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CURITIBA
2016
DIOGO ALEXANDRE SILVA
CURITIBA
2016
TERMO DE APROVAÇÃO
Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do título de Bacharel no Curso de Direito da
Universidade Tuiuti do Paraná.
Curitiba, de de 2016
____________________________
Bacharelado em Direito
Universidade Tuiuti do Paraná
Orientador: ______________________________
Professor Doutor Dálio Zippin Filho
______________________________
Professor da Universidade Tuiuti
______________________________
Professor da Universidade Tuiuti
RESUMO
O presente trabalho tem por objeto o estudo do Direito Penal e do Direito de Execução
Penal no que tange a ressocialização do apenado frente ao cumprimento da pena
restritiva de liberdade. Tendo em vista que, verifica-se em nossa legislação que a
execução penal tem por objetivo, além da efetivação da sentença, a ressocialização
do apenado com fito sua futura reinserção à sociedade. Analisando-se para tanto a
evolução do Direito Penal e da pena em si, verificando-se qual sua finalidade em cada
contexto histórico até a atualidade, bem como a Lei de Execução Penal brasileira.
Demonstra-se que embora a legislação pátria possua o escopo da ressocialização,
não se tem conseguido atingir tal propósito com eficiência. Isso devido à inércia do
Poder Público frente aos problemas ocorrentes no sistema prisional com o
descumprimento ou cumprimento parcial da Lei de Execução Penal, bem como da
Constituição Federal. Para tanto, contextualizamos a crise no sistema prisional
brasileiro e sua ineficiência do tratamento penal em ressocializar o indivíduo. Ademais,
foi analisado o papel da sociedade na ressocialização do preso, sendo ela a última e
mais importante fase deste processo.
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 6
2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PENA ................................................................. 7
2.1 FASES DA VINGANÇA PENAL ......................................................................... 7
2.2 PERÍODO HUMANITÁRIO ................................................................................. 8
3 HISTÓRICO DO DIREITO PENAL BRASILEIRO ........................................... 10
3.1 PERÍODO COLONIAL ...................................................................................... 10
3.2 CÓDIGO PENAL DO IMPÉRIO........................................................................ 10
3.3 PERÍODO REPUBLICANO .............................................................................. 11
3.4 REFORMAS CONTEMPORÂNEAS ................................................................. 11
4 A FUNÇÃO E A FINALIDADE DA PENA ........................................................ 14
5 SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO ..................................................... 16
5.1 RETROCESSO PRISIONAL DO SÉCULO XX ................................................ 16
6 A RESSOCIALIZAÇÃO NA LEI DE EXECUÇÃO PENAL .............................. 19
6.1 DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE ........................................................... 20
6.2 DA INDIVIDUALIZAÇÃO NA EXECUÇÃO PENAL .......................................... 21
6.3 DA ASSISTÊNCIA ............................................................................................ 23
6.3.1 Da Assistência Material .................................................................................... 24
6.3.2 Da Assistência à Saúde ................................................................................... 24
6.3.3 Da Assistência Jurídica .................................................................................... 24
6.3.4 Da Assistência Educacional ............................................................................. 25
6.3.5 Da Assistência Social ....................................................................................... 27
6.3.6 Da Assistência Religiosa .................................................................................. 27
6.3.7 Da Assistência ao Egresso............................................................................... 27
6.4 DO TRABALHO DO PRESO ............................................................................ 28
6.5 DOS DEVERES E DIREITOS DO PRESO ...................................................... 29
7 A CRISE NO SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO ........................................ 31
7.1 SUPERLOTAÇÃO ............................................................................................ 32
7.2 VIOLÊNCIA ...................................................................................................... 33
7.3 ESTRUTURA PRISIONAL ............................................................................... 33
7.4 PRECONCEITO SOCIAL ................................................................................. 34
7.5 REINCIDÊNCIA COMO CONSEQUÊNCIA DA CRISE NO SISTEMA
PRISIONAL ............................................................................................................... 36
8 UMA QUESTÃO DE POLÍTICA CRIMINAL .................................................... 37
9 CONCLUSÃO .................................................................................................. 39
REFERÊNCIAS ................................................................................................ 41
6
1 INTRODUÇÃO
É bem verdade que o homem não nascera para ficar preso, porém conforme
sinaliza Rogério Greco (2015, p.83): “A história da civilização demonstra, no entanto,
que, logo no início da criação, o homem se tornou perigoso para seus semelhantes”.
