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Giovanni Seabra

(Organizador)

Educação ambiental:
a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Ituiutaba, MG

2017
© Giovanni Seabra (Org.), 2017.
Arte Gráfica e editoração: Alex David Silva de Assis, Claudia Neu, Gabriel de Paiva Cavalcante,
Laciene Karoline Santos de França, Laysa Borba e Silva, Loester Figueirôa de França Filho e Maria
Imaculada de Andrade Morais.
Editor: Anderson Pereira Portuguez
Arte da capa: Gabriel de Paiva Cavalcante

Contatos:
www.cnea.com
ambiental.gs@gmail.com

Editora: Barlavento
Prefixo editorial: 68066
Braço editorial da Sociedade Cultural e Religiosa Ilé Asé Babá Olorigbin.
CNPJ: 19614993000110
Caixa postal nº 9. CEP 38.300-970, Centro, Ituiutaba, MG.

Conselho Editorial:
Mical de Melo Marcelino (Editor-chefe)
Anderson Pereira Potuguez (Editor da Obra)
Antônio de Oliveira Junior
Claudia Neu
Giovanni de Farias Seabra
Hélio Carlos Miranda de Oliveira
Leonor Franco de Araújo
Maria Izabel de Carvalho Pereira
Jean Carlos Vieira Santos

Educação ambiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos / Giovanni


Seabra (Organizador). Ituiutaba: Barlavento, 2017. 1.255p.

ISBN: 978-85-68066-56-0

1. Educação Ambiental; 2. Capital Natural; 3. Sustentabilidade


I. SEABRA, Giovanni

Os conteúdos a formatação de referências e as opiniões externadas nesta obra são de


responsabilidade exclusiva dos autores de cada texto.

Todos os direitos de publicação e divulgação em língua portuguesa estão reservados à Editora


Barlavento e aos organizadores da obra.
APRESENTAÇÃO
Educação Ambiental - A Sustentabilidade dos Ambientes Rurais e Urbanos

Água, Terra, Fogo e Ar são os pilares de sustentação do V Congresso Nacional de Educação


Ambiental e VII Encontro Nordestino de Biogeografia, realizados, simultaneamente, no período de
9 a 12 de outubro de 2017, na cidade de João Pessoa, estado da Paraíba, Brasil.
Apoiados no tema geral Os quatro elementos da natureza na sustentabilidade dos biomas
brasileiros, os eventos reuniram 800 congressistas, cujos trabalhos apresentados foram publicados
em cinco livros, com distintos temas versando sobre a sociedade e o meio ambiente.
Os quatro elementos fazem parte e sustentam a vida no Planeta desde a sua origem. A água
mantém e revigora a vida, garantindo aos seres crescimento, regeneração, reprodução e perpetuação
das espécies. A terra é o lastro da geodiversidade e suporte da biosfera, abrangendo as terras
continentais e insulares, o solo, o subsolo e o fundo dos mares. O fogo é a fonte de energia criadora
da Terra, do Sol, das estrelas e de tudo o que existe no Universo; é responsável pela germinação das
plantas e o suprimento alimentar do mundo animal. O ar oxigena o espaço vital renovando os
lugares e perpetuando a biodiversidade.
Distintas civilizações e grupos sociais cultuam os quatro elementos como base de equilíbrio
do ser. O elemento Água está associado à bioquímica, ás emoções e os sentimentos; o elemento
Terra oferece ao corpo a matéria composta de substâncias minerais; o elemento Fogo governa a
energia, a intuição e o poder; o elemento Ar é condutor das energias sutis que elevam o ser humano
à esfera espiritual.
Os problemas ambientais urbanos são exponenciais e aparentemente insolúveis, uma vez
que estão diretamente associados à segurança alimentar vinculada à produção rural e esta, por
conseguinte, aos recursos hídricos, cuja gestão envolve a garantia da água para o consumo humano.
O sobreuso das águas superficiais e subterrâneas, associado aos desmatamentos e o lançamento de
resíduos nas calhas fluviais têm comprometido a qualidade e acelerado o colapso dos estoques
hídricos. A pesquisa acadêmica tem alertado para esse fato apontando soluções para a gestão das
águas.

Giovanni Seabra
Sumário
Produção Rural, Sustentabilidade Social e Segurança Alimentar .....................................11
AGRICULTURA E SOBERANIA NACIONAL E ALIMENTAR: A PRODUÇÃO E
INTERNACIONALIZAÇÃO DA FRUTICULTURA NO RIO GRANDE DO NORTE .......................... 12
PERDAS PÓS-COLHEITA DE PRODUTOS HORTÍCOLAS EM MERCADOS VAREJISTAS ........... 25
EDUCAÇÃO AMBIENTAL E CAPITAL SOCIAL: CONTRIBUIÇÕES À PROMOÇÃO DA
SUSTENTABILIDADE NA AGRICULTURA FAMILIAR ..................................................................... 34
PIMENTEIRAS MALAGUETAS PÓS PODA SUBMETIDAS A DOSES DE ESTERCO E NÍVEIS DE
ÁGUA RESIDUÁRIA TRATADA ............................................................................................................ 45
COMPONENTES DE PRODUÇÃO DO FEIJÃO-CAUPI EM FUNÇÃO DO EMPREGO DE ADUBOS
ORGÂNICOS E MINERAL ....................................................................................................................... 57
AVALIAÇÃO DO MODELO AQUACROP PARA O BALANÇO DE ÁGUA NO SOLO NO CULTIVO
DE FEIJÃO EM ALAGOAS ...................................................................................................................... 63
AGRICULTURA ORGÂNICA COMO FORMA ATUANTE DA SUSTENTABILIDADE
AMBIENTAL, SOCIAL E ECONÔMICA................................................................................................. 72
A PRODUÇÃO DE CARCINICULTURA DO ESTUÁRIO DO RIO CURIMATAÚ-RN: (IN)
SUSTENTABILIDADE NA ÓTICA DO BARÔMETRO DE SUSTENTABILIDADE........................... 89
A PRODUÇÃO DO ESPAÇO AGRÍCOLA E SUAS IMPLICAÇÕES AMBIENTAIS NOS
MUNICÍPIOS DE TIANGUÁ E UBAJARA - CEARÁ........................................................................... 101
CAPITAL SOCIAL E AGRICULTURA FAMILIAR NO TERRITÓRIO DO CARIRI, CEARÁ ......... 112
ANÁLISE DO MANEJO DA CARNE, PADRÃO DO CONSUMIDOR E DOS FEIRANTES DE
BREJÃO - PE ............................................................................................................................................ 125
CULTIVO DE PALMA FORRAGEIRA CONSORCIADA COM DIFERENTES POPULAÇÕES DE
AMENDOIM ADUBADA COM RESÍDUO LÁCTEO ........................................................................... 134
EFEITO DE PÓ DE ROCHA NA PRODUÇÃO DE CEBOLINHA NO TERRITÓRIO DA
BORBOREMA .......................................................................................................................................... 144
QUALIDADE AMBIENTAL DE SOLOS POR MEIO DA METODOLOGIA PARTICIPATIVA EM
PROJETO DE ASSENTAMENTO NO SEMIÁRIDO POTIGUAR........................................................ 155
IMPORTÂNCIA SOCIOECONÔMICA DA AGRICULTURA FAMILIAR DE BASE ECOLÓGICA EM
LAGOA DE ITAENGA - PE .................................................................................................................... 167
EFEITO DE DIFERENTES PROPORÇÕES DE VERMICOMPOSTO NO CULTIVO DO COENTRO
(CORIANDRUM SATIVUM L) ................................................................................................................. 179
INFLUÊNCIA DA MANIPUEIRA NAS CARACTERÍSTICAS AGRONÔMICAS E REPRODUTIVAS
DE SOJA ................................................................................................................................................... 187
EXTRATOS VEGETAIS, FUNGICIDA QUÍMICO E INDUTOR DE RESISTÊNCIA NO CONTROLE
DE CHALARA PARADOXA ISOLADO DE FRUTOS DE ABACAXIZEIRO ................................... 198
AGROECOLOGIA NA AGRICULTURA FAMILIAR EM ASSENTAMENTOS NA REGIÃO DO RIO
GRANDE DO NORTE ............................................................................................................................. 205
AVALIAÇÃO DO POTENCIAL GENOTÓXICO, CITOTÓXICO E MUTAGÊNICO DE Croton
heliotropiifolius KUNTH (EUPHORBIACEAE) ATRAVÉS DO SISTEMA TESTE Allium cepa ....... 217
BANCO DE SEMENTES COMUNITÁRIOS COMO MEIO DE CONSERVAÇÃO DE RECURSOS
GENÉTICOS LOCAIS ............................................................................................................................. 225
CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE DISTINTAS CLASSES DE SOLO EM
AGROECOSSISTEMAS .......................................................................................................................... 232
ASSISTÊNCIA TÉCNICA A AGRICULTORES FAMILIARES DA REGIÃO DO SERIDÓ POTIGUAR
ENFATIZANDO PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS NA PRODUÇÃO DE MARACUJÁ ........................ 240
INTEGRAÇÃO DOS PROCESSOS DE COMPOSTAGEM E VERMICOMPOSTAGEM DO BAGAÇO
DA LARANJA LIMA ............................................................................................................................... 246
A (IN) SUSTENTABILIDADE SOCIOAMBIENTAL EM COMUNIDADES DE PESCADORES
ARTESANAIS .......................................................................................................................................... 254

Biotecnologia e Fontes Alternativas de Energia ................................................................266


DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA VARIABILIDADE GENÉTICA DO SUBGÊNERO SAPAJUS
(ERXLEBEN, 1777).................................................................................................................................. 267
ÍNDICE DE VELOCIDADE DE EMERGÊNCIA DE AMENDOIM IAC-TATU-ST (ARACHIS
HYPOGAEA) EM DIFERENTES DOSES DE BIOFERTILIZANTE EM ASSOCIAÇÃO COM
BIOCHAR ................................................................................................................................................. 276
TEMPERATURA, ESTÁDIO DE MATURAÇÃO DOS FRUTOS DE LICURI SOBRE A
GERMINAÇÃO DAS SEMENTES ......................................................................................................... 284
POTENCIAL FISIOLÓGICO DE SEMENTES DE Schinus terebinthifolius EM FUNÇÃO DE
TEMPERATURA E LUZ ......................................................................................................................... 296
ENERGIA RENOVÁVEL COM ÊNFASE NO BIODIESEL: EDUCAÇÃO AMBIENTAL ATRAVÉS
DE VÍDEOS E SIMULADOR .................................................................................................................. 307
INVESTIGAÇÃO CITOTÓXICA DO EXTRATO ETANÓLICO DAS FOLHAS DE Croton
heliotropiifolius KUNTH (EUPHORBIACEAE) COLETADAS NO MUNICÍPIO DE GARANHUNS,
PERNAMBUCO, BRASIL ....................................................................................................................... 320
ENERGIA SOLAR NO BRASIL: LEVANTAMENTO E APLICAÇÕES ............................................. 330
DURABILIDADE NATURAL DE MADEIRAS AMAZÔNICAS OCORRENTES NO ACRE
(RESULTADOS PRELIMINARES) ........................................................................................................ 340
GESTÃO E GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS ............................................ 353
TOLERÂNCIA DE PORTA-ENXERTOS DE CAJUEIRO À IRRIGAÇÃO COM ÁGUA SALINA SOB
APLICAÇÃO DE BIOFERTILIZANTE BOVINO .................................................................................. 366
TEOR DE CLOROFILA EM TRÊS VARIEDADES DE ALFACE CULTIVADA EM SISTEMA
HIDROPÔNICO COM ÁGUA RESIDUÁRIA ........................................................................................ 374
SISTEMA HÍBRIDO DE GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA RENOVÁVEL: A UTILIZAÇÃO DA
TECNOLOGIA SMART GRID ................................................................................................................ 386
QUALIDADE FISIOLÓGICA DE SEMENTES DE CHIA PRODUZIDAS EM DOIS LOCAIS .......... 394
UM OLHAR AMBIENTAL NA CAATINGA: INVESTIGAÇÃO DE POTENCIAL TÓXICO DA FLOR
DE SEDA (CALOTROPIS PROCERA) PARA ABELHAS APIS MELLIFERA L, NA REGIÃO DO ALTO
OESTE POTIGUAR. ................................................................................................................................ 403
CULTIVO IN VITRO DE PLANTAS: ALTERNATIVA PARA A CONSERVAÇÃO DE ESPÉCIES
AMEAÇADAS DE EXTINÇÃO .............................................................................................................. 415
ESTRESSES OSMÓTICO E SALINO AFETAM A GERMINAÇÃO E A
COMPARTIMENTALIZAÇÃO DE ÍONS NA+ E K+ EM FEIJÃO DE CORDA ................................... 426
GANHOS ENERGÉTICOS E AMBIENTAIS DA UTILIZAÇÃO DE ENERGIA SOLAR NA
PRODUÇÃO DE BIODIESEL ................................................................................................................. 438
ANÁLISE COMPARATIVA DE CRESCIMENTO ENTRE GENÓTIPOS DE BATATA-DOCE
(Ipomoea batatas (L.) Lam.) EM FUNÇÃO DA INTERFERÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS ........ 448
VOLUMES DE ÁGUA E TEMPERATURAS NA GERMINAÇÃO E VIGOR DE SEMENTES DE
Platymiscium Floribundum Vog. .............................................................................................................. 457
GESTÃO AMBIENTAL NO SERVIÇO PÚBLICO: ESTUDO DE CASO NA USINA SOLAR
FOTOVOLTAICA DA UFERSA ............................................................................................................. 467
GERMINAÇÃO E VIGOR DE SEMENTES DE Ziziphus joazeiro Mart., SUBMETIDAS A
DIFERENTES VOLUMES DE ÁGUA E TEMPERATURAS ................................................................ 479
CARACTERIZAÇÃO DOS FEIRANTES DE PRODUTOS ORGÂNICOS DO MUNICÍPIO DE AREIA,
PB: ESTRATÉGIA DE FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR NO COMÉRCIO
POPULAR ................................................................................................................................................. 490
GERMINAÇÃO E VIGOR DE SEMENTES DE Caesalpinia ferrea Mart. EM FUNÇÃO DA
TEMPERATURA E VOLUMES DE ÁGUA NO SUBSTRATO ............................................................ 502
ROTEIRO DO DIMENSIONAMENTO DE UM SISTEMA DE AQUECIMENTO SOLAR DE ÁGUA –
PARTE 2 ................................................................................................................................................... 512
ENERGIA EÓLICA, GOVERNANÇA E CONSERVAÇÃO AMBIENTAL NA RESERVA DE
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ESTADUAL PONTA DO TUBARÃO (RN) ...................... 525
AVALIAÇÃO QUÍMICA DA BIOMASSA DO MARISCO-PEDRA (ANOMALOCARDIA FLEXUOSA
LINNAEUS, 1767) NO ESTUÁRIO DO RIO PARAÍBA DO NORTE NA COMUNIDADE DE
BAYUEX - PARAÍBA.............................................................................................................................. 537
SEMENTES DE Tapirira guianensis Aubl EM FUNÇÃO DO ESTRESSE HÍDRICO EM DIFERENTES
TEMPERATURAS ................................................................................................................................... 546
EMERGÊNCIA DE PLÂNTULAS DE Ceiba speciosa (A. ST. HIL.) EM FUNÇÃO DA POSIÇÃO E
PROFUNDIDADE DE SEMEADURA .................................................................................................... 557
ISOLAMENTO, IDENTIFICAÇÃO E ATIVIDADE ENZIMÁTICA DE ACTINOBACTÉRIAS
ISOLADAS DA RIZOSFERA DE Paullinia cupana DO AMAZONAS-BRASIL ................................. 567
A VIABILIDADE AMBIENTAL NA UTILIZAÇÃO DA BIOMASSA COMO FONTE DE ENERGIA
ALTERNATIVA ....................................................................................................................................... 578
ENERGIA LIMPA E RENOVÁVEL: UMA PROPOSTA INTERDISCIPLINAR E
CONTEXTUALIZADA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA O ENSINO FUNDAMENTAL ...... 585

Gestão de Recursos Hídricos e Bacias Hidrográficas ........................................................594


BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A CERTIFICAÇÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO
CORUMBATAÍ COMO GEOPARK UNESCO....................................................................................... 595
CONFLITOS PELO USO DA ÁGUA NO AÇUDE EPITÁCIO PESSOA, BOQUEIRÃO, PB ............ 604
MONITORAMENTO DO RIO CABOCÓ, SANTA RITA – PB: UM ESTUDO COMPARATIVO DAS
ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS, MICROBIOLÓGICAS E OS IMPACTOS AMBIENTAIS AO SEU
ENTORNO ................................................................................................................................................ 615
TECNOLOGIA SOCIAL HÍDRICA NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO .................................................. 627
MORFOMETRIA DA MICROBACIA HIDROGRÁFICA DA BARRAGEM DE PAU DOS
FERROS-RN ............................................................................................................................................. 634
APLICAÇÃO DO MÉTODO DOS FRAGMENTOS PARA GERAÇÃO SINTÉTICA DE AFLUÊNCIAS
MENSAIS: UM ESTUDO DE CASO NA ZONA DA MATA PERNAMBUCANA.............................. 647
CISTERNAS DE PLACAS NO SEMIÁRIDO CEARENSE: O CASO DE IPU - CEARÁ .................... 656
ENFRENTAMENTO DA CRISE HÍDRICA NO MUNICÍPIO DE BARRA DE SÃO FRANCISCO – ES
................................................................................................................................................................... 669
BACIAS HIDROGRÁFICAS COMO UNIDADES DE PLANEJAMENTO INTEGRADO: ASPECTOS
CONCEITUAIS E ESTRATÉGIAS DE IMPLEMENTAÇÃO ............................................................... 678
A VISITA MONITORADA COMO FERRAMENTA PARA A CONSCIENTIZAÇÃO DA
IMPORTÂNCIA DA PRESERVAÇÃO DA ÁGUA POTÁVEL DESTINADA AO CONSUMO
HUMANO ................................................................................................................................................. 691
A CONTRIBUIÇÃO DOS REFERENCIAIS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO PURAQUEQUARA
PARA A EDUCAÇÃO AMBIENTAL ..................................................................................................... 702
GESTÃO INTEGRADA DE BACIAS HIDROGRÁFICAS: A BACIA DO SANTA MARIA DA
VITÓRIA-ES ............................................................................................................................................. 711
ANÁLISE DA CAPACIDADE DE ARMAZENAMENTO DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS EM
AQUÍFEROS FISSURAIS POR TÉCNICAS DE SENSORIAMENTO REMOTO ................................ 724
COMPARATIVO ENTRE O PADRÃO SOCIOECONÔMICO DE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS
COM OS SEUS MÚLTIPLOS USOS DE ÁGUA EM CAMPINA GRANDE-PB.................................. 736
UMA PROPOSTA METODOLÓGICA DE OBTENÇÃO DO ÍNDICE DE QUALIDADE AMBIENTAL
NUMA BACIA HIDROGRÁFICA .......................................................................................................... 745
ARMAZENAMENTO DE ÁGUA PLUVIAL EM POSIÇÕES DE UMA TOPOSSEQUÊNCIA
INSERIDA NUMA MICROBACIA HIDROGRÁFICA .......................................................................... 757
CARACTERIZAÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO: UM ESTUDO
DE CASO .................................................................................................................................................. 767
APLICAÇÃO DE PARÂMETROS MORFOMÉTRICOS NA CARACTERIZAÇÃO FÍSICA DA BACIA
DO RIACHO POÇÕES NO ESTADO DA PARAÍBA ............................................................................ 778
MONITORAMENTO DO USO DO SOLO E DE VARIÁVEIS LIMNOLÓGICAS COMO SUPORTE
PARA PLANEJAMENTO E GESTÃO AMBIENTAL ........................................................................... 790
FLUTUABILIDADE DOS ELEMENTOS METEOROLÓGICOS NA LAGOA DE PARNAGUA – PI,
BRASIL ..................................................................................................................................................... 793

Turismo, Meio Ambiente e Sustentabilidade ....................................................................807


TURISMO RELIGIOSO: CONSIDERAÇÕES SOBRE ESPAÇOS DE PEREGRINAÇÃO E DEVOÇÃO
................................................................................................................................................................... 808
REGIONALIZAÇÃO TURÍSTICA DA APA DE GUADALUPE E DA APA COSTA DOS CORAIS:
PERSPECTIVAS PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL E REGIONAL (PERNAMBUCO E
ALAGOAS) ............................................................................................................................................... 819
TURISMO, EDUCAÇÃO E PLANEJAMENTO AMBIENTAL EM GUARAMIRANGA-CE ............ 832
O ECOTURISMO COMO FONTE DE RENDA LOCAL: UM OLHAR PARA A BARRAGEM SACO
NO MUNICÍPIO DE NOVA OLINDA - PB ............................................................................................ 844
URBANIZAÇÃO E MEIO AMBIENTE: OS IMPACTOS NA TRILHA POÇO DA VACA EM RIACHO
DA CRUZ - RN ......................................................................................................................................... 854
ECOTURISMO EM ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DE ZONA URBANA: O CASO DA
TRILHA DAS FORTALEZAS, MORRO DA BABILÔNIA, RIO DE JANEIRO - RJ ......................... 865
LABIRINTOS DA POLÍTICA PATRIMONIAL NO OESTE METROPOLITANO FLUMINENSE: O
PAPEL DOS AGENTES PÚBLICOS LOCAIS NA PROMOÇÃO DO PATRIMÔNIO E DO TURISMO
................................................................................................................................................................... 876
UTILIZAÇÃO DE RECURSOS PARA ATINGIR A SUSTENTABILIDADE HOTELEIRA .............. 888
ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NOS MUNICÍPIOS DE PACATUBA E BREJO GRANDE
- SE ............................................................................................................................................................ 900
DESENVOLVIMENTO REGIONAL SUSTENTÁVEL À LUZ DAS BENESSES DA EXPLORAÇÃO
DO TURISMO RURAL: UM ESTUDO NO MUNICÍPIO DE CABACEIRAS-PB ............................... 912
PRÁTICAS RESTAURATIVAS COMO POSSIBILIDADE DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS NO
TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA – O CASO DA PRAINHA DO CANTO VERDE (CE) ......... 920
PERSPECTIVAS PARA O TURISMO SERTANEJO NO MUNICÍPIO DE CABACEIRAS/PB ......... 932
PERCEPÇAO E ESTUDO DO TURISMO E O MEIO AMBIENTE NAS PRAIAS GRANDE E
BISCAIA, ANGRA DOS REIS, RJ .......................................................................................................... 944
O USO DE TRILHAS NO MORRO DA BOA ESPERANÇA E NA CAVERNA DO MAROAGA, AM,
BRASIL ..................................................................................................................................................... 955

Ambientes Urbanos e Qualidade de Vida .........................................................................966


ESPAÇO URBANO E MEIO AMBIENTE: UM ESTUDO DE CASO NOS BAIRROS JANDUÍS E
VISTA BELA – ASSÚ/RN ....................................................................................................................... 967
CONFORTO TÉRMICO HUMANO, ARBORIZAÇÃO E SAÚDE NO SEMIÁRIDO: UM ESTUDO DE
CASO DO CENTRO URBANO DE MOSSORÓ/RN .............................................................................. 979
O BAIRRO DO LIGEIRO NO MUNICÍPIO DE QUEIMADAS-PB NA PERSPECTIVA DO
AMBIENTE URBANO E A QUALIDADE DE VIDA............................................................................ 992
EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESPAÇOS PÚBLICOS: AS PRAÇAS E PARQUES COMO
FERRAMENTAS .................................................................................................................................... 1007
SEGREGAÇÃO, URBANIZAÇÃO E OCUPAÇÃO DE ÁREAS AMBIENTALMENTE FRÁGEIS: O
CASO DA RUA SÃO VICENTE, EM MARECHAL DEODORO-AL. ................................................ 1020
EXPANSÃO URBANA E CLIMA: UMA ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS BAIRROS DE
PORTO SEGURO E VERTENTES, MUNICÍPIO DE ASSÚ-RN, BRASIL ........................................ 1032
EDUCAÇÃO AMBIENTAL E EPIDEMIOLOGIA NO MAPEAMENTO DE DOENÇAS EM
PERNAMBUCO ..................................................................................................................................... 1043
POLUIÇÃO SONORA NA FEIRA LIVRE DO MUNICÍPIO DE PAU DOS FERROS-RN............... 1049
EDUCAÇÃO AMBIENTAL E LAZER: EM BUSCA DA QUALIDADE DE VIDA .......................... 1061
O (RE)TRATO DOS ESPAÇOS URBANOS VAZIOS REVELANDO AUSÊNCIA DA EDUCAÇÃO
AMBIENTAL.......................................................................................................................................... 1072
A ESQUISTOSSOME EM FOCO: UMA ANÁLISE SOCIOAMBIENTAL NO MUNICÍPIO DE
BARRA DOS COQUEIROS/SERGIPE ................................................................................................. 1084
DIAGNÓSTICO DA ARBORIZAÇÃO URBANA EM PATOS, NO SERTÃO DA PARAÍBA ......... 1097
PERCEPÇÃO DOS BENEFÍCIOS DA GINÁSTICA COLETIVA AO AR LIVRE NA 3ª IDADE –
ATIVIDADE EM UM GRUPO DE CAMPINA GRANDE – PB .......................................................... 1109
A EXTERNALIDADE DO HOMEM E A NATUREZA COMO MERCADORIA: EXPLORAÇÃO
MINERAL EM VITÓRIA DA CONQUISTA-BA ................................................................................. 1119
GARANHUNS: O MITO DOS GUARÁS NA ORIGEM DO NOME DESTE MUNICÍPIO
PERNAMBUCANO................................................................................................................................ 1128
ANÁLISE SOBRE A ELABORAÇÃO DE RANKINGS DE CUNHO AMBIENTAL PARA CIDADES
................................................................................................................................................................. 1141
ANÁLISE DA VARIAÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL DO PERÍMETRO URBANO E DA POPULAÇÃO
COMO SUPORTE PARA ANÁLISE DE DECISÃO ............................................................................ 1149
EFEITO TÉRMICO DE TRÊS ESPÉCIES DE PALMEIRAS UTILIZADAS EM ARBORIZAÇÃO
URBANA ................................................................................................................................................ 1161
A QUESTÃO URBANA EM TEMPOS DE CRISE DO CAPITAL: A NEGAÇÃO DO DIREITO À
CIDADE .................................................................................................................................................. 1172
O PROBLEMA DAS QUEIMADAS URBANAS EM DIAMANTINO/MT E AS IMPLICAÇÕES NA
QUALIDADE DE VIDA DE SEUS HABITANTES ............................................................................. 1182
ARBORIZAÇÃO E SUAS INTERFERÊNCIAS COM OSELEMENTOS URBANOS DO CENTRO DE
JOÃO PESSOA, PARAÍBA ................................................................................................................... 1193
PERCEPÇÃO E CARACTERIZAÇÃO SOCIOAMBIENTAL COM ENFOQUE NO PLANEJAMENTO
E GESTÃO URBANA ............................................................................................................................ 1204
DIAGNÓSTICO SÓCIOAMBIENTAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NO MUNICÍPIO DE SANTANA
DO MATOS-RN ..................................................................................................................................... 1213
PERSPECTIVAS E DESAFIOS INERENTES Á PROBLEMÁTICA DA URBANIZAÇÃO E DA
QUALIDADE DE VIDA URBANA NA ATUALIDADE ..................................................................... 1223
ARBORIZAÇÃO E SUAS INTERFERÊNCIAS COM OSELEMENTOS URBANOS DO CENTRO DE
JOÃO PESSOA, PARAÍBA ................................................................................................................... 1236
Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Produção Rural,
Sustentabilidade Social e
Segurança Alimentar

© Giovanni Seabra

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 11


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

AGRICULTURA E SOBERANIA NACIONAL E ALIMENTAR: A PRODUÇÃO E


INTERNACIONALIZAÇÃO DA FRUTICULTURA NO RIO GRANDE DO NORTE

Alexandre Alves de ANDRADE


Doutorando em Geografia UFRN
allexandre.andradde@gmail.com

RESUMO
O artigo trata das concepções políticas e legais acerca da Segurança Alimentar e Nutricional (SAN)
do Estado brasileiro como elemento indutor da produção agrícola com foco ao abastecimento dos
mercados internacionais, tomando como recorte analítico a fruticultura no Rio Grande do Norte.
Nosso objetivo é compreender como a produção e internacionalização da agricultura do Rio
Grande do Norte, está alicerçada na flexibilização nas políticas SAN do Estado brasileiro, como
forma de se manter competitivo no mercado internacional. Partimos do pressuposto que a produção
de frutas desenvolvida no Rio Grande do Norte figura como atividade destinada ao suprimento
alimentar de mercados regionais, majoritariamente, União Europeia e América do Norte,
estabelecidos com os movimentos externos de normatização e controle dos mercados produtores de
alimentos e da conexão entre produção e consumo por uma complexa trama na circulação de
capitais e mercadorias em territórios descontínuos. Pelo exposto, afere-se que a dinâmica da
fruticultura do Rio Grande do Norte caracteriza-se pela internacionalização da agricultura a partir
da mudança na concepção de segurança alimentar dos países centrais, exercendo o controle dos
mercados mundiais produtores de alimentos.
Palavras-cheve: Segurança alimentar e nutricional, agricultura, fruticultura e Rio Grande do Norte
ABSTRACT
This paper brings a discussion about the political and legal conceptions of the Food and Nutrition
Security (in Portuguese Segurança Alimentar e Nutricional – SAN) in Brasil as an element that
foments the agricultural production with a focus on the supply of the global markets, by studying
Rio Grande do Norte (Brazil)‘s fruit farming. Our aim is to understand how the production and
internationalization of Rio Grande do Norte‘s agriculture is supported by the flexibilization of
Brazil‘s SAN policies as a way of staying competitive in the global market. Based on the
assumption that the fruits production developed in Rio Grande do Norte works as an activity
addressed to the food supply of, mostly, regional markets, the European Union and North America,
and established with the external transactions of standardization and control of the food producer
markets and the connection between production and consumption through a complex network of
capital and goods circulation in discontinuous territories. We, therefore, came to the conclusion that
the dynamics of Rio Grande do Norte‘s fruit farming is characterized by the internationalization of
agriculture from the changing of the conception of the central countries‘ food security, exercising
control over the food producer global markets.
Keywords: Food and nutrition security, agriculture, fruit farming, Rio Grande do Norte

INTRODUÇÃO

As transformações ocorridas nos sistemas de produção, integrados aos de comunicação e


informação, são fundamentais para que possamos compreender o movimento de mundialização da

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 12


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

esfera econômica. Segundo Santos (2008, p.211) ―a realização de uma sociedade mundial fez com
que o espaço tornasse total‖. Esse momento da história consagra a organização da sociedade na
forma do Estado, dotado de autonomia e soberania sobre seu território e recursos. No entanto, para
que ocorra uma fluidez do capital, os Estados soberanos necessitam de um elemento comum em
suas políticas, que a nosso ver é a flexibilização de sua soberania, possibilitando a acumulação
ampliada do capital.
A reorganização espacial da produção e do consumo provocada por esse movimento de
acumulação contribui para a criação de sistemas técnicos, ou a incorporação dos já existentes à
esfera da produção. Os arranjos territoriais produtivos são constituídos e passam a compor o sistema
mundial de produção, no qual o controle do comércio internacional passa a ser, paulatinamente,
substituído pelo controle mundial da produção, a exemplo deste fenômeno temos a produção de
alimentos em que a produção e consumo ocorrem cada vez mais pelas trocas internacionais,
possibilitada em virtude da normatização pela produção de commodites, pela comercialização nas
Bolsas de Mercadorias e Futuros e pela disseminação de ideologias de segurança alimentar e
nutricional.
A agricultura brasileira, inserida na lógica de uma produção internacionalizada, responde
aos interesses extranacionais, fortalecendo segmentos produtivos com a finalidade de produzir
alimentos para mercados regionais, em espacial de países do Norte. Este modelo produtivo
beneficia uma elite agrária nacional, com a produção de commodities agrícolas, num já fadado
modelo de exploração alicerçado nas monoculturas intensivas e padronizadas pelas normas dos
Protocolos de Boas Práticas Agrícolas (BPA) e pelas certificadoras internacionais de produção
vegetal.
Aflui nesse sentido o cultivo de frutas tropicais irrigadas e de sequeiro no Rio Grande do
Norte, conectado a movimentos externos de normatização e controle dos mercados produtores de
alimentos e da conexão entre produção e consumo, por uma complexa trama nos fluxos de capitais
e mercadorias em frações do território, descontínuo, mas com implicações diretas no campo
socioespacial local. A produção frutícola se constitui em um importante segmento do agronegócio
no Rio Grande do Norte com a dinamização e modernização da base agrícola, criando uma
produção técnica-científica-informacional, mascarando as heterogeneidades dos diferentes
segmentos produtivos.

FLEXIBILIZAÇÃO DA SOBERANIA NACIONAL E SEGURANÇA ALIMENTAR E


NUTRICIONAL COMO ESTRATÉGIA DE INTERNACIONALIZAÇÃO

A emergência de um espaço total para Estados nacionais com interesses mundiais


impulsiona maior circulação de informações, capitais e mercadorias, acentuando a divisão

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 13


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

internacional do trabalho em todos os segmentos produtivos. Uma economia internacionalizada,


com intensas e constantes trocas comerciais, promove uma reorganização da produção e da
configuração territorial das áreas de produção. Ao Estado, cabe regular as trocas, normatizando os
fluxos multiplicados das mercadorias, por meio de um conjunto de concessões dada as empresas
instaladas sob sua regulação jurídica, de modo a manter um equilíbrio entre os interesses nacionais
e internacionais (SANTOS, 2008).
Em um espaço total, tributário de uma economia mundial, o estabelecimento de mecanismos
e instituições de regulação dos mercados não se restringe a decisões internas dos Estados. Surge,
nesse contexto, a atuação de organismos supranacionais coordenando as ações dos Estados-Nações.
Assim, a Organização Mundial do Comércio (OMC) atua numa perspectiva de restringir as ações
nacionais que possam interferir no livre mercado mundial. No entanto, as imposições alicerçadas e
direcionadas pela OMC a partir do Acordo sobre a Agricultura faz com que os países em
desenvolvimento relativizem sua soberania alimentar, ocasionando dissonâncias com suas políticas
de agricultura e alimentação, como a implementada no Brasil, com a Lei Orgânica de Segurança
Alimentar e Nutricional (LOSAN) promovendo uma relativização de sua soberania nacional
(CEDRO, 2008).
Outrossim, a soberania nacional passa por forte pressão de agentes externos, seja por parte
de empresas ou Estados nacionais, que direcionam suas agendas e estabelecem as políticas que
devem ser empreendidas. Ao analisar a relação entre soberania e globalização, Bonavides (2001, p.
127) destaca que a globalização ―corrói a soberania do Estado, nega-lhe a qualidade essencial de
poder supremo‖. As decisões nacionais no tocante às formas produtivas e a política externa a ser
desenvolvida advêm, necessariamente, pela incorporação dos interesses de agentes internacionais.
As ações do Estado normatizam os usos do território pautando suas políticas pelos interesses das
empresas (SANTOS, 2009).
Nessa condição, os Estados nacionais, cujas forças produtivas são altamente desenvolvidas e
a geração do lucro lhes atribui a nomenclatura de países desenvolvidos, estabelecem com os demais
Estados nacionais nos quais as forças produtivas estão em condição menor, e por ventura são
chamados de países subdesenvolvidos ou emergentes, uma relação do tipo metrópole-colônia,
criando uma espécie de recolonização. Bonavides (2001) ao analisar o caso brasileiro retoma os
princípios constitucionais e esclarece que todo ato normativo ou direcionamento político que seja
guiado por interesses extranacionais fere a Constituição brasileira, uma vez que não partem do
princípio de um Estado soberano.
Ao se estabelecer políticas que direcionam os segmentos produtivos ao atendimento dos
interesses e necessidades externas, o Estado renuncia a soberania nacional. A segurança de um
Estado soberano perpassa por uma arquitetura econômica e política do território nacional garantindo

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as condições básicas de reprodução social, dentre elas a garantia de uma produção de alimentos que
seja capaz, primeiramente, de assegurar uma soberania nutricional e alimentar, por meio de uma
agricultura que se desenvolva de modo sustentável, resguardando o cultivo de alimentos e a
proteção dos recursos naturais. As interferências externas, como as estabelecidas pelo Acordo da
Agricultura junto à OMC, que limita a aplicação de investimentos internos ao apoio dos cultivos
agrícolas, são uma afronta à soberania nacional. As políticas direcionadas à produção agrícola e
demais seguimentos produtivos não podem se constituir como antítese da soberania.
No Brasil, o debate sobre a segurança alimentar remota os estudos do geógrafo Josué de
Castro, com as publicações Geografia da Fome e Geopolítica da Fome, publicados nas décadas de
1940 e 1950, respectivamente. Contudo, o debate e a formulação de uma agenda propositiva sobre
o tema se estabelece a partir do governo do então presidente Luis Inácio Lula da Silva, com
desdobramentos na formulação de uma política de combate à fome e às desigualdades.
Efetivamente ocorre a recriação do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
(CONSEA), a instalação da Política de Segurança Alimentar e Nutricional, popularmente divulgada
como Programa Fome Zero, e a promulgação da Lei Nº 11.346/06 dispondo sobre a criação do
Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN).
As ações empreendidas no sentido da promoção da soberania alimentar e nutricional, apesar
de propor um enfrentamento às desigualdades sociais e o combate à fome, o que necessariamente
implica numa política de produção agroalimentar direcionada às necessidades internas do país,
continua a legitimar a dualidade existente no campo brasileiro, ao desenvolver programas para
grupos distintos com um direcionamento à produção de alimentos por parte da agricultura familiar,
que dispõe de menor poderio técnico de capitalizar-se e de uma agricultura comercial com ênfase
nas commodities destinadas aos mercados externos.
Ao estabelecer o marco normativo legal, o Estado brasileiro reconhece a necessidade de um
enfrentamento da fome no território nacional como forma de afrontar as desigualdades
historicamente construídas em nossa sociedade. Nesse sentido, é estabelecido na Lei 11.346 que

A segurança alimentar e nutricional consiste na realização do direito de todos ao acesso


regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer
o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras
de saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e
socialmente sustentáveis (BRASIL, 2006, art. 3º, Lei nº 11.346).

A SAN visa garantir que as políticas públicas direcionadas à alimentação e à produção


agroalimentar tenham por finalidade primas garantir a soberania alimentar do país, sendo
indiscutível a produção de alimentos direcionados às necessidades nutricionais da população. Nesse
sentindo, devem convergir às políticas de desenvolvimento rural fortalecendo a produção de
alimentos em detrimento das de commodities. Porém, não é o que se observa na realidade brasileira.

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Em análise sobre os subsídios agrícolas permitidos pela OMC aos países signatários do
Acordo sobre Agricultura, Cedro (2008) nos alerta para uma distorção dos limites de créditos
autorizados para as nações, sendo os países ricos, a exemplo dos Estados Unidos da América, os
maiores beneficiados. Os limites autorizados pela normativa vigente da OMC têm desdobramentos
diretos nas políticas públicas de crédito e desenvolvimento rural implementadas nos países
participantes do acordo, ou seja, interfere diretamente na soberania dos segnatários, para que haja
um comércio multilateral livre e equilibrado entre os países faz-se necessário uma flexibilidade na
soberania alimentar, no entanto, a flexibilização é mais severa para os países com menor
desenvolvimento do sistema de geração de riquezas do capital (CEDRO, 2008).
Nesse sentido, o direcionamento para uma produção agrícola na perspectiva de garantir uma
SAN passa para segundo plano. Corroborando na discussão, o autor nos indica que,

a soberania alimentar é entendida como a manutenção, frente aos compromissos firmados


no âmbito internacionais, de margens nacionais para aplicação de políticas públicas
relativas ao fomento à produção de alimentos e à definição do sistema de abastecimento e
acesso aos alimentos (CEDRO, 2008, p. 226).

Contudo, o quadro da produção agrícola dos países membros da OMC se direciona ao


oposto dessa visão, propende garantir as necessidades alimentares e nutricionais internas.
Considerando o arquétipo do Brasil, percebe-se um direcionamento das políticas estatais aos
grandes cultivos commoditizados direcionados ao abastecimento dos mercados externos, a exemplo
dos cultivos de grãos (soja e milho), cana-de-açúcar e frutas frescas.
No que se refere à produção de frutas, o Brasil tem uma atividade econômica recente, cujo
desenvolvimento em proporção comercial para abastecimentos dos mercados interno e externo se
acentuam a partir da segunda metade do século XX. Enquanto atividade de produção local ou
regional os cultivos frutícolas apresentam sistemas organizativos no âmbito da produção e
comercialização há tempos pretéritos, estando seu desenvolvimento associado à ocupação do
território brasileiro, desde o início de sua colonização, cultivados em forma de consócio com outras
atividades econômicas. No entanto, como atividade de relevante apelo econômico ocorre a partir do
período que se convencionou denominar de modernização da agricultura no Brasil a partir dos anos
1960, em especial com as técnicas de irrigação empreendidas pelas políticas públicas de irrigação.
A disseminação dos cultivos comerciais de frutas pelo país seguiu os princípios de uma política de
desenvolvimento regional, formulada e posta em prática pelo governo federal, alicerçada num
pseudo desenvolvimento para os grupos sociais de maior vulnerabilidade.
Por meio das superintendências de desenvolvimentos1 foi criado um conjunto de
mecanismos de implantação de áreas cultivadas por todo o país, direcionando as culturas e os

1
As superintendências de desenvolvimento regional foram autarquias governamentais encarregadas de formular e
executar políticas de desenvolvimento econômico na escala regional, com vistas a minimizar o desequilíbrio econômico

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modos de produção. Em detrimento das características diversas presentes nas regiões que compõem
o território nacional. Foram estabelecidas metas e técnicas distintas a cada região, cabendo ao
Nordeste do país uma ampla difusão das técnicas de irrigação para a agricultura de frutas tropicais,
em razão do déficit hídrico da região (ANDRADE, 2013).
O cultivo de frutas, por meio de uma agricultura irrigada, servia aos interesses de grupos
políticos oligárquicos, latifundiários, econômicos e sociais. Na esfera política, mantinha a relação
de favores típica da ação política brasileira, ao conceder recursos para construção e aproveitamento
hídrico de açudes administrados pelos políticos locais. Aos latifundiários o benéfico advinha da
construção dos açudes em suas propriedades, uma vez que estes tinham uma forte participação na
esfera política local, dotando suas terras de infraestrutura hídrica que supostamente seria de uso
comum. No âmbito econômico impulsionava os cultivos de frutas em escala comercial e o
fortalecimento de produtores por meio da concessão de crédito. E, no âmbito social alardeava o fim
das disparidades regionais, o combate aos efeitos da seca e a melhoria da qualidade de vida da
população.
Se nos debruçamos sobre o desenvolvimento da fruticultura no Brasil, perceberemos que
este tem estreita relação com os planos, programas e projetos executados pelo Estado brasileiro no
intuito de construir uma política de enfrentamento aos efeitos das secas, comum na região Nordeste
e em algumas outras regiões do país. As ações frente ao cenário de baixos índices pluviométricos
podem ser, a grosso modo, analisadas em dois momentos, a saber, um em que ocorre o predomínio
na construção de açudes, conhecido como período de açudagem, e um segundo que se desdobra, a
partir dos anos 1960 aos dias atuais, com o redirecionamento político nas ações governamentais,
fazendo com que, conjuntamente, com a construção de açudes ocorra a instalação de áreas públicas
de irrigação a serem cultivadas, teoricamente, por pequenos agricultores, mas que na prática
subsidia a ação de grandes produtores.
A irrigação vista como alternativa ao enfretamento das desigualdades regionais nos diversos
planos de governo desenvolvidos para o Brasil e em especial para o Nordeste, como instrumento do
planejamento caberia à irrigação a mobilidade econômica e social dos nordestinos. No entanto, o
grande problema dessa estratégia foi sua desarticulação com problemas estruturais, como a
manutenção da posse da terra nas mãos de grandes proprietários e a burocracia na tomada de crédito
e apoio técnico aos projetos irrigados (ANDRADE, 2013).
O período que se inicia na década de 1990 e se estende aos nossos dias, trouxe consigo a
introdução das políticas neoliberais, fazendo com que a irrigação passasse a ser encarada como uma
alternativa meramente econômica a serviço do mercado, seus produtos deveriam ser padronizados

existente entre as regiões do país. Nesse contexto, foram criadas a SUDENE, em 1959; SUDAM, em 1968; SUDESUL
e SUDECO, em 1967.

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em escala planetária, com elevado valor agregado e normatizado de acordo com os interesses dos
compradores, grande parte destes pertencentes ao exterior. Nesse cenário a produção de frutas no
Brasil passa a ser liderada por médios e grandes produtores, com elevada capacidade de atender as
exigências impostas pelos programas de certificação fitossanitárias e ambientais, restringindo a
participação de pequenos produtores a cultivos frutíferos para comercialização em escala local.
A complexidade existente por traz da Política Nacional de Irrigação se imbrica com as
questões relativas a SAN e com a soberania nacional, bem como o modelo de agricultura que o
Estado brasileiro implementa em seu território. Caberia, sem sombra de dúvidas, uma análise mais
detalhada sobre a relação entre estes elementos e seus rebatimentos na esfera econômica e seus
desdobramentos na configuração do território. Numa perspectiva de uso do território é salutar
perceber as ações formuladas e executadas pelo Estado e o modo como as empresas se benefícios
desta ação, deixando de lado as necessidades nutricionais e alimentares na produção de alimentos.

AGRICULTURA, PRODUÇÃO DE COMMODITES E INTERNACIONALIZAÇÃO DO


AGRONEGÓCIO DE FRUTAS
A clássica divisão internacional do trabalho, na qual todos os países estão inseridos,
historicamente conferiu ao Brasil uma posição de produtor de matérias primas de baixo valor
agregado, a exemplo dos minérios e dos produtos agrícolas. Com a mundialização da economia
cujas relações comerciais se tornaram fluidas e permanentes, graças aos avanços nas redes de
comunicação e circulação, o papel exercido pela economia brasileira foi reforçado nesse período
por uma produção agropecuária densamente tecnificada.
As políticas de liberalização econômica, conduzidas a partir do final da década de 1980,
regeram o processo recente de modernização da agricultura em âmbito nacional, privilegiando o
agronegócio enquanto segmento produtivo de maior relevância dentro da estrutura agrária nacional.
A montante desse processo soma-se as desigualdades impostas pelo modelo agropecuarista de
exploração da agricultura. O agronegócio, por meio dos interesses dos proprietários fundiários e os
empresários do setor pautam a formulação das políticas públicas e direciona os cultivos, as técnicas
e os mercados. Segundo os dados do MAPA (2010) o Brasil é um dos maiores fornecedores de
produtos agropecuários do mundo demandado pela União Europeia, Estados Unidos, Rússia e
Japão. No entanto, não são todos os segmentos do agronegócio que contribuem para atender as
demandas externas ao país, destacam-se nesse sentido os segmentos sucroalcoleiros, frutas, carnes e
grãos.
Dentro do território nacional destaca-se a formação de regiões especializadas com arranjos
territoriais específicos na produção de gêneros agropecuários destinados, em primeiro plano, ao
abastecimento dos mercados externos, criando uma divisão interna do trabalho dentro da formação
socioespacial (SANTOS, 2008). Nesse sentido, a emergência de espaços luminosos na produção de

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frutas em áreas do semiárido brasileiro ganha relevância. A formação de circuitos produtivos em


diferentes culturas para o abastecimento das demandas externas consolida a produção de frutas no
país e no Rio Grande do Norte de modo específico. O agronegócio da fruticultura não acontece de
modo isolado na economia mundo, seu desenvolvimento constitui um dos elementos que compõe a
mundialização da produção em nossa sociedade. Recordamos que a mundialização não se restringe
apenas a criação de filiais na tradicional análise da empresa multinacional, está se processa também
pela externacionalização (internacionalização) das demandas e dos padrões de consumo que
controlam os mercados produtores.
Segundo dados do MAPA (2007) as principais frutas produzidas e exportadas pelo Brasil
são laranja, banana, abacaxi, uva, mamão, coco, maçã, manga e melão. Sobressai-se a exportação in
natura de uva, melão, manga, maçã, banana e mamão. Dentre as culturas encontram-se frutas
tropicais e temperadas, cultivadas em virtudes de seu potencial climático em diferentes regiões do
país. No Rio Grande do Norte, ocorre o cultivo de frutas tropicais como melão, manga, banana,
abacaxi e mamão, cultivados sob a insígnia do agronegócio das frutas. Além destes cultivos temos
outras de menor expressividade no negócio das frutas como a goiaba e a melancia. Ao analisarmos
o perfil de exportação, constatamos que as frutas de maior expressividade na exportação brasileira
também são as principais da pauta de exportação do agronegócio de frutas no Rio Grande do Norte,
conforme expresso no gráfico da figura 1.
No intervalo de 15 anos as culturas do melão, banana e castanha de caju apresentam
expressiva quantidade em volume de exportação. Melão, banana e mamão são comercializados in
natura, fato que demanda uma logística eficiente, em virtude da perecividade dos produtos. A
castanha de caju por sua vez recebe um processamento antes da comercialização, a principal forma
de beneficiamento empregado é a torra da amêndoa. O abacaxi por sua vez configura-se como
outro lado da moeda da produção de frutas no Rio Grande do Norte, em virtude de uma produção
desenvolvida por pequenos produtores de base familiar, em sua maioria assentados em programas
de reforma agrária, é o cultivo de maior expressividade dentro desse grupo de produtores.
Os elementos naturais do território, antes vistos como abrigos tornam-se recursos de
exploração e geração de riqueza, um território recurso. Encarando o território como recurso,
veremos que os seus múltiplos usos são distintos e complementares, Santos (2000, p. 108) nos
esclarece que:

Para os atores hegemônicos o território usado é um recurso, garantia da realização de seus


interesses particulares. Desse modo, o rebatimento de suas ações conduz a uma constante
adaptação de seu uso, com adição de uma materialidade funcional ao exercício das
atividades exógenas ao lugar, aprofundando a divisão social e territorial do trabalho,
mediante a seletividade dos investimentos econômicos que gera um uso corporativo do
território.

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A lógica da competição é imperativa na produção de frutas enquanto um dos usos do


território pelo agronegócio está competição ocorre entre pequenos produtores e grandes produtores
sejam nos cultivos desenvolvidos seja na posse da terra. Nesse cenário predomina o cultivo de
commodity conceituada como ―produtos principalmente primários ou semielaborados, geralmente
agrícolas ou minerais, mundialmente padronizados, com preços cotados e negociados pelas
principais bolsas de mercadorias‖ (FREDERICO 2013, p. 98) em que os padrões mundiais tiram a
autonomia de pequenos produtos frente o que e como produzir.

Figura 1: Exportação de Frutas do Rio Grande do Norte (Toneladas) – 2000 a 2015.


1.600.000.000
1.389.576.560
1.400.000.000

1.200.000.000

1.000.000.000 Melão

800.000.000 Banana
590.880.744
600.000.000
Mamão
400.000.000

200.000.000 79.557.604 105.460.978


8.765.579
0
Melão Banana Mamão Abacaxi Castanha de
Cajú
Fonte: ALICEWEB/SECEX/MDICE, 2016.

Na histórica da agricultura do Brasil podemos identificar períodos em que determinados


produtos agrícolas assumiram o papel de commodity no topo do ranking da economia nacional,
como a cana de açúcar e o café, que configuraram ciclos econômicos, de acordo com a literatura
econômica. Nas condições atuais, dificilmente ocorrerá a predileção a uma commodity específica, o
agronegócio nacional prima pela complementariedade dos nichos produtivos. Vivemos o ciclo do
agronegócio e não mais de uma cultura única. Esse ciclo, por sua vez, não ocorre de modo isolado
das demais atividades produtivas, pelo contrário, também desenvolve com elas uma simbiose
produtiva.
Ao analisar o processo de transformação do café enquanto commodity agrícola no mercado
internacional, Frederico (2013) aponta o surgimento da Bolsa do Café na cidade de Nova Iorque,
em 1882 (Coffee Exchange in the City of New York). O processo de commoditização da maior parte
dos produtos agropecuários não se deu com a criação de bolsas específicas, mas com a negociação
desses produtos nas bolsas de mercadorias e futuro a partir dos anos de 1970. Essa estratégia se
amplia nos anos 1990, com a criação da Cédula de Produção Rural (CPR) título cambial negociável

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no mercado que permite ao produtor rural obter recursos para desenvolver sua produção ou
empreendimento, com comercialização antecipada ou não, garantindo assim a concessão de crédito
junto a instituições financeiras, cuja legitimidade está amparada na Lei nº 8.929/94.
Esse instrumento de crédito contempla três modalidades: a CPR Física, cuja liquidação da
dívida ocorre com a entrega física da mercadoria; a CPR Financeira, que possibilita a liquidação em
espécie do passivo adquirido; e a CPR Export, trata-se de uma cédula de crédito destinada à venda
de mercadorias agropecuárias no mercado internacional, com entrega física (WAQUIL, MIELE E
SCHULTZ, 2010). Ao analisamos o desempenho financeiro com exportação de frutas no Rio
Grande do Norte, percebemos êxito na comercialização dos cultivos (Figura 2).

Figura 2: Movimentação financeira em US$ FOB da exportação de Frutas do Rio Grande do Norte – 2000 a
2015.
900.000.000
797.101.778
800.000.000
700.000.000
600.000.000 527.524.072 Melão
500.000.000
400.000.000 Banana

300.000.000 Mamão
187.247.076
200.000.000
79.126.693
100.000.000
1.860.139
0
Melão Banana Mamão Abacaxi Castanha
de Cajú
Fonte: ALICEWEB/SECEX/MDICE, 2016.

As frutas que apresentam maiores quantidades de exportação são as mesmas com a maior
geração de divisão na receita do estado do Rio Grande do Norte. A política de comercialização
agrícola com possibilidade de venda antecipada e comercialização em bolsas de mercados e futuros
garante competitividade à fruticultura brasileira no mercado internacional. Possibilita, também, um
controle da produção por parte de produtores de grande porte por deter ativo como garantia de
liquidar suas promessas de vendas. O crescimento das negociações internacionais fazem crescer a
fruticultura brasileira, em especial a partir da Rodada Uruguai de Negociações Comerciais, pois
definiu padrões de acesso, regulamentando as medidas sanitárias e fitossanitárias, medidas
protecionistas não tarifárias no âmbito do comércio internacional, reduzindo barreiras de entrada às
frutas nacionais (BRASIL, 2007).
Consoante ao exposto, percebemos uma seletividade na produção do agronegócio de frutas
conduzido pela lógica da competitividade econômica e territorial. A esfera do comércio é a grande

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mola propulsora da produção de frutas, direcionadas a troca internacional. A lógica das commoditys
(FREDERICO, 2013) está presente no agronegócio das frutas, que padroniza sua produção para
atender uma demanda de uma economia mundial, e desenvolve localmente uma atividade cuja
finalidade é o mercado internacional, ocorrendo graças a flexibilidade da soberania nacional.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A agricultura brasileira está alicerçada numa lógica de produção de alimentos direcionada


ao atendimento das demandas dos mercados externos, em especial aos mercados regionais da
América do Norte e União europeia, com destaque a produção de gêneros alimentícios que são
gestados e produzidos com a finalidade de atender aos protocolos de boas práticas agrícolas,
pensados e impostos por instituições extranacionais. A política de Segurança Alimentar e
Nutricional do Estado Brasileiro constitui um avanço enquanto política de seguridade alimentar
com vista a superação das desigualdades e situações de fome, historicamente presente na formação
socioterritorial do país, no entanto sua formulação não conseguiu pôr fim às demandas de produção
de alimentos para o abastecimento do mercado local com vistas a superação da situação da falta de
alimentos, tão pouco conseguiu formular estratégias que garanta a produção sustentável de gêneros
alimentícios cuja finalidade primeira seja o atendimento das demandas internas do país. Constata-
se que a soberania nacional é flexibilizada para que haja uma produção de alimentos nos moldes
imposto internacionalmente, visando o atendimento das demandas dos mercados externos. Nesse
sentido, as frutas produzidas no Rio Grande do Norte visam, primeiramente, atender as demandas
externas de consumo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Norte: uma análise a partir do circuito espacial produtivo do melão (Cucumis Melo L.). 219 f.:
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Humanas, Letras e Artes. Programa de Pós-Graduação em Geografia, 2013.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

WAQUIL, Paulo Dabdab.MIELE, Marcelo. SCHULTZ, Glauco. Mercados e comercialização


agrícola. Universidade Aberta do Brasil. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2010. Disponível
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PERDAS PÓS-COLHEITA DE PRODUTOS HORTÍCOLAS EM


MERCADOS VAREJISTAS

Anderson Carlos de Melo GONÇALVES


Mestrando em Agronomia na Universidade Federal da Paraíba
anderson.agroufpb@yahoo.com
Mário Leno Martins VÉRAS
Doutorando em Fitotecnia na Universidade Federal de Viçosa
mario.deus1992@bol.com.br
José Sebastião de MELO FILHO
Doutorando em Agronomia na Universidade Federal da Paraiba
sebastiaouepb@yahoo.com.br
Lunara de Sousa ALVES
Mestranda em Sistemas Agroindustriais na Universidade Federal de Campina Grande
Lunara_alvesuepb@hotmail.com

RESUMO
Os estudos com análises de perdas pós-colheita de frutas e hortaliças em mercados varejistas são de
extrema relevância, pois permitem identificar quanto é perdido, quais são as causas e possíveis
soluções. Neste contexto, o objetivo do presente trabalho foi realizar levantamento de informações
sobre perdas pós-colheita de produtos hortícolas, bem como as suas causas e soluções em mercados
varejistas do município de Catolé do Rocha-PB. O estudo foi realizado no município de Catolé do
Rocha-PB, localizado no sertão Paraibano, na microrregião de Catolé do Rocha-PB. Para isso,
foram feitas visitas in loco para aplicação oral de um questionário com perguntas elaboradas de
acordo com as informações qualitativas e quantitativas a serem levantadas e respostas objetivas e
opcionais para cada questão, de modo que respondessem de forma oral ao objetivo da pesquisa nos
equipamentos varejistas no período compreendido entre abril a junho de 2017. As perdas pós-
colheita de frutas e hortaliças no município de Catolé do Rocha-PB ocorrem em níveis altos, sendo
a maioria ocasionada pela aquisição de produtos hortícolas em estágio de maturação fisiológica
avançada; Como forma de reduzir as perdas, a maioria dos varejistas armazenam os produtos
hortícolas em câmaras de refrigeração.
Palavras Chave: fisiologia pós-colheita, frutas, hortaliças.
ABSTRACT
Studies with post-harvest losses analysis of fruits and vegetables in retail markets are extremely
relevant because they are well identified as they are lost, they are like solution solutions. In this
context, the objective of the present study was to evaluate the effects of post-harvest losses on
vegetables, as well as their solutions and solutions in the retail markets of the municipality of Catolé
do Rocha-PB. This was carried out in the municipality of Catolé do Rocha-PB, located in the
Paraibano hinterland, in the Catolé do Rocha-PB microregion. For this, the questions asked for the
oral application of a questionnaire with questions elaborated according to the qualitative and
quantitative information to be collected and objective and optional answers for each subject, so that
it responds orally to the research objective in the equipment Retailers In the period between April
and June 2017. Post-harvest losses of fruits and vegetables in the municipality of Catolé do Rocha-
PB occur at high levels, being an occasion for the acquisition of vegetables in an advanced

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physiological maturation stage; As a way to reduce as losses, most dynamic retailers of vegetables
in refrigeration chambers.
Keywords: Post-harvest physiology, fruits, vegetables.

INTRODUÇÃO

O Brasil é um dos principais produtores de frutas e hortaliças no mundo todo, contudo, o


volume de perdas também apresenta grande número. Aproximadamente 35 a 45% dos produtos
hortícolas são desperdiçados, desde a classificação e seleção na propriedade rural até a sua
utilização pelo consumidor final (LUENGO et al., 2001; VILELA et al., 2003a; VILELA et al.,
2003b). Os principais problemas das perdas pós-colheita é a baixa disponibilidade de produtos em
época de entressafra, fazendo com que os produtos sejam mais caros.
As perdas pós-colheita podem ser provocadas por diversos fatores, dentre eles: a) as
condições ambientais (altas precipitações, altas temperaturas e elevadas taxas de umidade do ar) que
viabilizam o desenvolvimento de fungos e bactérias que atuam depreciando a qualidade dos
produtos no campo; b) embalagens incompatíveis, manejo, manuseio e acondicionamento incorretos
durante o fluxo de comercialização; c) estrutura e instalações dos equipamentos de comercialização
insuficientes; d) agrotecnologia insuficiente no campo, classificação e padronização insatisfatórias;
e) distância dos fornecedores (ANDREUCCETTI et al., 2005; LANA et al., 2002; LOURENZANI
& SILVA, 2004; LUENGO et al., 2001; LUENGO et al., 2003; VILELA et al. 2003a; VILELA et
al., 2003b).
O manuseio, transporte e exposição dos produtos hortícolas no mercado varejista após a
colheita influenciam diretamente na qualidade e vida útil dos produtos, uma vez que reduzem a
qualidade do produto, como a elevação da taxa respiratória, perda de água, produção de etileno,
doenças pós-colheita, desordens fisiológicas e dano físico (KADER, 2002). Em consequência disso,
além de aumentar as perdas pós-colheita, tornam produtos hortícolas menos disponíveis em
algumas regiões.
Muitos das perdas pós-colheita surgem após os produtos hortícolas são danificadas,
causando injurias físicas tanto no ambiente de cultivo do produto, quanto no momento da colheita e
na cadeia de comercialização. A maioria dos produtos após serem expostos à injúrias físicas
apresentam um aumento rápido na taxa respiratória, incremento na produção de etileno e outras
reações bioquímicas relacionadas à mudanças na coloração, textura e qualidade nutricional, bem
como perda de açúcares, ácidos orgânicos e vitaminas (CANTWELL & SUSLOW, 2002). A
injúrias físicas aumenta duas vezes mais a taxa respiratória em diversas hortícolas, como em raízes
de cenoura (SURJADINATA & CISNEROS-ZEVALLOS, 2003) e alface (SALTVEIT et al.,
2003).

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Além disso, com a incidência de injúrias físicas os produtos hortícolas apresentam mudanças
na coloração e no sabor que ocorrem devido o aumento do metabolismo dos fenilpropanóides,
resultando no acúmulo de compostos fenólicos, com subsequente escurecimento do tecido e
amargor (SALTVEIT, 2000). Isso ocorre comumente em folhas de alface (CAMPOS-VARGAS &
SALTVEIT, 2002). Outras mudanças ocorrem na coloração de produtos hortícolas, como o
amarelecimento, observado em abobrinha, podendo ser ocasionado pela degradação de clorofila
(DURIGAN & MATTIUZ, 2007).
Alguns estudos apontam que as perdas pós-colheita em mercados varejistas apresentam
variações entre os meses do ano e entre lojas. As principais causas de perdas nesse setor podem ser
originados de forma natural (produtos climatéricos, alta perecibilidade) ou pode ser provocado. As
perdas pós-colheita de forma natural podem ser ocasionados por fatores climáticos, podendo
acelerar a senescência dos produtos e favorecendo a incidência de patógenos causadores de
apodrecimento. Em períodos quentes (temperaturas altas e umidade baixa) há maior
desenvolvimento de fungos e bactérias que contaminam os produtos. Por outro lado, no período frio
(temperaturas baixas) os produtos hortícolas apresentam melhor conservação, pois tem um
retardamento na maturação e multiplicação de patógenos, proporcionando assim menor risco de
contaminação. De forma induzida as perdas ocorrem devido à utilização de embalagens
inadequadas e pelo manuseio incorreto dos produtos (VILELA et al., 2003b).
Os estudos envolvendo avaliação de perdas pós-colheita são de extrema relevância, pois
permitem implementar políticas públicas e privadas visando o desenvolvimento do setor e à
competitividade da cadeia, além disso, são importantes para definir um programa de transferência
de tecnologia para redução de perdas, fornecendo subsídios para os formuladores e os dirigentes de
políticas agrícolas e sociais, considerando que podem ser utilizados como base para orientar a
formulação de trabalhos educativos de redução de perdas pós-colheita entre os agentes envolvidos
na produção e na comercialização (PEROSA et al., 2009; VILELA et al., 2003b).
Neste contexto, o objetivo do presente trabalho foi realizar levantamento de informações
sobre perdas pós-colheita de produtos hortícolas, bem como as suas causas e soluções em mercados
varejistas do município de Catolé do Rocha-PB.

METODOLOGIA

O levantamento foi realizado no município de Catolé do Rocha-PB, localizado no sertão


Paraibano, na microrregião de Catolé do Rocha (6°20‘38‖S; 37°44‘48‖W) e 275 metros de altitude,
(divisa com o estado do Rio Grande do Norte). As capitais estaduais mais próximas são João
Pessoa-PB e Natal-RN.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

O estudo foi realizado nos principais mercados varejistas da cidade de Catolé do Rocha: três
supermercados de médio a pequeno porte e quatro quitandas (conhecidas localmente como
―frutarias‖). Para isso, foram feitas visitas in loco para aplicação oral de um questionário com
perguntas elaboradas de acordo com as informações qualitativas e quantitativas a serem levantadas
e respostas objetivas e opcionais para cada questão, de modo que respondessem de forma oral ao
objetivo da pesquisa nos equipamentos varejistas no período compreendido entre abril a junho de
2017 (FAGUNDES & YAMANISHI, 2002; VILELA et al., 2003a). Os questionários foram
aplicados com o encarregado do setor de gerência de cada estabelecimento (Figura 1) no caso dos
supermercados, nos mercados varejistas foi feito com cada proprietário.

Figura 1: Entrevista realizada com o gerente do estabelecimento.


Fonte: o autor.

Os questionários foram aplicados para obter as informações: a) número de recebimento de


produtos por semana; b) vendas por semana; c) quantidade de perdas; d) principais motivos das
perdas; e) principais providências para reduzir perdas de produtos hortícolas e f) uso de refrigeração
dos produtos.
Ao final da aplicação do questionários em todos os estabelecimentos os resultados obtidos
com as pesquisas in loco foram tabulados calculando-se as médias aritméticas e percentuais e
organizados em planilhas processadas pelo Excel© versão 2013.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Observou-se que 90% das redes varejistas de frutas e hortaliças recebem mais de 4 vezes por
semana produtos hortícolas (Figura 1A), vendendo desses produtos mais de 20 mil reais (56%)

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

(Figura 1B). Essa alta taxa de recebimento de produtos hortícolas é um fator que influencia
diretamente nas perdas pós-colheita, já que com o recebimento de muitas quantidades, grande parte
não são vendidas e são descartadas. Além disso, como muitas frutas e hortaliças são muito
perecíveis com o excessivo manuseio há maior número de perdas de diversas frutas e hortaliças nos
mercados (Bueno et al., 1999; Fagundes & Yamanishi, 2002; Silva et al., 2003; Vilela et al., 2003b;
Lourenzani & Silva, 2004).
Rangel et al. (2003), Lana et al. (2002) e Lourenzani & Silva (2004), observaram que com o
excesso de produtos na bancada, o excessivo manuseio do consumidor, as condições ambientais no
estabelecimento, os danos mecânico e fisiológico, defeitos no formato, classificação e padronização
dos produtos inadequados à comercialização e falta de treinamento do pessoal envolvido no
processo influenciam no aumento das perdas de frutos e hortaliças.

Figura 1: Recebimento (A) e vendas (B) de frutas e hortaliças em varejos no município de


Catolé do Rocha - PB

Para a quantidade de perdas (Figura 2A) e os principais motivos (Figura 2B), observou-se
que 56% das perdas são acima de 20 kg por semana, sendo os principais motivos (90%) o estádio
avançado de maturação dos produtos hortícolas. Em virtude das necessidades de abastecimento, o
varejista adquire produtos em grandes quantidades com estádio de maturação avançada. Frutos e
hortaliças que são colhidos em estádio avançado, apesar de terem menor vida útil são mais
preferidos pelos consumidores, contudo, quando não são todos vendidos são descartados. O ideal
seria armazenar frutos de um estádio de maturação, permitindo garantir uma boa qualidade durante
o período de comercialização (MOURA et al., 1999).
As perdas pós-colheita de produtos agrícolas ocorrem de diversas formas, como injúrias
físicas. Estas perdas repassadas aos produtores, ou demais pessoas envolvidas na produção vegetal,
devem ser evitadas, ou reduzidas, já que reduzem a oferta de diversos produtos, bem como evita
desperdícios de investimentos financeiros e de tempo gastos na sua produção (PARISI et al., 2012).

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Figura 2: Quantidade de perdas (A) e principais motivos de perdas (B) de produtos hortícolas
em varejos no município de Catolé do Rocha-PB

Contudo, uma maneira que os varejistas reduzirem as perdas pós-colheita é o uso de


armazenamento refrigerado (67%), sendo que a maioria (90%) utiliza câmara fria nos mercados
varejistas (Figura 3). O uso de câmara fria é um dos métodos mais indicados para aumentar a vida
útil de produtos hortícolas, pois diminui a produção de etileno, reduz a atividade respiratória dos
produtos, consequentemente, aumenta a vida pós-colheita de frutas e hortaliças. Além disso, outros
métodos podem ser adotados como uma forma de reduzir as perdas pós-colheita, dentre eles a
utilização de embalagens adequadas, uso de métodos e temperaturas adequadas para cada produto
(VILELA et al., 2003b).

Figura 3: Principais providências para reduzir perdas de produtos hortícolas (A) e


uso de câmara fria em varejos no município de Catolé do Rocha-PB

CONCLUSÃO

As perdas pós-colheita de frutas e hortaliças no município de Catolé do Rocha-PB ocorrem


em níveis altos, sendo a maioria ocasionada pela aquisição de produtos hortícolas em estágio de
maturação fisiológica avançada;

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Como forma de reduzir as perdas, a maioria dos varejistas armazenam os produtos hortícolas
em câmaras de refrigeração.

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ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 33


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E CAPITAL SOCIAL: CONTRIBUIÇÕES À PROMOÇÃO


DA SUSTENTABILIDADE NA AGRICULTURA FAMILIAR

Anderson da Silva RODRIGUES


Doutor em Desenvolvimento e Meio Ambiente2
anderson_rodrigues750@hotmail.com
Christiane Luci Bezerra ALVES
Doutora em Desenvolvimento e Meio Ambiente 3
chrisluci@gmail.com
Valéria Feitosa PINHEIRO
Mestre em Desenvolvimento Regional4
valeriafp73@gmail.com

RESUMO
Este artigo tem como proposição fornecer elementos para a compreensão do papel transformador da
educação ambiental na promoção do desenvolvimento local e sua relação com o fortalecimento do
capital social, particularmente em comunidades de produção agroecológica. Como subsídio,
contribui para o entendimento da localização da Educação Ambiental como parte das novas
abordagens que remetem à construção de novos paradigmas ambientais e de desenvolvimento. Os
avanços permitidos pelas concepções de educação ambiental crítica, frente ao conservadorismo de
processos educativos formais, são destaque neste ensaio, contribuindo para o reconhecimento de
como práticas emancipatórias podem ser potencializadas pelas ações integradas, cooperativas e
coletivas, típicas do exercício do capital social.
Palavras-chave: Educação ambiental; capital social; agricultura familiar.
ABSTRACT
This article has the purpose to provide elements for understanding the transformative role of
environmental education in promoting local development and its relation with the strengthening of
social capital, particularly in agroecological production communities. As subsidy, it contributes to
the understanding of the location of Environmental Education as part of the new approaches that
refer to the construction of new environmental and development paradigms. The advances allowed
by the conceptions of critical environmental education, against the conservatism of formal
educational processes, are highlighted in this essay, contributing to the recognition of how
emancipatory practices can be enhanced by integrated, cooperative and collective actions, typical of
the exercise of social capital.
Keywords: Environmental Education; Social capital; Family Farming

INTRODUÇÃO

A percepção da multidimensionalidade da crise ambiental obriga a uma reflexão sistêmica


sobre os problemas socioambientais, atrelados ao atual modelo de desenvolvimento. Neste contexto,

2
Docente do Departamento de Economia da Universidade Regional do Cariri – URCA.
3
Docente do Departamento de Economia da Universidade Regional do Cariri – URCA.
4
docente do Departamento de Economia da Universidade Regional do Cariri – URCA.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

a educação possui papel relevante na busca de transformação da ordem econômica e social vigente.
Devido à tendência dominante da ótica da acumulação capitalista, a prática pedagógica volta-se
para a atuação transformadora das relações locais, não perdendo de vista a utopia de uma
transformação global nas relações entre homem e natureza. Assim, ressalta-se a importância da
educação ambiental numa perspectiva crítica para a formação de novos valores éticos e sociais, de
modo a introduzir uma nova ótica e uma nova racionalidade na promoção de uma sociedade mais
justa, culturalmente diversa e economicamente viável.
Deste modo, as concepções transformadoras do papel da educação ambiental gestadas,
sobretudo, nas teorias críticas e de promoção da emancipação humana, podem constituir-se num
farol de atuação de comunidades e grupos sociais desfavorecidos pelo processo de acumulação
capitalista. Em tal perspectiva, o presente artigo propõe fornecer elementos para a compreensão do
papel transformador da educação ambiental na promoção do desenvolvimento local e sua relação
com o fortalecimento do capital social, particularmente em comunidade de produção agroecológica.

O CONTEXTO DA CRISE AMBIENTAL

Segundo Barreto (2004), as primeiras discussões sobre os impactos da atividade econômica


sobre o meio ambiente são produzidas no âmbito do Clube de Roma, que em 1968 reuniu um grupo
composto por cientistas, industriais e políticos, resultando na publicação do primeiro relatório desta
comissão, em 1972, sob o título: ―Os Limites do Crescimento‖. O relatório focou sua preocupação
em quatro questões basilares: o crescimento populacional; o controle do crescimento industrial; a
insuficiente produção de alimentos e o colapso dos recursos naturais. A recomendação do relatório
do Clube de Roma apontava para a necessidade de se repensar o ritmo de acumulação capitalista e a
pressão sobre os recursos naturais, advogando a necessidade de redução drástica do nível de
crescimento econômico e populacional, de modo a adequar a demanda de recursos naturais com a
capacidade de suporte do planeta. A repercussão do referido relatório, juntamente com o
crescimento do movimento ambientalista, pautou a questão ambiental no debate político mundial.
Como resultado, em 1972, realizou-se em Estocolmo, a primeira Conferência das Nações Unidas
sobre o Meio Ambiente.
Sachs (1993) e Veiga (1998, apud CAMARGO, 2003), ressaltam que a conferência de
Estocolmo representou o marco inicial onde se firmaram as bases para a discussão da inter-relação
entre a atividade econômica e o meio ambiente.
Segundo Camargo (2003), a partir das discussões de Estocolmo é criado o Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), que promoveu, ao longo dos anos 1970 e 1980,
uma série de seminários regionais que culminaram com o Relatório Brundtland (Nosso Futuro
Comum), o qual criticava o liberalismo e seus efeitos sobre a desigualdade entre países,

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

consagrando a dimensão social como integrante da questão ambiental, promovendo, ainda, a


necessidade de uma nova qualificação do desenvolvimento através do adjetivo sustentável. Apesar
das críticas ao termo Desenvolvimento Sustentável, principalmente no que se refere ao amplo
espectro de interpretações que o mesmo enseja, há que se reconhecer que a partir das conferências
citadas a problemática ambiental ganha destaque na agenda política e aumenta a consciência dos
problemas de um crescimento contínuo, a partir de uma base de recursos naturais finita.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: TRAJETÓRIA, CONCEPÇÕES E IDENTIDADE

A percepção da magnitude e complexidade dos problemas ambientais nos anos 1960 e 1970
promoveram a discussão sobre a necessidade de uma nova ética global e ecológica. Já em 1972, a
Conferência de Estocolmo sinalizava a necessidade de vinculação entre educação e meio ambiente,
tendo sido reconhecida a Educação Ambiental como campo específico do conhecimento em 1975,
por ocasião do I Seminário Internacional de Educação Ambiental em Belgrado. Apesar da presença
marcante de um economicismo de base liberal, as discussões caminharam para reforçar a
necessidade de construção de um novo paradigma, baseado num constructo de novas práxis, social e
ecológica, vinculada a erradicação de problemas como fome, miséria, analfabetismo, poluição,
degradação dos recursos naturais, através de uma nova matriz de desenvolvimento e do
entendimento da multidimensionalidade dos referidos problemas. No referido encontro, a Educação
Ambiental foi compreendida como processo educativo amplo, com o objetivo de gestar novos
valores e atitudes compatíveis com a sustentabilidade do planeta, incorporando as dimensões
políticas, sociais e culturais. O Primeiro Congresso Mundial de Educação ambiental, realizado em
Tbilisi (1977) reforçou o papel da Educação Ambiental ―como meio educativo pelo qual se podem
compreender de maneira articulada, as dimensões sociais e ambientais, e problematizar a realidade
buscando as raízes da crise civilizatória‖ (COSTA; LOUREIRO, 2013, p.4).
A visão de Educação Ambiental difundida pelas grandes conferências e organismos
internacionais enfatiza, como diretrizes gerais, a promoção da dimensão cidadã (através do
protagonismo do indivíduo em sociedade) e ética (ênfase em valores democráticos). Assim,
segundo Barbieri (2011), os objetivos de uma educação ambiental nos moldes difundidos pelos
organismos internacionais são: a) conscientização dos problemas ambientais; b) formação para a
participação ativa na resolução dos problemas e avaliação das políticas ambientais; transmissão de
compreensão básica sobre o meio ambiente e as influências humanas; c) promoção para a aquisição
de valores e motivação para atitudes de proteção ao meio ambiente.
Esta compreensão do papel da Educação Ambiental tem recebido diversas críticas em
função do seu caráter conservador. Dentre estas críticas podemos destacar: a avaliação de sua
concepção pedagógica, que privilegia o tecnicismo na transmissão do conhecimento; a ausência de

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

uma postura crítica em relação ao atual modelo de produção e a consequente manutenção dos
valores econômicos, políticos, éticos e culturais da sociedade capitalista; compreensão naturalista e
conservacionista da crise ambiental; ênfase numa abordagem mecanicista moderna, que
desconsidera a complexidade da problemática ambiental (LIMA, 2002; LOUREIRO, 2004; SAUVÉ
2005).
Lima (2002), ao abordar as diferentes concepções de educação ambiental, chama a atenção
que além da proposta conservadora apresentada anteriormente, tem se construído recentemente, o
que ele chama de conservadorismo dinâmico, caracterizado por um perfil reformista, superficial e
reducionista. O conservadorismo dinâmico ―opera por mudanças aparentes e parciais nas relações
sociais e nas relações entre a sociedade e o ambiente enquanto conserva o essencial‖ (LIMA 2002,
p.125). Deste modo, tais propostas representariam uma apropriação e transformação do discurso
ambiental, hegemonizado pelas forças de mercado, que teriam deslocado a crítica ao atual modelo
de desenvolvimento no sentido de uma sustentabilidade conservadora, à medida que busca a
transição de um modelo de desenvolvimento esgotado para um de desenvolvimento sustentável, que
preconiza mudanças superficiais e não transformadoras da estrutura socioeconômica vigente.
Por conseguinte, em contraposição à educação ambiental conservadora, surgiram formas
alternativas de se compreender as raízes e buscar soluções para a problemática ambiental, as quais
se sustentam numa postura crítica em relação aos problemas ambientais, questionando o cerne do
modelo econômico e social vigente. Tais propostas pedagógicas, apesar de sua multiplicidade,
representam o que se convencionou denominar genericamente de Educação Ambiental Crítica,
cujas características são: a) uma compreensão holística da problemática ambiental; b) defesa do
desenvolvimento das liberdades humanas e não-humanas; c) atitude crítica e politizada dos desafios
da crise civilizatória; d) afirmação da democracia como pré-requisito para a construção de uma
sustentabilidade plural; e) estímulo à participação social e defesa da cidadania; f) ênfase numa
abordagem multidisciplinar do conhecimento, que promova a interdisciplinaridade entre os diversos
campos da ciência e valorize as diversas formas de saber; g) atuação transformadora dos valores e
práticas contrárias ao bem-estar público (LIMA, 2002).
Pinto e Zacarias (2010) enfatizam que as concepções apresentadas de educação ambiental
representam, na realidade, consequência lógica das diferentes visões sobre a crise ambiental. Assim,
para uma compreensão da crise ambiental que considere como causas da destruição ambiental, o
desperdício de matéria e energia, os limites dos recursos naturais, o excesso populacional e os
elevados padrões de produção e consumo, o diagnóstico proposto concentra-se na denúncia da
existência de um modelo de desenvolvimento insustentável, cuja solução é a promoção da transição
para um modelo de desenvolvimento sustentável, mantendo-se o contexto do domínio do capital.
Nesta lógica, o papel atribuído à educação ambiental é o de promover a construção de um conjunto

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de valores que possibilitem o desenvolvimento de um senso de responsabilidade individual e


coletiva, de natureza conservacionista, materializado em ações, por exemplo, de redução do
consumo e desperdício de energia, seleta coletiva do lixo, consumo sustentável etc. Diferentemente,
a perspectiva crítica entende a crise ambiental como resultado de um conjunto de variáveis
interconexas, definidas pelas bases sociais, econômicas, culturais e políticas que conformam a
sociedade capitalista, ou seja, a citada crise é produto indissociável do processo de acumulação de
capital na sociedade moderna. Neste sentido, a proposição é uma atuação pedagógica que enseje
uma prática educativa diametralmente oposta da visão citada anteriormente, onde ao invés de
reformar hábitos insustentáveis, se propõe a transformação radical, tanto no processo de produção e
distribuição da riqueza, quanto na estrutura e nos valores sociais vigentes.
A Educação Ambiental é, portanto, campo de investigação e atuação pedagógica, não possui
uma única identidade e plano de ação, mas se caracteriza pela pluralidade de concepções que estão
atreladas, as formas como os diversos atores sociais percebem a natureza dos problemas e
apropriam-se do discurso ambiental.

CAPITAL SOCIAL: CONCEITOS, FUNDAMENTOS E RELAÇÕES NA EDUCAÇÃO


AMBIENTAL

O reconhecimento da importância do conceito de capital social tem destaque em pesquisas


recentes, aliado à inflexão no direcionamento das políticas de desenvolvimento preconizadas pelas
agências de fomento e desenvolvimento internacionais, a partir da percepção da ineficácia das
políticas universalizantes, que desconsideravam os aspectos sociais, políticos, culturais e
institucionais do desenvolvimento. A difusão de experiências de desenvolvimento local, cujo êxito
não pode ser atribuído unicamente aos recursos disponíveis (naturais, financeiros, locacionais, etc.),
mas às peculiaridades das relações sociais locais, influencia, direta e indiretamente, pesquisas sobre
o papel das instituições, das particularidades culturais, da constituição das relações sociais e atuação
política de certas comunidades. Assim, percebe-se a necessidade de consideração das características
e condicionantes locais na proposição de intervenções voltadas para o desenvolvimento. Deste
modo, ações de fomento do capital social passam a integrar o envelope de novos projetos do
sistema de cooperação para o desenvolvimento promovido por organismos e instituições
internacionais (MILANI, 2003).
Em termos cronológicos, Lyda Hanifan, em 1916, já define o capital social em suas
pesquisas como o conjunto dos elementos tangíveis que mais contam na vida quotidiana das
pessoas, tais como a boa vontade, camaradagem, a simpatia, as relações sociais entre os indivíduos
e a família.
Para Bourdieu (1998, p. 67, apud DOMICIANO, 2012),

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[...] capital social é o conjunto de recursos atuais ou potenciais que estão ligados à posse de
uma rede durável de relações mais ou menos institucionalizadas de reconhecimento e de
inter-reconhecimento, ou em outros termos, à vinculação a um grupo, como conjunto de
agentes que não somente são dotados de propriedades comuns [...] mas também são unidos
por ligações permanentes e uteis.

Assim, na visão do citado autor, o capital social representa uma estratégia de classe que o
utiliza como instrumento de exercício de poder (MILANI, 2003 P.11).
Para Putman (1995, apud MILANI, 2003), o capital social refere-se aos aspectos da
organização social, tais como redes, normas e confiança que facilitam a coordenação e a cooperação
para benefício mútuo. Por sua vez, COLEMAN (1990, apud MONASTÉRIO, 2000, p. 869)
apresenta definição mais ampla que a de Putman, enfatizando que o conceito de capital social:

não é uma entidade única, mas uma variedade de entidades diferentes que possuem duas
características em comum: elas são uma forma de estrutura social e facilitam certas ações
dos indivíduos que pertençam a esta estrutura.

Vidal (2004, apud GIESTA; SILVA, 2006), enfatiza que o capital social aumenta as
habilidades dos indivíduos, fortalece as organizações, estabelece elos entre os indivíduos e entre as
organizações, aumentando, então, a capacidade de articulação política e produtiva desta
―comunidade‖. Quanto mais expressivo for o estoque de Capital Social, maior será a possibilidade
de determinada comunidade reivindicar direitos, políticas públicas, se articular produtivamente etc.
Ao analisar os elementos estratégicos para o sucesso da cooperativa de produção orgânica,
Giesta e Silva (2006, p. 4) enfatizam que:

os esforços da Educação Ambiental, acabam por disseminar novos conhecimentos às


pessoas das organizações, cooperativas ou não, e redimensionar os relacionamentos nessa
estrutura, ajudando a promover, assim, o estoque de Capital Social‖

Assim o conceito de capital social consiste no reconhecimento de que as estruturas sociais


devem ser vistas como recursos, como um ativo a disposição do indivíduo ou de determinado grupo
social, tornando possível a consecução de objetivos que não seriam atingidos na sua ausência.
(ABRAMOVAY, 1999)
Em estudo sobre as conquistas e limitações em assentamentos rurais, Castillo et al. (1998,
apud ABRAMOVAY, 1999) evidenciam de que as conquistas ou fracasso das experiências de
assentamentos estariam fortemente relacionadas ao capital social, assim os assentamentos que
obtiveram maiores conquistas caracterizaram-se pela ampliação de relações sociais dos assentados
no plano político, econômico e social.
Domiciano (2012) enfatiza a possibilidade de contribuição da educação ambiental crítica
para a formação de capital social, à medida em que promove a discussão acerca dos aspectos
ligados à cidadania, ao perseguir princípios de igualdade entre as pessoas, bem como de
solidariedade, reciprocidade e cooperação.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Assim, a educação ambiental, numa perspectiva crítica, ao promover a discussão sobre os


problemas ambientais, sociais e econômicos de determinada comunidade contribui para a
conscientização das relações de exploração e injustiças presentes na sociedade contemporânea,
podendo promover uma prática transformadora por parte de comunidades, no sentido de se
robustecerem e atingirem o fortalecimento sociocomunitário e político organizacional (SAITO,
2002, apud DOMICIANO, 2012).
Assim a ideia de empoderar as pessoas de determinada comunidade a partir da reflexão
crítica dos problemas cotidianos é possibilitada por um processo intencional e conscientizador de
âmbito educacional (SILVEIRA, 2006).
Conforme ressalta Freire (2005), a problematização se dá pela dialogização das pessoas com
sua realidade diária, originando situações-problema a qual se busca uma solução por meio de uma
ação transformadora do seu cotidiano. O empoderamento ocorreria ao se transformar pessoas
excluídas de um processo decisório, em sujeitos ativos.
Durston (2003, apud MILANI, 2003) ressalta que para que ocorra formação de capital
social, faz-se necessário que o agente externo promova: a capacitação dos beneficiários; a adoção
de medidas participativas e a institucionalização de espaços participativos, de modo a permitir a
transferência gradual do planejamento e execução das ações aos beneficiários finais. Neste sentido,
a educação ambiental na perspectiva crítica pode promover tanto a formação quanto o
fortalecimento do capital social em determinada comunidade, sobretudo as voltadas para práticas
agrícolas sustentáveis, que se orientam por uma ótica diversa da ótica individualista e competitiva
do mercado.
Assim, é factível a inter-relação entre capital social e educação ambiental, de modo a
possibilitar a determinada comunidade maior poder para resoluções dos seus problemas; estes
conceitos se complementam à medida que a presença de significativo estoque de capital social tende
a favorecer a educação ambiental, e esta, por sua vez, tende a promover um espaço coletivo que
propicie o florescimento e fortalecimento de capital social (ROCHEINSKY, 2010, apud
DOMICIANO, 2012).

AGRICULTURA FAMILIAR E AGROECOLOGIA: PRINCÍPIOS E FUNDAMENTOS

A crescente necessidade de aumento da oferta de alimentos e insumos para a indústria, a


necessidade de aumento de produtividade agrícola e a utilização massiva de tecnologias
inadequadas do ponto de vista ambiental, representam desafios à construção de uma agricultura
assentada em bases sustentáveis.
Porém, apesar dos desafios, Assas e Almeida (2004) visualizam a agricultura familiar como
segmento privilegiado para a adoção de um novo modelo de produção, alicerçado em uma ótica de

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sustentabilidade, que concilie respeito ao meio ambiente e promoção do desenvolvimento social.


Isto porque tais produtores possuem menor dependência de insumos externos, e apresentam, de
modo geral, uma ótica não capitalista, tanto nas relações de produção como em relação aos demais
produtores da comunidade. Como consequência, alimentam-se práticas cooperativas, integradas e
autossustentáveis.
Em resposta a uma nova forma de perceber a relação do homem com o meio, diversas
organizações e movimentos sociais têm promovido a difusão de formas mais sustentáveis de
produção agrícola, que se adequam à produção familiar. Nesse contexto, a agroecologia tem
contribuído para o repensar de um novo modelo de produção, alicerçado em uma ótica de
sustentabilidade. que concilie respeito ao meio ambiente e promoção do desenvolvimento social.
A agroecologia busca empreender a produção de alimentos com alta produtividade, através
do respeito aos processos ecológicos, de modo a reduzir os impactos ambientais e a utilização de
insumos externos. Além disto, objetiva adotar princípios igualitários de produção, de modo a
possibilitar acesso igualitário aos meios de vida, respeitando os saberes, identidades e cultura local.
(ALTIERI, 1987, apud LEFF, 2002).
Em termos de formação do capital social, a agroecologia valoriza a integração coletiva dos
produtores, de modo a possibilitar a luta por seus direitos e fortalecer sua atuação política enquanto
classe (MACHADO, 2009).
A agricultura familiar reúne, portanto, elementos únicos e diversos da lógica de produção-
reprodução da exploração agrícola moderna, tais como: menor dependência de insumos externos,
diversificação, integração agricultura-pecuária, menor escala de produção, integração entre trabalho
e propriedade, ótica de produção centrada nos interesses familiares e não simplesmente na geração
de renda líquida; tais características podem tornar a agricultura familiar em locus ideal de
concretização de um modelo de agricultura sustentável (CARMO, 1998).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As características da produção agroecológica e sua consolidação, enquanto alternativa à


produção agrícola convencional, necessitam de redes sociais que permitam efetiva articulação do
Estado com os diversos atores sociais, promovendo maior participação deste no planejamento e
deliberação de ações, objetivando maior integração e, consequentemente, melhores condições de
trabalho, produção e práticas coletivas.
Nessa perspectiva, a educação ambiental surge como importante instrumento, através da
adoção de um projeto político pedagógico crítico que busque o empoderamento da comunidade, o
fortalecimento dos laços e da participação política dos sujeitos, fortalecendo as práticas de
cooperação, elementos essenciais para a construção do capital social. Desse modo, é possível a

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

indução de redes de cooperação e confiança que permitam maior organização política e promoção
dos interesses comuns para a transformação da realidade local.
A educação ambiental, portanto, contribui para práticas emancipatórias, que são
potencializadas em ações integradas, cooperativas e coletivas, típicas do exercício do capital social.

REFERÊNCIAS

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PIMENTEIRAS MALAGUETAS PÓS PODA SUBMETIDAS A DOSES


DE ESTERCO E NÍVEIS DE ÁGUA RESIDUÁRIA TRATADA

Viviane Farias SILVA


DSc Eng. Agrícola;Pós doutoranda em Recursos Naturais da UFCG
flordeformosur@gmail.com
Carlos Vailan de Castro BEZERRA
Mestrando em Engenharia Agrícola da UFCG
carlosuailan@hotmail.com
Elka Costa Santos NASCIMENTO
Doutoranda em Engenharia Agrícola da UFCG
elka_costa@hotmail.com
Vera Lúcia Antunes de LIMA
Profª DSc. Da Unidade Acadêmica de Engenharia Agrícola da UFCG
antunes@deag.ufcg.edu.br

RESUMO
As pimenteiras estão em larga expansão de cultivo, comercialização e consumo. Informações sobre
o manejo desta cultura é fundamental para uma produção de cultivares e pimentas de qualidade,
principalmente irrigadas com água residuária tratada e substrato orgânico, que viabilizam os custos.
A presente pesquisa foi realizada objetivando-se avaliar as pimenteiras malaguetas pós poda
submetidas a doses de esterco bovino e níveis de irrigação com água residuária tratada. Aos 45 dias
após a poda (DAP) as avaliações biométricas de altura de planta (AP), diâmetro de caule (DC) e
número de folhas (NF) foram realizadas quinzenalmente, totalizando 4 avaliações. Aplicando 50%
da necessidade hídrica da cultura resultou em plantas com maiores alturas e diâmetros de caule. Ao
incrementar 1% de esterco bovino ocorre acréscimos de 0,1 mm de diâmetro de caule. A aplicação
de 50% da necessidade hídrica da cultura e 50% de esterco na composição do substrato orgânico é
recomendado para o cultivo pós poda de pimenteiras malaguetas.
Palavra- Chaves: substrato orgânico; reúso de água; irrigação; manejo.
ABSTRACT
The peppers are on a large expansion of cultivation, trade and consumption. Information about the
management of this culture is essential for a production of plant varieties and quality peppers,
mostly irrigated with treated wastewater and organic substrate, which enable the costs. This
research was conducted aiming to evaluate the peppers peppers after pruning undergone doses of
cattle manure and irrigation with treated wastewater. To 45 days after pruning (DAP) biometric
assessments of plant height (AP), stem diameter (DC) and number of leaves (NF) were
accomplished biweekly, totaling 4 evaluations. Applying 50% of the water needs of culture resulted
in plants with greater heights and diameters of stem. To increase 1% cow manure occurs 0.1 mm
diameter increases stem. The application of 50% of the water needs of culture and 50% of manure
in the composition of the organic substrate is recommended for growing post pruning.
Keywords: organic substrate; reuse of water; irrigation; handling.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

INTRODUÇÃO

As pimenteiras podem ser cultivadas para diversos fins, ornamentação, produção de pimenta
para consumo in natura ou para produção de molhos, além de serem adicionados em outros
condimentos. É considerada uma das olerícolas mais consumidas no Mundo, segundo Silva et al.
(2015). O cultivo de pimenteiras é realizado principalmente pelos agricultores familiares,
incrementando os laços de interação com as agroindústrias, que vem acrescentando valor a esta
cultura ao inseri-la em outros produtos, sendo um setor com vasto mercado (CAIXETA et al., 2014;
DOMENICO et al.,2012; POZZOBON et al.,2011).
A irrigação de pimenteiras com água residuária tratada é uma realidade para regiões com
problemas com escassez hídrica, além de uma maneira eficiente de uso da água e dos nutrientes
essenciais para o desenvolvimento da cultura, reduzindo os custos. O semiárido tem problemas
climáticos, como a seca, limitando o uso de água de qualidade para irrigação, influenciando
diretamente nos setores socioeconômicos da região, assim o reúso de água é uma fonte alternativa
de disponibilidade de água em quantidade e nutrientes, suprindo a demanda hídrica e nutricional da
planta (HOLANDA FILHO et al., 2011; ALVES et al.,2011).
Atualmente existem poucas pesquisas relacionadas com o cultivo e tipo de manejo para as
diversas cultivares de pimenteiras, a cadeia produtiva necessita de maiores informações sobre o tipo
de substrato adequado e que favoreça melhores condições para desenvolvimento e produção destas
cultivares, podas, assim como a quantidade e qualidade de água para suprir a demanda hídrica, além
de manejo de pragas e doenças. Estes dados iram fortalecer o cultivo desta cultura e incrementar na
produção, reduzindo as perdas de produção e acrescentando de maneira sustentável a agricultura
familiar.
Neste contexto, a presente pesquisa foi realizada objetivando-se avaliar as pimenteiras
malaguetas pós poda submetidas a doses de esterco bovino e lâminas de irrigação com água
residuária tratada.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido em ambiente protegido a céu aberto numa área de 68 m 2 na


Universidade Estadual da Paraíba, no município de Lagoa Seca, Brejo paraibano, com as seguintes
coordenadas geográficas 7°10‘11‖ S e 35°51‘13‖ W e altitude de 634 metros, conforme Pereira et
al. (2015) ―o clima é o tropical úmido, com temperatura média anual em torno de 22 °C, com
mínima de 18 °C e a máxima de 33 °C‖. Medeiros et al. (2015) afirmam que, ―o regime
pluviométrico varia de 1.100 a 1.200 mm.ano-1, com início das chuvas no mês de março até

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

agosto‖, com a temperatura máxima do ar anual é de 26,6 ºC, e a umidade relativa do ar anual é de
77%, a intensidade do vento anual é 3,01 m.s-1 e a insolação total de 2557,4 horas.
Para irrigação foi utilizado água captada do açude da Universidade Estadual da Paraíba,
considerada residuária decorrente haver lançamentos de esgotos das casas da comunidade ao
entorno e por isso é realizado um tratamento com filtro anaeróbico num tanque de 200 litros
contendo garrafas pet propiciando ambiente adequado para as bactérias anaeróbicas realizarem o
tratamento da água para ser aplicada na irrigação, com tempo de detenção hidráulica de dois dias,
baseando se na pesquisa de Silva et al. (2005).
O turno de rega adotado foi de dois dias e para determinar a necessidade hídrica da cultura
através do balanço hídrico é realizado no dia anterior a irrigação a tarde nos vasos que contem
lisímetros e a coleta das drenagens no turno da manhã, para que os volumes fossem adequados as
condições hídricas para as plantas e a estimava do consumo hídrico pelas plantas obtidas através da
diferença entre o volume médio aplicado e o volume médio drenado, coletado, ou seja pelo método
da lisímetria de drenagem, conforme os autores, Andrade et al. (2012) e Lima et al. (2015) .
Utilizou-se a cultivar de pimenta malagueta (Capsicum frutescens), desenvolvida pela empresa
ISLA Sementes. Para a realização da semeadura, que foi de acordo com a recomendação de
profundidade sugerida pela empresa ISLA sementes de 0,5 cm para semeadura, diretamente feito no
local de cultivo, os teores de umidade dos substratos orgânicos foram levados a capacidade de campo
no dia anterior. O semeio foi realizado com dez sementes distribuídas de maneira equidistantes.
O solo utilizado foi um Neossolo Regolítico Distrófico Franco Arenoso, coletado na camada
superficial (0 - 20 cm) originário de uma área localizada no Município de Lagoa Seca – PB e o
esterco bovino de animais provenientes da região, estando devidamente curtido.
Foram considerados as seguintes doses de esterco D1 (0% de esterco e 100% solo), D2
(10% esterco e 90% solo), D3 (20% esterco e 80% solo), D4 (30% esterco e 70% solo), D5 (40%
esterco e 60% solo) e D6 (50% esterco e 50% solo), em base de volume. Os níveis de irrigação
aplicados foram 3, baseado na necessidade hídrica (NH) da cultura, 100% NH (N1), 75% NH (N2)
e 50% NH (N3). O delineamento experimental foi de blocos ao acaso, com esquema fatorial de 6 x
3 + 1(testemunha água de abastecimento sem adição de esterco bovino com nível de 100% NH),
com 3 repetições e 2 plantas por parcela.
No dia 29/07/2016 aos 182 dias após a semeadura (DAS) foi realizado a poda das
pimenteiras malaguetas, quando houve término da primeira produção de pimentas malaguetas. A
poda foi realizada conforme as recomendações de Ribeiro (2012), como observa-se na Figura 1,
foram deixadas três hastes sendo retirado as demais deixando neste padrão todas as plantas.

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Figura I. Poda das pimenteiras malaguetas aos 182 DAS.

Após a poda foi iniciado aos 45 dias após a poda (DAP) as avaliações biométricas de altura
de planta (AP), diâmetro de caule (DC) e número de folhas (NF). Foram realizadas quinzenalmente,
totalizando 4 avaliações. Os dados obtidos foram avaliados através do software estatístico SISVAR
5.6 (FERREIRA, 2014).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Tabela 1, constata-se que não houve efeitos significativos para os niveis de irrigação em
todas as épocas de avaliação, enquanto que para doses de esterco teve efeito significativo a nível de
1%. Assim percebe-se que a quantidade de esterco na constituição influencia na altura de planta
após a realização da poda, que pode estar relacionado pela disponibilidade de nutrientes a planta.
Não houve efeito significativo das plantas irrigadas com água residuária tratada ou irrigadas com
água de abastecimento, sendo assim pode se aplicar a agua residuária tratada no cultivo de
pimenteira malagueta.
Tabela 1. Resumo da análise de variância da altura de planta das pimenteiras malaguetas
após poda, aos AP1 (227 DAP), AP2 (242 DAP), AP3 (257 DAP) e AP4 (272 DAP).

Quadrado Médio1

Fonte de Variação GL AP1 AP2 AP3 AP4

Níveis de irrigação (N) 2 1,17ns 1,06ns 0,97ns 0,89ns

Doses de esterco (D) 5 2,89** 2,61** 2,62** 2,76**

Regressão Linear 12,72** 11,44** 11,63** 12,12**

Regressão Quadrática 0,06ns 0,004ns 0,0003ns 0,03ns

Desvio Regressão 0,56ns 0,52ns 0,49ns 0,55ns

Interação (D* N) 10 0,14ns 0,18ns 0,18ns 0,22ns

Tratamento VS Testemunha 1 0,33ns 0,47ns 0,41ns 0,29ns

Resíduo 36 0,54 0,48 0,5 0,52

CV (%) 11,72 11,39 11,45 11,57

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Níveis de irrigação

100% NH (N1) 35,27a 36,36a 36,86a 38,38a

75% NH (N2) 34,66a 35,55a 36,27a 37,11a

50% NH (N3) 40,58a 41,36a 41,80a 42,75a


ns
: não significativo (P>0,05); *: significativo (P<0,05); C.V.: coeficiente de variação. Médias
seguidas de mesma letra na vertical não diferem entre si pelo teste de Tukey.1 Transformação
Raiz quadrada de Y + 0.5 - SQRT (Y + 0.5).

Apesar dos níveis de irrigação não serem significativos estatisticamente, verifica-se plantas
com maiores alturas nas pimenteiras irrigadas com 50% da necessidade hídrica da cultura em todas
as épocas de avaliação.
Na Figura II verifica-se as doses de esterco bovino na composição do substrato orgânico em
todas as épocas de avaliação após poda. Constata-se que ao aumentar a porcentagem de esterco
bovino na composição do substrato há pimenteiras com maiores médias na altura de planta, assim
ao incrementar 1% de esterco ao solo haverá o incremento de aproximadamente 3 cm na altura de
planta. A regressão linear foi significativa sendo a que melhor se ajustou.

Figura II. Regressão da altura de planta das pimenteiras malaguetas após poda, aos AP1 (227 DAP), AP2
(242 DAP), AP3 (257 DAP) e AP4 (272 DAP), submetida a niveis de irrigação e doses de esterco bovino.

Cunha et al. (2014) ao avaliarem diversos substratos alternativos no cultivo de alface e couve,
verificaram que uma alternativa para o substrato comercial é a composição com 50% de esterco bovino,
como opção para redução nos custos de produção e melhor desenvolvimento das hortaliças. Silva et al.
(2015) cultivando pimentão com 50% de esterco bovino e 50% de solo obtiveram resultados
satisfatórios quando comparado com os pimentões cultivados com 100% solo.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 49


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Estudando genótipos de pimenteiras após diferentes tipos de poda, Ribeiro (2012)


constataram que na variável altura de planta o genótipo de pimenteira BGH 1039 com a poda
deixando três hastes, similar a realizada neste experimento tiveram plantas com altura média de
35,60 cm, para o genótipo MG 7073 altura média de 33,80 cm, valores inferiores ao obtido nesta
pesquisa com pimenta malagueta. Silva et al. (2014), cultivando pimenta bode vermelha, Oliveira
et al. (2012) e Alves et al. (2012) na produção de pimenta, quiabo e tomate, todas irrigadas com
água residuária proporcionando plantas com maiores alturas.
Na produção de genótipos de pimenta (Guajarina, Iaçara e Cingapura), Serrano et al. (2012)
observaram que com a utilização de substrato com adubação de liberação lenta, obtiveram alturas
médias de 30,7, 28,0 e 27,0cm. Analisando o crescimento do pimentão submetido a substrato
composto com esterco bovino e areia lavada na proporção 2:1, Araújo et al. (2015) obteve melhores
resultados para altura de planta.
O diâmetro de caule das pimenteiras malaguetas conforme a Tabela 2, a fonte de variação niveis
de irrigação não teve efeito significativo e a doses de esterco foi significativo estatisticamente em todas
as épocas de avaliação. Não houve efeito significativo para o contraste com o tratamento versus a
testemunha, sendo a agua residuária tratada uma alternativa para uso na irrigação. Conforme Sanches et
al. (2007) a aplicação de água residuária é uma fonte de alternativa de água e nutrientes obtendo
assim resultados satisfatórios no desenvolvimento das culturas.
Aplicando 50% NH resultou em médias maiores nas variáveis diâmetro e altura de planta,
sendo assim a disponibilidade de 50% NH foi suficiente para desenvolvimento da parte aérea da
planta sem ocorrência de problemas como tombamento, por ser proporcional tanto a altura quanto o
diâmetro de caule. Dados inferiores foram obtidos por Batista e Silva Filho (2014) ao avaliarem 30
genótipos de pimentas não pungentes e verificaram uma oscilação de 0,88 a 4,26mm para o
diâmetro caulinar após a primeira colheita.

Tabela 2. Resumo da análise de variância do diâmetro de caule das pimenteiras malaguetas


após poda, aos DC1 (227 DAP), DC2 (242 DAP), DC3 (257 DAP) e DC4 (272 DAP).
Quadrado Médio
Fonte de Variação GL DC1 DC2 DC3 DC4
Níveis de irrigação (N) 2 4,55ns 1,15ns 1,18ns 0,56ns
Doses de esterco (D) 5 27,7** 35,62** 37,17** 46,56**
Regressão Linear 122,05** 163,76** 175,69** 228,84**
Regressão Quadrática 9,46ns 6,85ns 3,26ns 1,84ns
Desvio Regressão 2,37ns 2,5ns 2,3ns 0,72ns
Interação (D* N) 10 3,14ns 3,05ns 3,43ns 4,19ns
Tratamento VS Testemunha 1 0,66ns 0,54ns 0,60ns 0,042ns

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 50


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Resíduo 36 3,36 4 4 5,29


CV (%) 14,97 15,54 14,86 16,18
Níveis de irrigação
100% NH (N1) 11,68a 12,58a 13,19a 14,16a
75% NH (N2) 12,42a 12,96a 13,5a 14,08a
50% NH (N3) 12,64a 13,05a 13,7a 14,42a
ns
: não significativo (P>0,05); *: significativo (P<0,05); C.V.: coeficiente de variação.
Médias seguidas de mesma letra na vertical não diferem entre si pelo teste de Tukey.

Conforme a Figura III, o diâmetro de caule das pimenteiras malaguetas, são diretamente
proporcionais a quantidade de esterco adicionado na composição do substrato, assim quanto maior a
proporção de esterco na composição do substrato orgânico maior diâmetro de caule possui as
pimenteiras malaguetas. Ao incrementar 1% de esterco bovino ocorre acréscimos de 0,1 mm.
A aplicação de 30% de esterco bovino em base de volume em composição de substrato para
o cultivo de pimenteiras biquinho, segundo Silva et al. (2016), proporcionou diâmetro de caule com
melhores médias (5,96mm). Ferreira et al. (2014) recomenda pra composição de substrato orgânico
para pimentão 30% de esterco e 80% de esterco de pequenos ruminantes e para berinjelas 80% de
esterco bovino e 20% de esterco de pequenos ruminantes, como as melhores opções que
propiciaram condições favoráveis para desenvolvimento adequado das culturas citadas.

Figura III. Regressão da altura de planta das pimenteiras malaguetas após poda, aos DC1 (227 DAP), DC2
(242 DAP), DC3 (257 DAP) e DC4 (272 DAP), submetida a niveis de irrigação e doses de esterco bovino.

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Araújo (2010) observou que o uso de esterco bovino proporcionou incremento nas
características químicas do solo e, consequentemente, um melhor desenvolvimento da cultura.
Como também, Maia Filho et al. (2013), verificaram em experimento, que nos solos com 20% de
esterco bovino houve melhores resultados comparados com os solos utilizando adubados químicos.
Ao avaliar a quantidade de folhas das pimenteiras após poda, na primeira avaliação não
houve efeito significativo para a fonte de variação doses de esterco, nas demais épocas de avaliação
foram significativas estatisticamente (p<0,01). As plantas que possuíram maior quantidade de
folhas foram as irrigadas com 100% da necessidade hídrica da cultura e a comparação do
tratamento a testemunha verifica-se que não houve efeito estatístico para a variável analisada
(TABELA 3).

Tabela 3. Resumo da análise de variância do diâmetro de caule das pimenteiras malaguetas


após poda, aos NF1 (227 DAP), NF2 (242 DAP), NF3 (257 DAP) e NF4 (272 DAP).

Quadrado Médio1
Fonte de Variação GL NF1 NF2 NF3 NF4
ns ns ns
Níveis de irrigação (N) 2 0,22 5,44 4,46 2,1ns
Doses de esterco (D) 5 1,41ns 14,77** 11,85** 11,07**
Regressão Linear 67,61** 54,56** 40,31*
Regressão Quadrática 2,61* 0,78ns 0,09ns
Desvio Regressão 1,22ns 1,31ns 4,98ns
Interação (D* N) 10 2,49ns 2,59ns 2,08ns 2,81ns
Tratamento VS Testemunha 1 16,74ns 0,44ns 0,43ns 2,98ns
Resíduo 36 3,22 3,31 2,92 5,6
CV (%) 19,33 15,11 14,06 19,14
Níveis de irrigação
100% NH (N1) 91,22a 149,94a 157,77a 165,83a
75% NH (N2) 86,66a 161,05a 158,0a 159,16a
50% NH (N3) 87,44a 135,0a 138,16a 148,66a
ns
: não significativo (P>0,05); *: significativo (P<0,05); C.V.: coeficiente de variação. Médias
seguidas de mesma letra na vertical não diferem entre si pelo teste de Tukey. 1 Transformação Raiz
quadrada de Y + 0.5 - SQRT (Y + 0.5).

A partir dos 242 DAP, Figura IV, ao acrescentar maiores porcentagens de esterco bovino
houve maiores quantidades de folhas nas pimenteiras malaguetas, aumentando assim a área
fotossintética da planta. Ao adicionar 2% de esterco constata-se aumento na quantidade de folhas
nas plantas de pimenteiras, assim com esta quantidade acrescentaria em torno de 4 folhas por
planta, desse modo é diretamente proporcional a quantidade de esterco ao número de folhas de
pimenteiras.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 52


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Bezerra et al. (2016) pesquisando sobre o cultivo de pimenteira biquinho com substrato
orgânico composto com 30% de esterco caprino e irrigadas com diferentes qualidades de água
observaram que a água residuária proporcionou as melhores médias, sendo uma alternativa eficiente
em áreas com restrição hídrica.

Figura IV. Regressão da altura de planta das pimenteiras malaguetas após poda, aos NF2 (242 DAP),
NF3 (257 DAP) e NF4 (272 DAP), submetida a niveis de irrigação e doses de esterco bovino.

CONCLUSÕES

A demanda hídrica das pimenteiras malaguetas foi suprida com aplicação de 50% da
necessidade hídrica da cultura, possibilitando desenvolvimento adequado a cultura.
Após a poda a dose de esterco que favoreceu nutrientes e ambiente adequado para cultivo de
pimenteiras malaguetas foram as submetidas a 50% de esterco bovino, sendo esta dosagem
adequada para esta cultivar.

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ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 56


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COMPONENTES DE PRODUÇÃO DO FEIJÃO-CAUPI EM FUNÇÃO DO EMPREGO


DE ADUBOS ORGÂNICOS E MINERAL5

Jeferson da Silva ZUMBA


Mestrado em Produção Agrícola UFRPE-UAG
jefersonszagro@gmail.com
Charlley de Freitas SILVA
Mestrando em Produção Agrícola UFRPE-UAG
charlleyfs@hotmail.com
Monalise de Melo MORAES
Graduanda em Agronomia UFRPE-UAG
monalise--melo@hotmail.com
Maysa Bezerra de ARAÚJO
Graduanda em Agronomia UFRPE-UAG
Maysa_araujo@hotmail.com

RESUMO
Os adubos orgânicos nos sistemas produtivos têm contribuído para a melhoria do manejo do solo,
pois atuam em suas características físicas-químicas e biológicas, essenciais para as plantas. O
objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito da aplicação do esterco bovino, biofertilizante e
inoculação com bactérias fixadoras de nitrogênio e da adubação mineral no cultivo do feijão-caupi.
O delineamento experimental foi em blocos ao acaso, constituído por nove tratamentos e três
repetições. Tratamentos: testemunha absoluta; esterco bovino; biofertilizante; inoculante; esterco
bovino+inoculante; biofertilizante+inoculante; esterco bovino+biofertilizante; esterco
bovino+biofertilizante+inoculante; adubação mineral. Foram avaliadas: número de vagens e de
grãos por planta e o número de grãos por vagem. A adubação mineral deve ser empregada no
cultivo do feijão-caupi, porém, quando for impossível o seu uso, recomenda-se o emprego do
esterco bovino e sua associação com biofertilizante e inoculante.
Palavras chave: esterco bovino; biofertilizante; fixação biológica do nitrogênio; fertilidade do solo.
ABSTRACT
The organic fertilizers production systems have contributed to the improvement of the management
of the soil, because they act in their physical-chemical and biological characteristics are essential
for plants. The objective of this study was to evaluate the effect of application of manure,
bio-fertilizer and inoculation with nitrogen-fixing bacteria and mineral fertilizers in the cultivation
of cowpea. The experimental design was a randomized block consisting of nine treatments and
three replications. Treatments: absolute control; manure; biofertilizers; inoculant;
manure+inoculant; biofertilizers+inoculant; manure+biofertilizers; manure+biofertilizer inoculant;
mineral fertilizer. Were evaluated: number of pods and grain per plant and number of grains
per pod. The mineral fertilizer should be used in the cultivation of cowpea, however when your
inability to use it is recommended to use the cow and your association with biofertilizer and
Inoculants.
Keywords: manure; biofertilizers; biological nitrogen fixation; soil fertility.

5
Mácio Farias de Moura – Orientador, Professor Adjunto IV Doutor em Agronomia UFPB, maciof@yahoo.com.br

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 57


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INTRODUÇÃO

O feijão-caupi (Vigna unguiculata L. Walp.) é conhecido vulgarmente no Brasil como


feijão-de-corda, feijão macassar ou macassa, feijão catador e outras denominações que variam de
acordo com a região onde é produzido e/ou consumido. Segundo Freire Filho (2011), o feijão-caupi
representa, em média, 15% da produção total de feijão do Brasil, o qual é cultivado, principalmente,
nas regiões Norte e Nordeste, totalizando 90% da área cultivada, com rendimento médio variando
entre 300 e 450 kg ha-1. Em alguns Estados da região Norte, o feijão-caupi alcançou produtividades
próximas a 1.000 kg ha-1, porém muito abaixo do potencial produtivo da cultura, o qual pode chegar
a 6.000 kg ha-1 (Alves et al., 2009).
A baixa produtividade de feijão-caupi no Brasil é decorrente de diversos fatores
relacionados às deficiências no sistema de produção, uma vez que, o cultivo nas principais regiões
produtoras, Norte e Nordeste, é realizado, predominantemente, por pequenos e médios produtores, e
esses não dispõem de recursos financeiros para investir em tecnologias em suas áreas de cultivo
(Costa et al., 2010; Pereira et al., 2013). A deficiência de recursos financeiros, o elevado custo dos
insumos agrícolas, o uso de densidades inadequadas de plantas de feijão-caupi, aliados ao manejo
inadequado da fertilidade do solo, do controle de pragas, doenças e plantas daninhas, entre outros,
contribuem para o baixo rendimento da cultura.
Diversos materiais orgânicos podem ser empregados como fonte de nutrientes para as
plantas, porém a velocidade de decomposição e disponibilidade destes são influenciados pela
natureza química do material empregado. Dentre estes materiais estão esterco bovino,
biofertilizante líquido e bactérias fixadoras de nitrogênio. Segundo Silva et al. (2012), o
biofertilizante bovino vem se tornando em uma alternativa eficiente e de baixo custo de fertilização
não convencional. Braos et al. (2015) consideram o esterco bovino uma fonte promissora de
fertilizante orgânico para aplicação via solo. Brito et al. 2011 e Rumjanek et al. 2005, afirmam que
grande parte do nitrogênio acumulado nas plantas de feijão-caupi provém da fixação biológica do
nitrogênio que pode substituir a adubação nitrogenada ou dispensar outras fontes de nitrogênio.
O estudo teve como objetivo avaliar componentes ligados a produtividade do feijão caupi
sob da aplicação do esterco bovino, biofertilizante e inoculação com bactérias fixadoras de
nitrogênio e da adubação mineral.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi realizado na Fazenda Experimental pertencente à Universidade Federal


Rural de Pernambuco/Unidade Acadêmica de Garanhuns (UFRPE/UAG) de novembro de 2015 a
março de 2016, localizada na latitude 08°58‘28‖ S e longitude de 36°27‘11‖ O, altitude de 736 m.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 58


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Antes da instalação do experimento, coletou-se solo para a realização da análise química,


que ocorreu no laboratório de solos do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA). A análise
química apresentou pH em água 5,59; Al+3, 0,0 cmolc dm-3; Ca+2, 2,75 cmolc dm-3; Mg+2, 0,75
cmolc dm-3; P, 2 mg dm-3; e K+, 0,21 mg dm-3.
O delineamento experimental foi em blocos ao acaso, constituído por nove tratamentos e
três repetições. Os tratamentos foram: T – testemunha absoluta; E – esterco bovino; B –
biofertilizante; I – inoculante; EI – esterco bovino + inoculante; BI – biofertilizante + inoculante;
EB – esterco bovino + biofertilizante; EBI – esterco bovino + biofertilizante + inoculante; AM -
adubação mineral.
O esterco bovino foi distribuído de maneira uniforme, quinze dias antes da realização do
semeio do feijão-caupi, numa dose equivalente 12 m3 ha-1. Para a adubação mineral, foram
aplicados 25 kg ha-1 de N (sulfato de amônio), 60 kg ha-1 de P2O5 (superfosfato simples) e 20 kg ha-
1
de k2O (cloreto de potássio). A adubação mineral e orgânica foi realizada conforme o manual de
recomendação de adubação para o Estado de Pernambuco.
Foram empregadas sementes de feijão-caupi da cultivar Miranda IPA 207. O semeio foi
realizado em sulcos com espaçamento 0,8m e densidade de 4 plantas por metro linear. Para a
inoculação, foi empregada a estirpe de inoculante de Rhyzobium spp. do IPA (Instituto Agronômico
de Pernambuco) na dose de 200g/7 kg de sementes. A inoculação consistiu em misturar as sementes
de feijão-caupi com o inoculante, o qual foi previamente umedecido com a solução açucarada a
10%.
O biofertilizante liquido foi aplicado a uma quantidade de 10 mL por planta na concentração
de 20%, em aplicações semanais até a floração, a partir da qual foram feitas aplicações a cada
quinze dias, até a realização da primeira colheita. No período compreendido entre a semeadura e a
emergência das plântulas o biofertilizante foi pulverizado via solo. Após emergência, as
pulverizações eram direcionadas às plantas.
Para confecção do biofertilizante líquido, foram utilizados 40 litros de digesta bovina diluída
em 160 litros de água no interior de uma bombona plástica com capacidade de 240 litros. À
solução, foi adicionado MB-4 (um pó de rochas que contém diversos nutrientes como magnésio,
ferro, fósforo, cálcio, enxofre, cobre, manganês, entres outros). A solução foi mantida sob
fermentação aeróbica por 30 dias para ser utilizada como biofertilizante líquido.
Foi instalado um sistema de irrigação por gotejamento para suprir as necessidades hídricas
do feijão, em época de escassez pluviométrica. Aos 45 dias após a semeadura, visando o controle
das plantas invasoras, foi realizada uma capina com auxílio de enxadas em todos os tratamentos.
Variáveis analisadas: número de vagens e de grãos por planta e número de grãos por vagem.

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Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias de tratamentos comparadas


pelos testes de Dunnett a 5% de probabilidade. O software para a análise estatística empregado foi o
SAEG 8.0.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Por meio da Tabela 1 A e B, constatam-se os resultados das variáveis, números de vagens


por planta (NVP), número de grãos por planta (NGP) e de grãos por vagens (NGV), obtidos a partir
do emprego de adubos orgânicos, testemunha absoluta e adubação mineral.
Observa-se pela Tabela 1A, que o número de vagens (NVP) e de grãos por planta (NGP)
foram superiores à testemunha quando as plantas foram testadas com a aplicação de esterco bovino
(E), esterco bovino + inoculante (EI), esterco bovino + biiofertilizante (EB) e esterco bovino +
biofertilizante + inoculante (EBI). Desta forma, nota-se que apenas o uso do biofertilizante (B) ou
do inoculante (I) ou mesmo a combinação de ambos no presente experimento não foi suficiente para
incrementar a quantidade de vagens e de grãos por planta. Provavelmente, esses adubos não foram
eficientes em atender a demanda do feijoeiro por nutrientes, resultando em planta com baixa
capacidade de produção de grãos. Martins et al. (2015) observaram que os esterco bovino quando
aplicado isoladamente ou associado ao biofertilizante e inoculante proporcionaram efeitos
significativos em relação à testemunha absoluta (sem adubação) para o número de vagens por
planta. Guedes et al. (2010) conseguiram um número médio de 17,55 vagens por planta em
feijão-caupi, sendo esse resultado semelhante ao encontrado em plantas onde foi empregada a
adubação mineral como uma das testemunhas. Pereira et al. (2013) verificaram um aumento no
número de vagens e de grãos por planta em feijão-caupi em função de doses crescentes de esterco
bovino até uma determinada dose, a partir da qual o efeito foi inverso.

Tabela 1 A e B- Número de vagens por planta (NVP), número de grãos por planta (NGP) e número de gãos
por vagem (NGV) de feijão-caupi em função à adubação orgânica, mineral e inoculante em Garanhuns-PE
de nov/2015 a mar/2016.
1ª 1B
TRAT NVP NGP NGV TRAT NVP NGP NGV
T 4,54 48,98 10,65 AM 18,78 208,95 11,15
E 8,70* 104,16* 11,91ns E 8,70* 104,16* 11,91ns
B 5,24ns 53,40ns 10,24ns B 5,24* 53,40* 10,24ns
I 4,53ns 47,11ns 10,42ns I 4,53* 47,11* 10,42ns
EI 8,14* 93,96* 11,57ns EI 8,14* 93,96* 11,57ns
BI 5,36ns 56,36ns 10,52ns BI 5,36* 56,36* 10,52ns

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EB 9,14* 109,20* 11,91ns EB 9,14* 109,20* 11,91ns


EBI 8,80* 100,13* 11,37ns EBI 8,80* 100,13* 11,37ns
Dms 3,36 39,37 1,48 3,36 39,37 1,48
CV 16,99 17,74 5,49 16,99 17,74 5,49
ns e *, não significativo e significativo, respectivamente, a 5% de probabilidade pelo teste de Dunnett. TRAT-
tratamentos; AM - Adubação mineral; E - Esterco; B - Biofertilizante; I - Inoculante; EI - Esterco + inoculante; BI -
Biofertilizante + inoculante; EB - Esterco + biofertilizante; EBI - Esterco + biofertilizante + inoculante. dms= diferença
mínima significativa. CV- coeficiente de variação.

Ainda na tabela 1B, observa-se que a adubação mineral foi superior a todos os tratamentos,
isso pode ter ocorrido devido ao maior desenvolvimento vegetativo das plantas que,
consequentemente, promoveu um maior número de ramos e de flores, acarretando uma maior
quantidade de vagens e de grãos nas plantas.
Não houve diferença significativa para o número de grãos por vagens no presente
experimento, possivelmente por essa ser uma característica peculiar da variedade e pouco
influenciada pela fertilidade do solo. Corrobora com resultados encontrados por Santos et al.
(2007), onde o número de grãos por vagem (NGV) e o peso médio dos grãos não foram afetados
por doses de biofertilizante aplicadas no colo das plantas de feijão-caupi. Martins et al. (2015)
também não observaram efeitos significativos do emprego do esterco bovino, biofertilizante,
inoculante e adubação mineral no número de grãos (NGV) de feijão comum. Guedes et al. (2010)
não verificaram efeitos da inoculação de sementes no número de grãos por vagens em feijão-caupi,
atribuindo esse resultado à ausência de efeitos significativos para o comprimento de vagens.

CONCLUSÃO

A adubação mineral deve ser empregada no cultivo do feijão-caupi.


Porém quando da impossibilidade de uso, a utilização do esterco bovino e sua associação
com biofertilizante e inoculante pode ser empregado como alternativa, pois pode proporcionar um
desempenho positivo no comportamento vegetativo do feijão-caupi.
Visto que o efeito da adubação orgânica é considerado mais residual do que imediata
sugere-se que estudos que envolvem esse tipo de adubação seja feito por períodos maiores de
tempo.

REFERÊNCIAS

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consórcio com cultivares de mandioca no cerrado de Roraima. Revista Agro@mbiente On-line,
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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

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RUMJANEK, N.G. et al. Fixação biológica do nitrogênio. In: FREIRE FILHO, F.R.; LIMA,
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AVALIAÇÃO DO MODELO AQUACROP PARA O BALANÇO DE ÁGUA NO SOLO


NO CULTIVO DE FEIJÃO EM ALAGOAS

Constantino Antônio CAVALCANTE JÚNIOR


Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola, UFCG
constantinocavalcante@hotmail.com;
Ivomberg Dourado MAGALHÃES
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Agronomia (Produção Vegetal), UFAL
ivomberg31@hotmail.com
Iêdo TEODORO
Professor Assistente da Universidade Federal de Alagoas, UFAL
iedoteodoro@gmail.com
Guilherme Bastos de LYRA
Professor Assistente da Universidade Federal de Alagoas, UFAL
gbastoslyra@gmail.com

RESUMO
A crescente demanda por alimentos aliada com sazonalidade dos recursos hídricos tem despertado o
aumento de pesquisas visando o manejo adequado da irrigação em busca da otimização da produção
agrícola com o máximo potencial produtivo das culturas. Em decorrência disso, objetivou-se com o
presente trabalho ampliar os conhecimentos sobre os processos agrometeorológicos envolvidos com
o balanço de água no solo, crescimento e produtividade agrícola da cultura do feijão irrigado,
simulado através do modelo AquaCrop, o qual se destaca como ferramenta útil, que possibilita a
determinação dos fatores que afetam a produtividade e o acompanhamento do processo de
desenvolvimento da cultura, possibilitando assim a antecipação na tomada de decisões com relação
ao manejo da cultura, minimizando os riscos de perda de safra auxiliando na otimização da
produção. O experimento foi conduzido com seis lâminas de irrigação, porem utilizou-se apenas a
lâmina correspondente a 100% da evapotranspiração da cultura (ETc) para avaliação do modelo que
foi eficiente e gerou o balanço de água no solo que totalizou 327 mm de evapotranspiração, 543 mm
de chuva mais irrigação, 116 mm de evaporação real e 211 mm de transpiração real. A cultura do
feijão atingiu a maturação fisiológica com 1.112 Graus-dia (GD) e produziu 2.658 quilogramas por
hectare.
Palavras-chave: Demanda hídrica; modelagem agrícola e culturas agrícolas.
ABSTRACT
The increasing demand for food combined with seasonality of water resources has led to an increase
in research aiming at the adequate management of irrigation in order to optimize agricultural
production with the maximum productive potential of crops. As a result of this, the objective of this
work was to increase the knowledge about the agrometeorological processes involved with the soil
water balance, growth and agricultural productivity of the irrigated bean crop, simulated through the
AquaCrop model, which stands out as a useful tool , Which allows the determination of the factors
that affect the productivity and the accompaniment of the process of development of the crop, thus
enabling the anticipation in the decision making regarding the crop management, minimizing the
risks of loss of harvest, aiding in the optimization of the production. The experiment was conducted
with six irrigation slides, but only a 100% crop evapotranspiration (ETc) slide was used to evaluate
the model, which was efficient and generated soil water balance totaling 327 mm of

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evapotranspiration, 543 mm of rain plus irrigation, 116 mm of real evaporation and 211 mm of real
sweating. Bean cultivation reached physiological maturation at 1.112 Degrees per day (GD) and
produced 2.658 kilograms per hectare.
Keywords: Water demand; Agricultural modeling and agricultural crops.

INTRODUÇÃO

A geração de informações ambientais, principalmente as interações entre atmosfera e os


processos de superfície, constitui pré-requisito básico para exploração racional dos recursos naturais
que subsidiarão as pesquisas nas áreas de meteorologia, agricultura e meio ambiente. A influência
atmosférica na atividade agrícola é consenso geral e comprovado por muitos pesquisadores
Rosenberg et al. (1983); Pereira et al. (1997); Campbell & Norman (1998); Monteith & Unsworth
(2008). Portanto, a produtividade agrícola poderá ser melhorada pelo entendimento das interações
entre as variáveis meteorológicas, o crescimento e desenvolvimento de plantas cultivadas.
O Estado de Alagoas tem suas atividades, principalmente a agricultura, muito dependente
das variáveis climáticas e de tempo. Assim, para definir padrões de desenvolvimento agrícola e
adotar práticas para uma produção autossustentável, é necessário conhecer as variáveis de
crescimento, fenologia, produção, doenças e pragas e suas relações com o balanço de radiação,
energia e água (Souza et al., 2005; Ferreira Junior et al., 2014).
O cultivo do feijão comum (Phaseolus vulgaris L.) é de grande importância sócio
econômica principalmente para populações de baixa renda, por ser fonte de proteína e ter altos
valores nutritivos, Zucareli et al. (2011). Com a instabilidade climática vivenciada atualmente, o
uso de modelos que possibilitem a antecipação na tomada de decisão em função do conhecimento
de cenários futuros é imprescindível para garantir a segurança alimentar da população. Para esse
fim, os modelos agrometeorológicos como AquaCrop são ideais para simulação de cenários futuros
devido a sua praticidade e requisitos mínimos de entrada de dados quando comparado a outros
modelos (Mabhaudhi et al., 2014). Nesse sentido, objetivou-se com o presente trabalho aferir o
modelo agrometeorológico AquaCrop – FAO para simular e gerar o conteúdo de água no solo em
cultivo de feijão irrigado na região de Rio Largo, AL.

METODOLOGIA

O experimento utilizado como parâmetro para aferição do modelo AquaCrop foi conduzido
com a cultura do feijão, na área experimental do Centro de Ciências Agrárias da UFAL em Rio
Largo, AL numa área de 3.000 m². Com densidade de semeio de 240.000 plantas por hectares e seis
lâminas de irrigação (25, 50, 75, 100, 125 e 150% da Evapotranspiração da Cultura). Porém, nesse
trabalho foi usada somente a lâmina de 100% da ETc para avaliação do modelo. O delineamento

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experimental foi blocos casualizados, com quatro repetições, maiores informações consultar
Magalhães et al. (2017).
As variáveis de tempo necessárias para formação do banco de dados do modelo foram
obtidas em uma estação agrometeorológica automática (Micrologger – 21 XL, Campbell Scienntifc,
Logan, Utah), distante 30 m da área experimental. Os dados observados foram: precipitação pluvial,
temperatura do ar máxima e mínima diária e calculou-se evapotranspiração de referência (ET0)
determinada pelo do método de Penman-Monteith-FAO. O modelo AquaCrop utiliza registros do
observatório de Mauna Loa no Havaí para determinar a concentração de referência média anual de
CO2, Raes et al. (2012) que posteriormente foram ajustados pelo modelo para o ano de simulação.
O balanço de água no solo particiona-se em variáveis de entrada e saída de água do sistema
como: água armazenada no solo (Wr) e depleção de água na zona de raiz (mm), função do total de
água disponível no solo na zona radicular (TAW), irrigação (I), precipitação (P) e ascensão capilar
(CR). Considerando a textura por camadas do solo, conteúdo volumétrico de água na saturação,
capacidade de campo, ponto de murcha permanente, condutividade hidráulica saturada, escoamento
superficial (RO), drenagem profunda (Dr), evaporação (E), transpiração real (Tr) Raes (1982);
Steduto et al. (2009).
A equação (1) representa o movimento de água no perfil do solo, apresentando uma sub-
rotina pelo modelo em que se inicia no movimento de captação de água, retenção e perda d‘água de
acordo com o ciclo da cultura.

Wr  1000 * * Z (1)

onde: Wr é o conteúdo de água na região radicular (mm); 1000 θ é o médio conteúdo d‘água no
solo para zona radicular (mm m-1); θ é a média volumétrica do conteúdo de água na área radicular
(m3 m-3) e Z é a profundidade efetiva do sistema radicular (m).
A drenagem no perfil do solo é quantificada de acordo com a equação (2):

  
Dr  1000  * z * t (2)
 t 

onde: Dr é a quantidade de água drenada do perfil do solo (mm); Δθ/ Δt é a relação de redução da
umidade do solo na profundidade x (m3 m-3 d-1); Δz é a variação na profundidade de solo (m) e Δt é
a variação de tempo (d-1).
A estimativa da quantidade de chuva perdida por escoamento superficial é baseada na curva
método numérico desenvolvido pelo Rallison (1980); Steenhuis et al. (1995) equações (3 e 4):

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 P  0,2 * S 2 
RO  Esc.    (3)
 P  S  0,2 * S 

 100 
S  254  1 (4)
 CN 

onde: RO é o escoamento superficial (mm d-1); P é a precipitação (mm); (0,2) *S é a água que pode
infiltrar, antes de se iniciar o escoamento (mm); S é o potencial máximo de armazenamento (mm) e
CN é a curva número do modelo.
Para quantificar do conteúdo de água evaporada utiliza-se a equação (5):

E  K r * K e  * ET0 (5)

onde: E é a evaporação do solo (mm d-1); Kr é o coeficiente de redução da evaporação; Ke é o


coeficiente de evaporação do solo e ET0 é a evapotranspiração de referência (mm d-1).
O cálculo da transpiração é dado pela seguinte equação 6:

Tr  K s * K cb  * ET0 (6)

onde: Tr é a transpiração da cultura (mm d-1); Ks é o coeficiente de estresse hídrico do solo; Kcb é o
coeficiente de transpiração da cultura e ET0 é a evapotranspiração de referência (mm d-1).
Criou-se uma tabela de entrada de dados referentes ao perfil do solo como: textura,
camadas, conteúdo volumétrico de água na saturação, capacidade de campo, ponto de murcha
permanente e condutividade hidráulica saturada.
Os gruas-dia acumulado (GDA) em ºC.dia-1 foram determinados através da equação (7):

n
 Tx  Tn 
GDA      Tb (7)
i 1  2 

onde: GDA é a soma térmica, em graus-dia; Tx é a temperatura máxima diária (ºC); Tn é a


temperatura mínima diária (ºC); Tb temperatura base para o milho (ºC) é de 10 ºC de acordo com
Medeiros et al. (2009).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Fenologia, Dias Após o Semeio e Graus-Dia

A maturação fisiológica da cultura ocorreu aos 67 dias após o semeio (Tabela 1). Esse
tempo foi inferior ao observado por Miranda e Campelo (2010), que obtiveram ciclos totais
variando de 81 a 87 dias, em condições de cultivos irrigados. O somatório de Graus-Dia

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acumulados que foi de 1.112 GD enquanto os resultados encontrados por Miranda e Campelo
(2010), variaram de 976 a 1262 GD, ambos os trabalhos com a Tb de 10 ºC. Utilizando a
classificação proposta por Fernandez et al., (1982), para classificação dos estádios fenológicos da
cultura.
A disparidade existente entre os resultados encontrados para duração do ciclo pode ser
reflexo da diversidade edafoclimáticas presente nas regiões pesquisadas, bem como alterações do
manejo agronômico.

FENOLOGIA ESTÁDIO DAS GD DATA


PLANTIO V0 0 15,73 17/11/2015
EMERGENCIA DAS PLANTAS V1 4 78,88 21/11/2015
1ª PAR DE FOLHAS PRIMÁRIAS COMP. EXP. V2 7 127,38 24/11/2015
1ª FOLHAS TRIFOLIADAS COMP. ABERTAS V3 20 352,62 07/12/2015
3ª FOLHA TRIFOLIADA COMPL. ABERTA V4 27 466,60 14/12/2015
APARECIMENTO DO PRIMEIRO BOTÃO FLORAL R5 33 562,11 20/12/2015
APARECIMENTO DA PRIMEIRA FLOR ABERTA R6 36 593,23 23/12/2015
APARECIMENTO DA PRIMEIRA VÁGEM R7 41 666,90 28/12/2015
DESENVOLVIMENTO DE SEMENTES R8 53 883,03 09/01/2016
MATURAÇÃO R9 67 1.112,13 23/01/2016
Tabela 1. Ciclo fenológico, dias após o semeio e graus-dia da cultura do feijão para lâmina de 100% da ETc,
cultivado em Rio Largo, AL.

Temperatura do Ar

A temperatura do ar é um dos principais fatores limitantes para o desenvolvimento


satisfatório do feijoeiro, exercendo influência no desenvolvimento de vagens, bem como no
florescimento e na frutificação (EMBRAPA, 2003). Na Figura 1 observa-se que as temperaturas do
ar (máxima e mínima) estiveram dentro da faixa classificada como ideal para a cultura do feijão. De
acordo com Mariot, (1989) e Vieira et al. (2006), a temperatura média ideal para o cultivo do feijão
está entre 17,5 e 25ºC, próximo ao valor observado no período de cultivo que foi em média 26,3 ºC.
No período de floração, a temperatura média foi 25,7 ºC e pode ter ocasionado abortamento de
flores devido às temperaturas elevadas nesse período, já que a temperatura média ideal para essa
fase fenológica é 21 ºC.
A amplitude térmica durante o ciclo de produção foi de 9,30 ºC variando 19,41 ºC
(18/11/2015) a 37,14 ºC (26/11/2015).

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Figura 1. Temperatura do ar mínima (Tmín.), media (Tmed.) e máxima (Tmáx.), na região de Rio Largo, AL.

Balanço de Água Estimado com Auxílio do Modelo AquaCrop

O aumento da transpiração real (Tr), observado nos resultados gerados pelo modelo
AquaCrop (Figura 2) está diretamente ligado a curva de crescimento da planta, devido ao acréscimo
da área foliar e a consequente perda de água através da transpiração. O modelo se mostrou sensível
a esse parâmetro visto que a transpiração real foi de 0 (zero) mm dia-1 até o 5º dia após o semeio
(DAS), quando as plantas ainda não haviam emergido. Do 5º ao 15º DAS à transpiração real se
manteve abaixo de 1 mm dia-1 em virtude de as plântulas estarem na fase de transição entre as
folhas cotiledonares e as folhas trifoliadas completamente abertas. O valor máximo de transpiração
real ocorreu no período correspondente ao enchimento dos grãos (41 a 67 DAS), aos 49 DAS à
transpiração real foi de 7,1 mm dia-1. Posteriormente, as taxas de transpiração voltaram a cair
devido ao metabolismo da planta reduzir ao se aproximar da maturação fisiológica.
50 16
Precipitação e Irrigação (mm)

L4-100%
45 14
Tr, E, Dr e Esc (mm)

50 50 40 16 16
Precipitação e Irrigação (mm)

L4-100% L4-100% 35 12
45 45
Chuva e Irrigação (mm)

14 14
10
Tr, E, Dr e Esc (mm)

30
Tr, E, Dr e Esc (mm)

40
40 25
12
8
35 12
30 35 20 10
6
25 30 15 8 10
4
20 10
6
15
25 5 2 8
4
10 20 0 0
6
5 0 5 10 15 202 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70
15
0 0 DAS 4
0 5 10 15 201025 30 35 40 45 50 55 60 65 70
5 2
DAS
0 0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70
Precipitação (mm)
Dias Após o Semeio
Irrigação (mm)
Transpiração Real (mm)
Precipitação (mm) Evaporação Real (mm)
Irrigação (mm) Drenagem (mm)
Transpiração Real (mm) Escoamento Superficial (mm)
Evaporação Real (mm)
Drenagem (mm)
Escoamento Superficial (mm)
Figura 2. Transpiração real (Tr), Evaporação real (E), Drenagem (Dr) e Escoamento superficial (Esc),
simulados através do modelo AquaCrop na região de Rio Largo, AL.
Precipitação (mm)
Irrigação (mm)
ISBN: 978-85-68066-56-0 Transpiração Real (mm) Página: 68
Evaporação Real (mm)
Drenagem (mm)
Escoamento Superficial (mm)
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A evaporação real (E) se comporta de maneira inversa a transpiração real, pelo fato da
cultura, até a emergência, não ter folhas para transpirar nem para cobrir a superfície do solo que fica
totalmente exposta à evaporação. O pico de (E) foi 6,9 mm dia-1 aos 9 DAS. Com o estabelecimento
da cultura ocorre o aumento da área foliar e a consequente redução das áreas de solo descoberta
reduzindo, portanto, a evaporação que ficou abaixo de 1 mm dia-1 dos 26 até os 63 DAS. Com a
senescência da cultura ocorre à exposição do solo novamente consequentemente aumentou a
evaporação que chegou a 2,4 mm dia-1 aos 68 DAS.
O aumento ou redução da drenagem se apresenta de forma correlata a entrada de água no
sistema (Chuva ou Irrigação), cujo pico 14 mm dia-1 ocorreu aos 41 DAS logo após o registro da
máxima precipitação pluvial acumulada nos dias 36, 37, 38 e 39 após o plantio, que totalizou 95
mm. Nesse período, a drenagem média para o ciclo de cultivo foi 2,31 mm dia-1.
O escoamento superficial (RO) se comporta de maneira semelhante à drenagem,
aumentando ou reduzindo de acordo com a disponibilidade hídrica, entretanto o seu aumento ocorre
simultâneo a chuva. Por isso o maior valor de (RO) aconteceu no mesmo dia em que ocorreu a
maior chuva (46 mm) aos 63 DAS e o escoamento superficial foi 3.5 mm.
A lâmina bruta total de irrigação aplicada durante os 68 dias do ciclo de cultivo do feijão,
nesse experimento, foi de 286 mm de irrigação e a precipitação pluvial foi 256 mm, totalizando 542
mm. O rendimento médio de grãos ou produtividade agrícola foi 2.658 kg ha-1.

CONCLUSÕES

O modelo AquaCrop gerou resultados satisfatórios para a cultura do feijão na região de Rio
Largo, AL apresentando potencialidade para uso em regiões de vulnerabilidade climática.
Até a maturação fisiológica, o feijão comum demanda 1.112 GD na região de Rio Largo-
AL, e produz 2.658 kg ha-1, com 543 mm de evapotranspiração real.

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ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 71


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AGRICULTURA ORGÂNICA COMO FORMA ATUANTE DA SUSTENTABILIDADE


AMBIENTAL, SOCIAL E ECONÔMICA

Dayana Machado ROCHA


Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Agroecologia – PPGA/UERR
dayyanamachado@yahoo.com.br
Marcia Teixeira FALCÃO
Professora do Programa de Pós-graduação em Agroecologia – PPGA/UERR
marciafalcao.geog@uerr.edu.br
Emerson Clayton ARANTES
Professor da Universidade Federal de Roraima - UFRR
emersonclaytonarantes@gmail.com

RESUMO
Tendo em vista que a agroecologia engloba diferentes sistemas agrícolas, como agricultura
biodinâmica, natural, permacultura, bem como agricultura orgânica que se baseia em uma técnica
de produção isenta de insumos artificiais, pois de acordo com a Federação Internacional de
Movimentos da Agricultura Orgânica (IFOAM), a agricultura orgânica baseia-se nos princípios da
saúde, ecologia, equidade e ambiente. Portanto estudar os processos de atuação da agricultura
orgânica em Boa Vista - Roraima é de fundamental importância para o âmbito Agroecológico, já
que a mesma visa a proteção do ambiente, saúde da família e dos consumidores em geral. Além de
estarem sensibilizando outras pessoas a praticarem esse tipo de agricultura por meio da sua prática,
bem como os seminários e minicursos que ocorrem com esse tema. A pesquisa foi feita fazendo
levantamento bibliográfico sobre os conceitos e os principais questionamentos existentes sobre o
assunto, em sequência é apresentada a trajetória da agricultura sustentável no município de Boa
Vista – Roraima.
Palavras Chaves: Ambiente, Saúde e Família.

ABSTRACT
Considering that agroecology encompasses different agricultural systems, such as biodynamic,
natural, permaculture agriculture, as well as organic agriculture, which is based on a technique of
production free of artificial inputs, since according to the International Federation of Organic
Agriculture Movements (IFOAM) ), Organic agriculture is based on the principles of health,
ecology, equity and environment. Therefore, studying the processes of organic agriculture in Boa
Vista - Roraima is of fundamental importance for the Agroecological scope, since it aims at
protecting the environment, family health and consumers in general. In addition to sensitizing other
people to practice this type of agriculture through their practice, as well as the seminars and mini
courses that occur with this theme. The research was done doing a bibliographical survey about the
concepts and the main questions on the subject, in sequence the sustainable agriculture trajectory is
presented in the municipality of Boa Vista - Roraima.
Keywords: Environment, Health and Family.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 72


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

INTRODUÇÃO

A produção orgânica engloba diferentes modelos de produções alternativas ao modelo de


produção convencional tendo como resultado de suas ações a autos-sustentação da propriedade
agrícola que passa a depender minimamente de insumos externos, pelo uso dos recursos providos
pela própria propriedade (fertilizantes orgânicos, produtos naturais para controle fitossanitário,
controle biológico natural, tração animal, combustíveis não fósseis, etc.) e a minimização da
dependência de energias não renováveis (como aquelas à base de petróleo) na produção, além da
isenção de sementes transgênicas e de contaminantes químicos sintéticos (agrotóxicos e adubos
sintéticos), de forma a produzir alimentos saudáveis e sem contaminação ambiental
(CAMPANHOLA e VALARINI, 2001). Dessa forma, entende-se que o produto orgânico não é
somente ―sem agrotóxicos‖ como se veicula normalmente, mas:

Além de ser isento de insumos artificiais, como os adubos químicos e os agrotóxicos, ele
também deve ser isento de drogas veterinárias, hormônios e antibióticos e de organismos
geneticamente modificados. Durante o processamento dos alimentos é proibido o uso das
radiações ionizantes (que produzem substâncias cancerígenas, como o benzeno e
formaldeído) e aditivos químicos sintéticos como corantes, aromatizantes, emulsificantes,
entre outros. (PORTAL ORGÂNICO, 2016)

A produção orgânica tem na natureza os recursos base de sua propagação o que a difere da
produção convencional por esta segunda estar intimamente ligada aos recursos externos, esses por
sua vez, ao conferir as expectativas almejadas em quantidade de produção não supri em qualidade
nutricional, social e ambiental, podendo ainda, ser traduzida na absorção econômica para a indústria
e os grandes produtores em consonância do maleficio conferido ao provimento de alimentos
carregados de teor tóxico e no esgotamento físico dos agroecossistemas pelo manejo inadequado e
de grande imposição de insumos químicos. O modo convencional apresenta-se atualmente como
modelo hegemônico agrícola voltado para a exportação visando o lucro através das grandes
propriedades latifundiárias (SANTILLI, 2009).
Para Mendonça et al. (2015), esse modelo de agricultura convencional também vem sendo
adotado pelo pequeno produtor, porque grande parte deles não tem ainda conhecimento sobre o
modelo orgânico. A quantidade de insumos químicos introduzida no sistema de produção
convencional tem crescido substancialmente, gerando danos muito grandes à saúde daqueles que
ingerem estes produtos. Em relação aos efeitos da agricultura convencional é importante ressaltar,
que o intenso revolvimento do solo e o uso de elevadas quantidades de adubos químicos e
agrotóxicos, contribuem, mais intensamente, para as perdas de composto orgânico do solo. Dessa
forma, desenvolve-se o processo de degradação química, física e biológica do solo, tendo como
produto a redução de produtividade das culturas exploradas, cada vez mais acentuada com o manejo
inadequado e o uso contínuo do solo (MIELNICZUK et al., 2003).

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 73


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Essa disparidade entre o sistema de produção convencional e o de produção orgânica podem


ser vistas conforme o quadro 01, o qual evidência as principais práticas de cada sistema conforme a
temática abordada, mostrando com isso, também, que tais resoluções são dadas de acordo com a
obtenção almejada por cada sistema. Estando a produção convencional preocupada com a
quantidade do produto a ser obtido, enquanto que, a produção orgânica ocupa-se das questões de
continuidade do processo por meio da preservação, manutenção e a recuperação da biodiversidade
existente em seus agroecossistemas.

Quadro 01 – Distinção entre os produtos convencionais e os orgânicos.


Processos Convencional Orgânico
Alguns produtos são colhidos verdes e A maturação ocorre naturalmente, sem indução
Maturação
madurados artificialmente. artificial.
Busca da rotação e consorciação de culturas.
Tendência à monocultura e a um só tipo de
Culturas Diversificação da propriedade. Interação das formas
forma de produção: animal ou vegetal.
de produção animal e vegetal.
Tratamento de doenças à base de Tratamento de doenças à base de homeopatia e
Tratamento carrapaticidas, inseticidas, antibióticos e fototerapia. A forma de manejo visa à prevenção de
animal hormônios de crescimento. Basicamente doenças e fortalecimento do animal.
medicamentos alopáticos.
Removimento do solo; expõe a matéria Cuidado com removimento do solo; protege a
Preparo do solo
orgânica. matéria orgânica.
Uso de húmus de minhoca e adubos orgânicos a base
Adubação Uso de fertilizantes químicos solúveis. de resíduos animais e vegetais: esterco, restos de
folhas, minerais, vegetais, lixo orgânico, etc.
Controle de Não se preocupa com prevenção, mas com Medidas preventivas para evitar que a planta adoeça.
pragas e doenças tratamento. Uso de inseticidas, fungicidas Controle biológico. Uso de preparados naturais
vegetais e outros químicos sintéticos. minerais, vegetais e animais.
Uso de herbicidas, controle mecânico ou
Controle animal, mecânico e preventivo. O mato é
Controle do mato manual para as ervas consideradas
considerado um indicador qualitativo.
daninhas.
Prioriza a monocultura e formas de Utiliza a monocultura, mas prioriza a diversidade da
Forma de
produção não diversificada. produção e a inter-relação da produção vegetal com o
Produção
animal.
Os vegetais convencionais podem ser Os vegetais obedecem ao ritmo da produção de cada
produzidos o ano todo, em qualquer lugar, planta, de acordo com a época do ano e
Sazonalidade
por correção e modificação do ambiente características locais.
externo.
Admite o confinamento animal. Impede o Admite o semiconfinamento e o confinamento
comportamento natural da espécie. respeitando o bem-estar animal. O animal se
Recebem ração sintética a base de grãos e movimenta em espaço adequado e tem contato com a
Manejo animal eventualmente substâncias sintéticas, luz natural propiciando o comportamento natural da
pastagem e alimentos variados de origem espécie. Alimentação variada: pastagem e grãos de
convencional, ou seja, com resíduos de origem orgânica.
agrotóxicos.
Admite processos de industrialização como Não admite a irradiação e o uso de vitaminas,
irradiação, esterilização à alta temperatura, minerais e aditivos sintéticos. A conservação pode
Processamento hidrogenação química, apertização, ser feita com aditivos naturais, e, idealmente, através
do alimento refinamento, uso de vitaminas, minerais e de métodos de pouco impactos sobre a qualidade do
aditivos sintéticos (corantes, produto.
aromatizantes, conservantes).
Alimentos com resíduos variados de
Qualidade do contaminantes (agrotóxicos, metais Alimentos sem resíduos de contaminantes sintéticos.
alimento pesados, antibióticos, hormônios, aditivos Baixo teor de nitrato nas plantas.
Toxicidade sintéticos). Médio teor de nitrato nas
plantas.
Características Alimentos com sabor, odor e cor menos Alimentos com sabor, odor e cor intensos e
Organolépticas intensos ou modificados. Durabilidade autênticos. Maior durabilidade por apresentar maior

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mantida por conservantes sintéticos. vitalidade e menos teor de água.

Vitalidade Alimentos com baixa vitalidade. Alimentos com maior teor de energia vital.
Alimentos provenientes de solos ricos em matéria
Alimentos provenientes de solo
orgânica. Têm maior valor nutricional decorrentes do
empobrecidos. Os alimentos têm menor
sistema de produção adotado e métodos de
valor nutricional decorrente do sistema de
Valor Nutricional processamento de baixo impacto. Os métodos de
produção e dos métodos de processamento.
conservação mais naturais protegem o valor
Alimentos enriquecidos com vitaminas e
nutricional do alimento. Se o alimento for integral, o
minerais sintéticos.
valor nutricional é maior.
Busca-se a preservação e/ ou recuperação das
Rios, mares e nascentes de águas poluídos.
Repercussões nascentes e rios. Solos saudáveis e vitalizados.
Degradação da flora e da fauna.
ambientais Manutenção da biodiversidade (flora e fauna em
equilíbrio).
Font: TEIXEIRA E CIRIBELI, 2016 apud PORTAL SÃO FRANCISCO, 2013.

Kamiyama (2011) destaca ainda, que o uso intensivo de agrotóxicos elimina os inimigos
naturais das pragas fazendo com que ocorra o surgimento de novas espécies de pragas e doenças por
resistência adquirida aos agrotóxicos, estando o uso do mesmo atrelado aos riscos de contaminação
toxica de trabalhadores rurais e consumidores. Uma pesquisa realizada pelo instituto socioambiental
(2011), sobre a diversidade socioambiental de Roraima, aponta a falta de fiscalização na agricultura
e a alta demanda por agrotóxicos como desfechos de seu alto consumo, medido em 3,1 kg por
hectare, o que supera a média da região norte de 1 kg por hectare.

A falta de fiscalização em todos os setores da agricultura e a alta demanda por agrotóxicos


nas grandes monoculturas contribuem para seu alto consumo em Roraima (3,1 kg/hectare),
em volume muito superior à média da região norte (1 kg/ha). Atualmente a ADERR, junto
com outros setores de governo estão encarregados pela elaboração do texto base de um
projeto de lei para regulamentar a comercialização, uso e monitoramento dos agrotóxicos
no estado. Segundo informações do Plano de Controle de Agrotóxicos da ADERR ainda
não existem normas estaduais ou estatísticas sistemáticas sobre o uso de agrotóxicos no
estado, e os serviços de saúde registram cerca de 150 casos anuais de intoxicação por
agrotóxicos. Os indígenas da região do lavrado também têm a percepção de que a
pulverização por aviões perto dos mananciais está relacionada com problemas de saúde,
contaminação da água e mortalidade de animais. Além da falta de controle, outro problema
é a entrada de produtos não permitidos pela legislação brasileira, ou que não trazem no
rótulo as informações sobre dosagem e composição, e que eventualmente são apreendidos
pela Polícia Federal nas fronteiras internacionais (INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL,
2011 p24).

De acordo com o Dossiê ABRASCO (2012), em 2011 o Brasil saltou de 599,5 milhões de
litros no ano de 2002 para 852,8 milhões de litros, um aumento significativo do consumo que está
relacionado à diminuição dos preços e à isenção dos impostos sobre tais produtos, o que força os
agricultores a utilizar maior quantidade por hectare. Conforme o INCA (2016), em seu
posicionamento acerca dos agrotóxicos, a liberação do uso de sementes transgênicas no Brasil foi
uma das responsáveis por colocar o país no primeiro lugar do ranking de consumo de agrotóxicos,
uma vez que o cultivo dessas sementes geneticamente modificadas exige o uso de grandes
quantidades destes produtos, ressaltando também, que a presença de resíduos de agrotóxicos não
ocorre apenas em alimentos in natura, mas em muitos produtos alimentícios processados pela
indústria, que têm como ingredientes o trigo, o milho e a soja, por exemplo. Ainda podem estar

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presentes nas carnes e leites de animais que se alimentam devido ao processo de bioacumulação 6.
Apontando ainda, os danos à saúde:

As intoxicações agudas por agrotóxicos são as mais conhecidas e afetam, principalmente,


as pessoas expostas em seu ambiente de trabalho (exposição ocupacional). São
caracterizadas por efeitos como irritação da pele e olhos, coceira, cólicas, vômitos,
diarreias, espasmos, dificuldades respiratórias, convulsões e morte. As intoxicações
crônicas podem afetar toda a população, pois são decorrentes da exposição múltipla aos
agrotóxicos, isto é, da presença de resíduos de agrotóxicos em alimentos e no ambiente,
geralmente em doses baixas. Os efeitos adversos decorrentes da exposição crônica aos
agrotóxicos podem aparecer muito tempo após a exposição, dificultando a correlação com o
agente. Dentre os efeitos associados à exposição crônica a ingredientes ativos de
agrotóxicos podem ser citados infertilidade, impotência, abortos, malformações,
neurotoxicidade, desregulação hormonal, efeitos sobre o sistema imunológico e câncer
(INCA, 2016).

De acordo com a Federação Internacional de Movimentos da Agricultura Orgânica


(IFOAM), a agricultura orgânica é baseada nos princípios da saúde, ecologia, equidade, ambiente e
saúde:

Saúde: deve manter e melhorar a saúde do solo, planta, animal, homem, e do planeta, como
um só e indivisível; ecologia: deve ser baseada em sistemas vivos, ecológicos e
ciclos e na sustentabilidade; equidade: deve basear-se em relacionamentos e
garantir a equidade na relação com o ambiente comum e oportunidade de vida; cuidado:
deve ser gerido na forma da precaução e responsabilidade para proteger a
saúde, o bem estar das gerações atuais, futuras e o meio ambiente (
SALVADOR, 2011 p1).

Portanto, a produção orgânica em seus mecanismos de produção desencadeia soluções para


os problemas gerados pelo sistema convencional, justamente por ter como princípios norteadores a
premissa de ser ecologicamente correto, economicamente viável, socialmente justo e culturalmente
aceito.

AS DIFERENÇAS ENTRE AGRICULTURA FAMILIAR E A AGRICULTURA PATRONAL.

A produção orgânica no Brasil é desenvolvida por dois seguimentos distintos. A primeira é


realizada pela agricultura familiar – foi concebida por ex-escravos e por outros trabalhadores livres
que ocupavam pequenas áreas nos espaços indefinidos entre as fazendas ou em volta dos centros de
mineração que exoneravam mão de obra com o declínio dessa atividade (SANTILLI, 2009). A
segunda compreende os grandes fazendeiros do período feudal que na modernidade foram
convertidos ao agronegócio, ficando caracterizados como produtor patronal.
Para Gonçalves (2004 p.24), a agricultura patronal ―trata-se, portanto, de uma técnica que
acentua a tendência a uma agricultura sem agricultores agravando problemas num momento em que

6
É um processo que ocorre quando um ser vivo consome outro e os poluentes vão se acumulando na cadeia alimentar.
O processo pode ocorrer de forma direta, efetuada diretamente a partir do meio ambiente, ou indireta, quando ocorre por
meio de alimentação, frequentemente de forma simultânea. Os seres humanos, são consumidores terciários, tendo sua
saúde exposta a sérios riscos, em se tratando de bioacumulação.

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o novo padrão de poder proporcionado pelas novas tecnologias também não emprega tanta gente
nas cidades-e-suas-periferias‖. De acordo com a Confederação Nacional dos Trabalhadores na
Agricultura (2016), existe uma diferença de anseios entre agricultura familiar e a patronal, pois que
a grande propriedade rural, impessoal e desenraizada, se estabelece pela obtenção do lucro advindo
da exploração dos recursos naturais e no extermínio de culturas nativas. A agricultura familiar é
fundamentalmente um modo de viver e de reprodução que estabelece procedimentos que preservam
variedades em culturas, as quais compõem como parte da morada, ao mesmo tempo, em que servem
para suprir as necessidades da família.
O passado é contado apenas sob a perspectiva da grande agricultura escravista, monocultora
e de exportação – o ciclo do açúcar, o ciclo da borracha e o ciclo do café exemplificam essa
tendência. No entanto, no período colonial e no Império, cinco grupos deram origem a nossa
agricultura familiar: os índios, os escravos africanos, os mestiços, os brancos não herdeiros e os
imigrantes europeus. Embora distintos, os cinco grupos, ocupavam a mesma posição secundária no
modelo de desenvolvimento do País desde sua origem, aonde as políticas públicas de estímulos
eram dadas apenas para as grandes propriedades monocultoras de exportação, marginalizando os
que se ocupavam de abastecer o mercado local (ALTAFIN, 2007).
A expressão agricultura familiar se estabeleceu entre os anos 1980 a 1990, segundo Sauer
(2008), visando romper com os termos equivalentes e de duplo sentido como: agricultor de
subsistência ou de baixa renda, sitiante, pequeno produtor, pequena produção, colono, caipira,
meeiro, parceiro, arrendatário, posseiros e camponeses. A FAO e o INCRA classificam os
agricultores familiares, a partir das pesquisas elaboradas para o censo agropecuário de 1995/96:

1ª) a gestão da unidade produtiva e os investimentos nela realizados são feitos por
indivíduos que mantém entre si laços de sangue ou casamento; 2ª) a maior parte do trabalho
é igualmente fornecida pelos membros da família; 3ª) a propriedade dos meios de produção
(embora nem sempre da terra) pertence à família e é em seu interior que se realiza sua
transmissão em caso de falecimentos ou aposentadoria dos responsáveis pela unidade
produtiva (ALTAFIN, 2007, p.13).

Conforme Adani (2011 p.13), os agricultores familiares ―representam 90% do total de


produtores orgânicos, atuando basicamente no mercado interno. Os 10% restantes, compostos de
grandes produtores, encarregam-se principalmente da produção voltada para a exportação‖. Ferreira
et al. (2015), considera que isso se deve pelo motivo de que a ―prática da agricultura orgânica
requer muita mão-de-obra, e a categoria de agricultura patronal ainda apresenta dificuldades em
diminuir as externalidades na produção‖. Com isso, é importante compreender as vantagens e as
desvantagens para a produção de orgânico, realizada pelos agricultores familiares, visto que nesse
trabalho abordaremos sobre uma associação de agricultores orgânicos.

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VANTAGENS E DESVANTAGENS DA PRODUÇÃO ORGÂNICA PARA AGRICULTURA


FAMILIAR
O escoamento de alimentos produzidos pela agricultura familiar garantido em feiras e outros
mercados institucionais (Programa Nacional de Alimentação Escolar e Programa de Aquisição de
Alimentos), tem incentivado a produção orgânica, por conta de que a mesma oferece produção
diversificada, autossustentável e, principalmente por empregar mão de obra disponível (FERREIRA
et al., 2015). Partindo desse pressuposto, Campanhola e Valarini (2001), discorrem as principais
vantagens e as desvantagens da produção de alimentos orgânicos para os pequenos agricultores,
distribuídos em argumentos favoráveis e desfavoráveis ao seu desenvolvimento.
Para esse mesmo autor, a associação entre os pequenos agricultores possibilita a
comercialização em feiras de produtos orgânicos ou na distribuição em residências, pois com esta
união é possível comercializar produções de pequena escala pelo aumento da quantidade ofertada e
maior número de variedades, suprindo assim, a necessidade de maiores espaços para produção e
pela ausência dele ou de outro quesito (exemplo: dificuldade de mão-de-obra; falta de capital para
expandir a produção) refletindo em uma produção pequena e inviável aos mercados institucionais
quando oferecidos isoladamente.
O autor afirma ainda que, a produção orgânica garante a diversificação dos produtos geridos
de acordo com os princípios de preservação, onde o agricultor diversifica sua produção
naturalmente no espaço e no tempo, incluindo a integração entre produção vegetal e animal no
mesmo estabelecimento rural. Conferindo ao pequeno agricultor maior estabilidade econômica, pois
uma possível queda nos preços de alguns produtos pode ser compensada pela alta de outros. A
agricultura orgânica gera uma nova dinâmica de empregos para a comunidade rural que vive no
entorno das unidades produtivas, uma vez que também é aproveitado mão-de-obra familiar
excedente, esse engajamento pode representar mais um fator de fixação familiar no campo, além de
diminuir os custos efetivos de produção, reduzindo a dependência de empréstimos bancários.
Outra vantagem para o sistema orgânico é a redução de insumos externos pela melhor
utilização dos recursos disponíveis na propriedade, tais como: compostagem ou reciclagem de
material orgânico vegetal e animal gerado no próprio estabelecimento, tração animal, energia não
fóssil, banco de sementes, e assim por diante. A eliminação do uso de agrotóxicos, por sua vez,
contribui para a redução dos custos de produção e dos desequilíbrios biológicos causados nos
agroecossistemas. Estudos concluíram que ―o sistema orgânico mostrou a mais alta reserva de
matéria orgânica ativa, que é caracterizada por alta biomassa microbiana e elevadas taxas de
atividades enzimáticas (desidrogenase, fosfatase alcalina, protease e catalase) no solo‖
(CAMPONHOLA E VALARINI, 2001 p.90) sendo esta constatação uma potencialidade
transformadora de nutrientes no solo.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Os alimentos orgânicos possuem valores e qualidades superiores aos convencionais,


conferindo como grande atrativo para a adoção de seu sistema aos pequenos produtores que podem
apropriasse dos nichos no mercado local, contribuindo para a redução nas perdas no período de pós-
colheita, já que esses produtos possuem maior vida útil. Desse modo, o processo de certificação
orgânica para os pequenos agricultores tradicionais confere maior vantagem, já que, os que ainda
não adotaram das tecnologias modernas de produção agropecuária não terão problemas com
resíduos de agrotóxicos no solo, o que exigiria um período maior para a sua descontaminação
natural, que é o que acontece para os agricultores modernos.
De acordo com Brasil et al (2014 p.6), ―um grande número de agricultores não utiliza
equipamentos de proteção e que esses produtos químicos são usados de forma indiscriminada pelos
produtores‖. O autor destaca ainda como vantagens, o menor índice de toxicidade para o agricultor
e a sua satisfação em oferecer produtos de melhor qualidade para o consumidor evitando a
contaminação ambiental. Problemas com pragas imunes aos agrotóxicos não ocorrem nesse sistema,
visto que ao beneficiar o solo e partir do princípio de múltiplas variedades em suas policulturas,
cultua-se a existência dos predadores naturais. Evitasse a importação dos insumos químicos que
tornam os agricultores reféns as variações dos preços de câmbios.
As desvantagens dessa produção para os pequenos agricultores são apontadas conforme
quadro 06. Em que os pequenos produtores orgânicos ao mesmo tempo em que se beneficiam do
associativismo para a comercialização de sua produção em pequena escala, também entram em
desvantagem, quando não conseguem ter uma regularidade na oferta, o que dificulta no
estabelecimento de contratos mais duradouros, ou quando, a necessidade de mão-de-obra nem
sempre está disponível ou não possui a capacitação necessária para a execução do sistema de
produção orgânica, podendo inviabilizar a sua prática. Assim, é possível verificar outros entraves
dos quais, em suma ocorrem pela ação do Estado de privilegiar ―a grande propriedade enquanto
geradora de divisas pela exportação de produtos agrícolas e enquanto mercado consumidor de
produtos de origem industrial destinados à agricultura, como máquinas e insumos, consolidando os
chamados complexos agroindustriais‖ (ALTAFIN, 2007 p.11).
Desse modo, sobre as desvantagens da produção orgânica. Campanhola e Valarini (2001)
afirmam que a baixa capacitação gerencial dos pequenos agricultores dificulta não só a gestão
técnica e financeira do seu empreendimento como também os coloca em desvantagem no processo
de comercialização da produção, pois as práticas de produção orgânica requerem constante
acompanhamento e registro de informações, acúmulo de conhecimentos e grande especialização dos
produtores enfrentaram dificuldades na decisão sobre o que produzir, assim como sobre os
mecanismos que devem utilizar para obter maior lucratividade na venda de seus produtos, dos
quais, só obterá sucesso mediante capacitação.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

O autor explica que o número escasso de pesquisas científica da temática orgânica, somado
a Falta de assistência técnica da rede pública obriga os pequenos produtores a fazerem experimentos
em suas lavouras, agindo por tentativas empíricas que resultam em erros e acertos, pois as políticas
públicas têm atuado pouco no desenvolvimento de tecnologias de produção orgânica. Somado a
Falta de assistência técnica da rede pública. Visto que historicamente, os pequenos agricultores
sempre tiveram dificuldades de acesso à assistência técnica pública, mas que para a produção
orgânica essa dificuldade tem aumentado devido os despreparados, em agricultura orgânica, dos
técnicos das redes públicas que prestam assistência técnica, o que leva os pequenos agricultores a
contratar consultores privados ou técnicos de ONGs que atuam no ramo, aumentando os seus custos
de produção.
Para o autor, As dificuldades financeiras e/ou de acesso ao credito bancário apresentam
grandes entraves para a conversão da agricultura convencional para a agricultura orgânica e
posteriormente para a sua certificação por exigir recursos financeiros que nem sempre podem ser
bancados pelo pequeno agricultor, sendo que a linha de crédito para produção orgânica não elege
agricultores orgânicos que não sejam certificados e o processo de conversão e certificação leva pelo
menos dois anos, mesmo que, os pequenos agricultores em geral não possuem todas as garantias
exigidas pelo agente financeiro para a tomada de empréstimos.
Contudo, apesar das dificuldades apontadas, muitos agricultores conscientes não consideram
apenas o lucro como objetivo primordial, mas consideram a qualidade resultante desse processo de
cultivar. Mesmo porque produzindo de maneira orgânica este agricultor torna-se alto suficiente não
necessitando de recursos financeiros para a manutenção das atividades de sua produção ou para as
necessidades da família. A seguir são apresentados os procedimentos e métodos da pesquisa.

GARANTIA DE PRODUTO ORGÂNICA


Atualmente no Brasil existem três sistemas de garantia do produto orgânico. Um deles é a
certificação tradicional, por auditoria (OAC). Outro sistema é o sistema participativo de garantia
(SPG), que certifica produtores com base na participação ativa das partes interessadas,
fundamentado na confiança e na troca do conhecimento. Existe ainda a venda direta (OCS), que não
precisa de certificação, mas é controlada. A garantia se baseia na relação de confiança entre quem
vende e quem compra. Os produtores devem permitir a visita a sua propriedade, para que clientes e
órgãos de fiscalização possam verificar o que estar sendo produzido e de que forma (MAPA, 2016).
A obtenção do certificado de conformidade orgânica, através da avaliação de instituições
certificadoras credenciadas pelo MAPA (OAC) confere ao produtor o direito de utilizar e estampar
nos seus produtos certificados o selo do Sistema Brasileiro de Conformidade Orgânica - SisOrg,
além do selo da certificadora pelo qual foi avaliado (KAWAKAMI, 2016). As certificadoras por

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auditoria não se envolvem com a organização e o assessoramento dos agricultores (BRANCHER,


2004). Assim, a certificação pode ser requisitada por apenas um produtor ou por um grupo de
produtores desde que atendam a alguns requisitos preestabelecidos como, por exemplo, tenham
organização e estrutura suficiente para assegurar um sistema de controle interno (SCI) que garanta a
adoção por parte das unidades produtoras dos procedimentos regulamentados.
Sistema participativo de garantia da qualidade orgânica – SPG é formado por um grupo de
produtores e demais interessados como comercializadores, técnicos, organizações sociais e
consumidores, além de um organismo participativo de avaliação de conformidade (OPAC)
credenciado junto ao MAPA, para a garantia da rastreabilidade dos produtos em processo de
avaliação da conformidade orgânica (KAWAKAMI, 2016). Esse procedimento, chamado de
Rastreabilidade, garante que os direitos dos consumidores e bons produtores sejam respeitados e
que os ―maus produtores‖ não se aproveitem da boa imagem que os produtos orgânicos
conquistaram (BRASIL, 2014 p.13). O SPG se diferencia da certificação auditada por seu processo
de fiscalização se dar por meio dos próprios agricultores, técnicos da área e as organizações
envolvidas, não restringindo a técnicos altamente especializados. Esta forma de certificação
também garante ao produtor o direito de utilizar o selo do Sistema Brasileiro de Conformidade
Orgânica - SisOrg. A certificação por Organização de controle social (OCS)7 confere venda direta8
dos produtos orgânicos para os consumidores, desde que, cumpra a legislação referente à produção
orgânica, garantindo a rastreabilidade de seus produtos e o livre acesso aos locais de processamento
e produção pelos órgãos fiscalizadores e consumidores. O produtor não poderá utilizar o selo do
Sistema Brasileiro de Conformidade Orgânica - SisOrg9, porém, poderá incluir na rotulagem ou no
ponto de comercialização a expressão: ―Produto orgânico para venda direta por agricultores
familiares organizados não sujeita à certificação de acordo com a Lei nº 10.831, de 23 de dezembro
de 2003‖ (KAWAKAMI, 2016).

Para poder comercializar seus produtos diretamente ao consumidor, as OCS devem se


cadastrar junto à Superintendência Federal de Agricultura da unidade federada (Art. 25 e 28
do Dectreto Nº 6.323/07), atendidas às exigências da IN 19/09 contidas em seus Art. 96 e
97 e nas Seções I e II de seu Capítulo III. AS OCS só podem ser formadas por agricultores

7
A Organização de Controle Social – OCS é uma organização composta geralmente por agricultores familiares,
associações e cooperativas, com ou sem personalidade jurídica. O papel da OCS é orientar os associados sobre a
qualidade dos produtos orgânicos. A OCS deverá estar credenciada junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento - MAPA. A OCS deverá permitir o acesso dos órgãos fiscalizadores e dos consumidores em suas
unidades de produção (RAMALHO, 2011 p62).
8
Para a legislação brasileira, venda direta é aquela que acontece entre o produtor e o consumidor final, sem
intermediários. A lei também aceita que a venda seja feita por outro produtor ou membro da família que participe da
produção e que também faça parte do grupo vinculado à Organização de Controle Social (BRASIL, 2008).
9
Os produtores ligados às OCS não podem colocar o selo federal do SisOrg em seus produtos (MAPA, 2016) uma vez
que este mecanismo de controle não compõe o Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica - SisOrg.
Sua identificação se dá através da Declaração de Cadastro, que deve estar em local visível no ponto de comercialização.
É permitida, apenas, a venda direta de seus produtos ao consumidor, à merenda escolar (através do Programa Nacional
de Alimentação Escolar - PNAE) ou à CONAB (Programa de Aquisição de Alimentos - PAA).

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familiares legalmente reconhecidos; devem estar ativas, possuir formas de controle e


registro de informações que sejam capazes de assegurar a qualidade orgânica dos produtos
e identificar claramente que produtor é responsável por cada produto. Os produtores
assinam um Termo de Compromisso juntos, comprometendo-se a atender ao Decreto Nº
6.323/07 nos princípios e diretrizes da produção orgânica. Como grupo, todos se
responsabilizam por todos. (MAPA, 2016).

―O mecanismo de garantia da qualidade orgânica que avaliza a qualidade orgânica desses


produtos é o mecanismo de Controle Social para Venda Direta sem certificação‖ (RAMALHO,
2011 p.60). Desde que se cadastrem junto a uma Organização de Controle Social – OCS, ou outro
órgão fiscalizador federal, estadual ou distrital. É por meio desse mecanismo de garantia que os
integrantes da Associação de Hortifrutigranjeiros Orgânicos de Boa Vista - AHOBV
(HORTIVIDA), por exemplo, estão conseguindo obter a garantia de seus produtos de orgânicos.
Visto que, apesar de muitos produtores produzirem de forma orgânica, ―os seus produtos acabam
sendo vendidos como convencionais por falta da certificação, pois, segundo a lei 10831 de 23 de
dezembro de 2003, os produtos só podem ser vendidos com denominação orgânica, se a produção
for certificada por organismos reconhecidos oficialmente‖ (NETO et al. 2010 p.87). Desse modo, o
mecanismo de garantia via OCS ou SPG propiciam aos produtores suporte técnico e incentivo à
capacitação, assegurando maior confiabilidade para o consumidor em relação à origem dos
produtos, assim como, abrindo novos mercados e possibilitando a elevação do valor da produção.

CONTEXTO DA AGRICULTURA ORGÂNICA EM BOA VISTA – RR


Segundo dados do INPE para 2010, Roraima é um dos estados menos desmatados da
Amazônia brasileira (apenas 6% das áreas de floresta), com um enorme patrimônio socioambiental
(recursos hidrográficos, paisagens e diversidades). Quase a metade da população rural do estado é
composta por povos indígenas (51 mil pessoas), distribuídos em 32 terras indígenas. Um pouco
mais de 1,4 milhão de hectares são destinadas a 14,5 mil famílias assentadas em 66 Projetos de
Assentamentos.10 A agricultura familiar realizada dentro dos projetos de assentamento responde por
grande parte dos alimentos produzidos no estado. Em Boa Vista a área destinada a agricultura soma
4.811 hectares com uma população rural de 6.514 agricultores (INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL,
2011).
A agricultura orgânica é recente no estado de Roraima, tendo sido iniciada em 1982 pelo
senhor Antônio Aluísio Moura, o qual possuía propriedade rural no município de Boa Vista, mais
precisamente, na região do Monte Cristo, em que começara a cultivar hortaliças e frutas com
mecanismos convencionais e orgânicos. Migrou para o município de Pacaraima em 1983, aonde
pôde exercer 100% das práticas do sistema orgânico, devido a sua nova propriedade apresentar
menores dificuldades climáticas e com solos muito mais produtivos. Desse modo, iniciou a ―Tri
10
Os assentamentos foram criados a partir de 1979, após a construção das rodovias BR-174 e BR-310, dando início ao
processo de ocupação desordenada nas áreas de mata (INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL, 2011)

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Genros‖ uma empresa composta por três genros produzindo juntamente com as suas famílias,
atendendo atualmente à demanda interna do município de Pacaraima e de Boa Vista, com
oferecimento de mais de 40 variedades de produtos comercializados sem divulgação. Com uma
demanda superior à sua oferta (SANTOS, 2011).
Logo depois, em 2005 uma nova associação estabeleceu-se Roraima, município de Boa
Vista, por meio de um curso em agricultura orgânica, oferecido pelo Serviço Brasileiro de Apoio a
Pequena e Média Empresa-SEBRAE Roraima com o auxílio da Secretaria Municipal de
Desenvolvimento Agrícola-SEMDA de Boa Vista, o qual, capacitou agricultores que tiveram o
interesse de estar realizando a conversão da agricultura convencional para a orgânica. Juntamente
com os parceiros institucionais (SEAAB, FEMACT, Embrapa, Serviço Nacional de Aprendizado
Rural, UFRR, Superintendência Federal da Agricultura e SESCOOP) definiram as ações, conforme
quadro 07, a serem realizadas durante os três anos (2005, 2006, 2007) de duração do curso em
agricultura orgânica (AGROECOLOGIA EM REDE, 2016).

Quadro 07: Cursos oferecidos para a conversão da agricultura convencional para a orgânica
Ações realizadas pelo SEBRAE e parceiros junto ao público alvo.

 Curso praticando associativismo


 Missão técnica ao produtor orgânico certificado pelo IBD sr. Toni macuglia.
 Curso junto é forte
 Curso despertar rural
 Curso saber empreender
 Curso como vender mais e melhor

Fonte: Agroecologia em rede (2016) ―grifo nosso‖

O intuito inicial do projeto era de transformar 22 olericultores convencionais, produtores de


hortaliças, do município de Boa Vista em agricultores orgânicos, o que representava 10% dos
olericultores da região. No entanto, dos 50 olericultores que iniciaram com o curso, apenas 14
finalizaram o mesmo, e desses, apenas 06 participaram da fundação da associação de
hortifrutigranjeiros orgânicos em Boa Vista – AHOBV, denominada Hortivida. O restante se
dispersou e a grande maioria ainda trabalha com a agricultura convencional. Assim, o curso serviu
como um estágio de amadurecimento com relação às práticas orgânicas, a gestão associativa e nas
articulações perante as instituições parceiras no sentido de pleitear a cessão de equipamentos,
estruturas, enfim, a busca pela organização e consolidação da associação Hortivida. Os resultados
econômicos dessa conversão foram anunciados pelo SEBRAE, que comparando os rendimentos, do
primeiro ano de atividade, como produção orgânica com relação à produção convencional, a
produção convencional se mostrava superior em 4,5%, em que a produção convencional foi de R$
340.380,00 e os resultados da produção orgânica R$ 325.151,00 (AGROECOLOGIA EM REDE,
2016).

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

No entanto, considerando que na agricultura convencional o agricultor paga por todo insumo
utilizado. Essa diminuição de receita não quer dizer exatamente que o agricultor tenha diminuído o
seu ganho final, uma vez que, o mesmo passou a conhecer outras maneiras de utilizar os recursos de
sua propriedade. Deixando de comprar todo o insumo utilizado na sua produção por passar a
produzir seus repelentes naturais, a utilizar restos industriais como cinzas, restos da indústria
arrozeira e serrarias da região promovendo a utilização mais adequada desses materiais que
acabariam sendo queimados, aumentando a emissão de gazes de efeito estufa (AGROECOLOGIA
EM REDE, 2016).
Desde então, outras turmas iniciaram com os cursos em agricultura orgânica oferecidos pelo
SEBRAE, porém somente esta associação segue 100% com as práticas e normas do sistema
orgânico, em Boa Vista, tendo em vista que é trabalhoso fazer a conversão, considerando o tempo
que a terra leva para torna-se apta para a produção, devido a degradação e os altos índices
toxicológicos a que vinha sendo submetida, refletindo em uma perda de lucro em curto prazo. Em
virtude dessa dificuldade, a EMBRAPA, em 2010, iniciou com um programa chamado Produção
Agroecológica Integrada e Sustentável - PAIS11. O projeto é uma tecnologia social de baixo custo
que propõe um manejo agroecológico da produção, visando a promoção da agricultura familiar com
tecnologia que reúne técnicas simples de produção agroecológicas (desenvolve o agronegócio com
a promoção de técnicas da agroecologia), fomentando o abastecimento local com alimentos
produzidos de forma mais consciente, diversificada e menos dependente dos recursos hídricos
(SANTOS, 2011).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Essas são as manifestações de agricultura sustentável no Estado de Roraima, sendo a


Trigenros a organização que produz em maior escala na região, enquanto o projeto PAIS vem sendo
o único mecanismo de política pública vigente no período da pesquisa, para as ações de
desenvolvimento agrícola sustentável. Com isso, destaca-se a Associação Hortivida por esta ter suas
atividades de produção no meio urbano, caracterizando-se como agricultura periurbana12.

11
O projeto PAIS é voltado para a produção agroecológica e orgânica. A ideia é não utilizar produtos agroquímicos,
mas sim retirar da propriedade insumos que possam viabilizar a produção. A perspectiva de benefício para as famílias é
a diversificação da alimentação. Começa a partir do aumento no consumo de hortaliças pela família, que é um projeto
para produção de alimentos e o fortalecimento do empreendedorismo e também a ampliação na geração de renda [...].
Para fazer parte do projeto é necessário que o pequeno agricultor seja de baixa renda, tenha uma propriedade de no
mínimo cinco mil metros quadrados com água e energia, resida na localidade e disponha de mão-de-obra familiar
(FUNDAÇÃO BANCO DO BRASIL, 2010).
12
Periurbana é uma área que se localiza além dos subúrbios de uma cidade onde as atividades rurais e urbanas se
misturam e não é possível definir os limites físicos e sociais destes dois espaços (PENSAMENTO VERDE, 2014). O
conceito de agricultura urbana ou periurbana trata da atividade agrícola e/ou pecuária praticada nos espaços
interurbanos ou periurbanos, estando vinculadas às dinâmicas urbanas ou das regiões metropolitanas (SANTANDREU
e LOVO, 2007).

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

A associação é composta por um presidente, Francisco Canindé e os demais associados


distribuídos em cinco homens e uma mulher. Por meio de suas atividades periurbanas, cultivam
espécies de origem vegetal como as hortaliças e legumes, frutas das mais variadas espécies e a
criação de alguns animais como frangos, porcos, etc. O trabalho é feito no decorrer da semana e aos
sábados e quartas-feiras, reúnem-se na Praça da Amoca e na avenida Capitão Júlio Bezerra
(localizado próximo ao Supermercado Goiana), aonde comercializam sua produção ao ar livre.
Para Turra (2002: 8), ―associação é um sistema de organização inserido na sociedade e com
ela interage e estabelece relações de trocas sociais, políticas, legais, tecnológicas, econômicas, etc.,
influindo e sofrendo influências‖. Uma organização que visa a união dos esforços individuais para a
obtenção dos interesses comuns ao grupo ou para solução de problemas detectados. A união
responde coletivamente aos problemas que se apresentam. Quanto mais dificuldades são
apresentadas ou mais propósitos comuns são identificados, mais urgente se faz a necessidade de
alcançar maiores níveis de organização. “Trata-se de um instrumento de importância vital para que a
participação seja uma realidade [...]. Isto significa que a organização é o pilar fundamental da
participação, já que através dela é estimulada e fortalecida a intervenção cidadã‖ (ARAUJO et al.,
2007 p.5).
As associações de agricultores orgânicos vão além da simples intermediação de vendas.
Obtém-se por meio da associação orientação sobre o manejo e a venda dos alimentos, as mesmas
promovem a garantia de produtos orgânicos em vinculação por OCS, por SPG ou adquirindo
certificação por auditoria. Assim, os associados dividem os custos, conhecimentos e práticas,
coincidindo com processos que articulam e os incluem. Organizados conseguem obter os resultados
do esforço conjunto.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

A PRODUÇÃO DE CARCINICULTURA DO ESTUÁRIO DO RIO CURIMATAÚ-RN: (IN)


SUSTENTABILIDADE NA ÓTICA DO BARÔMETRO DE SUSTENTABILIDADE

Érika Geicianny de Carvalho MATIAS


Mestranda em Ciências Biológicas – UFRN
erikageicianny@hotmail.com
Valdenildo Pedro da SILVA
Pós-doutor em Recursos Naturais – UFCG
valdenildo.silva@ifrn.edu.br
Marcelo Diogo da Silva BARROS
Especialista em Educação Ambiental e Patrimonial – IFESP
mar_inline@yahoo.com.br
Michelle Cristina Varela dos SANTOS
Mestre em Ciências Biológicas – UFRN
michellle_biologia@hotmail.com

RESUMO
A atividade de carcinicultura é um dos cultivos que mais tem crescido no Rio Grande do Norte,
devido a sua viabilidade econômica e as condições naturais favoráveis localmente. No entanto, a
produção de camarões vem ocasionando sérios problemas que podem estar afetando os subsistemas
do bem-estar humano e do ecossistema locais, devido a algumas ações de uma produção destrutiva.
Diante dessa situação controversa, o presente estudo procurou avaliar a sustentabilidade da
atividade de carcinicultura desenvolvida no estuário do rio Curimataú, a partir da aplicação do
barômetro de sustentabilidade (BS). Diante do exposto, conclui-se que a produção de carcinicultura
do estuário do rio Curimataú mesmo com o resultado de intermediário alcançado pelo subsistema
bem-estar humano, mediante a aplicação do barômetro de sustentabilidade, se mostrou
potencialmente insustentável, devido ao bem-estar ecossistema ter apresentado uma performance de
uma produção potencialmente insustentável, devido a inúmeros problemas ligados às degradações
de solo, recursos hídricos e biodiversidade.
Palavras-chave: Sustentabilidade, Indicadores de Sustentabilidade, Carcinicultura, Sistemas
Estuarinos, Barômetro de Sustentabilidade.
ABSTRACT
The activity of shrimp farming is one of the fastest growing cultivations in Rio Grande do Norte,
due to its economic viability and favorable natural conditions locally. However, the shrimp
production has been a cause of serious problems that may be affecting the subsystems of human
welfare and the local ecosystem, due to some actions of a destructive production. Given this
controversial situation, this study sought to assess the sustainability of the shrimp farming activity
developed in the estuary of the Curimataú River from the application of the sustainability barometer
(SB). Given the above, it is concluded that the production of the shrimp farming in the estuary of
the Curimataú River, even with the intermediate result reached by the subsystem human welfare,
through the application of the sustainability barometer, proved potentially unsustainable, because
the welfare ecosystem has presented a performance of potentially unsustainable production due to
numerous problems of soil degradation, water resources and biodiversity.
Key-words: Sustainability, Sustainability Indicators, Shrimp farming, Estuarine systems,
Sustainability Barometer.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 89


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

INTRODUÇÃO

A carcinicultura, ou cultivo de camarão em cativeiro, em áreas marítimas ou estuarinas, é


considerado como uma das atividades produtivas que mais cresce no Brasil por apresentar grande
viabilidade econômica. A carcinicultura tem sido de grande importância para a economia do Rio
Grande do Norte e, em particular, para o estuário do rio Curimataú localizado no distrito de Barra
de Cunhaú no município de Canguaretama, figurando como uma das que mais tem prosperado
desde o seu desenvolvimento. Contudo, a produção de camarões tem apresentado aspectos que
podem gerar impactos ambientais relacionados ao seu processo produtivo, causando fortes pressões
sobre o bem-estar humano e do ecossistema em quase toda costa litorânea do estado Rio Grande do
Norte (ABNT, 2004).
A carcinicultura norte-rio-grandense foi uma das pioneiras do Brasil. Iniciando a partir de
1970 com a implantação do projeto governamental de apoio a ―Criação Científica de Camarões no
Rio Grande do Norte‖ o qual visava dar incentivo aos produtores de sal, que estavam em crise,
atenuando dessa forma o problema do desemprego nas salineiras. Esse projeto passou por um
período de consolidação, ou seja, necessitava de apoio técnico e infraestrutura adequada. Para
atender a essas condições foi realizado, em 1981, o I Simpósio Brasileiro do Cultivo de Camarões,
que tinha como propósito inserir no Estado qualidades técnicas existentes nos principais países
produtores e em outras regiões do Brasil. Isto proporcionou que instituições firmassem apoio e
chamassem a atenção de empresas privadas para investir nessa atividade e, consequentemente,
contribuíssem com a geração de rendas e empregos (GALVÃO NETO, 2009).
A partir desse período a produção de camarão no Rio Grande do Norte tem crescido, tanto
em espaços de criação como em quantidade produzida. Um dos municípios que se destaca no
Estado com essa atividade é o de Canguaretama que em 2003 apresentou a produção em torno de
8.359 toneladas por hectare, obtendo um volume processado de 4.813 toneladas, segundo afirmaram
Sampaio et al. (2008). Para esses autores, a carcinicultura gerou 1.715 empregos em Canguaretama
no ano de 2003 contribuindo no aumento do Produto Interno Bruto (PIB). No ano de 2009 a
produção do pescado na cidade ficou em aproximadamente 196 toneladas, segundo o Anuário
Estatístico do Rio Grande do Norte de 2010, constatando uma redução drástica da produção em
relação a 2003.
Diante a situação exposta, pode-se afirmar que a atividade econômica da carcinicultura tem
contribuído para o crescimento econômico local, porém a mesma tem causado efeitos adversos ao
meio ambiente, devido a todo o seu processo de instalação e operação. O estuário apresenta um
considerável número de empreendimentos relacionados à carcinicultura instalados em área de
manguezal o que pode estar afetando diretamente a sustentabilidade da mesma. Para tanto existe a
necessidade da realização de pesquisas na referida área no que infere ao bem-estar humano e do
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ecossistema com relação ao desenvolvimento sustentável, tendo em vista que pouco se sabe a
respeito da produção da carcinicultura no estuário do rio Curimataú. O barômetro de
sustentabilidade (BS) foi escolhido por se tratar de uma ferramenta fácil de aplicar, pois implica em
cálculos simples sem sofisticação matemática e possibilita a combinação de indicadores, o qual
permite obter conclusões claras acerca do objeto estudado.
Para a consecução deste estudo, entende-se que a avaliação do estado das pessoas e do meio
ambiente em direção ao desenvolvimento sustentável requer a definição de indicadores, originados
a partir de uma ampla gama de questões e que ao serem combinados possibilitam assegurar
informações importantes para uma avaliação de sustentabilidade (PRESCOTT-ALLEN, 1997). Os
indicadores direcionados à sustentabilidade indicam, por exemplo, a situação ambiental de
determinado objeto de estudo, trazendo consigo a função qualitativa, pois descrevem o estado de
um meio, num determinado período histórico. Uma das atribuições dos indicadores de
sustentabilidade é servir como uma parte integrante de um processo decisório, ou seja, associar
informações que possam ser associadas a outras informações, obtidas por meio de outros
instrumentos e metodologias (LUCENA; CAVALCANTE; CÂNDIDO, 2010). Desta forma os
indicadores devem ter certo grau de agregação para um bom monitoramento da sustentabilidade
(BELLEN, 2002).
Portanto, o presente trabalho, teve por objetivo avaliar a sustentabilidade da atividade da
carcinicultura desenvolvida no sistema estuarino do rio Curimataú, situado no município de
Canguaretama, a partir da aplicação do Barômetro de Sustentabilidade (BS).

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

O progresso, o desenvolvimento de atividades econômicas e o crescimento populacional


trouxeram consigo uma grande preocupação sobre como continuar se desenvolvendo/crescendo
com qualidade, quando os recursos naturais exauríveis estão cada vez mais escassos. Diante dessas
preocupações, o conceito de sustentabilidade surge, então, com a necessidade de desenvolver
atividades que durem a longo prazo, se auto mantendo, abastecendo o presente e preservando a
sobrevivência futura da atividade (ARAÚJO e SILVA, 2004).
Etimologicamente, sustentabilidade e sustentável são termos que vêm de ―sustentar‖ (do
latim, sustentare), que significa, nas acepções que interessam ao tema sob estudo, ―conservar,
manter‖– e –―alimentar física e moralmente/simbolicamente‖ (ALMEIDA JR., 2000). A partir da
conferência ―Rio 92‖, esse termo ―desenvolvimento sustentável‖ passou a fazer parte do relatório
―Nosso Futuro Comum‖ [...]. Nesse relatório está exposta uma das definições mais difundidas do
conceito: ―o desenvolvimento sustentável é aquele que atende as necessidades do presente sem

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comprometer as possibilidades das gerações futuras atenderem suas próprias necessidades‖


(BARBOSA, 2008).
Prescott-Allen (2001), afirma que para atingir uma sociedade sustentável é necessário
considerar o bem-estar humano e do ecossistema igualmente importante. Ele expressa essa hipótese
na metáfora do ovo de bem-estar da seguinte forma: O ecossistema rodeia e apoia as pessoas tanto
quanto o branco de um ovo envolve e segura à gema. Assim como um ovo pode ser bom somente se
tanto a gema e branco são bons, então a sociedade pode estar bem e sustentável somente se ambas
as pessoas e os ecossistemas estão bem.
Dessa forma para avaliação da sustentabilidade é necessário à aplicação de ferramentas que
busquem mensurar o desenvolvimento local atrelado à sustentabilidade. Existe uma variedade de
ferramentas que visam determinar o índice de sustentabilidade, uma das mais utilizadas é o BS por
se tratar de um método flexível e de fácil aplicação.

O BARÔMETRO DE SUSTENTABILIDADE

O BS é uma ferramenta de avaliação da sustentabilidade desenvolvida por um grupo de


especialistas ligados a International Union for Conservation of Nature (IUCN) e ao International
Development Research Center (IDRC) tendo como principal idealizador Robert Prescott Allen. Esta
é utilizada para mensurar a situação de uma determinada sociedade em relação ao desenvolvimento
da sustentabilidade associando a população em conjunto com o ecossistema a partir da combinação
de indicadores. Robert Prescott-Allen (1997) expõe as três características principais do barômetro:
Igual tratamento para as pessoas e o ecossistema, escala de cinco setores e fácil de usar. A
hierarquia do sistema assegura que um grupo de indicadores confiáveis retrate de forma adequada o
estado do meio ambiente e da sociedade (BELLEN, 2002). O BS pode ser aplicado desde a escala
local até a global, permitindo comparações entre diferentes locais e ao longo de um horizonte
temporal. Atuando de maneira sistemática ao combinar diversos indicadores, que, quando
apresentados isoladamente, mostram apenas a situação do tema que eles representam, enquanto o
BS revela a situação do local em relação ao desenvolvimento sustentável, permitindo comparar as
condições socioeconômicas e do ambiente físico-biótico (KRONEMBERGER et al, 2008). O BS
corresponde a um gráfico bidimensional constituído por dois eixos, um para o bem-estar humano e
outro para o bem-estar do ecossistema. Cada eixo é organizado em uma escala que varia de 0 – 100,
em que o zero representa sua base de origem, estando ainda dividido em cinco setores de 20 pontos.
Prescott-Allen (2001) demonstra as fórmulas para os cálculos dos indicadores da seguinte forma:
Quando o maior valor é o máximo e o pior valor é o mínimo, a fórmula para calcular a pontuação é
expressa pela equação 1:

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VAI-VMinI
BS= [ ]
VMáxI-VMinI
Quando o maior é o valor mínimo e o pior é o máximo, a fórmula para calcular a pontuação é
expressa pela equação 2:
VAI - VMinI
BS = PMáxBS - ⌈ ⌉ X 20
VMáxI-VMinI
Sendo:
VAI = valor atual do indicador o setor da escala.
VMinI = valor mínimo do indicador no setor da escala.
VMáxI = valor máximo do indicador no setor da escala.
PMinBS = ponto mínimo no setor da escala do BS.
PMáxBS = ponto máximo no setor da escala do BS.

A combinação dos indicadores gera dois resultados, um para o bem-estar humano e outro
para bem-estar do ecossistema. Estes resultados são denominados índices. Dessa forma a fórmula
para calcular o índice do bem-estar humano é expressa pela equação 3:
∑ VI
IBEH =
NI
Sendo:
IBEH = índice do bem-estar humano
VI = valores dos indicadores
NI = número de indicadore
A fórmula para calcular a pontuação do índice do bem-estar do ecossistema, é expressa pela
equação 4:
∑ VI
IBEE =
NI
Sendo:
IBEE = índice do bem-estar do ecossistema
VI = valores dos indicadores
NI = número de indicadores

A combinação dos resultados dos índices do bem-estar humano e do ecossistema gera um


resultado geral referente ao índice de bem-estar da sustentabilidade que resulta da interseção dos
pontos dos subsistemas do barômetro. Assim a fórmula para efetuar o índice de bem-estar da
sustentabilidade é expressa pela equação 5:
IBEH+IBEE
IBES =
2
Sendo:

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IBES = índice do bem-estar da sustentabilidade


IBEH = índice do bem-estar humano
IBEE = índice do bem-estar do ecossistema

Esta ferramenta foi escolhida para ser aplicada na avaliação da atividade da carcinicultura do
estuário do rio Curimataú de Canguaretama, pois é simples e flexível, podendo ser utilizada numa
escala local combinando indicadores e revelando a situação dessa atividade econômica em relação
ao desenvolvimento sustentável.

A ATIVIDADE DE CARCINICULTURA NO ESTUÁRIO DO RIO CURIMATAÚ DE


CANGUARETAMA

A atividade de carcinicultura em Canguaretama iniciou no ano de 1980 com a chegada de


grandes empreendimentos que se instalaram nas salinas desativadas, situadas no sistema estuarino
do rio Curimataú no distrito de Barra de Cunhaú. Esta atividade econômica obteve ascensão a partir
de 1990 com a introdução da espécie exótica Litopenaeus vannamei e sua inserção no mercado
internacional (GALVÃO NETO, 2009).
O núcleo do estuário Curimataú é formado pelos municípios de: Canguaretama, Baía
Formosa e Vila Flor. O núcleo supracitado vem recebendo destaque, ganhando um bom
posicionamento na economia do Estado em relação a sua produção, exportação e concentração de
produtores na região (GALVÃO NETO, 2009). No entanto em relação a essa atividade
Canguaretama é considerada a cidade mais importante desse sistema, pois apresenta o maior
número de empreendimentos desse segmento. Conforme afirma Amaro (2005), existe um total de
55 empreendimentos nesse sistema estuarino, destes 40 estão localizados em Canguaretama.
Sampaio et al (2008), em seu estudo sobre impactos socioeconômicos do cultivo do camarão
marinho em municípios selecionados do Nordeste brasileiro, constata que há um amplo crescimento
na expansão do emprego e da renda dos municípios estudados, um desses foi Canguaretama que em
2003 obteve 50% da representatividade na geração do emprego para o setor. Quanto ao efeito na
renda no município foi constatado que o produto interno bruto (PIB) obteve um efeito de 21%.

MATERIAIS E MÉTODOS

A área de estudo corresponde ao sistema estuarino do rio Curimataú localizado na porção


sul do litoral oriental do Rio Grande do Norte no distrito de Barra de Cunhaú no município de
Canguaretama, distando 60 km da capital do Estado, Natal. A bacia do rio Curimataú possui uma
área de 843 km² no Rio Grande do Norte, tem suas nascentes no sertão central paraibano na Serra
do Cariri-Velho (PB). O clima é semiúmido que atua nesta área como uma estação seca na

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primavera-verão e uma estação chuvosa no outono-inverno. A precipitação pluviométrica é em


média de 1.400 mm/ano. A vegetação de maior destaque são os manguezais, que colonizam as
planícies de maré dos rios da região. A floresta de manguezais do Curimataú representam 51,6%
dos manguezais do litoral oriental do RN (SOUZA, 2004).
Para pôr em prática a ferramenta do BS à atividade de carcinicultura no sistema estuarino do
rio Curimataú foi necessário seguir algumas etapas: pesquisa bibliográfica, estudo da ferramenta
utilizada, levantamentos e indagações sobre o desenvolvimento da atividade econômica em questão,
seleção e organização dos indicadores, construção das escalas de rendimento e geração dos
resultados. Quanto à natureza da pesquisa foi utilizada a pesquisa exploratória, quanto aos
procedimentos técnicos esta é documental e em relação ao tratamento a mesma é de abordagem
quantitativa. É exploratória porque proporciona uma maior afinidade com o tema abordado. É
documental, pois se fundamenta em dados secundários do período de 2003 a 2013. Por fim é
quantitativa pelo fato de possibilitar a obtenção de dados passíveis de quantificação (GIL, 2007).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir dos aportes teóricos e dos procedimentos metodológicos apresentados


anteriormente, o sistema de avaliação de sustentabilidade disposto neste trabalho, representado pelo
BS atrelados ao bem-estar humano e do ecossistema, apresenta-se detalhadamente cada uma das
dimensões da avaliação desses subsistemas, seus respectivos indicadores.
Avaliação do bem-estar humano - Em relação ao subsistema bem-estar humano foram
considerados, para avaliação de sustentabilidade, sete indicadores compreendidos pelas dimensões:
riqueza, conhecimento e cultura; e segurança. A média aritmética da dimensão riqueza foi de 64
pontos. Esse valor coloca a atividade de carcinicultura numa situação satisfatória, pois atingiu a
situação, potencialmente sustentável, ficando próximo de alcançar a sustentabilidade, devido a
considerável contribuição desta atividade para geração de emprego e renda o que influência
significativamente no PIB do município.
Os resultados para as dimensões, conhecimento e cultura; e segurança, não foram
satisfatórios, pois de acordo com o BS, a atividade em questão encontra-se numa situação,
potencialmente insustentável. A dimensão conhecimento e cultura obteve uma média de 38 pontos,
em razão do baixo nível de escolaridade dos funcionários dos empreendimentos de carcinicultura.
Na dimensão, segurança, a média foi de 32 pontos, em virtude dos resultados ruins de seus
indicadores. O indicador mais preocupante dessa dimensão foi os riscos físicos e químicos aos quais
estão expostos os funcionários. O que mais chamou atenção foi o grande risco químico ocasionado
pela exposição ao metabissulfito de sódio. Esse produto é aplicado no processo de despesca e é
utilizado para evitar a proliferação de microrganismos e provocar a morte do camarão, o problema é

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quando esta substância entra em contato com a água, pois reage com a mesma liberando dióxido de
enxofre. Esse gás é caracterizado pela norma reguladora NR15 de atividades e operações insalubres
do Ministério do Trabalho como tendo grau de insalubridade máxima.
Então essas dimensões permitem classificar o bem-estar humano na situação, intermediário.
Nesse sentido, a carcinicultura do estuário do rio Curimataú encontra-se em condições para alcançar
a posição de potencialmente sustentável no que infere as questões humanas, mas para isso é
necessário tomar medidas no que se diz respeito ao investimento e incentivo na educação, na
preparação técnica e na utilização de equipamentos de segurança dos funcionários. Assim o Quadro
1 apresenta as dimensões referentes ao bem-estar humano e seus respectivos resultados com relação
a situação da sustentabilidade.

Dimensões Indicadores Grau do Grau da Situação da


BS Dimensão sustentabilidade
Produto interno bruto 66
(PIB)
Geração de empregos 79
Riqueza 64 Potencialmente
Sustentável
Produtividade 57
Balança comercial 57

Conheciment Nível de escolaridade 38 38 Potencialmente


o e Cultura Insustentável
Riscos físicos e químicos
18
Segurança 32 Potencialmente
Equipamento de proteção Insustentável
individual (EPI) 47
Quadro 1 – Resultados das dimensões referentes ao bem-estar humano Fonte: Pesquisa de campo (2014).

Avaliação do bem-estar do ecossistema - O subsistema bem-estar do ecossistema foi


avaliado por meio da aplicação de sete indicadores que foram compostos pelas seguintes
dimensões: solo, recursos hídricos, e biodiversidade. A média para a dimensão solo foi de 45
pontos, o que indica que nessa dimensão a atividade de carcinicultura do estuário em estudo
encontra-se na posição intermediário. Esse resultado evidencia que a utilização das áreas de
manguezal para a atividade de carcinicultura esta contribuindo significativamente para a
deterioração do solo, da água e de toda biota que constitui esse ecossistema.
Os resultados para as dimensões biodiversidade recursos hídricos são os mais preocupantes,
pois ambos foram classificados como insustentáveis. Quanto à dimensão recursos hídricos, a média
foi de 18 pontos. Os indicadores mais preocupantes dessa dimensão foi o índice de toxidade e o
consumo de água. O resultado do primeiro comprova a negligência com relação ao tratamento e
controle dos efluentes gerados no processo produtivo dos empreendimentos de carcinicultura. É
importante salientar que a Resolução CONAMA 312 dispõe em seu artigo 14º que os projetos de

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carcinicultura, a critério do órgão licenciador, deverão observar, dentre outras medidas de


tratamento e controle desses efluentes. O resultado do segundo revela que o elevado consumo
hídrico desta atividade pode gerar conflitos pelo uso da água e ainda contribuir para a diminuição
desse bem natural.
Para a dimensão biodiversidade, a média foi de 12 pontos, em razão do declínio da espécie
Ucides cordatus (caranguejo-uçá) uma espécie de grande potencial econômico para a comunidade
local. A redução dessa espécie resulta do desmatamento dos manguezais para a construção dos
viveiros de camarão e do lançamento dos efluentes gerados no processo de engorda que são
lançados no ambiente estuarino sem nenhum controle. Com esses resultados fica evidente que, no
bem-estar do ecossistema, a sustentabilidade dessa atividade é baixa, sendo classificada como
potencialmente insustentável, sendo necessário que os carcinicultores obtenham preparação técnica
e que reveja suas atitudes para alcançar melhores resultados com relação à sustentabilidade do
ecossistema. Assim o Quadro 2 apresenta as dimensões referentes ao bem-estar do ecossistema e
seus respectivos resultados com relação a situação da sustentabilidade.

Quadro 2 – Resultados das dimensões referentes ao bem-estar do ecossistema.


Dimensões Indicadores Grau do Grau da Situação da
BS dimensão sustentabilidad
e
Taxa de
desmatamento da 58
floresta nativa (%)
Solo Ocupação do solo por 45 Intermediário
viveiros (%) 33

Índice de qualidade
da água (IQA) 55
Índice de toxidade
Recursos (IT) 0 18 Insustentável
hídricos
Índice do estado
trófico (IET) 11
Consumo de água 7
Declínio da espécie
Biodiversidade Ucides cordatos 12 12 Insustentável
Fonte: (caranguejo-uçá) Pesquisa
de campo (2014).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a avaliação da sustentabilidade da atividade de carcinicultura no sistema estuarino do


rio Curimataú conclui-se que, o BS possibilitou avaliar que esta atividade econômica encontra-se
em situação potencialmente insustentável com relação ao desenvolvimento sustentável. O
subsistema bem-estar humano alcançou 51 pontos na escala do BS caracterizando-se como
intermediário, mas bem próximo do índice potencialmente insustentável. O bem-estar do
ecossistema foi o mais preocupante, pois atingiu 25 pontos na escala do BS. Apesar das

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dificuldades encontradas no decorrer do desenvolvimento desta pesquisa, os resultados alcançados


por meio da aplicação do BS a atividade de carcinicultura na área de estudo, contribuíram
significativamente propiciando uma visão holística a situação no que diz respeito a sustentabilidade.
Diante da realidade avaliada, constata-se a necessidade de implementação de políticas
públicas que contribuam para valorizar e fortalecer as ações positivas da produção de carcinicultura,
mas, sobretudo mitigar e amenizar os problemas sociais e ambientais dessa produção. Os tomadores
de decisão precisam tomar conhecimentos dos resultados deste estudo, uma vez que este
proporcionou um panorama da situação da sustentabilidade da carcinicultura em relação condições
do bem-estar humano e do ecossistema, ou seja, que proporcione o alcance de medidas para a
melhoria da qualidade da natureza concomitante a população. Diante dos resultados apresentados,
considera-se necessário que melhorias sejam implementadas, tanto no âmbito de políticas
ambientais como nas condições sociais dos envolvidos com essa atividade econômica, no rumo de
uma situação desejável de desenvolvimento humano e ambiental.

REFERÊNCIAS

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Natal.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 100


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A PRODUÇÃO DO ESPAÇO AGRÍCOLA E SUAS IMPLICAÇÕES AMBIENTAIS NOS


MUNICÍPIOS DE TIANGUÁ E UBAJARA - CEARÁ

Francisco Leandro de Almeida SANTOS


Mestre em Geografia UEC/Doutorando em Geografia pela Universidade Federal do Ceará
leogeofisico@gmail.com
Flávio Rodrigues do NASCIMENTO
Doutor em Geografia UFF/Professor do Dept. de Geografia da Universidade Federal do Ceará
flaviogeobol@.com.br

RESUMO
Os municípios de Tianguá e Ubajara estão localizados no setor noroeste do estado do Ceará
integrando o enclave úmido do Planalto da Ibiapaba. Nesse aspecto, os municípios em epigrafe se
destacam no cenário econômico cearense pela diversificação dos setores de serviços, turismo/lazer e
forte incremento do vetor agrícola nos últimos 15 anos das décadas de 2000 e 2010. Assim, as
características naturais favoráveis à agricultura, aliadas à ação dos agentes produtores do espaço,
conduziram a reprodução do agronegócio na cadeia produtiva, justificando a instalação de
problemas ambientais através da intensa supressão da mata úmida e utilização excessiva de
agrotóxicos, por exemplo. Desta feita, a presente pesquisa pretende destacar a produção do espaço
agrícola nos municípios de Tianguá e Ubajara e suas implicações ambientais sobre o enclave úmido
do Planalto da Ibiapaba. Os procedimentos operacionais seguiram as seguintes etapas: 1) Revisão
da literatura; 2) Levantamento de dados; 3) Compilação dos dados e construção de tabelas
ilustrativas; 4) Elaboração do mapeamento temático; 5) Trabalho de campo. Após as discussões
foram elaboradas propostas de manejo adequado dos recursos naturais com base nos princípios dos
sistemas agroecológicos. Os resultados da pesquisa apresentam de forma sumarizada as
recomendações pautadas no âmbito da compatibilidade das atividades produtivas com a
conservação dos recursos naturais.
Palavras Chaves: agronegócio; sistemas agroecológicos; recursos naturais; enclave úmido;
problemas ambientais.
ABSTRAT
The municipalities of Tianguá and Ubajara are located in the Northwest of the State of Ceará,
integrating the damp enclave of Planalto da Ibiapaba. In this respect, the municipalities under study
stand out in cearense economic scenario for the diversification of services sectors,
tourism/recreation and increase agricultural vector in the last 15 years of the 2000 2010. So, the
natural characteristics are favourable to agriculture, combined with the action of agents producers
led the reproduction of agribusiness in the production chain, justifying the installation
ofenvironmental problems through the intense suppression of moist and excessive use of pesticides,
for example. This time, the present research aims to highligth the production of the agricultural area
in the municipalities of Tianguá and Ubajara and their enviromental implications on the wet of the
enclave Ibiapaba. Operating procedures followed the following steps: 1) literature review; 2) data
collection; 3) compilation of data and construction of illustrative tables; 4) elaboration of thematic
mapping; 5) field work. After the discussions were elaborated proposals for the proper management
of natural resources on the basis of the principles of ecological systems. In this context, the search
results feature of form summarized the recommendations based on the scope of the compatibility of
the production activities with the conservation of natural resources.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Key Words: agribusiness; ecological systems; natural resources; wet enclave; enviromental
implications.

INTRODUÇÃO

A localização dos municípios de Tianguá e Ubajara no enclave úmido do Planalto da


Ibiapaba frente às melhores condições hidroclimáticas em relação aos sertões semiáridos
circundantes condiciona uma estruturação diferenciada das atividades econômicas justificadas pelas
potencialidades de recursos naturais disponíveis.
Nesse aspecto, os agentes produtores do espaço desempenham importante papel na alocação
dos investimentos e projeção da infraestrutura, direcionando as bases territoriais para formação de
um agropólo com expressão regional no contexto cearense, o que redefine as condições de uso e
ocupação da terra via consolidação do agronegócio sobre o arranjo produtivo dos sistemas
ambientais.
A conotação dada por Corrêa (1999) considera a ação dos agentes produtores do espaço
como complexa, à medida que, deriva da dinâmica de acumulação do capital, das necessidades
mutáveis de reprodução das relações sociais e dos conflitos de que dela emergem, orientando o uso
e ocupação da terra conforme os interesses de cada agente em relação à projeção dos processos
produtivos no espaço geográfico.
O Estado como principal agente transformador do espaço e articulador do capital
internacional com as elites locais, oferece subsídios para fortalecer as atividades produtivas,
preferencialmente destinando bens financeiros aos setores privados da economia. Assim, a
produção do espaço, no que tange ao uso e ocupação da terra, produz efeitos ambientais, traduzidos
por problemas de degradação e exaurimento da capacidade de resiliência dos recursos naturais
(NASCIMENTO, 2006).
Nesse contexto, o objetivo central da pesquisa se pauta na discussão que permeia a produção
do espaço agrícola dos municípios de Tianguá e Ubajara como produto de um jogo de
intencionalidades dos agentes econômicos na busca pela apropriação dos recursos naturais
disponíveis nas territorialidades vigentes. Sob esse aspecto, o trabalho possui relevância no sentido
de apontar as principais implicações ambientais resultantes do processo de inserção dos sistemas
ambientais na cadeia produtiva do agronegócio.
Desta feita, os resultados apresentam propostas de manejo adequado dos recursos com foco
na sustentabilidade produtiva e no desenvolvimento economicamente viável dos sistemas
agroecológicos nos municípios em estudo, face aos problemas gerados pelo avanço das fronteiras
agrícolas sobre os setores ambientais estratégicos do enclave úmido do Planalto da Ibiapaba com

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características que exprimem uma tipicidade geoecológica peculiar às paisagens de exceção do


semiárido brasileiro.

MATÉRIAIS E MÉTODOS

Os procedimentos operacionais seguiram as seguintes etapas 1) Revisão da literatura


pertinente aos agentes produtores do espaço a partir dos trabalhos de Corrêa (1999), Nascimento
(2006), Lima et al (2011), Bezerra e Elias (2011) e Napolitano (2009). 2) Levantamento dos dados
relacionados a produção agrícola junto aos órgão públicos competentes como IBGE e IPECE. 3)
Compilação dos dados e organização de tabelas elaboradas no Programa Excel 2010. 4) Elaboração
do mapa de localização na escala de 1/475.000, utilizando técnicas de geoprocessamento realizadas
pelo SIG QUANTUN GIS 1.8. 5) Trabalho de campo utilizando uma Carta Imagem do satélite
LANDSAT 8 com apoio do GPS GARMIN E TEX 10 para verificação da realidade terrestre.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A área de estudo se localiza na porção noroeste do Ceará integrando o setor setentrional do


Planalto da Ibiapaba. Esse importante compartimento de relevo representa a borda oriental da Bacia
sedimentar do Parnaíba através de um escarpamento abrupto no contato com a depressão sertaneja e
um caimento topográfico suave no sentido oeste, em direção ao estado do Piauí se configurando
numa morfologia de cuesta.

Mapa 1: Localização da área de estudo.

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A disposição do relevo frente ao deslocamento dos ventos úmidos provenientes do oceano


Atlântico favorece a ocorrência de chuvas orográficas nas vertentes e nos níveis de cimeira do
planalto, potencializando a existência de um enclave de mata úmida em meio aos sertões semiáridos
circunjacentes (SANTOS & NASCIMENTO, 2014).
Este enclave é representado por uma exuberante e expressiva floresta perenifólia abrangendo
uma estreita faixa de terras que contrasta para oeste com o ―carrasco‖ e para leste com os sertões
pediplanados recobertos pelo Bioma Caatinga. As condições climáticas são marcadas por chuvas
mais abundantes e mais regularmente distribuídas, características de um típico mesoclima de
altitude. Nos níveis de cimeira do Planalto a topografia é plana e suavemente ondulada sendo
sulcada de modo incipiente por cursos d‘ agua que se orientam no sentido do Piauí. Com isso, há
uma alternância de interflúvios tabulares ou ligeiramente convexos com vales abertos que
concentram uma atividade agrícola mais intensa (SOUZA & OLIVEIRA, 2006).
Nesse aspecto as potencialidades de recursos naturais acirraram a apropriação pela
propriedade privada com reflexos na diversificação das tipologias de uso e ocupação da terra. A
configuração do agronegócio nos Tianguá e Ubajara resulta da ação conjugada dos diferentes
agentes na produção do espaço geográfico, via reprodução dos setores de serviço, turismo, lazer e
agricultura sobre os sistemas ambientais por múltiplos interesses e complexas relações de
apropriação dos recursos naturais disponíveis.
No Planalto da Ibiapaba, as condições ambientais diferenciadas favoreceram a introdução do
projeto POLONORDESTE como investimento estratégico para viabilização da infraestrutura
agrícola da região. No primeiro momento, foram priorizadas ações voltadas para construção da
rodovia Fortaleza-Teresina na década de 1970, o que incentivou uma maior circulação de
mercadorias através da integração comercial com outros centros econômicos do Nordeste
(NAPOLITANO, 2009).
No Ceará, o conceito de agropólo foi concebido pela SEAGRI (Secretaria de Agricultura) a
partir do pacto entre a elite empresarial e o Estado. Sob esse aspecto, foram delineadas áreas
estratégicas de atuação: Região Metropolitana; Baixo Jaguaribe; Ibiapaba; Baixo Acaraú; Centro
Sul e Cariri, viabilizando um novo padrão produtivo de mercado através da ação combinada dos
grupos empresariais em plena ascensão. Desta feita, os direcionamentos foram no campo dos
estudos científicos, certificação, comercialização e assistência técnica (LIMA, et. al., 2011).
A atividade agropecuária é um dos segmentos econômicos que mais tem radicalizado seu
processo de intervenção humana na dinâmica própria da natureza. A modernização do espaço
agrícola possibilita a inserção de um novo conteúdo científico-técnico para expansão da
produtividade. Esse estágio somente foi possível pela ação articulada do setor com a indústria
através do fornecimento de insumos e equipamentos para produção. Deste modo, é notável a

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disseminação de tecnologias inovadoras a partir do uso crescente de insumos químicos e


instrumentos mecânicos para ampliar os níveis de produtividade, modificando as relações
capitalistas no contexto da agricultura globalizada (BEZERRA & ELIAS, 2011).
A criação da SEAGRI representa a atuação do Estado em acordo com os interesses do
agronegócio. Nesse contexto, a reestruturação espacial materializa-se com a mudança na política
pública direcionada aos projetos de irrigação. O Estado passa a privilegiar o segmento empresarial,
ao passo que expropria e/ou subordina a agricultura familiar camponesa, redirecionando novas
relações sociais e de produção no campo (LIMA, et. al., 2011).
Esses processos promoveram a ascensão dos municípios de Tianguá e Ubajara no contexto
econômico e produtivo do agronegócio, denunciando as diretrizes dos agentes produtores do espaço
como ponto de partida para viabilização do desenvolvimento regional, via atuação dos proprietários
fundiários em acordo com a regulamentação das políticas públicas. Conforme os dados do IPECE
(2013), a fruticultura representa de forma significativa a produção agrícola dos municípios de
Tianguá e Ubajara, denunciando uma considerável diversificação de lavouras permanentes, como
ilustra a tabela abaixo:

Tabela1: Fruticultura nos municípios de Tianguá e Ubajara. Fonte: IPECE (2013).


Lavouras permanentes
Área (ha) Produção
Anos Destinado à Colhida Quantidade (t) Valor (R$ mil)
colheita
Tianguá Ubajara Tianguá Ubajara Tianguá Ubajara Tianguá Ubajara

Abacate
2010 80 50 80 50 736 410 635 357
2011 78 50 78 50 702 422 605 368
2012 78 50 78 50 384 323 324 278

Banana (cacho)
2010 873 405 873 405 10.000 4.839 5.472 2.624
2011 880 424 880 424 12.320 5.682 7.192 3.291
2012 890 430 890 430 8.344 4.224 5.062 2.587

Laranja
2010 73 39 73 39 628 293 343 162
2011 74 45 74 45 562 335 318 186
2012 74 45 74 45 421 306 244 179

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Mamão
2010 100 78 100 78 5.550 4.165 3.396 2.443
2011 110 100 110 100 5.940 5.345 4.206 3.691
2012 110 113 110 113 3.802 3.811 2.653 2.668

Manga
2010 68 78 68 78 476 546 228 262
2011 70 82 70 82 450 599 203 252
2012 70 80 70 80 247 427 140 238

Maracujá
2010 1.000 950 1.000 950 23.500 22.325 18.085 16.745
2011 900 1.050 900 1.050 20.700 24.255 20.783 24.387
2012 900 950 900 950 20.000 21.660 25.958 28.541

Conforme foi exposto, há o incremento de variados segmentos da fruticultura no mercado


agrícola dos municípios de Tianguá e Ubajara. A rigor, a fruticultura incorpora os setores do
agronegócio e da agricultura orgânica na cadeia produtiva, este último possui financiamento do
PRONAF vinculado às políticas de assistência rural do Banco do Nordeste.
Os dados apontam a expansão da cultura do maracujá em 2011, chegando a produzir 20.700
e 24.225 toneladas nos municípios de Tianguá e Ubajara, respectivamente. Os valores da produção
correspondem à ordem de R$ 20.783.000,00 para Tianguá e de R$ 24.387.000,00 para Ubajara.
Vale ressaltar que no ano de 2012, houve uma leve queda da produção, todavia os resultados
econômicos aumentaram em virtude de menor oferta do maracujá e valorização no mercado de
produtos agrícolas. As condições de profundidade e de drenagem dos Latossolos Vermelho-
Amarelos favorecem o desenvolvimento do sistema radicular do maracujazeiro condicionando um
elevado nível de produtividade. As médias pluviométricas são favoráveis ao desenvolvimento da
cultura pelo maior período de excedente de água essencial ao suprimento da planta.
Como se verifica nos dados do município de Tianguá, a bananicultura avançou
consideravelmente no ano de 2011, produzindo 12.320 toneladas com valores calculados em R$
7.192.000,00 impulsionando a expansão da cultura sobre as áreas de remanescentes da mata plúvio-
nebular. No mesmo ano em Ubajara, a produção obteve 5.682 toneladas com valores que atingiram
a marca de R$ 5.682.000,00 denotando a força da econômica dessa cultura frente ao contexto da
atividade agrícola na região.
O escoamento da produção ocorre através da BR 222 integrando o eixo Fortaleza-Sobral ao
polo de desenvolvimento regional do Planalto da Ibiapaba. Além disso, a disposição da rodovia em

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epigrafe para além dos limites estaduais cearenses, possibilita a circulação da produção até os
principais eixos econômicos do Piauí e Maranhão. Os dados do IPECE consideram o incremento de
variados segmentos da fruticultura no mercado agrícola. A fruticultura incorpora os setores do
agronegócio e da agricultura orgânica na cadeia produtiva. Contudo, os dados disponíveis no
IPECE referente ao Anuário Estatístico do Ceará não diferencia a parcela da produção orgânica.
Nesse contexto, se torna imprescindível mensurar a relevância dos sistemas agroecológicos para
viabilizar políticas públicas de incentivo a conservação dos recursos naturais, evitando a utilização
de agrotóxicos e insumos químicos nos processos produtivos. A título de exemplificação, se destaca
na área de estudo, o financiamento oriundo do PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da
Agricultura Familiar) vinculado às políticas de assistência rural do Banco do Nordeste.
Esse projeto ganha relevância por incluir os pequenos produtores no desenvolvimento
econômico do vetor agrícola nos municípios de Tianguá e Ubajara. A criação do PRONAF
possibilitou a concessão de crédito aos produtores rurais. No Ceará, o projeto piloto ocorreu no
Planalto da Ibiapaba a partir da concessão de crédito para implantação e manejo de sistemas
agroflorestais. A responsabilidade ficou a cargo do Centro Educacional Popular em Defesa do Meio
Ambiente – Fundação CEPEMA. O PRONAF Floresta, lançado no Plano Safra de 2002/2003, foi
regulamentado pelo Conselho Monetário Nacional por meio da resolução 3.001, de 24 de junho de
2002. Em 20 de agosto do mesmo ano foi publicada a portaria interministerial nº 411, instituindo a
parceria entre MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário) e MMA (Ministério do Meio
Ambiente), viabilizando ações voltadas para silvicultura e sistemas agroflorestais com o intuito de
recuperar áreas degradadas nas pequenas propriedades rurais (NAPOLITANO, 2009).
Sob esse contexto, a articulação interinstitucional do BNB (Banco do Nordeste do Brasil),
da EMATERCE (Empresa de Assistência Técnica de Extensão Rural do Ceará) do IBAMA, foi de
fundamental importância para o firmamento das políticas públicas, culminando com a realização de
um encontro estadual no município de Tianguá, no qual foi apresentado o programa estadual de
florestas da SEMACE (Secretaria de Meio Ambiente do Ceará). Nesse evento, as discussões se
pautaram no planejamento da cadeia produtiva através do direcionamento e agregação do valor da
produção agroflorestal para o desenvolvimento de consórcios estimulados pelo CEPEMA na
Ibiapaba (NAPOLITANO, op. cit.).
Tais investimentos colocaram o Planalto da Ibiapaba na rota da produção agroecológica com
foco no abastecimento de um mercado específico. Contudo, essas iniciativas foram incipientes face
aos interesses do agronegócio sobre os eixos de desenvolvimento do território, que consolidaram na
cadeia produtiva a fruticultura voltada para o mercado externo. Desta feita, os problemas ambientais
emergem como produto da apropriação dos recursos naturais a partir das diretrizes estratégicas dos
agentes produtores do espaço na viabilização do crescimento econômico regional.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Sob esse aspecto, a introdução do agronegócio nos municípios de Tianguá e Ubajara


contribuiu para instalação de um quadro preocupante de degradação ambiental com implicações
negativas sobre a capacidade de resiliência dos recursos naturais. A esse respeito, o processo de
expansão das fronteiras agrícolas potencializou a devastação generalizada da cobertura vegetal,
explicando a descaracterização da paisagem primitiva e a perda da biodiversidade como principais
indicadores que evidenciam a ruptura do equilíbrio dinâmico nos diferentes sistemas ambientais.
A carta-imagem do satélite LANDSAT 8 de março de 2014, representa o processo de
expansão das fronteiras agrícolas como vetor de desmatamento sobre a área da mata plúvio-nebular,
além dos setores ao entorno do Açude Jaburu, como ilustra-se a seguir;

Carta Imagem 1: Setores Produtivos dos Municípios de Tianguá e Ubajara.


Fonte: Satélite LANDSAT (2014)

Nas áreas onde os solos estão em estágio de degradação avançada, a recuperação natural da
cobertura vegetal é comprometida. Em consequência disso, as sucessões ecológicas secundárias
possuem uma elevada frequência do babaçu (SOUZA e OLIVEIRA, 2006). As figuras 1 e 2 abaixo
ilustram a produção do maracujá e a expansão do desmatamento respectivamente:

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Figura 1: Produção de Maracujá no município de Ubajara. Figura 2: Predomínio do babaçu


como indicativo de desmatamento no município de Tianguá.
Fonte: SANTOS & NASCIMENTO (2014).

A presença expressiva do babaçu testemunha a distribuição original da mata plúvio-nebular


e ao mesmo tempo presume a existência de um estagio avançado de degradação ambiental. Não
obstante, o desmatamento generalizado do conjunto vegetacional primitivo faz com que essas
espécies passem a prevalecer na paisagem secundária, visto a sua maior resistência nos processos de
competição biológica. A disponibilidade hídrica do enclave úmido da Ibiapaba aliada às
características naturais dos Latossolos Vermelho-Amarelos favorece a introdução de policulturas
variadas nas diferentes propriedades rurais. No entanto, os produtores recorrem ao emprego de
agrotóxicos, fertilizantes químicos e corretivos de acidez, no intuito de adequar a atividade agrícola
às condições de baixa fertilidade natural dos solos.
Os setores de fruticultura agregam o uso de agrotóxicos para conter o avanço de pragas
sobre a produção. Tais ações comprometem a qualidade ambiental, à medida que contaminam os
solos, bem como os recursos hídricos superficiais e subterrâneos. Além disso, a devastação
generalizada da mata pluvio-nebular coloca em evidência a necessidade de conservação da
biodiversidade primária com princípios pautados no ordenamento das atividades produtivas e
controle das fronteiras agrícolas.Nesse panorama, a agricultura orgânica representa uma importante
alternativa para promover o uso adequado dos recursos naturais em vias sustentáveis. Nesse
contexto, os produtores rurais adotam técnicas de conservação dos solos baseados em sistemas
agroecológicos com foco na manutenção da biodiversidade primária.
Nesse aspecto, a importância da matriz agroecológica para sustentabilidade dos recursos
naturais se pauta na dependência mínima de insumos químicos e energéticos externos, conduzindo o
reestabelecimento das relações de equilíbrio entre os componentes que integram a dinâmica
produtiva e de resiliência da natureza. Esse segmento almeja um agroecossistema cujas relações
entre plantas, solo, nutrientes, luz solar, unidade e organismos coexistentes, estejam próximas ao
equilíbrio, com o intento de superar, naturalmente perturbações sofridas pelos sistemas
artificializados que caracterizam as práticas de produção do agronegócio (CARMO, 2008).
Em suma, a construção do conhecimento agroecológico deve contar com participação
efetiva dos pequenos agricultores para o enfrentamento do modelo de agronegócio imposto

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convencionalmente pela revolução verde, o que requer uma visão sistêmica e articulada de
múltiplos fatores que se relacionam nesse processo (MOREIRA & CARMO, 2007).
Desta feita, as recomendações abaixo seguem os princípios da agroecologia como meio de
promover o uso adequado dos recursos naturais disponíveis e a conservação da biodiversidade
primária do enclave úmido do Planalto da Ibiapaba nos municípios de Tianguá e Ubajara:

1) Controle de agrotóxicos e insumos químicos com tratamento adequado dos efluentes da


produção para evitar a contaminação dos recursos hídricos;
2) Utilização de sistemas agroecológicos e recomposição florística da mata pluvio-nebular
promovendo a introdução de culturas de sombreamento;
3) Conservação dos remanescentes originais de mata pluvio-nebular, estabelecendo áreas de
relevante interesse biológico para manutenção de espécies endêmicas dos brejos de altitude do
semiárido brasileiro;
4) Técnicas de conservação dos solos baseados nos métodos da adubação orgânica e nos
sistemas de rotação de culturas,
5) Ampliação do PRONAF e incentivo a agricultura orgânica por meio da concessão de
crédito rural aos pequenos produtores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A sustentabilidade da atividade agrícola se configura num desdobramento dos princípios dos


sistemas agroecológicos que viabiliza a materialização do planejamento ambiental no cerne da
produção do espaço geográfico. Nessas condições, os processos de uso e ocupação da terra são
regulamentados por normas que atendem os requisitos pertinentes a capacidade de suporte dos
sistemas ambientais, definindo um novo padrão de desenvolvimento pautado na conservação dos
recursos naturais. Assim, a consolidação da agroecologia consubstancia na produção do espaço
geográfico via intervenção das políticas públicas em acordo com as aspirações dos atores sociais
envolvidos no processo de gestão dos recursos naturais. Sua materialização possibilita um maior
número de acertos para o enfrentamento dos produtores rurais em relação às problemáticas
ambientais que se configuram no espaço agrícola dos municípios de Tianguá e Ubajara.

REFERÊNCIAS

BEZERRA, J. E. ELIAS, D. Difusão do trabalho agrícola formal no Brasil e sua dinâmica


multiescalar. Investigaciones Geográficas, Boletim del Instituto de Geografía, UNAM, Número
76. 2011, pp 104 – 117.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 110


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

CARMO, M. S. Novos Caminhos para Agricultura Familiar. Revista Tecnologia e Inovação


Agropecuária. p 28-40. 2009.

CEARÁ. Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará. IPECE. Anuário Estatístico do


Ceará 2013. Disponível em: http//
www2.ipece.ce.gov/publicações/anuário/anuario2013/index.htm. Acesso em 17. out. 2014.

CORRÊA, Roberto Lobato. O Espaço Urbano. Rio de Janeiro: Editora Ática, 1999.

LIMA, L. C. VASCONCELOS, Tereza S. L. FREITAS, B. M. C. Os novos espaços seletivos no


campo. Fortaleza. Ed UECE, 2011. p 256.

MOREIRA, R. M, CARMO. M. S. Agroecologia na construção do desenvolvimento rural


sustentável. Revista Brasileira de Agroecologia. v 2. v. 2. 2007.

NAPOLITANO, J. E. Crédito para Sistemas Agroflorestais e Conservação dos Recursos


Agroflorestais entre os Agricultores Familiares: o caso do PRONAF Floresta no Planalto da
Ibiapaba- Ceará (Dissertação de Mestrado em Política e Gestão Ambiental) Programa de Pós
Graduação em Desenvolvimento Sustentável, Universidade de Brasília (UNB) Brasília, 2009.

NASCIMENTO, F. R. Degradação Ambiental e Desertificação no Nordeste Brasileiro: o contexto


da bacia hidrográfica do rio Acaraú – Ceará. Tese (Doutorado em Geografia) – Universidade
Federal Fluminense, Niterói, 2006. 325 p.

SANTOS, F. L. A. NASCIMENTO, F. R. Mapeamento Geomorfológico do Planalto da Ibiapaba:


Enfoque nas Feições Morfoesculturais dos Municípios de Tianguá e Ubajara. REVISTA
GEONORTE, Edição Especial 4. V 10. N 3. p 212-216. Manaus, 2014.

SOUZA, M. J. N. OLIVEIRA, V. P. V. de. Os enclaves úmidos e subúmidos do semiárido do


Nordeste brasileiro. MERCATOR – Revista de Geografia da UFC. Fortaleza, ano 5, nº 9, 2006.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

CAPITAL SOCIAL E AGRICULTURA FAMILIAR NO TERRITÓRIO DO CARIRI,


CEARÁ

Gerlânia Maria Rocha SOUSA13


Doutoranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente (UFC)
gerlaniarocha@gmail.com
Meire Eugênia DUARTE
Mestranda em Economia Regional (UFRN)
meire.duarte@hotmail.com
Otácio Pereira GOMES14
Mestre em Economia Rural pela Universidade Federal do Ceará (UFC)
otaciopg@gmail.com
Dâmaris Costa FRUTUOSO
Discente do curso de Ciências Econômicas da Universidade Regional do Cariri (URCA)
damarisfrutuoso@gmail.com

RESUMO
O presente trabalho destaca o nível de capital social com relação a agricultura familiar do território
Cariri (CE), o qual abrange 29 municípios. Tem-se como objetivo a análise do capital social
associado à agricultura em relação aos dois níveis de agregação socioambiental no estado do Ceará:
território e município, e a caracterização das principiais instituições, projetos, políticas ou
programas pertencentes na localidade em estudo. De início, buscou-se saber um aparato histórico
referente ao conceito de capital social e agricultura familiar. Para a obtenção das informações
empregadas no estudo, foi utilizado dados secundários obtidos através de consultas bibliográficas, e
dados primários coletados no município de Mauriti. Dentre os vários tipos de indicadores
existentes, optou-se basear nas quatro dimensões propostas por Grootaert e uma quinta dimensão
elaborada no presente trabalho para complementar e enriquecer a análise. O índice de capital social
(ICS) foi calculado por meio da técnica de análise multivariada com base nas dimensões adaptadas
para a pesquisa. Obteve-se uma caracterização precisa das instituições no território, onde foi
identificado o nível de capital social da agricultura do mesmo, verificando as limitações e
dificuldades encontradas.
Palavras - chave: Agricultura familiar, capital social, território.
ABSTRACT
The present study highlights the level of social capital in relation to family agriculture in the Cariri
territory (CE), which covers 29 municipalities. The objective of this study is to analyze the social
capital associated to agriculture in relation to the two levels of socio-environmental aggregation in
the state of Ceará: territory and municipality, and the characterization of the main institutions,
projects, policies or programs belonging to the studied locality. At first, we sought to know a
historical apparatus related to the concept of social capital and family agriculture. To obtain the
information used in the study, we used secondary data obtained through bibliographic queries, and
primary data were collected in the municipality of Mauriti. Among the various types of existing
indicators, it was decided to base on the four dimensions proposed by Grootaert and a fifth

13
Docente do curso de Ciências Econômicas da Universidade Regional do Cariri (URCA);
14
Docente do curso de Ciências Econômicas da Universidade Regional do Cariri (URCA);

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dimension elaborated in the present work to complement and enrich the analysis. The social capital
index (CSI) was calculated using the multivariate analysis technique based on the dimensions
adapted for the research. It was obtained a precise characterization of the institutions in the territory,
where the level of social capital of the agriculture of the same one was verified, checking the
limitations and difficulties found.
Keywords: Family agriculture, social capital, territory.

INTRODUÇÃO
A agricultura familiar no território brasileiro tem papel fundamental na geração de empregos
e na produção de alimentos, os defensores da modernização agrícola no Brasil sempre o
consideraram um segmento tardio, com justificativas de que há pouco interesse econômico para a
sociedade e pouca significância analítica para corporação.
Segundo a FAO/INCRA (2000), a agricultura familiar consiste na gestão da produção e
investimentos, exercida principalmente por trabalhadores com grau de parentesco, a qual pressupõe
a distribuição igualitária da operacionalização da produção.
A partir de mudanças registradas no século passado, o debate a respeito da agricultura
familiar vem sendo destacado, trazendo consigo mudanças e respostas com relação aos avanços
construídos pelos programas/formas de organizações que diminuem a pobreza e exclusão social das
comunidades rurais.
Para Abramovay (2007), a partir dos anos 1990, a temática sobre desenvolvimento no Brasil
se desenvolveu com mais intensidade e foi iniciada com a entrada da agricultura familiar no
vocabulário científico, é a década atual com uma reavaliação do significado de desenvolvimento
rural, pois aborda as dinâmicas territoriais no processo desenvolvimentista.
O desenvolvimento econômico engloba o capital social que varia muito de certa região ou
lugar, quando tem-se um nível alto de capital social, diz que há consigo melhorias não apenas da
parte financeira, mas, também do bem-estar da população. Este projeto estabelece o nível de capital
social e a agricultura familiar do território do cariri-CE, de uma forma que aborde as desigualdades
para descobrirmos as ameaças pertencentes ao território.
O capital social vem adquirindo maior embasamento, revigorando-se com o objetivo de se
tornar de fato consolidado e sustentável, dada a existência de uma grande subjetividade em torno do
mesmo. No entendimento de Andrade e Cândido (2008), apesar das limitações teóricas e
metodológicas, este conceito se constitui como um importante elo no processo de revitalização da
democracia, fomentando a construção de uma identidade coletiva e, consequentemente, interferindo
na maior compreensão e resolução dos dilemas atuais.
O território caririense é um dos seis (6) territórios pertencentes ao Ceará, que tem como
objetivo trazer para cidades programas básicos de cidadania para um melhor desenvolvimento

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

econômico Dessa forma, pretende-se fazer uma análise através de dados secundários a respeito do
território como um todo e escolher um dos municípios onde encontra-se uma maior população rural
e fortes atividades agrícolas para fazer a análise do capital social através de dados primários.
Nesse sentido, o objetivo deste artigo concentra-se em saber qual o nível dos conjuntos de
recursos capazes de promover a melhor utilização dos ativos econômicos dos agricultores
familiares, caracterizar as principais formas de organização presentes no território, para assim traçar
uma representação de como é o bem estar dos agricultores da localidade, para dar-lhes sugestões
para uma melhor vivencia.

REFERÊNCIAL TEÓRICO

Capital Social

Segundo alguns pesquisadores, Bourdieu usou o termo ―capital social‖, pela primeira vez,
no início da década de 1980, para se referir às vantagens e oportunidades de se pertencer a certas
comunidades e definiu esse termo como ―o agregado de recursos reais ou potenciais que estão
ligados à participação em uma rede durável de relações mais ou menos institucionalizadas de mútua
familiaridade e reconhecimento que provê para cada um de seus membros o suporte do capital de
propriedade coletiva‖.
Conforme Coleman (1990:330), a noção de capital social se dá pelo agrupamento de
cidadãos imparciais, cada um visando e agindo de forma a atingir seus objetivos a que chegam
independentemente uns dos outros, o funcionamento do sistema social consistindo na combinação
destas ações dos indivíduos independentes. Franco (2001), afirma que ―basicamente, o capital social
liga-se ao estabelecimento de relações e seus padrões, de forma que quanto mais relações
horizontais se formarem entre pessoas e grupos de uma coletividade e quanto mais democráticos
forem os processos políticos praticados, mais forte será a comunidade e maior será o nível do seu
capital social.‖
Com base nisso, perceber-se também que desde os primórdios os homens notaram que
precisavam viver em grupos para caçar, cultivar e se defender. Na era industrial, os donos das
fabricas constataram que quanto mais os trabalhadores se detinham a apenas uma tarefa, aumentaria
a sua habilidade e velocidade, fazendo com que eles não perdessem tempo ao trocar de funções o
que aumentaria a produção e reduziria os custos, no que ocorreria que a produção de um,
influenciasse na continuação da produção do outro para um melhor custo do proprietário. Já na era
atual, a era do conhecimento, é possível buscar o desenvolvimento econômico e social através de
grupos estruturados e preparados, que se dá através das relações entre capital social e
desenvolvimento.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Com relação ao desenvolvimento, faz-se referência às normas, instituições e organizações


que promovem a confiança, a ajuda recíproca e a cooperação entre as pessoas nas comunidades
(RATTNER, 2003). Schneider (2010) ressalta que, na década de 80, as políticas de ajuste
macroeconômico executadas pelo Governo Federal tiveram um forte impacto nas exportações do
agronegócio brasileiro.
Segundo Nunes (2009), nesse período de ―modernização conservadora da agricultura
brasileira‖ a produção era praticada por grandes empresas agrícolas do setor de exportação, e teve (e
ainda tem) o apoio do Estado brasileiro através de políticas agrícolas, a exemplo do crédito
(subsidiado e incentivos fiscais), da pesquisa agropecuária (com financiamento público), da
assistência técnica e da formação de mercados.
Quanto às relações que se dão entre capital social e desenvolvimento, Durston (1998; 2000),
faz referência às normas, instituições e organizações que promovem a confiança, a ajuda recíproca e
a cooperação entre as pessoas nas comunidades e sociedade em seu conjunto. As normas culturais
de confiança e as redes interpessoais de reciprocidade são, pois, precursoras daquelas instituições
mais complexas e orientadas por normas de bem-estar comum.

METODOLOGIA

Natureza e fonte dos dados

Para obtenção das informações empregadas no estudo, foi utilizado dados primários e
secundários. Em relação aos dados primários, o período da coleta fará referência ao ano de 2016 e
efetuou-se através da aplicação de questionário semi–estruturado junto a 27 famílias de agricultores
familiares de comunidades rurais do município de Mauriti-CE.
Os dados secundários foram obtidos através do Plano Territorial de Desenvolvimento Rural
e Sustentável Cariri (PTDRS), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Ministério do
Desenvolvimento Agrário (MDA) e por meio de consulta bibliográfica a respeito do tema proposto,
ou seja, no exame de diversos livros, artigos e periódicos que informam os aspectos do tema na
atualidade.

População e amostra

A pesquisa foi realizada por processo de amostragem não-probabilística por conveniência,


levando em conta a população de agricultores na Microrregião. Nos métodos de amostragem não-
probabilística, as amostras são obtidas de forma não-aleatórias, ou seja, a probabilidade de cada
elemento da população fazer parte da amostra não é igual e, portanto, as amostras selecionadas não
são igualmente prováveis (FÁVERO, 2009).

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O método por conveniência pode ser aplicado quando a participação é voluntária ou os


elementos da amostra são escolhidos por uma questão de conveniência ou simplicidade.
3.4 Seleção de indicadores e tratamento dos dados
Dada a complexidade dos estudos a respeito de capital social e os vários tipos de indicadores
existentes, optou-se por abordar esta questão a partir de quatro dimensões propostas por Grootaert
et al. (2003) e uma quinta dimensão elaborada no presente trabalho como uma forma de
complementar e enriquecer a análise.
Através dessas dimensões pôde-se criar um conjunto de questões essenciais para medir os
níveis de capital social. O Quadro 1 apresenta a definição das variáveis utilizadas para a construção
do índice de capital social (ICS). Os dados utilizados são de natureza primária.

Quadro 1- Dimensões e Indicadores do ICS


DIMENSÕES INDICADORES/VARIÁVEIS
Participação em alguma forma de organização
Forma de organização na qual participa
Grupos e redes
Tipo de organização na qual participa (local ou regional)
Frequência na qual participa da forma de organização
Nível de confiança em relação aos dirigentes da forma de
organização na qual participa
Confiança e solidariedade Nível de confiança em relação aos governantes locais
Nível de relacionamento com os vizinhos da comunidade
onde reside
Participação em alguma atividade voluntaria de cunho
local ou regional
Existência de interação na comunidade a fim de solicitar
Ação coletiva e cooperação
ações de desenvolvimento local
Participação nas decisões a serem tomadas para o
desenvolvimento da comunidade
Existência de problemas na comunidade quanto às
diferenças raciais, sociais, culturais, políticas e religiosas
Envolvimento da família em algum problema de cunho
Coesão e inclusão social racial, social cultural, político, religioso existentes na
comunidade
Existência de problemas em relação à violência na
comunidade
Existência de políticas ou programas envolvidos na
geração de desenvolvimento local na comunidade
Políticas públicas e assistência técnica Participação em algumas dessas políticas ou programas
Existência de assistência técnica para a agricultura
Frequência de assistência técnica
Fonte: Sousa, 2015

Métodos de análise
No presente trabalho serão empregados alguns pressupostos propostos na Análise
Diagnóstico de Sistemas Agrários (ADSA) desenvolvida pelo projeto INCRA/FAO (1999) dentro
de uma lógica que parte do meio geral para o particular, buscando além da descrição de fenômenos
observados, explicações mais detalhadas sobre o objeto em estudo, na necessidade de entender as
relações entre os meios social, econômico e ambiental:

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i) Análise progressiva, que parte do geral para o específico, começando pelos fenômenos de nível
geral, terminando nos níveis específicos e/ou nos fenômenos particulares;
ii) A busca por explicações e não somente a descrição dos fenômenos observados;
iii) Estratificação da realidade, mediante o estabelecimento de conjuntos homogêneos e
contrastados definidos de acordo com o desenvolvimento rural de um determinado espaço
geográfico.
O cálculo do índice de capital social (ICS) se deu por meio da técnica de análise
multivariada conhecida como análise fatorial com base nas dimensões e variáveis apresentadas no
quadro. Adicionalmente, para a identificação e classificação das comunidades por nível de capital
social, foi utilizada outra técnica de análise multivariada, a análise de agrupamento ou cluster.

Análise descritiva

A técnica da análise descritiva foi empregada com o objetivo de caracterizar o capital social
de acordo com as políticas ou programas, projetos, formas de organizações e instituições de acesso
aos agricultores das comunidades em estudo. Foram utilizadas tabelas de distribuição de
frequências (absoluta e relativa) e as medidas de tendência central. A pesquisa descritiva tem como
objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou o estabelecimento
de relação entre elas.

Análise fatorial

Como recurso analítico que construa um índice sintético de capital social para o conjunto de
comunidades do município, foi utilizada a técnica de análise multivariada conhecida como análise
fatorial, a qual fornece elementos para analisar a estrutura de inter-relações entre um grande número
de variáveis, procurando descrevê-las através de um número menor de índices ou fatores (HAIR et
al., 2009). Na nova composição, as variáveis mais correlacionadas combinam-se dentro de um
mesmo fator (que explica uma parcela das variações das variáveis originais). Como na estimação
dos fatores é imposta a condição de ortogonalidade, os fatores resultantes são independentes.
O objetivo da análise fatorial consiste em determinar um número menor de fatores que
representem a estrutura das variáveis originais, assim nesta etapa, é determinado o número de
fatores comuns necessários para descrever adequadamente os dados.
Essa análise se baseia na suposta existência de um número de fatores causais gerais, cuja
presença dá origem as relações entre as variáveis observadas, de forma que, no total, o número de
fatores seja consideravelmente inferior ao número de variáveis. Isso porque muitas relações entre as
variáveis são, em grande medida, devido ao mesmo fator causal geral. Sousa (2015).

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

De acordo com a análise fatorial, cada fator é constituído por uma combinação linear das
variáveis originais inseridas no estudo. A associação entre fatores e variáveis se dá por meio das
cargas fatoriais, os quais podem ser positivos ou negativos, mas nunca superiores a um. Esses
coeficientes de saturação têm função similar aos coeficientes de regressão na análise de regressão
(SIMPLICIO, 1985).
Para aplicação dessa análise, foram selecionadas variáveis já apresentadas a respeito do
capital social, através da resposta de 27 famílias entrevistadas. Neste sentido, na análise fatorial a
seleção das variáveis adequadas ao fenômeno que se deseja estudar é de extrema importância, pois
uma vez a variável incluída na pesquisa tem implicações definitivas nos resultados.
Conforme Fávero et al. (2009) para verificar a adequabilidade dos dados para a análise
fatorial, foram utilizados o índice Kaiser – Mayer – Olkin (KMO), o teste de esfericidade de Bartlett
(BTS) e a Matriz Anti – imagem. O índice Kaiser – Mayer – Olkin (KMO), varia de 0 a 1 e serve
para comparar as magnitudes dos coeficientes de correlações observados com as magnitudes dos
coeficientes de correlações parciais. Portanto, o KMO trata-se de uma medida de homogeneidade
das variáveis, que compara as correlações parciais observadas entre as variáveis.
A Análise dos Componentes Principais (ACP) leva em conta a variância total dos dados e,
na análise fatorial comum os fatores são estimados levando-se em conta apenas a variância comum.
O ACP se aplica quando o objetivo da análise for reduzir o número de variáveis para a obtenção de
um número menor de fatores necessários a explicar o máximo possível a variância representada
pelas variáveis originais.
O procedimento utilizado neste trabalho levou em consideração a extração dos fatores
iniciais através da Análise dos Componentes Principais que mostrou uma combinação linear das
variáveis observadas, de maneira a maximizar a variância total explicada. A escolha do número de
fatores se deu através do critério da raiz latente (critério de Kaiser) em que se escolheu o número de
fatores a reter, em função dos valores próprios acima de 1 (eigenvalues) que mostram a variância
explicada por cada, ou quanto cada fator conseguirá explicar da variância total (MINGOTI, 2005).

Construção do índice de capital social (ICS)

O ICS das comunidades foi calculado a partir dos escores estimados associados aos fatores
obtidos na estrutura fatorial definida. Será utilizado, adicionalmente, a raiz latente, ou o autovalor,
que corresponde à soma (em coluna) das cargas fatoriais ao quadrado para o respectivo fator (HAIR
et al., 2009, p. 101). A padronização dos escores fatoriais torna-se necessária de forma a enquadrá-
los no intervalo de zero a um, a partir da expressão:

(1)

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De modo que:
F*gj = escore fatorial do g-ésimo fator padronizado da j-ésima família; (g={1,..,6} e j = {1,...,27})
Fgj = escore fatorial do g-ésimo fator para da j-ésima família;
FgF = menor escore fatorial do g-ésimo fator entre as famílias;
FgFA = maior escore fatorial do g-ésimo fator entre as famílias das comunidades.
Para a construção do ICS relativo a j-ésima família, definiu-se a equação:

(2)

Em que γg corresponde ao autovalor do g-ésimo fator. Observa-se que a expressão


indica a participação relativa do fator g na explicação da variância total capturada pelos n fatores.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
O Território Cariri no Estado do Ceará
O Território do Cariri é um dos seis Territórios da Cidadania pertencente ao estado do
Ceará, de acordo com o Plano de Desenvolvimento Rural Sustentável (PTDRS, 2011) está
localizado na região sul do estado do Ceará tendo como limites ao sul, o estado de Pernambuco; a
oeste, o estado do Piauí; a leste, o estado da Paraíba e ao norte, os municípios de Aiuaba, Saboeiro,
Jucás, Cariús, Cedro, Lavras da Mangabeira e Ipaumirim.
O Território contém 29 municípios e sua população é de 930.928 habitantes. Dos 346.428
habitantes rurais, há 51,118 agricultores familiares, 635 famílias assentadas (essas áreas de
assentamentos foram coordenadas pelo INCRA- Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agraria; e pelo IDACE-Instituto de Desenvolvimento Agrário do Ceará. Financiadas pelos recursos
do MDA) e 3 comunidades quilombolas.
As características a respeito do solo do território é que o mesmo possui um relevante
potencial natural de recursos hídricos, minerais, de clima e solo que auxilia tanto a agricultura
diversificada como implantação de agroindústrias.
Relatando o potencial agropecuário do Cariri conforme o (PTDRS 2011), em relação as
diversidades dos micros territórios, as principais atividades desenvolvidas são: Micro território
Cariri Central: na agropecuária enfatiza uma elevada exploração da bovinocultura de leite; Micro
território Cariri Oeste: prevalece os serviços, agropecuária e indústria; Micro território Cariri Leste:
destaca-se na exploração da ovinocaprinocultura e mandiocultura.
O Pólo Cariri abrange uma área de 6.342,3 km² correspondente aos municípios de Abaiara,
Barbalha, Brejo Santo, Crato, Jardim, Juazeiro do Norte, Mauriti, Milagres, Missão Velha, Porteiras
e Santana do Cariri, apresentando áreas de irrigação com produção de frutícolas (banana, mamão,
manga, uva, pinha, acerola, graviola e coco, dentre outras) grãos.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Projetos, programas, instituições e organizações são muito importante tanto para o bem-estar
da população quanto para o desenvolvimento dos municípios. Referente as instituições/formas de
organizações agrícolas temos os principais no Território do Cariri no quadro abaixo, de forma em
que haja essas formas de organizações em pelo menos um município do Território, listamos.

Quadro 2 – Principais conjuntos de instituições/formas de organização que envolvem agricultores presentes


no Território do Cariri
INSTITUIÇÕES/FORMAS DE
TEMAS
ORGANIZAÇÕES
Organização Não Governamental Flor do
Fornecimento de Crédito para Agricultores
Pequi.
MDA/INCRA Assentamentos rurais
EMATERCE Assistência Técnica (ATER) para agricultores familiares
Banco do Brasil (BB) Fornecimento de crédito para agricultores familiares através de
programas
Fornecimento de crédito para agricultores familiares através de
Banco do Nordeste do Brasil (BNB)
programas
SEBRAE Apoio a produção
INSS Benefícios previdenciários (aposentadoria, auxílio-doença, pensão por
morte, salário-maternidade, salário-família, entre outros)
Programa nacional de inclusão dos jovens (Pro - jovem urbano e Pro -
SINE/IDT
jovem campo)
Fundação Nacional de Saúde Ações complementares de saneamento
Programa da biodiversidade (PROBIO)
SEMACE/Instituto Chico Mendes
Instituto AGROPOLOS Programa de Desenvolvimento Sustentável e Integrado
Operação e manutenção da infraestrutura hídrica
COGERH/Comitês de Bacias
Conselho CONDIRC Discute e propõe o desenvolvimento regional do Cariri
Fórum Regional do Araripe Ações de apoio ao Geopark Araripe
FETRAECE Defesa de políticas públicas pra o fortalecimento da agricultura
familiar
Fórum pela Vida no Semiárido (FVSA) Convivência com o Semi Árido
Fórum dos Assentados Reforma Agrária
Fórum de Mulheres Defesa de políticas públicas para mulheres
PDRS Desenvolvimento Rural
Fonte: PDTRS, 2015.

A maioria dessas instituições apresentadas no Quadro 3 foram desenvolvidas a fim de


promover o desenvolvimento da agricultura, centrando cada vez mais no âmbito local com o
objetivo de melhorar as condições de vida e trabalho dos agricultores familiares.
São várias as entidades que prestam serviços ou desenvolvem ações importantes na busca do
desenvolvimento do território. Destacam-se aquelas com maior potencial de integração de ações
cuja abrangência é territorial e contribuem diretamente para o meio rural como Trabalhadoras na
Agricultura do Estado do Ceará (FETRAECE) e FLOR DO PEQUI para crédito fundiário.
Conforme o PTDRS (2010), o Banco do Nordeste do Brasil (BNB), o Banco do Brasil (BB)
e o SEBRAE, priorizam o suporte às atividades de ovinocaprinocultura e apicultura no Território na
questão de concessões de crédito para agricultura familiar e apoio a produção, que é um dos pontos
mais favoráveis no micro território do cariri leste. A Companhia Nacional de Abastecimento
(CONAB) e Bases de Serviços servem como apoio ao acesso aos mercados e a Empresa de
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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (EMATERCE) na assistência técnica às


comunidades rurais e áreas de assentamento de reforma agrária.

Perfis das famílias

Em sua maioria obteve-se com a pesquisa de campo que aproximadamente 57% das famílias
entrevistadas participam de algum tipo de organização, porém com muita abrangência teve-se que
83% dessas pessoas que responderam que participam apenas das formas de organizações local,
mostrando que há pouca interação regional. Outro ponto negativo a ser destacado é que apenas 47%
das famílias costumam participar ativamente das reuniões da associação e sindicato em busca de
melhorias.
Obteve-se com relação à pergunta ―Qual o nível de confiança em relação aos dirigentes da
forma de organização na qual participa?‖ que 43% das famílias possuem essa segurança, já com
relação a pergunta ―Possui assistência técnica para a agricultura?‖ apenas 34% responderam que
sim, portanto observamos uma outra falha nesse quesito.
De acordo com as variáveis estudadas para medir o nível de capital social, é perceptível que
o município ainda tem muito que melhorar nesse âmbito, pois apesar dos bons níveis de
relacionamento com os vizinhos, relação à confiança com os dirigentes da forma de organização, há
problemas com relação a segurança na comunidade e quanto as diferenças presenciada, por conta
disso, é necessário evoluir principalmente na criação de formas de organizações, acesso as políticas
públicas focadas no desenvolvimento e assistência técnica agrícola.
No que concerne as das políticas ou programas existentes no município salientado no
fortalecimento do desenvolvimento local, 47% das famílias dos agricultores entrevistados
afirmaram existir algum tipo de política ou programa na comunidade onde convivem e os mesmos
participam de um ou vários deles. É necessário ressaltar que essas famílias só têm conhecimento das
políticas ou programas na qual fazem parte, por isso 53% responderam não existir, pois os mesmos
não participam de nada e não tem conhecimento ou não se interessam pelas políticas ou programas
em ação.

Índice de capital social (ICS) no município de Mauriti, Ceará

Com a aplicação da análise fatorial, obteve-se uma matriz de correlação com predominância
de coeficientes superiores a 0,30, indicando boa correlação entre as variáveis selecionadas no
estudo, o que significa a possibilidade de aplicação da análise fatorial. Ainda como critério para
aferir as inter correlações na matriz de dados, a análise das Medidas de Adequação da Amostra
revela coeficientes superiores a 0,5.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Os testes de adequabilidade da amostra revelam que os fatores encontrados se constituem


em boas medidas de variabilidade dos dados originais. Com o KMO atingindo 0,531 pode-se
afirmar que existe uma correlação média entre as variáveis e com o teste de esfericidade de Bartlett
com nível de significância (p-value = 0,000) pode-se rejeitar a hipótese nula, ao nível de 1%, de que
a matriz de correlação é uma identidade, evidenciando, portanto, que há correlações entre as
variáveis, tornando possível a aplicação da análise fatorial.
Para a definição do número de fatores a reter, utilizou-se o critério de Kaiser ou raiz latente,
que considera apenas os fatores com eigenvalue (autovalor) superiores a um, o que significa dizer
que ―no mínimo, um componente deve explicar a variância de uma variável utilizada no modelo
(FÁVERO et al., 2009, p. 243)‖.

Quadro 4 - Nível de capital social.


Nivel de capital social.
ICS Número de produtores Frequência relativa
Grupos
Muito Baixo 0-0,20 2 7,40%
Baixo 0,21-0,35 8 29,63%
Médio 0,31-0,54 11 40,74%
Alto 0,62-0,78 6 22,22%
Muito Alto 0,79-1,00 0 -
Informações válidas - 27 99,99%
Fonte: resultado da pesquisa, 2016.

Observa-se uma forte assimetria nos níveis de capital social das comunidades rurais desse
município obtendo três intervalos apresentados, sendo 0,20 o nível mais alto de capital social obtido
e 1,0 o mais baixo. Como observou-se, aproximadamente 40,74% das famílias rurais tem um nível
médio de capital social, variando entre 0,37 e 0,54. A média dos índices por comunidade é 0,37
confirmando essa afirmação.

CONCLUSÃO

Esse trabalho buscou estudar o nível de capital social e agricultura familiar pertencentes ao
Território do Cariri. Para ter em vista os aspectos mencionados ao longo do trabalho, utilizamos a
princípio, bases documentais levando em conta as formas de organização desse território, buscando
as principais instituições, políticas e programas para entendermos melhor as formas de
desenvolvimento contidas no espaço estudado.
Complementarmente, recorremos a uma pesquisa com agricultores da cidade de Mauriti-CE
para calcularmos como está o conjunto de ferramentas capazes de manter o melhor bem-estar da
população. Para realizar isso, utilizamos a técnica de análise multivariada conhecida como análise
fatorial, logo, construiu-se o índice de capital social para as comunidades rurais do município, que
se acredita ser capaz de dar uma ideia a respeito do nível de capital social de acordo com as

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

categorias grupos e redes, confiança e solidariedade, ação coletiva e cooperação, coesão e inclusão
social, e políticas públicas e assistência técnica.
O índice de capital social se mostrou como médio, alegando uma deficiência nos módulos
do capital social do território estudado, que pôde ser explicado por meio de análises de frequência
de algumas questões presentes no banco de dados através das respostas obtidas na pesquisa de
campo. Essas questões revelaram que há uma deficiência principalmente no âmbito das formas de
organizações e na presença de instituições e políticas voltadas para o desenvolvimento das
comunidades, ou seja, a maioria das políticas acessadas são de cunho assistencial e não abrangem
todas as famílias.
Como sugestão para esse problema, vê-se a necessidade da busca projetos e instituições que
incentivem e apoiem a criação de novas organizações nessas comunidades como grupos e
cooperativas ou a ampliação dos grupos já existentes, pois estes são de grande importância para a
diversificação produtiva e geração de emprego em áreas rurais que sofrem com tais problemas.

REFERÊNCIAS
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Níveis de Capital Social e os Índices de Desenvolvimento Sustentável: Uma Análise
Comparativa entre Municípios. Disponível em: < http://www.anpad.org.br/admin/pdf/APS-
C370.pdf> Acesso em: 02 ago. 2016.

BECKER, Berta K. O Uso Político do Território: questões a partir de uma visão do terceiro
mundo. In: BECKER, Berta K.; COSTA, Rogério K.; SILVEIRA, Carmem B.; (orgs)
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BRASIL. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO. Secretaria da Agricultura


Familiar. Sistema de Avaliação e Monitoramento do PRONAF.

BRASIL. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO. Secretaria do Desenvolvimento


Territorial. Marco Referencial para Apoio ao Desenvolvimento de Territórios Rurais. Brasília:
SDT/MDA, 2008, 2009, 2011 e 2013.

INÁCIO, Raoni; RODRIGUES, Maurinice; XAVIER, Thiago; WITMANN, Milton; MINUSSI,


Tiéli. Desenvolvimento regional sustentável: abordagens para um novo paradigma.
Desenvolvimento em questão, 24: 6-40, set/dez 2013.

INCRA/FAO. Novo Retrato da Agricultura Familiar. O Brasil redescoberto. Brasília: Projeto de


Cooperação Técnica INCRA/FAO, 2000 (FAO/BRA 036).

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NUNES, Emanoel Márcio. Reestruturação agrícola, instituições e desenvolvimento rural no


Nordeste: as dinâmicas regionais e diversificação da agricultura familiar no Pólo Açu –
Mossoró (RN). 2009. Tese. Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Rural –
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2009.

SOUSA, Gerlânia Maria Rocha. Capital Social e Agricultura Familiar do Ceará. Dissertação
mestrado da Universidade Federal do Ceará, 2015.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 124


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

ANÁLISE DO MANEJO DA CARNE, PADRÃO DO CONSUMIDOR E DOS


FEIRANTES DE BREJÃO - PE

Ivanildo Claudino da SILVA


Mestrando em Agronomia, UFAL
icsagro@hotmail.com
Luan Danilo Ferreira de Andrade MELO
Doutorando em Produção Vegetal, UFAL
luan.danilo@yahoo.com.br
João Luciano de Andrade MELO JUNIOR
Doutorando em Produção Vegetal, UFAL
luciiano.andrade@yahoo.com.br
Larice Bruna Ferreira SOARES
Mestra em Medicina Veterinária, UFRPE
brunaa_soares@hotmail.com

RESUMO
São muitas os erros presentes no comércio de carne nas feiras livres do município de Brejão-PE,
com base nisso foi realizado um estudo que teve como objetivo avaliar a forma de uso das boas
práticas de manipulação por parte dos comerciantes e consumidores de carnes, conhecer as
condições higiênico-sanitárias das barracas e dos manipuladores e delinear a compreensão dos
consumidores diante das condições de comercialização. O estudo foi realizado no período de abril a
julho de 2016 e teve como base uma pesquisa exploratória e fundamentada em uma análise
qualitativa e interpretativa, baseada na realidade que foi observada, permitindo a detectação de
riscos eminentes à saúde pública acarretada possivelmente pela falta de estrutura básica e sanitária
apresentada no ambiente. Quanto ao comportamento dos feirantes, ressalta-se a falta de
profissionalismo, pois as condições encontradas para realizar a manipulação da carne são precárias,
não reconhecendo exigências que deveriam ser adotadas de acordo com as normas da Vigilância
Sanitária.
Palavras Chave: Higiene, Mercado Local, Saúde Pública
ABSTRACT
Large mismatches are present in the meat trade fairs in the city of Brejão-PE, from this premise a
study that aimed to evaluate how to use the best practices of manipulation by traders and consumers
was conducted meats, knowing the sanitary conditions of the tents and handlers and outline the
understanding of consumers on the marketing conditions. The study was conducted in the period
April to July 2016 and was based on an exploratory and based on a qualitative and interpretative
analysis, based on the reality that was observed, allowing the detection list eminent public health
risks possibly brought about by the lack of structure basic health and the environment presented.
Regarding the behavior of market traders, it highlights the lack of professionalism because the
conditions found to perform manipulation of the flesh are poor, not recognizing requirements that
should be adopted in accordance with the standards of the Health Surveillance.
Key Words: Hygiene, Local Market, Public Health

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

INTRODUÇÃO

Apesar de resistir a um período de mudanças tecnológicas e comerciais a feira livre é motivo


de preocupação e cautela por apresentar deficiência higiênico-sanitária, inadequação das estruturas
(barracas), comercialização de produtos não permitidos e sobretudo pela falta de segurança e de
organização (SANTOS, 2005).
As feiras livres constituem um tipo de mercado varejista ao ar livre, de periodicidade
semanal, com enfoque na comercialização de produtos de gênero alimentício, que se mantém a
serviço de utilidade pública (MASCARENHAS & DOLZANI, 2008). A viabilidade das feiras
livres como importante forma de comércio se dá por sua imensa variedade de produtos e preços
(OLIVEIRA et al., 2008), sendo considerada uma atividade de subsistência de inúmeras famílias,
principalmente ao tratar-se de cidades interioranas, além disso, contribui para o desenvolvimento
local, por ser a principal fonte de alimento para a população (ALMEIDA et al., 2011).
A problemática relativa a inadequação da manipulação e comercialização da carne
representa grande risco a saúde do consumidor, como agravante contrariam a legislação sanitária,
de forma que compromete a qualidade dos produtos (SANTOS, 2005). Esses fatores levam ao
aumento da ocorrência dos casos de doenças transmitidas por Alimentos (DTAs), como por
exemplo, as toxinfecções alimentares (BAÚ et al., 2009) causadas principalmente pelos seguintes
microrganismos: Clostridium botulinum, Staphylococcus aureus, Salmonella sp., Shigella sp.,
Escherichia coli e Listeria monocytogenes (FRANCO & LANDGRAF, 2005). E, segundo Pereira
(2009) mesmo sendo proveniente de animais sadios, a qualidade da carne está relacionada não
somente a microbiota natural e de contaminantes patogênicos e deterioradores, como também da
higiene no processo produtivo e de sua forma de acondicionamento.
Sendo assim, é importante considerar que nas feiras livres, os alimentos de origem animal e
produtos derivados, ficam expostos sob condições insalubres, estando sujeito à contaminação,
através das ações de microrganismos patogênicos ou não, provenientes do ambiente, como também
de insetos, caso o alimento não esteja acondicionado ou embalado de maneira adequada
(GERMANO & GERMANO, 2001).
Para analisar a deterioração da carne deve-se observar o conjunto de sinais evidentes do
crescimento microbiano, manifestado a partir de odores acentuados, descoloração e limosidade
superficial (DAINTY & MACKEY, 1992), desta forma, os estabelecimentos industrializadores e
comercializadores de carnes devem apresentar características adequadas, a fim de impedir
condições favoráveis para a proliferação de microrganismos ou outros efeitos que possam causar
danos ao produto (ALMEIDA et al., 2011).
Deste modo justifica-se a realização deste trabalho, com objetivo de avaliar nas feiras livres
do município de Brejão-PE, a forma de utilização das boas práticas de manipulação por parte dos
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comerciantes e consumidores de carnes, conhecer as condições higiênico-sanitárias das barracas e


dos manipuladores e delinear a compreensão dos consumidores diante das condições da
comercialização da carne nas feiras livres.

MATERIAIS E MÉTODOS

O trabalho foi realizado no período de abril a julho de 2016 nas feiras livres da cidade de
Brejão, município localizado no Agreste meridional do estado de Pernambuco. Apresenta uma
população de 8.884 habitantes em uma área de 160 km², de acordo com dados estimados do IBGE,
2016.
O estudo teve como base uma pesquisa exploratória e fundamentada em uma análise
qualitativa e interpretativa, baseada na realidade que foi observada. Para o desenvolvimento da
pesquisa, foram coletados dados através da aplicação de questionário (150) aos consumidores
(Quadro 1) e roteiro observacional (check-list – Quadro 2), elaborados com base nas RDC 275
(BRASIL, 2002) e RDC 216 (BRASIL, 2004), abordando os seguintes aspectos: condições das
barracas, equipamentos e utensílios, ressaltando-se o modo de conservação e limpeza; higiene
pessoal, observando o vestuário e hábitos higiênicos dos comerciantes e funcionários; e a aparência
e forma de exposição da matéria-prima.

Quadro 1. Os dados foram coletados através da aplicação de questionário (150) aos consumidores
Perguntas
1- Por que optar por feira e não supermercado?
2- Com qual frequência se realiza a compra da carne na feira?
3- Em sua opinião o produto tem boa procedência?
4- Você acha que a carne possui boa higiene em seu manejo?
5- Qual tipo de carne que você mais consome?
6- Qual tipo de corte?
7- O que influencia sua preferência pela permanência na escolha da barraca?
8- Você concorda que a carne vendida na feira pode trazer algum tipo de dano à saúde?

Quadro 2. Checklist de observação para inspeção das barracas de feiras livres de Brejão-PE
Roteiro de observação para inspeção das barracas de feiras livres
Presença de Animais S [ ] N [ ] quais?
Exposição dos alimentos (sem proteção, na poeira) S [ ] N [ ]
Como é comercializada (exposta) a carne? Contato direto com o balcão [ ] Pendurada em
ganchos[ ] condições dos ganchos
O vendedor está limpo? S [ ] N [ ] OBS.:

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Usa toucas S [ ] N [ ]
Utiliza-se panos de prato na secagem das mãos S [ ] N [ ]
Os utensílios utilizados (facas, bacias) parecem ser limpos?
Há presença de lixo S [ ] N [ ]

Os resultados obtidos foram somados e posteriormente tabulados, e ainda, utilizou-se


registros fotográficos das práticas analisadas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As feiras livres visitadas no município de Brejão mostraram altos indícios de


irregularidades, como a desorganização na exposição das carnes e a consequente proliferação de
alguns microrganismos que comprometem a saúde humana. Além disso, é evidente a negligência
em relação às questões higiênico-sanitárias, Coutinho et al. (2006) estudando as condições das
feiras do brejo paraibano relataram condições semelhantes ao observado nas feiras de Brejão, como
a falta de higiene e a precariedade dos estabelecimentos que comercializavam carnes.
A forma pela qual o produto é fornecido chama atenção por demonstrar má organização,
pois em uma só bandeja estão disponíveis diversos tipos de carnes. Notou-se no ambiente a
presença de certos tipos de vetores transmissores de enfermidades, por exemplo: insetos, como
moscas domésticas pousadas na carne podendo ser transmissoras de poliomielite, varíola, entre
outras doenças; aracnídeos, como aranhas podendo conter veneno causador de alergia em humanos;
e também foi percebido mamíferos, como cachorros de rua parasitados por carrapatos circulando
pela feira e possivelmente levando a contaminação dos alimentos.
Observaram-se características bastante peculiares em relação à questão da higiene do local,
em períodos chuvosos são colocadas lonas sobre as carnes, com o objetivo de não molhá-la, essa
prática pode ser prejudicial, pois o material utilizado não estava em condições adequadas.
A madeira utilizada na construção das barracas foi encontrada em estado precário, mesmo
em boas condições não é apropriada para tal finalidade, pois com o tempo e a exposição a
ambientes secos e úmidos, torna-se grande foco para o desenvolvimento de microorganismos como
fungos que podem contaminar a carne. Conforme BRASIL (1997) os locais de manuseio dos
alimentos devem ser produzidos de material que não repassem substâncias tóxicas, odores e sabores
que sejam não absorventes e resistentes à corrosão e capazes de resistir a repetidas operações de
limpeza e desinfecção, entre outras características.
Na construção das barracas a adesão de suas estacas de madeira é feita através de pregos,
grande parte enferrujados. Tal característica é foco para a proliferação de microorganismos, a
exemplo do Clostridium tetani, vírus causador do tétano, que de acordo com Maeda et al. (2009) é

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uma doença relacionada a riscos ambientais e comportamentais, como tal, não se apresenta de
forma epidêmica na comunidade, embora ainda seja uma causa importante de mortalidade na
maioria dos países em desenvolvimento.
A vestimenta dos feirantes é inapropriada, uma vez que não há utilização de roupas brancas,
como recomendado para pessoas que trabalham com o manejo de carne. Além disso, percebem-se
irregularidades pela ausência de luvas, tocas e avental (BRASIL, 2004). Os feirantes não usam
luvas para o manuseio da carne, ou seja, sem qualquer tipo de higiene. Seguindo com esse mesmo
comportamento estão os clientes que fazem a escolha da carne tocando-a. Resultados semelhantes
foram descritos por Almeida et al. (2011) ao avaliar a comercialização das carnes nas feiras livres
do município de Paranatama-PE.
Instrumentos como facas, serras, ganhos, entre outros, também não apresentavam
características positivas em relação ao saneamento. Um aspecto que chamou atenção foi o modo
como a serra utilizada para o corte de ossos estava armazenada em uma lixeira. No balcão das
barracas foram encontradas algumas ilegalidades, como a utilização de papelão, lona e plástico,
onde a carne era diretamente depositada.
Foi observado um pano junto ao produto, este aparentemente era utilizado para o feirante
enxugar as mãos, podendo ser foco de microorganismos, causando risco à saúde pública. Próximo
às barracas havia um caminhão de lixo, que mantinha contato indireto com a carne fornecida na
feira, sendo uma fonte de proliferação de moscas e outros insetos que posteriormente poderão entrar
em contato com o produto.
Têm-se como maioria dos consumidores, mulheres com faixa etária entre 25 e 50 anos, com
baixo nível de escolaridade e renda familiar de 1 a 2 salários mínimos, a grande maioria (60%) opta
por comprar a carne em feiras devido a motivos como: passear, encontrar os amigos e fazer
negócios. Estas informações apoiam Dolzani & Jesus (2014) quando afirmam que a feira não se
configura apenas como uma arena de compra e venda, mas também de encontros e lazer, troca de
informações, articulações políticas ou de diversão. Já outra parte, composta por 30% dos
entrevistados teve sua escolha relacionada ao preço da carne. A minoria (10%) teve sua preferência
direcionada a localização da feira, afirmando que os supermercados se encontravam distante de sua
residência (Figura 1A). 85% dos clientes compram a carne nas feiras livres uma vez por semana, ou
seja, a grande maioria, 10% frequenta a feira quinzenalmente e 5% realiza a compra do produto
mensalmente (Figura 1B).

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Figura 1. Quantitativo da preferência da compra (A) e variável no período de compra (B) da carne nas feiras
livres do município de Brejão-PE

Os frequentadores das feiras livres consumidores de carne, em sua maioria se consideram


conscientes quanto à má procedência do produto (Figura 2A), conferindo o percentual de 75% do
total de entrevistados. Já 25% supõe que a carne tem boa procedência. Quando se retrata a opinião
das pessoas em relação à confiabilidade da higiene no manejo da carne verifica-se pouca diferença,
pois 60% acreditam na má higiene no manuseio do produto, enquanto 40% afirmam que o produto
possui uma boa condição de higiene (Figura 2B). Com relação aos feirantes de Paranatama-PE,
Almeida et al. (2011) dizem que a maioria dos comerciantes sabem que manipulando a carne podem
transmitir algum microrganismo, no entanto não adotam as mínimas condições de higiene para
prevenir, semelhante ao que ocorre em Brejão-PE. Tal fato demonstra a falta de preparo dos
comerciantes para atuarem nesta atividade e de orientação dos consumidores.

Figura 2. Quantitativo total da opinião dos consumidores quanto à procedência (A) e higiene da carne (B)
vendida nas feiras livres do município de Brejão-PE

Ao se analisar a Figura 3A, pode-se perceber que existe uma grande procura por carne
bovina (50%). Em sequência, abrangendo 30% dos entrevistados está o grupo de compradores que
preferem carne de frango e por último, com 20% do total estão os que consomem carne suína.
Análogo ao que ocorre no município de Paranatama-PE, onde a carne mais adquirida é a bovina,
preferida pela maioria dos entrevistados, seguida da carne de aves e suína (ALMEIDA et al. 2011).
A Figura 3B confirma a forte procura por costela, por ter um preço mais acessível ao
consumidor, apresentando 40% do total. Quanto à demanda de bife e alcatara a porcentagem foi de
25% e 20% respectivamente. Estes produtos por demonstrarem pequena variação no percentual de

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preço quando comparados se enquadram como substituintes. Já a bisteca e a picanha são pouco
procuradas devido a seu preço elevado, evidenciando 8% e 7% do percentual nesta ordem.

Figura 3. Opinião dos consumidores de carne em relação à higiene no manejo do produto (A) e ao tipo de carne
preferida (B) pelos consumidores de feiras livres do município de Brejão-PE

Todos os comerciantes e consumidores criticaram locais onde algumas barracas são


localizadas, principalmente por faltar calçamento e pela lama no período chuvoso. Entretanto,
ressalta-se que as feiras são desprovidas de uma infraestrutura mínima para sua realização, sendo
necessárias muitas modificações, como a capacitação dos feirantes tendo como base a realidade
local para que sejam cumpridas as leis sanitárias vigentes.

CONCLUSÃO

A realização do estudo permitiu a detectação de riscos eminentes à saúde pública acarretada


possivelmente pela falta de estrutura básica e sanitária apresentada no ambiente.
Quanto ao comportamento dos feirantes, ressalta-se a falta de profissionalismo, pois as
condições encontradas para realizar a manipulação da carne são precárias, não reconhecendo
exigências que deveriam ser adotadas de acordo com as normas da Vigilância Sanitária.
As informações adquiridas são de fundamental importância para ressaltar a necessidade de
fiscalização e melhoramento das feiras livres, com intuito de diagnosticar problemas que deverão
ser rapidamente solucionados, pois o consumo da carne na cidade de Brejão é bastante elevado e
para que haja respeito ao consumidor é necessário que o produto oferecido tenha melhor qualidade,
atendendo os seus direitos.

REFERÊNCIAS

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padronizados aplicados aos estabelecimentos produtores/industrializadores de alimentos e a
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CULTIVO DE PALMA FORRAGEIRA CONSORCIADA COM DIFERENTES


POPULAÇÕES DE AMENDOIM ADUBADA COM RESÍDUO LÁCTEO

Abraão Cícero DA SILVA


Doutorando em ciência do solo UFRPE
abraaocicero@yahoo.com.br
Jeandson Silva VIANA
Prof. Dr. Agronomia UAG/UFRPE
jeandson.viana@ufrpe.br
Edilma Pereira GONÇALVES
Profa. Dra. Agronomia UAG/UFRPE
edilma.goncalves@ufrpe.br
Alessandro dos SANTOS
Graduando em Agronomia UAG/UFRPE
alessandrosnt@hotmail.com

RESUMO
Esse trabalho teve como objetivo avaliar a produtividade de diferentes populações de amendoim
consorciada com a palma forrageira. O experimento foi conduzido em condições de campo no
município de Garanhuns, em área pertencente à Universidade Federal Rural de Pernambuco
(UFRPE). A cultivar do amendoim utilizado foi a BR 1. O semeio do amendoim foi realizado no
mês de agosto. O delineamento experimental utilizado foi em blocos ao acaso com quatro
repetições e seis tratamentos. Os resultados foram submetidos à análise de variância e as médias
foram comparadas pelo teste de tukey ao nível de 5% de probabilidade. Os diferentes arranjos no
sistema de consórcio não prejudicaram o cultivo da palma forrageira na fase inicial, o que
possibilita o cultivo da palma consorciada com o amendoim em maiores populações contribuindo
para o aumento da fonte de renda do produtor rural.
Palavras-chave: Arranjos, Opuntia fícus-indica, Mill e produtividade.

ABSTRACT
This study aimed to evaluate the productivity of different populations intercropped with peanut
cactus pear. The experiment was conducted under field conditions in the municipality of
Garanhuns. In the area belonging to the Federal Rural University of Pernambuco ( UFRPE ). The
peanut cultivar used was a 1 BR. The sowing of groundnut was conducted in August. The
experimental design was a randomized block with four replications and six treatments. The results
were subjected to analysis of variance and means were compared by Tukey at 5 % probability test.
The different arrangements in intercropping did not harm the cultivation of cactus pear in the initial
faze, which enables the cultivation of palm intercropped with peanuts in larger populations
contributing to the increased source of income to the farmer.
Keywords: Arrangements, Opuntia ficus-indica Mill and productivity.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

INTRODUÇÃO

A palma forrageira (Opuntia fícus-indica, Mill) vulgarmente conhecida como redonda ou


orelha-de-onça e gigante, graúda ou azeda. Teve seu centro de origem no continente americano no
México (Flores, 1994).
É uma cultura que apresenta ciclo produtivo longo, em média é necessário dois anos para
atingir o ponto do primeiro corte, podendo ser realizados os demais cortes em intervalos de um ano
(Silva et al., 2006). Devido a esse ciclo produtivo longo é importante que o produtor aproveite a
mesma área onde é cultivada a palma para obter outra fonte de renda. E uma pratica que vem sendo
difundida ainda em pequena escala é o consórcio da palma forrageira com outras culturas tais como
o milho, sorgo, feijão, fava, jerimum e mandioca. Pois o consórcio consiste no cultivo simultâneo
de diferentes espécies na mesma área e no mesmo tempo. Por apresentar maior estabilidade de
produção este sistema de plantio é muito utilizado por pequenos produtores para reduzir os riscos
causados pelas freqüentes irregularidades climáticas das regiões semi-áridas (Trenbath, 1976).
Segundo Altieri (2002) umas das vantagens do sistema de consórcio é que os sistemas
radiculares podem ser capazes de explorarem camadas diferentes de solo, permitem a extração de
nutrientes que não estariam disponíveis para uma das espécies em monocultivo.
No caso da palma forrageira, que é uma cultura rústica tolerante as baixas precipitações,
cultivada principalmente em regiões semi-áridas, uma cultura para consocia-se com a palma pode
ser o amendoim (Arachis hypogaea L.), pois de acordo com Santos et al. (2009) o amendoim é uma
cultura rústica tolerante as baixas precipitações, desenvolvendo-se bem em solos que apresentam
textura variando do arenoso a argiloso.
Um dos fatores que influencia muito na viabilidade do consórcio são os arranjos entre as
culturas. Dorneles et al. (1997) relata que o adequado arranjo de plantas em sistemas de consórcios
visa maximizar a incidência da radiação solar, uma vez que a redução na disponibilidade de energia
luminosa tem sido apontada como uma das principais causas do baixo rendimento das culturas no
sistema consorciado.
Diante do exposto o presente trabalho teve como objetivo avaliar a produtividade de
diferentes populações de amendoim consorciado com a palma forrageira.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido em condições de campo no município de Garanhuns. Em área


pertencente à Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), na Unidade Acadêmica de
Garanhuns (UAG), com as seguintes coordenadas geográficas: Latitude 8º53‘25‖ sul, longitude
36º29‘34‖ oeste, a uma altitude média de 842 m do nível do mar.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

O clima predominante na região é o As‘, que equivale a um clima quente e úmido conforme
determina a classificação de Köeppen (Mota,1986), com temperatura média anual de 20ºC e a
precipitação média anual de 1.038mm, sendo os meses mais chuvosos de maio e junho. A umidade
relativa do ar variando de 75 a 83% (Andrade et al., 2008).
O experimento consistiu em avaliar as características agronômicas de diferentes populações
de amendoim (Tabela 1) consorciado com palma forrageira (Opuntia fícus indica). Os tratamentos
foram:
T1 = Cultivo solteiro da palma forrageira;
T2 = Cultivo solteiro de uma linha de amendoim por parcela;
T3 = Cultivo solteiro de 2 linhas de amendoim por parcela;
T4 = Cultivo solteiro de 3 linhas de amendoim por parcela;
T5 = Palma forrageira consorciada com 1 linha de amendoim;
T6 = Palma forrageira consorciada com 2 linhas de amendoim;
T7 = Palma forrageira consorciada com 3 linhas de amendoim.

Tabela 1. População de amendoim cultivado no sistema de consórcio com palma forrageira (UFRPE/UAG,
2014).
N° de linhas Plantas/ metro linear Parcelas População/parcelas População/ha
(2x2m)
1 15 15pl-1 x 2m 30 75.000
2 15 15pl-1 x 4m 60 150.000
3 15 15pl-1 x 6m 90 225.000

A cultivar do amendoim utilizado foi a BR 1 e a de palma à espécie Opuntia fícus indica,


conhecida popularmente como palma gigante ou redonda.
O solo da área experimental é argissolo amarelo e franco argilo-arenoso conforme o
resultado da analise física de solo realizada no laboratório de química e fertilidade de solo da
UAG/UFRPE. As mudas da palma forrageira foram plantadas no mês de Junho de 2013 no
espancamento de 2 x 0,5m conforme recomenda a Embrapa. Foi realizada adubação tendo como
base o manual de recomendação de adubação para o estado de Pernambuco, Segunda Aproximação
(IPA, 2008).
O semeio do amendoim foi realizado no mês de agosto, época em que já tinha ocorrido o
estabelecimento da palma forrageira. 15 dias antes de realizar o semeio abriu-se sucos na
profundidade de 15 cm e aplicou-se a dose de 5,9m³/há de resíduo lácteo. O semeio foi realizado em
sucos e cada parcela correspondente aos tratamentos apresentavam uma área de 2 X 2 m. Foram
semeadas 45 sementes por metros linear e realizando-se o desbaste aos 15 dias após a emergência,
deixando uma população de 15 plantas por metro linear.

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O resíduo lácteo utilizado no experimento foi coletado na estação de tratamento da empresa


de laticínios ―Bom Gosto‖, localizada no município de Garanhuns-PE. O resíduo é resultante do
material descartado no processamento dos produtos derivados do leite e também da limpeza dos
tanques, onde são processados os laticínios.
A irrigação foi fornecido sempre a lamina de água recomendada para cada fase fenologia da
cultura conforme determina o estudo realizado pelo a Embrapa (2008) para a irrigação do
amendoim no município de Garanhuns.
Durante todo o ciclo das culturas foram realizadas avaliações tanto na cultura do amendoim
como na da palma.

AVALIAÇÕES NA CULTURA DO AMENDOIM:

 Altura da parte aérea: Foram determinadas pela medição da haste principal das plantas,
avaliações feitas aos 30, 45 dias e no final do ciclo da cultura com o auxílio de uma
régua graduada em centímetros;
 Biomassa total: Foi determina pelo a pesagem das plantas completas contendo a parte
aérea, sistema radicular e as vagens. Foram pesadas todas as plantas de cada parcela e os
dados foram convertidos para toneladas por hectare;
 Número de vagens: Determinou-se pela a contagem de todas as vagens das plantas.
Sendo avaliado as vagens de 10 plantas correspondente a cada tratamento;
 Produtividade do amendoim na casca: Foi determinado através da pesagem das vagens
das 10 plantas de cada tratamento e o resultado obtido foi convertido para quilograma
por hectare;
 Produtividade de grão: Foi determinado através da debulha das vagens correspondentes
aos tratamentos, e os grãos foram pesados e o resultado convertido para kg/ha;

AVALIAÇÕES NA CULTURA DA PALMA FORRAGEIRA:

 Número de cladódios: Foi realizada a contagem de todos os cladódios produzido pela


palma forrageira até o momento da colheita do amendoim;
 Altura das plantas: Foram medidas as alturas das plantas a partir da superfície do solo até
o a extremidade do ultimo cladódio da planta.
 Produtividade em toneladas por hectare: Foram coletados todos os cladódios produzidos
durante a realização do experimento de cada parcela e pesado em uma balança,
determinando assim a biomassa fresca, os resultados foram convertidos para quilograma
por hectare;

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 Percentual de massa seca: Os cladódios foram coletados e determinou-se o peso fresco e


depois foi realizado um corte na longitudinal abrindo em duas partes e cortando as
mesmas em pequenos pedaços, para aumentar a superfície de contato. Foram colocados
para secar em estufa de circulação de ar forçada a 65°C e a cada 24h era realizado a
pesagem para verificar se o peso estabilizou. O resultado final foi convertido em
percentual.

O delineamento experimental utilizado foi em blocos ao acaso com quatro repetições e sete
tratamentos. Os resultados foram submetidos à análise de variância e as médias foram comparadas
pelo teste de Tukey, com significância mínima estabelecido para hipótese de nulidade (p<0,05). As
análises estatísticas foram realizadas com auxílio do programa SISVAR, versão 5.3 (Ferreira,
2010), sendo os dados apresentados em tabela.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Tabela 2 apresenta os dados referentes à altura final das plantas de amendoim, é possível
perceber que no monocultivo o tratamento correspondente ao arranjo de uma linha de amendoim foi
superior aos demais, apresentando diferença significativa pelo teste de Tukey. Enquanto que no
consórcio não ocorreu diferença significativa para os arranjos. Ao se comparar os sistemas de
cultivo, o consórcio apresentou resultados inferiores para o arranjo de uma linha por parcela (Tabela
2). Esses resultados contradizem com os obtidos por Andrade (2012), avaliando o consórcio do
amendoim com palma forrageira não encontrou diferença significativa para altura das plantas,
tantos no monocultivo como no consórcio, ao comparar os sistemas não houve diferenças
significativas.
As plantas apresentaram resultados satisfatórios para altura, variando de 38,75 a 51,15 cm
(Tabela 2), alturas essas que são superiores ao porte médio da cultiva de amendoim BR 1, pois
segundo Santos et al. (2009) essa cultivar apresenta porte de 35cm de altura.

Tabela 2. Altura das plantas de amendoim no final da colheita cultivadas sob diferentes populações no
sistema de cultivo solteiro e consorciado com palma forrageira no município de Garanhuns– PE
(UFRPE/UAG, 2014).
Tratamentos Altura final
Monocultivo Consórcio
1 linhas 51,15 aA* 38,75 aB
2 linhas 38,67 bA 42,92 aA
3 linhas 43,12 baA 44,60 aA
CV coluna (%) 11,76
CV linha (%) 11,71
*Médias seguidas de mesma letra minúscula na coluna e maiúscula na linha não diferem entre si pelo teste
de Tukey ao nível de 5%.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 138


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

O número de vagens do amendoim foi inferior para os arranjos com três linhas, tanto para o
sistema de cultivo solteiro como para o consorciado. A comparação dos sistemas não diferiu
estatisticamente (Tabela 3). Resultados esses que discordam com os obtidos por Andrade (2012), o
qual avaliando a produção de amendoim BR 1 consorciado com palma forrageira em diferentes
arranjos (uma, duas e três linhas entre linhas de palma) não encontrou diferença significativa para o
número de vagens. Ribeiro et al. (2012) avaliando o consórcio entre cafeeiro e amendoim não
encontram diferença significativas para o número de vagens.
Silveira (2010) relata que à medida que se eleva a densidade das plantas há um decréscimo
nos valores médios do número de vagens, esse comportamento se deve provavelmente, a menor
competição entre indivíduos e maior disponibilidade dos fatores de produção na menor população
de planta. Gonçalves et al. (2004) também chegaram a conclusão que o número de vagens de
amendoim é um dos componente de produção mais afetado pelos arranjos espaciais.

Tabela 3. Número médio de vagens das plantas de amendoim na colheita cultivadas sob diferentes
populações no sistema de cultivo solteiro e consorciado com palma forrageira no município de Garanhuns–
PE (UFRPE/UAG, 2014).
Tratamentos Número de Vagens
Monocultivo Consórcio
1 linhas 31,55 aA* 33,27 aA
2 linhas 32,72 aA 31,25 aA
3 linhas 26,77 bA 27,07 bA
CV coluna (%) 15,7
CV linha (%) 12,45
*Médias seguidas de mesma letra minúscula na coluna e maiúscula na linha não diferem entre si pelo teste
de Tukey ao nível de 5%.

A produtividade total em toneladas estimar para um hectare (Tabela 4) apresentou diferença


significativa para os arranjos, os que apresentaram resultados superiores foram os com duas e três
linhas devido à maior população de plantas por hectares. A produtividade das vagens independente
do arranjo atingiu o potencial médio de produtividade da cultura que segundo Santos et al. (2009)
varia de 2 a 2,5 toneladas por hectare. Isso significa que o resíduo lácteo utilizado como fonte de
adubação no amendoim apresentou um bom desempenho, suprindo as necessidades nutricionais da
cultura. Alem do suprimento nutricional o resíduo lácteo é uma fonte de matéria orgânica, a qual
pode ter melhorados as características fisioquímicas do solo. E como o amendoim é uma planta que
desenvolvi as vagens na camada superficial do solo então a produtividade é diretamente afetada
pelo as características físicas do solo.

Tabela 4. Produtividade de vagens de plantas de amendoim, cultivadas sob diferentes populações no sistema
de cultivo solteiro e consorciado com palma forrageira no município de Garanhuns– PE (UFRPE/UAG,
2014).
Tratamentos Produtividade de vagem (t/ha)
Monocultivo Consórcio

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 139


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1 linhas 1,88 bA* 2,34 bA


2 linhas 3,91 aA 4,66 aA
3 linhas 4,75 aA 4,75 aA
CV coluna (%) 19,27
CV linhas (%) 16,68
*Médias seguidas de mesma letra minúscula na coluna e maiúscula na linha não diferem entre si pelo teste
de Tukey ao nível de 5%.

A produtividade total de grãos (Tabela 5) apresentou comportamento semelhante aos das


vagens, com valores superiores para os arranjos com maior população de plantas, o que influenciou
na produtividade total dos grãos. O peso de 100 grãos não diferiu estatisticamente. Dados esses que
estão de acordo com os obtidos por Ribeiro et al. (2012), os quais também não encontraram
diferença significativas para a produtividade de vagens e peso de 100 grãos de amendoim cultivado
consorciado com a cultura do café. Resultados diferentes foram obtidos por Pinto et al. (2012)
trabalhando com o consórcio da mamona e girassol no sistema em arranjos de fileiras, os quais
chegaram a conclusão que a produtividade de grãos de mamona e girassol foi reduzida nos arranjos
de fileira em consorciação ao comparar com o monocultivo.

Tabela 5. Produtividade de grão de plantas de amendoim, cultivadas sob diferentes populações no sistema de
cultivo solteiro e consorciado com palma forrageira no município de Garanhuns– PE (UFRPE/UAG, 2014).
Tratamentos Produtividade de grão total (t/ha)
Monocultivo Consórcio
1 linhas 0,92 bA* 1,01bA
2 linhas 2,25 aA 1,99 aB
3 linhas 2,79 aA 2,56 aA
CV coluna (%) 23,51
CV linhas (%) 10,25
Tratamentos Peso de 100 sementes (g)
Monocultivo Consórcio
1 linhas 51,64 aA 52,23 aA
2 linhas 54,39 aA 56,78 aA
3 linhas 50,64 aA 53,87 aA
CV coluna (%) 7,35
CV linhas (%) 6,57
*Médias seguidas de mesma letra minúscula na coluna e maiúscula na linha não diferem entre si pelo teste
de Tukey ao nível de 5%.

A biomassa total Tabela 6, mostra que o arranjo com três linhas foi superior aos demais
arranjos, tanto no monocultivo como no consórcio com médias de 28,05 e 29,33 toneladas por
hectare. Isso ocorreu provavelmente devido a maior população por área, o que contribui para a
existência de uma maior biomassa total. Ao compara a interação dos sistemas não houve diferença
significativa, ou seja, a palma forrageira não foi competitiva com o amendoim para a produção de
biomassa total.
Andrade (2012) trabalhando com as mesmas populações de plantas por hectare encontrou
valores bem inferiores (4,2 toneladas) aos obtidos nesse experimento para a biomassa total. Essa

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 140


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grande discrepância é justificada devido ao fato de as plantas no trabalho de Andrade (2012) ter
apresentado uma altura média variando de 22,40 a 27,67 cm, enquanto no presente trabalho a altura
das plantas variaram de 38,68 a 51,15 cm, o que pode ter influenciado no peso da biomassa total.
Outro fato também que contribuiu para essa elevada produção de biomassa é que a colheita do
amendoim ocorreu no mês de dezembro, época que ocorria às chuvas isoladas de verão, e como o
amendoim é uma cultura de crescimento indeterminado as folhas apresentam baixa taxa de
senescência apresentando muitas folhas verdes e vigorosas, contribuindo assim para o incremento
da biomassa total.

Tabela 6. Produtividade média total de biomassa das plantas de amendoim na colheita cultivadas sob
diferentes populações no sistema de cultivo solteiro e consorciado com palma forrageira no município de
Garanhuns– PE (UFRPE/UAG, 2014).
Tratamentos Biomassa total
Monocultivo Consórcio
1 linhas 11,46 cA* 13,96 bA
2 linhas 19,38 bA 21,78 baA
3 linhas 28,05 aA 29,33 aA
CV coluna (%) 24,05
CV linha (%) 12,81
*Médias seguidas de mesma letra minúscula na coluna e maiúscula na linha não diferem entre si pelo teste
de Tukey ao nível de 5%.

Características da cultura da palma forrageira

De acordo com os dados apresentados na Tabela 7, não houve diferença significativa para o
número de cladódios (NC) de plantas de palma forrageira quando avaliada em sistema de consórcio
com diferentes populações de amendoim. Já para a altura (AT) das plantas de palma forrageira
(Tabela 7) ocorreu diferença significativa e o tratamento consorciado com três linhas de amendoim
foi superior aos demais, apresentando média de 54,20 cm de altura. O sistema de consórcio foi
superior ao monocultivo independente da população de plantas de amendoim. Esse melhor
resultado do sistema de consórcio em relação ao monocultivo, provavelmente ocorreu devido ao
fato de o amendoim ser uma cultura capaz de fixar nitrogênio, o que pode ter beneficiado a palma
forrageira. Segundo Pereira (1999) o amendoim pode fixar entre 80 e 120 kg de nitrogênio por
hectare durante o período de um ano.

Tabela 7. Número de cladódio (NC) e altura das plantas (AT) de palma forrageira consorciada com
diferentes populações de amendoim (0, 1, 2 e 3 linhas de amendoim entre as entrelinhas da palma forrageira)
no município de Garanhuns – PE (UFRPE/UAG, 2014).
Tratamentos NC AT (cm)
0 linhas 3,49 a* 29,80 c
1 linhas 4,31 a 41,37 b
2 linhas 3,93 a 44,95 b

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 141


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3 linhas 4,12 a 54,20 a


Cv (%) 19,43 9,02
*Médias seguidas de mesma letra minúscula na coluna não diferem entre si pelo teste de tukey ao nível de
5%.

A produtividade e o percentual de matéria seca (Tabela 8) não apresentaram diferença


significativa. Isso implica que a palma forrageira pode ser cultivada em suas fases iniciais de
consórcio com as maiores populações de amendoim avaliadas nesse trabalho. Andrade (2012)
avaliando o efeito de diferentes arranjos de amendoim consorciado com palma forrageira não
encontrou resultados significativos.

Tabela 8. Produtividade (PD) e percentual de matéria seca (PS) de palma forrageira consorciada com
diferentes populações de amendoim (0, 1, 2 e 3 linhas de amendoim entre as entrelinhas da palma forrageira)
no município de Garanhuns – PE (UFRPE/UAG, 2014).
Tratamentos PD (t/ha) PS (%)
0 linhas 0,578 a* 7,95 a
1 linhas 0,595 a 9,52 a
2 linhas 0,613 a 9, 62 a
3 linhas 0,614 a 9,75 a
Cv (%) 6,7 9,43
*Médias seguidas de mesma letra minúscula na coluna não diferem entre si pelo teste de tukey ao nível de
5%.

CONCLUSÃO

Os diferentes arranjos no sistema de consórcio não prejudicaram o cultivo da palma


forrageira na faze inicial, o que possibilita ao produtor cultivar a palma consorciada com o
amendoim em maiores populações.
A maior produtividade de amendoim foi obtida para o cultivo com as maiores populações
por hectare.
O sistema de consórcio de palma forrageira com amendoim foi eficiente independentemente
da população.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALTIERI, M. Bases científicas para uma agricultura sustentável. Agroecologia, Guaíba


Agropecuária, 592 p. 2002.

ANDRADE, J. A. S. Produção de amendoim consorciado com palma forrageira no agreste


meridional pernambucano. 2012. 67f, Dissertação (mestrado em produção agrícola) -
Universidade Federal Rural de Pernambuco, Garanhuns, 2012.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 142


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

DORNELLES, E. L. B.; MENDEZ, M. G.; CORRÊA, L. A. V.; SCHUCH, L. O. B. Cultivo


Consorciado de Feijão e Milho. Rev. Brasileira de Agrociência, v.3, n.1, p.11-16, 1997.

FLORES, C. A. V. Produccion, industrializacion y comercializacion del nopal como verdura em


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diferentes arranjos espaciais no Recôncavo Baiano. Rev. Brasileira de Oleaginosas e Fibrosas,
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Relatório Técnico da Embrapa Gado de Leite 1995-1998. Juiz de Fora, Embrapa Gado de Leite,
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PINTO, C. M.; PINTO, R. O.; PITOMBEIRA, J. B. Mamona e girassol no sistema de consorciação


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ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 143


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

EFEITO DE PÓ DE ROCHA NA PRODUÇÃO DE CEBOLINHA NO


TERRITÓRIO DA BORBOREMA

João Felinto dos SANTOS


Pesquisador Dr. em Agronomia, Emepa Lagoa Seca-PB
joao_felinto_santos@hotmail.com
Josilda de França XAVIER
Dra. em Eng. Agrícola, Emepa Lagoa Seca-PB
josildaxavier@yahoo.com.br
Luciano de Pereira BRITO
Pesquisador Espec. em Solos e Nutrição de Plantas, Lagoa Seca-PB
lmpbrito@gmail.com
Ivonete Berto MENINO
Pesquisadora Dra. em Recursos Naturais. Emepa-Sede, João Pessoa
ibm_menino@hotmail.com

RESUMO:
O emprego do modelo de remineralização do solo, com o uso de pó de rocha, constitui-se numa
alternativa viável em termos econômicos e ecológicos, devido ao baixo custo do processo de
beneficiamento, que envolve apenas moagem das rochas usadas na composição do produto. O
presente trabalho teve por objetivo avaliar o efeito de doses de pó de rocha sobre o desempenho
produtivo da cebolinha. O experimento foi conduzido no período de 15 de setembro a 25 de
dezembro de 2015, na Estação Experimental de Lagoa Seca, no município de Lagoa Seca - PB. O
delineamento experimental foi de blocos casualizados contendo cinco tratamentos e quatro
repetições. Os tratamentos foram 0, 2, 4, 6 e 8 t ha-1de pó de rocha, ficando as parcelas com 6
fileiras com 1 metro de comprimento, onde foram colhidas as quatro fileiras centrais como área útil.
A máxima produção de massa fresca e da matéria seca total da planta de cebolinha (124,81 e 10,17
g planta-1) foi obtida com a aplicação de 4,68 e 4,29 t ha-1 de pó de rocha, respectivamente. A maior
produção de raízes foi alcançada com a aplicação de 3,71 t ha-1 de pó de rocha. O maior
desempenho produtivo da cebolinha foi alcançado com a aplicação ao solo de 4 t ha -1 de pó de
rocha.
Palavras chaves: Allium fistulosum L., caracteres de produção, matéria fresca e seca
ABSTRACT:
The use of the soil remineralization model with the use of rock dust is a viable alternative in
economic and ecological terms, due to the low cost of the beneficiation process, which only
involves grinding the rocks used in the composition of the product. The objective of this work was
to evaluate the effect of rock dust doses on the productive performance of chives. The experiment
was conducted from September 15 to December 25, 2015, at the Experimental Station of Lagoa
Seca, in the municipality of Lagoa Seca - PB. The experimental design was a randomized block
containing five treatments and four replications. The treatments were 0, 2, 4, 6 and 8 t ha -1 of rock
dust, with the 6-row plots 1 meter long, where the four central rows were collected as a useful area.
The maximum production of fresh mass and the total dry matter of the scallion plant (124.81 and
10.17 g plant-1) was obtained with the application of 4.68 and 4.29 t ha-1 of rock powder,
respectively. The highest root yield was achieved with the application of 3.71 t ha-1 of rock dust.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 144


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

The highest productive performance of chives was achieved by applying 4 t ha-1 of rock dust to the
soil.
Key-words: Allium fistulosum L., organic fertilizer, agronomic characters, fresh and dry matter

INTRODUÇÃO

Os solos das regiões produtoras de hortaliças no Território da Borborema Estado da Paraíba


são de baixa fertilidade natural, em face do tipo predominante de rocha existente na região e por se
encontrar em região tropical onde a decomposição é muito rápida, com pouca matéria orgânica e
baixa capacidade de troca catiônica e baixos teores de cálcio magnésio e fósforo, necessitando,
portanto, de reposição desses nutrientes e outros através da adubação de fontes orgânicas por se
tratar de produção agroecológica e de hortaliças.
O emprego do modelo de remineralização do solo, com o uso de pó de rocha, constitui-se
numa alternativa viável em termos econômicos e ecológicos, devido ao baixo custo do processo de
beneficiamento, que envolve apenas moagem das rochas usadas na composição do produto. Além
disso, a elevada demanda da agricultura brasileira por fertilizantes, a qual não consegue ser atendida
pela indústria nacional, poderão ser atendida pelo uso de produto obtido a partir do beneficiamento
simples de matérias primas de ampla distribuição geográfica, diminuindo-se os gastos com
importação, os desequilíbrios da balança comercial brasileira e ampliando as alternativas para o
mercado consumidor (MELAMED & GASPAR, 2007).
Existem diversas vantagens com a aplicação de pó de rocha como proporcionar macro e
micronutrientes não disponíveis em fertilizantes químicos solúveis fornecedores de NPK,
propriedades químicas favoráveis para elevar o pH dos solos, são adubos de liberação lenta nos
solos ácidos empobrecidos de nutrientes, sua aplicação tem baixo impacto ambiental, muitas vezes
são localmente disponíveis, alguns deles como resíduo de pedreiras, minas ou de outras
operações10 indústrias de mineração, possuem custo baixo para utilização e podem aumentar a
fertilidade do solo em longo prazo (VAN STRAATEN, 2006).
Alguns trabalhos de pesquisa foram desenvolvidos com resultados positivos sobre várias
culturas: Em alface Santos et al. (2016) obtiveram a máxima produção de matéria fresca da parte
aérea por planta (258,56g) com a aplicação de 9,36 t ha-1 de pó de rocha. Em feijão, Plewka et al.
(2009), ao aplicarem 2 t ha-1 de pó de basalto somado a 0,5 t ha-1 de cama de aviário, obtiveram um
incremento de 1, 655 t ha-1 na produtividade de feijão em comparação aos demais tratamentos. Na
mesma cultura, Ferrari (2010), utilizando o MP4, alcançou 3779,6 kg/ha de grãos contra 2510,7 kg
ha-1 dos tratamentos sem uso do mesmo.
Pretendeu-se com este trabalho, avaliar o efeito de doses de pó de rocha sobre os
componentes de produção da cebolinha Allium fistulosum L.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O método de regeneração da fertilidade do solo, impulsionado com a Revolução Verde, é


baseado no emprego de adubos minerais de alta solubilidade e revela-se inviável para a ampla
maioria das famílias agricultoras em função de seu alto custo e dos impactos ambientais negativos
gerados (ALMEIDA et al., 2007). Uma alternativa mais ecológica para reposi- ção de nutrientes ao
solo em áreas agrícolas é o uso do pó de rocha, um produto adquirido do beneficiamento simples de
matérias minerais, de solubilidade mais lenta, que disponibilizam os nutrientes para as plantas por
um período maior do que o de fertilizantes convencionais (THEODORO; LEONARDOS, 2006).
Em função destas características, os resíduos provenientes da britagem de rochas basálticas têm sido
indicados como corretivo da fertilidade de solos (GILLMANN, 1980).
Melamed et al. (2007) destacam que os benefícios advindos da utilização de pós de rocha
são: o fornecimento lento de macro e micronutrientes; aumento da disponibilidade desses nutrientes
nos solos cultivados; reequilíbrio do pH do solo e aumento da reserva nutricional do solo.
A utilização do pó de basalto como fonte de nutrientes para o feijoeiro em Cambissolo
Húmico foi avaliado por Nichele (2006) que verificou que todos os tratamentos que receberam o
produto, a produtividade do feijoeiro foi similar aos tratamentos com calcário e com adubo
convencional. Entretanto, o uso do pó de basalto na agricultura traz muitos questionamentos acerca
das características do solo após um a dois anos da aplicação (KNAPIK & ÂNGELO, 2007).
Segundo Suguino et al (2011), a granulometria fina do pó de basalto pode provocar um efeito
cimentante, o que, implica no fechamento dos poros, causando uma maior compactação do solo,
aumento da densidade do solo, e, consequentemente, a redução no desenvolvimento das raízes de
plantas.
Na busca de sistemas de produção agrícola baseados nos princípios da sustentabilidade,
destaca-se o sistema de cultivo orgânico (GOMIERO et al., 2011).
A cebolinha comum (Allium fistulosum L.), originária da Sibéria, é um condimento muito
apreciado pela população brasileira e consumido em quase todos os lares do país (FILGUEIRA,
2008). A cultura tem uma importância para a agricultura urbana e periurbana (cinturões verdes) das
cidades brasileiras, a cebolinha produz pequeno bulbo cônico, envolvido por uma película rósea,
com perfilhamento e apresenta formação de touceira (MAKISHIMA, 1993).
É considerada uma cultura perene com uma faixa de temperatura média para o cultivo entre
8 e 22 °C, suportando frios prolongados e existindo cultivares que resistem bem ao calor, vegeta 8
melhor em condições amenas, apresentando maior perfilhamento nos plantios de fevereiro a julho
regiões produtoras do Brasil. (MAKISHIMA, 1993).
A colheita da cebolinha inicia-se entre 55 e 60 dias após o transplantio ou entre 85 e 100
dias após a semeadura, quando as folhas atingem de 0,20 a 0,40 m de altura. O rebrotamento é
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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

aproveitado para novos cortes, podendo um cultivo ser explorado por dois a três anos,
principalmente quando são conduzidos em condições de clima ameno (MAKISHIMA, 1993;
FILGUEIRA, 2000).

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no período de 15 de setembro a 25 de dezembro de 2015, na


Estação Experimental de Lagoa Seca, no município de Lagoa Seca, em altitude de 780m; 19º 44‘
13‘‘ de latitude sul e 47º 57‘27‘‘ de longitude oeste ao meridiano de Greenwich.
O experimento foi instalado em Neossolo distrófico, textura média, de onde foram coletadas
amostras na profundidade de 0-20 cm e feita a análise no laboratório de solos da Universidade
Federal de Campina Grande, onde se obteve os resultados seguintes: pH (H O) = 7,55; P = 4,96 mg
dm-3, K = 0,53 mg dm-3; Al+3 = 0,00; Ca+2 = 3,18; Mg+2 = 2,94 em cmol dm-3 e matéria orgânica =
16,50 g kg-1.
O delineamento experimental utilizado foi de blocos casualizados contendo cinco
tratamentos e quatro repetições.
Os tratamentos utilizados foram 0, 2, 4, 6 e 8 t ha-1de pó de rocha, ficando as parcelas com 6
fileiras com 1 metro de comprimento, onde foram colhidas as quatro fileiras centrais como área útil.
Os canteiros que foram preparados com enxada manual nas dimensões de 1,0m de largura,
15m de comprimento e 15 cm de altura.
Para o plantio foi realizado com toalete de cebolinha (Allium fistulosum L.) usando a cultivar
Téxas. A propagação da cebolinha foi por perfilhos depois de realizado o toalete (ou ―decote‖) do
material propagativo sem a separação e eliminação das raízes. Também foram realizados cortes na
parte foliar para deixar aproximadamente 7,0 cm de pseudocaule e eliminação das bainhas secas de
acordo com a metodologia de (ZÁRATE et al., 2003). O transplantio consistiu no enterro vertical
dos perfilhos, com 3,0 cm do pseudocaule descoberto, colocando-se as mudas no espaçamento de
0,25 m x 0,15 m.
O pó de rocha junto com 10 t ha-1de esterco bovino foi distribuído e incorporado aos
canteiros 30 dias antes do transplantio.
Foi realizada capina manual nos canteiros e com enxadas entre os canteiros, além de
irrigação através de microaspersão, usando como fonte de energia placas solar.
As plantas de cebolinha (bulbilho com a parte aérea) foram colhidas inteiras além das raízes,
lavadas e colocadas em sacos identificados e levadas ao galpão na Estação da Emepa para serem
pesadas. Em seguida foram separadas as raízes da planta(bulbilho + parte aérea), pesadas e levadas
á estufa de do Laboratório do Centro de Ciências Agrárias e Ambientais – CCAA no Campus II da
Universidade Estadual da Paraíba, município de Lagoa Seca-PB, para determinar a matéria seca.

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Essas foram determinadas após uma pré-secagem onde as plantas foram colocadas sobre uma
bancada, onde permaneceram por 24 horas, à temperatura ambiente (média de 28 °C) seguida de
secagem em estufa a 65°C por 72 horas até peso constante.
Foram obtidos dados de produção de massa fresca e seca da planta (bulbilho + parte aérea) e
de matéria seca das raízes.
Os dados obtidos foram submetidos à regressão na variância e os quadrados médios
comparados pelo teste F. Modelos polinomiais foram testados para prever os efeitos de doses de pó
de rocha sobre as características avaliadas. As análises estatísticas foram realizadas utilizando-se o
programa computacional ASSISTAT (SILVA & AZEVEDO, 2002).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com a análise de regressão na variância, observou-se efeito significativo (p ≤


0,05) das doses de pó de rocha para a produção de matéria fresca e seca da planta e da matéria seca
das raízes (Tabela1).
Conforme a análise de regressão polinomial, as curvas que melhor se ajustaram as médias
para as características avaliadas em função das doses de pó de rocha foram à quadrática.

Tabela 1. Análise de regressão na variância para produção de matéria fresca e seca das plantas de
cebolinha (bulbilho com a parte aérea) e produção da matéria seca das raízes em função de doses de pó
de rocha. Lagoa Seca, PB. 2015.
Regressão Quadrado Médio de Tratamento
FV GL PMFP PMSP PMSR
Reg. linear 1 240,100* 0,275ns 0,111ns
Reg. quadra 1 528,286* 9,024* 8,745*
Reg. cúbica 1 21,025ns 0,170ns 1,099ns
Reg. 4ºgrau 1 20,089ns 0,689ns 0,011ns
Tratamentos 4 202,375 2,540 2,492
Blocos 3 384,183ns 1,387ns 0,783ns
Resíduo 12 102,308 1,794 0,246
CV% 12,65 17,18 15,75
** significativo ao nível de 1% de probabilidade, * significativo ao nível de 5% de probabilidade,
ns
não significativo. PMFP = produção massa fresca total da planta, PMSP = Produção de matéria seca
total da planta, PMSR =Produção de matéria seca da raiz

A máxima produção de massa fresca total da planta de cebolinha (bulbilho com a parte
aérea) (124,81 g planta-1) seria atingida, teoricamente, com a aplicação de 4,68 t ha-1de pó de rocha,
ocorrendo decréscimos com o incremento das doses. Observam-se aumento de 11,61% em relação
ao tratamento que não foi adubado (Figura 1).

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128

124

PMFP (g planta)
120

116

y = -0,6482x2 + 6,0707x + 110,63


112 R² = 0,94

108
0 2 4 6 8
Doses de pó de rocha (t ha)
Figura 1. Produção de massa fresca da planta de cebolinha em função de doses de pó de rocha

Em alface Santos et al. (2016) obtiveram a máxima produção de matéria fresca da parte
aérea por planta (258,56g) com a aplicação de 9,36 t ha-1de pó de rocha.
Em coentro, Santos et al. (2016) obtiveram a máxima produção de massa fresca da parte
aérea (28,78 t há-1) com a aplicação de 8,53 t ha-1de pó de rocha.
Em alface Viana e Vasconcelos (2008), constataram que a adição do termo fosfato, tanto na
cama de frango como no esterco bovino, promoveu incremento significativo da massa fresca das
plantas, sendo as produções 122,1 e 104,2 g planta-1, respectivamente.
Em batata, Santos et al. (2014) verificaram que a maior produção de batata comercial por
planta (9,61 t ha-1) foi alcançada com a aplicação de 2,69 t ha-1 de pó de rocha.
Em morango, Camargo et al. (2012) obtiveram a maior produção comercial de frutos com a
dose de 100 t ha-1de esterco bovino associado a 2,65 t ha-1 de pó de basalto (43,49 t ha-1).
Em feijão comum, Ferrari (2010) encontrou maior rendimento de grãos quando usou MB-4.
O melhor desempenho da matéria fresca da cebolinha com aplicação de pó de rocha deve-se,
provavelmente a liberação dos macros e micros nutrientes contidos em seu interior, bem como a sua
capacidade em promover aumento da Soma de Base (SB) e da Capacidade no solo da Soma de Base
e da CTC utilizando o pó de rocha na cultura da batata.
A máxima produção de matéria seca total da planta de cebolinha (10,17 g planta-1) seria
atingida, teoricamente, com a aplicação de 4,29 t ha-1 de pó de rocha, ocorrendo decréscimos com o
incremento das doses. Observam-se incrementos de 20,16% em relação ao tratamento que não foi
adubado (Figura 2).
Em alface Santos et al. (2016) obtiveram a máxima produção de matéria seca da parte aérea
por planta (16,29 g) com a aplicação de 10,13 t ha-1 de pó de rocha e de 29,73 g para produção de
matéria seca total alcançada com 8,89 t ha-1 de pó de rocha.

