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FACULDADE DE FARMÁCIA
GRADUAÇÃO EM FARMÁCIA
Goiânia,
2017
SABRYNE DE OLIVEIRA SOUZA
Goiânia,
2017
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Revisão bibliográfica
Em todo o mundo, cerca de 47 milhões de pessoas têm demência, sendo que 60 -
70% dos casos são do tipo Doença de Alzheimer (DA) (WORLD HEALTH ORGANIZATION,
2017). Todos os anos, há quase 10 milhões de novos casos e o número total de pessoas
com demência é projetado para cerca de 75 milhões em 2030 e quase triplicou em 2050
al., 2011; BRASIL, 2013; PEREIRA, 2013). Além destes, processos degenerativos como
acetilcolina (ACh) a partir de colina e coenzima A, por meio da colina acetiltransferase (CAT)
(MINETT & BERTOLUCCI, 2000). Após sua formação, a ACh é liberada na fenda sináptica
3
craniano e epilepsia e em doenças neurodegenerativas como a DA (LIPTON &
Os fatores de risco que contribuem para a DA incluem: alelo apoE4, gênero, histórico
Como ainda não se descobriu uma cura para a DA, a farmacoterapia visa retardar o
memantina (ENGELHARDT et al., 2005; SERENIKI & VITAL, 2008; VALE et al., 2011;
PEREIRA, 2013; BRASIL, 2013). Contudo, há uma crescente busca por novas fontes
terapêuticas.
Nesse contexto está o óleo de coco, que é composto basicamente por ácidos graxos
saturados de cadeia média, por isso apresenta particularidades que o fazem ser usado
numa gama de processos cosméticos e alimentícios (MORETTO & FETT, 1986; LAWSON,
1999; SIQUEIRA, ARAGÃO & TUPINAMBÁ, 2002; KUMAR, 2011; RODRIGUES, 2012). O
Axona®, que usa óleo de coco fracionado, como suplementação em casos de DA leve a
moderada (SWAMINATHAN & JICHA, 2014; LEI et al., 2016; ANAND, et al., 2017). Dessa
forma, é necessário entender melhor sobre a eficácia e segurança do uso do óleo de coco,
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O uso de óleo de coco no tratamento da doença de Alzheimer:
Revisão
Farmacologia.
Resumo
média, Demência.
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Abstract
Dementia.
Introdução
palmeiras) e seu óleo é obtido a partir da prensagem a frio da polpa do coco fresco maduro.
graxos de cadeia média (AGCM), compostos por 6-12 carbonos que, por conterem menos
graxos saturados de cadeia longa (AGCL), como baixo ponto de fusão, rápida absorção
e linoleico (Quadro 1). O ácido láurico possui maior concentração (acima de 40%) e, devido
sua resistência a oxidação não enzimática e de seu baixo ponto de fusão é amplamente
utilizado na indústria cosmética e alimentícia (MORETTO & FETT, 1986; LAWSON, 1999;
KUMAR, 2011).
Os AGCMs foram propostos como uma boa fonte de energia alternativa através da
cetogênese (KESL et al., 2016). Eles são metabolizados pelo fígado em corpos cetônicos,
CoA, um substrato-chave no ciclo do ácido cítrico (ciclo de Krebs) para fornecer ATP
não contém gorduras trans. Além disso, há relatos de ação termogênica, favorecendo a
micro-organismos (COSTA, 2008; CARDOSO, 2014; BITTAR et al., 2017; RIBEIRO, 2017).
A doença de Alzheimer (DA), descrita pela primeira vez em 1907 pelo psiquiatra e
Com o envelhecimento, a
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anos está em torno de 1,2%, e, em idosos acima de 95 anos, esse número fica próximo de
55% (APRAHAMIAN, MARTINELLI & YASSUDA, 2009; BRASIL, 2013). No Brasil, a taxa
estimada de DA foi de 7,7 por 1000 pessoas-ano em indivíduos com mais de 65 anos. Não
há relação com o gênero, mesmo assim as mulheres apresentam incidência mais elevada
(BRASIL, 2013).
principalmente das vias colinérgicas, pela atrofia do nucleus basalis de Meynert, o que leva
neuronal e de células gliais (MINETT & BERTOLUCCI, 2000; MATUTE, 2002; VALE et al.,
SERENIKI & VITAL, 2008; VALE et al., 2011; PEREIRA, 2013; BRASIL, 2013).
Atualmente, o óleo de coco tem sido usado como fonte alternativa de corpos
cetônicos são produzidos após a metabolização dos AGCM contidos no óleo de coco (LEI
et al., 2016).
