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Movimento negro brasileiro nas

Ciências Sociais (1950-2000)


Flavia Mateus Rios
Mestre em Sociologia (Universidade de São Paulo)
Pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP)
São Paulo, Brasil
flaviamrios@yahoo.com.br

Resumo Quando e como o movimento negro brasileiro ganhou o interesse das Ciências So-
ciais? Quais são as abordagens teóricas e explicações sobre a emergência e o desen-
volvimento desse movimento social ao longo do século XX? Estas são as principais
perguntas norteadoras do presente artigo, que versa sobre os estudos que tomaram a
mobilização coletiva negra como problema de reflexão em diferentes campos discipli-
nares, em especial, a Sociologia, a História e a Antropologia.

Palavras-chave: Ciência Social; movimento negro; relações raciais; identidade.

Introdução

N este artigo, apresento como o movimento negro foi analisado pe-


las Ciências Sociais durante o século XX. Assim, na primeira
seção, faço um balanço bibliográfico dos estudos realizados até a década
de 1960. Com isso, desenhei um quadro acerca das explicações do sur-
gimento, do perfi l, e da performance do movimento nas perspectivas
diversas dos estudiosos que se debruçaram sobre esse tema. Defendo
que essa geração produziu o consenso ainda em vigor em nossos dias,
segundo o qual o movimento negro é uma reação ao padrão de rela-
ções raciais do Brasil, em particular à forma de preconceito racial, que
serviria de empecilho para a ascensão social dos negros.
Na segunda parte do texto, averiguo a produção dos anos de 1970
em diante, quando houve um aumento dos estudos sobre o movimento
negro, em contraste com o período anterior. Mas esse crescimento não
está restrito ao âmbito quantitativo, notando-se uma mudança quali-
tativa, que carecia de exame detido e sistemático. Ao final, considerei
importante apresentar algumas críticas a essa produção, mostrando os
limites das abordagens e apontando para outras perspectivas analíticas.

A emergência do movimento negro


nas Ciências Sociais

As primeiras investigações empíricas sobre o movimento negro


brasileiro do século XX aparecem nos estudos de relações raciais, espe-
cialmente àqueles encomendados pela Unesco na década de 1950. As
formas diversas de interpretação desse movimento social estão direta-
mente ligadas à visão que os autores tinham das relações entre negros e
brancos no Brasil. Em poucas palavras, a questão em torno da ausência

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ou dapresença de consciência de raça foi o modo pelo vador, apesar de perceber impedimentos na mobili-
qual os estudiosos tocaram na problemática da ação dade de indivíduos negros, de encontrar associações
coletiva negra. Senão vejamos. negras e de entrevistar seus militantes, o que lhes
Uma década antes do ciclo de estudos da Unesco, rendeu inclusive um capítulo no livro, no qual ar-
Donald Pierson1 (1971[1942]) defendeu a ausência de rolou as mobilizações que tinham como fi ns o com-
“consciência racial” no Brasil, porque não identificou bate ao preconceito de cor. Mas Thales considerou
a presença de grupos de cor estanques nem de pre- que o movimento tinha dificuldade de penetração
conceito racial 2 em seu estudo de caso realizado na na opinião pública local, por conta da baixa adesão
Bahia. Nem pretos nem brancos viam-se como gru- das elites pretas e mestiças e pelas opiniões contrárias
pos fechados, por isso diagnosticou a inexistência de das “elites brancas”, já que, para elas, não existiria
“consciência de raça” e, por conseguinte, de coletivi- um problema racial, uma vez que “a consciência de
dades políticas organizadas.3 Para ele, o critério racial classe supera[va] a consciência de cor ou de raça”
não determinava o destino social dos negros e isso era (1996, p.62).
especialmente visto no processo de ascensão dos mes- Em contraste, os estudos que se desenvolveram
tiços baianos. Segundo os resultados de seu trabalho, no Rio de Janeiro e em São Paulo tiveram outra tô-
os “homens de cor” em mobilidade ascendente não nica. Isso porque Costa Pinto, Roger Bastide e Flo-
se viam como grupos raciais nem percebiam qualquer restan Fernandes apresentam visões diferentes das de
tipo de empecilho ao longo de sua vida profissional. Donald Pierson e de Thales de Azevedo. Diferente-
Além do mais, os brancos sequer se sentiam inco- mente destes, aqueles diagnosticavam a existência de
modados, quanto menos ameaçados pelos negros, o preconceito de cor no Brasil, fundamentalmente nas
que impossibilitava a emergência de uma consciência áreas em processo de grande transformação econômi-
de raça entre aqueles. Como consequência, nenhum ca. Ademais, os três autores tiveram a oportunidade
dos dois grupos oferecia condições necessárias para a de estudar as associações e os líderes negros do Rio de
emergência de um movimento organizado.4 Janeiro e de São Paulo.5 Esses sociólogos chegaram à
A tese de Donald Pierson foi contestada em conclusão de que o movimento negro surge das mu-
outras partes do país, onde novos estudos de rela- danças estruturais oriundas das alterações socioeconô-
ções raciais foram realizados através do incentivo da micas. Se suas explicações são convergentes na dimen-
Unesco. Contudo, ela ganhou eco no trabalho de são macrosocial, são, contudo, díspares no tocante aos
Thales de Azevedo (1996 [1955]), que manteve a de- tipos de abordagens teóricas, abrindo, assim, um leque
signação “sociedade multirracial de classes” para Sal- de interpretações tonalizadas.