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10,3

9,8

PMSP (g planta)
9,3

8,8
y = -0,1091x2 + 0,9394x + 8,1471
8,3 R² = 0,99

7,8
0 2 4 6 8
Doses de pó de rocha (t ha)

Figura 2. Produção de matéria seca da planta de cebolinha em função de doses de pó de rocha

Em feijão, Plewka et al. (2009), aplicando 2 t ha-1 de pó de basalto somado a 0,5 t ha-1 de
cama de aviário, verificaram um incremento de 1, 655 t ha-1 na produtividade em comparação aos
demais tratamentos que foram diferentes doses de pó de basalto (1 e 4 t ha-1) e sem associação com
cama de aviário.
As maiores produtividades da cebolinha, alcançadas com aplicação de pó de rocha, devem-
se, provavelmente a solubilização do pó de rocha e liberação dos nutrientes contidos em seu
interior, principalmente potássio, cálcio, magnésio e micronutrientes. Fato esse ratificado por Grassi
Filho (2003), onde afirma que o silício, presente no pó de rocha, promove aumento na
disponibilidade do fósforo do solo, seja porque o silicato o desloca de sítios de adsorção (ou ocupa-
os preferencialmente) na argila e nos sesquióxidos, ou porque diminui a atividade dos íons Al+3 em
solução evitando que estes precipitem o H2PO4-1, resultando em aumento na absorção de fósforo
pelas plantas.
Outra vantagem da utilização de rochas moídas é o fornecimento de silício. Este elemento
geralmente não é considerado entre o grupo de elementos essenciais para o crescimento das plantas
(KORNDÖRFER & DATNOFF, 1995), mas é tido como elemento benéfico, primordial na
agricultura atual, pois quando a planta está bem nutrida com sílica, ela apresenta maior resistência
ao ataque de pragas e doenças (BARRETO, 1998).
A maior produção de matéria seca total da planta de cebolinha (3,74 g planta-1) seria
atingida, teoricamente, com a aplicação de 3,71 t ha-1de pó de rocha, ocorrendo decréscimos com o
incremento das doses. Observam-se incrementos de 22,72% em relação ao tratamento que não foi
adubado (Figura 3).

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4,40

4,20

PMSR (g planta)
4,00

3,80

3,60

3,40 y = -0,0378x2 + 0,3058x + 3,3976


R² = 0,83
3,20
0 2 4 6 8
Doses de pó de rocha (t ha)

Figura 3. Produção de matéria seca das raízes de cebolinha em função de doses de pó de rocha.

Em alface Santos et al. (2016) obtiveram a máxima produção de matéria seca das raízes
(13,52 g) seria atingida, teoricamente, com a aplicação de 9,11 t ha-1 de pó de rocha.
Atribui-se o maior desenvolvimento radicular da cultura da alface ao dióxido de silício que é
um dos elementos químicos encontrados em maior quantidade no pó de rocha, além de contribuir
para o controle de pragas e doenças.
A maior produção de matéria seca total da planta de cebolinha (3,74 g planta-1) seria
atingida, teoricamente, com a aplicação de 3,71 t ha-1de pó de rocha, ocorrendo decréscimos com o
incremento das doses. Observam-se incrementos de 22,72% em relação ao tratamento que não foi
adubado (Figura 3).
Em alface Santos et al. (2016) obtiveram a máxima produção de matéria seca das raízes
(13,52 g) seria atingida, teoricamente, com a aplicação de 9,11 t ha -1 de pó de rocha.
Atribui-se o maior desenvolvimento radicular da cultura da alface ao dióxido de silício que é
um dos elementos químicos encontrados em maior quantidade no pó de rocha, além de contribuir
para o controle de pragas e doenças.

CONCLUSÕES

As doses de pó de rocha foram eficientes em promover melhorias nos parâmetros


produtividade da cebolinha.
O maior desempenho produtivo da cebolinha foi alcançado com a aplicação ao solo de 4 t
ha-1 de pó de rocha.

AGRADECIMENTO

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico-CNPq pelo


financiamento do projeto.

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ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 154


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

QUALIDADE AMBIENTAL DE SOLOS POR MEIO DA METODOLOGIA


PARTICIPATIVA EM PROJETO DE ASSENTAMENTO NO SEMIÁRIDO POTIGUAR

Joseane Dunga da COSTA


Doutoranda em Manejo de Solo e Água pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido
joseany_costa@hotmail.com
Jeane Cruz PORTELA
Docente - Universidade Federal Rural do Semi-Árido- UFERSA
jeaneportela@ufersa.edu.br
Cristovão Montenegro do NASCIMENTO
Engenheiro Agrônomo pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido
krystowao@hotmail.com
Antonia Rosimeire da Cruz Silva ALMEIDA
Doutora em Fitotecnia pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido
agro_meirinha@hotmail.com

RESUMO
A metodologia participativa busca resgatar o conhecimento empírico dos agricultores sobre os
agroecossistemas, pela avaliação de alguns atributos do solo, estabelecendo inter-relação com o
científico. Assim, objetivou-se avaliar solos de agroecossistemas, utilizando indicadores
qualitativos e quantitativos. O trabalho foi realizado no Projeto de Assentamento Terra de
Esperança, Governador Dix-Sept Rosado – RN. As áreas estudadas foram: mata nativa preservada
(MN), como referência, coletiva de mata nativa (MNC), com preparo intensivo (PI), cajueiro
(CAJU), agroecológica (AGRO) e de cajaraneira (CAJA). Foram avaliados, no campo, por meio de
abertura de perfis em cada área, os indicadores qualitativos do solo pela atribuição de notas que
variaram de 1 a 10, participando (03) agricultores, (02) Professoras, (02) discentes de Pós-
graduação e (03) da Graduação. As notas atribuídas aos indicadores no campo pelos participantes
da metodologia participativa foram registradas, somadas e obtidas médias para cada um, sendo
cinco, o valor limite mínimo de sustentabilidade. Coletou-se amostras deformada e indeformada de
solo nas camadas de 0,00- 0,10 e 0,10-0,20 m, e realizadas análises de granulometria, densidade do
solo e de partículas, carbono orgânico total (COT) e umidade gravimétrica. Conforme a
metodologia participativa, a MN, CAJA, MNC, e AGRO apresentaram os valores mais altos, e
COT, sendo superior a CAJA, MN e MNC. Na PI e CAJU, as médias dos indicadores foram
inferiores a 5,0 (com nível insatisfatório de qualidade), seguindo a mesma tendência para o COT,
apresentando os valores mais baixos para essas áreas, podendo ser justificado pelo preparo intensivo
e plantio ladeira a baixo no PI, indicando a necessidade de práticas conservacionistas, como
consórcio e rotação de cultura. Conclui-se que a avaliação por meio da metodologia participativa
proporcionou aos agricultores a capacidade de avaliar a distinção e alterações nos ambientes em
função de seus usos, com resultados que se aproximam dos dados quantitativos.
Palavras-chave: Conhecimento do Agricultor e Científico; Particularidades locais; Atributos do
solo; Educação ambiental; Sustentabilidade.
ABSTRACT
The participatory methodology seeks to rescue the empirical knowledge of the farmers about
agroecosystems, by evaluating some attributes of the soil, establishing an interrelation with the
scientific. Thus, the objective was to evaluate soils of agroecosystems, using qualitative and

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quantitative indicators. The work was done at the Land of Hope Settlement Project, Governor Dix-
Sept Rosado - RN. The areas studied were: native forest preserved (MN), as reference, collective of
native forest (MNC), with intensive preparation (PI), cashew tree (CAJU), agroecological (AGRO)
and cajaraneira (CAJA). The soil qualitative indicators were evaluated in the field, through the
opening of profiles in each area, assigning grades varying from 1 to 10, with farmers (03), (02)
Teachers, (02) Graduation and (03) graduation. The notes attributed to the indicators in the field by
participants of the participatory methodology were recorded, summed up and obtained averages for
each one, being five, the minimum threshold value of sustainability. Deformed and undisturbed soil
samples were collected in the 0.00- 0.10 and 0.10-0.20 m layers, and analyzes of particle size, soil
and particle density, total organic carbon (TOC), and moisture Gravimetric. According to the
participatory methodology, MN, CAJA, MNC, and AGRO presented the highest values, and TOC,
being higher than CAJA, MN and MNC. In PI and CAJU, the means of the indicators were lower
than 5.0 (with poor quality), following the same trend for TOC, presenting the lowest values for
these areas, and can be justified by the intensive preparation and sloping planting at Low in the IP,
indicating the need for conservation practices, such as consortium and crop rotation. It is concluded
that the evaluation through the participatory methodology provided the farmers with the capacity to
evaluate the distinction and changes in the environments according to their uses, with results that
are close to the quantitative data.
Keywords: Knowledge of the Farmer and Scientist; Local peculiarities; Soil attributes;
Environmental education; Sustainability.

INTRODUÇÃO

As práticas inadequadas de manejo do solo e das culturas provocam alterações nos atributos
do solo, que podem significar perda de qualidade, afetando a sustentabilidade ambiental e
econômica da atividade agrícola. A compreensão e a quantificação do impacto do uso e manejo do
solo na sua qualidade são fundamentais no desenvolvimento de sistemas agrícolas sustentáveis
(DEXTER & YOUNGS, 1992).
Para avaliação da qualidade de um solo, recomenda-se incluir, dentre os seus atributos,
indicadores ou índices, os quais possam identificar mudanças mensuráveis em médio prazo, por
exemplo, resistência à penetração, conteúdo de matéria orgânica (CARVALHO et al.,2004), além
de outros como estrutura do solo, atividade microbiana, cobertura do solo, retenção de água e
erosão.
Eles atuam de forma imprescindível para avaliação qualitativa do ambiente. Assim, facilitam
a comparação da qualidade de solos nativos e sob diferentes usos (ARAÚJO et al.; 2007),
constituindo um suporte para a identificação de alternativas sustentáveis adequadas ao clima
semiárido (DANTAS et al., 2012).
Vários indicadores de sustentabilidade vêm sendo utilizados para a caracterização e
monitoramento de agroecossistemas, mas poucos métodos propostos são de fácil compreensão e
manipulação pelos agricultores (NICHOLLS et al., 2004), por isso, a aplicação de metodologia de
indicadores de qualidade deve, além de caracterizar e monitorar os sistemas, fornecer às

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comunidades a capacidade de observar, avaliar e tomar decisões, adaptando as tecnologias aos


conhecimentos dos agricultores e às condições socioeconômicas e biofísicas de seus
agroecossistemas (MACHADO & VIDAL, 2006), o que a define também como metodologia
participativa.
As principais características desses indicadores e do método propriamente dito, e que
justificam seu emprego são, de acordo com Nicholls et al. (2004): de fácil utilização pelos
agricultores, além de relativamente precisos e fáceis de analisar e interpretar, com praticidade para
novas tomadas de decisão, porém são sensíveis o bastante para refletir mudanças ambientais e os
efeitos de práticas de manejo no solo e dos cultivos, e por fim, possuem a capacidade de interagir e
inter-relacionar com as propriedades físicas, químicas e biológicas dos solos.
Trata-se de uma metodologia aplicável a diferentes agroecossistemas em vários contextos
geográficos e socioeconômicos, sendo que no Brasil, a EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária) tem incentivado bastante a aplicação deste tipo de trabalho, como aborda Machado
& Vidal (2006), com a experiência em um assentamento situado no município de Itapipoca, CE.
O objetivo geral do trabalho foi avaliar os solos de diferentes agroecossistemas no projeto de
assentamento Terra de Esperança, Governador Dix-Sept Rosado – RN, com a utilização de
indicadores qualitativos e quantitativos por meio de metodologia participativa, estabelecendo um
paralelo entre a avaliação obtida por meio da metodologia participativa e analítica, e observar a
percepção dos agricultores no contexto da avaliação do solo dos ambientes em que estão inseridos.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi realizado no Projeto de Assentamento Terra de Esperança (P. A. T. E),


Governador Dix-Sept Rosado – RN, microrregião da Chapada do Apodi, nas coordenadas
geográficas 5º 30‘ 12,19‘‘ S e 37º 27‘ 26,66‘‘ O (Figura 1). Apresenta classificação climática,
segundo Koppen, semiárido quente, tipo BSwh, com precipitação pluvial média anual de 712 mm
durante os meses de fevereiro a maio, (BELTRÃO et al., 2005), com média anual de 27°C e
umidade relativa do ar média de 68,9%. A vegetação natural é a Caatinga Hiperxerófila, além da
existência da variabilidade de solos: Cambissolos, Vertissolos e Chernossolos (EMBRAPA, 1971).

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Figura 1. Localização da área de estudo: Projeto de Assentamento Terra de Esperança,


Governador Dix-Sept Rosado, RN.

O P. A. T. E é constituído de uma área total de 6.297 hectares, distribuídos numa vila de 30


lotes com 113 famílias, cada uma com 30 hectares. O estudo foi conduzido em seis
agroecossistemas com características peculiares quanto aos usos agrícolas. O As áreas de estudo
foram: área de mata nativa preservada (MN), com Caatinga Hiperxerófila, como referência (Figura
2A); área coletiva de mata nativa (MNC), com Caatinga Hiperxerófila e retirada de lenha para
devidos fins de forma coletiva pelos agricultores (Figura 2B); área com preparo intensivo (PI), que
foi desmatada para produção de alimentos de forma coletiva, com as culturas de sorgo, milho e
feijão (Figura 2C); área de cajueiro (CAJU), em etapa final de produção (Figura 2D); área
agroecológica (AGRO), com produção de alimentos agro sustentável, frutíferas e forrageiras para
atender as necessidades das famílias e dos animais (Figura 2E); e área de cajaraneira (CAJA), do
gênero Spondia sp pelo antigo proprietário na década de 1970 (Figura 2F).

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Figura 2. Área de mata nativa preservada (A); Área coletiva mata nativa (B); Área com preparo intensivo
(C); Área de cajueiro (D); Área agroecológica (E) e Área de cajaraneira (F).

Os indicadores qualitativos foram avaliados no campo por meio de abertura de perfis de


solos usados para classificação, pela atribuição de notas que variaram de 1 a 10 (valores de 1 -
menos desejável, 5 - valor moderado e 10 - mais desejável) às características relacionadas à
qualidade do solo e relevância para os participantes que foram constituídos de (03) agricultores,
(02) professoras, (02) discentes de Pós-graduação e (03) da Graduação.
As notas atribuídas no campo pelos participantes da metodologia participativa foram
registradas e, após, construiu-se uma tabela com os onze indicadores qualitativos (1. Profundidade,
2. Estrutura, 3. Compactação, 4. Estado de resíduos, 5. Cor, odor e matéria orgânica, 6. Retenção de
água no solo ou grau de umidade após irrigação ou chuva, 7. Cobertura do solo, 8. Erosão, 9.
Presença de invertebrados, 10. Atividade microbiológica, e 11. Desenvolvimento de raízes,
conforme Altiere e Nicholls (2002)) e os valores atribuídos a cada um deles, sendo então somados e
divididos pelo número de indicadores da qualidade do solo analisados, obtendo-se, assim, uma
média para cada indicador. Os valores abaixo de 5 foram considerados inferiores ao limite mínimo
de sustentabilidade.
Para caracterização dos ambientes referentes aos solos das áreas em estudo, realizou-se a
abertura de seis perfis de solo representativos, coletando-se amostras de solo com estrutura
deformada para as análises físicas e químicas, para sua classificação segundo o Sistema Brasileiro
de Classificação de Solos (SANTOS et al., 2013; DONAGEMA et al.,2011).
Coletaram-se também amostras de solo com estrutura deformada nas áreas estudadas, sendo
cinco amostras compostas, oriundas de 15 subamostras, tendo como referência 1 ha, nas camadas de
0,00- 0,10 e 0,10-0,20 m, retiradas com o auxílio trado tipo holandês, acondicionadas em sacos

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

plásticos devidamente identificados e levadas ao Laboratório de Análise de Solo, Água e Planta da


Universidade Federal Rural do Semi-Árido. As amostras foram secas ao ar, destorroadas e passadas
em peneiras de 2 mm para obtenção da terra fina seca ao ar (TFSA). Para os atributos físicos do
solo, foram realizadas análises de: granulometria pelo método da pipeta utilizando hexametafosfato
de sódio; a densidade de partículas (Dp), realizada pelo método do balão volumétrico
(DONAGEMA et al., 2011); e umidade gravimétrica, por Forsythe (1975).
Foram coletadas dez (10) amostras com estrutura indeformada de solo, dentro de cada área
de estudo, nas camadas de solo 0,00 – 0,10 e 0,10 – 0,20 m, utilizando-se anéis volumétricos com
dimensões de 0,05 x 0,05 m, e tomando-se a média dos valores obtidos, para a determinação da
densidade do solo (FORSYTHE, 1975) e expressa em kg.dm-3. A determinação do carbono
orgânico total (COT) foi realizada pelo método de oxidação por via úmida, com aquecimento
externo, proposto por Yeomans & Bremner (1988).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Como os resultados obtidos das análises físicas e químicas dos perfis nos seus respectivos
horizontes diagnósticos, os solos estudados foram classificados, conforme Santos et al. (2013) em
Cambissolos representados pelos Agroecossistemas: Área de Mata Nativa Preservada (MN)
considerada como referência; Área Coletiva de Mata Nativa (MNC); Área com preparo intensivo
(PI); Área Agroecológica (AGRO) e Área de Cajaraneira (CAJA); e Latossolo: Área de Cajueiro
(CAJU).

METODOLOGIA PARTICIPATIVA DA QUALIDADE DO SOLO

Os valores médios atribuídos pelos grupos de avaliadores para os indicadores de qualidade


do solo estão apresentados na Tabela 1. No geral, as áreas apresentaram valores satisfatórios, com
exceção da área com preparo intensivo e a área de cajueiro, que apresentaram uma média final de
3,2 e 4,9, respectivamente, estando esses valores abaixo de cinco, indicando a necessidade de
alguma intervenção para a melhoria do seu desempenho. Isso pode ser justificado pelo preparo
intensivo, com aração e gradagem, que favoreceram a desagregação das partículas do solo, ausência
de cobertura e ação direta dos agentes erosivos (água e vento), promovendo a degradação do
ambiente. Para a melhoria do desempenho dessas áreas, podem ser realizadas práticas
conservacionistas como consórcio e rotação de culturas.

Médias das notas para cada área


Indicadores/Áreas
MN MNC PI CAJU AGRO CAJA
1. Profundidade 5,0 9,1 1,0 9,5 5,0 7,8
2. Estrutura 9,1 6,9 1,0 5,4 6,8 5,6

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3. Compactação 6,3 1,7 7,4 4,9 1,8 6,0


4. Estado de resíduos 4,0 3,2 1,0 4,1 3,2 4,2
5. Cor, odor e matéria orgânica 6,4 4,7 4,3 3,3 6,2 6,6
6. Retenção de água (grau de umidade após irrigação ou chuva) 8,7 8,4 8,5 7,3 5,8 5,8
7. Cobertura do solo 10,0 9,4 1,0 8,4 5,6 10,0
8. Erosão 9,1 5,4 1,4 4,9 6,2 8,4
9. Presença de invertebrados 7,9 5,1 2,6 2,2 5,0 7,8
10. Atividade microbiológica 9,0 9,7 5,3 2,6 7,2 9,2
11. Desenvolvimento de raízes 8,4 6,1 1,2 1,4 5,8 9,0
Média final 7,6 6,4 3,2 4,9 5,3 7,3
Tabela 1- Médias das notas atribuídas aos indicadores de qualidade de solos no Projeto de Assentamento
Terra de Esperança, Governador Dix-Sept Rosado - RN, por meio de metodologia participativa.
MN - Área de Mata Nativa Preservada; MNC - Área Coletiva de Mata Nativa; PI - Área com Preparo
Intensivo ; CAJU - Área de Cajueiro; AGRO - Área Agroecológica; CAJA – Área de Cajaraneira.

Na área de mata nativa preservada, observa-se que o indicador do estado de resíduos foi o
único que apresentou média inferior a cinco (4,0), já o indicador de cobertura do solo obteve-se
média 10, esses valores sugerem que mais de 50 % do solo estava coberto por resíduos orgânicos
com lenta decomposição na época da avaliação. O resultado do indicador cobertura do solo remonta
a qualidade ambiental desse agroecossistema, conforme explicam Reichert et al. (2003), em estudos
relacionados a qualidade dos solos e sustentabilidade de sistemas agrícolas, que a cobertura, além
de minimizar de maneira drástica a erosão hídrica, influencia de maneira indireta a estabilidade
estrutural, por meio do incremento importante da matéria orgânica e da atividade biológica do solo.
Na área coletiva de mata nativa, foi verificado que os indicadores que apresentaram os
índices inferiores foram: compactação (1,7), estado de resíduos e cor (3,2) e odor e matéria orgânica
(4,7), chama a atenção o valor referente à compactação, estando em conformidade com o que
Reichert et al. (2003) apresentam, que de maneira geral, a compactação máxima situa-se em torno
de 5 cm de profundidade, com valores de densidade do solo em média de 1,5 kg dm-3, podendo
ocasionar um aumento da densidade e da resistência do solo, reduzindo-se a porosidade,
principalmente em termos de macroporosidade ou porosidade de aeração (poros maiores que 50
mm), bem como a influência negativa de diversos de seus atributos como, a condutividade
hidráulica, a permeabilidade, infiltração de água, podendo contribuir para a limitação do
desenvolvimento das plantas, acarretando por consequência os problemas ambientais.
Na área com preparo intensivo, é possível perceber que essa área foi a que apresentou os
valores mais baixos para os indicadores de qualidade do solo, com valores acima de cinco apenas
para os indicadores: compactação (7,4), retenção de água (8,5) e atividade microbiológica (5,3). Os
indicadores profundidade, estrutura, estado dos resíduos e cobertura do solo obtiveram as notas
mais críticas (1,0), possuindo relação estreita com o manejo dado ao solo, pois a retirada da
cobertura do solo e o seu revolvimento prejudicam a qualidade estrutural desse solo, a situação

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

apresentada é preocupante, inspirando ações imediatas junto aos agricultores, como Feiden (2005)
sugere, a incorporação de material verde como uma alternativa para auxílio na cobertura do solo.
A área de cajueiro apresenta valores acima do limite apenas para três indicadores:
profundidade (9,5), estrutura (5,4), retenção de água (7,3) e cobertura do solo (8,4). A área não
possui presença de invertebrados e atividade microbiológica e suas raízes são pouco desenvolvidas,
enfermas e curtas.
Na área agroecológica, é possível perceber que os indicadores de qualidade obtiveram
médias próximas ao limite, se distanciando desse limite apenas os indicadores de estrutura (6,8) e
atividade microbiológica (7,2). A situação encontrada é confirmada por Padovan (2006),
mencionando que a adoção de parâmetros agroecológicos nos manejos de produção, é capaz de
trazer melhorias aos atributos do solo, contribuindo para a preservação de recursos hídricos,
recuperação gradual da biodiversidade e consequentemente fazendo com que sejam produzidos
alimentos mais saudáveis. Na área de cajaraneira, é possível identificar que os indicadores
estrutura (5,6), compactação (6,0), estado dos resíduos (4,2), cor, odor e matéria orgânica (6,6) e
retenção de água (5,8) foram os que mais se aproximaram do valor limite, os demais apresentaram
valores bem mais elevados, se distanciando desse valor limite, sendo a que apresentou melhor
qualidade ambiental dentre todas.

METODOLOGIA ANALÍTICA DA QUALIDADE DO SOLO

De modo geral, a classificação textural das áreas em estudo apresentou na superfície textura
franco argilo-arenosa, com exceção das áreas de CAJU (arenosa) e de CAJA (franco-argilosa)
(Tabela 2). Na CAJU, observa-se na camada superficial (0,0-0,10 m) a predominância da fração
areia, a qual é diretamente proporcional ao valor de densidade do solo, sendo, possivelmente muito
influente às características pedogenéticas, em que a predominância da fração é justificada pelo fato
de área pertencer à classe dos Latossolos, já na CAJA, apresentou-se um incremento da fração
argila mudando a classificação textural, pertencendo aos Cambissolos como as demais áreas.
No que se refere à fração silte, os valores encontrados foram altos indicando solos jovens,
com exceção da área de cajueiro, por ser um Latossolo, com intemperismo químico intenso,
refletindo na menor relação silte-argila (0,16) na camada de 0,10-0,20m (Tabela 2).
Quanto a densidade do solo na camada superficial, variou de 1,04 a 1,98 kg dm-3 e de 1,41 a
1,99 kg dm-3 na subsuperfície.Vale ressaltar que os valores inferiores de densidade do solo
encontrados foram nas áreas de MN, seguido da CAJA e PI, as duas primeiras devem-se ao aporte
de resíduos vegetais na superfície, refletindo em maior umidade gravimétrica (4,88 e 7,34%), e a
última respectivamente, ao preparo intensivo com aração e gradagem, com aumento da rugosidade
superficial do solo, desagregando as partículas, deixando expostas à ação dos agentes ativos (água e

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vento), consequentemente reduzindo a umidade do solo (2,54%) e acelerando o processo erosivo.


De acordo com Reichert et al., (2003) o aumento da densidade de solo em lavouras é influenciado
pela técnica utilizada na área, porém, devido a permanência dos poros, que se relacionam com a
aeração do solo, infiltração de água e penetração de raízes, a produtividade pode não alterar.

Camada Areia Silte Argila Relação Classificação Textural Ds(1) Dp(2) U(3)
Grossa Fina Total Silte /Argila

M -----------------g kg-1------------------- --kg dm-3-- %


Área de Mata Nativa Preservada (MN)
0,00-0,10 0,27 0,21 0,48 0,18 0,34 0,52 Franco Argilo Arenosa 1,04 2,66 4,88
0,10-0,20 0,31 0,13 0,43 0,07 0,49 0,15 Argila 1,41 2,48 5,45
Área Coletiva de Mata Nativa (MNC)
0,00-0,10 0,37 0,19 0,56 0,11 0,33 0,32 Franco Argilo Arenosa 1,63 2,60 2,89
0,10-0,20 0,35 0,15 0,50 0,16 0,34 0,48 Franco Argilo Arenosa 1,62 2,57 2,61
Área com preparo intensivo (PI)
0,00-0,10 0,38 0,17 0,55 0,12 0,33 0,37 Franco Argilo Arenosa 1,56 2,58 2,54
0,10-0,20 0,39 0,17 0,56 0,09 0,35 0,27 Argila Arenosa 1,57 2,64 3,17
Área de Cajueiro (CAJU)
0,00-0,10 0,69 0,21 0,90 0,03 0,07 0,43 Areia 1,86 2,66 0,71
0,10-0,20 0,62 0,17 0,79 0,03 0,18 0,17 Franco Arenosa 1,99 2,61 0,44
Área Agroecológica (AGRO)
0,00-0,10 0,40 0,20 0,60 0,10 0,30 0,34 Franco Argilo Arenosa 1,98 2,57 2,15
0,10-0,20 0,39 0,18 0,58 0,10 0,33 0,29 Franco Argilo Arenosa 1,75 2,67 2,82
Área de Cajaraneira (CAJA)
0,00-0,10 0,26 0,14 0,40 0,21 0,39 0,53 Franco Argilosa 1,43 2,55 7,34
0,10-0,20 0,24 0,12 0,37 0,23 0,40 0,59 Argila 1,56 2,47 6,05
Tabela 2- Distribuição do tamanho das partículas, sua classificação textural e densidade de solo, densidade
de partículas e umidade do solo dos agroecossistemas no Projeto de Assentamento Terra de Esperança,
Governador Dix-Sept Rosado - RN nas camadas 0,0-0,10 e 0,10-0,20m. (1)Densidade do Solo; (2)Densidade
de Partículas; (3)Umidade.

Avaliando o carbono orgânico total (Tabela 3), as áreas de cajaraneira (CAJA), seguida da
área de mata nativa (MN) e área coletiva de mata nativa (MNC) apresentaram quantidade de COT
como muito boa (26,93; 24,75; 21,11 g kg-1), esse fato pode estar relacionado com a cobertura
vegetal da cajaraneira e da vegetação natural da caatinga (serapilheira) contribuindo para os valores
encontrados. Souza (2014) estudando Cambissolos em áreas de mata nativa, situado no município
de Governador Dix-Sept Rosado no Estado do Rio Grande do Norte, observou que o COT
apresentou valores altos, representativos dentro de um ambiente de condições semiáridas. A área
agroecológica (AGRO) apresentou valores de (16,1 g kg-1) e do cajueiro (CAJU) de (15,65 g kg-1).
O COT na área de cajueiro (CAJU) deve-se por parte da ligação dos ácidos orgânicos a elementos
químicos como alumínio e manganês, em função do intemperismo químico intenso (Latossolo).

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Os valores de carbono orgânico total (COT) das áreas em estudo, com exceção da área com
preparo intensivo (PI), apresentaram bons valores, não sendo notada discrepância entre eles,
estando em conformidade com D‘Andrea et al. (2010) quando estudaram fatores ambientais e a
relação com emissão de CO2, pelo fato de que, nos solos que estão sob vegetação natural, não há a
susceptibilidade de grandes variações dos níveis de (COT), existindo uma tendência ao equilíbrio.

Carbono Orgânico Total (g kg-1)


Camada Agroecossitema
(m) Área de Mata Nativa Preservada (MN)
0,00-0,10 24,75
0,10-0,20 6,18
Área Coletiva de Mata Nativa (MNC)
0,00-0,10 21,11
0,10-0,20 7,11
Área com preparo intensivo (PI)
0,00-0,10 8,753
0,10-0,20 9,462
Área de Cajueiro (CAJU)
0,00-0,10 15,65
0,10-0,20 10,54
Área Agroecológica (AGRO)
0,00-0,10 16,01
0,10-0,20 5,43
Área de Cajaraneira (CAJA)
0,00-0,10 26,93
0,10-0,20 10,55
Tabela 3 - Carbono orgânico total em agroecossistemas no Projeto de Assentamento
Terra de Esperança, Governador Dix-Sept Rosado - RN nas camadas 0,0-0,10 e 0,10-0,20
m.

Vale ressaltar que a área com preparo intensivo (PI), na classe de solo Cambissolo, os
valores de carbono orgânico total (COT) foram baixos, de 8,75 g kg-1 na camada de 0,0-0,10 m,
com acréscimo 9,46 g kg-1 na camada 0,10-0,20 m. Fato esse, relacionado ao revolvimento do solo
pelo preparo intensivo, favorecendo mistura do material da superfície para subsuperficie, quebrando
os agregados, deixando-os expostos a ação dos agentes ativos (água e vento), favorecendo o
processo erosivo. Para a melhoria do desempenho da área com preparo intensivo (PI), indica-se a
utilização de práticas conservacionistas como a rotação de culturas, pois de acordo com Liu et al.
(2010), este sistema aliado a um preparo adequado do solo, promove uma maior eficiência na
utilização dos mais diversos nutrientes, maior eficiência do uso da água, e principalmente o

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

importante incremento nos níveis de (COT), uma vez que se notou uma perda intensa de matéria
orgânica na área citada (Tabela 3).

CONCLUSÃO

A avaliação por meio da metodologia participativa proporcionou uma distinção entre os


agroecossistemas quanto aos níveis satisfatórios de qualidade do solo, de modo que, a área de mata
nativa preservada (MN), área de cajaraneira (CAJA), área coletiva de mata nativa (MNC) e área
agroecológica (AGRO) apresentaram os valores mais altos. E área de cajueiro (CAJU) e com
preparo intensivo (PI) apresentaram médias dos indicadores inferiores a 5,0, indicando a
necessidade de práticas conservacionistas de suporte para a melhoria do seu desempenho.
A utilização da metodologia participativa mostra que o conhecimento empírico dos
agricultores torna-os capazes de avaliar as alterações que ocorrem no ambiente em função de seus
usos, com resultados que se aproximam dos dados quantitativos.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

IMPORTÂNCIA SOCIOECONÔMICA DA AGRICULTURA FAMILIAR DE BASE


ECOLÓGICA EM LAGOA DE ITAENGA - PE

Josinaldo José da SILVA


Geógrafo, Mestre em Desenvolvimento Local Sustentável, Analista em Gestão Ambiental
josinaldo.geografo@gmail.com
Francisco Roberto CAPORAL
Professor Doutor. Universidade Federal Rural de Pernambuco
caporalfr@gmail.com
Claudio Roberto Farias PASSOS
Doutorando em Geografia. Universidade de Federal de Pernambuco
cbetopassos@yahoo.com.br
Deivide Benicio SOARES
Doutor em Geografia. Universidade de Federal de Pernambuco
deividebenicio@yahoo.com.br

RESUMO
A agricultura familiar de base ecológica é conhecida por seus baixos impactos ao meio ambiente,
pois possui baixa dependência de insumos comerciais, faz uso de recursos renováveis acessíveis
localmente, mantém, em longo prazo, a capacidade produtiva do agroecossistema e preserva a
diversidade biológica. Também tem sido responsável por significativas melhoras na qualidade de
vida de seus agricultores. Esta pesquisa propõe-se a discutir e analisar a importância
socioeconômica e ambiental da agricultura familiar de base ecológica para promoção do
desenvolvimento local sustentável em zonas rurais, tomando como local da pesquisa as
comunidades rurais organizadas por meio da ASSIM (Associação dos Produtores Agroecológicos e
Moradores das Comunidades Imbé, Marrecos e Sítios Vizinhos), localizadas em zonas rurais do
município de Lagoa de Itaenga - PE. O estudo foi orientado pelas abordadagens qualitativa e
quantitativa e teve como objetivo geral analisar a importância socioeconômica e ambiental da
agricultura familiar de base ecológica para promoção do desenvolvimento local sustentável de
zonas rurais em Lagoa de Itaenga – PE. Foram realizadas entrevistas e visitas de campo às
propriedades rurais das comunidades pesquisadas. Os resultados mostram avanços nos processos
ambientais e socioeconômicos, no entanto ainda há obstáculos que impedem o desenvolvimento
local sustentável da região.
Palavras-chave: Agricultura sustentável. Comunidades rurais. Baixo impacto ambiental.
ABSTRACT
Ecologically wise family agriculture is known for its low impacts to the environment since it does
not depend so much on commercial inputs, makes use of locally available renewable resources and
maintains, in the long run, the productive capacity of the agro-ecosystem and preserves biological
diversity. It has also been responsible for significant improvements in the quality of life for farmers.
This research seeks to discuss and analyze the socio-economic and environmental importance of
ecology-based family agriculture for the promotion of sustainable local development in rural zones.
The research originates in rural communities organized by ASSIM (Association of Agro-ecological
Farmers and Residents of the Imbé, Marrecos and Neighboring Farm Communities) located in rural
areas of Lagoa de Itaenga municipality (State of Pernambuco, Brazil). The study was orientated by
qualitative and quantitative approaches and had as its general objective: To analyze the socio-

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

economic and environmental importance of ecology-based family agriculture for the promotion of
local sustainable development in the rural zones of Lagoa de Itaenga. Interviews and field trips to
rural properties of the communities under study were performed. The results show advances in
socioeconomic processes, however, there are still obstacles that prevent the local sustainable
development of the region.
Key words: Sustainable agriculture. Rural communities. Low environmental impact.

INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, a discussão sobre a importância e o papel da agricultura familiar no


desenvolvimento brasileiro vem ganhando força seja pela sua participação na geração de emprego e
renda no campo, o seu papel na segurança alimentar, pela sua contribuição para o desenvolvimento
local das áreas rurais (INCRA/FAO, 2000; MDA, 2014). Além disto, a produção de alimentos nas
pequenas propriedades rurais familiares é responsável pela maior parte dos alimentos que chegam
às mesas dos brasileiros (MDA, 2014).
Vale destacar, no entanto, que quando se debate a sustentabilidade da produção
agropecuária, aponta-se para a necessidade de mudança em seus processos produtivos modernos,
pois, constata-se que eles são causadores de exclusão social no campo e potenciais poluidores do
meio ambiente (MACHADO; MACHADO FILHO, 2014). Do mesmo modo, práticas tradicionais
pouco sustentáveis, como as queimadas sistemáticas também precisam ser abolidas. No bolo do
debate sobre esta temática, emerge a Agroecologia como ciência que procura estabelecer ―as bases
para a construção de estilos de agriculturas sustentáveis e de estratégias de desenvolvimento rural
sustentável‖ (CAPORAL; COSTABEBER, 2004, p. 5). E é com enfoque agroecológico que as
comunidades agrícolas estudadas nesta pesquisa procuram desenvolver um processo produtivo
menos agressivo ao meio ambiente por meio da agricultura orgânica.
São quinze produtores orgânicos, donos de pequenas propriedades rurais, localizadas na
zona rural do município de Lagoa do Itaenga – PE, que por meio de uma associação se organizaram
para planejar a produção, o beneficiamento, o transporte e a comercialização dos seus produtos
agrícolas e derivados.
Desta forma, esta pesquisa objetiva analisar a importância socioeconômica da agricultura
familiar de base ecológica para promoção do desenvolvimento local sustentável de zonas rurais.
Neste sentido, procurou-se diagnosticar os ganhos socioeconômicos que o modelo orgânico de
produção agrícola, praticado nas comunidades pesquisadas, proporciona a estes pequenos
produtores rurais.
Cabe destacar, inicialmente, que todos os agricultores pesquisados consideram-se produtores
orgânicos. Neste aspecto, acrescenta-se que os agricultores orgânicos baseiam-se, fortemente, no
uso de recursos internos, com destaque para a energia solar, os controles biológicos de pragas, os

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nutrientes liberados da matéria orgânica oriundos da rotação de cultura, a biomassa, os estercos


animais, adubos verdes, a não utilização de organismos geneticamente modificados, nem
agrotóxicos ou fertilizantes químicos, entre outros aspectos (ALTIERI, 2012).

MATERIAIS E MÉTODO

O município de Lagoa de Itaenga - PE está localizado na mesorregião da Zona Mata


pernambucana, classificada pela CONDEPE/FIEDEM como ―Região de Desenvolvimento Mata
Norte‖ (CPRM, 2005). Limita-se a norte com Carpina e Lagoa do Carro, a sul com Glória do Goitá,
a leste com Paudalho, e a oeste com Feira Nova e Limoeiro (Figura 1).

Figura 1: Mapa de localização de Lagoa de Itaenga - PE. Fonte:


Base de Dados do IBGE, 2005. Elaborado pelo autor, 2016.

Lagoa de Itaenga ocupa uma área territorial de 57,28 km² (IBGE, 2016), o que representa
aproximadamente 0,06% do território do Estado de Pernambuco. A sede do município está
localizada a uma altitude aproximada de 183 metros, sob as coordenadas geográficas 07º56‘10‖ de
latitude Sul e 35º17‘25‖ de longitude Oeste.
De acordo com o censo populacional do IBGE, de 2010, a população residente total de
Lagoa de Itaenga / PE é de 20.659 habitantes, sendo que a população masculina é de 10.070; e a
feminina é de 10.589. A população estimada de Lagoa de Itaenga, publicada no Diário oficial da
União, em 28/08/2014, com base na Pesquisa Nacional de Amostra a Domicílio (PNAD), realizada
pela Fundação IBGE, totalizava 21.224 habitantes.

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As comunidades pesquisadas estão localizadas na zona rural do município de Lagoa de


Itaenga – PE, especificamente as áreas de abrangência da ―Associação dos Produtores
Agroecológicos das Comunidades de Imbé, Marrecos e Sítios Vizinhos‖ (ASSIM). Quinze
propriedades integrantes da ASSIM praticam, permanentemente, a agricultura orgânica. A área
média das propriedades pesquisadas é de 2,0 hectares.
Nas dependências da ASSIM, os agricultores das comunidades de Imbé, Marreco I e II,
Batalha e Alegria se reúnem uma vez ao mês para traçar estratégias de produção e comercialização
dos produtos orgânicos, além de procurar estabelecer parceria com o Poder Público e entidades não
governamentais. Eles realizam a comercialização da produção agrícola nas denominadas ―Feiras
Agroecológicas‖, que ocorrem em algumas localidades da cidade de Recife (no Fórum de Joana
Bezerra, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e no bairro de Santo Amaro) e também
na Praça do Carmo (no município de Olinda).
Os procedimentos para coleta de dados foram realizados por meio de pesquisas
bibliográficas, documentais e de campo. A pesquisa documental foi realizada por meio da análise a
diversos documentos referentes ao tema abordado, tal como Estatuto Social da ASSIM, publicações
da imprensa oficial (Diário Oficial do Estado de Pernambuco) e nos sítios das Organizações Não
Governamentais (Ongs) diretamente envolvidas com as comunidades pesquisadas.
As pesquisas de campo foram realizadas através de visitas às propriedades, à associação e
aos locais de comercialização dos produtos orgânicos. Teve por objetivo entender a dinâmica da
atividade (da produção à comercialização), com foco na organização associativa, procedimentos de
produção orgânica e aspectos socioeconômicos e ambientais. Nas visitas às propriedades, fez-se uso
da ferramenta de pesquisa entrevista informal aplicada aos agricultores disponíveis nas
propriedades. Segundo Gil (2012), ―este tipo de entrevista é o menos estruturado possível e só se
distingue da simples conversação porque tem como objetivo básico a coleta de dados‖ (GIL, 2012,
p. 111).
Posteriormente, foram entrevistados na sede da associação treze agricultores integrantes da
ASSIM que responderam a questões relativas aos aspectos socioeconômico da produção agrícola
das suas comunidades.
Por fim, e ainda sobre a atividade de campo, a última visita à associação teve por objetivo
observar as aquisições oriundas de convênios entre a ASSIM e órgãos públicos e instituições não
governamentais. Trata-se de equipamentos para se montar a cozinha comunitária (forno,
empacotador de embalagem a vácuo, processadores de alimento, etc.) e de um biodigestor para
fornecer gás oriundo de dejetos orgânicos.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

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Observações inerentes aos aspectos socioeconômicos

Registra-se, inicialmente, que todos os agricultores orgânicos associados à ASSIM são


descendentes de famílias agricultoras da região e estão na atividade agrícola desde criança, pois,
conforme relataram os agricultores, ―na roça se começa a trabalhar desde cedo‖. Todos os
agricultores pesquisados disseram que são donos de suas propriedades e que a maioria delas foi de
herança.
Cabe destacar que, antes das culturas orgânicas, a produção agrícola dessas famílias de
agricultores era a mandioca e a cana-de-açúcar, sendo esta última destinada a abastecer a Usina
Petribu S.A. Neste aspecto, segundo relatos dos agricultores, a situação de pobreza se agravava
durante a entressafra da cana-de-açúcar e enquanto a mandioca não estava pronta para a colheita.
Destacaram, ainda, que estas culturas só garantiam renda uma vez ao ano, ainda assim a renda era
bem reduzida, pois a produção era repassada a atravessadores que ficavam com o maior lucro da
produção.
Outros aspectos significativos no que se refere à renda dos agricultores pesquisados são: a
aposentadoria rural e o programa Bolsa Família. Do total das quinze famílias produtoras orgânicas
permanentes, seis delas já possuem pelo menos um membro da família aposentado. Destaca-se,
ainda, que quatro famílias são beneficiárias do Programa Bolsa Família. Os entrevistados afirmaram
que há alguns anos o número de agricultores beneficiários deste programa era bem maior, mas hoje
diminuiu bastante devido, principalmente, à melhora de renda.
Nas comunidades analisadas, percebe-se a forte participação dos jovens nas atividades
rurais, tanto nas reuniões da associação, quanto na produção e comercialização dos alimentos. No
entanto, relatou-se que atualmente a maioria dos descendentes realiza algum tipo de curso (técnico
ou superior) em outros municípios. Por esta razão, raramente participam das atividades agrícolas
nas lavouras. Devido a isto, eventualmente, são contratados trabalhadores de fora para realizarem os
serviços nas lavouras ao de custo de R$ 60,00 (sessenta reais) por dia trabalhado nas propriedades.
Outro aspecto que interfere no ganho monetário dos agricultores é a venda dos produtos
agrícolas aos atravessadores. Neste caso, constatou-se que, em grande medida, os agricultores
pesquisados estão livres dos atravessadores. Ainda assim, não estão totalmente livres deles, pois
repassam para eles quase toda produção do fruto do urucum (Bixa orellana L. Bixaceae), matéria
prima do condimento colorau. Isto se deve, segundo informação dos agricultores, à falta de mercado
consumidor local para este produto.
Sobre esta cultura, vale destacar que o urucuzeiro é uma planta arbórea, originária da
América Tropical. É uma planta rústica, perene, de origem pré-colombiana e pertence à flora
amazônica. Pode alcançar até 6 m de altura (EMBRAPA, 2009). O urucum é um corante natural

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permitido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) porque, além de não ser tóxico, não altera o
sabor dos alimentos (MANFIOLLI, 2004).
Existe na comunidade uma máquina para beneficiamento do urucum que atende a três
proprietários rurais. Ressalta-se que a quantidade de colorau produzida nas comunidades integrantes
da ASSIM não foi informada pelos agricultores. No entanto, afirmou-se que se trata de uma
produção considerável, e que representa uma parcela não desprezível na renda familiar.
Ainda sobre os aspectos socioeconômicos da produção, destaca-se que a cultura da
mandioca (Manihot esculenta Crantz) apresenta papel relevante nas comunidades, inclusive
importante ganho monetário. Observou-se que o processamento deste produto ainda é muito
precário e rudimentar. Constatou-se em uma das propriedades a existência de triturador (ralador
tradicional) e prensa artesanal para a produção de farinha, goma e massa de mandioca. Além desta
propriedade, foi informada também a existência de outra casa de farinha, nos mesmos moldes, que
beneficia semanalmente os derivados da mandioca.
Sobre esta cultura, destaca-se que a mandioca é uma planta de origem brasileira sendo
encontrada na roça indígena na ocasião da chegada dos colonizadores no século XV
(NORMANHA; PEREIRA, 1950). Os principais produtos da mandioca são as raízes in natura, os
vários tipos de farinhas, fécula ou polvilho (doce ou azedo), bem como os subprodutos da parte
aérea e das raízes, usados principalmente na alimentação animal (FIALHO, 2011).
A quantidade de produtos derivados da mandioca, processada nas comunidades integrantes
da ASSIM, não foi informada pelos agricultores. No entanto, afirmou-se que a produção de farinha
de mandioca representa o maior ganho monetário entre os derivados. A massa e a goma são
produzidas em pequena quantidade e seus ganhos são pouco representativos. Todos os derivados
são comercializados nas feiras agroecológicas.

Comercialização da produção: independência financeira e autonomia dos produtores

Os agricultores afirmaram que a comercialização direta ao consumidor nas ―Feiras


Agroecológicas‖ resultou em aumento de renda, maior envolvimento de mulheres e jovens nas
atividades da associação, ampliação da variedade de produtos cultivados (de acordo com os
produtos mais procurados pelos consumidores) e, principalmente, eliminou a figura dos
atravessadores.
Destaca-se que as ―Feiras Agroecológicas‖ podem servir também como uma ação de
incentivo à divulgação e consumo de produtos oriundos de sistemas de produção agrícola
comprometido com a preservação ambiental, como ocorre com a prática da agricultura orgânica.
Pesquisas demonstram a importância das ―Feiras Agroecológicas‖ para o aumento da renda
familiar, uma vez que no espaço da feira se realiza a venda direta sem a existência de um

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atravessador, o que tem resultado no alcance de uma maior margem de lucro aos produtores
(SILVA, 2011).
Para a presente pesquisa, vale registrar que, após as citadas feiras, os agricultores associados
à ASSIM confirmaram uma renda monetária variável entre um e um e meio salário mínimo por
mês, havendo agricultores que auferem até dois salários mínimos oriundos das atividades agrícolas.
Esta realidade, outrora, não existia devido a, principalmente, monocultura da cana-de-açúcar e da
mandioca. Relatou-se que, anteriormente, a renda era inferior a um salário mínimo.
Destaca-se, no entanto, que a comercialização dos próprios produtos também gerou custos
adicionais aos agricultores. O transporte das mercadorias foi considerado como um dos maiores
desafios e de mais elevado custo.
A este respeito, afirmou-se que o escoamento da produção até as feiras sempre foi realizado
por conta dos agricultores que fretam um caminhão para transportar suas mercadorias. Os custos
por estes serviços são rateados entre os agricultores.
No ano de 2016, no entanto, os agricultores ganharam um reforço no escoamento da
produção através de parceria entre a Prefeitura Municipal de Lagoa de Itaenga e a ASSIM. O
veículo da prefeitura municipal, por sua vez, é oriundo do Programa de Aquisição de Alimentos do
Governo Federal. Está à disposição dos agricultores da ASSIM, desde fevereiro do citado ano, para
transportar os produtos para as ―Feiras Agroecológicas‖.
A condução dos alimentos, neste caso, é realizada por motorista contratado pela prefeitura
de Lagoa de Itaenga – PE. É relevante destacar a redução nos custos com transporte entre os
agricultores devido à parceria entre ASSIM e o poder público municipal. No entanto, este fato não
foi suficiente para que se deixasse de fretar caminhão para transportar suas mercadorias. Por isto, a
ASSIM continua buscando parcerias em outras instâncias.

Parcerias entre ASSIM, entidades públicas e organizações não governamentais

Inicialmente, destaca-se que o fortalecimento dos agricultores das comunidades pesquisadas


vem ocorrendo por meio das ações que a ASSIM realizada há quase três décadas. Neste sentido, a
procura por parceria com entidades não governamentais e do poder público tem dado bons frutos
aos agricultores orgânicos, segundo informações dos mesmos, e tomando como exemplo a cessão
do caminhão para transporte das mercadorias.
Cabe destacar que os agricultores da ASSIM informaram que, desde o início da criação da
associação, eles vêm contando com o apoio de instituições do terceiro setor e instituições públicas.
Relataram o apoio da Universidade Federal Rural de Pernambuco, através da Incubadora
Tecnológica de Cooperativas Populares (INCUBACOOP), para desenvolver processos de
sensibilização voltados para mudanças de uma agricultura convencional para uma agricultura de

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base ecológica e capacitação sobre cooperativismo. Além disto, outros aspectos foram trabalhados
pela incubadora como produção e comercialização, associativismo e vida comunitária, fóruns de
economia solidária e movimentos agroecológicos.
O apoio da Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), Serviço de
Tecnologia alternativa (SERTA), entidade sem fins lucrativos que busca promover o
desenvolvimento sustentável do campo, veio com a implantação do Fundo de Apoio a Projetos
Produtivos dos Agricultores: Projeto Brasil Local, do Ministério do Trabalho / Secretaria de
Economia Solidária.
Após capacitações obtidas junto ao SERTA para produzirem de maneira ecológica, os
agricultores da ASSIM iniciaram a participação em espaços de comercialização de produtos
orgânicos, como nas ―Feiras Agroecológicas‖ de Boa Viagem, da Praça do Carmo (Olinda), do
Fórum de Joana Bezerra, do bairro de Santo Amaro e do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da
Universidade Federal de Pernambuco (CCSA-UFPE), em Recife.
A ASSIM contou, também, com o apoio do Centro de Desenvolvimento Agroecológico
Sabiá (Centro Sabiá), organização não governamental e sem fins lucrativos que trabalha para
promoção da agricultura familiar dentro dos princípios da agroecologia, e recebeu do Ministério da
Comunicação, através programa GESAC (Governo Eletrônico Serviço de Atendimento ao
Cidadão), um Tele Centro que funcionará com sete computadores ligados a internet.
A ASSIM, ainda com o apoio do Centro Sabiá, por meio da Rede Espaço Agroecológico,
adquiriu um carro do Programa Ecoforte. Considera-se esta aquisição uma importante conquista
para os agricultores da área pesquisada tendo em vista que a associação não dispunha de veículo
próprio para atender suas demandas.
Novamente com o apoio do Centro Sabiá, por meio do Programa de Fortalecimento e
Ampliação das Redes de Agroecologia (Ecoforte), e financiamento da Fundação Banco do Brasil,
BNDES e Governo Federal, a ASSIM adquiriu um forno industrial, uma máquina de embalagem a
vácuo e um freezer. Estes equipamentos foram montados na cozinha da associação e deverão servir
aos seus associados.
A ASSIM, mais uma vez com o apoio do SERTA, providenciou a aquisição de um
biodigestor, para aproveitamento da matéria orgânica para a geração de biogás a ser utilizado na
cozinha da associação. A mão-de-obra para instalação do biodigestor partiu dos agricultores
integrantes da associação.
Cabe destacar que foi aprovado no Conselho de Desenvolvimento Rural Sustentável do
município um projeto para perfuração de poços artesianos nas comunidades integrantes da ASSIM.
E estes poços já foram perfurados, porém, não estão em uso devido a erro de projeto que não incluiu
a eletrificação dos poços.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

O projeto é de responsabilidade do ProRural (Programa de apoio ao Desenvolvimento Rural


Sustentável de Pernambuco) e encontra-se em fase de finalização. Também sobre as políticas
públicas voltadas ao abastecimento de água das citadas comunidades, a prefeitura do município está
providenciando recursos, junto ao Ministério de desenvolvimento Agrário, para construção de
pequenos açudes, segundo informações dos agricultores.
Estes projetos carecem de certa urgência devido à escassez de água dos últimos anos nos
municípios pernambucanos, em geral, e na mata norte pernambucana, em particular. Como forma
de atenuação desta escassez, os agricultores armazenam água em pequenas caixas d‘água no interior
de suas propriedades. Acrescenta-se que, em uma das propriedades visitadas, constatou-se a
presença de uma cisterna calçadão. Entretanto, o armazenamento d‘água nestes ambientes é
insuficiente e suporta apenas poucos dias de irrigação nas lavouras. Portanto, não representa uma
solução definitiva para a escassez de água na localidade.
Quanto aos créditos agrícolas, foram executados projetos junto ao Banco do Nordeste do
Brasil (BNB) para obtenção de crédito do PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da
Agricultura Familiar) para os agricultores integrantes da ASSIM. Neste caso, os agricultores
informaram que a Declaração de Aptidão ao PRONAF (DAP) foi fornecida pelo Sindicato dos
Trabalhadores Rurais do município de Lagoa de Itaenga – PE. Destacaram ainda que associação é
responsável apenas pela articulação dos projetos e que os recursos obtidos são diretamente
destinados aos agricultores. E, como resultado, cinco agricultores foram beneficiários pelo
programa Agro-amigo (PRONAF B) e um para o Agro-Mais (PRONAF Comum).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através desta pesquisa, foi possível constatar que houve melhoras nas condições
socioeconômicas das comunidades pesquisadas após a introdução agricultura orgânica em seus
processos produtivos e de comercialização. Também houve melhorias nas condições ambientais das
propriedades pela introdução de métodos agrícolas não convencionais (sem uso de agrotóxicos nem
fertilizantes sintéticos), pela adoção do sistema de policultivo, pela manutenção de espécies
arbóreas (frutíferas e não frutíferas), pelo uso racional da água e pelo processo de compostagem no
interior das propriedades.
Além do aumento de renda devido à produção orgânica, é interessante acrescentar o ganho
não monetário que a comunidade obteve com abastecimento de suas famílias com produtos
cultivados em suas propriedades rurais. Acrescenta-se também ganho monetário indireto pela
aquisição de equipamentos para o armazenamento e beneficiamento da produção local e com
projetos de implantação de sistema de abastecimento d‘água.

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Quanto ao não esvaziamento das áreas rurais pesquisadas, e ainda considerando a pretensão
dos descendentes dos agricultores permanecerem nas atividades agrícolas, constatou-se que o êxodo
rural não tem ocorrido nas comunidades agrícolas integrantes da ASIM.
Já a citada qualificação da joventude rural da ASSIM, quiçá, poderá representar uma
oportunidade para a utilizaçõa de novas ferramentas no processo produtivo e de comercialização
dos produtos orgânicos. Diversas oportunidades poderão surgir a partir da implantação de:
1. Novas mídias (site, redes sociais) onde se promova a divulgação e venda online dos
produtos orgânicos das comunidades;
2. Implementação de ferramentas de planejamento da produção (quantificação das safras,
período de colheita, produtos ofertados e disponibilidade dos alimentos para venda, etc.);
3. Evento cultural, periódico, na sede da associação onde se promova a venda dos produtos
orgânicos e apresentação da cultura orgânica e respectivo modo de produção;
4. Formatação de projetos para aquisição, junto ao poder público ou entidades não
governamentais, de novas tecnologias para fomento à produção de base ecológica
(produção e beneficiamento dos produtos orgânicos).

O grande desafio para agricultura familiar é superar o sistema de produção convencional e a


concentração fundiária das áreas rurais do país. Apesar de ser a grande responsável pela maioria dos
alimentos que chegam às mesas dos brasileiros, ainda grande parte dos estabelecimentos agrícolas
familiares faz uso do sistema de produção convencional. Portanto, o grande desafio que se apresenta
para a agricultura familiar é o de gerar alimentos sadios (causando o menor impacto possível ao
meio ambiente) e suprimento efetivo da demanda por alimentos.
A questão fundiária é a mais delicada. Mesmo com os milhares de estudos apontando para a
necessidade de se ampliar as áreas agrícolas para a agricultura familiar, a estrutura fundiária
brasileira continua concentrando as grandes áreas agricultáveis para a agricultura industrial
representada pela monocultura. Apesar disto, os agricultores pesquisados mostraram que são
capazes de mudar sua realidade mesmo sem as necessárias mudanças na estrutura agrária local.
No quesito políticas públicas, ressalta-se que os agricultores familiares das comunidades
pesquisadas confirmaram o apoio e a presença do poder público em diversas ações. No entanto,
afirmaram que nunca houve, por parte dos órgãos públicos responsáveis pelas políticas agrícolas,
capacitações para desenvolvimento de agricultura de base ecológica. Isto remete à necessidade de se
implementar planos, em nível estadual e municipal, de Agroecologia e produção orgânica a ser
formulado em sintonia com o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, onde possa se
prever o fomento ao desenvolvimento de práticas agrícolas sustentáveis.

REFERÊNCIAS

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

EFEITO DE DIFERENTES PROPORÇÕES DE VERMICOMPOSTO NO


CULTIVO DO COENTRO (CORIANDRUM SATIVUM L)

Kevison Romulo da Silva FRANÇA


Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Sistemas Agroindustriais da UFCG
kevsfranca@gmail.com
José Adalberto da SILVA FILHO
Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental da UFRPE
adalbertosilva15@gmail.com

RESUMO
A utilização de bons insumos orgânicos é fundamental para que os produtores consigam resultados
promissores nas colheitas. O objetivo deste trabalho foi avaliar o desenvolvimento do coentro sob
diferentes proporções de vermicomposto em um substrato base de Latossolo Vermelho Distrófico.
Foi utilizado o delineamento inteiramente casualizado com quatro repetições. A cultivar de coentro
utilizado foi a ―Verdão‖ e os parâmetros avaliados foram: porcentagem de emergência, altura,
número de hastes e número de folhas por planta. O experimento foi conduzido de novembro a
dezembro de 2016 em uma pequena propriedade rural, situada no município de Timbaúba,
Pernambuco, Brasil. O coentro respondeu à aplicação de vermicomposto de forma significativa,
obtendo-se os maiores valores para cada parâmetro na proporção de 30% de vermicomposto + 70%
de Latossolo Vermelho Distrófico. Espera-se que essa pesquisa contribua no cultivo da espécie e na
melhor compreensão dos parâmetros associados ao seu desenvolvimento.
Palavras chave: Adubação orgânica, produção orgânica, produção vegetal.
ABSTRACT
The use of good organic inputs is essential for producers to achieve a good harvest. The objective of
this paper was to evaluate the development of coriander with different proportions of vermicompost
in a substrate of Red Dystrophic Latosol. The experimental design was completely randomized with
four replications. The coriander cultivar used was "Verdão" and the evaluated parameters were:
emergency percentage, height, number of stems and number of leaves per plant. The experiment
was conducted from November to December 2016, in a small rural property, located in the
municipality of Timbaúba, Pernambuco State, Brazil. The coriander responded significantly to the
vermicompost application, obtaining the highest values for each parameter in the proportion of 30%
vermicompost + 70% Red Dystrophic Latosol. It is hoped that this research will contribute in the
cultivation of the species and for a better understanding about the parameters associated with its
development.
Key words: Organic fertilization, organic production, vegetable production.

INTRODUÇÃO

A agricultura orgânica vem ganhando reconhecimento devido as suas contribuições na busca


de hábitos alimentares saudáveis. Esse sistema de produção busca substituir insumos químicos por
adubos orgânicos, como: esterco de diversas origens, composto, vermicomposto e resíduos
agroindustriais, além de utilizarem defensivos naturais (SANTOS e SANTOS, 2007).

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

O elevado custo dos fertilizantes comerciais, bem como os significativos impactos


ambientais causados em consequência do seu uso, torna evidente a utilização de formas alternativas
que sejam atrativas tanto do ponto de vista econômico quanto ambiental (PEREIRA, WILSEN
NETO e NÓBREGA, 2013). Neste sentido, a utilização de resíduos orgânicos é uma boa
alternativa, uma vez que podem ser reutilizados na agricultura como uma relevante fonte de
nutrientes, servindo como fertilizante de baixo custo e minimizando os impactos ambientais
(ROSA, 2015).
A adubação orgânica, quando realizada de forma adequada, é uma importante estratégia
especialmente utilizada por agricultores familiares visando aumentar tanto a qualidade, quanto a
produtividade de espécies vegetais de valor comercial (SEDIYAMA et al., 2012) e, além disso, esse
sistema de produção requer uma menor necessidade de capital (SEDIYAMA, SANTOS e LIMA,
2014). Nessa perspectiva, diversas pesquisas científicas revelam o desempenho da adubação
orgânica no desenvolvimento de espécies vegetais (PEREIRA JUNIOR et al., 2012; ARRUDA
FILHO et al., 2013; LINHARES et al., 2015; SOUSA et al., 2016; TEODORO et al., 2016).
De acordo com Linhares et al. (2015), o cultivo orgânico de olerículas tem se intensificado
principalmente devido às vantagens do insumo orgânico nos atributos físico-químicos do solo e
pelo alto custo dos adubos minerais. Dentre as espécies mais cultivadas, destaca-se o coentro
(Coriandrum sativum L). Essa hortaliça aromática e condimentar, pertencente à família Apiaceae, é
amplamente consumida e comercializada no Brasil (NASCIMENTO et al., 2006). Ela apresenta
considerável importância nutricional, uma vez que é fonte de cálcio, de ferro e de vitaminas A, B1,
B2 e C (LIMA, 2007; FILGUEIRA, 2008).
O plantio do coentro nas regiões brasileiras vem sendo realizado preferencialmente por
semeadura direta (MACIEL et al., 2012). A cultura mencionada apresenta pouca exigência em
relação a solo e a nutrientes, logo a adubação orgânica por si só fornece condições para seu
desenvolvimento (FILGUEIRA, 2008). No entanto, para o desenvolvimento efetivo de qualquer
hortaliça é fundamental o preparo prévio do substrato, sobretudo nesse sistema de produção.
O vermicomposto, um material estabilizado e rico em substâncias húmicas, é o produto final
da vermicompostagem. Esse processo pode ser entendido como a transformação da matéria
orgânica, devido à combinação das minhocas e dos microrganismos que habitam no seu sistema
digestivo (LOQUET e VINCESLAS, 1987; ALBANELL et al, 1988; EDWARDS, 1995). O húmus
produzido pelas minhocas apresenta em média 70% a mais de nutrientes quando comparado aos
convencionais que, associado a grande presença de microrganismos, auxiliam na absorção dos
nutrientes pelas raízes das plantas (LONGO, 1987; AQUINO et al., 1992).
Mediante a importância ambiental dos sistemas em cultivo orgânico, do elevado consumo e
comercialização da referida espécie vegetal no Brasil, o presente estudo teve como objetivo avaliar

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os efeitos provenientes da utilização de diferentes doses de vermicomposto e seus reflexos no


desenvolvimento agrícola do coentro.

METODOLOGIA

O experimento foi instalado em uma pequena propriedade rural situada no município de


Timbaúba, PE. A área experimental está localizada a 07° 31' 14‖ S, 35° 19' 20 W e 123 m de
altitude. O clima é do tipo Tropical Chuvoso, com verão seco. A estação chuvosa se inicia em
janeiro/fevereiro com término em setembro, podendo se estender até outubro (CPRM, 2005).
Foram utilizadas sementes de coentro (cultivar verdão), obtidas no próprio comércio local.
As mesmas não passaram por nenhum tratamento pré-germinativo, com vista que a germinação
fosse influenciada diretamente pelos substratos de desenvolvimento, que foram previamente
preparados. Utilizou-se, como primeiro substrato, o solo do tipo Latossolo Vermelho Distrófico.
Como substrato orgânico, utilizou-se o vermicomposto. Em sua preparação, foi utilizado 6
kg de esterco bovino curtido, lavado durante 7 dias, e aproximadamente 500 gramas de resíduos
orgânicos domiciliares previamente compostados. A mistura foi depositada em um recipiente e
adicionado uma população de 30 minhocas da espécie Eisenia fetida adultas, por cerca de 50 dias.
Em seguida, as minhocas foram retiradas e o vermicomposto foi então depositado em uma
superfície plana para retirar a umidade. A análise do vermicomposto indicou a seguinte
composição: pH H2O 1:2,5 = 7,23; P = 2,7 g.kg-1; K+ = 7,3 g.kg-1; N+ = 12,8 g.kg-1; Ca2+ = 6,8 g.kg-
1
; Mg2+ = 4,4 g.kg-1; e relação C/N = 10/1.
O delineamento estatístico utilizado foi o inteiramente casualizado, com seis tratamentos e
quatro repetições. Os tratamentos foram estabelecidos em proporções conforme descrito na Tabela
1. Cada unidade correspondia a um vaso plástico de diâmetro e altura correspondentes a 9 e 12 cm,
respectivamente. Os mesmos apresentavam pequenos orifícios em sua base para que, caso ocorresse
excesso de água, o líquido fosse drenado. Cada vaso recebeu 5 sementes da espécie Coriandrum
sativum L bem distribuídas e semeadas cerca 1 cm de profundidade do solo.

Tabela 1. Composição de cada substrato utilizado por tratamento.


Proporções em massa seca (%)
Tratamento
Solo – LVD* Vermicomposto
T1 100 0
T2 90 10
T3 80 20
T4 70 30
T5 60 40
T6 50 50
* Latossolo Vermelho Distrófico

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O experimento foi conduzido durante 40 dias, desde o plantio a avaliação final, no período
de novembro a dezembro de 2016. Nesse intervalo, ele foi mantido protegido de aves e insetos.
Caso plantas daninhas emergissem, as mesmas eram retiradas manualmente para evitar competição.
A temperatura máxima, mínima e média do período foram de 33,2; 19,4 e 24,9 ºC, respectivamente.
O desenvolvimento vegetal ocorreu sob uma irrigação diária com a finalidade de
proporcionar condições adequadas para o estabelecimento da espécie. Quinze dias após a
emergência, realizou-se o desbaste em cada vaso, permanecendo apenas a planta mais vigorosa.
Neste experimento não foi necessário o controle de fitopatógenos, por não ter sido observado
anormalidade em nenhuma parte do vegetal.
Foram avaliadas as seguintes variáveis: porcentagem de emergência das plantas (PE),
contabilizado 10 dias após o semeio; altura da planta (AP), mensurado a partir da base do solo e
realizada com o auxílio de uma régua graduada até 30 cm; número de hastes por planta (NH); e
número de folhas por planta (NF).
Os resultados obtidos foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e de regressão
com o auxílio do software Assistat (SILVA e AZEVEDO, 2009). O comportamento das diferentes
proporções de vermicomposto mensurado nos parâmetros avaliados foi expresso através do modelo
significativo, ao nível de probabilidade de 1 e 5% pelo teste F, que apresentou um valor elevado
para o coeficiente de determinação.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A análise estatística revelou que houve diferenças significativas (P>0,01) para todos os
parâmetros analisados. Funções foram ajustadas em relação as diferentes proporções de
vermicomposto, conforme a Figura 1.
90 30
Emergência de plantas (%)

80
Altura de planta (cm)

25
70
60 20
50
40 15 y = 2e-5x4 - 0,0019x3 + 0,028x2 + 0,7314x +
y= -0,0661x2
+ 2,9607x + 48,214 12,623
30 R² = 0,88 R² = 0,98
10
20 0 10 20 30 40 50
0 10 20 30 40 50
Proporção de vermicomposto (%)
Proporção de vermicomposto (%)

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6,5 40

Número total de folhas por planta


Número de hastes por planta
6
35
5,5
30
5
4,5 25
4 y = 5e-5x4 - 0,0043x3 + 0,0983x2 + 0,1799x +
20
y = 7e-6x4 - 0,0008x3 + 0,023x2 - 0,1318x + 19,998
3,5 4,0357 R² = 0,92
R² = 0,90 15
3 0 10 20 30 40 50
0 10 20 30 40 50
Proporção de vermicomposto (%)
Proporção de vermicomposto (%)

Figura 1. Emergência de plantas, altura de planta, número de hastes e número de folhas por
planta em função de diferentes proporções de vermicomposto.

Os maiores valores para altura, número de hastes e número de folhas por planta foram de 28
cm, 7 e 39, respectivamente, que ocorreram no tratamento com a proporção de 30% de
vermicomposto (T4). A porcentagem de emergência de plantas foi de 100% em pelo menos um dos
vasos correspondentes ao T2, T3 e T4. De acordo com a Figura 1, pode-se inferir que houve um
acréscimo nas médias das variáveis analisadas até o T4. Após esse tratamento, as médias sofreram
um decréscimo significativo.
A altura máxima observada foi superior à obtida por Linhares et al. (2015), que ao avaliar o
rendimento do coentro no solo adubado com esterco bovino e o submetendo a diferentes tempos de
incorporação, obtiveram uma altura máxima de 18,1 cm com a dose de 60 t.ha-1 de adubo. Esse
resultado provavelmente reflete os maiores benefícios do vermicomposto comparado ao esterco
bovino na adubação orgânica. Para o número de hastes, os valores observados em ambos os
trabalhos foram semelhantes para os melhores tratamentos.
Resultados superiores para a altura do coentro, utilizando a mesma cultivar, foram
observados na pesquisa de Oliveira et al. (2002), porém os autores utilizaram esterco bovino
associado com adubação mineral de P2O5, K2O e N. A adição de adubos minerais ao solo traz
benefícios para o desenvolvimento vegetativo das plantas e o volume foliar (FILGUEIRA, 1987). A
implementação de dosagens de nitrogênio, nos primeiros 20 dias após plantio, induz a um rápido
crescimento vegetativo (OLIVEIRA et al., 2002).
Os benefícios do uso de vermicomposto no desenvolvimento vegetal não se restringe apenas
à cultura do coentro. Alguns estudos de mesma natureza com outras olerícolas foram realizados e
obtiveram resultados positivos. Oliveira, Xavier e Duarte (2013) realizaram um estudo com o
objetivo de avaliar o potencial da utilização de composto orgânico associado a vermicomposto na
produção de mudas de tomate. Como resultado, observaram que a associação entre estes dois

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componentes foi suficiente para se produzir mudas com cerca de 4 cm maiores e número de folhas
superior do que quando se utilizou apenas o substrato comercial.
Na produção de mudas de meloeiro amarelo, Pelizza et al. (2013) avaliaram a produção de
mudas em diferentes substratos. O substrato contendo vermicomposto bovino puro foi um dos que
obteve o maior índice de velocidade de emergência, indicando que este possibilita uma emergência
antecipada em comparação aos demais tratamentos testados.
A vantagem em se utilizar resíduos orgânicos como substrato na produção agrícola está
relacionada diretamente ao baixo custo, fácil aquisição da matéria prima utilizada e ao
aproveitamento dos resíduos gerados por outras atividades na propriedade rural (OLIVEIRA,
XAVIER e DUARTE, 2013) que, como consequência, irá reduzir tanto os gastos do produtor, uma
vez que o uso desse tipo de substrato poderá dispensar o uso de adubação química comercial, bem
como irá minimizar os impactos que esses resíduos poderiam gerar quando lançados diretamente na
natureza.

CONCLUSÕES

As diferentes proporções do vermicomposto influenciaram significativamente a


porcentagem de emergência, a altura de planta, o número de hastes e o número de folhas;
A maior média para cada parâmetro avaliado ocorreu no substrato que apresentou a
proporção de 30% de vermicomposto, sendo muito superior ao tratamento controle. Todavia,
observou-se que este tipo de adubação orgânica em maiores proporções afeta negativamente o
desenvolvimento do coentro nos vasos.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

INFLUÊNCIA DA MANIPUEIRA NAS CARACTERÍSTICAS AGRONÔMICAS E


REPRODUTIVAS DE SOJA

Lidiana Nayara RALPH


Mestranda do curso de Produção Agrícola, UFRPE
lidianaralph@hotmail.com
Marthony Dornelas SANTANA
Mestrando do curso de Produção Agrícola, UFRPE
marthony1992@htomail.com
Rafaela Félix da FRANÇA
Mestranda do curso de Produção Agrícola, UFRPE
rafaelaf-f@hotmail.com
Jeandson Silva VIANA
Professor orientador, UFRPE
jeandson.viana@ufrpe.br

RESUMO
A soja (Glycine max L.) é uma das leguminosas mais importantes do mundo devido sua boa
adaptabilidade em diversas regiões. Dentre os nutrientes de fundamental importância para esta
cultura destacam-se o potássio, nitrogênio e fósforo. A manipueira é uma alternativa como fonte de
adubo orgânico, visando incremento na produção de forragem e grãos de soja. Nesta perspectiva,
objetiva-se avaliar o efeito da aplicação de manipueira nas características vegetativas e
reprodutivas, produtividade de grãos e forragem, qualidade fisiológica das sementes de soja e
avaliação da população de bactérias e fungos totais do solo. O experimento foi conduzido no
munícipio de Garanhuns, na Universidade Federal Rural de Pernambuco-Unidade Acadêmica de
Garanhuns. O delineamento experimental adotado foi o inteiramente casualizado, com três
repetições. Foram utilizadas cinco doses de manipueira (0, 50, 100, 150 e 200% da dose de K
recomendada para a cultura da soja), e uma testemunha adicional (químico mineral). As variáveis
analisadas foram: altura de planta, massa fresca e seca da parte aérea, índice de área foliar, número
de nós, número de grãos por vagens, peso de vagem e comprimento de vagem. Os resultados foram
submetidos à análise de variância, utilizando-se o teste F e as médias comparadas pelo teste de
Dunnett, a 5% de probabilidade. Os dados referentes às doses foram submetidos à análise de
regressão. As análises foram realizadas com auxílio do programa computacional SISVAR. Em
todas as variáveis avaliadas não houve significância entre a adubação química com a adubação
orgânica. Para as variáveis referentes as características reprodutivas os valores se ajustaram ao
modelo de regressão linear decrescente. A adubação potássica via resíduo de manipueira não
proporciona incremento nas características vegetativas avaliadas.
Palavras-chave: Adubação orgânica, Glycine max, Leguminosa, Manipueira.
ABSTRACT
Soybean (Glycine max L.) is one of the most important legumes in the world due to its good
adaptability in several regions. Among the nutrients of fundamental importance for this crop stand
out the potassium, nitrogen and phosphorus. An alternative source of organic fertilizer stands out
for the manipueira, aiming to increase the production of fodder and soybean grains. In this
perspective, the objective of this study was to evaluate the effect of the application of manipueira on
vegetative and reproductive characteristics, grain and forage yield, physiological quality of soybean

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seeds and evaluation of total soil bacteria and fungi population. The experiment was conducted in
the municipality of Garanhuns, at the Federal Rural University of Pernambuco-Garanhuns
Academic Unit. The experimental design was completely randomized, with three replications. Five
doses of manipueira (0, 50, 100, 150 and 200% of the recommended K dose for the soybean crop),
and an additional control (mineral chemical) were used. In all treatments, seeds inoculated with
Bradyrhizobium japonicu were used. The variables analyzed were: plant height, fresh and dry shoot
mass, leaf area index, number of nodes, number of grains per pods, pod weight and pod length. The
results were submitted to analysis of variance (ANOVA), using the F test and the means compared
by the Dunnett test, at 5% probability. Dose data were submitted to polynomial regression analysis.
The analyzes were performed using the SISVAR computer program (FERREIRA, 2008). In all
evaluated variables there was no significant difference between chemical fertilization and organic
fertilization. For the variables referring to the reproductive characteristics, the values were adjusted
to the regressive linear regression model. Potassium fertilization via the manipueira residue does not
provide an increase in the vegetative characteristics evaluated.
Key words: Organic fertilization, Glycine max, Leguminosa, Manipueira.

INTRODUÇÃO
A cultura da soja (Glycine max L.) apresenta grande importância econômica mundial devido
à ampla utilização dos grãos, bem como à sua boa adaptação em diversas regiões (BIANCO et al.,
2012; ORMOND et al., 2015). O Brasil é um dos maiores produtores desta leguminosa. Na safra
2016/2017 a produção estimada foi de 105.558,2 mil toneladas e a produtividade média da 3.126
kg/ha, com aumento de 1,6% de área plantada em relação a safra anterior (EMBRAPA, 2015;
CONAB, 2017).
Dentre os nutrientes de fundamental importância para a cultura da soja, destaca-se o potássio
(K), que influencia no enchimento de grãos e desenvolvimento da planta. O adequado fornecimento
de nutrientes favorece o desenvolvimento das plantas, condicionando-as a produzirem metabólitos
necessários ao desenvolvimento de suas sementes (PETTIGREW, 2008; VEIGA et al., 2010).
Segundo Lima et al. (2014) o aumento da produtividade da cultura da soja nos últimos anos ocorre,
essencialmente, pela adoção de tecnologias relacionadas à produção de sementes de qualidade, o
uso de insumos e equipamentos que estão diretamente relacionados ao custo de produção. Dos
insumos utilizados o fertilizante é o mais oneroso, com participação da ordem de 27 a 32 % no
custo total do sistema de produção dessa cultura. Ademais, o preço dos fertilizantes, com as
oscilações ocorrentes na economia, pode variar muito a cada safra e levar a prejuízos na produção
de soja no país (MENEGATTI e BARROS, 2011).
Visando melhorar a utilização e diminuir essa dependência de fertilizantes sintéticos, o País
busca alternativas de adubação do solo. Em muitas regiões, existe a possibilidade de
aproveitamento de resíduos locais, sendo esta uma opção viável, quando bem utilizados
(HOFFMANN et al., 2001). A manipueira é um resíduo líquido produzido no processo de
fabricação de farinha de mesa e extração da fécula da mandioca (Manihot esculenta) rico em

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açúcares, amidos, proteínas, linamarina, sais e outras substâncias (DUARTE et al., 2012). A
composição química da manipueira sustenta a potencialidade do composto como adubo, com uma
quantificação eficiente em nitrogênio (32,4 mg L-1), fósforo (17,8 mg L-1) e, principalmente, em
potássio (333,6 mg L-1) (LIMA e SMIDERLE, 2013).
No entanto, apesar da manipueira ser um resíduo potencialmente poluidor quando
descartado de forma inadequada no meio ambiente, devido à sua elevada carga orgânica e
toxicidade para algumas plantas aquáticas, a presença de nutrientes, principalmente potássio,
nitrogênio, magnésio, cálcio e fósforo, pode viabilizar a sua utilização como biofertilizante na
atividade agrícola (DANTAS et al., 2015). Mélo et al. (2005) avaliando o possível uso da
manipueira como insumo agrícola, concluíram que a concentração de cálcio, potássio, sódio e
magnésio trocáveis aumentaram linearmente em três diferentes solos tratados com manipueira. Em
estudos recentes, Duarte et al. (2012) e Salvador et al. (2012) relatam que o uso da manipueira
proporcionou um melhor desenvolvimento da alface e mudas de eucaliptos, respectivamente.
Neste contexto, este estudo teve por objetivo avaliar o efeito da aplicação de manipueira
como fonte de potássio nas características vegetativas e reprodutivas da cultura da soja.

MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido na Universidade Federal Rural de Pernambuco, Unidade
Acadêmica de Garanhuns (UFRPE/UAG), no município de Garanhuns, localizado a 08°53‘25‖ S e
longitude de 36°29‘34‖ O, altitude de 842 m. O clima predominante é o mesotérmico Tropical de
Altitude (Cs‘a) de acordo com a classificação climática de Koppen (MELO e ALMEIDA, 2013),
temperatura e precipitação média, 20,6 °C e 1.038mm, respectivamente.
Os dados climáticos de temperatura média e precipitação referente ao período de janeiro a
junho 2016 do município de Garanhuns - PE durante a condução do experimento estão descritos na
Figura 1.

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90 35

80
30
70
25

Precipitação (mm)

Temperatura ( ºC)
60

50 20

40 15
30
10
20
5
10

0 0
JAN FEV MAR ABR MAI JUN

Preciptação Tmedia Tmax Tmin

Figura 1. Temperatura média e precipitação pluvial do município de Garanhuns – PE, registrada no período
de janeiro a junho 2016 durante a condução do experimento. INMET, 2016.

O solo que foi utilizado para o preenchimento dos vasos é classificado como Neossolo
Regolítico Eutrófico Típico (SILVA et al., 2014), proveniente da mesorregião do Agreste
Meridional do Estado de Pernambuco no município de São João, coletado na profundidade 0-20 cm.
Posteriormente, o solo foi enviado ao Laboratório Terra (Terra Análise para agropecuária) para
realização das características químicas (Tabela 1).

PH (H2O) P K Na Ca Mg Al H+Al SB CTC V


mg kg -1 --------------------------------------cmolcdm-3---------------------------------- %
5,25 4 0,256 1 0,9 0,3 0,10 3,0 2,45 4,46 32
Tabela 1. Características químicas do solo¹, São João -PE, 2016. 1Métodos: pH – água 1:2,5; P – Melich
1/colorimetria; K – Melich 1/fotometria de chama; Ca e Mg – extrato KCl/titulometria; Al – extrato KCl/
titulometria; H+Al – tampão acetato de cálcio/titulometria. Métodos descritos em detalhe por EMBRAPA
(1997).

A manipueira foi coletada no município de São Bento do Una-PE. Para prevenir reações
adversas no estabelecimento da cultura, a manipueira passou por um tratamento prévio, passando 15
dias em repouso, com agitação a cada dois dias (fermentação mista) para liberação de gases,
principalmente o ácido cianídrico (FERREIRA et al., 2011). Após o devido tratamento foi enviada
ao Laboratório Terra para realização da composição química (Tabela 2).
O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado com três repetições
por tratamento. Foram utilizadas cinco doses de manipueira: 0, 50, 100, 150 e 200% (da dose de K
recomendada para a cultura da soja de acordo com o manual de recomendação de adubação para o
estado de Pernambuco), sendo calculada com base no teor de potássio presente no resíduo.
O plantio foi realizado oito dias após a incorporação do rejeito ao solo, a irrigação foi
realizada diariamente, do primeiro até o último dia de instalação do experimento, realizada
manualmente, com o auxílio de regadores com capacidade de cinco litros até capacidade de campo.

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Durante o desenvolvimento da cultura, foram realizadas capinas manuais, com o auxílio de enxadas,
para o controle de plantas invasoras que surgiam entre os vasos, além disso, semanalmente foi
realizado o controle das plantas invasoras que surgiram dentro dos vasos, até que a cultura da soja
atingisse altura suficiente para inibir o surgimento das plantas invasoras.

pH N P K Ca Mg S Cu Fe Mn Zn Na
---------------------------------------------------mg/L-------------------------------------------------
4,8 7 6 4332 21,20 26,20 3 0,06 4,81 0,88 0,16 0,00
Tabela 2. Composição química da manipueira.

Foi realizado o procedimento de inoculação das sementes da cultivar BRS sambaiba com
Bradyrhizobium japonicum em todos os tratamentos. Foi aplicado de forma equilibrada o adubo
MAP (mono-amonio-fosfato) como fonte de fósforo em todos os tratamentos. Quanto a adubação
potássica, houve diferença (tratamento orgânico e químico mineral). No tratamento orgânico foram
aplicadas as doses de manipueira como fonte de potássio e no tratamento químico mineral, o cloreto
de potássio.
Foram semeadas quatro sementes por vaso, e posteriormente realizado o desbaste, mantendo
no vaso a planta mais desenvolvida. Os tratamentos foram constituídos de vasos com capacidade de
8 dm-3 de substrato acrescido das respectivas doses de manipueira fracionada em três períodos de
aplicação (semeadura, 15 e 30 dias após plantio), com oito vasos em cada tratamento.
Foram determinadas as seguintes variáveis: Altura da planta na colheita (APC): foi medida
em centímetros do nível do solo até o ultimo nó vegetativo; número de nós por planta na colheita
(NNPC): será contabilizado o número de nós na haste principal; número de grãos por vagens
(NGV): será quantificado o número total de grãos por vagem; massa fresca da parte aérea (MFPA) e
massa seca da parte aérea (MSPA): as plantas foram seccionadas a 20 cm do solo, pesando-se antes
da dessecação para a obtenção da massa fresca, logo após, o material foi acondicionado em estufa
de circulação forçada à 65°C até atingir peso constante, com posterior determinação da massa seca;
área foliar (AF): foi analisado através do equipamento medidor de área foliar nas plantas antes do
corte; diâmetro do caule no corte (DCC): antes do corte foi mensurado com paquímetro o diâmetro
do caule das plantas; peso de vagem e comprimento de vagem, com o auxílio de balança analítica e
régua graduada em centímetros, respectivamente.
Os resultados foram submetidos à análise de variância (ANOVA), utilizando-se o teste F e
as médias comparadas pelo teste de Dunnett, a 5% de probabilidade. Os dados referentes às doses
foram submetidos à análise de regressão, testando-se os modelos linear e quadrático, considerando,
para explicar os dados, aquele significativo e com maior coeficiente de determinação (R²). As
análises foram realizadas com auxílio do programa computacional SISVAR (FERREIRA, 2010).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

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Na Tabela 3, encontram-se os resultados de massa verde da parte aérea, massa seca da parte
aérea, diâmetro do caule, altura de planta, área foliar e número de nós em função do emprego de
diferentes percentuais de potássio (K) fornecido pelo resíduo de manipueira e adubação química
mineral. Ao comparar os resultados obtidos para as referidas variáveis através da disponibilização
de K via resíduo de manipueira e químico sintético, observa-se que não houve diferença
significativa. Provavelmente a quantidade de potássio presente no solo apresentava-se satisfatória
para atender a necessidade da cultura durante o seu desenvolvimento inicial, pois uma vez que na
dose 0% de K constatou-se valores semelhantes. Através da análise química do solo é possível
verificar que antes da implantação do experimento, o teor de K apresentava 0,25 cmolc/dm3 (Tabela
1), valor este considerado relativamente mediano. Silva e Lazarini (2014), trabalhando com doses e
épocas de aplicação de potássio na cultura da soja, relataram que 0,32 cmolc/dm3 de potássio no
solo é um valor alto. Desta forma, pode inferir-se que as plantas absorveram o potássio que já
estava presente no solo e dosagens adicionais não resultou em incremento de massa verde, massa
seca, altura das plantas e área foliar, possivelmente a cultura não teve necessidade, durante o
período observado, de utilizar o K adicionado. Entretanto, é possível que diferenças significativas
sejam futuramente encontradas na fase final da cultura entre os tratamentos adubados com potássio
via resíduo de manipueira e químico mineral.

Tratamentos MVPA MSPA DC AP AF Número de nós


% g/planta g/planta mm cm cm-2
MINERAL 76,50 15,33 8,34 49,88 1008,57 14,59
0 63,83 ns 12,83ns 8,00 ns 46,80 ns 1107,90 ns 15,79 ns
50 74,17 ns 14,83 ns 8,15 ns 48,83 ns 1279,83 ns 15,13 ns
100 77,33 ns 13,50 ns 8,47 ns 45,57 ns 1153,87 ns 15,29 ns
150 61,17 ns 14,50 ns 7,72 ns 46,92 ns 1051,93 ns 14,70 ns
200 65,33 ns 16,00 ns 8,34 ns 46,42 ns 1107,80 ns 14,08 ns
Tabela 3. Massa verde da parte aérea (MVPA), massa seca da parte aérea (MSPA), diâmetro do caule (DC),
altura de planta (AP) e área foliar (AF) de plantas de soja submetidas ao corte cultivada com resíduo de
manipueira. Garanhuns-PE, 2016. ns = significativo e não significativo, respectivamente a 5% probabilidade
de pelo teste de Dunnett.

Em estudos recentes, Catuchi et al. (2012), avaliando a resposta da soja a diferentes doses de
adubação potássica, não encontrou diferença estatística em relação à massa seca da parte aérea e
área foliar. Inoue et al. (2011) verificaram que não houve diferença estatística na produtividade de
massa seca na cultura do milho fertilizado com manipueira. Barreto et al. (2014) encontraram
resultados insatisfatórios em relação à altura das plantas de milho adubado com manipueira.
No entanto, resultados significativos foram encontrados por diversos pesquisadores. Cardoso
et al. (2009) relataram que o milho cultivado em área biofertilizada com manipueira apresentou
maior massa fresca da parte aérea em relação ao milho cultivado em solo adubado com fertilizante
mineral, sendo o aumento proporcionado sobretudo pelo potássio e nitrogênio contido na
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manipueira. Respostas positivas, em relação ao reaproveitamento de resíduos agroindustriais na


agricultura, principalmente, vêm sendo obtidas por diversos autores (INOUE et al., 2011 e
BARROS et al., 2011).
Entretanto, quando os resíduos são aplicados em doses inadequadas podem ser
prejudiciais ao solo e às culturas, bem como contaminar as águas subterrâneas e superficiais
devido à alta carga orgânica e excesso de nutrientes e sais presentes.
Na Figura 2 encontram-se os valores referentes ao peso de vagens, comprimento e
vagens e número de grãos por planta. Os valores se ajustaram ao modelo de regressão linear
decrescente. Em todas as variáveis avaliadas, houve redução à medida que as doses de
manipueira aumentaram, sendo os maiores valores para peso de vagens, comprimento de
vagens e número de grãos por vagem (0,0715 kg, 4,40 cm e 2,6 grãos por vagem
respectivamente), obtido na concentração zero de manipueira (sem a utilização do resíduo). A
partir desse nível, as características reprodutivas em estudo foram afetadas negativamente.
No trabalho de Mascarenhas et al. (1982), constatou-se que doses relativamente
elevadas de KCl, ocorreram efeitos tóxicos nas plantas, entretanto, estudo realizado por Meurer
(2006), foi relatado que não se tem conhecimento sobre o efeito tóxico do K, mas sabe-se que
este nutriente é frequentemente absorvido por muitas espécies em quantidades superiores às
necessárias, no chamado ―consumo de luxo‖, e nessas condições o excesso de K pode interferir
negativamente na absorção de outros nutrientes, principalmente quando competem pelos
mesmos sítios de absorção nos tecidos radiculares.

0,072
Peso de vagens por planta (kg)

0,0715 y = -1E-05x + 0,0715


0,071 R² = 0,972
0,0705
0,07
0,0695
0,069
0,0685
0,068
0 50 100 150 200
Doses de Manipueira (%)
A

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4,4

Comprimento de vagens (cm)


4,35 y = -0,0011x + 4,3521
4,3 R² = 0,9654

4,25
4,2
4,15
4,1
0 50 100 150 200
Doses de Manipueira (%)
B
2,7
Número de grãos por vagem

2,65
2,6 y = -0,0019x + 2,6327
2,55 R² = 0,8994
2,5
2,45
2,4
2,35
2,3
2,25
2,2
0 50 100 150 200
Doses de Manipueira (%)
C
Figura 2: A) Peso de vagens por planta, B) Comprimento de vagens e C) Número de grãos por
vagem por planta de soja. Garanhuns-PE, 2016.

Segundo Marschner (1995), altas concentrações de K na rizosfera inibem a absorção de


Ca e Mg. No trabalho de Fonseca e Meurer (1997), com plântulas de milho cultivadas em
solução nutritiva, constatou-se que o incremento na concentração de K na solução ocasionou
efeito depressivo sobre a absorção de Mg pelas plantas, e o inverso não ocorreu.
De acordo com Bataglia e Mascarenhas (1977) é necessário que se utilize adubação
potássica de cerca de 28 kg de K2O para produzir uma tonelada de grãos de soja. Em torno de 60%
deste montante são exportados da área em razão da colheita dos grãos.
Na Tabela 4 encontram-se os resultados de peso de vagens por planta, comprimento de
vagens e número de grãos por vagem por planta em função de doses de manipueira e adubação
química mineral. Verifica-se que para as três variáveis analisadas, as cinco doses de manipueira não
diferiram estatisticamente do tratamento na qual se aplicou a adubação mineral.
A quantidade dos nutrientes absorvidos pelas plantas são funções de características
intrínsecas do vegetal, como, também, dos fatores externos que condicionam o processo. Numa
espécie, a capacidade em retirar os nutrientes do solo e as quantidades requeridas varia não só com
a cultivar, mas também com o grau de competição existente. Variações nos fatores ambientais,

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como temperatura e umidade do solo podem afetar consideravelmente o conteúdo de nutrientes


minerais nas folhas. Esses fatores influenciam tanto a disponibilidade dos nutrientes como a
absorção destes pelas raízes e, consequentemente, o crescimento da parte aérea. Por outro lado, o
acúmulo e a distribuição dos nutrientes minerais na planta dependem de seu estádio de
desenvolvimento (GOTO et al., 2001).

Peso de vagens
Tratamentos Comp. de vagem (cm) N° grãos
(kg)
NPK 0,0683 4,17 2,52
ns ns
0 0,0715 4,17 2,60 ns
50 0,0707 ns 3,92 ns 2,53 ns
100 0,0702 ns 4,25 ns 2,53 ns
ns ns
150 0,0797 4,18 2,33 ns
200 0,0638 ns 4,12 ns 2,24 ns
Tabela 4. Peso de vagens (kg), comprimento de vagem (cm) e número de grãos de soja em função de doses
de manipueira e adubação química mineral.

CONCLUSÃO

A adubação potássica via resíduo de manipueira não proporciona incremento nas


características vegetativas avaliadas.
A utilização da manipueira influenciou negativamente nas características reprodutivas da
soja.
Não há efeito significativo na utilização do resíduo da manipueira relacionada com a
adubação mineral.

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ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 197


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

EXTRATOS VEGETAIS, FUNGICIDA QUÍMICO E INDUTOR DE RESISTÊNCIA NO


CONTROLE DE CHALARA PARADOXA ISOLADO
DE FRUTOS DE ABACAXIZEIRO

Michele da Silva SANTOS


Professora Titular da UNIPAMPA
michelef@yahoo.com.br
Mara Karinne Lopes VERIATO
Mestranda em Recursos Naturais da UFCG
karinnelv@yahoo.com.br
Helder Morais Mendes BARROS
Eng.º Agrícola, Doutor em Irrigação e Drenagem pela UFCG
hmmbbr@yahoo.com.br

RESUMO
A podridão negra causada pelo fungo C. paradoxa, está entre os principais problemas sanitários da
cultura do abacaxi. No controle de muitas doenças de pós-colheita, têm sido utilizadas medidas de
controle com fungicidas. O objetivo do presente trabalho foi avaliar a influência de extratos
vegetais, do fungicida Mancozeb e do indutor de resistência acilbenzolar-S-methyl no controle de
C. paradoxa isolado de frutos do abacaxizeiro. O inóculo foi obtido a partir de lesões características
da podridão negra do abacaxizeiro, causada por C. paradoxa, em frutos, var. Smooth Cayenne. O
material foi incubado em meio batata-dextrose-ágar (BDA), retirando-se o excesso de umidade e
armazenado nas condições de 25 ± 2 °C e fotoperíodo de 12 horas com luz natural. Na preparação
dos extratos, foram utilizados 100g do material vegetal (folhas de angico (Anadenanthera colubrina
L.) e cascas secas de caule do cajueiro (Anacardium occidentale L.) que foram trituradas em
liquidificador com 250 mL de ADE e 250 mL de álcool etílico P.A., colocados em um recipiente de
vidro vedado e submetidos, por um período 96 horas, à infusão. O delineamento experimental
utilizado foi o inteiramente casualizado com quatro tratamentos + testemunha (ADE), com cinco
repetições, sendo as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5 % de probabilidade. O fungicida
Dithane/mancozeb não demonstrou eficácia na inibição de C. paradoxa, enquanto que no
tratamento com o Bion® (Acibenzolar-S-Methyl) não se constatou uma interação significativa. O
uso de extratos vegetais no controle da podridão negra do fruto do abacaxi pode ser uma alternativa
eficaz, ecológica e econômica, possuindo grande potencial de aplicação em um programa integrado
no controle desta doença.
Palavras-Chaves: Abacaxi, Fungo, Doença.
ABSTRACT
The black rot caused by the fungus C. paradoxa, is among the main sanitary problems of the
pineapple culture. In control of many post-harvest diseases, control measures with fungicides have
been used. The objective of the present work was to evaluate the influence of plant extracts, the
Mancozeb fungicide and the acylbenzolar-S-methyl resistance inducer in the control of C. paradoxa
isolated from pineapple fruits. The experiments were conducted at the Laboratory of the
Agricultural Sciences Center, Federal University of Santa Maria / RS. The inoculum was obtained
from lesions characteristic of black pineapple rot, caused by C. paradoxa, on fruits, var. Smooth
Cayenne. The material was incubated in potato-dextrose-agar medium (BDA), removing excess
moisture and stored under conditions of 25 ± 2 ° C and photoperiod of 12 hours under natural light.

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In the preparation of the extracts, 100g of the plant material (Anadenanthera colubrina L. leaves)
and dried cashew tree bark (Anacardium occidentale L.) were harvested in a blender with 250 mL
of ADE and 250 mL of ethyl alcohol PA, placed in a sealed glass container and subjected, for a 96
hour period, to infusion. The experimental design was the completely randomized with four
treatments + control (ADE), with five replicates, the means being compared by the Tukey test at 5%
of probability. The fungicide Dithane / mancozeb did not demonstrate efficacy in the inhibition of
C. paradoxa, whereas in the treatment with Bion® (Acibenzolar-S-Methyl) there was no significant
interaction. The use of plant extracts to control the black rot of the pineapple fruit can be an
effective, ecological and economical alternative, having great potential of application in an
integrated program in the control of this disease.
Key-words: Pineapple, Fungus, Disease.

INTRODUÇÃO

Entre os principais problemas sanitários da cultura do abacaxi, merece destaque a podridão


negra causada pelo fungo C. paradoxa provocando perdas significativas nos frutos, afetando sua
produtividade e qualidade (Matos, 2005).
No controle de muitas doenças de pós-colheita, têm sido utilizadas medidas de controle com
fungicidas. A restrição ao uso de fungicidas tem levado a procura de métodos alternativos de
controle como o uso de biofungicidas, extratos vegetais e óleos essenciais (Moreira et al., 2002).
Neste contexto, os métodos alternativos são utilizados para proteção de plantas, com o objetivo de
diminuir a utilização de produtos químicos. Esses métodos de controle alternativo são viáveis e
desejáveis quando comparados com o controle tradicional, principalmente por não deixarem
resíduos tóxicos, quando aplicados em pré ou pós- colheita (Ankofa, 2000).
O objetivo do presente trabalho foi avaliar a influência de extratos vegetais, do fungicida
Mancozeb e do indutor de resistência acilbenzolar-S-methyl no controle de C. paradoxa isolado de
frutos do abacaxizeiro.

MATERIAL E MÉTODOS

Os experimentos foram conduzidos no Laboratório do Centro de Ciências Agrárias, da


Universidade Federal de Santa Maria/RS.
O inóculo foi obtido a partir de lesões características da podridão negra do abacaxizeiro,
causada por C. paradoxa, em frutos, var. Smooth Cayenne. Após a lavagem dos frutos em água
corrente, foram efetuados pequenos cortes na região de transição da lesão, procedendo-se a
desinfestação com álcool a 70 % e hipoclorito de sódio a 2,5 %, sendo os frutos lavados por duas
vezes consecutivas em água destilada esterilizada (ADE).
O material foi incubado em meio batata-dextrose-ágar (BDA), retirando-se o excesso de
umidade e armazenado nas condições de 25 ± 2 °C e fotoperíodo de 12 horas com luz natural.

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Na preparação dos extratos, foram utilizados 100g do material vegetal (folhas de angico
(Anadenanthera colubrina L.) e cascas secas de caule do cajueiro (Anacardium occidentale L.) que
foram trituradas em liquidificador com 250 mL de ADE e 250 mL de álcool etílico P.A., colocados
em um recipiente de vidro vedado e submetidos, por um período 96 horas, à infusão.
Posteriormente, os extratos foram filtrados em gaze esterilizada e mantidos em recipiente aberto,
durante 72 horas, para favorecer a evaporação do álcool. Após esse período, os mesmos foram
armazenados em vidro âmbar e incubados a 4 °C.
A capacidade fungitóxica do indutor de resistência, fungicida e extratos vegetais foram
avaliados determinando-se a inibição do crescimento micelial de C. paradoxa em placas de Petri
contendo o meio BDA. Foram testados o fungicida Mancozeb, o indutor Bion® e os extratos brutos
de angico, caju. Realizou-se a transferência de 25 μL de cada indutor em estudo para um orifício (6
mm de diâmetro) feito no centro de placas de Petri. Sobre o orifício foi colocado um disco de
micélio (6 mm de diâmetro), obtido de cultura jovem de C. paradoxa. As avaliações foram
realizadas a cada 24 horas, durante sete dias, através da medição do diâmetro da colônia em dois
sentidos opostos, com o auxílio de uma régua milimetrada.
O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado com quatro
tratamentos + testemunha (ADE), com cinco repetições, sendo as médias comparadas pelo teste de
Tukey a 5 % de probabilidade.
Discos de micélio de C. paradoxa, com sete dias de idade, foram depositados em orifícios
no centro de placas de Petri, contendo uma alíquota de 25 μL de cada tratamento. Em seguida, as
placas foram incubadas a 25 ± 2 °C e fotoperíodo de 12 horas com luz natural. Aos cinco dias após
a incubação foi avaliada a produção de conídios. Para o preparo da suspensão de esporos, foram
adicionados 20 mL de ADE em cada placa de Petri a fim de facilitar a remoção do micélio,
mediante o uso de escova de cerdas macias. O material foi filtrado em duas camadas de gaze
esterilizada, e a concentração determinada em câmara de Neubauer, com microscópio óptico,
obtendo-se uma média de cinco leituras para cada tratamento.
O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado, com quatro tratamentos
e uma testemunha, com cinco repetições. Os dados foram transformados para log de x + 1 e as
médias comparadas pelo teste de Tukey a 5 % de probabilidade.
Foram utilizados 35 frutos de abacaxi, var. Smooth Cayenne, lavados em água corrente e
desinfestados superficialmente com hipoclorito de sódio a 4 %, durante cinco minutos. Após
secagem em temperatura ambiente, os frutos foram pulverizados com os tratamentos: T1 = ADE;
T2 = Mancozeb (3 g/1000 mL de água), T3 = Bion® (5 g/100 L de água); T4 = extrato de caju; e T5
= extrato de angico. Os frutos da testemunha foram pulverizados com ADE. Os frutos submetidos
aos tratamentos permaneceram por 24 horas, envoltos em câmara úmida, composta por sacos de

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polietileno transparentes, antes de se proceder a inoculação com um disco de C. paradoxa, retirados


da parte mais externa do crescimento micelial e colocados sobre um ferimento, feito com um
perfurador flambado, na região da casca.
A avaliação do progresso da doença foi realizada seguindo-se uma escala de notas própria,
onde: 1 – Ausência de sintomas; 2 – Podridão negra em área da casca equivalente a 1- 5 frutilhos;
3- Podridão negra em área da casca equivalente a 6- 10 frutilhos; 4 - Podridão inicial da polpa com
coloração pardo amarelada; 5 – Podridão e desintegração da polpa atingindo área superior a 50 %
do fruto.
O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado, com sete tratamentos e cinco
repetições. Foram utilizados modelos lineares generalizados com distribuição multinomial, sendo as
médias comparadas pelo teste de Tukey a 5 % de probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Observa-se na Tabela 1 que houve diferença significativa entre os tratamentos, quanto à


inibição do crescimento de C. paradoxa. As menores médias de crescimento micelial foram obtidas
nos tratamentos utilizando o fungicida Mancozeb e os extratos de angico, caju . Houve redução do
crescimento de C. paradoxa, aplicando o Bion, porém, não difericiou estatisticamente da
testemunha. Observa-se que no final das avaliações os tratamentos utilizados não diferiram
estatisticamente da testemunha, com base no teste de Tukey a 5% de probabilidade. Os tratamentos
utilizados foram capazes de inibir ou reduzir o crescimento micelial do fungo nas condições
experimentais analisadas.

Tabela 1. Efeito de diferentes extratos vegetais, do indutor de resitência (Bion®), e fungicida químico
(Mancozeb), sobre o crescimento micelial de C. paradoxa, in vitro.
*Avaliação do crescimento micelial (dias)
Tratamentos
1 2 3 4 5
Controle (ADE) *0,6a 22,77a 42,07ab 77,6a 81,0a

Mancozeb 0,6a 12,28b 30,66c 77,6a 81,0a

Bion® 0,6a 20,13a 40,76ab 77,6a 81,0a

Extrato de Angico 0,6a 12,36b 33,61bc 64,0b 81,0a

Extrato de Caju 0,6a 18,91ab 38,72abc 77,6a 81,0a

CV 10,07%

*Diâmetro micelial mensurado através do diâmetro das colônias (cm²) após cinco dias de incubação. **Médias
seguidas das mesmas letras nas colunas e linhas não diferem pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Carvalho et al., (2002) trabalhando com extrato de angico observaram que este inibia o
crescimento do fungo Fusarium subglutinans em abacaxi; Nery (2006) que constatou efeito
inibitório significativo do extrato de angico no crescimento micelial de Colletotrichum

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gloeosporioides na cultura do mamão e Passos (2006) utilizando extrato de angico, observou


controle da antracnose da mangueira. Querino et al., (2005) constatou que, à medida que se
aumentava a concentração do Bion® aumentava o crescimento micelial de Fusarium f. sp. cubense.
Cia (2005) observou que Bion® não influenciou diretamente no crescimento de C. gloeosporioides,
quando aplicado em baixas concentrações.
Quanto à esporulação, não houve diferença significativa entre os tratamentos utilizando os
extratos de caju e angico, juntamente com o Bion®, em relação à testemunha. Os maiores
percentuais de inibição da esporulação foram apresentados pelos tratamentos utilizando Mancozeb
difereindo estatisticamente da testemunha e dos demais tratamentos (Tabela 2).

Tabela 2. Efeito de extratos vegetais, indutor de resistência, fungicida químico na produção de conídios (x 10
5
con/mL) de C. paradoxa após cinco dias de incubação.
Tratamentos Conídios (x 10 5con/mL)
Controle (ADE) 17,3 a
Mancozeb 8,2 b
Indutor Bion® 15,2 a
Extrato de Anjico 16,2 a
Extrato de Caju 14,4 a
CV 31,54%
*Médias seguidas das mesmas letras não diferem entre si pelo teste de Tukey
a 5% de probabilidade.

No presente trabalho Bion® não foi capaz de proporcionar inibição na esporulação do fungo.
Querino et al., (2005) observou que a maior dosagem (0,500 mg.mL-1 ) do Bion® foi capaz de inibir
a germinação de conídios de F. oxysporum f. sp. cubense na cultura da banana, porém em menores
concentrações favoreceram a germinação de conídios do fungo. Resultados observados por Cardoso
Filho (2003) utilizando o Bion® verificaram que este não inibiu a germinação de conídios de
Phyllosticta citricarpa.
A progressão da severidade da podridão negra do abacaxizeiro, causada por C. paradoxa,
após sete dias de incubação, pode ser observada na Tabela 3. Com relação aos extratos utilizados,
não foram observadas diferenças significativas entre os tratamentos durante o início das avaliações.
Observa-se que, a partir do sexto dia, o fungicida Mancozeb não diferenciou estatisticamente dos
tratamentos com extratos de angico, caju e nem do Bion®, mostrando a possibilidade de utilização
destes extratos no controle alternativo pós-colheita nesse patossistema, em combinação com o
fungicida, ou isoladamente. O fungicida apresentou a maior atividade no controle da podridão
negra, diferindo estatisticamente da testemunha, do Bion® e dos extratos de angico, porém não
havendo diferenças estatísticas com relação ao extrato de caju.

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Tabela 3. Avaliação da eficiência do fungicida, indutor de resistência e extratos vegetais, no controle pós-
colheita da podridão negra do abacaxizeiro através de escala de notas.
*Diâmetro das lesões em diferentes períodos de avaliação (dias)
Tratamentos
1 2 3 4 5 6 7

Controle (ADE) 1,0a** 1,0a 2,0a 2,0b 2,4ab 4,2a 5,0a


Mancozeb
1,0a 1,0a 1,6a 1,8b 1,8b 4,2a 4,0c
Indutor Bion®
1,0a 1,0a 1,8a 1,8b 2,0b 4,6a 4,8ab
Extrato de Angico
1,0a 1,0a 2,0a 3,0a 3,0a 4,3a 4,8ab
Extrato de Caju
1,0a 1,0a 2,0a 2,0b 3,0a 4,4a 4,2bc
*Escala de notas onde: 1 – Ausência de sintomas; 2 – podridão negra em área equivalente a 1- 5 frutilhos;
3- Podridão negra em área da casca equivalente a 6- 10 frutilhos; Podridão inicial da polpa com coloração pardo
amarelada; 5 – Podridão e desintegração da polpa atingindo área superior a 50 % do fruto. **Médias seguidas de
mesma letra na coluna não diferem a 5% de probabilidade pelo teste de Tukey.

Segundo Cia et al., (2007) as utilizações de agentes alternativos que induzem respostas de
defesa em frutas, contribuem para a redução do uso de defensivos agrícolas, segurança alimentar,
assim como, na preservação do meio ambiente.
Observa-se na progressão da doença que os tratamentos com Mancozeb e o indutor Bion®
nas concentrações utilizadas, não apresentaram resultados significativos no controle da doença, não
sendo recomendado o uso isolado desses produtos como método de controle. O uso de Bion® tem
sido relatado em vários trabalhos controlando ou minimizando efeitos de fitopatógenos em
diferentes patossistemas (Querino et al., 2005; Zambolim et al., 2007).

CONCLUSÃO

De acordo com os resultados obtidos neste trabalho, pode-se concluir que o fungicida
Dithane/mancozeb não demonstrou eficácia na inibição de C. paradoxa, enquanto que no
tratamento com o Bion® (Acibenzolar-S-Methyl) não se constatou uma interação significativa no
patossistema estudado, embora este indutor seja um dos mais utilizados pela ativação de resistência.
O uso de extratos vegetais no controle da podridão negra do fruto do abacaxi pode ser uma
alternativa eficaz, ecológica e econômica, possuindo grande potencial de aplicação em um
programa integrado no controle desta doença.

REFERÊNCIAS

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ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 203


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ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 204


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AGROECOLOGIA NA AGRICULTURA FAMILIAR EM ASSENTAMENTOS NA


REGIÃO DO RIO GRANDE DO NORTE

José Wilson Costa de CARVALHO


Doutor em Manejo de Solo é Água pela UFERSA
jose.carvalho@ifrn.edu.br
Marcelo Tavares GURGEL
Profº Doutor pela UFERSA
marcelo.tavares@ufersa.edu.br
Kaline Dantas TRAVASSOS
Doutora em Irrigação e Drenagem pela UFCG/ Pesquisadora PNPD/CAPES
kalinedantas@yahoo.com.br
Raniere Barbosa de LIRA
Doutor em Manejo de Solo é Água pela UFERSA
ranierebarbosa@bol.com.br

RESUMO
Este trabalho teve como objetivo estudar agroecologia na agricultura familiar, tendo por base as
experiências desenvolvidas em assentamentos rurais do Rio Grande do Norte-RN. A metodologia
teve como tripé a interpretação da realidade através dos protagonistas das experiências, a interação
do conhecimento desses sujeitos com o do autor e o referencial teórico disponível sobre a temática.
As principais técnicas utilizadas foram: desenvolvida conversas e diálogo baseando no roteiro
semiestruturado, a partir de entrevistas estabelecidas com famílias ou grupos de agricultores, num
total de 20 entrevistas; fez parte da metodologia às observações e registros feitos ―in loco‖, através
das visitas às experiências. Conclui-se que a utilização dos princípios da agroecologia pela
agricultura familiar tem modificado, de forma diversa, a relação entre os agricultores com seus
agroecossistemas, desde a produção de alimentos, os caminhos da comercialização, a geração de
renda e até mesmo na superação de posturas machistas nas relações de gênero na agricultura
familiar, tendo reflexo desde o uso sustentável da biodiversidade.
Palavras-chave: Qualidade de vida, Alimentação, Feminismo.
ABSTRACT
This study aimed to study agroecology in family agriculture, based on the experiences developed in
rural settlements in Rio Grande do Norte-RN. The methodology had as tripod the interpretation of
reality through the protagonists of the experiences, the interaction of the knowledge of these
subjects with that of the author and the theoretical reference available on the subject. The main
techniques used were: developed conversations and dialogue based on the semi-structured script,
based on interviews with families or groups of farmers, in a total of 20 interviews; Made part of the
methodology to the observations and records made "in loco", through the visits to the experiences.
It is concluded that the use of the principles of agroecology by family farming has changed, in a
different way, the relationship between farmers and their agroecosystems, from the production of
food, the ways of commercialization, the generation of income and even the overcoming of Sexist
positions in family agriculture, reflecting the sustainable use of biodiversity.
Key-words: Quality of life, Power, Feminism.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 205


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

INTRODUÇÃO

Durante os anos 1960 e 1970, a agricultura brasileira passou por uma intensa transformação
no processo que ficou conhecido como modernização conservadora (GAVIOLI e COSTA, 2011).
Na busca de novos conhecimentos, nasceu a Agroecologia, como um novo olhar científico,
capaz de dar suporte a uma transição a estilos de agriculturas sustentáveis e, portanto, contribuir
para o estabelecimento de processos de desenvolvimento rural sustentável (JESUS et al., 2011).
Para Silva et al. (2009), os processos de transição agroecológica constituem-se em desafios para a
sustentabilidade das regiões rurais.
Os espaços de comercialização dos produtos agroecológicos, surgidos diante da perspectiva de
sustentabilidade para o espaço rural, como as feiras agroecológicas, apresentam crescimento expressivo
no Brasil e no mundo, em função de fatores chaves, como a crescente sensibilização sobre os problemas
ambientais decorrentes do uso inadequado dos recursos ambientais, demanda dos consumidores urbanos
e a preocupação dos indivíduos na procura por alimentos mais saudáveis e naturais, livres de
agrotóxicos e menos impactantes aos ecossistemas, bem como a valorização dos produtos de origem
local ou regional (SIVIERO, 2008).
Os assentamentos rurais no Brasil passaram a existir oficialmente a partir da década de 1980
(SILVA et al., 2010). O assentamento, com um sistema de produção agroecológica, produzindo
alimentos mais saudáveis e promovendo a sustentabilidade econômica, social e ambiental das
famílias envolvidas com a coletivização (JESUS et al., 2011).
O estado do Rio Grande do Norte é marcado pelas baixas condições financeiras da
população rural, representa claramente a realidade da busca pela posse de terras, resultando na
formação de assentamentos rurais (MOTA et al., 2007).
Os assentamentos rurais são desenvolvidos por atividades de subsistência que necessitam de
água (irrigação, dessedentação de animais e consumo humano), geralmente captada de poços. Na
maioria das vezes essas atividades são executadas sem conhecimento adequado, devido à falta de
estudo da população (OLIVEIRA et al., 2013). A diversidade funcional refere-se à variedade de
organismos e de serviços ambientais que os ecossistemas fornecem para que continuem
funcionando (LOREAU et al., 2001).
Este estudo propõe-se a contribuir com a identificação e reflexão sobre a Agroecologia na
agricultura familiar, destacando-se a visão dos protagonistas desse processo.
Este trabalho teve como objetivo estudar agroecologia na agricultura familiar, tendo por
base as experiências desenvolvidas em assentamentos rurais do Rio Grande do Norte-RN.

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METODOLOGIA

O estudo teve por base as experiências desenvolvidas nos municípios do Rio Grande do Norte-
RN, sendo analisadas as experiências nos seguintes assentamentos rurais: Mulunguzinho, em
Mossoró-RN; Canto da Ilha de Cima, em São Miguel do Gostoso-RN; Moacir Lucena e Lage do
Meio, em Apodi-RN, durante o período de junho de 2009 e junho de 2010.
O projeto de assentamento Mulugunzinho está localizado no município de Mossoró-RN,
este por sua vez, situa-se entre duas capitais, Natal-RN e Fortaleza-CE; apresentando temperaturas
médias que variam entre 22 e 33 ºC. Com uma área total em torno de 4 mil ha, sendo constituído
por 112 famílias assentadas, resultando em torno de 450 pessoas morando no assentamento.
O assentamento Canto da Ilha de Cima está localizado no município de São Miguel do
Gostoso a cerca de 112 Km de Natal, com acesso ao município pela BR 101 e mais 15 km pela RN
221, o município de São Miguel do Gostoso. O assentamento Canto da Ilha de Cima é constituindo a
partir de uma comunidade com 89 famílias, somando em torno de 470 habitantes.
O município de Apodi, localiza-se na microrregião denominada Chapada do Apodi, a 328
Km de Natal.
O Moacir Lucena fica a 24 km da sede do município de Apodi-RN, no sentido Apodi-
Mossoró, com entrada a esquerda e com acesso pela comunidade de Soledade. O assentamento
Moacir Lucena. Com uma área em torno de 550 ha dividida em lotes para cada família de 18,5 ha,
composto por 20 famílias.
O assentamento Lage do Meio, localiza-se a uma distância de 28 km do município de
Apodi-RN. Com uma área total de 756 ha, e média de 16 ha por família, o assentamento abriga
atualmente cerca de 100 pessoas divididas entre 24 famílias.
Este estudo optou por mostrar e discutir na percepção dos envolvidos no processo de
transição do modelo convencional de agricultura para uma produção de base ecológica,
valorizando-se a visão dos agricultores através da análise das suas falas, da assessoria técnica, bem
como dos personagens dos movimentos sociais.
A metodologia teve como tripé a interpretação da realidade através dos protagonistas das
experiências, a interação do conhecimento desses sujeitos com o do autor e o referencial teórico
disponível sobre a temática. As principais técnicas utilizadas foram: desenvolvida conversas e
diálogo baseando no roteiro semi-estruturado, a partir de entrevistas estabelecidas com agricultores
individualmente, famílias ou grupos de agricultores, num total de 20 entrevistas.
Segundo Gil (1999) entrevistas é a técnica em que o investigador se apresenta frente ao
investigado e lhe formulam perguntas, com o objetivo de obter dados que lhe interessam a
investigação. Geilfus (1997), afirma que a diferença entre um diálogo e uma entrevista é que no

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

diálogo se busca uma troca e que, por este motivo é que se tem somente um guia com uma série de
temas preparados a título indicativo ao invés de um questionário fechado.
De acordo com o desenvolvimento das conversas, através do diálogo, baseando-se no roteiro
semiestruturado. Fez parte da metodologia às observações e registros feitos in loco, através das
visitas às experiências, bem como análise de relatórios.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A Agroecologia tem tido um papel fundamental nas unidades de produção, no intuito de


buscar a sustentabilidade, considerando as suas diversas dimensões. Uma mudança fundamental,
observada em praticamente todos os sistemas de base ecológica estudados, é a mudança no olhar e
no manejo da vegetação da caatinga; base dos sistemas de produção mais comum nos grupos
estudados, sobretudo naqueles que não dispõem de água para irrigação, a exemplo das experiências
de Irapuan em Moacir Lucena, Francisco Evânio em Lage do Meio ou de Gilvan em Mulunguzinho.
O resultado de um manejo sustentável, com uma alimentação baseada na pastegem dos animas
nas áreas manejadas, reforçado com o fornecimento de feno, feito principalmente de mata-pasto
(Senna occidentalis L) e bamburral (Hyptis suaveolens Poit) além da silagem de milho (Zea mays) e
sorgo (Sorghum bicolor), bem como no fornecimento de frutos de caju (Anacardium occidentale L)
colhidos de uma área coletiva de 20 ha de cajueiro (Anacardium occidentale L) de sequeiro, a família
do agricultor ―Irapuan‖ mantém atualmente um rebanho de 35 cabras leiteiras adultas, dessas: com o
controle de monta que faço, sempre tem, em média, 15 cabras produzindo e daí sai o leite, o queijo e
com um manejo de seis anos na mata, já planeja: a madeira poder ser tirada para cerca, estaca.
Também com o intuito de aumentar a florada apícola, principalmente no período seco,
aumentar o suporte forrageiro e ainda aumentar as alternativas de fonte de renda, como a madeira,
além de alimentos, é que são introduzidas diversas plantas para enriquecer a caatinga, tanto nativas,
quanto exóticas. Há sempre uma área dedicada às culturas de subsistência, esses cultivos podem ser
vistos, inclusive, em meio do raleamento da vegetação nativa, em faixas que se alternam.
Completando o sistema de produção, é comum a esses sistemas a integração de animais,
principalmente ovinos e/ou caprinos e apicultura, bem como alguns bovinos, nem que seja uma
única vaca de leite e ainda as galinhas, presentes em praticamente todos os quintais, como nota-se
no que diz Neurivan Silva, técnico agrícola, assessor da Coopervida no P. A. Moacir Lucena: Há
dez anos a apicultura em Apodi não existia como existe hoje, com o manejo (manejo da Caatinga) a
gente enriquece a florada, com o manejo da mata a apicultura foi influenciada; já a caprinocultura
teve um impulso, a tradição não era leiteira!
Ainda é importante destacar, nesses sistemas, que a integração lavoura/animal favorece o
sistema como um todo, de forma que a alimentação animal é baseada nos sistemas de cultivo de

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grãos e pasto. As lavouras produzem mais com a presença das abelhas e vice-versa, proporcionando
um maior equilíbrio na unidade de produção, muitas vezes medicamentos animais são substituídos
pela cura fitoterápica, lançando-se mão do conhecimento tradicional como tem demonstrado o
agricultor Irapuan que tem tratado e prevenido o verme em suas criações com o uso de neem
(Azadirachta indica) e batata - de - purga (Operculina hamiltonii ou Ipomoea purga).
A lógica produtiva assentada está no tripé agricultura irrigada/agricultura de
sequeiro/criação animal diminui as chances de frustração de safras e favorece a adoção de um
conjunto de práticas voltadas à intensificação da biodiversidade e a um alto nível de ciclagem de
nutrientes e fluxos de energia dentro do agroecossistema (JALFIM et al., 2009).
Nos sistemas onde há disponibilidade de água para irrigação como as experiências do grupo
de mulheres decididas a vencer em Mulunguzinho ou no grupo do Canto da Ilha de cima, que
trabalham principalmente em torno de uma diversidade de hortaliças, as quais chegam a somar mais
de trinta espécies, produzem também plantas medicinais e fruteiras, é ainda desenvolvem de forma
integrada, atividades como: apicultura, produção de grãos de sequeiro e criação de animais.
Estes grupos obtêm a fertilidade para suas produções agrícolas com a ciclagem de nutrientes
a partir de práticas como compostagem, uso de estercos (nem sempre de forma auto-suficiente),
cinzas de madeira, urina de vaca, biofertilizantes, bem como no uso de resíduos disponíveis
regionalmente, a manipueira (resíduo da produção de farinha) utilizada pelo grupo de São Miguel
do Gostoso, além de outras estratégias como ―coquetel‖ de plantas ou adubação verde.
Dessa forma, através de alimentos como o mel, a carne de caprino ou ovino, do
beneficiamento de frutas como as polpas e até mesmo dos queijos de leite bovino ou de cabras,
além do tradicional cultivo de feijão (Vigna unguiculata) e milho (Zea mays), têm diversificado e
melhorado a qualidade da alimentação de suas famílias, incrementada onde se produz hortaliças,
como afirma ―Tiquinho‖ da horta do Canto da Ilha em São Miguel do Gostoso: Quando a gente
começou aqui, nem a gente comia verdura. Hoje não pode faltar coentro, cebolinha, pimentão...
Percebe também que a economia está sendo trabalhada não só apenas pelas diversas fontes de
renda, com a diversificação de cultivos e criações, mas também através do beneficiamento da produção.
Observa-se que nesses sistemas, ainda de forma inicial, há um beneficiamento da produção, bem
sucedidas como os cortes especiais das carnes, realizadas por Gilvan em Mulunguzinho ou Irapuan em
Moacir Lucena, a produção de polpas de frutas, a qual tem tido uma disseminação impressionante em
Apodi - RN, os queijos, através do beneficiamento do leite, o mel que tem se destacado como alimento é
também teve um aumento, através do melhoramento da apresentação desse produto em diversas opções,
como por exemplo: Os saches, litros e favo de mel, com diversos tipos de embalagens e rótulos, gerando
diversidade e renda, como percebemos na fala de Mércia, feirante de Apodi-RN: Nós temos sessenta
produtos: frutas, bolos, tapiocas, biscoitos, doces de vários sabores, queijo, manteiga, fubá, corante...

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Uma das estratégias mais eficientes utilizadas para aumentar a renda e melhorar a eficiência
produtiva das unidades de produção de base ecológica tem sido exatamente o oposto do que é
praticado nos sistemas convencionais. Enquanto a agricultura patronal, ―moderna‖, caracteriza-se
pela especialização de criações ou cultivos, os sistemas agrícolas têm feito a opção pela
diversificação e integração de atividades.
Por exemplo, à prática de Francisco Evânio, no manejo da caatinga, com atividades de criação
de caprinos, apicultura, produção de grão e estacas: Tenho 74 colméias: estou tirando em média 70
latas/ano, afirma. Se considerarmos que esse mel é vendido a Cooperativa da Agricultura Familiar de
Apodi (COOAFAP) a um preço de R$ 80,00 (oitenta reais) a lata, podemos concluir que só de mel
por ano, se tira em torno de R$ 5.600,00 (cinco mil e seiscentos reais). Aqui podemos acrescentar
outra renda, das estacas que o agricultor planeja tirar esse ano, em torno de 300 delas, com preço de
R$ 1,50 (um real e cinquenta centavos) cada uma e ainda: No próximo ano já dá para fazer outro corte
e tirar em torno de 200 estacas e aí vou tirar de novo depois de dois anos.
Resultado equivalente é apontado por Irapuan em relação à produção e comercialização de
polpa de frutas: Ano passado (2008) o assentamento (Moacir Lucena) vendeu cerca de 4 mil kg de
polpas; esse ano (2009) em Apodi já temos 17 mil kg armazenados.
Há poucos anos, a apicultura e a transformação em polpa de fruta de espécies como cajarana
(Spondias sp.), caju (Anacardium occidentale L) e outras frutas dos quintais não tinha nada significativo
de comercialização. Percebe-se que estes volumes, exemplificados na comercialização feita pela
COOAFAP, tem uma expressão extraordinária, pois não se deixou de plantar ou cultivar praticamente
nada. Para desenvolver essas atividades, realizou-se um redesenho das unidades de produção, no sentido
de otimizar as atividades desenvolvidas e aproveitar as potencialidades existentes.
Outra atividade resultante desse trabalho que tem gerado alimento e renda nos sistemas de base
ecológica tem sido a caprinovinocultura, sendo de corte ou mesmo leiteira, aptidão essa impraticável no
manejo tradicional da caatinga, exatamente pela limitação de forragem. O resultado dessa atividade é o
exemplo de Irapuan que mantém hoje 35 cabras leiteiras adultas, onde dessas 35 cabras, com o controle
de monta que faço sempre tem em média 15 cabras produzindo. Segundo o próprio Irapuan esse leite é
vendido por R$ 1,00 (um real) o litro na porta no próprio assentamento e o queijo a R$ 15,00 (quinze
reais) o quilo por encomenda.
Ainda com relação a caprinocultura, Francisco Evânio afirma que, desde 2006, só para o
Programa de doação simultânea da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), vem
abatendo, em média, 12 animais por ano, com peso médio de 12 kg/animal, entregando a
COOAFAP a R$ 7,00 (sete reais) por quilo. Fazendo as contas, teríamos, entorno de R$ 1.000,00
(um mil reais) por ano. Para ilustrar bem esse potencial vejamos o que diz Gilvan, que também
comercializa semanalmente na Rede Xiquexique em Mossoró: Um bichinho de 10 kg rende R$

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80,00 (oitenta reais) de carne, mais R$ 20 a 25,00 (vinte a vinte cinco reais) da buchada e mais R$
5,00 (cinco reais) do couro, ainda fica sempre uma buchada mais o pescoço fatiado, se fosse para
um atravessador (entregando tudo) talvez trouxesse R$ 60,00 (sessenta reais).
Quando a produção é baseada no uso de irrigação para produção de hortaliças como é o caso dos
grupos de Mulunguzinho em Mossoró-RN e Canto da Ilha em São Miguel do Gostoso-RN, percebem-
se algumas diferenças importantes. O grupo do Canto da Ilha, por exemplo, diz que já chegou ter uma
renda de R$ 500,00 (quinhentos reais) por mês da venda de cestas em Natal e, somando a renda das
vendas nas comunidades vizinhas com a feira e as cestas vendidas em Natal já arrecadou mensalmente
cerca de R$ 750,00 (setecentos e cinquenta reais). Também em Mulunguzinho, atualmente as rendas do
sistema de cestas, comercializadas na Rede Xiquexique, ficam em torno de R$ 650,00 (seiscentos e
cinquenta reais) mensais, um valor muito baixo quando são verificados os custos, mesmo sem mão de
obra, que chegam a R$ 400,00 (quatrocentos reais) mensais, sendo que desses custos, R$ 250,00
(duzentos e cinquenta reais) é o custo da energia para bombeamento da água para irrigação.
Vale salientar, que a grande importância desses sistemas de produção é o alimento
produzido e consumido por essas famílias e isso fica bem claro na fala de Tiquinho: Uma das
principais coisas é o alimento que a gente tira daqui e a renda que serve para as despesas de casa e
outra coisa que a gente compra.
Vejamos também o que diz Francisca Eliane, uma das integrantes do grupo de
Mulunguzinho e Coordenadora da Rede Xiquexique: Antes só comprava cebola, tomate e coentro
na rua. Hoje como tudo que tem na horta, boto na sopa, no feijão.
De acordo com Rodrigues e Sousa (2002), ao afirmarem que o conceito de sustentabilidade
econômica da agricultura familiar, traduzido, entre outros indicadores, pela qualidade de vida da família,
deve levar em consideração também a variável consumo, o que se constata na fala de Joana-Integrante
do grupo de mulheres de Mulunguzinho: Se tiver jerimum eu levo quatro ou cinco por semana.
Para estes grupos de assentados as principais estratégias de comercialização têm sido as
feiras livres e as vendas institucionais através do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), tanto
via Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) como através do Instituto de Assistência
Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Norte (Emater-RN), seja venda direta, pessoa física, ou
através de grupos formais via suas cooperativas.
Uma das principais características percebidas nesse trabalho, no que diz respeito à
comercialização, é a busca da eliminação do atravessador, através da venda direta. Dessa forma, as
experiências de base ecológica têm caminhado junto com a economia solidária e em muitos casos a
criação de modalidades alternativas de mercados que é um fator chave para dar viabilidade
econômica à proposta agroecológica (ALTIERI, 2004).

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Tem sido importante a comercialização nas próprias comunidades rurais, prática essa muito
comum no assentamento Mulunguzinho em Mossoró-RN, onde a comunidade costuma comprar
principalmente verdura fresca do dia a dia, cheiro verde, mel, exemplo do que ocorre com o grupo
de agricultores familiares da comunidade de Canto da Ilha em São Miguel do Gostoso, como afirma
Tiquinho: Setenta por cento da própria comunidade compra a gente; quando faltam verduras a
comunidade fica mais aperreada que a gente.
Essa tendência de buscar os circuitos curtos de comercialização é fortalecida através de
organizações dos próprios agricultores familiares, principalmente através da organização em feiras
livres, onde a transição agroecológica se fortalece com a articulação com a economia solidária. Assim, é
possível citar várias experiências, como a feira da agricultura familiar de São Miguel do Gostoso, a feira
agroecológica e da economia solidária de Janduís, a feira da agricultura familiar de Apodi, a feira da
agricultura familiar de Tibau, a feira da agricultura familiar de Governador Dix-sept Rosado, a feira da
agricultura familiar de Baraúnas, a feira da agricultura familiar de Campo Grande, entre outras.
Este processo que parte desde as organizações locais com as vendas diretas nas comunidades e nas
feiras, ganha amplitude com as cooperativas, a exemplo da COOAFAP em Apodi, a qual tem exercido um
papel estratégico na comercialização dos produtos da agricultura familiar neste município, proporcionando
uma melhor renumeração à agricultura familiar, principalmente com aqueles produtos que tem um volume
de produção superior ao que pode absorver o mercado local. Exemplo disso tem sido o mel, que só ano
passado a COOAFAP comercializou cerca de 120 toneladas, somando as vendas para a CONAB e outros
mercados ainda ligados a atravessadores, principalmente no que diz respeito às exportações.
Outro canal importante que se consolida, são as compras governamentais, já citadas
anteriormente, como as compras executadas pela CONAB e Emater-RN, que tem como principal
atrativo, além da garantia da compra, o preço. Embora as compras governamentais não trabalhem
com o conceito de preço justo, os preços têm se mostrado superior aos praticados pelos
atravessadores e mercados convencionais.
Finalmente, o ápice desse processo se expressa em uma organização em Rede através de um
amplo processo de articulação, o qual dá origem a Rede Xiquexique de Comercialização Solidária:
A Rede de Comercialização Solidária Xiquexique é fruto de um amplo processo de construção
coletiva, com a contribuição de um conjunto de organizações da sociedade civil que atuando em
diferentes áreas lutam pela autonomia e melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores e
trabalhadoras do campo e da cidade (REDE XIQUEXIQUE, 2003).
A certificação nos grupos e famílias estudadas é um tema ainda inicial. Embora a maioria
destes grupos faça parte da Rede Xiquexique, que trabalha esta temática já há algum tempo, a própria
Rede não conseguiu ainda implantar, de forma efetiva, o processo de certificação.

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Talvez seja justificado pela pouca demanda das famílias e grupos, como é possível verificar
na fala de Francisco Evânio: Para o mercado que a gente tem hoje, não precisa de selo, mais para
outros mercados é necessário.
No entanto, já aparecem algumas demandas pela certificação, como na fala de Maria José do
P. A. Mulunguzinho: A gente tem certeza daquilo (como produzimos), mas as pessoas que vão
comprar têm? Por isso a gente precisa certificar! Quem vai dar a garantia aos grupos e feirantes é o
selo. Se ta com o selo alguém garantiu!
Ao se pensar no benefício do incremento de renda, cita-se, por exemplo, programas como o
PAA e o programa da merenda escolar, ambos com recursos públicos do governo federal, os quais
pagam até 30% a mais, do valor do produto, para quem tem selo de produto orgânico. Na
comercialização do mel, feita em 2008 para a CONAB, pela COOAFAP, no valor total de R$
17.300,00 (dezessete mil e trezentos reais), com o selo a esse valor seriam acrescidos R$ 5.190,00
(cinco mil e cento e noventa reais).
Deve-se ir além da idéia de um selo exigido para a comercialização que, de acordo com
Carvalho (2006), um dos objetivos de trabalhar a certificação na Rede Xiquexique está na possibilidade
de fortalecer uma identidade no processo da produção ao consumo, passando por uma ampla troca de
conhecimentos e geração de credibilidade, tanto entre os que produzem quanto aos que consomem.
Para entender a participação das mulheres nesses processos, é fundamental perceber que além de
seus sistemas de produção de base ecológica e toda uma discussão e prática da construção sustentável
dos mesmos, de acordo com os princípios da Agroecologia, existe também um processo de afirmação
do feminismo no interior dos grupos e junto às famílias trabalhadas (mais avançado em alguns grupos e
famílias do que em outros), o qual a exemplo da economia solidária, embora num processo bem menos
avançado que o feminismo, se alia com a Agroecologia no processo de afirmação das mulheres como
sujeitas ativas no desenvolvimento dos assentamentos e comunidades.
Pode-se verificar na afirmação da socióloga Rejane Cleide que assessora o Centro Feminista
8 de março (CF8), além de integrar o GT de Mulheres da Articulação Nacional de Agroecologia
(ANA) e a Marcha Mundial de Mulheres (MMM): Tem um diferencial que é a experiência delas
caminharem junto com o feminismo. A Agroecologia se alimenta da luta feminista e o feminismo se
alimenta da Agroecologia. Por exemplo, a luta da marcha (MMM) por soberania alimentar, tem
partido de experiências concretas das mulheres no trabalho com Agroecologia, a proposta da
Agroecologia fortalece a soberania alimentar!
Dessa forma, à medida que a Agroecologia aponta para sistemas de produção mais
sustentáveis e por iniciativas que superem as práticas exploratórias em todas as suas dimensões,
sejam elas econômicas, sociais, humanas e ambientas, é que se junta à luta feminista para se
contrapor também a exploração das mulheres, na hora de produzir, na hora de comercializar, de

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usufruir da renda ou ter seu trabalho reconhecido e valorizado, porque para superar essa prática não
basta só produzir e gerar renda: Mesmo quando a renda oriunda do trabalho da mulher representa
quase 100% do orçamento familiar, o marido ainda a trata como ajuda (DANTAS, 2005).
A auto-organização das mulheres atreladas às iniciativas de produção de base ecológica ao se
pautarem nos princípios da Agroecologia, tem tido resultados interessantes. Por exemplo, na
cooperativa COOAFAP, que tem atualmente cadastradas 63 mulheres, fornecendo polpa de frutas a
cooperativa e outras 15 mulheres fornecendo doce. A relevância disso é mostrada pelo próprio
coordenador da cooperativa Francisco Evânio: Só o aproveitamento de frutas que era perdida na
região, só de cajarana 20 mil kg que era perdido todo ano.
Estas iniciativas têm contribuído, com a autonomia das mulheres, como se percebe na fala
de Nizete, que é uma das pioneiras no beneficiamento de frutas em Moacir Lucena: A mulher no dia
que pega naquele dinheiro (venda das polpas) não tá dependendo do marido!
A partir dessas iniciativas, as mulheres não só produzem e comercializam como também
geram renda para suas famílias. Em muitos casos, são as pioneiras e ainda influenciam outras
iniciativas, como conta Francineide Torres, Socióloga e Assessora técnica da Coopervida: Em
vários casos a discussão começou com os grupos de mulheres, os homens achavam que aquilo não
iria dar certo, é o caso das polpas de frutas de Moacir Lucena.
Esta afirmação é reforçada por Francisco Evânio: Hoje tem muitos grupos produzindo polpa,
foram incentivados a plantar fruteiras nos quintais e as mulheres foram as pioneiras.
Nesses casos é possível visualizar a relação da Agroecologia com o feminismo, a partir da
auto-organização das mulheres, para superarem os sistemas produtivos convencionais, os quais são
formas de reprodução dessas opressões. Percebe-se, que essa relação não se dá por acaso, acontece
porque ambas, o feminismo e Agroecologia, buscam romper com todas as formas de opressão: A
Agroecologia, ao considerar todos os componentes do sistema de produção, contribui para dar
visibilidade ao trabalho desenvolvido pelas mulheres, que é fundamental para a sustentabilidade do
sistema e para a reprodução familiar (ANA, 2005).
Como afirma Rejane Cleide: A partir de suas experiências elas podem se organizar para
buscar políticas públicas. E é o que tem acontecido com muitos grupos de mulheres. Respaldadas
por iniciativas produtivas concretas em suas comunidades, as mesmas têm conquistado o acesso a
políticas e programas públicos como governamentais, como é o caso do Programa de Promoção a
Igualdade de Gênero Raça e Etnia (PPIGRE), hoje denominado Assessoria Especial de Gênero
Raça (AEGRE) e Etnia do Ministério do Desenvolvimento Agrário-MDA.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A utilização dos princípios da agroecologia pela agricultura familiar tem modificado, de


forma diversa, a relação entre os agricultores com seus agroecossistemas, desde a produção de
alimentos, os caminhos da comercialização, a geração de renda e até mesmo na superação de
posturas machistas nas relações de gênero na agricultura familiar, tendo reflexo desde o uso
sustentável da biodiversidade.
As experiências desenvolvidas nos assentamentos do Rio Grande do Norte tem elevado à
renda das famílias dos assentados, melhorado alimentação é aumentando a qualidade de vida de
uma forma geral.

REFERÊNCIAS

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AVALIAÇÃO DO POTENCIAL GENOTÓXICO, CITOTÓXICO E MUTAGÊNICO DE


Croton heliotropiifolius KUNTH (EUPHORBIACEAE) ATRAVÉS
DO SISTEMA TESTE Allium cepa

Maria Isabel de Assis LIMA


Mestranda do Programa de Pós-graduação em Morfotecnologia-UFPE
isabellima878@gmail.com
Tainá Maria Santos da SILVA
Mestranda do Programa de Pós-graduação em Morfotecnologia-UFPE
taina_mariaa@hotmail.com
Anneliese Gonçalves Costa MARINHO
Mestranda do Programa de Pós-graduação em Morfotecnologia-UFPE
anneliesecosta7@gmail.com
Sônia Pereira LEITE
Coordenadora do Programa de Pós-graduação em Morfotecnologia-UFPE
spleite6@hotmail.com

RESUMO
Croton heliotropiifolius Kunth, é uma espécie endêmica do Nordeste brasileiro, popularmente
conhecida como ―velame‖, ―velaminho‖ e ―velame-de-cheiro‖ devido aos seus minúsculos pêlos, na
medicina popular é utilizado para dor de estômago, mal-estar gástrico, vômitos, diarreia e para
atenuar a febre. O sistema teste de Allium cepa (radícula de cebola) é frequentemente utilizado para
avaliação do potencial genotóxico, citotóxico e mutagênico de extratos de plantas através da análise
de células meristemáticas. Objetivo deste trabalho foi investigar o efeito do extrato etanólico de
folhas de C. heliotropiifolius frente às células de radículas de A. cepa. O experimento consistiu na
utilização de 28 bulbos de A. cepa: sete (7) bulbos como controle negativo (agua destilada) e vinte e
um (21) como controle positivo (sete bulbos para cada concentração) do extrato etanólico de folhas
de C. heliotropiifolius nas concentrações de 13mg/L; 25mg/L; 50mg/L. O extrato etanólico de
folhas de C. heliotropiifolius (2.5 cm; 2.5 cm; 2.1) quando comparado com o controle negativo
(3.3cm), apresentou baixo nível citotóxico do sistema teste A. cepa. Os valores de índice mitótico
obtido do total célula analisadas de radícula de A. cepa quando comparado o controle negativo
(14% IM) com extrato etanólico de C. heliotropiifolius (14,8% IM; 16,5% IM; 14,6% IM)
caracterizou efeito antiproliferativo. O presente estudo indicou que o extrato etanólico de C.
heliotropiifoliusnas, apresentou baixo nível citotóxico, genotóxico e mutagênico das células
meristemáticas de raízes de A. cepa nos aspecto tóxico para uso terapêutico.
Palavras-chave: Croton heliotropiifolius, Allium cepa, genotóxico, citotóxico, mutagênico.
ABSTRACT
Croton heliotropiifolius Kunth, is an endemic species of the Northeast of Brazil, popularly known
as "velam", "velaminho" and "velamó de odor" due to its tiny hairs, in folk medicine is used for
stomach pain, gastric discomfort , vomiting, diarrhea, and to alleviate fever. The Allium cepa (onion
radicle) test system is frequently used to evaluate the genotoxic, cytotoxic and mutagenic potential
of plant extracts through meristematic cell analysis. The objective of this work was to investigate
the effect of the ethanolic extract of C. heliotropiifolius leaves against the radicular cells of A. cepa.
The experiment consisted in the use of 28 bulbs of A. strain: seven (7) bulbs as negative control

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(distilled water) and twenty one (21) as positive control (seven bulbs for each concentration) of the
ethanol extract of leaves of C. heliotropiifolius at concentrations of 13mg / L; 25mg / L; 50mg / L.
The ethanol extract of leaves of C. heliotropiifolius (2.5 cm; 2.5 cm; 2.1) when compared to the
negative control (3.3 cm), showed low cytotoxic level of the test system A. strain. The values of
mitotic index obtained from the total cell analyzed from the A. cepa radicle when compared to the
negative control (14% IM) with ethanolic extract of C. heliotropiifolius (14.8% IM, 16.5% IM,
14.6% IM) characterized antiproliferative effect. The present study indicated that the ethanolic
extract of C. heliotropiifolius nas presented a low cytotoxic, genotoxic and mutagenic level of
meristematic cells of roots of A. cepa in the toxic aspect for therapeutic use.
Key words: Croton heliotropiifolius, Allium cepa, genotoxic, cytotoxic, mutagenic.

INTRODUÇÃO

A utilização de plantas medicinais é um hábito comum entre a população e atualmente vêm


aumentando o interesse e comercialização de plantas medicinais e produtos fitoterápicos no Brasil.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, milhões de pessoas ainda utilizam a medicina
tradicional de forma essencial e às vezes única fonte de cuidados com a saúde (OMS, 2013).
O uso e a eficácia de plantas medicinais são atribuídos ao conhecimento e as observações
populares, tal conhecimento contribui de forma significativa, para a divulgação das propriedades
terapêuticas dos vegetais, sendo estes prescritos com frequência para tratamentos diversos, devido
seus efeitos medicinais efetivos, apesar de não terem seus constituintes químicos devidamente
conhecidos, mas validando as informações terapêuticas que foram sendo acumuladas ao longo dos
anos (MACIEL et al., 2002).
Além do conhecimento popular é necessário que haja estudos aprofundados e pesquisas
sobre as plantas medicinais, sendo essencial para a transformação da planta em um produto
fitoterápico para que sejam utilizados de forma segura e eficaz e seu alcance seja cada vez mais
extensivo. Contudo, apenas recentemente esses fitoterápicos se tornaram objeto de estudo científico
no que concerne às suas variadas propriedades medicinais, apesar do potencial curativo das plantas
serem explorado desde outrora (NOVAIS et al., 2003).
Croton heliotropiifolius Kunth, pertence à família Euphorbiaceae, é uma espécie endêmica
do Nordeste brasileiro, popularmente conhecida como ―velame‖, ―velaminho‖ e ―velame-de-cheiro‖
face aos seus minúsculos pêlos. É encontrada, frequentemente na Caatinga, embora também ocorra
em brejos de altitude, restingas e cerrados. Na medicina popular é utilizado para dor de estômago,
mal-estar gástrico, vômitos, diarreia e para atenuar a febre (RANDAU et al., 2001).
Sobre as propriedades biológicas, o óleo essencial de C. heliotropiifolius Kunth demonstrou
relevante atividade larvicida contra Aedes aegypti (DORIA et al., 2010) e atividade antibacteriana
(ANGÉLICA, 2011).

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Considerando o conhecimento sobre as potencialidades medicinais de C. heliotropiifolius


também se faz necessário à investigação sobre o seu potencial citotóxico e mutagênico para que sua
utilização seja ainda mais eficaz e que não ocasione efeitos nocivos para o organismo humano,
como alterações cromossômicas ou alterações no ciclo celular acarretando doenças mutagênicas.
O sistema teste de Allium cepa é frequentemente utilizado para avaliação do potencial
genotóxico e citotóxico de extratos de plantas através da análise de células meristemáticas
provenientes de pontas de raízes. Este método é validado pelo Programa Internacional de Segurança
Química (IPCS, OMS) e o Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP) como um eficiente
teste para análise e monitoramento in situ da genotoxicidade de substâncias ambientais (Cabrera;
Rodriguez, 1999).
O sistema de teste de A. cepa é bem aceito para o estudo de efeitos de citotoxicidade de
plantas medicinais, porque as suas raízes ficam em contato direto com a substância testada,
permitindo a avaliação de diferentes concentrações. As alterações cromossômicas e as da divisão
das células meristemáticas da raiz de cebola são frequentemente usadas para alertar a população
sobre o consumo do produto (Vicentini et al., 2001).
O índice mitótico é usado como indicador ou inibidor de proliferação adequada das células
(Gadano et al., 2002), o que pode ser medido através do sistema teste vegetal de Allium cepa.
Nesse sentido, esta pesquisa investigou o potencial citotóxico, genotóxico e mutagênico do extrato
etanólico de folhas de C. heliotropiifolius frente às células de radículas de Allium cepa.
Este estudo objetivou avaliar o potencial da espécie C. heliotropiifolius quanto à propriedade
citotóxica, genotóxica e mutagênica, indicando sua segurança, nos aspecto tóxico para uso
terapêutico.

METODOLOGIA

Material vegetal

As folhas de C. heliotropiifolius (Euphorbiaceae) foram coletadas em julho de 2015 na área


urbana do Município de Garanhuns, Pernambuco, Brasil. A planta foi identificada pelo Herbário
Dárdano de Andrade Lima, do Instituto Agronômico de Pesquisa (IPA), onde uma exsicata foi
depositada sob o número de catálogo 90440.

Obtenção do extrato

O extrato etanólico de folhas de C. heliotropiifolius foi preparado de acordo com o método


descrito por Filho, Yunes (1998). As folhas (225g) foram maceradas por 10 dias, em etanol (3000
mL) a temperatura ambiente e submetidas a agitações esporádicas. Depois deste período, o extrato

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foi filtrado e em seguida rotaevaporado a vácuo (BUCHI Switzerland), na temperatura de 60°C. O


extrato cedido para a realização deste ensaio pela Doutoranda e Mestra em Morfotecnologia Jessica
Andrade.

Ensaio Allium cepa - Raiz de Cebola

Foram utilizados exemplares de A. cepa, de tamanho pequeno, uniforme, de mesma origem,


não germinados e saudáveis, adquiridos no mercado municipal do Município do Recife,
Pernambuco, Brasil. Os bulbos foram postos a germinar, por um período de seis dias a temperatura
de 25ºC, em frascos apropriados, com a parte inferior mergulhada em solução de extrato etanólico
de folhas de C. heliotropiifolius nas concentrações de 13mg/ml, 25 mg/ml e 50mg/ml, com 5
repetições cada, o controle negativo foi realizado com água destilada. Quando as raízes atingiram o
comprimento de 0,5 a 3 cm, foram coletadas, lavadas em água destilada, hidrolisadas com HCl a
1mol/L por 10 minutos. Após a lavagem dos meristemas hidrolisados em água destilada foram
feitos esfregaços em lâminas de vidro para todas as concentrações, após 30 minutos de secagem as
preparações foram coradas com carmim acético 2%.
A avaliação das preparações consistiu na observação da presença de micronúcleos e figuras
de mitose em microscopia óptica, com objetiva de 40x e ocular de 10x tendo um aumento de 400x.
e posteriormente foi realizada a captura de imagem usando a câmara Motic acoplada ao
Microscópio óptico. Para a avaliação do efeito citotóxico do extrato de C. heliotropiifolius em
células meristemáticas das cebolas, utilizou-se o cálculo de índice mitótico (IM), que foi
estabelecido pela relação entre o número de células em divisão e o número total de células
analisadas. Para o IM foi realizada a seguinte equação: IM=NCM/NTC X 100, onde NCM
corresponde ao número de células em mitose e NTC ao número total de células contabilizadas. A
partir dos valores obtidos na equação acima, é possível avaliar o potencial citotóxico das amostras,
em inibir ou aumentar a proliferação celular. A análise estatística foi realizada através do programa
GRAPHPAD PRISM (bioestatisc) utilizando-se como teste estatístico ANOVA One Way, seguido
pelo Post teste de comparação múltipla entre as médias de Turkey em um nível de 5 % de
significância.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Alterações relacionadas com o crescimento da raiz de Allium cepa (cebola) e índice mitótico
são parâmetros indicativos de citotoxicidade (GUERRA, 2002). Em nosso estudo foi demonstrado
que extrato etanólico de folhas de C. heliotropiifolius não apresentou atividade citotóxica frente ao
sistema-teste com células meristemáticas de raiz de Allium cepa (figura 1). Verificou-se que
radículas do A. cepa do grupo controle negativo (3.3cm) quando comparado com controle positivo

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do extrato etanólico de folhas de C. heliotropiifolius nas concentrações de 13mg/L; 25mg/L e


50mg/L, não houve diferença estatística significativa nas médias (2.5 cm; 2.5 cm; 2.1 cm
respectivamente) de crescimento das radículas, visto que o valor do nível de significância foi >0,05.
Corroborando com esse resultado Silva, et al (2016), demonstrou no seu estudo in vitro com o
extrato metanolico de folhas de C. heliotropiifolius apresentou o baixo nível de citoxicidade.

Figura 1. Avaliação citotóxica das radículas de Allium cepa: o controle negativo (água destilada) e controle
positivo - tratamento com extrato etanólico de folhas de Croton heliotropiifolius.

A tabela 1 expressa o índice mitótico (IM) de radículas de A. cepa tratadas com doses
repetidas do extrato de etanólico de folhas de C. heliotropiifolius. Foram analisadas preparações
histológicas das radículas de A. cepa, utilizando o calculo do índice mitótico pela relação entre o
numero de células em divisão e o numero total de células analisadas, totalizando uma contagem de
1000 células. Os valores de índice mitótico obtido do total célula analisadas e sua relação nas
diferentes fases da divisão celular de raízes de A. cepa, quando comparado o controle negativo
(14% IM) com controle positivo do extrato etanólico de C. heliotropiifolius (14,8% IM; 16,5% IM;
14,6% IM) nas diferentes concentrações 13 mg/L; 25 mg/L e 50 mg/L caracterizando efeito
antiproliferativo visto que, estatisticamente, não houve diferença significativa no índice mitótico
das células meristemáticas de raízes de A. cepa validando o baixo nível de toxicidade.
Segundo Silva et al (2016) o extrato metanólico das folhas de C. heliotropiifolius
apresentou um comportamento citotóxico dose-dependentes nas concentrações testadas. A
citotoxicidade, através da inibição da divisão celular, em meristemas de raízes de A. cepa, foi
demonstrada pela diminuição de figuras de mitose com o aumento das concentrações.
A toxicidade da espécie já foi relatada em outros ensaios como o contra a traça-das-
crucíferas (Plutella xylostella L.), no qual o extrato etanólico das folhas e do caule de C.
heliotropiifolius apresentaram tóxicos à fase larval (SILVA, 2007).

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Tabela 1. Índice mitótico das radículas de A. cepa tratadas com o extrato etanólico de folhas de C.
heliotropiifolius.
Nº TOTAL DE Nº DE CÉLULAS Nº DE CÉLULAS ÍNDICE
TRATAMENTO
CÉLULAS EM INTÉRFASE EM DIVISÃO MITÓTICO (%)
CONTROLE 1.000 860 140 14
CONCENTRAÇÃO 14,8
1.000 852 148
13 mg/L
CONCENTRAÇÃO
1.000 835 165 16,5
25 mg/L
CONCENTRAÇÃO
1.000 854 146 14,6
50 mg/L

O resultado da atividade citotóxica e mutagênica do extrato etanolico de folhas de C.


heliotropiifolius, avaliada pelo ensaio A. cepa através da inibição do crescimento radicular
observada nas diferentes fases da divisão celular, está representado na Figura 2.
As observações histológicas das radículas de cebola tratadas nas diferentes concentrações
(13mg/L; 25mg/L e 50mg/L) com extrato etanólico de folhas de C. heliotropiifolius, quando
comparada com o controle negativo (água destilada), as fases de divisão celular (prófase, metáfase,
anáfase, telófase e interfase) na radícula de A. cepa foram similares sem alterações morfológicas. A
mutagenicidade é obtida pela frequência de micronúcleos em células exposta a diferentes
concentrações e anormalidade como pontes de anáfase-telófase e células micro nucleadas ou
binucleadas na interfase. Em nosso estudo nas diferentes concentrações (13mg/L; 25mg/L e
50mg/L) com o extrato etanolico de folhas de C. heliotropiifolius não foi observada anormalidades
nas fases da divisão celular, validando o baixo nível de citotoxicidade.
Em nosso estudo, avaliação do efeito citotóxica e mutagênica submetida a exposição do
extrato etanolico de folhas C. heliotropiifolius através da aplicação do teste A. cepa, não foi
observada inibição do crescimento das radículas nas concentrações utilizadas. Diferente dos dados
de Silva et al (2016) que descreve inibição das divisão celular utilizando extrato metanólico de
folhas de C. heliotropiifolius utilizando o teste A. cepa. Entretanto, necessário o aprofundamento
em investigações sobre toxicidade para melhor compreensão da utilização da espécie C.
heliotropiifolius como futuro fitofármaco.

1 2

A
M
A
I
A
P
P

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3 4
A T
P
M M
P
I
A

Figura 2. Fotomicrografias da radícula de Allium cepa nas diferentes fases da divisão celular. Controle
negativo (1) e controle positivo - extrato etanólico de folhas de C. heliotropiifolius nas concentrações de 13
mg/L (2), 25 mg/L (3) e 50 mg/L (4). P-Prófase; M-Metáfase; A-Anáfase; T-Telófase; I- Interfase. Aumento
- 400X.

Os resultados negativos para o teste de citotoxicidade do presente estudo são importantes


por que os resultados obtidos com o sistema-teste de Allium cepa podem ser utilizados para
avaliação em modelos animais e de células humanas, pois resultados de diversos estudos com A.
cepa tem demonstrado uma boa correlação com os resultados de outros sistemas-teste procarióticos
ou eucarióticos animais (GRANT, 1998).

CONCLUSÃO

O presente estudo indicou que o extrato etanólico de Croton heliotropiifolius concentrações


analisadas, não apresentou propriedade citotóxica, genotóxica, nem mutagênica nas células
meristemáticas de raízes de Allium cepa, indicando segurança, nos aspecto tóxico para uso
terapêutico em função de não terem causado inibição da divisão celular.

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BANCO DE SEMENTES COMUNITÁRIOS COMO MEIO DE CONSERVAÇÃO DE


RECURSOS GENÉTICOS LOCAIS

Marília Hortência Batista da Silva RODRIGUES


Mestranda em Horticultura Tropical-CCTA/UFCG.
marilia_agroecologa@hotmail.com
Kilson Pinheiro LOPES
Orientador e Professor–CCTA/UFCG
kilson@ccta.ufcg.edu.br

RESUMO
Atualmente o constante e acelerado processo de erosão genética da semente, insumo base da
produção agrícola, tem posto em risco a agrobiodiversidade em virtude da rápida disseminação do
modelo técnico cientifico da Revolução Verde, onde tem como estratégia o uso de espécies hibridas
geneticamente modificas que ―prometem‖ alta produtividade em menor área e em menor tempo de
cultivo, porém não são muitas vezes adaptadas às características climáticas locais. A prática de
armazenamento de sementes em Bancos realizada por agricultores, representa uma estratégia de uso
sustentável da biodiversidade local, mais utilizada no Brasil e na região Nordeste, principalmente
no Estado da Paraíba como forma participativa e coletiva de garantir a autossuficiência de um grupo
e a conservação de espécies adaptadas às condições edafoclimaticas da região semiárida. Diante
disto, faz-se necessário a valorização dos bancos de sementes em comunidades rurais para garantir a
soberania alimentar da região, a diversidade de espécies cultivadas bem como a autonomia dos
agricultores.
Palavras-chave: Agrobiodiversidade, segurança alimentar e sustentabilidade.
ABSTRACT
Now the constant and accelerated process of genetic erosion of the seed, input base of the
agricultural production, has position in risk the agrobiodiversity because of the fast spread of the
technical model inform of the Green Revolution, where he/she has genetically as strategy the use of
hybrid species modify that you/they "promise" high productivity in smaller area and in smaller time
of cultivation, however they are not a lot of times adapted to the characteristics climatic places. The
practice of storage of seeds in Banks accomplished by farmers, it represents a strategy of
maintainable use of the local biodiversity, more used in Brazil and in the Northeast area, mainly in
the State of Paraíba as a participatory form and collective of guaranteeing the aelf-sufficiency of a
group and the conservation of species adapted to the conditions edafoclimatic of the area semiarid.
Before this, it is done necessary the valorization of the banks of seeds in rural communities to
guarantee the alimentary sovereignty of the area, the diversity of cultivated species as well as the
farmers' autonomy.
Keywords: Agrobiodiversity, alimentary safety and sustainability.

INTRODUÇÃO

Desde os primórdios da humanidade os povos nômades, que vagavam pela terra a procura de
alimentos, ao fixarem-se em moradias passaram a cultivar, colher e armazenar sementes para o
consumo diário em períodos de entre safras, tendo como objetivo o armazenamento durante um
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prolongado período de tempo utilizando-se destas quando necessário (SOUSA JÚNIOR et al.,
2011).
A semente tem um papel fundamental na produção de grãos do país, sendo que, grande parte
dos pequenos produtores tem como prática guardar parte de sua produção de grãos para ser utilizada
na nova safra como semente (BRAGANTINI, 2005). Porém, a agricultura moderna tornou os
agricultores familiares dependentes de empresas multinacionais, e essa dependência de insumos,
equipamentos industriais e principalmente de sementes gerou a fragilização e vulnerabilidade dos
agricultores e consequentemente a insegurança alimentar e nutricional (JANTARA; ALMEIDA,
2009). Em contrapartida surge de forma pratica e eficiente os bancos de sementes, visando,
sobretudo garantir e proporcionar interdependência e autonomia aos agricultores.
A erosão genética ou perda da diversidade de plantas cultivadas tem provocado várias
iniciativas em relação a manutenção e conservação de diferentes espécies em bancos de sementes
(PENNISI, 2010). Essa ferramenta conta com a participação dos agricultores para garantir a
disponibilidade de sementes de boa qualidade fisiológica, em quantidade suficiente no período
correto do plantio favorecendo assim a redução do êxodo rural e fortalecendo a agricultura familiar
(RODRIGUES; LOPES, 2017).
Neste sentido é importante a valorização dessa técnica de armazenamento na região
semiárida, uma vez que colabora no aumento da biodiversidade regional.

DESENVOLVIMENTO

A dinâmica dos Bancos de Sementes Comunitários ou Bancos de Sementes Familiares


surgiu através de projetos realizados pela Igreja Católica, associado às Comunidades Eclesiais de
Base em várias dioceses e paróquias da região Nordeste na década de 1970, o qual tinha como
objetivo, diminuir os impactos causados pela indisponibilidade de sementes nos períodos chuvosos
e a dependência do pequeno agricultor aos grandes fazendeiros e políticos da época. (ALMEIDA;
CORDEIRO, 2001).
Essa atividade de produção e estocagem de sementes não é uma prática realizada apenas na
região do Nordeste brasileiro, pois autores como Almeida e Cordeiro (2002), relatam iniciativas
semelhantes em diversas regiões do mundo, principalmente em regiões caracterizadas por conflitos
armados e desastres ambientais, como no norte da Etiópia, onde o banco de sementes surgiu após a
guerra e a seca que castigou a região durante anos. Segundo esses mesmos autores, outro exemplo
marcante desta atividade está presente na Colômbia, onde agricultores expulsos pelos conflitos que
ocorreram no país, buscaram recuperar a diversidade genética dos cultivos agrícolas locais.
A prática de conservação de espécies em bancos de sementes no Nordeste e em especial na
Paraíba, está associada à comunidades incentivadas e/ou financiadas por instituições não

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governamentais desde a década de 1990. Dentre as instituições, encontram-se a CAATINGA


(Centro de Acessória e Apoio aos Trabalhadores e Instituições Não-Governamentais Alternativas),
ESPLAR-Centro de Pesquisa e de Acessória, PATAC (Programa de Aplicações de Tecnologias
Apropriadas as Comunidades), AS-PTA (Acessórias e Serviços a Projetos em Agricultura
Alternativa), SEDUP (Serviço de Educação Popular), PRACASA (Programa de Associativismo e
Capacitação do Pequeno Produtor Rural do Semiárido) e CEPFS (Centro de Formação popular e
Formação Sindical), onde a maioria destas está ligada a rede PTA NE uma articulação composta por
várias ONGs que trabalham especificamente com agroecologia e com a agricultura familiar de
forma geral (CLEMENTINO, 2011).
Diante disto, os bancos de sementes surgiram a partir da necessidade de se armazenar grande
quantidade de sementes, garantindo desta forma segurança alimentar aos agricultores bem como a
possibilidade de armazenar sementes de qualidade e adaptadas às condições locais para as gerações
futuras (PALÁCIO FILHO et al., 2011). Esse método de armazenamento é denominado de
conservação in situ e on farm por ser uma prática disseminada, desenvolvida e realizada pelos
próprios agricultores há milênios, fundamentada na concepção de seleção de espécies em contínuo
processo de evolução e adaptação, onde ao surgir novas adversidades climáticas serão desafiadas
pela seleção natural e artificial (EMBRAPA, 2010). Santili (2009) afirma que, quando espécies
vegetais são submetidas ao armazenamento em bancos de germoplasmas, tem seu processo de
evolução congelado no tempo e no espaço, não seguindo as mudanças climáticas, ao oposto da sua
manutenção em seu local de origem, pois apenas nas suas localidades naturais e tradicionais são
aptas a evoluírem e se adequarem às mudanças ambientais e socioculturais.
Segundo Vernooy e Sthapit (2015), os bancos de sementes se apropriaram de metodologias
tradicionalmente utilizadas pelos agricultores para realizar o armazenamento deste recurso genético,
pois, são estratégias simples as quais os agricultores estão emponderados em relação à secagem das
sementes ao sol e ao armazenamento em recipientes vedados. Conforme estes mesmo autores,
antigamente o armazenamento era realizado em recipientes de barro, porém, com a finalidade de
manter a qualidade fisiológica das sementes, atualmente estes recipientes foram substituídos por
recipientes herméticos de plásticos ou vidros transparentes, sendo estes materiais que controlam a
umidade e consequentemente a respiração das sementes. Posteriormente eram acondicionados em
salas ou quartos, estas práticas tornaram-se comuns em países como a China, Guatemala, México e
Nepal, já nos Estados Unidos o armazenamento é realizado de forma sofisticada com o auxílio de
salas frias e freezers.
A introdução de bancos de sementes em comunidades rurais é uma tecnologia social de
grande magnitude para os agricultores familiares por exercer papel fundamental na preservação e
restabelecimento genético da agrobiodiversidade agrícola e cultural, pois visam a autossuficiência

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de um grupo (VASCONCELOS e MATA, 2011). Para Sthapit (2013) os bancos de sementes são
como plataformas de base comunitárias, onde a gestão da biodiversidade garante a implantação dos
direitos dos trabalhados agrícolas através do conhecimento sobre a biodiversidade local.
Conforme Queiroga et al. (2011), os bancos de sementes são de fundamental importância,
por assegurar a sobrevivência de bancos de germoplasma de variedades nativas e garantir recurso
genéticos para pesquisa com novas cultivares, não só para a sobrevivência de quem consome, mas
também para melhorar a qualidade de vida e competitividade produtiva. Moreira (2012), afirma
ainda que os bancos de sementes é um fator primordial para a segurança alimentar e econômica do
pequeno agricultor, o qual é responsável por alimentar muitos países latino-americanos.
Segundo Londres (2014), os bancos de sementes representam um mecanismo de segurança
em relação a aquisição das sementes locais ou crioulas, garantindo aos agricultores familiares a
disponibilidade quando seus próprios estoques se esgotarem ou forem comprometidos. Na Paraíba a
função dos bancos de sementes está além da conservação segura de sementes, mas também são
unidades de articulação das famílias associadas, para realização de técnicas agrocecologicas e troca
de conhecimentos em relação as ―sementes da paixão‖ como são conhecidas no estado (ALMEIDA;
SILVA, 2007). É possível citar ainda como objetivos dos bancos comunitários de sementes, o
fornecimento de diversas variedades de sementes aos agricultores familiares, favorecendo sempre o
intercâmbio, reprodução e renovação continua - dos recursos genéticos adaptados à região de
origem. Outro objetivo, é valorizar a cultura e a identidade dos agricultores, suas tradições,
conhecimento empírico e saberes, garantindo sempre a autonomia do homem do campo em relação
a posse da semente, evitando desta forma, a dependência de pacotes tecnológicos fornecidos por
empresas detentoras de patentes. Também tem como função fornecer aos agricultores sementes em
quantidades e principalmente qualidade a um baixo custo (BALENSIFER; SILVA 2016).
Várias razões motivaram os agricultores da região semiárida a valorizar as sementes,
principalmente através de bancos de sementes, dentre estas razões, destacam-se as características
edafoclimáticas adversas presente na região, com grandes períodos de estiagem, característica
marcante da região (CORDEIRO, 1993).
Estes bancos são organizações administradas pelos próprios agricultores de forma
individual, participativa ou em grupos. Já o empréstimo da semente, é realizada através do
comprometimento da devolução da quantidade recebida de sementes, mais um percentual de
acréscimo, para respaldar safras seguintes, favorecendo o aumento do número de famílias
beneficiadas, aumento da quantidade de sementes cedidas por família e até mesmo o número de
famílias de espécies disponíveis para troca. Esse sistema garante ao pequeno agricultor familiar, a
possibilidade de produzir, estocar e gerenciar suas próprias sementes de forma coletiva
(MATRANGOLO, 2007; MOREIRA, 2012).

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Conforme Sthapit et al. (2007), é possível considerar seis etapas determinantes para a
implantação deste tipo de banco de sementes. A primeira delas, corresponde ao esclarecimento da
comunidade quanto ao percentual alarmante da erosão das sementes tradicionais e sobre a
importância da preservação destas espécies. Na segunda etapa é necessário a formação de um
comitê, para realizar o manejo comunitário da biodiversidade. A terceira, é a fase em que deve ser
planejada as regras do banco com base nos interesses da comunidade, a partir daí recolher todo e
qualquer material disponível localmente para a construção da estrutura que irá armazenar esse
recurso genético e por fim, recolher as sementes tradicionais da região, para armazenar no banco e
distribuir as sementes com os agricultores que não possuem as sementes locais.
Diante disto, faz-se necessário a interação dos agricultores, para que a reprodução e
conservação das diferentes espécies sejam realizadas em um ato participativo, fortalecendo os
bancos de sementes pelo seu inestimável valor, o qual detém a biodiversidade e os conhecimentos
dos agricultores familiares, buscando sempre a sustentabilidade dos cultivos agrícolas.

CONSIDERAÇÕS FINAIS

Os bancos de sementes configuram-se em uma estratégia sustentável da conservação da


agrobiodiversidade agrícola e cultural, garantindo a soberania e segurança alimentar da região, bem
como a autonomia dos agricultores.

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ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 231


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE DISTINTAS CLASSES DE SOLO


EM AGROECOSSISTEMAS

Phâmella Kalliny Pereira FARIAS


Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Manejo de Solo e Água da UFERSA
phamellakalliny@hotmail.com
Jeane Cruz PORTELA
Professora Adjunta doutora em ciência do solo da UFERSA
jeaneportela@ufersa.edu.br
Joseane Dunga da COSTA
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Manejo de Solo e Água da UFERSA
joseany_costa@hotmail.com
Cirilo Berson Alves FREITAS
Graduando do curso de Engenharia Florestal da UFERSA
ciriloberson@gmail.com

RESUMO
O estudo da matéria orgânica do solo é um tema essencial para que se alcance a manutenção e
preservação da agricultura nos agroecossistemas, pois além de satisfazer o requisito básico de ser
sensível a modificações pelo manejo do solo, é fonte primária de nutrientes para as plantas. As
propriedades do solo podem ser utilizadas como parâmetros para avaliar a relação entre o manejo e
a qualidade do solo. O manejo provoca alterações nas propriedades do solo que podem não suportar
as práticas agrícolas. A agregação das partículas que está diretamente ligada à estrutura do solo
pode sofrer alterações em decorrência do uso e do tempo de utilização do solo. Nesse contexto, o
objetivo do trabalho foi avaliar as características físico-químicas de diferentes classes de solos em
relação à estabilidade de agregados e sua relação com a manutenção dos agroecossistemas.
Coletaram-se amostras de solo com estrutura deformada e indeformada nas camadas das classes
estudadas, referentes aos agroecossistema. Realizou-se a análise granulométrica, Carbono Orgânico
Total (COT) e estabilidade de agregados. O teor de argila apresentou maiores valores no
CAMBISSOLO e no VERTISSOLO. Em relação ao COT, verificou-se valores superiores no
VERTISSOLO (24,77 g kg-1). Conclui-se, que o CAMBISSOLO e VERTISSOLO apresentaram
maior teor de argila, COT e DMPu e IEA, refletindo em melhor agregação e a estabilidade destes,
consequentemente mais resistente ao processo de degradação do solo e que a estabilidade dos
macroagregados está relacionada ao teor de COT orgânico no solo.
Palavras chave: Estabilidade de agregados, Matéria Orgânica, Mata nativa.
ABSTRACT
The study of soil organic matter is an essential issue for the maintenance and preservation of
agriculture in agroecosystems, because besides satisfying the basic requirement of being sensitive to
changes in soil management, it is a primary source of nutrients for plants. Soil properties can be
used as parameters to evaluate the relationship between management and soil quality. Management
causes changes in soil properties that may not support agricultural practices. The aggregation of the
particles that is directly bound to the soil structure can undergo changes due to the use and the time
of soil use. In this context, the objective of this work was to evaluate the physico-chemical
characteristics of different soil classes in relation to the stability of aggregates and their relationship
with the maintenance of agroecosystems. Soil samples with deformed and undisturbed structure

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 232


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

were collected in the classes of the studied classes, referring to the agroecosystem. The
granulometric analysis, Total Organic Carbon (TOC) and aggregate stability were performed. The
clay content presented higher values in CAMBISOL and VERTISOL. In relation to TOC, there
were higher values in VERTISOL (24.77 g kg-1).It was concluded that the CAMBISOL and
VERTISOL presented higher clay content, COT and DMPu and IEA, reflecting in better
aggregation and the stability of these, consequently more resistant to the process of soil degradation
and that the stability of the macroaggregates is related to the content of Organic COT in soil.
Keywords: Aggregate stability, Organic matter, Native forest.

INTRODUÇÃO

Diante da maximização da produção agrícola, onde o interesse econômico prevalece em


detrimento dos interesses sociais e ambientais, pode-se afirmar que o Brasil está longe de se
enquadrar no conceito de sustentabilidade, que nas últimas décadas tem sido tão amplamente
discutido (FORMIGA, 2014). Insere-se, nessa discussão, a busca por uma agricultura sustentável,
visto que é crescente a procura por alimentos mais saudáveis, não contaminados e produzidos em
agroecossistemas que não gerem degradação ambiental.
Nesse contexto, a agroecologia surge como um novo enfoque científico capaz de apoiar a
busca de alternativas mais sustentáveis ao estilo convencional hegemônico de agricultura. Esse
novo enfoque assume uma abordagem holística e sistêmica que, além de tratar do manejo
ecologicamente responsável dos recursos naturais, pretende contribuir com o redirecionamento do
curso da coevolução social e ecológica das sociedades (CAPORAL & COSTABEBER, 2006).
O estudo da matéria orgânica do solo é um tema essencial para que se alcance a manutenção
e preservação da agricultura nos agroecossistemas, pois além de satisfazer o requisito básico de ser
sensível a modificações pelo manejo do solo, é fonte primária de nutrientes para as plantas,
influenciando na infiltração, na retenção de água e na susceptibilidade à erosão, e também atua
sobre outros atributos, tais como: ciclagem de nutrientes, complexação de elementos tóxicos e
estruturação do solo (SILVA & MENDONÇA, 2007).
Portanto, a determinação da agregação e estabilidade de agregados constitui-se em
importante parâmetro na avaliação dos atributos do solo, sendo a qualidade estrutural facilmente
modificada pela ação antrópica, onde o manejo do solo e dos cultivos agrícolas deve levar em
consideração as particularidades locais e a manutenção dos resíduos e o preparo mínimo do solo,
como também, a diversidade de plantas, mantendo os resíduos em diferentes estádios de
decomposição na superfície, no intuito de preservação e manutenção dos agroecossistemas
(CORRÊA, 2002).
As propriedades do solo também podem ser utilizadas como parâmetros para avaliar a
relação entre o manejo e a qualidade do solo (LIMA et al., 2007). O manejo provoca alterações nas

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 233


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

propriedades do solo que podem não suportar as prática agrícola (SILVA et al., 2005). A agregação
das partículas que está diretamente ligada à estrutura do solo pode sofrer alterações em decorrência
do uso e do tempo de utilização do solo (COUTINHO et al., 2010).
De acordo com Corrêa et al. (2009) os elementos envolvidos no processo de agregação
como, argila, ferro, alumínio e matéria orgânica atuam como agentes cimentantes aumentando a
agregação do solo. A estabilidade dos agregados pode ser definida como uma força resistente a uma
ação mecânica passível de degradar a estrutura do solo tal como, também, a capacidade do solo de
resistir às forças compactantes (SILVA et al., 2006).
Desta forma, ao se fazer uso de sistemas de cultivo que aumentem o teor de matéria orgânica
do solo, haverá contribuição para o aumento da estabilidade de agregados e, consequentemente,
para a melhoria da qualidade física do solo (VASCONCELOS et al., 2010). A estabilização de
agregados pode ser avaliada por parâmetros de agregação que poderão dar suporte às práticas
agrícolas adotadas. O manejo inadequado promove modificações nas estruturas do solo, sendo de
suma importância a escolha de sistemas que priorizem a conservação das propriedades dos solos
(ROZANE et al., 2010).
Assim, quando exposto a cultivos intensivos, a sistemas de manejo inadequados e ao uso de
implementos agrícolas pesados, o solo pode perder ou ter sua estrutura original alterada
contribuindo para a formação de camadas compactadas que provocam redução no volume dos poros
e aumentam a densidade do solo causando mudanças na estabilidade dos agregados do solo
(MARIA et al., 2007).

MATERIAL E MÉTODOS

As áreas estudadas estão compreendidas no Projeto de Assentamento (PA) Terra da


Esperança, localizado no município de Governador Dix-Sept Rosado entre as coordenadas 05° 27‘
32,4‖ de latitude Sul e 37°31‘15,6‖ de longitude Oeste, no Estado do Rio Grande do Norte, na
mesorregião Oeste Potiguar e microrregião da Chapada do Apodi, inseridas no Semiárido do Brasil.
O PA Terra da Esperança situa-se no sudeste da sede do município de Governador Dix-sept Rosado,
com distanciamento de doze quilômetros do centro da cidade, possuindo área total de 6.297 hectares
repartidos em uma vila com 113 famílias.
O município de Governador Dix-Sept Rosado é limitado pelos municípios de Baraúna,
Mossoró, Upanema, Caraúbas, Felipe Guerra, Apodi e o Estado do Ceará, compreendendo uma área
de 1.263 km², apresentando classificação climática segundo Kopper, de semiárido quente com duas
estações distintas de seca e chuva, com precipitação pluvial média anual de 712 mm durante os
meses de fevereiro a maio, temperatura média anual de 27°C e umidade relativa média do ar de 68,9
%. A sua vegetação nativa é a Caatinga Hiperxerófila (SOUZA, 2014).

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Coletou-se amostras de solo com estrutura deformada e indeformada nas camadas de 0,0-
0,10 m e 0,10-0,20 m das classes: LATOSSOLO (Cajueiro), CAMBISSOLO (área coletiva de
cultivo de milho e feijão no período chuvoso) e VERTISSOLO (Mata Nativa), referentes aos
agroecossistemas em estudos, de forma aleatória.
As análises físicas e químicas foram realizadas em três repetições na terra seca fina ao ar
(TFSA) no Laboratório de Física e Manejo do Solo do Centro de Ciências Agrárias (CCA) da
Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA de acordo com a metodologia de Donagema
et al. (2011). A granulometria será obtida pelo método da pipeta utilizando dispersante químico
(hexametafosfato de sódio) e água destilada em 20 g de (TSFA), com agitação mecânica lenta em
agitador (Tipo Wagner 50 rpm) por 16 horas. A areia (2 a 0,05 mm) será quantificada por
tamisagem, a argila (<0,002mm) por sedimentação e o silte (0,5 a 0,002 mm) por diferença entre as
frações de areia e argila.
Para a análise dos agregados, a amostragem do solo será realizada utilizando pá reta na
camada superficial do solo. Cuidados especiais serão adotados no transporte dos blocos, afim de,
evitar danos às amostras. Os blocos extraídos serão separados entre si por superfícies de fraqueza,
destorroando com as mãos, passados em peneiras com abertura de malha 4,00 e 2,00 mm, e os
agregados retidos na última peneira (2,00 mm) serão acondicionados em latas e secos ao ar. Para
análise de agregados será utilizado o método de peneiramento via úmida e seco, onde os agregados
foram agitados em um aparelho de oscilação vertical (YODER, 1936), com peneiras de malha de
4,76; 2,00; 1,00; 0,50 e 0,25. A partir desses dados foram obtidos o diâmetro médio ponderado
(DMP) e o índice de estabilidade dos agregados (IEA). O carbono orgânico total (COT) foi
determinado por digestão da matéria orgânica.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os solos em estudo apresentaram classificação textural variando de areia-franca, franco-


arenosa e franco-argiloarenosa (Tabela 1). Observou-se que os solos apresentam baixos teores de
argila e elevados teores de areia, apesar disto os teores de argila aumentam com a profundidade, ao
contrário dos teores de areia, comportamento que pode ser atribuído principalmente à translocação
de argila do horizonte A e à sua acumulação no horizonte B influenciando, desta forma, na
distribuição das classes de agregados. O Cambissolo e o Vertissolo apresentaram os maiores teores
de argila, podendo ser justificado devido ao material de origem, calcário Jandaira.

Areia Classificação textural


SOLOS Fina Grossa Total Argila Silte (SBCS)

g kg-1

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

0-10 cm
VERTISSOLO 0,30 0,21 0,51 0,27 0,22 Franco-argilo-arenosa
CAMBISSOLO 0,25 0,39 0,64 0,27 0,09 Franco-argilo-arenosa
LATOSSOLO 0,32 0,51 0,83 0,11 0,06 Areia-franca
10-20 cm
VERTISSOLO 0,21 0,30 0,51 0,34 0,15 Franco-argilo-arenosa
CAMBISSOLO 0,22 0,33 0,55 0,35 0,10 Franco-argilo-arenosa
LATOSSOLO 0,33 0,44 0,77 0,14 0,09 franco-arenosa
Tabela 1 – Distribuição do tamanho das partículas e classificação textural, Governador Dix-Sept Rosado-RN.

Em relação ao COT, a camada superficial de todos os solos apresenta maiores valores


seguindo a sequência: 24,77 g kg-1 (VERTISSOLO), 10,79 g kg-1 (CAMBISSOLO) e 3,20 g kg-1
(LATOSSOLO). Observa-se que o maior teor de COT ocorreu na área de mata nativa, o cultivo do
solo reduziu o conteúdo de COT, em todas as camadas (Tabela 2). Corazza et al. (1999) relataram
que a substituição da vegetação nativa, por culturas anuais, causa essa redução, em decorrência do
revolvimento do solo, que favorece a oxidação da matéria orgânica.

AGRI>2
SOLOS mm DMG DMPu DMPs IEA COT
% mm % g kg-1
0-10 cm
VERTISSOLO 27,42 1,04 1,53 2,85 53,68 24,77
CAMBISSOLO 13,85 0,88 1,03 2,55 40,39 10,79
LATOSSOLO 17,02 0,95 1,17 1,74 67,24 15,94
10-20 cm
VERTISSOLO 16,95 0,95 1,25 3,31 37,76 7,83
CAMBISSOLO 20,95 0,97 1,32 2,52 52,38 6,54
LATOSSOLO 11,6 0,06 0,95 1,75 54,29 8,44
Tabela 2 – Porcentagem de agregados > 2,00 mm estáveis em água (AGRI>2 mm), diâmetro médio
geométrico (DMG) e diâmetro médio ponderado (DMP), através do método de peneiramento úmido (u) e
seco (s), Índice de Estabilidade Agregados (IEA), Carbono Orgânico (CO), em função diferentes classes de
solos (Vertissolo, Cambissolo e Latossolo) em duas profundidades sob mata nativa.

O diâmetro estimado da classe de agregados de maior ocorrência, expresso pelo diâmetro


médio ponderado via peneiramento úmido (DMPu), foi de 1,53 mm (VERTISSOLO), atribuindo
maior estabilidade de agregados em função do incremento da fração argila, proveniente do material

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

de origem, sendo assim, um indicativo de solos jovens pouco intemperizados, com exceção do
LATOSSOLO. Solos com uma boa cobertura impedem ou diminuem a ação direta das gotas de
chuva, mantêm mais uniforme a umidade e temperatura, favorecem o desenvolvimento do sistema
radicular e atividade microbiana e contribuem para a criação de um ambiente mais favorável à
agregação (CAMPOS et al., 1999).
O IEA na camada superficial decresceu na seguinte ordem: LATOSSOLO (67,24 %),
VERTISSOLO (53,68 %), e CAMBISSOLO (40,39 %). Todos os índices de agregação utilizados
foram mais elevados na camada de 0–10 cm em relação às demais (Tabela 2). Comparando esses
resultados com os teores de COT, supõe-se que o mesmo tenha contribuído para esse aumento. Um
dos principais agentes cimentantes das partículas do solo é a matéria orgânica. Consequentemente, é
provável que parte da variação do tamanho dos agregados e dos índices de agregação, seja atribuída
à variação do conteúdo de matéria orgânica no solo (WENDLING et al., 2012).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Cambissolo e o Vertissolo, apresentaram maior teor de argila, COT e DMPu e IEA,


refletindo em melhor agregação e a estabilidade destes, consequentemente mais resistente ao
processo de degradação do solo. A estabilidade dos macroagregados está relacionada ao teor de C
orgânico no solo.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

ASSISTÊNCIA TÉCNICA A AGRICULTORES FAMILIARES DA REGIÃO DO


SERIDÓ POTIGUAR ENFATIZANDO PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS
NA PRODUÇÃO DE MARACUJÁ

Saint Clair Lira SANTOS


Professor Doutor do Curso Técnico em Alimentos - IFRN
saint.lira@ifrn.edu.br
Roberto Ítalo Lima da SILVA
Discente do Curso Técnico em Alimentos – IFRN
roberto.ifrn@outlook.com
Jonas Ariel de Souza AZEVEDO
Discente do Curso Técnico em Alimentos – IFRN
E-mail: jonas,ariel@hotmail.com
Wagner Luiz Alves da SILVA
Professor Mestre do Curso Técnico em Alimentos -IFRN
wagner.alves@ifrn.edu.br

RESUMO
Este artigo apresenta ações desenvolvidas durante o Projeto de Extensão intitulado ―Capacitação de
agricultores familiares na produção agroecológica de Maracujá‖, desenvolvido no IFRN Campus
Currais Novos. Objetivou-se neste trabalho fomentar o uso de defensivos naturais acoplado a um
manejo de base ecológica, com ênfase na produção de adubos orgânicos (Compostagem Orgânica e
Biofertilizantes líquidos). Este artigo trata ainda como a capacitação de agricultores familiares
visando boas práticas agroecológicas pode ser relevante para um determinado meio social.
Melhorando não só a qualidade de vida do homem do campo, mas também preservando o meio
ambiente de uma forma geral e propiciando uma maior segurança alimentar ao consumidor final da
matéria prima produzida. Este trabalho engloba ainda a importância da valorização do bioma
Caatinga e seus possíveis potenciais econômicos quando associados a técnicas de manejo em
culturas como a do maracujá amarelo ―passiflora edulis f. flavicarpa”. Tendo em vista a
experiência do IFRN Campus Currais Novos no âmbito da extensão rural pautada na agroecologia e
o suporte tecnológico centrado na área de alimentos presente no campus, este trabalho surge
justamente com o objetivo de contribuir com o fortalecimento da agricultura familiar do Seridó
potiguar.
Palavras Chave: Agroecologia, Capacitação, Orgânicos.

ABSTRACT
This article presents actions developed during the Extension Project titled "Training of family
farmers in the agroecological production of Maracujá", developed at IFRN Campus Currais Novos.
The objective of this work was to promote the use of natural pesticides coupled with ecologically
based management, with emphasis on the production of organic fertilizers (Organic Composting
and Liquid Biofertilizers). This article also discusses how the training of family farmers aiming at
good agroecological practices may be relevant to a given social environment. Improving not only
the quality of life of the man from the field, but also preserving the environment in general and
providing greater food safety to the final consumer of the raw material produced. This work also

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 240


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

includes the importance of the valorization of the Caatinga biome and its potential economic
potentials when associated with management techniques in cultures such as yellow passion fruit
"passiflora edulis f. Flavicarpa". Given the experience of IFRN Campus Currais Novos in the scope
of rural extension based on agroecology and the technological support centered in the area of food
present on campus, this work arises precisely with the objective of contributing to the strengthening
of the family agriculture of the Seridó potiguar.
Keywords: Agroecology, Training, Organic.

INTRODUÇÃO

A procura por técnicas com finalidades sustentáveis, que proporcionem equilíbrio natural e
alimentos mais seguros vem ganhando espaço cada vez mais na agricultura. E é nessa perspectiva
que surge a agroecologia, ciência que consiste na conciliação do crescimento econômico elencado a
sustentabilidade dos sistemas nela inseridos, proporcionando importantes benefícios para o meio
ambiente, que vão desde a preservação da biodiversidade até a reciclagem de nutrientes derivados
de alguns insumos naturais.
O método agroecológico não permite o uso de agrotóxicos e fertilizantes de origem sintética,
pois os mesmos são altamente agressivos a saúde dos manipuladores e consumidores, tornando-se
uma ameaça ao meio ambiente como um todo. A agroecologia ―[...] procura uma interação entre o
agricultor e consumidor, de forma que atenda às necessidades das partes envolvidas e fomente a
corresponsabilidade‖ (PENTEADO, 2007).
Para esse autor, uma produção agroecológica significa criar um ambiente saudável e
sustentável, com o objetivo de desenvolver ―[...] um sistema de produção de alimentos
comprometidos com a saúde, a ética e a cidadania do ser humano, visando contribuir para a
preservação da vida e da natureza‖ (PENTEADO, 2007).
A agricultura brasileira é extremamente diversificada. Inclui tanto famílias que vivem e
exploram minifúndios em condições de extrema pobreza como produtores inseridos no moderno
agronegócio que logram gerar renda superior, várias vezes, a que define a linha da pobreza
(BUAINAIN, 2006, p. 15).
A diferenciação dos agricultores familiares está associada à própria formação dos grupos ao
longo da história, a heranças culturais variadas, à experiência profissional e de vida particulares, ao
acesso e à disponibilidade diferenciada de um conjunto de fatores, ente os quais os recursos
naturais, o capital humano, o capital social e assim por diante. A diferenciação também está
associada à inserção dos grupos em paisagens agrárias muito diferentes umas das outras, ao acesso
diferenciado aos mercados e à inserção socioeconômica dos produtores, que resultam tanto das
condições particulares dos vários grupos como de oportunidades criadas pelo movimento da
economia como um todo, pelas políticas (BUAINAIN, 2006, p. 15).

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Os agricultores não se diferenciam apenas em relação à disponibilidade de recursos e à


capacidade de geração de renda e riqueza. Também se diferenciam em relação às potencialidades e
restrições associadas tanto à disponibilidade de recursos e de capacitação/aprendizado adquirido,
como à inserção ambiental e socioeconômica em função de um conjunto de variáveis, desde a
localização até as características particulares do meio-ambiente no qual estão inseridos. O universo
diferenciado de agricultores familiares está composto de grupos com interesses particulares,
estratégias próprias de sobrevivência e de produção, que reagem de maneira diferenciada a desafios,
oportunidades e restrições semelhantes e que, portanto, demandam tratamento compatível com as
diferenças (BUAINAIN, 2006, p. 15).
Por apresentar um potencial significativo à fruticultura, e condições edafoclimáticas
favoráveis, a microrregião da Serra de Santana, composta pelos municípios de Lagoa Nova, Cerro
Corá, Tenente Laurentino Cruz, Florânia, Bodó e Santana do Matos na região do Seridó no Rio
Grande do Norte, apresenta um número significativo com relação a pequenas e médias áreas de
produção de maracujá. Segundo o IBGE, no ano de 2013 foram produzidas mais de 750 toneladas
da fruta nesta região. Mas, Informações e relatos obtidos da secretaria municipal de agricultura do
município de Lagoa Nova relatam algumas dificuldades enfrentadas por muitos produtores de
maracujá para com o controle de pragas e doenças, fazendo com que os agricultores recorram ao
uso de agrotóxicos e adubos sintéticos afim de obterem o mínimo de produção.
Por tanto, tendo em vista a atual deficiência presente no manejo empregado pelos
agricultores familiares desta região que possuem o cultivo do maracujazeiro como principal fonte
de renda, se faz urgente a necessidade de intervenção acoplada a uma conscientização para com os
mesmos. E é nesse contexto de agricultura familiar enfraquecida que a extensão do IFRN Campus
Currais Novos tem o papel importantíssimo de alavancar uma nova forma de produção, com o
intuito de melhorar tanto a qualidade de vida do Homem do campo e consumidor final, como
manter o equilíbrio entre biodiversidade e produção agrícola.

MATERIAL E MÉTODOS

O projeto teve como orientação metodológica uma UTD (Unidade Técnica de


Demonstração), localizada no Povoado Albino, zona rural do município de Cerro Corá. Esta,
apresentando uma área de dois mil e quatrocentos metros quadrados, onde foram inseridos cerca de
300 mudas de maracujá. Neste espaço foram desenvolvidas palestras e minicursos de capacitações
para os agricultores dos municípios de Bodó, Cerro Corá, Currais Novos, Tenente Laurentino Cruz
e municípios vizinhos. Lá, os agricultores poderão acompanhar de perto os resultados satisfatórios
derivados de um meio de produção pautado na agroecologia. Além da função de pomar modelo, o
plantio teve ainda uma parcela de sua produção destinada ao IFRN Campus Currais Novos, dessa

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

forma, dando suporte para algumas atividades de pesquisa desenvolvidas por discentes e docentes
da instituição.
A manutenção da unidade técnica de demonstração é feita pelos alunos bolsistas envolvidos
no projeto BPA (Boas Práticas agrícolas). Atividades como polinização artificial, poda e adubação
são feitas frequentemente por esses alunos, possibilitando assim uma melhor absorção do conteúdo
já adquirido teoricamente pelos mesmos, os resultados de tal ação são refletidos nos momentos de
explicações para com os agricultores, facilitando bastante o repasse do conteúdo.
A equipe que constitui o projeto juntamente com a secretaria de agricultura do município de
Lagoa Nova/RN realiza ainda, encontros nas propriedades dos agricultores envolvidos. A finalidade
desta modalidade de encontro a domicilio é justamente propiciar um envolvimento maior dos
participantes e assim contribuir para uma melhor apropriação das técnicas socializadas na ocasião.
Em cada encontro, são produzidas pela equipe do IFRN cartilhas com ilustrações sobre o tema que
vai ser tratado na ocasião, essas, facilitam bastante o entendimento do público alvo.
O proceder do projeto foi dividido em encontros correspondentes a atual necessidade dos
agricultores, além de 9 minicursos principais, sobre os respectivos temas; compostagem, abertura de
berço, adubação de fundação, plantio, tutoramento, cobertura morta, tipos e importância das podas,
polinização artificial e o controle de pragas por meio de insumos naturais. Tais técnicas e métodos
amplamente validado pela comunidade cientifica e já socializadas pela EMBRAPA há bastante
tempo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O projeto vem desencadeando uma mudança plausível quanto ao manejo do maracujazeiro


por parte dos agricultores envolvidos tanto nas palestras, como nos minicursos oferecidos pela
equipe, práticas de grande importância como a construção de uma bacia de irrigação e cobertura
morta já estão sendo adotadas por vários agricultores. Aos poucos os produtores de maracujá desta
região do Seridó potiguar estão deixando de lado os defensivos químicos e apostando nos
defensivos naturais, como por exemplo, a urina de vaca e manipueira para controlar determinadas
pragas.
Em parceria com a secretaria de agricultura de Lagoa Nova projeto já realizou 9 minicursos
nas imediações do município, tendo como participantes agricultores de vários municípios vizinhos.
No primeiro encontro, foi debatido entre os presentes a importância do sistema de produção
agroecológico e o valor que tal meio de produção agrega ao produto, foi também promovida
reflexões a respeito do uso dos agrotóxicos e suas consequências para o meio ambiente. Nos outros
encontros, ocorreram as capacitações para com o manejo, enfatizando a importância da preservação
do bioma caatinga para um melhor desenvolvimento do maracujazeiro.

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Figura 02: Maracujazeiro tratado com o manejo


Figuras 01: Fotografia retirada em dos minicursos. agroecológico.

A metodologia adotada pela equipe do projeto apresentou uma boa aceitação por parte do
público alvo, apesar do projeto ter comprido sua meta, as reuniões com os agricultores continuam
acontecendo de acordo com solicitações dos mesmos na coordenação de extensão do IFRN Campus
Currais Novos.
O projeto está repercutindo muito bem, tanto no meio acadêmico como no ambiente externo,
a troca de conhecimentos entre o homem do campo e os alunos é notória. Aos poucos, todos os
envolvidos vão percebendo que educação e agricultura podem caminhar lado a lado, e que a
agroecologia é o caminho para uma produção melhor e de qualidade, beneficiando fauna, flora e o
homem.

CONCLUSÕES

O presente trabalho mostra a relevante importância da atuação do instituto federal fora da


zona urbana, e que a carência de informações ainda é grande no meio externo, principalmente no
meio rural. No entanto, com a interação entre gestões municípios e IFRN, levando em consideração
a presença de pessoas capacitadas e disposta a propagar o conhecimento, é possível sim, fortalecer o
meio produtivo, em especial, a agricultura de subsistência e assim diminuir significativamente o
êxodo rural.
É necessário cada vez mais estreitar os laços entre comunidade acadêmica e homem do
campo. O resultado de tal ação é, a princípio, uma produção sustentável e mais valorizada, e a
médio e longo prazo uma herança de multe importância para as gerações vindouras, que por sua
vez, colherão os frutos das ações realizadas hoje.

REFERÊNCIAS

BUAINAIN, Antônio Márcio. Agricultura Familiar, Agroecologia e Desenvolvimento


Sustentável: Questões para debate. Brasília, 2006.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 244


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

PENTEADO, Silva Roberto. Fruticultura orgânica: Formação e condução. Aprenda Fácil. 308. ed. I,
Viçosa: 2004.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Cidades. Disponível em:


<http://www.cidades.ibge.gov.br >. Acesso em: 6 de agosto de 2017.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 245


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INTEGRAÇÃO DOS PROCESSOS DE COMPOSTAGEM E VERMICOMPOSTAGEM


DO BAGAÇO DA LARANJA LIMA

Antônio Bezerra SARMENTO


Discente do curso técnico em agroecologia – IFAL – Campus Murici
tonysarmento@hotmail.com
Peterson Barbosa de MELO
Geógrafo, docente do Instituto Federal de Alagoas – IFAL – Campus Satuba
peterson_melo@hotmail.com
Eduardo Lima dos SANTOS
Químico, docente do Instituto Federal de Alagoas – IFAL – Campus Murici
eduardo.santos@ifal.edu.br
Danielle dos Santos Tavares PEREIRA
Bióloga, docente do Instituto Federal de Alagoas – IFAL – Campus Murici
dstpereira@gmail.com

RESUMO
Os resíduos orgânicos oriundos dos processos industriais podem ser um fator de poluição ambiental
quando não tratados corretamente. Uma alternativa de gerenciamento destes resíduos é a
vermicompostagem, que utiliza minhocas para acelerar o processo de decomposição. Neste
contexto, o objetivo deste estudo foi verificar o potencial uso do bagaço de laranja lima como
substrato no processo integrado de compostagem e vermicompostagem. Após a obtenção do
composto pela compostagem tradicional do bagaço de laranja lima acrescido de esterco, o composto
obtido foi inoculado com minhocas nativas, previamente coletadas na região do vale do mundaú. O
acompanhamento da eficácia da vermicompostagem ocorreu pela análise das seguintes variáveis:
amônia, nitrato, nitrito, fósforo, cálcio, magnésio e pH. Durante o processo de vermicompostagem,
que ocorreu por 32 dias, detectou-se uma variação de temperatura entre 40 e 35oC e valores de pH,
entre 7 e 6. Em relação à população de minhocas, estas sobreviveram e se reproduziram no
substrato utilizado. Em relação à análise dos parâmetros químicos, não foram constatadas variações
significativas que evidenciasse a eficácia do processo de vermicompostagem. No entanto, o aspecto
final do biocomposto obtido revelou que este apresentou maior estabilidade, homogeneização e
maturação, em comparação ao composto inicial, o que indica seu potencial uso como bioadubo.
Palavras–chave: biocomposto; compostagem; minhocas.

ABSTRACT
Organic waste from industrial processes can be an environmental pollution factor when not treated
properly. A management alternative of these wastes is vermicomposting, which uses worms to
speed up the decomposition process. In this context, the objective of this study was to verify the
potential use of lime orange pomace as a substrate in the integrated composting and
vermicomposting process. After obtaining the compound by traditional composting file orange peel
plus manure, the compound obtained was inoculated with native earthworms, previously collected
in the Mundaú valley region. Monitoring of the efficiency of vermicompost was the analysis of the
following variables: ammonia, nitrate, nitrite, phosphorus, calcium, magnesium and pH. During the
vermicomposting process, which occurred 32 days, detect a variation in temperature between 40
and 35 ° C and pH values between 7 and 6. For earthworm population, they survived and
reproduced on the substrate used. Regarding the analysis of chemical parameters, we did not find

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 246


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

significant variations that showed the effectiveness of the vermicomposting process. However, the
final appearance of the obtained biocompound revealed that it showed the greatest stability,
homogenization and ripening, compared to the parent compound, indicating its potential use as
bioadubo.
Keywords: biocompound; composting; worms.

INTRODUÇÃO

A citricultura de Alagoas tem como diferencial a sua produção baseada no cultivo exclusivo
de laranja lima (Citrus sinensis), particularidade que destaca o Estado como o principal produtor
desta variedade no Nordeste. Concentrada no Vale do Rio Mundaú, a cultura dos citros tem o
município de Santana do Mundaú como sua principal referência e maior centro de produção
(COELHO, 2004).
No Município de Santana do Mundaú existem duas grandes cooperativas de produtores de
laranja lima, a Cooperativa dos Produtores de Laranja Lima do Vale do Mundaú (COOPLAL) e a
Associação Agroecológica de Santana do Mundaú (ECODUVALE). A COOPLAL é uma
cooperativa de destaque, pois, além da venda do produto in natura para ser comercializado nos
supermercados das cidades de Maceió, Garanhuns e Recife, os cooperados produzem o suco misto
de laranja lima e limão que recebem embalagens de 500 ml e é vendido para o programa Mesa
Brasil (ASCOM OCB/AL, 2012).
Sabe-se que os processos agroindustriais e agropecuários geram inúmeros resíduos
orgânicos que quando não manipulados corretamente podem causar grande impacto ao meio
ambiente. A indústria de suco de laranja produz como subproduto o bagaço de laranja, que compreende
aproximadamente 42% do total da fruta (ÍTAVO et al., 2000). Alguns aspectos fisiológicos do
bagaço da laranja, fazem com que este resíduo tenham uma utilização restrita, entre eles, a grande
quantidade de água que contêm o que acarreta problemas de coleta, transporte e armazenamento,
sendo seu uso na obtenção de fertilizante orgânico uma alternativa promissora e sustentável
(PIGATIN, 2017).
O gerenciamento correto desses resíduos resolve a questão ambiental e, em contrapartida,
promove a geração de biocomposto que pode apresentar um elevado valor nutricional e
mercadológico. Assim, a integração dos processos de compostagem e vermicompostagem na
otimização da decomposição de resíduos orgânicos tem sido alvo de pesquisas nas últimas década,
por apresentar diversas vantagens como maior estabilização da matéria orgânica, menor relação
C/N, maior capacidade de troca catiônica e maior quantidade de substâncias húmicas, e baixo custo
operacional (LOUREIRO et al., 2007).

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 247


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

A vermicompostagem utiliza minhocas na fase de maturação do substrato, dando origem ao


húmus (bioadubo), produto com qualidade superior ao composto obtido pela compostagem
tradicional (SILVA et al., 2002) e que apresenta elevado valor agroecológico. Por meio do processo
de vermicompostagem, pode-se obter a reciclagem dos resíduos orgânicos, resultando em um
material mais humificado, de grande potencial agrícola e de sequestro de carbono atmosférico
quando aplicado ao solo (PIGATIN, 2017).
No entanto, a compostagem e a vermicompostagem são alternativas de gerenciamento de
resíduos orgânicos que devem ser planejadas de forma integrada e com cuidados ambientais,
visando ampliar o potencial de benefícios de ambos os processos de decomposição (CARLESSO,
RIBEIRO & HOEHNE, 2011). Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi avaliar o uso do
bagaço da laranja lima como substrato orgânico no processo de vermicompostagem.

MATERIAIS E MÉTODOS

Local do experimento

O experimento foi conduzido durante o período de fevereiro/2015 a abril/2015, na sede da


COOPLAL localizada no município de Santana do Mundaú. O local para a montagem das pilhas de
compostagem foi determinado segundo os seguintes critérios: I - acesso; II – segurança e III –
proximidade a uma fonte de água.

Obtenção do substrato para a vermicompostagem

O bagaço de laranja lima, que é um resíduo orgânico gerado a partir do processo de


fabricação do suco misto de laranja lima e limão, foi cedido pelos cooperados da COOPLAL, para
servir de substrato para a vermicompostagem, como pode ser observado na figura 1.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Figura 1: Obtenção do bagaço da laranja lima proveniente da fabricação do suco misto de laranja lima e
limão. A) Extração do néctar de laranja lima; B) Bagaço da laranja lima gerado durante o processo de
extração do néctar; C) Embalagens de 500mL do suco misto de laranja lima e limão, fabricado pela
COOPAL. Fonte: COOPLAL, 2015.

Vermicompostagem

O processo de vermicompostagem utilizado foi adaptado de Costa et al. (2005). Para este
experimento, foi montada inicialmente uma pilha de substrato. Para tanto, o bagaço de laranja lima
foi previamente triturado para facilitar a degradação da matéria orgânica e acrescido de esterco para
o fornecimento de nitrogênio.
Durante a fase termofílica, a pilha foi revolvida e irrigada uma vez por semana de tal forma
que a temperatura se mantenha inferior a 65ºC no interior da pilha. Para o monitoramento da
temperatura, foi utilizado um termômetro de mercúrio. A reviragem foi realizada manualmente,
com auxílio de enxada, para eliminação do excesso de gás carbônico e água.
Após 60 dias de decomposição, o composto obtido foi transferido para um canteiro
(previamente construído) com dimensões de 2 metros de comprimento, 1 metro de largura e 0,25
metros de altura, para iniciar a fase de maturação do substrato. Em seguida, o canteiro foi inoculado
com minhocas nativas, obtida comercialmente.

Acompanhamento da vermicompostagem

Foram coletadas amostras em diferentes pontos do canteiro, para acompanhamento da


vermicompostagem, sendo tal processo seguido da medição da temperatura. As amostras foram
armazenadas em frascos de vidros de 250ml e mantidas sob refrigeração, para posterior
determinação da concentração de amônia, nitrato, nitrito, fósforo, cálcio, magnésio e pH.

Análise Estatística

Foi determinada a média aritmética e desvio padrão amostral na análise dos resultados das
variáveis químicas do biocomposto.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Inicialmente, foi montada uma pilha de compostagem a partir do bagaço de laranja lima,
previamente triturado e seco a temperatura ambiente, e esterco na proporção de 3:1 (Figura 2). Esta
primeira etapa do processo consistiu na estabilização do resíduo orgânico (bagaço da laranja lima)
que apresentou temperatura média máxima registada de 60°C (24º dia). Porém, o que determinou o
final do processo de compostagem da pilha (70° dia) foi o fato de após o penúltimo revolvimento no

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

56° dia de decomposição não ter sido registrada mais nenhuma elevação de temperatura da pilha, o
que pressupõe que a mesma já estaria estabilizada.

Figura 2: Obtenção e estabilização do bagaço da laranja lima através do processo de compostagem


tradicional com adição de esterco. A) Trituração do bagaço de laranja lima; Secagem do bagaço de laranja
lima; C) Processo de compostagem com adição de esterco. Fonte: IFAL/ CAMPUS MURICI, 2015.

Após a primeira etapa de estabilização, que ocorreu ao longo de 70 dias, 10kg do composto
obtido foi inoculado com 150 minhocas nativas, iniciando assim a vermicompostagem. Durante este
processo foi detectada uma variação de temperatura entre 35°C e 40°C (Figura 3) na composteira.
Em relação à variação de pH do biocomposto, esta permaneceu próxima a neutralidade, entre 6 e 7,
durante as quatro semanas de análise (Figura 3). Consequentemente, nenhum efeito adverso foi
observado em função da variação do pH.

Figura 3: Variações nos valores de pH e temperatura ao longo do processo de vermicompostagem. Fonte:


IFAL/CAMPUS MURICI, 2015.

A mistura do bagaço da laranja com o esterco manteve a população inicial de minhocas


adultas até o término da vermicompostagem (32 dias após a inoculação). Estes dados são
semelhantes aos observados por Loureiro et al. (2007) que verificou que no processo de

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

compostagem de resíduos orgânicos, com e sem esterco, manteve-se a população inicial das
minhocas adultas, mesmo após 69 dias do início da vermicompostagem.
No que se refere à caracterização química do biocomposto, os resultados estão descritos na
Figura 4. Para os parâmetros avaliados não foram observadas variações significativas, que
diferenciasse o processo de compostagem e vermicompostagem. Estes dados são semelhantes aos
obtidos por Loureiro et al. (2007), que ao estudar a compostagem e vermicompostagem dos
resíduos domiciliares verificou que, à exceção do K e Mg que tiveram seus teores alterados, a
integração dos processos de compostagem e vermicompostagem, com e sem esterco, produziu
adubos com características químicas similares.

Figura 4: Caracterização química do biocomposto coletado ao longo do processo de vermicompostagem.


Fonte: IFAL/CAMPUS MURICI, 2015.

Figura 5: Aspecto do biocomposto obtido após 32 dias de vermicompostagem.


Fonte: IFAL/CAMPUS MURICI, 2015.

Segundo Schumacher et al. (2001), a utilização de adubos orgânicos tende a ser uma opção
para suprir o uso de fertilizantes químicos. De modo geral, o biocomposto obtido no estudo

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apresentou maior estabilidade, homogeneização e maturação, revelando que a mistura de bagaço da


laranja lima e esterco contitui uma alternativa ao uso de fertilizantes minerais (Figura 5). Diante do
exposto se faz necessária a avaliação química minuciosa do biocomposto com o intuito de
determinar seu potencial uso como bioadubo.

CONCLUSÕES

Com base nos resultados, pode-se concluir que: 1) A termoestabilização do bagaço da


laranja lima garantiu as condições necessárias para o processo de vermicompostagem; 2) O bagaço
da laranja lima é um substrato orgânico viável para a decomposição tanto por meio da
compostagem quanto da vermicompostagem. As minhocas nativas sobrevivem e se reproduzem no
substrato; 3) As variações do pH observadas durante este estudo foram uniformes; 4) O controle da
temperatura foi eficiente, sendo registrado valores e entre 40 e 35oC; 5) A integração dos processos
de compostagem e vermicompostagem com esterco produz composto/biocomposto com
características químicas similares.
Por fim, ambos os processos podem ser considerados satisfatórios do ponto de vista
tecnológico, para o aproveitamento do bagaço da laranja lima, resíduo orgânico gerado durante a
fabricação do suco misto congelado de laranja lima e limão.

AGRADECIMENTOS

Aos cooperados da COOPLAL (Cooperativa dos Produtores de Laranja Lima do Vale do


Mundaú) por ceder o substrato, materiais e o espaço físico para o desenvolvimento desta pesquisa.

REFERÊNCIAS

ASCOM OCB/AL. 2012. Disponível em:


<http://www.alagoas24horas.com.br/563841/cooperativa-de-laranja-lima-e-destaque-em-
alagoas/>.

CARLESSO, W.M.; RIBEIRO, R.;HOEHNE, L. Tratamento de resíduos a partir de compostagem


e vermicompostagem. Revista Destaques Acadêmicos, ano 3, n.4, CETEC/UNIVATES, 2011.

COELHO, Y. S. Citricultura em Alagoas: Referência Nacional na Produção de Laranja „Lima‟.


Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Embrapa Mandioca e Fruticultura. Citros em
foco, número 25, julho de 2004. Disponível em:
<http://www.cnpmf.embrapa.br/publicacoes/produto_em_foco/citros_25.pdf>.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

COSTA, D. R.; SANTANA, G. F.; LEITE, R. A.; CAIXETA, R. P. Tratamento de resíduos


agropecuários através da vermicompostagem. II Congresso Brasileiro de Plantas Oleaginosas,
Óleos, Gorduras e Biodiesel. Realização: Universidade Federal de Lavras e Prefeitura Municipal
de Varginha, 2005. Disponível em:
<http://perquirere.unipam.edu.br/documents/23700/27819/artigo_daniel_resende.pdf>.

COSTA, M.; MIRANDA, F.; VELOSO, A. A vermicompostagem como via para a reciclagem de
nutrientes na exploração agrícola: efeito na produção da alface em MPB. Actas do 3º Colóquio
Nacional de Horticultura Biológica, 1ª Colóquio Nacional de Produção Animal Biológica, 22 a
24 de Setembro de 2011, Auditório Vita, Braga, 2011.

ÍTAVO, L. C. V.; SANTOS, G. T.; JOBIM, C. C.; VOLTOLINI, T. V.; FARIA, K. P.; FERREIRA,
C. C. B. Composição e digestibilidade aparente da silagem de bagaço de laranja. Rev. bras.
zootec., 29(5):1485-1490, 2000.

LOUREIRO, D. C.; AQUINO, A. Ma.; ZONTA, E.; LIMA, E. Compostagem e vermicompostagem


de resíduos domiciliares com esterco bovino para a produção de insumo orgânico. Pesq.
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PIGATIN, L. B. F. Estudo químico e espectroscópico da dinâmica da varmicompostagem de


resíduos agroindustriais para manejo sustentável em agricultura orgânica. 2017. Tese
(Doutorado). Programa de pós-graduação em Ciências, Instituto de Química de São Carlos,
Universidade de São Paulo, SP, 2017.

SCHUMACHER, M.V.; CALDEIRA, M.V.W.; OLIVEIRA, E.R.V.; PIROLI, E. L. Influência do


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STEVENS, D. O uso da vermicompostagem para redução do cromo em lodo de curtume e após


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Lajeado, RS, 2014.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 253


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

A (IN) SUSTENTABILIDADE SOCIOAMBIENTAL EM COMUNIDADES DE


PESCADORES ARTESANAIS

Tassia Farencena PEREIRA


Doutoranda do Curso de Geografia UFSM
tassiafarencena@hotmail.com
Marcia Elena de Mello CARDIAS
Doutoranda do Curso de Geografia da UFSM
elenamarcia83@gmail.com
Bernardo Sayão Penna e SOUZA
Professor Dr. do Departamento de Geociências da UFSM
bernardosps@yahoo.com.br

RESUMO
O artigo traz uma reflexão teórica sobre a sustentabilidade ambiental, tendo como pontos de análise
duas áreas de pesca artesanal do Brasil, uma delas localizada no estado do Rio de Janeiro e a outra
situada no estado de Santa Catarina. A primeira, foi escolhida por apresentar um potencial de
sustentabilidade em crise, em função de um grave problema ambiental ocorrido na região. E a
segunda por oferecer em seu território um crescente potencial para a sustentabilidade. A
comparação entre o sistema em crise ao outro com elevado grau de desenvolvimento sustentável,
possibilitou um entendimento mais coerente e concreto do quão importante e necessárias, são as
medidas e ações coerentes com a sustentabilidade, principalmente aquelas que contemplam modelos
socioeconômicos alternativos, que conciliam desenvolvimento social, crescimento econômico,
conservação do ambiente, associados a uma gestão democrática e participativa. Na atual conjuntura
social marcada por problemas socioambientais, cada vez mais, intensos e frequentes, resultantes da
imposição do modelo de vida instaurado na modernidade, a adoção de posturas mais sustentáveis
colabora para redução da pressão sofrida pela sociedade e a natureza.
Palavras-chave: Sustentabilidade ambiental. Pesca artesanal. Modernidade. Problemas
socioambientais.
ABSTRACT
The article brings a theoretical reflection on environmental sustainability, having as points of
analysis two artisanal fishing areas of Brazil, one of them located in the state of Rio de Janeiro and
the other located in the state of Santa Catarina. The first one was chosen because of its potential for
sustainability in crisis, due to a serious environmental problem in the region. And the second to
offer in its territory an increasing potential for sustainability. The comparison between the system in
crisis and the other with a high degree of sustainable development enabled a more coherent and
concrete understanding of how important and necessary are measures and actions consistent with
sustainability, especially those that contemplate alternative socioeconomic models that reconcile
development social, economic growth, environmental conservation, associated with a democratic
and participatory management. In the current social environment marked by increasingly intense
and frequent socio-environmental problems resulting from the imposition of the model of life
established in modernity, the adoption of more sustainable positions contributes to reduce the
pressure suffered by society and nature.
Keywords: Environmental sustainability. Artisanal fishing. Modernity. Socioenvironmental
problems.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

INTRODUÇÃO

Pensar em um ambiente sustentável no seu sentido mais amplo é algo muito difícil, diante
do atual quadro cultural, político, econômico e social instaurado pela modernidade representada
pelo processo de globalização, em que geralmente, a prioridade, ou mesmo, a preocupação dos
responsáveis pela organização e gestão territorial está centrada no crescimento econômico.
Dá preocupação com o desenvolvimento econômico dos territórios, uma tendência na
contemporaneidade, são as grandes corporações assumir papéis de influência cada vez maiores,
passando a ter poder de decisão, até mesmo, sobre o Estado. Daí, já se pode imaginar como fica a
assistência dada a sociedade e ao meio ambiente, se a lógica de organização está sobre o domínio do
capital, inserido profundamente no sistema capitalista de produção, em que a busca o lucro, a
acumulação de capital, o consumo e o individualismo (elementos basilares desse sistema).
Elementos esses que não combinam nenhum pouco com o desenvolvimento sustentável,
pautado na coletividade, na equidade, no respeito por tudo e todos, pensando no direito não apenas
do homem, mas também das outras formas de vida e do ambiente no qual estão inseridas, ou seja,
na natureza e todos os recursos naturais que a compõe.
Nesta perspectiva capitalista, exploratória e antropocêntrica adotada como modelo de vida
por grande parte das sociedades, era inevitável não ter como resultado os problemas
socioambientais presenciados atualmente em todo o mundo, afinal ele é um único sistema composto
por diversas partes.
Outro ponto a se destacar, é a necessidade de o mundo ser compreendido através de uma
perspectiva sistêmica, em que a ação de uma pessoa, um grupo ou mesmo uma empresa, terá
reflexo nas mais diversas esferas que compõe a sociedade, porque tudo está conectado. Por isso, o
uso do termo problemas socioambientais, ou invés de problema ambiental, pois é preciso acabar
com a separação sociedade e natureza, ambas são importantes, e é lógico que na existência de um
problema ambiental, esse terá reflexos diretos na comunidade mais próxima, e adiante dela.
Com o aumento da ocorrência dos problemas socioambientais, as pessoas começam a sentir
―na pele‖ o quão predatório o sistema capitalista pode ser, e passam a duvidar, a contrariar o
sistema vigente, e a buscar, a propor formas de organizações sociais diferenciadas, pautadas no
desenvolvimento sustentável. Até mesmo, governos passam a sentir os impactos trazidos pelos
problemas socioambientais, passando assim a instituir normas que asseguram um mínimo de
qualidade socioambiental.
Deste modo, o artigo tem como objetivo discutir o desenvolvimento sustentável, a partir da
comparação de duas áreas marinhas extrativistas no Brasil (contemplando comunidades de pesca
artesanal), uma localizada na Baia de Guanabara, no estado do Rio de Janeiro e outra localizada no

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

litoral sul de Santa Catarina, conhecida como Área de Proteção Ambiental da Baleia Franca.
Escolhidas em função das características que apresentam com relação a sustentabilidade ambiental.
A análise de ambas as situações possibilitou, apontamentos sobre medidas e ações eficazes
para se conseguir o desenvolvimento sustentável, bem como, aquelas que prejudicam, ou mesmo,
inviabilizam o seu desenvolvimento.

INFLUÊNCIAS DA MODERNIDADE NA PÓS-MODERNIDADE: CRESCIMENTO E


DESENVOLVIMENTO, DOIS TERMOS-DUAS DEFINIÇÕES

Estamos enfrentando uma enorme crise socioambiental, não somente a natureza está
comprometida, mas também o humano. Tudo isso, porque a Modernidade, esteve centrada no
crescimento da economia mundial.

[...] el proceso de globalización por el que pasa el mundo contemporáneo es un fenómeno


que incrementa la centralización económica, excluye a millones de seres humanos, depreda
los sistemas naturales que son la base material de la sociedad, atenta contra la diversidade
biológica y cultural del planeta, y termina aboliendo toda idiossincrasia y capacidade de
decisión de las sociedades locales (BOADA e TOLEDO, 2003, p.154).

A economia, tem relação direta a capacidade produtiva de um país, e desde o surgimento da


industrialização a natureza vem servindo de base para esse sistema produtivo, como fornecedora de
matéria-prima. Quanto mais a industrialização se modernizava, maiores eram os impactos sofridos
pela natureza, porque para aumentar a capacidade produtiva, aumentava-se a intensidade de
extração dos recursos naturais. Como argumenta Novo, ―Una economia que gasta recursos y emite
resíduos por encima de las possibilidades del planeta, operando em um sistema finito y cerrado
como la Tierra, resulta insostenible‖ (2007, p.179).
Então, esse período caracterizou-se pelo intenso domínio humano da natureza, nele
propagou-se um modelo de consumo associado ao crescimento econômico e tecnológico, em que a
tecnologia foi colocada como a solução para todos os problemas que viessem a acontecer. A
sociedade estava baseada num excesso de confiança,

viviendo en una paradoja em la que se subestima la base esencial de la vida sobre la tierra,
que es la naturaleza (si no hubiese riqueza em el sentido ecológico ya no podría haber
riqueza económica posible) y también se infravaloran las relaciones humanas y sociales
(pero si no hubiese seres humanos, tampoco podria haber economía...) (NOVO, 2007,
p.207)

Em relação aos aspectos sociais, esse período esteve orientado por valores como a liberdade
individual e o benefício pessoal. Perdeu-se a referência ética, a moral estava associada ao
crescimento econômico, que refere-se unicamente a obtenção, reprodução e acumulação de capital.
A esse respeito, Boada e Toledo evidenciam como um ― [...] fenómeno de homogeneización social,

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cultural y ecológica es la consecuencia de la expansión impía de um mercado dominado por el


capital” (2003, p.154).
A margem desse sistema, está o desenvolvimento, nele não apenas o crescimento da
economia importa, mas também as questões sociais. Isso implica, na qualidade de vida, que envolve
não só a satisfação das necessidades humanas, como também qualidade do ambiente no qual estão
inseridas as pessoas. Logo, existe a preocupação com a preservação da natureza. Para Novo (2003)

[...] El verdadeiro desarrollo há de ser desorrollo para todos, entendido éste no sólo em
términos económicos (que también) sino fundamentalmente como un avance de la
conciencia y de la siedaridad que cintrarreste la destrucción ambiental y la desigualdade
que ahora experimentamos (2003, p.182).

Portanto, a questão econômica comandou a modernidade, a organização da sociedade esteve


orientada sobre a ótica do crescimento em prol do desenvolvimento. Um modelo mecanicista e
reducionista, caracterizado por uma economia e política hierarquizadas.
Como reflexo desse modelo econômico, temos a natureza e a sociedade, sofrendo, de forma
cada vez mais intensa, com grandes problemas socioambientais. Que configuram, momentos de
incertezas para a sociedade, aqui já podemos falar até mesmo numa pós-modernidade, marcada pela
preocupação com futuro incerto.
Essa incerteza, gera apreensões que resultam numa mudança da percepção de mundo, num
número cada vez maior de pessoas que começam a buscar formas alternativas de viver, estando
elas, baseadas na sustentabilidade ambiental. Dessa forma, nos coloca Novo ―al riqueza económica
es una riqueza secundaria que se nutre necessariamente de las riquezas primarias (ecológica y
humana)” (2003, p.207). Nos deixando clara a ideia, de que a riqueza ecológica e humana são pré-
condições para a riqueza econômica.
Totalmente contrária aos valores trazidos pela Modernidade, a sustentabilidade está
fundamentada numa visão sistêmica de mundo, aonde a homem e a natureza, se relacionam de
forma harmônica e respeitosa.

A (IN) SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL

A insustentabilidade é decorrência da economia global, caracterizada pelo avanço da


industrialização e da urbanização nos territórios, por elementos que reduzem a qualidade de vida,
exploram as pessoas e destroem a natureza, entre outros. Aonde o critério de eficiência, é contrário
ao da qualidade.
Há uma sociedade alienada, fortemente influenciada pelo pensamento global. Caracterizada
pela desigualdade, e estruturada sobre uma hierarquia de classes e poderes. Em que o nível mais
alto, associado a aquele sujeito ou empresa de maior capital, influencia e comanda os níveis
inferiores.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Nela o ter é mais importante do que o ser, a esse respeito, Boada e Toledo refletem

Cuestionando la jerarquía de valores sobre los que está basada la sociedade mercantil, se
tendrá que enfrentar com la potencia suicida del dinero y la extens cauda de ideologias que
inspira. Sin embargo, la carrera entre la subida de las arenas y el despertar de uma
conciencia planetária de la soliedaridad humana y de la natureza ya há comenzado.
(BOADA e TOLEDO, 2003, p.136)

O enfrentamento dos valores da sociedade mercantil, ou industrial, será duro, disso não
restam dúvidas, mas ele já começou a acontecer em diversas partes da Terra, e vem convencendo
um número cada vez maior de adeptos, por meio da difusão da sustentabilidade ambiental.
O desenvolvimento sustentável, se caracteriza pelo contrário a tudo que foi dito antes, ele
implica numa transformação social, baseada na coletividade e orientada por uma visão holística, ou
seja, é ir contra a lógica capitalista. Pois, a sustentabilidade pressupõe a integração de elementos
sociais, políticos, ambientais e econômicos. Fundamentado em valores, como exemplificam Boada,
e Toledo (2003), que contrariam a lógica capitalista, sendo eles:

[...] conciencia comunitária frente al individualismo, democracia participativa o de base


frente a la democracia formal, uso adecuado y no destrucción de los recursos naturales,
acumulación colectiva, no individual, de capital, síntesis de conocimientos científicos y
sabidurías locales (2003, p.156).

Logo, é visto como um processo de expansão das capacidades e liberdades das pessoas para
eleger o modo de vida mais apropriado aos valores locais de cada comunidade, acordando com as
oportunidades e vontades pessoais dos atores envolvidos. Sendo assim, há um reconhecimento e
uma valorização da cultura e conhecimento local.

[...] sociedade sustentable está relacionada com um poner em acción a todos esos
indivíduos que han adquirido uma nueva conciencia de especie y que se encuentran ya
dotados de una nueva ética de solidaridad com su semejantes, los seres vivos, los elementos
del entorno y con el planeta entero (BOADA e TOLEDO, 2003, p.153).

Apresenta-se ainda diante dessa perspectiva, como sendo um desenvolvimento endógeno,


que corresponde ao processo de desenvolvimento suportado a partir das potencialidades do próprio
território e tendo por base as escolhas da comunidade a partir de princípios cooperativos solidários.
Nele, busca-se resgatar os valores de uma sociedade mais igualitária, fatores de grande importância
principalmente em relação à política, contribuindo para uma organização e gestão eficaz do
território.
E tudo isso enfatiza a necessidade e importância do diálogo e do entendimento entre as
pessoas, para que superarem a dificuldade de interagir num processo coletivo. Uma vez que, não
existe sustentabilidade sem coletividade. E nesse sentido, a capacidade de inteligência coletiva
requer mais do que conectividade, ela exige também organização.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Cabe destacar ainda, que a sustentabilidade está ligada as coisas mais simples, menos
tecnificadas. Convindo como exemplo de áreas de grande potencial sustentável, as comunidades
locais tradicionais, representadas por pescadores artesanais

BAIA DE GUANABARA: COMUNIDADES PESQUEIRAS PERDEM SUSTENTABILIDADE

Sobre o atual contexto socioambiental da pesca artesanal na Baía de Guanabara, David


Soares (sociólogo e doutor Psico-Sociologia e Ecologia Social pela Universidade Federal do Rio
de Janeiro), informa que, uma competição dura e duradoura vem sendo travada pela pesca artesanal
em razão do desenvolvimento desordenado da região, com a vertiginosa urbanização da cidade do
Rio de Janeiro e dos municípios circundantes, desde a segunda metade do século XX. Tratam-se de
10 milhões de pessoas e 14 mil indústrias em seu redor, 14 terminais marítimos de carga e descarga
de produtos oleosos, dois portos comerciais, diversos estaleiros, duas refinarias de petróleo, mais de
mil postos de combustíveis e uma intrincada rede de transporte de matérias-primas, combustíveis e
produtos industrializados permeando zonas urbanas altamente congestionadas. De acordo, com o
sociólogo, esse processo transformou a Baía de Guanabara em um dos ambientes costeiros mais
poluídos do mundo.
A população de pescadores artesanais compõe a maior parte do sistema pesqueiro da região.
E mesmo com todo esse cenário de preocupação ambiental que vem se estruturando sobre o
território da Baía de Guanabara, na sua maior parte consequência da atual conjuntura do modelo
instaurado pela Modernidade. Soares, argumenta que na visão dos pescadores, seu maior opositor é
a poderosa indústria de petróleo e gás, que vem produzindo vazamentos frequentes de metais
pesados e óleo, poluição hídrica e sonora, diminuindo consideravelmente o volume e a qualidade do
pescado, e restringindo a área reservada à atividade pesqueira.
Nesse contexto, uma área historicamente próspera no sentido do estabelecimento da
sustentabilidade, formada por comunidades pesqueiras autossuficientes, com modelos culturais
pouco impactantes ao meio passa por uma drástica transformação. O incidente ambiental ocorrido
no ano de 2000, em que o um oleoduto que ligava a Refinaria Duque de Caxias (Reduc), da
Petrobrás, ao Terminal da Ilha D´Água, vizinho à Ilha do Governador, se rompeu, derramando 1,3
milhão de litros de óleo na região (dados apontados pela Agencia Brasil, em 19 de janeiro de 2016),
causou incalculáveis danos ao meio ambiente, e logicamente as populações que viviam naquele e
daquele lugar.
A perda da sustentabilidade socioambiental das comunidades de pescadores artesanais, ficou
evidente numa reportagem feita, em 18 de fevereiro de 2014 pela Agencia Brasil, no Rio de Janeiro.
Ela registrou o protesto, em frente à sede da empresa Petrobrás de pescadores da Baía de
Guanabara, gravemente prejudicados pelo vazamento do oleoduto. Para a reportagem, o fórum de

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Pescadores e Amigos do Mar, informou que o acidente causou uma série de impactos
socioambientais e provocou a redução de 90% da pesca na região. Pelo dano, ocasionado, a Justiça
condenou a empresa a pagar R$ 1 bilhão de indenização. ―Até hoje, a empresa não cumpriu a
decisão. Os pescadores estão idosos, doentes, empobrecidos, venderam embarcações para pagar
dívidas. Muitos morreram, suas viúvas estão abandonadas e os que sobraram não têm sustento‖,
disse o ambientalista Sérgio Ricardo, que integra o fórum. ―Há um drama humano, queremos o
diálogo‖, completou.
Ainda na mesma reportagem a pescadora aposentada da colônia de pescadores Z-10, de
Niterói, Jane dos Santos, de 71 anos, relembrou os efeitos do vazamento. ―[A baía] tinha garça rosa,
garça cinza, tinha mexilhão, peixe-carapicu, maria-preta e cocoroca. A poluição acabou com tudo‖,
disse. Segundo ela, a média de pesca na região era 0,5 tonelada por dia antes do acidente. Depois, a
média caiu para 200 quilos, conforme a pescadora. ―Tirava 40 panos de rede por dia, pescava muito,
conheço todas as colônias do Rio. Parei de pescar pela idade, aposentei com um salário mínimo.
Não dava mais‖, completou.
A reportagem informou ainda, que os pescadores alertavam para existência de óleo
remanescente nos manguezais e no fundo da baía, o que afetava a reprodução dos peixes, mesmo
após 14 anos do vazamento e provocava o desaparecimento de várias espécies. Relatou, o pescador
Paulo Sérgio (da Colônia Tubiacanga-Niterói) ―Todos os berçários de peixes foram consumidos
pelo óleo da Petrobrás‖. ―O óleo afundou, mas fica lá, matando. Você joga uma linha e pode ver,
ela volta suja de óleo. Então, todos os peixes que tinha, que se alimentavam do limo das pedras, e
também o camarão, o boto, não existem mais‖, explicou. Para sobreviver, Sergio contou que alguns
pescadores alugavam barcos para o turismo.
Para o Fórum de Pescadores, a expansão da indústria petroleira tem ocorrido sem ―critérios
técnicos e sem ouvir as comunidades impactadas‖, ameaçando a fauna, o meio de trabalho e vida
dos pescadores. Eles cobravam o zoneamento ecológico-econômico e a demarcação de territórios
pesqueiros pelo governo do estado.
As declarações supracitadas, demonstram o quanto o sistema pesqueiro da região era
produtivo e rentável para as populações locais, bem como, havia uma convivência pacífica e
harmoniosa entre os sujeitos e o meio ambiente. Porém, com o vazamento de óleo, a quantidade de
pescados foi reduzida drasticamente, e consequentemente os rendimentos da população, isso sem
falar dos danos ao restante da fauna, que teve a cadeia alimentar alterada, graças a poluição.
Assim sendo, a partir da reportagem vários pontos negativos podem ser identificados como
indicadores que colaboraram para que a insustentabilidade socioambiental continuasse a ocorrer na
Baía de Guanabara, dentre eles podemos destacar a expansão da indústria petroleira acontecer sem
critérios técnicos e principalmente sem o diálogo, a participação, com as comunidades locais

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

prejudicando e impactando totalmente seu ambiente e seus modos de vida, bem como, o desamparo
e o desassistência em relação a área pesqueira afetada.

ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DA BALEIA FRANCA: EXEMPLO DE


SUSTENTABILIDADE POTENCIAL

De acordo com a caracterização feita pelo ICMbio, a Área de Proteção Ambiental da Baleia
Franca é uma unidade de conservação federal, se localiza no litoral sul do estado de Santa Catarina.
Criada pelo Decreto Federal s/n° em 14 de setembro de 2000. Abrange uma área de 156 mil
hectares e 130 km de costa marítima, contendo nove municípios, desde o sul da ilha de
Florianópolis até o Balneário Rincão. Aproximadamente 80% da área da unidade de conservação é
marinha, e o restante em zona costeira. São algumas de suas finalidades, ordenar e garantir o uso
racional dos recursos naturais da região, ordenar a ocupação e utilização do solo e das águas,
ordenar o uso turístico e recreativo, as atividades de pesquisa e o tráfego local de embarcações e
aeronaves.
De acordo com o Lei no 9.985, que institui o Sistema Nacional de Unidade de Conservação
da Natureza (SNUC), Artigo 2°, parágrafo I, entende-se por Unidade de Conservação

Espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com


características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos
de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se
aplicam garantias adequadas de proteção (BRASIL, 2000).

As Unidades de Conservação Ambiental, que se constituem em áreas reconhecidas


legalmente de proteção por suas características naturais, podem ser classificadas como Áreas de
Proteção Integral ou então Áreas de Uso Sustentável, e é dentro dessa categoria que se encontram as
Áreas de Proteção Ambiental (APAs), como é o caso da APA da Baleia Franca. Ainda, segundo a
mesma Lei no 9.985, no Artigo 15°

A Área de Proteção Ambiental é uma área em geral extensa, com um certo grau de
ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais
especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas,
e tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de
ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais (BRASIL, 2000).

Sendo, importante ainda ressaltar, que de acordo com o disposto na Lei supracitada, a APA,
terá de um Conselho presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por
representantes dos órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e da população residente.
Nesse, caso a participação da população residente no conselho, será muito relevante para a tomada
de decisões sobre a área, pois estará respaldada no conhecimento da população local.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

De acordo com o ICMbio, por ser um território densamente ocupado e de grande fragilidade
ambiental, a gestão da APA da Baleia Franca se vale da participação da sociedade, representada por
um Conselho Gestor atuante.
O Conselho Gestor da APA da Baleia Franca o CONAPABF, foi criado durante o ano de
2005 através de um processo participativo tão eficaz que, tornou-se referência nacional na Gestão
Participativa de Unidades de Conservação, de acordo com suas definições, seu papel é:
 Ampliar diálogos e fortalecer os agentes sociais envolvidos na gestão dos problemas
e conflitos da UC;
 Proporcionar um espaço organizado que reúna os diferentes atores sociais com suas
distintas posições e interesses;
 Promover o debate e a troca de conhecimento e de saberes atuando como mediador e
visando um resultado: proposições de políticas públicas que promovam o desenvolvimento do
território da APA BF;
 Reconhecer e entender os problemas, conflitos e potencialidades da APA BF e
idealizar as alternativas de desenvolvimento possíveis para a resolução destes problemas/conflitos;
 Articular os atores em rede com vistas a compartilhar a gestão ambiental deste
território;
 Definir metas e prioridades para as ações de gestão do território da APA BF.
Esses, indicativos demostram o quanto a área busca estar organizada quanto aos seus
aspectos sociais, políticos, ambientais e econômicos. Com uma economia solidária e sustentável;
uma unidade política democrática em que se identifica o diálogo e o envolvimento dos sujeitos,
sobre o uso, o cuidado e organização do território e dos seus recursos naturais. Contemplando,
assim todas as esferas que estão envolvidas na sustentabilidade.
Aqui, opta-se por mencionar a atividade pesqueira artesanal, por se caracterizar como uma
possibilidade de economia sustentável, uma vez que, seus atores, os pescadores artesanais possuem
um vasto conhecimento da classificação, história natural, comportamento, biologia e utilização dos
recursos naturais da região costeira (SILVANO, 1997). Por pescadores artesanais, Gomes (2012,
p.13) define ―como aqueles que utilizam embarcações pequenas e aparelhagem com pouca
autonomia, explorando ambientes ecológicos próximos à zona costeira‖
Essa prática no Brasil vem sofrendo sérios problemas principalmente em relação a disputa
desleal com a pesca industrial crescente, que ao utilizar embarcações de maior porte e equipamentos
de pesca mais avançados, capturam maior quantidade de espécies, em menos tempo. Prejudicando
assim, os pescadores artesanais, que além de ficarem com estoques de peixes reduzidos, têm seu
habitat natural alterado e poluído.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Diante desta situação, Gomes através de seu estudo demonstra a positividade da implantação
da APA da Baleia Franca para as atividades pesqueiras artesanais locais, que de acordo com um dos
pescadores entrevistados ―a importância da APA está no fato de restringir a pesca industrial nas 3
milhas, e assim os barcos maiores estão longe da costa: ―Sorte nossa é a APA, se ainda tem um
pouco de peixe é por causa dela. Os barcos industriais só não pescam mais porque até respeitam‖‖
(2012, p. 67).
Assim, as comunidades pesqueiras tradicionais conseguem se manter da pesca artesanal, e
também se valem, algumas vezes, da beleza natural local, para complementar a renda familiar
desempenhando atividades relacionas ao turismo como as mencionadas por Gomes (2012) o
transporte de barco, o aluguel de imóveis, além de estacionamento e quiosques na praia, todas as
práticas regidas pelo cuidado, uso e gestão sustentáveis do território.
Portanto, a APA da Baleia Franca busca um modelo de desenvolvimento diferenciado e
equilibrado, conservando as características ambientais locais, habitat de muitas espécies, dentre elas
o homem. Logo, como não falar das populações pesqueiras locais, de seu modelo de vida
sustentável comprometido com o meio ambiente. E não apenas falar, é preciso valorizar, pois
mesmo num ambiente como da APA BF em que essas comunidades são ouvidas e respeitas, o
modelo de vida da grande cidade, tem ameaçado a permanência dos mais jovens nessa atividade
(Gomes 2012), valiosa para cultura e sustentabilidade ambiental.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da análise feita, sobre a realidade em que se encontram as comunidades de pesca


artesanal, localizadas na Baia de Guanabara (RJ) e APA da Baleia Franca (SC), foi possível
comprovar a potencial de sustentabilidade sócio ambiental presente em cada uma delas.
A APA da Baleia Franca, apresentou diversos indicativos para ser considerada uma área de
elevado potencial de desenvolvimento sustentável. Entre eles, destacam-se: a instituição da de uma
APA na região, que dá todo o amparo legal, no sentido da preservação e valorização paisagística
natural e cultural da região; a criação de cadeias produtivas associadas ao turismo local nos
períodos de baixa disponibilidade de pescados, que resulta no aproveitamento o potencial
paisagístico oferecido pela geodiversidade da região e é uma forma complementar da renda das
comunidades locais; Além do mais, a área contém um Plano de gestão, que contribuí para um
planejamento estratégico no sentido do desenvolvimento sustentável da região, a descentralização
política que existe na região, apoiada numa administração participativa e democrática, que conta
com lideranças públicas, resulta no bom funcionamento do sistema, uma vez que, todos os atores
participam da organização e gestão do território. Sendo assim, o modelo de desenvolvimento
endógeno encontrado na APA da Baleia Franca, resulta na valorização e conservação do patrimônio

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

natural, na melhoria da qualidade de vida e crescimento econômico dos pescadores artesanais da


região.
Já, a comunidade de pescadores artesanais da Baia de Guanabara, enfrenta diversos
problemas, que possibilitam sua identificação como uma área de desenvolvimento sustentável em
declínio. Uma vez, que algumas informações trazidas mostraram que antes do vazamento de óleo no
ano 2000, a população pesqueira da Baía de Guanabara, tinha bons indicativos de qualidade de vida
e ambiental, com grande potencial para sustentabilidade. Além daquele incidente, a população
pesqueira passou a sofrer com a falta de pescados, por outros motivos, como a poluição decorrente
da expansão urbana, a concorrência desleal com a pesca industrial, mas principalmente, a existência
das industrias de refinaria e extração de petróleo e gás, que afetam, o meio ambiente, prejudicando
o ecossistema de modo geral, levando até mesmo a extinção de espécies nativas. Quanto ao caráter
econômico e a qualidade de vida, os pescadores vêm sofrendo gradativa diminuição dos seus
rendimentos, desemprego, o que colabora para miséria, doenças, entre outros. Percebeu-se uma
população marginalizada, desassistida, por isso enfraquecida, lutando por seus direitos, mas
praticamente sem ser ouvida.
Por conseguinte, a pesquisa também mostrou, a importância que a natureza e as relações
sociais assumem numa comunidade, pois ambas as regiões se estruturavam sobre uma mesma
lógica, porém, acabaram por apresentar realidades totalmente diversas a partir da qualidade que o
meio ambiente apresentava, assim como, a partir da organização política e social existente entre os
atores públicos e privados em cada região. Portanto, a sociedade é o motor de transformação da
realidade em que nos encontramos hoje, o conhecimento, a democracia e a valorização pessoal são
nossas maiores armas para combater a homogeneização e a degradação socioambiental, oriundas da
Modernidade.

REFERÊNCIAS

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https://conapabaleiafranca.wordpress.com/o-conselho-2/>. Acesso em: 12 de julho de 2017.

BOADA, M.; TOLEDO, V. El planeta, nuestro corpo: La ecologia, el ambientalismo y la crisis de la


modernidade. México: FCE, 2003.

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dá outras providência. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9985.htm>.
Acesso em: 07 de julho de 2017.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 264


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

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GOMES. Gabriela De Oliveira. O conhecimento local sobre mudanças nos estoques pesqueiros na
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Dissertação (Mestrado) - Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas, Campinas,
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guanabara-e-a-agonia-da-pesca-artesanal>. Acesso em: 15 de junho de 2017.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 265


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Biotecnologia e Fontes
Alternativas de Energia

© Giovanni Seabra

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 266


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA VARIABILIDADE GENÉTICA DO SUBGÊNERO


SAPAJUS (ERXLEBEN, 1777)

Claudine Gonçalves de OLIVEIRA


Docente do curso de Ecologia da UNIVASF/Senhor do Bonfim (BA)
claudine.oliveira@univasf.edu.br
Romari Alejandra Martinez MONTAÑO
Departamento de Filosofia da UESC, Ilhéus (BA)
cebus@yahoo.com

Fernanda Amato GAIOTTO


Docente do Departamento de Ciências Biológicas da UESC, Ilhéus (BA)
gaiotto@uesc.com.br

RESUMO
A distribuição espacial das espécies é influenciada por fatores históricos e devem ser visualizados
dentro do processo evolutivo de toda a biota. Portanto, a formação da Mata Atlântica há mais de 10
milhões de anos, baseada no modelo de dispersão pelas manchas florestais, tendo ocorrido com a
expansão da vegetação aberta e intercâmbio de espécies nas glaciações cíclicas, influenciou o
padrão de dispersão do gênero Cebus. Assim, o objetivo desse artigo é estabelecer padrões de
agrupamento entre as diferentes espécies do subgênero Sapajus. Para isso, foi acessado o material
genético de espécimes Sapajus através da amplificação de seis loci microssatélites transferidos de
outros primatas e polimórficos para Sapajus. A estrutura genética foi verificada através do GST de
Nei (1978) com auxilio do programa Genetix V. 4.05. Os erros de genotipagem foram verificados e
corrigidos usando o programa MicroChecker 2.2.3. Os dados obtidos demontraram um excesso de
homozigotos em todos os loci devido à presença de alelos nulos. Os valores obtidos do GST
corroboraram a análise de barreiras geográficas, pois, mostraram que as espécies que estão
distribuídas mais próximas geograficamente (S. apella e S. libidinosus) apresentam diversidade
genética menor quando comparadas às espécies mais distantes fisicamente (S. nigritus e S.
robustus). Algumas evidências geológicas indicam que a formação de refúgios durante o
Pleistoceno pode ser uma possível explicação para a maior diversidade genética entre algumas
espécies. O que indica que num tempo passado essas populações eram contínuas e existia fluxo
gênico entre elas.
Palavras-chaves: Conservação, Filogeografia, Sapajus xanthosternos, espécies ameaçadas.
RESUMÉN
La distribución espacial de las especies es influenciada por factores históricos y debe ser visualizada
dentro del proceso evolutivo de toda la biota. Por lo tanto, la formación de la Mata Atlántica hace
más de 10 millones de años, basada en el modelo de dispersión por las manchas forestales, habiendo
ocurrido con la expansión de la vegetación abierta e intercambio de especies en las glaciaciones
cíclicas, influenció el patrón de dispersión del género Cebus. Así, el objetivo de este artículo es
establecer patrones de agrupamiento entre las diferentes especies del subgénero Sapajus. Para ello,
se accedió al material genético de especímenes Sapajus a través de la amplificación de seis loci
microsatélites transferidos de otros primates y polimórficos a Sapajus. La estructura genética fue
verificada a través del GST de Nei (1978) con ayuda del programa Genetix V. 4.05. Los errores de
genotipado fueron verificados y corregidos usando el programa MicroChecker 2.2.3. Los datos
obtenidos demuestran un exceso de homocigotos en todos los loci debido a la presencia de alelos
nulos. Los valores obtenidos del GST corroboraron el análisis de barreras geográficas, pues,
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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

mostraron que las especies que están distribuidas más próximas geográficamente (S. apella y S.
libidinosus) presentan diversidad genética menor cuando comparadas a las especies más distantes
físicamente (S. nigritus y S. Robusto). Algunas evidencias geológicas indican que la formación de
refugios durante el Pleistoceno puede ser una posible explicación para la mayor diversidad genética
entre algunas especies. Lo que indica que en un tiempo pasado esas poblaciones eran continuas y
existía flujo génico entre ellas.
Palabras clave: Conservación, Phylogeografía, Sapajus xanthosternos, Threatened species

INTRODUÇÃO

A distribuição da diversidade biológica na Terra não é uniforme, tendo algumas áreas com
uma ―explosão de diversidade‖ significativamente maior do que outras. A distribuição espacial de
espécies é influenciada por dois padrões básicos reconhecidos na biogeografia. O primeiro é que a
distribuição geográfica dos organismos é limitada por fatores ecológicos ou históricos, assim os
táxons não são completamente cosmopolita, mas muitas espécies são endêmicas às regiões restritas
(Croizat, 1976).
O segundo padrão é que as espécies endêmicas não são distribuídas aleatoriamente, mas
tendem a concentrar em algumas regiões do mundo, constituindo um fenômeno chamado de
provincianismo (Cracraft, 1985; Platnick, 1991). As regiões endêmicas são importantes por
representarem a menor unidade geográfica de análise em biogeografia histórica, formando a base
para postular hipóteses sobre a história das unidades geográficas e suas biotas (Cracraft, 1985,
1994; Morrone, 1994; Morrone e Crisci, 1995) e são considerados como alvos prioritários para
ações de conservação (Terborgh e Winter, 1982; Fjeldså, 1993).
A Mata Atlântica é um das principais regiões biogeográficas definidas da América do Sul. A
manutenção de florestas úmidas na América do Sul deu-se a pouco mais de 50 milhões de anos,
quando o clima predominantemente quente e úmido, favoreceu a recuperação da diversidade das
angiospermas e o estabelecimento de novas espécies, após o grande evento de extinção da
meganofauna e de 40% das espécies de plantas (Morley, 2000).
Estudos apontam uma relação biogeográfica próxima da Mata Atlântica com a biota da
Floresta Amazônica (Eberhard e Berminghan, 2005) e com o componente florestal do Cerrado por
meio de florestas de galeria (Costa, 2003).
As ligações entre esses biotas eram feitas por dois dos blocos de floresta em épocas úmidas,
a cerca de 16 milhões de anos. Após a separação dessas florestas, ocorreu à expansão continua da
vegetação aberta com intercâmbio de espécies por dispersão pelas manchas florestais, como durante
as glaciações cíclicas ocorridas no terciário (cerca de 10 milhões de anos) (Morley, 2000).
Amorim e Pires (1996) fizeram uma análise biogeográfica da Mata Atlântica usando
distribuições e filogenias de primatas (Callitrichidae) e dípteros (Sciaridae e Ditomyiidae). Eles

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obtiveram como resultado uma divisão principal do bioma no vale do Rio Doce (Espirito Santo) e
mais em seis áreas de endemismo: três ao norte e três ao sul da divisão principal. A porção média da
Bahia, nas regiões do Vale do Rio Jequitinhonha à Baía de Todos os Santos, também tem aparecido
em alguns trabalhos como divisão principal.
A Mata Atlântica abriga uma biota única com muitos gêneros e espécies endêmicas (Myers
et al., 2000). A presença de espécies endêmicas tem sido frequentemente utilizada como critério
para escolha de áreas para indicação de conservação, uma vez que, constituem-se elementos que
devem ser levados em consideração para postular hipóteses sobre a biogeografia histórica daquelas
regiões (Silva et al., 2004). Analisando as distribuições da maioria das espécies animais e vegetais
da Mata Atlântica, observa-se que os táxons são restritos a alguma porção menor do bioma.
Cebus (Erxleben, 1777) é um gênero amplamente distribuído no Novo Mundo (Hill, 1960) e
um dos taxóns de mamíferos neotropicais mais controversos (Cabrera, 1917; Silva Jr, 2001).
Hershkovitz (1949) separou o gênero Cebus em dois grupos baseado na presença ou não de um tufo
de pelos na região frontal. Este autor indicou que o grupo de populações com tufo seria
monoespecífico, possuindo apenas Cebus apella como representante tipo e o grupo sem tufo seria
composto por três espécies: Cebus albifrons, Cebus capucinus e Cebus nigrivittatus. Hill (1960)
reavaliou o grupo ―com tufo‖ e descreveu 16 subespécies de Cebus apella, dentre elas: Cebus
apella apella Cebus apella robustus, Cebus apella nigritus, Cebus apella libidinosus e Cebus apella
xanthosternos. Groves (2001) reestruturou a taxonomia do grupo com tufo e dividiu as 4 espécies
em 14 espécies e subespécies, entre elas Cebus xanthosternos, Cebus robustus, Cebus libidinosus,
Cebus nigritus, Cebus apela.
SILVA-JR (2001), no maior e mais completo trabalho de taxonomia de Cebus – grupo com
tufo- realizado até hoje, o termo subespécie não enquadra entidades em processo de especiação,
nem marca mais semelhanças entre dois grupos do que considerá-los pertencentes a espécies
diferentes. Assim, o termo subespécie torna-se inútil para a taxonomia do grupo, e o uso nesse
contexto fica incorreto. Desta forma, adotou-se que cada táxon é considerado como uma unidade
evolutiva básica, ou seja, uma espécie, e reconheceu-se a existência de dois subgêneros de Cebus:
1) Cebus (correspondem aos Cebus sem tufo), com as seguintes espécies: Cebus (Cebus) capucinus
Linnaeus, 1758, Cebus (Cebus) albifrons Humboldt, 1812, Cebus (Cebus) olivaceus Schomburgk,
1848, Cebus (Cebus) kaapori Queiroz, 1992 e, 2) Sapajus (correspondem aos Cebus com tufo),
com uma classificação mais complexa, dividida em três subgrupos: a) Espécies Amazônicas: Cebus
(Sapajus) apella Linnaeus 1758, Cebus (Sapajus) macrocephalus Spix, 1823, b) Espécies do centro
da América do Sul e norte da Mata Atlântica: Cebus (Sapajus) libidinosus Spix 1823, Cebus
(Sapajus) cay Illiger, 1815, Cebus (Sapajus) xanthosternos Wied-Neuwied 1826 e, c) Espécie do

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sul da Mata Atlântica: Cebus (Sapajus) robustus Kuhl 1820, Cebus (Sapajus) nigritus Goldfuss
1809.
Algumas populações de Cebus estão sofrendo graves ameaçada, pois, são encontradas em
regiões fragmentadas, pequenas e isoladas umas das outras, suscetíveis aos riscos tipicamente
associados a populações de tamanho pequeno. Além de, sofrerem pressão da caça para subsistência
e tráfico de animais silvestres (KIERULFF et al., 2005).
A associação destes fatores fez com que algumas espécies de macaco-prego (S.
xanthosternos e S. robustus) fossem enquadradas na lista das espécies ameaçadas de extinção pelo
IBAMA (MMA, 2005) e IUCN (2001). Portanto, tornou-se necessário a criação de programas de
conservação ex situ e in situ.
O objetivo desse artigo é estabelecer padrões de agrupamento entre as diferentes espécies de
Sapajus, a fim de obter uma caracterização da história evolutiva do grupo perante mudanças
ocorridas na paisagem, contribuindo para a elaboração de estratégias eficientes de conservação e
manejo.

METODOLOGIA

Um total de 67 amostras, de sangue ou fezes, foi coletado de indivíduos do subgênero


Sapajus de toda extensão de distribuição para realizar a extração do seu DNA. O DNA total foi
extraído usando os kits para extração, DNA QIAmp mini kit® , para extração de DNA de fezes, e
QIAmp DNA mini kit® (Qiagen) de acordo com as especificações do fabricante para todas as
amostras.
O acesso ao material genético de especimes de S. apella, S. xanthosternos, S. libidinosus, S.
robustus, S. nigritus e hibridos, foi feito utilizando primers microssatélites desenhados para Sapajus
apella (Escobar-Páramo, 2000), Saguinus mystax (Bohle e Zischler, 2002), Saimiri boliviensis
(Witte e Rogers, 1999), Alouatta palliata (Ellsworth e Hoelzer, 1998) e Homo sapiens verificado
como polimórfico para S. nigritus (Amaral et al., 2005).
Amplificações por PCR de 36 loci microssatélites foram feitas utilizando as seguintes
condições de ciclagem: desnaturação inicial a 94º C durante 4 minutos, seguido de 35 ciclos de 94º
C durante 1 min, temperatura de anelamento variável por 50s e extensão de 1 min, finalizando com
um período de extensão a 72ºC por 10 min. Todas as reacções de PCR foram realizadas em 20 μL
contendo: Tris-HCl 10 mM (pH 8,3), KCl 50 mM, MgCl2 0,25 mM, 0,5 mM de cada iniciador;
0,25 mM cada dNTP; 300 ng de DNA e 5U de Taq polimerase (Fermentas). Um primer de cada par
foi marcado com uma cauda de iniciador M13 (Ganache et al., 2001).

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Os produtos de PCR foram detectados utilizando um sequenciador automatizado ABI 377 e


analisados pelos softwares GeneScan e Genotyper 2.1 (Applied Biosystems) para determinação de
genótipos.
As análises foram realizadas a partir da genotipagem com seis locos microssatélites
transferidos e polimórficos para Sapajus. Os valores de diversidade genética (HE), heterozigosidade
observado (HO) e estrutura genética foram verificados através do GST de Nei (1978) com auxilio do
programa Genetix V. 4.05 (Belkhir et al., 2004). Os erros de genotipagem foram verificados e
corrigidos usando o programa MicroChecker 2.2.3 (Oosterhout et al., 2004).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dos 36 primers testados originalmente, só 12 resultaram amplificações positivas e seis


foram polimórficos (PEPC8, PEPC59 SB19 D16S505, D4S411 e D2S382). A utilização de
marcadores microssatélites tem facilitado à compreensão de questões relevantes para a conservação
de espécies animais em extinção. No entanto, para a maioria dos macacos-prego (subgênero
Sapajus), não existem microssatélites desenvolvidos e disponíveis na literatura ou, a transferência
de primers de outras espécies não obtiveram sucesso.
As análises de erros de genotipagem não indicaram evidência de erro devido à ―stuttering‖ e
nenhuma evidência de “allele dropout”. No entanto, houve um excesso de homozigotos em todos
os loci, provavelmente devido à presença de alelos nulos. Alguns estudos documentaram a presença
de alelos nulos em loci de microssatélites em freqüências de até 15% (Callen et al., 1993).
A estrutura genética das populações obtidas a partir dos valores de GST (Nei, 1978),
demonstrou que entre as espécies S. xanthosternos e S. libidinosus foi encontrado um valor de GST
= 0.0652. Já entre as espécies S. xanthosternos e S. apella, GST = 0.0689, S. xanthosternos e S.
nigritus GST = 0.1221 e S. xanthosternos e S. robustus GST = 0.1044.
Geograficamente, S. xanthosternos está distribuído em Sergipe, Bahia e Minas Gerais:
região situada entre os rios São Francisco e Jequitinhonha; S. robustus, distribuído na Bahia,
Espírito Santo e Minas Gerais: região situada entre os rios Jequitinhonha e Doce; S. nigritus no Rio
de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Nordeste da
Argentina: região situada ao sul do rio Paraíba do Sul; S. libidinosus, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio
Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Bahia, Goiás e Minas Gerais: áreas de vegetação
aberta e Mata Atlântica do Nordeste do Brasil (exceto a parte situada à direita do rio São Francisco),
estendendo-se aos cerrados de Goiás (a leste do rio Tocantins) e Araguaia e; S. apella, distribuído
no Amazonas, Rondônia, Roraima, Mato Grosso, Amapá, Pará, Maranhão e possivelmente
Tocantins: Amazônia Oriental, desde o leste dos rios Negro e Madeira ate as bordas da floresta no
Maranhão, Rondônia, Mato Grosso e possivelmente extremo norte de Tocantins.

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Os valores obtidos do GST corroboraram a análise de barreiras geográficas, pois, mostraram


que as espécies que estão distribuídas mais próximas geograficamente (S. apella e S. libidinosus)
apresentam diversidade genética menor quando comparadas às espécies mais distantes fisicamente
(S. nigritus e S. robustus).
O gráfico da distribuição espacial da similaridade genética entre as espécies de Sapajus
genotipados, (Figura 1) mostraram que o padrão de distribuição da similaridade entre os indivíduos
corresponde ao padrão de distribuição geográfica de ocorrência das espécies. Algumas evidências
geológicas indicam que a formação de refúgios durante o Pleistoceno pode ser uma possível
explicação para a maior diversidade genética entre algumas espécies. O que indica que num tempo
passado essas populações de Sapajus eram contínuas e existia fluxo gênico entre elas.

Figura 1 – Análise Fatorial de correspondência (AFC) para a frequência alélica de todos os microssatélites
testados. Os círculos correspondem aos grupos genotipados.

CONCLUSÕES

A obtenção e análises dos dados permitem concluir que:


As espécies do subgênero Sapajus com distribuição geográfica mais próxima possuem
menor estrutura genética, o que pode indicar que no passado recente compunham uma única
espécie.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

ÍNDICE DE VELOCIDADE DE EMERGÊNCIA DE AMENDOIM IAC-TATU-ST


(ARACHIS HYPOGAEA) EM DIFERENTES DOSES DE BIOFERTILIZANTE EM
ASSOCIAÇÃO COM BIOCHAR15

Charlley de Freitas SILVA


Mestrando em Produção Agrícola UFRPE-UAG
charlleyfs@hotmail.com
Dayane da Silva de ANDRADE
Mestranda em Produção Agrícola da UFRPE-UAG
daya__andrade@outlook.com
Maysa Bezerra de ARAÚJO
Graduando em Agronomia UFRPE-UAG
Maysa_araujo@hotmail.com
Mácio Farias de MOURA
Professor Adjunto IV UFRPE-UAG
maciof@yahoo.com.br

RESUMO
A região Nordeste é o segundo maior polo consumidor de amendoim no Brasil, no estado de
Pernambuco a produção concentra o cultivo desta oleaginosa nas regiões da Zona da Mata Norte e
no Vale do São Francisco, onde nesta última é conduzido sob condições irrigadas. Um dos
problemas para o cultivo do amendoim encontra-se nas suas sementes, estas apresentam baixos
percentuais de germinação e vigor, o que muitas vezes se torna um gargalo na obtenção da
uniformidade do estande de plantas. O objetivo do presente estudo foi avaliar o efeito de diferentes
doses de biofertilizante associado com biochar sobre a emergência de plântulas de amendoim. O
solo utilizado no experimento foi coletado no município de Brejão-PE. O estudo foi conduzido em
vasos numa área experimental da Universidade Federal Rural de Pernambuco, campus Garanhuns.
O biofertilizante e o solo utilizado foram analisados em laboratório terceirizados. Foram realizadas
contagens diárias de emergência a partir do quinto dia após a semeadura para se obter a velocidade
e o índice de velocidade de emergência, por 10 dias. O experimento foi em delineamento de blocos
casualizados (DBC), sendo o esquema fatorial: 8x2= 46 x 4= 64 tratamentos x 5, totalizando 320
unidades experimentais. Verificou-se que nos 15 dias após a emergência da primeira plântula de
amendoim IAC-TATU-ST, a dose de biofertilizante 20%, associada ao biochar, possibilitou maior
número médio de plântulas normais emergidas por dia e velocidade de emergência um pouco maior
do que sem aplicação do biochar. Concluiu-se que o índice de velocidade de emergência foi
dependente da associação biofertilizante-biochar.
Palavras-chaves: Adubação orgânica, Biocarvão e Leguminosa

ABSTRACT
The Northeast is the second largest consumer of peanuts in Brazil, in the state of Pernambuco. The
production concentrates the cultivation of this oilseed in the regions of Zona da Mata Norte and the
São Francisco Valley, where the latter is conducted under irrigated conditions. One of the problems
for peanut cultivation is its seeds, which present low percentages of germination and vigor, which

15
Jeandson Silva Viana – Orientador

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 276


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often becomes a bottleneck in obtaining the uniformity of the plant stand. The objective of the
present study was to evaluate the effect of different doses of biofertilizer associated with biochar on
the emergence of peanut seedlings. The soil used in the experiment was collected in the
municipality of Brejão-PE. The study was conducted in pots at an experimental area of the Federal
Rural University of Pernambuco, Garanhuns campus. The biofertilizer and the soil used were
analyzed in the outsourced laboratory. Daily emergency counts were performed from the fifth day
after sowing to obtain the speed and the emergency speed index for 10 days. The experiment was a
randomized block design (DBC), with the factorial scheme: 8x2 = 46 x 4 = 64 treatments x 5,
totaling 320 experimental units. It was verified that in the 15 days after the emergence of the first
IAC-TATU-ST peanut seedlings, the biofertilizer dose 20%, associated with biochar, allowed a
higher average number of normal seedlings emerged per day and a slightly higher emergence speed
Which without biochar application. It was concluded that the rate of emergence was dependent on
the biofertilizer-biochar association.
Keywords: Organic fertilization, Biocarbon and Leguminosa.

INTRODUÇÃO

A cultura do amendoim (Arachis hypogaea L.) é uma dicotiledônea, da família das


leguminosas (CAMARGO et al., 2011), originária da América do Sul, e hoje é cultivada em todas
as regiões tropicais e temperada (FREITAS et al., 2005). Uma vez que esta cultura conta com uma
ampla adaptabilidade e ciclo curto, também é uma importante fonte de óleo e proteína vegetal
(NAKAGAWA E ROSOLEM, 2011; SANTOS et al., 2012). Devido ao alto valor nutritivo a
mesma é considerada uma das oleaginosas mais importantes cultivadas e consumidas na maior parte
do mundo, onde em sua composição cerca de 26% é de proteína, 50% de óleo e 3% Fibra (XU et
al., 2017).
O cultivo do amendoim visa principalmente o consumo humano, seu óleo pode ser usado
diretamente em alimentos, conservas, produtos farmacêuticos e indústrias para além do seu
potencial para a produção de biodiesel (BARBIERI et al., 2016). O Brasil é o terceiro maior
produtor de amendoim das Américas, ficando atrás dos Estados Unidos e a Argentina. Na safra
15/16, segundo a CONAB (2016), o país produziu 352 mil toneladas desse grão, atingindo uma
produtividade de 3.305 kg/ha-¹, ocupando uma área de 106,5 mil hectares. A região Nordeste é o
segundo maior polo consumidor de amendoim no Brasil, com uma demanda regional superior a 50
mil toneladas de vagens/ano (SANTOS et al., 2005).
Tendo importância socioeconômica mundial e sendo considerada uma das leguminosas mais
cultivadas no mundo (NAKAGAWA; ROSOLEM, 2011), o amendoim propicia uma ampla faixa de
desenvolvimento, sendo que para tanto é necessária uma estação quente e úmida , suficiente para
permitir a vegetação da planta (DA SILVEIRA et al., 2017), e com precipitação regular. Além disso
suas sementes apresentam baixos percentuais de germinação e vigor, em função de suas
características químicas e estruturais e das condições de cultivo, maturação, colheita e pós-colheita
(MARCHI et al., 2011), e sabe-se que para se obter êxito na exploração de uma cultura, além do

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manejo correto de várias fases do processo produtivo, é fundamental conseguir, de imediato, um


bom índice de velocidade de emergência das plântulas, que propiciará a uniformidade do estande da
cultura.
Uma possível solução para tal problema seria a utilização de biofertilizante em associação
com biochar no solo, pois este é um condicionante do solo, o que poderia auxiliar a emergência de
plântulas, fornecendo conservação de nutrientes e melhorando a qualidade e propriedades físicas do
solo, podendo também ajudar na eficiência do uso da água pela semente, através da retenção no solo
(PANEQUE et al., 2016), e o biofertilizante é um material utilizado como adubo fonte de diversos
nutrientes essenciais, que poderiam ajudar na emergência das plântulas junto com seu material de
reserva das sementes.
Nesse contexto o objetivo do presente estudo foi avaliar o efeito de diferentes doses de
biofertilizante associado com biochar sobre a emergência de plântulas na cultura do amendoim.

MATERIAIS E MÉTODOS

O experimento foi conduzido em uma área experimental na Unidade Acadêmica de


Garanhuns da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UAG/UFRPE), no mês de maio de
2017. A área de estudo se encontra na mesorregião do Agreste Meridional do Estado de
Pernambuco no município de Garanhuns, nas coordenadas geográficas Latitude 8 o 53‘ 25‘‘ S e
Longitude 36o 29‘ 34‘‘ O, a região apresenta uma altitude de 866 m.
O clima na microrregião de Garanhuns é tropical chuvoso (Aw), com verão seco; a estação
chuvosa se inicia no outono e engloba o inverno e o início da primavera. As médias anuais de
temperatura e umidade relativa do ar são, respectivamente, 21,1°C e 82,5%, com precipitação
pluvial de 897 mm anuais, sendo quadrimestre mais chuvoso, representado pelos meses de maio a
agosto (BORGES JÚNIOR et al., 2012).
O solo que foi usado no experimento foi coletado no município de Brejão-PE. O
biofertilizante e o solo utilizado para o plantio foram submetidos à análise de suas características
químicas (tabelas 1 e 2) por uma empresa terceirizada em seus respectivos laboratórios.

Tabela 1. Análise química do solo


pH P
Camada MO K+ Ca2+ Mg2+ H+Al SB CTC Al+3 V
(CaCl3) (Mellich)
Cm g/Kg mg dm -3 Mmolcdm+3 %
0-20 4,9 20,0 4,0 0.348 2.3 0.9 3.2 3,5 6.75 0.00 53
Fonte: laboratório TERRA.

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Tabela 2. Análise química do biofertilizante


Biofertilizante
Parâmetro Unidade
líquido
pH (CaCl2) 6,71 ---
Matéria orgânica 3,1 %

Carbono orgânico oxidável 1,8 %

Nitrogênio total (N) 0,50 %

Relação C/N 3/6 ---

Fósforo Total (P2O5) 1 %

Potássio Total (K2O) 1 %


%
Magnésio Total (Mg) 0,5

Boro total (B) 0,1 %

Cobre total (Cu) 0,05 %

Manganês Total (Mn) 0,05 %

Cálcio Total (Ca) 3,89 %

Ferro (Fe) 0,05 %


Enxofre Total (S) 1 %
Zinco Total (Zn) 0,05 %
Fonte: Laboratório Campo Análises.

Foram avaliados a velocidade de emergência (VE) e o índice de velocidade de emergência


(IVE), utilizados nesse caso como parâmetros de, respectivamente, número médio de dias
necessários para a ocorrência da emergência e o número médio de plântulas normais emergidas por
dia (ÁVILA et al., 2005). O número médio de dias para a emergência das plântulas de amendoim
foi determinado através de contagens diárias, iniciadas cinco dias após a semeadura, durante 10
dias. Considerou- se como plântula emergida aquela que possibilitou visualização de qualquer de
suas partes, independentemente do local de observação. As fórmulas usadas para cálculo do IVE e
VE foram propostas por Maguire (1962), as quais são apresentadas a seguir: IVE= (G1/N1) +
(G2/N2) + ... + (Gn/Nn), em que: IVE = índice de velocidade de emergência; G = número de
plântulas normais computadas nas contagens; N = número de dias da semeadura. Para Maguire
(1962), o cálculo da velocidade de emergência (VE) é realizado com os dados utilizados para o
cálculo do IVE, utilizando-se a fórmula proposta: VE = [ (N1 G1) + (N2 G2) + ... + (Nn Gn) ]/ (G1
+ G2 + ... + Gn), em que: VE = velocidade de emergência (dias); G = número de plântulas
emergidas observadas em cada contagem; N = número de dias da semeadura a cada contagem.

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O experimento foi em delineamento de blocos casualizados (DBC), sendo o esquema


fatorial: 8x2= 46 x 4 = 64 (tratamentos) x 5, totalizando 320. Foram utilizadas 3 sementes por vaso
em profundidade de semeadura 5cm. Foi utilizado a variedade de amendoim IAC-TATU-ST. Os
tratamentos foram constituídos por: doses de biofertilizante (10%, 20% e 30%), biochar (com e
sem) em dose única equivalente a 7 t ha-1, e a associação de biofertilizante-biochar. As análises
foram realizadas com auxílio do programa computacional Sistema para Análise de Variância –
SISVAR 4.1 (FERREIRA, 2008).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com relação ao número médio de dias necessários para a ocorrência da emergência,


percebe-se pela Tabela 3, que as sementes de amendoim semeadas em parcelas adubadas apenas
com biofertilizante nas doses de 10 e 20% necessitaram de um tempo maior para proporcionar a
emergência das plântulas principalmente quando comparadas com aquelas que além do
biofertilizante também houve a aplicação do biochar. Segundo Edmond e Drapala (1958) quanto
menor o valor obtido pela fórmula de velocidade de emergência, maior potencial fisiológico
apresenta as sementes, assim, se pode inferir que as doses de biofertilizante de 10 e 20% junto ao
biochar favoreceram melhor vigor às sementes.

Tabela 3. Velocidade de Emergência


Doses % C/ Biochar S/ Biochar
0 7,31 a 7,42 a
10 7,18 b 7,42 a
20 7,17 b 7,41 a
30 7,32 a 7,46 a
Médias seguidas de mesma letra minúscula na linha não diferem a 5% de probabilidade pelo teste de Tukey.

Quanto ao IVE de plântulas de amendoim, os resultados obtidos não se ajustaram a modelo


de regressão polinomial (p>0,05), evidenciando-se comportamento independente para o número
médio de plântulas normais emergidas por dia em função das doses de biofertilizante. Apesar desse
resultado, observa-se pela Tabela 4. que doses de biofertilizante associadas a biochar influenciaram
no IVE, sendo verificado que com essa combinação houve mais rápido estabelecimento do estende
de plântulas de amendoim sobretudo quando comparado com aquele verificado em parcelas onde
houve apenas aplicação de biofertilizante, ou seja, na ausência de biochar. Provavelmente, o biochar
aumento a capacidade de retenção de umidade do substrato, favorecendo maior embebição das
sementes, e como isso, maior IVE.

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Segundo Brown e Mayer (1986) o IVE nem sempre consegue identificar as diferenças entre
tratamentos, podendo resultar em valores semelhantes entre os tratamentos a que são submetidas as
sementes e com comportamento distinto quanto ao vigor, como pôde ser observado no VE e IVE do
nosso trabalho.

Tabela 4. Índice de Velocidade de Emergência


Doses % C/ Biochar S/ Biochar
0 7,20 a 4,29 b

10 7,78 a 4,85 b

20 8,61 a 4,77 b

30 6,63 a 3,92 b
Médias seguidas de mesma letra minúscula na linha não diferem a 5% de probabilidade pelo teste de Tukey.

CONCLUSÃO

A associação biofertilizante-biochar foi capaz de influenciar o número médio de plântulas


normais emergidas por dia e o índice de velocidade de emergência.

REFERÊNCIAS

ÁVILA, M. R. et al. Testes de laboratório em sementes de canola e a correlação com a emergência


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Garanhuns, PE. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, Campina Grande, v. 16,
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safra 2015/2016, nono levantamento: junho/2016. Brasília: Conab, 2016.

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P. S., & NAKAGAWA, J. (2017). Alocação de fitomassa e índice de colheita de amendoim em
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EDMOND, J. B.; DRAPALA, W. L. The effects of temperature, sand and soil acetone on
germination of okra seed. Proceedings America Society Horticultural Science, Alexandria, v. 71,
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Software.

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TEMPERATURA, ESTÁDIO DE MATURAÇÃO DOS FRUTOS DE LICURI


SOBRE A GERMINAÇÃO DAS SEMENTES16

Débora Teresa da Rocha Gomes FERREIRA


Pós-Doutoranda na UFRPE/ UAG
debora_teresa@hotmail.com
Lidiana Nayara RALPH
Mestranda do Curso de Produção Agrícola
lidianaralph@hotmail.com
Júlio César de Almeida SILVA
Graduando do Curso de Agronomia da UFRPE – UAG
julioifpe@hotmail.com
Sueli da Silva SANTOS-MOURA
Professora no IFAL
suelidasilvasantos@yahoo.com.br

RESUMO
O Brasil por ser um país tropical, apresenta uma enorme diversidade de palmeiras nativas,
pertencentes à família Arecaceae, dentre estas, encontra-se o licuri (Syagrus coronata), muito
encontrada na margem do rio São Francisco. O trabalho teve por objetivo estudar a influência da
temperatura sobre a germinação de sementes de licuri provenientes de frutos de estádios de
maturação e posição no cacho. No Laboratório de Análise de Sementes-UAG/UFRPE foram
realizados dois experimentos utilizando o delineamento experimental inteiramente casualizado, com
fatorial duplo, sendo 4 (temperaturas) x 3 (estádios de maturação) com quatro repetições de 25
sementes cada e o segundo experimento com 4 temperaturas x 3 posições dos frutos no cacho. Os
estádios de maturação dos frutos de Syagrus coronata (Mart.) Becc., influenciaram a germinação
das sementes, sendo a coloração verde alaranjada em combinação com a temperatura de 30 ºC
proporcionaram maiores resultados em todas as variáveis analisadas. As sementes colhidas da
posição proximal dos frutos e submetidas a temperatura de 25° C apresentaram maior germinação.
As sementes da região distal dos frutos em todas as temperaturas testadas obtiveram a germinação
afetada negativamente.
Palavras-Chaves: Syagrus coronata, Coloração do Fruto, Palmeira, Arborização.
ABSTRACT
Brazil, being a tropical country, presents an enormous diversity of native palms, belonging to the
family Arecaceae, among them, is licuri (Syagrus coronata), very found in the São Francisco
riverbed. The research aimed to study the influence of temperature on the germination of licuri
seeds from fruits of different stages of maturation and position in the bunch. In the Seed Analysis
Laboratory on UAG / UFRPE two experiments were developed, both using a completely
randomized experimental design, with a double factorial, 4 (temperatures) x 3 (stages of
maturation) with four replicates of 25 seeds, and in the second experiment 4 (temperatures) x 3
(positions of the fruits in the bunch).The maturation stages of the fruits of Syagrus coronata (Mart.)
Becc., Influenced the germination of the seeds, being the orange-green coloration in combination
with the temperature of 30º C the stage that afforded the higher results in all analyzed variables. The

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Orientadora: Edilma Pereira GONÇALVES; Professora Associada da UFRPE-UAG. edilmapg@hotmail.com

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seeds harvested from the proximal position of the fruits and submitted to the temperature of 25° C
presented greater germination. The seeds of the distal region of the fruits at all tested temperatures
obtained the negatively affected germination.
Keywords: Syagrus coronata, Fruit Coloring, Palm Tree, Tree Planting.

INTRODUÇÃO

O Brasil, um país tropical, possui uma enorme diversidade de palmeiras nativas,


pertencentes à família Arecaceae, dentre estas, encontra-se Syagrus coronata conhecido
popularmente por licuri, licurizeiro, ouricuri ou coqueiro-cabeçudo. Uma palmeira encontrada a
leste do rio São Francisco, nos estados de Pernambuco, Alagoas, Bahia, Sergipe e norte de Minas
Gerais, na caatinga e florestas semidecíduas, zonas de transição para restinga e cerrado (JOHNSON,
2010).
O licuri possui estipe não perfilhado de 3-10 metros de altura e 15-25 cm de diâmetro e não
apresenta entrenós visíveis em seu estipe retangular. Possui cinco fileiras de folhas com fibras
grossas, chatas na bainha e seus frutos são elipsóides, amarelados, também amarronzados, de 2,5 a
3,0 cm de comprimento, com mesocarpo suculento adocicado (LORENZI, 2010).
É uma palmeira ornamental, podendo ser utilizada no paisagismo e reflorestamento, suas
folhas fornecem cera e, além disso, o palmito, mesocarpo e amêndoa de seus frutos são comestíveis.
Soma-se a esses usos, a produção de óleo pelas amêndoas e utilização do endocarpo no artesanato.
O processo de frutificação ocorre no verão (LORENZI, 2010). Por compor a caatinga, onde os
grandes períodos secos se alternam com as estações chuvosas, esta palmeira suporta bem as secas
prolongadas, fornecendo recursos para a subsistência da população da região do semiárido, sendo
utilizado também na alimentação de animais domésticos (LORENZI, 1992). Enquanto verdes,
possuem o endosperma líquido, que se torna sólido no processo de amadurecimento, dando origem
à amêndoa, que é bastante utilizada para fazer o cuscuz, iguaria típica da culinária nordestina; os
brotos do licuri são consumidos pelos sertanejos, sendo a parte mais mole cozida, e a parte mais
dura triturada, moída e utilizada como farinha, nas áreas de ocorrência natural a S. coronata é
reconhecida como a ―árvore salvadora da vida‖ (DRUMOND, 2007).
A maturidade fisiológica das sementes é geralmente acompanhada por visíveis mudanças no
aspecto externo e na coloração dos frutos e das sementes, HODGSON (1976) considera que a
mudança de coloração das cápsulas é uma boa guia da maturidade das sementes. De acordo com
BARNETT (1979) existem índices físicos mais objetivos da maturidade das sementes, como
gravidade específica, teor de umidade e desenvolvimento do embrião.

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O desenvolvimento do endosperma e do embrião é considerado como o índice mais real para


a avaliação da maturidade das sementes (TURNBULL, 1975). Entretanto, para sementes que não
possuem endosperma este parâmetro torna-se impraticável (BOOEN, 1961; KRUGMAN, 1974).
Segundo Mantovani et al. (1980) a maturidade fisiológica da semente também pode ser
completada dentro do fruto, mesmo depois de sua remoção da planta, entretanto, neste caso, os
frutos recém-colhidos devem ser submetidos a um período de armazenamento ou repouso, neste
sentido, o período de armazenamento pós-colheita pode trazer vantagens, uma vez que pode ser
praticado menor número de colheitas, colhendo-se frutos em diversos estádios de maturação,
extraindo-se imediatamente as sementes dos maduros e submetendo os demais a períodos de
armazenamento variáveis.Durante o processo de maturação, as sementes passam por modificações
físicas, bioquímicas e fisiológicas até atingirem o ponto de maturidade fisiológica quando
apresentam o máximo de germinação, vigor e matéria seca. Estas modificações são influenciadas
por fatores ambientais e genéticos, havendo características marcantes e que sinalizam o ponto ideal
de colheita de uma determinada espécie florestal (PIÑA-RODRIGUES e AGUIAR, 1993;
CARVALHO e NAKAGAWA, 2012).
Segundo Oro et al. (2012) a coloração dos frutos de Eugenia pyriformis e de Eugenia
involucrata pode ser utilizada como parâmetro na avaliação da maturidade fisiológica das sementes.
De acordo com Pessoa et al. (2012) o ponto de maturidade fisiológica das sementes de pinhão-
manso ocorre em frutos com coloração amarela, sendo esta expressão útil para auxiliar o agricultor
na definição da coleta das sementes, principalmente ao se considerar a produção de sementes para
fins de propagação.
Estudos sobre a maturação dos frutos, Vidigal et al. (2009) verificaram que colheitas
precoces acarretam prejuízos à qualidade fisiológica das sementes, prejudicando a germinação, a
emergência e o desenvolvimento das mudas de Capsicum annuum. Outra questão relativa à
caracterização da germinação é se a posição da semente no fruto interfere no processo de
germinação. Esta hipótese vem sendo discutida desde a década de 60, embora sejam poucos os
estudos que abordam este tema.
Desta forma, a investigação da influência da cor do fruto no momento da coleta e/ou a
posição do fruto no cacho pode influenciar na qualidade física e fisiológica de sementes. Diante do
exposto o trabalho teve como objetivo avaliara influência da temperatura sobre a germinação das
sementes oriundas de frutos de licuri (Syagrus coronata) provenientes de diferentes colorações e
posições no cacho.

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MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi realizado no Laboratório de Análise de Sementes - (LAS) da Universidade


Federal Rural de Pernambuco - Unidade Acadêmica de Garanhuns - PE. A coleta dos frutos foi feita
de 10 plantas matrizes localizadas na zona rural pertencente ao Município de Caetés – Pernambuco.
Para o primeiro experimento os frutos foram coletados em três estádios de maturação com base na
sua coloração: frutos verdes: frutos que se apresentavam com a coloração verde e pouquíssimos
tons amarelados; frutos verdes alaranjados: frutos com pequenos tons de verdes e predominância da
cor laranja: e frutos totalmente maduros: frutos com a cor laranja bem escura e pouquíssimos tons
de verde alaranjada e desprendido naturalmente do cacho. No segundo experimento o cacho foi
colhido, medidos e dividido em três partes iguais, sendo os frutos separados em três regiões: distal,
mediano e proximal.
Após a coleta, os mesmos foram colocados em sacos plásticos e levados para o LAS, onde
foram extraídos dos cachos e selecionados, sendo imersos em água durante três dias para facilitar o
beneficiamento. Após esse período, foram despolpados manualmente, que consistiu na remoção do
epicarpo e mesocarpo, sendo considerada semente o conjunto composto pelo endocarpo + sementes
(Figura 1), e as sementes obtidas foram secas à sombra durante 24 h.

Figura 1. Frutos de licuri (Syagrus coronata ) beneficiados colhidos em diferentes estádios de maturação.

Posteriormente as sementes foram submetidas aos testes de germinação. Onde para cada
experimento foram utilizadas 100 sementes de cada tratamento, divididas em quatro sub-amostras
de 25, as quais foram semeadas em bandejas plásticas perfuradas no fundo, com dimensões de 0,40
x 0,40 x 0,11m, contendo areia lavada e previamente esterilizada em estufa a 105 ºC± 3º C por 5
horas, e posteriormente colocadas em germinadores tipo (B.O.D) nas temperaturas de (25, 30, 20-30
e 35ºC). O substrato foi umedecido com água destilada na quantidade correspondente a 70% da
capacidade de campo e mantida durante todo o teste. As avaliações foram realizadas a cada 5 dias a
partir do 41º até o 85º dias após a semeadura (DAS).

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Durante o experimento foi realizada a avaliação da primeira contagem de germinação,


computando-se a porcentagem de plântulas normais germinadas aos 63º DAS, e o índice de
velocidade de germinação, calculado de acordo com a fórmula proposta por Maguire (1962). Ao
final do experimento foi determinado a porcentagem final de germinação.
Delineamento experimental e análise estatística: O delineamento experimental utilizado foi
o inteiramente ao acaso, em quatro repetições. Os tratamentos foram distribuídos em esquema
fatorial 3x4 (colorações x temperaturas) e o segundo experimento (posições x temperaturas). Os
dados foram submetidos à análise de variância pelo teste F e as médias comparadas pelo teste de
Tukey a 5% de probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Tabela 1, encontram-se as médias da porcentagem de sementes germinadas de S.


coronata provenientes dos frutos com colorações verde, verde alaranjada e laranja em diferentes
temperaturas de germinação. Verificou-se que não houve influencia das temperaturas na
germinação das sementes provenientes de frutos maduros e verdes, por outro lado as sementes
extraídas de frutos com a coloração verde alaranjada obtiveram maiores porcentagens de
germinação nas temperaturas de 25º C e 30º C.

COLORAÇÃO DO FRUTO
TEMPERATURA (ºC)
Laranjada Verde laranjados Verde
25º 17 aB 30 aA 10 aB
30º 18 aA 24 aA 8 aB
20-30º 11 aA 16 bA 5 aA
35º 11 aB 21 bA 10 aB
Tabela 1.Porcentagem de sementes germinadas de licuri (Syagrus coronata) provenientes de
diferentes colorações dos frutos e diferentes temperaturas de germinação.Médias seguidas pela
mesma letra maiúscula na linha e minúscula na coluna não diferem estatisticamente entre si pelo
teste de Tukey, a 5% de probabilidade.

De forma geral, as sementes provenientes de frutos com coloração verde alaranjada foram as
que mais germinaram em todas as temperaturas, já aquelas extraídas de frutos com coloração verde
foram responsáveis pelos menores porcentuais de germinação (Tabela 1). Analisando a germinação
de sementes de Syagrus schizophylla provenientes de frutos verdes, amarelos ou avermelhados,
Pivetta et al. (2005) concluíram que os maiores resultados foram provenientes de frutos amarelos ou
avermelhados.
Os resultados do teste de germinação com o número de sementes germinadas nas três
colorações permitem afirmar que as sementes de S. coronata são extremamente dormentes e que
esta dormência pode estar relacionada não só com a impermeabilidade do endocarpo á água mais
também a imaturidade de embrião. A dormência das sementes pode ser definida como o fenômeno

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em que sementes viáveis não germinam mesmo em condições ambientais favoráveis, necessitando
assim de um tempo adicional para sua dispersão natural (TAIZ e ZEIGER, 2004). De acordo com
Carvalho e Nakagawa, (2012) a dormência permite distribuir a germinação das sementes no tempo,
a fim de garantir um maior número de combinações ecológicas para a espécie e isto é conseguido
dotando as sementes de diferentes intensidades de dormência o que pode ser o caso das sementes da
espécie em estudo.
Os estádios de maturação dos frutos provocaram variações na germinação das sementes de
S. coronata, desta forma, pode-se afirmar que a coloração do fruto é uma característica importante
para determinar a maturidade fisiológica das sementes. No entanto, o porcentual de sementes
germinadas foi inferior a 30% em todas as colorações, o que pode estar relacionado com as
características particular de algumas espécies de palmeiras, que apresentam porcentagem de
germinação baixa, lenta e desuniforme, sendo influenciada por vários fatores, como estádio de
maturação ideal para a colheita dos frutos e temperatura durante o processo de germinação
(PIVETTA et al., 2007).

COLORAÇÃO DO FRUTO
TEMPERATURA (ºC)
Laranjada Verde alaranjada Verde
25º 7 aB 23 aA 5 aB
30º 10 aA 16 aA 8 aA
20-30º 7 aB 14 aA 4 aB
35º 8 aB 19 aA 10 aB
Tabela 2. Primeira contagem de sementes de licuri (Syagrus coronata) provenientes de
diferentes colorações dos frutos e diferentes temperaturas de germinação. Médias seguidas
pela mesma letra maiúscula na linha e minúscula na coluna não diferem estatisticamente entre
si pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.

Com relação à temperatura constatou-se que a utilização da temperatura alternada 20-30º C


prejudicou a germinação das sementes de S. coronata em todas as colorações utilizadas, sendo
responsável pelos menores valores de germinação, indicando que estas variações de temperaturas
são prejudiciais para a germinação das sementes desta espécie (Tabela 1). De acordo com Probert
(1992) a temperatura ótima para a germinação de sementes está diretamente associada às
características ecológicas da espécie. Para Carvalho e Nakagawa (2012) a resposta germinativa das
sementes de determinadas espécies depende da condição de exposição à temperatura testada, se constante ou
alternada.
A germinação das sementes S. coronata na primeira contagem (PC) (Tabela 2), bem como, o
índice de velocidade de germinação (IVG) (Tabela 3) foi superior nas sementes extraídas de frutos
verdes alaranjado, por outro lado aquelas provenientes dos frutos de coloração verde foram
responsáveis pelos menores valores de vigor nas duas variáveis analisadas.

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Comparando as temperaturas dentro de cada coloração verificou-se que não houve


influencia das temperaturas em nenhuma das colorações utilizada, todavia as colorações dentro de
cada temperatura tiveram comportamentos diferenciados, sendo aquelas retiradas de frutos com
coloração verde alaranjada as de desempenho superior tanto para a (PC) na (Tabela 2) como para o
(IVG) (Tabela 3). Para a temperatura de 30ºC não se verificou diferença entre as colorações dos
frutos na primeira contagem, já para o índice de velocidade de germinação este comportamento foi
constatado entre as colorações laranjada e verde alaranjada nesta mesma temperatura.

TEMPERATURA COLORAÇÃO DO FRUTO


(ºC) Laranjada Verde alaranjada Verde
25º 0,06 aB 0,14 aA 0,04 aB
30º 0,07 aA 0,10 aA 0,04 aB
20-30º 0,04 aB 0,08 aA 0,02 aB
35º 0,06 aB 0,12 aA 0,05 aB
Tabela 3. Índice de velocidade de germinação de sementes de licuri (Syagrus coronata).
provenientes de frutos com coloração e temperaturas diferentes sobre agerminação.Médias
seguidas pela mesma letra maiúscula na linha e minúscula na coluna não diferem
estatisticamente entre si pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.

Em trabalhos realizados por Pimenta et al. (2010) as temperaturas alternadas de 20-30° C e


25-35° C proporcionaram maiores médias de porcentagem de germinação e IVG, porém as
diferentes faixas de temperaturas influenciaram nos estágios de maturação dos frutos de Phoenix
canariensishort. Ex Chabaud.
Para os resultados referentes ao vigor, observados na primeira contagem de germinação
(Tabela 4), ressaltou-se que as sementes extraídas dos frutos da posição proximal em combinação
com a temperatura de 25° C foi responsável pelo maior valor, não diferindo estatisticamente de
alguns tratamentos. De acordo com Coll et al. (1992) o floema é a via de união entre órgãos
produtores e consumidores, e todo o crescimento e desenvolvimento da planta, atua de maneira
benéfica influenciando a transferência de fotoassimilados para os frutos da parte proximal. As
sementes provenientes destes, por apresentarem um aporte de reserva elevado, em interação com a
temperatura de 25º C proporcionaram os maiores resultados. Com relação a temperatura Marcos
Filho (2005) informa que a faixa de temperatura ótima, para maioria das espécies, situa-se entre 20
e 30º C. Dessa forma, a temperatura encontrada como favorável para a germinação da espécie se
encontra na faixa descrita por outros autores.
De acordo com Bracalion et al. (2008) as temperaturas de 25° C e 30° C foram as mais
favoráveis para a germinação das espécies, havendo relação entre a temperatura ótima e o bioma de
ocorrência da espécie.
As sementes de S. coronata provenientes de todas as posições no cacho e submetidas à
temperatura de 35º C não houve germinação. Esses resultados são explicados pelo fato de que

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temperaturas mais altas aumentam a atividade metabólica das sementes, acelerando a velocidade do
processo germinativo de forma a prejudicar a atividade enzimática, conforme relatado por Marcos
Filho (2005). No entanto Guedes et al. (2010) relatam que a temperatura de 35º C foi indicado para
a condução de testes de germinação e vigor com sementes de Amburana cearensis (Allemão) A.C.
Smith.

POSIÇÃO NO CACHO
TEMPERATURA (ºC) Distal Mediano Proximal
25 0 aB 1 aB 25 aA
30 0 aB 1 aB 11 bA
20-30 1 aB 0 aB 8 bA
35 0 aA 0 aA 0 cA
Tabela 4. Primeira contagem de germinação (%) de sementes de licuri (Syagrus coronata)
provenientes de diferentes posições no cacho submetidas a temperaturas (UFRPE/UAG,
2013).Médias seguidas pela mesma letra maiúscula na linha e minúscula na coluna não
diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.

As sementes de S. coronata não germinaram em todas as temperaturas, o que irá dificultar


sua colonização em uma maior diversidade de habitat, prejudicando assim sua dispersão. A
amplitude térmica para germinação de sementes de uma espécie pode indicar a distância de uma
semente enterrada em relação à superfície do solo, já que ela tende a diminuir com o aumento da
profundidade.
Na Tabela 5, encontram-se a porcentagem de germinação das sementes de S. coronata.
Verificou-se de uma forma geral, que as sementes extraídas de frutos da parte proximal do cacho
em combinação com a temperatura de 25º C possuíam maiores porcentagens de germinação, não
diferindo estatisticamente daquelas que estavam na posição mediana em junção com as
temperaturas de 30 e 20-30º C. Implicações diferentes foram encontrados por Araújo et al. (2005)
em estudos com Carica papaya L. no qual a posição das sementes no fruto não influenciou no
percentual de germinação. Em geral os drenos (frutos) são competitivos e os fotoassimilados são
repartidos para todos os drenos ativos, com base nesse contexto, inferiu-se que no período de
formação das sementes os frutos da parte proximal e mediana foram beneficiados por estarem ativos
quando comparados com os da parte distal (HELDT,1997). Isso, aliado as temperaturas adequadas
proporcionaram uma melhor degradação das substâncias de reserva das sementes localizadas nos
frutos da parte proximal e mediana por estarem mais próximos da fonte.

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POSIÇÃO NO CACHO
TEMPERATURA (ºC) Distal Mediano Proximal
25 9 aC 20 aB 37 aA
30 0 bB 18 aA 20 bA
20-30 0 bB 16 aA 25 bA
35 0 bA 0 bA 5 cA
Tabela 5. Germinação (%) de sementes de licuri (Syagrus coronata) provenientes de
diferentes posições no cacho submetidas a temperaturas (UFRPE/UAG, 2013). Médias
seguidas pela mesma letra maiúscula na linha e minúscula na coluna não diferem
estatisticamente entre si pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.

Os menores resultados de germinação foram encontrados na temperatura de 35° C e quando


as sementes foram colhidas em todas as posições, bem como, em todas as temperaturas na posição
distal. No que se refere ao índice de velocidade de germinação (Tabela 6) o maior índice foi
detectado com o uso das sementes extraídas dos frutos da parte proximal com a temperatura 25º C.

POSIÇÃO NO CACHO
TEMPERATURA (ºC) Distal Mediano Proximal
25 0,069 aB 0,137 aB 0,409 aA
30 0,000 aC 0,125 aAB 0,178 bA
20-30 0,000 aC 0,087 aAB 0,205 bA
35 0,000 aA 0,000 bA 0,056 cA
Tabela 6. Índice de velocidade de germinação de sementes de licuri (Syagrus coronata)
provenientes de diferentes posições no cacho submetidas a temperaturas (UFRPE/UAG,
2013). Médias seguidas pela mesma letra maiúscula na linha e minúscula na coluna não
diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.

Coll et al. (1992) afirmaram que a capacidade de retenção de água, a composição química
das sementes extraídas de frutos de diferentes posições do cacho e a quantidade de luz que o
substrato permite chegar à semente podem ser responsáveis por diferentes comportamentos das
sementes na mesma temperatura. As respostas das sementes à temperatura e a posição no cacho
para a germinação são diferentes também entre as espécies.
De acordo com Ferreira e Borghetti (2004) a velocidade de germinação é um bom índice
para avaliar a ocupação de uma espécie em um determinado ambiente, pois a germinação rápida é
característica de espécies cuja estratégia é de se estabelecer no ambiente o mais rápido possível
aproveitando condições ambientais favoráveis.
Os menores índices de velocidade de germinação foram obtidos quando se utilizou a
combinação das sementes extraídas dos frutos da parte distal com as temperaturas de 25, 30, 20-30
e 35º C, e quando as sementes foram extraídas de todas as posições com a temperatura de 35º C.
Provavelmente estas não tenham atingido a maturidade fisiológica, e isso tenha sido responsável
pela redução no IVG.

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CONCLUSÃO

Os estádios de maturação dos frutos de Syagrus coronata (Mart.) Becc., influenciaram a


germinação das sementes, sendo a coloração verde alaranjada em combinação com a temperatura de
30º C favoreceu positivamente todas as variáveis analisadas.
As sementes colhidas da posição proximal dos frutos e submetidas a temperatura de 25° C
possuem maior germinação.
As sementes da região distal dos frutos em todas as temperaturas testadas a germinação
foram afetados negativamente.

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POTENCIAL FISIOLÓGICO DE SEMENTES DE Schinus terebinthifolius EM


FUNÇÃO DE TEMPERATURA E LUZ

Edilma Pereira GONÇALVES


Profa. Dra Associada I da UFRPE/UAG
edilma.goncalves@ufrpe.br
Larissa Guimarães PAIVA
Mestre em Produção Agrícola/UFRPE/UAG
larissa.paiva@oi.com.br
Sueli Da Silva SANTOS-MOURA
Dra.Profa IFAL/Santana do Ipanema
Amanda Araújo LIMA
Doutoranda da UFRPE

RESUMO
A Schinus terebinthifolius Raddi é uma espécie nativa do Brasil bastante apreciada pela beleza de
seu porte, sendo empregada na arborização, culinária e indústria farmacêutica. O conhecimento
sobre a germinação e vigor de sementes florestais é indispensável para se obter informações sobre
seu comportamento em diversos habitats e, consequentemente, a conservação da biodiversidade. O
trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Análise de Sementes, da Universidade Federal Rural de
Pernambuco/Unidade Acadêmica de Garanhuns (UFRPE/UAG), em Garanhuns-PE, com objetivo
de avaliar o efeito de diferentes temperaturas e regimes de luz sobre a qualidade fisiológica de
sementes de S. terebinthifolius. Foram avaliadas as temperaturas de 15, 20, 20-30, 25, 30 e 35ºC,
sob regimes de luz branca, vermelha, vermelho-distante e ausência de luz, adotando-se o
delineamento inteiramente casualizado em esquema fatorial 6 x 4 (temperaturas e regimes de luz),
em quatro repetições de 25 sementes cada. As características avaliadas foram: porcentagem de
germinação, primeira contagem, índice de velocidade de germinação, comprimento e massa seca da
parte aérea e raízes das plântulas. As sementes de S. terebinthifolius são classificadas como
fotoblásticas neutras e para expressão da sua qualidade fisiológica devem ser submetidas às
temperaturas constante de 25ºC e alternada de 20-30ºC no regime de luz branca, 20 e 30ºC em luz
vermelha e 20ºC em vermelho-distante.
Palavras-chave: Aroeira, Fotoblastismo, Germinação, Vigor.
ABSTRACT
The Schinus terebinthifolius Raddi is native in Brazil and has admired for the beauty of its size,
being employed in street tree, food and pharmaceutical industry. Knowledge on seed germination
and vigor of forests essential for obtaining information about their knowledge different habitats and
consequently, the conservation of biodiversity. The study was conducted at the Laboratory of Seed
Analysis, of Universidade Federal Rural de Pernambuco/Unidade Acadêmica de Garanhuns
(UFRPE/UAG), at Garanhuns. The objective of this study was to evaluate the effect of temperature
and light scheme on the physiological quality of seeds of S. terebinthifolius. We evaluated the
influence of temperatures of 15, 20, 20-30, 25, 30 and 35°C, under light scheme white, red, far-red
and absence of light, by adopting a completely randomized design in outline 6 x 4 factorial
design(six temperatures and four light scheme), in four replications of 25 seeds, each. The
characteristics evaluated were germination percentage, germination first counting, germination
speed index, length and dry weight of shoot and root of seedlings. The seeds are classified as

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neutral photoblastic, and for the best expression of its physiological quality should be submitted to a
constant temperatures of 25ºC and 20-30ºC alternating in the light scheme of write, 20 and 30ºC in
red light and 20ºC in far-red.
Key words: S. terebinthifolius, Photoblastism, Germination, Vigor.

INTRODUÇÃO

A aroeira (Schinus terebinthifolius Raddi), pertencente à família Anacardiaceae é uma


espécie pioneira com grande plasticidade ecológica, encontrada em abundância nos países da
América do Sul, e no Brasil ocorre desde o Rio Grande do Norte até o Rio Grande do Sul
(LORENZI, 2002).
Apesar de ser uma espécie pouco cultivada, a aroeira tem grande potencial para ser
explorada econômica e ecologicamente (SCALON et al., 2006), cujo plantio é recomendado em
regiões litorâneas. Na culinária, tem grande expressividade internacional, sendo os frutos utilizados
como condimentos, muito apreciados por possuir sabor suave, adocicado e levemente apimentado.
A madeira é moderadamente pesada, podendo ser utilizada em moirões, lenha e carvão, sendo
também utilizada na ornamentação urbana, alimentação animal e possui propriedades medicinais
com ação anti-inflamatória (PAIVA; ALOUFA, 2009).
A germinação das sementes é um processo que resulta no reinício do desenvolvimento do
embrião por meio da embebição, sendo ordenado por eventos metabólicos como a síntese e a
ativação de várias enzimas, resultando na mobilização de reservas, na digestão e enfraquecimento
da parede celular, permitindo que a raiz rompa o tegumento e ocorra a formação de uma plântula
(FERREIRA; BORGHETTI, 2004).
Para que esses eventos metabólicos sejam desencadeados é necessário que as condições
extrínsecas atuem sobre a semente, dentre elas, a temperatura e a luz são essenciais para que o
processo ocorra normalmente (CARVALHO; NAKAGAWA, 2012).
A temperatura é um fator que interfere diretamente na qualidade fisiológica das sementes,
por atuar na velocidade de absorção de água pela semente e nos processos bioquímicos afetando
assim a porcentagem, velocidade e uniformidade de germinação. As sementes comportam-se de
maneira variável em função da temperatura, não havendo uma temperatura ótima e uniforme
definida para a germinação das sementes de todas as espécies (BORGES; RENA, 1993).
A temperatura ótima é aquela em que ocorre a combinação eficiente entre porcentagem e
velocidade de germinação, ou seja, máxima germinação em menor tempo, para a maioria das
espécies essa temperatura se situa na faixa de 20 a 30ºC (MARCOS FILHO, 2005). No entanto,
para algumas espécies o melhor desempenho ocorre em temperaturas alternadas, simulando
ambiente natural onde as flutuações de temperaturas ocorrem, principalmente, pela abertura de

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clareiras, estimulando a germinação de sementes pioneiras (OLIVEIRA et al., 1989). A luz


representa um papel fundamental na fisiologia da germinação, porém não consiste em um fator
limitante para a maioria das espécies (BENVENUTI; MACCHIA, 1997), no entanto, ambientes
naturais, as espécies podem ser encontradas sob diferentes regimes de luz, variando de acordo com
a estrutura do dossel.
Cada espécie se comporta de maneira diferente em relação ao regime de luz, sementes de
Myracrodruon urundeuva são consideradas fotoblásticas negativa preferencial (SILVA et al.,
2002). Ainda é possível encontrar espécies não-fotoblásticas como Crataeva tapia L. (GALINDO et
al., 2012), as quais são indiferentes a luz, germinando tanto na presença como na ausência de luz.
O objetivo do trabalho foi avaliar a influência de temperaturas e regimes de luz sobre a
germinação e vigor de sementes de S. terebinthifolius Raddi.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no Laboratório de Análise de Sementes na Universidade


Federal Rural de Pernambuco/Unidade Acadêmica de Garanhuns (UFRPE/UAG), em Garanhuns –
PE, utilizando sementes de S. terebinthifolius provenientes de Linhares no Espírito Santo.
O teste de germinação: o teste foi realizado em substrato papel toalha, marca ―germitest‖,
organizadas em rolos, umedecidos com água destilada na quantidade equivalente a três vezes o seu
peso, de acordo com as Regras para Análises de Sementes (BRASIL, 2009). Antes da instalação do
teste, o substrato foi esterilizado em estufa a 105 ± 3°C durante 24 horas, e para foram testados os
regimes de luz: luz branca, vermelha, vermelho-distante e ausência de luz.
Para simulação das condições de luz combinaram-se filtros de papel celofane e lâmpadas
fluorescentes. Para a luz branca, os rolos foram colocados dentro de sacos plásticos transparentes,
na luz vermelha a simulação foi feita com duas folhas de papel celofane vermelho, para o regime de
luz vermelho-distante foram utilizadas duas folhas de papel celofane vermelho e uma azul
superpostas e, na ausência de luz os rolos foram colocados em sacos plásticos pretos.
Após a confecção e instalação dos tratamentos, as sementes foram colocadas para germinar
em germinador do tipo B.O.D. (Biochemical Oxygen Demand) reguladas a temperaturas constantes
de 15, 20, 25, 30, 35ºC e alternadas de 20-30ºC com fotoperíodo de 8/16 horas, utilizando quatro
repetições de 25 sementes, cada. As contagens das plântulas normais foram realizadas diariamente
do sétimo até o 14º dia após a semeadura. O critério de germinação adotado foi de plântulas
normais, ou seja, aquelas com as estruturas essenciais perfeitas, sendo a instalação e as observações
realizadas sob luz de segurança verde.
O Índice de velocidade de germinação (IVG): Avaliado conjuntamente com o teste de
germinação, computando-se as plântulas normais diariamente à mesma hora, a partir da primeira

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 298


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

contagem de germinação, sendo o índice calculado de acordo com a fórmula


G1 G2 G
IVG    ...  n proposta por Maguire (1962), sendo: G1, G2, Gn = número de plântulas
N1 N 2 Nn
normais computadas na primeira, segunda e última contagem; N1, N2, Nn = número de dias da
semeadura à primeira, segunda e última contagem.
O comprimento da raiz e parte aérea das plântulas: ao final do teste de germinação, a raiz
primária e o hipocótilo das plântulas normais de cada repetição, foram medidas com auxílio de
régua graduada e os resultados expressos em centímetros por plântula.
A massa seca das raízes e parte aérea das plântulas: foi realizado após o término do teste de
germinação, as plântulas normais de cada repetição, foram separadas em raiz e parte aérea,
acondicionadas em sacos de papel e colocadas em estufa de ventilação forçada a 80ºC por um
período de 24 horas. Transcorrido esse tempo, as amostras foram resfriadas em dessecadores com
sílica gel ativada e, pesadas em balança analítica com precisão de 0,0001g. Os resultados foram
expressos em gramas (g) por plântula (NAKAGAWA, 1999).
O delineamento experimental e análise estatística foi o inteiramente ao acaso, em quatro
repetições de 25 sementes, cada e os tratamentos foram distribuídos em esquema fatorial 6 x 4
(temperaturas e regimes de luz). Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias
comparadas pelo teste de Scott - Knott, a 5% de probabilidade por meio do programa de análises
estatísticas SISVAR (FERREIRA, 2008).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Tabela 1 estão os valores médios da porcentagem de germinação de sementes de S.


terebinthifolius submetidas a diferentes temperaturas e regimes de luz, pelos quais se observam que
a maior germinação ocorreu quando as sementes foram submetidas à temperatura constante de
20ºC, sob luz vermelha, vermelho-distante e ausência de luz, a temperatura alternada de 20-30ºC e
constante de 25ºC sob luz branca e 30ºC na luz vermelha. As sementes germinaram na presença e
na ausência de luz podendo ser classificadas como fotoblásticas neutras. Essa indiferença à luz na
germinação das sementes refere-se a um comportamento comumente descrito para árvores de sub-
bosque e plantas de sombra (ANDRADE, 1995).
A capacidade das sementes germinarem em temperaturas alternadas é uma importante
característica para a sobrevivência da espécie, pois controlam eventos de colonização no tempo e no
espaço e simulam ambientes de florestas, onde ocorrem variações de temperaturas e aberturas de
clareiras. Segundo Carvalho; Nakagawa (2012) as temperaturas alternadas expressam ambientes
naturais, onde as temperaturas diurnas são superiores às noturnas.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

A exigência das sementes em temperaturas alternadas para a germinação também foi


constatada por outros autores, em diferentes espécies, em sementes de Hyptis marrubioides Epl.,
Alves et al. (2012), afirmaram que houve aumento da germinação nas temperaturas constante de
30ºC e alternada de 20-30ºC em todos os regimes de luz e para as sementes de Crataeva tapia,
Galindo et al. (2012), constataram apenas a temperatura alternada de 20-30ºC sob os regimes de luz
branca e vermelha.

Temperaturas (ºC)
Regimes de Luz
15 20 25 30 35 20-30
Branca 31aC 63aB 74aA 62aB 24aC 73aA
Vermelha 38aC 62aA 52bB 64aA 0bD 63bA
Vermelho-Distante 36aC 63aA 39cC 50bB 1bD 63bA
Escuro 32aC 63aA 36cC 51bB 3bD 55bB
CV (%) 14,62
Tabela 1. Porcentagem de Germinação (%) de sementes de S. terebinthifolius submetidas a diferentes
temperaturas e regimes de luz. *Médias seguidas de mesma letra, minúscula na coluna e maiúscula na linha,
não diferem a 5% de probabilidade pelo teste de Scott-Knott.

As sementes de S. terebinthifolius germinaram na presença como na ausência de luz


podendo ser classificadas como fotoblásticas neutras e a indiferença à luz na germinação das
sementes. A relação entre o tamanho da semente ocupa posição central na ecologia das espécies e o
requerimento de luz e flutuações de temperaturas parece estar ligada à necessidade de evitar a
germinação em locais muito profundos no solo, onde há dificuldade para as sementes pequenas
germinarem devido a pequena quantidade de tecido de reservas (PONS, 1992).
As menores porcentagens de germinação das sementes foram obtidas nas temperaturas de 15
e 35ºC, corroborando com Borges; Rena (1993) ao afirmarem que a maioria das espécies tropicais e
subtropicais tem potencial germinativo máximo na faixa de temperatura entre 20 e 30ºC. As
temperaturas baixas podem reduzir as atividades das enzimas envolvidas no metabolismo da
germinação (LARCHER, 2004), enquanto que em temperaturas mais elevadas, o oxigênio é menos
solúvel e os tecidos embrionários receberiam quantidades insuficientes desse gás para satisfazê-los
em suas exigências metabólicas, dessa forma, o processo de germinação não conseguirá completar-
se normalmente, a não ser que essa quantidade seja suprida (POPINIGIS, 1985). Tais relatos
servem de base para explicar as menores porcentagens de germinação obtidas com as sementes de
S. terebinthifolius nas temperaturas de 15 e 35ºC em todos os regimes de luz.
No que diz respeito ao índice de velocidade de germinação (Tabela 2), observa-se os
maiores resultados nas temperaturas de 20 e 25ºC em todos os regimes de luz, seguidos da
temperatura de 30ºC nos regimes de luz vermelha, vermelho-distante e escuro, assim como na
temperatura alternada de 20-30ºC sob luz vermelha.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Temperaturas (ºC)
Regimes de Luz
15 20 25 30 35 20-30
Branca 0,571aC 1,812aA 1,988aA 1,587aB 0,544aC 1,477aB
Vermelha 0,702aB 1,887aA 2,071aA 1,816aA 0bC 1,708aA
Vermelho-Distante 0,658aC 1,839aA 2,123aA 1,699aA 0,035bD 1,361bB
Escuro 0,565aC 1,551aA 1,844aA 1,715aA 0,094bD 1,111bB
CV (%) 19,49
Tabela 2. Índice de velocidade de germinação (IVG) de sementes de S. terebinthifolius submetidas a
diferentes temperaturas e regimes de luz. *Médias seguidas de mesma letra, minúscula na coluna e maiúscula
na linha, não diferem a 5% de probabilidade pelo teste de Scott-Knott.

Na faixa de temperatura de 20 à 30ºC, a luz vermelha promoveu os maiores índices de


velocidade e germinação para as sementes de S. terebinthifolius, o que pode estar atribuído ao fato
de que a luz vermelha é absorvida com maior eficiência pelo fitocromo, conforme afirmam Castro
et al. (2005).
Na Tabela 3, constatou-se mais uma vez que as temperaturas de 15 e 35ºC proporcionaram
os menores índices de velocidade de germinação das sementes de S. terebinthifolius, independente
dos regimes de luz testados, provavelmente essas temperaturas estão abaixo e acima da ótima
exigida pelas sementes da espécie, podendo levar a redução no total de germinação e até a morte
das mesmas.
A influência da temperatura no processo germinativo foi estudada por alguns autores, tais
como, em sementes de Myracrodruon urundeuva, que teve sua germinação reduzida a 15ºC
(SILVA et al., 2002) entretanto, para as sementes de Tibouchina grandifolia esse comportamento
foi verificado quando submetidas a 35°C, e para e as sementes de Tibouchina benthamina e T.
moricandiana houve inibição total do processo nessas condições (ANDRADE, 1995). A velocidade
de germinação é um bom índice para avaliar a ocupação de uma espécie em um determinado
ambiente, pois a germinação rápida é característica de espécies cuja estratégia é se estabelecer no
ambiente o mais rápido possível porque aproveita as condições favoráveis.
O maior comprimento da parte aérea (Tabela 3) das plântulas ocorreram nas temperaturas
constantes de 25ºC na ausência de luz e 30ºC sob luz vermelho-distante. Segundo Castro et al.
(2005) a luz vermelha e a ausência de luz estimulam o alongamento celular, assim a parte aérea fica
estiolada, porém não foi possível constatar esse efeito, pois houve um aumento no conteúdo de
massa secas das plântulas provenientes dessa combinação (Tabela 5).

Temperaturas (ºC)
Regimes de Luz
15 20 25 30 35 20-30
Branca 0,89aC 2,35cB 3,43cA 2,91bA 0aD 3,14bA
Vermelha 0,82aC 2,93bB 3,73cA 3,31bA 0aC 2,96bB
Vermelho-Distante 0,99aD 3,13bC 4,52bA 4,14aA 0aE 3,67aB
Escuro 1,16aD 3,65aC 5,19aA 4,37aB 0aE 3,79aC
CV (%) 13,11
Tabela 3. Comprimento da parte aérea (cm) de plântulas de S. terebinthifolius submetidas a diferentes
temperaturas e regimes de luz. *Médias seguidas de mesma letra, minúscula na coluna e maiúscula na linha,
não diferem a 5% de probabilidade pelo teste de Scott-Knott.

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Na temperatura de 15 e 35ºC constantes, verificou-se os menores resultados do comprimento


da parte aérea, entretanto, na temperatura de 35ºC as plântulas morreram devido ao ataque de
fungos e o ressecamento dos substratos, mesmo estando protegidos por sacos plásticos
transparentes. Resultados semelhantes foram obtidos por Guedes; Alves (2011), cuja incidência
elevada de fungos em temperatura de 35ºC favoreceu o apodrecimento das plântulas de Chorisia
glaziovii (O. Kuntze).
Para crescimento inicial das plântulas de S. terebinthifolius, avaliado pelo comprimento da
raiz primária (Tabela 4), verificou-se os maiores comprimentos, quando as sementes foram
submetidas a temperatura constante de 20ºC no regime de luz branca e na temperatura alternada 20-
30ºC na ausência de luz e na presença de luz branca. Resultados semelhantes aos encontrados por
Silva (2011) quando constataram que a temperatura alternada de 20-30ºC na ausência de luz e a
temperatura de 30ºC sob luz branca, proporcionaram maior comprimento das raízes das plântulas de
Sideroxylon obtusifolium (Roem. & Schult) T. D. Penn.

Temperaturas (ºC)
Regimes de Luz
15 20 25 30 35 20-30
Branca 1,08aC 3,20aA 2,74aB 1,32aC 0aD 2,31aB
Vermelha 0,75aB 1,60bA 1,88bA 0,75bB 0aC 1,31bA
Vermelho-Distante 0,82aB 1,24bA 1,76bA 0,79bB 0aC 1,41bA
Escuro 0,89aC 1,26bB 1,56bB 0,76bC 0aD 1,92aA
CV (%) 25,70
Tabela 4. Comprimento da raiz (cm) de plântulas de S. terebinthifolius submetidas a diferentes temperaturas
e regimes de luz. *Médias seguidas de mesma letra, minúscula na coluna e maiúscula na linha, não diferem a
5% de probabilidade pelo teste de Scott-Knott.

As temperaturas constantes de 15 e 35ºC independente do regime de luz reduziram ou


causaram a morte da parte aérea (Tabela 3) e a raiz das plântulas de S. terebinthifolius (Tabela 4),
comprovando que essas temperaturas são críticas para avaliação dovigor das sementes desta
espécie. Da mesma forma, Galindo et al. (2012) constataram que na temperatura de 35°C,
independente do regime de luz avaliado, o desenvolvimento das plântulas de Crataeva tapia não foi
adequado. De uma forma geral, o aumento da temperatura promove mudanças no desempenho de
certas enzimas que atuam nos processos bioquímicos da germinação, além de propiciar a
contaminação por microrganismos.
O maior conteúdo de massa seca da parte aérea das plântulas de S. terebinthifolius, foram
encontrados nas temperaturas de 20, 25 e 30ºC nos regimes de luz vermelha, vermelho-distante e na
ausência de luz, bem como, na temperatura alternada de 20-30ºC em todos os regimes de luz
(Tabela 5),. Todavia, vale ressaltar que essas combinações também favoreceram o processo
germinativo da espécie (Tabela 1), e pode ser explicado por NAKAGAWA (1999) quando afirma
que em condições favoráveis à germinação as sementes originam plântulas com maior taxa de

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 302


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crescimento, em função da maior capacidade de transformação e suprimento de reservas dos tecidos


de armazenamento e maior incorporação destes pelo eixo embrionário.
As temperaturas e os regimes de luz encontrados nesse trabalho para aumento da massa seca
de plântulas de S. terebinthifolius, também já favoreceram as sementes de outras espécies. Em
plântulas de Sideroxylon obtusifolium o maior conteúdo de massa seca da parte aérea foi constatado
na temperatura de 30ºC sob luz vermelha e vermelho-distante e nas temperaturas de 25ºC e 20-30ºC
em todos os regimes de luz (SILVA, 2011).

Temperaturas (ºC)
Regimes de Luz
15 20 25 30 35 20-30
Branca 1,026aC 2,166aB 2,245aB 1,895aB 0aD 2,784aA
Vermelha 1,251aB 2,246aA 2,007aA 1,928aA 0aC 2,249aA
Vermelho-Distante 0,986aB 2,198aA 1,837aA 1,928aA 0aC 2,303aA
Escuro 1,271aB 2,145aA 2,168aA 1,921aA 0aC 2,329aA
CV (%) 20,84
Tabela 5. Massa seca da parte aérea (mg) de plântulas de S. terebinthifolius submetidas a diferentes
temperaturas e regimes de luz. *Médias seguidas de mesma letra, minúscula na coluna e maiúscula na linha,
não diferem a 5% de probabilidade pelo teste de Scott-Knott.

As temperaturas de 20-30ºC combinadas com a luz branca e 25ºC em luz vermelho-distante,


proporcionaram os maiores resultados de massa seca das raízes de S. terebinthifolius, ocorrendo
reduções destes conteúdos quando submetidas às temperaturas de 15 e 35°C em todos os regimes de
luz (Tabela 6). O maior conteúdo de massa seca das plântulas de Crataeva tapia foi observado
naquelas oriundas das sementes submetidas à temperatura de 20-30°C no regime de luz vermelha,
bem como, na temperatura de 30°C sob regime de luz vermelho-distante e escuro contínuo
(GALINDO et al., 2012).
Em temperaturas mais elevadas, a exemplo de 35°C, o oxigênio é menos solúvel, dessa
forma, os tecidos embrionários recebem quantidades insuficientes desse gás para satisfazê-los em
suas exigências metabólicas, com isso o processo de germinação não consegue completar-se
normalmente a não ser que essa quantidade seja suprida (POPINIGIS, 1985).

