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02/03/2018 TC > Jurisprudência > Acordãos > Acórdão 99/2018

[ TC > Jurisprudência > Acordãos > Acórdão 99/2018 ]

ACÓRDÃO N.º 99/2018


 
Processo n.º 1407/2017
1.ª Secção
Relator: Conselheiro José António Teles Pereira
 
 
Acordam, em Conferência, na 1.ª Secção do Tribunal Constitucional
 
I – A Causa
 
1.  No âmbito do processo comum para julgamento por tribunal coletivo que correu os seus
termos no (então designado) 1.º Juízo do Tribunal Judicial de Lagos com o n.º 592/03.2TAEVR,
foram submetidos a julgamento, entre outros, A. e B. (os ora Recorrentes), sendo estes
condenados, pelo tribunal de primeira instância, pela prática de um crime de prevaricação,
previsto e punido pelo artigo 11.º da Lei n.º 34/87, de 16 de julho, nas penas de 4 anos e 3 meses
de prisão, suspensa na execução, com regime de prova e sob a condição de entregar a quantia de
5.000,00 euros a certa entidade (arguido A.), e 3 anos e 2 meses de prisão, suspensa na execução,
com regime de prova e sob a condição de entregar a quantia de €5.000,00 a certa entidade
(arguido B.). 

1.1. Aqueles arguidos interpuseram recurso da decisão condenatória, na sequência do qual


foi proferido acórdão, pelo Tribunal da Relação de Évora, que, declarando nula a decisão,
determinou que fosse dado cumprimento ao disposto no artigo 358.º, n.ºs 1 e 3, do Código de
Processo Penal (CPP), dando conhecimento aos arguidos da possibilidade de imposição da perda
de mandato prevista na alínea f) do artigo 29.º Lei n.º 34/87, de 16 de julho, e que fosse
proferido novo acórdão, expurgado dos vícios previstos no artigo 379.º, n.º 1, alínea a), do CPP
(deficiência ou ausência de exame crítico da prova), com recurso a novo julgamento, se
absolutamente necessário.
 
1.1.1. Regressados os autos à primeira instância, foi reaberta a audiência, dando-se
cumprimento ao disposto no artigo 358.º do CPP, após o que foi proferido novo acórdão pelo
coletivo, reformulando-se alguns segmentos da fundamentação da matéria de facto e decidindo-
se pela condenação daqueles arguidos nos mesmos termos em que haviam sido condenados na
decisão anulada.
 
1.2. Os arguidos A. e B. interpuseram recurso desta segunda decisão condenatória para o
Tribunal da Relação de Évora. Das respetivas conclusões consta, designadamente, o seguinte:
 

[Recurso de A.:]
 
“[…]

http://www.tribunalconstitucional.pt/tc/acordaos/20180099.html?impressao=1 1/18
02/03/2018 TC > Jurisprudência > Acordãos > Acórdão 99/2018

(…)
B) Seria expectável, em observância das garantias constitucionais de defesa do arguido, ora
Alegante, previstas no artigo 32.º, n.ºs 1 e 5, da CRP e no artigo 6.º da Convenção Europeia dos
Direitos do Homem, que o acórdão recorrido, que o condenou pela prática do crime de prevaricação,
tivesse indicado de forma especificada e completa quais os preceitos legais que ele, supostamente, violou
durante o referido período.
(…)
C1) Seria expectável, no mínimo, que o acórdão recorrido tivesse identificado as construções que o
ora Alegante licenciou no …., não estando verificados os requisitos previstos no n.º 3 do referido artigo
34.º do PDM de Aljezur.
D1) A verdade, porém, é que ao arrepio do disposto, conjugadamente, nos artigos 379.º, n.º 1,
alínea a), e 374.º do Código de Processo Penal, o não fez, não concretizando, minimamente, tal acusação.
E1) Também por esta razão e nesta parte é nulo o acórdão recorrido, por violação do disposto em
tais preceitos do Código de Processo Penal e no artigo 32.º, n.ºs 1 e 5, da Constituição da República
Portuguesa, a qual se argui, desde já, para todos os efeitos legais.
(…)
K1) Atento o atrás exposto, será meridianamente óbvio que o acórdão recorrido, nas partes que se
deixam transcritas, fez uma errada interpretação e aplicação ao caso concreto do estatuído nos artigos
379.º, n.º 1, alínea a), e 374.º, n.º 2, do Código de Processo Penal e no artigo 32.º, n.ºs 1 e 5, da
Constituição da República Portuguesa, o que, para além de o ferir de uma nulidade insuprível, o torna
eivado de uma inconstitucionalidade material por violação das garantias constitucionais de defesa do
arguido, previstas no referido preceito constitucional.

(…)
S6) O tribunal “a quo”, no acórdão recorrido, ao condenar o ora Alegante pela prática de atos e
omissões que não descreve de forma minimamente rigorosa e concreta, por um lado e porque, por outro,
não indicou quais os preceitos legais que ele violou, chancelando a Acusação Pública, cuja nulidade o ora
Alegante já arguira na sua contestação, fez uma errada interpretação e aplicação ao caso concreto do
estatuído nos artigos 379.º, n.º 1, alínea a), e 374.º, n.º 2, do Código de Processo Penal e 11.º da Lei n.º
34/87, de 16 de julho, violando, por isso, o princípio do contraditório e as garantias de defesa do
arguido, previstas no artigo 32.º, n.ºs 1 e 5, da Constituição da República Portuguesa e artigo 6.º da
Convenção Europeia dos Direitos do Homem, razão pela qual, para além de estar ferido da referida
nulidade, é inconstitucional, em sentido material, a qual se argui nos termos e para os fins constantes no
disposto no artigo 204.º da CRP.
T6) Com efeito: o tribunal “a quo”, ao ter considerado suficientes, concretos e precisos os factos
dados como provados no acórdão recorrido, para condenar o ora Alegante pelo crime de prevaricação, fez
uma errada interpretação de tais normas, porquanto tais factos são imprecisos, vagos e genéricos, não
indicando, designadamente, que pessoas ou entidades, em concreto, foram beneficiadas ou prejudicadas pelo
ora Alegante e em que termos, supostamente, o foram.

U6) Nestes termos e pelas razões atrás expostas deverá esse Venerando Tribunal revogar o acórdão
recorrido na sua totalidade e, em consequência, absolver o ora Alegante, com todas as consequências
legais.
[…]”.
 
[Recurso de B.:]
 
“[…]
http://www.tribunalconstitucional.pt/tc/acordaos/20180099.html?impressao=1 2/18
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(…)
9. Sendo o segundo elemento do tipo dos ilícitos criminais aqui em causa, a intencionalidade de
beneficiar, objetivamente, alguém concretamente determinado (pessoa singular ou coletiva), objetivada em
relação a um facto ou ato administrativo concreto (por exemplo, aprovação, licenciamento, deferimento,
indeferimento, etc.).

10. A falta do respeito por essa individualização dos factos e atos administrativos que sustentam a
acusação com vista à aplicação da pena impediram o arguido de se defender contra as acusações que lhe
foram feitas, o que se refletiu na realização do Julgamento e no acórdão recorrido.
11. A acusação é nula por violar, nomeadamente, os artigos 283.º, n.ºs 1 e 3, alíneas b) e c), do
Código de Processo Penal e 32.º da CRP e a Convenção Europeia dos Direitos do Homem.
[…]
23. Por sua vez, o acórdão recorrido, também imputou ao arguido ora recorrente, apenas e só, um
único crime, não dizendo, porém, quais foram os factos e atos administrativos concretos, praticados com a
consciência de que eram ilícitos e com o propósito objetivo de beneficiar alguém. Alguém esse, que tem de
constar da matéria de facto provada de forma individual e concretamente determinada.
24. Sem essa concretização temporal, sem a indicação do benefício e do beneficiário concreto e sem
individualização do ato administrativo ilegal que originou esse benefício, não pode haver responsabilização
pelo crime em que o arguido ora recorrente bem condenado.
25. Sem esta concretização e individualização dos atos administrativos, incluindo as normas legais
violadas determinantes da sua ilicitude, não se pode apurar e condenar o arguido ora recorrente pela
prática de qualquer crime.

26. Sendo o douto acórdão absolutamente nulo, por carecer de fundamentação de facto e de direito
que justifique a aplicação de qualquer pena. Violando entre outras, as garantias constitucionais de defesa
(artigos 127.º, 374.º, n.º 2, 379.º, n.º 1, alínea a), e n.º 2 do CPP e 32.º, n.ºs 1 e 5, da CRP, bem
como o artigo 6.º da Convenção Europeia dos Direitos do Homem).
[…]
74. Salvo sempre o devido respeito por melhor opinião, nada permite demonstrar que o arguido
praticou dolosamente os factos integradores da prática do crime de prevaricação (artigo 11.º da Lei n.º
34/87, de 16 de julho), em última ratio, sempre a factualidade que efetivamente se provou conduziria à
sua absolvição por virtude da aplicação da regra do in “dubio pro reo”, tudo conforme decorre do princípio
da presunção da inocência consagrado no artigo 32.º, n.º 2, da Constituição da República Portuguesa,
posto há insuficiência da prova para proferir tal decisão, bem como contradições insanáveis entre a
fundamentação e entre esta e a decisão, bem como erro notório na apreciação da prova (artigo 410.º, n.º 2,
do CPP).
[…]”.
 