1 Para Guimarães (2004), Donald Pierson é o primeiro sociólogo a desenvolver estudos de relações raciais tal como esse campo sociológico foi
designado pela Escola de Chicago. Antes, porém, Arthur Ramos já havia escrito ensaios, nos anos 30, sobre o negro e a política. Ramos dedica
dois ensaios ao estudo das mobilizações negras, um sobre a presença negra no movimento abolicionista e o segundo sobre as expressões do mo-
vimento negro de sua época, isto é, a Frente Negra Brasileira e os jornais negros. Os escritos desse autor tinham como objetivo registrar os feitos
dos negros na sociedade brasileira, sem, contudo, apresentar explicações sociológicas para tal fenômeno. Mesmo assim, deixa pistas de trabalho,
muitas delas incorporadas e redefinidas pelos estudos realizados nos anos de 1950.
2 A definição de preconceito racial, naquela época, vinha do também sociólogo de Chicago Herbert Blumer (1958 [1939]), que o entendia como
um sentido de posição social ou um modo geral de orientação, que não pode ser reduzido a sentimentos ou crenças individuais, nem se limita
ao status social, pois não está relacionado apenas à dimensão vertical. Ademais, para existir esse preconceito, seria indispensável a presença de
quatro tipos básicos de disposições desenvolvidas pelos grupos dominantes: o sentimento de superioridade; a crença de que a raça subordinada
está muito distante da realidade da raça dominante; o poder de controlar vantagens sociais, e o medo de que a raça subordinada busque alcançar
os privilégios desfrutados pela camada dominante.
3 Curiosamente, Pierson orientou a tese de Virginia Leone Bicudo (1945), um estudo sobre as atitudes de negros e brancos em São Paulo, que a
levou à investigação da Frente Negra Brasileira e ao seu jornal A voz da raça (Domingues, 2005).
4 Franklin Frazier (1942), outro sociólogo de Chicago, sustenta uma argumentação um tanto quanto distinta de Pierson. Frazier concorda com
Pierson no tocante à ausência de preconceito racial no Brasil, tal como se verificava nos EUA. Mas o autor entendia que no Brasil havia o pre-
conceito de cor, baseado não na ascendência do indivíduo e sim nas suas características físicas. “Yet, there is in Brazil a certain amount of color
prejudice, which should be distinguished from race prejudice in the American sense” (p. 292). Esse preconceito de cor poderia ser identificado
no Sul do Brasil, devido à presença de imigrantes europeus, sobretudo italianos que, além de terem uma mentalidade diferente dos portugueses,
estavam em franca competição com os negros. Embora não tivesse realizado estudos aprofundados como Pierson fizera na Bahia, Frazier teve a
oportunidade de conversar com algumas lideranças negras, especialmente da Frente Negra Brasileira, de quem extraiu reclamações de atitudes
preconceituosas contra os negros. Com base nessas informações, esse estudioso sugeriu a existência de preconceito contra os negros, mas este
seria baseado na cor e não poderia ser generalizado para todo o país.
5 Tudo indica que as lideranças negras consultadas pelos estudiosos da Unesco influenciaram ativamente o entendimento acadêmico acerca do
preconceito de cor no Brasil, indicando o modo pelo qual esse fenômeno ganha realidade na vida social dos negros. Isso fica nítido na incorpora-
ção quase literal de depoimentos cedidos pelos informantes ativistas, encontrados especialmente nos escritos de Fernandes e Bastide.
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Costa Pinto e Bastide, por exemplo, enfatizaram tendimento, a consciência racial do negro passou por
o processo de diferenciação no interior da população uma experiência “existencial” do preconceito de cor.
de cor, o que os possibilitou observar as aspirações e Era mesmo uma camada diferenciada da população
os interesses específicos das camadas médias e baixas negra que liderava os movimentos; no entanto, esse
negras. Suas análises permitiram a ambos uma expli- extrato procurava educar a sociedade, negros e bran-
cação coerente para as dificuldades do protesto ne- cos, para o problema do preconceito, cujos efeitos se
gro em se fazer ecoar entre as camadas mais baixas. faziam notar não somente na dificuldade de ascensão
Porém, Bastide, mais voltado para as representações social dos negros “instruídos”, mas, sobretudo, na si-
coletivas à moda da Sociologia francesa herdeira de tuação de penúria vivida pela população negra que
Durkheim, conseguiu dimensionar as posições eco- ainda não tinha se inserido na sociedade de classes.
nômicas, a origem social e as aspirações das camadas Essa consciência racional de raças, canalizada em for-
médias formadoras do protesto negro. Segundo sua ma de protesto, teria tornado o negro um agente de
definição, essa classe social, sua própria história, autônomo e coletivamente orga-
nizado diante das relações tradicionais de dominação
há pouco saída de uma classe baixa [a classe média ne- racial. Trata-se, pois, de um argumento que o autor
gra], conhece os desejos e as misérias dela na realidade, apresentou de forma ainda incipiente em Relações ra-
tomou consciência do que não é ainda claro ou muito ciais entre brancos e negros em São Paulo (1955) e veio a
sentido pelos seus irmãos de nível baixo, tornou-se ganhar força em A integração do negro na sociedade de
eco de toda uma classe de cor. (Bastide,1973, p.130). classes (1964).
Diante de dois grandes dilemas para a efetivação
Já Costa Pinto, numa perspectiva marxista, assi- da modernidade na sociedade paulistana – a integra-
nalava que os interesses das lideranças negras que bra- ção efetiva do negro na sociedade de classes e a su-
davam contra o preconceito de cor construíram uma peração do preconceito de cor - , Florestan Fernan-
falsa consciência de raça. Não que não houvesse o tal des atribui aos movimentos negros o papel de agente
preconceito, este existia e era sentido pelos negros. O modernizador das relações raciais naquela sociedade.
problema, para o sociólogo, não estava aí e sim na Tratava-se, contudo, de uma “revolução dentro da or-
aceitação de uma ideologia racial que buscava elevar e dem”, a qual os grupos negros organizados tomaram
“adestrar” a massa negra em um estilo de vida de clas- para si a incumbência histórica de revelar “as contra-
se média. Esses objetivos não respondiam às aspirações dições existentes entre o substrato legal e a realidade
dos extratos mais pobres, eram apenas desejos das eli- social”. Desse modo, na mobilização negra buscaria a
tes negras, com seus interesses particulares de classe. integração da população de cor e não uma mudança
Por isso, defendeu que era falsa a consciência racial do radical das bases sociais e econômicas da sociedade.
movimento negro. Esse movimento tinha, assim, como objetivo estabe-
O autor de O negro no Rio de Janeiro, quando fez lecer “uma situação de classe” em oposição ao regime
suas críticas às práticas e ideologias do movimento flu- de castas herdado da sociedade escravista. Destarte, a
minense, estava observando, especialmente, o caso do ação coletiva negra, para Fernandes, consolidaria um
Teatro Experimental do Negro (TEN) e seus intelec- “estilo democrático de vida”.
tuais, dentre eles Abdias do Nascimento e Guerreiro Mesmo com os esforços dos movimentos negros,
Ramos.6 Para Costa Pinto, tudo se passa como se a argumenta Fernandes, a sociedade não apresentou
ideologia da negritude fosse uma espécie de aspiração mudanças substantivas no que se refere à represen-
do “negro pequeno burguês” em seu desejo de ascen- tação social e ao tratamento do negro. Os protestos
são social. Sendo assim, ele defende que a negritude não foram suficientemente capazes de alterar a ordem
não passaria de uma “falsa consciência”, porque no social; somente com o processo crescente de indus-
fundo esse problema não seria étnico e sim o resulta- trialização em São Paulo, depois da Segunda Guerra
do de contradições sociais mais amplas. De modo que Mundial, que teria havido o ingresso dos negros em
as prioridades das lideranças negras não encontram vários ramos do trabalho assalariado, apesar da persis-
respaldo nas aspirações do homem de cor comum, o tência do preconceito de cor. Mas o negro não entra
“homem povo”, “o homem proletário”. como grupo social e sim como “massa de agentes”
Florestan Fernandes, observando a mobilização que constituíam a mão de obra livre,7 estabelecendo
paulista, chegou a formulações distintas. Em seu en- uma ordem mais competitiva na qual os movimentos

