ainda não estava com seu traje, mas vendo que só tinha que puxar um
manto listrado longo sobre a camisa, não estava incomodado.
Seu olhar rastreou Bess enquanto ela se movia em torno do elenco,
endireitando uma coroa em um homem sábio, lembrando o pastor-chefe de
suas linhas, verificando com o maestro. As crianças e os moradores andavam
fora da casa. Eles cantavam músicas natalinas acompanhados de flautas e
tambores enquanto a procissão fazia seu caminho através da aldeia.
Tudo, exceto Bess Farrar estava em plena forma. A casa cheirava a
floresta, fresca e verde com a seiva de pinho aromático. Graças a Deus o mau
tempo do dia anterior tinha passado, e a véspera de Natal amanheceu clara e
fria. Através das portas abertas, Rory viu como o sol atingia a neve
ofuscantemente branca.
Bess passou vários minutos acalmando o Anjo do Senhor que tinha a
parte mais longa. Sally Potts era considerada a beleza da aldeia, e este foi o seu
primeiro ano em um papel falando. Talvez Rory fosse tendencioso, mas ele
não podia deixar de a comparar com Bess. Ainda hoje, quando sua querida
parecia que não dormira nada, ela ainda era a moça mais bonita que ele já
tinha visto.
O único ator para quem escaparam algumas palavras de encorajamento
foi o senhor da casa. Será que Bess o fazia para transmitir a impressão de que
nada incomum tinha acontecido na cabana? Esta manhã, ele notou alguns
olhares especulativos, mas até agora sua história foi geralmente aceite.
Estava intrigado com a atitude dela. Bess podia estar zangada com ele,
ou desapontada. Embora certamente agora que o calor da paixão
desaparecera, deveria perceber que ele fizera a única coisa que um homem de
honra podia.
Só que o que ele viu quando a viu e a observou ― e a observou tão
perto como um gato observa um pássaro esvoaçando em um arbusto ― não
era irritação, mas uma infelicidade valentemente escondida que fazia suas
entranhas apertar remorso.
Ele precisava desesperadamente de falar com ela, para descobrir o que
se passava dentro de sua linda cabeça. Dois anos com suas irmãs lhe tinham
ensinado que, quando as fêmeas têm uma noção, suas mentes poderiam levá-
las até à borda da desgraça antes de um homem reconhecer que tinha
cometido um erro menor.
O pior de tudo era que, mesmo que conseguisse que Bess aceitasse as
suas desculpas, não teria um segundo a sós com ela durante todo o dia para
fazê-las. Então ficou, preocupado e frustrado, à beira de uma multidão que o
excluía ao mesmo tempo que abraçava Bess.
― É hora de ir para fora ―, disse ela com uma alegria que chegou falsa
nos ouvidos de Rory. ― Todos foram maravilhosos no ensaio, por isso estou
certo de que este será um ano especial.
Dr. Simpson sorriu para ela, em seguida, enviou a Rory um olhar
significativo. ― Na verdade, é um ano especial. Congratulamo-nos com um
novo conde, e eu não poderia estar mais satisfeito que sua senhoria já seja
uma parte indispensável da nossa pequena comunidade.
Para surpresa de Rory, todos na sala explodiram em aplausos antes de
uma versão irregular, mas entusiástico de “Ele é um bom companheiro”, com três
vivas retumbantes a seguir.
Tocado, ele deu um passo para a frente. Tinha estado errado se
sentindo excluído. Sua cabeça estava em todo o lugar naquele dia com o frio
entre ele e Bess. Pelo menos ela juntou-se à música, esperava que não fosse
apenas por causa da aparência.
― Obrigado, Dr. Simpson. Eu não poderia pedir uma recepção mais
calorosa. Estou feliz por haver lançado âncora em Penton Wyck. Pelo meu
dinheiro, não há um lote melhor de pessoas na Inglaterra. ― Ele fez uma
pausa. ― Ou na Escócia, o que eu nunca pensei que um verdadeiro filho das
Highlands diria. ― Todos riram. Mesmo Bess conseguiu dar um sorriso. Ele
gesticulou em direção onde ela estava a meio quarto de distância. ― Eu
gostaria de agradecer à senhorita Farrar. Sem ela, nunca teria descoberto a
alegria de preparar um Natal tradicional, ou teria uma casa habitável, ou
conheceria a encantadora Daisy.
Outra risada e mais três vivas para Bess que parecia terrivelmente
nervosa. Se ela não se acalmasse, seria a Maria mais nervosa na história.
Rory fez sinal para os dois homens de pé ao lado da porta. Em poucos
segundos eles estavam circulando com bandejas de vinho quente. Os atores
tinham uma longa tarde pela frente, principalmente no exterior. Um
pouquinho de alegria adicional não prejudicaria. Os aromas de canela, cravo e
laranjas da bebida perfumada subiram para combinar agradavelmente com o
cheiro de pinho.
― Obrigada ―, disse Bess. ― Agora é hora de partimos, ou Daisy irá
sem nós. A ideia de deixá-la à sua própria sorte é muito terrível para
contemplar.
Outra risada. Para além do lago de infelicidade tempestuosa em torno
de Bess, um rio de boa vontade fluiu através do quarto.
Rory percebeu que ela mal tocou em seu vinho. O que foi uma pena. Se
alguém tinha necessidade dos efeitos reforçantes do licor, era Bess.
Todos marcharam pelas portas abertas. Do lado de fora, empregadas
estavam recolhendo copos vazios, e a atmosfera festiva fazia com que
parecesse que o Natal começou mais cedo. Mesmo Daisy parecia feliz, vestida
com fitas, com seu casaco cortado e preparado para brilhar.
Rory parou na porta para saborear uma sensação que nunca tinha
experimentado antes. Que estava em casa e este era seu povo, e ele pertencia
aqui. Seu peito estava muito pequeno para conter a emoção inchando em seu
coração.
Ele nunca tinha imaginado que sua herança iria mudá-lo. Mas tinha.
Irrevogavelmente.
Desde sua chegada, não, na última semana, ele tinha criado raízes neste
rico solo Nortumbrino, raízes que esperava nutrir o resto de sua vida. Havia
apenas sete dias, seu desejo feroz para fortalecer a vida como Lorde Channing
o teria o surpreendido.
Ele tinha uma pessoa a quem agradecer pela transformação. A única
peça que faltava naquele quadro de contentamento.
Bess Farrar.
De repente, não podia suportar a esperar para curar a brecha entre eles.
Não podia suportar a esperar para a reclamar.
As criadas e lacaios caminhavam em direção a cozinha. Bess ficara para
trás no grande salão para acalmar o medo de palco de Sally. A garota parecia
ligeiramente mais confiante quando deslizou o arnês de asas brancas e de
prata brilhando sobre os ombros. Em seguida, teve de aliviar os lados
passando por Rory para caber através da porta. Sally não era a criatura mais
inteligente do mundo, mas com suas massas de cabelo louro fino e delicado
rosto, parecia verdadeiramente etérea.
― Você parece um anjo, Sally ―, disse ele quando ela passou. ― Será a
estrela da peça.
Sally corou em um vermelho brilhante e deu uma guinada em uma
mesura desajeitada. ― Obrigado, meu senhor.
Ele a pegou e ajudou nos degraus antes que desalojasse as asas. Ou
pior, as rasgasse. Então, antes que Bess pudesse escapar, ele voltou para
dentro, fechou a porta e trancou-a.
― O que diabos você está fazendo? ― Ela perguntou, surpresa banindo
a boa-educação autômata que o tinha dirigido à loucura. ― Temos de
começar.
― Eles vão esperar ―, disse ele, virando-se para ela e cruzando os
braços implacavelmente sobre seu peito.
Desgosto iluminou seus olhos. Ela estava no centro da sala, exatamente
onde a viu pela primeira vez. Soube, então, que ela era a única para ele.
― Bom, isso não é justo. E depois de fazer um belo discurso, também.
― Finalmente, ela parecia a moça espirituosa que tivera a coragem de o
repreender sobre suas funções.
― Eu espero que isso apenas demore um pouco.
Cautela substituiu o aborrecimento naqueles belos olhos azuis e ela
recuou. Em suas longas vestes marianas, ela era uma criatura de outro mundo.
Parecia uma blasfêmia recordar a sua mão ondulando em torno de seu peito
nu. Exceto que seus sentimentos pela senhorita Farrar sempre continham uma
dose saudável de carnalidade.
― O que é… isso exatamente?
Ele rondava em sua direção. ― Você realmente não tem ideia?
― Não ― disse ela. ― E se nós não formos para fora agora, todas as
fofocas que conseguimos evitar se levantarão e nos devorarão.
Ele riu suavemente, divertindo-se, pela primeira vez desde que a beijara
na noite passada. ― Não seja uma pequena ingênua, Bess. Eles fofocaram
sobre nós durante toda a semana.
― O quê? Você tem certeza?
― Sim, é claro que eu tenho certeza.
― Eles não disseram uma palavra para mim. ― A luz através da janela
alta a fazia parecer mil vezes mais angelical do que Sally Potts jamais poderia
parecer. Se um anjo poderia ser confuso e irritado e eminentemente palpável.
― Bem, eles não diriam, ou diriam?
― Apenas o que eles têm vindo a dizer? ― Ela perguntou, desconfiada.
Ele sorriu, encantado com ela, muito satisfeito consigo mesmo por
encontrá-la. Quem teria imaginado que sua noiva perfeita estava escondida em
um canto obscuro de Northumberland? ― Que você me faria uma excelente
condessa.
Ela franziu a testa. ― Que absurdo.
― E eu estou inclinado a concordar com eles.
Descrença arregalou os olhos. ― Você está?
― Sim.
Para sua consternação, justamente quando pensou que iria definir seu
curso para um porto amigável, a infelicidade voltou a minar toda a linda
vitalidade de seu rosto. De olhos baixos e as mãos enterradas em suas saias.
Tarde demais. Vira como ela tremia.
― Eu sei o que você está fazendo ―, ela disse em uma voz inexpressiva.
― Claro que você faz. Eu estou propondo.
― Porque você acha que tem que o fazer ―, ela murmurou. Ao invés de
jogar-se em seus braços, ela marchou por ele em direção à porta. ― E não
precisa. Mesmo que haja conversa sobre a noite passada, ela vai morrer
quando nos tratamos um ao outro da forma como sempre fizemos.
― E como é isso? ― Ele deu um passo à frente dela para bloquear sua
partida.
Bess olhou com desfavor. ― Como… como um conde e uma inquilina
humilde.
Ele começou a rir. ― Och, o apodrecimento total. Você não tem um
osso humilde em seu corpo, e se teve qualquer momento de deferência pelo
meu posto, eu certamente perdi.
Sua boca voluptuosa se firmou e ela cruzou os braços. ― Bem, isso é
como eu pretendo tratá-lo no futuro. Me desculpe se fui desrespeitosa. Não
vou ser desrespeitosa novamente.
― Gostaria de fazer uma pequena aposta sobre isso?
Ela franziu a testa, parecendo menos hipócrita a cada minuto. ― Você
ficou completamente louco.
Seus lábios tremeram. ― Essa oferta de me tratar com deferência
apropriada não durou muito tempo.
Ela não sorriu. ― Sinto muito, meu senhor.
Na noite anterior ela o chamara de Rory. Ele prometeu que o faria
novamente antes de sair daquela casa. ― Não, você não sente. E de qualquer
forma, é verdade. Estive louco desde o dia em que você entrou e estabeleceu a
lei.
― Eu sinto muito por isso, também, ― ela disse robusta.