Temperaturas (ºC)
Regimes de Luz
15 20 25 30 35 20-30
Branca 0,152aC 0,464aB 0,399aB 0,324aB 0aD 0,854aA
Vermelha 0,206aB 0,352bB 0,308aB 0,260aB 0aC 0,702bA
Vermelho-Distante 0,119aB 0,323bA 0,344aA 0,191aB 0aC 0,476cA
Escuro 0,346bB 0,227bC 0,315aB 0,197aC 0aD 0,490cA
CV (%) 35,84
Tabela 6. Massa seca das raízes (mg) em plântulas de S. terebinthifolius submetidas a diferentes temperaturas
e regimes de luz. *Médias seguidas de mesma letra, minúscula na coluna e maiúscula na linha, não diferem a
5% de probabilidade pelo teste de Scott-Knott.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

As sementes vigorosas proporcionam maior transferência de massa seca de seus tecidos de


reserva para o eixo embrionário, na fase de germinação, originando plântulas com maior peso, em
função do maior acúmulo de matéria (NAKAGAWA, 1999).
Pelos dados foi possível constatar que na temperatura de 15ºC houve redução na
germinação, primeira contagem, índice de velocidade de germinação, comprimento e massa seca da
parte aérea e raízes das plântulas, conforme observado nas Tabelas 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7,
respectivamente. Para a temperatura de 35ºC houve germinação em alguns regimes de luz (Tabela
1), entretanto, devido a alta incidência de fungos e o ressecamento dos substratos o
desenvolvimento das plântulas e os demais testes foram prejudicados (Tabelas 4, 5, 6 e 7). Dessa
forma pode-se afirmar que a temperatura de 15ºC está abaixo da ótima e a de 35ºC acima do
exigido pelas sementes da espécie.
Resultados semelhantes foram relatados por Silva (2011) que obtiveram menor massa de
plântulas de Sideroxylon obtusifolium na temperatura de 35ºC.
De acordo com o observado neste trabalho as sementes de S. terebinthifolius são capazes de
germinar em uma faixa de temperatura de 20 a 30ºC, em vários regimes de luz, destacando-se pela
capacidade de se adaptar em ambientes tropicais nos quais a temperatura é bastante variável ao
longo do ano.

CONCLUSÕES

As sementes de S. terebinthifolius são fotoblásticas neutras.


A temperatura constante de 25ºC e alternada de 20-30ºC com luz branca, 20 e 30ºC em luz
vermelha e 20ºC em vermelho-distante são recomendadas para o teste de germinação e vigor das
sementes da espécie em estudo.
As temperaturas de 15 e 35ºC, em todos os regimes de luz, não são indicadas para a
germinação e vigor das sementes dessa espécie.

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ENERGIA RENOVÁVEL COM ÊNFASE NO BIODIESEL:


EDUCAÇÃO AMBIENTAL ATRAVÉS DE VÍDEOS E SIMULADOR

Egle Katarinne Souza da SILVA17


Mestranda em Sistemas Agroindustriais CCTA/UFCG
eglehma@gmail.com
Edilson Leite da SILVA18
Prof. UACEN/CFP/UFCG
souedilsonleite@gmail.com
Luislândia Vieira de FIGUEIREDO
Licenciada em Química pela UFCG/CFP
luislandia.figueredo@gmail.com
João Paulo Ferreira LIMA
Graduando no curso de Licenciatura em Química pela UFCG/CFP
joaopfl67@gmail.com

RESUMO
Diante da atual realidade que vincula os problemas ambientais ao mau uso dos recursos naturais, a
introdução por meio da Educação Ambiental em sala de aula de temas como biodiesel, através de
recursos digitais, é fundamental para que o aluno compreenda as questões relacionadas a esta fonte
de energia, bem como consiga diferenciar quais as fontes de energia renováveis e não renováveis e
quais os impactos ambientais que a utilização destas pode ocasionar. A presente pesquisa teve como
objetivo principal inovar a metodologia de abordagem da temática sobre Energia Renovável
enfatizando o Biodiesel através uma sequência didática aplicada com 14 alunos matriculados no 3º
ano do Ensino médio da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Professor Crispim
Coelho, localizada na cidade de Cajazeiras-PB. Como recurso metodológico utilizou-se dois vídeos
e um simulador. Para coleta de dados aplicou-se um questionário prévio e após a execução da
sequencia didática, os alunos responderam a outro questionário para verificar se de fato houve
aprendizagem significativa diante da metodologia utilizada. Classifica-se como uma pesquisa
aplicada, bibliográfica, pesquisa-ação e quantitativa. No questionário inicial apesar de 92,9% dos
alunos afirmarem já ter ouvido falar sobre o Biodiesel, estes responderam algumas perguntas de
maneira incompleta e/ou superficial, demonstrando assim a importância de fornecer aos mesmos
um melhor entendimento para que suas dúvidas fossem sanadas. Ao analisar os dados aferidos no
questionário posterior à sequência didática, os alunos demonstraram de maneira clara que
conseguiram assimilar o conteúdo trabalhado nesta pesquisa, isto fica claro quando 85,8% dos
alunos afirmam que a transesterificação é um dos processos mais utilizado na produção do
Biodiesel.
Palavras-chave: Educação Ambiental; Energia Renovável; Biodiesel; Vídeo; Simulador.
ABSTRACT
Given the current reality that links environmental problems to the misuse of natural resources, the
introduction of topics such as biodiesel in the classroom through Environmental Education using
digital resources is fundamental for the student to understand the issues related to this energy

17
Licenciada em Química pela UFCG/CFP.
18
Mestre Informática CIn/UFPE, Mestrando em Sistemas Agroindustriais CCTA/UFCG.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 307


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

source, as well as being able to differentiate between renewable and non-renewable energy sources
and the environmental impacts of their use. The present research aimed to innovate the
methodology of approaching the Renewable Energy theme emphasizing the Biodiesel through a
didactic sequence applied with 14 students enrolled in the third year of high school of the State
School of Primary and Secondary Education Professor Crispim Coelho, located in Cajazeiras – PB.
As a methodological resource, two videos and a simulator were used. For data collection a prior
questionnaire was applied, and the students answered another one, after the execution of the
didactic sequence, to verify if there was, in fact, a meaningful learning in front of the methodology
used. It is classified as an applied, bibliographical, action-research and quantitative research. In the
initial questionnaire, although 92.9% of the students stated that they had already heard about
Biodiesel, they answered some questions in an incomplete and / or superficial way, thus
demonstrating the importance of providing them with a better understanding so that their doubts
could be solved. When analyzing the data obtained in the questionnaire after the sequence, the
students clearly demonstrated that they were able to assimilate the content worked in this research.
This is clear when 85.8% of the students state that transesterification is one of the most used
processes to biodiesel production.
Keywords: Environmental education; Renewable energy; Biodiesel; Video; Simulator.

INTRODUÇÃO

Com o advento da revolução industrial os países industrializados passaram a explorar os


recursos naturais do planeta com mais intensidade. A maioria das atividades que o homem realiza
durante o dia dificilmente não precisa de uma fonte de energia primaria para realizá-la. Por
exemplo, pegar o carro e ir à padaria comprar pão ou ao trabalho, acessar as redes sociais por meio
do computador, são alguns exemplos das inúmeras atividades desenvolvidas pelo homem
diariamente. Fica o questionamento: o que essas tarefas têm em comum? Ambas necessitam de uma
fonte de energia primária no qual é convertida em energia segundaria para funcionar, ou seja, o
carro precisa do combustível para se movimentar (a grande maioria tem como principal combustível
a gasolina), já o computador precisa da energia elétrica. Neto et al. (2009, p. 13) apresenta os
recursos naturais da presente maneira:

Os recursos naturais são classificados, segundo a noção de renovação, em dois tipos:


renováveis e não renováveis. Esse conceito de renovação leva em consideração somente a
questão temporal. Portanto, segundo essa classificação, os recursos naturais são renováveis
se poderem ser obtidos sem limitações, sem, contudo, se correr o risco de se esgotarem em
determinado momento. Já os recursos naturais não renováveis são aqueles limitados e que
são objeto de extinção.

De modo geral a comunidade global passou a viver de forma prática sempre em busca do
conforto, isso implica dizer que hoje é quase que impossível viver sem as fontes de energias
naturais. O petróleo, o carvão mineral e o gás natural são exemplos de combustíveis fósseis; eles
são um tipo de recurso natural encontrado em nosso planeta com grande potencial energético.
Barrutini (2008) destaca que o petróleo responsável pela metade de toda energia consumida pela
população mundial.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Apesar do grande potencial energético encontrado nos combustíveis fósseis, nas últimas
décadas algumas questões têm sido elencadas quanto ao seu consumo exorbitante. Os combustíveis
fósseis não são renováveis, ou seja, na mesma proporção que é consumido, o petróleo retirado das
jazidas não é reposto, esse processo ao longo do tempo pode acarretar sua extinção. Outro ponto
preocupante relacionado aos combustíveis fósseis é quanto a sua queima. Por exemplo, a gasolina,
produto derivado do petróleo, ao ser utilizada como fonte de energia em automóveis, libera dióxido
de carbono na sua queima, poluindo o ar e contribuindo para o efeito estufa. Para Baird (2002, p.
95):

O termo ―efeito estufa‖, de uso comum, significa que a temperatura média global do ar
aumentará de vários graus como resultado do aumento da quantidade de gás carbônico e de
outros gases na atmosfera. [...] Podem existir tanto efeitos positivos como negativos
associado com qualquer aumento significativo na temperatura global média. Na realidade,
o rápido fenômeno de aquecimento global – com sua demanda de adaptações em grande
escala – é geralmente considerado um dos nossos maiores problemas ambientais em nível
mundial.

Nas últimas décadas as questões ambientais têm emergido na sociedade com mais
intensidade, com isso as organizações voltadas para o meio ambiente tem se esforçado para
diminuir os impactos ambientais causados pelo homem. Segundo Burattini (2008), em âmbito
internacional, o protocolo de Kyoto é um documento que foi apresentado pela Organização das
Nações Unidas no encontro da convenção do clima em 1997, em Kyoto, no Japão, e tem como
principal proposta aos países industrializados diminuir em pelo menos 5% a emissão de gases de
efeito estufa. Porém, como aborda Neto et al. (2009) desde 1970 alguns dos países industrializados
preocupados com a conservação e preservação do meio ambiente formularam legislações nacionais
voltadas para as questões ambientais dentro de seu próprio país.
Por conta dos impasses encontrados nas fontes de energia não renováveis uma alternativa
viável que venha suprir as necessidades energéticas da população mundial é a utilização das fontes
de recursos naturais de energia, denominadas renováveis. As principais vantagens de se explorar
esses recursos é que além de serem inesgotáveis, os impactos causados ao meio ambiente por meio
da exploração desses recursos é quase que insignificante. Em termos práticos, as fontes naturais
renováveis pode produzir eletricidade, ser utilizada no setor de transporte como combustível e
outros.
Em alguns casos as fontes naturais de energia renovável não são exploradas como deveriam.
Um motivo para isso é o alto custo financeiro necessário para sua exploração comparado com as
fontes de energia não renováveis. No entanto, o que deve ser frisado não é só a extração e produção
de seus derivados, deve ser colocado em destaque os impactos ambientais que os mesmos causam
ao meio ambiente, sendo este ponto analisado, o valor financeiro para a exploração das fontes
renováveis de energia não representam um calor exorbitante ou inacessível. (BERMANN, 2003).

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Inúmeras são as opções que se tem para explorar as fontes de energia renováveis, como por
exemplo: a energia hidráulica (hidrelétricas), parques de energia eólica que funciona por meio do
vento, placas fotovoltaicas que gera energia por meio da luz solar, a biomassa e outros. Burattini
(2008) explica que a biomassa por sua vez é formada por toda matéria orgânica seja ela vegetal ou
animal, com bom potencial energético para produção de energia, podendo ser utilizada como
combustível na produção de energia elétrica nas usinas termelétricas, hoje a biomassa é responsável
por aproximadamente 14% da energia primária consumida mundialmente.
O biodiesel por sua vez é uma fonte de energia renovável proveniente da biomassa, é
utilizado como combustível em motores ciclo-diesel ou estacionários e tem como matéria prima os
óleos vegetais (mamona, palma, girassol, babau, amendoim e outros) ou gorduras de origem animal.
O método de produção de biodiesel é bem diversificado, a transformação do óleo bruto pode ser por
craqueamento, esterificação e transesterificação. Burattini (2008) define a transesterificação como
uma reação química entre um óleo bruto e um álcool na presença de um catalizador; além de
produzir o biodiesel também se extraí a glicerina que é muito utilizado na produção de cosmético.
Como consumidor direto das fontes de energia renováveis e não renováveis, a sociedade
precisa ter conhecimento de suas origens, disposição, benefícios e malefícios, e o porquê da
importância de se substituir as fontes não renováveis pelas renováveis. Neste contexto, os ambientes
educacionais tornam-se um lugar propício para se trabalhar questões dessa natureza. De caráter
transversal, a educação ambiental deve ser incorporada no currículo escolar e ser trabalhada pelos
professores independe da área e do nível de ensino. Para Brasil (1999):

Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a
coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e
competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo,
essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.

O professore por sua vez, deve se articular quanto a metodologia a ser utilizada, pois, além
dos alunos estarem saturados de caderno, lápis e livro, certas temáticas requer muito mais do que
isso. De cunho metodológico, os objetos virtuais de aprendizagem (vídeos, simuladores,
hipertextos, etc.) disponibilizados em diversos bancos de dados e endereços eletrônicos que
contemplem questões ambientais, podem ser utilizados em sala de aula como auxiliadores e
facilitadores para o processo de ensino/aprendizagem. Spinelli (2007, p. 7) define os OVAs como:

um recurso digital reutilizável que auxilia na aprendizagem de algum conceito e, ao mesmo


tempo, estimula o desenvolvimento de capacidades pessoais, como por exemplo,
imaginação e criatividade. Dessa forma, um objeto virtual de aprendizagem pode tanto
contemplar um único conceito quanto englobar todo o corpo de uma teoria. Pode ainda
compor um percurso didático, envolvendo um conjunto de atividades, focalizando apenas
determinado aspecto do conteúdo envolvido, ou formando, com exclusividade, a
metodologia adotada para determinado trabalho.

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Além dos recursos digitais os professores podem de acordo com as diretrizes curriculares
nacionais utilizar da interdisciplinaridade, por meio de temas que estejam presentes na realidade de
seus alunos, pode-se criar um elo entre a Educação Ambiental e o Ensino de Química, um exemplo
é tratado nesta pesquisa sendo o Biodiesel o tema central.
Desenvolveu-se a presente pesquisa com o objetivo de inovar, através de vídeo e simulador,
a abordagem da temática Energia Renovável com ênfase no Biodiesel. Participaram desta, 14
alunos matriculados no 3º ano do Ensino médio da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio
Professor Crispim Coelho, localizada na cidade de Cajazeiras-PB.

METODOLOGIA

A presente pesquisa teve como objetivo principal inovar a metodologia na abordagem sobre
Energia Renovável enfatizando o Biodiesel através uma sequência didática aplicada com 14 alunos
matriculados no 3º ano do Ensino médio da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio
Professor Crispim Coelho, localizada na cidade de Cajazeiras-PB. Inicialmente aplicou-se um
questionário a fim de averiguar o conhecimento prévio dos discentes referente à temática. Tendo
como embasamento a análise do questionário prévio, com o objetivo de proporcionar uma
aprendizagem significativa optou-se em utilizar uma metodologia com o auxilio de recursos digitais
(dois vídeos e um simulador).
O primeiro vídeo: BRASIL- Energia Renovável disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=76eAZH0krzw, trás algumas informações sobre as principais
fontes renováveis que compõem a matriz enérgica brasileira, assim como, a importância em se
buscar novas fontes de energia renováveis no mundo. O segundo vídeo intitulado: Como fazer
Biodiesel-1, disponibilizado no link https://www.youtube.com/watch?v=pX1QopDBN30 trata-se da
questão de como é feito o processo de produção de uma fonte enérgica renovável como o Biodiesel
bem como, os processos químicos ao qual são submetidos.
Posteriormente aplicou-se um objeto de virtual de aprendizagem intitulado: A viagem de
Kemi - Combustíveis - A química que move o mundo - Biodiesel já! da categoria
Animação/simulação disponibilizado tanto no Banco Internacional de objetos Educacional,
http://objetoseducacionais2.mec.gov.br/handle/mec/20303, como no Repositório Multidisciplinar de
Objetos educacionais de Aprendizagem como mostra o link:
http://www.projetos.unijui.edu.br/formacao/paginas/quimica.html. O OA tem como objetivo
mostrar a importância dos combustíveis gerados de fontes naturais renováveis.
Por ultimo, aplicou-se um questionário contendo 08 questões como forma de avaliar o
conhecimento adquirido por parte dos discentes após a sequência didática executada sobre a
temática abordada ao longo da pesquisa.

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Quanto aos procedimentos técnicos, esta pesquisa classifica-se como bibliográfica e


pesquisa-ação. Para o aporte teórico pesquisou-se em bancos de dados bibliográficos como
periódicos, artigos científicos, livros, entre outros. De acordo com Fonseca (2002) a pesquisa
bibliográfica refere-se a um levantamento detalhado de referencias de punho?? teórico, já analisado
e publicado seja por meio inscrito ou eletrônico como livros, artigos científicos.
Já pesquisa-ação ocorre quando o pesquisador identifica alguma situação problema e
propõem ações que possa resolvê-las de modo que o pesquisador e participantes estejam envolvidos
simultaneamente na ação proposta. Vergara (2000, p. 12) ressalta que: ―[...] a pesquisa-ação pode
ser definida como um tipo de pesquisa social concebida e realizada para a resolução de um
problema, onde o pesquisador é envolvido no problema trabalha de modo cooperativo ou
participativo‖.
Quanto à natureza classifica-se como uma pesquisa aplicada, de modo a proporcionar novos
conhecimentos com o proposito de solucionar problemas específicos. Segundo Prodanov (2013,
p.51) a pesquisa aplicada ―objetiva gerar conhecimentos para aplicação práticos dirigidos à solução
de problemas específicos‖.
Quanto à abordagem classifica-se como quantitativa, pois os dados foram analisados de
maneira numérica com base na coleta de informações representativa relacionada com a explicação
dos fatos através da quantificação de dados estatísticos, podendo ser dispostos em forma de
gráficos, quadros e tabelas (LIRA, 2014).

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Com o objetivo de identificar o conhecimento prévio dos alunos frente à temática Energia
Renovável enfatizando o Biodiesel aplicou-se um questionário prévio. Na figura I, a maioria,
92,87% dos alunos afirmaram que já haviam ouvido falar sobre energia renovável antes da pesquisa
e apenas 7,13% correspondendo a um aluno disse que não. Na figura II, quando questionado sobre
por quais meios de informação, 35,7% afirmaram na escola; 21,4% tanto para internet quanto para
televisão; 14,3% responderam palestra e 7,1% não respondeu.
Por tratar-se de uma temática importante para os diversos âmbitos sociais, como economia,
preservação dos recursos naturais; diminuição da poluição ambiental; é comum que os estudantes
de fato já tenham ouvido falar sobre. Prado et al. (2006) ressaltam que o tema biodiesel é bastante
discutido na mídia, implicando em questões políticas, como também abrange a necessidade
energética e a preservação ambiental.

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Figura I: Já ouviu Energia Renovável. Figura II: Meios de Comunicação.


Fontes: Próprios Autores (2017).

No quadro I, observa-se a resposta de alguns dos alunos sobre a definição de Energia


Renovável. Dos quatorzes alunos apenas o aluno 02 não respondeu, sendo ele o aluno que afirmou
não ter conhecimento sobre esta temática. Os demais conseguiram definir energia renovável como
sendo algo que continua se renovando, sendo que o aluno 01 ainda citou a energia solar como
exemplo.

Questão 2- O que é energia renovável?


Fala representativa, Aluno 01. Fala representativa, Aluno 04. Fala representativa, Aluno 05.
―É toda energia que ―São energias que se renovam ―Energia renovável é a energia
independentemente do através da natureza‖. que pode se renovar depois de
consumo, ela não acaba, algum tempo‖.
assim sendo continua se
renovando. Um exemplo é a
energia solar‖.
Fala representativa, Aluno 07. Fala representativa, Aluno 08. Fala representativa, Aluno 12.
―É a energia que é reutilizada ―São as fontes que quando se ―É a energia que é utilizada por
para outro procedimento, ou acabam elas podem se fontes totalmente naturais‖.
seja, a energia que se renovar‖.
renova‖.
Quadro I: Definição de Energia Renovável. Fonte: Próprios Autores (2017).

No quadro II, os alunos definiram energia não renovável, percebe-se que mesmo de maneira
incompleta ou superficial os alunos conseguiram definir energia não renovável, o aluno 3 ainda
citou o petróleo e o 14 afirmou ser ―a que não utiliza fontes naturais‖. Novamente apenas o aluno 2
não respondeu a esta pergunta.

Questão 2: O que é energia não renovável?


Fala representativa, Aluno 03. Fala representativa, Aluno 04. Fala representativa, Aluno 09.
―É aquela que não se renova ―É uma energia que não se ―É a energia feita pelo
como o petróleo‖. pode reaproveitar‖. homem‖.
Fala representativa, Aluno 11. Fala representativa, Aluno 12. Fala representativa, Aluno 14.
―É a energia que não se ―É uma energia que se acaba e ―É a que não utiliza fontes
renova de jeito nenhum‖. que não tem como ser usada naturais‖.
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novamente‖.
Quadro II: Definição de Energia Não Renovável. Fonte: Próprios Autores (2017).

Na questão 3, formulou-se a seguinte situação: João tem dois carros, o primeiro tem como
principal fonte de combustível o biodiesel, o segundo tem como fonte de energia a gasolina produto
proveniente do petróleo. Em qual dos carros João utiliza-se da energia renovável para sua
locomoção? A maioria, 64,3% correspondendo a 9 alunos afirmou que João utiliza de energia
renovável no Carro I e 35,7% dos alunos responderam errado ao afirmar ser o Carro II.
Na figura III, os alunos responderam dentre as alternativas citadas quais seriam fontes de
energia renovável. Percebe-se que 11 alunos responderam energia solar; 8 biodiesel e 6 energia
eólica, totalizando 25 respostas certas. No entanto teve alguns alunos que responderam errado ao
escolher gás natural, petróleo e gasolina, pois ambos são combustíveis fosseis, portanto, não
renováveis.
Na figura IV, os alunos responderam dentre as alternativas citadas quais seriam fontes de
não renovável. Dentre as alternativas a geotérmica e o biodiesel são energias de fontes renováveis,
percebe-se que a 9 alunos escolheram a energia geotérmica e 01 aluno biodiesel, estando estes
alunos equivocados. A opção petróleo foi escolhida 8 vezes, seguida de gasolina com 7, carvão 4 e
gás natural 4, totalizando assim 23 respostas certas.

Figura III: Energia Renovável. Figura IV: Energia Não Renovável.


Fontes: Próprios Autores (2017).

Referente aos combustíveis fósseis como petróleo, gás natural e carvão mineral Bermann
(2001, p. 23) destaca que estes ―podem deixar de usados antes do esgotamento de suas reservas pelo
fato de serem um dos maiores responsáveis pelo efeito estufa, que é considerado atualmente o
problema ambiental global de maior relevância‖.
Após responderem ao questionário prévio, assistirem aos dois vídeos e utilizarem o
simulador os alunos envolvidos na pesquisa responderam ao questionário prévio formulado com
oito perguntas. No quadro III observa-se a fala representativa de seis alunos ao diferenciar energia
renovável da não renovável. Em síntese todos os alunos conseguiram fazer esta diferenciação,

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ligando as respostas ao fato das fontes de energias renováveis serem inesgotáveis e estarem presente
na natureza, enquanto as fontes da energia não renovável serem esgotáveis.

Questão 1- Qual a diferença entre fontes de energia renovável e não renovável?


Fala representativa, Aluno 01. Fala representativa, Aluno 02. Fala representativa, Aluno 09.
―Energia renovável são ―Essas energias tem de ―A renovável se renova através
energias que se encontra na diferente: a renovável é a que da natureza com um tempo
natureza e que se renova. pode ser consumida e mesmo menor já a não renovável
Energia não renovável: que assim não acaba, já a não demora séculos para serem
não se renova e não se renovável é energia que pode produzidas e quando se
encontra na natureza‖. vir a acabar‖. esgotam não aparecem naquele
local, como o petróleo‖.
Fala representativa, Aluno 08. Fala representativa, Aluno 12. Fala representativa, Aluno 14.
―Energia renovável é que vem ―É porque uma se renova e a ―Energia renovável é aquela
da natureza, não renovável é outra não‖. que pode ser reutilizada, e não
que não se renova, pois não renovável não pode‖.
tem fonte renovável‖.
Quadro III: Diferenciação entre fontes de Energia Renovável e Não Renovável. Fonte: Próprios Autores (2017).

O quadro IV sintetiza algumas respostas sobre a importância de se explorar as fontes de


energia renovável. Percebe-se que os alunos foram coerentes ao afirmarem que a exploração das
fontes de energia renovável diminui a poluição quando comparadas aos impactos ambientais
causados pela exploração das fontes de energia não renovável. De fato estudos comprovam que a
utilização do Biodiesel reduz a emissão dos gases poluentes em comparação à gasolina. Santos
(2012, p. 215) reforça que o biodiesel: ―Por ser biodegradável, não tóxico e praticamente livre de
enxofre e aromáticos, é considerado um combustível ecológico‖.

Questão 2- Qual e a importância de se explorar as fontes de energia renováveis?


Fala representativa, Aluno 05. Fala representativa, Aluno 06. Fala representativa, Aluno 07.
―É importante porque são ―Para evitar a poluição através ―Para diminuir em até 50% a
menos poluentes‖. de gases poluentes‖. poluição atmosférica‖.
Fala representativa, Aluno 10. Fala representativa, Aluno 11. Fala representativa, Aluno 13.
―Porque elas não poluem‖. ―A diminuição da poluição‖. ―São menos poluentes, não
contribuem para o efeito
estufa‖.
Quadro IV: Importância da exploração das fontes de Energia Renovável. Fonte: Próprios Autores (2017).

Na figura V, que representa as respostas quando questionados sobre a principal vantagem


em se utilizar Biodiesel em comparação aos combustíveis fósseis 100% dos alunos acertam ao
responder que o Biodiesel é renovável e menos poluente que os combustíveis fósseis. Sendo assim
as outras três alternativas não receberam nenhuma resposta. Lima (2008) aponta entre as vantagens
na utilização do Biodiesel: Renovável biodegradável e não tóxico; Sua combustão emite
quantidades desprezíveis de compostos contendo enxofre; Reciclagem do CO2 emitido na
combustão; etc.

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Na figura VI a maioria, 85,8% afirmaram que a transesterificação é o processo mais


utilizado na produção do Biodiesel, caracterizando-se de uma reação química de óleos vegetais ou
gorduras como etanol ou metanol anidro e um catalisador. Apenas 14,2% dos alunos erraram,
respondendo com percentuais iguais de 7,1% para saponificação e esterificação.

Figura V: Vantagem do Biodiesel. Figura VI: Processo da produção do Biodiesel.


Fontes: Próprios Autores (2017).

Na figura VII, os alunos responderam qual dos produtos sugeridos não era adequado para a
produção de Biodiesel, percebe-se que 100% dos alunos acertaram ao responder cebola. Segundo
Benevides (2011) para produção de Biodiesel pode ser utilizada matéria orgânica de origem animal
e vegetal, entre as oleaginosas geralmente utiliza-se, macaúba; algodão; amendoim; babaçu; cana de
açúcar; soja; mamona; gergelim; girassol; dendê; etc.
Na figura VIII a maioria, 92,9% dos estudantes reafirmou que as fontes de energia
renováveis poluem e contaminam o meio ambiente em menor proporção que as fontes de energia
não renovável. Apenas um aluno que corresponde a 7,1% se equivocou respondendo o contrário.

Figura VII: Produto para Produção do Biodiesel. . Figura VIII: Menor Poluição.
Fontes: Próprios Autores (2017).

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Nas questões 07 e 08 os alunos avaliaram a metodologia utilizada para abordagem desta


temática. No quadro V os alunos relataram as contribuições dos dois vídeos assistidos e do
simulador para aprendizagem do conteúdo. Todos afirmaram que a metodologia adotada facilitou a
absorção do conteúdo, afirmaram que se aprende melhor através de vídeos e simulador.

Questão 7- Qual a contribuição dos vídeos assistidos e do simulador utilizado para sua
aprendizagem?
Fala representativa, Aluno 03. Fala representativa, Aluno 04. Fala representativa, Aluno 05.
―Facilitou o meu ―Eu aprendi alguns dos ―Agente aprende mais através
aprendizado‖. produtos usados para produzir do vídeo e simulador porque
o biodiesel e como ele é eles colocam a cabeça para
produzido‖. pensar‖.
Fala representativa, Aluno 07. Fala representativa, Aluno 09. Fala representativa, Aluno 12.
―Contribui para a melhor ―Ajuda a entender mais‖. ―Foi muito bom, pois a pessoa
aprendizagem, e estudo sobre aprende melhor o conteúdo‖.
o assunto‖.
Quadro V: Importância da exploração das fontes de Energia Renovável. Fonte: Próprios Autores (2017).

No quadro VI os alunos responderam qual preferencia dentre os recursos utilizados, todos os


alunos responderam que preferiram o simulador; pois o mesmo atrai mais a atenção do aluno,
coloca em prática o que aprenderam no vídeo; estimula o pensamento e a tomada de decisão; bem
como aborda os produtos que podem ser utilizados na produção do Biodiesel.

Questão 8- Entre os vídeos e o simulador qual contribuiu de maneira mais efetiva para o
entendimento do conteúdo? Por quê?
Fala representativa, Aluno 02. Fala representativa, Aluno 06. Fala representativa, Aluno 08.
―O simulador, por conta que o ―O simulador, pois chama mais ―Simulador porque vai
aluo está tentando acertar as atenção do aluno‖. descobrindo os produtos que
questões para passar de são usados para fazer o
etapa‖. biodiesel‖.
Fala representativa, Aluno 10. Fala representativa, Aluno 11. Fala representativa, Aluno 14.
―O simulador, porque coloca ―O simulador, porque da para ―O simulador, pois através de
em prática o que aprendemos aprender de forma divertida‖. jogos aprende se divertindo‖.
no vídeo‖.
Quadro VI: Preferencia entre Vídeo e Simulador. Fonte: Próprios Autores (2017).

Diante dos resultados fazendo um comparativo do questionário prévio com o posterior a


sequência didática, pode-se afirmar que os alunos conseguiram absorver as informações sobre a
temática trabalhada. É importante ressaltar que todos se identificaram com a metodologia utilizada e
participaram ativamente da pesquisa.

CONSIDREÇÕES FINAIS

Por representar um assunto com características promissoras para a interdisciplinaridade, o


biodiesel, gera um leque de informações que podem ser elencadas por várias vertentes.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Relacionando a Educação Ambiental versus Ensino de Química pode-se abordar tanto os impactos
ambientais relacionados à exploração das fontes de energia renováveis e não renováveis, como
explicar os processos químicos para produção deste biocombustível.
De posse dos dados coletados, inicialmente observou-se que os alunos apresentavam
conhecimento sobre a temática, porém este estava incompleto levando-se em consideração todas as
premissas que podem ser abordadas sobre o Biodiesel. Diante da sequência didática aplicada,
conclui-se pelos dados aferidos no questionário posterior que os alunos obtiveram uma
aprendizagem significativa sobre o tema em questão, sendo os objetivos propostos nesta pesquisa
alcançados.
Os próprios alunos envolvidos na pesquisa afirmaram que a inserção dos recursos digitais
contribui para o processo de ensino aprendizagem, esta afirmativa vai de encontro com as inúmeras
pesquisas desenvolvidas sobre as novas tecnologias digitais como suporte metodológico para o
ensino das ciências. Espera-se que esta pesquisa sirva de incentivo para outros profissionais que
tenham o interesse em inovar o Ensino de Química por meio da interdisciplinaridade com a
Educação Ambiental.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAIRD, C. Química Ambiental. 2º. ed. Porto Alegre: Bookman. 2002.

BENEVIDES, M. de S. L. Estudo sobre a produção de biodiesel a partir das oleaginosas e análise


de modelos cinéticos do processo de transesterificação via catálise homogênea. Trabalho de
Conclusão de Curso Bacharelado em Ciência e Tecnologia. Universidade Federal Rural do Semi-
Árido –UFERSA, Campus Angicos, 2011. Disponível em:
http://www2.ufersa.edu.br/portal/view/uploads/setores/232/arquivos/Mar%C3%ADlia%20de%2
0S%C3%A1%20Leit%C3%A3o%20Benevides.pdf Acesso em: 25 de jul. 2017.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

INVESTIGAÇÃO CITOTÓXICA DO EXTRATO ETANÓLICO DAS FOLHAS DE


Croton heliotropiifolius KUNTH (EUPHORBIACEAE) COLETADAS NO MUNICÍPIO
DE GARANHUNS, PERNAMBUCO, BRASIL

Elizabete Regina Silva Lucena dos SANTOS


Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Morfotecnologia – UFPE
elizabetelucena@live.com
Renatha Claudia Barros Sobreira de AGUIAR
Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Morfotecnologia – UFPE
renathasobreira@gmail.com
Yhasminie Karine da SILVA
Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Morfotecnologia – UFPE
yhasminiekarine73@gmail.com
Sônia Pereira LEITE19
Professora do Departamento de Histologia Embriologia - UFPE
spleite6@hotmail.com

RESUMO
Frequentemente encontrado na caatinga, brejo, restinga e cerrado brasileiro, o velame, Croton
heliotropiifolius Kunth, é popularmente conhecido por suas propriedades medicinais utilizada na
dor de estômago, mal estar gástrico, vômitos, diarreia com sangue e para baixar a febre. Visando
averiguar tal conhecimento empírico, o presente trabalho teve como objetivo avaliar o efeito tóxico
in vitro do extrato etanólico de folhas de C. heliotropiifolius, através da fragilidade osmótica e
observação morfológica dos eritrócitos. Avaliação da fragilidade osmótica foi utilizada com sangue
de carneiro, exposta ao tratamento com extrato etanólico de folhas C. heliotropiifolius nas
concentrações de 250µg/mL, 500µg/mL e 1000µg/mL, investigando alterações morfológicas dos
eritrócitos. O extrato etanólico de folhas de C. heliotropiifolius nas concentrações (250µg/mL,
500µg/mL e 1000µg/mL), não apresentou fragilidade osmótica, quando avaliado qualitativamente
os eritrócitos, caracterizando integridade das hemácias. As observações histológicas das
preparações dos esfregaços do sangue de carneiro após o tratamento com o extrato etnólico nas
concentrações de 250µg/mL, 500µg/mL não mostrou alterações morfológicas nos eritrócitos,
quando comparado com o grupo controle negativo e positivo. Entretanto foi evidenciada discreta
ação hemólitica após o tratamento com o extrato na concentração de 1000 µg/ml. O ensaio de
toxicidade in vitro com o extrato etanólico das folhas de C. heliotropiifolius não apresentou
atividade hemolítica, nem alterações na morfologia dos eritrócitos. Este estudo pode contribuir para
ampliação do conhecimento sobre espécie, confirmando a não citotoxicidade do extrato das folhas
da planta, como também contribuir na educação do público sobre o uso adequado de medicamentos
à base de plantas e naturais e auxiliar na catalogação de informações sobre plantas utilizadas na
medicina popular.
Palavras chave: Citotoxicidade, Conhecimento Empírico, Fitoterápicos.

19
Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Morfotecnologia - UFPE

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 320


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

ABSTRACT
Frequently found in caatinga, moor, restinga and brazilian cerrado, the canopy, Croton
heliotropiifolius Kunth is popularly known for its medicinal properties used in stomach pain, gastric
malaise, vomiting, diarrhea with blood and to reduce fever. The objective of this study was to
evaluate the in vitro toxic effect of C. heliotropiifolius leaves on ethanolic extract through osmotic
fragility and morphological observation of erythrocytes. Osmotic fragility was evaluated with sheep
blood exposed to the treatment with ethanolic extract of C. heliotropiifolius leaves at concentrations
of 250μg / mL, 500μg / mL and 1000μg / mL, investigating morphological alterations of
erythrocytes. The ethanolic extract of C. heliotropiifolius leaves at concentrations (250μg / mL,
500μg / mL and 1000μg / mL) did not show osmotic fragility when qualitatively evaluated
erythrocytes, characterizing erythrocyte integrity. The histological observations of preparations of
sheep blood smears after treatment with ethnolic extract at concentrations of 250μg / mL, 500μg /
mL showed no morphological changes in erythrocytes when compared to the negative and positive
control groups. However, a slight hemolytic action was observed after treatment with the extract at
the concentration of 1000 μg / ml. The in vitro toxicity test with ethanolic extract from the leaves of
C. heliotropiifolius did not present hemolytic activity, nemaros in the erythrocyte morphology. This
study may contribute to the expansion of the knowledge about the species, confirming the non-
cytotoxicity of the leaf extract of the plant, as well as contributes to the education about the use of
herbal medicines and natural resources in the cataloging of plant information In medicine popular.
Keywords: Cytotoxicity, Empirical Knowledge, Phytotherapics.

INTRODUÇÃO

O interesse popular no uso de plantas medicinais para fins terapêuticos tem sido muito
significativo nos últimos tempos, principalmente nos países em desenvolvimento, devido ao difícil
acesso da população aos medicamentos sintéticos. De acordo com a OMS, entre 60- 80% da
população mundial utiliza a medicina tradicional ou a fitoterapia no tratamento de várias doenças
(BAGATINI; SILVA; TEDESCO, 2007).
A utilização de plantas como medicamento está fundamentada em estudos
etnofarmacológicos que, partindo do uso tradicional e do conhecimento empírico sobre as
propriedades farmacológicas (anti-inflamatória, analgésica, antimicrobiana, antiespasmódica,
antitérmica, laxativas, entre outras) de certas drogas vegetais, indicam o potencial para o
desenvolvimento de novos fitoterápicos (SCOPEL, 2005).
As populações locais, em geral, possuem uma proximidade muito grande com o meio a sua
volta. Isto ocorre, dentre outros motivos, pela necessidade de explorar do meio, recursos que serão
utilizados para as mais variadas finalidades (AMOROZO, 2002). Algumas características desejáveis
das plantas medicinais são: sua eficácia, baixo risco de uso, assim como reprodutibilidade e
constância de sua qualidade (TOLEDO et al. 2003). Nesse cenário medicinal, são utilizadas
diversas ervas como fitoterápicos, no entanto, pouco se sabe a respeito do potencial toxicológico
dessas plantas (PEREIRA et al., 2012).

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Muitos testes comprometidos com a análise de agentes tóxicos utilizam animais de


laboratório. Entretanto, existe uma busca crescente por métodos in vitro que não utilizem animais
em sua execução (HARBELL et al., 1997). Laboratorialmente, o ensaio de hemólise in vitro vem
sendo utilizado rotineiramente em estudos de toxicidade de plantas medicinais e de utilidade
pecuária, exibindo-se positivo, principalmente, a espécies que apresentam saponinas em sua
composição (PEQUENO, SOTO-BLANCO, 2006).
Considerando-se a importância da Educação Ambiental nos processos de mudança de
comportamento da humanidade, reconhece-se como a ferramenta mais eficiente para a
conscientização ambiental e consequentemente a mudança de postura do ser humano frente ao
ambiente. Nesse sentido, a utilização de plantas medicinais pela comunidade, apresenta-se como
mais um campo de atuação da Educação Ambiental, tendo vistas a preservação das espécies, a
reaproximação do ser humano da natureza e a conservação do conhecimento popular transmitido
por meio dos tempos (FAVILLA & HOPPE, 2011).
A Espécie C. heliotropiifolius (Kunth), pertencente a família Euphorbiaceae, cujo maior
gênero é o Croton segundo Palmeira-JR. et al. (2006). E uma espécie endêmica da região da
caatinga, conhecida popularmente como ―velame‖, ―velaminho‖ ou ―velame-de-cheiro‖ é
frequentemente utilizada na medicina popular local para dor de estômago, mal estar gástrico,
vômitos e diarreias. Esta planta é de grande importância na flora nordestina devida a sua larga e
dispersão no cerrado e utilização na medicina popular, sendo facilmente encontrada no Agreste
pernambucano, na região do município de Garanhuns. O gênero Croton possui forte potencial
econômico, especialmente para a indústria farmacêutica, devido aos diversos metabólitos
secundários, como alcalóides, flavonóides e terpenóides (RANDAU et al., 2001; RIZSCK, 1987;
PAYO et al. 2001). Investigação fitoquimica do C. heliotropiifolius constataram a presença
predominante de alcalóides, polifenóis e compostos redutores, sendo referido como útil no alívio da
dor de estômago, na disenteria e antitérmico (RANDAU et al., 2001). Após levantamento da
literatura, poucos estudos farmacológicos foram encontrados, e estes são necessários para averiguar
a atividade, e promover uma educação ambiental sobre o uso indiscriminado de plantas medicinais
como alternativas de tratamento. Sendo assim para maior compreensão da atividade toxicológica
desta espécie, objetivou-se investigar o potencial toxicológico do extrato etanolico do C.
heliotropiifolius através do ensaio in vitro de fragilidade osmótica em eritrócitos, teste capaz de
promover uma avaliação preliminar da toxicidade de plantas.

METODOLOGIA

Material Vegetal

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

As folhas foram obtidas a partir de árvore de velame (C. heliotropiifolius – Euphorbiaceae),


na área urbana do Município de Garanhuns, Pernambuco, Brasil. Preparou-se uma exsicata, a qual
foi depositada no Herbário Dárdano de Andrade Lima, do Instituto Agronômico de Pesquisa (IPA),
sob número de catálogo 90440 e identificada por um botânico da instituição.

Obtenção do extrato etanólico

O extrato foi feito de acordo com o método de maceração descrito por Filho, Yunes (1998).
As folhas (100g) foram maceradas por 10 dias, em etanol (1000 ml) a temperatura ambiente e
submetida a agitações esporádicas. Depois deste período, a mistura foi filtrada e o filtrado resultante
foi rotaevaporado em equipamento modelo BUCHI Switzerland a temperatura de 60 ºC, até a
evaporação total do solvente.

Ensaio de Fragilidade Osmótica

A técnica de fragilidade osmótica realizada baseou-se na metodologia descrita por Darcie e


Lewis (1975). Amostras de sangue de carneiro comercial (Laborclin®) (25µL) foram expostas ao
extrato, durante 30 minutos a temperatura ambiente em diferentes concentrações sendo estas de,
250µg/mL, 500µg/mL e 1000µg/mL diluídas em solução isotônica de cloreto de sódio 0,9%. Em
seguida, as soluções com as amostra foram centrifugadas à 2500rpm, por 3 minutos a 25ºC. O
controle negativo foi realizado com solução isotônica de cloreto de sódio 0,9% e o controle positivo
com água destilada, os quais receberam os mesmos procedimentos empregados nas amostras testes.
O ensaio foi realizado em duplicata e o percentual hemolítico foi estabelecido com controle positivo
sendo designado como 100%. O grau de hemólise foi avaliado, qualitativamente, pela tonalidade
avermelhada (hemólise) no sobrenadante obtido após a centrifugação. Foi atribuída "cruzes", à
intensidade de hemólise onde uma cruz (+) indica ligeira hemólise, duas cruzes (++), hemólise
significativa e três cruzes (+++) indicam hemólise intensa.

Observação Morfológica dos eritrócitos.

As amostras dos pellets centrifugadas dos grupos controle negativo, controle positivo e o
tratado com o extrato etanólico de folhas de C, foi realizado esfregaço em lamina de vidro e as
preparações histológicas coradas através de técnica Coloração de hematoxilina e eosina.
Preparações histológicas foram observadas através de microscópio óptico conectado a Câmera
Leica DFC-280 em aumento de 1000x. Para cada grupo foi analisado o aspecto morfológico e/ ou
hemólise dos eritrócitos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Ensaio de Fragilidade Osmótica

O extrato etanólico de folhas de C. heliotropiifolius nas diferentes concentrações


(250µg/mL, 500µg/mL e 1000µg/mL), não apresentou fragilidade osmótica, quando avaliado,
qualitativamente, pela tonalidade avermelhada (hemólise) no sobrenadante obtido após a
centrifugação, permanecendo límpida a solução de soro fisiológico, caracterizando integridade das
hemácias, que permaneceram no fundo dos tubos, com formação de um precipitado, sem que tenha
havido a lise das células. A tabela 1 representa os resultados do ensaio da fragilidade osmótica
atribuídas por sinais: mais (+) ou menos (-). Intensidade de hemólise onde uma cruz (+) indica
ligeira hemólise ou menos (-) indica ausência hemólise.

Grupos Concentrações (µg/ml) Hemólise

250 -
Extrato de Croton
500 -
heliotropiifolius
1000 -

Controle (+) Água Destilada +

Controle (-) Cloreto de sódio 0,9% -

Tabela 1: Ensaio da Fragilidade osmótica do sangue de carneiro tratado com do extrato etanolico de folhas
de C. heliotropiifolius Kunth . (-) ausência de hemólise, (+) ligeira hemólise, (++) hemólise significativa,
(+++) hemólise intensa.

A ação hemolítica dos diferentes compostos tóxicos é atribuída a vários mecanismos


inespecíficos. Como por exemplo, os compostos surfactantes, que produzem seu efeito hemolítico
por meio da solubilização da membrana plasmática do eritrócito, ou pela lise osmótica, que
promove alterações na permeabilidade da membrana plasmática da hemácia (APARICIO et al.,
2005).
Em contrapartida, os compostos xenobióticos reduzidos, como os compostos fenólicos, são
capazes de promover hemólise por meio da oxidação da hemoglobina, formando metemoglobulina
(BUKOWSKA et al., 2004).
Em nosso estudo não foi demonstrado atividade hemolítica do extrato do etanolico de folhas
de C. heliotropiifolius nas concentrações testadas. Corroborando com trabalho de Silva et al (2016)
que descreve ausências de atividade hemolítica com a mesma espécie.
Entretanto este resultado, não exclui a existência de toxicidade, uma vez que maiores
concentrações de extrato ainda não foram testadas e poucos estudos farmacológicos com a espécie
que é encontrada na literatura.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Estudo morfológico dos eritrócitos.

Observações histológicas são importantes ferramentas para detectar alterações


histofisiológicas nas funções dos órgãos tecido e células. Observação morfológica dos eritrócitos
obtidos de sangue de carneiro após tratamento com o extrato etanólico de folhas de C.
heliotropiifolius esta representado na figura 1 (A, B, C, D). As observações histológicas das
preparações dos esfregaços do sangue de carneiro após o tratamento com o extrato etnólico nas
concentrações de 250µg/mL, (figura 1 B), 500µg/mL (Figura 1 C) não mostrou alterações
morfológicas nos eritrócitos do ensaio de fragilidade osmótica, quando comparado com o grupo
controle negativo (figura 1A). Entretanto foi evidenciada discreta hemólise das hemácias(x) após o
tratamento com o extrato na concentração de 1000 µg/ml (Figura. 1D). As alterações observadas na
integridade das membranas dos eritrócitos podem estar associadas com os metabólitos presentes no
extrato capazes de interagir com a membrana e modificar o transporte de íons ou o balanço
osmótico. De acordo com os resultados obtidos foi possível relacionar a ação do extrato etanolico
de folhas de C. heliotropiifolius com os extrato metanolico de folhas da mesma espécie, já que os
resultados obtidos foram similares ao trabalho de Silva et al (2016) que demonstrou ausência da
atividade hemolítica, na utilização do extrato metánolico de folhas da mesma C. heliotropiifolius
espécie no ensaio da fragilidade osmótica.

*
*
A B

* *
C D

Figura 1 - Fotomicrografia dos eritrócitos de sangue de carneiro tratados com o extrato metanólico de C.
heliotropiifolius : (A) controle negativo, (B) extrato na concentração de 250 µg/ml, (C) extrato na
concentração de 500 µg/ml e (D) extrato na concentração de 1000 µg/ml. Coloração panóptica rápida.
Aumento de 100x. * Eritrócitos conservados. X hemólise.

O ensaio de toxicidade in vitro com o extrato etanólico das folhas de C. heliotropiifolius na


concentração de 1000 µg/ml, evidenciou pequenas alterações na morfologia eritrocitária. Desta
forma, este estudo demonstrou ausência dano à membrana eritrocitária. Estudos similares
verificaram alterações no perfil osmótico em eritrócitos quando incubados com extratos vegetais
(ARAÚJO, 2013; DIAS, 2016; VELOSO, 2015). É afirmativo, portanto, que eritrócitos incubados
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com produtos naturais podem sofrer um distúrbio em sua estrutura e citoesqueleto causado por
alteração do coeficiente de partição na membrana destas células (DIDELON et al.; 2000). Desta
maneira, alterações provocadas na estrutura da membrana plasmática modificam o transporte de
íons, causando ou não a lise celular, corroborando com os achados de Pereira (2009) e Silva (2012),
que obtiveram aumento e diminuição da fragilidade osmótica, devido ação de extratos de Indigofera
suffruticosa e Turnera subulata, respectivamente. A liberação de hemoglobina no plasma
ocasionada pela hemólise, que consiste na lise eritrocitária, pode gerar situações de riscos ao
organismo, entre elas danos aos rins (nefrotoxicidade), e ao coração (efeito vaso motor). A
liberação de íons potássio resultante de processos hemolíticos somada a rápida liberação de K+ no
meio extracelular, ainda pode levar à parada cardíaca e a morte (CARVALHO et al., 2007), em
vista disso a baixíssima atividade hemolítica encontrada neste estudo, pode ser um indicativo de
atividade protetora dos extratos de C. heliotropiifolius, considerando-se que a citotoxicidade in vitro
utilizando eritrócitos nos permite investigar tanto o efeito tóxico como protetor de princípios ativos
sobre a membrana celular (COSTA, 2015). A ação hemolítica dos diferentes compostos vegetais é
atribuída a vários mecanismos inespecíficos, como por exemplo, os compostos surfactantes que
produzem seu efeito hemolítico por meio da solubilização da membrana plasmática, ou pela lise
osmótica, promovendo alterações na permeabilidade das hemácias (APARICIO et al., 2005). Desta
forma, em nossos dados é provável que não haja dano à membrana eritrocitária.

CONCLUSÃO

O ensaio de citoxicidade in vitro com o extrato etanólico das folhas de C. heliotropiifolius


não apresentou atividade hemolítica, nem alterações na morfologia dos eritrócitos. Entretanto o
extrato na maior concentração apresentou pequenas áreas de hemólise na morfologia dos eritrócitos.
Portanto, estudos futuros devem ser realizados com extratos em concentração maiores, bem como
testar diferentes metodologias.
Pesquisas e trabalhos em educação ambiental que envolva os saberes relacionados às plantas
medicinais têm a possibilidade de promover religações significativas e desencadear transformações
socioambientais mais efetivas, estabelecendo uma relação racional entre o uso de plantas e a cura de
doenças.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior (CAPES), à


Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) pelo suporte financeiro e a Mestra em
Morfotecnologia Jessica Andrade (2017) pelo extrato utilizado neste ensaio.

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ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 329


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

ENERGIA SOLAR NO BRASIL: LEVANTAMENTO E APLICAÇÕES

Gustavo Furtado PEREIRA


Mestrando em Energias Renováveis na UFPB
furtado.gustavo@cear.ufpb.br
Almir Alexey Brito VITAL
Mestrando em Energias Renováveis na UFPB
alexey.almir@cear.ufpb.br
Marçal Rosas Florentino LIMA FILHO
Centro de Energias Alternativas e Renováveis – CEAR - UFPB
marcal@cear.ufpb.br

RESUMO
A inserção do uso de fontes alternativas de energia, como as energias renováveis, apresenta diversos
benefícios para a sociedade, como por exemplo, a exploração ponderada dos bens naturais, sendo o
Sol um destes recursos. Neste trabalho é realizada uma explanação teórica sobre os conceitos e
propriedades da radiação solar. Em seguida, desenvolve-se um levantamento sobre a radiação solar
no território brasileiro utilizando-se dados e mapas solarimétricos. Na sequência são apresentadas
algumas formas de utilização da energia solar que podem ser aplicadas em diversas localidades,
inclusive em comunidades isoladas, propiciando melhorias na qualidade de vida das pessoas com a
inclusão de novos dispositivos nas moradias, sítios, equipamentos públicos, centros comunitários,
assim como também beneficiar ao meio ambiente.
Palavras Chave: Energia Solar, Radiação Solar, Dados Ambientais e Mapas Solarimétricos.
ABSTRACT
The use of alternative sources of energy, such as renewable energy, has several benefits for society,
such as the balanced exploration of natural resources, and the sun is one of these resources. In this
paper, a theoretical explanation about the concepts and properties of solar radiation is carried out.
Then, a survey on solar irradiation in the Brazilian territory is developed using solarimetric data and
maps. Thereafter are presented some ways of using solar energy that can be applied in several
locations, including in isolated communities, improving people's quality of life with the inclusion of
new devices in homes, sites, public facilities, community centers, and also to benefit the
environment.
Keywords: Solar Energy, Solar Radiation, Environmental Data and Solarimetric Maps.

INTRODUÇÃO

O desenvolvimento humano apresenta como uma de suas características o consumo de


energia para sustentar-se e progredir. Nesse contexto, as principais fontes de recursos estão
alicerçadas nos combustíveis fósseis, os quais encontram reservas limitadas (BP, 2016). Além do
mais, são poluentes e geram prejuízos irreversíveis ao meio ambiente. Dessa forma, as energias
renováveis por serem inesgotáveis e limpas são uma alternativa de aproveitamento na geração de
energia à humanidade (TWIDELL; WEIR, 2015).

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 330


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As principais fontes de energia utilizadas em um país são conhecidas através de sua matriz
energética. A Matriz Energética Brasileira (MEB) mostra que a Oferta Interna de Energia (OIE), em
2016, atingiu 288,3 Mtep sendo que a parcela de participação das fontes renováveis permaneceu
entre as mais elevadas no mundo, conforme a Figura 1 (EPE, 2017).
Dentre as fontes renováveis como energia eólica, recursos hídricos, biomassa, etanol, houve
uma variação na OIE da fonte solar de 5100 tep, em 2015, para 7380 tep, em 2016, gerando um
aumento de 44,7% na oferta dessa fonte (EPE, 2017).

Figura 1: Energias renováveis – Matriz Energética Brasileira e Mundial. Fonte: (EPE, 2017).

No cenário global, em 2016, a adição à Matriz Energética Mundial na capacidade de geração


de energia dos painéis fotovoltaicos ficou próxima aos 75GW (IEA, 2017). Além disso, existe
grande potencial de crescimento no uso das energias de aquecimento, como a solar térmica, da qual
é esperado que seu consumo possa ser triplicado até 2025. Esse aumento implicará em uma oferta
na geração atual duas vezes maior.
Diante do cenário apresentado, este trabalho tem como objetivo apresentar conceitos sobre a
energia solar e levantamentos com os índices de irradiação solar no Brasil para demonstrar o
potencial existente dessa fonte de energia. Em seguida, são exemplificadas suas aplicações que
podem ser utilizadas em diversas comunidades como suporte ao desenvolvimento local sustentável
e permitindo maior equilíbrio ao meio ambiente.

RADIAÇÃO SOLAR: CONCEITOS

O Sol é uma estrela que emite luz e calor; é a única estrela do sistema solar onde está situada
a Terra com outros planetas. Ele possui uma massa em torno de 332 mil vezes e um volume 1,3
milhões de vezes maiores que os da Terra. Essa massa incandescente de plasma possui a
temperatura de 15 milhões de graus Celsius em seu interior, enquanto na Terra são 5000°C; e
6000°C em sua superfície e na Terra em média são 10-20°C (VICENTE, 2009).

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 331


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Reações nucleares são produzidas devido às altas temperaturas e elevadas pressões


existentes no Sol. Os prótons do núcleo do hidrogênio, que representa 92,1% de sua composição,
são liberados mesclando-se posteriormente em grupos de quatro para formar as partículas Alfa que
possuem menos massa que os quatro nêutrons do mesmo elemento, resultando que a massa restante
transforma-se em uma grande quantidade de energia. Essa energia alcança a superfície através de
convecção onde é liberada em forma de calor e luz, Figura 2, chegando ao planeta Terra
(VICENTE, 2009).

(a) (b)

Figura 2: (a) Atividade ultra-clara de luz ultravioleta no Sol invisível a olho nu. (b) Labareda solar. Fonte:
(NASA, 2017).

De acordo com Liou (2002), baseado em dados obtidos por satélites, o sistema
Terra/atmosfera reflete em torno de 30% da radiação solar que chega ao topo da atmosfera e
absorve a parcela remanescente. Essa ampla parcela da radiação solar que entra na atmosfera é
absorvida pela superfície terrestre, a qual consiste em aproximadamente 70% de oceano e 30% de
terra.
Em um período climatológico de um ano, por exemplo, a temperatura de equilíbrio global
permanece constante, logo a energia radiante emitida pelo Sol que é absorvida pela Terra deve ser
reemitida ao espaço para que o estado de equilíbrio de energia seja mantido.
Segundo Iqbal (1983), o valor da constante solar é de aproximadamente 1367 W/m2 e varia
moderadamente dependendo da emitância do Sol. Essa constante solar é definida como sendo a
densidade do fluxo de radiação solar que incide perpendicularmente em uma superfície,
desconsiderando-se os efeitos atenuadores da atmosfera.
O resultado da relação entre radiação e atmosfera ao exercer interação com seus elementos
naturais e artificiais, como gases, poeira, aerossóis e vapores de água, constitui-se pela radiação
solar direta e difusa.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 332


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Conforme Pereira et al. (2002), a radiação solar direta equivale à fração da radiação que
incide na extremidade superior da atmosfera; sua trajetória não é desviada, chegando de modo
direto à superfície terrestre. Suas medições nas estações são baseadas em método da diferença,
meios indiretos ou modelos de estimativas, por causa do custo elevado dos equipamentos.
O efeito de espalhamento é o responsável pela radiação solar difusa que é captada de forma
mais fácil em dias com teor alto de poeira e céu nublado, pois dificultam que a superfície receba
diretamente a radiação. Nesse caso, um aparelho chamado piranômetro, com anel de sombreamento,
realiza as medições.
O somatório da radiação solar direta e da radiação solar difusa gera como resultado a
radiação solar global, a qual é a totalidade de energia irradiada pelo Sol e chega à superfície
terrestre. Por isso, é indispensável realizar a medição da quantidade de radiação solar global
disponível em um local e período de tempo definidos. O piranômetro é utilizado na mensuração.

MAPAS SOLARIMÉTRICOS: RADIAÇÃO SOLAR NO TERRITÓRIO BRASILEIRO

Os valores das radiações global, direta e difusa são demonstrados por várias ferramentas,
sendo uma delas os mapas solarimétricos que utilizam desenvolvimento através de modelos físicos
ou modelos computacionais. Estes modelos foram comparados, por exemplo, quanto à distância
entre os radiômetros das estações, por Perez et al. (1997).
O Atlas Brasileiro de Energia Solar utiliza o modelo BRASIL-SR e dados coletados pelos
satélites da série GOES para a geração dos mapas solarimétricos no período de 1995-2005
(PEREIRA et al., 2006). Após ter realizado melhoras em parametrizações, análises quanto aos
níveis de confiança dos dados, dentre outros avanços, teve sua segunda edição lançada em 2017, a
qual abrange dados de 1999-2016.
Os mapas, relativos às duas edições do Atlas Brasileiro de Energia Solar, na Figura 3
(PEREIRA et al., 2006; 2017) mostram a radiação solar global horizontal média anual.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 333


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(a) (b)

Figura 3: Radiação solar global média anual Atlas 2006 (a) e Atlas 2017 (b). Fonte: (PEREIRA et al., 2006;
2017).

A Figura 4 apresenta os mapas de radiação solar no plano inclinado média anual.

(a) (b)

Figura 4: Radiação solar no plano inclinado média anual Atlas 2006 (a) e Atlas 2017 (b). Fonte: (PEREIRA
et al., 2006; 2017).

O território brasileiro por situar-se entre os trópicos possui uma incidência de irradiação
solar considerável, variando na sua média anual em grande parte do Brasil de 4 kWh/m 2 à
aproximadamente 5 kWh/m2.

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O potencial solar mais elevado encontra-se na região Nordeste, com valor médio de
irradiação global horizontal de 5,49 kWh/m².
As regiões Centro-Oeste e Sudeste apontam os totais diários aproximados para a irradiação
global horizontal em torno de 5,07 kWh/m2 e para a região Sul o valor foi de 4,53 kWh/m2.
A região Norte, apesar de apresentar valores da irradiação global média no plano horizontal
e no plano inclinado próximo ao da região Sul, indica os menores valores apresentados para a
irradiação direta normal, em média 3,26 kWh/m2, devido ao clima da região possuir constante
nebulosidade diminuindo a irradiância na superfície (PEREIRA et al., 2017).

APLICAÇÕES DE ENERGIA SOLAR: TÉRMICA, TERMOELÉTRICA E ELÉTRICA

Diversas aplicações da energia solar podem ser empregadas para seu aproveitamento
sustentável sejam industriais, comerciais, residenciais, etc. Dentre elas estão as formas de captação
da energia do Sol como instalações solares térmicas, fotovoltaicas e termoelétricas.
As instalações solares térmicas propiciam a captação da energia do Sol para o aquecimento
de residências e edificações, assim como o aquecimento de água para suprir as necessidades de uso
não residencial e residencial como em banheiros, por exemplo. O aquecimento de água em uma
residência participa em média 24% do consumo da energia elétrica (ELETROBRAS, 2007).
A geração de energia heliotérmica ou energia solar térmica concentrada, conhecida
mundialmente como CSP´s, é composta de conjuntos de espelhos ou lentes que concentram uma
vasta área de luz solar incidente em uma pequena área, como uma torre de energia solar. A energia
térmica é transformada em energia elétrica através de turbinas a vapor (TURCHI et al., 2017),
Figura 5.

Figura 5: Usina de geração de Energia Solar Térmica Concentrada (CSP). Fonte: (WEINSTEIN, 2015).

A energia térmica tem potencial de acrescentar tecnologias em processos e outras aplicações


como na agropecuária para aquecimento do ambiente de confinamento dos animais, desinfecção de
materiais e produtos e secagem, substituindo o uso de combustíveis fósseis na geração de calor.
Também pode ser usada em processo de dessalinização da água e no preparo de alimentos,

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principalmente em regiões afastadas e semiáridas como o sertão do Nordeste, Figura 6 exemplifica


essa forma de utilização.

Figura 6: Fogão solar em substituição ao uso de carvão. Fonte: (http://solarcooking.org/Bender-Bayla-


Somalia.htm).

A energia fotovoltaica caracteriza-se por funcionar à base de painéis solares que captam as
radiações luminosas do Sol e as transformam em corrente elétrica. Estes painéis especiais são
compostos por células fotovoltaicas onde a energia luminosa ou os fótons são transformados em
eletricidade, ou seja, elétrons em movimento. O efeito fotoelétrico é o fundamento deste sistema
energético (ARCHER; GREEN, 2014).
Para locais muito afastados da rede de distribuição elétrica, pode-se utilizar os sistemas
fotovoltaicos isolados da rede, que se configuram como sistemas autônomos que podem armazenar
energia com o uso de bancos de baterias. Além desse uso, existe outra forma de utilização como o
sistema distribuído, que consiste no sistema fotovoltaico estar conectado à rede elétrica de
distribuição e poder fornecer à rede a energia excedente, gerando créditos para o consumidor nesse
caso de fornecimento de energia (BRASIL, 2015).
Um sistema de painéis fotovoltaicos é ilustrado na Figura 7.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 336


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Figura 7: Grid de painéis fotovoltaicos. Fonte: (https://www.nrel.gov/workingwithus/re-photovoltaics.html).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A energia solar influencia fortemente todas as formas de vidas na Terra. Além disso, é a
base de quase todos os tipos de energia que são demandadas e geradas. A radiação solar causa
vários eventos naturais, tais como ventos, ondas, dentre outros, e indica ser um dos pontos
principais para as pesquisas sobre energias renováveis. Devem ser esperados desenvolvimentos
essenciais e significativos no uso de tecnologias de energia solar nas próximas décadas.
Esse desenvolvimento tecnológico proporciona a criação e também melhorias em novos
equipamentos e dispositivos para diversas finalidades e em diferentes lugares, com distintas
posições geográficas. Populações e comunidades que vivem afastadas de centros urbanos podem ter
acesso aos recursos provenientes dessa evolução nas mais variadas formas para sua subsistência e
desenvolvimento sustentável.
Sendo assim, os levantamentos e mapeamentos dos índices de irradiação solar fornecem
dados para a utilização de aplicações baseadas em energia solar. Este recurso energético
desempenha um papel cada vez mais importante na superação dos déficits de energia, na solução de
problemas ambientais como o aquecimento global e na segurança de um futuro baseado em energia
limpa e sustentável beneficiando a sociedade e o meio ambiente.

REFERÊNCIAS

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ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 337


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ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 339


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DURABILIDADE NATURAL DE MADEIRAS AMAZÔNICAS OCORRENTES NO


ACRE (RESULTADOS PRELIMINARES)

Henrique José Borges de ARAUJO


Eng. Ftal., M.Sc., Pesquisador da Embrapa Acre
henrique.araujo@embrapa.br
Luis Claudio de OLIVEIRA
Eng. Ftal., M.Sc., Pesquisador da Embrapa Acre
luis.oliveira@embrapa.br
Rodrigo Souza SANTOS
Biólogo, D.Sc., Pesquisador da Embrapa Acre
rodrigo.s.santos@embrapa.br
Amauri SIVIERO
Eng. Agr., D.Sc., Pesquisador da Embrapa Acre
amauri.siviero@embrapa.br

RESUMO
O uso predatório e o desmatamento têm causado diminuição do estoque natural das espécies
madeireiras amazônicas, o que torna necessário identificar espécies alternativas que possibilitem um
aproveitamento menos seletivo das florestas de produção. Este trabalho objetiva apresentar
resultados preliminares sobre durabilidade natural de espécies madeireiras amazônicas alternativas
ocorrentes no estado do Acre frente aos agentes físicos e biológicos degradadores (organismos
xilófagos). Foi implantado em junho de 2015 no Campo Experimental da Embrapa Acre um
experimento contendo amostras representativas de 36 espécies florestais nativas, totalizando 463
corpos de prova (amostras do cerne com medidas de 5 x 5 x 50 cm), dispostas com espaçamento de
2,5 m entre e 1,0 m dentro das linhas, fincadas eretas no solo a uma profundidade de 0,25 m e com
delineamento estatístico inteiramente casualizado. O método de avaliação adotado foi o da
International Union of Forest Research Organizations (IUFRO). Após um ano e onze meses da
implantação do experimento as espécies com os melhores desempenhos quanto a durabilidade
natural foram Bálsamo, Breu vermelho, Canelão, Freijó, Imbiridiba amarela, Ipê roxo,
Maçaranduba II, Pororoca e Sucupira preta, enquanto que os piores desempenhos foram das
espécies Samaúma, Mulungu duro, Louro itaúba, Marupá preto e Mulateiro.
Palavras-chave: Campo de apodrecimento de madeira, deterioração de madeira, espécies florestais
madeireiras amazônicas, uso sustentável de florestas.

ABSTRACT
Predatory use and deforestation have caused a decrease in the natural stock of Amazonian timber
species, which makes it necessary to identify alternatives species that allow the less selective use of
production forests. The objective of this paper is to show the preliminary results of natural
durability of alternatives Amazonian timber species occurring in the state of Acre (Brazil) about to
the physical and biological degradation agents (xylophages organisms). A field experiment was
implanted in June 2015 at the experimental area of Embrapa Acre in Rio Branco with representative
samples of 36 native forest species, totaling 463 proof bodies (pieces of heartwood measuring 5 x 5
x 50 Cm) spaced 2.5 m between and 1.0 m inside the lines, erect in the soil at a depth of 0.25 m and
with a completely randomized statistical design. The evaluation method adopted was the
International Union of Forest Research Organizations (IUFRO). After one year and eleven months

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 340


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

of the implementation of the experiment the species with the best performances regarding the
natural durability were Bálsamo, Breu vermelho, Canelão, Freijó, Imbiridiba amarela, Ipê roxo,
Maçaranduba II, Pororoca and Sucupira preta, while the worst performances were the species
Samaúma, Mulungu duro, Louro itaúba, Marupá preto and Mulateiro.
Keywords: Amazonian timber species, sustainable use of forests, wood-rotting field, wood
deterioration.

INTRODUÇÃO

A utilização econômica aliada às ações antrópicas de desmatamento, iniciadas nos anos 70 e


80 devido ao fluxo migratório, tem promovido forte pressão exploratória sobre algumas espécies
florestais madeireiras amazônicas, resultando na diminuição do estoque original desses recursos.
Hoje, devido à intensa exploração, a maior parte das espécies madeireiras amazônicas consideradas
tradicionais e mais conhecidas no mercado consumidor têm a ocorrência natural reduzida e está em
crescente processo de escassez (ARAUJO et al., 2012). Algumas espécies estão até sob ameaça de
extinção (SOBRAL et al., 2002). Deste modo, ações de pesquisa devem ser fomentadas no sentido
de mitigar esse quadro, a exemplo da geração de conhecimento voltado ao uso otimizado e menos
seletivo das florestas nativas (ARAUJO, 2014).
A escassez das espécies tradicionais induz a necessidade de identificar outras substitutas.
Além de benefícios econômicos pela ampliação das espécies comercializáveis, a utilização de
espécies substitutas trará benefícios ambientais, dado que com o uso menos seletivo se reduz a
pressão exploratória e os riscos de extinção sobre as espécies tradicionais e, ao mesmo tempo,
maximiza e fortalece o uso sustentável das florestas. O presente estudo busca identificar e
recomendar, por meio de ações de pesquisa, espécies madeireiras com propriedades de durabilidade
natural similares às tradicionais em via de escassez e que possam substituí-las.
Dentre as características tecnológicas das madeiras a durabilidade natural em contato com o
solo exprime a vida média útil e a suscetibilidade à incidência e ataque de organismos xilófagos. Os
resultados de avaliações da durabilidade permitem classificar as madeiras quanto a possibilidade ou
não de serem utilizadas em contato com o solo ou para o uso em construção e estruturas de suporte,
ou ainda em outras aplicabilidades onde hajam riscos de danos ocasionados por fatores climáticos,
abióticos e pela diversidade de insetos e fungos xilófagos (JESUS et al., 1998).
Durabilidade natural de uma madeira é definida como a vida média útil em serviço quando
exposta a fatores abióticos (temperatura, umidade, luminosidade, acidez, etc.) e a organismos
xilófagos, principalmente fungos e insetos (LEPAGE et al., 1986; SANTINI, 1988; JANKOWSKY,
1990; JESUS et al., 1998). A madeira é degradada biologicamente por organismos xilófagos que
utilizam os polímeros naturais da parede celular como fonte de nutrição, e alguns deles possuem
sistemas enzimáticos capazes de metabolizá-los (LEPAGE et al., 1986). A durabilidade natural da

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madeira é interpretada pela capacidade que a mesma possui de resistir à ação dos agentes
deterioradores, tanto os biológicos como os físico-químicos, sendo assim, a madeira pode
apresentar alta, média ou baixa resistência à ação desses agentes (GOMES; FERREIRA, 2002).
Sabe-se que o cerne da madeira é a parte mais durável, entretanto, possui variações que
ocorrem de espécie para espécie e entre árvores com idades diferentes. A resistência do cerne é
conferida pelos extrativos que se distribuem pela árvore, sendo maior nas partes externas do cerne e
próximo à base da árvore, diminuindo em direção à medula e ao topo (LEPAGE et al., 1986). A
degradação da madeira depende de vários fatores, entre os quais as suas características físicas e
químicas, à concentração dos extrativos tóxicos presentes no lenho, à comunidade decompositora e
às condições climáticas, com destaque para a temperatura e a umidade (SWIFT et al., 1979; PAES,
2002). A durabilidade natural das espécies de rápido crescimento, em geral, é menor do que as de
crescimento lento (SCHEFFER, 1973; PANSHIN; ZEEUW, 1980), o que é relacionado à redução
no teor de extrativos na madeira devido à rápida taxa de crescimento (HILLIS, 1984).
Entre os insetos xilófagos, os cupins ou térmitas são os mais sérios agentes destruidores da
madeira. Os cupins podem ser divididos em dois grupos: subterrâneos e não subterrâneos. Os
subterrâneos vivem no solo, em ambientes úmidos, a partir de onde constroem galerias que os
protegem, em condições de alta umidade e escuridão, e permitem atingir a madeira da qual se
alimentam. Os cupins não subterrâneos encontram na madeira sua moradia e alimento. Como vivem
em condições de pouca umidade, atacam madeira relativamente seca. Sua presença e indicada por
pequenos farelos junto a madeira atacada, que são resíduos fecais dos cupins (GALVÃO, 1975).
As brocas de madeira, outro grupo importante de organismos xilófagos, cujos adultos são os
besouros, não são insetos sociais e pertencem a um grupo taxonômico da ordem Coleóptera. Desde
a árvore viva até a madeira em uso, diferentes tipos de brocas atacam a madeira nas diferentes fases
do seu beneficiamento (LELIS, 2000).
Nas madeiras apodrecidas é comum encontrar as vulgarmente chamadas ―orelhas de pau‖,
que nada mais são que os corpos de frutificação dos fungos. Existem outras espécies de fungos que,
depreciam comercialmente a madeira por produzirem manchas, são conhecidos como fungos
manchadores (JANKOWSKY, 1990). A presença de fungos do tipo ―orelha-de-pau‖ (classe
basidiomicetos), indica que a madeira está em estágio avançado de degradação, em que já sofreu
infestação por fungos de podridão mole (ascomicetos e deuteromicetos) e adentrou no clímax da
sucessão dos fungos apresentando podridões dos tipos parda e branca, em que há a decomposição
das paredes celulares e da lignina (LEPAGE et al., 1986).
A região amazônica é detentora da maior biodiversidade do planeta onde se encontram cerca
de 50% de todas as espécies existentes (VAL; ALMEIDA-VAL, 2004; WWF, 2010). A
comunidade decompositora xilófaga amazônica é também muito diversa (JESUS et al., 1998). Além

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

disso, as condições climáticas do ambiente tropical amazônico apresentam altos índices de


temperatura e umidade, portanto, ótimos para o desenvolvimento dos organismos xilófagos,
especialmente os fungos apodrecedores e cupins de solo (ARAUJO et al., 2012).
Este trabalho objetiva apresentar os resultados preliminares quanto a durabilidade natural de
espécies madeireiras amazônicas ocorrentes no estado do Acre frente aos agentes físicos e
biológicos degradadores (organismos xilófagos). Tais resultados foram obtidos em experimento de
campo (ensaio de apodrecimento de madeira) implantado em junho de 2015 na área da Embrapa
Acre, em Rio Branco-AC. Os resultados são considerados preliminares em razão do pouco tempo
de existência do experimento (menos de 02 anos entre a implantação e a ultima avaliação), uma vez
que para as espécies estudadas são esperadas durabilidades que podem superar os 10 anos,
necessitando, portanto, maior tempo de observações.

MATERIAL E MÉTODOS

O campo de apodrecimento de madeira (Figura 1) localiza-se no Campo Experimental da


Embrapa Acre, município de Rio Branco, estado do Acre (coordenadas geográficas S10°01'31.5" e
W67°42'25.5").

Figura 1. Campo de apodrecimento de madeira na Embrapa Acre, Rio Branco-AC.

Nesta área, o clima é do tipo Aw (Köppen), tipicamente tropical, bastante quente e úmido,
composto de estações de seca (maio a outubro) e de chuva (novembro a abril) bem definidas; as
temperaturas médias máximas, registradas de agosto a outubro, situam-se entre 31 ºC e 33 ºC, e as
médias mínimas, registradas em julho, entre 17 ºC e 22 ºC; as precipitações médias anuais situam-se
na faixa de 1.950 mm; a umidade relativa do ar é elevada, em média 88%, nas estações de chuva, e

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75%, nas estações de seca; a topografia é plana; o solo, com boa drenagem, é distrófico com alto
teor de argila; a incidência de luz solar é plena, sem sombreamento; a vegetação existente é
basicamente constituída por gramíneas forrageiras e a cobertura original a floresta tropical primária
densa semiperenifólia amazônica (ACRE, 2006; DUARTE, 2006; PROJETO RADAM, 1976).
Em campo, o experimento contem amostras de madeira de 36 espécies florestais amazônicas
ocorrentes no Acre (Tabela 1).

Tabela 1. Espécies florestais madeireiras componentes do campo de apodrecimento de madeira implantado


na área da Embrapa Acre, Rio Branco-AC.
N Nome vulgar Nome científico Família Nº Amostras
1 Abiurana preta Planchonella oblanceolata Pires. Sapotaceae 8
2 Amarelão Aspidosperma vargasii A.DC. Apocynaceae 18
3 Andiroba Carapa guianensis Aubl. Meliaceae 21
4 Angelim da mata Hymenolobium petraeum Ducke Fabaceae 8
5 Aroeira Astronium lecointei Ducke Anacardiaceae 23
6 Bálsamo Myroxylon balsamum (L.) Harms Fabaceae 31
7 Breu vermelho Tetragastris panamensis (Engl.) Kuntze. Burseraceae 21
8 Canelão Aniba canelilla (H. B. K.) Mez. Lauraceae 4
9 Castanheira Bertholletia excelsa Bonpl. Lecythidaceae 4
10 Cedro rosa Cedrela odorata L. Meliaceae 20
11 Cerejeira Amburana acreana (Ducke) A.C.Sm. Fabaceae 24
12 Copaíba I Copaifera duckei Dwyer Fabaceae 4
13 Copaíba II Copaifera multijuga Hayne Fabaceae 4
14 Copaíba III Copaifera reticulata Ducke Fabaceae 4
15 Cumaru cetim Apuleia leiocarpa (Vogel) J.F.Macbr. Fabaceae 12
16 Cumaru ferro Dipteryx odorata (Aubl.) Willd. Fabaceae 4
17 Fava orelhinha Enterolobium schomburgkii (Benth.) Benth. Fabaceae 4
18 Freijó Cordia trichotoma (Vell.) Arráb. ex Steud. Boraginaceae 9
19 Guaribeiro Barnebydendron riedelii (Tul.) J.H.Kirkbr. Fabaceae 16
20 Guariúba Clarisia racemosa Ruiz & Pav. Moraceae 10
21 Imbiridiba amarela Terminalia amazonia (J.F.Gmel.) Exell Combretaceae 4
22 Ipê roxo Handroanthus serratifolius (Vahl) S.Grose Bignoniaceae 20
23 Jutaí Hymenaea courbaril L. Fabaceae 13
24 Louro itaúba Nectandra sp. Lauraceae 10
25 Maçaranduba I Manilkara huberi (Ducke) A.Chev. Sapotaceae 29
26 Maçaranduba II Manilkara bidentata (A.DC.) A.Chev. Sapotaceae 4
27 Manitê Brosimum alicastrum Sw. Moraceae 16
28 Marupá preto Jacaranda copaia (Aubl.) D.Don Bignoniaceae 4
29 Matamatá Allantoma sp. Lecythidaceae 16
30 Mulateiro Calycophyllum spruceanum (Benth.) K.Schum. Rubiaceae 5
31 Mulungu duro Erythrina poeppigiana (Walp.) O.F.Cook Fabaceae 14
32 Pororoca Dialium guianense (Aubl.) Sandwith Fabaceae 22
33 Samaúma Ceiba pentandra (L.) Gaertn. Malvaceae 8
34 Sucupira preta Diplotropis purpurea (Rich.) Amshoff Fabaceae 4
35 Tauarí Couratari pulchra Sandwith Lecythidaceae 20
36 Violeta Martiodendron elatum (Ducke) Gleason Fabaceae 25
Total - - 463
Notas: Nomes científicos (identificação botânica) fornecidos por laboratórios de anatomia da madeira:
Laboratório de Produtos Florestais - LPF/SFB/MMA, Laboratório de Anatomia e Identificação de Madeiras -
INPA/MCTIC e laboratório da Fundação de Tecnologia do Acre - FUNTAC; Nº de amostras = número de
corpos de prova da respectiva espécie presentes no experimento de campo.

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As amostras são expostas a céu aberto às adversidades naturais bióticas e abióticas (organismos
xilófagos e intemperismo) para avaliação da vida média útil e a suscetibilidade aos agentes
degradadores. São dispostas em linhas, com espaçamento de 2,5 m entre linhas e 1,0 m dentro das
linhas (portanto, cada amostra ocupando 2,5 m2), fincadas eretas no solo a uma profundidade de
0,25 m. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado.
O experimento é composto por 463 amostras (corpos de prova) com dimensões de 5 x 5 x 50 cm,
sendo o comprimento (50 cm) orientado no sentido longitudinal às fibras da madeira, obtidas do
cerne da madeira, isentas de partes de alburno. Idealmente foram definidas para o experimento 16
amostras por espécie, obtidas de 02 árvores, sendo, para cada árvore, 04 amostras obtidas da metade
inferior da tora comercial (normalmente, da base às 1as. galhadas) e 04 amostras da metade superior
(Figura 2), no entanto, devido às dificuldades de obtenção (relativas à baixa quantidade existente
em relação à definida) nos locais disponíveis de coleta, a quantidade de amostras variou, conforme
pode ser observado na Tabela 1.

Figura 2. Número de amostras e partes do tronco da árvore definidas para o experimento.

A maior parte das amostras do experimento foi obtida na área de Reserva Legal da Embrapa
Acre, em Rio Branco-AC, por meio de aproveitamento (autorizado pelo órgão ambiental local) de
árvores caídas e desvitalizadas. Outra parte foi obtida por doação em pátio de estocagem de toras de
uma empresa madeireira local.
Para certificar a identificação botânica taxonômica das espécies do estudo foram enviadas
amostras para laboratórios especializados, os quais emitiram os respectivos laudos de identificação
baseados na anatomia macroscópica das madeiras. Os laboratórios foram: Laboratório de Produtos
Florestais - LPF/SFB/MMA, em Brasília-DF; Laboratório de Anatomia e Identificação de Madeiras

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- INPA/MCTIC, em Manaus-AM; e laboratório da Fundação de Tecnologia do Acre -


FUNTAC/Governo do Estado do Acre, em Rio Branco-AC.
As avaliações (monitoramento) quanto à durabilidade da madeira, com periodicidade
semestral, são baseadas no método da International Union of Forest Research Organizations -
IUFRO (LEPAGE, 1970), em que são atribuídas, por inspeção visual e tátil retirando-se do solo,
notas a cada amostra conforme o grau de degradação apresentado (Tabela 2 e Figura 3). A
durabilidade natural da madeira (vida útil em serviço) é determinada quando 60% ou mais das
amostras apresentarem, no mínimo, o nível de degradação correspondente à nota 4 (quatro) da
classificação proposta no método da IUFRO (JESUS et al., 1998). A classificação quanto a
durabilidade em anos é conforme utilizado por Cardias (1985): 1. Altamente durável: > 8 anos; 2.
Durável: de 5 a 8 anos; 3. Moderadamente durável: de 2 a 5 anos; e 4. Não durável: de 0 a 2 anos.

Tabela 2. Classificação do grau de degradação dos corpos de prova pelo método da IUFRO.
Nota atribuída Classificação
10 Sadio
9 Levemente degradado
7 Moderadamente degradado
4 Intensamente degradado
0 Destruído ou rompido
Fonte: Lepage (1970).

Figura 3. Padrões do grau de degradação dos corpos de prova utilizados no campo de apodrecimento de
madeira da Embrapa Acre, Rio Branco-AC.

As avaliações da presença dos insetos xilófagos são realizadas trimestralmente no campo de


apodrecimento, por meio de verificação visual individual dos corpos de prova utilizando
metodologia adaptada de Corassa et al. (2014). A partir da constatação de insetos atacando a parte
aérea ou subterrânea dos corpos de prova, os mesmos são coletados e preservados em álcool a 80%,

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no caso de cupins, e 70% para os demais insetos. A avaliação da presença dos fungos, também com
periodicidade trimestral, é realizada concomitante às avaliações dos insetos xilófagos.

RESULTADOS

Os trabalhos de obtenção (coleta em campo) e organização das amostras estenderam-se por


quase todo ano de 2014. Nos primeiros meses de 2015 as amostras brutas coletadas em campo (em
forma de blocos medindo 12 x 12 x 57 cm) foram beneficiadas em marcenaria e geraram, cada uma,
04 corpos de prova (5 x 5 x 50 cm), alem de outras amostras menores (5 x 5 x 5 cm) destinadas a
laboratórios para identificação botânica. A implantação do campo de apodrecimento,
compreendendo o plaqueteamento das amostras (com o código da espécie, número do bloco,
posição em que foi obtida no bloco e no troco da árvore), preparo, demarcação e piqueteamento do
terreno e implantação do experimento propriamente dita, foi iniciada em maio e finalizada em 19 de
junho de 2015, data esta considerada o início da contagem do tempo do experimento.
O monitoramento quanto à durabilidade natural compreendeu até o momento 04 avaliações
de campo (semestrais), abrangendo um espaço temporal de 01 ano e 11 meses desde a implantação,
a saber: 1ª) em novembro de 2015; 2ª) em maio de 2016; 3ª) em novembro de 2016; e 4ª) em maio
de 2017. O monitoramento dos insetos e dos fungos compreendeu até o momento 08 avaliações de
campo (trimestrais), iniciadas em agosto de 2015 indo até maio de 2017.
A Tabela 3 apresenta os resultados cumulativos das avaliações (até a 4ª avaliação) das
espécies à degradação por insetos e fungos apodrecedores. As espécie são apresentadas em ordem
decrescente quanto à durabilidade natural (ranking das mais para as menos duráveis), conforme a
média da pontuação (notas) alcançada pelo método de avaliação da IUFRO.
As espécies com os melhores desempenhos quanto à suscetibilidade e resistência ao ataque
de organismos xilófagos foram: Bálsamo, Breu vermelho, Canelão, Freijó, Imbiridiba amarela, Ipê
roxo, Maçaranduba II, Pororoca e Sucupira preta. Todas estas espécies (nove) obtiverem a média
máxima das notas (10,0), significando que a totalidade dos seus corpos de prova permanecem
sadios, isentos de ataque, após um ano e onze meses no campo.
Na faixa intermediária de resistência a organismos xilófagos, com notas médias acima de 9,0
na 4ª avaliação de campo, ficaram posicionadas quatorze espécies: Abiurana preta, Amarelão,
Aroeira, Cedro rosa, Cerejeira, Copaíba II, Copaíba III, Cumaru cetim, Cumaru ferro, Fava
orelhinha, Guariúba, Jutaí, Maçaranduba I e Violeta. Estas espécies apresentaram pelo menos um
corpo de prova degradado por organismos xilófagos.
Com grau de degradação mais acentuado (notas médias variando entre 8,9 e 4,0) ficaram
oito espécies: Andiroba, Angelim da mata, Castanheira, Copaíba I, Guaribeiro, Manitê, Matamatá e

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Tauarí. Algumas destas espécies apresentaram alto grau de degradação e estão próximas de atingir o
limite de suas vidas úteis, o que deverá acontecer na avaliação de campo seguinte.

Tabela 3. Classificação das espécies madeireiras quanto à durabilidade natural ao ataque de cupins e fungos
após a 4ª avaliação (01 ano e 11 meses de exposição em campo) do campo de apodrecimento de madeira da
Embrapa Acre, Rio Branco-AC.
Nº Nota p/ Desvio Nota p/ Desvio
Ranking Espécie Cv% Cv%
Amostras Cupim Padrão Fungo Padrão
1º Bálsamo 31 10,0 0,0 0,0 10,0 0,0 0,0
Pororoca 22 10,0 0,0 0,0 10,0 0,0 0,0
Breu vermelho 21 10,0 0,2 2,2 10,0 0,2 2,2
Ipê roxo 20 10,0 0,0 0,0 10,0 0,0 0,0
Freijó 9 10,0 0,0 0,0 10,0 0,0 0,0
Canelão 4 10,0 0,0 0,0 10,0 0,0 0,0
Imbiridiba amarela 4 10,0 0,0 0,0 10,0 0,0 0,0
Maçaranduba II 4 10,0 0,0 0,0 10,0 0,0 0,0
Sucupira preta 4 10,0 0,0 0,0 10,0 0,0 0,0
2º Violeta 25 9,9 0,3 2,8 9,9 0,3 2,8
Aroeira 23 9,9 0,3 3,5 9,9 0,3 3,5
3º Guariúba 10 9,8 0,4 4,3 9,8 0,4 4,3
Copaíba II 4 9,8 0,5 5,1 9,8 0,5 5,1
4º Maçaranduba I 29 9,6 0,8 8,5 9,6 0,8 8,5
Cerejeira 24 9,6 0,5 5,1 9,6 0,5 5,1
Abiurana preta 8 9,6 0,5 5,4 9,6 0,5 5,4
5º Copaíba III 4 9,5 0,6 6,1 9,5 0,6 6,1
Cumaru ferro 4 9,5 0,6 6,1 9,5 0,6 6,1
6º Jutaí 13 9,4 0,5 5,4 9,4 0,5 5,4
7º Amarelão 18 9,3 0,5 5,2 9,3 0,5 5,2
Cumaru cetim 12 9,3 0,5 5,3 9,3 0,5 5,3
Fava orelhinha 4 9,3 1,5 16,2 9,3 1,5 16,2
8º Cedro rosa 20 9,2 0,7 7,6 9,2 0,7 7,6
9º Angelim da mata 8 8,9 0,8 9,4 8,9 0,8 9,4
10º Andiroba 21 8,3 2,9 34,8 8,3 2,9 34,8
11º Matamatá 16 7,5 3,1 41,3 7,5 3,1 41,3
12º Copaíba I 4 6,8 4,7 69,9 6,8 4,7 69,9
13º Tauarí 20 6,6 4,0 60,6 6,6 4,0 60,6
14º Guaribeiro 16 5,3 4,3 81,3 5,3 4,3 81,3
Manitê 16 5,3 3,8 71,3 5,3 3,8 71,3
15º Castanheira 4 4,0 4,7 117,3 4,0 4,7 117,3
16º Samaúma 8 1,0 1,9 185,2 1,0 1,9 185,2
17º Mulungu duro 14 0,5 1,9 374,2 0,5 1,9 374,2
18º Louro itaúba 10 0,0 0,0 - 0,0 0,0 -
Mulateiro 5 0,0 0,0 - 0,0 0,0 -
Marupá preto 4 0,0 0,0 - 0,0 0,0 -
Total 463 - - - - - -
Notas: Dentro de cada posição hierárquica, as espécies foram ordenadas de modo decrescente usando como
critério o maior número de corpos de prova por se entender que quanto maior a repetição (dados geradores
da nota média) maior é a consistência da informação; Nota p/ cupim e Nota p/ fungo = médias das notas dos
corpos de prova obtidas nas avaliações de campo; Cv% = coeficiente de variação percentual; muito embora
não tenha havido diferenças entre as notas médias para cupins e fungos manteve-se tais avaliações em razão
de que é esperado, ao longo das avaliações (após alguns anos), diferenciar o grau de degradação provocado
por um e por outro organismo xilófago.

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Entre as espécies com os piores desempenhos quanto à resistência ao ataque de xilófagos na


4ª avaliação de campo, cinco apresentaram mais de 60% dos corpos de prova classificados com
notas de degradação severas (4 ou 0): Louro itaúba, Marupá preto, Mulateiro, Mulungu duro e
Samaúma. Estas cinco espécies atingiram o limite de suas vidas úteis e, portanto, de acordo com
Cardias (1985) foram classificadas como "não duráveis, vida útil menor que 2 anos" (Tabela 4).

Tabela 4. Relação e classificação das 12 espécies madeireiras com os piores desempenhos quanto a
durabilidade natural no campo de apodrecimento de madeira da Embrapa Acre, Rio Branco-AC.
Avaliação
Nota média Amostras % amostras
com 60% Classe de
Ranking Espécie (cupins e com notas 4 com notas 4 Vida útil
notas 4 ou durabilidade
fungos) e/ou 0 e/ou 0
0
10º Andiroba 8,3 1 4,8% - Indefinida Indefinida
11º Matamatá 7,5 2 12,5% - Indefinida Indefinida
12º Copaíba I 6,8 1 25,0% - Indefinida Indefinida
13º Tauarí 6,6 5 25,0% - Indefinida Indefinida
14º Guaribeiro 5,3 6 37,5% - Indefinida Indefinida
14º Manitê 5,3 5 31,3% - Indefinida Indefinida
15º Castanheira 4,0 2 50,0% - Indefinida Indefinida
16º Samaúma 1,0 8 100,0% 4ª Não durável < 2 anos
17º Mulungu duro 0,5 13 92,9% 4ª Não durável < 2 anos
18º Louro itaúba 0,0 10 100,0% 4ª Não durável < 2 anos
18º Mulateiro 0,0 5 100,0% 4ª Não durável < 2 anos
18º Marupá preto 0,0 4 100,0% 4ª Não durável < 2 anos

De acordo com Sutil et al. (2016), na 1ª avaliação dos insetos xilófagos, em agosto de 2015,
as madeiras com maior ocorrência de insetos foram Cumaru ferro e Amarelão, com 50% de
ocorrência, predominantemente cupins, a madeira com menos ocorrência (cupins) foi Cerejeira
(4,16%). Na 2ª avaliação, em novembro de 2015, a madeira com maior ocorrência de insetos
(cupins) foi Mulateiro (20%), na porção subterrânea do corpo de prova, a menor foi em Matamatá,
com 5% de cupins, na porção acima do solo e subterrânea do corpo de prova. Na 3ª avaliação, em
fevereiro de 2016, a maior ocorrência (cupins) foi em Angelim da mata (50%) e a menor foi em
Bálsamo (3,2%). Na 4ª avaliação, em maio de 2015, as maiores ocorrências (cupins e larvas de
coleópteros), foram em Marupá preto, Angelim da mata, Sucupira preta e Abiurana preta, com 25%
cada espécie, Andiroba e Aroeira tiveram as menores ocorrências, com 4,5% cada.
No decorrer das avaliações dos insetos foram identificadas cinco espécies de cupins
presentes nos corpos de prova, a saber: Anoplotermes sp., Cornitermes bequaerti, Grigiotermes sp.,
Heterotermes tenui e Rhinotermes marginali.

CONCLUSÕES

Em razão da baixa durabilidade natural verificada neste estudo, as madeiras das espécies
Louro itaúba, Marupá preto, Mulateiro, Mulungu duro e Samaúma já podem ter a recomendação

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descartada para uso nas condições ambientais similares ao do experimento, ou seja, em contato com
o solo e expostas a céu aberto às adversidades naturais bióticas e abióticas.
Devido ao pouco tempo de observação, a maior parte das espécies estudadas ainda não
possui uma definição quanto às suas vidas úteis, portanto, não podem ser descartadas e, tampouco,
recomendadas ao uso nas condições similares ao experimento.
Os principais insetos xilófagos presentes nas madeiras amostradas foram os cupins
(Isoptera), seguido pelas larvas de besouros (Coleoptera), encontrados preferencialmente na parte
subterrânea dos corpos de prova.

AGRADECIMENTOS

À madeireira Laminados Triunfo, pela doação de amostras de madeiras, ao Laboratório de


Produtos Florestais (LPF/SFB/MMA), ao Laboratório de Anatomia e Identificação de Madeiras do
INPA (INPA/MCTIC) e ao laboratório da Fundação de Tecnologia do Acre (FUNTAC/Governo do
Estado do Acre) pela identificação botânica das madeiras deste trabalho.

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ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 352


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

GESTÃO E GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS

Jamilton Costa PEREIRA


Mestrando em Sistemas Agroindustriais – CCTA/UFCG
jcp_jamiltoncosta@hotmail.com
Claudineide Baltazar da SILVA
Mestranda em Sistemas Agroindustriais – CCTA/UFCG
cbs.claudineide@yahoo.com.br
Maria do Socorro Duarte PINTO
Mestranda em Sistemas Agroindústrias – CCTA/UFCG
socorropd@hotmail.com
Orientador: Walker Gomes de ALBUQUERQUE
Doutor em Meteorologia – UFCG. Professor – CCTA/UACTA/UFCG
walker@ccta.ufcg.edu.br

RESUMO
Objetivou-se com este estudo, identificar como se dá o processo de gestão e gerenciamento de
resíduos sólidos urbanos. Diante dessa perspectiva, o gerenciamento de resíduos aparece como um
aliado na busca da sustentabilidade, com a finalidade de uma melhor qualidade dos recursos
naturais, mitigação dos impactos ocasionados ao meio ambiente e consequentemente, a melhoria na
qualidade de vida das pessoas. No que se refere à metodologia, configurou-se como uma pesquisa
básica, caracterizada como exploratória, com abordagem descritiva, contemplando o método
qualitativo (revisão bibliográfica), desenvolvida com base em material já publicado, como livros,
artigos publicados em periódicos eletrônicos e anais de congresso. Sendo assim, foi possível
perceber como o gerenciamento dos resíduos sólidos se torna um instrumento eficiente para
preservação dos recursos naturais, fonte de renda para catadores e de incentivos para gestores
públicos. Desta forma, conclui-se que o gerenciamento dos resíduos sólidos aparece como uma
opção importante na busca pela sustentabilidade, uma vez que a destinação correta dos resíduos
possibilita a melhoria nos aspectos socioeconômica e ambiental.
Palavra chave: Meio Ambiente, Sustentabilidade, Descarte.
ABSTRACT
The present work aimed to identify the solid waste management and management practices from
packaging, collection, treatment to final disposal. Given this perspective, waste management
appears as an ally in the pursuit of sustainability, aiming at a better quality of natural resources,
mitigation of the impacts caused to the environment and, consequently, the improvement in the
quality of life of the people. This study was set up as a basic research, characterized as exploratory,
with descriptive contemplating the qualitative method (bibliographic review), developed based on
material already published, such as books, articles published in electronic journals and annals of
congress. Thus, from the study it was possible to see how solid waste management becomes an
efficient tool for the preservation of natural resources, a source of income for waste pickers and
incentives for public managers. In this way, it is concluded that solid waste management appears as
an important option in the search for sustainability, since the correct destination of the residues
allows the improvement in socioeconomic and environmental aspects.
Keywords: Integrated Management, Environment, Sustainability.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 353


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

INTRODUÇÃO

Um dos maiores desafios da atualidade está no alcance ao adequado gerenciamento dos


resíduos sólidos com obtenção do desenvolvimento sustentável considerando-se como um dos
grandes desafios para os gestores públicos. Pois, segundo Sousa Júnior (2011), grande parte dos
municípios do Brasil não dispõe de métodos adequados de disposição para os resíduos, com isso o
rejeito acaba sendo depositados em locais inapropriados como os lixões a céu aberto ou aterros
sanitários que deveriam ser pelo menos controlados.
O acúmulo de resíduos gerado nos grandes centros urbanos vem se tornando um grande
desafio no tocante a gestão pública, principalmente no que diz respeito à necessidade de investir em
infraestrutura adequada para sua correta destinação. Pois o descarte de forma incorreto do resíduo
provoca uma série de impactos (negativos) o que interfere diretamente nos aspectos sociais (saúde
pública) econômicos e ambientais. Na questão ambiental constata-se a poluição das nascentes e dos
rios. No âmbito social vêem desastres ecológicos e enchentes, além da contaminação do solo e
consequentemente dos indivíduos também, aumentando os gastos com saúde pública (RAMOS;
SILVA &MONCAO, 2011).
Nessa direção, objetivou-se com a presente pesquisa, identificar como se dá o processo de
gerenciamento de resíduos sólidos urbanos. Diante dessa perspectiva, o gerenciamento dos resíduos
sólidos aparece como um instrumento na busca da sustentabilidade, com a finalidade de uma
melhor qualidade dos recursos naturais, mitigação dos impactos ocasionados ao meio ambiente e,
consequentemente, a melhoria na qualidade de vida das pessoas.
Quanto à metodologia, esse estudo configurou-se como uma pesquisa básica, caracterizada
como exploratória com abordagem descritiva. Contemplando o método qualitativo (revisão
bibliográfica), desenvolvida com base em material já publicado, como livros, artigos publicados em
periódicos eletrônicos e anais de congresso.

A PROBLEMÁTICA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

A Lei nº 12.305/2010 que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS),


regulamentada pelo Decreto nº 7.404/2010 define resíduos sólidos como sendo:

―[...] material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em


sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a
proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e
líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos
ou em corpos d‘água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis
em face da melhor tecnologia disponível;‖ (BRASIL, 2010).

Segundo Ferreira et al. (2010), com a aceleração do processo industrial, que por sua vez
extraiu suas matérias primas da natureza, veio desencadear e agravar a problemática dos resíduos

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sólidos na sociedade contemporânea, fazendo com que essas propriedades se tornassem um


elemento estranho ao sistema natural. Esse pensamento, que persiste até hoje, traz vários danos ao
meio ambiente, principalmente, em relação ao descarte incorreto desses resíduos como enterrá-los,
queimá-los, jogá-los em locais inapropriados, entre outros.
Nessa mesma linha, Bensen et al. (2010) apud Jacobi &Besen (2011, p.135) apresentam
algumas consequências da disposição incorreta de resíduos:

A gestão e a disposição inadequada dos resíduos sólidos causam impactos socioambientais,


tais como degradação do solo, comprometimento dos corpos d‘água e mananciais,
intensificação de enchentes, contribuição para a poluição do ar e proliferação de vetores de
importância sanitária nos centros urbanos e catação em condições insalubres nas ruas e nas
áreas de disposição final. (BENSEN et al. 2010) apud (JACOBI & BESEN 2011, p.135).

Pedroso (2010, p.10) enfatiza que essa ―destinação inadequada está gerando graves
problemas ambientais nos mananciais, ocasionando severas cobranças dos órgãos ambientais, pois
nos centros urbanos tem-se a possibilidade de coleta pelo poder público, o que não ocorre no
interior‖.Essa busca por soluções imediatas em relação ao tratamento dos resíduos começou de certa
forma, após o crescimento da população e a intensidade industrial, como afirma Soares, Salgueiro e
Gazineu (2007, p.03), ―o crescimento desordenado da população e o aparecimento de grandes
indústrias têm aumentado o consumo e com isso gerado maior quantidade de resíduos, que,
geralmente, possuem manejo e destino inadequados, provocando, assim, efeitos indesejáveis ao
meio ambiente‖.Sendo assim a PNRS, instituída pela lei 12.305/2010 traz um conceito de resíduos
em seu Art. 3º, Inciso XVI, que diz:

Art. 3o – Para os efeitos desta Lei, entende-se por: [...] XVI - resíduos sólidos: material,
substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a
cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos
estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas
particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos
d‘água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da
melhor tecnologia disponível; (BRASIL, 2010).

Os resíduos sólidos são provenientes de ações humanas, e é visto pela sociedade como todo
aquele material que não possui mais serventia, conforme afirmam Rêgo, Barreto e Killinger (2002)
em sua pesquisa. E, consequentemente, como o número de resíduos está aumentando, havendo uma
preocupação quanto ao seu gerenciamento, que é complementado por Jalili e Noori (2008) apud
Abduli, Semiefard e Zade (2008) quando afirma que se não houver uma gestão adequada para esse
problema dos resíduos, pode-se levar a poluição ambiental e colocar em risco a saúde da
humanidade.
Em contrapartida, Zarate et. al. (2008) afirmam que em diversos países háprogramas
governamentais de descarte correto de resíduos urbanos, pois esta é uma responsabilidade do setor
público. Os autores ainda enfatizam que o serviço de coleta é complexo e exige a participação do

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setor público, privado e os próprios moradores. Pois a gestão de resíduos sólidos inclui coleta,
transporte, tratamento, reciclagem, recuperação de recursos, e eliminação de resíduos das áreas
urbanas.

GESTÃO INTEGRADA DE RESÍDUOS SÓLIDOS

Mesquita Júnior (2007, p. 14) definem gestão integrada de resíduos sólidos como a maneira
de ―conceber, implementar e administrar sistemas de manejo deresíduos sólidos urbanos,
considerando uma ampla participação dos setores da sociedade e tendo como perspectiva o
desenvolvimento sustentável‖. Continuandosua linha de pensamento, Mesquita e Júnior (2007, p.
14) ainda relatam que:

[...] esse sistema deve considerar a ampla participação de todos os representantes da


sociedade, do primeiro, segundo e terceiros setores, assim exemplificados: governo central,
governo local, setor formal, setor privado, ONGs, setor informal, catadores, comunidade,
todos geradores responsáveis pelos resíduos (MESQUITA JÚNIOR, 2007, p.14).

Conforme Massukado (2009), a gestão integrada de resíduos sólidos no Brasil, baseada em


pesquisas do IBAM (2001), já é adotado em várias cidades brasileiras de forma diversa,
prevalecendo, no entanto, de forma não promissora. A autora ainda salienta que o enfoque
concedido à questão dos resíduos no Brasil é, na maioria das vezes, sob o ponto de vista da coleta e
do transporte, destinando-os para áreas mais afastadas dos centros urbanos, ou seja, longe da visão
dos moradores.Motta (1995) apud Massukado (2009, p. 43), aponta a questão de resíduos sólidos
no Brasil que:

[...] apresentam indicadores que mostram um baixo desempenho dos serviços de coleta e,
principalmente, na disposição final do lixo urbano. Adicionalmente, os gastos necessários
para melhorar este cenário são expressivos e enfrentam problemas institucionais e de
jurisdição, de competência do poder público. (MOTTA, 1995 apud MASSUKADO, 2009,
p. 43).

De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, para o melhor desenvolvimento dos


sistemas de manejo de resíduos sólidos foi instituída a lei nº 12.305/10 que trata da Política
Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), estando inserida nesta lei, a responsabilidade compartilhada
dos fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, cidadão e titulares de serviços de
manejo. Esta responsabilidade é garantida através de metas e planejamentos traçados no decorrer da
Lei. Também ―cria metas importantes que irão contribuir para a eliminação dos lixões e institui
instrumentos de planejamento nos níveis nacional, estadual, microregional, intermunicipal,
metropolitano e municipal além de impor que os particulares elaborem seus Planos de
Gerenciamento de Resíduos Sólidos‖ (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, p. 02, 2013).
A gestão de resíduos sólidos é uma forma de gerenciamento de resíduos que são produzidos
nos domicílios urbanos, e que demonstra as fases de coleta, transporte, tratamento e disposição final

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do lixo, além de iniciativas que objetivam conter a produção descontrolada dos resíduos, tentando
manter uma relação harmônica entre o homem e o meio ambiente (ROCHA; D‘ÁVILA; SOUZA,
2005).
Nesse contexto, Massukado (2009) ressalta que, para que ocorra uma gestão integrada de
resíduos de forma eficiente e eficaz, é necessário que haja uma convergência de interesses de
preservação ambiental, do desenvolvimento econômico/financeiro e da segurança ambiental, dessa
forma, criando novas oportunidades para a criação de parcerias e a busca por soluções criativas,
tendo como objetivo reduzir o índice de surgimento de novos problemas ambientais e sociais.
A PNRS por meio da lei nº 12.305/2010 destaca no o ―art. 9o - na gestão de resíduos
sólidos, deve ser observada a seguinte ordem de prioridade: não geração, redução, reutilização,
reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos
rejeitos‖ (BRASIL, 2010).

Não Ideal NÃO GERAÇÃO

(1)
REDUÇÃO

(1)
REUTILIZAÇÃO

(1)
RECICLAGEM

(1)
RECUPERAÇÃO ENERGÉTICA

TRATAMENTO

FÍSICO QUÍMICO BIOLÓGI

DISPOSIÇÃO FINAL AMBIENTALMENTE


ADEQUADA DOS REJEITOS

Figura 1 – Ordem de prioridade na gestão de resíduos sólidos


FONTE: Adaptado da PNRS (2010)

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Desta feita, a gestão integrada dos resíduos sólidos apresenta-se como uma alternativa
estratégica para o desenvolvimento sustentável a partir do momento em que propõe mudanças de
comportamento dos cidadãos através de programas de educação que apontem os benefícios trazidos
por esse tipo de prática.

GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS

A PNRS por meio da Lei nº 12.305/2010 e através do seu art. 3º define gerenciamento de
resíduos sólidos como: ―conjunto de ações exercidas, direta ou indiretamente, nas etapas de coleta,
transporte, transbordo, tratamento e destinação final ambientalmente adequada dos resíduos sólidos
e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos [...]‖ (BRASIL, 2010, p. 2). Dessa forma, é
possível perceber que o termo ―gestão‖, por envolver diferentes variáveis (política, econômica,
cultural, social, entre outras) é mais abrangente que o termo ―gerenciamento‖. Este por sua vez, de
maneira mais específica, refere-se diretamente às etapas inerentes ao trabalho desenvolvido pelo
catador, conforme mostra a figura1 abaixo mais detalhado:

Estação de
Transbordo

Sistema de Tr
Triagem
C
a Di
r
a
Incineração
Coleta c
Regular t
e
r
i
z

Outras
Alternativ

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Figura 2 – Etapas do gerenciamento de resíduos sólidos


FONTE: Adaptado da PNRS (2010).

Assim, conhecer as atividades voltadas ao gerenciamento de resíduos sólidos (figura 2


acima) é importante, pois, dentro da gestão ambiental, esta área tem um caráter visivelmente prático
e suas consequências contribuem significativamente para uma melhoria da qualidade social,
ambiental e econômica de uma determinada localidade.
Atualmente, no Brasil, o adequado gerenciamento de resíduos sólidos é regido pela PNRS
lei nº 12.305/2010. Faz poucos anos que o referido instrumento legal foi aprovado, mas é fruto de
longas discussões e mobilizações no país, uma vez que foram necessários cerca de vinte anos de
tramitação até a lei ser aprovada. Conforme asseguram Nascimento, Neto, Moreira (2010, p. 15):
―faltou consenso entre os diferentes setores envolvidos para a apreciação no Congresso Nacional‖.
Os autores afirmam que esse desacordo entre governo, sociedade civil e setor empresarial foi
devido ao:

[...] modelo de responsabilização pós-consumo a ser adotado no país, ou seja, a definição


das atribuições de fabricantes, importadores, distribuidores, consumidores e titulares dos
serviços públicos de limpeza urbana na gestão ambiental dos resíduos produzidos, com
vistas à minimização dos impactos ambientais decorrentes do ciclo de vida dos produtos.
(NASCIMENTO NETO; MOREIRA, 2010, p. 16).

Como a lei estabelece responsabilidades também ao setor empresarial por todo o ciclo de
vida de certos produtos, muitos empresários se manifestaram contra a adoção dessa prática. Todavia
a lei foi aprovada em agosto de 2010, depois mais de vinte anos de negociação, e na atualidade se
configura como o mais relevante instrumento normativo nessa área, que pode ―contribuir para
minorar os problemas graves enfrentados pelo Brasil na gestão dos resíduos sólidos‖ (LIMA;
ARAÚJO, 2011, p. 219).

COLETA SELETIVA DE RESÍDUOS SÓLIDOS

De acordo com o PASS (2011), a coleta seletiva consiste em um processo de recolhimento


de materiais que podem ser e/ou não reciclados. Também funciona como um sistema de educação
ambiental na medida em que consegue ter a percepção da população sobre sua importância no
combate aos problemas de desperdício de recursos naturais e de poluição causada por resíduos.
Dessa forma o processo de coleta começa na retirada do veículo de coleta da garagem, o trajeto
feito para recolhimento de resíduos, o encaminhamento ao local de despejo até o retorno do veiculo
a garagem.
Segundo Monteiro et al. (2001) apud Simonetto e Borenstein (2006, p.451), o processo de
coleta de resíduos é contínuo e ampliado gradativamente:

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O primeiro passo, diz respeito à realização de campanhas informativas de conscientização


junto à população, convencendo-a da importância da reciclagem e orientando-a para que
separe o lixo em recipientes para cada tipo de material. Posteriormente, deve-se elaborar
um plano de coleta, definindo equipamentos, veículos, áreas e a periodicidade de coleta dos
resíduos. Finalmente, é necessária a instalação de unidades de triagem para limpeza e
separação dos resíduos e acondicionamento para a venda do material a ser reciclado
(MONTEIRO et al. 2001, apud SIMONETTO; BORENSTEIN, 2006, p.451).

Pode se entender que o processo se dar principalmente por estratégias de mitigação,


reutilização e descartes adequados dos resíduos, entre outros fatores, primando pela redução de
geração da fonte. Assim, a problemática do gerenciamento de resíduos deve atuar como um
conjunto de ações operacionais que buscam mitigar geração de resíduos em um empreendimento ou
atividade (NAGALLI, 2014).
Cunha e Caixeta Filho (2002, p. 145) classificam a coleta em dois tipos de sistema: ―sistema
especial de coleta (resíduos contaminados); sistema de coleta de resíduos não contaminados.‖
Sendo assim a implantação de um sistema de coleta seletiva se dá por meio de um programa de
coleta seletiva, que exige dedicação e empenho. Esse programa engloba três importantes etapas:
planejamento; implantação e manutenção.
A coleta seletiva deve ser realizada com bastante frequência obedecendo aos horários de
preferência no período noturno. Porém devido à falta de informação ou recursos limitados de alguns
municípios a coleta seletiva muita das vezes é realizada apenas duas vezes por semana. A resolução
do CONAMA de nº 275 de 25 de abril de 2001 em seu Art.1º Estabelece o código de cores para os
diferentes tipos de resíduos, a ser adotado na identificação de coletores e condutores, e nas
campanhas para a coleta seletiva, sendo assim definido:

Figura 3 - Cores para os diferentes tipos de resíduos sólidos


Fonte: Adaptado da PNRS

Os recipientes para a acomodação de materiais recicláveis são caracterizados com cores


diferenciadas: azul – papel; amarelo – metal; verde – vidro; vermelho – plástico e marrom –
orgânico. Outro modelo é aquele em que são separados os resíduos domésticos em dois grupos:
materiais orgânicos (úmidos) compostos por restos de alimentos e materiais não recicláveis (lixo),

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que são acondicionados em um único contêiner coletados pelo sistema de coleta de lixo domiciliar
regular e materiais recicláveis (secos) - compostos por papéis, plásticos, metais e vidros,
acondicionados em um único contêiner e coletados nos roteiros de coleta seletiva pública.

TIPOS DE EXEMPLOS DE RESÍDUOS


RESÍDUOS
Papéis Jornais, revistas, caixas de papelão;

Plásticos:  Potes, copos, garrafas, sacos e sacolas, utensílios (baldes e canetas), isopor e
Recicláveis

brinquedos de plástico;

Metais: Tampas de garrafa, latinhas de bebida e enlatados, talheres, tampas de panela


sem cabo, pregos, papel alumínio e embalagens descartáveis;

Vidros:  Garrafas, potes de vidro de conserva, frascos, copos e vidros de janela;

Fitas e adesivos, embalagens metalizadas (salgadinhos e bolachas), papéis


engordurados ou sujos (guardanapos e papel higiênico), papéis plastificados
Papéis (sabão em pó), fotografias e papéis parafinados.

Plásticos:  Fraldas descartáveis, adesivos, cabos de panelas, esponjas, tomadas e


Não Recicláveis

plásticos termofixos, acrílicos, papel celofane e embalagens metalizadas.

Metais: Latas de tinta, verniz, solventes químicos e inseticidas, esponjas de aço,


clipes, tachinhas e grampos.
Recicláveis

 Espelhos, vidros não temperados, refratários (pirex), louças de porcelana ou


cerâmica, cristais, lâmpadas, vidros especiais (tampa de forno e microondas)
Vidros: e ampolas de remédios

Tabela 1 – Tipos de resíduos sólidos


FONTE: Adaptado da PNRS

Os vasilhames como plásticos, latas e vidros e devem ser preferencialmente enxaguados


após o uso evitando o surgimento de mau cheiro e o aparecimento de animais. Quanto aos papéis,
estes deverão estar secos e de preferência não amassados, pois ocupam menos espaço e têm mais
valor. Os materiais cortantes (vidro quebrado) devem ser embalados em papéis grossos (jornais,
papelão) para evitar acidentes. As latas, além de limpas, deverão ter as tampas pressionadas para
dentro (FUZARO, 2001).

DISCUSSÕES

O manejo dos resíduos sólidos de uma cidade envolve diferentes atores, diversos órgãos do
poder público municipal, estadual e federal, agentes privados e a população em geral. A nova
perspectiva pautada pela PNRS traz consigo inúmera novas responsabilidades para todos os atores
envolvidos com a gestão dos resíduos sólidos nos municípios. Para o completo atendimento a esta

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

demanda, é de fundamental importância à formação adequada de uma Equipe Gerencial Municipal


que formule e oriente a implantação e a manutenção das metas estabelecidas nos PMGIRS.
É fundamental salientar a importância dos Resíduos Sólidos no cenário mundial atual tanto
no que se refere ao meio ambiente e sustentabilidade, quanto, no caso da realidade brasileira, em
relação à geração de renda e inclusão social. Este processo inclui um movimento de
compartilhamento de competências e responsabilidades, que não é sinônimo de menos trabalho para
cada um dos agentes sociais envolvidos, mas, sim, um aumento dos deveres de cada um, com
soluções interligadas e complementares.
O gerenciamento de resíduos sólidos tem-se tornando algo recorrente em função das
obrigações legais e pressão da sociedade. Com isto os órgãos governamentais estão cumprindo com
o previsto contido na PNRS. Sendo assim, foi possível avaliar a importância que eles têm dado ao
correto gerenciamento, onde na maioria das vezes se dá apenas devido aos aspectos legais e não por
contribuir para um meio ambiente ecologicamente equilibrado. Portanto, um melhor planejamento
dos gestores públicos visando à ampliação do gerenciamento dos resíduos, para que esta abranja os
aspectos (social econômico e ambiental), como também um trabalho mais forte de educação
ambiental junto à população, fortaleceria essa prática tão importante para o desenvolvimento
sustentável.
Para finalizar, salienta-se a necessidade de delinear sugestões para trabalhos futuros, que
sejam capazes de trazer benefícios para a sociedade civil já que podem compor pesquisas de forma
descentralizada da gestão pública. Por meio destes podem ser realizadas pesquisas no sentido de
incentivar a participação popular em diferentes programas inseridos nas políticas públicas. Sugere
ainda proporcionar parcerias do meio acadêmico com o empresarial e órgãos governamentais, por
meio de trabalhos de extensão referente à gestão de resíduos sólidos nos municípios.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa resulta no propósito de identificar as práticas de gestão e gerenciamento de


resíduos sólidos urbanos. A partir desse estudo foi possível responder ao objetivo geral e a
problemática de forma que os seus resultados poderão contribuir para assimilá-los e expandi-los
possibilitando uma melhor compreensão por todos.
Sendo assim destacam-se os resíduos sólidos como uma problemática ambiental a ser
discutida frequentemente que visem à mitigação diária dos impactos causados principalmente pela
forma que esses resíduos são descartados. Pois os recursos naturais estão cada vez mais
transformados pelas ações antrópicas e tornando-se mais evidente a necessidade do cidadão tornar-
se responsável por fazer sua parte para mitigar os impactos causados ao meio ambiente.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Com o objetivo de mitigar os impactos (negativos) causados pelo descarte incorreto desses
resíduos, existem alternativas que podem ser implantadas, como a educação e sensibilização
ambiental da população, o incentivo a produção por parte da indústria de produtos e a utilização de
embalagens recicláveis, com a finalidade de possibilitar a formação de conhecimento dos problemas
ambientais e da busca por soluções nas esferas social econômica e ambiental. Assim, a população
em geral tem um papel fundamental na primeira triagem dos resíduos que utilizam em suas
residências. Dessa forma, a quantidade do material que vai para os aterros sofreria uma diminuição
significativa, visto que estes devem apenas receber aquilo que não é reciclável (lixo).
A partir do estudo realizado foi possível perceber como o gerenciamento dos resíduos
sólidos torna-se uma ferramenta eficiente de preservação dos recursos naturais, fonte de renda para
catadores, como também de incentivos para os municípios. Sendo assim, conclui-se que o
gerenciamento de resíduos sólidos aparece como uma opção de significativa importância na busca
pela sustentabilidade, uma vez que a destinação correta dos resíduos possibilita a melhoria nos
aspectos socioeconômica e ambiental.

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TOLERÂNCIA DE PORTA-ENXERTOS DE CAJUEIRO À IRRIGAÇÃO COM


ÁGUA SALINA SOB APLICAÇÃO DE BIOFERTILIZANTE BOVINO

José Sebastião de MELO FILHO


Doutorando em Agronomia na Universidade Federal da Paraíba
sebastiaouepb@yahoo.com.br
Mário Leno Martins VÉRAS
Doutorando em Fitotecnia na Universidade Federal de Viçosa
mario.deus1992@bol.com.br
Anderson Carlos de Melo GONÇALVES
Mestrando em Agronomia na Universidade Federal da Paraíba
anderson.agroufpb@yahoo.com
Rayane Amaral de ANDRADE
Graduada em Agronomia na Universidade Federal de Campina Grande
rayane_agronomia@hotmail.com

RESUMO
Plantas submetidas ao estresse salino apresentam reduções no crescimento e desenvolvimento, no
entanto, nos últimos anos diversos estudos têm mostrado efeito positivo de substâncias orgânicas,
como o biofertilizante bovino, para atenuar o efeito dos sais a planta. Neste sentido, objetivou-se
avaliar o efeito de águas salinas e aplicação de biofertilizante bovino em porta-enxertos de cajueiro.
Adotou-se o delineamento experimental inteiramente casualizado, apresentando um esquema
fatorial de 5 x 4, com 6 repetições. Os fatores estudados consistiram de cinco níveis de
condutividade elétrica da água de irrigação (CEa) 1; 3; 5; 7 e 9 dS m-1 e quatro aplicações de
biofertilizante bovino: 0, 3, 6 e 9% do volume do substrato. Aos 120 dias após semeadura (DAS)
foram avaliados: taxa de crescimento absoluto de altura da planta, área foliar e diâmetro do caule.
Foram avaliados ainda a massa da matéria seca total e Índice de tolerância à salinidade. Os dados
obtidos foram avaliados mediante análise de variância pelo teste F em nível de 0,05 e 0,01 de
probabilidade e nos casos de significância, realizou-se análise de regressão polinomial linear e
quadrática utilizando do software estatístico SISVAR 5.0. A irrigação com água salina a partir de 1
dS m-1 reduz o crescimento das mudas de cajueiro à salinidade; A tolerância das mudas de cajueiro
à salinidade na água de irrigação é afetada negativamente pelo aumento na CEa, mas com menor
severidade nas mudas tratadas com 9% de biofertilizante bovino.
Palavras-chave: Anacardium occidentale L.; condutividade elétrica na água de irrigação;
agroecologia.
ABSTRACT
However, in recent years several studies have shown a positive effect of organic substances, such as
bovine biofertilizer, to attenuate the effect of salts on the plant. In this sense, the objective was to
evaluate the effect of saline waters and application of bovine biofertilizer on cashew rootstocks. The
experimental design was completely randomized, presenting a factorial scheme of 5 x 4, with 6
replicates. The factors studied consisted of five levels of electrical conductivity of the irrigation
water (ECw): 1, 3, 5, 7 and 9 dS m-1 and four applications of bovine biofertilizer: 0, 3, 6 and 9% of
volume of the substrate. At 120 days after sowing (DAS) were evaluated: absolute growth rate of
plant height, leaf area and stem diameter. The total dry matter mass and the salinity tolerance index
were also evaluated. The obtained data were evaluated by analysis of variance by the F test at 0.05

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 366


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and 0.01 probability level and in the cases of significance, linear and quadratic polynomial
regression analysis was performed using the statistical software SISVAR 5.0. Irrigation with saline
water from 1 dS m-1 reduces the growth of cashew tree seedlings to salinity; The tolerance of
cashew seedlings to salinity in irrigation water is negatively affected by the increase in ECw, but
with less severity in the seedlings treated with 9% of bovine biofertilizer.
Keywords: Anacardium occidentale L .; electrical conductivity in irrigation water; agroecology.

INTRODUÇÃO

O caju (Anacardium occidentale L.) é originário das regiões tropicais da América do Sul e
coloniza grande parte dos estados brasileiros, especificamente o Nordeste (LEITE; PESSOA, 2004;
FIGUEIREDO JUNIOR, 2006).
A maioria dos cultivos desta espécie são localizados em regiões com predominância de solos
salinos bem como com baixa disponibilidade de água de boa qualidade para irrigação. A salinidade
induzida pelo homem é a que traz maiores prejuízos econômicos, pois ocorre em áreas nas quais se
realizaram investimentos elevados, como sistemas de irrigação e fertilizações. A salinidade
induzida está geralmente associada ao manejo inadequado da irrigação e da fertirrigação, podendo
ser causada tanto pela baixa qualidade (SILVA et al, 2012).
Desta forma, é importante salientar que é necessário buscar tecnologias alternativas para o
uso condizente dessas águas salinas, com seu maior aproveitamento na produção vegetal,
diminuindo os impactos ambientais (SANTOS et al., 2010).
Uma das alternativas citada por Penteado (2010) é a aplicação de biofertilizantes, já que são
adubos vivos, porque é constituído de microrganismos. O biofertilizante bovino é um adubo
orgânico que pode ser liquido ou solido resultante de um processo de decomposição da matéria
orgânica (animal ou vegetal), pela fermentação microbiana, com ou sem a presença de oxigênio,
ocorrida em meio liquido. Apresenta em sua composição nutrientes essenciais ao desenvolvimento
das culturas, reduz a utilização de produtos químicos gerando economia de insumos e melhora os
atributos físicos e biológicos do solo. Além disso, o biofertilizante bovino vem sendo utilizado
como uma das estratégias de manejo que possibilitam a exploração de áreas irrigadas com água
salina na agricultura (SILVA et al., 2011).
São escassos os estudos com mudas de cajueiro, principalmente avaliando a formação de
mudas irrigadas com águas salinas. Entretanto, em diversas frutíferas, como tamarindeiro (LIMA
NETO et al., 2015), goiabeira (CAVALCANTE et al., 2010) e maracujazeiro (MEDEIROS et al.,
2016) observou-se que a salinidade na água de irrigação reduz o crescimento e qualidade das
mudas. Os autores constataram que a aplicação de biofertilizante bovino pode ser uma alternativa
positiva em minimizar esses efeito da salinidade da água em virtude de apresentar substâncias
húmicas, contidas nos insumos orgânico (AIDYN et al., 2012).

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 367


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Neste contexto, em virtude da escassez de estudos relacionados à utilização de bovino como


atenuadores do estresse salino na formação de mudas de cajueiro, o presente trabalho objetivou
avaliar o efeito de águas salinas e aplicação de biofertilizante bovino em porta-enxertos de cajueiro.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no período de novembro de 2015 a março de 2016 em


ambiente protegido do Centro de Ciências Humanas e Agrárias no Departamento de Agrárias e
Exatas da Universidade Estadual da Paraíba no município de Catolé do Rocha-PB, (6°20‘38‖S;
37°44‘48‖W) e 275 metros de altitude. O clima do município, de acordo com a classificação de
Koppen, é do tipo BSW‘, ou seja, quente e seco do tipo estepe, com temperatura média mensal
superior a 18°C, durante todo o ano.
Adotou-se o delineamento experimental inteiramente casualizado (DIC), apresentando um
esquema fatorial de 5 x 4, com 6 repetições. Os fatores estudados consistiram de cinco níveis de
condutividade elétrica da água de irrigação (CEa): (1; 3; 5; 7 e 9 dS m-1) e quatro aplicações de
biofertilizante bovino: (0, 3, 6 e 9% do volume do substrato). As unidades experimentais foram
compostas por três mudas, cultivadas em sacos de polietileno com capacidade de 2 Kg.
O solo utilizado para preenchimento dos sacos de polietileno foi classificado como Neossolo
flúvico de textura franco argilo arenosa. A semeadura foi realizada em sacos de plásticos de 2 Kg de
capacidade nas dimensões 20 x 30 cm, preenchidos com solo. Foram semeadas três sementes
(castanhas) por saco de cajueiro anão precoce do clone CCP 76 por saco. Aos 15 dias após a
emergência, realizou-se o desbaste mantendo-se apenas a plântula mais vigorosa.
O biofertilizante foi obtido por fermentação anaeróbica, isto é, em ambiente hermeticamente
fechado. Para liberação do gás metano na base superior de cada biodigestor foi acoplada uma
extremidade de uma mangueira fina e a outra extremidade foi imersa num recipiente com água. Para
o preparo do biofertilizante foi utilizado 70 kg de esterco bovino de vacas em lactação e 120 litros
de água, adicionando-se 5 kg de açúcar e 5 litros de leite para acelerar o metabolismo das bactérias.
Após diluição em água a 5% o biofertilizante foi aplicado 15 dias após a semeadura (DAS),
em intervalos de 8 dias, totalizando 6 aplicações. Antes da aplicação, o biofertilizante foi submetido
ao processo de filtragem por tela para reduzir os riscos de obstrução dos furos do crivo do regador.
O biofertilizante bovino foi analisado e apresentou as seguintes características físico-químicas
(Tabela 1).

Tabela 1: Análise química do biofertilizante bovino utilizado no experimento.


Atributos químicos Biofertilizante Bovino
pH H2O (1:2,5) 4,68
CE (dS m-1) 4,70
Ca+2 (cmolc dm-3) 3,75

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 368


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Mg+2 (cmolc dm-3) 3,30


Na+ (cmolc dm-3) 1,14
K+ cmolc dm-3 0,71
P cmolc dm-3 14,45

As diferentes CEa foram obtidas pela adição de cloreto de sódio (NaCl) à água proveniente
do sistema de abastecimento local, conforme Rhoades et al. (2000) sendo que a quantidade de sais
(Q) foi determinada pela equação Q (mg L‑ 1) = CEa x 640. Em que, CEa (dS m‑ 1) representa o
valor desejado da condutividade elétrica da água. A água escolhida como controle (1 dS m ‑ 1)
provem de um poço amazonas localizado na UEPB.
A água utilizada na irrigação apresentou condutividade elétrica de 1 dS m-1. A análise da
água foi realizada pelo Laboratório de Irrigação e Salinidade (LIS) do Centro de Tecnologia e
Recursos Naturais da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG e apresentou as seguintes
características químicas: pH = 7,53; Ca= 2,31 cmolc dm-3; Mg = 1,54 cmolc dm-3; Na = 4,00 cmolc
dm-3; K = 0,03 cmolc dm-3; Cloreto = 3,91 cmolc dm-3; Carbonato = 0,57 cmolc dm-3; Bicarbonato =
3,85 cmolc dm-3; RAS = 2,88 (mmolc l-1)1/2.
Aos 120 dias após semeadura (DAS) foram avaliados: taxa de crescimento absoluto de
altura da planta, área foliar e diâmetro do caule, conforme metodologia de Benincasa (2003). Foram
avaliados ainda a massa da matéria seca total e Índice de tolerância à salinidade.
A partir dos valores médios mensais de altura de planta, diâmetro de caule e área foliar,
foram calculadas suas respectivas taxas de crescimento absoluto (TCA) conforme Benincasa
(2003). Os dados de produção de matéria seca total foram usadas para calcular as percentagens
particionadas entre os órgãos vegetativos e o índice de tolerância à salinidade, comparando-se os
dados dos tratamentos salinos com os do controle (CEa = 1 dS m-1), de acordo com a metodologia
de Aquino et al. (2007).
Os dados obtidos foram avaliados mediante análise de variância pelo teste F em nível de
0,05 e 0,01 de probabilidade e nos casos de significância, realizou-se análise de regressão
polinomial linear e quadrática utilizando do software estatístico SISVAR 5.0. (FERREIRA, 2011).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Observou-se que o aumento na CEa reduziu linearmente a taxa de crescimento absoluto de


altura, diâmetro do caule e área foliar. Os menores valores foram observados quando as mudas
foram irrigadas com água de 9 dS m-1, apresentando 0,1406 (Figura 1A), 0,0343 (Figura 1B) e
0,1381 (Figura 1C) para a taxa de crescimento absoluto de altura, diâmetro do caule e área foliar ,
respectivamente.
O Índice e Tolerância foi afetado negativamente pelo incremento nos níveis de CEa,
conforme observa-se na Figura 1D o maior valor (100%) foi obtido quando as mudas foram

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 369


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

irrigadas com água de 1 dS m-1 sob aplicação de 9% de biofertilizante bovino, enquanto que o valor
mínimo (56%) foi obtido quando as mudas foram irrigadas com água de baixa salinidade (9 dS m-1)
sem aplicação de biofertilizante.
Alguns trabalhos evidenciam o efeito nocivo da salinidade, como Mesquita et al. (2012)
constataram que a taxa de crescimento absoluto de diâmetro do caule das mudas de maracujazeiro-
amarelo alcançaram valores médios de 0,034 e 0,031 cm.dia-1 nas mudas com e sem biofertilizante
bovino e a taxa de crescimento relativo de diâmetro do caule não foi influenciada pela salinidade na
água de irrigação em função da aplicação de biofertilizante obtendo-se valor médio 0,016 cm.cm
dia-1. Dias et al. (2013) verificaram que a taxa de crescimento absoluto de diâmetro do caule de
maracujazeiro foi afetada negativamente pela condutividade elétrica das água de irrigação, com
uma redução de 13,95% nos tratamentos irrigados com água de condutividade elétrica de 4,5 dS m-
1
, contudo a taxa de crescimento relativo de diâmetro do caule não apresentou significância para os
níveis de salinidade.
A redução na taxa de crescimento pode ser explicado devido o aumento da salinidade causar
uma diminuição na disponibilidade de água para a muda, sendo assim, a planta quando necessita de
maior gasto de energia para absorver a água do solo inibe o crescimento vegetativo (MUNNS;
TESTER, 2008).

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 370


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Figura 1: Taxa de crescimento absoluto de altura da planta (A), de diâmetro do caule (B), de área foliar (C) e
índice de tolerância (D) de porta-enxertos de cajueiro sob efeito de diferentes níveis de condutividade
elétrica da água de irrigação em função de volumes de biofertilizante bovino

Torres et al. (2014), em mudas de cajueiro também observaram redução que a salinidade na
água de irrigação afetou negativamente a taxa de crescimento absoluto e relativo em altura, em
diâmetro caulinar, número de folhas, área foliar, comprimento da raiz e fitomassa fresca. Isso pode
ser explicado pela redução do consumo de energia para síntese de compostos orgânicos
osmoticamente ativos e necessários aos processos de compartimentação na regulação do transporte
de íons. Assim, o excesso de Na+ e Cl- nos tecidos vegetais, induz a redução na turgescência
vegetal, afetando diretamente os processos de expansão e divisão celular (SOUSA et al., 2011).

CONCLUSÃO

A irrigação com água salina a partir de 1 dS m-1 reduz o crescimento das mudas de cajueiro
à salinidade;
A tolerância das mudas de cajueiro à salinidade na água de irrigação é afetada
negativamente pelo aumento na CEa, mas com menor severidade nas mudas tratadas com 9% de
biofertilizante bovino.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

TEOR DE CLOROFILA EM TRÊS VARIEDADES DE ALFACE


CULTIVADA EM SISTEMA HIDROPÔNICO COM ÁGUA RESIDUÁRIA

Josilda de França XAVIER


Dra. Eng. Agrícola Estação Experimental Emepa, Lagoa Seca-PB
josildaxavier@yahoo.com.br
Carlos Alberto V. de AZEVEDO
Dr. Prof. DEAG/CTRN/UFCG
cazevedo@deag.ufcg.edu.br
Márcia Rejane de Queiroz A. AZEVEDO
Dra. Profa. DAA/CCAA Campus II, Lagoa Seca-PB
mazevedo@ccaa.uepb.edu.br
Josely Dantas FERNANDES
Dr. DAA/CCAA Campus II, Lagoa PB
joselysolo@yahoo.com.br

RESUMO
Os teores de clorofila e carotenoides nas folhas são utilizados para estimar o potencial fotossintético
das plantas, dentro à sua ligação direta com a absorção e transferência de energia luminosa além do
crescimento e adaptação a diversos ambientes. O trabalho teve como objetivo determinar os teores
de clorofila pelo método descrito por Lichtenthaler das três cultivares da alface em sistema
hidropônico utilizando água residuária. O estudo foi realizado em ambiente protegido nas
dependências da Universidade Estadual da Paraíba-UEPB, campus II de Lagoa Seca-PB e
conduzido em sistema hidropônico adotando-se a técnica do fluxo laminar de nutrientes. O
delineamento experimental foi em blocos casualizados com os tratamentos em parcelas
subdivididas em esquema fatorial 7 x 3, com três repetições cujos fatores foram 7 soluções
hidropônicas e três cultivares de alface. A parcela experimental foi constituída pelas soluções
nutritivas (S). S1 = solução de Furlani; S2 = água residuária domestica (esgoto bruto); S3 = água
residuária domestica otimizada (esgoto bruto); S4 = água de poço; S5 = água de poço otimizada; S6
= água residuária provenientes do reator UASB e S7 = água residuária provenientes do reator UASB
otimizada e a subparcela pelas três cultivares de alface do grupo Repolhuda Crespa (Verônica,
Vanda e Thais). Os teores de clorofila total das folhas da alface analisados pelo índice indireto do
SPAD em (cm) no final do primeiro experimento foram influenciados significativamente a nível de
1% de probabilidade (p < 0,01) pelo o fator soluções nutritivas (S). Já no final do segundo
experimento o fator soluções nutritivas (S) influenciou significativamente a nível de 5% de
probabilidade (0,01 ≤ p < 0,05) para as análises da clorofila totais. O uso da solução S7 utilizando
água residuária provenientes do reator UASB otimizada promoveu o menor teor de clorofila (Chl
a). Os maiores teores de clorofila (Chl b), para a cultivar Thaís, foram encontrados com o uso das
soluções S7 > S2 > S3 > S6 e > S4. As soluções S5 e S2 promoveram os maiores teores de clorofila
(Chl b) para a cultivar Vanda, já a cultivar Verônica não apresentou diferença estatística dentro das
soluções. Os maiores teores de clorofila total (Chl total) encontrados na cultivar Vanda foram
quando utilizou-se as soluções S2 e S4, já para a cultivar Thaís os maiores teores foram com a
soluções S2, S3, S6 e S7.
Palavras-chave: reuso, hidroponia, Lactuca sativa L., tecido vegetal

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

ABSTRACT
The levels of chlorophyll and carotenoids in the leaves are used to estimate the photosynthetic
potential of plants, within their direct connection with the absorption and transfer of light energy in
addition to growth and adaptation to different environments. The objective of this work was to
determine the chlorophyll content by the method described by Lichtenthaler of the three lettuce
cultivars in a hydroponic system using wastewater. The study was carried out in a protected
environment on the premises of the State University of Paraíba-UEPB, campus II of Lagoa Seca-PB
and conducted in a hydroponic system using the laminar flow technique of nutrients. The
experimental design was randomized blocks with treatments in subdivided plots in a 7 x 3 factorial
scheme, with three replications whose factors were 7 hydroponic solutions and three lettuce
cultivars. The experimental portion consisted of nutrient solutions (S). S1 = Furlani's solution; S2 =
domestic wastewater (raw sewage); S3 = optimized domestic wastewater (raw sewage); S4 = well
water; S5 = optimized well water; S6 = wastewater from the UASB reactor and S7 = wastewater
from the optimized UASB reactor and the subplot from the three lettuce cultivars of the Repolhuda
Crespa group (Verônica, Vanda and Thais). The total chlorophyll contents of the lettuce leaves
analyzed by the indirect SPAD index at (cm) at the end of the first experiment were significantly
influenced at the 1% probability level (p <0.01) by the nutrient solution factor (S). At the end of the
second experiment, the nutrient solutions factor (S) significantly influenced at a 5% probability
level (0.01 ≤ p <0.05) for the total chlorophyll analyzes. The use of the S7 solution using
wastewater from the optimized UASB reactor promoted the lowest chlorophyll content (Chl a). The
highest levels of chlorophyll (Chl b) for the cultivar Thaís were found with the use of S7> S2> S3>
S6 and> S4 solutions. The solutions S5 and S2 promoted the highest levels of chlorophyll (Chl b) for
the cultivar Vanda, whereas Verônica showed no statistical difference within the solutions. The
highest levels of total chlorophyll (total Chl) found in the Vanda cultivar were when the S 2 and S4
solutions were used, whereas for the cultivar Thaís the highest levels were with the S2, S3, S6 and S7
solutions.
Keywords: reuse, hydroponics, Lactuca sativa L., plant tissue

INTRODUÇÃO

A determinação do teor de clorofila nas folhas pode ser usada para inferir a qualidade
nutricional da planta porque a concentração de clorofila está diretamente relacionada ao conteúdo
de Nitrogênio nos tecidos da planta (ARGENTA, SILVA & BORTOLINI, 2001). Assim, a
concentração de clorofila foliar pode ser usada como um indicador da carência de nutrientes das
plantas.
No Brasil há falta de tradição na reciclagem dos resíduos gerados, particularmente do
efluente de esgoto. Todavia, nos anos recentes a aplicação de resíduos orgânicos na agricultura tem
recebido atenção considerável pelo aumento crescente do requerimento de energia para produção de
fertilizantes minerais e em virtude dos custos e problemas ambientais associados a métodos
alternativos de disposição de resíduos.
O cultivo hidropônico vem se destacando como uma opção dentro das técnicas de produção
agrícola, proporcionando uma alta produtividade, produto de boa qualidade, com um mínimo
desperdício de água e de nutrientes. Este tipo de cultivo vem crescendo gradativamente no Brasil e
se apresenta como uma alternativa viável, proporcionando maior rendimento, qualidade da

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produção, bem como, economia de energia, água, nutrientes e a redução da ocorrência de pragas e
doenças por ocorrer em ambiente protegidos.
A alface (Lactuca sativa L.) é uma planta herbácea, originária de clima temperado,
certamente uma das hortaliças mais populares e consumidas no mundo e no Brasil.
O cultivo de alface em sistemas hidropônicos é já amplamente difundido no Brasil,
especialmente por fácil, combinado com seu ciclo curto Sarmento et al., (2014).
Segundo Cova et al., (2017) que estudaram o cultivo da alface em sistema hidropônico e
observaram que escolha do sistema hidropônico e do intervalo de recirculação para a cultura da
alface depende da qualidade da água utilizada no preparo da solução nutritiva.
Nesta perspectiva o trabalho teve como objetivo determinar os teores de clorofila pelo
método descrito por Lichtenthaler das três cultivares da alface em sistema hidropônico utilizando
água residuária.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A fotossíntese é o processo através do qual as plantas transformam a energia solar em


energia química. Os organismos fotossintetizantes utilizam a energia solar para a síntese de
carboidratos a partir de dióxido de carbono e água, com a liberação de oxigênio. A energia
armazenada nessas moléculas pode ser utilizada mais tarde para impulsionar processos celulares na
planta e servir como fonte de energia para todas as formas de vida (TAIZ & ZEIGER, 2006).
Condições elementares para a ocorrência do processo fotossintético constituem absorção de energia
radiante pelos cloroplastos localizado nas células do mesofilo foliar, onde se encontram os
receptores de radiação solar, as clorofilas, e os pigmentos acessórios, especializadas na absorção de
luz (LARCHER, 2004).
Os pigmentos fotossintéticos presentes e sua abundância variam de acordo com a espécie. A
clorofila a (Chl a) está presente em todos os organismos que realizam fotossíntese exigência. As
bactérias fotossintetizantes são desprovidas de clorofila a e possui, em seu lugar, a bacterioclorofila
como pigmento fotossintético. A (Chl a) é o pigmento utilizado para realizar a fotoquímica (o
primeiro estágio do processo fotossintético) enquanto os demais pigmentos auxiliam na absorção de
luz e na transferência da energia radiante para os centros de reação, motivo por que são chamados
de pigmentos acessórios. Os principais pigmentos acessórios também incluem outros tipos de
clorofila: (Chl b), presente em vegetais superiores, algas verdes e algumas bactérias; (Chl c) em
feófitas e diatomáceas e (Chl d), em algas vermelhas (TAIZ & ZIEGER, 2006).
As clorofilas a e b se encontram na natureza, na proporção de 3:1, respectivamente, e
diferem nos substituintes de carbono C-3. Na clorofila a o anel de porfirina contém um grupo metil
(-CH3) no C-3 e a clorofila b (considerada um pigmento acessório) contém um grupo aldeído (-

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CHO) que substitui o grupo metil-CH3. A estabilidade da clorofila b se deve ao efeito atrativo de
elétrons de seu grupo aldeído no C-3. A clorofila b é sintetizada através da oxidação do grupo metil,
da clorofila a para um grupo aldeído. A clorofila b é convertida em clorofila a através de uma
enzima chamada clorofila a oxigenase, que catalisa a conversão do grupo metil ao grupo aldeído
(XU et al., 2001).
A ingestão de clorofila promove efeitos estimulantes no crescimento de tecidos, atuando
como uma substância promotora da multiplicação de fibroblastos, células do tecido conjuntivo,
responsáveis pelo processo de cicatrização (TANAKA, 1997). Em função do seu elevado conteúdo
de clorofila, as hortaliças contribuem para compor a ingestão diária.
A clorofila a, a mais abundante e a mais importante dessa família corresponde a
aproximadamente 75% dos pigmentos verdes encontrados nos vegetais. O uso de teor de clorofila
na avaliação do estado nutricional das plantas em relação ao N (Nitrogênio) demonstra grande
potencial, se apresentando eficaz para predizer a necessidade desse elemento para as culturas
(ARGENTA et al.,2001).
O sistema hidráulico NFT é fechado, ou seja, a solução nutritiva é bombeada de um
reservatório, passa pelas raízes das plantas nos canais das bancadas e volta por gravidade ao
reservatório (FURLANI, 1999).
A utilização das águas residuárias tratadas na agricultura é imprescindível não apenas por
servir como fonte extra de água, mas também de nutrientes para as culturas. Neste contexto, as
plantas desempenham papel significativo, extraindo macro e micronutrientes disponibilizados pelas
águas residuárias, necessária ao seu crescimento evitando acúmulo, a consequente salinização do
solo e a contaminação das águas superficiais e subterrâneas (RIBEIRO et al., 2009).
A utilização do esgoto tratado pode representar uma fonte de água e nutrientes disponível
para aplicação na agricultura, mesmo durante os períodos de estiagem (SHAER BARBOSA et al.
2014). Por outro lado, a segurança da reutilização dessas águas residuárias para fins de irrigação é
motivo de cautela. Para Ayers e Westcot (1999), na utilização de esgotos na agricultura, devem ser
levadas em consideração as características físico-químicas e biológicas das águas, que se refletem
na produtividade e na qualidade das culturas, na manutenção da fertilidade do solo e na proteção do
homem e do meio ambiente. Entre os contaminantes de esgotos que podem degradar a qualidade
dessas águas estão os sais, os nutrientes e os traços de elementos químicos, os quais estão
relacionados com os principais problemas no solo como salinidade, permeabilidade, toxicidade de
íons específicos e concentração de nutrientes.
O uso da hidroponia surgiu como uma alternativa a problemas como a baixa disponibilidade
de solos aptos à agricultura; a incidência de determinadas doenças de solo, dificilmente controladas
por métodos químicos, sanitários ou de resistência genética; o interesse em incrementar a eficiência

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do uso da água e o desejo de aumentar a produção e melhorar a qualidade dos alimentos. SOUZA
NETA et al., 2013).
A utilização da hidroponia orgânica pode ser uma opção para melhorar as condições de
produção de pequenos e médios produtores de olerícolas que, muitas vezes, não dispõem de
produção suficiente para atender à demanda do mercado consumidor durante todo o ano,
diminuindo sua perspectiva de renda. Esta técnica não tenta competir com sistemas tradicionais de
produção de olerícolas, mas surge como alternativa de produção de alimentos de melhor qualidade
nutricional e microbiológica, potencializando sua aceitação por parte do consumidor. Uma das
tendências do ramo alimentício, atualmente, é a produção de alimentos orgânicos (CICEK &
KARTALKANAT, 2010).
A alface (Lactuca sativa L.) é a hortaliça folhosa mais difundida atualmente, sendo cultivada
em quase todos os países. Seu cultivo é feito de maneira intensiva e geralmente praticado pela
agricultura familiar, responsável pela geração de cinco empregos diretos por hectare (ALENCAR et
al., 2012). A alface tem vitaminas, sais minerais destacando-se seu elevado teor de vitamina A,
além de conter vitaminas B1 e B2, vitaminas C, cálcio e ferro e, devido ao seu baixo teor de calorias
e digestão fácil, é recomendado para dietas (SALA & COSTA, 2012).
Ainda de acordo com Sala e Costa (2012), uma cultura de alface hidropônica é capaz de
extrair aproximadamente 77% do fósforo e 80% do nitrogênio contidos na solução de efluentes de
tratamento de esgoto sanitário, mostrando que além de presentes na solução, estes nutrientes
também estão disponíveis para serem absorvidos. O cultivo de alface em sistemas hidropônicos é já
amplamente difundido no Brasil, especialmente por fácil, combinado com seu ciclo curto Sarmento
et al., (2014).
Segundo Mattarredonda Neto (2008), a alface é considerada a hortaliça folhosa mais
importante na alimentação dos brasileiros devido à facilidade de aquisição, facilidade que tem em
ser servida in natura na forma de salada crua e por ser produzida durante o ano inteiro além de ter
baixo valor energético, razão pela qual é indicada na dieta alimentar de convalescentes e idosos.

MATERIAIS E MÉTODOS

O estudo foi realizado em ambiente protegido nas dependências da Universidade Estadual


da Paraíba-UEPB, campus II de Lagoa Seca-PB que apresenta as seguintes coordenadas
geográficas: 7° 10′ 15″ S, 35° 51′ 14″ W, segundo a classificação climática de Köppen-Geige
(Brasil, 1971) e conduzido em sistema hidropônico adotando-se a técnica do fluxo laminar de
nutrientes (Fluxo Laminar de Nutrientes-NFT).
O delineamento experimental foi em blocos casualizados com os tratamentos em parcelas
subdivididas em esquema fatorial 7 x 3, com três repetições cujos fatores foram 7 soluções

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hidropônicas, com condutividade de 1,7 dS.m-1 e três cultivares de alface. As soluções nutritivas
otimizadas foram formuladas tomando-se como referencia a solução nutritiva de Furlani. A parcela
experimental foi constituída pelas soluções nutritivas (S). S1 = solução de Furlani; S2 = água
residuária domestica (esgoto bruto); S3 = água residuária domestica otimizada (esgoto bruto); S4 =
água de poço; S5 = água de poço otimizada; S6 = água residuária provenientes do reator UASB e S 7
= água residuária provenientes do reator UASB otimizada e a subparcela pelas três cultivares de
alface do grupo Repolhuda Crespa (Verônica, Vanda e Thais) cada sub parcela foi composta por
seis plantas com espaçamento de 0,30m x 0,3m.
As águas utilizadas no experimento foram provenientes de água da chuva armazenada em
cisterna (para a solução S1), do esgoto bruto da cidade de Lagoa Seca, PB, água salobra de poço
tubular perfurado para captação de água subterrânea da zona rural do município Lagoa Seca-PB, e
água residuária provenientes do reator UASB da Estação Experimental de Tratamento Biológico de
Esgotos Sanitários (Extrabes) Campina Grande-PB e que foram encaminhadas para análise química
no Laboratório de Irrigação e Salinidade (LIS/DEAg/UFCG) e no Laboratório de Análises de Solo,
Água e Planta da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte S/A – EMPARN.
Para as determinações dos teores das clorofilas foram realizadas pelo método descrito por
Lichtenthaler (1987), análise foram quantificadas com Espectrofotômetro Digital UV-1000A nos
comprimento de ondas de 470, 645 e 663nm.
Os dados obtidos serão submetidos à análise da variância (Tabela 3) pelo teste F a 1 e 5% de
probabilidade. Quando verificado efeito significativo na análise da variância, as médias obtidas nas
subparcelas (cultivares) serão comparadas pelo teste de Tukey até 5% de probabilidade e entre as
parcelas (soluções) utilizar-se-á regressão através do software estatístico SISVAR (FERREIRA,
2000).

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Verifica-se na Tabela 1 os teores de clorofila (Chl a), (Chl b) e (Chl totais) e Carotenoides
analisados no final do cultivo hidropônico das três cultivares da alface (Vanda, Veronica e Thaís)
submetido aos diferentes tratamentos. Analisando os dados estatísticos observa-se na Tabela 1 que
para o fator solução (S) houve efeito significativo a nível de 1% de probabilidade (p < 0,01) para a
variável (Chl a). De acordo Gross, (1991), (Chl a) é a mais abundante e a mais importante dessa
família, porque corresponde a aproximadamente 75% dos pigmentos verdes encontrados nos
vegetais. A (Chl b), (Chl totais) e Carotenoides não apresentaram efeito significativo para o fator
solução (S) (Tabela 1).
Nos resultados do desdobramento da solução nutritiva dentro de cultivares e vice versa
verifica-se que a variável clorofila (Chl b) e (Chl totais) e Carotenoides ambas apresentaram efeito

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significativo a nível de 1% de probabilidade (p < 0,01). Para a variável clorofila (Chl a) verificou-se
que não houve efeito significativo no desdobramento (Tabela 1).

Tabela 1. Análise de variância dos teores de clorofila (Chl a), (Chl b), (Chl totais) e Carotenoides no final
terceiro do cultivo hidropônico das três cultivares da alface submetido aos diferentes tratamentos
Quadrado médio (QM)
Fonte de Variação GL Chl a Chl b Chl Totais(1) Carotenoides
Solução (S) 6 19,71** 17,27ns 178.527,90 ns
3,10ns
Bloco 2 1,59 22,07 111.311,44 1,37
Resíduo da parcela 12 2,80ns 10,74ns 115.237,47ns 1,24 ns
Cultivar (C) 2 9,43ns 205,34** 1.611.112,38** 18,25**
Cultivar x Solução 12 4,28ns 46,22** 318.148,17** 3,02**
Resíduo da subparcela 26 3,97 11,84 102.027,36 1,38
CV 1 12,04 24,22 31,17 37,85
CV 2 14,33 25,44 29,33 39,97
Média geral 13,91 13,53 1.089,12 2,94
GL – grau de liberdade; não significativo; significativo a nível de 1% de probabilidade (p < 0,01); * significativo a
ns **

nível de 5% de probabilidade (0,01 ≤ p < 0,05) pelo teste F; CV= coeficiente de variância;
(1)

2,348
x -1
2,348
Verifica-se na Figura 1 que os teores de clorofila (Chl a) em função do efeito isolado das
soluções nutritivas, observa-se que as soluções S1; S2; S3; S4; S5; S6 não diferem entre si, porém
havendo diferença significativa para a solução S7.

16
a a
a
a a a
14
Clorofila (Chl a µg g-1)

12
b
10

S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7

Soluções

Figura 1. Determinação dos teores clorofila (Chl a µg g-1) em função do efeito isolado das soluções nutritivas
S1; S2; S3; S4; S5; S6 e S7 no final do terceiro experimento. Médias seguidas de mesma letra as soluções não
diferem entre si

Analisando a Figura 2 observa-se que os maiores teores de clorofila (Chl b) foram para
cultivar Thais quando utilizou-se as soluções S7, S2, S3, S6 e S4, cujas médias foram (17,54), (16,66),

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 380


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(15,85), (14,77) e (13,79) µg g-1 respectivamente. Já para a cultivar Vanda, os maiores teores de
clorofila (Chl b), foram encontrados nas soluções S5 e S2 , (17,41) e (15,19) µg g-1 respectivamente.
Ainda analisando a Figura 37 foi observando que não houve deferência estaticamente entre soluções
para cultivar Veronica. Comparando os teores de clorofila (Chl b) entre as cultivares dentro da
mesma solução, observou-se que não houve diferença estatística com a utilização das soluções S1,
S2 S5, S6 (Figura 2).

20
aA
18 aA aA aA aA
aA
aA aA aA aA
16 aA
aA
aA aA
Clorofila (Chl b µg g-1)

14

12 bA
bA bA
10
bA bB
8

6 cB
cB
4

S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7

Solução nutritiva

Cultivar Thaís Cultivar Vanda Cultivar Verônica


-1
Figura 2. Determinação dos teores clorofila (Chl b µg g ) em função do desdobramento das cultivares de
alface crespa Thaís, Vanda e Verônica e das soluções ao final do terceiro experimento. Médias seguidas de
mesma letra minúscula as soluções não diferem entre si dentro da mesma cultivar e médias seguidas de
mesma letra maiúscula as cultivares não diferem entre si dentro da mesma solução

Verifica-se na Figura 3 que os teores de clorofila (Chl total) para cultivar Verônica não
apresentaram diferença estatística independente das soluções utilizadas.
Nota-se ainda na Figura 3 que os maiores teores de clorofila (Chl total). Para cultivar Vanda
foram encontrados quando utilizou-se as soluções S2 e S4 apresentando médias de 1.242,95,
1.447,69 µg g-1 respectivamente. Já para a cultivar Thaís os maiores teores foram com a soluções S2,
S3, S6 e S7 cujas as médias 1.343,91, 1.330,92, 1.228,63 e 1.114,88 µg g-1. Ainda em relação à
Figura 5 observa-se que as cultivares Thaís, Vanda e Veronica apresentam estaticamente o mesmo
teor de clorofila total quando utilizou-se as soluções que S2, S5 e S6.

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1600 aA aA aA
aA
aA aAB
1400 aA aA aA
aA aA

Clorofila Total (Chl total µg g-1)


aA
1200 aA

1000 bA
bAB bB bAB
bA
800
bB
600
cB
400
cB

200

0
S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7

Solução nutritiva

Cultivar Thaís Cultivar Vanda Cultivar Verônica


-1
Figura 3. Determinação dos teores clorofila (Chl total µg g ) em função do desdobramento cultivares de
alface crespa Thaís, Vanda e Verônica e soluções ao final do experimento. Médias seguidas de mesma letra
minúscula as soluções não diferem entre si dentro da mesma cultivar e médias seguidas de mesma letra
maiúscula as cultivares não diferem entre si dentro da mesma solução

Analisando os teores de carotenoide na Figura 4 verificou-se que não houve diferença


estatisticamente independente da solução utilizada para as cultivares Vanda e Veronica. Para a
cultivar Thaís o mesmo comportamento foi observado com exceção da solução S7. Quanto o efeito
cultivar dentro da mesma solução, verificou-se que a cultivar Vanda apresentou maiores os teores
de carotenoide quando se utilizou as soluções S3 e S7, no entanto nesta ultima solução também não se
observou entre as cultivares Vanda e Veronica diferença significativa (Figura 4).

7
aA
6
Carotenóides (µg g-1)

5 aA
aA aA
4 aA aA
aA aA
aA aA
3 aA aA aA
aB aA aA
aB aA aA
2 aAB

1
bB
0

S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7
Solução nutritiva

Cultivar Thaís Cultivar Vanda Cultivar Verônica


-1
Figura 4. Determinação dos teores de carotenoide (µg g ) em função do desdobramento cultivares de alface
crespa Thaís, Vanda e Verônica e soluções ao final do terceiro experimento. Médias seguidas de mesma letra
minúscula as soluções não diferem entre si dentro da mesma cultivar e médias seguidas de mesma letra
maiúscula as cultivares não diferem entre si dentro da mesma solução

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

CONCLUSÕES

O uso da solução S7 utilizando água residuária provenientes do reator UASB otimizada


(Estrabes) promoveu o menor teor de clorofila (Chl a).
Os maiores teores de clorofila (Chl b), para a cultivar Thaís, foram encontrados com o uso
das soluções S7 > S2 > S3 > S6 e > S4. As soluções S5 e S2 promoveram os maiores teores de
clorofila (Chl b) para a cultivar Vanda, já a cultivar Verônica não apresentou diferença estatística
dentro das soluções.
A cultivar Verônica não apresentaram diferença estatística independente das soluções
utilizadas para os teores de clorofila (Chl total). Os maiores teores de clorofila total (Chl total)
encontrados na cultivar Vanda foram quando utilizou-se as soluções S2 e S4, já para a cultivar Thaís
os maiores teores foram com a soluções S2, S3, S6 e S7.

AGRADECIMENTOS

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq pelo apoio


financeiro para realização da pesquisa.

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ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 384


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

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ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 385


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

SISTEMA HÍBRIDO DE GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA RENOVÁVEL: A


UTILIZAÇÃO DA TECNOLOGIA SMART GRID

Juaceli Araújo de LIMA


Doutora em Recursos Naturais pela UFCG. Professora na CESREI Campina Grande-PB
E-mail: juacelilima@gmail.com
Enio pereira de SOUZA
Doutor em Meteorologia. Professor do PPGRN - UFCG.
E-mail: soenio@gmail.com
Sandra Sereide Ferreira da SILVA
Doutora em Recursos Naturais pela UFCG. Pós Doutoranda em Recursos Naturais pela UFCG
E-mail: sandrasereide@yahoo.com.br

RESUMO
Diante da delicada situação energética a qual o mundo vem passando e em virtude do expressivo
uso dos recursos naturais, diretamente envolvidos por problemas de ordem ambiental, social e
econômico, promovidos por um grande aumento da população, que impulsiona um crescimento na
utilização destes recursos. Para melhorar essa situação, uma alternativa plausível seria utilizar um
sistema híbrido, de energia solar e energia eólica, através de uma combinação, onde o uso de um
tipo de energia complementaria o uso da outra, considerando alterações climáticas e relevo de cada
região, através do mapeamento ou zoneamento de complementaridade, dos potenciais solar e eólico.
Neste sentido, este estudo se dispõe a analisar a viabilidade da geração híbrida de energia solar e
eólica do ponto de vista da tecnologia Smart Grid. O método Smart grid, é uma tecnologia para
integração de confiança e controle inteligente de geração de múltiplas unidades onde as cargas se
espalham por uma rede de distribuição uniforme ou não uniforme. Como resultado da aplicação da
tecnologia Smart Grid, tem-se a integração, o controle, a comunicação e a medição da energia,
buscando diminuir a complexidade da rede de maneira a reduzir as perdas no processo de
transmissão, almejando também a otimização da expansão da capacidade de energia, chamadas
então de redes inteligentes de energia, alcançando todos os atributos para argumentar a utilização
dos sistemas interligados, sistemas híbridos, ou seja, conexão do tipo heterogêneo de fontes, de
modo a extrair a máxima potência a partir das fontes. Em face desse enfoque, conclui-se que os
sistemas inteligentes Smart Grid vêm barganhando espaço na Índia, China e Brasil, por prover
aumento da eficiência energética.
Palavras chave: Energia Renovável. Sistema Híbrido. Tecnologia Smart Grid.
ABSTRACT
Faced with the delicate energy situation that the world is experiencing and due to the expressive use
of natural resources, directly involved by environmental, social and economic problems, promoted
by a large population increase, which drives a growth in the use of these resources. To improve this
situation, a plausible alternative would be to use a hybrid system of solar and wind energy, through
a combination, where the use of one type of energy would complement the use of the other,
considering climate change and relief of each region, through Of complementarity mapping or
zoning, solar and wind potential. In this sense, this study is prepared to analyze the viability of
hybrid generation of solar and wind energy from the point of view of Smart Grid technology. The
Smart grid method is a technology for reliable integration and intelligent control of multi-unit
generation where loads spread over a uniform or non-uniform distribution network. As a result of
the application of Smart Grid technology, the integration, control, communication and measurement
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of energy is carried out, aiming to reduce the complexity of the network in order to reduce losses in
the transmission process, also aiming at optimizing the expansion of Energy capacity, then called
intelligent energy networks, reaching all attributes to argue the use of interconnected systems,
hybrid systems, ie, connection of the heterogeneous type of sources, in order to extract the
maximum power from the sources. In light of this approach, Smart Grid intelligent systems have
been finding space in India, China and Brazil for providing increased energy efficiency.
Keywords: Renewable Energy. Hybrid System. Smart Grid Technology

INTRODUÇÃO
Diante da delicada situação energética a qual o mundo vem passando e em virtude do
expressivo uso dos recursos naturais, diretamente envolvidos por problemas de ordem ambiental,
social e econômico, promovidos por um grande aumento da população, que impulsiona um
crescimento na utilização destes recursos; o consumo energético é capaz de contribuir para a
medição do desenvolvimento econômico e da qualidade de vida de uma sociedade, devido a fatores
como aumento do comércio, expansão da indústria e de seus maquinários, diversificação nas opções
de equipamentos e utensílios domésticos visando o conforto da população. Estima-se, por outro
lado, que a disponibilidade energética ainda seja inacessível para uma boa parcela da população
mundial.
Historicamente, percebe-se o gradual aumento do consumo energético que poderia ter sido
melhor acompanhado por um modelo de planejamento energético, que teve maior impulso no final
da década de 1980 através das políticas públicas. Por outro lado, essa diversidade de recursos
tecnológicos também afetou a relação de geração de energia com o meio ambiente, como é nítido e
vem sendo discutido já há algum tempo pela sua atuação na terra, ar e água.
Seus efeitos no ar recaem sobre a poluição, oriundas dos grandes centros urbanos,
contribuindo para o efeito estufa e sendo refletido nas mudanças climáticas, podendo até ser
exemplificado com a incidência das chuvas ácidas. Em termos de terra, estamos sendo arremetidos
pelos desmatamentos causados pelos homens que aceleram a desertificação; e na água temos seus
reflexos na degradação marinha e costeira, além de alagamentos, devido à implantação de
hidroelétricas. E por fim temos a incidência da contaminação radioativa causadas por usinas
nucleares, que já vem sendo fator de estudo e inclusive de desativação, mediante seus danos
ambientais. A China, por exemplo, vem atuando com a utilização de parques eólicos, e superou a
energia nuclear em torno de dois por cento em 2012, iniciativas como estas vêm sendo promovidas
principalmente depois de acidentes como o de Fukushima, no Japão.
Outro exemplo internacional da conscientização em termos de consumo energético é o que
vem sendo proposto pelo Reino Unido, que estima a compra de 50% de sua eletricidade a partir de
energias renováveis limpas, por meio do Serviço de Aquisição do Governo (GPS). E estas ações

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também vêm sendo objetivos de iniciativas privadas, como a Apple, que apresentou em seu
relatório ambiental de 2012 a utilização de 100% de energia renovável para seus centros de dados e
75% para as suas necessidades em geral.
Sobre outro ângulo, tem-se o não abastecimento de áreas intrínsecas do próprio meio rural
que se tornam inviabilizadas por fatores econômicos: a utilização da eletrificação por extensão da
rede elétrica, apesar de assegurados pela Lei 10.438/2002, que dispõe sobre a Universalização do
serviço Público de Energia Elétrica, e de Resolução nº 223/2003 (ANEEL), que norteia os Planos
de Universalização de Energia Elétrica até 2015.
No contexto mundial grandes projetos de parques eólicos com modelos avançados de
computadores, assim como também grandes projetos de usinas solares. Os projetos com energia
solar ainda contam com a substituição de materiais convencionais que transformam a luz solar em
eletricidade, como é o caso do arsenato de gálio e silício, substituído por dispositivos de grafeno ou
mesmo nanotubo de carbono, conseguindo ser muito mais eficiente. Na China, por exemplo, a
energia gerada a partir dos ventos já ultrapassou a energia nuclear como fonte de eletricidade. Além
disso, esse país é o maior produtor de painéis solares do mundo.
Uma alternativa plausível seria utilizar um sistema híbrido, de energia solar e energia eólica,
através de uma combinação, onde o uso de um tipo de energia complementaria o uso da outra,
considerando alterações climáticas e relevo de cada região, através do mapeamento ou zoneamento
de complementaridade, dos potenciais solar e eólica da Região Nordeste do Brasil. A importância
deste zoneamento dá-se pela identificação de potenciais locais geográficos para a utilização de
sistemas híbridos fotovoltaico-eólico, tornando-se uma ferramenta de planejamento para a análise
de radiação solar e da velocidade dos ventos, possibilitando a elaboração dos mapas de
complementaridade e o consequente incentivo à utilização de energias alternativas limpas e de fonte
inesgotável, favorecendo a universalização da energia elétrica. Neste sentido, este estudo se dispõe
a analisar a viabilidade da geração híbrida de energia solar e eólica do ponto de vista das tecnologia
Smart Grid.

MATERIAL E MÉTODO

Para a realização deste estudo, utilizou-se o método Smart grid, que se é uma tecnologia
para integração de confiança e controle inteligente de geração de múltiplas unidades onde as cargas
se espalham por uma rede de distribuição uniforme ou não uniforme.
No que se refere à estrutura básica de trabalho de uma rede inteligente Smart grid, esta é
feita para facilitar a complexidade de integração de Distribuição de Fontes de Energia Renováveis
(DRES) com maior penetração da rede, redução das perdas de transmissão, a expansão da
capacidade de energia otimizada com melhor gestão da procura e controle hierárquico para a

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segurança da rede. As redes inteligentes são compostas por quatro características únicas que podem
ser dadas como Integração, Controle, Comunicação e Medida (ICCM).
A integração refere-se à conexão do tipo heterogêneo de fontes com grade AC ou DC
usando conversores adequados de energia. O poder de saída dos DRES depende das condições
climáticas, tais como velocidade do vento e radiação solar. Os controles em redes inteligentes são
feitos de modo inteligente para extrair a máxima potência a partir das fontes, programação
operacional das fontes de energia e sobrecargas, controle de transientes, potência ativa e reativa.
Para um funcionamento eficaz e diversificado do smart grid, a comunicação entre vários nós de
controle se faz necessária. Padrões de comunicação para redes inteligentes geralmente são definidos
por protocolos, e a maioria deles envolve a interligação da Linha de Comunicação Segura (SCL)
para a unidade de controle principal por LAN (Local Area Network), HAN (Home Area Network) e
WAN (Wide Area Network) (REDDY et. al., 2014).
A interligação deve ser acompanhada com um firewall em vários níveis para a segurança
cibernética do smart grid. Os contadores inteligentes empregados em redes inteligentes fornecem
informações adicionais da energia elétrica consumida em comparação aos contadores de energia
convencionais. Os contadores inteligentes podem medir os parâmetros de energia da carga
remotamente e transferir os dados através da rede de comunicação.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para Mohammed, Mustafa e Bashir (2014), um sistema de energia híbrida é uma técnica de
geração de potência emergente que envolve uma combinação de diferentes sistemas de energia,
principalmente fontes renováveis para a configuração de saída ideal. Em uma busca moderna para o
desenvolvimento da energia (RE) renovável, as condições ideais para a produção e utilização do
sistema de energia são consideradas como um recurso indispensável para carregar o despacho
econômico. Este é um fato racional levando em consideração o aumento do preço da energia para o
desenvolvimento socioeconômico.
Como uma das grandes problemáticas da utilização dos Sistemas Integrados seriam as
formas de Armazenamento da energia, buscou-se literatura para embasar o que vem sendo feito em
termos de tecnologias de armazenamento para suprir essa limitação, e os resultados apresentaram-se
bem satisfatórios no que se refere ao desenvolvimento deste tipo de tecnologia, o qual viabilizaria a
utilização do Sistema de Energia Integrada.
Como contribuição para a integração de fontes renováveis, podemos citar a tecnologia Smart
grid, que aborda a integração, o controle, a comunicação e a medição da energia, buscando diminuir
a complexidade da rede de maneira a também reduzir as perdas no processo de transmissão,
almejando também a otimização da expansão da capacidade de energia, chamadas então de redes

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inteligentes de energia, alcançando todos os atributos para argumentar a utilização dos sistemas
interligados, sistemas híbridos, ou seja, conexão do tipo heterogêneo de fontes, de modo a extrair a
máxima potência a partir das fontes.
A rede elétrica convencional é uma rede que atua como um link para a transmissão,
distribuição e controle de energia elétrica a partir de produtores de energia para os consumidores
(FANG et. al., 2012 apud REDDY et. al., 2014). A industrialização e o aumento da população
exigem a procura de uma rede elétrica de recursos e de confiança. Espera-se um aumento da taxa de
consumo de energia, como mostrado na Figura 01, o que pode resultar no aumento de falhas da rede
durante o horário de pico de carga (NAYAN, ISLAM e MAHMUD, 2013 apud REDDY et. al.,
2014). Estes distúrbios de energia vão resultar em despesas adicionais (USD 25-180 milhões) a
cada ano (Departamento de Energia dos Estados Unidos, 2003). A rede elétrica existente não atende
as necessidades do século XXI por causa de aumento na demanda de energia, da complexidade na
gestão das redes de energia, e de limitações na geração da capacidade. Portanto, existe a
necessidade imediata e altamente confiável para o desenvolvimento, autorregularão de sistema de
rede eficiente, a fim de permitir a distribuição da geração integrada de energia renovável (para
reduzir a dependência de combustíveis fósseis e reduzir as emissões).

Figura 01: Previsão do crescimento do consumo global de energia 2007-2050.

Fonte: NAYAN, ISLAM e MAHMUD (2013) apud REDDY et. al. (2014).

De acordo com a figura, pode-se afirmar que há uma previsão do aumento do consumo de
energia global, entre os anos de 2007 e 2050, em uma média geral de 200%, na qual é evidente a
preocupação com a Índia, que teria uma prospecção de 500% no aumento do consumo de Energia,
sabendo-se que a fonte de geração de energia da atualidade se dá por meio dos recursos
hidroelétricos.
A questão é que a relação de energia e eletricidade com a economia de um país é bem
estreita, pois a eletricidade se tornou a principal fonte de luz, calor e força, fazendo movimentar

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desde pequenos aparelhos em nossas casas como grandes processos fabris. Neste sentido, parte dos
avanços tecnológicos se deve à energia elétrica. Assim, um país que não tem acesso a fontes de
energias competitivas e mecanismos de transformação de energias compatíveis, estaria em uma
situação bem limitada no que se refere ao seu desenvolvimento, principalmente em termos de
competitividade econômica.
Para Reddy et al. (2014), Smart grid ajuda as concessionárias de energia e de rede a terem
uma inteligência digital para a rede do sistema de energia. Smart grid vem com técnicas de medição
inteligentes, sensores digitais, sistemas de controle inteligente com ferramentas analíticas para
automatizar, monitorar e controlar o fluxo bidirecional de energia durante a operação do poder de
ligar. As redes inteligentes são muitas vezes referidas como 'Internet Energia' ou sistema
descentralizado que transforma a infraestrutura de energia elétrica em uma compilação rede
caminho em um padrão Internet Protocol (IP) da rede (LOUIE, BURNS e LIMA, 2010 apud
REDDY et. al., 2014).
Smart Grid utiliza um grande número de plantas distribuídas discretas menores em vez de
um único de alta produção da planta, reduzindo o risco de ataques e desastres naturais. Mesmo que
isso ocorra, o smart grid por ser uma rede de auto cura vai restaurar-se rapidamente, isolando a
linha especial e reencaminhando a fonte de alimentação. Isso será feito por meio de interruptores
inteligentes, por exemplo, proteção digital rápida contra os regimes de curto-circuito em
enrolamentos do transformador (KHRENNIKOV, 2012 apud REDDY et. al., 2014).

Figura 02: Fonte de alimentação com fornecimento de energia renovável, armazenamento de bateria, um
controlador inteligente, capacidades de balanceamento de carga, e uma conexão de laço da grade.

Fonte: DEMEO e PETERSON (2013) apud REDDY et. al. (2014)

O modelo apresentado apresenta a descrição de um sistema inteligente de uma fonte de


alimentação com fornecimento de energia renovável, utilizando os recursos solar e eólico, através

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dos painéis fotovoltaicos e turbinas eólicas, destacando as baterias para armazenamento de energia,
com a utilização de um controlador inteligente, possibilitando o balanceamento das capacidades de
carga e uma conexão de laço da grade. Neste sentido são notórios os benefícios da aplicabilidade de
um sistema integrado.

CONCLUSÕES
A utilização de fontes renováveis, tais como a energia solar e energia eólica apresentam-se
como uma contribuição à diversificação da matriz energética brasileira, altamente dependente das
hidroelétricas e que apresenta a vantagem de não necessitar a importação de petróleo e seus
derivados de regiões no mundo tradicionalmente sujeitas a crises políticas e conflitos. O uso destas
fontes renováveis pode ser uma das formas de auxiliar a estabilização do clima no nosso planeta,
fazendo frente às mudanças climáticas causadoras de prejuízos ao meio ambiente e à economia
mundial, diminuindo o consumo dos combustíveis fósseis, agentes causadores do efeito estufa, um
dos principais responsáveis pelo aumento global da temperatura.
Diante desse contexto, pode-se enfatizar que os sistemas inteligentes Smart Grid vêm
barganhando espaço na Índia, China e Brasil, por prover aumento da eficiência energética. Além do
mais, os benefícios da utilização dos sistemas inteligentes estão voltados para a estabilidade,
segurança e a indicação de melhorias econômicas, assim como a redução de impactos ambientais.
As tecnologias atribuídas a este sistema viabilizam a utilização das fontes renováveis de
energia solar e eólica de maneira integrada através de redes inteligentes, possibilitando um
planejamento energético através de uma melhor utilização da matriz energética brasileira,
fomentando o desenvolvimento econômico, tecnológico, ambiental e social de uma região.

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ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 393


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

QUALIDADE FISIOLÓGICA DE SEMENTES DE CHIA


PRODUZIDAS EM DOIS LOCAIS

Kelly Kaliane Rego da Paz RODRIGUES


Professora Substituta/UFRN
kellykaliane@yahoo.com.br
Maria Valdete da COSTA
Mestre em Ecologia e Conservação/UFERSA
mariavaldete@ufersa.edu.br
Aurilene Araújo VASCONCELOS
Doutora em Agronomia/UFC
aurilenevasconcelos@hotmail.com
Renato INNECCO
Professor Adjunto do Dpto de Fitotecnia/UFC
innecco@ufc.br

RESUMO
O objetivo desse trabalho foi avaliar germinação e vigor de sementes de chia produzidas em
Pentecoste – CE e em Porto Alegre – RS. Para isso, conduziu-se a pesquisa na Fazenda
Experimental do Vale do Curu, localizada em Pentecoste - Ceará. Avaliou-se a porcentagem de
germinação, peso de mil sementes e os testes de vigor, tais como o teor de água, primeira contagem,
índice de velocidade de germinação e envelhecimento acelerado. Além do índice de velocidade de
emergência e a porcentagem de emergência, submetidos a quatro ambientes distintos, telado com
30%, 50%, 70% de sombreamento e a pleno sol, e dois tipos de substratos,vermiculita e areia.Os
dados obtidos foram submetidos à análise de variância, onde se comparou as médias através do teste
de Tukey a 5% de probabilidade e os dados quantitativos analisados pela regressão polinomial.
Com relação aos tipos de sombreamentos os telados com 50% e 70% e o substrato vermiculita
foram os que apresentaram melhor desempenho para o índice de velocidade de emergência e
porcentagem de emergência.
Palavras-chave: SalviahispanicaL. Vigor. Vermiculita.
ABSTRACT
The aim of this study was to evaluate germination and vigor of chia seeds produced in Pentecoste -
CE and Porto Alegre - RS. For this, he led the research at the Experimental Farm of the Curu
Valley, located at Pentecoste - Ceará. We evaluated the germination percentage, thousand seed
weight and vigor tests, such as water content, first count, germination speed index and accelerated
aging. In addition to the emergence speed index and the percentage of emergence, under four
distinct environments, greenhouse with 30%, 50%, 70% shade and full sun, and two types of
substrates, vermiculite and sand. The data were submitted to analysis of variance, where the average
compared by Tukey test at 5% probability and quantitative data analyzed by polynomial regression.
Regarding the types of shaders the cages, with 50% and 70% and vermiculite showed the best
performance for the emergency speed index and emergency percentage.
Key-words: SalviahispanicaL. Vigor.Vermiculite.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

INTRODUÇÃO

As pesquisas voltadas aSalviahispanicaL. vem se destacando com relação as


suascaracterísticas nutricionais e medicinais, sendorecomendada pelos nutricionistas pelos
benefícios que proporcionam em função de sua composição(JIMÉNEZ, 2010). No entanto, dados
referentes às suas características agronômicas, tais como manejo, germinação, emergência,
crescimento e desenvolvimento ainda são bastante escassos para as condições do semiárido. No
Brasil, o cultivo desta espécie é recente, com isso, não tendo cultivares recomendadas. Desta forma,
a falta de métodos padronizados de análises de sementes para esta espécie ainda não consta nas
Regras para Análise de Sementes (BRASIL, 2009; ISTA, 2013), dificultando avaliar a qualidade de
suas sementes (PAIVA et al., 2016).
Dentre os fatores que afetam a germinação dassementes, o substrato tem fundamental
importância nosresultados do teste de germinação, pois determina, dentreoutros, a luminosidade, a
temperatura, disponibilidade deágua e oxigênio, às quais as sementes estão submetidas(BRASIL,
2009). A escolha do substrato com qualidade proporcionará as plantas, principalmente no estágio
inicial, a capacidade de resistir às condições adversas do meio em que está presente(DUARTE et
al., 2010).ConformeResende et al., (2010) cada espécie vegetal tem preferências por uma
determinada combinação de substratos para o seu desenvolvimento.
Outro fator importante é o uso de telassombrites, segundo Pinto et al., (2007)cada
espécieresponde de maneira distinta ao sombreamento.Entre os diversos componentes do ambiente,
a luz é primordial para o crescimento das plantas, não só por fornecer energia para a fotossíntese,
mas também por fornecer sinais que regulam seu desenvolvimento através de receptores de luz
sensíveis a diferentes intensidades. Dessa forma, modificações nos níveis de luminosidade aos quais
uma espécie está adaptada podem condicionar diferentes respostas fisiológicas em suas
características bioquímicas, anatômicas e de crescimento (ATROCH et al., 2001). Com isso, as
telassombrites vêm sendo cadavez mais utilizadas com o intuito de reduzir aincidência direta dos
raios solares e proporcionartemperaturas mais amenas (BEZERRA, 2003).
Devido à escassez de estudos no que se refere ao cultivo da chia na região do semiáridoo
presente trabalho tem como objetivo avaliar a qualidade de dois lotes de sementes de chia, por meio
da germinação e testes de vigor, bem como, o índice de velocidade de emergência (IVE) e a
porcentagem de emergência de plântulas cultivadas em diferentes substratos, sob o efeito de vários
sombreamentos e a pleno sol.

METODOLOGIA

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O experimento foi conduzido em dois locais, conforme a etapa de execução. Para a


avaliação da qualidade fisiológica dos lotes de sementes, as análises foram realizadas no
Laboratório de Análises de Sementes, pertencente ao Centro de Ciências Agrárias da Universidade
Federal do Ceará/UFC e para o estudo da influência das telas de sombrites e substratos, a pesquisa
foi desenvolvida na horta didática da UFC/Campus Pici, Fortaleza, Ceará.
Para as análises de sementes utilizaram dois lotes de origens diferentes, um proveniente da
cidade de Porto Alegre – RS e outro adquirido de Pentecoste – CE, os quais foram comparados
pelos testes de germinação e de vigor.
As variáveis avaliadas foram:

Peso de mil sementes (PMS): foi determinado, contando-se ao acaso e manualmente, oito repetições
de 100 sementes de cada tratamento (semente pura). Em seguida as sementes de cada repetição
foram pesadas, calculando-se a variância, o desvio padrão e o coeficiente de variação dos valores
obtidos das pesagens e o resultado expresso em gramas (BRASIL, 2009).

Teor de água (TA):foi determinado pelo método de estufa a 105±3°C por 24h (BRASIL, 2009),
utilizando-se quatro amostras de 50 sementes, para cada lote. Os resultados foram obtidos por meio
da média aritmética das porcentagens de cada uma das repetições, calculadas na base de peso
úmido.

Germinação (G): conduzida com quatro repetições de 50 sementes para cada tratamento. As
mesmas foram distribuídas em papel Germitest embebidas em água, cujo volume correspondeu a
2,5 vezes o peso do papel seco, em seguida, foram colocadas para germinarem a temperatura de 25
°C. As avaliações foram feitas no 4º e 14º DIAS, sendo o resultado do teste a média das quatro
repetições de 50 sementes, expresso em porcentagem média de plântulas normais (BRASIL, 2009).

Primeira contagem da germinação (PC): A primeira contagem da germinação foi conduzida


juntamente com o teste de germinação, sendo realizada aos quatro dias após a instalação do teste
(MARCOS FILHO, 2015).

Índice de velocidade de germinação (IVG):foi calculado durante a condução do teste, em que foram
feitas observações diárias, contando-se o número de plântulas emergidas por dia. A contagem se
deu até à estabilização da emergência das plântulas e o índice foi calculado conforme Maguire
(1962), pela fórmula:

Em que:
IVG = índice de velocidade de germinação;

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

G1, G2, Gn = número de plântulas normais computadas na primeira, na segunda e assim por
diante, até a última contagem;
N1, N2, Nn = número de dias após a semeadura, na primeira, na segunda e assim
sucessivamente, até a última contagem.

Envelhecimento acelerado (EA): as sementes foram colocadas em camada única, de modo a


preencher totalmente a tela acoplada ao interior da caixa gerbox, a qual continha, ao fundo, 40 mL
de água destilada. As caixas gerbox com as sementes foram tampadas e mantidas a 41°C por 48
horas (MARCOS FILHO, 2015). Decorrido o período de envelhecimento, quatro repetições de 50
sementes foram submetidas ao teste de germinação.No quarto dia foi realizada a avaliação do teste e
registrada a porcentagem de plântulas normais.
Para testar o índice de velocidade de emergência e a porcentagem de germinação dos lotes,
utilizou-se o delineamento inteiramente casualizado2 x 4, sendo dois substrato, vermiculita e areia
de rio lavada e esterilizada em quatro ambientes distintos, a pleno sol, telado com 30%, 50%, 70%
de sombreamento, com 4 repetições com 25 sementes cada, distribuídos em bandejas de polietileno
de 200 células.
Foram feitas contagens das plântulas emergidas até sua completa estabilização, com regas
diárias de forma manual.
A análise estatística foi realizada tomando como parâmetro as seguintes variáveis:
porcentagem de emergência (E) e o índice de velocidade de emergência das sementes (IVE).
Os dados obtidos foram submetidos a teste de normalidade e à análise de variância. Para a
comparação das médias utilizou-se o teste de Tukey a 5% de probabilidade. Empregou-se para
análise dos dados o programa estatístico SISVAR 5.6 (FERREIRA, 2011).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Realizou-se, antes da germinação e dos testes de vigor, o peso de 1000 sementes nos dois
lotes das cultivares de chia,originárias de Porto Alegre – RS (lote RS) e outro de Pentecoste-CE
(lote CE).O lote RS apresentou peso de 1000 sementes no valor de 1,13g e o lote CE de 1,20 g. Esta
variável não foi eficiente para comparar os lotes, já que não houve diferença significativa entre os
mesmos, ao nível de 5% de probabilidade (Tabela 1).
Valores médios do peso de mil sementes (PMS), teor de água (TA), germinação (G),
primeira contagem de germinação (PC), índice de velocidade de germinação (IVG) e
envelhecimento acelerado (EA)dos lotes RS e CE de sementes de chia, encontram-se na Tabela 1.
Com relação ao teor de água observam-se valores relativamente baixos e uniformes entre os
lotes, com variação de 9,6 a 10%. Carvalho e Nakagawa (2012) afirmam que o teor de água de uma

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semente determina o seu nível de atividade metabólica, assim se for superior a 40-60%, verifica-se
a protrusão da plântula pela germinação; entre 12-14% e 18-20% há ainda uma respiração ativa das
sementes, o que causa a perda do vigor e eventuais quedas na germinação.E ao se reduzir o teor de
água das sementes para 8-9%, a respiração das sementes, dos micro-organismos e a atividade de
insetos diminui ou torna-se nula. Esse fato é importante na execução dos testes de qualidade,
considerando-se que a uniformização do teor de água das sementes é imprescindível para a
padronização das avaliações e obtenção de resultados consistentes, bem como, quando as sementes
forem destinadas ao armazenamento (COIMBRAet al., 2009).

Valores médios

Lotes PMS TA G PC IVG EA


g -------------------------------%-----------------------------
RS 1,13 a 9,6 58,0 b 2b 13,43 a 27,75 b
CE 1,20 a 10 63,5 a 9a 17,63 a 35,00 a
CV (%) 3,26 - 4,87 4,63 3,24 5,52
Tabela 1 – Valores médios do peso de mil sementes (PMS), do teor de água (TA), germinação
(G), primeira contagem de germinação (PG), índice de velocidade de germinação (IVG) e
envelhecimento acelerado (EA) em diferentes lotes de sementes de chia, Fortaleza, CE, UFC,
2013
* Médias seguidas por mesma letra minúscula nas colunas não diferem pelo teste Tukey a 5%
de probabilidade

Sobre a porcentagem de germinação houve diferenças entre os lotes, em que o lote CE teve
em média 63,5% das sementes germinadas ao passo que o lote RS, teve porcentagem de germinação
inferior, cujo valor correspondeu a 58%. Com isso, é possível afirmar queo teste de germinação,
neste caso,foi eficiente em separar os lotes em diferentes níveis de vigor, caracterizando o lote CE
como o mais vigoroso.
Para o teste de primeira contagem, o mesmo classificou novamente o lote CE mais vigoroso
quando comparado ao do RS. Esse teste, possivelmente, por ser executado concomitantemente ao
teste de germinação, apresentou resultado similar, considerando os dois lotes estatisticamente
diferentes (Tabela 1).Franzinet al.(2004) trabalhando com sementes de alface, verificaram que o
teste de primeira contagem também repetiu a tendência verificada no teste de germinaçãoindicando
o desempenho de uma população em condições totalmente favoráveis.
Os valores do índice de velocidade de germinação, nãodiferiram estatisticamente entre si,
demonstrando que esse teste não foieficiente emidentificar qual o lote mais vigoroso. No
entanto,observou-se que o valor absoluto dessa variável foi superior ao lote CE em relação ao lote
RS. Ainda na Tabela 1, verificou-se que o teste de envelhecimento acelerado foi estatisticamente
diferente entre os lotes analisados, lote CE e RS, em que a germinação foi superior após o

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envelhecimento no lote CE (35%), evidenciando o potencial fisiológico deste lote. Este teste de
vigor tem sido bastanteutilizado em várias empresas de sementes, sendo amplamente estudado em
diversas culturas (AMARO et al., 2014), por exemplo, Mendes et al. (2010) verificaram que o teste
de envelhecimento acelerado, a 41oC/72h, proporcionou resultados satisfatórios para avaliação do
potencial fisiológico de lotes de sementes de mamona.
Depois de constatado o lote mais vigoroso (lote CE) realizou-se o índice de velocidade de
emergência (IVE) e a porcentagem de emergência (E) no mesmo, sob diferentes níveis de
sombreamento e dois substratos, areia e vermiculita, cujos valores médios encontram-se na Tabela
2.
Foram feitas contagens das plântulas emergidas diariamente, onde se observou que o tempo
foi diferente para o início da emergência nos tratamentos, sendo 3 dias para as coberturas, com
maior número de plântulas em vermiculita; 4 e 6 dias para o pleno sol com vermiculita e areia,
respectivamente. Dessa forma, as plântulas cultivadas em vermiculita passaram menos tempo nos
estádios iniciais de desenvolvimento, podendo inferir que se tornam menos vulneráveis às
condições adversas do meio, por emergirem mais rapidamente.
Quanto ao sombreamento, observam-se na Tabela 2, que as telas de 50% e 70% foram as
que proporcionaram maior IVE e E, comparadas com a tela de 30% e a pleno sol, diferindo
estatisticamente ao nível de 5% de probabilidade, sendo o sombreamento de 50% o que apresentou
maior média de IVE e E em valores absolutos.Estes resultados estão de acordo com os encontrados
por Brant et al. (2009) em que observaram que osombreamento em 50% beneficiou a produção
edesenvolvimento de Melissa officinalis.

Valores médios
Sombreamento IVE % emergência
30% 2,10 b 34,0 b
50% 3,76 a 55,5 a
70% 3,47 a 42,5 ab
Pleno sol 1,23 b 30,5 b
Substrato
Areia 2,29 b 32,50 b
Vermiculita 2,98 a 48,75 a
Média geral 2,64 40,63
CV(%) 30,29 26,11
Tabela 2 – Índice de velocidade de emergência (IVE) e Emergência (%) de plântulas de chia
cultivada sob diferentes níveis de sombreamento e substratos. Fortaleza, CE, UFC, 2013.
*Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey.

Observaram-se diferenças significativas entre os substratos, areia e vermiculita, em que o


IVE e a E das plântulas foram superiores emvermiculita, 2,98 e 48,75%, respectivamente. Assim,
percebe-se que esse substrato proporcionou condições ideais de umidade e aeração, de formaque as
sementes expressaram o seu máximo potencialgerminativo.Provavelmente, este substrato
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proporcionou características necessárias de um bom substrato para emergência, tais como


porosidade e esterilidade, umavez que uma boa porosidade permite o movimentode água e ar no
mesmo, o que favorece a emergência (ALVES et al., 2008).De acordo com Coates (2011),a planta
de chia prefere solos de textura média a arenosa, embora possa ser cultivada em solosargilosos,
desde que sejam bem drenados, não tolerando solos alagados. Como amaioria das plantas do gênero
Salvia, é tolerante a acidez e a seca, entretanto não conseguesuportar geadas.

CONCLUSÕES

Dentre os métodos estudados, o teste de germinação, a primeira contagem da germinação e o


envelhecimento acelerado foram eficientes para identificar os lotes com diferentes níveis de vigor,
sendo o lote CE o que apresentou melhor qualidade fisiológica das sementes.
Os telados com 50% e 70% de sombreamento foram os que apresentaram melhor
desempenho para o índice de velocidade de emergência e a porcentagem de emergência para
sementes de chia do lote CE.
Os substratos utilizados influenciaramno índice de velocidade de emergência e na
porcentagem de emergência de plântulas de chia, apresentando os maiores valores e maior rapidez
no substrato vermiculita.

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ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 402


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UM OLHAR AMBIENTAL NA CAATINGA: INVESTIGAÇÃO DE POTENCIAL


TÓXICO DA FLOR DE SEDA (CALOTROPIS PROCERA) PARA ABELHAS APIS
MELLIFERA L, NA REGIÃO DO ALTO OESTE POTIGUAR.

Marcelo Reny de Oliveira LEITE


Estudante do Curso de Apicultura do IFRN/PDF
marceloifrn32@outlook.com
Jasiel Souza TAVARES
Estudante do Curso de Apicultura do IFRN/PDF
jasiel.tavares@academico.ifrn.edu.br
Luciene Xavier de MESQUITA-CARVALHO
Professora Mestre do Curso de Apicultura do IFRN/PDF
luciene.mesquita@ifrn.edu.br
Leonardo Emmanuel Fernandes de CARVALHO
Professor Especialista de Biologia do IFRN/PDF
leonardo.emmanuel@ifrn.edu.br

RESUMO
As abelhas são insetos que possuem uma grande importância para a humanidade, não apenas pelos
seus produtos, que geram renda para diversas pessoas, mas principalmente pela polinização. Com
isso, é comum a criação de abelhas, essencialmente da espécie Apis mellifera L. A criação dessas
abelhas ganha o nome de Apicultura, atividade bastante praticada na região Nordeste do Brasil.
Entretanto, existem muitas dificuldades para a prática da apicultura nessa região. A escassez de
chuvas é uma delas. Por esse motivo, os apicultores do Nordeste procuram plantas capazes de
suportar a seca prolongada, a fim de alimentarem suas abelhas. Porém, é necessário, antes,
averiguar a toxicidade dessa planta. A flor de seda (Calotropis procera) é uma dessas plantas. Neste
sentido, objetivou-se fornecer aos estudantes do curso técnico de apicultura e os apicultores da
região entendimento que as plantas presentes na região do Alto Oeste podem oferecer toxinas, que
as impossibilitam de ser utilizada na alimentação das abelhas. Na realização das pesquisas, foi
necessário fazer a coleta da planta no campo; identificação botânica por meio de uma análise
comparativa de espécimes disponíveis no acervo do Herbário Dárdano de Andrade Lima (MOSS)
da Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA) campus Mossoró; e sua toxicidade foi
avaliada em laboratório, por meio do método de bioensaio, que consiste em colocar 20 abelhas em
cada caixa de três tipos de tratamento, com 5%; 10% e 15% do macerado da folha de flor de seda
misturada com uma pasta de açúcar, o cândi e 20 abelhas em uma caixa, alimentando-as apenas
com o cândi. Os resultados obtidos mostraram que a flor de seda não possui indícios de toxicidade
para a espécie Apis mellifera L., mas que ainda necessita de mais estudos acerca dessa
característica.
Palavras-chave: Apis mellifera. L., Toxicidade, Bioensaio, Flor de seda, Identificação botânica.

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ABSTRACT
Bees are insects that are of great importance to humankind, not only for their products, which
generate income for many people, but mainly for pollination. With this, it is common to create bees,
mainly of the species Apis mellifera L. The creation of these bees are called of Apiculture, activity
very practiced in the Northeastern region of Brazil. However, there are many difficulties for
maintain beekeeping activity in this region. The scarcity of rains is one of them. For this reason,
beekeepers in the Northeast are looking for plants that can withstand prolonged drought to feed
their bees. However, it is necessary to first investigate the toxicity of this plant. The silk flower
(Calotropis procera) is one such plant. In this sense, the objective was to provide students of the
technical course of Apiculture and the beekeepers of the region understanding that the plants
present in the region of Alto Oeste can offer toxins, which make it impossible to be used in bee
feeding. In carrying out the research, it was necessary to collect the plant in the field; followed by
botanical identification through a comparative analysis of specimens available in the Dárdano de
Andrade Lima Herbarium collection (MOSS) of the Universidade Federal Rural do Semi Árido
(UFERSA), Mossoró campus; And its toxicity was evaluated in the laboratory by means of the
bioassay method, which consists of placing 20 bees in each box of three types of treatment, with
5%; 10% and 15% of the macerated silk flower leaf mixed with a sugar paste, the candy and 20
bees in a box, feeding them only with the candy. The results showed that the silk flower has no
evidence of toxicity to the species Apis mellifera L., but still needs more studies about this
characteristic.
Keywords: Apis mellifera.L., Toxicity, Bioassay, Silk flower, Botanical, identification.

INTRODUÇÃO

O ensino de entomologia está presente em várias matérias nos currículos do ensino


fundamental e médio. Os insetos são animais invertebrados que podem ser utilizados em aulas
práticas para o entendimento da vida e dos desequilíbrios ambientais, a variedade das espécies,
interações plantas-animais, relações alimentares, destacando-se desse grupo as abelhas, pois são
insetos de relevante potencial econômico gerando riqueza como os produtos apícolas (própolis, mel,
geleia real, pólen e cera) e os serviços de polinização que garantem tanto a multiplicação das
plantas, como mais uma fonte financeira para os produtores agrícolas (RODRIGUES, 2006;
BORROR e DELONG, 2011).
O estudo da relação das abelhas com as plantas levará os alunos à percepção sobre a
importância da conservação dos insetos e plantas, e a preservação do meio ambiente. Ao propor
atividades que investiguem processos naturais e que se relacionem com as atividades humanas,
incentiva-se nos estudantes um despertar para a educação ambiental, sendo esta um componente
essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos
os níveis e modalidades do processo educativo (MMA, 1999).
As abelhas são seres vivos que pertencem à ordem dos himenópteros e à família Apidae. São
bastante conhecidas por possuírem um sistema de divisão de trabalho bastante organizado. Elas se
dividem em três castas: abelha rainha, responsável pela reprodução; operárias, responsáveis por

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cuidarem da manutenção e defesa da colônia, tendo como principal função ir ao campo e coletar
nutrientes para produzir a alimentação de toda a colônia; e os zangões, responsáveis por copularem
com a rainha. Existem também várias espécies de abelhas, dentre elas estão as melíponas e as
melíferas. Entretanto, uma das espécies mais estudadas e exploradas em todo o mundo é a Apis
mellifera L., devido à sua alta produtividade (RAMOS; CARVALHO, 2007).
Esses insetos possuem uma grande importância para a humanidade. Isso se dá porque criam
diversos produtos com propriedades terapêuticas para os seres humanos e que são de grande
importância para o mercado alimentício. Os produtos que podem ser originados das abelhas são: o
mel, uma excelente fonte de energia e que pode substituir o açúcar na alimentação das pessoas; a
própolis, que possui poder cicatrizante e anti-inflamatório; a geleia real, que funciona como
antioxidante e estimulador de crescimento; o pólen, que é uma importante fonte de proteína e
previne alguns distúrbios metabólicos; a apitoxina, o veneno da abelha, que é utilizada na
fabricação de remédios, alguns com a função de combater dores reumáticas; além desses, existe
também a cera, que é uma substância produzida pelas abelhas operárias, e que é utilizada no
cotidiano das pessoas para a fabricação de cosméticos e outros artigos, como por exemplo, a vela.
No entanto, o maior benefício ofertado pelas abelhas ao homem é a polinização, já que é através
dela que as plantas desenvolvem os frutos (CASAGRANDE, 2009).
Segundo Souza, Evangelista-rodrigues e Pinto (2007) as abelhas apresentam também uma
forte interação com a natureza, já que precisam dela para obter o seu alimento. As operárias vão ao
campo no intuito de coletar néctar e pólen. No entanto, esse processo resulta também em um
benefício para as plantas, pois é quando ocorre a polinização cruzada, prática que consiste no
transporte do pólen para o estigma da flor e possibilita a fecundação vegetal. Desse modo, é por
meio das abelhas, principais agentes polinizadores, que boa parte das plantas consegue desenvolver
seus frutos e manterem a cadeia alimentar.
Desde os tempos mais remotos o ser humano percebeu a importância das abelhas. Os
egípcios, por exemplo, utilizavam a própolis para embalsamar as múmias; os gregos a utilizavam
como cicatrizante interno; e os romanos no alívio de dores. Dessa forma, surgiram estudiosos
especializados na criação de abelhas. Para melhor estuda-las, foram criadas classificações baseadas
nas mais variadas espécies desses insetos. Nessas classificações está incluída a apicultura, que se
refere ao ato de criar abelhas do tipo Apis (ADELMANN, 2005).
A apicultura é uma prática conhecida mundialmente, mas que até o final do século XX não
tinha tanto impacto no Brasil. Entretanto, a partir de 2001, com o embargo do mel argentino e
chinês, o Brasil conseguiu ganhar espaço no mercado internacional e passou a investir cada vez
mais, não apenas no mel, mas em vários produtos apícolas. Nesse processo de expansão da
atividade no Brasil, o Nordeste foi uma das regiões que mais se beneficiou, pois conseguiu

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aumentar 38% da produção de mel, em um período de cinco anos, e segue até hoje como uma
grande exportadora de produtos desse ramo (PEREZ; RESENDE; FREITAS, 2004).
A apicultura nordestina, apesar de ser bastante ativa no mercado brasileiro e mundial,
enfrenta diversos problemas, sendo o clima o pior deles. A baixa precipitação de chuvas é uma
característica da região Nordeste, por resultar em secas extensas e comprometer o bem-estar das
colônias. Nesse aspecto, a vegetação que mais sofre com a seca é a Caatinga, onde a quantidade de
chuvas é ainda menor, devido ao clima semiárido. (PEREIRA et al., 2004). Além disso, as plantas
da caatinga são caducifólias, ou seja, perdem as folhas durante a escassez de chuva,
impossibilitando também o surgimento das flores. (ROCHA et al., 2011).
Devido a essa característica da vegetação da Caatinga, torna-se escasso o alimento das
abelhas e diminui o desenvolvimento de produtos advindos das abelhas. Para resolver esse
problema, os apicultores nordestinos precisam investir em novos meios de alimentação para o
período de seca. Dessa forma, além do uso de alimentação artificial e de um manejo adequado,
existe também a técnica de plantar, dentro do apiário, algumas espécies vegetais que produzem
flores até mesmo durante a seca. Sendo assim, o apicultor conseguirá produzir mel durante todo o
ano, evitando também o abandono em massa das colônias. No entanto, para realizar essa prática, é
necessário estudar as plantas antes de oferecê-las às abelhas, a fim de saber se elas possuem
substâncias tóxicas. (STOLARSKI et al., 2014).
A Caatinga brasileira é composta por uma grande variedade de espécies florais, mas nem
todas as plantas contidas nela estão aptas a serem utilizadas na alimentação das abelhas, justamente
por algumas conterem um alto teor tóxico. Isso ocorre porque algumas plantas, para impedir que os
insetos fitófagos se alimentem de suas folhas, são capazes de liberar toxinas que provocam a morte
de diversas espécies animais. (ROTHER et al., 2009). As plantas são consideradas tóxicas quando
produzem metabólitos secundários capazes de provocar patologias em organismos por meio da
inalação, ingestão, e até mesmo pelo contato. Ou seja, as plantas tóxicas possuem em sua estrutura
uma toxina responsável por protegê-las de insetos herbívoros. (CAMPOS et al., 2016). Esses
metabólitos podem estar igualmente distribuídos ao longo da planta ou concentrada em apenas um
local da mesma, como é o caso das raízes, caule, ramos, folhas, flores e frutos. A produção dessa
substância depende de alguns fatores abióticos, como o clima, a altitude e o tipo de solo. Além
disso, algumas plantas se mostram tóxicas ao longo de todo o seu ciclo de vida, enquanto outras
apenas durante a floração (PEREIRA, 2005).
Segundo Cintra, Malaspina e Bueno (2005), plantas tóxicas podem levar um indivíduo a
óbito, quando consumidas em grande escala. No caso das abelhas, a intoxicação ocorre por meio da
ingestão do pólen ou do néctar. Silva (2012) mostra em seus estudos um exemplo de planta tóxica
para as abelhas Apis mellifera. Segundo ele, a quantidade de plantas de barbatimão

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(Stryphnodendron polyphyllum) presente no apiário, é proporcional ao nível de intoxicação das


abelhas. Quanto maior a quantidade dessa planta nas proximidades do apiário, maior será a
intoxicação ocasionada. Ele mostra também, que se ao redor do apiário tiver apenas barbatimão,
sem outras alternativas vegetais, as intoxicações ocorrerão com mais frequência. Isso mostra que os
casos mais fortes de intoxicação nas abelhas ocorrem quando se têm preferencialmente apenas uma
planta para alimentá-las, planta essa com teor tóxico. Com isso os efeitos tóxicos de uma planta
podem ser reduzidos quando se oferece outras variedades de vegetais em conjunto com a planta
tóxica.
Uma planta que pode servir de alimentação para as abelhas durante o período de escassez é a
flor de seda (Calotropis procera), devido a sua adaptação aos climas quentes. Contudo, há indícios
de que essa planta apresenta um alto teor tóxico para alguns animais, e que consequentemente, deve
possuir um poder tóxico também para as abelhas. Marques et al. (2006) afirma em seus estudos que
se o feno da flor de seda for ofertado em concentração de até 16,5% na dieta dos cordeiros não
ocasiona malefícios no desenvolvimento corporal deles, porém, se usada na concentração de 100%
na dieta, apresenta malefícios e também um poder tóxico, podendo levar o animal a óbito. Segundo
ele, a planta é tóxica, tanto fresca quanto desidratada. Porém, apresenta um maior potencial tóxico
quando se encontra fresca.
Touré et. al. (1998) realizou testes no Senegal com várias proporções da flor de seda na
alimentação de bovinos. Nestas pesquisas constatou-se que três grupos de bovinos resistiram a uma
concentração de 2,5, 5,0 ou 10,0 g/kg de flor de seda na sua alimentação. Entretanto, segundo
Oliveira e Souto (2009), este mesmo experimento foi realizado no Sudão com ovinos, na proporção
de 5 ou 10 g/kg, e de acordo com os resultados, essa concentração causou a intoxicação dos
animais, levando-os a morte.
Além disso, a flor de seda também é utilizada no controle de pragas que ameaçam
plantações. Anselmo (2013) constatou que o uso da flor de seda como pesticida foi positivo no
controle de vários insetos. De acordo com sua pesquisa, a produção de tomate sofre com o ataque
de diversas espécies de insetos, dentre eles a mosca branca (Bemisia tabaci) e o Tripes
(Frankliniella schultzei). A produção de tomate no tratamento de controle foi de 61,03 kg, enquanto
que no tratamento com o uso da flor de seda na proporção de 10%, foi de 65,30 kg, mostrando um
aumento significativo na produção, devido à eliminação de boa parte dos insetos ali presentes, ou
seja, a flor de seda foi bastante eficaz no controle das pragas citadas. Isso mostra que essa planta
possui um teor tóxico capaz de matar vários insetos.
De acordo com Garcez, Câmara e Vasconcelos (2014), a flor de seda é uma espécie
originária da Índia e da África tropical. Foi trazida para o Brasil no intuito de ser utilizada em
ornamentações, justamente por ser adaptável ao clima quente. Outro fator importante sobre elas é o

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fato de possuir sementes leves, o que facilita na sua disseminação pelo vento. Essa planta é
conhecida por sua capacidade de se adaptar a ambientes secos e tropicais, permanecendo verde e
florada, até mesmo durante escassez prolongada. Essa característica desperta o interesse de
apicultores por cultivá-la em seus apiários, a fim de utilizá-la como fonte de alimentação.
Entretanto, para usá-la na alimentação das abelhas, é necessário identificar o seu potencial tóxico da
mesma. Neste sentido, objetivou-se fornecer aos estudantes do curso de apicultura e os apicultores
identificar o potencial tóxico da flor de seda para A. mellifera, no intuito de ampliar o conhecimento
sobre a flora do alto oeste potiguar, onde a prática da apicultura também é fortemente desenvolvida,
contribuindo positivamente com a preservação das abelhas, e garantindo uma maior produtividade
apícola na região.

METODOLOGIA

Para a continuação da pesquisa, foram necessários alguns procedimentos, são eles: a coleta
do material botânico em campo, a confecção de exsicatas da flor de seda, a identificação botânica e
a prática dos bioensaios.

Coleta do material botânico

A coleta da planta foi realizada nas proximidades de Pau dos Ferros-RN, nas coordenadas
geográficas S 06° 08.701 / O 038° 11.297. O local de coleta apresenta um solo arenoso-argiloso,
justamente por ser no leito da barragem da cidade, que estava seca. A planta coletada tinha cerca de
1,80 metros de altura e era caracterizada por possuir flores brancas com extremidades roxas e frutos
de coloração verde. Para a coleta, necessitou-se de alguns materiais, que foram: tesoura de poda,
saco plástico, barbante, fita métrica, prensas de madeira, papelões, papel madeira ou jornal, fita
gomada, caderno de anotação, caneta, aparelho de GPS, máquina fotográfica, potes de vidro e
álcool 70%.
O procedimento de coleta ocorreu da seguinte maneira: já em campo, foi analisada a planta
de melhor estado (que possuía flores, frutos e folhas bem conservadas), das quais foram cortados
alguns galhos da flor de seda, utilizando a tesoura de poda. Após o corte, os galhos foram
armazenados com as folhas em sacos plásticos, para serem utilizadas nos bioensaios como
alimentação para as abelhas, e parte das flores foi retirada e colocada nos potes de vidro contendo
álcool 70%, em quantidade suficiente para cobrir todas elas. Já os frutos foram armazenados em
sacos de papel para serem levados à estufa. Os potes de vidro com as flores e os sacos com os frutos
foram identificados com o nome do coletor, nome da planta e com o número e a data da coleta.
No campo, mediu-se a altura da planta coletada, e foram anotadas todas as características
dela, como a altura, tipo de solo, se tinha a presença de flores e frutos, assim como também a

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presença de insetos sobre a planta. No local, com o auxílio do GPS, foi observada a coordenada
geográfica para a obtenção da localização precisa do local de coleta. Ainda no campo, foram
confeccionadas as prensas. Esse procedimento foi dividido em várias etapas, foram eles: sobre um
lado da prensa, foi colocada uma camada de papelão; em seguida, uma folha de papel madeira foi
posta sobre o papelão; após isso, um galho da planta era colocado sobre a folha de papel madeira e
coberta por outra folha; depois disso, foi adicionada mais uma camada de papelão; o processo se
repetiu até serem adicionados todos os galhos da flor de seda; e pôr fim a outra parte da prensa foi
colocada sobre a área superior e amarrada com um barbante, aumentando a força exercida entre os
dois lados da prensa e os galhos.

Confecção das exsicatas

Para realizar esse procedimento, foi necessário o uso de linha e agulha de costura; cartolina
na cor branca e papel madeira.
O procedimento ocorreu da seguinte maneira: as plantas prensadas foram levadas para
laboratório, onde ficaram durante três dias, ainda na prensa; em seguida retiraram-se as plantas da
prensa e deu-se início o processo de produção das exsicatas, em que as plantas retiradas da prensa
foram colocadas sobre a cartolina, cada galho em uma folha; após isso, com o auxílio de uma
agulha e linha, costurou-se um galho em cada folha, de maneira que ficassem bem fixadas e
deixando espaço para a ficha de coleta; por fim, cada exsicata foi coberta com uma folha de papel
madeira, a fim de identificar o número da coleta.

Identificação botânica

A identificação da flor de seda foi feita com base na análise comparativa de espécimes
disponíveis no acervo do Herbário Dárdano de Andrade Lima (MOSS) da Universidade Federal
Rural do Semiárido (UFERSA) campus Mossoró com a espécie coletada, e através da utilização de
chaves dicotômicas em comparação com a anatomia da planta.

Bioensaios

A parte central da pesquisa é a prática dos bioensaios. Ela é baseada na metodologia de


(PEREIRA, 2005), que consiste no experimento com as abelhas Apis melífera. Para a montagem
dos bioensaios foi necessário ir ao apiário do IFRN campus Pau dos Ferros para a captura das
abelhas, principal objeto de estudo. No apiário, foi escolhida uma colmeia forte para que pudesse
ser retirado pelo menos dois quadros de crias, e em seguida colocou-se esses quadros em uma caixa
de isopor para transportar os quadros até o campus, onde foi colocada sobre esses quadros uma
camada de plástico filme; depois disso, foi necessário aguardar 24 horas até que as abelhas

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eclodissem e fossem suficientes para a montagem das caixas. Durante esse período os quadros
foram colocados na BOD.
Com abelhas suficientes, deu-se início ao procedimento de bioensaio. Para isso, as abelhas
foram confinadas em gaiolas de madeira com dimensões de 11 (onze) cm de comprimento, 13
(treze) cm de largura e 08 (oito) cm de altura. Nas laterais maiores foram colocadas placas de vidro;
o piso e o teto foram feitos de telas metálicas; e na parte superior foi feito um orifício para o
fornecimento de água, por meio de um vidro emborcado e com a tampa perfurada. Para a
alimentação, foi utilizada uma tampa plástica, que foi colocada na parte inferior da gaiola. Segue
abaixo uma fotografia da gaiola de madeira utilizada.
O procedimento foi realizado em duplicata e dividido em quatro tipos: controle, ou
tratamento 0 (alimentação à base de açúcar com mel); tratamento 1 (alimentação à base de açúcar
com mel e 5% da folha da flor de seda triturada); tratamento 2 (alimentação à base de açúcar com
mel e 10% da folha da flor de seda triturada), tratamento 3 (alimentação à base de açúcar com mel e
15% da folha da flor de seda triturada). Dessa forma, foram necessárias 8 gaiolas de madeira (duas
para controle e duas para cada um dos tratamentos). Em cada gaiola foram adicionadas 20 abelhas
operárias.
Após a produção do alimento, iniciou-se o processo de bioensaio, que consiste em colocar
cerca de 10 g do alimento e 15 mL de água dentro da gaiola. A cada 24 horas foi necessário ir ao
laboratório pesar o alimento das abelhas e observar a quantidade de água, a fim de saber o quanto
foi consumido em cada tratamento; além disso, a cada dia foi contada a quantidade de abelhas
mortas em cada caixa, no intuito de verificar taxa de mortalidade das abelhas por tratamento. Esse
procedimento foi repetido diariamente, enquanto houvesse abelhas vivas dentro das caixas.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A planta coletada foi identificada botanicamente como sendo a Calotropis procera,


conhecida popularmente como flor de seda.
Observa-se na Figura 1 que não houve diferença significativa entre as curvas de
sobrevivência do grupo controle e o tratamento. Pode-se averiguar que a utilização do macerado das
folhas da flor de seda (Calotropis procera) adicionado ao ―cândi‖ não reduziu os dias de
sobrevivência das abelhas. Marques et al. (2006) mostra em seu trabalho resultados acerca do
oferecimento do feno da Flor de seda (Calotropis procera) a um grupo de cordeiros, e segundo esse
estudo, o macerado da planta não causou tantos malefícios ao desenvolvimento corporal desses.
Além do mais, o autor também afirma que a planta só apresenta princípios tóxicos quando é
ofertada na concentração de 100% aos animais.

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Figura 1: Curva de Sobrevivência para teste com folhas Calotropis procera, popularmente conhecido como
flor de seda.

Isso pode ser assemelhado aos resultados obtidos após o oferecimento do macerado de
plantas às abelhas nas concentrações indicadas na figura 1, no qual, a curva de sobrevivência das
abelhas nas diferentes proporções se mostrou bastante similares, assim como no controle. Isso
mostra que as diferenças nas concentrações da planta na oferta do alimento às abelhas não afetaram
de forma muito significativa no período de sobrevivência dos insetos.
Ao analisar os dados da Tabela 2, não foi possível constatar diferenças estatísticas
significativas entre o grupo controle e o tratamento (P<0,0001), não surtindo efeito tóxico das
folhas para as abelhas.

Tabela 2: Diferença estatística e significância da comparação entre os grupos.

As abelhas controle mantiveram-se vivas em média por 10 dias e as alimentadas com 5%,
10% e 15% do macerado de folhas da Flor de Seda (Calotropis procera), apresentaram em média
uma mortalidade de 09 dias. As concentrações não apresentaram diferença quanto ao número de
dias; em comparação ao controle houve diferença de 01 dia. Podendo inferir que não houve
diferença significativa entre o controle e os tratamentos.
Um estudo semelhante de Pereira et al. (2007) mostra que as folhas de leucena (Leucaena
leococephala) não evidenciaram efeitos tóxicos para as abelhas (Apis mellifera L.). Esse mesmo
autor testou o farelo de babaçu (Orbygnia martiana), que também não se mostrou tóxico para as

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abelhas dessa espécie. Os resultados obtidos nessa pesquisa se assemelham aos obtidos na pesquisa
com o macerado da flor de seda, que também foi procedido em condições parecidas com a do
experimento de Pereira et al. (2007), e que também não apresentou teor tóxico para os insetos.
O estudo de Santoro et al. (2004) acerca do barbatimão (Stryphnodendron spp), planta que
pode ser utilizada na alimentação das abelhas, mostrou compatibilidade com os conhecimentos da
literatura sobre a toxicidade dessa planta. O autor realizou pesquisas semelhantes à do trabalho com
a flor de seda, utilizando diferentes concentrações do barbatimão, que foi posteriormente oferecido
às abelhas. Os resultados obtidos mostraram que essa planta afetou de forma significativa na
longevidade das abelhas (Apis mellifera L.). Dessa forma, as diversas plantas que podem ser fontes
de alimento para as abelhas podem possuir efeitos tóxicos, no entanto, a flor de seda não mostrou
esse princípio. Vale ressaltar também os resultados da pesquisa de Marques et al. (2006) com
animais de médio porte, em que o oferecimento da flor de seda não ocasionou danos a saúde dos
animais.
O mesmo autor afirma que se a planta for desidratada e oferecida em pequenas
concentrações, os efeitos tóxicos dela não são apresentados, explicando assim o motivo desses
resultados na pesquisa em questão. Isso por que o oferecimento do macerado da folha da flor de
seda foi nas concentrações de 5%, 10% e 15%, além do fato dessas plantas terem sido desidratadas,
o que pode ser relacionado com o que foi dito por Marques et al. (2006).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a aplicação da metodologia exposta, os resultados mostrados concluem que a


alimentação feita com o pó das folhas de Calotropis procera não se mostrou tóxica para abelhas
Apis mellifera L. Os resultados não evidenciam uma aceleração na morte das abelhas alimentadas
com a planta, sugerindo, então, que suas folhas não possuem um potencial tóxico capaz de levar
esses insetos à morte. Com isso, pode-se inferir também que essa planta não apresenta risco para as
abelhas, caso esteja perto, ou dentro, de um apiário. Apesar dessa conclusão, é necessário ressaltar
que há ainda a necessidade de mais pesquisas que investiguem vários outros questionamentos.
Dessa forma, a pesquisa aplicada aos problemas é uma ótima ferramenta para o
entendimento dos alunos do ensino médio dos impactos das relações inseto planta, bem como
permite aos mesmos uma melhor compreensão dos fatores ecológicos que regulam os sistemas
ambientais. Esse conhecimento é válido, haja vista que a atividade apícola é uma importante fonte
de renda da região e sua manutenção requer uma postura mais crítico-reflexiva sobre seus principais
impactos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CULTIVO IN VITRO DE PLANTAS: ALTERNATIVA PARA A CONSERVAÇÃO


DE ESPÉCIES AMEAÇADAS DE EXTINÇÃO

Lindomar Maria de SOUZA


Doutoranda em Botânica da UFRPE
lindomarsouza.ufrpe@gmail.com
Marina Medeiros de Araújo SILVA
Professora Doutora em Biologia Vegetal IFPA
marinamedeirosas@yahoo.com.br
Terezinha CAMARA
Professora Titular Doutora em Biologia UFRPE
teca.camara@gmail.com
Cláudia ULISSES
Professora Doutora em Botânica UFRPE
claulisses@gmail.com

RESUMO
O desenvolvimento de técnicas eficientes para a conservação de espécies de importância ecológica
e/ou econômica que estão ameaçadas de extinção é de extremo interesse para garantir a manutenção
dos recursos genéticos vegetais. O cultivo in vitro de plantas, por meio dos protocolos de
conservação in vitro, tem se constituído uma alternativa valiosa para garantir a conservação do
germoplasma de diferentes espécies. A conservação in vitro envolve a manutenção das plantas ou
segmentos de plantas em laboratório, e pode ser desenvolvida mediante as técnicas de crescimento
lento ou de criopreservação. O cultivo sob crescimento lento é realizado basicamente pela alteração
dos componentes presentes no meio nutritivo, bem como pelos ajustes nas condições do ambiente
(temperatura e luminosidade) onde os cultivos são mantidos. Tais procedimentos minimizam o
crescimento celular e prolongam os períodos entre os subcultivos. A criopreservação consiste no
armazenamento de material biológico em temperatura ultrabaixa, o que interrompe as divisões
celulares e os processos metabólicos, garantindo maior eficiência na conservação em longo prazo.
Posteriormente, o material criopreservado poderá ser regenerado e multiplicado in vitro. Para
muitas espécies de plantas a conservação in vitro já é um sistema viável e apresenta crescente
importância. Suas técnicas podem contribuir de forma significativa na conservação, multiplicação e
intercâmbio do germoplasma de espécies ameaçadas de extinção.
Palavras Chave: Conservação in vitro, Crescimento lento, Criopreservação, Banco de germoplasma,
Micropropagação.
ABSTRACT
The development of efficient techniques for conservation of endangered species of ecologic and/or
economic importance it is of extreme interest to ensure the maintenance of plant genetic resources.
The in vitro culture of plants, through in vitro conservation protocols, has become a valuable
alternative to guarantee the conservation of the germplasm of different species. In vitro
conservation involves the maintenance of plants or plant segments in the laboratory, and can be
developed by slow growth or cryopreservation techniques. Slow growth storage is carried out
basically by the alteration of nutrient medium components, as well as by the adjustments in the

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environmental conditions (temperature and luminosity) where the cultures are maintained. These
procedures minimize cell growth and prolong the periods between subcultures. Cryopreservation
consists in the storage of biological material at ultra-low temperature, which interrupts cellular
divisions and metabolic processes, ensuring greater efficiency in long-term conservation.
Subsequently, the cryopreserved material can be regenerated and multiplied in vitro. In vitro
conservation is already a viable system and present increasing importance for many plant species.
Their techniques can contribute significantly to conservation, multiplication, and exchange of
germplasm of endangered species.
Key Words: In vitro conservation, Slow growth, Cryopreservation, Germplasm bank,
Micropropagation.

INTRODUÇÃO

O ritmo de extinção vem sendo bem mais acelerado que o ritmo da ciência na identificação e
descrição de novas espécies de plantas (Mittermeier e Scarano, 2013). De acordo uma análise
realizada através do Plano de Estratégia Global para a Conservação de Plantas (GSPC, na sigla em
inglês), uma ampla gama de relações entre comunidades e espécies de plantas e suas interações
ecológicas correm o risco de extinção. Caso essa perda não seja impedida, incontáveis
oportunidades de desenvolvimento de novas soluções para problemas nos âmbitos econômico,
social, sanitário e industrial também se perderão (Souza Dias e Hoft, 2013).
Estudos realizados pela União Internacional para a Conservação da Natureza alertam para o
número de espécies ameaçadas, onde a cada cinco espécies de planta, pelo menos uma encontra-se
na lista de espécies da flora ameaçadas de extinção. Dentre as metas estabelecidas pelo GSPC, o
desenvolvimento de modelos com protocolos para a conservação e o uso sustentável de plantas,
baseados em pesquisa e experiência prática, apresenta falhas na realização. Além disso, a lista
vermelha de espécies da flora ameaçadas de extinção não traz avanços significativos no que diz
respeito a uma política consistente de conservação da biodiversidade, considerando apenas a
inclusão na lista de espécies que afetarão a economia nacional ou que representem uma barreira
para o licenciamento ambiental de iniciativas governamentais (Souza Dias e Hoft, 2013).
A conservação de espécies de plantas enfrenta outros entraves além da falta de interesse
político. Dentre as principais ameaças às espécies, está a distribuição geográfica restrita, exploração
indiscriminada para múltiplos usos pelas comunidades e pela indústria, bem como a forma de
reprodução dessas espécies, que em alguns casos é o principal fator limitante na propagação da
espécie. A forma de reprodução constitui um importante fator que pode limitar a produção de
mudas para reflorestamento, bem como a manutenção de bancos de germoplasma. Algumas
espécies apresentam reprodução sexuada inviável por originar na maioria das vezes semente
abortiva (Santos et al 2009) e outras, de importância ecológica e econômica apresentam
dificuldades no enraizamento de estacas, dificultando a obtenção de novas plantas. Quanto mais

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adulto o material vegetal utilizado, menor a capacidade de enraizar e, pior o desenvolvimento


vegetativo no campo. Por outras vezes, aspectos genéticos da própria espécie dificultam o
enraizamento de estacas (Penã et al 2012; Ferreira et al 2010; Ferrari et al 2004).
Os recursos genéticos de muitas espécies são tradicionalmente conservados ex situ como
plantas inteiras em coleções de campo. A conservação no campo apresenta grandes inconvenientes
que limitam sua eficácia e ameaçam a segurança dos recursos genéticos vegetais a serem
conservados. De fato, as coleções permanecem expostas a desastres naturais e ao ataque de pragas e
patógenos (Engelmann, 2004). No caso de sementes, o germoplasma pode ser armazenado à
temperatura ambiente ou a baixas temperaturas. Entretanto, o armazenamento convencional tem
muitas limitações, incluindo sementes com período curto de viabilidade da germinação, doenças
transmitidas por sementes e os altos custos associados ao espaço de armazenamento e manutenção
(Burritt, 2016).
O desenvolvimento de métodos alternativos que sejam eficientes na conservação de espécies
de importância ecológica e ou econômica com risco de extinção é de extrema importância para a
manutenção da biodiversidade local e mundial. Atividades de conservação aliadas à biotecnologia
vêm desempenhando importante papel nos programas internacionais de conservação de plantas no
que se refere à preservação dos recursos genéticos a nível mundial (Reed et al 2001).
O processo de crescimento de células, tecidos e órgãos retirados de uma planta e cultivados
em ambiente artificial é conhecido como cultivo in vitro ou cultura de tecidos de plantas, o qual é
baseado na capacidade de uma célula vegetal regenerar plantas idênticas àquela de origem
(Cardoza, 2008). A propagação in vitro ou micropropagação, constitui importante alternativa em
relação aos métodos convencionais de propagação de espécies vegetais, pois possibilita a limpeza
clonal, obtendo-se plantas livres de vírus por meio do cultivo de ápices caulinares e meristemas,
permitindo a propagação vegetativa de espécies de interesse ecológico e econômico ou que
apresentem alguma dificuldade de propagação (Ferrari et al 2016; Pathak e Abino, 2014; Andrade
et al 2000). A micropropagação permite a obtenção de plantas independente da estação climática,
além de apresentar redução do tempo e do espaço físico para produção de mudas (Kuhn et al 2014).
Técnicas de cultura de tecidos, incluindo organogênese e embriogênese somática,
juntamente com a conservação in vitro, podem ser utilizadas com a finalidade de prevenir erosão
genética e a extinção de espécies (Ramakrishnan et al 2016; Akdemir et al 2013; Engelmann, 2010).
A possibilidade de definir metodologias para propagação in vitro amplia as possibilidades de
práticas de conservação de espécies ameaçadas de extinção e constitui uma alternativa promissora
para a manutenção dos recursos vegetais, pois permite a produção e cultivo de mudas em qualquer
época do ano, em ambiente controlado e em pequeno espaço físico, além de assegurar a fidelidade e

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a diversidade genética. Essas ações viabilizam a oferta de mudas em larga escala para uso
sustentável pelas comunidades, bem como para a recuperação de áreas degradadas.
A necessidade de armazenamento de culturas durante um longo período vem sendo
investigada há décadas e a solução veio com o aperfeiçoamento das técnicas de cultivo in vitro de
plantas, sendo necessário o prévio estabelecimento do protocolo de micropropagação da espécie de
interesse (Pandey et al 2015; Engelmann, 2004). Os protocolos de conservação in vitro envolvem o
armazenamento dos sistemas de cultura sob condições assépticas.
A conservação in vitro de plantas compreende duas técnicas interdependentes, a cultura de
tecidos e o armazenamento criogênico (Reed et al 2001). Dependendo da espécie, do período de
armazenamento e da infraestrutura disponível, os protocolos podem ser estabelecidos com ajustes
em alguns fatores essenciais para o crescimento e desenvolvimento das culturas, por exemplo,
modificação nos componentes do meio nutritivo e ajustes na temperatura ou na luminosidade da
sala de cultivo. A ênfase da conservação in vitro é reduzir a taxa de crescimento e aumentar a
duração do subcultivo (médio prazo), empregando, para tanto, condições de crescimento lento, ou
realizar o armazenamento de células ou tecidos em temperaturas ultra baixas (longo prazo),
utilizando a técnica de criopreservação (Pandey et al 2015; Engelmann, 2004).

TÉCNICA DE CRESCIMENTO LENTO

O cultivo in vitro de plantas têm sido uma eficiente via para a conservação da biodiversidade
vegetal, incluindo recursos genéticos de sementes recalcitrantes, espécies de propagação vegetativa,
espécies raras e ameaçadas de extinção, genótipos elite e geneticamente modificados (Silva et al
2016; Bhattacharya et al 2014; Gonçalves et al 2009; Gonçalves e Romano, 2007). A técnica mais
amplamente utilizada para a conservação in vitro de espécies vegetais é conhecida como o
armazenamento em condições de crescimento lento, que está relacionado com a redução da
temperatura e/ou de nutrientes, por vezes, em conjunto com uma diminuição na intensidade da luz
(Akdemir et al 2013).
Em condições normais, as culturas são mantidas em meios nutritivos, sendo necessários
frequentes subcultivos com a finalidade de renovar os nutrientes do meio e dividir os tecidos ou
órgãos que se desenvolveram. Isto gera um custo considerável pelo tempo de trabalho e gastos com
meio nutritivo, além disso, a cada subcultivo realizado, o risco de perda pela contaminação por
microrganismos aumenta. O crescimento lento tem por objetivo prolongar os períodos entre
subcultivos para facilitar e tornar baixo o custo na conservação in vitro. Para que esta técnica possa
ser utilizada, os tecidos cultivados devem manter sua capacidade de regenerar plantas completas,
uma vez que são retirados de um sistema de crescimento lento. A conservação sob a forma de
crescimento lento é uma alternativa biotecnológica relativamente simples e de baixo custo para a

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conservação de germoplasma de plantas. Esta técnica pode ser incluída nas estratégias de
conservação em bancos de germoplasma in vitro e como alternativa para a conservação e uso
racional de espécies (Peixoto et al 2017; Srivastava et al 2013; Balch et al 2012).
A conservação in vitro por meio da técnica de crescimento lento envolve a alteração da
temperatura, a fim de retardar ou reprimir o crescimento de células, tecidos ou órgãos. O uso de
agentes osmóticos no meio de cultivo, como manitol e sorbitol, também mostram ser eficientes na
conservação de algumas espécies, pois retardam o crescimento sem afetar as respostas
morfogênicas dos tecidos mantidos em sua presença (Bekheet et al 2016; Cordeiro et al 2014; Balch
et al 2012). Além das vantagens já descritas, na conservação in vitro o material genético é mantido
longe de ameaças como pragas, patógenos, inundações ou secas extremas. Estudos para o
desenvolvimento de protocolos de conservação de diversas espécies de plantas tem sido uma
alternativa promissora para manutenção dos recursos genéticos (Arrigoni-Blank et al 2014; Bertoni
et al 2013; Reed et al 2001).

CRIOPRESERVAÇÃO

A criopreservação consiste no armazenamento de material biológico em temperatura ultra


baixa, geralmente em nitrogênio líquido (-196 °C). Atualmente é a técnica que garante maior
segurança e eficiência na conservação em longo prazo de várias espécies. Em temperaturas muito
baixas todas as divisões celulares e processos metabólicos são interrompidos. O material vegetal
pode assim ser armazenado sem alteração ou modificação por um período teoricamente ilimitado de
tempo. Além disso, as culturas são armazenadas em um pequeno volume, protegido de
contaminações e exigem uma manutenção muito limitada (Engelmann, 2004).
O uso de coleções de sementes é um procedimento padrão e, embora o armazenamento de
sementes a baixa temperatura possa ser um meio eficaz, a técnica de criopreservação é considerada
a opção mais apropriada e segura para o armazenamento em longo prazo de células ou tecidos de
espécies que são propagadas assexuadamente ou que não produzem sementes viáveis (Burritt, 2016;
Reed et al 2001).
As técnicas clássicas de criopreservação envolvem um resfriamento lento a uma temperatura
de pré-congelamento e, em seguida, a rápida imersão em nitrogênio líquido. Esses protocolos
clássicos geralmente são empregados em sementes ortodoxas ou gemas dormentes que exibem
processos naturais de desidratação, podendo ser criopreservadas sem pré-tratamentos (Engelmann,
2004). Material vegetal como suspensões celulares, calos e embriões, por apresentarem maior
quantidade de água celular livre (vitrificação), apresenta maior sensibilidade ao congelamento,
portanto, as células devem ser desidratadas artificialmente para garantir a proteção contra os danos
causados pela cristalização da água intracelular. A desidratação celular é realizada antes do

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congelamento por exposição das amostras a meios crioprotetores e/ou dessecação, seguido por
arrefecimento rápido. Como resultado, todos os fatores que afetam a formação de gelo intracelular
são evitados. A sobrevivência das células após a desidratação é uma etapa crítica desse método
(Engelmann, 2004; Reed et al 2001).
Outro método de criopreservação bastante utilizado é o encapsulamento de tecidos vegetais
em gel de alginato de sódio, conhecido também como sementes sintéticas. Tais sementes, contendo
o material vegetal, são expostas à desidratação osmótica e evaporativa para um nível crítico de
umidade e, posteriormente, as cápsulas são transferidas para criotubos e mergulhadas em nitrogênio
líquido (Guedes et al 2007; Santos, 2004; Reed et al 2001). O encapsulamento de diferentes tipos de
explantes vem sendo especialmente empregado em espécies que produzem sementes não viáveis ou
que apresentem alguma dificuldade de propagação e conservação (Campos et al 2014). Após o
reaquecimento, as sementes podem germinar, os embriões se desenvolver e as brotações ou ápices
caulinares podem ser induzidas a crescer, dando origem a plantas a partir de células ou tecidos
criopreservados (Burritt, 2016).
Recentemente novos protocolos de criopreservação foram desenvolvidos utilizando
crioplacas de alumínio, facilitando a execução e reduzindo possíveis lesões nos tecidos durante o
manuseio, além de permitir rápido arrefecimento e aquecimento, favorecendo a recuperação após o
descongelamento (Dhungana et al 2017; Rafique et al 2015).

CONSERVAÇÃO IN VITRO DE ESPÉCIES AMEAÇADAS DE EXTINÇÃO

Plantas raras e ameaçadas que apresentam o metabolismo do ácido das crassuláceas (MAC),
como a família Cactaceae, geralmente apresentam limitações reprodutivas e taxas de crescimento
muito lentas. Malda et al (1999) estabeleceram protocolo de micropropagação para duas espécies de
cactos ameaçadas de extinção. Segundo os autores, a propagação em massa usando o cultivo in
vitro de certas plantas MAC em extinção, pode satisfazer a demanda comercial normal, além de
diminuir a pressão de exploração de populações naturais.
Estudos com espécies de Bromeliaceae indicam que esta é uma das famílias com maior
número de espécies ameaçadas de extinção e que requer estratégias de conservação como o
estabelecimento de coleções em jardins botânicos. Carvalho et al (2014) estabeleceram um
protocolo de armazenamento in vitro a curto prazo para Acanthostachys strobilacea testando
diferentes temperaturas de cultivo. Os autores concluíram que a temperatura de 10 °C é apropriada
para o armazenamento por 90 dias. A conservação in vitro com regulação da temperatura vem
sendo descrita na literatura para diversas espécies (Bekheet et al 2016; Srivastava et al 2013; Silva
et al 2011; Kubota e Kosai, 1994)

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O estabelecimento de protocolo simples, barato e eficiente para a conservação in vitro em


longo prazo de Ipsea malabarica, uma orquídea endêmica e ameaçada de extinção, foi alcançado
com êxito e as culturas foram mantidas por até 20 meses sem alterações nos padrões de
regeneração. Para tanto, foram adotadas estratégias como a redução da concentração dos nutrientes
do meio de cultivo, com ou sem a adição de reguladores de crescimento e de sacarose (Martin e
Pradeep, 2003).
O uso da técnica de criopreservação foi desenvolvido e aplicado com sucesso em seis
espécies australianas ameaçadas de extinção (Turner et al 2001). Os autores sugerem que o uso de
glicerol no meio nutritivo, bem como a redução da concentração das soluções crioprotetoras podem
aumentar a sobrevivência pós-imersão em nitrogênio líquido, aumentando a eficiência dos
protocolos de criopreservação.
Rathwell et al (2016) desenvolveram protocolo de criopreservação de Betula lenta , espécie
nativa da América do Norte, que apresenta propriedades medicinais e que encontra-se ameaçada de
extinção. Atualmente existe apenas uma única população natural de 18 árvores encontradas na
região de Niágara, em Ontário, Canadá. O protocolo de conservação foi baseado no encapsulamento
de ápices em alginato de sódio e forneceu 52% de regeneração após a reidratação das cápsulas.
Protocolos de conservação in vitro através da técnica de crescimento lento ou de
criopreservação foram estabelecidos com sucesso na conservação de diversas espécies (Sun et al
2016; Pence, 2014; San José et al 2014; Capuana e Lornado, 2013; Guo et al 2013; Balch et al
2012; Kaur et al 2012; Tsai et al 2009; Sen-Rong e Ming-Hua, 2009; Divakaran et al 2006).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento de protocolos de conservação in vitro com a finalidade de proteger e


conservar espécies ameaçadas de extinção é um tema relevante na área de recursos genéticos. Suas
técnicas vêm sendo aplicadas com êxito para diversas espécies, garantindo a conservação e
facilitando o intercâmbio de germoplasma entre instituições de diferentes partes do mundo.
Novas estratégias estão sendo estudadas e implementadas, especialmente no sentido de
tornar as técnicas menos onerosas e mais eficientes, a fim de garantir a manutenção da fidelidade
genética dos acessos mantidos em cultivo in vitro por longos períodos. A cultura de tecidos pode
contribuir de forma significativa para a conservação da flora ameaçada de extinção, todavia, é
necessário salientar que o desenvolvimento das técnicas de conservação in vitro não eliminam a
importância de se manter o uso sustentável da biodiversidade, bem como a sua conservação sob
condições in vivo e principalmente in situ.

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ESTRESSES OSMÓTICO E SALINO AFETAM A GERMINAÇÃO E A


COMPARTIMENTALIZAÇÃO DE ÍONS NA+ E K+ EM FEIJÃO DE CORDA

Luciana Maia Nogueira de OLIVEIRA


Professora Adjunta UFRPE-UAG
lucianamaia_m@yahoo.com.br
Juliana de Lima SANTOS
Graduada em Agronomia UFRPE-UAG
Josabete Salgueiro Bezerra de CARVALHO
Professora UFRPE-UAG

RESUMO
O cultivo do feijão de corda (Vigna unguiculata (L.) Walp) constitui atividade agrícola tradicional
no Estado de Pernambuco, em face de sua importância socioeconômica. A salinidade e o déficit
hídrico são os fatores abióticos que mais têm afetado negativamente a produção de espécies
vegetais de importância socioeconômica nas regiões áridas e semiáridas, devido a irregularidades
pluviais que impedem a lixiviação dos sais na superfície dos solos destas regiões. O objetivo do
presente trabalho foi avaliar os efeitos do cloreto de sódio, manitol e do polietilenoglicol (PEG) na
germinação de sementes de V. unguiculata cultivar IPA206 e de sementes crioulas de agricultores
dos municípios de Jucati e São João em Pernambuco. A germinação foi conduzida em câmara de
germinação, regulada a 25°C em sistema de rolo umedecido com água destilada ou solução de NaCl
(100 mM), Manitol (200 mM) ou PEG (-0,2 MPa), de acordo com o tratamento. A redução no
potencial osmótico, induzida tanto pelo estresse salino (NaCl) como pelo estresse hídrico (Manitol
ou PEG) provocou alterações nos parâmetros germinativos das sementes, embora em diferentes
intensidades. Em relação às medidas de comprimento (raiz e da parte aérea) e massa seca das
plântulas, observa-se que a redução no desenvolvimento e comprimento, como efeito da salinidade
(NaCl) ou do estresse hídrico (Manitol) foi similar, embora tenham apresentado valores
estatisticamente diferentes em algumas das variáveis analisadas. As sementes da cultivar IPA 206
apresentaram porcentagens de germinação superiores aos das sementes provenientes dos
agricultores de Jucati e de São João, em condição controle e de estresses salino e hídrico.
palavras chave: Feijão. Salinidade. Seca. Germinação.
ABSTRACT
Cowpea (Vigna unguiculata (L.) Walp) is a traditional crop field in Pernambuco state of Brazil, in
the face of their socioeconomic importance. Consequently, it is grown in several cities, which have
distinct environmental conditions such as the soil and climate. Abiotic stress like salinity and
drought are important factors that could affected negatively the plant development of species
cultivated in semiarid regions, specially the crops of socio-economic importance. These abiotic
factors affect negatively the germination process, the crop growth and the productivity and, in
severe cases, cause death of seedlings. The aim of this study was to evaluate the effects of sodium
chloride, mannitol and polyethylene glycol (PEG) on seed germination of V. unguiculata produced
and developed by the Agronomic Institute of Pernambuco (IPA) and from farmers of Jucati and São
João, both cities in the state of Pernambuco. Germination was performed in a chamber at 25 °C in
filter paper moistened with distilled water (control) or with NaCl (100 mM), Mannitol (200 mM)
and PEG (-0.2 MPa), according to treatment tested. The reduction in osmotic potential, both
induced by salt stress (NaCl) as well as by water stress (Mannitol or PEG), led to changes in the
physiological parameters of seeds germination as well as the ionic effect by salinity, showing
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different intensities. For measures of length (root and shoot), fresh and dry weight of seedlings, it
was observed that the inhibition on the development and length in response to effect of salinity
(NaCl) or water stress (mannitol) was similar, although they showed statistically different values in
some of the variables analyzed. The seeds produced by IPA presented percentage of germination
higher than those of seeds from the farmers Jucati and São. João, in all conditions including control
and stress by salinity or drought.
Key-words: Bean, dought, germination, salinity.

INTRODUÇÃO

O feijão caupi, feijão macassar ou feijão de corda (Vigna unguiculata (L.) Walp) é uma
leguminosa dotada de alto teor proteico e boa capacidade de fixação de nitrogênio (VERCOUT,
1970). No Estado de Pernambuco, constitui-se como atividade agrícola tradicional em face de sua
importância socioeconômica (BARRETO, 2001). Em consequência, ele é cultivado em vários
municípios da região, os quais apresentam distintas características ambientais especialmente
àquelas relacionadas ao solo e ao clima. Os municípios de Jucati e São João apresentam como
principais características a baixa precipitação pluvial e altas temperaturas.
A salinidade e o déficit hídrico são os fatores abióticos que mais têm afetado negativamente
a produção de espécies vegetais de importância socioeconômica nas regiões áridas e semiáridas,
devido a irregularidades pluviais que impedem a lixiviação dos sais na superfície dos solos destas
regiões. Quase um bilhão de hectares de solos agrários é afetado pela salinidade, o que representa
7% de toda a área terrestre (COMINELLI et al., 2013; DEINLEIN et al L., 2014; ROY et al., 2014;
OLIVEIRA et al., 2014).
A salinidade induz estresse osmótico provocado pela diminuição da atividade química da
água, causando dessa forma, perda do turgor celular. Além do estresse osmótico, a salinidade causa
toxidade iônica, pois altas concentrações de Na+ e Cl- são deletérias à célula. O Na+ pode perturbar
a homeostase iônica e, com isso, afetar de diversas maneiras o status nutricional da planta, inibindo,
por exemplo, a obtenção do elemento essencial K+ mediante a competição por sítios no transporte
de proteínas e através de processos intracelulares ainda não completamente elucidados
(HASEGAWA et al., 2000). Uma razão anormalmente alta de Na+ para K+ e concentrações altas de
sais totais inibem a síntese de enzimas e inibem a síntese proteica (TAIZ; ZEIGER, 2009).
A tolerância ao sal é freqüentemente avaliada como a porcentagem de produção de biomassa
em condição salina comparada à biomassa em condição controle em determinado período de tempo.
Análises comparativas de parâmetros fisiológicos, bioquímicos e moleculares são ferramentas úteis
na identificação de genótipos de plantas mais adaptados ao estresse salino e osmótico.
Características da planta, incluindo identidade do órgão ou tecido, estágio de desenvolvimento e
genótipo influenciam a resposta ao estresse (OTOCH et al., 2001). Diante disso, o presente trabalho

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teve por objetivo estudar a fisiologia comparativa entre sementes de feijão caupi provenientes do
IPA e de agricultores da região de Garanhuns.

METODOLOGIA

Material Vegetal e Condições de crescimento

O material vegetal utilizado consistiu em sementes da cultivar IPA 206 de feijão caupi
(Vigna unguiculata (L.) Walp) desenvolvida e fornecida pelo IPA e sementes crioulas de feijão
caupi fornecidas por agricultores da cidades de Jucati-PE e São João-PE. Foram utilizadas vinte e
cinco sementes para cada tratamento e para o experimento com três repetições de cada tratamento.
As sementes foram previamente tratadas com uma solução de hipoclorito de sódio a 10%
por 5 minutos e foram postas para germinar em papel germitest umedecido com água destilada ou
solução de NaCl (100 mM), Manitol (200 mM) e PEG (-0,2 MPa) de acordo com o tratamento
(tabela 1), numa proporção de 2,5 vezes o peso do papel seco em água ou solução. Os rolos de papel
germitest foram colocados dentro de copos descartáveis, cobertos com sacos transparentes e levados
para a câmara de germinação, regulado a 25°C. Os experimentos foram realizados no laboratório de
sementes da CENLAG/UAG-UFRPE.

Tratamentos

T1 H2O

T2 100 mM de NaCl

T3 200 mM de Manitol

T4 - 0,2 MPa PEG 40

Tabela 1. Descrição dos tratamentos utilizados no experimento.

Índice de velocidade de germinação (IVG)

O índice de velocidade de germinação foi realizado juntamente com o teste de germinação,


cujas avaliações das plântulas normais foram realizadas diariamente, à mesma hora, a partir do

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início da germinação até quando a emergência da mesma estivesse estabilizada e o índice foi
calculado empregando a fórmula proposta por Maguire (1962), onde:
IVG = G1/N1+ G2/N2+...+ Gn/Nn , Sendo: G1,G2 e GN = número de plântulas normais
computadas na primeira, na segunda e na última contagem; N1, N2 e Nn = número de dias da
semeadura à primeira, segunda e última contagem.

Parâmetros de crescimento

O efeito dos diferentes tratamentos no desenvolvimento de plantas foi avaliado através do


comprimento e peso seco em relação às plantas em condição controle. As diferentes partes da planta
(raiz, parte aérea e cotilédone) foram cortadas com lâmina, o comprimento medido em cm. Para as
medidas de peso seco, o material foi colocado em estufa a 80°C por 72 horas e os respectivos pesos
foram mensurados em balança analítica.

Análise dos íons

As análises da concentração do íons Na+ e Cl-, foram realizadas no laboratório de solos do


CENLAG. Cerca de 100 mg das amostras de matéria seca e moída, das diferentes partes da planta,
foram pesadas e colocados em tubos especiais de teflon PFA (perfluoro alquóxi etileno). Em
seguida, as amostras foram digeridas em solução contendo ácido nítrico (70%) e peróxido de
hidrogênio (30%) em forno de microondas (marca CEM; Modelo: Mars-Xpress). A programação
dos ciclos de temperatura foi selecionada de acordo com metodologia proposta por Almeida (2007).
Posteriormente, as amostras foram transferidas para balão volumétrico de 25 mL e o volume final
completado com água deionizada. A análise química do conteúdo de íons Na+, K+ das diferentes
partes das plantas foi analisado por fotometria de chama (EMBRAPA, 1999).

Delineamento experimental

Os experimentos foram realizados em laboratório, com pelo menos três repetições utilizando
delineamento experimental inteiramente casualizado (DIC). Os resultados obtidos foram
submetidos à análise de variância seguida de comparação de médias pelo teste de Tukey em nível
de significância de 5% utilizando o programa SISVAR.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Estresses osmótico e salino provocaram alterações nos parâmetros germinativos das


sementes, embora em diferentes intensidades, possivelmente pela redução no potencial osmótico,
induzida tanto pelo estresse salino (NaCl) como pelo estresse hídrico (Manitol ou PEG), além do
efeito iônico causado pela salinidade.

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A eficiência da germinação de sementes, sob tratamentos salino e hídrico foi avaliada pelo
índice de velocidade de germinação (IVG). Para a cultivar IPA 206, a salinidade e o estresse hídrico
ocasionaram lentidão no processo de germinação. Contudo, o tratamento com 100 mM de NaCl
(T2) não diferiu significativamente do controle, enquanto o tratamento com 200 mM de Manitol
(T3) causou atraso na germinação, mostrando diferença significativa. Nas sementes desenvolvidas
pelos agricultores de Jucati e São João, a salinidade e o estresse hídrico também ocasionaram uma
germinação mais lenta para os tratamentos 2 (T2), 3 (T3) e 4 (T4), os quais diferiram
estatisticamente do controle (Figura 1). A velocidade com que as sementes germinam após a
semeadura, é de grande importância para um estabelecimento satisfatório das plântulas no campo. O
atraso na germinação pode expor as sementes a condições desfavoráveis de temperatura, bem como
ao ataque de pragas e de doenças, acarretando prejuízos ao desempenho das sementes (OLIVEIRA;
GOMES FILHO, 2009; PESKE; DELOUCHE, 1985).
Tanto o estresse hídrico quanto o salino induzem estresse osmótico, provocando nas
sementes uma seca fisiológica, causada pelo baixo potencial osmótico (ULISSES et al., 2000; ZHU,
2001; FLEXAS et al., 2004; ASHRAF; FOOLAD, 2007), o que dificulta a absorção de água pelas
sementes e, conseqüentemente, retarda os processos germinativos (FANTIN; PEREZ, 2004).
Quando sementes são semeadas em soluções salinas, ocorre inicialmente uma redução na taxa de
absorção de água e posteriormente uma diminuição na velocidade dos processos fisiológicos e
bioquímicos (FLOWERS, 2004; O‘LEARY).
Com relação às medidas de comprimento da raiz e da parte aérea, as plântulas das sementes
da cultivar IPA 206, nos tratamentos 2 (T2) e 3 (T3) foram afetadas e apresentaram redução quando
comparados à condição controle, na ordem de 54 e 37% para as raízes dos tratamentos 2 (T2) e 3
(T3) respectivamente, entretanto não diferiram estatisticamente do controle (Figura 2A). Já a parte
aérea apresentou redução na ordem de 51 e 64% para os mesmos tratamentos, diferindo
estatisticamente da condição controle. No tratamento 4 (T4) não houve germinação (Figura2B).
Gonzales e Zamora (2000) estudando o efeito de diferentes níveis de salinidade constatou que
durante o estádio inicial de crescimento, os índices de crescimento (altura, comprimento radicular e
peso de matéria seca das plântulas) decresceram a medida em que a concentração salina aumentava.
As plântulas das sementes desenvolvidas pelos agricultores de Jucati também apresentaram
redução nas suas medidas de raiz e parte aérea para os tratamentos 2 (T2) e 3 (T3) quando
comparadas a condição controle (T1), sendo observado valor na ordem de 70% para as raízes no
tratamento 2 (T2), mostrando diferença estatística do controle.

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Figura 1. Índice de velocidade de germinação (IVG) sementes de Vigna unguiculata (L.) Walp produzidas
pelo IPA, por agricultores de Jucati e de São João. As sementes foram submetidas aos seguintes tratamentos
T1 = água destilada, T2 = 100 mM de NaCl (T2), T3 = 200 mM de manitol e T4 = – 0, 2 MPa de PEG.

Por outro lado, o tratamento 3 (T3) apresentou redução de somente 6% em suas raízes, não
diferindo estatisticamente do controle (Figura 2A). Já sua parte aérea apresentou redução de 57%
para os tratamentos 2 (T2) e 3 (T3), que entre si não diferiram estatisticamente, diferindo somente
do controle (Figura 2B). Assim como as da cultivar IPA 206, essas sementes quando submetidas ao
tratamento 4 não germinaram.
Nas plântulas das sementes desenvolvidas pelos agricultores de São João, as reduções nas
raízes foram na ordem de 71, 32 e 61% para os tratamentos 2 (T2), 3 (T3) e 4 (T4),
respectivamente, quando comparada à condição controle, diferindo estatisticamente do controle
(Figura 2A).
Já em relação à parte aérea, essa redução foi na ordem de 57, 58 e 82%, respectivamente,
para os mesmos tratamentos, os quais diferiram estatisticamente do controle (Figura 2B). As
sementes desenvolvidas pelos agricultores de São João germinaram e desenvolveram-se quando
submetidas ao tratamento com PEG. Observa-se que a redução no desenvolvimento e comprimento
das plântulas como efeito da salinidade (NaCl) ou do estresse hídrico (manitol) foi similar, apesar
de apresentarem valores estatisticamente diferentes em algumas das variáveis analisadas.

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Figura 2. Comprimento (cm) da raiz e da parte aérea de plântulas de Vigna unguiculata (L.) Walp produzidas
pelo IPA, por agricultores de Jucati e de São João. As sementes foram submetidas aos seguintes tratamentos
T1 = água destilada, T2 = 100 mM de NaCl (T2), T3 = 200 mM de manitol e T4 = – 0, 2 MPa de PEG.

A restrição hídrica e a salinidade atuam reduzindo a velocidade dos processos fisiológicos e


bioquímicos e, com isso, as plântulas nessas condições apresentam menor desenvolvimento,
ocorrendo, assim, menores comprimentos de plântulas e menor acúmulo de biomassa seca.
O peso seco das plântulas das sementes da cultivar IPA 206 apresentaram em suas raízes um
acréscimo de 54% no tratamento 2 (T2). Por outro lado, o tratamento 3 (T3) apresentou uma
redução de 13%, não diferindo estatisticamente do controle (Figura 3A). Já parte aérea apresentou
redução em seu peso seco na ordem de 16 e 53%, para os tratamentos 2 (T2) e 3 (T3)
respectivamente, embora não diferindo da condição controle (Figura 3).
Com relação às plântulas provenientes das sementes dos agricultores de Jucati, estas
apresentaram redução do peso seco tanto da raiz como da parte aérea para os tratamentos 2 (T2) e 3
(T3) (Figura 3). A parte aérea também apresentou redução de 62 e 54%, para os tratamentos 2 (T2)
e 3 (T3), respectivamente, diferindo significativamente da condição controle (Figura 3B). Silveira et
al. (1999) também constataram que o tratamento de plantas de caupi com 100 mM de NaCl na
solução nutritiva ocasionou redução no acúmulo de matéria seca da parte aérea.
Com relação às plântulas das sementes dos agricultores de São João, o peso seco das raízes
apresentou acréscimo em todos os tratamentos (Figura 3A). O peso seco de sua parte aérea
apresentou aumento de 25 e 87% para os tratamentos 2 e 3, respectivamente, e uma redução de 78%
para o tratamento 4 (Figura 3).
A concentração de íons Na+ nas raízes das plântulas das sementes da cultivar IPA 206, Jucati
e São João, submetidas ao estresse salino, apresentou aumento quando comparada a condição

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controle, diferindo estatisticamente (figura 4A). Resultados semelhantes foram encontrados por
Costa et al (2003) em cultivares de feijão caupi onde em resposta à salinidade, todos os cultivares
aumentaram de forma significativa os teores de Na+.
Na parte aérea de plântulas, a concentração de íons Na+ também mostrou aumento em
reposta ao estresse salino (T2) e apresentaram os maiores valores diferindo estatisticamente do
controle em todas as plantas testadas (figura 4B). O Na+ pode perturbar a homeostase iônica e, com
isso, afetar de diversas maneiras o status nutricional da planta, inibindo, por exemplo, a obtenção do
elemento essencial K+ mediante a competição por sítios no transporte de proteínas e através de
processos intracelulares ainda não completamente elucidados.
Para verificar se houve desequilíbrio nas concentrações de K+ em decorrência dos estresses,
a concentração desse íon foi investigada e mostrou que nas raízes das plântulas das sementes
fornecidas por agricultores de Jucati submetidas ao tratamento T3 houve um aumento no teor de K+
embora não significativo, quando comparado ao controle. Nas raízes das sementes fornecidas por
agricultores de São João, a concentração de íons K+ das raízes submetidas ao T2 e T3 apresentou
uma redução que não foi significativa, quando comparada ao controle (figura 5A).

Figura 3. Peso seco de raízes (A) e parte aérea (B) de plântulas provenientes de sementes de Vigna
unguiculata (L.) Walp produzidas pelo IPA, por agricultores de Jucati e de São João. As sementes foram
submetidas aos seguintes tratamentos T1 = água destilada, T2 = 100 mM de NaCl (T2), T3 = 200 mM de
manitol e T4 = – 0, 2 MPa de PEG

Em baixas condições de salinidade, as plantas mantêm elevadas concentrações de íons K+ e


baixas concentrações de íons Na+ no citosol. O K+ é elevado em condições normais, pois é um íon
móvel, que possui função osmótica, regulando a abertura e fechamento dos estômatos, auxiliando
na ascensão capilar do NO3- no xilema e atuando na ativação enzimática (Taiz; Zeiger, 2009). Neste

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experimento a concentração de íons K+ foi afetada em todas as condições de estresse. Para a


cultivar IPA 206, nas raízes das plântulas submetidas ao T2 e T3, a concentração de íons K+ foi
reduzida de forma significativa. Com relação à parte aérea, as plântulas das sementes da cultivar
IPA 206, apresentaram uma pequena redução para as condições de estresse testadas, sendo
significativo somente para o T3. Para as plântulas das sementes de agricultores de Jucati e São João
a concentração de íons K+ não sofreu alteração significativa (figura 5B).
Dantas et al, 2003 observou que plantas de feijão caupi expostas somente à salinidade, não
mostraram mudanças na concentração do potássio em relação ao controle. Mas Costa et al (2003)
mostraram acúmulo desse íon em alguns genótipos e redução em outros. A redução tem sido
apontada com uma resposta comum em plantas submetidas ao estresse salino, podendo estar
relacionada ao antagonismo entre Na+ e K+ durante o processo de absorção (SILVA et al., 2010;
BRITTO; KRONZUCKER, 2015), enquanto o acúmulo pode estar associado à redução na
translocação desse íon em função da menor demanda para o crescimento das plantas sob condições
de estresse (LACERDA ET AL., 2006). Alguns autores têm observado a existência de múltiplos
sistemas de absorção com diferentes seletividades para Na+ e K+, o que pode refletir a necessidade
da planta para coordenar o influxo desses cátions (SCHACHTMAN; LIU, 1999).

Figura 4. Concentração de Na+(mmol/g matéria seca) nas raizes (A) e parte aérea (B) de plântulas de
Vigna unguiculata (L.) Walp produzidas pelo IPA, produzidas por agricultores de Jucati e de São João. As
sementes foram submetidas aos seguintes tratamentos T1 = água destilada, T2 = 100 mM de NaCl (T2), T3 =
200 mM de manitol.

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Figura 5. Concentração de K+ (mmol/g matéria seca) em raízes de plântulas de Vigna unguiculata


(L.) Walp produzidas pelo IPA, produzidas por agricultores de Jucati e de São João. As sementes foram
submetidas aos seguintes tratamentos T1 = água destilada, T2 = 100 mM de NaCl (T2), T3 = 200 mM de
manitol.

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GANHOS ENERGÉTICOS E AMBIENTAIS DA UTILIZAÇÃO DE ENERGIA SOLAR NA


PRODUÇÃO DE BIODIESEL

Luiz Antônio Pimentel CAVALCANTI


Professor Doutor em Engenharia Química - IFBA
luiz.cavalcanti@ifba.edu.br
Fabiano Almeida NASCIMENTO
Graduando em Engenharia Elétrica- IFBA
fabianoalmeidaeng@gmail.com
Samara Pereira VIEIRA
Graduanda em Engenharia Elétrica- IFBA
samara.maia@hotmail.com
Sandra Maria SARMENTO
Professora Dra. da UFPE
sarmento@ufpe.br

RESUMO
A aplicação de fontes de energias renováveis solar e eólica, tem chamado atenção no que diz
respeito ao aumento da sua viabilidade técnico-financeira em aplicações que visem à redução de
custos operacionais e de manutenção em processos industriais. Considerando os incessantes
esforços para substituição do diesel de origem fóssil pelo biodiesel aliada desvantagem econômica
inerente à utilização deste biocombustível, a redução de custos durante a produção do biodiesel se
faz necessária para a popularização e utilização em larga escala desta fonte energética. Neste
sentido, o presente trabalho apresenta o processo de design, dimensionamento e construção de um
protótipo de reator para produção de biodiesel sustentável alimentado energeticamente por um
coletor solar construído com materiais reutilizados e energizado eletricamente por um sistema
fotovoltaico off-grid. A construção do protótipo ocorreu através da junção de subsistemas de
aquecimento solar, geração fotovoltaica, agitação e bombeamento que, juntos, caracterizaram todo
sistema necessário para produção de biodiesel através do processo de transesterificação por rota
metílica. O estudo solarimétrico e fotovoltaico foi feito levando em consideração o local de
instalação e a previsão cargas elétricas do sistema produtivo de biodiesel objetivando o devido
suprimento elétrico e térmico. Ao término da construção do protótipo, foram realizados testes para
garantir a necessária transferência de calor para a reação química de transesterificação e o correto
funcionamento do circuito elétrico, visando atestar a confiabilidade de todo sistema bem como a
possibilidade de sua replicabilidade em uma maior escala. Observou-se a eficiência elétrica,
comparando-a com sistemas convencionais que utilizam a energia do Sistema Interligado Nacional
e o produto final foi avaliado com auxílio da técnica de cromatrografia gasosa mostrando que o
biodiesel foi produzido satisfatoriamente, apresentando rendimento em termos do teor de éster de
97,6%, resultado superior ao recomendado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e
Biocombustíveis (ANP) em sua Resolução N° 45/2014.
Palavras Chave: Biodiesel, Energia Fotovoltaica, Sustentabilidade, Coletor Solar.
ABSTRACT
Application of renewable energy sources, solar and wind, has called attention about the increasing
of its technical-financial viability in applications aimed to reduce operating costs and maintenance
in industrial processes. Considering the incessant efforts to replace fossil diesel by biodiesel allied

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with economic disadvantage inherent to this biodiesel use, costs reduction during biodiesel
production is necessary for popularization and large-scale use of this energy source. This work
presents the design, dimensioning and construction process of a reactor prototype for sustainable
biodiesel production energetically fueled by a solar heat collector constructed with reused materials
and electrically energized by an off-grid photovoltaic system. Prototype was built through solar
heating combination, photovoltaic generation, agitation and pumping subsystems, which together
characterize the all system required to produce biodiesel through transesterification process by
methyl route. Solar and photovoltaic study was made taking into account the consumption forecast
of electric charges and installation place of the biodiesel productive. At the end of the prototype
construction, tests were carried out to guarantee the necessary heat transfer for transesterification
chemical reaction and the correct electric circuit operation, in order to attest the reliability of the
whole system as well as the possibility of its replicability in a larger scale. It was observed the
electric efficiency, comparing it with conventional systems that use the energy of the National
Interconnected System and the final product was evaluated with the aid of gas chromatography
technique showing that the biodiesel was produced satisfactorily, presenting yield in terms of ester
content Of 97.6%, a result higher than that recommended by the National Agency for Petroleum,
Natural Gas and Biofuels in its Resolution No. 45/2014.
Keywords: Biodiesel, Photovoltaic Energy, Sustainability, Solar collector.

INTRODUÇÃO
Grande parte da energia consumida no mundo é oriunda do gás natural, petróleo e carvão
mineral. No entanto, essas fontes possuem previsão de esgotamento futuro por possuírem caráter
não renovável, dessa forma, é de suma importância que sejam buscadas fontes alternativas de
energia, no intuito de atender a demanda energética mundial, além de diminuir os impactos
ambientais causados pelas fontes fósseis (SANTOS et al., 2015).
Dentre os tipos de fontes renováveis de energia existentes até o momento, o biodiesel vem
se apresentando como um forte candidato para substituir o diesel, pois o mesmo traz uma concepção
de produção de energia renovável além de aspectos sociais e ambientais para o desenvolvimento
sustentável. Entretanto, o seu elevado custo operacional ainda é uma problemática enfrentada a essa
substituição (CARVALHO & RIBEIRO, 2014).
A reação de transesterificação normalmente é favorecida quando é submetida a um
aquecimento, que comumente é fornecido através de um banho termostático utilizando energia
elétrica de rede convencional, o que torna o processo não atrativo economicamente
(REFAAT,2010). Esse processo pode ser realizado através de coletores solares, construídos por
materiais recicláveis como garrafa de Polietileno Tereftalato (PET) e embalagens do tipo tetra pak,
com o propósito de minimizar os custos com processo de aquecimento, bem como torná-lo
potencialmente sustentável (CAVALCANTI, 2016).
A utilização da energia solar para aquecimento e geração de energia apresenta benefícios
econômicos, energéticos, reduzindo a demanda energética do sistema interligado nacional. Do

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ponto de vista ambiental, contribui para a redução da emissão de carbono para a atmosfera e
minimiza a quantidade de gases de efeito estufa (JACOB FILHO, 2016).
A utilização de painéis fotovoltaicos para geração de eletricidade se mostra atrativo
ambientalmente e economicamente, conforme analise de investimentos realizados e simulados em
diversas aplicações. No Campus Central da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN),
por exemplo, o sistema utilizado de 3,5 kWp, se mostrou economicamente viável, devido ao
período de retorno simples do investimento obter-se em aproximadamente 11 anos, proporcionando
uma economia em energia elétrica de R$ 172,58 por cada MW/h não consumidos ou uma economia
ao longo do ciclo de vida de R$ 1.314.867,00 anual, bem como uma diminuição das emissões de
Gases de Efeito Estufa (GEE) de aproximadamente 442,1 toneladas ou 40,7 hectares de CO 2
(FONSECA, 2016).
O presente trabalho tem como objetivo realizar o dimensionamento e montagem de um
sistema fotovoltaico bem como o design, prototipagem e análise de um sistema de aquecimento
solar com materiais reutilizados focando sua aplicação para a produção de biodiesel, realizando um
comparativo entre o sistema de alimentação proposto e o sistema de alimentação convencional, em
termos de economia energética e emissão de GEE.

MATERIAIS E MÉTODOS

A metodologia científica aplicada a esta pesquisa iniciou-se com a revisão bibliográfica


sobre os temas energéticos no que diz respeito à energia elétrica e térmica, bem como o processo de
produção de biodiesel. A partir da revisão bibliográfica, foi feito a prototipagem do sistema e a
análise através de uma pesquisa exploratória.
Os componentes e equipamentos projetados para construção de todo o sistema de produção
de biodiesel foram levantados planejando-se quais os materiais seriam necessários para construção
dos módulos do sistema visando à diminuição do custo global do processo de produção do biodiesel
e a exequibilidade do projeto em termos práticos, técnicos e financeiros. Determinou-se, portanto,
os seguintes subsistemas:
A. Aquecimento;
B. Agitação;
C. Sistema de potência de energia elétrica;
D. Bombeamento;
E. Controle de velocidade do agitador;

SISTEMA DE AQUECIMENTO SOLAR (COLETOR)

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 440


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A reação de transesterificação alcalina homogênea geralmente necessita de circulação de


água aquecida em um reator encamisado. Buscando a viabilidade técnica, redução do
consumo/demanda elétrica e diante da disponibilidade de determinados materiais, decidiu-se que o
sistema de aquecimento se daria através de um coletor solar sustentável baseado no Manual de
Construção e Instalação de Aquecedor Solar Composto de Produtos Descartáveis da Celesc segundo
―ALANO, 2009‖, constituído basicamente de garrafas PET, caixas de leite Tetra Pak e canos de
Policloreto de Vinila (PVC), pintados em preto fosco, sendo o dimensionamento do sistema de
aquecimento feito a partir da previsão da quantidade nominal de produção de biodiesel do protótipo
(2,2L de biodiesel por batelada).
Depois de finalizada a construção do protótipo, a variação de temperatura do projetado
volume de água, a ser aquecida pelo coletor solar para aquecimento da reação, foi mensurado em
intervalos de 15 minutos com um termômetro digital enquanto o sistema era exposto ao sol, sendo
estes dados analisados observando o alcance da temperatura ideal para reação a fim de determinar
se a quantidade de calor absorvido pelo coletor seria suficiente para atender as demandas
energéticas do processo no que diz respeito ao aquecimento dos reagentes na faixa de temperatura
de 40ºC a 50ºC para melhor eficiência da reação de transesterificação.
Algumas das etapas da construção do sistema de aquecimento são mostradas na Figura I. O
sistema foi dimensionado para aquecimento de um volume de água de 10L e por isso 03 colunas
com 02 garrafas PET com capacidade volumétrica de 02 litros cada, foram projetadas e construídas,
conforme orientações do Manual de Construção e Instalação de Aquecedor Solar Composto de
Produtos Descartáveis da Centrais Elétricas de Santa Catarina (CELESC) (ALANO, 2009).

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 441


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Figura I – Etapas da construção do coletor solar sustentável.


Fonte: Autoria Própria.

Os materiais utilizados para a produção do sistema de aquecimento do reator são


apresentados no Tabela I.

Material Quantidade Situação


Garrafas PET 2 Litros 06 unidades Reutilizado

Tubulação PVC ½ polegada 05 metros Novo

Caixas de Leite Tetra Pak 06 unidades Reutilizado

Mangueira transparente 02 metros Novo

Balde 20 Litros 01 unidade Reutilizado


Conexões Joelho para tubulação
06 unidades Novo
PVC
Conexões ―T‖ para tubulação PVC 06 unidades Novo
Tabela I - Materiais utilizados para montagem do sistema de aquecimento solar.
Fonte: Autoria Própria.

SISTEMA DE GERAÇÃO FOTOVOLTAICA


O estudo solarimétrico e fotovoltaico foi baseado nas informações contidas no Manual de
Engenharia para Sistemas Fotovoltaicos do Centro de Referência em Energia Solar e Eólica Sérgio
de Salvo Brito (CRESESB) e do Centro Pesquisa de Energia Elétrica (CEPEL) (Pinho e Galdino,
2014). (explicitados na seção 4, levando em consideração a previsão do consumo das cargas
elétricas). A Figura II apresenta o esboço do esquema de montagem elétrica do protótipo.

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.
Figura II - Esquemática do circuito elétrico a ser utilizado no protótipo.
Fonte: Autoria Própria.

O dimensionamento do sistema fotovoltaico se deu pelo método de pior mês, visando


garantir a quantidade de energia suficiente independente da situação de pior irradiação solar. Os
valores de potência elétrica dos equipamentos utilizados foram levantados e uma projeção do
consumo em Wh feita para todo o processo de produção do biodiesel, sendo este valor, por
consequência, a potência mínima do sistema fotovoltaico.
Os materiais utilizados para a montagem do sistema de geração fotovoltaica são
apresentados no Quadro II.

Material Quantidade Situação

Controlador de Carga 12V 10A 01 unidade Novo

Inversor de Frequência CC/CA 400W


01 unidade Novo
12V/127V
Painel Solar Fotovoltaico 110Wp
01 unidade Novo
14,4V

Bateria Estacionária 45Ah 12V 01 unidade Novo


Cabeamento elétrico 6 mm² 10 metros Reutilizado
Quadro II - Materiais utilizados para montagem do sistema fotovoltaica.
Fonte: Autoria Própria.

REATOR SUSTENTÁVEL, BOMBA E AGITADOR


Considerando a ausência de um reator para a produção de biodiesel, o presente estudo
também visou dimensionar e construir o protótipo de um reator dotado de um sistema de agitação
que tenha capacidade produtiva de 2,2L de biodiesel por batelada. Visando levar o sistema para o
mais próximo possível da operação real de uma usina de biodiesel, definiu-se a autonomia do
sistema em 12 horas através do sistema fotovoltaico, podendo realizar até 10 bateladas por dia.
O reator teve sua concepção baseada na ilustração apresentada na Figura III, sendo dotado
de sistema de agitação, concebido a partir do dimensionamento baseado nos textos de operações
unitárias na literatura especializada de acordo com ―FOUST, 1982‖ e montado a partir de materiais

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residuais da construção civil, além de um motor de ventilador, um rolamento e um recipiente de


vidro. O reator utilizado durante os experimentos é retratado na Figura III.
O sistema de bombeamento foi montado com uma bomba reutilizada de máquina de lavar e
um sistema de mangueiras isoladas termicamente.

Figura III – Reservatório reacional com sistema de agitação inserido.


Fonte: Autoria Própria.

Os materiais utilizados para a montagem do sistema de agitação são apresentados no Quadro


III.

Material Quantidade Situação


Eletrobomba Universal 0,75W 01 unidade Reutilizado

Motor elétrico CA 127V 40W 01 unidade Reutilizado

Recipiente de vidro (05 litros) 01 unidade Reutilizado

Chapa de Zinco (20cm x 20cm) 01 unidade Reutilizado

Quadro III - Materiais utilizados para montagem do sistema de agitação.


Fonte: Autoria Própria.

MONTAGEM FINAL E ANÁLISE DE DADOS

O sistema final apresenta configuração disposta conforme Figura IV seguindo as orientações


de segurança durante a montagem. Após a montagem de todos os subsistemas o sistema geral foi
submetido ao primeiro teste de produção de biodiesel sendo este analisado para observância da
eficácia da produção e qualidade do produto final. O índice que verifica a eficiência da conversão
dos reagentes químicos em biocombustível é o teor de éster, que teve sua taxa em porcentagem

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determinada através do processo de cromatografia20 gasosa realizada no laboratório da


Universidade Federal do Pernambuco, excluindo-se a análise de demais parâmetros de qualidade,
pois estes não são válidos para comprovar a eficácia e eficiência do processo produtivo.
Considerando os parâmetros elétricos medidos, uma análise foi realizada identificando a
diferença de potência do sistema proposto e do sistema convencional levando em consideração a
eficiência energética, consumo de energia elétrica, confiabilidade do sistema, e valor ambiental
agregado.
Foi ainda verificado o controle de velocidade do motor do agitador através do circuito de
variação de tensão AC, sendo todas as variáveis elétricas mensuradas com o multímetro digital
DT830D, as medidas térmicas foram feitas com o termômetro digital tipo espeto modelo JR-1.

Figura IV1 - Esquema tridimensional do protótipo de reator sustentável.


Fonte: Autoria Própria.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
O sistema construído teve como objetivo observar os incrementos ambientais do processo de
produção de biodiesel a partir da utilização de energia solar e nesse sentido, podem-se destacar duas
principais diferenças entre o sistema proposto e um sistema convencional de mesma capacidade
produtiva: A utilização de um coletor solar para obtenção de energia térmica e a utilização de um
sistema fotovoltaico para geração de energia elétrica.
Ambas as situações trazem incrementos ambientais para o processo, visto que não há
utilização de energia elétrica do Sistema Interligado Nacional e redução das perdas inerentes ao
20
O processo de análise via cromatografia não está descrito neste trabalho, pois foi realizado por terceiros na
Universidade Federal do Pernambuco.

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mesmo. Ressaltasse também a utilização de energia 100% renovável, situação inexistente na matriz
energética brasileira, que ainda tem termelétrica baseadas em combustíveis fósseis para atender as
demandar elétricas do país.
Para um sistema convencional, com aquecimento a partir de resistências elétricas, estipula-
se a utilização de uma resistência de 143 W continuamente durante a produção de biodiesel. Como
no sistema proposto substitui-se a resistência elétrica pela energia obtida a partir do coletor solar,
tem-se um ganho em termos energéticos de 0,143 kWh por batelada e 514,8 kWh por ano
considerando a dimensão e quantidade de bateladas diárias definidas para o sistema proposto neste
trabalho (NASCIMENTO et al., 2006).
Numa projeção ao sistema de produção de biodiesel apresentando em Nascimento (2006),
onde se determina a utilização de resistências que totalizam 13kW para uma capacidade produtiva
de 200L de biodiesel, tem-se, quando da substituição do sistema de aquecimento por resistências
elétricas, uma economia de 13kWh por batelada e 46.800 kWh por ano .
A emissão de CO2 durante o ciclo de vida de um sistema como o proposto é muito menor
quando comparado ao sistema convencional. Considerando somente a diferença de consumo
elétrico citado no paragrafo anterior, de 46.800 kWh/ano para um sistema com capacidade
produtiva de 200 litros de biodiesel, levando em conta também a emissão média de CO2 equivalente
para a energia produzida pelo SIN no ano de 2016 de 0,0817 kgCO2eq/kWh (MCTI,2017), tem-se
um ganho em emissão de CO2 de 3.823,56 kg/ano por conta da substituição de um sistema de
aquecimento solar pelo elétrico.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tomando como base a usina de produção de biodiesel – 200 litros de capacidade por
batelada – apresentada em Nascimento et al., 2006, que utiliza resistências de 7kW e 6kW para
aquecimento reacional, pôde-se projetar uma diminuição de consumo de energia elétrica, quando da
substituição das resistências por coletores solares, de 13kWh por batelada e 46.800 kWh/ano
considerando uma produtividade de 10 bateladas de 01 hora por dia durante 365 dias no ano.
A sistemática sustentável de produção do biodiesel se mostrou de alta confiabilidade,
observado que o sistema manteve-se estável em todos os testes realizados, indicando a possibilidade
de aumento de escala no equipamento. O biodiesel produzido apresentou rendimento satisfatório,
estando dentro dos parâmetros de qualidade exigidos pela ANP, em termos do teor de éster que foi
de 97,6% para a produção no primeiro teste.
Destaca-se o ganho ambiental, social e energético quando da utilização de sistemas de
geração fotovoltaica e de aquecimento solar para produção de biodiesel em quatro aspectos
principais: Diminuição da carga instalada para sistemas que substituem a resistência elétrica por um

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sistema de aquecimento solar; Diminuição das perdas energéticas nas linhas de


distribuição/transmissão pelo uso da Microgeração distribuída; Geração de emprego e renda
familiares tendo em vista a produção de coletores solares sustentáveis; Reutilização de resíduos
sólidos urbanos durante a produção de coletores solares sustentáveis.

REFERÊNCIAS

ALANO, J. A. Manual sobre a construção e instalação do aquecedor solar com descartáveis.


CELESC, 2009. 44p. Disponível em:<http://josealcinoalano.vilabol.uol.com.br/manual.htm>
Acesso em: 20 mar. 2017.

SANTOS. R.C.O, BARBOSA, G.L MACHADO, A.M.C. CREMASCO,C.P. Automatização


residencial e utilização de fontes de energia limpa para diminuição do consumo nas redes
elétricas. Fórum ambiental da Alta Paulista. v. 11. N 03, 2015.

CARVALHO, H.M; RIBEIRO, A.B. Biodiesel: Vantagens e desvantagens numa comparação com
o diesel convencional. Essentia Ed., campos dos Goytacazes/RJ, v.2,n.1, p.49-53, 2014.

CAVALCANTI, L. A. P. Produção de Biodiesel Metílico de Soja com o Auxílio de um Coletor


Solar Sustentável. Revista Principia - Divulgação Científica e Tecnológica do IFPB, [S.l.], n. 29,
p. 105-109, jun. 2016. ISSN 2447-9187. Disponível em:
<http://periodicos.ifpb.edu.br/index.php/principia/article/view/356>. Acesso em: 24 Jul. 2016.
doi:http://dx.doi.org/10.18265/1517-03062015v1n29p105-109.

FONSECA, L. F. Viabilidade econômica da implantação de painéis fotovoltaicos para redução do


consumo de energia elétrica no campus central da universidade federal do rio grande do norte.
Natal-RN, 2016. 19f. Dissertação (Graduação em Ecologia) - Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, 2016.

FOUST, A. Princípios das Operações Unitárias, 2ª ed. Editora LTC, 1982.

JACOB FILHO, P. Estudo do rendimento térmico de um aquecedor solar parabólico redondo para
viabilidade de uso comercial e residencial. Guaratinguetá-SP, 2016. 67f. Dissertação (Mestrado
em Engenharia Mecânica) - Faculdade de Engenharia do Campus de Guaratinguetá, Universidade
Estadual Paulista, 2016.

MINISTÉRIO DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO (MCTI). Fatores de emissão de CO2


para utilizações que necessitam do fator médio de emissão do Sistema Interligado Nacional do
Brasil. Disponível em: <http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/74694.html>. Acesso em
10 mai 2017.
ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 447
Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

NASCIMENTO, U.M. et al. Montagem e Implantação de Usina Piloto de Baixo Custo para
Produção de Biodiesel, 1º Congresso da Rede Brasileira de Tecnologia de Biodiesel, Brasília,
Brasil, Ago. 2006, pp. 147-150.

PINHO, J. T. & GALDINO, M. A. Manual de engenharia para sistemas fotovoltaicos. CEPEL –


CRESESB. Rio de Janeiro, 2014.

ANÁLISE COMPARATIVA DE CRESCIMENTO ENTRE GENÓTIPOS DE


BATATA-DOCE (Ipomoea batatas (L.) Lam.) EM FUNÇÃO DA
INTERFERÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS

Lydayanne Lilás de Melo NOBRE


Mestranda em Agricultura e Ambiente da UFAL
lydayannenobre@gmail.com
Jair Tenório CAVALCANTE
Dr. Prof. da UFAL
jairtc@ig.com.br
Paulo Vanderlei FERREIRA
Dr. Prof. da UFAL
paulovanderleiferreira@bol.com.br
Moisés Tiodoso da SILVA
Mestrando em Produção Vegetal da UFAL
moises.tiodoso@hotmail.com

RESUMO
O experimento foi realizado na área experimental do Setor de Melhoramento Genético de Plantas
do Centro de Ciências Agrárias - UFAL, em 2013, com o objetivo de analisar o crescimento de três
genótipos de batata-doce em função da interferência de plantas daninhas. A análise foi realizada em
um experimento em blocos casualizados no esquema fatorial 3 x 14, com três repetições,
distribuídos em sete períodos de controle, em que as plantas daninhas eram controladas e sete
períodos de convivência, a partir dos quais as plantas daninhas não eram mais controladas. As
análises foram realizadas a partir de amostragens da parte aérea dos genótipos de batata-doce aos
30, 60, 90 e 120 dias após o plantio (DAP), nos tratamentos onde os genótipos foram mantidos
sobre o controle e em convivência, durante todo o ciclo com as plantas daninhas. Foi utilizada uma
planta da área útil por parcela para cada época de avaliação da área foliar e massa seca da parte
aérea, esta planta era seccionada rente ao solo, com separação das folhas e ramos. A área foliar, em
cm², foi determinada através do integrador mecânico de área foliar e a massa seca da parte aérea
(MSPA), em estufa de circulação forçada de ar a 65ºC por 72 h, e pesadas em balança de precisão.
Houve expressiva redução nos índices de crescimento dos genótipos de batata-doce quando

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comparado o tratamento em controle com a convivência das plantas daninhas para todos os
genótipos de batata-doce estudados.
Palavras-chave: Culturas. Plantas infestantes. Competição. Controle. Convivência.
ABSTRACT
The experiment was carried out in the Experimental area of the Genetic Plant Breeding Sector of
the Center of Agricultural Sciences - UFAL, in 2013, with the objective of analyzing the growth of
three sweet potato genera as a function of weed interference. The analysis was performed in a
randomized block experiment in the 3 x 14 factorial scheme, with three replications, distributed in
seven control periods, in which weeds were controlled and seven coexistence periods, from which
the weeds were not more controlled. The analyzes were carried out from samples of the shoots of
sweet potato genotypes at 30, 60, 90 and 120 days after planting (DAP), in the treatments where the
genotypes were kept on the control and in coexistence throughout the Cycle with weeds. The leaf
area, in cm², was determined through the mechanical integrator of leaf area and the dry mass of the
aerial part (MSPA), in a forced air circulation oven at 65 ºC for 72 h, and weighed in a precision
scale. There was a significant reduction in the growth rates of sweet potato genotypes when
compared to control treatment with weed coexistence for all the sweet potato genotypes studied.
Keywords: Cultures. Weeds. Control. Competition. Coexistence.

INTRODUÇÃO

A batata-doce (Ipomoea batatas (L.) Lam.) é uma cultura que possui ampla adaptação
edafo-climática, sendo considerada uma espécie tipicamente tropical e subtropical, rústica, de fácil
cultivo, ciclo vegetativo curto com boa tolerância à seca, baixo custo de produção, com
investimentos mínimos (RESENDE et al., 2012).
De acordo com Cardoso et al. 2013, os principais motivos dos baixos índices produtivos
apresentando pela batata-doce nas áreas cultivadas no território nacional, pode-se relacionar fatores
como a pouca adoção de tecnologia agronômica no sistema produtivo, solos de baixa fertilidade,
variedades pouco produtivas e/ou pouco adaptadas à região, competição com plantas daninhas,
entre outros.
Dos diversos fatores bióticos e abióticos, dentre os quais merecem destaque a interferência
exercida pelas plantas daninhas, que pode influenciar no crescimento e no desenvolvimento da
cultura da batata doce, devido à baixa capacidade competitiva da cultura, expressas pelas às suas
características fisiológicas e morfológicas como, por exemplo, crescimento inicial lento, tornando-
se necessário o controle das plantas infestantes durante praticamente todo o ciclo (MOREIRA et al.,
2004; OLIVEIRA et al., 2005; OLIVEIRA et al., 2006).
O estudo da análise de crescimento de plantas baseia-se no fato de que cerca de 90% da MS
acumulada ao longo do seu desenvolvimento resulta da atividade fotossintética; e o restante, da
absorção de nutrientes minerais. Com isso, é possível avaliar o crescimento final da planta como um
todo e a contribuição dos diferentes órgãos no crescimento total das plantas (BENINCASA, 2003;
BARCELOS et al., 2007). O acúmulo de MS e sua distribuição na planta são processos importantes

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na definição da produtividade de uma cultura (TEKALIGN e HAMMES, 2005a; SILVA et al.,


2009). Portanto, a análise de crescimento gera conhecimentos que podem facilitar a tomada de
decisões relativas ao manejo da cultura (CONCEIÇÃO et al., 2005; TEKALIGN e HAMMES,
2005b; POHL et al., 2009).
São poucas as informações acerca de análise de crescimento de genótipos de batata-doce em
função da interferência das plantas daninhas, especialmente quando se trata de avaliação de novos
materiais. Diante disso, o presente trabalho teve como objetivo analisar o crescimento de três
genótipos de batata-doce em função da interferência de plantas daninhas.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi desenvolvido na área experimental do Setor de Melhoramento Genético


de Plantas do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Alagoas
(SMGP/CECA/UFAL), no ano de 2013, localizada no Campus Rio Largo, BR 104 Norte, km 85,
Rio Largo - Alagoas, onde foram avaliados três genótipos de batata-doce: dois Clones obtidos pelo
SMGP, o Clone 06 e o Clone 14, e a variedade Sergipana, uma das mais cultivada no Estado.
Utilizou-se o delineamento em blocos casualizados em um fatorial 3 x 14, com três
repetições, sendo, três genótipos de batata-doce e 14 períodos de interferências. Os períodos de
interferências foram: sete períodos de controle, a partir dos quais as plantas daninhas eram
controladas e sete períodos de convivência, onde as espécies infestantes emergidas após esses
intervalos não eram mais controladas (0, 10, 20, 30, 40, 50 e 60 dias após o plantio - DAP). As
parcelas continham quatro leiras de 5,0 m de comprimento com 0,30 m de altura, com 12 plantas
por leira, espaçadas de 0,80 x 0,40 m, tendo como área útil às duas leiras centrais.
O solo foi preparado com uma aração e duas gradagens cruzadas; as leiras foram construídas
com sulcador; a adubação mineral em fundação foi aplicada de acordo com as recomendações das
análises do solo, utilizando-se 45 kg ha-1 de N, 25 kg ha-1 de P2O5 e 60 kg ha-1 de K2O.
As plantas daninhas foram controladas no final de cada período de convivência e nos
períodos de controle, através de capinas manuais e a enxada, de acordo com os tratamentos.
À pluviosidade acumulada durante o ciclo da cultura foi de 990,2 mm e temperatura média
de 23,68º C.
Durante o ciclo dos genótipos de batata-doce foram realizadas amostragens para análise de
crescimento aos 30, 60, 90 e 120 dias após o plantio (DAP), nos tratamentos onde os genótipos
foram mantidos sobre o controle e em convivência, durante todo o ciclo com as plantas daninhas.
Na avaliação da área foliar e da massa seca da parte aérea foi utilizada uma planta da área
útil por parcela em cada época de avaliação, onde a planta era seccionada rente ao solo, com
separação das folhas e ramos. Na determinação da área foliar foi utilizado o integrador mecânico de

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área foliar, modelo LI 300, onde as folhas eram inseridas em uma esteira e através da leitura
determinava a área da folha em cm²; logo após, os ramos e folhas eram levados à estufa de
circulação forçada de ar a 65ºC por 72 h, para obtenção da massa seca da parte aérea (MSPA). Com
base nos dados de área foliar e massa seca, também foi calculado, para cada época de avaliação, o
índice de área foliar (IAF).
Os dados de crescimento dos genótipos de batata-doce foram submetidos à análise de
variância pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade com o auxílio do programa estatístico Sistema
para Análise de Variância - SISVAR (FERREIRA, 2000).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Analisando os resultados referentes aos dados relacionados ao crescimento dos genótipos de


batata-doce, verifica-se que houve diferença significativa pelo teste de Tukey ao nível de 5% de
probabilidade, entre os genótipos (Tabela 1 A e B).

Tabela 1 (A e B). Valores médios da área foliar (AF), massa seca da parte aérea (MSPA) e índice de área
foliar (IAF) dos genótipos de batata-doce em função dos períodos de controle (A) e de convivência com as
plantas daninhas (B). Rio Largo-AL, CECA-UFAL, 2013.

CONTROLE DE CONVIVÊNCIA COM

PLANTAS DANINHAS (A) PLANTAS DANINHAS (B)

AF - Área Foliar (cm²) AF - Área Foliar (cm²)

Genótipos 30 DAP 60 DAP 90 DAP 120DAP 30 DAP 60 DAP 90DAP 120DAP

Clone 6 8584,35a 7822,50a 8388,24a 4862,50b 4653,24ab 3181,52 a 2157,26a 555,88 b

Clone 14 2961,62b 4390,66b 4786,87b 2046,97c 3588,87 b 2948,77 a 1587,51a 1833,16 a

Sergipana 3830,62b 8238,28a 8982,42a 14445,03a 5009,44 a 2543,30 a 1586,50a 1665,94ab

MSPA - Massa Seca da Parte Aérea (gramas) MSPA - Massa Seca da Parte Aérea (gramas)
Genótipos 30 DAP 60 DAP 90 DAP 120DAP 30 DAP 60 DAP 90 120DAP
DAP

Clone 6 51,19 b 55,31 b 112,02 56,70 b 23,39 a 26,27 a 26,95 a 13,45 b


a

Clone 14 62,50 a 61,54 b 53,96 44,68 b 29,82 a 27,06 a 19,79 a 21,65 b


b

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Sergipana 45,31 b 85,02 a 109,01 81,83 a 28,68 a 34,06 a 28,49 a 44,50 a


a

IAF- Índice de Área Foliar IAF- Índice de Área Foliar

Genótipos 30 DAP 60 DAP 90 DAP 120DAP 30 DAP 60 DAP 90 120DAP


DAP

Clone 6 1,60 ab 1,73 b 3,50 a 1,77 b 0,73 a 0,82 b 0,84 a 0,42 c

Clone 14 1,95 a 1,92 b 1,69 b 1,40 b 0,93 a 0,85 b 0,62 b 0,68 b

Sergipana 1,42 b 2,66 a 3,41 a 2,56 a 0,90 a 1,06 a 0,89 a 1,39 a

Clone 6 51,19 b 55,31 b 112,02 56,70 b 23,39 a 26,27 a 26,95 a 13,45 b


a

Clone 14 62,50 a 61,54 b 53,96 44,68 b 29,82 a 27,06 a 19,79 a 21,65 b


b

Sergipana 45,31 b 85,02 a 109,01 81,83 a 28,68 a 34,06 a 28,49 a 44,50 a


a

1_/ Médias seguidas da mesma letra nas colunas não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível
de 5% de probabilidade.

A Área foliar (AF), apresentada na Figura 1 (A e B), demonstra que foi influenciada tanto
pelos genótipos de batata-doce como pelas estratégias de manejo de plantas daninhas.
Com o controle das plantas daninhas a variedade Sergipana apresentou crescimento contínuo
e linear em todas as épocas de avaliação, chegando ao final do ciclo com uma área foliar acumulada
em torno de 14445,03 cm² planta-¹, já o Clone 6 e o 14 mantiveram-se em uma tendência crescente
até os 90 DAP, declinando após, para valores próximos de 5000 e 2000 cm² planta-¹,
respectivamente (Figura 1 A).
Resultados semelhantes foram encontrados por Conceição et al. (2005), trabalhando com as
cultivares da batata-doce Abóbora e Da Costa, onde a área foliar foi crescente até os 105 DAT em
ambas as cultivares, alcançando AF máximas de 4000 e 5000 cm² planta-¹, respectivamente. Já
Medeiros et al. (1990), trabalhando com batata-doce obtiveram valores máximos de área foliar
semelhantes aos 75 e 105 DAP, respectivamente. Por outro lado, normalmente, o aparecimento das
raízes tuberosas que são drenos metabólicos fortes e com grande força de mobilização de
assimilados induzem uma aceleração na senescência foliar, consequentemente reduzindo a AF.

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Área foliar reduzida é um limitante fisiológico na utilização da energia solar, que repercute na
produção final da cultura (FOLQUER, 1978).
No cultivo em convívio com as plantas daninhas durante todo o ciclo dos genótipos de
batata-doce, observa-se uma redução da área foliar de forma gradual em todos os genótipos
avaliados, externando claramente o efeito da interferência das plantas daninhas, independentemente
do material estudado. O Clone 6 e a variedade Sergipana foram os mais afetados pela convivência
com as plantas daninhas, chegando a apresentar aos 120 DAP, área foliar de 555,88 e 1665,94 cm²
planta-¹, respectivamente, com uma redução da área foliar para ambos de 88,5%, enquanto que o
Clone 14 apresentou a menor redução na AF, cerca de 49,0% (Figura 1 B).
Essa redução da área foliar é uma característica bem conhecida em batata-doce
(CONCEIÇÃO et al., 2005; MEDEIROS et al., 1990) e comum em plantas com crescimento
determinado (EVANS, 1972), sendo provocada tanto pela redução da emissão de folhas quanto pela
senescência foliar

Figura 1 (A e B) - Área foliar (cm² planta-¹) em genótipos de batata-doce (A) cultivados com controle de
plantas daninhas e (B) cultivados e em convivência com plantas daninhas. Genótipos de batata-doce: Clone
6, Clone 14 e variedade Sergipana. CECA-UFAL, Rio Largo - AL, 2013.

Conforme os dados elucidados na Figura 2 (A e B), para a massa seca da parte aérea
(MSPA), nos tratamentos com controle de plantas daninhas, a variedade Sergipana foi superior em
relação aos dois Clones de batata-doce a partir dos 60 DAP. Neste tratamento observa-se que a
massa seca da parte aérea seguiu o padrão normal de crescimento até os 90 DAP para a variedade
Sergipana e o Clone 6, alcançando valores próximos de 100 g planta-¹, a partir daí ocorreu um
declínio até aos 120 DAP, fase final do ciclo da cultura, sendo a variedade Sergipana e o Clone 6
respectivamente, registrando valores de 80 e 60 g planta-¹; já a partir dos 60 DAP, o Clone 14,

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apresentou decréscimo progressivo em seu acúmulo de massa, até o final do cultivo, chegando a
resultado próximo de 45 g planta-¹.
Estudos realizados por Conceição et al. (2005), trabalhando com as cultivares da batata-doce
Abóbora e Da Costa, a matéria seca total foi sempre crescente para ambas as cultivares, mostrando
uma tendência logística. No entanto, a cultivar Da Costa acumulou mais matéria seca do que a
cultivar Abóbora, ao longo do desenvolvimento das cultivares.
Neste tratamento a variedade Sergipana apresentou um incremento gradual, porém bem
inferior ao apresentado no cultivo sobre controle de plantas daninhas, obtendo cerca de 45 g planta-¹
aos 120 DAP. O Clone 6 apresentou um leve crescimento entre os 30 e 60 DAP, com posterior
decréscimo chegando aos 120 DAP, com acúmulo de massa em cerca de 15 g planta-¹; já o Clone
14, comportou-se de forma semelhante ao sistema de controle de plantas daninhas, porém com
valores iniciais de 30 g planta-¹ e aos 120 DAP em torno de 20 g planta-¹ (Figura 2 B).

R
e
Figura 2 (A e B) - Massa seca da parte aérea em genótipos de batata-doce (A) cultivados com controle de
plantas daninhas e (B) cultivados e em convivência com plantas daninhas. Genótipos de batata-doce: Clone
6, Clone 14 e variedade Sergipana. CECA-UFAL, Rio Largo - AL, 2013.

Quanto ao Índice de área foliar (IAF), onde foram realizados o controle de plantas daninhas,
os maiores incrementos no índice de área foliar foram verificados na variedade Sergipana e o Clone
6 até os 90 DAP, (próximo de 3,0) com posterior declínio até os 120 DAP, período final do ciclo da
cultura, com índices de 2,5 e 2,0, respectivamente. O Clone 14 apresentou um comportamento
contrário dos demais genótipos, pois a partir dos 30 DAP houve uma redução no índice de forma
gradual até o final do ciclo aos 120 DAP, em 25% (Figura 3 A). Isto pode estar relacionado com
uma característica fisiológica particular, pois o mesmo ocorreu quando este clone foi cultivado na
presença de plantas daninhas durante todo o ciclo.
No cultivo em convivência com as plantas daninhas durante todo o ciclo, houve um
incremento no índice de forma crescente até os 60 DAP para a variedade Sergipana e o Clone 6,

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estabilizando-se até os 90 DAP, porém, com a variedade Sergipana voltando a crescer até os 120
DAP e o Clone 6 declinando; já o Clone 14, a partir dos 30 DAP, declinou até os 90 DAP e
estabilizou-se até o final do ciclo. A menor taxa de incremento na IAF no tratamento em convívio
com as plantas daninhas foram observadas pelos Clones 6 e 14, respectivamente, sendo os mais
influenciados pela interferência das plantas daninhas (Figura 3 B).

Figura 3 (A e B) - Índice de área foliar em genótipos de batata-doce (A) cultivados com controle de plantas
daninhas e (B) cultivados e em convivência com plantas daninhas. Genótipos de batata-doce: Clone 6, Clone
14 e variedade Sergipana. CECA-UFAL, Rio Largo - AL, 2013.

CONCLUSÕES

Considerando as condições edafo-climáticas, da comunidade infestante e de manejo em que


foi conduzido este experimento temos que:

● A variedade Sergipana, apresentou os maiores índices de crescimento no tratamento com o


controle das plantas daninhas;
● A interferência das plantas daninhas, proporcionou redução nos índices de crescimento dos
três genótipos de batata-doce no sistema de cultivo em convivência com as plantas daninhas,
mesmo assim, o Clone 6, se destacou como o mais competitivo, apresentando a maior Área foliar.

REFERÊNCIAS

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VOLUMES DE ÁGUA E TEMPERATURAS NA GERMINAÇÃO E VIGOR DE


SEMENTES DE Platymiscium Floribundum Vog.

Magnólia Martins ALVES


Pós-Graduação em Agronomia, Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
magecologia@hotmail.com
Edna Ursulino ALVES
Profa. Dra. Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
ednaursulino@cca.ufpb.br
Maria de Lourdes dos Santos LIMA
Graduada em Agronomia, Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
lourdestoy@gmail.com

RESUMO
Platymiscium floribundum Vog., pertence à família (Fabaceae) é uma espécie que habita
exclusivamente o interior da floresta primária densa, planícies aluviais, várzeas úmidas e início de
encostas. Para aproveitamento econômico de espécie florestais é essencial que se faça o uso
adequado dos recursos naturais, quanto mais detalhado for o conhecimento da espécie vegetal,
maior será o acesso ao manejo. Dessa forma a pesquisa foi conduzido com o objetivo de avaliar o
desempenho germinativo de sementes de P. floribundum em função do umedecimento do substrato
em diferentes temperaturas. A pesquisa foi conduzida no Laboratório de Análise de Sementes, do
Centro de Ciências Agrárias, da Universidade Federal da Paraíba, em Areia - PB, adotando-se o
delineamento experimental inteiramente ao acaso, com os tratamentos distribuídos em esquema
fatorial 6 x 5 (temperaturas x volumes de água no substrato), em quatro repetições de 25 sementes.
Os volumes de água destilada utilizados foram equivalentes a 2,0; 2,5; 3,0, 3,5 e 4,0 vezes a massa
seca do papel toalha, sem adição posterior de água, nas temperaturas de 25, 30 e 35 °C constantes e
20-30, 25-35 e 20-35 °C alternadas. Para avaliação do efeito dos tratamentos determinou-se a
germinação e o vigor (primeira contagem e índice de velocidade de germinação, comprimento e
massa seca de plântulas). A temperatura de 20-30 °C e o volume de água equivalente a 2,0 vezes a
massa seca do papel foi à combinação mais adequada para a condução do teste de germinação e
vigor das sementes de P. floribundum.
Palavras-chave: Sacambu, Análise de sementes, sementes florestais.
ABSTRACT
Platymiscium floribundum Vog. belongs to the Fabaceae family and inhabits exclusively inside of
the dense primary forest, alluvial plains, wet meadow and base of slopes. For the economic use of
forest species, it is essential to use adequately the natural resources, and the more detailed the
knowledge of the plant species, the greater the access to manage it. So, this research was conducted
aiming to evaluate the germinative performance of P. floribundum seeds as a function of the wetting

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of the substrate at different temperatures. The research was performed at the laboratory of seed
analysis of the Centro de Ciências Agrárias of the Universidade Federal da Paraíba, in Areia –
PB. It was adopted a completely randomized experimental design, with treatments arranged in a 6 x
5 factorial scheme (temperatures X volumes of water in the substrate), using four replicates of 25
seeds. The volumes of distilled water were equivalent to 2.0, 2.5, 3.0, 3.5, and 4.0 times the dry
mass of the towel paper, without further addition of water, at constant temperatures of 25, 30 and 35
°C, and alternated temperatures of 20-30, 25-35, and 20-35 °C. The germination and vigor (first
count and germination velocity index, length and dry mass of seedlings) were determined to
evaluate the effect of the treatments. The alternated temperature of 20-30 °C and the water volume
of 2.0 times the dry mass of the paper was the most suitable combination for conducting the
germination and vigor test of P. floribundum seeds.
Key-words: Sacambu plant, seed analysis, forest seeds.

INTRODUÇÃO

Platymiscium floribundum Vog., pertence à família Fabaceae, conhecida popularmente por


sacambu, jacarandá-do-litoral, jacarandá-rosa, jacarandá ou jacarandá-vermelho é uma planta que
pode ser utilizada no paisagismo devido a beleza de suas flores, além disso é destinada aos
reflorestamentos mistos, à recomposição de áreas degradadas de preservação permanente
(LORENZI, 2009).
A germinação é influenciada por diversos fatores, entre eles a temperatura e a água, em que
a temperatura é um fator de grande influência sobre as reações bioquímicas que regulam o
metabolismo necessário para iniciar o processo de germinação (CARVALHO; NAKAGAWA,
2012). Além disso, altera a velocidade de absorção de água e modifica a velocidade das reações
bioquímicas que irão acionar o desdobramento, transporte e a ressíntese de substâncias de reserva
para a plântula (GUERRA et al., 2006).
As sementes germinam em uma grande amplitude de temperatura que varia de acordo com a
espécie, sendo necessário definir a temperatura ótima, na qual ocorre o máximo de germinação num
menor período de tempo, enquanto as temperaturas máximas e mínimas são definidas como aquelas
acima e abaixo das quais, a germinação é muito baixa ou não ocorre (CARVALHO; NAKAGAWA,
2012; FLOSS, 2008). Nesse sentido, os limites da temperatura de germinação fornecem subsídios
de interesses biológico e ecológico, auxiliando nos estudos ecofisiológicos e de sucessão vegetal
(FIGLIOLIA et al., 1993).
A absorção de água tem como principais funções promover o amolecimento do tegumento
da semente, o aumento do embrião e dos tecidos de reserva (RAMOS et al., 2006b).
Dessa forma a deficiência hídrica impossibilita a sequência dos processos bioquímicos,
físicos e fisiológicos que determinam a retomada do crescimento do embrião (MARCOS FILHO
2005). Por outro lado, o excesso de umidade provoca decréscimos na germinação por dificultar a
respiração e reduzir todo o processo metabólico resultante, além de aumentar a incidência de fungos

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(FIGLIOLIA et al., 1993). Assim a temperatura e a umidade do substrato constituem-se em fatores


essenciais para desencadear o processo germinativo (CARVALHO; NAKAGAWA, 2012).
Os estudos de germinação relacionados à quantidade de água para umedecimento do
substrato ainda são poucos, mas podem contribuir para aprimorar a condução dos testes de
germinação. Em relação a exigência de água para as sementes de espécies florestais durante o teste
de germinação, as informações são limitadas, a exemplo de Ochroma pyramidale (Cav. ex Lam.)
Urban em que não houve interação entre os fatores volumes de água e temperaturas sobre a
porcentagem de germinação (RAMOS et al., 2006a).
Devido à importância de P. floribundum, o objetivo no trabalho foi avaliar o desempenho
germinativo de suas sementes em função do umedecimento do substrato em diferentes
temperaturas.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi conduzido no Laboratório de Análise de Sementes do Departamento de


Fitotecnia e Ciências Ambientais, Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba,
no município de Areia, PB, com sementes de Platymiscium floribundum Vog. obtidas de frutos
colhidos no início do processo de deiscência no mesmo município. Após a colheita os frutos foram
posteriormente abertos com tesoura para a retirada das sementes.
O teor de água foi determinado pelo método padrão da estufa a 105 ± 3 °C, durante 24 horas
conforme prescrições das Regras para Análise de Sementes (BRASIL, 2009), com quatro amostras
de 10 sementes, sendo os resultados expressos em porcentagem.
Para cada tratamento foram utilizadas 100 sementes, divididas em quatro sub-amostras de 25
e distribuídas sobre duas folhas de papel germitest, cobertas com uma terceira e organizadas em
forma de rolo, sendo o papel umedecido com água (mL) destilada, na quantidade equivalente a 2,0;
2,5; 3,0; 3,5; e 4,0 vezes a massa do substrato seco, sem adição posterior de água. Os rolos foram
acondicionados em sacos de plástico transparentes, com a finalidade de evitar a perda de água por
evaporação e colocados em germinadores do tipo Biological Oxigen Demand (B.O.D.) regulados
nas temperaturas de 25, 30 e 35 °C constantes e 20-30, 20-35 e 25-35 °C alternadas. As avaliações
foram realizadas do oitavo ao décimo quinto dia após a semeadura, adotando-se como critério o de
plântulas normais, ou seja, aquelas com as estruturas essenciais perfeitas (BRASIL, 2009), sendo os
resultados expressos em porcentagem.
A primeira contagem de germinação foi conduzida conjuntamente com o teste de
germinação, computando-se o número de sementes germinadas aos oito dias após a semeadura,
sendo os dados expressos em porcentagem. Para determinação do índice de velocidade de
germinação (IVG) foram realizadas contagens diárias das sementes germinadas, adotando-se como

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critério o de plântulas normais, ou seja, aquelas com as estruturas essenciais perfeitas (BRASIL,
2009) e, o índice foi calculado utilizando-se a equação proposta por Maguire (1962).
Ao final do experimento, aos 21 dias da semeadura, a raiz e a parte aérea das plântulas
normais de cada repetição foram medidas com auxílio de uma régua graduada em centímetros,
sendo os resultados expressos em centímetros por plântula. Após as medições, os cotilédones foram
removidos e as partes das plântulas (raízes e parte aérea) foram postas para secar em estufa regulada
a 80 °C durante 24 horas e, decorrido esse período pesadas em balança analítica com precisão de
0,001 g, conforme recomendações de NAKAGAWA (1999), cujos resultados foram indicados em
cm e g plântula-1, respectivamente.
O Delineamento experimental foi inteiramente ao acaso, com os tratamentos distribuídos em
esquema fatorial 6 x 5 (temperaturas e volumes de água no substrato), em quatro repetições. Os
dados foram submetidos à análise de variância pelo teste F e as médias das temperaturas
comparadas pelo teste de Tukey a 5% (p<0,05) de significância. Para as médias dos volumes de
água procedeu-se à análise de regressão, selecionando-se os modelos adequados para representá-los
em função do seu comportamento biológico, da significância dos coeficientes do modelo e do valor
do coeficiente de determinação (R²).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A maior percentagem de germinação (76%) das sementes de P. floribundum¸ que


encontravam-se com teor de água de 10%, foi obtida quando estas foram submetidas à temperatura
alternada de 20-30 °C com o volume de água de 2,0 vezes a massa do substrato seco, enquanto na
temperatura de 20-35 °C foi necessário o volume de água igual a 3,0 vezes a massa do substrato
seco para se obter 13% germinação. As sementes submetidas as temperaturas de 25 e 30 °C
constantes e 25-35 °C alternada tiveram sua germinação reduzida linearmente com o aumento dos
volumes de água. Na temperatura de 35 °C as sementes estavam amolecidas, necrosadas e mortas,
sendo posteriormente infestadas por fungos, demonstrando ser essa temperatura letal (Figura 1).
Resultados semelhantes foram verificados com sementes de Amburana cearensis (All.) A.C.
Smith, em que o volume de água equivalente a 2,0 vezes a massa do papel seco foi insuficiente para
desencadear o processo germinativo na temperatura de 35 °C (GUEDES et al., 2010). Em sementes
de Parkia platycephala Benth., os diferentes volumes de água (2,0; 2,5; 3,0 e 3,5 vezes a sua massa
seca) utilizados para o umedecimento do substrato nas temperaturas de 25, 30 e 20-30 °C não
exerceram influência na porcentagem de germinação (GONÇALVES et al., 2015).

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Figura 1. Germinação de sementes de Platymiscium floribundum em função de diferentes


temperaturas e volumes de água no substrato.

Pelos dados da primeira contagem de germinação das sementes de P. floribundum (Figura 2)


verificou-se que o maior percentual (52%) foi obtido quando as sementes foram submetidas à
temperatura alternada de 25-35 °C no volume de água igual a 2,3 vezes a massa do papel seco.
Quando se utilizou à temperatura de 20-30 °C alternada observou-se 45% de germinação na
primeira contagem no volume de água igual a 2,6 vezes a massa do substrato seco. Nas
temperaturas constantes de 25 e 30 °C, a germinação das sementes por ocasião da primeira
contagem reduziu linearmente à medida que se aumentou os volumes de água para umedecimento
do substrato, entretanto na temperatura de 20-35 °C constante os volumes de água avaliados (2,0;
2,5; 3,0; 3,5; 3,0 e 4,0) não influenciaram a germinação na primeira contagem, uma vez que os
dados não se ajustaram a modelos de regressão polinomial, com média de 23% de germinação. De
forma semelhante ao verificado para a germinação, na primeira contagem também não se constatou
germinação na temperatura de 35 °C, independentemente da quantidade de água no substrato.

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Figura 2. Primeira contagem de germinação de sementes de Platymiscium floribundum em função


de diferentes temperaturas e volumes de água no substrato.

Quando as sementes de P. floribundum foram submetidas às temperaturas de 25, 30, 20-30 e


25-35 °C verificou-se decréscimo linear no índice de velocidade de germinação (IVG) com o
aumento da quantidade de água no substrato (Figura 3). A temperatura de 35 °C foi elevada o
suficiente para causar a morte das sementes, este fato comprova à característica da espécie no seu
ambiente natural, uma vez que a espécie em estudo é adaptada a sobreviver no interior de mata
densa, sendo considerada esciófita. Os dados da velocidade de germinação na temperatura de 20-35
°C não se ajustaram a modelos de regressão, obtendo-se uma média de 1.401. Em sementes de A.
cearensis submetidas à temperatura de 30 °C, Guedes et al. (2010) verificaram aumento linear no
índice de velocidade de germinação, em função do aumento no volume de água utilizado para
umedecer o substrato, enquanto na temperatura de 35 °C foi necessário o volume de água igual a
3,0 vezes a massa do papel seco para se obter maior velocidade de germinação.

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Figura 3. Índice de velocidade de germinação de sementes de Platymiscium floribundum em função de


diferentes temperaturas e volumes de água no substrato.

Nas temperaturas de 25 °C constante e 20-30 °C alternada os dados de comprimento da raiz


primária das plântulas de P. floribundum não se ajustaram a modelos de regressão, sendo os
resultados médios de 2,91 e 2,33 cm, respectivamente. Na temperatura de 30 °C as raízes
aumentaram linearmente à medida que houve maior quantidade de água nos substrato, enquanto na
temperatura 25-35 °C ocorreu o contrário, ou seja, diminuição no comprimento das raízes com o
aumento de água nos substrato. Quando as sementes foram submetidas à temperatura alternada 20-
35 °C, com volume de água equivalente a 3,6 vezes a massa do substrato seco, as raízes das
plântulas atingiram 1,59 cm de comprimento, enquanto a temperatura de 35 °C foi letal para as
sementes (Figura 4).
Para as sementes de Dinizia excelsa Ducke submetidas à temperatura de 25 °C os melhores
resultados para o comprimento da raiz primária ocorreram com as quantidades de água equivalentes
a 1,5 e 2,0 vezes a massa do substrato seco (VARELA et al., 2005). Os tratamentos para o
desenvolvimento da raiz primária das plântulas de O. pyramidale foram temperatura de 30 °C com
a quantidade de água de 1,5 vezes a massa do papel seco e, a temperatura de 35 °C com a
quantidade de água de 3,0 vezes a massa do papel seco (RAMOS et al., 2006a).

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Figura 4. Comprimento da raiz primária de plântulas de Platymiscium floribundum oriundas de sementes


submetidas a diferentes temperaturas e volumes de água no substrato.

De forma semelhante, o maior comprimento da parte aérea de plântulas de Schizolobium


amazonicum (Cav.) Urb. foi constatado quando as sementes foram submetidas à quantidade de água
equivalente a 3,0 vezes a massa do papel seco (RAMOS et al., 2006b). Em estudo realizado por
GUEDES et al. (2010) constatou-se que o maior conteúdo de massa seca de plântulas de A.
cearensis foi obtido com sementes submetidas a temperaturas de 30 e 35 °C.
Os dados referentes ao comprimento da parte aérea, bem como massa seca das raízes e parte
aérea das plântulas de P. floribundum oriundas de sementes submetidas a diferentes volumes de
água (2,0; 2,5; 3,0; 3,5 e 4,0) e temperaturas (25, 30, 35, 20-30, 20-35 e 25-35 °C) não se ajustaram
a modelos de regressão.

CONCLUSÃO

A temperatura de 20-30 °C e o volume de água de 2,0 vezes a massa do papel seco é a


combinação mais adequada para a análise de germinação e vigor das sementes de P. floribundum.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

GESTÃO AMBIENTAL NO SERVIÇO PÚBLICO: ESTUDO DE CASO NA USINA


SOLAR FOTOVOLTAICA DA UFERSA

Mara Raquel de Sousa FREITAS


Mestranda do Curso de Administração Pública da UFERSA
mara@ufersa.edu.br
Carlos Eduardo Alexandre da SILVA
Mestrando do Curso de Administração Pública da UFERSA
carloseduardo@ufersa.edu.br
Esaú Castro de Albuquerque MELO
Mestrando do Curso de Administração Pública da UFERSA
esau.castro@ufersa.edu.br
Ludimilla Carvalho Serafim de OLIVEIRA
Professora Titular Doutora na UFERSA

RESUMO
O aumento da demanda de energia atrelado à preocupação com o meio ambiente contribuíram de
forma significativa para o avanço no setor de geração de energia a partir de recursos renováveis.
Neste sentido, a energia solar apresenta-se como uma alternativa promissora e em constante
crescimento, por ser um tipo de energia renovável e limpa. Atento às questões ambientais, no ano
de 2016 entrou em funcionamento na Universidade Federal Rural do Semi-Árido a Usina Solar
Fotovoltaica, objeto do presente trabalho, que visa por meio de um estudo de caso descrever o
processo de implantação da Usina, bem como verificar suas contribuições para a universidade,
através da quantificação da produção mensal de energia desde o início de seu funcionamento até a
presente data e da verificação de quanto essa produção representa no consumo de energia da
instituição. O estudo visa ainda apontar outros benefícios ambientais decorrentes da adoção da
energia solar pela instituição. A pesquisa classifica-se como exploratória quanto aos seus objetivos
e utilizou-se das técnicas da pesquisa bibliográfica e documental. Através da análise das
informações coletadas, pôde-se concluir que a implantação da Usina Solar Fotovoltaica da
UFERSA constitui-se um grande avanço para a gestão ambiental da instituição, além de contribuir
para a redução de custos de energia elétrica no campus, dentre outros benefícios.
Palavras Chave: Sustentabilidade. Gestão Ambiental. Energia Solar. Serviço Público.
ABSTRACT
The increase in energy demand coupled with concern for the environment has contributed
significantly to the advance in the energy generation sector from renewable resources. In this sense,
solar energy presents itself as a promising alternative and in constant growth, being a type of
renewable and clean energy. Considering the environmental issues, in 2016, the Solar Photovoltaic
Power Plant, which is the subject of the present study, was put into operation at the Federal Rural
University of the Semi-Arid, which aims, through a case study, to describe the plant's
implementation process, as well as verify Its contributions to the university, by quantifying the
monthly energy production from the beginning of its operation up to the present date and verifying
how much this production represents in the energy consumption of the institution. The study also
aims to point out other environmental benefits arising from the adoption of solar energy by the
institution. The research is classified as exploratory in terms of its objectives and used bibliographic
and documentary research techniques. Through the analysis of the information collected, it was

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 467


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

concluded that the implementation of UFERSA Photovoltaic Solar Power Plant constitutes a major
advance for the environmental management of the institution, as well as contribute to the reduction
of energy costs on campus, among other benefits.
Keywords: Sustainability. Environmental management. Solar energy. Public service.

INTRODUÇÃO

O agravamento das questões ambientais, que se apresentam como ameaças às futuras


gerações, têm despertado a atenção das organizações de todas as esferas na busca de soluções
efetivas e imediatas para tal questão, que se configura urgente quanto à sua aplicação. E seja por
pressão social, imposição dos órgãos reguladores, estratégia de competitividade ou pela própria
consciência de responsabilidade ambiental, tanto as organizações públicas quanto as privadas vêm
adicionando aspectos de sustentabilidade aos seus planejamentos estratégicos.
De acordo com Barbieri (1997), a solução dos problemas ambientais, ou sua minimização,
exige uma nova atitude das organizações, que devem passar a considerar o meio ambiente em suas
decisões e adotar concepções administrativas e tecnológicas que contribuam para ampliar a
capacidade do planeta.
Desta forma, a utilização de fontes renováveis de energia tornou-se uma necessidade para
humanidade quando se observou que a sustentabilidade é uma ferramenta indispensável para
assegurar um desenvolvimento econômico contínuo garantindo os recursos ambientais para
gerações futuras. Dentro deste contexto surge a geração de energia fotovoltaica, uma tecnologia de
conversão de energia solar em energia elétrica.
Conscientes dessa necessidade, em novembro de 2016, no campus central da Universidade
Federal Rural do Semi-Árido, entrou em funcionamento a Usina Solar Fotovoltaica da UFERSA,
com vistas a produção de energia elética limpa que contribuiria para a redução dos custos atrelado a
outros benefícios ambientais advindos desta adoção.
Desta forma, o presente trabalho visa descrever o processo de implantação da Usina Solar
Fotovoltaica da UFERSA, bem como suas contribuições, dificuldades e limitações. Como
referencial teórica, abordou-se a temática da sustentabilidade, da gestão ambiental no setor público
e da energia solar fotovoltaica.