Considerando a polêmica atual do uso de óleo de coco como alimento funcional e/ou
nutracêutico, o presente trabalho teve por objetivo fazer uma revisão integrativa da literatura
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disponível para compreender se o uso do óleo de coco é eficaz como tratamento adjuvante
Materiais e Métodos
com trabalhos publicados nos últimos 12 anos, de 2005 a 2017. A busca foi realizada
durante os meses de maio a agosto do ano de 2017, com as combinações dos descritores:
(1) coconut oil AND Alzheimer (2) coconut oil AND B-amyloid (3) nutraceutics AND
Alzheimer.
análise dos resumos e, por fim, foi realizada a leitura integral dos estudos para verificar os
escritos em outras línguas que não o português, espanhol e inglês; 3) artigos sem
Resultados e Discussão
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A busca nas bases de dados obteve como resultado um total de 751 artigos. Desses,
após leitura dos títulos e resumos foram selecionados 31 artigos. A partir da aplicação dos
por não apresentarem acesso na íntegra. Ao todo, 8 foram selecionados para serem
encontrados.
Tabela 1: Estudos selecionados para inclusão nesta revisão segundo título, autor, ano de publicação,
tipo de estudo, tipo de intervenção com óleo de coco e resumo dos resultados .
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Título Autor Ano Tipo de estudo Tipo de Intervenção Resultados
Effects of a Saturated Fat
and High Cholesterol Diet Alterações comportamentais e
GRANHOLM, A. Óleo de coco
on Memory and 2008 Ensaio Pré - Clínico morfológicas; Aumento de erros de
et al. hidrogenado 10%
Hippocampal Morphology memória de trabalho
in the Middle-Aged Rat
Young coconut juice, a
potential therapeutic agent Diminuição da agregação e
that could significantly RADENAHMAD, deposição de B-amiloide; Menor
2010 Ensaio Pré - Clínico Suco de coco verde
reduce some pathologies N. et al. expressão de GFAP e TAU-1;
associated with Alzheimer’s Diminuição de patologias
disease: novel findings
Maior sobrevivência dos neurônios
Coconut oil attenuates the tratados com óleo de coco;
NAFAR, F. & Estudo piloto - Emulsão de Óleo de
effects of B-amyloid on 2014 Diminuição das alterações
MEAROW, K. M. neurônios de ratos coco e DMSO
cortical neurons in vitro mitocondriais induzidas por B-
amiloide
Estudo Prospectivo,
Aceite de coco: tratamiento
controlado
alternativo no Óleo de coco extra Melhora cognitiva de 39 % no teste
YANG, I. U. et al. 2015 longitudinal, misto,
farmacológico frente a la virgem MEC-LOBO
analítico e
enfermedad de Alzheimer
experimental
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Não foram encontrados artigos no idioma português. O ano de publicação variou de 2008
a 2017.
Quanto ao tipo de formulação do óleo de coco usada, dois estudos utilizaram uma
emulsão de óleo de coco e DMSO em cultura de células; um utilizou óleo de coco extra
como dieta saturada experimental; um usou suco de coco verde em modelo animal e o
de cetona (KME). Os demais artigos, por serem revisão da bibliografia, não possuíam
Quanto ao resultado, Granholm et al. (2008) em seu ensaio pré-clínico com 20 ratos
Fischer 344 machos, em uma dieta saturada experimental com 2% de colesterol e 10% de
óleo de coco hidrogenado durante 8 semanas, relatou que não houve diferenças nos níveis
de crescimento nervoso (NGF) também não revelaram diferenças entre os dois grupos. No
entanto, o grupo alimentado com dieta saturada produziu significativamente mais erros de
comparação com o grupo controle, indicando que a dieta rica em gorduras saturadas
associado a processos mais pesados, mais curtos e mais espessos em células microgliais.
et al. (2008) podem estar relacionadas com o uso de óleo de coco hidrogenado, que
caracteriza o como gordura trans (NAFAR & MEAROW, 2014; FERNANDO et al., 2015).