Ele pegou a mão dela. ― Não sinta. Se você não tivesse invadido o
local, eu teria perdido a última semana, o que seria uma vergonha.
Ela olhou para ele, sem tentar se libertar. ― Estou tão feliz que você se
tornou parte da aldeia. O vinho quente foi uma nota agradável.
Ele abafou uma risada. ― Eu tenho uma ideia ocasional de mim
próprio, você sabe. Na verdade, tenho a ideia agora que você deve dizer que
vai se casar comigo. Então, podemos salvar essas boas pessoas de pé sobre a
neve, querendo saber o que estamos fazendo.
Ela olhou-o com tal angústia que ele desejou pegá-la em seus braços.
Mas algum instinto profundo lhe disse para pisar com cuidado.
― Você não tem que fazer isso.
Ele suspirou e apertou em sua mão. ― Eu sei que não. Eu quero casar
com você.
― Não, você não quer.
Ele se endireitou em toda sua altura e olhou para ela como se ela fosse
um atirador insubordinado. ― O diabo, que verme você tem ocupando essa
sua mente, minha bela Bess?
Para seu pesar, ela se afastou, seu rosto marcado com uma miséria que
fez uma cãibra no estômago em negação. Ele poderia estar errado? Poderiam
todas as suas esperanças terminar em nada?
― Eu não quero falar sobre isso.
― Que pena. Diga-me por que está vagando ao redor durante todo o
dia como o fantasma na festa. ― Um pensamento horrível lhe ocorreu. ― Não
me diga que você está com vergonha do que fizemos?
― Eu não deveria estar? ― Ela levantou os olhos desesperados para os
dele.
Ele pegou seus ombros. ― Não, maldição, você não deve. Você é uma
criatura bonita, ardente, e quando o desejo é mútuo, é natural expressá-lo.
Seus lábios tremiam e, para seu horror, os olhos ficaram vidrados de
lágrimas. ― Mas não foi.
― Não foi o quê? Natural? ― Ele riu. ― Certamente foi.
― Não, mútuo ―, ela murmurou.
Ele franziu a testa, sem entender. Ele deveria ser o pateta mais grosso
de raciocínio na criação. ― Você não me queria?
Ela evitou seu olhar e, para seu horror, uma lágrima escorreu pelo seu
rosto. ― Claro que queria. Você sabe que sim.
― Eu pensei assim.
― Mas você não me quis.
― Que disparates condenados. ― Ele lutou contra a vontade de provar
de uma vez por todas como fora tolo o que ela dissera. ― Eu estava
desesperado por você.
― Então por que parou?
― Oh, Bess ―, disse ele, impotente, e desta vez não hesitou. Passou os
braços sobre ela e beijou-a completamente. Ela hesitou antes de o beijar de
volta, levando a uma tentativa satisfatoriamente apaixonada para convencê-la
de seu interesse e carinho.
Relutantemente, ele levantou a cabeça. Ela parecia rosada e bem beijada
e, para seu alívio, um pouquinho mais feliz.
― Eu pensei que deveria ter nojo quando eu estava tão… tão ansiosa ―
ela confessou. ― Ou eu fiz algo errado que o fez parar.
Quando ele se afastou depois de Bess ofereceu-lhe tudo, ele sabia que a
machucara. Ela estava perigosamente vulnerável, e sua retirada abrupta a
magoara. Mas ele não tinha ideia que sua negação a fizera duvidar de si mesma
tão profundamente.
Que maldito idiota ele era. Tinha subestimado a poderosa inocência
que a fez ver sua contenção mal realizada como falta de interesse. ― Você era
gloriosa em meus braços, um sonho. Você é tudo que eu desejo em uma
mulher. Certamente sabe disso.
― Você pareceu me querer. E então… você não quis.
― Eu sempre vou querer você. Mesmo quando estiver velho e cinza, e
precisando de uma corneta acústica para a ouvir me chamar de tonto.
Quando a pequena piada despertou o fantasma de um sorriso, uma
nova esperança o inundou. Com cada momento, ela parecia mais confiante,
graças a Deus. ― Então você queria continuar me beijando?
― O inferno, Bess, eu queria mais do que isso, mas não era o momento
nem o lugar. ― Sua voz se aprofundou em um estrondo rouco. ― Eu
pretendo reivindicar você como minha esposa e minha condessa na frente de
todo o mundo. Você é digna de toda a honra, não de alguma sedução em um
canto, não importa o quão louco esteja por você.
Seus olhos brilhavam com tal luz que seu coração se entregou. ― Oh,
Rory, que idiota eu sou. Você estava sendo nobre. Eu deveria ter percebido.
― E foi infernalmente doloroso, também. ― Ele beijou-a rapidamente
para lhe agradecer por chamá-lo de Rory. ― Patinha tonta.
Pela primeira vez naquele dia, aqueles lábios exuberantes se curvaram
em um sorriso genuíno. ― Então você não está se propondo apenas para
salvar a minha reputação?
Ele não era dado a discursos floreados ou gestos dramáticos, mas
naquele momento pedia algo memorável. A emoção brilhando silenciosa em
seus olhos derrotando inibições.
Ele se moveu um passo para trás e pegou a mão dela. Em seguida, caiu
de joelhos e olhou para o belo rosto que disparou seus sonhos. ― Eu estou te
propondo, Bess, porque sem você minha vida é incompleta. Estou te
propondo, porque a partir do momento em que te conheci, você preencheu
todos os meus pensamentos.
― Assim é melhor ―, disse ela vacilante. Sérios olhos azuis escuros o
estudaram. ― Eu só te conheço há uma semana.
Seu aperto em sua mão apertada. ― Tem sido um diabo de uma semana
movimentada, porém, vale mais do que seis meses de namoro em sociedade,
onde beberíamos mais xícaras de chá com um acompanhante contando cada
palavra.
― Você… você me cortejaria assim se eu lhe pedisse?
Seu sangue subiu em furiosa negação. Ele a queria agora em sua cama e
em sua vida. ― Sim.
Ela levantou uma sobrancelha cética. ― Você não parece muito certo.
Ele lhe deu um sorriso triste. ― Estou impaciente para te fazer minha.
Mas posso esperar. ― Sua voz raspou enquanto continuava. ― Apenas pelo
amor de Deus, não me faça esperar muito tempo.
― Um ano?
Bom Deus. Ele seria um desastre esfarrapado após um ano de espera
por ela. ― Então você vai se casar comigo?
Humor iluminou os olhos. ― Então você vai esperar um ano?
― Sim, se for preciso. Tenho certeza do que quero. Não posso esperar
o mesmo de você. ― Ele fez uma pausa. ― Contanto que eu tenho sua
promessa.
― Mais de um ano?
Levantou-se e olhou para ela, hesitante. ― Você realmente não tem
certeza?
Seu sorriso se alargou. ― Eu estou verificando para ver se você tem.
Quero ser mais do que apenas uma escolha conveniente.
Ele lançou uma risada apreciativa. ― Você está me provocando, moça
impossível.
O olhar que ela lhe mandou por debaixo de suas pestanas era
inconfundivelmente de paquera. ― Eu posso ser.
― Você não quer esperar um ano? ― Ele deslizou seus braços ao redor
da cintura dela.
― Eu não gosto de festas de chá.
Ela era um tesouro. Provocando, mas definitivamente um tesouro. ―
Então, quanto tempo devo esperar?
― Quanto tempo quer esperar?
― Para sempre, se for preciso, ― ele mordeu fora, puxando-a para mais
perto. ― Quer se casar comigo, Bess?
Ela juntou as mãos atrás do pescoço. O toque dela trovejou através
dele como cinquenta canhões disparando. ― Eu quero, meu senhor.
― Você quer? ― Ele disse estupidamente.
Seu sorriso brilhante deslumbrando-o, o fez sentir como se caísse
através das estrelas para o paraíso. ― Ah sim. Eu tinha certeza desde o início,
também.
― Minha querida… ― Beijou-a com toda a alegria reverente em seu
coração. Só parou quando alguém bateu na porta, alto o suficiente para
compensar o bater de sangue em seus ouvidos. Lentamente, ele levantou a
cabeça e olhou para Bess. Ela parecia completamente enfeitiçada.
― Meu amor, nossa privacidade chega ao fim. ― Incapaz de resistir, ele
beijou cada canto de sua boca cheia. Essa boca o tinha atraído toda a semana.
A promessa de uma vida inteira de beijos o deixou pronto para jogar a cabeça
para trás e gritar seu triunfo até o teto.
Ela se esforçou em direção a ele. ― Beije-me novamente.
Ele riu e se forçou a se afastar. Como ela poderia ter imaginado
desprezar seu espírito ardente? Sua paixão ardente era uma das muitas coisas
que ele amava sobre Bess.
Amava…
Ele amava Bess.
O mundo parou de girar. Mesmo o insistente batendo desapareceu a
nada.
Ele a amava. Com um amor maior e mais poderoso do que o oceano.
― Rory?
Ele piscou até o grande salão voltar a concentrar-se. Mas ainda assim a
verdade eterna martelando para ele. Amava Bess. E ela concordou em ser sua
esposa. Mal podia esperar.
― Nós vamos nos casar ―, disse ele em júbilo e pegou-a contra ele para
outro beijo.
Desta vez, ela se soltou. Virou-se para a porta. ― Deus do céu, os
moradores vão se perguntar o que aconteceu com a gente. ― Ela olhou para o
relógio de pé contra a parede. ― Nós deveríamos ter saído vinte minutos
atrás.
― Eles vão nos perdoar uma vez que saibam porque nos atrasamos. ―
Dado o fluxo eficiente de informações, ele apostaria bom dinheiro em que a
maioria, se não todos, adivinharam o que Bess e o novo conde estavam
fazendo no momento.
― Devemos dizer a eles? ― Para seu deleite, ela pegou sua mão.
― Eu deveria falar com seu pai em primeiro lugar.
― Então, hoje este é o nosso segredo.
Ele tinha certeza de que parecia completamente alucinado. Por que
não? Ele estava. ― Sim.
O abraço dela se apertou. ― Gosto disso.
Ele levantou a mão aos lábios. ― Você me fez o homem mais feliz na
Inglaterra. ― Fez uma pausa. ― E na Escócia.
― Estou bastante agradada também. ― Em seguida, normalmente sua
atenção voltou-se para questões práticas. ― Você precisa colocar seu traje.
Bess Farrar tinha prometido se casar com ele, e todo o mundo virou-se
para o Natal. ― Só mais um beijo.
― Nós vamos estar tão atrasados ―, disse ela, sem sua convicção de
costume.
Ele a fez recuar alguns passos. ― É sua culpa. Encontrou o visco.
― Oh, você é um diabo ―, ela sussurrou antes que seus lábios
capturassem os dela.
Silenciosamente, ele prometeu devoção ao longo da vida. Se perguntou
se ela sentia a sua promessa, porque quando levantou a cabeça, seus olhos
estavam enevoados.
Com uma ternura que encravara a respiração em sua garganta, ela tocou
seu rosto. ― Eu vou amar ser sua esposa.
Mas será que isso significava que o amava? Outra batida na porta
provou que aquele não era o momento para descobrir.
Eles teriam tempo. Céu louvado, eles tinham o resto de suas vidas.
― Amaldiçoadas nossas obrigações. Eu quero que você para mim. ―
Ele atravessou a sala e vestiu a veste listrada de José. Então, destrancou a
porta. O Dr. Simpson estava no degrau, procurando saber, enquanto as
pessoas faziam fila na neve observando com curiosidade indisfarçável.
― Você está pronta? ― Rory sussurrou para Bess quando ela se juntou
a ele na porta.
― Eu estou pronta para qualquer coisa, contanto que você esteja
comigo.
Como amava a inclinação orgulhosa de seu queixo. ― Então vamos
levantar nossas velas e definir o nosso curso nas novas terras, querida.
Ele saiu para se juntar a seu povo, a mulher que amava a seu lado.