6 Tudo indica que Costa Pinto tinha uma visão superficial da negritude, desconhecendo as bases filosóficas desse pensamento. Em Muryatan
Barbosa (2004), encontramos algumas das polêmicas travadas entre Costa Pinto e Guerreiro Ramos, a partir das quais se percebe que o tema da
negritude tal qual trabalhado pela intelectualidade negra brasileira não foi compreendido pelos intelectuais do mainstream acadêmico.
7 “A cidade, que não ouvira o clamor de seu protesto e permanecera indiferente a seus sonhos de igualdade racial, abre-lhes algumas trilhas que
simplificavam e atendiam aos seus anseios de classificação no núcleo da ordem social legítima. Assim, o negro penetra, não em um grupo ou
como categoria racial, mas diluído na massa de agentes do trabalho assalariado em todos os ramos de atividades” (1964, p.118)

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coletivos foram enfraquecidos e as estratégias indivi- dos anos de 1950 e 1960. Isso de algum modo revela
duais intensificadas. Esgotava-se, então, toda a fonte quão vigorosas ainda são essas explicações, apesar dos
de protesto racial em São Paulo. Os objetivos dos mo- abalos que sofreram ao longo dos anos. Vigor esse que
vimentos negros foram alcançados em parte, mas não se sustenta, sobretudo, no entendimento de que não
pelos seus esforços: tratava-se de um processo maior, é possível entender o movimento negro sem atentar
para além de suas forças e alcances, que fazia cumprir para o padrão de relações raciais do país.
aquilo que os protestos tanto exigiam. Era a integra-
ção do negro na força de trabalho como mão de obra
assalariada, uma mudança ascensional da situação de
desempregado e biscateiro para uma posição mais es- Consciência e identidade:
tável, seja como trabalhador assalariado ou como pro- o movimento negro revisitado
letário. Tudo se passa como se a camada média ne-
gra perdesse o motivo maior pelo qual deveria lutar.
Assim, para Fernandes, a emergência e o declínio do O protesto político que ressurge nos anos 70
movimento devem-se a mudanças estruturais da so- mudou as feições do movimento social negro aliás, a
ciedade dos anos 40 e 50.8 produção acadêmica sobre esse tema também se mo-
As teses de Fernandes sobre o movimento negro, dificou. Diferentemente da abordagem que encerra os
assim como os demais estudos da Unesco, foram re- estudos das relações raciais dos anos 60, as investiga-
vistas a partir dos anos de 1970. Duas vertentes de tra- ções das décadas seguintes têm novas questões e novas
balhos se desenvolveram desde então: a corrente que perspectivas. A maior parte desta produção se pensa
se utilizou dos métodos historiográficos para revisitar como revisões críticas dos estudos das relações raciais,
o período analisado por Bastide, Costa Pinto, Fernan- especialmente no tocante ao movimento negro. E o
des e Thales, de um lado, e, de outro, as pesquisas que são em alguma medida. Todavia, o que esses pesqui-
passaram a investigar a mobilização negra emergente sadores não dizem – aspecto que torna suas interlo-
durante e após a ditadura militar. Sobre a primeira cuções mais instigantes – é que muitos dos problemas
corrente, cabe assinalar, brevemente, as principais crí- postos para a geração anterior são incorporados e re-
ticas apresentadas àqueles estudos expostos anterior- colocados nesses estudos emergentes.
mennte. Quanto ao segundo grupo, nos ocuparemos Mas é preciso tratar essa questão com mais vagar.
na seção seguinte. Essa mudança não ocorreu de qualquer maneira nem
Em que pese o impacto das explicações do ciclo de forma abrupta – antes as modificações vão apare-
de pesquisa da Unesco para o entendimento do movi- cendo aos poucos, tornando-se mais efetivas e conso-
mento negro no Brasil, somente os estudos monográ- lidadas na medida em que as ações do movimento so-
ficos realizados a partir de 1980 aproximaram-se efe- cial tornam-se mais concretas, mais visíveis; e isso leva
tivamente da vida social das lideranças e organizações quase uma década para ser incorporado pela literatura.
negras da primeira metade do século XX. Investiga- O impacto das ações dos movimentos sociais sobre a
ções sistemáticas, com coletas extensas de dados em- produção acadêmica aconteceu de vários modos, des-
píricos, possibilitaram uma leitura mais sofisticada e de os temas e as abordagens até os próprios pesquisa-
pormenorizada dessa ação coletiva. Se os primeiros es- dores. De modo que não é possível estudá-la sem sa-
tudos pairaram, em sobremaneira, na dimensão macro ber quem são esses estudiosos, quais os seus problemas
e mesossocial, os pesquisadores das últimas décadas de pesquisa e como interpelam o objeto e a produção
(Ferrara, 1981; Pinto, 1993; Joselina Silva, 2005; Do- acadêmica sobre o movimento negro brasileiro.
mingues, 2005, dentre outros) investiram em aborda- O primeiro aspecto digno de nota é o perfi l
gens capazes de apreender o nível microssocial, obser- dos estudiosos. Quem são eles? O que mais chama a
vando cuidadosamente o perfi l dos ativistas e a lógica atenção nessa produção é o fato de os negros deslo-
das ações e formas de organização do movimento. carem-se do lugar de informantes dos pesquisadores
Ofereceram, assim, um quadro rico e detalhado da estabelecidos para a posição de ensaístas e intelectu-
ação coletiva negra, desvelando sua identidade, suas ais. Se antes aqueles eram citados em teses de Roger
estratégias e sua performance em contextos político- Bastide, Florestan Fernandes e Costa Pinto, essa nova
ideológicos próprios. intelectualidade passa a escrever sobre a mobilização
Note-se que, se houve avanço em termos da qua- negra em que está inserida. Eis um dado curioso:
lidade empírica das pesquisas, não podemos dizer o os estudos que engrossam a produção sobre o mo-
mesmo acerca das explicações gerais, as quais muitas vimento negro a partir dos anos 70 são feitos, em
vezes escoram-se nas formulações herdadas de autores grande medida, por intelectuais negros, nacionais e