1.2.1. No Tribunal da Relação de Évora, foi proferido acórdão, datado de 13/06/2017, que,
pronunciando-se sobre o objeto dos recursos, ostenta o seguinte segmento decisório:

 
“[…]

Por todo o exposto, e sem prejuízo de se acrescentar ao segmento do dispositivo do acórdão recorrido uma alínea
contemplando o que consta da respetiva fundamentação jurídica – ou seja, que, ‘no que se refere aos arguidos A. e B.,
respetivamente, presidente da Assembleia Municipal de Aljezur e presidente da Câmara Municipal de Aljezur, a
presente condenação, uma vez transitada, terá como efeito a perda do mandato, nos termos do disposto no artigo 29.º,
alínea f), da Lei n.º 34/87, de 16 de julho’ –, o que se determina, julgam totalmente improcedentes os recursos,
mantendo na íntegra o acórdão recorrido.

http://www.tribunalconstitucional.pt/tc/acordaos/20180099.html?impressao=1 3/18
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[…]”.

1.2.2. Notificado desta decisão, o arguido A. arguiu a respetiva nulidade, suscitando,


designadamente, as seguintes questões:
 
“[…]

[Sobre o aditamento ao dispositivo determinado pelo Tribunal da Relação:]

13.º

Ao ter desconhecido essa sua limitação e impossibilidade e ao ter determinado tal alteração da parte dispositiva do
acórdão do Tribunal Coletivo, esse Venerando Tribunal conheceu de questão de que não podia ter tomado conhecimento,
incorrendo, por isso, na prática de uma nulidade, que ora se argui e que, uma vez julgada provada e procedente, tem
como consequência a nulidade do acórdão proferido por esse Venerando Tribunal,

14.º

O qual incorreu numa outra nulidade, ou seja, na violação do direito ao contraditório, por parte do ora Recorrente,
o qual se encontra consagrado no n.º 5 do artigo 32.º da Constituição da República Portuguesa e no artigo 6.º da
Convenção Europeia dos Direitos do Homem.

Na verdade:

15.º

O acórdão em apreço identificou alguns dos supostos prejudicados pelas atuações do ora Recorrente, tendo ido mais
longe, nesse aspeto, que o Tribunal de 1.ª instância.

16.º

É certo que tal não lhe estava vedado.

17.º

Mas, menos certo não é que, ao ter procedido a tal identificação, que o Tribunal de 1.ª instância não havia logrado
fazer,

18.º

Esse Venerando Tribunal estava obrigado a notificar os ora Recorrentes para que estes, querendo e no exercício do
seu direito ao contraditório, pudessem pronunciar-se quanto à questão de saber se haviam, ou não, prejudicado tais
indivíduos.

19.º

Ora, não tendo esse Venerando Tribunal garantido o direito ao contraditório, nessa parte, pelos ora Recorrentes,
cometeu uma outra nulidade, atento o disposto, conjugadamente, no n.º 5 do artigo 32.º da Constituição de República
Portuguesa, no artigo 6.º da Convenção Europeia dos Direitos do Homem e no artigo 120.º do Código de Processo
Penal, a qual se argui tempestivamente e que tem como consequência, uma vez julgada provada e procedente, a nulidade
do próprio acórdão, o que se requer que seja determinada para todos os efeitos legais.

[…]”.

1.2.3. Por acórdão do Tribunal da Relação de Évora de 29/09/2017, foram julgadas


improcedentes as arguições de nulidade.
 
1.3. Os arguidos A. e B. apresentaram requerimentos de interposição de recurso para o
Tribunal Constitucional – os quais deram origem aos presentes autos – nos termos seguintes:

http://www.tribunalconstitucional.pt/tc/acordaos/20180099.html?impressao=1 4/18
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[O Recorrente A. (transcrição parcial):]
 
“[…]

[T]endo sido notificado do acórdão proferido por esse Venerando Tribunal, em 20 de junho de 2017, vem, nos
termos e ao abrigo do disposto, conjugadamente, nos artigos 281.º, n.º 1, alíneas a) e b), da CRP, nos artigos 6.º, 62.º,
70.º, n.º 1, alínea b), e n.º 2, nos artigos 71.º, n.º 1, 72.º, n.º 1, alínea b), e n.º 2, no artigo 75.º, n.º 1, e 75.º-A da
Lei Orgânica do Tribunal Constitucional com o n.º 28/82, de 15 de novembro, alterada pela Lei Orgânica n.º
11/2015, de 28 de agosto, interpor recurso do mesmo para o Tribunal Constitucional, porquanto:

1.º – O Tribunal da Relação de Évora, por acórdão proferido a fls. 6178 a 6306 dos autos referidos em epígrafe,
julgou provada e procedente a invocada nulidade pelo ora Recorrente, decorrente da ausência de exame crítico da prova,
tendo determinado que o Tribunal Coletivo proferisse novo acórdão, expurgado de tal vício.

2.º – Tendo o Tribunal Coletivo proferido novo acórdão, visando dar cumprimento a tal determinação do Tribunal
da Relação, aquele Tribunal continuou sem indicar de forma específica e completa quais os preceitos legais que o
Recorrente supostamente violou e quais os terceiros que, no seu entender, foram beneficiados contra lei pelo mesmo, bem
como aqueles que, de forma ilícita, por ele foram prejudicados.

3.º – Também no novo acórdão proferido, o Tribunal Coletivo continuou sem indicar com rigor e precisão, quais as
construções que o ora Recorrente licenciou indevidamente no …, violando a lei aplicável e, designadamente, o artigo 34.º
do PDM de Aljezur e quais aqueles que poderia licenciar face aos dispositivos legais em vigor.

Com efeito, seria expectável, no mínimo, que no novo acórdão, o Tribunal Coletivo tivesse identificado as
construções que o ora Recorrente licenciou no …, não estando verificados os requisitos previstos no n.º 3 do artigo 34.º do
PDM de Aljezur. A verdade, porém, é que o não fez, não concretizando minimamente tal Acusação.

4.º – Nos n.ºs 287 e 392 dos factos dados como provados, o Tribunal Coletivo deu como provado que o ora
Recorrente ‘tinha consciência de que, ao permitir, sucessivamente, durante anos, a edificação nas parcelas de loteamento e
a sua posterior utilização, abstendo-se de declarar ou promover a declaração, por parte da CMA, de forma expressa e
geral, dos vícios que afetavam as deliberações citadas e a caducidade do alvará, conduzia e decidia processos camarários
contrariando o Direito!’

Quais as normas jurídicas que o Recorrente violou, ao, supostamente, ter atuado com o propósito que lhe é
imputado, isso, tal acórdão não refere, refugiando-se, ao contrário, nas expressões vagas e genéricas de que o mesmo
decidiu processos camarários contrariando o Direito.

5.º – O Tribunal Coletivo, ao ter considerado, no seu novo acórdão, que os factos nele dados como provados, eram
suficientes, concretos e precisos, para condenar o ora Recorrente pelo crime de prevaricação; ao ter condenado o mesmo pela
prática de atos e omissões que não descreve de forma minimamente rigorosa e concreta e porque continuou sem indicar
quais os preceitos legais que ele violou,

6.º – Fez uma errada interpretação e aplicação ao caso concreto, do estatuído nos artigos 379.º, n.º 1, alínea a), e
374.º, n.º 2, do Código de Processo Penal e no artigo 11.º da Lei n.º 34/87, de 16 de julho, violando, por isso, o
princípio do contraditório e as garantias de defesa do Arguido, previstas no artigo 32.º, n.ºs 1 e 5, da Constituição da
República Portuguesa e no artigo 6.º da Convenção Europeia dos Direitos do Homem,

7.º – Razão pela qual, para além de estar ferido da referida nulidade, tal acórdão é inconstitucional, em sentido
material, a qual se arguiu no segundo recurso interposto pelo ora Recorrente, nos termos e para os fins constantes do
disposto no artigo 204.º da Constituição da República Portuguesa.

Fundamentos do Presente Recurso:

Apreciando este segundo acórdão proferido pelo Tribunal Recorrido, referir-se-á:

8.º – O Tribunal da Relação de Évora, a fls. 245 e 246 do acórdão recorrido, concluiu que, (…).

9.º – A fls. 268 do acórdão recorrido, o Tribunal da Relação de Évora concluiu, ainda, que (…).

Quais as situações de contornos idênticos, relativamente às quais foram aplicados critérios contraditórios,
beneficiando uns e prejudicando outros, isso não é identificado minimamente no acórdão recorrido.

10.º – Mais à frente, a fls. 271 do acórdão em apreço, lembra o Tribunal recorrido que (…).

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Como é óbvio, qualquer conduta integra a prática de um ou vários atos. O conceito de conduta não é abstrato, pois
que se reconduz sempre à prática de um ou vários atos.

Ora, o Acórdão recorrido, lembrando que o que levou à condenação do ora Recorrente pela prática dos crimes de
prevaricação, foi a sua conduta, tomada na sua globalidade e não as suas condutas particulares, individualmente
consideradas, mas que não identifica, minimamente, impede o Arguido e ora Recorrente de entender por que razão a sua
conduta integra a previsão do crime de prevaricação.

11.º – Ora, não obstante tudo o que se deixa exposto, a fls. 288 do Acórdão, considera o Tribunal da Relação de
Évora no acórdão ora recorrido, que (…).

12.º – É precisamente por não concordar que o Tribunal Coletivo, ao arrepio do que lhe foi determinado pelo
primeiro acórdão do Tribunal da Relação, tenha eliminado as deficiências que por esse lhe haviam sido apontadas e que,
por isso, o que lhe foi determinado a fls. 6305 a 6308 deste acórdão não foi por si cumprido,

13.º – Que o ora Recorrente entende que o acórdão ora recorrido fez uma errada interpretação e aplicação ao caso
concreto do estatuído nos artigos 379.º, n.º 1, alínea a), e 374.º, n.º 2, do Código de Processo Penal e no artigo 11.º da
Lei n.º 34/87, de 16 de julho, violando, por isso, o princípio do contraditório e as garantias de defesa do ora Recorrente,
previstas no artigo 32.º, n.ºs 1 e 5, da Constituição da República Portuguesa e no artigo 6.º da Convenção Europeia dos
Direitos do Homem.

