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Supervisão:
Maria Encarnação Beltrão Sposito
SUMÁRIO
Apresentação 4
Resumo 6
Introdução 7
Distinção social e segmentação a partir dos novos espaços e dos novos hábitos
11
de consumo alimentar
Novos e antigos espaços de consumo alimentar em Presidente Prudente e
15
Londrina: localização e lógicas de segmentação do espaço urbano
Considerações finais 30
Referências 33
Relatório das atividades desenvolvidas no período 37
APRESENTAÇÃO
Na segunda parte deste relatório, discorremos a respeito das atividades por nós
desenvolvidas ao longo do período de vigência da bolsa de estudos, isto é, entre 01 de
dezembro de 2015 e 30 de abril de 2016. Descrevemos nossa participação em reuniões
da equipe do Projeto Temático, em grupos de estudos, em reuniões com a supervisora,
em bancas de monografias de bacharelado do curso de Geografia da FCT-UNESP, em
workshop, na equipe editorial da revista Cidades, no conselho consultivo das revistas
Mercator, Geografia em Questão e Espaço em Revista, na realização de trabalhos de
campo, na realização de levantamentos e estudos em geral atinentes ao objeto de
estudo e ao programa de pesquisa previsto, e numa proposta de publicação futura
resultante desta pesquisa.
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PARTE I
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RESUMO
O fato é que aquilo que se consome, seja enquanto necessidade básica ou supérflua,
revela matizes econômicos e culturais, que se delineiam no âmbito da sociedade. Estes
matizes, por sua vez, constroem coletividades (se preferir grupos de consumidores)
que fazem escolhas das áreas citadinas onde podem ou devem consumir. Não
obstante, os locais de consumo são edificados na cidade a partir das estratégias de
localização, que são distintas e diversas aos finitos tipos de estabelecimentos
comerciais.
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INTRODUÇÃO
1
Considerando que a pesquisa em curso tem como foco uma das cidades médias paulistas (Presidente
Prudente-SP) e uma cidade paranaense (Londrina-PR) estudadas no âmbito do Projeto Temático
“Lógicas econômicas e práticas espaciais contemporâneas: cidades médias e consumo”, é
imprescindível, assim, destacar as possibilidades e as interfaces da mesma com o escopo da pesquisa
como um todo e com os demais projetos que vem sendo desenvolvidos pelos membros da equipe que o
compõe. Desta feita, considero importante a contribuição oferecida pelo presente plano de trabalho já
em curso, do qual este deriva e pelos resultados parciais e finais que a partir dele poderão ser
alcançados e explorados.
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aqui pela noção de reestruturação da cidade (SPOSITO, 2007). O aumento na demanda
diária por formas cada vez mais céleres, ‘diferenciadas’ e complexas de alimentação
refletem as transformações do mundo do trabalho e a segmentação socioeconômica,
cada vez mais engatadas na ultra mercantilização atual das relações sociais e
econômicas e na satisfação-sofisticação-customização dos gostos e do consumo, os
quais possuem nítida e forte expressão espacial.
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Ainda, no sentido imposto pelas pautas da reestruturação da cidade, há que se
indagar, tal como propôs o plano de trabalho inicial, se há ocorrência de práticas
espaciais que, de alguma maneira, expressem formas de segregação e segmentação
consideradas nas estratégias de localização dos estabelecimentos, uma vez que, a
sociedade atual, marcada pela desigualdade e pela segmentação econômica, reproduz
o ‘afastamento’ e a separação, buscando cada vez mais a opção de estar entre seus
pares ou entre iguais, diferenciando-se por meio do uso e do consumo exclusivo no/do
espaço.
Essa leitura não poderia se privar da constatação das demais localizações associadas
aos estabelecimentos de consumo alimentar, comumente situados junto às avenidas
de considerável fluxo veicular ou nas vias legalmente destinadas ao uso do solo
comercial nas duas cidades. Por isso, realizamos um levantamento das localizações
nesta pesquisa, não para compreendê-las em si mesmas, mas na sua relação com as
grandes superfícies comerciais que reestruturam a cidade, e na relação com a
segmentação socioespacial. A partir da localização dos estabelecimentos diretamente
voltados ao consumo alimentar, dentre eles os mais expressivos, tendo por base a
leitura da segmentação residencial do espaço, cotejamos demonstrar relações
sintomáticas e mutuamente explicativas das lógicas espaciais aqui consideradas.
