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Primeiramente agradeço a Deus, que me deu sabedoria e força para continuar a buscar
o meu sonho e nunca desistir.
Agradeço aos meus pais, Maura e Geraldo, que sempre estiveram ao meu lado, nas
minhas horas de desespero e angústias. Muito obrigada por todo o carinho, amor e dedicação
que vocês sempre me deram. Amo vocês!
As amigas que conquistei ao longo desses três anos de graduação, que sempre ficaram
ao meu lado, rindo, trocando confidências, jogando conversa fora, mas que se tornaram
pessoas muito especiais na minha vida e jamais vou me esquecer de vocês, Amanda, Janaina
M. e Bianca P. Muito obrigada meninas!
Não posso deixar de agradecer a minha querida amiga, ex-professora de Geografia,
Bethânia Alves de Menezes, que mesmo ocupada com suas aulas e sua vida particular, me
atendeu, me escutou e me auxiliou no andamento dessa monografia. Muito obrigada Bê!
Um agradecimento especial ao meu orientador, professor Carlos Eduardo de Oliveira
Klebis, pela sua contribuição para o andamento do trabalho, e principalmente, pela sua
enorme paciência comigo. Muito obrigada Edu!
Enfim, agradeço a todas as pessoas que ouviram as minhas dificuldades quanto à
elaboração do trabalho monográfico, que me apoiaram quando eu precisei (sempre!) e ficaram
ao meu lado: Obrigada!!
“Todas as vidas dos homens são contos de fadas escritos pelas mãos de Deus.”
RESUMO
Este trabalho apresenta um breve histórico da Literatura Infantil Européia e Brasileira através
dos séculos, analisa o conceito de infância construído durante esse tempo para compreender
como a Literatura contribuiu/contribui para o desenvolvimento e educação das crianças e por
fim, analisa alguns dos clássicos contos de fadas, na intenção de entender como a Literatura
Infantil influencia a criança com suas narrativas. Será apresentada a biografia de dois dos
principais autores brasileiros, a fim de valorizar os autores de nosso país. Também veremos
como a literatura para crianças se desenvolve na escola, analisando também a sua importância
no ambiente escolar.
INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 08
1. Breve Histórico da Literatura Infantil na Europa .................................................... 10
1.1 – Surgimento da Literatura Infantil na Europa ..................................................... 10
1.2 – A Literatura Infantil durante a Industrialização ................................................. 13
1.3 – A concepção e a representação da infância ........................................................ 16
2. Breve Histórico da Literatura Infantil Brasileira ..................................................... 20
2.1 – O início da Literatura Infantil no Brasil ............................................................. 20
2.2 – Monteiro Lobato e Ziraldo: grandes escritores infantis de épocas distintas ...... 24
2.3 – A Literatura Infantil na Escola ........................................................................... 28
3. As Análises dos Contos de Fadas Segundo a Psicologia ........................................ 32
3.1 – Breve Biografia de Charles Perrault ................................................................... 32
3.2 – Análise do conto “Pele de Asno” ....................................................................... 33
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 38
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 40
INTRODUÇÃO
9
1. Breve Histórico da Literatura Infantil na Europa
Durante a Idade Média em terras européias, surge uma literatura narrativa de duas
fontes diferentes: uma popular, que deriva de narrações orientais ou gregas, e a outra, a
narrativa culta, que se origina através de aventuras de cavalarias com inspiração ocidental
(COELHO, 1991, p. 30).
10
atividade superior do espírito: a atividade de um homem que tinha o Conhecimento
das Coisas. (COELHO, 1991, p. 33).
Por causa da guerra permanente entre os povos naquela época, as marcas dessa
violência ficaram sinalizadas em várias narrativas. Ela vai desaparecendo dos contos
conforme o tempo e de acordo com os costumes da sociedade. As histórias também variam de
acordo com o autor, de acordo com a versão: “ao passarem da versão de Perrault para a de
Grimm e deste para as versões contemporâneas. Hoje, transformados em literatura infantil,
perderam toda a agressividade original.” (COELHO, 1991, p. 34).
Coelho diz que até o século XVII, as histórias foram se cristalizando, se modificando
na voz do povo europeu, se tornando o folclore das nações. Ela também cita alguns dos
personagens que compunham as narrativas que os escritores foram descrevendo em seus
livros:
Cavaleiros andantes, reis, rainhas, princesas e príncipes bons e maus, fadas, bruxas,
metamorfoses de criaturas humanas em animais (ou vice-versa), ogres e ogressas
canibalescos, maldições, profecias, madrastas, crianças abandonadas, crianças que
são entregues a alguém para serem mortas, fantasmas e magos, gênios benfazejos e
malfazejos... é a fantástica legião de personagens que a partir do século XVII os
escritores cultos vão descobrir na tradição oral dos povos europeus e criar a
Literatura Infantil que hoje conhecemos como “tradicional” [...] (COELHO, 1991, p.
66).
11
Nelly Novaes Coelho (1991) quando cita os clássicos infantis de Perrault, La Fontaine,
Grimm ou Andersen, afirma que esses nomes não são os verdadeiros autores das narrativas:
Quando hoje falamos nos livros consagrados como clássicos infantis, os contos-de-
fada ou contos maravilhosos de Perrault, Grimm ou Andersen, ou as fábulas de La
Fontaine, praticamente esquecemos (ou ignoramos) que esses nomes não
correspondem aos dos verdadeiros autores de tais narrativas. São eles alguns dos
escritores que, desde o século XVII, interessados na literatura folclórica criada pelo
povo de seus respectivos países, reuniram as estórias anônimas, que há séculos
vinham sendo transmitidas, oralmente, de geração para geração, e as transcreveram
por escrito. (COELHO, 1991, p. 12).
