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ANTEPROJETO DE CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL: ANÁLISE DE

ALGUNS ASPECTOS ESSENCIAIS

1. Leis processuais dizem respeito diretamente ao direito constitucionalmente


assegurado de acesso ao Judiciário. (art. 5º, XXXV). A Constituição Federal assegura,
também, o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes
(inciso LV), e ainda o devido processo legal (inciso LIV).
Dessa forma, é fácil perceber, a eventual alteração de legislação processual
interessa efetivamente ao cidadão, pois se trata, à ótica constitucional, de verificar se os
princípios constitucionais são respeitados. As leis processuais consistem em canais
criados para permitir o acesso ao Judiciário, por meio dos quais a cidadania apresenta
suas divergências, representada por profissionais capacitados (advogados), na
expectativa de soluções justas e em tempo razoável.

2. O Senhor Presidente do Senado Federal José Sarney decidiu, por meio do Ato nº
379/2009, em sua órbita de competência, criar uma Comissão, composta por juristas
notáveis, com a tarefa de elaborar um Anteprojeto de Código de Processo Civil.
Aludida Comissão de Juristas, coordenada pelo Ministro Luiz Fux, integrante do
Superior Tribunal de Justiça, encarregada dessa tarefa, empenhou-se profundamente, e
realmente conseguiu elaborar um texto, que foi apresentado ao Senado Federal, e
aprovado, em prazo recorde.
Impõem-se questionamentos. Qual a razão dessa celeridade? A pressa na
elaboração desse novo código realmente permite afirmar que está sendo criada uma
solução para todas as conhecidas causas da morosidade dos processos?

3. Em sua mensagem de encaminhamento do Anteprojeto ao eminente Presidente


do Senado Federal José Sarney, a Comissão de Juristas elencou suas preocupações: a)
como vencer o volume de ações e recursos gerado por uma litigiosidade desenfreada,
num País cujo idéario da nação abre as portas do Judiciário para a cidadania, ao dispor-
se a analisar toda lesão ou ameaça de direito? b) como desincumbir-se da prestação da
justiça em prazo razoável diante de um processo prenhe de solenidades e de recursos? c)
como prestar justiça célere quando um de cada cinco cidadãos litiga judicialmente?
A Mensagem referida declara, ainda, que a primeira etapa do trabalho foi a de
detectar as barreiras para a prestação da justiça rápida. A segunda, legitimar
democraticamente as soluções, ouvindo o povo, a comunidade jurídica e a comunidade
científica.

4. Democraticamente, e com a finalidade contribuir criticamente para o debate,


assinale-se que a primeira questão que se coloca é a de identificar em que momento se
torna necessário um novo código de processo civil. O questionamento realmente não é
original, tanto assim que, na Exposição de Motivos do Cód. de Proc. Civil de 1973, o
próprio Alfredo Buzaid já a colocava, embora em outros termos. Buzaid sustentava que
não era possível simplesmente romper com o passado, mas aproveitar o possível da
construção jurídica elaborada.
É preciso disciplinar para o presente e para o futuro. Portanto, a elaboração de
um novo Código Processual Civil deve corresponder às necessidades atuais,
considerando esse determinado momento de desenvolvimento da sociedade. E, se
possível, dimensionar a evolução dos temas de interesse da mesma sociedade e à
proteção do indivíduo, em ótica humanista, respeitado o processo civilizatório.
Não pode existir dúvida no sentido de que no Brasil há fenômenos que
produzem situações de litigiosidade. O processo de urbanização é crescente, com todas
suas mazelas (habitação, saneamento básico, transporte, saúde, educação, segurança),
gerando demandas respectivas, apenas para citar alguns temas de maior relevância.
Há, por outro lado, uma ampliação do que se pode identificar como sociedade de
consumo, e correspondente enorme ampliação do sistema creditício. Também surgem
litígios, demonstrados no volume de ações perante os juizados especiais.
O incrível desenvolvimento da técnica e especialmente da informação (refere-se
que de dois em dois anos se acumula um nível de informação jamais alcançado pela
humanidade) gera evidentemente novas perspectivas, e igual potencial de litígios.
Nesse sentido, não se pode, com a devida venia, sustentar que há excesso de
ações judiciais. A sociedade civil é o que é. Quando há busca, por parte do cidadão, pela
atuação do Judiciário, há apenas o exercício da cidadania. Essa crítica de excesso de
cidadania não é aceitável. Não há, portanto, excesso de demandas judiciais, ou
litigiosidade excessiva. Há apenas e simplesmente um conjunto de demandas por
soluções judiciais, e que exige uma resposta efetiva do aparato estatal.
Também não se pode afirmar que há excesso de recursos judiciais, quando é
necessário compreender que num processo judicial, que se pretende democrático, e não
autoritário, que há recursos porque existem decisões. Simples assim. Outro tema,
entretanto, e que é necessário averiguar, diz respeito às razões pelas quais recursos não
são julgados com a celeridade esperada.
O acesso ao judiciário é direito fundamental e inalienável do cidadão. Afirmar
que há excesso de demandas e de recursos (e, em decorrência, construir soluções para
evitar ou diminuir demandas ou recursos significa, em derradeira análise, negar acesso
ao Judiciário).