Se essa busca pelo ‘diferenciado’ e pelo exclusivo não pode ser completamente
satisfeita no âmago do espaço público ou nos domínios das grandes superfícies
comerciais – como os shopping centers, por exemplo –, outras lógicas econômicas e de
consumo são acionadas para propor a diferenciação, o exclusivo, o novo, o elitizado.
No que tange ao consumo alimentar, o vagalhão da ‘gourmetização’ alcança status
simbólico de destaque atualmente, incorporando demandas antes atendidas em
tradicionais estabelecimentos comerciais voltados a alimentação – como
supermercados e açougues. Ademais, apresenta uma nova caracterização do objeto de
consumo, oferecendo produtos exclusivos, diferenciados e novos (ou inovados) no
mercado alimentício das cidades estudadas. Se a novidade está na caracterização, no
layout dos novos estabelecimentos e na ‘qualidade superior’ ofertada, um novo
‘conceito’ comercial precisou ser atribuído a estes novos estabelecimentos. Agora, por
exemplo, não mais se compra a carne apenas no açougue, mas na boutique de carnes,
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e não se compra apenas carnes, mas também outros produtos típicos de empório –
como importados e outros muito específicos destinados ao preparo da alimentação –,
não encontrados facilmente nos supermercados comuns, ou porque tais segmentos
buscam, opcionalmente, evitar tais espaços comerciais ‘comuns’ e/ou considerados
‘populares’.
O estudo das novas formas de consumo alimentar, focando o caso específico dos
novos espaços destinados ao consumo ‘gourmetizado’, bem como as superfícies
comerciais destinadas à comercialização de produtos alimentares ‘distintos’ – mais
seletos, exclusivos – parece corroborar o entendimento da segmentação do uso, da
apropriação e do consumo no espaço urbano, cuja segmentação reitera-se e conjuga-
se numa só, própria das lógicas de diferenciação e do processo de fragmentação
socioespacial (SPOSITO, 2011a).
Para tanto, devemos entendê-las na sua relação segmentada no contexto geral dos
espaços comerciais afeitos a este tipo de consumo, e essa leitura só pode ser
alcançada se compreendermos também as demais localizações. Por isso, procedemos
a um levantamento de todos açougues, hipermercados, mercados públicos municipais2
dentre outros espaços e grandes superfícies comerciais, como os chamados mercadões
2
Referem-se aos mercados públicos de administração municipal, cujos lojistas detém espaços de venda
chamados “boxes”. Sobre mercados públicos na perspectiva geográfica ver Pintaudi (2006).
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privados3 e shoppings center. A relação expressa-se quando tal leitura é feita
correlacionada à segmentação residencial, aqui demonstrada pela localização dos
espaços residenciais fechados.
Em nossa sociedade se enreda, diz Baudrillard (2011, p. 24, destaques do autor), “[...]
uma ordem do consumo, que se manifesta como ordem da manipulação dos signos.
[...]. Determinados aspectos das nossas cidades contemporâneas realçam cada vez
mais uma lógica das significações, uma análise dos códigos e dos sistemas simbólicos
[...]”. Se perene outrora, atualmente tal sistema simbólico se revela passageiro,
manipulado e manipulador, conformador dos ritmos, da formatação dos gostos e dos
desejos, conforme afirma Baudrillard (2011, p, 14).
Se, por um lado, o consumo a muitos homogeneíza, a tudo torna mais heterogêneo,
fazendo da diferença, mais que da desigualdade, o caractere máximo da distinção
3
Referem-se aos mercadões de propriedade e administração privada, cujos lojistas alugam os boxes dos
proprietários.
