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Sexta, 06 de Junho de 2014 05h15
CONSULTAS JURÍDICAS RENATA SILVA PIRES DE CARVALHO: Procuradora Federal. PósGraduada em Direito Processual Civil, Direito Público e
Direito Penal. Exassessora de Ministro no TST.
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ISSN 19840454
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A conduta desidiosa na Administração Pública à luz da doutrina e da jurisprudência
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RESUMO: Tratase o presente trabalho da análise da conduta desidiosa do servidor público perante à
Publicações oficiais
administração pública nos termos delimitados na Lei nº 8.112/90. A finalidade do estudo é analisar o comportamento
Publicações Oficiais desidioso à luz da doutrina e jurisprudência.
Súmulas Organizadas
Palavraschave: Desídia. Servidor Público. Conduta. Penalidade. Demissão.
Vade Mecum Brasileiro
Vade Mecum Estrangeiro
INTRODUÇÃO
CONCURSOS PÚBLICOS
Apostilas e Resumos A Lei nº 8.112/1990 que disciplina o estatuto dos servidores públicos federais, estabelece no art. 127, as
Banco de Questões penalidades disciplinares a serem aplicadas ao servidor pelo descumprimento de seu dever legal, quais sejam:
Questões Comentadas advertência, suspensão, demissão, cassação de aposentadoria ou de disponibilidade e destituição de cargo em
SERVIÇOS
comissão ou função comissionada.
SEJA ASSINANTE O artigo em questão abordará o entendimento doutrinário e jurisprudencial quanto a aplicação da demissão
Indique o portal frente ao ato desidioso praticado pelo servidor público federal.
Sobre o Portal
DESENVOLVIMENTO
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A conduta desidiosa é uma infração disciplinar prevista no artigo 117, inciso XV, da Lei nº 8.112/90, capaz de
ensejar a penalidade máxima da demissão.
As hipóteses de demissão do servidor público estão estabelecidas no rol taxativo dos incisos IX a XVI, do
artigo 117, ou nos artigos 133, 138 e 139 da Lei nº 8.112/1990, dentre elas encontrase a vedação de proceder de
forma desidiosa consolidada no inciso XV, do art. 117.
É válido destacar, que não há discricionariedade da autoridade julgadora ao aplicar a penalidade disciplinar,
uma vez que a Lei nº 8.112/90 vincula uma única pena para cada infração. Nesse sentido, citase o Parecer – AGU nº
CQ183:
“7. Apurada a falta a que a Lei nº 8.112, de 1990, arts. 129, 130, 132, 134 e 135, comina a
aplicação de penalidade, esta medida passa a constituir dever indeclinável, em decorrência do
caráter de norma imperativa de que se revestem esses dispositivos. Impõese a apenação sem
qualquer margem de discricionariedade de que possa valerse a autoridade administrativa para
omitirse nesse mister. (...)
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8. Esse poder é obrigatoriamente desempenhado pela autoridade julgadora do processo disciplinar
(...).”
“ParecerDasp. Desqualificação de penalidade. As infrações disciplinares são específicas, não
comportando desqualificação da respectiva penalidade”.
Cabe ressaltar, que a infração disciplinar objeto do presente estudo consiste na violação de um dos deveres
funcionais do servidor público. Desta forma, podemos citar a definição do Professor Mauro Roberto Gomes de Mattos
“em assim sendo, como infração disciplinar, a desídia em sentido técnico, está interligada ao desleixo, à
desatenção, à intolerância com que o servidor executa as funções que lhe estão afetas.”.
Ressalta ainda que deve o servidor ser zeloso quando do exercício de seu munus público. Sendo certo que o
dever de zelo é aquele que une o servidor à Administração Pública, através do conhecimento e do respeitos às
normas regulamentares e demais atos normativos, que são estabelecidos para manter o aperfeiçoamento da
execução do serviço.3
Citase, também, a lição de José Armando da Costa:
A objetividade jurídica tutelada pelo tipo é a normalidade do serviço público vislumbrada sob o
particular aspecto da intensidade e eficiência das tarefas públicas postas em prática pelo servidor.
Daí por que o elemento material da conduta desidiosa do funcionário se funda na baixa
produtividade de suas atribuições e nos eventuais prejuízos causados ao erário.
Para a caracterização da proibição disciplinar sub lite não basta, porém, que se constate as
conseqüências materiais referidas acima, sendo, também, de rigor que ela resulte de uma
conduta voluntária reveladora de negligência, imprudência e imperícia (descaso, incúria, falta
de zelo, etc) atribuída ao funcionário.