5. Se há grande quantidade de processos, quais são as causas? Esse tema não


mereceu considerações específicas na Exposição de Motivos, elaborada pela Comissão
de Juristas, embora constando observação de que houve busca para identificar as
barreiras existentes para a célere distribuição da justiça.
Natureza belicosa da cidadania? Desenvolvimento de uma consciência de
cidadania? Não há qualquer referência sobre as causas da litigiosidade.
Não é difícil constatar, por exemplo, que há expressivo volume de demandas
decorrente do desrespeito aos direitos do cidadão, como se pode perceber de ações
judiciais propostas contra os diversos planos econômicos, editados ao longo dos anos,
sequestro de poupanças, empréstimos compulsórios, tributação desenfreada, desrespeito
ao cumprimento da dívida pública, representada por precatórios, com sucessivos
calotes.
Reconhece-se que o Estado tem, cada vez mais, um número ampliado de tarefas
a desempenhar. Mas há de realizá-las com respeito às normas constitucionais. Portanto,
por esse raciocínio, se identifica a origem de uma enorme quantidade de demandas
judiciais.
Com intuito de colaboração, diga-se que antes mesmo da edição de um novo
Cód. de Proc. Civil, que se pretende adequado ao tempo presente e ao tempo futuro,
seria desejável a identificação das causas das demandas judiciais. A identificação das
causas das demandas poderia permitir uma avaliação prévia da eficácia das alterações
processuais propostas. Fala-se, por exemplo, que em torno de 70% das demandas há a
presença de um ente público: União, Estado, Municípios, e entidades integrantes da
administração direta e indireta. Quem sabe a origem de grande número das demandas
está na gestão pública, e seria indispensável encontrar soluções específicas pré-
processuais ou processuais para enfrentar essa situação? O certo é que o cidadão não
pode sofrer as conseqüências da má gestão pública, que dá origem à enorme quantidade
de ações judiciais.

6. Em nome da celeridade tem se buscado soluções processuais que possibilitem


julgamentos coletivos de demandas, no sentido de que num único julgamento se decida
um número incontável de processos, mesmo sem o exame concreto e individualizado de
cada um. Criou-se a súmula vinculante, e o procedimento de julgamento de recursos
repetitivos.
O Anteprojeto anuncia um incidente para solução coletiva de demandas
repetitivas, sem experiência nacional anterior. Não se pode prever qual o resultado real
dessa solução proposta. Mas há de se questionar se os princípios constitucionais de
assegurar ao cidadão a ampla defesa, com os recursos inerentes, são compatíveis com
um sistema de julgamento coletivo de ações, ou seja, um único julgamento que decidirá,
com segurança, um número enorme de demandas? A iniciativa atribuída ao próprio
Poder Judiciário, de dar início ao procedimento de julgamento coletivo, não fere o
princípio de que o juiz não age de ofício? Não seria o cidadão e a própria sociedade os
titulares da demanda coletiva? Não se trata de receio do novo. Mas sim de possibilitar o
aprofundamento do debate, com base em dados concretos, para que se possa ter
convicção da oportunidade da proposta apresentada.
Assim, nesse primeiro momento, a sugestão está em que seja realizado um
trabalho estatístico aprofundado, Aliás, como o Conselho Nacional de Justiça já vem
realizando, inclusive com a identificação de uma taxa de congestionamento nos diversos
tribunais e juizados.
Talvez com uma análise mais aprofundada, com critérios científicos, realmente
se encontre as razões da morosidade da prestação jurisdicional.
Todos nós queremos processos mais céleres. Mas não queremos julgamentos
injustos. As reais causas da morosidade judicial ainda não estão cientificamente
identificadas. Há de se examinar com prudência, portanto, as novas propostas contidas
no Anteprojeto apresentado.

7. Outra questão que se coloca, como registro inafastável, é o da real necessidade


de desenvolvimento de amplo debate nacional sobre o Anteprojeto. O trabalho da
Comissão de Juristas foi realizado com enorme dedicação e presteza, inclusive com
realização de audiências públicas e coleta de colaborações das comunidades jurídica e
científica. Agora, é necessário que a sociedade civil faça sua parte, envolvendo-se
decisivamente nessa discussão.