De acordo com Coelho (1991), estudiosos vem tentando descobrir como essa
Literatura Popular chegou até os dias de hoje. Eles levantaram hipóteses, como a de memórias
privilegiadas dos contadores de estórias, e documentos que foram encontrados em diferentes
regiões e escritos de vários modos: pedras, argila, pergaminho, ou em grossos livros
manuscritos guardados com correntes e cadeados.
A Literatura Infantil, segundo Coelho (1991), valoriza a imaginação e a fantasia, e foi
construída a partir de narrativas orais transmitidas pelo povo. Essas histórias foram escritas
em livros e receberam os nomes de seus recriadores, se expandindo através dos anos pelo
mundo.
A autora Barbara Vasconcelos de Carvalho, em seu livro A Literatura Infantil Visão
Histórica e Crítica (1983), fala sobre como a Literatura enriquece o imaginário infantil:
Segundo Marisa Lajolo e Regina Zilberman (2010), Charles Perrault foi responsável
pelo surto de Literatura Infantil, determinando a incorporação dos textos de La Fontaine e
Fénelon. Seu livro trouxe uma preferência extraordinária pelo conto de fadas, que era até
aquele momento transmitido oralmente pela população.
Perrault não é responsável apenas pelo primeiro surto de literatura infantil, cujo
impulso inicial determina, retroativamente, a incorporação dos textos citados de La
Fontaine e Fénelon. Seu livro provoca também uma preferência inaudita pelo conto
de fadas, literarizando uma produção até aquele momento de natureza popular e
circulação oral, adotada doravante como principal literatura infantil. (LAJOLO e
ZILBERMAN, 2010, p. 16).
12
O desenvolvimento da Literatura Infantil não ocorreu somente na França; a Inglaterra
se expandiu na associação a acontecimentos de fundo econômico e social.
A Inglaterra era o país com maior potência marítima (sendo a marinha mais respeitada
da época) e comercial, e por possuir a matéria-prima necessária, vai para a industrialização
contando com um mercado consumidor em expansão na Europa e no Novo Mundo.
Pela industrialização a sociedade cresceu, se modernizou com as tecnologias
disponíveis, e a Literatura Infantil assumiu a condição de mercadoria desde o seu início.
Lajolo e Zilberman explicam que:
13
isto é, a oportunidade de fazer parte do reduto seleto da literatura.” (ZILBERMAN e
MAGALHÃES, 1987, p. 3-4).
Motivou a sua identificação com a cultura de massas, sendo feito um
redimensionamento necessário para a verificação das características do gênero, o exame de
suas relações com a pedagogia e a aproximação da literatura com a arte.
A produção artesanal aumentou com o aparecimento de tecnologias e invenções
inovadoras. As fábricas se localizavam nos centros urbanos, e atraíram trabalhadores rurais,
que procuravam melhores oportunidades na cidade, aumentando o número de pessoas e o
desemprego também.
Com o crescimento político e financeiro das cidades, a urbanização ocorre de forma
desigual: de um lado as pessoas que vieram do campo para a cidade, o proletariado; do outro,
no perímetro urbano, os que financiam com o capital do comércio ou da exploração marítima,
as plantas industriais, a burguesia.
A burguesia se torna classe social, e incentiva instituições que trabalhem ao seu favor
para ajudá-la a atingir suas metas.
A família é a primeira instituição: ela depende algumas vezes da interferência do
Estado absolutista, que estimula um modo de vida doméstico, sem participação pública. É
visto como padrão para ser imitado por todos os outros.
A escola passa a ser então, obrigatória para todas as crianças de todas as classes
sociais e não apenas da burguesia, diminuindo o número de operários mirins das fábricas.
A literatura e a escola se unem para habilitar a criança a consumir as obras impressas.
A literatura se torna intermediária entre a criança e a sociedade do consumismo, e auxilia a
escola na promoção e estímulo da circulação dos livros.
Os livros, “tem características peculiares à produção industrial, a começar pelo fato de
que todo livro é, de certa maneira, o modelo em miniatura de produção em série.” (LAJOLO e
ZILBERMAN, 2010, p. 18). As autoras explicam que essas obras visam um mercado
específico, e dependem da escolarização das crianças, adotando posturas pedagógicas para
serem utilizados nas escolas.
Os livros de Literatura Infantil apresentam histórias de como o adulto quer que a
criança veja o mundo; a ficção infantil traz com maior liberdade a imaginação, a fantasia,
fazendo com que a criança passe as fronteiras do realismo. “E essa propriedade, levada às
últimas consequências, permite a exposição de um mundo idealizado e melhor, embora a
superioridade desenhada nem sempre seja renovadora ou emancipatória.” (LAJOLO e
ZILBERMAN, 2010, p. 19).
Dessa forma, o escritor adulto transmite ao seu leitor mirim, uma realidade histórica,
buscando aceitação afetiva e intelectual da criança. A Literatura Infantil equilibra a reunião do
texto do universo afetivo e emocional da criança.
Por intermédio desse recurso, traduz para o leitor a realidade dele, mesmo a mais
íntima, fazendo uso de uma simbologia que, se exige, para efeitos de análise, a
atitude decifradora do intérprete, é assimilada pela sensibilidade da criança.
(LAJOLO e ZILBERMAN, 2010, p. 20).