Bess saiu do aglomerado e barulhento salão na frente escura de Penton


Abbey. Seu coração disparou com tal excitação, era como ter uma centena de
velas Natal acesas brilhante dentro dela.
Cuidadosamente ela fechou a porta. Não queria que ninguém a
seguisse. Anteriormente tinha havido lua, mas agora o céu estava encoberto
anunciado mais neve. Atrás dela, ouviu o risco de violinos e gritos dos
moradores e pés martelando enquanto dançavam em comemoração ao Dia de
Natal. Embora até agora, fosse bem na noite de Natal. Todo mundo estava
tendo demasiado divertimento para ir para casa depois da festa magnífica do
novo conde.
― Por que você está fora tão tarde, minha linda moça? ― Rory
demorou, emergindo das sombras ao lado da porta e pegando sua mão.
Bess riu, tanto de felicidade como de diversões, e deixou-o puxá-la para
baixo para ficar na neve na frente da casa. ― Não posso adiar. Estou fora para
conhecer um pirata, bom senhor.
― O patife com escorbuto vai ter que esperar ―, disse Rory. ― Eu
tenho planos para você em primeiro lugar.
Ele desceu para um beijo. Imediata, paixão agora familiar inflamou. Ela
se curvou em seu corpo alto e forte, finalmente livre para expressar seu desejo
dolorido. Parecia uma eternidade desde que a beijara, e ela afundou
alegremente para a demanda aquecida dos lábios. Esta foi a primeira chance
que eles tiveram de ficar sozinhos desde a proposta da véspera.
A peça tinha provado um grande sucesso, e enquanto ela e Rory não
tinham dito um sussurro sobre o seu envolvimento, os apontados olhares de
seus vizinhos deram a entender que a fábrica de fofocas da aldeia escapara
para longe como de costume. Mesmo Daisy parecia entender que este fora um
dia especial e que tinha sido um anjo perfeito. Infelizmente os anjos humanos
não tinham sido tão exemplares. Sally Potts tinha esquecido suas falas quando
ela anunciou suas boas notícias para os pastores, e uma briga entre os meninos
gêmeos da senhora Hallam tinha interrompido o coro do exército celestial de
aleluias.
― Eu senti tanto sua falta ―, ela sussurrou, entrelaçando os braços em
volta dele.
― Oh, minha querida ― Ele a arrastou para mais beijos. ― Droga, não
podemos ficar muito tempo.
― Eu sei ―, ela disse sem fôlego. ― Estou começando a odiar o decoro.
Quando você vai falar com o meu pai?
― Amanhã. ― Eles relutantemente decidiram que o dia de Natal não
era o melhor momento para abordar o vigário sobre o noivado de sua filha.
― Cedo?
― Eu vou estar lá no raiar do dia, se você acha que vai apressar o
casamento.
Quando ela descansou a cabeça em seu peito, seu coração galante bateu
firmemente abaixo da orelha. ― Oh, Rory, estou muito feliz. Eu não posso te
dizer o quanto.
Seus braços se apertaram e ele apoiou o queixo em seu cabelo. ― Eu
sou o homem mais sortudo na Inglaterra.
― E da Escócia.
― E Escócia. E o resto do mundo. ― Ele beijou o topo da cabeça dela.
― Feliz Natal, minha condessa linda.
Ela enterrou o nariz no peito, amando o cheiro rico, almiscarado de sua
pele. Ele era tão maravilhosamente quente. ― Feliz Natal, meu arrojado
conde.
― Eu tenho o presente que quero.
Bess ergueu a cabeça. A luz da casa iluminando suas fortes feições e o
brilho malicioso em seus olhos verdes. ― Talvez, mas você vai ter que esperar
para desembrulhá-lo.
Rory deu um suspiro longo de sofrimento. ― Och, e não é logo uma
maldita inglesa?
Algo frio e macio escovou sua bochecha. Com os olhos questionadores,
ela olhou para o céu. ― Está nevando. Nevava a primeira vez que você me
beijou.
Ele sorriu para ela. ― Sim, e claramente é um sinal de cima que eu
preciso te beijar de novo.
― Claramente, ― disse ela secamente, esticando-se na ponta dos pés
para escovar seus lábios através dos dele. Em seguida, algum instinto a fez se
afastar e olhar de volta para a casa. ― Oh céus.
Ele virou a cabeça para seguir a direção de seu olhar. As janelas altas do
grande salão estavam cheias de pessoas sorrindo, esticando o pescoço para
tomar o máximo de opinião que podiam. Bess viu o Dr. Simpson, e Ned
White, e seu pai, parecendo perplexo, e a Sra. Hallam, e Will e Sally Potts, e
todas as outras pessoas locais que tinham trabalhado tão duro para preparar a
Abbey para o Natal.
Rory soltou uma gargalhada e jogou o braço em volta dos ombros de
Bess, abraçando-a para o seu lado. ― Eu acho, minha linda, que o nosso
pequenino segredo foi descoberto.
Capítulo Nove