SUSTENTABILIDADE

O aprofundamento do desenvolvimento industrial proporcionou à humanidade o acesso e o


consumo de bens jamais atingidos na história e, com as tecnologias desenvolvidas, gerou
facilidades e melhorias significativas nas condições de vida do homem. Porém esse
desenvolvimento veio acompanhado de exigências de elevadas magnitudes de recursos naturais

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finitos e da geração de efeitos indesejáveis aos bens públicos, sobretudo à qualidade ambiental
(ANGRA FILHO, 2014).
De acordo com Maia (1997) em cada sociedade a problemática ambiental emerge da
inadequação ou insustentabilidade de seus próprios padrões de produção e de consumo que, por sua
vez, constituem o seu modelo de desenvolvimento.
A preeminente gravidade da problemática ambiental revelou, portanto, o ―esgotamento de
um estilo de desenvolvimento que mostrou-se ecologicamente predatório, socialmente perverso e
politicamente injusto‖ (BRASIL, 1991, p.13). O que tornou urgente a adoção de alternativas ao
modelo de desenvolvimento vigente, um desenvolvimento sustentável.
No ano de 1972 o despertar a consciência ecológica mundial, se intensificou, por ocasião da
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, em Estocolmo, na
Suécia. Após a Conferência de Estocolmo, as nações começaram a estruturar seus órgãos
ambientais e a estabelecer suas legislações, visando o controle da poluição ambiental. Poluir passou
a ser considerado crime em diversos países. (NASCIMENTO, 2012).
No final da década de 80, a preocupação com a conservação do meio ambiente globalizou-se
com a edição, pela Assembleia Geral das Nações Unidas, do Relatório da Comissão Mundial sobre
o Meio Ambiente e Desenvolvimento, sob o título de ―Nosso Futuro Comum‖, que promoveu a
disseminação mundial do conceito de Desenvolvimento Sustentável.
Em 1992, houve mais um importante marco à questão da sustentabilidade, a Conferência das
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecida também como Cúpula da
Terra ou Rio-92, realizada na cidade do Rio de Janeiro. Como resultado, dois importantes
documentos foram elaborados, a Carta da Terra ou Declaração do Rio e a Agenda 21.
Os compromissos firmados nesta conferência pelos governos nacionais consolidaram a
perspectiva de se redirecionarem os processos de crescimento econômicos vigentes para um novo
modelo de desenvolvimento regido pela integração e sustentabilidade nas suas dimensões sociais,
econômicas, ecológicas, geopolíticas e culturais (SACHS, 1993).
Estes eventos mostraram que, no final do século XX e início do século XXI, a questão
ambiental ultrapassou os limites das ações isoladas e localizadas, para se constituir em uma
inquietação de toda a humanidade. A preocupação com o uso indiscriminado das matérias primas
escassas e não renováveis; a racionalização do uso de energia; a opção pela reciclagem; e o
consumo consciente são apenas algumas das ações que convergem para uma abordagem mais ampla
e lógica do tema ambiental, que pode ser resumida pela expressão sustentabilidade.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 469


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GESTÃO AMBIENTAL NO SETOR PÚBLICO

No Brasil, o marco das ações para conservação ambiental e incorporação do tema nas
atividades de diversos setores da sociedade foi a instituição da Política Nacional do Meio Ambiente,
por meio da Lei nº 6.9388/81. A partir de então, várias normas e regulamentações relacionadas à
conservação do meio ambiente, uso dos ecossistemas, educação ambiental, água, patrimônio
genético, fauna e flora, dentre outras, passaram a disciplinar a questão do meio ambiente.
Outro marco foi o tratamento que a Constituição Federal de 1988 deu ao tema, reservando um
artigo específico para tratar sobre o meio ambiente. O artigo 225 da CF/88 delegou ao poder
público e à coletividade o dever de defender e preservar o meio ambiente e exigiu, na forma da lei,
que sejam realizados estudos prévios de impacto ambiental para instalação de obra ou atividade
potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente.
Com as regulamentações ambientais e o consequente o aumento da conscientização e
pressão da sociedade, as organizações passaram a ter uma visão diferente em relação ao meio
ambiente, apresentando maior responsabilidade social, uma maior preocupação com a qualidade
ambiental e com a utilização sustentável de recursos naturais. Desta forma, surge a Gestão
Ambiental, a fim de organizar as atividades antrópicas e reduzir consequentemente o impacto sobre
o meio ambiente (LOBO, 2011).
A gestão ambiental pública é definida através de políticas públicas e instrumentos que
permitem alcançar o melhor padrão de qualidade em relação ao uso dos recursos naturais. Neste
sentido, Barbieri (2011) caracteriza a gestão ambiental pública como a ação do poder público de
acordo com uma política ambiental pública, que por sua vez dispõe de diretrizes e instrumentos de
ação que visam alcançar a melhoria do ambiente.
Para Angra Filho (2014) o principal desafio da gestão ambiental consiste em atingir
resultados benéficos para a sociedade, sem o comprometimento da disponibilidade e das condições
ambientais, ou seja, buscar e induzir alternativas de produção e consumo compatíveis com as
restrições e os limites da capacidade de suporte dos sistemas ambientais.
Uma organização comprometida com os precietos do desenvolvimento sustentável atua na
promoção de alternativas ambientalmente sustentáveis para o desenvolvimento social, sem
comprometer o patrimônio ambiental. Sendo assim, as funções primordiais da gestão ambiental
compreendem tanto a manutenção das condições indispensáveis a um ambiente sadio, quanto
também a indução de produção de bens e serviços sustentáveis para atender as legítimas demandas
da sociedade (ANGRA FILHO, 2014).
Portanto, para estimular práticas mais sustentáveis e também para servir de exemplo à toda
sociedade, alguns órgãos públicos vem desenvolvendo diversas ações e estratégias de
sustentabilidade, como por exemplo, a implantação de energias renováveis. A necessidade de gerar
ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 470
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energia com o mínimo de impacto ambiental tornou-se um importante passo para um gerenciamento
ambiental mais eficinte. E uma das alternativas de geração de energia elétrica mais promissoras
neste sentido é a energia solar fotovoltaica que será melhor descrito no capítulo posterior.

ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA

O acelerado crescimento populacional e o consequente aumento no consumo de energia,


atrelado à natureza finita dos combustíveis fósseis e a poluição decorrente de sua queima questiona
o modelo energético predominante. A necessidade de se adotar um modelo baseado no
desenvolvimento sustetável tem motivado o interesse por energias mais limpas e renováveis, como
forma de prover as demandas energéticas, sem comprometer de forma acentuada as condições de
vida do planeta. Neste sentido, a energia solar fotovoltaica se apresenta como uma forma de geração
de energia que se sobrepõe as formas tradicionais de geração.
Em busca de novas tecnologias para o uso de energias renováveis, os sistemas fotovoltaicos
encontram-se em crescente utilização. Com isso, tem-se explorado novos materiais e realizado
pesquisas para o avanço da tecnologia fotovoltaica. (CEMIG, 2012).
A energia solar fotovoltaica é definida como a energia gerada através da conversão direta da
radiação solar em eletricidade. Isto se dá, por meio de um dispositivo conhecido como célula
fotovoltaica que atua utilizando o princípio do efeito fotoelétrico ou fotovoltaico (IMHOFF, 2007).
O silício é o principal material na fabricação das células fotovoltaicas, e se constitui como o
segundo elemento químico mais abundante na terra. (CEMIG, 2012).
Do ponto de vista estratégico, o Brasil possui uma série de características naturais
favoráveis, tais como, altos níveis de insolação e grandes reservas de quartzo de qualidade, que
podem gerar importante vantagem competitiva para a produção de silício com alto grau de pureza,
células e módulos solares, produtos estes de alto valor agregado (EPE, 2012).
Outro fator positivo para a adoção desse tipo de energia renovável justifica-se pelo fato de
que a energia solar no território brasileiro apresenta um elevado potencial para sua conversão em
energia elétrica, com irradiação global média anual entre 1.200 e 2.400 kWh/m²/ano. Para efeito de
comparação, em países que exploram esta fonte há mais tempo, como Alemanha e Espanha, os
valores variam, respectivamente, nas faixas 900-1.250 e 1.200-1.850 kWh/m²/ano. (PDEE, 2015).
Portanto, diante da necessidade de se explorar recursos renováveis que trazem flexibilidade
e sustentabilidade quando da sua utilização, a energia solar fotovoltaica apresenta-se como uma
alternativa viável e em constante avanço no Brasil e no mundo.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A atividade de pesquisa consiste no desenvolvimento de um conjunto de atividades


orientadas para a aquisição de determinado conhecimento. Para ser considerada cienbtífica, a
pesquisa deve ser feita de maneira sistemática, com uso de métodos e técnicas sistemáticas.
(SEABRA, 2001).
Dessa forma, os procedimentos metodológicos em uma pesquisa garatem o seu
enquadramento como um trabalho científico. E existem diversos tipos de técnicas a serem utilizados
em trabalhos desta natureza sendo os mais comuns a pesquisa bibliográfica, a pesquisa documental,
a pesquisa experimental, o levantamento, o estudo de caso, a pesquisa ex-post-facto, a pesquisa
ação e a pesquisa participante (SILVA e MENEZES, 2005).
A pesquisa bibliográfica abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema de
estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses,
material cartográfico etc. Sua finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que
foi escrito, dito sobre determinado assunto (LAKATOS, 2003).
Utilizou-se ainda da pesquisa documental, principalmente de relatórios, para o levantamento
de dados relevantes ao estudo. Este tipo de pesquisa assemelha-se com a pesquisa bibliográfica,
sendo a diferença essencial entre ambas a natureza das fontes. Enquanto a pesquisa bibliográfica se
utiliza fundamentalmente das contribuições dos diversos autores sobre determinado assunto, a
pesquisa documental vale-se de materiais que não recebem ainda um tratamento analítico, ou que
ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetos da pesquisa (GIL, 2002).
Além da pesquisa bibliográfica e documental, outro instrumento utilizado para a coleta de
dados foi a entrevista. Segundo Lakatos (2003), este instrumento consiste em um encontro entre
duas pessoas, a fim de que se obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante
uma conversação de natureza profissional. A entrevista foi realizada por meio de um questionário
semiaberto, visando a liberdade do entrevistado na resposta às questões. O entrevistado foi o vice
coordenador do projeto Usina Solar Fotovoltaica, Júlio César Rodrigues de Sousa.
A pesquisa caracteriza-se ainda como estudo de caso que é uma modalidade de pesquisa
amplamente utilizada nas ciências sociais e consiste no estudo profundo e exaustivo de um ou
poucos objetos, de maneira que permita seu amplo e detalhado conhecimento (GIL, 2002).
Quanto à classificação da pesquisa com base em seus objetivos, Gil (2002) apresenta três
grupos: exploratórias, descritivas e explicativas. Neste artigo foi utilizado a técnica exploratória,
uma vez que esta pesquisas tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema,
com vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses. Ainda segundo o autor, as pesquisas
exploratórias são feitas habitualmente por meio de levantamento bibliográfico e documental,
entrevistas não padronizadas e estudos de caso, conforme constatado no presente artigo.
ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 472
Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

O campo de estudo foi a Usina Solar Fotovoltaica da UFERSA – Universidade Federal


Rural do Semi-Árido – instituição pública de ensino superior localizada na cidade de Mossoró-RN.
A Usina esta localizada no Campus Leste do campus central da UFERSA e está em funcionamento
desde novembro de 2016.
Com base nas informações coletadas por meio da pesquisa bibliografica, documental e da
entrevista, será apresentado no capitulo a seguir, o processo de implantação da Usina Solar
Fotovoltaica, suas principais característas e os resultados que a Usina tem apresentado desde o
início de seu funcionamento para a questão do desenvolvimento e sustentabilidade na UFERSA.

RESULTADOS

No ano de 2014, o Ministério da Educação lançou o Prêmio Ideia, também denominado


Desafio da Sustentabilidade, consulta pública onde a comunidade acadêmica das Instituições de
Ensinos Superiores podia enviar propostas para redução no consumo de água e energia elétrica em
órgãos públicos e promoção da sustentabilidade. A UFERSA conquistou o segundo lugar, sendo
premiada com um milhão de reais em de abril de 2015. O prêmio foi utilizado para subsidiar o
Programa de Eficiência Energética: Uso de Painéis Solares Fotovoltaicos em Edificações da
UFERSA.
Em agosto de 2016 iniciou-se o processo de licitação, realizado pela Fundação Guimarães
Duque, com o apoio técnico da equipe do programa de Eficiência Energética. No mês de setembro
de 2016, a UFERSA, por meio da SIN, iniciou as obras civis e adequação elétrica do local para
receber a Usina Solar Fotovotaica, que foi instalada no campus leste.
A usina solar fotovoltaica da UFERSA foi oficialmente entregue no dia 20 de outubro de
2016 pela empresa responsável por sua execução, SATRIX Energias Renováveis, e desde então está
em operação, com as seguintes especificações técnicas: 580 painéis, fabricados com células de
silício policristalino, com potência nominal de 260W cada (≈ 9A x 30V), o que confere à usina uma
potência instalada total de 150 kWp. Cada painel mede 98×164 cm, de forma que todo o conjunto
tem uma área de 933 m2 de painéis, distribuídos em um parque de 1.984 m2. 10 Inversores com
potência de 15 kW, cada, totalizando 150 kW.
Na usina da UFERSA os painéis fotovoltaicos, que transformam a radiação solar em energia
elétrica de corrente contínua por meio do Efeito fotovoltaico, estão conectados a inversores, que
fazem a conversão dessa energia de corrente contínua para alternada, nos níveis de tensão e
frequência da rede de distribuição da COSERN, ou seja, 3 fases, 220/380 Vac, na frequência de
60Hz. Os inversores, por sua vez, estão conectados ao transformador de 150 kW, que eleva a tensão
para 13,8 kV e injeta a energia gerada na rede de distribuição primária da UFERSA.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

A energia gerada pela Usina, depois de condicionada e injetada na rede interna de


distribuição é consumida no próprio campus da Universidade, reduzindo, assim, a necessidade de
consumo de energia proveniente da concessionária.
Nos momentos em que a energia gerada pela usina é maior que a energia consumida pela
Universidade o excedente chega até a rede da COSERN, pela mesma rede que traz energia da
Concessionária para o Campus. Esse fluxo, da UFERSA para a COSERN é, então, registrado pelo
medidor bidirecional de energia da Concessionária, que fica na entrada do campus, e gera crédito
para a Universidade, em kWh, que pode ser compensado em consumos futuros, por um prazo de até
60 meses.
Com o início da geração de energia pela usina em novembro de 2016, foi possível iniciar a
medição e verificação de resultados do projeto, conforme relatórios disponibilizados no portal do
fabricante dos inversores, disponível para consulta pública em http://ginlongmonitoring.com/. Neste
endereço eletrônico é possível acompanhar a produtividade da usina através do aplicativo Solis
Web, que fornece de modo remoto relatórios sobre a energia produzida diariamente, mensalmente e
anualmente, e notificações sobre eventuais alterações no funcionamento da usina solar.
Nos gráficos abaixo, pode-se observar a produção mensal da Usina, onde o menor valor foi
registrado no mês de fevereiro/2017 (15.402KWh) e o maior em abril/2017 (22.573 KWh). A média
de produção mensal de energia no período de funcionamento da usina (de 12/2016 a 06/2017) é de
20.040 KWh, acima da média estimada que seria de 18.000 KWh/mês.

Fonte: http://ginlongmonitoring.com, 2017.

A implantação dos painéis solares fotovoltaicos objetivou ainda uma redução na conta de
energia elética, que beneficia diretamente a gestão universitária. A UFERSA tem como missão
produzir e difundir conhecimentos no campo da educação superior, entretanto, para desempenhar
esse papel, a instituição desembolsa altos valores para o custeio com energia elétrica, sendo esse
item uma de suas maiores despesas mensal. Apenas no Campus Mossoró, no período de novembro

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

de 2016 a junho de 2016 (período de funcionamento da usina), a universidade desembolsou R$


1.387.379,71 com energia elétrica, conforme tabela abaixo:

Energia consumida pela UFERSA – Período de 11/2016 a 06/2017


MÊS DE VALOR DA FATURA
CONSUMO (KWH/MÊS)
REFERÊNCIA (R$)
Nov/16 372.201 R$ 195.793,98
Dez/16 263.422 R$ 141.931,01
Jan/17 232.235 R$ 130.529,74
Fev/17 335.126 R$ 175.576,23
Mar/17 332.329 R$ 182.036,45
Abr/17 364.407 R$ 170.196,70
Mai/17 391.429 R$ 226.611,28
Jun/17 293.588 R$ 164.704,32
TOTAL DO PERÍODO: 2.584.736 R$ 1.387.379,71
Fonte: Setor de Contratos da UFERSA

No mesmo período, ou seja, desde o início do funcionamento, a usina solar fotovoltaica da


UFERSA registrou uma produção de 160.315 KWh, que corresponde ao valor total de R$
86.262,37 em energia elétrica, conforme demonstrado na tabela abaixo:

Energia gerada pela Usina Solar da UFERSA – Período de 11/2016 a 06/2017

MÊS DE ENERGIA GERADA VALOR DA ENERGIA


REFERÊNCIA (KWH/MÊS) GERADA (R$)
Nov/16 20.176 R$ 10.613,46
Dez/16 19.373 R$ 10.438,12
Jan/17 20.976 R$ 11.789,75
Fev/17 15.402 R$ 8.069,28
Mar/17 19.358 R$ 10.603,53
Abr/17 22.573 R$ 10.542,75
Mai/17 21.580 R$ 12.493,38
Jun/17 20.877 R$ 11.712,10
TOTAL DO PERÍODO: 160.315 R$ 86.262,37
Fonte: http://ginlongmonitoring.com, 2017.

Ao se comparar o valor total pago em real pelo uso de energia elétrica na UFERSA (R$
1.387.379,71) com a produção de energia convertida em real (R$ 86.262,37), pode-se observar que
a economia gerada pela utilização de energia solar corresponde a 6,21% de toda energia consumida
pelo campus central da UFERSA desde a instalação da usina. Esse percentual apresentado é
superior ao consumo previsto inicialmente de 5% do consumo do campus.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Dessa forma, pode-se afirmr que, em termos de produção energética, a usina solar
fotovoltáica da UFERSA ultrapassou as expectativas do projeto, proporcionando uma relevante
economia no consumo total de energia elétrica da instituição.
Além da questão econômica, dada pela economia mensal na conta de luz da universidade, a
implantação da usina fomentou também o processo de construção do conhecimento e discussão
sobre as tecnologias, logística e políticas envolvidas no processo de projeto, aquisição, implantação
e operação de usinas solares fotovoltaicas. Bem como, ampliou as discussões sobre o papel das
Universidades Públicas na geração e promoção de tecnologias aliadas à sustentabilidade ambiental.
Outro benefício gerado pela instação da usina solar fotovoltáica foi a exploração do papel
social e educativo das usinas para a região, tendo em vista que além de servir como laboratório para
os alunos, as mesmas recebem constantemente um número significativo de visitantes da
comunidade, que incluem desde alunos de cursos técnicos até pequenos empresários da região.
A instalação da usina ainda possibilitou a formação de uma equipe capacitada de docentes e
técnicos preocupados com a gestão energética da instituição, inclusive com a capacitação de um
servidor no curso de Auditor Líder ISO 50001, que discutiu temas como Questões de Eficiência
Energética, Revisão Geral de Sistemas de Gestão / ISO 50001, Fatores chaves para a avaliação de
Sistemas de Gestão de Energia, Técnicas de Auditoria, Avaliação de requisitos específicos da ISO
50001 e Certificação de Sistemas de Gestão de Energia.
Na entrevista feita, o vice-coordenador do projeto Usina Solar Fotovoltaica, Júlio César
Rodrigues de Sousa, informou ainda que já foi incluído no orçamento da UFERSA a aquisição de
três usinas solares fotovoltaicas com potência instalada total de 50 kWp cada, e que irão atender os
campus de Angico, Caraúbas e Pau dos Ferros. Esta ampliação da produção de energia por meio de
fontes renováveis pela UFERSA demonstra que a experiência com a instalação da usina solar
fotovoltaica no campus central foi uma iniciativa bem sucedida, tanto economicamente, como
ambientalmente, gerando assim uma série de benefícios para a instituição.

CONCLUSÕES

A busca pela diversificação da matriz energética brasileira tem se tornado cada vez mais
necessária, sendo motivada pela crise energética decorrente da diminuição das chuvas e
consequente redução da energia gerada por hidrelétricas, e pela necessidade de explorar recursos
renováveis que trazem flexibilidade e sustentabilidade quando da sua utilização. Diante deste
cenário, a energia solar fotovoltaica apresenta-se como uma tecnologia em constante avanço, no
Brasil e no mundo.

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A energia solar fotovoltaica é obtida através do processo de conversão da energia solar em


energia elétrica através de células fotovoltaicas, que são constituídas de material semicondutor. Ela
esta em acelerado crescimento por se configurar ocmo uma fonte de enrgia renovável e limpa.
Ciente da importância da adoção de medidas sustentáveis a UFERSA, participou do Desafio
da Sustentabilidade lançado pelo Ministério da Educação, e como prêmio recebido pela obtenção do
segundo lugar na competição, investiu na implantação de usina solar fotovoltaica com capacidade
de 150 KWh que desde o início de seu funcionamento (novembro de 2016) já gerou uma economia
de aproximadamente 6,21% da energia consumida pela instituição.
Dessa forma, verifica-se que a iniciativa da UFERSA na implantação da usina solar
fotovoltáica está em sintonia com os principais debates sobre a necessidade de boas práticas de
sustentabilidade e uso racional de energia. A instalação de uma usina solar fotovoltáica, além de
contribuir na redução dos custos com energia elétrica, esta possibilitando que a universidade lidere
ações para o desenvolvimento sustentável da região semiárida, e sirva de referência para outras
instituições públicas e privadas.

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GERMINAÇÃO E VIGOR DE SEMENTES DE Ziziphus joazeiro Mart., SUBMETIDAS


A DIFERENTES VOLUMES DE ÁGUA E TEMPERATURAS

Maria das Graças Rodrigues do NASCIMENTO


Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Agronomia, UFPB
graca.agronomia@gmail.com
Maria Lúcia Maurício da SILVA
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Agronomia, UFPB
luciagronomia@hotmail.com
Edna Ursulino ALVES
Professora do Centro de Ciências Agrárias, UFPB
ursulinoalves@hotmail.com
Edlânia Maria de SOUZA
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Agronomia, UFPB
edlania.maria@hotmail.com

RESUMO
O conhecimento do comportamento germinativo das sementes de espécies florestais em diferentes
condições hídricas é de grande importância devido às características de suas regiões de origem.
Dessa forma, o objetivo neste trabalho foi avaliar a germinação e o vigor das sementes de Ziziphus
joazeiro Mart., quando submetidas a diferentes volumes de água e temperaturas. O experimento foi
realizado no Laboratório de Análise de Sementes do Departamento de Fitotecnia e Ciências
Ambientais do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba (CCA-UFPB),
cujos frutos foram colhidos de árvores matrizes do município de Areia e Alagoa Grande, PB. Os
tratamentos consistiram da combinação de quatro volumes de água destiladas para umedecimento
do substrato, equivalentes a 2,0; 2,5; 3,0; e 3,5 a massa do substrato seco e cinco temperaturas: 20;
25; 30; 35 e 20-30 °C. Para determinação do efeito dos tratamentos foram avaliadas as seguintes
variáveis: porcentagem, primeira contagem e índice de velocidade de germinação, bem como
comprimento e massa seca da parte aérea e raízes das plântulas. A germinação e vigor de sementes
de Ziziphus joazeiro não é influenciada pelos diferentes volumes de água utilizados. A temperatura
de 20 °C favoreceu germinação de sementes Z. joazeiro.
Palavras-chaves: juá, germinação, espécie florestal.
ABSTRACT
The knowledge of the germination behavior of the seeds of forest species in different water
conditions is of great importance due to the characteristics of their regions of origin. The objective
of this work was to evaluate the germination and vigor of the seeds of Ziziphus joazeiro Mart.,
when submitted to different volumes of water and temperatures. The experiment was carried out at
the Seed Analysis Laboratory of the Department of Plant Science and Environmental Sciences of
the Center of Agricultural Sciences of the Federal University of Paraíba (CCA-UFPB), whose fruits
were harvested from arrays of the city of Areia and Alagoa Grande, PB. The treatments consisted of
the combination of four volumes of distilled water for substrate wetting, equivalent to 2.0; 2.5; 3.0;
And 3.5 the mass of the dry substrate and five temperatures: 20; 25; 30; 35 and 20-30 ° C. To
determine the effect of the treatments, the following variables were evaluated: percentage, first

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count and germination speed index, as well as seedling length and dry mass and seedling roots. The
germination and vigor of seeds of Ziziphus joazeiro is not influenced by the different volumes of
water used. The temperature of 20 ° C favored the germination of Z. joazeiro.
Keywords: juá, germination, forest species

INTRODUÇÃO

O bioma Caatinga tem uma aparência de deserto, com pluviosidade muita baixa, em torno
de 500 a 700 mm anuais e uma temperatura que vária entre 24 e 26 °C (DANTAS et al., 2008), no
entanto, a sua biodiversidade é considerada rica, uma vez que das 1.981 espécies vegetais
registradas, 318 são endêmicas, em que a sua cobertura vegetal é representada por formações
xerófilas, bastante diversificadas por razões edáficas, topográficas, climáticas e antrópicas
(PEREIRA, 2011; ALVES et al., 2009).
Ziziphus joazeiro Mart., pertence à família Rhamnaceae e ao gênero Ziziphus que possui
cerca de 100 espécies amplamente distribuídas pelo mundo, dentre as quais está o Ziziphus joazeiro
Mart.,espécie nativa do Brasil, cuja distribuição é compreendida em todo o Nordeste, com grande
ocorrência no bioma Caatinga e em Minas Gerais (CARVALHO, 2007; SILVA et al., 2011).
A árvore do Z. joazeiro, conhecida no semiárido nordestino tem frutos globosos, amarelos,
drupáceos de 1,0 a 1,5 centímetros de diâmetro, comestíveis, com pedúnculos orlados, possuem um
caroço grande envolto em uma polpa mucilaginosa com propriedades nutricionais, podendo
inclusive ser utilizados para alimentação humana (CAVALCANTI et a., 2011; DANTAS et al.,
2014; CAVALCANTI et a., 2011). A planta inteira é utilizada na medicina, como antisséptico
bucal, contra problemas dermatológico, do sistema respiratório, tendo também uma vasta utilidade
popular para tratamentos de pele, como dermatites e micoses (CRUZ et al., 2007;
ALBUQUERQUE et al., 2013).
Na época da seca sua utilização é de fundamental importância para o sertanejo porque
alimenta seus rebanhos de gado, ovinos e caprinos através de rações oriundas das folhas, seus frutos
maduros são comestíveis consumidos in natura por adultos e crianças nordestinas (CARVALHO,
2007).
Obter o conhecimento da disponibilidade hídrica de espécies florestais é de fundamental
importância para obtenção da umidade ideal do substrato, buscando uma germinação adequada pois
a mesma é desencadeada através da absorção de água, que promoveo amolecimento do tegumento,
aumento do embrião e dos tecidos de reservas, seguidos de outros eventos até chegar no
crescimento do embrião (MARCOS FILHO, 2015).
A uniformização do volume água é de extrema importância pois favorece a germinação e,
de acordo com a espécie pode minimizar as variações durante os testes de germinação (CARDOSO

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et al., 2013), no entanto as pesquisas relacionadas com a exigência de água em sementes florestais
ainda são escassas, necessitando de mais informações.
Os trabalhos relacionados é esse tipo de pesquisa estão surgindo aos poucos, a exemplo dos
realizados com Solanum sessiliflorum Dunal (PEREIRA et al.,2011), Amburana cearensis
(Allemão) A.C. Smith. (GUEDES et al., 2010), Schizolobium amazonicum Huber ex Ducke
(RAMOS et al., 2006) e Dinizia excelsa Ducke (VARELA et al., 2005).
Com base no exposto objetivou-se avaliar a germinação e o vigor das sementes de Ziziphus
joazeiro Mart., quando submetidas a diferentes volumes de água no substrato e temperaturas.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi realizado no Laboratório de Análise de Sementes do Departamento de


Fitotecnia e Ciências Ambientais do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da
Paraíba (CCA-UFPB), com sementes de Z. joazeiro obtidas de frutos de juá colhidos de árvores
matrizes do município de Areia e Alagoa Grande, PB.
Depois de colhidos os frutos foram colocados para fermentar por cinco dias, em seguida
realizou-se o despolpamento dos mesmos retirando-se o epicarpo e mesocarpo, colocando-os em
areia para retirada da mucilagem por meio de fricção em peneira, após esta etapa foram lavados,
colocados sobre bandejas em temperatura ambiente para secagem. Em seguida os endocarpos foram
abertos com o auxílio de um torno manual, para retirada das sementes, em que foi calculado um
tempo de 4:45 horas para obtenção de 400 sementes.
As sementes foram previamente tratadas com o fungicida Captan e submetidas aos
tratamentos, que consistiram da combinação de quatro volumes de água destilada para
umedecimento do substrato, equivalentes a quantidade de 2,0; 2,5; 3,0; e 3,5 vezes a massa do papel
seco e cinco temperaturas: 20, 25, 30, 35 e 20-30 °C.
Germinação - Foram utilizadas 100 sementes, divididas em quatro repetições de 25, as quais
foram distribuídas no substrato papel toalha foi umedecido com água destilada nas quantidades
supracitadas, em seguida foi organizado na forma de rolos. Em seguida os rolos foram colocados
em germinadores tipo Biological Oxigen Demand (B.O.D.) regulados para os regimes de
temperaturas pré-estabelecidas, com fotoperíodo de oito horas, utilizando lâmpadas fluorescentes.
Foi realizado no sexto ao décimo quarto dia após a instalação do experimento
Primeira contagem- determinou-se juntamente com o teste de germinação, mediante
contagem do número de plântulas normais (parte aérea e raiz) no sexto dia após a instalação do
teste, sendo os resultados expressos em porcentagem.

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Índice de velocidade de germinação - determinação foram realizadas contagens diárias das


sementes germinadas, no mesmo horário durante 14 dias, sendo o índice de velocidade de
germinação calculado pela fórmula proposta por Maguire (1962).
Comprimento e massa seca de raízes e parte aérea - ao final do teste de germinação, as
plântulas normais de cada tratamento e repetição foram medidas (raiz primária e parte aérea) com
auxílio de uma régua graduada em centímetros, com os resultados expressos em cm plântula-1. Após
as medições, as raízes e partes aéreas das plântulas, sem as folhas cotiledonares, foram colocadas
em sacos de papel tipo Kraft e postas em estufa de secagem a 65 °C por 48 horas. Decorrido esse
período, as amostras foram pesadas em balança analítica com precisão de 1 mg e os resultados
expressos em mg plântula-1. O delineamento experimental utilizado foi inteiramente ao acaso, com
os tratamentos distribuídos em esquema fatorial 4 x 5 (volumes de água e temperaturas). Os dados
foram submetidos à análise de variância pelo teste F e de regressão polinomial, utilizando-se o
programa SISVAR.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os dados demonstrados na tabela 1, é um resumo da análise de variância onde observa-se


que para a maioria das variáveis analisadas houve interação signicativa na interação entre as fontes
de variações (Fv) exceto para primeira contagem de germinação (PCG) que só foi significativo para
o fator temperatura.

Tabela 1. Dados da análise d de variância do percentual de germinação (G), primeira contagem de germinação (PCG),
índice de velocidade de germinação (IVG) das sementes, comprimento de plântulas, massa seca plântulas de Z.
joazeiro.
*Significativo a 1% de probabilidade da interação.
Quadrado Médios

Fv GL G PCG IVG CPA CR MSP MSR


-1 -1
% cm plântula mg plântula
Temperatura 4 3297,70* 28,81* 4,79* 6,85* 7,56* 0,012* 0,05*
Volume 3 1745,92* 10,52NS 1,93* 4,05* 3,12* 0,06* 0,02*
Temp x Vol 12 452,83* 3,20NS 0,52* 0,96* 1,06* 0,01* 0,07*
Erro 96,03 1,96 0,13 0,17 0,18 0,019 0,04
CV (%) 19,44 37,95 20,84 23 25,14 24 22,68
NS
não significativo

Observa-se na figura 1, que as sementes de Ziziphus joazeiro quando submetidas a


diferentes temperaturas e volumes de água, demonstraram comportamento diferenciado., o
percentual de germinação decresceu linearmente com o aumento do volume de água, quando foram
submetidas a temperatura de 20-30 °C. Os dados observados nas temperaturas de 20, 25, 30 e 35 °C
não se ajustaram aos modelos lineares e quadráticos, sendo obtidos valores médios, onde o maior
valor foi constastado na temperatura de 20 °C com 62,5 % de germinação.

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20 °C 25 °C 30 °C 35 °C 20-30 °C
80
70
60

Germinação (%)
50
40 y 20 °C = 62,5
30 y 25 °C = 58,3
20 y 30 °C = 51,5
10 y 35 °C= 25,9
y 20-30 °C= 112,3 -21,2x- R² = 0,86
0
2 2,5 3 3,5 4
Volumes de água (mL)

Figura 1. Percentual de germinação de sementes Ziziphus joazeiro


submetidas a temperaturas e volumes de água no substrato.

A respiração da semente diminui quando ocorre excesso de água porque limita a entrada do
oxigênio, que é imprescindível para o processo de germinação, uma vez que a sua ausência pode
provocar atraso ou até mesmo paralisar o processo germinativo, por outro lado, se a umidade dos
substratos forem extremamente baixas e não atingirem o teor mínimo necessário para que este
processo ocorra haverá inibição do desenvolvimento do eixo embrionário (CARVALHO e
NAKAGAW, 2012; MARCOS FILHO, 2015).
As sementes de L. leucocephala de acordo com Cardoso et al. (2013) demonstraram seu
maior vigor e qualidade fisiológica, quando foram submetidas a temperatura de 20-30 °C e a um
volume de água de 2,7 vezes a massa seca do substrato.
O percentual de primeira contagem de germinação das sementes de Z. joazeiro, obteve
resultados semelhantes entre à maioria das temperaturas avaliadas, exceto para temperatura de 35
°C, onde demonstrou os menores valores (Tabela 2).

Tabela 2. Primeira contagem de germinação das sementes de Ziziphus joazeiro submetidas a diferentes temperaturas.
Temperatura (°C) PCG (%)
20 17,50 a
25 18,25 a
30 18,75 a
35 2,75 b
20-30 27,25 a
Medias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

O vigor das sementes de Parkia platycephala, através da primeira contagem de germinação,


submetido à diferentes temperaturas e volumes, observou-se uma redução linear para as
temperaturas de 20 e 20-30 ºC, já as temperaturas de 25 e 30 °C, foi constastado um acréscimo até o
volume três vezes o peso seco do papel (GONÇALVES et al., 2015).
Os resultados do índice de velocidade de germinação obtidos nas temperaturas constantes de
25, 30 e alternada de 20-30 °C demonstraram uma queda linear com o aumento do volume de água

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os quais as sementes de Z. joazeiro foram submetidas. Já para as temperaturas de 20 e 35 °C não


houve diferenças entre os volumes e sim entre as mesmas onde obteve-se os seguintes valores 2,15
e 0,87 respectivamente (Fig.2).
Estudos com de sementes de Parkia platycephala demonstraram uma elevação no índice de
velocidade de germinação com o aumento máximo de volume de água no substrato de 1,92 na
temperatura de 20 °C, sendo afetada negativamente, quando comparado com as temperaturas de 25,
30 e 20-30 °C (GONÇALVES et al., 2015).

3 20 °C 25 °C 30 °C

2,5

2
IVG

1,5 y 20 °C = 2,15
y 25 °C= 3,7873 - 0,6415x - R² = 0,83
1
y 30 °C= 3,5918 -0,642x - R² = 0,94
0,5 y 35 °C= 0,87
y 20-30 °C= 4,1145 - 0,7905x - R² = 0,89
0
2 2,5 3 3,5 4
Volumes de água (mL)
Figura 2. Índice de velocidade de germinação de sementes Ziziphus joazeiro
submetidas a diferentes temperaturas e volumes de água.

As sementes de Amburana cearensis quando submetidas a temperatura de 35 °C foi


constastado um volume de água igual à 3,04 vezes o peso do papel para se obter o maior IVG, e um
comportamento linear nos volumes 2; 2,5; 3 e 3,5 quando foi utilizado a temperatura de 30 °C, no
entanto o tratamento com 3,0 vezes a massa do substrato apresentou melhores resultados para o
IVG nas temperaturas de 30 e 35 °C, com valores de 5,8 e 5,9 para as sementes de Schizolobium
amazonicum (RAMOS et al., 2006; GUEDES et al., 2010).
O vigor das plântulas de Z. joazeiro, determinado pelo comprimento da parte aérea encontra-
se, na figura 3. Verifica-se que, com o aumento dos volumes o vigor das plântulas é afetado
negativamente havendo uma queda linear quando submetidos as temperaturas de 25, 30 e alternada
de 20-30 °C. Para as temperaturas de 20 e 35 °C não houve adequação dos modelos linear e
quadrático demonstrando os seguintes valores médios 1,91 e 0,68 cm plântula respectivamente.

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20 °C 25 °C 30 °C 35 °C 20-30 °C
4
y 20 °C= 1,91
3,5

CPA (cm plântula-1)


3
y 25 °C= 3,568 - 0,6595x - R² = 0,86
2,5
2
1,5 y 30°C = 6,1695 - 1,398x - R² = 0,98
1 y 35 °C= 0,68
0,5
y 20-30 °C= 5,3975 - 1,16x - R² = 0,84
0
2 2,5 3 3,5 4
Volume de água (mL)

Figura 3. Comprimento da parte aeréa das plântulas de Ziziphus joazeiro


submetidos a diferentes temperaturas e volumes de água.

Estudos com plântulas oriundas de sementes de Jacaranda copaia, que foram submetidas à
diferentes volumes (1,5; 2,0;2,5 e 3,0) e nas seguintes temperaturas de 25, 30 e 35 °C, observou-se
as seguintes medias 3,42; 3,26 e 2,60 cm respectivamente (ABENSUR, et al., 2007).
Para plântulas Parkia platycephala, os maiores valores de comprimentos foram verificados
na temperatura de 25ºC com7,74 e 7,80 cm, nos volumes de 2,5 e 3,0 vezes o peso do papel
respectivamente (GONÇALVES et al., 2015).
O comprimento das raízes de plântulas de Z. joazeiro apresentam o mínimo de (1,41 e 1,61
cm plântulas) com os seguintes volumes (2,87 e 3,07 mL) para as temperaturas de 20 e 20-30 °C
respectivamente. Na temperatura de 30 °C apresenta o máximo de 0,87 cm plântulas no volume de
1,93 mL. Nas temperaturas de 25 e 35 °C não houve diferenças entre os volumes devido os dados
não se adequarem aos modelos lineares e quadráticos e sim entre as mesmas onde obteve-se os
seguintes valores 1,81 e 0,48 respectivamente (Fig.4).

20 °C 25 °C 30 °C 35 °C 20-30 °C
3,5
y 20 °C = 11,411 - 6,9755x +1,215x2 - R² = 0,87
3
y 25°C= 1,81
CR ( cm plântula-1)

2,5

1,5
y 30 °C= - 0,0861+ 3,1333x - 0,8125x2 - R² = 0,97
1
y 35°C= 0,48
0,5
y 20-30°C= 16,275 - 9,635x + 1,57x2 - R² = 0,987
0
2 2,5 3 3,5 4
Volumes de água (mL)
Figura 4. Comprimento das raízes de plântulas de Ziziphus joazeiro
submetidas a temperaturas e volumes de água.

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Resultados encontrados em plântulas de Dinizia excelsa que proporcionaram os maiores


comprimentos das raízes foram quando submetidas aos volumes de água e temperaturas: 1,5 e 2,0
vezes o peso do papel a 25°C; 1,5 vezes a 30°C e 3,0 vezes a 35°C (VARELA et al., 2005).
O comprimento da raiz em plântulas de Jacaranda copaia, apresentaram os seguintes
resultados quando submetidos as temperaturas 30 e 35ºC foram maiores aos encontrados na de 25
°C, com media de 2,43 cm e 2,24 cm, respectivamente (ABENSUR et al., 2007).
Em plântulas oriundas de sementes de Schizolobium amazonicum o comprimento das raízes
primárias quando submetidas aos volumes de água 1,5; 2,0 e 2,5 vezes a massa seca dos substratos,
não foi influenciado pelas temperaturas de 25, 30 e 35 °C, no entanto quando submetido à
temperatura de 20-30ºC, observou-se um aumento no comprimento da raiz com o aumento do
volume de água (RAMOS et al., 2006).
Para o conteúdo de massa seca da parte aérea das plântulas de Z. joazeiro, não houve
diferença entre os volumes de água mantendo constância, no entanto entre as temperaturas 20, 25,
30, 35 e 20-30 °C as quais foram submetidas, apresentaram os seguintes valores: (0,0027; 0,0024;
0,0028; 0,0025 e 0,0007 mg plântulas) respectivamente (Figura 5).

20 °C 25 °C 30 °C 35 °C 20-30 °C
0,003

0,0025
MSPA (mg plântula-1)

y 20 °C= 0,0027
0,002
y 25 °C= 0,0024
0,0015 y 30 °C= 0,0028

0,001 y 35 °C= 0,0025

0,0005 y 20-30 °C= 0,0007

0
2 2,5 3 3,5 4
Volumes de água (mL)

Figura 5. Massa seca da parte aeréa de plântulas de Ziziphus joazeiro


submetidos a temperaturas e volumes de água.

Sementes de Mimosa caesalpiniaefolia, quando submetidas a temperatura de 25 °C


proporcionou os maiores valores de massa secadas plântulas, mostrando ser a mais adequada para
condução de testes de vigor para espécie (ALVES et al., 2002).
A massa seca da parte aérea das plântulas Parkia platycephala, quando submetidas a
temperatura de 20 °C os volumes 2,0; 2,5; 3,0 e 3,5 mL de água nos substratos, não sofreram
influência já na temperatura de 30 °C, houve um decréscimo linear entre os valores médios,
apresentou o maior conteúdo de massa seca com (0,917 g) quando o substrato foi umedecido, com
2,0 vezes o peso da massa seca do substrato (GONÇALVES et al., 2015).

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A massa seca das raízes das plântulas de Z. joazeiro para as temperaturas de 20 e 20-30 °C
apresentam o mínimo de massa com (0,0016 e 0,0082 mg plântulas, nos seguintes volumes (2,78 e
3,28 mL consecutivamente). Quando foi analisado a massa seca das raízes nas temperaturas de 25 e
35 °C demonstram o máximo de (0,0024 e 0,0082 mg plântulas; nos volumes 2,5 e 3,28 mL
consecutivamente) respectivamente. Para a temperatura de 30 °C a massa seca da raiz diminuiu
linearmente com o aumento do volume.

20 °C 25 °C 30 °C 35 °C 20-30 °C
0,0025

y 20 °C= 0,0088 - 0,005x +0,0009x2 - R² = 0,75


MSR (mg plântula-1)

0,002

0,0015
y 25 °C= - 0,0024 + 0,0035x -0,0007x2 - R² = 0,99
0,001
y 30 °C= 0,0034 -0,0008x - R² = 0,74
0,0005 y 35 °C= - 0,0017 + 0,0014x - 0,0002x2 - R² = 0,95
y 20-30 °C= 0,0082 - 0,0046x + 0,0007x2 - R² = 0,99
0
2 2,5 3 3,5 4
Volumes de água (mL)

Figura 6. Massa seca das raízes de plântulas de Ziziphus joazeiro submetidas


a temperaturas e volumes de água.

A massa seca das raízes de plântulas oriundas das sementes de Parkia platycephala,
demonstraram, que os resultados obtidos não apresentaram influência nos volumes aos quais foram
submetidos para umedecer o substrato, houve diferença entre as temperaturas, onde os valores
médios obtidos da massa seca das raízes foram provenientes das temperaturas de 25 e 30ºC (0, 3557
e 0,3490 g, respectivamente), os quais não apresentaram diferença significativa (GONÇALVES, et
al., 2015).

CONCLUSÃO

A germinação e vigor de sementes de Ziziphus joazeiro não é influenciada pelos diferentes


volumes de água utilizados. A temperatura de 20 °C favoreceu germinação de sementes Z. joazeiro.

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CARACTERIZAÇÃO DOS FEIRANTES DE PRODUTOS ORGÂNICOS DO


MUNICÍPIO DE AREIA, PB: ESTRATÉGIA DE FORTALECIMENTO DA
AGRICULTURA FAMILIAR NO COMÉRCIO POPULAR

Maria de Fátima de Queiroz LOPES


Mestranda em Agronomia UFPB
fatimaqueiroz0a@gmail.com
Ronimeire Torres da SILVA
Doutoranda em Agronomia UFPB
ronimeiretorres@hotmail.com
Joana Gomes de MOURA
Doutoranda em Agronomia UFPB
joanagomes1963@hotmail.com
Riselane Lucena de Alcântara BRUNO
Professora Titular em Agronomia UFPB

RESUMO
A agricultura ecológica ou agroecologia é uma alternativa para o desenvolvimento do campo,
utilizando-se de métodos, técnicas e troca de saberes, visando garantir a sustentabilidade da
produção, e manutenção dos recursos naturais. Juntamente com essa proposta surge as feiras livres
que são de grande importância para a agricultura familiar, pois é um local de comercialização, que
garante o escoamento da produção sem interferência de atravessadores, os produtos orgânicos
encontrados nesses locais tem grande interesse de compra da população pois não causa
contaminação na natureza, nem a saúde do consumidor, e a segurança alimentar é garantida. Diante
disso, o objetivo da pesquisa foi caracterizar o perfil dos feirantes de produtos orgânicos do
município de Areia PB, como estratégia de fortalecimento da agricultura familiar no comércio
popular. Para realização da pesquisa, foi aplicado um questionário semiestruturado de abordagem
direta com cerca de 35% dos feirantes, em julho de 2017. Os dados foram organizados em planilhas
no Microsoft Office Excel® versão 2013,em seguida foram feitas as análises de distribuição de
frequência das variáveis. A partir de detalhamento dos dados, conclui-se que o perfil dos feirantes
que integram a feira ecológica do município de Areia-PB, são homens e mulheres adultos com faixa
etária de 30 a 40 anos, que residem na zona rural, ganham até um salário mínimo mensal com a
atividade, com ensino fundamental, que são responsáveis por produzir e comercializar grande
variedade de produtos,trabalham a mais de um ano no local.
Palavras-chave:Preservação Ambiental, Desenvolvimento Sustentável, Produção Orgânica e Fonte
de Renda.
ABSTRACT
Organic farming or agroecologyis an alternative for the development of the field, using methods,
techniques and know ledge exchange, aiming to guarantee the sustainability of production, and
maintenance of natural resources. Along with this proposal comes the free fairs that are of great
importance for the family agriculture, because it is a place of commercialization, that guarantees the
flow of the production with out interference of intermediaries, the organic products found in these
places have great interest of purchase of the population since Does not cause contamination in
nature, northehealth of the consumer, and food safety is guaranteed. Therefore, the objective of the

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research was to characterize the profile of the organic product markets in the city of Areia PB, as a
strategy to streng then family farming in the popular commerce. To carry out the research, a semi-
structured questionnaire with a direct approach was applied with about 35% of the marketers, in
July 2017. The data were organized in spreadsheets in Microsoft Office Excel®version 2013,
followed by analysis of frequency distribution Of the variables. Based on the details of the data, it
can be concluded that the profile of the fair groundsthat are part of the ecological fair of the city of
Areia - PB, are adult men and women aged 30 to 40 years residing in the rural area, earn up to a
Minimum monthly salary with activity, with elementary education, who are responsible for
producing and marketing a wide variety of products, have been working for more than a year on the
spot.
Keywords: Environmental Preservation, Sustainable Development, Organic Production, is Source
of Income.

INTRODUÇÃO

A Revolução Verde causou inúmeras transformações para a agricultura no mundo após o


período da segunda guerra mundial, como a inserção da utilização de máquinas agrícolas e insumos
aliadas a técnicas que visavam aumentar a produtividade, o que acabou causando discreto aumento
na oferta de alimentos enquanto ocorria a migração do homem do campo para as grandes cidades, e
a partir daí surgiram grandes empresas agroindustriais (NUNES, 2007). A agricultura nacional tem
perspectivas promissoras para expansão de mercado, pois conta com amplas terras agricultáveis,
mão de obra disponível, produtores rurais de diversos seguimentos com conhecimento técnico e
atento as tecnologias voltadas para o campo, e é considerada como uma das principais fornecedoras
mundiais de alimento (CONCEIÇÃO e CONCEIÇÃO, 2014).
Em meio a agricultura nacional o agronegócio ganha cada vez mais espaço em diferentes
seguimentos nas diversas regiões do pais. Para Matos e Pessôa (2011) o agronegócio é estruturado
em grandes áreas agrícolas, em grande parte ocupadas com monoculturas e pouca utilização de mão
de obra, classificando-o como a versão contemporânea do capitalismo no campo, sendo esse o
modelo de prosperidade e desenvolvimento pois influencia no crescimento do PIB (produto interno
bruto) gerando crescimento da economia, geração de emprego e renda e produção de alimentos.
Embora na atualidade tenha-se o destaque do agronegócio como o responsável por altas
produtividades agrícolas que bate recordes no mercado internacional, por outro lado temos a
pobreza no campo, associada a concentrações de terra e uma série de outros problemas dependendo
da região, o que reflete uma forte contradição no cenário agrícola nacional (SILVA e BOTELHO,
2014). Além desse obstáculo, tem-se ainda a consequência da intensa atividade agrícola que gera
danos ao meio ambiente e afeta a disponibilidade de água, compromete a qualidade do ar e
alimentos produzidos, como também provoca novos problemas fitossanitários em virtude do
desequilíbrio ecológico pelo aumento da utilização de defensivos agrícolas (NUNES, 2007).

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A agricultura ecológica ou agroecologia pode ser uma importante alternativa para esses
problemasutilizando-se métodos e técnicas e a troca de saberes, visando a sustentabilidade de
produção, a manutenção dos recursos naturais, considerando as limitações do ecossistema, produção
sem uso de recursos externos e bem-estar das comunidades rurais, dessa forma incluindo ordens
ambientais, sociais e econômicas(CAPORAL e COSTABEBER, 2004).
A agricultura familiar é retratada por unidades produtivas com atividades desenvolvidas por
mão de obra doméstica em pequenas ou médias propriedades, tornando-se uma estratégia viável
para o desenvolvimento rural, comgeração de emprego e renda, e segurança alimentar da população
local. Esse tipo de agricultura é de grande importância no cenário nacional e em especial no
semiárido nordestinoonde a maioria da população reside na zona rural de pequenas cidades e
consequentemente essa atividade geram uma contribuição econômica para região (SOARES et al.,
2009).Esse tipo de agricultura está vinculada a diversos âmbitos do desenvolvimento rural,
ocupando papel fundamental na cadeia produtiva, no mundo 500 milhões de propriedades agrícolas
pertencem a produtores familiares que são diretamente responsáveis por 56% de toda produção
agrícola.No Brasil os agricultores familiares fornecem em média aproximadamente 70% da
produção de uma série de culturas trabalhando em menos de 25% das terras agrícolas(FAO, 2014).
Usualmente os locais de comercialização dos produtos produzidos pela agricultura familiar
são as feiras livres, local em que permitem comercializar a produção direto com o consumidor,
garantindo o escoamento da produção sem interferência de atravessadores proporcionandomelhoria
da qualidade de vida, assegurando renda para os pequenos agricultores e feirantes.Essa produção é
originaria de quintais produtivos que se caracteriza como um espaço em que se cultivam várias
culturas, espécies de plantas medicinais e se criam animais sem grande dependência de produtos
externos para suprir a dieta das famílias e comercialização do excedente de produção (SANTOS et
al., 2013). São esses locais que fortalecem as relações entre o campo e a cidade.
Os produtos orgânicos são mais procurados atualmente, pois a eles são atribuídos diversas
características que fazem com que as pessoas despertem o interesse de compra como por exemplo a
responsabilidadecomoambiente, o fato de preservar o local de plantio de forma que não seja
utilizado nenhuma forma de contaminação na natureza, avalorizaçãodotrabalhador, que maneja a
cultura sem causar nenhum dano a sua saúde, asegurançaalimentarque é alcançada com a produção
eaqualidadedevidatantodoprodutorquantodoconsumidorsão umas das principais causas dessa
procura (SANTIAGO e GENTIL, 2014).
Diante disso o objetivo da pesquisa foi caracterizar o perfil dos feirantes de produtos
agroecológicos do município de Areia PB como estratégia de fortalecimento da agricultura familiar
no comércio popular.

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MATERIAL E MÉTODOS

A experiência aconteceu no município de Areia, localizado na microrregião do Brejo


Paraibano, a cidade fica a 130 km da capital do estado.A feira foi criada em 2007 com um grupo de
apenas 10 pessoas que faziam parte da Associação de agricultores do município, movidos pela
necessidade de ter um local para vender seus produtos realizaram uma reunião e decidiram dar
início as vendas, hoje a feira conta com 57 feirantes.
No local são comercializados diversos produtos, frutas, verduras, hortaliças entre outros, a
sua realização ocorre toda semana durante as manhãs de sexta feira. Os agricultores afirmam que
utilizam defensivos naturais como meios alternativos para o controle de pragas e doenças a base
extratos vegetais e que dessa forma não poluem o meio ambiente e cuidam da saúde evitando
contato com produtos químicos, e sentem-se orgulhosos disso. Por outro lado relatam também que
encontram bastante dificuldade com a falta de transporte para se deslocar até o local de
comercialização.

Figura 1. Comercialização de produtos agroecológicos, realizado por agricultores da região.

Para realização da pesquisa, foi aplicado um questionário semiestruturado de abordagem


direta com cerca de50,88% dos feirantes de forma aleatória a fim de conhecer quem são essas
pessoas, de onde vem, quais os principais produtos comercializados, a renda obtida da
comercialização e o que ainda necessita-se melhorar, entre outros aspectos abordados pelo
questionário.

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A pesquisa foi realizada em julho de 2017, ao mesmo tempo em que os feirantes atendiam
aos consumidores, de forma simples sem atrapalhar a comercialização, e observando as atividades
desenvolvidas.
Os dados foram organizados em planilhas no Microsoft Office Excel® versão 2013,e então
foram feitas as análises de distribuição de frequência das variáveis com a divisão por tabelas.

Figura 2. Comércio de Carnes realizado durante a feira agroecológica

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A pesquisa demostrou que os feirantes tem idade bastante variável,40% deles tem de 30 a 40
anos, 35% tem acima de 50 anos, 15% de 40 a 50, e apenas 10% tem de 20 a 30 anos enquanto não
foi relatado no estudo pessoas com idade até 20 anos (Tabela 1). A faixa etária dos feirantes foi
semelhante em Maringá onde observou-se que a idade predominante era de 31 a 50 anos
(DEMENECK et al., 2011).
Com relação ao sexo observou-se que o sexo masculino é predominante possuindo cerca de
51,72% (Tabela 1).Resultados semelhantes foram encontrados por Sales et al. (2011) em análise do
perfil sócio-demográfico dos feirantes da cidade de Lavras MG, em que o sexo masculino
predomina na atividade. Cerca de 69,40 residem na zona rural e 30,60 na zona urbana, esse dado
corrobora com resultados encontrados na Feira de Pombal onde a maioria dos feirantes é da zona
rural do município (COSTA et al., 2009).
Arenda relatada com a comercialização é de 80% até 1 salário, e 20% de 1 a 2 salários
(Tabela 1), esses dados corroboram com estudo realizado em União dos Palmares no estado de
Alagoas, em que os feirantes da feira livre do município foram entrevistados e constatou-se que

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64% conferem uma renda familiar de até 1 salário mínimo, 29% uma renda familiar correspondente
entre 1 e 2 salários mínimos e 7% não informaram (ALBUQUERQUE, 2011).A movimentação
econômica é algo bastante expressivo nesses locais, pois a maioria dessas pessoas tem na feira a sua
única fonte de renda, e a população só tem a ganhar com a compra de produtos acessíveis, gerando
uma grande economia mensal, e adquirindo uma fonte de alimentação mais saudável.
A escolaridade relatada pelos feirantes é que 60% tem apenas o ensino fundamental 30% o
ensino médio, e 5% deles analfabetos ou com graduação concluída ou em fase de conclusão (Tabela
1). Os dados diferem de Demeneck et al. (2011) que constataram que os feirantes que
comercializam na Feira do Produtor de Maringá, 4,16% dos entrevistados tinham ensino
fundamental, 50% tinham ensino médio e 8,3% tinham curso de graduação. Percebe-se que o grau
de escolaridade dos feirantes de Maringá é maior, constatando que esses dados diferem de acordo
com a região do País.

Tabela 1.Perfil socioeconômico dos feirantes da feira orgânica do Município de Areia - PB


Idade (%)
Ate 20 0
20 - 30 10
30 - 40 40
40 - 50 15
Acima 50 35
Sexo (%)
Feminino 48,28
Masculino 51,72
Endereço (%)
Zona Rural 69,40
Zona Urbana 30,60
Renda (%)
Até 1 salário 80
De 1 a 2 salários 20
Mais de 2 salários 0
Escolaridade (%)
Analfabeto 5
Ens. Fundamental 60

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Ens. Médio 30
Ens. Superior 5
Pós Graduação 0

Foi investigado quais os produtos vendidos,sua origem, e quais os mais procurados pelos
consumidores (Tabela 2), e observou-se que 85% são produzidos pelos próprios feirantes, ou seja a
maioria deles são pequenos agricultores que plantam e comercializam trazendo direto do campo
para a feira, 10% dos feirantes compra de pequenos produtores e revendem na feira e 5% produz e
também compra para vender. Fato que não foi observado por Araújo et al. (2016), quando
estudaram o perfil de feirantes de Bananeiras, cidade também pertencente a microrregião do Brejo
Paraibano, onde constataram que 100% são produtores/vendedores de seus próprios produtos,
evitando assim a interferência dos intermediários.
Os principais produtos vendidos (Tabela 2) são frutas e verduras com 25%, em segundo
lugar está as hortaliças (18,18%), em terceiro lugar está outros produtos como goma, mel de
abelha,feijão verde, ovos, queijo e carne de bode,seguido de ervas com 4,54% e flores, queijo, ovos,
farinha, carne, lanche cada um com 2,27%. Sendo os mais procurados o alface (20%), banana
(20%), coentro (16,66%), feijão (10%), abobora (6,66%) e batata, queijo de manteiga, ovos, carne
de bode, maracujá, pimentão, mamão e laranja (3,33%). Isso demostra a grande variedade de
produtos que podem ser encontrada no local.

Tabela 2.Aspectos dos produtos comercializados na feira orgânica do município de Areia - PB


Origem do produtos (%)
Produz 85
Compra de produtores 10
Produz e compra 5
Produtos Vendidos (%)
Frutas 25
Verduras 25
Hortaliças 18,18
Ervas 4,54
Flores 2,27
Queijo 2,27
Ovos 2,27
Farinha 2,27

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Carne 2,27
Lanche 2,27
Outros* 13,63
Produtos mais procurados (%)
Alface 20
Feijão 10
Coentro 16,66
Banana 20
Batata 3,33
Queijo de manteiga 3,33
Ovos 3,33
Carne de bode 3,33
Maracujá 3,33
Abobora 6,66
Pimentão 3,33
Mamão 3,33
Laranja 3,33
* Goma, mel de abelha, feijão verde, ovos, queijo e carne de bode

A forma de descarte dos produtos também foi estudada (Tabela 3), 68,97% dos entrevistados
afirmaram que existe sobra e 31,03% disseram que não. Para os entrevistados que disseram sim o
destino foi consumo (42,85%), doação (42,85%) trazer na próxima feira (21.42%), descarte no lixo
(14,28%) alimentação animal, produção de subprodutos e vendas em outras feiras (7,14%). Essa
preocupação com o meio ambiente também foi estudada por Ferreira et al. (2014), a fim de
identificar a percepção ambiental dos feirantes hortifrútis do Centro de Abastecimento de Teresina-
PI – CEAPI, observando o destino dos resíduos advindos da feira,e constataram que 69% dos
feirantes realizar doações a instituições de caridade e trabalho de aproveitamento destes resíduos na
própria CEAPI, 19% dos feirantes direcionam os resíduos ao lixo comum, 4% reaproveitam os
resíduos utilizando-os para ração animal, e 8% responderam que usam outras formas. Com o fato
apresentado, é importante que cada feira municipal tenha políticas de reaproveitamento dos
produtos ou descarte de forma correta, pois essa ausência acaba sendo refletida diretamente também
na limpeza e higiene do local, atraindo insetos e roedores, que podem gerar doenças.

Tabela 3.Forma de descarte dos produtos que sobram ao fim da feira orgânica do município de Areia - PB

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 497


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Existe sobras (%)


Sim 68,97
Não 31,03
Destino (%)
Consome 42,85
Doa 42,85
Descarta no lixo 14,28
Alimentação animal 7,14
Produz subprodutos 7,14
Trás na próxima feira 21,42
Vende em outra feira 7,14

O período de comercialização da feira encontra-se na tabela 4. Onde demostra que 93,10%


dos feirantes comercializam no local a mais de 1 ano e apenas 6,9% comercializam a apenas 6
meses, quando indagados se os mesmo comercializavam em outros locais 62,07% disse que não, e
37,93% afirmaram que sim, e desses a maioria comercializa em feiras de cidades próximas como as
cidades de Pilões e Remígio (25%), Guarabira, Esperança, Alagoa Grande e Arara (12,5). Oliveira
et al. (2013)em estudo realizado na feira da agricultura familiar em Alegre ES, revelou um perfil
semelhante dos feirantes do município de Areia PB, pois sua pesquisa revela que 9% dos feirantes
participam também de outras feiras em regiões próximas. Isso ocorre pois o feirante visa
complementar sua renda em outros locais e evitar perda de mercadoria.

Tabela 4.Tempo de comercialização dos feirantes na feira orgânica e outros locais de comercialização na
região
Tempo em que comercializa no local (%)
6 meses 6,9
1 ano 0
Mais de 1 ano 93,10
Comercializa em outros locais (%)
Sim 37,93
Não 62,07
Locais (%)
Pilões 25
Guarabira 12,5

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Esperança 12,5
Remígio 25
Alagoa grande 12,5
Arara 12,5

Apesar dos feirantes gostarem de comercializar seus produtos no local, muitos afirmam que
o lugar precisa passar por melhorias (Tabela 5), como limpeza (29,03%), local de trabalho
(25,80%), entre outros, como iluminação (19,35%), Infraestrutura (16,12%), segurança (6,45%), e
horário de funcionamento (3,22%).

Tabela 5.Aspectos que podem ser melhorados na feira orgânica do município de Areia PB
Requer melhorias (%)
Local 25,80
Limpeza 29,03
Infraestrutura 16,12
Segurança 6,45
Horário de Funcionamento 3,22
Outros* 19,35
* Iluminação

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O perfil dos feirantes que integram a feira ecológica do município de Areia-PB, são homens
e mulheres adultos com faixa etária de 30 a 40 anos, que residem na zona rural, ganham até um
salário mínimo mensal com a atividade, com ensino fundamental, que são responsáveis por produzir
e comercializar grande variedade de produtos, trabalham a mais de um ano no local.
A agricultura familiar é fortalecida com o comércio de produtos orgânicos, gerando renda
para o homem do campo, é responsável por levar produtos mais saudáveis para o consumo da
população, garantindo dessa forma segurança alimentar.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 501


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GERMINAÇÃO E VIGOR DE SEMENTES DE Caesalpinia ferrea Mart. EM FUNÇÃO


DA TEMPERATURA E VOLUMES DE ÁGUA NO SUBSTRATO

Maria Lúcia Maurício da SILVA


Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Agronomia do CCA/UFPB
luciagronomia@hotmail.com
Edna Ursulino ALVES
Professora do Departamento de Fitotecnia e Ciências Ambientais do CCA/UFPB
ursulinoalves@hotmail.com
Maria das Graças Rodrigues do NASCIMENTO
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Agronomia do CCA/UFPB
graca.agronomia@gmail.com
Saulo de Oliveira JUVÊNCIO
Graduando do Curso de Agronomia do CCA/UFPB
Ojotta3.0@gmail.com

RESUMO
Caesalpinia ferrea Mart., conhecida popularmente por pau-ferro é uma espécie florestal nativa
propagada por sementes, tolerante à áreas abertas, indicada para ornamentação de parques e praças,
assim como recomendada para o reflorestamento de áreas degradadas. Diante disso o objetivo foi
avaliar a influência do umedecimento do substrato e temperaturas na germinação e vigor de
sementes de C. ferrea. Os tratamentos consistiram do umedecimento do substrato com volumes de
água (mL g-1) equivalentes a 2,0; 2,5; 3,0 e 3,5 vezes a massa do papel seco e as sementes mantidas
em germinadores com temperaturas constantes de 20, 25, 30 e 35 °C e alternada de 20-30 °C, em
delineamento experimental inteiramente ao acaso. As variáveis analisadas foram: porcentagem,
primeira contagem e índice de velocidade de germinação das sementes, além do comprimento e
massa seca de raízes e parte aérea das plântulas. A interação entre os fatores temperatura e volume
de água do substrato não foi significativa para a porcentagem e o índice de velocidade de
germinação das sementes. A temperatura constante de 30 °C e o volume de água equivalente a 3,2
vezes a massa do substrato é a melhor combinação a ser utilizada para avaliar a germinação e vigor
das sementes de C. ferrea.
Palavras-chave: pau-ferro, espécie nativa, disponibilidade hídrica.
ABSTRAT
Caesalpinia ferrea Mart. (pau-ferro) is a native forest that, due to its good growth and tolerance to
open areas, is recommended for the ornamentation of parks and squares, and is recommended for
the reforestation of degraded areas. The aim of this study was to evaluate the influence of substrate
wetting and temperatures on the germination and vigor of C. ferrea seeds. Treatments consisted of
wetting the substrate with water volumes (mL g-1) equivalent to 2.0; 2.5; 3.0 and 3.5 times the mass
of the dry paper and the seeds kept in germinators with constant temperatures of 20, 25, 30 and 35
°C and alternating of 20-30 °C, in a completely randomized experimental design. The variables
analyzed were: percentage, first count and rate of seed germination, as well as length and dry mass
of roots and shoots of seedlings. The interaction between the water temperature and volume factors
of the substrate was not significant for the germination percentage and the seed germination rate
index. The constant temperature of 30 °C and the volume of water equivalent to 3.2 times the mass

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of the substrate is the best combination to be used to evaluate the germination and vigor of C. ferrea
seeds.
Keywords: ironwood, forest species, water availability.

INTRODUÇÃO

A realização de estudos para determinar as condições adequadas para a condução de testes


de germinação e vigor com sementes de uma determinada espécie é de fundamental importância,
principalmente pelas respostas diferenciadas que podem ser obtidas devido a fatores como
dormência, umidade do substrato, luz, temperatura, oxigênio e ocorrência de agentes patogênicos,
associados ao tipo de substrato para sua germinação (BRASIL, 2009; CARVALHO e
NAKAGAWA, 2012).
Para que ocorra germinação um dos fatores determinantes é a disponibilidade hídrica, uma
vez que é responsável pela reativação do metabolismo da semente e está envolvida, direta e
indiretamente, em todas as etapas do processo germinativo (MARCOS FILHO, 2015). A
temperatura, por sua vez, exerce influência sobre a germinação atuando na embebição de água pela
semente, assim como nas reações bioquímicas que regulam o metabolismo envolvido nesse
processo (CASTRO et al., 2004). A variação de temperatura associada aos efeitos do estresse
hídrico interfere na dinâmica da absorção de água, nos limites e velocidade das reações
bioquímicas, além dos eventos fisiológicos que determinam todo o processo germinativo
(CARVALHO e NAKAGAWA, 2012).
As Instruções para Análise de Sementes de Espécies Florestais (BRASIL, 2013)
recomendam que durante todo o teste, o substrato seja suficientemente úmido para garantir às
sementes a quantidade de água necessária para sua germinação, porém, salientam que o substrato
não deve ser tão úmido a ponto de formar uma película de água em torno das sementes porque
restringe a aeração e prejudica a germinação.
As Regras para Análise de Sementes (BRASIL, 2009) recomendam a utilização de volumes
de água de 2,0 a 3,0 vezes a massa do substrato seco, independente da espécie, entretanto, estudos
com sementes de espécies florestais têm demonstrado que o volume de água do substrato e a
temperatura adequados para testes de germinação variam de acordo com a espécie, a exemplo
daqueles com sementes de guavira - Campomanesia adamantium (Camb.) O. Berg (DRESCH et al.,
2012), braúna - Melanoxylon brauna Schott (FLORES et al., 2013) e faveira - Parkia platycephala
Benth. (GONÇALVES et al., 2015).
A espécie Caesalpinea ferrea Mart., da família Fabaceae, popularmente conhecida como
pau-ferro pode atingir até 20 metros de altura, cuja madeira possui alta densidade, sendo por isso
empregada na construção civil como vigas, esteios, caibros, estacas, entre outros (LORENZI, 2014).

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Com ampla dispersão e baixa densidade populacional, provavelmente devido a dormência física de
suas sementes (BIRUEL et al., 2007), C. ferrea é indicada para uso na ornamentação de parques e
praças, além de ser recomendada para o reflorestamento de áreas degradadas por ser uma planta de
rápido crescimento e muito tolerante à áreas abertas (LORENZI, 2014). Suas cascas, sementes,
frutos e raízes são indicados pela medicina popular para emagrecimento, como depurativo e no
combate à anemia, afecções pulmonares e diabetes (BRAGA, 1960).
Diante do exposto, o objetivo neste trabalho foi determinar o volume de água para o
umedecimento do substrato e a temperatura mais adequada à germinação e vigor de sementes de C.
ferrea.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no Laboratório de Análise de Sementes (LAS) do Centro de


Ciências Agrárias (CCA), da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em Areia - PB, com
sementes de C. ferrea obtidas de frutos coletados embaixo da copa de árvores matrizes localizadas
no referido município. Após a coleta os frutos foram transportados para o LAS onde foi realizada a
extração das sementes de forma manual e em seguida, escarificação com lixa d‘água n° 80 na região
oposta ao hilo, como método de superação de dormência.
Os tratamentos consistiram no umedecimento do substrato com água destilada em volumes
(mL g-1) equivalentes a 2,0; 2,5; 3,0 e 3,5 vezes a massa do papel seco, sem adição posterior de
água. As temperaturas utilizadas foram de 20, 25, 30 e 35 °C constantes e de 20-30 °C alternada e
para avaliação do efeito dos volumes de água e temperaturas na germinação e vigor das sementes de
C. ferrea foram realizados os seguintes testes:

 Teste de germinação - conduzido em germinadores tipo Biological Oxigen Demand


(B.O.D.) regulados para as temperaturas especificadas anteriormente, com
fotoperíodo de oito horas usando lâmpadas fluorescentes tipo luz do dia (4 x 20 W),
utilizando-se quatro repetições de 25 sementes por tratamento, as quais foram
distribuídas sobre duas folhas de papel toalha, cobertas com uma terceira e
organizadas em forma de rolo. O papel toalha foi previamente umedecido com os
volumes de água pré-determinados, os rolos foram acondicionados em sacos de
polietileno fechados com atilhos de borracha, a fim de evitar a perda de água por
evaporação. As avaliações foram realizadas diariamente, sendo a primeira contagem
no sexto e a última no décimo quarto dia após a instalação do teste. As sementes
consideradas germinadas foram aquelas que haviam emitido a raiz primária e a parte

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aérea, conforme as Regras para Análise de Sementes (BRASIL, 2009), cujos


resultados foram expressos em porcentagem.
 Primeira contagem de germinação - determinou-se juntamente com o teste de
germinação, mediante contagem do número de plântulas normais (raiz e parte aérea
presentes) no sexto dia após a instalação do teste, sendo os resultados expressos em
porcentagem.
 Índice de velocidade de germinação (IVG) - foram realizadas contagens diárias das
sementes germinadas, no mesmo horário, durante 14 dias, sendo o índice de
velocidade de germinação calculado pela fórmula proposta por Maguire (1962).
 Comprimento e massa seca de raízes e parte aérea - ao final do teste de germinação,
as plântulas normais de cada tratamento e repetição foram medidas (raiz primária e
parte aérea) com auxílio de uma régua graduada em centímetros, com os resultados
expressos em cm plântula-1. Após as medições, as raízes e partes aéreas das
plântulas, sem as folhas cotiledonares, foram colocadas em sacos de papel tipo kraft
e postas em estufa de secagem a 65 °C até atingir peso constante (48 horas).
Decorrido esse período, as amostras foram pesadas em balança analítica com
precisão de 0,001g e os resultados expressos em g plântula-1.

O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente ao acaso, com os tratamentos


distribuídos em esquema fatorial 4 x 5 (volumes de água e temperaturas), em quatro repetições de
25 sementes por tratamento. Os dados foram submetidos à análise de variância e de regressão
polinomial, testando-se os modelos linear e quadrático, sendo selecionado o significativo de maior
R2. As médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade e, para análise dos
dados utilizou-se o sistema de análise Sisvar® (FERREIRA, 2007).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Tabela 1, referente ao resumo da análise de variância dos dados da avaliação de


germinação e vigor de sementes de C. ferrea observou-se que a interação temperaturas e volumes
de água do substrato não foi significativa para a porcentagem e o índice de velocidade de
germinação de sementes, evidenciando que os fatores estudados atuam de forma independente sobre
estas variáveis. O coeficiente de variação (CV) para o conteúdo de massa seca de raízes e de parte
aérea foi elevado (51,28 e 31,35%, respectivamente), indicando variabilidade dos dados em relação
à média, provavelmente em função do efeito dos tratamentos sobre estas variáveis, resultando em
desuniformidade no peso de massa seca de plântulas.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Tabela 1. Resumo da análise de variância da porcentagem de germinação (G), primeira contagem (PC) e
índice de velocidade de germinação (IVG) de sementes, comprimento de raiz primária (CR) e parte aérea
(CPA), e massa seca de raízes (MSR) e parte aérea (MSPA) de plântulas de C. ferrea oriundas de sementes
submetidas a diferentes volumes de água e temperaturas.
Quadrados Médios
FV GL G PC IVG CR CPA MSR MSPA
(%) (cm) (g)
T °C 4 216,26* 480,70* 3,92* 49,30* 33,47* 0,000226* 0,000126*
Vol 3 139,50* 305,91* 1,18* 39,37* 19,84* 0,000075* 0,000118*
T °C x V 12 25,76ns 58,60* 0,23ns 3,43* 17,7* 0,000041* 0,000039*
Resíduo 60 28,80 4,81 0,21 0,63 5,31 0,000006 0,000010
CV (%) 5,80 26,63 15,43 19,04 21,36 51,28 31,35
ns
não significativo; *significativo a 5% de probabilidade pelo teste de Scott-Knott.
Sendo V = volumes de água; T °C = temperaturas.

Pelos dados da Figura 1A, referentes à porcentagem de germinação das sementes de C.


ferrea, semeadas em papel germitest umedecidos com diferentes volumes de água (mL g-1 de papel
seco), observa-se um acréscimo na germinação à medida que o volume de água do substrato
aumentou. A maior porcentagem de germinação de sementes (96%) foi obtida no tratamento com
volume de água equivalente a 2,5 (ponto máximo da curva) vezes a massa do substrato seco. Na
avaliação do vigor pelo índice de velocidade de germinação de sementes (Figura 3B) observou-se
um acréscimo na velocidade de germinação com o aumento do volume de água do substrato até a
quantidade de 2,9 vezes o peso do substrato seco (ponto máximo da curva calculado pela derivada),
no qual se obteve um índice de 3,25, com subsequente redução.
Germinação (%)

y = 47,3 + 38,2x - 7,6x2


R² = 0,94
IVG

y = -1,9411 + 3,6362x - 0,636x2


R² = 0,99

Volumes de água (mL) Volumes de água (mL)


Figura 1. Porcentagem (A) e índice de velocidade de germinação (B) de sementes de C. ferrea submetidas a
diferentes volumes de água.

Para sementes de P. platycephala, Gonçalves et al. (2015) verificaram que o umedecimento


do substrato com volumes de água variando de 2,0 a 3,5 vezes a massa do substrato seco, nas

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temperaturas constantes de 25 e 30 °C e alternada de 20-30 °C não influenciaram a porcentagem de


germinação de suas sementes.
Em sementes de braúna (Melanoxylon brauna Schott), Flores et al. (2013) testaram os
volumes de água equivalentes a 1,0; 1,5; 2,0; 2,5 e 3,0 vezes a massa do substrato seco nas
temperaturas de 25 e 30 °C e verificaram que para todas as quantidades de água utilizadas o índice
de velocidade de germinação foi maior na temperatura de 30 °C.
A reidratação dos tecidos da semente é numa etapa indispensável para o desencadeamento
dos processos metabólicos relacionados à germinação (MARCOS-FILHO, 2015). O substrato
pouco umedecido limita a germinação das sementes e, consequentemente, condiciona a maior
porcentagem de sementes mortas, enquanto o umedecimento em excesso proporciona prejuízos à
respiração, causando atraso ou paralisação do desenvolvimento e, consequentemente,
anormalidades nas plântulas (SOUZA et al., 2015).
Nas temperaturas constantes de 30 e 35 °C e alternada de 20-30 °C verificou-se acréscimo
no percentual de sementes germinadas na primeira contagem (Figura 2) à medida que o volume de
água do substrato aumentou. Entretanto, na temperatura de 25 °C observou-se redução da
germinação a partir do volume de água equivalente a 2,9 vezes o peso do substrato seco. A maior
porcentagem de sementes germinadas na primeira contagem (19%) foi constatada na temperatura de
30 °C com volume de água equivalente a 3,2 vezes o peso do substrato seco (ponto máximo da
curva calculado pela derivada). Não se observou sementes germinadas, por ocasião da primeira
contagem, nos tratamentos submetidos à temperatura de 20 °C, independente do volume de água
utilizado para umedecer o substrato.
Primeira contagem de germinação (%)

y20 ºC = 0
y25 ºC = - 148,1 + 114,4x - 20x2 R² = 0,99
y30 ºC = - 107,73 + 79,65x -12,5x2 R² = 0,99
y35 ºC = - 49,775 + 34,6x - 5x2 R² = 0,83
y20-30 ºC = - 22,95 + 26,5x - 4,5x2 R² = 0,69

Volumes de água (mL)


Figura 2. Primeira contagem de germinação de sementes de C. ferrea submetidas a diferentes volumes de
água e temperaturas.

Considerando que a temperatura ótima é aquela em que ocorre a maior porcentagem de


germinação no menor período de tempo (CARVALHO e NAKAGAWA, 2012), a temperatura de

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30 °C e o volume de água de 3,2 vezes o peso do substrato seco foi a combinação mais adequada
para a germinação de sementes de C. ferrea, uma vez que proporcionou a maior porcentagem de
germinação na primeira contagem. A temperatura de 30 °C, segundo Flores (2011), promove a
estabilidade térmica necessária para o funcionamento das membranas celulares e aumenta a
possibilidade de sobrevivência dos indivíduos na presença de fatores adversos como a restrição
hídrica.
Ao avaliarem a influência da temperatura (25, 35 e 20-30 °C) e quantidade de água do
substrato (1,5 e 2,5 mL) na germinação de sementes de gabiroba [Campomanesia adamantium
(Camb.) O. Berg], Dresch et al. (2012) verificaram que a porcentagem de germinação, na primeira
contagem, foi superior (52%) em sementes incubadas a 25 °C e semeadas em substrato com
quantidade de água equivalente a 2,5 vezes o peso do papel seco.
O comprimento da parte aérea das plântulas de C. ferrea reduziu com o aumento da
quantidade de água no substrato nas temperaturas constantes de 30 e 35 °C e alternada de 20-30 °C.
As plântulas oriundas de sementes submetidas à temperatura de 20 °C tiveram o comprimento de
parte aérea reduzido a partir do volume de água equivalente a 2,7 vezes o peso do substrato seco
(ponto máximo da curva calculado pela derivada), enquanto na temperatura de 25 °C observou-se
que o aumento no volume de água do substrato proporcionou incremento no comprimento de parte
aérea de plântulas (Figura 3A). Em relação à raiz primária das plântulas (Figura 3B) verificou-se
redução linear do seu comprimento com o aumento do volume de água do substrato, nas
temperaturas constantes de 25, 30 e 35 °C e alternada de 20-30 °C. Para a temperatura de 20 °C
observou-se redução do comprimento de raiz primária a partir do volume de água equivalente a 1,9
vezes o peso do substrato seco (ponto máximo da curva calculado pela derivada).
Comprimento de raiz primária (cm)
Comprimento de parte aérea (cm)

y(20 ºC) = -1,378 + 3,652x - 0,68x2 R² = 0,91 y(20 ºC) = 2,1385 + 1,611x - 0,43x2 R² = 0,95
y(25 ºC) = -3,4945 + 6,283x - 1,03x2 R² = 0,94 y(25 ºC) = 8,037 - 0,578x R² = 0,85
y(30 ºC) = 11,492 - 2,588x R² = 0,90 y(30 ºC) = 14,646 - 3,514x R² = 0,95

y(35 ºC) = -3,096x + 10,559 R² = 0,94 y(35 ºC) = 10,045 - 2,98x R² = 0,95

y(20-30 ºC) = 23,11 - 11,02x + 1,56x2 R² = 0,99 y(20-30 ºC) = 12,312 - 2,838x R² = 0,93

Volumes de água (mL) Volumes de água (mL)

Figura 3. Comprimento da parte aérea (A) e de raiz primária (B) de plântulas de Caesalpinia ferrea oriundas
de sementes submetidas a diferentes volumes de água e temperaturas.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 508


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Em um estudo com sementes de Bixa orellana L., Souza et al. (2015) também constataram
maior comprimento de raiz primária no tratamento com volume de água equivalente a 3,0 vezes a
massa do papel seco, na temperatura de 30 °C. Para o comprimento de raízes de plântulas de P.
platycephala, Gonçalves et al. (2015) não constataram diferença estatística entre os volumes de
água testados na temperatura alternada de 20-30 °C, porém nas temperaturas constantes de 20, 25 e
30 °C o comprimento de raiz primária foi favorecido nos tratamentos com volumes de água igual a
3,0 e 3,5 vezes a massa do substrato seco.
Os dados referentes à massa seca de raízes de plântulas de C. ferrea, oriundas de sementes
submetidas as temperaturas de 20, 25, 35 e 20-30 °C, não se ajustaram aos modelos de regressão
testados, observando-se médias de 0,0; 0,01; 0,0 e 0,01, respectivamente. Para a temperatura de 30
°C verifica-se redução linear drástica no conteúdo de massa seca de raízes à medida que o volume
de água do substrato aumentou (Figura 4A). Em relação à massa seca de parte aérea de plântulas de
C. ferrea (Figura 4B) foi constatado que os dados referentes às temperaturas constantes de 20 e 25
°C e alternada de 20-30 °C não se ajustaram aos modelos de regressão testados, obtendo-se médias
de 0,01 g nas referidas temperaturas. Nas temperaturas de 30 e 35 °C verificou-se comportamento
linear no conteúdo de massa seca de parte aérea das plântulas, sendo que na temperatura de 35 °C
ocorreu redução drástica à medida que o volume de água do substrato aumentou.
Massa seca de parte aérea (g)
Massa seca de raízes (g)

y(20 ºC) = 0,01


y(25 ºC) = 0,01

y(20 ºC) = 0,0


y(25 ºC) = 0,01 y(30 ºC) = 0,029 - 0,006x R² = 0,6
y(30 ºC) = 0,027 - 0,008x R² = 0,8
y(35 ºC) = 0,027 - 0,008x R² = 0,8
y(35 ºC) = 0,0
y(20-30 ºC) = 0,01 y(20-30 ºC) = 0,01

Volumes de água (mL) Volumes de água (mL)

Figura 4. Massa seca das raízes (A) e da parte aérea (B) de plântulas de C. ferrea oriundas de sementes
submetidas a diferentes volumes de água e temperaturas.

Para a espécie jatobá-mirim (Guibourtia hymenaefolia (Moric.) J. Léonard), Oliveira e


Pereira (2014) verificaram que as temperaturas constantes de 30 e 35 °C proporcionaram um maior
conteúdo de massa seca de raízes das plântulas. Os volumes de água utilizados não influenciaram o
conteúdo de massa de raízes de P. platycephala, verificando-se apenas a interferência das
temperaturas, entretanto o maior conteúdo de massa seca de parte aérea foi obtido na temperatura de

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 509


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

30 °C quando o substrato foi umedecido com volume de água equivalente a 2,0 vezes a massa do
papel seco (GONÇALVES et al., (2015). Em um estudo com sementes de Bixa orellana L., Souza
et al. (2015) constataram maior comprimento de raiz primária no tratamento com volume de água
equivalente a 3,0 vezes a massa do papel seco, na temperatura de 30 °C.
Com base em afirmações de Dan et al. (1987), a massa seca de plântulas de C. ferrea foi
maior na temperatura de 30 °C porque a semente expressou melhor o seu potencial fisiológico nessa
condição, influenciado diretamente pela maior capacidade de transformação do suprimento de
reserva dos tecidos de armazenamento e incorporação destes pelo eixo embrionário originando
plântulas com maior taxa de crescimento.

CONCLUSÃO

A temperatura de 30 °C e o volume de água de 3,2 vezes a massa do substrato seco é a


combinação mais adequada para ser utilizada na avaliação da germinação e vigor de sementes de
Caesalpinia ferrea.

LITERATURA CITADA

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ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 510


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

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ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 511


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

ROTEIRO DO DIMENSIONAMENTO DE UM SISTEMA DE


AQUECIMENTO SOLAR DE ÁGUA – PARTE 2

Rafaela Ramos BARBOSA


Graduanda do Curso de Engenharia de Energias Renováveis da UFPB
rafaela.barbosa@cear.ufpb.br
Monica CARVALHO
Orientadora, Professora do Departamento de Engenharia de Energias Renováveis da UFPB
monica@cear.ufpb.br

RESUMO
Essa parte do trabalha trata-se da descrição do procedimento necessário para o cálculo das perdas
térmicas do sistema de aquecimento solar, nota-se que as principais perdas ocorrem no banco de
coletores solar e no armazenamento, o que permite desprezar as perdas térmicas presentes no
sistema de circulaçãoda água. Uma vez realizado os cálculos e considerada as perdas térmicas o
sistema de aquecimento pode ser redimensionado, garantindo que a demanda de água quente seja
atendida. Este trabalho contribui para a base de conhecimento em educação ambiental ao mostrar o
passo a passo para incorporação de energia renovável em indústrias.
Palavras Chaves: Perdas Térmicas, Perfil do consumo, Aquecimento Solar.
ABSTRACT
This part of the work deals with the description of the procedure necessary for the calculation of the
thermal losses of the solar heating system, it is noticed that the main losses occur in the solar
collector bank and in the storage, which allows to ignore the thermal losses present in the Water
circulation system. Once the calculations are made and the thermal losses are considered, the
heating system can be resized, ensuring that the demand for hot water is met. This study
contributes to the knowledge base in environmental education, showing a detailed guide for the
incorporation of renewable energy in industries.
Keywords: Thermal Losses, Consumption Profile, Solar Heating.

INTRODUÇÃO

Esta segunda parte do trabalho dá continuidade ao dimensionamento de um sistema de


aquecimento solar de água para uma indústria, descrevendo o procedimento necessário para o
cálculo das perdas térmicas. A contribuição deste estudo é ressaltar a importância da implementação
do estudo dos recursos naturais renováveis por meio da educação ambiental, que está intimamente
ligada a alteração de padrões de comportamentos, tendo em vista a conexão entre uso da energia e
danos ao meio ambiente. Constitui um desafio para a comunidade acadêmica e para toda a
sociedade entender a importância da educação ambiental voltada para a incorporação de fontes
renováveis de energia.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 512


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

METODOLOGIA

Perdas Térmicas do Sistema de Aquecimento Solar de Água

Uma vez proposto o dimensionamento de um SAS em condições ideais, é possível e


necessário, para se obter um projeto final eficiente, realizar o cálculo das perdas que ocorrem no
sistema e assim o seu dimensionamento final as considerando.
Pode-se dividir as perdas presentes em SAS em duas partes principais, de acordo com o
local da instalação onde ocorrem : perdas nos coletores solares e perdas no armazenamento. A perda
presente nos coletores é considerada no cálculo da energia útil coletada.

ENERGIA ÚTIL COLETADA

O coletor solar plano absorve a radiação solar incidente, no entanto, parte daquela energia é
perdida para o ambiente. A energia útil coletada é a fração da energia que é absorvida pelo coletor e
convertida em energia térmica, ou seja, é a diferença entre a energia solar incidente no coletor e a
perdida para o ambiente. Para a quantificação da energia útil coletada é necessário a realização de
um complexo cálculo interativo. Na Figura 1 encontra-se o fluxograma do método proposto.

Figura 1 – Fluxograma para o cálculo da energia útil coletada (Adaptado de KLUPPEL, 2016).

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 513


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

A estimativa inicial da temperatura da placa absorvedora, Tabs(j=1), será feita a partir da


suposição que a temperatura da placa inicialmente será igual a temperatura média do ambiente mais
10 K (DUFFIE & BECKMAN, 2014).
Para calcular o coeficiente global de perda de calor do coletor solar, Utot; o fator de
rendimento das aletas, F; o fator de rendimento de captação F‘ e o fator de remoção de calor, FR
serão utilizadas as equações indicadas por DUFFIE & BECKMAN (2014). Algumas hipóteses
devem ser consideradas: Operação em regime uniforme;Temperatura da cobertura de vidro e da
placa absorvedora uniformes em todas as suas extensões e espessura; Fluxos de calor
unidimensionais;As perdas radiantes se dão para as altas camadas da atmosfera (considerada um
corpo negro). O cálculo da energia incidente na área coletora é feito pela Equação 1:

O coeficiente global de perdas térmicas no coletor é obtido pelo somatório da contribuição


das partes do coletor:

As perdas de energia que ocorrem pelo topo do coletor podem ser determinadas pelas
seguintes equações:

( )
( ⁄ )

( ) ( )

Onde N é o número de coberturas de vidro no coletor; εp e εcé a emissividade da placa


absorvedora e do vidro, respectivamente; Tabs é a temperatura da placa absorvedora; Vv é a
velocidade média do vento; hca é o coeficiente convectivo entre a cobertura de vidro do coletor e o
ar e β é a inclinação dos coletores. As perdas de energia pela base do coletor e pelos lados são
determinadas pelas Equações (8) e (9):

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 514


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Onde ki e li são, respectivamente, a condutividade térmica e a espessura usado do isolante


térmico; Alados e Acol é a área lateral e a área total do coletor. O fator de rendimento das aletas, para
aletas retas, F, é determinado pelas Equações (10) e (11):

( )

Onde t e k são a espessura e a condutividade térmica da placa absorvedora, respectivamente


e W é a distância entre os tubos e De é o diâmetro externo dos tubos. O fator de rendimento de
captação, F‘, é determinado com as Equações (12) e (13):


( )

Onde: Uf é o coeficiente global de troca térmica entra a chapa e o fluído; hi é o coeficiente


de convecção interno aos tubos; b e kb é a largura da junção placa-tubo e a sua condutividade
térmica, respectivamente; é a espessura da solda na junção placa-tubo.
O coeficiente de convecção interno nos tubos é determinado através do cálculo do número
de Nusselt, que por sua vez é calculado em função no número de Reynolds, dados por:

( )

Onde Re é o número de Reynolds, mcé a vazão mássica em um coletor, Nt o número de


tubos no coletor, Di o diâmetro interno dos tubos e μit é a viscosidade cinemática da água no interior
dos tubos.
Uma vez conhecido o número de Reynolds e caracterizado o escoamento como laminar (Re
< 2300) ou turbulento (Re > 4000), pode se escolher uma correlação adequada para o cálculo do
número de Nusselt. Neste trabalho será considerado o escoamento turbulento para Re ≥ 2300.
Considerando fluxo térmico na superfície dos tubos constantes, neste trabalho as correlações
adotadas para o cálculo do número de Nusselt, para escoamento laminar ou turbulento,
respectivamente, foram as Equações (15) e (16):

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Onde fa é o fator de atrito do escoamento no interior dos tubos e Pr é o número de Prandtl da


água na temperatura média da água nos coletores. A Equação 16 foi formulado por Gnielinski e é
válida para o cálculo do número de Nusselt em escoamento caracterizados como transitórios ou
turbulentos (Re >2300). O fator de atrito do escoamento da água no interior dos tubos é calculado
com a seguinte correlação, para Re < 3000:

Para Re ≥ 3000:

Com o número de Nusselt calculado, o coeficiente de convecção do escoamento da água


interno aos tubos do coletor é definido isolando hit na Equação (19):

O fator de remoção de calor, FR, é calculado por:

[ ]

O cálculo da energia absorvida por hora na área coletora é:

Depois de calculados os valores dos coeficientes considerando a temperatura da placa


absorvedora inicialmente estimada, deve-se, através de um processo interativo, corrigir Tabs
(Equação 22) até que a diferença relativa entre o novo valor de Tabs e o valor anterior esteja dentro
da tolerância estabelecida (1x10-4).

( )

Com o Tabs corrigido, a partir das Equações 2 a 20, recalcula-se os coeficientes Utot, F, F‘ e
FR e pode-se obter o ganho e as perdas de energia térmica nos coletores.
A parcela de energia total útil e a energia perdida é calculada pelas Equações (23) e (24):

∑ ∑ [ ( )]

( )

Onde, Tmfé a temperatura média do fluido nos coletores:

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

( )( )

Para solução da Equação 25 em j=1, Tf1 será considerada igual a Tamb. Para j >1, Tf1 será a
média da temperatura ambiente e a temperatura média do fluido no instante anterior, Tmf(j-1).

PERDAS NO ARMAZENAMENTO

O tanque de armazenamento também é responsável pela conservação da água aquecida nos


coletores até que seja direcionada ao processo. Como a água contida nos tanques estará em uma
temperatura maior que a temperatura ambiente, mesmo com isolamento térmico, haverá perdas de
energia térmica do tanque para o ambiente, ou seja, haverá uma variação da energia interna
armazenada nos tanques. A Equação 26 representa a capacidade de armazenamento de energia
interna na estocagem de líquidos desconsiderando os efeitos de estratificação térmica nos tanques.

Onde: marmaz é a massa do líquido armazenado; Cp é o calor especifico do líquido


armazenado e ∆Tarmaz é a variação da temperatura média do líquido no armazenamento em um
determinado intervalo de tempo. Por meio de um balanço de energia obtém-se a Equação 27:

Onde Qu é a energia térmica vindo dos coletores; Eutil é a demanda de energia necessária ao
processo; UTA e ATA são o coeficiente global de perdas térmicas para o ambiente e a área externo do
tanque, respectivamente.
Através da integração da Equação 28 em relação ao tempo, considerando um intervalo de
tempo de 1 hora, isolando a Temperatura final de armazenamento temos:

Para solução da Equação anterior em j=1, Tamaz(j-1) será considerada igual a Tamb + 20; Para j
>1, Tamaz(j-1) será a temperatura de armazenamento calculada para hora (j) anterior.

Fração Solar do SAS

Depois de conhecidas as perdas presentes na área coletora e no armazenamento pode se


determinar a fração solar através da Equação a seguir:

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

A fração solar ( f) representa quanto da energia usado no processo é proveniente do SAS. O


valor de Qarmaz apresenta valores negativos em situações em que a energia solar não é suficiente
para atender toda a demanda, positivo quando excede e nulo quando é igual.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A seguir encontram-se os resultados obtidos seguindo a metodologia apresentada usando


uma rotina numérica desenvolvida no software MATLAB.

Energia Útil Coletada

A Tabela 1 mostra os valores médios obtidos no cálculo da energia útil coletada pela área
coletora considerando os dados médios horários anuais (expostos na parte 1)

j S I Tabs Utot [W/m²K] Tfm Qu [MJ] Qp [MJ] Qtot Qpt


[W/m²] [MJ] [°C] [°C] [MJ] [MJ]
6 62,00 21,1147 23,99 4,8347 23,54 17,99 3,13 17,99 3,13
7 214,00 72,8798 30,27 4,5158 28,41 72,82 0,06 90,81 3,19
8 400,50 136,3943 39,18 5,3848 35,72 135,82 0,58 226,62 3,76
9 531,00 180,8374 47,49 5,8991 42,93 179,36 1,47 405,99 5,24
10 672,00 228,8563 56,09 6,2315 50,32 226,48 2,38 632,47 7,62
11 748,50 254,9092 62,69 6,5205 56,29 251,53 3,38 884,00 10,99
12 744,00 253,3766 65,98 6,7215 59,64 249,22 4,16 1133,21 15,15
13 662,00 225,4507 65,47 6,8170 59,85 220,95 4,50 1354,16 19,66
14 559,50 190,5433 61,76 6,8037 57,02 185,99 4,55 1540,15 24,21
15 386,00 131,4562 54,26 6,6961 51,02 127,30 4,15 1667,46 28,36
16 231,00 78,6694 45,82 6,4672 43,90 75,41 3,25 1742,87 31,61
17 64,50 21,9661 36,46 6,1807 35,96 19,68 2,28 1762,56 33,90

Tabela 1 – Valores médios anuais obtidos no cálculo da energia útil coletada Qtot (MJ).

Uma das observações importantes nos resultados obtidos é o comportamento do coeficiente


global de perdas térmicos da área coletora para o ambiente, Utot, em relação a temperatura da placa
absorvedora, Tabs. A medida que a temperatura da placa absorvedora aumenta, as perdas térmicas
dos coletores para o ambiente aumentam também. Esse comportamento é justificado pelo aumento
da diferença de temperatura coletor-ambiente.
Os valores de Energia Incidente I, de Energia Coletada Qu, e de energia perdida Qp
verificados na Tabela 1 estão ilustrados na Figura 2. Observa-se que a energia perdida, ou seja, a
fração da energia solar que é perdida para o ambiente em forma de calor apresenta um
comportamento proporcional a energia solar incidente na área coletora e a energia solar que é
efetivamente absorvida pelos coletores.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Coleta Acondici
Seletiva onament

Figura 2– Parcelas de Energia Coletada e Perdida em Relação a Energia Incidente na Área Coletora (MJ)

Uma outra particularidade importante observada na Figura 2 é o comportamento da Energia


Coletada em relação ao horário. Assim como a Incidência da radiação solar a Energia Coletada
cresce do início da manhã até atingir o seu valor máximo próximo ao meio dia legal (no meio dia
solar) e cai proporcionalmente até o fim do dia.
Observa-se também o comportamento da temperatura média do fluido no coletor, Tmf. Nota-
se que apesar de também apresentar um comportamento proporcional à incidência de radiação solar
e apresentar uma variação consideração hora a hora no dia, o ganho térmico é maior a cada hora
passada. As 17h, com uma incidência solar de 64,5 W/m², atinge-se uma temperatura média do
fluido de 40,7°C.
Na Tabela 2 verifica-se os valores mensais de energia total incidente, Itot, energia total
coletada, Qtot, e de energia total perdida, Qpt. Estes valores foram obtidos a partir do somatório dos
dados horários calculados para cada mês do ano.

Itot [MJ] Qtot [MJ] Qpt [MJ]


Jan 1934,38 1895,23 39,15
Fev 1980,02 1941,01 39,01
Mar 1812,80 1778,38 34,43
Abr 1546,48 1518,40 28,09
Mai 1463,73 1437,79 25,93
Jun 1204,90 1184,35 20,56
Jul 1286,98 1264,85 22,13
Ago 1609,49 1580,33 29,15
Set 1814,16 1780,09 34,07
Out 2177,54 2134,63 42,91
Nov 2349,52 2301,15 48,37
Dez 2299,12 2252,04 47,08
Anual 1796,45 1762,56 33,90

Tabela 2 – Valores Médios Mensais das Parcelas de Energia Incidente, Coletada e Perdida

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 519


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

A Figura 3 mostra a variação mensal das parcelas de energia incidente, coletada e perdida na
área coletora.
Física Química

Figura 3 – Comportamento Mensal das Parcelas de Energia Incidente, Coletada e Perdida do SAS.

Perdas no Armazenamento

Antes do cálculo das perdas no armazenamento é necessário a escolha do tanque a ser


utilizado, portanto com o volume de armazenamento já definido na primeira parte deste trabalho (16
m³). Foram selecionados 8 tanques de 2000l da Solar Tech, cuja especificações encontram-se na
tabela a seguir. .

Boiler 2000 l – SolarTech


Comprimento 2,65 m
Largura 1,07 m
Altura 1,12 m
Isolante Térmico Poliestireno Expandido
Espessura do isolante 0,05 m
Tabela 3 – Especificações Técnicas do Tanque de Armazenamento
FONTE: (SOLARTECH, 2016).

O coeficiente de global de perdas térmicas do tanque para o ambiente a partir dos dados da
Tabela 16 considerando que os tanques serão instalados em um ambiente fechado sem incidência de
vento. Através do método das resistências térmicas foi determinado um valor de aproximadamente
1,1 W/m² K.
A Tabela 4 mostra os valores médios obtidos no cálculo das perdas no armazenamento
considerando os dados médios horários anuais e os tanques conectados em paralelo.
A parcela da energia armazenada representa o somatório das parcelas de entrada e saída no
tanque de armazenamento durante a hora j. Como a demanda de água quente é constante (60,1920
MJ/h) e a energia solar não, nota-se que nos horários sem incidência solar o Qarmaz é negativo e
varia de acordo com as perdas térmicas para o ambiente.

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j Qu [MJ] Tarmaz [°C] Qpa Qarmaz j Qu [MJ] Tarmaz Qpa Qarmaz


[MJ] [MJ] [°C] [MJ] [MJ]
1 0 40,90 6,50 -66,70 13 220,95 49,47 5,81 154,95
2 0 39,91 6,18 -66,37 14 185,99 51,25 6,72 119,08
3 0 38,92 5,86 -66,05 15 127,30 52,14 7,63 59,48
4 0 37,94 5,54 -65,73 16 75,41 52,25 8,24 6,98
5 0 36,97 4,92 -65,12 17 19,68 51,51 8,60 -49,11
6 17,99 36,27 4,28 -46,48 18 0 50,48 8,98 -69,17
7 72,82 36,39 4,38 8,25 19 0 49,45 8,67 -68,87
8 135,82 37,46 4,10 71,53 20 0 48,42 8,67 -68,86
9 179,36 39,18 4,12 115,05 21 0 47,39 8,62 -68,81
10 226,48 41,61 4,03 162,26 22 0 46,37 8,29 -68,48
11 251,53 44,40 4,49 186,85 23 0 45,35 7,96 -68,15
12 249,22 47,15 5,07 183,95 24 0 44,33 7,62 -67,82

Tabela 4 - Valores Médios horários Anuais das Perdas no Armazenamento.

A Figura 4 mostra a relação entre as parcelas de energia útil coletada, a parcela armazenada
e a demanda de energia do processo, com base nos dados médios horários anuais. O eixo horizontal
diz respeito à hora do dia e o vertical à parcela de energia em MJ.

Energia Útil Coletada Energia Armazenada Demanda de Energia

Figura 4 – Relação do Comportamento Horário da Energia Útil Coletada, da Energia Armazenada e da


Demanda de Energia.

Verifica-se que nas primeiras e nas últimas horas do dia (horas sem sol) não há contribuição
do SAS, porém há perdas, pois, a água quente no tanque de armazenamento perde energia térmica
para o ambiente. Estes são fatores importantes que devem ser considerados para o dimensionamento
de um sistema de aquecimento auxiliar na linha de alimentação do processo.
Os valores negativos de energia armazenada na Figura 4 representam as perdas térmicas
nesses horários e são os responsáveis pelo decaimento da temperatura de armazenamento. Os
valores superiores à demanda de energia ocorrem devido ao volume de armazenamento utilizado
(duas vezes o valor calculado) e contribuem para aumentar a contribuição do SAS ao processo.
Na Tabela 5 encontra-se os valores médios diários mensais das parcelas da Energia Útil
Coletada, Energia Perdida no Armazenamento e Energia Armazenada. Assim como nos dados
anuais, a parcela de Energia Armazenada trata-se do resultado de um balanço de energia no
armazenamento, ou seja, é a diferença entre a entrada e a saída de energia. Valores positivos de

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Qarmaz representa energia excedente a demanda (1444,61 MJ/dia) e valores negativos o déficit de
energia, ou carga necessária a ser produzida pelo aquecimento auxiliar.

Mês Qu [MJ] Qpa Qarmaz


[MJ] [MJ]
Jan 1895,23 156,64 293,98
Fev 1941,01 154,80 206,76
Mar 1778,38 150,86 182,92
Mai 1518,40 144,81 -71,00
Abri 1437,79 144,81 -144,83
Jun 1184,35 126,63 -386,90
Jul 1264,85 184,58 -313,40
Ago 1580,33 151,56 -15,84
Set 1780,09 147,49 187,99
Out 2134,63 184,58 505,44
Nov 2301,15 191,87 664,67
Dez 2252,04 187,91 619,52

Tabela 5 – Valores Médios Diários Mensais das Perdas no Armazenamento.

A Figura 5 mostra o comportamento das parcelas de energia presentes na Tabela 5.


Verifica-se que apenas em 5 meses do ano (de maio a agosto) a energia líquida diária do SAS não é
suficiente para atender a demanda. Esses são também meses em que a incidência de radiação solar é
menor, o que acarreta uma menor parcela de energia útil coletada e consequentemente de energia
armazenada, no entanto, nos demais meses há excedentes de energia. Esse comportamento se
mostra de acordo com a sazonalidade prevista de sistemas de energia Solar.
A parcela de Energia Ganha no Armazenamento é o somatório da energia útil coletada com
o valor negativo da energia perdida no armazenamento, ou seja, representa a parcela da energia
Solar que é efetivamente convertida em energia térmica. Esse valor também pode ser obtido pelo
somatório da demanda de energia e a energia armazenada.

Biológica

Figura 5 –Comportamento diário Mensal da Energia Útil Coletada, da Energia Ganha no


Armazenamento e da perda de energia em relação a demanda.

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A parcela de Energia perdida no armazenamento apresenta um comportamento pouco


variável ao longo do ano, isso ocorre devido a proporcionalidade entre a temperatura de
armazenamento e a energia armazenada e a variação da temperatura ambiente.

Fração Solar do SAS

A Tabela 6 mostra os valores da fração solar mensal do SAS considerando o dobro do


volume de armazenamento, as perdas presentes na área coletora e no armazenamento do SAS
proposto.
Mês f Energia perdida
Jan 120% 10%
Fev 124% 17%
Mar 113% 10%
Mai 95% 11%
Abri 90% 11%
Jun 73% 12%
Jul 75% 12%
Ago 99% 11%
Set 113% 10%
Out 135% 10%
Nov 146% 10%
Dez 143% 10%

Tabela 6 – Valores Percentuais da Fração Solar final e das Perdas Totais do SAS.

Na maior parte dos meses a fração solar é maior que 100%, ou seja, é mais do que suficiente
para suprir a demanda de água quente analisada.
Nota-se que o comportamento da fração solar continua exatamente o mesmo e que, portanto,
o aumento de seu valor mesmo com a consideração das perdas presentes no SAS, deve-se ao
aumento do volume de armazenamento, porém é importante destacar que mesmo com a utilização
do dobro do volume de armazenamento não se obtém o dobro da contribuição solar do sistema.

CONCLUSÕES

A relevância da Educação Ambiental na construção de uma sociedade mais sustentável é


cada vez mais debatida e, por isso, vem demandando a gestão de programas e ações orientadas
dentro e fora da comunidade universitária. Atualmente é necessário dar importância a energia
renovável, e por essa razão, o incentivo em pesquisas por fontes alternativas e renováveis são
indispensáveis para fomentar a diversificação da matriz energética brasileira.
Uma vez estabelecida as condições do sistema e a disposição dos seus principais
componentes, foi realizado o cálculo das principais perdas presentes no SAS. Notou-se que a maior
parte da energia solar é perdida ainda na área coletora. Isso ocorre devido principalmente ao fato

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dos coletores permanecerem expostos ao ambiente recebendo incidência de ventos, além da


contribuição das propriedades radiantes dos seus materiais construtivos.
As perdas no armazenamento apresentam valores menos expressivos, pois se dão
principalmente por radiação térmica, uma vez que, diferente dos coletores, os tanques podem ser
instalados em áreas fechadas de forma a diminuir as perdas convectivas. Partindo do pressuposto de
que um Sistema de Aquecimento Solar de Água é viável tecnicamente quando apresenta uma fração
solar mínima de 50%, o SAS dimensionado mostrou-se apto do ponto de vista técnico e
operacional.

REFERÊNCIAS

DUFFIE, J. A.; BECKMAN, W. A. Solar engineering of thermal processes. New York etc.: Wiley,
2014.

KLUPPEL, R. P. Curso de Conversão Térmica da Energia Solar. João Pessoa: CEAR/UFPB, 2016.

SOLARTECH. Informações Técnicas do Boiler 2000l. João Pessoa: 2016.

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ENERGIA EÓLICA, GOVERNANÇA E CONSERVAÇÃO AMBIENTAL


NA RESERVA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ESTADUAL
PONTA DO TUBARÃO (RN)

Narjara da Silva DIAS21


Mestranda em Ciências Naturais - UFRN
narjarasdias@gmail.com
José Elenildo de LIMA JÚNIOR
elenildolimajunior@hotmail.com
Márcia Regina Farias da SILVA
marciaregina@uern.br

RESUMO
As energias renováveis vem sendo consideradas uma forma de geração de energia sustentável em
todo Planeta. Considerando a importância das energias limpas e da luta de uma nova consciência na
cultura ambiental no que diz respeito o compromisso político, econômico, social, este artigo tem
por objetivo debater de forma conceitual o processo de governança na Reserva de Desenvolvimento
Sustentável Estadual Ponta do Tubarão (RDSEPT), a partir do recente impasse da implantação do
parque eólico na Unidade de Conservação – UC, localizada nos municípios de Macau e Guamaré
(RN). Como procedimento metodológico foi realizada uma pesquisa bibliográfica e documental,
bem como foram realizadas observações in loco, a partir de visita a campo. Verificou-se que a
instalação do parque eólico na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão
não ocorreu em concordância com o Conselho Gestor, e veio, sobretudo, para atender uma demanda
político-empresarial pensada para região. Os impactos da instalação são mencionados de forma
negativas pelos moradores locais e as discussões não ocorreram obedecendo um processo mais
amplo de discussão no amplo conceito de governança. O Presente artigo apresenta também os
impasses gradativos da comunidade em seu processo de defesa do ambiente onde vivem e retiram o
seu sustento.
Palavras-chave: Energias renováveis; recursos naturais, zona costeira, gestão ambiental.
ABSTRACT
Renewable energies are being considered as a way of generating sustainable energy throughout the
Planet. Considering the importance of clean energies and the struggle for a new awareness in
environmental culture regarding the political, economic, social, this article aims to discuss in a
conceptual way the governance process in the State Sustainable Development Reserve Ponta do
Tubarão (RDSEPT), from the recent impasse of the implantation of the wind farm in the
Conservation Unit – UC, Located in the municipalities of Macau e Guamaré (RN). As a
methodological procedure, a bibliographical and documentary research was carried out, as well as
observations were made in loco, from field visit. It was verified that the installation of the wind
farm in the State Sustainable Development Reserve Ponta do Tubarão did not occur in agreement
with the Management Council, and came mainly to meet a political-business demand designed for
the region. The impacts of the facility are poorly mentioned by local residents and discussions did
not occur following a broader discussion process in the broad concept of governance. The present

21
, Mestranda em Ciências Naturais Universidade Estadual do Rio Grande do Norte, Faculdade de Ciências Exatas e
Naturais, Programa de Pós-Graduação em Ciências Naturais.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 525


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article also presents the gradual impasses of the community in their process of defending the
environment where they live and take their livelihood.
Key words: Renewable energy; Natural resources; coastal zone; environmental management

INTRODUÇÃO

O aproveitamento da energia eólica para geração elétrica tem crescido exponencialmente no


mundo nos últimos anos. A maior parte dos parques eólicos está instalada em terra (onshore). A
despeito do expressivo crescimento da capacidade instalada, a fonte eólica é responsável somente
por uma pequena parte da energia elétrica produzida no mundo, cerca de 3% do total gerado em
2014. Contudo, esses números podem variar de acordo com o país em questão (TOLMASQUIM,
2016).
O referido autor ressalta que o potencial brasileiro onde existe uma possibilidade de
exploração economicamente viável está situado em regiões de costa pouco estudada e com grande
relevância ambiental ou turística, sendo este um importante limitador ao desenvolvimento da fonte.
Assim, o que temos como energia renovável natural, veio do aproveitamento do vento como um
recurso que nasceu da descoberta da conversão da energia nele contida em algo útil, através do uso
de um instrumento transformador como os moinhos de vento, que possibilitaram a moagem de
grãos ou elevação de água, ou as velas de um barco que permitiram a navegação.
Os aerogeradores, ou seja, o uso dos ventos para fins elétricos data de finais do século XIX
na Dinamarca e nos EUA. A eletricidade com fins comerciais, como conhecemos hoje também
datam do mesmo período. Um século depois, quando a eletricidade já era fortemente provida por
combustíveis fósseis, acontece a crise do petróleo de 1973, levando o governo dos EUA a apoiar a
pesquisa e o desenvolvimento da energia eólica.
Nos períodos entre 1981 e 1990, nos EUA há um rápido crescimento de instalações, devido
também há um avanço no desenvolvimento tecnológico. Assim também, nesse período, a Europa
investiu em energia eólica, motivada pelo aumento do custo de energia elétrica, pela busca da
redução da dependência energética e por políticas de incentivo ao uso de recursos endógenos.
Logo, na década de 1990, o mercado se concentrou na Europa, tanto em termos de
instalações, quanto em fabricantes, e isto veio por meio dos incentivos provenientes da dependência
energética, e de novos problemas como as preocupações ambientais, que já se manifestavam em
vários setores da sociedade dando foco nas emissões de gases de efeito estufa. No final dos anos
1990 e inícios dos anos 2000 o mercado se diversificou mais pelo mundo, e novos investimentos
são desenvolvidos na Ásia (principalmente Índia e China) e de forma embrionária na América
Latina e África.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 526


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A partir do meio da década de 2000 a energia eólica se desenvolve de forma exponencial por
‗todo o mundo‘, e torna-se uma energia renovável de relevante contribuição para a redução de
emissões de gases de efeito estufa, consolidando-se de 2010 aos dias atuais como fonte energética
competitiva.
Cabe ressaltar que o grande crescimento dos aproveitamentos eólicos no mundo foi fruto de
políticas de promoção e inserção de energias renováveis, como as adotadas na União Europeia
(European Parliament e Council of the European Union, 2001, 2009) e a implementação de vários
mecanismos de apoio, como o corte de impostos para renováveis, mercado de crédito de carbono,
taxas de carbono, sistemas de preços (i.e. tarifas feed-in), sistemas de quotas (i.e. leilões de
renováveis) (TOLMASQUIM, 2016).
Diante da necessidade do desenvolvimento de energias renováveis no cenário mundial, e da
luta de uma nova consciência na cultura ambiental no que diz respeito o compromisso político,
econômico, social, este artigo tem por objetivo debater de forma conceitual o processo de
governança na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão (RDSEPT), a
partir do recente impasse da implantação do parque eólico na Unidade de Conservação – UC,
localizada nos municípios de Macau e Guamaré (RN).

MATERIAL E MÉTODOS

Neste artigo tem como objeto de estudo a discussão acerca da implantação do parque eólico
na UC RDSEPT e a trajetória da gestão participativa e o processo de governança. Cabe ressaltar que
a escolha desta temática ocorreu a partir dos conteúdos tratados em uma disciplina do Mestrado de
Ciências Naturais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, no primeiro semestre de
2017.
Como procedimento metodológico para realização uma pesquisa bibliográfica e documental
em artigos, dissertações, teses e livros sob os temas: governança ambiental; energia eólica; recursos
naturais, entre outros que nortearam este trabalho. Foram vistos documentos e dados secundários
em órgão governamentais como: Mistério do Meio Ambiente (MMA); Ministério das Minas e
Energias (MME); entre outros. Ademais, foram coletados dados primários por meio de visitas de
campo a RDSEPT e da participação em palestra com um representante do Conselho Gestor da
RDSEPT.
A ida ao campo proporcionou estreitar a relação entre os conteúdos teóricos e a práxis,
sendo possível realizar ainda observações in loco do uso e manejo dos recursos naturais na UC,
compreender o processo de governança a partir da experiência local, bem como observar ações da
gestão participativa, visando proporcionar uma maneira mais justa e coletiva de todos usufruírem
dos recursos, bem como do dever de todos em cuidar coletivamente.

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Neste artigo buscou-se concentrar a discussão em três eixos (i) energia eólica no Brasil; (ii)
Governança ambiental e (iii) O caso de Ponta do Tubarão.

ENERGIA EÓLICA NO BRASIL

A despeito do Brasil é possível mencionar que o primeiro aerogerador a entrar em operação


no Brasil foi fruto de uma parceria entre o Grupo de Energia Eólica da Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE) e a Companhia Energética de Pernambuco (CELPE), financiada pelo instituto
de pesquisas dinamarquês Folkecenter, em 1992 (ANEEL, 2005). Este aerogerador possuía apenas
75 kW e foi instalado no arquipélago de Fernando de Noronha - PE (TOLMASQUIM, 2016).
Em 2001 ocorreu o que chamamos de crise energética, nisso, tentou-se incentivar a
contratação de geração de energia eólica no país, através do Programa emergencial de Energia
Eólica, contudo não obteve resultados. Instituído pela Lei nº 10.438/2002 o Programa de Incentivo
às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (PROINFA), entra em vigor com o objetivo da
diversificação da matriz energética brasileira; promover a segurança no abastecimento; a
valorização das características e potencialidades regionais e locais, além da criação de empregos,
capacitação e formação de mão-de-obra e redução de emissão de gases de efeito estufa.
No Brasil, os sítios que consta melhor aproveitamento do recurso eólico estão sendo
explorados, com ênfase para a região Nordeste. A Zona Litorânea Norte-Nordeste compreende uma
faixa costeira com cerca de 100 km de largura, que se estende entre o Cabo de São Roque, no Rio
Grande do Norte, e o extremo norte da costa do Amapá. Nessa região, os ventos recebem maior
influência dos alísios de leste e brisas terrestres e marinhas. Essa combinação das brisas com os
alísios resulta em ventos médios anuais relativamente altos na parte norte da região (litoral do
Amapá e do Pará) e ventos ainda mais altos na parte sul, incluindo os litorais do Maranhão, Piauí,
Ceará e Rio Grande do Norte.

O vento é provocado pelo aquecimento desigual das superfícies da terra pelo sol, portanto,
a energia eólica é uma forma de energia solar. O aquecimento diferenciado das regiões, e
em específico da atmosfera, provoca gradientes de pressão que são responsáveis por
movimentos da massa de ar. Além das diferenças de pressão, o vento é influenciado por
mecanismos complexos que envolvem a rotação da Terra (efeito Coriolis)
(TOLMASQUIM, 2016).

Em geral, as regiões onde se pode encontrar maior disponibilidade e qualidade do recurso


eólico são as regiões costeiras e montanhosas. Apesar de o potencial eólico instalavel brasileiro
esteja em crescimento acelerado, na busca de mais perspectiva para a geração eólio-elétrica, ainda
se enfrentam problemas técnicos, no que abrange a penetração da fonte no sistema elétrico, e
problemas socioeconômicos, ambientais e de infraestrutura. Há também o que pode ser um
obstáculo ao total aproveitamento do recurso eólico, nas restrições como acessos aos locais,

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comunicação, suporte técnico qualificado, restrições de áreas de proteção, entre outros, porém isso
não traduz uma oportunidade de impulso à economia nacional.
No Rio Grande do Norte, um dos locais escolhidos para instalação de uma dos parques
eólicos foi a RDS Ponta do Tubarão. Cabe ressaltar que esse projeto não teve a anuência do
Conselho Gestor da Reserva e em grande parte se constituiu uma discussão polêmica entre os
grupos de interesse e os comunitários.

GOVERNANÇA AMBIENTAL: OS CAMINHOS INSTITUCIONAIS

O Código de Águas e o Código Florestal foram instituídos a partir da década de 1934, a


partir disso pode-se dizer que foi o início da política ambiental brasileira, gradualmente o país foi
avançando nas instituições legais da temática ambiental como também na institucionalização das
políticas públicas ambientais, evoluído, principalmente a partir da pressão de organismos
internacionais e multilaterais (Banco Mundial, Organização das Nações Unidas – ONU, e
movimentos ambientalistas de ONGs). E em termos legais a Constituição Federal Brasileira então
reconhece que preservar o meio ambiente é papel de todos e não depende da atuação do estado para
ser equacionado.
Nas décadas de 1930 a 1960, o que havia eram políticas setoriais que tangencialmente
consideram a questão ambiental. A principal preocupação nesse período era a administração ou o
controle racional dos recursos, visando um melhor aproveitamento econômico. No final desse
período, surgem as primeiras legislações voltadas para a administração dos recursos naturais:

- o Código de Águas (Decreto nº 24.643/1934), afeto à gestão do Ministério das Minas e


Energia (MME), devido ao interesse no aproveitamento hídrico para hidrelétricas;
- o Código Florestal (Decreto nº 23.793/1934), cujo o foco era a proteção de solos para o uso
agrícola e a Lei de Proteção a Fauna (Lei nº 5.197/1967).

A criação do Parque Nacional de Itatiaia, em 1937, se deu a partir da política de estabelecer


áreas ambientalmente protegidas, criando após, diversos parques nacionais, administrados e
fiscalizados pelo Serviço Florestal Federal, órgão vinculado ao Ministério da Agricultura. Em 1972,
o Brasil participou da Conferência de Estocolmo (Conferência das Nações Unidas para o Meio
Ambiente Humano), o país argumentava-se que o crescimento econômico e populacional dos países
em desenvolvimento não deveria ser sacrificado e que os países desenvolvidos deveriam pagar
pelos esforços para evitar a poluição ambiental.
Em 1973 a Secretaria Especial de Meio Ambiente (SEMA) é criada, e foca-se em resolver
problemas relacionados à poluição industrial e urbana. Dando continuidade as mudanças políticas
ambientais, seguindo o modelo federal:

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alguns estados começam a criar órgãos estaduais de meio ambiente (OEMAs) neste
período: a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) em São Apulo
(1973) e a Fundação estadual de Engenharia do Meio Ambiente (Feema) no Rio de Janeiro
(1975). Na esfera do planejamento, o II Plano Nacional de desenvolvimento (II PND)
incorporou algumas diretrizes ambientais. (MOURA, 2016 p. 15)

O marco principal na década de 1980 foi a Lei nº 6.938/81, que trata da Política Nacional do
Meio Ambiente, onde se criou o Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), que estabeleceu
princípios, diretrizes, instrumentos e atribuições para os entes da Federação que atuavam na política
ambiental nacional. Foi inovador na época por ter seu caráter descentralizador. Nesse período os
mecanismos de participação social na área ambiental ganham força, e muitos movimentos
ambientalistas se manifestam. Outro marco foi à criação do Conselho Nacional do Meio Ambiente
(Conama), que se articula nas aprovações das resoluções relativas ao licenciamento ambiental, até a
atualidade, para um melhor cumprimento dos objetivos da qualidade ambiental. Aplicam-se termos
para que se apresentem relatórios de impactos ambientais (RIMA), estudo de impacto ambiental
(EIA), e no que se diz respeito à governança: audiências públicas prévias ao licenciamento
ambiental.
A partir da CF/88, ocorre:

Uma descentralização da política ambiental e uma consequente estruturação de instituições


estaduais e municipais de meio ambiente, com a criação de órgãos e/ou secretarias, bem
como de conselhos estaduais e municipais de meio ambiente, resultado da definição da
temática ambiental como competência executiva comum entre União, estados e municípios.
MOURA, 2016, p. 17)

Outro marco institucional importante no período foi:

A reestruturação dos órgãos federais encarregados da questão ambiental, por meio do


programa Nossa Natureza, em 1989, com a unificação dos órgãos que tratavam a questão
ambiental setorialmente – Superintendência do Desenvolvimento da Pesca (Sudepe),
Superintendência da Borracha (Sudhevea), IBDF (desenvolvimento florestal) e a Sema –
em torno de um único órgão federal: o IBAMA – Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais (Lei nº 7.735, de 22 de fevereiro de 1989). (MOURA, 2016, p. 17)

Na década de 1990, o grande marco foi a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente e Desenvolvimento – CNUMAD, realizado no Rio de Janeiro em 1992. Na Rio-92, assim
chamada, foram assinados importantes acordos ambientais que refletem sua influência até os dias
atuais.
Em 2000 foi criado o Sistema Nacional de Unidade de Conservação da Natureza – SNUC
(Lei n° 9.985/2000), que contribuiu para organizar e uniformizar as categorias de UCs e os
instrumentos de proteção. Em 2012, novamente no Brasil, acontece a Rio+20, Conferência das
Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, tendo como objetivo renovar e reafirmar a
participação dos líderes dos países, em relação ao desenvolvimento sustentável do planeta terra. Os
países desenvolvidos e em desenvolvimento geraram impasses que acabaram frustrando as

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expectativas para o desenvolvimento sustentável do planeta. Adiando para os próximos anos as


medidas práticas para garantir a proteção do meio ambiente.
Na perspectiva da governança ambiental é possível afirmar que a criação das Unidades de
Conservação, nas suas mais diferentes categorias, como é o caso das Reservas de Desenvolvimento
Sustentável Estadual Ponta do Tubarão vem agregar um conjunto de iniciativas que compõem o
quadro de políticas públicas ambientais, no âmbito estruturadoras. Tais iniciativas foram observadas
com muita expressão a partir dos anos 2000 e contribuiu significativamente para preservação e
conservação de áreas interesse ambiental em diferentes biomas brasileiros.
Para além da manutenção dos recursos naturais, da biodiversidade, a criação das unidades de
conservação vem contribuído também para preservação do modo de vida de grupos culturais,
considerados tradicionais, que vivem em diferente regiões e que desenvolveu um modo peculiar de
convivência com a natureza, a exemplo dos pescadores artesanais de Ponta do Tubarão. Desse
modo, a introdução de novas economias e os seus possíveis impactos socioambientais, torna-se um
desafio para os comunitários, como ocorreu com a instalação do parque eólico na Reserva de
Desenvolvimento Sustentável Ponta do Tubarão, que transcorreu a revelia da comunidade, uma vez
que este foi, sobretudo, um projeto de interesse político-empresarial, autorizado pelo órgão
ambiental estadual.

ENTRELAÇANDO PRÁTICA E CONHECIMENTO – ESTUDO DE CASO RESERVA PONTA


DO TUBARÃO

A realidade da história da luta social desenvolvida pelos moradores das comunidades de


Barreiras, Diogo Lopes e Sertãozinho (Macau/RN) começou para impedir a posse da Restinga
Ponta do Tubarão por empresários hoteleiros em 1995, e a devastação do manguezal da Ilha dos
Cavalos por carcinicultores em 2000, culminando posteriormente na criação da Reserva de
Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão, situada nos municípios de Macau e
Guamaré, litoral norte do Rio Grande do Norte, respectivamente a cerca de 180 e 215 quilômetros
da capital - Natal, criada em 18 de julho de 2003, pelo Decreto Lei estadual N.º 8.349, para a
preservação do seu território e dos modos de vida tradicionais.
Em 1995 quando um grupo de estrangeiros (possivelmente Italianos) diziam ser os donos da
área, vinham com o objetivo de construir grandes empreendimentos, tais como: hoteis, pousadas,
entre outros, então começaram a queimar os ranchos pertencentes à comunidade. ―Na sua
constituição moderna, o colonial representa, não o legal ou ilegal, mas antes o sem lei.‖ (SANTOS,
2007, p. 5)
Diante dessa situação a comunidade de Diogo Lopes fez sua primeira movimentação para
impedir o grupo de estrangeiros que tentaram se apropriar da área, pensaram pela primeira vez em

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criar uma Reserva. ―O que silenciam e que, desta forma, se cria uma vasta região do mundo em
estado de natureza, um estado de natureza a que são condenados milhões de seres humanos
quaisquer possibilidades de escaparem por via da criação de uma sociedade.‖ (SANTOS, 2007, p.
6)
Então procuraram a promotoria pública, a prefeitura, a imprensa, tentando ampliar os
apoios, então conseguiram fazer sessões na Câmara Municipal com o gerente do patrimônio da
união para tratar especificamente dessa área, onde a união enviou um oficio para a comunidade
perguntando se a mesma teria interesse na área, onde a resposta deveria ser dada com no máximo 30
dias, caso a resposta não fosse dada o órgão entendia que a comunidade não teria interesse, então
cederia a área para os estrangeiros.
Através de um Mandato da Deputada Estadual Fátima Bezerra (na época), a comunidade
conseguiu barrar os estrangeiros que já estavam pleiteando junto a Gerência de Patrimônio da União
- GRPU. Como obtiveram êxito, os moradores da comunidade ficaram mais calmos e adormeceram
a ideia de criação da reserva. Então veio a invasão da carcinicultura que surgiu com pouco tempo
depois. Logo, os investidores vieram para o Brasil, principalmente para o Nordeste e o Rio Grande
do Norte, foi o estado que teve maior incidência dos criadores de camarão. Os criadores queimaram
o mangue, começando pela Ilha dos Cavalos, onde queimaram quase 6 ha, para fazer os viveiros.
―A apropriação envolve incorporação, cooptação e assimilação, enquanto a violência implica
destruição física, material, cultural e humana. Na prática, e profunda a interligação entre
apropriação e a violência.‖ (SANTOS, 2007, p. 7).
O fato ocorrido na reserva nesse período citado, demonstra uma metáfora ao regresso
colonial e a resposta abissal referenciada por Boaventura, numa intromissão ameaçadora as
sociedades, que segue

―Com base nestas concepções abissais de epistemologia e legalidade, a universalidade da


tensão entre regulação e a emancipação, aplicada deste lado da linha, não entra em
contradição em a tensão entre apropriação e violência aplicada do outro lado da linha.‖
―Enquanto a lógica da regulação/emancipação e impensável sem a distinção matricial entre
o direito das pessoas e o direito das coisas, a lógica da apropriação/violência reconhece
apenas o direito das coisas, sejam elas humanas ou não (SANTOS, 2007, p.7)

Partindo daí, a comunidade se reuniu e se conscientizou de que precisava criar a Reserva,


porém como a maior fonte de renda da população da comunidade que vem de Diogo Lopes é a
pesca (no mar e no estuário), pensaram na Reserva de Desenvolvimento Sustentável, para que a
comunidade pudesse se beneficiar da pesca para atender suas necessidades, porém que fosse de
forma controlada para não esgotar os recursos.
A criação da reserva foi muito importante, pois caso contrário, os estrangeiros ou os
criadores de camarão teriam se instalado, expulsado os pescadores e seus familiares em troca de
dinheiro, e com o apoio dos órgãos ambientais a comunidade conseguiu implantar na Lei Estadual

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n˚ 8.349 de julho de 2003, a proibição de novos empreendimentos de carcinicultura e a expansão


dos antigos que na época eram 02, mas que atualmente estão desativados,vale ressaltar que a
Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão foi à primeira do Estado do
Rio Grande do Norte e a segunda instituída no Brasil, com uma extensão aproximada em 12 mil ha,
de beleza para todos os lados, realmente um paraíso.
A RDS Ponta do Tubarão é formada por um Conselho Gestor, que é composto por 19
instituições, (07 governamentais e 12 não governamentais) entre elas estão 10 entidades da Reserva
(entidades que sejam da reserva ou que tenham atividades na reserva, mesmo sendo de outro
município), e as outras são entidades governamentais, como IBAMA, GRPU, IDEMA, Prefeituras
de Macau e Guamaré, Câmaras municipais e o setor produtivo, que são as instituições que tenham
alguma atividade econômica desenvolvida na reserva e uma entidade de Ensino e Pesquisa,
atualmente é a UERN.

A governança compreende a multiplicidade dos atores sociais, cujas categorias são infinitas
e abarcam, além dos governos e instituições formais que compõem o Estado, organizações
e grupos de indivíduos, tais como: setor privado, organizações não governamentais
(ONGs), instituições de financiamento e consumidores. Os referenciais para a boa
governança são complementares entre si e incluem, entre outros: accountability
(responsabilização, transparência e prestação de contas, legalidade, equidade e inclusão,
processo decisório participativo e a tríade (eficiência, efetividade e eficácia). Estes
princípios aplicam-se ao processo de governança das capacidades estatais e das políticas
públicas como um todo. Ou seja, o avanço em cada um deles tende a se refletir de forma
simultânea em todas as políticas públicas e na responsividade por parte dos governos, isto
é, na capacidade de dar resposta aos problemas e prover os bens públicos necessários para a
sociedade. Contudo, o avanço pode ser assimétrico em cada política e apresentar
especificidades, como no caso das políticas públicas ambientais (MOURA, 2016)

A responsabilidade administrativa do conselho gestor é o IDEMA, onde os representantes do


conselho são escolhidos através de um processo democrático onde a população escolhe os
candidatos. Atualmente o conselho está passando por muitas dificuldades, desde a gestão do
próprio órgão (IDEMA) pela ausência, pela falta de respostas aos problemas da comunidade, onde
os próprios pescadores buscam as respostas através dos encontros ecológicos; os encontros que
servem para tratar de temas para esclarecer as dúvidas da comunidade. A ausência não é somente do
IDEMA, mas também das prefeituras e órgãos municipais que pouco tem se empenhado na
participação do conselho, é importante ressaltar que foi feito um levantamento pela própria
população, onde foi constatado que no ano de 2009 o conselho não obteve nenhuma presença da
câmara municipal de Guamaré nem de Macau.
É importante salientar que dentro do Conselho Gestor foram criados grupos temáticos, que
são: Grupo Gestor da Pesca, Turismo de Base Comunitária (Turismo Solidário) e o de Uso e
Ocupação do Solo que foi o que mais se destacou, devido à maioria das pessoas não ter o título de
propriedade das casas.

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O plano de manejo está em processo de construção, não está completamente finalizado,


porém a Lei das Reservas prevê que pode-se baixar portarias regulamentando determinadas
situações, enquanto o Plano de Manejo ainda não é implementado. A comunidade nunca fez
nenhum tipo de levantamento de quanto custaria manter a reserva, porém a comunidade tem
interesse que o Conselho tenha um fundo para disponibilizar melhores condições de
desenvolvimento socioeconômico dentro da reserva, inclusive é importar comentar que a sede foi
criada através de recursos da Petrobras e não diretamente do governo, a única coisa que o governo
faz em relação a custos é promover os encontros ecológicos, mas nada tão significante. Quanto aos
biomas, estão sendo bem preservados.
Atualmente outra questão a envolver as comunidades da região em torno da reserva, são as
instalações das torres eólicas. Hoje o Rio Grande do Norte se constitui como maior produtor eólico
visto pelos empreendedores com um dos locais de melhor realização de investimento dessa fonte
renovável.

o Rio Grande do Norte era importador de energia, hoje passou a ser um provedor nacional
de energia, despachando os megawatts gerados nos parques eólicos no Sistema Interligado
Nacional (SIN). Quanto a escolha de Galinhos, Guamaré e Macau, como recortes empíricos
desse trabalho, se deve ao fato de que tais municípios foram os primeiros do estado a
apresentar resistência popular à instalação de parques eólicos, com repercussões na mídia
local e internacional (ARAÚJO, 2015)

Os municípios de Galinhos, Guamaré e Macau, localizados no litoral setentrional do estado,


estão localizados em área de abundância desse recurso natural. Pois apresentam potencialidades de
geração de eletricidade capaz de gerar lucros. Porém tais municípios apresentaram resistência
popular à estas instalações. As reivindicações vem desde o trabalho do ‗bugueiro‘ (sua transição nas
dunas, por meio do turismo local); o barulho das torres, afetando o ciclo natural da fauna, entre
outros. Em nenhum momento para a instalação de parques eólicos na comunidade foi realizado uma
consulta as comunidades ou ao conselho gestor da RDSEPT. O Conselho Gestor da Unidade de
Conservação, sempre se demonstrou disponível para dialogar, porém sem a consulta e o apoio do
conselho e da comunidade foram instalado 03 parques eólicos na reserva. 01 em uma área de
restinga onde pescadores ficaram proibidos de pescar durante 05 meses. Outra na área das
comunidades pertencentes a Guamaré, Mangue Seco I e Mangue Seco II, onde a terra foi arrendada.
E outro nos limites Sul da reserva. Em todos os empreendimentos a comunidade ficou impedida de
trafegar ou realizar atividades. As pessoas que arrendaram a terra, atualmente reclamam com
insatisfação. De fato é que não houve uma consulta prévia, o órgão estadual que licencia
empreendimento, não se preocupou com o benefício para as comunidades.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Ao analisar o caso da Reserva Ponta de Tubarão, sob a ótica da governança ambiental e da


gestão participativa é possível observar um processo de inter-relação de processos, conhecimentos e
práticas na perspectiva sociedade-ambiente que transborda e transcende o campo das discussões
disciplinares e articulações diferentes área do conhecimento para explicar as relações existentes
naquele ambiente.
É relevante mencionar que a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Ponta do Tubarão é
uma UC que permite o desenvolvimento de pesquisa científica, da pesca, do turismo de variadas
atividades econômicas. Porém, a importância dessas atividades reside, sobretudo, no diferencial que
trata-se da mobilização da própria população, que se organizou ao sentir a necessidade em
conservar o meio ambiente, aprendendo a desenvolver estratégias mais adequadas de convivências
para utilização dos recursos naturais, com vista a um modelo de desenvolvimento menos predatório,
ou seja, sustentável.
O processo de gestão participativa na UC tem contribuído para a prática da governança,
buscando a partir de discussões, prestação de contas e maior participação das diferentes instâncias
na tomada de decisão na área da RDS Ponta do Tubarão, visando a adoção de um sistema
sustentável e mais consciente do uso dos recursos naturais, tendo em vista que a principal
característica é o manejo da fauna e flora local. No momento, o plano de manejo é a prioridade,
visto que dezenas de reuniões já foram realizadas depois da criação da Reserva, discutindo os
principais problemas, conflitos, necessidades e expectativas da população.
Portanto, fica claro que a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Ponta do Tubarão tem
por prioridade a conservação da natureza e, ao mesmo tempo assegurar as condições e a melhoria
do modo e da qualidade de vida das populações tradicionais, valorizando, conservando e
aperfeiçoando o conhecimento e as técnicas do ambiente por essas populações e o desenvolvimento
sustentável. Conclui-se que, a luta social desenvolvida pelos atores coletivos da RDS Ponta do
Tubarão, caracteriza-se como uma ação transformadora contra-hegemônica ao capital globalizado e
predatório, em favor da manutenção do meio ambiente e dos modos de vida tradicionais.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, Marcos Antônio Alves. O uso do território do Rio Grande do Norte pelo setor eólico-
elétrico e suas implicações nos municípios de Galinhos, Guamaré e Macau. XI – ENCONTRO
NACIONAL DA AMPEGE: A diversidade da Geografia Brasileira: Escalas e Dimensões da
Análise e da Ação. Outubro, 2015

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 535


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

ARAÚJO, Ricardo. Moradores reagem à usinas eólicas. Jornal A Tribuna do Norte, Natal/RN, 08
jan. 2012. Disponível em: <http://tribunadonorte.com.br/noticia/moradores-reagem-a-usinas-
eolicas/208373>. Acesso em: 15/06/2017.

BRASIL. Documento de contribuição brasileira à Conferência Rio+20. Brasília: MMA, Nov.


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NOBRE, I. 2003. Barreiras, Diogo Lopes e Sertãozinho. In: ENCONTRO ECOLÓGICO DE


DIOGO LOPES: Barreiras, 3., 2003, Diogo Lopes /RN, 2003. v.1, n.1. (Série, 01).

PHILIPPI Jr., Arlindo. Interdisciplinaridade em Ciências Ambientais. PHILIPPI JR., A.;TUCCI,


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SOUZA, Gustavo Brandão Haydt. Eólica. In: TOLMASQUIM, M. T. (Coord.) Energia Renovável:
hidráulica, biomassa, eólica, solar, oceânica. EPE, Rio de Janeiro, 2016.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 536


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AVALIAÇÃO QUÍMICA DA BIOMASSA DO MARISCO-PEDRA (ANOMALOCARDIA


FLEXUOSA LINNAEUS, 1767) NO ESTUÁRIO DO RIO PARAÍBA DO NORTE NA
COMUNIDADE DE BAYUEX - PARAÍBA

Rita Santana dos REIS


Mestranda em Morfotecnologia - UFPE
rita.santanareis@hotmail.com
Elizabete Regina Silva Lucena dos SANTOS
Mestranda em Morfotecnologia - UFPE
elizabetelucena@live.com
Yhasminie Karine da SILVA
Mestranda em Morfotecnologia - UFPE
yhasminiekarine73@gmail.com
Gilberto Gonçalves RODRIGUES
Professor Doutor docente do curso de Morfotecnologia – UFPE

RESUMO
Os manguezais possuem papel de grande importância ecológica e econômica, fornecendo às
populações ribeirinhas e litorâneas sustento, por meio da coleta de animais como peixes, moluscos e
crustáceos. O presente trabalho teve por objetivo realizar levantamento etnobiológico da dinâmica
da atividade local e investigar a ação de compostos químicos em Anomalocardia flexuosa coletados
por marisqueiras em duas croas na comunidade de Bayuex, situada no estado da Paraíba (PB) –
Brasil. Foi realizada a entrevista semiestruturada com as marisqueiras, e a detecção dos carboidratos
e metabólitos secundários através dos testes de Molisch, saponinas, taninos e fenóis totais da
espécie comercializada. Como resultado da entrevista as marisqueiras relataram as dificuldades e
desafios e as mudanças ecológicas que resultaram na diminuição da quantidade do animal na
natureza devido à interferência antrópica. Nos mariscos foram encontrados carboidratos e
metabólitos secundários como a saponina, comprovando o valor nutricional significativo do marisco
comercializado.
Palavras-chaves: Manguezais; Mariscos; Análise química.
ABSTRACT
Mangroves have a role of great ecological and economic importance, providing the populations of
riverside and coastal sustenance, through the collection of animals such as fish, molluscs and
crustaceans. The objective of this study was to conduct an ethnobiological survey of the dynamics
of local activity and to investigate the action of chemical compounds in Anomalocardia flexuosa
collected by shellfish in two communities in Bayuex, state of Paraíba, Brazil. The semi-structured
interview with the shellfish and the detection of carbohydrates and secondary metabolites were
carried out through the Molisch, saponins, tannins and total phenols tests of the commercialized
species. As a result of the interview the shellfish farmers reported the difficulties and challenges and
the ecological changes that resulted in the reduction of the amount of the animal in nature due to
anthropic interference. In the shellfish, secondary carbohydrates and metabolites such as saponin
were found, proving the significant nutritional value of the commercialized seafood.
Keywords: Mangroves; Seafood; Chemical analysis.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

INTRODUÇÃO

Bayeux (pronuncia-se: baiê) é um município brasileiro do estado da Paraíba, localizado


na Região Metropolitana de João Pessoa. Sua população em 2016 foi estimada pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 96 583 habitantes, distribuídos em 32 km² de área,
dos quais 60% cobertos por manguezais e rios. A região possui uma comunidade pesqueira muito
importante, a qual habita na área de manguezal que possui um bom estado de conservação, onde a
coleta de moluscos bivalves (mariscagem) se destaca entre as principais atividades.
Os manguezais possuem papel de grande importância ecológica na ciclagem de nutrientes e
matéria orgânica dos ecossistemas adjacentes. Além disso, possuem importância econômica,
fornecendo às populações ribeirinhas e litorâneas sustento, por meio da coleta de animais como
peixes, moluscos e crustáceos (SCHAEFFER-NOVELLI, 1995; SOUTO, 2004; MARTINS &
SOUTO, 2006).
Entre os indivíduos que utilizam esses recursos, estão as mulheres de pescadores,
conhecidas localmente como marisqueiras, por coletarem mariscos para a complementação da renda
familiar e também para consumo próprio. Schaeffer-Novelli (1989) destaca que a ostra (Crassostrea
rhizophorae Guiding, 1828), o sururu (Mytella guyanensis Lamarck, 1819) e o marisco-pedra
(Anomalocardia flexuosa Linnaeus, 1767), estão entre as maiores capturas em áreas estuarinas e de
manguezais do Brasil.
Santiago e Accioly (2011, p. 2-3) ressaltam que os saberes tradicionais na atividade de
mariscagem surgem do contato com os recursos naturais e são passados de geração para geração,
permitindo aos habitantes destes grupamentos utilizarem esses recursos como forma de
sobrevivência.
O manejo dos recursos biológicos é uma tarefa complexa, sendo que o entendimento da
relação etnobiológica nas comunidades tradicionais, com os seus paradigmas comportamentais
seculares, poderá servir de base para um modelo de uso menos impactante desses recursos
(Anderson, 1976; Burns, 1976 e El-Deir,1998). Assim, este trabalho visa realizar a investigação de
compostos químicos em Anomalocardia flexuosa coletados por marisqueiras em duas croas na
comunidade de Bayuex, situada no estado da Paraíba (PB) – Brasil.

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MATERIAIS E MÉTODOS

ENTREVISTA COM AS MARISQUEIRAS

As entrevistas foram realizadas nos locais de catação dos mariscos, desenvolvidas de forma
aberta e semi-estruturada, possibilitando a partir de questionamentos básicos, apoiados em teorias e
hipóteses que interessavam à pesquisa, o surgimento de um campo amplo de interrogativas,
enquanto havia a interação entre o nosso grupo e as entrevistadas.

COLETA DOS ANIMAIS E PROCESSAMENTO DAS AMOSTRAS

A coleta dos mariscos foi realizada no estuário do rio Paraíba no estado da Paraíba – PB, por
um grupo de mulheres, as marisqueiras da comunidade. Os pontos específicos do manguezal onde
ocorreu a coleta são denominados de Croas. As croas utilizadas como locais de coletas nesta
pesquisa, foram as croas (figura 1) de portinho (ponto 1) e da cidade (ponto 2). Com o auxílio de
redes de pesca e instrumentos denominados de bicheiros, foi feita a catação dos mariscos.
Posteriormente, lavou-se o material coletado, para que houvesse a remoção da areia. Além disso,
também foi feita a catação manual, para coletar os animais da areia superficial ou cavou-se buracos
na areia, para coletar os animais enterrados. Em seguida foi realizada a separação dos animais
coletados nas duas croas entre grandes, médios e pequenos.
Os 120 mariscos coletados foram divididos em dois grandes grupos, segundo a sua
respectiva croa (portinho e cidade). Em seguida foi realizada a higienização e retirada da carne

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presente nas conchas frescas. Todo o material foi pesado e os dados foram registrados. As carnes
obtidas foram reservadas em placas de petri e refrigeradas a para sua conservação.

OBTENÇÃO DO EXTRATO

Para o presente trabalho foram realizados dois tipos de extratos, a partir da carne liofilizada
do marisco A. flexuosa. Primeiramente foi obtido o extrato aquoso, logo em seguida foi realizado o
extrato bruto.

Para obtenção do extrato aquoso, as carnes dos mariscos passaram por liofilização, em
sequência foi realizada a trituração com adição de 150 ml de água destilada logo após a filtração e a
reserva dos extratos a -2º para conservação.

Para realização do extrato etanólico, a carne triturada foi mantida em estufa a 45º com
circulação de ar forcada durante 24 horas. Logo após, o material foi colocado em Erlenmeyer com
álcool etílico 95% durante 48 horas. O material foi filtrado novamente, rota-evaporado e dessecado
para adquirir um peso constante.

TESTE DE MOLISCH

Para a detecção de carboidratos foi realizado o teste de Molisch (Solução etanólica de α-


naftol 5g/100 ml). Foram pipetados 2 ml de cada solução dos extratos obtidos em tubos de ensaio
individuais. Em seguida, foram adicionadas 3 gotas de reagente de Molisch em cada solução, sob
leve agitação. Posteriormente, foram lentamente adicionados 2 ml de ácido sulfúrico concentrado a
cada solução.

IDENTIFICAÇÃO DE METABÓLITOS SECUNDÁRIOS: TESTE DE SAPONINA

Para 10 mg dos extratos foram adicionados 10 ml de água destilada em tubos de penicilina


para diluição. Em seguida, esta solução foi igualmente dividida em 2 tubos de ensaio e agitada
vigorosamente por cerca de 3 minutos. Foi observada a formação ou não de espuma, como também
a persistência da mesma em repouso por 15 minutos e 30 minutos.

IDENTIFICAÇÃO DE METABÓLITOS SECUNDÁRIOS: TESTE DE FENÓIS TOTAIS E


TANINOS

Foram dissolvidos 10 mg dos extratos em 3 ml de álcool etílico em tubos de penicilina.


Posteriormente, esta solução será dividida igualmente em 2 tubos de ensaio e nos quais foram
adicionadas 2 gotas de cloreto férrico (FeCl3) a 5%, e observou-se a mudança de coloração. A
mudança de coloração para azul ou verde com turvação ou precipitado demonstra a presença de

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taninos e coloração avermelhada sem a presença de turvação ou precipitado indica a presença de


fenóis totais.

RESULTADOS

ENTREVISTA COM AS TRABALHADORAS MARISQUEIRAS

As marisqueiras relataram fatos como poluição, interferências antrópicas na ecologia do


animal que ameaçam a reprodução do marisco e a ausência de políticas públicas para controlar a
exploração do animal, como a determinação de um período de defesa, com o objetivo de manter o
ecossistema em equilíbrio, sem prejudicar as marisqueiras, pescadores e o animal.

PESAGEM DO MARISCO

Como resultados da pesagem do marisco, obtivemos na Tabela 1 os pesos dos mariscos


separados pelas próprias marisqueira em pequenos (P), médios (M) e grandes, sendo quantificados
quanto à carne e casca, apenas a carne e apenas a casca, respectivamente, antes da liofilização das
croas da ilha de portinho e cidade. Na tabela 2, observamos os valores da pesagem da carne após a
liofilização das croas da ilha de portinho e da cidade, que serão utilizadas para os testes de
caracterização química.

Tabela 1: Peso da carne junto da casca antes da liofilização.


Casca e carne Carne Casca

Ilha de Ilha de Ilha de


Local Cidade Cidade Cidade
portinho portinho portinho

P 25,0g 32,0g 1,0g 2,0g 18,0g 22,0g

M 83,0g 125,0g 7,0g 11,0g 60,0g 85,0g

G 114,0g 154,0g 12,0g 154g 134,0g 102,0g

Tabela 2: Valores da pesagem da carne após a liofilização


Carne após a liofilização

Local Ilha de portinho Cidade

Peso 3,7265g 5,0126

TESTE DE MOLISCH

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Como resultado do teste de Molisch, foi constatada a presença de carboidratos através


formação de um anel púrpura na solução de ambos os extratos aquosos da croa de portinho e da
croa da cidade.
Segundo VILELLA (1973), o teste de Molish é considerado uma reação global para
glicídios, podendo estar isolados ou associados, entretanto sem muita especificidade, pois há outras
substâncias no procedimento. O reagente de Molish é composto por uma solução alcoólica de α–
naftol a 5%. Sendo assim, ao adicionar-se a glicídios ácido sulfúrico concentrado (forte ação
desidratante), as ligações glicosídicas presentes em moléculas de polissacarídeos são facilmente
rompidas resultando em monossacarídeos. Quando os monossacarídeos forem desidratados
originam: furfural e hidroximetilfurfural, os quais reconhecem, respectivamente, pentoses e hexoses
(esses são os tipos de carboidratos mais importantes, conforme LEHNINGER 1984 e 1995). Ambas
são substâncias incolores, então adicionou-se o composto fenólico ao meio (α-naftol), resultando
em um composto com cor púrpura.

TESTE DE SAPONINA

Como resultado do teste de saponina, foi observada a formação e persistência das espumas
nos extratos aquosos e brutos submetidos a análise, constatando assim a presença de saponinas nos
extratos de ambas as croas: Portinho e Cidade.
As saponinas são glicosídeos do metabolismo secundário vegetal, caracterizados pela
formação de espuma, tendo propriedades de detergentes e surfactantes. Estes compostos formam
espumas quando agitados com água, sendo elas resistentes a ação de ácidos minerais diluídos.
As saponinas possuem atividades antioxidantes, antinutricionais, além de possuirem grande
interesse farmacêutico, apresentando atividade hemolítica, antiviral, anti-inflamatória, antifúngica,
antibacteriana, antimicrobiana, antiparasitária, citotóxica e antitumoral (SIMÕES, 2004; SPARG et
al., 2004).

TESTE DE TANINOS E FENOIS TOTAIS

No resultado do teste qualitativo de taninos e fenóis totais, foi constatada a ausência desses
metabólitos secundários em ambos os extratos da croa de portinho e da croa da cidade.
Os polifenóis são um grupo de compostos encontrados naturalmente em plantas. Alguns
destes compostos, como é o caso dos taninos, são considerados antioxidantes naturais com
propriedades terapêuticas. Os taninos são também considerados antinutrientes por causarem efeitos
adversos na digestibilidade de proteínas, carboidratos e minerais, diminuição da atividade de
enzimas digestivas e danos à mucosa do sistema digestivo (SILVA, 1999; BENEVIDES et al.,
2011).

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Para Nogueira et al. (2008) os taninos, assim como outros compostos fenólicos são
descritos, como metabólitos secundários originados diretamente do metabolismo do carbono. Além
disso, os fenóis também interferem na oxidação dos lipídeos e de outras moléculas por uma rápida
doação de um átomo de hidrogênio aos radicais livres (SILVA et al., 2012).
A ausência de taninos e fenóis totais nas amostras avaliadas é um resultado favorável, pois
conforme mencionado, embora ambos sejam considerados como antioxidantes, são inibidores de
determinadas enzimas e influenciam negativamente a digestibilidade de proteínas (taninos), bem
como desencadeiam o processo de peroxidação lipídica (fenóis totais).

CONCLUSÃO

A atividade de mariscagem está ligada a referências culturais de um povo, e envolvem


saberes que são adquiridos através das tradições locais, na observação direta, no contato com a
natureza.
Com o levantamento de análise química foi possível detectar que os mariscos
comercializados através da atividade de coleta, pelas marisqueiras, possuem um valor nutricional
significado através da detecção de carboidratos e saponinas nas amostras de ambas as croas
(portinho e cidade).

REFERÊNCIAS

ANDERSON, L. G. A economia de manejo do recurso marinho. Parte II, 45-61p. In: JOHNSTON,
Douglas M. (org). A política marítima e a comunidade litorânea, O impacto do Direito
Marítimo. São Paulo: cultrix, 1976. 265p.

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SEMENTES DE Tapirira guianensis Aubl EM FUNÇÃO DO ESTRESSE HÍDRICO EM


DIFERENTES TEMPERATURAS

Rosemere dos Santos SILVA


Doutoranda do programa de Pós-Graduação em Agronomia, CCA/UFPB
rosyufpbio@hotmail.com
Sueli da Silva SANTOS-MOURA
Doutora em Agronomia, CCA/UFPB
sssantosagro@hotmai.com
Roberta Sales GUEDES
Dra. em Agronomia (Produção e Tecnologia de Sementes) Depto. de Fitotecnia/CCA/UFSC
guedes.r.s@ufsc.br
Antonio Pereira dos ANJOS NETO
Graduando do curso de Agronomia do CCA/UFPB
ap.anjosneto@gmail.com

RESUMO
As condições encontradas pelas sementes no solo no momento da germinação nem sempre são
favoráveis, uma vez que os estresses provocados pelas mudanças ambientais limitam a germinação
e sobrevivência das plântulas. Desta forma, objetivou-se determinar o efeito do estresse hídrico em
diferentes temperaturas na germinação e vigor de sementes de Tapirira guianensis Aubl. Os
potenciais osmóticos induzidos por manitol foram: (0,0; -0,1; -0,3; -0,5; -0,7 MPa) nas temperaturas
de 25, 30 e 35 °C, em delineamento experimental inteiramente ao acaso. Na avaliação do efeito dos
tratamentos realizou-se testes de germinação e vigor (primeira contagem e índice de velocidade de
germinação, comprimento e massa seca de plântulas). A germinação das sementes não foi muito
afetada pelos potenciais osmóticos utilizados quando as sementes foram submetidas às temperaturas
de 25 e 30 °C, com germinação de 88% no potencial de -0,7 MPa, enquanto que na temperatura de
35 °C não houve germinação. O vigor foi afetado à medida que os potenciais osmóticos se tornaram
mais negativos, com reduções significativas a partir do potencial de -0,3 MPa.
Palavras-chave: Potencial fisiológico, espécie florestal, frutífera.
ABSTRACT
The conditions encountered by seeds in the soil at the time of germination are not always favorable,
because the stresses caused by environmental changes limit the germination and seedling survival.
Thus it aimed to determine the effect of water stress and temperature on germination and vigor of
Tapirira guianensis Aubl seeds. The osmotic potentials induced by mannitol were: (0,0; -0,1; -0,3; -
0,5; -0,7 MPa) at temperatures of 25, 30 and 35 °C. The evaluation of the effect of the treatments
was accomplished by germination and vigor tests (first count and germination speed index, length
and dry mass of seedlings). The experimental design was completely randomized, with treatments
distributed in a factorial 5 x 3 (osmotic potential and temperature), with four replications of 25
seeds. Seed germination was not much affected by the osmotic potential used when seeds were
germinated at temperatures of 25 and 30 with the 88% germination potential -0,7 MPa, while the
35 °C temperature no germination. Since the force was affected as the osmotic potential became
more negative suffering significant reductions starting potential of -0,3MPa.
Keywords: Physiological, forest species, fruit.

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INTRODUÇÃO

A espécie Tapirira guianensis Aubl. é uma arbórea da família Anacardiacea, conhecida


popularmente por cupiuva, tapiriri, guapiruba, entre outros que pode ser empregada em
reflorestamentos heterogêneos, principalmente de locais úmidos graças à tolerância a esse ambiente.
Contudo, esta espécie é amplamente encontrada em ambientes secos de encostas, sendo, portanto
adaptável em condições adversas. Além de ser uma frutífera altamente procurada pela fauna, sua
madeira é leve, macia ao corte, rígida, de textura fina a média, muito utilizada na madeireira e na
confecção de brinquedos, compensados, embalagens e caixotaria leve, móveis comuns, saltos para
calçados, cabos de vassoura (LORENZI, 2002).
A água tem importância fundamental na ativação de diferentes processos metabólicos que
culminam com a germinação das sementes, porque para cada espécie há um teor crítico de água
para que ocorra a germinação, além da capacidade específica de retirá-la do ambiente,
determinando, assim, a germinação das sementes e o estabelecimento das plantas em campo
(MARCOS FILHO, 2005). Assim, a diminuição do potencial hídrico do meio pode retardar ou
reduzir a porcentagem de germinação, uma vez que interfere na embebição e no alongamento
celular do embrião (POPINIGIS, 1985).
A capacidade de retenção da água absorvida determinará o sucesso do processo germinativo,
sendo que outros fatores, como a composição química da semente, permeabilidade do tegumento,
temperatura e qualidade fisiológica da semente podem influenciar no processo de embebição,
dificultando todo o evento metabólico resultante (BEWLEY e BLACK, 1994).
Os efeitos da temperatura podem ser avaliados a partir de mudanças ocasionadas na
porcentagem e na velocidade de germinação (FONSECA e PEREZ, 2003), que associada aos
efeitos do estresse hídrico, interfere na dinâmica da absorção de água, nos limites e velocidade das
reações bioquímicas, além dos eventos fisiológicos que determinam todo o processo germinativo
(MARCOS FILHO, 2005; CARVALHO e NAKAGAWA, 2012).
A simulação de estresses na germinação das sementes é realizada utilizando-se soluções
aquosas de manitol ou polietilenoglicol 6000 em diferentes potenciais hídricos, para simular
condições padronizadas de estresse hídrico, pelo fato de tais compostos serem quimicamente inertes
e não tóxicos (SHARMA, 1972; THILL et al., 1978). O uso dessa técnica em espécies florestais tem
sido eficiente na identificação de espécies que toleram ambientes com deficiência de água, ou
daquelas cuja germinação é limitada quando submetidas ao estresse hídrico. Por essa razão são
necessárias informações sobre a utilização de técnicas que determinem o poder germinativo dessas
sementes, em condições adversas, de modo a contribuir com programas de reflorestamento de áreas
degradadas ou de recomposição de matas nativas (JELLER e PEREZ, 2003).

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Estudos realizados com Chorisia speciosa St. Hil. indicaram que o decréscimo dos níveis de
potencial osmótico das soluções de PEG 6000, manitol e de sais (NaCl, KCl e CaCl2) no meio
germinativo provocou redução da viabilidade e vigor de suas sementes (FANTI e PEREZ, 2004). A
porcentagem e velocidade de germinação de sementes de Cnidosculus juercifolius Pax & K.
Hoffam também reduziram em condição de estresse hídrico simulado com PEG 6000 (SILVA et al.,
2005). O estresse hídrico simulado com PEG-6000 proporcionou redução na germinação e no vigor
das sementes de Mimosa caesalpiniifolia Benth., sendo o limite de tolerância para germinação das
sementes desta espécie em -0,5 MPa (MOURA et al., 2011).
Objetivou-se avaliar o comportamento germinativo, bem como o vigor das sementes de
Tapirira guianensis Aubl. quando submetidas a estresse hídrico simulado com soluções de manitol
em diferentes temperaturas.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no Laboratório de Análise de Sementes (LAS), do Centro de


Ciências Agrárias (CCA), da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em Areia-PB, com sementes
de Tapirira guianensis Aubl obtidas de frutos colhidos em árvores localizadas no CCA-UFPB.
Após a colheita, os frutos foram levados para o LAS, onde foram beneficiados manualmente, após
este processo as sementes foram lavadas em água para a remoção de toda mucilagem e submetidas
ao estresse hídrico simulado com soluções de manitol.
As concentrações de manitol utilizadas para obtenção dos níveis de potencial osmótico de -
0,1; -0,3; -0,5; e -0,7 MPa foram calculadas pela fórmula de Van‘t Hoff (HILLEL, 1971), ou seja:
os = - RTC, em que: os = potencial osmótico (atm); C = concentração (mol L-1); T = temperatura
(K); R = constante geral dos gases perfeitos (0,082 atm L-1 mol-1 K-1). Além desses potenciais o
nível zero (0,0) foi utilizado como testemunha (controle), constando apenas de água destilada para
umedecer o substrato. As temperaturas utilizadas nas formulações das concentrações foram às
constantes de 25, 30 e 35 °C, sendo que para avaliar o efeito dos potenciais osmóticos foram
realizados os seguintes testes e determinações.
Teste de germinação: Para cada tratamento utilizou-se 100 sementes, divididas em quatro
repetições com 25, as quais foram distribuídas sobre duas folhas de papel toalha, cobertas com uma
terceira e organizadas em forma de rolo. O papel toalha foi umedecido com as soluções de manitol,
na quantidade equivalente a 2,5 vezes a massa do papel seco, sem adição posterior da solução, além
do tratamento com água destilada, representando a testemunha, na quantidade equivalente a 2,5
vezes a massa do papel seco. Posteriormente os rolos foram acondicionados em sacos plásticos
transparentes, de 0,04 mm de espessura, com a finalidade de evitar a perda de água por evaporação.

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O teste de germinação foi conduzido em germinadores tipo Biological Oxigen Demand


(B.O.D.) regulados para os regimes de temperaturas citadas anteriormente, com fotoperíodo de oito
horas, utilizando lâmpadas fluorescentes tipo luz do dia (4 x 20 W). As avaliações foram efetuadas
diariamente do sexto ao décimo segundo dia após a instalação do teste, quando o experimento foi
encerrado, cujo critério utilizado nas avaliações foi o de plântulas normais, ou seja, aquelas com as
estruturas essenciais desenvolvidas (BRASIL, 2009).
Primeira contagem de germinação: A primeira contagem de germinação foi efetuada em
conjunto com o teste de geminação, computando-se a porcentagem de plântulas normais obtidas no
sexto dia após a semeadura.
Índice de velocidade de germinação: Foi determinado mediante contagens diárias do número
de sementes germinadas, no mesmo horário, do sexto ao décimo segundo dia, cujo índice foi
G1 G2 G
calculado de acordo com a fórmula ( IVG    ...  n ) proposta por Maguire (1962), em
N1 N 2 Nn
que: IVG = índice de velocidade de germinação, G1, G2 e Gn = número de plântulas computadas na
primeira, segunda e última contagem; N1, N2 e Nn = número de dias da semeadura à primeira,
segunda e última contagem.
Comprimento e massa seca de plântulas: Após a contagem final do teste de germinação, as
plântulas normais de cada tratamento e repetição foram medidas da raiz até a parte aérea, com
auxílio de uma régua graduada em centímetros, sendo os resultados expressos em cm plântula-1. As
mesmas plântulas da avaliação anterior foram colocadas em sacos de papel Kraft e levadas à estufa
regulada a 65 °C até atingir peso constante (48 horas) e, decorrido esse período, as amostras foram
pesadas em balança e os resultados expressos em g plântula-1.
Delineamento experimental e análise estatística: O delineamento experimental foi
inteiramente ao acaso, com os tratamentos distribuídos em esquema fatorial 5 x 3 (potencias
osmóticos x temperaturas), em quatro repetições de 25 sementes para cada tratamento. Os dados
obtidos foram submetidos à análise de variância pelo teste F e de regressão polinomial, utilizando
os modelos linear e quadrático.

RESULTADOS E DISCUSÃO

A germinação das sementes de Tapirira guianensis Aubl foi pouco afetada pelos potenciais
osmóticos utilizados, quando submetidas às temperaturas de 25 e 30 °C, com valores de germinação
de 97 e 95%, respectivamente no nível zero e, ainda elevado (88%) no potencial de -0,7 MPa nas
duas temperaturas (Figura 1A). Este comportamento pode ser atribuído à característica das
sementes desta espécie, as quais possuem sementes recalcitrantes, cujo teor de água inicial é em
torno de 36% após a dispersão dos frutos (SANTOS-MOURA et al., 2012) e, mesmo com redução

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da disponibilidade de água no substrato, a germinação das sementes de T. guianensis foi elevada,


pelo fato das sementes possuírem teor de água suficiente para completar o processo germinativo.
A temperatura de 35 °C foi prejudicial para a germinação das sementes, uma vez que a
mesma foi nula independente do potencial osmótico utilizado (Figura 1A). Possivelmente a
temperatura mais elevada afetou o processo de absorção de água pelas sementes, impedindo a
realização das atividades metabólicas, provocando intensificação da respiração e distúrbios no
fornecimento de energia e nutrientes necessários para a retomada e crescimento do eixo
embrionário (REGO et al., 2007).
Com relação ao vigor, determinado pela primeira contagem de germinação das sementes de
T. guianensis foi possível observar reduções acentuadas, causadas pelo decréscimo dos níveis de
potencial osmótico das soluções de manitol. As sementes incubadas na temperatura de 30 °C
tiveram o vigor menos afetado até o potencial de -0,1 MPa, a partir de -0,3 houve redução na
germinação para 65%, diminuindo para 13% no potencial de -0,7 MPa. Na temperatura de 25 °C o
vigor das sementes foi mais prejudicado, mesmo no potencial zero a germinação foi inferior (65%),
reduzindo para 19 e 4% no potencial de -0,3 e -0,7 MPa, respectivamente, enquanto na temperatura
de 35 °C os valores foram nulos como visto anteriormente (Figura 1B).
A avaliação do vigor por meio da primeira contagem é importante porque a mesma é
realizada em conjunto com o teste de germinação e determina a porcentagem de sementes
germinadas ao mesmo tempo na primeira avaliação. No caso das sementes de T. guianensis
verificou-se redução do vigor na primeira avaliação quando as sementes foram submetidas ao
estresse hídrico a partir de -0,3 MPa, principalmente na temperatura de 25 °C.
Os potenciais hídricos mais negativos afetam o processo de embebição de água pelas
sementes, o que influencia no processo metabólico, provocando desintegração protéica e afetando
as membranas celulares, resultando em um menor número de sementes germinadas verificado na
primeira contagem. Potenciais hídricos muito negativos, especialmente no início da embebição,
reduzem drasticamente a absorção de água pelas sementes, podendo, assim, inviabilizar a sequência
de eventos do processo germinativo (BANSAL et al., 1980).
A velocidade de germinação das sementes de T. guianensis também diminuiu à medida que
os níveis de potencial osmótico das soluções de manitol se tornaram mais negativos, de forma que
registraram-se os maiores índices (2,91 e 2,58) nas temperaturas de 30 e 25 °C respectivamente, na
ausência de estresse hídrico, reduzindo para (2,07 e e 0,91) quando o potencial osmótico da solução
baixou para -0,7 MPa. Este resultado pode ser atribuído ao decréscimo na disponibilidade de água
para as sementes, o que acarretou atraso na expansão e divisão das células e, consequentemente
redução na velocidade de germinação. Para as sementes submetidas à temperatura de 35 °C a
semelhança da germinação e da primeira contagem observou-se valores nulos (Figura 1C).

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Figura 1. Germinação (A), primeira contagem (B) e índice de velocidade de germinação de


sementes de Tapirira guianensis Aublet submetidas ao estresse hídrico em diferentes temperaturas.

As germinação das sementes de Adenanthera pavonina L. submetidas ao estresse hídrico


simulado com soluções de PEG 6000 foi reduzida drasticamente a partir do potencial de -0,1MPa,
nas temperaturas de 25 e 30 °C e, não registrou-se germinação na temperatura de 35 °C
(FONSECA e PEREZ, 2003). Por outro lado, Carvalho et al. (2007) verificaram que os valores
máximos de germinação das sementes de Myracrodruon urundeuva Fr. All ocorreram quando
submetidas ao estresse com soluções de PEG 6000 em potenciais de até -0,6 MPa, ocorrendo
redução acentuada da percentagem de germinação em níveis superiores a -0,8 MPa.

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A intensidade da resposta ao estresse hídrico é variável entre as sementes de diferentes


espécies, as quais se comportam de maneira diferenciada à condição de estresse induzida pela
redução no potencial osmótico da solução. Em sementes de Pimpinella anisum L., Foeniculum
vulgare Miller e Anethum graveolens L. Stefanello et al. (2008) observaram redução na
porcentagem de sementes germinadas na primeira contagem de germinação a medida que os
potenciais de (PEG 6000) se tornaram mais negativos.
A redução na velocidade de germinação foi menos acentuada quando as sementes de T.
guianensis Aublet foram incubadas na temperatura de 30 °C, pelo fato de esta temperatura poder ter
proporcionado uma embebição adequada acelerando as reações metabólicas durante o processo de
germinação. Em trabalhos realizados com sementes de diversas espécies como Peltophorum dubium
Spreng (FONSECA e PEREZ, 2003), Ateleia glazioviana Baill (ROSA et al., 2005), Myracrodruon
urundeuva All. (CARVALHO et al., 2007) e Apeiba tibourbou Aubl. (GUEDES et al., 2013)
constatou-se sempre redução na velocidade de germinação à medida que o potencial osmótico se
tornou mais negativo (-0,4 e -0,5 MPa).
O comprimento das plântulas de T. guianensis também reduziu com o decréscimo dos
potenciais osmóticos simulados com as soluções de manitol, cujos maiores comprimentos foram
obtidos na temperatura de 30 °C com valor inicial de 15,37 cm, reduzindo linearmente para 9,8 cm
no potencial de -0,7 MPa. Na temperatura de 25 °C o comprimento das plântulas foi mais reduzido,
com maior valor (11,90 cm) no potencial zero, enquanto no potencial de -0,7 MPa decresceu para
6,8 cm (Figura 2D).
As reduções no comprimento de plântulas se devem a mudanças na turgescência celular em
função da diminuição da síntese de proteínas em condições de déficit hídrico (DELL‘AQUILLA,
1992). Além disso, tem-se observado que a baixa disponibilidade de água traz outras consequências
ao desenvolvimento das plântulas, como por exemplo, redução no crescimento, ocasionada pela
diminuição da expansão celular devido ao decréscimo da turgescência (YASSEEN e ALOMARY,
1994).
Com relação ao conteúdo de massa seca das plântulas de T. guianensis (Figura 2B) constatou-
se os maiores valores no nível zero (0,020 e 0,029 g) nas temperaturas de 25 e 30 °C,
respectivamente. Na temperatura de 30 °C ocorreu uma redução linear da massa seca das plântulas
à medida que decresceu o potencial osmótico da solução, atingindo um valor de 0,018 g no
potencial de -0,7MPa, enquanto na temperatura de 25 °C a massa seca reduziu de forma mais
acentuado, com um valor de 0,012 g no potencial de -0,3MPa, acompanhando a redução ocorrida no
comprimento e comprovando que o estresse hídrico atrelado a uma temperatura que não é ideal
afeta o vigor das plântulas, resultando em um menor desenvolvimento o que pode afetar o
estabelecimento das mesmas no campo.

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Figura 2. Comprimento (D) e massa seca (E) de plântulas oriundas de sementes de


Tapirira guianensis Aublet submetidas a estresse hídrico em diferentes temperaturas.

Para Leucaena leucocephala (Lam.) de Wit a redução do potencial hídrico da solução de


PEG 6000 proporcionou diminuição no comprimento das plântulas (raiz primária e hipocótilo)
[FONSECA e PEREZ, 1999]. As sementes de Myracrodruon urundeuva All submetidas ao
potencial de -0,6 MPa originaram plântulas com menor comprimento (CARVALHO et al., 2007).
As plântulas de Zizyphus joazeiro Mart. tiveram sua altura significativamente reduzida a partir do
potencial osmótico -0,3 MPa (PEG 6000) [LIMA e TORRES, 2009]. Em sementes Foeniculum
vulgare Miller a diminuição do potencial osmótico promoveu reduções significativas na massa seca
das plântulas (STEFANELLO et al., 2006). Para as plântulas de Myracrodruon urundeuva All.
originadas de sementes submetidas a potencial osmótico a partir de -0,6 MPa Carvalho et al. (2007)
verificaram decréscimo na biomassa seca.

CONCLUSÕES

O estresse hídrico não afeta a germinação, mas promove redução no vigor das sementes de
Tapirira guianensis Aublet.;
A temperatura de 35 °C é inadequada para testes de germinação de sementes de T.
guianensis.

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EMERGÊNCIA DE PLÂNTULAS DE Ceiba speciosa (A. ST. HIL.) EM FUNÇÃO DA


POSIÇÃO E PROFUNDIDADE DE SEMEADURA

Samara Dayse da Luz AYRES


Pós-Graduação em Agronomia, Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
samaradayse@hotmail.com
Magnólia Martins ALVES
Pós-Graduação em Agronomia, Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
magecologia@hotmail.com
Riselane de Lucena Alcântara BRUNO
Profa. Dra. Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
lanebruno.bruno@gmail.com
Edna Ursulino ALVES
Profa. Dra. Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
ednaursulino@cca.ufpb.br

RESUMO
A paineira (Ceiba speciosa A. ST. Hil.) é uma espécie arbórea tropical utilizada para a
ornamentação de jardins, praças e avenidas, além disso, é ótima para plantios mistos em áreas
degradadas e preservação permanente, reconstituição de matas e recomposição de ecossistemas
degradados pela indústria. A pesquisa teve como objetivo avaliar o efeito da posição e profundidade
de semeadura na emergência e crescimento inicial de plântulas de C. speciosa. O trabalho foi
realizado em casa de vegetação pertencente ao Laboratório de Análise de Sementes do Centro de
Ciências Agrárias, da Universidade Federal da Paraíba (CCA-UFPB). O delineamento experimental
foi inteiramente ao acaso, com os tratamentos distribuídos em esquema fatorial 4 x 3, sendo quatro
profundidades (1, 2, 3, e 4 cm) e três posições de semeadura (hilo voltado para baixo, para cima e
ao lado) em quatro repetições de 25 sementes para cada tratamento. Para o efeito dos tratamentos
foram realizados os testes de emergência, primeira contagem, índice de velocidade de emergência
(IVE), comprimento e massa seca de raiz e parte aérea de plântulas. A emergência e o crescimento
inicial das plântulas de C. speciosa são afetados pelas posições e profundidades de semeaduras, de
forma que as sementes devem ser semeadas com o seu hilo voltado para cima na profundidade de
1,0 cm.
Palavras-chave: Paineira, semente florestal, produção de mudas.
ABSTRACT
Paineira (Ceiba speciosa (A. ST Hil) is a tropical arboreal species used for the gardens, squares and
avenues ornamentation, and is suitable for mixed plantations in degraded and permanent preserved
areas, for restoration of forests and restoration of ecosystems degraded by the industry. The
objective of this research was to evaluate the effect of the position and depth of sowing on the
emergence and initial growth of C. speciose seedlings. This work was performed in a greenhouse of
the laboratory of seed analysis of the Centro de Ciências Agrárias of the Universidade Federal da
Paraíba (CCA-UFPB). The experimental design was completely randomized, following a 4 x 3
factorial scheme, testing four depths (1, 2, 3, and 4 cm) and three sowing positions (hilum
positioned downward, upward and sideward), with four replicates of 25 seeds in each treatment. It
was evaluated the emergence tests, first count, emergence velocity index (IVG), length and dry
mass of root and shoot of seedlings. The emergence and initial growth of C. speciosa seedlings are

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affected by the positions and depths of sowing, then seeds should be sown with their hilum
positioned topward at a depth of 1.0 cm.
Keywords: Paineira, forest seed, seedlings production.

INTRODUÇÃO

Ceiba speciosa A. ST. Hil., da família Malvaceae é uma espécie conhecida vulgarmente
como paineira, a qual é de rápido crescimento, por isso é recomendada para recuperação de áreas
degradadas e mata ciliar, por possuir características ornamentais, principalmente na fase de
florescimento, de forma que é muito utilizada para o paisagismo (LORENZI, 2009).
A germinação pode ser afetada por diversos fatores ambientais, a exemplo da
disponibilidade de água, oxigênio, temperatura, umidade do substrato, profundidade de semeadura,
entre outros, como também por fatores intrínsecos, como o estádio de maturação, a dormência e a
longevidade (GIANCOTTI et al. 2011). A germinação rápida e uniforme, seguida por imediata
emergência das plântulas são características consideravelmente desejáveis para a produção de
mudas (MARCOS FILHO, 2005). No entanto, a germinação lenta pode contribuir para o aumento
dos custos de produção, sendo necessário um maior número de sementes, além de deixá-las mais
vulneráveis às condições adversas do ambiente (GUEDES et al., 2010).
Outros fatores são importantes no processo germinativo, como por exemplo a semeadura,
que realizada na superfície ou entre o substrato influencia o contato entre o solo e a semente e,
portanto, altera diretamente a entrada de luz, a troca gasosa e a temperatura interna da semente, de
tal forma que influi diretamente na relação da semente com o ambiente (RIBEIRO et al., 2012).
Assim como a profundidade durante a semeadura, também existem as posições da semente
em que estas são postas para germinar no substrato, que de forma geral, proporcionam as condições
ideais para que ocorra a emergência e o desenvolvimento das plântulas (MARTINS; CARVALHO,
1993). A posição da semente na semeadura é um processo que durante a germinação requer a
realização de movimentos rotatórios dos cotilédones sob o solo, dependendo das suas posições,
algumas podem facilitar ou dificultar a emergência das sementes (CARVALHO; NAKAGAWA,
2012).
Dessa forma, o objetivo foi avaliar os efeitos de diferentes posições e profundidades de
semeadura na emergência e crescimento inicial de plântulas de C. speciosa.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi conduzido em casa de vegetação, pertencente ao Laboratório de Análise de


Sementes (LAS) do Centro de Ciências Agrárias (CCA) da Universidade Federal da Paraíba
(UFPB), em Areia, PB. As sementes de C. speciosa foram obtidas de frutos no início da deiscência

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natural, colhidos em árvores matrizes localizadas no mesmo município, os quais foram levados ao
laboratório e, em seguida abertos manualmente para a retirada das sementes. Após beneficiadas
procedeu-se o tratamento com o fungicida Captan®, na concentração de 240 g para 100 kg de
sementes e para a avaliação do efeito dos tratamentos foram utilizados os seguintes testes e
determinações:
Teor de água - foi determinado pelo método padrão da estufa a 105 ± 3 °C durante 24 horas,
conforme prescrições das Regras para Análise de Sementes (BRASIL, 2009).
Teste de emergência - conduzido em casa de vegetação, com a semeadura realizada em
bandejas plásticas perfuradas com dimensões de 49 x 33 x 7 cm (comprimento, largura e
profundidade, respectivamente), contendo areia lavada e esterilizada em autoclave à temperatura de
120 °C, durante duas horas.
Durante a semeadura, as sementes foram dispostas para germinar nas seguintes posições,
levando-se sempre em consideração a direção do hilo: sementes com o hilo voltado para baixo
(HB); sementes com o hilo de lado (HL); formando um ângulo de 90° em relação ao eixo
imaginário e sementes com o hilo voltado para cima (HC). Com relação à profundidade de
semeadura, foram utilizadas as profundidades de 1, 2, 3, e 4 cm.
As avaliações do número de plântulas emersas foram realizadas diariamente, durante 21
dias, no mesmo horário e a manutenção da umidade do substrato foi através de regas diárias, até se
verificar o início da drenagem natural e os valores médios de temperatura e umidade relativa do ar
local foi de 33 °C e 70%, respectivamente.
Índice de velocidade de emergência (IVE) - foi determinado mediante contagens diárias do
número de plântulas emersas, no mesmo horário, dos sete aos 21 dias após a semeadura, cujo
cálculo foi realizado de acordo com a fórmula proposta por Maguire (1962).
Primeira contagem de emergência - foi realizada juntamente com o teste de emergência, a
qual correspondeu à porcentagem acumulada de plântulas normais aos sete dias após a semeadura,
levando-se em consideração a emergência do epicótilo.
Comprimento e massa seca de raízes e parte aérea das plântulas - após a contagem final do
teste de emergência, as plântulas normais foram submetidas a medições, da raiz ao ápice caulinar.
Em seguida separaram-se as raízes da parte aérea, as quais foram postas para secar em estufa
regulada a temperatura de 65 °C até obtenção de peso constante (48 horas) e, decorrido esse
período, o material foi pesado em balança de precisão de 0,001g (VIEIRA; CARVALHO, 1994).
O delineamento experimental foi inteiramente ao acaso, com os tratamentos distribuídos em
esquema fatorial 3 x 4 (posições e profundidades de semeadura), em quatro repetições de 25
sementes para cada tratamento, cujos dados foram submetidos à análise de variância e de regressão
polinomial, por meio do software SISVAR for Windows versão 4.6.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 559


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RESULTADOS E DISCUSSÃO

O teor de água das sementes de C. speciosa no momento das avaliações era de 10,94%,
estando estas adequadas para as realizações dos testes, uma vez que segundo Carvalho e Nakagawa
(2012) o teor de água das sementes no momento da instalação dos testes de germinação e vigor,
deve estar entre 8 a 10%.
Quando as sementes foram semeadas com o hilo voltado para baixo (HB) houve decréscimo
a medida que aumentou a profundidade de semeadura, quando posicionadas com hilo para cima
(HC) foram constatados 92% de emergência e quando semeadas com hilo voltado para o lado (HL)
os dados não se ajustaram a modelos de regressão polinomial, com média de 72% (Figura 1).
Provavelmente o aumento da barreira física devido as camadas mais profundas do substrato
pode ter proporcionado redução na emergência das plântulas de C. speciosa devido ao aumento do
consumo das reservas, o que concorda com Laime et al. (2010). Em Zizyphus joazeiro Mart., a
porcentagem de emergência decresceu à medida que se aumentou a profundidade de semeadura
(ALVES et al., 2008). A profundidade de 2,2 cm proporcionou a maior porcentagem de emergência
de plântulas (67%) de Cedrela fissilis L. quando seu hilo estava voltado para baixo, enquanto, nas
sementes com hilo para o lado foi de apenas 32% de plântulas emergidas na mesma profundidade
(SANTOS et al., 2009).

Figura 1. Emergência de plântulas de Ceiba speciosa submetidas a diferentes posições do hilo e


profundidades de semeadura.
HB HC HL
120
Emergência (%)

80
2
y HB = 102,5 - 8,7x R = 0,96
40 y HL = 72

y HC = 96,75 - 0,85x - 1,25x2 R2 = 0,96


0
1 2 3 4
Profundidade de semeadura (cm)

HB - hilo para o baixo, HL - hilo para o lado, HC - hilo para cima.

Os dados da primeira contagem de emergência de plântulas (Figura 2) oriundas de sementes


com o hilo para baixo (HB) e lado (HL) não se ajustaram a modelos de regressão polinomial, tendo
médias de 35 e 28% respectivamente. Com relação ao semeio com o hilo para cima (HC) houve
decréscimo de até 74% nos percentuais de plântulas emersas, chegando a atingir valores 5% em
profundidade a partir de 4,1 cm.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 560


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O estudo da profundidade de semeadura é importante para determinar o semeio correto para


sementes de cada espécie, que de acordo com Alves et al. (2013) as profundidades inferiores a dois
centímetros pode promover a evaporação da água superficial do substrato, impedido uma maior
absorção de água pelas sementes, de modo a provocar elevação da temperatura, resultando em uma
diminuição da emergência das plântulas. Por outro lado, nas maiores profundidades, apesar de
maior disponibilidade de umidade do substrato, as plântulas necessitam romper a barreira física para
emergir, o que pode ter ocorrido pela redução do número de plântulas normais de C. speciosa.
Segundo Santos et al. (2009) em profundidades maiores existe uma maior concentração de CO2,
acarretando, assim, em um efeito fitotóxico e, consequentemente, afetando a porcentagem e
velocidade de emergência.

Figura 2. Primeira contagem de emergência de plântulas de Ceiba speciosa oriundas de sementes submetidas
a diferentes posições do hilo e profundidades de semeadura.

HB - hilo para o baixo, HL - hilo para o lado, HC - hilo para cima.

Quanto aos dados referentes ao índice de velocidade de emergência, verificou-se que as


sementes colocadas para germinar com o hilo voltado para baixo (HB) atingiram o valor máximo
(2,3) quando semeadas na profundidade de 1 cm. Os dados das sementes com o hilo para o lado
(HL) não se ajustou ao modelo de regressão, obtendo-se média de 1,9; enquanto as sementes
posicionadas com o hilo para cima (HC) foram responsáveis pelos maiores índices (2,4) na
profundidade de 2 cm (Figura 3).
Esses resultados concordam com Alves et al. (2008) quando relataram que o aumento na
profundidade de semeadura de três e quatro centímetros exigem que as plântulas consumam mais
energia durante o processo germinativo, determinando uma redução na porcentagem e velocidade
de emergência das plântulas. O índice de velocidade de emergência de plântulas de Bauhinia
divaricata L. reduziu nas três posições de semeadura (hilo para baixo, hilo para o lado e hilo para
cima) com o aumento da profundidade de semeadura (FREIRE et al., 2014).

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 561


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Figura 3. Índice de velocidade de emergência de plântulas de Ceiba speciosa oriundas de sementes


submetidas a diferentes posições do hilo e profundidades de semeadura.
HB HC HL
3,00
2,50

Índice de velocidade dee


2,00
emergência 1,50 y HB = 1,7695 + 0,5456x - 0,153x
2 2
R = 0,95
1,00 y HL = 1,91
0,50
y HC = 1,5813 + 0,7025x - 0,1443x2 R2 = 0,18
0,00
1 2 3 4
Profundidade de semeadura (cm)

HB - hilo para o baixo; HL - hilo para o lado; HC - hilo para cima.

Para o comprimento da raiz primária não ocorreu interação significativo entre a


profundidade e posição de semeadura, por isso não serão apresentados os resultados, que foram
semelhantes aos obtidos por Sousa et al. (2007) em sementes de Moringa oleifera Lam. em que as
posições de semeadura (ápice para baixo, para cima e para o lado) também não influenciaram o
comprimento das raízes.
O comprimento das raízes de plântulas Platymiscium floribundum Vog. foi maior quando a
semeadura foi com o hilo para o lado (HL), na profundidade de 4 cm e com o hilo para baixo (HB)
a 5 cm (ALVES et al., 2014). O comprimento da raiz primária das plântulas de Erythrina verna
Vell. oriundas de sementes postas a 1 cm da superfície do solo atingiu 9,6 cm, enquanto apenas 7,2
cm de comprimento foi observada naquelas alocados a 6 cm de profundidade (PÊGO et al., 2015).
Os dados referentes ao comprimento da parte aérea de plântulas (Figura 4) não se ajustaram
aos modelos de regressão polinomial, sendo que os comprimentos médios foram de 6,8 cm para as
sementes posicionadas com o hilo para baixo; 6,5 cm para sementes com o hilo voltado para cima e
6,7 cm para sementes com o hilo para o lado.
Os dados do comprimento da parte aérea das plântulas de Talisia esculenta (A. St. Hil)
Radlk originadas de sementes com o hilo na horizontal (HH) não se ajustaram a modelos de
regressão polinomial, com valor médio de 8,6 cm, quando as plântulas foram oriundas de sementes
com o hilo para cima (HC) a média foi de 9,0 cm na profundidade de 3,4 cm (ALVES et al., 2013).
Quanto ao comprimento da parte aérea das plântulas de P. floribundum oriundas de sementes com o
hilo voltado para cima (HC) ocorreu decréscimo linear à medida que a semeadura foi mais
profunda, enquanto que, com o hilo para baixo (HB) e de lado (HL), não houve ajuste dos dados ao
modelo de regressão, cujo comprimento médio foi de 5,8 e 4,8 cm, respectivamente.

Figura 4. Comprimento da parte aérea de plântulas de Ceiba speciosa oriundas de sementes submetidas a
diferentes posições do hilo e profundidades de semeadura.

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HB HC HL
6,85

Comprimento da parte aérea (cm)


6,80
6,75
6,70
YHB = 6,80
6,65
6,60 y HC = 6,50

6,55 y HL = 6,70
6,50
6,45
1 2 3 4
Profundidade de semeadura (cm)

HB - hilo para o baixo; HL - hilo para o lado; HC - hilo para cima.

Quanto à massa seca das raízes das plântulas de C. speciosa verificou-se em todas as
profundidades (1, 2, 3 e 4 cm) uma diminuição significativa, independentemente da posição em que
as sementes foram semeadas (Figura 6). Para C. fissilis, o maior conteúdo de massa seca das
plântulas originadas de sementes com o hilo voltado para baixo foi atingido na profundidade de 2,3
cm, aquelas cujo hilo ficou direcionado para o lado expressaram maior conteúdo de massa seca na
profundidade de 2,3 cm (SANTOS et al., 2009). Quando o posicionamento do hilo foi para o lado, o
máximo conteúdo de massa seca das plântulas de Amburana cearensis (Allemão) A.C. Smith.
ocorreu na profundidade de 3,3 cm (GUEDES et al., 2010).

Figura 5. Massa seca das raízes de plântulas de Ceiba speciosa oriundas de sementes submetidas a diferentes
posições do hilo e profundidades de semeadura.

0,025 HB HC HL
Massa seca das raízes (g)

0,02

0,015

0,01 y HB = 0,0255 - 0,0072x + 0,0009x2 R2 = 0,96

0,005 y HL = 0,0242 - 0,007x + 0,001x2 R2 = 0,99


y HC = 0,0212 - 0,0028x R2 = 0,98
0
1 2 3 4
Profundidade de semeadura (cm)

HB - hilo para o baixo; HL - hilo para o lado; HC - hilo para cima.

Em relação à massa seca da parte aérea de plântulas (Figura 6), quando as sementes foram
semeadas com o hilo voltado para baixo (HB), o lado (HL) e cima (HC), houve um decréscimo

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linear no conteúdo de massa seca das plântulas à medida que foi aumentando a profundidade da
semeadura. Nas plântulas de Erythrina velutina Willd. verificou-se maior conteúdo de massa seca
quando estas foram oriundas de sementes com o hilo para baixo (0,236 g) na profundidade de 0,50
cm (CARDOSO et al., 2008). A massa seca das raízes de A. cearensis foi influenciada pelas
posições e profundidades de semeadura, em que verificou-se maior conteúdo de massa seca (0,104
g) com o hilo para cima (HC) obtido na profundidade de 3,45 cm (GUEDES et al., 2010).
Entretanto, o maior conteúdo de massa seca da parte aérea das plântulas de P. floribundum ocorreu
quando as sementes foram semeadas com hilo voltado para cima (0,96 g) na profundidade 3,2 cm
(ALVES et al., 2014).

Figura 6. Massa seca da parte aérea de plântulas de Ceiba speciosa oriundas de sementes submetidas a
diferentes posições do hilo e profundidades de semeadura.
HB HC HL
0,02
Massa seca da parte aérea (g)

0,02

0,01
y HB = 0,0152 - 0,001x R2 = 0,97
0,01
y HL = 0,0148 - 0,001x R2 = 0,93
0,00
y HC = 0,0171 - 0,0017x R2 = 0,88
0,00
1 2 3 4
Profundidade de semeadura (cm)

HB - hilo para o baixo; HL - hilo para o lado; HC - hilo para cima.

CONCLUSÃO

As sementes de Ceiba speciosa devem ser semeadas na profundidade de 1,0 cm com o


seu hilo posicionado para cima.

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ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 566


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

ISOLAMENTO, IDENTIFICAÇÃO E ATIVIDADE ENZIMÁTICA DE


ACTINOBACTÉRIAS ISOLADAS DA RIZOSFERA DE Paullinia cupana DO
AMAZONAS-BRASIL

Sandrine Maria de Arruda LIMA


Doutora em Biotecnologia pela UFPE
sandrinearruda@bol.com.br
Gláucia Manoella de Souza LIMA
Professor Adjunto I da UFPE
gmslima@yahoo.com.br
Teresinha Gonçalves da SILVA
Professor Associado I da UFPE
teresinha100@gmail.com

RESUMO
Actinobactérias são bactérias Gram-positivas, encontradas principalmente no solo, que se destacam
por produzir um vasto número de metabólitos secundários de interesse industrial e/ou
biotecnológico, como as enzimas hidrolíticas (amilase e celulase). Na Amazônia, um dos principais
ambientes ricos em biodiversidade do planeta, há poucos estudos sobre ecologia, diversidade e
atividade biológica dos micro-organismos da região. Dessa forma, o objetivo desse trabalho foi
isolar, identificar e avaliar a atividade amilolítica e celulolítica de actinobactérias isoladas da
rizosfera de Paullinia cupana do Amazonas-Brasil. O isolamento foi realizado através da técnica de
espalhamento. A identificação taxonômica das linhagens foi realizada utilizando técnicas de
caracterização fenotípica. Enquanto, a atividade enzimática foi determinada pela subtração da área
do halo enzimático pela área do halo da colônia. Os resultados identificaram as actinobactérias
como pertencentes ao gênero Streptomyces, merecendo destaque Streptomyces sp. UFPEDA 3405
na degradação da amilase e Streptomyces sp. UFPEDA 3412 na degradação da celulase. Esforços
para isolar essas enzimas estão em andamento.
Palavras-chaves: Paullinia cupana, Streptomyces, Amilase e Celulase.
ABSTRACT
Actinobacteria are Gram-positive bacteria, found mainly in soil, which stand out by the production
of a large number of secondary metabolites of industrial and / or biotechnological interest, such as
hydrolytic enzymes (amylase and cellulase). In the Amazon, one of the main biodiversity-rich
environments on the planet, there are few studies on ecology, diversity and biological activity of
microorganisms in the region. Thus, the objective of this work was to isolate, identify and evaluate
an amylolytic and cellulolitic activity of actinobacteria isolated from rhizosphere of Paullinia
cupana from Amazonas-Brazil. Isolation was performed by the scattering technique. The taxonomic
identification of the lineages was carried out using techniques of phenotypic characterization. While
an enzymatic activity was determined by the subtraction of the area of the enzymatic halo by the
halo area of the colony. The results identified the actinobacteria belonging to the genus
Streptomyces, deserving featured Streptomyces sp. UFPEDA 3405 on the degradation of amylase
and Streptomyces sp. UFPEDA 3412 on cellulase degradation. Efforts to isolate these enzymes are
ongoing.
Keywords: Paullinia cupana, Streptomyces, Amylase and Cellulase.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

INTRODUÇÃO

As actinobactérias, também denominadas actinomicetos, foram originalmente consideradas


um grupo intermediário entre bactérias e fungos, mas agora são reconhecidas como organismos
procarióticos. São bactérias Gram-positivas com alto conteúdo de G+C (guanina + citosina) no seu
DNA que diferem das outras bactérias por crescerem lentamente e por seus diversos gêneros
(Micromonospora, Norcardia e Streptomyces) produzirem um grande número de metabólitos
secundários bioativos (BARKA et al., 2016).
Encontramos as actinobactérias em uma diversidade de habitats (CHAVAN; MULAJE;
MOHALKAR, 2013), sendo o solo seu habitat mais comum. Na rizosfera, região do solo
influenciada pelas raízes da planta, ocorre uma grande diversidade de micro-organismos,
especialmente do gênero Streptomyces que estimula a produção de fitohormônio, participa dos
ciclos biogeoquímicos e contribui para fertilidade do solo através da remoção de toxinas (LEWIN et
al., 2016).
Várias propriedades fisiológicas são apresentam pelas actinobactérias, como a produção de
numerosas enzimas extracelulares de interesse industrial, por exemplo, amilases, lignases, lipases,
pectinases, quitinases e xilanases; além de milhares de produtos metabólicos, muitos desses
antibióticos, como cloranfenicol, estreptomicina, eritromicina, neomicina, nistatina e tetraciclinas;
agentes antitumorais; aminoácidos e vitaminas (BARKA et al., 2016). Outras atividades benéficas
das actinobactérias estão relacionadas com a agricultura e silvicultura devido sua atividade como
agentes no controle biológico regulando doenças fúngicas (ARA et al., 2012).
Muitas enzimas produzidas pelas actinobactérias estão envolvidas na mineralização de
nutrientes e em processos de decomposição de moléculas orgânicas recalcitrantes presentes no solo,
como as substâncias húmicas (LEWIN et al., 2016). As enzimas microbianas são mais ativas e
estáveis que as derivadas de plantas e animais. Os micro-organismos representam uma fonte
alternativa atraente na produção de enzimas, visto que podem ser obtidas em altas concentrações e
em curto período de tempo por fermentação, favorecendo seu uso como biocatalisadoras de
numerosas reações em processos industrial e/ou biotecnológico (ANBU et al., 2013).
A Amazônia é reconhecida como um dos principais ambientes ricos em biodiversidade
genética do planeta, mas esta riqueza é atribuída apenas à diversidade vegetal, algumas vezes a
animal e quase nunca a de micro-organismos. Quando ocorrem estudos sobre a diversidade de
micro-organismos, esses são destinados a plantas medicinais e ao seu solo. Há poucos estudos sobre
a ecologia microbiana de plantas com outro interesse e as atividades biológicas que seus
metabólitos secundários podem apresentar (SOUZA et al., 2004; NASCIMENTO et al., 2014).
A Paullinia cupana (Kunth) variedade sorbilis [(Mart.) Ducke] é uma planta nativa da
região Amazônica e popularmente conhecida como guaraná. As sementes representam o interesse
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pelo guaranazeiro, utilizadas na indústria de bebidas carbonatadas e, indústrias de beneficiamento,


extração e fabricação de xaropes para bebidas (SCHIMPL et al., 2013).
Neste contexto, o interesse da pesquisa em investigar a atividade enzimática de metabólitos
secundários produzidos por actinobactérias isoladas da rizosfera do Guaranazeiro do Amazonas é
justificado por ela ter sido isolada de um nicho ecológico nunca estudado e pelo potencial que as
actinobactérias apresentam em produzir metabólitos de interesse industrial e/ou biotecnológico.

METODOLOGIA

Isolamento das Actinobactérias

As actinobactérias UFPEDA 3405, UFPEDA 3412 e UFPEDA 3413 foram isoladas do solo
da rizosfera de Paullinia cupana (Kunth) var. sorbilis (Mart.) Ducke, uma planta nativa do
Amazonas-Brasil, conhecida como guaraná. O isolamento foi realizado utilizando a técnica de
espalhamento (ELLIAH et al., 2004) onde que 10 g de solo foram suspensos em 90 mL de solução
estéril de tampão fosfato salino. A amostra foi submetida a agitação (180 rpm, 15 min), incubada a
50 ºC durante 10 min e diluída em série até 10-5. Alíquotas de 100 µL de 10-3 a 10-5 foram
espalhadas em meio Extrato de Levedura – Arginina sólido (ALA) (0,03 L-arginina; 0,1 glicose; 0,1
glicerol; 0,03 K2HPO4; 0,02 MgSO4.7H2O; 0,03 NaCl; 0,1 extrato de levedura; 0,1 mL de solução
de traços (1,0 FeSO4.7H2O; 0,1 MnSO4.7H2O; 0,1 CuSO4.5H2O; 0,1 ZnSO4.7H2O)) adicionado a
benlate 100 µg/mL e penicilina 3,5 µg/mL. As placas foram incubadas a 30 ºC durante 7 dias. As
cepas foram depositadas na Coleção de Micro-organismos do Departamento de Antibióticos
(UFPEDA) sob imersão em óleo mineral.

Identificação Clássica das Actinobactérias

Caracterização Micromorfológica e Cultural

Para a caracterização micromorfológica, as cepas foram cultivadas em placa de Petri com


meio ISP-2 sólido onde foram inseridas lamínulas, em posição inclinada, para o crescimento do
micélio aéreo sobre sua superfície e incubadas por 7 dias a 30 °C (WILLIAMS et al.,1989). As
lamínulas foram retiradas e fixadas em uma solução contendo glutaraldeído 2,5% em tampão
cacodilato de sódio 0,1 M por 12 h a 4 °C, depois lavadas três vezes em tampão cacodilato de sódio
0,1 M por 10 min e pós-fixadas, por 1 h, em uma solução contendo tetróxido de ósmio e cacodilato
de sódio 0,1 M na proporção 1:1 (v/v). Após o período de pós-fixação, as lamínulas foram lavadas
três vezes com água miliq por 10 min e desidratada em série crescente de acetona (30% - 5 min;
50% - 5 min; 70% 15 min; 100% - 1 h). Para finalizar o processamento, as amostras foram para o
ponto crítico (secura total) e depois metalizadas com ouro. No microscópio eletrônico de varredura

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QUANTA 200FEG foram visualizados o tipo da cadeia de esporo e a característica de sua


superfície.
A caracterização cultural das linhagens como: crescimento, cor do micélio aéreo, cor do
micélio no substrato e difusão de pigmento no meio foram estudadas no meio Triptona - Extrato de
Levedura - Ágar (ISP-1), Extrato de Malte - Extrato de Levedura - Ágar (ISP-2), Farinha de Aveia -
Ágar (ISP-3), Sais Inorgânicos - Amido - Ágar (ISP-4), Glicerol - Asparagina - Ágar (ISP-5),
Peptona - Extrato de Ferro - Ágar (ISP-6) e Tirosina - Ágar (ISP-7) (SHIRLING e GOTTLIEB,
1966), sendo os meios ISP-6 e ISP-7 utilizados para avaliar a produção de pigmentos melanóides.

Caracterização Bioquímica e Resistência aos Antibióticos

A caracterização bioquímica foi realizada através dos ensaios de utilização de fontes de


carbono (D-frutose, D-galactose, D-manose, D-melezitose, D-xilose, lactose, L-arabinose, L-
ramnose, maltose, manitol, raffinose, sacarose e trealose) e nitrogênio (arginina, cisteína,
fenilalanina, histidina, L-asparagina, L-metionina, prolina, serina, treonina e valina); enquanto a
caracterização fisiológica foi feita através da capacidade da cepa de crescer em diferentes
concentrações de NaCl (2, 5, 7, 9 e 12%), temperaturas (30, 37 e 45 °C) e pH (5,6, 7, 8 e 9)
(SHIRLING e GOTTLIEB,1966).
Para verificar a resistência aos antibióticos, uma suspensão de cada linhagem foi inoculada
em placa de Petri contendo meio ISP-2 sólido. Sobre o meio inoculado foram colocados os discos
de antibióticos: amicacina 30 µg, ampicilina 10 µg, amoxicilina 10 µg, cefotaxina 30 µg,
ciprofloxacina 5 µg, cloranfenicol 30 µg, eritromicina 15 µg, estreptomicina 10 µg, imipenem 10
µg, norfloxacina 10 µg, oxacilina 1 µg, penicilina G 10 U, rifampicina 5 µg, tetraciclina 30 µge
vancomicina 30 µg. Após a colocação dos discos, as placas foram incubadas por 7 dias a 30 °C.

Atividade Enzimática das Actinobactérias

Inicialmente, as cepas foram inoculadas de forma pontual em placas de Petri contendo meio
sólido com fonte de carbono específica para cada hidrolase. As placas foram incubadas a 30 ºC
durante 7 dias. Para visualização do halo de degradação do substrato foram utilizados reveladores
específicos para cada teste, onde o diâmetro do halo da colônia e o diâmetro do halo de degradação
foram medidos em milímetros por paquímetro. A obtenção da área total de degradação foi obtida
utilizando a seguinte fórmula:
A = π (Dh/2)2 - π (Dc/2)2
A = área total de degradação em mm2
Dh = diâmetro do halo enzimático
Dc = diâmetro do halo da colônia

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O ensaio foi realizado em triplicata e os resultados expressos pela média ± desvio padrão.

Atividade Qualitativa da Amilase

As actinobactérias foram inoculadas em placa de Petri contendo meio AN (ágar nutritivo)


acrescido de amido (10,0 peptona; 3,0 extrato de carne; 5,0 NaCl; 2,0 amido). Em seguida foi
realizada a revelação do teste com vapor de cristais de iodo, onde o amido reage com o iodo
produzindo uma coloração enegrecida violácea e o halo hidrolítico é visualizado como uma área
incolor transparente circundando colônia (ANDERSON, 1939).

Atividade Qualitativa da Celulase

As actinobactérias foram inoculadas em placa de Petri contendo meio CMC


(carboximetilcelulose) sólido (3,8 KCl; 2,0 K2HPO4; 0,1 MgSO4.7H2O; 1,0 (NH4)2SO4; 0,6 extrato
de malte; 10,0 carboximetilcelulose) e depois incubadas por 7 dias a 30 °C. Em seguida foi
adicionado 5 mL da solução vermelho congo a 0,025 % nas placas durante 30 min. Para retirar o
excesso do revelador, foi adicionado 1 mL de NaCl 0,5 M durante 5 min. As colônias que
degradaram a carboximetilcelulose apresentaram halos alaranjados ao seu redor (HANKIN;
ZUCKER; SANDS, 1971).

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Identificação Clássica das Actinobactérias

Na análise micromorfológica foram observadas hifas com filamentos ramificados e


espiralados com a superficie dos esporos ondeada (Figura 1) característica típica do gênero
Streptomyces.

Figura 1. Microscopia eletrônica de varredura dos esporos de Streptomyces sp. UFPEDA 3405 (A),
Streptomyces sp. UFPEDA 3412 (B) e Streptomyces sp. UFPEDA 3413 (C), visualizadas no aumento de
20.000 x.

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Streptomyces sp. UFPEDA 3405 apresentou crescimento no meio suplementado com farinha
de aveia (ISP-3), sais inorgânicos e amido (ISP-4). Streptomyces sp. UFPEDA 3412 teve excelente
crescimento no meio suplementado com extrato de malte e levedura (ISP-2), ISP-3, ISP-4, glicerol
e asparagina (ISP-5), enquanto, Streptomyces sp. UFPEDA 3413 cresceu apenas no meio ISP-2 com
formação de micélio aéreo abundante. Não houve produção de pigmentos melanóides nos meios
peptona e extrato de ferro (ISP-6) e tirosina (ISP-7) (Tabela 1).
As linhagens foram capazes de utilizar todas as fontes de carbono (Tabela 2). Streptomyces
sp. UFPEDA 3405 foi capaz de utilizar como fonte de nitrogênio apenas histidina, cresceu em
concentrações de NaCl que variaram de 2 a 12% e teve crescimento menor em concentrações mais
elevadas desse sal. Esta cepa apresentou crescimento emtemperaturas de 30 a 45 °C, não
apresentando sensibilidade aos antibióticos ampicilina, amoxicilina, azitromicina, cefuroxina,
norfloxacina, oxacilina e penicilina (Tabela 2).
Streptomyces sp. UFPEDA 3412 foi capaz de utilizar como fonte de nitrogênio arginina,
histidina, treonina e valina, foi capaz de crescer em concentrações de NaCl que variaram de 2 a
12%, em temperaturas de 30 a 45 °C, e não apresentou sensibilidade aos antibióticos amoxicilina,
cefuroxina, clidamicina, norfloxacina, oxacilina e penicilina.
Streptomyces sp. UFPEDA 3413 foi capaz de utilizar como fonte de nitrogênio apenas L-
metionina, sendo capaz de crescer em concentrações de NaCl que variaram de 2 a 12%, em
temperaturas de 30 a 45 °C, não apresentando sensibilidade aos antibióticos norfloxacina, oxacilina,
penicilina, rifampicina e tetraciclina, conforme tabela 2.

Tabela 1. Características culturais de Streptomyces spp em diferentes meios ISP.

UFPEDA 3405 UFPEDA 3412 UFPEDA 3413


Características culturais
ISP-1 C + + +
MA Branco Amarelo claro Amarelo claro
MS Amarelo claro Amarelo claro Amarelo claro
DP - - -
ISP-2 C ++ +++ +++
MA Branco Cinza escuro Cinza claro
MS Amarelo Laranja Cinza escuro
DP - - -
ISP-3 C +++ +++ ++
MA Marrom Marrom Cinza
MS Cinza Cinza Amarelo esverdeado
DP - - -
ISP-4 C +++ +++ +
MA Marrom claro Marrom Amarelo
MS Marrom escuro Marrom escuro Cinza claro
DP - - -

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ISP-5 C ++ +++ +
MA Branco Marrom Cinza
MS Amarelo Laranja Amarelo
DP - - -
ISP-6 C + + +
MA Amarelo Amarelo Amarelo
MS Amarelo Amarelo Amarelo
DP - - -
ISP-7 C +++ ++ ++
MA Cinza calro Branco acinzentado Marrom avermelhado
MS Marrom escuro Marrom Marrom
DP - - -
C: Crescimento; MA: Cor do micélio aéreo; MS: Cor do micélio no substrato;
DP: Difusão de pigmento no meio; + Positivo; ++ Bom; +++ Excelente; - Negativo

Tabela 2. Características bioquímicas, fisiológicas e resistência aos antibióticos de Streptomyces spp.


UFPEDA 3405 UFPEDA 34 12 UFPEDA 3413
Características bioquímicas
Fontes de carbono + + +
Celobiose + + +
D-melezitose + + +
D-xilose + + +
Lactose + + +
L-arabinose + + +
L-raminose + + +
Maltose + + +
Manitol + + +
Sacarose + + +
Fontes de nitrogênio
Arginina - + -
Cisteina - - -
Fenilalanina - - -
Histidina + + -
L-metionina - - +
Serina - - -
Treonina - + -
Valina - + -
Características fisiológicas
NaCl%
2% +++ + +
5% +++ + +
7% +++ + +
9% ++ + +
12% + + +
Temperatura
30 °C + ++ ++

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37 °C + ++ ++
°
45 C - ++ ++
Resistência a antibióticos
Amicacina 28,7 ± 1,2 25,3 ± 0,6 21,3 ± 2,1
Ampicilina - 8,7 ± 0,6 15,5 ± 0,7
Amoxicilina - - 14,5 ± 0,7
Azitromicina - 34,5 ± 0,7 31,5 ± 0,7
Cefalotina 10,0 ± 0,0 10,7 ± 0,6 22,0 ± 1,7
Cefuroxima - - 20,0 ± 0,0
Ciprofloxacina 20,3 ± 1,5 22,0 ± 1,0 20,0 ± 0,0
Clidamicina 9,5 ± 0,7 - 10,5 ± 0,7
Cloranfenicol 10,0 ± 0,0 44,7 ± 1,5 17,0 ± 1,4
Estreptomicina 35,3 ± 1,5 27,3 ± 0,6 21,0 ± 0,0
Gentamicina 35,7 ± 0,6 21,5 ± 1,5 14,5 ± 0,7
Imipenem 27,0 ± 0,0 25,0 ± 0,0 32,0 ± 1,7
Norfloxacina - - -
Oxacilina - - -
Penicilina - - -
Rifampicina 13,7 ± 0,6 14,7 ± 0,6 -
Tetraciclina 15,0 ± 0,0 10,0 ± 0,0 -
+ Positivo; ++ Bom; +++ Excelente; - Negativo

Com base na caracterização micromorfológica, cultural, bioquímica e resistência aos


antibióticos, as linhagens isoladas do solo da rizosfera de P. cupana (Kunth) var. sorbilis (Mart.)
Ducke, Amazonas-Brasil, pertencem ao gênero Streptomyces. Esse gênero pertence à família
Streptomycetaceae, subordem Streptomycineae, ordem Actinomicetales, subclasse
Actinobacteridae, classe Actinobactéria, filo Actinobactéria, domínio Bactéria e apresenta o maior
número de espécies descritas. Streptomyces foi descrito pela primeira vez por Ferdinand Conh em
1875 que observou na microscopia colônias com micélio em forma de cabelo enrolado
denominando a espécie de Streptotrix foersteri. No solo, este gênero produz compostos voláteis
como o geosmim que dá ao solo o cheiro característico de terra molhada (DREWS, 1999).
Apesar da região Amazônica ter uma biodiversidade imensa, grande parte de suas espécies e
suas relações filogenéticas são desconhecidas, principalmente no que diz respeito a diversidade
microbiológica e suas interações com outros seres (SOUZA et al., 2004; NASCIMENTO et al.,
2014).

Atividade Enzimática

Muitos métodos existem para determinar a atividade enzimática por difusão simples em
meio de cultura sólido, onde um dos fatores que influenciam esta seleção é a correlação entre o
diâmetro do halo e a capacidade degradativa dos micro-organismos (STAMFORD; ARAÚJO;

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STAMFORD, 1998). As linhagens em estudo mostraram grande potencial de degradação da


amilase e celulase, apresentando áreas de degradação acima de 100 mm² (Tabela 3), sendo a maior
área total de degradação da amilase realizada por Streptomyces sp. UFPEDA 3405 e da celulase por
Streptomyces sp. UFPEDA 3412.

Tabela 3. Atividade amilolítica e celulolítica de Streptomyces spp.


Área degradada (mm2)
Linhagens Amilase Celulase
Streptomyces sp. UFPEDA 3405 614,6 ± 22,3 258,9 ± 4,6
Streptomyces sp. UFPEDA 3412 594,8 ± 22,5 344,4 ± 16,3
Streptomyces sp. UFPEDA 3413 491,9 ± 16,1 253 ± 19,1

Micro-organismos produtores de celulases são importantes na natureza para ciclagem de


nutrientes, como exemplo a ciclagem do carbono. Essas enzimas, assim como as amilases também
produzidas por micro-organismos, apresentam elevado valor industrial, sendo utilizadas na
agricultura, indústria de alimentos, biocombustíveis, fabricação de cerveja, papel e têxtil (RANA et
al., 2013; MOHANTA, 2014). Segundo. Segundo KASHIWAGI e colaboradores (2014), dentre os
micro-organismos, espécies de Streptomyces são conhecidos por produzirem uma variedade de
enzimas hidrolíticas de amido fundamental para aplicação na indústria.
Assim como nesse estudo, Silva e colaboradores (2012), identificaram a presença do gênero
Streptomyces em amostras do solo da região de Maués no Amazonas-Brasil ao estudarem o efeito
da variação das condições de cultivo sobre a produção de antibióticos. Streptomyces owasiensise e
Streptomyces sp. DPUA 1576 foram isolados de líquens do Amazonas com capacidade de produzir
enzimas quitinase termoestável interessante para indútria farmacêutica e protease com atividade
fibrinolítica (NASCIMENTO et al., 2014; SILVA et al., 2015).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em resumo, a obtenção de substâncias de interesse econômico, como enzimas amilolíticas e


celulolíticas a partir de micro-organismos rizosféricos, têm sido frequentemente relatadas na
literatura científica. Os resultados do presente estudo indicam a presença de Streptomyces spp na
rizosfera de P. cupana do Amazonas-Brasil, com capacidade de produzir enzimas extracelulares de
interesse industrial e/ou biotecnológico. Esforços para isolar essas substâncias estão em andamento.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

A VIABILIDADE AMBIENTAL NA UTILIZAÇÃO DA BIOMASSA COMO FONTE DE


ENERGIA ALTERNATIVA

Fabio Xavier LOBO


Especialista em Engenharia Elétrica - UPE
Fabiolobo12341@gmail.com
Yhasminie Karine da SILVA
Universidade Federal de Pernambuco –UFPE. Mestranda do Programa Morfotecnologia
Yhasminiekarine73@gmail.com
Maria Carolina Medeiros ALVES
Graduanda em Tecnologia em Gestão Ambiental - IFPE
Francisco José Costa ARAÚJO
Professor Dr, do Departamento de Engenharia Elétrica - UPE
francisoaraujo@gmail.com

RESUMO
Em virtude dos impactos ambientais gerados durante a obtenção de energia surge a necessidade de
busca por fontes alternativas sustentáveis para suprir a demanda de energia elétrica. A biomassa por
sua vez, de acordo com a literatura, consiste em uma forma de energia limpa, renovável e possui
níveis menores de emissão de poluentes em relação a fontes térmicas de origem fósseis,
contribuindo para o modelo de sociedade sustentável, além de subsidiar de forma significativa para
preservação do meio ambiente.
Palavras-chave: Biomassa, Fósseis, Meio Ambiente
ABSTRACT
Due to the environmental impacts generated during the obtaining of energy, the need to search for
sustainable alternative sources for the demand of electric energy. A biomass, according to a
literature, consists of a clean, renewable form of energy and has lower levels of emission of
pollutants than thermal sources of fossil origin, contributing to the sustainable society model,
besides subsidizing significant way to preserve the environment.
Keywords: Biomass, Fossils, Environment

INTRODUÇÃO
Os impactos ambientais gerados durante a obtenção de energia vêm sendo discutidos
mundialmente, mediante a conscientização da gravidade da questão. Rios (2006) aponta que o
aumento da demanda de energia é um processo natural e irreversível e está baseado no crescimento
populacional, na busca da melhoria de qualidade de vida das populações, e na democratização da
energia.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 578


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Por isso, justifica Goldemberg e Villanueva (2003) que a conexão energia-meio ambiente
tem sido objeto de muitos estudos e, algumas vezes, é possível estabelecer uma relação de causa e
efeito entre o uso da energia e os danos ao meio ambiente.
Nesse contexto, entende-se que a temática Educação Ambiental é imprescindível e torna-se
fundamental educar os cidadãos, não apenas para a aquisição de conhecimento, mas para o seu uso
ético e responsável, da energia, conforme lecionam Hartmann e Zimmermann (2007). Possui o
objetivo de disseminação do conhecimento sobre o ambiente, a fim de ajudar a preservação e
utilização sustentável dos seus recursos. É uma metodologia de análise que surge a partir do
crescente interesse do homem em assuntos como o ambiente devido às grandes catástrofes naturais
que têm assolado o mundo nas últimas décadas (LIMA, 2015).
No âmbito do sistema energético, Goldemberg e Johansson (2002) enunciam que existem
recursos físicos e disponibilidade tecnológica para que o setor energético tenha uma trajetória
compatível com a promoção do desenvolvimento sustentável.
A energia renovável aparece como uma boa opção, por ser uma forma de energia com a
capacidade de renovação em um curto espaço de tempo. Ela também contribui com a redução da
poluição, por constituir-se em um modo de substituir algumas energias poluentes por outras menos
danosas (PELICIONI e PHIPPI JR., 2005).
No Brasil a previsão para os próximos anos é que a geração hídrica represente 68,57% da
capacidade de geração elétrica do país seguida das térmicas que representarão 31%, eólica com
11,09% e solar com 2% (ANEEL-BIG, 2017), o que comprova a importante participação da
geração térmica na matriz de energia elétrica brasileira. Porém esta última deve ser considerada
como fonte de emergência devido as emissões de poluentes fornecidos por esse tipo de fonte e se
priorizar as térmicas a biomassa ao invés de térmicas a combustiveis fósseis, pois essas últimas
possuem níveis de poluições maiores além de não utilizar fontes renováveis como a biomassa.
Neste sentido, pode-se afirmar que a utilização de fontes renováveis, como as térmicas a
Biomassa, são estratégias fundamentais para que se tenha um sistema energético sustentável, uma
vez que muitos problemas ambientais já atingem uma escala mundial, como as mudanças climáticas
e a diminuição da camada de ozônio.
Este estudo objetiva-se apresentar a importância da geração térmica na matriz de energia
elétrica, investigar a origem da fonte térmica de menor impacto ambiental bem como proporcionar a
consciência sustentável na geração para suprimento da demanda de energia elétrica futura, a partir
da divulgação desse conhecimento.

GERAÇÃO DE ENERGIA TERMELÉTRICA

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 579


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

As fontes térmicas representam significativa parcela da matriz de enérgia elétrica brasileira,


isso se deve ao fato de ser uma forma de geração estratégica, pois garante o suprimento de energia
elétrica do país, devido a sazonalidade de fontes renováveis utilizadas no brasil como a hidríca,
eólica e fotovoltaíca, que dependem do regime da chuva, do vento e incidência solar,
respectivamente.
Conhecida também por calorífica, a geração termelétrica é resultante da pressão de vapor
obtida da combustão de materiais de fontes não renováveis, por exemplo, carvão, petróleo e gás
natural, classificadas em fontes de energia fóssil e também outras de fontes renováveis como a
lenha, o bagaço de cana, que são classificadas em fontes de energia a biomassa.
A produção de energia elétrica através da queima de combustíveis fósseis (não-renovável),
considerada a mais poluente, gera resíduos como óxidos de enxofre, óxidos de nitrogênio, dióxido
de carbono, metano, monóxido de carbono, dentre outros. O que torna bastante viável do ponto de
vista ambiental o investimento em geração térmica à biomassa.
A tabela 01 evidencia os níveis de emissões originadas pela geração térmica a combustíveis
fosséis e a biomassa. Conforme a tabela 01, verifica-se que fontes a biomassa como o bagaço da
cana, predominante no brasil, apresenta níveis de emissão de gases que contribuem para o efeito da
chuva ácida como NOx (óxidos de nitrogênio) em menores quantidades quando comparado às
fontes fósseis apresentadas. Também verica-se menores índices de gases contribuintes do efeito
estufa, como o óxido nitroso (NOx), além de não ser emissor do gás metano (CH4).
Quando se usa material orgânico como o bagaço da cana, o processo praticamente não
contribui na emissão de gás carbônico (CO2), isso acontece porque o gás carbônico liberado é
utilizado pelas plantas na fotossíntese, fechando o ciclo do carbono.
As concentrações, de dióxido de enxofre (SO2) e óxidos de nitrogênio (NOx), emitidas são
mais baixas do que as dos combustíveis fósseis convencionais devido às caracteristicas de níveis
baixos de enxofre e de nitrogênio associados com o bagaço.

Tipo de Unidade de
Fonte Fonte NOx SOx Metano
Combustível consumo
Caldeira
Óleo
<50 t/h 18,18 0,147
Combustível
de vapor T 6,47 kg/t kg/t kg/t
FÓSSIL

Caldeira
Óleo Diesel <50 t/h 20,22 0,035
de vapor T 2,82 kg/t kg/t kg/t
Caldeira
Gás Natural <50 t/h 0,118
de vapor T 2,87 kg/t 0,01 kg/t kg/t
Caldeira de
BIOM
ASSA

Bagaço de
qualquer - -
Cana
porte T 0,6 kg/t

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 580


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Caldeira de
Lenha qualquer 0,037
porte T 0,75 kg/t kg/t 0,11 kg/t
Tabela 01: Níveis de poluentes por fonte
Fonte: Resolução CONAMA 436/2011 (adaptado)

BIOMASSA
Do ponto de vista energético a biomassa é toda matéria orgânica, seja de origem animal ou
vegetal, que pode ser utilizada na produção de energia (ANEEL, 2008). A utilização da biomassa
tem como grandes vantagens seu aproveitamento direto por meio da combustão em fornos e
caldeiras e também a redução de impactos ambientais. A potência por ela gerada, bem como o
percentual de sua participação na matriz de energia elétrica brasileira, é apresentada na figura 01 em
comparação com outras fontes de energia.

Figura 01: Origens fontes utilizadas no Brasil.


Fonte: ANEEL BIG, 2017.

As fontes de origem a biomassa, conforme apresentadas na figura 02, de uma forma mais
expressiva na matriz energética brasiliera, classificam-se em três categorias: florestal, agrícola e
rejeitos urbanos, onde, na biomassa energética agrícola, estão incluídos as culturas agroenergéticas
com destaque para fonte de nível 2 cana-de-açúcar, conforme evidenciado na figura 03.

Figura 02: Fontes de origem a biomassa utilizadas no Brasil.


Fonte: ANEEL BIG, 2017.

Figura 03: Fontes de origem a biomassa, agroindustriais, utilizadas no Brasil.


Fonte: ANEEL BIG, 2017.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 581


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

DESCRIÇÃO DAS PRINCIPAIS BIOMASSAS DO BRASIL

Biomassa de Origem Florestal

A biomassa energética florestal é definida como produtos e subprodutos dos recursos


florestais que incluem basicamente biomassa lenhosa, produzida de forma sustentável a partir de
florestas cultivadas ou de florestas nativas, obtida por desflorestamento de floresta nativa para
abertura de áreas para agropecuária, ou ainda originada em atividades que processam ou utilizam a
madeira para fins não energéticos, destacando-se a indústria de papel e celulose, indústria
moveleira, serrarias etc. A exemplo tem-se:
 Lenha e Carvão Vegetal
 Resíduos de Madeira e Licor Negro

Biomassa de Origem Agrícola

A biomassa energética agrícola é definida como os produtos e sub-produtos provenientes


das plantações não florestais, tipicamente originados de colheitas anuais, cujas culturas são
selecionadas segundo as propriedades de teores de amido, celulose, carboidratos e lipídios, contidos
na matéria, em função da rota tecnológica a que se destina. A exemplo tem-se:
 Cana-de-açúcar
 Capim Elefante
 Casca de Arroz
 Biogás AGR

Biomassa Oriunda de Rejeitos Urbanos e Industriais

A biomassa contida em resíduos sólidos e líquidos urbanos têm origens diversas, e se


encontra no lixo e no esgoto. As rotas tecnológicas de seu aproveitamento energético são: a
combustão direta, a gaseificação, pela via termoquímica, após a separação dos materiais recicláveis,
e a digestão anaeróbica, na produção de biogás, pela via biológica. A exemplo tem-se:
 Cana-de-açúcar

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Atualmente, muita importância é dada a energia renovável, obtida de fontes naturais capazes
de se regenerar e se renovar. Por essa razão, o incentivo em pesquisas por fontes alternativas e
renováveis são indispensáveis para fomentar a diversificação do parque energético brasileiro.
Neste cenário, a biomassa tem sido apresentada como alternativa viável, uma fonte de
energia renovável, com produção de menores índices de poluição, quando comparada as demais
ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 582
Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

fontes, capaz de complementar a geração de energia elétrica do país em detrimento das limitações
de outras fontes como a hídrica, eólica e foto voltaica.
Entretanto, apesar de alguns estudos apresentarem a significância da utilização das fontes
térmicas a biomassa, no contexto ambiental, a geração térmica a combustíveis fósseis ainda possui
uma capacidade de produção de energia elétrica bem maior em relação a biomassa, 17,36% e 8,79%
da participação na matriz de geração elétrica brasileira, respectivamente, conforme evidenciado no
estudo.
Os dados apresentados ao longo da descrição do estudo, reforçam a necessidade de
substituição de fontes de origem fóssil por biomassa para se alcançar uma maior responsabilidade
ambiental. Dessa forma, constitui-se um desafio para toda a sociedade entender a importância da
sustentabilidade voltada para o uso racional e eficiente das fontes renováveis de energia do planeta.

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ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 584


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

ENERGIA LIMPA E RENOVÁVEL: UMA PROPOSTA INTERDISCIPLINAR E


CONTEXTUALIZADA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL
PARA O ENSINO FUNDAMENTAL22

Adevane da Silva PINTO


Mestrando em Ensino de Ciências da UEG
adevane47@gmail.com
Wilker Rodrigues de OLIVEIRA
Mestrando em Ensino de Ciências da UEG
wilker.oliveira@ueg.br
Márcio Leite de BESSA
Docente PUC/GO e UEG
debessaleite@ig.com.br
Solange XAVIER-SANTOS
Docente UEG
solxav@yahoo.com.br

RESUMO
O avanço tecnológico e da sociedade é inevitável e imprescindível, contudo, ele não deve prejudicar
o ambiente, de modo que as necessidades das gerações atuais e futuras sejam supridas. A maneira
mais eficiente de garantir esse processo é através da Educação Ambiental. O objetivo desse trabalho
foi desenvolver ações interdisciplinares e contextualizadas que contribuam para a formação de
cidadãos críticos-reflexivos, cientes da importância de colocar em prática atitudes ambientalmente
éticas, que proporcionem a construção de um mundo melhor. É relatado o desenvolvimento de um
projeto, envolvendo aprendizes do 4º ano do Ensino Fundamental, visando à prática de atitudes
sustentáveis de gerar energia. O projeto foi capaz de conscientizá-los e despertá-los para a
importância de atuar como cidadãos comprometidos com as questões ambientais e sabedores que
irão fazer a diferença ao colocar em prática as ações aprendidas.
Palavras Chave: Meio Ambiente; Contextualização; Cidadãos críticos-reflexivos.
ABSTRACT
The technological and societal advancement is inevitable and indispensable, however, it should not
harm the environment, so that the needs of the present and future generations are suplied. The most
efficient way to guarantee this process is through the Environmental Education. The objective of
this work was to develop interdisciplinary and contextualized actions that contribute to the
formation of critical-reflexive citizens, aware of the importance of putting in practice
environmentally ethical attitudes, that provide a construction of a better world. It is reported the
development of a project, involving apprentices of the 4th year of Elementary School, aiming at the
practice of sustainable attitudes to generate energy. The project was able to raise awareness and
awaken them importance of acting as committed citizens to environmental issues and to know that
they will make a difference in putting into practice the learned actions.
Keywords: Environment; Contextualization; Sustainable Energy; Critical-Reflective Citizens.

22
Apoio financeiro da Universidade Estadual de Goiás (UEG), por meio do Programa de Auxílio Eventos (Pró-
Eventos).

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 585


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

INTRODUÇÃO

Educação Ambiental E Interdisciplinaridade

Uma vez que a escola é entendida como a principal fonte de acesso ao conhecimento e de
construção da identidade de indivíduos conscientes da importância de seu papel na sociedade,
entende-se que ela deve inserir no contexto educacional a busca por um mundo ambientalmente
saudável.
A Educação Ambiental é entendida como os processos pelos quais o indivíduo e a
coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências
direcionadas para a preservação do meio ambiente, bem de uso coletivo, fundamental à saudável
qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL, 2002). Uma maneira eficiente de se trabalhar a
Educação Ambiental é por meio da interdisciplinaridade, que permite a articulação entre as áreas do
conhecimento.
A interdisciplinaridade pode ser definida como uma forma de sistematizar e construir o
conhecimento, visando associar as desiguais extensões dos acontecimentos estudados. Desse modo,
almeja-se abandonar a visão particularizada e despedaçada do conhecimento, em direção ao
entendimento da complexidade e da interdependência dos elementos da natureza e da existência.
Por isso é que podemos também nos referir à interdisciplinaridade como inovação da atitude perante
a ação de conhecer (CARVALHO, 1988).
Nesse sentido, a prática em Educação Ambiental de maneira interdisciplinar exige uma
intensa modificação no processo ensino-aprendizagem, bem como na sistematização formal dos
estabelecimentos de ensino. Desse modo, uma atitude interdisciplinar em Educação Ambiental
poderá demandar aberturas para transformações que podem atravessar, por exemplo, a constituição
de novos procedimentos de ensino.
Segundo Carvalho (1988, p.04), ―A educação ambiental, pelo seu caráter interdisciplinar, é
importante instrumento para o desenvolvimento e a implementação de políticas voltadas à melhoria
da qualidade de vida nos grandes centros urbanos‖. A interdisciplinaridade alocada como um
elemento prático da Educação Ambiental é que possibilita superar o procedimento da informação
fragmentada e desconectada da existência social e natural do mundo. Nesse sentido, procurando
retecer os condutores desatados do conhecimento, a autora elabora a crítica ao saber tradicional que
se petrifica nas instituições de ensino, onde, por exemplo, o professor de biologia não restaura os
procedimentos históricos que interatuam na constituição dos ecossistemas naturais e o professor de
história não aprecia a influência dos fatores naturais nas formações sociais. Assim sendo, trabalhar
de maneira integrada e articulada é um importante viés a ser perseguido pelos educadores

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 586


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

ambientais, que se permite, pela compreensão mais globalizada do ambiente e por trabalhar a
interação de equilíbrio dos seres humanos com a natureza (COIMBRA, 2004).
Nesta perspectiva, o professor vem se desenhando no bojo das modificações socioculturais
em movimento na sociedade brasileira e no campo internacional. Esse novo perfil profissional na
educação está conexo aos múltiplos episódios sociais e culturais localizado no alicerce da
constituição de novas sensibilidades ambientais. Dentre eles, destacam-se os movimentos sociais e
ecológicos que têm batalhado pelo alargamento do palco da cidadania, abarcando o meio ambiente
como um benefício da coletividade e elemento integrante da conquista de direitos (CARVALHO,
1988).
Nessa conjuntura de formidáveis modificações sociais e culturais, o debate sobre Educação
Ambiental e interdisciplinaridade está recebendo cada vez mais espaço no mundo educacional
brasileiro. Interdisciplinaridade e Educação Ambiental são temáticas que se têm formado como
aceitáveis passagens de abertura e renovação do ensino.

CONCEITUANDO ENERGIAS RENOVÁVEIS

A utilização de fontes renováveis de energia não é um assunto inédito, tampouco novo.


Consta nos registros históricos, há séculos atrás, as primeiras formas de aproveitamento destas
energias, fazendo parte da própria história da humanidade. Porém, são recentes as melhorias
tecnológicas investidas na demanda por alternativas energéticas sustentáveis e renováveis, o que fez
com que as antigas tecnologias fossem revistas e recebessem melhorias e adaptações
(TOLMASQUIM, 2003).
O rápido crescimento urbano, industrial, o uso intensivo e o fácil acesso à energia, o manejo
e a utilização deste recurso, em parceria com um mau planejamento de produção, tem gerado
grandes impactos ambientais, tendo reflexo na economia e na qualidade de vida da população.
Diante disso, medidas que busquem criar alternativas sustentáveis de fontes de energia renováveis
tornam-se indispensáveis no contexto social atual (VANZIN, 2006).
Segundo Berman (2008), Energia Renovável é aquela que vem de recursos naturais como o
sol, vento, chuva, marés, calor, entre outras. Estas são consideradas renováveis porque são
naturalmente reabastecidas. A seguir são exemplificados alguns tipos de energia renovável:

 Energia Solar: é a energia proveniente da luz e do calor do Sol que é aproveitada e utilizada
por meio de diferentes tecnologias, principalmente como o aquecimento solar, energia
solar fotovoltaica, energia, heliotérmica e arquitetura solar.
 Energia Eólica: é a energia advinda do vento. Ela é utilizada para mover aero geradores, ou
seja, enormes turbinas fixadas em lugares de muito vento. Essas turbinas possuem a forma

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 587


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

de um cata-vento ou de um moinho. O movimento obtido pela força do vento impulsiona


um gerador, que produz energia elétrica.
 Biocombustível ou Biomassa: são combustíveis produzidos a partir de material vegetal que
não sofreu processo de fossilização, e que pode ser usado em motores a combustão interna
ou para a geração de energia, de forma que pode substituir completamente ou parcialmente o
uso dos combustíveis fósseis. Há vários tipos de biocombustíveis, já que eles podem ser
produzidos a partir de uma gama de diferentes espécies vegetais (etanol, biodiesel, biogás,
biometanol, biomassa).
 Energia Azul: é a energia obtida da diferença de concentração de sal entre a água do mar e a
do rio, com o uso de eletrodiálise reversa (EDR) ou osmose, com membranas específicas
para cada tipo de íons. O resíduo deste processo é água salobra.
 Energia Geotérmica: é a energia obtida a partir do calor proveniente da Terra, mais
precisamente do seu interior. Devido à necessidade de se obter energia elétrica de uma
maneira mais limpa e em quantidades cada vez maior, foi desenvolvido um modo de
aproveitar esse calor para a geração de eletricidade.
 Energia Hidráulica ou Hídrica: é a energia obtida a partir da energia potencial de uma massa
de água. A forma na qual ela se manifesta na natureza é nos fluxos de água como rios e
lagos e pode ser aproveitada através do desnível de água. É o método mais eficiente e
amplamente utilizado no Brasil devido ao grande potencial hídrico de suas bacias.
 Energia Maremotriz: é o modo de geração de eletricidade através da utilização da energia
contida nas massas de água devido às marés.

Ao utilizar energias renováveis, as indústrias buscam ações estratégicas que exigem


planejamento e responsabilidade ambiental, além de amplo envolvimento e conhecimento quanto
aos recursos provenientes da natureza (RODRIGUES, 2006). Além disso, o uso de energias
renováveis causa impactos ambientais substancialmente menores e ainda evita a emissão de
toneladas de gás carbônico na atmosfera. O debate contínuo sobre os impactos causados pela
dependência de combustíveis fósseis contribui decisivamente para o interesse mundial por soluções
sustentáveis, por meio de geração de energia oriunda de fontes limpas e renováveis, e
ambientalmente corretas (BERMAN, 2008).

O PROJETO LAGO SUSTENTÁVEL: ENERGIA LIMPA E RENOVÁVEL

Visando proporcionar às crianças do Ensino Fundamental a ampliação dos seus


conhecimentos sobre fontes renováveis de energia, despertando-lhes valores voltados à

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sustentabilidade e à conscientização ambiental, foi idealizado o projeto intitulado ―Lago


Sustentável: energia limpa e renovável‖.
O projeto teve como atores principais uma turma do 4° ano do Ensino Fundamental de uma
escola pública municipal, no interior do estado de Goiás, ainda que tenha envolvido todas as outras
salas e a equipe pedagógica da escola. Entre os quatro meses (abril a agosto de 2017) em que o
projeto de desenvolveu, num primeiro momento, os aprendizes pesquisaram em livros, revistas e
internet, sobre os diversos tipos de energias renováveis, analisando as vantagens, desvantagens,
características específicas de cada um e a distribuição geográfica destas energias no Brasil e no
mundo. Posteriormente a temática foi apresentada pelo professor às crianças, proporcionando-lhes
uma visão ampla dos vários tipos de energias renováveis, por meio de vídeos, imagens, textos e
discussões, com o intuito de desenvolver conceitos, competências e habilidades interdisciplinares e
contextualizadas.
Diante dos conhecimentos apropriados, as crianças foram instigadas a aplicá-los ao contexto
em que vivem de modo a trazer benefícios à população da cidade. Então, lhes foi proposto a
implementação de um sistema energético autossustentável em um lago da cidade, que é utilizado
pela população como espaço de lazer e turismo. As crianças foram convidadas a visitarem e
explorarem o espaço no qual seria realizada a intervenção (Figura 1C). De posse das informações
coletadas por meio da visita, as crianças foram desafiadas a construírem um protótipo do projeto,
para inserir um sistema de captação de energia solar que abasteceria o sistema de iluminação do
local.
Para a construção desse protótipo no espaço do pátio da escola, priorizou-se utilizar
materiais recicláveis, de fácil aquisição e baixo custo. Para armazenar a água, foi utilizado um pneu
de trator usado, cuja base foi coberta com uma lona. Pedaços de cano de PVC foram inseridos na
parte superior do pneu, simulando postes de energia. Fitas de LED foram fixadas na extremidade
dos ―postes‖, as quais estavam conectadas em fios transmissores de energia, que quando ligados na
tomada acenderia e criaria um ambiente iluminado, como as lâmpadas da iluminação urbana (Figura
1E). Simulando as duas construções de alvenaria existentes na margem do lago, as crianças
construíram casinhas com palitos de picolé, que serviram de suportes para os painéis solares
(fotovoltaicos). Esses painéis têm a finalidade de converter a luz solar em energia elétrica, mas
como esse sistema só gera energia com a luz do sol e a necessidade do lago é a iluminação noturna,
criou-se outra construção responsável por armazenar as baterias que são carregadas durante o dia e
fazem a distribuição de energia para os postes à noite.
Uma problemática levantada nas discussões em sala de aula foi a de que, no período de
estiagem, o lago não recebe água, diminuindo o seu volume e, consequentemente o de oxigênio,
causando a mortandade de peixes ali existentes. Para solucionar o problema de falta de oxigenação,

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criou-se, no protótipo, um sistema de captação da água do lago, que captaria a energia solar para
ligar uma bomba que impulsionaria a água em um cano, que por sua vez daria pressão numa
turbina, dispersando a água e ao mesmo tempo rodando as turbinas que geraria mais energia. Para o
desenvolvimento desse sistema, foi utilizada uma bombinha de aquário, para captar a água e um
cooler de notebook para girar a turbina (Figura 1E). Para melhorar a estética da obra, as instalações
receberam uma pintura e um técnico em eletricidade foi contratado para monitorar o processo de
construção do protótipo.
O projeto culminou com a apresentação do protótipo na feira de ciências da escola (Figura
1F), na qual as crianças descreveram cada etapa de sua construção e do seu processo de
funcionamento, salientando a importância de se utilizar energias renováveis. As etapas do projeto
foram fundamentais para se estabelecer um elo entre o campo científico e o cotidiano, despertando
o interesse dos alunos em aprofundar os conhecimentos para que pudessem aplicar no seu dia a dia,
desenvolver a curiosidade científica, estabelecer metodologias, incentivar a criatividade para uma
visão global e interdisciplinar do conteúdo. Assim, as crianças puderam compreender as etapas da
captação da energia solar e de outras tecnologias de captação de energia, buscando adequar os
conhecimentos adquiridos à realidade vivenciada, por meio da transposição didática.
Figura1-Etapas do projeto ―Lago sustentável: energia limpa e renovável‖ desenvolvimento no 4° ano do Ensino
Fundamental em uma escola da rede pública de ensino no interior do Estado de Goiás. A) Construção de maquetes de
energias renováveis, na sala de aula; B) Produção de textos, cartazes e mapas sobre energias renováveis; C) Visita ao
lago que serviu de inspiração para o desenvolvimento de um protótipo para a implementação de um sistema energético
auto-sustentável; D) Construção do protótipo, com a participação ativa das crianças; E) Protótipo construído; F)
Apresentação do protótipo para outras turmas da escola.

Fonte: Wilker R. Oliveira.

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Durante os quatro meses em que foi trabalhado o tema energias renováveis, as crianças
foram estimuladas a elaborar diferentes produções textuais, tais como relatórios da visita, poemas e
história em quadrinho sobre o tema, além de desenhos com a finalidade de compreenderem melhor
o conteúdo. Vale ressaltar que em todo o processo de construção e execução do projeto, procurou-se
trabalhar a Educação Ambiental de modo interdisciplinar e contextualizado, integrando-se os
saberes próprios de cada disciplina, como ciências, geografia, artes, língua portuguesas, matemática
e informática como pontos de partida inicial, abrangendo ainda história, física, química,
matemática, biologia e temas transversais.
A ideia inicial do projeto foi abordada na disciplina de Geografia, ao se estudar as fontes de
energias renováveis; o impacto ambiental na exploração desses recursos e a viabilização do uso da
energia solar e hidráulica no lago local. A redação do projeto, bem como os relatórios das atividades
e demais produções textuais foram trabalhadas na disciplina de Língua portuguesa. Os recursos
digitais para as pesquisas, incluindo textos e vídeos e a digitação dos materiais textuais ocorreram
durante as aulas de informática. O entendimento de como acontece a captura e transformação da
energia, a construção do sistema elétrico do protótipo ficou a cargo da disciplina de Ciências. Em
matemática se trabalhou as medidas de capacidade, incluindo comprimento, perímetro e área para
construção do protótipo, bem como unidades monetárias para o levantamento de custos. Por fim a
criação e o planejamento do protótipo, maquetes, desenhos e mapas foram trabalhados em Artes, e a
Educação Ambiental se encarregou de estimular a identificação dos problemas ambientais, suas
origens e seus impactos e a conscientização quanto à exploração dos recursos naturais. O
conhecimento prévio dos aprendizes foi sempre levado em consideração, permitindo-lhes perceber
que o saber não é somente um acúmulo de conhecimentos técnico-científicos, mas sim uma
ferramenta que os prepara para as adversidades do mundo, permitindo-lhe resolver situações até
então desconhecidas (GIROUX, 1997).
A avaliação do processo ensino-aprendizagem foi feita de forma qualitativa contínua,
acompanhando o desenvolvimento dos aprendizes nas tarefas cotidianas em sala de aula, se estavam
participando das atividades, as discussões geradas, suas iniciativas, organização, além de uma roda
de conversa para comentar os resultados do projeto e estabelecer os propósitos futuros da temática.
Na apresentação do trabalho, foi averiguada a qualidade da apresentação, a desenvoltura dos
aprendizes, a qualidade do material pesquisado sobre o tema proposto, além da união do grupo e
domínio do conteúdo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O projeto possibilitou aos aprendizes conhecer as características das principais fontes de


energias, suas vantagens e desvantagens, seu impacto social e ambiental, além de conduzir os

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participantes ao processo de reflexão sobre a importância de se pensar formas sustentáveis de


obtenção de energia; de se buscar alternativas para os problemas do seu cotidiano, enfim, de
orientar os discentes sobre a necessidade de atuar de forma consciente na utilização dos recursos
naturais.
A construção do produto final, um protótipo para implementação de um sistema
energeticamente autossustentável em um lago da cidade, mostrou ser uma proposta enriquecedora
para a abordagem do tema energias renováveis, uma vez que os aprendizes puderam participar
desde a problematização, a contextualização e a proposição de soluções para o problema,
vivenciando todas as etapas do processo científico, tornando-se construtores da sua própria
aprendizagem.
As práticas realizadas forneceram subsídios para o crescimento do aprendiz em sua
totalidade, ampliando seu conhecimento e sua visão de mundo, por meio de pesquisa,
experimentação e interação. Espera-se ainda que a atividade possa servir como incentivo de atitudes
positivas para a transformação do meio em que vivem.
As estratégias de ensino utilizadas priorizaram a interdisciplinaridade e a contextualização
possibilitando a participação ativa dos aprendizes no processo ensino-aprendizagem, propiciando o
desenvolvimento contínuo de diferentes habilidades. Espera-se que essas habilidades possam
promover mudanças conceituais, atitudinais e procedimentais em relação à problemática local de
energia e do ambiente em geral, procurando aproximação da instituição escolar com os objetivos
estabelecidos pela Base Nacional Curricular Comum (BNCC), contribuindo desta forma para a
formação de cidadãos críticos-reflexivos e de uma sociedade mais sustentável.

REFERÊNCIAS

BERMANN, C. Crise Ambiental e as Energias Renováveis. São Paulo: 2008. Disponível em:
<http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S0009-67252008000300010&script=sci_arttext >
Acesso em: 30 Ago. 2017

BRASIL, Presidência da República. Decreto nº 4.281/02, de 25 de junho de 2002, que regulamenta


a Lei nº 9.795/99, Art.1º que institui a Política Nacional do Meio Ambiente.Brasília: DOU, 2002.

CARVALHO, I.C.M. Em direção ao mundo da vida : interdisciplinaridade e educação ambiental /


Conceitos para se fazer educação Ambiental. Brasília : IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas,
1998.101f. : il. ; 30 cm. - (Cadernos de educação ambiental ; 2)

COIMBRA,A. S; SILVA, M. C. Educação Ambiental: uma concepção na terceira idade – Pró-


Idoso – Juiz de Fora – Minas Gerais. Juiz de Fora: UFJF, 2004.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 592


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

GIROUX, H.A. Os professores como intelectuais: rumo a uma pedagogia crítica da aprendizagem.
Tradução de Daniel Bueno. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.

RODRIGUES, R.S. O uso de energia oriunda de fontes renováveis nas indústrias brasileiras: uma
questão de sustentabilidade. São Paulo: 2006.

TOLMASQUIM, M. T. Fontes Renováveis de Energia no Brasil. [s.l.] Editora Interciência, 2003.

VANZIN, E. Procedimento para análise da viabilidade econômica do uso do biogás de aterros


sanitários para geração de energia elétrica: aplicação no Aterro Santa Tecla. 2006. Dissertação
(Dissertação de Mestrado em Engenharia). Faculdade de Engenharia e Arquitetura da
Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo.

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Gestão de Recursos Hídricos e


Bacias Hidrográficas

© Antonio David Diniz

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BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A CERTIFICAÇÃO DA BACIA


HIDROGRÁFICA DO CORUMBATAÍ COMO GEOPARK UNESCO

Luciana Cordeiro de Souza FERNANDES


Professora Doutora da Faculdade de Ciências Aplicadas/UNICAMP
luciana.fernandes@fca.unicamp.br

RESUMO
Este trabalho visa avaliar o potencial do território da Bacia Hidrográfica do Corumbataí, que inclui
notável patrimônio geológico com inúmeros geossítios e área de afloramento do Sistema Aquífero
Guarani, além da diversidade cultural regional, associados à estratégia de desenvolvimento
sustentável. A certificação de um território para proteção dos seus recursos naturais por meio da
criação de um Geopark UNESCO ocorre de maneira inversa à instituição de Unidades de
Conservação (SNUC), pois não se trata de um parque e não há necessidade de criação de lei. Este
instrumento de certificação territorial deve estar em estrita consonância com os diplomas legais em
vigor no território e contar com a participação efetiva da população. Esse protagonismo dos locais
despertará o ―sentimento de pertencimento‖ e de ―identidade territorial‖, propiciando o
desenvolvimento socioeconômico regional.
Palavras chave: Direito urbano ambiental; princípio da prevenção; legislação ambiental; áreas de
afloramento do SAG; geoturismo.
RESUMEN
Este trabajo desea evaluar el potencial del territorio de la Cuenca Hidrográfica del Corumbataí, que
incluye notable patrimonio geológico con innumerables geosítios y área de afloramiento del
Sistema Acuífero Guaraní, además de la diversidad cultural regional, asociados a la estrategia de
desarrollo sostenible. La certificación de un territorio para la protección de sus recursos naturales a
través de la creación de un Geopark UNESCO ocurre de manera inversa a la institución de
Unidades de Conservación (SNUC), pues no se trata de un parque y no hay necesidad de creación
de ley. Este instrumento de certificación territorial debe estar en estricta consonancia con los
diplomas legales vigentes en el territorio y contar con la participación efectiva de la población. Este
protagonismo de los locales despertará el "sentimiento de pertenencia" y de "identidad territorial",
propiciando el desarrollo socioeconómico regional.
Palabras clave: Derecho urbano ambiental; Principio de la prevención; Legislación ambiental;
Áreas de afloramiento del SAG; Geoturismo.

INTRODUÇÃO

A água, insumo da vida, é o mais importante componente ambiental a propiciar, desde os


primórdios da civilização humana, o povoar deste planeta; fazendo de alguns povos nômades e de
outros possuidores de seus territórios. Onde quer que se encontre, no solo, subsolo ou atmosfera, a
água sempre foi o elemento integrador entre o homem e a terra, além de facilitador para criação das
urbes.

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Neste sentido, a partir da segunda metade do século XX, verificou-se que a Bacia
Hidrográfica deveria também ser considerada como uma ferramenta de gestão territorial, não
somente relacionada aos usos da água, mas também como indutora de atividades em seu território
geográfico.

Em 1964, afastando-se da abordagem tradicional territorial, isto é, recortá-lo em


circunscrições administrativas (regiões, departamentos e comunas ou municípios, a França
através da Lei nº 64-1.25 (Art. 3º) que tomou como base o quadro geográfico natural do
ciclo da água para resolver problemas relacionados à água. Esses problemas passaram a ser
tratados no contexto da bacia hidrográfica de um curso de água de uma certa importância e
de seus afluentes. Delimitaram-se, então, seis grandes bacias hidrográficas [...]. Para cada
bacia, criou-se um Comitê e uma Agência financeira da bacia, renomeada, após 14 de
novembro de 1991, como Agência de Água. Em 1992, com a nova Lei da Água, nº 92-3, o
recorte que abrangia conjunto do território metropolitano foi ampliado aos quatro
departamentos além mar [...] (MACHADO, 2003, p.32).

Desta forma, o Brasil tendo a legislação francesa de água como modelo, regulamentou o Art.
20, incios, da Constituição Federal de 1988 e criou a Lei da Política Nacional de Recursos Hídricos
(PNRH) – Lei nº 9433/1997, que instituiu a bacia hidrográfica como unidade de planejamento,
dentre seus fundamentos (Art. 1º, V). Além disto, a exemplo da França previu também a criação
para cada bacia de um Comitê e de uma Agência de Água, esta tida como Secretaria Executiva do
Comitê. Anota-se ainda, que dentre os instrumentos listados no artigo 5º da PNRH, o Plano de
Recursos Hídricos (Art. 5º, I) contempla um mapeamento da bacia hidrográfica, contendo além dos
diversos usos da água, sua disponibilidade superficial e subterrânea, verdadeiro plano diretor para
gestão da água em seu território.

GEOPARK UNESCO

O conceito de geoparque é difundido desde 2004, quando a Rede Global de Geoparques foi
criada pela UNESCO. No Brasil, o Geoparque do Araripe, localizado no Estado do Ceará, foi o
primeiro implantado no país. Esse modelo prevê a proteção do patrimônio geológico,
geomorfológico e cultural, assim como a utilização do potencial turístico da região para auxiliar a
população local na geração de renda, oferecendo um novo conceito de conservação, onde a
população local se vê envolvida e interage com todos os processos de implantação e gestão das
áreas protegidas (BACCI, PIRANHA, BOGGIANI et. al, 2009).

Nos geoparques aplica-se uma estratégia de desenvolvimento sustentável baseada na


valorização das características e, em uma visão integral das características naturais e
culturais do território, com ações de proteção, educação e promoção do geoturismo para o
desenvolvimento econômico. O patrimônio geológico, que reporta à memória da Terra,
integra-se com a riqueza histórico-cultural e natural do território (MODICA, 2009, p. 18).

De acordo com o Serviço Geológico do Brasil – CPRM (2016):

Geoparque (ou geopark, em inglês) é uma marca atribuída pela Rede Global de
Geoparques, sob os auspícios da UNESCO a uma área onde sítios do patrimônio geológico

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representam parte de um conceito holístico de proteção, educação e desenvolvimento


sustentável.

Ainda segundo o CPRM (2016) um Geoparque deve gerar atividades econômicas, por meio
do turismo, e envolve um número de geossítios ou sítios geológicos de importância científica,
raridade ou beleza, formas de relevo e suas paisagens. ―Aspectos arqueológicos, ecológicos,
históricos ou culturais podem representar importantes componentes de um geoparque‖ (CPRM,
2016).
Brilha (2009) expõe que a ―criação de geoparques veio revolucionar o modo como se
divulga as Geociências‖, e reforça que na ―estratégia de gestão de um geoparque não só o
patrimônio geológico, como também a biodiversidade, a arqueologia e outros aspectos da herança
cultural, as Geociências ganharam visibilidade pública‖. O autor complementa explicando que o
cidadão comum com baixo conhecimento sobre Geociências e sua importância para a sociedade tem
a oportunidade de se aperceber do modo como a geodiversidade condiciona todo o desenvolvimento
natural e humano. ―Uma paisagem, por exemplo, deixa apenas de ser apreciada pelo seu valor
estético, mas também por aquilo que ela representa em termos de evolução dos processos
geológicos, biológicos e humanos‖.
De acordo com a UNESCO (2016), um Geoparque é uma área delimitada que possui
significativas exposições geológicas, paleontológicas ou geomorfológicas e que seja grande o
suficiente para o desenvolvimento sustentável e com população no seu interior que,
necessariamente, deverá ser beneficiada com sua criação. E é através do apelo geológico que ocorre
a promoção de um novo modelo de desenvolvimento econômico para a região onde se localiza o
geoparque, atrelada à conservação ambiental (geológica e biológica) e ao resgate, valorização e
preservação da cultura local.
No conceito da UNESCO (2016), um geoparque deve:

Preservar o patrimônio geológico para futuras gerações (geoconservação).


Educar e ensinar o grande público sobre temas geológicos e ambientais e prover meios de
pesquisa para as geociências.
Assegurar o desenvolvimento sustentável através do geoturismo, reforçando a identificação
da população com sua região, promovendo o respeito ao meio ambiente e estimulando a
atividade socioeconômica com a criação de empreendimentos locais, pequenos negócios,
indústrias de hospedagem e novos empregos.
Gerar novas fontes de renda para a população local e a atrair capital privado. (UNESCO,
2016, apud CPRM, 2016).

BACIA HIDROGRÁFICA DO CORUMBATAÍ E A CRIAÇÃO DE UM GEOPARK

A área da Bacia Hidrográfica do Corumbataí, coincidente à do Geopark Corumbataí


proposto, totaliza 1.710 km2, engloba os municípios de Analândia, Charqueada, Corumbataí,
Ipeúna, Itirapina, Piracicaba, Rio Claro e Santa Gertrudes (Figura 1). Assim, área deste Geopark
coincide com os limites da Bacia Hidrográfica do Corumbataí, situada na região centro-leste do

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Estado de São Paulo (SP) no Brasil. Localiza-se a menos de 200 quilômetros (km) da região
metropolitana de São Paulo, segunda maior aglomeração populacional do continente americano,
com cerca de 21 milhões de habitantes, e, dista, aproximadamente, 100 km do Aeroporto
Internacional de Viracopos (VCP), localizado em Campinas, SP, que também constitui uma região
metropolitana formada por 20 municípios, a noroeste da capital São Paulo, e cuja população
abrange cerca de 3,1 milhões de habitantes (ZAINE,2017).

Figura 1 – Localização da área do Geopark proposto

Demonstrando a importância desta região, na Tabela 1 são apresentados os dados de


população dos oito municípios, segundo o Censo Demográfico 2010 (IBGE, 2010), além de outras
informações específicas de cada um deles, com destaque para Piracicaba que possui apeas 10% de
sua população na Bacia do Corumbataí.

Tabela 1 – Características gerais dos municípios da Bacia do Rio Corumbataí


Município Área (km²) População (2010) Densidade IDH Renda Familiar per
Populacional capta (R$)
(hab/km²)

Analândia 325,67 4.293 13 0,754 820

Charqueada 175,84 15.085 86 0,735 691

Corumbataí 278,62 3.874 14 0,754 730

Ipeúna 190,01 6.016 32 0,753 773

Itirapina 564,76 15.524 28 0,724 776

Piracicaba 1.378,06 364.571 265 0,785 1.112

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Rio Claro 498,42 186.253 374 0,803 1.028

Santa 98,29 21.634 220 0,737 709


Gertrudes
Fonte: IBGE (2010)

A (sub) Bacia do Corumbataí integra a Bacia dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí - PCJ,
conforme ilustrado na Figura 2. A bacia do PCJ é tida como um importante manancial que transpõe
águas para a Bacia do Alto Tietê através do Sistema Cantareira, o qual abastece a capital e parte da
região metropolitana da cidade de São Paulo. Desta forma, a região do Corumbataí ganha destaque
neste processo. O rio Corumbataí tem sua nascente em Analândia, atravessa todo seu território
recebendo contribuições até alcançar o rio Piracicaba.

Figura 2. Bacias Hidrográficas do PCJ.


Fonte: Comitê PCJ, 2017

Na Bacia do Corumbataí, o Sistema Aquífero Guarani (SAG) se localiza em parte da sua


porção territorial, com grande extensão de área de afloramento (recarga) em seus municípios,
notadamente em Analândia, que possui 100% de seu território em área de recarga do SAG. E é em
Analândia que nasce o rio Corumbataí, na Serra de Santana, a cerca de 800 m de altitude
(CEAPLA, 2004).

A região possui um grande potencial de crescimento em relação ao turismo, embora ainda


sem muita exploração, comportando uma melhor definição de estratégias de planejamento
dentro de uma perspectiva de turismo sustentável, econômica e socialmente, protegendo a
fauna e a flora, além dos mananciais existentes. (PERINOTTO, 2006, p. 2).

Numa perspectiva histórica, anotamos que,

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Historicamente, a bacia do rio Corumbataí iniciou seu desenvolvimento já a partir da


segunda metade do século XVIII, quando se deu início às primeiras cidades da região,
sendo que a primeira foi Piracicaba (1766) e por último a cidade de Ipeúna (1890). Segundo
Diniz (1984) apud Felisetti (2000) a mais importante atividade econômica da região foi à
agricultura, tendo maior expressividade a cultura do café que, por consequência, veio a
influenciar a ―antropização‖ da bacia do rio Corumbataí. No entanto, além deste produto,
havia também a cana-de-açúcar, embora esta tivesse menor importância econômica. Pode-
se apontar ainda a produção de algodão, utilizada na fiação local de tecidos, a produção de
aguardente, a exploração de madeira, pequenos moinhos descascadores de café, a produção
de cal e tijolos de alvenaria. Cottas (1983) observa que o processo de imigração, a partir de
1880, introduz importantes alterações nos costumes e a diversificação da produção agrícola,
com o surgimento da horticultura e a indústria doméstica. De acordo com Belondi (2000), o
município de Santa Gertrudes, com seu parque industrial ceramista, um dos mais
importantes do país, obtém grande destaque na região. No entanto, o município de Rio
Claro possui maior importância no contexto da ocupação urbana, economia e extensão
territorial dentro da bacia (ZAMPIN, 2013).

O mapa abaixo (Figura 3) apresenta um panorama desta riqueza cultural e a diversidade do


patrimônio natural local, seus geossítios, devendo ser analisada e discutida sua potencialidade em
conformidade com os ordenamentos legais em vigor nos oito municípios que compõe esta Bacia,
para implantação de um Geoparque em seu território, promovendo a integração de seus municípios.

Figura 3. Mapa pictório da Bacia do Corumbataí com seus geossítios.


Fonte: ZAINE(1996)

Dadas às peculiaridades da Bacia do Corumbataí um estudo realizado por ZAINE (1996),


permitiu a catalogação dos diversos geossítios existentes nesta região territorial, de modo a permitir

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que, após estudos complementares e a efetiva implantação do Geoparque em seu território, se


promova sua candidatura à UNESCO como Geopark.
A candidatura da Bacia hidrográfica do Corumbataí junto a Rede Global de Geoparks
UNESCO, assim como de qualquer outro território, deverá seguir um rito, o aspirante a geoparque
deve submeter documento ou dossiê de candidatura (application dossier) à Divisão de Ciências
Ecológicas e da Terra (Division of Ecological and Earth Sciences) da UNESCO. No entanto, no
Brasil, o dossiê deverá ser enviado por uma Comissão do CPRM, após previa análise do
cumprimento dos requisitos. Após envio, esse dossiê deve seguir diretrizes definidas por esta Rede
e é submetido a uma avaliação que inclui uma visita in loco de especialistas ligados à Rede. O
dossiê de candidatura deve representar o resultado do projeto de geoparque implementado no
território, ou seja, o geoparque já deve funcionar como tal antes de sua submissão à Rede Global de
Geoparques.
Importa ressaltar, que para a implantação de um geoparque não há necessidade de criação de
novas leis, todas as leis vigentes em seu território serão incorporadas ao Plano de Manejo do
Geoparque. Outrossim, um elemento fundamental para que um território seja considerado
geoparque deve-se a participação da população local, de forma efetiva, proporcionando o
empoderamento social e o desenvolvimento econômico regional através de atividades diversas
ligadas ao geoturismo, com empreendimentos voltados a este turismo de natureza, como hotéis,
restaurantes, lojas de artesanato, agências de viagens etc, associado a atividades de educação
ambiental, evidenciando o sentimento de pertencimento ambiental des moradores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A criação e implantação de um geoparque em um território proporcionam, de forma única, a


participação efetiva da comunidade local, valorizando seus conhecimentos tradicionais, o
desenvolvimento socioeconômico, e, principalmente, no caso da Bacia do Rio Corumbataí,
promoverá a integração dos oito munícipios, por não se tratar de um processo imposto, mas
construído por muitas mãos.
No Brasil, a única forma de oferecer proteção ambiental a uma localidade está pautada na
promulgação de leis, as quais não contam com um referendo popular, tampouco permitem afirmar
que houve um levantamento real, fidedigno e com abrangência holística da questão legislada.
Motivo pelo qual muitas leis ―não pegam‖, ou seja, não se efetivam. Diferentemente, para a criação
de um geoparque não há necessidade de novas leis, as leis vigentes continuarão em vigor e será
possível uma efetiva publicidade destes ordenamentos, que serão incorporados na sua gestão
territorial. Assim, além de empoderar a população local, com a valorização de sua história, cultura e
saberes tradicionais, permitirá a geração de renda com a promoção do turismo de natureza;

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inclusive facilitará a efetivação dos diplomas legais existentes naquele território, tanto os de
natureza ambiental como os urbanísticos, entre outros benefícios regionais, permitindo um
pertencimento ambiental de sua população.
Outrossim, o mote do Geoparque proposto será a água, a água superficial que corre de suas
nascentes em todo território, como as áreas de recarga do Sistema Aquífero Guarani, que devem ser
protegidas para proteção da qualidade de suas águas subterrâneas. Insta salientar ainda, que quando
implantado e certificado pela UNESCO, este será tido com o único geoparque delimitado por bacia
hidrográfica.

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CONFLITOS PELO USO DA ÁGUA NO AÇUDE


EPITÁCIO PESSOA, BOQUEIRÃO, PB

Cláudia Fernanda Costa Estevam MARINHO


Profa MS, em Desenvolvimento Regional
nandaestevam10@yahoo.com.br
Hermes Alves de ALMEIDA
o
Prof Dr, Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, PB
hermes_almeida@uol.com.br

RESUMO
O referido trabalho tem o objetivo de estudar os conflitos pelo uso da água na prática da irrigação na
Bacia Hidráulica do Açude Epitácio Pessoa (BHAEP). Tais conflitos foram analisados a partir de
reuniões e audiências públicas promovidas pelos órgãos gestores da referida bacia. Apesar do regime
de distribuição pluvial irregular da BHAEP ser fator determinante para o surgimento de conflitos
pelo uso da água, a ineficiência, e/ou ausência de gestão, mesmo após a grave crise vivida nos anos
de 1998/2003, e os interesses políticos e econômicos, são primordiais para compreensão dos
―novos‖ conflitos emergentes em 2013. A segurança hídrica do açude Epitácio Pessoa e a gestão da
água são condições sine qua non tanto para garantir o abastecimento de água do Compartimento da
Borborema, inclusive de Campina Grande, quanto para atender à atividade agrícola e pesqueira na
BHAEP, viabilizam, portanto, a promoção do desenvolvimento sustentável local e regional.
Palavras-chave: Bacia hidráulica; irrigação; gestão hídrica; abastecimento de água.
ABSTRACT
The objective of this study is to study the conflicts over water use in the irrigation practice in the
Epitacio Pessoa Water Dam (BHAEP). These conflicts were analyzed from meetings and public
hearings promoted by the management bodies of said basin. Although the BHAEP irregular rainfall
distribution regime is a determining factor for the emergence of conflicts over water use,
inefficiency, and/or lack of management, even after the severe crisis experienced in 1998/2003, and
the political and Are key to understanding emerging "new" conflicts in 2013. The water security of
the Epitacio Pessoa dam and the water management are sine qua non both to guarantee the water
supply of the Borborema Compartment, including Campina Grande, and to attend to the agricultural
and fishing activity in the BHAEP, promotion of local and regional sustainable development.
Keywords: Hydraulic basin; irrigation; Water management; water supply.

INTRODUÇÃO

O Nordeste brasileiro apresenta condições hídricas desfavoráveis que comprometem


seriamente as condições de vida da população em áreas extensas do semiárido. A escassez de água
e/ou a conservação dos sistemas naturais constituem um desafio da região, que deve levar em conta
vários fatores relacionados com as condições sociais e econômicas do País.
Nesse contexto, surge como empreendimento do governo federal, para alavancar o
desenvolvimento regional, o Programa de Grande Açudagem. No entanto, o barramento de grandes

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massas de água subtrai do meio ambiente elementos importantes, tais como o solo e vegetação, mas
incorpora as suas margens comunidades que precisam conviver e produzir sem degradar o meio
ambiente aquático.
Destaca-se, entretanto, que a água armazenada nos açudes não atende somente ao
abastecimento de água, mas é fonte impulsora do desenvolvimento local ou microrregional de
outras atividades, tais como a agropecuária, através da agricultura irrigada, da criação de animais, e
da atividade pesqueira, como fonte importante de alimentação e renda.
A falta de água em anos mais secos, que ocorre em alguns locais, tanto para a agricultura
como para o abastecimento humano é muitas vezes fruto de uma falta de regularização e de
programas preventivos para redução de impactos das secas ocasionais. Isso tem contribuído para a
ocorrência de conflitos pelo uso da água.
O açude Epitácio Pessoa (AEP), Boqueirão, desempenha um papel fundamental abastecendo
mais de dezoito cidades do Compartimento da Borborema e fomenta o desenvolvimento de um pólo
agrícola nas áreas contíguas ao referido reservatório. No entanto, o regime pluvial tanto na bacia
hidrográfica (alto curso do rio Paraíba) quanto na hidráulica é distribuído de forma irregular nas
escalas espacial e temporal. Fato que impossibilita a agricultura de sequeiro e, por isso, tem-se na
técnica da irrigação uma prática indispensável para o desenvolvimento sustentável das comunidades
ribeirinhas da Bacia Hidráulica do Açude Epitácio Pessoa (BHAEP).
A retirada da água do referido reservatório, para essa importante atividade, acaba por
desencadear conflitos pelo uso da água entre os diversos usuários. Diante disto, houve a necessidade
de se estudar os conflitos pelo uso da água advindos da prática da irrigação na BHAEP, sendo essa
determinação o objetivo principal deste trabalho.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A história do desenvolvimento da civilização poderia ser escrita em termos de preocupação


épica do homem com a água. Os problemas relativos à disponibilidade de água sempre mereceram
atenção e preocupação criativa do homem mediante obras de engenharia, projetos de Recursos
Hídricos (RH), poços, barragens, dentre outros (ALMEIDA, 2011).
Na realidade, existe muito pouca água doce no planeta para uma população que cresce, em
alguns locais, de forma desordenada. O aumento das atividades econômicas mundiais faz crescer a
demanda por água. A ONU prevê que se forem mantidas as atuais práticas de consumo de água, o
planeta terá em breve, escassez total de água em algumas regiões do mundo, nessa perspectiva
Ribeiro (2003) destaca que:

Os relatórios do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, divulgados em 1999
e 2002, indicaram que a falta de água será um grave problema em 2025. Já, o The United

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Nations world water development report, resultado da participação conjunta de 23 agências


da ONU, apresentado em kyoto, em 2003, apontou que faltará água para cerca de 2 bilhões
de pessoas, na visão otimista, e para cerca de 7 bilhões, no cenário pessimista, em 2050.
(RIBEIRO, 2003, P.71).

Rebouças (2002) salienta que as demandas de água no mundo aumentam diariamente, em


função do crescimento populacional, das mudanças nos processos de produção, hábitos de higiene,
conforto e exigências de qualidade ambiental e de vida da população. Por isto, os maiores objetivos
no século 21 são a busca pela maior disponibilidade da oferta de água, por um menor custo, e a
otimização do seu uso, ou seja, produzir cada vez mais, utilizando cada vez, um volume menor de
água.
Diante deste contexto, inúmeros são os conflitos pelo uso da água em âmbito mundial, haja
vista este ser um recurso de uso comum. Nesse sentido Lanna (1997) ressalta três tipos de conflitos:
a) o da destinação do uso da água para finalidades diferentes daquelas estabelecidas pelo órgão
gestor; b) o da disponibilidade qualitativa, ou seja, quando a água é proveniente de corpos hídricos
poluídos e c) o de disponibilidade quantitativa que concerne ao esgotamento da disponibilidade
quantitativa devido ao uso intensivo da água.
No México, por exemplo, Barlow e Clarke (2003) destacam a obrigatoriedade de devolver
ao seu vizinho do Norte a água que retira dos rios Colorado e Grande, que são, também, uma linha
fronteiriça entre os países. Mesmo que a água a ser devolvida, deva ser tratada, esse procedimento
ratifica a tese na qual os Estados Unidos poderão ter falta de água nas próximas décadas, apesar de
já ocorrer em algumas áreas, tais como na Califórnia, Novo México, Texas e até mesmo na Flórida.
Para Ribeiro (2003) cerca de 6% da população mundial vive na África Subsaariana e no
Oriente Médio, aonde há algo em torno de apenas 1% dos recursos hídricos mundiais. O Rio Nilo,
por exemplo, abastece principalmente o Egito e o Sudão. No acordo assinado para a sua exploração,
uma parcela maior de água ficará para o Egito em detrimento do seu vizinho. Já no Oriente Médio,
a tensão pelo acesso à água envolve Israel, Iraque, Egito, Jordânia, Palestina, Síria e Turquia.
É imprescindível ter clareza que, uma alteração no modo de vida hegemônico pode atenuar a
crise pela água ou, até mesmo, impedir o seu agravamento. Para isso, é necessário expor e discutir
que a gestão da água, em escala mundial, não deve ser definida pela distribuição irregular pelo
planeta, haja vista, o principal fator que desencadeia a crise ser a adoção de um modo de vida que
pressupõe a expansão permanente da produção e o consequente uso desenfreado dos recursos
naturais.
O aumento da demanda pode induzir conflitos entre usuários e, por isso, exige medidas de
controle para evitá-los. Nesse contexto, a gestão dos RH existe para minimizar e/ou evitar essas
situações, bem como para dar suporte na tomada de decisão para evitar que os referidos conflitos
ocorram e/ou para minimizá-los (Pereira, 2012).

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Desse modo, para que os conflitos quantitativos pelo uso da água sejam solucionados, torna-
se necessária uma gestão do sistema hídrico organizada, a partir de um enfoque coletivo para que
soluções individuais que ocasionem danos a outros usuários e, consequentemente, à BH sejam
inibidos.
Nesse contexto, o diagnóstico pontual das áreas de conflitos é relevante para auxiliar na
tomada de decisão, uma vez que a atuação em grandes escalas torna a resolução dos problemas mais
onerosa e comprometem a sua eficácia.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O trabalho foi desenvolvido na Bacia Hidráulica do açude Epitácio Pessoa (BHAEP), que
cobre parte das áreas territoriais dos municípios de Boqueirão, Barra de São Miguel e Cabaceiras,
na mesorregião da Borborema e microrregião do Cariri Oriental da Paraíba, cujas coordenadas
geográficas (barragem principal) são 07°29‘06‖S, 36°08‘22‖W e 355 m de altitude.
A caracterização pluvial foi feita, utilizando-se séries de dados mensais e anuais de chuvas
das referidas localidades, cedidos pela Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da
Paraíba (AESA) em Campina Grande. As análises desses dados e o estabelecimento do modelo de
regime de precipitação pluvial foram analisados mediante métodos e critérios da estatística
climatológico, cujos detalhamentos metodológicos encontram-se descritos nos artigos de
ALMEIDA (2012) e MARINHO (2011).
O monitoramento dos dados mensais de entrada e saída de água no açude Epitácio Pessoa
(AEP), nos anos de 2011, 2012 e 2013, foi cedido pelo Posto de Operação do DNOCS em
Boqueirão. Os dados de precipitação pluvial foram analisados usando critérios da estatística
climatológica, descritos por (MARINHO, 2011; ALMEIDA e Cabral, 2013).
Os conflitos pelo uso da água advindos da prática da irrigação foram analisados com base
nas reuniões e audiências públicas promovidas pelos órgãos gestores da BHAEP, ou seja, Agência
Nacional das Águas (ANA), Departamento Nacional de Obras Contra Seca (DNOCS) e AESA com
os diversos segmentos de usuários de água, entre os meses de maio 2013 e março de 2014.
O foco de tensão no conflito pelo uso da água na BHAEP ocorre, principalmente, entre a
sociedade civil campinense, representada pelo Ministério Público, através das promotorias de
justiça de defesa do meio ambiente e do consumidor e os agricultores ribeirinhos à referida bacia. O
gargalo gerador dessa tensão é a crescente divergência entre a oferta e a demanda de água a ser
retirada do AEP.
Os principais motivos das citadas reuniões e audiências públicas são os de monitorar o
volume de água armazenamento no AEP e em seguida mediar os conflitos e/ou propor acordos
entre os usuários, especialmente, os agricultores ribeirinhos, a CAGEPA e a sociedade civil

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campinense. Além de resultarem em compromissos assumidos judicialmente pelos citados órgãos


gestores e em diversas medidas, ações para minorar os riscos de desabastecimento do
Compartimento da Borborema.
Essas questões foram avaliadas a luz da literatura científica sobre conflitos pelo uso da água
e, sobretudo, com base na lei que regulamenta o Programa Nacional de Recursos hídricos no Brasil.
Os cálculos, análises estatísticas, elaboração de quadros, tabelas e figuras foram feitos usando-se a
planilha Excel.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Fatores geradores de conflitos pelo uso da água do Açude Epitácio Pessoa

O aumento populacional, o desenvolvimento econômico e a diversificação das atividades


desenvolvidas às margens da BHAEP vêm aumentando gradativamente a demanda de água para
seus usos múltiplos, bem como os impactos de diversas magnitudes (qualitativos e quantitativos).
Para averiguar o input de água na BHAEP, nos últimos três anos (2011-13), utilizou-se o
critério da comparação entre o ano mais chuvoso (2011) e os dois mais secos (2012-13) para cada
localidade que compõe BHAEP, cujos totais anuais de chuvas são apresentados na Figura 1.
Destaca-se, entretanto, que choveu, em 2011; 2,4 vezes mais que 2012 e 1,85 em 2013, ou seja, o
dobro, em média, do ocorrido nos dois últimos anos.

700
2011 2012 2013

600
Totais de chuvas (mm)

500

400

300

200

100
B. S. Miguel Cabaceiras Boqueirão
locais

Figura 1. Totais de chuvas observados no ano de 2011, comparados com os de 2012 e 2013, nas três
localidades que compõem a BHAEP, Boqueirão. PB.

Essa sequência de anos com chuvas abaixo do esperado, associado ao crescimento da


demanda de água, começou a gerar expectativas que permitiram aplicar medidas de controle a fim

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de minimizar os conflitos entre usuários, sobre quais seriam os volumes de água que deveriam ser
retirados do AEP.
As variações mensais de volumes de água armazenada no AEP nos anos de 2012 e 2013
mostraram que em janeiro de 2012, o AEP estava com 365,5 milhões de m3 (88,7%) e terminou o
ano com 251,8 milhões de m3 (61,2%), ou seja, um decréscimo de 27,5 %. Manteve o ritmo
decrescente em 2013, chegando ao mês de dezembro com um volume de apenas 154,3 milhões de
m3 (37,5 %) da sua capacidade máxima de armazenamento.
Observa-se que houve uma redução média mensal da ordem de 24,5 % na demanda de 2013,
quando comparada com 2012, ou seja, de 10,1 para 8,1 milhões. m-3. O fato da demanda em 2013
ter sido menor que em 2012, se deve as medidas tomadas pela ANA, a partir de maio de 2013, em
função dos conflitos pelo uso da água na BHAEP.

Conflitos pelo uso da água para irrigação às margens da Bacia Hidráulica do Açude Epitácio
Pessoa (BHAEP).

Antes de apresentar os fatores que favoreceram os conflitos pelo uso da água no AEP, em
2013, é oportuno resgatar o que ocorreu há uma década e meia (1998/99), quando o referido
manancial atingiu apenas 14,9 % da sua capacidade máxima, o correspondente a um volume de 61,5
milhões m³.
No período crítico de 1998/99, de acordo com Brito (2008), exatamente no dia 01/12/1998,
o Ministério Público (MPE), a pedido da então SEMARH, proibiu à prática da irrigação às margens
do referido reservatório. Embora dois dias após o início da operação de lacre das bombas, o governo
do Estado tenha solicitado uma revisão da decisão de suspender a irrigação, substituindo-a por um
racionamento seletivo. Tal decisão ocorreu em virtude dos estudos realizados pela equipe técnica da
CAGEPA, que assegurava o fornecimento de água para abastecimento até o ano de 2000.
Com essa nova posição, o IBAMA interrompeu os trabalhos de desativação das bombas e
comunicou oficialmente a impossibilidade técnica e falta de recursos humanos para executar a
fiscalização seletiva como havia sido proposto, fato que levou os agricultores a reiniciar a prática da
irrigação.
Para o MPE, o estudo que deveria ser considerado para tomada de decisão, seria um laudo
técnico sobre os riscos de colapso do sistema de abastecimento de água, elaborado pelo Grupo
Permanente de Assessoramento Técnico à Coordenação do 2º Centro de Apoio Operacional do
Ministério Público do Estado da Paraíba. O que concorda com a descrição feita por Brito (2008).
Neste contexto, o abastecimento público das cidades de Campina Grande passou a ser
defendido, também, pelo Ministério Público Federal, mediante a ação cautelar nº 570, datada de
25/02/1999, contra o DNOCS. Os efeitos dessa ação cautelar constam de seis medidas, sendo

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atendidas, a partir de 03/03/1999, a de suspensão da irrigação e o fechamento da comporta de


alimentação da calha do Rio Paraíba.
Diante do exposto, Brito (2008, p.86), ressalta que ―é possível perceber que as inúmeras
ordens e contraordens, num verdadeiro vaivém de posições, demonstram a instabilidade do processo
e o grau de conflito existente, pois nem mesmo agentes submetidos ao controle do Estado, puderam
produzir e realizar uma ação minimamente coordenada‖.
Decorridos cerca de oito anos, em setembro de 2007, a ação cautelar supracitada foi julgada
pela 6ª vara da Justiça Federal da Paraíba, que culminou numa sentença favorável ao uso múltiplo
da água, incluindo-se o da irrigação, embora tenha sido condicionada a execução do planejamento e
gestão adequada da água do AEP.
Após 15 anos os conflitos se repetem, no entanto, dentro de uma nova conjuntura
institucional e jurídica, tendo em vista a criação da ANA, em 2000. A lei 9.433/97 passa por um
processo de legitimação não apenas para os diversos órgãos responsáveis pela gestão dos RH, como
também para própria sociedade, embora obviamente, tenha-se muito ainda a avançar nesse sentido,
e especialmente no que concerne a execução do que propõe essa última, a lei das águas.
Apesar do regime de distribuição pluvial na BHAEP ser fator determinante para o
surgimento de conflitos pelo uso da água, como descrito anteriormente, a ineficiência e/ou ausência
de gestão, mesmo após a grave crise vivida nos anos de 1998/2003, e os interesses políticos e
econômicos, são primordiais para análise e compreensão dos ―novos‖ conflitos emergentes em maio
de 2013.
Desde meados de 2012, iniciou-se um movimento da sociedade civil organizada visando
encontrar uma solução relacionada à gestão da água do referido manancial, ou seja, que os órgãos
gestores adotassem os procedimentos legais para reduzir o volume de água retirado. A adoção
dessas medidas evitaria, em parte, conflitos, em maior proporção, pelo uso da água.
A Assembleia Legislativa da Paraíba, em 22 de março de 2013, realizou uma sessão
especial, na Federação das Indústrias da Paraíba (FIEP), Campina Grande, em ―homenagem ao dia
mundial da água‖, na qual foi apresentada uma palestra mostrando a situação hídrica do AEP, cuja
previsão seria o colapso para os próximos meses. Naquela oportunidade, o coordenador do DNOCS,
no estado da Paraíba, informou que seria determinada a suspensão da irrigação, nas margens do
AEP, a partir do mês de abril. Esse prazo criou uma tensão muito forte para os agricultores
irrigantes.
O presidente da associação dos irrigantes tentou expor suas propostas para não suspender a
irrigação totalmente. No entanto, não houve espaço para a apresentação, uma vez que segundo ele
―ao começar a falar a maioria das autoridades e demais representantes da sociedade, retiraram-se‖.

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É indispensável destacar que tanto nos conflitos observados há quinze anos, quanto nos
atuais, não há a inserção do setor industrial e comercial no debate acerca das medidas a serem
adotadas para utilização racional das águas do AEP, especialmente de Campina Grande, haja vista
ser a cidade que apresenta maior consumo. Nesse contexto, o gestor municipal de Boqueirão
destacou a respeito dos agricultores que ―a gente sempre foi um réu que nunca teve direito a
defesa‖.
Ressalta-se que novo debate promovido na Federação das Indústrias do Estado da Paraíba
(FIEP), Campina Grande, em 08 de maio 2013, com a participação do governo do estado e AESA, o
presidente da ANA afirmou que o AEP estava longe de um colapso, como previu o estudo
apresentado por pesquisadores da UFCG. Acrescentou ainda, ―é um nível que precisa de atenção,
mas que não chega a ser alarmante como em outros reservatórios da Paraíba e do Nordeste‖.
Contudo, ressaltou que medidas preventivas como a suspensão da irrigação seria tomada.
Em 13 de maio de 2013 técnicos da ANA chegaram a Boqueirão para notificar os
agricultores que seriam proibidos de irrigar a partir de 17 junho de 2013. Após vários momentos de
tensão com agricultores (Associação dos Irrigantes), Sindicato dos Trabalhadores Rurais, e
autoridades locais (Prefeito e Vereadores), os técnicos da referida agência, acordaram que dariam
uma resposta, ainda naquela noite.
O acordo com a ANA resultou na suspensão imediata das notificações emitidas aos
irrigantes, desde que houvesse um compromisso por parte deles em colaborar com os técnicos para
iniciar um processo de construção do marco regulatório para uso das águas. Para isso, teria como
ponto de partida as visitas (fiscalização que seria feita àquela semana) aos agricultores ribeirinhos.
De posse dos resultados dessa primeira fiscalização e a pedido da ANA, realizou-se em 18
de junho de 2013, uma audiência no Ministério Público Estadual (MPE), Campina Grande, com a
participação das promotorias do meio ambiente e do consumidor, além de representantes do
DNOCS, AESA e CAGEPA. O termo de audiência firmado entre os supracitados órgãos foi
propugnado pelo superintendente de regulação da ANA, dentre as quais, constava a seguinte
medida: Nenhum novo irrigante ingressará no sistema, sendo possível o uso das águas para
irrigação no limite de 05 hectares, até fevereiro de 2014, quando inicia o novo período chuvoso;
Essas decisões foram consideradas uma grande conquista pela população rurícola da
BHAEP. Embora o presidente da AESA tenha salientado a dificuldade para alcançá-las ao destacar:
―assim na reunião no MPE, a primeira coisa que o promotor do meio ambiente foi a do
cumprimento da decisão judicial, cumpra-se a lei, decisão judicial é para ser cumprida‖.
É indispensável, reiterar que em setembro de 2007, a decisão judicial existente como
impedimento à prática da irrigação no AEP foi julgado, favoravelmente a esta, desde que houvesse
a gestão adequada. A posição do promotor e do curador do meio ambiente, na crise anterior,

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destacada pelo representante da AESA é que a sentença proferida pela Justiça Federal da Paraíba,
há sete anos atrás ainda não foi legitimada pela promotoria estadual.
Quanto às fiscalizações a ANA, foram feitas quatro campanhas entre maio e setembro de
2013, visando averiguar o cumprimento do limite de áreas (acordado) de até 5 hectares para
irrigação por propriedade e coibir a instalação de novas áreas irrigadas. Foram executadas 131
vistorias a irrigantes e a CAGEPA.
Os poderes constituídos realizaram três audiências públicas entre junho e dezembro de 2013,
das quais participaram ANA, DNOCS, AESA, CAGEPA, Associação Técnico Científico Ernesto
Luiz de Oliveira Junior (ATECEL), Instituto Nacional do Semiárido (INSA), UFCG, Assembleia
Legislativa da Paraíba, Câmara de Vereadores de Campina Grande e Boqueirão, Colônia de
Pescadores Z – 8, Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Boqueirão, Associação dos Irrigantes do
AEP, Prefeito de Boqueirão, sociedade civil, Fundação Parque Tecnológico da Paraíba (PacTcPB) e
Defesa Civil/CG.
As audiências públicas, de um modo geral, foram encontros importantes de negociação entre
os diferentes atores e órgãos, das quais resultaram ações, medidas, discussões positivas, momentos
de tensão, interesses defendidos, dentre outros, contudo configuraram-se como um espaço de
diálogo, de participação coletiva, exemplo do quanto é difícil construir a gestão dos RH
descentralizada e participativa.
No entanto, em 29 de março de 2014, a ANA após de ter prorrogado a suspensão da
irrigação que iniciaria em fevereiro, reuniu-se com a Associação dos Irrigantes, DNOCS, Sindicato
dos Trabalhadores Rurais e sociedade civil boqueirãoense para anunciar que a partir de 01 de abril a
irrigação estaria proibida.
Na ocasião, os agricultores questionaram sobre quem irá subsidiá-los se realmente a
irrigação for paralisada, e que medidas serão adotadas para indústria e comércio, já que de acordo
com a lei 9.433/97, em situação de escassez, o uso prioritário da água é apenas para consumo
humano e animal.
Decorridos vários momentos de tensão, foi proposto pela Associação dos Irrigantes que a
irrigação fosse permitida apenas três vezes na semana, quatro horas por dia, tendo em vista que a
estação chuvosa na BHAEP iniciou-se em março, e há esperança de chuvas para os três próximos
meses. A ANA deu parecer favorável a referida proposta, no entanto, em 30 de abril de 2014, caso
não houvesse recarga do AEP, a irrigação seria totalmente proibida.
Enfim, após varias negociações entre a Associação dos Irrigantes com a ANA e com base no
contínuo monitoramento do AEP feito por esta, a irrigação foi permitida apenas para culturas
permanentes até 07 de julho de 2014, quando foi totalmente proibida.

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No que concerne ao subsídio para os agricultores estão sendo feitas reuniões com os
diversos órgãos competentes, o fato é que desde março de 2013, isso já era cogitado por estes, no
entanto, até o momento (27/07/2014) nada foi resolvido. Bem como, nenhuma medida foi
estabelecida para os demais usuários de água, especialmente, indústria, comércio e construção civil,
contrariando, desta forma o que prevê a lei das águas 9.433/97.

CONCLUSÕES

O regime de distribuição de chuvas às margens da BHAEP inviabiliza o sistema agrícola de


sequeiro, sendo a complementação da água, via irrigação, uma prática indispensável ao
desenvolvimento da agricultura local. A escassez e/ou a irregularidade na quantidade e distribuição
da chuva são as fontes iniciais para desencadear os conflitos pelo uso da água para fins de
abastecimento publico e de uso na agricultura irrigada.
A tomada de decisão, do quanto deve se retirar de água do AEP, deve obedecer aos aspectos
legais, hidrológicos e ambientais. Os aportes de água para o AEP, nos dois anos consecutivos 2012-
2013, foram insignificantes (menos de 8 milhões de m3). As medidas legais e as campanhas pela
economia de água, em 2013, resultaram numa redução média mensal da ordem de 24,5 % quando
comparada com 2012.
A segurança hídrica do AEP e a gestão da água são condições sine qua non tanto para
garantir o abastecimento de água do Compartimento da Borborema, inclusive de Campina Grande,
quanto para atender à atividade agrícola e pesqueira na BHAEP, viabilizam, portanto, a promoção
do desenvolvimento sustentável local e regional. Destarte, novas pesquisas acerca dessa unidade de
planejamento são imprescindíveis para que tal desenvolvimento seja possível.

REFERÊNCIAS

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Brazil. In: Sustainable water management in the tropics and subtropics and case studies in
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Paraíba. In: Universidade Estadual da Paraíba, Monografia (Especialização em Geoambiência e
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MONITORAMENTO DO RIO CABOCÓ, SANTA RITA – PB: UM ESTUDO


COMPARATIVO DAS ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS, MICROBIOLÓGICAS E OS
IMPACTOS AMBIENTAIS AO SEU ENTORNO

Hellen Carneiro ALVES


Engenheira Ambiental - FPB
hellenacarneira@gmail.com
Elaine Costa Almeida BARBOSA
Professora Mestre em Educação e Mestranda em Energias Renováveis – UFPB
elaineaumeida@gmail.com
Gláucio de Sales BARBOSA
Professor Mestre em Educação – FPB
glauciolex@gmail.com

RESUMO
Água sendo um bem essencial para a vida, As constantes avaliações e monitoramentos da qualidade
dos rios que atravessam as cidades bem como seus afluentes, são fundamentais. Esses rios sofrem
os impactos do desenvolvimento urbano devido às instalações das indústrias ao longo do seu curso,
lançando seus efluentes de maneira inapropriada e causando danos para à qualidade da água e ás
comunidades circunvizinhas. No município de Santa Rita-Paraíba, localizada na região
metropolitana de João Pessoa, o Rio Cabocó encontra-se por cercado de canaviais em quase toda
suas margens, não possuindo no seu entorno à mata ciliar. Desta forma, o presente estudo tem como
objetivo monitorar e realizar uma analise comparar os parâmetros físico-químicos e
microbiológicos da água do rio Cabocó, bem como observar se há uma influência de lançamento de
usina de cana-de-açúcar ao longo do seu percurso. A partir da interpretação dos dados coletados foi
possível definir que o rio sofre influência das plantações de cana-de-açúcar instaladas no entorno do
curso do rio. Isso é resultado do lançamento da vinhaça sem os devidos cuidados necessários, e
aumentando a carga de matéria orgânica no corpo hídrico. Outro fator determinante foi à influência
sofrida pela comunidade que vive no entorno do rio que devido à falta estrutura de saneamento
básico lançam efluentes domésticos de maneira inadequada comprometendo a qualidade da água.
Palavra-chave: Corpo Hídrico, Qualidade da Água, Interpretação.
ABSTRACT
Water being essential for life, the constant assessments and monitoring of the quality of the rivers
flowing through the cities and its tributaries, are fundamental. These rivers are suffering the impacts
of urban development due to the facilities of industries along its course, releasing its effluents
inappropriately and causing damage to the quality of water and surrounding communities. In the
municipality of Santa Rita-Paraíba, located in the metropolitan region of João Pessoa, the Rio
Cabocó is surrounded by sugarcane fields in almost all its banks, not having in its surroundings to
the riparian forest. In this way, the objective of this study is to monitor and conduct a review
compare the physical, chemical and microbiological parameters of the water of the river Cabocó, as
well as see if there is an influence of launching facility of sugar cane along your route. From the
interpretation of the data collected was possible to define that the river is influenced by sugar cane
plantations are installed around the course of the river. This is the result of the launch of the stillage
without the due care required, and increasing the load of organic matter in the water body. Another
factor was the impact suffered by the community that lives in the vicinity of the river that due to

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lack of basic sanitation launch domestic effluents in an inappropriate manner affecting the water
quality.
Keyword: Water Body, Water Quality, Interpretation.

INTRODUÇÃO

A água sustenta a existência dos ecossistemas naturais e as atividades humanas. Dentre


estas, ela sustenta os três setores da economia propulsores do desenvolvimento, quais sejam os
setores Primários, Secundário e Terciário (JACINTO JUNIOR; BARBOSA, 2016).
A qualidade da água depende de vários fatores dentre estes, substâncias presentes que
podem afetar seu uso. Outros fatores que podem ser citados são: o clima, a geologia, os solos e as
vegetações das bacias hidrográficas. Todos são exemplos que influenciam a qualidade d‘água. Tais
substâncias são possíveis de serem identificadas através de medidas de qualidades. Essas medidas
estão classificadas como: categorias físicas, químicas e biológicas. Essas classificações indicam a
relevância dos efeitos dos impactos na qualidade dos corpos hídricos (CARVALHO et al., 2016).
Sendo assim, são necessárias constantes avaliações na qualidade da água através de
monitoramento e avaliação, bem como o constante planejamento e gerenciamento dos recursos
hídricos. Sendo a água, um recurso renovável, porém finito, em caso de escassez ou impropriedade,
esta limitaria o próprio desenvolvimento (SILVA et al., 2002).
Enfrentamos uma crise hídrica e os rios sofrem fortes consequências por conta das Usinas
Sucroalcooleiras e Indústrias que se instalam perto de corpo hídrico, sendo à água fundamental no
desenvolvimento desses empreendimentos. Como exemplo desse impacto cerca de 70% do total do
consumo de água doce é utilizado pela agricultura. Na maioria dos países subdesenvolvidos, esse
índice chega a 90% (UNICEF, 2015).
Assim, para realizar o controle da poluição das águas de rios e reservatórios, utilizam-se os
padrões de qualidade que definem os limites de concentrações a que cada substância das águas deve
atender. Esses padrões dependem da classificação das águas interiores, que são estabelecidas
segundo seus usos preponderantes, conforme CONAMA 2005, variando da Classe especial, até a
Classe 4.
De acordo Brasil (1997), Lei Federal 9433/97(leis das águas), fala a respeito da política e o
Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, cintando as diretrizes da gestão dos
recursos hídricos e ressaltando a plena efetivação através dos seguintes pontos:

 Os planos de recursos hídricos;


 O enquadramento dos corpos de água em classes de uso preponderante;
 A outorga de direitos de uso dos recursos hídricos;

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 A cobrança pelo uso dos recursos hídricos e o sistema de informações sobre recursos
hídricos (BRASIL, 1997).

Para alguns autores como Lopes et al. (2007), a ocupação urbana desordenada, ausência de
políticas apropriadas ao planejamento ambiental e urbano, carência de recursos e serviços, são
fatores que induzem à degradação do ambiente.
Reforçando tais diretrizes, Lanna (1999) ressalta que, são necessários: realização do
planejamento dos recursos hídricos, diagnóstico da situação dos recursos hídricos; analises de
alternativas de crescimento demográfico; análise da evolução das atividades produtivas; análise das
modificações dos padrões de ocupação dos solos; um balanço entre disponibilidade e demandas dos
recursos hídricos; metas de racionalização do uso da água; entre outros.
Desta forma, o gerenciamento dos recursos hídricos nas bacias hidrográficas se faz
necessário de forma urgente, pois o mau uso da água cresce rapidamente causando sérios problemas
para a população.
O uso e a ocupação do solo em uma bacia hidrográfica influenciam diretamente nas
condições ambientais da bacia. Neste sentido, ao se estudar o planejamento, uso e gestão dos
recursos hídricos, deve-se considerar as principais atividades desenvolvidas na bacia hidrográfica,
devido estas influenciarem diretamente nos processos naturais que ocorrem no ambiente, além de
influenciar na disponibilidade qualitativa e quantitativa dos recursos hídricos (SILVEIRA et
al.,2010).
O processo de eliminação de florestas na ocupação territorial do país resultou num conjunto
de problemas ambientais, como: a extinção de várias espécies da fauna e da flora; as mudanças
climáticas locais; a erosão dos solos e o assoreamento dos cursos d‘água (MARTINS, 2001).
Segundo o INPE (2012), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, embora nosso planeta
possua água em abundância, a maior parte está nos oceanos e não pode ser consumida. Apenas de
2,5% da água disponível é potável e a maior parte está nas calotas polares, geleiras e no subsolo. O
percentual acessível, ou seja, que está nos rios e lagos do planeta é de 0,3%, que devem ser
distribuídos entre todos os seres vivos terrestres e de água doce.
No entanto, essa pequena porção vem sofrendo perdas significativas por processos erosivos,
pelo uso excessivo e pela contaminação por lançamentos de esgotos não tratados e resíduos tóxicos,
principalmente agrotóxicos.
A deterioração da qualidade das águas dos corpos receptores foi um testemunho do fato de
que a legislação ambiental, emanada do setor público, não conseguiu alavancar desse mesmo setor
público, por recursos necessários para a melhoria ambiental. O ônus maior tem recaído sobre
poluidores privados, como as indústrias que, pressionados pelos órgãos ambientais por um lado, e a

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deficiência dos órgãos estatais tem convivido com a inadimplência ambiental, ou com o risco da
suspensão ou fechamento das atividades (SPERLING, 1998).
Diante do exposto, o presente trabalho tem como objetivo monitorar e comparar os
parâmetros físico-químicos e microbiológicos da água do rio Cabocó que está inserido no município
de Santa Rita, bem como observar os impactos ambientais do seu entorno.

METODOLOGIA

O Rio Cobocó nasce da junção do Rio Una, com o Rio Engenho Novo que está situado no
munícipio de Sapé. O mesmo corta o litoral do estado da Paraíba que está localizado no município
de Santa Rita. É cercado por canaviais em quase todo o seu leito e, não possui uma boa parte da
mata ciliar. Como o município é um dos maiores produtores de cana-de-açúcar do estado, ele tem
muitas usinas possuem grande número de trabalhadores. Com isso, acelera o processo de
degradação da área e o aumento do lançamento de efluente da usina e lançamentos de efluentes
domésticos.
Conforme CONAMA Nº357/2005, o enquadramento dos corpos de água deve ser baseado
não nessariamente no estado atual, mas nos níveis de qualidade que deveriam possuir para atender
ás necessidades da comunidade. Com isso, o rio Cabocó está enquadrado na classe de número três,
que destina as águas deste para:

 Abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional ou avançado;


 Irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras;
 Pesca amadora;
 Recreação de contato secundário; e
 Dessedentação de animais.

O Rio Cobocó é vistoriado pela Superintendência de Administração do Meio Ambiente


(SUDEMA), onde os técnicos realizam coletas em cinco pontos. Estes pontos são nomeados de
CC00, CC01, CC01A, CC02 e CC03 (Fig.1) e as coletas são realizadas a cada três meses, deste os
anos de 2013,2014 e 2015.

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Figura 1- Localização dos Pontos do Rio Cabocó.

Assim, todos os rios que cortam o estado da Paraíba são monitorados pela SUDEMA, que é
responsável pela realização de todos os monitoramentos.
Foi realizada uma pesquisa bibliográfica e documental utilizando acervo do laboratório da
Superintendência de Administração do Meio Ambiente (SUDEMA). Também foram realizadas
pesquisas em matérias científicos para demonstrar a importância dos corpos hídricos. Também
foram feitas pesquisas experimental seguindo o manual do Standard Methods para análises de
Temperatura, Cor, Turbidez, pH, Condutividade Elétrica, Sólidos Dissolvidos Totais, DBO,
Oxigênio Dissolvidos e Coliformes Termotolerantes.
Coletaram-se, no presente trabalho, amostras de água de um corpo hídrico da zona rural do
município de Santa Rita-PB. Foram coletadas cinco amostras, ao longo do leito do rio Cabocó.
As informações sobre o detalhamento dos cincos pontos, como os dados do rio Cabocó,
foram cedidas pela SUDEMA, através a ida a campo a cada local de amostragem aonde foram
tiradas registros fotográficos de cada local, também foram retiradas as coordenadas geográficas dos
cincos pontos de amostragem (Tab.1).

Tabela 1- Localização Das Amostras.

Depois de ter realizado todas as coletas nos cincos pontos, todas as amostras foram enviadas
para o laboratório da Coordenação de Medições Ambientais (CMA) da SUDEMA para ser

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realizados analises de pH, Condutividade, Turbidez, Cor, Temperatura, Sólidos Dissolvidos Totais,
Oxigênio Dissolvido, DBO5 e Coliformes Termotolerantes. Cada ponto coletado foi analisado por
procedimento que segue a metodologia do Standard Methods (SMEWW 22ª Ed. Método(s): 5210B,
SMEWW 22º ED. Método(s): 4500H+B).
As amostras foram coletadas em garrafas próprias pra este tipo de coleta, devidamente
esterilizados e são mantidas em depósitos com gelo até o momento a ser analisadas.
Para realizar o procedimento da medição dos parâmetros de Turbidez, Sólidos Dissolvidos
Totais, Cor, Oxigênio Dissolvido e pH são realizados em equipamentos próprios para cada tipo de
parâmetro. Para a realização do ensaio bacteriológico, segundo o que está descrito no Standard
Methods (APHA; AWWA; WEF,1995), o de Filtração de Membranas.

RESULTADOS E DISCURSÕES

O Rio Cabocó tem em seu curso um grande número de plantação de cana-de-açúcar e


também possui um grande número de moradias e usina localizadas próximo ao rio.
Este rio recebe efluentes de esgoto doméstico dos moradores que vivem nas proximidades
da usina e efluentes provenientes da produção da cana-de-açúcar, e agrotóxicos que são utilizados
nas plantações.
Os pontos de amostragem estão localizadas em áreas enquadradas como Classe 3, segundo o
DZS 205 (SUDEMA, 1988), que classifica os corpos d‘água da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba,
sendo parte do Sistema Estadual de Licenciamento de Atividades Poluidoras- SELAP. Com isso
fornece auxílio para o acompanhamento das análises laboratoriais trimestrais realizadas nos meses
de Março, Junho e Outubro do ano de 2014, nos meses de Junho, Setembro e Novembro do ano de
2015 e nos meses de Março, Julho, Setembro e Novembro do ano de 2013, com os parâmetros
estabelecidos na Resolução Nº 357, de 17 de março de 2005.

MONITORAMENTO DO PONTO CC00

Nos anos de 2013, 2014, 2015 foram realizadas análise no período dos meses de Março,
Julho, Setembro, Outubro e Novembro. A estação de amostragem CC00 no parâmetros: Oxigênio
Dissolvido, o valor permitido é maior que 4mg/L, com destaque para o mês de Setembro de 2015
que está em conformidade o limite estabelecido pela Resolução CONAMA Nº 357/2005 (Tab.2).
A Demanda Bioquímica (DBO5) cujo valor aceitável é de até 10mg/LO2 e o Coliforme
Termotolerantes é permitido até 4000 UFC/100ml não apresentou um padrão uniforme de acordo
com a Resolução. Os outros parâmetros como Turbidez, Sólidos Dissolvidos Totais, Temperatura,
pH e Condutividade estão de acordo à legislação vigentes.
O rio que vem também passando pelo processo de assoreamento e diminuiu

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consideravelmente o seu nível de água. Uma das principais causa e o desmatamento para
implantação da área, a exposição do solo no período da retirada da cana.

Tabela 2- Análises do ponto CC00 do Rio Cabocó nos anos 2013, 2014 e 2015.

MONITORAMENTO DO PONTO CC01

A Tabela 3 traz os valores obtidos para o ponto CC01. No caso do Oxigênio Dissolvido nos
anos de 2013, 2014 e 2015 apresentaram valores que não estão de acordo com os permitidos pela
legislação. Nos meses de Março, Setembro e Novembro de 2013, houve um valor significativo, é
por causa da influência do lançamento do efluente proveniente da cana-de-açúcar. Nos anos de
2014 e 2015, os resultados apresentou um déficit nos parâmetros citados na Tabela 3 por causa da
influência do clima. Nos meses de Março de 2013, Junho de 2013, Julho de 2014 e 2015 e no mês
de Setembro de 2015, os dados apresentaram conformidade com o valor descrito pela Resolução
CONAMA 357/2005.

Tabela 3- Análises do Rio Cabocó no ponto CC01 nos anos 2013, 2014 e 2015.

MONITORAMENTO DO PONTO CC01A

De acordo com a Tabela 4, os valores que estão em destaque, apresentaram significância,


por influência principalmente da colheita e moagem da cana-de-açúcar, e por conta da quantidade

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de planta que fica no entorno do leito do rio interferindo no aumento desses valores. Estação se
localiza próximo ao lançamento do efluente e também está próxima a captação do efluente o que
pode influenciar na oscilação de acordo com os valores permitidos em lei. Porém, nos outros meses
indicado pela Tabela 4, nota-se que no período da coleta das amostras, o fator principal para estes
valores foi o clima.
No ponto CC01A, quase não visualizamos o rio, Estes vegetais contribuem para que o rio
não tenha capacidade de se auto depurar e por isso que a um índice alto de Oxigênio. Também neste
ponto, foi observado que ele fica próximo aonde a usina lança seus efluentes e a sua temperatura
está acima do permitido pela Resolução CONAMA de Nº 357 de 2005 são um dos fatores que
indica que este trecho do rio não tem condições de se recuperar.

Tabela 4- Análises do Rio Cabocó no ponto CC01A em 2013, 2014, 2015.

MONITORAMENTO DO PONTO CC02

A Tabela 5 apresentou no mês de Novembro de 2015, um acréscimo significativo no


parâmetro de Coliformes Termotolerantes, em desacordo com os limites estabelecidos pela
Resolução CONAMA 357/2005. A causa de esse aumento dar-se pelo motivo é de uma grande
quantidade matéria orgânica que se encontra no trecho deste ponto, como indicando na Tabela 5
com isso ajudando o desenvolvimento de bactérias que está presente neste local.
Outra influência para o aumento desse valor é a diminuição do Oxigênio Dissolvido e o
aumento da Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO5) que contribui muito para o aumento do
parâmetro de Coliformes termotolerantes que também é influenciada pela temperatura que é outro
fator que ajuda nesse desenvolvimento.
Neste ponto CC02, a água vem sendo retirada pelo sistemas de bombas, para ser utilizada
para irrigar a plantação de cana-de-açúcar e também pra uso da comunidade que fica entorno.

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Tabela 5- Análises do Rio Cabocó no ponto CC02 em 2013,2014, 2015.

MONITORAMENTO DO PONTO CC03

A tabela 6 mostra o mesmo déficit encontrado nas últimas tabelas citadas. A estação de
amostragem CC03 está localizada próxima da comunidade que está ao entorno do rio.
Com isso os valores que são apresentado pela Tabela 6 dar-se pelo mau uso da água como o
lançamento de efluentes domésticos e os efluentes que são depositados pela usina no seu leito,
gerando alterações nos parâmetros principais que indicam a qualidade do corpo hídrico.
A imagem 6 mostra outro ponto onde vem sendo retirada a água pelo sistema de bomba para
abastecer a produção da usina sucroalcooleira e a comunidade que se localiza próximo ao rio. Nesse
ponto pode-se observar que o curso estava totalmente assoreado e alguns pontos não tinha água
suficiente para alimentar o resto do seu percurso, também existia criações bovinas no entorno do
ponte de amostragem, com isso contribuindo para degradação do corpo hídrico.

Tabela 6- Ponto CC03

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CONCLUSÕES

O estudo permitiu observar que o monitoramento realizado pela SUDEMA, mostra que o
corpo hídrico apresenta um nível de impacto ambiental proveniente das atividades humanas
presente ao longo do seu percurso. Por isso que os principais parâmetros que definem a qualidade
da água do rio não estão em conformidade com as leis, com isso os outros parâmetros estão nos
limites estabelecidos. Os parâmetros que indicam a qualidade de um corpo hídrico que estão em não
conformidade se dar por conta da remoção das matas ciliares, construção de usina sucroalcooleira,
assoreamento dos cursos de água, construções de barragem para ser utilizadas nos plantios de
canas-de-açúcar. Outros motivos que causa esse agravamento são os lançamentos dos efluentes
domésticos e das usinas, bem como o uso e ocupações do solo próximas ao leito são apenas
algumas das atividades que alteram as condições naturais do ambiente, por meio da contaminação
por substâncias nocivas ao corpo receptor.
Ainda segundo os autores, no Brasil, o regime de chuvas apresenta de acordo com a
localidade, grande diferença entre estação seca e chuvosa em diferente épocas do ano. Esta
destinação entre a estações do ano interferem na qualidade da água, em razão das condições
climáticas e da eventual sazonalidade de lançamentos poluidores e das vazões.
O rio Cabocó necessita de um monitoramento mais constante para pode analisar e
acompanhar a sua evolução e os órgãos ambientais deveriam monitorar as usinas e seus
lançamentos no corpo receptor. O rio Cabocó Também se encontra em condições críticas, com
vários tipos de impactos ambientais, tais como o assoreamento, a retirada da mata ciliar no entorno
do leito do rio, também podemos observar a construção de usinas e um grande plantio de cana-de-
açúcar. Observamos também comunidades que vivem no entorno do rio os principais moradores
dessas comunidades são trabalhadores que trabalham na usina e com esses impactos citados
aceleram cada vez mais o processo de degradação do rio Cabocó.
Ao longo do percurso de cada ponto foi observado mudança no seu curso natural, pois onde
está situada este corpo hídrico apresenta grandes plantações de cana-de-açúcar, comunidade no
entorno do seu percurso e, constatamos o lançamento de Vinhaça produzido pela indústria
canavieira que fica próxima ao leito do rio;
Diante dos resultados apresentados nesta pesquisa, podem ser ressaltada a necessidade de
aprofundamento no tema estudado, como por exemplo: Um monitoramento da nascente para
analisar o impacto causado pelo plantio de cana-de-açúcar para um possível mitigação dos danos no
coro hídrico; O desassoreamento removendo matérias de sedimentação acumulados no curso do
rio; Outro ponto importante para pesquisas futuras que visam a recuperação do rio Cabocó é o
reflorestamento da mata ciliar para que haja proteção do seu leito e do solo.
Os benefícios para a comunidade circunvizinhas do rio Cabocó, com a mitigação dos
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impactos ambientais causados pelas usinas sucroalcooleiras são entre outras o aumento da qualidade
de vida, melhor uso do recurso do rio para atividades diversas ligadas a subsistência no combate a
pobreza e as ameaças geradas pela poluição das águas.

REFERÊNCIAS

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

TECNOLOGIA SOCIAL HÍDRICA NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO

Isabel de Araújo MENESES


Engenheira Sanitarista e Ambiental, Mestranda em Engenharia Civil e Ambiental UFPB
isabelaraujof@hotmail.com
Laís Costa LIMA
Engenheira Ambiental, Mestranda em Engenharia Civil e Ambiental UFPB
Laiscosta15@hotmail.com

RESUMO
A escassez hídrica e a gestão deficitária dos recursos hídricos são problemas que acometem
diversos municípios brasileiros, e o semiárido brasileiro sofre ainda mais com seus efeitos. O
presente artigo tem por objetivo analisar as tecnologias sociais hídricas e sua aplicação no semiárido
brasileiro, para isso utilizou-se uma metodologia de pesquisa bibliográfica e documental, de caráter
exploratório. Fez-se a coleta de dados, através da Articulação no Semiárido Brasileiro e da
Fundação Banco do Brasil, baseado nisso obteve-se que a TSH que apresentou maior uso no
semiárido brasileiro foram as cisternas com cerca de 84,5%, em segundo lugar o Barreiro de
Trincheira (10,51%) e as demais apresentaram percentual abaixo de 2%. Além disso conclui-se que
a utilização essas TSHs contribui para amenizar a escassez hídrica, mas, se aplicadas sozinha, não
são suficientes para transformações socioeconômicas e a consolidação da sustentabilidade.
Palavras-chaves: Tecnologia Social Hídrica. Semiárido. Escassez hídrica.
ABSTRACT
Water scarcity and poor management of water resources are problems that affect several Brazilian
municipalities, and the Brazilian semi-arid region suffers even more with its effects. The present
article aims to analyze water social technologies and their application in the Brazilian semi-arid
region, for which a documentary research and bibliographic research was used as a methodology.
The data were collected through the Articulation in the Brazilian Semi-Arid and Banco do Brasil
Foundation, based on this, it was obtained that the TSH that presented the highest use in the
Brazilian semi-arid region was the cisterns with about 84.5%, secondly The Barreiro de Trincheira
(10.51%) and the others had a percentage below 2%. Besides that, it is concluded that the use of
these TSHs helps to alleviate water scarcity, but, if applied alone, are not enough for socioeconomic
transformations and consolidation of sustainability
Key-words: Social Water Tecnology. Semi-arid. Water scarcity.

INTRODUÇÃO
As tecnologias alternativas de convivência com a escassez hídrica vêm ganhando espaço
na medida em que tem sua eficácia comprovada. As características que determinam tais tecnologias
são: adaptabilidade, replicabilidade, baixo custo de implantação e manutenção e facilidade de
apropriação pelos atores sociais envolvidos.
A Tecnologia Apropriada (TA) é conceituada por Dagnino (1976), como um conjunto de
técnicas de produção que utiliza de maneira otimizada os recursos disponíveis de certa sociedade,
melhorando sua qualidade de vida. Contudo, a aplicação efetiva de tais tecnologias pela

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comunidade origina o termo ―Tecnologia Social‖(TS), que compreende além do processo


tecnológico, valores socioambientais e a construção do processo democrático, fundamentada na
coletividade, representando soluções para os problemas locais.
No que diz respeito à participação das TS no Brasil, ao longo do ano de 2004, surgiu o
Instituto de Tecnologia Social (ITS), o qual vem trabalhando desde sua fundação pela acessibilidade
do sistema nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação e, também, afirmando o papel da sociedade
civil como produtores de conhecimento. Além desta instituição, a Fundação Banco do Brasil (FBB),
possui um Banco de Tecnologias Sociais (BTS) e o prêmio Fundação Banco do Brasil de
Tecnologia Social, criado em 2001, como principal instrumento de identificação e certificação de
TS‘s.
Destaca-se também, a Rede Tecnologia Social, que reúne, organiza, articula e integra um
conjunto de instituições com o propósito de contribuir para a promoção do desenvolvimento
sustentável a difusão e replicação em escala de Tecnologias Sociais. E no que tange ao semiárido
brasileiro, a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) que ―defende, propaga e põe em prática,
inclusive através de políticas públicas, o projeto político de convivência com o semiárido‖ (ASA,
2017).
Diante das Tecnologias Sociais desenvolvidas, aquelas relacionadas aos recursos hídricos
são assim denominadas de ―Tecnologia Social Hídrica. O termo ―Tecnologia Social Hídrica‖ pode
ser conceituado como um ―conjunto de técnicas, relacionadas à captação, armazenamento e manejo
das águas da chuva, apropriadas pela população. Compreende assim, uma metodologia
participativa, baseada nos próprios saberes locais e construídas a partir de um processo democrático
tendo como finalidade a transformação social‖ (OLIVEIRA, 2013). Segundo Buriti (2015), ―essas
tecnologias tem contribuído para a autonomia e sustentabilidade da economia familiar, bem como
para a manutenção do agroecossistema‖, garantindo segurança hídrica e alimentar.
Portanto, nota-se a importância do entendimento sobre tecnologias sociais hídricas, tanto
numa abordagem conceitual como na aplicação das mesmas no estado da Paraíba.

TECNOLOGIAIS SOCIAIS HÍDRICAS NO BRASIL E NO MUNDO

Em vários países, os períodos de seca já não representam tanto risco, tendo em vista que
políticas utilizadas para a gestão do meio ambiente são executadas de maneira a proporcionar
respostas eficientes.
Na china, devido ao crescimento populacional o tamanho médio das terras na região
semiárida é de um hectare por família, o que acarreta em pequenos espaços para produção de
agrícola. Segundo o IRPAA (2015), além da limitação territorial, a população chinesa utiliza
abusivamente adubos químicos e agrotóxicos, acarretando no aumento da desertificação e

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enfraquecimento da produção. Diante desse cenário, no ano de 1990 foi criado o programa chinês 1-
2-1 (uma área de captação, duas cisternas e uma terra), o qual serviu de inspiração para o programa
P1+2. Atualmente o programa constrói quatro cisternas de 50 mil litros por família, sendo uma para
reservar água para consumo humano, uma para garantir a dessedentação animal e duas para garantir
água para produção agrícola
A Austrália, entre o ano de 1997 e 2009, enfrentou o maior período de seca registrado na
história do país. E uma das maneiras que foram utilizadas de enfretamento da escassez hídrica, foi o
reuso de águas residuais. O sistema de reuso doméstico consistia, no tratamento in loco e o
aproveitamento da água para usos menos nobres. Além disso, foram construídas usinas de
dessalinização de água do mar (CARVALHO, 2015).
Um dos maiores exemplos em dessalinização e gestão de águas é Israel. O país enfrenta a
escassez hídrica desde seu nascimento. Por causa disso, foram criadas leis de uso da água, com
sistemas de economia e região e sensibilização. De acordo com o governo israelense 80% do esgoto
coletado é reutilizado na agricultura, além de sistemas de redução do consumo de água , como
gotejamento; além do controle rígido de perdas na distribuição de água, cerca de 7 %
(CARVALHO, 2015).
No Brasil, o Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social, identificou algumas
tecnologias sociais desenvolvidas no país relacionadas com os recursos hídricos. Nos últimos anos
os projetos vencedores foram: Lago de múltiplo uso, Córrego da Serra, Barragem subterrânea com
lonas plásticas, Água viva: mulheres e o redesenho da vida no semiárido do Rio Grande do Norte,
Água limpa - Desafio para o desenvolvimento consciente e sustentável.
O Instituto do Semiárido Árido também publicou dois livros sobre ―Tecnologias
Adaptadas para o Desenvolvimento Sustentável do Semiárido Brasileiro‖, com o objetivo de
realizar uma coletânea das tecnologias sociais, existentes ou já devidamente testadas, sustentáveis e
de baixo custo, com aplicabilidade para o Semiárido brasileiro.