Assim, todo grupo social sempre possuiu regras que puniam aquele que praticasse
fatos contrários aos seus interesses. Isto, com o condão de impedir comportamentos
que colocassem o grupo em risco.
A palavra "pena" deriva do latim poena e do grego poiné e significa inflição de
dor física ou moral imposta ao transgressor de uma lei, nas palavras de Enrique
Pessina (1913, p.589-590 apud GRECO, 2015, p. 84): "um sofrimento que recai, por
obra da sociedade humana sobre aquele que foi declarado autor de delito".
Avaliaremos a evolução da pena, juntamente com a evolução do próprio
Direito Penal, analisando a forma de punição dos infratores em cada período.
e não mais como mero objeto, sobre o qual recaía a fúria do Estado, muitas
vezes sem razão ou fundamento suficiente para condenação. (2015, p. 87)
Dentre as várias leis que alteraram nosso Código Penal desde 1940, duas
merecem destaque: a Lei nº 6.416 de 1977 que procurou atualizar as sanções penais,
e, principalmente, a Lei nº 7.209 de 1984 que revogou a parte geral do diploma
instituindo-lhe uma nova.
Pretendia-se substituir o Código Penal de 1940 pelo conhecido projeto de
Nélson Hungria, de 1963, que, devidamente revisado, foi promulgado pelo Decreto-lei
12
1.004 de 1969 e retificado pela Lei nº 6.016 de 1973. Entretanto, o Código Penal de
1969, como ficou conhecido, nunca chegou a vigorar, teve sua vigência postergada
diversas vezes até que fosse revogado pela Lei nº 6.578/78. Diante desse insucesso,
institui-se uma comissão para que se elaborasse um anteprojeto de reforma da Parte
Geral do Código Penal de 1940. Foi presidida por Francisco de Assis Toledo e
constituída por Francisco Serrano Neves, Miguel Reale Junior, Renê Ariel Dotti,
Ricardo Antunes Andreucci, Rogério Lauria Tucci e Helio da Fonseca. Após algumas
alterações em trabalhos de revisão, foi encaminhado o projeto ao Congresso
Nacional, sendo promulgada como Lei nº 7.209 de 1984.
A lei reformulou toda a Parte Geral do Código de 1940, humanizando as
sanções penais e adotando penas alternativas à prisão, além de reintroduzir o sistema
de dias-multa em nosso ordenamento. Muito embora, a lei tenha nos trazido um
grande elenco de penas alternativas à privativa de liberdade, por falta de vontade
política, deixou-se de dotar de infraestrutura nosso sistema penitenciário,
inviabilizando uma melhor política criminal com penas alternativas, há muito
consagrada na Europa.
Na década de 90, viveu-se intensamente uma política criminal do terror com
a criação de crimes hediondos (Lei nº 8.072/90), criminalidade organizada (Lei nº
9.034/95) e crimes de especial gravidade. Contudo, essa tendência foi abrandada pela
implementação da Lei nº 9.099/95 que criou os Juizados Especiais Criminais e
recepcionou institutos como a transação penal, composição cível com efeitos penais
e a suspensão condicional do processo. Posteriormente, tivemos uma ampliação nas
denominadas penas alternativas pela Lei nº 9.714/98, esta abrangendo crimes
praticados sem violência e apenados com no máximo quatro anos. O que se vivencia
após isto, é uma crescente tensão entre os avanços e retrocessos sobre qual é a
função exercida pelo Direito Penal, especialmente no que tange o respeito pelo
legislador em relações aos princípios constitucionais que limitam o exercício do ius
puniendi estatal. Um dos maiores exemplos foi a implementação do denominado
"regime disciplinar diferenciado" (RDD, Lei nº 10729/2003) que estatui um Direito de
autor e não de fato, cujas sanções implicam em isolamento celular de até um ano, não
pela pratica do fato em si, mas por um juízo subjetivo de periculosidade social ou
carcerário, ou ainda por meras suspeitas de envolvimento em quadrilha ou bando o
que desvirtua fortemente a função do Direito Penal.
Diante desta perspectiva de incertezas, surge um alento através de uma
13
pena. Por isso, soluções monistas, sustentadas pelas teorias anteriores, não são
capazes de abranger como um todo a complexidade dos fenômenos sociais
interessantes ao Direito Penal. E este é o argumento basilar desta teoria, a
necessidade de uma abrangência plural.
Nesta teoria, destaca-se o estabelecimento de uma marcante diferença entre
o "fundamento" e o "fim" da pena. A pena tem seu fundamento em nada além do que
fato praticado. Sem o fito de invocar qualquer outro fundamento das teorias anteriores,
como a intimidação para que outros não pratiquem crime ou ainda, a prevenção da
reincidência.