8. Nada obstante a reconhecida qualidade do trabalho apresentado, o objetivo de


alcançar a celeridade na distribuição da justiça não será alcançado somente com a
edição de um novo Cód. de Proc. Civil. Assim, indispensável o reexame da estrutura do
Poder Judiciário, para que se alcance a real eficácia das decisões judiciais. Sabe-se que
as verbas orçamentárias são finitas. Mas não de pode deixar de registrar que a
capacidade instalada do Poder Judiciário concretamente não atende à demanda
existente. E assim é reconhecido pela própria Comissão de Juristas, conforme anotado
da Exposição de Motivos.

9. Afirma a Exposição de Motivos que se pode alcançar um processo mais célere (e


esse é o foco essencial da proposta) adotando-se determinados procedimentos, como por
exemplo: processos decididos em conjunto; evitar posicionamentos diferentes através da
uniformização da jurisprudência, à luz do que decidirem os tribunais superiores e de
segundo grau. Gerar-se uma jurisprudência estável, mas com possibilidade de alteração,
com modulação. Para evitar dispersão da jurisprudência utilizar-se-á: a) julgamento de
recursos repetitivos; b) incidente de resolução de demandas repetitivas. Para
uniformização da jurisprudência nos tribunais superiores serão utilizáveis os embargos
de divergência.
Nesse sentido, a uniformização e a estabilidade da jurisprudência consistem nas
mais expressivas alterações do sistema processual, com o objetivo de harmonizá-lo com
a Constituição Federal, afirma a Exposição de Motivos apresentada.
Realmente, se trata de profunda alteração da cultura jurídica nacional. O
Anteprojeto do CPC, tomando como fundamento a necessidade de estabilização da
jurisprudência, promove verdadeira hierarquização no que diz respeito às decisões
judiciais. Adotada posição pelos tribunais superiores, os órgãos judiciais
hierarquicamente inferiores deverão aplicá-las. Dessa forma, realmente, abandonar-se-á
o princípio do livre convencimento do juiz, e de certa forma produzirá um efeito
paralisante em relação às demandas judiciais. Não apenas aquelas já propostas, mas em
relação àquelas que poderiam ser propostas. A modificação da jurisprudência não
passará pela propositura de uma demanda pelo cidadão, mas será realizada no âmbito
interno apenas do Judiciário, devidamente provocado. A questão que se coloca é a de se
identificar se essa solução não dificulta o acesso ao judiciário, se não limita a pretensão
do cidadão. Nesses aspectos é que se pensa a possibilidade de aprofundamento do
debate e a realização de pesquisas cientificamente orientadas. É constitucionalmente
aceitável impedir o cidadão de propor demandas em face de jurisprudência consolidada?
Ou seja, o juiz de primeiro grau sempre terá de julgar de determinada forma, mesmo
contrariando seu convencimento.
A proposta contida no Anteprojeto é inovadora em relação à cultura jurídica
nacional consolidada, que sempre adotou como fundamento das demandas judiciais os
enunciados contidos na norma legal. A lei sempre orientou a sociedade. A proposta,
agora, é a de que a jurisprudência, como intérprete da lei, oriente a sociedade. E são os
tribunais quem dirão qual o sentido da lei. Não haverá outro intérprete.
Todavia, reitere-se, não há trabalho cientificamente realizado que ampare tão
substancial alteração do sistema processual brasileiro. Mas as conseqüências são
evidentes: diminuição de demandas e diminuição de recursos, sem que se examine a
proposta sob a ótica da constitucionalidade.

10. Um Cód. de Proc. Civil não interessa apenas aos profissionais que atuam.
Interessa substancialmente à cidadania. Não há dúvida de que é necessário construir
soluções processuais que permitam alcançar o objetivo da celeridade. Mas também é
indispensável que essas soluções propostas permitam também que sejam alcançadas
decisões justas, para promoção da paz social, com respeito aos princípios
constitucionais que asseguram o acesso amplo ao Judiciário. E, para tanto, em nosso
entender, é necessário utilizar os instrumentos já disponibilizados pela técnica, mediante
exame aprofundado do conjunto das demandas existentes, para somente então
acolhermos aquelas propostas que se demonstrarem realmente eficazes.

LUIZ CARLOS LEVENZON


CONSELHEIRO FEDERAL
PRESIDENTE DA COMISSÃO ESPECIAL DE ACOMPANHAMENTO DO
ANTEPROJETO DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

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