PROGRAMAS DE TECNOLOGIAS SOCIAIS HÍDRICAS NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO

Diante do contexto de estiagens e secas no semiárido brasileiro, as TSHs são largamente


utilizadas como tecnologias alternativas para o abastecimento da população. Além de garantir
melhor qualidade de vida para as comunidades rurais, possibilitam maior segurança hídrica e
alimentar.
O programa P1MC, surgiu nos anos 2000, visando atender as necessidades básicas da
população da zona rural, no que diz respeito ao acesso à água potável. Dessa forma, contribuindo
para a descentralização do abastecimento e a democratização da água. Os resultados alcançados
foram além do objetivo principal do programa, contribuíram com o aumento da frequência escolar,

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a diminuição da incidência de doenças, diminuição da sobrecarga de trabalho das mulheres nas


atividades domésticas.
A ASA criou em 2007 o Programa Uma Terra e Duas Águas, inspirado no Programa
Chinês 1-2-1 (uma área de captação, duas cisternas e uma terra). O nome do programa diz respeito à
estrutura mínima que as famílias precisam para produzirem, tendo em vista o espaço para plantio e
criação animal, a terra, e a água para cultivar e manter a vida das plantas e dos animais. O P1+2
integra o Programa de Formação e Mobilização Social para a Convivência com o Semiárido e o
P1MC.
O Programa de Cisternas nas escolas foi criado com a finalidade de proporcionar o acesso
à agua de qualidade e quantidade nas escolas localizadas em comunidades rurais com dificuldades
de abastecimento de água. Além do suprimento da demanda hídrica das escolas, o programa
capacita os professores sobre a gestão das águas e ainda prever a manutenção das estruturas
(BRASIL, 2017).

METODOLOGIA

Este trabalho consiste em uma pesquisa bibliográfica e documental, a qual segue os


princípios de uma pesquisa exploratória. Segundo Gerhardt (2008), a pesquisa exploratória tem
como finalidade o aumento de familiaridade com o problema, assim como o torna mais explícito
e/ou possibilita a construção de hipóteses.
A pesquisa documental foi realizada através da análise do banco de dados da Articulação
no Semiárido Brasileiro e Fundação Banco do Brasil, em que foram coletados os dados de
Tecnologias Sociais Hídricas no semiárido brasileiro.
A Região do Semiárido Brasileiro (SAB) é uma delimitação geográfica do território
nacional, tendo como marco legal a Portaria nº 89 de 16 de março de 2005 do Ministério da
Integração Nacional. O semiárido brasileiro ocupa 18,2% (982.566 Km²) do território nacional,
abrange mais de 20% dos municípios brasileiros (1.135) e abriga cerca de 11,84% da população do
país. O clima semiárido apresenta altas temperaturas, as chuvas são escassas, com precipitação
pluviométrica média anual inferior a 800mm, e mal distribuídas apresentando longos períodos de
estiagem (seca).

RESULTADOS

Segundo a ASA (2017), até o mês de abril de 2017 foram construídas 597.645 cisternas
rurais através do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC) em mais de 1.000 municípios no
semiárido brasileiro. Além disso, cerca de 600.900 famílias foram alcançadas por esse programa,

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1.220 pedreiros foram capacitados, 600.894 cisternas construídas e capacidade de estocagem de


água 9.624.608 m³.
De acordo com o Mapa de Tecnologias, até o mês de maio ano de 2017, cerca de 400 mil
pessoas foram beneficiadas pelo P1+2. As TSHs desenvolvidas pelo programa estão descritas na
Figura 4.1.

Figura 4.1 – TSHs desenvolvidas pelo P1+2 no Semiárido

De maneira geral, a TSH que apresentou maior uso no semiárido brasileiro foram as
cisternas com cerca de 84,5%, em segundo lugar o Barreiro de Trincheira (10,51%) e as demais
apresentaram percentual abaixo de 2%.
Diante da TSH (Cisternas) mais utilizada no semiárido brasileiro foram estimados valores
para construção das mesmas pelo FBB e agrupados dentro da Tabela 4.1.
TSH – CISTERNA Volume (m³) Valor

Cisterna de placa pré-moldada 16 R$ 2.400,00


Sistema de descarte das primeiras chuvas R$ 150,00
Bomba d‘água aro de trampolim R$ 226,50
Cisterna-calçadão 52 R$ 7.538,00
Cisterna Chapéu Pe. Cícero 52 R$ 5.366,34
Cisterna Enxurrada 52 R$ 7.000,00
Cisterna pré-fabricada R$ 15.000,00
Minicisterna 0,020 R$ 440,00

Tabela 4.1 – Estimativa de preços de TSHs

Tanto o Sistema de descarte das primeiras águas como a Bomba d‘água de trampolim são
tecnologias que melhoram a qualidade de vida da população e são utilizadas associadas as cisternas.
Por isso, apresentam valores mais baixos de investimento, o que possibilita a sua replicabilidade nas
comunidades.

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A Cisterna-calçadão segundo o gráfico da Figura 1 obteve maior percentual de uso no


semiárido e com relação ao valor de construção, apresentou o segundo valor mais elevado conferido
da tabela supracitada.
A Cisterna pré-fabricada, utilizada usualmente para fins de abastecimento humano e
independência hídrica de famílias rurais, possui um formato de reservatório e são projetadas com
volumes distintos. O valor estimado supõe a necessidade de pessoal capacitado e materiais com
custo mais elevado.
A minicisterna é uma TSH bastante utilizada no meio urbano, que possibilita o
aproveitamento de chuvas para usos menos nobres nos domicílios. O volume de armazenamento é
limitado dentro do espaço, contudo pode ser expandido diante da disponibilidade de aplicação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A desigualdade no acesso a água de qualidade e quantidade, principalmente nas


comunidades rurais, afetam negativamente a maioria dos municípios brasileiros.
Consequentemente, a insegurança alimentar e desnutrição da população implica a necessidade de
melhores gestões dos recursos em geral.
O desenvolvimento das comunidades rurais, a partir de uma agricultura sustentável,
quando realizada de modo participativo nas comunidades, tem como objetivo a utilização racional
dos recursos naturais, proporcionando melhorias na produção, na qualidade de vida familiar, sem
agredir o meio ambiente (FERNANDES, 2014). Dessa forma, faz-se necessário a utilização de
TSHs como técnica alternativa de abastecimento de água e otimização de sistemas.
A utilização de Tecnologias Sociais Hídricas é de suma importância para as comunidades
do semiárido brasileiro, onde o abastecimento de água é deficitário e a escassez hídrica afeta as
comunidades continuamente. Contudo, o uso de único de TSHs não são suficientes para
transformações socioeconômicas e a consolidação da sustentabilidade, pois isso requer mudanças
estruturais e políticas.

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MORFOMETRIA DA MICROBACIA HIDROGRÁFICA DA BARRAGEM


DE PAU DOS FERROS-RN

Joel Medeiros BEZERRA


Professor Adjunto A do Curso de Engenharia Ambiental e Sanitária, UFERSA23
joel.medeiros@ufersa.edu.br
Erick Ferreira de SOUSA
Bacharel em Ciência e Tecnologia, UFERSA24
efdesousa94@gmail.com
Larissa Nathane Lima de MORAIS
Bacharel em Ciência e Tecnologia, UFERSA25
larissa_nathane11@hotmail.com
Renata Sampaio FREITAS
Graduanda no Bacharelado em Ciência e Tecnologia, UFERSA
renataszfreitas@gmail.com

RESUMO
A Microbacia Hidrográfica da Barragem de Pau dos Ferros-RN (MHBPDF) está locada no alto
curso da bacia hidrográfica do rio Apodi-Mossoró, no Rio Grande do Norte, envolvendo a maioria
dos munícipios do Alto Oeste Potiguar, estando situada numa região em que as condições de
semiaridez são predominantes. Este trabalho teve como objetivo a determinação de parâmetros
morfométrico da MHBPDF, buscando caracterizar sua fisiografia (geometria), relevo e drenagem,
para o estudo do comportamento hidrológico da bacia. Foram utilizados para a delimitação
automática da bacia o Modelo Digital de Elevação (MDE), a partir do projeto TOPODATA, obtido
junto ao Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE) e utilizado o SIG gratuito e de linguagem aberta
QGIS, com auxílio do plugin SAGA. Pelas características determinadas verifica-se que a bacia
vertente em estudo denota um controle estrutural drenagem regular, com pouca tendência a grandes
enchentes em condições normais de pluviosidade anual, devido a sua forma alongada e uma rede de
drenagem bem distribuída ao longo da área da bacia, com topografia favorável ao escoamento
superficial, com predominância de relevo suavemente ondulado.
Palavras-chaves: Diagnóstico ambiental. Hidrologia. Morfometria. Geotecnologias
ABSTRACT
The Hydrographic Microbasin of the Pau dos Ferros-RN Dam (MHBPDF) is located in the upper
reaches of the Apodi-Mossoró river basin, in Rio Grande do Norte, involving most of the
municipalities of the Upper Potiguar West, being located in a region where Semiarid conditions are
predominant. The objective of this work was to determine the morphometric parameters of the
MHBPDF, aiming to characterize its physiography (geometry), relief and drainage, to study the
hydrological behavior of the basin. The Digital Elevation Model (MDE) was used for the automatic
delimitation of the basin, using the TOPODATA project, obtained from the Institute of Space
Research (INPE) and using the free GIS and open language QGIS, with the help of the SAGA
plugin. Due to the determined characteristics, it is verified that the basin under study denotes a

23
Departamento de Engenharia e Tecnologia – DETEC, Centro Multidisciplinar de Pau dos Ferros.
24
Graduando em Engenharia Ambiental e Sanitária, UFERSA.
25
Graduanda em Engenharia Ambiental e Sanitária, UFERSA.

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structural control of regular drainage, with little tendency to large floods under normal annual
rainfall conditions due to its elongated shape and a well-distributed drainage network along the
basin area, with topography favorable to the surface runoff, with a predominance of gently
undulating relief.
Keywords: Environmental diagnosis. Hydrology. Morphometry. Geotechnology.

INTRODUÇÃO

A bacia hidrográfica, também chamada de bacia fluvial ou bacia de drenagem, é definida


como uma compartimentação geográfica e hidrológica delimitada por divisores de água ou divisores
topográficos que drena água precipitada, sedimentos e materiais dissolvidos para uma saída comum,
isto é, num determinado ponto de um curso de água fluvial, também denominado de exutório
(MACHADO e TORRES, 2012; SILVA et al., 2016). É composta basicamente de um conjunto de
superfícies vertentes e de uma rede de drenagem formada por cursos d'água que confluem até
resultar um leito único no exutório (SILVEIRA, 2001).
Conforme Merten et al. (2011), uma bacia hidrográfica é formada por três diferentes
compartimentos: a bacia vertente, o ambiente ciliar que, em muitos casos, é inexistente, e a calha
fluvial que drena o fluxo de água (vazão) e os sedimentos produzidos nessa bacia.
Segundo Cruz (1980) o levantamento das formas de relevo é o ponto básico de partida para
o planejamento, principalmente quando a unidade de trabalho se refere à bacia hidrográfica, uma
vez, que são as bacias de drenagem os maiores escultores do relevo. Para Santos et al. (2012), as
características morfométricas das bacias hidrográficas são elementos essenciais para a avaliação do
comportamento hidrológico e sua relação com a maximização ou minimização dos impactos
ambientais.
Neste sentido, abordagens de gestão e planejamento do uso dos recursos naturais que
utilizam as bacias e microbacias hidrográficas como unidade básica de trabalho, são as mais
adequadas para compatibilizar o crescimento urbano com preservação ambiental (BEZERRA et al.,
2011).
Para avaliar o possível efeito de qualquer perturbação em uma bacia hidrográfica, é
necessário conhecer, inicialmente, as características do ecossistema em suas condições naturais de
equilíbrio, a fim de estabelecer comparações entre as condições hidrológicas e de qualidade da água
no ecossistema natural e os ecossistemas nos quais ocorre ação direta do homem (SANTOS et al.,
2007).
Dessa forma, as regiões locadas no semiárido brasileiro têm densas redes de reservatórios,
hidrologicamente ineficientes, segundo Mamede (2008) causadas principalmente pela construção
desenfreada de barramentos em períodos eleitorais. No entanto esses pequenos açudes garantem

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uma maior distribuição dos recursos hídricos e retenção de parte do sedimento que seria carreado
para reservatórios a jusante.
O reservatório de Pau dos Ferros, está inserido no município de Pau dos Ferros-RN, o qual
abastecia parte da área de transição urbana/rural dos municípios situados no Oeste Potiguar, Estado
do Rio Grande do Norte, diante dos eventos sazonais de estiagem apresenta volume debilitado,
limitando os seus usos múltiplos, em virtude da escassez hídrica da barragem.
Nesse contexto tem-se a Microbacia Hidrográfica da Barragem de Pau dos Ferros
(MHBPDF), objeto deste estudo, a qual tem um elevado grau de antropização, caracterizando-se
pelas atividades econômicas e urbanização crescente, portanto necessitando de um planejamento
que vise o monitoramento das atividades em andamento e das atividades futuras. A MHBPDF está
locada no alto curso da bacia hidrográfica do rio Apodi-Mossoró.
Localizada no Semiárido Potiguar, percebe-se que há uma urgente necessidade de promover
uma gestão integrada, com vistas ao uso sustentável e a conservação dos recursos hídricos, tal como
promover a preservação do bioma Caatinga.
Segundo Faustino et al. (2014) a bacia hidrográfica é considerada uma unidade de gestão
territorial importante para os estudos ambientais e territoriais. Logo, a caracterização das formas do
relevo, da rede de drenagem e da bacia vertente, tornam-se essenciais para a identificação de áreas
em desequilíbrio ambiental, demostrando-se uma das maneiras mais eficientes para promover o
gerenciamento integrado desse ambiente (MACHADO e TORRES, 2012; SANTOS et al., 2012;
FAUSTINO et al., 2014; BEZERRA et al., 2015a).
O uso de Sensoriamento Remoto e Sistemas de Informações Geográficas (SIG‘s) para
mapear e extrair informações morfométricas das bacias hidrográficas são fundamentais, pois
auxiliam na interpretação do espaço geográfico e obtenção de informações espaciais (BEZERRA et
al., 2015a; BEZERRA et al., 2015b).
Portanto, nesse estudo teve como objetivo a determinação de parâmetros morfométricos da
Microbacia Hidrográfica da Barragem de Pau dos Ferros, buscando caracterizar sua fisiografia
(geometria), relevo e drenagem, para o estudo do comportamento hidrológico da bacia.

METODOLOGIA

A barragem de Pau dos Ferros (BPDF) está localizada no município de mesmo nome, estado
do Rio Grande do Norte, na mesorregião do Oeste Potiguar (Figura 1). Está inserida no domínio do
clima semiárido do tipo Bsh de Köppen-Geiger, com o verão mais chuvoso que o inverno,
precipitação média anual de 827 mm, temperatura média de 26,7 °C, com a máxima atingindo os
31,9 ºC nos meses de outubro, novembro e dezembro e mínima de 21,6 ºC nos meses de junho,
julho e Agosto. A baixa nebulosidade e forte insolação (ANA, 2016; CPTEC, 2016, dados tomados

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a partir de 1911), acarreta um forte déficit hídrico na região. Tais características, aliadas à
dominância de solos rasos e pouco profundos, tem acarretado sérios e históricos problemas de
escassez de água, que se tornam mais severos nos casos de secas mais prologadas. A geomorfologia
da região é caracterizada por duas feições: a depressão sertaneja e o planalto da Borborema (CPRM,
2017).
Para minimizar os efeitos das estiagens na região, o governo federal, através do
Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), construiu várias barragens no
semiárido, tendo sido o município de Pau dos Ferros - RN contemplado com umas dessas barragens
públicas. Inaugurada em dezembro de 1968, a barragem de Pau dos Ferros apresenta uma
capacidade total armazenamento de 54.846.000 m³ de água, cuja destinação principal é o
abastecimento humano e a irrigação de áreas pertencentes aos pequenos produtores rurais do seu
entorno (OLIVEIRA NETO et al., 2016).

Figura 1 – Localização da barragem de Pau dos Ferros/RN contendo a divisão política dos municípios
inseridos. Fonte: Elaborado pelos autores (2017)

Inicialmente realizou-se delimitação automática da bacia hidrográfica, em que foi


manuseado o Modelo Digital de Elevação (MDE), a partir do projeto TOPODATA, obtido junto ao
Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE), com resolução espacial de pixel de 30 m, projeção UTM e
elipsoide de referência datum horizontal World Geodetic System (WGS84), zona 24 Sul, referente a
folha 06S39_ZN, a qual fornece dados de altitude.
As análises espaciais foram realizadas através da ferramenta do Sistema de Informação
Geográfica (SIG) gratuito e de linguagem aberta QGIS versão 2.14, juntamente com o
complemento (plug-in) do algoritmo do SAGA, que consiste em um conjunto de ferramentas que
permitem a delimitação de bacias hidrográficas de maneira automática, rápida e objetiva, como
relatado por Medeiros e Bezerra, 2016.
Para a análise morfométrica da Microbacia Hidrográfica da Barragem de Pau dos Ferros
(MHBPDF) foram trabalhadas cartas temáticas geradas a partir de imagens raster do MDE
TOPODATA, citada anteriormente. Sendo utilizado da ferramenta SIG QGIS 2.14 para a manuseio
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do MDE, utilizando deste como entrada para a geração do mapa de declividade e definição dos
tipos de relevos encontrados na área, sendo necessário adotar a metodologia Fill Sinks, a qual serve
para identificar e preencher as depressões da superfície no MDE, visando determinar a direção do
fluxo e a divisão das microbacias com apenas um comando, conforme proposto por Wang e Liu
(2006).
Foram trabalhadas as ferramentas de modelagem hidrológica disponíveis no QGIS plugin
SAGA para inserir consistência da drenagem no MDE, bem como, refiná-lo para que o fluxo do
escoamento superficial pudesse ser explorado na delimitação da bacia hidrográfica, no ordenamento
da hidrografia e no posterior cálculo do número de segmentos de rios. A obtenção de comprimento
total dos arcos da drenagem e hidrografia, bem como dos valores de altitude máxima e mínima, foi
possível com o uso de ferramental estatístico do SIG.
Realizou-se a extração automática das redes de drenagens da MHBPDF obtendo o
delineamento dos canais e suas hierarquizações. Com o uso das ferramentas de direção de fluxo e
fluxo acumulado obteve-se a malha da rede de drenagem, adotando-se o valor 100 como número
mínimo de células para a geração de fluxo e determinou-se à área da microbacia pela ferramenta
Upslope Area. Utilizando os recursos do SIG foram calculados e comparados os parâmetros físicos
(características geométricas, do relevo e da rede de drenagem) da MHBPDF, conforme Tabela 1.

Tabela 1. Parâmetros morfométricos a serem avaliados na MHBPDF.


CARACTERÍSTICAS GEOMÉTRICAS Equação
Área de drenagem (A) Área plana (projeção horizontal) inclusa entre seus divisores
A
topográficos (km²)
Perímetro da bacia (P) Linha imaginária que delimita a bacia através de um divisor de
P
águas principal (km)
Em que: A é a área de drenagem da bacia (km2) e L o comprimento
Fator de forma (Ff) do curso d‘água principal da bacia (km). Sendo avaliado conforme
Villela e Mattos (1975).
Relaciona o perímetro da bacia com o perímetro de uma
circunferência de área igual à da bacia, em que quanto mais
Coeficiente de
próximo de 1, mais circular será a bacia e maior será sua
compacidade (Kc) √
capacidade de proporcionar grandes cheias (MELLO & SILVA,
2013).
Tende para a unidade à medida que a bacia se aproxima da forma
Índice de circularidade
circular e diminui à medida que a bacia tende a forma alongada
(IC)
(TONELLO et al., 2006).
CARACTERÍSTICAS DO RELEVO
Altitudes máxima e
Hmin;
mínima da microbacia e
Hmáx;
maior e menor altitude do As altitudes foram expressas em metros.
HCmáx;,
canal principal (Hmin;
HCmin;,
Hmáx; HCmáx;),
Amplitude altimétrica H= Hmáx; - Hmin;
Diferença entre as altitudes máxima e mínima ocorrentes na bacia.
(H)
Em que: I é a declividade média da bacia (%); D a equidistância
Declividade média da D n 
vertical entre as curvas de nível (km); CN o comprimento total das I   CN i 100
bacia (I) A  i 1 
curvas de nível (km), conforme Mello & Silva (2013)
Declividade do curso Em que: Ieq é a declividade equivalente (m km-1); H a amplitude ΔH
altimétrica do curso d‘água principal (m); e L é o comprimento do I eq 
d‘água principal – álveo L

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(Ieq) curso d‘água principal (km), utilizado por Bezerra et al. (2015).
CARACTERÍSTICAS DA REDE DE DRENAGEM
Comprimento do curso
Geralmente é expresso em km. L
d‘água principal (L):
Somatório dos comprimentos (em km) de todos os cursos d‘água
Rede de drenagem (Rd) de uma bacia hidrográfica, sejam eles: perenes, intermitentes ou Rd = Li
efêmeros – da bacia hidrográfica.
Em que: Dd é a densidade de drenagem (km/km2 ou m/ha), Rd a
Densidade de drenagem Rd
rede de drenagem (km ou m) e A é a área de drenagem da bacia Dd 
(Dd) A
(km2 ou em ha). Sendo classificado conforme Beltrame (1994).
Utilizou-se neste trabalho a classificação apresentada por Strahler
Ordem dos cursos d‘água -
(1957)
Extensão média do Relaciona a densidade de drenagem da bacia hidrográfica com o
escoamento superficial comprimento médio lateral da rede de drenagem.
(Cm)
é o tempo de percurso da água precipitada desde o ponto
cinematicamente mais afastado da bacia hidrográfica até a secção
Tempo de Concentração de referência. O tempo de concentração (minutos) será calculado
( )
(Tc) pela fórmula de Kirpich Modificada, expressa por Rodrigues et al.
(2016). ∆H é a diferença de cotas nas extremidades do dreno
principal.
Relação entre o comprimento do canal principal e a distância
Índice de Sinuosidade
vetorial entre os extremos do canal (VILLELA & MATTOS,
(Sin)
1975).

Para montar o mapa com as declividades foi utilizado a ferramenta de análise de raster do
QGIS e após isso com o auxílio do Plugin GRASS com o comando r.reclass, foram refinados os
dados de acordo com as classes de declividade segundo a EMBRAPA (1979), conforme
apresentado na Tabela 2.

Tabela 2. Classificação da declividade segundo EMBRAPA (1979)


Classes de Declividade (%) Relevo
0–3 Plano
3–8 Relevo suavemente ondulado
8 – 20 Relevo ondulado
20- 45 Revelo fortemente ondulado
45 – 75 Revelo montanhoso
> 75 Revelo fortemente montanhoso

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A MHBPDF está localizada no Alto Oeste Potiguar (Figura 2), sua rede de drenagem
abrange geopoliticamente 26 municípios: Alexandria, Marcelino Vieira, Tenente Ananias, Antônio
Martins, Luís Gomes, Riacho de Santana, José da Penha, Pilões, Paraná, Serrinha do Pintos, Pau
dos Ferros, João Dias, Rafael Fernandes, Martins, Major Sales, Água Nova, Brejo dos Santos,
Lastro, Uiraúna, Bom Sucesso, Santa Cruz, Catolé do Rocha, Coronel João Pessoa, Poço Dantas,
Vieirópolis e Venha-Ver, sendo predominante o território Potiguar, estando apenas 0,76% da bacia
vertente inserida nos domínios do estado da Paraíba. Situada entre as coordenadas de latitude
556359.94m e 633144.61m, longitude 9277732.67m e 9326844.14m, em projeção UTM, datum
WGS84, zona 24S.

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Figura 2 – Delimitação da microbacia hidrográfica da barragem de Pau dos Ferros/RN, contendo a divisão
política dos municípios inseridos.
Fonte: Elaborado pelos autores (2017)

Na Tabela 3 pode-se verificar as características geométricas, de relevo e da rede de


drenagem da MHBPDF.

Tabela 3. Características morfométricas da microbacia hidrográfica da Barragem de Pau dos Ferros/RN


Características Parâmetros Siglas Unidades Valores
Área da Bacia Km² 2070,09
Perímetro Km 287,470
Geométricas Coeficiente Compacidade - 1,769
Fator de Forma - 0,620
Índice de Circularidade - 0,315
Maior altitude da bacia m 622,47
Maior altitude do canal principal m 595,01
Menor altitude da bacia m 218,24
Relevo Menor altitude do canal principal m 206,00
Amplitude altimétrica m 404,23
Declividade média da bacia % 10,09
Declividade do curso d‘água principal m/Km 6,99
Ordem da bacia - Ordem 7ª
Número Total de Drenos Und 2696
Comprimento do curso d‘água principal da
Km 57,788
bacia
Comprimento do Talvegue Km 37,657
Rede de Drenagem Índice de Sinuosidade - 1,53
Rede de drenagem Km 2272,31
Densidade de drenagem Km/Km² 1,098
Densidade da Rede de Drenagem Drenos/Km² 1,32
Extensão média do escoamento Superficial Km 0,22

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Tempo de Concentração min 5784,396


Fonte: Elaborado pelos autores (2017).

O coeficiente de compacidade (1,769) e o fator de forma (0,620), juntos indicam que a bacia
apresenta pequena tendência a grandes enchentes em condições normais de precipitação, de acordo
com Mello e Silva (2013), o que implica em maior tempo de concentração, ficando difícil uma
mesma chuva intensa abranger toda a bacia.
O índice de circularidade (0,315), propicia a elencar que a bacia possui uma forma alongada
(Figura 2), logo a bacia não tem tendência a formação de enchentes, com base em Rodrigues et al.
(2016), onde em bacias com forma circular há maiores possibilidades de chuvas intensas ocorrerem
simultaneamente em toda a sua extensão, concentrando grande volume de água no tributário
principal.
Quanto as características do relevo a Figura 3 identifica as maiores e menores altitudes da
bacia vertente e do canal principal.
A bacia apresentou uma densidade de drenagem (Dd) de 1,098 Km/Km², o que nos leva a
classificar esta bacia com uma densidade de drenagem regular, como sugerido por Beltrame (1994).
O sistema de drenagem da bacia em estudo, de acordo com a hierarquia de ordenamento de
Strahler (1957), possui ramificação de sétima ordem, o padrão de drenagem pode ser classificado
como dendrítica, pois seu desenvolvimento assemelha-se à configuração de uma árvore,
apresentando escoamento global de uma bacia endorréica, com base em Christofoletti (1980),.
Na Tabela 4 e Figura 4, tem-se a distribuição da hierarquia fluvial da rede de drenagem da
bacia em estudo.
A declividade média da bacia (I) foi de 10,09% e declividade do curso d‘água principal (Ieq)
de 6,99 m/Km, desta forma, indicando tendência de baixa velocidade no escoamento superficial,
aumentando a possibilidade da infiltração de água no solo.

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Figura 3 - Mapa hipsométrico da microbacia hidrográfica da Barragem de Pau dos Ferros/RN


Fonte: Elaborado pelos autores (2017).

Tabela 4. Hierarquia Fluvial e a relação entre o número e extensão dos canais em cada Ordem da microbacia
hidrográfica da Barragem de Pau dos Ferros/RN
Ordem dos canais N° de canais Extensão dos canais (Km)
1ª 1356 1164,81
2ª 620 573,82
3ª 299 227,48
4ª 261 206,51
5ª 144 89,24
6ª 10 6,23
7ª 6 4,60

Figura 4. Rede de drenagem da microbacia hidrográfica da Barragem de Pau dos Ferros/RN


Fonte: Elaborado pelos autores (2017).

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A declividade média do curso d‘água principal (0,00699 km/km) e sua extensão (57,88 km)
denotam baixa velocidade e aumento do tempo de concentração (5784,396 minutos, o que equivale
a cerca 3,856 dias). Este tempo de concentração associado à forma superficial da bacia hidrográfica
é importante para se compreender o comportamento das precipitações visando o tempo que o curso
d‘água leva a água dos limites da bacia para chegar ao exutório.
Verifica-se a partir da Figura 5, que as áreas de maior declividade da bacia estão situadas
próximo aos divisores de águas, nas regiões a leste e oeste, tal como próximo ao centro. Indicando
que as mesmas devem ser zeladas e conservadas, sendo que declividade superior a 45% deve ser
mantida como Áreas de Preservação Permanente de encostas, conforme novo código florestal
12651/2012.

Figura 5. Declividades da microbacia hidrográfica da Barragem de Pau dos Ferros/RN


Fonte: Elaborado pelos autores (2017).

CONCLUSÕES

A microbacia em estudo é de 7ª ordem de acordo com a classificação de Strahler, o que


demonstra um sistema de drenagem com ramificações significativas, apresentando fatores
geométricos que indicam que a mesma não tem propensão a grandes enchentes, em condições
normais de pluviosidade, apresentando uma forma alongada com uma rede de drenagem bem
distribuída. As características da declividade da bacia indicam que de maneira geral o relevo é
suavemente ondulado.
Verificou-se um sistema de drenagem fraco, sendo do tipo dendrítico, embora tenha
apresentado um bom número de ramificações, se fazendo necessário a construção de barramentos

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hídricos para reter água na nessa região, o que consolida a importância do barramento hidráulico da
barragem de Pau dos Ferros.
O curso d‘águal principal, é um canal de 7ª ordem, segundo Sthraler, apontando que possui
um comprimento total de 57,788 Km no sentido de Sudoeste para o Norte, com a sua nascente na
cidade de Luis Gomes e o seu exutório na cidade de Pau dos Ferros, no barramento artificial do
Barragem de Pau dos Ferros.

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ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 646


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

APLICAÇÃO DO MÉTODO DOS FRAGMENTOS PARA GERAÇÃO


SINTÉTICA DE AFLUÊNCIAS MENSAIS: UM ESTUDO DE CASO NA ZONA DA
MATA PERNAMBUCANA

José Adalberto da SILVA FILHO


Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental da UFRPE
adalbertosilva15@gmail.com
Kevison Romulo da Silva FRANÇA
Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Sistemas Agroindustriais da UFCG
kevsfranca@gmail.com
João Paulo de Oliveira SANTOS
Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental da UFRPE
jpos@agro.adm.br
Wanessa Alves MARTINS
Mestre em Engenharia Civil e Ambiental pela UFPB
wanessamartins.eng@gmail.com

RESUMO
Este trabalho teve como objetivo o desenvolvimento de um modelo de geração sintética de
afluências mensais utilizando o Método dos Fragmentos. A pesquisa abordou como estudo de caso
o Rio Capibaribe Mirim, que está localizado na Zona da Mata Pernambucana. Esses modelos
auxiliam no planejamento dos recursos hídricos, permitindo o dimensionando de obras ligadas a
este recurso com a utilização de séries mais extensas. Os resultados indicaram que o Método dos
Fragmentos foi capaz de reproduz as estatísticas da série histórica de afluências mensais utilizada de
forma satisfatória, indicando que esse método apresenta ótimo potencial para simulação estocástica
de vazões mensais. Dessa forma, o modelo apresentado pode contribuir com estudos na região
visando à minimização dos conflitos inerentes à baixa disponibilidade de dados fluviométricos.
Palavras chaves: Modelagem estocástica, modelagem hidrológica, recursos hídricos.
ABSTRACT
This paper aimed at presenting a synthetic model of monthly flows using the Method of Fragments.
This research was carried out in Capibaribe Mirim River, which is located in Zona da Mata region,
Pernambuco State, Brazil. These models contribute in the planning of water resources, allowing the
dimensioning of works linked to this resource with the use of extensive series. The results indicate
that the Method of Fragments was able to reproduce satisfactorily the statistics of the historical
series of monthly flows, indicating that this method presents great potential for stochastic
simulation of monthly flows. In this way, the model can contribute with studies in the region aiming
at minimizing the conflicts inherent to the low availability of fluviometric data.
Keywords: Stochastic modeling, hydrological modeling, water resources.

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INTRODUÇÃO

A baixa disponibilidade de dados fluviométricos representa um empecilho para o adequado


dimensionamento de obras ligadas aos recursos hídricos. A geração sintética de séries de afluências
constitui um processo que pode ser utilizado na gestão da água, com a finalidade de reduzir os
conflitos decorrentes da escassez e auxiliar em projetos de engenharia. Mediante a esse contexto,
surge a necessidade de formular estratégias utilizando a modelagem hidrológica para auxiliar no
planejamento dos recursos hídricos.
Modelos hidrológicos para geração sintética de afluências apresentam uma componente
determinística e outra estocástica. Enquanto esta pode ser obtida através da modelagem estatística
da série de resíduos, aquela é realizada por meio de um sistema de previsão (Salas, 1993). Para a
obtenção de séries sintéticas consistentes, Celeste et al. (2007) citam dois principais modelos:
autoregressivos e de desagregação.
Os modelos autoregressivos descrevem que a ocorrência de um fenômeno no presente é
função de uma ou mais observações advindas de eventos passados (COSSICH et al., 2015). Eles
estimam a variável dependente através de valores adquiridos na série histórica. Isso implica afirmar
que a própria variável em questão é apropriada, por si só, para descrever a sua ocorrência por meio
de dados já observados (WILKS, 2006). Esses modelos pressupõem a geração de uma nova série de
dados que são de possível ocorrência no futuro e oriundas de um dado processo estocástico,
relacionando condições de estacionariedade, persistência e ergodicidade (CLARKE, 2007).
Já os modelos de desagregação são aqueles em que os eventos anuais de um determinado
fenômeno são desagregados, normalmente geradas por meio de processos estatísticos, em valores
mensais, segundo uma forma padronizada (CELESTE et al., 2007). O Método dos Fragmentos,
incialmente sugerido por Svanidze (1980), constitui um exemplo tradicional dessa modelagem.
Algumas pesquisas exploraram o método e obtiveram bons resultados (ARAÚJO e CAMPOS,
1991; CELESTE et al., 2007; CARNEIRO e FARIAS, 2013; SILVA FILHO et al., 2015).
Müller (1998) cita dois entraves principais relacionados a modelagem estocástica de séries
temporais de afluências: a dificuldade de elaborar um modelo matemático que reproduza com
excelente performance o comportamento de séries e que, concomitantemente, preserve estatísticas
mensais, anuais e diárias. Este capítulo buscou verificar a aplicabilidade de um modelo estocástico
desenvolvido utilizando o Método dos Fragmentos na geração sintética de afluências mensais. Para
isso, utilizou-se como estudo caso uma série histórica de afluências de um rio perene localizado na
Zona da Mata Pernambucana.

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MATERIAL E MÉTODOS

Série Histórica

Para a aplicação do modelo utilizando o Método dos Fragmentos foi escolhido uma série de
dados históricos de afluências mensais (Figura 1) de um posto fluviométrico do rio Capibaribe
Mirim, localizado no município de Timbaúba – PE, Brasil. As afluências registradas foram obtidas
do banco de dados HidroWeb – Sistema de Informações Hidrológicas da Agência Nacional de
Águas (ANA, 2017). O referido posto adotado contém uma série de dados mensais de 13 anos,
correspondentes ao período de janeiro de 2003 até dezembro de 2015.

Figura 1. Hidrograma mensal de afluências observadas no rio Capibaribe Mirim.

25

20
Afluência (m³/s)

15

10

0
jan-03

jan-04

jan-05

jan-06

jan-07

jan-08
jul-08
jan-09

jan-10

jan-11

jan-12

jan-13

jan-14

jan-15
jul-03

jul-04

jul-05

jul-06

jul-07

jul-09

jul-10

jul-11

jul-12

jul-13

jul-14

jul-15
Fonte: ANA (2017).

MÉTODO DOS FRAGMENTOS

O método dos fragmentos se caracteriza por ser um modelo de desagregação de vazões


anuais em vazões mensais. Desta forma, a primeira etapa é calcular os fragmentos dividindo-se as
vazões de cada mês pela soma de todas as vazões mensais do respectivo ano, como exemplificado
na Equação (1):
(
∑ 1)
em que f(y,m) e Q(y,m) são, respectivamente, o fragmento correspondente e a vazão observada do
mês m do ano y.
Segundo Carneiro e Farias (2013), a próxima etapa consiste em avaliar as vazões anuais
históricas quanto à dependência linear. Caso sejam serialmente dependentes, utiliza-se modelos
estatísticos para produzir uma série de resíduos independente. Após esta etapa, os resíduos da série

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 649


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de vazões anuais históricas são modelados a uma função de densidade de probabilidade (FDP)
adequada. Nessa pesquisa, optou-se por utilizar a FDP do tipo Gama, conforme a Equação (2):
(
, para x > 0
2)
em que x é a variável em questão, Γ(α) é a função Gama, α e β são os parâmetros da distribuição.
A nova geração estocástica de vazões anuais se procede através da simulação aleatória de
números pela FDP modelada e pela posterior aplicação da função inversa do modelo estatístico
responsável pela retirada das dependências lineares (CARNEIRO e FARIAS, 2013).
Em seguida, as vazões anuais geradas são desagregadas seguindo os seguintes
procedimentos apresentados em Celeste et al. (2007).
1) as vazões anuais dos dados históricos são dispostas em ordem crescente para o
estabelecimento de classes;
2) a primeira classe tem limite inferior igual a zero e a última classe não tem limite superior, ou
seja, tem limite igual a infinito;
3) as classes intermediárias, neste caso, são definidas pelas médias de duas vazões sucessivas;
4) após a definição destes limites, cada vazão anual sintética gerada pertencerá a uma classe
correspondente e as vazões mensais são obtidas por meio do produto dos fragmentos
daquela classe pelo valor anual sintético. O fluxograma do processo pode ser observado na
Figura 3.

Figura 3. Fluxograma do método dos fragmentos.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 650


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AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DO MODELO

O desempenho de modelos hidrológicos é comumente mensurado através de índices


estatísticos como correlação (r), viés relativo (RB) e coeficiente de eficiência de Nash e Sutcliffe
(NASH) (NASH e SUTCLIFFE, 1970). As respectivas equações matemáticas estão descritas
abaixo:
∑ ∑ ∑
(3)
√ ∑ ∑ √ ∑ ∑

̅̅̅̅̅̅ ̅̅̅̅̅̅̅
̅̅̅̅̅̅̅
(4)


̅̅̅̅̅̅̅
(5)

̅̅̅̅̅̅̅ é a
em que Qobs(t) é a vazão observada no tempo t; Qcal(t) é a vazão calculada no tempo t; Qobs
média de afluências observadas; ̅̅̅̅̅̅
Qcal é a média de afluências calculadas, n é o número de
intervalos de tempo; e ∑ indica o somatório entre t = 1 e t = n.
O índice de correlação refere-se ao grau de dependência linear entre os cenários gerados e os
valores históricos de vazão, expressando na realidade um valor potencial de bom ajuste. O viés
relativo, por sua vez, tem a capacidade de determinar se o modelo de previsão tende a subestimar ou
superestimar as vazões observadas. O índice de eficiência NASH, que pode variar entre -∞ e 1, é
tradicionalmente utilizado para expressar aderência entre vazões históricas e sintéticas. Esse índice
considera os erros sistemáticos e randômicos, indicando que o ajuste é cada vez melhor à medida
que o seu valor se aproxima de 1 (ASCE, 1993; FARIAS et al., 2012).
Um modelo promissor fornecerá valores de NASH, r e RB próximos de 1, 1 e 0,
respectivamente. Para verificar a eficiência do modelo, quanto à capacidade de gerar uma nova série
sintética de afluências, foram analisados parâmetros estatísticos relevantes, dentre eles: média,
desvio padrão, distorção e curtose. A comparação tem como fundamento básico verificar a relação
existente entre dados calculados e observados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os procedimentos desenvolvidos neste estudo foram programados com a capacidade de


gerar uma série sintética de 500 anos de dados, sendo implementados na linguagem de programação
Matlab, versão R2012a. O desempenho do modelo quanto aos índices estatísticos utilizados
(correlação, viés relativo e coeficiente de eficiência de Nash e Sutcliffe), utilizando as afluências
observadas e as calculadas por meio da modelagem, pode ser observado na Tabela 1.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 651


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Tabela 1. Correlação, viés relativo e coeficiente de eficiência de Nash e Sutcliffe do modelo utilizando o
Método dos Fragmentos.
Correlação
Média Desvio padrão Distorção Curtose
0,96563 0,95949 0,82205 0,80148
Viés relativo
Média Desvio padrão Distorção Curtose
0,00657 0,07720 0,33103 0,60024
NASH
Média Desvio padrão Distorção Curtose
0,91964 0,90661 0,25656 -0,45430

De forma geral, os valores de NASH, r e RB foram próximos de 1, 1 e 0, respectivamente, o


que confere potencialidade dos procedimentos adotados. Valores mais discrepantes nos momentos
estatísticos analisados foram observados na distorção e curtose, devido à dificuldade em modelar
estocasticamente e conseguir reproduzir erros de terceiro e quarto grau. Parmar e Bhardwaj (2015) e
Silva Filho et al. (2015) também estudaram erros em graus mais elevados em processos de
modelagem e mostraram sua relevância. Na Figura 2 encontra-se um comparativo considerando as
médias, desvios padrões, distorções e curtoses mensais entre os dados históricos e sintéticos gerados
a partir do Método dos Fragmentos.

Figura 2. Comparação das propriedades estatísticas (média, desvio padrão distorção e curtose) entre
afluências sintéticas e históricas.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Ao analisar a Figura 2, verificou-se que as propriedades estatísticas das afluências mensais


sintéticas se mostraram similares às observadas nos dados da série temporal observada, indicando
que o Método dos Fragmentos possui boa qualidade na geração sintética de vazões. Wilks (2006)
reforça que é necessário que a nova série calculada consiga manter os momentos estatísticos
observados na série histórica. De acordo com Farias et al. (2007), é preciso considerar que os
resultados provenientes do Método dos Fragmentos são baseados em possibilidades e que diferentes
cenários, mesmo que muito semelhantes, podem ser obtidos, conforme pode ser visualizado na
Figura 3.

Figura 3. Comparação de cenários sintéticos com valores observados no período de 2013 - 2014 no posto
fluviométrico adotado na análise.
12

10
Afluência (m³/s)

Observado
6
Cenário 1
4 Cenário 2
Cenário 3
2

0
Mar
Abr
Mai

Out

Mar
Abr
Mai

Out
Jul
Ago

Nov

Jul
Ago

Nov
Jun

Jun
Dez

Dez
Fev

Set

Fev

Set
Jan

Jan

Mês

Ao analisar a Figura 3, percebe-se que o modelo conseguiu reproduzir de forma mais


consistente os meses que apresentaram afluências baixas, ou seja, houve pouca variação das
afluências nos meses secos e a alta variabilidade nos meses chuvosos, conforme também foi

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 653


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observado em Silva Filho et al. (2015) para uma aplicação do modelo em um posto fluviométrico
no semiárido paraibano.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este capítulo avaliou a aplicação de um modelo desenvolvido utilizando o Método dos


Fragmentos para a geração de afluências mensais em um rio perene da Zona da Mata
Pernambucana. A partir de uma série histórica de 13 anos de dados foram geradas séries sintéticas
mensais de 500 anos.
Com base nos resultados, é possível afirmar que, para modelagem estocástica de séries de
afluências, a utilização do Método dos Fragmentos constitui-se uma ótima alternativa para obtenção
de cenários sintéticos, possuindo a capacidade de gerar séries adequadas e que sejam capazes de
preservar, de forma geral, os momentos estatísticos observados na série histórica. Também foi
provado que diferentes cenários podem ser gerados com a utilização do referido método.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CELESTE, A. B.; CURI, W. F.; CURI, R. C. Análise de Métodos para Geração Sintética de Vazões
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modelagem chuva-vazão. In: Simpósio de recursos hídricos do Nordeste, 11., 2012, João Pessoa.
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ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 655


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

CISTERNAS DE PLACAS NO SEMIÁRIDO CEARENSE: O CASO DE IPU - CEARÁ

José Falcão SOBRINHO


Professor Dr. do curso de Geografia da UVA
falcao.sobral@gmail.com
Cleire Lima da Costa FALCÃO
Professora Dra. do curso de Geografia da UECE
cleirefalcao@gmail.com
Edson Vicente da SILVA
Professor Pós Doutor do Programa de Pós Graduação da UFC
cacauceara@gmail.com
Marcos Venicios Ribeiro MENDES
Geografo e técnico do Laboratório LAPPEGEO da UVA
marcos.venicios10@hotmail.com

RESUMO
O artigo em questão é fruto da pesquisa realizada na Bacia hidrográfica do Rio Acaraú, conhecida
por Vale do Acaraú, estando localizada no Estado do Ceará na realidade engloba, um complemento
de elementos dinâmicos, inclusive a presença humana que abriga importância fundamental nesse
contexto, especialmente no que se refere à utilização dos recursos naturais e especificamente dos
recursos hídricos. No ensejo, privilegiamos os recursos hídricos como objeto de estudo, dando
ênfase as cisternas de placas. Como recorte espacial temos o Munícipio de Ipu, inserido em
superfície sertaneja de pediplanação e planalto sedimentar da Ibiapaba. Portanto, a referida pesquisa
objetivou um estudo voltado os recursos hídricos no semiárido cearense. A relevância da pesquisa
deu-se pelas atividades de campo realizadas no vale do Acaraú. A metodologia utilizada, foi
baseada conforme o Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome- MDS. Nessa
perspectiva, visitamos e aplicamos questionários com famílias que foram contempladas com as
cisternas a pelo menos três anos. Constatamos que as cisternas elevam a qualidade de vida das
famílias. As famílias evidenciam sua relevância para aliviar a escassez hídrica na região. Ao
concluir, as famílias ressaltam que a cisterna é de grande importância por ser um reservatório
apropriado para captar água da chuva, dessa forma a construção desse reservatório contribui para a
permanência das famílias em ambiente rural, oferecendo água de qualidade para os seres humanos.
Palavras-chave: Semiárido, Ipu, Tecnologias Sociais.

ABSTRACT
The article in question is the result of research carried out in the Acaraú River basin, known as Vale
do Acaraú, being in the state of Ceará, in fact, a complement of dynamic elements, including human
presence that is of fundamental importance in this context, especially with regard to the use of
natural resources and specifically of water resources. At the outset, we privilege the water resources
as object of study, emphasizing the cisterns of plates. As a spatial clipping, we have the
Municipality of Ipu, inserted in the sertaneja surface of pediplanation and sedimentary plateau of
Ibiapaba. Therefore, this research aimed at a study focused on the water resources in the semiarid
region. The relevance of the research was due to the field activities carried out in the Acaraú valley.
The methodology used was based on the Ministry of Social Development and Fight against Hunger
- MDS. From this perspective, we visited and applied questionnaires with families that were treated
with cisterns for at least two years. We find that cisterns increase the quality of life of families. The
families show their relevance to alleviate water scarcity in the region. In conclusion, families

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

emphasize that the cistern is of great importance because it is an appropriate reservoir to collect
rainwater, so the construction of this reservoir contributes to the permanence of families in a rural
environment, offering quality water for humans.
Keywords: Semi-arid, Ipu, Social Technologies

INTRODUÇÃO

O semiárido nordestino brasileiro é a região que mais sofre com a ausência de chuvas,
colocando-a em situação de fragilidade em aspectos econômicos, sociais e ambientais, pois as
famílias rurais que vivem no chamado ―polígono da seca‖, são afetadas pela escassez hídrica,
associando-se as deficitárias políticas públicas, onde as mesmas deveriam ser capazes de
proporcionarem qualidade de vida viável para as famílias que habitam na região semiárida. Ainda
nesse sentido, conforme Silva et.al (2006), ―a disponibilidade de água no semiárido nordestino é
reduzida e caracterizada por marcantes diferenças entre período chuvoso e seco. ‖
Nesse contexto, ―o Nordeste brasileiro apresenta uma alta variabilidade climática, que está
associada à ocorrência de eventos extremos de uma região com aspectos naturais de alta
vulnerabilidade ambiental por apresentar exploração dos recursos naturais e, em muitos casos, nos
ambientes de maciços residuais úmidos situados ao longo do nordeste seco‖ (Ab'SABER,2003).
Enfatizamos que as formas de uso da água em uma bacia hidrográfica podem ser
diversificadas segundo interesses de cada usuário. Diante disso, torna-se necessário que estes usos
obedeçam a uma hierarquização de acordo importância/prioridade de abastecimento. Em relação as
suas condições geológicas, essas são variadas, apesar da primazia dos terrenos pré-cambrianos do
embasamento cristalino.
Nessa configuração, insere-se a bacia hidrográfica do vale do Acaraú, onde temos como
abrangência geral para o nosso estudo. Na bacia do Acaraú, por exemplo, a atividade agrícola
realizada a partir da irrigação, representa a maior parcela de consumo de água da bacia, cerca de
85% (PLANERH, 2000).
Em uma abordagem a respeito de bacia hidrográfica, Leal (2003, p. 71-72) menciona que ―a
bacia hidrográfica é uma boa unidade de gestão porque permite compreendê-la como uma
totalidade composta por elementos naturais e sociais inter-relacionados e dinâmicos‖. Portanto, o
uso da bacia hidrográfica, como unidade física- territorial de gestão de recursos hídricos, foi
instituído legalmente no Brasil em 1997 com a lei Federal n° 9.433, que institui a Política Nacional
de Recursos Hídricos (PNRH).
Conforme o levantamento de Suassuna & Audry (1995), ―as águas subterrâneas dos
aquíferos aluviais também apresentam, muitas vezes, salinidade e sodicidade elevadas; entretanto,
os aquíferos aluviais apresentam mecanismos de renovação e diluições relativamente rápidos,

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

quando comparados aos aquíferos fraturados de cristalino, a depender da sazonalidade das


precipitações pluviométricas. ‖
Dessa forma, pelas características apresentadas no Nordeste, que o leva a ser uma região
considerada seca, nos últimos anos vem se firmando políticas públicas, no intuito de construírem
reservatórios para a captação de água das chuvas, dentre esses reservatórios incluem-se as cisternas
de placas que são construídas na zona rural, onde priorizam-se as famílias carentes para serem
contempladas. Nesse sentido, ―a captação de água da chuva torna-se uma alternativa viável que
somadas a outras políticas públicas, favorece o desenvolvimento sustentável da região, sendo a
construção de cisternas uma dessas alternativas‖ (BARROS, et.al. p.51, 2003)
Durante século a insuficiência da água ou sua escassez em determinados momentos, foi
apontada como grande responsável pelo atraso socioeconômico da região nordeste do Brasil,
principalmente na porção semiárida. Com isso, a água passou a ser fundamental e se tornou-se um
recurso relevante para a sociedade, sendo importante para o consumo humano e animal, que
proporcionaria benefícios econômicos para a população. Conforme Rebouças (2006) ―a água doce
além de ser um elemento fundamental ao abastecimento humano é imprescindível para o
desenvolvimento de suas atividades industriais e agrícolas‖.
Porém, a referida pesquisa foi realizada na bacia hidrográfica do rio Acaraú,
popularmente conhecida por Vale do Acaraú, localizada no Estado do Ceará. Em relação ao Estado
do Ceará, Souza (2000, p,15) ―aponta que o mesmo ocupa um território de 148.016 km² entre as
coordenadas de 3° 46‘ 30‘ e 7°52‘54‘ Latitude Sul e 37° 14‘54‖ e 41°24‘55‖ Longitude Oeste Gr.
Cerca de 92% de seu território, ou seja, 136. 335 Km², acham-se inseridos no semiárido‖.
Ainda que a seca seja um fenômeno natural, seus impactos sobre as populações locais das
regiões semiáridas acabam sendo intensificados pela ação antrópica, ou ausência de gestão
adequada dos recursos hídricos disponíveis. Para viabilizar as estratégias de ―combate as secas‖,
criaram-se ao longo dos anos vários mecanismos ou órgãos que atuassem neste sentido (SUDENE,
DNOCS, CHESF e etc.)
Nesse contexto, a Articulação do Semiárido ASA (2000) ―está colocando em prática as
tecnologias sociais, sendo elas para o abastecimento familiar ou produção, porém, algumas já se
tornaram programas governamentais, é o caso das cisternas de placas, que tem como objetivo a
captação de água das chuvas para o consumo humano, que teve origem a partir do Programa ―Um
Milhão de Cisternas‖ (P1MC). De forma abrangente, as cisternas de placas foram difundidas na
Região Nordeste, essas promovidas para as comunidades que sofrem com o déficit hídrico. Esse
tipo de tecnologia, adquiriu popularidade com o surgimento do Programa de Formação e
Mobilização Social para a convivência com semiárido (P1MC).

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Em relação ao programa um milhão de cisternas existentes nas comunidades rurais, esse


demonstra uma alternativa viável que oferece as famílias água de qualidade. Ainda nesse sentido, o
programa promove cursos de capacitação para as famílias utilizarem as cisternas de forma exigida
pelas diretrizes do Programa. Na visão de Bezerra et al (2010) ―a utilização de cisternas no semiárido
brasileiro, promove benefícios significativos tendo em vista o beneficiamento de famílias ao facilitar
o acesso a água em quantidade e qualidade, potencializado melhoras significativas na saúde nas
condições de vida das populações assistidas‖. Conforme demostra o modelo, na figura 1.

Figura 1: Cisterna de placas no distrito de Ipu /CE.


Fonte: MENDES, 2016.

No que diz respeito às problemáticas que são originadas devidos as secas, as ações de
convivência com o ambiente semiárido frequentemente são produzidas e colocadas em prática.
Corrobora Gnaldlinger (2000), ―que a prática da coleta de água de chuva surgiu há milhares de anos,
de forma independente em diversas partes do mundo, com uma extensa variedade de adaptações
locais as quais dependiam de condições e culturas especificas para a solução de problemas
localizados‖. Entretanto, as tecnologias sociais hídricas, podem contribuir para a melhoria da
qualidade de vidas nas regiões semiáridas.
As cisternas de placas, construída pelo P1MC, é um reservatório de captação de água da
chuva aproveitando o telhado da casa, que escoa a água através de calhas. ―Trata-se de uma
tecnologia simples, adaptada à região semiárida e de fácil replicação, cuja finalidade é armazenar
água para o consumo básico das famílias rurais‖. (FRANÇA, 2010). Nessa perspectiva as cisternas
de placas, fomentam relevância para as famílias que vivem no semiárido, visto que estas convivem
com grandes adversidades, onde devem ser levados em consideração alguns fatores que influenciam
nessa situação, ao se analisar os recursos hídricos no ambiente semiárido a implementação das
cisternas vem modificando a realidade das famílias. Nesse sentido, Silva (2006), ―aponta que

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

mesmo quando se usa tela na entrada da cisterna, é recomendado o desvio da primeira chuva, para
remover as partículas depositadas na superfície das áreas de captação (folhas, poeira e fezes de
pássaros e de pequenos animais, assim como deles próprios, que podem residir em espaços entre as
telhas ou dentro das tubulações).
Em relação a sua capacidade de água, a mesma acumula 16 mil litros. Conforme as
diretrizes do P1MC, a água acumulada é destinada ao total de ― cinco pessoas‖ durante um período
de 7 a 8 meses. A Portaria 518/2004 do Ministério da Saúde (BRASIL, 2004), ― define os padrões
de qualidade para a água destinada ao consumo humano e os procedimentos e responsabilidades
relativos ao controle e à vigilância dessa qualidade‖.
Diante das questões relacionadas ao sertão nordestino, as tecnologias sociais hídricas é uma
das alternativas mais viável para a convivência com a semiaridez, por serem de baixos custos
econômicos, e o acesso até torna-se fácil a todos. Nesse enfoque, Coutinho (2010) afirma que

―As tecnologias sociais participam no processo de construção da cidadania nas


comunidades rurais e contribuem para solidificação de um sistema de gestão eficaz, onde a
comunidade participa como gestora de seus recursos, não ficando a mercê das oscilações do
sistema gestor predominante, tampouco das mudanças de governantes. ‖ (COUTINHO,
2010 p.69)

Para Furtado (1984), ―os flagelos das secas já perduram por algum tempo devido à
incongruência das políticas de combate à seca com o real contexto histórico, econômico e social da
região Nordeste‖. Ainda nesse contexto, ―a inquietude com o fornecimento de água segura nos seus
aspectos quantitativos e qualitativos tem estimulado as políticas públicas e privadas a melhorar e
facilitar seu acesso e a normatizar essa disponibilidade, seu uso e sua gestão‖
(GALIZONI&RIBEIRO, 2004)
Dessa maneira, a referida pesquisa objetiva desenvolver um estudo voltado as tecnologias
sociais no semiárido, priorizando as cisternas de placas, por serem mais perceptível no vale do
Acaraú. Em relação aos recursos hídricos que pertencem a bacia do Acaraú, conforme menciona
Falcão Sobrinho (2008), ―descreveremos das partes mais elevadas as mais baixas, tem-se o vale do
Acaraú, a compartimentação geomorfológica que exerce uma influência decisiva nas características
dos recursos hídricos‖. Em seguida um quadro com as distribuições dos principais açudes que estão
inseridos ao longo do Vale do Acaraú.

Açude Município Capacidade de acumulação


Acaraú Mirim Massapê (m3)
52.000.000
Araras (Paulo Sarasate) Varjota 891.000.000
Arrebita Forquilha 15.600.000
Jaibaras (Ayres de Souza) Sobral 104.430.000
Bonito Ipu 6.000.000
Carão Tamboril 26.230.000
Taquara Cariré 320.000.000

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Edson Queiros Santa Quitéria 254.000.000


Farias Lima Nova Russas 12.300.000
Forquilha Forquilha 50.130.000
São Vicente Santana do Acaraú 9.840.000
Sobral Sobral 4.675.000
Carminha Catunda 13.628.000
TOTAL 1.763.763.000
Quadro 1: Distribuição dos grandes açudes no Vale do Acaraú- Ce
Fonte: COGERH. 2017

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

Em uma abordagem de compartimentação geomorfológica, o município de Ipu está inserido


na superfície sertaneja de pediplanação, e planalto sedimentar da Ibiapaba. Conforme Souza (2006)
―superfícies sertaneja embutidas entre níveis de planaltos sedimentares ou cristalinos, com altitudes
abaixo de 400m e com acentuada diversificação litológica, amplamente submetidas às condições
semiáridas quentes, com forte irregularidade pluviométrica; rede fluviométrica densa, fraca e
medianamente entalhada na superfície e com canais fluviais dotados de intermitência sazonal;
mosaico de solos com grande variedade de associações, sendo comuns a existência de solos rasos,
afloramento rochosos e chãos pedregosos, extensivamente recobertos por caatingas que ostentam
grande variedade de padrões fisionômicos e florísticos e diferentes níveis de degradação; uso atual
com predominância de atividades agropecuárias. Vulnerabilidade alta às secas em função do
pequeno potencial de recursos hídricos deficitários, durante quase todo o ano. ―
Nesse sentido, ainda é interessante ressaltar conforme Falcão Sobrinho (2008) que a
superfície sertaneja ―é uma área deprimida localizada entre os ambientes elevados. Sua extensão no
estado do Ceará corresponde, a um total de 92% da área total do estado. No vale do Acaraú, sua
dimensão ocupada aproximadamente o mesmo percentual‖. Dentro dessa discussão, podemos
elencar o planalto da Ibiapaba, onde compreende a área abrangida pela porção oriental da bacia
sedimentar do Parnaíba. Esta unidade geomorfológica é composta de rochas sedimentares da
formação Serra Grande.
―O relevo é dissimétrico constituído por uma sucessão alternadas das camadas com distintas
resistências ao desgaste que se inclinam em uma direção, formando um declive suave no reverso, e
um corte abrupto ou íngreme na chamada frente da cuesta (GUERRA, 2001)‖. Em relação a sua
vegetação, prevalece a de Caatinga Arbustiva Aberta, Floresta Caducifólia Espinhosa, Floresta
Subcaducifólia Tropical Pluvial, conforme IPECE (2016).
O município de Ipu, está localizado na região Noroeste do Estado do Ceará, com as
coordenadas geográficas 4º 19‘ 20‖ Latitude (S) e Longitude (W) 40º 42‘ 39‘‘. Os municípios que
estão ao seu limite são: Ao Norte, Pires Ferreira, Reriutaba e Guaraciaba do Norte, ao Sul, Ipueira e
Hidrolândia, ao Leste, Hidrolândia e Pires Ferreira e ao Oeste, Guaraciaba do Norte, Croata e

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Ipueiras (IPECE,2016).

METODOLOGIA
A metodologia aplicada consiste no levantamento bibliográfico direcionado, tendo início na
abordagem teórica a partir de uma visão sistêmica da área de estudo. Nesse contexto, temos como
recorte espacial o município de Ipu. A metodologia foi adotada ao Ministério Desenvolvimento
Social- MDS (2006). Em relação as atividades, foram realizadas pesquisas de campo, onde foi
possível a aplicação de questionários com as famílias que possuem cisternas de placas. Para os
procedimentos, foram selecionados alguns questionários, a saber; a) condições das moradias; b)
classes da renda média mensal da família c) alternativas para aquisição de água.
No que diz respeito aos efeitos estruturais, foram analisados, ainda: d) a cisterna já
apresentou algum problema na estrutura. e) a cisterna por quem a implementou. Para a execução da
pesquisa, contamos com o apoio do Laboratório de Pedologia e Processos Erosivos de Estudos
Geográficos- LAPPEGEO, que está situada no campus Junco, na Universidade Estadual Vale do
Acaraú- UVA. Em consenso com a quantidade de questionários, foram aplicados 40 questionários.
Além disso, foram acessadas as famílias assistidas com as cisternas a pelo menos três anos.
―Podemos ressaltar que outras experiências por nós já vivenciadas em pesquisa ao longo do Vale do
Acaraú (FALCÃO SOBRINHO et al 2015; ALMEIDA e FALCÃO SOBRINHO, 2015, 2016).‖

RESULTADOS E DISCUSSÕES

De acordo com os resultados alcançados, verificamos em campo que as cisternas são


significativas para as famílias que possuem esse reservatório em suas residências. A respeito das
condições de moradias, na região semiárida sempre alertou bastante preocupação nos órgãos
públicos, pelo menos ao nível do discurso político. Para reverter essa situação, foram construídas
várias casas de alvenaria, excluindo as casas de taipas (barro), sendo isso bastante perceptível no
município de Ipu. Salientamos que diante dessa situação, as vezes acontecem o abandono das
famílias do campo, devido às características de clima, e a própria condição de subsistência. Em
estudos realizados por Falcão Sobrinho (2014) ―no Vale do Acaraú observa-se que na área do
maciço residual úmido, há uma permanência maior de moradia, ressalta o autor que tal mudança
ocorre em relação as condições da natureza favoráveis ao uso do solo agrícola‖. Dessa forma, tem-
se uma maior permanência de moradia. (Gráfico 1)

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5% Alvenaria com
15% Revestimento
Alvenaria sem
80% Revestimento
Barro

Gráfico 1: Estrutura Física das Residências


Fonte: MENDES, 2016

Mesmo com a implementação das cisternas pelo Programa P1MC, não foram registradas
melhoras significativas na renda econômica das famílias. ―Portanto, qualquer distribuição das
chuvas ou sua redução pluviométrica, que incapacite as atividades agrícolas, desestabiliza a
atividade econômica, comprometendo a renda familiar e sobretudo gerando uma crise na agricultura
de subsistência, causando calamidade social. (FURTADO; MOLION; AB‟SABER, 1986 apud
PONTES, 2010, p.33‖.Uma grande parcela dos entrevistados, relataram ter uma renda familiar
abaixo de um salário. Nesse sentido, prevalece alguns benefícios que são oriundos do Governo,
como, o bolsa família, bolsa estiagem, brasil carinhoso, garantia safra. Salientamos ainda, que
algumas pessoas não divulgaram suas rendas, com receio de perder seus benefícios. (Gráfico 2)

Mais de 1 salário
10%
mínimo
50%
40% Até 1 salário
minimo
Menos de 1 salário
mínimo

Gráfico2: Qual a renda mensal da família


Fonte: MENDES, 2016

Em relação a estrutura física das cisternas, verificamos em campo que a maioria dos
reservatórios, não apresentaram nenhum tipo de problema. Segundo os moradores, surge as vezes
alguns vazamentos simples, são vários os motivos que podem levar a cisterna a rachar, mais
comum, é a elevação de temperatura no semiárido. De acordo com Fajardo Pineda (2003), ―a
maioria dos fatores que podem comprometer a integridade da cisterna está associada ao processo
construtivo. Verificou-se que os problemas que surgem são alguns vazamentos simples, onde são
concertados pelos próprios moradores, que pincelam as cisternas‖. Ainda nesse sentido, ―isso
acontece pelo motivo de não serem seguidas todas as recomendações durante a construção da
cisterna, podem ocorrer vazamentos (ASA [s. d.], FEBRABAN, 2003; FAJARDO PINEDA,
2013)‖. (Gráfico 3)

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20%

Sim
80% Não

Gráfico 3: A cisterna já apresentou algum problema na estrutura?


Fonte: MENDES, 2016

A respeito dos índices de escolaridade das famílias assistidas, acabam comprometendo um


baixo índice de escolaridade. Nesse sentido, a educação é relevante para que haja um aprendizado
em relação aos cuidados com as cisternas e com o tratamento da água para beber. A falta de
educação de qualidade, acaba comprometendo o aprendizado das famílias, e muitas das vezes as
mesmas buscam a fé para enfrentar determinadas dificuldades. Tal afirmativa foi também
verificada por Falcão Sobrinho (2014), ―o autor associa a falta de informação ao fato de que o
homem do campo (o agricultor) usa a terra de forma emotiva, sustentada na fé‖. (Gráfico 4)

15% Ensenio médio


5%

60% 20% Nível superior

Analfabetos

Gráfico 4: Nível de Escolaridade das Famílias


Fonte: MENDES, 2016

De acordo com o gráfico a maioria das famílias fazem a limpeza das cisternas com o auxílio
da escova, sendo essa a forma mais viável para as pessoas. Algumas ainda limpam o reservatório
com a vassoura, mas afirmam que essa limpeza não é considerada adequada, uma vez que o sujo
não é absorvido pela vassoura. Quanto a pintura ―a cor branca da pintura com supercal ou similar, é
muito importante para a conservação do reservatório, além disso, o branco absorve menos calor, e
por esquentar menos, previne rachaduras por distensões térmicas (SCHISTEK, 1998)‖. (Gráfico 5)

5%

Escova
95%
Vassoura

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Gráfico 5: Material usado na Limpeza da Cisterna


Fonte: MENDES, 2016

Com referência à segurança hídrica que as cisternas ofertaram para as famílias, as mesmas
ressaltam que a implantação das cisternas pelo programa P1MC em suas residências resultam
qualidade de vida das famílias, a redução dos índices de doenças gastrointestinais, como a diarreia,
e muitas das vezes as gripes. Antes da instalação das cisternas eram bastante frequentes esses casos
de doenças. Nesse contexto, Rebouças (2002, p. 1) ―afirma que a ―água elemento vital, água
purificadora, água recurso natural renovável são alguns dos significados em diferentes mitologias,
religiões, povos e cultura, em todas as épocas. ‖ (Gráfico 6)

5%

Não

95% Sim

Gráfico 6: A Cisterna Trouxe segurança hídrica para as famílias?


Fonte: MENDES, 2016

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os dados adquiridos apontam, que as famílias, em sua maioria, possuem residências de


alvenaria com revestimento, sendo uma preocupação dos órgãos federais, que substituíram as casas
de taipas (barro) por casas de alvenaria com revestimento. Com referência a renda das famílias,
essas detém de renda com menos de um salário mínimo, sendo beneficiadas por programa voltados
aos governos, como bolsa família, bolsa estiagem, entre outros.
Em relação aos problemas apresentados na estrutura físicas das cisternas, as famílias
registram que, a maioria são com vazamentos, mas esses são reparados por eles próprios. No que
diz respeito ao nível de escolaridades das famílias, constatou-se que as mesmas possuem apenas a
leitura como base educacional. Todavia, nas famílias sempre tem alguns que sabe ler e escrever.
É pertinente ressaltar em relação a limpeza das cisternas, que as famílias fazem o uso de
escovas, para limparem os reservatórios, mantendo assim um zelo e higiene com a água a ser
consumida. Portanto, ficou evidenciado que, a chegada das cisternas, tem sido significante para o
abastecimento ao consumo humano, fazendo com que as famílias passassem a consumir água de
boa qualidade, e propiciaram ainda melhoramentos de vida, diminuindo os índices de doenças
voltados ao intestino. Verificou-se que as famílias que muitas das vezes se deslocavam para ir
buscar água para o consumo humano, e com o surgimento dos reservatórios essas acabam ganhando

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

tempo para a realização de outras atividades devido a diminuição dos longos deslocamentos na
busca de recursos hídricos.

APOIO: Universidade Estadual Vale do Acaraú/UVA e Universidade Federal do Ceará/UFC.


Projeto desenvolvido no estágio pósdoutoral do primeiro autor.

REFERÊNCIAS

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Mobilização Social para a Convivência com o Semiárido: um milhão de cisternas rurais
(P1MC). Recife, 2002.

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Ed. Ateliê Editorial: São Paulo, 2003

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205, 2015.

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procedimentos e responsabilidades relativas ao controle e vigilância da qualidade da água para
consumo humano e seu padrão de potabilidade, e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.funasa.gov.br/sitefunasa/legis/pdfs/portarias_m/pm1518_ 2004.pdf. > Acesso em:
25 de maio de 2005.

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CEBALLOS, Beatriz Susana Ovruski. Educação Ambiental para o uso sustentável de água de
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Disponívelem:http://eduep.uepb.edu.br/rbct/sumarios/pdf/eacisternas.pdf.Acesso em:18 de maio
de 2014.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

ENFRENTAMENTO DA CRISE HÍDRICA NO MUNICÍPIO DE


BARRA DE SÃO FRANCISCO – ES

Douglas Vargas GARCIA


Estudante curso técnico em Administração no Ifes Barra de São Francisco
douglasgarcia2505@gmail.com

Katucha Kamilla Marques PEREIRA


Professora, Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente no Ifes Barra de São Francisco
katuchamarques@gmail.com

RESUMO
O município de Barra de São Francisco – ES está situado na área de abrangência da SUDENE, na
região Noroeste Capixaba. Suas atividades econômicas predominantes são a agricultura, a extração
de granito e o comércio. Nos últimos anos, o município vem enfrentando as consequências da crise
hídrica, e seus produtores rurais sofrem com as elevadas perdas nas plantações e criações: no ano de
2016, a perda das lavouras de café foi de em média 50%, havendo produtores que perderam até
100% de seu cultivo pela falta de água. O projeto ―Educação ambiental como ferramenta para uma
melhor convivência com a crise hídrica‖ teve como objetivo principal trabalhar a Educação
Ambiental com os agricultores do município através de técnicas de manejo do solo, irrigação e
acondicionamento de água, de forma simples e adaptada às especificidades da região, valorizando o
saber tradicional e a cultura local. A Educação Ambiental é uma ferramenta efetivamente capaz de
colaborar neste processo de conscientização da população acerca do tema. Através de rodas de
conversa, debates em grupo e visitas in loco, com apropriação de terminologias e realidades no
campo, utilizando o senso comum como ferramenta de ligação entre os grupos, foi possível
estabelecer diálogo e trazer a ciência para colaborar com a sabedoria popular, disseminando
alternativas para atenuar os impactos da escassez hídrica. Ao final das atividades do projeto os
resultados são positivos, e se percebe que os produtores e suas famílias estão repensando seus atos e
se conscientizando da necessidade de rever a forma com que utilizam os recursos naturais, a fim de
criar um equilíbrio entre o ambiente e suas necessidades, uma vez que as gerações futuras podem
não ter mais o privilégio de usufruir deste bem tão precioso: a água.
Palavras-chave: água, escassez, convivência, conscientização.

ABSTRACT
The city of Barra de São Francisco - ES is located in the area of SUDENE, in the Capixaba
Northwest. Its predominant economic activities are agriculture, granite extraction and trade. In
recent years, the city has faced the consequences of the water crisis, and its rural producers have
been suffering from high losses in plantations and animal creations: in 2016, the loss of coffee
plantations averaged 50%, with producers losing up to 100% of its cultivation due to lack of water.
The project "Environmental education as a tool for a better coexistence with the water crisis" had as
main objective to work Environmental Education with the farmers of the city through soil
management, irrigation and water conditioning techniques, in a simple and adapted way to the
specifics needs of the region, valuing traditional knowledge and local culture. Environmental
Education is a tool effectively able to collaborate in this process of raising awareness of the
population about the theme. Through conversations, group discussions and on-site visits, with the
appropriation of terminologies and realities in the countryside, using common sense as a tool to link
the groups, it was possible to establish dialogue and bring science to collaborate with the popular
knowledge, disseminating alternatives to mitigate the impacts of the lack of water. At the end of the

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

project activities, the results are positive, and it is perceived that farmers and their families are
rethinking their actions and becoming more aware of the need to review the way in which they use
natural resources in order to create a balance between the environment and yheir needs, since future
generations may no longer have the privilege of enjoying this precious commodity: water.
Keywords: water, lack, coexistence, awareness.

INTRODUÇÃO

Muito se debate hoje sobre a escassez de água em todo o mundo. No Estado do Espírito
Santo, é visível que esse fator vem acarretando uma série de desconfortos para a população da zona
urbana e para os produtores rurais, fazendo com que os camponeses desanimem em continuar seu
trabalho no campo.
Nos últimos três anos, o município de Barra de São Francisco vem enfrentando um grande
desafio: a estiagem. A escassez de recursos hídricos desencadeou uma série de problemas, afetando
campo e cidade. Contudo, a escassez de água está servindo para que as pessoas repensem os seus
atos para com a natureza.
Barra de São Francisco é um município situado no noroeste capixaba, na região de
abrangência da SUDENE (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste), cujas atividades
econômicas predominantes são a agricultura, a extração de granito e o comércio.
A zona rural do município é composta por 3.600 unidades produtivas (dados da Secretaria
Municipal de Agricultura), com população estimada em 14.292 habitantes (IBGE, 2010). O cultivo
do café é predominante, embora também haja a produção de outros cultivares, como a pimenta e as
hortaliças. A escassez da água dificulta a diversificação de culturas nas Unidades Produtivas,
deixando a manutenção das culturas perenes como melhor alternativa.
Na zona urbana os problemas não são muito diferentes. Com uma população urbana
estimada em 26.357 habitantes (IBGE, 2010), o município passa pelos mesmos problemas que as
demais cidades da zona semiárida: poucas chuvas, reservatórios secando, pouco aproveitamento de
água, muito desperdício.

METODOLOGIA

As atividades do Projeto de Extensão tiveram início com um levantamento bibliográfico


acerca do tema recursos hídricos, perpassando por tópicos como uso, aproveitamento e
armazenamento da água e técnicas de manejo de solo.
Em seguida foi realizada uma coleta de dados, com visitas às propriedades rurais do entorno
do município de Barra de São Francisco, a fim de verificar in loco a situação das unidades
produtivas acerca da água.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

A partir da coleta de dados, foram diagnosticados os maiores problemas enfrentados pelos


produtores rurais, para então determinar as possibilidades de auxílio no enfrentamento da crise
hídrica. As oficinas e visitas foram montadas com o objetivo de promover a interação e oportunizar
a troca de vivências, valorizando-se o conhecimento tradicional e o protagonismo dos produtores, a
fim de garantir uma boa relação custo-benefício para o ambiente e para a comunidade.
Através das visitas programadas às unidades produtivas, utilizando-se de rodas de conversa
e debates, com apropriação de terminologias e realidades no campo e na cidade, foi possível
estabelecer diálogo entre os diferentes atores dos processos, utilizando o senso comum e o
protagonismo dos beneficiários das políticas como ferramenta de ligação entre os grupos, trazendo a
ciência para dialogar com a sabedoria popular, disseminando alternativas para atenuar os impactos
da escassez hídrica.

DISCUSSÃO

O município de Barra de São Francisco está situada numa área considerada como suscetível
de desertificação: a escassez de água é grande, tanto para consumo humano quanto de animais e
plantas. Assim a seca é um fenômeno natural agravado pela ação humana; ela não ocorre de forma
uniforme por todo o território brasileiro, e em cada localidade terá características específicas, seja
de seca sob a forma de seca total ou parcial.
Por muitos anos, a seca foi considerada a razão pelas desigualdades econômicas, o êxodo
rural, a miséria social, porém hoje se considera que a organização da produção e a estrutura agrária
são as responsáveis por estes fatos. Esta relação entre o homem, o meio e a produção agropecuária
tem sido mais estudada nos últimos anos, agregando conhecimentos, técnicas, métodos e sistemas
que permitam o desenvolvimento sustentável da região. (VIDAL & SANTOS, 2014)
Além da seca, temos problemas ligados à gestão da pouca água: má distribuição de água,
desperdício, pouca eficiência dos serviços e falta de tecnologias apropriadas para ampliar e
melhorar o uso e diminuir as perdas. (DUARTE, BASTOS, SENA & OLIVEIRA, 2015).
De tal forma, o Projeto de Extensão ―Educação ambiental como ferramenta para uma melhor
convivência com a crise hídrica‖ objetivou trazer aos participantes o conhecimento acerca do uso da
água e possibilidades de aproveitamento, fomentando o empoderamento social e o protagonismo
estudantil através da Educação Ambiental.
No decorrer das atividades do projeto, ficou visível a realidade dos cidadãos Francisquenses,
principalmente no campo, e seus principais desafios. Nas visitas feitas aos agricultores percebe-se
uma grande preocupação futura com a real situação, e também a falta de informação de como
enfrentar esse problema que vem trazendo tanta desmotivação para os camponeses.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Nas visitas realizadas nas propriedades rurais, os agricultores relatam que hoje as principais
dificuldades no campo a respeito dos recursos hídricos são a falta de iniciativa, o comodismo, o uso
abusivo de agrotóxicos, o individualismo e a pouca visão de futuro. Embora a maioria tenha
consciência do que pode ser feito para amenizar ou até mesmo acabar com esse problema, eles
confessam ter pouca iniciativa de executar as ações, embora reconheçam que precisam de mais
formação no tema e conscientização no cuidar da casa comum.
Atualmente, o município possui uma equipe técnica da Secretaria Municipal de Agricultura
que acompanha as diferentes unidades produtivas rurais, visitando-as e colaborando com seu
desenvolvimento. Tais técnicos estiveram presentes nas visitas realizadas pela equipe executora
deste projeto, e relataram que percebem que os maiores gargalos encontrados no campo quando se
trata de recursos hídricos são o comodismo dos produtores e a carência de políticas públicas
voltadas para o campo e para a conservação dos recursos naturais. Além disso, entendem que a
legislação não é transparente ou compreensível para os produtores, dificultando o seu cumprimento
e conscientização.
Percebe-se que um dos motivos de essa situação não ter sido solucionada ou atenuada ainda
é que os produtores rurais ficam aguardando o direcionamento dos governos e não se mobilizam
para tentar amenizar as dificuldades por eles mesmos. A falta de investimento em capital social
dificulta a organização, o diálogo e a cooperação entre os pares.
A partir das abordagens é fácil notar que ambas partes, produtores e técnicos do
desenvolvimento agrário, tem conhecimento da situação que o Município de Barra de São Francisco
enfrentou e enfrenta quando se trata dos recursos hídricos. É notório que ambos se preocupam com
o desenvolvimento do campo e com a preservação da água, mas infelizmente não se prepararam
para enfrentar esse problema, não havendo planejamento e organização.
Nas figuras abaixo, observa-se claramente a situação encontrada na zona rural do município:
solos com topografia íngreme descobertos, nascentes sem vegetação para conservação, poucas
barragens e caixas secas, aração de forma incorreta, plantio sem curva de nível, drenagem nas
várzeas. Esses fatores implicam diretamente no resultado que hoje se vê no município, a escassez da
água.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Figura 1. Solo íngreme no Município de Barra de São Francisco / ES

Fonte: Autores (2017)

Figura 2. Imagens de solo e nascente no município de Barra de São Francisco/ ES

Fonte: Autores (2017)

Ano Meses Total


jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez anual
2011 62,5 166,8 239,1 183,1 8,7 34,8 13,4 2,5 8,1 134,4 442,8 134,1 1430,3
2012 234,5 56,8 36,4 40,6 55 30 17,6 131,2 15,7 29,1 351,9 6,4 1005,2
2013 254,9 54,6 59,2 21,8 26,2 33,6 6,6 17,6 20,4 100,6 180,2 581 1356,7
2014 47,9 75,4 96,6 29,6 12,5 41 48,1 60,1 21,4 118,5 160,7 188,5 900,3
2015 4,3 60,8 119,4 60,7 17,2 17,2 9,2 19,5 2,1 49,5 78,6 44 482,5
2016 340 2,5 25,5 22 9 31,2 10 7,2 31 62 209 187 936,4
2017 43,5 168 68,3 21 54 32,4 70,5 457,7
Gráfico 1. Dados Pluviométricos Barra de São Francisco/ES, em mm.
Fonte: CESAN, 2017

Nos últimos três anos o município passou por uma crise hídrica muito forte, conforme se
observa no gráfico abaixo.
Percebe-se que nos últimos anos houve uma diminuição considerável nos índices de chuva.
No ano de 2014 choveu 900,3 mm; em 2015 choveu 482,5 mm e em 2016 choveu 936,4 mm.
Normalmente chove de 1000 a 1100 mm por ano no Município de Barra de São Francisco-ES.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 673


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Com a estiagem, a perda de produção das lavouras de café chegou a em média 50%, em
algumas propriedades houve de 100%. Nas lavouras de pimenta, a perda média foi de 60 %.
Em relação às criações de animais, as perdas também foram altas. No ano de 2014, foram
registradas as mortes de 1458 bovinos e 5 suínos; no ano de 2015, foram 1709 bovinos e 16 suínos
mortos; já em 2016, foram registrados 5404 bovinos e 109 suínos (dados do IDAF). Vale ressaltar
que esses números são somente dos produtores que oficialmente deram baixa no IDAF, ou seja, na
realidade os números são bem maiores.

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Devido à falta de informação, os agricultores têm uma dificuldade muito grande em


administrar os recursos hídricos de sua propriedade, que é outro fator que interfere diretamente na
produção e diversificação.
Um outro fator interessante é a preocupação do homem do campo em acabar com o
problema que os atinge hoje: a falta dos recursos hídricos, mas não acabar com as causas do
problema, que são o desmatamento, o uso desordenado de agrotóxicos, queimadas e drenagem
irregular.
Foram realizadas diversas visitas às unidades produtivas rurais do município, a fim de
orientar os pequenos agricultores sobre técnicas de manejo de solo, de acondicionamento de água e
cuidado com as nascentes que existem em suas propriedades.
Utilizando-se de linguagem própria do meio rural, técnicas simples e baratas, espécies
adequadas, é possível manter os cultivos e evitar as elevadas perdas nas propriedades, a maioria
trabalhando no regime de subsistência.
Um dos maiores problemas encontrados nas visitas às propriedades em relação ao uso da
água é a falta de planejamento e de informação. Uma situação bastante comum encontrada foi
relacionada ao plantio do café: há dois fatores que influenciam diretamente na produção do café e
na conservação dos recursos hídricos - a técnica de plantio e a quantidade de água disponível.
Como a maioria do solo da região está em regiões íngremes, quando se realiza o plantio em
curva de nível possibilita-se uma conservação do solo mais adequada, uma vez que a água das
chuvas não causa erosão pois tem maior capacidade de infiltração nos diferentes níveis. A pouca
infiltração da água prejudica o solo, impede o crescimento das cultivares e causa o assoreamento.
Com o uso das curvas de nível e da técnica de irrigação por gotejamento, pode-se utilizar
menos água no plantio do café e garantir melhores condições para o solo, o que em contrapartida
significa um aumento significativo na produção. Essa técnica de manejo serve para todas as
culturas. (Informações obtidas com os técnicos da Secretaria de Agricultura de Barra de São
Francisco.)

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 674


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Outro ponto relevante para o meio rural é a decisão de quais cultivares trabalhar. A melhor
opção é um plantio diversificado, mas deve-se observar a capacidade que a unidade produtiva tem
para se manter. Por capacidade entenda-se condições climáticas e do solo e principalmente o
consumo de água. Entre as culturas mais comuns no município, a que mais consome água é o café,
seguido pelas hortaliças; ou seja, se propriedade não tem água que consiga suprir as necessidades
dos cultivos escolhidos, melhor optar por cultivos que demandem um menor consumo de água, ou
escolha apenas uma destas.
Na maioria das propriedades visitadas, essas informações foram relevantes para uma
mudança de atitude e melhoria qualitativa e quantitativa na produção. São informações simples que
repassadas da forma correta contribuem bastante para a harmonia do homem ao ambiente e um
melhor uso da água e do solo.
Entretanto, a solução não deve ser ligada apenas à água; as práticas de manejo devem ser
eficientes no controle de todos impactos ambientais, porém ainda mais importante é terem aceitação
por toda a comunidade.
Percebe-se que hoje já a uma preocupação maior quando se refere a agricultura e o uso da
água, os produtores rurais entendem que é de suma importância que haja um equilíbrio nas ações
para amenizar o problema, mas não sabem como fazê-lo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A temática da sustentabilidade é interdisciplinar, a educação ambiental oportuniza a


articulação dos saberes de vários ramos do conhecimento, promovendo interação entre os diferentes
atores envolvidos, como uma ponte para o desenvolvimento de outras atividades, integrando teoria
e práticas, refletindo num saber mais crítico e reflexivo dos educandos.
Ao final das atividades do projeto, percebe-se que a escassez de água está servindo para que
as pessoas repensem os seus atos contra a natureza e se conscientizem sobre a necessidade do uso
racional e do aproveitamento da água, uma vez que as gerações futuras podem não ter mais o
privilégio de usufruir deste bem tão precioso: a água.
É importante ressaltar que o problema é além da falta de água, e sim uma série de fatores
que agravam as condições climáticas, especialmente a ação do homem. Além disso, é necessário
ampliar a educação do ambiente e para o ambiente de toda a sociedade, permitindo a manutenção da
vida de homens e animais.
Assim, a Educação Ambiental é uma ferramenta que pode auxiliar na melhor convivência
com as características específicas de uma região. Para isso, necessita de uma prática crítica e
transformadora, que alie os saberes tradicionais ao conhecimento científico, penetrando no linguajar
e nas necessidades específicas de cada região a ser trabalhada.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Conforme Carvalho (2004, p 19), ―para uma educação ambiental crítica, a prática educativa
é a formação do sujeito humano, enquanto ser individual e social, historicamente situado‖. Assim,
se entende que uma prática educativa libertadora é capaz de emancipar os indivíduos e acelerar sua
formação, aliando seus saberes populares, familiares e pessoais ao conhecimento científico,
agregando valor e trazendo novos caminhos para os temas ministrados pelo educador.
Nesse contexto, entende-se que os programas e projetos devem apresentar propostas que
conscientizem a população da peculiaridade do ambiente em que vivem, os impactos ambientais
causados por alguns atos lesivos e perigosos (derrubada da mata, queimadas, por exemplo),
conscientizando-os de seu importante papel transformador e formador de opiniões, de forma a rever
a sua forma de lidar com o ambiente em que vivem (novas formas de manejo).
É preciso conscientizar todos os atores sociais envolvidos no tema, para que possam levar a
informação às suas famílias e comunidades e disseminar o conhecimento. Se não houver uma ação
eficaz, as condições podem ficar mais graves, e até mesmo irreversíveis.
Desta forma, os pequenos agricultores se transformaram em agentes multiplicadores do
conhecimento, podendo colaborar com toda a sociedade na busca de ações para melhor atuar nas
questões relacionadas ao meio ambiente, especialmente a crise hídrica.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição Federal de 1988. Brasília: Senado. 2013.

CARVALHO, I.C.M. Educação ambiental crítica: nomes e endereçamentos da educação. In:


LAYRARGUES, P. (org). Identidade da educação ambiental brasileira. Brasília: Ministério do
Meio Ambiente. 2004

CESAN. Companhia Espirito Santense de Abastecimento. Dados disponibilizados pela Empresa.


2017.

DUARTE, BASTOS, SENA & OLIVEIRA. Educação Ambiental na Convivência com o Semiárido:
Ações Desenvolvidas pela Secretaria de Educação do Estado do Ceará. Gestão Ambiental e
Sustentabilidade (Rev) – GeAS. Vol. 4, N. 1. Janeiro /Abril. 2015.

IBGE CIDADES. Disponível em http://cidades.ibge.gov.br/painel/painel.php?codmun=320090


Acesso em 25/08/2017.

IDAF. Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo. Dados disponibilizados pelo
Instituto. 2017.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 676


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

VIDAL, Déa & SANTOS, Daniel. Sustentabilidade Rural no Semiárido Cearense: Uma análise
social, biofísica e microeconômica em comunidades rurais. Desenvolvimento em questão (Rev).
2014, vol 12, iss 28.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 677


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

BACIAS HIDROGRÁFICAS COMO UNIDADES DE PLANEJAMENTO INTEGRADO:


26
ASPECTOS CONCEITUAIS E ESTRATÉGIAS DE IMPLEMENTAÇÃO

Leonardo Silva SOARES


Professor Doutor, da Universidade Federal do Maranhão
leonardo.soares@ufma.br
Antonio Carlos Leal de CASTRO
Professor Titular Doutor da Universidade Federal do Maranhão
alec@ufma.br
Arkley Marques BANDEIRA
Professor Doutor da Universidade Federal do Maranhão
arkleymbandeira@gmail.com

RESUMO
Este artigo, fundamentado em revisão de literatura, propõe discutir as principais interconexões
referentes ao planejamento integrado das bacias hidrográficas, para tanto, foram levantados os
aspectos conceituais e metodológicos relativos ao gerenciamento desta unidade de gestão ambiental.
O referencial teórico demonstrou que o planejamento das bacias hidrográficas deve ser pautado
numa perspectiva interdisciplinar e sistêmica, integrando características, físicas, bioecológicas,
socioambientais, culturais e políticas que atuam no seu território. As literaturas revisadas
evidenciaram que as temáticas selecionadas (morfométria, uso e ocupação do solo, potencial
erosivo e qualidade de água) são indispensáveis no processo de planejamento integrado, uma vez
que seu gerenciamento apresenta efeitos inevitáveis nas dinâmicas ambientais e socioeconômicas
das bacias hidrográficas. As informações geradas por meio das análises integradas subsidiam os
tomadores de decisão no estabelecimento de estratégias de gestão territorial e ambiental, assim
como, na indicação de planos, programas e políticas governamentais direcionadas para a solução
das problemáticas identificadas.
Palavras-chave: uso do solo, qualidade de água, indicadores morfométricos.
ABSTRACT
This paper, based on literature review, aims to discuss the main interconnects for the integrated
planning of watershed, therefore, the conceptual and methodological aspects of the management of
this environmental management unit were raised. The theoretical framework demonstrated that the
watershed planning should be based on an interdisciplinary and systemic perspective, integrating
characteristics, physical, bio-ecological, environmental, cultural and political operating in its
territory. The literature reviewed showed that the selected themes (morphometry, land use and
occupation, potential erosion and water quality) are indispensable in the integrated planning
process, since their management has inevitable effects on environmental and socioeconomic
dynamics of watershed. The information generated through integrated analyzes subsidize decision
makers in establishing territorial and environmental management strategies, as well as the
indication of plans, government policies and programs directed to the solution of the identified
problem.
Keywords: land use, water quality, morphometric indicators.

26
Edson Vicente da SILVA, Professor Titular Doutor Universidade Federal do Ceará

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 678


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

INTRODUÇÃO

Os efeitos do crescimento das cidades geralmente estão associados ao uso e ocupação


desordenada do solo, refletindo negativamente sobre a qualidade do ambiente. Este cenário indica a
necessidade do estabelecimento de planos, programas e políticas que almejem a adoção de
estratégias visando a gestão e organização territorial e ambiental de determinada unidade
geográfica. O estudo de bacias hidrográficas é ideal para gerar subsídios ao planejamento territorial
e/ou ambiental, uma vez que possuem todos os elementos para realização de uma avaliação
integrada, por meio da associação de processos biogeofísicos, econômicos e sociais (TUNDISI,
2008).
A utilização das bacias hidrográficas como unidade de planejamento justifica-se devido a
possibilidade de diagnóstico das alterações na sua área de abrangência e de indicação de estratégias
adequadas de gerenciamento por meio da aplicação de diferentes abordagens metodológicas, tais
como a utilização de indicadores morfométricos (AHEN et al., 2014), de qualidade de água
(PINHEIRO et al., 2013), das mudanças nos padrões de uso e cobertura do solo (PINHEIRO et al.,
2014), de erosão (SHI, et al., 2012), da fragilidade ambiental (VALLE JÚNIOR et al., 2014), de
conflitos socioeconômicos (BADAR, 2013), da participação social (BAGDI; KUROTHE, 2014) e
de abordagens político-institucionais (TUNDISI; MATSUMURA-TUNDISI, 2008).
Partindo do pressuposto que diferentes abordagens metodológicas possibilitam a avaliação
do status de conservação de uma bacia hidrográfica ou permitem a indicação de estratégias de
planejamento e gerenciamento territorial e ambiental adequados, os enfoques integradores de
diferentes áreas temáticas são mais indicados, pois proporcionam o entendimento do ambiente a ser
planejado de forma interdisciplinar. Existe a necessidade da aplicação de uma abordagem sistêmica,
integrada e preditiva na gestão do território com uma descentralização para a bacia hidrográfica.
Modelos de planejamento de bacias hidrográficas que adotam a integração de indicadores de
diferentes abordagens metodológicas são difundidos por todo o mundo (EC, 2000; RATHA;
AGRAWAI, 2015). O gerenciamento de uma bacia hidrográfica não deve ser restrito aos aspectos
relacionados aos corpos hídricos superficiais, deve incluir todos os componentes físicos, bióticos e
socioeconômicos que a compõem e que estão em intensa interação em seus limites territoriais.
No Brasil, desde a promulgação da Política Nacional dos Recursos Hídricos (BRASIL,
1997), o modelo institucional para a gestão dos recursos hídricos avançou e as bacias hidrográficas
passou a ser as a unidade territorial indicada para gestão da água. Nesta perspectiva, discutir as
possibilidades, os desafios e as implicações do planejamento integrado das bacias hidrográficas
representa um avanço substancial, pois segundo Veiga e Magrini (2013), uma das maiores
dificuldades brasileiras e internacionais para implementação das políticas de recursos hídricos é a
garantia de abordagens integradas nos seus modelos de gestão e planejamento.
ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 679
Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Desta forma, este trabalho objetiva discutir as principais interconexões inerentes ao


planejamento ambiental integrado das bacias hidrográficas, apresentando revisão bibliográfica sobre
os principais aspectos conceituais e metodológicos para o gerenciamento destas unidades de
planejamento territorial e dos recursos hídricos.

BACIA HIDROGRÁFICA: A EVOLUÇÃO DO CONCEITO

Na literatura existem diferentes interpretações conceituais definindo bacia hidrográfica. A


abordagem geomorfológica, predominante nas primeiras concepções, descreve, principalmente, a
integração do território com suas características físicas e os sistemas hídricos associados. Por
exemplo, o conceito postulado por Christofoletti (1980) denomina bacia hidrográfica como uma
área drenada por um determinado rio ou por um sistema fluvial, sendo delimitada pelo divisor de
água, que é representado pelos pontos mais elevados do relevo que separam as bacias adjacentes.
Na década de 1990 houve uma mudança de concepção, que foi fortalecida com a publicação
dos Princípios de Dublin (PORTO; PORTO, 2008). Este acordo foi assinado em janeiro de 1992
durante a Conferência Internacional de Água e Meio Ambiente (ICWE) em Dublin na Irlanda.
De acordo com o relatório elaborado na ICWE, o Principio 1, indica que:

"Principio 1. A água é um recurso finito e vulnerável, essencial para a manutenção da vida,


do desenvolvimento e do meio ambiente; partindo-se do princípio que a água sustenta a
vida, a gestão dos recursos hídricos requer uma abordagem holística, integrando o
desenvolvimento económico e social com a proteção dos ecossistemas naturais. A sua
gestão efetiva integra o uso do solo com os usos da água no âmbito da bacia de drenagem e
do aquífero subterrâneo (WMO, 1992, p. 4)".

A partir da Conferência do Rio em 1992, ampliam-se as perspectivas que indicam que o


conceito de bacia hidrográfica deve integrar os demais componentes ecossistêmicos de sua área de
abrangência. No campo do planejamento, as abordagens transcendem de um contexto meramente
físico e passam a integrar elementos sociais, econômicos, políticos, culturais e biológicos.
Por exemplo, cita-se o conceito de Yassuda (1993, p. 8), que define bacia hidrográfica
como uma área, em que ―ocorre interação das águas com o meio físico, o meio biótico e o meio
social, econômico e cultural‖.
A concepção avançou, no sentido de conceber as bacias hidrográficas, como algo além
da sua relevância como unidade geográfica para fins de desenvolvimento e gestão de recursos
hídricos. Esta nova abordagem é discutida por Molle (2009), que apresenta a evolução do conceito
de bacia hidrográfica e como este tem sido associado a várias vertentes de pensamento,
configurando-se para um modelo de governança que busque a integração da sociedade com a
natureza.
Contudo, assumindo as atuais perspectivas conceituais sobre as bacias hidrográficas,
reconhece-se a necessidade de adoção de estratégias de planejamento destas unidades territoriais
ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 680
Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

pautadas na integração dos diversos componentes de sua área de abrangência. Assim, o


planejamento das bacias hidrográficas deve ser fundamentada numa abordagem interdisciplinar e
sistêmica, abordando metodologias que considerem as características, físicas, bioecológicas,
socioambientais, culturais e políticas que integram o recorte territorial selecionado.

BACIAS HIDROGRÁFICAS COMO UNIDADE DE PLANEJAMENTO INTEGRADO

Tundisi (2008) destaca que o gerenciamento integrado, preditivo e com alternativas e


otimização de usos múltiplos deve ser implantado no nível de bacias hidrográficas, com a finalidade
de descentralizar o gerenciamento e dar oportunidades de participação de usuários, setor público e
privado.
Nesta perspectiva, o nível de informação gerado para tomada de decisão no âmbito da
definição das estratégias de planejamento será mais qualificado, gerando informações que
possibilitem a compreensão das inter-relações existentes em sua área de abrangência, assim como a
identificação de suas relações de causa e efeito relacionadas às suas dinâmicas. O planejamento das
bacias hidrográficas poderá auxiliar no equacionamento de conflitos socioambientais e no manejo e
conservação dos recursos naturais. As duas concepções a seguir expressam esta intenção:

"As bacias hidrográficas fazem parte de um complexo sistema ambiental, sendo necessário
um planejamento criterioso para equacionar as relações de causa-efeito geradas pelo seu
uso, já que é dentro de sua área que se manifestam os conflitos decorrentes das interações
dos aspectos naturais e humanos (FRANCO et al., 2011, p. 72)".

Do ponto de vista governamental, Veiga e Magrini (2013) relatam que no cenário


internacional, além dos Estados-Membros da União Europeia, países como os Estados Unidos,
Austrália, México e China estabeleceram em suas políticas de gerenciamento dos recursos hídricos
a bacia hidrográfica como unidade de planejamento, que deve ser conduzida de forma participativa
e integrada.
Para os países membros da União Europeia, com a assinatura da Diretiva Quadro da Água
(EC, 2000), no ano de 2000, a bacia hidrográfica passou a ser oficialmente a unidade de
planejamento hidrológico e territorial para o gerenciamento integrado dos recursos hídricos de seus
Estados Membros.
No Brasil, com a promulgação da Política Nacional de Recursos Hídricos e criação do
Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos, por meio da Lei Federal 9.433 no ano
de 1997 (BRASIL, 1997), houve, do ponto de vista institucional, a necessidade de implementação
de um sistema organizado de gestão dos recursos hídricos, utilizando a bacia hidrográfica como
unidade de planejamento.
Destaca-se que Veiga e Magrini (2013) relatam que uma das maiores dificuldades das
políticas relacionadas aos recursos hídricos no cenário internacional é a garantia da implementação

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 681


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

de ações coordenadas e eficientes numa perspectiva integrada. No Brasil, é inquestionável o


progresso na gestão dos recursos hídricos após a promulgação da PNRH. No entanto, os autores
relatam que quase 15 anos após a promulgação da lei, muitos instrumentos ainda estão em processo
de implementação, inclusive o planejamento integrado em nível de bacia hidrográfica.
Diante do exposto, conclui-se que tanto o referencial teórico sobre o planejamento das
bacias hidrográficas, como as ações governamentais para implementação das políticas de recursos
hídricos em diversos países, convergem para um direcionamento que indica a necessidade da
análise integrada dos diferentes componentes desta unidade territorial no seu processo de
planejamento. Tal consideração evidencia a importância do entendimento de quais são os principais
indicadores que devem ser avaliados e quais ferramentas permitem a obtenção de informações de
qualidade, quando se pretende realizar um processo de planejamento integrado em nível de bacia
hidrográfica.

INDICADORES APLICADAS AO PLANEJAMENTO INTEGRADO DAS BACIAS


HIDROGRÁFICAS

Indicadores Morfométricos
Reconhecem-se como os primeiros trabalhos de morfometria das bacias hidrográficas as
publicações de Zernitz (1932) e Horton (1945), estes autores desenvolveram relações entre as redes
de drenagem e suas áreas de abrangência, ou seja, suas bacias hidrográficas. Os trabalhos
publicados por Strahler (1956), Schumm (1956) e Chistofoletti (1970) foram importantes marcos
para a ampliação de pesquisas de caracterização morfométrica de bacias hidrográficas.
Segundo Christofoletti (1980) os parâmetros morfométricos para a análise de bacias
hidrográficas são divididos em três classes, sendo: linear, zonal e hipsiométrica. Os lineares estão
associados à rede de drenagem e ao arranjo espacial dentro da bacia. Os zonais indicam as relações
entre a rede de drenagem e seu arranjo espacial na bacia e são, na maioria das vezes, representados
em relação à área da bacia. E por fim, os hipsométricos que demonstram a tridimensionalidade da
bacia, ao incluir a variação altimétrica.
As publicações pioneiras que utilizam os índices morfométricos como componentes de suas
abordagens metodológicas objetivaram descrever as características geomorfológica e/ou
hidrológicas de uma determinada bacia hidrográfica. Segundo Rodrigues et al. (2008) os estudos
pretendiam demonstrar padrões de drenagens, do relevo, aspectos de infiltração e deflúvio das
águas, correlação com a litologia, estrutura geológica a formação superficial dos elementos que
compõem a superfície terrestre.
Posteriormente, com o reconhecimento das bacias hidrográficas como unidades de
planejamento ambiental, os indicadores morfométricos passaram a ser compreendidos numa

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 682


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

perspectiva de planejamento ambiental. De acordo com Alves e Castro (2003) a combinação dos
diversos dados obtidos por meio da caracterização dos índices morfométricos possibilita uma
avaliação quantitativa e permite a diferenciação de áreas homogêneas. Estes parâmetros podem
revelar indicadores físicos específicos para um determinado local, de forma a qualificarem as
alterações ambientais.
Segundo Bezerra e Silva (2014) os dados gerados a partir desta abordagem são informações
de base para o planejamento ambiental de bacias hidrográficas e auxiliam na comparação de
diferentes áreas e na tomada de decisão. Aher et. al (2014) relatam que o planejamento em nível de
bacias hidrográficas, utilizando informações morfométricas na escala micro, são essenciais para
solucionar questões-chave da unidade territorial em análise. Assim, por meio da utilização dos
dados gerados é possível priorizar as áreas de intervenção e indicar as medidas de conservação do
solo e dos recursos hídricos.
Os índices morfométricos são elementos essenciais no processo de planejamento, a
utilização das informações geradas podem subsidiar a delimitação de estratégias de gerenciamento
ambiental, uma vez que apresentam diversas possibilidades de integração com a dinâmica de uso e
cobertura do solo, qualidade de água, potencial erosivo, exploração de recursos ambientais e
dinâmica socioeconômica de uma determinada área – dando suporte ao processo de planejamento
ambiental integrado de bacias hidrográficas.
Uso e cobertura do solo em bacias hidrográficas
Abordagens metodológicas no âmbito do planejamento de bacias hidrográficas que integram
inter-relação dos padrões e dinâmica de uso e cobertura do solo com os componentes ambientais e
socioeconômicas de uma determinada área de abrangência são indispensáveis para o
estabelecimento de estratégias de gerenciamento territorial, visando a indicação de medidas de
recuperação e conservação ambiental e consequente melhoria da qualidade de vida da população
inserida numa bacia hidrográfica. O uso e a ocupação desordenado do solo numa bacia hidrográfica
podem acarretar vários impactos socioambientais.
Com o objetivo promover o planejamento integrado, várias abordagens apresentam
possibilidades de entendimento das inter-relações entre os efeitos das alterações dos padrões de uso
e cobertura do solo com a integridade de bacias hidrográficas, indicando estratégias de
gerenciamento ambiental que são elaboradas por meio de diferentes enfoques metodológicos, sejam
eles de mapeamento da evolução e mudança do uso do solo (MENDOZA et al., 2011), análise do
potencial erosivo (PACHECO et al., 2014) ou relacionada a qualidade dos recursos hídricos
(MENESES et al., 2015). As implicações de cada uma destas abordagens e suas interações no
processo de planejamento integrado das bacias hidrográficas são apresentados a seguir.
Mapeamento da evolução do uso e cobertura do solo

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

O mapeamento da evolução do uso e cobertura do solo é uma das etapas mais importantes
quando se pretende estabelecer estratégias para promover o planejamento integrado de bacias
hidrográficas. O uso e cobertura inadequada do solo pode acarretar em interferências expressivas na
dinâmica de uma bacia hidrográfica, tais como mudanças no regime hidrológico, alteração do
microclima, erosão, perda de terras produtivas, redução da qualidade das águas superficiais e
subterrâneas e aumento das áreas de vulnerabilidade socioambiental, influenciando diretamente na
qualidade de vida da população.
Considerando que mudanças dos padrões de uso e cobertura do solo de uma determinada
bacia hidrográfica podem desencadear alterações na sua dinâmica natural, o mapeamento de tais
modificações torna-se uma ferramenta indispensável no processo de planejamento integrado desta
unidade territorial. A abordagem se constitui como integrada em função da intrínseca inter-relação
entre a dinâmica do uso e da cobertura do solo com o comportamento dos componentes ambientais,
econômicos, culturais e sociais de sua área de abrangência.
Na literatura, vários trabalhos utilizam informações provenientes dos mapeamentos da
evolução do uso e cobertura do solo de bacias hidrográficas como suporte para subsidiar o
planejamento integrado, tais informações geram subsídios para o estabelecimento de estratégias
voltadas para desenvolver a organização do espaço (LEITE; ROSA, 2012), identificar as
potencialidades para o uso agrícola do solo (SILVA et al., 2009), mapear áreas de conflitos do uso
da terra (VALLE JUNIOR et al., 2014), indicar práticas de manejo conservacionista (SILVA et al.,
2009) e delinear inter-relações entre uso do solo e qualidade da água (MENESES et al., 2015).
Potencial erosivo
Os mapeamentos das áreas com potencial erosivo são de suma relevância, pois a erosão
provoca diversos impactos ambientais numa bacia hidrográfica, tais como: a perda de
biodiversidade, assoreamento e redução da qualidade de corpos hídricos, interferência na
produtividade agrícola, redução na capacidade de drenagem, entre outros, influenciando na
população rural e urbana (MATA et al, 2007). De acordo com Shi et al. (2013) existem fortes
ligações entre os padrões de ocupação do solo com a erosão do solo e produção de sedimentos em
bacias hidrográficas. A compreensão das relações entre o uso do solo e processos de erosão são de
importância prática para o planejamento e gestão de bacias hidrográficas.
Os padrões de uso e cobertura do solo estão entre principais fatores que explicam o maior e
menor potencial erosivo de uma bacia hidrográfica. Estudos que buscam estimar as perdas de solo
por meio da avaliação de cenários de uso e cobertura de uma bacia hidrográfica foram
desenvolvidos em todo o mundo e buscam solucionar conflitos de uso da terra (SHI et al., 2013;
PACHECO et al., 2014).

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

O potencial erosivo de uma bacia hidrográfica pode ser mensurado por diversas
metodologias, dentre as quais se destaca a Universal Soil Loss Equation – USLE que foi proposta
por Wischmeier e Smith (1978). A USLE é o modelo de erosão mais utilizado no mundo e sua a
aplicação fornece informações úteis para o planejamento adequado do solo e dos recursos hídricos
(OLIVEIRA et al., 2012) sendo aplicado ao gerenciamento integrado de bacias hidrográficas.
Outros modelos constantemente citados na literatura são o Water Erosion Prediction Project -
WEPP (LAFLEN et al., 1991), European Soil Erosion Model - EUROSEM (MORGAN et al.,
1998), Limburg Soil Erosion Model - LISEM (DE ROO et al., 1996) e o Soil and Water Assessment
Tool – SWAT (SWAT, 2008). No trabalho de Vente e Poesen (2005) é apresentado um resumo
conciso dos principais grupos de modelos aplicados à estimativa de processos erosivos, indicando
os conceitos básicos que cada abordagem considera para descrever a erosão e o transporte de
sedimentos.
Destaca-se que, para a utilização dos modelos citados, dados provenientes de mapeamentos
do uso e cobertura do solo são variáveis de entrada para a estimativa do potencial erosivo de uma
bacia hidrográfica. Outra ferramenta de suma relevância são as plataformas de SIG (Sistema de
Informações Geográficas).
As pesquisas que buscam correlacionar o potencial erosivo como o processo de
planejamento integrado de bacias hidrográficas objetivam indicar estratégias de manejo e
conservação do solo (SHI et al., 2004 e 2012), recuperação ambiental (STIPP et al., 2011) e gerar
subsídios para gestão dos recursos naturais (BEZERRA; SILVA, 2014).
Segundo Bezerra e Silva (2014) a avaliação da perda de solo é um dos elementos que podem
fundamentar o planejamento integrado das bacias hidrográficas, definir metas, objetivos e ações a
serem desenvolvidas nos seus estudos e planos ambientais e de recursos hídricos. Tais estudos, no
contexto do planejamento ambiental das bacias hidrográficas permitem:
- indicação das áreas com maior propensão a perda de solos por processos erosivos;
- geração de informações para os tomadores de decisão sobre o planejamento do espaço
geográfico indicando práticas de conservação do solo;
- indicação para que o plano da bacia hidrográfica seja pautado em um zoneamento do uso
do solo que deve levar em consideração a possibilidade de análise considerando o uso potencial,
além do atual, objetivando alcançar os menores índices de risco à perda do solo.
Qualidade da água
A degradação da qualidade da água pode resultar de múltiplas atividades de uso e ocupação
do solo, incluindo tanto fontes pontuais e difusas. As variáveis físico-químicas e biológicas de um
ecossistema aquático integrante de uma determinada bacia hidrográfica sofrem efeitos dos padrões
de uso e ocupação do solo (ROTHWELL et al., 2014).

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Para Wang (2001), as abordagens que integram informações de uso e ocupação do solo e sua
inter-relação com a qualidade dos ecossistemas aquáticos de uma bacia hidrográfica permitem aos
gestores delinearem estratégias de ordenamento territorial.
As modificações na qualidade de água no corpo hídrico de uma bacia hidrográfica podem
ser identificadas por meio da avaliação das alterações das cargas de nutrientes (BAHAR et al.,
2008), do aumento dos níveis de poluentes orgânicos (GYAWALI et al., 2013) e da ampliação da
carga de sedimentos em suspensão resultantes do processo de erosão da bacia hidrográfica (EROL;
RANDHIR, 2013).
Contudo, verifica-se que os atributos: uso e da cobertura do solo, potencial erosivo e
qualidade dos recursos hídricos das bacias hidrográficas estão fortemente relacionados entre si e
com os demais componentes desta unidade funcional. Desta forma, no processo de planejamento
integrado, informações destes atributos são indispensáveis, uma vez que apresentam efeitos
inevitáveis nas dinâmicas ambientais e socioeconômicas da área de abrangência aos quais estão
associados.
CONCLUSÃO
As bacias hidrográficas são reconhecidas universalmente como as unidades mais
recomendadas para o desenvolvimento de estratégias de planejamento e gestão territorial para o uso
e manejo do solo e dos recursos hídricos. Na sua área de abrangência existem complexas inter-
relações sistêmicas dos seus atributos físicos, bióticos e socioeconômicos. Tal característica
justifica a necessidade da implantação do planejamento das bacias hidrográficas de forma integrada.
Dentre as técnicas utilizadas para avaliação integrada de bacias hidrográficas, as abordagens
que consideram as características morfométricas, a dinâmica de uso e ocupação do solo, o potencial
erosivo e a qualidade dos recursos hídricos, quando avaliadas de forma integrada, podem subsidiar
os tomadores de decisão no estabelecimento de estratégias de gestão territorial e ambiental, assim
como, na indicação de planos, programas e políticas governamentais direcionadas para a solução
das problemáticas identificadas.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

A VISITA MONITORADA COMO FERRAMENTA PARA A CONSCIENTIZAÇÃO DA


IMPORTÂNCIA DA PRESERVAÇÃO DA ÁGUA POTÁVEL DESTINADA AO
CONSUMO HUMANO

Lilia Aparecida de OLIVEIRA


Mestranda do PPG PPEC
lilia.oliveirapa@gmail.com
Brenda Letícia SENA
Mestranda do PPG PPEC
brendaleticia28@hotmail.com
Nayara Borges de Oliveira CORRÊA
Mestranda do PPG PPEC
matnayaraborges@hotmail.com

RESUMO
A preocupação com o Meio Ambiente intensificou-se nos últimos anos, principalmente as
consequências causadas pela degradação ambiental, questões relacionadas à água, sobretudo água
potável, na sua forma líquida, destinada ao consumo humano. O presente artigo objetivou enfocar o
trabalho de Educação Ambiental feito no Colégio Estadual Presidente Castelo Branco, envolvendo
os alunos do Ensino Médio, com a finalidade de se trabalhar a importância da mata ciliar e
preservação da água potável destinada ao consumo humano. O trabalho contou com a participação
das disciplinas de Biologia, Química, Geografia, Língua Portuguesa e Arte. E foi dividido em cinco
atividades: a primeira consistiu em uma visita e uma entrevista ao técnico responsável pelo
departamento de monitoramento e tratamento de água da cidade. A segunda foi uma visita
monitorada ao rio que banha a cidade de Itaguaçu. A terceira consistiu na realização de pesquisas e
confecções de materiais sobre as parasitoses. A quarta atividade foi à elaboração de materiais para
serem divulgados durante a feira. E a quinta atividade foi à efetivação da feira que foi intitulada
como ―Feira do Conhecimento‖ que teve como objetivo de socializar o conhecimento obtido pelos
alunos por meio da exposição dos materiais produzidos para a comunidade local e para os demais
alunos que não participaram das atividades. O trabalho desenvolvido possibilitou aos alunos
conhecerem as etapas do tratamento da água, a importância da mata ciliar no contexto do rio e
principalmente conscientização da comunidade para a preservação dos recursos hídricos.
Palavras chave: Degradação. Mata ciliar. Água. Preservação.
ABSTRACT
Concern about the environment has intensified in recent years, especially the consequences of
environmental degradation, water issues, especially drinking water, in its liquid form, intended for
human consumption. The present article aimed to focus the work of Environmental Education done
at the Castelo Branco State College, involving middle school students, in order to work on the
importance of riparian forest and preservation of drinking water intended for human consumption.
The work was attended by the disciplines of Biology, Chemistry, Geography, Portuguese Language
and Art. And it was divided into five activities: the first consisted of a visit and an interview with
the technician responsible for the city's water monitoring and treatment department. The second was
a monitored visit to the river that bathes the city of Itaguaçu. The third consisted of research and
preparation of materials on parasites. The fourth activity was the preparation of materials to be
released during the fair. And the fifth activity was to make the fair known as the "Knowledge Fair"

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that aimed to socialize the knowledge obtained by the students through the exposure of the
materials produced to the local community and to the other students who did not participate in the
activities . The work developed allowed the students to know the stages of water treatment, the
importance of ciliary forest in the context of the river and especially the community awareness for
the preservation of water resources.
Keywords: Degradation. Ciliary forest. Water. Preservation.

INTRODUÇÃO

A questão ambiental tem sido motivo de preocupação nos diversos setores da sociedade,
vários autores defendem a necessidade de um trabalho mais intenso com jovens na fase escolar para
estudo dessa temática (DINIZ, 2008). Nesse sentido trabalhos que envolvam questões ambientais
são muito importantes e devem envolver jovens com faixa etária escolar, Castrogiovanni (2007,
apud DINIZ 2008, p.2) afirma que: ―o desinteresse dos alunos deve ser combatido com temas
atuais‖.
Os meios de comunicação falado, escrito, tem veiculado opiniões e conscientização a
respeito das questões do Meio Ambiente, mas acredita se ser a escola a instituição ideal para
promover o conhecimento sobre o assunto. Sugere MATTHES e CASTELEINS (2009, p. 11534):

A escola é lugar de socialização, é o lugar certo para se adquirir um comportamento


e atitudes de preservação ambiental internalizadas contribuindo para a formação do
caráter, desenvolvendo atividades que sejam eficazes na geração de uma sociedade
mais consciente. Por meio da sistematização do conhecimento e de uma prática
coerente há de se iniciar uma nova era de cidadãos críticos e conscientes de seu
papel enquanto seres que interferem no meio ambiente, para que esta interferência
passe a ser com responsabilidade e sustentabilidade.

As Orientações Curriculares para o Ensino Médio recomendam o desenvolvimento de


práticas fora do espaço escolar, apontando esse procedimento como atividade motivadora para os
alunos, já que deslocam o ambiente de aprendizagem para fora de sala de aula (BRASIL, 2006).
Os espaços fora do ambiente escolar, mais comumente conhecidos como não-formais, são
ferramentas que podem sanar às carências da escola, como, por exemplo, a falta de laboratório, que
dificulta a possibilidade de ver, tocar e aprender fazendo. Motivados por essa preocupação com o
ensino de ciências, surgiram vários estudos sobre as diferentes formas educacionais, que objetivam
tornar o ensino mais prazeroso, aumentando o interesse dos estudantes (BIANCONI, 2005).
As formas de ensino são classificadas como: educação formal, educação não-formal e
educação informal. A educação espaço formal está relacionada às Instituições Escolares da
Educação Básica e do Ensino Superior, definidas na Lei 9394/96 de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional. É a escola, com todas as suas dependências: salas de aula, laboratórios, quadras de
esportes, biblioteca, pátio, cantina, refeitório. A educação informal é a aquela na qual qualquer

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pessoa adquire e acumula conhecimentos, através de experiência diária em casa, no trabalho e no


lazer (QUEIROZ, et al. 2017).
A educação não-formal, é a tentativa educacional organizada e sistemática que,
normalmente, se realiza fora dos quadros do sistema formal de ensino. Os espaços não-formais de
educação são divididos em duas categorias: locais que são instituições e locais que não são
instituições. Nas instituições são incluídos os espaços que são regulamentados e que possuem
equipe técnica responsável pelas atividades executadas, sendo o caso dos Museus, Centros de
Ciências, Parques Ecológicos, Parques Zoobotânicos, Jardins Botânicos, Planetários, Institutos de
Pesquisa, Aquários, Zoológicos, dentre outros. (JACOBUCCI, 2008).
Já os ambientes naturais ou urbanos que não dispõem de estruturação institucional, mas
onde é possível adotar práticas educativas, englobam a categoria Não-Instituições. Nessa categoria
podem ser incluídos teatros, parques, casas, ruas, praças, terrenos, cinemas, praia, cavernas, rios,
lagoas, campo de futebol, dentre outros inúmeros espaços. (JACOBUCCI, 2008).
O ensino de ciências deve ocorrer não só inteiramente restrito ao contexto escolar, uma vez
que, além de tedioso, o processo de construção do conhecimento se tornará limitado. Dentro dessa
perspectiva, a função dos espaços de educação não formal ganha força, já que nesses lugares os
conteúdos curriculares podem ser trabalhados de forma lúdica e contextualizados (OLIVEIRA et.
al, 2011).
O objetivo do presente trabalho foi sensibilizar, divulgar e despertar a consciência crítica
dos estudantes sobre o tema água por meio de visitas monitoradas envolvendo assuntos
diversificados que vão desde a importância da preservação ambiental até os cuidados com o
consumo da água.

METODOLOGIA

A pesquisa foi realizada entre os meses de maio e junho de 2017, no distrito de Itaguaçu no
estado de Goiás, sendo desenvolvida em parceria com professores das áreas de Ciências da
Natureza, Geografia, Língua Portuguesa e Arte. O público alvo do trabalho foram alunos da 1ª, 2ª e
3ª série do Ensino Médio, totalizando cerca de 40 participantes ao todo. O projeto buscou divulgar e
sensibilizar aos alunos a necessidade de desenvolver ações que amenizem os problemas locais,
relacionados à degradação ambiental, à poluição dos mananciais por lançamento de esgoto e lixo,
doenças causados por protozoários pela ingestão de água contaminada, e assuntos relacionados à
água de forma geral como: o reuso da água das chuvas, etapas do ciclo hidrológico, e tratamento da
água e formação do lençol freático.
A pesquisa teve uma abordagem qualitativa. A pesquisa qualitativa explora as características
dos indivíduos e cenários que não podem ser facilmente descritos numericamente. (MOREIRA E

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

CALEFFE, 2006). A execução foi dividida em cinco etapas:entrevista com o técnico do


departamento de monitoramento de água da cidade, visita monitorada ao rio, pesquisa ao
laboratório de informática sobre doenças causadas por ingestão de água contaminada, a preparação
dos materiais para serem apresentados na feira bem como a confecção de cartazes sobre os ciclos
das verminoses, protozooses e bacterioses e a execução da feira.
A primeira atividade consistiu em uma visita e uma entrevista ao técnico responsável pelo
departamento de monitoramento e tratamento de água da cidade. Os alunos envolvidos nessa
atividade foram os da 3ª série. Essa etapa foi elaborada com o intuito de levar os alunos a
conhecerem a origem da água utilizada no cotidiano, como é feito o tratamento dessa água até que
esteja ideal para seu uso.
A segunda atividade contou com a participação dos alunos da 1ª série, sendo uma visita
monitorada ao rio que banha a cidade de Itaguaçu, que recebe o nome de Rio Claro e pertence à
bacia hidrográfica do Rio Paranaíba. Essa atividade teve caráter investigativo no qual os alunos
foram instigados a pontuar os principais danos ambientais causado pelo homem nesse ambiente, a
forma como esses danos podem afetar na qualidade da água e nos organismos que dependem desse
ambiente para a sobrevivência, além do levantamento de medidas que podem ser tomadas para
sanar ou minimizar esses danos.
Na terceira atividade, os alunos da 2ª série foram levados para o laboratório de informática
da escola, para realização de pesquisas relacionadas às formas de contaminação e prevenção de
doenças e para elaboração de cartazes sobre os ciclos das seguintes doenças: ascaridíase amebíase,
giardíase.
A quarta atividade, consistiu na elaboração de materiais para serem divulgados durante a
feira. Essa etapa foi realizada durante o período letivo e no contra turno. Os alunos contaram com a
orientação dos professores das diversas áreas para confeccionar maquetes, cartazes e montagem de
experimentos. Durante essa atividade os alunos foram os agentes ativos, na fase de pesquisas,
elaboração e execução.
A quinta atividade foi a efetivação da feira que foi intitulada como ―Feira do Conhecimento‖
realizada nas dependências do Colégio Estadual Presidente Castelo Branco. Teve como objetivo de
socializar o conhecimento obtido pelos alunos por meio da exposição dos materiais produzidos para
a comunidade local e para os demais alunos que não participaram das atividades. A Feira do
Conhecimento ocorreu durante o turno matutino e vespertino.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Durante a primeira atividade o técnico mostrou a quantidade de água consumida diariamente


pela população, como é feito o seu tratamento e explicou que a água destinada é gratuita sendo a

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prefeitura o órgão responsável pela manutenção dos poços artesianos, o tratamento da água e sua
distribuição aos habitantes do local. Nessa etapa os alunos ficaram curiosos para saber como é feito
o tratamento da água desde a captação até a distribuição, o que gerou várias dúvidas durante as
explicações revelando o interesse em aprender.
Uma atividade desenvolvida em um espaço não-formal de educação pode auxiliar a
contextualizar os conteúdos trabalhados em sala de aula dando a eles maior significado conforme
indicado por Knauth et al., (2011). Nessas atividades, cada pessoa tem a oportunidade de se
apropriar de conhecimentos relacionados aos problemas ambientais da sua cidade e das políticas
públicas colocadas ou não em prática pelos seus governantes.
Na entrevista ao técnico, os alunos mostraram-se preparados e bem dinâmicos ao abordar as
perguntas que foram elaboradas em sala com auxílio dos professores. Os dados e imagens obtidos
durante a visita e entrevista foram organizados e posteriormente foram socializados com os outros
alunos e visitantes durante a feira.
Durante a visita ao Rio Claro os alunos tiveram uma nova percepção sobre rio deixando de
ser apenas visitantes e tornando-se investigadores preocupados com a situação atual do rio. Nesse
momento notamos a importância do professor como mediador do conhecimento, uma vez que ele
atua com aproximador do conhecimento científico com o conhecimento cotidiano.
Silva e Junqueira (2007) afirmam que para ser estimulada a percepção da conservação de
áreas naturais direta ou indiretamente nas pessoas, é necessária a intervenção de educadores
ambientais que estabeleçam ligações diretas entre a conservação e a ciência, valorizando a
participação da população enfatizando a preocupação com as questões ambientais em uma escala
ampla e centralizada na sua localização.
No decorrer da visita os alunos foram instigados a pontuar sinais de degradação e da
intervenção humana durante o percurso, o desmatamento das bordas do rio, o lixo urbano e
resquícios de intervenções humanas constantes. Mencionaram ainda que isso seria resultado das
frequentes visitas e do uso incorreto do local, por se tratar de uma região de lazer da comunidade
local e de turistas. A turma propôs divulgar para a escola as causas da degradação do rio, buscando
conscientizar o público escolar e também a comunidade. Refletindo que essa atividade conseguiu
sensibilizar os alunos, aguçou o senso crítico buscando divulgar para os demais a importância de
proteger a área próxima ao rio.
Dias (1992), ressalta que ações que conduzem à reflexão complementadas com atividades de
campo podem induzir o aluno a autoconfiança e a concretização de atitudes que levem a uma busca
contínua da valorização do meio ambiente.
Na terceira etapa os alunos da turma de 2º série buscaram informações no laboratório de
informática da própria escola como pesquisas, reportagens, e experimentos que pudessem ser

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replicados, com o intuito de adquirir maior conhecimento sobre o assunto. Durante as pesquisas os
alunos solicitaram a presença do professor pedindo opiniões, se preocuparam também com a
qualidade dos conteúdos e se eram acessíveis e de fácil compreensão, mostrando assim que houve a
grande participação dos alunos nessa etapa.
Ao efetuar uma pesquisa o aluno tem a possibilidade de aprender a formular hipóteses, a
conhecer, a analisar, a trabalhar em conjunto com os colegas e a tirar suas próprias conclusões;
logo, ele começa a aprender conceitos científicos, relações entre o meio e o ser vivo, a ser mais
paciente, responsável e tolerante, mostrando assim maior aptidão para o aprendizado (PILETTI,
1988)
Na quarta etapa os alunos das três séries se interagiram muito bem com os professores,
sempre se preocupando com a veracidade e a relevância de seus materiais produzidos procurando
sempre o apoio dos professores na organização e também na parte conteudista. Os alunos se
relacionaram com as outras séries trocando informações e sugestões, revelando a importância do
trabalho em grupo e a construção do conhecimento por meio da troca de saberes. Se mostravam
entusiasmados e dedicados tanto na elaboração e preparação dos materiais quanto na
ambientalização das salas.
Na quinta etapa que foi a efetivação da ―Feira do Conhecimento‖, cada turma optou por uma
abordagem diferenciada. A 1ª série confeccionou uma maquete retratando a importância da mata
ciliar na manutenção dos rios, e mostrou a intervenção humana em trechos do rio.
Simulou também por meio da mesma maquete como ocorre o tratamento da água em uma
estação de tratamento abordando detalhadamente, desde a entrada da água na estação de tratamento
até a sua saída, como posterior distribuição para os bairros de uma cidade. Essa mesma turma
também se preocupou em mostrar através da utilização de um painel que o ciclo hidrológico na
natureza não é renovável, como se parece, e que o mesmo foi alterado em decorrência do uso
desordenado pelos seres humanos.
A ideia de utilização de maquete como recurso didático para mediar o processo de ensino
aprendizagem é corroborativa para aumentar a compreensão dos assuntos abordados, uma vez que a
mesma mostra o objeto de forma tridimensional saindo do abstrato e transmite uma noção concreta
do objeto, de acordo com (PITANO e ROQUÉ, 2015, p. 274):

Um dos recursos utilizados nas aulas de Geografia é a maquete, representação de um objeto


de forma tridimensional em escala reduzida, real ou ampliada, com a finalidade artística, de
estudo, de planejamento ou comercial, que possibilita ao observador apropriar-se do objeto
através de sua manipulação e visualização.

Nesse sentido o uso desse recurso pela turma citada, despertou maior entusiasmo e
compreensão por parte dos visitantes no que se refere ao assunto que envolve degradação ambiental

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e poluição de mananciais, maior trabalho em equipe entre os colegas, diálogo e interação entre os
participantes.
A 2ª série destacou os principais parâmetros que devem ser levados em conta ao se tratar da
água para o consumo humano. Abordaram por meio de cartazes as consequências da ingestão de
água contaminada como as doenças parasitárias, suas formas de infecção, prevenção e as formas de
tratamento. Esquematizou de forma detalhada os ciclos das doenças parasitárias mais comuns como
a amebíase, giardíase e ascaridíase. Essa abordagem trouxe ao público escolar e a população muitas
informações que eram desconhecidas, pois gerou grande surpresa e muitos questionamentos. O que
permitiu a conscientização dos participantes da feira dos cuidados que devem ser tomados com a
água na ingestão da água.
A 2ª Série também simulou por meio de um experimento como a água é depositada no
lençol freático e como ocorre o lento processo de filtração da água proveniente da chuva,
percolando pelas rochas e materiais particulados presentes na crosta terrestre. No experimento os
alunos tiveram a preocupação em utilizar materiais comuns no cotidiano como a areia, carvão,
argila para a facilitação da replicação do mesmo pelo público em outras atividades que abordem
sobre o mesmo assunto.

Figura 1: Imagem dos alunos da 2ª série durante a apresentação do experimento sobre o processo de filtração
que ocorre no lençol freático. Fonte: autores do artigo

A utilização de experimentos no ensino de Ciências pode ser uma ótima ferramenta que
permite o aluno fazer a ligação entre a teoria e a prática tornando o conhecimento mais efetivo para
o aluno. Freire (1997) ressalta que para compreender a teoria é preciso experienciá-la.
A mesma turma confeccionou outra maquete, que representou uma casa com um sistema de
calha, que simulou a captação de água da chuva para uso em várias atividades domésticas, uma
alternativa de reutilização de água pluvial para atividades como descarga em sanitários, lavar roupa,
lavar calçadas e limpeza de casa.

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Figura 2: Apresentação da maquete construída presentando a reutilização de água pluvial para atividades
domésticas. Fonte: autora do artigo

Essa preocupação dos alunos despertou na população a importância da reutilização da água


da chuva, destacando assim que a mesma não tem utilidade apenas para fins de abastecimento dos
rios e regar matas e florestas, que pode ser aproveitada em diversas atividades domésticas, podendo
ser uma alternativa para economizar a água.
Os estudantes da 3ª Série confeccionaram uma maquete com as camadas que formam a
crosta terrestre até chegar ao lençol freático (simulando como se forma o lençol subterrâneo) e
ilustrou como é captada a água do lençol, por poços artesianos, sendo esta a forma de captura da
água utilizada no abastecimento de Itaguaçu. Associando as explicações das 2ª e 3ª Séries, o público
participante pode compreender o que é um lençol freático, como se dá sua formação, e de onde vem
a água que é consumida em seu município.
A turma mencionada acima apresentou também os dados obtidos na entrevista com técnico
responsável pelo tratamento da água da cidade. Para mostrar aos participantes da feira o que é
utilizado para tratar a água, os alunos utilizaram frascos de hipoclorito de sódio, que atua como uma
substância química que age como bactericida de forma muito eficiente. Foi calculada a quantidade
de hipoclorito, em gramas, por litro de água e observou-se que esta quantidade está dentro do
especificado pelo órgãos competentes. Foi feito também um experimento sobre uma forma de
tratamento de água que fundamenta-se na eletro floculação, no qual se aplica uma diferença de
potencial no sistema, e flocos de material particulado são formados, tendo o corpo de água um
aspecto mais claro, podendo se assim separado dos flocos por filtração.
As apresentações foram divididas entre os alunos o que favoreceu a participação de todos na
exposição dos materiais preparados por eles. Os demais alunos do Ensino Fundamental e a
comunidade em geral interagiram bem, acompanhando as explicações, relatando suas vivências e
fazendo questionamentos. Também foi notada a preocupação com as ações pessoais e da sociedade
como um todo a respeito do uso indiscriminado da água, as consequências das interferências no
meio ambiente causadas pelos homens e a preocupação com o consumo incorreto da água causando
doenças parasitárias.
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De acordo com Farias (2006) as Feiras de Ciências podem colaborar de forma significativa
para a socialização e transmissão de experiências de ensino, aprendizagem e conhecimentos com a
comunidade, permitindo uma visão mais ampla de mundo por parte dos participantes, expositores e
visitantes da Feira, admitindo a divulgação dos resultados das pesquisas, troca de experiências entre
os pares, como forma de confirmação do conhecimento.

CONCLUSÃO

O ensino muitas vezes não é efetivado devido à fragmentação do conhecimento e a forma


monótona como é realizado esse processo dentro do ambiente escolar. O professor muitas vezes
precisa recorrer a formas alternativas que possam suprir as dificuldades que surgem ao longo do
processo educacional. Nota-se no ensino de ciências grande dificuldade na efetivação e assimilação
do conhecimento por parte dos alunos, nesse contexto entra o papel do professor como interferência
positiva e renovadora.
Através da experiência vivenciada, foi possível concluir que as visitas monitoradas são
alternativas com grande potencial para abordagem de diversos conteúdos. As visitas permitem que o
aluno associe o que é visto na teoria com a sua realidade. O tema retratado neste trabalho é muito
comum e fundamental para a existência humana, mas quando é abordado fora das situações
cotidianas não impactam de forma tão efetiva. Principalmente quando refere-se às consequências
causadas pelas intervenções humanas, como os alunos foram monitorados durante a visita ao leito
do rio que corta o município, puderam compreender que esse ambiente não tem importância apenas
para o lazer mas sim para sobrevivência de vários organismos inclusive para nós humanos.
De acordo com os resultados obtidos a partir da realização de todas as etapas, notou-se a
importância de utilizar metodologias diversificadas como visitas monitoradas, entrevistas e feiras
que possam complementar o processo de construção do conhecimento. Salienta-se ainda a
oportunidade de trabalho em equipe, a divisão de tarefas e ação integrada na concretização de um
projeto que influencia diretamente na aprendizagem significativa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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natureza, matemática e suas tecnologias. Ministério da Educação – Educação Básica, 2006.

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A CONTRIBUIÇÃO DOS REFERENCIAIS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO


PURAQUEQUARA PARA A EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Maria Anete Leite RUBIM


Professora Doutora DEPESCA/FCA/UFAM
aneterubim@ufam.edu.br
Lídia Rochedo FERRAZ
Professora Doutora FAPSI/UFAM
lidiaferraz@ufam.edu.br
Rita Mileni Souza LIMA
Técnica em Educação Mestre DEPESCA/FCA/UFAM
ritamileni@ufam.edu.br

RESUMO
O projeto de educação ambiental baseado nos estudos da bacia hidrográfica do Puraquequara foi
desenvolvido especialmente para sensibilizar os alunos, educadores, gestores e comunitários que
vivem no entorno da bacia, para a questão do pertencimento, da proteção e planejamento dos
múltiplos usos, devido as pressões que este ambiente vem sofrendo, ameaçado por inúmeras
atividades antrópicas. Neste trabalho, estimulou-se junto aos professores e gestores, a construção de
novos processos educativos, e a escola, ao estar localizada neste espaço geográfico, assume seu
mais relevante papel, de despertar, gerar conhecimento e transformar. As crianças em idade escolar
na área rural da Amazônia possuem estreita relação e forte identificação com os rios e lagos, seja
para sobrevivência como meio de fonte alimentar, lazer e via de locomoção. Diversas atividades
foram realizadas ao longo de sete anos, sempre priorizando os recursos aquáticos e desde a
implantação do projeto de educação ambiental no Puraquequara, percebe-se uma mudança no
processo de aprendizagem no âmbito escolar, sobre as questões ambientais, especialmente na
compreensão de que somos parte integrante desse ambiente. Pode-se considerar que a percepção
dos alunos acerca de sua realidade local foi expandida. Proporcionou conhecimentos sobre saúde,
qualidade da água que chega à escola e às residências, qualidade da vida dos rios e igarapés. Parou-
se para pensar junto sobre as condições do ambiente local, das ruas do bairro, das condições de
cuidado com a escola e seu entorno, acrescido de uma iniciante avaliação das condições
socioambientais e dos entraves advindos da lógica político-econômica.
ABSTRACT
The environmental education project based on the studies of the Puraquequara river basin was
developed especially to sensitize the students, educators, managers and community members living
around the basin to the question of belonging, protection and planning of multiple uses, due to the
pressures That this Environment has been suffering, threatened by numerous anthropic activities. In
this work, the construction of new educational processes was stimulated with the teachers and
managers, and the school, being located in this geographic space, assumes its most relevant role, of
awakening, generating knowledge and transforming. School-age children in rural Amazonia have a
close relationship and strong identification with rivers and lakes, whether it means survival of food,
leisure and locomotion. Several activities have been carried out over seven years, always
prioritizing aquatic resources and since the implementation of the environmental education project
in Puraquequara, there is a change in the learning process in school, on environmental issues,
especially in the understanding that we are an integral part of this environment. It can be considered
that the students' perception about their local reality has been expanded. It provided knowledge
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about health, water quality, school and homes, quality of life of rivers and streams. We have paused
to think about the conditions of the local environment, the streets of the neighborhood, the
conditions of care with the school and its environment, plus a beginner evaluation of socio-
environmental conditions and the consequences arising from the political-economic logic.
Palavras chave: educação ambiental, escola, bacia hidrográfica.

INTRODUÇÃO

A questão que orienta este trabalho foi pensada a partir de estudos sobre as alterações na
qualidade da água da bacia do rio Puraquequara, que gerou uma articulação para a prática da
educação ambiental no ambiente escolar. O projeto de educação ambiental foi desenvolvido
especialmente para sensibilizar os alunos, educadores, gestores e comunitários que vivem no
entorno da bacia do Puraquequara, para a questão do pertencimento, da proteção e planejamento dos
múltiplos usos, devido as potenciais pressões que este ambiente vem sofrendo, ameaçado por
inúmeras atividades antrópicas.
Nessa perspectiva, a Educação Ambiental torna-se uma importante ferramenta política e
pedagógica para um processo de discussão e de entendimento sobre as Ciências Naturais e Sociais,
de forma preservacionista e conservacionista, deflagrando discussões mais aprofundadas sobre
política, cultura, meio ambiente, sociedade e ética, tornando a escola o local ideal para promover
este processo, tendo as disciplinas escolares como recursos didáticos através dos quais os
conhecimentos científicos de que a sociedade já dispõe são colocados ao alcance dos alunos
(PENTEADO, 2001).
Neste trabalho, estimulou-se junto aos professores e gestores, a construção de novos
processos educativos, tendo como referência a bacia hidrográfica. As crianças em idade escolar na
área rural da Amazônia possuem estreita relação e forte identificação com os rios e lagos, seja para
sobrevivência como meio de fonte alimentar, lazer e via de locomoção. Todos esses aspectos são
vivenciados no seu cotidiano.
A escola, ao estar localizada neste espaço geográfico, insere-se nesta realidade
socioambiental, podendo assumir a liderança social e seu papel de interesse público, social, cultural
e educacional, assim responsabilizando-se com a formação das futuras gerações, comprometidas
com a sustentabilidade da humanidade e do planeta(ROSA; ANGELO, 2012).As autoras citam que
os temaseducação ambiental, escola e bacia hidrográfica representam uma contribuição significativa
na construção de conhecimento da educação ambiental escolar, numa perspectiva de articulação de
atuação entre o ―local e o global‖. A unidade territorial da bacia hidrográfica representa espaço
privilegiado de atuação local com impactos globais, sendo a referência do rio como fator de
identidade sistêmica. Tal afirmativa corrobora para que os atores envolvidos neste trabalho tenham

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uma visão da importância ambiental, social e econômica da bacia hidrográfica, tanto para a
sociedade local, quanto num contexto mais global.
As atividades de educação ambiental utilizadas no âmbito do projeto, foram baseadas em
iniciativas individuais, depois em parcerias, e hoje faz parte do Programade Extensão Puraquequara,
da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), realizado por meio da pesquisa-ação. Huges
Dionne (2007) conceitua a pesquisa-ação como: ―prática que associa pesquisadores e atores em uma
mesma estratégia de ação para modificar uma dada situação e uma estratégia de pesquisa para
adquirir um conhecimento sistemático sobre a situação identificada.‖
Este conceito se aplica a bacias hidrográficas como unidade de estudos e o envolvimento de
atores para efetivamente produzir ações de educação ambiental em espaços formais e não formais,
visando seu uso sustentável.

LOCALIZAÇÃO DA BACIA DO PURAQUEQUARA

A bacia do Rio Puraquequara, considerada uma sub-bacia do município de Manaus, está


localizada na parte oriental da cidade. Uma parte é ocupada para uso agrícola e, embora mantenha
muitas de suas características naturais, ali já se faz sentir os efeitos da expansão da cidade
(ROCHA, 2014).
O maior adensamento populacional encontra-se na vila de moradores, hoje transformada em
bairro, na porção direita do rio Puraquequara. Na zona urbana vivem 5.856 habitantes (IBGE,
2010), e na área rural, há registro de 177 famílias distribuídas nas comunidades e, tanto o bairro
quanto as comunidades rurais, vivem no entorno dos corpos hídricos que compõem a bacia
(OLIVEIRA, 2011). A área da margem esquerda do rio Puraquequara mantém suas características
naturais e pertence ao Centro de Instruções de Guerra na Selva (CIGS) do Exército Brasileiro, que a
utiliza para treinamento da corporação.
A bacia do Puraquequara está inserida nas Unidades de Estruturação Urbana: UES
Puraquequara e UES Distrito–II. De acordo com a SUFRAMA (2013) a UES Distrito – II, possui
41 empresas em plena produção, localizadas no entorno da sub-bacia. Segundo Freitas (2012), essa
área de expansão do Polo Industrial de Manaus foi adquirida em 1980 e compreende uma extensão
de 5700 ha.
Essas feições da ocupação do entorno da bacia do Puraquequara, indicam uma forte pressão
pelo uso e ocupação do solo, onde se sobrepõem as áreas industriais, edificações urbanas e o
ambiente rural.

ESPAÇO GEOGRÁFICO NO ENTORNO DA BACIA: OCUPAÇÃO RURAL, URBANO E


INDUSTRIAL.

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O Plano Diretor Urbano e Ambiental do Município de Manaus, aprovado em 2014, mudou o


status da área do Puraquequara de zona de transição, para área urbana da cidade de Manaus.
Segundo Coelho (2006), esta transmutação não ofereceu mudanças na infraestrutura local – como
saneamento básico, abastecimento de água e energia elétrica, serviços de saúde e educação – e nos
modos de vida de seus moradores. Sua população, apesar de pertencer geograficamente à zona
urbana, ainda conserva elementos culturais próprios de populações rurais – cultivo de produtos
agrícolas, prática da pesca como atividade de subsistência, utilização de canoas, barcos e ―rabetas‖
como meio de transporte.
Como área de expansão recente, a localidade vem experimentando na última década,
profundas e rápidas mudanças, sobretudo em relação aos impactos ambientais, especialmente de
origem industrial, decorrentes da implantação de novas indústrias na área do Distrito Industrial II
(FERRAZ, 2010).
A UES Distrito II, estabelecida na área da bacia do Puraquequara, abriga empresas de
diversos setores de produção, descritas a seguir: 3 pertencem ao Subsetor Bebidas Não Alcoólicas e
seus Concentrados, 1 ao Setor Editorial e Gráfico; 8 ao Setores de Materiais Elétricos, Eletrônicos e
de Comunicação; 9 ao Subsetor Material Elétrico, Eletrônico e de Comunicação; 3 ao Subsetor
Metalúrgico; 2 ao Subsetor de Papel, Papelão e Celulose; 1 ao Subsetor Produtos Químicos e
Farmacêuticos e 14 empresas ao Subsetor Produtos de Matérias Plásticas. De acordo com a
SUFRAMA (2013), 41 empresas foram instaladas até 2013, com incremento de 15 empresas entre
2011 e 2013.
Rocha (2014), em um estudo sobre a formação do Comitê de Bacia do rio Puraquequara,
sistematizou os usuários do lago Puraquequara em três grandes grupos:
1) O primeiro composto pelas empresas voltadas para o setor da economia que envolve as
indústrias pertencentes ao Polo Industrial, mais especificamente aquelas situadas na área do Distrito
II;
2) As empresas do setor de serviços como: hotéis, restaurantes, embarcações de pequenos e
médios portes, comércios outros serviços, como empresas do ramo de hotelaria que tem se instalado
na região com estruturas de hotel de selva;
3) O comercio que é desenvolvido em torno do Lago, como restaurantes, mercadinhos,
lanchonetes uma pequena feira que ocorre diariamente em uma área utilizada como ―porto‖ (porém
sem nenhuma estrutura), sem regras ou normas de uso do solo urbano e sem fiscalização, denotam a
ausência do poder público na localidade onde se desenvolveu a Vila, identificada pela falta de
infraestrutura dos serviços, como saneamento básico, os dejetos lançados no leito do Lago. As
embarcações denominadas ―voadeiras‖ são largamente utilizadas na região, como meios de

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transporte entre as comunidades cujo acesso é exclusivo por via fluvial, para os serviços oferecidos
na capital.
Além disso, o bairro também recebe moradores de outras localidades, que aos finais de
semana, utilizam o espaço para lazer. Outro agravante refere-se às tentativas de ocupação de áreas
de proteção, provocando queimadas e devastação. O avanço destas atividades e a criação de novas
necessidades de consumo têm configurado outra realidade para as comunidades, ocasionando
prejuízos à qualidade de vida dos moradores, além de prejudicar o próprio trabalho, o turismo e o
lazer humanos (FERRAZ, 2010).
O objetivo deste trabalho é de proporcionar ações voltadas à disseminação dos conceitos,
princípios e diretrizes da Educação Ambiental no bairro Puraquequara, fortalecendo o
desenvolvimento de competências, valores, habilidades e atitudes que estimulem o envolvimento e
comprometimento nas questões de sustentabilidade socioambiental.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Promover ações educativas, através de grupos de encontro e ateliês, voltados à conservação


do ambiente, em especial, os recursos hídricos, as florestas e a sócio/biodiversidade na região da
Bacia Hidrográfica do Puraquequara;
Difundir informações, visando sensibilizar e mobilizar moradores e visitantes no que se
refere à proteção da vida, e dos mananciais hídricos do bairro Puraquequara;

ÁREA DE ESTUDO

Esse estudo foi desenvolvido, inicialmente, na EscolaMunicipal São Sebastião e


posteriormente na Escola Municipal Américo Gosztonyi. As duas escolas contam com alunos
distribuídos desde a educação infantil até o quinto ano do ensino fundamental.

AÇÕES DESENVOLVIDAS EM ESPAÇOS FORMAIS E NÃO FORMAIS

Inicialmente, foi realizada junto aos alunos das escolas, coleta de informações sobre o
conhecimento que eles possuíam acerca da bacia hidrográfica, seus elementos como a fauna e flora
aquática e terrestre; o ambiente aquático como fonte de alimento; de transporte para o deslocamento
e, como fonte de lazer, bem como sobre a percepção que ele é parte do ambiente. A partir das
informações, estabeleceu-se junto às escolas, um cronograma de atividades mensais, sempre em
datas comemorativas alusivas ao meio ambiente.
As atividades oferecidas pelo programa foram e continuam sendo direcionadas
prioritariamente aos moradores de comunidades pertencentes ao bairro Puraquequara, mas também
aconteceram duas atividades com professores de outras localidades. Foram realizadas as seguintes

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atividades: palestras, minicursos, oficinas temáticas, atividades de lazer, espaços itinerantes de


aprendizagens coletivas e encontros participativos de informação e mobilização, abaixo descritos:
Exposição conceitual sobre questões de educação ambiental, sempre enfatizando os
elementos da bacia hidrográfica, no qual o homem se insere como um usuário e como um
observador.
Na sala de leitura, as atividades com crianças ocorriam nos dias de encontro das mães e nas
rodas de conversa. Enquanto as mães se reuniam, seus filhos participavam de atividades com
desenho, pintura, vídeos e brincadeiras.
Interação no âmbito escolar entre alunos, professores e diretores com as atividades alusivas
ao meio ambiente. Assim, cada mês era apresentado e discutido um tema, como o dia mundial da
água em março, dia internacional do meio ambiente em junho, dia da árvore em setembro e outros.
Desenvolvimento de atividades por meio de apresentação de filmes cujo enfoque poderia ser
atribuído ao espaço da bacia do Puraquequara, com posterior discussão. A projeção do vídeo
―Peixonauta e o caso da água que sumiu‖, seguido de conversa sobre o vídeo e atividades para
explorar o tema.
Atividades artísticas com apresentação de histórias contadas por meio de teatro de
fantoches;
Elaboração de murais ecológicos, onde os alunos construíam diferentes espaços com figuras
da fauna e flora, sempre tendo a escola inserida nesses espaços.Ateliê na Escola Municipal Américo
Gosztonyi cujo tema principal referiu-se a ―cuidar da escola, cuidar do ambiente‖. As atividades
consistiram em assistir a um vídeo, introduzindo o tema, seguido de questionamentos, produção de
textos e desenhos.
Concursos de desenhos com temas relacionados a bacia hidrográfica, com premiações
doadas por empresas que atuam na área do Puraquequara. Os desenhos premiados eram expostos
em outdoor. Posteriormente, foram utilizados para compor o ambiente virtual de um curso de pós
graduação Lato Sensu em Educação Ambiental oferecido pela UFAM;
Concursos de poesias também alusivas a esse tema;
Excursões de alunos a espaços com áreas verdes como o campus da Universidade Federal do
Amazonas, com objetivo de chamar atenção para os componentes de flora e fauna;
Excursões ao Bosque da Ciência, no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, onde se
podem conhecer projetos de proteção ao peixe boi, iguanas, quelônios. Também, há um espaço com
exposição de alguns elementos da fauna e flora amazônica;
Excursões a uma reserva particular do patrimônio natural (RPPN) situada na orla do rio
Negro, onde foi dada ênfase ao Encontro das águas do rio Negro e Solimões, cuja reserva está

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localizada na frente do encontro dos dois rios. Este processo de envolvimento de alunos em ações
fora do ambiente da escola possibilita um enxergar diferenciado, num contexto mais global.
Encontro mensal com mães que trazem seus filhos para acompanhamento, na Pastoral da
Criança, denominado ―Rodas de conversa‖.As rodas de conversa iniciaram em 2016, numa
cooperação com a pastoral da criança. Palestras sobre saúde e educação são realizadas para as mães
que trazem seus filhos para a pesagem. A roda de conversa é também a proposta da própria Pastoral
da Criança, que assume, nesta ação, um caráter social, de apoio à saúde e acompanhamento das
crianças, objetivando minimizar impactos relacionados à desnutrição
Espaços itinerantes de Educação Ambiental. As visitas itinerantes acontecem mensalmente,
aos sábados, nas comunidades Mainã, Santa Luzia, Tabocal. Objetivam a produção de espaços nas
comunidades para divulgação da educação ambiental e momentos de aprendizagens coletivas, com
atividades de sensibilização para a valorização da pessoa humana, para a conservação da água, das
florestas e da biodiversidade, divulgando a importância e necessidade de cuidar de si e do ambiente
local.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho com escolas é de grande importância. Ainda que inúmeras práticas, mobilizações
e publicações venham contribuindo para avanços no que se refere às problemáticas ambientais,
temos muito a caminhar. Entre avanços e retrocessos, vivemos um momento impactante, que exige
de nós ações de mobilização e, principalmente, de motivação dos pares.
Faz-se necessário ampliar as práticas educativas, evitando sua clássica restrição a projetos
temáticos, comumente descontextualizados do cotidiano comunitário, principalmente ribeirinho, ou
os que se concentram em atividades isoladas, de modo geral relacionadas a datas comemorativas
pontuais ou a aspectos puramente ecológicos, sem considerar os fatores culturais, políticos,
econômicos, ideológicos que são parte integrante da temática ambiental.
É preciso ir além dos discursos formais e conteúdos teóricos, e caminhar junto à
comunidade, possibilitando conhecer e compartilhar conhecimentos, a partir de sua realidade
cotidiana. Promovendo espaços que permitam este modo de construir conhecimentos, intenta-se
contribuir para a transformação da coletividade e, consequentemente, provocar modo de atuação
humana mais consciente.
A proposta de realização deste trabalho em conjunto com as escolas, objetivou a ampliação
destas práticas socioambientais, posto que, a partir da sala de aula, e dela saindo, podemos fazer
ecoar ideias, práticas, movimentos.

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Desde a implantação do projeto de educação ambiental no Puraquequara, percebe-se uma


mudança no processo de aprendizagem no âmbito escolar, sobre as questões ambientais,
especialmente na compreensão de que somos parte integrante desse ambiente.
Pode-se considerar que a percepção dos alunos acerca de sua realidade local foi expandida.
Proporcionou conhecimentos sobre saúde, qualidade da água que chega à escola e às residências,
qualidade da vida dos e nos igarapés. Parou-se para pensar junto sobre as condições do ambiente
local, das ruas do bairro, do acesso aos igarapés, das condições de cuidado com a escola e seu
entorno, acrescido de uma iniciante avaliação das condições socioambientais e dos entraves
advindos da lógica político-econômica.
O indivíduo passa a ter uma postura crítica sobre potenciais mudanças que podem ocorrer e
que sua intervenção pode alterar o meio em que vive. No coletivo, percebe-se o envolvimento da
comunidade nas discussões, com exposição de problemas e busca de soluções para minimizar os
problemas de ordem social e ambiental.

REFERÊNCIAS CONSULTADAS

COELHO, R. F. Ribeirinhos Urbanos: modos de vida e representações sociais dos moradores do


Puraquequara. Dissertação de mestrado.PPG Sociedade e Cultura na Amazônia. UFAM, 2006,
210p.

DIONNE, H. A Pesquisa Ação para o Desenvolvimento local. Trad. Michael Thiollent. Brasília:
Liber, 2007.

FERRAZ, L. R. O cotidiano de uma escola rural ribeirinha na Amazônia: práticas e saberes na


relação escola-comunidade. Tese. Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Filosofia,
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FREITAS, L. A. A. Localização das Indústrias do Pólo Industrial e Manaus: uma análise dos
fatores determinantes. Dissertação de Mestrado. PPGEP – UFPE. 110 f. 2012.

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2010). IBGE, Diretoria de Pesquisas,


Coordenação de População e Indicadores Sociais. Disponível em http://cod.ibge.gov.br/1UB.
Acessado em 30 de julho de 2017.

OLIVEIRA, F. O. Ecoturismo, gestão participativa e dilemas locais: uma análise na APA do


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2011.

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PENTEADO, Heloísa Dupas. Meio ambiente e formação de professores. 4. ed. São Paulo: Cortez,
2001.

ROCHA, A. T. Gestão da água em Manaus: proposta de criação do comitê da bacia hidrográfica


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Geografia, Universidade Federal do Amazonas, 2014. 120 p.

ROSA, M. A.; ANGELO, C. Educação ambiental: escola e bacia hidrográfica. Anais do IX ANPED,
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Projetos Aprovados pela SUFRAMA. 21p.

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GESTÃO INTEGRADA DE BACIAS HIDROGRÁFICAS: A BACIA DO SANTA


MARIA DA VITÓRIA-ES

Maria Bernardete GUIMARÃES


Mestre em Engenharia Ambiental, Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos
mbguimar@gmail.com e maria.guimaraes@iema.es.gov.br

RESUMO
A bacia Hidrográfica do rio Santa Maria da Vitória possui área de drenagem de cerca de 1.800 km²
e percorre 122 km. Possui 715.000 habitantes abrangendo seis municípios. Os problemas com o
assoreamento do rio comprometem o tratamento da água e sua distribuição. O acúmulo de
sedimentos nos tanques das estações de tratamento de água devido à intensa erosão ao longo da
bacia hidrográfica do rio compromete toda a dinâmica do processo de tratamento da água para
consumo humano. Em reservatórios para geração de energia elétrica diminui a sua vida útil e no Rio
provoca enchentes. O rio Mangaraí é o principal afluente do rio Santa Maria da Vitória e sua
recuperação contribuirá para a melhoria quantitativa e qualitativa do rio Santa Maria. O projeto
Mangaraí faz parte do Programa de Gestão Integrada das Águas e da Paisagem, financiada pelo
Banco Mundial. O projeto Mangaraí prevê ações de reflorestamento, recomposição de estradas,
gestão de águas junto aos produtores agrícolas da região, estudos de alternativas para a redução do
transporte de sedimentos e melhoria da qualidade de água nas nascentes.
Palavras chaves: Gestão Integrada, Assoreamento, Crise Hídrica.
ABSTRACT
The hydrographic basin of the Santa Maria da Vitória river has a drainage area of about 1,800 km²
and runs 122 km. It has 715,000 inhabitants covering six municipalities. Problems with river
siltation compromise water treatment and distribution, sediment build-up in water treatment plant
tanks due to intense erosion along the river basin compromises the entire dynamics of the water
treatment process to consumption. Into reservoirs for eletric power generation decreases the useful
it life and causes floods in Rio. The Mangaraí river is the main tributary of the Santa Maria da
Vitória and its recovery will contribute to the quantitative and qualitative improvement of the Santa
Maria river. The Mangaraí project is part of the Integrated Sustainable Water Management Project,
financed by World Bank. The Mangaraí project for reforestation actions, road recomposition, water
management with the region's agricultural producers and studies of alternatives for the reduction of
sediment transport and improvement of water quality in the springs.
Keywords: Integrated Management, Sedimentation, Water Crisis.

INTRODUÇÃO

A bacia Hidrográfica do rio Santa Maria da Vitória é limitada pela Baía de Vitória, ao Norte e a
Oeste pelas bacias dos rios Reis Magos e Doce e ao Sul com a bacia do rio Jucu, com área de
drenagem de cerca de 1.800 km². Os problemas com o assoreamento do rio comprometem o
tratamento da água e sua distribuição, o acúmulo de sedimentos nos tanques das estações de
tratamento de água devido à intensa erosão ao longo da bacia hidrográfica do rio compromete toda a
dinâmica do processo de tratamento da água para consumo humano, nos reservatórios para geração

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de energia diminui a vida útil e no Rio provoca enchentes. O rio Mangaraí é o principal afluente do
rio Santa Maria da Vitória e sua recuperação contribuirá para a melhoria quantitativa e qualitativa
do rio Santa Maria. O projeto Mangaraí é uma iniciativa do Governo Estadual, com duração
prevista de cinco anos e investimentos de quatorze milhões para recuperação ambiental da sua
micro bacia, que integra a Bacia Hidrográfica do rio Santa Maria da Vitória. O Comitê da Bacia
Hidrográfica do rio Santa Maria da Vitória foi criado através do decreto 1.934-R de 10.10.2007. O
plano de Bacia do rio Santa Maria/rio Jucu já está em fase de implantação e seus cenários
contemplam a recuperação deste importante afluente. A micro bacia do rio Mangaraí mostrada na
figura 1, possui 3.738 habitantes, aproximadamente, mas o público a ser beneficiado é de 600 mil
habitantes, que consomem a água tratada na Grande Vitória (Santa Maria de Jetibá, Santa
Leopoldina, Vitória, Cariacica e Serra). O projeto envolve a CESAN, IEMA, PREFEITURA,
INCAPER (WORLD BANK, 2013).

Figura 1- Bacia Hidrográfica do rio Santa Maria da Vitória com a micro bacia do rio Mangaraí com Cachoeira (2)(3) e
Estação Ecológica Duas Bocas na micro bacia do Mangaraí (11). (IEMA,2013). Descida Ecológica do Rio Santa Maria
da Vitória em Santa Leopoldina(4) (5) (6)(CBHSMV,2009). (7) Turismo e campeonatos de vôo livre na bacia, (8)
Cachoeira de Holandra , a Cachoeira da Fumaça(9) e Véu de Noiva (10) na Bacia do SMV, e as (11)Cachoeira do Palito
e (12) Cachoeira do Meio, ambas no rio Mangaraí (Google, 2017).

METODOLOGIA
O projeto Mangaraí, WORLD BANK (2013) prevê ações de reflorestamento, recomposição
de estradas, gestão de águas junto aos produtores agrícolas da região e estudos de alternativas para a
redução do transporte de sedimentos e melhoria da qualidade de água nas nascentes. Para atingir
este objetivo conta com parceria entre CESAN, IJSN, Comitê de Bacias, IDAF, SEAMA e IEMA,
INCAPER, Instituto Capixaba de Pesquisa, Prefeitura de Santa Leopoldina e Governo do Estado. A
micro bacia hidrográfica possui forte aptidão agrícola mas problemas com tratamento de esgoto,
efluentes oriundos das atividades agropecuárias, uso de agrotóxico, uso e ocupação do solo, erosão,
perda da cobertura vegetal, descaracterização de algumas nascentes, outros. O conhecimento e a
avaliação do potencial desta micro bacia são fundamentais para o desenvolvimento de ações e

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projetos para a área, que visem sua recuperação e a participação de usuários, poder público e
sociedade civil. Na figura 1 o município de Santa Leopoldina com o rio Santa Maria da Vitória e
seu afluente o rio Mangaraí. O município de Santa Leopoldina está na micro bacia do rio Mangaraí
e representa um patrimônio tombado pelo Conselho Estadual da Cultura, referência em preservação
de monumentos históricos com belos casarões coloniais (Andrade,2010). O município tem várias
cachoeiras preservadas, fig.1: a Cachoeira da fumaça no parque Ribeirão, a Cachoeira dos Pardos, a
Cachoeira da Holanda, a Cachoeira das Andorinhas, a Cachoeira do Moxafongo, a Cachoeira do
Recanto, a Cachoeira do retiro, a Cachoeira meia Légua, Cachoeira do rio do Meio e Cachoeira Véu
de Noiva, localizada no Parque Municipal Véu de Noiva. Também existem importantes atividades
de turismo como a rampa de Vôo Livre e o circuito colônia Tirol, onde o rapel é praticado, figura 1.
Santa Leopoldina é um dos municípios com maior percentual de cobertura florestal, ocupado por
Mata Atlântica primária ou em estágio médio ou avançado de regeneração. Os solos agricultados
encontram-se em intenso processo erosivo, provocado por práticas agrícolas inadequadas, como
manejo inadequado de pastagens, devido à superlotação de animais, espaçamentos inadequados das
lavouras perenes, plantio ―morro abaixo‖, capina excessiva, estradas mal locadas e ausência de
vegetação ciliar, e sendo o relevo com inclinação elevada isto potencializa os efeitos degradantes
das características naturais do solo. Uma boa solução seria a criação de Reservas particulares do
Patrimônio Natural-RPPNs ou Unidades de Conservação. Os solos predominantes no município são
o Latossolo Vermelho-amarelo distrófico. A economia além do turismo é composta por agricultura,
pecuária, olericultura, silvicultura, aquicultura, fruticultura e pesca. Tem no café arábica e no café
colilon seus principais produtos. Como principais problemas destacam-se: queimadas, baixa
consciência de proteção ambiental, assoreamento de rios, uso excessivo de agrotóxicos, drenagem
de áreas alagadas e seca excessiva. A pluviometria média é de 1.200 mm/ano (INCAPER, 2011). O
distrito de Mangaraí está localizado na micro bacia, sendo o rio de mesmo nome o principal
afluente do rio Santa Maria da Vitória. Quanto aos processos erosivos no ES a figura 2 mostra o
comportamento quanto à erosão (ANEEL, 2009). A bacia do Santa Maria da Vitoria e a micro bacia
Mangaraí estão inseridas em área com um aporte de sedimentos com até 5 toneladas por km²/ano
(IBIO,2010) (ANEEL,2009). A reivindicação por melhorias na Bacia é antiga e com a criação do
Comitê de Bacia e o apoio dos governos municipais e estadual ações começaram para uma melhor
gestão. Os monitoramentos na Bacia do rio Santa Maria da Vitória mostram altas taxas de
sedimentos em suspensão, turbidez e baixos índices de qualidade da água em alguns trechos, devido
a falta de saneamento básico em alguns municípios da bacia, a falta de cobertura do sistemas
implantados, problemas de erosão e assoreamentos na calha do rio. Na figura 2 os pontos de
amostragem na bacia e no estado. Na figura 3 alguns parâmetros monitorados na bacia (IEMA,
2009)(gráficos da autora,2017). Os monitoramentos na Bacia do rio Santa Maria da Vitória

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

mostram altas taxas de sedimentos em suspensão, turbidez e baixos índices de qualidade da água em
alguns trechos, devido a falta de saneamento básico em alguns municípios da bacia, a falta de
cobertura dos sistemas implantados, problemas de erosão e assoreamentos na calha do rio. Na figura
2 os pontos de amostragem na bacia e no estado. Na figura 3 alguns parâmetros monitorados na
bacia (IEMA, 2009)(gráficos da autora, 2017).

Figura 2- Mapa de produção de sedimentos no ES. IBIO(2010) ANEEL (2009).Rede de monitoramento Pluviométrico
e Fluviométrico no ES. Seções do rio SMV - SEÇÕES 3, 7, 15 e 20 em 2007,2008,2009. IEMA, laboratorio
(2009).autora(2017).

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Figura 3- Parâmetros monitorados ao longo do rio Santa Maria da Vitória.(IEMA, 2009).(autora, 2017).

A figura 4 mostra o fluxograma simplificado do tratamento da água numa estação. Existe um


nível de turbidez da água bruta para viabilizar o tratamento, que se eleva em épocas de enchentes e
fortes chuvas, inviabilizando o tratamento da água, como mostrado na figura 4. A geração e o
transporte de sedimentos na bacia do Santa Maria da Vitória torna quase inviável o tratamento e o
abastecimento de água da grande Vitória, composta de uma população de mais de 600 mil
habitantes. Em épocas de fortes chuvas toneladas de sedimentos se misturam às águas e caem nos
tanques de sedimentação da CESAN. A companhia então realiza uma paralização para limpeza dos
tanques e interrompe o fornecimento de água na região da grande Vitória. Em dezembro de 2014
(época em que o fenômeno meteorológico da Zona de Convergência do Atlântico Sul ocasionou as
maiores enchentes no ES) quando enchentes ocorreram em vários locais da bacia ocorreu a maior
concentração de sedimentos da história da ETA-Estação de Tratamento de Águas da CESAN dos
últimos 50 anos. Também a barragem da UHE Suíça em Santa Leopoldina é impactada pelo
acúmulo de sedimentos, diminuindo a vida útil de seu reservatório e aumentando os custos com as
dragagens e limpezas, figura 4.
Quanto ao turismo na micro bacia na figura 1 tem-se as principais cachoeiras situadas no
município de Santa Leopoldina, micro bacia do Mangaraí. Fonte de valor turístico para toda a
região, onde escaladas, banhos e rapel ocorrem constantemente. O turismo é um fator econômico
importante para a região assim como a agricultura e dependem de um ambiente saudável e saneado.

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Figura 4- Fluxograma simplificado de estação de tratamento de água. (autora, 2017). Tanques de decantação (ítem 7 da
figura 10) em estações de tratamento de água bruta.(Google, 2017).Acúmulo de sedimentos em tanques de decantação
(ítem 7 da figura 10) nas estações de tratamento de água da CESAN-concessionária.(CESAN, 2010) na direita: UHE
Suíça. Usina de Suíça- Diminuição da vida útil de seu reservatório pelo assoreamento. Limpeza do reservatório e da
tomada de água em 2006. (Trentini, 2010).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Como objetivos do Programa de Gestão Integrada de Águas e da Paisagem tem-se (World


Bank, 2013): garantir que o acesso à água seja assegurado, no sentido de estar disponível em
quantidade e qualidade adequada para os respectivos usos, bem como salvaguardados para sua
utilização pelas futuras gerações; Ampliar a cobertura de coleta, tratamento e destinação final de
esgotos sanitários em municípios das Bacias do Jucu e Santa Maria da Vitória e, na microrregião do
Caparaó, em municípios de atuação da CESAN; ampliar a cobertura florestal do Estado, na
microrregião do Caparaó e adjacências e nos municípios das bacias dos Rios Jucu e Santa Maria da
Vitória; institucionalizar e promover boas práticas agrícolas e de construção de estradas vicinais
para contribuir para a redução do assoreamento e poluição dos corpos d‘água. Como
subcomponente do programa tem-se a unidade demonstrativa Mangaraí, que possui intervenções
que compreendem: reflorestamento e conservação da cobertura vegetal; melhoria e readequação de
estradas vicinais (rurais) com vistas a conservação de solo, incluindo elementos de contenção de
sólidos como ―caixas secas‖; implantação de sistemas simplificados de abastecimento público de
água e esgotamento sanitário para as pequenas comunidades da bacia; implantação de parques
lineares próximos às comunidades. É necessário que ocorra recursos para capacitação dos
funcionários das prefeituras, operadoras que atuem nas estradas rurais e pequenos agricultores,

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

interação efetiva entre os gestores intervenientes na unidade- IEMA, CESAN e INCAPER. Assim
esta micro bacia receberá ações relativas à recuperação florestal, boas práticas agrícolas,
saneamento, destino adequado de resíduos e recuperação e construção de estradas rurais. O público
beneficiado indiretamente é de aproximadamente 600 mil habitantes da Região Metropolitana da
Grande Vitória, empresas e indústrias que são abastecidos pela água captada no rio Santa Maria da
Vitória. A gestão desta micro bacia do Mangaraí é um projeto piloto para futuros projetos nas
bacias hidrográficas estaduais. Inclui a recuperação da cobertura vegetal, o reflorestamento, a
construção de práticas agrícolas mais adequadas e de combate à erosão, o treinamento de
agricultores e a capacitação dos servidores para atuarem no projeto são ações que inicialmente se
destacam.
O PSA-Pagamento por Serviços Ambientais foi implantado no estado inicialmente como o
programa Produtor de Água.. O Programa PSA – pagamento por serviços ambientais tem como
foco a redução da erosão e do assoreamento de mananciais do meio rural, propiciando a melhoria da
qualidade da água e o aumento das vazões médias dos rios na bacia hidrográfica (Trentini,2010)
(Belote e al., 2008). Um bom exemplo de recuperação ocorreu na Costa Rica, figura 5. Através de
um programa de incentivo florestal o país recuperou suas florestas a partir da década de 80, como
mostra a figura 5 (Trentini, 2010), onde várias unidades de conservação foram criadas. No estado
do Espírito Santo a experiência foi implantada nas bacias dos rios Benevente e Guandu, através do
FUNDAGUA, fundo estadual de recursos hídricos (Espirito Santo, 2008). Vários foram os
produtores beneficiados com os programa produtor de água, PSA-Pagamento por serviços
ambientais. O Programa tem como foco a redução da erosão e do assoreamento de mananciais do
meio rural, propiciando a melhoria da qualidade da água e o aumento das vazões médias dos rios na
bacia hidrográfica (Trentini,2010) (Belote e al ,2008).

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Figura 5- Recuperação de áreas e combate erosão na Costa Rica ( em 1983 começa a recuperação).(Trentini,
2010). Ao lado mapa com Áreas de Proteção Ambiental (Google,2017).

Como já explicado pelo IPCC (2016), em seu relatório, melhor analisado em Betoni e
Lombardi(2008) e Guerra e Jorge (2014) um fator também a ser considerado é o das mudanças
climáticas e suas medidas mitigadoras para as comunidades e ecossistemas nestas áreas. Assim
busca-se uma mitigação para estes efeitos através do projeto de cobertura florestal e adequação
agrícola. A cada ano temos um ano que é o mais quente já registrado, e isto se reflete em perdas na
economia, enchentes, secas e migração, aumento de pragas agrícolas, perdas de cultivos e conflitos
pela falta de água (IPCC, 2016). Na figura 6 os efeitos do El niño e outros fenômenos climáticos na
bacia hidrográfica em anos recentes. Na figura 7 a descida Ecológica e a reserva Biológica de Duas
Bocas, na figura 8 as cachoeiras na bacia hidrográfica, campeonato de vôo livre na bacia e o mapa
do turismo no Estado do ES.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Figura 6-Rio Santa Maria da Vitória na Crise Hídrica de 2014-2015.(Rede Vitória, 2014).E na enchente em Santa
Leopoldina em 2014 após fortes chuvas (devido à Zona de Convergência do Atlântico Sul no ES).(Defesa Civil ES,
2014).

Figura 7- Descida Ecológica pelo rio Santa Maria da Vitória promovida pelo Comitê de Bacia Hidrográfica e fotos da
Reserva Biológica de Duas Bocas.

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Figura 8 – Cachoeiras na Bacia Hidrográfica do Santa Maria da Vitória, Cachoeira do Meio e a Cachoeira Véu de
Noiva.Vôo livre campeonato na bacia e Mapa do turismo no Estado do ES, a região da bacia é a metropolitana e a dos
imigrantes.

O PROGRAMA DE GESTÃO INTEGRADA ÁGUAS E PAISAGEM , WORLD BANK (2013)


,possui como área de abrangência as bacias do Jucu e Santa Maria da Vitória, contemplando a
RMGV e a região do Caparaó. Como componentes o programa tem: a Gestão integrada das águas, a
gestão de riscos e prevenção de desastres, a gestão de mananciais e recuperação da cobertura
florestal e o saneamento ambiental. Os projetos são: gerenciamento socioambiental, critérios e
procedimentos socioambientais para concepção e avaliação de projetos de saneamento, programa de
monitoramento da qualidade das águas dos corpos receptores, programa de monitoramento do
mangaraí, programa de comunicação social, programa de Educação Ambiental e Sanitária,
programa de adesão e EA- se liga na rede, gestão de lodos nas ETEs, programa de contingência e
redução de riscos e programa de controle ambiental e obras-manual ambiental da construção. Este
programa tem por objetivo maior transformar a preocupação ambiental em prática, baseada nas
questões experimentadas pela população local no seu cotidiano. O PEAS deve ser estruturado em
ações interdependentes e complementares, assim definidas: (i) linha de 36 ação 1 – educação

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

ambiental para a proteção da infraestrutura de saneamento instalada, tem como público de


referencia a população dos municípios que utilizarão a estrutura instalada ou residente no entorno
das áreas dessa intervenção; (ii) linha de ação 2 – educação ambiental local, voltada para a
população diretamente afetada nas áreas onde ocorrerão as intervenções e seu entorno; (iii) linha de
ação 3 – plano de adesão e educação ambiental – se liga na rede que visa desenvolver ações
informativas e educativas com o objetivo de valorizar a água tratada e o destino adequado para o
esgoto doméstico (modelo CESAN para RMGV- Região Metropolitana da Grande Vitória). O
programa de Gestão de Lodos das ETEs-Estações de tratamento de Esgoto tem por objetivo que os
lodos e resíduos resultantes da operação das estações de tratamento de esgotos devem possuir
destinação economicamente viável, ambientalmente aceitável e segura em termos de saúde pública
que, atualmente, são dispostos pela CESAN em aterros licenciados. Esta solução pode ser
melhorada quanto aos aspectos ambientais e econômicos. A distância entre as estações de
tratamento de esgotos que serão instaladas nos municípios do interior,que fazem parte deste
Programa, até os aterros utilizados pela CESAN na RMGV é muito grande. A CESAN elabora, em
conjunto com a INCAPER um Manual de Uso Agrícola e Disposição de Lodo de Esgotos para o
Estado do Espírito Santo, além de estar sendo analisada a implantação de uma Unidade
Gerenciadora de Lodos na RMGV, com capacidade de processamento e produção de lodo para uso
agrícola de 200 ton/mês. O programa de Contingência e Redução de Riscos tem como objetivo
estabelecer procedimentos e rotinas para situações de contingência redução dos riscos ambientais
decorrentes da operação dos sistemas de esgotamento sanitário, sobretudo para aqueles riscos que
podem resultar em impactos ambientais e sociais significativos, como: (i) inundação de residências
por rompimento de coletores de esgotos, (ii) falta de energia elétrica com paralisação operacional de
ETE‘s e Elevatórias, (iii) problemas operacionais nas ETE‘s e Elevatórias com prejuízos ao
desempenho do sistema, (iv) intervenções de manutenção com desvio de tráfego, (v)
extravasamento de esgotos (vi) Acidentes e outros (WORLD BANK, 2013).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como o uso dos recursos hídricos é compartilhado para vários fins na bacia hidrográfica, irrigação,
turismo, lazer, abastecimento de água e industrial, agricultura e pecuária, a conscientização através
de um bom programa de Educação Ambiental e Sanitária deve ser priorizada em todas as fases do
projeto. O acompanhamento destas ações e o monitoramento também envolve os Comitês de Bacia
Hidrográfica, as Prefeituras, as secretarias de Meio Ambiente e a Agência de Bacia (Guimarães,
2014).

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 721


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ANÁLISE DA CAPACIDADE DE ARMAZENAMENTO DE ÁGUAS


SUBTERRÂNEAS EM AQUÍFEROS FISSURAIS POR TÉCNICAS DE
SENSORIAMENTO REMOTO

Paulo Sérgio de Rezende NASCIMENTO


Professor Doutor da Universidade Federal de Sergipe – UFS
psrn.geologia@gmail.com
José Carlos Benício do NASCIMENTO FILHO
Discente do Departamento de Engenharia Ambiental da UFS e Bolsista PIBIC/CNPq
carlos-benicio-filho@hotmail.com
Adonnys Kellog Ferreira de MENDONÇA
Discente do Departamento de Engenharia Ambiental da UFS e Bolsista PIBIC/Voluntário
adonnys.mendonca@yahoo.com.br
Gabriel de Jesus WALLANÇUELLA
Discente do Departamento de Engenharia Ambiental da UFS e Bolsista PIBIC/Voluntário
gabryel_g13@hotmail.com

RESUMO
Os lineamentos estruturais, facilmente identificados nas imagens de satélite, representam sistemas
de fraturamentos. A infiltração e percolação de águas nos aquíferos fissurais são condicionadas à
porosidade originada pela densidade de fraturamento nas rochas cristalinas. Quanto maior essa
densidade, maior é a capacidade de infiltração de águas, definindo, assim, as áreas mais propícias à
acumulação de águas subterrâneas. Os aquíferos fissurais sergipanos representam 17% das reservas
renováveis e estão localizados na região semiárida. É imperativo, então, avaliar os domínios
hidrogeológicos fissurais para ser ter uma visão geral das diferentes áreas favoráveis ao acúmulo de
águas subterrâneas. O presente estudo teve como objetivo avaliar a capacidade de armazenamento
de águas subterrâneas na região semiárida do Estado de Sergipe por sensoriamento remoto. A
importância desse trabalho está baseada na escassez de água superficial e subterrânea na área de
estudo. O procedimento operacional foi a extração das lineações geológicas nos terrenos cristalinos
das bacias hidrográficas dos rios Piauí, Real, Vaza Barriz, Sergipe, Japaratuba e São Francisco. Os
resultados apontaram potencialidades diferentes de acumulação de águas subterrâneas, classificados
como aquíferos fracamente fissural, medianamente fissural e fortemente fissural, obtendo-se as
Unidades Geoambientais de Recursos Hídricos Subterrâneos do Semiárido Sergipano. Concluiu-se
que a variedade de rochas cristalinas e os diferentes graus de fraturamentos são os fatores
responsáveis pelas distintas capacidades de armazenamento.
Palavras-chave: semiárido, hidrogeologia, lineação estrutural, bacia hidrográfica, rochas cristalinas.
ABSTRACT
The structural lineaments, easily identified in satellite images, represent fracture systems. The
infiltration and percolation of waters in the fissural aquifers are conditioned to the porosity
originated by the fracture density in the crystalline rocks. The higher the density, the greater the
water infiltration capacity, thus defining the areas most conducive to the accumulation of
groundwater. Sergipano fissure aquifers represent 17% of renewable reserves and are located in the
semiarid region. It is imperative, then, to evaluate the fissural hydrogeological domains to be an

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overview of the different areas favorable to the accumulation of groundwater. The study had as
objective to evaluate the storage capacity of groundwater in the semiarid region of the State of
Sergipe by remote sensing. The importance of this work is based on the scarcity of surface and
groundwater in the study area. The operational procedure was the extraction of the geological
lineations in the crystalline rocks of the Piauí, Real, Vaza Barriz, Sergipe, Japaratuba and São
Francisco river basins. The results pointed out different potentialities of groundwater accumulation,
classified as weakly fissural, moderately fissural and strongly fissural aquifers, obtaining the
Geoenvironmental Units of Subterranean Water Resources of the Semiarid Sergipano. It was
concluded that the variety of crystalline rocks and the different degrees of fracture are the factors
responsible for the different storage capacities.
Keywords: Semiarid, hydrogeology, Structural lineation, hydrographic basin, crystalline rocks.

INTRODUÇÃO

O semiárido sergipano é constituído por rochas cristalinas do Embasamento Gnáissico e das


Faixas de Dobramentos Sergipana. Ambas são constituídas por aquíferos fissurais, diferenciados
pelas vazões mais elevadas e menor salinização do Embasamento Gnáissico (RESENDE et al.,
2009). A infiltração, a percolação e o armazenamento da água pluvial nas rochas cristalinas
dependem de sua porosidade secundária (MATTOS et al., 2007), pois não possuem espaços
intersticiais entre os minerais para acumular água. Esse tipo de porosidade é originado pelo sistema
de fraturamento das rochas cristalinas (AZEVEDO e ALBUQUERQUE FILHO, 2013). As fraturas
são deformações rúpteis, originando planos de ruptura nas rochas, facilmente visualizadas in situ
ou, indiretamente, por produtos sensoriados remotamente (LIMA, 1995; AL-MUQDADI;
NASCIMENTO et al., 2009; MERKEL, 2012). Nestes produtos, essas feições rúpteis são
identificadas pelas lineações de relevo e drenagem, as quais são alinhamentos geológicos estruturais
unidimensionais (O‘LEARY et al., 1976), compreendidos como sistemas de fraturamentos dos
corpos rochosos. Em hidrogeologia, esses sistemas são interpretados como pseudoporosiedades
penetrativas, isto é, possuem uma continuidade em profundidade, que permitem a infiltração das
águas pluviométricas, podendo formar reservatórios de águas subterrâneas (aquíferos fissurais).
Assim, as condições de infiltração, percolação e acumulação de água são inferidas segundo
prioridades a partir da densidade de lineamentos estruturais (VENEZIANI; ROCIO, 1991). Essas
condições nas rochas cristalinas dependem da porosidade secundária formada pela intensidade de
fraturamento (REBOUÇAS, 1975), interpretada em imagens de satélite pelas lineações de relevo e
drenagem. Nesse sentido, a análise da densidade de lineações de drenagem e relevo aplicada em
hidrogeologia proporciona a probabilidade de ocorrência de água subterrânea em ambientes
geológicos cristalinos (NASCIMENTO, 2016). Dessa forma, estudos detalhados sobre a densidade
de lineações são imprescindíveis para entender a hidrodinâmica da movimentação e concentração
de água em subsuperfície, principalmente em regiões semiáridas.

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Incluído no Polígono das Secas, o Estado de Sergipe, apresenta um regime pluviométrico


marcado por extrema irregularidade de chuvas, no tempo e no espaço. Os efeitos catastróficos desse
regime pluviométrico estão registrados desde os primórdios da história do Brasil. Esse cenário de
escassez de água constitui um forte entrave ao desenvolvimento socioeconômico e à subsistência da
população. Fato preocupante é a captação de água subterrânea de forma inadequada nas rochas
cristalinas (BOMFIM et al., 2002). Esses autores fazem uma reflexão crítica dos investimentos dos
governos Federal e Estadual na execução de uma enorme quantidade de poços tubulares, perfurados
como medidas emergenciais desde o início do século XX, e que se encontram desativados e
abandonados, denotando o desperdício de recursos financeiros públicos (ROCHA; LESSA, 2010).
É importante ressaltar que em terrenos geológicos de rochas cristalinas, os aquíferos fissurais são as
principais fontes de disponibilidade de água e a delimitação do potencial dessas fontes
hidrogeológicas é um problema perene (ANDRADE, 2014). Nesse contexto, a delimitação de áreas
propícias à recarga e acumulação de águas subterrâneas no semiárido sergipano é primordial para
direcionar os recursos financeiros públicos e privados de forma adequada.
Posto isso, o objetivo geral desse trabalho foi a análise semiquantitativa da densidade das
lineações de relevo e drenagem em rochas cristalinas visando identificar áreas propícias ao
armazenamento de águas subterrâneas no semiárido sergipano. Para atingir esse objetivo foram
definidos os seguintes objetivos específicos: a extração detalhada das lineações e o cálculo dos
números de lineações pela área das bacias hidrográficas dos rios Piauí, Real, Vaza Barriz, Sergipe,
Japaratuba e São Francisco e pelas áreas dos municípios inseridos na área de estudo. Adotou-se,
dessa forma, duas unidades básicas para a análise da capacidade de armazenamento de águas
subterrâneas, as seis bacias hidrográficas e os 29 municípios do semiárido do Estado de Sergipe.
A premissa básica para o desenvolvimento dessa pesquisa foi que, a partir do final do
Jurássico, os processos tectônicos de magnitudes apreciáveis resultaram em falhamentos e
fraturamentos de distensão (CAMPOS, 2004), originando fissuras distensivas apropriadas para a
infiltração, percolação e acumulação de água subterrânea. As feições lineares retilíneas representam
sistemas de fraturas verticais que se estendem por até centenas de quilômetros e representam linhas
de fraqueza crustal reativadas por processos distensivos (MADRUCCI et al., 2003). Já as feições
ligeiramente a medianamente curvilíneas representam a intersecção de planos de fraturas com
médios a baixos mergulhos, por efeito erosivo, e normalmente resultam de deformação localizada,
como dobras flexurais. Neste caso, comprometem a definição das antigas linhas de fraqueza
reativadas (ARAÚJO et al., 2003). O fluxo e o armazenamento de águas subterrâneas por
porosidade fissural são resultantes das estruturas planares (FEIJÓ; CAMPOS, 2016), verificadas
nos produtos sensoriados remotamente pelas fraturas (lineações de relevo e drenagem). Assim, o
mapeamento de estruturas geológicas contribui para o entendimento dos processos de migração e da

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gênese das ocorrências de acumulações de águas subterrâneas. As pesquisas em aquíferos fissurais


precisam de investigações contínuas e detalhadas devido à alta variabilidade do sistema de
fraturamento (RUSHTON; WELLER, 1985; MORIN et al, 1997; ZAWAWI et al., 2015;
AGBOTUI et al., 2017). O aprofundamento dos estudos é necessário para melhor entendimento
sobre a disponibilidade hídrica de aquíferos fissurais, gerando assim, conhecimento para consolidar
políticas confiáveis de gerenciamento integrado de recursos hídricos.
A importância desse trabalho está baseada na escassez de água superficial do semiárido
sergipano. A principal fonte de abastecimento das populações urbanas e rurais é o ―manancial de
água subterrânea‖ que representa a única disponibilidade hídrica durante ―todo o ano‖. No entanto,
as condições semiáridas nem sempre permite a recarga adequada e, consequentemente, a explotação
contínua. De acordo com os especialistas, no ano de 2016 ocorreu a pior seca dos últimos cinco
anos. A previsão foi a mesma para esse ano no Estado de Sergipe, no entanto, nos meses de maio e
junho, a ocorrência de chuva foi acima da normal climatológica e a tendência pluviométrica para
julho e agosto é que ocorra dentro da média. A área de estudo (Figura 1) é caracterizada por
(ESTADO DE SERGIPE, 2014; JICA, 2000): (i) alta temperatura e evaporação; (ii) baixa
precipitação e irregularidade espaço-temporal pluviométrica; (iii) escoamento superficial rápido;
(iv) rios intermitentes e (v) baixa infiltração decorrente dos tipos rochas cristalinas. Essas
características constituem um forte entrave ao desenvolvimento socioeconômico e à subsistência da
população, justificando a identificação de áreas propícias ao armazenamento de águas subterrâneas.

MATERIAIS E MÉTODOS

Os materiais necessários para o desenvolvimento desse trabalho foram: composição colorida


das imagens de satélite Landsat e Spot, dados digitais da rede hidrográfica, bacias hidrográficas,
divisão climática, região semiárida, divisão municipal e Modelo Digital de Elevação (MDE) do
Estado de Sergipe, disponibilizados gratuitamente no Banco de Dados Georreferenciados do Atlas
Digital Sobre Recursos Hídricos de Sergipe (SEMARH, 2014); e os programas computacionais de
geoprocessamento Sistema de Processamento de Informações Geo-referenciadas (SPRING) e o
QGIS da Open Source Geospatial Foundation (OSGeo). Os procedimentos de edição e
digitalização vetorial foram realizados no SPRING e a interpolação por Kernel e confecção dos
mapas, no QGIS.

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Figura 1- Mapa de localização e acesso à área de estudo.

O primeiro procedimento foi definir o esquema conceitual associado às entidades do Banco


de Dados Geográficos (BDG) no SPRING, ou seja, as representações geométricas associadas aos
tipos de dados, pois a estruturação do banco precede a entrada dos dados (NASCIMENTO, 2005).
Realizada essa etapa, os dados foram importados para o BDG e delimitou-se a área de estudo,
cruzando o limite do semiárido sergipano com as bacias hidrográficas dos rios Piauí, Real, Vaza
Barriz, Sergipe, Japaratuba e São Francisco.
O próximo procedimento consistiu na fotoleitura (VENEZIANI; ANJOS, 1982), ou seja, na
identificação e na consecutiva extração das lineações de relevo de drenagem a partir do Modelo
Digital de Elevação (MDE) e das redes de hidrográficas - estas digitalizadas das imagens Landsat e
Spot. É importante ressaltar que essa etapa foi realizada detalhadamente para obter o máximo
possível de lineações, visando alcançar um número estatisticamente significativo, isto é, que
represente as respostas das rochas aos processos endógenos e exógenos a que foram submetidas
(NASCIMENTO et al., 2008). A análise dessa geodinâmica reflete a maior ou a menor
probabilidade de infiltração da água precipitada e seu provável acúmulo no interior do sistema de
fraturas, formando os aquíferos fissurais.
Findada a extração das lineações de relevo e drenagem, o produto gerado foi avaliado
qualitativamente pela fotoanálise (VENEZIANI; ANJOS, 1982). Após essa avaliação visual, o
número de total de lineações e a área de estudo foram computados automaticamente. Em sequência,
calculou-se a área de cada bacia hidrográfica e o total de lineações por bacia hidrográfica do
semiárido sergipano. Esses cálculos são procedimentos usuais em geoprocessamento. A partir
desses resultados, as densidades de lineações por bacias hidrográficas foram determinadas pela

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razão entre o número de lineações das bacias hidrográficas e a área de cada bacia. Posteriormente,
esse mesmo procedimento foi realizado para todos os 29 municípios da área de estudo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O número total de lineações de relevo e drenagem extraído na área de estudo foi de 16.674
lineações e a sua distribuição espacial foi heterogênea em uma área de 11.214,57 km2. Por uma
simples análise visual percebe-se que há diferentes probabilidades de ocorrência de infiltração das
águas de precipitação (Figura 2), determinando um ambiente geológico anisotrópico de recarga.

Figura 2 - Mapa de lineação de relevo e drenagem sobrepostas nas bacias hidrográficas da área de estudo

As diferentes probabilidades de recarga significam que a porosidade e a permeabilidade


secundárias oriundas do sistema de fraturamento das rochas são distintas, indicando a presença de
diferentes tipos de aquíferos fissurais. Nesse sentido, há regiões mais ou menos propícias à
infiltração e ao acúmulo de águas subterrâneas, dependendo das condições estruturais e geológicas
do terreno. A variedade litológica gerou uma anisotropia rúptil, ou seja, as diferentes rochas
absorveram os esforços tectônicos distensivos de forma desigual, de acordo com as suas
características intrínsecas. No caso dessa pesquisa, a anisotropia foi verificada pela densidade
relativa (análise visual) de lineações de drenagem e relevo (Tabela 1). Os graus de densidades alta,
média e baixa são interpretadas como zonas de fraturas e, consequentemente, determinam a
potencialidade de infiltração, percolação e acumulação de água subterrânea.

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Bacia Hidrográfica Densidade (relativa) Potencialidade (relativa)


São Francisco Alta Muito Grande
Japaratuba Média Pequena
Sergipe Alta Grande
Vaza Barris Alta Grande
Piauí Baixa Muito pequena
Real Baixa Pequena
Tabela 1 - Densidade relativa de lineação e potencialidade relativa de armazenamento de água subterrânea
por bacia hidrográfica do semiárido sergipano.

As zonas de fratura desempenham um papel significativo no fluxo das águas substerrâneas


em rochas cristalinas. A extração de lineações estruturais geológicas e o cálculo da densidade
dessas lineações conduzem a análise e delimitação de diferentes zonas de permeabilidade. As
diferentes direções de lineações, interpretadas como fraturas e/ou falhas criam uma rede ou matriz
complexa aumentando a permeabilidade e a capacidade de armazenamento de águas subterrâneas
em rochas cristalinas. È importante ressaltar que a contínua atuação do intemperismo físico e
químico na região semiárida sergipana influencia na permeabilidade das formações rochosas
cristalinas.
Essas lineações representam a resposta das rochas à geodinâmica interna e externa através
de estruturas geológicas lineares positiva (relevo) e negativa (drenagem). Assim, é possível deduzir
que a região semiárida sergipana não é homogênea hidrogeologicamente, o que denominamos nesse
trabalho de diferentes semiáridos sergipanos, quanto aos aquíferos fissurais. Esses diferentes
semiáridos caracterizados pelas diferentes litologias que absorveram distintamente os esforços
tectônicos, como já descritos, resultaram em estruturações hidrogeológicas distintas, com
capacidades diferentes de acumular água subterrânea.
Nesse sentido, os aquíferos do semiárido sergipano podem ser classificados como:
fracamente fissural, medianamente fissural e fortemente fissural. Esses aquíferos estão
representados pelas rochas do embasamento cristalino (gnaisses, migmatitos, granodioritos,
micaxisto, quartzitos e anfibolitos) e das unidades geológicas da Faixa de Dobramentos Sergipana
(Formação Itabaiana, Formação Jacoca-Jacarecica, Formação Capitão Palestina e Formação Frei
Paulo-Ribeirópolis). As densidades de lineações de drenagem e relevo avaliadas quantitativamente
por bacias hidrográficas, visando obter um retrato mais refinado das probabilidades de infiltração e
acumulação de águas subterrâneas na área de estudo (Tabela 2) corroboram a anisotropia geológica.
Bacia Hidrográfica Área (km2) Número de lineação Densidade de lineação
São Francisco 5.712,93 7.782 1,36
Japaratuba 481,04 777 1,61
Sergipe 1.942,92 3.046 1,56
Vaza Barris 1.218,53 2.910 2,39
Piauí 396,32 498 1,26
Real 1.462,83 1.682 1,15
Tabela 2 - Área, número de lineação e densidade de lineação por bacia hidrográfica do semiárido sergipano.

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Quantitativamente, a Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (≅ 50% da área total)


apresenta densidade de lineações correspondente às demais bacias juntas, com valor menor que a
média total. Esse resultado indica uma baixa potencialidade ao armazenamento de água subterrânea
em oposição à análise visual. Resultado análogo, porém, menos significativo, ocorreu na Bacia
Hidrográfica do Rio Sergipe (potencialidade média). Por outro lado, as densidades de lineações das
bacias hidrográficas dos rios Vaza Barris, Piauí e Real foram concordantes com a análise visual. A
Figura 3 exibe a classificação dos aquíferos por município sobreposta às bacias hidrográficas.

Figura 3 - Mapa dos tipos de aquíferos distribuídos nos municípios e nas


bacias hidrográficas da área de estudo.

Pela Figura 3, são verificados que dos 29 municípios do semiárido sergipano, apenas os
municípios de Propriá e Tobias Barreto apresentaram nível baixo de densidade de lineações, ou
seja, baixa probabilidade de encontrar água subterrânea para explotação, classificados como
fracamente fissural. Esses municípios pertencem às bacias hidrográficas dos rios Real e São
Francisco, respectivamente. Dos sete municípios com nível médio de densidade de lineações,
Ribeirópolis pertence à bacia do rio Sergipe e Carira pertence às bacias do rio Sergipe e Vaza
Barris; os demais pertencem à bacia do rio São Francisco. Nesses sete municípios, os aquíferos
foram classificados como medianamente fissural. Os demais 20 municípios estão distribuídos em
todas bacias hidrográficas, classificados como fortemente fissural. É recomendável que os recursos

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financeiros públicos e privados para estudos detalhados execução de poços tubulares sejam
primeiramente direcionados a esses municípios.

CONCLUSÕES

As variadas de rochas cristalinas do semiárido sergipano foram submetidas a diferentes


intensidades de processos tectônicos distensivos, definindo distintos graus de fraturamentos. Estes
são facilmente identificados pelas lineações de drenagem e relevo nos produtos sensoriados
remotamente e indicam diferentes potencialidades na capacidade de armazenamento das águas
subterrâneas nos aquíferos fissurais das bacias hidrográficas dos rios Piauí, Real, Vaza Barriz,
Sergipe, Japaratuba e São Francisco e dos municípios do semiárido de Estado de Sergipe. Nesse
sentido, as características hidrogeológicas são heterogêneas, o que possibilitou classificá-los como
fracamente fissural, medianamente fissural e fortemente fissural.
Essa classificação dos aquíferos possibilitou entender o sistema hidrogeológico como
Unidades Geoambientais de Recursos Hídricos Subterrâneos do Semiárido Sergipano. Essas
unidades caracterizam direções e gradientes dos fluxos extremamente complexos nos terrenos
geológicos das rochas cristalinas, determinadas pelas permeabilidades condicionadas pelo sistema
de fraturamento distensivo. A variedade de rochas cristalinas e os diferentes graus de fraturamentos
são os fatores responsáveis pela dinâmica subterrânea distinta, com diferentes capacidades de
infiltração, percolação e armazenamento. O sucesso em perfurações dos poços tubulares depende da
avaliação precisa dos condicionantes geológicos dos aquíferos fissurais. Nesse sentido, este trabalho
contribuiu na definição, por técnica de sensoriamento remoto, de municípios do semiárido
sergipano propícios ao armazenamento de águas subterrâneas e na elaboração de modelo
hidrogeológico fissural das rochas cristalinas.
É importante ressaltar que no semiárido sergipano, os sistemas aquíferos cristalinos possuem
descontinuidades nas porosidades e permeabilidades de fissuras, caracterizadas por zonas aquíferas
fortemente, medianamente e fracamente fissurais, apresentando capacidades distintas de infiltração,
percolação e a acumulação de águas subterrâneas.

AGRADECIMENTOS

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela Bolsa de


Iniciação Científica e à Coordenação de Pesquisa (COPES), Pós-Graduação e Pesquisa
(POSGRAP) e Comissão Coordenadora do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica
(COMPIBIC) da Universidade Federal de Sergipe (UFS).

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

COMPARATIVO ENTRE O PADRÃO SOCIOECONÔMICO DE ESTUDANTES


UNIVERSITÁRIOS COM OS SEUS MÚLTIPLOS USOS DE ÁGUA EM CAMPINA
GRANDE-PB

Débora Laís Rodrigues de MEDEIROS


Graduanda em Engenharia Civil na UFCG
deboramedeiros.ufcg@yahoo.com.br
Wênio Vasconcelos CATÃO
Especialista em meios consensuais na UEPB
wenioct@gmail.com
Rayssa de Lourdes Carvalho Marinho do RÊGO
Mestranda em Ciência e Tecnologia Ambiental na UEPB
rayssamcarvalho@hotmail.com

RESUMO
As mudanças climáticas, alta densidade demográfica e atividade industrial causaram um
desequilíbrio na relação oferta e demanda da água. Por isso instalou-se na região metropolitana de
Campina Grande o racionamento, promoveu-se campanhas publicitárias de cunho educativo com
apelo à economia de água para os diversos usuários. A universidade recebe estudantes das várias
regiões do país, de classes sociais diferentes. Esse trabalho tem como objetivo relacionar os hábitos
de consumo de água com a classe econômica dos estudantes do curso de Engenharia Civil do
campus de Campina Grande da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG. Para o
desenvolvimento da pesquisa, um questionário de múltipla escolha foi aplicado, com o intuito de
traçar o perfil dos estudantes do campus de Campina Grande da UFCG para relacionar os múltiplos
usos da água e a renda média dos alunos. Por meio dele refutou-se a hipótese de que a classe mais
alta tende a desperdiçar uma maior quantidade de recursos hídricos em relação às outras camadas
sociais, provando a veracidade da teoria ambiental de Kuznets.
Palavras-chave: recursos hídricos; economia de água; discentes; universidade; classe social.
ABSTRACT
The climate change, high demographic density and industrial activity caused a balance disorder in
the relation between water supply and demand. Therefore, a water-use restriction was installed at
the metropolitan region of Campina Grande. At the same time, advertising campaigns with
educational nature were promoted appealing to users for water saving. The university receives
students from various regions of the country, from different social classes. This project aims to
relate the water consumption habits with the economic class of the students of Civil Engineering
course of the Campina Grande university campus of UFCG. For the research development, a
multiple choice questionnaire was applied in order to trace the students profile, relating the water
consumption with the average income of respondents. Through the answers obtained in the
questionnaire, the hypothesis that had the highest social class tending to waste a larger amount of
water when related to the others was denied, proving the veracity of Kuznets‘ environmental theory.
Keywords: water resources; water economy; students; university; social class.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 736


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

INTRODUÇÃO

A água é um recurso indispensável para promover o desenvolvimento e a qualidade de vida,


entretanto, na última década, o grande crescimento populacional e a crescente industrialização têm
aumentado o consumo de água, acarretando graves pressões aos recursos hídricos (UNITED
NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME, 2002 apud FASOLA et al, 2011 ).
As mudanças climáticas geram implicações sobre a disponibilidade da água. Os Estados do
Nordeste Brasileiro sofrem cada vez mais o impacto da escassez deste recurso, devido a períodos de
estiagem, baixa pluviosidade e grande evaporação. Alta variabilidade temporal e espacial das
chuvas e evaporação elevada, aliadas às secas, caracterizam o interior semiárido da região
(GALVÃO, 2011). Além disso, há o grande desequilíbrio entre oferta e demanda dos recursos
hídricos, devido a distribuição desigual da água pelo mundo.
Nos últimos anos, a região metropolitana de Campina Grande vem enfrentando a maior crise
hídrica da sua história. O manancial que abastece a cidade apresenta, atualmente, o menor volume
já registrado na série histórica feita pela AESA (2016), encontrando-se com apenas 35.580.000 m³,
insuficiente para abastecer a Região Metropolitana de Campina Grande durante os próximos anos.
Diante deste fato, o sistema de racionamento está sendo adotado desde o ano de 2014.
Frente ao quadro pelo qual passa o município de Campina Grande, surgiu a necessidade de
analisar os múltiplos usos da água e os hábitos de economia utilizados pelos moradores. Além
disso, relacionar estes hábitos ao nível econômico, e procurar evidências se a classe econômica
influência nos padrões de consumo da população. Sabendo do grande número de estudantes que
residem na cidade, e em busca de maior qualidade na coleta de dados, optou-se por restringir a
amostra a estudantes da Universidade Federal de Campina Grande.

OBJETIVO GERAL

Esse trabalho tem como objetivo relacionar os múltiplos usos da água com a classe
econômica dos estudantes da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG.

RELAÇÃO SOCIO-ECONOMICA E CONSUMO DE ÁGUA

A correlação entre renda e consumo dos recursos naturais é uma dicotomia chave dentre
correntes da economia, da engenharia e da política pública quando debruçados sobre a questão do
desenvolvimento sustentável.
O economista Simon Kuznets foi pioneiro durante o século XX no que se refere a propor
teorias que possibilitassem uma previsão do comportamento do fator ambiental quando posto em
face a uma tendência contínua de crescimento econômico (ARRAES, DINIZ e DINIZ, 2006). Na

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 737


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

teoria ambiental de Kuznets – que foi desenvolvida por Grossman e Krueger (1995), a evolução da
renda per capita de uma sociedade, projeta duas trajetórias de pressão ambiental: inicialmente,
recursos como a água são elevados à sua capacidade máxima de degradação, até que aquele
conjunto atinge um nível satisfatório de desenvolvimento e renda. A partir deste ponto, a progressão
do fator renda é acompanhada por uma recuperação do meio-ambiente e uma melhor utilização de
seus recursos, reduzindo-se substancialmente seus níveis de degradação (ver Figura 01).

Figura 1. Curva de Kuznets


Pressão
Ambiental

Renda per capita

Fonte: Elaborada pelos autores

Utilizando o raciocínio de Kuznets, delimita-se o consumo dos recursos naturais à água e


restringe-se a abrangência do fenômeno à escala municipal.

CONSUMO DE ÁGUA PER CAPITA

O consumo diário per capita é expresso em L/hab.dia. Por sua vez, abrange o consumo
requerido por indivíduo no conjunto de sua participação como agente da atividade produtiva. Para
Tsutiya (2006), esse uso classifica-se em volume destinado:

a) ao consumo doméstico;
b) ao consumo comercial;
c) ao consumo industrial;
d) ao consumo público;
e) às perdas;
Cada categoria destas supracitadas está relacionada a aspectos condicionantes ou
condicionada pelo desenvolvimento econômico. Regendo o consumo doméstico, afirma Grima
(1972) estão as características físicas da localidade em questão, a organização do sistema de
abastecimento e sua cobrança além das condições de renda e hábitos da família.
O uso comercial e industrial da água classifica-se pela sua finalidade ocasional, dentro da
atividade de produção (BARROS et al, 1995). Pode figurar como matéria prima, bem intermediário
consumido no processo, mecanismo de resfriamento de um sistema ou insumo de manutenção das
condições sanitárias e refeitório.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Para Fernandes Neto (2003), o consumo público possui relação direta com o porte da cidade.
É o agregado consumido por órgãos públicos, fontes e chafarizes municipais, bebedouros, irrigação
e limpeza de vias públicas.
As perdas correspondem a volumes de alguma forma não contabilizados. Há uma cisão entre
as origens desta ausência de correspondência numérica. As perdas podem ser geradas por volumes
simplesmente não consumidos de alguma forma, vazamentos, por exemplo. Contudo, as perdas
podem ser não-físicas, quando volumes são consumidos, mas não contabilizados pelo organismo
gestor do abastecimento; é o caso das ligações clandestinas e da deficiência nos instrumentos de
aferição (hidrômetros). As perdas físicas são responsáveis pela maior parte das perdas no
faturamento das empresas de abastecimento; a média nacional do ônus no faturamento foi de
39,4%, no ano 2000 (FERNANDES NETO, 2003).

A RELAÇÃO CONSUMO/RENDA NO AMBIENTE UNIVERSITÁRIO

O ambiente universitário exige uma análise particularizada por diversas razões. Nele,
convivem estudantes que provém de diferentes classes sociais e regiões do país. Entre os cursos
mais concorridos, por exemplo, há uma tendência de que predominem alunos de padrão de renda
elevadíssimo (ALMEIDA, 2006).
Um estudo feito no âmbito da Unicamp em 2012 ressaltou aspectos como a habitação dos
estudantes e o tempo médio (em horas diárias) que aquele aluno passa fora de casa. Notou-se que
nas repúblicas de estudantes (onde predomina um público de renda mais limitada) há uma tendência
a preocupar-se mais com o consumo diário de água. Os que habitam em casas de família, apesar de
possuírem, em média, níveis mais altos de qualificação, mostram ―um grau bastante superior de
gasto de água ao das Repúblicas. Isso pode ser explicado pelo sentimento mais individualista de
quem habita sozinho ou em família, visto que em uma República, quando uma pessoa desperdiça,
todas as outras pagarão a conta.‖ (NERY et. al, 2012).
Desse modo, a renda prepondera também sobre a qualificação, por exemplo. Mas os estudos
realizados com enfoque limitado costumam abordar o ambiente urbano, mas ainda não se delimitam
ao estilo de vida universitário, com todas as complexidades que este objeto pode oferecer em
matéria de análise e reflexão.

METODOLOGIA

A metodologia utilizada neste estudo abrange inicialmente uma revisão bibliográfica em


artigos científicos na base de dados scielo e google acadêmico, com qualis variando de revistas B1 á
B3. Posteriormente foi realizada uma pesquisa de campo com coleta dados através da aplicação de

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 739


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

um questionário com os alunos universitários da UFCG, mais precisamente no curso de graduação


de Engenharia Civil.
O questionário foi elaborado em questões de múltipla escolha, para facilitar a coleta e
análise de dados. Todas as perguntas foram voltadas a identificar a classe social ao qual o aluno
pertencia e detalhar os seus hábitos de usos da água. A aplicação ocorreu através do envio por e-
mail aos alunos de graduação. Por fim, os dados coletados foram compilados através do Excel e
analisados para uma possível relação entre as variáveis padrão socioeconômico e hábitos de
consumo de água.
O tamanho da amostra foi calculado através da Equação (1) estatística de população finita de
550 indivíduos baseado na proporção, utilizando um grau de confiança de 95% e um erro amostral
de 5% (MONTEIRO FILHO, G., [200]).

( )

( )
Equação 1. Equação estatística de amostra de população finita baseada em proporção.

Onde,
N = Número de indivíduos da amostra;
= Valor crítico que corresponde ao grau de confiança desejado;

p = Proporção populacional de indivíduos que pertence à categoria que estamos


interessados em estudar;
q = Proporção populacional de indivíduos que pertence à categoria que não estamos
interessados em estudar;
E = Margem de erro ou Erro máximo de estimativa.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

De acordo com os resultados obtidos, ao analisar os hábitos de consumo e investimentos


feitos por parte dos entrevistados, constata-se uma maior preocupação com o consumo sustentável
nas camadas sociais mais baixas da sociedade. Apesar de não possuírem equipamentos que auxiliem
na redução do consumo, apresentam hábitos que possibilitam o menor gasto de água.
A classe média apresentou um consumo relativamente alto em comparação às outras classes,
parte disso se deve aos poucos hábitos de economia de água que possuem e à falta de investimento
nos mecanismos supracitados.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 740


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Em relação às classes mais favorecidas, as Figuras2 á 4, mostram uma menor preocupação


destas com o tema. Apesar disso, apresentam um menor consumo que a classe média devido ao
maior gasto com equipamentos que garantam um melhor aproveitamento da água.

Figura 2. Resultados de quantos usuários desligam o chuveiro ao se ensaboar


Você costuma desligar o chuveiro para se ensaboar?
100%
80%
60%
40%
20%
0%
Sem até 1/2 1/2 a 1 1a2 2a3 3a5 5 a 10 10 a 20 mais de
renda salário salário salários salários salários salários salários 20
mínimo mínimo mínimos mínimos mínimos mínimos mínimos salários
mínimos
Sim Não

Figura 3. Resultados de quantos usuários desligam a torneira ao escovar os dentes.


Você desliga a torneira ao escovar os dentes?
100%
80%
60%
40%
20%
0%
Sem
atérenda
1/2 salário
1/2 a 1mínimo
salário
1 a 2 salários
mínimo
2 a 3 mínimos
salários
3 a 5 mínimos
salários
5 a 10mínimos
salários
10 a 20mais
mínimos
salários
de 20mínimos
salários mínimos
Sim Não

Figura 4. Resultados de quantos usuários reutilizam água em outras atividades.


Você costuma reutilizar a água em alguma ocasião?
100%
80%
60%
40%
20%
0%
Sem até 1/2 1/2 a 1 1a2 2a3 3a5 5 a 10 10 a 20 mais de
renda salário salário salários salários salários salários salários 20 salários
mínimo mínimo mínimos mínimos mínimos mínimos mínimos mínimos

Sim Não

No entanto, a Figura 5 expõe a utilização de mecanismos de redução do consumo de água da


residência em função da renda. Observa-se que há um maior investimento na aquisição de
equipamentos que garantam o uso sustentável da água à medida que cresce o faturamento familiar.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Utilização de mecanismos de redução de consumo


100
80
60
40
20
0
Sem até 1/2 1/2 a 1 1a2 2a3 3a5 5 a 10 10 a 20 mais de
renda salário salário salários salários salários salários salários 20
mínimo mínimo mínimos mínimos mínimos mínimos mínimos salários
mínimos
Sim Não

Figura 5. Resultados de quantos usuários reutilizam água com outras atividades.

Na Figura 6 é exposto o gráfico do consumo per capita de água em função da renda familiar
bruta do entrevistado. Através do gráfico de dispersão, a linha de tendência foi produzida para
facilitar a relação entre as variáveis.

Gráfico do consumo per capita de água em m³ em função


da renda bruta familiar
4

Figura 6. Gráfico do consumo per capita de água em m³ em função da renda bruta familiar.

O gráfico exposto acima assume o formato de U invertido, mostrando uma grande


semelhança com a curva de Kuznets, onde o maior desperdício de água se dá na classe média.
Sabendo que na época da aplicação do questionário a região estudada enfrentava uma das
maiores secas da história, destaca-se a possível alteração nas respostas de questões relacionadas aos
hábitos de economia de água dos entrevistados. Apesar disso, ainda foi possível provar a teoria de
Kuznets especulada.

CONCLUSÕES

Através desta pesquisa pôde-se relacionar a classe econômica dos alunos do curso de
Engenharia Civil da Universidade Federal de Campina Grande e seus respectivos padrões de

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 742


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

consumo de água. O estudo revelou-se satisfatório. Por meio dele refutou-se a hipótese de que a
classe mais alta tende a desperdiçar uma maior quantidade de recursos hídricos em relação às outras
camadas sociais, visto que suas residências possuem uma lista mais extensa de aparatos domésticos
que exigem um maior volume de água, além de possuírem maiores condições para gastos com a
taxa hídrica.
De acordo com as respostas ao questionário, as classes mais favorecidas preocupam-se
menos com a economia de água. Entretanto, o consumo de água é inferior em comparação ao da
classe média, como proposto na teoria ambiental de Kuznets, pois investem em mecanismo de
redução do consumo de água. Também se deve considerar que esta classe social nem sempre faz
uso da água para atividades domésticas como preparação de refeições, lavagem de roupas e outros,
minimizando a quantidade de água utilizada mensalmente.
Pelos gráficos, conclui-se que os alunos de baixa renda possuem maior afinco aos hábitos de
economia, entre eles reparar imediatamente pequenos vazamentos, reutilizar água, desligar a
torneira ao escovar os dentes, ensaboar toda a louça antes de enxaguar e desligar o chuveiro ao se
ensaboar. Consequentemente, o consumo per capita de água é inferior aos das outras classes
econômicas.
Diante do exposto, e sabendo das restrições hídricas ocasionadas pelo racionamento vigente
na cidade de Campina Grande, propõe-se como futuro estudo a verificação e análise do consumo de
água quando os níveis do açude Epitácio Pessoa regularizarem com o término do racionamento.

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ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 744


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

UMA PROPOSTA METODOLÓGICA DE OBTENÇÃO DO ÍNDICE DE QUALIDADE


AMBIENTAL NUMA BACIA HIDROGRÁFICA

Rosalve Lucas MARCELINO


Professor Adjunto Doutor em Engenharia Agrícola – UESB
rwlucas@uesb.edu.br

RESUMO
Os índices de qualidade ambiental em geral utilizam um grande número de variáveis e volume de
informações que resultam numa visão quantitativa do estado de saúde do ambiente estudado, são
utilizadas equações matemáticas onde se analisam o conjunto de dados num amplo espetro que
podem variar das dimensões sociais, físico-ambientais e econômica. Esta qualidade ambiental é
produzida a partir da análise integrada desses indicadores, que fornecem informações que podem
auxiliar na elaboração de políticas públicas voltadas à proteção dos recursos naturais, regular as
atividades econômicas na região, além de detectar eventuais impactos que podem desestabilizar o
ecossistema. Este trabalho faz parte integrante da minha tese de doutorado e se trata de uma
proposta de análise de indicadores, com vistas a obtenção de Índice de Qualidade Ambiental na
bacia hidrográfica de Santa Luzia - PB, tendo como base os parâmetros morfométricos, cobertura
vegetal e uso do solo, geomorfologia e pluviometria. Estes indicadores foram analisados utilizando-
se a metodologia Sistêmica, onde a bacia hidrográfica foi dividida em três sub-bacias, foram
realizados levantamentos de campo para obtenção dos dados. Os resultados obtidos mostraram que
os diferentes índices das sub-bacias tem relação com o tipo de uso do solo pelas atividades humanas
desenvolvidas e a intensidade das pressões ambientais, com implicações negativas sobre a
qualidade de vida do morador da região. A partir da elaboração deste trabalho, espera-se que
possamos contribuir com o poder público no sentido de elaborar propostas para Gerenciamento de
Bacias Hidrográficas e à Gestão Ambiental, na formulação de princípios e diretrizes e tomada de
decisões, com vistas à proteção, conservação e monitoramento dos recursos naturais.
Palavras-Chave: Índice de qualidade Ambiental, variáveis físico-ambientais e Gestão Ambiental.
ABSTRACT
The environmental quality indexes generally use a large number of variables and volume of
information that results in a quantitative view of the health status of the studied environment.
Mathematical equations are used to analyze the data set in a broad spectrum that can vary from the
social dimensions, physical-environmental and economic. This environmental quality is produced
through the integrated analysis of these indicators, which provide information that can help in the
elaboration of public policies aimed at the protection of natural resources, to regulate economic
activities in the region, and detect possible impacts that may destabilize the ecosystem. This work is
about a proposal of analysis of indicators, aiming to obtain an Environmental Quality Index in the
Santa Luzia - PB basin, based on morphometric parameters, vegetation cover and soil use,
geomorphology and rainfall. These indicators were analyzed using the Systemic methodology,
where the river basin was divided into three sub-basins, field surveys were performed to obtain the
data. The results show that the different rates of the sub-basins are related to the type of l and use by
the developed human activities and the intensity of the environmental pressures, with negative
implications on the quality of life of the resident of the region. From the preparation of this work, it
is expected that we will be able to contribute with the public power to elaborate proposals for
Watershed Management and Environmental Management, in the formulation of principles and

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 745


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

guidelines and decision making, with a view to the protection, conservation and monitoring of
natural resources.
Keywords: Environmental quality index, physical-environmental variables and Environmental
Management.

INTRODUÇÃO

Bacia hidrográfica, segundo Garcez (1988) é o conjunto das áreas com declividade no
sentido de determinada seção transversal de um curso de água, medidas as áreas em projeção
horizontal. É também uma área definida e fechada topograficamente num ponto de curso de água,
de forma que toda vazão afluente possa ser medida ou descarregada através desse ponto. São áreas
que apresentam elevadas concentrações de recursos naturais, solos férteis, fauna e flora abundantes
e ricas em diversidades.
Segundo a ONU (1992), cerca de 75% da humanidade situadas próximas às superfícies
líquidas (lagos, lagoas, rios, reservatórios naturais e artificiais, mares, oceanos e demais corpos
hídricos), esta proximidade está associada às necessidades básicas vinculadas ao consumo de água,
além das atividades que dependem desse recurso, como agricultura, pecuária, mineração e indústria;
no entanto, ao longo da história essa relação vem ocorrendo de maneira predatória, caracterizada
como conflitos de uso, o homem vem destruindo gradativamente as fontes e reservas naturais de
água.
Este conflito de uso vem comprometendo qualidade dos ecossistemas, além da manutenção
das atividades econômicas, vinculadas a um sistema de produção insustentável que não leva em
conta os limites de tolerância ambiental e a reposição natural dos recursos naturais. Além desse
problema, a expansão urbana e o crescimento populacional acabam por produzir uma massa que
consome os recursos de forma desenfreada, contribuindo assim para geração dos conflitos de usos e
impactos ambientais nas bacias hidrográficas; nesse modo de produção, que incentiva o consumo de
produtos da indústria de descartáveis, provoca a exaustão dos recursos naturais, queda da
produtividade do ecossistema, forçando o homem muitas vezes a migrar para outros ambientes em
busca de novos recursos e matéria-prima para suas atividades, reiniciando assim, todo o processo de
degradação ambiental.
Todo esse conflito de uso é derivado do desconhecimento dos limites físicos do ambiente,
que leva ao tema da gestão ambiental, que por sua vez carece de conhecimentos sobre o
funcionamento dos mecanismos dos ecossistemas. Como ‗reação‘ do ambiente a essas pressões,
frequentemente ocorrem desastres: enchentes, inundações, deslizamentos de terra, queda na
produção de alimentos provocados pelos desequilíbrios climáticos locais, que por sua vez deriva
problemas econômicos, fome, queda na qualidade de vida dentre outros; esses fatos nos leva a

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refletir sobre nossas ações, a aprender sobre a dinâmica do ambiente que nos circunda, os
componentes dos ecossistemas, os mecanismos de funcionamento dos elementos da natureza
possibilitando assim, atenuar e mitigar os efeitos negativos dos impactos ambientais.
A estrutura básica deste trabalho consiste na análise dos fatores ambientais dentro de uma
bacia hidrográfica, que reflete o tipo das atividades humanas, fazendo sua quantificação de modo a
produzir um índice de qualidade do ambiente, tendo como base os aspectos geomorfológicos,
quantidade de área com cobertura vegetal, tipos de usos do solo, quantidade de chuvas que caem na
região, além dos parâmetros quantitativos da bacia hidrográfica – densidade de drenagem e
declividade, que revela o grau de vulnerabilidade ante às pressões ambientais.
Para isso, adaptou-se a metodologia do Diagnóstico Físico Conservacionista - DFC utilizado
por Hidalgo (1990) e Beltrame (1994); na análise ambiental foram utilizados Sotchava (1973),
Tricart (1977) e Christofoletti (1999), para a compreensão sistêmica dos componentes e
quantificação dos indicadores ambientais.
A escolha da bacia hidrográfica do Município de Santa Luzia se deu em função da
heterogeneidade no uso da terra e na dinâmica das atividades econômicas desenvolvidas na região,
por se constituir num importante ambiente de estudo sobre a influência do meio nas atividades
humanas ali realizadas, além dos aspectos físicos da bacia hidrográfica e sua relação com os níveis
de degradação ambiental.
Acredita-se que a determinação do índice de qualidade ambiental da bacia hidrográfica do
município de Santa Luzia, venha contribuir para o sistema de gestão de Bacias Hidrográficas e na
Gestão Ambiental na formulação de princípios e diretrizes, estruturação de sistemas gerenciais e
tomada de decisões tendo, de forma a promover o uso racional, proteção, conservação dos recursos
naturais, além do monitoramento das atividades conflitantes com o equilíbrio do ecossistema, bem
como entender a dinâmica e funcionamento dos elementos do ambiente físico analisado.

OBJETIVO GERAL

Analisar quantitativamente os elementos constituintes do ambiente físico-ambiental da área


da bacia hidrográfica do município de Santa Luzia, PB, para determinar o índice de qualidade
ambiental, utilizando o método decimal.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

a) Realizar levantamento socioeconômico e ambiental nas sub-bacias no município de Santa


Luzia como forma de identificar e classificar os usos do solo na bacia;

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b) Identificar nas sub-bacias os tipos de cobertura vegetal, Geomorfologia, índices


pluviométricos, e parâmetros morfométricos da bacia hidrográfica do município de Santa
Luzia;
c) Estabelecer correlação entre as vulnerabilidades ambientais e as pressões ambientais nas sub-
bacias hidrográficas;
d) Fazer a conversão das escalas existentes de análise ambiental para um índice comum, de
forma a facilitar a análise sistêmica dos componentes ambientais;

CARACTERIZAÇÃO MO MUNICÍPIO

O município de Santa Luzia limita-se ao norte: São José do Sabugi, Várzea e Ouro Branco
(RN); ao sul, os municípios de Areia de Baraúna e Salgadinho; a leste, com Junco do Seridó e a
oeste com São Mamede. Sua população é de 15.153 hab (IBGE, 2016), dentre os quais 91,51%
estão concentrados na zona urbana; sua densidade demográfica é de 32,3 hab/km².
Apresenta baixo índice de cobertura vegetal sendo a maioria da área classificada como área
de Antropismo e Caatinga arbórea aberta, AESA (2009), com 36,17% e 44,13%, respectivamente;
são áreas alteradas pelas atividades humanas, já descaracterizadas pela pecuária, agricultura e solos
expostos pelo desmatamento, queimada e vegetação de extrato arbustivo espaçado, segundo a
CPRM (2005) é classificada como Caatinga-Seridó, Caatinga Arbustiva Arbórea Aberta que
abrange grande parte de seu território; adaptadas aos solos com baixa fertilidade, rasos e
pedregosos, submetidos a regimes de escassez de águas, baixa umidade e distribuição irregular do
período chuvoso.
Em relação ao relevo, segundo Costa Filho (2000), é bastante irregular, suave e ondulado,
uma porção do município faz parte da Depressão Sertaneja, são áreas modeladas pelos processos
erosivos eólicos, pluviométrico e processos físicos resultantes do clima semiárido.

MATERIAL E MÉTODOS

Para o desenvolvimento da pesquisa foram utilizados os seguintes materiais:

a) Cartas topográficas impressas: Escala 1:100.000; Folhas Juazeirinho: SB.24-Z-D-II e Jardim


do Seridó SB.24-Z-B-V;
b) Carta Topográfica Digital: folhas Jardim do Seridó (PB) – MI-131 e Juazeirinho (RN) MI-
1210 - MINISTÉRIO DO EXÉRCITO – Departamento de Engenharia e Comunicações;
c) Mapa digital: Geológico e Geomorfológico: Escala: 1:250.000 Projeto Radam BRASIL –
1986;
d) Programa SPRING, Excel, Corel Draw X4; AUTOCAD – DWG 2009

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e) GPS - Global Position System

Os dados relativos à Morfometria da bacia hidrográfica – densidade de drenagem e


declividade, foram obtidos através de programas AUTOCAD DWG TrueView 2009, Corel Draw
X4 e o método das quadrículas associadas a um vetor de Villela & Mattos (1975), Alem de carta
topográfica com escala de 1:100.000, com curvas de nível de 100m de equidistância, o nível zero de
referência altimétrica utilizou-se o açude de Santa Luzia.

CARACTERIZAÇÂO DA ÁREA DE ESTUDO

A área da bacia hidrográfica do município de Santa Luzia faz parte da microbacia do sistema
hidrográfico da bacia do Rio Piranhas, delineado pelos limites topográficos naturais, contendo os
Riachos do Fogo, Riacho do Saco e o conjunto Riacho da Palha-Barra-São Gonçalo e Riacho da
Espora, com área de drenagem de 261,37 km2, com as seguintes características.

 Área de drenagem (área de influência): 261,37 km2


 Área total do município: 455,702 km2
 Pluviometria média anual: 547,8 mm mm/ano

Os dados sobre a Morfometria da bacia hidrográfica foram obtidas com ajuda de mapas,
programas AUTOCAD DWG TrueView 2009 – Corel Draw X4 e o método das quadrículas
associadas a um vetor de Villela & Mattos (1975).
A quantificação dos dados foi baseada no conceito de Geossistema de Sotchava, que
descreve a paisagem com um conjunto de sistemas territoriais naturais, incrementando as unidades
taxonômicas de Bertrand (1971): geomorfologia, clima (pluviometria), vegetação, além do uso do
solo e parâmetros morfométricos, que foram as variáveis utilizadas na quantificação do Índice de
Qualidade Ambiental neste trabalho.
A escolha dos indicadores ambientais foi motivada pela praticidade em sintetizar e
condensar as informações sobre os ecossistemas que compõem a área da bacia hidrográfica, que
permitiram quantificá-las e hierarquizá-la nas unidades de paisagem; atribuindo valores conforme
os métodos utilizados por Canter (1977), com os modelos básicos de escala de ponderação,
CEOTMA (1984); Queiroz (1993) e Pires (1993) na quantificação de impactos ambientais.
A metodologia de ―quantificação decimal‖ é uma proposta de medição e quantificação de
avaliações subjetivas e ambíguas que mede grau de incertezas das informações vagas sobre o objeto
analisado, vários autores utilizam escalas com diferentes proporções e limites, impedindo a sua
sistematização conjunta; neste método é realizada a conversão das escalas já utilizadas na análise
ambiental para o formato numérico e uniforme, chamada de Escala zero-dez, que é facilmente

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absorvido pelo senso comum, facilitando e objetivando a interpretação direta do objeto analisado,
excluindo conceitos intermediários de mensuração independente da percepção psicológica do leitor.

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Na análise Geomorfológica da região, obteve-se os seguintes tipos de relevo, segundo a


AESA (2009): Planalto da Borborema com superfície erosiva e Convexas, Depressão Sertaneja com
formas tabulares, Planalto da Borborema com formas aguçadas, sendo estas duas últimas com maior
representação em área no município.
Para os resultados das vulnerabilidades, seguiu-se o conceito adotado por Tagliani (2003)
dos parâmetros Geomorfológicos e da análise da fragilidade estrutural intrínseca, que considera as
características inerentes ao substrato físico, forma e processos que definem o grau da fragilidade, que
associa a declividade à intensidade do escoamento pluvial, que determina a intensidade de deslocamento
das partículas desagregadas do solo; a porção do relevo que está situado na borda oriental do planalto
da Borborema, tem recobrimento rochoso da unidade litoestratigráfica do Paleoproterozoico, que
são rochas antigas, com altitudes que ultrapassam os 700 m; logo em seguida, em direção a nor-
noroeste, seguindo a direção do fluxo dos riachos da Palha, Chafariz e Riacho do Saco, as elevações
vão reduzindo e o relevo aplainando, formando o limite oriental do Pediplano Sertanejo, adentrando
no domínio da depressão sertaneja, com superfície suave e com áreas de pediplanação e pequenos
inselbergs, com médias de 200 a 300m de altitude.
A média dos valores da vulnerabilidade dos tipos de relevo para a bacia hidrográfica do
município de Santa Luzia é de 1,375; fazendo a conversão para a escala decimal é 4,59; este valor
encontrado na média geral da bacia indica que a área estudada está em equilíbrio entre pedogênese e
morfogênese, considerado as unidades intermediárias, os processos erosivos são relativamente
compensados por situações de morfogênese e uma vulnerabilidade regular, o que indica juntamente
com a intensidade pluviométrica uma dificuldade no armazenamento de água nos fluxos hidráulicos
superficiais e subterrâneos.
Na área da bacia hidrográfica, a vegetação pertence às Regiões Fitogeográficas tipo Savana
Estépica-Caatinga, com a seguinte tipologia: Caatinga arbórea fechada nas áreas entre vales e nas
altitudes elevadas, Caatinga arbórea aberta nas regiões planas e baixas, áreas de antropismo, que são
resultantes de alterações humanas pelo desmatamento e Caatinga arbustiva fechada, que foram
encontradas próximas a zona urbana e em altitudes médias de 250 m; todas consideradas como
Caatinga Hiperxerófita e vegetação xeromórfica.
A cobertura vegetal tem um importante papel na proteção do solo e na produtividade
ecológica, sua avaliação quantitativa dá uma noção do estado da vulnerabilidade, representada nos
índices de proteção, Grígio (2003) e Beltrame (1994) em seus trabalhos atribuíram valores

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associadas com a capacidade de proteção da cobertura do solo, assim, quanto mais densa a
vegetação maior o índice de proteção.
Na área da bacia hidrográfica de Santa Luzia, encontrou-se o índice de proteção médio
0,576 e grau de vulnerabilidade média de 2,125; fazendo a conversão para escala decimal de 7,08;
de acordo com o método de Beltrame (1994), esses resultados mostram que a área já apresenta altos
índices de vulnerabilidade, com pouca proteção do solo, resultante das atividades conflitantes do
uso do solo.
Em relação à classificação da capacidade de uso das terras, que está relacionada às
potencialidades e limitações dos atributos físicos da área estudada, na bacia hidrográfica foram
classificadas segundo Brady (1989), Bertoni e Lombardi Neto (1990) e Lepsch et al. (2002) em
III,VI, VII e VIII; tal classificação é realizada em função da declividade, unidades pedológicas,
grau de limitação e nas formas de ocupação do espaço pelas atividades humanas.
O valor da vulnerabilidade média, conforme as classes de uso foi de 2,275; fazendo a
conversão para escala decimal, 7,583; considerada como intensidade média; nos trabalhos de campo
verificou-se que as limitações do uso do solo são mais acentuadas nas áreas de grande declividade,
e portanto, menos alterada pela ação antrópica, motivo este, que é imprópria para uso agrícola ou
outra atividade econômica.
As precipitações têm importante contribuição no modelado da paisagem; é o agente ativo
neste processo; analisar quantitativamente as alterações ambientais é também avaliar o efeito que a
erosão pluvial causa no ambiente. A região do município de Santa Luzia está numa área de clima
Bsh Tropical, quente e seco, com chuvas concentradas no período do ano de janeiro a abril e o
restante do ano praticamente sem registros significativos.
Na análise pluviométrica do município, o município tem uma média anual de 547,8 mm;
deste modo, na escala de vulnerabilidade, segundo a metodologia Crepani (2001) é de 1,9;
convertendo para a escala decimal fica em 6,33; Esse resultado ressalta o grau de fragilidade
econômico-social verificado nos trabalhos de campo, e há uma estreita relação com a produção
natural do ecossistema e a economia local, se comparado com outros municípios com maior
intensidade pluviométrica; o relevo também mostra os resultados dos outros indicadores que não
foram analisados neste trabalho, como a temperatura e umidade, que tem importância no modelado.
Outro ponto a destacar é que estes resultados revelam a situação hidrográfica, que por sua vez tem
relação com a capacidade de armazenamento de água, e assim contribuindo para o potencial
hidrológico da região.
A rede de drenagem que alimenta as minibacias do Açude de Santa Luzia possui 141,45 km
linear total de extensão ocupando uma área de 261,37 Km2, distribuída em três subsistemas
hidrográficos: Minibacia do Riacho do Fogo com 7,75 km, Riacho do Saco com 17,73 km e um

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conjunto de riachos do sistema Riacho da Palha, Espora e Chafariz que somam ao todo 81,35 km; a
maioria deles é considerada rios temporários e de classificação Pobre; conforme Villela (1975); são
resultantes dos componentes ambientais: clima e Geomorfologia, que comandam os regimes
fluviais, quantidade de precipitação e o tempo de duração dos fluxos dos rios.
Em relação à densidade da drenagem, com base nos trabalhos de Villela (1975), a área se
classifica como Bacias com drenagem pobre; com 0,54 km/km2 e declividade média de 0,025 m/m;
a rede de drenagem está assentada sobre um substrato rochoso resistente e impermeável
apresentando baixos valores de densidade de drenagem, baixos volumes nos depósitos subterrâneos,
derivados da baixa pluviometria anual.
Em relação à declividade, de 10% a 16% na área da bacia Hidrográfica, segundo a
classificação de Ross (1994), é considerada como fraco a médio, com grau de vulnerabilidade
média de 1,66 segundo ainda a classificação de Ross (1994) e Tagliani (2002); fazendo a conversão
para método decimal de 5,53; com os menores valores próximos à sede municipal, seguindo a linha
do talvegue dos riachos. A vulnerabilidade é atribuída em função dos processos erosivos, da
estrutura e composição das rochas, que indica maior ou menor resistência aos processos erosivos no
local.

ÍNDICE DE QUALIDADE AMBIENTAL

A partir do conhecimento numérico dos indicadores da qualidade ambiental, é possível


calcular o índice geral com base na média dos valores encontrados das vulnerabilidades de cada
indicador, assim, conforme a tabela (01) abaixo, a somatória dos resultados dos indicadores é 31,11;
e média 6,22; convertendo no índice 0,662; portanto indica que a bacia hidrográfica está com grau
regular de qualidade ambiental.

Tabela 01 – Síntese das vulnerabilidades e fragilidades na bacia hidrográfica de Santa Luzia - PB


Cobertura Pluviometria Uso do Declividade
Indicador Geomorfologia
vegetal solo
Grau de 1,375 2,125 1,9 2,275 1,66
vulnerabilidade
Escala decimal 4,59 7,08 6,33 7,58 5,53

Esse índice corresponde na tabela de classes de degradação ambiental (IDA) de Ross (1994),
ao equivalente a 0,338, que estaria na qualidade ambiental moderada. Esses valores refletem a
situação ambiental da bacia, que se reflete na baixa produtividade ecológica e na população que
vive nesta área, os principais gargalos apontam para a carência de recursos hídricos e baixo índice
pluviométrico; tal condição gera uma série de fatores limitantes para a economia local, na qualidade
de vida do homem do campo e nas atividades econômicas desenvolvidas na região.

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CONSIDERAÇÔES FINAIS

A ocupação humana tem provocado alterações nos ecossistemas, muitas vezes de forma
irreversíveis, a expansão urbana tem demandado recursos naturais para a produção de alimentos e
bens de consumo, abrigo e energia, mas, nem sempre essa relação homem–meio é equilibrada, a
predação, super-exploração dos recursos tem sido o grande problema das sociedades, a destruição
de sistemas naturais e outros impactos, vêm ocorrendo de maneira sistemática, com prejuízos
visíveis ao habitat humano.
Muitos dos efeitos negativos sobre a natureza poderiam ser atenuados se, se conhecessem as
particularidades dos ecossistemas em que o homem está instalado, dessa forma poderia saber dos
limites de uso dos recursos naturais disponíveis para suas atividades econômicas. O atual modelo
econômico e o modo de produção são considerados insustentáveis, pois o custo ambiental é elevado
e não leva em consideração esses limites de uso, tudo é focado apenas na produção, consumo e no
mercado e de forma predatória. Deve-se atentar para uma relação pacífica entre os limites físicos e
os recursos tecnológicos voltados para a convivência com os problemas de regiões semiáridas,
mantendo o equilíbrio entre as potencialidades e as limitações impostas pelo meio de modo a
mitigar os efeitos desastrosos sobre os ecossistemas.
Este trabalho enfocou na identificação dos problemas existentes na bacia hidrográfica do
município de Santa Luzia, onde se elaborou e quantificou método de quantificação expresso na
forma de índice, como mais uma forma de ‗ver‘ o quanto a degradação ambiental influencia nas
nossas vidas, além de nos alertar sobre a importância da manutenção da qualidade dos recursos, o
que precisamos fazer e como fazer para evitar o declínio dos ecossistemas.
Precisamos dessas informações desses índices para elaborar medidas que possam contribuir
para a mudança de comportamento em relação à proteção do ambiente, bem como explorar os
recursos de maneira sustentável, assim, o Índice de Qualidade Ambiental é uma importante
ferramenta para nos mostrar o quanto podemos ser responsáveis pela manutenção de nosso habitat.

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ARMAZENAMENTO DE ÁGUA PLUVIAL EM POSIÇÕES DE UMA


TOPOSSEQUÊNCIA INSERIDA NUMA MICROBACIA HIDROGRÁFICA

Tiago de Carvalho PESSOA


Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo da UFPB
tiago.pessoavw@gmail.com

Vânia da Silva FRAGA


Professora associada da UFPB
vfraga@cca.ufpb.br

Rodolfo José Silva FELIX


Graduando em Agronomia da UFPB
rodolfojsfelix@hotmail.com

Galileu Medeiros da SILVA


Graduando em Agronomia da UFPB
galileu.medeiros@hotmail.com

RESUMO
O armazenamento de água no solo é influenciado pela topografia, uso e manejo do solo, pela
cobertura vegetal, propriedades físicas, químicas e biológicas, esses fatores interagem entre si,
gerando uma grande variabilidade espacial e temporal na umidade e quantidade de água
armazenada no solo. O entendimento desta variabilidade é de grande importância para avaliar o
potencial de produção vegetal, que necessitam de uma grande quantidade de água para se
desenvolverem. Além das plantas, a água armazenada em topossequências, pode ser utilizada para o
consumo humano, pois as topossequências representam um banco de distribuição de água pluvial
para as vertentes hidrográficas, em função da chuva precipitada. Para melhor compreensão do
armazenamento de água ao longo de uma topossequência, foi desenvolvido um trabalho na
microbacia hidrográfica de Vaca Brava, Areia-PB, com posições topográficas classificadas de
acordo com as características de inclinação do relevo. O armazenamento de água foi avaliado
semanalmente, em camada de solo com 40 cm de profundidade, utilizando tubos de acesso e uma
sonda de capacitância, enquanto, dados de precipitação foram obtidos numa estação meteorológica
automatizada instalada na área estudada. Observou-se que as posições da topossequência, inserida
em uma microbacia hidrográfica, prestam relevantes serviços ecossistêmicos, no ciclo hidrológico.
As posições do ombro e meia encosta armazenam e redistribuem água ao longo do ano, enquanto no
pedimento a água armazenada é rapidamente distribuída imediatamente, após as chuvas.
Palavras-chave: Serviços ecossistêmicos; Inclinação do relevo; Argila; Pastagem;

ABSTRACT
Soil water storage is influenced by topography, soil use and management, plant cover and physical,
chemical and biological properties. These factors interact with each other, generating a great spatial
and temporal variability in the moisture and quantity of water stored in the soil. The understanding
of this variability is of great importance to evaluate the potential of plant production, which require
a large amount of water to develop. beyond to the plants, the water stored in topossequences can be
used for human consumption, since the topossequences represent a rainwater distribution bank for
the hydrographic slopes due to the precipitated rainfall. For a better understanding of the water
storage along a toposequence, a work was developed in the watershed Vaca Brava, Areia in the

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Paraíba, with topographic positions classified according to the slope characteristics of the relief.
The water storage was evaluated weekly in layers of soil with 40 cm of depth, using access tubes
and a capacitance probe, while, precipitation data were obtained in an automated meteorological
station installed in the studied area. It was observed that the positions of the toposequence, inserted
in a hydrographic microbasin, provide relevant ecosystem services in the hydrological cycle. The
positions of the shoulder and half slope store and redistribute water throughout the year, while in
the pediment the stored water is quickly distributed immediately after the rains.
Keywords: Ecosystem Services; Slope of relief; Clay; Grassland;

INTRODUÇÃO

A capacidade do solo em regular o abastecimento de água doce da terra é um serviço


ecossistêmico fundamental. A água que infiltra através do solo é filtrada, armazenada, utilizada
pelas plantas e redistribuída através de caminhos de fluxos, em águas subterrâneas e corpos d'água
na superfície. Por isso, a sustentabilidade dos recursos hídricos (considerando a quantidade e a
qualidade da água) é diretamente influenciada pelo solo. Assim, vários aspectos terrestres sobre a
vida aquática e a água doce, dependem dos processos hidrológicos no solo (O'GEEN et al., 2010).
A variabilidade no conteúdo de água armazenada no solo está associada tanto com a
quantidade como com a intensidade das chuvas. As mudanças no conteúdo armazenado dependem
da quantidade de água que entra no solo e do estado prévio do teor de água (RIVERA, LILLO e
GRANDA, 2014). Além disso, o armazenamento de água no solo é influenciado, pelo teor de argila
e matéria orgânica (ILEK, KUCZA e SZOSTEK, 2017).
A variabilidade no armazenamento de água é mais marcante em áreas de topossequências,
devido aos efeitos da inclinação do relevo, principalmente, se essas áreas estiverem com solo
descoberto ou compactado (SANTOS et al., 2002).
A compactação promove alterações nas propriedades físicas do solo ao longo da
topossequência, diminuindo a taxa de infiltração da água. Dessa maneira, nem toda a água que
chega à superfície do solo infiltra, e parte acaba se perdendo por escoamento superficial (SANTOS
et al., 2009), dando origem a erosão hídrica que é um dos principais problemas para o
empobrecimento e a redução da sustentabilidade dos agroecossistemas (GUADAGNIN et al., 2005;
STAVI e LAL., 2014), e do assoreamento do leito de rios e mananciais que ocupam as menores
cotas do terreno e são usados, geralmente, para o abastecimento das cidades.
Se não houver um eficiente armazenamento de água nas posições das topossequências,
poderá ocorrer um fluxo subsuperficial de água paralelo às camadas de menor permeabilidade,
transportando íons e outros compostos solúveis para as posições mais baixas do relevo e para os
reservatórios de água (SOUZA et. al, 2002), muitas vezes contribuindo com eutrofização dos corpos
d‘água.

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A evapotranspiração e o escoamento superficial são os principais componentes de saída de


água das topossequências, juntos, totalizam uma saída de aproximadamente 80% da água que entre
no sistema através da precipitação pluvial. Além disso, como mencionado anteriormente, o
movimento da água no solo também varia em função da quantidade de chuva precipitada, sendo o
fluxo de água, dentro do solo, na época mais seca, no sentido ascendente (perdas por evaporação); e no sentido
descendente (infiltração da água no solo) na época mais chuvosa (SOUZA et al., 2015).

Apesar da importância da dinâmica da água em topossequências pra produção agrícola e


consumo animal, não existem estudos relatando o armazenamento de água em diferentes posições
de topossequência sob pastagem no Brejo paraibano. Diante disso, este trabalho objetiva quantificar
o armazenamento de água da chuva no solo, ao longo de uma topossequência sob pastagem, nas
distintas posições (ombro, meia encosta e pedimento) durante um período chuvoso, em brejo de
altitude na Região Agreste da Paraíba.

METODOLOGIA

Localização clima e solo

A experimentação foi conduzida na microbacia hidrográfica de Vaca Brava (06o57‘48‖ e


06o59‘43‖ de latitude S e 35o44‘03‖ e 35o45‘59‖ de longitude O) (SANTOS & SALCEDO, 2010)
que possui predominantemente dois tipos de uso do solo, uma área de reserva ecológica e outra de
agropecuária familiar (794 ha), que juntas ocupam uma superfície de 1.500 ha distribuídas entre os
municípios de Areia/PB e Remígio/PB. A maior parte da microbacia incluindo a reserva ecológica
está localizada no município de Areia/PB, que possui clima tropical chuvoso (pluviosidade anual de
1.200 mm) com déficit hídrico de setembro a janeiro, e um relevo ondulado a fortemente ondulado.
Uma parte da microbacia está antropizada, explorada pela agricultura familiar, onde a principal
atividade é a criação de bovinos em pastagens (SANTOS et al., 2002).
A toposseqûencia estudada localiza-se em uma paisagem da microbacia que está inserida no
município de Areia-PB, o solo da área foi classificado como ARGISSOLO Vermelho-Amarelo.

Características da topossequência

Santos et al. (2002) dividiram as topossequências nas seguintes posições: topo, ombro, meia
encosta, pedimento e várzea, sendo a encosta composta pelas posições do ombro, meia encosta e
pedimento. No presente estudo, a topossequência será composta pelas posições do ombro (posição
mais alta do relevo), meia encosta (posição intermediária) e pedimento (posição mais baixa).
A topossequência possui forma côncava e está localizada à 6°57‘55,9‖ de latitude S e
35°46‘14,4‖ de longitude O, inserida numa área de 13 ha, com pastagem de Urochloa decumbens

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cobrindo mais de 85% da área, estabelecida há 20 anos. Apresenta na posição do ombro, meia
encosta e pedimento uma declividade de 12,3%; 24% e 16,7%, respectivamente.

Coleta de dados pluviais

A precipitação pluvial foi monitorada em uma estação meteorológica automatizada (modelo


HOBO® U30/NRC da Onset, Massachusetts, EUA) instalada na topossequência, que fez leituras a
cada 10 segundos e armazenamento de dados médios a cada 30 minutos, durante o período de
avaliação. A estação foi instalada em área aberta dentro da pastagem e protegida da ação dos
animais por uma cerca feita de estacas de sabiá e tela de arame.

Monitoramento do armazenamento de água na topossequência

O armazenamento de água foi monitorado em cada posição do relevo da topossequência, por


uma sonda de capacitância (modelo Diviner 2000®, da Sentek Pty Ltda, Austrália). A sonda
apresenta um display com teclado e coletor de dados ―datalogger‖ acoplado via cabo a uma haste
que na sua extremidade apresenta o sensor (envolvido em plástico), que ao ser inserido no tubo de
acesso no solo, provê automaticamente leituras do teor da umidade à medida que a sonda é inserida
no tubo. Esta determinação usa a técnica da capacitância ou reflectometria no domínio da
frequência (FDR), que tem como base a constante dielétrica do solo ou capacitância da matriz do
solo (ar, água, solo), a qual é relacionada com a umidade volumétrica (Ɵv).
Para as medições, a sonda foi normalizada e os tubos de acesso foram inseridos no solo. A
normalização foi necessária por que não há exatidão nas leituras realizadas por sondas diferentes,
dada uma condição particular, como, por exemplo, água e ar (SENTEK, 2014). Para normalizar as
leituras (frequência), foram feitas medições dentro de um tubo de acesso suspenso no ar e dentro de
um balde com água. Depois as leituras foram obtidas em tubos de acesso acomodados no solo.
Quando combinadas estas três leituras são chamadas de frequência relativa, que são calculadas pelo
aparelho usando a equação: FR = (Fa – Fs)/(Fa – Fw), em que: Fa é a leitura da frequência no tubo
de PVC (Policloreto de vinila) totalmente suspenso no ar, Fs é a leitura da frequência no tubo de
PVC no solo e Fw é a leitura da frequência no tubo de PVC imerso em água.
A instalação dos tubos de acesso foi efetuada em uma linha reta, no sentido da inclinação,
equidistantes 8 m uns dos outros, respeitando a divisão de cada posição na topossequência (ombro,
meia encosta e pedimento) perfazendo 56 m na topossequência, dispondo sete tubos na mesma,
sendo dois por posição e um tubo de transição entre as posições. Os tubos foram inseridos até 40 cm
de profundidade no solo.
Para calcular a água armazenada no solo, usaram-se as curvas de calibração determinadas
por Rebequi (2015) para a mesma topossequência avaliada. Estas calibrações foram necessárias

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pelas diferentes condições de textura e densidade do solo (Tabela 1) em profundidade, nas posições
da topossequência (SANTOS, 2004; REBEQUI, 2015).
A calibração foi concluída quando os valores de frequência e umidade volumétrica foram
relacionados de maneira não linear, seguindo o seguinte modelo: Ɵv= aFRb, em que, θv= Umidade
volumétrica (m3 m-3); FR= Frequência relativa determinada pela sonda (adimensional); a,b e c são
coeficientes gerados pela regressão (modelo potência) (c= 0). Depois de gerada a equação de
calibração, foi calculada a umidade volumétrica.

Caracterização física do solo (textura do solo)

Foi efetuada a caracterização física do solo nas posições da topossequência, seguindo a


metodologia da Embrapa (1997). Essa caracterização física, ou determinação da textura do solo, é
imprescindível para um conhecimento eficiente, sobre as características de cada posição, pois essas
informações ajudam no entendimento do armazenamento de água.
AT(1) Silte Argila ADA(1) CAA(1) GF(1) PT(1) Ds(1) Classificação
Posição
------------ g kg-1 ------------- -----%------ g cm-3 Textural
Topossequência
Ombro 615 69.5 316 25.1 Alta 92 39.7 1,55 Franco argilo arenoso
M. encosta 633 66.7 300 18.8 Alta 94 39.3 1,57 Franco argilo arenoso
Pedimento 765 71.0 164 12.5 Baixa 92 39.1 1,57 Franco arenoso
Tabela 1. Caracterização física do Argissolo Vermelho-Amarelo, (0-40 cm), nas três posições de uma
topossequência sob pastagem de Urochloa decumbens, na microbacia hidrográfica de Vaca Brava-PB
(1)
Areia total (AT), argila dispersa em água (ADA), grau de floculação (GF), Densidade do solo (Ds),
Porosidade total (PT) Capacidade de armazenamento de água (CAA). Caracterização determinada pelo
método da Embrapa (1997).

Apresentação dos dados

Os eventos de chuva representam o momento que a estação mediu a precipitação, nesse


caso, uma chuva de 0,2 mm é o menor limite de detecção da estação meteorológica utilizada. Os
dados de pluviosidade foram compilados levando em consideração à baixa intensidade das chuvas
no brejo paraibano. Os eventos foram agrupados da seguinte maneira: eventos com precipitação
pluviométrica maior que 0,2 milímetro por dia (mm dia-1) e menores que 5 milímetro por dia (mm
dia-1); e eventos de precipitação maiores que 5 mm dia-1.
Os eventos de chuva aqui descritos são referentes aos meses de junho à dezembro do ano
2016; sendo que em um determinado mês podem ocorrer vários eventos de chuva, ou mesmo não
haver tais eventos. Este tempo de avaliação foi escolhido porque até junho ocorreu, na região, as
maiores precipitações e depois de junho as menores. Essa determinação é importante, pois quanto

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maior a quantidade de chuva, maiores os armazenamentos de água e quanto mais tempo sem chuva,
menor quantidade de água armazenada.
O armazenamento da água foi avaliada na camada de 0 a 40 cm de profundidade, durante 6
meses, em cada posição da topossequência, assim foi possível verificar a influência da textura do
solo no armazenamento de água, já que como visto na tabela 1, a capacidade de armazenamento e o
teor de argila variam entre as posições do relevo, isso incidi em distintas capacidades de retenção de
água no solo. A determinação do armazenamento da água foi feito em campo de forma indireta,
instantaneamente, com o aparelho Diviner 2000, como descrito anteriormente. As datas dos eventos
de chuva e as datas de avaliação do armazenamento de água no solo, não coincidem, pois o
importante é sempre saber o estado atual do armazenamento, já que a infiltração, não é imediata,
podendo levar dias até chegar a todo perfil do solo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram observados, durante o período avaliativo (junho a dezembro de 2016), vinte e oito
eventos de chuvas com precipitações menores que 5 mm dia-1, ou seja, houveram 28 dias em que as
chuvas no período de 24 horas, foram inferiores a 5 mm dia-1. O número de eventos superiores a 5
mm dia-1 foram de 12 eventos, onde a maior chuva precipitada foi de 14,2 mm dia-1. Estas
precipitações são enquadradas no grupo das chuvas de intensidade fraca (precipitação inferior a 5
milímetros por hora (mm h-1)). O que representa uma chuva com alto poder de infiltração no solo,
contribuindo para o armazenamento de água. Em seis meses de monitoramento (180 dias), Houve
40 eventos de chuva, ou seja, choveu em apenas 40 dias, dos 180 dias monitorados (Figura 1).
Na figura 1, são apresentados os eventos de chuva, nos dias em que ocorreram, e nos meses
onde foram feitas as avaliações do armazenamento de água no solo. Os eventos com precipitação
menores que 5 mm dia-1, estão em azul escuro e os eventos com precipitações maiores que 5 mm
dia-1, estão em azul claro. Essas baixas precipitações ocorreram em função da época de avaliação do
experimento, pois chuvas com maiores intensidades ocorrem, normalmente, entre os meses de
março, abril e maio na Região (AESA, 2017).
No entanto, chuvas de baixa intensidade como as da figura 1, são mais favoráveis à
infiltração e consequentemente, ao aumenta na quantidade de água armazenada no solo, além disso,
solos de topossequências sem cobertura vegetal, ou com cobertura vegetal distinta da vegetação
natural, como no caso das pastagens; as chuvas de alta intensidade provocam erosão, como foi
observado por Santos (2004), com consequente assoreamento dos corpos d‘água e menor
capacidade de armazenamento de água no solo, comprovado por Rebequi (2015). Como a
topossequência está inserida em uma microbacia, chuvas que não permitem o armazenamento de

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água no solo, representam menor capacidade de reabastecimento de água à microbacia, nos


períodos de estiagem.

Figura 1: Distribuição diária de eventos de chuva, em brejo de altitude, durante os meses de junho à
dezembro de 2016, na microbacia hidrográfica de Vaca Brava no município de Areia-PB.

Como verificado por Rivera, Lillo e Granda (2014), o armazenamento de água depende das
chuvas e da quantidade inicial de água no solo, por isso na figura 2, os teores de água armazenada
são maiores do que a quantidade de chuva precipitada em eventos isolados por dia (observados na
Figura 1), isto ocorreu, como já foi dito anteriormente, porque as maiores chuvas do ano na Região
acontecem entre os meses de março a maio, possibilitando a entrada de altos teores de água no solo;
essa água fica armazenada ao longo do tempo e por isso entre junho e o inicio de setembro as
precipitações são inferiores aos teores de água no solo, indicando a alta capacidade que essas
posições possuem em armazenar água (REBEQUI, 2015).
O armazenamento de água no solo (Figura 2) demonstrou uma forte relação, como não
poderia ser diferente, com as chuvas, vale salientar que como as maiores chuvas ocorrem durante os
meses de março, abril e maio, é possível entender o motivo do maior armazenamento de água ter
sido nos meses de junho e julho em todas as posições da topossequência. Isto ocorre porque nos
meses mais chuvosos (março, abril e maio) maior quantidade de água entra no solo e com as chuvas
de junho e julho, elas se mantêm no solo e são distribuídas aos mananciais, absorvidas pelas plantas
ou retornam a atmosfera pela evapotranspiração (O'GEEN et al., 2012).
Essa última aumenta quando as chuvas diminuem, em virtude da maior quantidade de dias
com incidência da luz solar sobre a vegetação, o que induz à maior evapotranspiração, que
representa a perda de água do solo e da planta para o ambiente.
É importante observar que nas posições do ombro, meia encosta e pedimento, no período
com menor precipitação (entre agosto e dezembro), a água armazenada no solo diminuiu (Figura 2),
em virtude das menores frequências de chuva, como é possível observar na figura 1. Além disso, no

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período seco, a água armazenada é redistribuída para o pasto, atmosfera e os reservatórios de água
da microbacia. Cumprindo sua função ecossistêmica no ciclo hidrológico (O'GEEN et al., 2010).
De outubro a dezembro (período mais seco do ano), foram verificadas as menores
quantidades de água armazenada, com teores constantes de 13 de outubro até o dia 15 de dezembro,
quando houve uma precipitação de 14,2 mm, e devido a baixa quantidade de água armazenada no
solo, o teor de água aumentou rapidamente. Sendo que dos 14,2 mm precipitados, 10 mm foram
armazenados no ombro, 8,2 mm foram armazenados na meia encosta, e menos de 5 mm no
pedimento.
Como foram verificados na tabela 1 os teores de argila variam entre as posições da
topossequência, sendo que no ombro e na meia encosta os teores são semelhantes, e quase o dobro
do teor de argila do pedimento, ou seja, ombro e meia encosta são posições argilosas (alto teor de
argila) e o pedimento é uma posição arenosa (baixo teor de argila). Isso tem grande influência no
armazenamento de água, pois posições topográficas com maior teor de argila funcionam como
reservatório de água, nas bacias hidrográficas, enquanto que no pedimento a água é quase toda
escoada para as vertentes, isto é, o pedimento funciona como um distribuidor imediato da água das
chuvas. Com esses resultados da figura 2, é possível inferir que as posições do relevo das
topossequências, prestam relevantes serviços ecossistêmicos, no ciclo hidrográfico.
Os maiores armazenamentos nas posições do ombro e meia encosta foram de 55 mm, nos
meses de junho e julho, e os menores teores de água armazenada nessas mesmas posições foram de
30 mm, valores esses que são semelhantes aos maiores valores de armazenamento na posição do
pedimento, já a menor quantidade de água armazenada no pedimento foi de 10 mm. Essa
variabilidade nos teores tem haver com a inclinação das posições na topossequência e com a textura
do solo, pois a textura indica a maior ou menor capacidade do solo reter água, devido as forças de
coesão e adsorção das moléculas de água com as superfícies das argilas.

Figura 2: Armazenamento semanal da água no solo, nas posições do ombro (◊), meia encosta (□) e
pedimento (∆), até a profundidade de 40 cm, em uma topossequência sob pastagem em brejo de altitude,
durante os meses de junho à dezembro de 2016, na microbacia hidrográfica de Vaca Brava no município de
Areia-PB

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CONCLUSÕES

1. As posições da toposseqûencia prestam importantes serviços ecossistêmicos no


armazenamento e redistribuição da água, sendo que nas posições do ombro e meia encosta, mais
inclinadas e mais argilosas, há maior armazenamento. Enquanto na posição do pedimento, mais
baixa e arenosa, o armazenamento é bem menor, porém essa posição tem relevante importância na
distribuição imediata de água para os reservatórios de água e para absorção pela vegetação.
2. A capacidade máxima de armazenamento de água da chuva na topossequência, nas
condições avaliadas, foi de 140 mm, sendo que desses, 55 mm no ombro, 55 mm na meia encosta e
30 mm no pedimento.

AGRADECIMENTOS

Ao querido professor PhD. Ignacio Hernan Salcedo (In memorian) pelas valorosas
contribuições a esse trabalho. E a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(Capes) pela concessão da bolsa de pesquisa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

CARACTERIZAÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS NO SEMIÁRIDO


BRASILEIRO: UM ESTUDO DE CASO

Vinícius Ferreira de LIMA


Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Geografia
da Universidade Federal da Paraíba – PPGG/UFPB
viniciusgeo.lima@gmail.com
Larissa Fernandes de LAVOR
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Geociências
da Universidade Federal de Pernambuco – PPGEOC/UFPE
larilavor@hotmail.com
Wesley Ramos NÓBREGA
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Urbana
da Universidade Federal da Paraíba –PPGECAM /UFPB
wesjppb@gmail.com

RESUMO
Historicamente a disponibilidade, uso e gestão dos recursos hídricos no semiárido nordestino se
configuram como a maior privação no que se refere ao seu desenvolvimento. É fato notório que
algumas medidas vêm sendo implantadas visando minimizar os efeitos das longas estiagens no
semiárido, entre as medidas mais expressivas estão a criação e implantação de infraestruturas ou
novas tecnologias sociais hídricas. Esta pesquisa preliminar tem como principal objetivo realizar
uma caracterização dos recursos hídricos do município de Conceição, localizado na Mesorregião do
Sertão Paraibano e na Microrregião de Itaporanga no alto sertão paraibano, utilizando como base
para análise um banco de dados georreferenciados de todas as pequenas obras hídricas do
município, para verificar a potencialidade de armazenamento dessas pequenas obras e compará-las
com os grandes reservatórios que abastecem este município. Os resultados obtidos podem vir a
colaborar com o melhor conhecimento das pequenas obras hídricas no que se refere principalmente
a sua localização precisa e seu potencial de armazenamento, podendo com isso contribuir para uma
melhor gestão das águas, visto que esse problema toma corpo cada vez mais no semiárido
nordestino.
Palavras-chave: Conceição; Diagnóstico hídrico; Gestão de águas; Tecnologias Sociais Hídricas.
ABSTRACT
Historically the availability, use and management of water resources in semiarid northeast are
configured as the greatest deprivation in relation to its development. It is well known that some
measures have been implemented to minimize the effects of the long drought in the semiarid region,
among the most significant measures are the creation and implementation of new infrastructure or
water social technologies. This preliminary research is aimed at providing a characterization of
water resources in the municipality of Conceição, located in mesoregion of Paraiba‘s Sertão and the
microregion of Itaporanga in Paraiba‘s Alto Sertão, using as a basis for the analysis a georeferenced
database of all small water constructions of the municipality in order to check the storage capability
of these small cnstructions and compare them with the large reservoirs that supply the municipality.
The results are likely to collaborate with the best knowledge of small hydric constructions in mainly
refers to its precise location and their storage potential, and this may contribute to improve water
management, given that this problem takes shape increasingly in semiarid northeast.
Keywords: Conceição; water diagnosis; water management; water social technologies.
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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

INTRODUÇÃO

As características pedológicas, litológicas, climáticas e também socioeconômicas do


semiárido brasileiro, aqui em destaque o sertão paraibano, dão a essa região atributos não favoráveis
ao desenvolvimento, visto a sua indisponibilidade hídrica. Por tanto essas áreas carecem
imediatamente de intervenções e politicas publicas atualmente chamadas de tecnologias sociais, que
garantam a utilização, conservação e gestão dos recursos hídricos.
De acordo com Ab‘ Saber (2003), no semiárido nordestino, as chuvas ocorrem de maneira
irregular com 400 a 800 mm anuais em média, estes níveis pluviométricos são expressivos se
comparados a outras regiões semiáridas do mundo, porém, estas são extremamente concentradas,
acarretando longos períodos de estiagem.
Na raiz do problema, além do quadro de escassez, a utilização indevida e incorreta dos
recursos hídricos aumenta consideravelmente a fragilidade da região ao processo de desertificação,
tomando assim proporções de diferentes escalas, seja ao que tange o consumo dos recursos hídricos
pelas populações ocupantes desse território, ou no que se remete ao processo de ampliação da
produção agrícola e industrial.
O município de Conceição, localizado no Sertão da Paraíba, apresenta em seu território
algumas tecnologias que tentam garantir a segurança hídrica do município. Entre elas está a
construção de dois grandes reservatórios artificiais localmente chamadas de açudes, um desses
reservatórios o ―açude da Ladeira‖ tem por finalidade garantir o abastecimento urbano do
município, o outro o ―açude do Condado‖ tem na matriz inicial do projeto perenizar o leito do rio
Piancó para possibilitar a manutenção de agriculturas irrigáveis para os pequenos agricultores
situados próximos as margens do rio. Entretanto, os resultados obtidos ficaram muito a baixo das
expectativas, principalmente no segundo caso, pois não houve uma gestão eficiente destes corpos
hídricos, os problemas persistiram e a vida pouco mudou para os pequenos agricultores que estão a
jusante do rio e principalmente para as populações rurais que se localizam distante das margens do
rio Piancó.
Tendo em vista que estas obras supracitadas foram insuficientes para o desenvolvimento
social e econômico e para a permanência de parte da população principalmente rural no município,
faz-se necessário abordar o problema de escassez de água e abastecimento a comunidades que não
são beneficiadas, levando em consideração tecnologias alternativas, de baixo custo e fácil
apropriação pela população. Pesquisas atuais como (VIANNA, et. al, 2013; ARAÚJO 2011;
ARAÚJO SEUNDO NETO et. al, 2013) revelam que tecnologias que tem apresentado bons
resultados contra a seca, por seu baixo custo e fácil acesso a comunidade, denominadas de
Tecnologias Sociais Hídricas, fazendo parte destas: as cisternas de placa, cisterna calçadão,
barragem subterrânea e poços rasos entre outras. De acordo com os mesmos autores, essas obras
ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 768
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hídricas de pequeno porte possibilitam o armazenamento de água doce em uma escala adequada às
unidades familiares criando uma relação de sustentabilidade.
Este trabalho tem como objetivo primordial realizar um diagnostico dos recursos hídricos
utilizando um banco de dados georreferenciados de todas as pequenas obras hídricas (cisternas de
placa, cisternas calçadão e poços tubulares) do município de Conceição - PB, para analisar a
potencialidade de armazenamento dessas pequenas obras e compará-las com os grandes
reservatórios que abastecem este município.
O banco de dados georreferenciado foi fornecido pelo Laboratório de Estudos de Gestão de
Água e Território - LEGAT na Universidade Federal da Paraíba. A eficácia dessas tecnologias
sociais hídricas de pequeno porte no semiárido paraibano vem sendo objeto de estudo desse
laboratório, atestando a eficiência da construção de um Sistema de Informação Geográfica – SIG
para o diagnostico dos Recursos Hídricos municipais.
O município de Conceição ocupa uma área aproximada 577,6 km², está localizado na região
Oeste do Estado da Paraíba na microrregião de Itaporanga, limitando-se a Leste com Santana de
Mangueira e Ibiará, a Norte Bonito de Santa Fé, a Nordeste São José de Caiana e Diamante, a Oeste
com Mauriti no Ceará e a Sul Santa Inês (Figura 1).
Segundo o (IBGE, 2010) O município de conceição possui 18. 363 habitantes. Em termos
climatológicos o município acha-se inserido no denominado ―Polígono das Secas‖, constituindo um
tipo semiárido quente e seco. As temperaturas são elevadas durante o dia, amenizando a noite, com
variações anuais dentro de um intervalo 23 a 30º C, com ocasionais picos mais elevados,
principalmente durante a estação seca. O regime pluviométrico, além de baixo é irregular com
média anual de 862,6mm/ano e valores mínimo e Máximo de 346,8 e 1750,3 mm/ano
respectivamente (CPRM, 2005). Os solos são resultantes da desagregação e decomposição das
rochas cristalinas do embasamento, tendo com isso solos pouco espessos e com difícil infiltração
das águas.

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Figura 1: Localização do município de Conceição – PB


Fonte: Elaboração Própria (2016).

METODOLOGIA

A primeira etapa para efetivação da pesquisa consistiu na revisão bibliográfica e no


levantamento de dados e materiais disponíveis sobre a região e adjacências, em particular todo o
semiárido paraibano, e mais precisamente, sobre a área de estudo. Foram levantados os seguintes
materiais e dados:
-Censo demográfico 2010 do município de Conceição;
-Banco de dados com informações referentes aos corpos hídricos (artificiais e naturais) e
cisternas de placas, fornecidos pelo Laboratório e Estudos de Gestão de Água e Território
(LEGAT);
-Dissertações de Mestrado, Teses de Doutorado sobre a região além de artigos em revistas e
periódicos e trabalhos monográficos;
-Mapa Geológico do Estado da Paraíba e texto explicativo (Brasil, 2002);
-Mapa Pedológico do Estado da Paraíba e texto explicativo (Paraíba, 2004);
-Imagens orbitais em formato digital adquiridas no sítio <www.earth.google.com>;
-Dados climáticos.

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O mapeamento das obras hídricas, foi realizado por meio de imagens de satélites disponíveis
no software gratuito Google Earth para identificar os corpos de armazenamento de água, sejam eles
naturais ou artificiais (Figura 2 e 3). Em seguida foram inseridas informações a respeito de volume,
capacidade, perímetro e área dos reservatórios.

Figura 2: Imagem do Google Earth de identificação das cisternas de placas.

Figura 3: Imagem do Google Earth de identificação dos corpos hídricos.

A segunda etapa já com o mapa de distribuição espacial dos recursos hídricos em mãos, e
com ajuda de imagens de satélite, foram traçados os principais pontos de estudos de campo, que
foram os pontos referentes às áreas de maior disponibilidade dessas tecnologias sociais, assim como
também, as áreas com maior carência hídrica. O trabalho de campo foi realizado, com os materiais
cartográficos em mãos, ficha para entrevistar alguns moradores que se utilizam dessas pequenas
obras hídricas, câmera fotográfica e aparelho de GPS (Global Position System).

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RESULTADOS

As águas superficiais do município de Conceição estão distribuídas principalmente nos dois


principais reservatórios artificiais, que são o açude do Condado e o açude da Ladeira e nos córregos
fluviais de regime intermitente. O município encontra-se inserido nos domínios da bacia
hidrográfica do rio Piranhas, sub-bacia do rio Piancó sendo este periodicamente perenizado pelo
solte de água do açude do Condado. Os principais cursos de água são: o rio Piancó e os riachos:
Coelho, Humaitá, do Catolé, do Barro Vermelho, do Criminoso, do Poço Redondo, da Posse, das
Canas, das Cabaças e Papa Mel. Como já mencionado todos os cursos de água têm regime de
escoamento intermitente.
A Bacia Hidrográfica do rio Piancó que corta o município de Conceição está no projeto de
bacias receptoras das águas do São Francisco do eixo norte. O Projeto de Integração do rio São
Francisco (PISF) com as Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional é uma grande obra de
aporte hídrico, que tem por objetivo assegurar a demanda de água para a região que mais sofre com
a irregularidade das chuvas e com prolongados períodos de escassez (SEGUNDO NETO, 2014).
Segundo os dados analisados, o município de Conceição apresenta em seu território 484
corpos hídricos no total, configurando-se em sua maior parte como artificiais, dos quais apenas 3
são monitorados pela Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba (AESA) que
são o açude do Condado, o açude da Ladeira e o açude Video. Esses monitoramentos visão medir a
qualidade das águas superficiais para o consumo humano, e enquadrou o município na faixa de água
regular, de pequenas a medias restrições ao consumo humano. Estatisticamente as pequenas obras
hídricas somam um número de 281 obras, sendo que 204 são cisternas de placa que tem por
finalidade abastecer as famílias no período de estiagem e 77 são os poços (Figura 4).
O açude do Condado que entre outras coisas tem por finalidade a perenização do rio Piancó
que deveria ser utilizado para incentivar o pequeno irrigante a produzir alimento, apresenta uma
capacidade máxima de 35.016.000 m³, porém, atualmente possui um volume de 6.393.400 m³ que
corresponde apenas há 18,3% de sua capacidade total. O açude da Ladeira tem uma capacidade total
de 11.801.173 m³ e atualmente apresenta um volume de 129.849 m³ o que corresponde em
porcentagem há 1,1% de sua capacidade máxima, este é o responsável pelo abastecimento do
município, enquanto que o açude Vídeo tem uma capacidade máxima de 6.040.264 m³ apresentando
atualmente apenas 7,5% da sua capacidade máxima.

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Figura 4: Mapa da distribuição das cisternas de placa e dos corpos hídricos no município de Conceição – PB.
Fonte: Laboratório e Estudos de Gestão de Água e Território (LEGAT).

Utilizando o SIG e o banco de dados georreferenciados fornecidos pelo (LEGAT) que nos
dão informações precisas referentes a quantidade e localização dos corpos hídricos, podemos ter um
diagnostico quantitativo da capacidade de armazenamento do município, somando a capacidade de
armazenamento total das cisternas de placa, já que sabemos que quando cheias armazena um total
de 16.000 litros de água, temos por tanto com a somatória de 204 cisternas uma quantidade média
de 3.264.000 litros no município de Conceição. Um dado importante a ser mencionado é que as
cisternas de placa em sua grande maioria estão inseridas na área rural do município, visto que essa
população é a que mais apresenta carência de água para o próprio consumo. Consultando os dados
do CENSO 2010, a população rural do município de Conceição é de 6.930 habitantes, o que
representaria deste total hídrico das cisternas, uma média de 471 litros por habitante.
Alguns dados levantados atualmente pelo Laboratório e Estudos de Gestão de Água e
Território (LEGAT) em outros municípios na região semiárida do mesmo Estado da Paraíba,
mostram que em 5 municípios da zona do Cariri Paraibano as cisternas abastecem mais de 50% da
população rural e em 19 deles o sistema das Tecnologias Sociais Hídricas conseguem atingir ,mais
de 20% da população rural (VIANNA et. al, 2013). No caso particular do município de Conceição

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considerando que uma cisterna abasteça uma família de 5 pessoas no período de estiagem, 15% da
população rural é beneficiada por essas obras hídricas de pequeno porte no município.
Referente aos poços, podemos verificar que são encontrados em média 77 poços tabulares
no município, sendo que segundo o levantamento realizado pela SPRM em 2005, a grande maioria
desses poços são privados e destinados ao consumo domestico, visto que a vasão dos mesmos se
configuram como insuficientes para a indústria ou para agricultura. Não sabemos os dados totais da
vasão de todos os poços, pois nenhum destes reservatórios é monitorado por órgãos do governo
Municipal ou Estadual, a qual não foi possível obterem-se dados. A planilha de todos os poços sua
natureza e suas respectivas funções podem ser consultadas no endereço eletrônico:
http://www.cprm.gov.br/rehi/atlas/paraiba/relatorios/CONC058.
A análise da espacialização e da distribuição das cisternas de placa no município de
Conceição mostra uma forte ausência das cisternas nas áreas próximas aos açudes do Condado e da
Ladeira e também nas áreas próximas ao leito do rio Piancó, apresentando, no entanto a maior
concentração de poços nessa área. Essa bacia hidrográfica se configura como a de maior porte
hídrico do município.
É também nas Várzeas do rio Piancó onde é intensa a presença de áreas irrigadas, mesmo
que de forma inadequada para o semiárido. Como mencionado anteriormente o rio Piancó é
favorecido pelo solte de água do açude do Condado tornando esse rio perene mesmo nos períodos
de estiagem, notadamente as áreas a margem do leito desse rio se configuram como uma região
favorável a agricultura principalmente de batata-doce (CORREIA, 2014) (Figura 5).

Figura 5: Plantação de batata-doce na comunidade as margens do rio Piancó no município de Conceição.


Fonte: Vinicius Lima (2014).

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No entanto verifica-se atualmente a presença de conflitos geralmente envolvendo os


pequenos agricultores e os órgãos governamentais que gerenciam essas águas. Algumas imposições
foram estabelecidas para os pequenos irrigantes como, por exemplo, a alternação dos dias para
irrigação, impondo que os pequenos irrigantes diminuam ainda mais sua produção. Mesmo
respeitando os limites atribuídos, o atual solte de água para perenização do rio, que sofreu uma
considerável redução, não está sendo suficiente para a irrigação o que está tencionando ainda mais o
conflito.
De certa forma, os poderes locais, estadual e federal, tendem geralmente a tentar excluir dos
projetos de irrigação as populações descapitalizadas e sem nível de formação educacional,
características muitas vezes apresentadas pelos pequenos produtores rurais, alegando que eles não
possuem o grau exigido para dominar a técnica da irrigação e todas suas exigências. Também é de
fácil percepção no município que há a construção de um espaço segregado que tem como elemento
limitante a oferta hídrica. O elemento de analise também possui uma vertente temporal, pois é
esperado com ansiedade pelos pequenos irrigantes que o leito do rio Piancó seja contemplado pelo
projeto de transposição do rio São Francisco o que para muitos representa a solução, mas que deixa
em aberto uma duvida referente ao acesso que os pequenos agricultores terão a água.
Em pesquisas futuras e apresentando um maior numero de dados, pretende-se verificar o
percentual de população rural que vive no entorno das margens do rio Piancó no trecho referente ao
município de Conceição e comparar estes com as populações atendidas pelas cisternas, reforçando a
hipótese levantada a respeito da eficácia das tecnologias sócias hídricas nas áreas de maior carência
de água.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa utilizou-se de ferramentas de geoprocessamento utilizando o SIG e um


banco de dados georreferenciados fornecidos pelo (LEGAT) para identificação, interpretação e
localização de corpos hídricos, sejam eles artificiais ou naturais. Essa metodologia que vem sendo
utilizada também em outros municípios do semiárido paraibano se mostrou uma importante
ferramenta para a padronização e disponibilização de informação referente à capacidade hídrica
municipal.
As informações e dados aqui apresentados, podem vir a contribuir com o poder municipal,
podendo dar mais nitidez, eficiência e qualidade a gestão da água em situações de emergência
hídrica. A clareza da localização precisa dos corpos hídricos e das tecnologias sócias hídricas,
principalmente das cisternas de placa que mostraram nessa pesquisa que possuem um considerável
porte de armazenamento podendo ser utilizada em situações emergenciais em ações que visem à
amenização do estresse hídrico, tais como as distribuições de água nos caminhões pipas, comuns

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para períodos de estiagem nas áreas semiáridas nordestinas, minimizando com isso, os duros efeitos
provocados pelas estiagens prolongadas.
Para concluir, vale lembrar que esta análise não almeja, em hipótese alguma, encerrar a
questão pertinente ao estudo da área em questão e da utilização das tecnologias sociais hídricas já
mencionadas, mas, sim, propiciar um meio pelo qual novos trabalhos sejam desenvolvidos na
intenção de apresentar informações e dados que corroborem com os resultados aqui apresentados,
permitindo, assim, o conhecimento pormenorizado da região de maneira que os processos naturais e
antrópicos que comandam o quadro de escassez possam ser melhores planejados e conhecidos
visando o bem comum das populações que tanto sofrem com a escassez hídrica.

REFERÊNCIAS

AB‘SÁBER, A. N, Os Domínios de Natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. São Paulo:


Ateliê Editora, 2003.

AESA - Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba. Disponível em:
http://www.aesa.pb.gov.br/. Acesso em 02 de Setembro de 2014.

ARAÚJO, C. F. Mapeamento das Tecnologias Sociais Hídricas nos Municípios de Juazeirinho e


Soledade no Estado da Paraíba. Monografia. Graduação em Geografia – UFPB, 2011. 56p.

ARAÚJO SEGUNDO NETO, F. V. de. Análise Espacial das Obras do Projeto de Integração do
Rio São Francisco (eixo leste) no Estado da Paraíba. Monografia. Graduação em Geografia –
UFPB, 2014. 70p.

ARAÚJO SEGUNDO NETO, F. V. de.; CUNHA, G. S.; ARAUJO, R. S.; VIANNA. P. C. G.


CRIAÇÃO DE UM SIG DE PEQUENAS OBRAS HÍDRICAS PARA O DIAGNÓSTICO
HÍDRICO DOS MUNICÍPIOS DE MALTA - PB E VISTA SERRANA - PB. In: VII Simpósio
Nacional de Geografia Agrária, 2013, João Pessoa.

BRASIL. Ministério de Minas e Energia. CPRM. Geologia e recursos minerais do Estado da


Paraíba. Recife: CPRM, 2002. 142 p. il., 2 mapas. Escala 1:500.000.

CORREIA, V. F.de L. A Problemática das Práticas Agrícolas Desenvolvidas no Sítio Maria


Soares, Município de Conceição – PB. Monografia. Graduação de Licenciatura em Geografia –
UFCG, 2014. 90p.

CPRM – Serviço Geológico do Brasil. Diagnóstico do Município de Conceição (2005). Disponível


em: http://www.cprm.gov.br/rehi/atlas/paraiba/relatorios/CONC058. Acesso em Setembro de
2014.
ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 776
Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em<


http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/default_resultados_universo.shtm
> Acesso em 12 de Setembro de 2014.

PARAÍBA. SUDEMA. Mapa pedológico do Estado da Paraíba. João Pessoa: SUDEMA, 2004.
Escala: 1:500.000.

VIANNA, P. C. G.; SEGUNDO NETO, F. V. A.; CUNHA, G. S.; ALMEIDA, T. C.; LINHARES,
F. M. Criação de um SIG (SGI) Para o Diagnóstico Hídrico Municipal. In: EGAL - Encontro de
Geógrafos da America Latina, 2013, Lima. Anais do XIV EGAL. Lima - Peru: UGI - União
Geografica Internacional, 2013.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos em especial ao Prof. Dr. Pedro Guedes Vianna coordenador do Laboratório de


Estudos de Gestão de Água e Território - LEGAT da Universidade Federal da Paraíba que nos
forneceu o banco de dados georreferenciado, fundamental para o desenvolvimento dessa pesquisa.

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APLICAÇÃO DE PARÂMETROS MORFOMÉTRICOS NA CARACTERIZAÇÃO


FÍSICA DA BACIA DO RIACHO POÇÕES NO ESTADO DA PARAÍBA

Wesley Ramos NÓBREGA


Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Urbana
da Universidade Federal da Paraíba –PPGECAM /UFPB
wesjppb@gmail.com
Alexandre dos Santos SOUZA
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Geografia
da Universidade Federal da Paraíba – PPGG/UFPB
alesougeo@gmail.com
Larissa Fernandes de LAVOR
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Geociências
da Universidade Federal de Pernambuco – PPGEOC/UFPE
larilavor@hotmail.com
Vinícius Ferreira de LIMA
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Geografia
da Universidade Federal da Paraíba – PPGG/UFPB
viniciusgeo_lima@hotmail.com

RESUMO
O presente trabalho consiste na utilização de técnicas de geoprocessamento no procedimento de
aquisição de dados morfométricos da Bacia Hidrográfica do Riacho Poções, localizada no
município de Monteiro, Estado da Paraíba - Brasil. O objetivo deste trabalho consiste na realização
da caracterização das propriedades físicas da bacia hidrográfica, a qual extraiu-se a partir da
obtenção dos dados oriundo da imagem Shuttle Radar Topography Mission (SRTM), reamostrados
com resolução de 30 m pelo projeto TOPODATA, informações como: rede de drenagem,
delimitação da bacia de interesse, modelo numérico do terreno, área, perímetro, comprimento dos
rios, e vários outros dados morfométricos da bacia. Os índices morfométricos utilizados neste
estudo foram: coeficiente de compacidade, índice de circularidade, fator de forma, densidade de
drenagem, extensão média do escoamento superficial, sinuosidade dos cursos de água, hipsometria
e declividade. Os resultados encontrados a partir da aplicação de cada índice morfométrico,
elucidou diversas propriedades físicas da bacia do Riacho Poções. Dentre as características, foi
identificado que a bacia possui um nível de circularidade pouco desenvolvido, baixo grau de
comprimento, uma densidade de drenagem média regular, a distância média percorrida de
escoamento superficial de 3,22 km, uma média de sinuosidade reta, uma diferença altimétrica de
um pouco mais de 200 m, entre a divisa da bacia até o término do riacho, e declividade de pouca
relevância na bacia, com apenas pequenos setores ao oeste e norte com valores significativos. Nesta
perspectiva, os resultados encontrados a partir da leitura de cada um dos índices caracteriza a bacia
do Riacho Poções como uma bacia de condições favoráveis a entrada das águas provenientes da
Transposição do Rio São Francisco, uma vez que a mesma não apresenta grandes discrepâncias em
suas propriedades físicas, o que diminui a probabilidade de desastres que pudessem vir a acontecer,
como o de possíveis enchentes.
Palavras-chaves: Bacia do Riacho Poções, índices morfométricos, Transposição do rio São
Francisco.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 778


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

ABSTRACT
The current work consists in the utilization of geoprocessing techniques on procedures of
morphometric data acquisition in the Poções stream watershed, located in Monteiro, Paraíba state,
Brazil. The aim of this paper consists in the perform of characterization of watershed physical
properties, which was extracted by the data obtainment from Shuttle Radar Topography Mission
(SRTM), resampled with 30 m resolution by the TOPODATA project, information such as:
drainage network, watershed delimitation, numerical terrain model, area, perimeter, river length,
and many others morphometric data. The morphometric index utilized on this study were:
compactness coefficient, circularity index, form factor, drainage density, average extension of the
surface runnof, watercourses sinuosity, hypsometry and declivity. The results found by the
application of each morphometric index elucidated several physical properties of the Watershed
Poções Stream. Among the characteristics, was identified which the watershed has a low level
circularity, low degree length, a regular average drainage density, an average distance of 3,22 km
traveled by surface runnof, an average of straight sinuosity, altimetry difference of a little more than
200 m, between the boundary watershed until the ending of the Poções Stream, and low declivity
relevance in the watershed, with only small sectors in the west and north with negative values. On
this perspective, the found results by the lecture of each one of the index makes the watershed
Poções Stream as a watershed of favorable conditions to an entrance point to the water from the
Transposition of São Francisco River, once the same does not presents large discrepancies on their
physical properties, which decreases the probability of disaster that could befall, as possible floods.
Palavras-chaves: Riacho poções watershed, Morphometric index, Water transfer from São
Francisco River.

1. INTRODUÇÃO

A Bacia do riacho Poções faz parte do Eixo Leste da Transposição do Rio São Francisco e
representa o ponto de entrada para as águas provenientes da transposição. A bacia do Riacho Poções
(Figura 1) está localizada no município de Monteiro, Estado da Paraíba, Brasil. Possui uma área de
aproximadamente 651,07 km² e perímetro de 157,26 km. Pertence à mesorregião da Borborema e
microrregião do Cariri Ocidental (Figura 1).

Figura 1 - Localização da Área de Estudo.


Fonte: Autoral.

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O objetivo deste trabalho consiste em caracterizar as propriedades físicas da bacia


hidrográfica do riacho Poções, a partir da obtenção dos dados oriundo da imagem Shuttle Radar
Topography Mission (SRTM), reamostrados com resolução de 30 m pelo projeto TOPODATA, na
qual serão apresentadas informações como: rede de drenagem; delimitação da bacia de interesse;
modelo numérico do terreno; área; perímetro; comprimento dos rios; e vários outros dados
morfométricos da bacia.
Uma bacia hidrográfica constitui um ambiente do meio físico no qual atuam processos
morfogenético dos mais ativos na esculturação da paisagem terrestre (CHRISTOFOLETTI, 1980).
Esse elemento possui intensa sensibilidade a deformações provenientes, principalmente, de
peculiaridades geomorfológicas, geológicas, climáticas, biológicas, além da influência das
atividades antrópicas que muitas vezes pode superar o grau de interferências nestes ambientes
provocando alterações no terreno (CHRISTOFOLETTI, 1980; JORGE e UEHARA, 1998;
ETCHEBEHERE et al, 2004).
Dentro desse contexto, a transposição do rio São Francisco, denominado pelo governo
brasileiro de "Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste
Setentrional", é uma obra de engenharia que acarreta forte modificação na rede de drenagem e em
razão dessas mudanças, faz-se necessário estudos a respeito das características morfométricas desse
sistema.
A Bacia Hidrográfica do Riacho Poções faz parte do projeto no Eixo Leste da transposição
do Rio São Francisco. Nesse Eixo a água percorrerá uma distância de aproximadamente 220 km,
iniciando na barragem de Itaparica, no município de Floresta (PE), passando pelo Rio Paraíba (PB)
para abastecer as bacias: Poço do Cruz (PE); Epitácio Pessoa (PB); e Riacho Porções (PB).
Assim, o estudo da compreensão do sistema presente numa bacia hidrográfica possui grande
importância por se configurar como uma unidade bem delimitada na qual, é importante planejar a
possibilidades de uso uma vez que as informações obtidas numa bacia poderão fornecer dados
relevantes para tomadas de decisões, visando gerenciamento territorial da bacia (BOTELHO e
SILVA, 2004).

2. MATERIAL E MÉTODOS

O material cartográfico produzido neste trabalho foi confeccionado com auxílio do software
ArcGIS versão 10.3. Todos os produtos confeccionados foram gerados a partir da imagem Shuttle
Radar Topography Mission (SRTM), reamostrada com resolução de 30 m pelo projeto
TOPODATA. O sistema de coordenadas utilizadas foi Universal Transverse de Mercator (UTM) e
o Datum SIRGAS2000 (Sistema de Referência Geocêntrico para as Américas).

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A metodologia utilizada seguiu uma série de procedimentos que permitiram a aplicação dos
parâmetros morfométricos. Dentre esses procedimentos destaca-se a obtenção do Modelo Digital de
Elevação (MDE), que permitiu mensurar diversas características morfométricas da própria bacia,
como área, perímetro e rede de drenagem.
Para elaboração do MDE, os dados foram reamostrados com resolução de 30 m pelo projeto
TOPODATA e importados para o software ArcGIS 10.3 visando realizar a delimitação
semiautomática da bacia hidrográfica do Riacho Poções e a extração automática da rede de
drenagem de toda a bacia. O fluxograma (Figura 2) representa de forma didática todo o processo
metodológico que permitiu a obtenção de todos os dados necessários para realização da
caracterização morfométrica da bacia estudada.

Figura 2 - Fluxograma do processo metodológico para confecção de mapas.


Fonte: (Autoria própria)

2.1 PARÂMETROS MORFOMÉTRICOS

O Coeficiente de Compacidade é o índice de compacidade (Kc) que reflete o relacionamento


entre o perímetro da bacia e o perímetro de um círculo de área similar. De acordo com Villela e
Matos (1975), esse coeficiente é um número adimensional que possui uma variabilidade conforme a
forma da bacia, independendo do tamanho da mesma. Portanto, através desse índice morfométrico,
é possível identificar o grau de irregularidade que a bacia apresenta, ou seja, apresentando um nível
maior ou menor da ocorrência de enchentes. A atribuição de um nível de maior ou menor
circularidade se dá pelo resultado da aplicação da Equação 1 (figura 3):

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 781


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Figura 3 - Equação do Coeficiente de Compacidade.


Fonte: Modificado de Villela e Matos (1975).

Considerando que o Kc sempre será um valor > 1, em razão do parâmetro tentar representar
o círculo perfeito, quanto mais próximo este valor em relação à representação numérica do círculo
perfeito, menor o nível de irregularidade de uma bacia, e, consequentemente, maior a tendência de
ocorrer enchentes (VILLELA; MATOS, 1975). Já as bacias com formatos retangulares e
triangulares são menos vulneráveis à ocorrência de enchentes, uma vez que são as ovais, circulares
e quadradas que possuem uma área de captação de água maior em decorrência de seu formato,
concentrando uma elevada quantidade de água no seu canal principal (ROCHA, 1997).
O índice de circularidade (IC) assim como o índice de compacidade, identifica qual o nível
de circularidade que determinada bacia possui, tendendo para a unidade de medida quando a bacia
possui alto grau de circularidade e decaindo quando apresenta uma forma mais alongada
(CARDOSO et al, 2006). Para o cálculo do deste índice, utiliza-se a Equação - 2 (figura 4). Esse
índice é obtido da relação entre a área da bacia e a área do círculo do mesmo perímetro, sendo que o
valor máximo obtido não ultrapassará 1, portanto, quanto mais próximo desse valor limite, maior
grau de circularidade a bacia terá.

Figura 4 - Equação do índice de circularidade.


Fonte: Modificado de Cardoso et al. (2006).

O Fator de Forma (Kf) resulta na quantificação da razão entre a largura média e o


comprimento do eixo da bacia (CARDOSO et al, 2006). Assim, o valor resultante irá qualificar a
bacia com um alto ou baixo grau de comprimento. De acordo com Villela e Matos (1975), uma
bacia com um valor baixo possui menor grau de probabilidade de enchente do que outra com
mesmo tamanho, mas com fator de forma maior. A aplicação desse parâmetro se dá pela Equação -3
(figura 5):

Figura 5 - Equação do fator de forma.


Fonte: Modificado de Cardoso et al. (2006).

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 782


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A Densidade de Drenagem (Dd), calculado pela Equação - 4 (figura 6), representa a relação
entre o comprimento total dos canais e a área da bacia hidrográfica (HORTON, 1945). Dessa
maneira, o valor obtido irá classificar a bacia como de maior ou de menor densidade de drenagem,
assim a bacia que é classificada como de menor drenagem, é qualificada com capacidade reduzida
do escoamento de seus recursos para seu exutório, enquanto a que possuir maior drenagem, possui
maior capacidade de escoamento (VILLELA e MATOS, 1975).

Figura 6: Equação da densidade de drenagem.


Fonte: Modificado Horton (1945).

Villela e Matos (1975) estabeleceram um parâmetro para análise dos valores obtidos na
aplicação desse índice. A definição destes valores de densidade e drenagem é representada na
tabela-1:
BACIAS COM DRENAGEM POBRE:
Dd< 0,5 km/km²
BACIAS COM DRENAGEM REGULAR:
0,5 ≤ Dd< 1,5 km/km²
BACIAS COM DRENAGEM BOA:
1,5 ≤ Dd< 2,5 km/km²
BACIAS COM DRENAGEM MUITO BOA:
2,5 ≤ Dd< 3,5 km/km²
BACIAS EXCEPCIONALMENTE BEM DRENADAS:
Dd ≥ 3,5 km/km²
Tabela 1 - Classificação dos valores de densidade de drenagem
Fonte: Modificado Villela e Matos (1975).

A Extensão Média do Escoamento Superficial (l) resulta da distância média que a água da
chuva teria de escoar sobre a bacia, do ponto onde foi precipitada, até encontrar a água corrente
mais próxima (VILLELA e MATOS, 1975). Portanto, seu valor resultante representa a distância
média percorrida para que a rede de drenagem presente numa bacia seja abastecida, de maneira que
um valor reduzido indique uma alta probabilidade de enchente. Este índice exerce uma importante
função de representar o nível de desenvolvimento hidrológico e fisiográfico de uma bacia. O índice
supracitado aplica-se através da Equação -5 (figura 7):

Figura 7 - Equação da extensão média do escoamento superficial.


Fonte: Modificado Villela e Matos (1975).

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 783


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O uso do índice de sinuosidade (Is) pode ser aplicado utilizando distintos métodos e
classificação destes valores (FREITAS, 1952; STRAHLER, 1957; MANSIKKANIEMI, 1970;
CHRISTOFOLETTI, 1980; ANTONELI e THOMAS, 2007). Foi selecionado o método de
Mansikkaniemi (1970), que considera a sinuosidade do curso do rio como a distância da foz do rio e
a nascente mais distante em linha reta em relação ao comprimento do curso principal. O referido
índice indica a velocidade com que ocorre o escoamento de água no curso d'água, Equação - 6
(figura 8).

Figura 8 - Equação do índice de sinuosidade.


Fonte: Modificado Mansikkaniemi (1970)

Para Mansikkaniemi (1970) os resultados obtidos através desse parâmetro distribuem-se em


cinco classes, onde cada uma delas representa um grau de sinuosidade (tabela 2).

Tabela 2 - Tabela com as classificações dos índices de sinuosidade.


Fonte: Modificado Mansikkaniemi (1970)

A quantificação da declividade na bacia em análise possui grande importância, uma vez que
estes dados definem a capacidade de escoamento superficial que a bacia apresenta, representando
diretamente o tempo que a água ao ser precipitada no seu interior leva para alcançar os canais
fluviais. A declividade pode representar, ainda, uma bacia com alta ou baixa capacidade de
armazenamento de água e susceptibilidade à erosão dos solos.
Nesse sentido, para a confecção do mapa clinográfico foi escolhida as classes de
Declividade estabelecidas pela EMBRAPA (1999), em porcentagem e com seu equivalente em grau
conforme apresentado na tabela 3:

Tabela 3 - Classes de declividade em porcentagem, seus respectivos valores em graus


e a sua classificação de acordo com a forma do relevo.
Fonte: EMBRAPA (1999)

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 784


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Parâmetros hipsométricos também foram utilizados no estudo da bacia hidrográfica do


riacho Porções. Esses dados buscam relações entre uma dada unidade horizontal do espaço (zona) e
sua variabilidade altimétrica, evidenciando a proporção ocupada por determinada área da superfície
terrestre em relação às variações altimétricas. (CHRISTOFOLETTI, 1980). Desse modo, foram
adotados intervalos específicos através da classificação por desvio padrão, feita pelo próprio
ArcGIS versão 10.3, utilizando a imagem SRTM. Os intervalos definidos, por este método
estatístico, possibilitaram a obtenção de uma espacialização dos níveis altimétricos através de uma
representação por tons de cores.

3. RESULTADOS

Os valores encontrados na aplicação de cada um dos parâmetros morfométricos utilizados na


bacia do Riacho Poções, encontram-se detalhados na tabela 4. Esses dados serão abordados
separadamente, de modo que, ao final, possam ser feitas considerações quanto aos resultados
alcançados por cada um destes parâmetros.

Área da Bacia 651,07 km²


Perímetro 157,26 km
Coeficiente de Compacidade 1,725
Índice de Circularidade 0,3313
Fator de Forma 0,2562
Densidade de Drenagem 1,04
Ext. Méd. do Esc. Superficial 3,22 km
Sin. dos Cursos de água 21,27%
Tabela 4 – Resultados dos parâmetros morfométricos aplicados.
Fonte: Autoral.

3.1.Coeficiente de Compacidade (Kf) - De acordo com o valor encontrado pela aplicação do índice
de compacidade (1,725), o resultado obtido apresenta uma relevante distância de valores que são
considerados com alto grau de susceptibilidade a enchentes, uma vez que, considerando que quanto
menos este valor se aproxima de 1, menos compacta é a bacia, e, consequentemente, menor a
tendência a produzir escoamentos acelerados. Portanto, o resultado apresenta uma bacia com baixa
probabilidade a enchentes.
3.2. Índice de Circularidade (IC) - O valor encontrado para o índice de circularidade nesta bacia foi
de 0,331. Sendo mais um resultado que atesta para um nível de circularidade pouco desenvolvido
nesta bacia, consequentemente, representando um baixo grau de susceptibilidade a enchentes.
3.3. Fator de Forma(F) - O valor encontrado para o Fator de Forma foi de 0, 2562. Uma bacia com
um valor baixo, como o que foi encontrado nessa pesquisa, mostra uma menor probabilidade de

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 785


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enchente do que outra com mesmo tamanho, mas com fator de forma maior. Portanto, de acordo
com o fator de forma, a referida bacia apresenta baixa probabilidade e enchente.
3.4. Densidade de Drenagem (Dd) - O valor encontrado para a Densidade de Drenagem foi de 1,04
km/km². De acordo com Christofoletti (1970), a densidade de drenagem possui uma relação inversa
com o comprimento dos rios, assim, uma bacia que apresenta elevada densidade de drenagem, há
proporcionalmente, um decréscimo ao tamanho dos cursos de drenagem. Portanto, a situação
identificada na bacia em estudo exibe exatamente o oposto, apresentando, deste modo, um valor que
representa uma bacia com drenagem regular conforme a classificação proposta por Villela e Matos
(1975). Sendo a densidade de drenagem um importante índice que indica o grau de evolução de
uma bacia, a mesma ainda encontra-se em situação de desenvolvimento.
3.5. Extensão Média do Escoamento Superficial (l) - O valor encontrado na aplicação da extensão
média do escoamento superficial foi de 3,22/km, o que representa a estimação de distância que a
água percorre após precipitação até que encontre um curso de água mais próximo. Essa média
promove uma constatação de que se leva um tempo considerável para que a água precipitada atinja
a rede de drenagem presente na bacia.
3.6. Sinuosidade dos Cursos de Água (ls) - O valor encontrado na aplicação do índice de
Sinuosidade dos Cursos de Água foi de 21,27%, o que reflete de acordo com a classificação de
Mansikkaniemi (1970), uma média de sinuosidade reta dentre os canais que compõem a bacia do
Riacho Poções, seguindo a classificação da tabela 2.
3.7. Hipsometria - O mapa hipsométrico (Figura 9) forneceu valiosas informações das nuances
geomorfológicas presentes na bacia de estudo. A Bacia Hidrográfica do Riacho Poções não
apresenta grandes discrepâncias altimétricas que permitam condições propícias para um acelerado
escoamento. Além disso, suas cotas altimétricas de maior expressividade estão concentradas em seu
rio principal, fator este que é responsável por ser o principal canal da bacia.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 786


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Figura 9 – Hipsometria da Bacia Hidrográfica do Riacho Poções.


Fonte: Autoria própria.

3.8. Declividade - A declividade da área de estudo (Figura 10), apresentou expressivos valores
concentrados, principalmente, na porção da cabeceira do Riacho Poções. Esse fato é identificado
pelos baixos valores de declividade presentes na mesma, onde existem apenas duas porções, uma
pertencente à cabeceira da drenagem principal, e outro a algum tipo de anomalia local que provocou
valores anômalos aos identificados na bacia do Riacho Poções.

Figura 10 – Declividade da Bacia Hidrográfica do Riacho Poções.


Fonte: Autoria própria.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 787


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3.9. Densidade de Drenagem - A densidade de drenagem (Figura 11) representa os pontos com
maior susceptibilidade ao acúmulo de água proveniente do escoamento. Portanto, é verificado no
mapa que toda a área pertencente à bacia possui certa similaridade quanto à distribuição dos pontos
mais densos, o que pressupõe condições propícias ao acúmulo de drenagem em diversos pontos da
bacia.

Figura 11 – Densidade de Drenagem da Bacia Hidrográfica do Riacho Poções.


Fonte: Autoria própria.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos resultados obtidos, foi possível verificar o baixo grau de suscetibilidade de
enchentes na Bacia Hidrográfica do Riacho Poções. A aplicação dos índices morfométricos revelou
que a bacia possui um nível de circularidade pouco desenvolvido, baixo grau de comprimento, uma
densidade de drenagem média para regular, e declividade de pouca relevância, com exceção de
pequenos setores a oeste e norte que contêm valores significativos.
Nesta perspectiva, as características físicas da bacia do Riacho Poções a torna favorável para
receptar as águas provenientes da Transposição do Rio São Francisco, uma vez que a mesma não
apresenta grandes discrepâncias em suas propriedades físicas, o que diminui a probabilidade de
desastres, como aqueles relacionados a possíveis enchentes.

5. REFERÊNCIAS

ANTONELI, V; THOMAZ, E.L. Caracterização do meio físico da bacia do Arroio Boa Vista,
Guamiranga-PR. Rev. Caminhos da Geografia, Uberlândia, v.8, n.21, p46-58, jun. 2007.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 788


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

BOTELHO, R. G. M.; SILVA, A. S. da. Bacia Hidrográfica e Qualidade Ambiental. In: VITTE, A.
C.; Guerra, A. J. T. Reflexões Sobre a Geografia Física no Brasil. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 2004.

CARDOSO, C. A; DIAS, H.C.T.; SOARES, C.P.B. & MARTINS, S.V. Caracterização


Morfométrica da Bacia Hidrográfica do Rio Debossan, Nova Friburgo, RJ. Revista Árvore 30
(2): 241-248, 2006.

CHRISTOFOLETTI, A. Análise morfométrica das bacias hidrográficas do Planalto de Poços de


Caldas (MG). (1970). Tese de Livre Docência. Instituto de Geociências e Ciências Exatas,
Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 1970.

CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia. 2. ed. Edgard Blucher, São Paulo, 1980.

EMBRAPA. Classificação de Solos do Estado de São Paulo. 1999.

ETCHEBEHERE, M. L. C.; SAAD, A. R.; FÚLFARO, V. J.; PERINOTTO, A. J. J. Aplicação do


Índice Relação Declividade-Extensão - RDE na Bacia do Rio do Peixe (SP) para Detecção de
Deformações Neotectônicas. Geologia, USP Série Científica, v. 4, n. 2, pp. 43-56, 2004.

FREITAS, R. O. Textura de drenagem e sua aplicação geomorfológica. Boletim Paulista de


Geografia. São Paulo, v. 11, p.53-57, 1952.

HORTON, R. E. Erosional development of streams and their drainage basins: a hydrophysical


approach to quantitative morphology. Geol Soe. Am. Bull., v.56, n.3, p.275-370, 1945.

JORGE e UEHARA. Águas da superfície. In Oliveira, A.M.S e Brito, S.N.A orgs. Geologia de
Engenharia. São Paulo. ABGE. 1998.

MANSIKKANIEMI, H. The sinuosity of rivers in northern Finland. Publicationes Instituti


Geographici. Universitatis Turkuensis, 52, 16-32. 1970.

ROCHA, J. S. M. Manual de Projetos Ambientais. 1 ed. Santa Maria: Imprensa Universitária, 446p.
1997.

STRAHLER, A. N. Quantitative analysis of watershed geomorphology. New Halen: Transactions:


American Geophysical Union. 38. 913-920. 1957.

VILLELA, S. M. e MATTOS, A. Hidrologia Aplicada. Editora Mc Graw Hill, São Paulo 245p,
1975.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 789


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

MONITORAMENTO DO USO DO SOLO E DE VARIÁVEIS LIMNOLÓGICAS COMO


SUPORTE PARA PLANEJAMENTO E GESTÃO AMBIENTAL

Wanderley de Jesus SOUZA


Doutor em Ciências, Professor Adjunto da UFSB
wjsouzaufba@gmail.com
Nayara Silva SOUZA
Mestra em Ciências Ambientais, Professora EBTT do IFBaiano
nayara.souza@teixeira.ifbaiano.edu.br

RESUMO
Com este trabalho foram analisadas as influências do uso e ocupação do solo nos recursos hídricos
da bacia do rio das Fêmeas, com base em parâmetros quantitativos e qualitativos da água,entre os
anos de 2008 a 2011.Para determinação dos usos eocupaçõesutilizaram-se a classificação
supervisionada de imagens de satélite. Estatística descritiva de parâmetros de qualidade da água e
correlação de Pearson entre os usos e ocupações do solo e os parâmetros qualitativos foram
utilizados. Verificou-se que a maior parte da bacia esteve ocupada com atividades agrícolas. As
concentrações médias deorganofosforados e carbonatos observadosforam superiores ao estabelecido
pelalegislação. Ademais, as concentrações de carbono orgânico total também apresentaram valores
altos conforme a literatura.Alguns elementos químicos, normalmente utilizadosem áreas
agrícolas,apresentaramfraca correlação com o uso agrícola do solo, enquanto se obteve correlação
forte entre sólidos presentes na águae os usos e ocupações do solo, excetopara áreas irrigadas.No
período de estudo, aregiãoesteve com a maior porção ocupada com atividades agrícolas em
crescimento. A variação da superfície com solo exposto, da área sem cultura e da zona ripária
influenciou na qualidade dos recursos hídricos, devendo ser dispensada especial atenção para um
programa de preservação e conservação do solo, principalmente na área de cabeceira da bacia.
Palavras-chave: qualidade da água, ocupação do solo, correlação estatística gestão ambiental.
ABSTRACT
This work aimed to analyze the influences of the land use and occupation on water resources of
Fêmeas river basin, based on the quantitative and qualitative parameters of water from 2008 to
2011. Thesoil uses and occupationswere obtained through satellite images using supervised
classification. Descriptive statistic of water quality parameters and the Pearson correlation analysis
between the land uses and water qualitative parameters were used. Organophosphates and
carbonates concentrations observedswere higher than those established on the legislation. In
addition, total organic carbon and alkalinity concentrations also presented high values according to
the literature. Some chemical elements normally used in thefarmwere presentedpoor correlation
with land uses and occupations, while solids in the water concentration showed a strong correlation
with the land uses and occupations, exception with irrigated areas. In thisresearch, the basin
presented an expansion on the agricultural and irrigated area. The surface exposed soil, uncultivated
area and riparian zone were influenced on the water resources quality. Exceptional attention should
be given to a soil conservation service program, mainly at the upper portion of the basin.
Key words: water quality, soil occupation, statistical correlation, environmental management

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 790


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INTRODUÇÃO

A bacia hidrográfica é a principal região de estudo sobre planejamento e gestão ambiental.


Nela, asdistintas fases do ciclo hidrolóticopodem ser afetadas conforme seja o uso e aocupação do
solo. Todavia, as modificações desordenadas na bacia irão refletir na quantidade e na qualidade dos
recursos hídricos. Conforme Rocha (2010) as forma de uso do solo e da água subterrânea, bem
como a construção de grandes barramentos tem contribuído para alterações no regime dos rios
Impactos negativos, tais como problemas de alagamento, salinização dos solos e poluição
por fertilizantes e pesticidas, ocorrem devido ao manejo inadequados e à falta de conservacionismo
e implicam em perdas significativas, de solo, matéria orgânica, nutrientes e biodiversidade.Para De
Gênova Campos et al. (2011) os usos do solo exercem influência no escoamento superficial e no
aporte de sedimentos no leito dos cursos d‘água, podendo alterar a qualidade ambiental, com base
nisso, os autores verificaram a influência do uso e ocupação do solo sobre quatro córregos na região
de Caarapó-MS, e constataram que as áreas ocupadas por pastagens e culturas anuais apresentaram
queda na qualidade da água após as chuvas em áreas sem preservação. Já Vanzelaet al. (2010) em
um estudo no córrego Três Barras-SP, perceberam que as áreas habitadas, agricultadas e as matas
degradadas, reduziram a disponibilidade e a qualidade da água da sub-bacia, enquanto que as áreas
ocupadas por matas e pastagens favoreceram a disponibilidade e a qualidade da água.
A qualidade da água pode ser afetada por fatores naturais e antrópicos. Portanto, os
ecossistemas aquáticos estão ameaçados pela introdução de diversos tipos de poluentes, os quais
podem chegar aos corpos hídricos por fontes difusas de difícil identificação, como, por exemplo,
águas provenientes de escoamento urbano, plantações agrícolas etc, (BARRY e FIELD, 2014) ou
pontuais de mais fácil identificação.Cada tipo de uso da água tem seus critérios de qualidade
específicos, determinados de acordo com a necessidade de cada região, derivando assim legislações
específicas. No Brasil atualmente é comum o uso de regulamentações conforme as indicações pela
Resolução Conama 357 (2005), Portaria nº 2914 (2011) do Ministério da Saúde, Cetesb(2014) e
indicações da literatura quando não houver um parâmetro definido na legislação.
Na bacia do rio das Fêmeas encontram-se múltiplas atividades, desde pequenos a grandes
agropecuraristas e geração de energia elétrica. Na região as culturas agrícolas de maior destaque são
a soja, algodão, café e milho, visto que São Desidério é um dos municípios com maior produção de
algodão e soja do Brasil. Estas atividades agrícolassão conduzidascom uso de maquinaria agrícola,
adoção da irrigação com grandes vazões e aplicação de fertilizantes químicos.
Objetivou-se apresentar neste trabalho o monitoramento quantitativo e qualitativo dos
recursos hídricos, e as influências ocasionadas pelo uso e ocupação do solo na bacia hidrográfica do
Rio das Fêmeas como suporte para análise, planejamento e gestão ambiental da Bacia.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 791


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METODOLOGIA

ÁREA DE ESTUDO E COLETA DE DADOS

A pesquisa foi desenvolvida na bacia hidrográfica do Rio das Fêmeas, oeste do Estado da
Bahia, sendo um dos principais rios integrantes do Rio Grande, afluente do Rio São Francisco.
Na Figura 1 apresenta-se a divisão da área de estudo em quatro áreas de contribuição a
localização dos pontos de coleta do posto fluviométrico e das demais estruturas.

Figura 1. Área de estudocom as subdivisões das áreas de contribuiçãoe demais estruturas.

ANÁLISES FISIOGRÁFICAS E QUALITATIVAS

Foram computadas as características fisiográficasdas áreas de contribuição à montante dos


pontos de coletautilizando o software Arcgis, bem como as ocupações principais. Para determinação
da drenagem da bacia utilizou-se das cartas topográficas com escala de 1:100.000, vetorizadas pela
SEI (2008). A partir da rede de drenagem procedeu-se o ordenamento dos cursos d‘águabaseando-
se na classificação de Strahler (1952) e o cálculo da densidade de drenagem.
Os usos do solo foram obtidos pelo software Arcgis, pela classificação supervisionada de
imagens do satélite Landsat-5 sensor TM em 24/07/2008 e 15/07/2012 eimagens do satélite IRS-P6
do sensor LISS-III em 15/08/2012,disponibilizadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE).As classes de uso e ocupação do solo foram: Área agrícola sem cultura (AASC), Vegetação

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 792


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densa (VD), Vegetação esparsa (VE); Solo exposto (SE), Área agrícola irrigada (AAI), Zona ripária
com vegetação (ZRV). A junção de mais de umaclasse gerou as classes alteração antrópica
(AASC+SE+AAI); e Área natural (VD+VE+ZRV).Utilizou-se o classificadorMaxVer,recomendado
para classificação digital de imagens (MENESES & ALMEIDA, 2012).
Os dados qualitativos foram coletados semestralenteem 2008, 2011 e 2012 em 12 pontos e
em um posto fluviométrico de responsabilidade do Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos
da Bahia. As análises foram:cálcio (CA), cloreto (CL), potássio (K), sódio (Na), turbidez (TD),
sólidos totais dissolvidos (SD), cor verdadeira (CV), carbono orgânico total (COT), clorofila ―a‖
(CFa), compostos organofosforados e carbamatos totais (COP), demanda bioquímica de oxigênio
em 5 dias a 20°c (DBO), nitrato (NI), bactérias heterotróficas (BH) e coliformes termotolerantes
(CTT).Os parâmetros qualitativos foram classificados conforme a Resolução Conama 357 (2005)
para águas de classe 2 e avaliados conforme outras literaturas.

AVALIAÇÃO DA RESPOSTA HIDROLÓGIA DA BACIA

A resposta hidrológica da bacia foi analisada no mesmo período de avaliação qualitativa.


Utilizou-se a estação Derocal(12°24‘38‖S e 45°07‘20‖ O). A vazão foi obtida pelo sítio do
Hidroweb, da Agencia Nacional de Águas e analisados para vazão específica. Para as variáveis
qualitativas e quantitativas estimaram-se o erro padrão da média, valores médios e máximos.
Também foi determinada a correlação ―r‖de Pearson dos parâmetros qualitativos com o uso e
ocupação do solo, conforme metodologia adotada por Hernandez (2013). Para Helena et al.
(2000),―r‖ superior a 0,5, expressa uma forte correlação entre as variáveis limnológicas e valores
entre 0,3 e 0,49, expressam uma correlação moderada (Cohen, 1988). Por fim, fez-se uma análise de
regressão simples com os dados de vazão específica ao longo do tempo para análise de tendência.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Tabela 1 se apresenta as principais características fisiográficas da região. Pela Tabela 1, a


área 4 é a maior, seguida das áreas 1, 2 e 3. Por outro lado, as declividades médias são mais
acentuadas nas áreas 1, 2 e 3. Embora a área 4 tenha maior rede de drenagem, a densidade de
drenagem é similar em todas as áreas .Pelo coeficiente de compacidade e índice de circularidade as
áreas da bacia não apresentam riscos de enchentes.A ocupação principal na área é agricultura.

Tabela 1. Características fisiográficas da área de estudo para as áreas de contribuição 1, 2, 3 e 4.


Áreas de contribuição
Características fisiográficas
1 2 3 4 Bacia
2
Área de drenagem (km ) 114,54 19,90 14,97 6.270,76 6.420,17
Coeficiente de compacidade 1,37 1,44 2,07 2,12 2,23
Índice de circularidade 0,55 0,47 0,23 0,22 0,20

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Declividademédia (%) 5,69 7,33 4,21 1,71 1,83


Declividademáxima (%) 65,87 58,47 39,57 43,71 65,87
Somatório de comprimento dos rios (km) 1,56 3,78 1,09 1.192,35 1.198,78
Densidade de drenagem (km km-2) 0,14 0,19 0,17 0,19 0,19
Ordem do curso d´água 4ª 4ª 4ª 3ª 4ª
Ocupação principal AF PCH PCH AGC AG
Agricultura familiar (AF); Pequena central hidrelétrica (PCH); Agricultura comercial (AGC); Agricultura (AG).

Nas Figuras de 2 a 6 estão apresentadas as variações espaço-temporais dos usos e ocupações


do solo na bacia e nas áreas de contribuição 1, 2, 3 e 4.Na área1os usos e ocupaçõespermaneceram
aproximadamente iguais. A área antropizadadeveu-se, devido a pequenas propriedades, com
atividades agropecuárias para subsistência proporcionalmente inferior ao restanteda bacia. Nas
áreas de contribuição 2 e 3a vegetação densa diminuiu e a vegetação esparsa e solo exposto
aumentaram enquanto as áreas agrícolas foraminalteradas significativamente. De 2011 para 2012 a
zona ripária com vegetação diminuiu. As alterações antrópicas foram maiorena área de cabeceira.
Por outro lado houve aumento da vegetação rala e redução da vegetação densa e da zona ripária
com vegetação nas áreas 2 e 3,devido, principalmente, à construção das estruturas da PCH, uma
vez que a partir de 2008 se iniciou a construção mesma. Após a construção, houve investimento na
recuperação, o que normalmente é exigido pelo órgão ambiental responsável.
Na área de contribuição 4 as atividades antrópicas tenderam a aumentar, enquanto a
condição natural diminuiu. Nesse trecho existem sistemas de irrigação do tipo pivô-central, onde, de
acordo com Spagnolo (2011), são geralmente cultivados café, feijão, mamão, como também, soja e
milho para revenda de sementes, podendo ter mais de uma colheita por ano. A área 4éconsiderada
como polo agrícola com uma população de aproximadamente 8.500 habitantes (PREFEITURA DE
SÃO DESIDÉRIO, 2016). Pela Figura 6 nota-se que as atividades antrópicas aumentaram ao longo
do tempo, com destaques para área agrícola sem cultura e vegetação esparsa, na totalidade da bacia.

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0,8 0,8
cobertura (%)

cobertura (%)
Variação da

Variação da
0,6 0,6
0,4 0,4
0,2 0,2
0,0 0,0
2008 2011 2012 2008 2011 2012
Período de avaliação Período de avaliação 2

Figura 2. Variação do uso e ocupação do solo na área 1. Figura 3. Variação do uso e ocupação do solo na área 2
0,8 80,0
cobertura (%)

cobertura (%)
Variação da

Variação da
0,6 60,0
0,4 40,0
0,2 20,0
0,0 0,0
2008 2011 2012 2008 2011 2012
Período de avaliação Período de avaliação

Figura 4. Variação do uso e ocupação do solo na área 3 Figura 5. Variação do uso e ocupação do solo na área 4.
80,0
cobertura (%)
Variação da

60,0
40,0
20,0
0,0
2008 2011 2012
Período de avaliação

Figura 6. Variação do uso e ocupação do solo área integral da bacia

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 795


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Na Tabela 2 estão apresentados os resultados das análises qualitativas da água, no período


março 2008 a novembro 2012 e na Tabela 3 se encontram aa Correlações entre o tipo de uso e
ocupação do solo com os parâmetros de qualidade da água.

