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para a sociologia trata-se de controlar sua importância no

nece incontestável: diferentemente dos outros tipos de do- curso da atividade social dos indivíduos, pois não é sempre
mínio, o carisma é particularmente sensível ao pensamento que uma lei estabelecida é respeitada. Acontece, com efeito,
utópico. muitas vezes, que a massa se orienta inconscientemente, por
hábito, segundo as prescrições legais, sem ter nenhum
IV — A SOCIOLOGIA JURÍDICA" conhecimento de sua vigência ou de seu texto, por vezes
ignorando mesmo sua existência. WEBER observa em Essai
sur quelques catégories de Ia sociologie compréhensive, que
17. Tarefas da Sociologia jurídica é possível ter diversas atitudes face ao direito, segundo se
e definição do direito sugira a implantação de um regulamento para proteção de
Mais do que qualquer outro estudo sociológico de um interesse particular ou geral, que se interpretem ou se
WEBER, a sociologia jurídica dá provas de seus conhecimen- apliquem as disposições que ele contém, que se tente violá-lo
tos enciclopédicos, pois que além do direito romano, germâ- conscientemente, ou a ele nos submetamos mais ou menos
nico, francês ou anglo-saxônico, ele se refere ao direito de acordo com o sentido compreendido em média. A prin-
judaico, islâmico, hindu, chinês e mesmo ao direito con- cipal crítica que ele dirige a STAMJÍLER é ter ele ignorado
suetudinário polinésio. Certos trechos são extremamente esta distinção essencial entre o ser e o dever-ser e não ter
técnicos e se arriscam a embaraçar o leitor pouco familia- dado atenção à crítica marxista que, justamente, acentua a
rizado com o pensamento jurídico. Não devemos esquecer distância entre o caráter formal das legislações e a aplica-
que WEBER era jurista de formação. A ideia dominante dessa ção real das disposições que contradiz muitas vezes o sen-
análise é a mesma de sempre: expor as fases e os fatores tido visado teoricamente. O progresso na racionalização do
que contribuíram para a racionalização do direito moderno direito não se faz acompanhar necessariamente de uma
no contexto da racionalização peculiar à civilização ociden- submissão .crescente dos comportamentos à sua validade
tal. Para esse fim, WEBER estuda a ação da política, da reli- normativOfi este afastamento que o sociólogo tem por obri-
gião e da economia sobre a evolução do direito, sem esque- gação pôr em evidência. Aliás, observa WEBER, pode-se ima-
cer o esforço despendido pelos juristas, os legistas, os advo- ginar uma reorganização da sociedade segundo os princí-
gado* B, am geral, todos os profissionais do direito. pios do socialismo, sem que seja preciso modificar nenhum
É preciso estabelecer uma distinção entre a dogmática artigo do código existente, continuando este em vigor, salvo
jurídica e a sociologia jurídica. A primeira procura estabe- quando interpretado em função da nova situação.
lecer teoricamente o sentido intrínseco visado por uma Muitos mal-entendidos têm por origem a identidade do
lei, controlar-lhe a coerência lógica em relação a outras leis, vocubulário utilizado pelas diferentes disciplinas. O jurista
ou mesmo em relação ao conjunto de um código. A socio- e o sociólogo, por exemplo, empregam igualmente os termos
logia jurídica, ao invés, tem por objeto compreender o com- "associação", "feudalismo" ou "Estado" e no entanto lhes
portamento significativo dos membros de um grupamento dão um sentido diferente uns dos outros. O jurista trata,
quanto às leis em vigor e determinar o sentido da crença por exemplo, o Estado como uma personalidade moral, da
em sua validade ou na ordem que elas estabeleceram. Pro- mesma maneira como um indivíduo ou mesmo um embrião
cura, pois, apreender até que ponto as regras de direito são humano. Dada a natureza particular de suas pesquisas, ele
observadas, e como os indivíduos orientam de acordo com tem razão de considerar as coisas sob este aspecto. Por
elas a sua conduta. Para a dogmática jurídica uma norma sua vez, o sociólogo também tem razão, sob seu ponto de
é válida desde que seja estabelecida ou figure em um código; vista, de considerar o Estado scb a forrna das representa-
ções que os homens dele fazem concretamente, quer ado-
15 A Rechtssoziologie é a única parte de Économie et Société que, tando a seu respeito uma atitude de hostilidade ou de orgu-
até agora, foi na França objeto de uma tradução, precedida de im- lho, quer esperem certas vantagens orientando sua ativi-
portante comentário. Infelizmente, este trabalho é pouco acessível, pois dade de acordo com o que eles acreditam ser a vontade do
se trata de uma tese datiíografada, apresentada à Faculdade de Direito- governo. Ainda mais do que as palavras, a estrutura grama-
de Estrasburgo por J. GBOSCLAUDE: La sociologie juridique de Max Weber, tical das frases é fonte de equívocos. Tomemos esta simples
Estrasburgo, 1960.