14.º – Razão, pela qual, tal acórdão é inconstitucional, em sentido material, inconstitucionalidade essa que se
argui nos termos e para os fins constantes do disposto no artigo 204.º da Constituição da República Portuguesa.

15.º – Tais inconstitucionalidades do segundo acórdão do Tribunal Coletivo foram arguidas nas alíneas A), B),
C), D)1, E)1, J)1, K)1, S)6 e T)6 das conclusões do segundo recurso interposto pelo ora Recorrente para o Venerando
Tribunal da Relação de Évora.

[…]” (sublinhados acrescentados).

 
[O Recorrente A. (transcrição parcial):]
 
“[…]

[T]endo sido notificado do douto acórdão proferido pela 2.ª Subsecção deste Venerando Tribunal da Relação de
Évora, com ele não concordando, dele vem interpor recurso para o Tribunal Constitucional para fiscalização da
inconstitucionalidade em caso concreto, (…) o que faz nos termos, entre outros, e ao abrigo do disposto na Lei Orgânica
do Tribunal Constitucional aprovada pela Lei n.º 28/82, de 15 de novembro, e suas sucessivas alterações e
atualizações, (…), nomeadamente, nos seus artigos 69.º, 70.º, n.º 1, alínea b), e n.º 2, 71.º, n.º 1, 72.º, n.º 1, alínea
b), 74.º, n.º 3, 75.º-A, n.º 1, e pelos fundamentos seguintes:

(…)

10. Na verdade, o facto de a acusação, em nossa modesta opinião, não respeitar as normas processuais aplicáveis,
procedendo o Ministério Público à sua interpretação e aplicação em desconformidade com as normas e princípios
constitucionais, nomeadamente os consagrados nos artigos 30.º, n.º 4, e 32.º, n.ºs 1 a 5, da Constituição da República
Portuguesa, assegurando as garantias de um processo equitativo e justo, é que levaram a que, dos dois acórdãos proferidos
em 1.ª instância e nos dois subsequentes acórdãos proferidos neste venerando, sem qualquer alteração dos factos provados
e sem qualquer alteração real e substantiva do juízo crítico da prova e da fundamentação da decisão, ocorram decisões
substancialmente diferentes, assentes, supostamente, na interpretação da mesma factualidade dada como provada.

(…)

13. Daí, ab initio, se arguiu tal acusação de nula, por desrespeitadora das normas processuais e garantias
constitucionais de defesa, que também têm de estar presentes – aliás, bem presentes – na sua elaboração, nomeadamente
para se assegurar a igualdade de partes e de armas, bem como o contraditório pleno (artigo 283.º do Código de Processo
Penal), com especial acuidade para os reportados no seu n.º 3, com referência aos artigos 30.º, n.º 4, e 32.º, n.ºs 1 e 5,
da Constituição da República Portuguesa e artigo 6.º, §1, da Convenção Europeia dos Direitos do Homem, o que
acaba por se refletir na realização da audiência de julgamento e na elaboração do subsequente acórdão, como foram os
dois, elaborados e fundamentados em 1.ª instância, e que constam dos presentes autos, bem como sucede com o acórdão
ora recorrido.

[…]

http://www.tribunalconstitucional.pt/tc/acordaos/20180099.html?impressao=1 6/18
02/03/2018 TC > Jurisprudência > Acordãos > Acórdão 99/2018

[Prossegue o Recorrente assinalando o que, no seu entender, constitui errado cumprimento do


disposto no artigo 358.º do Código de Processo Penal pelo tribunal de primeira instância e não
expurgação dos vícios assinalados ao primeiro acórdão.]

[…]

23. Ciente desta contradição e nulidade da fundamentação do douto acórdão de que ora se recorre, mal andou o
Venerando Tribunal da Relação de Évora, em, por sua exclusiva iniciativa – nomeadamente, sem ouvir o arguido ora
Recorrente, violando com essa interpretação a lei processual aplicável, designadamente o disposto no artigo 410.º do
Código de Processo Penal, com referência, entre outros, ao disposto nos artigos 32.º, n.ºs 1 a 5, 205.º, n.º 2, da
Constituição da República Portuguesa, sendo certo que o fez com total ausência de contraditório sem esquecer a violação
da igualdade de partes e de armas – vir afirmar, a fls. 239 do douto acórdão recorrido, ‘maior prova de benefício
ilegítimo de terceiros (e de prejuízo para outros) não era possível (…)’

(…)

25. Sem esquecer qual o concreto e factual modus operandi, qualitativo e quantitativo, que o levou a alcançar esse
desiderato de prejudicar ou beneficiar quaisquer concreta(s) e identificada(s) pessoa(s), singulares ou coletivas, levando-se,
ainda, em conta qual o bem público que ofendeu, ou não protegeu, como deveria, em nesse procedimento ou atos, sendo
todos estes aspetos essenciais à elaboração e fundamentação da douto acórdão, incluindo a interpretação nele feita do
disposto no artigo 11.º da Lei n.º 34/87, de 16 de julho, completamente desconforme com o disposto no artigo 30.º, n.º
4, e 32.º, n.º 1 a 5, da CRP, bem como do artigo 6.º, §1, da Convenção Europeia dos Direitos do Homem, ou seja,
todos os elementos objetivos e subjetivos do tipo de crime aqui em causa, como bem os analisou e sistematizou o douto
acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa acima citado.

26. Mas, contraditoriamente, e salvo o devido respeito, por atentar contra a hierarquia e regras da independência,
da competência e da hierarquia das diferentes instâncias judiciais cíveis e criminais, conforme legal e constitucionalmente
consagradas (LOTJ interpretada em violação do disposto, entre outros, nos artigos 30.º, n.º 4, 32.º, n.ºs 1 a 5, 203.º,
204.º, 205.º, n.º 1, 209.º e 210.º da CRP) e à sua revelia, reconhece que o acórdão da 1.ª instância recorrido carece de
voltar à primeira e instância para ser, de novo, alterado, e, por isso: [transcreve dispositivo da decisão
recorrido]”.

[…]

28. Portanto, em desconformidade com as disposições constitucionais já antes invocadas (artigos 30.º, n.º 4, 32.º,
n.ºs 1 a 5, 203.º, 204.º, 205.º, n.º 1, 209.º e 210.º, todos da CRP) e origina algumas contradições e soluções jurídicas
insolúveis, na verdade:

[…]

e) Nenhuma alteração lhe podendo ser ordenada e introduzida, sem afetar a separação de poderes e competências
jurisdicionais de cada uma das instâncias. Como se disse, à revelia das leis processuais e orgânicas, usando de uma
interpretação absolutamente à revelia do que vem consagrado na Lei Constitucional, bem como princípios ordenadores do
nosso ordenamento jurídico-constitucional, como o princípio da proibição das decisões-surpresa (entre outros, artigos 19.º,
47.º e 56.º, entre outros, da LOTJ em vigor – Lei n.º 3/98, de 13 de janeiro, e suas atualizações – artigos 399.º,
427.º e 428.º do Código de Processo Penal, conjugados com os artigos 30.º, n.º 4, 32.º, n.ºs 1 a 5, 203.º, 204.º, 205.º,
n.º 1, 209.º e 210.º, todos da CRP).

[…]

61. Daí a sua insistência em ser esclarecido de quais, entre a extensa amálgama de ‘factos’ que se afirma ter
praticado numa grande multiplicidade de circunstâncias temporais, sob as mais diversas modalidades de atuação, de que
razões factuais emerge a conclusão de que agiu consciente da ilicitude da sua atuação e com intenção direta e propositada
de prejudicar qualquer pessoa, singular ou coletiva concreta e identificada.

62. Situação esta que reforça a iniludível realidade de que o arguido ora recorrente, até este momento, ignora o
processo administrativo, os factos e condutas concretas por ele praticados, as concretas normas legais e princípios jurídicos
foram por ele violados, incluindo quem, em concreto e na realidade, foi dolosa (isto é, intencional e propositadamente)
beneficiado ou prejudicado com esse imputado comportamento criminoso previsto e punido pelo artigo 11.º da Lei n.º
34/87, de 16 de julho (prevaricação).

63. Finalmente, não pode, salvo melhor entendimento, deixar de considerar que a decisão de imputação, ao
arguido, ora Recorrente, do crime em apreço, carece de sustentada fundamentação, não respeitando a regra da necessidade
de fundamentação das decisões que não sejam de mero expediente (entre outros, artigos 97.º e 424.º, ex vi artigos 365.º e
seguintes do Código de Processo Penal), mostrando o douto acórdão recorrido que a interpretação e aplicação que faz
destes dispositivos legais não é conforme a letra e ao espírito das disposições constantes dos artigos 30.º, n.º 4, 32.º, n.ºs 1

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02/03/2018 TC > Jurisprudência > Acordãos > Acórdão 99/2018

a 5, e 205.º, todos da Constituição da República Portuguesa, bem como do artigo 6.º, §1, da Convenção Europeia dos
Direitos do Homem.

[…]”.