Tabela 2. Análise física, química e biológica da água nas áreas de contribuição da bacia.
Parâmetros Área1 Área2 Área3 Área4 Bacia
̅ ̅ 7,67±2,37 9,62±3,27 7,96±2,53 6,75±2,14 6,95±0,71
CA
Máx. 15,20 18,30 15,10 14,02 18,30
̅ ̅ 6,27±1,2 5,75±1,10 5,59±1,44 6,03±0,84 6,12±0,61
CL
Máx. 10,35 9,00 12,15 8,55 25,00
̅ ̅ 1,45±0,55 1,36±0,29 1,45±0,49 1,75±0,57 1,55±0,18
K
Máx. 4,55 2,58 3,81 4,10 6,66
̅ ̅ 8,69±2,51 10,65±3,50 9,92±3,38 10,88±4,02 8,52±0,87
NA
Máx. 22,00 28,10 21,60 26,90 28,10
̅ ̅ 1,57±0,66 3,71±2,27 2,32±1,35 5,38±2,20 18,36±14,34
TD
Máx. 7,30 11,69 9,25 11,69 814
̅ ̅ 5,39±3,12 3,14±0,41 3,42±0,56 8,14±3,21 8,67±1,53
SD
Máx. 33,60 4,33 5,33 19,25 68,00
̅ ̅ 42,50±13,63 44,45±17,57 42,50±18,53 40,70±19,10 38,20±4,45
CV
Máx. 96,00 104,00 119,00 104,00 156,00
̅ ̅ 2,67±1,18 2,20±0,1 1,98±0,68 2,27±0,88 2,94±0,62
COT
Máx. 8,64 5,50 4,12 5,50 32,843
̅ ̅ 1,45±1,05 0,76±0,30 0,82±0,29 0,76±0,31 1,24±0,22
CFa
Máx. 10,68 2,13 1,86 2,13 10,68
̅ ̅ 13,00±9,00 9,00±8,5 11,00±9,50 11,00±8,50 12,00±2,50
COP
Máx. 49,00 45,50 48,00 45,00 49,00
̅ ̅ 1,54±0,76 1,16±0,54 1,36±0,76 0,76±0,22 1,35±0,17
DBO
Máx. 4,60 3,10 4,90 1,80 4,90
̅ ̅ 0,02±0,01 0,01±0,01 0,02±0,01 0,01±0,01 0,01±0,01
NI
Máx. 0,12 0,01 0,04 0,01 0,12
̅ ̅ 333,9±126,1 224,8±39,7 255,3±92,1 282,0±12,0 298,0±36,0
BH
Máx. 944,0 391,0 624,0 848,0 1218,0
̅ ̅ 56,20±24,90 59,00±34,80 133,50±10 291,10±20 174,20±50
CTT
Máx. 220,00 220,00 700,00 940,00 1700,00
̅ – Média amostral; ̅ – Erro Padrão da Média; NR- Não regulamentado para classe 2; Valor máximo
permitido conforme Conama 357 (2005): ALC (mg L-1) - NR; CA (mg L-1)- NR; CL(mg L-1) - 250; K (mg L-
1
) - NR; NA(mg L-1) - NR; TD(UNT) - 100; SD(mg L-1) - 500; SS(mg L-1) - NR; CV(mg Pt L-) - 75; COT
(mg L-1) - NR; CFa(mg L-1) - 30; COP(mg L-1) - 20; DBO(mg L-1) - 5; NI (mg L-1) - 10; BH (UFC mL-1) -
NR; CTT(NMP 100 mL-1) - 1.000.

Tabela 3. Correlaçãoentre os usos e ocupações do solo e os parâmetros de qualidade da água


Parâmetros Uso e ocupação do solo
AASC VD VE SE AAI ZRV AASC+SE VD+VE
CA -0,16 -0,17 -0,22 -0,06 0,03 -0,09 -0,12
+AAI -0,18
+ZRV
CL 0,29 0,27 0,26 0,58 0,18 0,55 0,33 0,32
K 0,37 0,36 0,29 0,49 0,37 0,49 0,41 0,27
NA -0,02 -0,03 -0,04 0,25 -0,02 0,22 0,01 0,00
TD 0,46 0,45 0,52 0,93 0,04 0,89 0,51 0,55
SD 0,64 0,63 0,57 0,73 0,50 0,74 0,68 0,65
CV -0,12 -0,12 -0,07 0,19 -0,25 0,15 -0,10 -0,07
COT 0,31 0,30 0,45 0,73 -0,22 0,69 0,33 0,42

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 786


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CFa -0,03 -0,03 -0,08 0,06 0,09 0,04 -0,01 -0,03


COP 0,45 0,45 0,31 0,4 0,58 0,42 0,50 0,42
DBO -0,23 -0,23 -0,22 -0,31 -0,11 -0,31 -0,14 -0,25
NI 0,09 0,08 0,08 0,40 0,03 0,36 0,13 0,13
BH 0,24 0,23 0,24 0,61 0,06 0,57 0,18 0,29
CTT 0,53 0,52 0,57 0,93 0,13 0,90 0,58 0,61
Área agrícola sem cultura (AASC); Vegetação densa (VD); Vegetação esparsa (VE); Solo exposto (SE);
Área agrícola irrigada(AAI); Zona ripária com vegetação (ZRV); Alteração antrópica (AASC+SE+AAI);
Área natural (VD+VE+ZRV).

Os valores médios de cálcio foram similares entre as áreas de contribuição, não estando
regulamentado pela Conama 357 (2005).O cálcio podevariar quando o solo for ocupado com
pastagens e houver constantes revolvimentos do solo. Para irrigação localizada, a concentração de
cálcio na água será preocupante para pHacima de 7,5 (NAKAYAMA E BUCKS,1986). Neste
trabalho o cálcio apresentou fraca correlação negativa com a variação de uso e cobertura do solo.
Os valores de cloreto apresentaram correlação forte para solo exposto e zona ripária e fraca
correlação positiva para os demais usos. Para zona ripária a vegetação foi do tipo rala, o que de
certa forma contribuiu para a correlação positiva. Tanto os valores médios, quanto os máximos de
cloreto estiveram muito aquém daquele definido como máximo permitido pela legislação. De
acordo como Rocha, Da Silva & Freitas (2014) a dureza da água se deve à presença de minerais,
sobremaneira cálcio e magnésio, normalmente associados a carbonatos, sulfatos e cloretos.Pela
Cetesb (2014) as concentrações de cloreto em águas naturais são menores que 10 mg L-1, sendo que
valores da ordem de grandeza de 100 e25.000 mg L-1são preocupatntes. Observou-se que as
concentrações de potássio estiveram abaixo de 10 mg L-1, com fraca a moderada correlação para os
usos e ocupações do solo. Conforme Borinet al. (2014), os solos do cerrado apresentam
naturalmente baixa reserva de potássio, sendo necessária sua adição por meio da adubação.
Em relação ao sódio, de acordo comCetesb(2014) as concentrações de sódio nas águas
superficiais podem variar consideravelmente, em função das condições locais e os valores
encontrados em águas superficiais podem estender-se de1 mg L-1 ou menos até 10 mg L-1. Assim, os
valores de sódio não indicaram situação de preocupação qualitativa. Além disso, notou-se uma
correlação fraca e negativa deste parâmetro químico com as variações de uso do solo.
O parâmetro médio de turbidez esteve abaixo do máximo permitido (100 UNT) estabelecido
na Resolução do Conama 357 (2005). Os valores máximos estiveram acima do permitido
eocorreram na cabeceira, área 4. Na análise exploratória dos dados, o valor máximo foi verificado
no período de construção de estruturas hidráulicas presentes na bacia, e pode ter sido devido ao
arraste de material sólido da superfície do solo para o rio.A turbidez apresentou correlação
moderadacomáreas agrícolas sem cultura e vegetação densa; correlação forte com vegetação
esparsa, solo exposto e zona ripária; e correlação fraca com a área agrícola irrigada.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 787


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Ossólidos dissolvidosestiveram abaixo máximo permitido na bacia (500 mg L-1) com valores
similares nas áreas de contribuição, tendo permanecidofortemente correlacionado com os diferentes
usos e ocupações do solo. Os valores médios de cor verdadeira estiveram abaixo do máximo
permitido, no entanto valores máximos ocorreram acima do permitido, podendo estar associado à
turbidez da água, conforme trabalho realizado por Rocha, Da Silva & Freitas (2014). Por outro lado,
os dados de turbidez apresentaram fraca relação negativa com a variação dos usos e ocupações do
solo.
Conforme Libânioet al. (2010) em águas superficiais o teor de carbono orgânico total varia
de 1 a 20 mg L-1, elevando-se para até1.000 mg L-1 nas águas residuárias.Verificou-se na bacia que
as médias registradas não ultrapassaram os valores de referência(1 a 20 mg L-1), mas o valor
máximo esteve um pouco acima. Zonas ripárias e solo exposto apresentaram relação moderada com
a variação do carbono orgânico total. Os resultados de demanda bioquímica de oxigênio estiveram
abaixo do permitido pela Resolução Conama 357 (2005) e não apresentaram correlação com a
variação dos usos e das ocupações do solo.
Os valores de clorofila ―a‖ estiveram abaixo do permitido, conforme a Resolução Conama
357 (2005), com fraca relação com as condições de usos e coberturas do solo. Os resultados de
compostos organofosforados e carbonatos foram superiores ao estabelecido pela Resolução Conama
357 (2005), com correlação moderada aforte com o aumento da condição antrópica do solo, estando
de acordo com os resultados obtidos por Marques et al. (2007).ParaDellamatriceet al. (2014) as
maiores rotas de dispersão dos pesticidas na água são o escoamento superficial e a drenagem,
podendo ser acelerado pela ausência de cobertura vegetal durante o período de chuvas.
Os valores de nitrato ficaram abaixo do máximo permitido, com fraca correlação para os
usos e ocupações do solo.Para Gonçalves et al. (2005) concentrações acima de 0,2 mg L-1
favorecem a proliferação de plantas aquáticas e, se a água for represada, poder-se-á reduzir o valor
de oxigênio dissolvido.A Portaria nº 2914(2011) do Ministério da Saúde faz menção àbactérias
heterotróficas para avaliação da integridade do sistema de distribuição (reservatório e rede) de água
para consumo humano, recomendando-se o limite de 500 UFC mL-1. Os valores máximos
ultrapassaram esta referência e os médios estiveram abaixo, com correlação forte com solo exposto
e zona ripária e fraca correlação com os demais usos e ocupações do solo. Para Reche et al. (2010)
o aumento de bactérias heterotróficas na água pode indicar poluição orgânica ambiental.
Os resultados médios de coliformes termotolerantes estiveram abaixo do permitido, no
entanto houve valores máximos acima do permitido. Estes resultados podem ser atribuídos a fontes
como comunidades ribeirinhas com atividades agropecuárias próximas ao rio, além ausência
defossas sépticas em algumas residências. Houve correlação forte com zona ripária, área agrícola
sem cultura, vegetação densa e esparsa, solo exposto e correlação fraca com área agrícola irrigada.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 788


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Na Figura 7 se apresenta a resposta hidrológica da bacia com base nas vazões específicas (q)
médias, mínimas e máximas anuais para o período de maio de 2008 a novembro de 2011.
Observou-se que as vazões específicas (q) mínimas apresentaram tendência de redução e as vazões
médias e máximas tenderam para aumento. Estes resultados explicaram o fato de vários parâmetros
qualitativos terem apresentados fortes correlações com o solo exposto. Vazões máximas
aumentando indicaram carreamento de solo e de elementos químicos nas épocas chuvosas. Neste
caso, o papel de preservação da bacia, principalmente na cabeceira e próximo ao rio pode ser uma
técnica extremamente importante. Além disso, com a zona ripária tendo se mantido
aproximadamente constante, o aumento das vazões máximas, contribuiu para a correlação forte de
vários parâmetros qualitativos observados para este tipo de ocupação do solo.

14,0 qmáx = 1.014p - 2026.1


Vazão específica q

12,0 R² = 0.78
(L.s-1.km-2)

10,0 qmed = 0.063p - 120.4


8,0 R² = 0.069
6,0
4,0
2,0 qmin= - 0.105p + 215.0
0,0 R² = 0.28
2007 2008 2009 2010 2011 2012
Período de avaliação das vazões - p (anos)
vazão específica média vazão específica máxima
vazão específica mínima Linear (vazão específica média )
Linear (vazão específica máxima ) Linear (vazão específica mínima )
Figura 7. Resposta hidrológica da bacia para o período de estudo.

Pelas características da baciaque foram apresentadas na Tabela 3, caso ocorresse


conservação e manejo adequado da bacia, a vazão poderia ser mais bem distribuída a fim de se
evitar picos, favorecendo a infiltração e disponibilidade da água na bacia. Vanzelaet al.(2010)
explicam que a presença de mata ciliar, além de gerar benefícios qualitativos e quantitativos
também favorece o planejamento hidroagrícola e ambiental.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

I. A área de estudo apresentou uma expansão da área agrícola, inclusive a irrigada, entre os anos
de 2008 e 2012.
II. O uso e a ocupação do tipo antrópica pode ter contribuido para o incremento das vazões
específicas máximas e médias anuais e redução da vazão específica mínima no rio ao longo
do tempo de estudo.

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III. Ficou evidente que a ação antrópica ao longo do tempo deste estudo influenciou de forma
moderada a forte em alguns dos parâmetros qualitativos na bacia (potássio, turbidez, sólidos
dissolvidos, compostos organofosforados, coliformes termotolerantes). Tais influências foram
atribuídas, principalmente, às superfícies com solo exposto, área agrícola sem cultura e à
cobertura da zona ripária. Embora esta influência, considerando a maioria dos parâmetros,
ainda não tenha causado danos ambientais que contrariam a legislação, as correlações
positivas são indícios de preocupação e sugerem um monitoramento contínuo dos parâmetros
qualitativos, bem como uma análise sobre as técnicas de conservação do solo e da água na
bacia. Além disso, atenção especial deverá ser dispensada para a forma de condução das
atividades ribeirinhas.
IV. Embora as áreas de contribuição da parte inferior da bacia tenham apresentado maior
declividade, a área de cabeceira mereceu especial atenção quanto a manejo e gestão dos
recursos hídricos, por ser a maior dentre as demais e por apresentar o maior percentual de
alteração antrópica e uso consuntivo da água na bacia. Neste caso especial atenção deverá ser
dada à forma de gestão organizadae descentralizadados recursos hídricos na bacia.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

FLUTUABILIDADE DOS ELEMENTOS METEOROLÓGICOS NA LAGOA DE


PARNAGUA – PI, BRASIL

Marcelo KOZMHINSKY
Mestrando em Engenharia Ambiental, UFRPE
marcelok1963@gmail.com
Raimundo Mainar de Medeiros
Dr. em meteorologia e Pesquisador da Universidade Federal Rural de Pernambuco, UFRPE, PE, Brasil
mainarmedeiros@gmail.com
Romildo Morant de Holanda
Prof. Dr. Universidade Federal Rural de Pernambuco, UFRPE, PE, Brasil
romildomorant@gmail.com
Vicente de Paulo Silva
Prof. Dr. Universidade Federal Rural de Pernambuco, UFRPE, PE, Brasil
vicenteufrpe@yahoo.com.br

RESUMO
O município de Parnaguá pertencente à área da bacia hidrográfica do Rio Uruçuí Preto (BHRUP) sofre
grandes impactos ambientais em desmatamento de extensas áreas para as atividades agrícolas, minerais
e de pastoris, além das causadas pelos fenômenos naturais como voçorocas e desertificações exigindo
medidas para atenuação dos referidos efeitos da degradação, e sua identificação e informação das
causas. Analisou-se a climatologia para a área estudada, onde se destaca a variabilidade espaço temporal
e os principais elementos provocadores e/ou inibidores das precipitações, e assim como estes elementos
afetam os aspectos socioeconômicos, meio urbano e ambiental, os sistemas produtivos na agricultura,
bovinocultura, ovinocaprinocultura, apicultura e na fruticultura associada ao cultivo de leguminosa, na
geração de energia, turismo e outros setores. Verificou-se que a poluição hídrica, a distribuição
pluviométrica, o uso e o manejo do solo na agropecuária interferem na pesca, além de ocorrer deposição
de sedimentos e assoreamentos nos córregos, rios, lagos e lagoas, antropização das paisagens, alterações
dos microclimas, impermeabilização do solo, erosão, desertificação, queimadas e redução à
biodiversidade. As informações meteorológicas e climatológicas são úteis em vários aspectos dos
setores agropecuários, geração de energia, socioeconômico, ambiental e da fruticultura. Destacando-se
que a variabilidade pluviométrica poderá interferir na produção de diversas culturas e na biodiversidade
local e regional. As ações humanas estão dependentemente interligadas com os aspectos ambientais no
uso do solo, na agropecuária, os quais comprovadamente poluem o recurso hídrico local e regional.
Palavras – Chaves: Anomalias eventos extremos, degradação ambiental e poluição hídrica.

ABSTRACT
The city of Parnagua belonging to the area of river basin Uruçuí Preto (BHRUP) suffers major
environmental impacts on deforestation of large areas for agricultural, mineral and pastoral, beyond
those caused by natural phenomena such as gullies and desertification demanding measures for
mitigation effects of such degradation, and identification and reporting of causes. We analyzed the
weather for the study area, which includes the timeline variability and the main provocative elements
and/or inhibitors of rainfall, and as these elements affect the socioeconomic, urban and environmental,
productive systems in agriculture, cattle, sheep and goat farming, beekeeping and fruit production
associated with legumes growing in power generation, tourism and other sectors. It was found that water
pollution, rainfall distribution, use and soil management in agriculture interfere with fishing, as well as
occurring sediment deposition and silting in streams, rivers, lakes and ponds, antropização landscapes,

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changes in microclimates, soil sealing, erosion, desertification, fires and reducing biodiversity.
Meteorological and climatological information is useful in many aspects of the agricultural sectors,
power generation, socio-economic, environmental and horticulture. It is highlighting that the rainfall
variability can interfere with the production of various cultures and in local and regional biodiversity.
Human actions are dependently linked to the environmental aspects of land use in agriculture, which
proved pollute local and regional water resources.
Keywords: Anomalies in extreme events, environmental degradation and water pollution.

INTRODUÇÃO

O clima é formado por vários elementos: precipitação, temperatura e umidade do ar, vento
(intensidade e direção predominante) insolação e outros, onde é importante analisar a ação desses no
ambiente. A variabilidade é um dos elementos mais conhecidos da dinâmica climática, e o impacto
produzido por essa variabilidade, mesmo dentro do esperado pode ter reflexos significativos nas
atividades humanas. Porém vale ressaltar que as anomalias podem desestruturar tanto o sistema
ambiental, quanto o socioeconômico (COMDEPI, 2002).
As chuvas na área da Lagoa de Paranaguá ocorrem entre os meses de outubro a março, com o
trimestre mais chuvoso os meses de dezembro, janeiro e fevereiro, representando em torno de 65% dos
índices anual das chuvas (quando em épocas de período entre a normalidade), o período chuvoso
coincide com a época das penetrações ou das atividades das frentes frias mais intensas que atinge a área
estudada, outro fator que contribui para as atividades das chuvas são as formações dos Vórtices Ciclones
do Atlântico Sul quando do seu posicionamento adequado, a formação de Vórtices ciclônicos de ar
superior e o auxilio das contribuições locais e regionais em conformidade com Medeiros (2008).
Medeiros at. al (2013) analisaram a variabilidade climática da umidade relativa, temperatura
máxima do ar e precipitação na bacia hidrográfica do Rio Uruçuí Preto – PI, enfocando tais variações
como meio para compreender futuras mudanças. Utilizaram dados de temperatura máxima e umidade
relativa do ar e totais pluviométricos mensais e anuais no período de 1960 a 1990. Afirmam que as
temperaturas máximas anuais aumentaram durante o período analisado, podendo acarretar vários
problemas socioeconômicos, bem como, para a saúde humana. A partir dos dados, verificou-se que a
umidade relativa do ar está diminuindo ao longo da série estudada, fato que pode estar relacionado com
o aumento da temperatura e consequentemente com maior evaporação das águas. Sobre os totais
pluviométricos anuais, nota-se que os valores tem aumento gradativamente, sendo maior evaporação e
consequentemente maior precipitação.
Silva et al (2013) mostraram que o estado do Piauí tem condições climáticas diferenciadas, com
oscilação nos índices pluviométricos cuja origem é bastante individualizada, apresentando temperaturas
médias anuais relativamente variáveis. As precipitações pluviométricas apresentam variabilidade
espacial e temporal, mostrando dois regimes chuvosos: no sul do Estado chove de novembro a março;

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no centro e norte, a estação chuvosa tem inicio em dezembro, prolongando-se até maio. Os índices
pluviométricos variam entre 700 mm e 1.300 mm na região sul, entre 500 mm e 1.450 mm na região
central entre 800 mm e 1.680 mm no norte do Estado. Analisaram as variabilidades pluviométricas
municipais entre os diferentes regimes pluviométricos para o estado do Piauí (regiões Norte; Central e
Sul), e comprovaram que se têm áreas comuns de ocorrências de chuvas com os seus respectivos
sistemas provocadores e inibidores. Na região Norte os índices pluviométricos têm uma distribuição
mais regular que nas áreas Central e Sul, evidenciando os aspectos fisiográficos, relevo, fauna, flora e
distância do mar. Devido à grande variação na pluviometria ao longo dos anos, observaram que os
fenômenos de macro, meso e micro escalas são de grande importância para os regimes de chuvas do
estado do Piauí, os quais seguem tempo cronológico de suas atividades e duração.
Medeiros et al (2014) estimaram a evapotranspiração de referência mensal e anual sobre a bacia
hidrográfica do rio Uruçuí Preto – Piauí, pelo método empírico de Thornthwaite (1948), com base nas
equações de estimativa da temperatura média do ar, propostas por Lima et al (1998). Estimou-se a ETo
para os 49 locais da área referenciada, gerando-se planilhas de ETo mensais e anuais. Os valores de ETo
mensais variaram de 70,7 a 205,7 mm, evidenciando a variação na demanda evapotranspirativa dos
diversos locais da área estudada. O período de janeiro a julho apresentou os menores valores mensais de
ETo, enquanto de agosto a dezembro, os maiores valores. Esta tendência é um reflexo da variação
espacial da temperatura média o ar mensal na área de estudo.
Medeiros et al (2014) mostraram que o conhecimento do BHC é de suma importância no
gerenciamento de recursos hídricos. O método utilizado foi o balanço hídrico simplificado. Os dados
utilizados de precipitação pluvial e vazão diária do período de 2004 a 2011. Os altos valores de
evapotranspiração demonstram serem necessários significativos volumes de água para a manutenção
ambiental na BHRUP. Pelo balanço hídrico a evapotranspiração potencial média foi de 1.470,7 mm, o
que representa cerca de 62,14% das entradas na bacia, sendo ligeiramente maior que a vazão com 348,8
mm (28,9%). Portanto, mais de um terço dos recursos hídricos disponíveis na bacia são utilizados na
transpiração do entorno da BHRUP. Os anos com maiores índices pluviométricos e descarga líquida
ocorreram sobre influência do fenômeno La Niña.
Segundo Medeiros et al (2014) os elementos meteorológicos que interferem nas diferentes
atividades humanas, a direção e intensidade do vento certamente é o que menos foi estudado até o
momento. Por esta metodologia analisaram-se as direções predominantes do vento mensais sobre a
BHRUP. Representaram-se as direções predominantes do vento para a bacia e as referidas contribuições
predominantes para o período chuvoso e seco. Realizou-se um contador para calcular a frequência de
entrada do vento predominante para a área estudada. As direções predominantes com maiores
frequências de entrada foram: nordeste-sudeste com 19,0 vezes, leste-sudeste com 13,0 vezes e nordeste
com 5 vezes no entorno da bacia.

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Medeiros et al (2014) verificaram que o índice de anomalia de chuva pode ser utilizado como
ferramenta para o acompanhamento climático da BHRUP e para a regionalização, podendo também, ser
monitoramento e gerado prognósticos e diagnósticos da climatologia local. As chuvas nesta área
iniciam-se no mês de outubro com chuva de pré-estação e prolonga-se até o mês de abril, tendo como
trimestre mais chuvoso os meses de janeiro, fevereiro e março e os meses seco oscilam de julho a
setembro com variabilidade pluviométrica entre 0,0 a 11,9 mm, sendo estes índices pluviométricos
insignificantes para o runoff a agricultura. A partir dos critérios de classificações tomados com bases
nos desvios percentuais classificaram-se os meses e ano locais de extremamente chuvoso a
extremamente seco.
Medeiros et al (2015) mostraram que entre os elementos do clima, a precipitação é o que mais
influencia na produtividade agrícola especialmente nas regiões tropicais onde o regime de chuvas é
caracterizado por eventos de curta duração e alta intensidade. Utilizaram da série de 1960 a 1990. No
diagnóstico dos dados utilizaram dos totais mensais e anuais e das médias mensais e anuais do período
e dos valores máximos e mínimos absolutos. Os resultados demonstraram que os índices pluviométricos
mensais são variáveis na sua distribuição espacial e temporal ao longo dos anos. O quadrimestre
chuvoso são os meses de dezembro, janeiro, fevereiro e março com totais mensais médios oscilando
entre 149 a 175,9mm; os meses de maio a setembro, considerados secos seus índices fluem entre 1,2 a
22,4mm, apresentando média anual de 916 mm com 31 anos de observações; durante os 31 anos
estudados os totais anuais extremos de precipitação pluviométrica registrados nas fazendas Paus e
Cachoeiras, e os mínimos registrados nos municípios de Corrente e Palmeira do Piauí, estes extremos
são decorrentes dos fenômenos de larga escala atuante durante o período estudado.
Medeiros et al (2012), utilizaram-se da série de precipitação pluvial do município de Floriano,
PI, referente ao período de 1912 a 2010. Os dados foram agrupados utilizando-se a distribuição de
frequência, determinando-se em seguida às medidas de tendência central, dispersão e histogramas, com
distribuição de frequência, em dez intervalos de classes: 0-399, 400-499, 600-799, 800-999, 1000-1199,
1200-1399, 1400-1599, 1600-1799, 1800-1999 e maior que 2.000mm os quais foram determinadas as
frequências de ocorrência do número de anos em cada uma dessas classes, em cinco períodos distintos:
1912/1931; 1932/1951; 1952/1971; 1972/1991 e 1992/2010, em ciclos ordenados cronologicamente de
20 em 20 anos, sendo o último de dezenove anos, em intervalos de classes regulares de 100 mm. Os
resultados preliminares mostraram que na série de precipitação estudada tem-se trinta e sete anos com
chuvas abaixo da média, quinze anos com chuva entre a normalidade e quarenta e sete anos com chuvas
acima da média histórica. Demonstrou, portanto, que não houve indícios de diminuição de chuva nesta
localidade, embora existisse uma elevada variabilidade espacial e temporal na quantidade de chuva
observada de um ano para outro, e mesmo assim, podendo ser armazenadas os índices pluviométricos
mesmo que o ano seja abaixo da média climatológica da região.

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Medeiros et al (2010) mostraram o comportamento da precipitação, radiação solar, temperatura


e umidade relativa do ar, velocidade e direção do vento na Lagoa do Portinho no período de dezembro
de 2008 a agosto de 2009. Utilizaram-se dos dados da estação meteorológica automática operante da
referida área. Os resultados mostraram que a temperatura do ar média é de 26,7 oC, a máxima
temperatura do ar registrada foi de 28,2 °C e a mínima foi 13,2 °C. A umidade relativa é de 80,1%, e as
suas variações máximas e mínimas foi de 94,1% e 44,7%, respectivamente, enquanto a precipitação
média compreendida entre o estudad foi de 720 mm. Observou-se que a flutuação da umidade relativa
do ar acompanha a distribuição de precipitação, por que a precipitação é o processo de alimentação das
fontes naturais de vapor da água e umidade e que a temperatura do ar é um fator inversamente
proporcional a temperatura do ar (umidade alta temperatura baixa e vice-versa). A insolação total
recebida é bem distribuída durante o período estudado apresentando média de 1,4 MJ/mA2 e suas
oscilações máximas e mínimas oscilando entre 7,5 a 0,1 MJ/mA2. A velocidade média do vento é de 4,3
ms-1 e a direção predominante é de Este (E).
Com o objetivo de gerar informações para o setor dos recursos hídricos e enfocando as
possibilidades de ocorrências de eventos extremos nas anomalias das precipitações, gerando
informações para a agropecuária e ao setor socioambiental, propondo ações de manejos locais e regional
os quais deverão auxiliar aos divisores de tomada de ações e as autoridades competentes da área de
estudo.

MATERIAIS e MÉTODOS

Parnaguá localiza-se na microrregião da Chapada Extremo Sul Piauiense com coordenadas


geográficas na latitude de 10º13‘ sul e na longitude de 44º38‘ e 316 metros de altitude (Figura 1), com
área territorial é de 3.429,3 Km2 e população de 10.273 habitantes (IBGE, 2010). Figura 1. A lagoa
esta na sede municipal e tem forma triangular. Seu lençol d´água é mantido pelo riachos Frio, Mimoso e
Vereda ambos os riachos situados ao oeste o riacho Fresco localizado ao sul e o riacho fundo que
desemboca no Paraim a jusante da lagoa. Seu contorno é de 36,4 km com uma capacidade de
armazenamento de 70 milhões de m3.

Figura 1. Vista aérea do município e da Lagoa do Parnaguá. Fonte: Google Mapa.

A agricultura praticada no município é baseada na produção sazonal de arroz, feijão, milho,


mandioca e cana-de-açúcar.

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Os solos da região, provenientes da alteração de arenito, siltito, folhelho, calcário, quartzito,


gnaisse, conglomerado, sedimentos lateríticos, xisto e metaconglomerado, são espessos, jovens, com
influência do material subjacente, compreendendo latossolos amarelos, álicos ou distróficos, textura
média, associados com areias quartzosas e/ou podzólico vermelho-amarelo concrecionário, plíntico ou
não plíntico, fase cerrado tropical subcaducifólio, localmente mata de cocais (Jacomine et al., 1986). O
acidente morfológico predominante, na região em apreço, é a ampla superfície tabular reelaborada,
plana ou levemente ondulada, limitada por escarpas abruptas que podem atingir 600 m, exibindo relevo
com zonas rebaixadas e dissecadas (Jacomine et al., 1986).
Os tipos climáticos predominante no estudo são: para o cenário seco predomina o clima árido;
no cenário regular a predominância do clima é do tipo semiárido, e no cenário chuvoso e médio
predomina o clima Subúmido seco. De acordo com a classificação de Köppen o clima da área de estudo
é do tipo Aw‘, tropical quente e úmido, com chuvas no verão e seca no inverno. As chuvas são formadas
pelas penetrações dos vestígios das frentes frias, as contribuições das Zonas de Convergência do
Atlântico Sul e os ventos alísios de sudeste, a contribuição da formação do vórtice ciclônico de altos
níveis a troca de calor e os efeitos locais.
O estudo do comportamento temporal espacial da pluviosidade diária e mensal utilizados neste
trabalho foi adquirido da SUDENE, EMATERPI e INMET, onde se complementou os referenciados
dados para a área de estudo.
Para as plotagens dos dados e elaboração dos gráficos e tabelas utilizou-se do software em
planilhas eletrônicas. Utilizaram dos dados observados nos horários sinóticos e aplicaram-se algumas
estatísticas como média, desvio padrão, cálculos dos valores máximos e mínimos absolutos e coeficiente
de variância com a finalidade de obterem-se os resultados.
A evaporação e evapotranspiração foram obtidas através do Balanço Hídrico Climatológico
realizado segundo a metodologia de Thornthwaite e Mather (1948, 1955) e Thornthwaite (1948), Para
tal, utilizou-se do software desenvolvido em planilhas eletrônicas por Medeiros (2014).
Os dados de temperaturas máximas, mínimas e médias foram estimados (por não existir estação
meteorológica) pelo software Estima_T, (Cavalcanti et al., 1994, 2006) estando disponível no site da
Unidade Acadêmica de Ciências Atmosféricas (UACA) da Universidade Federal de Campina Grande
(UFCG) http://www.dca.ufcg.edu.br/download/estimat.htm. A amplitude térmica calculou-se pela
diferença entre as temperaturas máximas e mínimas após serem geradas pelo software Estima_T.
Utilizou-se dos dados diários de umidade relativa do ar convencional e interpolados das
estações que operam no Estado. Foram escolhidas as estações com 10 ou mais anos de observações. Tal
critério foi adotado por se considerar a umidade do ar de pouca variabilidade comparada à precipitação.
A partir destes critérios interpolaram-se os referidos dados para aos municípios circunvizinhos, levando-

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se em considerações a sua distância dos pontos originais. O período de dados estudados compreende a
série de 1960 a 2014.
Os valores de insolação foram estimados a partir do Atlas de irradiação do Brasil elaborado
pelo INMET (1998), levando-se em consideração o banco de figuras climatológicas do referido órgão e
sua complementação utilizando regressões com os devidos cuidados de checar os valores com a
climatologia.
A cobertura de nuvem foi estimada a partir das imagens de satélites realizaram-se também
interpolações para verificação da referida estimativa e a realização do teste de correlação entre os
valores estimados e os valores das normais climatológicas do INMET, (2009).
A intensidade do vento foi calculada através da escala Beaufort em ms-1, onde os técnicos do
EMATERPI municipais colaboram nesta estimativa, salientamos que não foram computadas as rajadas
de vento, que são muito frequentes durante o tempo. As direções predominantes dos ventos foram
estimadas pelos referidos técnicos levando em considerações os pontos cardeais.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Alguns fatores que contribuíram para a desinstabilização da lagoa podem ser visualizados nas
fotos abaixo e não necessitam de comentários, pois as próprias fotos já demonstram seus impactos.
Aproveitamos e agradecemos aos sítios e bloques que nos forneceram as referidas imagens.

Fonte: sítios e bloques disponível no município em estudo.

A figura 2 representa a distribuição da temperatura: máxima, média, mínima e amplitude


térmica para o município de Parnaguá e sua contribuição para a Lagoa local. A temperatura máxima
oscila entre 31,5°C no mês de março a 37,5°C em setembro. A sua taxa anual é de 34°C. Seu trimestre
quente ocorre entre julho a setembro e sua flutuação é de 35,7 a 37,5°C. O trimestre frio oscila entre
32,1 a 31,5°C e centra-se nos meses de janeiro a março. A temperatura média anual é de 26,5ºC e suas
oscilações mensais fluem entre 25,2°C no mês de junho a 29,7°C em setembro. A temperatura mínima
anual flui em 19,1°C e suas oscilações mensais ocorrem entre 15,1°C no mês de julho a 22,4°C em
outubro. A amplitude térmica anual é de 14,9°C e suas flutuações mensais ocorrem entre 10,9°C em
novembro a 20,6°C no mês de julho. As variabilidades dos itens estudados demonstram variações
significativas para o auxilio dos índices evaporativos e maior consumo de água potável para a
sobrevivência humana, animal e vegetal.

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Figura 2. Distribuição da temperatura: Figura 3. Distribuição da umidade


máxima, média, mínima e relativa do ar média máxima e mínima
Amplitude térmica da Lagoa. absoluta para o município de Parnaguá e
sua contribuição para a Lagoa.

As flutuações da distribuição da umidade relativa do ar (UR): máxima absoluta, média e


mínima absoluta para o município de Parnaguá e sua contribuição para a Lagoa local conforme figura 3.
A UR máxima absoluta para a área de estudo fluem entre 41,6% no mês de setembro a 70,5% em
fevereiro. A UR média anual é de 69,5% e suas oscilações compreendem a 55,5% em setembro a 87,2%
fevereiro. A UR mínima absoluta flui entre 30,6% em setembro a 44,9 no mês de março. Estas
flutuabilidades estão condicionadas as fatores transientes de larga escala Niño(a) e aos efeitos locais
como queimadas, desmatamento entre outros.
Na figura 4 tem-se a distribuição da Insolação total: máxima absoluta, média e mínima absoluta
para o município de Parnaguá e sua contribuição para a Lagoa local. A insolação média anual é de
2.590,1 horas e suas flutuações mensais fluem entre 144,7 h no mês de fevereiro a 289,6 h em agosto. A
insolação máxima absoluta ocorre entre 214,8 a 331,5 h. e as mínimas absolutas ocorrem entre 64,7 a
275,4 h. Estas flutuabilidade são decorrentes dos fatores meteorológicos transientes e atuantes na área de
estudo compreendida entre o período de 1960 a 2014.

. Figura 4. Distribuição da Insolação Figura 5. Distribuição da intensidade do


total: máxima absoluta, média e vento: máximo absoluto, médio e
mínima absoluta para o município de mínimo absoluto para o município de
Parnaguá e sua contribuição para a Parnaguá e sua contribuição para a Lagoa
Lagoa local local.

A direção predominante do vento anual é de SE-NE e suas variabilidades mensais são de


significantes direções, principalmente as ocorridas entre os períodos secos e chuvosos que contribuem
com a redução e/ou aumento da umidade do ar e solo e afetam as quantidades de águas precipitadas.

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A distribuição da intensidade do vento: máximo absoluto, médio e mínimo absoluto para o município
de Parnaguá e sua contribuição para a Lagoa local tem sua representatividade na figura 5. A curva da
intensidade do vento máximo tem suas oscilações variando entre 1,8 ms-1 a 3,4 ms-1 os meses de altas
intensidades máximas ocorrem entre agosto a outubro com oscilações entre 3 e 3,4 ms -1 . A intensidade
mínima do vento absoluto fluem entre 0 a 0,9 ms-1. A intensidade média anual do vento é de 1,4 ms-1 e
suas oscilações mensais fluem entre 1,1 a 1,8 ms-1..
A Figura 6 tem-se a distribuição da cobertura de nuvem: máxima absoluta, média e mínima
absoluta para o município de Parnaguá e sua contribuição para a Lagoa local. A cobertura de nuvens
média anual é de 0,44 décimos, os meses de maiores coberturas de nuvens centram-se entre outubro e
abril com flutuações de 0,44 a 0,62 décimos e cobertura, os meses de junho a agosto a cobertura de
nuvem ocorrem entre 0,22 a 0,27 décimos. A cobertura de nuvens máxima absoluta já registrada na área
de estudo foi de 0,91 décimos e a mínima cobertura absoluta foi 0,0 décimos ou sem ausência de nuvens
nos meses de junho e julho.

Figura 6. Distribuição da cobertura de nuvem: máxima absoluta, média e mínima absoluta para o município de
Parnaguá e sua contribuição para a Lagoa local.

Figura 7 tem-se a distribuição da evapotranspiração potencial, evaporação real e precipitação


histórica para o município de Parnaguá e sua contribuição para a Lagoa local. A Evapotranspiração
potencial foi praticamente duas vezes o valor da precipitação e a evaporação real foi acrescida de uma
vez superior à precipitação. As chuvas ocorridas não supriram as necessidades hídricas e sua tendência e
a perda total de espelho d´água. Nos meses de janeiro a abril a evapotranspiração e evaporação são
iguais e nos meses de agosto a dezembro a evaporação e precipitação se se iguala. A evapotranspiração
é máxima entre os meses de maio a dezembro e nos meses de janeiro a março a precipitação supera a
evaporação e evapotranspiração.

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.Figura 7. Distribuição da evapotranspiração Figura 8. Distribuição da precipitação:


potencial, evaporação real e precipitação máxima absoluta, média e mínima
histórica para o município de Parnaguá e absoluta para o município de Parnaguá
sua contribuição para a Lagoa local e sua contribuição para a Lagoa local.

Na figura 8. Tem a distribuição da precipitação: máxima absoluta, média e mínima absoluta


para o município de Parnaguá e sua contribuição para a Lagoa local. A flutuabilidade da precipitação
máxima absoluta é registrada praticamente em todos os meses do ano exceto entre os meses de julho e
agosto que seu valor é próximo à zero. A representatividade da precipitação mínima absoluta tem seu
destaque para os meses de janeiro e fevereiro. A precipitação média tem sua variabilidade irregular entre
os meses.
Na tabela 1 destaca-se a variabilidade da temperatura média, a precipitação média histórica,
flutuação da evapotranspiração potencial e evaporação real e os índices de deficiência e excedentes
hídricos correspondentes ao período de 1960-2014 para o município de Parnaguá e suas contribuições
para a lagoa local.

T P ETP ETR DEF EXC


Meses
(°C) (mm) (mm) (mm) (mm) (mm)
Jan 25,9 146,9 129,0 129,0 0,0 0,0
Fev 25,8 145,0 117,4 117,4 0,0 0,0
Mar 25,3 165,3 118,3 118,3 0,0 3,0
Abr 25,5 83,0 115,9 111,0 4,9 0,0
Mai 25,6 15,0 118,9 61,5 57,4 0,0
Jun 25,2 4,9 106,2 21,1 85,1 0,0
Jul 25,4 0,4 112,4 6,6 105,8 0,0
Ago 27,4 1,4 150,4 3,7 146,6 0,0
Set 29,7 7,8 202,5 8,4 194,1 0,0
Out 28,9 57,2 193,1 57,3 135,9 0,0
Nov 27,2 126,0 152,2 126,0 26,3 0,0
Dez 26,4 154,1 143,7 143,7 0,0 0,0
Legenda: Temperatura média do ar (T), Precipitação histórica (P), Evapotranspiração potencial (ETP), Evaporação
real (ETR), Deficiência hídrica (DEF) e Excesso Hídrico (EXC).
Tabela 1. Balanço hídrico do período 1960 – 2014 para o município de Parnaguá – PI.

Observa-se na figura 9 que o excedente hídrico não ocorreu e a predominância da deficiência


hídrica superaram as medias mensal. A reposição de água no solo não foram necessárias e suficientes
para repor o volume da água na lagoa e seu entorno.

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Figura 9. Balanço hídrico climatológico do período de 1960-2014, para o município de Parnaguá


e sua contribuição para a Lagoa local.

CONCLUSÕES

Os possíveis elementos de caráter regional que podem ter modificado o clima dessa área são o
mau uso dos ecossistemas e dos solos, entre outros como: A falta de abandono; o desmatamento no
entorno da lagoa; Incidências de altos focos de queimadas para realização de plantio de monocultura.
Retirada de madeiras para realização de calvão; Assoreamento dos rios e da lagoa causadas
pela erosão; Uso inadequado da lamina d´água armazenado da lagoa na irrigação e de agrotóxico em seu
entorno e de área de lazer inadequada; Uso inadequado de pastoreio e retirada da mata para implante de
pastagem.
As ações humanas estão dependentemente interligadas com os aspectos ambientais no uso do
solo, na agropecuária, os quais comprovadamente poluem o recurso hídrico local e regional.
Deduz-se diante do exposto que a principal característica das séries mensais pluviais é a
elevada variabilidade temporal de seus valores e mostram a participação de eventos de diferentes escalas
(espaço e tempo) que interagem entre si. Ocorrem marcantes indicações de mudanças de ordem
climática nos regimes pluviais da localidade do estudo. A complexidade das interações impede uma
relação factual de causa e efeito, mas aponta para a necessidade de levar em conta as diversas farsantes
envolvidas.
Os índices evaporativos apresentam-se com altas significâncias entre os meses de julho a
primeira quinzena de outubro, sendo este período o mais seco, e onde as plantas apresentam-se seca e
com possibilidade de grandes focos de incêndios.
A Evapotranspiração potencial foi praticamente duas vezes o valor da precipitação e a
evaporação real foi acrescida de uma vez superior à precipitação.

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A variabilidade da cobertura de nuvem esta relacionadas há época dos períodos chuvosos e


secos, tendo influencia da orografia, dos ventos e da quantidade de insolação incidente na superfície, o
que representa a variabilidade de cobertura de nuvens baixas nos meses de junho a setembro na área de
estudo.
As variabilidades na intensidade do vento ocorrem entre 1,5 a 1,9 ms-1 durante todo o ano, estas
intensidades estão associadas ao posicionamento do centro de alta pressão na área referenciada.
Os índices de degradação ambiental mais acentuado estão nas áreas urbanas, com presença de
lixo, esgotos, áreas de queimadas, assoreamento dos rios, áreas desmatada, além da presença da
população de baixa renda e de baixa qualidade de vida, nas áreas, mas afetadas dos núcleos urbanos, as
atividades são vinculadas exclusivamente à agropecuária, reduzindo a produção de alimentos,
dificultando o comércio e afetando a renda, além de induzir o aumento da vulnerabilidade social.
Os agravamentos das condições físicas e socioeconômicas são históricos por falta de
coordenação nas atuações institucionais e as articulações governamentais até um passado recente, em
nível federal, estadual e municipal.
A ausência e incentivo em capacitação de recursos humanos para garantir o desenvolvimento
sustentável, por meio de monitoramento, da fiscalização, da parte socioeconômica e gestão ambiental,
dos ecossistemas, dos recursos naturais integrados e dos processos produtivos existentes na bacia.

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Turismo, Meio Ambiente e


Sustentabilidade

© Giovanni Seabra

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 807


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TURISMO RELIGIOSO: CONSIDERAÇÕES SOBRE ESPAÇOS DE PEREGRINAÇÃO


E DEVOÇÃO

Claudemira Azevedo ITO


Professor Assistente Doutor da UNESP
ito@fct.unesp.br

RESUMO
O tema turismo no Brasil é bastante associado à beleza cênica da paisagem, quando os principais
atrativos são as características físicas de uma determinada região ou lugar. É comum classificar o
turismo no Brasil como o ―turismo de sol e mar‖, ou seja, quando as praias e suas características
naturais são o centro das atrações, onde o mais importante são os atributos como a temperatura e
limpidez das águas, a cor e textura das areias, e a vegetação preservada entre outras. Estes atrativos
naturais são responsáveis, em grande medida, pelo crescimento da atividade turística no Brasil,
ligadas ao ―turismo recreacional‖ especialmente na região Nordeste. Entretanto, é crescente também
o turismo cultural, aquele que compreende as atividades relacionadas com as vivências do
patrimônio histórico e cultural de uma determinada região ou país. Dentro desta perspectiva, o
turismo religioso foi escolhido como tema deste trabalho na tentativa de ampliar a análise do
turismo: Como forma de valorização de bens imateriais da cultura e dar ênfase ao turismo
interno/regional. A definição de turismo cultural é baseada na motivação da viagem, quando o
turista prepara-se para vivenciar o patrimônio histórico e cultural, assim como participar de algum
evento cultural. Esta experiência participativa pressupõe a construção de formas de relação entre o
turista e a cultura local/regional, o que leva ao respeito à diversidade cultural assim como na
preservação desta manifestação sociocultural. Neste contexto, o turismo religioso tem aumentado
sua expressão, é crescente o número de viajantes motivados por vivências religiosas e espirituais,
independentemente de religiões tradicionais ou de novas expressões esotéricas e místicas.
Palavras-chave: Turismo cultural, turismo religioso, peregrinação.
RESUMÉN
El tema turístico en Brasil está bastante asociado a la belleza escénica del paisaje, cuando los
principales atractivos son las características físicas de una determinada región o lugar. Es común
clasificar el turismo en Brasil como el "turismo de sol y mar", o sea, cuando las playas y sus
características naturales son el centro de las atracciones, donde lo más importante son los atributos
como la temperatura y la claridad de las aguas, el color y la textura de las arenas, y la vegetación
preservada entre otras. Estos atractivos naturales son responsables, en gran medida, por el
crecimiento de la actividad turística en Brasil, ligadas al "turismo recreacional" especialmente en la
región Nordeste. Sin embargo, es creciente también el turismo cultural, aquel que comprende las
actividades relacionadas con las vivencias del patrimonio histórico y cultural de una determinada
región o país. Dentro de esta perspectiva, el turismo religioso fue elegido como tema de este trabajo
en el intento de ampliar el análisis del turismo: Como forma de valorización de bienes inmateriales
de la cultura y dar énfasis al turismo interno / regional. La definición de turismo cultural se basa en
la motivación del viaje, cuando el turista se prepara para vivir el patrimonio histórico y cultural, así
como participar en algún evento cultural. Esta experiencia participativa presupone la construcción
de formas de relación entre el turista y la cultura local / regional, lo que lleva al respeto a la
diversidad cultural así como a la preservación de esta manifestación sociocultural. En este contexto,
el turismo religioso ha aumentado su expresión, es creciente el número de viajeros motivados por
vivencias religiosas y espirituales, independientemente de religiones tradicionales o de nuevas
expresiones esotéricas y místicas.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 808


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Palabras Clave: Turismo cultural, turismo religioso, peregrinación

TURISMO CULTURAL

O Ministério do Turismo, diante da abrangência dos termos cultura e turismo, em parceria


com o Ministério da Cultura e o IPHAN, apresenta a seguinte definição de Turismo Cultural:

Compreende as atividades turísticas relacionadas à vivência do conjunto de elementos


significativos do patrimônio histórico e cultural e dos eventos culturais, valorizando e
promovendo os bens materiais e imateriais da cultura. (MINISTÉRIO DO TURISMO &
UNICAMP,2006)

É comum verificar vários debates e tentativas de classificação dos deslocamentos do homem


de um lugar a outro. Há especulações desde as exigências da manutenção da sobrevivência, a busca
de alimentação, ampliação de territórios de caça, pesca e coleta, guerras, ou o prazer de conhecer
outros sítios. De fato, pode-se inferir que os deslocamentos foram impulsionados por diversas
motivações, e ainda, por necessidade ou não, as viagens se tornaram uma expressão cultural que faz
crescer o turismo, um dos mais importantes setores econômicos da sociedade contemporânea.
Para o Ministério do Turismo (2006), ―toda viagem turística é uma experiência cultural. (...)
ao sair de seu ambiente, o turista entra em contato com novos sabores da culinária local, com as
músicas mais pedidas nas estações de rádio do local, com a forma dos habitantes locais de lidarem
com visitantes‖. Entretanto esclarece:

Mas nem todo turista é um turista cultural. O que define o Turismo Cultural é a motivação
da viagem em torno de temas da cultura. As viagens de interesse cultural nasceram na
Europa sob a égide do renascimento italiano, quando a aristocracia se deslocava interessada
em conhecer os sítios históricos e arqueológicos que inspiraram artistas como Michelangelo
e Da Vinci e depois às próprias cidades que foram o berço do movimento artístico.
Inspirado pelas viagens do período renascentista nasceu a grand tour, que consistia em uma
longa temporada em diferentes cidades europeias consideradas como o berço da civilização
ocidental e que podiam durar anos. O público da grand tour eram os aristocratas, nobres e
burgueses da própria Europa e também das Américas, pessoas que tinham disponibilidade
de tempo e recursos para investir nessas viagens culturais. Um dos aspectos mais
interessantes do grand tour era exatamente sua forma convencional e regular, considerada
como uma experiência educacional, um atributo de civilização e de formação do gosto.
(MINISTÉRIO DO TURISMO & UNICAMP,2006) (grifo nosso).

Smith (1989) define alguns tipos de turismo, no segmento de lazer, entre eles se encontra o
―turismo cultural‖, cuja atração principal são os lugares pitorescos com aspectos brejeiros e simples,
com a ausência de atrativos tecnológicos. São características básicas, ainda pode-se citar, a presença
de produção artesanal de produtos, tranquilidade e cotidiano tranquilo, que marcadamente
contrastam com as vivências diárias dos grandes centros urbanos.
Segundo Barretto (1995) no período compreendido entre os Séculos XVI e XVIII se
desenvolveram os ―antecedentes do turismo moderno‖:

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 809


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No Século XVI começou a haver um incremento nas viagens particulares (não-oficiais).


Nesta época não havia meios de comunicação, a não ser a escrita e mesmo o livro não era
algo de circulação maciça: a forma de conhecer o mundo, outras culturas, outras línguas era
viajando. (BARRETTO, 1995,p.47).

A própria autora reconhece que não era propriamente um turismo, como nos moldes atuais,
mas ―tours”:

Esse primeiro turismo também é diferente do turismo que conhecemos atualmente, que
surge com a modernidade, depois da revolução industrial, com as relações de produção
atualmente praticadas. Essa etapa, chamada por alguns historiadores de de ―barroca‖, estava
caracterizada por uma viagem realizada por jovens acompanhados por seu professor
particular. Não havia propriamente turismo, mas sim tours, viagens de ida e volta,
realizados pela classe privilegiada, uma minoria rica) elite), um tour de aventura, masculino
(dizia-se e escrevia-se explicitamente que as mulheres não deviam viajar), esporádico (eles
não trabalhavam, viajavam quando queriam e podiam) e com uma duração aproximada de
três anos. (BARRETTO, 1995,p.47).

Ainda sobre esta valorização das viagens, Boyer (2003) escreveu sobre a valorização do
campo, afirma o autor que no Século XVIII inverteram-se os valores, se antes a cidade era
considerada o berço da civilização, com os valores da urbanidade e política, passou a ser
considerada a ―Babilônia‖ moderna, associada à poluição e à desordem.

Bem mais que uma nova moda, era uma construção ideológica; começada na segunda
metade do século 18 e continuada no século 19, ela terminou no fim do século 20 com o
―campo desejado‖, mais apreciado por seu valor estético e terapêutico do que por seu
interesse produtivo, conotado-desde o século 18-como o local de Virtude, de Liberdade e de
realização do Corpo. (BOYER,2003,p.55).

Dessa forma evidencia-se a valorização de destinos de viagens pelo contraste ao modo de


vida urbano. Benevides (2007) alerta que a pratica do ainda está impregnada de sensações,
vivências e experiências em um lugar específico, escolhido pelo turista, cuja expectativa é
referenciada pelas particularidades e representações simbólicas do ato de consumir e de viajar,
deslocando-se para além do mundo do trabalho.

A apropriação turística resulta de práticas espaciais que orientam a refuncionalização de


recursos, produções e imagens de um lugar e de suas paisagens para o consumo turístico,
bem como de atitudes que só se tornam turísticas em um lugar, referenciado pelas
especificidades e representações de seus objetos de sua sociabilidade e de seus símbolos. A
referência à fixidez espacial desse consumo, ou seja, à liturgias e ritos que associam o ato
de consumir ao deslocamento para um outro lugar, corresponde ao seu complementar
econômico, referente à fixidez espacial da oferta turística. Isto corresponde à consideração
de que práticas e atividades turísticas só ganham o seu sentido mentado, sua verdadeira
vazão, por vivências associadas a territorialidades não simbolizadas pelo mundo do
trabalho e da residência habitual. Por isso, essa fixidez não remete apenas ao componente
material do consumo, expresso nas singularidades dos objetos pretensamente ofertados num
lugar turístico, mas a uma certa fixação em não dissociar o consumo de um lugar
específico, pois só aí ele é imaginariamente possível, posto que é este lugar que reveste este
consumo de alguma ―aura‖ irremovível. Daí a irredutível associação entre os atos de
consumir e de viajar. Exemplificando-se, não é somente o ato de hospedar-se num hotel
com padrões de excelência na qualidade de seus serviços que preside a escolha de um
destino, podendo, em alguns casos, essa qualidade ser secundária em si, como também
secundarizada, face a uma simbologia e a um valor imaterialmente agregados, como

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possibilidade de vivências extraordinárias, ou seja, como lugar de algum sonho, de alguma


fantasia. Benevides (2007, p. 94)

Associado a esta sensação de bem-estar e felicidade, a vida o campo, passou a ser vista
como objetivo a ser atingido por grande parte da população nos períodos de férias e descanso.
Atualmente, a política cultural associada ao planejamento de turismo promove, em muitos
casos, o distanciamento de princípios exclusivamente culturais para promover o desenvolvimento
econômico e revitalização física de áreas urbanas degradadas e valorização de aspectos culturais
locais. Dessa forma, eventos e tradições culturais tradicionais podem receber investimento público e
privado, a partir de interesses econômicos. Isto ocorre em face de um mercado de crescente
competição entre destinos, que sofrem pressão para desenvolverem estratégias para a construção de
imagem de localidades, regiões e países. Dentro desta perspectiva o turismo, como atividade
econômica, amplia sua busca de diferenciais em cada lugar, região ou país. Eventos culturais:
gastronômicos, religiosos, musicais, de dança, de teatro, de cinema, exposições de arte, de
artesanato e outros, são passíveis de se tornarem grandes atrativos turísticos.

TURISMO RELIGIOSO

Silveira (2007) afirma que ―as atuais transformações que ocorrem no campo religioso no
Brasil e no mundo, quando das relações estabelecidas com esferas não-religiosas, como turismo,
lazer e política, parecem criar uma ambiguidade conceituaI-teórica interna relativa ao termo turismo
religioso‖. p.29
Em busca da origem do termo ―turismo religioso‖ Ortega (2013) afirma que foi criado em
1960, sendo repercutido pela primeira vez durante a Conferência Mundial de Roma, organizada
pela Igreja Católica. Silveira (2007), afirma que este termo passou a ser utilizado como conceito e
―ganhou uso natural para alguns autores enquanto outros não conseguem referi-lo sem
problematização‖. Ortega (2013), p. 3.
Andrade (2008), por sua vez. define turismo religioso como:
O conjunto de atividades com utilização parcial ou total de equipamentos e realização de
visitas a receptivos que expressam sentimentos místicos ou suscitam a fé, a esperança e a
caridade aos crentes ou pessoas vinculadas a religiões, denomina-se turismo religioso.
Efetua-se sob formas de turismo individual ou de turismo organizado, em programas cujos
objetivos se caracterizam como romaria, peregrinação e penitência, de acordo com os
objetivos religiosos, dogmáticos e morais dos fiéis visitantes. (ANDRADE, 2008, p.77-78).

Andrade (2008) é contundente na diferenciação entre as três formas de visitação: Romaria,


peregrinação e penitência. Esta classificação deriva conforme a organização e objetivos da visita.
O termo peregrinação, segundo Steil (2003), é derivado do vocábulo latino peregrinus que
significa: o estrangeiro, aquele que não pertence à sociedade local, que percorre um caminho no

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

qual encontra o outro. Ou seja, é utilizado para denominar as jornadas de longa distância em direção
aos santuários, como é o caso do Caminho de Santiago de Compostela.

A peregrinação, portanto, em sua raiz etimológica está relacionada com o aparecimento do


―outro‖, do estrangeiro, que percorre terras inóspitas, imprimindo-lhe, dessa forma, um
traço de heroísmo. Aparece, desse modo, associado à ideia de um caminho ao encontro do
―outro‖, físico ou espiritual. (STEIL 2003, p.30)

O mesmo autor continua a análise e afirma que nesse processo há uma ‗transformação
extraordinária que atinge os peregrinos‖. Steil (2003, p.30). Chama a atenção nos relatos e estudos a
associação do ato de peregrinar à experiência do indivíduo em busca de sua essência, da descoberta
de suas virtudes, anseios e fragilidades espirituais. O autor aponta uma característica da
peregrinação na ―pós modernidade religiosa contemporânea‖, que é a associação da experiência
interior de cada indivíduo (peregrino) no mergulho do seu ‗eu‖ verdadeiro, onde aparece a
experiência do sagrado desvinculada à tradição religiosa.
Nesse sentido esclarece:

Como se pode observar, se, por um lado, a peregrinação se exprime na história como um
exercício de encontro com o ―outro‖, o estrangeiro, por outro, aponta para uma busca
mística de si, como uma jornada de santificação que encontra seu ponto de chegada no
reconhecimento de uma divindade que se manifesta no interior de cada devoto. (STEIL
2003, p.30)

A peregrinação estabelece o paradoxo entre o ―centro de peregrinação‖ e o entorno, sendo o


primeiro o sagrado e o espaço circundante o profano.
Cabe lembrar que as peregrinações são recorrentes em diferentes escalas, desde os grupos
tribais até as ―religiões mundiais‖, de tal forma que foram responsáveis por contatos interculturais
importantes ao longo da história da humanidade.
Enquanto peregrinação designa os deslocamentos mais longos, a romaria aparece como
sinônimo de deslocamentos menores e organizados e realizados de forma comunitária, a qual pode
ser associada a uma festividade devocional.
Em diversos estudos, o termo romaria aparece para designar excursões de grupos com um
lugar específico de devoção, ou santuário. É comum, também a caracterização institucional, pois é
geralmente organizada por uma igreja, paróquia ou agentes religiosos. Steil (2003, p.33-34). Neste
sentido, Pinto (2003) afirma ―É sabido que no Brasil as romarias são organizadas de forma
espontânea pelas pessoas interessadas através do fretamento de ônibus sem a intermediação de
agências de viagens por pessoas das camadas mais populares da sociedade‖. p.40.
Em termos oficiais o Ministério do Turismo - Mtur, apresenta a definição de Turismo
Religioso:

O Turismo Religioso configura-se pelas atividades turísticas decorrentes da busca espiritual


e da prática religiosa em espaços e eventos relacionados às religiões institucionalizadas,

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 812


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

independentemente da origem étnica ou do credo. Está relacionado às religiões


institucionalizadas, tais como as de origem oriental, afro-brasileiras, espíritas, protestantes,
católica, compostas de doutrinas, hierarquias, estruturas, templos, rituais e sacerdócio. A
busca espiritual e a prática religiosa, nesse caso, caracterizam-se pelo deslocamento a locais
e a participação em eventos para fins de:
• Peregrinações e romarias;
• Roteiros de cunho religioso;
• Retiros espirituais;
• Festas, comemorações e apresentações artísticas de caráter religioso.
• Encontros e celebrações relacionados à evangelização de fiéis;
• Visitação a espaços e edificações religiosas (igrejas, templos, santuários, terreiros); •
Realização de itinerários e percurso de cunho religioso e outros.
Muitos locais que representam importante legado artístico e arquitetônico de religiões e
crenças são compartilhados pelos interesses sagrados e profanos dos turistas. As viagens
motivadas pelo interesse cultural ou pela apreciação estética do fenômeno ou do espaço
religioso será, para efeitos deste documento, consideradas simplesmente como Turismo
Cultural. Uma festa religiosa tradicional, com ritos ancestrais e mantida viva pela
população, tem a capacidade de mobilizar o público de motivação religiosa e também o
turista cultural. A Procissão do Fogaréu da Cidade de Goiás/GO, a Festa do Divino de
Alcântara no Maranhão, o Círio de Nazaré em Belém do Pará, a Semana Santa nas cidades
históricas mineiras e as romarias em Nova Trento/SC são alguns exemplos. Mas a
preservação dessas festividades em destinos turísticos em crescimento depende da
compreensão e da valorização dos empreendimentos locais, no sentido de respeitar e
promover essas formas de expressão da religiosidade popular. Uma importante referência
de roteiro turístico de motivação religiosa e cultural do mundo é o Caminho de Santiago de
Compostela na Espanha. Sendo o mais antigo do mundo, tem uma grande atração e vários
percursos com diferentes atrativos e serviços. (MINISTÉRIO DO TURISMO &
UNICAMP,2006) (grifo nosso).

Aqui vale ressaltar na definição de turismo religioso apresentada pelo Ministério do Turismo
a ―busca espiritual e a prática religiosa‖ como motivações essências para este tipo de deslocamento,
mesmo que sejam classificados como: peregrinações, romarias, retiros espirituais, festas entre
outras celebrações. Na prática o Ministério do Turismo aponta aí uma das diferenças entre turismo
cultural e religioso, enquanto o primeiro é motivado pela ―apreciação estética do fenômeno ou do
espaço religioso‖, quando o visitante é movido pela curiosidade de conhecer uma manifestação
religiosa, como expectador da expressão da religiosidade popular, da arquitetura, ou outro aspecto
histórico-cultural. Enquanto que o turista religioso é parte integrante da devoção, seu deslocamento
além de geográfico, pode afirmar é também espiritual.
O Ministério do Turismo reconhece os deslocamentos movidos pelo interesse místico e
esotérico, o que classificou como ―Turismo Místico e Turismo Esotérico‖, assim definidos:

Turismo Místico e o Turismo Esotérico caracterizam-se pelas atividades turísticas


decorrentes da busca da espiritualidade e do autoconhecimento em práticas, crenças e
rituais considerados alternativos. Opta-se, nessa definição, pela utilização conjunta e não
exclusiva dos termos Turismo Místico e Turismo Esotérico, uma vez que o misticismo e o
esoterismo estão relacionados às novas religiosidades, sendo que suas práticas se dão,
muitas vezes, concomitantemente, tornando-se difícil separá-los em um produto turístico
exclusivamente de caráter místico ou de caráter esotérico. Nesse sentido, para fins de
caracterização de produtos turísticos, poderão ser utilizados os termos Turismo Esotérico
ou Turismo Místico ou Turismo Místico Esotérico. Há atualmente a tendência de busca de
novas religiosidades ou nova espiritualidade, desvinculadas das religiões tradicionais, o que
se dá pela manifestação de crenças, rituais e práticas alternativas, associadas ao misticismo
e ao esoterismo. Nesse contexto, o turismo refere-se ao deslocamento de pessoas para
estabelecer contato e vivenciar tais práticas, conhecimentos e estilos de vida que

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 813


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

configuram um aspecto cultural diferenciado do destino turístico. Entre as atividades típicas


desse tipo de turismo pode-se citar as caminhadas de cunho espiritual e místico, as práticas
de meditação e de energização, entre outras. (MINISTÉRIO DO TURISMO &
UNICAMP,2006) (grifo nosso).

Ao analisar o conceito de ―Turismo Místico e Turismo Esotérico, ou Turismo Místico


Esotérico, o Ministério do Turismo, reconhece a crescente demanda de viajantes que buscam por
experiências místicas e esotéricas desvinculadas das religiões tradicionais. Verifica-se que há o
mesmo grupo de motivações, relacionadas às práticas e vivências espirituais. Entretanto, em termos
de classificação de segmentação de mercado turístico, trata-se de outro público, formado de grupos
menores e organizado em outras condições que as tradicionais romarias ou peregrinações.
Em termos gerais, neste trabalho não se faz necessário o aprofundamento desta discussão
sobre a classificação de turismo religioso, místico ou esotérico, em consideração que são motivados
pela busca de autoconhecimento, alívio para sofrimentos físico e espirituais, adoração e entidades
(Santos, apóstolos, lugares sagrados), entre outros.

PEREGRINAÇÃO E DEVOÇÃO

Segundo Abumanssur (2003) ―desde sempre, o ser humano desloca-se pela Terra em
demanda de sagrado com vistas a adorá-lo, consulta-lo, festeja-lo ou conhecê-lo‖. p. 53. Elementos
naturais, como montanhas e grutas, assim como, lugares que guardam relíquias de santos e profetas,
foram cenários de passagens bíblicas ou de aparições de virgens, entre outros lugares foram
transformados em disputados espaços de visitação.
Neste contexto, o turismo religioso movimenta um número cada vez maior de peregrinos
pelo mundo. No Brasil, dados publicados pelo Ministério do Turismo em 2015, estimou que 17
milhões de brasileiros viajam por ano pelo Brasil motivados pela fé. A mesma publicação afirma
que o ―Nordeste reúne pelo menos 250 manifestações religiosas que mobilizam turistas, sendo a
região brasileira com o maior número de procissões, romarias e celebrações religiosas do país‖.
Dentro dos exemplos mais lembrados estão: Juazeiro, na Bahia, e Canindé, no Ceará.
No estado do Ceará, Canindé recebe milhares de fiéis de todo o país, especialmente entre 29
de setembro e 4 de outubro. O início da devoção a São Francisco de Canindé, segundo o site da
Basílica, data das primeiras missões franciscanas nos sertões da região, ainda em 1758. Atualmente,
as principais atrações são: A Basílica de São Francisco, construída no início do século XX, a estátua
de São Francisco das Chagas e um museu do santo. Os peregrinos chegam à cidade de carro, ônibus
e até mesmo a pé. Na igreja, uma surpresa: uma exposição de esculturas rústicas feitas em madeira
que retratam, principalmente, órgãos do corpo humano, oferecidos à igreja como homenagem por
uma graça recebida ou promessa cumprida. http://www.santuariodecaninde.com/romarias/historia/

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 814


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Ainda no Estado do Ceará, Juazeiro do Norte, é maior ponto de peregrinação do Nordeste e


recebe cerca de 2,5 milhões de devotos de Padre Cícero por ano. Destaca-se a celebração do dia de
Finados, no dia 2 de novembro, quando de acordo com a Prefeitura de Juazeiro do Norte, a cidade
recebe cerca de 500 mil visitantes. A principal atração da Cidade, na região do Cariri, é uma estátua
do ―Padim Ciço‖, como é chamado o Padre Cícero, de 25 metros de altura, no alto da Colina do
Horto. Foi em Juazeiro do Norte, que Padre Cícero viveu como sacerdote mais de sessenta anos.
Sua vida foi pontilhada de controvérsias, idolatrado por muitos, foi acusado de forjar milagres e
incentivar o fanatismo religioso.
Entretanto, há lugares como Santa Cruz dos Milagres/PI, distante cerca de 200 Km da
capital Teresina, detém o título de terceiro lugar mais visitado por peregrinos no Nordeste, recebe
mais de 100 mil turistas e peregrinos por ano, mais de 20 mil no dia da Festa da Invenção vão em
busca de bênçãos, milagres e agradecimento às graças recebidas. Os devotos visitam,
especialmente, uma cruz no alto de um morro, onde um beato previu que a região seria fonte de
milagres futuros. O novo Santuário de Santa Cruz dos Milagres, inaugurado em 2016 é considerado o
maior tempo católico do Piauí, após 6 anos de construção, tem capacidade para receber mais de 3.500 fieis
sentados, foi construído a poucos metros da antiga igreja, que por anos abrigou o símbolo maior da festa
religiosa, a Santa Cruz.
Ainda como exemplo de lugar visitação por motivação turística, Bom Jesus da Lapa/BA,
recebe romeiros durante todo o ano. Sendo que o período de maior visitação vai de junho a janeiro,
quando o município recebe 1,5 milhão de visitantes, de acordo com a Prefeitura Municipal. Uma
das mais importantes romarias é a da Terra ou das Missões, que começa em julho. Estes são apenas
exemplos das centenas de pontos de interesse turístico motivados pela religião e espiritualidade.
O estabelecimento e criação do espaço sagrado é a expressão da validação da posse do
território pelos grupos humanos que ocupam um determinado espaço. As extensas glebas de terras
cobertas por vegetação nativa eram entendidas como o Caos, era necessária, na visão dos pioneiros,
―a transformação do Caos em Cosmos, pelo ato divino da Criação. Trabalhando a terra desértica,
repetiam de fato o ato dos deuses que haviam organizado o Caos, dando-lhe uma estrutura, formas e
normas‖. Eliade (2002,p22).

Quando se trata de arrotear uma terra inculta ou de conquistas e ocupar um território já


habitado por ―outros‖ seres humanos, a tomada de posse ritual deve, de qualquer modo,
repetir a cosmogonia. Porque, da perspectiva das sociedades arcaicas, tudo o que não é ―o
nosso mundo‖ não é ainda um ―mundo‖. Não se faz ―nosso‖ um território senão ―criando-
o‖ de novo, quer dizer, consagrando o. Esse comportamento religioso em relação a terras
desconhecidas prolongou se, mesmo no Ocidente, até a aurora dos tempos modernos. Os
―conquistadores‖ espanhóis e portugueses tomavam posse, em nome de Jesus Cristo, dos
territórios que haviam descoberto e conquistado. A ereção da Cruz equivalia à consagração
da região e, portanto, de certo modo, a um ―novo nascimento‖. Porque, pelo Cristo,

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 815


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―passaram as coisas velhas; eis que tudo se fez novo‖ (II Coríntios, 5:17). A terra
recentemente descoberta era ―renovada‖, ―recriada‖ pela Cruz. (ELIADE, 2002,p.22)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Deve-se ressaltar a importância do turismo religioso, dentro da atividade turística no Brasil.


Pois promove, necessariamente, o deslocamento, o encontro com o outro, enquanto possibilidade de
transformação cultural. Incentivando o diálogo entre diferentes culturas, hábitos e religiões,
chegando aos processos de novas vivências e experiências das mais diversas: Gastronômicas,
artísticas, espirituais, entre outras.
Há centenas de destinos de turismo religiosos no Brasil, se destacam: Festa de Bom Jesus
dos Navegantes (BA, ES, MA, RJ), Procissão do Círio de Nazaré (PA); Peregrinação de Padre José
de Anchieta (ES); Igreja do Senhor do Bonfim (BA); Festa do Divino (diversos estados); Ternos de
Reis (principalmente no nordeste); Festa de Nossa senhora da Achiropita (SP), Casa de Chico
Xavier (MG), Festas Juninas – Santo Antonio, São Pedro e São João, no Brasil inteiro, em especial
no Nordeste.
A formação do Estado Brasileiro esteve por longo período histórico atrelado à Igreja
Católica apostólica Romana, nos quais alguns momentos, estava em vigência os preceitos da
inquisição, não bastava ser católico, havia a exigência de demonstração pública de sua fé e devoção.
Dessa forma, em muitos países, inclusive no Brasil, por medo de delações e perseguições foram
criados e estimulados comportamentos sociais de confissão pública da fé católica. Rituais que
envolviam festejos comunitários, procissões, romarias e peregrinações foram valorizados como rito
social. Assim como, foram valorizadas as ações de combate aos infiéis e de submissão dos
indígenas, considerados hereges, à fé católica.
Nesse contexto, surgem os lugares de devoção, com organização de festejos, romarias e
peregrinações. Com destaque a devoção Mariana, com as mais distintas denominações, sendo a
Imaculada Conceição declarada padroeira luso brasileira em 1646. É o catolicismo devocional com
características centradas no culto dos santos, tanto com expressões intimistas com oratórios
domésticos, tanto com ritos públicos.

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ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 818


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

REGIONALIZAÇÃO TURÍSTICA DA APA DE GUADALUPE E DA APA COSTA DOS


CORAIS: PERSPECTIVAS PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL E REGIONAL
(PERNAMBUCO E ALAGOAS)27

Celso C GOMES28
Doutorando em Geografia da UnB
marmecel@gmail.com
Fernando Luiz ARAÚJO SOBRINHO29
Professor da Pós-graduação em Geografia da UnB
flasobrinho@gmail.com

RESUMO
O presente artigo tem por objetivo analisar as perspectivas da regionalização turística dos
municípios pertencentes as áreas de proteção ambiental – APAs de Guadalupe e da Costa dos
Corais (Pernambuco e Alagoas), com intuito de contribuir com o planejamento, gestão ambiental e
turística, sustentabilidade e o desenvolvimento nas escalas local e regional. A escolha desta área
acontece devido a grande relevância ecológica, mas também socioeconômica que estas Unidades de
Conservação - UC possuem, deste modo pretende-se propor a regionalização, com o objetivo de
promover a proteção do ambiente, o empoderamento da sociedade, o desenvolvimento local e
regional, particularmente através do turismo. A atividade turística permeia realidades contraditórias
causadas pela forma que é materializada no lugar, uma vez que pode contribuir positivamente ou
negativamente com o desenvolvimento local e regional, dependendo do tipo de planejamento e
gestão pública utilizada. Para a análise, inicialmente foi realizado um levantamento bibliográfico,
com intuito de fazer uma revisão da literatura, posteriormente observação de campo e entrevistas
semiestruturadas nos órgãos públicos, associações ligadas ao turismo e instituições privadas que
fazem parte do arranjo produtivo do turismo, visando alcançar o objetivo do artigo. As devidas
conclusões obtidas poderão subsidiar a proposição de constituição de uma região turística, cujo
intuito é promover o desenvolvimento local e regional dos municípios da APA de Guadalupe e da
APA da Costa dos Corais.
Palavras- chave: Turismo; Regionalização; Unidades de Conservação; Desenvolvimento.

ABSTRACT
The objective of this article is to analyze the prospects of tourism regionalization of the
municipalities belonging to the areas of environmental protection - APAs of Guadalupe and the
Coast of Corais (Pernambuco and Alagoas), in order to contribute to planning, environmental and
tourism management, sustainability and development at local and regional scales. The choice of this
area happens due to the great ecological, but also socioeconomic relevance that these Conservation
Units - UC have, in this way intends to propose the regionalization, with the objective of promoting
the protection of the environment, the empowerment of society, local development and regional
level, particularly through tourism. Tourism activity permeates contradictory realities caused by the

27
Proposta de Regionalização referente à atividade da disciplina de Desenvolvimento Regional e Novas
Regionalizações, ministrada pelo professor Dr. Juscelino Eudâmidas Bezerra, no PPGEA/UnB.
28
Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA/UFPE, Especialista no Ensino da Geografia e a
Questão Ambiental – FUNESO/UNESF e graduado em Geografia – FFPNM/UPE.
29
Docente do Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade de Brasília.

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form that is materialized in the place, since it can contribute positively or negatively to local and
regional development, depending on the type of planning and public management used. For the
analysis, a bibliographic survey was initially carried out with the purpose of reviewing the
literature, afterwards field observation and semi-structured interviews in public bodies, tourism
associations and private institutions that are part of the productive arrangement of tourism, aiming
at achieving the purpose of the article. The obtained conclusions can support the proposition of
constitution of a tourist region, whose purpose is to promote the local and regional development of
the municipalities of the APA of Guadalupe and the APA of the Coast of the Corals.
Keywords: Tourism; Regionalization; Conservation units; Development.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O presente artigo analisará as perspectivas da regionalização turística para os municípios
pertencentes as áreas de proteção ambiental - APAs: de Guadalupe e da Costa dos Corais, com
intuito de contribuir com o planejamento, gestão ambiental e turística, sustentabilidade e o
desenvolvimento nas escalas local e regional.
A escolha desta área acontece devido à grande relevância ecológica, isto é, os municípios
estão localizados em duas APAs, sendo uma de domínio Federal, a APA da Costa dos Corais e a
outra sob o domínio do Estado de Pernambuco, a APA de Guadalupe, inclusive estas Unidades de
Conservação – UC estão sobrepostas, de modo que os municípios de Tamandaré/PE e Barreiros/PE
fazem parte de ambas as APAs. Neste território turístico também se encontram a Reserva Biológica
de Saltinho, Mata Pedra do Conde, Mata de Pau Amarelo, entre outras UC, destarte configurando
como uma importantíssima área no contexto ambiental que possuí usos múltiplos do seu território.
Os municípios presentes nas APAs de Guadalupe e da Costa dos Corais possuem múltiplos
usos do seu território, todavia tem se destacado a atividade turística exatamente porque as UC são
estimuladoras do turismo por conta, principalmente, por sua beleza cênica, patrimônio natural que
preservar e neste caso trata-se de UC Marinha, isto é, 135 km aproximadamente de praias, restingas,
manguezais, foz de rios, recifes de corais e arenito e mata atlântica, de modo que compreender a
dinâmica do território para uma proposta de regionalização pode contribuir com a proteção
ambiental dessas APAs e estimular o desenvolvimento local e regional.
A dinâmica do turismo nos municípios das APAs de Guadalupe e da Costa dos Corais tem
sido contraditória nas últimas décadas (1990-2017), isto é, o discurso desenvolvimentista nas
esferas públicas e privada posicionam a atividade turística como mola propulsora do
desenvolvimento e como uma opção mais rentável (SELVA, 2000) dentre as demais atividades
econômicas, entretanto este modelo visa, especialmente, o crescimento econômico, ou seja,
acumulação do capital (CHENAIS, 1997; ALVES, 2007).
Apesar da importância econômica que o turismo tem adquirido no território das APAs de
Guadalupe e da Costa dos Corais o que se percebe é a desarticulação, a desconexão e a

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desorganização da atividade turística, especialmente pelo a forma como se apropria e usa o espaço,
na maior parte dos casos de maneira efêmera e sazonal, mesmo sendo territórios contínuos,
fronteiriços e pertencentes a estas UC, portanto contraditoriamente os municípios não conseguem
estabelecer ou até estimular a conexão entre os mesmos, no sentido de fortalecer
socioeconomicamente a região turística e contribuir com a proteção ambiental.
Nas áreas em que se estimulam e desenvolvem o turismo instalam-se equipamentos e
serviços para o seu funcionamento, contudo o planejamento e a gestão são ineficientes, a
infraestrutura municipal é deficiente e é pouco estimulada a participação dos agentes produtivos do
espaço turístico, de modo que os municípios, na maioria dos casos, não conseguem com seu quadro
de pessoal, os instrumentos e estrutura para gestão ambiental, gerirem as práticas turísticas locais de
tal forma que os efeitos ecológicos, sociais, econômicos e institucionais contribuam para o
desenvolvimento local e regional.
As localidades receptoras do turismo são transformadas para se adequarem ao recebimento
da prática turística, logo evidencia-se construções e/ou melhoria de infraestrutura básica, de suporte
e serviços, por exemplo: estradas, rodovias, vias locais, aeroportos e saneamento; estabelecimentos
de hospedagem, de alimentação; bancários, comerciais e de recreação. Este fenômeno é
denominado como o ―mito do desenvolvimento‖, em virtude da ideia que o ―desenvolvimento
turístico é sinônimo de desenvolvimento‖. (CRUZ, 2000).

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA

O presente artigo terá como referência os municípios pernambucanos de Sirinhaém, Rio


Formoso, Tamandaré, Barreiros e São José da Coroa Grande e os municípios alagoanos de
Maragogi, Japaratinga, Porto de Pedras, São Miguel dos Milagres, Passo do Camaragibe, Barra de
Santo Antônio, Paripueira e Maceió, respectivamente pertencentes ao Litoral Sul do estado de
Pernambuco e ao Litoral Norte do estado de Alagoas, em virtude de que os mesmos estão
localizados nas APAs de Guadalupe e da Costa dos Corais.
A APA de Guadalupe foi criada através do Decreto Estadual de n.º 19.635/97. Possui 44.255
ha e está localizada na porção meridional do estado de Pernambuco nos seguintes municípios:
Sirinhaém, Rio Formoso, Tamandaré e Barreiros (Figura 01). É gerida pela Agência Estadual de
Meio Ambiente - CPRH.

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Figura 1 – APA de Guadalupe.


Fonte: Acervo Geossistemas, 2010.

Esta área é composta por uma diversidade de ambientes e de atividades econômicas (CPRH,
2017), evidenciando assim os múltiplos usos do seu território. Esta UC possui áreas particulares e
públicas, moradias, casas de veraneio, assentamentos rurais, engenhos, atividades de pesca,
agricultura e turismo. Destaca-se pela beleza dos seus recursos naturais, sendo eles, manguezais,
remanescentes de mata atlântica, mata de restinga e cordões de arrecifes. Estes ambientes
estimulam a atividade turística.
A APA de Guadalupe foi criada com o objetivo de proteger e conservar os sistemas naturais
essenciais à biodiversidade, especialmente os recursos hídricos, visando uma melhoria da qualidade
de vida da população local, a proteção dos ecossistemas e o desenvolvimento sustentável (CPRH,
2017). Portanto, caracterizando a relevante importância de compreender os usos desse território e
compreender a dinâmica do turismo nas escalas regional e local.
A APA Costa dos Corais (Figura 02) foi criada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, visando a preservação dos recifes de corais e arenitos,
da fauna e flora, assim como das praias e manguezais ao longo de 135 km de litoral entre os
municípios de Rio Formoso/PE e de Paripueira/AL, além de 18 milhas náuticas.

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Figura 2 – APA da Costa dos Corais.


Fonte – ICMBIO, 2013.

O seu gerenciamento é realizado em conjunto pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e


dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, Instituto Chico Mendes da Conservação da
Biodiversidade - ICMBIO e pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, através do Projeto
Recifes Costeiros.

Regionalização: possibilidades e desafios

Os municípios das Áreas de Proteção Ambiental – APAs de Guadalupe e da Costa dos


Corais, apresentam características e usos dos seus territórios semelhantes, bem como as duas UC se
sobrepõem, o cenário paisagístico é muito interessante, a existência da atividade turística, a
importância de proteção dos ambientes, falta de saneamento básico, os baixos índices de
desenvolvimento, dentre eles, incidência elevada de pobreza, alta taxa de desemprego e renda, a
desarticulação entre os municípios, o planejamento ineficiente dos Estados e municípios
envolvidos, portanto se estabelece como desafios a serem superado a partir da regionalização do
território, assim podendo permitir uma possível articulação regional.
Para Buarque (2004) o desenvolvimento local sustentável é um processo de transformação
social com vistas a ―[...] elevação das oportunidades da sociedade, compatibilizando, no tempo e no
espaço, o crescimento e a eficiência econômicos, a conservação ambiental, a qualidade de vida e a
equidade social, partindo de um claro compromisso com o futuro e a solidariedade entre gerações‖.
A autora Endlich (2007, p. 11) destaca que ―[...] o desenvolvimento local é uma resposta à
reestruturação produtiva que situa o desenvolvimento desigual num contexto de regiões ganhadoras

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e regiões perdedoras‖, destaca-se também que o desenvolvimento deve estar pautado em


transformação consciente da experiência local, ou seja, preocupando-se com o presente, bem como
com as gerações futuras (MILANI, 2005), particularmente quando a localidade se trata de UC, neste
caso APAs.
O turismo se materializa no lugar e tem sido opção do discurso desenvolvimentista para
ascensão das economias locais ou regionais, todavia tem contribuído apenas para o crescimento
econômico. Por conseguinte, sendo importante o respeito ao endógeno, bem como a valorização da
participação da população local na construção e execução do planejamento e gestão, isto é, a
atividade precisa ocorrer na perspectiva de contribuir para o desenvolvimento local e regional
(BUARQUE, 2001 e 2004; JESUS, 2007; ENDLICH, 2007; HANAI, 2012), deste modo o processo
de regionalização deve estar pautado em critérios que garantam uma estruturação da região.
A regionalização é um processo de integração a partir de características comuns que
envolvem áreas podendo ser norteado pelo princípio da homogeneidade, no qual o destaque
principal será a fisionomia, aspectos naturais, uniformidade ou semelhança, zonas ou em áreas,
descrição de lugares, entre outros, também podendo ser pelo princípio da coesão que é norteado
pelos fluxos, relações de organizações, nós, polos, fronteiras e limites, entre outros (HAESBAERT,
2010, 134), de acordo com Haesbaert (2010, p. 135) ―É evidente que, num espaço ao mesmo tempo
articulado (―coeso‖) e desarticulado (―disperso‖), ordenado e desordenado como o nosso, alguns
espaços também poderão ser definidos mais pela desarticulação ou pela dispersão que pela coesão
articulação‖.
Os municípios do território turístico das APAs de Guadalupe e da Costa dos Corais aqui
destacado tem possibilidade de regionalização do seu espaço considerando como base o processo de
des-articulação por destacar o caráter concomitante de estruturação e desestruturação regional,
espaços ao mesmo tempo conectados, coesos e desconectados, disjuntos. (HAESBAERT, 2010), em
virtude que ―Num mundo globalizado como o nosso, o específico não se refere tanto aos eventos
em si, mas, sobretudo, a suas distintas combinações. Em síntese, é sobretudo a especificidade da
combinação que faz a diferença‖ (HAESBAERT, 2010, p. 129), logo pode verificar as propriedades
básicas da área em questão, sua configuração espacial típica, fenômenos privilegiados, os
indicadores, o tipo de método e as limitações da regionalização.
As regiões não são mais apenas unidades caracterizadas pela existência de áreas contínuas e
demarcadas, pois podem possuir uma conexão mais intensa com espaços descontínuos, todavia mais
articulados, segundo Haesbaert (2010, p. 23) ―[...] toda regionalização deve sempre ser considerada,
também um ato de poder – o poder recortar, de classificar e, muitas vezes, também de nomear‖, fica
evidente que a região é um artifício, pois ela é um artefato e um ofício (HAESBAERT, 2010), de
modo que garanta a sua identidade, especificidade e singularidade que serão vislumbradas a partir

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de sua interpretação. Diante do explicitado a análise terá como enfoque a polissemia de conceitos
sobre a região, o seu caráter homogêneo e de coesão, mas, principalmente, considerando a sua des-
articulação, pois assim poderão ser interpretados os detalhes mais incutidos na proposta de
regionalização, respeitando suas especificidades singulares e particulares.

A dinâmica social e econômica

O território turístico da APA da Costa dos Corais e da APA de Guadalupe é composto por
doze municípios pertencentes aos Estados de Alagoas e Pernambuco, possui uma concentração
populacional estimada de 253.110 habitantes (IBGE, 2015), sendo os municípios de Barreiros/PE,
Sirinhaém/PE e Maragogi/AL os mais populosos (Tabela 01).

Tabela 01 - População (Estimativa 2015) e Índice de Desenvolvimento Humano


Região das APAs de Guadalupe e da Costa dos Corais

Pop. Incidência de
Município IDHM 2000 IDHM 2010
Estimada Pobreza

AL - Barra de Santo Antônio 15.742 0,378 0,557 61,48%


AL - Maragogi 32.171 0,419 0,574 64,12%
AL - Paripueira 12.887 0,423 0,605 77,25%
AL - Passo do Camaragibe 15.419 0,382 0,533 55,71%
AL - Porto de Pedras 8.151 0,344 0,541 61,23%
AL - São Miguel dos Milagres 7.876 0,444 0,591 51,05%
AL -Japaratinga 8.350 0,414 0,570 57,32%
PE - Barreiros 42.220 0,471 0,586 61,09%
PE - São José da Coroa Grande 20.335 0,474 0,608 66,31%
PE -Rio Formoso 23.181 0,420 0,613 50,72%
PE -Sirinhaém 44.187 0,436 0,597 45,90%
PE -Tamandaré 22.591 0,402 0,593 69,02%
Total 253.110 0,417 0,581 60,10%
Fonte: IBGE/POF-2002/2003-IBGE, 2010 - PNUD, 2013 - MTE/RAIS - Município - 2014, adaptado

Os municípios do território da APA da Costa dos Corais e da APA de Guadalupe apresentam


um índice de desenvolvimento humano municipal em média de 0,581, os municípios de menor
IDH-M são Barra de Santo Antônio/AL, Passo do Camaragibe/AL, Porto de Pedras/AL e
Maragogi/AL e o que apresenta maior IDH-M é Rio Formoso/PE, de acordo com a tabela acima
(Tabela 01).
Quando se compara o IDH-M dos anos 2000 com a última edição do Atlas Brasil 2013, do
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD se percebe uma moderada evolução
durante a década, porém a incidência de pobreza ainda é muito elevada na maior parte dos
municípios deste território turístico. O município de Paripueira/AL apresenta 77,25% de sua
população em situação de pobreza, o dado caracteriza expressamente que a maioria dos municípios

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

da área em questão possui intensas desigualdades sociais, fomentada, provavelmente, pela


ineficiente gestão pública.
Os municípios são desestruturados e desarticulados, consequentemente resultando numa
taxa de geração de empregos baixa, inclusive alguns municípios têm retroagido suas taxas. O
território turístico das APAs da Costa dos Corais e de Guadalupe tem gerado cerca de 34.190
empregos (MTE/RAIS, 2014), sendo os municípios de Sirinhaém/PE, Rio Formoso/PE e
Tamandaré/PE os que apresentam maiores índices de empregos (Tabela 02). De forma preliminar se
concluí que a proximidade destes municípios com a Região Metropolitana de Recife, Porto de
Suape/PE, bem como o incremente do turismo já existentes em Tamandaré/PE tenha impulsionado a
maior geração de empregos.
Os municípios de Japaratinga/AL, São Miguel dos Milagres/AL e Porto de Pedras/AL
apresentam os menores índices de empregos (Tabela 02), de maneira inicial são possíveis
motivações a desarticulação e falta de investimentos por parte governamental, apesar da relativa
proximidade com a Região Metropolitana de Maceió/AL.

Tabela 02 - Número de empregos ativos em 31/12


Região das APAs de Guadalupe e da Costa dos Corais
Ano
Município
2013 2014 Var. Abs. Var. Rel. (%)
AL - Barra de Santo Antônio 1.125 989 -136 -12,09
AL - Maragogi 3.412 4.013 601 17,61
AL - Paripueira 850 1.061 211 24,82
AL - Passo do Camaragibe 1.233 1.358 125 10,14
AL - Porto de Pedras 763 774 11 1,44
AL - São Miguel dos Milagres 748 830 82 10,96
AL -Japaratinga 623 676 53 8,51
PE - Barreiros 4.014 4.299 285 7,10
PE - São José da Coroa Grande 1.837 1.559 -278 -15,13
PE -Rio Formoso 6.663 7.269 606 9,10
PE -Sirinhaém 8.124 8.230 106 1,30
PE -Tamandaré 4.326 3.132 -1.194 -27,60
Total/Médio 33.718 34.190 472 36,16
Fonte: MTE/RAIS - Município - 2014, adaptado pelo autor.

A Região Turística da Costa dos Corais e Guadalupe apresenta um baixo quantitativo de


emprego, sendo a maior parte deles na Administração Pública (Tabela 03), aproximadamente de
29,42%, dos 34.190 empregos ativos (MTE/RAIS, 2014), importante destacar que se tem uma
população estimada (IBGE, 2015) de 253.110 habitantes na região, logo apenas 13,5% da
população está empregada formalmente.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 826


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Os setores de comércio e serviços tem destaque em relação a geração de empregos diretos e


indiretos na região, aproximadamente 27,34% estão nestes setores. Pode-se destacar que o turismo é
uma das atividades responsáveis pelo interessante incremento no comércio e serviço, portanto
percebe-se que a gestão deste espaço e da atividade turística poderá contribuir para minimizar as
desigualdades sociais, todavia se estiver alicerçada no empoderamento da sociedade local,
participação e gestão do turismo.

Tabela – 03 - Número de empregos ativos em 31/12 por setor


Região das APAs de Guadalupe e da Costa dos Corais
2014
Município
Comércio Serviços Administração Pública Total
AL - Barra de Santo Antônio 68 94 592 754
AL - Maragogi 414 1.757 1609 3.780
AL - Paripueira 116 457 152 725
AL - Passo do Camaragibe 58 70 1058 1.186
AL - Porto de Pedras 28 137 489 654
AL - São José dos Milagres 62 230 523 815
AL -Japaratinga 36 240 389 665
PE - Barreiros 1.296 608 1602 3.506
PE - São José da Coroa Grande 503 249 743 1.495
PE -Rio Formoso 246 384 754 1.384
PE -Sirinhaém 772 213 1303 2.288
PE -Tamandaré 420 888 845 2.153
Total 4.019 5.327 10.059 19.405
Fonte: MTE/RAIS - Município - 2014, adaptado pelo autor.

Ocorrem múltiplos usos do território das APAs de Guadalupe e da Costa dos Corais,
destacadamente a indústria de transformação, construção civil, agropecuária, extração vegetal e
mineral, todavia pela beleza cênica, presença de duas APAs, uma reserva biológica, localização
privilegiada entre os Estados de Alagoas e Pernambuco, contexto litorâneo, presença de meios de
hospedagens, de órgãos públicos ambientais e organizações não governamentais, estes já
conectados com os serviços e comércio (Turismo/Meios de Hospedagens/Restaurantes/Bares/Etc.),
bem como o turismo já faz parte da dinâmica econômica destes municípios. As características
ressaltadas favorecem e se traduzem como possibilidades para regionalização turísticas dos
municípios destas APAs.
De modo que a regionalização do território poderá contribuir com a aproximação,
articulação e conexão dos municípios, com isso fortalecendo o contexto socioeconômico e podendo
estimular a proteção dessas unidades de conservação.

A constituição da rede urbana e seu comando regional

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 827


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Os doze municípios pertencentes à Região Turística da Costa dos Corais e Guadalupe


possuíam aproximadamente 234.509 habitantes no último censo demográfico (IBGE, 2010), com
estimativa de crescimento de cerca de 8%, desta forma representando aproximadamente um número
de 253.110 habitantes (IBGE Estimativa, 2015). Destarte este quadro populacional é disperso pelos
municípios em suas áreas rurais e urbanas, mas influenciado pelas Regiões metropolitanas de Recife
e Maceió. Os municípios de Barreiros/PE e Sirinhaém são os mais populosos, enquanto os
municípios de Japaratinga/AL e São Miguel dos Milagres o de menor quantitativo de habitantes.
De acordo com o estudo de arranjos populacionais urbanos do Brasil (IBGE, 2010) percebe-
se que a Região Turística de Guadalupe e da Costa dos Corais sofre intensa influência da Região
Metropolitana de Maceió, mas principalmente da Região Metropolitana de Recife. É perceptível a
influência do arranjo populacional urbano entre Maragogi/AL e São José da Coroa Grande/PE, este
colabora com o fortalecimento e influencia a rede urbana dos demais municípios da área em
questão.
Apesar do destaque para o arranjo urbano populacional entre Maragogi/AL e São José da
Coroa Grande, destaca-se que o comando regional nesta possibilidade de proposta de regionalização
será do município de Tamandaré/PE, não pela capacidade de influência da rede urbana, porém pela
sua importância turística, proximidade com a principal Região Metropolitana que é da Recife e por
agrupar órgãos ambientais, cuja centralidade da Região Turística acontece, principalmente, pela
importância ecológica e o desenvolvimento do turismo que área possuí, consequentemente este
município poderá ser comandante regional da rede urbana e articular coesamente os demais
municípios, cujo intuito é o desenvolvimento local e regional.

A centralidade da gestão administrativa e capacidade de decisão

A partir da análise do estudo da Gestão do Território, no tocante a redes e fluxo do território


(IBGE/Gestão do Território, 2014) percebe-se que o nível de centralidade da gestão pública, em
2013, nos municípios da Região Turística de Guadalupe e da Costa dos Corais tem um nível de
centralidade nove.
Em se tratando do nível de ligações entre as instituições públicas na área é considerada
como nível três e no contexto de agência, consequentemente um índice baixo, todavia em virtude,
como já destacado anteriormente, a centralidade, a gestão administrativa e o poder decisório
poderão ser do município de Tamandaré/PE, por apresentar características interessantes.
A escolha do município de Tamandaré se dá porque este abriga órgãos ambientais de
comando das áreas de proteção ambiental – APAs de Guadalupe e da Costa dos Corais, a presença
do IBAMA, Agência Pernambucana de Meio Ambiente e Recursos Hídrico – CPRH, Centro de
Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Marinha do Nordeste – CEPENE, uma interessante

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 828


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

estrutura de gestão do turismo já constituída neste município, a presença de Associação de Hotéis


Pousadas Restaurantes e Similares de Tamandaré- HPREST, a proximidade da Região
Metropolitana de Recife, está inclusa como área estratégica do turismo para Pernambuco, bem
como devido a interessante ocorrência da atividade turística na localidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente artigo tinha como objetivo central analisar as perspectivas de uma proposição de
regionalização para os municípios pertencentes as APAs de Guadalupe e da Costa dos Corais, com
intuito de contribuir com o planejamento, gestão ambiental e turística, sustentabilidade e o
desenvolvimento nas escalas local e regional. O devido objetivo foi atingido a partir da
possibilidade de constituição da Região Turística de Guadalupe e da Costa dos Corais.
Foi escolhido o município de Tamandaré/PE como de melhor centralidade para gerir a
Região Turística da Costa dos Corais e Guadalupe, pois este município abriga as sedes das duas
APAs, a presença do ICMBIO, IBAMA, CEPENE e CPRH, além da existência de uma reserva
biológica, proximidade com a Região Metropolitana de Recife, o turismo já é uma atividade
presente no seu território, foi beneficiado por recursos do PRODETUR e é área estratégica do
turismo em Pernambuco, apesar do município não ter um grande número de habitantes, bem como
não está no centro da região, entretanto as características ressaltadas constituem grande centralidade
para torná-lo administrativo.
Os municípios envolvidos na Região Turística da Costa dos Corais e Guadalupe são
pertencentes aos Estados de Alagoas e Pernambuco, estas características pode tornar vulnerável a
centralidade administrativa, todavia o município de Tamandaré/PE já é sede de ambas as APAs,
consequentemente diminuindo a possibilidade de diminuir a centralidade administrativa e o
comando regional.
A criação desta região turística poderá contribuir para fortalecer o turismo nos municípios
envolvidos, uma vez que a partir de um processo de roteiro turístico pode possibilitar uma maior
permanência do turista nesses municípios, logo aumentando as relações comerciais na localidade,
assim dinamizando a economia local e regional.

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ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 829


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ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 831


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

TURISMO, EDUCAÇÃO E PLANEJAMENTO AMBIENTAL


EM GUARAMIRANGA-CE

Antonio CORREIA JUNIOR


Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente PRODEMA-UFC
antonio.correiajunior@hotmail.com
Edson Vicente da SILVA
P rofessor Titular Doutor em Geografia UFC
cacauceara@gmail.com
Laura Mary Marques FERNANDES
Professora colaboradora do mestrado UECE e ATENEU
lauralucas66@hotmail.com
Bruna Maria Rodrigues de Freitas ALBUQUERQUE
Doutoranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente PRODEMA-UFC
bfreitas_@hotmail.com

RESUMO
Este artigo discute o turismo no município de Guaramiranga-CE com ênfase nos impactos desse
fenômeno. Destacam-se as atividades econômicas predominantes e os atrativos turísticos sendo o
turismo analisado como atividade que produz impactos positivos e negativos e a educação e
planejamento ambiental entendidos como capazes de orientar o desenvolvimento o turismo de
forma a mitigar os impactos negativos. Para realização o estudo procedeu-se à pesquisa
bibliográfica e de campo. Os principais resultados revelaram que o turismo em Guaramiranga
contribui para a articulação entre os municípios e que trouxe benefícios como postos de trabalho e
oferta de serviços, porém, muitas vezes esses benefícios não se concretizam e não se sabe a relação
custo benefício da exploração dos recursos ambientais da região.
Palavras-chave: Turismo, Educação ambiental, Planejamento ambiental.
ABSTRACT
This article discusses tourism in the municipality of Guaramiranga-CE with emphasis on the
impacts of this phenomenon. Emphasis is placed on the predominant economic activities and tourist
attractions, with tourism being analyzed as an activity that produces positive and negative impacts
and education and environmental planning understood as capable of orienting the development of
tourism in order to mitigate negative impacts. For the accomplishment of the study the
bibliographical and field research was carried out. The main results revealed that tourism in
Guaramiranga contributes to the articulation between municipalities and has brought benefits such
as jobs and services, but often these benefits do not materialize and the cost-benefit of the
exploitation of resources is not known Environmental impacts of the region.
Key-words: Tourism, Environmental education, Environmental planning.

INTRODUÇÃO

Os problemas ambientais decorrentes da intervenção da sociedade na natureza tornam


necessária a adoção de medidas que mitiguem os impactos das atividades econômicas. Essas

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

atividades transformam as paisagens e os modos de vida dos residentes. Do mesmo modo,


necessário se faz cuidar do comportamento presente e futuro da sociedade no sentido de realizar
intervenções sustentáveis.
Os efeitos do turismo têm motivado estudos sobre os impactos positivos e negativos da
atividade nos núcleos receptores de fluxos turísticos. Nesse sentido, a educação e o planejamento
ambiental apresentam diretrizes que contribuem para atenuar impactos negativos, ativar impactos
positivos e, numa visão de longo prazo, educar para a formação de outra forma da sociedade pensar
e se relacionar coma natureza.
A educação ambiental promove a aprendizagem de conhecimento, incentiva o
desenvolvimento de talentos e de comportamentos que se transformem em práticas de cidadania na
busca de uma sociedade sustentável. Um dos objetivos principais é compreender os
relacionamentos existentes entre os seres humanos e a natureza, procurando reconhecer os
problemas locais e globais aperfeiçoando os aspectos sociais e históricos, éticos e culturais do meio
onde estão inseridos. O planejamento ambiental, por sua vez, apresenta-se como processo capaz de
promover a organização das atividades que envolvem a sociedade e a natureza na perspectiva da
racionalidade ambiental.
Recorre-se a esses conceitos para estudar o município de Guaramiranga, localizado na
unidade geoambiental do Maciço de Baturité. Esse município tem passado por diversas
transformações espaciais devido às atividades ligadas à agricultura, ao crescimento urbano, à
especulação imobiliária e à intensificação de atividades turísticas. É objetivo deste artigo abordar os
impactos do turismo no município de Guaramiranga e a importância da educação e do planejamento
ambiental como caminho de reestruturação social e de conservação dos ecossistemas.

APRESENTAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

A cidade de Guaramiranga está localizada no Maciço de Baturité a 109 km de Fortaleza e


apresenta população de aproximadamente 4.070 habitantes (IBGE. 2010). A temperatura varia entre
15°C e 25ºC e a paisagem serrana se destaca pelo verde abundante, em contraste com as áreas
semiáridas do entorno. A Figura 01 apresenta a localização do município.
O município de Guaramiranga tem passado por várias transformações sócio espaciais. São
relatados impactos ao meio ambiente motivados pela ocupação inadequada, tais como:
desmatamento indisciplinado, aceleração dos processos erosivos com deslizamentos de terra em
vertentes, intensificação do assoreamento de cursos de água e de barragens; desaparecimento de
fontes perenes e sazonais, diminuição progressiva de produção e de produtividade agrícola,
vulnerabilidade da economia primária e êxodo rural, dentre outros fatores. Verifica-se o

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

empobrecimento dos ecossistemas naturais sob efeito das atividades humanas que findam por
degradar os recursos naturais (GOVERNO DO CEARÁ, 1992).

Figura 01 Mapa de localização da área estudo: Guaramiranga-CE. Fonte: Lima, 2010.

A economia antes baseada no setor primário incorpora o setor terciário que assume
importância no contexto econômico municipal. Guaramiranga é um dos poucos municípios
cearenses que não está localizado no litoral e que integra a lista dos vinte municípios mais visitados
do Ceará. Em 2014 recebeu aproximadamente 40.947 turistas conforme pesquisa da demanda
turística via Fortaleza realizada pela Secretaria Estadual do Turismo (SETUR-CE). A oferta
hoteleira apresenta 25 meios de hospedagem que totalizam 377 apartamentos (SETUR, 2016).Com
a ampliação da área do Programa de Ação para o Desenvolvimento do Turismo ( PRODETUR) o
Maciço de Baturité foi contemplado com o Plano de Desenvolvimento do Turismo Integrado do
Turismo Sustentável (PDTIS).
A agressão ao meio ambiente é registrada desde as primeiras ocupações e atividades
econômicas, principalmente com a cultura cafeeira na serra.
Segundo Coriolano (2006, p. 26), a ―tendência do turismo é dispersar os fluxos dos espaços
centrais para os periféricos‖. Portanto, o turismo é uma atividade que intrinsecamente dispõe de

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

elementos para reverter a excessiva valorização de grandes centros, beneficiando as pequenas


regiões ou localidades sendo Guaramiranga lugar oportuno para desenvolvimento dessa atividade.
Tendo a educação ambiental e o planejamento ambiental o objetivo de construir relações
sociais, econômicas e culturais capazes de respeitar e incorporar as diferenças, como por exemplo,
―minorias étnicas, populações tradicionais, a perspectiva da mulher e a liberdade para decidir entre
os caminhos alternativos de desenvolvimento sustentável, sempre respeitando os limites dos
ecossistemas que são substrato de própria possibilidade de sobrevivência da espécie humana‖
(MEDINA, 1999, p.16), vislumbra-se a vinculação com o desenvolvimento racional do turismo.

METODOLOGIA

A metodologia aplicada neste estudo fundamentou-se em pesquisa exploratória, baseada na


análise de conteúdo bibliográfico, consulta à trabalhos acadêmicos disponíveis na internet, base de
dados de instituições públicas e legislação ambiental vigente.
A pesquisa foi iniciada com a revisão de literatura sobre problemas ambientais decorrentes
das atividades econômicas no Maciço de Baturité. Pesquisou-se também sobre o turismo em
Guaramiranga, educação ambiental e planejamento ambiental. Essa etapa possibilitou uma visão
ampla sobre o turismo na região. Em seguida, realizou-se a pesquisa de campo utilizando-se a
técnica de observação. Nessa fase identificaram-se a infraestrutura, paisagem, impactos gerados
pelo turismo e avanços de especulação imobiliária. Foram realizados seis períodos de observação
sendo três no ano de 2016, nos meses de agosto, dezembro e fevereiro e três em 2017, nos meses de
fevereiro, abril e junho. Após a fase de observação as informações coletadas foram analisadas.

REFERENCIAL TEÓRICO

A educação ambiental pode ser entendida como processo participativo, no qual o educando
assume o papel de elemento central do processo de ensino/aprendizagem pretendido, dessa forma
participa ativamente do diagnóstico de problemas ambientais, contribui na busca de soluções, sendo
preparado como agente transformador das atuais condutas populares, por meio do desenvolvimento
de habilidades e da formação de atitudes e de uma conduta ética condizente ao exercício da
cidadania. Para Sauvé (2002), a Educação Ambiental visa a induzir dinâmicas sociais, de início na
comunidade local e, posteriormente, em redes mais amplas de solidariedade, promovendo a
abordagem colaborativa e crítica das realidades socioambientais e uma compreensão autônoma e
criativa dos problemas que se apresentam e das soluções possíveis para eles.
A natureza não é fonte inesgotável de recursos e suas reservas são finitas, devendo ser
utilizadas de maneira racional, evitando-se o desperdício e considerando-se a reciclagem como
processo vital, sendo a manutenção da biodiversidade fundamental para a sobre vivência da

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

humanidade, nesse sentido, Philippi (2001) destaca que a Educação Ambiental volta-se para valores
que conduzam a uma convivência harmoniosa das espécies que habitam o planeta com o meio
ambiente.
Nesta temática, a EA constituiu-se em uma forma abrangente de educação, cuja proposta
visa atingir todos os cidadãos, com um processo pedagógico e participativo permanente, procurando
incutir no educando uma consciência crítica sobre a problemática ambiental, compreendendo-se
como crítica a capacidade de captar a gênese e a evolução de problemas ambientais (SOUSA,
2007).
Dias (2000) acredita que educação ambiental é um processo no qual as pessoas apreendem
como funciona o ambiente, como a sociedade depende dele e o afeta, e que lida também com a
promoção da sustentabilidade. Para Vasconcelos (1997), a presença, em todas as práticas
educativas, da reflexão sobre as relações dos seres entre si, do ser humano com ele mesmo e do ser
humano com seus semelhantes é condição imprescindível para que a educação ambiental ocorra.
Assim a educação ambiental desperta a preocupação individual e coletiva para a questão ambiental,
de forma crítica e fundamentada, almejando melhoria da qualidade de vida, com sustentabilidade
ambiental e social. (RODRIGUEZ e SILVA, 2009). Segundo os mesmos autores a educação
ambiental surge como uma necessidade no processo de resguardara humanidade de seu próprio
desaparecimento e de ultrapassar a crise ambiental contemporânea.
A educação ambiental tem o papel de promover o crescimento da consciência ambiental,
ampliando a expectativa de a população participar em um nível mais elevado no processo decisivo,
como uma forma de fortalecer ambas as responsabilidades na fiscalização e no controle dos agentes
de degradação ambiental.
Se a educação ambiental forja a preparação das pessoas para uma participação ativa e crítica
o planejamento ambiental é o processo por meio do qual busca-se integrar informações,
diagnosticar ambientes, prever ações e normatizar seu uso através de uma linha ética de
desenvolvimento (SANTOS, 2004). Isso significa que para alcançar o desenvolvimento sustentável,
o planejamento ambiental se faz necessário, pois analisa sistematicamente as potencialidades e
riscos inerentes a utilização dos recursos naturais para o desenvolvimento da sociedade.
A crescente preocupação pela extração, exploração e pelo consumo dos recursos naturais de
forma massiva, pelas variadas formas de poluição e pelos impactos socioambientais, verificados nos
últimos tempos, desencadearam o surgimento de movimentos em defesa da conservação e
preservação do meio ambiente (PACHECO, 2014). Na mesma direção de análise adotada por
Pacheco (2014), se consideraram os estudos desenvolvidos por Silva Quintas (2004), em que o
autor afirma que o planejamento ambiental surge como resposta a esses movimentos, na tomada de
decisões relativas à forma e à intensidade com que se deve usar, incluindo os assentamentos

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

humanos, as organizações sociais e produtivas de coletas de informações, de análise e de reflexão


sobre as potencialidades e limitações dos sistemas ambientais de um território.
Para Seiffert (2014), o processo de gestão ambiental surge como alternativa para buscar a
sustentabilidade. Contudo, a gestão ambiental lida com situações extremamente complexas, envolvendo uma
realidade problemática cujas condições necessitam ser melhoradas. Isso implica, na maioria das vezes, lidar
com interventores ou agentes que apresentam interesses conflitantes em relação à forma de utilização de um
determinado bem ambiental.
Para a sociedade, a importância do planejamento ambiental deve-se ao seu funcionamento
enquanto uma ação preventiva contra os possíveis problemas ambientais decorrentes do
desordenamento da ocupação territorial da cidade. Nesse sentido, a ocupação planejada tem a
função de beneficiar a população através de medidas preventivas e mitigadoras dos problemas
ambientais. Para Rodriguez, Silva e Cavalcanti o planejamento ambiental do território converte-se
em ―um elemento tanto básico como complementar para a elaboração dos programas de
desenvolvimento econômico e social, e para a otimização do plano de uso, manejo e gestão de
qualquer unidade territorial‖ (RODRIGUEZ; SILVA; CAVALCANTI, 2007, p. 57).
O planejamento ambiental deve ser algo presente no Plano Diretor Regional, o que
asseguraria a proteção e conservação dos recursos naturais. De acordo com Martins (2008), o plano
diretor deverá conduzir as ações para o caminho do desenvolvimento sustentável, uma vez que o
meio urbano é considerado um sistema dinâmico de atividades humanas (MARTINS, 2008). Dessa
maneira, o planejamento ambiental objetiva o desenvolvimento sustentável que, segundo Rebouças
(1997), ―é caracterizado como um processo que se deve compatibilizar, no espaço e no tempo, o
crescimento econômico, com a conservação ambiental, a qualidade de vida e a equidade social‖
(REBOUÇAS, 1997, p. 127).
A preocupação com a exploração desordenada dos recursos naturais tem sido um dos temas
mais debatidos dos últimos anos e não apenas pela comunidade científica, pois o poder público e
sociedade civil têm assumido um papel de grande importância nessa discussão. A necessidade de
um gerenciamento no intuito de evitar o esgotamento das potencialidades naturais surge de forma
cada vez mais intensa nos mais diversos meios de comunicação, discute-se muito sobre o
desenvolvimento sustentável na sociedade contemporânea.
Na procura pela satisfação das necessidades e dos ilimitados desejos, o ser humano recorre à
exploração dos recursos naturais, alterando o dinamismo do meio ambiente. Este, definido como ―o
conjunto de fatores naturais e sociais e suas interações em um espaço e tempo dados‖
(RODRIGUEZ, SILVA, 2009. p. 30). Contudo, percebe-se que os impactos ambientais são
manifestados através da intensa exploração e transformação dos recursos naturais, associados aos
resíduos durante o processo de produção ao consumo na atual sociedade.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

De acordo com Santos (2004, p. 27), a ―abordagem sobre meio ambiente tem sido motivo de
discussão e análise em quase todo o mundo, devido às alterações que o mesmo tem vindo a registrar,
principalmente, desde que se deu a Revolução Industrial e no período posterior à Segunda Guerra Mundial,
em 1945‖. Estas alterações estão relacionadas com o aumento pela competição por terras, água, recursos
energéticos e biológicos e ao desenvolvimento tecnológico puramente materialista onde a natureza é vista
como uma fonte de oferta de recursos naturais inesgotáveis (SANTOS 2004, p. 27).
A dimensão ambiental não é preocupação apenas da esfera científica, mas também deve ser
suportada por um debate político sobre os objetivos e estratégias de desenvolvimento, pressupondo a geração
de consensos entre os diversos atores políticos. O planejamento ambiental pode desempenhar um papel
importante na identificação dos custos e benefícios decorrentes das estratégias de desenvolvimento
sustentável. No âmbito do turismo se constitui em processo que contribuiria para pensar o turismo
sustentável e encaminhar propostas alinhadas com as premissas da sustentabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

O município de Guaramiranga está inserido na Área de Proteção Ambiental (APA) do


Maciço de Baturité, contudo é o município que mais perde cobertura vegetal para construção de
mansões com piscinas, jardins e cachoeiras artificiais. A construção de poços para aguar jardins e
manter cascatas artificiais em propriedades privadas gera o consumo elevado de água, prejudica o
abastecimento da cidade e a manutenção das nascentes causando assim grande impacto ambiental.
A especulação imobiliária tem prejudicado a população local e verificou-se que donos de
sítios e empresários constroem muros fazendo uso indevido de vias públicas. Observa-seque há
propaganda intensa das imobiliárias que utilizam o verde da serra como atrativo: "vende-se um
pedaço da serra de Guaramiranga nas encostas." A especulação imobiliária resultou na migração
das comunidades tradicionais para áreas periféricas aumentando a mancha urbana do município e
alterando a paisagem natural. As consequências do uso desordenado tem levado representantes de
entidades, pesquisadores e residentes interessados em proteger o meio ambiente a induzir a
realização de audiências públicas para tentar reverter essa situação.
O município de Guaramiranga possui atrativos integrados à prática turística. Os
atrativosligados à naturezatêm grande importânciaincluindo-se a temperatura amena,fauna, flora,
existência de cachoeiras que permitem a realização de banhos e as trilhasecológicas. Nasúltimas
décadas foi desenvolvida uma atmosfera cultural com a realização de eventos como os Festivais de
Jazz & Blues e de Teatro. A agriculturaligada à produção de flores e frutas se integra à
atividadeturística. A Rota do Café articulaessaatividadecomoutrosatrativosaoturismo.
O turismoemGuaramiranga é influenciado pela proximidadecom Fortaleza e reforça outras
atividadesfornecendoalternativaeconômica, contudo é necessário salientar as implicações sociais
que a atividade turística causa e que atingem, sobretudo, os sistemas de valores das comunidades. A

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valorização do município pelo turismo trouxe impactos positivos e negativos. Entre os positivos
estão a dinamização do comércio, o aumento da oferta de meios de hospedagem e de alimentação.
Os impactos negativos causados vão na contramão do que afirmam Andrade e Vieira (2006) sobre a
atratividade dos destinos turísticos:

As localidades turísticas devem necessariamente, zelar pela conservação de sua paisagem e


pela qualidade de vida de seus moradores, transmitindo uma imagem positiva ao turista,
motivando-o a conhecer e permanecer por um maior período de tempo nessa localidade,
tornando-se depois um agente propagador do centro receptor. Se o turista, quando sai para
passear, almeja descansar e conhecer locais e pessoas agradáveis torna-se fácil
compreender porque um local degradado não lhe vai ser muito atraente. (ANDRADE;
VIEIRA, 2006, p. 13).

Economicamente o município tem como principal fonte de renda o terceiro setor da


economia, através dos serviços, principalmente ao que concerne as atividades que compõe e dão
apoio à atividade turística e administração pública. As atividades da agricultura foram a ―chave‖ de
abertura na ocupação territorial. Na tabela 01, observa-se a distribuição da população e
quantificação nos empregos formais no município.

Discriminação Número de empregos formais

Total Masculino Feminino


Extrativa Mineral - - -
Indústria de Transformação 7 7 -
Serviços Industriais de Utilidade Pública - - -
Construção Civil - - -
Comércio 70 53 17
Serviços 174 110 64
Administração Pública 421 162 259
Agropecuária 43 34 9
Total das atividades 715 366 349

Tabela 01. Empregos formais no ano de 2015. Fonte: Ministério do Trabalho (MTb) – Cadastro Geral de
Empregados e Desempregados (CAGED) 2015.

Formalmente, a administração pública absorve a maior quantidade de empregos no


município, deve-se considerar o fato dos cargos comissionados que são comuns nas prefeituras.
Seguindo com os serviços, as atividades em destaque desenvolvidas nos meios de alimentação, nos
meios de hospedagem e na área de lazer têm sido crescentes no sentido de atender a demanda
turística.
Com o objetivo de atender a população local e os turistas, o comércio de Guaramiranga
oferece diferentes produtos nas lojas de material de construção, artesanato, estabelecimentos de
alimentação, farmácia, oficina, dentre outros. A agropecuária é uma atividade de essência
alimentícia para a região, porém a oferta maior das frutas, hortaliças, legumes e derivados é advinda
do Centro de Abastecimento localizado no município de Maracanaú. Em algumas propriedades
ainda se produz de forma atender uma demanda menor. Alguns sítios estão envolvidos na Rota do

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Café que associa o turismo ao cultivo do café de sombra típico da região. Porém praticamente tudo
o que é consumido é comprado em outros municípios.
A influência do turismo não atinge todas as localidades, já que nem todas ficam no roteiro
das áreas mais visitadas tampouco a população rural foi preparada para atender a necessidade desse
setor (LIMA, 2010). Esse fato denota também a movimentação regional gerada pelo fluxo turístico
que visita o município de Guaramiranga.
Dentre as atividades agrícolas que são desenvolvidas, verifica-se o agroextrativismo
combinado com agricultura e outras atividades realizadas para a produção familiar ou comunitária.
Assim observa-se a olericultura, favorecida pelo clima e água, a fruticultura, com a produção de
banana, manga, abacate e outros e a floricultura.
Outra referência são as indústrias de transformação local para atender a população local ou
para comercialização. Destacam-se principalmente: licores, doces e artesanato com a produção de
balaios, cestos, urupembas, feitos de tabocas e cipó.
Além dos festivais patrocinados pelo poder público, o turismo em Guaramiranga baseia-se
no apelo do marketing ambiental e na relevância de cenários estéticos. Inicialmente, o visitante que
buscava o lazer na serra, procurava a natureza conservada, o lugar tranquilo para descanso. Nos
últimos tempos, com a divulgação dos eventos culturais, o município passou a atrair um público
maior e diversificado que à noite frequenta as atrações que se concentram na sede e durante o dia
desloca-se para os pontos turísticos na zona rural ou nos municípios vizinhos.
Muitos visitantes atraídos pelo lugar adquiriram propriedades na região e alguns
proprietários passam a transformá-la e assim modificam também modos de ser e se relacionar das
pessoas do lugar. Um exemplo é a construção de muros. Os residentes antigos não costumavam
cercar os quintais, facilitando o acesso entre as casas e diminuindo o caminho percorrido entre as
localidades, no entanto, observa-se que quando a terra muda de proprietário os novos proprietários
por não conhecerem o costume local, ou não se importarem, e preocupados com a segurança
exigida nas cidades constroem cercas de arame ou muros altos prática que geralmente ocupa
grandes áreas verdes e quebra a sociabilidade existente no município.
É inegável que o desenvolvimento justo está relacionado a capacidade de colocar o ser
humano e seus aspectos culturais em primeiro lugar, assim a geração de riqueza pelo turismo
envolve o residente na organização e gestão do turismo e se relaciona com o modelo de gestão e de
planejamento em execução na cidade.

CONCLUSÃO

Constatou-se a centralidade turística de Guaramiranga na região do Maciço de Baturité, e a


integração dos municípios como ponto necessário no fortalecimento da atratividade. O município

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recebe turistas provenientes de outros estados brasileiros, visitantes da região e da metrópole


Fortaleza na busca da contemplação da paisagem de exceção, de clima frio e da prática de
atividades como banhos de cachoeiras e trilhas. As belezas e particularidades inerentes à cidade de
Guaramiranga passam por processo de divulgação e publicidade. O lugar construiu marketing
diferenciado pautado no clima ameno e nos eventos culturais.
Identificou-se que o turismo traz benefícios como postos de trabalho e oferta de serviços,
porém, muitas vezes esses benefícios não se concretizam e não se sabe a relação custo benefício da
exploração dos recursos ambientais da região.
A valorização da área pelo turismo contribuiu para a especulação imobiliária. Construções
são feitas nas encostas tirando a proteção natural dessas áreas, verificando-se a necessidade de
políticas públicas efetivas e mudança de postura e mentalidade no sentido de preservar as áreas de
proteção permanente. O fato de possuir unidades de conservação não impediu o uso e a ocupação
desordenados no Maciço de Baturité e em particular em Guaramiranga, pois nascentes, córregos,
áreas com declive e topos dos morros são utilizados pela agropecuária.
Nos últimos anos muito se tem debatido sobre os impactos do turismo. As comunidades
receptoras muitas vezes são alvos dos efeitos negativos do turismo como agressões naturais pela
exploração excessiva, aculturação, exploração de mão-de-obra, aumento descontrolado dos preços
de produtos, aumento da produção de lixo, entre outros. A gestão do lixo gerado por residentes e
turistas é fundamental exigindo ação do poder público. Nesse aspecto a educação ambiental
associada às iniciativas governamentais voltadas à infraestrutura teria papel importante contribuindo
para esclarecer e informar residentes e turistas.
A principal finalidade do planejamento ambiental consiste em garantir uma organização
harmoniosa do território e dos vários sistemas que nele interatuam, com o objetivo dealcançar o
desenvolvimento sustentável de uma determinada região. Neste sentido, o planejamento ambiental
não deve ser entendido como um fim em si mesmo, mas como um instrumento que pode contribuir
para ajudar a integrar diferentes políticas regionais e municipais.
A atividade turística no município é a principal proposta de desenvolvimento do poder
público, porém observa-se que se não forem tomadas providências o local deixará de ser
considerado atraente para o turismo devido aos fatores apresentados, à falta de infraestrutura,
desmatamento, falta de água, aumento da temperatura entre outros.
Conclui-se identificando a contribuição que o planejamento e a educação ambiental podem
aportar no desenvolvimento dos destinos turísticos e neste caso, em Guaramiranga, pois o
desenvolvimento do turismo de forma sustentável necessita de uma gestão sustentável da cidade
que encontra embasamento no planejamento integral proposto no planejamento ambiental.

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qualidade de vida dos moradores de um centro receptor de turistas. Geografia: ações e
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O ECOTURISMO COMO FONTE DE RENDA LOCAL: UM OLHAR PARA A


BARRAGEM SACO NO MUNICÍPIO DE NOVA OLINDA - PB

Antonio IZIDRO SOBRINHO


Mestrando em Geografia pela UFRN
antonioizidro58@gmail.com
José Alves CALADO NETO
Mestrando em Geografia pela UFRN
joseneto.geo@gmail.com
José Ronaldo de LIMA
Professor de Geografia do Ensino Básico
ronageografia@gmail.com
João Batista de LIMA
Professor de Geografia do Ensino Básico
joaobatistalima36@gmail.com

RESUMO
O turismo consiste numa atividade econômica muito rentável nas diversas escalas em que é
realizado, no entanto, percebe-se que muitos municípios de pequeno e médio porte do Sertão
paraibano possuem potencialidades de ordem - natural e cultural - que podem ser exploradas no
campo do ecoturismo gerando uma renda para a população local e mantendo as características
ambientais dos mesmos. Diante disso, objetivou-se analisar como a Barragem Saco, localizada no
município de Nova Olinda sertão paraibano, pode ser utilizada para a prática do ecoturismo. Diante
disso, realizar-se-á uma pesquisa exploratória por meio de uma análise bibliográfica para
fundamentar teoricamente a pesquisa e a aplicação de questionários a 70 pessoas que já visitaram o
local, entre eles, residentes na cidade e residentes na zona rural onde se localiza a barragem, estes
por sua vez, foram escolhidos de forma aleatória. Através dos resultados obtidos foram construídos
gráficos para uma melhor análise dos dados. Por meio desses dados percebeu-se que todos os
entrevistados que moram na cidade sentem a necessidade de um espaço para a prática do lazer e os
moradores do sitio Saco veem na barragem uma fonte de renda para os moradores do local através
da venda de produtos artesanais e comidas típicas. Diante disso, percebe-se que as pessoas estão
cada vez mais necessitadas de lugares para a prática do lazer, uma vez que a rotina diária provoca
uma série de problemas de saúde e o ecoturismo pode constituir numa alternativa extremamente
atrativa para tal tarefa de forma financeira e ambientalmente falando.
Palavras-chave: Ecoturismo, Barragem saco, Lazer, Fonte de renda.
ABSTRACT
Tourism is a very profitable economic activity in the various scales where it is realized, however, it
is noticed that many municipalities of small and medium size of Sertão Paraíba have potential of
order - natural and cultural - that can be explored in the field of ecotourism Generating an income
for the local population and maintaining the environmental characteristics of the same. Aiming at
this, the objective was to analyze how dam Saco, located in the municipality of Nova Olinda sertão
paraibano, can be used to practice ecotourism. Therefore, an exploratory research will be carried out
through a bibliographical analysis to theoretically base the research and the application of
questionnaires to 70 people who have visited the site, including residents in the city and residents in
the rural area where it is located The dam, these in turn, were chosen at random. Through the

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obtained results graphs were constructed for a better analysis of the data. Through these data it was
noticed that all the interviewees who live in the city feel the need for a space for the practice of
leisure and the residents of the site Saco see in the dam a source of income for the locals by selling
handicrafts And typical foods. Given this, it is perceived that people are increasingly in need of
places to practice leisure, since the daily routine causes a series of health problems and ecotourism
can constitute an extremely attractive alternative to this task financially And environmentally
speaking.
Key words: Ecotourism, Dam saco, Leisure, Source of income.

INTRODUÇÃO

O turismo cresce em todo o mundo e se torna importante fonte de renda para muitas pessoas
das mais diferentes classes sociais. Assim, este se constitui numa saída plausível para muitos
municípios de pequeno e médio porte, pois esta atividade favorece o lazer e ainda pode ser uma
fonte de renda, sobretudo, para famílias que se encontram fora do mercado de trabalho ou como
forma de renda extra.
Por outro lado, vale se alentar de que esta atividade causa, na maioria das vezes, danos ao
meio ambiente, pois em muitos casos são realizadas práticas predatórias ao local onde é praticada.
Assim sendo, surge um campo desta atividade que é o ecoturismo que difere de turismo ecológico
onde para Zacchi (2004) o ecoturismo está ligado à conduta adotada pelo utilizador podendo ser
realizado em qualquer espaço natural; enquanto o turismo ecológico está ligado à utilização de áreas
preservadas, protegidas por lei.
De acordo com a ideia apresentada pelo autor supracitado o ecoturismo constitui na prática
turística de qualquer ponto sem provocar danos ao meio ambiente local, seria, portanto, uma
atividade ecologicamente consciente já que é praticamente impossível separar o ecoturismo do meio
ambiente, ou seja, há uma interdependência de modo que uma não pode prejudicar a outra. Para
Rocha (1998) a inter-relação entre o turismo e o meio ambiente é incontestável, visto que o meio
ambiente é a matéria-prima de qualquer atividade turística.
É notória e nítida a procura por lugares onde a beleza natural atrelada ao lazer e ao conforto
tem aumentado nas últimas décadas. Tal fato se dá como alternativa para ―fuga‖ do meio urbano
que a cada dia se torna mais barulhento, poluído, violento o que gera uma carga muito grande de
estresse que ocorre em municípios pequenos assim como ocorre nos grandes resguardadas as
devidas proporções.
Assim sendo, cabe aos órgãos municipais investirem em tais atividades, pois a escassez de
lugares para a prática de lazer nestas localidades é fruto da falta de investimentos, pois em muitos
desses municípios há espaços cuja beleza natural favorece o lazer e ainda pode gerar renda para a
população da localidade explorada.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

O presente estudo busca analisar como a Barragem Saco pode ser utilizada para a prática do
ecoturismo promovendo o lazer e conhecimento para turistas e uma fonte de renda para os
agricultores e agricultoras da comunidade Saco onde se localiza a referida barragem.
A Barragem Saco localizada no município de Nova Olinda constitui num espaço em que a
prática do ecoturismo pode ser utilizada visando alcançar dois objetivos: uma renda extra para as
famílias do local e ainda por meio de visitas guiadas, trilhas na caatinga, aulas de campo, banhos,
entre outras atividades que podem possibilitar o conhecimento do local, a prática do lazer e a
geração de renda extra.
Nos dias atuais, diante de toda dificuldade econômica que assola o nosso país se faz
necessário que os municípios busquem fontes alternativas para que não fiquem dependentes dos
recursos dos governos estadual e federal.

1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

1.1 Caracterização do local

O presente estudo foi realizado no Sitio Saco no município de Nova Olinda, Sertão
paraibano e tem as seguintes coordenadas geográficas: 7° 28' 18'' de Latitude Sul e 38° 2' 19''
Longitude Oeste distante da capital – João Pessoa a 420 km.
O referido município está localizado na depressão sertaneja a aproximadamente 350 metros
de altitude. Este, por sua vez, possui uma área territorial de 84,253 km2 e uma população de 5.971
habitantes segundo estimativa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,
2016).
Neste espaço localiza-se a Barragem Saco (nome proveniente do Sítio Saco onde se
encontra) está localizada a aproximadamente 6 km da sede do município. Foi um empreendimento
do Governo Estadual realizado no ano de 1985-1986 por meio do projeto Canaã com o objetivo de
favorecer a irrigação, o abastecimento urbano e o lazer.
Segundo a Agência Executiva de Gestão das Águas do estado da Paraíba (AESA) em
pesquisa feita no dia 01/05/2017 a barragem Saco possui capacidade atual de 97.488.089 m3, mas
está com apenas 21.1% do seu volume total o que é equivalente a 20.585.720 milhões de metros
cúbicos. Consiste, portanto, em um grande reservatório de água quando comparado ao número de
habitantes do município em que se encontra.

1.2 Desenho da pesquisa

Para a elaboração desse estudo realizar-se-á uma pesquisa do tipo exploratória que segundo
Gil (2002, p. 41) ―[...] têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com

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vista a torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses‖. Nesta etapa buscar-se-á entender como a
sociedade do município de Nova Olinda, sertão paraibano se relaciona com a barragem Saco e quais
adaptações são necessárias para a prática do ecoturismo no local.
A pesquisa foi realizada no período de fevereiro a maio de 2017 onde, nesta ocasião, foram
aplicados questionários semiestruturados junto a 70 pessoas distribuídos entre moradores do sitio
Saco onde se localiza a barragem e moradores da cidade que costumam frequentar o local para a
prática do lazer, estes, por sua vez, foram escolhidos de forma aleatória.
O referido questionário foi estruturado em três partes principais: a primeira relacionada à
identificação dos entrevistados (local onde reside, tempo que mora no local, ocupação, etc.); a
segunda consiste no entendimento da barragem como alternativa para a geração de renda e a
terceira buscou-se entender como os moradores veem a possibilidade da utilização da barragem
como forma de lazer. Os resultados obtidos foram estruturados em gráficos onde foi realizada em
seguida a análise das informações prestadas.

2 O ECOTURISMO E A GERAÇÃO DE RENDA

O ser humano sempre recorreu aos lugares cujas belezas naturais lhes chamavam a atenção,
no entanto, nas últimas décadas esse tipo de atividade tem sido cada vez mais praticada e os fatores
são diversos entre os quais podemos destacar o ritmo frenético que vivem as pessoas nas áreas
urbanas, a violência que assola a todas as classes, a poluição do ar proveniente da emissão de gases,
entre outros tantos.
Para Xavier (1999) ―Muitas dessas transformações vêm ressaltar a importância do turismo
na sociedade pós-moderna. Criam-se necessidades de fuga ao cotidiano, à procura de lugares mais
saudáveis e de um contato mais estreito com a natureza‖. Assim, conforme o autor, o lazer e, em
especial, as viagens são, verdadeiramente, utilizadas pelos homens que buscam a reposição da
energia perdida durante a realização do trabalho.
Diante de tal situação muitas áreas rurais por mais simples que sejam se tornam atrativas
para a prática do ecoturismo. Segundo a Organização Mundial de Turismo (OMT) em âmbito
mundial o ecoturismo é a modalidade que mais cresceu na última década cabe, pois, aos
governantes municipais investirem em tal atividade de modo que ela se torne uma fonte de renda e
fonte de lazer para população local.
As atividades realizadas por meio do ecoturismo são simples, no entanto, conseguem
conciliar dois pontos extremamente necessários no atual cenário mundial – uma fonte de renda e a
preservação do meio ambiente, pois este é o princípio básico do ecoturismo. Assim sendo, o
município passa a ter meios que promovam o desenvolvimento local.

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O conceito de desenvolvimento local se apoia na ideia de que as localidades e territórios


dispõem de recursos econômicos, humanos, institucionais, ambientais e culturais, além de
economias de escala não exploradas, que constituem seu potencial de desenvolvimento. A
existência de um sistema produtivo capaz de gerar rendimentos crescentes, mediante a utilização
dos recursos disponíveis e a introdução de inovações, garante a criação de riqueza e a melhoria do
bem-estar da população local (BARQUEIRO, 1999 apud ZAPATA, 2004).
O autor ainda explica que ―o desenvolvimento local é um processo em que o social se
integra ao econômico. A estratégia de desenvolvimento endógeno ou desenvolvimento local se
propõe a, além de desenvolver os aspectos produtivos, potencializar as dimensões sociais, culturais,
ambientais e político-institucionais que constroem o bem-estar da sociedade‖ (ZAPATA, 2004).
Sobre desenvolvimento local Coriolano (1998, p. 24) diz que ―o desenvolvimento local
significa, acima de tudo, um desenvolvimento em escala humana, atendendo às demandas sociais.
Nele, o homem passa a ser a medida de todas as coisas e não apenas os índices quantitativos e o
lucro‖. Este, por sua vez, está diretamente relacionado ao modo como as pessoas vivem e não
apenas ao financeiro.
O fato de ser um pequeno município do Sertão paraibano não impede a realização do
ecoturismo, pelo contrário, este surge como sendo uma alternativa viável e plausível, pois os gastos
para sua utilização são mínimos, uma vez que a paisagem do local deve ser a principal atração.
Com relação à prática do turismo em cidades pequenas, Rodrigues (1997) diz que: ―[...] o
desenvolvimento local pelo turismo encontra-se no nível de microrregiões, de pequenos territórios,
de cidades pequenas e médias ou mesmo de vilas e povoados onde são fortemente sentidas as
mediocridades de condições de vida, traduzidas no êxodo e na pobreza‖.

3 A BARRAGEM SACO E A PRÁTICA DO LAZER

A Barragem Saco (nome proveniente do Sítio Saco onde se encontra) se enquadra


perfeitamente neste contexto da prática do ecoturismo, pois possui capacidade hídrica de quase 100
milhões de metros cúbicos, margeada por uma bela formação vegetal do Bioma Caatinga.
Esta barragem teve suas obras concluídas no ano de 1986 por meio do projeto Canãa do
Governo Estadual, esta tinha como prioridade: o abastecimento urbano, a agricultura irrigada e a
prática do turismo. Atividades estas que caminharam juntas até certo período, no entanto, nos dias
atuais tem conseguido manter apenas o abastecimento urbano.

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Foto 1. Turistas na Barragem Saco, 2010. Foto 2. A barragem nos dias atuais, 2017.

Fonte: http://www.giropb.com.br/noticia/barragem-do-saco-em-nova-olinda-supera-coremas-e-catingueira-e-e-o-2-do-vale-com-maior-volume-dagua.html

Analisando as duas imagens acima é possível perceber que se trata de um espaço ideal para a
realização do ecoturismo, no entanto, devidos a fatores de ordem natural (a seca iniciada em 2012 e
que se prolongou até 2015) e por fatores políticos (abandono por parte dos governantes) o espaço
está sendo pouco visitado.
Foi realizada a aplicação de questionários junto a moradores do local sendo 60% deles
habitantes da zona rural – mais precisamente do sitio Saco onde se localiza a barragem e 40%
moradores da cidade. Nesta ocasião, perguntou-se com que frequência os entrevistados costumam
visitar o local para a prática do lazer (ver gráfico 1) visto até pouco tempo o local era lotado todos
os finais de semana.

Gráfico 1. Frequência de visita ao local pelos entrevistados

60% 54%

50%
40% 30%
30%
20% 13%

10% 3%

0%

Diariamente Semanalmente Mensalmente Anualmente

Fonte: IZIDRO SOBRINHO (2017)

Nota-se, por meio dos dados acima que a grande maioria dos entrevistados não visita o local
com frequência sendo que apenas 13% vão ao local diariamente, pois estes são moradores da
comunidade, 3% costumam frequentar uma vez por semana, 30% vão uma vez por mês, sendo que
a grande maioria (54%) só vai à barragem uma vez por ano.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Para Rodrigues (1997) ―os grandes complexos urbanos industriais significaram uma
verdadeira ―prisão‖ para os homens [...]‖. O autor ainda afirma que ―Tal situação vem proporcionar
a valorização das segundas residências e, especialmente, do turismo orientado pela natureza‖.
Assim sendo, o município tem potencial para a realização desta atividade, no entanto, não há o
incentivo e investimento necessários.
Somando os que vão mensalmente com os que vão ao local anualmente nota-se que se trata
de um numero muito grande de pessoas que mesmo morando próximo a barragem não costuma
frequentá-la. Diante disso, perguntamos aos entrevistados o que deveria ter na barragem Saco para
que eles pudessem frequentá-la num período de tempo curto (ver gráfico 2).

Gráfico 2. Atividades que deveriam ser desenvolvidas no local.

Restaurante/lanchonete 25

Opções de banho 35

Trilhas na Caatinga 21

Passeios de canoas 38

Melhor estrutura 44

0 10 20 30 40 50

Fonte: IZIDRO SOBRINHO (2017)

Diante dos dados do gráfico acima nota-se que a grande maioria dos entrevistados sente a
necessidade de uma melhor estrutura que inclui a chegada até o local e um espaço para
estacionamento, em segundo lugar aparecem os passeios de canoas pela barragem, em seguida eles
sentem a necessidade de opções de banho (fato que ficou prejudicado devido ao período de seca), os
entrevistados sentem a necessidade de um espaço para refeições e trilhas na caatinga.
Com relação à prática do turismo em cidades pequenas, Rodrigues (1997) diz que: ―[...] o
desenvolvimento local pelo turismo encontra-se no nível de microrregiões, de pequenos territórios,
de cidades pequenas e médias ou mesmo de vilas e povoados onde são fortemente sentidas as
mediocridades de condições de vida, traduzidas no êxodo e na pobreza‖.

O turismo, de um modo geral, é defendido pelos economistas como uma atividade rentável
e ressaltado por estudiosos como benéfico – no que diz respeito à melhoria da infra-
estrutura urbana [...] Por isso, a maioria dos prefeitos dos mais de 5 mil municípios
existentes no Brasil o inclui em suas propostas de governo como motor de desenvolvimento
socioeconômico (DIAS, 2003, p. 30).

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 850


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Nessa ocasião, perguntou-se o que falta para que a barragem volte a ter o potencial turístico
que era realizado há pouco mais de uma década tendo em vista que o local ainda apresenta potencial
ambiental (ver gráfico 3).

Gráfico 3. Atividades que podem gerar renda

50%

40%

30%
50%
20%
30%
10%
10% 10%
0%

Passeios de canoas Venda de comidas típicas


Venda de artesanatos Serviço de táxi

Fonte: IZIDRO SOBRINHO (2017)

Nota-se que o espaço apresenta diversas potencialidades, no entanto, para a geração de renda
os moradores precisam de incentivos para realizarem tais atividades, 30% deles consideram
importantes os passeios de canoas onde se cobraria uma taxa, 50% veem na venda de comidas
típicas como forma de renda extra, outros 10% alegam que poderiam vender seus produtos
artesanais e 10% dizem que poderiam realizar o serviço de táxi transportando as pessoas do sítio
para a cidade.
A importância do turismo orientado pelos valores culturais se reflete pelo valor para o
conhecimento de uma região, de uma época ou de um estilo de vida através do valor
simbólico e representativo de uma coletividade, assim como das manifestações folclóricas e
da arte popular (DIAS, 2003, p. 33).
As atividades ali desenvolvidas têm apresentado potencial econômico, muito embora não
tenha se expandido, devido à falta de uma infraestrutura como banheiros públicos, restaurante,
bares, cestos para coleta de lixo, entre outros, mesmo assim o local é bastante visitado. O nosso
estudo visa identificar a prática do ecoturismo realizado no local como forma de geração de
empregos informais reduzindo o êxodo para outras localidades e a margem de desemprego.
Neste aspecto Portuguez (1999), ao tratar de turismo e desenvolvimento local, comenta que
os modelos tradicionais de acumulação não se incomodam com os custos sociais e ambientais.
Nesse sentido, destaca que o turismo não necessariamente rompe com o ideal de acumular
rendimentos, mas, considera a conservação ambiental, a salvaguarda do patrimônio e a manutenção
das peculiaridades culturais de cada coletividade. A prioridade obviamente é a conservação do
local, no entanto, pode-se realizar as duas funções sem que haja problemas dessa natureza.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 851


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Quando questionados a respeito do abandono da barragem os entrevistados são unanimes ao


atribuírem tal problema a falta da atuação de poder público, seja estadual ou municipal – isso, por
sua vez, tem gerado uma ineficiência na indicação das atividades turísticas do município, uma vez
que a barragem deveria ser utilizada como forma de geração de renda, possibilitando o
desenvolvimento do município por meio da redução do índice de desemprego e valorização dos
aspectos físicos e culturais do município.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio da bibliografia utilizada percebe-se que há uma diferença significativa entre as
práticas realizadas, pois o turismo tem por objetivo principal o lucro conquistado a partir da
visitação de locais sejam eles naturais ou humanizados. Por outro lado, o ecoturismo prioriza a
visitação de locais para exploração dos elementos naturais provocando o mínimo de alterações no
espaço.
Nota-se, através das respostas aos questionamentos que muitos entrevistados atribuem a
redução na visita do local analisado por diversos fatores, no entanto, entre eles destaca-se a baixa
qualidade da infraestrutura encontrada no local. Percebe-se, portanto, que muitos deles não
entendem que o ecoturismo consiste exatamente em usufruir das belezas naturais do local e que as
modificações exigidas como a construção de restaurantes causaria diversos impactos ambientais.
Por outro lado, percebe-se que algumas modificações são necessárias e urgentes como a
construção de estradas e/ou melhoramento dela para que os turistas consigam chegar ao local com
maior facilidade, uma vez que tal condição se encontra precária. Estes, por sua vez, atribuem a
responsabilidade da precariedade em que se encontra o local aos governos de todas as esferas, mas
não se consideram como agentes que também provocam alterações no espaço, sobretudo, por meio
da deposição incorreta de resíduos.
Para um município de pequeno porte como é o caso de Nova Olinda – PB, a utilização
destes espaços como a barragem Saco se constitui em uma alternativa viável, plausível, de basto
custo, e que pode promover a geração de emprego e renda, uma vez que a oferta de emprego no
local é muito baixa.
Assim, vários problemas de ordem social seriam amenizados ou solucionados, tais como, a
redução do estresse dos habitantes, aumento na geração de emprego e renda, redução do êxodo
rural, valorização e conhecimento das características físicas e culturais do município, entre outros
tantos. Diante disso, nota-se que o ecoturismo constitui em uma fonte de conhecimento e uma
alternativa para a geração de renda.

REFERÊNCIAS

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 852


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

AESA - Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba. Volumes dos açudes.
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DIAS, Reinaldo. Turismo sustentável e Meio Ambiente. São Paulo: Atlas, 2003.

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ZACCHI, Giancarlo Philippi. Turismo ecológico e ecoturismo: diferenças e princípios éticos.


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ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 853


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

URBANIZAÇÃO E MEIO AMBIENTE: OS IMPACTOS NA TRILHA POÇO DA VACA


EM RIACHO DA CRUZ - RN

Antonio Jaldesmar da COSTA


Mestrando em Planejamento e Dinâmicas Territoriais do Semiárido - Plandites/UERN
jaldesmar_cdi@hotmail.com
João Freire RODRIGUES
Professor adjunto IV da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Mossoró/RN
jrfreirerodrigues@gmail.com

RESUMO
A aceleração do processo de urbanização começou na segunda metade do século XX, onde grandes
populações começaram a ocupar espaços reduzidos de maneira inapropriada, causando impactos
nos recursos naturais existentes, principalmente influenciando no solo e água. A preocupação nesta
pesquisa é vincular a problemática urbana por intermédio das questões ambientais, com
direcionamento para Trilha Turística Poço da Vaca, situada na cidade de Riacho da Cruz, Rio
Grande do Norte. A pesquisa com abordagem qualitativa foi norteada a partir de uma revisão
bibliográfica relacionada à temática, além de informações coletadas junto as Secretarias Municipais
de Meio Ambiente e Turismo de Riacho da Cruz - RN. O objetivo geral do trabalho consistiu em
abordar a temática da Urbanização e Meio Ambiente, compreendendo sobre os impactos ambientais
causados na Trilha Poço da Vaca a partir do crescimento urbano que vem ocorrendo em direção às
áreas ligadas ao Turismo Ecológico. Verificou-se então que o processo de urbanização se expandiu
para as proximidades da área ambiental que já teve parte de sua vegetação alterada pela população,
como desmatamento e utilização do local para outras práticas ilícitas. Do mesmo modo, que o Poço
da Vaca está em nível baixo, devido as alterações no percurso da nascente e consequentemente,
presença de lixo deixado pelos turistas e moradores que visitam o atrativo. Nota-se então que a
Trilha apesar de ter conseguido favorecer as práticas educacionais e turísticas, necessita de ações
urgentes que possam diminuir a ocupação irregular e o uso indevido dessas áreas, além do
aperfeiçoamento de políticas ambientais urbanas voltadas à recuperação, manutenção,
monitoramento e fiscalização das áreas ambientais existentes.
Palavras-chave: Meio Ambiente, Urbanização, Turismo Ecológico.

ABSTRACT
The acceleration the urbanization process started in the second half of the twenty, where large
populations began to occupy small spaces inappropriate way, causing impacts on natural resources,
mainly by influencing in soil and water. The concern in this research is link to urban problems
through the environmental issues, with targeting Tourist Trail Poço da Vaca located in the city of
Riacho da Cruz, Rio Grande do Norte. The survey approach qualitative was guided from a literature
review related to the subject, in addition to information collected along the municipal departments
of environment and Tourism of Riacho da Cruz-RN. The overall objective of the work was to
address the urbanization and theme Environment, understanding about environmental impacts
caused in Trail Poço da Vaca from the urban growth that is happening in the related áreas Eco-
Tourism. It was found that the urbanization process has expanded to the nearby environmental área
that have you ever had part of your amended by vegetation population, as deforestation and use of
the site for other malpractices. Likewise, that the cow is in low level, due to changes in the course
of the spring and consequently, presence of garbage left by tourists and residents who visit the
attraction. Note that the Trail Despite being able to encourage tourist and educational practices,

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

requires urgent actions that can diminish the occupation irregular and improper use of these areas,
in addition to the improvement of urban environmental policies focused on recovery, maintenance,
monitoring and surveillance of existing environmental spaces.
Keywords: Environment, Urbanization, Eco-Tourism.

INTRODUÇÃO.

Os problemas urbanos têm sido debatidos no atual cenário político, econômico e social no
mundo, principalmente devido as consequências no meio natural e as influências diretas na
qualidade de vida das sociedades. É notório que ―a expansão e crescimento urbano representa um
desequilíbrio visível que tem resultado em diferentes implicações no trato das questões ambientais e
sociais‖ (PEDRO, 2011).
Desse modo, o ambiente urbano apesar de ser constituído de uma grande diversidade de
paisagens, diferencia-se completamente do ecossistema natural. Mas, ainda dependente dos fatores
naturais que o sustentam. Por isso, as áreas que compõem a vegetação, desempenham importante
papel na manutenção e melhoria da qualidade de vida dos seres que vivem nos centros urbanos e
precisam serem preservadas.
MARCONDES (2002) diz que, para manter a qualidade do meio ambiente e poder
conservar para usar com proveito próprio os recursos naturais é fundamental conhecer em
profundidade os ecossistemas. Sem o conhecimento ecológico não é possível controlar as mudanças
do ambiente e menos ainda com tolerância dos mesmos à ação do homem. O conhecimento humano
dos ecossistemas é ainda incompleto e ainda a mais minúscula criatura, planta ou animal, pode
aportar produtos, informação ou possuir uma função ambiental de valor significante (MELO
FILHO, 1982).
Nesse contexto, esta pesquisa científica teve como objetivo principal abordar a temática da
Urbanização e Meio Ambiente, compreendendo sobre os impactos ambientais causados na Trilha
Poço da Vaca na cidade de Riacho da Cruz, Rio Grande do Norte a partir das ocupação e
crescimento urbano desordenado que vem ocorrendo em direção às áreas ligadas ao Turismo
Ecológico e Turístico.
Portanto, o trabalho tratou-se de uma revisão bibliográfica realizada a partir da leitura de
artigos (datados de 1991 a 2017) e livros relacionados à temática em questão, caracterizando, assim,
uma coleta de dados secundários e informações coletadas junto as Secretarias Municipais de Meio
Ambiente e Turismo de Riacho da Cruz - RN. Para tanto, houve toda uma preocupação com a
fundamentação de conceitos de importantes autores da área, tais como: Pena e Dallagnol (2017),
Silva (2015), Montenegro (2012), Rebouças, Braga e Tundisi (2006), Camargo e Campanili (2003),
Lima (1999), Campos (1993), Oliveira (1991); e de sites, como: IBGE (Instituto Brasileiro de

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Geografia e Estatística), ANA (Agência Nacional de Águas), MMA (Ministério do Meio


Ambiente), FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), INSA (Instituto
Nacional do Semiárido). A fundamentação teórica do presente artigo está estruturada em duas
seções, sendo elas: Urbanização e Degradação Ambiental e desafios e soluções: a influência da
urbanização na área ambiental da trilha poço da vaca.

URBANIZAÇÃO E DEGRADAÇÃO SOCIOAMBIENTAL.

A urbanização e meio ambiente têm uma relação direta, e embora outras atividades, como a
agricultura, pecuária, mineração e a geração de energia, provoquem grandes impactos negativos
sobre o meio ambiente, a urbanização, pode gerar de forma concentrada seus impactos ambientais e
difundi-los além dos limites urbanos.
A discussão a respeito dos efeitos do espaço sobre o social, como uma variável relevante e
capaz de interferir nos processos sociais, merece cada vez mais atenção (VILLAÇA, 1999).
Segundo COELHO (2009), acredita-se, por exemplo, que a concentração de pessoas num
determinado espaço físico, acelera determinantemente os processos que terminam por degradar o
meio ambiente. Seguindo essa lógica, os problemas socioambientais crescem na mesma proporção
que a concentração populacional, o que cria uma estreita associação entre a problemática ambiental
e as cidades.
O aumento contínuo da população urbana é dos principais responsáveis pelo desequilíbrio,
que envolve o crescimento das cidades, a desigualdade social e a problemática ambiental. Dessa
forma, conforme MENDONÇA; LEITÃO (2008): Toda cidade desenvolve-se originalmente sobre
um dado ambiente natural que se altera à medida que a mesma se dinamiza e cresce‖.
Neste contexto urbano, percebe-se que o problema ambiental é bem mais amplo, dinâmico e
complexo, partindo para a realidade social que referente aos aspectos físicos como a expansão da
pobreza, subnutrição, desemprego, falta de habitação, higiene, saúde e educação (VESTENA;
SCHMIDT, 2009). O crescimento desordenado das cidades demanda maior impermeabilidade do
solo, gera pressão demográfica e a ocupação de áreas inadequadas para moradia pelos segmentos
mais pobres, que não possuem poder aquisitivo suficiente para pagar pelo espaço urbano mais
seguro.
MIRANDA (1988) diz que, para manter a qualidade do meio ambiente e poder conservar
para usar com proveito próprio os recursos naturais é fundamental conhecer em profundidade os
ecossistemas. Sem o conhecimento ecológico não é possível controlar as mudanças do ambiente,
pelo menos com a devida eficácia, e menos ainda com tolerância dos mesmos à ação do homem.
Para tanto, o conhecimento humano dos ecossistemas é ainda incompleto e ainda a mais minúscula

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

criatura, planta ou animal, pode aportar produtos, informação ou possuir uma função ambiental de
valor significante (MELO CARVALHO, 1968).

Partindo do pressuposto que a natureza, em todos seus componentes, constitui um autêntico


sistema de equilíbrio em interdependência global, ao limite qualquer inter-relação artificial
comporta a ruptura de um equilíbrio e, em cadeia de muitos equilíbrios conexos
(BISOGNO, 1988).

Em consequência, o meio ambiente é tudo o que nos rodeia, o ar, o solo e a água com todos
os fatores inerentes a cada âmbito (CORZO, 1988). O ser humano precisa buscar compreender e
visualizar o espaço em que vive através de uma visão holística, e o equilíbrio permitirá que sua
sobrevivência seja menos impactante e que a cidade passe a funcionar o mais próximo possível de
um ecossistema para que seu impacto às áreas ocupadas e vizinhas seja, então, reduzido
Os inúmeros conceitos de impactos ambientais presentes na literatura apontam para uma
diversidade de interpretações. OLIVEIRA E HERRMANN (2009) enfatizam que buscar conhecer a
―natureza‖ é interessante para preservá-la, mas que o fundamental para nossas necessidades é o
conhecimento que nos permita usar e modificar nosso ambiente sem destruí-lo.
Vale salientar que as novas atividades produtivas, como as relacionadas ao turismo e ao
lazer, têm influenciado de forma crescente o processo de produção espacial das cidades e suas
representações, observando-se um processo de urbanização diferente daquele vivenciado com a
industrialização, a urbanização turística, consoante KOROSSY E CORDEIRO (2010).

O turismo, como todas as outras atividades humanas, causa impactos resultantes da


interação do homem com a natureza e pode provocar ocupações desordenadas que deixam
marcas profundas nos locais em que se insere, gerando novas possibilidades de degradação
dos recursos (ZILIOLI, 2008).

A ausência de um planejamento claro e objetivo de desenvolvimento urbano e turístico tende


a uma depreciação do valor do atrativo e/ou cidade. O Estado é um dos elementos centrais para
gerar novas perspectivas de uso, buscando orientar as tendências presentes, direcionando para
padrões sustentáveis ou estimulando a devastação, MORAES (1999).
Novas áreas de expansão urbana estão se constituindo na periferia das cidades, como um
novo e dinâmico mercado imobiliário, tanto em áreas de especial beleza natural, relativamente
plana, de fácil ocupação urbana, alta acessibilidade e proximidade ao centro, quanto em lugares
deficitários de infraestrutura e/ou com alta declividade. São lugares que possuem valor hídrico
especial por abrigar inúmeras nascentes de rios, lagos de represas, constituindo um meio ecológico
frágil, por ser de fácil erosão e contaminação pelo esgoto, resíduos sólidos e lixo, devendo observar
rígidas normas e leis para ocupação e uso da terra.
Entende-se também que o uso do espaço fica condicionado às estruturas e às esferas do
poder político, de acordo com sua funcionalização e hierarquização sociais. Para manter e

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

reproduzir essas relações de poder no espaço tornou-se necessário criar uma forma adequada de
distribuição espacial para a manutenção da cidade como um espaço político, hierarquizado e
fragmentado (PENNA, 2000).
Portanto, é necessária a intervenção do poder político no lugar e no meio onde está inserido
as relações sociais, de forma a contribuir na produção do espaço urbano, por meio de políticas
urbanas de regularização da propriedade privada, regulando assim as tendências de acesso,
apropriação e uso do espaço da cidade. Assim, o poder público deve interver para modificar e
transformar o espaço com o objetivo de controlar o todo e preservar de forma ampla o ambiente
natural.

DESAFIOS E SOLUÇÕES: A INFLUÊNCIA DA URBANIZAÇÃO NA AREA AMBIENTAL


DA TRILHA POÇO DA VACA.

Para melhor compreensão da pesquisa, apresentou-se o município de Riacho da Cruz


localizado na mesorregião Oeste Potiguar e microrregião de Pau dos Ferros, tendo os municípios
limites de Itaú, Taboleiro Grande, Viçosa, Portalegre, Umarizal e Apodi. A população estimada,
segundo MOUVE (2016) é de 3.526 habitantes, sendo considerado o décimo nono município menos
populoso do Rio Grande do Norte, onde 2 674 habitantes viviam na zona urbana (84,49%) e 491
na zona rural (15,51%).
No tocante a geologia, o município de Riacho da Cruz está localizado sobre o embasamento
cristalino, caracterizado por predominância de rochas metamórficas herdadas da estrutura pré-
cambriana e cretácea. A geomorfologia da região está inserida nos domínios da Depressão
Sertaneja, que compõe 50% do território estadual, característico de áreas baixas entre as partes altas
do planalto da Borborema e da chapada do Apodi, com altitudes de 100 a 200 metros (MAIA;
AMARAL; GURGEL, 2013).
É nítido que a vegetação predominante é a caatinga hiperxerófila, característica de regiões
com clima semiárido e a maior parte da área está ocupada pela vegetação aproveitada com pecuária
extensiva, sendo que a pequena parte é cultivada com milho e feijão. No entanto, a principal
limitação ao uso agrícola destes solos diz respeito à falta d‘ água e susceptibilidade a erosão, ou
seja, a utilização agrícola dos mesmos é feita com culturas muito resistentes a um longo período de
estiagem e culturas de ciclo bem curto, que possam produzir colheitas no curto período de chuvas.
A busca pelo armazenamento de água em reservatórios se tornou uma forma de se adaptar à
realidade do semiárido nordestino. Inserido em uma região que conta com dois períodos bem
definidos e períodos de longas estiagens e várias secas, o município apresenta uma média de
precipitação anual normal de 711,5 mm/ano (milímetro/ano), e temperaturas médias que variam
entre a mínima de 21,0 Cº e a máxima de 30,0 Cº (CPRM, 2005).

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Quanto aos aspectos hidrológicos o município é situado no Aquífero Cristalino, onde o


armazenamento da água subterrâneos somente é possível quando a geologia local encontra fratura
associadas a coberturas de solos residuais. Hoje, com a estiagens prolongadas é comum a
perfuração de poços que contribuem significativamente em alternativas para abastecimento de água
para os animais, pois água apresenta um alto teor salino e torna-se impróprio para consumo humano
e plantações, estes poços geralmente é encontrado água em profundidades em média de 60 metros.
O município enfrentou um longo período de estiagem, devido as poucas chuvas que caíram
na região em anos anteriores, no entanto a cidade dispõe de uma Trilha Urbana considerada como
um Atrativo Natural - Unidade de Conservação pelo Ministério do Turismo composta de plantas
nativas, poço e riachos em seu entorno. A Trilha com um percurso de mais ou menos 20 minutos foi
adaptada pela Secretaria Municipal de Turismo com objetivo de promover a preservação da água,
plantas e animais, principalmente do Poço da Vaca, local que até hoje não seca e servia de
bebedouro para o gado que passava na região, quando a cidade ainda era vila.

Uma vaca de um grande proprietário de terras da região caiu no poço e morreu afogada,
restringindo então a passagem de outros animais pelo poço, por isso a denominação da
trilha. O acontecimento não impediu que as lavandeiras de roupas aproveitassem o poço e a
sombra das oiticicas, onde os riachocruzenses visitavam o espaço para o banho e diversão
durante muitos anos. (SEMTUR, 2017).

Hoje o local serve de atrativo turístico para as pessoas que buscam lazer e contato com a
natureza, bem como, estudos relacionados à área ambiental, histórica e geográfica, ou seja, recebe
estudantes, universitários e grupos de escoteiros que realizam encontros e acampamentos,
contribuindo também com a manutenção e preservação do local. Vale salientar que o ambiente
recebeu no ano de 2015 uma nova entrada com o monumento da vaca e sinalização temporária pela
Secretaria Municipal de Turismo (SEMTUR, 2017).

Figura 1: APP – Trilha e Poço da Vaca

Fonte: Google Earth, 2016

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

No entanto, nota-se que dois grandes problemas que estão afetando a Trilha e influenciando
no trajeto de água pelo riacho forquilha, além da nascente perene presente no Poço da Vaca. O
processo de urbanização de forma desordenada está se expandindo para as próximas da área da
APP, que já teve parte de sua vegetação alterada pela população, como desmatamento e utilização
do local para outras práticas ilícitas como Bebidas, Drogas e Sexo, comprovadas pela equipe da
Prefeitura Municipal e demais pessoas que realizam a manutenção semanal do local.
Do mesmo modo, é notório que o Poço da Vaca está em nível baixo, devido as alterações no
percurso da nascente e consequentemente, presença de lixo deixado pelos turistas e moradores que
visitam o atrativo. Para melhor entendimento conceitual, as Áreas de Preservação Permanente
(APP) presentem no Código Florestal brasileiro (Lei 4.771 de 15/09/1965), enfatiza o
reconhecimento da importância de promover a manutenção da vegetação de determinadas áreas,
não apenas para os proprietários dessas áreas, mas, também para a comunidades e membros da
sociedade.
De acordo com o CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO (2017), Áreas de Preservação
Permanente (APP) são áreas ―...cobertas ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de
preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo
gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas‖.
Entende-se então que as APPs são as áreas marginais dos corpos d‘água (rios, córregos,
lagos, reservatórios) e nascentes; áreas de topo de morros e montanhas, áreas em encostas
acentuadas, restingas e mangues, entre outras. (CONAMA, 2002). Partindo desse conceito, a Trilha
e Poço da Vaca localizada no município de Riacho da Cruz – RN despontam como elementos que
devem ser preservados por apresentarem características naturais em meio urbano.
No entanto, após a estruturação do espaço para atividade turística, percebe-se que o
movimento populacional acarretou transformações visíveis, que vêm criando novas configurações
ao espaço, que tendem a ser substancialmente negativas do ponto de vista ambiental, assim como
afirma LIMONAD E ALVES (2008, P. 08). O fluxo de pessoas passou a interferir no bioma,
acarretando a saída de pássaros e criando problemas ambientais pelo acúmulo de lixo.
Dessa maneira, é compreensível que as áreas de preservação permanentes são protegidas por
lei ficando proibida a sua modificação por se tratar de espaços fundamentais para a manutenção da
biodiversidade. Porém, as atividades humanas, o crescimento demográfico e o crescimento
econômico causam pressões ao meio ambiente, degradando-o. Além disso, os espaços foram
estruturados principalmente para realização de atividades e ações de sustentabilidade, como
objetivo de preservar o Poço e Mata existente.
Pensando na melhor forma de diminuir ou eliminar os problemas, a Gestão Pública através
dos trabalhos intersetorias (Educação, Saúde, Turismo, Meio Ambiente) realizou a criação de Mapa

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 860


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

e campanhas educativas nas escolas com apoio dos Grupos de Escoteiros que realizaram trabalhos
de limpeza mensalmente no espaço. Mas, nota-se que o problema é bem maior na APP, causado
principalmente pela interferência da própria população no que diz respeito ao desmatamento as
áreas do entorno e a falta de informação sobre o que é uma Área de Preservação.
Portanto, a manutenção das áreas naturais em meio urbano possibilita a valorização da
paisagem e do patrimônio (de valor ecológico, histórico, cultural, paisagístico e turístico). Esses
espaços exercem, do mesmo modo, funções sociais e educativas relacionadas com a oferta de
campos esportivos, áreas de lazer e recreação, oportunidades de encontro, contato com os elementos
da natureza e educação ambiental (voltada para a sua conservação), proporcionando uma maior
qualidade de vida às populações urbana.

RESULTADOS.

De acordo com o referencial apresentado, compreende-se que o planejamento territorial


urbano seria uma forma importante de ordenar o crescimento das cidades, de modo a minimizar os
problemas decorrentes da urbanização. O zoneamento, com a definição de usos preponderantes,
compatíveis ou indesejáveis para as diversas áreas de uma cidade, pode resultar numa adequada
distribuição de atividades, evitando ao máximo efeitos negativos sobre o ambiente de vida de seus
habitantes (MOTA, 1981).
Percebe-se que a relação do homem com o meio ambiente há muito tem chamado a atenção
da comunidade científica. Torna-se cada vez mais importante o estudo e manejo adequado das
áreas, visando o seu uso racional, minimizando-se os impactos. DOMINGOS e THIAGO
AUGUSTO. (2010, p. 138.). Nesse modo, a ocupação desordenada próximo ao local é resultante
principalmente da ocorrência de diversos fatores como a falta de fiscalização por parte das
autoridades públicas e de uma séria política de planejamento urbano, que não visasse, apenas e tão-
somente, fins eleitoreiros.
Portanto, a falta de planejamento para o crescimento populacional urbano faz com que, sem
possuírem lugares adequados para se alocarem, as pessoas passem a ocupar locais inapropriados,
como áreas naturais. Essa problemática social, que não é facilmente equacionada pelo Plano Diretor
na Cidade, demonstra uma urgente necessidade de uma conscientização da sociedade como um todo
e principalmente dos órgãos públicos responsáveis.
A partir da abordagem apresentada, pode deduzir que os efeitos indesejáveis do processo de
urbanização sem planejamento, como a ocupação irregular e o uso indevido dessas áreas, tende a
reduzi-las e degradá-las cada vez mais, como é o caso da cidade de Riacho da Cruz, Rio Grande do
Norte, onde comprova-se o aumento na construção de casas próximas a locais de caráter ambiental.
Isso causa graves problemas nas cidades e exige um forte empenho no incremento e

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aperfeiçoamento de políticas ambientais urbanas voltadas à recuperação, manutenção,


monitoramento e fiscalização das APPs.
Nesse caso, apesar da trilha ter sido importante para desenvolver o potencial natural e
turístico existente no município, além de servir de campo de estudo para muitas áreas, nota-se um
mau uso do espaço pelos turistas e falta de conscientização ambiental da população. Para isso, deve-
se buscar apoio de parceiros como IDEMA – Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio
Ambiente, Ministério do Meio Ambiente e de Turismo, Secretaria de Meio Ambiente e de Turismo
do estado do Rio Grande do Norte e demais órgãos e entidades que possam auxiliar nessa
preservação.
Outra ação importante seria a recuperação de áreas degradadas, possibilitando a recuperação
da mata ciliar do entorno e realizando o plantio de mudas de arvores nativas próximas ao Poço da
Vaca. Contudo, é preciso entender as funções físicas e ambientais destas áreas, principalmente
porque as nascentes são essenciais para a manutenção da quantidade e qualidade dos cursos de
água, no qual devem ser protegidas por toda a sociedade.

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ECOTURISMO EM ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DE


ZONA URBANA: O CASO DA TRILHA DAS FORTALEZAS,
MORRO DA BABILÔNIA, RIO DE JANEIRO - RJ

Clarice Silva LIMA


Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia (UERJ)
claricecler87@gmail.com
Prof. Dr. Alexander Josef Sá Tobias da COSTA
Doutor em Ambiente e Sociedade pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
ajcostageo@gmail.com

RESUMO:
O conceito de ecoturismo ganha força com o crescimento do movimento ambientalista ao redor do
mundo nos anos 60, sobretudo quando, nas discussões acerca da conservação ambiental, as práticas
de turismo na natureza passam a ser vistas como uma alternativa viável ao reestabelecimento do
equilíbrio, deteriorado pelo modo de produção capitalista, da relação entre seres humanos e o
mundo natural. Assim, este artigo buscou realizar uma síntese dialética entre a base teórica do
ecoturismo e sua prática, elaborada a partir da vivência de um passeio ecológico, realizado numa
área de proteção ambiental de uma grande zona urbana. A localidade estudada foi a trilha das
Fortalezas, que está situada no Morro da Babilônia, uma favela da cidade do Rio de Janeiro. A
análise foi realizada sobre o prisma da categoria geográfica do território, cujo enfoque está centrado
nos processos de interação, apropriação e transformação do espaço pelos sujeitos ao longo do
tempo. A reflexão aponta desafios e sugestões para a sustentabilidade das atividades de ecoturismo,
ao se observar que a teoria da atividade é desconexa da prática, o que requer o desenvolvimento de
um olhar sistêmico, capaz de enxergar as dimensões não apenas ambientais, mas também política,
social, econômica e cultural das diferentes espacialidades que dão suporte a realização da atividade.
Palavras-chave: Ecoturismo. Sustentabilidade. Território. Educação Ambiental.
ABSTRACT:
The concept of ecotourism gains strength with the growth of the environmental movement around
the world in the 60s, especially when, in the discussions on environmental conservation, as tourism
practices in nature are seen as a viable alternative to reestablishing the balance, deteriorated by the
capitalist mode of production, of the relation between human beings and the natural world. Thus,
this article sought to make a dialectical synthesis between a theoretical base of ecotourism and its
practice, elaborated from the experience of an ecological tour, carried out in an area of
environmental protection of a large urban area. A studied locality for a trail of the Fortaleza‘s, that
is situated in Morro da Babilônia, in a community of the city of Rio de Janeiro. The analysis was
carried out on the prism of the geographical category of the territory, whose focus is centered on the
processes of interaction, appropriation and transformation of space by the subjects over time. The
reflection points out challenges and suggestions for a sustainability of ecotourism activities, when
we observe that the theory of activity is disconnected from practice, which requires the
development of a systemic view, capable of seeing not only environmental, but also political, social,
economic and cultural dimensions of the different spatialities that support their Practices.
Keywords: Ecotourism. Sustainability. Territory. Environmental education.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

INTRODUÇÃO

A busca do ser humano por ambientes naturais dentro da urbe vem se tornando cada vez
mais comum, pois proporciona uma desconectividade com dias de estresse, poluição sonora e
atmosférica e o conecta ao mundo verde, com ar mais puro e menos barulhento. Uma prática
importante de ser utilizada para a inserção do homem no meio natural é a do ecoturismo.
A valorização e a inserção deste tipo de atividade no cotidiano das populações urbanas tão
castigadas pelas condições, muitas vezes, insalubres de trabalho e de consumo desmedidos, além de
contribuir para a própria humanização do dia-a-dia dessas populações, atuam na ação mitigadora
das pressões ocasionadas pela alta demanda ecoturística em áreas afastadas (KRIPPENDORF,
2000).
O ecoturismo, uma oposição ao turismo convencional que visa na maioria das vezes por
benefícios apenas empresariais, apresenta-se como alternativa viável ao desenvolvimento
sustentável. Em seu aspecto mais amplo, consolida-se como um modelo de atividade capaz de aliar
as necessidades do homem e da sociedade industrial moderna, tais como lazer e desenvolvimento
econômico, às preocupações concernentes à conservação do meio ambiente, da cultura e das
comunidades locais, elementos dos quais o turismo faz uso.
A Organização Mundial do Turismo (OMT, 1999) define ecoturismo como sendo ―um
segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural,
incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista por meio da
interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações‖.

Para o Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur) o ecoturismo seria o segmento turístico


que busca de maneira sustentável explorar as riquezas naturais e culturais, estimulando sua
conservação e promoção da conscientização ambiental, atuando junto com os educadores
ambientais.
Fennell (2002) após discutir alguns conceitos referentes ao termo (ecoturismo), conclui que:
―o ecoturismo é uma forma sustentável de turismo baseado nos recursos naturais, que focaliza
principalmente a experiência e o aprendizado sobre a natureza; é gerido eticamente para manter um
baixo impacto, é não predatório e localmente orientado. Ocorre tipicamente em áreas naturais, e
deve contribuir para a conservação ou preservação destas‖ (FENNELL, 2002, p. 53).
O ecoturismo depende da existência de áreas naturais de relevante valor ecológico e cultural
e, geralmente, é operado em áreas protegidas, cujos territórios representam destinos turísticos de
grande demanda, atualmente, por fluxos nacionais e internacionais (FENNELL, 2002). De acordo
com Fennell (2002 p.40), ―os parques e as áreas protegidas são discutidos como locais que têm um
papel importante no equilíbrio da integridade ecológica com a demanda turística‖.

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Dias (2003, p. 97-100) apresenta seis contribuições do turismo para a conservação do meio
ambiente. A primeira faz referência aos subsídios de cunho financeiro que demandam da atividade
turística, as quais o autor qualificou como: ―contribuições diretas‖, que representam as arrecadações
obtidas diretamente das transações da atividade; e ―as indiretas‖, obtidas de fontes governamentais
(como impostos, por exemplo). A segunda se refere ao aprimoramento do planejamento e da gestão
ambiental, promovendo o desenvolvimento do meio do estudo dos recursos ambientais da área,
fator facilitador para a tomada de decisão entre opiniões de usos conflitantes.
Os demais aspectos se referem a questões como: aumento da consciência ambiental, devido
aos propósitos da atividade com relação a maior proximidade com a natureza; proteção e
conservação; geração de empregos alternativos aos convencionais, capazes de inserir em suas
atividades as preocupações com as causas ambientais; e o estabelecimento de medidas de controle,
estipulados de modo a compatibilizar a capacidade de suporte do meio com a demanda ecoturística.
A partir da análise dos conceitos anteriormente propostos, podemos apreender o fato de a
atividade ecoturística estar pautada no seguinte tripé: conservação ambiental, preservação das
culturas e comunidades locais e desenvolvimento econômico destas localidades; elementos
ressaltados por autores tais como Serrano (1999) e Dias (2003). Logo, tal atividade, não se resume
apenas à atratividade do ambiente natural, carrega também em seu bojo as preocupações com
relação ao desgaste ambiental, ao conflito sociocultural com as comunidades anfitriãs e o
estabelecimento de uma gestão qualificada para a atividade, que se mostre condizente com os
princípios consagrados de um desenvolvimento menos impactante.
Para os planejadores e gestores do ecoturismo a tarefa indispensável é procurar o ponto de
equilíbrio entre a atividade, a conservação e o desenvolvimento, além de buscar a minimização dos
custos e a maximização dos benefícios. Na junção do ecoturismo e conservação temos por principal
objetivo a administração das áreas protegidas, a fim de alcançar o desenvolvimento sustentável com
a ajuda da educação ambiental (BOO, 2002).
A administração de áreas protegidas, segundo a autora acima referida, carece de uma maior
atenção, por muitas vezes serem conduzidas por pessoas não capacitadas em gestão de turismo, o
que implica na incapacidade da elaboração e execução de projetos que gerem benefícios tanto para
a área de preservação como para as comunidades vizinhas.
A educação ambiental entra como uma saída para o problema ambiental na atividade
ecoturística, empenhando-se em mudar o comportamento do homem, através da percepção
ambiental o tornando colaborador na conservação do meio. Destarte, a educação ambiental
contribui ao embasamento teórico que são os pilares para a gestão ambiental, que irá gerir
atividades humanas que acarretem em impacto significativo sobre o meio ambiente (CABRAL e
SOUZA, 2002). Esta educação tem por característica reforçar continuamente seus valores e

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comportamentos para mudança social necessária, com a implantação de uma política ambiental
integrada e abertura para controle e participação social nas políticas públicas (PAULINO JUNIOR,
2009).
Assim, este artigo buscou realizar uma síntese entre a base teórica do ecoturismo e sua
prática, através do acompanhamento de uma trilha realizada num parque de proteção ambiental.
Será que o proposto para a atividade é efetuado? A análise será realizada sobre o prisma da
categoria geográfica do território, a partir da interação, apropriação e transformação deste pelo
homem ao longo do tempo.
De acordo com a categoria do território, Castro, Gomes e Corrêa (1995) ressaltam que este
é: [...] espaço concreto em si (com seus atributos naturais e socialmente construídos) que é
apropriado, ocupado por um grupo social. A ocupação do território é vista como algo gerador de
raízes e identidade: um grupo não pode mais ser compreendido sem o seu território, no sentido de
que a identidade sócio-cultural das pessoas estaria inarredavelmente ligada aos atributos do espaço
concreto (natureza, patrimônio arquitetônico, ―paisagem‖).
O território estaria vinculado a uma relação de dominação, sua base política-econômica, e
apropriação, o cultural-simbólico, gerando a conexão material com a idealidade (SERRA, 2013).
Assim devido a importância que o território tem não só para as atividades turísticas, mas também
para as comunidades locais, torna-se indispensável sua ordenação e gestão, pois os fluxos turísticos
provocam diversos efeitos sobre estes, tanto positivos, quando negativos.
Para um desenvolvimento territorial que alcance todas as esferas sociais, de forma que essas
interajam em equilíbrio, é necessária a inserção de políticas públicas sem que haja o privilégio de
um setor em detrimento de outros; com ações elaboradas para conduzir o presente a um futuro
socialmente mais democrático, tendo a EA (educação ambiental) como importante ferramenta nesse
desenvolvimento territorial. Dessa forma, para se estudar a atividade ecoturística realizada na área
em questão, será feito um levantamento temporal da apropriação do referido território para
consequentemente se chegar ao uso atual do mesmo e perceber como o esse vem sendo gerido com
a referida atividade.

METODOLOGIA

Área de Estudo
A área estudada pertence ao município do Rio de Janeiro, situado a 22º54'23" de latitude sul
e 43º10'21" de longitude oeste (Figura 1). Sua origem está ligada a baia de Guanabara, pelo fácil
acesso aos navegantes, que fez com que a coroa portuguesa se instalasse na cidade durante um
longo período. Após o retorno da coroa para Portugal, o desenvolvimento da cidade, durante quase
todo o século XIX, deu-se primeiramente em direção à zona norte da cidade nos bairros de São

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Cristóvão e Tijuca; e depois na direção da zona sul nos bairros da Glória, Flamengo e Botafogo
(Prefeitura do Rio de Janeiro, 2016). Por isso, nestes referidos bairros é comum se deparar com vila
de casas, restaurantes, clubes e casas de festas portuguesas; que são resquícios dos portugueses que
vieram para o Brasil e que aqui permaneceram, constituindo famílias e desenvolvendo comércio.

Figura 1. Mapa de Localização da cidade do Rio de Janeiro.


Fonte: IBGE, 2016.

A área estudada foi a trilha das Fortalezas (Figura 2), localizada no morro da Babilônia
(Figura 3), situada no bairro do Leme, zona sul da cidade do Rio de Janeiro.

Figura 2 – Placa indicativa da Trilha das Fortalezas.

Fonte: o próprio autor.

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Figura 3 – Mapa de localização do Morro da Babilônia.

Fonte: Google Earth/IBGE, 2016.

O local é uma Unidade de Conservação, pertencente Área de Proteção Ambiental (APA) dos
Morros da Babilônia e São João, inserido no Parque Natural Municipal Paisagem Carioca (PNM
Paisagem Carioca), onde o Parque apresenta uma área de 159,82 hectares e se estende de
Copacabana ao Leme (Decreto nº 37231, 2013). Ainda, segundo o mesmo Decreto, o Morro da
Babilônia, desde 1973, é tombado pelo Instituto e Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(IPHAN), por ter servido de apoio militar na 2ª Guerra Mundial devido à ampla visibilidade que
possui da Baía de Guanabara possibilitando o controle da entrada dos navios, onde, na Trilha, ainda
é possível reviver esse passado através de vestígios existentes da época.
Conforme o Plano de Manejo (PM, 2013), por estar localizada em área urbana, a Unidade
de Conservação vive em constante conflito com a expansão da cidade e as pressões antrópicas,
carecendo de maior atenção da administração pública e dos cidadãos para a conservação dos
recursos naturais, além do risco de deslizamento que a região está sujeita devido à composição de
solos que apresenta: solos podzólico vermelho-amarelo, eutrópico de textura média, argiloso, e
solos litólicos indiscriminados, onde o horizonte A é formado principalmente pela decomposição de
matéria orgânica de Floresta Atlântica Costeira.

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Segundo ainda o PM (2013), a vegetação que Unidade de Conservação apresenta é de


Floresta Atlântica já bem degradada devido à retirada de madeira, a ocupação das encostas e os
inúmeros incêndios por ações antrópicas; quanto à fauna, mesmo com poucos levantamentos,
destaca-se a avifauna, já sendo confirmadas 58 espécies de aves na Unidade e em seu entorno, além
de algumas espécies de pequenos mamíferos (gambás, tatus e morcegos) e lagartos de grande porte.
O PNM Paisagem Carioca foi criado de estudos realizados pela Gerência de Proteção
Ambiental (SMAC/CPA), no campo de atuação da construção técnica da proposta de criação da
Área de Proteção Ambiental (APA) do Complexo Cotunduba - São João, que se baseou na
ampliação territorial da Área de Proteção Ambiental e Recuperação Urbana (APARU) do
Complexo Cotunduba - São João, criada pela Lei Municipal n. º 5.019, de 6 de maio de 2009. A
APARU, sendo originada da fusão das Áreas de Proteção Ambiental dos Morros da Babilônia e São
João e da APA dos Morros do Leme, Urubu e Ilha de Cotunduba, também teve a incorporação de
áreas urbanas do entorno (PM, 2013).
Ao longo da caminhada é possível avistar o Cristo Redentor, a enseada de Botafogo e o Pão
de Açúcar. Sendo a trilha dividida em seis pontos principais: o mirante de Copacabana, o mirante
do Rio Sul, o mirante do Telégrafo, a Pedra do Urubu, o Paiol de Explosivos e as Casamatas. O
Paiol de Explosivos (Figura 4) e as Casamatas (Figura 5) correspondem às estruturas montadas
pelos militares, sendo a última uma estrutura subterrânea fortificada que servia de alojamento das
tropas, das munições e dos presos de guerra.

Figura 4 – Paiol de explosivos. Figura 5 – Registro de uma casamata.

Fonte: Fatos, Fotos e Registros, 2016.

Materiais e Métodos

O estudo foi estruturado em três etapas: 1) realização da trilha para a observação da


atividade, levantamento de dados e registro fotográfico; 2) elaboração dos mapas; 3) exibição dos
resultados obtidos, com apontamentos para uma possível melhoria na atividade em questão.
Na realização da trilha foi utilizada máquina fotográfica, para os registros fotográficos, além
da percepção da pesquisadora para a observância da atividade que estava sendo vivenciada.

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Os mapas temáticos elaborados durante a pesquisa foram os de localização do Morro da


Babilônia e de localização da cidade do Rio de Janeiro, ambos realizados com a ajuda do
GoogleEarth e com a base de dados do IBGE.
Na terceira e última etapa houve a reflexão e análise sobre a realidade experimentada, como
condicionante para responder a questão-problema estabelecida como objetivo do trabalho: ―Será
que o proposto para a atividade é efetuado? ‖. Determinada análise foi orientada por uma
abordagem sistêmica do problema em questão, abordando aspectos ambientais; sociais; históricos; e
geográficos, gerando ao final propostas para uma melhor gestão da atividade.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A trilha estudada foi realizada por dois professores de educação física e um morador do
Morro da Babilônia, a divulgação da elaboração da mesma se deu por rede social (Instagram)
vinculada a um dos referidos professores. Na rede houve a informação do dia, do horário, do ponto
de encontro e do valor que seria cobrado por participante (trinta reais); não havendo aos compartes
um esclarecimento sobre roupas (leves, preferencialmente claras e com tênis), comidas (frutas e
barras de cereais) e bebidas (água e/ou repositor hidroeletrolítico) adequadas para o referido evento.
Ao longo da caminhada pode ser percebido que os professores não tinham conhecimento da
trilha, não a guiaram nem transmitiram informações sobre a mesma, e que o morador do morro, por
falta de preparo para efetuar tal função, não soube explicitar a importância histórica local e a
composição da fauna, flora e constituição geomorfológica.
Assim se observou uma vulgarização da atividade de guia no ecoturismo, que deveria primar
pela conexão com os princípios da educação ambiental buscando gerar uma conectividade do ser
humano com a natureza e a conscientização da importância de se preservar as áreas naturais, além
de proveitos para as comunidades receptivas.
O ecoturismo trabalhado junto com a educação ambiental ajudaria na mudança da relação
que o ser tem com natureza, gerando nesse um sentimento de pertencimento a esses espaços e os
transformando em elos afetivos. No entanto, o que se notou no ecoturismo realizado foi o ignorar de
tais práticas, em que o grupo de pessoas participantes saiu da caminhada com a mesma carga de
conhecimento que nela chegaram.
Aqui se verifica então certa urgência de planejamento e gestão do referido território para tal
atividade, a fim de diminuir os custos e aumentar os benefícios com um equilíbrio entre o tripé
ecoturismo, conservação e desenvolvimento. BOO (2002) expõe custos como sendo a degradação
do meio ambiente, as injustiças e instabilidades econômicas, as mudanças socioculturais negativas;
e os benefícios que são a geração de receita e renda para as áreas protegidas, a criação de empregos

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para as pessoas que vivem próximas a essas áreas e a promoção de educação ambiental e de
conscientização sobre a conservação.
A elaboração e inserção de políticas públicas que conduzam normas para prática da
atividade ecoturística, possibilitando ganhos ambientais, sociais e econômicos, estariam cooperando
para que os preceitos da atividade não sejam banalizados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A atividade ecoturística é apresentada como uma estratégia de promoção da qualidade de


vida nos centros urbanos, qualidade desencadeada através de processo de lazer social e educativo
orientado em áreas de naturais protegidas de uso público, que sejam capazes de somar esforços às
causas da conservação ambiental, favorecendo, assim, a proteção das áreas naturais, que tanto tem a
contribuir para a redução de graves problemas urbanos, tais como poluição atmosférica, desajustes
climáticos, e a questão referente aos fatores de estresse tão presentes nos grandes centros urbanos.
Um planejamento e gestão realizados por uma equipe administrativa instruída e capacitada
com enfoque interdisciplinar ajudará na criação de mecanismos sólidos e eficientes ao desenvolver
de um ecoturismo sustentável. Assim, esse território que se relaciona com o natural, o social e o
construído, estaria mais bem gerido se fossem desenvolvidos projetos através de parcerias públicas
e/ou privadas que primassem pela sua reestruturação visando abranger todas as esferas que estão ali
inseridas com foco na minimização de conflitos socioambientais.
Apesar de todo discurso a respeito do potencial sustentável da atividade ecoturística, há de
se considerar o fato de o ecoturismo também apresenta certas carências que constituem os
verdadeiros desafios da atividade. Sem dúvida uma das preocupações que mais se teme é o fato de
que a atividade venha a se acolher na arena do lobby conservacionista terminando por servir aos
apelos meramente econômicos.
No entanto, precisamos levar em consideração o fato de que estamos inseridos numa
economia de mercado, da qual dificilmente conseguiremos nos desvencilhar. Nesse sentido, é
importante pensar o ecoturismo, não como uma atividade que deva romper com o modelo instituído
(capitalista), mas sim como uma forma alternativa viável sustentável ao padrão de desenvolvimento
econômico adotado.
O desenvolvimento do ecoturismo deve estar integrado a uma política de turismo bem mais
ampla, que tenha o compromisso de planejamento e gestão participativa dos recursos naturais e
culturais, e que sua perspectiva comercial, esteja pautada pelo tripé da sustentabilidade, social,
econômica e ambiental.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

LABIRINTOS DA POLÍTICA PATRIMONIAL NO OESTE METROPOLITANO


FLUMINENSE: O PAPEL DOS AGENTES PÚBLICOS LOCAIS NA PROMOÇÃO DO
PATRIMÔNIO E DO TURISMO

Diogo da Silva CARDOSO


Pós-doutorando em Geografia pela UFRJ
diogo_georeg@yahoo.com.br

RESUMO
O objetivo deste artigo é radiografar as iniciativas das organizações e agentes públicos situados no
contexto geo-histórico da Fazenda de Santa Cruz, empreendimento rural datado da primeira
ocupação jesuítica do sertão fluminense (século XVI), ao qual legou diversos sítios históricos e
bens de ordem material e intangível que hoje, devido à estarem localizados em áreas ausentes de
políticas patrimoniais, encontram-se à deriva. Os agentes públicos municipais e, em alguma medida,
os agentes de outras entidades federativas tem um papel importante no estancamento das ações de
destruição do patrimônio local e na promoção de iniciativas que interrompa o ciclo vicioso de
descaso e estabeleça uma nova cultura de sensibilidade e inclusão do patrimônio cultural na agenda
de desenvolvimento local. A política pública é um elemento chave desse processo, sem a qual os
gestores pouco ou nada tem a acrescentar para reverter o quadro atual. O turismo entra como um
difícil, porém produtiva ferramenta a ser desenvolvida para inserir mais agentes culturais,
empreendedores e instituições públicas para diversificar as estratégias de preservação e
investimentos para dar um uso social e econômico sustentáveis aos bens culturais. A outra missão
do turismo nesses casos consiste na revitalização da imagem dos municípios em questão que,
ultimamente, anda tão degradada devido aos estigmas, estereótipos e rotulações que giram em torno
da ideia de Baixada Fluminense e dos lugares inscritos na tensa e desigual relação de ―distância
próxima‖ com a cidade do Rio de Janeiro, cidade essa que ainda exerce considerável influência e
monopólio na vida política e econômica do Estado do Rio de Janeiro.
Palavras-chave: Rio de Janeiro, Fazenda de Santa Cruz, patrimônio cultural, turismo em periferias,
políticas públicas.
ABSTRACT
The purpose of this article is to radiograph the initiatives of public organizations and agents located
in the geo-historical context of Santa Cruz Farm. A rural enterprise dating from the first Jesuit
occupation of the sertão fluminense (16th century), to which it bequeathed various historical sites
and material and intangible heritages that today, due to their being in areas absent from patrimonial
policies, are adrift. Municipal public agents and, to some extent, the agents of other federative
entities play an important role in stagnating actions to destroy local heritage and in promoting
initiatives that interrupt the vicious cycle of neglect and establish a new culture of sensitivity and
inclusion of cultural heritage in the local development agenda. Public policy is a key element of this
process, without which managers have little or nothing to add to reverse the current scenario.
Tourism enters as a difficult but productive tool to be developed to include more cultural agents,
entrepreneurs and public institutions to diversify the preservation strategies and investments to give
a sustainable social and economic use to the cultural assets. The other mission of tourism in these
cases is the revitalization of the image of the municipalities in question that, lately, has been so
degraded due to the stigmas, stereotypes and labeling that revolve around the idea of Baixada
Fluminense and the places inscribed in the tense and disparate relationship of "near distance" with

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

the city of Rio de Janeiro, a city that still exerts influence and monopoly in the political and
economic life of the State of Rio de Janeiro.
Keywords: Rio de Janeiro, Santa Cruz Farm, cultural heritage, alternative tourism, public policies.

INTRODUÇÃO

Este texto é fruto de uma proposta geoetnográfica e multissituada cuja proposta é


compreender a fundo os condicionantes culturais, o fundo político-institucional e as modalidades de
territorialização na qual se inscrevem as ações dos burocratas, gestores e suas respectivas
organizações públicas. Devido ao recorte temático da pesquisa30, os 36 agentes escolhidos e
afetados por ela eram vinculados a um órgão da área (patrimônio, turismo, cultura e similares) e, em
geral, residiam próximo ao local de trabalho31.
Como agentes de defesa e de incentivo ao uso apropriado e juridicamente legal do
patrimônio cultural local, além de promotores moleculares de uma imagem positiva do município
em que atuam, esses sujeitos que ocupam o staff burocrático de um governo atuam quase
exclusivamente pelo/para o Estado, porém, nunca é demais lembrar que suas ações podem estar
engrenadas em outras redes que extrapolam o Poder público. Em se tratando de cultura, artes,
turismo, gastronomia e outros setores economicamente sensíveis, isto é, atrelados à indústria
criativa e as primeiras vítimas das oscilações do mercado e das tensões na sociedade civil, essas
redes se dilatam proporcionalmente à complexidade populacional, urbana, política e econômica do
território, ao passo em que elas criam demandas novas para a gestão pública. E esta, por sua vez,
responde com o estabelecimento de redes e dinâmicas próprias de territorialização para atender,
negociar ou dissipar tais demandas, uma ação programática que se realiza segundo os interesses das
autoridades e representantes políticos, e os recursos disponíveis num dado período para a execução
dos programas e políticas públicas.
Cultura e turismo, dois dos segmentos da economia criativa que marcam a presente análise,
compreendem mais que instituições e pessoas isoladas: configuram o trade local, com seus meios
de hospedagem, museus, centros culturais e educativos, produtoras culturais, equipamentos
recreativos, ateliês, lojas de souvernires, companhias e grupos artísticos. O trade turístico-cultural é
um ator indispensável em dois aspectos: 1) condensa uma matriz de atividades econômicas no seio
da sociedade; 2) pressiona e dá suporte para a inserção do segmento na agenda de políticas públicas.

30
Este texto é fruto da primeira etapa do estágio pós-doutoral (2015-2017) realizado no âmbito do PPGG/UFRJ, sob a
supervisão do Prof. Dr. Scott William Hoefle, com bolsa PNPD/Capes.
31
A seleção, entrevista e diálogo mais ou menos intenso com os agentes públicos ocorreu entre os meses de junho de
2015 e dezembro de 2016. Este texto resulta da primeira fase de análise dos dados e informações coletados e de uma
reflexão sobre os processos culturais paralelos à reestruturação espacial nas áreas remanescentes da Fazenda Nacional
de Santa Cruz (FNSC).

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Entre 2015 e 2016, 36 agentes públicos de distintos municípios e órgãos foram contatados e
interpelados. Dessa lista, a maior parte dos sujeitos ocupam cargos comissionados, mas também
consegui audiência com alguns servidores (funcionários de carreira). Cargos comissionados são
uma realidade predominante nas organizações públicas no Brasil e, com ainda mais ênfase,
naqueles setores criados a partir do excedente econômico e que pela qual são exigidas uma postura:
1) mais dinâmica; 2) mais intersetorial; 3) menos burocrática nos seus processos cartoriais e
decisórios; 4) mais comunicativa e integrada à dinâmica da vida social e aos interesses dos agentes
vinculados ao setor.
Os primeiros pontos a serem levantados sobre os dilemas e possibilidades de ação dos
agentes públicos frente ao cenário desfavorável em que atuam, são: qual a relação dos burocratas e
gestores públicos com as organizações sociais que representam e agem sobre o patrimônio cultural?
Em que medida a maior ênfase sobre o patrimônio imaterial tem resultado num desprezo sobre os
bens materiais móveis, levando a uma política cultural e patrimonial de perfil mais identitário,
difuso e popular? Chegar a essas respostas passa por compreender, em primeiro lugar, a mudança
na cosmologia dos agentes do patrimônio, e, no segundo momento, compreender as pressões
comunitária, empresarial, da burocracia local e de outros stakeholders sobre o modo como o
patrimônio (não) deve ser inserido nos processos de reabilitação urbana, turistificação do lugar,
revitalização da paisagem e desenvolvimento social.

PATRIMÔNIO À DERIVA NA RMRJ: AUSÊNCIA DE POLÍTICA PATRIMONIAL OU


RUÍNAS INEVITÁVEIS?

A pesquisa etnográfica centrou-se nos municípios simultaneamente localizados na Baixada


Fluminense32 e na área historicamente compreendida pela Fazenda de Santa Cruz (FSC).
Atualmente, são 80,6 mil hectares de terras não regularizadas e com distintas formas de ocupação.
Historicamente, a FSC se situou no contexto do sertão fluminense33, topônimo ainda utilizado em
alguns municípios da Costa Verde e do Vale do Paraíba para definir áreas próximas ou encravadas
na serra. O termo tanto pode se referir à distância em relação ao litoral, como serve para enfatizar a
característica mais rústica, árida, tortuosa desses ambientes locais (BEZERRA, 2013; SANCHES,
1990).

32
Incluí a Zona Oeste carioca mesmo com o ranço ideológico e a notória diferenciação socioespacial em relação aos
munícipios da ―Baixada‖. A cidade do Rio de Janeiro possui claros laços de interdependência com toda a faixa Oeste da
RMRJ, principalmente nas relações de trabalho e na exploração de recursos naturais e de empreendimentos industriais e
comerciais.
33
Ou sertão próximo, quando o território em questão era a Baixada Fluminense no período entre o Império e a
República. O termo foi cunhado pelo governo para adotar políticas e ações visando, especialmente, o ordenamento e
saneamento dessas áreas ―obscuras‖, tão próximas e ao mesmo tempo ―distantes‖ dos privilégios da capital do país.
Nielson Bezerra (idem) comenta um pouco sobre o sertão próximo a partir da repressão aos negros na fase de transição
abolicionista.

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O passivo fundiário FNSC data de 1938, ano do decreto (Decreto-Lei n. 893 de 26 de


novembro de 1938) que autorizou a sua extinção e posterior aproveitamento das terras para o
desenvolvimento agrícola e industrialização da região. Na verdade, ―extinção‖ é um vocábulo
incorreta para esse fato, haja vista os inúmeros pedidos de regularização e titulação ainda em curso
no Incra-RJ. Segundo o servidor Alexandre Menezes, perito agrário designado especialmente para
dar celeridade ao processo fundiário FNSC34, os pedidos ―dificilmente terão uma solução à curto ou
médio prazos‖.
No âmbito municipal, Seropédica tem absurdos 80% de terras sob a tutela do Incra-RJ, e
sem qualquer expectativa de sua regularização tanto para beneficiar moradores como para destravar
o desenvolvimento econômico local. Já em Paracambi, segundo o assessor jurídico da Secretaria
Municipal de Planejamento, Rodrigo de Oliveira, o município tem 40% de terras em situação
foreira ou tuteladas pelo Incra-RJ. Rodrigo afirma que boa parte das terras ―já estão urbanizadas e
com relativa infraestrutura‖. Paracambi está à frente de Seropédica no que tange aos pedidos de
regularização, titulação, remissão e outros encaminhados ou já concedidos. Segundo a diretora da
secretaria supracitada, Sueli Siqueira, foreiros e posseiros locais estão com seus pedidos no Incra-
RJ num estágio avançado.
Traçando uma linha que vai do litoral ao Vale do Paraíba, a FSC nos legou um acervo de
bens culturais e naturais que surpreende pela sua resistência ao tempo e aos processos de ocupação
territorial. É certo que muitos bens foram destruídos ou se encontram em estágio avançado de
deterioração. A possibilidade de reunir, de forma metódica e sistemática, esses testemunhos
históricos da paisagem e torná-los visíveis e reconhecidos pela sociedade é uma tarefa árdua que
nunca se concretiza da forma como os gestores públicos e agentes culturais locais esperam. Há
dificuldade em compreender a ligação desses bens culturais locais no contexto histórico geral da
FSC. As tentativas de reconhecimento e promoção da história da FSC se esvaíram diante das
mudanças repentinas na região que embaraçam qualquer projeto de desenvolvimento de um sentido
de lugar e de promover ações culturais sólidas. Sobre isso, o turismólogo e professor da FAMA
(Santa Cruz), Célio Souza, fala, de forma ressentida, das

[...] várias pessoas que tanto lutaram por essa região, tentaram colocar as histórias e
a cultura local em evidência, mas com o passar do tempo se cansaram, ficaram sem
―pernas‖ para lidar com um cenário tão complicado, difícil de se resolver já que
nem a comunidade se interessa pelo assunto. É o caso do Sinvaldo, do Benedicto,
do Antônio Nicolau Jorge, do mestre Saul e tantos outros (2015, comunicação
pessoal).

Assim como a linha imaginária e consciência de propriedade com as quais os jesuítas


iniciaram o traçado dos limites da FSC já no século XVI (cf. FREITAS, 1985, p. 41-52), essa

34
Acesse: <http://migre.me/wkTkA>. Acesso em: 20 nov. 2015.

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mesma linha e consciência histórica nos permite compreender hoje, com um pouco mais de afeição
– no sentido topofílico dado por Yi-Fu Tuan (1980) – e requinte – segundo o paradigma indiciário
de Carlo Ginzburg (2006), a singularidade de lugares como Pedra de Guaratiba, cuja uma das ilhas
pertencentes a esse bairro, a Ilha de Guaraqueçaba, contém um memorável microrregistro da
primeira tentativa de medição da FSC.

Imagem 1: marco jesuítico na Ilha de Guaragueçaba, consiste em duas figuras (quadrado mais esfera em
formato de pizza) sobre a rocha. Fonte: arquivo pessoal.

Para a história do tombamento (medições e fixação dos limites) deste imenso latifúndio que
foi a FSC, ao qual existiu desde o fim do século XVI e, durante quase dois séculos, sofreu um lento,
porém contínuo declínio das suas atividades e importância na vida econômica e política fluminense
até a sua ―extinção‖ em 1938 (Decreto-Lei n. 893). A trilogia de Benedicto Freitas (1987a, 1987b,
1985) fornece muitos elementos e sinais para compreender a história da FSC. O epílogo da sua obra
nos leva a um horizonte de questionamentos, a começar pelo fato dessa história territorial não ter o
seu devido reconhecimento pelos órgãos oficiais e a comunidade científica. Com alguma
insistência, referem-se apenas aos seus resíduos na paisagem (COSGROVE, 1998). Uma história de
ruínas, portanto, uma memória arruinada pelo esquecimento (POLLAK, 1989). Uma memória
impraticável do ponto de vista da construção de lugares de memória (NORA, 1998) cuja densidade,
valor e efervescência cultural levam à sua ressignificação e uso pela sociedade, forçando o Poder
público a administrá-los com zelo.
Em alguns levantamentos de campo, pude constatar o estado deplorável de edifícios e
artefatos. Os casos mais críticos são: casarão de Paracambi (imagem abaixo); ruínas do Matadouro,
Ponte dos Jesuítas e Casa de Sal (Santa Cruz, Rio de Janeiro); marcos da Estrada e da Fazenda de
Santa Cruz (Paciência, Pedra de Guaratiba e Santa Cruz, Rio de Janeiro); sítio histórico da Reta do
Piranema e casarios na Rua General Bocaiúva (Itaguaí); ruínas do leprosário (Queimados).

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Imagem 2: Casario presente no centro de Paracambi. O edifício encontra-se razoavelmente preservado,


porém, as faixas publicitárias e outros objetos que se sobrepõem à fachada desviam o olhar do transeunte.
Fonte: arquivo pessoal.

O registro oficial do patrimônio regional restringe-se aos levantamentos esporádicos


realizados pelas prefeituras, grupos de pesquisa científica (UFRRJ, FAMA), pesquisadores
individuais35, ou pelos decretos de tombamento e fiscalização pontual dos órgãos de proteção
(Inepac, Iphan, conselhos municipais de patrimônio). O caso mais complexo na área em estudo,
pois envolve um instrumento legal e regulamentar de proteção patrimonial e gestão urbana, é a
APAC Santa Cruz (Decreto n. 12.524 de 09 de dezembro de 1993).
O descaso com o patrimônio, principalmente os de ordem cultural, coloca em xeque
qualquer projeto sério de turismo na região. Mesmo nos casos em que determinados processos
conseguem ser completados, a descontinuidade das políticas e ações governamentais deixa um
vácuo difícil de ser preenchido pelos próximos à encarar a tarefa. É o caso de Itaguaí com o
processo de inventariação turística realizada em 2012 por professores e alunos da FAMA. Os
coordenadores Shirley de Macedo e Célio Souza afirmaram que o trabalho foi bem-sucedido: os
atrativos culturais e naturais foram levantados, identificados e registrados, e o produto final
entregue à Prefeitura. No entanto, alguns anos depois, Célio sondou junto à Prefeitura se o trabalho
teve continuidade, porém, para sua surpresa, descobriu que a Secretaria responsável pelo turismo
(Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico Sustentável) perdeu o material.
O fato foi confirmado pelo Diretor de Turismo, Nelson Wenglarek. Em uma reunião (na
qual eu estava presente) com o secretário e subsecretário da sua pasta, Marcelo Godinho e Marcos

35
Refiro-me à pesquisa do Sinvaldo e do AZO (Amigos da Zona Oeste) na década de 1990; e à minha pesquisa entre
2013-2015 que, dentre outros produtos, gerou o guia turístico-cultural Oeste Carioca, publicado pelo Observatório de
Favelas (BARBOSA & SILVA, 2014), e os mapas dos espaços culturais e museológicos da Zona Oeste expostos em
minha tese de doutorado (CARDOSO, 2015).

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 881


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Rogério Rocha, respectivamente, falou, em tom de desabafo, que acompanhou de perto o inventário
realizado pela FAMA, mas que agora, sem o material ―perdido em meio ao amontoado de papeis
que foram jogados fora pela última gestão‖, não tinha mais em mãos ―o arsenal necessário‖ para
formalizar a inclusão de Itaguaí no sistema do Ministério do Turismo (Invtur e Mapa do Turismo
Brasileiro) e captar recursos junto aos órgãos estaduais e federais.
O exemplo acima mostra como, na relação entre os entes federativos, o maior prejudicado é
o município. No exemplo acima, vemos como na gestão pública, a hierarquia federativa tira a
autonomia e recursos do município, criando uma relação de dependência em que os municípios
precisam cumprir todos os requisitos burocráticos e sistêmicos para granjear apoio, capacitação e
recursos. Situação semelhante encontrei durante a pesquisa realizada em Japeri (2015), com a
diferença de que a problemática era na área ambiental.
Na última gestão, Japeri tentou captar recursos para áreas de proteção ambiental (APAs Pico
da Coragem e Pedra Lisa), mas não conseguiu. A pessoa designada para o assunto foi a Diretora de
Turismo, Cristiana Guimarães. Vi claramente a sua resignação ao falar que o pedido foi barrado
logo na fase de análise documental. Um município do porte de Japeri não tinha condições de
cumprir tais exigências, inclusive por estar situado na Região Metropolitana, o que já denota um
impeditivo para acessar o referido recurso via esfera federal.
Na visão da gestora Cristiana, ―desenvolver um município na Baixada Fluminense é
enfrentar tantos problemas que somente amando o lugar e o que você faz, é possível prosseguir‖.
Para o turismo e o patrimônio, Cristiana tinha em mente algumas atividades para tentar estimular o
segmento cultural local, como rodas de lembranças, ações culturais de sensibilização do patrimônio
cultural e registro das manifestações culturais. Porém, o seu trabalho na secretaria entre 2013 e
2015 (Secretaria Municipal de Esporte, Turismo e Lazer) era isolado, pois os demais funcionários
lidavam com assuntos de esporte e lazer, restando a ela todo o encargo relativo a cultura, turismo,
fiscalização da atividade nas áreas de proteção ambiental etc. Uma situação negativa que ela mesma
reconhecia e, para contornar tal problema, buscou se dedicar a uma situação específica, a saber, o
turismo de aventura. Segundo ela, ―[...] tenho investido meu tempo mais para compreender como
lançar recursos turísticos importantes do município, como as áreas de rio para a prática de
canoagem (Rio Guandu)‖.

TURISMO COMO FERRAMENTA PARA DINAMIZAR O PATRIMÔNIO EM ÁREAS


MARGINALIZADAS:A PROPOSTA DE ALGUNS GESTORES LOCAIS

Nos municípios em tela, o turismo é um setor nulo ou medianamente fomentado pelo Poder
público e abraçado pelo trade local. Prova disso no Estado do Rio de Janeiro é que se pode contar
nos dedos as cidades que ―vivem‖ de turismo. Dos atuais destinos indutores do turismo no Estado

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 882


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fluminense36, somente Rio de Janeiro37 e Angra dos Reis estão próximos da área FNSC. Apesar da
proximidade com a Costa Verde, tendo Itaguaí como um dos seus municípios instituintes, a FNSC é
mais vista a partir da sua intersecção com o Vale do Paraíba. Sua ligação com o mar foi mais
intensa quando exerceu efetivamente sua função agropecuária e mercantil, isto é, entre os regimes
colonial e imperial. A Baía de Sepetiba, seu principal recurso hídrico, sofre hoje com a degradação
ambiental e a perda daquela aura litorânea que, até o século passado, marcou admiravelmente as
praias e ilhas dos bairros de Sepetiba, Pedra de Guaratiba, Coroa Grande, Ilha da Madeira e
Itacuruçá.
Assim sendo, se há hoje uma vocação turística na região histórica da FNSC, esta está
intimamente ligada à dinâmica turística em voga no Vale do Café38. Essa última região, com suas
fazendas históricas e rico patrimônio natural, é o que garante um fluxo razoável de turistas na área
da FNSC. E, apesar de boa parte das fazendas do Vale do Café estarem vinculadas à história e
memória da FNSC, sua ligação é desconhecida pelo trade local. Mesmo a Setur e a TurisRio,
entidades ávidas por novos roteiros alternativos para o Estado, até hoje não se manifestou a respeito
do assunto. A razão para tal negligência deve ser a mesma que fora desvelada nas instituições
municipais: o desconhecimento do assunto e do potencial de gerar novos produtos turísticos e
mecanismos de captação e fomento para a preservação do patrimônio cultural.
As áreas praianas do eixo Zona Oeste, Itaguaí (incluindo a Ilha de Itacuruçá) e Mangaratiba
(trechos do Rio Itinguçu e da Ilha de Itacuruçá) encontram-se, nesse presente momento,
despotencializadas, indispostas a participar de um projeto de cunho regional. Um projeto de
fomento turístico e patrimonial pode tocar em pontos críticos do planejamento, ordenamento e
gestão municipal: poluição e degradação ambiental, descaracterização e arruinamento de
patrimônios, especulação imobiliária, favelização, desmobilização comunitária, falta de
reconhecimento dos grupos culturais populares, desincentivo à economia de base local. A
participação modesta ou só ―de nome‖ em um projeto regional ou nacional pode evidenciar as

36
Conferir o relatório dos 65 destinos do Ministério do Turismo em: <http://migre.me/wgFhW>. Acesso em: 18 mar.
2017.
37
Apesar da Zona Oeste carioca ser parte do escopo, sabe-se muito bem que a condição da cidade do Rio de Janeiro
como destino indutor deve-se aos atrativos e à imagem atrelada às áreas Centro e Zona Sul. A Zona Oeste, com a
exceção da região Barra da Tijuca, é oficialmente excluída da política municipal de turismo. Na década de 90, tentou-se
inventariar e propor soluções para o desenvolvimento do turismo na periferia da Zona Oeste carioca, porém, o projeto
não teve continuidade. Há poucos registros materiais desse momento de reconhecimento do território turístico Zona
Oeste na gestão César Maia. Os materiais aos quais tive acesso são: 1) guia turístico (Riotur) cujo coordenador de
campo foi Sinvaldo Souza, historiador e museólogo renomado da Zona Oeste, professor da FAMA e da rede municipal
de ensino, e idealizador e um dos fundadores do Noph; 2) coleção fotográfica ―Olhos de Ver Santa cruz‖ (antigo
DGPC/Secretaria Municipal de Cultura); 4) Decreto de criação da APAC Santa Cruz (1993) para a salvaguarda de cerca
de 120 imóveis na área histórica de Santa Cruz, incluindo a Ponte dos Jesuítas, que se localiza distante do núcleo
histórico.
38
Mapa oficial da região Vale do Café (Setur/TurisRio): <http://migre.me/wgFGN>. Acesso em: 19 mar. 2017. Para
um breve panorama das fazendas históricas, consultar a Preservale, considerada hoje o principal ator político do trade
turístico local: <http://www.preservale.com.br/>. Acesso em: 19 mar. 2017.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

fraquezas da gestão pública local, manchando a imagem da cidade e, particularmente, dos gestores
públicos.
Foi isso o que esclareceu o Diretor de Turismo de Itaguaí, Nelson Wenglarek, ao falar, em
tom de desabafo, sobre a dificuldade de trabalhar com o tema turismo local. Afora a reativação do
Conselho Municipal de Turismo (COMTURI)39, para conseguir visibilidade, Nelson busca espaços
fora de Itaguaí ou do circuito Costa Verde para divulgar os atrativos locais, sobretudo os naturais.
Segundo ele, é por isso que projetos de pegada empreendedora e criativa como o que ele e eu
estávamos costurando faz quase um ano – Projeto Caminhos da Fazenda de Santa Cruz: itinerários
simbólicos para o desenvolvimento turístico e patrimonial de Itaguaí (CARDOSO, 2016) – não
consegue sair da fase de idealização para a execução.
No mesmo diapasão, as gestoras Daniela Félix (Diretora de Patrimônio) e Nádia Alvarez
(Subsecretaria de Cultura), ambas alocadas na SMECE de Seropédica até a última gestão (Alcir
Martinazzo, 2013-2016), comentaram durante uma reunião no Centro Cultural Seropédica (CCS),
que o objetivo maior das ações do espaço cultural é ―resgatar a identidade cultural do território, para
que Seropédica mantenha a identidade de ser uma ‗cidade campestre‘‖. Nádia emenda o comentário
falando do seu projeto cultural individual que busca unir história, tradição e natureza para recompor
a história rural/agrícola do município:

Cheguei a ganhar dois hectares na área da Fazendinha para plantar amora. Temos
um projeto maravilhoso com a fruta amora, chamado ―Amora Seropédica‖,
inclusive com o objetivo de captar recursos. Até o momento não conseguimos. O
máximo que conseguimos foi a realização de mostras na UFRRJ. Nosso objetivo a
longo prazo é trazer para Seropédica a sua autoestima identitária para encaminhá-la
por um desenvolvimento comprometido com a história, a arte, a memória. Hoje,
temos alguns avanços, inclusive aqui no Centro Cultural Seropédica, onde
acabamos de confirmar 35 oficinas contemplando todas as linguagens artísticas. O
meu conceito é ―identidade cultural‖! (ALVAREZ, 2016, comunicação pessoal).

Em outro encontro, Daniela Félix confirma que o turismo seria uma solução plausível para
Seropédica, mas ao perguntar como seria possível fomentar o turismo municipal se não há
reconhecimento dos atrativos e nem uma perspectiva de desenvolvimento de roteiro interno, ela
admite que o problema é mais complexo, teria que haver um roteiro intermunicipal para que o
turismo local fosse viabilizado.
Até o fim da primeira etapa da pesquisa (2016), a questão do turismo em Seropédica não foi
suficientemente esclarecida tanto para mim como para as gestoras do Centro Cultural Seropédica e
para a Secretaria de Comunicação, Turismo e Eventos. Faltou compreender em que medida os
gestores do CCS tomaram para si, mais que a própria secretaria designada para tal tarefa, a missão
de trabalhar em prol do turismo alternativo e da produção cultural local. Sobre esse desafio, Daniela

39
Ver: <http://www.itaguai.rj.gov.br/noticia/734/encontro-busca-fomentar-turismo-em-itaguai.html>. Acesso em: 5
jul. 2016.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 884


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comenta sobre o potencial da CCS com a visão de quem participou e, posteriormente, desligou-se
da Diretoria de Patrimônio/SMECE e do próprio espaço cultural:

Creio que a estrutura da Fazenda em que estava o Centro Cultural tinha esse
potencial turístico. Afinal, recebemos pessoas não só de Seropédica. Era muito
comum recebermos pessoas que estavam viajando, que viam a casa e paravam para
conhecer. Por estar localizada na Antiga Estrada Rio-São Paulo, o trânsito de
pessoas era muito grande e estamos falando de um casarão antigo que é um dos
grandes marcos do que foi preservado da história de Seropédica (Felix, 2016,
documento pessoal).

A assertiva da Daniela em relação a um prédio e equipamento cultural público, revela um


pouco do clima que cerca aqueles que transitam pelo setor público e na cena cultural local,
apreendendo as visões e contradições de ambos os lados. A dialética entre o preservar e o
desmoronar é o carro-chefe da discussão entre os que trabalham pelo patrimônio local. A
abordagem é, quase sempre, insidiosa, precavida, às vezes afobada, porém sempre usando um
discurso de radicalidade branda ou carregada para mostrar aos outros e a si mesmo que alguma
coisa está sendo feita. Para os que estão do lado das autoridades políticas, da burocracia, da
ideologia governamental e das glórias e bem-aventuranças impetradas pela máquina estatal, o
discurso engajado não se torna um mero requinte, mas um imperativo lógico-formal para acobertar
as diferenças socioculturais, afirmar a identidade das instituições e do governo, e abafar os
processos dialéticos domésticos que podem colocar em xeque um ou mais problemas da
administração pública.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Um dos objetivos da pesquisa, que ainda está por ser finalizada, é delinear uma
geoetnografia onde os sujeitos interpelados, agentes públicos, sejam compreendidos para além do
local de trabalho e do papel institucional que cumprem na repartição e nos demais encontros onde a
hierarquia burocracia governamental se faz presente e ritos político-institucionais tem que ser
cumpridos. O próximo passo da pesquisa é esmiuçar o modo como as trajetórias, ideologias
políticas, cosmovisões e lugares de interesse impactam nos discursos e ações dos agentes públicos e
isso, em alguma medida, interfere na agenda de política pública da sua pasta. Essa perspectiva
norteia a problemática do como os diferentes agentes públicos estabelecem formas diferenciadas de
lidar com a ―coisa pública‖.
Em vários momentos, a problemática dos lugares de memória da FSC emergiu.
Geograficamente falando, lugares de memória são o núcleo de qualquer sociedade, o fio tenso que
une a sociedade aos bens culturais e naturais circunscritos por aquela ordem simbólica. Inclusive, eu
defendo que a apropriação dos lugares de memória pelos habitantes e agentes culturais locais é um
ponto crucial do desenvolvimento social. Além do mais, deveria ser compreendido como um

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 885


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indicador de desenvolvimento e de sustentabilidade de um território. Sendo um indicador territorial


de desenvolvimento e sustentabilidade, os lugares de memória (bens culturais e ecossistemas locais)
não se fecham em si mesmo, mas abrangem múltiplos aspectos da vida (patrimônio, educação,
conservação ambiental, intercâmbio, produções culturais e científicas) indispensáveis para o
fortalecimento das instituições e dos agentes culturais locais, bem como orientar o processo
econômico a partir das vocações locais e da promoção da criatividade para erguer arranjos
produtivos sustentáveis.
Como aponta José Veiga (2010), indicadores de desenvolvimento sustentável formam uma
constelação capaz de avaliar questões ecossistêmicas, de qualidade de vida e de performance
econômica. A apropriação e potencialização social do patrimônio tem suas implicações ecológicas,
simbólicas e econômicas, incidindo com mais força em temas de ordem imaterial que ultrapassam
as análises convencionais. Alguns deles: bem-estar social, percepção ambiental, pertencimento local
(laço topofílico), identidade cultural, empoderamento comunitário. Esse assunto merece ser levado
à sério pelos órgãos de patrimônio, cultura, turismo, ambiente e outros afinados com a agenda
política da sustentabilidade.

REFERÊNCIAS

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de Favelas, 2014. Disponível em: <http://observatoriodefavelas.org.br/wp-
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Janeiro. Outros tempos. n. 5 (10). 2013. Disponível em: <http://migre.me/wluIk>. Acesso em: 12
jan. 2017.

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um circuito de cultura e memória na periferia carioca (RJ). Programa de Pós-Graduação em
Geografia (Tese de Doutorado). Rio de Janeiro. UFRJ, 2015. Disponível em: <http://objdig.
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ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 886


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Santa Cruz: Fazenda Jesuítica, Real, Imperial. v. 1. Rio de Janeiro: Edição do autor, 1985.

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ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 887


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UTILIZAÇÃO DE RECURSOS PARA ATINGIR A SUSTENTABILIDADE


HOTELEIRA

Emily Tavares PESSOA


Graduada do curso de Ciências Contábeis da UFPB
emilytavares@ymail.com
Danielle Karla Vieira e SILVA
Mestre em Computação Aplicada da UECE
Professor Adjunto II da UFPB – Universidade Federal da Paraíba
danielle_karla1@yahoo.com.br

RESUMO
No mundo de economia capitalista, estabelecimentos necessitam hoje, mais do que sempre de
recursos para interligar, aperfeiçoar, facilitar e sustentar suas operações. Com isso, buscou-se
verificar se havia de fato, sistemas de informações contábeis (SICs) integrados nos grandes hotéis
de João Pessoa, capital da Paraíba e se os mesmos ofertam benefícios aos profissionais que os
utilizam, tendo em vista que tais sistemas, eventualmente tenham conduzido e tornado as
informações mais seguras e ágeis. Para tanto, realizou-se um estudo de campo, do tipo exploratório,
de abordagem qualitativa e quantitativa, com aplicação de questionários e entrevistas, direcionados
aos hotéis que apresentam mais de 100 (cem) quartos, que foi o critério de seleção utilizado. O
universo da pesquisa, foi de 8 (oito) hotéis. Quanto ao principal objetivo, que era o de verificar a
utilização dos sistemas e tecnologias de informações, para facilitar o trabalho dos funcionários e
garantir a sustentabilidade das empresas, apurou-se que a maioria dos entrevistados (87,5%)
respondeu afirmativamente à questão. Com a indagação se ―há uma redução significativa dos custos
das operações, após a implementação dos sistemas integrados de informações‖, 62,5%, ou seja, 5
(cinco) dos 8 (oito) respondentes concordaram, havendo consenso então da real necessidade de
aplicação, implantação, execução e entendimento dos sistemas e tecnologias de informações
contábeis dentro dos hotéis em João Pessoa, para melhoria não só da qualidade, mas do custo das
operações em geral, fazendo com que os estabelecimentos garantissem a sua sustentabilidade.
Contudo, nessa pesquisa percebeu-se que os sistemas de informações (SI) trouxeram benefícios e
melhorias aos seus usuários, direta e indiretamente.
Palavras-chave: Sistemas de informações contábeis; Tecnologias de informações; Sustentabilidade;
Hotéis.
ABSTRACT
In the world of capitalist economy, establishments today need, more than always, resources to
interconnect, perfect, facilitate and sustain their operations. Therefore, check that there is in fact,
accounting information systems (SICs) integrated in the major hotels in João Pessoa, the capital of
Paraíba, and that they offer benefits to the professionals who use them, since such systems
eventually process and become more secure and agile information. For that, a field study,
exploratory, qualitative and quantitative approach was carried out, with the application of
questionnaires and interviews, directed to hotels that presented more than 100 (one hundred) rooms,
which was the selection criterion used. The research universe was 8 (eight) hotels. What is the main
objective, which was the verification of a use of information systems and technologies, to facilitate
the work of employees and ensure the sustainability of companies, it was found that the majority of
respondents (87.5%) responding affirmatively to the question. With an inquiring whether "there is a
significant reduction in operations costs, after an implementation of integrated information

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systems", 62.5%, that is, 5 (five) of the 8 (eight) respondents agreed, and there was a consensus of
the real need Application, implementation, execution and understanding of accounting information
systems and technologies within hotels in João Pessoa, to improve not only quality but the cost of
operations in general, making the establishments guarantee their sustainability. However, in this
research it was noticed that information systems (IS) brought benefits and improvements to its
users, directly and indirectly.
Key-words: Accounting information systems; Information technologies; Sustainability; Hotel.

1. INTRODUÇÃO

A tecnologia da informação (TI) vem tomando progressivamente mais espaço no mercado


de trabalho, no dia a dia e na vida da população em geral, graças ao processo de integração
econômica crescente que se vive.
Com o advento de sistemas, programas e softwares modernos, que vieram trazer integração
e agilidade de serviços prestados, diversas empresas cederam à tecnologia e passaram a adotar tais
dispositivos para seu arcabouço profissional.
Concomitantemente com essa revolução tecnológica, as organizações que almejam
sobreviver e ter a capacidade de se sustentar, precisam se adequar e acompanhar essa evolução,
fazendo o máximo para garantir lugar no mercado e atrair fidelização e confiança com os seus
clientes.
Sendo perceptível o crescimento turístico local e fazendo a interação do turismo com a TI,
relatam Cooper et al., (2008) que essa invade cada vez mais o setor e o turismo encontra-se em uma
posição perfeita para aproveitar os avanços da tecnologia da informação, que vai do uso da Internet
para a simples organização de viagens, roteiro e visitas a pontos turísticos, até a viagem
propriamente dita.
Partindo desse pressuposto, o estudo em questão possui como temática a integração dos
sistemas de informações para a sustentabilidade dos estabelecimentos de hospedagem de João
Pessoa, buscando verificar como esses empreendimentos utilizam tais sistemas e se esse uso gera
benefícios ou não.
Moscove, Simkin e Braganoff (2002, p. 24) inferem que as organizações hoje estão
constatando que existe uma necessidade real de interligar todas as suas funções em um grande e
indivisível banco de dados. Essa integração permite que todos os funcionários obtenham as
informações de que necessitam para o planejamento, tomada de decisões e controle, seja para
marketing, seja para contabilidade ou qualquer outra área funcional da organização.
Sistemas de informações ligam elementos correlatos ou até mesmo que necessitam de
outros, para fornecer informações concretas e úteis, fazendo com que o todo seja melhor do que a
soma das partes (PADOVEZE, 2010).

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Enfatiza-se então que os sistemas e as tecnologias de informações devam ser utilizados


como instrumento de apoio às organizações, podendo ser adotado por qualquer empresa,
independente do seu porte ou área de atividade. Analisar todos os pontos referentes ao êxito de uma
entidade é peça chave para verificar se o mesmo tem a capacidade de ser sustentável a longo prazo.
Tendo em vista a ampla evolução da TI e evidenciando a hotelaria, pôde-se destacar como
questionamento do presente estudo: Os sistemas de informações facilitam a execução do trabalho
dos funcionários nos grandes hotéis de João Pessoa?
O interesse em estudar e pesquisar sobre o tema surgiu da curiosidade de se conhecer e
entender quais são, como funcionam e se são rendáveis para os hotéis, a inserção de sistemas de
informações integrados com a contabilidade. Portanto, essa pesquisa contribuiu para promover a
discussão a respeito da utilização integrada, o que acarretou em benefícios e trouxe longevidade,
dos sistemas de informações contábeis (SICs), nos grandes hotéis de João Pessoa.
O artigo em questão está organizado em cinco partes. A primeira parte traz a introdução, a
segunda contempla a revisão de literatura, a terceira parte trata dos procedimentos metodológicos,
logo em seguida a apresentação e discussão dos resultados e a última parte, a conclusão.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Hotel

A visão tradicional e antiquada de hotel é a de um estabelecimento que oferece hospedagem


e alimentação aos hóspedes de estadas curtas, em troca de um pagamento. Esse conceito dominou
grande parte das tentativas de definição dos hotéis, porém, percebe-se o quanto ela é inadequada
frente ao crescimento da hotelaria e outros serviços por ela associados, como lazer e negócios.
(COOPER et al., 2008)
Devido à crescente inovação tecnológica, a grande participação que o setor hoteleiro tem na
economia e o aumento de consumidores interessados em se hospedar em hotéis, são motivos que
vem instigando crescentemente esses estabelecimentos a adotarem e apostarem em espaços diversos
e atrativos para chamar a atenção daqueles. O aperfeiçoamento é primordial para que as
organizações obtenham os resultados que desejam. Ser sustentável hoje não é fácil, no mundo
dinâmico que vivemos fixar-se no ramo que se almeja é o sonho de muitos.

2.2 Tecnologia e Sistema da informação

Dentre todas as evoluções atuais, a tecnologia da informação ganha maior prestígio e


atenção por parte dos interessados na área, já que essa traz consigo facilidade e agilidade a diversas
operações.

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Laudon (2010, p. 12) conceitua que:

Por tecnologia da informação entende-se todo software e todo hardware de que uma
empresa necessita para atingir seus objetivos organizacionais. Isso inclui não apenas
computadores, disk drives, assistentes digitais pessoais – até mesmo iPods, se usados para
fins organizacionais -, mas também softwares, como os sistemas operacionais Windows ou
Linux, o pacote Microsoft Office e as centenas de programas computacionais que
normalmente podem ser encontradas em uma grande empresa.

A TI pode ser considerada uma aliada e uma nova ferramenta que veio para contribuir e
facilitar as atividades dos seus usuários a fim de auxiliar e melhorar os serviços das organizações.
Passando assim a ser um diferencial importante entre as empresas, fazendo com que essas obtenham
informações mais concretas, confiáveis, seguras e consequentemente sustentáveis.
Segundo O´Brien (2010, p.5) existem diversas maneiras das organizações entenderem e
utilizarem a tecnologia da informação. Uma das alternativas são elas optarem pela utilização dos
sistemas de informações estrategicamente, ou se contentarem com o uso da TI como alicerce para as
operações no decorrer do seu dia a dia. Porém, se a companhia enfatizar a utilização estratégica da
tecnologia da informação, toda a organização, principalmente sua administração, veria tal
tecnologia como um importante diferencial competitivo. Com isso, elaboraria estratégias de
negócios que utilizassem essa tecnologia para desenvolver serviços, produtos e habilidades que
fizessem com que a empresa se tornasse única e diferente no mercado em que compete.
A TI fez com que pessoas, grupos e organizações gerissem as suas informações de forma
mais eficaz. As tecnologias de informações aperfeiçoam as comunicações entre todos os
interessados dentro das companhias. A organização precisa de inúmeros recursos ligados a ela, para
obter o que anseia. Graças aos avanços na TI tornou-se possível conseguir, gerir e utilizar
quantidades enormes de informações a custos relativamente baixos (Gordon e Gordon, 2006).
Completando as ideias citadas, Rezende (2013) alude que a TI é todo o aglomerado
tecnológico que se encontra a disposição das organizações para manipular dados e fornecer
informações. Geralmente esse arsenal tecnológico está ligado à informática e às telecomunicações,
como também a todo o desenvolvimento tecnológico referente ao processamento e à transmissão de
dados. Com isso, observa-se que a tecnologia da informação trouxe para as organizações, a saída de
informações mais eficientes e a facilitação da interação entre os funcionários da empresa.
Se tratando de sistema de informação, toda e qualquer organização tem como intuitos
principais, o crescimento das operações, manter-se sustentável no mercado que atua e a
maximização dos lucros. Para a obtenção desses objetivos a organização necessita de informações
concretas e verídicas, tais informações podem ser obtidas por intermédio da utilização dos SI.
Padoveze (2010) define os sistemas de informações como o conjunto de recursos humanos,
tecnológicos, materiais e financeiros incorporados a uma sequência lógica para o bom
processamento dos dados e a tradução em informações, para conseguir trazer às organizações o

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cumprimento de seus objetivos primordiais. O SI é hoje uma entidade fundamental dentro de uma
organização que deseja prosperar e almejar resultados positivos em suas operações.
Contribuindo com os conceitos supramencionados, para Gil (1999) um sistema pode ser
conceituado como uma constituição de dois, três ou mais componentes ou subsistemas que
interagem com o intuito de atingir um ponto comum.
Moscove et al., (2002) conceituam o sistema de informação como o conjunto de diversos
subsistemas que se comunicam e funcionam em harmonia para coletar, processar, armazenar,
transformar e distribuir informações para fins de planejamento, controle e tomada de decisões. Todo
sistema de informação consiste em três componentes principais: entrada, processos e saídas. Nesse
aspecto, observa-se a necessidade de utilização e entendimento dos sistemas de informações, para
adquirir informações úteis em tempo hábil.
Conforme Gordon e Gordon (2006, p. 7) o SI combina uma série de fatores, como a
tecnologia da informação, os dados, os procedimentos para processar os dados e as pessoas para
coletá-los.
Sistemas de informações têm se tornado uma ferramenta de fundamental importância
principalmente no que diz respeito à geração de relatórios que servem de apoio a gestão
operacional. Uma empresa que possui um bom sistema tem mais capacidade de fazer uma previsão
do futuro de forma mais precisa através dos relatórios emitidos.

2.3 Sistemas de Informações Contábeis

Na era da informação, menos trabalhadores estão fazendo produtos e maior parte da


população empregada está envolvida na produção, análise e distribuição de informações. Sistemas
de informações desempenham uma função essencial na economia e no nosso cotidiano. Os sistemas
de informações contábeis são tipos especiais de SI que fornecem principalmente informações sobre
processo e eventos de negócios que atingem a organização (MOSCOVE et al., 2002). Na realidade
atual, trabalhadores a cada dia estão executando e operando mais máquinas e sistemas, do que
realmente envoltos na elaboração de relatórios.
Conforme definem a Comissão de Valores Mobiliários – CVM e o Instituto Brasileiro de
Contadores – IBRACON, ―a Contabilidade é, objetivamente, um sistema de informação e avaliação
destinado a prover seus usuários com demonstrações e análises de natureza econômica, financeira,
física e de produtividade, com relação à entidade objeto de contabilização.‖, esses conceitos são de
extrema importância para se entender os objetivos e a abrangência do Sistema de Informação
Contábil (PADOVEZE, 2010).
Do trabalho de Riccio (1989) extraem-se as seguintes definições de SICs: John F. Nash ―O
sistema de informação contábil é um veículo formal para o processamento operacional de dados

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

contábeis e para as atividades de suporte à decisão.‖ Peter A. Firmin ―O sistema de informação


contábil, com sua estrutura altamente desenvolvida, poderia se constituir na estrutura fundamental
para o SI Total da Empresa. Onde isto não acontecer, o potencial do Sistema de Informação
Contábil não estará sendo entendido (aproveitado).‖ Frederick H. Wu ―Um sistema de informação
contábil é uma entidade ou um componente, dentro de uma organização, que processa transações
financeiras para prover informações para operação, controle e tomada de decisões aos usuários‖.
Magalhães e Lunkes (2000, p.35) ―afirmam que as informações contábeis precisam ser
desejáveis e úteis aos responsáveis pela administração da organização, para que sejam utilizadas no
processo administrativo‖.
Há que se considerar, que a informação além de útil, ela precisa também ter um custo
acessível e ser sustentável. É de fundamental importância que a informação apresente custo menor
que os ganhos trazidos por ela, para a entidade.
Bem como disse Chagas (2012) o sistema de informação contábil tem adquirido uma nova
visão, além de ter a função de realizar os registros dos fatos financeiros e econômicos que ocorrem
na entidade, tem obtido valorização dentro de inúmeros setores das empresas.
Como se viu pelas citações dos autores, a contabilidade é por si só um sistema de
informação, destinada a alimentar os seus usuários, funcionários e administradores com análises,
demonstrações e relatórios econômico-financeiros, funcionando como integrante indispensável nas
decisões da empresa.

2.4 Sustentabilidade

Ser sustentável atualmente não é fácil, o que hoje é comercializado e requisitado, amanhã já
não é mais. Manter-se estável e em equilíbrio é uma tarefa difícil.
Dossing (2002) infere que para a organização obter êxito, ela precisa escutar as opiniões dos
seus participantes e colaboradores. As informações trazidas por essas pessoas permitem melhoria no
desenvolvimento e a sustentabilidade da empresa a um custo mínimo e com possíveis ganhos nos
negócios (Figura 1).

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SUSTENTABILID SUSTENTABILID
ADE AMBIENTAL ADE ECONÔMICA

- Proteção do Meio - Crescimento da


Ambiente TI Empresa
SUSTENTÁVEL

SUSTENTABILIDADE
SOCIAL

- Cultura da
Sustentabilidade

Figura 1: Ideia geral de sustentabilidade. Fonte: Adaptada da Internet40

Assumir compromisso frente ao público alvo dos hotéis, que são os hóspedes, é
imprescindível. Estar disposto a ouvir as suas opiniões e ser solícitos são características marcantes e
necessárias para esse tipo de organização.

3. MÉTODO DE PESQUISA

Para o desenvolvimento do presente trabalho foi utilizada a pesquisa de campo do tipo


exploratória, fazendo uso do estudo de caso com abordagens qualitativa e quantitativa.
A diferença entre as metodologias que utilizam essas abordagens é:

A metodologia qualitativa preocupa-se em analisar e interpretar aspectos mais profundos,


descrevendo a complexidade do comportamento humano. Fornece análise mais detalhada
sobre as investigações, hábitos, atitudes, tendências de comportamento etc. No método
quantitativo, os pesquisadores valem-se de amostras amplas e de informações numéricas,
enquanto que no qualitativo as amostras são reduzidas, os dados são analisados em seu
conteúdo psicossocial e os instrumentos de coleta não são estruturados (MARCONI e
LAKATOS, 2011, p. 269).

Segundo Weller e Pfaff (2011), a metodologia qualitativa soma-se à metodologia quantitativa,


uma vez que, enfoques diferentes e necessários dão completude aos dois métodos.
O trabalho tratou de um estudo de caso do tipo exploratório juntamente com um estudo
descritivo.
A pesquisa exploratória estabelece critérios, métodos e técnicas para a elaboração de uma
pesquisa e visa oferecer informações sobre o objeto desta e orientar a formulação de hipóteses
(CERVO e SILVA, 2006).

40
Disponível em:
https://www.google.com.br/search?q=sistemas+de+informa%C3%A7%C3%B5es+para+a+sustentabilidade+da+empres
a&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwj5hsTtj8LTAhXCJiYKHWmWDcMQ_AUICCgB&biw=1366&bih
=662#imgrc=GTw3X49pTCPsKM:

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 894


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Já no estudo descritivo realiza-se a análise, o registro, o estudo, e a interpretação dos fatos


do mundo físico sem a interferência do pesquisador. São exemplos de pesquisa descritiva as

pesquisas mercadológicas e de opinião (BARROS e LEHFELD, 2007).

O estudo de campo, objeto deste artigo, foi executado em 8 (oito) hotéis de João Pessoa que
apresentam mais de 100 Unidades Habitacionais – Uhs ou quartos, como é mais popularmente
conhecido.
Os sujeitos deste estudo compreendem a totalidade de gerentes ou contadores, visto que não
foi possível fazer a aplicação do questionário apenas a contadores, pois grande parte dos hotéis
apresenta contabilidade externa. Foram considerados critérios relevantes para compor tal amostra,
sujeitos na faixa etária igual ou superior a 18 (dezoito) anos e que concordassem em participar e
responder às perguntas com lisura.
A coleta de dados foi realizada por meio de um questionário de entrevistas. Esse foi
constituído por duas partes, a primeira parte composta pelo perfil dos entrevistados, formado por
quatro questões fechadas e uma aberta, totalizando cinco questões. E a segunda parte com questões
de avaliação constituída por quatro questões diversas, onde duas foram abertas e as outras duas,
fechadas, e seis questões de múltipla escolha, totalizando dez questões. Dessa forma, o questionário
de entrevistas, incluindo as duas partes, totalizou 15 questões.
Obteve-se resposta de todos os questionários, e de todas as questões presentes no
questionário, fazendo com que fosse alcançado um entendimento maior e mais claro da opinião dos
respondentes.

4. ANÁLISE DOS RESULTADOS

No decorrer deste capítulo serão descritos e discutidos os achados da pesquisa, os quais


foram apresentados de forma conjunta e com textos analisados à luz da literatura pertinente à
temática.
Em alusão à primeira parte da pesquisa, que se refere ao perfil dos entrevistados, a
porcentagem de resposta à pergunta sobre o gênero foi de 75% masculino e 25% do sexo feminino.
Seguida pelo questionamento da faixa etária, 37,5% apresentam idade entre 21 a 30 anos,
outros 37,5% apresentam idade de 41 a 40 anos e o 25% restantes apresentam acima de 41 anos.
No que concerne ao nível de escolaridade, 12,5% apresentam nível médio, a maioria com
62,5% apresentam nível superior, 12,5% o curso técnico e outros 12,5% pós graduação.
Quando a pergunta foi sobre o tempo de serviço que eles disponham no hotel, foram obtidas
as seguintes respostas, 12,5% apresentavam até três anos de serviço, 37,5% de três a cinco anos de
serviço e a metade, 50% da amostra, de cinco a dez anos.

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No tocante ao cargo executado por eles na empresa, obteve-se 7 (sete) respostas diversas,
12,5% afirmou ser gerente de recepção, 25% encarregados financeiros, 12,5% analista contábil,
12,5% controller, 12,5% assistente contábil, 12,5% assistente de gerente e os últimos 12,5% diretor
de marketing. A pesquisa apresentou diversos tipos de cargo, visto que ao levar os questionários aos
hotéis, informava apenas que seria interessante que fossem respondidos por funcionários da parte
administrativa do hotel, visto que se tratava de dados voltados à administração e contabilidade dos
hotéis respondentes.

4.1 Questões norteadoras do estudo

No que tange as questões norteadoras do questionário, referente à segunda parte, tem-se os


seguintes resultados. Foi indagado sobre o tempo de atuação da empresa no mercado, como
questionamento inicial. Obteve-se uma grande margem de resposta, 25% dos estabelecimentos de
hospedagem apresentam de 5 a 10 anos de atuação, 12,5% de 10 a 15 anos, 25% de 15 a 20 anos,
12,5% de 20 a 25 anos e 25% mais de 25 anos.
Quanto à execução da contabilidade, a maioria apresentou contabilidade externa, 62,5% e os
outros 37,5% apresentaram contabilidade interna.
Perguntados sobre qual o programa gerencial era usado pelo hotel, 75% afirmaram usar o
CM Net exibido na Figura 2, que é um programa alugado por diversos hotéis, seja de pequeno,
médio ou grande porte, 12,5% o Desbravador e 12,5% o Marcus Varandas.

Figura 2: Programa CM NET. Fonte: SILVA (2009).

Observa-se na Figura 2, que o programa disponibiliza diversos módulos de contabilidade,


faturamento, contas a pagar, financeiro, almoxarifado, livros fiscais, entre outros.
Sobre a existência do módulo de contabilidade no programa gerencial que utilizam, 75%
deles, responderam que existe sim módulo contábil e 25% disseram que não, um dos
estabelecimentos que afirmou que não, ainda completou dizendo que o programa não possuía
módulo de contabilidade, visto que a contabilidade do mesmo era externa.
Para compreender ainda mais, sobre as opiniões dos entrevistados acerca dos sistemas de
informações integrados, para saber se esses vieram ou não facilitar o trabalho dos contadores, foram

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elaboradas 6 (seis) assertivas, para um melhor entendimento, onde 1 – concordo, 2 – concordo


parcialmente, 3 – neutro, 4 – discordo parcialmente e 5 – discordo.
A primeira questão direcionadora decorreu de: ―Os sistemas e tecnologias de informações
vieram facilitar o trabalho dos contadores‖, obteve-se quase unanimidade na resposta, 87,5% dos
entrevistados responderam que concordavam, e os outros 12,5% que concordavam parcialmente.
Posteriormente, foram questionados sobre existir interesse por parte das organizações, de
adotar sistemas integrados de informação, 37,5% concordaram que havia interesse, visto que os
sistemas integrados trariam mais segurança e, por escala, uma maior sustentabilidade aos
estabelecimentos, 25% concordaram parcialmente, 25% foram neutros quanto à pergunta e 12,5%
discordaram.
Com a terceira indagação: ―A utilização da tecnologia da informação por parte do
profissional contábil implicou na geração de informações contábeis mais confiáveis.‖ Metade dos
respondentes, 4 (quatro) entrevistados concordaram com tal frase, um deles concordou
parcialmente, o outro neutro e os dois últimos discordaram, evidenciando o conceito de Cooper et
al., (2008) de que os aprimoramentos nas capacidades das tecnologias das comunicações e
informações, associados à redução dos equipamentos e diminuição dos custos envolvidos em sua
utilização melhoraram a confiabilidade e interconectividade de diversos terminais, aplicações e
dispositivos. E ainda, corroborando com Laudon (2010), que defende a importância do sistema de
informações na otimização do processo decisório da organização.
No que diz respeito à afirmativa se: ―Há uma redução significativa dos custos das operações,
após a implementação dos sistemas integrados de informações‖, 62,5%, ou seja, 5 (cinco) dos 8
(oito) concordaram, os três restantes (37,5%) concordaram parcialmente.
Ainda quando interrogados acerca de: ―Há finalização mais rápida dos trabalhos, com a
existência dos sistemas de informações‖, 25% concordaram parcialmente e a maior parte (75%) dos
entrevistados responderam que concordavam, com tal afirmativa, corroborando então com a
literatura de Cooper et al.,(2008) que diz que em diversos aspectos, a tecnologia possibilitou criar
mão de obra mais eficaz e produtos com mais qualidade e preços acessíveis.
A última afirmativa norteadora discorreu em: ―Há conhecimento por parte dos funcionários
que utilizam os sistemas de informações, sobre todos os recursos que neles existem‖, 1 (um) dos
respondentes concordou, 1 (um) discordou parcialmente, o outro discordou e 5 (cinco) dos 8 (oito)
estabelecimentos, que corresponde a 62,5% concordaram parcialmente, o que leva a conclusão de
que é preciso disseminar e preparar os funcionários, para a execução e operacionalização dos
sistemas.
Após a análise das respostas de todos os entrevistados, pode-se perceber que prevaleceu o
―concordo‖ quando questionados sobre os sistemas de informações trazerem facilidade e

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

sustentabilidade ao trabalho dos contadores, resultando então em uma resposta positiva à pergunta
principal da referida pesquisa.

5. CONCLUSÕES

O cenário do setor hoteleiro necessita da utilização de sistemas de informações e de


mecanismos que tragam agilidade, eficiência e sustentabilidade para as operações dentro dos
estabelecimentos. Nesse sentido, gradualmente são criadas e aperfeiçoadas ferramentas de
utilização, que podem ser a chave do sucesso de muitos empreendimentos. O uso desses
instrumentos vem se tornando gradativamente mais importante para o enaltecimento e consolidação
dos hotéis no mercado. Colaborando com a ideia central, percebeu-se que todos os estabelecimentos
pesquisados utilizam sim, os sistemas de informações.
Destarte, na pesquisa em tela, evidenciou-se que os SI são indispensáveis para que a
empresa alcance os seus objetivos, com base nesses sistemas, foi verificado que há maior agilidade,
confiabilidade e segurança das informações, a partir das respostas dos respondentes.
A questão norteadora deste estudo discorreu em: os sistemas de informações facilitam a
execução do trabalho dos funcionários nos grandes hotéis de João Pessoa. Após conceitos e o
próprio estudo de campo feito, foi possível responder afirmativamente à questão, verificando assim
o consenso existente entre as literaturas estudadas.
Com a realização da pesquisa, foi possível verificar, de forma geral, que os sistemas de
informações trouxeram benefícios sustentáveis aos seus usuários. E que tais benefícios são
compreendidos e admitidos pelos funcionários que os utilizam.
Em face ao exposto, observou-se um bom entendimento e compreensão por parte dos
entrevistados no que concerne ao uso das tecnologias para o engrandecimento das organizações e o
custo-benefício que existe.
Compreendendo a importância de se estudar sobre os SICs, posto que, trata-se de um
assunto dinâmico e que se atualiza todo o tempo, é a partir de tais produções que se tem
oportunidade de levantar questionamentos e discutir novas possibilidades para possíveis pontos
controversos.

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ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 899


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NOS MUNICÍPIOS DE PACATUBA E


BREJO GRANDE - SE

Jaime José da Silveira BARROS NETO


Professor de Turismo do IFS
jaimesbn@gmail.com
Marilia Gabriela Santos de CARVALHO
Tecnóloga em Gestão de Turismo
marilia_gaby@live.com
Steffany Santos GOMES
Tecnóloga em Gestão de Turismo
steffany_santosgomes@hotmail.com
Adriano Medeiros de OLIVEIRA
Bacharel em Direito
adrianomedeiros_3@hotmail.com

RESUMO
O Ecoturismo de Base Comunitária (ETBC) é um segmento de turismo pautado num modelo de
gestão em que o planejamento participativo é feito a partir do entendimento de que a comunidade,
ou parte expressiva dela, deseja empreender o ecoturismo na região e deter controle de parte
considerável de seu desenvolvimento. No litoral Norte Sergipano os municípios de Pacatuba e Brejo
Grande destacam-se na forma como vem se planejando, organizando e se mostrando sensíveis para
o desenvolvimento de atividades do ETBC. Nesses municípios não existem roteiros turísticos
elaborados e comercializados de ETBC, e diante do potencial dos atrativos turísticos e da forma
como vem se organizando, ambos podem integrassem na oferta de um roteiro turístico. Assim,
objetivou-se inventariar os atrativos turísticos municípios de Pacatuba e Brejo Grande para compor
um futuro roteiro turístico integrado na região. As técnicas de pesquisa utilizadas foram à
documental que provém de fontes primárias, ou seja, materiais que ainda não receberam tratamento
analítico e a bibliográfica que provém de fontes secundárias. A metodologia foi do tipo qualitativa
com aplicação de questionários, a fim de identificar os atrativos turísticos. Conclui-se que com os
atrativos levantados, um o roteiro turístico na região viabilizará a oferta turística dessas localidades,
tornando-se rentável e comercialmente viável, contribuindo para o aumento do número de turistas e
visitantes e estimulando a circulação da riqueza ali gerada.
Palavras-Chave: Roteirização, Ecoturismo de Base Comunitária, Gestão em Turismo, Planejamento
Participativo.
ABSTRACT
The Community Based Ecotourism (ETBC) is a segment of a guided tour management model in
which the participatory planning is done based on the understanding that the community, or
substantial part of it, want to undertake ecotourism in the region and stop control considerable part
of its development. On the North coast of Sergipe, municipalities Pacatuba and Brejo Grande stand
out stand out in the way it has been planning, organizing and showing sensitivity to the
development of activities ETBC. These municipalities are not designed tour itineraries and
marketed ETBC, and on the potential of tourist attractions and the way it has been organized, both
can integrate in offering a sightseeing tour. Thus, it was aimed to inventory the attractive tourist
districts of Pacatuba and Brejo Grande to compose a future integrated tourist route in the region..
The research techniques have been used to document that comes from primary sources, ie, materials

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

that have not yet received treatment and analytical literature that comes from secondary sources.
The methodology was of the qualitative type with the application of questionnaires, in order to
identify the tourist attractions. It is concluded that with the attractiveness raised, a tourist route in
the region will enable the tourist offer of these localities, becoming profitable and commercially
viable, contributing to increase the number of tourists and visitors and stimulating the circulation of
wealth generated there.
Keywords: Screenwriting, Community Based Ecotourism, Tourism Management, Planning.

1. INTRODUÇÃO

O Ecoturismo apresenta-se como um segmento da atividade do turismo sustentado no tripé:


comunidades locais, preservação e conservação da natureza e o turista, relacionando-se numa busca
constante de satisfazer todas suas necessidades. Para a gestão do segmento, o Plano Nacional do
Turismo (BRASIL², 2013-2016), sugere a regionalização da atividade do turismo e o a adoção do
modelo de base comunitária.
Assim, o Ecoturismo de base comunitária (ETBC) se fortalece no Brasil, feito por meio da
participação da comunidade, sendo, portanto, uma gestão participativa. Para Salvati o processo de
implantação do ETCB deve ocorrer desde a sensibilização das comunidades, até as fases de
planejamento e gestão.
Em Sergipe, o ETBC vem sendo trabalhado através de ações de pesquisa e extensão, como
as do Instituto Federal de Sergipe (IFS) através de programas como o Programa Institucional de
Apoio a Pesquisa aos Técnicos Administrativos da Educação (PPTAE), o Programa de Iniciação
Científica (PIBIC) e o Programa de Iniciação em Extensão (PIBEX) em alguns municípios, como
Brejo Grande, Pacatuba, Itaporanga D‘Ajuda, Barra dos Coqueiros e Indiaroba.
No litoral Norte sergipano os municípios de Pacatuba e Brejo Grande destacam-se na forma
como vem se planejando e organizando para o desenvolvimento do ETBC. Nesses municípios não
existem roteiros turísticos elaborados e comercializados de ETBC, e diante do potencial dos
atrativos turísticos e da forma como vem se organizando, ambos podem se integrar na oferta de um
roteiro turístico.
Assim, objetivou-se inventariar os atrativos turísticos municípios de Pacatuba e Brejo
Grande para compor um futuro roteiro turístico integrado na região O roteiro viabilizará a oferta
turística dessas localidades, contribuindo para o aumento do número de turistas e visitantes e
estimulando a circulação da riqueza ali gerada.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Local de Pesquisa

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O município de Pacatuba (Figura 1) distante 116 km de Aracaju, com uma população


estimada em 2014 de 14.032 habitantes, destaca-se com as atividades econômicas da agricultura
(coco-da-baía, mandioca e arroz), petróleo, artesanato de (palha) e apicultura (IBGE, 2014);
dispondo ainda de uma rica flora e fauna, com uma localização favorável para o segmento do
Ecoturismo, através de atrativos turísticos como o entorno da Reserva Biológica, a Praia de Ponta
dos Mangues, Centro de Artesanato, Projeto Tamar, Pantanal Pacatubense, Macacos Guigó, Mirante
do Robalo, Artesanato de taboa. Para a gestão do ETBC em Pacatuba, o município possui um
Centro comunitário, Associações de pescadores, moradores e artesanato.
O município de Brejo Grande (Figura 2) distancia-se 137 km² da capital sergipana, com uma
população estimada em 8.165 e uma área de 148,858 km², está localizado no extremo nordeste do
estado de Sergipe, em zona de planície litorânea, junto à foz do rio São Francisco. A economia do
município está voltada para a agricultura, pecuária, pesca de subsistência, comércio e artesanato
(IBGE, 2014). Existem atrativos turísticos no município que merecem destaque como, a Foz do Rio
São Francisco, Comunidades Quilombolas e sua culinária. Para a gestão do ETBC em Brejo
Grande, o município possui uma Associação das Doceiras e Associação dos Pescadores.

Figura 2 - Localização de Pacatuba. Figura 3 - Localização de Brejo Grande.


Fonte: IBGE, 2014. Fonte: IBGE, 2014.

2.2 Metodologia

A pesquisa está embasada no método dedutivo que tem o objetivo de explicar o conteúdo
das premissas, por intermédio de uma cadeia de raciocínio em ordem descendente, de análise do
geral para o particular, chegam a uma conclusão. (MARCONI, LAKATOS, 2010).
Serão utilizadas as técnicas de pesquisa bibliográfica e documental. A técnica bibliográfica,
ou de fontes secundárias, é o passo inicial na construção efetiva de um protocolo de investigação,
auxiliando na escolha de um método mais apropriado, assim como num conhecimento das variáveis
e na autenticidade da pesquisa. Consiste em ser também descritiva, podendo ser definida como
aquela que observa, registra, analisa e correlaciona fatos ou fenômenos variáveis sem manipulá-los
(BASTOS et all, 2000).
Foram inventariados os atrativos turísticos com atratividade para o ETBC, através de
pesquisas bibliográficas e observação do pesquisador em visita in loco, com roteiro pré-definido.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Ecoturismo de Base Comunitária

Segundo Macedo et al. (2011), o ecoturismo tem como premissas o planejamento e a gestão
participativa, a conservação ambiental, geração de benefícios socioeconômicos das populações
locais no desenvolvimento do turismo e valorização da identidade cultural local.
Para BRASIL³ (2014), com taxas de crescimento mundial de 15% a 25% ao ano, o
ecoturismo é um dos segmentos do turismo que mais se destaca, sendo o Brasil o primeiro lugar do
ranking em belezas naturais, entre 140 países, com uma taxa de 10% de crescimento anual.
No Brasil, adota-se o conceito de Ecoturismo definido pela Política Nacional de Ecoturismo,
como sendo:

Ecoturismo é o segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o


patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma
consciência ambientalista por meio da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar
das populações. (BRASIL², 2008).

É notável que o ecoturismo se utiliza dos meios naturais e culturais para a sua realização,
além de promover ações de cunho educacional para os turistas e visitantes no tocante a conservação
do meio ambiente.
Um dos modelos de gestão para as atividades do turismo e que se complementa com o
segmento do Ecoturismo é Turismo de Base Comunitária (TBC).
O TBC é o segmento/modelo de gestão que tem como principal foco a comunidade local,
seus conhecimentos no que se refere aos recursos naturais e culturais da região. É um modelo de
gestão inscritos sob os pilares de autogestão, líderes locais, associativismo. Deve-se contribuir para
uma melhor conservação dos seus patrimônios e desenvolvimento local, trazendo benefícios
econômicos, sociais e culturais para todos os membros da comunidade.
Entre vários conceitos sobre o Turismo de base comunitária está o do Ministério de Turismo
(Mtur), em que:

Busca a construção de um modelo alternativo de desenvolvimento turístico, baseado na


autogestão, no associativismo/cooperativismo, na valorização da cultura local e,
principalmente, no protagonismo das comunidades locais, visando à apropriação por parte
destas dos benefícios advindos do desenvolvimento da atividade turística (BRASIL 5, 2010).

No Brasil, o Turismo de base comunitária só começou a ser visto quando o Mtur lançou o
edital 01/2008 voltado para a seleção de propostas de projetos para apoio às iniciativas de turismo
de base comunitária, ajudando assim, desmistificar e promover o TBC.

4. ETBC NOS MUNICÍPIOS DE PACATUBA E BREJO GRANDE

4.1 Pacatuba

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O município de Pacatuba é composto por 9 povoados: Povoado Estiva do Raposo, Ponta


D‘Areia, Rancho, Ponta dos Mangues, Fazenda Nova, Cobra D‘Água, Timbó, Cruiri e Nossa
Senhora Santana. Inserido no município também está apenas um projeto de assentamento que é o
projeto agrovila do pa independência Nossa Senhora do Carmo e um lugarejo chamado de Siqueira.
Consoante os dados do IBGE (2014), o município de Pacatuba situa-se no litoral norte de
Sergipe, na Microregião de Japaratuba limitando-se ao Oeste: Japoatã, ao Leste: Oceano Atlântico,
ao Norte: Neópolis, Brejo Grande, Ilha das flores e ao Sul: Pirambu. Distante 116 km de Aracaju,
com 373,818 km² e uma população estimada em 14.032. No município existem aéreas de
preservação como o manguezal e a restinga. Sua hidrografia é formada pela Bacia do Rio São
Francisco, Rio Poxim, Rio Betume e Riacho estivam do Raposo. Os solos são compostos por:
Arenoquartzoso Profundo, Podzólico Vermelho-Amarelo, Solo Hidromórfico, Podsol,
Arenoquatzoso Marinho, Indiscriminado de Mangue; e seus minerais são: ilminita, Turfa, Calcário,
Petróleo e sal-gema.
Segundo Conceição (2014), atualmente o município tem sua economia baseada na plantação
de coco, na agricultura, pesca e extração de petróleo. Mas o seu destaque é na produção de
artesanato, com ênfase para as bolsas de fibra de taboa, encontrada abundantemente na região. Na
secretaria de estado do trabalho (SETRAB) estão cadastrados 76 artesãos que confeccionam e
produzem o artesanato de palha - esteiras, abanadores, balaios, cestos, caçuás, chapéus e bolsas.
Hoje, o artesanato é uma atividade complementar, mas é a principal renda familiar, pois esta
atividade vem crescendo devido ao mercado consumidor de bens.
Para Pacatuba Sergipe (2014) o turismo em Pacatuba ainda é pouco explorado devido à
infraestrutura, pois o município conta com poucos restaurantes e meios de hospedagem, mas para os
turistas o favorecimento é que Pacatuba dispõe de recursos naturais que constituem um patrimônio
físico-ambiental favorável ao desenvolvimento de atividades turísticas de entretenimento e lazer.
Compõe este cenário ecológico: Pantanal Pacatubense, reserva biológica, macacos guigo, mirante
do robalo, praia de ponta dos mangues, projeto tamar, centro de artesanato, projeto tainha e o
artesanato de taboa. Neste sentido o turismo cria demanda, ocupação e geração de renda. É através
dessas ações que no plano nacional o Ministério do Turismo (EMBRATUR) vem aplicando
recursos para promover os atrativos turísticos de Pacatuba, seja com publicidade em jornais e
revistas, no incremento da participação em feiras, seja na confecção de folheteria de todos os tipos.
Pode-se então perceber a grandiosidade do turismo como força de desenvolvimento sustentável,
transformando atrativos em produtos turísticos.

4.1.1 Atrativos Turísticos para ETBC em Pacatuba

 Pantanal Pacatubense

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Segundo Pacatuba Sergipe (2014) o Pantanal Pacatubense é um atrativo turístico em


potencial, com 40 Km², sendo a maior área alagada do Nordeste. A região é uma planície inundada,
onde existem ecossistemas aquáticos interligados revelando uma biodiversidade de flora e fauna,
com abundância de aves, peixes, mamíferos e plantas ornamentais, Tatus, Tamanduás, Lontras,
Capivaras e até répteis ameaçados de extinção, como o Jacaré do Papo-Amarelo (Caiman
Latirostris), além de manguezais, lagoas, dunas, restingas e Mata Atlântica. O Pantanal dispõe
apenas de um restaurante que é o do Juarez. (PACATUBA SERGIPE, 2014)

 Reserva Biológica

Em conformidade com o ICMBIO (2014), A Reserva Biológica de Santa Isabel (REBIO) é


uma área de proteção integral que abrange os municípios de Pacatuba e Pirambu, localizando-se a 2
horas de Aracaju e está inserida em uma área de praia, sendo de uso comum de todos. Foi criada em
20 de outubro de 1988, gerida pelo ICMBIO (Instituto Chico Mendes da Conservação de
Biodiversidade), com o intuito de preservar o ecossistema costeiro composto de dunas, manguezais
e lagoas temporárias e permanentes. Na reserva biológica está à sede do projeto TAMAR que abriga
a mais importante área de reprodução das tartarugas olivas do Brasil, uma região de proteção a
outras importantes classes de animais e vegetais. Nela encontram-se dunas com vegetação de
restinga, remanescentes de mata atlântica, manguezais, lagoas e praias desertas de areia fina. Apesar
de ser uma área de proteção integral os turistas terão a possibilidade de contemplar o seu entorno,
através da trilha e do mirante do robalo.

 Macacos Guigós

De acordo com o IBGE (2014), Os macacos guigós de Sergipe (Callicebus Coimbrai) são as
espécies bandeira do Estado. Seu holótipo (primeiro animal da espécie descrito pela ciência) foi
encontrado no Pantanal Pacatubense.

 Mirante do Robalo

Segundo Noronha (2012), O Mirante do Robalo está localizado em Pacatuba. É através do


mirante que é possível visualizar o conjunto de belezas que estão na região, com uma vista
panorâmica. Este é o atrativo mais procurado pelos turistas que o visita, pois podem apreciar a
vegetação de restinga, os coqueiros e as dunas; enquadrando também o pântano e o Oceano
Atlântico. À esquerda do mirante está situada a foz do rio São Francisco; na frente, a ponta dos
Mangues, bastante frequentada por surfistas; à direita, está Pirambu. Pode-se perceber que com
tantas belezas, o Mirante do Robalo é o melhor lugar para contemplar a geografia do lugar.

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 Praia de Ponta dos Mangues

O ICMBIO (2014) afirma que, a praia de Ponta dos Mangues fica a 23 km da Cidade de
Pacatuba, no Povoado Ponta dos Mangues. É uma praia caracteristicamente deserta e calma, porém,
em épocas de ressacas as ondas podem chegar a mais de 2 metros de altura, sendo assim uma área
muito procurada por surfistas. O Projeto Tamar, juntamente com a comunidade atua na região, pois
ao longo do ano existem muitas desovas de tartarugas.

 Projeto Tamar

Ainda de acordo com os dados do ICMBIO (2014), O Projeto Tamar foi criado pelo antigo
IBDF (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal) em 1980 com o intuito de pesquisar,
conservar e manejar as cinco espécies de Tartarugas marinhas em fase de extensão, além de
proteger 1.100 km de praia encontradas no Brasil. Em Pacatuba, mas precisamente no extremo
norte da Reserva de Santa Isabel, encontra-se a base do TAMAR em Pacatuba. É responsável pelo
monitoramento de 36 km de praias, sendo 15 pertencentes à reserva, ao sul, e 21 km ao norte, até a
foz do rio São Francisco, na divisa com o Estado de Alagoas. A base protege mais de 1.600 desovas
e cerca de 78 mil filhotes por temporada.

 Projeto Tainha (Festival Maré Lança)

Segundo Santos (2014), o Projeto Tainha iniciou-se em agosto de 2012, a partir das
potencialidades turísticas e da organização de alguns moradores da comunidade de Ponta dos
Mangues-Pacatuba, com o desejo de aprimoramento em Turismo de Base comunitária para o
desenvolvimento local e a preservação dos recursos naturais existentes na região. É através do
Projeto Tainha que foram realizadas oficinas teóricas e práticas de fotografia, xilogravura,
serigrafia, Oficinas de Corte/Costura em malha e Customização, Oficina de Artesanato em Retalhos
de Tecido e Feltro, Oficina de Valorização da Culinária Local, Oficina de Artesanato em Colchas e
turismo de base comunitária, além de realizarem troca de saberes entre as comunidades de Sergipe.
Em agosto de 2013, a comunidade envolveu-se para a realização de um festival na comunidade ―O
Festival Maré Lança‖, o surgimento do festival deriva da necessidade de fazer um desfecho do
primeiro ano de trabalho do projeto e serve inicialmente para que os moradores entendam que a
renda pode ser gerada através dos meios de hospedagem, serviços de Alimentos e Bebidas (AeB) e
produtos que são comercializados dentro da própria comunidade.

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 Artesanato de Taboa

De acordo com Conceição; Vargas (2014) o artesanato de taboa desenvolvido em Pacatuba é


considerado como uma atividade sustentável para o desenvolvimento comunitário dos povoados. A
palha da taboa é uma planta aquática abundante na região, as artesãs se uniram e criaram a
Associação de Artesanato e Apicultura dos Povoados Tigre e Junça. Atualmente são produzidas
1.800 peças ao mês. Esse aumento é bastante significativo para as comunidades, pois amplia a renda
e o trabalho das artesãs. São confeccionadas bolsas, carteiras, porta moedas, pufe, almofadas, entre
outros objetos. Hoje, são três oficinas, uma em cada povoado.

4.2 Brejo Grande

De acordo com o Instituto Histórico do Patrimônio Artístico Nacional IPHAN (2009), o


município de Brejo Grande possui 10 povoados que são: Terra Vermelha, Brejão dos Negros, Ilha
da Tereza, Praúna, Cajuipe, Carapitanga, Novo Cabeço, Carro Quebrado, Mulatas e Saramém. O
povoado de Saramem ainda abriga os antigos moradores do povoado Cabeço que foi invadida pelo
oceano provocando a devastação da população do local.
Conforme o decreto n.º 22.995 de 09 de novembro de 2004 o patrimônio natural de Brejo
Grande é destacado como uma área de proteção ambiental, com a denominação de ―APA – Litoral
Norte‖.
Provido de belezas naturais e culturais, Brejo Grande possui um grande potencial turístico,
no entanto sua utilização ainda encontra-se em um estado primitivo, principalmente nos povoados
estudados onde falta uma infraestrutura mais adequada.

4.2.1 Atrativos Turísticos para ETBC em Brejo Grande

 Foz do Rio São Francisco

A região da Foz do Rio São Francisco, de característica estuarina, designa áreas entre
Sergipe e Alagoas, desaguando no Oceano Atlântico, entre os municípios de Brejo Grande,
Pacatuba e em Alagoas-Piaçabuçu. A área de influência direta de sua foz abrange uma faixa
litorâneacom cerca de 25 km de extensão para o sul, até a localidade de Ponta dos Mangues, no
município de Pacatuba. Ao norte, aproximadamente 18 km de praia até o povoado de Pontal do
Peba, Alagoas. Com uma área total de aproximadamente 100 km². (SOUZA, 2012)

 Comunidade Quilombola Resina

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

A comunidade de quilombolas de Resina, localiza-se na Foz do Rio São Francisco, onde


dispõe de uma economia baseada na apicultura, no cultivo do coco in natura e em forma de cocada,
além do cultivo de arroz, maior gerador de renda com a sua produção em Alagoas.

 Comunidade Quilombola Brejão dos Negros

Brejão dos Negros é uma comunidade Quilombola, reconhecida pela Fundação Cultural
Palmares em 2006, localizada a 8 km de Brejo Grande, no baixo São Francisco. É vista como um
símbolo de libertação de toda a comunidade de Brejo Grande e tem sua história baseada em várias
crenças de que ali era um lugar onde os escravos, se refugiavam (E-SERGIPE, 2014).

Na comunidade existiam uma casa de farinha, porém o sustento dos moradores reduziu-se a
pesca de caranguejo, proveniente do mangue existente na região. A cultura é composta pelo
Maracatu, Samba de Coco, Reisado. Além dos grupos de dança ―Batuque dança Iêiê‖ e o grupo de
percussão e um grupo de Teatro. Na comunidade existe a Associação Santa Cruz remanescente de
quilombo de Brejão dos Negros, com o intuito de gerir a comunidade no tocante as suas politicas
públicas, além do reconhecimento por ser uma terra de quilombo, a titularização de suas terras e o
reconhecimento dos direitos da população quilombola. (E-SERGIPE, 2014)

 Comunidade Saramém

Em Saramém existe uma Associação das Doceiras, a qual atualmente encontra-se


desativada. No entanto, algumas moradoras locais ainda continuam produzindo os doces em suas
próprias casas e vendendo na Foz do Rio São Francisco. Os doces fabricados são as cocadas de
caju, goiaba, abacaxi, maracujá, chocolate, leite condensado, banana e canela.

Existe ainda uma associação de pescadores em Saramém, no qual os pecadores tiram seu
sustento através da pesca e como segunda opção de renda o turismo, fazendo a travessia Saramém-
Piaçabuçu em uma viagem de 15 mim, em que cobram 40,00 reais por pessoas.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se que a proposta de um roteiro de ETBC integrado entre os municípios de


Pacatuba e Brejo Grande é viável, devido a ambos municípios possuírem atrativos turísticos
naturais diferenciados e formas de organização e gestão comunitárias locais que se mostram
sensíveis às possibilidades que o ecoturismo pode ofertar para as comunidades, já que é a própria
comunidade que gere e participa das atividades do ETBC.
O roteiro turístico possibilitará ao morador local o reconhecimento dos potenciais e
atrativos locais por parte da comunidade, e ainda, entenderão o processo de identificar estratégias

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para o processo de planejamento e gestão da atividade, com ações de conservação, de forma que
tantos os moradores locais quanto os turistas possam identificar elementos que contribuam para a
melhoria da relação entre a comunidade local, meio ambiente e seus visitantes.
O roteiro também proporcionará ao turista o contato, envolvimento, vivência e participação
da rotina da comunidade local. Além da experiência com a natureza, desfrutando também dos
atrativos naturais que os municípios oferecem, de forma que eles valorizem a cultura local,
adquiram conhecimento e tenham a percepção e visão do ecoturismo como uma alternativa capaz de
promover a melhoria da qualidade de vida a partir de mudanças na dinâmica da comunidade e do
próprio turista.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

BASTOS, Lilia da Rocha, et al. Elaboração de projetos e relatórios de pesquisas, teses,


dissertações e monografias. 6ª Ed, Rio de Janeiro, 2004.

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PACATUBA EM FOCO. Pantanal Nordestino: Sergipe Esconde Relicário da Biodiversidade.


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ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 910


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

PACATUBA, SERGIPE. Praias Ponta dos Mangues e Boca da Barra. Disponível em:<
http://www.pacatubasergipe.com.br/products/praia-ponta-dos-mangues/> . Acesso em: 21 de
setembro de 2014.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 911


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DESENVOLVIMENTO REGIONAL SUSTENTÁVEL À LUZ DAS BENESSES DA


EXPLORAÇÃO DO TURISMO RURAL: UM ESTUDO NO MUNICÍPIO DE
CABACEIRAS-PB

José Romero Rodrigues de ANDRADE


Mestre em Recursos Naturais pela UFCG. Professor e pesquisador da UNIFACISA
romerorodriges@hotmail.com
Ana Lúcia Ramos Rodrigues de ANDRADE
Pedagoga e Professora - UFCG
analuciaramos@yahoo.com.br
Valdir Cesarino de SOUZA
Doutor em Recursos Naturais pela UFCG, Médico. Professor do Curso de Medicina UFCG.
valdircdes@ig.com.br
Sandra Sereide Ferreira da SILVA
Pós-Doutoranda em Recursos Naturais pela UFCG
sandrasereide@yahoo.com.br

RESUMO
A atividade turística é um dos segmentos da economia que vem ganhando destaque nas últimas
décadas, notadamente, como uma atividade dinâmica na realidade brasileira por conta do grande
potencial geográfico inerente ao país. Com o crescimento significativo do turismo, houve a
preocupação por parte do governo federal para a criação de políticas específicas para divulgação da
geografia do país e de suas belezas naturais, sobretudo, no aspecto do turismo rural. Nesse sentido,
o objetivo deste estudo é expor as benesses da exploração do turismo rural no Município de
Cabaceiras-PB, no contexto do desenvolvimento socioeconômico, bem como no que tange ao
desenvolvimento sustentável regional. Quanto ao método de pesquisa, trata-se de um estudo
descritivo, exploratório, baseado numa pesquisa de campo por acessibilidade, em que foram
entrevistados aleatoriamente um total de cinquenta turistas, os quais compuseram a base amostral.
Quanto aos dados levantados, permite-se inferir que a atividade turística contribui sobremaneira
para o desenvolvimento regional sustentável do Município de Cabaceiras-PB, haja vista que a maior
parte do poder econômico advém da zona rural. Com isso, percebe-se que tem destaque o turismo
de lazer, como o mais procurado pelos turistas, em virtude, especialmente, das riquezas dos recursos
naturais presentes no Município, sobretudo quanto aos Lajedos presentes na Região, sendo estes já
conhecidos como pontos turísticos de destaque no Estado da Paraíba e com destaque também no
âmbito nacional, tendo em vista que seus lajedos já foram cenários de documentários e cenas de
filmes com repercussão em todo Brasil, a exemplo do ―Auto da Compadecida‖. Diante dessa
perspectiva, conclui-se que o turismo rural é muito mais do que mera atividade econômica de
entretenimento, é uma atividade social de expressivo potencial para promoção do desenvolvimento
sustentável regional.
Palavras chave: Turismo. Turismo Rural. Desenvolvimento Regional
ABSTRACT
Tourism activity is one of the segments of the economy that has been gaining prominence in recent
decades, notably as a dynamic activity in the Brazilian reality due to the great geographic potential
inherent in the country. With the significant growth of tourism, there was the concern on the part of

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the federal government to create specific policies to spread the country's geography and its natural
beauty, especially in the rural tourism aspect. In this sense, the purpose of this study is to expose the
benefits of rural tourism in the municipality of Cabaceiras-PB, in the context of socioeconomic
development, as well as regional sustainable development. As for the research method, this is a
descriptive, exploratory study, based on a field research by accessibility, in which a total of fifty
tourists were randomly interviewed, which made up the sample base. Regarding the data collected,
it is possible to infer that the tourist activity contributes greatly to the sustainable regional
development of the Municipality of Cabaceiras-PB, given that most of the economic power comes
from the rural area. With this, it is noticed that leisure tourism is the most sought after by tourists,
especially due to the richness of the natural resources present in the Municipality, especially in
relation to the Lajedos present in the Region, which are already known as tourist attractions Of
prominence in the State of Paraíba and also prominent in the national scope, considering that its
slabs were already scenes of documentaries and scenes of films with repercussion in all Brazil, like
the "Auto of Compadecida". Given this perspective, it is concluded that rural tourism is much more
than mere entertainment economic activity, it is a social activity of significant potential for
promoting regional sustainable development.
Keywords: Tourism. Rural tourism. Regional development.

INTRODUÇÃO
O turismo é um segmento da economia que vem ganhando destaque nas últimas décadas,
que sobressai como uma atividade dinâmica na realidade brasileira por conta, sobretudo, do grande
potencial geográfico inerente ao país. Com esse crescimento significativo do turismo, houve a
preocupação por parte do Governo Federal para criação e viabilização de políticas específicas para
divulgação da geografia do país e de suas belezas naturais. A geografia do Brasil proporciona uma
diversidade de oportunidades para a exploração do turismo, um litoral extenso, um interior repleto
de belezas, uma fauna e flora diversificada, um manancial de água doce representativo que permite
a criação de balneários artificiais e que podem atrair milhares de pessoas.
Pode-se afirmar que o Turismo é hoje um excelente produto de mercado, sendo uma das
atividades econômicas que mais cresce no Brasil e no mundo, gerando divisas e fazendo circular
riquezas. Todavia, esse fenômeno deve ser bem estruturado como prática social, favorecendo uma
harmonia eficaz entre a população local, os destinos turísticos, os serviços e os turistas em geral,
visando com que toda atividade seja desenvolvida de forma sustentável e traga rentabilidade ao
destino turístico.
O Conselho Mundial de Viagens e Turismo, WTTC, instituição que engloba os maiores
empresários do setor de turismo no mundo, divulgou dados de impacto econômico do turismo no
mundo o Brasil apareceu em 6º lugar entre 184 países, na qual leva em referência, indicadores como
impacto do turismo no PIB, geração de emprego, de divisas propiciadas pelos turistas internacionais
e investimentos do setor público e privado. (EMBRATUR, 2015) Os Dados evidenciaram que tal
condição é justificada pela realização de grandes eventos que o Brasil vem experimentando nos

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últimos anos, como os Jogos Pan Americanos em 2007, seguida da Copa do Mundo e na realização
dos Jogos Olímpicos na cidade do Rio de Janeiro em 2016.
De acordo com a EMBRATUR (2015), o impacto do turismo na economia brasileira pode
alcançar aproximadamente 3,5% do PIB em 2016, representando um crescimento na ordem de 6%
se comparado ao na anterior, trata-se de um índice superior à média mundial que é de 2,5%.
Somente no ano de 2014, as divisas que entraram no Brasil por conta dos turistas
internacionais chegaram ao valor de aproximadamente oito bilhões de dólares, comparando este
cenário com os principais produtos de exportação que contribuem com receitas significativas para o
Brasil, esse valor colocaria o Brasil em 5º lugar, ficando atrás somente atrás da exportação do
açúcar, soja, carnes de frango e do café. (EMBRATUR, 2015)
Além desses aspectos, há o impacto em toda a cadeia produtiva do turismo, na qual revela
crescimento significativo. O setor gerou somente em 2014, 8 milhões de empregos diretos e
indiretos, representando um aumento de 4% em relação ao ano anterior, condição esta justificada
pela realização da Copa do Mundo, contudo, com a crise econômica e a alta do dólar, estima-se que
este cenário não deve ser alterado para 2016, em que o turismo doméstico será otimizado em
prejuízo à saída do brasileiro para o exterior, mantendo a dinâmica do setor.
De Acordo com a IDESTUR (2014) - Instituto de Pesquisa do Turismo Rural - a
Organização Mundial do Turismo menciona que 3% do turismo mundial orientam seus destinos
para o turismo rural, sendo uma atividade em eminente expansão para os próximos anos, com um
crescimento estimado a 6% anualmente. De acordo om a instituição em tela, o turista não deseja ser
expectador em suas viagens, mas sim o protagonista, vivenciando outra cultura e experiências nos
locais visitados.
Segundo o IDESTUR (2014), o Brasil tem um potencial significativo para o turismo rural,
de modo que vem se observando um aumento significativo de números de empreendimentos nas
últimas duas décadas, bem como de novas possibilidades de destino.
Conforme a visão de Caldas (2014), um dos motivos que justificam esse crescimento do
setor está pela dimensão de opções proporcionada pelo turismo rural, uma vez que associa a
atividade cotidiana do campo, como plantar, colher, trato do gado, culinária, a outras atividades
como caminhada junto à natureza, cavalgadas, práticas desportivas dentre outras possibilidades,
portanto, possibilita uma diversidade de dinâmicas que comumente não são observadas nas formas
tradicionais de turismo; além de manter o turista próximo à natureza, condição que não comum a
sua realidade.
Além dessas perspectivas, o turismo assume posição de expressiva importância no enfoque
rural, neste setor, o setor turístico vem sendo uma alternativa para pequenas propriedades rurais,
muito comuns em municípios disseminados pelo interior do país, uma vez que, em termos de

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produção, torna-se inviável diante dos grandes latifundiários, cuja produção é tendente a
monocultura de exportação, sendo impossível para as pequenas propriedades inserirem-se nesse
contexto, inclusive, sendo absorvidas por estas grandes propriedades, por meio de arrendamento ou
aquisição.
A possibilidade de viabilização do turismo rural para as pequenas propriedades, além do
contexto socioeconômico da exploração econômica, em contrapartida, tem o potencial de promover
o desenvolvimento sustentável regional, sustentando o equilíbrio ecológico, bem como reduzindo a
possibilidade de exploração ambiental.
É importante destacar que além de ser uma atividade que tem a possibilidade de otimizar a
pequena propriedade, o Turismo Rural, administrado para a salubridade ambiental, possibilita ser
uma atividade ecologicamente correta contribuindo para a sustentabilidade da região, com o meio
ambiente, além o entretenimento saudável. Assim sendo, este estudo tem como proposta expor as
benesses da exploração do turismo rural no Município de Cabaceiras-PB no contexto do
desenvolvimento socioeconômico, bem como no que tange ao desenvolvimento sustentável
regional.

MATERIAL E MÉTODOS
Trata-se de uma pesquisa exploratória, descritiva, qualitativa de campo, cujo objetivo foi o
de ensejar que aspectos subjetivos fossem identificados, atingindo motivações não evidentes por
parte do público investigado; como também as evidentes, permitindo testar as hipóteses levantadas
pela pesquisa. Pois de acordo com Trindade (apud. SEVERINO, 2007) a análise dos dados
quantitativos e dos cruzamentos de outras informações proporcionam elementos qualitativos,
oferecendo substância à pesquisa quanto aos objetivos pretendidos alcançar.
Quanto aos procedimentos técnicos, optou-se por utilizar o método dedutivo que, de acordo
com a concepção de Severino (2007, p.56), é o método que parte do geral e desce para o subjetivo,
ou seja, ―[...] parte de princípios reconhecidos como verdadeiros e indiscutíveis e possibilita chegar
a conclusões de maneira puramente formal, isto é, em virtude unicamente de sua lógica.‖ Assim
sendo, a partir dos fenômenos gerais observados, bem como os teóricos e empíricos, será exposta
uma concepção subjetiva, para que se possa responder o objetivo apontado.
Quanto às vaiáveis, foram analisados aspectos das melhorias socioeconômicas da população
do Município de Cabaceiras-PB.
No que se refere à população pesquisada, esta foi baseada no aspecto acessibilidade.
Entrevistaram-se aleatoriamente um total de cinquenta turistas, os quais compuseram a amostra.
No que se refere à coleta de dados, esta foi realizada entre os meses de maio e setembro de
2016. Para tanto, foram selecionadas obras específicas da área de turismo, bem como outras formas

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de publicações científicas disponíveis na Rede Mundial de Computadores, pesquisadas a partir dos


seguintes descritores: turismo, turismo rural, desenvolvimento sustentável, desenvolvimento local e
ecoturismo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
O turismo rural é um dos segmentos do Turismo que mais vem constatando
desenvolvimento. É um segmento do turismo recente no Brasil e em significativa expansão na qual
pode ser explicado por três motivações principais: necessidade de diversificação de fonte de renda
do pequeno produtor, agregando valor ao seu produto; do desejo do cidadão urbano de conviver
com a natureza, da busca de qualidade de vida; e da consciência ambiental despertada em virtude da
degradação ambiental, suscitando o conceito de desenvolvimento sustentável (BRASIL, 2010).
No caso especifico do Município de Cabaceiras-PB, região do cariri paraibano, é por
definição uma localidade de alta temperatura o ano todo, o que proporciona a realização da
atividade turística em todas as estações do ano.
Com relação aos dados levantados neste estudo, permitem inferir que a atividade turística
contribui sobremaneira para o desenvolvimento regional sustentável do Município, haja vista que a
maior parte do poder econômico advém da zona rural. Com isso, percebe-se que tem destaque o
turismo de lazer, como o mais procurado pelos turistas, em virtude, especialmente, das riquezas dos
recursos naturais presentes no Município, sobretudo quanto aos Lajedos presentes na Região, sendo
estes já conhecidos como pontos turísticos de destaque no Estado da Paraíba e com destaque
também no âmbito nacional, tendo em vista que seus lajedos já foram cenários de cenas de filmes
com repercussão em todo Brasil.
Nesse sentido, a cidade de Cabaceiras reúne o que há de melhor na região: artesanato de
destaque, gastronomia, folclore, forró e belezas naturais dignas de cinema. Nesse aspecto, a cidade
já foi CENÁRIO PARA MAIS DE 30 FILMES E DOCUMENTÁRIOS, CABACEIRAS É CONHECIDA COMO

ROLIÚDE NORDESTINA.
A natureza exótica é o principal cartão-postal de Cabaceiras e a responsável pela
cidadezinha servir de locação para mais de 30 documentários e filmes nacionais, entre eles, o Auto
da Compadecida. Não por acaso, a cidade é conhecida como a ―Roliúde Nordestina‖, com direito a
letreiro de boas vindas à la Hollywood! Na maioria das produções, as cenas foram gravadas tendo o
Lajedo do Pai Mateus como pano de fundo.
Ainda quanto aos entrevistados, (por acessibilidade) que ainda não conheciam a região e os
que já haviam visitado anteriormente, comparam o cenário dos lajedos com outras regiões
localizadas em outros países como Austrália, Marrocos e Cologne (França).

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Contudo, pode-se afirmar que um dos pontos negativos identificado neste estudo é que não
existe um trabalho especifico de divulgação do turismo da localidade, portanto carece de um
programa de comunicação e Marketing, o que sinaliza para uma omissão do poder público local no
sentido de divulgar a Região. Foi também percebido que o conhecimento do turista acerca do local
advém de informações auferidas por outras pessoas que já conheciam a localidade.
No que se referem aos recursos naturais presentes na localidade investigada, estes de acordo
com os entrevistados são cruciais para o turismo rural, e por consequencia para o desenvolvimento
socioeconômico da localidade e que a atividade turística para a região, nos últimos dez anos,
contribuiu sobremaneira para a geração de emprego e renda.
Foi identificado que, na localidade não existe uma estrutura de recepção e acompanhamento
do turista como guias e monitores com treinamento e conhecimento que possam viabilizar uma
visita mais proveitosa e consciente da importância da preservação das condições naturais da
localidade. Igualmente não há uma estrutura logística e hoteleira para transporte e recepção do
turista, nem tampouco estrutura de emergência em caso de necessidade do turista, portanto
refletindo uma falsa visão de sustentabilidade e ausência de planejamento na exploração do turismo
local. Acresce-se a isso a ausência de consciência ecológica dos frequentadores da localidade, sendo
que a maior parte dos visitantes somente o faz por entretenimento. Não existe uma proposta de
educação ambiental que integre os usuários em uma proposta de aprimoramento social e regional,
como meio de divulgação da localidade, com o fim de tornar eminente o potencial turístico da
região.
Compreende-se desta realidade que a ausência de planejamento prévio, como criação de um
programa de exploração do turismo local, preparando a localidade com infraestrutura adequada,
bem como os cidadãos em termos de preocupação ecológica. Vem comprometendo a exploração
sustentável do turismo local da cidade, refletindo resultados contrários ao que se propõe o turismo
ecologicamente correto.
Acerca das dinâmicas inclinadas para o turismo rural, constatou-se que a zona rural do
município apresenta características inclinadas para tal perspectiva, apresentando produção agrícola,
dos quais os produtos são colocados no mercado, bem como oferecidos aos turistas, agregando
valor á prestação de serviço, bem como uma forma de preservação da cultura local.
Ao que se alude aos serviços oferecidos pela propriedade no segmento do turismo rural, foi
constatado a gastronomia, tradições regionais, museu, trilha e produtos artesanais, atividades estas
correlatas ao turismo rural como forma de valorização aos hábitos tradicionais da localidade.
Em relação às atividades agrícolas e não agrícolas, constatou-se que as agrícolas que servem
como suporte para a fabricação de alimentos para a subsistência daqueles que estão envolvidos com

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a propriedade, bem como para serem vendidos. Na geração de renda familiar; já os não agrícolas
estão voltados para ao atendimento ao serviço de turismo.

CONCLUSÕES
Diante da realização deste estudo, pode-se afirmar que o turismo rural é uma atividade que
se for conscientemente planejada e assessorada por um profissional de turismo, tem a possibilidade
de oferecer às localidades rurais uma complementação de renda em sua atividade rural. Porém,
conforme adverte Almeida (2000, p. 72), ―[...] o turismo rural não representa a solução para os
problemas do campo, trata-se de uma opção empresarial que pode trazer efeitos econômicos
positivos‖.
É importante destacar que o turista, quando procura essa alternativa de turismo, espera
encontrar uma determinada rusticidade nas instalações. Porém, o aspecto rústico não representa uma
ausência de estrutura que pode vir a proporcionar sofrimento e ausência de higiene; o turista rural
espera encontrar um ambiente em que suas necessidades básicas possam ser supridas nas mesmas
proporções encontradas em sua residência, com uma atenção familiar e fraterna, onde é valorizada a
autenticidade do local e, consequentemente, proporciona a interação do turista com o cotidiano da
propriedade rural.
Assim sendo, o turismo rural é muito mais do que uma mera atividade econômica ou de
entretenimento, mas sim uma atividade social de grande potencial econômico para o pequeno
produtor que, muitas vezes, encontra sua realidade produtiva estagnada para o segmento da
agropecuária, encontrando no turismo uma possibilidade de aprimoramento de sua propriedade, em
contrapartida, promovendo o desenvolvimento sustentável regional.
Por meio deste estudo foi possível constatar que o turismo regional pode apresentar
resultados eficientes quando bem planejado e mantidas as características originais da região ou da
localidade, evidencia-se, com isso, uma real ação voltada para o desenvolvimento sustentável,
possibilitando resultados positivos ao que se refere aos retornos econômicos, consequentemente,
gerando emprego e renda para os moradores da localidade. Portanto, a exploração do turismo rural
de uma propriedade requer planejamento amplo não somente a consideração das potencialidades
turísticas, mas sim de toda uma realidade na qual integra poder público e setor privado, todos
voltados para os mesmos objetivos, que é o desenvolvimento regional em um contexto amplo,
social, econômico, geração de emprego, renda, para isso, a harmonia destes dois setores é crucial,
para a criação de infraestrutura básica para o recebimento do turista, como, logística, estruturas
eficientes de serviços públicos, educação ambiental dentre outros investimentos necessários para
que o turista possa usufruir da essência turística de uma localidade, bem como das características

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desta mesma localidade possa ser preservada, mantendo seus aspectos ambientais e culturais, a fim
de que outras gerações possam usufruir na mesma perspectiva.

REFERÊNCIAS
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ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 919


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PRÁTICAS RESTAURATIVAS COMO POSSIBILIDADE DE RESOLUÇÃO DE


CONFLITOS NO TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA – O CASO
DA PRAINHA DO CANTO VERDE (CE)

Keyla Gislane Oliveira ALPES


Mestranda do Programa de Desenvolvimento e Meio Ambiente da UFPE
gislane.alpes@gmail.com
Vanice Santiago Fragoso SELVA
Professora Doutora em Geografia UFPE
vanice.ufpe@gmail.com

RESUMO
Este artigo tem como objetivo sugerir o uso de práticas da Justiça Restaurativa como possibilidade
cidadã de resolução de conflitos socioambientais relacionados à atividade do Turismo de Base
Comunitária, a partir da reflexão sobre o caso da comunidade tradicional da Prainha do Canto
Verde (CE). A pesquisa bibliográfica tem mostrado que a pressão exercida pelo Turismo
Convencional para se instalar em localidades de grande beleza cênica e a especulação imobiliária,
entre outras falácias, podem desintegrar comunidades tradicionais enfraquecendo suas instituições e
gerando conflitos sociambientais, podendo causar retrocessos social, político, econômico e
ecológico. Diante disto, com base em Coriolano e Pranis, entre outros, propõe-se o uso de práticas
da Justiça Restaurativa como possibilidades de resolução de tais conflitos, garantindo a
sustentabilidade.
Palavras-chave: Turismo de Base Comunitária; Prainha do Canto Verde (CE); Conflitos
socioambientais; Práticas Restaurativas; sustentabilidade.

ABSTRACT
This article aims to suggest the use of the Restoratives Justice Practices as a possible way to solve
socioenvironmental conflicts related to Communitarian Based Tourism activity, reflecting about
the Prainha do Canto Verde (CE) case. The bibliographic research have shown that the
Conventional Tourism pressure to install in places of great beautiful scenics and the real estate
speculation, among others fallacies, can disintegrate traditional communities by making their
institutions weak and generating socioenvironmental conflicts, causing social, politic, economic,
and ecologic setbacks. Due to this, based in Coriolano, Pranis and others, we propose the possibility
of using Restorative practices to solve these conflicts, ensuring sustainability.
Keywords: Communitarian Based Tourism, Prainha do Canto Verde (CE), socioenvironmental
conflicts, Restorative practices, sustainability.

INTRODUÇÃO

O Turismo, a partir de meados do século XX, no âmbito dos serviços, tem se destacado
como uma atividade econômica lucrativa e em expansão mundial. A princípio o turismo veio se
desenvolvendo de uma forma denominada Convencional, caracterizado por visar a acumulação
monetária a mercê de quaisquer compromisso social ou ecológico, com a localidade, ou seja,

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seguindo a mesma lógica do sistema socioeconômico Capitalista, gerando exclusão social e


degradação dos ambientes naturais. A partir da década de noventa outra forma de fazer o turismo
vem ganhando espaço, o Turismo Sustentável que, embora apresente-se em tipos e denominações
variadas, apresenta as seguintes características básicas, como a iniciativa e o protagonismo da
comunidade, que reside na localidade, em todas as etapas da atividade, divisão equinânime da renda
gerada que é investidada na própria comunidade, valorização e conservação da cultura e dos
ambientes naturais locais e cooperatividade.
Na Prainha do Canto Verde, no Estado do Ceará, a comunidade, que faz parte da rede
TUCUM de Turismo Sustentável, vem desenvolvendo o TBC com sucesso, contudo seu
sustentáculo político tem sido abalado devido a pressões e influências externas do Turismo de
Massa e da especulação imobiliária que tem promovido conflitos internos na localidade da Prainha,
desmantelando a estrutura cooperativa da comunidade com a formação de uma segunda associação.
Conflitos são inerentes às relações humanas tanto quanto o são a capacidade de cooperação
e a necessidade de manter inter-relacionamentos edificantes. Ou seja, a situação conflitiva
experienciada pela comunidade da Prainha não tem que ser uma realidade sem volta e nem conduzir
a uma conclusão apressada que ponha em xeque a forma sustentável com a qual a comunidade tem
empreendido o turismo, mas pode ser melhorada ou solucionada através do uso de Práticas da
Justiça Restaurativas.
As práticas da Justiça Restaurativa trazem em seu âmago a mesma filosofia societária que
norteia o Turismo de Base Comunitária permitindo a compatibilidade entre as duas experiências
sociais, o que é uma grande vantagem, conduzindo a melhores resultados na resolução dos
conflitos. A filosofia restaurativa parte de princípios que congregam para a criação de uma cultura
de paz que constitui uma verdadeira rede que tem sido disseminada, sistematizada e desenvolvida
em diferentes espaços, tempos e ambientes ao redor do mundo. Partindo da influência mundial que
tais práticas tem alcançado na transformação do modo de como se concretizar a justiça, este texto
visa discorrer sobre a possibilidade e importância da utilização das Práticas Restaurativas no
contexto do Turismo Comunitário em situações de conflito socioambiental, analisando o caso da
comunidade da Prainha do Canto Verde, para concluir que a concretização da sustentabilidade
passa invariavelmente pelo atendimento das necessidades básicas objetivas e subjetivas de todos
que se acham envolvidos em situações de conflitos. Apesar de toda a violência que advém de um
sistema socioeconômico capitalista, ainda hegemônico, o uso das Práticas Restaurativas podem ser
uma possibilidade de se evitar rupturas ou resgatar relações em comunidades que estejam sofrendo
com as pressões da especulação imobiliária e do Turismo de Massa, contribuindo para o sucesso do
TBC atividade econômica de grande relevância para a sustentabilidade social e ecológica.

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TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA – VALORES E ÉTICA DO HUMANO


POSSIBILITANDO O ÓCIO CRIATIVO

A sociedade industrial, ao negar o ócio associando-o à preguiça, improdutividade e


inutilidade ao modelo de desenvolvimento econômico, prioriza o capital, mas, ao dar sinais de crise,
aponta para perspectivas de reconstrução de valores e ações associativas, de comunidades
solidárias, valorização da cultura local, do lazer como vetor do desenvolvimento na escala humana.
E assim fazem contrapontos lazer e turismo convencional, hegemônico, com o alternativo e contra
hegemônico (CORIOLANO, 2014).
Eticamente não existiriam outras formas de empreender no turismo se não aquela que fosse
socioeconomicamente justa e ecologicamente correta, não alienante. Contudo, as atividades na
prática tem se dado reguladas pela economia de Mercado, o que não tem sido diferente para o
turismo sustentável. Protagonizado principalmente pelas comunidades tradicionais, este modo de
empreender tem se tornado um ato de resistência e luta diária para manterem a posse da terra, se
incluírem e se manterem na atividade turística não obstante as pressões exercidas pelo sistema
hegemônico. Tem como aliados importantes a coesão e cooperação entre seus pares que permitem
uma forma de existir e de co-existir, presente, consciente de si e do Outro e de navegarem numa
mesma realidade onde se constroem o próprio ser, a autoconsciência e uma identidade própria
(BOFF, 1999). Do mesmo modo, o número crescente de pessoas que buscam vivenciar de forma
autêntica o seu momento de lazer também tem sido fator importante para a mudança de paradigmas
quanto à forma de empreender o turismo.
Segundo Coriolano (2014), o ócio é uma necessidade básica do ser humano. Esta
necessidade do ser humano ao usufruto do ócio prescinde vir impregnado de libertação e justiça do
seu nascedouro, de modo a produzir o verdadeiro refazimento àqueles que o busquem e, dignidade
aos seus facilitadores. O ócio é uma necessidade, um direito, não é simples recuperação mecânica,
alienada, da força de trabalho, passível de ser tornada mercadoria pela economia capitalista, mas o
resgate dos indivíduos, do desejo de continuar na vida e pela vida. Ócio liberto e justo, significa que
a intermediação que venha a ocorrer entre o ser e o seu ócio vital deve vir conduzido por sujeitos
impregnados de valores e ética humana.
Neste sentido, o Turismo de Base Comunitária aparece como possibilidade de desconstruir o
abismo abissal que tem se delineado entre a necessidade vital do ser humano do usufruto do seu
ócio e os caprichos do sistema mercadológico e financeiro, que o esvazia de significação. O
precioso exercício do ócio não se deve deixar apropriar pelo Mercado, para que a experiência
vivenciada possa se tornar enlevo e refazimento para o espírito, reabastecendo-o de força criativa.
Para tanto, há de se preservar e fortalecer os princípios básicos que diferenciem a forma comunitária
de fazer o turismo, que é pautada em uma economia solidária – que promove divisão equitativa da

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renda, respeito a capacidade produtiva dos ecossistema e a cultura dos produtores e prática de
preços justo - da forma Massificada (exploração do Outro e da natureza visando o lucro monetário
máximo); através do restabelecimento e fortalecimento de sentimentos agregadores que remonta às
Sociedades Comunais, presentes em nosso inconsciente coletivo: pertencimento, solidariedade,
cooperação, conexão, integração dos indivíduos e da natureza.

PRAINHA DO CANTO VERDE (CE) – ―A CANOA QUE NÃO QUEBROU‖

O subtítulo acima entre aspas remete a uma alusão comparativa feita por Mendonça (2004),
ao turismo insustentável conduzido nos moldes convencionais em Canoa Quebrada (CE) e o
Turismo sustentável empreendido na Prainha do Canto Verde (CE). A conservação da Prainha tem
sido possível pela luta da sua comunidade e por seu status de RESEX conseguido em 2009 através
de Decreto Presidencial.
As Reservas Extrativistas, também conhecidas como REx ou RESEX, são áreas brasileiras
protegidas do grupo das unidades de conservação. De domínio mínimo, são áreas utilizadas por
populações tradicionais, cuja sobrevivência baseia-se no extrativismo e, complementarmente, na
agricultura de subsistência e na criação de animais de pequeno porte. Tem como objetivos básicos
proteger os meios da vida e a cultura dessas populações, e assegurar o uso sustentável dos recursos
naturais da unidade. As áreas particulares incluídas em seus limites devem ser desapropriadas.
A comunidade da Prainha do Canto Verde está localizada no litoral leste do Estado do
Ceará, no município de Beberibe (ver figura 1). Distante 126 km de Fortaleza, trata-se de uma
comunidade pesqueira tradicional que tem atrelado aquele lugar o sentimento de pertencimento
além de fonte de seu sustento que vem sendo ameaçado atualmente pela especulação imobiliária
devido ao elevado valor mercantil, a mercê dos impactos negativos sociais e ecológicas, que o
sistema capitalista tem vislumbrado em suas belezas naturais. Abrangendo uma área de 11,54 ha de
extensão e sendo composta por uma população de 1200 habitantes (dados do IBGE), a Prainha é um
dos principais destinos turísticos do litoral que integra junto com mais 12 comunidades a Rede
Cearense de Turismo de Base Comunitária – TUCUM.

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Figura 1. Mapa de localização da comunidade da Prainha do Canto Verde, no município de Beberibe,


Estado do Ceará, Região Nordeste do Brasil. Fonte: http://cod.ibge.gov.br/3A18.

Segundo Mendonça (2004, p. 289),

o turismo na Prainha do Canto Verde representa um modelo inovador, tendo como premissa
a construção de um projeto no qual os moradores têm participação efetiva em sua
concepção, desenvolvimento, implantação e gestão.

A estrutura político-organizacional da Prainha do Canto Verde, desde a sua formação,


manteve uma Associação de Moradores como seu núcleo central, capilarizado através dos
conselhos setoriais (Saúde, Educação, Pesca, Terra) e pela Cooperativa de Turismo (MENDONÇA
2004, p.151)
Contudo, Fortunato e Silva (2013) chamam a atenção para estudos recentes que alertam
sobre como o surgimento de conflitos na comunidade poderia colocar em risco esse modelo de
desenvolvimento turístico.
Irving (2000) entende o TBC principalmente a partir da compreensão do que vem a ser
comunidade, no sentido de coletividade e não de pobreza e marginalidade, fazendo com que esta
forma de empreender não ―caia no lugar comum‖ da estratificação de classe, mas seja visto como
uma oportunidade para a inclusão social e uma governança democrática.
E explica que:

Turismo de Base Comunitária, segundo esta percepção, implica não apenas a interpretação
simplista e estereotipada de um grupo social desfavorecido que recebe os ‗outsiders‘
curiosos e ávidos pelo exotismo em seu convívio cotidiano, para o aumento de sua renda e
melhoria social, mas, antes de tudo, significa encontro e oportunidade de experiência
compartilhada. (IRVING, 2000, p. 111).

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Ambas as autoras supracitadas estressam a importância do espírito comunitário: cooperativo,


solidário, com forte identificação entre os pares e com o lugar - que é de vida, histórias, lutas,
vitórias e derrotas, sustento do corpo e da alma; e, é a partir desta prontidão de pertença onde se
forja a identidade turística de uma comunidade, de um lugar e, como bem expressa Coriolano
(2014), é esta identidade turística que vai ser a mantenedora da alma do lugar.

O CONFLITO E SUA NATUREZA - CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS NA COMUNIDADE


DA PRAINHA

Embora se possa perceber nas diversas iniciativas de TBC os benefícios que são gerados
para as comunidades tradicionais, ainda persiste no imaginário de algumas comunidades falácias,
construídas em parte pela mídia hegemônica que tem apoiado o Turismo de Massa, de que esta
forma insustentável de empreender o turismo traria maiores oportunidades para as comunidades
tradicionais do que o TBC, quando, como constata Coriolano (2014), o Turismo Convencional
chega expropriando, excluindo a comunidade local e destruindo ecossistemas, como se percebe em
Canoa Quebrada (CE).
Mendonça (2004) mostra este conflito ocorrendo entre os moradores da Prainha no
depoimento de um morador local. Para ele, a forma que a comunidade optou de fazer o turismo não
estaria beneficiando a todos e que o Turismo convencional praticado na Praia do Fontes e Morro
Branco, por exemplo, geraria mais empregos.

O turismo chega, só que independente do turismo das outras praias, uma parte é bom, mas
para outra eu acho que não é tão bom, porque para quem fica do lado do turismo está
ganhando dinheiro, mas para quem não tem nada do turismo aqui, não ganha
nada.(MENDONÇA, 2004. P.128-129) .

Outro conflito detectado na Prainha do Canto Verde seria as diferentes opiniões entre os
comunitários quanto a criação da RESEX em 2009, pois alguns julgam de extrema importância para
a conservação dos ecossistemas, das belezas naturais que é imprescindível para o TBC, enquanto
outros acreditam que a regulamentação do uso da RESEX provoca uma retração no fluxo de
turistas que dificulta a inserção de outros atores sociais. Devido a tal impasse criou-se uma segunda
associação de moradores que defende interesses opostos em relação à criação da RESEX e que tem
financiamento de agentes externos com interesse na ―belíssima‖ praia da localidade (FORTUNATO
E SILVA, 2013).
Do ponto de vista social e ecológico sabe-se que o TBC é a forma sustentável de exercer a
atividade turística por se desenvolver com base na vocação e capacidade de suporte naturais e na
cultura local (LEFF, 2010). Ou seja, trata-se de um problema menos conceitual e mais de inter-
relacional, para que se ampliem e se fortaleçam as iniciativas de TBC, atividade econômica com
grande potencial inclusivo e sustentável. Para tanto, deve-se lançar um olhar restaurativo sobre os

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conflitos vivenciados por estas comunidades empreendedoras.


Os conflitos nascem de necessidades objetivas ou subjetivas básicas individuais ou coletivas
negligenciadas produzindo sofrimento para os indivíduos e ruptura no tecido relacional. E, através
do exercício da percepção empática dos indivíduos como outredades e de se lançar um olhar
sistêmico sobre o problema é que se pode compreender a natureza profunda dos conflitos sendo
então possível, partir de então, intermediar os envolvidos no caminho da resolução ou
transformação dos conflitos.
O conflito é o que move algo que não está funcionando, ou que pode ser melhorado, que
conduzirá a patamares mais evoluídos e mais justo relacionais. O que vem a ser considerado
evoluído ou justo pode parecer julgamento de valor, e o é, porém são valores imprescindíveis a
criatura humana, que não observados e respeitados fragilizam ou quebram vínculos.
Sentir-se vinculado, fazendo parte, pertencente a algo maior do que si mesmo, desencadeia
uma sensação - que é uma força potente - de segurança e confiança no presente e de esperança pró-
ativa num futuro realizável. Este vínculo mais amplo vivenciado de forma harmoniosa somado a
consciência e o respeito a individualidade é tão importante para cada pessoa e para os grupos sociais
que percebe-se na história da humanidade que, violações aos direitos humanos foram perpetrados
pela via da dissolução da identidade das pessoas e da ruptura dos laços afetivos estruturantes,
facilitando a subjugação, como exemplo tem-se a violência perpetrada pelos nazistas sobre o povo
judeu no período que antecedeu a Segunda Guerra Mundial e durante esta, os indivíduos foram
reduzidos a uma sequência de número cravados em sua epiderme e dissociados de suas famílias.

CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS E AS PRÁTICAS RESTAURATIVAS

Na visão restaurativa busca-se a

reintegração na comunidade daqueles que criaram uma situação de ruptura e dos outros
que, afetados por um conflito, se sentiram oprimidos na fluidez de suas relações sociais,
evitando-se revitimizações; mas também a reintegração preventiva, vale dizer, a prevenção
contra processos de exclusão e de marginalização, através de políticas inclusivas, que
evitem estigmatizações e permitam a tomada das pessoas em sua inteireza, não pelos atos
cometidos ou por determinada característica de comportamento, de raça, etc. (MELO, 2008,
p. 32)

As Práticas Restaurativas, as quais são geradas no tempo como tecnologia social de


comunidades antigas, e que são reencontradas quando da elaboração de novas tecnologias
psicossociais na área de conflito, tem sua força no encontro, no diálogo autêntico, promovidos pelos
Círculos, que não deve ser imposto sobre comunidades a partir de uma relação autoritária, e sim
praticada e conduzida pela comunidade, preparada para tanto, em situações conflituosas e
incorporada nas relações cotidianas. A técnica dos Circulos desenvolvida por Pranis (2005), permite
que se sinta a energia circulante do sistema, possibilitando a re-conexão dos elos fragilizados ou

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desfeitos por mal entendidos ou infrações. Promove um movimento de aproximação, situação


oposta a opção de alguns comunitários da Prainha pelo distanciamento, quando da criação da
segunda associação, provocando a quebra de um elo sistêmico constituído ao longo de gerações.
Partição que não resolve, não gera a inclusão reinvindicada, mas isola, desestabiliza, enfraquece
devido a energia que passa a ser gasta num embate criado pela especulação imobiliária e o Turismo
de Massa no ―jogo‖ de interesses mercadológicos, que não surgem da realidade vivencial da
comunidade. A Partição de ―iguais‖ só distancia da resolução do conflito, impossibilitando um
ganho para todos aqueles que realmente estão ligados emocional e estruturalmente, acabando por
entregar por ingenuidade, a um ―estranho‖, o ganho que cabia justamente aos que foram
transformados em oponentes‖.

Uma Cultura Restaurativa, que tem nas práticas restaurativas (e assim no Círculo de
diálogo e paz) os seus ápices, resgata e reproduz o mundo gregário; quando estamos neste
cenário aparecem os valores fundamentais da nossa vida, como por exemplo, aquilo que
mais desejamos socialmente, o que é mais importante para um sujeito, como nos
conectamos com a (nossa) humanidade. Uma abertura de consciência está em jogo, não por
mero interesse teórico ou formal, mas por necessidade de barrar a violência branca ocultada
sob os mantos do sistema das coisas normatizadas – a bom exemplo do mercado e suas
exclusões (PELIZOLLI, 2017)

RESOLUÇÃO DE CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS – PRÁTICAS RESTAURATIVAS E A


PRAINHA

Nenhum modo de produção, mesmo que alternativo e sustentável, estará livre de problemas,
pelo menos estes problemas devem lhes ser peculiares, gerados a partir de sua realidade, e não
―encomendados‖ por agentes externos, e que a procura por soluções deve vir principalmente da
percepção de mundo, dos saberes, das práticas daqueles indivíduos e tecida por eles próprios, para
que exista a adesão de todos, do que for acordado. Algumas vezes problemas são gerados em
comunidades, que não lhes pertencem, por interesses econômicos e políticos a partir de indivíduos
ou empresas externas as comunidades, provocando conflitos que não lhes pertencem e impondo
processos de ―soluções‖ igualmente estranhos e por isso fadados ao fracasso e ampliador dos
problemas, destituindo a comunidade da confiança e da auto-estima de conseguir lidar com seus
próprios conflitos.
Os conflitos em sua natureza não são nem bons nem más, mas devem ser vistos como
oportunidade de visualizar situações que requerem atenção e ação para que o processo evolutivo
siga seu curso trazendo consigo melhoria na qualidade de vida das populações. Os conflitos
socioambientais são de natureza complexa e integrada, em geral envolvem conflitos de interesses e
uma diversidade de atores sociais, mesmo de forma dissimulada, podendo causar injustiças sociais,
culturais, econômicas, ecológicas e políticas. As práticas restaurativas quando conduzidas por
pessoas apitas e, pela sintonia dos seus princípios com a característica holística do TBC, podem ser

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de grande valia na condução da resolução de tais conflitos reconstituindo o tecido social. As


Práticas Restaurativas são fundadas em princípios ancestrais comunais onde os conflitos são
processados de forma dialogada, contextualizada, respeitosa e ética, para além da dicotomia e da
generalização do proceder Ocidental Moderno, mas enxergando a complexidade e a integralidade
do ser humano e suas inter-relações, considerando sua subjetividade característica.
No sentido contrário à ruptura que ocorreu na comunidade da Prainha as técnicas
Restaurativas tenta reaproximar os indivíduos, os grupos, para que se obtenha o benefício do
contato com o rosto uns dos outros, pois em situações conflitivas esta possibilidade pode mudar o
rumo da situação, pois é quando se consegue resgatar para a experiência vivenciada a humanidade
do oprimido e do opressor, de modo que, mais do que atender a necessidades objetivas, se
restabelecem laços afetivos que é o que dá sustentabilidade aos contratos humanos.
Esse é o viés restaurativo de valorização existente nos encontros de Justiça Restaurativa,
pois existem o compartilhamento, o apoio, a responsabilização, o engajamento e a conexão de cada
um e de todos. Abre-se espaço, neste cenário, para reunir definições e visões que busquem superar
posições unicamente teóricas, mas que avancem: na validação de experiências para que exista um
engajamento individual e comunitário. (PRANIS, 2017)
O Círculo é uma técnica da Justiça Restaurativa para organizar de forma eficiente a
comunicação grupal de modo a construir relacionamentos, tomar decisões e resolver conflitos.
Ainda mais importante, o Círculo encarna e nutre uma filosofia de relacionamento e interconexão
que pode nos guiar em todas as circunstancias dentro e fora do Círculo.
Devido a flexibilidade e poder do processo circular existe uma variedade de tipos de
Círculos que também podem se combinar para um determinado fim. São eles: Círculo de
celebração, diálogo, compreensão, aprendizado, construção do senso comunitário, restabelecimento,
apoio, reintegração, tomada de decisão grupal, conflito e sentenciamento.
No caso da situação conflitiva da Prainha na qual alguns moradores do local estão se
sentindo excluídos dos benefícios gerados pelo TBC e duvidosos do benefício da criação da
RESEX, ao ponto de ter havido a ruptura da associação, a utilização da técnica dos Círculos
poderia solucionar este impasse reintegrando os pares em uma só associação fortalecendo o espírito
comunitário e ampliando as possibilidades de benefícios gerados pelo TBC.
Para tanto, sugere-se a realização com os lideres da comunidade e interessados, respeitando-
se o número de integrantes requeridos pela técnica, de cinco Círculos em sequência, quais sejam:
Círculo de Diálogo Círculo de Compreensão, Círculo de Construção do Senso Comunitário, Círculo
de Conflito e por fim o Círculo de Tomada de Decisão.
O Círculo de Diálogo vai buscar restabelecer laços afetivos que vão ter efeito na ampliação
da inclusão no empreendimento do TBC, permitindo que todos se sintam ouvidos respeitosamente

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oferecendo aos participantes diversas visões do conflito para estimular a reflexão. Em geral não
requer preparação individual e nem trabalho de bastidores.
Na sequência, realiza-se o Círculo de Compreensão que é uma conversa com o intuito de
abordar os pontos mais difíceis do conflito, não se busca consensos neste tipo de círculo, o objetivo
é montar um quadro mais completo das razões que levaram a criação da outra associação, as
insatisfações e a sensação de exclusão sentida por alguns comunitários. Este tipo de Circulo vai
focar uma pessoa ou um grupo de pessoas e por isso talvez necessite preparação e planejamento
anterior para garantir apoio adequado a esses participantes.
Dependendo da intensidade do conflito enfrentado pela comunidade pode ser requerido a
aplicação do Círculo de Conflitos que estaria endereçando de forma individual as questões mais
polêmicas para em seguida ser possível focar nas questões centrais, neste momento cada
comunitário poderá se sentir entendido e acolhido.
O Círculo de Construção do Espírito Comunitário poderia reconstituir na comunidade da
Prainha os laços desfeitos, quando da divisão da associação, e resgatar os interesses comuns para
buscar o apoio nas ações coletivas e chamar para a responsabilidade, todos, para a ampliação do
TBC, de modo a incluir os comunitários que não estejam sendo contemplados na atividade
empreendida, caso seja possível. Este Circulo não busca consensos, e sim preparar as pessoas
envolvidas no conflito, como preparação para o Círculo de Tomada de Decisão Grupal que deve ser
realizado na sequência.
A última etapa deve ser a execução do Círculo de Tomada de Decisão Grupal, nesta etapa
faz-se uma preparação que é parte importante do processo, que seria a realização anterior dos
Circulo de Compreensão e o Círculo de Formação do Espírito Comunitário, para por fim serem
tomadas as decisões, serem firmados os acordos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Turismo de Base Comunitária a partir da década de 90, tem se mostrado uma forma eficaz
de inclusão social, conservação da riqueza cultural e dos ambientes naturais. E, esta eficiência está
fortemente relacionada com o protagonismo dos comunitários em todas as etapas do processo, quais
sejam: organização, planejamento, gestão e operação da atividade turística comunitária. Esta
atividade econômica tem gerado renda, oportunidade de trabalho, cooperação e melhoria na
qualidade de vida das comunidades que decidem por empreender neste sentido.
O pertencimento e o bom entendimento relacional entre os indivíduos envolvidos no TBC é
fator essencial para angariar o comprometimento entre os comunitários de modo a dar
sustentabilidade ao empreendimento. Contudo, a existência de conflitos em algumas comunidades
empreendedoras, como tem ocorrido na Prainha do Canto Verde (CE), podem ser um fator

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

desagregador capaz de comprometer os benefícios que seriam auferidos pelo TBC, comprometendo
a sustentabilidade local. Desta forma, de modo a não reproduzir no TBC, a lógica da degradação
social e ecológica disseminada pela forma convencional de empreender o turismo, é possível e
recomendável que se lance mão de técnicas que restaurem e fortaleçam as relações interpessoais da
comunidade da Prainha através do uso dos Círculos Restaurativos.
Conflitos sempre existirão nas relações humanas pela própria natureza do homo sapiens
sapiens demens. No que concerne as dificuldades relacionais vividas pela comunidade em análise, o
uso de Práticas Restaurativas, como discutido nesta pesquisa, pode ser um dos caminhos para a
resolução dos conflitos existentes nas comunidades que estejam empreendendo o TBC e estejam
vivenciando situações conflitivas, de modo a dar suporte a esta forma sustentável e justa de
empreender o Turismo.

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ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 931


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PERSPECTIVAS PARA O TURISMO SERTANEJO NO MUNICÍPIO DE


CABACEIRAS/PB

Luciano Guimarães de ANDRADE


Doutorando do Programa de Pós - Graduação em Geografia (PPGEO/UFPE).
luciano_guimaraes_123@hotmail.com
Nerize Laurentino RAMOS
Professora do Programa de Pós - Graduação em Desenvolvimento Regional (UEPB - UFCG).
nerize@uol.com.br
Luiz Gustavo Bizerra de Lima MORAIS
Especialista em Analise Regional e Ensino de geografia (UFCG).
luizgustavogeo@hotmail.com

RESUMO
O turismo sertanejo trata-se de um segmento turístico ainda recente. Suas atividades estão
relacionadas a uma perspectiva de base comunitária, voltadas, especialmente, às peculiaridades
locais, em que seus elementos culturais, paisagísticos e ambientais configuram-se como principais
atrativos. Desta forma, explorar as potencialidades do patrimônio histórico-cultural e das belezas
naturais através do turismo torna-se um instrumento viável para o desenvolvimento no interior da
Paraíba. Neste sentido, o presente trabalho desenvolve uma abordagem acerca do turismo sertanejo
e sua viabilidade no município de Cabaceiras/PB. A área estudada localiza-se na microrregião do
Cariri oriental, na mesorregião geográfica da Borborema, estado da Paraíba. No tocante aos
procedimentos metodológicos, os instrumentos como a pesquisa bibliográfica, o trabalho de campo
(observação, levantamento de registros iconográficos) constituíram a base para obtenção de
informações relevantes para analisar as perspectivas de inserção do turismo sertanejo no município
de Cabaceiras. Os resultados enaltecem possibilidades para a execução do turismo sertanejo, assim
como, sua relevância enquanto alternativa de desenvolvimento local.
Palavras - chave: Turismo Sertanejo. Paraíba. Cabaceiras.

