Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
8 a 10 de outubro de 2008
Recife - Pernambuco - Brasil
Resumo
Introdução
Os documentos foram selecionados com base em uma periodização preliminar dada por
dois atos na esfera do governo federal: a Constituição de 1946 e a publicação do Ato
Institucional no. 2 em 27 de Outubro de 1965. Este recorte resulta do papel que estes dois
instrumentos tiveram na (re)definição do significado do município como unidade político-
administrativa do período republicano que sucedeu o Estado Novo. Foram examinadas 19
edições publicadas entre 1949 e 1968, das quais foram selecionados artigos para uma
revisão sistemática considerando:
1
Instalado em 1936, o Conselho Nacional de Estatística (CNE), deu corpo e significado ao Instituto Nacional de Estatística. Objetivava
coordenar todas as atividades estatísticas no território nacional abrangendo as diversas esferas administrativas. Em 1938, o CNE e o
recém-criado Conselho Nacional de Geografia passaram a integrar o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE.
2
Com o impulso municipalista à origem, foi que os desbravadores paulistas do século XVI e
XVII arquearam a linha de Tordesilhas até os limites do chamado último oeste do Brasil.
(ARAGÃO, 1959: 108)
Esta afirmação embute uma estratégia de argumentação presente em vários dos artigos
estudados: a recorrência a fatos históricos que precedem, inclusive, o período
republicano, como forma de reafirmar o municipalismo como um valor tradicional
brasileiro. Ao defender os esforços de capacitação técnica dos governos municipais, J.
Guilherme de Aragão desenha o pano de fundo de uma das principais bandeiras do
movimento, a redistribuição das rendas tributárias:
2
No período estudado, as editorias da Revista Brasileira dos Municípios apresentaram diversas configurações. As mais
freqüentemente encontradas foram: Administração & Urbanismo, Idéias em Foco; Inquéritos e Reportagens; Através da Imprensa;
Legislação e Jurisprudência; Vida Municipal; Estatística Municipal; O Município no Parlamento e Vultos do Municipalismo.
3
Posso dizer, igualmente, que essa política é o fruto da pregação doutrinária e da campanha
de esclarecimento suscitadas pelos teóricos e técnicos do Municipalismo para efeito de
restaurar a terceira órbita político-administrativa no papel, no verdadeiro papel, que lhe está
assinalado na dinâmica do regime democrático e federativo — restauração essa a que a
obra justiceira dos Constituintes de 1946 deu excelente começo, ao consignar na Carta
magna medidas de redistribuição tributária beneficiadoras do Município. (XAVIER, 1949:
450)
Apesar das conquistas que incluíam a recepção de 10% do que fosse arrecadado pela
União com o Imposto de Renda, os prefeitos das capitais e dos municípios considerados
de importância estratégica para as forças armadas não seriam eleitos, mas nomeados.
Além desta, outras anomalias se fizeram presentes. A proliferação de municípios que
subsistiam apenas com os repasses dos governos federal e estadual deu origem a um
número expressivo de unidades incapazes de arcar com as atribuições que vinham junto
com os recursos. Também a falha de numerosos estados em repassar as verbas a que os
municípios tinham direito, acabou frustrando as expectativas advindas de muitas das
conquistas de 46 (IBAM,2006).
4
de uma “percepção de 40% pelos Municípios do total das rendas públicas arrecadadas no
país” (OLIVEIRA, 1955: 228).
O artigo de Oliveira é breve, mas significativo. Sintetiza, além dos aspectos citados,
outros que vão desde a questão educacional, científica, didática e sanitária até o aumento
da participação dos municípios no âmbito internacional.
Para Guerra (1858), a organização administrativa das grandes cidades deve ser objeto de
estudos específicos em face do emaranhado de funções e problemas que apresenta.
Constituindo um campo de reflexão particular, o aumento da eficácia na administração da
cidade dependeria de algumas diretrizes básicas: Aplicação da técnica; concentração de
poderes; estabilidade; e intensidade máxima de atuação.
... pode-se contrapor o fato de, não obstante essas diferenças de origem, uma grande
cidade, uma grande concentração urbana apresentar, no que se refere à sua forma de
governo, problemas idênticos ou semelhantes, em todos os extremos do globo e que uma
grande concentração urbana é, precisamente, o centro mais apropriado à assimilação de
um novo sistema de governo, porquanto sua condição de núcleo populoso a torna mais
permeável à reforma do que uma localidade pequena seria. É na cidade grande que se
evidencia a necessidade de ser a mesma administrada com visão de empresa, por isso, os
sistemas expostos, benéficos se adotados, seriam acatados pela população, o que faz
supor um preparo político mais apurado, com menos receios e mais fácil adaptação.