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proposição: a lei x é válida. Tem ela um sentido diferente punida com mais dureza do que por um aparelho de repres-
para o jurista, para o estadista, para o sociólogo e para são, por exemplo, em caso de boicotagem social. Pertencem,
quem procura violá-la. Nestas condições é fácil compreen- por exemplo, à categoria das convenções as regras que
der que o conceito de direito não tem a mesma significação regem recepções oficiais. Por sua vez, como vimos antes, as
para o jurista, o politólogo e o sociólogo. convenções se distinguem dessas outras regularidades da
Como se deve entender esta noção em sociologia? Falar- conduta social que são os usos (Brauch) e os costumes
se-á de direito, (Sitie). O uso consiste na oportunidade de um comporta-
mento regular, adotado efetivamenta na prática. Quando
"quando a validade de uma ordem é prarantida exteriormente esta prática goza do prestígio da antiguidade, chama-se cos-
pela oportunidade de um constrangimento (físico ou psíquico) que tume. Nem o uso nem o costume são obrigatórios, e não
uma instância, especialmente instituída para esse fim, pode exercer são sancionados exteriormente. Não se pode, pois, exigir
sobre a atlvidade dos membros para que seja respeitada ou para
punir toda infração". 10 de ninguém que os siga. É, por exemplo, costume tomar de
manhã o café da manhã preparado de certa matv ira, mas
Por conseguinte, a existência de um aparelho de coer- ninguém é obrigado a se submeter a esse ritual: pode-se
ção é determinante para a definição sociológica do direito; dispensar isso.
mas continua sendo verdade que, segundo outros pontos de Como sempre, quando se trata de conceitos sociológi-
vista, podem-se encarar outras definições. Por exemplo, o cos, a transição entre os diversos comportamentos é flu-
jurista fala de um direito das pessoas, apesar da ausência tuante. Uma conduta pode aproximar-se mais da convenção
de uma autoridade constrangedora, enquanto WEBER expri- ou do costume, do uso ou do direito, sem que seja possível
me certa dúvida quanto à validade de uma ordem jurídica caracterizá-la de outra maneira que não a de tipo ideal.
internacional. Em todo caso, uma vez que nos encontremos Pela mesma razão é difícil saber se um comportamento
em presença de um órgão de constrangimento, podemos obedece tenicamente às normas jurídicas ou a uma obri-
falar de direito. Não é indispensável que o aparelho de gação étpp, dada à impossibilidade de fazer a distinção
coerção se assemelhe à instância judiciária que nos é fami- entre a influência externa e a motivação interna, principal-
liar. Um clã e uma família podiam outrora exercer essa mente quando outros fatores podem intervir, como, por
autoridade (no caso da vendetta ou da vhème), se a ação exemplo, a devoção religiosa. É, por conseguinte, inútil
fosse submetida a regulamentos reconhecidos como válidos querer explicar tudo pela sociologia ou por qualquer outra
pelos membros do agrupamento. No mesmo sentido, os disciplina. No que concerne à sociologia, ela pode no máxi-
estatutos que regem as corporações de estudantes são do mo referir-se neste caso à concepção da moral que se acha
direito, ou ainda as regras do poder hierocrático chamadas efetivamente válida em média no grupo considerado. A com-
direito canónico, pois elas se fundamentam em uma disci- plexidade das relações e dos comportamentos humanos veda
plina garantida por uma autoridade instituída para fazê-la toda e qualquer interpretação unilateral, salvo quando se
respeitar. procede através do tipo ideal, porque então se constrói
Diferentemente do direito, a convenção é garantida conscientemente uma utopia destinada a fazer compreender,
exteriormente pela oportunidade que têm os indivíduos que na medida do possível e da maneira mais coerente, a reali-
dela se afastai , no interior de um grupo determinado, de dade humana. O conhecimento nunca está à altura do infi-
se exporem a uma reprovação mais ou menos geral, acom- nito extensivo e Intensivo; ele não pode fornecer senão indi-
panhada de certos efeitos práticos. Também ela apresenta, cações que facilitam a compreensão.
pois, um caráter obrigatório, mas na ausência de todo
aparelho de constrangimento. Em outras palavras, ela
encerra uma sanção, mas esta cabe ao grupo como tal e não 18. Quatro distinções
a uma instituição. Ninguém, pois, é inteiramente livre de
observar ou não uma convenção, e por vezes a violação é A sociologia jurídica de WEBER repousa em certo nú-
mero de distinções que importa especificar de início. Nos
'« Wirtschaft und GcscUschaft, t. I, pág. 17. moldes da maioria dos estudos de direito na Alemanha, ele
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começa por examinar o valor da oposição clássica entre direito canónico, nem tampouco o da atividade revolucio-
direito privado e direito público, para constatar que se esta nária do fim do século XVIII, sem levar em conta que as
distinção é muitas vezes cómoda, não repousa em nenhum crenças num direito natural contribuíram para a racionali-
critério jurídico ou sociológico satisfatório. Segundo um zação do direito moderno. Por conseguinte, ignorar esse
primeiro critério, pode-se chamar de direito público ao con- direito significa que se toma partido a favor de certa dogmá-
junto das normas que regulam a atividade relacionada com tica contra a ciência sociológica do direito.