8 As teses de Florestan Fernandes sobre a Frente Negra Brasileira foram amplamente revisitadas. Dentre as criticas mais contundentes destacam-se
as de Andrews (1991) e Domingues (2005), que realçam os aspectos políticos que interferiram na formação, no desenvolvimento e no declínio
do movimento negro dos anos 30.
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estrangeiros, engajados na luta antirracista. Isso não mento desse grupo de cor e seu desejo de progredir na
foge, pois, a uma tendência da geração desse período: escala social, embora tivesse as suas chances limitadas
muitos militantes e simpatizantes de diversos movi- pela discriminação, na interpretação de Queiroz. Pas-
mentos sociais tornam-se pesquisadores dessa forma sado o período de efervescência da mobilização polí-
de ação coletiva em toda a América Latina, como tica negra, os anos 50 deixam a capital paulista com-
foi muito bem notado por Cardoso (1987) e Gohn pletamente esvaziada de protesto político de cunho
(2004). No caso do movimento negro, esse fato tor- racial; em contrapartida, as associações de lazer se fa-
na-se mais decisivo nos anos 80 em diante, pois na zem notar em número cada vez maior. Esse contexto
década anterior ainda podemos verificar uma transi- econômico reforça as explicações da autora, uma vez
ção, um momento ainda mesclado pelos padrões de que
pesquisadores e perspectivas analíticas antigos, jun-
tamente com as novas tendências tidas como críticas [foram] fornecidos aos negros os meios de penetrar
que ameaçavam aparecer. mais amplamente na pequena burguesia e, também,
Em termos de abordagem analítica, houve uma de se elevar até a classe média. Esta abertura dimi-
passagem da terminologia “consciência racial” para nuiu a frustração em relação à ascensão social, que
“identidade racial ou étnica”. Note-se que essa mu- se notava tão claramente nas associações políticas e
dança não ocorreu de uma forma rápida e definitiva. A nos artigos de seus jornais do periódico anterior; di-
expressão “consciência racial” continuava a ser aciona- minuída a frustração, as reivindicações amortecem.
da, contudo o conceito de identidade passou a ganhar (1978, p. 246)
cada vez mais proeminência. Isso ocorre, sobretudo,
por conta do avanço dos estudos antropológicos sobre Para ela, a fonte de descontentamento entre os
esse campo e a crescente rejeição às categorias marxis- negros teria se enfraquecido. A causa disso foi o avan-
tas para explicar os movimentos sociais, o que se faz çar do processo de industrialização vivido pela cida-
notar também em suas referências bibliográficas. Com de, que teria produzido num primeiro momento a
isso, as abordagens ganham feições mais culturalistas, segregação étnica, levando à formação das associações
porém sem descartar as dimensões políticas sobre as recreativas e depois o desenvolvimento das associa-
quais ainda repousaria a expressão consciência racial, ções de tipo político. Na fase seguinte, a ampliação
refletindo ora a categoria nativa, ora os resquícios do da industrialização teria favorecido a ascensão do ne-
marxismo acadêmico. gro esgotando sua fonte de protesto social. A relação
Nos anos de 1970, três autores trataram sob pers- entre o declínio do protesto e o crescimento econô-
pectivas diversas a questão da mobilização política no mico, com a consequente integração do negro como
veio do protesto racial brasileiro. Primeiramente, apa- trabalhador estável e, até mesmo, como massa prole-
rece o artigo de Queiroz, em cuja argumentação não tária, já tinha sido apresentada por Fernandes, em A
encontramos rupturas com as formas de explicação integração do negro na sociedade de classes (1964). Assim,
vindas de seus antecessores, especialmente dos de São tanto o ascenso como a queda do movimento têm
Paulo e Rio de Janeiro. por causas as transformações econômicas na opinião
Maria Isaura Pereira de Queiroz (1978 [1974]), desses autores.
no ensaio “Coletividades negras: ascensão sócio-eco- Mas a década de 1970 não foi apenas de reafi r-
nômica dos negros no Brasil e em São Paulo”, inves- mação das explicações de Florestan Fernandes, Roger
tiga as “associações voluntárias” dos negros, porque Bastide e Costa Pinto. Michael James Mitchell (1977)
estas seriam canais de acesso à “consciência coletiva” e Carlos Hasenbalg (1979) convergem com certas ar-
desse grupo social. Nele, Queiroz contentou-se em gumentações, porém esboçam o problema de outro
tratar de forma mais explícita a relação entre ascensão modo, introduzindo novas questões.
e mobilização política, sendo que toda fundamentação O cientista político Michael Mitchell, cujo objeto
de seu argumento teve como fonte as conclusões de de pesquisa também foi o ativismo negro paulista, em
Fernandes, Bastide e Costa Pinto, os quais defendem Racial consciousness and the political attitudes and behavior
que as mudanças estruturais oriundas da transição da of blacks in São Paulo, título de sua tese de doutorado
sociedade escravista para a sociedade de mão de obra apresentada na Universidade de Indiana, em 1977, tem
livre revelaram o preconceito racial. Dessas transfor- como problema de investigação a relação entre a cons-
mações estruturais, eles enfocam o aspecto econômi- ciência de raça e a ação coletiva. Ele analisa os “efeitos
co, mostrando que a situação desvantajosa dos negros da consciência racial” (effects of racial consciousness) nas
em processo de ascensão – no contexto da formação práticas e atitudes políticas dos negros no Brasil, país
da sociedade de classes – levou a ações coletivas com que reivindica para si o ideário de democracia racial
vistas a questionar o preconceito que lhes servia de (racial democracy). Dentre esses efeitos, o autor encon-
barreira social. tra deste as opiniões individuais contra o preconceito
A expressão política do protesto negro nos anos racial até uma solidariedade entre os negros, motivada
30 em São Paulo fez-se notar pela ascensão num seg- por uma identidade étnica.
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Um pressuposto de Mitchell 9 é que a consciência alguns que podiam ter acesso ao gradiente de cor, ou
racial entre os negros não se limita ao período histó- seja, especialmente os mulatos e os mestiços teriam a
rico da transição estrutural da escravidão para a socie- possibilidade da “saída de emergência”,10 o que trazia
dade de classes. Para ele, as formas de dominação e su- conseqüências negativas para a construção identitária
bordinação raciais já estavam presentes na escravidão e a solidariedade raciais.
e nela já se poderia verificar a existência de iniciativas As poucas iniciativas do movimento não conse-
contestatórias dos negros, como as revoltas escravas guiam reverter a situação do negro, o que fez com que
e os movimentos políticos pela abolição. Essa visão o impacto de seu protesto ficasse restrito aos associados
rompe com as formas de explicação desenvolvidas an- e ao seu pequeno raio de alcance, não velando a mu-
teriormente pelos sociólogos brasileiros, mas guarda danças estruturais da condição de vida da maior parte
afinidades com o pensamento de Clóvis Moura, em da população negra. Em síntese: os movimentos não
particular seus escritos dos finais dos anos 1950, que promoveram uma mobilidade social do grupo, nem
tinham o franco propósito de rebater os historiadores conseguiram alterar a ideologia racial que sustenta a
e sociólogos do mainstream nacional. sociedade brasileira. Note-se bem que essa será a tese
Para Mitchell, as relações raciais permitem ver a defendida, mais tarde, por Michael Hanchard (1994)
tentativa de maximização do poder pelo grupo domi- ao analisar o desempenho do movimento negro do
nante, porém sob resistência do grupo subordinado. E pós-Segunda Guerra Mundial.
isso não aparece somente em momentos de transição
social, mas sempre que existir relações de dominação
e subordinação de uma raça por outra. Nesse caso, a
consciência torna-se mais nítida no momento em que Ensaios e Insights: intelectuais do
o grupo prejudicado vivencia experiências de obstá- movimento negro
culos raciais, o que o levaria à percepção da discrimi-
nação. Desse modo, ele parte do pressuposto de que o
segmento subordinado desenvolveria uma consciência Nos anos 80, sob o impacto das ações do Mo-
e uma solidariedade raciais, baseadas na experiência vimento Negro Unificado e da efervescência dos de-
de discriminação, levando esse grupo a contestar o mais movimentos sociais em favor da democratização
poder por meio da ação coletiva. do Brasil, um grupo de intelectuais negros brasileiros
A solidariedade racial entre os negros também foi escreveu artigos refletindo sobre a mobilização antir-
objeto de reflexão de Carlos Hasenbalg, em Discrimi- racista daquela década.
nação e desigualdades raciais no Brasil, publicado em 1979. Autores como Clóvis Moura (1981), Lélia Gonzalez
Contudo, ao contrário de Mitchell, o sociólogo argen- (1982), Joel Rufino (1983) e Hamilton Cardoso (1987)
tino não fez uma pesquisa específica sobre o movimen- apresentam ensaios críticos sobre a ação coletiva negra,
to negro, mas realizou um estudo sobre a desigualdade inserindo-a nas lutas políticas nacionais e internacionais.
racial brasileira. No final de seu livro, Hasenbalg trata Sob perspectivas diversas, eles enfatizam dimensões eco-
do tema “raça” e “política”. Para tanto, o autor dedica nômicas, culturais e políticas, dando proeminência para
um capítulo às reflexões em torno da baixa mobiliza- estas duas últimas. Seja pelo viés conjuntural ou estru-
ção política dos negros na sociedade brasileira. tural, o movimento negro é analisado como elemento
As causas sociológicas dessa baixa mobilização são indispensável para a democracia em construção.
múltiplas, mas o problema da ideologia estatal ganha Em Organizações negras, Moura considera que, para
proeminência, qual seja, o mito da democracia racial explicar a emergência do protesto racial de 1970, seria
e a ideologia do embranquecimento. A construção da necessário um conhecimento da história das organiza-
identidade coletiva entre os negros no Brasil estava ções negras e da “tradição” das entidades de diferentes
comprometida, uma vez que estes assumiam os valores perfis: religiosas, recreativas, culturais, políticas, assisten-
e as representações difundidas pelas elites dominantes ciais etc. Numa perspectiva de longa duração, ele sugere
e pelo Estado, de acordo com o autor. Isso era confi r- que o movimento negro emergente no ano de 1978 es-
mado pelo mecanismo social que permitia ascensão de tava sob bases bastante sólidas em termos de experiência

