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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA - UNESP

“JÚLIO DE MESQUITA FILHO”


FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA - FCT
CAMPUS DE PRESIDENTE PRUDENTE - SP

FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA


GRUPO DE PESQUISA PRODUÇÃO DO ESPAÇO E REDEFINIÇÕES REGIONAIS (GAsPERR)

WAGNER VINICIUS AMORIM

A SOCIEDADE DO CONSUMO NAS CIDADES MÉDIAS


BRASILEIRAS: OS NOVOS HÁBITOS ALIMENTARES E SEUS
ESPAÇOS DE CONSUMO

Relatório Científico referente às atividades realizadas no período de vigência de Bolsa


de Pós-Doutorado (PD), sob o processo nº 2015/19621-0, compreendido entre 01 de
dezembro de 2015 a 30 de abril de 2016.

Supervisão:
Maria Encarnação Beltrão Sposito
SUMÁRIO

Apresentação 4
Resumo 6
Introdução 7
Distinção social e segmentação a partir dos novos espaços e dos novos hábitos
11
de consumo alimentar
Novos e antigos espaços de consumo alimentar em Presidente Prudente e
15
Londrina: localização e lógicas de segmentação do espaço urbano
Considerações finais 30
Referências 33
Relatório das atividades desenvolvidas no período 37
APRESENTAÇÃO

Este relatório refere-se às atividades desenvolvidas no âmbito do Processo FAPESP


2015/19621-0, concernentes à sociedade de consumo nas cidades médias, seus novos
e antigos espaços de consumo e novos hábitos alimentares. Seu desenvolvimento dá-
se no âmbito do Projeto Temático “Lógicas econômicas e práticas espaciais
contemporâneas: cidades médias e consumo”, considerando determinados eixos
analíticos e dimensões empíricas deste Projeto, a fim de desenvolver e contribuir por
meio interfaces profícuas com o mesmo.

O relatório está dividido em duas partes: na primeira, expomos os resultados da


pesquisa propriamente dita, cuja redação está subdividida em quatro itens e
referências bibliográficas. No primeiro item, introduzimos o objeto de pesquisa,
considerando o plano da análise e a dimensão empírica. Já no segundo, buscamos
compreender a distinção social e a segmentação a partir dos novos espaços e dos
novos hábitos de consumo alimentar. No terceiro, analisamos os novos e antigos
espaços de consumo alimentar em Presidente Prudente e Londrina, descrevendo sua
localização e analisando as lógicas de segmentação do/no espaço urbano. Por fim, nas
considerações finais apresentamos ideias-sínteses dos resultados obtidos por meio
deste sub-projeto.

Na segunda parte deste relatório, discorremos a respeito das atividades por nós
desenvolvidas ao longo do período de vigência da bolsa de estudos, isto é, entre 01 de
dezembro de 2015 e 30 de abril de 2016. Descrevemos nossa participação em reuniões
da equipe do Projeto Temático, em grupos de estudos, em reuniões com a supervisora,
em bancas de monografias de bacharelado do curso de Geografia da FCT-UNESP, em
workshop, na equipe editorial da revista Cidades, no conselho consultivo das revistas
Mercator, Geografia em Questão e Espaço em Revista, na realização de trabalhos de
campo, na realização de levantamentos e estudos em geral atinentes ao objeto de
estudo e ao programa de pesquisa previsto, e numa proposta de publicação futura
resultante desta pesquisa.

Página | 4
PARTE I

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RESUMO

A sociedade contemporânea é considerada uma sociedade de consumo. Qual o


significado dessa adjetivação? Como o entendimento do consumo e da sua dinâmica
possibilita à ciência geográfica elucidar as práticas espaciais contemporâneas?
Responder essas duas questões é o intuito da investigação proposta por este plano de
pesquisa.

O fato é que aquilo que se consome, seja enquanto necessidade básica ou supérflua,
revela matizes econômicos e culturais, que se delineiam no âmbito da sociedade. Estes
matizes, por sua vez, constroem coletividades (se preferir grupos de consumidores)
que fazem escolhas das áreas citadinas onde podem ou devem consumir. Não
obstante, os locais de consumo são edificados na cidade a partir das estratégias de
localização, que são distintas e diversas aos finitos tipos de estabelecimentos
comerciais.

Geralmente, a escolha da localização do estabelecimento evidencia as condições de


acessibilidade a determinadas áreas do espaço intraurbano, enquanto que, ao optar
por onde consumir, o consumidor sinaliza suas condições de mobilidade. As duas
escolhas desvelam práticas espaciais que simultaneamente produzem e consomem
espaço urbano e são resultado da experiência do espaço percebido; bem como
guardam em si outras determinações. Dessa maneira, o consumo do espaço dispõe um
encadeamento de outros consumos.

Consumir é um ato constante em qualquer sociedade e a satisfação das necessidades e


desejos, uma ordem contemporânea. Dentre todas as modalidades de consumo, o
alimentar demanda práticas cotidianas e se constitui como o mais complexo, dada a
peculiaridade na distribuição e perecibilidade de alguns produtos, pela diversidade na
oferta e formas de comercialização.

A irrevogabilidade do consumo alimentar combinada com mudanças no mundo do


trabalho, no ritmo de vida nas cidades e no aumento de poder de compra das classes
de renda C e D das cidades médias brasileiras podem justificar o aumento na oferta de
produtos e na disseminação de estabelecimentos que comercializam produtos
alimentares.

Pretendemos compreender os tipos de estabelecimentos que surgem, suas demandas


e seus efeitos de disseminação na reestruturação de cidades, bem como seu papel na
conformação de novos espaços de consumo. Por outro lado, esta pesquisa pode
contribuir para entender que práticas de segregação são induzidas pelos padrões
construtivos dos estabelecimentos, suas escolhas locacionais e outras estratégias de
fortalecimento do consumo que colocam em pauta. Para isso, a pesquisa tevecomo
foco duas cidades, sendo uma paulista e uma paranaense – Presidente Prudente e
Londrina –, para fins de uma análise comparativa.

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INTRODUÇÃO

Em face da emergência de segmentos socioeconômicos capacitados ao consumo e dos


novos espaços comerciais é imperioso destacar que o aumento do poder de compra
estimulou a ampliação das demandas, agora e cada vez mais voltadas ao consumo
diferenciado e aos “novos hábitos”, erigindo verdadeiros subgrupos de consumo que
se, por um lado, são ‘diferenciados’ em função de seu apelo ao exclusivo, por outro,
estão afeitos às especificidades culturais de cada país, de cada região e formação
socioespacial e às escalas espaciais da urbanização e das cidades e das classes na
sociedade. Essas últimas ponderações chamam atenção, tendo em vista que as cidades
médias expressam, por assim dizer, diferenças e particularidades atinentes às práticas
espaciais dos citadinos relativas ao consumo – em sua dinâmica espacial e temporal –
e às lógicas econômicas se as pensarmos em comparação com outros espaços urbanos,
tais como as metrópoles. Nas primeiras, os chamados novos espaços do consumo
produzidos em função dos novos hábitos alimentares ainda expressam um caráter de
novidade, ensejando mudanças nos hábitos, bem como nas práticas espaciais de
alguns subgrupos elitizados ávidos por e afeitos aos novos espaços do consumo em
geral, e do consumo alimentar especificamente.

Assim, de um modo amplo, pensando na relação entre a sociedade de consumo, as


práticas espaciais1 e a emergência de grupos e subgrupos de consumidores – a
ensejarem uma verdadeira predileção por determinadas áreas e localizações na e/da
cidade (em que comparecem fortes estratégias de localização, viabilizadas pela
acessibilidade e mobilidade) – a produção e o consumo do/no espaço pela ótica do
consumo alimentar fora de casa e nos locais preferenciais de aquisição de produtos
alimentares dos segmentos socioeconômicos mais favorecidos é expressivamente
resultante das transformações pelas quais tais cidades vêm passando, compreendidas

1
Considerando que a pesquisa em curso tem como foco uma das cidades médias paulistas (Presidente
Prudente-SP) e uma cidade paranaense (Londrina-PR) estudadas no âmbito do Projeto Temático
“Lógicas econômicas e práticas espaciais contemporâneas: cidades médias e consumo”, é
imprescindível, assim, destacar as possibilidades e as interfaces da mesma com o escopo da pesquisa
como um todo e com os demais projetos que vem sendo desenvolvidos pelos membros da equipe que o
compõe. Desta feita, considero importante a contribuição oferecida pelo presente plano de trabalho já
em curso, do qual este deriva e pelos resultados parciais e finais que a partir dele poderão ser
alcançados e explorados.

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aqui pela noção de reestruturação da cidade (SPOSITO, 2007). O aumento na demanda
diária por formas cada vez mais céleres, ‘diferenciadas’ e complexas de alimentação
refletem as transformações do mundo do trabalho e a segmentação socioeconômica,
cada vez mais engatadas na ultra mercantilização atual das relações sociais e
econômicas e na satisfação-sofisticação-customização dos gostos e do consumo, os
quais possuem nítida e forte expressão espacial.