a instituição estatal, sendo o direito privado o conjunto das As duas outras distinções compõem por assim dizer o
normas que se referem às atividades não compreendidas esqueleto da sociologia jurídica de WEBER. Trata-se em
pelo Estado. O segundo critério identifica o direito público primeiro lugar da diferença entre direito objetivo e direito
com a totalidade dos regulamentos da administração, isto subjetivo. Em parte alguma deu ele uma definição precisa
é, com as normas que não contêm senão diretrizes para destes dois conceitos. Em princípio, ele entende por direito
uso do governo. O terceiro considera como direito privado objetivo o conjunto dos regulamentos que valem indistinta-
todas as questões nas quais as partes estão juridicamente mente para todos os membros de um agrupamento, no
em pé de igualdade, e como direito público as que implicam sentido em que este último faz parte da ordem jurídica
na relação hierárquica entre o mando e a obediência, entre geral. Como observa GROPCLAUDE, sua concepção do direito
o domínio e a subordinação. Pode-se objetar que existem subjetivo está bem próxima da aue JELMNFK expôs em seu
esferas que escapam a essa relação hierárquica e no entanto System der subjektiven õffentlichen Rechte (1892). Trata-se
pertencem ao direito público, ou ainda, que certos regula- da possibilidade para um indivíduo de recorrer ao aparelho
mentos públicos criam direitos subjetivos. Não é verdade, de coerção com vistas a garantir seus interesses materiais
por exemplo, que o direito privado é também garantido pela e espirituais. Em outras palavras, os direitos subjetivos pro-
autoridade pública? Além disso, existem administrações de porcionar! jP segurança a pessoas que disponham de um
caráter privado (no caso das empresas económicas); a poder soipjl outros indivíduos ou sobre coisas (proprie-
administração estatal tinha antigamente caráter privado, dade, por exemplo); eles os autorizam a impor, proibir ou
uma vez que se achava nas mãos de servidores ligados à permitir aos outros uma conduta determinada. Pode causar
pessoa do soberano. Por conseguinte, esta distinção entre espanto o fato de WEBER atribuir lupar tão elevado a estas
as duas categorias de direito é incapaz de facilitar a análise espécies de direitos aue não são, afinal de contas, senão
sociológica do direito, por causa de seus equívocos, mesmo interesses proferidos juridicamente, quer se trate, por exem-
que possa apresentar um interesse metodológico para a plo, da liberdade de contratar empregado ou da liberdade
sociologia. do trabalho do operário. Não se deve, entretanto, esquecer
Outra distinção corrente é a do direito positivo e do a linha geral de sua sociologia jurídica: de um lado procura
direito natural. Pela natureza das coisas, a sociologia só ela mostrar os diversos processos que levaram à racionali-
deveria ocupar-se, em princípio, do direito positivo, já que zação do direito moderno, e de outro, ilustrar uma vez mais
só ele dá origem a instituições constatáveis e analisáveis a singularidade da civilização ocidental. Ora, os direitos
cientificamente. Sob este ponto de vista, as sociologias posi- subjetivos constituem aspecto fundamentai desta civilização,
tivistas do século XIX tiveram razão. Esta proibição não por terem desempenhado papel determinante nas transações
poderia, entretanto, ser imposta a uma sociologia jurídica privadas que contribuíram para a formação do capitalismo
compreensiva, como foi explicada anteriormente. Ela não moderno. Pertencem a esta categoria, de um lado, os direi-
pode desinteressar-se do direito natural, se é que ele pode tos à liberdade, isto é, os dispositivos que garantem a segu-
servir de regra para o comportamento significativo dos rança do indivíduo contra a intervenção de terceiros, inclu-
homens nas coletividades determinadas. Certamente, não sive do Estado (por exemplo, a liberdade de consciência ou
deve ela pronunciar-se sobre a validade de tal direito, mas a de dispor de sua propriedade) e, de outro lado, os dispo-
sim compreender até que ponto crenças desse género in- sitivos que deixam ao arbítrio dos indivíduos o direito de
fluenciaram a vida jurídica. Todo sociólogo que o abstraísse regular livremente e com toda autonomia suas relações
condenar-se-ia a não aprender, por exemplo, o sentido da recíprocas por meio de transações jurídicas (liberdade con-
atividade religiosa, que se orienta segundo as normas do tratual) . WEBER especifica, entretanto, que a liberdade con-
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L
tratual não é ilimitada, uma vez que garante menos a liber- aproximar-se dessa qualidade. Da mesma forma a do cádi,
dade dos indivíduos como tais, do que os contratos que eles ou juiz muçulmano que, do alto de sua autoridade, parece
estabelecem entre si, e ainda em certas condições definidas. fazer justiça apenas em função de seu arbítrio (na reali-
Por conseguinte, ela não decorre do direito, mas sim do dade, assinala WEBER, trata-se de uma aparência, uma vez
poder político, pois é provável que um regime socialista que cádi se refere pelo menos implicitamente às represen-
a restrinja singularmente, quer limitando o jogo do inter- tações religiosas ou políticas em voga no seio do povo); 2.°,
câmbio económico, quer impondo restrições à liberdade dos o direito irracional e formal. O legislador e o juiz se deixam
operários no mercado de trabalho. guiar por normas que escapam à razão, porque se pronun-
A distinção entre o direito formal e o direito material ciam com base em uma revelação ou em um oráculo (ordá-
parece mais importante porque condiciona diretamente a lios); 3.°, o direito racional e material. A legislação ou o
racionalização do direito. WEBER entende por lei formal a julgamento se referem a um livro sagrado (por exemplo, o
disposição jurídica que se deixa deduzir logicamente apenas Coroo), à vontade política de um conquistador ou a uma
dos pressupostos de um sistema determinado do direito. O ideologia; 4.°, o direito racional e formal: a lei e o julga-
direito formal é, pois, o conjunto do sistema do direito puro mento são estabelecidos unicamente com base em conceitos
do qual todas as normas obedecem unicamente à lógica abstratos, criados pelo pensamento jurídico.