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social, do exclusivismo, do singular, da redução da criatividade e multiplicidade
humana à necessidade única e suprema do ato fácil – confortável e pouco criativo – de
escolher, adquirir, consumir:
Para Lipovetsky (2009, p. 199), “[...] jamais se consome um objeto por ele mesmo ou
por seu valor de uso, mas em razão do seu “valor de troca signo”, isto é, em razão do
prestígio, do status, da posição social que confere”. Assim, a determinação
fundamental do consumo é expressa pela lógica da diferenciação social, de modo que
objetos não passam de “expoentes de classe”, de “significantes e discriminantes”
sociais, “signos de mobilidade e de aspiração social”. E prossegue afirmando que: “é
precisamente essa lógica do objeto signo que impulsiona a renovação acelerada dos
objetos mediante sua reestruturação sob a égide da moda: só há efemeridade e
inovação sistemática a fim de produzir a diferenciação social” (LIPOVETSKY, 2009, p.
199).
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Somou-se a atribuição de uma marca à carne à raça do animal e ao corte, inaugurando,
assim, um novo nicho amplamente explorado: o de “carnes nobres” frescas e/ou
maturadas embaladas à vácuo.
4
No Brasil o termo “carnes nobres” foi cunhado pelo renomado chef Marcos Guardabassi, por volta do
ano de 1982, quando abriu sua central frigorífica, denominando-a “Central de Carnes Nobres”, na cidade
de São Paulo. Marcos Bassi, como ficou mais conhecido, utilizou-se tanto da maturação como da
embalagem a vácuo, separando cortes nobres de cortes comuns. Em 1979 abriu um restaurante, O
Templo da Carne, com o objetivo de transcender o preparo comum das “carnes nobres” na época
(Fonte: Wikipedia e http://www.templodacarne.com.br/marcosbassi/).
5
Isto é, limpas e cortadas.
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higienizado, desodorizado, apresentando um layout que em nada se pareça com um
açougue tradicional. Além disso, a boutique de carne oferece uma gama de produtos
extras aos clientes, tais como: molhos, sais e temperos especiais, cervejas artesanais,
vinhos, refrigerantes, variedade de queijos e embutidos, equipamentos e produtos
para o preparo de churrasco – churrasqueira, espetos, facas, garfos, tábuas de carne,
lenha, carvão vegetal etc. –, manual e DVDs de receitas, quase todos eles em suas
versões nacionais e importados (NASCIMENTO, 2006, p. 96-98).
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“garantia de origem”. Se, o capitalismo de meados do século XX viu o florescer e
assistiu ao auge de um consumo de massa, do tipo fordista, caracterizado pelo
hegemônico papel da moda, o capitalismo hodierno catalisa e amplia estas
possibilidades de um consumo cada vez mais simbólico, “hedônico e narcisista”,
marcado pelos tempos e pelos termos dos indivíduos, e dos desejos e necessidades
neles introjetados sucessivamente pelos arquétipos materiais e simbólicos dessa
construção.
Nesse item do relatório, analisamos as lógicas locacionais dos novos e dos antigos
espaços de consumo alimentar, com destaque para os principais supermercados e
hipermercados, mercadões públicos, mercadões privados, açougues e boutiques de
carnes, além dos espaços residenciais fechados6 – cuja finalidade aqui diz respeito à
demonstração da segmentação do espaço urbano do ponto de vista dos espaços do
morar. No mapeamento constam espaços de consumo tais como os shopping centers,
propriamente considerado um espaço de consumo em geral – não apenas alimentar,
mas de uma gama variada de produtos e serviços –, além da própria delimitação da
6
Esta expressão designa “[...] todos os tipos de empreendimentos residenciais horizontais murados e
controlados por sistemas de segurança [...], ainda que haja diferenças, nos termos da legislação vigente,
entre as formas de fechamento e controle observadas nesses espaços, bem como em suas condições
jurídicas de propriedade [...]” (SPOSITO, GÓES, 2013, p. 61).
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área central da cidade, cujo perímetro levou em conta o uso e a ocupação do solo para
finalidades comerciais e de prestação de serviços, o objetivo é analisar a estruturação
comercial do ponto de vista locacional, cujas lógicas exprimem a diferenciação
espacial.