Compreendemos que a produção, em sentido amplo, a partir de uma demanda


constatada nas cidades estudas por nós – Londrina e Presidente Prudente (Mapa 1) –,
engendra novas formas de implantação e novas localizações para os estabelecimentos,
de modo tal que se articulam à reestruturação da cidade, ou seja, à emergência de
novos espaços residenciais, de consumo, de fluxos intensos e diários e de superfícies
comerciais apropriadas pela trama simbólica do exclusivo-sofisticado, segmentado,
diferenciado.

Mapa 1 - Presidente Prudente/SP e Londrina/PR: Localização dos municípios.

Fonte: Base cartográfica IBGE. Organização: Wagner Vinicius Amorim.

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Ainda, no sentido imposto pelas pautas da reestruturação da cidade, há que se
indagar, tal como propôs o plano de trabalho inicial, se há ocorrência de práticas
espaciais que, de alguma maneira, expressem formas de segregação e segmentação
consideradas nas estratégias de localização dos estabelecimentos, uma vez que, a
sociedade atual, marcada pela desigualdade e pela segmentação econômica, reproduz
o ‘afastamento’ e a separação, buscando cada vez mais a opção de estar entre seus
pares ou entre iguais, diferenciando-se por meio do uso e do consumo exclusivo no/do
espaço.

Essa leitura não poderia se privar da constatação das demais localizações associadas
aos estabelecimentos de consumo alimentar, comumente situados junto às avenidas
de considerável fluxo veicular ou nas vias legalmente destinadas ao uso do solo
comercial nas duas cidades. Por isso, realizamos um levantamento das localizações
nesta pesquisa, não para compreendê-las em si mesmas, mas na sua relação com as
grandes superfícies comerciais que reestruturam a cidade, e na relação com a
segmentação socioespacial. A partir da localização dos estabelecimentos diretamente
voltados ao consumo alimentar, dentre eles os mais expressivos, tendo por base a
leitura da segmentação residencial do espaço, cotejamos demonstrar relações
sintomáticas e mutuamente explicativas das lógicas espaciais aqui consideradas.

Se essa busca pelo ‘diferenciado’ e pelo exclusivo não pode ser completamente
satisfeita no âmago do espaço público ou nos domínios das grandes superfícies
comerciais – como os shopping centers, por exemplo –, outras lógicas econômicas e de
consumo são acionadas para propor a diferenciação, o exclusivo, o novo, o elitizado.
No que tange ao consumo alimentar, o vagalhão da ‘gourmetização’ alcança status
simbólico de destaque atualmente, incorporando demandas antes atendidas em
tradicionais estabelecimentos comerciais voltados a alimentação – como
supermercados e açougues. Ademais, apresenta uma nova caracterização do objeto de
consumo, oferecendo produtos exclusivos, diferenciados e novos (ou inovados) no
mercado alimentício das cidades estudadas. Se a novidade está na caracterização, no
layout dos novos estabelecimentos e na ‘qualidade superior’ ofertada, um novo
‘conceito’ comercial precisou ser atribuído a estes novos estabelecimentos. Agora, por
exemplo, não mais se compra a carne apenas no açougue, mas na boutique de carnes,

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e não se compra apenas carnes, mas também outros produtos típicos de empório –
como importados e outros muito específicos destinados ao preparo da alimentação –,
não encontrados facilmente nos supermercados comuns, ou porque tais segmentos
buscam, opcionalmente, evitar tais espaços comerciais ‘comuns’ e/ou considerados
‘populares’.

Ainda que a tipologia do estabelecimento denominado “boutique” pareça destinar-se


apenas e tão somente aos segmentos socioeconômicos de alta renda, algumas delas,
inicialmente, oferecem produtos convencionais, a preços acessíveis, modo pelo qual
procuram fazerem-se ‘conhecidas’, divulgar sua ‘marca’ na cidade, conquistar clientela
e, desse modo, posteriormente, focar nos produtos mais caros, específicos da
denominação boutique. Entretanto, algumas focam totalmente na alta renda,
oferecendo apenas produtos típicos da boutique, e não as demais opções que podem
ser facilmente encontradas em qualquer açougue ou supermercado. Esta distinção é a
que promove a exclusividade, o status e a diferenciação, fazendo também da
alimentação um modo de diferenciação social (NASCIMENTO, 2007).

O estudo das novas formas de consumo alimentar, focando o caso específico dos
novos espaços destinados ao consumo ‘gourmetizado’, bem como as superfícies
comerciais destinadas à comercialização de produtos alimentares ‘distintos’ – mais
seletos, exclusivos – parece corroborar o entendimento da segmentação do uso, da
apropriação e do consumo no espaço urbano, cuja segmentação reitera-se e conjuga-
se numa só, própria das lógicas de diferenciação e do processo de fragmentação
socioespacial (SPOSITO, 2011a).

Para tanto, devemos entendê-las na sua relação segmentada no contexto geral dos
espaços comerciais afeitos a este tipo de consumo, e essa leitura só pode ser
alcançada se compreendermos também as demais localizações. Por isso, procedemos
a um levantamento de todos açougues, hipermercados, mercados públicos municipais2
dentre outros espaços e grandes superfícies comerciais, como os chamados mercadões

2
Referem-se aos mercados públicos de administração municipal, cujos lojistas detém espaços de venda
chamados “boxes”. Sobre mercados públicos na perspectiva geográfica ver Pintaudi (2006).

Página | 10
privados3 e shoppings center. A relação expressa-se quando tal leitura é feita
correlacionada à segmentação residencial, aqui demonstrada pela localização dos
espaços residenciais fechados.

Consideramos que a localização dos novos ‘espaços-dispositivos’ alimentares articula-


se e se dá, agora e cada vez mais, em função das lógicas de segmentação socioespacial,
possibilitando-nos observar quase que uma relação de proximidade entre os
estabelecimentos estudados e as áreas residenciais onde habitam os segmentos
socioeconômicos de maior rendimento nas duas cidades. Compreendemos também
que estas escolhas se fazem em função da renda, das condições socioeconômicas e,
principalmente, em função dos desejos e aspirações construídos em torno de um
conjunto de “tipos ideais” da natureza do consumo como afirmação e autoafirmação
da condição socioeconômica e socioespacial diferenciada.

DISTINÇÃO SOCIAL E SEGMENTAÇÃO A PARTIR DOS NOVOS ESPAÇOS E DOS NOVOS


HÁBITOS DE CONSUMO ALIMENTAR

Em nossa sociedade se enreda, diz Baudrillard (2011, p. 24, destaques do autor), “[...]
uma ordem do consumo, que se manifesta como ordem da manipulação dos signos.
[...]. Determinados aspectos das nossas cidades contemporâneas realçam cada vez
mais uma lógica das significações, uma análise dos códigos e dos sistemas simbólicos
[...]”. Se perene outrora, atualmente tal sistema simbólico se revela passageiro,
manipulado e manipulador, conformador dos ritmos, da formatação dos gostos e dos
desejos, conforme afirma Baudrillard (2011, p, 14).

Vivemos o tempo dos objetos: […] existimos segundo o seu ritmo e


em conformidade com a sucessão permanente. Actualmente, somos
nós que os vemos nascer, produzir-se e morrer, ao passo que em
todas as civilizações anteriores eram os objectos, instrumentos ou
monumentos perenes, que sobreviviam às gerações humanas.
(BAUDRILLARD, 2011, p. 14).

Se, por um lado, o consumo a muitos homogeneíza, a tudo torna mais heterogêneo,
fazendo da diferença, mais que da desigualdade, o caractere máximo da distinção

3
Referem-se aos mercadões de propriedade e administração privada, cujos lojistas alugam os boxes dos
proprietários.

Página | 11
social, do exclusivismo, do singular, da redução da criatividade e multiplicidade
humana à necessidade única e suprema do ato fácil – confortável e pouco criativo – de
escolher, adquirir, consumir:

[e]ncontramo-nos em pleno foco do consumo enquanto organização


total da vida quotidiana, enquanto homogeneização integral onde
tudo está compendiado e ultrapassado na facilidade, enquanto
translucidez de uma “felicidade” abstracta, definida pela simples
resolução das tensões. (BAUDRILLARD, 2011, p. 20).

Encontrado o foco das tensões, o nicho do ultrapassado ou do superado, o mercado


reinventa ou mesmo inaugura novos modos, novos ‘conceitos’, novas possibilidades
aos atos do consumo, buscando superar o trivial, o comum, o ‘popular’, o redundante
e o repetitivo, apresentando, porém, novas repetições, mas num status superior, fora
do alcance dos ‘populares’, fora das possibilidades do espaço trivial e banal do
consumo. Assim, o consumo alimentar da onda ‘gourmet’ exibe, em suas novas formas
e possibilidades, uma ‘exuberância’ estética e elitizada destinada ao topo da pirâmide
socioeconômica que se impõe como fonte e como força de distinção pela satisfação
narcísica dos desejos e dos apetites individuais forjados pelo mercado e introjetados
cotidianamente numa demanda mais que específica, altamente segmentada, exclusiva.