A desídia, no âmbito do Direito do Trabalho, prevista como falta grave no art. 482, "e", da CLT, significa
desleixo, preguiça, indolência, negligência, omissão, descuido, incúria, desatenção, indiferença, desinteresse,
relaxamento, falta de exação no cumprimento do dever, má vontade.
“[...] a partir das conclusões da Comissão de Inquérito, retromencionada, a autoridade coatora
concluiu que o Impetrante infringiu dispositivos previstos no art. 116, I, II, III e art. 117, XV todos da Lei
8.112/90, configurando a
por nunca ter realizado cálculos do valor da obra em m2, para verificar se os preços estavam
compatíveis com o de mercado, [...] Restou configurada a prova inafastável de que o indiciado
procedeu de forma desidiosa, omitindose quanto a atos de fiscalização e de supervisão que
deveria praticar de ofício, sempre no prejuízo do erário autárquico federal, incidindo na proibição
do inciso XV do art. 117 da Lei nº. 8.112, de 11 de dezembro de 1990.” (MS 7071/DF, Rel. Ministro
Gilson Dipp, Terceira Seção, DJ 31.03.2003, p. 144) – grifouse.
A Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça no julgamento do MS 12317/DF entendeu que a desídia,
passível da aplicação de pena disciplinar máxima de demissão, conforme os arts. 117, XV, e 132, XIII, da Lei
8.112/90, pressupõe não um ato único ou isolado, mas uma forma de proceder desatenta, negligente, desinteressada
e reiterada do servidor público.
Nesse sentivo, consolida mais uma vez a lição de Mauro Roberto Gomes de Mattos, senão vejamos:
“• Desídia em sentido técnico, está interligado ao desleixo, à desatenção, à indolência com que o
servidor público executa as funções que lhes estão afetas.
• Não resta dúvida que a desídia decorre de um comportamento rebelde do servidor público,
voltado para uma negligência intencional. Esta é a desídia habitual, onde o servidor causa transtornos
ao andamento dos serviços, com prejuízos verificados pelo mau desempenho ou pela má vontade.
Sucede que existe a desídia fortuita ou ocasional, a que pode vir por um descuido do
momento, por uma desatenção não intencional, não constituindo, dessa forma, motivo de
punição para a dispensa de empregado privado.
...............................................................................
• A razoabilidade exige que o poder público faça essa avaliação para que os problemas
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psicológicos ou de momento, não maculem o servidor que eventualmente se tornou desidioso,
por problemas alheios à sua vontade.
• O fator intenção é de suma importância para o enquadramento sub examem.”
Desta feita, cabe à administração em um juízo de razoabilidade e proporcionalidade, analisar se efetivamente
o servidor vem agindo, como ação continuada, de forma desidiosa na realização de seu dever functional.
Quanto ao princípio da proporcionalidade, citase o voto vencedor proferido pelo Ministro GILMAR MENDES,
do Supremo Tribunal Federal, quando do julgamento da Intervenção Federal 2.9155/SP, nos seguintes termos, verbis:
“O princípio da proporcionalidade, também denominado princípio do devido processo legal em
sentido substantivo, ou ainda, princípio da proibição do excesso, constitui uma exigência positiva e
material relacionada ao conteúdo de atos restritivos de direitos fundamentais, de modo a estabelecer
um 'limite do limite' ou uma 'proibição de excesso' na restrição de tais direitos. A máxima da
proporcionalidade, na expressão de Alexy, coincide igualmente com o chamado núcleo essencial dos
direitos fundamentais concebidos de modo relativo – tal como o defende o próprio Alexy. Nesse sentido,
o princípio ou máxima da proporcionalidade determina o limite último da possibilidade de restrição
legítima de determinado direito fundamental.
A par dessa vinculação aos direitos fundamentais, o princípio da proporcionalidade alcança as
denominadas colisões de bens, valores ou princípios constitucionais. Nesse contexto, as exigências do
princípio da proporcionalidade representam um método geral para a solução de conflitos entre
princípios, isto é, um conflito entre normas que, ao contrário do conflito entre regras, é resolvido não pela
revogação ou redução teleológica de uma das normas conflitantes nem pela explicitação de distinto
campo de aplicação entre as normas, mas antes e tãosomente pela ponderação do peso relativo de
cada uma das normas em tese aplicáveis e aptas a fundamentar decisões em sentidos opostos. Nessa
última hipótese, aplicase o princípio da proporcionalidade para estabelecer ponderações entre distintos
bens constitucionais.