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Mapa 2 - Presidente Prudente: localização dos espaços de consumo alimentar e dos
principais espaços residenciais fechados. 2016.
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Mapa 3 - Londrina: localização dos espaços de consumo alimentar e dos principais
espaços residenciais fechados. 2016.
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De todas as variáveis mapeadas, a que apresenta maior dispersão espacial são os
açougues, espaços do chamado “varejo tradicional”, cuja localização explica-se pela
sua presença junto às vias principais e também junto aos bairros de diferentes
segmentos de rendas, voltados, assim, a um público consumidor mais ‘diversificado’.
Na cidade de Londrina, apenas os açougues encontram-se localizados em setores
espacialmente periféricos desta cidade, relativamente expressando nalguns casos
quase que uma oposição à lógica locacional dos demais espaços destinados ao
consumo alimentar aqui elencados. Já em Presidente Prudente, há um menor número
de açougues nestes setores espacialmente mais periféricos norte e noroeste.
No caso dos mercados públicos apontados nos mapas 2 e 3 convém destacar que, em
Londrina, dois deles não se encontram atualmente em funcionamento, tendo
encerrado muito recentemente suas atividades. São eles os mercados da Casoni7 – a
noroeste da área central – e do Quebec – a sudoeste da área central. Como
encerraram muito recentemente suas atividades, sobretudo o mercado do Quebec –
cujo funcionamento cessou esse ano –, preferimos apontá-los neste mapeamento,
considerando a importância que exerceram na cidade por muitas décadas. O único que
7
Inaugurado no ano de 1963.
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se encontra em funcionamento é o mercado do Shangri-La8 – a noroeste da área
central –, cujos produtos atendem segmentos de médias e altas rendas, em função dos
preços constatados e dos produtos específicos ofertados. Este mercado também se
situa num bairro que ficou tradicionalmente conhecido por ser habitado por
segmentos de média e média-alta rendas, o bairro Shangri-La. O mercado público
municipal de Presidente Prudente foi inaugurado no ano de 19939 – isto é, na nova
localização, atual Mercado Modelo (FRANTANTONIO, 2011, p. 26).
8
Fundado no ano de 1954, entrou em funcionamento somente no ano de 1968.
9
A inauguração do antigo prédio, de localização diferente da atual, datava do final da década de 1950
(FRANTANTONIO, 2011, p. 25).
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Se, na Tabela 1, listamos de modo simplificado a quantidade destes referidos
estabelecimentos, já na Tabela 2 organizamos a relação entre a quantidade destes
estabelecimentos por habitante na cidade, a fim de descrever e analisar esta relação
número de estabelecimentos/população urbana. Ainda que a referida tabela também
consista numa generalização, pois, por exemplo, a maior parte dos habitantes não
consomem nos mercadões privados ou nas boutiques de carne, a mesma afirmação já
não é válida para o caso dos hipermercados, supermercados, açougues e mesmo
shoppings center. Assim, podemos analisar a partir da descrição dos dados a relação
diferenciada existente entre as duas cidades. Nela vemos, por exemplo, como há em
Presidente Prudente proporcionalmente um maior número de hipermercados,
supermercados, açougues e boutiques de carne por citadino, ocorrendo o contrário
para o caso do número de mercados públicos – que funcionaram durante muitas
décadas – e shoppings center em Londrina.
Retomando a questão dos novos espaços do consumo alimentar, focaremos agora nas
boutiques de carnes, tomadas aqui como exemplos destes “novos espaços”. As
boutiques de carnes “[...] são açougues especializados, cujas maiores diferenças estão
no layout; nos tipos de produtos oferecidos, que incluem cortes especiais; na
disposição dos produtos dentro de freezer e no atendimento personalizado” (SEBRAE,
2007, p. 3).
