Texto: Ninguém se arrisca á toa: os sentidos da vida para praticantes
de base jump”
“Ninguém se arrisca á toa: os sentidos da vida para praticantes de b.a.s.e
jump”, artigo escrito por Verônica Rocha em 2008 apresenta o significado de vida para praticantes do esporte radical b.a.s.e jump. Com o artigo a autora busca elucidar as noções de risco como conhecemos na modernidade e o trajeto percorrido por autores para classificar o mesmo e procura entender, a partir de relatos da experiência de praticantes o que o esporte, a adrenalina e o risco desejado e oferecido pelo esporte significam na vida dos jumpers. B.a.s.e Jump é um esporte radical derivado do Paraquedismo, liderando o topo na classificação de esportes perigosos seu nome foi dado a partir das iniciais de objetos que servem como plataforma para a prática do salto. Na queda livre o praticante pode alcançar até 200 km por hora. Em oposição a esportes considerados normais, que buscam o bem-estar, qualidade de vida e saúde o base jumper busca na prática do esporte uma emoção que não encontra no dia-a-dia, no entanto essa emoção representa risco de vida para o esportista. A valoração do senso comum sobre o esporte também exerce influência para aqueles que o praticam, seja quando consideram loucura a prática do mesmo ou quando consideram coragem, por isso torna-se importante analisar não somente o indivíduo que opta por correr risco, mas toda uma sociedade que exerce uma influência a partir da atribuição de valores. No artigo a autora utiliza teóricos como Giddens, Beck e Mary Douglas que analisam a partir das ciências sociais a conotação que o risco ganhou ao longo dos tempos e a influência cultural que a eleição do risco privado possui. Seguindo a ideia do senso comum o risco está associado as probabilidades que assumimos de algo positivo ou negativo acontecerem a partir de decisões tomadas, já os teóricos das ciências sociais elegem três noções de risco
[…] uma primeira centrada no resultado do agir dos atores,
significando que esses possuem a consciência de que seu agir pode provocar consequências danosas; uma segunda, mais ampla, que se refere ao alerta para a emergência de futuros eventos que acarretem danos, sejam resultantes de suas ações individuais, coletivas ou de fenômenos naturais com efeitos negativos; e uma terceira que se refere ao modo de os indivíduos perceberem risco, em sua relação com a cultura (p. 8)
Mesmo quando a decisão sobre o risco é tomada de maneira individual, condição
cada vez mais comum com a modernidade, as escolhas não são isentas de uma relação com a cultura. Nesse caso torna-se mais importante analisar quais fatores e influências sociais estão levando os indivíduos a assumirem o risco, risco esse eleito no Base jump como privado visto que é permeado de escolhas assumidas individualmente, no entanto, para a autora essas escolhas estão repletas de cultura dado que as emoções e valores sobre o risco são construídos coletivamente. A autora utiliza então trechos de relatos de praticantes do base jumper para estruturar sua pesquisa. Com direcionamentos sobre o risco, o medo, o êxtase, gratidão e a morte a autora consegue mostrar o quanto a prática dessa modalidade corresponde com a premissa dos esportes comuns: a superação. Os praticantes do esporte conhecem o risco, sentem medo- sentimento esse ligado a coisas que fogem ao controle, os atores da pesquisa ligam a experiência do salto a uma experiência de quase morte, experiência essa capaz de modificar o pensamento e a forma de agir do saltador. Para eles a verdadeira morte encontra-se em uma vida monótona, aprisionante, aceitam os riscos pois os preferem os mesmos a serem condenados a uma vida sem emoção. Em oposição ao pensamento do senso comum os saltadores consideram-se amantes da vida a ponto de não conseguirem suportar o tédio ou uma vida mornamente vivida, segundo seus conceitos. Seja na transição do risco como algo meramente probabilístico para um conceito negativo ou na busca por emoção e adrenalina, é possível perceber nos praticantes do esporte um sentido moderno para categorias e sentimentos já conhecidos. Com base nessa premissa a autora finaliza o artigo de sua pesquisa mostrando o quanto os saltadores encaixam-se na base de dois sentimentos modernos, sendo eles o tédio e o romantismo, em razão disso vale a pena para os mesmos arriscarem as suas vidas em troca do sentido que pretendem dar a vida e como românticos os saltadores não se veem satisfeitos com a realidade e buscam salto após salto experiências capazes de tornarem a vida mais agradável, assemelhando o esporte radical ao comum na busca pela superação, valores socialmente e culturalmente construídos.