jurídica, sem intervenção de considerações externas ao Diferentemente do direito formal, que tende a sistema-
direito. O direito material, ao contrário, leva em conta os tizar as normas jurídicas, o direito material permanece em-
elementos extrajurídicos e se refere no curso de seus julga- pírico, porque é, por força das circunstâncias, casuístico.
mentos aos valores políticos, éticos, económicos ou religio- Entretanto, esses dois direitos se deixam racionalizar: um
sos. Daí, duas maneiras de conceber a justiça: uma se atém com base na lógica pura, o outro na da utilidade. Todavia,
exclusivamente às regras da ordem jurídica; é justo o que malgrado a racionalização crescente, um e outro conservam
é estabelecido e conforme à letra ou à lógica do sistema; a elementos trÉacionais, por exemplo, o juramento. Além disso,
outra leva em conta a situação, as intenções dos indivíduos o júri, coifo instituição penal, é o sinal mais patente da
e as condições gerais de sua existência. No mesmo sentido, irracionalidade, como o provam os ataques de que é alvo.
o juiz pode pronunciar um veredito contentando-se em Uns vêem nele um instrumento da luta das classes, outros
aplicar estritamente a lei, ou consultando sua consciência uma ocasião para os jurados darem livre curso a seu res-
para compreender o que lhe parece mais justo. A racionali- sentimento, a seus instintos ou a seus complexos, outros
dade do direito pode, conseqiientemente, ser também formal o consideram como um anacronismo que desafia o pro-
ou material, o que quer dizer que não será nunca perfeita, gresso entendido como uma racionalização da esfera jurí-
pois todos os conflitos jurídicos nascem do antagonismo dica. Em suma, passa por uma espécie de oráculo irracional
insuperável entre essas duas espécies de direitos. Certa- nas mãos de profanos, inimigos de classe ou "perversos".
mente, a legalidade e a eqUidade podem ambas servir de Todas estas críticas, feitas em princípio em nome de unia
critérios para uma conduta jurídica significativa e as duas racionalidade maior, esbarram elas próprias em um fenó-
podem ser arbitrárias e irracionais ou racionais. É claro meno novo: o aparecimento do psiquiatra, cujas explica-
que uma justiça exclusivamente material acabaria servindo ções introduzem um elemento extrajurídico até então igno-
de negação do direito. Por outro lado, nunca existiu e sem rado e que reclama validade científica. Pouco importa o
dúvida jamais haverá justiça puramente formal que possa vocabulário que se empregue para substituir os conceitos
dispensar toda e qualquer consideração estranha ao direito. de direito formal e de direito material, por exemplo, a opo-
Os comentaristas de WEBER distinguem em geral quatro sição entre a crença subjetiva e a situação objetiva. não
tipos ideais do direito: 1.", o direito irracional e material, se chegará a vencer o antagonismo entre a legalidade e a
quando o legislador e o juiz se fundamentam em puros eqUidade. Com efeito, quando se acredita haver superado
valores emocionais, fora de qualquer referência a uma a influência dos elementos religiosos, são fatores económi-
norma, para consultarem apenas a seus próprios sentimen- cos que põem em cheque a racionalidade pura. Mnl se
tos. Como os demais tipos, este não é encontrado em seu mediu sua ação, fatores políticos ou ideológicos vêm pertur-
estado puro, embora a justiça feita por um déspota possa bar a serenidade das normas. Uma vez por todas, não existe

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concordância absoluta entre a pura técnica jurídica e a do direito com base em uma jurisdição que se desenvolve graças
justiça ética, quando mais não fosse, porque esta última a ama formação literária e formalmente lógica como obra de
está sempre às voltas com conflitos Inevitáveis entre a polí- sábios (os juristas profissionais). As qualidades formais do di-
tica, a arte, a economia, a religião e a ciência. reito evoluíram, assim, no quadro da prática primitiva, a partir
de uma combinação de um formalismo condicionado pela magia e
de uma irracionalidade condicionada pela revelação, passando even-
tualmente pela curva de uma racionalidade por finalidade de ordem