Para Lipovetsky (2009, p. 199), “[...] jamais se consome um objeto por ele mesmo ou
por seu valor de uso, mas em razão do seu “valor de troca signo”, isto é, em razão do
prestígio, do status, da posição social que confere”. Assim, a determinação
fundamental do consumo é expressa pela lógica da diferenciação social, de modo que
objetos não passam de “expoentes de classe”, de “significantes e discriminantes”
sociais, “signos de mobilidade e de aspiração social”. E prossegue afirmando que: “é
precisamente essa lógica do objeto signo que impulsiona a renovação acelerada dos
objetos mediante sua reestruturação sob a égide da moda: só há efemeridade e
inovação sistemática a fim de produzir a diferenciação social” (LIPOVETSKY, 2009, p.
199).

Até meados da década de 2000, o setor cárnico, especificamente o nicho de carnes


vermelhas, não se diferenciava dos demais apelando ao símbolo, ao signo da marca,
isto é, não era tão comum a carne possuir uma marca, mas isso mudou
significativamente com a adesão em massa dos cortes bovinos embalados a vácuo.

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Somou-se a atribuição de uma marca à carne à raça do animal e ao corte, inaugurando,
assim, um novo nicho amplamente explorado: o de “carnes nobres” frescas e/ou
maturadas embaladas à vácuo.

O aumento expressivo da comercialização das “carnes nobres”4 pré-preparadas5 vem


ocorrendo nos últimos anos, nos hipermercados, mas, sobretudo, nas chamadas
boutiques de carnes, e isso se dá em função da praticidade do local de compras bem
como da apresentação, padronização do produto, das estratégias de marketing, isto é,
do aspecto simbólico do produto, da sua ‘capacidade’ recente de receber uma ‘marca’,
mais que um selo de qualidade ou uma garantia de origem, mas uma significação
simbólica exclusivista para os que se propõem a consumi-lo. Os segmentos
socioeconômicos mais favorecidos são os que mais adquirem tais produtos,
destacando-se as classes A e B, as quais se constituem na demanda solvável dessas
boutiques de carne e, por essa razão, tornaram-se público alvo preferencial dos
comerciantes de carnes diferenciadas. A boutique de carnes especializou-se na
comercialização de carnes e cortes especiais, em raças de gado importadas, com alto
valor agregado, posto que esta demanda não se preocupa com o preço, mas com a
qualidade pela qual pode pagar (NASCIMENTO, 2006, p. 42).

Os açougues são considerados o varejo tradicional, estabelecimentos nos quais o


vendedor corta e orienta o cliente na escolha da compra, cujas classes econômicas
mais atendidas são as classes B, C e D. Já, no modelo das boutiques de carne, as carnes
são embaladas a vácuo e os atendentes são mais capacitados a orientar o cliente no
que diz respeito à origem, à segurança higiênica do produto, ao preparo, aos temperos
necessários e opcionais, indicando quais as carnes adequadas para determinadas
ocasiões específicas etc. Característica específica da boutique de carne é a própria loja,
a qual oferece uma recepção personalizada, cujos clientes esperam da loja um
atendimento diferenciado e especializado, bem como um ambiente climatizado,

4
No Brasil o termo “carnes nobres” foi cunhado pelo renomado chef Marcos Guardabassi, por volta do
ano de 1982, quando abriu sua central frigorífica, denominando-a “Central de Carnes Nobres”, na cidade
de São Paulo. Marcos Bassi, como ficou mais conhecido, utilizou-se tanto da maturação como da
embalagem a vácuo, separando cortes nobres de cortes comuns. Em 1979 abriu um restaurante, O
Templo da Carne, com o objetivo de transcender o preparo comum das “carnes nobres” na época
(Fonte: Wikipedia e http://www.templodacarne.com.br/marcosbassi/).
5
Isto é, limpas e cortadas.

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higienizado, desodorizado, apresentando um layout que em nada se pareça com um
açougue tradicional. Além disso, a boutique de carne oferece uma gama de produtos
extras aos clientes, tais como: molhos, sais e temperos especiais, cervejas artesanais,
vinhos, refrigerantes, variedade de queijos e embutidos, equipamentos e produtos
para o preparo de churrasco – churrasqueira, espetos, facas, garfos, tábuas de carne,
lenha, carvão vegetal etc. –, manual e DVDs de receitas, quase todos eles em suas
versões nacionais e importados (NASCIMENTO, 2006, p. 96-98).

Com relação ao surgimento das boutiques de carnes, Rosa et al. (2005, p. 4)


argumentam que:

[...] os comerciantes do ramo de carnes perceberam que o açougue


tradicional não possui organização para oferecer atenção que parte
de seus clientes exigem. Para isso seria necessário um novo conceito
de ponto comercial, desenvolvendo uma loja que se projeta para
valorizar as características dos produtos, num ambiente convidativo e
receptivo ao consumidor: a boutique de carnes (ROSA et al., 2005, p.
4).

Portanto, em função das razões expostas, consideramos que, na relação com os


demais espaços comerciais atinentes ao consumo alimentar, as boutiques de carne
expressam a diferenciação socioespacial, bem como se apresentam como novas
possibilidades, resultantes da criação deste novo “conceito”, conforme coloca Rosa et
al (2005). Todavia, ao contrário do que apregoam os estudos realizados na área do
marketing, da publicidade e da administração, consideramos que são, de fato, os
tempos e os termos dos objetos – aqui considerando o estabelecimento do tipo
‘boutique’ um “objeto”, segundo a compreensão apresentada por Baudrillard (2011) –
que criam seus desejos, isto é, sua demanda. Assim, este novo ‘conceito’, em nosso
ver, não parte de uma ‘ansiedade’ constatada na demanda, mas sim de uma
‘novidade’ inventada pela oferta, que, ao fim das contas, cria e justifica a ‘presumida’ e
disposta demanda, bem como a ‘suposta’ ‘necessidade’.

Na concepção apresentada por Lipovetsky (2007), há, hoje, uma mudança de


“preocupações” referentes ao sentido da vida. Se, outrora, primava o consumo
desenfreado “isento de reflexividade”, atualmente, há toda uma construção cultural e
social da necessidade da “qualidade de vida”, cuja imposição educa e reorienta seus
consumidores a não mais comprarem uma “coisa”, mas uma “assinatura”, uma

Página | 14
“garantia de origem”. Se, o capitalismo de meados do século XX viu o florescer e
assistiu ao auge de um consumo de massa, do tipo fordista, caracterizado pelo
hegemônico papel da moda, o capitalismo hodierno catalisa e amplia estas
possibilidades de um consumo cada vez mais simbólico, “hedônico e narcisista”,
marcado pelos tempos e pelos termos dos indivíduos, e dos desejos e necessidades
neles introjetados sucessivamente pelos arquétipos materiais e simbólicos dessa
construção.

O exemplo da boutique de carnes de per si não constitui o objeto próprio e por


excelência desta investigação, mas na articulação junto aos outros espaços de
consumo e símbolos da diferenciação social, da segmentação atinente aos espaços do
morar e, em oposição, na relação com os espaços do chamado varejo tradicional, isto
é, os açougues, prosseguiremos a análise empreendendo a leitura e a análise do papel
dos novos hábitos alimentares e de seus espaços de consumo nas duas cidades
médias, chamando atenção quanto à localização desta atividade comercial altamente
segmentada e dos ineditismos que tais espaços afeitos à consecução destes “novos
hábitos” exercem nas cidades e entre seus demandantes na perspectiva dos
empresários deste novo nicho do mercado alimentício.

NOVOS E ANTIGOS ESPAÇOS DE CONSUMO ALIMENTAR EM PRESIDENTE PRUDENTE


E LONDRINA: LOCALIZAÇÃO E LÓGICAS DE SEGMENTAÇÃO DO ESPAÇO URBANO

Nesse item do relatório, analisamos as lógicas locacionais dos novos e dos antigos
espaços de consumo alimentar, com destaque para os principais supermercados e
hipermercados, mercadões públicos, mercadões privados, açougues e boutiques de
carnes, além dos espaços residenciais fechados6 – cuja finalidade aqui diz respeito à
demonstração da segmentação do espaço urbano do ponto de vista dos espaços do
morar. No mapeamento constam espaços de consumo tais como os shopping centers,
propriamente considerado um espaço de consumo em geral – não apenas alimentar,
mas de uma gama variada de produtos e serviços –, além da própria delimitação da

6
Esta expressão designa “[...] todos os tipos de empreendimentos residenciais horizontais murados e
controlados por sistemas de segurança [...], ainda que haja diferenças, nos termos da legislação vigente,
entre as formas de fechamento e controle observadas nesses espaços, bem como em suas condições
jurídicas de propriedade [...]” (SPOSITO, GÓES, 2013, p. 61).

Página | 15
área central da cidade, cujo perímetro levou em conta o uso e a ocupação do solo para
finalidades comerciais e de prestação de serviços, o objetivo é analisar a estruturação
comercial do ponto de vista locacional, cujas lógicas exprimem a diferenciação
espacial.