A criança como todo ser humano, é um sujeito social e histórico e faz parte de uma
organização familiar que está inserida em uma sociedade, com uma determinada
cultura, em um determinado momento histórico. É profundamente marcada pelo
meio social em que se desenvolve, mas também o marca. A criança tem na família,
biológica ou não, um ponto de referência fundamental, apesar da multiplicidade de
interações sociais que estabelece com outras instituições sociais. (BRASIL, 1998, p.
21).
16
O pintor não hesitava em dar à nudez das crianças, nos raríssimos casos em que era
exposta, a musculatura do adulto: assim, no livro de salmos de São Luís de Leyde,
datado do fim do século XII ou do início do XIII, Ismael, pouco depois de seu
nascimento, tem os músculos abdominais e peitorais de um homem. Embora
exibisse mais sentimento ao retratar a infância, o século XIII continuou fiel a esse
procedimento. Na Bíblia moralizada de São Luís, as crianças são representadas com
maior frequência, mas nem sempre são caracterizadas por algo além de seu tamanho.
(ARIÈS, 2006, p. 17).
17
Ariès (2006) explica que então, surge um novo sentimento chamado “paparicação”,
onde a criança, ingênua, gentil e graciosa, se torna uma fonte de distração e relaxamento do
adulto, originalmente, as mães ou amas.
A criança começa a ser tratada como criança a partir do século XVII, quando houve a
criação das primeiras escolas, e na segunda metade do século XVIII, com a Revolução
Industrial e a ascensão da burguesia, ela toma seu lugar na família e na sociedade
(CARVALHO, 1983, p. 86).
A autora Barbara Vasconcelos de Carvalho, explica que nos séculos XVII e XVIII, as
escolas faziam distinção de idade, e também a discriminação da criança pobre e rica,
dividindo a escola e seu ensino em duas classes: “[...] ensino para o povo e ensino para a
burguesia e aristocracia, para formar o pequeno-burguês, que tão bem floresceu na França, e o
gentleman, que assinala o clímax da burguesia, no século XIX.” (CARVALHO, 1983, p. 88).
Carvalho (1983), afirma que: “a criança exige um tratamento especial, específico e
adequado; se isso não acontece, estaremos diante de miniaturas humanas, numa flagrante
deformação psicológica.” (CARVALHO, 1983, p. 75).
A autora cita a importância de Rousseau quando ele reconhece a criança como criança
no século XVIII:
Marisa Lajolo e Regina Zilberman (2010) explicam que durante o século XVIII, a
preservação da infância, sua efetivação só poderia ocorrer no espaço restrito da família. Com
a Revolução Industrial, a criança passa a ser consumidora dos produtos comercializados:
18
Muitas vezes vista apenas como um ser que ainda não é adulto, ou é um adulto em
miniatura, a criança é um ser humano único, completo e, ao mesmo tempo, em
crescimento e em desenvolvimento. É um ser humano completo porque tem
características necessárias para ser considerado como tal: constituição física, formas
de agir, pensar e sentir. É um ser em crescimento porque seu corpo está
continuamente aumentando em peso e altura. É um ser em desenvolvimento porque
essas características estão em permanente transformação. (BRASIL, 2006, p. 14).
Esse trecho nos mostra que a criança está sempre em desenvolvimento físico, social e
emocional. Essas modificações são constantes e quanto mais a criança se desenvolve, mais
conhecimento ela apreende do mundo ao seu redor, através do contato com a Literatura
buscando mais informações e descobrindo coisas novas com a ajuda da leitura.
19
2. Breve Histórico da Literatura Infantil Brasileira
Neste segundo capítulo abordamos como a Literatura Infantil surge no Brasil, quais
são suas características, as primeiras traduções européias, alguns dos autores mais
consagrados no nosso país e como a Literatura Infantil está inserida na escola.
O estudo e a cultura precisam de muito tempo para o povo apreender. Coelho (1991)
afirma que a educação era o que mais preocupava os mentores do desenvolvimento do país.
Depois da Abolição da Escravatura (1888) e da Proclamação da República (1889), o sistema
escolar nacional incorpora a produção de literatura para crianças e jovens:
20
Simultaneamente ao aumento de traduções e adaptações de livros literários para o
público infanto-juvenil, começa a se firmar, no Brasil, a consciência de que uma
literatura própria, que valorizasse o nacional, se fazia urgente para a criança e para a
juventude brasileiras. (COELHO, 1991, p. 204).
Carvalho (1983), diz que em 1811 foi instalada a primeira tipografia na Bahia, sendo
possível a circulação de jornais; em 1831, em Salvador, surge o primeiro jornal infanto-
juvenil: “O Adolescente”. Assim, vai aparecendo em outros Estados como o Rio de Janeiro
(1835), Maranhão (1845) e em São Paulo (1860), jornais dedicados à infância e juventude.
Por volta da segunda metade do século XIX, a leitura de textos e autores brasileiros
já constituía um hábito até certo ponto arraigado entre os privilegiados assinantes
dos jornais, onde os escritores mais famosos colaboravam com crônicas e poemas,
folhetins de romance e crítica literária. Figuras como Machado de Assis e Olavo
Bilac, consagradas nas rodas mundanas e intelectuais, faziam da vida literária um
ponto de referência para a vida cultural daqueles anos. (LAJOLO e ZILBERMAN,
2010, p. 26).
21
Barbara Vasconcelos Carvalho cita alguns dos tradutores dessa primeira fase da Literatura
para as crianças:
Lajolo e Zilberman (2010) também citam outros tradutores, como João Ribeiro em
1891, do livro italiano Cuore; Júlia Lopes de Almeida e Adelina Lopes Vieira em 1886, do
livro Contos infantis; em 1904, Olavo Bilac e Coelho Neto editam Contos Pátrios e em 1907,
Júlia Lopes de Almeida lança Histórias da nossa terra.
