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Resumo
O desenvolvimento dos agronegócios da mamona tem se evidenciado nos últimos anos, pois
são de grande valia para o desenvolvimento de muitas regiões brasileiras. O Sistema
Agroindustrial da Mamona - SAIMA atua em vários setores da economia tais como
energético, químico, etc, gerando múltiplos produtos, dentre os quais podemos destacar o
óleo vegetal, o biodiesel, a glicerina, o adubo vegetal e a ração animal. Observa-se que as
cadeias produtivas deste sistema ainda são dispersas e sem uma coordenação estratégica.
Este artigo busca estudar como a Gestão da Cadeia de Suprimento pode contribuir para se
estruturar a cadeia de suprimento do biodiesel de forma integrada e coordena. As atividades
de logística de suprimento, apoio à produção, distribuição física devem ser sincronizadas
para maximização do desempenho logístico do sistema. Realizou-se utilizando analyse de
filière a identificação de todos os segmentos do SAIMA, bem como os processos técnicos e
logísticos da cadeia de produção.
Palavras chave: Gestão da cadeia de suprimento, Agronegócio, Biodiesel da mamona.
1. Introdução
Uma das maiores preocupações das nações atualmente recai sobre a questão energética, pois
se trata de um tema que está fortemente relacionada ao desenvolvimento sustentável das
economias regionais. A grande importância do setor energético é justificada pelo fato de
envolver tanto aspectos econômicos, pois representa grande impacto na balança comercial dos
países, como também está relacionada a aspectos sociais, tecnológicos e ambientais. A analise
sistêmica destes aspectos deve ser dada, a fim de se encontrar as melhores alternativas de
suprimento energético.
A complexidade do problema tem aumentado bastante com o processo de globalização, pois,
neste panorama, as nações se vêem forçadas a otimizar suas matrizes energéticas no sentido
de explorar as fontes que possibilitem o desenvolvimento sócio-econômico, através da
melhoria da competitividade dos produtos e da geração de emprego e renda.
A utilização dos derivados de petróleo, por parte da humanidade, como fonte de energia nas
próximas décadas deve declinar, pois o petróleo é um insumo geologicamente não renovável,
de difícil obtenção e altamente poluente em seus diversos usos, cabendo ao homem a busca
contínua de recursos naturais que possibilitem novas opções energéticas. A biomassa, fonte de
energia renovável e pouco poluente, destaca-se como uma opção emergente que, além de
produção energética, privilegia o homem com o desenvolvimento sustentável.
Existem diversas alternativas de combustíveis que podem ser obtidos da biomassa, como o
biodiesel produzido a partir da mamona, uma oleaginosa que se adaptou de forma sinérgica no
semi-árido nordestino e que se configura como uma alternativa energética bastante promissora
para substituir o óleo diesel mineral.
O Sistema Agroindustrial da Mamona – SAIMA e, consequentemente, a Cadeia de Produção
Agroindustrial do Biodiesel da Mamona – CPA BDM ainda não se desenvolveram em larga
escala no Brasil, contudo têm ocorrido por partes dos governos, a nível estadual e federal,
XI SIMPEP - Bauru, SP, Brasil, 08 a 10 de novembro de 2004.
2. Cadeia de suprimento
Clientes do Clientes do
nível 1 nível 2
A montante A jusante
Fabricantes
Fornecedores Fornecedores
primários
do nível 2 do nível 1
Unidade
produtiva
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F L U X O DE M A T E R I A I S
F L U X O DE I N F O R M A Ç Õ E S (demanda)
Nas últimas décadas, principalmente no final do século XX, observou-se uma mudança de
comportamento nas organizações participantes de cadeias de suprimento frente às oscilações
cada vez mais rápidas do cenário competitivo, em especial no setor agrícola. Conforme
mencionado por BATALHA (2001), admitir que a competitividade de uma empresa está
relacionada à competitividade do sistema a qual ela está inserida pode significar alterações
profundas na maneira de a empresa tomar e conduzir suas decisões estratégicas e táticas.
As empresas são chamadas agora a participar do gerenciamento em conjunto com os outros
atores (players) da cadeia, todos devem planejar e executar as questões logísticas e os
relacionamentos contratuais de forma sistêmica, buscando ganhos globais. A união tende a
transformar-se num processo “ganha-ganha”, em que todos os integrantes ganham e não
somente uns em detrimento dos demais (NOVAES, 2001). Neste contexto é que se enquadra a
GCS.
