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Os anéis de Saturno

A vida dela não passava de mais um conto de fadas clichê. A princesa em perigo era
salva pelo bravo príncipe, e os dois viviam felizes para sempre, mas naquela noite, ela decidiu
que não seria mais apenas mais uma princesa.

Ela juntou as suas coisas, e silenciosamente deixou o castelo. Naquela noite em


especial, a Lua não brilhava naquele imenso lençol negro. Os olhos dela pareciam carregar um
universo inteiro em seu interior, e aquela era o seu momento. A princesa começou a correr.
Arrancou as suas vestes e pela primeira vez em muito tempo, ela se sentiu livre, como um
pássaro em seu primeiro voo.

A princesa correu até o fim de seu adorado reino, despediu-se das flores no seu
imenso jardim, das borboletas que pousavam em seus longos cabelos nas doces manhãs de
quarta-feira. Ao olhar para baixo, ela notou que algo brilhava a luz das estrelas. Vidro. Era um
pedaço afiado. Milhões de coisas passaram pela sua cabeça naquele momento, e ela pensou
consigo mesma: se não agora, quando? E ela o fez. Cortou os seus longos cabelos, marcando o
fim de um ciclo e o início de um novo.

Deixando tudo para trás, ela foi embora sem nenhuma palavra, carta de despedida,
sem deixar cair uma lágrima, sem uma última canção. Ela apenas se foi como as folhas de
outono. Ela sabia o que fazia e já estava decidido, ela nunca mais voltaria aquele castelo
novamente. Naquele momento, ela decidiu que seria a dona de seu próprio reino, um reino
sem príncipes e dragões, sem princesas presas em torres, sem fadas madrinhas, sem
madrastas abusivas, sem animais falantes, sem rocas encantadas, sem beijos de amor
verdadeiro, sem sereias, sapatos de cristais, tapetes voadores, sapos que transformam-se em
belos príncipes.

Ela correu até o fim do mundo, e num momento de insanidade, ela pulou na imensidão
do universo. Os seus pés passaram por todos os planetas da via Láctea, ela abraçou todas as
estrelas, contemplou as nebulosas, dançou sobre os anéis de saturno, beijou todas as
constelações, deixou-se queimar na estrela maior e então ela finalmente encontrou a Lua.
Disse que sentia saudades e a abraçou, porém a lua se desfez em seus braços e ela percebeu
que tudo aquilo não passara de um sonho.

A princesa despertou, e se viu presa a 7 palmos do chão em um caixão de mármore.


Ela gritou mas ninguém ouviu. “Por quanto tempo eu estive fora de mim?” ela pensou. Isso
não importava mais, pois ela sabia que estava fadada a morrer da pior forma possível. Apesar
disso, ela não chorou, sabia que aquilo havia acontecido para o seu bem e em um momento de
coragem ou insanidade, chamem do que quiser, ela enforcou-se com seus imensos cabelos
negros. Não sentiu dor, nem remorso, muito menos arrependimento. Ela não viu uma luz, nem
a imagem de Deus, porém ela sentiu que aquele era o seu lugar. E lá estava ela, na imensidão
do universo novamente. Aquele era o lugar mais lindo que os seus olhos jamais contemplaram.
A princesa decidiu ficar entre as estrelas e fazer daquele o seu reino mágico.

Ela já não era mais uma princesa, nem a dona do seu reino. Ela decidiu que seria todas
as estrelas, constelações, planetas e galáxias, decidiu que seria mais profunda que os seus
olhos e sorriu pela primeira vez. Depois disso o universo nunca mais foi o mesmo, pois ele
passou a ser ela, e ela a ser ele. E em algum lugar no espaço tempo, os seus olhos ainda
brilhavam.

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