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Direito
Enfermagem
Em um país que tem a missão de aumentar o nível de pro ciência dos alunos e diminuir a
evasão, o único consenso é que especialistas criticam tanto a aprovação automática
quanto a reprovação de alunos.
O G1 ouviu escolas de São Paulo ao Ceará que adotam diferentes estratégias contra a
reprovação: aulas no contraturno, recuperação paralela e contínua e até mesmo a
organização das séries em "ciclos escolares".
Os ciclos escolares
A docente da Unicamp cita a proposta de “ciclos escolares”, formulada na década de 1990,
em que a divisão por anos (1º ano, 2º ano, por exemplo) é abolida e substituída por etapas
mais longas. “O tempo de aprendizagem passa a ser maior e é possível avaliar um
estudante de diferentes formas ao longo de cada ciclo. Os mesmos professores cam
acompanhando os alunos por vários anos e têm condições de analisar o desempenho
deles, evitando a reprovação. O acompanhamento é contínuo”, a rma Débora.
Ela conta que a di culdade desse modelo de ciclos é seu custo – envolve formação
continuada de professores, estudos do meio e contatos com tecnologia. O único projeto
que adota essa proposta em sua essência no Brasil é o Escola Plural, em Belo Horizonte -
implantado em parte das instituições da rede municipal.
O jovem precisará ter aulas durante o ano inteiro, com uma metodologia diferente da que
já foi apresentada. “A escola precisa pensar em novos meios para o aluno aprender. Não
adianta repetir o que já foi feito nas aulas”, a rma Raquel Lazzari, professora do
departamento de educação da Unesp de Assis.
“A reprovação deve ser sempre a última opção. Se o
adolescente teve um problema em um ano letivo, os
professores precisarão fazer a recuperação também no
ano seguinte, com a metodologia nova. Não adianta
aprovar uma pessoa e esquecer que a di culdade dela
existiu” - Raquel Lazzari.
Aulas de reforço na rede pública para quem vai fazer o vestibular. (Foto: Divulgação/Agencia Pará)
Contraturno
No Colégio Rio Branco, em São Paulo, existem os chamados “núcleos de apoio” –
encontros no contraturno escolar, com professores assistentes, para tirar dúvidas, fazer
exercícios e rever conteúdos.
Os docentes devem observar, por meio das diferentes avaliações e das aulas, quais
estudantes não estão absorvendo o conteúdo ensinado. Quando é detectada alguma
di culdade, o aluno e seus pais são chamados pela coordenação. “Damos o feedback e
recomendamos o núcleo de apoio. Agora em 2018, por exemplo, a gente está chamando
aqueles alunos que não terminaram 2017 muito bem”, a rma Renato Júdice, doutor em
educação e diretor do colégio. “Se o aluno, mesmo assim, não atinge as expectativas, ele é
retido. Mas esse não é o nosso objetivo. Queremos que ele aprenda.”
As aulas no contraturno também são a alternativa encontrada pela Escola Emílio Sendim
de Ensino Fundamental, colégio público em Sobral, no Ceará. O município é referência em
educação no país – possui 19 instituições de ensino fundamental I, para pessoas de baixa
renda, consideradas excelentes. A Emílio Sendim, inclusive, se destaca há anos no Índice
de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).
“No 3º ano, por exemplo, são 117 alunos e 30 deles estão no reforço. À medida que
recuperam o conteúdo, não precisam mais vir para essas aulas.”
“Uma avaliação formativa promove a re exão. Mas o que acontece, em geral, é que as
escolas aplicam provas classi catórias, com o objetivo de dar uma nota e concluir se o
aluno está apto ou não para ser aprovado”, a rma Raquel. “É preciso rever isso.”
Apoio emocional
Além de todas as alternativas pedagógicas para evitar a reprovação, é necessário também
que a escola estabeleça uma relação próxima com a família do aluno, segundo
especialistas. Os pais precisam saber o que está acontecendo ao longo do ano – antes de
o boletim chegar. Também necessitam estar atentos aos sinais psicológicos que o jovem
emite. Pode ser que o mau desempenho escolar esteja ligado a algum problema
emocional.
“Um divórcio, uma perda de alguém querido ou casos de bullying podem afetar o
desempenho do aluno.”
Estudantes que foram reprovadas contam que sentiram falta de um apoio emocional na
escola. Bianca Garoiu, do Rio de Janeiro, estudava em uma escola pública tradicional,
considerada uma das melhores da cidade.
“No ensino médio, era muito puxado, muitas provas difíceis, problemas de infraestrutura,
ventilador pegando fogo, professor afastado. A rotina pesada me levou a um
esgotamento mental absurdo, que foi se somando à depressão”, conta.
“Não conseguia mais estudar nem ir às aulas. Vomitava todo dia de manhã. E em nenhum
momento, houve um acompanhamento da escola. Fui várias vezes para a enfermaria,
passando mal, e ninguém nunca me deu apoio. Tudo que zeram foi me reprovar”, relata.
Nanda Braciak, de Florianópolis, passou por uma situação semelhante. Ela não conseguiu
se dedicar aos estudos porque sofria bullying.
“Foi a pior época da minha vida. Quando fui reprovada no 1º ano do ensino médio, desisti
e fui fazer o Encceja (exame que pode dar o certi cado de conclusão escolar para quem
não se formou na idade correta). A ideia de começar tudo de novo naquele colégio me
dava pavor”, conta.
“Procurei ajuda, mas a escola não abriu as portas. Só se preocupava em manter alunos
com notas altas, que entrariam nas melhores faculdades. Minha lha tem dé cit de
atenção e ninguém nunca descon ou. Isso só contribuiu para ela car com a autoestima
baixa. Começou a se automutilar e precisou se tratar”, diz a mãe.
*Nome ctício, a pedido do entrevistado
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