 
1.3.1. Os Recursos foram admitidos no Tribunal da Relação de Évora, com efeito
suspensivo.
 

1.4. No Tribunal Constitucional, foi proferida decisão sumária no sentido do não


conhecimento do objeto dos recursos interpostos por A. e B., com os fundamentos seguintes:
 
“[…]

2.2.1. Desde logo, não foi previamente suscitada, por qualquer um dos Recorrentes, uma questão de
inconstitucionalidade com adequada dimensão normativa durante o processo e de modo processualmente adequado perante
o tribunal que proferiu a decisão recorrida, em termos de este estar obrigado a dela conhecer (condição do recurso prevista
no n.º 2 do artigo 72.º da LTC).

Os Recorrentes não observaram este ónus, desde logo, nas alegações de recurso dirigidas ao Tribunal da Relação de
Évora (cfr. item 1.2., supra). Ora, ainda que alguns argumentos usados pelos Recorrentes, nos apontados recursos, se
tenham reconduzido à invocação de normas ou princípios constitucionais ou à interpretação da lei em conformidade com
normas constitucionais (no enquadramento dado pelos próprios Recorrentes, claro está), o certo é que a partir de uma
discussão jurídica substancial – ainda que assente em argumentos de conformidade constitucional – não se pode, sem
mais, considerar suscitada uma questão com adequada dimensão normativa, muito menos quando (como é o caso) os
Recorrentes se abstiveram de enunciar o sentido (a interpretação) da(s) norma(s) que operou(aram) como critério de
decisão com suficiente clareza, o que consubstanciava um ónus sobre si impendente (não se bastando o ónus da suscitação
prévia da questão de inconstitucionalidade normativa com a mera remissão para a letra de um preceito legal ou com a
menção genérica ao entendimento adotado ‘na decisão recorrida’).

Pelo contrário, resulta evidente que os Recorrentes invocam as inconstitucionalidades para questionar diretamente a
decisão e não incidentalmente (e com autonomia) qualquer norma que tenha constituído critério dessa mesma decisão. Ou
seja, não está em causa “um juízo que o juiz [retirou] de uma norma (isto é, […] um critério heterónomo de decisão) de
que [ele, juiz] é apenas o mediador”, mas antes “[…] um juízo que [o juiz emitiu] segundo o seu próprio critério” (José
Manuel M. Cardoso da Costa, loc. cit.).

Em suma, não foi suscitada, no processo, perante o tribunal que proferiu a decisão recorrida, qualquer questão de
inconstitucionalidade com adequada dimensão normativa.

A não observância do ónus previsto no artigo 72.º, n.º 2, da LTC constitui motivo para não admitir o recurso.

2.2.2. De todo o modo, sempre se acrescentará que a falta de dimensão normativa da questão (ou questões) com
a(s) qual(is) os Recorrentes pretendem moldar o objeto do recurso é ainda mais evidente nos respetivos requerimentos de
interposição (cfr. item 1.3., supra), onde se dirigem ao Tribunal Constitucional como instância de recurso ordinário.

Para além de, uma vez mais, se absterem de enunciar o sentido (a interpretação) da(s) norma(s) que operou(aram)
como critério de decisão, os Recorrentes não apresentam qualquer esboço de questão normativa. Pelo contrário, limitam-
se, no essencial, a retomar as razões de discordância que já haviam indicado nos recursos ordinários anteriormente
dirigidos ao Tribunal da Relação de Évora, dirigindo-as, agora, ao Tribunal Constitucional, ao qual apresentam as
mesmas pretensões, todas elas atinentes a um controlo de mérito alheio às competências do Tribunal Constitucional:
qualificação jurídico-criminal dos factos e apreciação de alegados vícios geradores de nulidade das decisões.

É evidente que, deste modo – não distinguindo um recurso ordinário sobre o mérito da decisão de um recurso
incidental de caráter normativo –, não se visa questionar a constitucionalidade de uma dada norma, mas unicamente
contestar de forma direta o juízo decisório do Tribunal da Relação, o que não constitui objeto idóneo de um recurso de
fiscalização concreta, como vimos.

2.3. Resta, pois, concluir pela (ostensiva) inadmissibilidade do recurso interposto, sem que se justifique o convite ao
aperfeiçoamento do respetivo requerimento de interposição, porquanto as insuficiências evidenciadas não podem superar-se
mediante meras correções formais.

[…]”.
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1.4.1. Inconformado com tal decisão, dela reclamou o Recorrente A., invocando o seguinte:

 
“[…]

1.º

Sem prejuízo do muito respeito que é devido ao Excelentíssimo Senhor Conselheiro-Relator, a decisão sumária que
proferiu e de que ora se reclama, é prematura e assenta em pressupostos de facto falsos.

Na verdade:

2.º

Quanto à intempestividade de tal decisão, arguir-se-á, desde já, que não é no requerimento de interposição de
recurso que se deverão expor as razões pelas quais o Reclamante considera ser inconstitucional a decisão recorrida, mas
sim, nas alegações a oferecer, depois de tal recurso ser admitido.

3.º

No requerimento de interposição de recurso, será suficiente, salvo melhor opinião, indicar quais as normas
constitucionais violadas pela decisão recorrida, relegando-se para um segundo momento, ou seja, para as alegações, o dever
de fundamentar tal entendimento por parte do Recorrente.

4.º

Se assim não se entendesse, ou seja, se incidisse sobre o Recorrente o ónus de fundamentar, substancialmente, a
invocação da inconstitucionalidade no requerimento de interposição do recurso, então, ter-se-ia de concluir pelas
desnecessidades das alegações.

5.º

No caso vertente, o ora Reclamante, no requerimento de interposição de recurso para o Tribunal Constitucional,
indicou o preceito constitucional que, em seu entender, foi violado pela decisão recorrida ou, mais especificamente,
considerou que o Tribunal Recorrido não teve em consideração, na prolação da decisão recorrida, o disposto no artigo
32.º, n.ºs 1 e 5 da C. R.P., que violou.

6.º

Tal bastaria, para que o recurso fosse admitido por Vossa Excelência, na sequência do que, o ora Reclamante
ofereceria as suas alegações, em que, de forma detalhada, fundamentaria esse seu entendimento, formulando, a final, o
pedido desse Tribunal revogar a decisão recorrida, por se encontrar ferida do vício de inconstitucionalidade.

7.º

Ao proferir a decisão sumária de que ora se reclama, Vossa Excelência impediu, para já, que o ora Reclamante
ofereça as suas alegações de recurso, expondo, de forma detalhada e fundamentada, as razões que o levam a considerar
que a decisão recorrida é inconstitucional, por não acatar e violar o disposto no artigo 32.º, n.ºs 1 e 5 da C. R. P.

8.º

À laia de indeferimento liminar do recurso interposto, Vossa Excelência considerou que, por razões de economia
processual, o mesmo não tinha, sequer, que ser apreciado, porquanto, o ora Reclamante não suscitou, previamente, uma
questão de inconstitucionalidade com adequada dimensão normativa durante o processo e de modo processualmente
adequado perante o Tribunal que proferiu a decisão recorrida, em termos de este estar obrigado a dela conhecer, o que, no
entender de Vossa Excelência é uma condição do recurso prevista no n.º 2 do artigo 72-º da LTC.

Pois bem:

9.º

O ora Reclamante, com todo o respeito pela opinião de Vossa Excelência, não pode concordar com a mesma,
porquanto, em seu entender, no recurso interposto para o Tribunal da Relação de Évora do acórdão proferido pela 1.ª
instância, o mesmo arguiu a inconstitucionalidade desse acórdão, por ter violado o disposto no artigo 32.º, n.ºs 1 e 5 da

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C. R.P., tendo violado as garantias de defesa do arguido, por não lhe ter permitido exercer o direito ao contraditório,
garantia constitucional prevista em tais números desse preceito constitucional.

Na verdade:

10.º

Em tal recurso da segunda decisão condenatória para o Tribunal da Relação de Évora, o ora Reclamante, na al.
B) das conclusões do mesmo, referiu: «seria expectável, em observância das garantias constitucionais de defesa do arguido,
ora Alegante, previstas no artigo 32.º, n.ºs 1 e 5 da C.R.P. e no artigo 6.º da Convenção Europeia dos Direitos do
Homem que o acórdão recorrido, que o condenou pela prática do crime de prevaricação, tivesse indicado de forma
especificada e completa quais os preceitos que ele, supostamente, violou durante o referido período.»

11.º

Na al. C) dessa suas conclusões, lembrou o ora Reclamante que, «seria expectável, no mínimo, que o acórdão
recorrido tivesse identificado as construções que o ora Alegante licenciou no …, não estando verificados os requisitos
previstos no n.º 3 do referido artigo 34 do PDM de Aljezur.».

12.º

A verdade, porém, é que ao arrepio do disposto, conjugadamente, nos artigos 379.º, n.º 1, al. a), e 374.º do C. P.
Penal o não fez, não concretizando, minimamente, tal acusação – Cfr. conclusão vertida na al. D.1) do recurso.

13.º

Por essa razão, concluiu o ora Reclamante na alínea E.1) das suas conclusões de tal recurso que, «também por
esta razão é nulo o acórdão recorrido por violação de tais preceitos do C. P. Penal e no artigo 32.º, n.ºs 1 e 5 da
C.R.P», inconstitucionalidade que arguiu, desde logo, para todos os efeitos legais.

Ou seja:

14.º

O ora Reclamante conclui na al. K1) de tais alegações, «que o acórdão recorrido fez... uma errada interpretação e
aplicação ao caso concreto do estatuído nos artigos 379.º, n.º 1, al. a), e 374.º, n.º 2, do C. P. Penal e no artigo 32.º,
n.ºs 1 e 5, da C. R. P., o que para além de o ferir de uma nulidade insuprível o torna eivado de uma
inconstitucionalidade material por violação das garantias constitucionais de defesa do arguido, previstas no referido
preceito constitucional».