A definição de GCS segundo o Fórum de SCM realizado na Ohio State University apud
NOVAES (2001) é: a integração dos processos industriais e comerciais, partindo do
consumidor final e indo até os fornecedores iniciais, gerando produtos, serviços e
informações que agreguem valor para o cliente.
Em termos macro-sistêmicos, na GCS, a cadeia de suprimentos deve ser entendida como uma
entidade única que vincula os fabricantes primários, os fornecedores, a unidade produtiva e os
clientes para atender as satisfações e exigências dos consumidores finais (Figura 2). Observa-
se a existência de áreas de interseção entre os atores (círculos), que podem ser entendidas
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Fabricantes
primários Clientes do
Clientes
Unidade Nível 1
do Nível 2
produtiva
Fornecedores
do Nível 2
Fornecedores
do Nível 1
Consumidores Finais
Até o momento foram abordas somente conceitos logísticos, contudo foram necessários ao
melhor entendimento do tema principal deste trabalho que é as aplicações da SCM na CPA
BDM. Nos itens seguintes, serão apresentados o SAIMA, para a visão global do sistema, e a
CPA BDM, que é o foco do nosso estudo. Assim pode-se tratar com as questões de integração
e coordenação dos atores de forma mais clara e objetiva.
Segundo BATALHA (2001), o Sistema Agroindustrial – SAI pode ser considerado como o
conjunto de atividades que concorrem para a produção de produtos agroindustriais, desde a
produção dos insumos (sementes, adubos, máquinas agrícolas, etc.) até a chegada do produto
final (queijo, biscoito, massas, etc.) ao consumidor.
O entendimento da CPA BDM passa pela análise do SAI ao qual a cadeia está inserida. Na
Figura 3, encontra-se a representação esquemática do SAIMA no Brasil. Cada um dos
segmentos que o integram é representado em “caixas” e interligadas transações sucessivas T1,
T2, T3, etc. A área destacada é o foco do nosso estudo e será discutido no próximo item. A
esquematização do SAIMA neste estudo foi adaptada do trabalho de LAZZARINI e NUNES
(1997), que delimitaram o SAI da Soja.
Consumidor final: envolvem tanto os consumidores finais das cadeias de suprimento que
atuam tanto no mercado interno como no mercado externo.
Indústrias de Indústrias de
INDÚSTRIA Genética /
Defensivos / Adubos / Máquinas e Outros
DE INSUMOS Sementes
Fertilizantes Equipamentos
T1
T2
ESMAGAMENTO
E REFINO Empresas Privadas Cooperativas
T8 Cosmética
Empresas Empresas Empresas Farmacêutica
Privadas Privadas Privadas Lubrificantes
Química
Cooperativas Cooperativas Cooperativas etc. T12
T4
MERCADO
INTERNO T9 Varejo
DISTRIBUIÇÃO Atacado T11
MERCADO Mercado
EXTERNO T10 Institucional
T5
CONSUMIDOR
FINAL
Observa-se que além das atividades visualizadas nos macrossegmentos supracitados existem
ainda operações logísticas que devem ser integradas a cadeia como movimentação,
armazenagem e manuseio, transporte interno e externo, gestão de estoque e gerenciamento de
informações.
Desta maneira, a CPA BDM pode ser entendida como sendo a cadeia de suprimento do
biodiesel da mamona ou também como a “rede de empresas” que estão encadeadas de
montante a jusante. Ou seja, desde os fornecedores de insumos agrícolas, passando pelos
produtores agrícolas de mamona, pelas indústrias de processamento / transformação do óleo
em biodiesel e pelos distribuidores e postos de combustíveis até a chegada do biodiesel aos
consumidores finais.
C P A B D M
PRODUÇÃO DE MATÉRIAS-PRIMAS
Bagas de
Mamona
Álcool de 2004.
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Transesterificação Catali-
sador
Glicerina Destilação Separação de Fases Purificação
PRODUÇÃO DE BIODIESEL Mistura Diesel
INDUSTRIALIZAÇÃO
Biodiesel
(B?, B100)
C O N S U M I D O R F I N A L
DISTRIBUIÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO Transporte
Externo
Nos itens anteriores, foi mostrado a estruturas de uma cadeia de suprimento como uma rede
de processos encadeadas que necessitam ser integrada para se obter a maximização dos fluxos
de materiais e informações ao longo da cadeia, contudo este esforço de integração deve ser
coordenado.