9 Não podemos precisar o grau de envolvimento político de Mitchell com as organizações negras de São Paulo, mas sabemos que ele ministrou
palestras sobre temas relativos ao movimento negro. Em meados de 1976, por exemplo, Mitchell deu uma palestra intitulada “O movimento
negro americano na década de 70”, no ciclo de debates O Negro e as Suas Associações” do Centro de Cultura e Arte Negra, CECAN, um dos
precursores do Movimento Negro Unificado na cidade de São Paulo (Silva, 1994).
10 A expressão refere-se ao estudo de Carl Degler, historiador norte-americano que estudou as relações raciais brasileiras. Suas conclusões suge-
rem que os mestiços e os mulatos podem dispor de uma “válvula de segurança”, garantida pelo sistema flexível de classificação racial brasileira.
Para ele, tal dispositivo de emergência não poderia ser acionado por um indivíduo da mesma cor nos EUA (Degler, 1976).
11 O artigo de Arthur Ramos, ao qual se refere Moura, chama-se “O espírito associativo do negro brasileiro”, publicado em maio de 1938 na
Revista do Arquivo Municipal de São Paulo.
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associativa. Inspirado na tese do “espírito associativo do esteve de todo errado. Certamente as experiências as-
negro”, de Arthur Ramos,11 o historiador mostra que ha- sociativas do movimento negro servem de inspiração
via uma espécie de tradição associativa entre os negros, e suporte para a mobilização política, ou seja, os mo-
ou seja, uma vivência longa que lhes dava uma certa ex- vimentos não surgem apenas de uma conjuntura po-
periência no tocante à formação de organizações, cons- lítica externa e conjuntural. Faltaram apenas a Moura
truindo também uma espécie de “gosto” por se associar. o desenvolvimento de argumentos e a apresentação de
Embora os objetivos das associações fossem diversos, ele evidências que permitissem mostrar como se deu essa
entendia que a marca do associativismo negro revela sua passagem histórica. Infelizmente, sua hipótese ainda
identidade étnica; esta, por sua vez, era resultante de um não foi enfrentada completamente pelos estudiosos do
compartilhamento grupal que lhes permitia algum sen- movimento negro. Ainda não temos um trabalho de
timento de pertencimento coletivo, decorrente da expe- fôlego que supere as causas contextuais para explicar a
riência do preconceito de cor. continuidade histórica do movimento negro ao longo
O intelectual piauiense estabelece relações quase do século XX, mostrando os momentos de inflexão e
causais entre a velha e a nova mobilização negra e mi- os nexos internos dessa mobilização antirracista.
nimiza os conflitos entre as organizações estritamen- Sob outro ângulo, Joel Rufino (1983) prefere
te políticas e as de cunho cultural. Bem próximo de abordar as distinções históricas, as diferenças ideoló-
Moura está o pensamento de Lélia Gonzalez. No en- gicas e as práticas do movimento negro, seja do ponto
saio “O movimento negro da última década” (1982), de vista da identidade ou da estratégia política.12 No
ela consegue contextualizar, de forma mais abrangen- ensaio intitulado “Movimento negro e a crise brasi-
te, a conjuntura política em que estavam inseridos os leira”, ele apresenta os principais dilemas enfrentados
princípios ideológicos, as formas de atuação e as prin- pela ação coletiva negra no contexto de sua formação.
cipais influências recebidas pelo movimento. Segundo Numa postura reflexiva, o autor se pergunta: “deve-
essa intelectual mineira radicada no Rio de Janeiro, o se considerar movimento negro exclusivamente o
Movimento Negro Unificado surgiu num quadro de conjunto de entidades e ações dos últimos cinqüenta
“silenciamento, a ferro e fogo, dos setores populares e anos […]”? Ou “deve-se considerar como tal todas
de sua representação política” (1982, p.11), aparecendo as entidades, de qualquer natureza, e todas as ações
no bojo das forças do protesto estudantil e das demais de qualquer tempo (aí compreendidas mesmo aque-
manifestações contestatórias pulsantes na sociedade ci- las que visam à autodefesa física e cultural do negro),
vil. De acordo com a autora, o movimento teria politi- tornando-se a luta atual como simples prolongamen-
zado a violência racial enfrentada cotidianamente pela to?” (1983, p. 287).
população negra no contexto da ditadura militar. Em poucas palavras, Rufino expressa o grande
Construiu-se, assim, um sentimento de indigna- confl ito do movimento negro em sua nova fase nos
ção e injustiça em espaços não ortodoxos para a ação anos 70, uma vez que duas questões se cruzam nos
política. São os botequins, os bailes e as festas onde discursos do movimento: haveria uma distinção entre
ocorreu a base da mobilização negra daquele período. as organizações políticas e culturais? Em que termos
Desse modo, Gonzalez oferece as principais pistas para as experiências políticas dos negros (Frente Negra e
entender a formação do movimento negro, revelando Teatro Experimental do Negro) deveriam ser consi-
como os laços identitários foram se construindo em deradas para pensar o movimento negro contemporâ-
espaços de lazer (bares e clubes), onde eram feitas dis- neo? Isto é, a problemática desse pensador carioca diz
cussões e sensibilizações acerca das lutas pelos direitos respeito à construção da história e da identidade para a
civis nos Estados Unidos e pela descolonização dos militância, tarefa esta posta para seu corpo intelectual
países africanos. Tudo isso em meio às conversas sobre e ativista naquele período. O fato é que, nesse mo-
a situação política do Brasil e suas consequências para mento em que Rufi no escreve, o movimento negro
o dia a dia do negro: relatos compartilhados sobre a é interpretado como resposta histórica ao “mito da
discriminação racial cotidiana faziam parte do pro- democracia racial” – criado em 1930 pela política e
cesso do sentimento identitário em formação. Nesse pela intelectualidade brasileira e difundido por toda a
ambiente, eles se serviam de símbolos étnicos, cons- sociedade sob o veículo do senso comum:
truindo estilos de vida próprios, os quais lhes permi-
tiam uma experiência de afi rmação racial, elemento o movimento negro, no sentido estrito, foi, na sua in-
essencial para erguer o movimento. fância (1931-1945), uma resposta canhestra à constru-
Mesmo Clóvis Moura, que enfatizou pela pers- ção desse mito. Canhestra porque sua percepção das
pectiva da longa duração a ação coletiva negra, não relações raciais, da sociedade global e das estratégias

