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10/03/2018 Podemos alargar o conceito de golpe?

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Mateus Matos Tormin


Graduando da Faculdade de Direito da USP

Segunda-feira, 9 de Maio de 2016

Podemos alargar o conceito de


golpe?
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Imagine a seguinte situação. Você é uma pessoa que tem convicção de que o
processo político que o Brasil está enfrentando é um golpe. Visando testar sua
convicção, você se propõe a ler um texto que defende o oposto. O texto a rma
haver substrato empírico e teórico a sustentar a tese de que o processo político
em curso não pode ser corretamente interpretado como um golpe. Como RECENTES
argumento principal, lhe é apresentado o seguinte conceito de golpe: “Golpe
de Estado descreve a derrubada repentina e violenta de um governo, quase A natureza laboral do Bolsa Família: uma
anál...
invariavelmente por militares ou com a ajuda de militares”. Partindo deste 9 de Março de 2018
conceito, faz-se uma análise que constata que os três elementos que compõem
o conceito (derrubada repentina + e violenta + quase invariavelmente com a MPF cobra cumprimento de
acordo para construç...
ajuda de militares) não estão totalmente presentes no caso brasileiro. Conclui- 9 de Março de 2018
se, nalmente, que não há golpe. Você se convenceria?
Mulheres trabalhadoras, uni-
Acredito que não.  Parece claro que a conclusão do argumento já estava, de vos!
alguma forma, dada na premissa, certo? Ao partir da de nição de golpe como 9 de Março de 2018

uma derrubada repentina e violenta de um governo (quase sempre contando


Religião é poder: pela liberdade
com a participação militar), era claro que a conclusão seria de que não se está, de sermos fe...
9 de Março de 2018
até o presente momento, diante de um golpe. Além disso, estou seguro de que
você apontaria que o conceito se serve de termos imprecisos, passíveis de
Agente da PF, vereador em
interpretação – tais como “repentina”, “violenta” etc. -, que certamente Campo Grande diz qu...
9 de Março de 2018
impactam na conclusão apresentada.

Em texto publicado no Justi cando (“O STF não vai barrar o golpe porque ele é As consequências nefastas da
execução provisó...
parte do golpe”[1]) em 29 de abril, o professor e cientista político Frederico de
9 de Março de 2018
Almeida se utilizou da mesma estrutura argumentativa empregada em nosso
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exemplo ctício. Crônicas de uma morte
anunciada
Já no começo do artigo, o professor a rma que a tese de que o processo de 9 de Março de 2018

impedimento da presidente Dilma Rousse constitui um golpe tem substância 


Rumores de nova ação violenta
teórica e empírica, não sendo mero artifício (com intuitos mobilizadores) de na Cracolândia ...

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10/03/2018 Podemos alargar o conceito de golpe?
9 de Março de 2018
um governo acuado. Para sustentar essa a rmação, Frederico se utiliza de um
conceito de golpe apresentado pelo também professor Álvaro Bianchi – Organizações realizam
segundo o qual golpe de Estado seria “uma mudança institucional promovida mobilização contra mass...
9 de Março de 2018
sob a direção de uma fração do aparelho de Estado que utiliza para tal de
medidas e recursos excepcionais que não fazem parte das regras usuais do Djamila Ribeiro ferveu Belo
jogo político”. Horizonte
8 de Março de 2018
Apresentado o conceito, Frederico de Almeida o destrincha em três elementos:
(i) o sujeito do golpe – que é ator do próprio Estado, fração da burocracia ou o
próprio governante; (ii) os ns do golpe – que compreendem a mudança LIVROS JUSTIFICANDO
institucional ou a distribuição do poder político, com ou sem a troca de
governantes; e (iii) os meios do golpe – que são sempre excepcionais, fora das
regras do jogo político, não demandando necessariamente uma intervenção
militar. Os próximos passos são: identi car os três elementos no caso concreto
e, caso estejam presentes, concluir que se está diante de um golpe.