De acordo com Lajolo e Zilberman (2010), essas são algumas obras que estavam
disponíveis para as crianças brasileiras da época, em particular, as que frequentavam as
escolas e se preparavam para ser o futuro do país.
As autoras explicam que entre o fim do século XIX e começo do XX, houve uma
rápida urbanização no Brasil, que após o crescimento do número de empregados para o café,
surge um aumento no número de bancos e casas exportadoras, é ampliado o quadro de
funcionários públicos, cresce as redes de ferrovias e também o movimento dos portos. A
partir disso, começa a surgir a população das cidades, tornando-se um momento favorável
para o aparecimento da Literatura Infantil. (LAJOLO e ZILBERMAN, 2010, p. 25).
22
e Teodoro Morais. Ela também cita Paulo Freire, “com seu trabalho notável [...]”
(CARVALHO, 1983, p. 127).
A autora explica que a partir disso,
Em 1894, pela Editora Quaresma, foi publicado o primeiro livro destinado às crianças.
Escrito por Alberto Figueiredo Pimentel, Contos da Carochinha reúne 40 contos populares
que foram traduzidos e adaptados para o Brasil. Carvalho (1983) conta que entre autores dos
contos traduzidos, estão Perrault, Grimm e Andersen. Dois anos depois, Pimentel publica seu
segundo livro, Histórias da Baratinha, sendo o precursor da Literatura Infantil brasileira,
[...] dedicando-se à infância, ora com estórias maravilhosas, ora com a poesia, de
que nos apresenta uma selecionada coletânea, em Álbum das Crianças, ora com o
teatro – Teatrinho Infantil – ora, enfim, com o interessantíssimo livro que se intitula
Os meus Brinquedos, onde ele parte das cantigas de berço, chega aos jogos e
brincadeiras, passa pelos salões de ruidosa alegria e aniversários, até o teatrinho,
incluindo, ainda aí, nesta última movimentação recreativa, uma tradução adaptada da
comédia O Mentiroso, da Condessa de Ségur. (CARVALHO, 1983, p. 128).
Para a leitura da infância brasileira, os textos eram traduzidos e adaptados dos livros
europeus, e circulavam em edições portuguesas; eram escritos em um português bem diferente
da língua falada pelas crianças do Brasil. Lajolo e Zilberman (2010) explicam que:
Essa distância entre a realidade linguística dos textos disponíveis e a dos leitores é
unanimemente apontada por todos que, no entre-séculos, discutiam a necessidade da
criação de uma literatura infantil brasileira. Dentro desse espírito, surgiram vários
programas de nacionalização desse acervo literário europeu para crianças. (LAJOLO
e ZILBERMAN, 2010, p. 31).
23
A Literatura Infantil do Brasil se inicia assim: traduções e adaptações de histórias
vindas da Europa, mas com uma linguagem mais portuguesa que brasileira. Com livros
didáticos, que traziam histórias para uso nas escolas primárias, o primeiro livro destinado às
crianças de Monteiro Lobato, em 1921, foi Narizinho Arrebitado, e veio também, como
“literatura escolar”, garantindo sua distribuição nas escolas da época.
Com Monteiro Lobato é que tem início a verdadeira literatura infantil brasileira.
Com uma obra diversificada quanto a gêneros e orientação, cria esse autor uma
literatura centralizada em algumas personagens, que percorrem e unificam seu
universo ficcional. No Sítio do Picapau Amarelo vivem Dona Benta e Tia Nastácia,
as personagens adultas que “orientam” crianças (Pedrinho e Narizinho), “outras
criaturas” (Emília e Visconde de Sabugosa) e animais como Quindim e Rabicó.
(CUNHA, 2003, p. 24).
Carvalho (1983) coloca Monteiro Lobato como “o maior clássico da Literatura Infantil
Brasileira” (1983, p. 133), que não escreveu somente para as crianças, mas inventou um
mundo inteiro para elas, criando histórias, personagens e fantasia:
Ao contrário dos clássicos estrangeiros, ele não recriou seus contos de outros; ele os
criou. Embora se utilizasse do rico acervo maravilhoso da Literatura Clássica
Infantil de todo o mundo, a inspiração maior e básica de Lobato foi a própria
criança, os motivos e os ingredientes de sua vivência: suas fantasias, suas aventuras,
seus objetos de jogos e brinquedos, suas travessuras e tudo o que povoa a sua
imaginação... Reencontrou a criança, amealhou toda a riqueza e criatividade de seu
mundo maravilhoso e construiu um universo para ela, num cenário natural,
enriquecido pelo Folclore de seu povo, aspecto indispensável à obra infantil.
(CARVALHO, 1983, p. 133).
24
De acordo com Regina Zilberman e Ligia Cademartori Magalhães, “Narizinho
Arrebitado” surge como literatura para a escola com uso nas escolas primárias como segundo
livro de leitura, garantindo, assim, a sua distribuição.
[...] o texto apresenta uma feição bastante distinta daquela que marca a narrativa
didática e moralizante. O principal traço de diferenciação consiste em que a história
de Monteiro Lobato procura interessar a criança, captar sua atenção e diverti-la. É
bastante conhecido o seu ideal de livro: um lugar onde a criança possa morar. Para
alcançá-lo, o autor reconhecia a necessidade do gênero sofrer modificações e
expressa essa intenção já na sua primeira obra. (ZILBERMAN e MAGALHÃES,
1987, p. 135 – 136).