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As boutiques de carnes desejam atrair uma parcela segmentada do mercado,
reconhecendo seu posicionamento no mercado, bem como seus fornecedores,
localização, tamanho do empreendimento e, sobretudo, tendo como alvo principal
uma parcela segmentada do mercado, que signifiquem, potencialmente, uma
demanda fidedigna. Consideram que “um empreendimento não consegue atender a
todos os consumidores”, sendo necessário segmentar o potencial mercado
consumidor “[...] com base nas características geográficas, demográficas, psicológicas
e comportamentais” (SEBRAE, 2007, p. 5). A segmentação é tão pronunciada nesse
nicho que há casos no Brasil de boutiques de carnes estarem localizadas dentro de
espaços residenciais fechados, como é o caso da Bertin Beef Shopping10 que possui
uma unidade em Alphaville (Barueri-SP) (NADEO; NADEO; LAURINDO, 2010).
10
Empresa pertencente ao grupo Bertin S/A - JBS-Friboi, cuja fusão ocorreu no ano de 2009 (NADEO,
NADEO, LAURINDO, 2007, p. 35).
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A passagem do varejo tradicional do açougue – espaço no qual o cliente faz o pedido –,
para o espaço gourmet da boutique de carne – espaço no qual o estabelecimento
vende o corte, e não mais o cliente faz o pedido da carne –, ressignificam e posicionam
a carne no mundo das marcas, da grife, do prazer de comer bem, da apresentação do
produto, da garantia de padrão elevado de qualidade e de rastreabilidade. A
construção social dos padrões gourmet e premium, ou mesmo da atribuição de uma
marca, de uma grife à carne impulsionou o surgimento-criação de uma demanda
segmentada, seletiva e muito específica (VIRDES, 2014).
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alta qualidade e importados. Já em Londrina, há três boutiques de carnes, a Master
Grill, Empório de Carnes Palhano e a Brimis Beef, cujas informações referentes ao
público alvo praticamente se repetem no que concerne à fala dos entrevistados das
boutiques de carne da cidade de Presidente Prudente.
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produtos
importados
Comercializa
produtos afins ao
churrasco e ao Sim Sim Sim Sim Sim Sim
preparo das
carnes
Bebidas, carvão e
Sim Sim Sim Sim Sim Não
gelo
Quadro de
25 15 2 - 7 2
funcionários
Possuem
programa de
relacionamento e Não Não Não Sim Sim Não
cadastramento de
clientes
Serviços delivery Sim Sim Sim Sim Sim Não
Preço da carne
R$ 14,98/kg R$ 9,80 R$ 10,00 - R$ 39,90 R$ 29,90
mais barata
Preço da carne
R$ 190,00 R$ 117,00 R$ 154,90 - R$ 129,90 R$ 70,00
mais cara
Bairros
Nos bairros Nos bairros
Gleba
Onde residem os Em diversos Em diversos arredores – arredores –
Palhano,
clientes da Nos ERF** bairros da bairros da Bela Suiça, Bela Suiça,
São Jorge, e
boutique cidade cidade Guanabara e Guanabara e
ERF
Palhano Palhano
próximos
Ponto
Ponto
Proximidade Ponto amplo, Ponto Ponto adequado,
adequado,
Porque escolheu a com os ERF, localização favorável e favorável e localizado
localização
localização atual ponto amplo favorável e localização localização no
favorável e
e favorável movimentada privilegiada privilegiada Mercadão
movimentada
da Prochet
*Estacionamento do Mercadão da Prochet.