O sujeito: um conjunto de atores e interesses representados pela oposição


parlamentar – e, mais especi camente, pelo PSDB, por Eduardo Cunha e pela
ala do PMDB liderada por Michel Temer; atores judiciais também estariam
presentes nesse conjunto. Os ns: destituir o governo eleito de Dilma
Rousse , empregando os meios e motivos necessários para tanto, quaisquer
que sejam. O meio: o impeachment – caracterizado por Frederico como
medida excepcional, tendo como parâmetro as regras formais e informais do
jogo político de nosso presidencialismo. A conclusão: golpe.
STALKING
Essa estrutura argumentativa enfrenta duas séries de problemas. Uma delas R$ 69,90
deriva dos termos vagos empregados na de nição. O conceito de golpe
apresentado por Bianchi se utiliza de alguns deles – tais como “excepcionais”
(o que são, mais precisamente, medidas excepcionais?) e “usuais” (quais são
as regras “usuais” do jogo político?). Qualquer pessoa que zer uso de tal
conceito, tem o ônus argumentativo de fornecer razões que possam embasar
uma conclusão. Em outras palavras, é preciso que se ofereça uma
interpretação de tais termos para que se possa tirar uma conclusão do conceito
apresentado. Perceba que, para se chegar à conclusão de que se está diante de
um golpe, é essencial que se defenda uma interpretação do processo de
impeachment como uma medida excepcional – que não faz parte das regras
“usuais” do jogo político. A meu ver, o professor Frederico de Almeida cumpre
esse ônus. O argumento parece ser: estamos diante de meios excepcionais, já
que as “pedaladas scais” não constituem crime – seja “porque não podem
ser subsumidas à tipi cação de crime, seja porque representam prática
recorrente de outros governos estaduais e federais anteriores ao de Dilma”.
Além disso, segundo o autor, as regras formais e informais do jogo do regime República de Curitiba – Por
que Lula?
presidencialista e da gestão do orçamento público acabam por caracterizar o
R$ 49,90
impeachment como meio excepcional – em oposição a uma leitura que
defende que o impeachment seja tomado como uma espécie de voto de
descon ança, comum a regimes parlamentaristas. Podemos discordar de sua
interpretação, mas não podemos negar que ela está lá, enfrentando o
problema dos termos imprecisos que compõem a de nição de golpe
apresentada.

O segundo problema – que, a meu ver, não foi enfrentado pelo professor – é o
da escolha do conceito a ser utilizado. Como disse, no nosso exemplo, a
conclusão parece embutida na própria premissa. A pergunta que se faz é: por
que devemos adotar o conceito que o professor propõe?[2] Do mesmo modo
que não se aceitaria, a priori, a de nição trazida no nosso exemplo, não se
deve aceitar, a priori, a de nição dada por Frederico. A opção por um conceito,
sobretudo quando se está diante de uma questão valorativa, deve ser
sustentada por razões. A pergunta não respondida (e que precisa ser; do O que é discriminação?
contrário, o argumento não se sustenta) é: existem boas razões para R$ 49,90

adotarmos o conceito de golpe formulado por A. Bianchi[3]?

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10/03/2018 Podemos alargar o conceito de golpe?

No ensaio O que é um golpe de Estado, que é de março deste ano, Bianchi faz
um levantamento dos usos da expressão “golpe de Estado” (coup d’état) ao
longo da história. Apesar de interessante, não se tira muitas conclusões desse
levantamento. Apenas ao nal do ensaio Bianchi fornece razões para
repensarmos o conceito de golpe. De seu levantamento histórico, ele constata
que, de acordo com Edward Luttwak, a maior parte dos golpes de Estado,
sobretudo os que ocorreram no século XX, contaram com uma participação
importante de militares. Apesar disso, Bianchi sugere que o coup d’état não
deve ser identi cado exclusivamente com sua variante militar. Para ele, esta
seria uma de nição bastante limitada, que não abarcaria casos de golpes
promovidos por grupos do Poder Legislativo ou do Judiciário, por exemplo.
Curiosamente, ele a rma que o golpe militar de 1964 não estaria abrangido
pelo conceito de golpe fornecido pelo The Routledge Dictionary – “golpe de A Maioridade Penal nos
Estado descreve a derrubada repentina e violenta de um governo, quase Debates Parlamentares
invariavelmente por militares ou com a ajuda de militares”. De todo modo, R$ 59,90