Tais espaços aqui mapeados constituem elementos estruturadores do espaço urbano,


do ponto de vista da localização das atividades comerciais, e explicativos da
mobilidade engendrada pela demanda que busca tais estabelecimentos. Além dessa
importância, a localização em si demonstra a disposição diferencial dos
estabelecimentos pelo espaço da cidade, consoante à sua estruturação viária. A
própria disposição diferencial de tais estabelecimentos já seria demonstrativa da
divisão social do espaço urbano (TOPALOV, 1979, 1984), do ponto de vista do acesso a
tais espaços de consumo, ao mesmo tempo em que ela resulta das decisões dos
empresários urbanos (ABRAMO, 2004), tomadas em função, em grande medida, da
pretérita divisão social do espaço e da estruturação comercial e residencial que,
historicamente constituiu-se nas cidades estudadas, reiterando e reforçando estas
desigualdades, expressas aqui visualmente na própria concentração espacial de tais
estabelecimentos (Mapas 2 e 3).

Os mapas 2 e 3 apresentam a localização dos estabelecimentos mencionados


chamando atenção também para a localização dos espaços residenciais fechados, cuja
localização expressa a segmentação das escolhas residenciais exercidas por famílias
que dispõem de maior “liberdade de escolha” no mercado imobiliário, ainda que com
tal entendimento não concordemos com a chamada “soberania da demanda”.
Todavia, a segmentação residencial expressa pela localização dos espaços residenciais
fechados reforça a diferenciação socioespacial (CARLOS, 2007) e a proximidade com
relação aos espaços de consumo, sobretudo com aqueles que atendem segmentos de
média e alta renda.

Página | 16
Mapa 2 - Presidente Prudente: localização dos espaços de consumo alimentar e dos
principais espaços residenciais fechados. 2016.

Página | 17
Mapa 3 - Londrina: localização dos espaços de consumo alimentar e dos principais
espaços residenciais fechados. 2016.

Página | 18
De todas as variáveis mapeadas, a que apresenta maior dispersão espacial são os
açougues, espaços do chamado “varejo tradicional”, cuja localização explica-se pela
sua presença junto às vias principais e também junto aos bairros de diferentes
segmentos de rendas, voltados, assim, a um público consumidor mais ‘diversificado’.
Na cidade de Londrina, apenas os açougues encontram-se localizados em setores
espacialmente periféricos desta cidade, relativamente expressando nalguns casos
quase que uma oposição à lógica locacional dos demais espaços destinados ao
consumo alimentar aqui elencados. Já em Presidente Prudente, há um menor número
de açougues nestes setores espacialmente mais periféricos norte e noroeste.

Majoritariamente voltados a um consumo diário – como é o caso dos açougues, dos


mercadões públicos e privados e dos hiper e supermercados –, tais espaços de
consumo alimentar estão situados próximos ou junto às principais vias destas duas
cidades e na área central e no subcentro – como é o caso de Londrina, cuja
concentração na porção norte da cidade assim o demonstra. Para além da perspectiva
locacional, a segmentação socioespacial reitera a divisão social do espaço quando
observamos a localização dos espaços de consumo, tais como hipermercados,
shoppings center, boutiques de carnes, mercados privados e alguns mercados públicos
espacialmente próximos aos espaços residenciais fechados. Esta proximidade é mais
nítida no caso da cidade de Londrina (Mapa 3), cuja concentração reforça esta
‘separação espacial’, destacando-se setores da cidade que concentram oferta de
serviços e de estabelecimentos comerciais, além da própria qualidade superior da
infraestrutura ali existente, no caso a zona central e a porção sudoeste.

No caso dos mercados públicos apontados nos mapas 2 e 3 convém destacar que, em
Londrina, dois deles não se encontram atualmente em funcionamento, tendo
encerrado muito recentemente suas atividades. São eles os mercados da Casoni7 – a
noroeste da área central – e do Quebec – a sudoeste da área central. Como
encerraram muito recentemente suas atividades, sobretudo o mercado do Quebec –
cujo funcionamento cessou esse ano –, preferimos apontá-los neste mapeamento,
considerando a importância que exerceram na cidade por muitas décadas. O único que

7
Inaugurado no ano de 1963.

Página | 19
se encontra em funcionamento é o mercado do Shangri-La8 – a noroeste da área
central –, cujos produtos atendem segmentos de médias e altas rendas, em função dos
preços constatados e dos produtos específicos ofertados. Este mercado também se
situa num bairro que ficou tradicionalmente conhecido por ser habitado por
segmentos de média e média-alta rendas, o bairro Shangri-La. O mercado público
municipal de Presidente Prudente foi inaugurado no ano de 19939 – isto é, na nova
localização, atual Mercado Modelo (FRANTANTONIO, 2011, p. 26).

Na Tabela 1, apresentamos a quantidade dos chamados “novos” e “antigos” espaços


destinados ao consumo alimentar nas cidades de Presidente Prudente e Londrina,
considerando os principais supermercados e hipermercados, os mercados públicos
municipais, os chamados mercadões privados, açougues, boutiques de carnes e os
shoppings centers. O levantamento foi feito a partir de diferentes fontes de coleta de
dados, desde levantamentos em campo, pesquisas nas principais listas telefônicas,
dentre outros recursos de pesquisas de localizações online, contudo é preciso
considerar que não se trata de um levantamento oficial ou exaustivo, mas de uma
grande amostragem muito próxima do universo total.

Tabela 1 - Presidente Prudente e Londrina: Novos e antigos espaços destinados ao


consumo alimentar. 2016.
Principais
Mercados Mercadão Boutiques Shoppings
supermercados e Açougues
públicos privado de carnes center
hipermercados
Presidente
14 1 1 106 3 2
Prudente
Londrina 28 *3 1 192 3 5
*Consideramos três mercados públicos municipais para a cidade de Londrina embora atualmente
apenas um esteja em funcionamento, porque o fechamento dos outros dois é muito recente, datando
do corrente ano de 2016, e por terem funcionado por muitas décadas acreditamos que eles foram
significativos em seu referido papel de mercado público municipal.
Fonte: levantamos in loco e Lista Mais, Lista Amarela e Telelista.

8
Fundado no ano de 1954, entrou em funcionamento somente no ano de 1968.
9
A inauguração do antigo prédio, de localização diferente da atual, datava do final da década de 1950
(FRANTANTONIO, 2011, p. 25).

Página | 20
Se, na Tabela 1, listamos de modo simplificado a quantidade destes referidos
estabelecimentos, já na Tabela 2 organizamos a relação entre a quantidade destes
estabelecimentos por habitante na cidade, a fim de descrever e analisar esta relação
número de estabelecimentos/população urbana. Ainda que a referida tabela também
consista numa generalização, pois, por exemplo, a maior parte dos habitantes não
consomem nos mercadões privados ou nas boutiques de carne, a mesma afirmação já
não é válida para o caso dos hipermercados, supermercados, açougues e mesmo
shoppings center. Assim, podemos analisar a partir da descrição dos dados a relação
diferenciada existente entre as duas cidades. Nela vemos, por exemplo, como há em
Presidente Prudente proporcionalmente um maior número de hipermercados,
supermercados, açougues e boutiques de carne por citadino, ocorrendo o contrário
para o caso do número de mercados públicos – que funcionaram durante muitas
décadas – e shoppings center em Londrina.

Tabela 2 - Presidente Prudente e Londrina: Relação espaços destinados ao consumo


alimentar/citadinos*. 2016.
Principais
Mercados Mercadão Boutiques Shoppings
supermercados e Açougues
públicos** privado de carnes center
hipermercados
Presidente
1/14.526,7 1/203.375 1/203.375 1/1.918,63 1/67.791,6 1/101.687,5
Prudente
Londrina 1/17.625,7 1/164.506,6 1/ 493.520 1/2.570,4 1/164.506,6 1/98.7045
*População residente urbana (IBGE – CENSO 2010).
**Consideramos três mercados públicos municipais para a cidade de Londrina embora atualmente,
como foi frisado, apenas um esteja em funcionamento, porque o fechamento dos outros dois é muito
recente, datando do corrente ano de 2016, e por terem funcionado por muitas décadas acreditamos
que eles foram significativos em seu referido papel de mercado público municipal.
Fonte: IBGE (2010) levantamos in loco e Lista Mais, Lista Amarela e Telelista.

Retomando a questão dos novos espaços do consumo alimentar, focaremos agora nas
boutiques de carnes, tomadas aqui como exemplos destes “novos espaços”. As
boutiques de carnes “[...] são açougues especializados, cujas maiores diferenças estão
no layout; nos tipos de produtos oferecidos, que incluem cortes especiais; na
disposição dos produtos dentro de freezer e no atendimento personalizado” (SEBRAE,
2007, p. 3).

Página | 21
As boutiques de carnes desejam atrair uma parcela segmentada do mercado,
reconhecendo seu posicionamento no mercado, bem como seus fornecedores,
localização, tamanho do empreendimento e, sobretudo, tendo como alvo principal
uma parcela segmentada do mercado, que signifiquem, potencialmente, uma
demanda fidedigna. Consideram que “um empreendimento não consegue atender a
todos os consumidores”, sendo necessário segmentar o potencial mercado
consumidor “[...] com base nas características geográficas, demográficas, psicológicas
e comportamentais” (SEBRAE, 2007, p. 5). A segmentação é tão pronunciada nesse
nicho que há casos no Brasil de boutiques de carnes estarem localizadas dentro de
espaços residenciais fechados, como é o caso da Bertin Beef Shopping10 que possui
uma unidade em Alphaville (Barueri-SP) (NADEO; NADEO; LAURINDO, 2010).