ABSTRACT
Tourism in the sertanejo is a very recent tourist segment. Its activities are related to a community-
based perspective, focused especially on local peculiarities, in which its cultural, landscape and
environmental elements are the main attractions. In this way, exploring the potential of historical
and cultural heritage and natural beauty through tourism becomes a viable tool for development in
the interior of Paraíba. In this sense, the present work develops an approach about the sertanejo
tourism and its viability in the municipality of Cabaceiras / PB. The area studied is located in the
eastern Cariri micro-region, in the geographic mesoregion of Borborema, state of Paraíba. In terms
of methodological procedures, instruments such as bibliographical research, fieldwork (observation,
collection of iconographic records) were the basis for obtaining relevant information to analyze the
perspectives of the insertion of sertanejo tourism in the municipality of Cabaceiras. The results
highlight possibilities for the execution of the sertanejo tourism, as well as its relevance as an
alternative of local development.
Keywords: Sertanejo Tourism. Paraíba. Cabaceiras

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 932


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

INTRODUÇÃO
O turismo sertanejo é uma segmentação caracterizada pela exploração dos recursos naturais
e culturais de forma sustentável. Como nova modalidade turística, o turismo sertanejo vive uma fase
de reconhecimento, estando ainda em processo de desenvolvimento.
De acordo com Seabra (2007, p. 31) ―o turismo sertanejo é uma forma de lazer
fundamentada na paisagem natural, no patrimônio cultural e no desenvolvimento social das regiões
interioranas do Brasil‖. Nesse sentido o turismo sertanejo surge como uma alternativa para o
desenvolvimento econômico, social, cultural e ambiental das comunidades sertanejas.
Segundo Bispo (2014) o turismo sertanejo tem sua atividade centrada na perspectiva de base
comunitária, envolvendo a comunidade residente no desenvolvimento econômico e social de uma
localidade. Compreende um trabalho voltado para as peculiaridades internas, em que seus
elementos culturais, suas paisagens, o homem sertanejo são elementos de configuração da atividade.

O turismo sertanejo evidencia significativa participação de atividades não agrícolas, e, em


contrapartida, torna complexa a compreensão do fenômeno turístico, bem como a própria
relação sertão turismo. O entendimento do turismo rural implica pensar o universo
associado das escalas temporais e espaciais, e a produção segmentada da atividade. Nessa
perspectiva, o turismo sertanejo como segmento dinâmico e emergente oferece
possibilidades às economias rurais diversificando produtos e serviços no campo (SOARES;
CORIOLANO, 2014, p.306).

Neste sentido, não deve ser realizada por consultores economicistas que vem de fora para
dentro das comunidades com metodologias impositivas, afinal, ―nesta proposta cabem menos os
grandes empreendedores e mais os pequenos empresários, as associações comunitárias e a
sociedade como um todo‖ (SEABRA, 2001, p. 115).

[...] a temática sobre o turismo sertanejo vem ganhando atenção de vários estudos
acadêmicos realizados nos últimos anos. O turismo sertanejo em razão dos seus princípios
éticos no tocante à utilização dos recursos naturais e potencialidades culturais, insere-se no
conceito de turismo sustentável, definido com base no sistema total ser humano/ meio
ambiente, no qual a conservação ambiental é meta de importância igual à eficiência
econômica e à justiça social para a geração de empregos, distribuição de renda e melhoria
da qualidade de vida conforme salienta (BENI 2000 apud SEABRA, 2011, p. 33).

Conforme Seabra (2007, p. 280) ―as feições paisagísticas do sertão nordestino, com
características próprias e singulares são atrativas para o desenvolvimento do turismo exótico e suas
modalidades alternativas, tendo como suporte referencial a base social local‖.
Na região Nordeste do Brasil, a paisagem é singularizada por diferentes aspectos, tornando-
se um produto turístico, desta forma, Ab'Sáber (2003, p. 15) afirma que:

O nordeste seco é a área que apresenta as mais bizarras e rústicas paisagens morfológicas e
fitogeográficas do país. Seus campos de inselbergs [...], por si só poderiam ser melhor
preparados para receber as atenções do país inteiro, através de uma adequada e original
infraestrutura de turismo e lazer (ecoturismo). Nestas áreas, sobretudo quando ocorre
associação entre os pontões rochosos e as massas d'água de açudes públicos, aumentam em

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muito suas potencialidades em termos de atração paisagística para fins de lazer, turismo e
esportes.

Seabra (2004) afirma que o turismo sertanejo é uma forma de lazer fundamentada na
paisagem natural, no patrimônio cultural e no desenvolvimento social das regiões interioranas do
Brasil. Desta forma, um projeto turístico reside no seu caráter natural, social, cultural ecológico e
paisagístico, inserindo-se na perspectiva desenvolvimento/preservação ambiental dos sertões do
Brasil.
No tocante a sustentabilidades social, o turismo sertanejo, possibilita compreender de forma
integrada o meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações, sobretudo no que diz respeito à
cultura do homem nordestino e ao setor produtivo a ela agregado (SEABRA 2007, p. 283).
Entender essa nova modalidade de turismo como uma forma de assegurar o
desenvolvimento de práticas sustentáveis, permitirá efetuar ações mais efetivas e,
consequentemente, uma experiência diversificada para o visitante, ajudando a estabilizar a
economia local, desenvolvendo oportunidades de negócios e empregos nas atividades relacionadas
ao turismo.
Desta forma, a atividade turística no Sertão nordestino deve ser despertada a partir de um
planejamento formulado pelos próprios moradores, com o fomento de instituições locais, capazes de
dinamizar ações que visam promover as potencialidades locais. Diante disso, o presente trabalho
desenvolve uma abordagem acerca do turismo sertanejo e sua viabilidade no município de
Cabaceiras/PB, no sentido de promover o desenvolvimento local.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Os procedimentos operacionais desta pesquisa foram produzidos a partir do emprego das


seguintes metodologias: a revisão bibliográfica de literaturas referente ao assunto em questão,
realizadas em livros, teses, dissertações artigos, publicações em periódicos e sites especializados. A
pesquisa de campo, com observações e captura de registros fotográficos nos locais de pesquisa que
permitiram preservar detalhes para efetivar o objeto de estudo.
Para concretizar o objetivo estabelecido, abordou-se conceitualmente o turismo sertanejo,
sendo imprescindível para tanto a caracterização do município de Cabaceiras com intuito de
identificar as potencialidades que possibilitem a dinamização da atividade turística, considerando os
recursos naturais, históricos e culturais constituindo-se como valores socioeconômicos para a
promoção da melhoria de vida das comunidades locais.
Desse modo, a área de estudo desta pesquisa é delimitada pelo município de Cabaceiras
(Figura 1), localizado na microrregião geográfica do Cariri Oriental, na mesorregião geográfica da

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Borborema, estado da Paraíba. Segundo o IBGE (2010), a área da unidade territorial do município
de Cabaceiras possui extensão de 452,92 km², com uma população 5.035 habitantes.

Figura 1 - Mapa da localização do munícipio de Cabaceiras/PB


Fonte: IBGE, 2009 - Elaborado por Luiz Gustavo Morais e Luciano Guimarães.

De acordo com a classificação de Köppen, o município de Cabaceiras apresenta o clima do


tipo BSh - semiárido quente, com precipitações médias anuais muito baixas predominantemente
abaixo de 350 mm/ano, e temperatura média de 24,0º C. As chuvas da região sofrem influência das
massas de ar Atlânticas de Sudeste e do Norte (FRANCISCO; MEDEIROS; MELO 2016).
A vegetação predominante é a Caatinga do tipo hiperxerófila, ou seja, espécies de plantas
que resistem a climas secos dispostos a semiaridez da região, sendo composta por vegetação
arbustiva e rala com forte intensidade de cactáceas e bromeliáceas; e a caatinga hipoxerófila,
formada por vegetação arbustivo‐ arbórea mais ou menos densa, com ou sem cactáceas.
As chuvas no município de Cabaceiras são geralmente irregulares e esparsas, sendo sua
maior parcela precipitada normalmente durante os quatro meses chuvosos do ano para a região
(fevereiro, março, abril e maio), podendo ocasionar assim longos períodos de estiagens que duram
de nove a dez meses, nos anos mais secos (FRANCISCO; MEDEIROS; MELO 2016).
A base econômica município, de acordo com Dutra (2004) está predominantemente
relacionada ao artesanato em couro, predominando a confecção de diversos produtos, como: bolsas,
sapatos, sandálias, chapéus, chaveiros, carteiras, pastas tapetes e cintos.
A caprino-ovinocultura também merece destaque, tendo relevância significativa para o
desenvolvimento do município, contribuindo fundamentalmente para a introdução em melhor escala
da produção de peles, principal matéria prima para o andamento das atividades coureiras, que se

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caracterizou como principal produto artesanal em Cabaceiras, especificamente no distrito da


Ribeira.
É necessário ressaltar ainda que, o artesanato local permite uma forte integração com o setor
turístico, elemento significativo para desenvolvimento do município de Cabaceiras, especialmente
nas áreas de ecoturismo, turismo religioso, turismo cultural e turismo de eventos e turismo
sertanejo, tema que será abordado com maior ênfase na próxima seção desse trabalho.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Esta seção consiste na identificação, reconhecimento e promoção de aspectos ligados à


história, cultura, meio ambiente, artesanato, arqueologia no município de Cabaceiras. Na zona rural,
em cenários que encantam e intrigam vários sítios arqueológicos escondidos entre os lajedos que
transformam o lugar num dos mais importantes pontos de estudos arqueológicos do País. Na cidade,
decorada com preservados sobrados do início do século passado, museus e grandes eventos,
justificam o potencial do município para inserção do turismo, que há alguns anos vem mudando a
imagem do seco Cariri paraibano, bem como da sua população (DUTRA, 2004).
Em virtude desses fatores é que se propôs fazer o levantamento dos principais áreas de
interesse turísticos do município de Cabaceiras (figura 02). A identificação das áreas com potencial
para realização das atividades turísticas permite uma melhor compreensão da apresentação das
potencialidades locais constituindo-se como alternativa a promoção do desenvolvimento local.

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Figura 02 - Mapa turístico do município de Cabaceiras (espaços rurais e áreas naturais)


Fonte: IBGE, 2009 - Elaborado por Luiz Gustavo Morais e Luciano Guimarães.

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O mapa turístico de Cabaceiras aponta as potencialidades turísticas nos espaços rurais e


áreas naturais. Reúnem informações voltadas as práticas passíveis de serem realizadas por diversas
atividades através do turismo sertanejo. A criação de um roteiro turístico que possa contemplar as
diversas opções apontadas pelo mapeamento em destaque enaltecem opções de lazer, cultura e
entretenimento na zona rural do município.
Dentre os principais destaques, reafirma-se o Lajedo de Pai Mateus, um dos mais
significativos atrativos turísticos do Cariri paraibano. Assim como enaltece Pereira (2008, p.108),
―o lajedo de Pai Mateus é, talvez, o elemento natural de maior relevância dos Cariris, não apenas
por ter sido utilizado como cenário de filmes e desfile de coleções grifes, mas também por se tratar
de uma paisagem deslumbrante‖ (figura 03).

Figura 03 - Visão parcial do Lajedo de Pai Mateus e seu campo de matacões


Fonte: Luciano Guimarães, 2016.

Sobre as rochas que conglomeram e produzem uma paisagem cênica única no lajedo,
acredita-se que esta formação já foi habitada há milhares de anos pelos índios Cariris, o que explica
os nomes de alguns lugares e as fortes marcas no cenário, através de registros rupestres (figura 04)
em forma de pintura ou sinais grafados em toda a extensão dos lajedos (ALVES et al, 2008).

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Figura 04 - Pinturas rupestres no Lajedo de Pai Mateus. Fonte: Luciano Guimarães.

Outro referencial geológico que merece destaque trata-se da Saca de Lã, monumento
paisagístico natural constituído por uma formação rochosa composta por rochas retangulares,
sobrepostas, formando uma espécie de pirâmide, com aproximadamente 40 metros de altura. Essa
denominação está relacionada ao período algodoeiro que caracterizou o passado da região. Devido à
produção ser armazenada em grandes sacas de algodão, fato bastante semelhante ao paredão
rochoso empilhado (figuras 05,06).

Figuras 05,06 - Visitação turística na Saca de lã. Fonte: Luciano Guimarães, 2016.

A Saca de Lã é uma potencialidade local que contempla um roteiro turístico rico e


diversificado, propício a práticas de lazer e aventura, constituindo condições bastante favoráveis a
relização de diversos segmentos turísticos,especialmente aquelas atividades relacionadas ao turismo
sertanejo. Cabe destacar ainda um notável aspecto de preservação da vegetação nativa, mantendo
desta forma, a sustentabilidade ambiental da região.
Outro aspecto importante em relação ao estudo sobre o turismo, sobretudo segmentos como
o turismo sertanejo, é que, além de preservar o meio ambiente e à conservação de espécies da fauna
e da flora, relevo e hidrografia dos locais visitados, é importante respeitar os aspectos culturais que
caracterizam a população local.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

No tocante ao patrimônio histórico-cultural, merece destaque os atrativos existentes na área


urbana, tais como: prédios históricos, museus, casarões e monumentos religiosos que apresentam
arquitetura expressiva, que remontam a origem do Cariri paraibano.
O centro histórico apresenta um casario como estilo predominantemente eclético, contendo
também alguns traços do neoclássico dos séculos XVIII E XIX. Neste sentido, Cabaceiras apresenta
um conservado patrimônio arquitetônico neoclássico (figura 07). Algumas casas tem sua
arquitetura original praticamente mantida, passível de conservação por conter informações a serem
interpretadas, pois remontam o processo histórico local e que representa uma identidade marcante
da cidade.

.
Figura 07 - Visão parcial do centro histórico de Cabaceiras/PB
Fonte: Bruno Lira, 2016.

De acordo com estas condições, a atividade turística apresenta-se como uma das atividades
econômicas em potencial as demais apresentadas favorecendo o surgimento de novos
empreendimentos, como hotéis, pousadas, bares, restaurantes, lojas de artesanato, mercados
diversos.
Outro potencial que marca a identidade do lugar é o Museu Histórico - Cultural dos Cariris
Velhos da Paraíba (figura 28). Localizado no centro da cidade, o museu preserva um acervo rico e
diversificado que narra à história do município.

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Figura 30 - Turistas em visita ao Museu Histórico dos Cariris Velhos da Paraíba.


Fonte: João Vítor Aires, 2017.

Transformado em museu desde 2003, este espaço conta a história da região e de sua
população através de artefatos e peças que são verdadeiras relíquias do passado (figura 29).
Funciona no antigo prédio da cadeia pública da cidade e antiga residência oficial do prefeito.
O primeiro prédio data de 1890, passou por um processo de restauração em que foi
preservada a arquitetura da época. Foi feita uma recuperação de peças com valor histórico, inclusive
com a descoberta de inscrições com nomes, datas e até frases nas telhas que cobriam a antiga
cadeia, além de vestígios da antiga calçada e de peças artesanais (ALVES; SOUZA; ARAÚJO,
2008).
Conforme Sousa (2015), o museu adquiriu seus objetos e registros a partir das doações da
população local, como está previsto pela legislação no decreto de criação, que as colocam em
caráter de patrimônio. O espaço abriga a história da caprinocultura, desde sua aparição na pré-
história até os tempos atuais, apresentando toda a cadeia produtiva e sua importância para a
economia local, além de atuar como atrativo turístico para o município e fonte de pesquisa e estudo,
totalizando mais de 200 peças ligadas à tradição local (ALVES; SOUZA; ARAÚJO, 2008).
Neste sentido, Seabra (2004) enaltece a importância do incentivo ao associativismo para
estruturação e oferta de serviços e produtos destinados ao turista, como guias, peças de vestuário,

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artesanato e culinária regional". Para o autor, "quando organizados em associações, os moradores


dinamizam a operacionalidade dos serviços facilitando a comercialização da produção local.
Para Morais et al (2012, p. 668), a atividade turística é um dos instrumentos potencialmente
capazes de tornar este desafio uma concretização, agregando os valores sociais e o desenvolvimento
de forma sustentável. No entanto, pelo que se tem visto, faz-se necessário fortalecer os potenciais
existentes com uma adequada e eficiente infraestrutura para poder acolher a demanda turística.
Para consolidar o potencial acima evidenciado, torna-se relevante empreender o local, a
partir de um planejamento formulado pelos próprios moradores, com o fomento de instituições
locais, capazes de dinamizar ações que visam promover as potencialidades locais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base na exposição, considera-se que o município de Cabaceiras, apresenta atributos


favoráveis a promoção do turismo sertanejo em diferentes vertentes, podendo contribuir para
promoção do desenvolvimento local.
Portanto, percebe-se que o turismo no ambito do município de Cabaceiras tem um potencial
natural, histórico e cultural para se tornar em ferramenta viável ao desenvolvimento das
comunidades locais, tanto na geração de empregos, como em investimentos em infraestrutura para
melhoria das condições de vida da população.
Neste sentido, a exploração sustentável das belezas naturais e de seu conjunto arquitetônico,
histórico e cultural, através do turismo sertanejo, torna-se uma alternativa de melhoria de vida da
população local. Dessa forma, diante dos desafios encontrados para o desenvolvimento do turismo
no âmbito do município analisado, torna-se necessário uma participação mais efetiva do poder
público com vista a promover em parceria com as comunidades locais, ações integradas para o
ordenamento do turismo local.
A execução da atividade turística de forma profissional e planejada, implicará em
resultados econômicos satisfatórios e, ao mesmo tempo, assegurar sua sustentabilidade a longo
prazo, protegendo seus recursos naturais, especialmente seu potencial paisagístico e cultural através
do turismo sertanejo.

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ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 943


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

PERCEPÇAO E ESTUDO DO TURISMO E O MEIO AMBIENTE NAS PRAIAS


GRANDE E BISCAIA, ANGRA DOS REIS, RJ

Wilson Martins LOPES JÚNIOR


Professor Doutor em Geografia da Universidade Federal Fluminense – UFF
wmlopesjunior@id.uff.br
Carlos Marclei Arruda RANGEL
Professor Doutor em Geologia da Universidade Federal Fluminense – UFF
carlos2001@uol.com.br

RESUMO
Esta pesquisa teve o objetivo de estudar a relação do Turismo com o meio ambiente ao longo das
praias Grande e da Biscaia, ambas situadas no município de Angra dos Reis, Rio de Janeiro.
Analisou-se a emissão dos resíduos sólidos nas duas praias, estudadas em dias alternados e, assim,
identificou-se a relação do Turismo local com o processo de poluição por resíduos. Quanto ao
método, privilegiou-se a abordagem quali-quantitativa, uma vez que se trabalhou com pesquisa
bibliográfica e com entrevistas estruturadas. Conclui-se que, nas Praias Grande e da Biscaia, há um
processo de poluição constante por parte da atividade turística local, pois a maioria dos
frequentadores descarta o lixo na faixa de areia e, assim, promovem o aumento da quantidade dos
resíduos sólidos nesses ambientes praieiros. O plástico foi o item mais abundante encontrado ao
longo das duas praias estudadas.
Palavras-chave: Resíduos. Praias. Poluição. Angra dos Reis.
ABSTRACT
This investigation aimed to study the relationship between Tourism and environment along the
Grande and Biscaia beaches, both in the municipality of Angra dos Reis, in Rio de Janeiro state,
Brazil. We analyzed solid waste emission in the two beaches, in alternate days seeking to identify
the correlation between local tourism and the process of pollution by waste. We applied quantitative
method, using bibliographic research and structured interviews. The results showed that in both
beaches there is a constant pollution by local tourist activity, since most of the visitors discard the
rubbish in the strip of sand and thus they increase solid waste in this environment. Plastic was the
most profuse item found along the two studied beaches.
Keywords: Waste. Beaches. Pollution. Angra dos Reis.

INTRODUÇÃO

Os problemas ambientais nos ecossistemas aquáticos apresentam proporções globais e,


atualmente, têm sido amplamente debatidos em eventos científicos. Isso se deve ao fato de que os
problemas proporcionados pelo gerenciamento e pela gestão de agentes e de atividades poluidoras,
tornaram-se um dos maiores desafios ambientais do mundo contemporâneo. Esses resíduos,
conforme Baptista Neto e Fonseca (2011) podem causar danos não somente à Economia e ao bem-
estar das populações, mas também exercem efeitos negativos nos ecossistemas marinhos
vulneráveis.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Para Mathlon e Hill, (2014) as alterações ambientais físicas e biológicas, ao longo do tempo,
modificam a paisagem e comprometem os ecossistemas e os ambientes costeiros, que apresentam a
maior complexidade entre todos os ambientes da Terra, ou seja, consistem em um dos ambientes
mais vulneráveis à degradação. Inúmeros estudos como os de Lusher et al. (2013); Murray e Cowie
(2011), realizados ao longo de diferentes áreas costeiras, evidenciaram problemas de poluição por
resíduos sólidos, que foram responsáveis por diversos impactos ambientais em ecossistemas
aquáticos, e ocasionaram a diminuição de espécies de peixes, de bivalves, de lagostas e de
caranguejos.
Considerando que a maior parte da população reside em áreas urbanas costeiras, essa
questão se agrava, pois, segundo Jacobi (2011), ocorrem impactos em sistemas aquáticos, em
sedimentos e em recursos naturais diversos que, consequentemente, atingem a saúde das populações
expostas a esse tipo de problema ambiental. Soma-se ao exposto o fato de que, além da ocupação
urbana em áreas costeiras, há também atividades econômicas como as industriais e de Turismo, que
influem na degradação ambiental.
No caso da atividade turística, as praias representam atrativo expressivo, sendo assim, no
verão, alta estação turística, fluxos consideráveis de turistas dirigem-se para elas. Diante de
inúmeros atrativos, ―[...] as praias representam um dos principais atrativos turísticos na atualidade,
especialmente nos países tropicais‖. (BRASIL, 2006, p.43). Todavia, a concentração de turistas nas
praias gera diferentes impactos ambientais, entre os quais o aumento do consumo de água tratada, a
maior produção de esgoto e de resíduos sólidos-lixo.
No que se refere ao entendimento do Turismo, não há um conceito único que favoreça
defini-lo com exatidão, haja vista a complexidade dessa atividade social que compreende fatores de
ordem econômica, política, cultural e ambiental, caracterizado pelo deslocamento espacial dos
indivíduos. Para Barreto (1995, p.9) ―[...] Turismo é o conceito que compreende todos os processos,
especialmente os econômicos, que se manifestam na chegada, na permanência e na saída do turista
de um determinado município, país ou estado‖, ou seja, priorizou-se a dimensão econômica e o
deslocamento espacial. No entendimento de Cruz (2003), o Turismo retrata o deslocamento espacial
motivado por diferentes interesses, como o lazer, os negócios e outros, que necessitam do uso de
meios de transporte, de pernoite no destino, além de não constituírem atividade remunerada.
Diante do exposto, sobre impactos ambientais em áreas litorâneas, em especial provocados
por atividades turísticas e a produção de resíduos, estruturou-se esta pesquisa que realizou estudo
dos impactos ambientais por resíduos sólidos presentes nas praias turísticas, Grande e da Biscaia,
no município de Angra dos Reis, RJ.

ASPECTOS TEÓRICOS

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

É inquestionável a importância da água para a vida, essencial às necessidades básicas diárias


dos seres humanos, no que tange ao abastecimento e ao consumo. Ela também é primordial nas
atividades agrícolas e industriais. No entanto, a sua disponibilidade no mundo tornou-se
condicionada a questões de ordem ambiental, como a poluição e a contaminação desse importante
recurso.
Conforme Tundisi (2005), as sociedades humanas, apesar de necessitarem da água para a
sua sobrevivência e para o desenvolvimento econômico, degradam e poluem os recursos hídricos,
sejam as águas subterrâneas ou superficiais. Dessa forma, segundo Tundisi (2005), o aumento da
demanda dos recursos hídricos pelo crescimento populacional, associado à ação degradadora do
homem, são algumas das causas da crise da água em escala mundial.
A problemática ambiental da água tem início na própria cultura de nossa civilização em
desprezar a sua importância e utilizar as diferentes reservas como depósito de todo tipo de material
descartado.

Não é possível encontrar vida na ausência de água. Nossa civilização menosprezou essa lei
natural, conferindo aos mares, rios, lagos e lagunas o papel de grande lixeira, ao
descarregar neles toda espécie de detritos, resultantes dos processos industriais, de serviços,
agrícolas, de mineração, etc. (MOLINA, 2001, p.48).

Nas áreas costeiras — litoral, as suas características particulares, como a própria localização,
despertam interesse de ocupação seja pela expansão urbana, atividades econômicas e industriais,
assim como pelo Turismo. Segundo Moraes (1999, p. 30) ―[...] a zona costeira conhece atividades e
usos que lhe são próprios. A localização litorânea possui uma série de atributos singulares que vão
qualificá-la como uma situação geográfica ímpar.‖
De acordo com Mota (1997), a área costeira é composta por diferentes ecossistemas como:
oceano, ilhas, praias, dunas, manguezais, restingas, estuários, recifes e outros. No entanto, segundo
o mesmo autor, esses ecossistemas passam por desequilíbrio diante das inúmeras atividades
antrópicas ocorridas na costa, entre as quais se destacam: o desmatamento, a ocupação industrial e
urbana, a extração mineral, as atividades portuárias, além das atividades do Turismo.
Decorrentes dessas diferentes ações e formas de ocupação litorânea, surgem inúmeros
problemas ambientais, entre os quais a produção e o descarte inadequado de resíduos sólidos. A
emissão desses resíduos e a consequente poluição de ecossistemas, conforme Baptista Neto e
Fonseca (2011) e Dib-Ferreira (2005), representam um sério problema ambiental que tem
aumentado nos últimos tempos e tornando-se um desafio à humanidade.
Na visão de Coe e Rogers (1997), os resíduos sólidos dispostos em ambientes marinhos são
processados, entre eles se destacam plástico, borracha, tecidos, além de outros que são descartados
nos ambientes marinhos por fontes diversas. Setala et al (2016) e Ospar (2014), contribuem com
esse contexto, pois, após realizarem inúmeras pesquisas, concluíram que a maior parte de resíduos

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sólidos dispostos em ambientes marinhos e costeiros constitui-se de diferentes tipos de plásticos.


Justamente o plástico, segundo Watts et al (2014), desperta muita preocupação, devido à sua
durabilidade e longa vida útil; soma-se a isso o fato de ser confundido com alimento por espécies
aquáticas e aves, o que gera intoxicação e até mortes da fauna marinha.
No caso do descarte de resíduos em áreas litorâneas, mais especificamente em praias
turísticas, há diferentes atores envolvidos: o poder público, o privado (equipamentos de
hospedagem e de alimentação), a população local (moradores) e os visitantes (turistas). Os resíduos
nas praias acarretam consequências ambientais poluidoras para o mar, para a areia, além de
influírem negativamente na visitação por parte dos turistas. Baptista Neto e Fonseca (2001, p.32)
afirmam que "A poluição por lixo, no ambiente costeiro, esteve sempre associada ao aspecto visual
que inibe as atividades turísticas".
Em relação ao Turismo, é entendido como um fenômeno social complexo que compreende
diferentes aspectos como econômicos, políticos, sociais, culturais e ambientais, relacionados aos
deslocamentos espaciais realizados pelas pessoas em suas viagens e nas permanências em locais
diferentes de sua residência. Nesse sentido, a atividade turística necessita de infraestruturas e de
equipamentos específicos à sua prática, instalados no território, porque são essenciais ao garantir o
fluxo de turistas nos espaços emissor, de deslocamento e receptor. Segundo Pearce, (2003, p. 25)
―[...] o Turismo pode ser pensado como o conjunto de relações e fenômenos originados com as
viagens e estadas temporárias de pessoas que estão viajando sobretudo a lazer ou com finalidades
recreativas‖.
As praias constituem significativo atrativo turístico. De acordo com Rejowski et al. (2002) e
Urry (2001), uma das principais motivações destacadas para as viagens de Turismo é a combinação
de água, sol, calor e praias. ―Turismo de Sol e Praia constitui-se das atividades turísticas
relacionadas à recreação, entretenimento ou descanso em praias, em função da presença conjunta de
água, sol e calor‖ (BRASIL, 2006, p.43).
O desejo dos indivíduos de consumir o mar e as suas praias provoca o fluxo cada vez maior
de turistas com o intuito de usufruir desses espaços com o propósito de lazer. Nessa perspectiva,
conforme Corbin (1989) e Machado (2000), as praias transformaram-se e modernizaram-se junto da
urbanização e do modo de produção capitalista. Também contribuem Andrade (2002) e Urry
(2001), ao afirmarem que o uso dos espaços litorâneos para as práticas turísticas apresenta
massificação.
A questão que se coloca é que a alto grau de ocupação e densidade demográfica já existente
em áreas litorâneas, associado ao adensamento provocado com a chegada sazonal dos turistas,
aumenta os diferentes tipos de impactos negativos dessa atividade ao local, aos ecossistemas, entre

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os quais a produção de resíduos-lixo. Nessa perspectiva, contribui Molina (2001, p.97), ao dizer que
"A progressiva destruição dos ecossistemas naturais de uso turístico é um fato inegável".
Isso posto, este, analisa os impactos ambientais dos resíduos sólidos presentes nas praias
Grande e Biscaia no município de Angra dos Reis. Seguem informações referentes à área de estudo.

ÁREA DE ESTUDO - ANGRA DOS REIS E PRAIA GRANDE

Angra dos Reis é um município localizado no litoral sul do estado do Rio de Janeiro,
distante, aproximadamente, 140 km da capital fluminense, entre os municípios de Mangaratiba e
Paraty. A sua localização geográfica é particular, pois situa-se entre as regiões metropolitanas do
Rio de Janeiro e de São Paulo, além do estado de Minas Gerais. O seu território também está
compreendido entre o Oceano Atlântico e a Serra do Mar, fato que favorece a sua diversidade
ecológica e paisagística, sendo esta complexa área cientificamente denominada, por Ab'Saber
(2003), de domínio morfoclimático dos Mares de Morros.
A população do município de Angra dos Reis, segundo o IBGE (2010) é de,
aproximadamente, 169.511 habitantes, ou seja, aproximadamente 1% da população do estado
fluminense, estando essa população distribuída em seus bairros dispostos ao longo da rodovia BR-
101.
Em sua Economia, pode-se mencionar a importância do setor terciário, de comércio e de
serviços. Entre eles, evidenciam-se o Turismo e as atividades correlatas importantes ao município
de Angra dos Reis. Outras atividades econômicas significativas são: a produção de energia nuclear,
o armazenamento e o transporte de petróleo, além da indústria naval.
Em se tratando da regionalização turística do estado do Rio de Janeiro, Angra dos Reis
pertence a Região da Costa Verde, que, por sua vez, também abrange os municípios de Paraty, Rio
Claro, Mangaratiba e Itaguaí. Particularmente em Angra dos Reis, a presença da mata atlântica e do
litoral recortado, favorece-a com paisagens de forte apelo turístico.
Com relação à origem do Turismo em Angra dos Reis, é necessário reportar-se à década de
1970, período de governos federais (militares, à época), pois eles planejaram grandes
empreendimentos para o município, como a BR-101 (Rio-Santos); Central Nuclear Almirante
Álvaro Alberto – CNAA; Terminal da Baía da Ilha Grande – TEBIG. A implementação desses
projetos, influiu diretamente na Economia, como na organização espacial do município.
No caso particular da BR-101, essa obra foi determinante para o desenvolvimento do
Turismo no sul fluminense, assim como para a indústria, pois possibilitou acesso à região, antes
praticamente isolada. Com a sua construção, foi possível viabilizar a implementação da Política
Nacional de Desenvolvimento do Turismo, nas décadas de 1970 e 1980. A rodovia ainda estimulou

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a instalação de equipamentos turísticos como hotéis, pousadas, segundas residências, garantindo a


implementação definitiva do Turismo na região da Costa Verde.
Na década de 1990, o Turismo estava consolidado em Angra dos Reis, inclusive a sua
exposição tornou-se constante na mídia, destacando as suas ilhas, praias, e belezas naturais. Os seus
atrativos atraem fluxos de turistas da classe mais abastada (empresários, artistas e políticos), em
condições de adquirir imóveis ou hospedar-se em resorts na baía da Ilha Grande. Por outro lado,
turistas com menor condições econômicas concentram-se na parte continental, ou, ainda, em
campings ou pousadas menos sofisticadas da Ilha Grande.
Na parte continental, localizam-se as duas praias objetos deste estudo; ambas foram
escolhidas por polarizarem o maior fluxo de turistas em seus respectivos setores do município de
Angra dos Reis. A Praia Grande, com 500 metros de extensão, localiza-se a apenas quatro
quilômetros do centro da cidade, no Corredor Turístico da Estrada do Contorno, sendo frequentada
por turistas e por moradores. A Praia da Biscaia, com 600 metros de extensão, está localizada a
vinte quilômetros do centro, no Corredor Turístico da Ponta Leste, e recebe maior número de
turistas nesse setor do município.

Figura 1: Localização das Praias Grande e Biscaia em Angra dos Reis, RJ


Fonte: Autores

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METODOLOGIA

No desenvolvimento do projeto, adotou-se o método quali-quantitativo, a pesquisa


bibliográfica e entrevistas estruturadas. Ao que se refere aos procedimentos metodológicos, a
primeira etapa consistiu em uma pesquisa bibliográfica para delinear teoricamente o embasamento
pela qual a pesquisa seria realizada. Consultou-se materiais bibliográficos de autores, dentre os
quais: Baptista Neto (2011), Dib-Ferreira (2005), Moraes (1999), Murray e Cowie (2011), Tundisi
(2005), Urry (2001), Pearce (2003), Cruz (2003), Rejowski (2002).
Em seguida realizaram-se estudos de campo nas Praias Grande e Biscaia, nos dias 03 de
janeiro e 13 de março, verão do ano de 2016. Nestes trabalhos de campo, aplicou-se vinte
entrevistas por praia em cada dia de coleta, ou seja, quarenta entrevistas em cada praia durante o
período de pesquisa, assim perfazendo um total de oitenta entrevistas com os turistas presentes. Os
turistas presentes nas praias estudadas, foram selecionados aleatoriamente, de modo a possibilitar
confiança à amostra. A coleta de dados compreendeu somente os não residentes no município de
Angra dos Reis, assim como entrevistou-se somente maiores de dezoito anos.
As questões presentes nas entrevistas, versaram sobre a percepção do entrevistado em
relação à presença ou não de lixeira nas praias; que tipos de lixo identificava; como processava o
seu lixo na praia; sua observação sobre como os outros processavam o lixo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Praia Grande:

No dia 03 de janeiro na Praia Grande, primeiro dia de coleta de dados, todos os vinte
entrevistados relataram que não presenciaram coleta de lixo nem lixeira ao longo da Praia. Os
resíduos constituídos por plásticos, como sacolas e copos, são predominantemente observados no
período de permanência na praia. No que se refere ao tratamento dado ao seu próprio lixo, quinze
entrevistados relataram que os resíduos que são produzidos por eles são encaminhados até as faixas
de areia das pousadas onde estão hospedados. Nesse período, somente cinco entrevistados disseram
recolher o próprio lixo e levarem-no até o carro. Todavia, na prática, dezoito do total de vinte
pessoas entrevistadas deixaram os resíduos produzidos na areia, portanto, somente duas os
recolheram. É importante ressaltar que dezoito entrevistados observaram que o esgoto produzido na
praia é destinado ao mar, enquanto apenas dois entrevistados relataram a existência de sumidouros
existentes nas pousadas onde estão hospedados.
No segundo dia de entrevistas, realizadas no dia 13 de março, ainda na Praia Grande, do
total de vinte entrevistados, quinze relataram que não presenciaram coleta de lixo ao longo da Praia,
enquanto os outros cinco afirmaram observar lixeiras nesse local. Os resíduos observados nesse

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período, além de serem predominantemente constituídos por plásticos, como sacolas e copos,
também são incrementados pela presença significativa de latas de bebidas e de cigarros. Sobre a
ação dos entrevistados em relação ao seu próprio lixo, sete entrevistados relataram que os resíduos
produzidos por eles são encaminhados até as pousadas onde estão hospedados. Três entrevistados
disseram que levam o seu lixo até o carro. Seis entrevistados relataram que levam o lixo para casa
onde estão hospedados. Quatro entrevistados relataram que deixam seus resíduos na lixeira. No
entanto, observou-se que esse total de entrevistados, na realidade, deixou os resíduos que eles
produziram na areia. Em relação ao destino final do esgoto, dezesseis entrevistados observaram que
os esgotos produzidos na borda da praia são lançados no mar, enquanto quatro observaram a
existência de sumidouros.

Praia de Biscaia:

No dia 03 de janeiro, primeiro dia de coleta de dados na Praia da Biscaia, constatou-se, por
meio das entrevistas, que, praticamente, todos os entrevistados, dezenove de 20, não identificaram a
existência de lixeira ao longo dessa praia. Logo, somente um entrevistado observou a existência de
lixeiras. Os resíduos observados ao longo da Praia são predominantemente compostos por resíduos
plásticos, como sacolas e copos, seguidos por garrafas de vidro e latas em grandes proporções. Em
relação ao tratamento destinado ao próprio lixo, doze entrevistados afirmaram que levam o lixo
produzido para as pousadas, seis relataram que o levam para a casa onde estão hospedados e,
finalmente, dois entrevistados relataram que o levam para o seu próprio carro. Apesar de inúmeros
turistas responderem que recolhem o lixo, constatou-se que apenas cinco entrevistados realizaram,
de fato, esta prática, pois a maioria deixou os resíduos na areia. Sobre o esgoto produzido nessa
Praia, quatorze entrevistados relataram que são lançados no mar, três afirmaram que não sabem
sobre o destino final do esgoto produzido, enquanto três entrevistados observaram a existência de
sumidouros próximo às pousadas.
No monitoramento realizado no dia 13 de março ao longo da Praia da Biscaia, constatou-se
que nenhum dos entrevistados observou lixeiras nem coleta de lixo nesse recinto estudado. Assim,
como no primeiro monitoramento realizado nessa praia, os resíduos observados nesse período
também são predominantemente constituídos por plásticos, como sacolas e copos e incrementados
por latas de bebidas e cigarros. Ao responder sobre o tratamento dado ao seu próprio lixo, sete
entrevistados relataram que levam o lixo para pousada; outros sete disseram que descartam o lixo
em lixeiras, quatro pessoas afirmaram que levam o lixo para a casa onde estão hospedados. Embora
tenham relatado esses destinos para os resíduos, observou-se que todos os entrevistados deixaram
este material na areia. No que se refere ao esgoto produzido na Praia, quinze entrevistados disseram

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que observam o descarte do esgoto produzido na área da coluna d‘água no mar, e cinco observaram
a presença de sumidouros ao longo da praia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho teve o intuito de estudar a influência do Turismo local em relação ao descarte
de resíduos nas Praias Grande e Biscaia, situadas na parte continental do município de Angra dos
Reis, já que os resíduos constituem uma perigosa ameaça aos ecossistemas marinhos e costeiros,
podem causar uma série de danos à biota local e contribuir para a degradação desses ambientes.
Pôde-se concluir que, nas Praias Grande e da Biscaia, há um processo de poluição constante
por parte da atividade turística local, pois a maioria dos frequentadores descarta o lixo produzido na
faixa de areia e promovem, assim, o aumento da quantidade dos resíduos sólidos nesses ambientes
praianos.
Nesse processo de poluição, observou-se que os resíduos plásticos são predominantes,
seguidos por latas, vidros, cigarros e outros tipos de materiais que, geralmente, possuem grande
durabilidade e, por isso, demoram muito tempo para se degradarem.
Especificamente sobre os plásticos, eles representam o resíduo sólido mais encontrado nos
ambientes costeiros e causam sérios danos à flora e à fauna desses ecossistemas. Os plásticos
possuem baixa densidade e são transportados facilmente por longas distâncias. A sua decomposição
pode levar séculos para acontecer, o que significa um tempo maior de permanência no ambiente.
Merece relevância o fato deque, além dos resíduos sólidos, a maioria dos entrevistados
percebeu a emissão de esgotos no mar provenientes de habitações e equipamentos turísticos de
alimentação e hospedagem, localizadas na orla dessas praias.
Por fim, destaca-se que significativa maioria dos turistas entrevistados descartam o lixo
produzido na própria areia da praia, algo diferente do que relataram quando entrevistados. Esse
comportamento, contribui para o contínuo processo de poluição desses ambientes de praieiros.

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ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 954


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

O USO DE TRILHAS NO MORRO DA BOA ESPERANÇA E NA CAVERNA DO


MAROAGA, AM, BRASIL

Paula Nardey Moriz de VASCONCELOS


Docente do curso de Turismo da Faculdade Metropolitana de Manaus – FAMETRO
paulanardey@yahoo.com.br

RESUMO
Considerando que o uso de trilhas em áreas naturais tem sido utilizada como via de condução, para
contemplação da natureza, recreação e para a prática do ecoturismo e turismo de aventura, é
evidente que podem possibilitar uma alternativa para mostrar a importância do olhar e entendimento
do homem para a natureza e sua conservação bem como aquisição de valores e suas inter-relações.
O trabalho objetiva-se trazer reflexões sobre o uso de trilha interpretativa que desperte a
valorização, a maneira de sentir, ver e conservar a natureza a partir de visitas técnicas de discentes e
docentes na Caverna do Maroaga bem como a identificação dos principais pontos estratégicos da
trilha principal do Morro da Boa Esperança para parada e interpretação e seus aspectos históricos.
Para tanto, procede-se à metodologia pesquisa qualitativa, entrevista estruturada e visitas técnicas
de discentes e docentes no Morro da Boa Esperança e na Caverna do Maroaga, ambos localizados
em São Gabriel da Cachoeira e Presidente Figueiredo respectivamente. Desse modo observa-se que
a pesquisa possibilitou a verificação do atual estado da trilha, identificação de algumas espécies
relevantes do entorno e a ausência de manutenção e conservação da mesma além de que as visitas
não respeitam o suporte de carga e as atividades com retorno econômico para a comunidade é
mínima.
Palavras-chaves: Trilhas, Morro da Boa Esperança, Caverna do Maroaga, Amazonas

RESUMEN
Considerando que el uso de senderos en áreas naturales ha sido utilizada como vía de conducción
para la contemplación de la naturaleza, recreación y para la práctica de ecoturismo y turismo de
aventura, es evidente que pueden posibilitar una alternativa para demostrar la importancia de ver y
el entendimiento del hombre con la naturaleza y su conservación bien como a adquisición de
valores y sus interrelaciones. El trabajo tiene por objetivo traer reflexiones sobre el uso de senderos
interpretativas que despierte la valorización, la manera de sentir, ver y conservar a naturaleza desde
el punto de vista técnico de alumnos y docentes en la Caverna del Maroaga bien como la
identificación de los principales puntos estratégicos de sendero principal del Morro da Boa
Esperança para parada y interpretación y sus aspectos históricos. Así mismo se precede a la
metodología de investigación cuántica, entrevista estructurada y visitas técnicas de alumnos y
docentes no Morro da Boa Esperança y en l Caverna do Maroaga, ambos localizados en Sao Gabriel
da Cachoeira y Presidente Figueiredo respectivamente. De este modo se observó que la
investigación posibilito la verificación del actual estado del sendero, identificando algunas especies
relevantes del entorno y la ausencia de mantenimiento y conservación de la misma además de los
que visitan no respetan el soporte de carga y las actividades como retorno económico para la
comunidad es mínima.
Palabras-claves: Senderos, Morro de Boa Esperança, Caverna do Maroaga, Amazonas

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

INTRODUÇÃO

São Gabriel da Cachoeira é um dos 61 municípios do Estado do Amazonas, localizado na


região do Alto Rio Negro, no noroeste do Estado, mais especificamente na bacia do Alto Rio
Negro, no interior da maior floresta tropical do planeta. Faz fronteira com dois países latinos
americanos, Venezuela e Colômbia e sua criação data do ano de 1761. É considerado o terceiro
maior município do país em extensão territorial com 109.183 Km2 correspondentes a 7,18% da área
total do Estado, dos quais mais de 89,3% são terras indígenas demarcadas e regularizadas (IBGE,
2010).
Localizado na área urbana da cidade, o Morro da Boa Esperança é considerado um dos
atrativos naturais da cidade, onde é possível avistar desde o cume, parte da cidade, o Rio Negro,
ilhas e corredeiras. No entanto, não há sinalização e infraestrutura que possa melhorar o acesso e a
trilha em si. A existência de uma trilha interpretativa no morro facilitaria a interpretação ambiental,
o cuidado com o espaço visitado bem como a valorização e a conservação do mesmo, além de
propiciar uma adequada utilização da trilha, através de infraestrutura e sinalização turística,
permitindo uma maior interação e experiência entre o homem e a natureza.
Por sua vez a Caverna Refúgio do Maroaga e a Gruta da Judéia localizam-se no km 06 da
Rodovia AM-240, Estrada de Balbina em Presidente Figueiredo-AM. Trata-se do atrativo turístico
da Comunidade Maroaga (Km 07) mais visitado, com sua trilha circular de 2400 m de extensão.
Possui uma extensão aproximada de 3.747km² e insere-se em uma Área de Proteção Ambiental –
APA, criada pelo Decreto nº. 12.836, de 09/03/1990, e retificada pelo Decreto nº. 16.364, de
07/12/1994.
O trabalho trouxe reflexões sobre o uso de trilha interpretativa que desperte a valorização, a
maneira de sentir, ver e conservar a natureza a partir de visitas técnicas de discentes e docentes na
Caverna do Maroaga bem como a identificação dos principais pontos estratégicos da trilha principal
do Morro da Boa Esperança para parada e interpretação e seus aspectos históricos.

TRILHA INTERPRETATIVA: DEFINIÇÃO E IMPORTÂNCIA

O turismo em áreas naturais é desenvolvido a partir de atividades que utiliza o meio


ambiente como matéria prima. A trilha interpretativa, geralmente estruturada em parques urbanos e
unidades de conservação abertas a visitação pública, é uma das atividades proporcionadas pela
atividade turística no segmento turismo de natureza. Através de trilhas interpretativas criam-se
espaços para a promoção da educação ambiental, conservação e manutenção de áreas naturais.
Durante a visitação, além de ocorrer a interação homem versus meio ambiente, os recursos
naturais são realçados, como vegetação, solo, clima, entre outros e o conhecimento popular e

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científico tornam-se construções coletivas da sociedade. Bedim (2013) aborda a finalidade de uso
das trilhas interpretativas quando faz referência que esta estimula a sensibilização ambiental e a
construção de uma sociedade ecológica.

[...] as trilhas interpretativas são ferramentas interessantes e úteis no


processo de construção da cidadania ecológica. A Interpretação Ambiental,
por sua vez, busca informar e sensibilizar as pessoas para a compreensão
da complexa temática ambiental e para o envolvimento em ações que
promovam hábitos sustentáveis de uso dos recursos naturais.

A paisagem é uma ferramenta útil e didática que viabiliza e sensibiliza o homem a interagir
com o meio ambiente, além de conduzir a contemplação. Logo a trilha interpretativa, se traduz em
atividade educativa, com destaque para o ―contato direto com o recurso que se está interpretando;
este contato viabiliza novas experiências, além de revelar significados através do uso de objetos
originais‖ (BEDIM, 2013). Faz-se importante sensibilizar os visitantes sobre a importância da
conservação dos recursos interpretados, ―pois cada pedra, em cada pássaro, em cada galho, o sujeito
amplia conhecimentos, busca o crescimento pessoal e compreende melhor o mundo em que vive‖
(BEDIM, 2013).
Atualmente, as trilhas estão sendo utilizadas como um meio de maior contato com a
natureza, como é o caso da trilha interpretativa, que é considerada como tal quando ―seus recursos
são traduzidos para os visitantes, relacionando estes recursos com as paisagens, a flora, a fauna com
os seres humanos‖ (MEGHINI; GUERRA, 2008). O uso de trilha interpretativa mescla os aspectos
recreativos, lazer e o educativo, onde população e visitantes podem adquirir conhecimento e
sensibilização ambiental ―através de valores, de identificação com a paisagem, onde são enfocados
aspectos relativos ao sentir-se e ser parte‖ (GUIMARÃES, s.d.).
De acordo com Carvalho (2002) apud Campos (2006) a interpretação possui características
que devem ser seguidas tais quais:

1) prazerosa: sendo interessante, cativante, divertida, prendendo a atenção


da audiência, não devendo ter um ar de formalidade; 2) significativa: que
relacione o conteúdo da interpretação com algo que já conhecemos ou
vivenciamos; 3) organizada: ter uma estrutura coerente, sendo assim
acompanhada com facilidade, não exigindo muito esforço dos visitantes; 4)
provocante: fazer o visitante refletir sobre um fato que lhe é apresentado; 5)
diferenciada: elaborar programas interpretativos diversificados, pois os
visitantes possuem perfis diferentes; 6) temática: quando a interpretação
possui uma mensagem a ser comunicada.

São estas características que leva o indivíduo a aprender e interagir com o meio ambiente de
uma maneira lúdica, levando-o a repensar seu modo de ver e sentir o planeta, tornando-se
corresponsável pelo mundo ao seu redor. Por sua vez Andrade (2003) apud Campos (2006)
descreve os vários formatos de trilha:

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1) circular, que oferece a possibilidade de se voltar para o ponto de partida,


sem repetir o percurso ou cruzar com outros visitantes; 2) em forma de oito,
são muito eficientes em áreas limitadas, pois aumentam a possibilidade de
uso destes espaços; 3) linear, é o formato de trilha mais simples e comum,
geralmente seu objetivo é conectar o caminho principal, a algum destino
como lagos, clareiras, cavernas, picos, e outros, mas apresenta as
desvantagens do caminho de volta ser igual ao de ida, e a possibilidade de
cruzar outros visitantes.

Tais formatos direcionam o planejamento da trilha interpretativa, de acordo com a área que
será usada para tal finalidade, levando em consideração o uso turístico, o mínimo impacto ao
ambiente e a conservação dos recursos naturais. As trilhas interpretativas podem ser guiadas ou
autoguiadas. As guiadas permitem que o visitante obtenha informações através do conhecimento do
profissional chamado guia de turismo, onde ―ele acompanha os visitantes na caminhada, levando-os
a observar, sentir, experimentar, refletir, questionar e descobrir os fatos relacionados ao tema
estabelecido, estimulando com isso a participação do grupo‖ (CAMPOS; FERREIRA, 2006). Já as
autoguiadas utilizam a sinalização que indica aos visitantes os pontos para as paradas e demais
informações, que por sua vez é ―auxiliado por métodos de placas, painéis ou roteiros que contém
informações, explora o percursos sem o acompanhamento de um intérprete ou guia‖ (CAMPOS;
FERREIRA, 2006).
O funcionamento da trilha interpretativa tem uma estreita relação com a atividade turística e
com o ambiente e recursos naturais. Refletir, questionar e descobrir a relação que há entre o homem
e o meio natural e que este tenha uma postura ecológica, é umas das intenções de realizar esse tipo
de atividade e que traz benefícios econômicos, ambientais e socioculturais.

METODOLOGIA

As atividades de campo foram realizadas no Morro da Boa Esperança, localizado no


município de São Gabriel da Cachoeira (Figura 1) e na Caverna do Maroaga, no município de
Presidente Figueiredo (Figura 2). A pesquisa tem uma abordagem qualitativa, que leva em
consideração as experiências vividas de discentes e docentes nas visitas orientadas, como técnica de
ensino em que se compreende a prática como contextualização do processo ensino-aprendizagem
num curso de Turismo.

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Figura 1: Morro da Boa Esperança. Fonte: http://www.mapnall.com

Figura 2: Mapa de localização da Caverna do Maroaga.


Fonte: https://www.google.com.br/search?q=mapa+de+iranduba.

As atividades de campo em São Gabriel da Cachoeira foram realizadas a partir de uma


entrevista estruturada com o bispo de São Gabriel da Cachoeira, Dom Edson Damian, com o intuito
de obter dados e descrever um breve histórico sobre o Morro da Boa Esperança. Foi consultado o
projeto elaborado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Turismo na gestão do então
prefeito Pedro Garcia, intitulado Projeto de Recuperação da Trilha do Morro da Boa Esperança e o
parecer de viabilidade técnica referente ao projeto de Infraestrutura do Parque Municipal do Morro
da Boa Esperança no município de São Gabriel da Cachoeira, Amazonas, sendo pertinentes na
pesquisa por abordar localização, caracterização, sistemas de trilhas e sugestões de placas
informativas.
Na pesquisa de campo, juntamente com o guia de turismo Jovânio Normando foram
identificadas algumas espécies vegetais existentes ao longo da trilha principal, onde fazendo uso do
GPS foram tirados os pontos para posteriormente serem mapeados. Das espécies identificadas,

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quatro foram utilizadas e constam no mapa dos pontos estratégicos para parada e interpretação do
ambiente, assim como as cavernas e as estações da via crucis.
Na Caverna do Maroaga a pesquisa de campo foi através das disciplinas Geografia aplicada
ao Turismo e Agenciamento Turístico, ministradas no 3º período do curso de Bacharelado em
Turismo, onde os discentes fizeram uso da observação direta, pois na realização de uma visita
técnica a fim de aproximar a teoria da prática, Dencker (1998, p. 19) confirma que a ―observação é
um caminho que pode ser seguido, contribuindo para o reconhecimento da realidade
experienciada‖. Para tanto, a atividade deve ter um objetivo definido, planejamento, registro e deve
ser submetida a comprovações e controle de validade e confiabilidade. Além da observação, é
necessário que se faça a descrição, análise e síntese do fenômeno observado.
O objetivo das práticas para a disciplina de Geografia Aplicada ao Turismo foi a observação,
descrição e análise das características dos ecossistemas amazônicos, que tem despertado, nas
últimas décadas, a atenção de diversos segmentos da sociedade, promovendo, entre inúmeros
estudos, aqueles relacionados ao conceito de sustentabilidade e interação com a natureza. A
disciplina Agenciamento Turístico ficou responsável pela logística e planejamento da atividade,
levando em consideração o roteiro atualmente comercializado, oferta turística, relação homem-
lugar-natureza a partir do enfoque teórico sobre o turismo sustentável na natureza e suas práticas.

DISCUSSÃO

Trilha do Morro da Boa Esperança: identificação e aspectos históricos

A trilha principal do Morro da Boa Esperança da primeira estação da via crucis até o cume
tem 114 metros de altura e 573 metros de extensão (dados coletados a partir do uso de GPS). A
trilha é bastante utilizada no período da Semana Santa e esporadicamente por visitantes. Há 14
estações, formação rochosa e algumas espécies que foram identificadas ao longo da trilha principal
tais quais: Bertholetia excelsa (castanheira), Ischnosiphon spp (arumã), Astrocaryum aculeatum G.
Mey (tucumã) e Bactris gasipaes (pupunheira) e que são representativas da flora local.
A partir da identificação das espécies vegetais, das estações que simbolizam o trajeto de
Jesus antes de sua crucificação e a formação rochosa existente no Morro da Boa Esperança, foi
possível caracterizar os pontos estratégicos para parada e interpretação dos mesmos pelos visitantes.
Em cada ponto estratégico ter uma placa informativa sobre a espécie facilitaria o visitante interagir
e aprender de forma educativa sobre o meio ambiente (Figura 3).

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Figura 3: Pontos estratégicos para parada e interpretação. Fonte: HERBER, 2016.

O Morro da Boa Esperança está localizado na área urbana de São Gabriel da Cachoeira,
bairro Boa Esperança, pertence a Diocese, é frequentado por visitantes que vem ao município e pela
população no período da Semana Santa, quando a igreja católica realiza a via sacra no mesmo. De
acordo com o Plano de Diretor, a área do Morro da Boa Esperança é ―considerada uma zona
especial de interesse histórico-cultural‖ (GIRÃO; VASCONCELOS, 2010).
As atividades no Morro ligadas a igreja católica iniciou-se ―em 1955, acontecendo a
primeira via sacra, considerada tradicional na cidade‖, como afirma Dom Edson Damian (2016).
Anteriormente a essa data, de acordo com Alves (2007) ―o Morro da Boa Esperança era coberto de
plantações de bananeira. Embaixo, havia muito gado e plantações da Missão, como mandioca, cana,
batata doce e frutas‖ (Figura 4).

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Figura 4: Área de plantação da Diocese, próximo ao Morro da Boa


Esperança. Fonte: Diocese de São Gabriel da Cachoeira, s.d.

Azzi (2002) faz memória ao Morro da Boa Esperança e à estrutura existente até os dias
atuais, exaltando a beleza do atrativo natural e os indígenas que já habitavam por estas terras.

Existia nos fundos do terreno da missão uma colina de onde se divisava


uma vasta extensão da floresta, limitada nos confins por um grupo de
montanhas, onde se refugiavam muitas tribos de índios selvagens. No cume
dessa colina foi erigida uma capelinha a Jesus Crucificado, com a ideia de
se fazer na encosta as catorze estações da via sacra. [...] tudo seria para
tornar mais atraente aquele lugar, já por si adornado de panorâmicas
belezas.

A estrutura existente nos dias atuais data de ―1926 quando o Padre Bálzola abriu uma picada
até o cimo do morro, em linha reta e implantou uma cruz mais alta do local‖ (ALVES, 2007). As
quatorze estações da via crucis existentes ao longo da trilha principal fora construídas de azulejos
vindo da Itália e de concreto e algumas foram erguidas sobre rochas. Há uma escadaria que dá
acesso a uma ponte que separa a rocha onde se encontra a imagem de Nossa Senhora. A
manutenção e limpeza é uma parceria da diocese com a prefeitura.

Caverna do Maroaga: um olhar sobre a trilha e sua utilização turística e ambiental

A Caverna Refúgio do Maroaga e a Gruta da Judéia localizam-se no km 06 da Rodovia AM-


240, Estrada de Balbina em Presidente Figueiredo-AM. Trata-se do atrativo turístico da
Comunidade Maroaga (Km 07) mais visitado, com sua trilha circular de 2400 m de extensão.
Segundo o Plano Diretor Municipal Integrado (2006) possui uma extensão aproximada de 3.747km²
e insere-se em uma Área de Proteção Ambiental – APA, criada pelo Decreto nº. 12.836, de
09/03/1990, e retificada pelo Decreto nº. 16.364, de 07/12/1994.
O nome ‗Refúgio do Maroaga‘ foi dado em homenagem a um chefe indígena Waimiri-
Atroari, que segundo a lenda, teria ali se refugiado fugindo da perseguição dos brancos que utilizou
a cavidade como refúgio nas décadas de 1960 e 1970 durante o período de construção da rodovia
BR-174 – informação, também, fornecida pelos guias durante as visitações. No entorno da caverna
há várias espécies da fauna e da flora, e, considerável apelo cênico para a visitação, espécies
endêmicas e alto potencial para pesquisa.
Faz parte do patrimônio espeleológico como atrativo geoturístico do Polo de Ecoturismo do
Amazonas onde os princípios básicos do ecoturismo defende a interpretação ambiental, como
atividade de educação ambiental informal, valorização das populações locais e conservação do
patrimônio natural e cultural, conduzindo à reflexão das relações estabelecidas dos seres humanos
entre si e o ambiente para uma possível mudança de atitude e valoração do lugar. O que possibilita a
contextualização teórica de temas relativos à geografia e à relação Turismo e Meio Ambiente.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

O ponto inicial da trilha é marcado por um grande outdoor, com a identificação da APA,
facilmente avistado à margem da AM-240. A trilha percorrida até chegar à caverna e gruta é guiada,
ou seja, ―conduzida por um guia devidamente treinado para passar as informações técnicas de
fauna, flora e história [...]‖, possui suporte para 15 turistas (conforme orientação dos guias). É
―circular, do início ao fim da trilha, o turista não cruza com outros turistas nem repete o percurso‖ e
de curta distância sendo ―trilha de interpretação com caráter recreativo e educativo e até 2500 m de
extensão‖ (SANTOS, 2014, p. 122).
Quanto ao grau de dificuldade, conforme Santos (2014) seria extenuante, pois tem acima de
1500 m de extensão e exige esforço físico. Todas essas características foram percebidas pelos
discentes que descreveram as trilhas, cujas condições variam de acordo com as características do
tempo atmosférico, conferindo importância à relação entre o turismo e características climáticas de
um lugar. Em dias chuvosos não é apropriado visitações, o terreno tem muito aclives e declives e
fica escorregadio. Entretanto, acrescentam que o esforço da caminhada é compensado pela
contemplação das belezas naturais. Como pode ser analisado no relato de um aluno:

Inicialmente mata fechada de inúmeras árvores de todos os tipos e tamanhos


proporcionando uma bela visão [...], sensacional, experiência única. Na primeira trilha
encontramos um cipó típico da região o Cipó d‘água, caso você não tenha conhecimento
dele, talvez possa se enganar com outros cipós parecidos, basta cortar um pedaço de mais
ou menos meio metro, incliná-lo em diagonal que cairá água dele, assim nos contou o guia
[...]. Percorrendo cerca de 30 minutos com o incrível canto longo e massivo do Uirapuru de
repente, ouvimos o barulho de água e em seguida, baixando os olhos no movimento da
queda d‘água avistamos a entrada da Caverna, alivio com um banho de água bem gelada
depois de uma longa caminhada. [...] dentro da caverna rochosa de arenito encontramos
algumas perfurações da água que formam grandes galerias esculpidas pela natureza, com
direito a alguns morcegos sobrevoando nossas cabeças. O Guia [...] alertou que na caverna
não se pode fazer muito barulho pelo fato de estarmos no período de reprodução do Galo da
Serra (18 de outubro de 2014), pois existiam ninhos da ave na caverna. [...].

As narrativas fazem referência à Amazônia como fonte de recursos naturais, recorda os


relatos de Louis Agassis e outros viajantes quando visita a região amazônica, descrevendo as
belezas e biodiversidade. Por outro lado, aborda as dificuldades de acesso. Os discentes procuraram
relacionar, ainda que de maneira tímida, os conceitos discutidos com os aspectos físicos (tipo de
rocha, solo, micro-clima e vegetação) do ambiente da APA Maruaga.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Morro da Boa Esperança como área de uso público, com infraestrutura, sinalização
turística, manutenção da trilha principal, é uma maneira de valorizar a paisagem, atribuir valor ao
atrativo e permitir o contato do homem com a natureza, além de interação e interpretação ambiental
como fator importante durante a experiência turística. Através de visita in loco foram detectadas
deficiências que podem ser sanadas com políticas públicas voltadas ao turismo. Com o mapeamento
dos pontos estratégicos para parada e interpretação, percebeu-se que é possível realizar

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interpretação ambiental, desde que a espécie seja identificada e descrita, além de promover a
conservação do ambiente e dos recursos naturais existentes no Morro da Boa Esperança.
Com a breve descrição sobre o Morro, notou-se que a sua utilização é antiga, onde os alunos
do internato salesiano já o subiam como forma de lazer e oração e ao longo do tempo a igreja
começou a desenvolver práticas religiosas, como a procissão da semana santa. É um lugar que exige
esforço físico, porém ao chegar no topo, todo cansaço é recompensado com paisagens encantadoras
de São Gabriel da Cachoeira como avistar o Rio Negro, ilhas e corredeiras além de ser
contemplativo. Utilizar áreas naturais para desenvolver atividades turísticas, de forma planejada,
promove a conservação dos recursos naturais, garante a continuidade dos espaços naturais e a
educação ambiental.
Os usos turísticos dos recursos naturais de um lugar precisam contribuir tanto para a
conservação dos mesmos, através da interpretação ambiental, como para valorização cultural e o
benefício econômico para os habitantes locais. Partindo desse pressuposto, depreende-se que o
ecoturismo possibilite, de fato, a territorialização de uma atividade econômica sustentável.
Por outro lado, quando se analisa algumas práticas dos usos turísticos de atrativos naturais, é
notável o distanciamento entre a teoria e a prática. No Maroaga, as visitas não respeitam o suporte
de carga das trilhas e as atividades com retorno econômico para a comunidade é mínima, hoje
apenas com alguns guias. Deve ser ressaltado que a realização da visita técnica a esses ambientes,
serve como instrumento de análise das contradições teórico-práticas. Faz-se necessário aproximar as
discussões e pesquisas científicas das vivências. Mesmo com um discurso dentro de uma
perspectiva interdisciplinar, muito ainda deve ser considerado para formação de uma prática que
envolva todos os requisitos na realização do turismo na natureza, conduzindo ao envolvimento e
não ao (des)envolvimento do ambiente do lugar.

REFERÊNCIAS

ALVES, Edmar César. São Gabriel da Cachoeira – Sua Saga, sua história. Goiânia: Kelps, 2007.

AZZI, Riolando. As filhas de Maria Auxiliadora no Brasil: cem anos de história. 20 São Paulo,
2002.

BEDIM, Bruno Pereira. Trilhas interpretativas como instrumento pedagógico


para a educação biológica e ambiental: reflexões. Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP.
Disponível http://www.ides.unige.ch. Acesso em 14 de setembro de 2016.

IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo Agropecuário


2006. Disponível em http://www.ibge.gov.br. Acesso em 30 de setembro de 2016.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 964


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

CAMPOS, Ângelo Mariano Nunes; FERREIRA, Eduardo Antônio. A trilha


interpretativa da Vila do Americano – PA, Brasil: uma busca por conservação
ambiental. 2006. Revista Turismo em Análise, Vol. 17, n. 2, p. 155-169, novembro 2006.

Dencker, A. de F. M. Métodos e técnicas de pesquisa em turismo. São Paulo: Futura, 1998.

GIRÃO, Francisco Everardo; VASCONCELOS, Elísia Cristina. Parecer de


viabilidade técnica referente ao Projeto de Infraestrutura do Parque Nacional
Municipal do Morro da Boa Esperança no município de São Gabriel da
Cachoeira, Amazonas. 2010.

GUIMARÃES, S. T. L. Trilhas interpretativas e vivências na natureza:


reconhecendo e reencontrando nossos elos com a paisagem. Disponível em
http://www.ambiente.s.p.gov.br. Acesso em 20 de novembro de 2016.

MENGHINI, Fernanda Barbosa; GUERRA, Antônio Fernando Silveira. Trilhas


interpretativas: caminhos para a educação ambiental. 2008. VII Seminário de Pesquisa em
Educação da Região Sul. Univali: Itajaí, Santa Catarina. Disponível em http://www.univali.br.
Acesso em 19 de outubro de 2016.

Santos, R. (2014). Biogeografia Aplicada ao Turismo. In: ARANHA, R. de C.; GUERRA, A. J. T.


Geografia Aplicada ao Turismo. (Orgs.). São Paulo: Oficina de textos, 2014. p. 117-130.

Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Coord.). Plano Diretor Municipal Integrado. Presidente
Figueiredo/AM: SEMMA, 2006.

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Ambientes Urbanos e
Qualidade de Vida

© Antonio David Diniz

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ESPAÇO URBANO E MEIO AMBIENTE: UM ESTUDO DE CASO NOS BAIRROS


JANDUÍS E VISTA BELA – ASSÚ/RN

Aldi Nestor de SOUZA JÚNIOR


Pós-graduando em Geoprocessamento e Georreferenciamento – UCAM
aldi.jr@hotmail.com
Genilson Vieira MARTINS
Professor do Instituto Federal do Maranhão – IFMA
genilson.martins@ifma.edu.br
Thais Cristina de Souza LOPES
Doutoranda em Manejo de Solo e Água – UFERSA
thaiscristina13@hotmail.com
Samylle Ruana Marinho de MEDEIROS
Mestre em Ciências Naturais – UERN
samyllemedeiros@yahoo.com

RESUMO
O presente estudo objetivou analisar a percepção dos moradores da comunidade local residente nos
bairros Janduís e Vista Bela, Assú/RN, buscando entender as formas pelas quais eles observam as
mudanças ocorridas na paisagem, abordando aspectos relacionados à interação entre a comunidade
e o meio. O trabalho reflete opiniões coletivas a respeito do tema proposto, e ainda apresenta uma
conjuntura que favorece as proposições dos principais problemas observados pela comunidade. O
procedimento metodológico foi balizado na aplicação de questionários e análise da metodologia do
discurso do sujeito coletivo. Ademais, foram realizadas observações em campo e uma pesquisa
documental. Verificou-se que os moradores locais apresentam nos seus depoimentos proposições
que remetem a transição das mudanças no espaço urbano ao longo de tempo. Os resultados obtidos
evidenciam a análise dos problemas ambientais locais, sendo perceptíveis as condições de
questionamentos e vivência dos moradores locais.
Palavras-chave: Percepção Ambiental, Planejamento e Gestão, Meio Ambiente.
ABSTRACT
The objective of this study was to analyze the perception of the residents of the local community
living in the neighborhoods of Janduís and Vista Bela, Assú / RN, seeking to understand the ways
in which they observe changes in the landscape, addressing aspects related to the interaction
between the community and the environment. The work reflects collective opinions about the
proposed theme, and still presents a conjuncture that favors the propositions of the main problems
observed by the community. The methodological procedure was based on the application of
questionnaires and analysis of the discourse methodology of the collective subject. In addition, field
observations and documentary research were carried out. It was verified that the local inhabitants
present in their testimonies propositions that refer the transition of the changes in the urban space
over time. The results obtained evidenced the analysis of the local environmental problems, being
perceptible the conditions of questioning and experience of the local residents.
Key words: Environmental Perception, Planning and Management, Environment.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

INTRODUÇÃO

O pensamento acerca do meio ambiente como algo separado dos seres humanos representa
uma visão contraditória, recriada pelo mundo moderno. Qualquer atividade que os seres humanos
desenvolvam para a comunidade ecossistêmica os afeta inevitavelmente. A humanidade nunca
permaneceu isolada do resto da vida, e não poderia existir sozinha, pois ela depende das associações
complexas e íntimas que tornam a vida possível (KRONEMBERGER, 2011).
A declaração mais moderna do termo ambiente é o de condições ou influências através dos
quais qualquer pessoa vive ou se desenvolve. Nesta perspectiva, a percepção ambiental atenta ao
"espaço" e na integração dos conceitos que o representam. Seja do íntimo (ambiente pessoal),
intermediário (ambiente construído), ou ainda por meio de um espaço distante envolvendo o estudo
do mundo natural e o meio geográfico (HALAL, 2009).
A esse respeito, Dias (2009) apresenta que o conhecimento sistemático sobre a perspectiva
ambiental ainda está em construção e que a dimensão de ambiente perpassa um processo dinâmico,
e provavelmente nunca se venha a ter um conceito definitivo.
Apesar disso é de suma importância averiguar as vertentes de diferentes autores acerca da
dimensão ambiental. Com base nisso, o dicionário Oxford conceitua a percepção ambiental como
uma maneira pela qual um indivíduo percebe o espaço, e consiste no processo de avaliação e
armazenamento de informações recebidas sobre o meio ambiente.
Melazo (2005) menciona que essa concepção tem sido comumente definida como a
consciência, ou sentimentos sobre o meio ambiente, o ato de apreender o meio através dos sentidos.
Uma definição mais abrangente foi fornecida pelo psicólogo William Ittelson (1973) que descreveu
a percepção ambiental como um fenômeno multidimensional, em que apresenta uma técnica
transacional entre o indivíduo e o ambiente.
A formulação de Oseki e Pellegrino (2004) observa a psicologia ambiental como as
respostas comportamentais aos padrões de estímulos desenvolvidos entre os intervalos dos
elementos desejados e os não desejados pelas pessoas, ou seja, é o processo de estudar as transações
entre sociedade e ambiente. Essa ciência demonstra que o ser humano não deve ser passivo por
determinado ambiente em que está inserido.
Desse modo Kronemberger (2011) retrata que uma questão crucial na psicologia ambiental é
o modo como o homem percebe o meio ambiente e, em seguida, encontrar o caminho através dos
espaços entre os elementos.
Nesse contexto, a consciência ambiental pode ser analisada em o estudo da percepção
ambiental (coleta inicial de informações), a cognição ambiental (o armazenamento, organização e
compreensão da informação), e avaliação ambiental (verificação pessoal, o impacto emocional do
ambiente, atitudes, etc.) (DIAS, 2009).

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Quando se observa o cenário num contexto mundial, parece claro que a informação existe a
partir de estímulos do ambiente e isso pode interferir nos sistemas passivos do homem, porém
quando se busca estes estímulos, com base em expectativas cognitivas, eles são frequentemente
alimentados pelo poder emocional ou afetivo ligado aos sistemas de atitude e de valores, com isso a
forma perceptiva é extraída em sua essência (ALMEIDA, 2012).
Psicólogos ambientais sugerem que a percepção de um ambiente, é diferente da
compreensão de um único elemento porque (1) o estímulo do objeto refere-se às características
simples, ao passo que a percepção sobre meio ambiente é de grande escala, e demanda cenas mais
complexas; (2) o observador do meio é geralmente uma parte do sistema que está sendo percebido
e, certamente, se move no seu interior, ao invés de ser um observador passivo; e (3) muitas vezes, o
observador tem um objetivo claro no ambiente, e apresenta a abordagem mais naturalista
(OLIVEIRA, 2012).
Uma questão complexa em investigar transações ambientais com os indivíduos é a de
adaptação e conscientização. Muitas vezes o homem não é "consciente" a respeito do meio
ambiente, este fenômeno é algumas vezes chamado de "dormência ambiental" e, claramente,
levanta questões sobre a forma de estabelecer perguntas para se estudar a percepção de um grupo de
pessoas (MELAZO, 2009).
O aspecto mais preocupante está na compreensão do meio, porque os tomadores de decisão
baseiam seus julgamentos em sua forma perceptiva acerca do ambiente, em que algumas vezes não
está em concordância com a interligação existente entre ambos. A concepção da natureza inclui
sentimentos de vivência para um dado ambiente, uma ordenação de informações, e um
entendimento, porém subjetivo, do meio ambiente (ALMEIDA, 2012).
Neste trabalho considerou-se a percepção ambiental dos moradores como uma ferramenta
para analisar as questões ambientais vivenciadas pela comunidade, desencadeando uma posterior
identificação da caracterização socioambiental na área de estudo, que surgiram como resultado da
análise reflexiva da realidade local.

METODOLOGIA

As unidades empíricas de referência desta pesquisa foram os Bairros Janduís e Vista Bela,
localizados em Assú-RN. Cabe ressaltar que, o referido município está localizado no Estado do Rio
Grande do Norte, em pleno interior do Nordeste Semiárido, com uma população de 53.227
habitantes. Situa-se na mesorregião do Oeste Potiguar e na micro-região do Vale do Assú, e
compreende uma área de 1.297,5 km², equivalente a 2,43% da superfície estadual (IBGE, 2012).
A técnica de pesquisa utilizada fundamentou-se nos procedimentos da documentação
indireta e da documentação direta – intensiva e extensiva (MARCONI; LAKATOS, 2005). Além

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

disso, com o intuito de analisar a percepção ambiental da comunidade estudada, utilizou-se o


método de análise do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC).
O DSC retrata uma série de intervenções sobre a essência de depoimentos coletados em
pesquisas empíricas de opinião por meio de questões abertas, operações que redundam, ao final do
processo, em depoimentos coletivos confeccionados com extratos de diferentes depoimentos
individuais (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2006).
A pesquisa foi desenvolvida no período de Janeiro a Maio de 2014. Inicialmente as
atividades desenvolvidas foram direcionadas ao levantamento bibliográfico e documental.
Concomitante, foram elaborados e aplicados questionários semi-estruturados, com o objetivo de
realizar um diagnóstico situacional dos moradores locais contemplados pela pesquisa, para verificar
como os mesmos se identificam quanto às questões ambientais locais. Os participantes foram os
moradores dos bairros estudados. Ao todo foram ouvidos 150 moradores dos dois bairros. Adotou-
se como critério o tempo de residência desses no local, ou seja, optou-se por ouvir quem residia há
mais de dez anos nos bairros.
Por meio desta pesquisa observou-se aspectos relevantes na discussão dos problemas
ambientais definidos pelos diferentes atores sociais mediante a análise que foi realizada com os
moradores locais dos bairros estudados, pois isto faz parte do processo de percepção ambiental
inseridos nos pensamentos epistemológicos adquiridos pelo tempo de vivência.
Logo, o presente trabalho reflete as mudanças ocorridas no espaço urbano, a partir da
percepção dos moradores locais, visando identificar as implicações ambientais urbanas,
especificamente nos Bairros Janduís e Vista Bela na cidade de Assú/RN.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na compreensão de Miller Júnior (2008) a percepção ambiental pode ser visto como um
período de quatro modelos de estágios: uma resposta emocional; outra orientada, com a construção
de mapas mentais; a posterior classificando os tipos individuais em conformidade com a informação
recebida; e por último, uma organização como o indivíduo observa as causas e efeitos na
informação.
É importante conhecer as concepções e/ou as representações coletivas dos grupos de atores
sociais que causam ou atuam com problemas ambientais, sabendo que estas são ativas e se
transformam rapidamente. Nesse sentido, é importante identificar as representações individual e
social sobre ambiente, para que se possa conhecer e refletir sobre os conflitos entre ser humano –
sociedade – natureza.

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Numa perspectiva holística, as pessoas e o meio ambiente não devem ser divididos em
pequenas partes para análise, é necessário entender o modo como o ser humano percebe e reage a
totalidade do espaço (SANTOS, 2004).
Existe uma relação complexa sobre o espaço, tempo, lugar, e ponto de observação. Como o
indivíduo interpreta o cenário é com base na vivência e na compreensão do contexto da situação,
uma valorização do ponto de vista, suas limitações e na concepção dos "típicos" padrões de
comportamento (MARIN, 2008).
A psicologia ambiental compreende o alargamento dos horizontes e a concepção de uma
visão bem elaborada da inter-relação de causa, efeito, e influência, onde o indivíduo absorve a
sensação de interação, juntamente com a transformação (OLIVEIRA, 2012).
Alguns psicólogos ambientais afirmam que o comportamento das pessoas não é determinado
apenas por seus ambientes e que pode ocorrer uma mudança de comportamento ou de ambiente em
que vivemos, trazendo um aspecto fundamental da relação homem e natureza é que ambos está
continuamente sendo transformados (MELAZO, 2009).
Os seres humanos e o meio ambiente constituem um sistema único integrado, no qual os
homens entram em relações determinadas sociais se adequando a sua própria natureza. Portanto, os
seres humanos e a origem de suas relações, estão interligados ao meio ao qual está inserido. Diante
disso a importância de definir uma abordagem humanística e soluções para os problemas que
surgem a partir da interação entre o homem e a natureza (RUIZ, 2009).
As alterações ambientais físicas e biológicas ao longo do tempo alteram a paisagem e
comprometem os sistemas ambientais. Para Cardoso (2009) causas das modificações ocasionadas
no meio possuem inúmeras causas, algumas são naturais e outras antropológicas, consideradas
também não naturais. Essa questão tem sido agravada pela alteração na cultura das comunidades em
virtude do desenvolvimento tecnológico contemporâneo guiado por uma sociedade consumista.
Com base nos dados coletados foi possível constatar os Discursos do Sujeito Coletivo,
formados para as quatro perguntas realizadas e que foram divididos em 15 ideias centrais (IC) e
estão apresentados no Quadro 10.

Quadro 1 – Síntese das ideias centrais.


PERGUNTA IDEIA CENTRAL – (N1/N)
A) Como o Sr. (a) Um lugar onde se plantava (36/150)
descreveria a área dos Havia um riacho (34/150)
Bairros Janduís e Vista Área rural (22/150)
Bela há dez anos atrás? Poucas casas (17/150)
Um lugar tranquilo (14/150)
Menos desenvolvido (10/150)

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Muitas árvores (5/150)


Moro há pouco tempo aqui no bairro (8/150)
Não lembro (4/150)
B) Existem muitas Sim, não existe mais a natureza que tinha antigamente (41/150)
diferenças do cenário Sim, não se pode mais plantar (36/150)
atual? O que mudou? Sim, destruíram o riacho (34/150)
Sim, construíram muitas casas (17/150)
Sim, o bairro está mais desenvolvido (10/150)
Não sei/Não lembro (12/150)
Nota: N1: número de entrevistados que apresentaram a Ideia Central; N: número total de entrevistados.

A) Como o Sr. (a) descreveria a área dos Bairros Janduís e Vista Bela há dez anos atrás?
A descrição dos bairros há anos atrás é de extrema relevância para a análise da percepção
dos moradores locais. Ao extrair os discursos e as observações dos moradores, é possível identificar
as modificações da paisagem ao longo do tempo, e constatar os resquícios existentes no meio
natural e suas modificações oriundas da interferência antrópica.
A interação entre o ser humano e os elementos físicos e biológicos, constitui um espaço
sociocultural, ao passo que ele utiliza e provoca modificações aos elementos constituídos no meio, a
história é criada com o passar do tempo, e sua própria visão a respeito da natureza e do espaço em
que vive (KRONEMBERGER, 2011). Sobre esta ótica foi possível agrupar os discursos em nove
grupos.
Parte dos entrevistados, trinta e seis dos cento e cinquenta sujeitos da pesquisa descreve a
área há dez anos como um lugar onde se plantava: ―aqui era um lugar onde se plantava e dava de
tudo nessa terra. Tinha muitas plantações também porque as pessoas plantavam próximo à baixa
onde tinha água e a terra era boa pra plantar‖ (36/150). Um hábito tradicional dos moradores mais
antigos era o plantio próximo ao riacho que existia na época, atualmente grande parte da área foi
aterrada e ocupada por residências, o Plano Diretor do município denota como área de relevância
ambiental (ASSÚ, 2006).
Outro discurso apontado pelos entrevistados com relação à descrição da área era que havia
um riacho, sendo trinta e quatro sujeitos da pesquisa com essa afirmativa: ―assim que eu cheguei
aqui, faz uns 29 anos, era muito diferente tinha um riacho com água corrente, era limpinha, a areia
era grossa como de areia de rio e a água transparente, não existia roçado, nem os bairros que foram
criados aqui perto, isso foi bem depois. Era um palmo de água corrente e um matagal de um lado e
do outro. Quando chovia, a água descia rio a baixo e quando terminava ficava o mesmo tantinho de
água. Lavava muita roupa, a gente fazia um buraco cavando um pouco a terra com as mãos sabe?

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Uma vez eu contei vinte mulheres no total lavando roupa. No outro dia a água já levava tudo e a
gente fazia tudo de novo. Os nossos filhos também iam pra tomar banho‖ (34/150).
Outro discurso de destaque referente a percepção dos moradores acerca do riacho que havia
no local, elencando aspectos até mesmo de lazer e recreação que existiam na área: ―Existia um
riacho que se formava pela água que vinha da terra, tinha um barreiro que sempre tinha água, isso
faz uns quinze anos e há mais tempo ainda tinha água corrente aqui porque o povo já me contava.
Agente ia jogar bola no campinho e depois tomávamos banho no barreiro que tinha bem pertinho,
era bom correr com os pés na areia, era como se fosse areia de rio (...)‖.
Dezessete sujeitos destacaram que existiam poucas casas na área: ―antes aqui era bem
diferente, tinha poucas casas e muito mato, tudo começou com o Conjunto Janduís e depois
começaram a construir várias casas‖ (17/150).
Rossetto (2003) aponta que o meio urbano pode ser compreendido como uma organização
social complexa conduzida pela construção de relações que se estabelecem entre suas partes, com
variáveis sociais, econômicas, físico-espaciais e ambientais. A sua acepção surge em função da
inclusão dos seus habitantes com o entorno. O que vem a destacar a relevância do planejamento e
da gestão ambiental como instrumentos capazes de direcionar de forma ordenada o uso e a
ocupação do solo urbano.
Como um lugar calmo também foi lembrado pelos entrevistados: ―eu descreveria como um
local tranquilo e seguro não se tinham problemas com assaltos e não era perigoso. A vida era boa e
o bairro muito calmo‖ (14/150).
Uma parcela significativa dos entrevistados descreveu como uma área rural: ―posso afirmar
que aqui basicamente era uma área rural e com características rurais adotadas pelos moradores‖
(22/150). É interessante avaliar a transição do ambiente modificado e constatar a trajetória do meio
rural para o urbano. Segundo Bruna, Alvim, Righi et. al., (2012) o detrimento ao meio natural e sua
transição para o urbano foi vinculada na concentração humana em locais específicos (aldeias, vilas,
cidades), a partir das necessidades desses agrupamentos e quanto maior, do mesmo modo era
tangível o nível de alteração no ambiente.
Segundo Botkin e Keller (2011) por meio do processo de alteração da paisagem dá-se inicio
a mudança de cenários e os efeitos sobre os resultados do processo de urbanização. Com o indício
das aglomerações urbanas, o meio natural foi transversalmente afetado pela construção de grandes
cidades que recriam um ambiente propício ao ser humano. Porém, ocasiona tantos outros problemas
como a adaptação de organismos que existiam em ambientes naturais e passar a conviver no espaço
urbano, como pragas que se expandem sem controle, além de inúmeros micro-organismos que
transmitem doenças.

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Como um lugar menos desenvolvido também foi lembrado pelos moradores: ―aqui era bem
menos desenvolvido do que se é hoje‖ e outro ainda afirmou ―hoje posso dizer que esse bairro está
desenvolvido e com mais oportunidades‖ (10/150).
Uma questão complexa em investigar transações ambientais com os indivíduos é a de
adaptação e conscientização. Muitas vezes o ser humano não é "consciente" a respeito do meio
ambiente, este fenômeno é por vezes chamado de "dormência ambiental" e, claramente, levanta
questões sobre a forma de estabelecer perguntas para se estudar a percepção de um grupo de
pessoas (MELAZO, 2005).
Uma parte dos moradores chegou a afirmar a existência de muitas árvores há alguns anos
atrás: ―aqui era cheio de árvores, tinha muitos cajueiros, e tudo foi retirado, íamos tirar o caju e
assar a castanha pra comer e fazer doce tinha muitos cajueiros, e outra coisa que a gente fazia era
remédio anti-inflamatório que dava pra ser feito com as plantas que encontrávamos no mato. Teve
um tempo que tiraram uma parte do cajueiro e começaram a construir as casas e também pra servir
de pasto para os animais‖ (5/150). Houve uma parcela discreta de oito entrevistados que moravam
há pouco tempo no local e quatro entrevistados que afirmaram não lembrar como era antes.
B) Existem muitas diferenças do cenário atual? O que mudou?
Ao serem indagados sobre as diferenças que existem na área de estudo há dez anos,
comparando com cenário atual e as modificações constatadas pelos moradores, verificou-se que a
maioria dos entrevistados afirmaram que: sim, não existe mais a natureza que tinha antigamente:
―sim, hoje não existe mais a natureza que tinha aqui antigamente. O que se vê é um lugar bem
diferente do que era antes, tudo mudou. Se eu não tivesse vivenciado como era aqui antes dizia hoje
que não era possível mudar tanto‖ (41/150).
Os sistemas ambientais possuem uma capacidade de suporte, que é definida como ―o
número máximo de indivíduos de determinada espécie que podem ser sustentados por um dado
ambiente, sem diminuir a capacidade do meio ambiente de suportar igual quantidade no futuro,‖
porém a degradação realizada a um determinado ecossistema ocasiona um desequilíbrio as vezes
irreversível (BOTKIN; KELLER, 2011, p.08).
Outro discurso demonstrado pelos sujeitos de que existia diferença do antigo cenário para o
atual foram que sim, aterraram o riacho: ―já não se reconhece mais o que era antigamente, hoje
existe a ―feiura‖ de um lugar aterrado onde deveria ser a passagem do rio, hoje tem casa dentro da
própria passagem do rio, aterraram o riacho, um lugar que deveria ser cuidado e não destruído‖
(34/150).
As características físicas, culturais, socioeconômicas e políticas de cada região estão
relacionadas com a vivência do ser humano adquirida com o seu espaço, sendo ela influenciada na
sua maneira de ser e agir. O julgamento desse processo permite saber sua e essência origem. A

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cultura a que cada qual pertence expressa a visão de mundo, hábitos, costumes e valores
socioculturais de uma determinada população (CARLOS; LEMOS, 2003).
Nessa linha de pensamento e nas expressões culturais que traduzem a nossa humanidade e
conformam uma sociedade, tem como característica marcante a conexão no espaço temporal. A
harmonia está vinculada na consciência do passado histórico entre o meio ambiente e o homem.
Trinta e seis sujeitos da pesquisa apontaram que sim, não se pode mais plantar: ―sim mudou
muita coisa não é? hoje não se pode mais plantar como antigamente‖ (36/150). É importante
ressaltar que os entrevistados através dessa perspectiva de que hoje não se pode mais realizar o
cultivo de plantas como antes foi perceptível na realização das entrevistas que os moradores
justificaram a expansão urbana a principal ferramenta de impacto do local, interferindo no
ecossistema existente na área, e degradando o solo através da impermeabilização do solo e a
degradação do corpo hídrico que jazia no local.
A ideia central de sim, o bairro está mais desenvolvido foi perceptível a dez sujeitos
atendidos pela pesquisa, e sim, construíram muitas casas é apontado por dezessete moradores. E
ainda, uma parcela discreta de doze sujeitos da pesquisa afirmou não sei/não lembro.
O pensamento mais adequado para discorrer sobre percepção ambiental compõe um
processo ativo, onde as pessoas buscam informações sobre o seu ambiente com base no que elas
precisam saber para seus projetos ou interesses atuais. Nesta linha de raciocínio, a cultura atua
como um guia ou roteiro, as crenças e comportamentos a compõem e retrata o tipo e a maneira que
o indivíduo encontra suas necessidades no meio ambiente (DIAS, 2009).
Portanto, faz-se necessário à construção de uma visão ampla e crítica da realidade ambiental
de cada região, na perspectiva de estimular reflexões e ações sobre os problemas e as
potencialidades locais (PHILIPPI JR.; MALHEIROS, 2012). Ao se considerar a percepção dos
moradores locais em relação ao lugar em que habitam busca-se também a compreensão dos
elementos que compõem a paisagem local e as modificações que estes sofreram ao longo do
espaço/tempo e a partir dessas percepções e identificar a degradação que sofreu o ambiente ao
longo dos anos.
Compreender e conhecer a realidade das condições urbanas da localidade é primeiro passo
para que os gestores adotem políticas públicas que viabilizem o crescimento dos bairros
preservando as condições ambientais, estruturais e socioeconômicas daquele local.

CONSIDERAÇÕES

Na nova tendência entre ser humano e natureza que se solidifica é imprescindível que se
tenha uma união entre sociedade e poder público, onde ambos são norteados pela implantação da
convivência harmoniosa com o meio. Neste pensamento apontam o forte compromisso e respeito

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com a valorização pessoal de todos os envolvidos, direto ou indiretamente, através de sua


responsabilidade social e ambiental.
Essa mudança de paradigma, mesmo apresentando forte viés de irreversibilidade, mostra-se
no momento, ainda, como uma transição do modelo firmado pelas políticas públicas direcionados
com exclusividades para o estabelecimento ideal desenvolvimento sustentável, porém por outro
lado que distingue também os valores que ultrapassam o ganho material, tais como os valores
sociais e a cultura.
Nesta perspectiva, as opiniões apresentadas pelos residentes demonstram as mudanças
perceptivas ocorridas ao longo do tempo e as modificações no meio ocasionadas pelo uso e
ocupação do solo. No tocante a este, conhecer a realidade local com base na percepção dos
moradores locais é eficaz para o conhecimento das questões ambientais urbana e suas implicações
ao longo do tempo.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

CONFORTO TÉRMICO HUMANO, ARBORIZAÇÃO E SAÚDE NO SEMIÁRIDO: UM


ESTUDO DE CASO DO CENTRO URBANO DE MOSSORÓ/RN

Ana Luiza Bezerra da Costa SARAIVA


ageopesquisadora@hotmail.com
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
Amanda da Mota ARAUJO
amandadamotaaraujo@gmail.com
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
Alfredo Marcelo GRIGIO
grigioma@yahoo.com
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte

RESUMO
O município de Mossoró, localizado no Estado do Rio grande do Norte tem como características o
clima semiárido e apresenta ao longo do ano altas temperaturas e poucas chuvas. Diante dessa
realidade, este trabalho tem como objetivo principal entender a relação existente entre os fatores
climáticos locais para com o conforto térmico humano, bem como, os possíveis problemas a saúde.
Para esta pesquisa foi realizado trabalhos de coletas de dados, por meio de entrevista e uso de
aparelhos de medição de temperatura e umidade do ar, os dados de temperatura e umidade relativa
do ar foram utilizados para aplicação das fórmulas do Índice de Calor (NOAA, 2016) e do Índice de
Desconforto Humano descrita por Ono e Kawamura (1991). Ambos os índices utilizados mostraram
convergência entre os resultados, pois, as suas classificações de mínimo e máximo na distribuição
das horas foram obtidas na mesma faixa horária, já os resultados da entrevista mostraram dados
preocupantes do quanto as fortes temperaturas influenciam no bem estar e na saúde da população.
Por fim, diante da realidade do município, das respostas dos entrevistados, bem como, dos
resultados dos índices estudados fica claro a importância de mais estudos voltados a essa temática,
assim como, pensar em alternativas como a arborização para o auxílio no processo de amenização
dos efeitos ocasionados pelas temperaturas elevadas.
Palavras chave: Conforto Térmico Humano. Saúde. Arborização.
ABSTRACT
The municipality of Mossoró, located in the state of Rio Grande do Norte has characteristics of
semi-arid climate and presents high temperatures and few rains during the year. Faced with this
reality, this work aims to understand the relationship between local climatic factors and human
thermal comfort, as well as, the possible health problems. For this research was carried out works of
data collection, by means of interview and use of temperature and humidity measurement
equipment, the data of temperature and relative humidity were used to apply the formulas of the
Heat Index (NOAA, 2016) and the Human Discomfort Index described by Ono and Kawamura
(1991). Both indexes showed a convergence between the results, because their minimum and
maximum classifications in the hours distribution were obtained in the same hour range, and the
results of the interview showed worrying data on how strong temperatures influence well-being and
health of the population. Finally, given the reality of the municipality, the responses of the
interviewees, as well as the results of the indexes studied, it is clear the importance of more studies
focused on this theme, as well as think of alternatives such as afforestation to aid in the mitigation
process effects caused by elevated temperatures.
Key works: Human Thermal Comfort. Health. Arborization.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

INTRODUÇÃO
No final do século XX a população mundial passou de predominantemente rural para
predominantemente urbana. No Brasil esse processo de migração ocorreu em meados da década de
1960 decorrentes do êxodo rural e a migração urbano-urbano. Nas décadas posteriores o
desenvolvimento ocorreu de forma acelerada e sem planejamento ou com um planejamento e gestão
inadequados para a nossa realidade, com consideráveis disparidades socioeconômicas e elevada
degradação socioambiental (MENDONÇA, 2003).
Para Pires e Ferreira (2014) o processo intenso e acelerado de urbanização no Brasil,
contribuiu para a formação de aglomerados urbanos por meio da especulação imobiliária e com isso
facilitou o acesso e ocupação de áreas inadequadas para a habitação. Com essa intensa urbanização
as cidades tornam-se grandes modificadores do clima local devido às atividades humanas
desenvolvidas, dentre elas a grande supressão de áreas verdes que dão lugar a áreas pavimentadas e
que podem alterar a temperatura local (GONÇALVES; CAMARGO; SOARES, 2012).
As atividades humanas influenciam na dinâmica climática, bem como o clima também
exerce influência sobre o homem, onde, devido o aumento populacional e o aumento das
capacidades tecnológicas/científicas, percebeu-se que o homem de fato tem influenciado o clima
principalmente em escala local (AYOADE, 1996).
Uma das consequências provenientes da capacidade do homem de alterar a temperatura
local, é que esse pode potencializar no desconforto térmico humano. Bartholomei (2003) considera
que o conforto térmico humano é relacionado com a sensação de bem estar do homem, onde, ao
longo de milhares de anos a evolução permitiu que o ser humano desenvolvesse mecanismos para
sua adaptação de forma a obter a sensação de bem estar.
O conforto térmico pode ser definido de melhor forma como sendo a ―combinação
satisfatória, num determinado ambiente, da temperatura radiante media temperatura do ar,
velocidade do ar e umidade relativa com as vestimentas usadas pelas pessoas nesse ambiente e a
atividade desenvolvida, resultando em sensação de bem-estar‖ (BARTHOLOMEI, 2003. p. 7).
O conforto térmico também pode ser analisado pelo aspecto pessoal, que leva em
consideração quando um indivíduo está em um determinado ambiente e esteja confortável com
relação a sua sensação térmica (XAVIER, 2000). Já o aspecto ambiental propõe o estabelecimento
de um estado térmico considerando as variáveis físicas, de modo que, um menor número de pessoas
esteja insatisfeito no ambiente (ISO 7730, 1994 apud XAVIER, 2000).
Nas últimas décadas os estudos sobre conforto térmico têm se mostrado de grande
importância, tendo em vista que busca compreender seu efeito sobre o homem principalmente o
aspecto da saúde, bem estar físico e mental. A forma da organização espacial da população pode
influenciar na existência de condições ou situações de riscos que, por conseguinte impactam na

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

saúde pública, tendo em vista que essa s condições potencializam determinadas enfermidades.
Logo, o surgimento de algumas enfermidades pode ser determinado por fatores tais como os
ambientais, os sociais, e culturais existentes naquele espaço (ARAUJO 2012).
Os ambientes quentes têm como características apresentarem condições ambientais que
acarretam na ocorrência de stress devido ao calor (LAMBERTS, 2016). De acordo com Araújo
(2012, p. 55) ―A intensidade das doenças provocadas pelo calor variam de leves (exantema cutâneo,
síncope, cãibras) a graves (exaustão, lesões, choque térmico ou insolação)‖. Qualquer pessoa pode
apresentar doenças acarretadas pelo calor, todavia, a associação entre outros fatores como
ambientais, características pessoais, condições de saúde e medicamentos pode potencializar esses
riscos (ARAUJO, 2012).
A OMS (2012) alerta que o calor excessivo é uma ameaça crescente à saúde pública, onde, a
cada grau centigrado acima de um determinado nível pode aumentar as mortes entre 2% e 5%. Os
grupos mais vulneráveis são os idosos, doentes crônicos, pessoas socialmente isoladas,
trabalhadores em ambientes expostos e crianças.
A arborização urbana por sua vez torna-se uma alternativa que pode contribuir com a
paisagem urbana e aspectos climáticos, pois a vegetação exerce um papel na diminuição da
incidência de radiação solar sobre a superfície, diminuição da temperatura do ar, aumento da
umidade relativa do ar, proporciona sombra, além de atenuar ruídos, diminuir a poluição do ar e
reduz o consumo de energia em regiões mais quentes (GONÇALVES; CAMARGO; SOARES,
2012).
Apesar das árvores serem vistas por muitas pessoas como despesas adicionais elas podem na
verdade gerar benefícios financeiros, pois além de comunidades mais confortáveis, melhorias no
ecossistema, diminuição da poluição do ar, existe a redução do consumo de energia, menos
enchentes e ainda aumenta o valor das propriedades (GARTLAND, 2010).
O município de Mossoró no Estado do Rio Grande do Norte está inserido no semiárido
brasileiro, onde, tem como características as altas temperaturas, o ar seco e a escassez de chuvas
(SARAIVA; VALE; ZANELLA, 2012). Sua média pluviométrica anual é de 772,7 mm, onde, as
chuvas concentram-se entre os meses de março a abril, sendo abril o mês mais chuvoso com média
pluviométrica de 180,1 mm e atingem valor mínimo entre agosto e novembro, sendo o mês de
outubro o mais seco com média de 2,3 mm (SARAIVA, 2014).
Considerando-se as características climáticas do município se faz necessário à realização de
pesquisas voltadas a entender a relação existente entre os fatores climáticos locais para com o
conforto térmico humano, bem como, os possíveis problemas a saúde que podem ocasionar. Esses
estudos podem contribuir para embasar metas e medidas que visem um ambiente mais
termicamente confortável para a população, no qual está incluso se pensar em um ambiente urbano

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arborizado para auxiliar no processo de amenização dos efeitos ocasionados pelas temperaturas
elevadas.

METODOLOGIA

O município de Mossoró situado no estado do Rio Grande do Norte possui uma área
territorial de 2.100 Km² com uma população e estimada em 288. 162 mil habitantes, limita-se com
os municípios de Tibau, Grossos, Areia Branca, Serra do Mel, Açu, Upanema, Governador Dix-sept
Rosado e Baraúna (IBGE, 2010) (Figura 1).
O local escolhido para esse estudo foi a Praça da Independência em frente ao Mercado
Público central, popularmente conhecido como a ―Praça do Mercado‖ a mesma apresenta um fluxo
intenso de pessoas por estar inserida na parte comercial do centro da cidade e uma cobertura vegetal
que abrange boa parte de toda a área da praça, entretanto o seu dossel apresenta ser mais espaçoso,
ou seja, por não ter uma copa completamente fechada ela permite entradas de luz solar (Figura 2).

Figura 1- localização do município e ponto de coleta.


Fonte: Relatório final PIBIC edição 2015/2016. Edital n° 008/2014-DP/PROPEG/UERN

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Figura 2- Vista aérea da Praça da Independência.


Fonte: Google Earth, 2017.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Esta pesquisa utilizou a escala espacial denominada microclima que segundo Mendonça e
Danni-Oliveira (2007), é a menor unidade escalar climática, sua extensão varia de 10 km a alguns
metros, podem ser citados como exemplos o clima de construções (sala de aula, apartamento) o
clima de uma rua, a beira de um lago etc.
A escala temporal utilizada para coleta de dados foi à escala horária, das 7 horas da manhã
às 17 horas da tarde do dia 24 do mês de maio de 2016. Ressalta-se que o mês de maio em Mossoró
faz parte do outono, onde, se caracteriza como a estação mais chuvosa do ano (MENDONÇA;
DANII-OLIVEIRA, 2007). Especificamente no dia da coleta dos dados chegou a chover e o céu
ficou parcialmente nublado boa parte do dia.
A coleta dos dados ocorreu por meio de aplicação de 77 (setenta e sete) questionários com
perguntas abertas e fechadas. O questionário foi adaptado de Saraiva, Vale e Zanella (2017) e
dividido entre as etapas de identificação da pesquisa, identificação do entrevistado, detalhes sobre o
ponto de coleta dos dados e por fim os detalhes gerais sobre o clima de Mossoró. Os questionários e
as coletas de dados climáticos temperatura do ar e umidade relativa do ar foram aplicados entre as 7
horas e às 17 horas da tarde.

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Os aparelhos utilizados foram o datalogger de temperatura e umidade (Impac - IP 747RH),


que foram acomodados em abrigos meteorológicos de madeira de 1,50m de altura, pintados de
branco e com espaços para circulação do ar na parte superior do abrigo onde os equipamentos
estavam instalados. Estes abrigos foram construídos com essas especificações com o objetivo de
evitar a radiação solar direta nos aparelhos e assim não haver influência nos resultados (SARAIVA,
2014).

Figura 3- Abrigo meteorológico localizado na Praça da Independência.


Fonte: Dados da Pesquisa, 2016.

Os dados de temperatura e umidade relativa do ar foram utilizados para aplicação da


fórmula do Índice de Calor – IC que segundo o NOAA (2016) esse índice é também conhecido
como temperatura aparente, ele combina a temperatura e a umidade relativa do ar e o resultado
consiste na temperatura que supostamente está sendo sentida no corpo humano (Tabela 1).

Tabela 1- Classificação do IC e seus efeitos sobre o corpo


Fonte: Adaptado de NOAA (2016). Tradução nossa.

Também foi calculado o Índice de Desconforto Humano – IDH, que é descrita por Ono e
Kawamura (1991), onde, Ta é a temperatura do ar e Td a temperatura do orvalho. IDH = 0,99Ta +
0,36Td + 41,5. Td é encontrado através da equação:

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Td = b*α (Ta, UR) sendo que α(Ta, UR) = a * Ta + In (UR)


a - α (Ta, UR) b + Ta
Sendo, a= 17,27 e b= 237,7 ºC. Após os resultados dos cálculos, eles podem ser
classificados de acordo com as suas respectivas classificações como pode ser visualizado na Tabela
2.

Tabela 2- Sensação de conforto térmico com base no Índice de Desconforto Humano- IDH
Fonte: Saraiva, 2014.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Análise do índice de calor e do índice de desconforto humano

Na distribuição horária ao longo do dia entre as 07hrs da manhã até 17hrs da tarde os
resultados dos Índices de calor demonstraram que Mossoró apresenta índices elevados desde a
manhã, uma vez que a partir do horário das 09hrs o IC já se apresentava acima de 32,2º C. Entre as
07hrs e 08hrs o IC registrado foi de 30º C e 31º C respectivamente, que de acordo com a (Tabela 1)
esse índice está classificado como ―Cuidado‖ e seus possíveis efeitos sobre o corpo podem ser a
fadiga, isso se combinado com uma exposição prolongada e a prática de atividades físicas.
Das 09hrs as 10hrs os índices são de 35º C e 36º C, que de acordo com sua classificação se
configura na categoria ―Extrema Cautela‖, onde, segundo a descrição pode ocasionar insolação,
cãibras ou exaustão devido ao calor, se combinado com a exposição prolongada e prática de
atividades físicas. Os horários mais críticos são os das 11hrs, 12hrs, 13hrs e 14hrs que são
encontrados os índices de 37º C, 38º C, 38º C e 37º C respectivamente.
A partir 15hrs os índices voltam a diminuir, mas ainda fazem parte da categoria ―Extrema
Cautela‖, sendo que as 15hrs, 16hrs e 17hrs os índices são de 34º C, 36º C e 34º C. Como se pode
perceber, ao longo de todo o dia todos os valores se encaixaram em apenas duas categorias que são
dadas de acordo com a classificação do NOAA (2016) que são as de ―Cuidado‖ e ―Extrema
Cautela‖.
Quanto ao Índice de Desconforto Humano o horário das 07hrs, 08hrs e 09hrs apresentaram
os índices de 76,8, 77,4 e 80 que para a classificação são considerados como ―Desconfortável
devido ao calor‖. Os horários das 10hrs as 14hrs apresentaram o IDH acima de 80, o que já se

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configura na sensação de conforto como ―Estresse devido ao calor‖, além disso, assim como no
Índice de Calor os horários mais críticos foram das 11hrs as 14hrs.
Para os horários das 15hrs as 17hrs o IDH diminui um pouco e volta para a categoria
―Desconfortável devido ao calor‖. Assim como o Índice de calor que os dados apresentaram-se
apenas em duas categorias o Índice de Desconforto Humano de Ono e Kawamura (1991) também
apresentou duas categorias as de ―Desconfortável devido ao calor‖ e ―Estresse devido ao calor‖,
sendo os pontos críticos para ambos os índices nos horários das10hrs as 14hrs.
Analisando os resultados de ambos os índices se percebe que os valores encontrados ao
longo do dia não apresentaram, em nenhum momento, resultados confortáveis. Porém, como será
visto adiante, durante a análise das entrevistas, foi possível encontrar dentre as respostas dadas
pelos entrevistados a classificação ―Confortável‖ o que só evidencia a importância de se aliar os
resultados dos índices de conforto térmico com a sensação térmica do indivíduo em estudos sobre
conforto térmico humano.

ANÁLISE DAS ENTREVISTAS

Foram realizadas 77 entrevistas no dia 24 de Maio de 2016, das 07hrs às 17hrs. Foram
entrevistadas 29 mulheres e 48 homens, com idade entre18 e 66 anos para mulheres, 17 e 76 para
homens.
Cada questionário aplicado continha 23 questões, dentre as quais se destacam as perguntas
referentes à sensação térmica (como se sentiam naquele momento) as opções de resposta estavam
de acordo com a categoria do IDH, ou seja, ―Estresse devido ao calor, Desconfortável devido ao
calor, Confortável, Desconfortável devido ao frio e Estresse devido ao frio‖ para que dessa forma
pudesse ser comparada a sensação do entrevistado com a resposta encontrada segundo o Índice.
Também foi feita a pergunta quanto à preferência térmica (como queriam estar se sentindo).
Referente à sensação térmica, das 77 pessoas que responderam 21 se sentiam ―Confortáveis‖
naquele momento, enquanto que 28 se sentiam ―Desconfortáveis devido ao calor‖ e 28 ―Estressados
devido ao calor‖ isso ao longo de todo o dia.
Para a preferência térmica 18 pessoas responderam que preferiam estar sentindo ―Muito
mais frio‖, 34 queriam estar se sentindo um ―Pouco mais frio‖ e 23 preferiam estar ―Neutro‖. As
perguntas quanto à sensação térmica e preferência térmica são subjetivas, pois levam em
consideração como as pessoas estavam se sentindo naquele momento e como queriam estar se
sentindo naquele momento e vários motivos físicos, psicológicos e relacionados ao vestuário podem
influenciar essa resposta.

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Das 77 pessoas questionadas se o forte calor gerava algum sintoma desagradável, 60


responderam sentir sintomas desagradáveis e os mais citados eram: dor de cabeça, mal estar,
estresse, cansaço e tontura, sendo que a maioria sempre pontuava mais de um sintoma. Três pessoas
com idades entre 45 anos a 64 anos relataram também que com o calor sentem alteração na pressão
arterial.

De acordo com Donaldson (et al., 2003) o calor pode induzir profundas alterações
fisiológicas o que pode levar a alterações na pressão arterial, essas alterações fisiológicas podem
ocorrer, pois com a elevação da temperatura o corpo tentará encontrar um equilíbrio térmico a partir
do aumento do fluxo sanguíneo o que pode sobrecarregar o coração e consequentemente levar à
trombose coronária e cerebral.

Além disso, os grupos mais suscetíveis a doenças relacionadas ao calor são as pessoas com
gordura elevada, usuários de medicamentos e álcool, até mesmo pessoas jovens e saudáveis quando
expostas a calor excessivo, tais como as geradas pelo trabalho em condições quentes e úmidas. Vale
ressaltar que os idosos e crianças também são grupos vulneráveis tanto a doenças quanto a
mortalidade ocasionada pelo forte calor (DONALDSON et al., 2003).

Quanto à pergunta sobre tomar medidas para driblar os impactos negativos da forte radiação
solar e do forte calor, 51 pessoas responderam que possuem práticas diárias em busca do conforto e
do bem estar, as principais medidas respondidas eram o uso de protetor solar, roupas de manga
longa e bonés, de modo que evite expor a pele aos raios solares. Isso mostra a consciência de boa
parte dos entrevistados quanto aos efeitos negativos que uma exposição solar sem a devida proteção
pode acarretar na saúde.
Ao final da entrevista foram perguntadas quais sugestões dariam para resolver o problema
do desconforto ocasionado pelo calor, e 41 pessoas responderam que a solução é a arborização,
quando perguntados se áreas arborizadas proporcionavam um ambiente mais agradável o ―sim‖ foi
unanimidade.

Nesse contexto, de acordo com Shams; Giacomeli; Sucomine (2009) a criação e manutenção
de espaços verdes urbanos são de fundamental importância, pois esses espaços podem auxiliar no
processo de mitigação do desconforto térmico que os cidadãos sofrem, além disso, é uma forma de
se tornar efetiva a utilização dos espaços públicos para a prática de lazeres sadios, socialização e
atividades para o bem-estar. Os espaços públicos precisam proporcionar condições de conforto
térmico para a população, pois só assim haverá o efetivo uso desses espaços que são de suma
importância para a qualidade de vida da população.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ambos os índices utilizados neste trabalho, apresentaram convergências em seus respectivos


resultados, pois as suas classificações de mínimo e máximo na distribuição das horas foram obtidas
na mesma faixa horária. Além disso, percebeu-se a importância de se aliar os resultados de índices
de conforto térmico humano com a sensação térmica do individuo nos estudos de conforto térmico
humano.
É importante destacar ainda que a pesquisa identificou que os índices aplicados mostraram
somente resultados desconfortáveis nos que diz respeitos aos níveis de calor e níveis de desconforto
térmico humano isso indica a necessidade de índices que se adequem mais ao contexto de clima
semiárido, onde, são comuns as altas temperaturas ao longo do ano, ou seja, é necessário o
desenvolvimento de índices de conforto térmico humano que levem em consideração essa realidade.

Os questionários demonstraram que ao longo do dia 66% das pessoas se sentiam


respectivamente ―Desconfortáveis devido ao calor‖ e ―Estressados devido ao calor‖ e apenas 27%
se sentiam ―Confortáveis‖. Ainda que o local escolhido tenha sido uma praça arborizada, vale
lembrar que a sensação térmica é uma questão subjetiva e como já mencionado leva em
consideração como as pessoas se sentiam naquele momento e vários motivos físicos, psicológicos e
relacionados ao vestuário podem influenciar essa resposta.

Ou seja, ao longo do dia foram entrevistadas pessoas que se encontravam em inúmeras


situações diferentes, como: estavam ali a trabalho ou simplesmente transitando, se no momento da
entrevista estavam em condições de repouso (em pé ou sentado) ou então em movimento, se estava
há muito tempo no sol ou à sombra, suas vestimentas, o ambiente em que estava há pouco tempo
antes da entrevista, o horário do dia em que ele respondeu suas características pessoais etc., logo,
todos esses fatores podem ter influenciado nas respostas.

Em relação a influencia das altas temperaturas para a saúde e o bem estar, uma parcela bem
significativa afirmou sentir sintomas indesejáveis apontando até mais de um sintoma o que é
preocupante, uma vez que, Mossoró é uma cidade naturalmente quente e são comuns às altas
temperaturas durante o ano.
Diante dos resultados tornam-se necessários mais estudos sobre o clima urbano de Mossoró
e suas influencias no conforto térmico humano e na saúde, como também fica claro diante das
respostas dos entrevistados a necessidade do próprio município em elaborar projetos de arborização
na busca de um ambiente urbano mais agradável e confortável para a população, tendo em vista que
muitas pessoas apresentam vulnerabilidades em temperaturas altas e o município tem como
característica o clima semiárido.

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ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 990


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

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ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 991


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O BAIRRO DO LIGEIRO NO MUNICÍPIO DE QUEIMADAS-PB NA PERSPECTIVA


DO AMBIENTE URBANO E A QUALIDADE DE VIDA

Aretuza Candeia de MELO41


Doutora em Recursos Naturais pela UFCG – Campina Grande/PB
tuzacm@gmail.com
Wesliene Trajano da SILVA
Graduada em Licenciatura Plena em Geografia pela UEPB – Campina Grande-PB
wtsilva@gmail.com
Aristeia Candeia de MELO42
Mestre em Gestão Educacional pela Universidade Internacional de Lisboa – Portugal
teiacmfip@gmail.com

RESUMO
O Bairro do Ligeiro localiza-se no Município de Queimadas localiza-se na Paraíba, na
Microrregião de Campina Grande, subdividido em Ligeiro I e II, este vem passando por
modificações e reorganizações espaciais, bem como seu processo de urbanização vem crescendo
proporcionando a institucionalição de novos equipamentos urbanos. Desde seu loteamento inicial na
década de 1980, decorrente da iniciativa privada, por meio dos antigos proprietários que criaram os
loteamentos residenciais. O Ligeiro vivenciou uma era ruralista que passou a ser classificado como
administração urbana. O objetivo central deste trabalho foi realizar um estudo sobre o Bairro do
Ligeiro a partir do aspecto urbano e socioambiental. Este buscou mostrar os principais aspectos
relativos ao processo urbano relatando que o lugar em questão se trata de um bairro (zona urbana) e
não mais de uma zona rural, demonstrando o surgimento de novos equipamentos urbanos que
ajudam a evidenciar tal transformação, mesmo que de forma modesta na perspectiva ambiental. A
pesquisa embasou-se no procedimento empírico investigativo por meio de entrevistas aberta, com
um público de 50 (cinquenta) entrevistados. Conclui-se que ao mesmo modo que se observa o
desenvolvimento urbano do bairro também se visualiza os problemas enfrentados pela população,
pois faltam muitos investimentos em infraestrutura, além dos serviços básicos a serem prestados a
população são escassos e precários, mesmo com a institucionalização de um espaço urbano
ambiental que vem apresentando certo crescimento urbanístico sem uma adequada qualidade de
vida.
Palavras chave: Modificações. Processo. Urbanização. Urbano. Socioambiental.
ABSTRACT
The Bairro do Ligeiro is located in the Municipality of Queimadas, located in Paraíba, in the
Microregion of Campina Grande, subdivided into Ligeiro I and II, which has been undergoing
spatial modifications and reorganizations, as well as its urbanization process. Institutionalization of
new urban equipment. Since its initial allotment in the 1980s, resulting from private initiative,
through the former owners who created residential subdivisions. Ligeiro experienced a rural era that
came to be classified as urban administration. The main objective of this work was to carry out a

41
Mestre em Teoria da Região e Regionalização pela UFPE - Recife/PE. Graduada em Licenciatura Plena em Geografia
pela FFCL de Patos-PB. Professora Titular do Curso de Licenciatura Plena em Geografia da UEPB - Campina
Grande/PB.
42
Graduada em Medicina Veterinária pela UFPB. Graduada em Licenciatura Plena em Geografia pela FFCL de Patos-
PB. Professora das Faculdades Integradas de Patos-PB.

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study about the Bairro do Ligeiro from the urban and socioenvironmental aspects. This research
aimed to show the main aspects related to the urban process, reporting that the place in question is a
neighborhood (urban zone) and not more than a rural area, demonstrating the emergence of new
urban facilities that help to demonstrate such a transformation, even if Environmental perspective.
The research was based on the investigative empirical procedure through open interviews, with an
audience of 50 (fifty) interviewees. It is concluded that, just as the urban development of the
neighborhood is observed, the problems faced by the population are also seen, since there is a lack
of investments in infrastructure, besides the basic services to be provided to the population are
scarce and precarious, even with the institutionalization of An urban urban space that has been
presenting a certain urban growth without an adequate quality of life.
Keywords: Modifications. Process. Urbanization. Urban. Socio-environmental.

1 INTRODUÇÃO

O Bairro do Ligeiro localizado no Município de Queimadas-PB se insere nessa mesma


conjuntura. O bairro vem passando por modificações e reorganizações espaciais, bem como seu
processo de urbanização vem crescendo proporcionando a institucionalição de novos equipamentos
urbanos. Desde seu loteamento inicial na década de 1980, por iniciativa privada, ou seja, por seus
antigos proprietários que criaram os loteamentos residenciais, foi quando começou a se desenvolver
urbanamente os equipamentos tais como serviços de saúde, áreas comerciais no varejo e atacadista,
escolas, entre outros. Porém, o Ligeiro viveu e ainda vivencia um impasse acerca de sua
classificação como zona rural ou zona urbana.
Em alguns cadastros na própria Prefeitura Municipal de Queimadas consta que o Ligeiro
ainda é nomeado como sítio, porém é evidente que isto é uma questão meramente de atualização, e
também, falta de interesse político, afinal este localidade trata-se de um bairro que se encontra entre
os municípios de Queimadas e Campina Grande, possuindo características urbanas e não mais rurais
(LOPES, 2006).
Pode ser considerado um bairro que apresenta qualidade de vida adequada à sua natureza ou
função para se viver. À vista disso, essas qualidades possuem como, por exemplo, a localização
espacial pelo fato de serem limítrofes com duas cidades os moradores pode usufruir dos serviços
essenciais tanto de Campina Grande como de Queimadas, como também o sistema público de
transporte que apesar de não ter uma qualidade excelente de maneira geral, que não se restringe
apenas ao bairro em questão.
O Ligeiro apresenta um espaço geográfico importante devido ser cortado pela BR 104 que
dá acesso a vários municípios do Agreste Sul paraibano. Esse estudo fomentou-se no objetivo de
estudo a partir de um ensaio dissertativo sobre o Bairro do Ligeiro no Município de Queimadas-PB
a partir do aspecto urbano. Este assim permitiu demonstrar um dos principais aspectos relativos à
pesquisa que foi a de relatar que o lugar em questão se trata de um bairro (zona urbana), e não mais

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um ―sítio‖ (zona rural), demonstrando o surgimento de novos equipamentos urbanos que ajudam a
evidenciar tal transformação, mesmo que de forma modesta.
O planejamento urbano é uma atividade que remete sempre para o futuro, é uma forma que
os homens têm de prever um acontecimento e a partir deste conhecimento se precaver. O
planejamento não é garantia de sucesso, mas um bom planejamento aumenta as chances das coisas
darem certo. O grande desafio é o esforço de imaginar o futuro, pois para pensar o futuro é preciso
que seja feita uma analise das condições atuais, de forma a poder antecipar alguns acontecimentos,
sendo assim esse processo de reflexão recebe o nome de prognósticos (CORRÊA, 1993).
Dentro da questão do planejamento urbano encontra-se, além disso, o aspecto do espaço
público e o espaço vivido, a exemplo disso pode-se observar em muitas cidades um fenômeno atual
que está em pleno desenvolvimento que é a construção de diversos condomínios fechados que
trazem a ideia do espaço privado dentro de um local que é público (a cidade), mas que por sua vez
estes condomínios vêm com a proposta de ―isolar‖ seus habitantes do ambiente de todos (o espaço
público), oferecendo-lhes o máximo de serviços possíveis dentro daquele determinado espaço.
Porém, a cidade é também um espaço que envolve várias classes sociais vivendo e
compartilhando do mesmo ambiente e equipamentos públicos. Pode-se considerar que o espaço
urbano é fragmentado e articulado, sendo constituído por diferentes usos e funções, reflexo das
relações que nele se estabelecem e ações complexas acumuladas através do tempo geradas por
agentes sociais concretos que produzem e consome espaço. Conforme Corrêa (1993):

As áreas residenciais segregadas representam papel ponderável no processo de reprodução


das relações de produção, no bojo do qual se reproduzem as diversas classes sociais e suas
frações: os bairros são os locais de reprodução dos diversos grupos sociais (p. 9).
É preciso considerar, entretanto que, a cada transformação do espaço urbano, este se
mantém simultaneamente fragmentado e articulado, reflexo condicionante social, ainda que
as formas espaciais e suas funções tenham mudado (p. 11).

Consequentemente, o espaço urbano não é estático, ele e todos os elementos que o


compreendem estão em constante construção, reconstrução e reordenação, com ou sem
planejamento, afinal a população urbana está crescendo rapidamente e em muitos casos de forma
não planejada pela gestão das cidades, devido essa dinâmica da sociedade o espaço urbano
capitalista torna-se também cada vez mais desigual (SANTOS, 1988).

2 MATERIAL E MÉTODO

2.1 Procedimentos Metodológicos

Para chegar aos resultados e as discussões propostos neste estudo, primeiramente foi
necessário realizar um levantamento bibliográfico através de pesquisa bibliográfica, acervos
particulares e institucionais, a fim de abordar os temas - espaço urbano e urbanização e

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planejamento urbano e segregação social, referenciado como artigos, livros, reportagens, papers
entre outros, que trataram sobre assuntos referentes à temática pesquisada ―Ambiente Urbano do
Bairro do Ligeiro no Município de Queimadas-PB e a Qualidade de Vida da População‖, assim
buscou-se fundamentar o trabalho a partir de atores que abordam essa temática, como Corrêa (1993)
e Santos (1988).
Na pautada do método utilizado que foi o fenomenológico, Espósito (1994, p. 17) diz:

A trajetória da pesquisa fenomenológica inicia-se com a pergunta norteadora. Ela é


que serve de abertura e de guia para o que se pretende investigar. Deve ser
elaborada de forma tal que permita dar início ao diálogo entre pesquisador e
garanta a liberdade tanto para a descrição do entrevistado quanto para que sejam
feitas novas formulações no transcorrer da conversa.

Este trabalho teve como destaque o ensaio dissertativo, baseado na fenomenologia do Bairro
do Ligeiro em Queimadas-PB sob a ótica do aspecto urbano, bem como localização geográfica,
fatores físicos, aspecto histórico, dinâmica populacional, estrutura econômica, aspectos
educacionais e sistema de saúde, todas essas questões levantadas contribuíram para conhecer
melhor o município, e assim, desenvolver de forma mais eficiente o estudo realizado.
Ainda nessa parte que correspondeu a pesquisa por meio da aplicação de entrevistas
realizadas com os moradores do Ligeiro, o qual foi de fundamental importância para o
desenvolvimento desses resultados. Foi realizada por meio de entrevistas com alguns moradores
mais antigos do bairro que conheceram a referida área no início do loteamento, com base no
conhecimento fenomenológico da comunidade investigada. Esse método é uma das práticas mais
consistente e real dos resultados em decorrência de levar o pesquisador o mais próximo possível dos
atores envolvidos e na busca da realidade vivenciada por esses.
Na pesquisa de campo foram aplicadas entrevistas, sendo este representado por 50
(cinquenta) pessoas. Todas as perguntas foram abertas, a fim de alcançar uma compreensão mais
realista e subjetiva, e dar mais ênfase aos resultados obtidos na pesquisa. Nesse item, também foram
realizados cortes das imagens do Google Earth da área estudada, além da técnica da fotografia
(imagem visual), no qual foi possível observar a paisagem e a dinâmica espacial do bairro.
Buscou informações em órgãos públicos, como a Secretaria de Infraestrutura de Queimadas
não obtendo êxito visto a escassez de dados referentes especificamente ao bairro, além do Plano
Diretor do Município que não aborda nenhum levantamento sobre a estrutura interna do Ligeiro.
Isso demonstra a dimensão da deficiência de informações e interesse por parte do Poder Público.
Partindo desses pressupostos, o presente estudo traz reflexões teóricas e subjetivas a respeito de
assuntos referentes às modificações espaciais, novos equipamentos urbanos e a organização espacial
do Bairro do Ligeiro.

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2.2 Área de Estudo - Bairro do Ligeiro em Queimadas-PB

O Bairro do Ligeiro localiza-se no limite entre o Município de Campina Grande (situando-se


a 10 km de distância da mesma), ao Norte e o de Queimadas ao Sul. Está a 124 km de distância da
capital do Estado da PB - João Pessoa, na Mesorregião do Agreste Paraibano e Microrregião de
Campina Grande. O Ligeiro é um bairro que pertence ao município de Queimadas, situando-se a
uma distância de 9 km do Centro Administrativo do município. O referido bairro localiza-se
exatamente entre os Distritos Industriais dos dois municípios. O Distrito Campinense situa-se
apenas a 2 km do Ligeiro e o Distrito de Queimadas localiza-se a aproximadamente 1,5 km (Fig. 1)
Figura 1: Localização do Bairro do Ligeiro entre os Municípios de Campina Grande e Queimadas

Fonte: AESA (2006) e Adaptado Google Earth (2016)

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A via principal de articulação que liga o Ligeiro as duas cidades limítrofes - Campina
Grande e Queimadas é a BR 104 que atravessa o bairro no sentido Norte-Sul. Esta BR é uma
importante ferramenta para o desenvolvimento do Ligeiro, na área correspondente ao município de
Queimadas, visto que, a mesma permite o acesso a muitas outras cidades em ambos os sentidos
(Norte-Sul e Leste-Oeste). Na área onde se localiza o Ligeiro existem vários reservatórios de água
de pequeno porte, porém alguns desses corpos d‘água se destacam devido se localizarem as
margens da BR 104 no sentido Oeste. Estes açudes fazem parte da história cultural do mencionado
bairro, haja vista, que existem neste local loteamentos as margens dos açudes.
Segundo relatos dos moradores da região, os mesmos afirmaram que três desses açudes foi
resultado da retirada de material para construir a estrada que interliga as cidades de Campina
Grande a Queimadas. Na época o órgão responsável pela construção da estrada era o Departamento
de Estradas de Rodagem (DER), que comprou as terras ao então proprietário Senhor Severino
Maciel. O surgimento destes três açudes foi consequência da construção da estrada, com a retirada
do material (areia, pedras entre outros) para a construção da BR 104 (Figs. 2 e 3).

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Figura 2: Ilustração dos açudes próximos aos loteamentos residências

Fonte: Adaptado do Google Earth (2016)

Figura 3: Espelho d‘água que surgiram após a Construção da BR 104 com resíduos nas margens

a c
Fonte: Silva (2016)

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O açude representado pela letra ―c‖ encontra-se atualmente totalmente coberto por uma
vegetação densa, na qual não é possível visualizar a água existente no mesmo. No início da
construção dos loteamentos os moradores que residiam no local utilizavam a água desse
reservatório para consumo humano, inclusive para beber, visto que na ocasião não havia o serviço
de água encanada, e até moradores de outras localidades rurais ás vezes quando pa ssavam a
caminho de Campina Grande paravam neste açude para pegar água.
Todavia, o que antes trazia benefícios para os moradores hoje esses representam problemas,
pois está bastante poluído, principalmente o açude representado pela letra ―a‖ e ―b‖, devido a
grande quantidade de resíduos sólidos depositados no local pelos próprios moradores, e a variedade
desses resíduos é imensa, que vai desde o lixo residencial, construção civil, dejetos humanos e de
animais; e até animais mortos, ou seja, os reservatórios se tornaram grandes depósitos de lixo.
Tal situação vem apresentando um impacto visual e ambiental, além do risco a população,
que vive no entorno destes açudes, que ficam expostos a essa poluição que gera transtornos como,
proliferação de insetos, roedores, animais peçonhentos, doenças, entre outros. Outro agravante é
que todos os açudes ficam muito próximos a residências, situação que oferece risco a população
residente em caso de transbordamento.
Existe ainda outro reservatório que também fica localizado próximo a BR 104, mas no
sentido Leste; este açude tem porte menor que os demais, durante um bom tempo este servia para
consumo humano dos residentes da localidade no início do loteamento. Segundo informações da
Senhora Maria de Lourdes Maciel o açude ―d‖ foi construído muito antes do loteamento pelo
proprietário das terras o Senhor ―Biu‖ Maciel com a finalidade de utilizar a água para consumo
humano (Fig. 4).

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Figura 4: Representação aérea do Google Earth e Imagem parcial do açude ―d‖

d
Fonte: Adaptado do Google Earth (2016) e Silva (2016)

Este açude serviu durante muito tempo para o consumo da água da população que residiam no Ligeiro antes e depois do loteamento, visto que a
água encanada só chegou a completar todo o bairro por volta de 1990. Porém, nos dias atuais este açude também se encontra completamente coberto
pela vegetação aquática, decorrente da eutrofização, que é um processo normalmente de origem antrópica (provocado pelo homem), tendo como
princípio básico a gradativa concentração de matéria orgânica acumulada nos ambientes aquáticos poluídos (BRASIL ESCOLA, 2014), decorrente da
má utilização pela população.

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Quanto aos relatos históricos, Brito (2010) diz que não se sabe ao certo a verdadeira história
da origem do nome do Bairro do Ligeiro, portanto especula-se que a toponímia deste bairro surgiu
em épocas passadas, no qual existia nesta localidade uma grande fazenda. Nesta fazenda havia um
boi muito bravo e as pessoas passaram a denominar a fazenda do boi ligeiro, pois tinham que
transitar rapidamente, depois foi resumido apenas para Ligeiro (BRITO, 2010).
Nas terras onde hoje se localiza o Ligeiro no Município de Queimadas em tempos pretéritos
esta área era ocupada por sistemas de uso ruralista, na qual predominavam a prática de agricultura e
criação de gado de modo extensivo, havia poucos espaços residenciais, apenas dos proprietários,
seus familiares e alguns empregados. Mas a partir de 1980 começou a formação da área urbana com
o surgimento de equipamentos urbanos, e entre os primeiros vieram os ambientes residenciais por
iniciativa dos próprios proprietários das fazendas que construíram os loteamentos.
A partir da determinação destes antigos ruralistas o uso de tais terras inverteu-se, acabando
com as práticas rurais. Os primeiros loteamentos que emergiram foi o Redenção, que fica localizado
no sentido Leste da BR 104, o Gama e o Tertuliano Maciel ambos no sentido Oeste da mesma BR,
denominados hoje respectivamente de Ligeiro I e Ligeiro II (Fig. 5).,

Figura 5: Divisão do bairro por loteamento do Ligeiro I e II através da imagem aérea do Google Earth do
Bairro do Ligeiro

Fonte: Adaptado do Google Earth (2016)

De acordo com a Senhora Maria José Silva (2014), uma das primeiras moradoras do
Loteamento Tertuliano e consequentemente do Ligeiro, relata que quando chegou a esta localidade
para residir não tinha nada aqui, nem água encanada nem luz, a água a gente pegava do açude, não
era muito boa não, mais era a opção que tinha naquela época, só tinha algumas casas e a Mercearia
de Nézio que vendia algumas coisas, mas a gente tinha que ir pra Campina pra poder fazer a feira
porque na mercearia não tinha tudo que a gente precisava.

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Estas declarações relatadas por Maria José Silva sobre como foi no início do surgimento do
Bairro do Ligeiro se identifica algumas mudanças ocorridas nesta localidade já no inicio da década
de 1980, se comparado com a atualidade do referido bairro percebe-se que houve um aumento e
crescimento considerável da área urbana e populacional em detrimento dos moldes das antigas
ocupações que eram ruralistas.
Pois, a área que antes possuía características rurais hoje se observa e visualiza-se
nitidamente numa região que está em processo avançado de urbanização, visto todas as
transformações ocorridas ao longo dos anos desde o seu loteamento, o que vem ocasionando a
implantação de novos equipamentos urbanos que vem se intensificando nos últimos anos. Para
Corrêa (2008):

No longo e infindável processo de organização do espaço o homem estabeleceu um


conjunto de práticas através das quais são criadas, mantidas, desfeitas e refeitas as
formas e as interações espaciais. São as praticas espaciais, isto é, um conjunto de
ações espacialmente localizadas que impactam diretamente sobre o espaço,
alterando-o no todo ou em parte ou preservando-o em suas formas e interações
espaciais (p. 35).

Ainda segundo Corrêa (2008), as práticas espaciais que também podem ser definidas como
modificações espaciais resultam da consciência que o homem tem da diferenciação espacial, que
por sua vez está vinculada a padrões culturais próprios a cada tipo de sociedade. Como também dos
diversos projetos oriundos de cada tipo de sociedade, que são feitos para tornar possível a existência
e a reprodução de uma atividade, ou de uma empresa, de uma cultura específica, étnica ou religiosa
ou até a própria sociedade como um todo.
É o que se pode perceber numa análise espacial do Bairro do Ligeiro, onde muitos espaços
que antes eram ocupados por outra atividade (agrícolas) é reorganizada para dar lugar à outra
ocorrendo essa modificação e reorganização espacial, por meio dos reflexos urbanos, bem como a
ocupação de espaços antes vazios sendo ocupados por edificações (loteamentos, comércio, serviços
entre outros). No decorrer dos últimos 16 anos o referido bairro vem apresentando um processo de
urbanização que vem se intensificando constantemente, seja pela aproximação com a cidade de
Campina Grande, ou quanto pelo próprio crescimento da cidade de Queimadas, enquanto um
espaço dinâmico que se vislumbra na expansão territorial e populacional.
O bairro em questão também vem passando por modificações espaciais, ou seja, foram e
está sendo construídos novos empreendimentos imobiliários tanto residências como patrimônios
públicos, a exemplo: a primeira praça que foi inaugurada no ano de 2011, que por sinal foi
construída no local onde havia outras construções antigas que foram demolidas para a sua
edificação, além de um quiosque e uma unidade do Sistema dos Correios.

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O Ligeiro também vem atraindo novos equipamentos urbanos através de empresários que ao
perceber o crescimento do bairro estão investindo em empreendimentos comerciais, residenciais e
de serviços, como é o caso de um centro de comércio de pequeno porte (shopping), prédios,
farmácia, restaurantes, lanchonetes e empresas que prestam serviços de internet (BRITO, 2010).
Esses equipamentos contribuem para a identificação dos elementos que caracterizam o
processo de urbanização do bairro. Então essa combinação do velho e do novo compõe a
organização de um lugar, embora o elemento mais antigo seja reestruturado e dotado com outra
funcionalidade ainda assim, ele não necessariamente desaparece por completo, pois tanto o velho
quanto o novo são elementos importantes e permanentes da história do lugar. De acordo com a
NBR 9.284 da Associação Brasileira de Normas e Técnicas (ABNT) citada por Moraes, Goudard e
Oliveira (2008, p. 98) conceituam-se equipamentos urbanos da seguinte maneira:

Os equipamentos urbanos, a infraestrutura e os edifícios industriais, comerciais e


de moradias constituem os componentes físicos básicos para a existência de um
bairro ou de uma cidade. A existência destes componentes físicos é considerada
como um fator importante de bem estar social e de apoio ao desenvolvimento
econômico, bem como de ordenação territorial e de estruturação dos aglomerados
humanos. Assim, a carência dos mesmos mostra as desigualdades sociais. Para o
desenvolvimento econômico e o bem estar da população é incontestável a
importância na cidade de todos os seus elementos constituintes e que estes atendam
com eficiência o propósito para o qual foram destinados. (p. 99).

O Bairro do Ligeiro paulatinamente está sendo dotado de novos equipamentos urbanos,


apesar de ser um processo lento não é estático e a cada novo elemento que surge contribui para a
melhoria da qualidade de vida dos moradores da referida área, além do desenvolvimento
socioeconômico. Assim, como já fora mencionado anteriormente, a organização espacial do meio
urbano caracteriza-se pelo conjunto de usos da terra que diferenciam o lugar em áreas, seja
comerciais, residenciais, educacional, industrial, de lazer, entre outras.
O espaço urbano é concomitantemente fragmentado e articulado e cada uma de suas partes
mantém relações espaciais com as outras, variando no tempo, espaço e na intensidade. Tais relações
revelam-se empiricamente por meio dos fluxos e deslocamentos cotidianos de pessoas, veículos,
mercadorias e serviços, entre as várias áreas da cidade. O que foi possível observar no Ligeiro é
justamente uma fragmentação dessas áreas, tendo em vista que no bairro não há uma grande
concentração no que diz respeito a cada área, e sim uma mescla distribuída por todo espaço urbano.
Em termos de pontos comerciais o Ligeiro ainda está em crescimento, dispondo de poucos
estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços. As primeiras mercearias no bairro foram de
um morador conhecido como Nézio, onde atualmente funciona um bar, popularmente conhecido
como Bar do Bode, que atrai muitas pessoas nos finais de semana e feriados não só do Ligeiro, mas
principalmente de outros bairros e cidades circunvizinhas, bem como algumas panificadoras.

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Hoje os moradores contam com outros empreendimentos como mercadinhos, dentre eles se
destaca um que existe no bairro há bastante tempo, que supre as necessidades básicas da população,
no qual se pode encontrar uma pequena variedade de produtos o que facilita o acesso da população
local aos produtos essenciais do dia a dia. Porém, caso necessite não é preciso se deslocar para
Campina Grande nem uma cidade circunvizinhos, que se apresentam em menor porte e de pouco
atrativos, já que depois de Campina Grande a cidade que mais tem influencia na região é
Queimadas.
Campina Grande sempre foi e continua sendo a principal rota comercial para os moradores
do Bairro do Ligeiro, desde que o atual espaço geográfico era ocupado por propriedades rurais até
os primeiros anos do surgimento dos loteamentos, os moradores que passaram a morar no bairro
citado recorriam a Campina Grande para fazer compras e utilizar-se dos serviços prestados na
Capital da Borborema. Na questão de emprego o Ligeiro não oferece muitas oportunidades por se
tratar de um bairro muito pequeno ainda com poucos estabelecimentos comerciais, assim como o
município de Queimadas, o que leva a maioria das pessoas procurarem emprego na cidade de
Campina Grande.
No bairro supracitado existem várias escolas. A comunidade do Ligeiro conta com algumas
escolas infantis particulares; um colégio municipal com um ginásio poliesportivo; um centro de
treinamento (Santa Maria Goretti, popularmente conhecido como Clube de Mães), onde são
realizados alguns programas sociais da gestão municipal de Queimadas, no qual também
eventualmente o espaço é utilizado para realização de festas particulares.
No ano de 2014 começou a funcionar uma escola estadual com o objetivo de transferir e
atender os estudantes principalmente do Ensino Médio, no entanto até então não havia ainda um
local com estrutura apropriada para atendê-los, anteriormente eles tinham que se deslocar para o
centro da cidade de Queimadas que fica há aproximadamente 9 km do bairro, ou para a Campina
Grande a uma distância de 10 km, ficando assim dependentes de transporte escolar para ambas as
cidades.
No que diz respeito à saúde, o bairro conta com apenas duas pequenas Unidades Básicas de
Saúde Familiar (UBSF), que funcionam exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Uma
das unidades fica localizada no sentido Leste da BR 104, responsável pelo atendimento dos
moradores residentes no Ligeiro I e a outra no sentido Oeste, cujo objetivo é realizar o atendimento
dos residentes no Ligeiro II, classificados como UBSF I e UBSF II (Fig. 7).
Figura 7: Localização das UBSF I e II

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Fonte: Adaptado Google Earth e Silva (2016)

Cada uma das unidades conta com um médico clínico geral, um enfermeiro, um técnico de
enfermagem, um dentista, um psicólogo e um acupunturista e também alguns Agentes Comunitários
de Saúde. A quantidade de domicílios atendidos por estas duas Unidades Básicas de Saúde são
aproximadamente 1.966 domicílios, segundo o último levantamento feito pelos Agentes
Comunitários de Saúde (2015), atualmente está sendo feito outro levantamento desses dados para
atualização desses números (Gráfico 1).

Gráfico 1: Quantidade de domicílios atendidos por UBSF I e II

Fonte: UBSF I e II do Bairro do Ligeiro, 2015

Esses números apenas representam quantitativamente os domicílios existentes no Ligeiro


nos quais existem famílias residindo e não representa a quantidade total de imóveis (ocupados e
desocupados) existentes no bairro e nem a qualidade deles. Segundo o Ministério da Saúde
(BRASIL/PAC/MS, s/d), os Serviços das UBS (Unidades Básicas de Saúde) são locais onde a
população pode receber atendimentos básicos e gratuitos nas áreas de pediatria, ginecologia, clínica
geral, enfermagem e odontologia.
Os principais serviços oferecidos pelas UBS são consultas médicas, inalações, injeções,
curativos, vacinas, coleta de exames laboratoriais, tratamento odontológico, encaminhamentos para
especialidades, fornecimento de medicação básica, acompanhamento de gestante e do bebê (pré-

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natal e puericultura), dispensação de medicamentos básicos, preservativos e contraceptivos; exame


preventivo do colo de útero, grupo de educação em saúde, imunização (vacinas), nebulização,
planejamento familiar e teste de gravidez (TIG).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Bairro do Ligeiro localiza-se ao Sul de Campina Grande e ao Norte de Queimadas, ás


margens da BR 104, que liga as duas cidades e dá acesso a vários municípios circunvizinhos, por
meio da presente pesquisa constatou-se que o referido bairro é uma área residencial, no qual não é
mais possível considerar o lugar como sendo uma zona rural ou sitiada, por apresentar nitidamente
aspectos urbanísticos e urbanos que uma urbs oferece. Paulatinamente o bairro destaca-se
administrativamente características urbanas, mas foi possível observar que algumas pessoas
insistem em manter costumes rurais.
Ao mesmo modo que se observa o desenvolvimento urbano do bairro também se visualiza
os problemas enfrentados pela população, pois faltam muitas obras de infraestrutura, como,
calçamento em diversas ruas, rede de esgotamento sanitário, levantamento, organização e
disponibilização de dados referentes ao bairro nos Órgãos Públicos do Município de Queimadas,
incentivo ao comércio local já existente e para outros se instalarem no intuito de desenvolver a
economia local, gerar mais emprego e atender as necessidades da população que ainda precisa se
deslocar para a cidade de Campina Grande ou para o centro do Município de Queimadas para
encontrar produtos e serviços que necessitam e não são disponibilizados no próprio bairro.
Conclui-se que no Ligeiro, os serviços prestados a população são escassos e precários,
mesmo com a institucionalização de um espaço urbano que se encontra em crescimento, os serviços
e outras formas atender as necessidades básicas deixam muito a desejar. Infelizmente o bairro vive
um impasse de jogo de interesses políticos, principalmente por duas famílias, Maciel e Rêgo, desde
muitos anos atrás, o que de certa forma dificulta o dinamismo do bairro. O processo de construção
do espaço urbano do Ligeiro está longe de terminar, mas aos poucos ele vai se formando e se
consolidando com todas as mazelas e impasses conjunturais, estruturais e de interesse político,
gestacional e operacional.

REFERÊNCIAS

AESA. Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba. Governo do Estado da
Paraíba. João Pessoa-PB: AESA, 2006. 89p.

BRITO, V. Apontamentos para a História do Município de Queimadas-PB. Boletim Informativo da


Sociedade Paraibana de Arqueologia. N. 43, jan/2010. Campina Grande-PB: 2010. 45p.

CORRÊA, R. L. Geografia: conceitos e temas. 11 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. 2008. 352p.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

O Espaço Urbano. 2 ed. São Paulo: Ática, 1993. 85 p. (Princípios).

Região e Organização Espacial. 2 ed. São Paulo: Ática. 1987. 89p. (Série Princípios).

ESPÓSITO, V. H. C. Pesquisa Qualitativa: modalidade fenomenológico hermenêutica - relato de


uma pesquisa. In: BICUDO, M. A. V.; ESPÓSITO, V. H. C. (Orgs.). A Pesquisa Qualitativa em
Educação: um enfoque fenomenológico. Piracicaba: Ed.Unimep, 1994. p. 81-93.

GOOGLE. Google Maps Satellite. Queimadas 3D map in Google Earth. Disponível:


http://www.maplandia.com/brazil/paraiba/queimadas/queimadas/queimadas-google-earth.html.
Acesso: 29/01/2016.

LOPES, A. C. F. Queimadas Seu Povo Sua Terra. 3 ed. Queimadas, 2006. 116p.

MORAES, A. F.; GOUDARD, B. & OLIVEIRA, R. Reflexões Sobre a Cidade, Seus Equipamentos
Urbanos e a Influência Destes na Qualidade de Vida da População. Revista Internacional
Interdisciplinar Interthesis, Florianópolis, v. 5, n. 2, p.93-103, nov. 2008. Disponível em:
<https://periodicos.ufsc.br/index.php/interthesis/article/viewFile/1807-
1384.2008v5n2p93/10881>. Acesso em: 16/02/2016.

SANTOS, M. Metamorfoses do Espaço Habitado. 3 ed. São Paulo: Hucitec. 1988. 119p.

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EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESPAÇOS PÚBLICOS: AS PRAÇAS E PARQUES


COMO FERRAMENTAS

Francielle de Siqueira CASTRO


Geógrafa Doutoranda em Geografia, na Universidade Federal de Uberlândia.
franciellesiqueiracastro@gmail.com
Maria Luiza FERREIRA
Geógrafa Docente em Geografia na rede pública e coordenadora do PIBID
luizageografia@hotmail.com
Marlene T. de Muno COLESANTI
Geógrafa Professora Doutora do, na Universidade Federal de Uberlândia
mmuno@ufu.br
Paulo Cezar MENDES
Geógrafo Professor Doutor do Instituto de Geografia, na Universidade Federal de Uberlândia
pcmendes@ig.ufu.br

RESUMO
A crescente preocupação com o ambiente tem gerado discussões em diversas áreas da ciência com a
busca incessante de novos modelos de desenvolvimento que garantam uma evolução sustentável.
Nesse cenário, os espaços livres e as áreas verdes ganham destaque, não só pelas funções social,
estética, ecológica, mas também por sua função educativa, cada praça e parque públicos espalhados
pela área urbana torna-se potencial ferramenta para Educação Ambiental. Dessa forma, este
trabalho objetivou contribuir para reflexões teóricas e metodológicas sobre as áreas verdes e os
espaços livres, com enfoque para as praças e parques inserindo-os como ferramentas na Educação
Ambiental. A investigação científica se deu em três etapas: a primeira contará com apontamentos
teóricos e conceituais; em seguida tratar-se-á da inclusão das praças e parques públicos como
ferramentas da educação ambiental; e por fim apresentação de uma metodologia de avaliação das
praças e parques, como sugestão para a prática da Educação Ambiental junto à sociedade.
Palavras chave: Educação Ambiental, áreas verdes, praças e parques.
ABSTRACT
The growing concern with the environment has generated discussions in several areas of science
with the unceasing search for new development models that guarantee a sustainable evolution. In
this scenario, free spaces and green areas are highlighted not only by social, aesthetic, ecological
functions, but also by their educational function, each public square and park spread throughout the
urban area becomes a potential tool for Environmental Education. In this way, this work aimed to
contribute to theoretical and methodological reflections on green areas and free spaces, focusing on
squares and parks, inserting them as tools in Environmental Education. The scientific investigation
took place in three stages: the first one will have theoretical and conceptual notes; Then it will be
the inclusion of public squares and parks as tools of environmental education; And finally
presentation of a methodology for the evaluation of squares and parks, as a suggestion for the
practice of Environmental Education in society.
Keywords: Environmental Education, green areas, squares and parks.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

INTRODUÇÃO

Observamos cada vez mais, sobretudo nas últimas décadas, uma intensa transformação do
pensamento humano pautado nos problemas ambientais, que sempre recebem destaque na mídia
nacional e internacional, em especial ao recorte espacial urbano. O meio humanizado aflora uma
gama de condições desfavoráveis à qualidade de vida, a falta de manejo ambiental e de soluções
alternativas, o que desencadeia sérias consequências ao meio natural, exigindo ações reparadoras
no âmbito do poder público a fim de reduzir os impactos provocados pelo homem que, no afã de
ampliar seus lucros financeiros, agride e degrada a natureza. A crescente preocupação com o
ambiente tem gerado discussões em diversas áreas da ciência com a busca incessante de novos
modelos de desenvolvimento que garantam uma evolução sustentável.
Entrelaçado a gama de discussões possíveis no cenário ambiental se enquadra a Educação
Ambiental (EA), que ao longo dos últimos anos tem sido adotada como uma ação mitigadora na
mudança de hábitos socioambientais praticados pela sociedade. Quando se fala em Educação
Ambiental logo é associado o ambiente escolar e de fato estes são primordiais no processo de
sensibilização da sociedade, por meio da informação e conscientização, mesmo que nem sempre os
façam com eficiência. Porém, a EA não se limita ao cotidiano escolar, podendo ser praticada nos
parques urbanos, nas associações de bairros, nas universidades, nos meios de comunicação, entre
outros, visto que, na luta pela qualidade de vida ela se amplia para os diversos setores sociais
envolvidos.
Com a análise do contexto de distribuição populacional no Brasil, nota-se que
aproximadamente 85% da população, reside em áreas urbanas, um processo recorrente nos últimos
anos em países subdesenvolvidos. Este cenário ―tem despertado o interesse de arquitetos,
geógrafos, urbanistas, engenheiros, economistas dentre outros profissionais, pelos espaços
abertos.‖ COLESANTI (1994, p.63). Essas áreas, principalmente os espaços verdes têm se tornado
lugar de destaque no cenário urbano, pois coloca em evidência feições que clamam pela
preservação e implantação de locais destinados aos aspectos ambientais que desempenham os
papeis ecológicos, sociais, estéticos entre outros. (GUZZO, 1999)
Percebemos nas abordagens geográficas que EA se projeta, a partir, da inclusão do
ambiente perante o reconhecimento de pertencimento social aquele lugar e consequentemente
ínsita seu sentimento de responsabilidade em agir sobre os impactos ambientais presentes e
futuros. A utilização dos espaços verdes das cidades nos parece pertinente na prática da EA como
processo de sensibilização, visto que, estes espaços levam a entender as relações entre homem e
meio e traz discussões sobre os problemas mais frequentes, propiciando à população aperfeiçoar os
esforços junto ao poder público para melhoria de sua qualidade de vida. Assim, cada uma das
praças e dos parques públicos espalhados pela área urbana tem a potencialidade como ferramenta

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

para E.A.
Nesse sentido, o objetivo do presente estudo é contribuir para reflexões teóricas e
metodológicas sobre as áreas verdes e os espaços livres, com enfoque para as praças e parques
inserindo-os como ferramentas na educação ambiental. Para tanto, o mesmo será compartimentado
em três etapas: a primeira contará com apontamentos teóricos e conceituas sobre as áreas verdes e
os espaços livres; em seguida tratar-se-á da inclusão das praças e parques públicos como
ferramentas da educação ambiental; e por fim será apresentada uma metodologia de avaliação das
praças e parques, aplicada a cidade de Lagoa Formosa – MG, como sugestão de para a prática da
Educação Ambiental junto à sociedade.

ÁREAS VERDES E ESPAÇOS LIVRES URBANOS: APONTAMENTOS TEÓRICOS E


CONCEITUAIS

O papel desempenhado pelos espaços livres, e com mais efetividade pelas áreas verdes, no
mosaico urbano, vão além das questões estéticas e de marketing, onde são apresentadas ―cidades-
jardins descongestionadas e saudáveis‖ (NIEMEYER, s/d, p.2), nestes espaços encontramos
benéficos reais da arborização na qualidade de vida da população, não cabe neste momento discutir
o conceito de qualidade de vida, mas, certamente, estes ambientes abrigam condições ecológicas
mais próximas às condições ―normais‖ da natureza ―agindo simultaneamente sobre o lado físico e
mental do Homem.‖ (LOBODA, 2003, p.29)
Neste sentido nos últimos anos a preocupação com as questões ambientais tem ganhado
novos rumos e, consequentemente, gerado novas discussões acerca da temática, visto que, a
atuação do homem sobre o meio acontece de forma mais agressiva e contundente, principalmente
no que tange ao crescimento das áreas urbanas, sendo necessários estudos que abordem esse
assunto. Sanchotene (1994) destaca que:

(...) nenhum ambiente é mais alterado que o ambiente urbano, devido principalmente à sua
natureza edificada. Esta constatação permite que o verde urbano ganhe cada vez mais
importância dentro das cidades, tornando-se determinante para o desenvolvimento do
estudo e da pesquisa, bem como da preservação e manejo da arborização e das áreas verdes
em todo mundo. (SANCHOTENE, 1994, p.16)

Com o crescente processo de urbanização, a preservação, recuperação e criação de espaços


verdes urbanos são as grandes preocupações de estudiosos e planejadores urbanos, já que tais
espaços são fundamentais para a qualidade ambiental e de vida da população (MILANO;
DALCIN, 2000). No entanto, em decorrência do crescimento muitas vezes inadequado das
cidades, esses espaços verdes, sofrem diversas modificações e acabam não satisfazendo as
necessidades da sociedade, sendo geralmente relegado a segundo plano pelos responsáveis do
planejamento e da gestão de nossas cidades.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Frequentemente no cotidiano os termos áreas verdes, espaços livres, arborização urbana,


verde urbano são utilizados como sinônimos, no entanto, os conceitos para esses termos não são os
mesmos, para tanto foi realizado um levantamento bibliográfico, organizado no quadro 1, com as
principais definições com o intuito de promover uma reflexão e esclarecimento inicial.

Autor Conceito

Classificação para os espaços livres e o verde urbano em: jardins de representação e decoração,
Richter (1981) parques de vizinhança, parques de bairro, parques setoriais ou distritais, áreas para proteção da
natureza, áreas de função ornamental, áreas de uso especial e áreas para esportes.
Sistemas de espaços livres: Conjunto de espaços urbanos ao ar livre, destinados ao pedestre para
o descanso, o passeio, a prática esportiva e, em geral, o recreio e entretenimento em sua hora de
Llardent ócio.
(1982) Espaço livre: Quaisquer das distintas áreas verdes que formam o sistema de espaços livres.
Zonas verdes, espaços verdes, áreas verdes, equipamento verde: Qualquer espaço livre no qual
predominam as áreas plantadas de vegetação, correspondendo, em geral, o que se conhece como
parques, jardins ou praças.
Milano (1988) Para esse autor, tais áreas dividem-se em dois grupos: áreas verdes e arborização urbana.
Espaços verdes urbanos privados e semi-públicos: jardins residenciais, hortos urbanos; verde
Di Fidio semi-público.
(1990) Espaços verdes urbanos públicos: praças, parques urbanos, verde balneário e esportivo, jardim
botânico, jardim zoológico e mostra (ou feira de jardins, cemitério, faixa de ligação entre áreas
verdes arborização urbana).
Espaços verdes sub-urbanos: Cinturões verdes.
Os espaços livres podem ter várias funções, tais como fornecer iluminação e ar aos edifícios altos
Colesanti situados no centro da cidade e perspectivas e vistas do contorno urbano, aliviando os cidadãos do
(1994) sentimento de aglomeração e opressão física; dar oportunidade ao cidadão para satisfazer suas
necessidades de ocupação do tempo livre quer física, psicológica ou social; e propiciar que áreas
com características únicas possam ser preservadas.
Espaço livre: Trata-se do conceito mais abrangente, integrando os demais e contrapondo-se ao
espaço construído em áreas urbanas.
Área verde: há o predomínio de vegetação arbórea (praças, os jardins públicos, parques urbanos,
Pereira Lima canteiros centrais de avenidas, trevos e rotatórias de vias públicas com áreas permeáveis).
(Org). (1994) Parque urbano: É uma área verde com uma extensão maior que as praças e jardins públicos.
Praça: É um espaço livre público cuja principal função é o lazer. Pode não ser uma área verde,
quando não tem vegetação e encontra-se impermeabilizada.
Arborização urbana: Diz respeito aos elementos vegetais de porte arbóreo dentro da cidade.
Nesse enfoque, as árvores plantadas em calçadas fazem parte da arborização urbana, porém não
integram o sistema de áreas verdes.
Áreas verdes: um tipo especial de espaço livre urbano onde os elementos fundamentais de
Guzzo (2006) composição são a vegetação e o solo livre de impermeabilização e essas áreas devem ser
constituídas por pelo menos 70% do seu espaço por áreas vegetadas com solo permeável.
Quadro 1 – Sistematização dos conceitos e definições
Fonte: Loboda e De Angelis (2005). Org.: Castro, 2017.

As definições e conceitos, supracitados no quadro, ajudam-nos a entender a dinâmica dos


espaços livres e principalmente das áreas verdes e diagnosticar suas funções perante o conturbado
emaranhado construtivo dos centros urbanos como enfatizam Loboda e De Angelis (2005):

De forma mais intensa, sobretudo nas últimas décadas, a discussão dos problemas
ambientais se tornou uma temática obrigatória no cotidiano citadino. Assim sendo, as áreas
verdes tornaram-se os principais ícones de defesa do meio ambiente pela sua degradação, e

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pelo exíguo espaço que lhes é destinado nos centros urbanos. (LOBODA e DE ANGELIS,
2005, p.129).

As mesmas deveriam multiplicar-se na medida em que as cidades se expandem, pois,


proporcionam à população conforto ambiental e melhoria na qualidade de vida. Para tanto, faz-se
necessário um bom planejamento a fim de que a vegetação cumpra suas funções: Ecológica -
ocorrem na medida em que os elementos naturais que compõem esses espaços minimizam tais
impactos decorrentes da industrialização; Estética - pautada, principalmente, no papel de integração
entre os espaços construídos e os destinados à circulação; e Função Social diretamente relacionada à
oferta de espaços para o lazer da população. (GUZZO, 1999, p. 1 - 2). Para além das três funções
descritas por Guzzo (1999), duas novas funções são propostas por Vieira (2004), sendo elas:
Psicológica – embasada na utilização para atividades que contribuem para o ―ante-estresse‖ e
relaxamento, uma vez que as pessoas entram em contato com os elementos naturais dessas áreas e a
Educativa: possibilidade oferecida por tais espaços como ambiente para o desenvolvimento de
atividades educativas, extraclasse e de programas de educação ambiental.
Faz-se necessário enfatizar, no entanto, que as áreas verdes, só cumprirão com eficiência
suas funções, se estiverem ―dotadas de infraestrutura e equipamentos para oferecer opções de lazer
e recreação às diferentes faixas etárias, a pequenas distâncias da moradia (que possam ser
percorridas a pé). (MAZZEI, COLESANTI, SANTOS, p.39).

EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM PRAÇAS E PARQUES PÚBLICOS

O termo Educação Ambiental tem sido cotidianamente utilizado nos discursos sociais,
políticos, educacionais e em diversas outras áreas. Se pegarmos desde sua gênese veremos que a
EA, passa por uma evolução desde a formação de um conceito norteador até mesmo na
transformação de suas bases teóricas, marcada por uma variedade de posturas. Essa multiplicidade
garante que todas as áreas do saber se cerquem de bases teóricas e conceituais diferentes, porém,
todas tem uma só tendência, a preocupação com o que será deixado para as futuras gerações no
ambiente em que vivemos, e isso são trazidas, para que não apenas os teóricos busquem estas
discussões, mas sim que a sociedade civil se inclua ao processo e atue junto, para que algum
resultado seja alcançado.
Ante isso, Dias (2005, p.105) propoõe que ―a EA deve dirigir-se as pessoas de todas as
idades, a todos os níveis, na educação formal e não formal‖. Cabe aos educadores alcançar esse
sucesso de sensibilização dentro dos grupos em que atuam, visto que:

A palavra ―educação‖ sugere que se trata de uma troca de saberes, de uma relação do
indivíduo com o mundo que o cerca e com outros indivíduos. O adjetivo ―ambiental‖
tempera essa relação inserindo a percepção sobre a natureza e a forma como os humanos
interagem entre si e com ela. Em outras palavras a EA busca a formação de sujeitos a partir
do intercâmbio com o mundo e com outros sujeitos. (SEGURA, 2001, p.43)

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Estas discussões ressaltam que o papel da Educação Ambiental vai além de uma ação do
homem sobre o meio, a mesma se concentra na busca incessante de uma discussão complexa e
cheia de possibilidades. ―A educação ambiental, na sua complexidade, configura-se como
possibilidade de religar a natureza e a cultura, a sociedade e a natureza, o sujeito e o objeto‖
(TRISTÃO 2004, p.25). Entretanto, essa ligação só se fara possível, baseada na relação do ser
humano e meio ambiente, da sociedade com a natureza, das sociedades entre si, se estiver em
constantes construção e debate.
Segundo o Conselho Nacional de Meio Ambiente a Educação Ambiental se destaca como
―um processo de formação e informação orientado para o desenvolvimento da consciência crítica
sobre as questões ambientais, e de atividades que levem à participação das comunidades na
preservação do equilíbrio ambiental‖. (CONAMA, 1997). Nesse sentido ―a busca de procedimentos
didáticos que estimulem a corresponsabilidade e o espírito cooperativo é uma das decorrências
práticas da concepção de EA que visa desenvolver o potencial de participação política dos
indivíduos na esfera coletiva, pois cidadania só se faz no exercício‖. (CARVALHO apud SEGURA
2001 p.46).
Faz-se necessário desta maneira que haja a inserção e a participação dos interessados no
estabelecimento de metas e em sua execução, pois só assim haverá a possibilidade de se chegar a
um bem comum (BENEVIDES, 1996, p.227). A consolidação da prática educativa ambiental
depende do ―livre trânsito nas escalas de socialização do homem que começa na casa, atinge a rua e
a praça, engloba o bairro, abrange a cidade, ultrapassa a fronteira das periferias dos grandes centros
urbanos.‖ (AB´SABER, 1991).
Em síntese, as práticas da Educação Ambiental não envolvem apenas o ambiente escolar e
nem mesmo apenas os alunos, vai além dos muros da escola. A mesma deve se propagar para toda
comunidade, a partir, de um processo de percepção, aceitação e pertencimento ao lugar que
envolve. A melhor maneira de envolver a comunidade de forma participativa nas práticas EA é
trazer a realidade para próximo da comunidade e nota-se nas praças e parques ambientes para tal
aproximação. Neste mesmo sentido, Nucci (2008) afirma que nessas áreas podemos encontrar um
ambiente agradável, que além de afastar a angústia da cidade, possibilita ao indivíduo a integração
com a natureza, criando também espaços para relação interpessoal.

Esses ambientes devem ser agradáveis e estéticos, com acomodações e instalações variadas
de modo a facilitar a escolha individual. Devem ser livres de monotonia e isentos das
dificuldades de espaço e da angústia das aglomerações urbanas. Principalmente para as
crianças é fundamental que o espaço livre forneça a possibilidade de experimentar sons,
odores, texturas, paladar da natureza; andar descalço pela areia, gramado; ter contato com
animais como pássaros, pequenos mamíferos e insetos, etc. (NUCCI, 2008, p. 109).

As praças e parques públicos, como descreve Vieira (2004), além das funções estéticas,
ecológicas, sociais e etc, eles também têm a função educativa. Tornam-se ferramentas pedagógicas

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

elementares para Educação Ambiental, visto que, estes ambientes remetem ao indivíduo a realidade
mais próxima da natureza, propiciando um processo mais eficaz de sensibilização perante os
fenômenos de preservação do ambiente. Para, além disso, alguns desses locais carregam consigo
informações sobre cultura socialmente produzida por seus frequentadores, o que também enriquece
o sentido de pertencimento ao lugar e consequentemente a necessidade de sua proteção.
No entanto, faz-se necessário o planejamento de atividades que envolvam a comunidade na
tomada de consciência e na percepção crítica quanto ao que pode ser melhorado nestes espaços.
Nesse sentido o próximo tópico deste trabalho contará com a apresentação de uma metodologia de
avaliação da qualidade das praças urbanas, material que pode ser utilizado junto à população em
uma ação participativa.

AVALIAÇÃO DAS PRAÇAS E PARQUES UMA METODOLOGIA PARA EDUCAÇÃO


AMBIENTAL:

A sugestão metodológica consiste em uma avaliação qualitativa e quantitativa da


infraestrutura de praças e parques, que pode ser aplicada pela população de modo geral, desde
alunos em idade escolar, pela comunidade organizada nos bairros, universitários - com aplicação
em trabalhos científicos, gestores públicos entre outros.
A metodologia faz parte de adaptações realizadas, a partir, da desenvolvida por De Angelis
(2000), que consiste em formulários com objetivo de fazer o levantamento dos aspectos
quantitativos e qualitativos dos equipamentos e estruturas existentes em cada logradouro, diante da
realidade local pesquisada. O primeiro formulário (quadro 2) objetiva um levantamento
quantitativo/qualitativo dos equipamentos que compõem os espaços livres. O primeiro passo é o
levantamento da presença ou ausência dos equipamentos e de sua quantidade, posteriormente
executa-se à avaliação qualitativa em relação aos equipamentos já detectados em cada praça ou
parque. Para isso, recomenda-se, que sejam atribuídas notas de 1 a 10 para os equipamentos
existentes e depois estes dados, na próxima etapa, são classificados em ótimo, bom, regular ou

péssimo conforme apontado a seguir:1 - 4 = péssimo; 4 – 6 = regular; 6 - 8 = bom e de 8 - 10 =

ótimo.

CÓDIGO DE IDENTIFICAÇÃO Nº________


NOME DA PRAÇA: ____________________________ LOCALIZAÇÃO: ___________________________
BAIRRO: _____________________________________ DATA DA AVALIAÇÃO ___/___/___
EQUIPAMENTOS/ESTRUTURAS SIM NÃO NOTA
1 Bancos - quantidade: - material:
2 Iluminação: alta ( ) - baixa ( )
3 Lixeiras - quantidade:
4 Sanitários - quantidade:

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

5 Telefone público - quantidade:


6 Bebedouros - quantidade:
7 Caminhos - material:
8 Palco/coreto/concha acústica
9 Monumento( ) - estátua( ) - busto( )
10 Espelho d‟água/chafariz/lagoa/lago
11 Estacionamento
12 Ponto de ônibus
13 Ponto de táxi
14 Equipamentos para prática de exercícios físicos
15 Estrutura para terceira idade
16 Parque infantil
17 Quiosque de alimentação e similar
18 Identificação do logradouro
19 Edificação institucional
20 Templo religioso
Quadro 2 - Avaliação quantitativa e qualitativa dos equipamentos e infraestrutura das áreas verdes.
Fonte: De Angelis (2000). Adaptado por: CASTRO, F.S. 2014.

No segundo formulário realiza-se à identificação e catalogação das espécies arbóreas que


compõem a vegetação das praças da cidade (Quadro 3). Alguns exemplares bibliográficos podem
ajudar nesta etapa como auxílio na identificação das espécies, dentre as quais sugere-se os livros
―Árvores Brasileiras‖ e ―Árvores Exóticas no Brasil‖ de Harri Lorenzi (1992).

NOME COMUM NOME CIENTÍFICO FAMÍLIA Nº

Quadro 3 – Identificação das espécies arbóreas existentes nas praças.


Fonte: De Angelis (2000). Adaptado por: CASTRO, F.S. 2014.

Com os quadros preenchidos, passa-se para a etapa de organização, tabulação e apresentação


dos dados sistematizados. Para melhor vislumbrar o estado de conservação dos equipamentos,
indica-se um método adaptado ao de BOVO (2009), onde os itens são representados por figuras e
cores, as mesmas classificam o estado de conservação de cada elemento representado, sendo que,
vermelho – péssimo; amarelo – regular; azul – bom e verde - ótimo. (Quadro 4).

ITENS SÍMBOLOS ITENS SÍMBOLOS ITENS SÍMBOLOS ITENS SÍMBOLOS


Telefone
Estacionamento Caminhos
Bancos público
Palco/coreto
Iluminação Ponto de ônibus Bebedouros
Estrutura para
Ponto de táxi Parque infantil
Lixeiras terceira idade
Equipamentos Quiosques de
Identificação
para prática de alimentação e
Sanitários do logradouro
exercícios físicos similar
Quadro 5 - Símbolos equipamentos e estruturas das praças. Fonte: BOVO, M. C., 2009.
Adapt. e Org.: CASTRO, F. S., 2014.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Esse processo de levantamento de dados permite que os envolvidos na pesquisa conheçam a


realidade de cada ambiente e se sencibilizem com os problemas, a partir, de um processo de
percepção e aceitação de pertencimento e responsabilidade ao lugar que o envolve. Talvez dessa
maneira se cobre mais dos gestores públicos quanto ao processo de manutenção e preservação dos
espaços verdes no ambiente urbano. A seguir, far-se-á a apresentação da aplicação metodológica,
cujo recorte trata-se de dois espaços verdes na cidade de Lagoa Formosa- MG.
O município ao qual leva o nome da cidade liza-se entre as coordenadas geográficas de 18°
46' 44" S e 46° 24' 28" O (Figura 1). Situa-se na Mesorregião Geográfica do Triângulo Mineiro e
Alto Paranaíba e é uma das 11 cidades que compõem à microrregião de Patos de Minas, ocupa uma
área de aproximadamente 844 Km² e faz limite com os municípios de Carmo do Paranaíba e Patos
de Minas, ligados pela rodovia estadual BR-354.

Figura 1 - Localização do município de Lagoa Formosa (MG), 2015


Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 2009. Org.: CASTRO, F.S. 2014.

De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE, 2014) a


população de Lagoa Formosa passou de 15.949 em 1991 para 17.161 em 2010, segundo o mesmo
banco de dados a projeção para 2016 foi de 18.107 habitantes. O aumento populacional pode em
primeira análise não parecer tão significativo sob a ótica quantitativa, porém, esse fator reflete
diretamente na taxa de urbanização que em 1991 era representada por 55,7% de sua população
vivendo na cidade e já em 2010 este valor saltou para aproximadamente 75,56 % (IBGE, 2014).
As praças sempre se mostraram ao longo do tempo enquanto locais de convívio social,
espaços de lazer e também espaços de tomada de decisão de cunho político, econômico e social.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Locais onde a cultura e as características locais são divulgadas para toda a população que a envolve.
Como aponta Loboda (2003, p.53) a ―praça‖ desde os primórdios está atrelada aos ―espaços que
acolhiam muitas das principais atividades dos núcleos urbanos, como reuniões religiosas, cívicas e
recreativas, além do comércio, como feiras e mercados‖.
As praças que se localizam em pequenas cidades, ainda carregam consigo vestígios das
antigas funções designadas a elas, porém ocorre nesse mesmo sentido uma adaptação às novas
realidades, dentre elas a função de área verde urbana. Para demonstrar a metodologia foram
selecionados os espaços verdes: Praça Clara Fernandes (figura 2) e a Orla da Lagoa D‘água
(figura3).

Figura 2 – Características Praça Clara Fernandes. Figura 3 – Características Lagoa D‘Água.


Fonte: CASTRO, Francielle de Siqueira. 2014. Fonte: CASTRO, Francielle de Siqueira. 2014.

 Localiza-se na periferia, porção sul do perímetro urbano,  Formada no centro da cidade, conta com calçadas em
em um bairro recém-construído. A ocupação do espaço toda sua orla, além de uma avenida em que é permitido
circundante se dá por conjuntos habitacionais populares do apenas o trânsito de pessoas, foi provavelmente um dos
programa Minha Casa Minha Vida. A função social do primeiros lugares de atração da população para
ambiente vincula-se ao uso do consumo e tráfico de momentos de lazer, prática de exercícios físicos e
intorpecentes, relegando a sua real função. Se relacionada descontração. Além desses fatores, outro importante, e
às demais pode ser considerada de pequeno porte. talvez, justificativa para a conservação, é explicado pelo
fato de esta ser considerada o principal ponto turístico
 Contingente arbóreo limitado, cerca de 10 exemplares, da cidade.
intercalados entre palmeira de rabo-de-peixe (Caryota
urens) e balsamo (Schinus molle). Cabe lembrar que foram  Foram identificados 16 equipamentos no referido
consideradas neste trabalho apenas as espécies arbóreas espaço livre, destes, dois em bom estado de conservação
enquanto os demais foram avaliados em ótimo estado de
 6 Equipamentos urbanos: os bancos e o coreto foram conservação. Os mais notórios foram: equipamentos
classificados como estrutura regulas, visto que, as estruturas para prática de exercícios físicos, parque infantil,
estão danificadas; a iluminação é suficiente, os postes foram estrutura para terceira idade, a lagoa, dois coretos com
posicionados em lugares estratégicos proporcionando boa mesas e cadeiras, utilizados pela terceira idade com
luminosidade, porém o mesmo foi avaliado como bom, pois jogos de cartas.
acredita-se que poderiam ser mais baixos; em ótimo estado
estão os caminhos e a identificação de logradouro; e por fim  As espécies arbóreas também se mostram constantes
o parque infantil não executa mais sua função, diante isso, em toda orla as mais presentes são: balsamo (Schinus
foi apontado em péssimo estado. molle), palmeira imperial (Roystonea Regia) e coqueiro
jerivá (Syagrus romanzoffiana).

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

A partir da aplicação da metodologia nas duas praças foi possível perceber que, a área verde
localizada no setor central da cidade recebe maior atenção do Poder Público quanto sua preservação
e manutenção, destacam-se com maior número de equipamentos e melhor estado de conservação. Já
na Praça Clara Fernandes é nítido o estado de parcial abandono e descaso quanto à manutenção e
conservação.
Essa falta de tomada de atitude não só do poder público, mas também à falta de
comprometimento e envolvimento da comunidade para com as praças, faz com que haja um
declínio na qualidade dessas áreas, propiciando o aumento da depredação dos locais de uso coletivo.
E como aponta Loboda (2003, p.153) ―locais com potencial para a prática do lazer com uso efetivo
acabam tornando-se meros espaços avulsos na malha urbana, e o que é pior, não visto como
essenciais para o bem-estar coletivo‖.

CONCLUSÃO

A inclusão das áreas verdes junto aos sistemas de planejamento urbano vem acontecendo
paulatinamente, visto que ainda é considerada uma temática de pouca relevância para o
desenvolvimento e estruturação urbana, ou seja, parece sempre relegada ao segundo plano pelos
gestores urbanos e comunidade citadina. Porém, já é visível nas discussões ambientais a
necessidade de uma atenção maior para as discussões acerca do assunto, não apenas nas grandes
cidades, já dominadas pela degradação do ambiente, mas em cidades médias e de pequeno porte em
que, apesar de sofrer uma degradação com menos intensidade, é possível que as soluções sejam
mais eficazes.
A Educação Ambiental em praças e parques nos permite suscitar o debate junto à
conscientização da população para as questões ambientais no meio urbanizado, pois nesses
ambientes é possível envolver mais intimamente com a natureza na forma mais preservada. É
irrefutável afirmar, dessa maneira, que as praças e parques são ferramentas pedagógicas
importantes na sensibilização da comunidade e na prática de uma Educação Ambiental
transformadora.
Uma forma de garantir a funcionalidade das áreas verdes é a criação do Plano de
Arborização Urbana, que compõe o Plano Diretor Municipal, estabelecido pela Lei Federal
10.257/2001. Os artigos 182 e 183 da constituição federal e estabelecem parâmetros e diretrizes da
política e gestão urbana no Brasil, neste documento é executado o mapeamento das áreas verdes, a
catalogação das espécies arbóreas, a avaliação da estrutura física e biológica das árvores, a
regulamentação para a manutenção dos espaços livres (poda regular, destinação correta dos
resíduos, etc.) entre outros aspectos.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

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SEGREGAÇÃO, URBANIZAÇÃO E OCUPAÇÃO DE ÁREAS AMBIENTALMENTE


FRÁGEIS: O CASO DA RUA SÃO VICENTE, EM MARECHAL DEODORO-AL.

Jacqueline Silva de OLIVEIRA


Tecnóloga em Gestão Ambiental, IFAL
jacqueline.oliveira.sa@gmail.com
Ricardo Barra de OLIVEIRA
Tecnólogo em Gestão Ambiental, IFAL
ricardo.geoambiental@gmail.com

RESUMO
O presente trabalho trata-se de um estudo de caso, sobre as condições socioambientais em que
vivem os moradores da Rua São Vicente, localizada no bairro Taperaguá, no município de
Marechal Deodoro-AL. A Rua São Vicente está situada às margens do Rio Sumaúma, que é
classificada de área de alto risco a inundações. Diante dessa situação de vulnerabilidade
socioambiental, buscou-se analisar como o processo de urbanização contribuiu para ocupação de
áreas ambientalmente frágeis, bem como a ocupação desigual do espaço urbano. O processo
metodológico do trabalho realizou-se com visitas ao local, para obter informações das reais
condições em que vivem esses moradores, e aplicação de 64 questionários, para levantamento das
condições socioambientais. Os resultados da pesquisa mostraram que 95% dos moradores da Rua
São Vicente, não são atendidos pelos serviços de coleta de resíduos, 95% dos moradores possuem
abastecimento de água, porém de forma irregular, 94% afirmaram lançar seus efluentes diretamente
no Rio Sumaúma, 85% deles possuem até o ensino fundamental, o que agrava a situação de
exclusão em que vivem. Diante da complexidade que engloba os problemas de urbanização,
segregação socioespacial e ocupação de áreas ambientalmente frágeis, pôde-se concluir que se trata
de um problema estrutural e sistêmico, que tem acarretado um processo de ocupação desordenada,
provocando sérios impactos socioambientais.
Palavras-chave: Preservação; Meio ambiente; Planejamento Ambiental.
ABSTRACT
This paper is a case study about the social and environmental conditions in which the residents of
Rua São Vicente, Taperaguá, Marechal Deodoro-AL, live. Located on the banks of the Sumaúma
River, the area is classified as high risk to floods. In view of the situation of socio-environmental
vulnerability, we sought to analyze how the urbanization process contributed to the occupation of
environmentally fragile areas, as well as the unequal occupation of urban space. The
methodological process of the work was carried out with site visits, to obtain information of the real
conditions in which these residents live, 64 questionnaires were applied to survey social and
environmental conditions. The results of the survey show that 95% of the residents of Rua São
Vicente are not served by the waste collection services, 95% of the residents have water supply, but
in an irregular way, 94% stated that their effluents are sent directly to the River Sumaúma, 85% of
them have even elementary education, which exacerbates the situation of exclusion in which they
live. Given the complexity of urbanization, socio-spatial segregation and occupation of
environmentally fragile areas, we can conclude that it is a structural and systemic problem that has
led to a disordered occupation process, causing serious socio-environmental impacts.
Keywords: Preservation; Environment; Environmental planning.

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INTRODUÇÃO

A atual crise ambiental deu início a várias discussões sobre o modo como o homem percebe,
e se relaciona com o meio ambiente, visto que o mesmo tem dando sinais de grande degradação e
exaustão dos recursos. Além do aumento da desigualdade social, que vem crescendo rapidamente,
mobilizando assim autoridades e governos em busca de soluções para essa crise.
O número elevado de pessoas ocupando os grandes centros urbanos, aliado a transposição da
lógica de (Re) produção do capitalismo para o ambiente urbano, fez com que a maioria das cidades
crescesse de forma desordenada e sem o devido planejamento, fato que possibilitou a ocupação de
áreas ambientalmente frágeis.
No Brasil era bastante comum o trabalhador que vinha do campo querer morar perto do seu
local de trabalho, fato inviabilizado devido aos altos preços do mercado imobiliário, fazendo com
que parte da classe trabalhadora, assim como das pessoas de baixa renda, passasse a ocupar algumas
áreas ambientalmente sensíveis das cidades, como uma alternativa de moradia mais barata,
provocando, em alguns casos, a degradação do meio ambiente.
Em Alagoas a urbanização também é marcada pela desigualdade socioespacial, sendo que a
maioria da população urbana se concentra na Região Metropolitana de Maceió (RMM),
ocasionando na distribuição desigual da população urbana em Alagoas. Outro fato que pode ser
verificado no Estado, é que na maioria dos municípios alagoanos, a população rural tem se
deslocado para as cidades, causando maior pressão sobre os serviços públicos, visto que grande
parte dos municípios não possui preparação para suportar o aumento do número de moradores nas
áreas urbanas.
Essa realidade de urbanização, também se reproduziu no município de Marechal Deodoro,
gerando grande pressão sobre o meio ambiente, já que esse processo tem se estabelecido de forma
não planejada. Onde as pessoas de baixa renda tem se deslocado para as áreas ambientalmente
frágeis, que não dispõe de infraestrutura adequada, ocasionando um agravo socioambiental.
O presente trabalho tem como objetivo verificar a situação socioeconômica e ambiental da
Rua São Vicente, verificando os impactos ambientais existentes no local, contrapondo com a forma
de urbanização presente no município. Para compreender melhor a situação dos moradores da Rua
São Vicente foram aplicados questionários estruturado em três categorias de perguntas como
saneamento, situação socioeconômica dos moradores e percepção dos mesmos sobre o local em que
os mesmos vivem.
Para compor o embasamento teórico do trabalho foram consultadas diversas fontes de
pesquisas, como livros, revistas, periódicos, teses, artigos e sites da internet com discussões sobre a
temática, que serviram com suporte indispensável para a realização desse trabalho.

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HABITAÇÃO NO BRASIL URBANO E A OCUPAÇÃO DE ÁREAS AMBIENTALMENTE


FRÁGEIS.

Até o século XIX a produção no Brasil era predominantemente rural, com característica de
mão-de-obra escrava. A expansão do capitalismo internacional deu condição para o surgimento do
―homem livre‖, onde houve a substituição da mão-de-obra escrava pelo trabalho assalariado. Para
Frey; Duarte (2006) a liberdade do escravo não garantiu para esse nenhum tipo de direito social,
deixando grande parte da população sem acesso a terra.
O fluxo migratório de europeus que vinham para as Américas em busca de melhores
condições de vida, também teve sua contribuição para a transformação da paisagem urbana.
Segundo Frey; Duarte (2006) a vinda de imigrantes sempre foi associada à baixa remuneração de
mão-de-obra, que não dava condições dessa população garantir condições mínimas de
sobrevivência, deixando parte dessa população em condições miseráveis, vagando pelas ruas.
De acordo com Vilaça (1996) os problemas de habitação urbana passaram a se constituir no
Brasil em meados do século XIX, com a penetração do capitalismo e do crescimento da população
das cidades, que se deu com os ex-escravos, os despejados das fazendas de café em decadência e os
despejados da Europa, principalmente da Itália, surgindo o problema da falta de moradia. Pois as
cidades passaram a ser habitadas por esses despejados, que sem acesso a terra, passaram a ocupar
algumas áreas da cidade como posseiros.
Villaça (1996) discorre ainda que, a partir da primeira metade do século XX, os centros das
metrópoles brasileiras começaram a apresentar atendimento diferenciado, entre as pessoas de baixa
renda e as pessoas de alto poder aquisitivo. Para Carlos (2013), na lógica do mercado, o solo urbano
se torna mercadoria, e seu uso se torna desigual entre os diferentes segmentos da sociedade,
gerando disputa entre a sociedade e o uso do espaço.
Para o trabalhador que não ganhava o suficiente para adquirir casa no mercado imobiliário,
restou à opção da autoconstrução de sua moradia nas áreas que sobraram. Para Maricato (2001), na
busca por moradia os trabalhadores, passaram a ocupar áreas ambientalmente frágeis, rejeitadas
pelo mercado ou mesmo em áreas públicas, de proteção ambiental ou áreas como encostas, valas,
locais com risco de inundação, áreas de poluição, ou seja, locais que devido sua ilegalidade não são
de interesse do mercado.
Essas ocupações aconteceram sem que houvesse intervenção do Estado, o que acarretou em
sérios problemas socioambientais, pois sem o auxílio do Estado, houve o crescimento de ocupações,
em áreas irregulares, formando a cidade ilegal.
Devido ineficácia do poder público de colocar em prática as políticas habitacionais e
ambientais, e da falta de infraestrutura das ocupações em áreas ambientalmente frágeis, as pessoas
que ocupam essas áreas continuam expostas aos riscos de desastres ambientais, contribuindo ainda,

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para o aumento da degradação ambiental, que muitas vezes não se restringem apenas a essas áreas,
mas podem provocar impactos em áreas mais abrangentes.

IMPACTOS AMBIENTAIS URBANOS.

O inchaço populacional das cidades, marcado pela urbanização conservadora e excludente,


somado a falta de planejamento urbano e insuficiência de equipamentos, possibilitou a apropriação
desigual do espaço urbano e a ocupação de áreas ambientalmente frágeis, que além de representar
risco à segurança pública local, tem alterado significativamente a paisagem natural, causando
deterioração do ecossistema (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2008).

Essa realidade [...] promoveu uma enorme deterioração dos recursos naturais, aumento dos
bolsões de pobreza, contribuindo para a segregação social, aumentou a concentração de
assentamentos precários como favelas ou áreas de risco a exemplo das margens de rios ou a
ocupação de morros, ambientes sem infra-estrutura adequada, com pouca ou praticamente
nenhuma condição de habitabilidade. Áreas que constantemente são afetadas por
inundações, desmoronamentos ou deslizamentos, principalmente, durante o inverno,
deixando populações desabrigadas (MINISTÉRIO DAS CIDADES, p. 33 e 34, 2008).

Para Guerra; Cunha (2005) tem se tornado cada vez mais difícil separar impacto ambiental
de impacto social, visto que os problemas ambientais atingem, principalmente, os espaços ocupados
pela classe menos favorecida, que habita em locais susceptíveis aos processos de transformação
natural, que são acelerados por ações antrópicas, que aumentam o risco de desastres ambientais.
Sendo a população menos favorecida a principal vitima desses desastres, conforme descreve Sousa;
Travassos (2008).

Embora os problemas ambientais urbanos atinjam indiretamente todos os segmentos da


população urbana – o que se verifica pelo amplo reconhecimento da precarização da
qualidade de vida nas grandes cidades –, é a parcela de menores recursos que mais sofre
com as suas consequências: os deslizamentos provocados pela ocupação imprópria de
encostas, as inundações decorrentes da ocupação de áreas de várzeas e de fundos de vale, a
contaminação por acesso à água não tratada ou os problemas de saúdes resultantes do
manejo inadequado de resíduos sólidos são apenas alguns dos problemas ambientais
urbanos que afetam diretamente a qualidade de vida da população de baixa renda (SOUSA;
TRAVASSOS, p. 43, 2008).

Segundo Guerra; Cunha (2005) os impactos ambientais urbanos, devem ser observados
como resultado do adensamento populacional causado pelo processo de urbanização, como
consequência natural do processo dinâmico de transformação da estruturação socioespacial.
Para Tucci (2008) a maioria das comunidades que vivem as margens de rios enfrenta as
dificuldades geradas pela falta de infraestrutura e urbanização. Devido a sua irregularidade, essas
ocupações não contam com o sistema de saneamento e os efluentes gerados são despejados
diretamente dentro do corpo hídrico, causando risco de contaminação da população (ARAÚJO,
2002).
A ocupação dessas áreas geram impactos ambientais, como a descaracterização da mata

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ciliar, que contribui com o processo de assoreamento do corpo hídrico, diminuído sua vazão, e
aumentando o risco de enchentes em épocas chuvosas. Para Tucci; Collischonn (1998) essa
diminuição da vazão ocorre devido aos depósitos de sedimentos, associados com esgoto sanitário,
devido a interligação clandestinas dos sistemas pluviais, que são fontes de degradação anaeróbia
que se formam na rede de escoamento.
Ainda segundo o autor, esses sedimentos diminuem a capacidade de escoamento dos canais,
fazendo com que as inundações ocorram com mais frequência. As principais consequências
ambientais da produção de sedimentos são as seguintes: assoreamento da drenagem, com redução
da capacidade de escoamento de condutos, lagos e rios urbanos, transporte de poluentes agregados
ao sedimento, que contaminam as águas pluviais (TUCCI; COLLISCHONN, 1998).

O CASO DA RUA SÃO VICENTE, EM MARECHAL DEODORO - ALAGOAS.

A Rua São Vicente (Figura 1) localizasse no bairro de Taperaguá, no município de Marechal


Deodoro, no Estado de Alagoas – município histórico por ser a primeira capital do Estado –. A
referida Rua encontrasse situada ao Norte com as margens do Rio Sumaúma, e ao Leste nas
proximidades da Laguna Manguaba, e devido a essa localização é considerada como área de alto
risco a inundações, fazendo com que os moradores do local sejam obrigados a deixarem suas
residências em épocas de enchentes.

Figura 4: Rua São Vicente. Fonte: Autores


A Rua São Vicente apresenta peculiaridades característica da segregação socioespacial, pois
apesar de ser classificada, de acordo com a Lei Municipal 919/2006 de 09 de novembro de 2006,
que regulariza o Plano Diretor municipal de Marechal Deodoro/AL, como Macrozona 1- Centro do
município, não apresenta estrutura urbana padronizada. Os moradores sofrem com a precariedade
e/ou ausência de equipamentos urbanos como saúde, lazer, infraestrutura, segurança. São alguns dos

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serviços dos quais os moradores são privados, deixando-os numa situação de quase exclusão do
direito a cidade.
Na lei de N° 10.257/ 2001 (Estatuto das Cidades) no art. 2º, inc. I determina: ―I - garantia do
direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento
ambiental, à infra-estrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer,
para as presentes e futuras gerações‖.
Esse abandono por parte do poder público é justificado pelo fato da Rua São Vicente ser
caracterizada pela ocupação irregular de área pública, ou seja, as moradias que constituem a Rua
estão localizadas em uma das ZEIAs do município (Zona de Especial Interesse Ambiental)
(MARECHAL DEODORO, 2006). Fato esse que serve como argumento para poder público,
justificar a ausência de fornecimento de serviços públicos como: abastecimento de água, energia
elétrica, coleta de resíduos sólidos, esgotamento sanitário, entre outros, deixando as famílias que
moram no local em situação de abandono por parte do poder público.
A precariedade das residências é outro fator de agravamento social, apesar da maioria delas
serem de alvenaria, existe ainda uma parcela considerável de casas construídas de pau-a-pique, ou
mesmo de materiais mais frágeis como lona, pedaços de tabuas velhas e até mesmo papelão,
demonstrando a precariedade em que muitos desses moradores vivem.
Além disso, algumas dessas casas estão muito próximas ao Rio Sumaúma, em destaque na
Figura 2. Segundo o Ministério da Integração/CENAD (2014) a distância das residências para o Rio
1
Sumaúma varia de 0 a /2 metro, se configurando uma área de alto risco a inundação.
Frequentemente os moradores são obrigados a deixarem suas residências, por causa risco de
inundação, a exemplo das enchentes de Junho 2017, onde todos os moradores tiverem que evacuar
o local, devido ao aumento no nível da luguna Manguaba e Rio Sumaúma (Figura 3), fenômeno
esse que deixou mais de 5 mil desabrigados no município de Marechal Deodoro.

Figura 5: Casa na Rua São Vicente. Fonte: Autores. Figura 6: Nível do Rio Sumaúma. Fonte: Autores.

Essa proximidade de algumas residências com o Rio Sumaúma tem causado impactos na
área, segundo o Ministério da Integração/CENAD (2014) o desmatamento da vegetação ciliar da
área da Rua São Vicente, corresponde a 50%. Esse desmatamento pode acelerar o processo de

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assoreamento do rio, visto que a mata ciliar tem a função de proteger o solo, dificultando o araste de
sedimentos para seu leito, e consequentemente aumentando a possibilidade do mesmo transbordar
em períodos chuvosos.
Essa situação é agravada devido a falta de drenagem urbana na área, que tem a função de
escoar águas superficiais, protegendo as encostas naturais. Por essa razão, a falta desse serviço
aumenta a vulnerabilidade de inundação na área, visto que as inundações podem chegar a um 1
metro de altura, e devido a esses fatores, é classificada como área de alto risco a inundações.
Diante de todas essas questões apresentadas, houve a necessidade de levantar dados sobre os
moradores da Rua São Vicente, bem como da área, para conhecer melhor a realidade em que vivem
esses moradores, e como percebem e interagem com o meio no em que estão inseridos.

LEVANTAMENTO SOCIOAMBIENTAL NA RUA SÃO VICENTE.

No questionário aplicado com os moradores, os mesmos foram questionados sobre a


existência do serviço de coleta de resíduos sólidos (lixo), já que é perceptível o grande acúmulo de
resíduos espalhados pelo local. Sobre esse serviço 95% dos moradores responderam que não existia,
e apenas 5% responderam que existia coleta de resíduos sólidos no local.
Dessa forma foi possível perceber que mesmo não existindo o serviço de coleta de resíduos
na Rua, alguns dos moradores afirmaram que sim. Partindo dessa análise, é perceptível que alguns
moradores desconheçam o que é o serviço coleta de resíduos sólidos, ou simplesmente confundem
serviço, com a existência de um contêiner localizado em ruas próximas ao local, onde alguns
moradores se deslocam para dispor seus resíduos.
Sobre a destinação final que os moradores da comunidade dão aos resíduos sólidos, 58%
responderam que depositam em um contêiner, 28% afirmaram que jogam os resíduos a céu aberto,
8% disseram que jogam no rio e outros 6% responderam que queimam.
Apesar da maioria dos moradores afirmarem que depositam o lixo em um contêiner, que está
localizado em outra rua do bairro, em entrevista informal realizada com moradores, alguns
afirmaram que, são poucos os que se deslocam até o contêiner, para depositar o lixo. E afirmaram
ainda, que a maioria lança os seus resíduos a céu aberto ou mesmo no rio, o que de certa forma
justifica a grande quantidade de lixo encontrada tanto no rio, como a céu aberto.
O serviço de água encanada é bastante precário na Rua São Vicente, 95% dos moradores
afirmaram que dispõe da água encanada. Porém esse abastecimento de água não é realizado pelo
SAAE (Serviço Autônomo de água e Esgoto) do município de Marechal Deodoro, e sim realizado
através de ligações clandestinas, feitas pelos próprios moradores, o que aumenta o risco de
contaminação por vazamentos nas tubulações.
Em relação à destinação dos esgotos das residências, 66% dos moradores responderam que

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lançam o seu efluente a céu aberto, 28% responderam que lançam diretamente no rio e apenas 6%
disseram possuir fossa rudimentar. Dessa forma é possível perceber a precariedade em que vivem as
pessoas dessa área, e o impacto que causa o lançamento de efluentes sem tratamento, já que 94%
das residências lançam seu esgoto in natura sem nenhum tratamento diretamente no rio ou a céu
aberto.
O baixo índice de tratamento de efluente não se restringe apenas a Rua São Vicente, o
município de Marechal Deodoro em si apresenta apenas 6% de tratamento de efluentes, sendo
pouco representativo para a grande quantidade de efluentes, que são lançados diariamente nos rios e
na laguna Manguaba. Com isso, o lançamento inadequado de efluentes tem contribuído com a
degradação ambiental da área, além disso, coloca em risco a saúde da comunidade, já que o contato
das pessoas com o rio poluído e/ou contaminado pode causar várias doenças.
Devido aos baixos índices de coleta de resíduos sólidos, tratamento de efluentes,
abastecimento de água e drenagem urbana, a Rua São Vicente apresenta um índice de salubridade
baixo. Segundo Oliveira; Junior (2014) o índice de salubridade da rua é de 31,51 sendo considerado
de baixa salubridade, ficando muito próximo ao índice de insalubridade que vai de 0-30, quando o
índice considerado satisfatório é de 81-100.
Sobre o nível de conhecimento dos moradores da Rua São Vicente, percebeu-se o baixo grau
de escolaridade dos mesmos, o que de certa forma dificulta a inserção destes no mercado de
trabalho formal. Entre os entrevistados 65% responderam que cursaram até o ensino fundamental,
20% responderam não saber ler nem escrever, ou seja, analfabetos, 13% responderam que cursaram
até o ensino médio e apenas 2% responderam que tinham o ensino superior incompleto. O baixo
nível de escolaridade é predominante, visto que, entre analfabetos e os que possuem até o ensino
fundamental completo somam 85% dos entrevistados, o que dificulta a inserção dessas pessoas no
mercado formal.
A situação econômica dos moradores é bastante complicada, quando entrevistados sobre
suas profissões e fontes de renda, a maioria apontou o trabalho informal como fonte principal. Entre
esses trabalhos se destacam os serviços gerais, artesanato e vendedores autônomos.
Com isso podemos observar que entre os moradores da Rua São Vicente prevalece o
trabalho informal, apresentando característica similar as de muitas cidades brasileiras, que devido a
segregação socioespacial, moradores com baixa escolaridade não conseguem emprego no mercado
formal, sendo isolados em áreas irregulares e ambientalmente sensíveis, limitando-os a conseguirem
oportunidades de melhoria de vida.
A maioria das famílias da Rua São Vicente, recebe o auxílio do programa do Governo
Federal, o Bolsa Família, tendo este como a principal fonte de renda familiar, não sendo suficiente
para suprir a demanda de toda a família, pois a média de pessoas por residência 4,03.

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Com toda a problemática social e econômica que os moradores da Rua São Vicente
enfrentam, aos mesmos foram questionados sobre qual seria a visão que eles têm sobre a
comunidade. Entre as respostas dadas por eles, predominou a questão da violência como sendo um
dos fatores que mais agrava a situação local, alguns moradores relatam que por esse motivo muitas
vezes são discriminados, pelo lugar que moram ser considerado violento. Outro ponto que teve
destaque entre os moradores foi à questão da Rua ser muito poluída, apesar de perceptivelmente não
terem conhecimento do conceito de poluição.
Sobre a importância do Rio Sumaúma para os moradores, muitos falaram que o rio é ruim
por causa da poluição, já outros falaram que é ruim em épocas de cheia, pelo aumento do nível do
mesmo, que acaba inundando suas casas. Mas, um ponto da entrevista que de fato chamou a
atenção, foi que a maioria dos moradores afirmou que o rio não tem nenhuma importância para eles,
além de levar a sujeira (poluição) para longe.
É perceptível que a falta de acesso a serviços públicos, como tratamento de efluentes, coleta
de resíduos, pavimentação, drenagem, entre outros, aliadas as ações degradantes dos moradores da
Rua São Vicente, tem contribuído com os impactos ambientais na área. Entre esses impactos pode-
se destacar a contaminação do solo e das águas, causados, tanto pelo lançamento de resíduos
sólidos, como também pelos efluentes gerados nas residências da localidade, e são despejados in
natura no Rio Sumaúma, como pode ser verificado na Figura 4. Prejudicando, dessa forma, tanto o
meio ambiente, como também a comunidade que vive próximo ao rio, e fica exposta ao risco de
contaminação.

Figura 7: Lançamento de efluente. Fonte: Autores.

Outro aspecto que pode ser observado na área é a degradação da mata ciliar, visto que a
mesma apresenta perda de 50% de sua vegetação, esse desmatamento aliado a falta de saneamento e
drenagem da área, tem contribuído para acelerar o processo de assoreamento no Rio Sumaúma,
dificultando a passagem de pequenas embarcações, devido o estreitamento do canal do rio, como
pode ser visto na Figura 5.

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Figura 8: Estreitamento do rio Sumaúma. Fonte: Autores.

Esse estreitamento ocorre devido ao desmatamento, que acelera o processo de erosão do


solo, aumentando o acúmulo de sedimentos no leito do rio, causando o aceleramento do processo de
assoreamento do corpo hídrico, tornando-o mais raso.
A proximidade das residências da margem do Rio Sumaúma, associado a falta de
saneamento, drenagem adequada e impermeabilização do solo, tem causado impactos na área,
devido às práticas degradantes realizadas por esses moradores. Contudo, vale salientar que essas
pessoas não estão morando naquelas condições e nem provocando impacto na área por escolha
própria, mas sim, pela falta de assistência e acesso a serviços públicos.

CONCLUSÕES.

Através do presente trabalho realizado na Rua São Vicente, foi possível perceber a falta de
serviços básicos como; coleta de resíduos sólidos, serviço de esgotamento sanitário, tratamento de
efluentes, abastecimento regular de água, entre outros. E além desses fatores, pode-se destacar a
precariedade das casas, onde a maior parte é construída com materiais frágeis, não oferecendo
segurança aos moradores, principalmente em uma eventual enchente.
Durante a realização deste trabalho buscou-se entender qual a visão dos moradores sobre a
comunidade, e como se relacionam como meio ambiente no qual estão inseridos. A maior parte dos
moradores alegou que gosta de morar na localidade, entretanto, se sentem excluídos do restante da
cidade, e que por vezes são descriminados, devido ao local em que moram ser considerado violento.
Em relação ao Rio Sumaúma, os moradores desconhecem a real importância do rio para o meio
ambiente, atribuindo apenas a função de carregar os resíduos para longe, ou admitindo que o
mesmo não possui importância nenhuma para eles, e que ainda em épocas e chuva o rio enche,
causando medo nos moradores.
Esses fatos servem para substanciar que a percepção ambiental dos moradores é bastante
limitada, pois mesmo tendo medo das enchentes, alguns moradores não percebem que suas ações,
como desmatamento da mata ciliar, lançamento de seus resíduos e efluentes diretamente no Rio
Sumaúma, tem contribuído, tanto com a poluição do rio, quanto para acelerar o processo de

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assoreamento do mesmo, e que aliada a falta de drenagem, aumenta a possibilidade de enchentes na


área, agravando a situação de vulnerabilidade em que esses moradores vivem.
Diante da complexidade que engloba o problema da ocupação da Rua São Vicente, pode-se
concluir que se trata de um problema estrutural e sistêmico, que é resultado da falta de organização
sociespacial da cidade, pois a mesma é baseada em uma divisão desigual do direito a cidade,
impondo uma situação de segregação dos moradores, que não tem alternativa, há não ser continuar
morando nessa área e consequentemente degradando o meio ambiente.

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ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 1031


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EXPANSÃO URBANA E CLIMA: UMA ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS


BAIRROS DE PORTO SEGURO E VERTENTES, MUNICÍPIO DE ASSÚ-RN, BRASIL

Gilciane Kariny da Costa FRUTUOSO


Graduada em Geografia pela UERN
gilciane_cf@hotmail.com
Ana Luiza Bezerra da Costa SARAIVA
Profª. Drª no Departamento de Geografia da UERN
ageopesquisadora@hotmail.com
Francicélio Mendonça da SILVA
Mestre em Geografia pelo PPGE da UFRN
francis_georisco2017@hotmail.com

RESUMO
As áreas verdes assumem um papel muito importante nas cidades no que se refere à qualidade do
ambiente, pois servem de equilíbrio entre a vida urbana e o meio ambiente, quando esses espaços
são utilizados e preservados para este fim. O semiárido já é caracterizado por possuir elevadas
temperaturas naturalmente, porém as temperaturas podem aumentar ainda mais devido às
características do uso e ocupação da terra e ausência de arborização. Na cidade de Assú-RN, o
bairro Porto Seguro apresenta-se como uma nova área de ocupação populacional e será investigado
aqui como um exemplo de bairro que possui uma incipiente arborização. Assim, o objetivo desse
trabalho foi identificar a diferença do comportamento dos elementos climáticos: temperatura do ar e
umidade relativa do ar, bem como os valores do índice de calor, no bairro Vertentes – Ponto 1 e no
bairro Porto Seguro – Ponto 2, considerando a influência da arborização. O bairro Vertentes foi
selecionada para a pesquisa após uma análise das imagens de satélite do ano de 2014 da cidade de
Assú, onde foi observado um número significativo de árvores de grande porte e copas frondosas. A
pesquisa foi realizada no dia 09/08/2015 entre as 07 e às 17h na área urbana do município de Assú,
caracterizando assim como um estudo do clima local. Os máximos valores de temperatura do ar
foram coletados às 13h onde Ponto 1 apresentou 32,7°C e o Ponto 2 apresentou 34,7°C,
apresentando assim uma amplitude térmica de 2,0°C. A amplitude térmica máxima aconteceu às 8h,
com o valor de 3,2°C, fruto da diferença entre a temperatura no P1 e P2 que foi, respectivamente,
25,9°C e 29,1°C. O P1 apresenta significativo número de árvores o que gera uma área bem
sombreada influenciando diretamente nos valores de temperatura do ar.
Palavras-chave: Temperatura do ar. Vegetação Urbana. Clima Urbano.
ABSTRACT
The green spaces takes a very significant role in the cities with regard to environmental quality, as
they as a balance between the urban life and the environment, when these spaces are preserved and
utilized for this purpose. The semiarid region is already characterized by having naturally elevated
temperatures, but temperatures may increase even more because of the characteristics of the use and
occupation of the land and the lack of trees. In the city of Assu-RN, in the Porto Seguro district
appears as a new area of population and occupation will be investigated here as an example of a
district that has an emerging afforestation. Thus, the aim of this work was to identify the difference
between the behavior of climatic elements: air temperature and air humidity, as well as the values of
the heat index, the Vertentes district - Point 1 and Porto Seguro district - Point 2, considering the
influence of afforestation. The Vertentes district was selected for the research after an analysis of
satellite the year 2014 the city of Assu images, where it was noticed significant numbers of large

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 1032


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trees and leafy tops. The study was conducted on 08/09/2015 between 07am and 5pm in the urban
area of Assu city, characterizing as a study of the local climate. The maximum air temperature
amounts were collected at 12pm where point 1 showed 32.7°C and Point 2 showed 34.7°C, thus
presenting a thermal amplitude of 2°C. The maximum thermal amplitude occurred at 8 am, with the
value of 3.2° C, resulting from the differences between the temperature in P1 and P2, which was,
respectively, 25.9 ° C and 29.1 ° C. The P1 presents a significant number of trees, which creates a
well-shadowed area directly influencing the temperature values of the air.
Keywords: Air temperature. Urban Forestry. Urban Climate.

1. INTRODUÇÃO

A conceitualização do ambiente urbano na Geografia é constituída pela interação entre os


componentes físico-naturais e as ações antrópicas, proporcionando a formação de sistema ambiental
urbano, no entendimento com a qualidade de vida e o cotidiano da população. O ambiente urbano é
representado por organização social e as ações humanas sobre o meio ambiente, criando assim a
modificação do clima urbano.
De acordo com Monteiro (1976, p.10), enfatiza a perspectiva sistêmica do clima urbano,
configura-se que ― o clima urbano como um sistema complexo, aberto, adaptativo que, ao receber
energia do ambiente maior, no qual se insere, a transforma substancialmente a ponto de gerar uma
produção exportada ao ambiente‖. A conceitualização do clima urbano é constituída em uma
proposta teórica, conceitual e metodológica denominada de Sistema Clima Urbano - SCU, é
apresentada por uma manifestação de fenômenos ou acontecimentos ambientais como inundações,
poluição do ar, ilha de calor, estando associado as influências dos sistemas atmosféricos como base
a morfologia do sítio urbano (MENDONÇA, 2009).
Neste sentido, com o crescimento urbano e populacional, crescem as demandas por
equipamentos urbanos e serviços básicos prestados a população tais como saúde, educação,
infraestrutura, segurança e moradia. A expansão dos espaços urbanizados, influenciada pelos
surgimentos de novos loteamentos, condomínios e conjuntos habitacionais, faz parte da realidade
das cidades que apresentaram um aumento populacional, tem como objetivo principal a integração
entre a política pública de habitação e o crescimento do desenvolvimento urbano. Portanto, essas
novas áreas habitacionais apresentam diversas problemáticas sociais e ambientais, por isso, essas
ações de planejamento e gestão pública não acontecem de forma adequada.
Desta forma, o artigo tem como objetivo analisar e verificar o ambiente urbano do Bairro
Porto Seguro, em análise comparativa ao Bairro Vertentes (Figura 01), tem como base os aspectos
climáticos (temperatura, umidade do ar e movimento do ar), e os valores do índice de calor,
considerando a cobertura vegetal ou sistema de arborização, identificando os diferentes ambientes

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climáticos no espaço intra-urbano, integrando o ambiente natural, a ocupação do solo e as variações


térmicas no ambiente.

Figura 01: Localização Geográfica do Município de Assú/RN.


Fonte: Francicélio Mendonça da Silva, 2017.

Portanto, a aplicação da análise do sistema clima urbano tornou-se uma importante


ferramenta na complementação para a identificação e avaliação dos elementos climáticos,
atribuindo assim a transformação ou mudança espacial no meio ambiente local, tendo como ponto
principal de abordagem o processo de urbanização, ocupação do solo e os impactos ambientais, de
fundamental importância para a ordenamento e gestão do territorial, bem como na conservação e
preservação do meio ambiente e nas aplicações de políticas públicas no território.

2. METODOLOGIA

2.1. Referencial Teórico-Metodológico

Na concretização deste artigo foram empregados para a realização uma reflexão acerca do
referencial teórico, conceitual e metodológico, tem como embasamento a utilização da
conceitualização do clima urbano, de acordo com a metodologia proposta por Monteiro (1976,
p.95), ―O clima urbano é um sistema que abrange o clima de um dado espaço terrestre e sua
urbanização‖. Para Mascaró (1996), a denominação do clima urbano é um entendimento de uma
relação entre o sistema que compreender o clima de um espaço da superfície terrestre e a sua
dinâmica de urbanização. Com base em Garcia (1999), a definição da caracterização do clima

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urbano é atribuída a própria cidade e aos espaços urbanos, como o clima regional e as modificações
pela ação humana.
Desta forma, Barbirato, Souza e Torres (2007, p.19), enfatizar que ―o ambiente urbano,
portanto, configura-se como o resultado da interação humana sobre o espaço natural, e por
definição, está inserido na categoria de espaço adaptado‖. Já na descrição de Santos (1991), criar
um meio artificial, sendo assim, o ambiente urbano é caracterizado como um palco de interação
entre o homem e a natureza, de forma direta, tem como objetivo a relação entre a sociedade e a
natureza. Em relação ao seu entendimento do conceito de clima urbano, tem-se como suporte
teórico e conceitual a definição de conforto térmico, que consiste em um conjunto de condições
ambientais, em que os mecanismos de auto-regulação são mínimos, ou ainda na zona delimitada por
características térmicas, em que o maior número de pessoas manifeste-se se sentir bem (GOMES e
AMORIM, 2003). Do ponto de vista humana, a definição do conforto térmico está associada à
condição psicológica que expresse satisfação com o ambiente térmico (NÓBREGA e LEMOS,
2011).
Portanto, é de fundamental importância como fator de qualidade ambiental, os ambientes de
áreas verdes, que conforme Martins Jr (1996) são constituídos com espaços de cobertura vegetal,
áreas públicas e privadas, proporcionando áreas sombreadas, que diminuam as temperaturas locais,
tornando assim a área residencial mais agradável e melhorando ao longo do dia o conforto térmico
local. Logo, Saraiva (2010), ressaltar que as áreas verdes assumem um papel importante nas cidades
em relação a qualidade do ambiente, servindo de equilíbrio entre a vida urbana e o meio ambiente,
sendo preservados e utilizados para esse fim.

2.2. Procedimentos Técnico-Operacionais e Instrumento de Apoio


Para uma melhor concretização, utilizou-se os procedimentos técnicos-operacionais e os
instrumentos de apoio, foram subdivididos em três etapas de forma necessária para a sua
finalização, destacando-se as seguintes etapas: pré-campo: trabalhos de gabinete; etapa de visitação
de campo: aquisição dos dados e a integração, análise e correlação dos dados tabulados; que serão
descritas a seguir:

2.2.1. Etapa Pré-Campo: Trabalhos de Gabinete

Na etapa pré-campo foi adotado para a elaboração deste artigo a realização da pesquisa do
levantamento do acervo bibliográfico acerca da temática proposta, que envolve o clima urbano, com
isto pretendia-se obter subsídios para a discussão teórica, conceitual e metodológica, tendo como
base o método sistêmico na perspectiva integrada, permitindo o entendimento dos fatores naturais
climáticos e antrópicos em detrimento da ocupação do solo urbano, utilizando-se diversos tipos de

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leituras, tais como livros, teses, dissertações e artigos científicos acerca da área em estudo, a fim de
obter a análise do clima urbano, a problemática ambiental da devastação da vegetação típica e a
arborização do ambiente. Posteriormente foi feito um levantamento de imagens de satélite orbitais,
sendo aplicado as técnicas de geoprocessamento que servissem na efetuação do mapeamento da
análise do uso e ocupação do solo.

2.2.2. Etapa Campo: Aquisição dos Dados

A elaboração dos pontos de coleta de dados climáticos no ambiente urbano foi embasada na
proposta metodológica de Saraiva (2012), onde resultou na escolha do Ponto 01 – Bairro Vertentes
e o Ponto 02 – Bairro Porto Seguro, na obtenção do entendimento do clima urbano, tem como base
a urbanização, cobertura vegetacional e arborização, com o uso e ocupação do solo (áreas
residências e a expansão urbana), a fim de identificar e avaliar espaços com poucas cobertura de
árvores nos equipamentos urbanos, correspondendo inicialmente a verificação e a avaliação do
clima urbano, evidenciando as interações entre a sociedade e a natureza, nas análises das
perturbações e ameaças constantes ao meio ambiente urbano.
Nessa etapa de visitação de campo foi realizada com base na visualização in loco, uma
melhor análise do clima urbano, no intuito de obter informações ambientais das áreas urbanizadas
em relação ao uso e ocupação do solo e as suas implicações socioespaciais, com registros de
imagens fotográficas do ambiente. Em seguida, foi a efetuada a escolha dos setores de instalação
dos abrigos meteorológicos, delimitando espacialmente os pontos de coletas climáticos nos
diferentes ambientes geográficos, permitindo com isso a coleta de dados, com periodicidade entre
7h do dia 09 de agosto de 2015 e o término da atividade de 17h, com dados climáticos como
temperatura e a umidade relativa do ar onde foram levantados no intervalo em hora em hora, sendo
utilizado o equipamento coletor denominado de Termohigrômetros Digitais com datalogger
(IMPAC) acomodados em abrigos meteorológicos de madeira de 1,50 metros de altura com 1,5m de
altura, pintados de branco, seguindo as normas internacionais para coleta de dados climáticos no
meio ambiente.

2.2.3. Etapa Pós-Campo: Integração, Análise e Correlação dos Dados Tabulados

Portanto, os dados climáticos apresentados no instante da coleta de campo eram anotados e,


posteriormente, organizados em forma de tabelas. Esses dados primários foram coletados pelo
Grupo de Estudo em Climatologia Geográfica e Questões Socioambientais (GECLIMA) da
Universidade Estadual do Estado do Rio Grande do Norte - UERN. Após as coletas os dados foram
organizados, tabulados e analisados os ambientes urbanos do Bairro Vertentes e Porto Seguro. Em

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 1036


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seguida foram calculadas as amplitudes térmicas e higrométricas para cada intervalo de horário e a
aplicação do Índice de Calor para um cada ponto delimitado em campo.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

O Bairro Vertentes (P1) está localizado próximo ao centro da cidade e se caracteriza como
um bairro pavimentado com ruas arborizadas. Esse é o bairro que apresenta maior fluxo de pessoas
na cidade e destaca-se entre os bairros em termos de arborização, que proporciona o sombreamento
e ameniza a temperatura do ar local. O bairro Porto Seguro (P2), localizado a 2 km do bairro
Vertentes, possuindo empreendimentos com a implantação de lotes residenciais vazios e incipiente
sistema de arborização do ambiente (Figura 02 A e B).

A B
|
Figura 02 A e B: (A) Visualização da instalação do equipamento denominado de Abrigo Meteorológico no
P1 – Bairro Vertentes. (B) Descrição do Bairro Porto Seguro – P2, situado no município de Assú - RN.
Fonte: Gilciane Kariny da Costa Frutuoso, 2015.

As temperaturas do ar coletadas no dia 09/08/2015 ficaram entre 34,7°C, coletada no P2 às


13h e 24,8° C coletada no P1 às 7h. O que explica a temperatura mais baixa no P1 é o fato de
possuir residências e árvores nas proximidades, o que causa, no início da manhã, uma área
sombreada. A amplitude térmica máxima aconteceu às 8h, com o valor de 3,2° C, fruto da
diferença entre a temperatura máxima e a mínima, que foi 25,9° C coletado no P1 e 29,1° C
coletado no P2. Já a menor amplitude térmica horária aconteceu às 17h, com uma diferença de
apenas 0,2°C entre o P1 e o P2. Os dados de temperatura do ar bem com as amplitudes térmicas
horárias podem ser verificados na Tabela 1.

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Tabela 1 – Temperaturas do ar coletados nos P1 e 2 e as amplitudes térmicas horárias coletados.


Horário Temperatura Temperatura Temperatura Temperatura Amplitude
da coleta do ar do P1 do ar do P2 máxima mínima térmica em °C
horária horária
07:00 24,8 25,7 25,7 24,8 0,9
08:00 25,9 29,1 29,1 25,9 3,2
09:00 28,3 30,0 30,0 28,3 1,7
10:00 30,2 31,9 31,9 30,2 1,7
11:00 31,7 33,9 33,9 31,7 2,2
12:00 31,7 34,5 34,5 31,7 2,8
13:00 32,7 34,7 34,7 32,7 2,0
14:00 33,1 34,4 34,4 33,1 1,3
15:00 33,4 34,6 34,6 33,4 1,2
16:00 33,3 34,0 34,0 33,3 0,7
17:00 32,1 32,3 32,3 32,1 0,2
Fonte: Gilciane Kariny da Costa Frutuoso, 2015.

A umidade relativa do ar no início da manhã apresentou valores mais elevados. Com o


passar das horas, os valores foram diminuindo e voltaram a aumentar no final da tarde. Com
agravamento a partir das 10h, teve seu ponto mais crítico entre às 10h e 15h, nos dois pontos
coletados. Os teores de umidade relativa do ar ficaram entre 58,9%, coletado na P2 às 7h, e 38,5%,
coletado na P2 às 15h. A maior amplitude horária aconteceu às 7h, com o valor de 6,9%. Os dados
de umidade relativa do ar bem com as amplitudes higrométricas horárias podem ser analisados na
Tabela 2.

Tabela 2 – Umidade Relativo do ar coletados nos P1 e 2 e as amplitudes higrométrica nos horários coletados.
Horário da Umidade Umidade Umidade Umidade Amplitude
coleta relativa do ar relativa do ar relativa relativa mínima higrométrica em
do P1 do P2 máxima horária °C
horária
07:00 52,0 58,9 58,9 52,0 6,9
08:00 54,3 52,8 54,3 52,8 1,5
09:00 48,6 49,7 49,7 48,6 1,1
10:00 46,3 45,7 46,3 45,7 0,6
11:00 41,7 42,6 42,6 41,7 0,9
12:00 41,7 40,6 41,7 40,6 1,1
13:00 38,3 39,5 39,5 38,3 1,2
14:00 36,0 39,5 39,5 36,0 3,5
15:00 34,9 38,5 38,5 34,9 3,6
16:00 34,9 38,5 38,5 34,9 3,6
17:00 36,0 43,6 43,6 36,0 7,6
Fonte: Gilciane Kariny da Costa Frutuoso, 2015.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 1038


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Com a aquisição dos dados de temperatura e umidade relativa do ar, foram calculados os
índices de calor, que é a temperatura sentida devido à combinação entre a temperatura aparente do
ar e a umidade relativa do ar. Os índices de calor ficaram entre 36,5° C às 12h no P2 e 25,8° C às
7h, na P1. Os índices de calor calculados para os P1 e P2 bem com as amplitudes horárias podem
ser observados na Tabela 3.

Tabela 3 – Índice de calor calculado para os Pontos 1 e 2 e as amplitudes horárias.


Horário da coleta Índice de Índice do Índice de Índice de Amplitude do índice
calor do P1 ar do P2 calor calor de calor em °C
máximo mínimo
horária horária
07:00 25,8 26,6 26,6 25,8 0,8
08:00 26,6 30,1 30,1 26,6 3,5
09:00 28,6 31 31 28,6 2,4
10:00 30,8 33,3 33,3 30,8 2,5
11:00 32,2 35,8 35,8 32,2 3,6
12:00 32,2 36,5 36,5 32,2 4,3
13:00 32,9 36,2 36,2 32,9 3,3
14:00 33,1 36 36 33,1 2,9
15:00 33,3 36,1 36,1 33,3 2,8
16:00 33,1 35 35 33,1 1,9
17:00 31,8 33,4 33,4 31,8 1,6
Fonte: Gilciane Kariny da Costa Frutuoso, 2015.

O ambiente do clima Semiárido já é caracterizado por possuir elevadas temperaturas do ar


naturalmente, porém as temperaturas podem aumentar ainda mais devido às características do uso e
ocupação do solos e ausência de um sistema de arborização no meio ambiente. Em relação ao
Bairro Porto Seguro é um dos mais novos bairros, destinado a construções de edificações, ou seja,
representa, um mecanismo de fundamental importância na expansão urbana, criando novas ruas,
avenidas e núcleos residências (Figura 3 A e B). Observando as imagens de satélite orbitais e em
registros fotográficos da área em questão, considerando os recortes temporais e especiais diferentes,
uma antes da construção e outra posterior da construção da infraestrutura do bairro é possível
perceber e avaliar os impactos ambientais causados pela retirada da cobertura vegetal que existia no
local.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 1039


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

A B
|
Figura 03 A e B: Visualização da Estrutura Urbana no Bairro Porto Seguro, município de Assú - RN.
Fonte: Gilciane Kariny da Costa Frutuoso, 2015.

Depois da construção de algumas casas não foram plantadas um número significativo de


árvores nas vias públicas, nem nas calçadas das residências. Por esta razão, diante das pesquisas
feitas e dos dados coletados, fica evidente que o Bairro Porto Seguro apresenta índices de calor
mais elevados que o Bairro Vertentes. A arborização urbana, do ponto de vista do conforto térmico
humano, é um dos grandes diferenciais entres esses bairros estudados. Em relação a isso, a
importância da cobertura vegetal constitui uma variação de temperatura no ambiente urbano,
resultante em uma maior incidência de radiação solar, devido a expansão do ambiente urbano na
construção de estruturas residências. Todavia, a cobertura da vegetação no espaço urbano do Bairro
Vertentes (Figura 04 A e B), tem como ponto principal a importância da minimização do índice de
temperatura no local, associado a cobertura da vegetação/arborização, atribuindo um ambiente com
maior ou menor temperatura no espaço urbano do Bairro Vertentes, evidenciando o ambiente
urbano com baixa temperatura, em detrimento ao uso e ocupação do solo no ambiente urbano.

A B
|
Figura 04 A e B: Visualização da Estrutura Urbana com a Arborização no Bairro Vertentes, município de
Assú - RN.
Fonte: Gilciane Kariny da Costa Frutuoso, 2015.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 1040


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

4. CONCLUSÃO

Neste trabalho foram observados os benefícios térmicos e higrométricos da arborização


urbana, comparando uma área arborizada e outra não arborizada de uma cidade do semiárido
Nordestino denominado de Assú. Sendo assim, as temperaturas máximas do ar coletadas no dia
09/08/2015 foram 34,7° C às 13h no P2 (Bairro Porto Seguro - Área não arborizada) e 32,7° C
coletada no P1 (Bairro Vertentes - Área arborizada). No horário mais crítico do dia do ponto de
vista térmico a áreas sombreada gerada pela copa das árvores do P1 – Bairro Vertentes foi
fundamental para reduzir da temperatura do ar e tornar a área mais ambientalmente confortável.
A amplitude térmica máxima aconteceu às 8h com o valor de 3,2° C, fruto da diferença entre
a temperatura do ar do P1 (25,9° C) e do P2 (29,1° C). O P1 apresenta significativo número de
árvores no ambiente urbano e uma significativa área construída o que gera uma área sombreada.
Mesmo sendo um bairro mais central do ambiente urbano de Assú, com adensamento habitacionais,
equipamentos urbanos e uma intensa dinâmica populacional, a cobertura da vegetação existente no
local foi capaz de gerar uma redução de 3,2° C no ambiente, quando comparada com a temperatura
do ar do P2.
Com isso, no ambiente urbanizado do P2, foi possível identificar e analisar que a ausência
do sistema de arborização no Bairro Porto Seguro afeta negativamente o conforto térmico de quem
reside no meio ambiente local. É importante destacar que as crianças e os idosos são os que mais
sofrem impactos ambientais com os problemas relativos ao calor e a baixa umidade relativa do ar.
Procurou-se demonstrar que a tradicional visão de antagonismo entre cidade e natureza causa
impactos negativos e deve ser superada. É necessária a expansão do sistema de arborização em
ambientes públicos e privados da cidade, criando assim áreas ambientalmente mais agradável,
melhorando a qualidade de vida nos espaços urbanos e o conforto térmico dos moradores do bairro
em questão.
Portanto, a falta de um Plano Diretor no município ainda preocupa a cidade, pois não há
nenhuma lei municipal que imponha a realização de um projeto do sistema de arborização e de
criação de espaços arborizados destinados a recreação/lazer. Uma vez que este trabalho apresentou
dados significativos sobre a diminuição da temperatura do ar em horários críticos do ponto de vista
térmicos no bairro não arborizado, faz-se necessária a continuação de trabalhos desta natureza.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 1041


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ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 1042


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E EPIDEMIOLOGIA NO MAPEAMENTO DE DOENÇAS


EM PERNAMBUCO

Érica de Araújo FIGUEIREDO


Mestranda em Ensino de Ciências e Matemática da UFPE
ericaafigueiredo2015@gmail.com
Cristiane Félix da Silva SOUTO
Mestranda em Ensino de Ciências e Matemática da UFPE
cristianefelixfelix@hotmail.com
Roberto Araújo SÁ
Professor Adjunto IV Doutor em Química UFPE
sa_aaraujo@yahoo.com.br

RESUMO
A educação ambiental pode ser considerada como uma das ferramentas mais importantes no
combate a redução dos impactos que a degradação do meio ambiente pode trazer a saúde da
população. Conhecer e praticar as ações que são trabalhadas nessa disciplina tem mostrado ser
relevante na conscientização da prevenção e combate de algumas doenças. Um dos problemas que
está envolvido nessa degradação é o aparecimento de pessoas com doenças, transmitidas por
animais que tem sua reprodução ligada a falta de infraestrutura urbana. Muitos trabalhos foram
publicados sobre esse tema, destacando a importância e a urgência de se pensar em estratégias de
identificação de doenças mais recorrentes e as regiões em que se desenvolvem. O estado de
Pernambuco apresenta um índice significativo das doenças ligadas ao ambiente. A epidemiologia, é
uma disciplina que analisa os problemas de saúde que estão relacionados com o ambiente,
permitindo a obtenção de informações de agravos a saúde. O presente artigo tem por objetivo
apresentar o levantamento de artigos, realizado pelo portal CAPES, que abordavam o tema das
doenças transmitidas por animais com reprodução relacionada a degradação do Meio Ambiente, são
elas a filariose, a esquistossomose e a leptospirose. O resultado do levantamento identifica grande
número de trabalhos publicados com o tema, destacando a importância de ser realizado um
mapeamento das doenças mais recorrentes e os locais onde se desenvolvem, assim como os meios
que levam a esse desenvolvimento, para que ações eficazes sejam desenvolvidas com intuito de
reduzir os problemas de saúde e do ambiente.
Palavras chaves - ―Pernambuco‖, ―Filariose‖, ―Esquistossomose‖, ―Leptospirose‖

RESUMEN
La educación ambiental puede ser considerada como una de las herramientas más importantes en el
combate a la reducción de los impactos que la degradación del medio ambiente puede traer la salud
de la población. Conocer y practicar las acciones que son trabajadas en esta disciplina ha mostrado
ser relevante en la concientización de la prevención y combate de algunas enfermedades. Uno de los
problemas que está involucrado en esta degradación es la aparición de personas con enfermedades,
transmitidas por animales que tienen su reproducción ligada a la falta de infraestructura urbana.
Muchos trabajos se publicaron sobre este tema, destacando la importancia y la urgencia de pensar
en estrategias de identificación de enfermedades más recurrentes y las regiones en que se
desarrollan. El estado de Pernambuco presenta un índice significativo de las enfermedades
relacionadas con el ambiente. La epidemiología, es una disciplina que analiza los problemas de
salud que están relacionados con el ambiente, permitiendo la obtención de informaciones de

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

agravios a la salud. El presente artículo tiene por objetivo presentar el levantamiento de artículos,
realizado por el portal CAPES, que abordaban el tema de las enfermedades transmitidas por
animales con reproducción relacionada a la degradación del Medio Ambiente, son ellas la filariosis,
la esquistosomiasis y la leptospirosis. El resultado del levantamiento identifica gran número de
trabajos publicados con el tema, destacando la importancia de realizar un mapeo de las
enfermedades más recurrentes y los lugares donde se desarrollan, así como los medios que
conducen a ese desarrollo, para que acciones eficaces se desarrollen con con el fin de reducir los
problemas de salud y el medio ambiente.
Palabras claves – ―Filariosis‖, ―Esquistosomiasis‖, ―Leptospirosis‖

INTRODUÇÃO

A industrialização que ganhou força no país a partir da década da era Vargas (1930), trouxe
junto com ela a exploração maciça do Meio Ambiente. Essa exploração se deu por todos os
seguimentos que compõem o meio ambiente, como rios, mares, o solo, a agua. A construção de
barragens destruindo ecossistemas e o incentivo ao consumo gerando lixos urbanos são alguns
exemplos. A exploração desenfreada do meio ambiente resultou em alterações que passaram a
repercutir na saúde das pessoas (LEAL et al, 2008).
A falta de uma infraestrutura urbana adequada, ou até mesmo ausência dela, são outros
fatores que podem contribuir de forma expressiva para o desenvolvimento de doenças na população.
A tempos se sabe que a insuficiência no abastecimento de água, do escoamento de sanitário e coleta
de resíduos sólidos, estão relacionados intimamente com aparecimento de determinadas doenças
graves, infecciosas com número de mortalidade significativo. Dentre elas as doenças transmitidas
pelo mosquito Aedes aegypti e por roedores (SARDÃO, 2017).
Por outro lado, não descartando os problemas citados, pesquisadores sugerem que os fatores
ambientais têm sido ignorados, contribuindo para as epidemias das doenças, como a zika (POST,
2016). O autor exemplifica o fato da proliferação do mosquito ocorrer por outros motivos como por
exemplo, pela degradação ambiental e não apenas em áreas precárias. Lixos não coletados, pneus
descartados cheios de agua, áreas alagadas, são fatores ligados a degradação que possibilitam a
proliferação dos vetores.
A construção de barragens é uma atividade que também está ligada a proliferação de
vetores. Segundo Post (2016), é um dos maiores fatores de emergência da esquistossomose por
esporem as pessoas aos biomphalaria, que são moluscos (também conhecidos como caramujo) de
agua doce portadores de parasitas. O acumulo de agua, lagos artificias e sistemas de irrigação
favorecem um habitat excelente para esses caracóis.
A Lei nº 9795 de 27 de abril de 1999, dispõe sobre educação ambiental, institui a Política de
Nacional de educação Ambiental. Por tratar das questões de construção, desenvolvimento de

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

conhecimento, habilidades, valores sociais, atitudes e competências voltadas para a conservação do


meio ambiente, que é um bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida e sua
sustentabilidade, a educação ambiental torna se componente essencial e permanente da educação
nacional (VIEIRA E OLIVEIRA, 2011).
Em Pernambuco, a Lei nº 7.541 de 12 de dezembro de 1977, ordena as questões de
prevenção e controle da poluição do Meio Ambiente e estabelece normas. Outra lei, a de n° 9377 de
30 de novembro de 1983, estabelece as medidas de proteção do Meio Ambiente e dá outras
providências.
Muitos trabalhos na área do Meio Ambiente apresentam resultados positivos quanto a
Educação Ambiental nas escolas e na sociedade tais como: a sensibilização da comunidade escolar
sobre os perigos do mosquito da dengue no trabalho de Corrêa e Correia (2016) que resultou na
extensão do que os alunos trabalharam na escola à comunidade sobre a prevenção e o combate ao
mosquito transmissor de doenças; a conscientização da necessidade da higiene para garantir boa
qualidade da água em uma comunidade do bairro da Várzea, em Recife, que levou a um mutirão de
limpeza como relata Ribeiro e Günther (2002). Esses trabalhos são exemplos da importância da
inserção da Educação Ambiental na sociedade (em todas as faixas etárias). As principais
recomendações reconhecidas internacionalmente, segundo o Ministério da Educação (1997), estão
ligadas no investimento da conscientização pública para a preservação do Meio Ambiente,
mudando a mentalidade de diversos grupos, exigindo uma nova postura em relação aos problemas
ambientais.
Deve se entender que as questões e problemas ambientais, envolvem a melhoria do
ambiente, assim como, a qualidade de vida das comunidades.
Em um trabalho sobre a política de informação em saúde ambiental, Augusto e Branco
(2003), considera que é imprescindível uma política de informação em saúde ambiental capaz de
monitorar atividades econômicas, políticas públicas e ações de intervenção que visam melhoraras
condições ambientais e de saúde da população. Nesse sentido, a epidemiologia passa a ter um papel
fundamental no sentido de fazer entender a ocorrência de doenças em determinadas regiões. É uma
disciplina que envolve as discussões sobre a relação entre a saúde e o ambiente. Contribui para
tornar evidente a relação entre ambiente e agravos a saúde (BRASIL, 2002).
A saúde humana e o bem-estar estão intimamente ligados a qualidade ambiental. Muito
estudos relatam um efeito a exposição a um risco individual, ou a um contaminante, mesmo assim
há uma necessidade de um olhar mais integrado sobre questões de saúde, as complexas inter-
relações entre as doenças e o acesso aos recursos, as pressões ambientais e a exposição aos
múltiplos agravos. Essa relação da epidemiologia com os problemas ambientais levou o estado de
São Paulo a desenvolver o caderno de vigilância epidemiológica, o qual apresenta temas específicos

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

sobre a vigilância em saúde, suas divisões e formas de atuação da vigilância epidemiológica


(BRASIL 2013).
O estado de Pernambuco faz parte de uma região com índices de caso de doenças ligadas a
degradação do meio ambiente. A leptospirose, doença infecciosa, afebril, ligadas as condições
precárias de infraestrutura, teve 728 casos registrados em 2013 (SES, 2014). Fazer um registro das
doenças mais desenvolvidas e os locais de maiores índices de ocorrências, se faz necessário para o
desenvolvimento de ações eficientes no combate e eliminação destas doenças de maior incidência,
na sociedade.
O presente trabalho tem por finalidade apresentar um levantamento de artigos que envolvem
os três tipos de doenças esquistossomose, leptospirose e filariose ligadas a falta de infraestrutura
urbana e a degradação ambiental, no estado de Pernambuco, pois, entender essa relação é identificar
as questões e os fatores que favorecem o desenvolvimentos dessas doenças, como esse
desenvolvimento está relacionado com o Meio Ambiente e as ações que podem ser desenvolvidas
na tentativa de reduzir, ou eliminar esses fatores. Baseado nessas informações, esse estudo
apresenta um papel importante para a saúde pública, já que os índices dessas doenças incluem uma
parte significativa da população brasileira, em destaque o estado de Pernambuco.

METODOLOGIA

A pesquisa de caráter bibliográfico foi realizada no período de maio a julho de 2017, através
do acervo eletrônico CAPES, na busca avançada, filtrado para artigos. Para Fonseca (2002), a
pesquisa bibliográfica é realizada a partir do levantamento de referências teóricas analisadas,
publicadas por meios escritos e eletrônicos sobre o tema a estudar. Segundo o autor citado, a
pesquisa cientifica que é baseada na pesquisa bibliográfica, procura referências teóricas, publicadas
com objetivo de reunir conhecimentos prévios sobre o problema, o qual procura respostas. O
pesquisador deve ser cuidadoso quanto a escolha dos documentos a pesquisar, afim de evitar
comprometer a qualidade da pesquisa. As palavras chaves utilizadas para a pesquisa foram filariose
e Pernambuco, esquistossomose e Pernambuco, leptospirose e Pernambuco.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A combinação dos descritores filariose e Pernambuco foram encontrados 84 artigos. Para a


combinação esquistossomose e Pernambuco foram encontrados 159 artigos. Para a combinação
leptospirose e Pernambuco foram encontrados 33 artigos.
Esses registros mostram a quantidade de trabalhos escritos sobre as doenças e a relação
delas no estado de Pernambuco. Num total de 276 artigos publicados envolvendo os temas dessas
doenças que estão intimamente ligadas a condições ambientais no estado de Pernambuco, a

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

necessidade de se conhecer essas regiões e as doenças que mais ocorrem, são informações que
poderão dar um sentido mais eficaz nas ações que envolvem a educação ambiental.
Com frequência, os meios de comunicação publicam informações sobre a ocorrência de
vítimas, inclusive fatais, de doenças que estão relacionadas a degradação ambiental por industrias
que poluem rios que abastecem várias cidades, como por exemplo o Rio Ipojuca, levando em suas
aguas, resíduos nocivos à saúde da população que vivem nessas cidades. A população ribeirinha é a
que mais deve estar em alerta, pelo deposito de lixo, esgoto que são despejados nos rios e com isso
aumentando os riscos de contaminação.
Em outros locais, a falta de saneamento permite não só as doenças citadas anteriormente,
mas também outras doenças como hepatite e diarreia.
A secretaria municipal de desenvolvimentos e planejamento urbano destaca um outro fator
como de degradação ambiental, que é a ocupação desordenada na cidade do Recife. Há um aumento
significativo na quantidade de lixo nas ruas. O despejo de dejetos residências nos rios e as obras
inacabadas, são questões que estão no cotidiano da cidade a mais de 100 anos, segundo o secretário.
Para Serrão (2004), a educação ambiental mostra ser uma ferramenta indispensável na
melhora dos indicadores de doenças, por estar relacionada aos programas de saúde, como por
exemplo o Programa de Saúde da Família e o Programa de Atenção de Saúde do Trabalhador,
contribuindo para a transformação da qualidade socioambiental.

CONCLUSÃO

Realizar mapeamento de quais doenças são mais comuns e os locais em que elas mais se
desenvolvem pode ser uma estratégia importante no desenvolvimento de ações no combate a essas
doenças, a degradação do ambiente onde há essa maior prevalência e assim melhorar os indicadores
de saúde relacionados aos problemas ambientais.

REFERÊNCIAS

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ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 1048


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

POLUIÇÃO SONORA NA FEIRA LIVRE DO MUNICÍPIO


DE PAU DOS FERROS-RN43

Erick Ferreira de SOUSA


Bacharel em Ciência e Tecnologia, Universidade Federal Rural do Semi-Árido - UFERSA
Graduando em Engenharia Ambiental e Sanitária, UFERSA.
efdesousa94@gmail.com

Jessica Rafaelly Almeida LOPES


Bacharel em Ciência e Tecnologia, UFERSA
Graduanda em Engenharia Ambiental e Sanitária, UFERSA.
jessicarafaellyalmeida@hotmail.com

Larissa Nathane Lima de MORAIS


Bacharel em Ciência e Tecnologia, UFERSA
Graduanda em Engenharia Ambiental e Sanitária, UFERSA.
larissa_nathane11@hotmail.com

RESUMO
A feira livre constitui-se em uma atividade com relevância socioeconômica, pois é significativa
fonte de emprego e renda, tendo em vista que centenas de trabalhadores diretos e indiretos
sustentam suas famílias a partir dos recursos obtidos com as vendas diárias, favorecendo tanto os
produtores rurais, como os consumidores que se abastecem dos alimentos provenientes das feiras,
ou seja, a partir da agricultura familiar. No entanto, as atividades antrópicas estão passiveis de
desencadear distintos impactos, entre estes o cenário de diversas formas de poluição, seja visual,
sonora, proveniente de resíduos ou esgotos. Diante desse cenário, o presente estudo objetivou
analisar a poluição sonora na feira livre, como no seu entorno, mais precisamente no centro
comercial do município de Pau dos Ferros-RN. A metodologia adotada caracteriza como um estudo
de caso, exploratória, na qual realiza-se uma abordagem de dados qualitativa e quantitativa.
Inicialmente delimitou-se a área de interesse de estudo, da feira livre de Pau dos Ferros-RN,
localizada no centro da cidade, mais precisamente próximo ao centro comercia, através do Google
Earth Pro, em que foram georreferenciados os pontos de amostragem com auxílio de GPS 78H.
Sendo determinado in loco o nível de pressão sonora, mediante o manuseio de decibelímetro digital
verificando-se os níveis de ruído em 4 intervalos espaçados de 30 minutos, nos seguintes horários:
6:00h, 6:30h, 7:00h e 7:30h. Diante dos dados obtidos foi possível espacializar, tal como
regionalizar a distribuição geográfica dos mesmos, além de confrontar com as legislações e normas
técnicas vigentes regulamentadoras. Com isso, por meio da regionalização dos níveis de ruído
verificou-se uma homogeneidade maior no ultimo período quanto aos ruídos obtidos na área, tal
fato deve-se ao funcionamento do centro comercial, bem como ao trafego de veículos, utilização de
carros de som para propagandas e as caixas de som em frente às lojas. Os valores obtidos não
atendem aos limites máximos exigidos em legislação. Portanto, quando as fontes de emissão sonora
encontram-se fora dos níveis estabelecidos ou aceitáveis enquadra-se como crime ambiental,
podendo ocasionar problemas a saúde humana, por isso, deve-se controlar os níveis dos ruídos a fim
de promover o bem-estar social dos moradores que vivem próximos aos centros comerciais e
transeuntes da feira livre.

43
Joel Medeiros Bezerra, Professor Adjunto A do Curso de Engenharia Ambiental e Sanitária, UFERSA.
joel.medeiros@ufersa.edu.br. Professor Orientador.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Palavras-chaves: Gerenciamento ambiental. Qualidade ambiental. Ruídos.


ABSTRACT
The free market is an activity with socio-economic relevance, since it is a significant source of
employment and income, considering that hundreds of direct and indirect workers support their
families from the resources obtained from daily sales, favoring both rural producers , Such as
consumers who obtain food from the fairs, that is, from family farming. However, the anthropic
activities are likely to trigger different impacts, among them the scenario of various forms of
pollution, whether visual, sound, coming from waste or sewage. In view of this scenario, the present
study aimed to analyze sound pollution at the fair, as in its surroundings, more precisely in the
commercial center of the municipality of Pau dos Ferros-RN. The adopted methodology
characterizes as an exploratory case study, in which a qualitative and quantitative data approach is
carried out. Initially, the area of study interest was defined as the free fair of Pau dos Ferros-RN,
located in the center of the city, more precisely near the commercial center, through Google Earth
Pro, where the sampling points were georeferenced with aid Of GPS 78H. When the sound pressure
level is determined in loco, by means of the digital decibelimeter, the noise levels are measured in 4
intervals spaced from 30 minutes, at the following times: 6:00 a.m., 6:30 a.m., 7:00 a.m. and 7:00
a.m. 30h. In view of the data obtained, it was possible to spatialize, as well as regionalize the
geographic distribution of the same, in addition to comparing with the current legislation and
technical regulations. Thus, through the regionalization of noise levels, there was a greater
homogeneity in the last period in terms of the noise obtained in the area, due to the operation of the
commercial center, as well as to the traffic of vehicles, use of car sound For advertisements and
speakers in front of the shops. The values obtained do not meet the maximum limits required by
legislation. Therefore, when the sources of sound emission are outside the established or acceptable
levels it is classified as an environmental crime and can cause human health problems, therefore,
the noise levels must be controlled in order to promote the well-being Residents living near the
shopping centers and passers-by of the fair.
Keywords: Environmental management. Environmental Quality. Noise.

INTRODUÇÃO

De acordo com o censo agropecuário de 2006 do Instituto Brasileiro de Geografia e


Estatística (IBGE, 2006), cerca de 4.367.902 estabelecimentos, os quais representam 84,4% são
provenientes da agricultura familiar no Brasil. Vale salientar que esta atividade favorece a
economia, contribuindo com cerca de um terço das receitas.
A independência dos pequenos produtores rurais, também conhecidos como agricultores
familiares, face ao uso de tecnologias de produção como sementes aperfeiçoadas, fertilizantes e
químicos agrícolas tem se baseado na estratégia de redução dos custos de produção através de
reorganização econômica aumentando o valor da matéria prima agrícola, porém estudiosos e
planejadores chegam ao consenso que os agricultores familiares necessitam modificar seu acesso ao
mercado e sua forma de venda. Dentre as formas de comercialização destes produtos encontra-se a
feira livre como uma forma venda direta em cadeia curta onde acontece a iteração face a face entre
compradores e vendedores (SCHNEIDER e FERRARI, 2015).

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 1050


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

No município de Pau dos Ferros a feira livre ocorre todos os finais de semana, estando
localizada no centro da cidade, mais precisamente próximo ao centro comercial, de onde provem os
principais ruídos, em virtude da grande quantidade e diversidade de empreendimentos comerciais e
serviços nas áreas centrais, desencadeando diversos problemas, entre eles a poluição sonora, seja
em detrimento do tráfego de veículos, ou até mesmo pelo intenso fluxo de pessoas.
De acordo com Cavalcante et al. (2010), a utilização de mecanismos para atrair os
consumidores é constante, seja por meio de carros de som, alto-falante ou megafone, o que acaba
provocando um desconforto e uma perturbação para aqueles que diariamente convivem com os
ruídos provenientes das atividades comerciais, como do tráfego de veículos.
Com isso, verifica-se que a poluição sonora pode desencadear problemas à saúde da
população sujeita a ruídos constantes, uma vez que, os níveis de aceitabilidade pela regulamentação
não são cumpridos. Dentre as várias complicações atribuídas ou advindas da poluição sonora tem-se
à perda auditiva e distúrbios fisiológicos acarretados pela exposição, como irritabilidade e
nervosismo (GONÇALVES et al., 2008).
Além disso, outros fatores podem ser afetados pela longa exposição aos ruídos, como o
estado psicológico dos frequentadores locais, causando perturbação do sono, desorientação e
ansiedade, bem como perdas na capacidade auditiva, além de aumento da pressão arterial,
aceleração da respiração, aumento da pressão no cérebro, bem como aumento das secreções de
adrenalina (YRES et al., 1999; LACERDA et al., 2005; DIAS e LASCIOS, 2007).
Por outro lado, os efeitos adversos oriundos da exposição contínua a níveis elevados de
ruídos só irão influir negativamente à saúde humana, principalmente no fisiológico, psicológico e
social dependendo da fonte, frequência e intensidade do ruído, da sensibilidade do receptor e a
duração em que o individuo fica exposto (YRES et al., 1999; DIAS e LASCIOS, 2007).
Todavia, Carmo (1999) descreve os efeitos do ruído no organismo humano, seja de forma
direta ou indireta, em que propicia o estresse e a perturbação do ritmo biológico, provocando
transtornos, tais como: restrição do rendimento, redução dos estímulos visuais, náuseas, vômitos e
suores frios, limitação do equilíbrio, perda do apetite, gastrites e úlceras, variações na pressão
arterial, alterações bioquímicas, falta de atenção e de concentração, cansaço e insônia.
Portanto, partindo da hipótese que a aglomeração de pessoas e atividades comerciais
potencializam o problema da poluição sonora, delimitou-se o setor do centro de Pau dos Ferros para
a realização de pesquisa de campo. Diante desse cenário, o presente estudo objetivou analisar a
poluição sonora na feira livre, como no seu entorno, mais precisamente no centro comercial do
município de Pau dos Ferros-RN.

METODOLOGIA

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

A área de estudo localiza-se no município de Pau dos Ferros (Figura 1), situado na
mesorregião do Alto Oeste Potiguar, tendo como municípios limítrofes ao norte São Francisco do
Oeste e Francisco Dantas, ao sul Rafael Fernandes e Marcelino Vieira, ao Leste Serrinha dos Pintos,
Antônio Martins e Francisco Dantas e a oeste Encanto e Ererê – CE. Foi elevada a categoria de
município pela resolução provincial nº 344 de 04 de setembro de 856, sendo desmembrado de
Portalegre e passando a condição de cidade pela lei estadual nº 593 de 01 de Dezembro de 1924.
Pau dos Ferros/RN possui uma área de 259.959 Km2, com densidade demográfica de 106,76
hab/km2 e possuindo uma população estimada para 2016 de 30.206 habitantes de acordo com o
IBGE (2017).

Figura 1: Localização do município de Pau dos Ferros em visão Municipal, Estadual e Nacional.
Fonte: Adaptado de IBGE (2017) e Wikipédia (2017)

Os dados foram obtidos mediante levantamento em campo, no centro comercial da cidade de


Pau dos Ferros-RN, mais especificamente na feira livre da cidade, contemplando também o seu
entorno, abrangendo uma área de 10,60 hectares. O levantamento de campo ocorreu no dia 29 de
outubro de 2016, um sábado, devido à grande movimentação de pessoas, principalmente de cidades
inseridas na microrregião, tal como dos estados do Ceará e da Paraíba.
Delimitou-se a área de interesse de estudo através do Google Earth Pro, em que foram
georreferenciados os pontos de amostragem, com auxílio de GPS 78H. Com o uso de
decibelímetros MOD. SKDEC-01, os dados referentes aos níveis de pressão sonora naquele local
foram medidos em cada ponto anteriormente definido, tais decibelímetros apresentavam apenas o
ruído máximo obtido em um determinado intervalo de tempo. Dessa forma adotou-se um intervalo
de tempo de 30 segundos para a medição de cada ponto.
Ao todo, foram realizadas 33 medições por período (Figura 2), e esses períodos aconteceram
em intervalos espaçados de 30 minutos, nos seguintes horários: 6:00h, 6:30h, 7:00h e 7:30h. A
escolha dos pontos levou em consideração à presença de atividades antrópicas adjacentes à área da
feira livre, conforme apresentado na Figura 2.

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Inicialmente realizou-se análise estatística descritiva dos principais momentos estatísticos,


voltados a tendência centrais e de dispersão. Posteriormente em escritório, com auxílio do software
QGIS versão 2.14.7 foi especializado a regionalização dos níveis de ruído por período de medição,
permitindo obter melhor compreensão em escala espaço-temporal dos fatores que promovem
maiores influências em relação à condição de poluição sonora, além de avaliar os valores limiares
estabelecidos pela NBR 10.151/2000.
Diante disso, para avaliação da existência de poluição sonora adotou-se a NBR 10.151/2000
(ABNT, 2000) a qual estabelece algumas atribuições quanto à tolerabilidade dos níveis de ruídos
em áreas habitadas, objetivando o bem-estar da comunidade, sendo assim, as exigências para áreas
mistas com vocação comercial e administrativa valores limiares no período: Diurno 60 dB e
Noturno 55 dB

Figura 2 – Localização dos pontos de amostragem nas imediações da área urbana de Pau dos Ferros-RN.
Fonte: Própria do autor (2016)

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Na Tabela 1, verifica-se que os níveis de ruídos nos distintos momentos avaliados


apresentaram baixos valores de coeficiente de variação (CV < 10%), com exceção da leitura as
6:30h que registrou CV acima de 10% (CV médio), conforme a classificação proposta por Gomes
(1985). Tal variabilidade pode ser atribuída ao início das atividades comerciais varejistas de alguns
estabelecimentos, tal como a chegada de veículos de comerciantes autônomos ao espaço da feira,
promovendo a geração de ruídos por seus veículos.

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Horário de amostragem
Dados
6h 6h30min 7h 7h30min
Mínimo (dB) 55,0 57,4 62,9 64,7
Máximo (dB) 83,3 96,3 94,5 92,8
Média (dB) 72,5 75,7 77,9 77,9
Mediana (dB) 73,0 75,0 78,4 76,5
Variância 43,4 71,9 44,0 37,3
Desvio Padrão (dB) 6,6 8,5 6,6 6,1
Coeficiente de Variação(%) 9,08 11,20 8,52 7,84
Tabela 1: Estatística descritiva dos níveis de ruído, nos distintos intervalos de amostragem
na feira livre de Pau dos Ferros-RN
Fonte: Própria da pesquisa (2016)

Com relação aos padrões de qualidade ambiental, observa-se que os valores máximos e
médios dos níveis de ruído estão em desacordo com os valores propostos na NBR 10.151/2000
(ABNT, 2000). O que pode comprometer a saúde ocupacional das pessoas que transitam e residem
nas próximas.
A Figura 3 representa a regionalização dos dados de distribuição espacial dos níveis de ruídos
medidos nos distintos períodos avaliados, na feira livre e no seu entorno. Verifica-se que não ocorre
similaridade na distribuição espacial dos níveis de ruídos, estando os ruídos distribuídos de forma
aleatória, os quais relacionam-se diretamente com a ação antrópica no momento da leitura.

a) b)

c) d)

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Figura 3: Representação dos níveis de ruído obtidos: a) 6:00h; b) 6:30h; c) 7:00h e d) 7:30h.
Fonte: Própria do autor (2016)

O primeiro intervalo de medições iniciou-se as 6:00h, nesse período a movimentação de


pessoas em algumas partes do centro da cidade era muito pequena, e a maioria das lojas comerciais
ainda não estavam abertas, porém já ocorria movimentação na feira-livre da cidade. Dessa forma as
maiores fontes de ruídos localizaram-se nos pontos S33, S28 e S29, e a média geral de ruído
máximo obtido está entorno de 80 dB, como pode ser observado na Figura 3a. O ponto S17 está
localizado na Avenida Independência (principal via da cidade, prolongamento da BR 405), mais
precisamente em frente a um posto de combustível, o qual já apresenta um trafego veicular
considerável. Verificando-se ainda, a presença de alguns caminhões realizando descarga de material
nos pontos S28 e S29.
A partir das 6:30h deu-se início ao segundo intervalo avaliado, nesse horário os primeiros
lojistas começavam a organizar suas lojas para abri-las, o fluxo de pessoas na feira livre começa a
se intensificar, assim como o trafego de veículos. Essas intensificações podem ser observadas na
Figura 3b, onde os pontos com máximos níveis de ruídos encontram-se entorno de 90 dB
aumentando significativamente em relação a medição das 6:00h.
Nessa etapa destacam-se os pontos S12, S13 e S32, ambos localizados na Avenida
Independência, tais pontos apresentaram máxima com valores próximos de 100 dB, estando dentro
do intervalo de 50 a 100db, conforme pode ser observado na Tabela 1.
Analisando os dados do terceiro período de medições é possível notar que a distribuição
espacial (Figura 3c) passa a ficar mais homogênea em relação aos ruídos máximos obtidos. Nessa
etapa, 7:00h, a maioria das lojas estavam começando a abrir, observou-se uma maior movimentação
de pessoas, principalmente funcionários dessas lojas, pelo centro da cidade. O fluxo de carros na
avenida Independência já estava constante, onde foi possível visualizar um grande número de
veículos vindos de outras cidades. A feira livre também se apresentava com um grande volume de

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pessoas, onde a oferta de produtos na ―gritaria‖ começava a se intensificar, aumentando assim a


pressão sonora.
Mais uma vez os pontos que se destacam no terceiro período de medições localizam-se na
avenida Independência, sendo esses os pontos S17 e S32, ambos com ruídos máximos próximos a
100 dB.
No quarto e último período observa-se uma homogeneidade ainda maior dos ruídos
máximos obtidos na área analisada. Nesse horário (7:30h) quase todas as lojas se encontravam
abertas e em funcionamento, embora ainda não apresentassem um grande fluxo de consumidores
nas mesmas. Existiam carros de som com propagandas circulando pela região, assim como algumas
caixas de som na frente das lojas. A feira livre encontrava-se em seu período de maior
movimentação, assim como o trafego de veículos na avenida independência.
Nessa etapa apenas um ponto destaca-se por ter um nível de ruído mais elevado, como pode-
se observar na Figura 3d. Sento mais uma vez o ponto S17, isso é justificado pela localização do
mesmo, que ficou em um cruzamento com grande movimentação de veículos.
A resolução 01/1990 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) prevê que a
emissão de ruídos de algumas atividades, dentre elas a comercial, tem que obedecer a interesses de
saúde a fim de proporcionar sossego publico (BRASIL, 1990). Enquanto, a Norma Brasileira
Regulamentadora - NBR 10151/2000 (ABNT, 2000) apresenta a avaliação de ruídos em áreas
habitadas visando o conforto comunitário, trazendo em sua redação uma tabela com valores
máximos permitidos em decibéis para ambientes externos, apresentando referência para área mista
com vocação comercial e administrativa valores de 60 e 55 dB para período diurno e noturno,
respectivamente.
É notório que os valores obtidos para a área comercial em estudo estão acima dos valores
previstos na NBR 10151, o que pode provocar perturbação no sossego publico e ainda problemas de
saúde, desta forma cabe a promoção e intervenção de tal cenário de poluição sonora mediante uso
de mecanismos de gerenciamento de tais emissões acústicas e ruídos excessivos.
A poluição sonora, como as demais formas de poluição, é caracterizada como crime
ambiental conforme prevê o art. 54 da lei 9.605/1998 (BRASIL, 1998) onde se entende a poluição
sonora como uma poluição de qualquer natureza e que cause prejuízos a saúde humana. Esta
prevista multa e reclusão de um a quatro anos para casos que inflijam o que prediz o supracitado
artigo.
A Figura 4 apresenta os resultados obtidos na amostragem por ponto e intervalos de leitura
dos níveis de ruídos, tal como a relação com os valores máximos permitidos previstos na NBR 10
151/2000 (ABNT, 2000). Os pontos 8, 16 e 17 apresentaram os maiores níveis de ruídos tendo em

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vista ser esses locais os de maior aglomeração de bancas e pessoas na feira livre de Pau dos
Ferros/RN.

6h 6h30min 7h 7h30min Diurno Noturno


100
Nível de ruídos (dB)

90

80

70

60

50
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33
Pontos de amostragem
Figura 4: Gráfico de distribuição dos valores encontrados na amostragem e sua correlação com
a NBR 10151/2000
Fonte: Própria do autor (2016)

Portanto, os valores encontrados no presente trabalho para a área em estudo não se


enquadram nas determinações legais conforme visto anteriormente para ambientes
predominantemente comerciais, porém com presença de área residencial caracterizando assim os
ruídos emitidos como poluição sonora, infringindo a lei de crimes ambientais e portanto passível de
penalidades legais para os provocadores da poluição.
A resolução CONAMA 02/1990 (BRASIL, 1990) institui o Programa Nacional de Educação
e Controle da Poluição Sonora, sendo previsto em seu art. 1º alguns objetivos deste programa dentre
os quais se podem destacar a divulgação em meios de comunicação dos efeitos adversos provocados
pelo excesso de ruídos e a introdução do tema poluição sonora nas redes de ensino visando
atividades de extensão e conscientização ambiental além de proporcionar educação ambiental às
futuras gerações, respectivamente.
Ferreira et al. (2012) em seu trabalho sobre a análise socioambiental em uma feira livre
encontrou resultados que relacionam a poluição, dentre elas a sonora, como contribuição para o
agravamento do quadro de saúde e da perda da qualidade de vida dos agentes envolvidos. Através
de aplicação de questionários 38,41% dos entrevistados afirmaram que o barulho, dentre outras
opções, seria o maior incomodo presente na feira livre, dentre os entrevistados 61,04% assinalaram
como muito o nível do incomodo da poluição sonora, chegando à conclusão que o aumento dos
ruídos causa prejuízos a saúde humana como: estresse, doenças de pressão arterial, aumento de
pressão no cérebro, caracterizando portanto a poluição sonora como uma grave agressão ao homem
e ao meio ambiente.
Silva, Cali e Calil (2015) mensuraram o ruído na montagem e desmontagem em feiras livres
na cidade de Osasco/SP encontrando um valor médio de 77 dB caracterizando o ambiente como

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ruidoso, principalmente no momento da desmontagem, tendo encontrado um valor dentro dos


padrões da norma brasileiro de 54 dB somente uma única vez. Tais valores encontrados pelo autor
se relacionam com o estudo em questão, sendo superados em alguns pontos da pesquisa que
alcançaram valores próximos a 100 dB.
A Norma Regulamentadora 15 do Ministério do Trabalho e Emprego dispões sobre
atividades e operações insalubres e em seu anexo I apresenta valores limites de tolerância para
ruídos contínuos e intermitentes sendo um nível máximo de 85 dB no máximo 8 Hrs de trabalho
diárias, portanto a exposição dos trabalhadores aos níveis máximos permitidos excedem a norma e
podem provocar efeitos nocivos a saúde dos feirantes expostos, resultados também encontrado por
Silva, Cali e Calil (2015).

CONCLUSÕES

A poluição sonora enquadra-se como crime ambiental gerando incomodo ao bem-estar


social e provocando males a saúde humana, para tanto deve-se controlar os níveis dos ruídos a fim
de evitar transtornos.
Na cidade de Pau dos Ferros/RN, alvo da presente pesquisa percebe-se que em dias de feira
livre os níveis de ruído máximos chegam a ultrapassar os níveis permitidos, podendo ocasionar
incomodo aos trabalhadores e moradores, pois trata-se de uma área mista, composta por comércio e
moradias.
Destaca-se que para uma avaliação mais conclusiva a respeito dos níveis de ruído todas as
especificações da norma NBR 10.151 devem ser seguidas, para que medidas de controle possam ser
tomadas, se necessárias, a fim de minimizar/mitigar os efeitos adversos advindos dos elevados
níveis de ruídos, proporcionando assim meios onde possam ser desenvolvidos as atividades laborais
da feira livre sem prejudicar o bem-estar social.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), por


disponibilizar os equipamentos para realização do presente estudo.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E LAZER: EM BUSCA DA QUALIDADE DE VIDA

Fabrício da Mata LUCAS


Mestre em Geografia e Professor EBTT – IFTM
fabriciolucas@iftm.edu.br
Elias Coimbra da SILVA
Doutorando em Geografia – UFU
coimbraelias@hotmail.com

RESUMO
O presente texto resulta de leituras e debates acerca da Educação Ambiental em sua interseção com
o Lazer. Seu objetivo é propor uma abordagem crítica, acerca dessas mesmas questões, destacando
alguns impasses, num primeiro momento, mas propondo uma alternativa, posteriormente. A ideia é
trazer à tona uma ―ponte‖ que estabeleça a relação entre a educação ambiental e a prática do lazer,
no intuito de pensar em um espaço urbano mais acolhedor, que propicie qualidade de vida aos
habitantes das cidades. Trata-se de um texto teórico e que, portanto, parte da leitura e da reflexão de
bibliografia que contou com o suporte teórico de alguns sociólogos, geógrafos, filósofos, urbanistas,
educadores físicos e educadores no geral. Diante disso, este trabalho apresenta uma reflexão
bastante pertinente que resgata a importância dos espaços públicos abertos, possivelmente dotados
de áreas verdes, voltados para atividades lúdicas e para a educação ambiental.
Palavras-chave: Natureza, Lugar, Tempo livre, Educação e Transformação Social.
ABSTRACT
The present text results from readings and debates about Environmental Education in its
intersection with Leisure. Its objective is to propose a critical approach, on the same issues,
highlighting some impasses, at first, but proposing an alternative later. The idea is to bring up a
"bridge" that establishes the relationship between environmental education and the practice of
leisure, in order to think of a more welcoming urban space, which provides a quality of life for the
inhabitants of the cities. It is a theoretical text and therefore part of the reading and reflection of
bibliography that counted on the theoretical support of some sociologists, geographers,
philosophers, urbanists, physical educators and educators in general. In the light of this, this work
presents a very pertinent reflection that rescues the importance of open public spaces, possibly
endowed with green areas and focused on play activities and environmental education.
Keywords: Nature, Place, Free time, Education and Social Transformation.

INTRODUÇÃO

O texto que se segue procura enfocar de uma forma crítica e problematizadora, a questão
que envolve a educação ambiental, bem como suas relações com as práticas e/ou vivências do lazer,
tendo em vista as múltiplas relações inter e transdisciplinares possíveis de se estabelecer face à
complexidade da temática. Nesse sentido, propõe-se uma abordagem geográfica do problema, sendo
que a categoria mais adequada para nos auxiliar, nesse intento, acredita-se que seja o Lugar.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

O lugar é entendido aqui como um espaço subjetivado, sentido e pensado pelos sujeitos:
―Falar de lugares [...] é falar da significação do espaço para cada indivíduo e da maneira de
construir objetos sociais a partir das experiências pessoais. [...] Daí o interesse dado ao papel da
imaginação‖ (CLAVAL, 2013, p. 98). Portanto uma construção a posteriori; ou o Juízo Sintético de
Kant.
Paralelamente, destacamos que ao lidar com a Educação Ambiental é preciso alguma
cautela, quer pela necessidade inerente a uma problemática que deve ser vista em sua forma plena,
ou seja, não fragmentada, quer pela possibilidade de nela incluir elementos transformadores da e/ na
sociedade.
Para isso, as noções de ambiente e, consequentemente, de natureza devem ser repensadas, à
luz da presença humana nesse mesmo ambiente e da ―produção social da realidade‖. Essa clivagem
entre o natural e o social deve ganhar um novo rumo, embora esse longo exercício não será
proposto aqui, dados os estritos objetivos aos quais ora nos lançamos.
Outro ponto importante refere-se à noção de Lazer e de Tempo Livre, a qual pressupõe uma
separação de espaços: um de lazer e outro de trabalho. Nesse caso, o Espaço de Lazer será aqui
pensado em íntima associação com conceito geográfico de Lugar.
Decorre assim, uma interessante nuance com relação ao papel dos sujeitos numa sociedade
intensamente reificada – como a atual –, sociedade de consumo ou cultura de massa e que
transforma trabalho, natureza, lazeres, sonhos, enfim, transforma tudo em mercadoria. De qualquer
forma, é nesse contexto que educação ambiental e lazer podem constituir um par que apresente
novos valores, voltados à qualidade de vida, e ao bom uso dos espaços públicos nas cidades.

O PROBLEMA DA NATUREZA E A NATUREZA DO PROBLEMA

Desde a publicação, em 1972, do chamado Relatório Meadows (MEADOWS, 1978), o qual


denunciava a insustentabilidade do modelo econômico vigente, a discussão ambiental adentrou na
agenda política da maioria dos países do mundo. Nesse sentido, todos concordam que é urgente
considerar a necessidade de um olhar integrador acerca das diversas pautas (econômicas, sociais
etc.), olhar este que deixe de compartimentar os saberes.
Concomitantemente, vemos multiplicarem-se as propostas de intervenção visando à
proteção e a conservação do ambiente natural. Assim, ―O educador tem a função de mediador na
construção de referenciais ambientais e deve saber usá-los como instrumentos para o
desenvolvimento de uma prática social centrada no conceito da natureza‖. (JACOBI, 2003, p.193).
Para refletir acerca da questão ambiental devemos considerar como a ideia de ‗meio
ambiente‘ vem sendo abordada. De acordo com a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio

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Ambiente Humano, realizada em 1972 em Estocolmo na Suécia, um dos seus princípios


fundamentais estabelece que:

1. O homem é ao mesmo tempo obra e construtor do meio ambiente que o cerca, o qual lhe
dá sustento material e lhe oferece oportunidade para desenvolver-se intelectual, moral,
social e espiritualmente. [...] Os dois aspectos do meio ambiente humano, o natural e o
artificial, são essenciais para o bem-estar do homem e para o gozo dos direitos humanos
fundamentais, inclusive o direito à vida mesma. (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES
UNIDAS, 2017).

Nesse sentido, torna-se possível afirmar que o meio ambiente inclui a presença humana,
atuando como parte intrínseca deste, moldando-o e sendo moldado. Enfim, é necessário reconhecer
a constante interferência humana no ambiente natural, dentro do que os diversos interesses
presentes são passíveis de identificação. Isso nos autoriza a realizar uma crítica acerca das
representações da natureza, a qual é tida, muitas vezes, ora sob seu papel de ―recurso natural‖,
portanto, algo que está fora da espacialidade, da habitualidade humana; ora sob seu papel de
―refúgio‖, distante das agruras da sociedade44, portanto, uma esfera idealizada.
Para Gonçalves,

[...] o homem é um ser que por natureza produz cultura; esta é sua especificidade natural.
Diferentemente do pensamento corrente, os homens ao longo da história criam normas,
regras e instituições não para evitar cair no estado de natureza. Ao contrário, eles o fazem
desenvolvendo a sua própria natureza não somente em função dos estímulos advindos do
meio ambiente, mas também das relações que os homens estabelecem entre si.
(GONÇALVES, 1989, P.94)

O autor nos compele a refletir acerca do modo como a natureza é concebida em nossa
sociedade, pois as diversas sociedades e culturas instituem seus significados e ideias do que seja a
natureza e relacionam-se com a mesma, pautados nessas ideias. Portanto, na leitura de Porto
Gonçalves, o conceito de natureza não é ―natural‖, posto que antes de fenômeno ele é significado e,
como tal, é instituído pelos homens. Disso decorre o fato de que, frequentemente, idealiza-se uma
―natureza intocada‖, absolutamente isolada da cultura humana, ou ainda uma natureza vislumbrada
quando do contato com outras sociedades primitivas, as quais, por sua vez, apresentem outro olhar e
outra interação com o ambiente.
Reigota (2010) destaca a necessidade de existir uma crítica à noção única e definitiva da
natureza, demonstrando os perigos de uma visão totalitária das coisas. O desafio neste sentido,
constante ao pensar a questão ambiental através da educação ambiental e de suas práticas
pedagógicas, sem dúvida é superar os dogmas religiosos e ideológicos impostos na vida cotidiana.
Na segunda metade do século XX passa a existir alguns questionamentos em relação ao
pensamento cientificista ―laico‖ positivista. O pensamento ecologista surge como uma das vertentes

44
―[...] hay una serie de significados: desde la naturaleza como condición primitiva anterior a la sociedad humana,
pasando por el sentido de una inocencia original desde la cual hubo caída y una maldición que exigen redención [...]‖.
(WILLIAMS, 2003, p. 235)

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que instituem uma crítica a essa visão do ‗progresso científico e industrial a qualquer custo‘, no
entanto, ―[...] essa crítica não pode ser confundida com um camuflado discurso contrário a toda e
qualquer ciência‖. (REIGOTA, p.546, 2010).
Nesse sentido, é possível afirmarmos que muitos dos discursos ambientalistas, discursos que
defendem a necessidade de conservar o ambiente natural e sua biodiversidade intocada, carregam
uma visão totalitária e de ―mão única‖, segundo a qual o homem é o grande ―vilão‖, o predador dos
ambientes naturais.
Aqui, cabe colocar a seguinte pergunta: a que tipo de ―homem‖ nos referimos? É obvio que
na sociedade capitalista a natureza é apropriada e (re)criada de acordo com os interesses do capital,
ou seja, uma natureza que emerge na base do pensamento de Marx sobre a segunda natureza 45.
Coisa bem diferente é considerar que ―todos os homens‖ são iguais (no Capitalismo) e que, desta
forma, dispõem dos meios necessários para apropriar-se da natureza. Ao contrário, podemos dizer
que a relação sujeito-objeto do homem para com a natureza reitera-se numa relação sujeito-objeto
do homem para com o próprio homem:

[...] esse controle aumentado [sobre a natureza] é necessariamente um controle social, e


embora ele assessore a emancipação da sociedade humana como um todo em face da
natureza, ele também favorece o desenvolvimento da diferenciação interna da sociedade e a
escravidão de uma grande parte da população. (SMITH, 1988, p. 76)

Outra questão é a seguinte: será que mesmo os ambientes naturais ―intocados‖ não estarão
sob o controle do capital? E as etnias que ainda habitam esses ambientes, como vivem? Deve ficar
claro, que mesmo dentro de uma sociedade capitalista e, mormente predatória, existem interesses
preservacionistas encampados por alguns segmentos que visam, quer o melhor aproveitamento dos
recursos naturais, quer o respeito às comunidades envolvidas. Mas, também existe aquela dimensão
dicotômica, na qual o homem e o progresso técnico e científico visam única e exclusivamente à
destruição do denominado ―natural‖.
Para Leff (2013), a revalorização da natureza induzida pelo ambientalismo emergente reflete
uma discussão acerca do aumento dos custos ambientais, que por um lado atribui-se um maior valor
econômico não tão possível de ser mensurável aos ambientes naturais em si, já que fica evidente
que a natureza torna-se cada vez mais capitalizada. Por outro lado, o movimento ambiental apesar
de transmitir e aumentar estes custos ecológicos ao sistema econômico e representar uma forma de
resistência à sua intensa capitalização, promove também a possibilidade de reapropriação social da

45
Na definição de Neil Smith: ―Com a produção para a troca, a produção da natureza ocorre em escala ampliada. Os
seres humanos não produzem somente a natureza imediata de sua existência, mas produzem toda a textura social de sua
existência. Desenvolvem uma diferenciação complexa na relação com a natureza, uma natureza social diferenciada,
obedecendo o gênero e classe de atividade manual e mental, atividades de produção e distribuição e assim por diante‖.
(1988, p. 82)

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

natureza por meio dos diversos grupos envolvidos nas lutas sociais em prol de um ambiente mais
agradável e com condições de sustentabilidade.
Atualmente, ―o discurso dominante da sustentabilidade promove um crescimento econômico
sustentável, eludindo as condições ecológicas e termodinâmicas que estabelecem limites e
condições à apropriação e transformação capitalista da natureza‖. (LEFF, 2013, p.22-23). Neste
sentido, a educação ambiental pode e deve colaborar com a formação de cidadãos de fato
comprometidos com o meio ambiente e com todas as formas de vida existentes, considerando
inclusive as mazelas e desigualdades sociais inerentes ao mundo no qual vivemos, ou seja, em suas
variadas escalas.
Assim é que, para Loureiro (2003) quando se fala em Educação Ambiental, logo se imagina
que esta é intrinsecamente transformadora, por ser uma inovação educativa recente a qual questiona
o que é qualidade de vida, reflete sobre a ética ecológica e amplia o conceito de ambiente para além
dos aspectos físico-biológicos. Contudo, isto não é uma verdade a priori. Ocorre que, muitas vezes,
o discurso ambiental, ou melhor, o discurso em torno da educação ambiental apresenta um caráter
conservador, que não prevê mudanças significativas quanto à postura da sociedade.

ENTRE ESPAÇOS DE LAZER E ESPAÇOS DE TRABALHO

A Teoria dos Tempos Sociais sugere que o trabalho já não é o principal elemento que
organiza a temporalidade humana (AQUINO; MARTINS, 2007, p. 481). Por exemplo, na Idade
Média, o modo com o qual a sociedade se apropriava dos ciclos naturais condicionava o tempo
humano, ou seja, o trabalho agrícola era o principal fator dessa organização. Haveria – ainda
conforme essa teoria – um fenômeno novo, substituindo o trabalho nesse protagonismo. Trata-se do
Lazer.
A ideia do que vem a caracterizar o lazer passou por longa discussão e conceituação no
âmbito das ciências sociais, de uma forma geral – e não é o propósito aprofundar neste texto – o
lazer pode ser visto por um lado como um fenômeno presente desde as diferentes sociedades pré-
industriais, não sendo possível identificá-lo claramente como uma atividade ou tempo desanexado
das atividades laborais. Outra vertente o coloca como fenômeno típico da sociedade industrial, ou
seja, passa a fazer sentido a partir do momento que existe uma nítida separação entre o tempo
imposto ao trabalho e o restante do tempo, geralmente revertido em descanso para reposição das
energias utilizadas na intensa jornada de trabalho, consequentemente, sendo ligado ao chamado
―tempo livre‖.
Corroborando com a tese mais presente, a qual coloca o fenômeno lazer como produto da
sociedade industrial, o presente autor se refere ao lazer como:

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

[...] um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja
para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se, ou, ainda para desenvolver sua
informação ou formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre
capacidade criadora após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais,
familiares e sociais. (DUMAZEDIER, 2001, p. 34)

Observa-se, portanto, que ao longo do tempo a concepção de lazer vai sendo modificada e
fortemente associada à utilização do ―tempo livre‖ ou ―disponível‖, resultado da forte clivagem
imposta a partir da sociedade industrial ocidental. Nesse sentido, é possível visualizar o ―lazer como
a cultura compreendida no seu sentido mais amplo - vivenciada (praticada ou fruída) no tempo
disponível‖. (MARCELLINO, 1995, p. 31).
Krippendorf (2003) nos explica que, considerada a aceleração exacerbada do tempo, no
contexto Pós-industrial, os indivíduos sentem-se compelidos a viajar para se distrair, ou seja, para
fugir dos seus locais de trabalho e de moradia. É nesse sentido que os sociólogos ligados à Teoria
dos Tempos Sociais elegeram o Tempo Livre como um novo fundamento da temporalidade
ocidental.
Por outro lado, é relevante focar no outro termo proposto pelo próprio Krippendorf: ―local
de trabalho‖. É importante salientar que não se trata apenas de uma intensa fragmentação do tempo
– destacada por esses autores – o que caracteriza o período em que vivemos (Pós-industrial). Trata-
se também de um aprofundamento da fragmentação do Espaço e para além da questão quantitativa.
Pois, o Espaço não está simplesmente tornando-se microscópico, mas sim, está adquirindo
conteúdos que se multiplicam conforme as necessidades da sociedade o exigem. Desse modo,
utilizando a terminologia de Krippendorf, assistimos à criação, no bojo de um ―Espaço para morar‖
pré-existente, de um ―Espaço de distração‖.
Dessa segmentação temos, portanto, a emergência do Espaço de distração. Uma necessidade
socialmente produzida e, portanto, pode efetivamente ser apropriada pelo consumidor. Nesse
movimento de apropriação, o Espaço é convertido em Lugar. Pois, que o Espaço para o tempo livre
é uma reificação operada pelo mercado, disso não resta dúvida. Todavia, a consciência do sujeito
acerca dessa nuança já não pode ser atestada com a mesma facilidade, mesmo porque a ―liberdade‖
do tempo de lazer se opõe de maneira contraditória à ―necessidade‖ do mercado.
Marcellino (1995) faz uma crítica a essa visão mercadológica do lazer. Para ele, o lazer mais
recentemente se difere do tempo livre ou disponível, pois ―[...] a prática do lazer na sociedade
moderna é marcada por fortes componentes de produtividade. Valoriza-se a performance, o produto
e não o processo de vivência que lhe dá origem‖. (MARCELLINO, 1995, p.28).
Santos (1987) destaca que o intenso processo de urbanização, pelo qual as cidades
atravessam, proporciona a existência de uma cidade cada vez mais ―coorporativa‖, onde os grupos
com maior ascensão econômica e social se apropriam mais intensamente desta. Assim, ―o lazer na

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cidade se torna igualmente o lazer pago, inserindo a população no mundo do consumo‖. (SANTOS,
1987, p.48).
Carlos (1992, p.40) também corrobora que, ―[...] hoje o lazer é mediado pela mercadoria,
que faz com que o cidadão, longe de se apropriar socialmente da cidade, através de brincadeiras,
dos jogos, do ócio, se veja obrigado ao consumo de diversão‖. Observa-se, neste sentido, a
tendência de mercantilização do lazer, sobretudo pelo fato de poder representar uma enorme fonte
de renda, diferenciando cada vez mais os usos e os segmentos sociais de acordo com o poder de
compra de cada um.
Assim, pensar o lazer a nosso ver significa pensar em ‗liberdade‘. Portanto, o espaço
destinado às diferentes atividades, sejam elas contemplativas ou ativas/ esportivas, deve vislumbrar
o princípio do prazer e da fruição. No entanto, é inegável que tanto o aproveitamento do tempo
quanto dos espaços, materializados nos lugares do lazer se tornaram cada vez mais apropriados pelo
mercado e consumo.

LAZER E EDUCAÇÃO AMBIENTAL – EM BUSCA DE UMA APROXIMAÇÃO

A dimensão ambiental perpassa por um conjunto de atores do universo educativo, gerando o


fortalecimento e envolvimento dos sistemas de conhecimento, a capacitação de profissionais e a
comunidade numa perspectiva interdisciplinar. (JACOBI, 2003). A educação ambiental implica em
uma mudança e (re)visão de valores, de posturas cotidianas, pressupondo, para que se efetive, um
enfoque interdisciplinar ou mesmo transdisciplinar, dentro do que apontamos: a sustentabilidade
socioambiental, a democracia e a participação social.
Cabe à sociedade pensar acerca da importância da coparticipação da população na
problemática ambiental, de forma que se exerça, de fato, uma democracia. Nesse sentido, no dizer
de Jacobi (2003, p.193), [...] ―a educação ambiental assume cada vez mais uma função
transformadora, na qual a co-responsabilização dos indivíduos torna-se um objetivo essencial para
promover um novo tipo de desenvolvimento – o desenvolvimento sustentável.‖
Este tipo de desenvolvimento deve ser elencado na sua forma mais ampla, não ficando refém
de uma lógica economicista que privilegia única e exclusivamente o mercado e sua visão
acumulativa. Contrabalançar, ou mesmo reduzir essa lógica predatória torna-se possível por meio de
atividades educativas, contemplativas, ou mesmo esportivas, vivenciadas nos ‗espaços livres ou
abertos‘. São atividades que podem ter contato direto com a natureza na busca de uma relação de
equilíbrio com o ambiente como um todo (plantas, águas, trilhas, formações rochosas, animais,
infraestrutura e moradores presentes). Ao mesmo tempo, são atividades não produtivas, cuja
simples existência pode colocar em xeque a acumulação do capital.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Para Tardim (2008), os espaços livres ou abertos são representativos neste processo, pois são
caracterizados como espaços com grande importância e transformação na paisagem, verdadeiros
componentes flexíveis da estrutura do território, funcional ou espacialmente. Podem apresentar
diferentes caracteres, entre estes o rural, o natural, o hídrico, grandes peças urbanas não ocupadas
ou outros – sendo possível incluir o espaço e/ou lugar de lazer.
O lazer, nesta ótica, pode compreender um campo significativo de contestação, revisão de
valores, posturas e acima de tudo de produção de cultura e de atividades pró- ativas ou
contemplativas. É necessário ir além do que ser mero receptáculo de informações nos momentos
e/ou espaços de lazer e recreação. Existe a possibilidade de criar um elo entre as práticas de lazer e
o meio ambiente, como forma de minimizar esta lógica de degradação do ambiente natural e de
apelo máximo ao consumo. Não querendo nos alongar, a ideia de relacionar o uso do lugar através
do lazer nos espaços livres ou abertos, especificamente naqueles dotados de áreas verdes, permite
um contato lúdico e revigorador com a natureza.
De acordo com Mazzei, Colesanti e Santos:

As áreas verdes correspondem a uma das categorias dos espaços livres de construção, e seu
planejamento visa a atender a demanda da comunidade urbana por espaços abertos que
possibilitem a recreação, o lazer e a conservação da natureza. No ambiente urbano, os
parques (e as outras categorias de Unidades de Conservação ou de espaços livres de
construção) devem ser planejados de acordo co m a s e xp ecta ti v a s d a co mu n i d ad e.
( M AZZEI ; C O LE S ANT I; S ANT O S, 2 0 0 7 , p . 3 4 - 3 5 ).

Para estes autores, ―as áreas verdes não são necessariamente voltadas para a recreação e o
lazer, objetivos básicos dos espaços livres, porém devem ser dotadas de infraestrutura e de
equipamentos para oferecer opções de lazer e recreação às diferentes faixas etárias‖. (MAZZEI;
COLESANTI; SANTOS, 2007, p. 38 -39). Tais áreas são extremamente importantes para o
aumento da qualidade ambiental nas cidades (conforto térmico, contenção de ruídos,
embelezamento da paisagem, etc.), bem como o acesso como espaço, ou melhor, como lugar
possível de vivenciar o lazer, seja através de seus equipamentos ou através da contemplação da
paisagem, sendo relevante estarem acessíveis para os moradores que vivem nas proximidades.
Cabe fazer menção à necessidade destas áreas de lazer serem públicas e dispersas pela malha
urbana, de forma que possibilitem o pleno acesso para as diferentes camadas sociais. Isso não
significa que tais áreas devem ficar abertas e sem manutenção, pelo contrário, existe a necessidade
de manter em bom estado os equipamentos, a limpeza, a segurança e os espaços verdes.
Nesse sentido, ―o planejamento urbano deve sempre prever a existência de locais destinados
ao descanso e ao contato com o meio ambiente, permitindo a integração completa entre sociedade e
natureza‖. (MAZZEI; COLESANTI; SANTOS, 2007, p.41).

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É notória a importância das diversas praças, parques urbanos e das unidades de conservação
nas áreas urbanas ou em seus arredores, servindo para manter o equilíbrio ambiental nas cidades, ou
seja, além de perfeitos espaços ou lugares de lazer também podem auxiliar na educação ambiental.
No entanto, é necessária muita cautela, pois como já fora colocado, o mercado e a lógica de
apelo ao consumo se apropriam do lazer – tanto em sua dimensão espacial quanto temporal –, o que
acontece comumente em muitas atividades de contato com a natureza, as quais favorecem através
de uma visão competitiva a criação de um ―cenário teatral‖. (MARINHO, 2004)
Esse cenário teatral reforça na visão de Marcellino (1996) uma ‗especificidade abstrata‘,
uma vivência desvinculada da dinâmica social em que os sujeitos estão inseridos.
Portanto, o uso de parques, praças, áreas verdes e demais espaços deve vir compartilhado
com os anseios da população, sendo que a educação ambiental como ‗prática transformadora‘ das
consciências deve fazer parte deste ―pacote‖. Devendo esta, reestabelecer o vínculo do homem com
a natureza; e não conceber essa última como algo distante ou esporádico.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente ensaio procurou tecer uma discussão que contemplasse o lazer e a educação
ambiental. Para isso, resgatamos a compreensão acerca da questão ambiental, no intuito de ressaltar
sua emergência na sociedade e a visão que geralmente desvincula a presença humana do contato
com a natureza. Nesse sentido, o papel da educação ambiental é formar valores, habilidades e
capacidades que reforcem uma transição para a sustentabilidade (LEFF, 2013).
É relevante que a educação ambiental proporcione atividades que se vinculem com a
valorização dos espaços livres ou abertos que contemplem as áreas verdes, acima de tudo, com a
vinculação e o uso através do lazer.
O lazer conforme fora destacado representa em suas dimensões temporal e/ou espacial um
importante ‗elo‘ na busca da realização de atividades tanto contemplativas quanto pró-ativas em
busca do prazer e da liberdade. É evidente que o espaço se torna cada vez mais consumível através
do lazer, ou seja, é cada vez mais comum a apropriação do lazer pelo mercado. No entanto, o uso
dos espaços abertos, prioritariamente públicos e dotados de áreas verdes se apresenta como uma
grande alternativa que reforça o contato com a natureza e a vivência lúdica e descompromissada.
Por meio do lazer se busca um espaço-tempo que possamos ser críticos e criativos, embora muitas
vezes, o caráter parcial que se observa quanto ao seu conteúdo dificulta conceber ações específicas
(MARCELLINO, 1996).
Assim, aproximar lazer e educação ambiental representa, no mínimo, um compromisso
desafiador. Tendo em vista que a educação ambiental não deve demonstrar neutralidade, mas sim

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compreender um ato político (transformador) de reivindicação e contato com a natureza em prol da


defesa do próprio meio ambiente.
Acredita-se que a vivência do lazer nos espaços abertos, contemplados com áreas verdes,
consiga possibilitar tal reflexão; e junto dela a experiência do contato saudável com a natureza.

REFERÊNCIAS

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DUMAZEDIER, Joffre. Lazer e cultura popular. Tradução de Maria de Lourdes S. Machado. 3. ed.
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JACOBI, Pedro. Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade. Cadernos de Pesquisa, n. 118,


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MARCELLINO, Nelson C. Estudos de lazer: uma introdução. Campinas: Autores Associados,


1996.

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MARINHO, Alcyane. Atividades na natureza, lazer e educação ambiental: refletindo sobre


algumas possibilidades. Disponível em:
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ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 1070


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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

O (RE)TRATO DOS ESPAÇOS URBANOS VAZIOS REVELANDO AUSÊNCIA DA


EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Flávia Nunes Ferreira de ARAÚJO


Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Recursos Naturais
Universidade Federal de Campina Grande.
flaviapsfcg@hotmail.com
Ângela Maria Cavalcanti RAMALHO
Doutora em Recursos Naturais
Professora da Universidade Estadual da Paraíba
angelamcramalho@gmail.com
Maria de Fátima Nóbrega BARBOSA
Doutora em Recursos Naturais
Professora da Universidade Federal de Campina Grande
mfnobregabarbosa@gmail.com
Valter Barbosa de ARAÚJO
Mestre em Jornalismo
Universidade Federal da Paraíba
valter@fiepb.org.br

RESUMO
As sociedades modernas também denominada de ―Sociedade de Consumo‖ estimula novos padrões
de consumo a partir da lógica capitalista, gerando grandes excedentes de resíduos sólidos, que acaba
por provocar impactos ambientais ocasionado pela disposição inadequada dos resíduos sólidos no
meio ambiente, trazendo implicações à saúde pública, sendo considerado um dos maiores
problemas ambientais nos espaços urbanos. Assim, o objetivo do estudo foi analisar a problemática
dos resíduos sólidos urbanos que apresenta um (re)trato dos vazios urbanos revelado pela ausência
da educação ambiental na perspectiva de transformar a relação da sociedade e meio ambiente. A
metodologia utilizada foi do tipo exploratória com abordagem qualitativa. Como instrumento de
coleta de dados foram feitos registros fotográficos para registar o (re)trato da ausência de um
processo de educação ambiental através da exposição de resíduos sólidos nos espaços vazios. As
imagens registradas denunciam o acúmulo de resíduos sólidos a poucos metros das residências, as
estampas das pinturas representadas nas fotografias que nos revelam a necessidade de se trabalhar a
educação ambiental com base em uma nova práxis, para que se consolide em uma prática educativa
e desenvolva novos valores em relação à forma como vemos, sentimos e vivemos, possibilitando
um meio ambiente mais sustentável para gerações presentes e futuras.
Palavras-Chave: Educação Ambiental. Resíduo Sólido. Espaços Urbanos.
ABSTRACT
Modern societies also called the "Consumer Society" stimulate new patterns of consumption from
the capitalist logic, generating large surplus solid waste, which ultimately causes environmental
impacts caused by the inadequate disposal of solid waste in the environment, bringing health
implications considered one of the major environmental problems in urban spaces. Thus, the
objective of this study is to analyze the problem of solid urban waste that presents a (re) treatment
of urban voids revealed by the absence of environmental education in the perspective of
transforming the relation of society and the environment. The methodology of the research was of

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

the exploratory type with qualitative approach. As a data collection instrument, photographic
records were made to record the (re) treatment of the absence of an environmental education
process through the exposition of solid waste in the empty spaces. The recorded images denounce
the accumulation of solid waste a few meters from the residences, the pictures of the paintings
represented in the photographs that reveal the need to work on environmental education based on a
new praxis, so that it consolidates in an educational practice and develops new values in relation to
how we see, feel and live, enabling a more sustainable environment for present and future
generations.
Keywords: Environmental Education. Solid waste. Urban Space.

INTRODUÇÃO

As sociedades modernas também denominada de ―Sociedade de Consumo‖ estimula novos


padrões de consumo a partir da lógica capitalista, gerando grandes excedentes de resíduos sólidos,
que acaba por provocar impactos ambientais ocasionado pela disposição inadequada dos resíduos
sólidos no meio ambiente, trazendo implicações à saúde pública, sendo considerado um dos maiores
problemas ambientais nos espaços urbanos. Portanto, o cenário da problemática socioambiental é
um reflexo das relações estabelecidas entre o homem e a natureza ao longo dos últimos anos
resultante do processo de crescimento econômico, sendo a natureza materializada de diferentes
formas.
Este problema tem sido agravado na maioria das cidades brasileiras devido a fatores
relacionados à preservação do meio ambiente. Os principais geradores de resíduos no espaço urbano
são os domicílios, entulhos da construção civil, galhadas e restos de podas de árvores, que
permanecem inadequados por longo período sem a coleta adequada. Não obstante, causando
significativos impactos às condições estéticas e sanitárias do meio ambiente, afetando a segurança,
o bem estar dos habitantes e agravando os riscos à saúde pública, pois esses ambientes favorecem a
proliferação de insetos e roedores que são vetores de inúmeras doenças (TESSARO et al., 2012).
Além da contaminação, o problema dos resíduos em terrenos baldios é o longo tempo de
permanência no ambiente, pois seu processo de degradação produz gases que têm fortes odores e
atraem baratas, moscas, ratos e escorpiões, que segundo Souza et al. (2013) estes podem ser vetores
mecânicos de agentes etiológicos causadores de doenças, tais como: diarreias infecciosas, amebíase,
giardíase, salmonelose, helmintoses, dentre outras. Esses vetores não ficam somente no resíduo,
deslocam-se até as habitações mais próximas trazendo uma série de consequências à saúde pública.
É importante considerar que a formação de terrenos baldios deriva de um processo
complexo. O crescimento das cidades nas últimas décadas levou a necessidade de novos
empreendimentos, em sua maioria afastados dos grandes aglomerados, gerando assim vazios
urbanos (terrenos vagos, subaproveitados, terras devolutas), ou o parcelamento do espaço urbano.
Nesse parcelamento, serviços básicos, não são na maioria das vezes fornecidos. Com esse processo

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de vazios nas áreas urbanas, em que a especulação imobiliária é desvalorizada, esses terrenos ficam
por longos períodos vazios. Esses aspectos fazem com que a população deposite os resíduos sólidos
nesses terrenos inutilizados (SILVA, 2010).
Para Philippi Júnior e Aguiar (2005), o mau hábito de depositar resíduos em terrenos baldios
está inserido no contexto da falha na educação ambiental (EA), tida como o ramo da educação cujo
objetivo é disseminar o conhecimento sobre o meio ambiente, na busca da preservação e utilização
sustentável dos recursos naturais.
Uma EA com ênfase na interdisciplinaridade é importante porque proporciona uma melhor
leitura da realidade e promove uma postura crítica do cidadão frente aos problemas
socioambientais. Nessa perspectiva, Soares et al. (2012) assinalam que é preciso fazer uma reflexão
aprofundada na medida em que a saúde e a qualidade de vida dessa geração, e das futuras, demanda
um desenvolvimento sustentável.
Considera-se que a problemática da deposição inadequada de resíduos sólidos em espaços
vazios no município de Campina Grande - PB é bastante complexa dentro da perspectiva da gestão
dos resíduos se remetendo a uma realidade, notadamente na dimensão das questões
socioambientais. Gera-se assim, o seguinte questionamento: como se dá o processo de
aprendizagem em EA, baseado na premissa de uma reflexão sobre a ação individual e coletiva em
relação ao meio ambiente?
A metodologia da pesquisa em função dos objetivos foi do tipo exploratória com abordagem
qualitativa. Como instrumento de coleta de dados foram feitos registros fotográficos para (re)tratar a
ausência de um processo de EA através da exposição de resíduos sólidos nos espaços vazios. As
imagens registradas denunciam o acúmulo de resíduos sólidos a poucos metros das residências, as
estampas das pinturas representadas nas fotografias nos revelam a necessidade de se trabalhar a
educação ambiental.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A EA precisa ser desenvolvida de maneira contínua e permanente em todos os níveis e


modalidades, no ensino formal e informal, buscando a sensibilização coletiva sobre as questões
ambientais e sua organizada participação na defesa da qualidade do meio ambiente. Dessa forma, a
práxis na EA é bastante pertinente na discussão de novas formas de entender as relações do homem
com o meio, promovendo novas ações comportamentais, considerando que os valores se modificam
em nome do consumismo e a degradação ambiental impulsionada pela lógica do lucro, ameaçando
diretamente a vida humana no planeta.
Nessa perspectiva, a Lei Federal 9.795, artigo 1º (1999, p.02), que instituiu a Política
Nacional de Educação Ambiental (PNEA), compreende a EA como um processo por meio do quail

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o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e


competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo,
essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.
Assim, a partir da conceituação da EA torna-se essencial a abordagem de um nova práxis na
perspectiva de novas práticas da relação homem e meio ambiente, também para a capacidade de
análise crítica da problemática socioambiental. Vale ilustrar que antes mesmo da definição da EA
formulada pela PNEA em 1999, a Conferência Sub-regional de Educação Ambiental para a
Educação Secundária em Chosica/Peru (1976) caracterizou como uma ação educativa permanente
pela qual a comunidade educativa tem a tomada de consciência de sua realidade global, capaz de
desenvolver valores e atitudes que promovem um comportamento dirigido à transformação
superadora dessa realidade, tanto em seus aspectos naturais como sociais, desenvolvendo no
educando as habilidades e atitudes necessárias para dita transformação.
Assim, o princípio da EA é despertar a preocupação individual e coletiva para a questão
ambiental, garantindo o acesso à informação em linguagem adequada, além de desenvolver uma
consciência crítica e estimular o enfrentamento das questões ambientais e sociais. Certamente, para
se alcançar este processo de mudanças, existe um contexto complexo, em que se deve procurar
trabalhar não apenas a mudança cultural, mas também a transformação social, assumindo a crise
ambiental como uma questão ética e política (MOUSINHO, 2003).
Alguns autores como Sato (2003) e Sorrentino et al. (2005) demostram ser rígidos e
imperativos ao reafirmar que a EA deve se configurar como uma luta política, compreendida em seu
nível mais poderoso de transformação, aquela que se revela em uma disputa de posições e
proposições sobre o destino das sociedades, dos territórios e das desterritorializações que acredita
que mais do que conhecimento técnico-científico, o saber popular igualmente consegue
proporcionar caminhos de participação para a sustentabilidade por meio da transição democrática.
A EA deve, portanto, ser direcionada para a cidadania ativa considerando seu sentido de
pertencimento e co-responsabilidade que, por meio da ação coletiva e organizada, busca a
compreensão e a superação das causas estruturais e conjunturais dos problemas ambientais.
Nesse contexto, as técnicas utilizadas no processo de formação de EA devem ser para
incentivar a participação social na conjectura de uma ação política. Como tal, ela deve ser aberta ao
diálogo e, ao mesmo tempo, passível ao confronto que pode gerar visando à explicitação das
contradições teórico-práticas subjacentes a projetos societários que estão permanentemente em
disputa.
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental, Art. 2° (2012, p. 2)
definem EA como:

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página: 1075


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Uma dimensão da educação. É atividade intencional da prática social, que deve imprimir ao
desenvolvimento individual um caráter social em sua relação com a natureza e com os
outros seres humanos, visando potencializar essa atividade humana com a finalidade de
torná-la plena de prática social e de ética ambiental.

A abordagem dos conceitos tão bem elaborados sobre EA, em várias instâncias e em
períodos diferentes traz a indispensabilidade de se repensar novas ações. É necessário discutir os
conceitos aplicados à EA e associá-los à prática de forma coerente. Sendo assim, uma avaliação
crítica é de grande importância para que os trabalhos e pesquisas reconhecidos como de EA ganhem
consistência. A temática ambiental deve fazer parte não só da prática profissional, mas também de
todo cotidiano das pessoas. Dessa forma, o papel do educador ambiental, é propor novos hábitos e
novas posturas que garantam a qualidade de vida aos seres do planeta.
Para Leff (2001) essas posturas devem gerar uma ética moderna, ou seja, uma racionalidade
ambiental, que se manifesta em comportamentos humanos em harmonia com a natureza; em
princípios de uma vida democrática e em valores culturais que dão sentido à existência humana.
Estes se traduzem num conjunto de práticas sociais que transformam as estruturas do poder
associadas à ordem econômica estabelecida, mobilizando um potencial ambiental para a construção
de uma racionalidade social alternativa.
A racionalidade ambiental se constrói e se concretiza numa inter-relação permanente entre a
teoria e a práxis (LEFF, 2001). Portanto, a construção de uma racionalidade ambiental depende da
constituição de novos atores sociais que objetivem, por meio de sua mobilização e concretizem em
suas práticas, os princípios e potenciais do ambientalismo. Parte-se em busca de uma racionalidade,
que promova o desenvolvimento econômico, coerente com a preservação e conservação da natureza
buscando a minimização da degradação ambiental. Para tanto, torna-se necessário uma mudança de
paradigmas em que sejam alteradas as noções de valores para a promoção do desenvolvimento ao
homem biológico e social. Sobre esses sistemas de valores que fundamentam a sociedade.

PRODEDIMENTOS METODOLOGICOS

Trata-se de pesquisa de campo, exploratória com abordagem qualitativa, realizada entre os


meses de junho e julho de 2017 no município de Campina Grande situado no agreste do estado da
Paraíba, ficando a 120 Km da capital, João Pessoa. De acordo com estimativas do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2016) o município conta com uma população de
407.754 habitantes distribuídos em 51 bairros.
Além da pesquisa bibliográfica dos autores que remetem à EA como ferramenta primordial
da preservação do ecossistema, também foi realizada uma pesquisa documental junto à Vigilância
Ambiental sobre terrenos baldios distribuídos no município. Como instrumento para coleta de
dados, foram feitos registros fotográficos nos espaços vazios submersos em resíduos sólidos dos

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mais variados, relacionando o (re)trato da EA e à exposição de resíduos sólidos em terrenos baldios.


A partir das fotografias, foi realizada uma observação indireta na tentativa de alcançar o objetivo
traçado para este estudo.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Conforme dados fornecidos pela Vigilância Ambiental, Campina Grande está dividida
geograficamente por seis Distritos Sanitários (DS). A Tabela 1 mostra a distribuição de terrenos
baldios por DS, em que apenas o DS III não foi contabilizado, pois não foram notificados ambientes
considerados geograficamente como terrenos baldios. Este DS é composto por oito bairros, onde
provavelmente existam terrenos baldios, porém não tem documentos que os identifiquem. O
número de terrenos baldios notificados do município soma 2.453 no total, com exceção do DS III.

Distrito Sanitário (DS) Número de terrenos baldios


DS-I 415
DS-II 302
DS-III -
DS-IV 226
DS-V 494
DS-VI 1016
Total 2453
Tabela 1. Distribuição de terrenos baldios por DS, Campina Grande-PB
Fonte: Secretaria Municipal de Saúde de Campina Grande-PB (2017).

A figura 1 mostra um terreno baldio, a poucos metros de residências, com acúmulo de


resíduo domiciliar, atitude que parece ser uma prática comum por parte daquela população.
Conforme Mattos et al. (2013), a formação de pequenos lixões causa contaminação do solo e da
água superficial e subterrânea, dispersão de plásticos e outros materiais por ação do vento e
intempéries, proliferação de insetos e outros vetores que afetam a saúde humana e também produz
um impacto visual negativo com a consequente desvalorização de terras e propriedades vizinhas.
A questão da precária EA ainda é muito forte na cultura desta população. Necessário se faz
intensificar a adoção de medidas educativas e conscientizadoras. Talvez, um dos indispensáveis
atores neste processo seria os profissionais de saúde e de educação, insistindo juntos em realizar
uma educação continuada com vigilância de hábitos da comunidade assistida.
Os terrenos baldios são espaços das cidades que estão vazios, sem moradores e por isso,
muitas vezes, tornam-se depósitos de resíduo e entulho (Figura 2). A falta de limpeza nesses
terrenos pode gerar problemas diversos em virtude desses acúmulos, como o crescimento de plantas
que pode ser um lugar de moradia e esconderijo de animais peçonhentos, além de facilitar a
proliferação de roedores e insetos, mau cheiro no ambiente e a presença de pessoas que fazem uso
indevido do local. Outro problema ocasionado pela presença desses detritos nos terrenos

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abandonados ocorre nas épocas de chuva, quando a enxurrada pode carregá-los, contribuindo com o
entupimento de bueiros e canais de escoamento de água, provocando alagamentos na região.

Figura 1- Terreno baldio com deposição de Figura 2: Rua Maestro Honório, Alto Branco -
resíduos domiciliar, bairro Catolé - Campina Campina Grande-PB
Grande-PB. Fonte: Acervo de Araújo (2017)
Fonte: Acervo de Araújo (2017)

O saber ambiental, segundo Leff (2009) é uma epistemologia política que busca dar
sustentabilidade à vida; constitui um saber que vincula os potenciais ecológicos e a produtividade
neguentrópica do planeta com a criatividade cultural dos povos que o habitam. O saber ambiental
muda o olhar do conhecimento e com isso transforma as condições do saber no mundo na relação
que estabelece o ser com o pensar e o saber, com o conhecer e o atuar no mundo.
A Figura 3 retrata a Pedreira, ―lixão‖ do antigo bairro Prado, hoje Catolé. Segundo
informações de moradores antigos do lugar, existia neste local uma vala onde as famílias
despejavam seus resíduos domiciliares. Este ambiente foi desativado e aterrado pela prefeitura,
sendo, em seguida, construída uma escola municipal, uma Unidade Básica de Saúde da Família e
uma igreja. Apesar de este terreno ter sido desativado para a deposição de resíduos sólidos, os
moradores ainda permanecem com este hábito, demonstrando ser uma questão cultural.
A Figura 4 revela objetos que facilitam a proliferação de insetos transmissores de doenças
como a dengue, zika e chincungunya. Segundo informações colhidas no momento dos registros
fotográficos, vários moradores do entorno foram acometidos por estas doenças, trazendo
repercussões sociais, pois além do adoecimento, ficavam impossibilitados em manter sua rotina
diária. Também foi informado que estes terrenos têm servido como cemitério para animais mortos,
provocando sérios impactos ambientais.

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Figura 3- Terreno baldio com resíduo domiciliar e Figura 4: Rua Cassiano Pereira, Jardim Paulistano
podas de árvores, bairro Prado - Campina Grande- - Campina Grande-PB.
PB Fonte: Acervo de Araújo (2017) Fonte: Acervo de Araújo (2017)

No percurso da pesquisa foi identificada uma rua sem saída, fechada por um terreno baldio
no bairro Conceição. À sua frente havia um automóvel (Kombi) que, segundo informações de
moradores, estava há aproximadamente cinco anos naquele lugar (Figura 5), sendo ponto para
traficantes. Em destaque está uma placa com a frase ―proibido jogar lixo neste local‖.
Todas estas imagens fotografadas aqui reveladas denunciam a situação de terrenos baldios
com a deposição de resíduos. A Figura 6, por exemplo, exibe resíduos domiciliares e
eletroeletrônicos.
A grande questão suscitada, de acordo com Jacobi (2005), de fundamental importância, é
que a EA, no âmbito formal e não formal, seja determinante de uma postura crítica e inovadora.
Para tanto, é primordial garantir padrões ambientais adequados e incentivar uma crescente
consciência ambiental, centralizada no exercício da cidadania e nos valores éticos e morais,
individuais e coletivos, numa perspectiva segura para o desenvolvimento sustentável.
Alguns outros terrenos em bairros considerados de padrão econômico alto foram visitados e
encontraram-se limpos. Infere-se, portanto que o fator socioeconômico talvez tenha relevância
quanto à consciência de preservar o ambiente.

Figura 5: Rua Juvêncio Martins de França, Figura 6: Rua Quintino Leôncio de Castro, Sandra
Conceição - Campina Grande-PB. Cavalcante - Campina Grande-PB
Fonte: Acervo de Araújo (2017)

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A Política Nacional de Educação Ambiental descreve que a EA deve proporcionar as


condições para o desenvolvimento das capacidades necessárias; para que grupos sociais, em
diferentes contextos socioambientais do país, intervenham de modo qualificado na gestão do uso
dos recursos ambientais e na concepção e aplicação de decisões que afetam a qualidade do
ambiente, tanto físico-natural como construído, ou seja, a EA como instrumento de participação e
controle social na gestão ambiental pública (BRASIL, 1999).
As imagens revelam o ―retrato‖ da EA do município em estudo, bem como a real
necessidade de se ―tratar‖ a EA com uma nova práxis, de forma que o seu verdadeiro papel seja
reconhecido como necessário e difundido pela sociedade. A Declaração da Primeira Conferência
Intergovernamental sobre Educação Ambiental, em Tbilisi, 1977, diz que:

A Educação Ambiental deve ser dirigida à comunidade, despertando o interesse do


indivíduo em participar de um processo ativo no sentido de resolver problemas dentro de
um contexto de realidades específicas, estimulando a iniciativa, o senso de responsabilidade
e o esforço para construir um futuro melhor. (…) pode, ainda contribuir satisfatoriamente
para a renovação do processo educativo‖ e que ―O objetivo da Educação Ambiental deve
estar concentrado no desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente
em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos físicos, biológicos, sociais,
políticos, econômicos, culturais, científicos e éticos.

Novas práxis na perspectiva da complexidade ambiental não apenas leva à necessidade de


aprender fatos novos (mais complexos), mas também inaugura uma nova pedagogia, que implica
reapropriação do conhecimento desde o ser do mundo e do ser no mundo, a partir do saber e da
identidade que se forjam e se incorporam ao ser de cada indivíduo e cada cultura (LEFF, 2009).
Dessa forma, toda aprendizagem implica uma transformação do conhecimento a partir do
saber que constitui o ser. A pedagogia da complexidade ambiental reconhece que apreender o
mundo parte do ser de cada sujeito, de seu ser humano; essa aprendizagem consiste em um processo
dialógico que transborda toda racionalidade comunicativa construída sobre a base de um possível
consenso de sentidos e verdades. A pedagogia ambiental abre o pensamento para apreender o
ambiente, a partir do potencial ecológico da natureza e dos sentidos culturais que mobilizam a
construção social da história. Consiste em aprender a conviver com o outro, com o que não é
internalizável (neutralizável) por si mesmo (LEFF, 2009).
Nesse sentido, a EA é o processo dialógico que fertiliza o real e abre as possibilidades para
que se chegue a ser o que ainda não se é. Esse é o maior desafio da educação na atualidade: o da
responsabilidade – a tarefa de coadjuvar este processo de reconstrução, educar para que os novos
homens e mulheres do mundo sejam capazes de suportar a carga desta crise civilizatória e convertê-
la no sentido de sua existência, para o reencantamento da vida e para a reconstrução do mundo.
Esses são os caminhos abertos para novas práxis pela racionalidade ambiental e as veias pelas quais
corre o sangue da EA.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

As estampas das pinturas representadas nas fotografias permite revelar a necessidade de se


retratar a EA, considerada imprescindível para o desenvolvimento sustentável, possibilitando um
ecossistema saudável para gerações presentes e futuras.
Falhas no ensino da EA são gritantes, tornando um entrave à socialização das pessoas em
um contexto socioambiental dentro do ecossistema, evidenciada na ausência de respeito e
responsabilidade com o meio ambiente, necessárias à sobrevivência da humanidade.
Quanto maior o nível de EA de uma comunidade, mais eficazes serão as ações que visam à
promoção da saúde, à prevenção de doenças e à conservação dos recursos naturais. Para tanto, faz-
se necessário um trabalho de conscientização da população no sentido de não depositar resíduos
sólidos em terrenos baldios, seja ele público ou privado.
É importante o incentivo a projetos sobre intervenção na realidade das escolas de todos os
níveis educacionais, no tocante à nova práxis na EA, para que exista a consolidação de uma prática
educativa que desenvolva valores diferentes em relação à forma como vemos, sentimos e vivemos.
A resposta de como a EA poderia resolver um dos sérios problemas ambientais, como a
deposição de resíduos em terrenos baldios, de fato, ainda é bastante subjetiva. No entanto, sabe-se
que a EA, apenas, não resolveria, mas minimizaria os efeitos drásticos que o ambiente e a própria
população sofrem por falta de conscientização de alguns. Evidentemente, a gestão também tem a
sua inegável contribuição na manutenção de um meio ambiente hígido que promova e garanta um
lugar favorável e seguro à habitação. E ainda, deve-se contar com a responsabilidade pela
conservação desses terrenos de seus proprietários. Estes devem se conscientizar da importância em
mantê-los sempre limpos, porém a população deve respeitar um espaço que é impróprio para a
deposição de resíduos sólidos.
Este estudo deve contribuir para identificação de aspectos específicos de culturas e
comportamentos ecológicos em um ambiente, servindo como ponto de partida para elaboração de
instrumentos que permitam a compreensão desses construtos no âmbito populacional. Por fim, a
pesquisa possui limitações próprias de uma amostra não probabilística, porém servindo como um
auxílio para novas práxis no processo de EA, revelando o retrato que se fotografa hoje, na pintura
ecologicamente correta no amanhã.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério de Meio Ambiente. Política de Educação Ambiental. Conferência Sub-


regional de Educação Ambiental para a Educação Secundária. Chosica/Peru, 1976. Disponível

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página 1081


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11/07/2017.

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de 1999.

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n. 2, de 15 de junho de 2012.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

A ESQUISTOSSOME EM FOCO: UMA ANÁLISE SOCIOAMBIENTAL NO


46
MUNICÍPIO DE BARRA DOS COQUEIROS/SERGIPE

Jailton Santos SILVA


Mestrando em Educação pelo PPGED/UFS
jailton.santossilva@yahoo.com.br
Rafael dos Anjos ANDRADE
Graduando em Enfermagem pela UFS
anjosandrader@hotmail.com
Márcia Eliane Silva CARVALHO
Doutora em Geografia, Professora do Departamento de Geografia da UFS
marciacarvalho_ufs@yahoo.com.br

RESUMO
A expansão das cidades sem o devido planejamento e ordenamento promove pressões sobre o meio
ambiente urbano que repercutem sobre a saúde da população, influenciando a sua qualidade de vida.
Neste trabalho, apresentamos uma análise socioambiental acerca da ocorrência da esquistossomose
no município sergipano de Barra dos Coqueiros para a série temporal de 2006-2014, buscando
avaliar se há interrelações com os condicionantes climáticos e sociais. O trabalho caracteriza-se
como exploratório e descritivo sendo desenvolvido a partir da pesquisa bibliográfica e trabalhos de
campo na área de estudo. Diante das análises afirmamos que a ocorrência de casos de
esquitossomose está relacionada à fatores de ordem socioambiental e cultural, sendo justificada pela
identificação de áreas carentes de saneamento básico com o acúmulo de resíduos sólidos e água em
áreas do município.
Palavras-chave: Esquistossomose, Condicionantes socioambientais, Qualidade de vida.
ABSTRACT
The expansion of cities without proper planning and planning promotes pressures on the urban
environment that have repercussions on the health of the population, influencing their quality of
life. In this work, we present a socioenvironmental analysis about the occurrence of schistosomiasis
in the Sergipe municipality of Barra dos Coqueiros for the 2006-2014 time series, aiming to
evaluate if there are interrelations with climatic and social conditions. The work is characterized as
exploratory and descriptive being developed from the bibliographical research and field work in the
study area. Before the analysis we affirm that the occurrence of cases of schistosomiasis is related
to socio-environmental and cultural factors, being justified by the identification of areas lacking
basic sanitation with the accumulation of solid waste and water in areas of the municipality.
Keywords: Schistosomiasis, Socioenvironmental factors, Quality of life.

INTRODUÇÃO

Historicamente o processo de urbanização e o crescimento populacional das cidades


intensificaram-se com a revolução industrial e no caso brasileiro a urbanização dar-se especialmente
46
Este trabalho apresenta partes dos resultados constatados na pesquisa intitulada ―Aspectos socioambientais e políticos
acerca das doenças de veiculação hídrica na Barra dos Coqueiros‖, desenvolvida junto ao Departamento de Geografia
da Universidade Federal de Sergipe.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

a partir da década de 1950 com o advento da indústria nacional (MAZETTO, 2000; GOMES e
SOARES, 2004). Se por um lado, no imaginário social o espaço urbano representaria a
possibilidade de melhores condições de vida, por outro a crescente atração populacional sem
políticas de planejamento e ordenamento desses espaços, produziu significativas mudanças no
ambiente repercutindo diretamente nos quadros de saúde e, por conseguinte na qualidade de vida
das populações urbanas.
A falta de planejamento e políticas públicas que acompanhem a urbanização produziu
ambientes extremamente desiguais, relegando a uma população de menor renda, áreas degradadas,
marcadas pela ausência de serviços essenciais como água, saneamento, coleta de lixo, condições de
moradia adequadas, segurança, entre outros. Traduzindo assim, a lógica da reprodução capitalista
que perpassa a construção do espaço urbano criando áreas segregadas e fragmentadas, reforçando as
desigualdades sociais e delegando aos agentes do capital, tais como as corporações, o controle e uso
desses espaços, principalmente nos países mais pobres, dada a inexistência ou afrouxamento das
leis de controle ambiental. (GOUVEIA, 1999; MOURA, 2004; SANT‘ANNA NETO, 2011).
As pressões decorrentes da falta de planejamento urbano exercidas sobre o ambiente
repercutem sobre a saúde da população, influenciando a sua qualidade de vida. Tendo em vista que
a qualidade de vida é um conceito amplo, estando ligada à percepção do indivíduo acerca de sua
condição de vida e sobrevivência, sendo determinada por múltiplos fatores, tais como: condições de
saúde, educação, renda, lazer, moradia, entre outros.
Como ressalta Seidl e Zannon (2004) dois aspectos a partir da década de 90 são relevantes
no conceito de qualidade de vida, a subjetividade e a multidimensionalidade. Ou seja, a qualidade
de vida passa a ligar-se a como o indivíduo percebe o seu estado de saúde e o seu contexto de vida,
sendo influenciada por diversas dimensões, entre as quais a saúde desempenha um importante
papel.
Autores como Mendonça (2000), Sant‘Anna Neto (2011) entre outros, tem demonstrado que
o sistema climático aliado à realidade de degradação socioambiental dos espaços urbanos tem
exercido influencia sobre a saúde coletiva da população urbana, uma vez que atrelado à
vulnerabilidade de alguns grupos sociais, que carecem de condições mínimas de infraestrutura
básica os efeitos do clima são intensificados.
Assim a conjunção entre áreas degradadas e os fatores climáticos se constituem como
condicionantes para o desenvolvimento de doenças como dengue, leptospirose e esquistossomose
nas cidades. Impactando diretamente os quadros de saúde-doença da população urbana e a
qualidade de vida nesses espaços.
A esquistossomose se caracteriza como uma doença infectoparasitária causada pelo
trematódeo Schistosoma mansoni que têm como hospedeiros intermediários caramujos de água

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

doce do gênero Bimphalaria, e que pode evoluir desde formas assintomáticas até formas clínicas
extremamente graves (BRASIL, 2014).
O Brasil é o país da América com maior área endêmica da doença, e desde seu aparecimento
no Nordeste, a esquistossomose dispersou-se por várias partes do território nacional. A doença foi
introduzida no país através do tráfico escravo, expandindo-se e afetando parcela significativa da
população brasileira e constitui um dos grandes problemas no campo da saúde pública, sendo
caracterizada como doença endêmica que acomete populações principalmente em locais sem
saneamento ou com saneamento inadequado (BRASIL, 2014).
Aliados à falta de saneamento outros fatores contribuem para a disseminação da doença,
como o baixo nível socioeconômico e o reduzido grau de escolaridade da população das áreas
contaminadas, o que exige a implementação de políticas públicas que melhorem as condições de
vida da população para uma eficiente redução dos números de casos.
Neste trabalho, procuramos apresentar uma análise socioambiental acerca da ocorrência da
esquistossomose no município sergipano de Barra dos Coqueiros para a série temporal de 2006-
2014, buscando avaliar se há interrelações com os condicionantes climáticos e sociais. Tal pesquisa
visa identificar elementos que contribuam para o planejamento da área pesquisada bem como para
nortear as políticas públicas municipais no sentido de uma ação eficiente que melhore a qualidade
de vida da população.

METODOLOGIA

O presente trabalho caracteriza-se como exploratório e descritivo sendo desenvolvido a


partir da pesquisa bibliográfica e trabalhos de campo na área de estudo. Além do levantamento
bibliográfico, caracterizam a pesquisa o levantamento de dados secundários, tais como indicadores
demográficos, ambientais, econômicos e de saúde e saneamento, a fim de permitir a formulação de
um perfil socioambiental do município de Barra dos Coqueiros.
Os dados de precipitação pluviométrica da área foram coletados no Centro de Meteorologia
de Sergipe (CEMESE). Diante da inexistência de estação meteorológica no município de Barra dos
Coqueiros, os dados foram calculados a partir da técnica de interpolação de dados, tomando por
base os valores de precipitação indicados pelas estações de Santo Amaro das Brotas e Aracaju -
vizinhas à área de estudo – que permite a formulação de uma média representativa dos valores de

precipitação para Barra dos Coqueiros. Assim temos que: na qual:

PREC bc = Precipitação de Barra dos Coqueiros; PREC st = Precipitação de Santo Amaro; PREC
aju = Precipitação de Aracaju.
Os casos de Esquistossomose e suas respectivas localizações foram levantados na Secretaria
de Estado da Saúde de Sergipe (SES/SE), a partir dos relatórios completos do Programa de Controle

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

de Esquistossomose de Sergipe (PCE/SE). Nestes relatórios, os casos urbanos são apresentados na


categoria de ―cidade‖ e os demais casos com a indicação do nome das localidades onde foram
notificados.
Diante dos dados, foi utilizado o Excel/Windows/07 para montagem do banco de dados,
confecção de gráficos e tabelas da pesquisa. A fim de identificar relação entre os eventos de
precipitação pluviométrica e a ocorrência das doenças, empregou-se o método estatístico de
Correlação de Pearson, a partir do qual os dados de precipitação foram considerados como variável
independente e os casos da doença como variável dependente e cujo resultado de acordo com
categorização de Dancey e Reidy (2006): 0 a 0.30 indica fraca correlação; 0.40 a 0.6 (positivo ou
negativo) indica correlação moderada; 0.70 a 1 (positiva ou negativa) indica forte correlação.
A partir das análises prévias, foi efetuada pesquisa de campo na sede municipal, a fim de
realizar a análise das condições socioambientais locais, com a utilização de Checklist e registro
fotográfico, com ênfase nas características sanitárias dessas localidades, bem como de coletar as
coordenadas geográficas para espacialização das doenças no território do município. Para a
confecção dos mapas de localização da área de estudo, assim como dos padrões espaciais das
referidas doenças, utilizou-se o ArcGis 10.1 como software, e a base de dados do Atlas da
Superintendência de Recursos Hídricos do Estado de Sergipe.