Rory bateu suavemente na porta do quarto de vestir, antes de entrar no


quarto de dormir à luz de velas. Era tarde, quase meia-noite, e estava nu sob o
roupão de veludo pesado.
Ele e Bess começaram sua lua-de-mel na mansão de um amigo naval no
Mar do Norte perto de Craster. Eles haviam concluído as últimas horas da
jornada de quarenta milhas até aquele pedaço espetacular do litoral no escuro.
As ondas batendo contra a costa competiam com o trovão em seu sangue
com a visão que o cumprimentou na luz dourada tremeluzente.
― Meu Deus, mas você é linda ―, disse ele reverentemente, uma vez
que conseguiu deslocar o pedregulho que obstruía a garganta.
Lentamente Bess se afastou da janela onde estava olhando o mar
iluminado pelas estrelas, e as boas-vindas em seu sorriso fizeram seu coração
inchar com alegria. ― Quando você olha para mim assim, eu me sinto linda.
Seu cabelo dourado caía solto em volta dos ombros retos e finos. Ela
usava uma camisola branca pura que oferecia sugestões sombrias das curvas
do corpo embaixo.
Ele engoliu em seco para umedecer a boca seca de repente. A queria
tanto. ― Nós temos a casa para nós por um par de dias.
Seguindo as instruções de Rory, a mansão foi provisionada e a equipe
teve um feriado pago. Após a chegada, a governanta os saudara com parabéns,
fogos ardendo nas lareiras, e uma garrafa de champanhe, em seguida, deixou-
os a cuidar de si mesmos. No final da semana, eles navegariam para o sul
durante dois meses na Itália.
― Estou ansioso para ver tudo à luz do dia.
― Você vai adorar. ― Ele tinha mantido em segredo o destino daquele
dia, e ela tinha ficado entusiasmada para descobrir o mar à sua porta. O
cenário selvagem fazia um ajuste apropriado para o seu espírito vivo. ― Você
se importa de se despir sem uma criada?
Um sorriso puxou seus lábios. ― Estou bastante bem para cuidar do
meu marido como uma esposa adequada de aldeia.
― Och, isso é uma pena. Estou bastante ansioso para a minha esposa
sendo muito imprópria, de fato.
Ele atravessou o piso em parquet e a beijou com ternura. Seus lábios se
separaram por baixo dele, mas não aprofundou o beijo. Haveria paixão mais
tarde, mas por agora, a sua esmagadora necessidade era para acalentar esta
criatura requintada que se deu sob sua guarda.
Ele recuou e segurou o rosto dela entre as mãos. Quando tinham
parado para uma refeição apressada em Alnwick, por mútuo consentimento
tácito eles mantiveram a conversa em assuntos sem importância. Assim, em
todas as maneiras que importavam, sua vida juntos começou aqui nesta sala,
com vista para as falésias.
― Eu não posso te dizer o quão orgulhoso me senti quando você
andou pelo corredor esta manhã e se prometeu para mim. ― Orgulhoso, mas
estranhamente humilde.
Seu sorriso era trêmulo e dolorida emoção aprofundou seus olhos azuis
escuros. ― Você não deveria dizer essas coisas. A menos que me queira
chorando em cima de você.
Ele riu com carinho e beijou-a. ― Isso não soa como a minha noiva
indomável.
― Sua noiva indomável está se sentindo um pouco frágil.
― Vou ter que beijá-la para que volte a seu ser.
― Senti falta de nossos beijos, ― ela murmurou, inclinando-se para a
frente. ― Por que você fez-nos esperar um mês inteiro?
― Você me ameaçou com um ano.
― Eu só estava brincando, você sabe que sim.
Ele beliscou o cheio lábio inferior. ― Minhas razões eram boas.
Ela enviou-lhe um olhar pouco impressionado. ― Eu acho que você
está mais preocupado com a adequação do que uma estrita acompanhante de
Londres.
― Quero fazer tudo certo, mesmo se eu sofrer por isso. E acredite em
mim, meu amor, eu sofri.
Frequentemente nas últimos quatro semanas, ele tinha amaldiçoado
essa necessidade de mostrar ao mundo o quanto honrava Bess. Com uma
licença especial, eles poderiam ter casado dentro de dias. Mas abominava a
ideia de quaisquer comentários sarcásticos sobre um casamento rápido, após a
noite de neve na cabana do lenhador. Então, o vigário tinha chamado os
banhos e Rory tinha sofrido o atraso excruciante de um casamento
convencional.
― Eu sei. ― Bess se levantou na ponta dos pés e beijou-o. Estes não
foram os crepitantes beijos, vorazes que ele fantasiou por todo aquele mês
pestilento. Mas seu afeto sem restrições aqueceu o frio em lugares solitários
em sua alma, lugares que ele nunca soubera que existiam até que a conheceu.
― E eu tenho sido terrivelmente ingrato.
― Sim, terrivelmente ―, disse ele com uma peculiaridade de seus lábios.
― É melhor você fazer as pazes esta noite.
― Só hoje à noite?
― É um começo. Eu tenho um apetite poderoso para alimentar. Nós
não tivemos um minuto sozinhos desde o Natal.
Uma vez que ficaram noivos, quase não trocaram uma palavra
particular, e muito menos deixados sós para qualquer dano. A semana livre e
fácil do namoro tornou-se uma memória. Quando ele e Bess não tinham
estado preparando a Abbey para a sua vida juntos, ela o tinha sido
apresentado aos vizinhos e à área local. A cada dia, ele se tornou mais uma
parte desta nova vida que tinha sentido tão estranha quando chegou em
Northumberland. Ele tinha de agradecer a Bess por isso. Tinha de agradecer a
Bess por muito mais.
Tê-la em seus braços agora se parecia como um milagre. Sua presença
física batia por ele como um grande tambor. ― E então você me deixou por
uma semana para passear por Newcastle.
― Você sabe que eu precisava comprar minhas roupas de noiva, e
encomendar móveis e cortinas. Acredite em mim, ficar com você, mesmo sob
uma centena de olhos curiosos, seria muito mais divertido do que ficar com
minha tia.
― Aposto que seu nariz estava fora do comum, quando ela descobriu
que você capturou um conde. A tia de Bess e primos tinham participado do
casamento naquela manhã em Penton Wyck. Tinham sido nauseantemente
subservientes a ele, enquanto mal escondiam seu ciúme de Bess.
Bess riu e abraçou mais perto. Seu aroma rico feminino provocava seus
sentidos. ― Eles deixaram claro que eu não merecia minha boa sorte. Mas
minha tia está muito na moda, e ela aqueceu um ou dois graus quando limpou
as lojas.
― Senhor, você não a deixou intimida-la a comprar um milhar de
inutilidades com folhos, não é?
Bess se inclinou para trás em seus braços, com um brilho nos olhos. ―
Folhos são o grito este ano.
― Deus nos ajude. ― Ele sabia que ela estava brincando. Mais uma vez.
― E então você me arrastou para longe após o café da manhã de
casamento em uma viagem interminável. Poderíamos ter ficado a noite em
Penton Abbey e viajar amanhã.
Ele estremeceu teatralmente. ― Bom Deus, nunca teria um momento
de paz. Os moradores não podem suportar a deixá-la fora de sua vista.
Simpson iria ficar com a cabeça em nosso quarto a cada hora para verificar
que eu estava te tratando bem. Sally iria atormentá-la com perguntas
impróprias. Seu pai iria vagar às duas da manhã para partilhar a sua mais
recente teoria sobre alguma princesa bizantina ou outro.
Ela deu uma risada baixa. ― Bem, nós não podemos ter isso.
― O interesse ávido na consumação dos nossos votos quase me fez
corar.
― Os moradores gostam de você.
― Eles te amam. ― Ele adotou um tom ferido. ― Então, quando eu
finalmente a tenho para mim mesmo, tudo que você faz é roncar.
A maior parte da viagem, ela dormira enrolada ao lado dele na
carruagem. Ela tinha trabalhado tão duro para o seu casamento perfeito.
Apesar de sua provocação, ele ficou muito feliz que o dia tivesse acabado por
ser tudo o que uma noiva podia desejar. Embora duvidasse que o vigário
entendesse que sua filha estava agora casada. John Farrar tinha tropeçado
através do serviço e precisara que Bess avisasse quando se tratava de três
nomes cristãos de Rory.
― Eu estou guardando a minha força para esta noite.
Ele riu em apreço e, relutantemente, abandonou-a para atravessar para
uma mesa lateral, onde o champanhe esperava. Um par de movimentos hábeis
e a rolha estalou. ― Och, você é uma noiva em um milhão, moça.