HARRISON e HOEK (2003) afirmam que se diferentes atores da cadeia de suprimento forem
direcionados a diferentes prioridades competitivas, então a cadeia não será capaz de atender
ao cliente final tão bem quanto uma cadeia de suprimentos em que seus atores são
direcionados às mesmas prioridades.
Neste sentido, BOWERSOX e CLOSS (2001) ressaltam que para explorar eficazmente sua
competência logística, uma empresa deve considerar uma ampla variedade de fatores
operacionais (suprimento, apoio à produção e a distribuição) que necessitam ser sincronizado
a fim de se criar uma estratégia integrada. A integração com os fornecedores e clientes pode
ser feita utilizando-se a cadeia de suprimento. Ainda segundo os mesmos autores, para evoluir
no longo prazo, uma empresa deve ser capaz de obter uma integração externa e interna
suficiente para satisfazer aos objetivos fundamentais do negócio.
Conforme mencionado anteriormente (NOVAES, 2001), na SCM a união tende a
transformar-se num processo “ganha-ganha”, em que todos os integrantes ganham e não
somente uns em detrimento dos demais. Contudo, deve ser observado que deixar de
reconhecer os critérios competitivos e suas implicações para determinado produto ou serviço
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por parte de qualquer integrante da cadeia significa que a mesma competirá com menos
eficácia. É como numa corrida de carro em que o melhor piloto corre com o melhor carro e
está em primeiro lugar, mas abandona por falta de combustível. A equipe toda é prejudicada
por conta de um erro de cálculo do responsável pelo abastecimento.
Essas afirmações são fundamentos a favor da importância da integração e coordenação das
estratégias e tática dos atores de uma cadeia de suprimento.
No que tange o biodiesel da mamona, para a integração e coordenação da CPA BDM deve-se
utilizar as estratégias da SCM que envolve o compartilhamento de fatores como custos,
interesses, responsabilidades e informações de todos os agentes envolvidos. A integração
plena destes fatores prevê a sincronização das atividades de logística de suprimento (inbound),
de apoio à produção e da logística de saída (outbound) nos três macrossegmentos que formam
a CPA BDM: produção de matérias-primas, industrialização e distribuição e comercialização.
Na figura 5, são apresentados os três macrossegmentos da CPA BDM com a SCM
representando a integração e coordenação dos fluxos de informação (demanda) e de materiais.
Insumos Produção
INDUSTRIALIZAÇ
Agrícolas Agrícola
Produção de
ÃO
PRODUÇÃO DE MATÉRIAS-PRIMAS
Óleo
Fluxo de
Informação Gestão da Cadeia Fluxo de
(demanda) de Suprimentos Materiais
Consumidor Distribuição
Final Produção
de Biodiesel
DISTRIBUIÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO
Figura 5 – Aplicação da SCM nos macrossegmentos da CPA BDM
7. Considerações Finais
O biodiesel da mamona, por ser uma atividade capaz de gerar renda e emprego nas regiões
semi-áridas, em especial, do Nordeste apresenta-se como uma das grandes esperanças para o
desenvolvimento sustentável e fixação do homem em regiões consideradas improdutivas
antigamente. Porém, é necessário que a CPA BDM esteja sincronizada e sem gargalos
logísticos. Assim, se faz oportuno aplicar conceitos de integração e coordenação logística nas
realidades locais, de modo a promover o desenvolvimento e o aprimoramento de novas
técnicas capazes de incrementar as vantagens competitivas do produto.
A aplicação dos conceitos e “pensamentos” da Gestão da Cadeia de Suprimento (GCS)
representa uma ferramenta bastante importante que possibilita a redução nos custos globais na
cadeia de suprimento do biodiesel da mamona. Além de permitir que uma melhor estruturação
das organizações seja desenvolvida desde do início das atividades desta cadeia agrícola
Especificamente neste estudo, foram definidos o SAIMA que se constitui do macrosisterma da
mamona e a CPA BDM que representa os processos que permeiam a produção, distribuição e
comercialização do biodiesel da mamona. Discutiram-se as implicações nas estruturas
organizacionais com a implantação da SCM na cadeia. É importante ressaltar que tal estudo,
XI SIMPEP - Bauru, SP, Brasil, 08 a 10 de novembro de 2004.
Referências
BATALHA, M. O. et al. (2001), Gestão Agroindustrial, Volume 1. Ed. Atlas, São Paulo/SP.