12 No mesmo ano, a antropóloga Giralda Seyferth escreveu um artigo mostrando as diferenças entre o movimento negro dos anos 30 e 40,
contrapostos ao Movimento Negro Unificado. Diz a autora: “Os movimentos negros atuais – como o MNU, por exemplo – são fundamentalmente
diferentes. A proposta de luta contra o preconceito e a discriminação permanece, mas os intelectuais e militantes negros dos anos 70 adotaram
uma etnicidade afro-brasileira como estratégia de mobilização” (1983, p. 11).

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a serem adotadas permaneceram no ventre do mito, para o movimento negro. Não seria de todo um equí-
como se fosse impossível olhá-lo de fora – e, histori- voco. Certamente, eles estiveram preocupados em
camente, provavelmente o era. (1983, p. 289) formular uma narrativa coerente para o movimento
social em que estavam inseridos ou tinham afinida-
Nessa avaliação, haveria um grande contraste en- des políticas. Mas seus escritos não se esgotam nisso.
tre os discursos e as posturas do movimento negro no Avento a hipótese de que esses autores pretendiam
presente e no passado. O autor afirma que a Frente apresentar para a sociedade brasileira (inclusive os cír-
Negra, embora apresentasse certo grau de questio- culos acadêmicos, pois escreveram em conjunto com
namento e de reivindicação, tinha estratégias nitida- intelectuais renomados à época) os objetivos políticos
mente assimilacionistas, se postas em contraste com o do movimento negro, bem como suas bases simbólicas
Movimento Negro Unificado, que pretendia romper e materiais. Tão importante quanto isso, eles visa-
com o modelo autoritário de nacionalidade brasileira. vam mostrar como foi possível a emergência de um
Hamilton Cardoso tinha opinião semelhante à de movimento que, ironicamente, se opunha ao único
Rufino. No ano de 1987, Cardoso escreve um arti- orgulho democrático que unia o regime autoritário e
go chamado “Limites do confronto racial e aspectos a sociedade civil submersa: a democracia racial.
da experiência negra do Brasil”, que integrou o livro Ademais, esses intelectuais pautaram boa parte
Movimentos sociais na transição democrática, no qual ele das problemáticas gerais desenvolvidas em teses e dis-
apontava para a ruptura desejada pelo movimento ne- sertações sobre o movimento negro, realizadas na dé-
gro, que pretendia rasurar as imagens raciais herdadas cada de 1990. A geração de reflexões que se seguiu, de
dos anos do populismo brasileiro. Não só uma nova algum modo, precisou responder a questões deixadas
representação estética e midiática, como também ha- por esses autores, a exemplo da relação entre política
via anseios políticos em favor de uma história da luta e cultura.
e da participação negra na história nacional, não por
acaso a necessidade de descortinar as ações do “negro
rebelde”, do “negro desobediente”.
Em diálogo profícuo com Gonzalez, Moura e A especialização acadêmica
Rufino, Hamilton Cardoso pensa o movimento ne-
gro como “uma articulação capaz de interferir na ide-
ologia racial” (p.84), isso porque disputaria os símbo- Nos finais dos anos 80, são mais proeminentes os
los nacionais, que estariam incorporando, inclusive, estudos monográficos sobre o movimento negro. A
um rebelde negro: Zumbi dos Palmares. Não menos temática da identidade coletiva permanece em realce,
que uma “subversão negra”, o movimento exporia o a se notar pelas reflexões de Jônatas Silva (1988) e Ma-
confl ito racial do país, mostrando seus antagonismos ria Nascimento (1989), os quais mostram a ascensão da
no contexto de abertura democrática: dimensão cultural no interior do movimento, notada-
mente na valorização de certos símbolos de origem
começa aqui a fase real e concreta da subversão negra; africana e dos EUA, na formação dos sujeitos políticos.
no exato momento em que o negro se faz conheci- Não menos importante, Nascimento demarca os con-
do enquanto individuo inteiro, sem se despojar de sua fl itos no interior do movimento negro, revelando que
condição étnica ou cultural e, assim, tal qual ele é, nem todos os segmentos defendiam a dimensão cul-
provoca mudanças reais nas estruturas sociais e da cul- tural como estratégia política – muitos, ao contrário,
tura brasileira. (1987, p.85) viam em certos aspectos culturais a possibilidade de
alienação do negro. Silva concorda com Nascimento,
Escusado é dizer que se trata de momento de bas- mas salienta ainda que, sem tal dimensão, não se po-
tante euforia e crença em grandes transformações so- deria explicar a emergência do movimento negro na
ciais. A promessa aqui não é descabida. Nosso autor Bahia nesse período. Explicação essa condizente com
está observando o impacto do movimento social na a argumentação que Kim Butler (1998) desenvolveria
produção cultural brasileira (especialmente na mú- mais tarde para explicar o perfi l do movimento negro
sica), o que, segundo ele, poderia levar a “fissuras” baiano, em contrate com o paulista.
na ideologia da democracia racial e no “ritual oficial Em Maria Nascimento, a problemática da identi-
brasileiro do racismo”. Tais fissuras seriam causadas dade versus estratégia política foi refeita. Até que ponto
pelas ações políticas e culturais, ambas faces de ações a etnicidade como forma de identidade coletiva era
antirracistas. O desafio dessas ações seria ultrapassar os prejudicial para as estratégias políticas do movimento
limites das classes universitárias e médias e ganhar os negro? Essa pergunta seria norteadora daqueles que,
extratos negros menos favorecidos economicamente. ao analisarem empiricamente os movimentos, decep-
Diante desse quadro, um leitor desavisado poderia cionavam-se com as dificuldades que estes tinham em
prontamente associar essa intelectualidade a um grupo alcançar resultados diante da desigualdade e da discri-
político interessado na “invenção de uma tradição” minação raciais. Esse problema percorreu toda a dé-