15.º

Quer dizer que o ora Reclamante, ao arguir tais nulidades do acórdão do Tribunal da Relação, considerou,
cumulativamente, que esse Venerando Tribunal, para além de cometer tais nulidades, violou o disposto nos n.ºs 1 e 5 da
C. R. P. que consagram a estrutura acusatória do processo penal e estipulam como garantia de defesa do arguido o
respeito pelo princípio do contraditório que, no caso concreto, não foi observado.

Isto é:

16.º

A decisão recorrida interpretou e aplicou erradamente ao caso concreto o disposto em tais preceitos constitucionais o
que o ora Reclamante invocou expressamente, quer na arguição de tais nulidades perante o Tribunal da Relação de
Évora, quer no requerimento de interposição de recurso para o Tribunal Constitucional.

17.º

Note-se que tais nulidades foram arguidas, desde logo, perante o Tribunal de 1.ª instância e antes do inicio do
julgamento, não tendo a invocação das mesmas sido aceite.

18.º

Nesta conformidade, atento o atrás exposto e não esquecendo o ora Reclamante que a fiscalização por parte desse
Tribunal só incide sobre normas, “estando excluída a apreciação pelo Tribunal Constitucional de recursos que o
questionem, mesmo que o façam numa perspectiva de conformidade a regras e princípios constitucionais, os concretos actos
de julgamentos expressos na decisões de outros Tribunais”, quer parecer ao ora Reclamante que no recurso interposto
para esse Tribunal Constitucional, o ora Reclamante não esqueceu o caracter normativo do sistema de controlo da

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constitucionalidade, ao pretender ver declarada a inconstitucionalidade da decisão recorrida, que violou, de forma clara e
irredutível, o artigo 32º n.ºs 1 e 5 da C. R. P.

19.º

Porque entende que tal entendimento é o correcto,

Requer em conclusão, a Vossa Excelência (…) se digne mandar subir a presente reclamação à Conferência,
peticionando-se, desde já, que, apreciada a mesma, deva ser admitido o recurso por si interposto pela Conferência, após o
que deverão os autos seguir os seus demais e legais termos até final.

[…]”.

 
1.4.2. Também o Recorrente B. reclamou da decisão sumária para a conferência, alegando o
seguinte:
 
“[…]

1. Com todo o respeito e salvo melhor opinião, o Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz Relator não esteve totalmente
bem ao, sem mais, determinar o não conhecimento do recurso em razão da “ostensiva inadmissibilidade” do mesmo por,
pelo menos aparentemente, ser seu douto entendimento que a configuração do requerimento de interposição do recurso de
fiscalização da constitucionalidade aponta para uma fiscalização das decisões concretas dos Tribunais Comuns
(Acórdãos de 1.ª e de 2.ª instância), tudo como se demais um recurso ordinário se tratasse, e não, de  um recurso
incidental de fiscalização de normas aplicadas ao caso concreto face às regras e valores constitucionais cuja cobertura
estão, ou deveriam estar, presentes na interpretação e aplicação de normas legais ao caso ou questão concretos, podendo a
decisão proferida resultar  de uma aplicação e interpretação de norma em desconformidade com regra ou princípio
constitucional relevante.

2. Nesta parte, o recorrente, ora reclamante, entende, também, que o Recurso de Fiscalização Concreta da
Constitucionalidade não é mais um recurso ordinário com vista a obter uma reapreciação da decisão concreta proferida no
douto Acórdão da Relação de Évora, máxime obter a sua revogação pura e simples, mas sim, um recurso de natureza
incidental de fiscalização do conteúdo normativo das leis e princípios constitucionais chamados ou tidos em vista na
decisão sub judice, mormente por, do modo com foi feita aplicação ou interpretação de norma, resultar em
desconformidade com preceitos e valores constitucionais que, no seu âmbito de aplicação abstrata, cubram a mesma ratio
dicidendi da usada no caso concreto. Podendo dizer-se, para facilidade de entendimento, que se trata de verificar se há, ou
não, uma dissonância de entendimento entre o quadro normativo legal e constitucional que resultou aplicado ao caso
concreto e o modo como, no entender do Recorrente, em face das normas e princípios constitucionais que enformam o nosso
Direito Penal e Processual Penal, deveriam ser interpretadas essas normas e princípios constitucionais relevantes para
proferir essa mesma decisão.

3. Quanto a esta questão, não existe nenhuma discordância entre a douta posição do Excelentíssimo Senhor
Doutor Juiz Relator e aquela, de modo porventura menos claro, que o recorrente teve presente e procurou expressar no
seu requerimento de recurso, aqui em apreço, citando-se, a título de exemplo:

“ [dão-se os excertos por integralmente reproduzidos]”

4. Tendo, o requerimento de interposição do recurso aqui em apreço concluído o seu pedido pela seguinte fórmula:
“Nestes termos e nos demais de Direito, requer-se a Vossa Excelência seja admitido o presente recurso para apreciação
da violação das normas e princípios constitucionais invocados no presente caso concreto já suscitadas nas alegações e
conclusões Recurso da 1.ª instância. (…)”.

5. Nesta parte, salvo sempre o devido respeito pela douta opinião do Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz Relator,
pode não ter sido usada a linguagem e o modo de expressão mais claro e adequado para elucidar este venerando Tribunal
Constitucional sobre o fim em vista com o Recurso interposto. Todavia, pelo os fundamentos legais invocados no seu
introito e pelas constante referência às situações pontuais onde a as normas de direito substantivo (Código Penal e Lei
dos Crimes dos Titulares dos Cargos Políticos, do Código Processual e da Lei Orgânica dos Tribunais Constitucionais)
que do foram chamadas à ratio decidendi na interpretação que resultou na sua aplicação aos pontos concretos elencados
nas alegações de recurso acórdão da primeira instância e, bem assim, do assim no requerimento de interposição deste
recurso, no entender do recorrente, questionando-se a sua desconformidade face aos preceitos Constitucionais e de Direito
Internacional Convencional invocados, em geral estruturados em torno das normas e dos princípios legais e constitucionais
tutelares do nosso Direito Penal e Direito Processual Penal, fundado numa estrutura essencialmente acusatória, pelo
princípio do contraditório pleno, tudo em vista ao assegurar um processo equitativo e justo, por isso, com garantias

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substantivas do direito de defesa e do respeito pelos Direitos Fundamentais, tudo valores quem enformam o nosso sistema
jurídico legal e constitucional.

6. Sendo essas as questões que o arguido ora recorrente tem em vista dilucidar, de forma mais rigorosa e
fundamentada, em sede de alegações de Recurso, como o dispõe o art. 78.º-A, da Lei do Tribunal Constitucional, sendo
nelas, especialmente nas suas conclusões, que melhor se fará a síntese das questões jurídico-constitucionais que pretende
ver apreciadas por este Venerando Tribunal Constitucional.

7. Ou seja, com todo o respeito pela posição assumida pelo Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz Relator que
proferiu o douto despacho de indeferimento do requerimento de interposição de recurso, que é muito, o requerente entende
que o requerimento de recurso – sem prejuízo de possível aperfeiçoamento – explanou as questões de constitucionalidade
das normas, e/ou da sua interpretação, chamadas à resolução das questões concretas decididas no processo criminal em
apreço e que nele foram elencadas.

8. Sendo certo que o não fez com vista a que este Tribunal Constitucional apreciasse este recurso de fiscalização
com a finalidade de vir a apreciar a decisão concreta formulada pelo Tribunal da Relação de Évora e a produzir uma
decisão (acórdão) revogatória do acórdão Recorrido, como se de uma nova instância de recurso ordinário se tratasse, mas
sim, como bem se afirma no douto despacho de indeferimento, de um recurso incidental para dirimir se as normas legais e
princípios legais, conclamados para a decisão judicial em crise, foram interpretadas e aplicadas em conformidade com as
normas e princípios constitucionais igualmente, material e formalmente, relevantes na apreciação das questões concretas
colocadas e elencadas no requerimento de recurso já suscitadas, antes, no processo.

9. Também, segundo o douto despacho em reclamação, tal inadmissibilidade decorre de duas ordens de razões ou
pressupostos, exige-se ainda (e exige-se cumulativamente) de neste tipo de recursos, exige-se: “(i) a prévia suscitação das
questões de inconstitucionalidade que pretende ver apreciadas.

10.  Salvo sempre o devido respeito por diversa e melhor opinião, o recorrente, ora reclamante, entende ter suscitado
as questões de inconstitucionalidade que pretendia ver apreciadas, constando as mesmas da fundamentação e das
conclusões do recurso, dilucidando, de forma cognoscível, o modo como o Tribunal estribou legal e racionalmente a decisão
recorrida onde suscitou tais questões de constitucionalidade, indicando a razão por que a decisão questionada não fez
correta aplicação do quadro legal aplicável, ou, melhor dizendo, não fazendo, na sua aplicação concreta a interpretação
tida por conforme com o as regras e valores constitucionais que essa decisão reclamava, acrescentando a entendimento
preconizado para a mesma decisão para, no seu entendimento ser conforme à valoração normativa e valorativa
constitucionalmente consagrados e preconizados, e que, eventualmente teriam sido postos em causa na ratio decidendi da
solução seguida no acórdão recorrido.