Ela flutuou em direção a ele. ― Eu espero que você pense assim depois
de hoje à noite.
Surpreso, ele olhou para cima enchendo dois copos com o vinho de
ouro espumando. ― Claro que eu vou. Como você pode duvidar disso?
Ela não sorriu de volta. ― Estou preocupada com a avaliação. Você é
um homem do mundo, literalmente, e eu nunca fiz isso antes.
Aparentemente mais do que preparativos do casamento estavam por
trás de sua exaustão. Ternura comovente o inundou, por ela se preocupar com
agradá-lo. A moça tonta não sabia que ela lhe agradava apenas por existir? ―
Bess, tome minha palavra, nenhuma mulher se compara a você. Você é uma
jóia.
― Você faz tudo parecer tão fácil.
Ele deu de ombros e colocou a garrafa. ― Se não tivermos tudo certo
na primeira tentativa, nós temos, pelo menos, quarenta anos para praticar até
sermos perfeitos. Boa vontade e amizade nos levará um longo caminho. E
desejo.
E amor.
Era amor o que ele viu em seus olhos? Eles nunca tinha falado as
palavras, mas esta noite algum vínculo profundo e precioso os unia.
Passou-lhe um copo e tomou um gole de seu próprio. ― Eu a quero
desesperadamente, caso você não tenha notado.
Cuidadosamente, ela tomou um gole, depois colocou o copo quase
cheio sobre a mesa. ― Mostre-me.
― Com prazer ―, ele disse, sorrindo de volta. Esvaziou o copo antes de
o colocar ao lado do dela. Seu amigo tinha sido previdente deixando o vinho,
mas agora, Rory sentia-se tão bêbado de felicidade, que não precisava de outro
estimulante.
Tomando-lhe a mão, ele levou Bess mais perto do fogo. Estava
esmagadoramente ciente da grande cama, fortemente esculpida no centro da
sala.
Ele beijou os nós dos dedos com uma veneração que transformou a
fome mal controlada em algo mais nobre e mais doce. Ele nunca antes se
sentira essa necessidade de proteger e agradar e amar.
Bess não tinha feito isso antes. No sentido mais essencial, nem ele
tinha. Emergiriam daquela noite de inverno mudados para sempre.
Seus olhos eram azuis como o oceano, que fora sua amante na infância
e juventude. Agora, dedicou-se a uma nova causa. Silenciosamente, prometeu
seu amor e lealdade, sua coragem e força para esta mulher.
Ele começou suavemente, quase hesitante. Paralisado de espanto,
acariciou o cabelo luxuriante. Tocou seu rosto, os ombros, os braços, as mãos,
sentindo a vida vital sob sua pele. Esta era uma mocinha cheia de fogo e vigor.
E ele agradeceu a Deus por o ser. Ele queria alguém como ele em sua jornada.
Bess o tinha acompanhado desde o início.
Ela estava tremendo. Suas carícias, sutis, mas pecaminosamente
precisas, a excitavam. Quando as mãos procuraram os magníficos seios
cheios, ela fez um som abafado na garganta. Ele voltou, acariciando-a até que
seus mamilos se ergueram orgulhosos contra o tecido fino. Ele levou um pico
entre os lábios, fazendo-a gritar. Ela se arqueou para ele, enterrando os dedos
em seus cabelos, incitando-o. Tonto com seu cheiro, limão, fumo, lavanda e
mel, ele se mudou para o outro peito. A camisola era tão fina, era quase como
tocar sua pele nua.
Quando ele finalmente levantou a cabeça, ela estava corada e tremendo
e seus olhos estavam cheios de desejo. ― Não pare ―, disse ela, como dissera
uma vez antes.
Quando ele tinha parado. Por causa dela.
― Nós apenas começámos. ― Ele agarrou-a para um profundo beijo
apaixonado, empurrando a língua em sua boca. Ela o encontrou, sem timidez,
embora ele tivesse visto a timidez em seus olhos.
Ele pegou sua camisola de babados ao redor dos quadris e ergueu-a
sobre a cabeça dourada. Ela levantou as mãos numa modéstia rápida, mas algo
em seu rosto a deve ter tranquilizado. Levantando o queixo com a familiar
coragem, ela estava nua e orgulhosa diante dele.
― Você é a perfeição ―, ele murmurou com admiração.
Como se tocasse em algo sagrado, ele passou as mãos para baixo nos
braços delgados, sentindo o calor persistente. Algum canto louco de sua
mente não conseguia acreditar que ela era real. Tinha sonhado com este
momento desde que a vira pela primeira vez.
Ele pegou seus quadris para mantê-la imóvel, e beijou-a com cada
grama de amor não dito em seu coração. Ela se contorceu mais perto, mãos
sobre ele, empurrando seu roupão longe de seu peito, conhecendo seu corpo
como ele conhecia o dela. Ele apoiou-a para a cama, sussurrando
encorajamentos entre beijos em seus lábios e ao longo de sua garganta.
― Rory… ― ela suspirou quando ele raspou os dentes até o pescoço.
Ela estremeceu. ― Isso me faz sentir…
― Bem? ― Ele murmurou, curvando as mãos sobre as luxuriantes
nádegas redondas.
― Mais do que bem.
Ele riu suavemente, e voltou sua atenção para esse ponto sensível sob
sua orelha até que ela se contorceu e choramingou. Como ele amava suas
respostas selvagens, mas esses preliminares doce já derretiam para a próxima
etapa.
Segurando os ombros, baixou-a para a cama. Em seguida, com
repentina rudeza, ele jogou fora seu roupão. Seus olhos se arregalaram em
choque e curiosidade.
― Meu Deus do céu. Tem certeza que isso vai funcionar?
Ele riu quando se ajoelhou sobre ela. ― Eu tenho certeza, meu amor.
Com uma naturalidade que bateu com o coração em suas costelas, ela
se esticou debaixo dele e ligou suas mãos ao redor de seu pescoço. ― Eu
espero que você esteja certo.
Ele a beijou novamente. Ela estava tensa com a incerteza, mas sob a
sua suave persuasão, gradualmente se tornou macia e líquida mais uma vez.
Ele segurou os seios, apertando a carne gorda, até que ela tremeu. Ela
engasgou quando sua dureza ansiosa pressionou em sua barriga.
― Está tudo bem ―, ele sussurrou, passando a mão pelo seu lado. ―
Confie em mim.
― Eu faço, ― ela sussurrou, e se deitou com linda frouxidão quando
seus joelhos aumentaram no convite. Odor feminino encheu o ar até que ele
se sentiu como se afogado em Bess.
Sua mão deslizou mais baixo, traçando a planície de seda de seu
estômago, seguindo a curva voluptuosa de seus quadris, escovando a penugem
que cobria seu sexo. Ela empurrou e um gemido rouco escapou dela. Suas
mãos se apertaram em seus ombros e ela mordiscou uma trilha incendiária no
seu pescoço. Sua ousadia inocente o levou ao desespero.
Ele enfiou a mão entre as pernas dela. Ela estava quente e suave, e
quando ele explorou as escorregadias dobras, ela sacudiu com surpresa.
― Isso é estranho.
― Devo parar?
― Oh, não, nunca ―, ela murmurou, e abriu as pernas para lhe dar
melhor acesso.
Ele provocou no seu centro, até que ela estava ofegante e agitada, mas a
impediu de cair no clímax. Quando ele deslizou um dedo em sua passagem
acetinada, ela era apertada. Seu coração deu um baque forte, e sua cabeça
nadou com a necessidade de reclamá-la. Mas ele se agarrou à paciência.
Somente.
Quando ela se ajustou para a invasão cuidadosa, ele testou outro dedo.
Trabalhou até que ela gritou de agitação e se agarrou a ele.
― Não me faça esperar ―, ela engasgou. ― Eu te quero tanto.
Ele a beijou, desajeitado com dominadora necessidade. Este lento
despertar levava-o para a beira da loucura. ― Eu quero agradar você.
― Você vai. ― Ela mordeu seu ombro com força suficiente para
machucar. ― Você faz.
Rory levantou a cabeça para encontrar os olhos vidrados de excitação.
Já era tempo. Sentindo-se como se sua vida estava em jogo, ele inclinou os
joelhos dela mais alto e baixou cuidadosamente seus quadris.
Bess observou-o de forma constante. Seus lábios estavam vermelhos e
inchados por seus beijos e um rubor agitado marcava as maçãs do rosto. Ele
pressionou através da resistência gloriosa.
Lento. Lento.
Não podia suportar machucá-la. Mesmo que o seu sangue pulsasse com
o comando a tomar, para aproveitar, de possuir, se conteve.
Quando seu corpo abriu suntuosamente ao dele, sua contenção recebeu
a recompensa. Cada turno, cada toque, cada suspiro, tudo gravando-se em sua
alma. Bess era primorosamente quente, tão maravilhosamente ágil. O desejo
de empurrar açoitava-o como um chicote.