cita outros dois exemplos que, para ele, deveriam estar (mas não estariam)
abarcados por um tal conceito de golpe: o caso de Manuel Zelaya (2009,
Honduras) e o de Fernando Lugo (Paraguai, 2012). Disso, conclui pela
necessidade de alargarmos o conceito, chegando à de nição que seria utilizada
por Frederico de Almeida. Nenhuma outra razão nos é fornecida pelos
professores.

Diante da ausência de boas razões para adotarmos o conceito proposto por


Bianchi, proponho nova pergunta: existem boas razões para rejeitarmos tal
conceito “alargado” de golpe? Penso que sim, existem.

A primeira delas é que essa versão mais alargada do conceito tem uma
consequência séria: ela pode levar à descaracterização do que o termo
usualmente designa na história recente brasileira. O termo “golpe” evoca,
tendo em vista nossa história recente, a participação militar, a restrição de
direitos, as perseguições políticas, a prática de tortura, etc. Lembremos que
ainda não fomos capazes de construir uma narrativa uniforme sobre o regime
militar. Existem os que ainda defendem que se tratou de uma revolução.
Alargar a concepção de golpe de Estado em nada contribui para se combater
essa interpretação absurda dos fatos. Ao abrigarmos, sob o mesmo rótulo, o
golpe militar e o processo de impedimento de Dilma Rousse , não fazemos jus
às pessoas que tiveram seus direitos brutalmente cerceados pela ditadura
militar, e principalmente àquelas que foram torturadas, perseguidas e
mortas[4].Além disso, a insistência no conceito alargado de golpe de Estado
traz outra consequência importante: a intensi cação do processo de
polarização política. Não penso que polarizar seja, a priori, um problema. A
polarização passa a ser um problema quando reprime a possibilidade de
alternativas aos polos. Em outros termos, a partir do momento em que as
pessoas e suas ações ou são caracterizadas como contra o golpe/defensoras da
democracia, ou são caracterizadas como a favor do golpe/golpistas. A adoção
do conceito de golpe em sua versão alargada tem o efeito prático de
circunscrever o âmbito semântico do debate, limitando possibilidades
políticas ao reduzir o con ito político à disputa entre duas identidades
contrapostas. No caso, a polarização tende, em certa medida, a invisibilizar
enunciados que fogem ao binômio golpe/não-golpe[5], di cultando que
pautas comuns aos polos avancem

Para terminar, gostaria de elogiar a iniciativa dos professores Alvaro Bianchi e


Frederico de Almeida de ressaltar a necessidade de análise rigorosa para
de nirmos nossas posições em relação ao processo político que vivemos.
Concordo com Bianchi, quando a rma que o debate não “deveria ignorar a
necessidade de uma rigorosa conceitualização” – sobretudo por parte das
pessoas que ocupam posições acadêmicas ou de intelectuais públicos. Espera-
se delas esse tipo rigor. Principalmente em momentos politicamente tensos. 

http://justificando.cartacapital.com.br/2016/05/09/podemos-alargar-o-conceito-de-golpe/ 3/5
10/03/2018 Podemos alargar o conceito de golpe?

Além disso e porém, também esperamos que elas nos forneçam boas razões
para adotarmos um ou outro conceito, e que levem em conta não apenas a
consistência do argumento escrito, mas também as consequências práticas
daquilo que é defendido no plano do discurso. Neste ponto, gostaria de citar o
próprio Alvaro Bianchi: “Substituir o conceito por slogans pode ter efeitos
positivos para a mobilização das pessoas. Mas não é um recurso que permita
compreender a realidade presente. A própria mobilização obtida é, por essa
razão, incapaz de uma ação política e caz. Frequentemente ela aponta para a
direção errada. Um componente importante da atual crise da esquerda [e
também de parte de seus opositores políticos] está em sua recusa a
compreender a realidade. Prefere sempre a comodidade das antigas fórmulas.
A análise torna-se, assim, serva da política”[6].