Para além da questão da segmentação do mercado, segundo Cavalcanti (2010, p. 19):


“o público alvo da boutique de carnes é um público que compra um conceito, eles
consomem o produto porque ele está ‘na moda’, pois aquela empresa está na mídia, e
comprando naquela empresa o consumidor se sente ‘na moda’”. Ademais, as
boutiques de carnes “encarnam” não só o “padrão gourmet”, mas também a “nova
face do açougue”, a ideia do açougue como mais que uma loja, mas como uma
boutique, incorporando a grife à carne (BRAUN, 2013).

De acordo com Braun (2013), há exemplos de boutiques de carnes no país desde a


década de 1970 – caso da Wessel, que comercializa, em São Paulo, na Avenida Faria
Lima, diversos cortes e raças considerados “nobres” –, porém, foi somente na década
de 2000 que este negócio cresceu no país, em função da existência de uma demanda
que experimentava diversos tipos de cortes e raças em diferentes países – Uruguai,
Argentina, Holanda, Nova Zelândia, Austrália, Japão, Inglaterra dentre outros, como
EUA e Índia (ZANINE; SILVA, 2006) – e passaram a procurar por tais produtos no Brasil.
A identificação desta demanda despertou a possibilidade de determinados
empresários e produtores investirem no segmento especializado do mercado de
“carnes nobres”.

10
Empresa pertencente ao grupo Bertin S/A - JBS-Friboi, cuja fusão ocorreu no ano de 2009 (NADEO,
NADEO, LAURINDO, 2007, p. 35).

Página | 22
A passagem do varejo tradicional do açougue – espaço no qual o cliente faz o pedido –,
para o espaço gourmet da boutique de carne – espaço no qual o estabelecimento
vende o corte, e não mais o cliente faz o pedido da carne –, ressignificam e posicionam
a carne no mundo das marcas, da grife, do prazer de comer bem, da apresentação do
produto, da garantia de padrão elevado de qualidade e de rastreabilidade. A
construção social dos padrões gourmet e premium, ou mesmo da atribuição de uma
marca, de uma grife à carne impulsionou o surgimento-criação de uma demanda
segmentada, seletiva e muito específica (VIRDES, 2014).

Trata-se também de um nicho de mercado que ainda vê o desenvolvimento da


demanda segmentada, pois, diferentemente de um nicho consolidado, aqui se trata
ainda de forjar, de introduzir, de ‘vender’ estes hábitos e estes gostos. Tal é o caso das
boutiques de carnes ainda constituírem-se em “novos espaços” do consumo alimentar,
sobretudo no caso das cidades contempladas em nosso estudo, cujo caráter recente
deste tipo de estabelecimento nos possibilita assim caracterizá-los.

Na cidade de Londrina, bem como na cidade de Presidente Prudente, há três


boutiques de carnes. Elas estão localizadas em áreas valorizadas e em avenidas muito
importantes destas duas cidades, geralmente próximas à área central da cidade, como
é o caso de uma boutique de carne em Presidente Prudente. Na cidade de Londrina, as
três boutiques de carnes estão em localizações valorizadas pelo mercado imobiliário e
muito próximas dos espaços residenciais fechados, enquanto que em Presidente
Prudente, das três duas delas estão localizadas próximas aos condomínios horizontais
e loteamentos fechados, e uma está próxima à área central.

Existem, atualmente em Presidente Prudente, três boutiques de carnes da cidade: a


Boutique de Carnes Empório Nelore de Ouro, fundada no ano de 2011, a Better Beef -
Casa de carnes & restaurante, fundada no ano de 2012 e a Prime Boutique de Carnes,
fundada em 2014. Os entrevistados afirmaram que o público alvo é amplo e que
atendem clientes de diversos bairros e zonas da cidade, mas também concordam que
seu público alvo mais específico é aquele dos segmentos de renda mais elevada,
atendendo, neste caso, majoritariamente moradores dos espaços residenciais
fechados, justamente por possuírem um maior leque de opção de produtos caros, de

Página | 23
alta qualidade e importados. Já em Londrina, há três boutiques de carnes, a Master
Grill, Empório de Carnes Palhano e a Brimis Beef, cujas informações referentes ao
público alvo praticamente se repetem no que concerne à fala dos entrevistados das
boutiques de carne da cidade de Presidente Prudente.

Na sequência apresentamos um quadro síntese das principais características das


boutiques de carne das cidades de Presidente Prudente e Londrina (Quadro 1). As
informações foram levantadas a partir da aplicação de questionários junto aos
responsáveis e/ou atendentes disponíveis nestas boutiques, os quais objetivaram
caracterizá-las para descrevê-las e, por fim, analisa-las frente a segmentação deste
nicho específico dos “novos espaços do consumo”, especificamente do mercado de
carnes.

Quadro 1 - Presidente Prudente e Londrina: principais características das boutiques


de carne. 2016.
Presidente Prudente Londrina
Empório Better Beef - Empório de
Boutiques de Prime Boutique
Nelore de Casa de carnes Master Grill Carnes Brimis Beef
carne de carnes
Ouro & restaurante Palhano
Ano de fundação 2011 2012 2014 2008 2013 2014
Área comercial da
300m2 Aprox. 600m2 Aprox. 200m2 30m2 150m2 30m2
loja
Média alta e Todos os Média alta e Média alta e Média e alta Média alta e
Perfil da clientela
alta renda segmentos alta renda alta renda renda alta renda
Horário de
21h 21h 18h 19h 19h30min 19h
fechamento
Possui
Não Sim Não Não Não Sim*
estacionamento
Quantidade
aprox. de clientes
150/mais de
atendidos (dias da 200/500 50/80 - 40/120 10/30
150
semana/finais de
semana)
Ticket médio R$ 300,00 R$ 100,00 R$ 200,00 - R$ 190,00 R$ 100,00
Quantidade de
itens - - - - Mais de 100 275
comercializados
Angus, nelore,
Raças Angus e wagyu, Angus e Angus e Angus e
Angus e nelore
comercializadas nelore cordeiro e nelore nelore nelore
leitoa
Possui adega Sim Não Sim Não Sim Sim
Comercializa
Sim Não Sim Não Não Sim
queijos
Comercializa Sim Sim Sim Não Sim Sim

Página | 24
produtos
importados
Comercializa
produtos afins ao
churrasco e ao Sim Sim Sim Sim Sim Sim
preparo das
carnes
Bebidas, carvão e
Sim Sim Sim Sim Sim Não
gelo
Quadro de
25 15 2 - 7 2
funcionários
Possuem
programa de
relacionamento e Não Não Não Sim Sim Não
cadastramento de
clientes
Serviços delivery Sim Sim Sim Sim Sim Não
Preço da carne
R$ 14,98/kg R$ 9,80 R$ 10,00 - R$ 39,90 R$ 29,90
mais barata
Preço da carne
R$ 190,00 R$ 117,00 R$ 154,90 - R$ 129,90 R$ 70,00
mais cara
Bairros
Nos bairros Nos bairros
Gleba
Onde residem os Em diversos Em diversos arredores – arredores –
Palhano,
clientes da Nos ERF** bairros da bairros da Bela Suiça, Bela Suiça,
São Jorge, e
boutique cidade cidade Guanabara e Guanabara e
ERF
Palhano Palhano
próximos
Ponto
Ponto
Proximidade Ponto amplo, Ponto Ponto adequado,
adequado,
Porque escolheu a com os ERF, localização favorável e favorável e localizado
localização
localização atual ponto amplo favorável e localização localização no
favorável e
e favorável movimentada privilegiada privilegiada Mercadão
movimentada
da Prochet
*Estacionamento do Mercadão da Prochet.
**Espaços residenciais fechados.

Do Quadro 1 destacamos as especificidades próprias a este tipo de estabelecimento,


tais como o horário de funcionamento mais amplo, os produtos específicos,
comumente não encontrados facilmente nos supermercados – as próprias carnes
nobres e raças especiais em si, cervejas artesanais, temperos específicos –, os
produtos importados – temperos, molhos, bebidas etc. O ticket médio também chama
atenção pelo alto valor das compras, bem como os preços máximos a que estas carnes
podem ser comercializadas. Nos seis casos a segmentação de mercado é evidente não
só pela localização das boutiques, mas também pela clientela declarada pelos próprios
entrevistados e seu local de moradia.