19. Do direito irracional ao direito racional material e não-formal, condicionada por elementos tencráticos e
patrimoniais, para chegar a uma racionaliznção o n uniu sistema-
tização lógicas crescentes graças à especialização j u r d i c a e daf
Pode-se com razão perguntar se a racionalização cres- — se considerarmos as coisas do fnrn — para chepar ;< uma su-
cente, que se constata na ordem jurídica, constitui real- blimação lógica e a um rigor dedutivo crescentes do direito, e
mente um progresso ou um simples aperfeiçoamento da enfim a uma técnica racional crescente da prática". n
técnica jurídica. Para dizer a verdade, a sociologia nada
tem com esta questão. Sua tarefa é compreender o movi- Com base em numerosos documentos históricos, WEHEK
mento de racionalização, sem fazer um julgamento de valor. pensa poder afirmar que o direito primitivo tinha em geral
Parece provável que o direito não nasceu de si mesmo, caráter carismático. Era objeto de uma divinização por
mas sim que foi uma resposta a preocupações políticas ou parte dos anunciantes ou profetas do direito, que interpre-
económicas (não exclusivamente como alguns acreditaram) tavam a vontade divina, de sorte que a obrigação da lei era
e principalmente religiosas. Todo agrupamento humano, obra não da vontade humana, mas sim sobrenatural. O
qualquer que seja ele, exige para subsistir que seus mem- temor de Deus imprimia força à decisão. O DECÁLOGO é
bros se submetam a regras comuns, capazes de o compelir exemplo disso, como o direito do CoRAo. A darmos crédito
se assim for preciso. Foram esses usos de caráter coerci- a CÉSAR, DEODORO de SICÍLIA ou STRABON, os druidas gaule-
tivo e proveitosos para a atividade comum dos interessados, ses exercia|i|função legislativa e judiciária. Encontra-se um
que formaram o direito e são eles que continuam a torná-lo fenómeno apllogo nos países germânicos, onde o presidente
indispensável. O fato de em nossos dias a regulamentação do tribunal não podia ditar o direito; este papel cabia a
jurídica se fundamentar em textos de lei não modifica a anunciantes carismáticos: rachimburgos, lagsaga e outros
essência do direito. A lei é o meto técnico recente de um Gesetzsprecher. Nas sociedades africanas, o sacerdote ou o
modo de fazer mais antigo. É falso, pois, dizer que o direito chefe carismático anunciam o direito, mesmo quando as
emanou, por lenta evolução, de costumes inveterados. O representações mágicas perderam sua importância. É pre-
costume era direito, como a lei o é em nossos dias, já que ciso também mencionar os oráculos, os ordálios, etc. O
encerrava os dois elementos fundamentais de todo direito: caráter carismático e irracional do direito persiste, mesmo
a atividade comum dos interessados e o constrangimento. sob forma atenuada, nos países anglo-saxônicos. Por exem-
Um exemplo ilustra este fato. O direito islamita era divi- plo, em seus Commentaries on the law of England (17G5),
dido em quatro escolas: malequita, hanifita, chafeíta e amba- BLAKSTONE fala de um juiz inglês como de um "oráculo
lita. Só o direito hanifita sobreviveu, porque se beneficiava vivo". O mesmo acontece com o juiz americano, cujo julga-
do constrangimento religioso e político, enquanto os outros mento é uma verdadeira criação, a ponto de se ligar seu
pereceram. nome à decisão que ele tomou. De modo geral, a persis-
WEBER concebe a evolução do direito da seguinte ma- tência do júri é uma sobrevivência da irracionalidade do
neira : direito.
Por natureza, o direito carismático primitivo era formal,
"Dividida em estágios teóricos do desenvolvimento, a evolução não no sentido da aplicação de uma norma geral a um
geral do direito e da prática leva da revelação carismática do caso particular, mas no de uma decisão em forma válida
direito, por "profetas do direito", a uma criação e a uma des-
coberta empíricas do direito dos notáveis da topa (criação do para o caso em tela, independentemente dos interesses ou
direito pela jurisprudência de cautela e os antecedentes judiciá- do sentimento subjetivo da justiça. Tratava-se, pois, não de
rios), daí à outorga do direito pelo impcrium leigo e os poderes
teocráticos e, enfim, a uma elaboração sistemática e especializada MAX WEBER, Rechtssoziologie, ed. Luchterband, Neuwied, 1960.