Em síntese, a aplicação do princípio da proporcionalidade se dá quando verificada
restrição a determinado direito fundamental ou um conflito entre distintos princípios
constitucionais de modo a exigir que se estabeleça o peso relativo de cada um dos direitos por
meio da aplicação das máximas que integram o mencionado princípio da proporcionalidade
São três as máximas parciais do princípio da proporcionalidade: a adequação, a necessidade e a
proporcionalidade em sentido estrito. Tal como já sustentei em estudo sobre a proporcionalidade na
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (...), há de perquirirse, na aplicação do princípio da
proporcionalidade, se em face do conflito entre dois bens constitucionais contrapostos, o ato impugnado
afigurase adequado (isto é, apto para produzir o resultado desejado), necessário (isto é, insubstituível
por outro meio menos gravoso e igualmente eficaz) e proporcional em sentido estrito (ou seja, se
estabelece uma relação ponderada entre o grau de restrição de um princípio e o grau de realização do
princípio contraposto).
Registrese, por oportuno, que o princípio da proporcionalidade aplicase a todas as espécies de
atos dos poderes públicos, de modo que vincula o legislador, a administração e o judiciário. (DJ
28/11/2003, p. 11)”
Vale citar, por fim, o entendimento do Superior Tribunal de Justiça no mesmo sentido:
"A Administração Pública, quando se depara com situações em que a conduta do investigado se
amolda nas hipóteses de demissão ou cassação de aposentadoria, não dispõe de discricionariedade
para aplicar pena menos gravosa por tratarse de ato vinculado" (MS 15.517/DF, Rel. Ministro
Benedito Gonçalves, Primeira Seção, DJe 18.2.2011). No mesmo sentido: MS 16.567/DF, Rel.
Ministro Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, DJe 18.11.2011). No mesmo sentido: MS
15.951/DF, Rel. Ministro Castro Meira, Primeira Seção, DJe 27.9.2011” (STJ, MS 12.200/DF, 1ª
Seção, DJe 03/04/2012).
“3. Não está configurada afronta aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, visto
que, por força do disposto no art. 132 da Lei 8.112/90 e dos fatos apurados, à autoridade
administrativa não cabia optar discricionariamente por aplicar pena diversa da demissão.
Precedentes: MS 15.437/DF, Min. Castro Meira, DJe de 26/11/2010; MS 15.517/DF, 1ª Seção, Min.
Benedito Gonçalves, DJe de 18/02/2011”(STJ, MS 17.515/DF, 1ª Seção, DJe 03/04/2012).
Desta forma, pela fundamentação acima exposta, registrase que o princípio da razoabilidade, sob a feição de
proporcionalidade entre meios e fins, deve sempre ser observada pela administração, em especial quando se tem
que aplicar a penalidade máxima da demissão.
A razoabilidade exige que o poder público faça essa avaliação e diferenciação, para que os problemas
psicológicos, físicos ou outros momentâneos, não maculem a conduta do servidor que eventualmente se tornou
desidioso, por problemas alheios à sua vontade.3
Assim, se é dever da administração atuar nos limites da razoabilidade e da proporcionalidade ao aplicar a
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desídia como causa para demissão do servidor, cabe a este, em contrapartida, agir de forma vinculada aos deveres
estabelecidos pela Administração Pública.
CONCLUSÃO
Por todo o exposto, verificase que a conduta desidiosa assim como prevista nas relações trabalhistas,
também pode gerar a demissão do servidor público federal, nos termos do inciso XV, do art. 117 c/c o art. 132, XIII, da
Lei nº 8.112/90. No entanto, a juriprudência do Superior Tribunal de Justiça entende que a desídia passível da
aplicação da penalidade máxima, pressupõe uma forma de procedere desatenta, negligente, desinteressada e,
principalmente, reiterada do servidor público.
Tratase, portanto, de um juízo de razoabilidade e proporcionalidade da administração para analisar se
efetivamente o servidor vem agindo, como ação continuada, de forma desidiosa na realização de seu dever functional.
REFERÊNCIAS:
1) CARRION, Valentin. Comentários à consolidação das leis do trabalho. 19. Ed. São Paulo: Saraiva,
1995.
2) COSTA, José Armando. Direito Administrativo Disciplinar. Brasília: Brasília Jurídica, 2004.
3) MATTOS, Mauro Roberto Gomes de. Tratado de Direito Administrativo Disciplinar. 2. Ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2010.
Conforme a NBR 6023:2000 da Associacao Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto cientifico publicado em periódico eletrônico deve ser
citado da seguinte forma: CARVALHO, Renata Silva Pires de. A conduta desidiosa na Administração Púb lica à luz da doutrina e da jurisprudência
Conteudo Juridico, BrasiliaDF: 06 jun. 2014. Disponivel em: <http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.48451&seo=1>. Acesso em: 06 jul.
2016.
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