Página | 25
Do conteúdo das entrevistas destacamos alguns pontos que reforçam a segmentação e
a especificidade deste tipo de estabelecimento, e aqui selecionamos alguns:

 Trata-se a boutique de carne daquela que comercializa uma carne muito limpa
de impurezas, muito higiênica, embalada à vácuo (carnes maturadas);
 As boutiques de carnes oferecem produtos mais refinados, carnes refrigeradas
embaladas à vácuo, cuja procedência e origem é garantida;
 O grande destaque são as “carnes nobres” e frescas (chegam todos os dias),
preparadas e embaladas a vácuo. A comodidade, a qualidade e a higiene no
preparo e na embalagem das carnes são as características da boutique de
carne;
 A boutique de carne consiste na modernização do açougue. O grande
diferencial é a higiene, pelo fato de todas as carnes serem frescas e embaladas
à vácuo sem contato direto do açougueiro. Além disso, o que a diferencia do
açougue é a conveniência que comercializa outros produtos que normalmente
não são vendidos em açougues comuns;
 Cortes diferenciados, carnes importadas (do Uruguai, por exemplo), bem
como, por exemplo, raças britânicas, fazem o diferencial de uma boutique de
carne;
 A boutique de carne se define por ser aquela que comercializa carnes
embaladas à vácuo e refrigeradas – em temperatura de geladeira (não
congeladas) –. Somente hambúrgueres, carnes com osso e gordura e linguiças
suínas são congelados.
 A higiene, a conservação e a procedência – garantia de origem [código da
carne] – também são características marcantes de uma boutique de carne. A
raça do animal também é outro diferencial de uma boutique. A carne é
embalada à vácuo de um modo todo exclusivo e controlado.
 A forma de apresentação da carne é o diferencial que busca o cliente, pois,
para além de um açougue convencional, o cliente da boutique busca por um
empório, isto é, um local onde ela possa adquirir outros produtos
diferenciados, comumente não vendidos num açougue: vinhos, queijos,

Página | 26
cervejas artesanais, temperos e sais importados, dentre uma variedade de
outros produtos destinados ao preparo das carnes e ao churrasco.

A segmentação é ainda mais reforçada quando analisamos a proximidade destas


boutiques com os principais espaços residenciais fechados e com os setores censitários
nos quais há um maior número de chefes de família com rendimento mensal igual ou
superior a dez salários mínimos (Mapas 4 e 5). Durante a aplicação dos questionários,
houve apenas um caso no qual o entrevistado relatou que ao iniciar suas atividades
optou por oferecer produtos a preços acessíveis na parte do açougue para se fazer
conhecido na cidade, e depois focou na boutique de carnes. Atualmente, esta boutique
possui carnes a venda que chegam a custar R$ 154,90/kg – como é o caso da picanha
de wagyu. De todas as boutiques das duas cidades esta é a que possui uma localização
mais afastada dos principais espaços residenciais fechados e mais próxima da área
central, numa avenida de intenso tráfego, a Avenida Manoel Goulart, em Presidente
Prudente. As demais boutiques de carne desta cidade e as três de Londrina estão
muito próximas dos setores concentradores das maiores faixas de renda e dos
condomínios horizontais e loteamentos fechados.

Os setores censitários aglutinados concernem àqueles setores em que há mais chefes


de família com rendimentos iguais ou superiores a dez salários mínimos durante o ano
de 2010. O procedimento adotado foi o de quartis, mapeando-se o terceiro e o quarto
quartis superiores, nos quais há um maior percentual de chefes de família auferindo
este rendimento com relação ao total da cidade, ou seja, destacando-se os setores que
mais concentram esta faixa de renda. Desse modo, a segmentação demonstrou-se
reforçada a partir da lógica espacial da valorização, destacando eixos e porções
específicas da cidade, despontando nas duas cidades no sentido sudoeste (Mapas 4 e
5).

Página | 27
Mapa 4 - Presidente Prudente: localização dos espaços de consumo alimentar, dos
principais espaços residenciais fechados e espacialização dos setores com o maior
percentual de chefes de família com rendimento igual ou superior à dez salários
mínimos. 2016.

Página | 28
Mapa 5 - Londrina: localização dos espaços de consumo alimentar, dos principais
espaços residenciais fechados e espacialização dos setores com o maior percentual
de chefes de família com rendimento igual ou superior à dez salários mínimos. 2016.

Página | 29
É preciso considerar também o papel recente desempenhado nas duas cidades pelos
“mercadões privados”, o Euromarket (inaugurado em dezembro de 2015), em
Presidente Prudente, e o Mercadão da Prochet (inaugurado em 2010), em Londrina.
Tais “mercadões” exercem importante papel na condição de “novos espaços”
destinados ao consumo alimentar, articulando a oferta de produtos específicos e
praças de alimentação a uma demanda bastante segmentada. Inclusive, uma das
boutiques de carnes da cidade de Londrina, a Brimis Beff, está localizada no Mercadão
da Prochet, demonstrando, assim, o público alvo segmentado deste espaço comercial.

Num sentido contraposto, a lógica locacional da maior parte dos açougues parece
demonstrar uma espacialização distinta, afastando-se destas áreas mais valorizadas e
que concentram maior número de chefes de família com maiores rendimentos. Seja
em função do preço cobrado pelo aluguel e/ou de venda dos pontos comerciais, ou em
função da proximidade com um mercado mais “amplo”, a lógica locacional dos
açougues difere espacial e essencialmente da localização das boutiques de carnes, dos
mercadões privados e dos hipermercados, estando presentes em diferentes bairros
das cidades e ao longo das principais vias.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

“Se foi o destino do fetichismo da mercadoria ocultar das vistas a substância


demasiado humana da sociedade de produtores, é papel do fetichismo da
subjetividade ocultar a realidade demasiado comodificada da sociedade de
consumidores”, afirma Bauman (2008, p. 23). Com esta colocação procuramos elaborar
algumas sínteses, considerando que o consumo nos novos espaços enseja aquilo que
não é comum, pois, o que é comum pode ser satisfeito em espaços tradicionais do
consumo.
O apelo ao exclusivo, à grife, ao segmentado e ao diferenciado expõe os “valores” e os
aspectos simbólicos construídos e erigidos em torno de produtos e mercadorias que o
nicho do mercado assim o escolheu para reconstruir seus significados frente aos
consumidores. O caso em questão foi o da construção de um novo simbolismo, de um
novo signo para uma mercadoria já existente no mercado, e difundir esta “inovação”.

Página | 30
Não apenas uma marca foi atribuída à carne, mas todo um estilo e um novo rito foram
elaborados e imputados ao novo consumo, ao novo consumidor, aquele que come
com e por prazer (NASCIMENTO, 2007). O atributo “nobre” incorporado à carne
procura, cada vez mais, diferenciar o produto em questão da condição de simples
alimento, e afastá-lo da condição de simples mercadoria, tal como afirma Bauman
(2008, p. 23). Atribui-lhe um caráter exclusivo que, somado à qualidade superior,
remete-o, também, a um consumidor superior.
De acordo com Nascimento (2007, p. 21), o prazer de comer fez a comida passar do
âmbito da necessidade de se alimentar e de se nutrir para o da satisfação do prazer
propriamente dito, o âmbito do gozo:
Na última década do século XX, a comida abriu portas para novos
desejos, profissões, objetos de consumo, formas de relacionamentos,
cerimônias de agregação, obras literárias e cinematográficas. Tornou-
se cada vez mais evidente que, sob o domínio da linguagem, o
comportamento de se alimentar extrapola o âmbito da necessidade e
da nutrição (NASCIMENTO, 2007, p. 21).
E este prazer contido no alimentar-se forjou novas motivações para o ato em sim: o
ato de se alimentar como um ato de “distinção de grupo”, como um novo “significado
social ou de riqueza”, motivado pelo “reconhecimento, fortalecimento da auto-estima,
exercício do poder político e econômico” (NASCIMENTO, 2007, p. 29). Assim, o ato de
comer bem enquanto atividade simbólica revela significados e aspectos de nossa
sociedade que perpassam e se ressignificam pela lógica de distinção e diferenciação
social tão característica de nossas elites.
De acordo com Nascimento (2007, p. 61), “até bem pouco tempo, cozinhar era tarefa
de subalternos. E quando o interesse pela culinária, despertado na classe média, foi
exacerbado nos segmentos econômicos mais altos, tornou-se para muitos um atestado
de prosperidade e requinte”. A moda do “do it yourself” – o “faça você mesmo” –
reforçou todo um estilo de comer bem não só nos restaurantes, mas também em casa.
Cursos de preparo e cortes de carnes, de churrasco, de haute cuisine e de enologia são
sintomáticos destas mudanças de hábitos, as quais coadunam com o forjar do “bom
gosto” e coabitam com a “estilização da vida” na escala do lar, e não apenas fora dele,
nos espaços comerciais da alimentação (NASCIMENTO, 2007, p. 62). A introdução
destes novos “estilos”, do “bom gosto”, do gourmet etc. na escala da cozinha de casa,
reverberando a partir das mudanças no mundo do consumo e da alimentação fora do