11.  A primeira das questões releva, ainda, do modo como foi elaborada a acusação, já questionada na contestação
apresentada pelo arguido ora reclamante e sintetizada nos números 1 a 11 das conclusões do Recurso interposto para o
Tribunal da Relação de Évora, de se citam:

“[dão-se os excertos por integralmente reproduzidos]”

12.  Nesta parte, conforme já tinha sido feito em sede de Contestação, está em causa a acusação, e posteriormente o
acórdão, recorrido não individualizarem os factos e administrativos que sustentam a acusação, de um lado não destrinça
os factos e atos administrativos imputados ao arguido ora reclamante e ao arguido A., levando o Tribunal de 1ª
Instância a considerar questões de coautoria e de crime continuado, para acabar a decidir pela imputação e condenação de
cada um dos arguidos pela prática individualização e um único crime, e do outro, não destrinça claramente que atos
administrativos ilícitos foram praticados individualmente pelo o arguido indicando quais as normas de direito
administrativo foram por ele violadas para beneficiar ou prejudicar pessoas concretas devidamente identificadas.

13. Toda essa falta de individualização e de destrinça da factualidade típica do ilícito criminal em apreço, colide
com a estrutura essencialmente acusatória do nosso Processo Penal, e, por decorrência dela, com as garantias de defesa do
arguido ora reclamante, ambos constitucionalmente protegidos nos termos invocados.

14. Situação, quanto nós, explicita de que foram das situações da vida e objeto do processo apreciadas
juridicamente tanto pelo Tribunal de Comarca como pelo Tribunal da Relação de Évora, acabando por sobre elas decidir
fazendo uso das normas legais aplicáveis numa interpretação ou ratio decidendi contrária àquela que impunham os
preceitos e princípios constitucionais e de Direito Internacional, também aplicáveis, elencados nas conclusões do Recurso
interposto para o Tribunal da Relação de Évora.

15. No mesmo sentido se questionou estruturação da factualidade considera provada e não provada e
fundamentação do douto acórdão da 1.ª instância de que foi interposto recurso para o Tribunal da Relação de Évora, o
que foi sintetizado nas conclusões da fundamentação do recurso (conclusões 13 a 26), que se citam parcialmente:

“ [dão-se os excertos por integralmente reproduzidos]”

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16. Por sua vez, o acórdão recorrido, também imputou ao arguido ora recorrente, apenas e só, um único crime, não
dizendo, porém, quais foram os factos e atos administrativos concretos praticados com a consciência de que eram ilícitos e
com o propósito objetivo de beneficiar alguém. Alguém esse, que tem de constar da matéria de facto provada de forma
individual e concretamente determinada.

“[dão-se os excertos por integralmente reproduzidos]”

17. Mais adiante, nomeadamente nas conclusões 67 a 76 da fundamentação do recurso interposto do acórdão
proferido na 1.ª instância também se suscitou outra questão de constitucionalidade:

“ [dão-se os excertos por integralmente reproduzidos]”

18. Assim, salvo sempre o merecido e devido respeito, o reclamante continua a entender que na suscitação da
inconstitucionalidade da decisão recorrida, procedeu de modo a dilucidar a questão ou questões de constitucional relevantes
de modo a que o Tribunal da Relação de Évora a poder entender e perceber o entendimento que este fez de cada um dos
pontos da decisão recorrida em que o enquadramento da decisão mostra acolher um entendimento das normas legais
chamadas, expressa ou tacitamente, à fundamentação da decisão – na sua ratio legis e na sua ratio decidendi –  que
resulta, inconstitucional face às normas e valores constitucionais a elas aplicáveis. Tendo, o Tribunal, para superar a
suscitada questão de inconstitucional, proceder à interpretação a aplicação das normas legais chamadas à decisão de que
resulte numa reanalise da decisão como proposto pelo recorrente de que resulte, eventualmente uma nova decisão que
permita justificar, face à Constituição, a sua manutenção ou, pelo contrário resultar numa nova e diferente decisão que
suplante essa divergência de entendimentos eventualmente possíveis.

19. Por exemplo, o recorrente pôs em crise vários pontos do acórdão recorrido em que resulta claro que o modo como
foi aplicado, ao caso concreto, o Direito Administrativo, o Direito Penal e Processual penal a ele subjacentes, resultava
numa clara afronta às garantias constitucionais de defesa do arguido, problema já notório na acusação e questionado na
Contestação, resultante da forma amalgamada da exposição dos factos, resultando:

– Numa exposição longa em que se misturam factos, conclusões e conceitos de direito.

– Numa miríade de factos e situações de vida sem destrinçar o que o que concretamente é imputado e respeita a
atos administrativos da exclusiva autoria do ora reclamante dos factos e situações de vida correspondentes aos atos
administrativos da exclusiva autoria do arguido A. – considerando, nesta parte, que nem houve qualquer imputação da
pratica de factos e atos em coautoria, nem, tão pouco, houve qualquer imputação e condenação do arguido pela
multiplicidade de factos e atos administrativos por si praticados em momentos temporais distintos (dias, meses e anos
diversos), considerados ilícitos por se considerar resultarem no benefício ilegítimo de destinatários distintos e identificados
na acusação e dados por provados no acórdão recorrido, do que resulta logicamente impercetível qual o exato e
individualizado facto e ato ilícito praticado e imputado em exclusiva autoria de que resultou a sua condenação pela
prática do crime de prevaricação p. e p. pelo art. 11.º da Lei n.º 34/87, de 16 de junho;

– Numa decisão condenatória por suposta autoria exclusiva de facto ao acto ilícito de que teria beneficiado C.  – o
que o acórdão da Relação de Évora verificou não se ter comprovado.

– Numa errada e contraditória análise e fundamentação da decisão da matéria de facto e de direito feita no do
acórdão recorrido, pois, o arguido reclamante, também, não praticou ou foi autor de qualquer facto ou de que, concreta e
objetivamente, pudesse resultar em prejuízo do mencionado D.. O arguido, comprovadamente, não interveio em qualquer
ato ou decisão administrativa em que fosse requerente e destinatário o Senhor D. e que o tivesse prejudicado

– Numa decisão contraditória sobre a motivação da conduta do arguido (dolo), em que: por um lado, se considera
que foi beneficiado o amigo C. – e que o Tribunal de Évora considera não ter sucedido – e, por outro lado, considera que
a sua motivação foi a de arrecadar “impostos”, fazer “obra”, “tudo em vista a obter os maiores proveitos para a
Câmara.” Se a primeira situação se confirmou não corresponder à realidade, já a segunda, confirma que a motivação do
arguido foi a mais conforme com a sua missão de Presidente da Câmara de Aljezur, que é a de arrecadar recursos e
fazer obra para o Município de Aljezur, de servir o interesse público municipal e, consequentemente, das populações do
Concelho de Aljezur.

20. Seja perante a decisão das questões pontuais em que se colocou em causa a legalidade e constitucionalidade 
subjacentes a cada decisão, seja considerando a decisão do acórdão condenatório como um todo, a decisão recorrida, do
confronto da factualidade considerada provada, resulta de uma decisão jurídica factual e juridicamente, insuficientemente
– ou mesmo mal – fundamentada face às exigências legais e constitucionais a ela convocadas, nomeadamente como elas
foram alegadas e concatenadas nas conclusões de recurso.

21. Por conseguinte, sempre com o devido respeito, quanto a nós, foram levantadas as situações cuja apreciação, se
submetida a uma correta interpretação e aplicação do direito substantivo administrativo, penal e processual penal
chamado a resolver questões jurídicas quanto a elas suscitadas de forma conforme ao conteúdo das normas e princípios de
Direito Constitucional e de Direito Internacional invocados e relevantes na resolução dessas situações, nomeadamente por,
na aplicação das normas de direito substantivo e processual aplicáveis, ter o Tribunal que proferiu a decisão de aplicar
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normas e princípios legais material e formalmente conformes com as normas e princípios jurídicos inscritos na nossa
Constituição e no Direito Internacional  invocado, bem como, na sua aplicação às questões sub judice, a delas fazer uma
aplicação conforme com as referidas normas e princípios de Direito Constitucional e Internacional.

22. Dito de outro modo, com todo o respeito, não pode o Tribunal decidir, na resolução de situações e casos
concretos submetidos à sua apreciação, aplicar normas inconstitucionais, bem assim, a não aplicar normas de que, pelo
modo como as interpreta, resulte serem desconformes com a Constituição ou de Direito Internacional conclamáveis à
decisão das questões sub judice.

23.  Admitindo-se, porventura e humildemente, não se ter usado do modo de expressão mais escorreito, da maior
clareza e com uso das fórmulas técnico-jurídicas mais assertivas, no entender do reclamante, não deixou este de suscitar
as questões de constitucionalidade de forma a que os Tribunais de 1.ª Instância e da Relação de Évora, cada um a seu
modo, as pudessem entender, tivessem o dever de as apreciar e de as levar em consideração nos acórdãos proferidos, seja de
modo favorável ou desfavorável ao questionado e pretendido pelo recorrente e ora reclamante, relevando, também, essa
omissão de pronúncia, numa aplicação do Direito Processual relativo à elaboração das decisões condenatórias, numa
pratica de que resulta uma interpretação e aplicação do mesmo em desconformidade com os valores constitucionais
atinentes à exigência de um processo penal equitativamente justo, com igualdade de partes e de armas, com contraditório
pleno, e de reciproca colaboração entre os diferentes operadores judiciários.

24. É que, o Tribunal da Relação de Évora agiu ativamente para resolver uma questão de facto que nunca
ninguém suscitou, até porque, o M. Público não recorreu da decisão nem levantou tal questão, modificando, sem poder
para tal e sem chamar o recorrente a exercer o contraditório na parte em que mudou o acórdão recorrido alterando a
identidade do apontado beneficiário do ato ilícito criminal praticado pelo arguido que o Tribunal de 1ª Instância tinha
indicado ser C., para sem mais   (diga-se, sem prova bastante e produzida de modo processualmente adequado) e de
surpresa se indicar como beneficiária uma outra entidade que na decisão recorrida se identificou por “….”.