**Espaços residenciais fechados.
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Do conteúdo das entrevistas destacamos alguns pontos que reforçam a segmentação e
a especificidade deste tipo de estabelecimento, e aqui selecionamos alguns:
Trata-se a boutique de carne daquela que comercializa uma carne muito limpa
de impurezas, muito higiênica, embalada à vácuo (carnes maturadas);
As boutiques de carnes oferecem produtos mais refinados, carnes refrigeradas
embaladas à vácuo, cuja procedência e origem é garantida;
O grande destaque são as “carnes nobres” e frescas (chegam todos os dias),
preparadas e embaladas a vácuo. A comodidade, a qualidade e a higiene no
preparo e na embalagem das carnes são as características da boutique de
carne;
A boutique de carne consiste na modernização do açougue. O grande
diferencial é a higiene, pelo fato de todas as carnes serem frescas e embaladas
à vácuo sem contato direto do açougueiro. Além disso, o que a diferencia do
açougue é a conveniência que comercializa outros produtos que normalmente
não são vendidos em açougues comuns;
Cortes diferenciados, carnes importadas (do Uruguai, por exemplo), bem
como, por exemplo, raças britânicas, fazem o diferencial de uma boutique de
carne;
A boutique de carne se define por ser aquela que comercializa carnes
embaladas à vácuo e refrigeradas – em temperatura de geladeira (não
congeladas) –. Somente hambúrgueres, carnes com osso e gordura e linguiças
suínas são congelados.
A higiene, a conservação e a procedência – garantia de origem [código da
carne] – também são características marcantes de uma boutique de carne. A
raça do animal também é outro diferencial de uma boutique. A carne é
embalada à vácuo de um modo todo exclusivo e controlado.
A forma de apresentação da carne é o diferencial que busca o cliente, pois,
para além de um açougue convencional, o cliente da boutique busca por um
empório, isto é, um local onde ela possa adquirir outros produtos
diferenciados, comumente não vendidos num açougue: vinhos, queijos,
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cervejas artesanais, temperos e sais importados, dentre uma variedade de
outros produtos destinados ao preparo das carnes e ao churrasco.
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Mapa 4 - Presidente Prudente: localização dos espaços de consumo alimentar, dos
principais espaços residenciais fechados e espacialização dos setores com o maior
percentual de chefes de família com rendimento igual ou superior à dez salários
mínimos. 2016.
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Mapa 5 - Londrina: localização dos espaços de consumo alimentar, dos principais
espaços residenciais fechados e espacialização dos setores com o maior percentual
de chefes de família com rendimento igual ou superior à dez salários mínimos. 2016.
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É preciso considerar também o papel recente desempenhado nas duas cidades pelos
“mercadões privados”, o Euromarket (inaugurado em dezembro de 2015), em
Presidente Prudente, e o Mercadão da Prochet (inaugurado em 2010), em Londrina.
Tais “mercadões” exercem importante papel na condição de “novos espaços”
destinados ao consumo alimentar, articulando a oferta de produtos específicos e
praças de alimentação a uma demanda bastante segmentada. Inclusive, uma das
boutiques de carnes da cidade de Londrina, a Brimis Beff, está localizada no Mercadão
da Prochet, demonstrando, assim, o público alvo segmentado deste espaço comercial.
Num sentido contraposto, a lógica locacional da maior parte dos açougues parece
demonstrar uma espacialização distinta, afastando-se destas áreas mais valorizadas e
que concentram maior número de chefes de família com maiores rendimentos. Seja
em função do preço cobrado pelo aluguel e/ou de venda dos pontos comerciais, ou em
função da proximidade com um mercado mais “amplo”, a lógica locacional dos
açougues difere espacial e essencialmente da localização das boutiques de carnes, dos
mercadões privados e dos hipermercados, estando presentes em diferentes bairros
das cidades e ao longo das principais vias.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Não apenas uma marca foi atribuída à carne, mas todo um estilo e um novo rito foram
elaborados e imputados ao novo consumo, ao novo consumidor, aquele que come
com e por prazer (NASCIMENTO, 2007). O atributo “nobre” incorporado à carne
procura, cada vez mais, diferenciar o produto em questão da condição de simples
alimento, e afastá-lo da condição de simples mercadoria, tal como afirma Bauman
(2008, p. 23). Atribui-lhe um caráter exclusivo que, somado à qualidade superior,
remete-o, também, a um consumidor superior.
De acordo com Nascimento (2007, p. 21), o prazer de comer fez a comida passar do
âmbito da necessidade de se alimentar e de se nutrir para o da satisfação do prazer
propriamente dito, o âmbito do gozo:
Na última década do século XX, a comida abriu portas para novos
desejos, profissões, objetos de consumo, formas de relacionamentos,
cerimônias de agregação, obras literárias e cinematográficas. Tornou-
se cada vez mais evidente que, sob o domínio da linguagem, o
comportamento de se alimentar extrapola o âmbito da necessidade e
da nutrição (NASCIMENTO, 2007, p. 21).