16
corporais e a de morte, pois antes a prisão era vista tão somente como uma espécie
de prisão cautelar, haja vista sua finalidade de apenas recolher o réu até o efetivo
cumprimento da pena. Ao lado dela, surgiram as penas restritivas, ou seja, diferentes
da de privação de liberdade, como prestações de serviços ou multa.
Após grande movimentação no sentido da humanização das instituições
prisionais, houve um forte declínio quanto sua utilização durante a primeira metade do
século XX. As instituições prisionais se tornaram locais em que o Estado apenas
armazena os presos, sem qualquer preocupação com sua dignidade durante o
cumprimento de sua pena. Em regra, há superlotação, que desencadeiam rebeliões e
crimes dentro do próprio sistema, tanto pelos prisioneiros quanto pelos funcionários,
que tinham por obrigação o zelo às leis e a ordem do sistema.
Em suma, esta época fora marcada pelo retrocesso da aplicação da pena
privativa e a exclusão de direitos conquistados, assinalando o retorno da crueldade
ao sistema prisional, razão pela qual surgiram movimentos que pugnam pela abolição
desse sistema.
Para Greco (2015, p. 170) um dos maiores exemplos desse retrocesso, é o
movimento estadunidense denominado law and order, que se destacou de forma
negativa instituindo uma forte cultura aprisionadora naquele país. Foram criadas
algumas prisões lendárias, como por exemplo, Alcatraz, desativada após 29 anos de
utilização, isso dado seu alto custo de manutenção. Além da criação das
penitenciárias de segurança máxima, com rigorosos tratamentos despendidos aos
presos, que lembram em muito alguns sistemas clássicos. Ressalta que por lá, o
sistema penitenciário acabou por se transformar em um lucrativo negócio, com o
sistema carcerário privado em destaque. Juntamente com aumento deste "negócio",
aumentou-se e muito as reclamações quanto ao tratamento dado aos encarcerados.
O autor destaca ainda que outro mau exemplo do país norte americano, foram
suas prisões militares, como a Prisão de Guantánamo, localizado em Cuba, ou a
prisão de Abu Ghraib, localizado no Iraque. Nessas, os presos eram submetidos a
toda sorte de tratamentos desumanos, como a recorrente prática de tortura.
No Brasil, uma das maiores demonstrações de fracasso de seu sistema
penitenciário foi a conhecida Casa de Detenção de São Paulo, mais conhecido como
"Carandiru", apelido dado ao complexo penitenciário haja vista a sua localização, no
bairro de mesmo nome. Criado na década de 1920, inicialmente com a capacidade
para 1.200 detentos, passou suas duas primeiras décadas de funcionamento
18
Conforme preveem o Código Penal, no seu art. 33, e a LEP, no seu art. 112 a
pena privativa de liberdade será executada de forma progressiva e vincula o regime
inicial do cumprimento de pena, entre outros critérios, à quantidade de pena aplicada
e se reincidente ou não.
O Código Penal, ao tratar das penas privativas de liberdade, dispõe sobre os
regimes de pena, prevê direitos do preso, seu trabalho e a lei penitenciária, sendo a
última que deverá explicitar estes artigos. O diploma ainda dispõe sobre a
individualização da pena privativa de liberdade e o exame criminológico. Desta forma,
o Código dá à forma progressiva um caráter científico, não se utilizando para tanto
apenas profissionais de formação jurídica, mas também depende de sociólogos,
educadores, psicólogos e psiquiatras. O que termina por eliminar o caráter burocrático
da progressão do regime progressivo tradicional.
Por sua vez, a LEP em seu art. 112, condiciona a forma progressiva à decisão
21
da classificação do apenado.
Além do exame de personalidade, o art. 8º da LEP prevê a obrigatoriedade do
exame criminológico para aqueles que forem condenados ao cumprimento em regime
inicialmente fechado e facultado aos que iniciarem ao regime semiaberto, para que
assim se estabeleça a devida classificação e o programa individualizador adequado à
reeducação penal.