25. Já em relação ao arguido ora recorrente, tendo o Tribunal da Relação de Évora o poder-dever de verificar se as
conclusões do recurso estavam, ou não, elaboradas de forma escorreita a serem dilucidadas de modo a poderem ser
resolvidas as diferentes questões de constitucionalidade suscitadas, de modo a as poder decidir por verificados os requisitos
que o Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz Relator reporta como exigências constantes do disposto do doutamente
invocado art. 72.º, n.º 2, da LTC. Em não o estando, ao abrigo desse poder-dever de prosseguir a verdade e a justiça em
sentido material, omitiu o Tribunal da Relação de Évora, também este dever legal e valor constitucional concretizável por
via do convite ao recorrente “a apresentar, completar e ou esclarecer as conclusões formuladas, no prazo de 10 dias, sob
pena de o recurso ser rejeitado ou não ser conhecido na parte afetada”(art. 417.º, n.º 3, do C.P. Penal).

26. Podendo, pois, salvo melhor entendimento, este Venerando Tribunal Constitucional, face as questões de
inconstitucionalidade suscitadas, aceitar e apreciar o recurso cujo requerimento de propositura foi indeferido, com vista a
apurar se na aplicação na decisão recorrida, como ratio decidendi, a norma tida como inconstitucional pelo recorrente na
concreta interpretação correspondente à dimensão normativa delimitada no requerimento de recurso pois, como afirma o
Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz Relator, citando o Acórdão nº 302/2015, “[…] só assim, um eventual juízo de
inconstitucionalidade poderá determinar uma reformulação dessa decisão”.

27. Neste sentido, no entender do reclamante, ao contrário do afirmado no douto despacho de indeferimento, as
questões de constitucionalidade suscitadas, salvo sempre todo o respeito, foram formuladas, em regra, de modo positivo e
negativo, tornando percetível o conteúdo normativo seguido na ratio decidendi e aquele que, segundo o entendimento,
deveria ser adotado se formulado numa aplicação legal interpretada conforme ao quadro normativo e valorativo da nossa
Constituição e do Direito Internacional invocado.

28. Por outro lado, conforme decorre especialmente dos n.ºs 16 a 29 do requerimento de interposição do recurso do
acórdão da Relação de Évora para este Tribunal, foram suscitadas  questões inconstitucionalidade, neste caso, já em
relação a alterações introduzidas no acórdão ora recorrido, na parte relativa à matéria de facto provada, sem que fosse
dada, aos recorrentes, a possibilidade de exercerem previamente o direito ao contraditório, na parte em que se mudou a
identidade da pessoa que o Tribunal de 1.ª Instância, no segundo acórdão proferido, deu como provado que: “Entre os
beneficiários [do ato ilícito] encontra-se C., pessoa que tem relação direta com os arguidos (…)” beneficiário do ato ilícito
praticado pelo arguido e ora reclamante

29. Todavia, o Tribunal da Relação de Évora, perante o facto de o recorrente ter levantado a questão de C.,
objetivamente – conforme decorre do próprio acórdão - não poder ter aproveitado de qualquer benefício de ato
administrativo por ele praticado em exclusiva autoria material pelo arguido ora reclamante por ele nunca ter solicitado à
Câmara de Aljezur a prática de qualquer ato administrativo de que pudesse, real ou hipoteticamente, beneficiar,
procedeu à alteração da identidade do suposto beneficiário dada como provada no acórdão de 1ª instância, dando com
provado que, afinal, o beneficiário do ato administrativo ilícito praticado pelo arguido, mas sim, que houve “Beneficio
para a «….»; prejuízo para D. (…)”.

30. Ou seja, procedeu o Tribunal da Relação a uma alteração dessa identidade do suposto beneficiário do ato
criminoso praticado pelo arguido, sem que essa alteração fosse suscitada nos recursos apresentados por qualquer dos

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recorrentes, sendo certo o Tribunal de Recurso está em regra, salvo nas questões de direito, vinculado tematicamente à
apreciação das questões que lhe são colocadas nas conclusões de recurso e sem que do processo constassem todos elementos
de prova que lhe servissem de base, vendo-se o reclamante confrontado com uma decisão surpresa e, consequentemente, sem
possibilidade de exercício do direito ao contraditório sobre qualquer factualidade relativa à identidade da pessoa
supostamente beneficiada com o ato administrativo ilícito gerador de responsabilidade criminal por Prevaricação
praticada pelo arguido e recorrente enquanto por titular de cargo político em Autarquia Local.

31. Estando claramente enunciada e denunciada a interpretação normativa da ratio decidendi desta questão
jurídica por parte do Tribunal da Relação de Évora, segundo a qual, as normas de Direito Processual Penal, expressa
ou tacitamente, chamadas ao substrato da decisão de introduzir no seu acórdão, a nova identidade da suposta pessoa
beneficiária do ato administrativo ilícito praticado, pelo arguido, gerador da sua responsabilidade criminal, que não
constava da decisão recorrida, sem a mesma constar dos factos dados por provados em 1.ª instância, sem constar das
conclusões de qualquer recurso e sem prévio escrutínio e contraditório pleno de todos elementos de prova que,
hipoteticamente, pudessem levar a considerar essa nova identidade como facto provado.

32. Nunca, ao longo do acórdão da 1.ª instância, o arguido foi colocado perante o facto de ter praticado um ato
administrativo ilícito em beneficio de uma a entidade denominada “….”, de modo a poder ser condenado como autor de
um crime de Prevaricação p. e p. pelo art. 11.º da Lei n.º 37/97.

33. Trata-se de uma alteração fundamental tomada de surpresa por exclusiva iniciativa do Tribunal da Relação
de Évora, pois, não foi suscitada nem objeto de contraditório pelos arguidos e sem produção de prova, sendo certo que esta
decisão não está estribada em documento autentico.

34. Como dispõe o art. 410.º do C. P. Penal, (…).

35. Deste dispositivo legal resulta a vinculação temática a que o recurso em matéria penal está sujeito, e por
consequência dela, a matéria ou questões que, no recurso, sob a forma de conclusões, se podem dirigir ao Tribunal de
recurso e o vincular à sua resolução, seja pronunciando-se pela sua procedência ou pela sua improcedência. Bem assim,
proceder apreciação de qualquer nulidade do conhecimento oficioso, não apreciada e não sanada anteriormente.

36. Não houve, por parte dos diferentes intervenientes processuais, suscitação de qualquer pedido de alteração da
matéria de facto provada, designadamente por recurso à prova gravada nos termos e com os requisitos a que se alude no
art. 412.º, n.ºs 3, 4, 5 e 6, do C. P. Penal, incluindo com qualquer ponto da matéria de facto relativo à identificação da
entidade beneficiária do suposto ato administrativo pelo qual o arguido reclamante foi punido como autor do crime de
prevaricação, indicando, como tal, a denominada “….”.

37. Sendo certo que, a ser possível admitir tal alteração desse facto, sempre teria, quanto a nós, de obedecer,
mutatis mutantis, ao disposto no art. 358.º do C. P. Penal. Isto é, se verificar existir uma alteração dos factos, salvo se
alteração tiver derivado de factos alegados pela defesa, em que têm de ser asseguradas todas as garantias de defesa e
notificados os arguidos para exercerem o direito ao contraditório (art. 61.º do C. P. Penal, art. 3.º, n.º 3, ex vi art. 4.º
do C. P. Civil e, bem assim no art. 33.º, n.ºs 1 a 5, da C. R. P.).

38. Nesta parte, o quadro jurídico e as normas legais expressamente ou tacitamente chamadas à ratio decidendi de
que se socorreu o Tribunal da Relação de Évora para modificar o acórdão recorrido – afastando “C.” – o indicado e
considerado beneficiário do ato ilícito criminal de prevaricação de que o arguido reclamante foi penalmente condenado
como seu autor, substituindo-o por uma entidade que denominou por “….” – afastou-se da vinculação temática das
questões colocadas nas conclusões de recurso e da matéria de que poderia legalmente conhecer.

39. Afastando-se desse vínculo temático, a ser alterada essa parte da matéria de facto, salvo melhor entendimento,
deveria ser revogado o acórdão recorrido. Eventualmente, não se optando pela absolvição do arguido, ao menos deveria ser
proferida decisão no sentido de o processo baixar, de novo, à primeira instância para proceder a essa alteração do facto
com o regular contraditório assegurado pelo disposto no art. 358.º do C. P. Penal. Mesmo a ser admissível outro modo
de procedimento para introduzir esta modificação da matéria de facto, tida por provada neste acórdão do Tribunal da
Relação de Évora, sempre, tal decisão, deveria ser previamente submetida a contraditório, notificando-se, para o efeito, os
recorrentes e demais partes intervenientes e interessados no processo.

40. Sem serem previamente asseguradas todas as referidas garantias de defesa dos arguidos, máxime o exercício do
contraditório, sendo a ratio decidendi desta questão sub judice, resultante de uma aplicação de normas legais, que por tal
enquadramento legal, resultaram interpretadas de modo não previsto nas normas e valores consagrados na Constituição
da República Portuguesa em vigor. Neste sentido, a decisão sobre esta alteração não objeto de qualquer recurso, a ser
admitida, em caso algum pode ser produzida sem prévio exercício ao direito ao contraditório por todas as partes
intervenientes, especialmente pelo Ministério Público e pelos arguidos.