Seus dedos cravaram em seus ombros. ― Eu não vou quebrar, Rory.
Que noiva o destino lhe tinha entregado. ― Você tem certeza de que
está pronta?
Apesar extremidade do momento, ela conseguiu uma risada quebrada.
― Eu sinto como se tivesse sido preparado por um mês.
― Oh, minha querida, ― ele gemeu, e incapaz de resistir, empurrou
para casa.
Bess reprimiu um grito quando Rory possuiu seu corpo. Mas tanto
quanto ela tentou esconder sua reação, ele deve ter sentido como ela enrijeceu.
Parou abruptamente de se mover e debaixo das mãos dela, suas costas ficaram
tão duras como pedra. Tão duras quanto essa grande parte, intrusiva dele
pressionando dentro dela.
Ele respirou estremecendo e subiu acima em seus braços poderosos
para olhar para o rosto dela. ― Querido Deus, Bess, eu sinto muito.
― Não sinta ―, disse ela com voz rouca. Ela não estava preparada para
a fisicalidade gritante do ato, a forma como seus votos casamento sobre como
se tornar uma só carne se sentiria na realidade.
Seu sorriso era irônico, embora ela lesse preocupação e dor em seus
olhos. ― Eu teria cortado minha garganta antes que te machucar.
Ela levantou uma mão trêmula para sua bochecha. ― Eu prefiro ter
você vivo e comigo, Rory, muito obrigado.
― Vai ficar melhor, eu prometo.
Quando ela se moveu para aliviar a pressão, ele se estabeleceu com
mais firmeza. Ela foi extremamente consciente do peso latejante, mas a dor
inicial diminuiu a cada segundo. E havia coisas que gostava sobre o que eles
fizeram. Gostava de estar tão perto dele. Definitivamente gostou da forma
como ele a tocou antes de a tomar. Isso tinha sido maravilhoso.
Recordando essas carícias inebriantes, ela inclinou-se para beijá-lo. Sua
resposta fervorosa banindo trepidação. Quando ela relaxou contra ele, ele
gemia e projetava os quadris para frente. Prazer inesperado rasgou através dela
e suas mãos enroladas em seu cabelo úmido, trazendo-o mais perto para o
beijo. Ele se elevou sobre ela, profundos olhos verdes inabaláveis nos dela.
Quando Rory se afastou, seu corpo se agarrou a ele. Ofegando desta
vez expressou o prazer incondicional. Quando ele deslizou para dentro dela
novamente, o cumprimentou com um aumento de líquido.
― Oh, eu vejo ―, ela suspirou.
― Você irá.
Fechando os olhos, ela se entregou a ele. O universo fechado de modo
que tudo o que ela conhecia era o aroma potente de Rory, o estrondo fundo
do seu louvor, a conexão sublime de seu corpo em movimento no dela. Uma
nova sensação a percorreu, ficou mais forte e mais forte. Até que ele era
poderoso o suficiente para quebrar o céu.
O anseio sobrenatural enrolando apertado. Certamente ela deveria
quebrar. Foi a maneira que sentiu quando ele de forma tão chocante colocou
os dedos dentro dela.
Mas isso foi… mais.
Frenético com a promessa misteriosa além do esforço, ela mordeu seu
ombro novamente. Ele jurou suavemente e mudou o ângulo de seu impulso.
O mundo inclinou e queimou em luz ofuscante.
Bess gritou quando estremeceu através do fogo transcendente. Moveu-
se mais propositadamente, em seguida, com uma queda forte, ele a encheu de
calor. Disparou para o céu, ela fechou os olhos e apertou suas costas com os
dedos frenéticos.
Eventualmente a selvageria recuou e o mundo parou cambaleando. Ela
realizou sua primeira respiração completa no que parecia um ano e abriu os
olhos pesados.
Ela e Rory ficaram de lado envoltos nos braços um do outro. Ambos
respiravam ofegantes após aqueles momentos vulcânicos quando ela perdeu o
contato com tudo, menos com Rory e o que ele a fez sentir.
Depois da união extraordinária, seu corpo doía. Ela nunca se sentira tão
perto de outra pessoa. E porque a honestidade entre eles cortava afiada como
uma faca, ela não conseguia mais segurar as palavras simples e eternas.
― Eu amo você, Rory ―, ela sussurrou, colocando um beijo carinhoso
em seu peito nu.
― O que o diabo que você disse? ― Ele rolou de costas e levantou-se
sobre ela.
Seu estômago se atou com desânimo enquanto ela lutava para ler sua
expressão. Ele não parecia satisfeito. Parecia que alguém tinha batido nele
com uma prancha.
Sob esse olhar ardente, o brilho encantador recuou. ― Não importa ―,
ela murmurou.
Eles nunca tinham discutido amor, embora tivesse deixado o seu desejo
mais do que claro. Mas o desejo não era amor. E a forte e dolorosa verdade
era que ela queria que Rory a amasse. Ela queria isso mais do que jamais quis
nada em sua vida.
― Bess…
― Você não tem que me amar de volta ―, disse ela, desejando
desesperadamente ter mantido a boca fechada.
― Bem, eu seja condenado ―. Para sua surpresa, aquele sorriso meio
diabólico curvou seus lábios. ― Você me ama.
Sua pulsação correu em um galope de embriaguez, e de repente ela não
se sentia tão despojada e incerta. ― Claro que amo. Por que mais me casei
com você?
Rory franziu a testa como se apenas fizesse a conexão. ― Eu sou um
idiota completo. É claro que foi por isso que se casou.
― Você acha que eu queria a sua fortuna?
Ele balançou sua cabeça. Ele ainda parecia surpreso, mas surpresa feliz
agora. Como um homem saindo em um passeio matinal que havia tropeçado
em um pote de ouro em seu caminho. ― Não, eu sabia que não era isso. Caso
contrário, você teria aceitado o meu irmão.
Seus lábios achatados com aborrecimento. ― As pessoas têm falado.
― Sim, elas certamente têm. ― A luz de brincadeira em seus olhos
confirmou que ele estava longe de ser descontente sabendo que ela o amava.
Isso foi bom. Ainda melhor seria se ele a amasse de volta. ― Eles estão
dizendo outra coisa, também.
Ela suspirou. ― Que eu estou obcecada com você, eu suponho.
Ele riu suavemente e beijou-a. ― Eu nunca ouvi isso. Gostaria de ter
ouvido.
― Então, o que eles têm vindo a dizer? ― Era difícil manter a mente na
conversa depois daquele beijo que, embora rápido, tinha sido completo.
― Que o novo conde de Channing deu uma olhada na filha bonita do
vigário e caiu de cabeça para baixo. ― Ele se estabeleceu entre suas pernas, e
ela tornou-se ciente de algumas coisas muito interessantes acontecendo ao seu
corpo. ― Bess, estou tentando na minha maneira desajeitada lhe dizer que eu
te amo.
Tonta olhou para ele. ― Você ama?
― Sim, eu certamente amo. ― A ternura brilhando em seus olhos a
convenceu mais do que meras palavras poderiam fazer. Seu sotaque era mais
forte do que o habitual. ― Você brilhou na minha vida como um raio e eu
nunca quis viver sem você novamente.
― Eu senti… Eu senti o mesmo ―, ela confessou, e sua alegria em se
tornar sua esposa expandiu até que ela se sentiu pronta para estourar com a
glória de tudo isso.
― Você vai me dizer de novo? ― Ele perguntou em voz baixa.
Ela jogou para trás um bloqueio incontrolável de cabelo ruivo que caía
sobre a testa e estudou esses recursos amados. ― Eu amo você, Rory.
Rory a beijou novamente, mais suave, mais doce. Ele deslizou sobre os
travesseiros e estabeleceu-se em seus braços. ― E eu te amo, Bess. Para
sempre.
― Eu estou tão feliz, ― ela sussurrou, descansando a cabeça em seu
peito. ― Eu achava que era feliz antes. Mas sabendo que eu te amo e você me
ama, eu não posso te dizer o quão maravilhoso me sinto.
― Vou dedicar o resto da minha vida para mantê-lo dessa maneira.
Ela beijou seu ombro nu. ― Eu nunca pensei que ia me apaixonar por
um pirata. Até que chegou a Penton Wyck, eu sempre fui revoltantemente
bem comportada.
Mesmo antes de falar, ela sentiu sua repentina tensão. ― Na verdade,
isso é algo que venho querendo falar com você.
Ela inclinou a cabeça para trás para estudar sua expressão. Quando eles
trocaram seus votos de amor, ele parecia incandescente. Agora, ele parecia
perturbado. E um pouco envergonhado.
― Você não precisa fazer quaisquer confissões terríveis, meu amor. ―
Ela fez uma pausa, saboreando o carinho nos lábios. ― O que está feito está
feito. Eu amo o homem que você é agora, qualquer que seja o seu passado
obscuro.