Para Coelho (1991), Monteiro Lobato criou uma nova Literatura Infantil, rompendo
com os estereótipos, trazendo novas ideias e formas de escrever. Lobato escreveu crônicas e
artigos para a imprensa do interior e capital paulistas desde a sua adolescência; ele
preocupava-se com a renovação na literatura, apresentando autenticidade da realidade
brasileira. Lobato obteve total sucesso entre os pequenos leitores, pois,
25
sociedade, bem como uma tomada de posição a propósito da criação de obras para a infância.”
(LAJOLO e ZILBERMAN, 2010, p. 56).
Em seu outro livro, A Literatura Infantil na Escola, Regina Zilberman escreve que o
autor,
26
Ziraldo descreve esse medo do abandono, da solidão de Flicts:
Em 1979, Ziraldo publicou o livro O Planeta Lilás, um poema sobre o amor aos livros.
No ano seguinte, lança o seu livro de maior sucesso: O Menino Maluquinho. Em seu site, na
área de sua biografia, Ziraldo conta sobre a Bienal do Livro de São Paulo de 1979, em que
pela publicação do Menino Maluquinho, ele ganha o Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do
Livro.
O Menino Maluquinho foi traduzido para diversos países, adaptado para televisão,
teatro, histórias em quadrinhos, tirinhas e cinema. No livro que ele escreveu e ilustrou,
Ziraldo conta a história de um menino maluquinho:
Ele tinha o olho maior do que a barriga/ tinha fogo no rabo/ tinha vento nos pés/
umas pernas enormes (que davam para abraçar o mundo)/ e macaquinhos no sótão
(embora nem soubesse o que significava macaquinho no sótão)./ Ele era muito
sabido/ ele sabia de tudo/ a única coisa que ele não sabia/ era como ficar quieto.
(ZIRALDO, 2011, p. 8-14).
Em 2005 foi publicado pela editora Globo “25 anos do Menino Maluquinho”. A
história foi ilustrada por Ziraldo e mais 27 artistas que foram convidados, entre eles: Maurício
de Sousa, Angeli, Ota e Guto Lins.
Na contracapa do livro O Menino Maluquinho (2011), Fanny Abramovich faz uma
avaliação da personagem:
Uma delícia das mais deliciosas este menino maluquinho que o Ziraldo inventou.
Este menino que tem cara do irmão que a gente queria ter, do amigão do peito muito
do bem escolhido. Porque de maluquinho ele não tem é nada... É um menino
divertido, solto, com uma cuca muito da saudável, inventor de invenções ótimas,
curtidor de tudo que é gostoso, sabedor do que precisa se saber e até poeta. Um
menino mesmo, daqueles que a gente conhece e ama de cara! Eu, pelo menos, me
apaixonei por ele, de paixão perdida... (ABRAMOVICH, [s. d.], apud ZIRALDO,
2011, contracapa).
27
Um livro que se refere a uma criança muito amada, contente, que sabe crescer, que
se interessa por muita gente, por muitas coisas, por muitas atividades... Que sabe
estar consigo e com os outros e que sobretudo sabe viver (sem achar que isso
significa um campo florido, em eterna primavera, onde só acontecem coisas boas,
calmas, e onde nada se altera...). Não, tudo se altera, e, como ela sabe encarar as
diferentes situações da vida, consegue crescer e perceber o quanto tinha sido feliz,
em sua meninice estouvada, vibrante e cheia de vida. (ABRAMOVICH, 1991, p.
110).
Os primeiros livros para as crianças foram elaborados entre os séculos XVII e XVIII,
pois antes, conforme exposto nesta monografia, não se escrevia para o público infantil, não
existia o termo “infância”.
De acordo com Zilberman (2005), as primeiras obras destinadas às crianças são
escritas por pedagogos e professores, com a intenção de educar seus alunos. A autora afirma
que a Literatura Infantil permanece como uma “colônia da pedagogia”, pois possui como
objetivo a didática, ocasionando atividades de dominação da criança.
Por isso, a relação entre literatura e ensino ficou difícil, pois:
Mas, é importante que essa relação possua um aspecto em comum: o ensino, pois tanto
o livro como a unidade escolar se preocupam em aperfeiçoar o indivíduo que estão formando.
Zilberman (2005) explica a finalidade da literatura e da escola: a literatura sintetiza através da
ficção, a realidade, mesmo que a fantasia do autor seja muito exagerada ou diferente, o que
importa é que ela continua a participar do cotidiano do leitor, pois ainda o ajuda a se
conhecer, apresentando-o ao seu mundo e o auxilia em possíveis dificuldades.
28
Dessa maneira, embora compartilhem uma função, literatura e escola não se
identificam, se bem que este tenha sido o pretexto para justificar o uso da obra de
arte ficcional em sala de aula com intuito unicamente pedagógico; aproxima, porém,
os dois setores. E, se isso já representou a sujeição da arte ao ensino, pode-se
investigar as possibilidades que oferece o oposto deste modelo, no qual a didática se
submete às virtualidades cognitivas do texto literário. (ZILBERMAN, 2005, p. 26).
Zilberman (2005) afirma que através do texto literário, o aluno pode ser reinserido no
presente, exercendo um papel ativo, rompendo a barreira da escola e do coletivo. O professor
deve escolher um texto que se adeque ao aluno, valorizando a obra e a sua leitura.
De acordo com Coelho (2010), a escola é um espaço privilegiado, pois é onde nascem
as bases de formação do indivíduo; os estudos literários estimulam a mente, apresentam
múltiplos significados, melhora a consciência e a relação entre os alunos, faz uma leitura do
mundo de variadas formas, aumentando o estudo e o conhecimento da língua.