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um formalismo lógico, mas sim exterior, uma vez que a tempo tomava um caráter mais prático, o que só podia
legitimidade do anunciante do direito se fundamentava na reforçar a racionalização. Tomemos a títu'o de ilustração
qualidade sagrada do ato e em certos ritos. Por exemplo, o exemplo de Roma. A administração da justiça compreen
a mancipatio romana exigia do adquirente de um objeto que dia duas fases: a primeira, chamada in lure, situava-se sob
ele o tocasse com suas mãos. Em outros casos, os meios a responsabilidade do magistrado (pretor) que organizava
mágicos não permitiam responder senão a uma pergunta o processo e especificava as regras e a prática a aplicar; a
formulada corretamente, de sorte que o menor erro no segunda, chamada apud judicem, trazia a intervenção do
enunciado da fórmula acarretava a perda do meio jurídico, juiz, pessoa privada, que examinava os fatos e as provas e
por vezes a do processo, ou então anulava o ato. Era, por emitia o julgamento. O pretor, como o juiz, consultava juris-
exemplo, o caso das legis actiones romanas. O formalismo consultos (entre os quais havia sempre por tradição um ou
primitivo tinha menos por fim estabelecer uma prova pela vários pontífices). Até a uma época bem avançada, as
prática (não queria saber se um ato era justo ou não, ver- responsa destes últimos eram ciadas como oráculos. Além
dadeiro ou falso) do que saber qual a parte que podia per- disso, os jurisconsultos podiam assistir os cidadãos, escla-
guntar aos poderes sobrenaturais se estava em seu direito. recendo-os sobre as operações jurídicas e como agir; não
Daí o caráter irracional da decisão: não se baseava na lógica tinham o direito de advogar — esta função cabia aos
ou na prova, mas era uma resposta a uma pergunta formu- oratores — mas podiam beneficiar com seus conselhos as
lada em formas reconhecidas. Com muita frequência havia partes do processo. Assim, os jurisconsultos se tornaram
um meio jurídico peculiar a cada pergunta. Esta desconti- profissionais do direito ou o que WEBER chama de "notá-
nuidade era muitas vezes contrabalançada pela existência de veis da toga". Os documentos mais antigos que possuímos
uma tradição entendidda da seguinte maneira: a pergunta não passam por certo de cole^ões de respostas sem ideia
particular em causa tendo sempre sido regulada da maneira geral nemUdgica; e isso faz com que WEBER afirme que o
pela qual Deus ordenou, é necessário dar-lhe uma solução direito rojppiio era talvez mais irracional do que comu
análoga. É bem verdade que o formalismo assim compreen-
dido conduzia, pela força das circunstâncias, à criação de mente se pensa. Todavia, esses documentos possuíam cará-
certos conceitos jurídicos técnicos, em razão da necessidade ter analítico, que ia além da simples casuística, de maneira
de formular exatamente, sob pena de anulação, a pergunta que, sob o império, os especialistas do direito não tiveram
que se podia dirigir aos deuses, aos anunciantes do direito. qualquer dificuldade em extrair conceitos abstratos capa-
Esta técnica rudimentar encerrava, afinal de contas, uma zes de facilitar a sistematização e a racionalização das
racionalidade, também rudimentar, que se acentuou pelo Pandectas.
fato de, em certos casos, os anunciantes do direito se torna- Tendo em vista as limitações deste livro, não podemos
rem funcionários ou pelo menos autoridades oficiais. entrar nos detalhes dos outros tipos estudados por WEBEK,
Essa foi uma das razões da racionalização progressiva nem expor as comparações que ele fez entre o jurisconsulto
do direito. Com efeito, tornando-se um personagem oficial, romano e o advogado inglês dos Inns of court, ligado a uma
o anunciante do direito convertia-se ao mesmo tempo num prática casuística, ou ainda o teólogo jurista que tentou
personagem que se podia consultar e que efetivamente era racionalizar o direito com base nos textos sagrados, de
consultado. Achava-se, pois, na obrigação de indicar anteci- maneira puramente intelectual e lógica, independentemente
padamente soluções e, com isso, de coordenar suas respos- de qualquer preocupação prática, nem, finalmente, mostrar
tas. Não tinha, com efeito, nenhum interesse em se contra- as correlações e as diferenças entre as respostas do juris-
dizer, mas precisava, isto sim, achar uma norma, pelo menos consulto romano e os fetwa do mufti islamita. É essencial
empírica, que se deixasse aplicar a casos mais ou menos ter em mente que durante este segundo estágio, dominado
semelhantes. A melhor garantia era, pois, a referência às pelo aparecimento dos especialistas mais ou menos seculari-
representações religiosas em vigor. O resultado foi a criação zados do direito, a racionalização e a sistematização se
de uma espécie de tradição que, por si mesma, já era uma acentuaram, embora subsistisse o caráter formal, bem como
racionalização. Certamente, o direito continuava a ser alvo o valor carismático. Convém igualmente notar que outros
de uma revelação ou de uma divinização, mas ao mesmo fatores contribuíram para a racionalização sem terem mais

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mais facilmente quanto a administração do príncipe se racio-