E este prazer contido no alimentar-se forjou novas motivações para o ato em sim: o
ato de se alimentar como um ato de “distinção de grupo”, como um novo “significado
social ou de riqueza”, motivado pelo “reconhecimento, fortalecimento da auto-estima,
exercício do poder político e econômico” (NASCIMENTO, 2007, p. 29). Assim, o ato de
comer bem enquanto atividade simbólica revela significados e aspectos de nossa
sociedade que perpassam e se ressignificam pela lógica de distinção e diferenciação
social tão característica de nossas elites.
De acordo com Nascimento (2007, p. 61), “até bem pouco tempo, cozinhar era tarefa
de subalternos. E quando o interesse pela culinária, despertado na classe média, foi
exacerbado nos segmentos econômicos mais altos, tornou-se para muitos um atestado
de prosperidade e requinte”. A moda do “do it yourself” – o “faça você mesmo” –
reforçou todo um estilo de comer bem não só nos restaurantes, mas também em casa.
Cursos de preparo e cortes de carnes, de churrasco, de haute cuisine e de enologia são
sintomáticos destas mudanças de hábitos, as quais coadunam com o forjar do “bom
gosto” e coabitam com a “estilização da vida” na escala do lar, e não apenas fora dele,
nos espaços comerciais da alimentação (NASCIMENTO, 2007, p. 62). A introdução
destes novos “estilos”, do “bom gosto”, do gourmet etc. na escala da cozinha de casa,
reverberando a partir das mudanças no mundo do consumo e da alimentação fora do
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lar, hora ensejou, hora reforçou, numa via de mão dupla, novas possibilidades aos
“novos espaços” do consumo alimentar e extrapolou a escala cosmopolita da
metrópole, almejando segmentos de média alta e de alta renda capacitados à entrada
no novo mundo gourmet do comer com e por prazer também nas cidades médias.
Em função destas motivações e significantes acreditamos dever-se a abertura de
“novos espaços” do consumo alimentar nas cidades aqui estudadas, ausentes até
pouco tempo, mas tão destacados e visíveis nas colunas sociais – vitrines midiáticas
das elites locais – destas cidades. Tal é o caso dos chamados “mercadões privados” e
do mercado das carnes nobres, facilitado pelas novas boutiques de carnes. A vinda
destes novos espaços do consumo alimentar nestas cidades corresponde também à
identificação de demanda significativa existente nestas cidades, dispostas ao consumo
nestes novos estabelecimentos. A identificação desta numerosa demanda – por meio
de estudos de viabilidade econômica – suscitou a implantação de espaços tais como os
mercadões privados bem como das boutiques de carnes.
No plano espacial a segmentação reforça a concentração e a ausência de
determinados muitos tipos de estabelecimentos comerciais em áreas desvalorizadas
da cidade – do ponto de vista imobiliário –, ainda que estas detenham grandes
contingentes populacionais, obrigando-os a empreender deslocamentos maiores se
comparado ao daqueles grupos economicamente mais capacitados para satisfazer suas
demandas. Ainda que, necessariamente, tais segmentos socioeconômicos não
satisfaçam suas demandas nos mesmos espaços de consumo das elites, e isso por
razões óbvias, os deslocamentos e acessibilidade-mobilidade favorecem determinados
segmentos enquanto penalizam outros, excluindo-os assim, ainda mais, do direito à
cidade, bem como onerando suas viagens aos principais super e hipermercados da
cidade. Se por um lado, os mapas anteriores revelam a concentração dos antigos e
novos espaços do consumo alimentar nas duas cidades, com exceções para o caso do
varejo tradicional – no caso dos açougues, mais dispersos pela cidade –, por outro, eles
não revelam a qualidade e a manutenção da infraestrutura viária nestas cidades que,
devido ao processo de urbanização capitalista e às lógicas espaciais dele derivadas,
mantém em condições desiguais de manutenção e investimentos públicos tais vias,
isso sem falar nas possibilidades de deslocamento, favoráveis e individuais aos
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segmentos socioeconômicos mais capacitados, diferentemente das alternativas
encontradas pelos segmentos socioeconômicos mais desfavorecidos.