A autora explica que:
Essa nova valorização do espaço-escola não quer dizer, porém, que o entendemos
como o sistema rígido, reprodutor, disciplinador e imobilista que caracterizou a
escola tradicional em sua fase de deterioração. Longe disso. Hoje, esse espaço deve
ser, ao mesmo tempo, libertário (sem ser anárquico) e orientador (sem ser
dogmático), para permitir ao ser em formação chegar ao seu autoconhecimento e a
ter acesso ao mundo da cultura que caracteriza a sociedade a que ele pertence.
(COELHO, 2010, p. 17).
A autora orienta que as atividades com Literatura Infantil e ficção, devem ter
exercícios de interpretação do sentido do texto, pois é de extrema importância a compreensão
da criança. O professor ensina o aluno a ler corretamente, ensina ter o domínio dos códigos
29
que permitem a leitura, auxilia na compreensão e deciframento do texto, estimulando a
leitura, tornando-o um leitor crítico. (ZILBERMAN, 2005, p. 28-29).
Sobre o possível desenvolvimento que o pequeno leitor pode alcançar, Bruno
Bettelheim (2010) explica que,
Para que uma história realmente prenda a atenção da criança, deve entretê-la e
despertar a sua curiosidade. Contudo, para enriquecer a sua vida, deve estimular-lhe
a imaginação: ajudá-la a desenvolver seu intelecto e a tornar claras suas emoções;
estar em harmonia com suas ansiedades e aspirações; reconhecer plenamente suas
dificuldades e, ao mesmo tempo, sugerir soluções para os problemas que a
perturbam. Resumindo, deve relacionar-se simultaneamente com todos os aspectos
de sua personalidade – e isso sem nunca menosprezar a seriedade de suas
dificuldades mas, ao contrário, dando-lhe total crédito e, a um só tempo,
promovendo a confiança da criança em si mesma e em seu futuro. (BETTELHEIM,
2010, p. 11).
Regina Zilberman (2005, p. 30) esclarece que a Literatura Infantil quando aproveitada
na sala de aula, traz para a criança um conhecimento de mundo, não fica presa ao “ensino bem
comportado”, mas evolui, transformando-a em um leitor crítico, dando ao livro um papel
transformador, que apresenta ao estudante a sua realidade.
Penteado (2007) escreve que “a sala de aula precisa ter um ambiente acolhedor,
atraente e capaz de promover de forma mais eficiente o gosto pela leitura e escrita.”
(PENTEADO, 2007, p. 39). O professor deve incentivar a leitura, lendo; colocar os alunos em
contato com diversos tipos de literatura, para que eles possam se apropriar do conhecimento
apresentado.
“Primeiro a criança tem que ouvir histórias e poemas para depois ler sozinha: seja em
que série ela estiver, esse princípio é válido para despertar o gosto pela leitura.” (AGUIAR,
2007, p. 135).
De acordo com Aguiar (2007), os interesses de leitura variam com a idade da criança,
assim como outros fatores:
Em seu livro “Era uma vez... na escola – Formando educadores para formar leitores”,
Vera Teixeira de Aguiar apresenta dicas para selecionar textos de literatura infantil: “o
30
atendimento aos interesses do leitor, a provocação de novos interesses que lhe agucem o senso
crítico e a preservação do caráter lúdico do jogo ficcional poético.” (AGUIAR, 2007, p. 139).
Portanto, o interesse do leitor deve ser levado em consideração, assim como o
professor deve adaptar a obra ao seu aluno, em termos de assunto, estilo, forma, aspectos
externos e estrutura (AGUIAR, 2007, p. 140). Como forma de investigação, Aguiar apresenta
três pontos para explorar a preferência de temas dos alunos:
- oferecer os mais variados textos aos alunos e observar suas reações (favoráveis ou
não);
- pesquisar na localidade quais as bibliotecas existentes (públicas ou privadas);
- pôr as crianças em contato com os livros através de visitas e registrar suas
impressões. (AGUIAR, 2007, p. 140).
Dessa forma, para auxiliar na escolha do texto, o educador deve partir de algo próximo
ao aluno, do que ele já conhece, assim, aos poucos ele vai buscar novas leituras e novas
formas de ler as mesmas obras.
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3. As análises dos Contos de Fadas Segundo as Contribuições da
Psicanálise
Escrito num momento em que ainda não existia o gênero “literatura infantil”, Os
Contos da Mamãe Gansa (Contes de Ma Mère I’Oye), com o tempo, se divulgam
como leitura para crianças e se imortalizando: o que prova mais uma vez o quanto o
“acaso” (ou o mistério?) interfere nos projetos e acontecimentos da vida humana.
(COELHO, 1991, p. 85).
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Perrault retrata a sociedade do seu tempo, a sua época, em suas estórias infantis,
com toda a carga existencial, fazendo desfilar nelas os opulentos e poderosos, os
humildes e fracos; os nobres e poderosos, que o povo faz descender de canibais,
devoradores; os fracos, compensados e fortificados pelas qualidades morais e
espirituais. As intrigas das classes elevadas, dos nobres, das princesas despeitadas
por não serem convidadas para os grandes acontecimentos na nobreza, dos palácios.
O desenfreado despotismo dos reis, que nada respeitavam ou admitiam além de seus
desejos. Suas personagens são de todos os níveis sociais; aí se agitam e transitam,
com os nobres, toda a classe de plebeus: pescadores, cozinheiros, camponeses,
lavadeiras, revelando verdades, em seu habitat alegórico, dentro do clima dialético
do século, e numa linguagem viva e plástica. (CARVALHO, 1983, p. 77).