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cada de 1980 e manteve-se até os anos 90, verificado forte tendência desse movimento em rumar em dire-
em Maria Auxiliadora da Silva (1994) para o caso de ção ao culturalismo,14 um caminho não recomendado
Pernambuco; Joana Silva (1994) para as experiências pelo brasilianista.
de São Paulo, e Hanchard (2001[1994]) para a mobi- O pensamento desse autor não é simples, porque
lização carioca e paulista. Desses autores, vale a pena analisa a articulação de três dimensões da vida em so-
olhar detidamente a pesquisa de Hanchard, pois ele ciedade: a cultura, a política e a economia, sendo as
catalisou os temas centrais que percorreram essas três duas primeiras o locus de atuação do movimento so-
décadas. cial com possibilidade de alteração do campo econô-
Em seu doutorado, Michael Hanchard estudou a mico, no sentido da distribuição das oportunidades.
mobilização dos negros cariocas e paulistas desde o Tendo isso em conta, as intervenções do movimento
pós-guerra até o centenário da Abolição. Com base deveriam ser no plano político – especificamente no
em suas fontes e no vasto e diverso trabalho de campo, campo institucional –, através de propostas de políti-
ele sustentou a existência de uma hegemonia racial, cas públicas efetivas, sem priorizar a esfera da cultura,
baseada no mito da democracia entre as raças, o que pois nesse campo pairam as ideologias raciais compar-
possibilitou a manutenção das desigualdades raciais no tilhadas em alguma medida por todos, por isso o pla-
Brasil. Em contrapartida, houve uma experiência de no cultural seria mais ambíguo e sujeito à dispersão,
mobilização negra que buscou reparar e corrigir par- sobretudo porque o negro teria sido integrado no ide-
te dessas desigualdades através do movimento social, ário da nação, através da música, da comida, dos es-
mas, na opinião do autor, as iniciativas foram relativa- portes, das religiões e, mesmo assim, permanecia nos
mente pequenas, parcas e amiúdes, por conta de con- estratos sociais mais baixos. O movimento com feições
dições exteriores, tais como tipo de regime político culturais poderia até ganhar no plano simbólico, mas
e, sobretudo, as ideologias presentes no Estado e na dificilmente alteraria os quadros de desigualdades do
sociedade brasileira, quais sejam: os ideários de demo- país. Tudo isso tornaria ainda mais complexa a rela-
cracia racial e de embranquecimento. ção entre cultura e política no processo de construção
Baseando-se nas formulações de Gramsci sobre das identidades e estratégias do movimento social.
cultura e política, Hanchard, ao analisar as relações Essa questão não se esgota no pensamento de
raciais no Brasil, sugere dois tipos de políticas adota- Hanchard. Como disse antes, trata-se de um proble-
das pelo movimento negro: a primeira voltada para ma que pauta a agenda de estudos das décadas recorta-
a identidade racial e étnica e a segunda baseada na das, ainda que o trato dessa problemática receba abor-
reivindicação por igualdade. Ambas são consideradas dagens e soluções diferenciadas. Mendonça (1996)
políticas culturais, mas o que é fundamental no ar- e Cunha (2000), por exemplo, consideram eficazes
gumento é que essa forma de fazer política está em as ações do movimento negro que envolvem as di-
oposição a reivindicações mais prepositivas em termos mensões culturais, isso porque conseguem expandir a
de disputa por ascensão social dos negros e de dis- identidade negra para outros espaços e públicos, como
tribuição de poder na sociedade.13 O que houve na as camadas negras de classe baixa, os jovens das cida-
realidade brasileira, segundo o autor, foram tentativas des. A cultura, longe de ser um obstáculo para o mo-
sem sistematicidade nem alcance nacional, incapazes vimento social, seria na verdade o locus de resistência e
de combater as desigualdades entre negros e brancos. de expansão do movimento, onde a sua eficácia polí-
Essas tentativas chegaram a construir uma ide- tica se mostraria com evidência, defendem as autoras.
ologia “contra-hegemônica”, sobretudo a partir dos Segundo essa perspectiva antropológica, a dimensão
anos 70, quando os movimentos negros foram acu- simbólica da luta antirracista seria capaz de influenciar
sados de ameaçar a democracia racial estabelecida no atitudes e comportamentos na esfera do cotidiano, na
Brasil. Com conteúdos que combinavam influências qual também operam as discriminações e os precon-
das lutas dos negros norte-americanos e africanos, o ceitos raciais.
movimento negro carioca e paulista teria construídos É curioso notar que a polêmica que animou os
seus próprios ideais. Mas, para o autor, haveria uma analistas dessa década não só tem sua gênese nos es-

13 As principais críticas sofridas por Hanchard dizem respeito ao fato de que ele não leva em consideração a “política culturalista” como uma
forma de fazer política de fato. Para os críticos dele, não existe uma maneira “absoluta” de se fazer política, de forma que o modelo de luta aber-
ta, como a dos direitos civis, funcionou bem para os EUA, mas a realidade brasileira toma outro contorno. Esse foi o argumento de Luiza Bairros
(1996), para quem a pergunta correta deveria ser: “que tipo de movimento negro foi gerado a partir da formação racial brasileira?” Essa questão
possibilitaria uma melhor compreensão das experiências vividas por países como o Brasil e ajudaria a entender as ações políticas do movimento
negro contemporâneo, segundo o argumento dela. O próprio Hanchard reconhece, no prefácio à edição brasileira de Orfeu e poder (2001), que
não previu as mudanças do processo de redemocratização.
14 “Este capítulo mostrará como o culturalismo – a preocupação com os levantamentos genealógicos e com artefatos da cultura expressiva afro-
brasileira – afastou o movimento negro das estratégias de mudança política contemporânea e aproximou-o de um protesto simbólico e de uma
fetichização da cultura brasileira” (Hanchard, 2001, p. 121).