― Isso é muito compreensivo. ― Os lábios de Rory virados para baixo


em auto-escárnio. Bess tinha soado tão orgulhosa de si mesma quando
professou seu amor por um fora da lei. Como ele odiava assolar o prazer dela.
― Mas temo que há uma confissão terrível que não pode esperar.
Seus olhos desconfiados, Bess sentou-se e puxou os lençóis mais altos
para cobrir os seios. ― Rory, o que é?
Ele pegou a mão dela e a olhou com tristeza. ― Fofoca nem sempre é
tão precisa como foi quando se espalhou a notícia sobre minha cobiça por
você, moça bonita.
― O que você quer dizer?
― Isso significa que, apesar de toda a tagarelice colorida, eu não sou e
nunca fui um pirata.
Ela olhou para seu rosto, claramente buscando algum sinal de sua
familiar provocação. Mas nesta ocasião, ele estava muito sério. ― Não é um
pirata?
Ele balançou a cabeça e admitiu a verdade vergonhosa. ― Fui para a
Marinha Real como um rapaz, e passei os vinte e tantos anos seguintes de luta
respeitável pelo rei e o país. Na verdade, desde o fim das guerras francesas,
tenho dedicado a maior parte do meu tempo no mar capturando piratas.
Uma carranca fraca atraiu as sobrancelhas. ― Então você é um cidadão
cumpridor da lei?
― Temo que sim. Eu estou terrivelmente arrependido, minha querida.
Ela ainda parecia como se não acreditasse nele. ― Mas como na terra é
que a história se espalhou?
Ele encolheu os ombros. ― Meu palpite é que um capitão de mar
escocês já era uma adição tão exótica para este canto secreto da Inglaterra que
juntar a pirataria em seu histórico significava apenas mais um adorno. Na
imaginação das pessoas, é um passo pequenino do homem da Marinha para o
corsário, suponho. Pelo menos é numa terra como Penton Wyck.
― Por que você não me disse antes?
― Eu tentei um par de vezes. Mas devo admitir, em outras ocasiões…
― Você não poderia resistir me guiando?
― Eu não consegui me conter. ― Ele não podia interpretar sua reação.
Ela estava de volta ao evitando os olhos dele. ― Você está muito
decepcionada? Tenho certeza de que poderia lançar uma carreira como pirata
agora que estou aposentado da marinha, mas isso significaria voltar para o
mar. E eu prefiro ficar aqui com você.
Ela suspirou tão fortemente como se tivesse dormido durante o Natal e
perdido toda a diversão. ― Eu pensei que estava sendo tão aventureira
quando me apaixonei por você.
― Eu sei.
― Eu vou ter que enfrentar a verdade dolorosa e lutar por diante. ― Ela
levantou o queixo e, finalmente, ele pegou o riso no rosto dela. ― É tarde
demais para rejeitá-lo e encontrar um pirata real.
Ele deveria ter percebido antes desta que ela tinha de aprender a aceitar
seu passado vilmente ilibado. Ele não era o único que gostava de provocar.
Seus olhos se estreitaram. ― Minha querida Lady Channing, vamos
deixar uma coisa bem clara, pois você não procurará amantes piratas enquanto
estiver casada comigo.
Ela inclinou a cabeça. ― Ou o quê?
Ele arrastou-a com ele. ― Vou colocá-la na prisão militar.
― Você podia. ― Para seu deleite, ela cruzou as mãos atrás da cabeça e
arqueou-se até que seus seios roçavam seu peito. Ela claramente perdoara sua
falta de história de piratas. ― Mas eu poderia ficar sozinha lá.
― Bem, isso não vai fazer. ― Ele deu um beijo no pulso correndo na
base de sua garganta. Parecia que não era o único a ficar animado. ― Eu
poderia levar você em uma ilha deserta.
Ela fez beicinho e puxou seu cabelo. ― Mesmo mais solitário do que o
brigue22.
Ele arrastou os lábios pelo comprimento de seda de sua garganta e a
sentiu tremer em resposta rápida. ― Não se eu partilhar a ilha, também.
― Eu… não gosto de coco ―, disse ela vacilante, enquanto mordiscava
o lóbulo da orelha.
― Então isso não vai servir também. Isso o resolve. ― Ele sorriu para
aquela mulher que adorava. Sabia que devia parecer um idiota completamente

22
Um brigue é um navio à vela com dois mastros quadrados-fraudados. Durante a “Idade da Vela”, os
brigues eram vistos como rápidos e manobráveis e eram usados como navios de guerra e navios
mercantes. Eles foram especialmente popular nos séculos 18 e inícios do 19.
apaixonado, mas não queria saber. ― Eu vou ter que fazer de todos os dias da
nossa vida juntos uma aventura, minha bela. A partir deste exato momento.
Epílogo