Para Albergaria, o objetivo do exame criminológico:
6.3 DA ASSISTÊNCIA
Dessa forma, pode o preso, após sua soltura, retornar às salas de aula a fim
de continuar seus estudos para uma melhor reinserção social. Na mesma toada,
segundo Marcão:
Consta do texto do art. 22 da LEP: "A assistência social tem por finalidade
amparar o preso e o internado e prepará-los para o retorno à liberdade", ou seja,
pretende-se com essa assistência contribuir com o processo de ressocializar o
indivíduo e reinseri-lo da sociedade. Enumera-se as formas dessa prestação no artigo
subsequente, sendo que é incumbido ao serviço de assistência social, dentre outros,
o conhecimento dos problemas e dificuldades do assistido e a promoção de orientação
ao indivíduo a fim de lhe facilitar a reintegração social.Dessa descrição, percebe-se a
importância da assistência social que deve ser prestada ao apenado. Sendo dois os
momentos em que a assistência social mais importa, quando da admissão do preso e
quando da sua saída. Dessa forma, os assistentes sociais, podem alcançar efeitos
não somente referente ao condenado, mas a tudo que o envolve, como a convivência
com os demais apenados e seu futuroretorno à sociedade.
prorrogado, uma única vez, desde que comprove por declaração do assistente social
empenho na obtenção de emprego.
O egresso, quando da sua saída da prisão, traz consigo muitas das mazelas
do encarceramento e enfrentará ainda, a rejeição da sociedade. Com isso, sem a
devida prestação dessa assistência, tanto por parte do Poder Público, quanto pela
sociedade como um todo, o egresso estará mais propenso ao retorno da prática
criminal.
Destarte, faz-se necessário que a sociedade tome consciência de que o
egresso será útil a ela desde que seja acolhido e lhes apresente oportunidades, para
que não reincida mais na prática delitiva. A assistência, nessa fase mais crítica, a da
retoma da liberdade, sem dúvida é de extrema relevância, e, pode ser fator decisivo
para ressocialização do agora ex-recluso. Pois, mesmo que todo seu programa
individualizado de reeducação, o que de fato não ocorre, tivesse obtido sucesso, neste
momento poderia ser perdido.
O trabalho figura na LEP, tanto como um direito do preso (art. 41, II), quanto
um dever dele (art. 39, IV). O art. 28, do mesmo diploma, nos traz que o "trabalho do
condenado, como dever social e condição de dignidade humana, terá finalidade
educativa e produtiva". Por conseguinte, faz-se de fundamental importância na
reeducação do recluso, funcionando como mais um dos pilares da finalidade
ressocializadora da pena. Tornando o cumprimento da pena funcional quanto à
reprimenda da atividade delitiva e preparando o preso ao seu retorno ao convívio
social.
O trabalho será remunerado, entretanto o art. 29 da LEP dispõe algumas
obrigações que devem ser quitadas com esta remuneração, como a indenização pelo
crime causado, assistência à família, despesas pessoais e ressarcimento de despesas
do Estado com a manutenção do mesmo ao sistema, depositando-lhe, havendo, o
restante em Caderneta de Poupança a ser entregue quando da sua liberdade.
Entrenato, conforme dados do Levantamento de Informações Penitenciárias do
Ministério da Justiça2, em junho de 2014, apenas 16% da população prisional trabalha.
Muito embora a diretiva implementada pelo texto legal, assim como ao que
representa o trabalho do preso, nem todos os presos conseguem cumprir com seu
2 MINISTÉRIO DA JUSTIÇA: Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias INFOPEN 2014.
29
dever/direito, já que não possui trabalho o suficiente para todos. Quando ainda,
conseguem trabalhar durante o cumprimento da pena, os fazem em atividade que não
lhes representa uma possibilidade de sustento quando libertos.
No art. 40, a LEP, nos traz como primeiro direito tutelado o respeito à
integridade física e moral dos presos, sejam condenados ou provisórios, imposto a
qualquer autoridade pública, consoante aos ditames constitucionais enunciados no
art. 5º, incisos III e XLIX. Após, no art. 41 em seus incisos, nos traz um amplo rol de
direitos outorgados aos presos que deverão ser observados pela administração
carcerária.
31
A culpa por essa ineficiência não deve ser creditada somente ao Poder
Executivo, ou seja, aquele Poder encarregado de implementar os recursos
necessários ao sistema penitenciário. A corrupção, o desvio de verbas, a má
administração dos recursos, enfim, todos esses fatores podem ocorrer se,
para tanto, não houver uma efetiva fiscalização por parte dos órgãos
competentes. (2015, p. 227)
7.1 SUPERLOTAÇÃO
7.2 VIOLÊNCIA
interesse do Poder Público em planejar ações com efeitos a médio e longo prazo.