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critos dos anos de 1970 e 1980, como fez parte das as reflexões, minimizando o sentido da ação para os
principais disputas no interior do movimento negro. próprios agentes.
Não por acaso, os problemas que as Ciências Sociais Em termos metodológicos, os estudos não se
enfrentam muitas das vezes têm realidade nas ações e prenderam somente às entrevistas com os integrantes
representações dos agentes sociais. dos movimentos. Muitos desses pesquisadores busca-
ram outras fontes, como os documentos de eventos,
das entidades e os jornais, além dos trabalhos etno-
gráficos. Contudo, boa parte dos trabalhos centrou-se
Considerações críticas nos discursos das lideranças e dos fundadores – nesse
sentido a pesquisa de Maués (1997) sobre a “questão
racial no pensamento das elites negras” levou essa
O esforço aqui empreendido não visou analisar abordagem ao paroxismo. Assim, tais pesquisadores
todas as pesquisas sobre movimento negro realizadas não conseguiram abarcar a questão da reprodução hu-
no período recortado, mas capturar as principais pro- mana do movimento. Como ocorre o engajamento
blemáticas que nortearam as reflexões sobre esse tema. de mais integrantes no movimento? Como pensam os
Em conjunto, os estudos sobre os movimentos associados que não são líderes nem fundadores? Essas
negros têm um tom descritivo muito característico das perguntas ainda aguardam respostas.
pesquisas sobre mobilização coletiva no Brasil. A pre- A produção sobre o movimento negro concen-
cariedade das revisões bibliográficas feitas pelos pes- trou-se no Sudeste, preferencialmente em São Paulo
quisadores prejudicou o desenvolvimento da pesquisa e no Rio de Janeiro. Excetuando-se a Bahia, a maior
sobre esse assunto. Muitas questões não avançaram parte dos estados do Nordeste espera por estudos. Essa
justamente pelo desconhecimento de trabalhos ante- crítica pode ser estendida para as demais regiões bra-
riores que davam realce aos mesmos aspectos. O frágil sileiras: a carência de pesquisas em outras partes do
e deficiente diálogo entre as pesquisas foi sem dúvida país não só impede os analistas de ver a extensão e a
alguma um impedimento forte para o avanço criativo capilaridade do movimento, bem como dificulta uma
nessa área nos últimos anos. O mesmo se pode dizer da compreensão mais abrangente do que seja essa ação
ausência de interlocuções com outros trabalhos sobre coletiva e suas formas de articulação em níveis local,
movimentos sociais brasileiros. Sem nenhum respal- regional e nacional.
do teórico sobre ação coletiva, quase todos estudiosos A relação do movimento negro com seu exterior
limitavam-se a descrever aspectos mais salientes dos – como empresas, instituições religiosas, sindicatos,
movimentos e, talvez por conta disso, restringam-se partidos, Estado, mídia e ONGs – é pouco explora-
quase sempre aos discursos dos movimentos, talvez da nas pesquisas. A exceção se faz aos trabalhos de
por conta da precariedade das ferramentas analíticas, Andrews (1991), Gevanilda Santos (1992) e Hanchard
capazes de interpelar e interpretar o objeto. (2001). Mas, nos casos dos três autores tal relação con-
De modo geral, esses estudos centraram-se em tém uma negatividade, qual seja, as organizações es-
algumas indagações: como o movimento negro se tatais e partidárias estão longe de abrigar as demandas
formou? Para essa questão, encontraram várias respos- do movimento e o Estado é visto como seu principal
tas, seja no veio das explicações estruturais (Queiroz, oponente.
1978; Mitchell, 1977; Hanchard, 2001), seja pelo viés Essa abordagem comprometeu o aprofundamen-
das explicações que têm por base a história do próprio to das relações de network, do quadro de alianças e
movimento social (Moura, 1981), ou ainda pelas ex- das formas estratégicas que o movimento desenvolveu
plicações do contexto social vivido na sociedade civil para negociar suas demandas com o Estado, os par-
nacional e internacional (Gonzalez, 1982; Rufino, tidos e demais movimentos sociais. O foco das pes-
1983; Cardoso, 1987; Nascimento, 1989). quisas preferiu evidenciar o movimento negro por si
A questão que ganhou centralidade nas últimas mesmo, ao invés de apresentar também as similitudes
décadas foi o problema da identidade coletiva, contida e os contrastes em relação a outras formas organizati-
no dilema fulcral: cultura versus política. A identidade vas. Uma hipótese plausível é que o interesse dos pes-
esteve atrelada ao problema das estratégicas políticas, quisadores era afirmar a especificidade e a autonomia
e estas relacionadas aos resultados alcançados pelo mo- do movimento, desconsiderando a dimensão das redes
vimento, em geral considerados parcos. Em algumas de articulação e da reprodução em termos de capital
abordagens, a chamada política de identidade é vista humano, bens materiais e simbólicos. Com essa es-
como um sério obstáculo político, uma vez que a ên- tratégia, os pesquisadores construíram um quadro em
fase nos símbolos e nas representações étnicas poderia que o movimento atua contra os seus oponentes, sem
levar à dispersão do problema central: o combate às que com isso pudessem construir aliados políticos em
desigualdades raciais. Mas algumas das explicações suas campanhas.
que atrelam identidade à estratégia, e esta aos resulta- Com a consolidação do regime democrático no
dos, costumam trazer uma dimensão normativa para Brasil e as mudanças profundas sofridas no movimen-
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to negro ao longo da década de 1990, o quadro dos es- Alves dos Santos (2006) e Walter Sousa (2006), nas
tudos sobre esse movimento sofreu modificações. No quais se entrevê a relação entre movimento negro e
alvorecer do século XXI, as pesquisas passam a preen- Estado, em São Paulo e na Bahia, respectivamente.
cher timidamente algumas lacunas diagnosticadas nes- Essa nova tendência de pesquisa talvez esteja sobre o
te texto. Uma amostra dessa mudança está no trabalho impacto das transformações mais recentes do ativismo
de Oliveira dos Santos (2005), que analisa o papel das afro-brasileiro, sobretudo sob o efeito das investidas
conferências internacionais para o fortalecimento das do movimento negro em favor da maior democrati-
organizações negras, bem como as pesquisas de Ivair zação do país.

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The Brazilian black movement in the social sciences (1950 – 2000)

Abstract
When and how did the Brazilian Black movement appear in the social sciences? What are the theoretical approaches and explanations for
the 20th century emergence and development? This article will address these principal issues by analyzing studies that have taken on the
topic of collective black mobilization from various disciplinary vantage points, particularly, Sociology, History and Anthropology.

Keywords: Social Science; black movement; racial relations; identity.

El movimiento negro brasileño en las Ciencias Sociales (1950-2000)

Resumen
¿Cuándo y cómo el movimiento negro brasileño ganó el interés de las Ciencias Sociales? ¿Cuáles son los abordajes teóricos y las ex-
plicaciones sobre la emergencia y el desarrollo de ese movimiento social a lo largo del siglo XX? Esas son las principales preguntas
norteadoras del presente artículo, que versa sobre los estudios que tuvieron la movilización colectiva negra como problema de reflexión
en distintos campos disciplinares, en especial la sociología, la historia y la antropología.

Palabras clave: Ciencia Social, movimiento negro, relaciones raciales, identidad.

Data de recebimento do artigo: 31-03-2009


Data de aprovação do artigo: 11-09-2009

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