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1
Graduanda em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina e bolsista do PET Direito UFSC.
2
RUSCHE, Georg; KIRCHHEIMER, Otto. Punição e Estrutura Social. Rio de Janeiro. 2004. p.
20.
3
Ibidem, p. 23.
4
SERRA, M. A. S.. Economia política da pena. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora Revan, 2009. v. 1.
p. 66
Já “Cárcere e Fábrica”, de Dario Melossi e Massimo Pavarini busca entender o
porquê de o cárcere cumprir em todas as sociedades industrialmente desenvolvidas a
função punitva e “define a relação capital-trabalho assalariado como a clave para
compreender a instituição carcerária, elegendo a formação do proletariado como objeto
do interesse científico da pesquisa”, conforme indicado no prefácio à edição Brasileira.
Desenvolvem, a partir daí, o estudo sobre a gênese da instituição carcerária moderna na
Europa, com foco na Inglaterra e na Itália, e, posteriormente, a experiência dos Estados
Unidos na questão penitenciária na primeira metade do século XIX. Analisa, então, as
mudanças que “dizem respeito a elementos fundamentais da nossa situação atual: a
composição do capital, a organização do trabalho, o surgimento de um movimento
operário organizado, a composição das classes, o papel do Estado, a relação global
Estado-sociedade civil”5.
Assim como em “Punição e estrutura social”, parte-se, aqui, de uma perspectiva
marxista, chegando os próprios autores a indicarem que estabelecem “uma conexão
entre o surgimento do modo de produção capitalista e a origem da instituição carcerária
moderna6”.
No que diz respeito à produção de Loic Wacquant , destaca-se “Punir os pobres:
a nova gestão da miséria nos Estados Unidos”, que busca tratar da relação das prisões
com o chamado neoliberalismo. Numa abordagem bastante abrangente, trata da
criminalização da pobreza, da disciplina dos pobres dada pela reforma da assistência
social e da superpopulação carcerária para refletir a interdependência entre o sistema
carcerário norte-americano e a forma com a qual o governo administra a pobreza.
Em outro texto, chamado “Forjando o estado neoliberal: trabalho social, regime
prisional e insegurança social”, Wacquant evidencia que “Punir os pobres” “analisa os
Estados Unidos após o auge do movimento pró-direitos civis enquanto marco histórico
da contenção punitiva como técnica para a adminsitração da marginalidade e laboratório
vivo do futuro neoliberal em que a renovação convergente dos braços social e penal do
estado podem ser delineados com particular clareza7”.
5
MELOSSI, Dario; PAVARINI, Massimo. Cárcere e fábrica: as origens do sistema penitenciário
(séculos XVI-XIX). Rio de Janeiro: Revan: ICC, 2006. P. 25
6
Ibidem p. 20.
7
WACQUANT, Loic. Forjando o estado neoliberal: trabalho social, regime prisional e
insegurança social. in: Loic Wacquant e a questão penal no capitalismo neoliberal. Org. Vera
Malaguti Batista. Rio de JANEIRO: Revan, 2012. P. 13
Na breve análise dessas três obras, de naturezas distintas, porém fundamentais
para a construção da Economia Política da Pena, observa-se a centralidade do modelo
de produção para a compreensão do desenvolvimento de diversas formas punitivas em
diversos lugares. Há, porém, um ponto de concordância: avaliam esta gênese no
contexto do capitalismo central, pressuposto como pano do fundo teórico e material do
objeto de estudo dos ditos autores.
Há, por outro lado, a América Latina: dependente e subordinada no contexto do
capitalismo mundial que, estabelecendo relações peculiares, desenvolve, conforme
indica Marini, não um “pré-capitalismo”, mas um “capitalismo sui generis”. Ou seja, há
características tão próprias no modo como aqui opera o sistema produtivo que não pode
ser considerado apenas como uma forma “menos desenvolvida” do capitalismo central.
No sistema penal Latino Americano também são flagrantes –muito além do que
nos dos países centrais- as violações sistemáticas de Direitos Humanos e, até mesmo, o
genocídio, conforme pode-se verificar na obra de autores como Zaffaroni e Vera
Malaguti Batista. A crítica criminológica não foi recepcionada pelos operadores do
sistema –como também não o foi no centro capitalista- e segue em plena vigência a
ideologia da segurança pública que elegeu um inimigo comum: o “bandido”,
personificado nos jovens negros pobres e moradores das periferias.
Sendo assim, há um grande contingente de violência material e simbólica que
precisa, de fato, ser teoricamente compreendido em suas especificidades. Conforme nos
aponta Rosa del Olmo em “América Latina e sua criminologia”, o conhecimento
criminológico construído no centro capitalista sempre determinou, mais do que apenas
influenciou, a criminologia na América Latina a partir de interesses dos países
hegemônicos e é com isso que objetiva-se romper. Parte-se, aqui, do pressuposto de que
entender a realidade específica do cárcere de nossa região passa necessariamente pela
compreensão do capitalismo específico que aqui opera.