nada de formal. Foram as condições materiais da existência nalizava também com o aparecimento de funcionários cada
das coletividades, como a complicação dos intercâmbios vez mais especializados. Sem eliminar inteiramente os ele-
económicos e o desenvolvimento da prática contratual, os mentos carismáticos e irracionais (por vezes desviando-os
distúrbios ocasionados pelas guerras e a necessidade da em proveito do príncipe), o imperium político tendia igual-
pacificação dos territórios ocupados, etc. Em outras pala- mente para uma sistematização maior do direito material,
vras, o aspecto material assumiu através do tipo ideal im- sob a pressão das necessidades da ordem e da unidade polí-
portância cada vez maior, principalmente sob a pressão do ticas que exigiam uma codificação. Uma das primeiras
poder político ou teocrático.18 preocupações dos príncipes foi justamente criar um Código
Por motivos de ordem e de eficiência, o príncipe polí- -de Processo Penal, seguido de um Código Civil, porém
tico ou hierocrático foi levado fatalmente a intervir em uma muito depois, como veremos mais adiante. Veio em seguida
prática jurídica puramente formal, que funcionava como uma secularização do direito, muito mais acentuada no Oci-
sistema fechado, que não obedecia senão à sua própria dente do que em outras regiões do mundo em que a tradi-
lógica. Certamente, o formalismo jurídico garante, em geral, ção mágica e as normas religiosas constituíram um obstá-
a maior liberdade aos indivíduos na defesa de seus inte- culo à eficiência. Não há dúvida de que a sobrevivência do
resses, porém muitas vezes às custas dos interesses da espírito do direito romano, com sua distinção entre /as
coletividade e às vezes contra os do Estado, sustentáculo e ius, entre deveres religiosos e obrigações jurídicas, exer-
da ordem. Era, portanto, normal que o poder tentasse por ceu forte influência sobre a racionalização do direito ociden-
todos os rr.eios cominar um aparelho judiciário capaz de tal, embora não se possa subestimar a contribuição do
comprometer as decisões da vontade política, e encontrar direito canónico, que foi de todos os direitos sagrados
um equilíbrio tão racional quanto possível entre os interes- o mais racional, pelo fato de ter tomado por base um prin-
ses individuais e os da sociedade, com base não mais em cípio racioM herdado dos estóicos, ou seja o direito na-
uma justiça puramente jurídica, mas sim ética, económica tural. Não^e preciso dizer que a racionalização material
ou soc'*al. O eme procuraram os príncipes patrimoniais e os do direito, sob a autoridade dos príncipes, provocou múlti-
hierocratas, foi a elaboração de um direito que atendesse plos conflitos, um dos principais a oposição entre o direito
às condições materiais e práticas, pronto a sacrificar a pre- material preconizado pelo poder político soberano e aquele
cisão jurídica puramente formal. Tal foi o sentido do esforço que era o apanágio das ordens ou dos feudos. O certo é que
dos demagogos em Atenas, do ius honorarium e dos meios a racionalização material deste terceiro estágio desempe-
pretorianos da prática em Roma, das capitulares dos reis nhou papel determinante na medida em que o fio condutor
francos, das inovações operadas pelos reis da Inglaterra não foi a norma lógica da pura legitimidade jurídica, mas
e o LORDE CHANCELER, da prática inquisitorial da Igreja Ro- sim a pesquisa da verdade material a fim de regular
mana, da ação do absolutismo real na França ou, para citar com objetividade e justiça os conflitos de interesses indi-
um caso mais particular, da iniciativa do rei FREDERICO, viduais, bem como os que podiam pôr em choque a coletivi-
o Grande, na questão relativa ao moleiro ARNOLD. dade com os indivíduos.
A intervenção dos elementos extrajurídicos, de ordem No curso do quarto estágio, assistimos a um retorno
política, económica, social ou ética, longe de entravar a ra- do formalismo cuja finalidade foi desta feita conciliar a
cionalização do direito, só serviu, ao contrário, para ajudar lógica jurídica com as exigências materiais de origem extra-
o seu progresso; é bem verdade, não mais no sentido da jurídica, isto é, as liberdades1 individuais e os imperativos
justiça formal, mas sim da justiça material. E isso tanto coletivos. Este processo, que tem sua origem nos movimen-
tos revolucionários do século XVIII, ainda não logrou en-
18 Não é demais insistir no caráter de tipo ideal da análise de contrar seu centro de gravidade, porque este novo forma-
WEBER. Com efeito, não se trata de interpretar estas fases no sentido lismo se inspirou inicialmente na doutrina do direito na-
de uma sucessão cronológica, mas sim de uma evolução interna do
direito como o indicam os paralelos entre o jurisconsulto romano, o tural, hoje caída em desuso. Diversas concepções tentaram
advogado inglês, o teólogo e o mufti islamita. Não se poderia, pois, fazer as vezes do direito natural decadente, como o positi-
confundir a tipologia descrita por WEBER com a sucessão dos estágios vismo ou o historicismo, mas sem resultado. Nestas condi-
que se encontra nas obras de AUGUSTO COMTE ou de MARX.