Segundo Carvalho (1983), Perrault era o “mago do reino” na França no século XVII,
transformando o país em “o reinado da fantasia”. Para a autora, “os contos de Perrault, como
os de Grimm e Andersen, são conhecidos das crianças antes das letras do alfabeto: eles se
antecipam à alfabetização, porque fazem parte da vida afetiva da criança.” (CARVALHO,
1983, p. 79).
O século XVII foi, portanto, o período do reinício do folclore nos contos de fadas por
Charles Perrault, com o seu estilo incomparável, popular, conhecido pelas crianças do mundo.
De acordo com Carvalho (1983), “Pele de Asno” foi a primeira história escrita por Perrault
dirigida ao público infantil.
[...] quero seu juramento de que não se casará. Eu o atenuo, contudo, com essa
ressalva: se encontrar uma mulher mais bela, mais perfeita e mais sábia do que eu, aí
sim estará livre para empenhar sua palavra e desposá-la.
Sua confiança em seus encantos era tal que a fazia tomar esse compromisso como
uma promessa do rei de jamais se casar. Assim o rei jurou, os olhos banhados de
lágrimas, tudo que a rainha desejou. (PERRAULT, 2010, p. 33-34).
Após alguns meses da morte da rainha, o rei resolveu procurar uma nova esposa; ele
procurou em todo o reino, nos reinos vizinhos, mas não encontrou nenhuma mulher que
tivesse as mesmas qualidades que sua rainha recém sepultada. O rei então percebeu que sua
única filha era mais bonita, e mais sedutora do que sua esposa fora.
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Numa atitude que assombra a todos do reino e especialmente à princesa, o rei revela
sua determinação de casar- se com a própria filha e imediatamente pede sua mão.
Apavorada e horrorizada com semelhante proposta, a princesa pensa em como sair
dessa enrascada. Ela, ao contrário do rei, se dá conta da transgressão incestuosa que
seria cometida caso a união se consumasse. (CORSO e CORSO, 2006, p. 94).
Desesperada com a intenção do pai, a princesa vai em busca de sua madrinha, a Fada
dos Lilases, que tem a ideia de pedir ao rei a confecção de vestidos praticamente impossíveis
de serem concluídos: “[...] um com a cor do tempo, outro com a cor da lua e, por último, um
que imite o sol.” Contudo, o rei está tão determinado de fazer a princesa, sua esposa, que ele
força os artesãos do reino a fabricarem os vestidos.
A princesa já não tem para onde recuar, quando sua madrinha lhe dá um último
conselho: pedir a pele do asno que seu pai tem na estrebaria (esse asno é encantado, pois, ao
invés de esterco, ele produz ouro). Entretanto, o rei atende ao pedido da filha, mostrando que
não há limites ou barreiras em sua vontade, só restando uma opção à princesa: fugir.
A madrinha lhe presenteia com um baú, onde a princesa guardará seus vestidos e joias.
Ela então se suja, cobre-se com a pele do asno e sai sem rumo. Por onde passa, Pele de Asno
pede trabalho, mas ninguém a aceita, até que ela chega em um sítio, e a deixaram limpar o
chiqueiro.
Em seus dias de folga, Pele de Asno ficava em seu quarto, e com a porta bem fechada,
limpava-se, abria o baú e vestia um de seus vestidos. A granja que ela trabalhava, era de um
rei muito poderoso e seu filho passava por ali quando retornava da caça para descansar; em
uma dessas visitas, Pele de Asno viu o príncipe e se encantou. Certa vez, o príncipe, passando
em frente à porta da princesa, a viu adornada pelas joias e seu belo vestido, “[...]
contemplando-a, o príncipe ficou à mercê de seus desejos e tal foi seu alumbramento que mal
conseguia recobrar o fôlego ao olhá-la.” (PERRAULT, 2010, p. 41).
No palácio, o príncipe se isolou, e logo caiu doente. Sua mãe se desesperou, e tentou
fazê-lo dizer qual era o seu mal, mas ele nada disse. Declarou apenas que desejava que Pele
de Asno lhe fizesse um bolo, a rainha então, mandou chamarem a menina.
Assim, Pele de Asno atendeu ao pedido do príncipe, e preparou o bolo em seu quarto,
e acabou deixando cair na massa um de seus anéis. Perrault (2010) diz que foi de propósito
que o anel foi largado na massa:
Palavra que, de minha parte, posso acreditar nisso perfeitamente. É que estou
convencido de que, quando o príncipe a espiou pelo buraco da fechadura, ela soube
muito bem o que estava acontecendo. Nesse ponto a mulher é tão esperta e seu olho
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tão rápido que não a podemos olhar um só momento sem que ela saiba que está
sendo olhada. Tenho toda a certeza, posso até jurar, que ela sabia que o anel seria
muito bem-recebido por seu jovem amante. (PERRAULT, 2010, p. 43).
Perrault conta que jamais houve um bolo tão saboroso, e o príncipe quase engoliu o
anel também. Ele guardou a joia, e novamente ficou doente. Os médicos do palácio decidiram
que o príncipe estava doente de amor, e resolveram casá-lo. Com o anel nas mãos, ele disse
que só se casaria com a pessoa em que a joia servir.
Então se iniciou uma busca por todo o reino a procura da mulher que serviria o anel.
Todas as mulheres do reino experimentaram a aliança: princesas, duquesas, condessas, as
camponesas, as criadas, mas em nenhuma o anel serviu; até que só sobrou Pele de Asno. O
príncipe ordenou que a trouxessem, e quando ela estendeu a mão, o anel ajustou-se
perfeitamente em seu dedo. Os criados do príncipe quiseram levá-la imediatamente ao reino,
mas ela pediu que antes, pudesse trocar de roupa.