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

O município de Barra dos Coqueiros possui uma extensão territorial de 90.322 km² e está
localizado na faixa litorânea do Estado de Sergipe, fazendo parte do território de planejamento da
Grande Aracaju. Ele limita-se com o oceano Atlântico e mais três municípios sergipanos: ao norte
com o município de Pirambu, ao sul com município de Aracaju, a oeste com o município de Santo
Amaro das Brotas e a leste com o oceano Atlântico (Figura 01) (BRASIL, 2010).
Segundo os levantamentos do último censo demográfico do IBGE, o município possuía em
2010 uma população absoluta da ordem de 24.976 habitantes, sendo que destes 4.090 (16,38%)
residiam na zona rural e 20.886 (83,62%) na área urbana (BRASIL, 2010).

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Figura 01- Localização do município de Barra dos Coqueiros.

No que diz respeito às características naturais, Barra dos Coqueiros apresenta tipo climático
Megatérmico Subúmido Úmido, com precipitações concentradas no período de outono-inverno,
girando em torno de 1600 mm/ano (ALVES e SILVA, 2012). O município sofre interferência direta
da maritimidade, bem como dos cursos fluviais com destaque para o rio Sergipe na porção sul do
município e Japaratuba ao norte, além do rio Pomonga. Também fazem parte da hidrografia do
município, o rio Mangaba e os riachos Portal e Guaxinim que deságuam no rio Sergipe, e as lagoas
permanentes e áreas de várzea inundada no período chuvoso (SANTOS, COSTA e MELO
SANTOS, 2007).
Barra dos Coqueiros encontra-se sobre a bacia sedimentar Sergipe/Alagoas, na unidade
geomorfológica da planície costeira, marcada pelas morfologias dos terraços marinhos,
fluviomarinhos e dos campos de dunas (SERGIPE, 2013). O município apresenta cobertura vegetal
caracterizada pelos mangues, campos de várzea e de restinga, que predominam sobre quase todo o
território e se configuram como ecossistemas de grande fragilidade (SERGIPE, 2014).
Cabe ressaltar as fortes pressões antrópicas verificadas especialmente sobre os campos
dunares do município, geradas pela ocupação imobiliária enquanto resultado da política de
desenvolvimento turístico em todo o litoral brasileiro (FONSECA, VILAR e SANTOS, 2009). O
município de Barra dos Coqueiros tem passado por um intenso processo de especulação imobiliária,

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especialmente a partir de 2006 com a construção da ponte Construtor João Alves, ligando-o a
cidade de Aracaju. Tal fato tem produzido uma enorme alteração na paisagem municipal, atenuando
processos como o de segregação socioespacial, sem falar nas fortes pressões exercidas sobre os
ecossistemas locais, afetando a capacidade de resiliência dos mesmos.
Em 2010, os dados do IBGE revelam para o município uma taxa de analfabetismo de 13,3%
e uma expectativa de vida ao nascer de 71,54 anos. O Índice de Desenvolvimento Humano
Municipal (IDHM) foi de 0.649, representando um IDHM médio. A evolução positiva observada no
IDHM de Barra dos Coqueiros (Figura 02) é resultado da melhoria nas dimensões que compõe este
indicador, o que pode resultar da implementação de políticas públicas efetivas que garantam uma
melhor expectativa de vida, a elevação da renda e do número de matrículas nas escolas do
município, conforme apresentado na figura 03.

Evolução do IDHM de Barra dos Coqueiros/SE


0,8 0,649
0,6 0,527
0,403
0,4 IDHM

0,2
0
1991 2000 2010

Figura 02- Evolução do IDHM de Barra dos Coqueiros.


Fonte: IBGE. Organizado pelo autor.

Evolução nas dimensões do IDHM de Barra dos


Coqueiros/SE
0,776
0,8 0,681
0,647
0,551 0,541 0,559 0,545
0,6
0,385
0,4
0,225
0,2
0
1991 2000 2010
LONGEVIDADE RENDA EDUCAÇÃO
Figura 03- Evolução nas dimensões do IDHM de Barra dos Coqueiros.
Fonte: Observatório de Sergipe. Organizado pelo autor

O índice de Gini que aponta o grau de concentração de renda de determinado grupo social,
para Barra dos Coqueiros, foi respectivamente de 0,55 em 1991, decaindo para 0,52 em 2000, e
atingindo em 2010 um índice 0,54. O que reflete a histórica característica do nosso país, de
concentração de renda nas mãos de uma minoria.47

47
Fonte: Observatório de Sergipe - http://www.observatorio.se.gov.br/estatistica/base-de-dados/dados-por-municipio

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A evolução na concentração de renda em Barra dos Coqueiros de 2000 para 2010 pode ser
entendida como o resultado das transformações implantadas no litoral norte de Sergipe, através de
programas governamentais como o PRODETUR/SE (Programa do Desenvolvimento do Turismo
em Sergipe), da construção da ponte Construtor João Alves em 2006 e da inserção dos condomínios
de luxo na área territorial de Barra dos Coqueiros atraindo população de alto poder aquisitivo para a
região.
No município de Barra dos Coqueiros em 2010, 98,37% dos domicílios eram atendidos com
a coleta de lixo, e apenas 57,2% deles possuíam saneamento adequado. No tocante à saúde, o
município está enquadrado na região de saúde da Grande Aracaju, possuindo em 2014, 13
estabelecimentos de saúde, e nove equipes do Programa de Saúde da Família (PSF) (SERGIPE,
2014).

OS CASOS DE ESQUISTOSSOMOSE EM BARRA DOS COQUEIROS/SERGIPE


Também conhecida popularmente como Barriga d‘água, a Esquistossomose é adquirida
através do contato da pele ou mucosas com água contaminada com o Schistosoma mansoni. A
transmissão da doença ocorre quando indivíduos infectados eliminam ovos em locais inadequados
através de suas fezes, que em contato com a água eclodem e liberam larvas que infectam os
caramujos, seus hospedeiros intermediários. Após quatro semanas as larvas abandonam o caramujo
e ficam livres nas águas, que ao entrarem em contato com a pele dos seres humanos, transmitem a
doença.
Na fase aguda, o paciente pode apresentar febre, dor na cabeça, calafrios, suores, fraqueza,
falta de apetite, dor muscular, tosse e diarréia. Em alguns casos o fígado e o baço podem inflamar e
aumentar de tamanho. Na forma crônica a diarréia se torna mais constante, alternando-se com
prisão de ventre e pode aparecer sangue nas fezes. Além disso, o paciente pode sentir tonturas, dor
na cabeça, sensação de plenitude gástrica, prurido anal, palpitações, impotência, emagrecimento e
endurecimento do fígado, com aumento do seu volume48.
No Brasil, desde a criação do Programa de Controle de Esquistossomose em 1975, observa-
se uma redução no número de casos da doença, no entanto os números ainda são alarmantes. De
acordo com os levantamentos realizados no Portal da saúde, do Ministério da Saúde, de 2006 a
2014 o país registrou 611.530 casos confirmados da doença, sendo que destes, 447.911 foram
registrados na região Nordeste do país, o que equivale a um percentual de 73,2% dos casos. Em
Sergipe, o número de casos confirmados para o mesmo período foi de 69.204 casos, o que
representa 15,4% dos registros para a região Nordeste. Em Barra dos Coqueiros, por sua vez, de

48
Informações retiradas do Portal da saúde: http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/leia-mais-
o-ministerio/656-secretaria-svs/vigilancia-de-a-a-z/esquistossomose/11240-descricao-da-doenca

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2006 a 2014 registrou-se 736 casos confirmados, com os maiores números nos anos de 2007, 2011
e 2013, com respectivamente, 133, 143 e 150 casos notificados conforme tabela 01.

ANO BRASIL NORDESTE SERGIPE BARRA DOS


COQUEIROS
2006 118.355 84.915 14.066 24
2007 103.083 74.175 13.677 133
2008 75.429 52.565 8.258 5
2009 76.409 56.112 8.199 117
2010 69.436 50.837 8.844 20
2011 59.946 43.246 8.534 143
2012 38.685 28.833 1.767 95
2013 36.994 29.750 3.308 150
2014 33.193 27.478 2.551 49
TOTAL 611.530 447.911 69.204 736
Tabela 01- Casos confirmados de Esquistossomose no Brasil, Nordeste, Sergipe e Barra dos Coqueiros para
o período de 2006 a 2014. Fonte: Portal da Saúde e PCE/SE. Elaboração pelo autor.

A partir dos relatórios do PCE/SE, verificou-se que os casos da referida doença para série
temporal de 2006 a 2014 concentraram-se, sobretudo nos meses de fevereiro, março, julho e agosto,
tendo pouca expressividade nos meses de maior precipitação da área em estudo, respectivamente,
abril, maio e junho (Figura 05).

Precipitação pluviométrica e casos de Esquistossomose em


Barra dos Coqueiros/SE de 2006 a 2014

160 4000

Médias mensais de 2006 a 2014


Médias mensais de 2006 a 2014

140 3500
Casos de Esquistossomose

120 3000
100 2500
PP (mm)

80 2000
60 1500
40 1000
20 500
0 0
JAN FEV MAR ABR MAIO JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
Esquistossomose Precipitação (mm)

Figura 05 - Precipitação pluviométrica e casos de Esquistossomose em Barra dos Coqueiros/SE de


2006 a 2014. Fonte: PCE/SE e CEMESE. Organizado pelo autor.

Com a aplicação do Coeficiente de Pearson que revelou um valor de 0, 212, reafirmou-se a


falta de correlação entre a precipitação e os casos da doença para a série temporal estudada. Cabe
considerar que o pico no número de casos de esquistossomose observado em julho e agosto, pode
ser resultado do contado da população com a água contaminada nos outros meses da quadra
chuvosa, mas que apenas foi diagnosticado nesses meses diante do aparecimento de algum sintoma
e da procura ao posto de saúde.

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Com base nos dados de espacialização dos relatórios do PCE/SE, notou-se que os casos de
esquistossomose concentraram-se, sobretudo na sede do município, não sendo possível diante da
categorização proposta nos relatórios, identificar os bairros da cidade com maior número de
ocorrência (Figura 06).

Figura 06- Localização dos casos de esquistossomose em Barra dos Coqueiros de 2006-2014.
Fonte: PCE/SE.

Além da sede municipal e demais localidades apontadas no mapa, constataram-se casos da


doença no povoado Flexeiras (86 casos), Grageru (11 casos), Brandina (seis casos), Lopes (cinco
casos), Mazombo (quatro casos), São José do Arribancado (dois casos) e Faceiro com apenas um
caso.
Os trabalhos de campo foram desenvolvidos na sede municipal, que concentra o maior
número de casos da doença, a partir dos bairros Olimar, Marivan, Prisco Viana, Bairro Baixo,
Centro e Loteamento Andorinhas, constatando-se que esta apresenta áreas de marcante
vulnerabilidade socioambiental que podem funcionar como fortes condicionantes para o
desenvolvimento da doença. Verificou-se que o centro do município é cortado pelo riacho canal
Guaxinim que se encontra totalmente contaminado com os dejetos da cidade funcionando como um
depósito de resíduos sólidos e esgoto a céu aberto. Em direção à jusante, o canal tem suas

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imediações habitadas por uma população em situação de alta vulnerabilidade socioambiental,


estando a área configurada como um aglomerado subnormal, de acordo com censo demográfico do
IBGE de 2010 (Figura 07).

Figura 07- Concentração de lixo e esgoto no riacho canal Guaxinim em Barra dos Coqueiros.
Fonte:Pesquisa de campo.

No Bairro Baixo foi possível identificar graves problemas ligados a falta de saneamento
básico e ao acúmulo de resíduos sólidos. A área também é cortada pelo riacho canal Guaxinim que
margeia a entrada das casas, e onde se verificou o maior acúmulo de resíduos sólidos de todo o
perfil do canal. O bairro é caracterizado por uma vulnerabilidade socioambiental marcante e uma
população de baixo poder aquisitivo, o que deve ser considerado nas análises dos casos de
Esquistossomose (Figura 08).

Figura 08- Canal Guaxinim no Bairro Baixo em Barra dos Coqueiros/SE. Fonte: Pesquisa de campo.

A existência de áreas com carência de infraestrutura sanitária como constatado na sede de


Barra dos Coqueiros, que em geral abrigam população de baixo nível socioeconômico, aliado à
aglomeração de parcela significativa da população nesta área, são contribuintes para a concentração
de casos da doença sobre a cidade.
A segunda maior concentração de casos da doença foi registrada no povoado Pontal da
Barra. Esse povoado passou por sérios problemas de falta de saneamento e água encanada ao longo
dos anos, chegando inclusive a ser conhecido como ‗ilha do rato‘ diante da situação
socioeconômica local e a ausência de políticas públicas efetivas de saneamento, habitação,

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erradicação da pobreza e educação em saúde. Ocupado por uma população em situação de


vulnerabilidade social, que sentia a carência de políticas públicas de melhoria da qualidade de vida,
o ambiente era marcado pela falta de energia elétrica e o lançamento de resíduos sólidos a céu
aberto (Figura 09).

Figura 09- Condições socioambientais do Pontal da Barra. Fonte: Infonet49

O contexto histórico-social verificado no Pontal da Barra permite afirmar a sua estreita


relação com o número de casos registrados para essa localidade, na série em estudo. Bem como
leva-nos a ratificar a importância das políticas públicas para minimização dos casos de
esquistossomose.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presença de áreas com carência de infraestruturas básicas de sobrevivência, tais como


falta de saneamento adequado e condições de moradia, contribuindo para o desenvolvimento de
doenças como a esquistossomose nas cidades brasileiras, são fatores que atingem diretamente a
qualidade de vida da população urbana. Diante das análises realizadas em Barra dos Coqueiros,
percebemos que a qualidade de vida para o grupo de menor renda que habita esta cidade é
fortemente influenciada pela presença de tais áreas, dada a estreita relação entre os fatores de ordem
socioambientais e a ocorrência de doenças no município.
Diante da inexistência correlacional entre o número de casos da doença e o aumento da
precipitação pluviométrica, afirmamos que a ocorrência desses casos está relacionada a outros
fatores de ordem socioambiental e cultural, sendo justificada pela identificação de áreas carentes de
saneamento básico com acúmulo de resíduos sólidos e água em áreas do município, que atreladas
aos níveis educacionais e de renda de determinados grupos, bem como a hábitos culturais
constituem fatores importantes na disseminação de doenças como a esquistossomose.
Apesar da melhoria nos indicadores sociais do município, com destaque para o IDHM, Barra
dos Coqueiros apresenta áreas de pobreza consideráveis, como o aglomerado subnormal canal

49
Imagem retirada de reportagem de Agosto de 2009, realizada pelo portal Infonet no Povoado Pontal da Barra
(http://www.infonet.com.br/noticias/cidade//ler.asp?id=88547)

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Guaxinim, que carecem de uma atuação incisiva do poder público através do estabelecimento de
políticas públicas efetivas direcionadas para melhoria da qualidade de vida dessa população.
Portanto, ressalta-se a importância dos municípios planejarem suas políticas de saúde
considerando as características sociais e ambientais de suas localidades, como forma de garantir
uma melhoria da qualidade de vida à sua população.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

DIAGNÓSTICO DA ARBORIZAÇÃO URBANA EM PATOS, NO SERTÃO DA


PARAÍBA

Assíria Maria Ferreira da NÓBREGA


Professora Associada Doutora em Ciências Florestais UFCG
assiria@cstr.ufcg.edu.br
Jaiana Gomes de SOUSA
Mestre em Ciências Florestais UFCG
jaianagsousa@gmail.com
Adão Batista de ARAÚJO
Engenheiro Florestal, Mestrando em Ciências Florestais, UFRPE
adao.b@hotmail.com
Josias Divino Silva de LUCENA
Engenheiro Florestal, Mestrando em Ciências Florestais, UFRPE
josiaslucenaeng@gmail.com

RESUMO
A gestão urbana envolve múltiplos componentes, dentre os quais é relevante considerar a
arborização das áreas públicas. Esta pesquisa objetivou analisar a arborização urbana em seis
bairros da cidade de Patos, no Sertão da Paraíba. Em cada bairro, foram sorteadas aleatoriamente
sete quadras, totalizando 42 unidades amostrais. As características analisadas compreenderam as
espécies plantadas, estado de fitossanidade das árvores, danos causados pela raiz, afastamento
predial, projeção da copa em relação a fiação elétrica, origem da espécie, porte das árvores, altura
da bifurcação e tipos de poda. Foram identificadas 14 espécies num total de 658 indivíduos vivos,
distribuídos em seis famílias. As espécies exóticas predominaram na arborização dos bairros
estudados, comprovando a baixa diversidade de espécies. Meliaceae e Fabaceae foram as famílias
com maiores representantes de espécies, com destaque para Azadirachta indica, responsável por
mais de 70 % dos indivíduos. A análise qualitativa aponta bons indicadores quanto ao afastamento
predial, problemas com as raízes e quanto ao estado fitossanitário, porém destaca-se negativamente
em relação à existência de conflitos com a rede elétrica e a baixa altura de bifurcação das árvores.
Os problemas apresentados nesta pesquisa são comuns nos inventários urbanos brasileiros,
indicando a necessidade de um ajuste no planejamento da arborização do município de Patos-PB,
visando minimizar esses erros.
Palavras Chave: Inventário arbóreo; silvicultura urbana; semiárido.
ABSTRACT
Urban management involves multiple components among which it is important to consider the
arborization of the public areas. This research aimed to analyze the urban arborization in six
neighborhoods in Patos, Sertão of Paraíba. In each neighborhood, seven blocks were randomly
drawn, totaling 42 sample units. The analyzed characteristics included the planted species,
phitosanitary status, root damage, distance building, crown projection in relation to electric
network, species origin, tree size, bifurcation height and types of pruning. We identified 14 species
in a total of 658 living individuals, distributed in six families. Meliaceae and Fabaceae were the
families with the largest species representatives, especially Azadirachta indica, responsible for
more than 70 % of the individuals. The qualitative analysis points as positive indicators of distance
building, problems with roots and phytosanitary status, however, it shows negative in relation to the

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

existence of conflicts with the electric network and the low height of bifurcation of the trees. The
problems presented in this research are common in brazilian urban inventories, indicating the need
for an adjustment in the arborization planning of Patos-PB, aiming to minimize these errors.
Keywords: Inventory arboreal; urban forestry; semiarid.

INTRODUÇÃO

As cidades brasileiras ao longo dos anos vêm sofrendo transformações na sua cobertura
vegetal, na redução, composição arbórea e diversidade florística, com isso, a necessidade de
compreender a diversidade de aspectos do espaço urbano combinados com as suas dimensões
socioambientais tornou-se uma questão cada vez mais atual no planejamento da gestão urbana. Os
assuntos relacionados com a qualidade ambiental das áreas urbanas vêm sendo abordados por vários
pesquisadores em níveis técnicos e científicos (BARGOS; MATIAS, 2011).
A gestão urbana envolve múltiplos componentes, dentre os quais é relevante considerar a
arborização das áreas públicas, tendo em vista o seu potencial para ofertar vários benefícios e
contribuir para a melhoria da qualidade ambiental das cidades. Nesse sentido, ressalta-se que as
árvores detêm características naturais que contribuem para o conforto humano no ambiente, através
do fornecimento de sombra para pedestres e veículos, redução da poluição sonora, melhoria da
qualidade do ar, redução da amplitude térmica, abrigo para pássaros e equilíbrio estético, o que
diminui a diferença entre a escala humana e outros componentes arquitetônicos como prédios,
muros e grandes avenidas (SILVA FILHO, 2002).
A oferta de todos esses benefícios exige que o plano de arborização seja bem desenvolvido,
pois assim como em toda atividade, a arborização exige a realização de um planejamento prévio
adequado, influenciando diretamente na qualidade e minimizando o surgimento de problemas
futuros.
Para conhecer o patrimônio arbóreo de uma cidade, a elaboração de um inventário
convencional da arborização urbana é a maneira indicada, proporcionando informações sobre
prioridades de monitoramento e necessidades de intervenções, seja com tratamentos, retiradas,
plantios e replantios, bem como o manejo das árvores quanto à necessidade de poda (LIMA NETO;
BIONDI, 2012).
Apesar dos benefícios da arborização urbana para a população local, esses estudos são
escassos nas cidades de pequeno porte na Região Nordeste. Diante dessa informação, surge a
necessidade de conhecer a composição florística e a diversidade da arborização da cidade de Patos-
PB, localizada no Sertão Paraibano, a fim de proporcionar subsídios para o manejo adequado nestes
bairros. A região apresenta uma temperatura bastante elevada e a indicação de espécies adequadas
se faz necessário a fim de proporcionar conforto térmico à população.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Diante da relevância dessa temática, esta pesquisa objetivou analisar, em termos


quantitativos e qualitativos, a arborização urbana em seis bairros do município de Patos, no Sertão
da Paraíba.

MATERIAL E MÉTODOS

Caracterização da área de estudo


O município de Patos localiza-se na mesorregião do Sertão, a 350 Km da capital. Apresenta
uma população estimada em 107.067 habitantes e uma área territorial de 473,056 Km2, inserido no
bioma Caatinga (IBGE, 2017). O clima da região é do tipo Bsh, marcado por uma estação quente e
outra chuvosa (KOPPEN, 1948). A pluviosidade média anual é de 650 mm, com chuvas
concentradas entre os meses de janeiro a junho. A temperatura média anual é de 28 °C, com
máxima de 40 ºC, enquanto a umidade relativa média do ar é de 65% (BEZERRA et al., 2010).
A cidade de Patos é composta por vinte e três bairros, os quais possuem diferenças
expressivas quanto à população, extensão e poder aquisitivo. A cidade ainda apresenta bairros
recém-formados, porém com uma aceitação considerável e um elevado contingente populacional
(PREFEITURA MUNICIPAL DE PATOS, 2009).
Procedimento metodológico
Para esta pesquisa foram selecionados seis bairros, com diferença de poder aquisitivo e
densidade populacional, considerando ainda, que também diferem quanto ao período de formação
em bairros mais antigos e aqueles formados há poucos anos.
Com o auxílio da Secretaria de Planejamento da Prefeitura Municipal de Patos, foi obtido
um mapa com escala 1:10000 da zona urbana do município. Após a análise, os bairros selecionados
foram Brasília, Maternidade e Salgadinho (considerados de maior poder aquisitivo) e Jatobá,
Liberdade e São Sebastião (os de menor poder aquisitivo e alta densidade populacional). Em cada
bairro, foram sorteadas aleatoriamente sete quadras, totalizando 42 quadras.
A coleta dos dados foi realizada no período de agosto a dezembro de 2013, sendo anotados
em planilha seguindo a metodologia de MELO et al., (2007). As características avaliadas foram:
altura total da árvore e altura da primeira bifurcação, estado fitossanitário, ocorrência de problemas
devido às raízes, afastamento predial, conflito em relação à fiação elétrica, situação de poda e
origem das espécies.
O estado fitossanitário das árvores foi avaliado de acordo com os seguintes critérios: Morta
– quando apresentavam danos irreversíveis; Ruim – demonstravam doenças ou defeitos físicos,
porém não se encontravam mortas; Regular: exibiam um estágio intermediário, mostrando sinais de
doenças ou defeitos físicos, porém que podiam ser corrigidos com podas e controle sanitário, e; Boa
– não apresentavam nenhum sinal de doenças ou danos físicos.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Os danos ocasionados pelas raízes foram observados conforme os seguintes parâmetros:


Não: árvores que não possuíam problemas; Aponta: raízes apontando superficialmente; Quebra:
raízes se expondo na superfície e apresentando sinais de quebra no passeio ou até mesmo na rua;
Destrói: provocando uma quebra em nível elevado da estrutura superficial.
O afastamento predial foi avaliado quanto ao distanciamento das copas das árvores em
relação às residências e prédios, para o qual eram classificados como: Não: quando não havia
afastamento predial, ocorrendo o consequente contato com os imóveis e outras três classes
correspondentes a distância de afastamento da copa em relação aos imóveis, sendo (1,00 − 1,50 m;
1,50 − 3,00 m e maior que 3,00 metros).
Quanto à fiação elétrica foi analisado o conflito entre a copa das árvores com os fios, sendo
observada a ausência de fiação ou, quando havia a presença, a avaliação era realizada considerando
se a copa estava abaixo, acima ou no meio da rede elétrica.
A altura total foi dividida nas classes de 0 a 5 m, entre 5 e 10 m, entre 10 e 15 m e maior que
15 m. As classes para a altura da primeira bifurcação foram: < 1 m – indivíduos bifurcados abaixo
de 1 metro; 1 m − 1,5 m ( bifurcação entre 1,0 e 1,5 metros); 1,5 m − 2,0 m (bifurcação entre a
altura de 1,5 a 2,0 metros, e; > 2,0 m (altura da primeira bifurcação localizada acima de 2,0 metros).
A medição da altura da primeira bifurcação foi realizada com auxílio de uma fita métrica,
enquanto que a altura total das árvores foi determinada com o hipsômetro de Blume-Leiss.
Em relação ao tipo de poda realizada, estas foram classificadas como: Poda drástica –
quando a árvore tinha sofrido a remoção total ou parcial da copa formada acima do tronco; Pesada –
quando houve retirada de alguns galhos, deformando o formato original da copa; Leve – casos em
que ocorreu a poda de manutenção para a convivência harmoniosa com demais equipamentos
urbanos, como fiação e placas de trânsito, e; Sem poda − quando não houve sinais de intervenções
recentes na árvore.
Os dados foram tabulados em uma planilha eletrônica utilizando o aplicativo Microsoft
Excel, no qual foram analisados. A maior parte dos resultados foi apresentada através da frequência
de cada espécie nos parâmetros estudados, calculada por meio da razão entre o número de
indivíduos da espécie em determinada característica e o número total observado.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nos seis barros estudados no município de Patos, foram amostrados um total de 658
indivíduos vivos, distribuídos em seis famílias e 14 espécies, destacando-se a abundância de
apenas uma espécie, a Azadirachta indica, responsável por mais de 70 % dos indivíduos
amostrados (Tabela 1).

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Tabela 1− Famílias e espécies amostradas na arborização urbana em seis bairros da cidade de Patos-
PB, com as frequências e a classificação quanto a origem, listadas em ordem alfabética por família.
Família Espécie Ni FR Origem
Anacardiaceae MangiferaindicaL. 1 0,15 E
Anacardiaceae Spondiasmombim L. 1 0,15 N
Bignoniaceae Crescentia cujete L. 1 0,15 N
Bignoniaceae Tabebuia aurea (Silva Manso) Benth. & Hook. f ex S. Moore 1 0,15 N
Combretaceae Terminalia catappa L. 39 5,93 E
Fabaceae Bauhinia longifolia (Bong.) 1 0,15 N
Fabaceae Delonix regia (BojerexHook.) Raf. 4 0,61 N
Fabaceae Paubrasiliaechinata (Lam.) E. Gagnon, H. C. Lima & G. P. Lewis 2 0,30 N
Fabaceae Peltophorumdubium(Sprengel) Taubert 1 0,15 N
Fabaceae Pithecellobiumdulce(Roxb) Benth 4 0,61 E
Fabaceae Prosopisjuliflora (Sw.) DC. 30 4,56 E
Fabaceae Senna siamea (Lam.) H. S Irwin &Barneby 52 7,90 E
Meliaceae Azadirachtaindica A. Juss. 480 72,95 E
Moraceae Ficusbenjamina L. 41 6,23 E
Total 14 658 100,00 7E/7N
Ni – número de indivíduos; FR – frequência relativa (%); N – nativa do Brasil; E – Exótica.

Lundgrem; Silva e Almeida (2013) em estudos realizados em Serra Talhada-PE verificaram


alta frequência de Ficus benjamina e Azadirachta indica, acumulando um percentual elevado de
espécies exóticas na cidade, com consequências indesejáveis como o ataque de mosca branca
ocorrido recentemente. Mendes; Figueiredo e Braga (2012) em trabalho realizado em Sobral-CE
obtiveram resultados semelhantes, em que, dentre as espécies catalogadas, as mais abundantes
foram Azadirachta indica com 36,2 %, Senna siamea com 11,2 % e Ficus benjamina com 9,63 %
dos indivíduos.
A famílias mais ricas em espécie foram Fabaceae (7), Anacardiaceae e Bignoniaceae com
duas espécies cada uma e as demais apenas uma espécie.
Com relação ao número de indivíduos, o maior destaque foi Meliaceae representando 73 % de
todos os indivíduos amostrados, percentual atribuído a alta densidade da espécie Azadirachta indica.
Trata-se de uma espécie exótica que, por apresentar um rápido crescimento e proporcionar a
formação de sombras em curto período de tempo, tem sido muito utilizada na arborização das
cidades da região Nordeste.
Considerando a família mais numerosa em indivíduos, este resultado corrobora com o
apresentado por ALENCAR et al., (2014) na cidade de São João do Rio do Peixe-PB, onde a
família Meliaceae apresentou 54,9% dos indivíduos inventariados. Porém, divergem do encontrado
por Santos; Lisboa e Carvalho (2012) observado em bairro da cidade de Natal-RN, onde a família
Fabaceae foi a mais representativa, com 32,5 % do total.
Quanto à origem, as espécies exóticas se sobressaíram, sendo representadas por 98 % dos
indivíduos presentes na arborização, enquanto as nativas foram representadas por apenas 2 % do
total. Esta situação é preocupante, pois evidencia a falta de planejamento na arborização urbana,
sendo possível inferir o descaso dos gestores com as questões ligadas ao meio ambiente,
ressaltando-se ainda que a arborização, na maioria dos casos, é uma atividade realizada pela própria

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

população e sem orientação técnica.


De acordo com Lima; Silva e Carvalho (2013), na composição da flora urbana é de extrema
importância a presença de espécies arbóreas nativas da região, no sentido de fornecer um ambiente
urbano com particularidades regionais, bem como, contribuir como uma forma de valorizar a
composição arbórea nativa de determinado local.
As espécies nativas além de proporcionarem alimento para a fauna local e contribuírem na
preservação da flora regional, apresentam-se também mais adaptadas.
Quando se planeja a implantação de árvores em meio urbano deve-se considerar a
diversidade de espécies. As recomendações da CEMIG (2011) apontam que não se deve implantar
um número de indivíduos que ultrapasse 30 % de uma única família, 20 % de um único gênero e 10
% de uma única espécie. Portanto, os resultados encontrados para os bairros estudados nessa
pesquisa não atendem essas recomendações, demonstrando a falta de planejamento do ambiente
urbano analisado.
A análise dos parâmetros fitossanidade, problemas ocasionados pelas raízes, afastamento
predial, incompatibilidade com a rede elétrica, selecionados para avaliação das condições da
arborização, encontram-se na Figura 1. Nos bairros estudados, verificou-se que a maioria das
árvores foi classificada como em bom estado fitossanitário, enquanto que as consideradas como
ruim e regular apresentaram-se em quantidades bem inferiores (Figura 1A). Apenas para os bairros
Jatobá e Maternidade foram registradas árvores mortas, porém em um percentual pouco expressivo.
Resultados semelhantes foram obtidos em Natal-RN, onde 34,4% dos indivíduos apresentaram-se
em bom estado (SANTOS; LISBOA; CARVALHO, 2012).
Quanto aos problemas ocasionados pelas raízes (Figura 1B), os dados apresentaram
resultados desejáveis para uma arborização urbana, já que em todos os bairros a maior parte dos
indivíduos que compõem a comunidade arbórea não apresentou nenhum tipo de problema. Poucos
espécimes estavam com suas raízes apontando ou danificando as calçadas, e em apenas três bairros
algumas espécies ocasionaram pequenos danos nas calçadas. Tal fato foi evidenciado por Motter e
Muller (2012) em estudo realizado no município de Tuparendi-RS, onde em poucos casos foram
verificados problemas com as raízes nas ruas, apresentando 74 % dos indivíduos com raízes que não
estão expostas, predominando no município calçadas sem danos.
Com relação ao afastamento predial (Figura 1C), observou-se que em todos os bairros a
maioria das árvores apresentava-se a uma distância variando de 1,5 a 3,0 metros dos imóveis, com
exceção do bairro Maternidade, no qual esta distância foi superior a 3,0 metros em sua maioria,
mostrando que há uma distância significativa para desenvolvimento dos indivíduos.
Para a introdução de espécies arbóreas em vias públicas se faz necessário um conhecimento
prévio do local, os passeios que apresentam distâncias mínimas dos imóveis, por exemplo, não

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página 1102


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

estão aptos para receberem árvores com raízes tabulares, copas de grandes dimensões, bem como
espécies de grande porte.
A análise do parâmetro fiação elétrica (Figura 1D) demonstrou resultados indesejáveis, pois
em todos os bairros amostrados observaram-se árvores com suas copas incidindo na rede elétrica,
principalmente no bairro Brasília, onde quase 50 % dos indivíduos arbóreos estão acarretando tal
problema. Para os bairros Salgadinho e São Sebastião este percentual foi de mais de 30 %, enquanto
que nos bairros Jatobá e Maternidade, o percentual diminuiu chegando a aproximadamente 20 % e
apenas o bairro Liberdade apresentou valores inferiores a 10 %.
No trabalho de Rodolfo Júnior et al., (2008) realizado na cidade de Pombal-PB, foi
constatado que cerca de 50 % das árvores que compõem a arborização apresentam copas em
conflitos com a fiação aérea. Este é um parâmetro muito importante no planejamento da arborização
urbana, pois situações desta natureza irão contribuir para a execução de podas intensivas nas
árvores acarretando sérios problemas em relação à sua sobrevivência. Em pesquisa sobre a
arborização urbana no município de Três Rios-RJ, Faria et al., (2013) constatou que a porcentagem
de árvores em conflito com a rede aérea de transmissão de energia elétrica foi de 69,32%, indicando
que ocorreu erro na escolha das espécies utilizadas ou na manutenção das árvores.

Figura 1− Avaliação da arborização dos bairros Brasília, Jatobá, Liberdade, Maternidade, Salgadinho e
São Sebastião quanto afitossanidade (A); problemas ocasionados pelas raízes (B); afastamento predial
(C); situação das copas em relação a fiação (D).
A B

C D

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Na avaliação da altura total (Figura 2A), as informações indicam que as árvores amostradas
em todos os locais obtiveram um maior percentual de indivíduos com altura variando de 0 a 5
metros, com exceção para os bairros Salgadinho e São Sebastião. Os demais indivíduos
predominam na classe de 5 a 10 metros, o que permite inferir que a arborização nos bairros é
caracterizada pela predominância de indivíduos de pequeno e médio porte. Apenas nos bairros
Liberdade e Maternidade verificou-se a presença de indivíduos com altura entre 10 a 15 metros, que
podem ser classificadas como de grande porte. Não foram encontradas árvores maiores que 15
metros.
Brandão et al., (2011), em uma análise da arborização urbana do município de São João
Evangelista-MG observaram que a altura total dos indivíduos está concentrada nas classes de 0 a
5,0 metros e de 5,0 a 10,0 metros, representadas por 296 indivíduos e 331 indivíduos,
respectivamente, possuindo apenas 24 indivíduos na classe maior que 15 metros, resultados
semelhantes ao constatado para a arborização de Patos.
Figura 2 – Parâmetros quantitativos altura total (A) e altura da primeira bifurcação (B) das árvores
amostradas.

A B

Em relação à altura da primeira bifurcação (Figura 2B), verificou-se que em todos os bairros

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

as árvores predominam com a primeira bifurcação compreendida na altura de 1,5 a 2,0 metros,
exceto no bairro Maternidade, onde as árvores se apresentam com maior frequência bifurcando
entre 1,00 a 1,50 metros. A recomendação é que a altura ideal de bifurcação das árvores urbanas
deve ser superior a dois metros, visando não prejudicar o deslocamento de pedestres nas calçadas e
de veículos nas vias (TOSCAN et al., 2010).
Diante disso, infere-se que a execução de atividades de monitoramento da arborização é
essencial, destacando-se a importância da aplicação de podas de condução das árvores implantadas,
principalmente em sua fase inicial de desenvolvimento.
Quanto à avaliação dos tipos de poda realizados nas árvores amostradas (Figura 3),
constatou-se um maior percentual de podas leves, muito relacionadas às podas de formação ou
limpeza. No entanto, em todos os bairros encontram-se árvores em que foram realizadas podas
pesadas e drásticas, ocasionando problemas no desenvolvimento das mesmas, causando agressões e
resultando em problemas de manejo.

Figura 3 − Avaliação do tipo de poda realizado nas árvores inventariadas.

Os resultados encontrados nesta pesquisa divergem dos encontrados por Souza; Dodonov e
Cortez (2012) em pesquisa realizada na cidade de Ourinhos-SP, onde a poda drástica foi a mais
comum. Possivelmente, a utilização de podas drásticas se dá quando as árvores estão em conflitos
com os serviços de infraestrutura, como a rede elétrica, justificando as diferenças encontradas para
diferentes cidades. É relevante salientar que a ocorrência desses conflitos é decorrente da falta ou
limitação do planejamento da arborização.

CONCLUSÕES

A espécie Azadirachta indica predomina nos bairros estudados, neste caso, recomenda-se
evitar o plantio desta espécie em planos futuros.
A análise qualitativa aponta bons indicadores quanto ao afastamento predial, problemas com
as raízes e quanto ao estado fitossanitário, porém destaca-se negativamente em relação à existência
de conflitos com a rede elétrica e a baixa altura de bifurcação das árvores.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Os problemas apresentados nesta pesquisa são comuns nos inventários urbanos brasileiros,
indicando a falta de atenção do setor público para o planejamento da arborização urbana. Nesse
sentido, nota-se a necessidade de um ajuste no planejamento da arborização do município de Patos-
PB, visando minimizar esses problemas.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

PERCEPÇÃO DOS BENEFÍCIOS DA GINÁSTICA COLETIVA AO AR LIVRE NA 3ª


IDADE – ATIVIDADE EM UM GRUPO DE CAMPINA GRANDE – PB

Laryssa de Almeida DONATO


Mestranda em Desenvolvimento Regional, Advogada
laryssadonatoo@gmail.com
Ângela Maria Cavalcanti RAMALHO
Doutora em Recursos Naturais, Professora da UEPB e UFCG
angelamcramalho@gmail.com
Daniel Sales de ASSIS
Especialista em Gestão Pública, Contador da UFCG
assis_daniel2002@hotmail.com
Gustavo Villarim de Farias LEITE
Mestrando em Gestão e Avaliação da Educação Superior
gustavovfl@yahoo.com.br

RESUMO
Esse artigo tem por objetivo analisar a percepção dos benefícios da atividade física realizada ao ar
livre como uma prática na construção de uma vida equilibrada. A relação entre atividade física,
saúde e qualidade de vida vem sendo cada vez mais analisada nos estudos científicos. Sendo um
consenso dos profissionais da área da saúde que a atividade física é um fator determinante no
processo do envelhecimento com benefícios para saúde, estilo de vida ativo, prevenção de doenças
crônicas e na manutenção da capacidade funcional. Portanto, a prática da atividade física ao ar livre
é cada vez mais aceita pela população, que tem alcançado resultados sociais significativos. Trata-se
de um estudo exploratório com abordagem qualitativa na modalidade grupo focal aplicando também
a entrevista semi-estruturada sobre a atividade física ao ar livre como benefício para saúde na
terceira idade. Os resultados apontam que a prática regular da atividade física traz muitas mudanças
no estilo de vida no dia-a- dia do indivíduo são parte fundamental de um envelhecer com saúde,
além do processo de socialização.
Palavras-Chave: Atividade física. Vida Equilibrada. Saúde.
ABSTRACT
This article aims to analyze the perception of the benefits of outdoor physical activity as a practice
in building a balanced life. The relationship between physical activity, health and quality of life has
been increasingly analyzed in scientific studies. It is a consensus of health professionals that
physical activity is a determining factor in the aging process with health benefits, active lifestyle,
prevention of chronic diseases and maintenance of functional capacity. Therefore, the practice of
outdoor physical activity is increasingly accepted by the population, which has achieved significant
social results. This is an exploratory study with a qualitative approach in the focal group modality
applying also the semi-structured interview about outdoor physical activity as a benefit for health in
the elderly. The results indicate that the regular practice of physical activity brings many changes in
the daily life of the individual are a fundamental part of a healthy aging, in addition to the process
of socialization
Keywords: Physical activity. Balanced Life. Cheers

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

INTRODUÇÃO

Em toda história da humanidade, a velhice sempre foi caracterizada como uma etapa de
declínio, decrepitude e fase antecessora da morte. A imagem que se tem dessa fase da vida, varia de
cultura para cultura. De uma maneira geral, na antiguidade, mais especificamente até meados do
Séc. VI, o ancião era valorizado, por ser detentor de conhecimentos, ocupando uma posição de
destaque e privilégio quase sobrenatural na comunidade, suas opiniões e saberes eram valorizados e
aplicados por todos, como reflexos de sua vasta experiência de vida.
Contudo, na idade média, essa fase da vida passou a ser caracterizada como cessação de
atividade, e surgiram as ideias da necessidade do isolamento em retiros e asilos. Após o iluminismo,
com o surgimento da ciência, ocorrem vários avanços nas áreas de fisiologia, anatomia e patologia,
provocando um aumento significativo no número de idosos na Europa, e as crendices que cercavam
o tema foram descartadas.
Já no século XX, com o aparecimento da gerontologia, há o cismo entre os significados de
velhice e doença, mas mesmo com todos os avanços de concepções, a inserção do idoso como
partícipe ativo na sociedade sempre foi muito difícil. Ao idoso, na história moderna, coube orbitar a
sociedade, como um apêndice desvalorizado da engrenagem.
Com o desenvolvimento e modernização das cidades, do saneamento, das campanhas de
vacinação, dos novos tratamentos de saúde, e da nutrição adequada, acarretando aumentos
sequenciais da expectativa de vida da população, o idoso redefine seu status quo em uma sociedade
cada vez mais envelhecida. A vida (ativa e produtiva) dos homens e mulheres com idades acima de
60 anos vem passando por transformações.
A imagem da anciã na cadeira de balanço fazendo tricô, ou do aposentado cuja única
distração é o jogo de dominó com os amigos no banco da praça, vem dando espaço para cidadãos
cada vez mais conscientes de suas capacidades e de seus valores, ocupando cada vez mais espaço na
mídia, defendem seus direitos de maneira ativa, buscam informar-se e estar conectados à rede
virtual, querem e necessitam estar integrados ao mundo produtivo, participam de atividades lúdicas
e de lazer, e são arquitetos de seus destinos.
Desde sempre, na história da humanidade, observa-se a prática de atividades físicas
realizadas meio ambiente, fora de ambientes fechados e próximas a natureza proporcionam mais
benefícios a saúde. No mundo ocidental, isso se deu de forma mais acentuada a partir da 2ª grande
guerra. Nos anos que se seguiram, foram intensificados os estudos e desenvolvidas pesquisas na
área de saúde em todo o mundo, sendo um fator preponderante para o aumento da expectativa de
vida da população, que passava a ter noção de que a atividade física estava intimamente ligada à
longevidade e à qualidade de vida. Kenneth H. Cooper, médico americano, revolucionou o meio

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

com a criação do conceito e fundamentos de ginástica aeróbica, originalmente para treinar o


exército americano, mas rapidamente assimilada pela ávida população.
No Brasil, essa preocupação só surgiu a partir dos anos 1990, período em que a população
através de novos conceitos, conhecimentos e costumes, reconstrói alguns significados de saúde,
qualidade de vida, meio ambiente, envelhecimento e terceira idade. Passou-se, desde então, a serem
desenvolvidas muitas pesquisas que fundamentaram várias campanhas de conscientização sobre os
benefícios da prática de atividades físicas realizadas em contanto com a natureza, promovidas por
entes públicos e por organizações privadas. Cada vez mais, a população aderiu ao combate ao
sedentarismo, e passou a praticar exercícios, seja em modernos centros de ginástica, seja em
simples, mas funcionais academias de bairro e praças públicas.
Observa-se que o paradigma da ‗necessidade e benefícios da prática da atividade física‘ é
cada vez mais internalizado pela população, que passou a enxergar em resultados práticos nas suas
vidas, que ―[...] a atividade física tem papel fundamental, podendo desacelerar as alterações
fisiológicas do envelhecimento e das doenças crônico-degenerativas‖ (FEDERIGUI, 1995, apud
MOREIRA, 2001, p.13).

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A realização de atividades físicas por pessoas da terceira idade é uma pratica consensual e
difundida pelos médicos, educadores físicos, fisioterapeutas e outros profissionais da área de saúde
nos dias atuais. Não queremos neste artigo discutir esta realidade, até porque seria necessário um
conhecimento específico de anatomia e outros conteúdos que não fazem parte da nossa formação
acadêmica. Mas, todas as informações nos levaram a um questionamento, qual a percepção dos
usuários desses serviços? Ao nosso ver, sem a percepção dos benefícios, sem a consciência dos
resultados que a prática pode realizar em sua qualidade de vida, saúde física e mental, a
permanência destes usuários nas atividades não teria sentido.
Desta forma, fomos em busca de bibliografias que nos fundamentassem a construção de um
conhecimento mínimo necessário a compreensão destes benefícios, e com isto, construir, junto a um
grupo de usuários, uma entrevista, coletiva e individual, que permitisse esclarecer o nível de
percepção existente nos usuários de um programa de ginastica coletiva para a terceira idade. Para
esta empreitada, contamos com a compreensão da professora Eliane Barbosa, Educadora Física do
NASF, equipe que acompanha a comunidade atendida pela UBSF Ricardo Amorim Guedes,
localizada no Conjunto Chico Mendes na cidade de Campina Grande – PB, que nos permitiu utilizar
a metodologia de Grupo Focal para compreender a percepção dos benefícios e necessidades do
grupo, e entrevistas individuais, por meio de questionário aplicado individualmente, que
esclareceram as condições e interpretações enquanto indivíduo e enquanto participe do grupo.

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Os programas de promoção da atividade física na comunidade para indivíduos acima de 50


anos de idade têm crescido em popularidade nos últimos anos. Considerando as novas
propostas internacionais de atividade física como forma de promover saúde na população,
surgiu o Programa Agita São Paulo, que tem como objetivo aumentar o nível de
conhecimento da população sobre os benefícios da atividade física e aumentar o nível de
atividade física da população do Estado (MATSUDO, MATSUDO E NETO, 2001)

Conforme podemos observar, a atividade física na chamada ―terceira idade‖ não é uma
proposta local, é uma indicação internacional, e já vem sendo praticada há anos, mas a percepção
dos usuários, dos benefícios que esta atividade proporciona, não costumam ser objeto de estudo.

As evidências sugerem que a atividade física regular e o estilo de vida ativo têm um papel
fundamental na prevenção e controle das doenças crônicas não transmissíveis,
especialmente aquelas que se constituem na principal causa de mortalidade: as doenças
cardiovasculares e o câncer. Mas, além disto, a atividade física está associada também com
uma melhor mobilidade, capacidade funcional e qualidade de vida durante o
envelhecimento. (MATSUDO, MATSUDO E NETO, 2001)

Como podemos observar, os conteúdos que tratam do assunto falam dos benefícios,
normalmente tratam dos resultados a partir de exames, mas não avaliam a percepção dos usuários
do serviço de saúde/educação física, que desenvolvem as atividades.

A partir dos resultados deste estudo, os idosos percebem forte relação com bem-estar
psicológico, indicado por sentimentos de satisfação, felicidade e envolvimento, fugindo do
estereótipo da velhice doentia, apagada e infeliz. (LEMOS, PALHARES, PINHEIRO e
LANDENBERGER,2015)

Desta forma, a percepção dos benefícios nos idosos são baseados nos resultados dos estudos,
o que nos traz o questionamento, sem estes estudos, e resultados, qual a percepção destes usuários
dos serviços de atividades físicas.
Partindo-se de pesquisa bibliográfica e descritiva acerca do tema, pretende-se embasar sua
relação com a atividade física ao ar livre como benefício para saúde na terceira idade, utilizando-se
o método de abordagem dedutivo para concluir que a referida atividade física funciona como
ferramenta de destaque no campo.
No procedimento metodológico utilizado para a percepção dos usuários, foram aplicados
questionários a pesquisa do modelo grupo focal, com um ― grupo é composto a partir de alguns
critérios associados a metas da pesquisa a composição que se baseie em algumas características
homogêneas dos participantes‖ (GATTI, 2012). Desta forma procuramos realizar a atividade em um
grupo de usuário mais homogêneos, cujos questionamentos foram captados por equipamento de
filmagem e posteriormente transcrito e retirada desta transcrição os apontamentos observados.
Durante as conversas, os discentes desejavam conhecer as experiências e história de vida de
cada um, as relações sociais estabelecidas, suas opiniões e o modo de vida que eles tiveram antes de
participar da ginástica, conhecer o funcionamento da atividade, o modo de vida dos idosos de uma
maneira geral e todos os benefícios trazidos a esse público.

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Figura 1. Imagem do grupo

A partir das entrevistas, ao questionados como o grupo se sente realizando/praticando


exercícios físicos, as respostas foram unânimes entre muito e maravilhosamente bem. Ao questionar
se os exercícios trazem benefícios, observamos uma unanimidade nas respostas.
No quesito, sobre se a pratica dos exercícios realiza mudanças na vida dos usuários,
observamos usuários que descreveram ―Eu cheguei aqui graças a Deus.
Perdi meu pai e minha mãe, já estava ficando com depressão e o grupo me ajudou‖; ―Eu
também estava obesa, mais perdi o que tinha ―, ―Temos outros casos aqui de pessoas que estavam
obesas e agora estão com um corpo ótimo‖ e ―Eu não conseguia fazer nem isso‖ (referindo-se ao
ato de fechar a mão).
Ao questionar o grupo sobre o que mudou na vida pelo processo de realização de atividades
físicas em grupo, obtivemos respostas do tipo ―Mudou minha timidez. Eu não conseguia falar com
vocês como estou falando, glória a Deus, e a saúde. Melhorou 100% o sono‖; ―Mudou tudo‖. ―Eu
era uma pessoa muito desestimulada e com muito problema de coluna, eu não conseguia fechar
minhas mãos, com a dança e a atividade física eu já consigo fazer. Minha autoestima ficou lá em
cima‖; ―Eu também cheguei aqui meio assim para baixo e depois fiquei conversando com as
meninas, tirando as coisas da mente e eu tinha depressão só vivia chorando em casa e agora
melhorou bastante‖
Questionados quanto a preferências na atividade houve unanimidade que o grupo prefere
atividades com música, que a falta de segurança é um fator opressivo.

ENTREVISTAS INDIVIDUAIS

As entrevistas foram realizadas em 9 indivíduos, todos do sexo feminino, por ser, na nossa
avaliação, suficientes para representar a totalidade dos usuários, a faixa etária dos entrevistados
variou de 46 a 69 anos, tendo a idade média de 56 anos, além disso, 44% das entrevistadas
declararam-se viúvas, e 56% declararam-se casadas.

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Figura 2: Coleta de Informações individuais

Foram compostos questionários com 5 questões simples, questionando as doenças


existentes, levando-se em conta o observado pelo Doutor Leonardo, em artigo disponível em seu
site,http://leonardof.med.br/2010/10/ 06/as-10-principais-doencas-dos-idosos- no-brasil/, acrescida
daquelas a que temos conhecimento, inclusive questionando a existência anterior, de problemas.
Para este quesito tivemos os seguintes resultados:

Tabela 1: Doenças percebidas e diagnosticadas pelos indivíduos participantes do grupo


Cefal Colest Diab Pulm Hiperte Demên Obesi Osteoar Osteop Audi Pneum Triglicer
eia erol etes onar nsão cias dade trose orose ção onia ídeos
1 7 3 4 5 4 4 8 3 3 0 7
11% 78% 33% 44% 56% 44% 44% 89% 33% 33% 0% 78%
Fonte: Pesquisa realizada em Junho/2013

Com base nas informações das tabelas, identificamos que excetuando pneumonias, existe a
presença de doenças comuns na terceira idade, isto pode ser mais facilmente observado no seguinte
gráfico:

Fonte: Pesquisa realizada em Junho/2013

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Embora, o gráfico aponte que existe presença em quase todas as doenças da terceira idade,
alguns indivíduos apresentaram melhora de algumas doenças, normalmente aquelas relacionadas a
condição respiratória, e a obesidade, que são tratados e atendidos pela equipe multiprofissional.

Tabela 2:Doenças percebidas e diagnosticadas pelos indivíduos e que não mais existentes
Cefal Colest Diab Pulm Hiperte Demên Obesi Osteoar Osteop Audi Pneum Triglicer
eia erol etes onar nsão cias dade trose orose ção onia ídeos
1 2 0 1 0 0 2 0 0 0 0 1
11% 22% 0% 11% 0% 0% 22% 0% 0% 0% 0% 11%
Fonte: Pesquisa realizada em Junho/2013

Para facilitar a observação geramos o seguinte gráfico:

Fonte: Pesquisa realizada em Junho/2013


Outro quesito importante para avaliar a percepção é o tempo de participação nas atividades,
este foi o quesito seguinte:

Tabela 3: Tempo que participa do grupo


1 - 6 meses 7 - 12 meses + de 1 ano
1 1 7
11% 11% 78%
Fonte: Pesquisa realizada em Junho/2013

Fonte: Pesquisa realizada em Junho/2013

Conforme podemos observar, a maioria dos entrevistados tem mais de um ano participando
das atividades.

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Com base nessas informações, começamos a mensurar a existência quantitativa da


percepção dos usuários, onde obtivemos os seguintes resultados:

Tabela 4: Relação antes e depois de iniciar atividades com o grupo

Pior Igual Melhor Mto Melhor.


0 0 1 8
0% 0% 11% 89%
Fonte: Pesquisa realizada em Junho/2013

Cujo gráfico é assim representado:

Fonte: Pesquisa realizada em Junho/2013

Conforme podemos observar, a maioria, 89% dos usuários, consideram que sua percepção
dos seus resultados físicos e mentais, depois que iniciaram as atividades ao ar livre, esta muito
melhor, da mesma forma, 11% consideraram melhor que antes de iniciar a pratica.
Outra questão que avaliamos importante, e a percepção física após a atividade, assim,
obtivemos os seguintes resultados:

Tabela 5: Como se sente apos a prática dos exercícios


Cansado Igual Melhor Mto Melhor
1 0 1 7
11% 0% 11% 78%
Fonte: Pesquisa realizada em Junho/2013

Fonte: Pesquisa realizada em Junho/2013

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Conforme observamos, a maioria, 78% se sente muito melhor, ou mais disposta, após as
realizações dos exercícios, e apenas 11% se sentiram cansadas.
O último quesito, perguntamos qual a melhor forma de praticar o exercício, neste quesito
houve unanimidade, que a realização de exercícios em grupo e em contato com a natureza é a
preferência. Conforme observamos no gráfico abaixo:

Fonte: Pesquisa realizada em Junho/2013

Para complementar a nossa atividade, entrevistamos alguns profissionais de saúde, a médica


e as auxiliares de enfermagem, uma vez que a enfermeira se encontrava em greve. Com base nesta
entrevista, foram unanimes que a participação dos usuários na vida cotidiana da Unidade Básica de
Saúde da Família é maior que a dos outros usuários, principalmente nos quesitos de pesagem,
verificação de pressão e glicemia, o que demonstra uma preocupação maior daqueles que estão
realizando atividades. Durante a entrevista com a Médica, Dra. Polyana Costa, houve a observação
que o fator tempo não permite um acompanhamento mais direto, embora ela se utilize de
estudantes, com perfil adequado, para realizar palestras ao grupo. Uma outra observação é que
embora já tenham existido tentativas, a predominância das atividades em grupo é de mulheres, os
poucos homens preferem atividades individuais.
Assim, foi observado, tanto na entrevista coletiva, quanto na pesquisa quantitativa, os
usuários possuem a percepção da melhoria da qualidade de vida em virtude da realização de
atividades físicas. Questões como obesidade, colesterol, triglicerídeos e doenças respiratórias
tiveram melhoria, observadas por eles e pelos profissionais de saúde que os assistem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como considerações assinalamos que a atividade física deve ser estimulada para todos os
atores sociais em toda faixa etária, como forma de prevenir e controlar as doenças. As atividades
que devem ser mais estimuladas são as atividades aeróbicas de baixo impacto, pois o equilíbrio e os
movimentos corporais ajudam para uma vida equilibrada.

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As evidências sugerem que a atividade física regular e o estilo de vida ativo têm um papel
fundamental na prevenção e controle das enfermidades. Desta forma, podemos concluir que a
percepção mensurada pela metodologia clínica, e positivista, que se utiliza apenas pelos resultados
dos exames, é percebida pelos usuários dos serviços, uma vez que eles entendem e sentem as
melhorias físicas, e, principalmente, percebem além destas a melhoria psicológica e social, pois ao
fazer parte de um grupo conseguem afastar o stress e preocupações do dia a dia, e encontram apoio
e conforto aos seus problemas, pois o hábito de se encontrar, naqueles dias de atividades, permite
uma interpelação, desabafos e aconselhamento.
Quanto a nós, pesquisadores, fica a certeza de que as atividades em grupo e em contato com
a natureza, são benéficas, que a divergência de ideias e opiniões é salutar, e que a construção
coletiva é o caminho.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, Maria Margarida de. Introdução à metodologia do trabalho científico: elaboração de


trabalhos na graduação. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2007

GATTI, Bernadete Angelina. Grupo Focal na Pesquisa em Ciências Sociais e Humanas. Brasilia:
Liber Livros Editora, 2012.Pag 17

GIL, A. C. Método e técnica de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 2000.

LEMOS, Daniela de; PALHARES, Fernanda, PINHEIRO, João Paulo; LANDENBERGER, Thaís.
Velhice. Disponível em: http://www.ufrgs.br/e-psico/subjetivacao/tempo/velhice-texto.html
Acesso em 27/03/2017

MATSUDO, Sandra Mahecha; MATSUDO, Victor Keihan Rodrigues; NETO, Turíbio Leite
Barros. Atividade física e envelhecimento: aspectos epidemiológicos. RevBrasMed Esporte vol.7
no.1 Niterói 2001. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S1517-86922001000100002 acesso em 29/03/2017

SANTANA, Maria da Silva; MAIA, Eulália M. Chaves. Atividade Física e Bem-Estar na Velhice.
Rev. salud pública vol.11 n.2 Bogotá Mar./Apr. 2009. Disponível em:
http://www.scielosp.org/scielo.php?pid=S0124-00642009000200007&script=sci_arttext, Acesso
em 29/03/2017

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

A EXTERNALIDADE DO HOMEM E A NATUREZA COMO MERCADORIA:


EXPLORAÇÃO MINERAL EM VITÓRIA DA CONQUISTA-BA

Manara Teles Santos MATOS


Mestranda do Programa de Pós Graduação em Geografia da UESB
manarateles@outlook.com
Meirilane Rodrigues MAIA
Profª Drª do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UESB
meire.rmaia@gmail.com

RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo discutir as contradições na produção do espaço conquistense
pelo recorte da exploração mineral voltada para a construção civil em Vitória da Conquista-BA. O
espaço produzido coletivamente nessa cidade é apropriado de forma diferenciada pelos detentores
dos meios de produção; de forma que a natureza como pertencente ao espaço geográfico é
igualmente apropriada e transformada em mercadoria ao lhe ser atribuído valor de troca, o que
ocorre na prática quando os recursos minerais são explorados e comercializados para abastecer a
indústria da construção civil na referida cidade. Ao transformar a natureza, o homem enquanto
sujeito social e natural se transforma junto. À medida que ocorrem tais transformações, outras
necessidades vão sendo criadas para abastecer a lógica da sociedade de consumo. A mineração tem
se despontado no Município como uma importante atividade econômica, na qual diversos minerais
têm sido explorados. Levando-se em consideração o crescimento urbano no Município a partir da
década de 2000, quando passou a articular fluxos de pessoas, capital e mercadorias, impulsionando
assim a edificação do urbano através da indústria da construção civil. Assim, para o
desenvolvimento desse trabalho foram realizados levantamentos bibliográficos e discussões em
grupos de estudo, cujas informações teóricas foram sintetizadas em fichamentos e apresentadas
como diálogo neste artigo.
Palavras Chave: Natureza. Mercadoria. Mineração. Urbano.
ABSTRACT
The present work has like goal discuss the contradictions in the production of ―Conquista‘s‖ space
by mineral exploration‘s clipping facing to construction in Vitória da Conquista- BA. The space
produced collectively in this city is appropriated in different ways by the means of production
holders; So that nature as belonging to the geographic space is equally appropriate and transformed
into a commodity when it is given exchange value, which occurs in practice when mineral resources
are exploited and marketed to supply the construction industry in that city. By transforming the
nature, the man as social and natural subject is transformed together. As such transformations occur,
other needs are being created to fuel the logic of consumer society. Mining has emerged in the
Municipality as an important economic activity, in which several minerals have been explored.
Taking into account the urban growth in the Municipality from the decade of 2000, when it came to
articulate flows of people, capital and goods, thus boosting the urban construction through the
construction industry. Thus, for this work‘s development were realized bibliographical surveys and
discussions in a study groups, whose theoretical information was synthesized in tabulations and
presented as a dialogue in this article.
Keywords: Nature. Mershandise. Mining. Urban. Nature.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

INTRODUÇÃO

Vitória da Conquista (Figura 01) é o terceiro maior município, em população, do estado


baiano e possui uma localização de entroncamento entre rodovias estaduais e federais que
atravessam sua malha urbana, o que segundo Ferraz (2001, p. 21) influencia favoravelmente o
desenvolvimento econômico do Município, uma vez que a ―característica de entroncamento é
fundamental no processo de construção dessa unidade urbana‖. Contudo, Santos, J. (2016,) ratifica
que a instalação das rodovias, em si, não explica o crescimento de uma cidade como Vitória da
Conquista, pois tal afirmação faria perder de vista explicações mais amplas para as mudanças
ocorridas no Município nas últimas décadas, tais como: ―necessidade de articulação do território
brasileiro, ações do Estado [...], os interesses do setor imobiliário [...]‖. Por outro lado, o referido
autor, corrobora com o entendimento de Ferraz (2001), ao acrescentar que as rodovias ―podem ser
consideradas enquanto resultantes de uma ordem social mais ampla que influenciou a urbanização
conquistense‖ (SANTOS, J., 2016, p. 39).

Figura 01- Mapa de Localização de Vitória da Conquista-BA.


Fonte: Manara Teles S. Matos, 2017.

O desenvolvimento da sociedade atrelado ao processo de produção do espaço geográfico não


se constitui como um palco estático onde as relações sociedade natureza acontecem e materializam

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

suas produções e reproduções. ―A compreensão do espaço em toda sua complexidade depende de


uma apreciação dos processos sociais‖ (HARVEY, 1980, p. 26), pois ―o espaço social é um produto
social‖ (LEFEVBRE, 2000, p. 55), resultado das ações da relação sociedade natureza ao longo do
tempo. Sendo produto social, o espaço é dotado de conflitos, por envolver diferentes sujeitos com
interesses diversos, nesse ininterrupto processo de produção reprodução. E no que diz respeito ao
espaço urbano, ele ―é mais que um modo de produzir, é também um modo de consumir, pensar,
sentir, enfim, é um modo de vida‖ (CARLOS, 1997, p. 27), no qual a luta por interesses peculiares
se encontra no mesmo espaço produzido e reproduzido por todos, como acontece no Município de
Vitória da Conquista, localizado no estado da Bahia, objeto desse artigo.
No entanto, o espaço produzido coletivamente em Vitória da Conquista é apropriado de
forma diferenciada pelos detentores dos meios de produção; de forma que a natureza como
pertencente ao espaço geográfico é igualmente apropriada e transformada em mercadoria ao lhe ser
atribuído valor de troca, o que ocorre na prática quando os recursos minerais são explorados e
comercializados para abastecer a indústria da construção civil na referida cidade.

A externalidade do homem e a natureza como mercadoria

Para Smith (1988, p. 44) ―o conceito de natureza abriga um dualismo essencial entre
exterioridade e universalidade‖, apesar de serem contraditórios estão inter-relacionados e dependem
um do outro. Nesse sentido, a transformação da natureza em mercadoria acaba por evidenciar a
externalização do homem em relação à mesma e afirmá-lo como seu agente
transformador/dominador. O que, segundo Tonet (2013) continua sendo embasado e justificado
pelo conhecimento científico, como condição de alimentação da lógica do sistema capitalista

Daí porque, a partir de agora a articulação entre conhecimento e produção passou a ser da
máxima importância. O conhecimento científico vai se tornando uma condição cada vez
mais importante para a expansão da base material dessa nova forma de sociabilidade. Por
isso mesmo, o conhecimento da natureza, das suas leis imanentes, reais, impunha-se como
a principal tarefa e tornava-se uma necessidade inescapável. [...] As exigências da produção
material mudaram, por sua vez, completamente, o direcionamento da investigação,
orientando-a para o conhecimento da natureza. Este conhecimento, porém, ao contrário do
caráter contemplativo e ético/político ou religioso do conhecimento greco-medieval tinha,
agora, um caráter eminentemente ativo e prático. Estava voltado para a transformação da
natureza com o intuito de dominá-la e de colocá-la a serviço dos interesses humanos
(TONET, 2013, p. 36).

Assim, o conhecimento, enquanto justificativa para colocar a natureza a serviço dos


interesses sociais, alimenta o sistema e a acumulação primitiva do capital, já que a natureza como
integrante do espaço, também está dotada de conflitos e interesses. Segundo Tonet (2013, p. 36)
―são as exigências da acumulação do capital, nas suas mais variadas formas, que imprimirão o
impulso fundamental para a elaboração desse novo padrão de conhecimento científico‖. Entretanto,

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essa fragmentação não se sustenta pelo que o homem enquanto sujeito social é também pertencente
à natureza e na medida em que a transforma, se transforma junto, como unidade.
Segundo Lefebvre, a natureza cria coisas, é onde ocorrem os nascimentos: ―as coisas
nascem, crescem e morrem; elas envelhecem e morrem‖ (LEFEBVRE, 2006, p. 108). Enquanto, o
homem, a prática social, produz coisas através do trabalho, no qual a maioria dos sujeitos sociais
disporá da força de trabalho para vender à uma pequena parcela detentora dos meios de produção.
Neste entendimento, o autor ratifica que a natureza ―oferece recursos a uma atividade criadora e
produtiva do homem social‖, mediatizadas pelo trabalho para atender a sociedade do dueto
produção-consumo. Haja vista que o homem ―não mais se ajusta simplesmente em um meio
ambiente igualmente natural, pois a relação com a natureza é mediatizada por meio das instituições
sociais‖ (SMITH, 1988, p. 76); assim, quando a sociedade se propõe a transformar a natureza, está
também sendo transformada, uma vez que o entendimento do espaço como realidade associada à
natureza indica que a produção espacial é um resultado lógico da produção da própria natureza.
Sendo a produção espacial resultado da produção da natureza, depreende-se que a medida
em que o homem se apropria da natureza para produzir: o espaço, a natureza e o homem são
igualmente transformados. Nesta compreensão, a apropriação da natureza por parte dos mineradores
(donos dos meios de produção) atribui aos recursos naturais valor de troca com os construtores
(outros donos dos meios de produção) e assim o espaço vai sendo produzido de forma contraditória,
alimentando o sistema.
As mudanças ocorridas no Município nas últimas décadas foram significativas, pois ao
colocá-lo enquanto centro regional, que articula fluxos de pessoas, capital e mercadorias (SANTOS,
J., 2016, p. 16), possibilitou a demanda, consequente, por moradia, educação, saúde, comércio e
serviços, os quais precisaram ser materializados no espaço urbano pela edificação de novos
estabelecimentos através da indústria da construção civil. A edificação do urbano é notável e dispõe
de ―uma função, uma forma, uma estrutura, no lugar de reunir todos os momentos (formais,
funcionais, estruturais) da prática social‖ (LEFEBVRE, 2000, p. 305). Em Vitória da Conquista, a
celeridade na edificação de novos estabelecimentos com a devida funcionalidade para a prática
social se deu, principalmente, a partir do ano 2000.
A edificação de novos estabelecimentos representa a própria mercadoria, uma vez que ―o
solo e as benfeitorias são mercadorias das quais nenhum indivíduo pode dispensar‖, pois não se
pode existir sem ocupar um espaço (HARVEY, 1980, p. 135), e já que o espaço produzido é uma
mercadoria, ele requer a edificação de novas estruturas físicas e a indústria da construção civil é a
grande matriz desse crescimento urbano no Município. É por meio dela que as edificações podem
ser materializadas, quer seja através de vias de acesso, de loteamentos, de condomínios comerciais e
residenciais ou mesmo construções de interesse social. Segundo Lefebvre (2000, p. 106), ―nada há

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na história e na sociedade que não seja adquirido e produzido. A natureza, ela mesma, tal como se
apresenta na vida social aos órgãos dos sentidos, foi modificada, portanto, produzida ‖ .
Um dos elementos importantes para essa materialização e que se configura como um ponto
chave dessa discussão é a matéria prima utilizada para essas edificações, oriunda da exploração
mineral, cujo subsetor mais intensivo é o dos agregados para a construção civil50 na construção civil
(areia, argila e brita), seguido de minerais industriais e ferrosos. A mineração é considerada como
uma das atividades econômicas mais importantes do país, apesar dos impactos serem, em sua
maioria, negativos não se pode omitir aqueles de classificação positiva (BARRETO, 2001).
Para Harvey (1980), o conceito de necessidade é relativo, porque sendo categoria da
consciência humana e a sociedade em constante transformação, acarretará também na mudança do
conceito de necessidade. A partir da compreensão de que a necessidade é relativa, o próprio sistema
criará e fomentará as necessidades de acordo com as suas, a fim de alimentar os liames do capital.
Por conseguinte, os minerais de uso imediato na construção civil se caracterizam, atualmente, como
necessários para edificação do urbano através da indústria da construção civil.
Assim, ―o urbano se edifica e produz Vitória da Conquista‖ (FERRAZ, 2001, p. 24) e nesta
edificação do urbano, permeado de contradições, ocorre a produção do espaço conquistense e a
consequente modificação da sua paisagem, tanto pelas construções na malha urbana, quanto pela
exploração mineral dentro do Município. Haja vista que, as relações sociais estabelecidas nos
diversos lugares, mediante as diferentes manifestações culturais imprimem sua marca no espaço,
enquanto produto social, percebida na paisagem. Nesse sentido, Puntel (2007, p. 288 e 291) afirma
que ―toda paisagem apresenta característica própria, tem forma e marca que resultam da interação
da sociedade com a natureza‖ e ―está em constante mutação‖; a primeira percepção da realidade se
dá pela visão do que está aparente, entretanto, a aparência é resultado de processos construtivos e
reprodutivos do espaço, dotados de interesses sóciopolítico e econômicos, além da própria dinâmica
natural.
As paisagens não devem ser consideradas apenas como naturais ou sociais, são dois aspectos
que se complementam e devem ser analisados conjuntamente. Nesse sentido Lima (2012, p.47)
afirma que ―as paisagens representam os aspectos naturais e sociais, cujas configurações em cada
contexto histórico têm significação espacial e do acúmulo dos tempos pretéritos, e se apresenta
como algo material, dotado também de subjetividades e impregnado de elementos culturais e
simbólicos‖. Dessa forma, ao se observar uma paisagem atual, não se pode jamais esquecer que nela

50
Segundo Vieira e Resende (2015) o termo ―agregados para construção civil‖ é empregado no Brasil para identificar
um segmento do setor mineral que produz matéria-prima mineral bruta ou beneficiada de uso imediato na indústria da
construção civil. Assim poderá ser usado neste trabalho o referido termo para designar os minerais utilizados na
construção civil.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

está imbricada marcas do passado e ao mesmo tempo sucessivas mudanças relacionadas às


atividades econômicas e culturais da sociedade, a qual está submetida.
Por conseguinte, o espaço é, também, produzido e reproduzido pelos sujeitos sociais, por
diferentes olhares e interesses a partir do valor que atribuem a natureza, enquanto mercadoria. Sobre
as necessidades que lhe são atribuídas pela sociedade e a relação do homem com a natureza, Smith
(1988) acrescenta que:

Produzindo os meios para satisfazer as suas necessidades, os seres humanos coletivamente


produzem a sua própria vida material, e no processo produzem novas necessidades
humanas cuja satisfação requer outras atividades produtivas. Essas necessidades e seus
modos de satisfazê-las são, no nível mais geral, os determinantes da natureza humana,
porque acima de tudo isso as pessoas são seres naturais; elas direcionam para a produção as
suas habilidades (físicas e mentais) que são exercitadas sobre e através dos objetos e
instrumentos de produção. Entretanto, há uma identidade abstrata do ser humano social
com a natureza: "o homem é diretamente um ser natural... equipado com poderes naturais
[e] tem objetos reais, sensoriais, como o objeto de seu ser e de sua expressão vital... Um ser
que não possui sua natureza fora de si mesmo não é um ser natural, e não participa no
sistema da natureza (SMITH, 1988, p. 72/73).

Ao transformar a natureza, o homem enquanto sujeito social e natural se transforma junto,


ou seja, não há possibilidade de ocorrer apenas a transformação da natureza pela sociedade, visto
que esta é conjuntamente transformada com aquela. À medida que ocorrem tais transformações,
outras necessidades vão sendo criadas para abastecer a lógica da sociedade de consumo.
Pela transformação da natureza em mercadoria, é que se buscam cotidianamente por novas
áreas de minérios para exploração em Vitória da Conquista, haja vista que o objetivo essencial
posto pela forma de produção capitalista é justamente ―a produção das coisas como mercadorias de
forma a gerar lucros‖, mas é válido ressaltar que ―a produção de mercadorias implica, por sua vez, a
transformação da natureza‖, de forma peculiar ao sistema capitalista, e assim a sociedade vai se
organizando em função da produção e acumulação primitiva do capital e se apropriando da natureza
na reprodução da externalidade do homem em relação a mesma (TONET, 2013, p. 35).

Natureza como mercadoria: produção mineral voltada para a construção civil em Vitória da
Conquista-BA
De acordo com Jesus (2010, p. 04), no Planalto da Conquista ocorrem muitas jazidas de
minérios que ainda não são aproveitáveis do ponto de vista técnico, porém a autora afirma que
existem 387 jazidas minerais nesse Planalto, sendo que 21 já se encontram na fase de mina em
exploração e 18 como garimpos em atividade. Esta expressiva ocorrência de minerais neste
Município pode ser explicada, uma vez que,

A maior parte do município está localizada no ambiente denominado Planalto de Vitória da


Conquista que apresenta uma estrutura geológica composta, parcialmente, por rochas
cristalinas. Estas estão representadas pelas formações Pré-Cambrianas do Complexo
Caraíba-Paramirim (Pré-Cambriano Inferior), presente, principalmente, nas áreas que
correspondem aos Patamares do Médio Rio de Contas, Piemonte Oriental do Planato de

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Vitória da Conquista e áreas isoladas na parte cimeira do Panalto; pelo Grupo Contendas-
Mirante (Pré-Cambriano Médio), representado pela Formação Rio Gavião, que aflora no
sentido NE - SO e pela Formação Areão que aparece na parte norte do município; e pelo
Supergrupo São Francisco (Pré-Cambriano Superior) representado pelo Grupo Macaúbas
na parte Sudeste/Sul. A parte central está recoberta por uma cobertura detrítica, de idade
Terciário- Quaternário sobre as rochas do Complexo Cristalino (MAIA, 2005, p. 69).

E ainda sobre a caracterização geológica da Serra do Periperi, Jesus (2010) acrescenta que

A Serra do Periperi é o conjunto de cristas quartzíticas suaves orientadas no sentido


nordeste- sudeste que semi-circunda a área norte da cidade de Vitória da Conquista, tendo
extensão de aproximadamente 15 quilômetros e 45 Km² de área, possui uma altitude de
1000 m, alcançando no ponto mais culminante 1090 m. A Serra faz parte da formação
geomorfológica denominada de Geraizinhos, na qual predominam solos do tipo Latossolo
Vermelho- Amarelo álico originário de depósitos detríticos. Quanto a sua estrutura
geológica, é composta de rochas metamórficas, geralmente quartzíticas. Ao longo de sua
extensão pode-se encontrar áreas urbanizadas, minas de extração de areia e outros materiais
rochosos, cobertura vegetal em diferentes estados de conservação, desde floresta a pastos,
tendo sua parte central cortada pela BR-116 (JESUS, 2010, p. 08).

Pela descrição da formação geológica de Vitória da Conquista, fica evidente que a natureza
―oferece recursos a uma atividade criadora e produtiva do homem social‖ (LEFEVBRE, 2006, p.
108), os recursos minerais criados pela natureza são transformados em mercadoria de valor de troca
significativo, regulamentado por ―firmas e instituições sociais e, destarte, os seres humanos
começam a produzir mais do que o suficiente para sua subsistência‖: ocorre a produção para troca,
em uma economia de troca (SMITH, 1988, p. 77). Essa produção incessante evidencia o
―desenvolvimento desigual do capitalismo‖ (SMITH, 1988, p. 78), mostrando as contradições na
produção do espaço conquistense sobre o viés da exploração mineral voltada para a construção
civil.
Sobre a relação sociedade natureza, Smith acrescenta

O que mais nos choca com esta idéia da produção da natureza é que ela desafia a separação
convencional e sacrossanta da natureza e da sociedade, e o faz com indiferença e sem pejo.
Nós estamos acostumados a conceber a natureza como exterior à sociedade, primitiva e pré-
humana, ou ainda como um grande universo no qual os seres humanos não são senão
pequenas e simples peças. Mas também aqui nossos conceitos não têm correspondido à
realidade. É o capitalismo que ardentemente desafia a separação, que nos foi legada, da
natureza e da sociedade e mais com orgulho do que com constrangimento. (SMITH, 1988,
p. 20).

Para Suertegaray, a compreensão de fenômenos naturais deve estar atrelada ao olhar da


dinâmica social. Todavia, ―a natureza e a sociedade nunca estão em paralelo, uma não subtrai a
outra‖ (SUERTEGARAY, 2010, p. 22). A natureza não deve ser vista e analisada em si mesma,
pois não dá conta de explicar a realidade vivida. As contradições que se estabelecem no espaço
geográfico com seus sujeitos sociais, pela apropriação da natureza para produção de mercadorias,
cujo excedente fomentará o consumo e isto se encadeará em um círculo constante. Contudo, a
compreensão de Suertegaray (2010) sobre o entrecruzamento da natureza com a sociedade,
evidencia a importância do estudo e da pesquisa integrada para a explicativa da realidade.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

E no que diz respeito aos problemas ditos ambientais, ou questões dos ambientes naturais,
eles não existem em si só e apenas, eles são resultado de questões sociais consequentes do sistema
capitalista dentro da sociedade de consumo, que considera o homem como ser externo e dominante
da natureza. Como ser dominante, o homem parece não perceber que na medida em que transforma
a natureza, a sociedade está também sendo transformada por integrar-se a ela.

REFERÊNCIAS

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desenvolvimento sustentável: desafios para o Brasil. Editor Maria Laura Barreto. Rio de Janeiro:
CETEM; MCT, 2001, 216 p., II. Disponível em:< http://livroaberto.ibict.br/handle/1/922>
Acesso em 12 jan. 2014.

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FERRAZ, Ana Emília de Quadros. O urbano em construção: Vitória da Conquista: um

retrato de duas décadas. Vitória da Conquista: Edições Uesb, 2001

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Armando Corrêa da Silva.

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Município de Vitória da Conquista-BA. Enciclopédia Biosfera, Goiânia, v.6, n. 9, p. 1-13, 2010.

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LIMA, Espedito Maia. Interações socioambientais na bacia hidrográfica do Rio Catolé- Bahia. São
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LIMBERGER, Leila. Abordagem sistêmica e complexidade na geografia. Geografia, Rio Claro, v.


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MAIA, Meirilane Rodrigues. Zoneamento geoambiental do município de Vitória da Conquista-Ba:


um subsídio ao planejamento. 2005. 170 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Instituto de
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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

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socioambiental: o caso de Feira de Santana-BA. In: Seminário Internacional Dinâmica Territorial
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GARANHUNS: O MITO DOS GUARÁS NA ORIGEM DO NOME DESTE MUNICÍPIO


PERNAMBUCANO

Marcos Renato Franzosi MATTOS


Professor Associado UFRPE/UAG
mrfmattos75@gmail.com

RESUMO
Este trabalho efetuou uma correlação das informações históricas antigas disponíveis (séculos XVI a
IX), com as informações biogeográficas, de etnozoologia e de tentativas de correlação históricas e
toponímicas recentes (séculos XX e XXI) e discute as potenciais origens do topônimo ―Garanhuns‖.
Também revela aspectos da memória das comunidades e desmistifica errôneas distribuições
geográficas da fauna.
Palavras-chaves: Garanhuns, Etnotopônimo, Zootopônimo, Pernambuco
ABSTRACT
This work does a correlation between old historical information available (from XVI to XIX
centuries) with biogeographic information of ethnozoology and current attempts (centuries XX and
XXI) to correlate the toponym ―Garanhuns‖. It also discusses the possible origins of this toponym
which reveals the aspects of the communities' memories and demystifies wrong distribution of
geographical fauna.
Keywords: Garanhuns, Ethnotoponym, Zootoponym, Pernambuco

INTRODUÇÃO

Há muita controvérsia quanto à procedência do topônimo Garanhuns atribuído a uma origem


em palavra indígena, possivelmente do tronco tupi. No entanto, assim como tantos outros
topônimos municipais, existe carência de informações fidedignas que oportunizem a real origem da
palavra ―Garanhuns‖. Atualmente, existe uma forte corrente no município que atribui ao canídeo
Lobo Guará (Chrysocyon brachyurus) e à ave Anu Preto (Crotophaga ani) a origem do nome
Garanhuns, o que, ao que parece, carece em absoluto de fundamentação histórica, léxica e
biogeográfica, sendo, na verdade, um mito. Assim, considerando-se a intrínseca relação entre o ser
humano e o ambiente em que este está inserido, sobretudo as comunidades e populações ancestrais,
este estudo buscou efetuar uma correlação das informações históricas antigas disponíveis que
remontam entre os séculos XVI a IX, com informações biogeográficas, de etnozoologia e de
tentativas de correlação históricas e toponímicas recentes (séculos XX e XXI), promovendo
discussão acerca das potenciais origens do topônimo ―Garanhuns‖, revelando aspectos da memória
das comunidades e desmistificando errôneas distribuições geográficas de fauna. Assim como
MELO (1927), este escrito teve a intenção de ―formular hipóteses que serão ou não aceitas pelo
consulente‖ e, a partir desta reunião de informações, hipóteses e refutações aqui dispostas acredita-

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se que será possível auxiliar no avanço da discussão da origem e história de Garanhuns e, por que
não, de outros municípios do Agreste Meridional.

METODOLOGIA

Foram consultadas obras literárias, artigos científicos, teses, monografias, documentos


históricos disponíveis em forma digitalizada em diferentes plataformas virtuais, assim como
consultas físicas em acervos, versando sobre história, toponímia, linguística, geografia e zoologia.
Foram também considerados dados sobre a etnozoologia coletados ao longo de 11 anos na região do
agreste pernambucano. Esses dados compilados foram confrontados entre si gerando suposições de
como o ato de nomeação do lugar geográfico poderia estar intrinsecamente ligado às
transformações históricas, étnicas, culturais, geográficas e biológicas da realidade circundante.
Foram confrontadas as conhecidas explicações históricas, com a distribuição geográfica de espécies
animais e de populações humanas, bem como com a relação destas informações com a potencial
origem do topônimo ―Garanhuns‖.

DESENVOLVIMENTO

Quando da análise do topônimo ―Garanhuns", muitas hipóteses de origem indígena são


atribuídas. A maior parte das origens propostas reporta à língua do tronco Tupi referente à espécies
animais que, supostamente, habitariam a localidade. Outras propostas referem o nome a uma
pretensa tribo indígena existente no local ou da ocupação da região por negros aquilombados
ligados ao Quilombo dos Palmares. Após cinco séculos de ocupação europeia, poucas foram as
fontes realmente confiáveis e muitas foram as hipóteses, algumas criativamente formuladas, que
geraram e, certamente persistirão gerando dúvidas sobre a origem do topônimo Garanhuns. Porém,
conforme Ribemboim (2016), com o recente avanço das tecnologias de informação que
disponibilizam acervos inteiros de grandes bibliotecas, existe um ganho histórico ao permitir
questionamentos, confirmações e reconstituições inéditas acerca do passado, devendo-se revisar
muitas das interpretações dadas por grandes escritores à luz de novas evidências, sem que se
diminua em nada o brilho de suas obras.
A tentativa de explicação do topônimo ―garanhuns" mais antiga foi de Galvão em 1908 que
menciona ser palavra indígena cujo significado seria ―sítio de guarás e anuns, formada de guará
(espécie de cão selvagem) e anu-anum‖. Essa definição foi mantida nas versões posteriores desta
monumental obra (GALVÃO, 2006) e, a partir dela, foi considerada como verdadeira a afirmação
de que o topônimo Garanhuns derivava de guará e anum. No entanto, ao que parece, houve uma
distorção por parte de Dias (1954) em sua obra, que interpretou que os animais sugeridos por
Galvão (1908) seriam o Lobo-Guará (C. brachyurus) e a ave Guará-Vermelho (Eudocimus ruber).

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Nesta obra, o autor também cita Torres (1953 apud DIAS, 1954), que indica que o topônimo
significaria "campos dos guarás, canídeos que infestavam o vale do Rio Mundaú‖, a partir da
expressão ―guira-nhun-ita‖. Essa interpretação do renomado autor Dias (1954), após citar outras
possibilidades toponímicas, implantou e solidificou o ―mito dos guarás‖ como sendo derivado da
ave Guará-Vermelho e, sobretudo, do Lobo-Guará. Informou ainda haver na região, preteritamente,
Lobos-Guarás em quantidade ―...aos quais os tupis designavam de Guaracaim‖. Seguiram-se, ainda,
várias interpretações como a de Barbosa (1955 apud CAVALCANTI, 1983) de que seria derivada
de Guará (garça G. rubra, atualmente E. ruber) e Nhu (campo), produzindo Guaranhu, ―o campo da
garça‖, o que reforçou o mito do Guará-Vermelho (E. ruber), embora também reconhecendo a
possibilidade de derivar do termo Guira-nhu que significaria ―pássaro preto‖. O tupinólogo Teodoro
Sampaio (SAMPAIO, 1955 apud CAVALCANTI, 1983) atribuiu a derivação de Guirá (ave) e Nhu
(o campo), produzindo Garanhu como o ―campo dos pássaros pretos‖ (Anuns - Crotophaga ani). Já
na edição de 1987, Sampaio (1987) modificou a versão de ―campo dos pássaros pretos‖ para a
opção de Guirá-nhu ser apenas ―pássaros pretos‖, assim como expandiu para a opção de ―Guara-
nhu‖, ―indivíduo escuro‖. Desta feita, Teodoro Sampaio admite a palavra Guará como ―indivíduo‖,
também defendida por autores mais recentes como Chiaradia (2008) e Lenz (2015). Esta mudança
de potencial zootopônimo para etnotopônimo já havia sido aventada por Melo (1931) ao admitir o
topônimo a possível corruptela de “guirá-nhum‖, derivado a ―guará-nhum‖, ―indivíduo preto‖.
Além de ―indivíduo negro‖, a renomada tupinóloga Lenz (2015), sugere, dentre outras
possibilidades, que guará pode advir de ―gu'ara‖, cujo significado é ―relativo a vida, livre para ser
ou fazer‖, ―vontade própria e, por extensão, habitante‖. Assim, para essa autora, ao considerar guará
também como habitante, livre ou liberdade, ―Guaranhuns‖ poderia ser o ―indivíduo livre‖ e ―guara
rape‖, o ―caminho da liberdade‖. Muitos atribuem o topônimo a suposta tribo indígena cariri ou
tapuia cariri habitante da localidade, os índios Garanhuns (MELO, 1931; PINTO, 1935; MACIEL,
1984; FONSECA, 2009; GALVÃO, 2006), ―Guiranhú‖, ou ―Unhanhú‖ ou ―Garanhun‖ (DIAS,
1954); índios ―Unhauhu‖ (DIAS, 1983), ou ―Unhaunhu‖ (REINAUX, 1991). Alguns autores e
expressivo número de publicações online mantiveram, posteriormente, prioritárias nominações
zootopônímicas. Macedo (1998), por exemplo, considerou as mesmas possibilidades de aves e
canídeos, porém também traduziu como "homem do campo". Contrariando a tendência de origem
étnica, Navarro (2013) atribui novamente origem zootoponímica, proveniente de agûará nhũ,
significando "campo (nhũ) dos Lobos-Guarás (agûará)".
Diante de todas estas informações acima, passamos a considerar que o topônimo Garanhuns
passa a ter três principais vertentes como origem, a saber: 1) zootopônimo de aves, canídeos ou
outro mamífero; 2) etnotopônimo de tribo indígena; 3) etnotopônimo de origem africana ou

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quilombola. Desta feita, abordaremos a seguir as argumentações a favor ou contra cada uma destas
possibilidades.

Origem como zootopônimo

O nome Garanhuns ou aproximado a esse (Garanhu, Garanhum, etc) aparece em


documentos antigos, designando espaço geográfico, localidade. Abundam potenciais atribuições
zootoponímicas, o que pode ser coerente. Porém, o termo ―guará‖ possui inúmeros potenciais
significados em qualquer dicionário Tupi ou Tupi-Guarani. Além do ―guará‖, variações como
―aguará‖, ―iguará‖, ―jaguará‖, ―goará‖ dentre outros, ampliam o potencial. Para ―guará‖ são
verificados significados tão diversos como plantas/árvores/madeira, indivíduo/pessoa,
canídeos/felídeos, diversos peixes e crustáceos (sobretudo caranguejos), diversas aves, além de
substantivos (comedor/devorador). Desta última denominação resultam várias interpretações
relacionadas à predadores canídeos, felídeos e procionídeos, como jaguar, jaguaretê, jaguatirica,
grará, guaxinim, graxaim, dentre outros. Até mesmo o peixe-boi era nominado ―goarágoá‖,
―guaraguá‖ ou ―guará-guará‖, conforme informações colhidas em 1587 (SOUSA, 1851) e em 1618
(BRANDÃO, 2010).
Localmente, no imaginário popular, sobressai o topônimo Garanhuns como atrelado ao
Lobo-Guará, ao Guará-Vermelho e ao Anum (Anu) preto. Apesar do ―mito dos guarás‖, ambas
hipóteses são consideradas absolutamente impossíveis, levando-se em consideração a inexistência
atual e pretérita destas espécies animais que tem suas distribuições naturais bastante diversas da
região, porém sendo totalmente possível ser de outros animais nominados guará. Tanto o canídeo
Lobo-Guará, quanto a ave Guará-Vermelho, jamais foram mencionados nos vários documentos
históricos antigos que retrataram a fauna nordestina. Zacharias Wagener descreveu e desenhou (em
1648), 30 "animais aquáticos", 20 aves, 56 "animais terrestres", dos quais 18 mamíferos (FERRÃO
& SOARES, 1997), enquanto Marcgrave e Piso (1648) descreveram, minuciosamente, quase 370
espécies de animais, contendo também o nome vulgar em tupi ou português, várias ilustrações e
relatando numerosas aves que possuíam ―guira‖ ou ―guara‖ no nome, mas nenhum correspondente
ao Guará-Vermelho, assim como nenhum mamífero correspondeu ao Lobo-Guará, apesar de ter
sido descrito, detalhadamente, o Anu, com o nome ―Ani‖. Desde estas e outras descrições
zoológicas do século XVI até os dias atuais, jamais foi cientificamente noticiada a presença destas
duas espécies em Pernambuco, nem em Alagoas ou Paraíba. Ademais a estrutura anatômica, assim
como a fisiologia e a etologia dessas duas espécies não são biologicamente compatíveis com a
região de Garanhuns, sendo assim impossível a natural presença delas na região, descartando-as,
definitivamente, como origem do topônimo. As poucas informações não científicas que atribuem a
existência de Lobos Guará na Caatinga são atribuídas ao pouco conhecimento de algumas pessoas

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que associam a distribuição do Lobo Guará nos Estados da Bahia, Piauí e Maranhão erroneamente à
Caatinga, ao desconhecerem que a distribuição do Lobo-Guará nestes estados é sobreposta às áreas
de ocorrência do Cerrado nos mesmos estados. No entanto, a denominação de guará é praticada até
hoje por habitantes da zona rural e caçadores no agreste pernambucano para nominar outros
carnívoros, no caso a Raposa (C. thous) e o Guaxinim (P. cancrivorus). Mais especificamente,
denominam de ―Guará-pequeno‖ ou ―Guará-cachorro‖ para a raposa e ―Guará-grande‖ ou ―Guará-
gato‖ para o Guaxinim, conforme mais de 200 entrevistas (dados não publicados) de estudos de
fauna executados entre 2006 e 2016. Sá Júnior (2017) destaca que no sertão pernambucano o
Guaxinim é nominado ―guará‖, admitindo também os nomes Cachorro-do-mato-guaxinim e
Cachorrinho-guaxinim. Mais preteritamente Pereira (1854) nomeou, dentre os ―quadrúpedes
indígenas‖ brasileiros, o cachorro de água, o guará, o guaraxaim, o guaxinim e também o guaracão,
porém sem identificá-los taxonomicamente. O uso dos termos Guará-cachorro e Guará-
gato/Cachorro-do-mato-guaxinim, aliado ao fato de serem animais abundantes ainda hoje na região,
é condizente com antigas referências, como a de Galvão (1908) que informam a possibilidade de
um ―canídeo‖ como origem do topônimo. Já o Anu ou Anum é uma ave amplamente distribuída nas
três américas, ocorre em todos os estados e biomas brasileiros, inclusive em áreas antropizadas.
Sendo tão comum, carecem motivos para os autóctones ou colonizadores nominarem uma região
tão ampla com espécie de pouca significância ou especificidade. Em pesquisa de topônimos
brasileiros, o único identificado como potencialmente derivado do Anu-preto é Garanhuns, contra
várias centenas que derivam do ―guará‖.
Além do potencial zootoponímico, grande parte dos autores atribui a fundamentação
toponímica na questão étnica, seja ela de origem de populações residentes ameríndias ou decorrente
da ocupação territorial por negros fugidos dos engenhos do litoral pernambucano e alagoano.
Assim, passa-se agora a tratar das possibilidades toponímicas de origem étnica.

Origem como Etnotopônimo de Tribo Indígena

O Brasil possuía milhões de indivíduos autóctones distribuídos em milhares de povos


indígenas de diferentes nações. O povo Tupinambá, falante da língua tupi dominava o litoral
nordestino, enquanto os indígenas que fugiam a essa unidade eram chamados genericamente de
Tapuias, índios de qualquer nação ou etnia não falantes do Tupi e que habitavam as regiões mais
interiores (PINTO, 1935). As informações sobre as estas populações ameríndias do interior no
início da colonização foram, quase sempre, colhidas pelos europeus diretamente de seus aliados, no
caso dos portugueses, dos falantes da língua Tupi. Sendo povos muito beligerantes, os conflitos
entre nações e tribos promoviam amplas migrações, agravadas pelas alianças de diferentes povos
com diferentes invasores europeus. Relatam-se na história, migrações de nações inteiras de tão

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longe quanto da Bahia para os interiores do Piauí e Ceará e do Rio Grande do Norte para o
Maranhão, dentre outros, decorrentes dos conflitos, busca de alimentos e aldeamentos (reduções)
dos missionários, impedindo precisar quais eram as tribos que, à época, habitavam a região de
Garanhuns. Mesmo assim, pelas informações de diversos autores (MELO, 1931; PINTO, 1935;
DIAS, 1954; CAVALCANTI, 1983; DIAS, 1983; REINAUX, 1991; GALVÃO, 2006;
CHIARADIA, 2008; FONSECA, 2009), se admite a hipótese de Garanhuns ser a corrupção
linguística da tribo indígena ―Garanhuns‖ ou suas variações, tais como Unhanhu, Unhauhu,
Unhanhu, Unhanhuns, Unhaúnhau, Unhaunhu, Guiranhú, Anhum, Garanhun e Guaranhun, tribo
que supostamente habitava o Planalto da Borborema. Referindo-se a Alagoas, Moreira (1859 apud
ANDRADE, 2008) ainda nominou uma área como ―Campos dos Inham‖, próximo aos Palmares e
próximo do atual município de Anadia que, segundo Freitas (1981), os holandeses chamavam
―Campos de Arrozais de Inhauns‖, denominação quase idêntica à de Sauer (1907), sobre o antigo
povoado ―Campos do Arrozal de Inhamuns‖. Próximo uma localidade que foi nomeada em um
mapa do Brasil Holandês (BARLEUS & BLAEU, 1647) como Nhuanhû e, em outro documento
holandês de 1682, como ―planície do Nhumahu‖ (NIEUHOF, 1942). Há também nesta região a
lenda da ―Índia Inhamunhá‖ (ANDRADE, 2008). Mais distante do Agreste, Pinto (1956) assinala a
existência de aldeia (redução) na ilha do Inhamum, ou Inhenhum, ou Inhanhum, atualmente nas
proximidades dos municípios de Rodelas (BA) e Cabrobó (PE). Silva (2003) denomina esta ilha de
Inhamum e Unhunhu e informa migração de tribo pernambucana para o "sertão dos Inhamuns", no
Ceará. Considerando essas amplas migrações indígenas, a similaridade de nomes pode também,
hipoteticamente, designar povos semelhantes.
Por outro lado, os nomes ―Unhaunhu‖ (ou similares) e ―Garanhu‖ (ou similares) aparecem
distintamente na mesma época e, até, nos mesmos documentos, sugerindo serem nomes diferentes
para localidades e/ou povos distintos. Um documento datado de 1660, transcrito por Andrade
(2014), trata como devolutas doze léguas de terra em pastos e ―campos de Garanhum-merim que é
no sertão das Lagoas do Norte e Sul sobre os campos de Unhaúnhau ... que estão confinando com o
mocambo e Palmares...‖. Considerando que esses topônimos designando localidades já existiam
distintamente, é improvável que o topônimo Garanhuns seja uma corrupção linguística de Unhanhú,
Unhaunhu, Inhamum, mas sim que haviam essas duas denominações no passado, já que o nome foi
mantido quase inalterado desde, pelo menos, o ano de 1660. Interessante aventar, também, a
possibilidade do termo ―Garanhum-merim‖ de 1660, localizado sobre os ―campos dos Unhaúnhau‖
ter se perpetuado no Riacho Garanhunzinho, afluente do Rio Ipanema, em Águas Belas (PE). Ennes
(1938) transcreve documentos originais do século XVII que dispunham dos nomes "campos de
Garanhú" e "campos de Garanhum", mas também ―Campos de Unhanhú‖, não necessariamente
derivando um do outro. Também Cavalcanti (1983) reporta documento de 1710, com o nome

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―garanhuns" e informa doação de sesmaria em 1658 constando o nome ―Garanhu‖. Simultâneas


descrições de diferentes fontes do século XVII corroboram com a hipótese de haver tanto os
garanhu (ou similar) quanto os inhum/nhanhu (ou similar) como povos distintos.
Ao que parece, a mais antiga informação utilizada por muitos autores como base para
suposta origem toponímica em função de uma ―tribo de idêntico nome‖, é a de Frescarolo (1883),
citada por Pinto (1935). No entanto, consultando a referência original (COUTINHO, 1886), que
transcreve documentos de 1802 a 1804 de Vital de Frescarolo, não faz qualquer menção a tribo
Garanhuns ou similar, mas sim das nações Xocós, Vouê e Umão. Desta feita, podemos deduzir que
houve erro de referência ou de interpretação por parte do renomado autor. Cavalcanti (1983) reporta
documento de 1710 em que consta a descoberta dos ―garanhuns", porém, no documento citado pelo
autor não informa que os descobertos ―garanhuns‖ eram índios, tendo essa sido uma interpretação
do autor. Ennes (1938) quando informa sobre os "campos de Garanhú" e "campos de Garanhum",
trata do espaço geográfico sem inferir ser denominação de tribo. Certamente a região era habitada
por populações indígenas, porém as informações antigas que nomeiam a região como campos ―de
Unhanhú‖ ou ―dos Garanhu‖, não necessariamente significam que estes eram os ameríndios. Assim,
admitindo que Garanhuns seja um etnotopônimo originado do Tupi, este foi criado para designar
população índios Tapuias ou, por que não, de habitantes de mocambos, como será abordado a
seguir.

Origem como Etnotopônimo de Quilombos ou Mocambos

Se há dúvidas sobre a existência de uma tribo indígena denominada Garanhuns, a existência


de um quilombo denominado exatamente de ―Quilombo Garanhuns‖ é abundante e presente em
fontes documentais desde o século XVI (FREITAS, 1981; SANTOS, 1985; GALDINO, 2003;
GOMES, 2016). Vários autores situam geograficamente em terras garanhuenses, os quilombos de
Curiva, Garanhuns, Alto Magano e Engana-Columim (FREITAS, 1981; GALDINO, 2003;
GOMES, 2016), além do quilombo Pedro Capacaça (hoje em Bom Conselho-PE), todos associados
aos Palmares. CAVALCANTI (1983), com base em informações locais, detalha a localização
geográfica em Garanhuns dos quilombos do Magano e Columin, já citados (com pequena diferença
ortográfica), localizando também outros mocambos próximos como Congo, Negra Maria, Timbó,
Zumbi, Camixanga e Curica e Pedro Papacaça (pequena diferença ortográfica), destruídos por Luis
Mendes da Silva, a mando do bandeirante paulista Domingos Jorge Velho. Não foi localizada a data
de fundação do Quilombo Garanhuns, mas sua destruição por forças de Jorge Velho ocorreu em
1677 (FREITAS, 1981). Este autor ainda relata a destruição dos quilombos Pedro Capacaça e
Engana Columim em 1694, após suas localizações serem descobertas. Os quilombos, em especial o
Quilombo dos Palmares geravam verdadeiro terror aos senhores de engenho e à Coroa Portuguesa.

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A área dominada pelos Palmares, que era superior a de Portugal e o elevado número de
―levantados‖ que chegavam aos 20 ou 30 mil, fortemente armados e dispostos a lutar por sua
liberdade e conquistas ocasionou esforços que duraram um século, visando a destruição desta
sociedade. Assim, as expedições exploratórias que descobrissem e/ou destruíssem quilombos eram
recompensadas com terras no chamado ―sertanismo de contrato‖ (SANTOS, 2009), que eram
expedições ao interior do Brasil para capturar negros foragidos, combater tribos rebeladas e
quilombos, atividade típica dos bandeirantes paulistas (SANTOS, 2009). Ora, não foram
exatamente essas expedições que destruíram os Palmares, inclusive os mocambos em Garanhuns?
Não foram os participantes e colaboradores locais agraciados com terras em Alagoas e Pernambuco,
conforme tantas documentações oficiais? O documento de 1710 existente em Cartório de
Garanhuns e que trata da venda do Sítio Buraco (desmembrado da Sesmaria dos Aranhas),
informando que o referido sítio foi ao liquidante doado em razão de ele ter ―descoberto os
garanhuns" (CAVALCANTI, 1983) foi criado apenas 3 décadas após a destruição do Quilombo
Garanhuns e cerca de 15 anos do fim oficial da Guerra dos Palmares. Este importante documento
comprova o prêmio ―pela descoberta‖, interpretada por Cavalcanti (1983) como sendo descoberta
de tribo indígena. Porém, não encontramos nenhuma doação de terras no Brasil Colônia a alguém
por ter descoberto tribo indígena, ao contrário das constantes doações reportadas em troca do
combate aos mocambos do Quilombo dos Palmares. Assim, se é coerente a doação das terras a
alguém por ter descoberto a localização exata de um quilombo (Quilombo Garanhuns, por
exemplo), não é coerente recompensar pela descoberta de singela tribo indígena, muito menos por
ter descoberto raposas, guaxinins ou anuns, de forma que as potenciais origens etnotoponímica
indígena e zootoponímica ficam desfavorecidas frente a origem derivada da presença de
comunidades quilombolas.
Resta saber o porquê de o referido quilombo e região terem recebido esse nome já existente
em documentos, desde, pelo menos, 1658. A história dos Palmares e mocambos associados,
inclusive os de Garanhuns, foi registrada pelos vitoriosos, com muitos dos quilombos batizados em
português com os nomes de seus chefes como Pedro Capacassa (Pacassa), Zumbi e Amaro.
Considerando que na base dos documentos de origem colonial portuguesa os nomes geralmente
provinham dos aliados Tupinambás, o tupinismo na denominação de quilombos é também notada.
Melo (1931) atribui o nome Garanhuns ao ―quilombo da serra‖ e comenta que: "... ainda hoje, os
índios carnijós de Águas Belas conhecem Garanhuns como claiô‖, o que significa, para o autor,
―claí = branco, iô = não, resultando em ―não branco, escuro, preto‖. A localização desta aldeia
Fulni-ô (carnijós) resulta de migrações e aldeamentos de tribos Tapuias da região,
aproximadamente, em 1700 sendo estes os mais prováveis remanescentes a terem tido algum
contato com os que faziam o Quilombo Garanhuns e os únicos indígenas do nordeste brasileiro que

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mantém seu idioma original (Yatê ou Iathê) sendo conveniente considerar, assim como fez Melo
(1931), essa memória linguística como parâmetro. A partir de diversas informações reunidas entre
1886 e 1935 por POMPEU SOBRINHO (1935), além da entrevista pessoal com indígenas Fulni-ô
(dados não publicados) e outras fontes, pode-se comprovar que a palavra ―Garanhuns‖ não tem
qualquer significado em Iathê, não sendo oriunda deste idioma. Também confirmaram-se,
parcialmente, as informações descritas por MELO (1931) ao confirmar que: 1) Klaí significa
homem branco, rico, arrumado, grã-fino; 2) Yô significa negação; 3) Klaiô é a junção de um grupo
de pessoas não ricas, de poucas posses, indiferentes quanto a serem brancas ou não brancas, desde
que não sejam índias. Assim, ao menos no Yathê atualmente falado pelos remanescentes, inclusive
de avançada idade, Klaiô não designa a pessoa negra. Nesta língua, o negro é denominado ―Tupia‖
e outros índios não Fulni-ô são os ―Sêtsô‖. Portanto, os Fulni-ô não se refeririam a típicos negros
aquilombados ao denominar Garanhuns como Klaíô, o que, aparentemente, refutaria Melo (1931).
Porém, essa denominação reforça que os ―Garanhuns‖ não fossem ameríndios, caso contrário
seriam ―Sêtsôs‖. Também não referiria a grupo de brancos ricos ou de elevada posição, que neste
caso seriam ―Klaí-ihá‖. Mesmo assim, a suspeita de Melo (1931) é conveniente e condizente com
informações étnicas atuais sobre Palmares, uma vez que não apenas negros haviam nos mocambos,
mas até mesmo brancos, principalmente desapossados e fugitivos de dívidas em meio a mestiços,
índios e a uma imensa maioria negra (FREITAS, 1981; SANTOS, 1985; GOMES, 2016). Lindoso
(2005) afirma que alguns mocambos, como o Engana-Columin, localizado na atual zona urbana de
Garanhuns, chegaram a ser ―exclusivamente formados por índios rebelados‖. Essas informações de
heterogeneidade, somadas aos relatos nas documentações da época de constantes práticas de raptos
de índias, mulatas e brancas pelos aquilombados sugerem que os mocambos de Garanhuns não
fossem exclusivos de negros e, talvez, com grande composição de mestiços das três etnias e,
portanto, nem Klaí, nem ―Klaí-ihá‖, nem ―Sêtisô‖, mas talvez Klaiô.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quase sempre as toponímias derivam de características locais marcantes, expressando


diretamente as relações entre humano e espaço. O topônimo Garanhuns traz à luz várias
interpretações, sobretudo zootoponímicas e etnotoponímicas. As informações biogeográficas até
permitem admitir que tenha derivado de animais ―guarás‖, sejam eles aves ou, mais provavelmente,
carnívoros, em especial raposas e guaxinins, mas em hipótese alguma de Lobos-Guarás ou Guarás-
Vermelhos. Pode, também, advir de uma tribo indígena local, embora não pareça existir,
tecnicamente, qualquer comprovação de tribo de nome Garanhuns, apesar de que abundem relatos
dos Unhun, Inhum, Nhannhu ou similares, mais próximo do litoral pernambucano. Porém, a
presença negra aquilombada na época era muito mais marcante e digna de consideração aos

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autóctones do que a de aves e carnívoros comuns. Ademais, é inegável e fartamente comprovada a


existência de vários quilombos na região desde o século XVII e um deles exatamente denominado
―Quilombo Garanhuns‖. A existência de documentação comprobatória de recompensa em terras
pela descoberta dos Garanhuns é muito condizente com uma revelação da localização exata de um
quilombo (ou conjunto), de forma que a origem do topônimo, a partir deste e de outros quilombos
próximos seja a mais coerente. Assim, ―garanhuns‖ deve significar ―indivíduo negro‖, como já
interpretado por alguns autores. Outra muito condizente possibilidade é a de considerar guará,
também, como livre ou liberdade, sendo, portanto, os ―Guaranhuns‖, ―indivíduos livres‖,
exatamente o que era um quilombola. Ademais, para os holandeses já existiam os "Nhuanhû"
próximos dos Palmares como povos distintos, conforme mapa de 1647, o que é compatível com a
transcrição de Niehof de documento holandês de 1682, no qual foram reportadas três diferentes
localidades da atual Alagoas, próximo ao Agreste de Pernambuco e aos Palmares como: ―Jaguará‖;
―planície do Nhumahu‖ e ―Warracaco‖. Desta forma, questiona-se aqui se estas denominações não
poderiam ser, considerando as óbvias dificuldades de compreensão e transcrição das línguas,
respectivamente: yaguara, gu'ara (guará-livres); unhum, unhaunhau, inhum ou unhaú, entre outras
(suposta tribo indígena); e Macaco (principal mocambo dos Palmares). Então, seriam os Guarás
indivíduos negros, escravos que se libertaram e habitaram livremente os campos após tomar o
―guara rape‖ o ―caminho da liberdade‖? O estudo de ―novos‖ documentos do Brasil Colônia e da
dominação holandesa poderão confirmar ou refutar as presentes informações e suposições de que a
mais provável origem do topônimo Garanhuns seja relativa a presença dos negros livres dos
quilombos na região de Garanhuns e não de tribo indígena ou de animais da localidade.
A insistência em dar crédito ao Lobo-Guará ou ao Guará-Vermelho como origem do
topônimo, negando crédito à origem étnica indígena e, sobretudo, à origem quilombola, é negar e
desvalorizar a importância da história das populações ancestrais que na região habitaram, lutaram e
resistiram aos invasores europeus, ao escravismo e subjugação e, por conseguinte, perpetuar essa
desvalorização. Assim como já consta no hino municipal de Garanhuns, que trata dos ―vales bravios
de outrora que esconderam fugitivos de cor‖, é chegada a hora de refletir e melhor abordar a
importância dos negros aquilombados do século XVII na formação da identidade, cultura e própria
história local.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

ANÁLISE SOBRE A ELABORAÇÃO DE RANKINGS DE


CUNHO AMBIENTAL PARA CIDADES

Mariane Félix da ROCHA


Mestre em Geografia pela UFPR
mfr1306@yahoo.com.br
João Carlos NUCCI
Doutor em Geografia pela USP, Professor do Departamento de Geografia da UFPR
jcnucci@gmail.com

RESUMO
Muitas cidades se declaram ―sustentáveis‖ ou ―verdes‖ devido à importância que é dada a esses
aspectos na competição para a atração de investimentos. Assim, uma prática muito comum é a
elaboração de rankingsbaseados em critérios ambientais, tais como quantidade de vegetação,
políticas públicas ambientais e controle na emissão de poluentes. Esse trabalho de revisão
bibliográfica visa, portanto, analisar quatro rankings de cunho ambiental aplicados em
cidadesbrasileiras, a fim de demonstrar que as mudanças de critérios, de metodologia e a
comparação entre cidades muito diferentes, levam a resultados diferentes, dificultando, dessa forma,
a determinação de uma cidade efetivamente ―sustentável‖ ou ―verde‖ e de um ranking
minimamente justo.
Palavras-chave: Rankings, Cidades Verdes,Cidades Sustentáveis.
ABSTRACT
Many cities declare themselves to be "sustainable" or "green" because of the importance they attach
to competition for attracting investment. Thus, a very common practice is the elaboration of
rankings based on environmental criteria, such as amount of vegetation, public environmental
policies and control in the emission of pollutants. This bibliographic review article aims, therefore,
to analyze four environmental rankings applied in Brazilian cities, in order to demonstrate that the
changes of criteria, methodology and the comparison between very different cities, lead to different
results, thus hindering the determination of an effectively "sustainable" or "green" city and a
minimally fair ranking.
Key-words: Rankings, Green Cities, Sustainable Cities.

INTRODUÇÃO

Curitiba, a capital paranaense, em um vídeo institucional de 2003 se autodenomina a


―capital ecológica do Brasil‖, enquanto exalta seu planejamento urbano exemplar e a consequente
boa qualidade de vida que oferece a seus habitantes (CAPITAL ECOLÓGICA, 2003). A capital da
Paraíba, João Pessoa, também em um vídeo institucional se declara uma das cidades mais verdes do
mundo, sem, no entanto, citar a(s) fonte(s) que embasariam tal afirmação (JOÃO PESSOA, 2007).
Também, Goiânia (GO), no Plano de Arborização Urbana do município, atesta que seria ―a capital

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de estado com a maior extensão de áreas verdes por habitantes e o maior número de árvores em vias
públicas do País, em proporção ao número de habitantes‖ (GOIÂNIA, s. d., p. 29).
Percebe-se, então, que é bastante usual que as cidades ostentem ―títulos‖ de cunho
ambiental, como capital ecológica, cidade mais verde ou capital com maior área verde/árvores em
vias públicas. Uma provável explicação para isso é o fato de as cidades terem de competir entre si
pela atração de investimentos, sendo a sustentabilidade um dos atributos desejados pelos
investidores (ACSELRAD, 2001). Isso ocorre, segundo Sánchez (2001), porque as noções de
qualidade de vida e sustentabilidade constantemente são associadas ao desenvolvimento econômico
e à boa governança.
A elaboração de rankings seria uma das formas de se estabelecer quais são as cidades ditas
―ambientais‖, ou ―verdes‖, ou ainda ―ecológicas‖ e quais não são. Nessas análises, escolhem-se
algumas cidades que serão estudadas, obedecendo-se a um determinado critério de escolha (ou não),
elencam-se quais serão as características ambientais consideradas no estudo (quantidade de
vegetação, emissão de poluentes, políticas públicas ambientais, infraestrutura urbana, entre outros)
e atribui-se uma valoração para as cidades estudadas com base nesses critérios, organizando-as
segundo uma ordem, desde as mais ―ambientais/verdes/ecológicas‖até as menos.
Como cada ranking difere do outro em função das cidades escolhidas, dos critérios
ambientais analisados e da metodologia do estudo, também os resultados diferem grandemente de
um ranking para outro, em que uma cidade que ficou bem posicionada em um pode alcançar as
últimas posições no outro, colocando em xeque, desse modo, a efetividade desse tipo de estudo em
indicar qual seria, enfim, a cidade definitivamente ―mais sustentável‖.
A fim de fomentar a discussão acerca da relevância da elaboração de rankings, esse trabalho
de revisão bibliográfica visa destrinchar quatro rankingsde cunho ambiental, com foco nas cidades
brasileiras, para averiguar as diferenças metodológicas e de resultados entre um e outro.

RANKINGS DE CUNHO AMBIENTAL PARA CIDADES

The Green City Index (2012)

O documento ―The Green City Index‖, de 2012, elaborado pela Economist Intelligence Unit
(EIU) em parceria com a Siemens, buscou avaliar 130 cidades no mundo todo, escolhidas com base
em seu tamanho e importância (a maioria sendo capitais, populosas e centros de negócios),
divididas em sete grupos para facilitar a comparação e a elaboração do ranking: Estados Unidos e
Canadá (27 cidades); América Latina (17 cidades); África (15 cidades); Alemanha (12 cidades);
Europa (30 cidades); Ásia (22 cidades) e Austrália e Nova Zelândia (7 cidades).

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Reconhecendo as diferenças entre as sete regiões alvo do estudo, além de terem sido
adotados alguns indicadores diferentes dependendo da região (na análise das cidades da África, por
exemplo, foi incluído o indicador de acesso à água potável e energia elétrica), os resultados também
foram apresentados de maneira diferente por região (QUADRO 01): os índices da Europa e Estados
Unidos e Canadá apresentam-se em forma de ranking, enquanto nos demais as cidades receberam
uma classificação, de ―well above average‖ (bem acima da média) a ―well bellow average‖ (bem
abaixo da média).

QUADRO 01 -RANKINGDOTHE GREEN CITY INDEX PARA AS CIDADES DOS ESTADOS UNIDOS E
CANADÁ E CLASSIFICAÇÃO DAS CIDADES DA AMÉRICA LATINA
Cidades Estadunidenses e Canadenses
Posição Cidade Posição Cidade Posição Cidade
1º São Francisco 10º Minneapolis 19º Montreal
2º Vancouver 11º Chicago 20º Charlotte
3º Nova Iorque 12º Ottawa 21º Atlanta
4º Seattle 13º Filadélfia 22º Miami
5º Denver 14º Calgary 23º Pittsburgh
6º Boston 15º Sacramento 24º Phoenix
7º Los Angeles 16º Houston 25º Cleveland
8º Washington 17º Dallas 26º St. Louis
9º Toronto 18º Orlando 27º Detroit
Cidades Latino-americanas
Bem acima Acima da média Média Abaixo da Bem abaixo da média
da média média
Curitiba Belo Horizonte Medellín Buenos Aires Guadalajara
Bogotá Cidade do Montevideo Lima
México
Brasília Monterrey
Rio de Janeiro Porto Alegre
São Paulo Puebla
Quito
Santiago
FONTE: SIEMENS(2012). Org.: A autora (2017).

Foram utilizados 30 indicadores para classificar as cidades, agrupados em 8 ou 9 grupos


dependendo da região, que relacionaram emissões de gás carbônico, energia, construções, uso do
solo, transportes, água e esgotamento sanitário, gerenciamento de resíduos, qualidade do ar e
regulamentação do meio ambiente. Cerca de metade dos indicadores são quantitativos, obtidos de
fontes oficiais, tais como emissões de gás carbônico e consumo de água per capita, e o restante são
avaliações qualitativas das políticas ambientais das cidades, como o compromisso da cidade em
fornecer mais energia renovável e políticas para reduzir o congestionamento.
Na América Latina, o destaque foi para Curitiba, capital do Paraná, a única cidade avaliada
nesse grupo como bem acima da média (QUADRO 01). Segundo o documento, ―Curitiba is the
clear leader in the Latin America Index‖ (SIEMENS, 2012, p. 16), devido, entre outros motivos, às
suas políticas ambientais, a alguns estudos sobre emissões de dióxido de carbono e sua absorção

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

pelas áreas verdes, à relação entre o transporte público e os bons índices de qualidade do ar e ao seu
programa de reciclagem do lixo, instalado em 1989.

SOS Mata Atlântica e INPE (2015)

Se, por um lado, no The Green City Index (2012) Curitiba ficou bem posicionada, por outro,
no ranking elaborado pela Fundação SOS Mata Atlântica em conjunto com o Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE), de 2015, a capital paranaense alcançou a última posição (QUADRO
02).
Nesse estudo, divulgado no Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, a
metodologia envolveu sensoriamento remoto e geoprocessamento para mapear os remanescentes
florestais acima de 3 hectares, por meio de imagens do satélite Landsat 8.

QUADRO 02 – RANKING ELABORADO PELA FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA E INPE


Situação da vegetação natural nas capitais
Município Área do Lei Mata Atlântica Bioma (%) Vegetação Vegetação
município (ha) (ha) Natural (ha) Natural (%)
Porto Alegre (RS) 49.668 9.479 19,1 2.980 31,4
Florianópolis (SC) 67.541 67.541 100 17.931 26,8
Recife (PE) 21.844 21.844 100 4.562 20,9
Rio de Janeiro (RJ) 120.028 119.896 100 23.324 19,5
Teresina (PI) 139.197 98.858 71 18.348 18,6
Maceió (AL) 50.307 50.307 100 9.296 18,5
São Paulo (SP) 152.110 152.110 100 26.571 17,5
Natal (RN) 16.726 13.528 80,9 2.288 16,9
Campo Grande (MS) 809.295 31.275 3,9 5.124 16,4
Vitória (ES) 9.819 8.803 89,6 1.316 15
Fortaleza (CE) 31.493 9.759 31 1.442 14,8
João Pessoa (PB) 21.147 21.147 100 2.945 13,9
Aracaju (SE) 18.186 18.186 100 2.169 11,9
Belo Horizonte (MG) 33.140 11.740 35,4 901 7,7
Salvador (BA) 69.328 69.328 100 3.422 4,9
Curitiba (PR) 43.504 43.504 100 576 1,3
Goiânia (GO) - - 0 - 0
FONTE: Fundação SOS Mata Atlântica (2015). Org.: A autora (2017).

Foram considerados somente os 3.429 municípios abrangidos pelo bioma Mata Atlântica,
por isso o ranking estabelecido entre as capitais considerou apenas 17 delas, uma vez que as outras
localizam-se em outros biomas brasileiros. Goiânia (GO) foi incluída na comparação devido ao
estado de Goiás ser parcialmente ocupado pela Mata Atlântica, mas não teve seus dados
computados porque a cidade em si não se encontra nesse bioma.
Porto Alegre (RS) na comparação entre esses dois estudos também merece destaque:
enquanto recebeu a classificação ―average‖ (na média) no The Green City Index (2012), ficou em
primeiro lugar no ranking elaborado pela Fundação SOS Mata Atlântica, por ter mantido maior
porcentagem de Mata Atlântica em seu território em comparação às demais capitais analisadas.

Censo IBGE (2012)

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No Censo Demográfico de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi


incluído na pesquisa um item relativo à arborização urbana. De acordo com o documento intitulado
―Características urbanísticas do entorno dos domicílios‖ (IBGE, 2012, p. 28), foi considerado
indicativo de arborização se na face da quadra

ou na sua face confrontante ou no canteiro central, existia arborização, ou seja, existia


árvore ao longo da calçada/passeio e/ou em canteiro que divida pistas de um mesmo
logradouro, mesmo que apenas em parte. Considerou-se também a arborização quando
existente em logradouros sem pavimentação e/ou sem calçada/passeio.

Os agentes censitários coletaram informações sobre as faces de quadra para caracterizar a


estrutura urbana do entorno dos endereços e identificaram, dentre outras características urbanísticas,
a presença ou não de arborização. Em reportagem publicada online na Revista Planeta (2012) sobre
esse assunto, João Carlos Nucci, professor do Departamento de Geografia da UFPR,afirmou que
esse método não serve para o diagnóstico do verde urbano, uma vez que não é possível considerar
que uma rua é arborizada se abrigar apenas uma árvore.
Como resultado, foi divulgado no documento anteriormente citado um ranking que relaciona
a porcentagem de domicílios particulares permanentes que possuem arborização no entorno entre os
15 municípios brasileiros com mais de 1 milhão de habitantes (QUADRO 03). Nesse ranking,
Goiânia (GO), que não foi considerada no ranking The Green City Index (2012) e não pontuou no
ranking da SOS Mata Atlântica (2015), alcançou a primeira posição. Curitiba (PR), que ocupava a
primeira posição no primeiro ranking analisado e a última posição no segundo ranking, nesse ocupa
uma posição intermediária, estando em 5º lugar entre as 15 cidades analisadas.

QUADRO 03 – RANKING DE ARBORIZAÇÃO DO IBGE COM BASE NO CENSO 2010


Percentual de
domicílios
Posição Capital particulares
permanentes com
arborização (%)
1º Goiânia (GO) 89,5
2º Campinas (SP) 88,4
3º Belo Horizonte (MG) 83,0
4º Porto Alegre (RS) 82,9
5º Curitiba (PR) 76,4
6º São Paulo (SP) 75,4
7º Fortaleza (CE) 75,2
8º Guarulhos (SP) 72,4
9º Rio de Janeiro (RJ) 72,2
10º Recife (PE) 60,8
11º Salvador (BA) 40,0
12º Brasília (DF) 37,2
13º São Luis (MA) 32,7
14º Manaus (AM) 25,1
15º Belém (PA) 22,4
FONTE: IBGE (2012). Org.: A autora (2017).

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página 1145


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IBEU Municipal (2016)

O documento ―IBEU Municipal – Índice de bem-estar urbano dos municípios brasileiros‖,


divulgado pelo Observatório das Metrópoles, também utilizouos dados do Censo 2010 do IBGE,
mas alcançou um ranking diferente. Este documento compreende cinco dimensões: mobilidade
urbana, condições habitacionais urbanas, atendimento de serviços coletivos urbanos, infraestrutura
urbana e condições ambientais urbanas. Este último abrangeu três indicadores: arborização no
entorno dos domicílios, esgoto a céu aberto no entorno dos domicílios e lixo acumulado no entorno
dos domicílios, todos obtidos dos dados do Censo 2010 do IBGE com base na proporção de pessoas
que moram em domicílios cujo entorno possui arborização e não possui esgoto a céu aberto nem
lixo acumulado.
Considerando apenas a dimensão ―condições ambientais urbanas‖ entre as capitais
brasileiras, o documento apontou que a capital com melhores condições ambientais foi Campo
Grande (MS)(FIGURA 01), que não foi considerada no ranking The Green City Index (2012) nem
no ranking do IBGE (2012), e alcançou apenas a 9º posição no ranking da SOS Mata Atlântica
(2015) das 17 capitais analisadas.

FIGURA 01 – RANKING DAS CONDIÇÕES AMBIENTAIS URBANAS DAS CAPITAIS BRASILEIRAS

FONTE: Ribeiro e Ribeiro (2016).

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página 1146


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Goiânia (GO), que estava em 1º lugar no ranking IBGE (2012) no ranking IBEU Municipal
(2016) só perdeu uma posição, caindo para o 2º lugar. As demais capitais também obtiveram
resultados parecidos ao se compararem os dois rankings.

CONCLUSÃO

Quatro rankings analisados e quatro capitais que podem anunciar que alcançaram a
primeira posição em um ranking de cunho ambiental: Curitiba (The Green City Index, 2012), Porto
Alegre (SOS Mata Atlântica, 2015), Goiânia (IBGE, 2012) e Campo Grande (IBEU Municipal,
2016). Ou seja, mudando-se as cidades analisadas, os critérios ambientais escolhidos e a
metodologia de análise obtiveram-se resultados bastante diferentes, haja vista as mudanças de
posição sofridas, por exemplo, pela capital paranaense entre o primeiro e o segundo ranking
expostos.
Pelo exemplo de Curitiba (PR), percebe-se como a mudança dos critérios de análise pode
beneficiar ou prejudicar uma cidade: por um lado, é a cidade com melhor desempenho ambiental
entre as cidades latino-americanas; por outro, é a cidade que menos conservou sua porção de Mata
Atlântica.
Obviamente cada ranking tem seu objetivo e sua metodologia.Mas, de qualquer forma, isso
expõe a fragilidade dos rankings no apontamento das cidades mais ―sustentáveis‖ ou ―verdes‖. Uma
vez que é praticamente impossível considerar todos os critérios que definiriam uma cidade
sustentável e ainda comparar todas as cidades entre si, corre-se o risco de excluir critérios
importantes na análise ou cidades que apresentariam também um bom desempenho, tornando o
resultado alcançado pelo ranking pelo menos duvidoso.

REFERÊNCIAS

ACSELRAD, H. Sentidos da sustentabilidade urbana. In: ACSELRAD, H. (Org.). A duração das


cidades: sustentabilidade e risco nas políticas urbanas. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.

CAPITAL Ecológica III. Curitiba, 2003. 1 videocassete (27 min), sonoro, color. VHS NTSC.

Fundação SOS Mata Atlântica. Fundação divulga o balanço da situação da Mata Atlântica em
3.429 municípios. 2015. Disponível em:<https://www.sosma.org.br/105708/fundacao-divulga-o-
balanco-da-situacao-da-mata-atlantica-em-3-429-municipios/>. Acesso em: 15/12/2016.

GOIÂNIA. Prefeitura do Município de Goiânia. Plano Diretor de Arborização Urbana de Goiânia.


Disponível em:<http://www.goiania.go.gov.br/download/amma/relatorio_Plano_Diretor.pdf>.
Acesso em: 06/04/2015.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página 1147


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

IBGE. Censo Demográfico 2010: características urbanísticas do entorno dos domicílios. Rio de
Janeiro: IBGE, 2012.

JOÃO PESSOA. Vídeo Institucional da Prefeitura Municipal de João Pessoa. 2007. Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=tJ3cxRM7XQs>. Acesso em: 30/11/2016.

REVISTA PLANETA. Com quantas árvores se faz uma cidade. 2012. Disponível em:
<http://www.revistaplaneta.com.br/com-quantas-arvores-se-faz-uma-cidade/>. Acesso em:
06/07/2016.

RIBEIRO, L. C. Q.; RIBEIRO, M. G. (Orgs.). IBEU Municipal: Índice de bem-estar urbano dos
municípios brasileiros. Rio de Janeiro: Observatório das Metrópoles/IPPUR, 2016.

SÁNCHEZ, F. A (in)sustentabilidade das cidades-vitrine. In: ACSELRAD, H. (Org.). A duração


das cidades: sustentabilidade e risco nas políticas urbanas. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.

SIEMENS AG. The Green City Index: a summary of the Green City Index research series.
Munique, Alemanha: SIEMENS AG, 2012. Ebook. Disponível em:
<https://www.siemens.com/entry/cc/features/greencityindex_international/all/en/pdf/gci_report_
summary.pdf>. Acesso em: 10/07/2016.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página 1148


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

ANÁLISE DA VARIAÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL DO PERÍMETRO URBANO E


DA POPULAÇÃO COMO SUPORTE PARA ANÁLISE DE DECISÃO

Nayara Silva SOUZA


Mestra em Ciências Ambientais, Professora EBTT do IFBaiano
nayara.souza@ifbaiano.edu.br
Wirlan da Silva COSTA
Estudante do Curso Técnico em Meio Ambiente do Instituto Federal do Piauí
wirlansilvasp2@gmail.com
Francisca Jacqueline Ferreira de OLIVEIRA
Estudante do Curso Técnico em Meio Ambiente do Instituto Federal do Piauí
jaquelineferreirap2@gmail.com
Wanderley de Jesus SOUZA
Doutor em Ciências, Professor Adjunto da UFSB
wjsouzaufba@gmail.com

RESUMO
A área urbana municipal passa por processos de modificação, sendo estes resultantes de diferentes
forças, mecanismos e atores sociais. Assim, o estudo detalhado deste ambiente é extremamente
importante para identificação de áreas destinadas a expansão, para evitar que a mesma ocorra de
forma desorganizada e ocasione problemas ambientais e ônus ao poder público, bem como para
auxílio na tomada de decisões. Com esta pesquisa se objetivou avaliar as mudanças espaço-
temporais ocorridas no perímetro urbano da cidade de Pedro II-PI e a variação da população
municipal, entre os anos de 2006 e 2015. Para análise das modificações espaciais da cobertura do
solo ocorridas na área urbana utilizaram-se quatro classes de cobertura do solo: área urbanizada,
água, área alterada e área verde. Para esta pesquisa o perímetro urbano delimitado pela lei
municipal nº 815/1999 foi tomado como referência. Em seguida utilizaram-se o software ArcGIS
versão 10.5 para realização das análises sobre a cobertura do solo por imagens do Google Earth Pro
e do satélite Landsat 8. Na análise de variação da população utilizaram-se os dados dos censos do
IBGE dos anos de 2000, 2007 e 2010 e dados estimados pelo mesmo órgão para os demais anos. A
partir das análises foi possível verificar que no período avaliado a área natural apresentou redução
em virtude do aumento de alterações antrópicas no perímetro urbano. Embora o crescimento
populacional tenha apresentado uma taxa baixa, o mesmo pode ter sido influenciado por
modificações ambientais locais. Em termos de planejamento e gestão municipal, atenção especial
deverá ser tomada em relação ao fator água associado ao crescimento populacional e às mudanças
no perímetro urbano, considerando os resultados de alteração obtidos desta pesquisa.
Palavras-chaves: Alterações ambientais, Planejamento urbano, Geotecnologias
ABSTRACT
The municipal urban area often goes through modification processes may be caused by different
mechanisms, forces and social actors. Thus, a detailed study of the environmental it is very
important to identify the areas designated for expansion, to avoid the disorganization of it and the
environmental problems, and costs for the public power, as well to help on the moments that it is
important to take decisions. With this research it was aimed to evaluate the spatial and temporal
changes on urban perimeter of Pedro-II - PI city and the variation of the municipal population from
2006 to 2015. Four classes of soil cover were used to evaluate the changes on the urban area:
urbanized area, water, altered area and green area. The urban perimeter defined on the municipal

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

law number 815/1999 was used as a reference. After this, ArcGIS software 10.5 was used to
analyze the soil cover using Google Earth Pro and Landsat 8 satellite temporal images. The
alteration of the population was analyzed using IBGE measured data (2000, 2007 and 2010 year)
and IBGE estimated data for the remaining years (from 2006 to 2015). From the analyze it was
possible to verify that in the studied period the natural area was increased as a consequence of
anthropic alterations on the urban perimeter. Although the municipal population growth has shown
a low rate, it may have been influenced by the environmental local alterations. In terms of
municipal planning and management, special attention should be given in relation to the water
factor associated to the population growth and the changes on the urban perimeter, considering the
results of the alterations obtained in this research.
Keywords: Environmental changes, Urban planning, Geotechnologies

INTRODUÇÃO

A área urbana municipal está em constante processo de modificação, sendo este resultante
de diferentes forças, mecanismos e atores sociais, tais como: os proprietários dos meios de
produção, sobretudo os grandes industriais; os proprietários fundiários; os promotores imobiliários;
o Estado; e os grupos sociais excluídos, como destaca Corrêa (2004).
Entre os atores responsáveis pela transformação do espaço urbano, o Estado, tem uma
atuação complexa e variável tanto no tempo como no espaço, refletindo a dinâmica da sociedade da
qual é parte constituinte. Assim, dispõem de vários instrumentos para impor as modificações
urbanas, como por exemplo, investimento público na produção do espaço, através de obras de
drenagem, desmontes, aterros, e implantação de infraestrutura; organização de mecanismos de
créditos à habitação; pesquisas, operações-testes como materiais e procedimento de construção,
bem como o controle de produção e do mercado deste material; regulamentação do uso do solo;
controle de limitação dos preços das terras; entre outros (CORRÊA, 2004).
No processo de renovação do espaço urbano pode ocorrer, por exemplo, a expansão da
cidade, que segundo Silva (2009) contribui para o aumento de áreas construídas para suprimento
das necessidades básicas da população crescente, tais como, espaços edificados para habitação,
comércio, serviços, indústrias e espaços livres para circulação, praças e parques.
De acordo com Hupp e Fortes (2013) para evitar que o crescimento urbano ocorra de forma
desordenada, levando a ocupações irregulares em área de risco, se faz necessário o estudo detalhado
do ambiente para identificação de áreas destinadas a expansão, bem como para definição de áreas
que precisem ser preservadas, visto que a ocupação de área urbana, de forma desorganizada e
irregular pode causar problemas ambientais, riscos a população e ônus ao poder público.
Neste sentido, as geotecnologias através das técnicas de sensoriamento remoto e
geoprocessamento constituem ferramentas que possibilitam o levantamento de informações do meio
físico, do uso e ocupação da superfície terrestre, bem como proporcionam a integração destes dados

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

para posterior análise e interpretação, os quais resultam em subsídios relevantes às propostas de


ordenamento físico territorial (VALÉRIO FILHO et al., 2005).
Diante do exposto, com esta pesquisa objetivou-se avaliar as mudanças espaço-temporais
ocorridas no perímetro urbano da cidade de Pedro II-PI e a variação da população municipal, entre
os anos de 2006 e 2015, a fim de gerar informações que sirvam de suporte para análise de decisão
em termos de planejamento e de gestão municipal.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

O Município de Pedro II apresenta uma área territorial de 1.518,233 km², abrangendo uma
população estimada de 38.090 habitantes (IBGE, 2016), cuja densidade demográfica é de
25,10 hab.km-². Encontra-se localizado no estado do Piauí a 220 km da capital Teresina, mais
precisamente entre as coordenadas geográficas 04º25'29" de Latitude Sul e 41º27'31" de Longitude
Oeste (Figura 1), cuja sede encontra-se a uma altitude de 603 metros.
De acordo com o IBGE (2010) o município está situado no Bioma Caatinga, porém, devido
às condições morfoclimáticas predominantes na região, destaca-se o Bioma Cerrado, podendo ser
encontrado encraves de Caatinga, Carrascos, Matas de Cocais, pequenos Oasis de florestas
Decidual, Mata Atlântica (ocupam as encostas úmidas e baixadas ou acompanham, geralmente, os
vales ribeirinhos) e zonas de transições entre as mesmas, apresentado ecossistema de importância
singular.
Pedro II é conhecida como a ―Suiça Piauiense‖ por causa de seu clima ameno e por registrar
temperaturas mais baixas quando comparada aos outros municípios da região. Devido a essas
características climáticas e o fato de apresentar grande diversidade cultural (extração de opala,
confecção de joias e artesanato) e paisagística (mirantes, cachoeiras, cavernas, sítios arqueológicos,
museus, trilhas e parques ambientais) fazem dele um polo atrativo do turismo na região (GOMES,
2011), no entanto, observa-se um maior fluxo de turistas principalmente no período do Festival de
Inverno desenvolvido todos os anos na região entre os meses de maio e junho.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Figura 1- Localização do município de Pedro II.

Atualmente, acredita-se que a instalação do Instituto Federal do Piauí no município de Pedro


II possa representar um atrativo por oferecer educação à nível de ensino médio integrado ao técnico,
cursos de nível técnico subsequente, curso de nível superior, cursos à distância, entre outros;
aumentando assim a oferta na área de educação.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Análise da modificação da área urbana

Para análise das modificações espaciais da cobertura do solo ocorridas na área urbana do
município de Pedro II utilizou-se como referencia o perímetro urbano delimitado pela lei municipal
nº 815/1999, conforme demonstrado na Figura 2, o qual foi posteriormente sobreposto as imagens
da área em diferentes períodos para análise das transformações ocorridas.

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Figura 2- Perímetro urbano do município de Pedro II

Inicialmente foram selecionadas imagens do satélite do Landsat 7, no entanto, pelo fato


deste apresentar resolução espacial de 30 m, o mesmo não é indicado para análise de pequenas
áreas, não sendo assim adequado para a referida pesquisa. Assim, preferiu-se utilizar as imagens do
Google Earth Pro, que apresentam boa resolução espacial para este tipo de trabalho. De acordo com
Ribas (2007), estas imagens permitem a geração de produtos cartográficos na escala de 1:25.000 e
também em escala maior, demonstrando ser uma ferramenta muito eficaz como base de apoio para
planejamento e tomada de decisões. Entre as imagens disponíveis no software foram selecionados
os anos de 2006 (data da imagem: 09-11-2006) e 2013 (data da imagem: 12-12-2013) por
apresentaram melhor qualidade e menor incidência de nuvens em relação aos outros anos.
A fim de obter informações mais recentes da atual situação do perímetro urbano, selecionou-
se também o ano de 2015, que por não está disponível no Google Earth Pro, foram obtidas a partir
do satélite Landsat 8, que apresenta o sensor OLI (Operational Land Imager) e cuja resolução pode
chegar a 15m, disponíveis no catálogo de imagens do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais), a qual apresenta as seguintes características: órbita 218, ponto 63 e data de imageamento
03-11-2015.
A escolha dos períodos de avaliação do perímetro urbano baseou-se na existência de uma
cobertura mínima de nuvens e na melhor visibilidade possível que possibilitasse a verificação de
alterações do perímetro do município em questão.

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Processamento das imagens

Anteriormente a análise proposta na referida pesquisa foi realizado o processamento das


imagens utilizadas. Para o georreferenciamento das imagens dos anos de 2006 e 2013 empregou-se
a técnica de registro ―imagem para imagem‖, método que consiste na coleta de pontos de controle
na imagem a ser registrada e na imagem de referencia. Dessa forma, utilizando-se do Google Earth
Pro, foram marcados 10 pontos correspondentes a alvos constantes, bem distribuídos, e facilmente
identificados nas duas imagens e posteriormente com a utilização do software ArcGIS 10.5, foi
realizado o georreferenciamento das imagens com base nos pontos conhecidos.
Por sua vez, na imagem do ano de 2015, obtida do Landsat 8, foi primeiramente realizada a
composição colorida RGB (Red-Green-Blue) utilizando as bandas 6, 5 e 4, seguido do processo de
reprojeção da imagem para o hemisfério sul, pelo fato da mesma apresentar-se orientada ao norte
verdadeiro. Para tal procedimento foi utilizada a ferramenta Project Raster do software ArcGIS
10.5.
Por fim, realizou-se a fusão da banda 8, pancromática (tons de Cinza) de 15 m de resolução
espacial, com as bandas 6, 5 e 4, multiespectrais (coloridas) de 30 m, com o objetivo de melhorar a
resolução espacial das imagens, tendo em vista que esse procedimento permite que a resolução
espacial final seja de 15 m. O fusionamento da imagem também foi feito utilizando-se o ArcGIS
10.5.
Após as etapas descritas acima a área de estudo foi classificada em quatro classes de
cobertura do solo: área urbanizada, água, área alterada e área verde (conforme Tabela 1), o que
permitiu uma melhor observação das modificações ocorridas na área urbana nos três anos avaliados.
Para tal procedimento utilizou-se o software ArcGIS 10.5, no qual foi realizada a classificação
automática do tipo supervisionada, método indicado quando se tem conhecimento da área estudada.
Para definição das quatro classes foram indicados ao classificador o que caracterizava
determinada classe, ou seja, foram definidas amostras simples, cuja média entre elas permitiu a
definição de uma amostra composta que foi utilizada no processo de classificação. O classificador
utilizado nesse processo foi o Máxima Verossimilhança (MaxVer) que é muito utilizado em
sensoriamento remoto para classificação digital de imagens multiespectrais e que de acordo com
Meneses e Almeida (2012), leva em consideração a ponderação das distâncias entre as médias dos
valores dos pixels das classes, utilizando parâmetros estatísticos.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

CLASS
CARACTERÍSTICAS
ES
Área Urbanizada Áreas com construções consolidadas e infraestrutura
Água Área referente ao açude Joana
Área Alterada Áreas que sofreram modificações, mas não se
apresentam urbanizadas (loteamentos, áreas desmatadas e etc.)
Área Verde Áreas naturais sem alterações significativas
Tabela 1- Classes definidas para avaliação das modificações ocorridas na área urbana de Pedro II

Ao final do processo de classificação, realizou-se uma inspeção visual das imagens


utilizadas, com o objetivo de encontrar erros apresentados pelo classificador, visto que todo
processo de classificação automática está sujeito a erros. Em seguida foi confeccionado um mapa
temático das alterações ocorridas em cada classe nos anos de 2006, 2013 e 2015.
Após a finalização dos mapas realizou-se a tabulação dos dados das classes definidas no
estudo, na qual foi feita a quantificação das áreas a partir da utilização da ferramenta Tabulate Area.
Com a conclusão da tabulação dos dados das classes de cobertura do solo, foram gerados gráficos,
com auxílio do Excel versão 2010, nos quais se quantificaram o padrão de alterações ocorridas ao
longo do tempo de estudo.

Análise da variação da população

Além da análise das modificações espaciais ocorridas dentro do perímetro urbano da cidade
de Pedro II, com esta pesquisa se avaliaram modificações do crescimento da população. Dessa
forma, o período de dados escolhidos para análise da população foi 1999 a 2015, intervalo que
contempla a última atualização do perímetro urbano de Pedro II, após desmembramento da Cidade
de Lagoa de São Francisco em 1999, e as obtenções das imagens de satélites utilizadas na pesquisa.
Assim, utilizaram-se de dados populacionais dos censos do IBGE de 2000, 2007 e 2010, além de
dados estimados pelo mesmo órgão para os demais anos avaliados.
Os dados levantados foram tabulados e posteriormente gerados gráficos com o auxílio do
Excel versão 2010, os quais foram posteriormente interpretados e analisados.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Análise das modificações da área urbana

Na Figura 3 estão representadas as modificações verificadas no perímetro urbano de Pedro II


nos anos de 2006, 2013 e 2015, através de classes de cobertura do solo.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Figura 3- Alterações ocorridas na área urbana de Pedro II

Dessa forma, é possível notar que no ano de 2006 a área verde era mais significativa em
relação aos anos de 2013 e 2015, anos em que pode se observar o aumento de manchas relacionadas
a áreas alteradas e urbanizadas, em áreas que ainda eram consideradas verdes. Esse fato pode está
relacionado com o aumento de domicílios, visto que segundo dados do IBGE (2010), em 2000
existiam 7.963 domicílios, e em 2010 esse número aumentou para 9.779, um crescimento médio de
22,8%, sendo maior na zona urbana com 27,5% e menor no meio rural 15,6%.
De acordo com a Figura 4 é possível verificar como se deu o comportamento das classes de
cobertura do solo de forma quantitativa do período analisado. Nota-se que a área urbanizada cresceu
ao longo do período avaliado, passando de 3,23 km² em 2006, para 5,33 km² em 2015, ou seja, um
aumento de 65,2% da área urbanizada.
Segundo informações da Secretaria de Infraestrutura de Pedro II, no período avaliado
criaram-se loteamentos como Chico Café, Reserva dos Pinheiros, Flor de Lis, Parque das Opalas,

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além da construção de 28 casas do programa Minha Casa Minha Vida, o que ratifica o aumento da
área urbanizada como verificado nas Figuras 3 e 4; além disso, com o surgimento dos referidos
loteamentos, possivelmente ocorreu modificação da configuração de alguns bairros do munícipio,
visto que a delimitação do perímetro urbano foi realizada no ano de 1999 e até o momento não
passou por atualização, segundo informações da Secretaria de Infraestrutura local.

8.0
7.0
6.0
Área (km2 )

5.0
4.0
3.0
2.0
1.0
-
Área Água Área Área verde Área Alteração
urbanizada alterada natural antrópica
Classe de cobertura do solo

Ano 2006 Ano 2013 Ano 2015

Figura 4- Alteração das classes de cobertura do solo no perímetro urbano de Pedro II


nos anos de 2006, 2013 e 2015.

Com relação à área alterada observou-se um comportamento diferenciado em relação à área


urbanizada, visto que nesta ocorreu um aumento de 8,7% do ano de 2006 para 2013, passando de
2,28 km² para 2,48 km², seguido de uma redução de 0,39 km² do ano de 2013 para 2015, ano em
que a área alterada passou a 2,09 km². O que pode ter ocorrido é o fato destas áreas terem passado
por um processo de urbanização após o ano de 2013, tendo em vista que a área urbanizada
apresentou aumento nesse período.
A área classificada como área verde, por sua vez, apresentou redução de 1,53 km² (24,2%)
de 2006 para 2013, passando de 6,32 km² a 4,79 km². No ano de 2015 observou-se novamente uma
redução em relação a 2013, com a área passando de 4,79 km² a 4,54 km², ou seja, uma redução de
0,29 km².
Por sua vez, a classe denominada água, correspondente ao Açude Joana - recurso hídrico
que abastece a maioria da população do município - de acordo com a Figura 4, apresentou variações
na área coberta pelo espelho d‘água, visto que entre os anos de 2006 e 2013 a mesma apresentou
um aumento de 0,35 km² para 0,42 km² e em 2015 observou-se uma redução de 0,20 km², passando
a representar uma área de 0,22 km². Estas variações podem ser devido a situações temporais
diferentes das imagens utilizadas no estudo, bem como, pode ser resultado das alterações antrópicas
ocasionadas ao rio Corrente - curso d‘água que abastece o referido açude - como constatado por
Gomes (2015), que também afirma que atualmente o açude, mesmo após o período das chuvas,

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

encontra-se com menos de 30% de sua capacidade total.


Em um balanço geral, é possível notar que a área natural apresentou redução em virtude do
aumento de alterações antrópicas no perímetro urbano de Pedro II, no período avaliado.

Análise populacional frente às modificações da área urbana

Na Figura 5 apresentam-se os dados de população no período de 1999 a 2015. Pode-se


observar que a população no ano de 1999 correspondia a 35.865 habitantes, passando a 38.055 em
2015, registrando um crescimento de 2.190 habitantes, ou 6%, em um intervalo de 16 anos.
38500
38000
37500
37000 y = 36118e0,0034x
R² = 0,8248
Polulação

36500
36000
35500
35000
34500
2000

2015
1999

2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
Anos
Figura 5- Variação da população de Pedro II entre os anos de 1999 a 2015

Apesar do crescimento positivo verificado na Figura 5, pode-se observar ainda dois períodos
de decréscimo populacional, o primeiro entre os anos de 2006 e 2007, onde a população passou de
37.580 habitantes a 36.675 habitantes (redução de 905 habitantes); e o segundo período de redução
foi registrado entre os anos de 2009 e 2010, cuja redução foi de 354 habitantes.
No entanto, observa-se uma tendência geral de crescimento da população ao longo do
período avaliado. Como pode ser observado, a função que definiu o crescimento populacional do
município é do tipo exponencial, ou seja, y = a.ekx, em que y é a população; a é uma constante igual
36118; e é a base neperiana; k é a constante que representa o crescimento/decrescimento
populacional; e, x representa o tempo. A taxa de crescimento média (k) foi positiva, embora muito
pequena, ficando próxima de 0,34% ao ano. A variação abrupta da população entre os anos de 2006
e 2007 foi determinante para redução do coeficiente de correlação de Pearson da função, cujo valor
foi de 0,8248, ainda assim, podendo ser considerada como uma correlação forte e positiva, segundo
a classificação proposta por Santos (2007).
Dessa forma, vários fatores podem ter influenciado as taxas de crescimento populacional no
município de Pedro II, visto que segundo Hermes e Valente (2006) estas são influenciadas por

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página 1158


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fatores, tais como: o crescimento vegetativo, a mobilidade social impulsionada pela diversidade
profissional, a crescente participação da mulher no processo produtivo e o caráter das migrações.
Embora a taxa de crescimento populacional no município tenha sido baixa durante o período
avaliado, esse crescimento pode ter influenciado as modificações ambientais locais, visto que foram
observadas redução de áreas naturais e aumento de áreas antropizadas, seja por novas construções
ou pela redução de áreas verdes para implantação de atividades diversas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante o período de estudo, observou‑ se alterações no perímetro urbano de Pedro II, visto
que houve aumento de áreas urbanizadas e redução de áreas verdes, fato este que pode significar a
necessidade de atualização no plano diretor do perímetro urbano do município, visto que o mesmo
foi delimitado no ano de 1999.
As ações antrópicas, além terem causado modificações em áreas verdes, podem também está
influenciando as variações do espelho d‘água do açude Joana.
Ao longo do período avaliado observou-se uma tendência geral de crescimento
populacional, com taxa de crescimento média positiva, embora a mesma tenha apresentado um
valor muito baixo.
Em termos de planejamento e gestão municipal, atenção especial deverá ser tomada em
relação ao fator água associado ao crescimento populacional, considerando os resultados de
alteração obtidos desta pesquisa. Além disso, um estudo detalhado sobre o grau do potencial de
poluição próximo à lagoa deve ser prioridade, devido ao avanço de antropização na região da lagoa.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao IFPI pelo incentivo financeiro por meio de bolsas de iniciação científica.

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Geografia), 2011. Universidade Estadual Paulista. Instituto de Geociências e Ciências Exatas.
2011. 281f.

GOMES, E. R. Diagnóstico e avaliação ambiental das nascentes da Serra dos Matões, município
de Pedro II, Piauí. 2015. 210f. Tese (Doutorado em Geografia). Universidade Estadual Paulista.
Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Rio Claro, SP, 2015.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página 1159


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

HERMES, C. L. W.; VALENTE, V. Análise do crescimento populacional do município de Agudo,


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http://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=297868> Acesso
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EFEITO TÉRMICO DE TRÊS ESPÉCIES DE PALMEIRAS UTILIZADAS EM


ARBORIZAÇÃO URBANA

Neusa Longo de Souza RIBEIRO


Mestranda em Arquitetura, Tecnologia e Cidade, UNICAMP
neusalsribeiro@yahoo.com.br
Lucila Chebel LABAKI
Professora Titular Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo, UNICAMP
lucila@fec.unicamp.br

RESUMO
Em diversas cidades brasileiras, pode-se observar a larga utilização de espécies de palmeiras na
arborização urbana. Entretanto, constatou-se que há poucos estudos, tanto no Brasil quanto no
exterior, sobre a quantificação de mitigação de calor proporcionado por estas espécies. Nesse
contexto, o objetivo desta pesquisa é avaliar o comportamento das palmeiras, quanto à atenuação
solar e à qualidade de sombreamento produzido em áreas urbanas, em região de clima tropical de
altitude. Trata-se de uma pesquisa exploratória e qualitativa, para a qual foram selecionadas três
diferentes espécies de palmeiras: ―Rabo de Raposa‖ (Wodyetia bifurcata), “Tamareira‖ (Phoenix
dactylifera) e ―Washingtônia‖ (Washingtonia robusta). Uma amostra de cada tipo foi plantada
isoladamente, em gramado extenso, no Campus da Universidade Estadual de Campinas, SP. O
local, de topografia pouco acidentada, não sofre interferência de sombreamento de edifícios ou de
outras espécies arbóreas. A obtenção de dados quantitativos consistiu na medição da temperatura do
ar, temperatura de globo, umidade relativa do ar, velocidade do vento e radiação solar, ao sol e à
sombra de cada espécie de palmeira, no período de nove horas/dia, ao longo de três dias, na
primavera de 2016 e no verão de 2016/2017. Foram calculadas a temperatura radiante média e a
atenuação solar. Os resultados apontaram que a atenuação da radiação solar no verão foi mais
significativa comparada aos resultados apresentados na primavera, sendo que a palmeira
Washingtônia mostrou maior capacidade de atenuação (75,4%), em comparação com as demais
palmeiras.
Palavras-chave: conforto térmico; palmeiras; atenuação solar; sombreamento.
ABSTRACT
n several Brazilian cities, it can be observed the wide use of palm tree species in the urban
afforestation. However, there are few studies, both in Brazil and abroad, on the quantification of
heat mitigation provided by these species. In this context, the objective of this research is to
evaluate the behavior of the palm trees, regarding the solar attenuation and the shading quality
produced in urban areas, in a region with sub-tropical climate. This is an exploratory and qualitative
research, where three different species of palm trees were selected: "Rabo de Raposa" (Wodyetia
bifurcata), "Tamareira" (Phoenix dactylifera) and "Washingtonia robusta" (Washingtonia robusta).
A sample of each type was planted isolated, on an extensive lawn, at the Campus of the State
University of Campinas, SP. In the site there is no interference from the shading of buildings or
other tree species. Quantitative data collection consisted of measuring air and globe temperatures,
relative air humidity, wind speed and solar radiation, under sun light and at the shade of each
species of palm tree, for a period of nine-hour per day, during three days in the spring of 2016 and
three days in the summer of 2016/2017. The average radiant temperature and solar attenuation were
calculated. The results show that the attenuation of solar radiation in summer was more significant

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

than in the spring, and that the Washingtonia Robusta maintained the greatest attenuation capacity
(75,4%), as compared to the other palm trees.
Keywords: thermal comfort; palm trees; solar attenuation; shading.

INTRODUÇÃO

A arborização urbana, composta por árvores e por espécies de porte arbóreo, é fundamental
para que as cidades sejam sustentáveis. O tratamento paisagístico e a arborização adequados
intensificam o uso, pela população, das praças, dos jardins, dos parques e dos espaços livres
públicos, pelos benefícios físicos e sociais proporcionados.
As árvores ou as espécies arbóreas plantadas nas ruas, avenidas, canteiros centrais,
calçadões, rotatórias, trevos, vias de parques, ciclovias e caminhos compõem a arborização viária
(FERRAZ; BENDINI, 2009).
De acordo com Santos e Teixeira (2001), dentre os benefícios da arborização de vias
públicas estão: a redução dos níveis de ruído; a melhoria da qualidade do ar por meio da retenção de
partículas, da absorção e da reciclagem dos gases; o equilíbrio ambiental e o conforto térmico.
Segundo Dantas e Souza (2004), a arborização, do ponto de vista estético, contribui por
intermédio de suas qualidades plásticas para reduzir o efeito agressivo das construções que
dominam a paisagem urbana, guarnecendo e emoldurando ruas e avenidas. As pessoas estão
propensas a se sentir bem quando estão em contato com a vegetação urbana e o bem estar que
decorre desta aproximação com a natureza está associado à redução de estresse, ao favorecimento
da concentração e à melhora do humor (SELHUB e LOGAN, 2012).
No campo das alterações climáticas, várias pesquisas relacionadas à vegetação urbana vêm
sendo publicadas com objetivo de associar a vegetação urbana com a melhoria do clima local e o
aumento do conforto térmico (MATZARAKIS, 2006; ABREU, 2010; SOUZA et al., 2010;
MINELLA et al., 2011; SHASHUA-BAR; PEARLMUTTER 2011; KRÜGER et al., 2012).
Nos centros urbanos, a vegetação é um elemento importante que contribui
significativamente para o equilíbrio do balanço de energia. A vegetação de porte arbóreo pode ser
utilizada para barrar a radiação solar incidente e propiciar alteração de variáveis climáticas, como
influenciar de maneira importante os níveis de umidade do ar, atuando sobremaneira na mitigação
da temperatura radiante, gerando inúmeros benefícios. A vegetação urbana é capaz de atenuar o
calor do meio urbano e de melhorar a qualidade do ar (SHINZATO, 2009).
Na escolha das espécies, devem-se considerar alguns critérios para estabelecer quais seriam
mais indicadas para melhorar as condições ambientais do lugar. Alguns fatores importantes que
evidenciem a capacidade de atenuação solar das árvores devem ser analisados na definição do
planejamento arbóreo, como espécie, ritmo e exigências para o crescimento, tipo de copa, porte,

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folhagem. Outros critérios na infraestrutura urbana que devem ser observados são a largura da
calçada, a fiação elétrica, o clima, o solo e a umidade da localidade, pois são variáveis que se
mostram importantes na avaliação e procedimentos de seleção da espécie botânica (SILVA, 2005).
Apesar da necessidade de se considerar inúmeros critérios para que se elabore o
planejamento adequado, em diversas cidades brasileiras, a arborização urbana e o paisagismo nas
áreas privadas têm função prioritariamente estética, com larga utilização de espécies de palmeiras.
Constatou-se que há poucos estudos, tanto no Brasil quanto no exterior, sobre a quantificação de
mitigação de calor proporcionado por estas espécies.
Shashua-Bar (2010) realizou estudo em Tel Aviv, Israel, comparando três espécies arbóreas
quanto ao conforto térmico: o Ficus retusa, a Tipuana tipo e a palmeira Phoenix dactylifera
(Tamareira). O efeito de resfriamento da Tamareira medido no verão em um clima quente e úmido
em relação à estação meteorológica foi de 2,1°C a 2,5°C entre 12h e 15h.
Bencheikh e Rchid (2012) compararam o microclima de áreas verdes (palmeiral) ao de áreas
edificadas (Ksur)51, em Ghardaia, Argélia. Os resultados apontaram que as temperaturas ao ar livre
no centro do palmeiral foram inferiores de 5°C a 10°C em comparação à densa área edificada.
Obi e Chendo (2014) avaliaram a influência da vegetação, incluindo duas espécies de
palmeiras, para enfrentar o estresse térmico na área urbana de Enugu, Nigéria, localizada na zona de
clima tropical úmido, com temperatura média diária de 26,7°C, durante todo o ano. A palmeira da
espécie Tamareira apresentou temperatura radiante média de 25°C e a palmeira da espécie
Coqueiro, apresentou 26°C, sob a copa.
Em estudo mais recente, em Hong Kong, Ling Kong, K., et al. (2017), selecionaram árvores
em três grupos: copa densa, copa esparsa e palmeiras, e analisaram a influência de cada grupo
sobre a temperatura do ar, a temperatura radiante média e a velocidade do ar. Relataram que não
houve resfriamento significativo das calçadas onde estão plantadas palmeiras jovens. O efeito de
resfriamento foi de 0,5°C apenas em alguns pontos. As palmeiras apresentaram baixo desempenho
na redução de Tmrt, com valores em 0.2°C em espaços abertos e 0.1°C em regiões mais adensadas.
No Brasil, a pesquisa de Weirich et al. (2015) destaca que as palmeiras são bastante
ornamentais e apropriadas ao paisagismo, mas para a arborização urbana, proporcionam pouca
sombra sem, porém, quantificá-la.
Segundo Alves (1987), as palmeiras têm capacidade de modificar alguns microclimas.
Quando agrupadas em áreas extensas, permitem que o vento circule livremente abaixo de sua copa,
refrescando ambientes onde a sobrevivência humana seria impossível sem a sua presença.
Neste contexto, a motivação da pesquisa foi quantificar a capacidade de atenuação térmica
proporcionada por diferentes espécies de palmeiras.

51
aldeias fortificadas caracterizadas por edifícios compactos e ruas muito estreitas.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

OBJETIVO

Esse trabalho tem como objetivo contribuir para o conhecimento de algumas espécies de
palmeiras sob o aspecto de qualidade de sombra e de atenuação solar, isto é, seu papel como
mitigador da radiação solar, em clima tropical de altitude.

MÉTODOS

Trata-se de uma pesquisa exploratória, com técnicas de coleta de dados quantitativos,


através de medições de variáveis ambientais. A metodologia adotada foi adaptada de Bueno (1998),
Bueno – Bartholomei e Labaki (2003) e Abreu e Labaki (2010).
A área de estudo, um terreno gramado de 1280 m², com topografia pouco acidentada, está
localizada no Campus da Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP (22°48‘57‖ S;
47°03‘33‖ O; elevação de 640m). O clima da cidade de Campinas é o tropical de altitude (tipo Cwa,
de Köppen), com chuvas no verão e seca no inverno (CEPAGRI, 2016).
Como objetos de estudo, foram selecionadas três diferentes espécies de palmeiras: ―Rabo de
Raposa‖ (Wodyetia bifurcata), “Tamareira‖ (Phoenix dactylifera) e ―Washingtônia‖ (Washingtonia
robusta), com características específicas que as distinguem principalmente em relação às folhas.
A palmeira Rabo de Raposa apresenta tronco simples de 5,1m de altura e 0,16m de
diâmetro. Possui folhas pinadas, com a região terminal recurvada e aspecto crespo, com folíolos
numerosos, agrupados de espaço em espaço, inseridos em todas as direções, bi e trifurcados, em
forma de cunha longa e estreita, com a parte terminal mais larga e irregularmente denteada.
A Tamareira possui tronco revestido pela base de folhas já caídas, com 0,27m de diâmetro, e
4,3m de altura. Suas folhas são pinadas, com numerosos folíolos, rijos, os da base transformados
em espinhos.
A Washingtônia possui tronco revestido pela base de folhas já caídas, com 3,3m de altura e
0,35m de diâmetro, dilatado na base. As folhas são palmadas, em forma de leque, divididas até a
metade, com segmentos rijos e pendentes, sustentadas por pecíolos fortemente denteados nas
margens.
As três palmeiras foram plantadas alinhadas e distantes uma das outras 7,0m (de eixo a
eixo), posicionadas a 10,0m da edificação mais próxima, distantes de 9,0m da área pavimentada do
estacionamento, para evitar interferência de sombra das copas umas nas outras e de elementos
externos, como mostra a Figura 1a. As coordenadas das palmeiras foram obtidas por levantamento
topográfico utilizando Estação Total da Leica, para serem inseridas no programa ArcGis online®,
conforme Figura 1b.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

(a) (b)

1
2
3

Figura 9. Local da pesquisa: (a) imagem das palmeiras; (b) posição das palmeiras (vista aérea)
Nota: 1- Rabo de Raposa; 2- Tamareira; 3- Washingtônia

MEDIÇÕES DAS VARIÁVEIS AMBIENTAIS

As seguintes variáveis ambientais foram medidas: temperatura do ar (Ta), temperatura de


globo (Tg), umidade relativa do ar (Ur), velocidade do ar (Va) e radiação solar (Rad), à sombra de
cada espécie de palmeira e ao sol (a uma distância de 10,0 metros da planta). Os dados foram
registrados de 10 em 10 minutos, por um período de nove horas/dia, ao longo de três dias, na
primavera de 2016 e no verão de 2016/2017. As medições ocorreram em local que adotou o
―horário brasileiro de verão‖ e foram corrigidas para o horário padrão de Brasília. Os processos de
medição seguiram as recomendações da norma ISO 7726 (2001).
Para a medição da temperatura do ar (Ta) e umidade relativa (Ur) foram utilizados, em cada
palmeira e ao sol, um conjunto composto de: um sensor e registrador de temperatura e umidade,
modelo Testo 175-T2 e 175-H1; para temperatura de globo (Tg), um conjunto composto de um
sensor/registrador modelo testo 0613 171, colocado no interior de um globo cinza (diâmetro de 4
cm), instalados em um tripé, a 1,50m do solo.
Para a medição de velocidade do ar (Va) foi instalado um anemômetro/termômetro digital
Testo 445, com sensor 0635-1549, acoplado ao tripé que ficou ao Sol, conforme Figura 2a.
Para a radiação solar (Rad, em kW/m²) registrada no sol e nas sombras de cada palmeira
foram utilizados solarímetros de tubo, modelo TSL-DELTA- T, com registrador Delta DL2
Datalogger, instalados a 1,0m de altura do solo, conforme Figuras 2a e 2b.
Os equipamentos situados à sombra tiveram suas posições alteradas ao longo do dia,
acompanhando o sombreamento da copa das palmeiras, o que ocorreu no sentido anti-horário,
totalizando 16 posições por dia de medição.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

(a) (b)

Figura 10. Equipamentos de medição: (a) na posição sol; (b) na posição de sombra na palmeira Tamareira

Obtenção da temperatura radiante média (trm) e da atenuação solar (at)

A Trm, para convecção forçada, foi obtida através da Equação 1, conforme ISO 7726 (2001):

*( ) ( )+
(Equação 1)

Onde:

Tg: Temperatura de globo, em °C;

Va: Velocidade do ar, m/s;

Ta:Temperatura do ar, em °C;

ε: Emissividade do globo (0,95);

D: Diâmetro do globo (0,04m).

Os dados de todas as variáveis ambientais foram compilados calculando-se as médias


horárias para os três dias de medição.

Seguindo Bueno – Bartholomei e Labaki (2003), adotou-se como referência os parâmetros


obtidos nas medições na posição Sol, e obteve-se a variação da temperatura radiante média e da
atenuação da radiação solar, conforme mostram respectivamente as Equações 2 e 3.

(Equação 2)

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Onde:

VTrm: Variação das médias da Temperatura radiante média, em %;

Trm (sol): Temperatura radiante média na posição Sol, em °C;

Trm(sombra): Temperatura radiante média nas posições de sombra, em °C;

A atenuação solar (At) é dada pela Equação 3.

(Equação 3)

Onde:

At: Atenuação solar, em porcentagem (%);

Ssol: Energia total incidente ao Sol, em kWh/m² (área do gráfico correspondente);

Ssombra: Energia total incidente, à sombra, em kWh/m² (área do gráfico correspondente).

As áreas dos gráficos foram calculadas a partir das integrais das curvas obtidas para a
radiação solar incidente ao longo do período de medição e representam a média diária da energia
total incidente em cada posição (ao sol e à sombra) para os períodos analisados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na primavera, a temperatura radiante média apresentou comportamento semelhante à


radiação solar, conforme Figuras 3a e 3b.

(a) (b)

Figura 11. (a) Média horária da Radiação solar (kW/m²); (b) Média horária da Temperatura radiante média
(°C), na primavera

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página 1167


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

VARIAÇÃO ENERGIA TOTAL INCIDENTE (kW.h/m²)


DE Trm (%) ATENUAÇÃO
PALMEIRA SOMBRA SOL (%)

Washingtônia 44,3 1,63 71,5

Tamareira 28,4 2,64 5,71 53,8

Rabo de Raposa 24,4 2,84 50,3

Tabela 2. Variação da Trm e atenuação da radiação solar, por tipo de Palmeira, em %, na primavera

Como se observa, a palmeira Washingtônia apresentou maior atenuação de radiação solar,


com 71,5%, seguida pela Tamareira com 53,8% e por último a Rabo de Raposa com 50,3%,
conforme Tabela 1.
No verão, a temperatura radiante média apresentou comportamento semelhante à radiação
solar, conforme Figuras 3a e 3b, porém, nesse período, a atenuação da radiação solar foi mais
significativa comparada aos resultados apresentados na primavera, sendo que a palmeira
Washingtônia manteve sua capacidade de atenuação maior, em relação às demais palmeiras.
(a) (b)

Figura 12. (a) Média horária da Radiação solar (kW/m²); (b) Média horária da Temperatura radiante média
(°C), no verão

A Washingtônia apresentou 75,4% de atenuação de radiação solar, seguida pela Tamareira


com 58,1% e por último a Rabo de Raposa com 55%, conforme Tabela 2.

VARIAÇÃO ENERGIA TOTAL INCIDENTE (kW.h/m²)


DE Trm (%) ATENUAÇÃO
PALMEIRA SOMBRA SOL (%)

Washingtônia 36,7 1,35 75,4

Tamareira 45,3 2,30 5,50 58,1

Rabo de Raposa 46,9 2,47 55,0

Tabela 3. Variação da Trm e atenuação da radiação solar, por tipo de Palmeira, em %, no verão

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página 1168


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Nas medições realizadas na primavera, as médias das temperaturas do ar variaram entre


22°C e 31,3°C, com umidade relativa mínima de 37,9% e máxima de 70,9%.
No verão, as médias das temperaturas do ar variaram entre 24,5 e 32,8°C, com umidade
relativa entre 46,3% e 80,7%.
Nas duas estações estudadas, os resultados das médias das temperaturas do ar (Ta) obtidas à
sombra de cada Palmeira e ao Sol, foram inferiores a 1°C, indicando que a sombra das palmeiras
não trouxe redução significativa da temperatura do ar.
Essa diferença de aproximadamente 1°C entre as médias diárias das temperaturas ao sol e à
sombra também pode-se verificar no estudo de Labaki et al. (2011) para outras espécies arbóreas.
Dentre todas as palmeiras, a Tamareira apresentou, na primavera, a menor média de
umidade relativa do ar. Os folíolos de sua base são transformados em espinhos, estrutura eficiente
em reduzir a transpiração da planta. Provavelmente seja esse o elemento responsável pelo resultado
obtido.

CONCLUSÃO

Neste trabalho, observou-se a influência das palmeiras no microclima pelo método da


atenuação de radiação solar.
A Washingtônia apresentou a mais elevada atenuação de radiação solar entre as espécies de
palmeiras analisadas, 71,5% na primavera e 75,4% no verão. Esse valor pode ser comparado aos
resultados das espécies arbóreas Tipuana tipo, com 76,3% de atenuação, estudada por Abreu,
Labaki e Matzarakis (2015) e a Tabebuia Chrysotricha, com 75,6% de atenuação, pesquisada por
Bueno-Bartholomei (2003). Apesar de árvores e palmeiras serem espécies diferentes quanto à
estrutura, à forma, ao tamanho de copa e aos tipos de folhas, pode-se concluir que o resultado da
atenuação solar da Washingtônia é próximo aos valores apresentados pelas espécies arbóreas
utilizadas como paridade.
Os resultados das medições efetuadas no outono e inverno de 2017 serão analisados e a
pesquisa prosseguirá, com obtenção do LAI (índice de área foliar), além de uma avaliação do
conforto térmico propiciado por essas espécies de palmeiras.

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ISBN: 978-85-68066-56-0 Página 1171


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

A QUESTÃO URBANA EM TEMPOS DE CRISE DO CAPITAL:


A NEGAÇÃO DO DIREITO À CIDADE

Rayssa Bernardino de LACERDA


Mestranda em Serviço Social da UFPB52
rayssab.lacerca@gmail.com
Jéssyca Alencar de Sousa GOMES
Graduada em Nutrição pela UFPB
jessycaasg@hotmail.com
Maria de Lourdes SOARES
Doutora em Ciências Sociais pela PUC São Paulo
marialsc@terra.com.br

RESUMO
Diante do atual cenário de crise estrutural do capital, no qual vivenciamos um avanço de estratégias
danosas do capital para a retomada da sua taxa de lucro, se faz necessário discutirmos os danos
causados pelo mesmo ao meio urbano. Deste modo, à luz do materialismo histórico dialético, a fim
de construirmos uma análise crítica e propositiva, analisamos, por meio de uma pesquisa
bibliográfica, a Questão Urbana em tempos de crise estrutural do capital e o direito à moradia digna.
Percebendo os grandes impactos negativos causados progressivamente às cidades, por causa da
submissão das mesmas à lógica do capital.
Palavras-chave: Crise do Capital; Questão Urbana; Direito à Cidade; Moradia Digna.
ABSTRACT
Faced with the current scenario of capital structural crisis, in which we experience an advance of
harmful strategies of capital to resume its rate of profit, it is necessary to discuss the damages
caused in the environment and urban. Thus, in the light of dialectical historical materialism, in order
to construct a critical and propositive analysis, we analyze, through a bibliographical research, the
Environmental and Urban Question in times of structural crisis of capital. Realizing the great
negative impacts caused progressively to the environment and the cities, because of the submission
of the same to the logic of capital.
Keywords: Capital Crisis; Environmental Issues; Urban Issues; Right to the City.

INTRODUÇÃO

O século XX revela para a humanidade uma gama de acontecimentos que colocam em


evidencia as contradições do modo de produção capitalista. Entre esses acontecimentos está a
grande crise do capital dos anos de 1970 que abalou a estrutura do sistema como um todo, evocando
do capital uma série de medidas para o restabelecimento da sua taxa de lucro.

52
Do Programa de Pós-Graduação.

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página 1172


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

O principal objetivo do capital sempre foi, e sempre será, a obtenção cada vez maior de
lucros, subjugando a tudo e todos à sua lógica. Em períodos de crise, com a queda brusca das taxas
de lucros, o capital precisa se reinventar, estabelecendo novas estratégias para sua recuperação.
É nesse contexto que o receituário neoliberal começa a ser implantado em vários países, a
fim de reorganizar as economias diante da crise, trazendo como pacote medidas que deveriam ser
implementados visando o desmonte dos direitos conquistados, entre eles os direitos sociais e
urbanos.
O capital busca moldar o ambiente urbano às suas necessidades, transformando a cidade em
um grande negócio e impondo dessa forma, ações que seguem o caminho contrário ao interesse e
necessidades da maior parte da população, o que interfere diretamente na qualidade de vida no meio
urbano.
Em razão disso, as cidades que são vistas como mercadoria no capitalismo, se apresentam
como espaços divididos, fragmentados. Um lado da cidade bem estruturado, com todos os serviços
e equipamentos necessários que garantem uma boa qualidade de vida para aqueles que podem
pagar; e outro lado com pouca ou nenhuma infraestrutura para aqueles que não podem pagar, aos
quais são negados o direito a uma boa qualidade de vida.
No Brasil, o declínio da política urbana dá-se no período das décadas perdidas53, durante os
anos de 1980 e 1990, tempos de crise marcados por intenso ajuste fiscal e pelo recuo dos
investimentos em políticas públicas.
Nesse período a crise urbana é agudizada pela maior submissão da cidade aos interesses do
capital, administrando o espaço urbano com vistas a obtenção cada vez maiores de lucros o capital
acaba por reiterar a lógica de cidade fragmentadas.
Contribui para esta lógica de cidades o maior programa habitacional do Governo Federal, o
Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV), criado para servir como ativo financeiro e para
responder a necessidade social de construção de habitações. Trata-se de uma soma de obras
descomprometidas com o processo de planejamento urbano, que empurra para as áreas periféricas
da cidade os pobres aprofundando assim a desigualdade numa sociedade historicamente desigual.
Desta forma, o estudo aqui proposto, objetiva analisar a problemática urbana brasileira em
tempos de crise estrutural do capital, levando em consideração de forma particular a questão da
moradia no Brasil através do PMCMV, e os rebatimentos do mesmo na qualidade de vida no meio
urbano.
A finalidade desta pesquisa é contextualizar a crise urbana, a partir de uma analise que visa a
compreensão do processo histórico em torno das discussões que resultaram deste processo. Trata-se

53
Período de estagnação econômica, marcado pelo desemprego, pela queda do consumo, pelo aumento da dívida
externa e pelo declínio do Produto Interno Bruto (PIB).

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página 1173


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

de uma pesquisa inicial de caráter bibliográfico que corresponde a um estudo em desenvolvimento


sobre a questão urbana e sobre a habitação de interesse social.

A CRISE DO CAPITAL

O modo de produção capitalista tem vivenciado uma de suas maiores crises que se iniciou
nos anos 70 do século XX com o fim do chamado ―anos dourados‖ do capital e tem se estendido até
os dias de hoje, através de crises menores que se tornaram episódicas, como afirma Netto e Braz
(2006, p.214).

A onda longa expansiva é substituída por uma onda longa recessiva: a partir daí e até os
dias atuais, inverte-se o diagrama da dinâmica capitalista: agora, as crises voltam a ser
dominantes, tornando-se episódicas as retomadas.

Uma dessas crises menores episódicas, que faz parte dessa onda longa recessiva da
economia capitalista, foi a crise que se iniciou em 2007 nos EUA, conhecida como a ―crise das
hipotecas subprime‖, rapidamente se alastrou arrastando o resto do mundo por uma rede financeira
e comercial, gerando um grande colapso financeiro, do qual os países capitalistas têm lutado para se
recuperar, como afirma Harvey (2011, p.13),

Esta foi, sem dúvida, a mãe de todas as crises. No entanto, também deve ser vista como o
auge de um padrão de crises financeiras que se tornaram mais frequentes e mais profundas
ao longo dos anos, desde a ultima grande crise do capitalismo nos anos 1970 e início dos
anos 1980.

Estamos assim, segundo Mota (2010), diante de uma crise estrutural do capital, de caráter
global- devido à estrutura mundializada do capital-, e não setorial, por não se restringir a uma única
área.
Diante desse contexto de grande recessão, o capital monopolista implementa várias
estratégias para reverter essa conjuntura de queda da taxa de lucro. Uma delas é a ideologia
neoliberal54 que defende a diminuição da ação estatal no tocante a efetivação dos direitos sociais,
suprimindo assim direitos e garantias sociais conquistados pela luta dos trabalhadores ao longo dos
anos. Como afirma Netto e Braz (2006, p.225) a esse respeito,

Realmente, o capitalismo contemporâneo particulariza-se pelo fato de, nele, o capital estar
destruindo as regulamentações que lhe foram impostas como resultado das lutas do
movimento operário e das camadas trabalhadoras. A desmontagem (total ou parcial) dos
vários tipos de Welfare State é o exemplo emblemático da estratégia do capital nos dias
correntes, que prioriza a supressão de direitos sociais arduamente conquistados [...].

É nesse contexto de crise mundial do capital que, segundo Mota (2010, p.13), de forma
ampliada se ―expõe as contradições da dinâmica da acumulação, manifestando-se em diversas

54
Foi uma reação teórica e política contra o Estado intervencionista, que ganhou terreno após a crise do modelo
econômico do pós-guerra, em 1973.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

frentes: a financeira, a ambiental, a urbana e a do emprego, para falar das suas mais destacadas
expressões‖.

A QUESTÃO URBANA

No que diz respeito à questão urbana, a crise urbana existente tem se tornado cada vez mais
aguda, devido a subordinação da cidade aos interesses do capital, como afirma Guerra et AL (2012,
p.197).

O espaço como produto da atividade humana e da relação homem-natureza faz parte do


processo mais geral de reprodução da sociedade. Ao ter sua produção assentada nas
necessidades impostas pelo desenvolvimento da acumulação capitalista, o espaço é também
mercantilizado, tal como a cidade e a própria moradia, que são, destarte, concebidas como
mercadorias necessárias à viabilização da produção, da circulação, distribuição e troca,
condição para a realização do ciclo de acumulação do capital.

Dessa forma, ante a necessidade do capital de reprodução, os espaços e lugares são criados
sob uma lógica de um modelo global de cidades com conteúdos específicos neoliberais que vê a
cidade como um negócio. Harvey (2011, p.137), a esse respeito declara que ―[...] a produção do
espaço em geral e da urbanização em particular tornou-se um grande negócio no capitalismo. É um
dos principais meios de absorver o excesso de capital‖.
Assim, é nesse contexto, que a cidade no capitalismo é moldada pelo capital, passando a ser
vista como uma mercadoria, não atendendo assim, às necessidades da classe trabalhadora, se não
por via mercado, sendo assim, o seu valor de uso suprimido pelo valor de troca, como afirma
Maricato (2015, p.23).

A classe trabalhadora [...] quer da cidade, num primeiro momento, o valor de uso. Ela quer
moradia e serviços públicos mais baratos e de melhor qualidade [...]. Os capitais que
ganham com a produção e exploração do espaço urbano agem em função do seu valor de
troca. Para eles a cidade é mercadoria.

Assim, a perda da função social das cidades no capitalismo, tem feito com que o direito à
cidade seja negado a muitos, por vivemos num mundo em que o direito à propriedade privada e a
busca pela taxa de lucro superam todas as outras noções de direito, inclusive o direito à cidade.
O direito à cidade foi um termo desenvolvido pelo sociólogo francês Henri Lefebvre em seu
livro de 1968, Le droit à laville, que trabalha o direito à cidade como o direito de não exclusão da
classe trabalhadora as qualidades e benefícios da vida urbana. Contribuindo para essa questão
Harvey (2013, p.47) afirma que o direito à cidade ―[...] pode apenas ser formulado como um
renovado e transformado direito à vida urbana‖.
Em contrapartida, o que está associado ao capitalismo contemporâneo em crise é o
crescimento das desigualdades sociais, concentração de pobreza e um profundo retrocesso na

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página 1175


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

garantia do direito à cidade, que se encontra sob a lógica do capital como cidades divididas,
fragmentadas, marcadas por questões estruturais de moradia, mobilidade, saneamento, entre outros.
Visto que hoje, a cidade centrada no mercado é o foco e nela imperam novos métodos
de produção e novas formas de segregação e exclusão, a cidade não é democrática e reproduz uma
ausência de participação coletiva na sua formação e no usufruto das riquezas nela produzida, por
aqueles que foram excluídos do desenvolvimento econômico, por aqueles que foram deslocados das
áreas centrais e jogados para as periferias. Como afirma Harvey (2013, p.50).

As chamadas cidades ‗globais‘ do capitalismo avançado são divididas socialmente entre as


elites financeiras e as grandes porções de trabalhadores de baixa renda, que por sua vez se
fundem aos marginalizados e desempregados.

Desse modo, como declara Rodrigues (2014, p.12) ―O acesso a moradia se dá por via
mercado. Quando o mercado coordena um direito fundamental, aí temos um problema. Gera
cidades paralelas‖, um lado da cidade bem estruturado para aqueles que podem pagar, e o outro
lado, ao qual o direito à cidade é negado, com pouca ou nenhuma estrutura. Como atesta Guerra et
al. (2012),

Na cidade, vale a lei do mercado! Aqueles cujos rendimentos permitem, vivem em lugares
mais bem equipados, de fácil acesso, com níveis de conforto. Os pobres são relegados à
própria sorte. Quando não dormem nas ruas, em lugares perigosos, vivem em áreas
distantes dos centros urbanos e com pouca ou nenhuma infraestrutura (p.202).

Esse é um fenômeno observado nos países centrais do capitalismo e mais especialmente nos
países periféricos, onde o capital também tem dividido as cidades, empurrando para as periferias a
população de baixa renda. Como afirma Rolnik (2002), a respeito da realidade brasileira,

Uma característica comum a todas as cidades brasileiras, independentemente de sua região,


história, economia ou tamanho, é o fato de cada uma delas apresentar um contraste muito
claro entre uma parte da cidade que possui alguma condição de urbanidade, uma porção
pavimentada, ajardinada, arborizada, com infra-estrutura completa [...] e outra parte,
normalmente de duas a três vezes maior do que a primeira, cuja infra-estrutura é
incompleta, o urbanismo inexiste, que se aproxima muito mais da ideia de um
acampamento do que propriamente de uma cidade (p.54).

Esses problemas urbanos refletem sobre a questão da moradia no país, que acumula um
grande déficit habitacional ao longo da história, fruto da concentração de renda e das desigualdades
sociais, afetando a população de baixa renda, que é atingida pela falta de acesso a uma moradia
digna.
Nesse sentido é importante ressaltar que a habitação dos trabalhadores não está incluída no
valor do seu trabalho, no baixo custo da venda da sua força de trabalho, e assim sendo, por não
possuírem condições financeiras para obter esse bem via mercado (devido aos baixos salários), não
lhes resta outra opção, a não ser construir a sua própria moradia com os seus parcos recursos, como
afirma Maricato (2011, p.20),

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Afinal, jogar para os ombros dos trabalhadores o custo de sua própria reprodução na cidade
por meio da autoconstrução das casas e ocupações irregulares do solo é parte intrínseca da
condição capitalista periférica de barateamento da força de trabalho, de um lado, e
manutenção de um mercado residencial restrito ao ‗produto de luxo‘, de outro.

Sobre está questão a autora ainda afirma que,

[...] a maior parte da população urbana constrói suas casas sem o concurso de
conhecimento técnico (de engenharia e arquitetura), sem financiamento formal e sem
respeito à legislação fundiária, urbanística e edilícia. Essa prática, dita de autoconstrução,
foi central para o barateamento da força de trabalho nacional (o custo da moradia não
estava incluído no salario) [...] (MARICATO, 2015, p.80).

Desse modo, contribuindo com este debate Davis (2006) afirma que o rápido crescimento
urbano no contexto do ajuste estrutural, da desvalorização da moeda e da redução do Estado foi a
receita inevitável para a produção em massa de favelas declarando que ―pode haver mais de 250 mil
favelas na Terra‖ (p.199).
Diante desse contexto de crise do capital e de grande déficit habitacional, no Governo Lula é
criado o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV), pensado numa parceria entre o Governo
Federal e empresas privadas em 2009, para amenizar os efeitos da crise econômica de 2008, e para
diminuir o grande déficit habitacional brasileiro55 através da construção em massa de novas
habitações.
A política habitacional se consolidou no Brasil com o crescimento nos investimentos com o
PMCMV, ganhando destaque na agenda do governo depois de muitos anos, o investimento em
habitação de interesse social.
Contudo, o programa possui um desenho fortemente fundado na participação do setor
privado, e desse modo, retoma a política habitacional na visão empresarial com o interesse de
construir moradias, como um ativo financeiro, uma política anticíclica. Dessa forma, as habitações
construídas pelo programa se dão nos piores terrenos das cidades, sem ser levado em consideração o
espaço urbano em seu conjunto.
Essa lógica de funcionamento do programa tem expulsado os pobres do centro das cidades,
lançando-os nas periferias, contribuindo para a histórica segregação socioespacial das cidades, já
que os empreendimentos destinados às famílias mais carentes são construídos em lugares
periféricos das cidades, lugares onde o preço da terra é mais barato devido à falta de infraestrutura
de serviços e equipamentos públicos essenciais ao conceito de moradia digna.
O direito a moradia digna foi reconhecido como um requisito para a dignidade da pessoa
humana em 1948, na Declaração Universal dos Direitos Humanos, que declara que, ―toda pessoa
tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem-estar, inclusive

55
A questão da moradia como uma questão social, vem se agravando com o avanço do capitalismo, fruto da
concentração de renda e das desigualdades sociais, o país acumulou um déficit habitacional estrondoso, perceptível na
falta de moradia digna para a população de baixa renda.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

alimentação, vestuário, habitação [...]‖ (artigo XXV, item 1), tornando-se, assim, o direito a uma
moradia digna um direito reconhecido e aplicável em todas as partes do mundo.
É importante observar que o direito a moradia digna não se refere apenas a um abrigo, mas
como defende a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o Pacto Internacional de Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC), o Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257/2001) e outras
legislações pertinentes, trata-se de uma moradia que garanta um padrão de vida adequado, que
ofereça as condições para um pleno desenvolvimento social, cultural e econômico dos indivíduos.
Como considera Rolnik (2009, p.1) a esse respeito,
Muitas vezes se toma, e aqui no Brasil não é diferente, moradia como sendo simplesmente
quatro paredes e um teto, um abrigo. Só que moradia adequada vai muito além disso.
Significa, se falarmos em termos urbanos, um lugar na cidade a partir do qual as condições
básicas para a sobrevivência humana estejam garantidas, de forma digna. Significa a
inserção dessa moradia em um bairro, em um pedaço da cidade com toda a infra-estrutura
completa, com acesso direto e fácil a equipamentos de educação, saúde e culturais, a
oportunidades de desenvolvimento humano e a emprego.

Desse modo, muitas famílias contempladas pelo Programa Minha Casa Minha Vida, ainda
que beneficiadas com a casa própria vivem em situação de grande vulnerabilidade social, por não
ser garantido às mesmas uma rede de proteção social que contemple serviços de saúde, educação,
segurança, transporte, lazer, etc. Negando-lhes dessa forma, o direito de morar.
Percebe-se, dessa forma, no principal programa de habitação de interesse social do país a
sobreposição de interesses econômicos do capital em detrimento dos sociais, contribuindo assim
para a lógica de cidades fragmentadas, ao qual o direito de moradia digna e o direito à cidade são
negados.
Assim sendo, a esse respeito Maricato em entrevista à Rede de Mobilizadores coloca a
questão da dificuldade de acesso da classe trabalhadora àquilo que a cidade tem a oferecer, ao
afirmar que,

Aqui no Brasil, a população trabalhadora não consegue entrar na cidade formal. Ela está na
periferia, é caracterizada por pessoas excluídas que, ao mesmo tempo, produzem pelas
próprias mãos a sua cidade, muitas vezes ilegal, sem transporte público, sem os
equipamentos e serviços sociais essenciais, como escolas, museus, universidades,
saneamento, iluminação pública. É uma periferia de tradição escravista que não tem direito
aos benefícios urbanos de uma coletividade e que é jogada para áreas ambientalmente
frágeis, como áreas de proteção de mananciais, encostas. Esta população não cabe na
cidade, ela não tem direito a uma cidade urbanizada e qualificada (2014, p.1).

Desse modo, à classe trabalhadora é destinada a uma parte da cidade em que faltam serviços
e bens públicos essenciais, capazes de interferir na melhoria das condições de vida de seus
moradores. Como afirma Guerra (2014, p. 261), ―[...] há, de fato, um verdadeiro descompasso entre
os níveis alcançados pela produção social de riqueza e o nível de infraestrutura e de serviços
implantados em grandes extensões de nossas cidades e metrópoles‖.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Portanto, num contexto de crise com a perspectiva de ajuste do Estado para garantir a
inserção da economia brasileira na nova ordem mundial, em detrimento da perspectiva de
democratização com a ampliação de direitos sociais, constata-se um aprofundamento da crise
urbana, com o agravamento das desigualdades socioespaciais.
Os determinantes para essa realidade são o capital imobiliário, a indústria e o poder público,
forças que decidem como a cidade vai ser e onde grande parte da população vai morar. Devido a
alta especulação imobiliária, em geral, a população de baixa renda só tem a possibilidade de ocupar
terras periféricas (terras baratas, por não possuírem infraestrutura) ou ocupar áreas ambientais, que
não poderiam ser urbanizadas. Como considera Sposito (2000, p.90),

O preço do aluguel ou da compra do imóvel é determinado pelo fato de ser um bem


indispensável a vida, de ser propriedade de alguns homens e não ser de outros, e de que nas
cidades o seu valor se eleva pelo alto nível de concentração populacional e de atividades.

As intervenções mais recentes do Estado seguem a lógica do ajuste, com o objetivo de


beneficiar o capital, em detrimento das necessidades de amplos setores da população urbana que há
muito tempo sonham com o direito à cidade. Exemplos emblemáticos disso são observados na
história recente das politicas urbanas como a construção de aeroportos, a reestruturação de portos, a
urbanização de favelas em localizações consideradas estratégicas; custos esses necessários à
acumulação de capital.
Como firma Gerra (2014) a esse respeito,

Mais recentemente, nas principais cidades brasileiras, são realizadas remodelações e


renovações urbanas ligadas à preparação de nossas cidades para sediar megaeventos (jogos
olímpicos, copa das confederações, copa do mundo de futebol, etc.). Essas intervenções
urbanas seguem a mesma tendência observada em outros países, em contextos similares:
desalojamento de segmentos da classe trabalhadora, com expulsões, muitas vezes,
violentas, para dar vazão ao frenesi de reconstrução e de modernização e adaptação dos
espaços urbanos às novas necessidades do capital (p.262).

Assim, o que se percebe é que o capital, na busca em tempos de crise pelo restabelecimento
da taxa de lucro, investe somente naquilo que considera rentável, moldando assim as cidades aos
seus interesses, negando a classe trabalhadora uma boa qualidade de vida no espaço urbano.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desse modo, não é permitido ignorar a catástrofe urbana que jaz à porta. A necessidade de
reforma urbana salta aos olhos quando se constata as condições de vida da maior parte dos
trabalhadores, quando se observa o sacrifício diário vivido nos transportes coletivos, quando se
considera os altos índices de violência, ou os grandes sacrifícios enfrentados pelas famílias de baixa
renda para que os seus filhos consigam ter acesso à escola e a postos de saúde.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Assim sendo, é inegável a dimensão urbana da crise estrutural do capital, que atinge todo o
globo nos dias atuais, e em especial o Brasil, pois as cidades brasileiras apresentam graves
problemas de urbanização que foram agravados ao longo do tempo, por causa da falta de
planejamento, controle no uso e ocupação do solo, e de reforma fundiária.
A ausência de políticas de habitação social e de infraestrutura urbana capazes de responder
às necessidades postas pela expansão urbana instalou nas cidades brasileiras uma situação de
barbárie. Agora cabe indagarmo-nos sobre a possibilidade de construirmos formas de resistência,
para a construção de modalidades opostas de urbanização, centradas nas necessidades humanas e
não nas de acumulação do capital.
Temos no Brasil leis, planos, conhecimento técnico, mas, além disso, é imprescindível que
se lute para que os direitos básicos que foram conquistados na aparato legal urbanístico brasileiro
sejam observados, é necessário que as ruas sejam tomadas por uma nova geração com energia para
lutar contra essa barbárie, com energia para lutar por cidades mais justas.
Precisamos lutar contra essa dramática e perigosa lógica do capital de governar as cidades,
lutar para o estabelecimento de uma forma metabólica entre o homem e a natureza, que coloque as
necessidades dos homens como prioridade. Para que dessa forma seja garantida a toda a população
o direto à cidade e a uma moradia digna.

REFERÊNCIAS

DAVIS, Mike. Planeta de Favelas, a involução urbana e o proletariado informal. São Paulo:
Boitempo, 2006.

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configurações e particularidades no Brasil contemporâneo. Revista de Politicas Públicas, São
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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

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MARICATO, Ermínia. O direito à cidade depende da democratização do uso e a ocupação do


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SPOSITO, M. E. B. Capitalismo e Urbanização. 10 ed. São Paulo: Contexto, 2000.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

O PROBLEMA DAS QUEIMADAS URBANAS EM DIAMANTINO/MT E AS


IMPLICAÇÕES NA QUALIDADE DE VIDA DE SEUS HABITANTES

Serlene Ana DE CARLI SANTOS


Mestra em Geografia – CEFAPRO/MT
ser.anadc54@gmail.com

RESUMO
O problema das queimadas no espaço urbano gera conseqüências à saúde humana e ao meio
ambiente, comprometendo a qualidade de vida de seus moradores. Embora a população tenha
consciência de que esta prática seja proibida nos espaços urbanos e que a mesma caracteriza crime
ambiental, os focos de queimadas são recorrentes no bairro Novo Progresso, na periferia da cidade
de Diamantino/MT. Diante desta problemática ambiental‚ procuramos investigar esta prática e suas
implicações para a qualidade de vida da população. Num primeiro momento, diagnosticamos as
causas das queimadas, o nível de conscientização a respeito de sua proibição e as conseqüências
para o meio ambiente e para a saúde humana. Observamos que as pessoas têm consciência a
respeito da proibição das queimadas urbanas e são conhecedoras dos seus efeitos, sendo elas
mesmas afetadas com doenças respiratórias e outros sintomas. Ademais, observamos dentre as
causas das queimadas do lixo doméstico, a falta de políticas públicas voltadas para a coleta
sistemática e a ausência de saneamento básico nas residências. Concluímos que ações que envolvam
a Educação Ambiental formal e informal podem se transformar num recurso importante, pois
contribui para formar a consciência dos moradores, transformando o comportamento dos mesmos
em relação à prática de queimadas ilegais.
Palavras-chave: queimadas urbanas; meio ambiente; qualidade de vida; políticas públicas.
RESUMEN
El problema de las quemas en el espacio urbano genera consecuencias a la salud humana y al medio
ambiente, comprometiendo la calidad de vida de sus habitantes. Aunque la población es consciente
de que esta práctica está prohibida en los espacios urbanos y que la misma caracteriza crimen
ambiental, los focos de quemas son recurrentes en el barrio Novo Progresso, en la periferia de la
ciudad de Diamantino / MT. Ante esta problemática ambiental, buscamos investigar esta práctica y
sus implicaciones para la calidad de vida de la población. En un primer momento, diagnosticamos
las causas de las quemas, el nivel de concientización acerca de su prohibición y las consecuencias
para el medio ambiente y para la salud humana. Observamos que las personas tienen conciencia
acerca de la prohibición de las quemas urbanas y son conocidas de sus efectos, siendo ellas mismas
afectadas con enfermedades respiratorias y otros síntomas. Además, observamos entre las causas de
las quemas de la basura doméstica, la falta de políticas públicas dirigidas a la recolección
sistemática y la ausencia de saneamiento básico en las residencias. Concluimos que acciones que
involucren la Educación Ambiental formal e informal pueden transformarse en un recurso
importante, pues contribuye a formar la conciencia de los habitantes, transformando el
comportamiento de los mismos en relación a la práctica de quemas ilegales.
Palabras clave: quemas urbanas; medio ambiente; calidad de vida; políticas públicas.

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INTRODUÇÃO
A cidade de Diamantino é uma das mais antigas do Estado de Mato Grosso, com 289 anos
de existência, fundada em 1728 pelos bandeirantes que se embrenharam no interior do estado em
busca de ouro e na caça aos índios da região. Diamantino é uma pequena Cidade com característica
colonial e, atualmente, conta com uma população de aproximadamente 21 mil habitantes. O
município está localizado na Microrregião de Parecis e a cidade encontra-se situada na encosta
desta mesma chapada, cercada por morros cobertos pela vegetação típica do bioma Cerrado e matas
de transição do bioma Amazônia, com uma altitude de 344 metros.

Figura 1: Localização do município de Diamantino (MT)


Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Diamantino

O município está localizado numa região privilegiada: exatamente num dos pontos de
divisão das águas das Bacias Amazônica e Platina e o acidente geográfico responsável por essa
façanha é a Chapada dos Parecis, um planalto com altitudes em torno dos 500 metros. O clima
predominante na cidade é o Tropical Sub-Úmido com altas temperaturas, chegando a 41ºC, e cinco
meses de seca no período que vai de maio a setembro. Neste período de estiagem ocorre o maior
número de focos de queimadas no perímetro urbano e em suas imediações.
O município de Diamantino apresenta no entorno do perímetro urbano um potencial turístico
natural exuberante com rios‚ grutas‚ trilhas e cachoeiras. Entretanto‚ estas paisagens naturais, bem
como o setor turístico, demanda do Poder Público políticas que valorizem‚ conservem as belezas
naturais. A cidade é cortada por vários córregos que apresentam demasiada quantidade de lixo
doméstico e, em alguns trechos, a destruição da mata ciliar. O território é cercado por morros

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recobertos de vegetação típica do Cerrado e Mata de Transição‚ que no período da seca ficam
vulneráveis ao fogo devido às altas temperaturas e as ações antrópicas.

Foto 1: Vista parcial da cidade de Diamantino. Fonte: DE CARLI SANTOS, 2017.

O espaço urbano é cercado pelo verde, a cidade é bem arborizada, entretanto, percebe-se que
no período da seca, existe entre a população a cultura de atear fogo em folhas secas do quintal,
restos de resíduo residencial, terrenos baldios, pequenos roçados de chácaras localizadas no sopé
dos morros, queimadas no entorno das rodovias pelo o despejo de pontas de cigarro, além da
queima do pasto seco a fim de renová-lo com as primeiras chuvas, incidindo em diversos problemas
ambientais. Diante desta problemática ambiental‚ procuramos investigar questões que envolvem
estas práticas e que comprometem a qualidade de vida no espaço urbano de Diamantino.
Discutir esta temática é importante porque nos permite refletir sobre a realidade ambiental e
social presente em nosso cotidiano e apontar possíveis intervenções educativas para resolver o
problema. Ademais, ressaltamos a necessidade de chamar a atenção do poder público local para que
sejam implementadas políticas públicas que, de fato, contribuam para melhorar a qualidade de vida
da população do município.

METODOLOGIA

Este trabalho teve como fundamento metodológico a pesquisa-ação. Este tipo de pesquisa
permite que o pesquisador se envolva de maneira participativa com as pessoas pesquisadas, a fim de
discutir, refletir e buscar soluções coletivas para a realidade estudada.

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A pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social que é concebida e realizada em estreita


associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os
pesquisadores e os participantes representativos da situação da realidade a ser investigada
estão envolvidos de modo cooperativo e participativo (THIOLLENT, 1985, p.14).

Num primeiro momento buscamos diagnosticar os fatores contribuintes para as queimadas


urbanas. Para tanto, recorremos ao uso de questionário com questões abertas, aplicado junto a
quinze moradores do Bairro Novo Progresso, escolhidos aleatoriamente. O bairro é habitado por
aproximadamente 300 pessoas e sofreu a maior incidência de focos de queimadas no mês de julho
de 2017. Nesse sentido, buscamos conhecer as causas das queimadas, o nível de conscientização
dos moradores a respeito da proibição das mesmas e as conseqüências para o meio ambiente e para
a saúde humana.
Foram realizadas fotografias, observações in loco e uma conversa informal com o Secretário
Municipal de Agricultura e Meio Ambiente sobre o problema das queimadas e a necessidade de
realização de um trabalho educativo de caráter preventivo. Finalmente, buscamos na revisão
bibliográfica autores que dão embasamento para a questão em estudo.
O caráter participativo da pesquisa, que visa à busca de soluções para o problema abordado,
nos motivou a sensibilizar os moradores por meio de materiais educativos impressos, textos
postados em redes sociais e palestras em programa radiofônico, com o intuito de conscientizar sobre
os impactos das queimadas na qualidade de vida dos mesmos.

MEIO AMBIENTE E QUALIDADE DE VIDA

Com vistas à proteção do meio ambiente, o Brasil criou uma legislação específica ampla e
moderna voltada para o controle ambiental, a fim de garantir a qualidade de vida, a conservação e a
preservação do meio ambiente. Entretanto, percebe-se que os problemas socioambientais estão
presentes tanto nos espaços urbanos como nos espaços rurais, apontando para a necessidade de
implementação de políticas que cumpram a legislação garantindo sustentabilidade e qualidade de
vida nestes espaços. O artigo 225 da Constituição Federal diz que ―todos têm direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de
vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações‖.
De acordo com Fleck (et al 1999), o conceito de qualidade de vida é abrangente e envolve
várias dimensões. Para avaliar a qualidade de vida da população, estes autores informam que a
Organização Mundial da Saúde (OMS) desenvolveu o instrumento WHOQOK-100, composto por
100 itens, cuja avaliação parte de numa perspectiva multidimensional onde é levado em
consideração seis domínios: domínio físico, domínio psicológico, nível de independência, relações

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sociais, meio ambiente e espiritualidade. Desse modo, o conceito de qualidade de vida se apóia no
contexto cultural, social e ambiental.
Para a OMS, qualidade de vida é ―a percepção do indivíduo da sua posição na vida, no
contexto da cultura e sistemas de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos,
expectativas, padrões e preocupações‖. Embora este instrumento metodológico de estudos seja mais
utilizado pela área da saúde, estudos e pesquisas demonstram suas diversas possibilidades de
utilização nas diferentes culturas.
Quando se discutem estratégias de planejamento urbano, a questão da qualidade de vida
relacionada com o domínio ―meio ambiente‖ esta presente nas discussões de setores da
administração pública, em ONGs envolvidas com questões ambientais e empreendimentos
imobiliários, tendo como foco a melhoria e garantia da qualidade de vida.

Qualidade de vida é a expressão que define o grau de satisfação atingido pelos indivíduos
ou população, no que diz respeito às suas necessidades consideradas fundamentais. É a
somatória de fatores decorrentes da interação entre sociedade e ambiente, atingindo a vida
no que concerne às suas necessidades biológicas, psíquicas e sociais inerentes e/ou
adquiridas (COIMBRA, 1985, p.18).

Para que o ser humano tenha as suas necessidades supridas e isto lhe assegure a qualidade de
vida necessária para o bem viver, é necessário que possa desfrutar de um meio ambiente que lhe
proporcione o acesso aos bens naturais, culturais, artificiais e ao trabalho, a fim de satisfazer todas
as suas necessidades.

PROCESSO DE URBANIZAÇÃO E IMPACTOS AMBIENTAIS

O processo de urbanização no Brasil se intensificou a partir da década de 1950, em função


da expansão do setor industrial e do capitalismo, principalmente no Sudeste brasileiro. Outros
fatores contribuíram para o fenômeno da urbanização, tais como a seca no Nordeste e a
mecanização da agricultura que impulsionou a migração dos povos do campo para as cidades por
meio do êxodo rural. O crescimento urbano, não planejado e não acompanhado por políticas
públicas trouxe várias conseqüências ambientais, sociais, habitacionais e econômicas nos espaços
urbanos.
De acordo com Lombardo (1985), a crescente urbanização da humanidade constitui uma
preocupação de todos os profissionais e segmentos ligados à questão do meio ambiente, uma vez
que as cidades se expandiram rapidamente e sem planejamento adequado, contribuindo para os
impactos ambientais e deterioração do espaço urbano.
Toda cidade é ordenada de forma intencional pelos gestores públicos e regida pelo capital
imobiliário que a desenha e redesenha conforme os interesses sócio-econômicos. Isso faz com que
as pessoas com melhores condições econômicas ocupem lugares privilegiados, com melhor acesso à

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paisagem natural, enquanto os menos favorecidos ocupem lugares de difícil acesso, sem áreas
verdes e saneamento básico nas periferias das cidades.
Conforme já verificado, a ocupação do espaço urbano é comandada pela lógica do capital.
Deste modo, o território da cidade logo se transforma numa mercadoria valiosa e que busca atender
sobremaneira os interesses de uma elite poderosa que se apodera dos melhores espaços. Santos
(2011), diz que muitas cidades são fundadas em zonas pioneiras, algumas de iniciativa do Estado e
outras de iniciativa privada, e que estas cidades são criadas para servir à economia e não à
sociedade. Em Mato Grosso, temos exemplos típicos de cidades criadas pelo agronegócio, como
Lucas do Rio Verde, Primavera do Leste, Sorriso, Sinop entre outras, criadas para atender esse
nicho econômico.
Planejadas para atender uma minoria detentora de terras, indústrias e comércio, ou seja, o
poder econômico local e regional, nestas cidades observarmos uma notória e intencional segregação
social, onde as comunidades são postas à margem do espaço urbano e a política pública atua em
privilégio da trama urbana do centro da cidade e de bairros abastados. Para Santos (2011), o
planejamento urbano convencional trabalha a partir das mesmas falsas premissas e fica dando voltas
em torno de si mesmo, sem encontrar uma saída que seja de interesse da população. A falta de
planejamento pode acarretar em exclusão, desigualdade social e impactos ambientais nos espaços
urbanos.

O PROBLEMA DAS QUEIMADAS URBANAS NA CIDADE DE DIAMANTINO

O bairro Novo Progresso está localizado na periferia da cidade de Diamantino, onde vivem
aproximadamente 300 pessoas de baixa renda. O bairro é um assentamento urbano recente e não
possui uma infra-estrutura que garanta minimamente qualidade de vida para os moradores que,
segregados, ocupam este espaço periférico da cidade. A periferia destituída dos direitos sociais
básicos tem sido o destino habitacional de milhões de brasileiros despossuídos. Nestes espaços, as
marcas da pobreza e dos impactos ambientais são visíveis, por conta do descaso do poder público
para com esta população, resultando na ausência de políticas públicas que garantam a dignidade
destes.
Morar na periferia é se condenar duas vezes à pobreza. A pobreza gerada pelo modelo
econômico, segmentador do mercado de trabalho e das classes sociais, superpõe-se a
pobreza gerada pelo modelo territorial. Este, afinal, determina quem deve ser mais ou
menos pobre somente por morar neste ou naquele lugar (SANTOS, 2011, p.195).

O bairro, como mencionamos, apresenta vários problemas, entre eles a questão das
queimadas urbanas como prática corriqueira. Na abordagem procuramos identificar o nível de
conhecimento e de conscientização a respeito das queimadas urbanas praticadas no bairro. Em
relação à prática das queimadas nos quintais e nos terrenos baldios, os entrevistados alegaram que o

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fogo é usado para limpar o lixo doméstico e limpar o mato dos terrenos. Justificaram dizendo que
queimam o lixo por não haver uma política de reciclagem e coleta sistemática de lixo doméstico por
parte da prefeitura.

Foto 2: Queimada provocada por vândalos em terreno baldio no bairro Novo Progresso. Fonte: DE
CARLI SANTOS, 2017.

Segundo os moradores, a coleta ocorre esporadicamente, de modo que são obrigados a


queimar o lixo para evitar a proliferação de insetos e doenças. Muitas pessoas acumulam o lixo em
terrenos baldios e quando vão colocar fogo no mesmo, perdem o controle, isso faz com que o fogo
se propague. Conforme verificamos em Dias (apud PELICIONI 1998, p. 2), a maior parte dos
problemas ambientais tem suas raízes na miséria, que por sua vez é gerada pela ausência de
políticas públicas somada aos problemas econômicos, resultando na concentração de
concentradores de riqueza. A estes fatores são atribuídas á responsabilidade pelo desemprego e a
degradação ambiental.
Procuramos saber se os moradores tinham conhecimento sobre a proibição das queimadas
neste período de estiagem e todas responderam que sim. Além disso, informaram que tomavam
conhecimento por meio da televisão, rádio, panfletagem, na escola e por meio de conversa com as
pessoas. Entretanto, mesmo conhecedoras e advertidas pela Brigada de Combate ao Fogo da
Prefeitura Municipal, algumas pessoas insistem com esta prática.
De acordo com Nazário (2017), o período proibitivo para as queimadas em Mato Grosso,
iniciou no dia 15 de julho e segue até o dia 30 de setembro, podendo ser prorrogado. Nesta época,
utilizar fogo para limpeza e manejo nas áreas rurais é crime passível de seis meses a quatro anos de

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prisão, com autuações que podem variar entre R$ 1 mil a R$ 7,5 mil (pastagem e agricultura) por
hectare. Nas áreas urbanas, o uso do fogo para limpeza do quintal é crime o ano inteiro.

Foto 4: Queimadas urbanas na cidade de Diamantino, em 2017. Fonte: DE CARLI SANTOS, 2017.

Sobre as conseqüências das queimadas para o meio ambiente e a saúde humana, os


entrevistados disseram que esta prática prejudica principalmente as crianças e idosos, afetando o
sistema respiratório e os pulmões dos mesmos. Afirmaram, ainda, que as queimadas põem em risco
até a moradia de alguns, além de produzir poluição, destruir a vegetação, os solos e alterar o clima
local.
E a poluição, que parece já se ter incorporado à definição dos nossos espaços urbanos? Os
próprios organismos públicos destinados a proteger a população acabam por desnorteá-la
com as suas classificações incompletas e incompreensíveis, e a falta deliberada de ação
protetora da saúde dos cidadãos. Enquanto a literatura científica sobre o meio ambiente se
avoluma e, mesmo, se enriquece, os manuais de ação pública confundem os que deviam
esclarecer e, afinal, não protegem. (SANTOS, 2011, p.124).

A respeito do conhecimento sobre as Leis de Crimes Ambientais, todos alegaram ter


conhecimento através da televisão e da rádio, e que muitas pessoas, mesmo tendo conhecimento,
não respeitam as leis. Ferreira (1998) diz que isso ocorre porque há uma contradição entre as
políticas públicas que estão hoje a meio caminho, ou seja, entre um discurso atualizado e um
comportamento social bastante predatório: por um lado, as políticas públicas têm contribuído para o
estabelecimento de um sistema de proteção ambiental no país; mas, por outro, o poder público é
incapaz de fazer cumprir aos indivíduos e às empresas uma proporção importante da legislação
ambiental. Diante disso, fica difícil o poder público garantir a toda coletividade o acesso ao

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ambiente sadio, porque a própria população tem a cultura de poluir e destruir o ambiente, como
também não tem a educação necessária para cumprir a legislação ambiental.

Foto 5: Uso da queimada para limpeza de lote, no bairro Novo Progresso. Fonte: DE CARLI SANTOS,
2017.

Em relação aos focos de incêndio, perguntamos aos moradores quem são as pessoas
responsáveis pelo ateio de fogo. O fato é que se torna difícil identificar quem são os responsáveis,
uma vez que a população prefere não denunciar argumentando que sente receito de intrigas ou
ameaças por parte dos acusados.
No entendimento dos moradores, a Prefeitura deveria multar os responsáveis a fim de mudar
esta prática. Entretanto, de acordo com os entrevistados é difícil descobrir os responsáveis pelos
atos. O fogo muitas vezes é colocado por brincadeira ou maldade por vândalos, causando muitos
prejuízos para saúde. Muitas pessoas não têm noção do quanto suas práticas predatórias prejudicam
o meio ambiente. A falta de sensibilização e de ética faz com que ajam de maneira desrespeitosa
contra a natureza e o ambiente que as cerca e isto ocorre principalmente por falta de consciência.

Numa sociedade em que a consciência e o exercício da cidadania são ainda débeis e


vacilantes – como acontece na quase totalidade do território brasileiro – as manipulações
contra o meio ambiente, os abusos antiecológicos do poder, a discricionariedade e
favorecimento ilícitos, a prepotência e o cinismo são facilmente constatável e passam
batidos com carimbos e chancelas. A malandragem disfarçada das partes envolvidas é
elevada à categoria de louvável esperteza e pouco se questiona o aspecto de uma ética
socioambiental nesses casos (ALMEIDA, 2011, p. 17).

Diante disso, se faz necessário investir na Educação Ambiental formal e informal nos
diferentes espaços formativos - escolas, meios de comunicação, associações de bairros e ONGs.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Oferecer uma educação que contribua para a formação da consciência crítica dos cidadãos, que
promova a cidadania, e a transformação do meio em que vivem.
Uma educação que instrumentalize as pessoas para se organizarem, a fim de cobrarem do
poder público políticas públicas que garantam a melhoria da qualidade de vida para as mesmas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Constatamos que os moradores do bairro Novo Progresso têm consciência a respeito da


proibição das queimadas urbanas, bem como das consequências que esta prática nociva produz para
o meio ambiente e para saúde humana, sendo eles mesmos afetados com doenças respiratórias, dor
de cabeça e outros problemas de saúde. Detectamos que uma das causas das queimadas do lixo
doméstico ocorre por falta de políticas públicas voltadas para a coleta sistemática do mesmo e de
políticas que garantam o saneamento básico e a infra-estrutura necessária para a melhoria da
qualidade de vida destes moradores de baixa renda, que sofrem com a segregação sócio-espacial.
Concluímos que ações que envolvam a Educação Ambiental formal e informal constituem-
se como um recurso importante, pois contribui para formar a consciência dos moradores,
transformando o comportamento dos mesmos em relação à prática de queimadas ilegais. A
educação contribui para que cada cidadão cumpra com suas responsabilidades em relação ao meio
ambiente em suas diferentes dimensões, e também os capacita para lutar a fim de que lhes sejam
garantidas políticas públicas que permitam a todos um ambiente mais saudável e um espaço urbano
adequado que lhes forneça a qualidade de vida necessária.

REFERÊNCIAS

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AMEAÇADO. 2011.26f. Monografia (Pós-Graduação) – Curso Gestão Ambiental, UNOPAR
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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

ARBORIZAÇÃO E SUAS INTERFERÊNCIAS COM OSELEMENTOS URBANOS DO


CENTRO DE JOÃO PESSOA, PARAÍBA

Sofia Erika Moreira GOMES56


Mestre em Desenvolvimento Sustentável - PRODEMA
sofiaerika@gmail.com

Maria Regina de Vasconcellos BARBOSA


Doutora em Biologia Vegetal
Laboratório Taxon – UFPB

Zelma Glebya Maciel QUIRINO


Doutora em Biologia Vegetal
Laboratório de Ecologia Vegetal, CCAE – UFPB

RESUMO
Este trabalho analisou a interferência das árvores com os elementos urbanos, sendo realizado nas 12
vias públicas mais arborizadas do centro de João Pessoa, de dezembro/2009 a agosto/2010. As vias
públicas foram analisadas em sequencia linear, onde se considerou todos os indivíduos adultos,
totalizando uma área de 9,34Km. Registrou-se a localização das árvores, o equilíbrio dos caules e
das copas, a qualidade do tronco, o afloramento das raízes, espaçamento entre as árvores e as
interferências com a rede elétrica, muros e sinalização. A maioria dos caules e copas se encontrava
em boas condições fitossanitárias, porém 39% das árvores apresentaram injúrias. Os afloramentos
de raízes totalizaram 49%. Cerca de 36% das árvores tocavam a fiação e 37% tocavam árvores
vizinhas. As interferências com a iluminação e o posteamento representaram 9% das árvores, 10%
encontravam-se em contato com a sinalização e 26% tocavam os muros. Elevada discrepância foi
constatada nas distâncias médias entre árvores, havendo a necessidade de novos plantios. Para a
melhoria das condições da arborização, recomendam-se avaliações técnicas mais frequentes, o
melhor aproveitamento dos espaços urbanos e a sensibilização da população para o conhecimento e
a preservação das espécies.
Palavras-chave: Árvores urbanas, Planejamento Urbano, Fitossanidade, Ecologia Urbana.
ABSTRACT
This study analyzed the interference of trees with urban elements, being done in the 12 greenest
public roads from downtown João Pessoa, from December/2009 to August/2010. The avenues were
covered in linear sequence considering all individual trees (except seedlings), totaling an area of
9.34 km. Tree location, stem and crown balance, trunk quality, root outcrops, spacing between trees
and interference with the power grid, walls and signaling were recorded. Most stems and crowns
were in good phytosanitary conditions, but 39% of the trees had injuries. The outcrops of roots
totaled 49%. About 36% of the trees touched the wire and 37% touched neighboring. Interference
with lighting and posting represented 9% of the trees, 10% were in contact with the signaling and
26% touched the walls. High discrepancy was observed in the average distances between trees, and
there is a need for new plantations. To improve the conditions of afforestation, more frequent
technical evaluations, better use of urban spaces and awareness of the population for knowledge and
preservation of species are recommended.
Key-words: Urban trees, Urban environmental planning, Phytosanity, Urban ecology.

56
Laboratório de Ecologia Vegetal, CCAE – UFPB

ISBN: 978-85-68066-56-0 Página 1193


Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

INTRODUÇÃO

As crescentes preocupações com as questões ambientais têm se refletido na área da Ecologia


Urbana e da Educação Ambiental. Trabalhos relativos à arborização urbana têm crescido no Brasil
nas últimas décadas, fato que tem levado à maior compreensão dos seus benefícios ambientais,
sociais e econômicos (Kurihara et al, 2005). O conhecimento das estruturas urbanas e suas funções
são pré-requisitos básicos para a administração das cidades e suas áreas verdes (Rocha et al., 2004),
bem como o conhecimento das espécies e suas exigências ecológicas (Mascaró e Mascaró, 2005).
Este é um importante tema a ser trabalhado na Educação Ambiental, servindo como ferramenta na
tomada de consciência do ambiente pelo homem, pois envolve conhecimentos ambientais e sociais,
uma vez que as árvores urbanas estão inseridas no ambiente antropizado.
Em virtude dos inúmeros benefícios que proporcionam ao ambiente antropizado, as árvores
e outras plantas precisam ser consideradas como elementos constituintes da estrutura urbana
(Mascaró e Mascaró, 2005). O conhecimento da população em relação aos benefícios e riscos que
podem ser proporcionados pelas árvores é de extrema importância para a sua manutenção, de modo
que cidadãos instruídos participam como colaboradores na fiscalização dos problemas ambientais.
Para que seja implementado um sistema municipal que sustente toda a demanda de serviços, é
necessário considerar a necessidade de uma legislação municipal específica, com medidas
administrativas voltadas a estruturar o setor competente para executar os trabalhos, considerando,
fundamentalmente, mão-de-obra qualificada e equipamentos apropriados, bem como o
envolvimento com empresas que ajudem a contribuir financeiramente com os projetos e ações
idealizados (Gonçalves et al, 2009).
Para se ter um bom planejamento da arborização, são necessários estudos pontuais de vários
aspectos das cidades e a avaliação individual das espécies e seus conflitos, com a finalidade de
subsidiar a tomada de decisão da administração pública na escolha das espécies a serem cultivadas e
dos equipamentos urbanos mais compatíveis (Martins et al, 2009).
O objetivo deste trabalho foi analisar a interferência das árvores do centro de João Pessoa
com relação aos elementos urbanos, no intuito de listar os seus principais conflitos e assim
contribuir para o planejamento urbano e paisagístico da cidade.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de Estudo

O Município de João Pessoa está localizado na porção mais oriental da Paraíba, entre as
coordenadas 7º14‘29‖ de Latitude Sul / 34º58‘36‖ de Longitude Oeste e 7º03‘18‖ de Latitude Sul /
34º47‘36‖ de Longitude Oeste, possuindo uma área total de 210,45 km² (0,3% da superfície do

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Estado) (João Pessoa, 2011). Segundo a classificação de Köeppen, o clima da cidade é do tipo As‘ –
tropical quente e úmido com chuvas de outono e inverno, com período de estiagem de 5 a 6 meses
(Nóbrega, 2002). O centro da cidade corresponde ao trecho urbanizado com maior quantidade de
áreas verdes (Dieb, 1999), cujas principais avenidas foram analisadas no presente estudo.

Levantamento dos Dados

A pesquisa foi efetuada no período de dezembro de 2009 a agosto de 2010. Foi utilizada a
metodologia proposta por Silva et al (2007), adotando-se o modelo de formulário elaborado por
Silva Filho et al (2002), que foi adaptado para coleta manual. As avenidas foram percorridas em
sequência linear e todas as árvores foram analisadas, com exceção das mudas.
Os parâmetros analisados foram: a localização da árvore em relação aos elementos da rua
(postes, fios elétricos, muros, semáforos, marquises, placas e luzes), equilíbrio (tortuosidade,
inclinação ou descaracterização da arquitetura) da copa e do tronco, ocorrência de injúrias e
afloramento das raízes (quebra de calçadas).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A maior quantidade de indivíduos foi observada na Avenida Camilo de Holanda (62 árvores
em 1,18 Km) e a menor quantidade foi observada na Rua Desembargador Souto Maior (7 árvores
em 0,33Km) (Tabela 1).

Tabela 1. Número de árvores analisadas nas principais vias públicas do centro de João Pessoa, PB e sua
localização.
Nome do logradouro Extensão Largura No de Localização
(km) (m) árvores
Av. Almirante Barroso 0,90 10,50 29 C, c
Av. Camilo de Holanda 1,18 12,60 62 C, c
Av. Coremas 1,00 10,50 45 C, c
R. Des. Souto Maior 0,33 10,50 7 C
Av. Duarte da Silveira 0,65 14,00 59 C, c
Av. dos Tabajaras 1,15 12,60 25 C, c
Av. General Osório 0,35 8,40 38 C
Av. Getúlio Vargas 0,42 23,80 57 C, c
Av. João Machado 1,40 9,80 59 C
Av. Maximiano de Figueiredo 0,95 11,20 36 C
Av. Pedro I 0,31 10,50 53 C
Av. Sanhauá 0,70 11,20 57 C, c
Total 9,34 527
C – canteiro central, c – calçadas.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Os canteiros centrais representam espaços significativos na arborização do centro de João


Pessoa, contando com 74% das árvores, as calçadas com 19% e as vias públicas 7%. Observou-se
grande disponibilidade de espaço nas calçadas.

DESEQUILÍBRIOS DO TRONCO E DA COPA

A maioria das árvores analisadas apresentou troncos equilibrados, (73% dos caules tortuosos
ou inclinados) com exceção daquelas presentes na Avenida Sanhauá (Figura 1). Isto indica um
grande risco de queda da árvore, podendo causar acidentes aos transeuntes. Bortoleto et al (2006)
afirmam que este problema relaciona-se à falta de condução das árvores jovens e inadequação das
mudas utilizadas nos plantios. Pode também estar relacionada ao vento ou às interferências do
entorno urbano, que causam alterações na direção dos troncos.

Figura 1. Porcentagem do equilíbrio dos troncos das árvores analisadas nas vias do centro de João Pessoa,
PB.

As copas estavam equilibradas em sua maioria, porém a frequência de desequilíbrios


(descaracterizações da arquitetura da copa) é considerada alta. Como se observa na Figura 2, este
problema ultrapassa 50% das árvores em três avenidas estudadas. Esta alta frequência de
desequilíbrios nas copas pode estar relacionada à má condução das podas, uma vez que em João
Pessoa elas são realizadas pela companhia de energia elétrica, cujo maior intuito é proteger a fiação.
É também comum a ação pontual de alguns moradores que podam as árvores de forma inadequada.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Figura 2. Porcentagem do equilíbrio das copas das árvores analisadas nas vias do centro de João Pessoa, PB.

QUALIDADE DO TRONCO

Observa-se na Figura 3 as proporções de danos observados nos troncos. Estes números são
preocupantes, pois representam apenas o que foi possível observar na parte externa. De acordo com
Porkorny (1992) a perda de partes do tronco e cavidades sempre resultam em menor resistência
estrutural e redução da estabilidade da árvore.
Segundo Gonçalves et al. (2009), qualquer abertura feita no tronco das árvores constitui um
fator de exposição à entrada de fungos e bactérias, chegando a afetar também os galhos. A
exposição a tais organismos contribui para as doenças no tronco que também podem comprometer a
estrutura da árvore.
Em estudos sobre arborização, questões abordando o vandalismo são inexistentes, embora
esse seja um problema bastante frequente e um dos fatores que contribuem para a perda de partes
do vegetal, o que está intimamente relacionado com a perda de estrutura e, consequentemente,
futuro risco de queda. Esse é um tema imprescindível nos programas de Educação Ambiental, em
escolas e campanhas para a comunidade.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Série1; Série1;
Vandalizado; Fendido; Série1;
Série1; Oco; 0,110056926; 0,034155598; Íntegro;
0,117647059; 10% 3% 0,540796964;
10% 48%

Série1;
Injuriado;
0,324478178;
29%

Íntegro Injuriado Oco


Figura 3. Porcentagem da qualidade dos troncos das árvores analisadas no centro de João Pessoa, PB.

AFLORAMENTO DA RAIZ

A frequência do afloramento das raízes em calçadas, área dos canteiros e leitos carroçáveis,
que juntos somam 49% das árvores analisadas (Figura 4). Isto significa que metade dessas árvores
apresenta raízes sufocadas e ruas com risco de acidentes. Problemas são comuns em várias cidades
brasileiras, sendo a causa principal de rachaduras nas calçadas (Volpe-Filik et al, 2007; Coletto et
al, 2008; Góes, 2009). Tal dado reflete a falta de adequação das espécies aos locais onde são
plantadas.
Série1;
leito Série1;
carroçável; ausente;
0,14990512 0,50853889
3; 15% 9; 51%
Série1;
canteiro;
0,25426945
; 25%

Série1;
calçada;
0,08728652
8; 9% ausente calçada
Figura 4. Porcentagem do afloramento das raízes das árvores analisadas no centro de João Pessoa, PB.

As espécies que mais provocaram quebra nas calçadas foram fícus (Ficus benjamina L.)
(82%), acácia olho de pombo (Adenanthera pavonina L.) (68%) e o jambeiro (Eugenia malaccensis
L.) (44%), sendo necessária a ampliação dos canteiros e o cuidado ao utilizá-las em novos plantios.
A Educação Ambiental se insere de forma essencial nos programas de planejamento da
Arborização Urbana, pois é comprovada por vários trabalhos a falta de conhecimentos dos

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

moradores sobre espécies nativas e suas características, bem como as ações que podem ser
realizadas por eles e pelos órgãos públicos (Ribeiro, 2009; Araújo et al., 2010; Gross et al., 2012;
Castro e Dias, 2013).

DISTÂNCIA ENTRE AS ÁRVORES

No centro de João Pessoa, o intervalo de espaçamento que prevalece é de 0 m a 15m,


representando 63% do total (Figura 5). Milano e Dalcin (2000) recomendam como ideal a distância
de 12 m entre as árvores. Almeida (2009) registrou resultados semelhantes em cidades no Mato
Grosso. Em todas as avenidas analisadas no presente trabalho, existe a necessidade de novos
plantios, pois as árvores apresentaram distribuição espacial bastante irregular, apresentando
indivíduos em locais inviáveis (muito próximos entre si ou de equipamentos urbanos) e longos
trechos viáveis desprovidos de arborização.
Série1; >
30m;
Série1; 15- 0,14791666
30m; 7; 15%
0,22083333
3; 22%

Série1; 0m
- 15m;
0,63125;
0m - 15m 15-30m > 30m 63%
Figura 5. Porcentagem das classes de espaçamento entre as árvores do centro de João Pessoa, PB.

INTERFERÊNCIAS COM OS ELEMENTOS URBANOS

Das 527 árvores analisadas no centro de João Pessoa, apenas 97 encontravam-se plantadas
em calçadas, sendo, portanto, as que possivelmente apresentam interferência com as construções.
Observou-se que 26% estavam em contato com os muros. Tais árvores podem servir de
facilitadoras ao acesso para o interior das edificações, podendo constituir perigo aos residentes
(Almeida, 2009).
As interferências das árvores com os elementos urbanos foram apresentadas na Tabela 2. O
tipo de fiação elétrica utilizada é a rede convencional, que é a mais problemática, principalmente a
de alta tensão. Segundo Brito e Castro (2007), o custo da manutenção desse tipo de rede é cinco
vezes mais caro que o custo da rede protegida em função do elevado número de interrupções

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

acidentais verificadas nos circuitos primário e secundário nus, com reflexo direto na elevada taxa de
queima de aparelhos eletrodomésticos.
O número de contatos com a fiação revela a necessidade de podas. Este tipo de conflito é de
grande risco para a população, mas bastante frequente nas cidades brasileiras (Silva et al., 2008;
Almeida, 2009; Rossetti et al., 2010), porém o número de conflitos de João Pessoa supera os
registrados por estes autores. Almeida e Rondon Neto (2010) observaram em três cidades do Mato
Grosso que a maioria dos indivíduos arbóreos foi plantada em calçadas sem fiação elétrica, numa
tentativa de reduzir os conflitos. As avenidas com maior freqüência de contato com a fiação foram a
General Osório (92%) e a Sanhauá (64%), sendo, portanto, as que merecem maior atenção.
Com relação ao contato entre as copas, este fator pode ser positivo em termos de oferta de
uma sombra contínua e pode favorecer também à fauna. Porém essas árvores necessitam de podas
constantes, para evitar o emaranhamento dos galhos. Observou-se que 10% das árvores se
encontravam em contato com a sinalização e 4% estavam próximas (Tabela 2). O centro de João
Pessoa supera os percentuais registrados na cidade de Franca-SP (Silva et al., 2008) e Anápolis-GO
(Silva, 2010).

Tabela 2. Porcentagem das interferências das árvores com os elementos urbanos do centro de João Pessoa,
PB.
Contato Potencial Ausente
Fiação 36,1% 17,3% 46,7%
Outras árvores 37,0% 13,3% 49,7%
Posteamento 8,5% 16,3% 75,1%
Iluminação 8,5% 13,3% 78,2%
Sinalização 9,9% 3,6% 86,5%
Muro 25,8% 4,1% 70,1%

CONCLUSÕES

Conclui-se que o centro de João Pessoa apresenta um grande número de conflitos na sua
arborização. Foram observados muitos indivíduos plantados em locais inadequados e longos trechos
viáveis desprovidos de arborização.
Em ordem decrescente (do mais frequente ao menos), a sequência dos elementos mais
conflitantes do centro de João Pessoa é: fiação, contato entre as copas, posteamento, sinalização e
muros (mesma frequência), e iluminação. Isto indica os fatores que devem ser priorizados nas
intervenções e nos programas de educação ambiental, de modo garantir a segurança dos moradores.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

PERCEPÇÃO E CARACTERIZAÇÃO SOCIOAMBIENTAL COM ENFOQUE NO


PLANEJAMENTO E GESTÃO URBANA

Thais Cristina de Souza LOPES


Doutoranda em Manejo de Solo e Água – UFERSA
thaiscristina13@hotmail.com
Márcia Regina de Farias da SILVA
Professora da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN
mregina@uern.edu.br
Aldi Nestor de SOUZA JÚNIOR
Pós-graduando em Geoprocessamento e Georreferenciamento – UCAM
aldi.jr@hotmail.com
Andrezza Grasielly COSTA
Doutoranda em Engenharia Agrícola –UFRB
andrezza_grasielly@hotmail.com

RESUMO
Objetivou-se analisar a percepção ambiental de residentes de dois bairros na cidade de Assú/RN,
buscando entender as formas pelas quais os residentes se relacionam com as questões
socioambientais locais, abordando aspectos relacionados à interação entre os problemas ambientais
e a gestão ambiental. O trabalho reflete opiniões coletivas a respeito do tema proposto, e ainda
apresenta uma conjuntura que favorece as proposições dos principais problemas observados pela
comunidade. O procedimento metodológico foi balizado na aplicação de questionários. Ademais,
foram realizadas observações em campo e uma pesquisa documental. Verificou-se que os
moradores locais apresentam nos seus depoimentos proposições que remetem a caracterização
situacional dos bairros. Os resultados obtidos evidenciam a análise dos problemas ambientais locais,
sendo perceptíveis as condições de vulnerabilidade vivenciada pelos moradores locais. Nesta
perspectiva observa-se a necessidade de intervenções ligadas à melhoria dos serviços básicos e em
termos do quesito de qualidade de vida da população residente nos bairros estudados, com destaque
para o acesso a saúde pública, educação e segurança.
Palavras Chave: Percepção ambiental, Planejamento e Gestão, Meio Ambiente.

ABSTRACT
The objective was to analyze the environmental perception of residents of two neighborhoods in the
city of Assú/RN, seeking to understand the ways in which residents relate to local socio-
environmental issues, addressing aspects related to the interaction between environmental problems
and environmental management. The work reflects collective opinions about the proposed theme,
and still presents a conjuncture that favors the propositions of the main problems observed by the
community. The methodological procedure was based on the application of questionnaires. In
addition, field observations and documentary research were carried out. It was verified that the local
residents present in their testimonies propositions that refer to the situational characterization of the
neighborhoods. The results obtained evidenced the analysis of the local environmental problems,
being perceptible the conditions of vulnerability experienced by the local residents. In this
perspective, there is a need for interventions related to the improvement of basic services and in

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terms of the quality of life of the resident population in the studied districts, with emphasis on
access to public health, education and security.
Keywords: Environmental Perception, Planning and Management, Environment.

INTRODUÇÃO

A ampliação do desenvolvimento e da tecnologia, fez com que as oportunidades de emprego


e renda se situassem com maior ênfase nos centros urbanos. As cidades se desenvolvem e se
modificam em conformidade com as atividades cotidianas das pessoas, cada uma com sua forma
própria de utilização dos recursos, interferindo no ambiente de diferentes formas. Com o acréscimo
dessas interferências e a ausência do controle de expansão, iniciam-se a problemática do meio
urbano (CASSILHA; CASSILHA, 2009).
A expansão desordenada reflete em uma série de danos ao local de ocupação, tais como,
alterações na paisagem, perda das funções ecológicas dos sistemas ambientais, retirada da cobertura
vegetal, erosão do solo, escoamento superficial, poluição ambiental, desmatamento e enchentes.
Esses impactos ocasionam uma interferência nas atividades da comunidade local.
Neste contexto, o crescimento e o desequilíbrio urbano apresentam uma urgente
preocupação acerca dos níveis de ocupação do solo urbano e os impactos gerados sobre as
condições naturais, com isso perpetuando e ultrapassando os problemas sobre o planejamento e
controle das cidades.
As interferências vinculadas ao crescimento urbano alcançou o município de Assú/RN, sem
uma estrutura capaz de concentrar a demanda habitacional ou de dar respostas aos problemas de
infraestrutura, com um agravamento populacional em desarmonia com o meio natural.
O Plano Diretor do município de Assú (Lei complementar no 015/06) dispõe sobre as
diretrizes do meio ambiente, com ênfase na gestão ambiental, no Art. 31, nos parágrafos I e II relata
a incorporação da proteção do patrimônio natural e paisagístico ao ―processo permanente de
planejamento e ordenação do território; criação de instrumentos normativos, administrativos e
financeiros para viabilizar a gestão do meio ambiente‖ (ASSÚ, 2006, p. 18).
Desse modo, a dualidade das propostas de controle ou prevenção do dano ambiental se
mostra como uma escolha necessária para o efetivo planejamento e gestão ambiental nos
municípios. Para que a caracterização da conservação ambiental seja feita na forma adequada, é
necessário que o processo de diagnosticar os problemas e os problemas ocasionados a um dado
local, procure compreender e propor medidas mitigadoras para o mesmo.
Neste trabalho considerou-se a percepção ambiental dos moradores como uma ferramenta
para analisar as questões ambientais vivenciadas pela comunidade, desencadeando uma posterior

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identificação da caracterização socioambiental na área de estudo, que surgiram como resultado da


análise reflexiva da realidade local.

METODOLOGIA

As unidades empíricas de referência desta pesquisa foram os Bairros Janduís e Vista Bela,
localizados em Assú-RN. Cabe ressaltar que, o referido município está localizado no Estado do Rio
Grande do Norte, em pleno interior do Nordeste Semiárido, com uma população de 53.227
habitantes. Situa-se na mesorregião do Oeste Potiguar e na micro-região do Vale do Assú, e
compreende uma área de 1.297,5 km², equivalente a 2,43% da superfície estadual (IBGE, 2012).
A técnica de pesquisa utilizada fundamentou-se nos procedimentos da documentação
indireta e da documentação direta – intensiva e extensiva (MARCONI; LAKATOS, 2005).
A pesquisa foi desenvolvida no período de Janeiro a Maio de 2014. Inicialmente as
atividades desenvolvidas foram direcionadas ao levantamento bibliográfico e documental.
Concomitante, foram elaborados e aplicados questionários semi-estruturados, com o objetivo de
realizar um diagnóstico situacional dos moradores locais contemplados pela pesquisa, para verificar
como os mesmos se identificam quanto às questões ambientais locais. Os participantes foram os
moradores dos bairros estudados. Ao todo foram ouvidos 150 moradores dos dois bairros. Adotou-
se como critério o tempo de residência desses no local, ou seja, optou-se por ouvir quem residia há
mais de dez anos nos bairros.
Por meio desta pesquisa observou-se aspectos relevantes na discussão dos problemas
ambientais definidos pelos diferentes atores sociais mediante a análise que foi realizada com os
moradores locais dos bairros estudados, pois isto faz parte do processo de percepção ambiental
inseridos nos pensamentos epistemológicos adquiridos pelo tempo de vivência.
Logo, o presente trabalho reflete a caracterização dos problemas ambientais na comunidade,
a partir da percepção dos moradores locais, visando identificar as implicações ambientais urbanas,
especificamente nos Bairros Janduís e Vista Bela na cidade de Assú/RN.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os principais problemas ambientais sob a ótica dos moradores estão dispostos a seguir. A
comunidade foi questionada sobre a existência de problemas ambientais no bairro, onde a totalidade
(100%) afirmou que sim. E ao serem questionados sobre quais os problemas observados 67%
apontaram para falta de saneamento, 13% retratou a ocupação irregular, 12% a má disposição dos
resíduos e 8% o desmatamento (Figura 01).

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8% Desmatamento
13% Ocupação irregular
12%
67%

Figura 01 – Opinião dos moradores acerca dos problemas observados nos bairros.

A ausência de saneamento nos bairros é retratada pela maioria da população como o maior
problema existente no bairro, sendo representada como um agravo à saúde dos residentes.
O quadro atual de degradação se revela nas dificuldades de estabelecer a gestão eficiente
acerca dos resíduos sólidos e líquidos provenientes dos domicílios, onde o saneamento (67%) e a
má disposição do lixo (12%) precisam ser tratados com seriedade pelos órgãos competentes devido
a exposição e risco a saúde pública, além disso, representam problemas de origem sanitária,
ambiental, econômica e estética; nos bairros não existe saneamento, porém o recolhimento de
resíduos é realizado duas vezes por semana: terça e quinta.
Além disso, o desmatamento é apontado por 8% dos entrevistados, sendo observado como
resultado da própria ocupação urbana e em alguns casos para atividades agropecuárias, constituindo
um conjunto de interferências na qualidade ambiental e na vida do munícipe.
Foi constatada in loco a ocorrência da ocupação desordenada e exploratória nos locais
atendidos pela pesquisa, assim como a ocupação irregular em áreas de preservação, mais adiante
veremos o contraste dos problemas ambientais delineados à ocorrência do inserimento de
residências em locais inadequados.
É válido ressaltar o artigo 4° expresso que a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA)
visa à difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, assim como ―a divulgação de dados e
informações ambientais e a formação de uma consciência pública sobre a necessidade de
preservação de qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico‖.
Mais adiante também foi retratada a opinião dos residentes acerca do maior problema
encontrado e observou-se novas indagações, apontando a falta de lazer e os buracos nas ruas como
os principais problemas, cada um seguidos por 31% (Figura 02).
10%
7% 11% Poluição do ar
Buracos nas ruas
10% Falta de lazer
31%
Lixo
31% Inundação
Falta de segurança
Figura 02 – Opinião dos moradores acerca dos principais problemas observados nos bairros.

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Percebe-se que os problemas de degradação são diretamente percebidos pelos moradores,


como é o caso da inadequada infraestrutura presentes nas ruas, constatado por grande da população
entrevistada. Sabe-se que o processo de urbanização tem a capacidade de interferir no ambiente
natural afetando o solo, a água, o ar, os organismos presentes, e com isso ocasionado consequências
negativas na qualidade do ambiente e na vida da população.
No caso da opinião acerca da incidência de ―buracos nas ruas‖ refere-se a erosão do solo,
que foi estimulada pelo processo da retirada da cobertura vegetal, com isso o solo ficou exposto as
intempéries como chuva, vento e radiação solar acelerando o processo de degradação do solo,
porém isso será discutido mais adiante na avaliação dos problemas ambientais da área.
Outro quesito que se pode observar sob as particularidades do ambiente urbano, é a
percepção das crenças e hábitos de cada morador, promovendo muitas vezes, o valor potencial das
alterações ambientais e os problemas significativos ao ecossistema urbano. Ao se questionar acerca
dos problemas encontrados no bairro o lixo e a poluição do ar foram constatados por 10% cada, da
população entrevistada como observado anteriormente.
Nos discursos apresentados pelos moradores a problemática relacionada a essas questões
referem-se a disposição inadequada dos rejeitos em terrenos baldios e nas encostas das ruas, e
alguns moradores ressaltaram que muitos indivíduos tem o hábito de queimar esses resíduos com
isso ocasionando a poluição do ar, isto foi observado em campo nas visitas feitas ao local (Figura
03).

Figura 03 – Disposição inadequada e queima dos rejeitos em terrenos baldios.


Ao conduzir essas questões para problemática da área de estudo deste trabalho, é importante
salientar sob a ótica da legislação ambiental do município de Assú, no diz que diz respeito a política
urbana e estabelece o objetivo geral do plano diretor no art. 2° a ―(...) orientar, promover e
direcionar o desenvolvimento do município, preservando suas características naturais, segundo um
projeto sustentável, dando prioridade a função social‖.
Ao serem questionados sobre a quem os residentes atribuíram a geração dos problemas
ambientais do bairro uma parcela de 80% afirmou que seria da prefeitura municipal, e 20%
atribuíram os problemas aos próprios moradores.

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Grande parte da problemática ambiental ocorre nos bairros e se estendem pelo município.
Por meio da apreensão das questões ambientais locais é que a construção de ações para prevenir e
solucionar esses problemas precisam ser desenvolvidas e harmonizadas pela sociedade e o poder
público.
Como aponta Mucelin e Bellini (2008, p. 112) o indivíduo, independente de classe social,
―(...) anseia viver em um ambiente saudável que apresente as melhores condições para vida, ou seja,
que favoreça a qualidade de vida: ar puro, desprovido de poluição, água pura em abundância entre
outras‖.
Partindo da compreensão da declaração que consta na Constituição Federal de 1988, em
seu Capítulo VI, artigo 225 descreve que o direito de todos a um meio ambiente ecologicamente
equilibrado, ―(...) impondo-se ao Poder Público e a coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo
para o presente e futuras gerações‖.
Nesta perspectiva, compreende-se que não há como ficar alheio a esse contexto, o morador
deve exigir ações ambientais municipais, respeitando as legislações local, estadual e federal, sem
omissão do desenvolvimento no município. Isso porque as transformações que vem se verificando
no mundo exige do poder público e consequentemente dos seres humanos, respeito aos limites da
natureza, sem, no entanto, retroceder no tempo.
A ampliação de áreas urbanas sem o planejamento ambiental prévio tem (iii) conduzido a
inúmeros problemas socioambientais. O meio urbano possui determinados aspectos culturais
dessemelhantes ao rural, como por exemplo, os hábitos alimentares, a forma de uso da água, a
geração exacerbada de resíduos, por meio do consumo de bens materiais e produtos facilmente
descartáveis, esses aspectos são frequentemente verificados no ambiente urbano e refere-se a
agentes responsáveis pelas alterações impostas ao meio.
Segundo dados do IBGE (2010), no censo de 2000 a população era de quase 170 milhões de
habitantes no Brasil. Em 2010, esse número aumentou para mais de 190 milhões. Destes, 160
milhões da população brasileira estão localizados em áreas urbanas. A partir de meados do Século
XX a expansão urbana e o crescimento das cidades promoveram alterações fisionômicas no planeta,
maior que qualquer outra atividade humana (MILLER JUNIOR, 2008).
Os problemas ambientais tem se agravado em virtude do crescimento da populacional
mundial. As estimativas divulgadas pelo IBGE (2012) apontam que a população mundial era de 7,2
bilhões de pessoas. Segundo Fernandez (2004) a estimativa é de que 5 bilhões residem em países
em sua maioria pobres, com um quadro crescente de miséria, especialmente nos contornos das
cidades.

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Diante disso, este tópico apresenta a identificação dos problemas ambientais advindos das
ampliações urbanísticas nos bairros atendidos pela pesquisa, assim como discussões sob a ótica do
planejamento e gestão ambiental urbana.
Para tanto, o conhecimento sobre os componentes que formam o espaço e realizar o
diagnóstico de uma localidade, faz-se necessário aderir à definição dos problemas ambientais
existentes na área com a obtenção de dados representativos a realidade, por meio de levantamentos
secundários e pela observação direta, nesta perspectiva compreende-se a problemática do meio
urbano.
Além disso, este tópico apresenta a interpretação de uma situação conflitante de elementos
antagônicos que refere-se a interferência humana e as mediações desordenadas sob os recursos
naturais, e em outra instância estaria o equilíbrio ambiental numa perspectiva para o
desenvolvimento urbano e sustentável aderindo e proporcionando qualidade de vida para sociedade.
Para tanto, sabe-se que na construção da análise dos problemas ambientais devem-se
considerar o meio geofísico, biológico e antrópico (Quadro 01), comumente caracterizados como
fatores socioambientais.
É de grande valia ressaltar que existem áreas que possuem características ambientais
importantes, comumente conhecidas como áreas de fundo de vale, apresentando características
geomorfológicas e sendo caracterizadas em estágios fluviais (ROSS, 1990).

Quadro 01 – Componentes ambientais.

COMPONENTES DO MEIO AMBIENTE

Físico Biótico Antrópico


Geomorfologia e Demografia e
Fauna
Topografia Organização Social
Aspectos políticos,
Clima Flora institucionais e
legislação
Hidrografia Microorganismos Infraestrutura urbana
Solos - Aspectos culturais
Áreas de valor
Geologia -
histórico-cultural
Fonte: Adaptado de PNUD, (1996).

Cardoso (2009 p. 16) retrata a importância deste ambiente ―devido às suas interações
ecológico-funcionais, possuindo uma relação intrínseca com o ciclo hidrológico‖.
Entretanto, a degradação desse espaço tem sido constantemente observada, em decorrência
do processo de urbanização, por meio do desmatamento, as movimentações de terra, a ocupação
intensiva do solo e aliada a crescente taxa de impermeabilização, a má deposição dos resíduos e

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entulhos, a ocupação irregular as margens do córrego, a ausência de saneamento, e o lançamento de


esgoto sem tratamento.
Além disso, esses locais apresentam uma relevância natural e paisagística, porém como
discutido anteriormente, devido ao intenso processo de urbanização atual tornou-se comum a
degradação dos fundos de vales sendo substituídos por sistemas de água canalizadas com obras de
micro e macro drenagem.
Aliado a estas questões na perspectiva de Ott (2004, p. 17) a transição de meio rural para
urbano no Brasil sobreveio de um processo de exclusão social de classes de pessoas menos
privilegiada que em virtude da não aquisição de áreas estruturadas passou a ocupar ―(...) em sua
maioria, terrenos que deveriam ser protegidos para preservação das águas, encostas, fundos de vale
entre outros‖.
Com isso, o crescente número de interferências ocasiona um ciclo intenso de degradação; o
desmatamento, os lançamentos de esgoto, a movimentação de terra, o aterramento das áreas, a
ocupação intensiva do solo. Na área de estudo, essas interferências tem acelerado os processos
erosivos do solo, o escoamento superficial, assoreamento dos cursos d‘água e podendo causar até
mesmo eventos críticos, como enchentes e inundações em épocas de intensas precipitações.
O caso existente nos bairros em estudo refere-se a inúmeros problemas que foram
diagnosticados pela pesquisa, que serão expostos e discutidos delineando por meio da legislação as
medidas que venham a mitigar a problemática local.
Vale ressaltar outro quesito fundamental e que se deve levar em consideração em virtude no
processo de ocupação e dos problemas ambientais observados, seria a perda de recursos de valor
paisagístico e desperdício de áreas de recreação e lazer em potencial.
Diante disso, é de extrema importância o estudo ambiental e a identificação dos problemas
ambientais para contribuição na construção de do diagnóstico situacional e na proposição de
medidas que visem à mitigação da problemática existente.

CONSIDERAÇÕES

Na nova postura estabelecida pela legislação ambiental vigente, os órgãos municipais


precisam deixar de considerar em segundo plano as questões ambientais do planejamento e da
gestão ambiental, assim como a disposição de infraestrutura básica e de ordenamento territorial dos
bairros. A participação da sociedade também é de extrema importância no processo de decisão e
gestão das políticas públicas.
Por esse prisma, observa-se o posicionamento que os residentes dos bairros Janduís e Vista
Bela em que não se podem mais continuar se subordinando resignadamente a degradação e os

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inúmeros problemas ambientais de sua localidade, mas considerar a legislação vigente e atrelar aos
direitos de um meio ecologicamente equilibrado.
No tocante a este, conhecer a realidade local com base nas condições do diagnóstico
socioambiental é eficaz para nortear e promover um ambiente ecologicamente equilibrado bem
como de todos os cidadãos.

REFERÊNCIAS

ANTUNES, Paulo de Bessa. Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA: Comentários à Lei
6.938, de 31 de agosto de 1981. Rio de Janeiro: Lumen Juris, p. 16, 2005.

ASSÚ. Prefeitura Municipal do Assú. Lei Complementar n° 015, Plano diretor de Assú. Secretaria
Municipal do Governo: 28 de Dez. de 2006, 59p.

CARDOSO, F. J. Análise, concepção e intervenções nos fundos de vale da cidade de Alfenas [MG].
Labor & Engenho, Campinas (SP), Brasil, v. 3, n. 1, p.1-20, 2009.

CASSILHA, Gilda Amaral; CASSILHA, Simone Amaral. Planejamento Urbano e Meio Ambiente.
Curitiba: IESDE Brasil S.A, 2009. 176p.

IBGE. Censo Demográfico 2010. Característica da população. Rio de Janeiro: IBGE. Disponível
em: <http://7a12.ibge.gov.br/vamos-conhecer-o-brasil/nosso-povo/caracteristicas-da-populacao>
Acesso em: 19 de Janeiro de 2014.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia da pesquisa científica.


2005.

MILLER JUNIOR, G. Tyler. Ciência Ambiental. 11. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2008. 501
p.

MUCELIN, Carlos Alberto; BELLINI, Marta. Lixo e impactos ambientais perceptíveis no


ecossistema urbano. Sociedade & natureza, v. 20, n. 1, p. 111-124, 2008.

Relatório sobre o desenvolvimento humano no Brasil - Rio de Janeiro: IPEA; Brasília, DF: PNUD,
1996.

ROSS, Jurandyr Luciano Sanches. Geomorfologia: ambiente e planejamento. Editora Contexto,


1990.

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DIAGNÓSTICO SÓCIOAMBIENTAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NO MUNICÍPIO DE


SANTANA DO MATOS-RN

Vanessa Tainara da CUNHA


Engenheira Agrícola e Ambiental
tainara.vanessa@yahoo.com.br
Andrezza Grasielly da COSTA
Mestre em Manejo de Solo e água
andrezza_grasielly@hotmail.com
Rutilene Rodrigues da CUNHA
Engenheira Agrícola e Ambiental
rutilene10@hotmail.com
Valeria Tatiany da CUNHA
Engenharia Agrícola e Ambiental
valeriatatiany@yahoo.com.br

RESUMO
O demasiado crescimento populacional e o incentivo ao consumismo vêm aumentado de forma
significativa a geração de resíduos sólidos, favorecendo a disposição e destinação incorreta dos
mesmos. Vale ressaltar que, a relação do homem com a produção de resíduos sólidos não são
contemporâneas, estando associada à própria condição humana de modificador do meio natural.
Dessa forma, o presente trabalho teve como objetivo diagnosticar problemas socioambientais em
dois bairros do municipio de Santana do Matos-RN. Mais especificamente buscou-se observar
comparar diferentes realidades sociais, com aspectos ligados à infraestrutura disponível para o
saneamento e a influência dessas na saúde da população, bem como a percepção que a comunidade
possui acerca das questões ambientais. Utilizou-se da pesquisa qualitativa, pautando-se na
documentação direta através de observações e análise. A coleta de dados foi realizada através de
pesquisas bibliográficas, de campo com a aplicação de formulário e análise documental. Quanto aos
resultados observou-se que no bairro Conjunto Lavoisier Maia, 55% da população tem
conhecimento do que seja saneamento ambiental, e 45% ainda não tinham a percepção do que se
tratava a temática. Em contrapartida, no bairro Conjunto Santa Luzia, 80% da população afirmaram
ter conhecimento a respeito do assunto em questionamento. Quanto ao poder aquisitivo, no
Conjunto Santa Luzia, 50% dos moradores ganham 1 Salário Mínimo e 20% chegam a obter
mensalmente menos de 1 salário mínimo. Já no Conjunto Lavoisier Maia a renda dos moradores
variam entre 1 e 2 salários mínimos (30%). Dessa forma, pôde-se constatar que, é necessário
realizar muitas ações por parte das políticas públicas em junção com a sociedade para melhorar a
questão ambiental da cidade. Além disso, constatou-se que o Conjunto Lavoisier Maia é mais
estruturado que o Santa Luzia, tanto na questão econômica quanto organizacional do local.
Palavras-Chave: Resíduos sólidos. Saneamento ambiental. Lixão.
ABSTRACT
The excessive population growth and the incentive to consumerism have significantly increased the
generation of solid waste, favoring the disposal and incorrect destination of the same. It is worth
mentioning that the relationship between man and solid waste production is not contemporaneous,
being associated with the human condition itself as a modifier of the natural environment. Thus, the
present study aimed to diagnose socio-environmental problems in two districts of Santana do

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Matos-RN. More specifically, we sought to observe and compare different social realities, with
aspects related to the infrastructure available for sanitation and its influence on the health of the
population, as well as the perception that the community has about environmental issues.
Qualitative research was used, based on direct documentation through observations and analysis.
The data collection was done through bibliographical research, field with the application of form
and documentary analysis. Regarding the results, it was observed that in the Lavoisier Conjunct
neighborhood, 55% of the population knows what environmental sanitation is and 45% still did not
have the perception of what the issue was. In contrast, in the Conjunct Santa Luzia neighborhood,
80% of the population claimed to have knowledge about the subject in question. Regarding
purchasing power, in the Conjunct Santa Luzia, 50% of the residents earn 1 Minimum Salary and
20% get less than 1 minimum wage monthly. In the Conjunct Lavoisier Maia, the income of the
residents varies between 1 and 2 minimum wages (30%). In this way, it can be seen that many
actions need to be taken by public policies in conjunction with society to improve the
environmental issue of the city. In addition, it was found that the Conjunct Lavoisier Maia is more
structured than the Santa Luzia, both in the economic and organizational matters of the place.
Keywords: Solid waste. Environmental sanitation. Dumping ground.

INTRODUÇÃO
A migração da população rural para a zona urbana vem aumentando demasiadamente no
território brasileiro, tendo como consequência o aumento do desmatamento, consumismo excessivo,
geração de resíduos, entre outros impactos. Com isso, a poluição ambiental vem aumentando
drasticamente para atender as supostas ―necessidades‖ da população.
Tal falto está associado à falta de planejamento por parte dos governantes que não criam
projetos que favoreçam a permanência do homem no campo, proporcionando um crescimento
desordenado da população urbana. Esta falta de planejamento associada a infraestrutura precária
intensifica a degradação ambiental, favorecendo o desequilíbrio social, econômico e ambiental.
A busca pelo desenvolvimento sustentável e a qualidade de vida vem incentivando cada vez
mais a elaboração de projetos que visam à implantação de saneamento básico não só nas zonas
urbanas, mas também nas zonas rurais. Isso ocorre devido à quantidade de resíduos produzidos
diariamente, resíduos estes que são decorrentes de várias atividades desenvolvidas pelo homem,
dentre elas, as sociais, residenciais, comerciais, industriais, entre outras, que contribui para a
poluição do solo, da água e da atmosfera, afetando de forma direta ou indireta a saúde da população.
O intenso consumismo praticado pela sociedade contemporânea vem acarretando grandes
quantidades de resíduos e conseguintemente maiores prejuízos aos recursos naturais, levando em
consideração que há um desperdício de matéria-prima e energia e o acúmulo ou a inadequada
destinação final destes resíduos.
A constituição brasileira (1988), em seu Art. 196 caracteriza a saúde como sendo um
―direito de todos e dever do Estado, garantindo mediante políticas sociais e econômicas que visem à
redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e

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serviços para sua promoção, proteção e recuperação‖ do meio ambiente. Mas, infelizmente para que
isso sobrevenha é preciso que os políticos invistam mais em obras de saneamento, pois através do
mesmo é possível traçar medidas para melhorar o ambiente que vivemos prevenir doenças e
promover a saúde.
Neste contexto, saneamento ambiental é definido como sendo um conjunto de ações
socioeconômicas que busca constantemente alcançar a salubridade ambiental. Tal fato só é possível
graças ao abastecimento de água potável, coleta e disposição sanitária de resíduos sólidos, líquidos
e gasosos, promoção da disciplina sanitária de uso do solo, drenagem urbana, controle de doenças
transmissíveis e demais serviços e obras especializadas, com o intuito de resguardar e melhorar as
condições de vida urbana e rural (FUNASA, 2006).
A Lei Nº 12.305, (2010) que rege a Política Nacional de Resíduos Sólidos, tem como
objetivo principal proteger a saúde pública e a qualidade ambiental de forma que haja uma redução,
reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos sólidos, bem como disposição final
ambientalmente adequada dos rejeitos, de forma que estimule a adoção de padrões sustentáveis de
produção e consumo de bens e serviços, redução do volume e da periculosidade dos resíduos
perigosos entre outros fatores.
Todavia, para alcançar estes objetivos é necessário que os governantes juntamente com a
população se responsabilizem pela gestão dos resíduos. Gestão essa que necessita levar em
consideração os fatores ambientais, sociais, culturais, econômicos e tecnológicos, pois só então será
possível alcançar o tão almejado desenvolvimento sustentável, que só será possível através da
cooperação mútua entre o poder público, as empresas e a sociedade, através da ―responsabilidade
compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos‖.
Costa (2011) ressalta que a incorreta deposição final desses resíduos pode gera sérios danos,
sejam eles ambientais, econômicos ou sociais para uma dada cidade ou até mesmo para um país.
Visando estes problemas novas possibilidades e técnicas de desenvolvimento sustentável estão
surgindo com o intuito de utilizar ou reaproveitar determinados resíduos. O manejo adequado dos
resíduos sólidos urbanos em aterros sanitários e, consequentemente, o posterior aproveitamento do
metano gerado no aterro a partir de material orgânico como fonte renovável de energia é exemplo
de técnicas sustentáveis.
Dessa forma, o presente trabalho teve como objetivo diagnosticar problemas
socioambientais em dois bairros de Santana do Matos - RN. Mais especificamente buscou-se
observar e comparar diferentes realidades sociais, com aspectos ligados à infraestrutura disponível
para o saneamento e a influência dessa na saúde da população, bem como a percepção que a
comunidade possui acerca das questões ambientais.

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MATERIAL E MÉTODOS

O município de Santana do Matos/RN, representado na Figura 1, está situado a 5° 57' 26 de


latitude sul e 36° 39' 12‖ de longitude oeste, possui uma área territorial de 1.419 km² e está situado
na microrregião central do Estado do Rio Grande do Norte, distando179 km da capital do Estado,
Natal. Limitando-se entre os municípios de Itajá, Assú, Afonso Bezerra, Pedro Avelino, Lajes,
Fernando Pedrosa e Angicos. O clima da região é o semiárido, onde predomina o bioma caatinga.
Sua economia gira em torno da agropecuária, indústria e serviços, e sua população é equivalente a
13.445 habitantes (IBGE, 2016).

Figura 1. Localização da cidade de Santana do Matos no mapa do Rio Grande do Norte.

As principais fontes de obtenção de dados para elaboração do presente trabalho foi a


Secretaria Municipal de Obras e Urbanismo de Santana do Matos/RN, com aplicação de formulário
estruturado, aplicado juntamente com a população, durante o mês de Julho de 2014, em dois bairros
do município de Santana do Matos/RN, os Bairros Santa Luzia e Conjunto Lavoisier Maia, sendo o
último um bairro mais estruturado.
Utilizou-se a metodologia de pesquisa qualitativa, pautando-se na documentação direta,
através de observações e análise. A coleta de dados foi realizada através de pesquisas bibliográficas,
de campo e análise documental.
O número de formulários aplicados correspondeu a uma amostra equivalente a 5% do
número de domicílios pertencentes a cada um dos dois bairros escolhidos. Onde, o Conjunto
Lavoisier Maia possui 243 residências e o Conjunto Santa Luzia aproximadamente 800 residências.
Após a coleta dos dados, os mesmos foram tabulados de forma simples, apresentados na
forma de gráficos, elaborados com o auxílio do Microsoft Excel 2010.
Vale ressaltar que foi realizada a análise e tratamento dos dados coletados, numa abordagem
quantitativa, com ênfase no conteúdo dos formulários e com o referencial teórico que fundamenta o
estudo proposto.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O estudo foi iniciado com uma abordagem aos moradores dos bairros Conjunto Lavoisier
Maia (CLM) e Conjunto Santa Luzia(CSL), acerca do poder aquisitivo, como pode-se observar na
Figura 2.
Analisando os dados percebe-se que há diferença no padrão das respostas com relação ao
poder aquisitivo, tendo em vista que o bairro CSL, 50% dos moradores possuem renda mensal
equivalente a1 Salário Mínimo e 20% sobrevivem com mesmo de 1 salário mínimo por mês. Já no
bairro CLM os moradores apresentam um poder aquisitivo maior, chegando a receber mais de 3
salários mínimos mensalmente.
Conforme Cunha (2013), no que se refere ao poder aquisitivo das famílias pesquisadas no
município de Angicos/RN, 46% da população residente no bairro Alto da Alegria recebem em torno
de um salário mínimo e apenas 4% dos entrevistados apresentam renda de até três salários, em
contra partida com os moradores do Centro recebem até dois salários (14%).
Para Ramos (2012), em seu estudo no bairro Barrocas em Mossoró-RN, o nível de renda das
famílias está dividido da seguinte maneira, 49% ganhando até 1 salário mínimo, 22% de 1 a 2
salários, 21% tem o auxílio do programa social federal bolsa família e 4% estão desempregados.
Somente 2% tem renda de 2 a 5 salários e 2% acima de 5 salários mínimos.

100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Conjunto Lavoisier Maia Conjunto Santa Luzia

1/2 Salário Mínimo 1 Salário Mínimo


2 Salários Mínimo Acima de 3 Salários Mínimos
Menos de um Salário Mínimo Não respondeu
Figura 2. Percentagem da renda familiar de acordo com os bairros CLM e CS, Santana do Matos/RN.

Tendo em vista a importância do conhecimento como ferramenta fundamental para


transformar os hábitos de uma população, foi indagado aos moradores dos referidos bairros se eles
tinham conhecimentos acerca do que seria Saneamento Ambiental (Figura 3).

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No bairro CLM, 55% responderam que tinham conhecimento a respeito do assunto, e 45%
que não sabiam do que se tratava. Em contrapartida com o bairro CSL que 80% da população
afirmaram ter conhecimentos obre o saneamento básico. É importante salientar que ambos os
bairros possuem uma rede geral de coleta de esgoto.

100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Conjunto Santa Luzia Conjunto Lavoisier Maia
Sim Não Não respondeu
Figura 3.Percentual da população que tem conhecimento acerca de Saneamento Ambiental nos bairros CLM
e CSL, Santana do Matos/RN.

Partindo do princípio que o sistema de abastecimento de água, coleta e tratamento dos


resíduos sólidos e líquidos, urbanos e industriais, contribuem para a melhoria da qualidade
ambiental no município, foi questionado aos moradores o que era necessário para uma cidade ser
100% saneado (Figura 4).
Dentre os questionamentos os mais relevantes para o bairro CLM foram: abastecimento de
água potável e controle e disposição dos resíduos (85%), seguido do controle e disposição do esgoto
sanitário (60%). No bairro CSL não foi diferente, tendo em vista que 100% consideraram o
abastecimento de água potável primordial, seguido da coleta e disposição dos resíduos (90%), e
controle e disposição do esgoto sanitário (80%).

100 Abastecimento de
90 água potável
80
70 Coleta e disposição
60 do esgoto sanitário
50
40 Coleta e disposição
30 do resíduos
20
Controle de vetores
10
0
Conjunto Santa Luzia Conjunto Lavoisier Maia
Figura 4. Posicionamento dos moradores a respeito das características necessárias para
uma cidade ser 100% saneada.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Nos dias atuais, a quantidade de resíduos produzidos vem contribuindo com a degradação
ambiental, devido a isso, a prática de reciclar os resíduos sólidos, torna-se primordial, devido a
mesma contribuir para a redução da extração de matérias-primas, e contribuir para a conservação
dos ecossistemas. Para que haja este melhoramento é necessário que a população seja educada
ambientalmente, pois só assim vai diminuir o consumismo, e as pessoas vão adotar a prática de
separar e reciclar os resíduos.
Diante do exposto, foi indagado aos moradores dos bairros CLM e CSL se eles separavam
os resíduos em suas residências, 65% responderam que não, em contrapartida 35% responderam
que fazia está prática, mas só ocorre a separação dos resíduos orgânicos nos dois bairros em estudo
(Figura 5).
Pedrosa (2010) mostrou que 75,76% dos entrevistados que residem nos alojamentos rurais
nunca separaram resíduos, e 24,24% só separaram algumas vezes. Já Silveira e Borges (2009)
apontam que 77% dos entrevistados afirmaram separar os resíduos em sua residência, 14%
admitiram praticar a separação somente às vezes e 9% assumiram não separar o lixo em sua
residência. Dessa forma, é notório que a realidade do município de Capão da Canoa é bem melhor
que a dos dois bairros analisados no município de Santana do Matos/RN.

35%

65% Sim
N…

Figura5. Percentual dos moradores que separam o lixo produzido nas residências, nos bairros CLM CSL,
em Santana do Matos/RN.

A limpeza pública urbana envolve a questão ambiental e social, levando em consideração


que, para que uma cidade seja limpa é necessário que haja a junção da gestão pública com a
sociedade. O processo de coleta de resíduos em Santana do Matos/RN segue um roteiro, elaborado
pela prefeitura, dividindo por bairros a arrecadação dos resíduos.
Nos bairros em estudo (Figura 6), o cronograma de coleta dos resíduos são de 2 a 3 vezes
por semana. Sendo que, no bairro CLM a coleta é feita conforme previsto no cronograma, todavia
no bairro CSL85% dos morado relataram que a coleta dos resíduos ocorre de 2 a 3 vezes por
semana, e 25% afirmaram que a coleta é feita semanalmente.

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Conforme Costa (2011), na cidade de Angicos/RN a coleta dos resíduos sólidos são feitas
nos bairros da cidade semanalmente com 55% seguida da frequência de 2 a 3 vezes por semana. Já
Cunha (2013), relada que a coleta dos resíduos nos bairros Alto da Alegria (AA) e Centro (CT), na
cidade de Angicos/RN se dá entre os dias de terças-feiras (45% no AA e 37% no CT), quartas-feiras
(19% no CT) e nas sextas-feiras (45% no AA). Já na cidade de Mossoró/RN, as coletas dos resíduos
são feitas nas ruas do Riacho Doce três vezes na semana (VIEIRA, 2011).

100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Conjunto Lavoisier Maia Conjunto Santa Luzia
2 a 3 vezes por semana Semanalmente
Figura 6. Frequência de coleta dos resíduos nos bairros CSL E CLM, Santana do Matos/RN.

A Figura 7 apresenta o lixão a céu aberto do município de Santana do Matos/RN. De acordo


com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, o descarte dos resíduos sólidos em ―lixão‖, ou aterro
comum, não é recomendada, devido à falta de proteção no solo, a vulnerabilidade dos animais e
pessoas ao contato direto com resíduos, intensificando a poluição e contaminação do solo, água e ar,
dentre outros impactos ambientais, sociais e econômicos.

Figura 7. Lixão do Município de Santana do Matos/RN

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Diante das degradações ambientais causadas pelos lixões, torna-se primordial que entre em
vigor o que determina a Política Nacional de Resíduos Sólidos, na qual busca desde 2014 a retirada
de todos os lixões do país e do rejeito (aquilo que não pode ser reciclado ou reutilizado)
encaminhado para aterros sanitários adequados. Mas, infelizmente este prazo foi prorrogado para
2020, e com os passos que as coisas andam em nossos país acredita-se que mais uma vez os
problemas e degradações ambientais serão colocados de lado, o que torna-se necessário uma maior
fiscalização e efetuação das leis Brasileiras.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com os resultados obtidos no presente estudo, pôde-se constatar que o Conjunto
Lavoisier Maia apresenta uma infraestrutura melhor, quando comparado ao bairro Santa Luzia,
tanto no poder aquisitivo da população quanto organizacional do bairro.
Quanto ao acondicionamento dos resíduos, os moradores dos bairros entrevistados não
costumam, em sua maioria, fazer nenhum tipo de separação dos resíduos. Em contrapartida, a
maioria dos entrevistados tem conhecimento do local onde são descartados os resíduos da cidade
(lixão), mas não tem dimensão dos danos ambientais, que o mesmo traz para o ambiente.
Quanto à limpeza pública urbana, fica evidente que a mesma envolve as questões ambientais
e sociais, levando em consideração que para ter uma cidade limpa é necessário que haja a
colaboração não apenas da gestão pública com primordialmente da sociedade civil. E, para isso
tornar-se primordial que haja o trabalhar das questões ambientais nos bairros em estudo, haja visto
que grande parte dos cidadãos acreditam que a limpeza pública é dever dos gestores da cidade, e
não se sensibilizam quanto ao seu papel como agente mediador do meio.
Dessa forma vale salientar que o gerenciamento dos resíduos sólidos vai além da estética
urbana, sendo a garantia para a qualidade de vida, precavendo impactos nocivos ao meio ambiente e
a saúde pública.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Constituição Federal. 1988. Disponível em:


<www.dji.com.br/constituicao_federal/cf196a200.htm>. Acesso em: 05 fev. 2014;

Lei nº 12.305, de 02 de agosto de 2010. Política Nacional de Resíduos Sólidos. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em: 29
abril. 2013.

Lei Nº 8.080, de 19 de setembro de 1990.Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm>. Acesso em: 29 abril. 2013.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

COSTA, João Maria Macedo. Diagnóstico sócio ambiental dos resíduos sólidos no município de
Angicos-RN. Angicos. 2011. 63 f. TCC (Graduação) - Curso de Ciência e Tecnologia, UFERSA,
Angicos, 2011.

FUNASA. Resíduos Sólidos e a Saúde da Comunidade: Informações Técnicas sobre a Inter-relação


Saúde, Meio Ambiente e Resíduos Sólidos. Brasília: Fundação Nacional de Saúde, 2013. 48 p.

FUNASA. Manual de Saneamento. 3. ed. Brasília: Fundação Nacional de Saúde, 2006. 409 p.

IBGE. Rio Grande do Norte. Disponível em:


<http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1>. Acesso em: 26 mar. 2016.

PANORAMA. Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil. 10. ed. Brasília: Abrelpe, 2012.

PHILIPPI JÚNIOR, Arlindo. Saneamento do Meio. 2. Ed. São Paulo: Universidade de São
Paulo,1988.

RAMOS, Mibson Michel Santiago. Saneamento ambiental no bairro Barrocas em Mossoró-RN:


estudo dos impactos socioambientais. Mossoró. 2011.53f. TCC (Graduação) - Curso de Ciência
e Tecnologia, UFERSA, Mossoró, 2012.

SILVEIRA, Letícia de Oliveira; BORGE, Juarez Camargo. Educação Ambiental no processo de


Limpeza Urbana. 2. ed. Santa Cruz do Sul: Universidade Luterana do Brasil, 2009. 6 p.

VIEIRA, Maria de Fatima. Percepção socioambiental dos moradores do entorno dos canais
pluviais dos bairros Santo Antônio e Barrocas em Mossoró – RN. Mossoró.2011.57f. TCC
(Graduação) - Curso de Ciência e Tecnologia, UFERSA, Mossoró, 2011.

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PERSPECTIVAS E DESAFIOS INERENTES Á PROBLEMÁTICA DA URBANIZAÇÃO


E DA QUALIDADE DE VIDA URBANA NA ATUALIDADE

Lidiane Aparecida ALVES


Professora de Geografia na PMU
lidianeaa@yahoo.com.br

RESUMO
O presente artigo tem como objetivo discorrer urbanização e a qualidade de vida, considerando o
contexto atual. Para a sua redação foi realizada uma revisão da literatura acerca do processo de
urbanização e do tema da qualidade de vida. Também foi feito um breve levantamento de dados
secundários sobre a urbanização mundial. Afirma-se que a questão da urbanização e a busca pela
qualidade de vida são processos históricos, que ganharam visibilidade atualmente em função dos
padrões e proporções que a urbanização assumiu em algumas regiões do mundo, porém sem
assegurar á população os serviços e condições, tanto objetivos como subjetivas, básicas à qualidade
de vida. Contudo, apesar desta realidade adversa, acredita-se na possibilidade de modelo de
urbanização distinto do atual predominante, mas pautado nas pessoas. Este já é o caminho escolhido
por algumas, porém ainda poucas cidades localizadas, sobretudo nos países mais desenvolvidos.
Palavras-Chave: Urbanização. Ambientes Urbanos. Qualidade de vida.
ABSTRACT
The present article aims to discuss urbanization and the quality of life, considering the current
context. For its writing was carried out a review of the literature on the process of urbanization and
the theme of quality of life. A brief survey of secondary data on global urbanization was also made.
It is argued that the question of urbanization and the quest for quality of life are historical processes,
which have gained visibility today due to the patterns and proportions that urbanization has
assumed in some regions of the world, but without guaranteeing the population the services and
conditions, both Goals as subjective, basic to the quality of life. However, despite this adverse
reality, we believe in the possibility of a model of urbanization distinct from the current
predominant, based on people. This is already the path chosen by some, but still few cities,
especially located in the more developed countries.
Key-Words: Urbanization. Urban Environments. Quality of life.

INTRODUÇÃO

Para tratar da qualidade de vida em nosso tempo, impõe-se como ponto de partida considerar
o processo de urbanização e as transformações nos ambientes urbanos, nomeadamente a partir da
concretização da Revolução Industrial, que inaugurou e difundiu a modernidade e o capitalismo
concorrencial, geradores de uma nova realidade socioespacial, caracterizada pelo crescimento
demográfico e territorial das cidades.
Os progressos associados à modernidade foram vários, dentre eles ressalta-se os avanços da
medicina, das condições de higiene, do planejamento urbano considerando a necessidade melhorias
nas redes de infraestrutura e transporte coletivo, e de equipamentos de educação e saúde etc.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Contudo, os beneficiados por tais avanços não eram/são todos, muitos daqueles que saiam/saem do
campo em direção às cidades em busca de melhores empregos e condições de vida não
alcançavam/alcançam o objetivo, por vezes, sendo obrigados a morar em habitações precárias,
sendo também excluídos da possibilidade de usufruir dos serviços urbanos. Com isso, associado ao
crescimento de muitas cidades torna-se visível a emergência de várias ―crises‖ urbanas, como a
falta de moradia e surgimento das favelas e ocupações irregulares, o aumento de doenças, da
violência urbana, a insuficiência dos espaços e serviços públicos, entre outros problemas que
evidenciam o caráter insustentável da urbanização.
Assim, atualmente verifica-se nas cidades duas realidades distintas. De um lado, sobretudo
nos países que foram pioneiros no processo de industrialização, nomeadamente os países
desenvolvidos, com urbanização mais antiga os atuais problemas urbanos são distintos, bem como
já implementaram várias as ações em prol da (re)construção das cidades, para que estas se
tornassem mais justas, sustentáveis e que propiciassem a qualidade de vida a seus habitantes. Por
outro lado, nos países de industrialização tardia e por urbanização mais recente, ainda persistem
problemas como o da falta e ou precariedade das moradias, a grande desigualdade de renda, a falta
de equipamentos urbanos, a imobilidade da população, entre outras questões que inviabilizam o
atendimento de necessidades humanas básicas de um grande número de habitantes. Ressalta-se que
no âmbito das cidades, igualmente torna-se visível está situação de desigualdade, entre os
beneficiados e os excluídos pelo sistema de reprodução social, político e econômico.
De tal modo, considerando a realidade de uma sociedade urbana, em que o processo
urbanização tende a continuar, sobretudo nos países subdesenvolvidos, ressalta-se que em muitas
cidades, as condições básicas de vida ainda não são atendidas adequadamente, de modo que neste
caso a qualidade de vida, em termos objetivos se restringe ao mínimo, assim como o bem estar,
entendido como a percepção subjetiva da qualidade de vida igualmente é afetado, posto que muitas
pessoas convivem com sensações de insegurança e medos diversos, posto a situação de carência em
várias aspectos da vida.
Diante do exposto, este artigo tem como objetivo apresentar considerações sobre a
urbanização, considerando o contexto atual em que são vários os problemas urbanos e que é
crescente a preocupação com o alcance da qualidade de vida. Para a sua redação foi realizada uma
revisão da literatura acerca do processo de urbanização e do tema da qualidade de vida. Também foi
feito um breve levantamento de dados secundários sobre a urbanização mundial, disponibilizados
pelas Nações Unidas, Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais, Divisão de População
(2014).

Urbanização

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Um dos processos mais marcantes da contemporaneidade, certamente é a intensa


urbanização da sociedade. Desta forma, ressalta-se a relevância de se buscar o entendimento do
processo de urbanização, considerando suas consequências, positivas e negativas, bem como as
possibilidades que podem emergir a partir desta nova realidade da sociedade. Contudo, essa não é
tarefa simples, posto a existência de embaraços em torno do conceito de urbanização e, mesmo do
entendimento do que caracteriza uma sociedade urbana, haja vista a amplitude de enfoques
considerados para a abordagem do tema; e ainda tendo em conta que, em decorrências das
particularidades locais, há diferenças espacio-temporais em relação às características da
materialização deste processo.
Assim, a despeito da complexidade do processo de urbanização, neste artigo este é
considerado como um processo histórico, intrinsicamente associado ao processo de industrialização,
que de acordo com Lefebvre (2008, p.11) é o ―motor das transformações na sociedade‖ e, portanto
―fornece o ponto de partida da reflexão sobre a nossa época‖. Ainda de acordo com o autor:

[...] se distinguirmos o indutor e o induzido, pode-se dizer que o processo de


industrialização é indutor e que se pode contar entre os induzidos os problemas relativos ao
crescimento e à planificação, as questões referentes à cidade e ao desenvolvimento da
realidade urbana, sem omitir a crescente importância dos lazeres e das questões relativas a
―cultura‖ (LEFEBVRE, 2008, p.11, grifos do autor).

Desta forma, com a industrialização houve o crescimento das populações urbanas e das
cidades, a partir da expansão de sua área e reorganização de suas atividades, com a separação dos
distintos usos e classes sociais. Próximo às fábricas, em bairros segregados, nas periferias
concentraram os bairros operários, enquanto as residências das classes trabalhadoras estavam
localizadas em áreas providas de infraestrutura básica e de lazer e distante dos usos que poderiam
trazer perturbações.
Desconsiderando as nuances e limitações em relação aos critérios usados pelos diferentes
órgãos nacionais, como o IBGE no caso do Brasil, e internacionais, como a ONU, para quantificar a
população urbana, os dados atestam o crescimento da população urbana em escala mundial, bem
como corroboram a magnitude que o processo de urbanização adquire com as transformações no
modo de produção e, por conseguinte na organização socioespacial, com destaque para a grande
expansão do número e do crescimento territorial das cidades, dentre outros fatores devido ao
aumento da mobilidade em função dos meios de transporte desenvolvidos ao longo do século XX.
No que concerne ao crescimento da população vivendo em cidades, segundo Santos (2008,
p.13) ―em 1800, 27,4 milhões de pessoas viviam em cidades de mais de cinco mil habitantes; em
1850, eram 74,9 milhões; 218,7 milhões em 1900; e 716,7 milhões em 1950‖. Considerando os
dados das Nações Unidas, Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais, Divisão de População
(2014) (disponibilizados no site <https://esa.un.org/unpd/wup/>), organizados no gráfico 1, é

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

possível verificar a manutenção do crescimento da população urbana mundial a partir do ano de


1950, cuja tendência se mantém ao longo dos anos. De acordo com a ONU (2014) em 2015, cerca
de 4 bilhões, pouco mais da metade da população mundial (54%) vivia em cidades, sendo que
segundo as projeções logo, em poucos anos esse percentual se elevará para 66%.

GRÁFICO 1: População urbana (1950-2050).


7 000 000
População Urbana (em milhares)

6 000 000
5 000 000
4 000 000
3 000 000
2 000 000
1 000 000
0

Anos

Mundo África
Ásia Europa
America Latina e Caribe America do Norte
Fonte: Nações Unidas, Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais, Divisão de População (2014). Org.
Alves, 2017.

Ainda tomando como base os dados do gráfico 1, tal como ressaltou Santos (2008), é
possível observar a diferença de urbanização entre as diferentes partes do mundo. Enquanto na
Europa e na América do Norte a urbanização é mais antiga e, de certa forma alcançou estabilidade
ainda na metade do século XX, quando a maioria da população já vivia em cidades. Nos continentes
que passaram pelo processo de colonização e industrialização mais tardiamente, como África, Ásia
e América Latina e Caribe, a urbanização tomou ímpeto entre o final do século XX e início do
século XXI. Além disso, ressalta-se que nestas regiões a urbanização é também mais rápida,
conforme Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos ONU-Habitat (2016)
destacou em seu relatório ―Cidades do Mundo‖

A taxa de crescimento urbano da África é quase 11 vezes mais rápida do que a taxa de
crescimento urbano da Europa. A rápida urbanização de África é impulsionada
principalmente pelo aumento natural, migração rural-urbana, expansão espacial de
assentamentos urbanos pela anexação e pela reclassificação das zonas rurais e, em alguns
países, pode apresenta-se negativa, devido eventos como conflitos e catástrofes. (ONU,
2016, p.7, Tradução Nossa).

Neste sentido, atualmente, considerando que as regiões onde mais cresce o percentual de
população urbana, estão entre as mais pobres do mundo. Além disso, torna-se também comum o

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

surgimento das grandes cidades, tal como já apontará Santos (2008) considerando o período de
1900 a 1960, quando segundo o autor as cidades com mais de um milhão de habitantes passaram de
11 em 1900, para 20 em 1920, 51 em 1940, 69 em 1955 e 80 em 1961. De acordo com Leite (2012)
as cidades com mais de 1 milhão de habitantes atingiram um total de 468 em 2007. Enquanto, as
megacidades - cidades com mais de 10 milhões de habitantes, que hoje já concentram 10% da
população mundial até o ano de 2025 somarão as 16 megacidades existentes em 1996, outras 9,
majoritariamente em países subdesenvolvidos, onde o fenômeno da urbanização tende a se
concentrar. Assim, segundo a ONU (2016) muitas cidades da Ásia, da América Latina e da África
devem se tornar megacidades até 2030.
De tal modo, conforme apontam os estudos, tanto em termos quantitativos como
qualitativos, o processo de urbanização é gerador de preocupações, sobretudo nos países
subdesenvolvidos, dentre outros aspectos porque gera aumento da demanda por serviços públicos,
matérias-primas, produtos, moradia, transportes e empregos, bem como por mudanças na gestão
pública e nas formas de governança, que implica na necessidade de revisão de padrões de conforto
típicos da vida urbana – do uso excessivo do carro à emissão de gases (LEITE, 2012).
O relatório a ONU-Habitat (2016) alerta que o modelo atual de urbanização é insustentável
em muitos aspectos e que muitas cidades estão despreparadas para os desafios associados à
urbanização. Não obstante, enfatiza que a possibilidade de mudança em relação à vida com vistas
ao alcance da solução de muitos dos desafios globais do século XXI, incluindo a pobreza, a
desigualdade, o desemprego, a degradação ambiental e das alterações climáticas está nas cidades.
Portanto, os ambientes urbanos, hodiernamente são simultaneamente empecilho e possibilidade para
o alcance da sustentabilidade e da qualidade de vida.

A questão da qualidade de vida urbana

Diante deste contexto de intensa urbanização da sociedade, os estudos sobre a qualidade de


vida, sobretudo com foco nos ambientes urbanos têm ganhado destaque, principalmente se
considerarmos o fato de que, ―a urbanização atual, muitas vezes intensa e desordenada, é ela própria
geradora de um conjunto de problemas e de disfuncionamentos internos cuja influência nas
condições de vida dos cidadãos importa conhecer e avaliar‖, conforme destacam Santos e Martins
(2002, p. 7).
Antes de tratar da qualidade de vida urbana (QVU), ou seja, da qualidade de vida no âmbito
das cidades, cabe destacar que conforme destacam Almeida; Gutierrez e Marques (2012, p. 18) o
fascínio pela qualidade de vida sempre esteve entre os homens; remete-se ao interesse pela vida.
Com base em Dubos (1974) Guimarães (2005) ressalta que desde a antiguidade existe a
preocupação com a qualidade de vida, conforme comprovam os relatos bíblicos e de Platão e Plínio,

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

bem como os estudos Hipócrates, como em sua obra ―Ares, Águas e Lugares‖, que considerava o
relacionamento Homem/Meio.
Entretanto, apesar de ser um conceito antigo e de uso comum, a definição é do que é
qualidade de vida é demasiadamente complexa, posto que apresenta-se relacionada com várias
outras noções, como satisfação, qualidade do ambiente/meio, desenvolvimento etc; bem como seu
alcance por cada indivíduo, relaciona-se com as suas possibilidades individuais, considerando tanto
questões de ordem concreta, que exercem influência direta sobre as possibilidades de ação do
sujeito frente à própria vida, como formas de percepção, ação e expectativas individuais frente a
esses elementos (ALMEIDA; GUTIERREZ e MARQUES, 2012, p. 18).
Desta forma, para a construção de um conceito de qualidade de vida destaca-se a
conveniência de voltar às abordagens de Maslow (1975) em relação aos níveis hierárquicos da
satisfação das necessidades humanas e as de Smith (1980), que aproximaram a qualidade de vida ao
bem-estar social. Apesar de terem sido concebidas em contextos e para fins diversos dos estudos de
qualidade de vida, estes enfoques foram amplamente difundidos e ilustram duas formas distintas
que permitem chegar a um entendimento acerca da noção de qualidade de vida que perdurou
durante o século XX. Ambos já se mostram em certa medida ultrapassados, no entanto possuem
elementos que se mantem atuais e podem ser considerados.
Ao tomar como ponto de partida a teoria das necessidades humanas proposta por Maslow
(1975), que descreve as necessidades e potencial de realização do ser humano, a partir de cinco
tipos diferentes de necessidades, ordenados a partir das objetivas para as subjetivas, a saber: 1)
necessidades fisiológicas, 2) saúde e segurança, 3) a propriedade e amor, 4) a necessidade de ser
amado, 5) autorrealização e, por fim, 6) as necessidades mais espirituais; tem-se que o alcance da
qualidade de vida depende desde o cumprimento de um patamar mínimo das necessidades básicas
até o alcance do pleno potencial como seres humanos. Apesar de ser utilizada, nomeadamente pelo
setor de recursos humanos das empresas, para proporcionar o bem-estar aos funcionários, pode-se
transpor os pressupostos da pirâmide de Maslow para o entendimento da qualidade de vida em
sentido amplo.
Contudo, para se falar em qualidade de vida deve-se considerar um limiar para além do
atendimento daquilo que é essencial à sobrevivência (patamares mínimos da qualidade de vida),
mas, que em alguns contextos ainda não é assegurado. Assim, a qualidade de vida, de fato, seria a
partir desse limiar mínimo. Segundo Vitte (2009) para a qualidade de vida plena é essencial mais
que o atendimento das necessidades básicas. É preciso a sociabilidade.
Bravo e Vera (1993) apud Bueno (2006) falam da existência de ―necessidades básicas
operativas‖ para a satisfação das várias necessidades do indivíduo (saúde, habitação, etc.);
Chambers e Swain (2006, p.269) referem-se à qualidade de vida como determinados padrões

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

aceitáveis de desenvolvimento humano e progresso, nossa satisfação com essas normas e como elas
nos afetam. Minayo; Hartz e Buss (2000, p.8) concordam que há um patamar material mínimo e
universal para se falar em qualidade de vida, o qual ―diz respeito à satisfação das necessidades mais
elementares da vida humana: alimentação, acesso à água potável, habitação, trabalho, educação,
saúde e lazer; elementos materiais que têm como referência noções relativas de conforto, bem-estar
e realização individual e coletiva‖, a autora ainda acrescenta que para o mundo ocidental de hoje, ―o
desemprego, exclusão social e violência são, de forma objetiva, reconhecidos como a negação da
qualidade de vida‖. Acrescenta-se que valores imateriais como: amor, liberdade, solidariedade e
inserção social, realização pessoal e felicidade, também são essenciais à qualidade de vida.
Essa abordagem das necessidades mínimas é adotada por Morato (2004), que a partir do
entendimento da qualidade de vida como o ―grau de satisfação das necessidades básicas para a vida
humana, que possa proporcionar bem-estar aos habitantes de determinada fração do espaço
geográfico‖, considera três dimensões e seus respectivos indicadores: a qualidade ambiental (com
os indicadores de áreas verdes, abastecimento de água, esgotamento sanitário, coleta de lixo); o
nível socioeconômico (com indicadores de renda per capita, pessoas por banheiro) e a educação
(com indicadores de analfabetos, com 10 anos ou mais, analfabeto responsável por domicilio, anos
de estudo do responsável pelo domicilio) para o estudo da qualidade de vida no município de
Embu-SP. Segundo a autora, apesar das críticas relacionadas a essa abordagem, como o
―minimalismo e as variações nas prioridades segundo os diferentes estilos de vida‖ a escolha dessa
abordagem deve-se ao fato de que ―não é possível ter uma qualidade de vida razoável sem que se
tenha as condições mais cruciais asseguradas‖, especialmente onde a população é majoritariamente
carente sendo, portanto incoerente priorizar as ―condições ou necessidades mais sofisticadas‖.
Cabe ressaltar que a origem da expressão qualidade de vida, associada ao espaço urbano não
é recente. Segundo, Pelletier e Delfante (2000, p. 235), esta remete-se ao século XI, no contexto do
desenvolvimento dos mercados e feiras, em que as autoridades cívicas e religiosas ou laicas
garantiriam as condições de bem-estar. Passando, mais tarde, pelo contexto da Idade Média,
sobretudo no Ocidente, onde os autores destacam ―que os regulamentos visavam à segurança, a
ornamentação, a higiene, os serviços e, claro, o habitat‖ decorreriam de preocupações em melhorar
as condições de vida, até chegar, à urbanização dos séculos XIX/XX.
Segundo Guimarães (2005) fundamentada em Dubos (1974) neste contexto, com a
Revolução Industrial e o intenso crescimento das cidades, surgiram novas demandas que foram
acrescidas às antigas preocupações, assegurando visibilidade a questão da qualidade do ambiente e
da vida nas cidades. Assim, historicamente, em decorrência da expansão da cidade não ocorrer com
o provimento das infraestruturas/equipamentos essenciais à qualidade de vida, há:

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Las dificultades de accesibilidad, el deterioro fìsico de una ciudad, la dificultad de


relaciones sociales, la contaminaciòn ambiental, la saturaciòn de los servicios, la pobreza y
la inseguridad social, son algunos de los problemas que caracerizan hoy a los contextos
urbanos, es decir, que son problemas propios de las ciudades donde se concentra la mayor
cantidad de recursos y de poblaciòn y donde se manifestan en mayor magnitud los
problemas de diferencias y descontento social dificultàndo todo esto la posibilidad de
definir hipòtesis sobre nivèles de calidad de vida (CHACÓN, 1998, p. 2).

O autor destaca que, neste contexto, por vezes a sociedade é marcada pelo paradoxo de um
crescente nível de vida, porém insuficiente para a satisfação dos indivíduos, o que torna as
investigações, simultaneamente necessárias e mais difíceis. Deste modo que,

A investigação actual sobre a qualidade de vida urbana confronta-se, assim, com o desafio
da procura de novos modelos de abordagem que levem em conta as profundas mudanças
económicas, sociais e tecnológicas em curso que, justamente, se têm vindo a manifestar de
forma particularmente expressiva à escala das cidades (SANTOS; MARTINS, 2002, p. 7).

A qualidade de vida urbana (QVU) é definida por Marans e Stimson (2011, p. 1) com base
em Mulligan et al. (2004) como a satisfação de uma pessoa, considerando as condições humanas e
físicas, que são dependentes da escala urbana e podem afetar os comportamentos individuais, de
grupos sociais, famílias e unidades econômicas como empresas. Ao conceituar a QVU McCrea
(2007) faz uma distinção entre a qualidade de vida derivada do ambiente urbano e a com
experiência no ambiente urbano, onde a primeira associa-se com a satisfação derivada de domínios
urbanos como moradia, bairro, comunidade e região e a segunda inclui a satisfação em todos os
domínios da vida; por exemplo, trabalho, relacionamentos, saúde, bairro etc., portanto mais ampla.
Neste sentido, segundo Rodrigues (2007) Tobelem-Zanin (1995) destaca a importância do
conceito de qualidade de vida para observar o estado das condições de vida da população urbana, de
acordo com três conceitos fundamentais: quadro de vida, nível de vida e estilo de vida.

A autora [...] indica que as condições de vida estão simultaneamente ligadas ao quadro de
vida, ao modo de vida bem como, ao nível de vida. Relacionam-se, assim, directamente
com o meio físico, natural e humano em função dos seus equipamentos, da situação
geográfica da sua morada e da distância a todos os outros domínios de actividades
(emprego, lazer, serviços). Existe também uma ligação directa ao nível de vida dado que
este determina frequentemente o modo de vida e, sobretudo, as potencialidades e
possibilidades de vida de cada grupo social [...]. No que toca ao quadro de vida, diz que
permite definir o que rodeia a vida quotidiana do indivíduo e do grupo. O quadro de vida
diz respeito ao ambiente natural (sítio, clima) e às modificações antrópicas (residência,
equipamentos e arranjos urbanos diversos). Salienta ainda que o nível de vida não é apenas
sinónimo do nível salarial, mas deve antes definir-se como uma capacidade de recursos.
Estes recursos podem ser avaliados em função da riqueza e dos salários dos agregados,
mas, também, em função da riqueza da cidade. Esta última permite em grande parte
determinar as potencialidades reais de cada cidade de criar, equipar, manter e gerar o
quadro de vida oferecido aos seus habitantes. Por fim, apresenta os modos de vida de cada
grupo social como sendo determinados pelas características gerais da sociedade. Cada
grupo social possui o próprio modo de vida. Encontra-se ligado às potencialidades de cada
grupo, potencialidades que podem ser de ordem económica (dado que o nível de vida
determina inevitavelmente a forma de viver de cada um, bem como as suas necessidades e
aspirações), ou ainda, de ordem social ou cultural. Assim sendo, cada grupo, definido pela
sua idade ou estrato social, mantém com um mesmo meio relações que são apenas
parcialmente comuns ao conjunto da população (RODRIGUES, 2007, p. 24-25).

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Para Tobelem-Zanin (1995) a dimensão subjetiva é representada pelo bem-estar e a objetiva


pelos elementos materiais, sendo estas medidas complementares. Afinal quanto maior a satisfação
dos indivíduos com o seu ambiente, mais fortes são os laços estabelecidos entre os membros do
grupo com o quadro de vida, melhores são os modos e nível de vida e, por conseguinte a qualidade
de vida (TOBELEM-ZANIN, 1995).

A Fundação Europeia para a Melhoria das Condições de Vida e de Trabalho (Eurofound,


2004) considera a "qualidade de vida" como um conceito mais amplo do que "condições de vida".
As condições de vida, juntamente com a possibilidade das pessoas, na medida do possível, atingir
os objetivos e escolher o estilo de vida que desejam, seriam elementos centrais para a melhoria da
qualidade de vida, que é identificada por um número de dimensões tidas como essenciais para a
vida humana, para o bem-estar, considerando os valores gerais e objetivos políticos da UE. Porém,
o bem-estar depende de outros fatores além das condições de vida, como as formas que as pessoas
reagem e se sentem em relação suas vidas nos diferentes domínios da vida. Esta também é a
perspectiva de Lora et al. (2008, p.9), segundo ele os conceitos são distintos porque, a qualidade de
vida
[...] abarca más que el enfoque de ―condiciones de vida‖, el cual se centra en los recursos
materiales al alcance de los individuos. La calidad de vida comprende también las
circunstancias en que se desarrolla la vida de las personas. Por consiguiente, se acepta que
es un concepto multidimensional, no solamente porque requiere tener en cuenta diversos
aspectos de la vida de las personas, sino también porque abarca aspectos externos a los
individuos, y las interrelaciones entre unos y otros.

Portanto, para a realidade do século XXI, na qual elevaram-se, de um lado os padrões de


vida e de outro os problemas, a qualidade de vida urbana relaciona-se a necessidade investigação
para a reconstrução das cidades, no sentido de que estas sejam mais saudáveis, sustentáveis e
ofereçam condições para a satisfação de uma variedade de necessidades objetivas e subjetivas.
Neste sentido, conforme destaca Costanza et al. (2008) torna-se pertinente a criação de
oportunidades e de condições para que as pessoas atendam as necessidades humanas, das mais
básicas às mais complexas, assim como construam capital humano, social e natural, considerando
que ao longo do tempo o valor atribuído, as necessidades e, por conseguinte as decisões sobre os
investimentos para as melhorias sociais são modificados.
Esta perspectiva está entre as abordagens mais recentes da qualidade de vida, adotadas por
filósofos e economistas. Nela destacam-se os conceitos de capacidade e funcionalidade, sendo o
primeiro, as possiblidades, o conjunto de oportunidades reais que uma pessoa tem em seu favor, que
para fazer ou ser - para alcançar aquilo que considera essencial ser ou ter; isso por sua vez,
representa a funcionalidade. A qualidade de vida seria então a capacitação para alcançar a
funcionalidades. Conforme explica Herculano (2000, p.9) com base em Sen (1995) ―a qualidade de
vida não deve, portanto, ser entendida como um mero conjunto de bens, confortos e serviços, mas,

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

através destes, das oportunidades efetivas das quais as pessoas dispõem para ser‖. Sendo que, tais
oportunidades devem ser asseguradas por meio de governança, participação social, políticas
públicas, etc. Esta é a perspectiva do economista Amartya Sen, que foi adotada também pelo
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD no seu IDH, bem como está
presente em outras publicações da ONU-Habitat e acadêmicas.
Neste sentido, é praticamente consenso que as cidades representam a oportunidade para a
transformação positiva, com ―implicações para o consumo de energia, política, segurança alimentar
e progresso humano‖ (ONU-Habitat 2016), haja vista que concentram as inovações, os diferentes
grupos étnicos e culturais e, portanto a possibilidade de emergência de novas experiências
democráticas. No entanto, a ocorrência de mudanças positivas prescinde de ações, condições,
―capacidades‖ considerando as dimensões social, econômica e ambiental. Neste sentido, ressalta-se
o mérito de uma estrutura de governança urbana que seja centrada nas pessoas.
Este é o caminho escolhido pelas cidades que simultaneamente, buscam a ganhos
econômicos, sociais e ambientais, pois ao priorizar a busca pela qualidade de vida de seus
habitantes, a cidade acaba se tornando também atrativa para empresas que prezam pelos valores
inerentes à qualidade de vida, mensuráveis objetiva e subjetivamente.
Dentre os exemplos, neste sentido pode-se destacar o caso de algumas cidades europeias
como Copenhague na Dinamarca, que conforme relatado por Garcia (2012) em seu planejamento
colocou como metas, assegurar ―Vida Urbana para Todos‖ e o ―Aumento da permanência das
pessoas em espaços públicos‖, a partir do provimento de espaços públicos convidativos, com
atividades e condições infraestruturais adequadas a todas as idades e classes sociais; viabilizar o
―Aumento dos deslocamentos a pé‖, já que andar a pé contribui para o meio ambiente, para a saúde
das pessoas, para a sustentabilidade da cidade e para a vida urbana, para alcançar tal meta foram
implementadas medidas como:

[...] mais áreas verdes; mais calçadas; melhorar a limpeza nos espaços públicos; melhor
qualidade de ar; melhor iluminação; mais segurança em relação ao crime e ao tráfego de
veículos; mais informação sobre como percorrer a cidade a pé; mais faixas de pedestres;
melhor pavimentação das ruas e calçadas; melhor integração com o transporte público;
desenvolver a cultura de que a cidade PODE ser percorrida a pé (GARCIA, 2012, s/p).

Portanto, ainda que o caminho a percorrer para alcance de um cenário positivo, em muitos
países, nomeadamente naqueles de urbanização mais recente e rápida seja longo e fatigante, não é
impossível. Podem existir oportunidades para construção de uma realidade em que a qualidade de
vida seja contemplada, no entanto isto requer um conjunto de políticas públicas, e ações de
planejamento centrado nas pessoas, que valorize o público em detrimento do privado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

A urbanização, um dos fenômenos que caracterizam a sociedade contemporânea, consiste


em um processo histórico associado à industrialização. Suas características são distintas de acordo
com o contexto espaco-temporal em que se concretizou, sendo que, sobretudo nos países
subdesenvolvidos, onde é mais intenso atualmente, é marcado pela desigualdade, pelas relações
individualistas, pelo aumento do consumo de recursos e da produção de resíduos, etc. o que
inviabiliza o alcance da qualidade de vida, por muitas pessoas.
Considerando o alcance a qualidade de vida, cabe ressaltar que esta não é uma preocupação
recente, mas sempre esteve presente nas sociedades, contudo atualmente tem ganhado espaço nos
debates em diferentes áreas do conhecimento, dentre outros fatores devido, a persistência de
problemas como o não atendimento de necessidades básicas de um número significativo de pessoas,
especialmente nos países subdesenvolvidos, e também por causa da emergência de novos problemas
que foram acrescidos aos já existentes, dentre os quais pode-se citar o surgimento de doenças
decorrentes do estilo de vida urbano-industrial.
Diante desta realidade, ratifica-se que há possibilidades de melhorias, em outras palavras é
possível um modelo de urbanização distinto do atual predominante, sendo o caminho para tal
(re)construção das cidades a valorização da dimensão humana na governança urbana, caminho já
escolhido por algumas, porém ainda poucas cidades do mundo, sobretudo localizadas nos países
mais desenvolvidos.

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

ARBORIZAÇÃO E SUAS INTERFERÊNCIAS COM OSELEMENTOS URBANOS DO


CENTRO DE JOÃO PESSOA, PARAÍBA

Sofia Erika Moreira GOMES57


Mestre em Desenvolvimento Sustentável - PRODEMA
sofiaerika@gmail.com
Maria Regina de Vasconcellos BARBOSA
Doutora em Biologia Vegetal
Laboratório Taxon – UFPB
Zelma Glebya Maciel QUIRINO
Doutora em Biologia Vegetal
Laboratório de Ecologia Vegetal, CCAE – UFPB

RESUMO
Este trabalho analisou a interferência das árvores com os elementos urbanos, sendo realizado nas 12
vias públicas mais arborizadas do centro de João Pessoa, de dezembro/2009 a agosto/2010. As vias
públicas foram analisadas em sequencia linear, onde se considerou todos os indivíduos adultos,
totalizando uma área de 9,34Km. Registrou-se a localização das árvores, o equilíbrio dos caules e
das copas, a qualidade do tronco, o afloramento das raízes, espaçamento entre as árvores e as
interferências com a rede elétrica, muros e sinalização. A maioria dos caules e copas se encontrava
em boas condições fitossanitárias, porém 39% das árvores apresentaram injúrias. Os afloramentos
de raízes totalizaram 49%. Cerca de 36% das árvores tocavam a fiação e 37% tocavam árvores
vizinhas. As interferências com a iluminação e o posteamento representaram 9% das árvores, 10%
encontravam-se em contato com a sinalização e 26% tocavam os muros. Elevada discrepância foi
constatada nas distâncias médias entre árvores, havendo a necessidade de novos plantios. Para a
melhoria das condições da arborização, recomendam-se avaliações técnicas mais frequentes, o
melhor aproveitamento dos espaços urbanos e a sensibilização da população para o conhecimento e
a preservação das espécies.
Palavras-chave: Árvores urbanas, Planejamento Urbano, Fitossanidade, Ecologia Urbana.
ABSTRACT
This study analyzed the interference of trees with urban elements, being done in the 12 greenest
public roads from downtown João Pessoa, from December/2009 to August/2010. The avenues were
covered in linear sequence considering all individual trees (except seedlings), totaling an area of
9.34 km. Tree location, stem and crown balance, trunk quality, root outcrops, spacing between trees
and interference with the power grid, walls and signaling were recorded. Most stems and crowns
were in good phytosanitary conditions, but 39% of the trees had injuries. The outcrops of roots
totaled 49%. About 36% of the trees touched the wire and 37% touched neighboring. Interference
with lighting and posting represented 9% of the trees, 10% were in contact with the signaling and
26% touched the walls. High discrepancy was observed in the average distances between trees, and
there is a need for new plantations. To improve the conditions of afforestation, more frequent
technical evaluations, better use of urban spaces and awareness of the population for knowledge and
preservation of species are recommended.
Key-words: Urban trees, Urban environmental planning, Phytosanity, Urban ecology.

57
Laboratório de Ecologia Vegetal, CCAE – UFPB

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

INTRODUÇÃO

As crescentes preocupações com as questões ambientais têm se refletido na área da Ecologia


Urbana e da Educação Ambiental. Trabalhos relativos à arborização urbana têm crescido no Brasil
nas últimas décadas, fato que tem levado à maior compreensão dos seus benefícios ambientais,
sociais e econômicos (Kurihara et al, 2005). O conhecimento das estruturas urbanas e suas funções
são pré-requisitos básicos para a administração das cidades e suas áreas verdes (Rocha et al., 2004),
bem como o conhecimento das espécies e suas exigências ecológicas (Mascaró e Mascaró, 2005).
Este é um importante tema a ser trabalhado na Educação Ambiental, servindo como ferramenta na
tomada de consciência do ambiente pelo homem, pois envolve conhecimentos ambientais e sociais,
uma vez que as árvores urbanas estão inseridas no ambiente antropizado.
Em virtude dos inúmeros benefícios que proporcionam ao ambiente antropizado, as árvores
e outras plantas precisam ser consideradas como elementos constituintes da estrutura urbana
(Mascaró e Mascaró, 2005). O conhecimento da população em relação aos benefícios e riscos que
podem ser proporcionados pelas árvores é de extrema importância para a sua manutenção, de modo
que cidadãos instruídos participam como colaboradores na fiscalização dos problemas ambientais.
Para que seja implementado um sistema municipal que sustente toda a demanda de serviços, é
necessário considerar a necessidade de uma legislação municipal específica, com medidas
administrativas voltadas a estruturar o setor competente para executar os trabalhos, considerando,
fundamentalmente, mão-de-obra qualificada e equipamentos apropriados, bem como o
envolvimento com empresas que ajudem a contribuir financeiramente com os projetos e ações
idealizados (Gonçalves et al, 2009).
Para se ter um bom planejamento da arborização, são necessários estudos pontuais de vários
aspectos das cidades e a avaliação individual das espécies e seus conflitos, com a finalidade de
subsidiar a tomada de decisão da administração pública na escolha das espécies a serem cultivadas e
dos equipamentos urbanos mais compatíveis (Martins et al, 2009).
O objetivo deste trabalho foi analisar a interferência das árvores do centro de João Pessoa
com relação aos elementos urbanos, no intuito de listar os seus principais conflitos e assim
contribuir para o planejamento urbano e paisagístico da cidade.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de Estudo

O Município de João Pessoa está localizado na porção mais oriental da Paraíba, entre as
coordenadas 7º14‘29‖ de Latitude Sul / 34º58‘36‖ de Longitude Oeste e 7º03‘18‖ de Latitude Sul /
34º47‘36‖ de Longitude Oeste, possuindo uma área total de 210,45 km² (0,3% da superfície do

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Educação smbiental: a sustentabilidade dos ambientes rurais e urbanos

Estado) (João Pessoa, 2011). Segundo a classificação de Köeppen, o clima da cidade é do tipo As‘ –
tropical quente e úmido com chuvas de outono e inverno, com período de estiagem de 5 a 6 meses
(Nóbrega, 2002). O centro da cidade corresponde ao trecho urbanizado com maior quantidade de
áreas verdes (Dieb, 1999), cujas principais avenidas foram analisadas no presente estudo.

Levantamento dos Dados

A pesquisa foi efetuada no período de dezembro de 2009 a agosto de 2010. Foi utilizada a
metodologia proposta por Silva et al (2007), adotando-se o modelo de formulário elaborado por
Silva Filho et al (2002), que foi adaptado para coleta manual. As avenidas foram percorridas em
sequência linear e todas as árvores foram analisadas, com exceção das mudas.
Os parâmetros analisados foram: a localização da árvore em relação aos elementos da rua
(postes, fios elétricos, muros, semáforos, marquises, placas e luzes), equilíbrio (tortuosidade,
inclinação ou descaracterização da arquitetura) da copa e do tronco, ocorrência de injúrias e
afloramento das raízes (quebra de calçadas).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A maior quantidade de indivíduos foi observada na Avenida Camilo de Holanda (62 árvores
em 1,18 Km) e a menor quantidade foi observada na Rua Desembargador Souto Maior (7 árvores
em 0,33Km) (Tabela 1).

Tabela 1. Número de árvores analisadas nas principais vias públicas do centro de João Pessoa, PB e sua
localização.
Nome do logradouro Extensão Largura No de Localização
(km) (m) árvores
Av. Almirante Barroso 0,90 10,50 29 C, c
Av. Camilo de Holanda 1,18 12,60 62 C, c
Av. Coremas 1,00 10,50 45 C, c
R. Des. Souto Maior 0,33 10,50 7 C
Av. Duarte da Silveira 0,65 14,00 59 C, c
Av. dos Tabajaras 1,15 12,60 25 C, c
Av. General Osório 0,35 8,40 38 C
Av. Getúlio Vargas 0,42 23,80 57 C, c
Av. João Machado 1,40 9,80 59 C
Av. Maximiano de Figueiredo 0,95 11,20 36 C
Av. Pedro I 0,31 10,50 53 C
Av. Sanhauá 0,70 11,20 57 C, c
Total 9,34 527
C – canteiro central, c – calçadas.

Os canteiros centrais representam espaços significativos na arborização do centro de João


Pessoa, contando com 74% das árvores, as calçadas com 19% e as vias públicas 7%. Observou-se
grande disponibilidade de espaço nas calçadas.

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DESEQUILÍBRIOS DO TRONCO E DA COPA

A maioria das árvores analisadas apresentou troncos equilibrados, (73% dos caules tortuosos
ou inclinados) com exceção daquelas presentes na Avenida Sanhauá (Figura 1). Isto indica um
grande risco de queda da árvore, podendo causar acidentes aos transeuntes. Bortoleto et al (2006)
afirmam que este problema relaciona-se à falta de condução das árvores jovens e inadequação das
mudas utilizadas nos plantios. Pode também estar relacionada ao vento ou às interferências do
entorno urbano, que causam alterações na direção dos troncos.

Figura 1. Porcentagem do equilíbrio dos troncos das árvores analisadas nas vias do centro de João Pessoa,
PB.

As copas estavam equilibradas em sua maioria, porém a frequência de desequilíbrios


(descaracterizações da arquitetura da copa) é considerada alta. Como se observa na Figura 2, este
problema ultrapassa 50% das árvores em três avenidas estudadas. Esta alta frequência de
desequilíbrios nas copas pode estar relacionada à má condução das podas, uma vez que em João
Pessoa elas são realizadas pela companhia de energia elétrica, cujo maior intuito é proteger a fiação.
É também comum a ação pontual de alguns moradores que podam as árvores de forma inadequada.

Figura 2. Porcentagem do equilíbrio das copas das árvores analisadas nas vias do centro de João Pessoa, PB.

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QUALIDADE DO TRONCO

Observa-se na Figura 3 as proporções de danos observados nos troncos. Estes números são
preocupantes, pois representam apenas o que foi possível observar na parte externa. De acordo com
Porkorny (1992) a perda de partes do tronco e cavidades sempre resultam em menor resistência
estrutural e redução da estabilidade da árvore.
Segundo Gonçalves et al. (2009), qualquer abertura feita no tronco das árvores constitui um
fator de exposição à entrada de fungos e bactérias, chegando a afetar também os galhos. A
exposição a tais organismos contribui para as doenças no tronco que também podem comprometer a
estrutura da árvore.
Em estudos sobre arborização, questões abordando o vandalismo são inexistentes, embora
esse seja um problema bastante frequente e um dos fatores que contribuem para a perda de partes
do vegetal, o que está intimamente relacionado com a perda de estrutura e, consequentemente,
futuro risco de queda. Esse é um tema imprescindível nos programas de Educação Ambiental, em
escolas e campanhas para a comunidade.

Série1; Série1; Fendido;


Vandalizado; 0,034155598;
0,110056926; 3%
Série1; Oco; Série1; Íntegro;
10%
0,117647059; 0,540796964;
10% 48%

Série1; Injuriado;
0,324478178;
29%

Íntegro Injuriado Oco Vandalizado Fendido

Figura 3. Porcentagem da qualidade dos troncos das árvores analisadas no centro de João Pessoa, PB.

AFLORAMENTO DA RAIZ

A frequência do afloramento das raízes em calçadas, área dos canteiros e leitos carroçáveis,
que juntos somam 49% das árvores analisadas (Figura 4). Isto significa que metade dessas árvores

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apresenta raízes sufocadas e ruas com risco de acidentes. Problemas são comuns em várias cidades
brasileiras, sendo a causa principal de rachaduras nas calçadas (Volpe-Filik et al, 2007; Coletto et
al, 2008; Góes, 2009). Tal dado reflete a falta de adequação das espécies aos locais onde são
plantadas.
Série1; leito
carroçável; Série1; ausente;
0,149905123; 0,508538899;
15% 51%

Série1; canteiro;
0,25426945;
25%

Série1; calçada;
0,087286528;
9%
ausente calçada canteiro leito carroçável

Figura 4. Porcentagem do afloramento das raízes das árvores analisadas no centro de João Pessoa, PB.

As espécies que mais provocaram quebra nas calçadas foram fícus (Ficus benjamina L.)
(82%), acácia olho de pombo (Adenanthera pavonina L.) (68%) e o jambeiro (Eugenia malaccensis
L.) (44%), sendo necessária a ampliação dos canteiros e o cuidado ao utilizá-las em novos plantios.
A Educação Ambiental se insere de forma essencial nos programas de planejamento da
Arborização Urbana, pois é comprovada por vários trabalhos a falta de conhecimentos dos
moradores sobre espécies nativas e suas características, bem como as ações que podem ser
realizadas por eles e pelos órgãos públicos (Ribeiro, 2009; Araújo et al., 2010; Gross et al., 2012;
Castro e Dias, 2013).

DISTÂNCIA ENTRE AS ÁRVORES

No centro de João Pessoa, o intervalo de espaçamento que prevalece é de 0 m a 15m,


representando 63% do total (Figura 5). Milano e Dalcin (2000) recomendam como ideal a distância
de 12 m entre as árvores. Almeida (2009) registrou resultados semelhantes em cidades no Mato
Grosso. Em todas as avenidas analisadas no presente trabalho, existe a necessidade de novos
plantios, pois as árvores apresentaram distribuição espacial bastante irregular, apresentando
indivíduos em locais inviáveis (muito próximos entre si ou de equipamentos urbanos) e longos
trechos viáveis desprovidos de arborização.

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Série1; >
30m; Série1; 0m -
15m;
0,147916667;
15% 0,63125; 63%

Série1; 15-
30m;
0,220833333;
22%

0m - 15m 15-30m > 30m


Figura 5. Porcentagem das classes de espaçamento entre as árvores do centro de João Pessoa, PB.

INTERFERÊNCIAS COM OS ELEMENTOS URBANOS

Das 527 árvores analisadas no centro de João Pessoa, apenas 97 encontravam-se plantadas
em calçadas, sendo, portanto, as que possivelmente apresentam interferência com as construções.
Observou-se que 26% estavam em contato com os muros. Tais árvores podem servir de
facilitadoras ao acesso para o interior das edificações, podendo constituir perigo aos residentes
(Almeida, 2009).
As interferências das árvores com os elementos urbanos foram apresentadas na Tabela 2. O
tipo de fiação elétrica utilizada é a rede convencional, que é a mais problemática, principalmente a
de alta tensão. Segundo Brito e Castro (2007), o custo da manutenção desse tipo de rede é cinco
vezes mais caro que o custo da rede protegida em função do elevado número de interrupções
acidentais verificadas nos circuitos primário e secundário nus, com reflexo direto na elevada taxa de
queima de aparelhos eletrodomésticos.
O número de contatos com a fiação revela a necessidade de podas. Este tipo de conflito é de
grande risco para a população, mas bastante frequente nas cidades brasileiras (Silva et al., 2008;
Almeida, 2009; Rossetti et al., 2010), porém o número de conflitos de João Pessoa supera os
registrados por estes autores. Almeida e Rondon Neto (2010) observaram em três cidades do Mato
Grosso que a maioria dos indivíduos arbóreos foi plantada em calçadas sem fiação elétrica, numa
tentativa de reduzir os conflitos. As avenidas com maior freqüência de contato com a fiação foram a
General Osório (92%) e a Sanhauá (64%), sendo, portanto, as que merecem maior atenção.
Com relação ao contato entre as copas, este fator pode ser positivo em termos de oferta de
uma sombra contínua e pode favorecer também à fauna. Porém essas árvores necessitam de podas
constantes, para evitar o emaranhamento dos galhos. Observou-se que 10% das árvores se

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encontravam em contato com a sinalização e 4% estavam próximas (Tabela 2). O centro de João
Pessoa supera os percentuais registrados na cidade de Franca-SP (Silva et al., 2008) e Anápolis-GO
(Silva, 2010).

Tabela 2. Porcentagem das interferências das árvores com os elementos urbanos do centro de João Pessoa,
PB.
Contato Potencial Ausente
Fiação 36,1% 17,3% 46,7%
Outras árvores 37,0% 13,3% 49,7%
Posteamento 8,5% 16,3% 75,1%
Iluminação 8,5% 13,3% 78,2%
Sinalização 9,9% 3,6% 86,5%
Muro 25,8% 4,1% 70,1%

CONCLUSÕES

Conclui-se que o centro de João Pessoa apresenta um grande número de conflitos na sua
arborização. Foram observados muitos indivíduos plantados em locais inadequados e longos trechos
viáveis desprovidos de arborização.
Em ordem decrescente (do mais frequente ao menos), a sequência dos elementos mais
conflitantes do centro de João Pessoa é: fiação, contato entre as copas, posteamento, sinalização e
muros (mesma frequência), e iluminação. Isto indica os fatores que devem ser priorizados nas
intervenções e nos programas de educação ambiental, de modo garantir a segurança dos moradores.

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