REFERÊNCIAS
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INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. IBGE – CIDADES@. Rio de
Janeiro: IBGE, 2016 (Resultado do Censo de 2010). Disponível em:
http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/home.php. Acessado em 17 de maio de 2016.
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Pesquisa do Estado de São Paulo. (Proponente: Maria Encarnação Beltrão Sposito).
Universidade Estadual Paulista, campus de Presidente Prudente-SP, 2011b.
SPOSITO, Maria E. B.; GÓES, Eda M. Espaços fechados e cidades. Insegurança urbana e
fragmentação socioespacial. São Paulo: Editora UNESP, 2013.
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PARTE II
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RELATÓRIO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NO PERÍODO
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realização do XII Workshop – e membros que participam de forma virtual. As reuniões
subdividem-se em dois momentos: um de natureza mais administrativa, para tratar da
organização das atividades em desenvolvimento e outro de discussão de textos, livros,
artigos etc. Houve também, durante uma destas reuniões, a interlocução com
“agentes bem informados” das cidades estudadas, os quais tiveram a oportunidade de
participar de um dia de reuniões, compartilhando informações e conhecimentos
específicos sobre o tema do consumo a partir de uma das cidades contempladas no
Projeto Temático.
Foram realizadas reuniões com a supervisora deste projeto e responsável pelo Projeto
Temático “Lógicas econômicas e práticas espaciais contemporâneas: cidades médias e
consumo”, Maria Encarnação Beltrão Sposito, a fim de que pudesse acompanhar o
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desenvolvimento das atividades e dirimir quaisquer dúvidas concernentes ao
desenvolvimento do projeto e às atividades por mim desempenhadas no âmbito do
Projeto Temático e do próprio GAsPERR.
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Participação em workshop
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Realização de trabalhos de campo
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Trabalho de campo realizado na cidade de Presidente Prudente entre 11 e 14
de março:
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Amarela, Telelista e Lista Mais, dentre outros recursos de pesquisas de localizações
online disponíveis. Com base neste levantamento elaboramos a concepção do
mapeamento, considerando a segmentação socioespacial, a partir da localização dos
principais espaços residenciais fechados e dos setores censitários nos quais há um
maior número de chefes de família com rendimento mensal igual ou superior a dez
salários mínimos.
A recorrência a uma literatura de matiz sociológica foi essencial para compor o formal
analítico necessário à redação deste relatório, para que, desse modo, não ficássemos
limitados a uma mera descrição dos dados, das informações e dos levantamentos de
campo, mas sim, pudéssemos empreender uma análise do objeto de estudo,
considerando as interfaces com diferentes áreas do conhecimento e as interfaces com
o próprio Projeto Temático.
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empresas. Essa abordagem possibilitará estudar a ação tanto dos grandes capitais
(grupos econômicos e suas redes comerciais e de serviços), como dos médios
(empresas vinculadas às franquias) e pequenos (comércio informal em suas
articulações com outros capitais)” (SPOSITO, 2011b, p. 6, destaques no original). Já a
dimensão empírica número quatro consiste na: “análise dos espaços que são
decorrência das novas formas de consumo e, ao mesmo tempo, condição de sua
realização, indicando a ocorrência de processos de reestruturação das cidades médias,
com o intuito de observar a localização e os conteúdos dos novos espaços onde o
consumo se realiza (com atenção especial aos shopping centers), bem como
estudando quais espaços são objeto dos novos consumos (com atenção especial para
os novos hábitats urbanos)” (SPOSITO, 2011b, p. 6, destaques no original).
Título provisório: "A sociedade do consumo nas cidades médias brasileiras: os novos
hábitos alimentares e a segmentação dos tradicionais e novos espaços de consumo".
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