(GUERRA, 1958: 130)
A causa desses problemas é bem conhecida. São devidos a que a população urbana
cresce e a rural emigra, invade as cidades e nelas se integra, tratando de obter empregos e
melhores condições de vida e também ao aumento desordenado das indústrias,
hipertrofiando a extensão das áreas de seus bairros, divisões e distritos.... (HEINEN, 1958:
27)
“Da proximidade física em que se situa, somente o município, detentor de uma cidade, no
centro de uma zona rural, poderá colocar-se na vanguarda da luta contra o êxodo,
aglutinando-se, é claro, com os grandes planos regionais e nacionais que se estruturam
com esse desiderato. (FERNANDES, 1957: 129)
O êxodo rural é um fenômeno (...), é, em maior parte, o resultado da atração exercida pelos
grandes centros, onde o emprego mais cômodo se torna relativamente fácil. Se o interesse
principal, nessa transmigração, fosse o das indústrias, teríamos um fato normal, dirigido por
um crescimento industrial forçosamente paralelo à intensificação dos trabalhos agrícolas, e
7
isto significaria um largo desenvolvimento de nosso mercado interno. Mas, como não é esse
o principal interesse, caímos na desgraça da burocratização e da política baseada nas
clientelas ávidas do emprego público e das funções de toda espécie que o urbanismo
distribui, com prejuízo das atividades capazes de ampliar o mercado interno. (XAVIER,
1954: 12)
Esta crítica também é observada por Ribeiro e Cardoso (1996), quando apresentam a
“anti-urbanização” defendida por Rafael Xavier, em que o crescimento urbano seria o
grande gerador de problemas decorrentes da concentração de recursos oriundos do
interior. Para a solução de tais problemas, o modelo proposto enfatiza, então, a
importância dos planos regionais (HEINEN, 1958).
Outra questão é apontada: a organização viária. Neste sentido, deve ser proposto um
plano viário para a região: “O plano das vias mestras que de futuro serão auto-estradas
ou melhor, usando a terminologia americana moderna de free-way, express-way, park-
way, turn-pike etc., será objeto do planejamento nacional, extrapolando o âmbito do
planejamento regional” (REIS, 1962: 19).
O discurso inclui os prefeitos. A capacitação do corpo técnico pode ser atendida pelos
órgãos estaduais de prestação de assistência aos municípios. À Associação Brasileira
dos Municípios (ABM) caberia atuar “na formação da nova mentalidade do administrador
municipal, no tratamento e solução dos problemas do município; finalmente no
reerguimento social e econômico das municipalidades brasileiras” (ARAGÃO, 1959: 113).
10
..., à medida que ampliarem a sua capacidade de ação, os Municípios voltarão às vistas
para as atividades econômicas subsidiárias, (...) e mil outras iniciativas que contribuem para
transformar uma cidade em grande centro industrial e comercial. As atividades desse tipo,
atividades econômicas auxiliares, que os Governos municipais são solicitados a
empreender, geralmente acarretam elevadas despesas e, embora beneficiem a indústria e o
comércio locais, não trazem proveito direto para o tesouro público. (SILVA, 1953: 310)
organismos municipais nas decisões políticas, particularidade que é um dos aspectos que
distinguem planos de projetos, como definido por Villaça. (1999).
Estabelecida essa classificação tripartida das funções governamentais, logo se verifica que
as atividades de importância mediata parecem manter relações de atividade com o Governo
nacional, isto é, o governo mais distante do indivíduo; ao passo que as de importância
imediata, ou seja, os serviços públicos de primeira necessidade, parecem caber
logicamente aos governos municipais, isto é, aos governos vizinhos do indivíduo. As
atividades classificáveis na segunda categoria, isto é, as atividades de importância próxima,
são mais difíceis de distribuir segundo o critério de contigüidade. A rigor, elas deveriam ficar
a cargo dos Estados, salvo quando exigissem uniformidade nacional. (SILVA, 1953: 306)
Este caráter de vizinhança, vocação do governo municipal, teria origens na formação dos
municípios brasileiros. A argumentação, mais uma vez, retoma o contexto colonial da
12
Conclusão
A Revista Brasileira dos Municípios não pode ser tratada como representante único das
idéias do Movimento Municipalista no Brasil, mas, mesmo diante desta limitação, as
informações coletadas colaboram para o entendimento do papel do movimento no debate
urbanístico a partir dos anos 40.
Na questão regional, por outro lado, o significado político ganha maior importância. Em
vários documentos, o problema regional é tratado como questão exclusiva da esfera inter-
municipal e não da estadual. Cabe perguntar: Haveria uma intenção deliberada de limitar
o poder estadual neste âmbito? Seria este um expediente voltado para a apropriação pelo
município de mais verbas?
Referências bibliográficas
MANCUSO, F. Las experiencias del zoning. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 1980.