Página | 31
lar, hora ensejou, hora reforçou, numa via de mão dupla, novas possibilidades aos
“novos espaços” do consumo alimentar e extrapolou a escala cosmopolita da
metrópole, almejando segmentos de média alta e de alta renda capacitados à entrada
no novo mundo gourmet do comer com e por prazer também nas cidades médias.
Em função destas motivações e significantes acreditamos dever-se a abertura de
“novos espaços” do consumo alimentar nas cidades aqui estudadas, ausentes até
pouco tempo, mas tão destacados e visíveis nas colunas sociais – vitrines midiáticas
das elites locais – destas cidades. Tal é o caso dos chamados “mercadões privados” e
do mercado das carnes nobres, facilitado pelas novas boutiques de carnes. A vinda
destes novos espaços do consumo alimentar nestas cidades corresponde também à
identificação de demanda significativa existente nestas cidades, dispostas ao consumo
nestes novos estabelecimentos. A identificação desta numerosa demanda – por meio
de estudos de viabilidade econômica – suscitou a implantação de espaços tais como os
mercadões privados bem como das boutiques de carnes.
No plano espacial a segmentação reforça a concentração e a ausência de
determinados muitos tipos de estabelecimentos comerciais em áreas desvalorizadas
da cidade – do ponto de vista imobiliário –, ainda que estas detenham grandes
contingentes populacionais, obrigando-os a empreender deslocamentos maiores se
comparado ao daqueles grupos economicamente mais capacitados para satisfazer suas
demandas. Ainda que, necessariamente, tais segmentos socioeconômicos não
satisfaçam suas demandas nos mesmos espaços de consumo das elites, e isso por
razões óbvias, os deslocamentos e acessibilidade-mobilidade favorecem determinados
segmentos enquanto penalizam outros, excluindo-os assim, ainda mais, do direito à
cidade, bem como onerando suas viagens aos principais super e hipermercados da
cidade. Se por um lado, os mapas anteriores revelam a concentração dos antigos e
novos espaços do consumo alimentar nas duas cidades, com exceções para o caso do
varejo tradicional – no caso dos açougues, mais dispersos pela cidade –, por outro, eles
não revelam a qualidade e a manutenção da infraestrutura viária nestas cidades que,
devido ao processo de urbanização capitalista e às lógicas espaciais dele derivadas,
mantém em condições desiguais de manutenção e investimentos públicos tais vias,
isso sem falar nas possibilidades de deslocamento, favoráveis e individuais aos

Página | 32
segmentos socioeconômicos mais capacitados, diferentemente das alternativas
encontradas pelos segmentos socioeconômicos mais desfavorecidos.

Não obstante esta desigualdade socioespacial, o luxo, a criação de novas necessidades,


a segmentação social, os exclusivismos, as grifes e as marcas repõem em patamares
cada vez mais desiguais o ato do consumo e, nele, o ato do consumo alimentar,
fazendo também do comer uma forma de diferenciação social, diferenças estas cada
vez mais reforçadas pela construção social dos “novos hábitos alimentares” e pela
produção dos “novos espaços” do consumo alimentar.

REFERÊNCIAS

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VIRDES, Gabriela. 'Padrão gourmet' incentiva surgimento das 'boutiques'. Com


certificação de origem, produto ganha valor agregado. Jornal A Cidade ON, Ribeirão
Preto-SP, 19 de julho de 2014. Disponível em:
http://www.acidadeon.com/economia/NOT,0,0,971641,Padrao+gourmet+incentiva+s
urgimento+das+boutiques.aspx. Acessado em 17 de maio de 2016.

ZANINE, Anderson de M.; SILVA, Cassiano C. Mercado internacional da carne bovina.


Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária, Garça-SP, Ano III, N. 6, janeiro
de 2006, pp. 1-9. Disponível em:
http://faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_destaque/8XgfAEVgmbxq2oe_20
13-5-20-15-29-29.pdf. Acessado em 17 de maio de 2016.

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PARTE II

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RELATÓRIO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NO PERÍODO

Nesta segunda parte do relatório, descrevemos as atividades por nós desenvolvidas ao


longo do período da vigência da bolsa de estudos, isto é, entre 01 de dezembro de
2015 e 30 de abril de 2016. Ressalvamos que tendo em vista a não outorga da bolsa
em sua completude – cinco meses ao invés de nove –, muitas atividades e resultados
que poderiam ser obtidos foram comprometidos. Fez-se necessário um esforço no
sentido de sintetizar parte da programação de atividades previstas para este
subprojeto, além de recortar cidades de estudo do planejamento inicial, cujo menor
tempo para execução inviabilizou trabalhos de campo, levantamento e análise do
objeto de estudo em todas as cidades do Projeto Temático “Lógicas econômicas e
práticas espaciais contemporâneas: cidades médias e consumo” e, por isso, optamos
pelo estudo das cidades de Londrina e Presidente Prudente.

Feitas estas observações relataremos as atividades desenvolvidas no período. As


atividades concernem à participação em reuniões do grupo de pesquisa, da equipe do
Projeto Temático, reuniões com outros grupos de pesquisa ligados ao Grupo de
Pesquisa Produção do Espaço e Redefinições Regionais (GAsPERR), reuniões com a
supervisora, participação em bancas de monografias de bacharelado do curso de
Geografia da FCT-UNESP, participação em workshops, participação em grupos de
estudos, realização de trabalhos de campo, realização de levantamentos e estudos em
geral atinentes ao objeto de estudo e ao programa de pesquisa previsto originalmente
no projeto, dentre outras atividades comuns ao universo da pesquisa. Além disso, e
para finalizar, descreveremos as propostas de publicações resultantes desta pesquisa,
a fim de externalizar os resultados ou parte dos resultados obtidos.

Participação em reuniões da equipe do Projeto Temático “Lógicas econômicas e


práticas espaciais contemporâneas: cidades médias e consumo”

Durante o período em questão tivemos a oportunidade de participar das reuniões


semanais da equipe que compõe o Projeto Temático. Nestas reuniões participam
membros que residem na cidade sede da mesma, bem como outros que se deslocam
de outras cidades a fim de participar presencialmente – fato ocorrido durante a

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realização do XII Workshop – e membros que participam de forma virtual. As reuniões
subdividem-se em dois momentos: um de natureza mais administrativa, para tratar da
organização das atividades em desenvolvimento e outro de discussão de textos, livros,
artigos etc. Houve também, durante uma destas reuniões, a interlocução com
“agentes bem informados” das cidades estudadas, os quais tiveram a oportunidade de
participar de um dia de reuniões, compartilhando informações e conhecimentos
específicos sobre o tema do consumo a partir de uma das cidades contempladas no
Projeto Temático.

Participação em grupos de estudos

Além de participar as reuniões do Projeto Temático, também tivemos a oportunidade


de participar do grupo de estudos “Produção do espaço urbano e a dinâmica
imobiliária recente”. Trata-se de um grupo que realiza leituras atinentes à dinâmica
imobiliária, à questão habitacional e à produção do espaço urbano. A equipe
participante diz respeito, majoritariamente, à orientandos do professor Everaldo
Santos Melazzo, o qual conduz e organiza as atividades, desenvolvendo-as no âmago
do próprio GAsPERR, do Centro de Estudos e de Mapeamento da Exclusão Social para
Políticas Públicas (CEMESPP), do Projeto “Trajetórias do mercado imobiliário nas
cidades de Marília/SP e Presidente Prudente/SP (1995 - 2012). A produção imobiliária
do PMCMV, seus agentes e a diferenciação e desigualdades socioespaciais
intraurbanas” e do Projeto Temático em questão. Da participação neste grupo de
estudos, resultou-nos a oportunidade de contribuir com um livro que está sendo
organizado pelo professor Everaldo Santos Melazzo e outros, com um capítulo de livro
concernente aos resultados obtidos em nossa tese de doutorado defendida em 2015.

Reuniões com a supervisora

Foram realizadas reuniões com a supervisora deste projeto e responsável pelo Projeto
Temático “Lógicas econômicas e práticas espaciais contemporâneas: cidades médias e
consumo”, Maria Encarnação Beltrão Sposito, a fim de que pudesse acompanhar o

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desenvolvimento das atividades e dirimir quaisquer dúvidas concernentes ao
desenvolvimento do projeto e às atividades por mim desempenhadas no âmbito do
Projeto Temático e do próprio GAsPERR.

Participação em bancas de monografias de bacharelado do curso de Geografia da FCT-


UNESP

Entre os meses de dezembro de 2015 e janeiro de 2016 tive a oportunidade fazer


parte da composição de quatro bancas de defesas de monografias do bacharelo em
Geografia da FCT-UNESP. A seguir a descrição de cada uma delas:

1. CATELAN, M. J.; JESUS, P. M.; AMORIM, Wagner V. Participação em banca de


Klésia Bezerra de Moura. O cartão "Minha Casa Melhor" em Marília/SP: crédito,
consumo e contradições no "Minha Casa Minha vida". 2016. Trabalho de
Conclusão de Curso (Graduação em Geografia) - Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho.
2. CATELAN, M. J.; MELAZZO, Everaldo Santos; AMORIM, Wagner V. Participação
em banca de Guilherme Ribeiro Ladeira. Verticalização e segmentação espacial
numa cidade média: contradições da expansão territorial da Zona Sul em
Bauru/SP. 2016. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Geografia) -
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho.
3. MELAZZO, Everaldo Santos; SPOSITO, M. Encarnação Beltrão; AMORIM,
Wagner V. Participação em banca de Bruno Pereira Reis. Produção do espaço
urbano e dinâmica imobiliária recente: análise comparativa entre Presidente
Prudente, São José do Rio Preto e Lleida/Espanha. 2015. Trabalho de Conclusão
de Curso (Graduação em Geografia) - Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho.
4. SPOSITO, M. Encarnação Beltrão; REDON, S. M.; AMORIM, Wagner V.
Participação em banca de Ariane Barilli de Mattos. Lógicas espaciais das
empresas franqueadas do ramo comercial de confecções e calçados: cidades
médias e consumo. 2015. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em
Geografia) - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho.