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Radenahmad et al. (2011) em seu estudo com 40 ratas Wistar ovariectomizadas
(modelo de mulheres na menopausa com DA) alimentadas (gavage) com 100 mL/kg de
peso corporal/dia de suco de coco verde por 4 semanas, obteve resultados positivos, com
ácida fibrilar glial (GFAP) (um neurofilamento intermediário de astrócitos) e também da Tau-
1, ambos biomarcadores da DA. Segundo este estudo, o cérebro das ratas que receberam
Yang et al. (2015) em estudo prospectivo com 44 pacientes (22 casos e 22 controles)
óleo de coco extra virgem diariamente durante 21 dias consecutivos. Neste estudo, a
avaliação cognitiva (MEC-LOBO) foi realizada antes e após a intervenção com óleo de coco
e registrou melhora cognitiva dos pacientes de 39% após a intervenção, sendo mais
Nafar & Mearow (2014) em estudo piloto com neurônios de ratos Sprague Dawley
suplementação direta com óleo de coco. Os resultados mostraram que a sobrevivência dos
neurônios co-tratados com óleo de coco e β-amiloide foi maior que a de neurônios tratados
somente com β-amiloide, além de observarem que o óleo de coco também atenuou as
(2017) realizaram um ensaio in vitro com neurônios de ratos, tratando as culturas com β-
óleo de coco; e também pré-tratamento com óleo de coco e após β-amiloide. Foram
espécies reativas do oxigênio (ROS). Os resultados indicaram que o óleo de coco aumentou
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a sobrevivência de células pré-expostas a β-amiloide, mas teve maior eficácia quando o
tratamento de óleo de coco foi feito antes do tratamento com β-amiloide (NAFAR, CLARKE
& MEAROW, 2017). Quanto a mistura de ácidos graxos de cadeia média, proporcionou
proteção contra β-amiloide, mas não tão efetivo quanto ao óleo de coco completo. O
tratamento com óleo de coco também reduziu o número de células com marcação de
caspase e ROS, além de resgatar a perda de sinaptofisina (NAFAR, CLARKE & MEAROW,
2017).
aumento gradual na dose, atingindo 165 mL por dia dividido em 3 a 4 porções, no período
de maio de 2008 a março de 2010. O paciente relata uma rápida melhora na personalidade,
com óleo de coco. O óleo de coco foi posteriormente substituído por KME (objeto da
2015; LEI et al., 2016). Além dos MCTs, o óleo de coco também oferece tocotrienois e
tocoferóis (vitamina E), que lhe conferem função antioxidante contra o estresse oxidativo,
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resistência à insulina e levando à morte neuronal (HENDERSON, 2008; CRAFT et al., 2013;
de la MONTE & TONG, 2014; YANG et al., 2015). Esse processo é questionado como
sendo uma possível diabetes tipo III, e tem sido alvo de intervenção no processo da doença,
já que a inibição do metabolismo da glicose pode ter efeitos profundos na função cerebral
JICHA, 2014). Os corpos cetônicos também são produzidos a partir de depósitos de gordura
quando as concentrações de glicose são limitadas, ou adquiridas por meio de uma dieta
cetônicos para o cérebro teve efeito positivo, tanto na melhora da memória e cognição,
HENDERSON et al., 2009; KRIKORIAN et al., 2012; HERTZ, CHEN & WAAGEPETERSEN,
2015; REBELLO et al., 2015; WANG & MITCHELL, 2016; YIN et al., 2016; LANGE et al.,
2017).
Contudo, a efetividade terapêutica dos corpos cetônicos parece estar ligada ao fator
al., 2009).
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O promissor potencial terapêutico do óleo de coco surgiu com a aprovação da FDA
moderado (SWAMINATHAN & JICHA, 2014; LEI et al., 2016; ANAND, et al., 2017).
Atualmente, os MCTs são propostos como boas fontes de corpos cetônicos, sendo
uma alternativa a dieta cetogênica, que pode aumentar o risco cardíaco (fator de risco para
o desenvolvimento de DA), e também pode, em casos como os de indivíduos com DA, ser
trabalhosa e de difícil adesão (KLAG et al., 1993; LIU et al. 2003; LIU et al., 2008). Além
disso, os MCTs são mais vantajosos em relação à sua absorção, pois não necessitam de
(RUPPIN & MIDDLETON, 1980; TRAUL et al., 2000; THOLSTRUP et al., 2004).
mecanismos que envolvem a doença ainda são desconhecidos. Com isso, cada vez mais
compostos, o óleo de coco se torna um alimento mais completo, além de se mostrar como
uma alternativa mais barata e mais acessível ao público, em comparação ao Axona ® (LEI
et al., 2016) e parece ser uma alternativa na prevenção e no tratamento adjuvante da DA,
Considerações Finais
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Após a análise dos resultados, o óleo de coco parece mostrar-se útil na melhora de
não foram elucidados, apesar de mostrarem ligação com os corpos cetônicos produzidos
pela metabolização dos MCT’s provindos do óleo de coco, e mais estudos sobre o tema
eficácia e sobre os mecanismos de ação do óleo de coco ainda são escassos. Assim, mais
humanos são necessários, além da pesquisa sobre quais as concentrações circulantes são
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