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coes, importa medir antes de tudo os efeitos práticos, dos mo que o direito atual se arrisque a afastar os leigos dos
quais o mais substancial consiste na elaboração de códigos problemas jurídicos e a cultivar simplesmente sua igno
civis em diferentes países. A característica essencial do novo rância.
movimento é renunciar ao mesmo tempo ao empirismo e à
casuística, ao cuidado puramente didático e ao conselho
moral, para aumentar a lógica e a racionalidade interna do V — A SOCIOLOGIA DA ARTE E DA TÉCNICA
direito sem excluir os elementos extrajurídicos. Todavia,
esta aspiração ao formalismo permanece equívoca, a exem- 20. Objeto da sociologia da arte
plo do socialismo que procura legitimar ao mesmo tempo
os direitos do indivíduo e os da coletividade. Todos os es- WEBER não teve tempo de realizar seu projeto de uma
forços tendem no sentido da eliminação do excepcional, sociologia da arte. Só nos deixou um esboço de suas inten-
tanto pelo fato dos privilégios do nascimento ou das fun- ções, ao acaso de certos artigos, particularmente do Essai
ções quanto das jurisdições de exceção, mas ao mesmo sur Ia ncutralité axiologique, ou de suas conferências, prin-
tempo enveredamos abertamente ou não pelo caminho de cipalmente a que ele consagrou à vocação do sábio. Apesar
uma docilidade maior em face dos poderes. O novo desen- de tudo, graças a esses elementos esparsos, podemos fazer
volvimento está longe de ficar isento de contradições. Por uma ideia do que ele entendia por sociologia da arte e do
exemplo, o direito penal não tem mais em nossos dias por objeto que ele lhe atribuía.
finalidade punir ou vingar uma falta: revestiu-se da missão Em primeiro lugar, como qualquer outra sociologia, não
de reeducar o condenado. Ao mesmo tempo, entretanto, tem ela a obrigação de emitir julgamentos de valor. Seu
pugnamos em favor de um direito social cuja lógica é con- papel não é a apreciação estética, conquanto o sociólogo
trária ao espírito da tendência anterior. deva ter gosto e ser sensível aos valores que as obras de
Em suma, não se chega a vencer o irracionalismo arte repreáteÉtam. Todavia, questões como: É bom que
fundamental dos valores, porque não se logra superar seu existam ob|&| de arte? A arte tem um sentido? — não lhe
antagonismo. O formalismo permanece, pois, ambíguo, dizem respeito. Como o médico não deve em sua qualidade
apesar de todas as especializações. É que a vida não se de médico perguntar a si mesmo se a vida vale a pena de
deixa encerrar no quadro das prescrições jurídicas abstratas. ser vivida, o sociólogo, como tal, não deve responder à per-
Quaisquer que sejam as intenções dos juristas, quando eles gunta: A arte é o reino do esplendor diabólico, portanto
preconizam, por exemplo, a doutrina do direito livre segun- um reino deste mundo voltado para o gozo e contra Deus
do a qual o direito não deve ser aplicado, mas sim criado e talvez mesmo contra a fraternidade humana em razão de
pelo juiz, ou então quando pretendem achar um escalão seu caráter profundamente aristocrático? O sociólogo parte
objetivo de valor, que situaria finalmente em um mesmo do fato de que existem obras de arte. Sua tarefa é, nestas
plano um direito alfandegário e o poder paterno, parece condições, compreender por que e como os homens orien-
não haver senão uma conclusão capaz de constituir a unani- tam significativamente seu comportamento de acordo com
midade nas atuais condições: a coerência absolutamente a existência de tais obras. Em suma, ele aceita como pres-
lógica e sistemática do direito é uma ficção, porque não suposto que a estética tem uma significação para o homem.
existe teoria jurídica pura e sem falhas. É tão inútil exigir Não precisa sequer pronunciar-se sobre um eventual
do direito que aplique perfeitamente normas gerais quanto progresso da arte como tal, pois um julgamento desses
exigir da linguagem que respeite rigorosamente as regras entra na categoria das avaliações contestáveis. Com efeito,
gramaticais. O papel da sociologia jurídica é precisamente não é verdade que uma obra que utilize meios técnicos
compreender esta diferença, bem como os conflitos que novos, ou concebida em um espírito novo, seja por isso
nascem da incompatibilidade entre o aspecto formal e o superior a uma outra que ignore essa técnica e esse espí-
aspecto material; portanto, analisar o desenvolvimento do rito. Os primitivos não conheciam as leis da perspectiva e no
espírito jurídico sem se deixar influenciar pelas disputas entanto suas obras podem-nos tocar esteticamente, tanto
dogmáticas dos profissionais do direito. Em todo caso, não quanto as que se submetem a essas leis. Toda obra de arte
deve pronunciar-se sobre o valor desta racionalização, mes- deve ser considerada como "completa" em si mesma: não

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FREUND, Julien. Sodologia de Max Weber, 4. ed, Rio de Jancifbí Fc.rensc-Univcrsiíárin,

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