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Participação em workshop

Foi realizado o XII Workshop do Projeto Temático "Lógicas econômicas e práticas


espaciais contemporâneas: cidades médias e consumo" entre os dias 29 de março e 1
de abril. Durante o workshop desenvolveram-se as seguintes atividades:

 apresentação do projeto e descrição do perfil da equipe;


 apresentação de resultados de pesquisas associadas ao Projeto Temático com
comentários e pequenos debates em blocos de questões;
 debate de textos produzidos pelos pesquisadores associados ao Projeto
Temático encaminhados aos avaliadores externos (os professores doutores
Teresa Salgueiro e Herculano Cachinho, da Universidade de Lisboa;)
 reunião final de trabalho com os convidados;
 avaliação geral da pesquisa.

Participação na equipe editorial da revista Cidades

Durante o período em questão, contribuímos com a revista Cidades, auxiliando na


revisão de normas e formatação do número 18, ainda no prelo. Tem sido uma
oportunidade muita rica à nossa formação enquanto pesquisador, na medida em que
contribui intelectual, teórica e tecnicamente.

Participação no conselho consultivo das revistas Mercator, Geografia em Questão e


Espaço em revista

A participação junto ao conselho consultivo das revistas Mercator, Geografia em


Questão e Espaço em revista e esporadicamente das revistas Revista Eletrônica AGB-T
e Pegada é uma oportunidade e uma experiência muita rica à nossa formação
enquanto pesquisador, na medida em que isso contribui intelectual, teórica e
tecnicamente, além de possibilitar-nos a oportunidade de contribuir de alguma forma
com a Geografia brasileira por meio destes pareceres.

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Realização de trabalhos de campo

Foram realizados trabalhos de campo na cidade de Londrina e na cidade de Presidente


Prudente. A seguir a descrição dos mesmos:

Trabalho de campo realizado na cidade de Londrina em 12 de fevereiro:

Trabalho de campo realizado na cidade de Londrina, tendo por finalidade


realizar observações dos espaços de consumo na área central e nos principais
eixos comerciais da cidade: no setor sudoeste e na zona norte da cidade.

Trabalho de campo realizado na cidade de Londrina entre 12 e 15 de abril:

 Trabalho de campo realizado na cidade de Londrina a fim de:


o aplicar questionários junto ao funcionários e/ou proprietários
das boutiques de carnes da cidade;
o dar continuidade às observações dos espaços de consumo:
 na área central;
 nos principais eixos comerciais da cidade (no setor
sudoeste - ao longo da avenida Madre Leônia Milito), nas
avenidas Maringá, Tiradentes, Leste Oeste e na zona
norte da cidade, ao longo da avenida Saul Elkind;
o observar os principais espaços (antigos e novos) de consumo:
super e hipermercados, açougues, mercadões privados,
mercados públicos municipais, boutiques de carnes, shoppings
centers;
o realizar visitas técnicas às áreas de concentração dos principais
espaços residenciais fechados (condomínios horizontais e
loteamentos fechados).

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Trabalho de campo realizado na cidade de Presidente Prudente entre 11 e 14
de março:

 Trabalho de campo realizado na cidade de Presidente Prudente a fim


de:
o realizar observações dos espaços de consumo na área central e
nos principais eixos comerciais da cidade;
o aplicar questionários junto ao funcionários e/ou proprietários
das boutiques de carnes da cidade;
o observar os principais espaços (antigos e novos) de consumo:
super e hipermercados, açougues, mercadões privados,
mercados públicos municipais, boutiques de carnes, shoppings
centers;
o realizar visitas técnicas às áreas de concentração dos principais
espaços residenciais fechados (condomínios horizontais e
loteamentos fechados).

Realização de levantamentos e estudos em geral atinentes ao objeto de estudo e ao


programa de pesquisa previsto

Ao longo destes meses realizamos leituras diversas concernentes ao objeto de


pesquisa, considerando: o consumo; a produção do espaço urbano nas cidades de
Londrina e Presidente Prudente; as mudanças nos hábitos alimentar e nos hábitos dos
consumidores em geral; os novos e os tradicionais espaços comerciais destas cidades;
as mudanças alimentares da população brasileira em geral; as transformações urbanas
pelas quais passam tais cidades, aqui compreendidas como “reestruturação da cidade”
(SPOSITO, 2007); a bibliografia disponível atinente ao setor cárnico e ao tema das
boutiques de carnes.

Empreendemos um levantamento de todos os açougues, boutiques de carnes,


mercados municipais públicos, mercadões privados, shoppings center etc. existentes
nas cidades de Londrina e Presidente Prudente, a partir das seguintes fontes: Lista

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Amarela, Telelista e Lista Mais, dentre outros recursos de pesquisas de localizações
online disponíveis. Com base neste levantamento elaboramos a concepção do
mapeamento, considerando a segmentação socioespacial, a partir da localização dos
principais espaços residenciais fechados e dos setores censitários nos quais há um
maior número de chefes de família com rendimento mensal igual ou superior a dez
salários mínimos.

A recorrência a uma literatura de matiz sociológica foi essencial para compor o formal
analítico necessário à redação deste relatório, para que, desse modo, não ficássemos
limitados a uma mera descrição dos dados, das informações e dos levantamentos de
campo, mas sim, pudéssemos empreender uma análise do objeto de estudo,
considerando as interfaces com diferentes áreas do conhecimento e as interfaces com
o próprio Projeto Temático.

Com relação às interfaces com o Projeto Temático, este subprojeto pretendeu


corresponder ao plano analítico número um, que diz respeito às: “1) novas lógicas de
localização das empresas, desenvolvidas como estratégias dos agentes econômicos,
orientadas pela ampliação e pela diversificação do consumo, geram novas práticas
espaciais entre os que se apropriam do espaço urbano” (SPOSITO, 2011b, p. 5,
destaques no original), e ao plano analítico número três, de acordo com o qual, a
consubstanciação das novas lógicas de localização das empresas e as novas práticas
espaciais, “reorientam o processo de estruturação dos espaços urbanos, podendo-se
reconhecer uma reestruturação das cidades, expressando uma nova divisão econômica
e social do espaço, que revela aprofundamento das desigualdades socioespaciais,
tanto quanto reconstitui as diferenças socioespaciais, agora orientadas, sobretudo,
pelas novas formas de consumo” (SPOSITO, 2011b, p. 5, destaques no original).

Já no plano das dimensões empíricas do Projeto Temático, as interfaces mais


pronunciadas correspondem às dimensões empíricas de número dois e quatro. A
dimensão empírica número dois consiste nas: “formas de organização da
comercialização de bens e serviços, que sejam representativas do período atual e que
constituam mudanças nos meios de realização do consumo, considerando-se os
processos de desconcentração e centralização espaciais que marcam as estratégias das

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empresas. Essa abordagem possibilitará estudar a ação tanto dos grandes capitais
(grupos econômicos e suas redes comerciais e de serviços), como dos médios
(empresas vinculadas às franquias) e pequenos (comércio informal em suas
articulações com outros capitais)” (SPOSITO, 2011b, p. 6, destaques no original). Já a
dimensão empírica número quatro consiste na: “análise dos espaços que são
decorrência das novas formas de consumo e, ao mesmo tempo, condição de sua
realização, indicando a ocorrência de processos de reestruturação das cidades médias,
com o intuito de observar a localização e os conteúdos dos novos espaços onde o
consumo se realiza (com atenção especial aos shopping centers), bem como
estudando quais espaços são objeto dos novos consumos (com atenção especial para
os novos hábitats urbanos)” (SPOSITO, 2011b, p. 6, destaques no original).

Proposta de publicação futura

Uma primeira proposta de publicação, resultado do que fora desenvolvido nesses


cinco meses de bolsa, trata-se de uma proposta de publicação a ser submetida para
periódico brasileiro da área de Geografia, artigo no qual se pretende analisar a
segmentação dos espaços afeitos ao consumo alimentar nas cidades de Londrina e
Presidente Prudente, com foco na localização destes espaços (shoppings center, hiper
e supermercados, área central, mercados municipais públicos, mercadões privados,
açougues, boutiques de carne, espaços residenciais fechados etc.) e na segmentação
dos chefes de família que recebem mais de dez salários mínimos, articulando a análise
à uma leitura de matiz sociológica enfatizada nas mudanças no mundo do consumo,
sobretudo daquele consumo – e especificamente o consumo alimentar – empreendido
entre os segmentos de média alta e alta renda.

Título provisório: "A sociedade do consumo nas cidades médias brasileiras: os novos
hábitos alimentares e a segmentação dos tradicionais e novos espaços de consumo".

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