Nesse sentido, afirma Arnaldo de Castro Palma:
Porém, com a configuração adota pelo sistema brasileiro, com indicações aos
cargos de gestão meramente políticas não é possível o desenvolvimento de um
programa sistemático e integrado com o fito de afastar o indivíduo da atividade
criminal.
Além do fator da incompetência gerencial do sistema, temos a deficiência no
quadro funcional no que se refere à aptidão e até mesmo interesse dos funcionários
em exercer suas atividades voltadas aos fins da execução penal. O que se observa
nesse plano é uma incompatibilidade dos Agentes Penitenciários com suas
responsabilidades, seja por falta de treinamento e qualificação adequados ou pelo
descontentamento com a carreira, ou ainda pela insegurança da profissão.
Devido essa incompetência generalizada do sistema, priorizam-se somente
as medidas relativas à segurança dentro dos presídios, resumindo o papel da
instituição a manter a ordem e a disciplina, realizando-o não raras as vezes através
da ameaça e intimidação, esquecendo-se por completo do fito do tratamento penal.
Por isso, muito embora existir previsão legal de tratamento penal a fim de
ressocializar e reinserir o condenado ao convívio social, faz-se necessário alterar o
pensamento encarcerador, propondo-se sempre novas alternativas à prisão,
sobretudo para delitos menos graves e sem violência.
Sobre a prisão como pena comenta Bitencourt (2006, p. 2): “Atualmente
domina a convicção de que o encarceramento, a não ser para os denominados presos
residuais, é uma injustiça flagrante [...]. O elenco de penas do século passado já não
satisfaz”; e continua mais adiante em sua obra “é indispensável que se encontrem
novas penas compatíveis com os novos tempos, mas tão aptas a exercer suas
funções quanto as antigas, que na sua época não foram injustas, hoje,
indiscutivelmente o são”.
Por isso se faz imperioso, não só a adequação do nosso sistema prisional ao
que a lei determina, mas a adequação de nosso direito penal e da mentalidade de
nossos magistrados para essa questão, qual seja a de que a prisão corrompe o
indivíduo, portanto deve ser evitada quando possível, sendo utilizadas somente em
condenações de longa duração e aos efetivamente perigosos e de difícil reparação.
Pois, as mazelas da prisão serão levadas por aqueles que por lá passaram por muitos
anos, se não, pelo resto da vida.
36
Não existem dados muito precisos sobre a reincidência criminal no Brasil, pois
as diferentes pesquisas consultadas nos demonstraram percentuais que variam entre
30 e 70% de reincidência. O descompasso dos dados se deve aos critérios utilizados
para determinar o que é reincidência. De fato, qualquer que sejam os dados utilizados,
percebeu-se que em relação aos apenados com a privação de liberdade, o nível de
reincidência era maior do que aos condenados com penas alternativas.
Questiona-se então se há como funcionar o objetivo ressocializador da pena
privativa de liberdade? A doutrina diverge. Os adeptos da criminologia crítica
respondem que não é possível a ressocialização dentro do ambiente prisional.
Conforme explica Bitencourt (2006, p. 9): “Para a Criminologia Crítica, qualquer
reforma que se possa fazer no campo penitenciário não terá maiores vantagens, visto
que, mantendo-se a mesma estrutura do sistema capitalista, a prisão manterá sua
função repressiva e estigmatizadora”.
Entretanto, outra parte da doutrina acredita que sim, é possível ressocializar
o indivíduo dentro do ambiente prisional, que, investindo-se mais em infraestrutura
prisional e qualificação pessoal, para que, dessa forma se cumpram os dispositivos
legais garantido um adequado tratamento penal, sem deixar de lado as alternativas a
prisão para se diminuir o contingente prisional, pode-se alcançar resultados
satisfatórios.
37
9 CONCLUSÃO
O estudo do tema nos faz refletir ainda sobre importância que a sociedade
tem no objetivo da execução penal. Uma vez que a reinserção do condenado após o
cumprimento da pena depende também de nós, que nos despindo do preconceito
social com que tratamos os egressos do sistema somos imprescindíveis para
ressocialização e reinserção deles à sociedade.
Ainda nesse sentido, o setor penitenciário é um dos que mais reclama por
uma urgente reforma. Pois, como não é possível abolir a pena de prisão no que tange
os crimes graves, faz-se necessário uma intervenção mais racional do Estado, com a
devida conscientização da sociedade civil da importância desta. Sem isso, o sistema
prisional continuará marginalizado e todo esforço na reeducação do condenado será
inútil.
41
REFERÊNCIAS
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