Véspera de Natal de 1823

Bess, condessa de Channing, emergiu das portas de Penton Abbey para


avaliar a multidão reunida para o teatro de natividade. Este ano, Sally Potts era
um anjo muito mais confiante. O Dr. Simpson foi, como sempre, o
estalajadeiro. Daisy fingiu ser um animal dócil, mas Bess não confiava na
forma como ela olhou a coroa de Melchior. Ned White fez sua estréia como
Caspar. No outono passado, o velho George Morrow, que tinha feito o papel
durante cinquenta anos, falecera calmamente enquanto dormia.
Ela sorriu enquanto seu olhar viajava sobre seus amigos e vizinhos
vestidos como pastores e anjos. Algumas caras novas. Alguns antigos
faltando.
O ano tinha trazido tantas mudanças a Penton Wyck. Não menos
importante, a aceitação do novo conde. O sorriso dela se arregalou quando
sua atenção foi focada no homem alto, de cabelos castanho-avermelhado
representando José ― e também mantendo um olhar atento sobre Daisy.
Quando se casou com Rory, Bess tinha certeza de que não poderia
amá-lo mais. Mas um ano aprofundou a sua compreensão e respeito pelo
valente marido, de coração aberto. Hoje ela o viu fazendo o seu melhor para
aparecer à vontade em um manto de lã listrado, e sentiu como o amor encheu
toda a sua vida de canto a canto.
Sentindo sua observação, ele levantou a cabeça e enviou-lhe um sorriso
de resposta. Ela adorava essa conexão sobrenatural que partilhavam.
Os lacaios, agora aumentados para seis, moviam-se através da multidão,
servindo o ponche quente que fora tão popular no ano passado. Em seguida,
um silêncio expectante caiu quando Rory ergueu a taça.
― Este é o meu segundo ano como parte deste esplêndido desfile de
Natal. Gostaria de agradecer a todos por seu trabalho duro. Estamos ansiosos
por outro grande sucesso. Também gostaria de expressar a minha gratidão
para com a mulher que é o coração desta comunidade, minha amada esposa.
Bess, obrigado por me fazer parte do seu mundo. Quando cheguei em Penton
Wyck no ano passado, não tinha ideia que tinha encontrado meu verdadeiro
lar. Mas você e todo mundo aqui me fizeram sentir como pertencendo.
Duvido que haja um homem mais contente na Inglaterra…
― Ou Escócia ―, disse Ned, apenas alto o suficiente para levantar risos
dispersos.
― Sim, ou na Escócia hoje. Dou-lhes minha esposa, minha condessa, e
a mulher que eu amo. Lady Channing.
Três vivas energéticas eclodiram, soando através do ar frio. Não havia
nevado aquele ano, mas Ralph Thompson, o homem mais velho da aldeia,
jurou que haveria uma queda forte aquela noite.
Neve tinha caído pela primeira vez quando Rory e ela tinham se
beijado. Desde então, Bess tinha sido sentimental sobre um Natal branco.
― Para você, minha linda moça ―, disse Rory.
Bess piscou para conter as lágrimas. Ela estava vergonhosamente
emocional estes dias. Aplausos dos moradores locais, para não mencionar o
belo discurso de Rory, a deixaram querendo gritar como um bezerro perdido.
― O… obrigada ―, disse ela vacilante, encontrando brilhantes os olhos
verdes de Rory. ― E eu gostaria de fazer um agradecimento especial ao meu
marido maravilhoso. Penton Wyck não poderia pedir um melhor amo e eu
não poderia chamar um homem melhor, meu senhor.
Eles eram geralmente brincalhões um com o outro, paixão e risos feitos
para uma vida estimulante. Ela raramente falava com tanta sinceridade pura.
Em homenagem, ela afundou em uma reverência profunda, lutando um
pouco com o corte reto do manto azul de Maria.
Rory compreendeu. Claro que ele fez. Sua expressão terna esquentou
até o osso. Ao longo do último ano, seu vínculo tinha-se aprofundado e
estabilizado, até que o amor era o próprio ar que respirava.
― Você me faz muita honra, minha senhora ―, disse ele, subindo a
escada para pegar a mão dela quando ela se levantou. Ele se virou para a
multidão. ― Vamos fazer deste o melhor teatro de sempre. Em seguida, o
mais alegre Natal na história de Northumberland.
Ele acompanhou-a até onde Daisy esperava na fila atrás dos Três Reis
Magos. Depois dessa vibrante homenagem, Bess não pôde mais conter a
notícia de que ela tinha concebido, como um presente para depois do serviço
de meia-noite em St. Martin.
― Rory, espere um momento ―, ela sussurrou antes de ele a levantar
para a sela.
― O que é isso? ― Ele perguntou, rapidamente preocupado. ― Você
não está se sentindo bem?
Ela tinha estado doente naquela manhã, mas se sentia maravilhosa
agora. Esticou-se na ponta dos pés para murmurar no ouvido dele: ― Maria
está grávida.
Rory pegou o freio de Daisy antes que pudesse fazer qualquer dano e
sua atenção estava no burro descontente. ― É claro que ela está. Com o
Menino Jesus.
Bess riu e colocou a mão sobre a barriga. ― Não, embora talvez com o
próximo conde de Channing.
Rory abruptamente deixou cair o freio e virou-se para ela, com o rosto
pálido de choque. ― O que você disse?
Ela olhou ao redor. Ninguém estava assistindo. Os atores estavam
todos muito ocupados tomando seus lugares para a procissão. ― Eu vou ter
um bebê.
A felicidade brilhante que iluminou os olhos de Rory ameaçou dividir
seu coração de alegria. ― Verdadeiramente?
― Verdadeiramente. Anne Coe diz que em junho. ― Bess tinha visitado
a parteira da aldeia na véspera para confirmar suas suspeitas.
― Minha querida, querido amor. ― Ele pegou-a contra ele e apesar de
estar em público, beijou-a profundamente. Quando levantou a cabeça, Bess
estava piscando de volta mais lágrimas. Se passasse o dia sem se dissolver em
inundações, seria um milagre de proporções bíblicas.
― Bem, na verdade! ― A tia de Bess exclamou atrás deles. ― Tal
comportamento.
― O que mais se pode esperar de um pirata? ― A prima empertigada de
Bess, Priscilla, fungou em desaprovação ao lado da mãe.
― Bess me disse que não era um pirata, mas um capitão da marinha ―,
disse a um pouco mais bonitas prima de Bess, Phoebe, da porta atrás deles.
― Agora ele está virando respeitável, é claro que é o que ela diria, ― Tia
Henrietta respondeu com desdém. ― Eu conheço um renegado quando vejo
um.
Rory pegou o braço de Bess antes que ela pudesse confrontar seus
parentes. ― Não importa.
Bess riu ironicamente. Ele estava certo. A maldade de seus parentes não
importava. ― Parece que a lenda do conde pirata de Penton Abbey é
indestrutível.
Inclinou a sobrancelha marrom sardônico. ― Vamos, admita, você
gosta da ideia de ser senhora de um corsário.
Ela passou um dedo ao longo de sua mandíbula, ignorando o olhar de
verruma de sua tia. ― Se você é o bucaneiro em questão, tenho orgulho de
chamar de pirata a meu marido.
Ele a beijou novamente e cuidadosamente a colocou na sela. Bess se
atrapalhou com as rédeas, mas era tarde demais. Daisy se aproveitou da
distração de Rory para arrebatar a coroa de Melchior.
― Oh, Daisy! ― Bess disse em frustração enquanto Melchior sacudia o
punho para a besta impenitente mastigando o círculo pintado de papelão. ―
Você é o limite absoluto.
Rory riu. ― Penton Wyck está repleta de mulheres indisciplinadas.
― E você não teria isto de nenhuma outra maneira ―, disse Ned,
oferecendo a Melchior sua coroa como uma substituição.
Este ano, os Três Reis iriam apresentar-se ao Menino Jesus, sem um
diadema. Bateria e flautas irromperam na introdução ao “The Holly and the
Ivy”23 e o desfile partiu em um ritmo desenvolto para a aldeia.
― Amém ―, Rory disse, dando rédea a Daisy e voltando-se para sorrir
para Bess com tanto amor em seus olhos que ela se sentiu pronto para voar
para o céu com a felicidade.
A vida dela se enchera de bênçãos. Uma casa que amava. Queridos
amigos. Um marido que adorava. E agora um bebê. Como poderia um
coração meramente humano conter esta gratidão transbordante?

A representação de Natal de 1823 em Penton Wyck foi memorável em


vários aspetos. Um belo desempenho de um Anjo do Senhor muito bonito.

23
Popular canção de Natal britânica
Alguns particularmente belos cantos do exército celeste. Apenas dois reis
agraciados com coroas. José perdeu o controle do burro em um momento
crucial para a manjedoura terminar em uma centena de peças estilhaçadas e o
bebê Jesus teve de se contentar com metade de um barril de cerveja como
berço.
E Maria, que chorou como uma tromba de água todo o caminho até
Belém.

Fim

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