41. Com este sentido, também nesta parte, julga o reclamante, dever ser de admitir o seu Recurso para verificar se
as normas, princípios e valores que presidiram à razão de o Tribunal da Relação de Évora em decidir a alteração da
matéria de facto relativa à identidade do beneficiário do crime de prevaricação de que resultou a condenação do arguido
como seu autor, por si mesmas, ou pelo modo como foram interpretadas nesta concreta decisão, resultaram de uma
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interpretação e aplicação não conforme às normas e valores constitucionais antes convocados, especialmente o disposto nos
art. 32.º, n.ºs 1, 2, 4 e 5, da C. R. Portuguesa: (…).

42. Trata-se, pois, de uma decisão de alteração que nenhuma das partes intervenientes introduziu nas questões a
apreciar e decidir no âmbito dos diferentes recursos interpostos do acórdão, pelo que, em regra e salvo melhor opinião, o
Tribunal da Relação de Évora não podia conhecer, por não ser objeto de qualquer recurso, posto não constar de
nenhuma das suas conclusões. Não sendo, tão pouco, matéria do seu conhecimento oficioso, dado não ser questão de
nulidade não sanada.

43. Com todo o respeito, salvo melhor entendimento, trata-se de decisão e questão nova, porque introduzida
originariamente no acórdão da Relação de Évora, a qual, salvo diversa opinião, não pode ser objeto de Recurso
Ordinário para o Supremo Tribunal de Justiça e, neste sentido, resultar de uma interpretação do enquadramento legal
que redundaria na impossibilidade de, a mesma, ser apreciada em sede de recurso, e, por isso, restringir ilegitimamente o
direito de se poder ver tal decisão reapreciada e corrigida por via de recurso – apreciação em dupla jurisdição - atentando
contra as garantias de defesa de por via o exercício do direito ao recurso, pelo menos, para uma segunda jurisdição,
resultando esta situação, mais uma vez, na violação das garantias constitucionais de defesa, nos termos antes referidos,
nomeadamente pela desconformidade de tal solução jurídico legal ser desconforme ao que resulta do disposto, como antes
referido, no art. 32.º da C. R. Portuguesa.  

Nestes termos e nos demais de Direito, sem prejuízo de o reclamante poder – se admitido – ver a aperfeiçoar o seu
requerimento de interposição de Recurso nos termos do disposto no art. 75.º-A, n.º 5, da Lei do Tribunal
Constitucional, nomeadamente em nome dos valores da Justiça Material, deve ser admitido o requerimento de recurso
interposto para este Tribunal Constitucional, com vista à verificação da eventual aplicação, na decisão recorrida, de
normas legais numa interpretação desconforme às normas e valores constitucionais invocados.

[…]”.

 
1.4.3. O Ministério Público respondeu às reclamações nos termos seguintes:
 
“[…]

1.º

Pela douta Decisão Sumária n.º 908/2017, não se conheceu do objeto do recurso interposto para o Tribunal
Constitucional, pelos arguidos A. e B., ao abrigo do artigo 70.º, n.º 1, alínea b), da Lei de Organização,
Funcionamento e Processo do Tribunal Constitucional (LTC).

2.º

Como nos parece evidente e se demonstra na douta Decisão Sumária, os recorrentes durante o processo – no caso na
motivação do recurso interposto para a Relação de Évora, que proferiu o acórdão recorrido – não enunciaram com o
mínimo de clareza, rigor e autonomia, qualquer questão de inconstitucionalidade normativa, carecendo, por isso, os
recorrentes, de legitimidade para interpor recurso para o Tribunal Constitucional (artigo 72.º, n.º 2, da LTC).

3.º

Por outro lado, como se entendeu na douta Decisão Sumária, “a falta de dimensão normativa da questão (ou
questões) com a(s) qual(is) os recorrentes pretendem moldar o objeto do recurso é ainda mais evidente nos respetivos
requerimentos de interposição”.

4.º

Efetivamente, naquelas peças processuais não se vislumbra a enunciação de uma qualquer questão de
inconstitucionalidade normativa, única passível de constituir objeto idóneo do recurso de constitucionalidade.

5.º

O afirmado nas reclamações em nada abala os fundamentos da decisão reclamada, sendo até de salientar que as
partes das peças processuais anteriormente apresentadas que vêm transcritas, foram precisamente as levadas em
consideração pelo Exmo. Senhor Conselheiro Relator para concluir – e bem – pela não verificação dos dois requisitos de
admissibilidade já referidos.

6.º

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Pelo exposto, deve indeferir-se a reclamação.

[…]”

 
Cumpre apreciar e decidir.
 
II – Fundamentação
 
2. A decisão reclamada pronunciou-se no sentido do não conhecimento do objeto dos
recursos interpostos pelos Recorrentes A. e B., em virtude de, relativamente a cada um deles: (i)
não ter sido previamente suscitada, por qualquer um dos Recorrentes, uma questão de
inconstitucionalidade com adequada dimensão normativa durante o processo e de modo
processualmente adequado perante o tribunal que proferiu a decisão recorrida, em termos de
este estar obrigado a dela conhecer (condição do recurso prevista no n.º 2 do artigo 72.º da
LTC); e (ii) a falta de dimensão normativa da questão (ou questões) com a(s) qual(is) os
Recorrentes pretendem moldar o objeto do recurso ser ainda mais evidente nos respetivos
requerimentos de interposição, nos quais se dirigem ao Tribunal Constitucional como instância
de recurso ordinário.

As reclamações apresentadas pelos Recorrentes nada acrescentam às questões de


admissibilidade dos recursos já apreciadas na decisão sumária.
 
2.1. Quanto à reclamação do Recorrente A., importa notar que em nenhum ponto da
decisão reclamada se sugeriu, explícita ou implicitamente, que o Recorrente teria de antecipar ou
adiantar as alegações de recurso, mas apenas que teria de enunciar o respetivo objeto com caráter
normativo, o que não fez. Aliás, o teor da reclamação apenas confirma os fundamentos da decisão
sumária, atestando – pelas passagens das alegações que transcreve – que não chegou a ser
enunciada pelo Recorrente qualquer questão de inconstitucionalidade com natureza normativa,
apontando as “questões de inconstitucionalidade” diretamente às decisões impugnadas. Ao
insistir que as ditas “questões” assumem dimensão normativa, o ora Reclamante A. ignora que,
como justamente se afirmou na decisão reclamada, “ainda que alguns argumentos usados pelos
Recorrentes, nos apontados recursos, se tenham reconduzido à invocação de normas ou princípios constitucionais ou
à interpretação da lei em conformidade com normas constitucionais (no enquadramento dado pelos próprios
Recorrentes, claro está), o certo é que a partir de uma discussão jurídica substancial – ainda que assente em
argumentos de conformidade constitucional – não se pode, sem mais, considerar suscitada uma questão com
adequada dimensão normativa, muito menos quando (como é o caso) os Recorrentes se abstiveram de enunciar o
sentido (a interpretação) da(s) norma(s) que operou(aram) como critério de decisão com suficiente clareza, o que
consubstanciava um ónus sobre si impendente (não se bastando o ónus da suscitação prévia da questão de
inconstitucionalidade normativa com a mera remissão para a letra de um preceito legal ou com a menção genérica
ao entendimento adotado “na decisão recorrida”)” (sublinhados acrescentados).
 
2.2. As considerações constantes do parágrafo anterior valem, mutatis mutandis, para a
reclamação do Recorrente B., pelo que aqui se dão por reproduzidas.
Não obstante a extensa transcrição de passagens das alegações de recurso que apresentou
perante o Tribunal da Relação, delas estão ausentes questões de inconstitucionalidade com
dimensão normativa, questionando-se diretamente as decisões e remetendo-se para a letra de
preceitos legais, sem enunciar a interpretação relevante para a decisão. Referindo-se,
sucessivamente, na reclamação, à “ratio decidendi”, não chega a enunciá-la. Acresce que longas
passagens do articulado da reclamação consubstanciam questões de direito que notoriamente
pertence(ria)m a um recurso ordinário de mérito (assim, designadamente, os pontos 19., 20., 24.,
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25., 28. a 40. e 43.), tratando-se, no mais, de petições de princípio no sentido de o recurso ser
admissível que não têm qualquer tradução substancial e ignoram os fundamentos da decisão
sumária: nenhuma das asserções do Reclamante tem a virtualidade de conferir às questões
enunciadas no recurso interposto para o Tribunal da Relação a natureza normativa – que não
têm, como se viu – ou dispensar o Recorrente do ónus previsto no artigo 72.º, n.º 2, da LTC –
que não cumpriu.
 
2.3. Resta, pois, concluir pela integral confirmação da decisão reclamada, por os seus
fundamentos, inteiramente válidos e para os quais aqui se remete, não terem sido afastados nas
reclamações apresentadas por qualquer um dos Recorrentes.
 
III – Decisão

 
3. Face ao exposto, decide-se indeferir a reclamação deduzida pelos Recorrentes A. e B.,
mantendo-se a decisão reclamada de não conhecimento do objeto dos respetivos recursos.
Custas pelos Recorrentes, ora Reclamantes, fixando-se a taxa de justiça em 20 unidades de
conta por cada um deles, tendo em atenção os critérios definidos no artigo 9.º, n.º 1, do Decreto-
Lei n.º 303/98, de 7 de outubro (cfr. artigo 7.º do mesmo diploma).
Lisboa, 21 de fevereiro de 2018 - José Teles Pereira - Claudio Monteiro - João Pedro Caupers
 

[ documento impresso do Tribunal Constitucional no endereço URL: http://www.tribunalconstitucional.pt/tc//tc/acordaos/20180099.html ]

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