Pele de Asno surgiu, exibindo uma beleza nunca antes vista. Os reis ficaram
encantados com tamanha perfeição, e logo foi marcado o casamento. Foram convidados todos
os reis das redondezas, inclusive o pai da noiva. Chorando de alegria, pai e filha se abraçaram
e se perdoaram, fazendo a alegria do príncipe; em seguida, a madrinha da noiva chegou à
festa e contou tudo o que havia acontecido, aumentando as glórias de Pele de Asno.
Diana Lichtenstein Corso e Mário Corso (2006) explicam o pedido que a rainha faz
antes de morrer: “Evidentemente esse pedido é uma cilada, pois [...] o verdadeiro objetivo da
moribunda é não ser substituída. Se não tivesse absoluta confiança em ser insuperável em seus
atributos, não teria solicitado o juramento do marido.” (CORSO e CORSO, 2006, p. 93). A
esposa tem por objetivo não ser trocada ou superada, pois acredita que seus encantos são
únicos.
Quando o rei pede a protagonista em casamento, a princesa fica apavorada,
percebendo que cometeriam um incesto se a união fosse realmente consumada. A Fada dos
Lilases, com a intenção de retardar a vontade incestuosa do pai, solicita vestidos impossíveis
de serem confeccionados, mas nem assim o rei desiste do seu desejo:
Os pedidos são de fato impossíveis, mas tão determinado está o rei que força seus
artesãos a executar os caprichos da princesa. Apesar do absurdo da situação, é
indisfarçável o encanto que as vestes incríveis produzem na jovem. (CORSO e
CORSO, 2006, p. 95).
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Embora as princesas acreditem que o pedido dos vestidos visa a retardar o assédio
paterno, não deixa de ser curioso que, nas aventuras que as esperam, sejam essas
mesmas indumentárias as que irão revelar sua nobreza e beleza. Os vestidos são as
armas com que conquistarão depois seus príncipes. Perrault, nos comentários que
entremeia à história, observa com perspicácia que as moças pedem os vestidos e se
encantam com eles como uma quase vacilação, afinal o que o pai tem a lhes oferecer
é bem tentador. (CORSO e CORSO, 2006, p. 95-96).
[...] algum tipo de reconciliação com o pai é necessária. É preciso algum acordo para
que se possa transferir o amor que o pai e a filha tinham entre si para outro homem.
No fim, ele deve comparecer para entregá-la ao herdeiro desse afeto inaugural.
(CORSO e CORSO, 2006, p. 99).
Embora no conto, Pele de Asno se sinta contrariada por ter sido escolhida para ser a
esposa do pai, segundo Corso e Corso (2006), ela compreende e se identifica com as vontades
do rei, pois pede presentes valiosos, exigindo provas do seu amor para saber até onde ele irá.
Sobre o erotismo e o complexo de Édipo que o conto cita, os autores explicam que:
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Essas histórias reproduzem o núcleo do drama edípico da menina, mas tudo aparece
com os polos invertidos: “não sou eu que o quero, é ele que me quer”. A mãe morta
sai de cena para facilitar a trama, mas de uma forma ou de outra, essa é a história de
todas as meninas, cabe a elas dar conta do que elas supõem que o pai queira delas.
(CORSO e CORSO, 2006, p. 99).
Para uma criança é traumático quando um adulto a assedia sexualmente, pois ela não
está preparada psicologicamente. Isso na mente infantil gera um acúmulo de imagens,
sensações, fantasias e hipóteses que ela não entende. “A estruturação de um desejo sexual é
um processo demorado e paralelo ao crescimento. Isso ocorre assim não só para que o incesto
seja evitado, mas também porque, para se desejar algo, é preciso sentir alguma falta.”
(CORSO e CORSO, 2006, p. 100).
Os autores explicam que Pele de Asno sai de casa como uma menina, mas termina
conquistando um grande amor, como uma jovem mulher. Isso ocorre, pois no decorrer da
história, a personagem aprendeu a administrar as doses de sedução necessárias para atrair o
príncipe. Pele de Asno representa o caminho do amadurecimento e da construção da
identidade da mulher.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Na análise do conto “Pele de Asno”, conforme as barreiras que a princesa precisa
enfrentar, ela cresce um pouco, vai ficando cada vez mais madura e consciente. Mesmo se
sentindo tentada a aceitar a proposta de seu pai (por conta dos belos vestidos que ele a
presenteia), ela consegue escapar para um lugar que só vai trazer crescimento para a
personagem.
Para viver sua vida e fugir da tentativa de incesto de seu pai, Pele de Asno procura
outro lugar para viver, aprendendo a administrar seus sentimentos e desejos, atraindo o amor
de um príncipe e se tornando uma jovem mulher, que amadureceu e descobriu sua própria
identidade.
Acredito que esta monografia tenha alcançado seus objetivos de estudar o começo da
história da Literatura Infantil, trazendo o início da infância, a Literatura no Brasil, autores,
obras, e por fim a análise de um conto de fadas.
Considero que este trabalho seja de grande relevância para a educação, pois aborda a
Literatura Infantil que traz conhecimento, diversão, cultura, amplia a imaginação e o mundo
infantil.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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formar leitores. 4. ed. Belo Horizonte: Formato Editorial, 2007.
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COELHO, Nelly Novaes. Panorama Histórico da Literatura Infantil Juvenil. 4. ed. São
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______. A Literatura Infantil na Escola. 11. ed. São Paulo: Global, 2005.
ZIRALDO. O Menino Maluquinho. 2. ed. São Paulo: Melhoramentos, 2005.
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