É possível defender que o impeachment de Dilma Rousse não é a melhor


resposta. Do ponto de vista jurídico, é plausível a interpretação que defende
que os argumentos jurídicos levantados na peça que embasa o processo é
bastante fraca. Do ponto de vista político, é plausível a interpretação que
defende se tratar de solução politicamente irresponsável, que foi alimentada
por decisões arbitrárias provenientes de atores judiciais e políticos. Podemos
defender plausivelmente tais posições. Penso, no entanto, que, se levarmos a
situação a sério, não deveríamos fazer uso do conceito alargado de golpe de
Estado. Estou aberto, porém, às razões dos que pensam o contrário.

Mateus Matos Tormin é aluno do último ano da graduação em direito na


Faculdade de Direito do Largo de São Francisco da USP (FDUSP). Foi aluno do
Programa de Educação Tutorial (PET – Sociologia Jurídica), de 2013 a 2015, e
aluno da Escola de Formação da Sociedade Brasileira de Direito Público no ano de
2013, sempre em dedicação exclusiva. 

[1] Disponível on-line em: http://justi cando.com/2016/04/29/o-stf-nao-


vai-barrar-o-golpe-porque-ele-e-parte-do-golpe/. Acesso em 02 de maio
de 2016.

[2] O argumento é, em termos mais so sticados, de que o conceito de golpe,


na presente discussão, funciona como um conceito interpretativo – e não
como um conceito criterial. Ao não fornecer razões para preferirmos a
concepção do conceito de golpe que defende, Frederico de Almeida e Alvaro
Bianchi sugerem um tratamento criterial do conceito. A distinção entre
diferentes funções que um conceito pode assumir foi proposta pelo lósofo
Ronald Dworkin na Introdução do livro Justice in Robes.

[3] BIANCHI, Alvaro, O que é um golpe de estado?. Disponível on-line em:


http://blogjunho.com.br/o-que-e-um-golpe-de-estado/. Acesso em 02 de
maio de 2016.

[4] Sei que o termo golpe não se refere necessariamente às violações de


direitos humanos ocorridas no regime que o sucedeu. Mas é inegável que
grande parte da força retórica do conceito alargado de golpe (bem como da
rejeição que ele enfrenta) advém de um paralelo (a meu ver impertinente)
entre o processo político atual e o golpe militar de 1964 (e o regime que dele
surgiu).

[5] O antropólogo Luiz Eduardo Soares, em texto publicado na Ilustríssima


em 24 de abril deste ano, argumenta que a narrativa que defende a tese da
existência de um golpe foi elaborada e difundida com várias intenções, dentre
elas a de: “emitir um sinal claro, inteligível, que conclama à união de forças e
circunscreve o âmbito semântico do confronto, estágio de rivalidade que
tende a propulsionar a formação de identidade e sua massi cação”.
(Respiração arti cial: Sobre o impeachment e suas implicações). Para o
argumento aqui exposto, não importa se há, por trás do conceito alargado de
golpe, essa intenção. O que importa é que tal conceito teve esse consequência 

http://justificando.cartacapital.com.br/2016/05/09/podemos-alargar-o-conceito-de-golpe/ 4/5
10/03/2018 Podemos alargar o conceito de golpe?

prática – tendo ela sido visada ou não. Disponível on-line em:


http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2016/04/1763751-respiracao-
arti cial-sobre-o-impeachment-e-suas-implicacoes.shtml. Acesso em 02
de maio de 2016.

[6] Op. cit., http://blogjunho.com.br/o-que-e-um-golpe-de-estado/.

Segunda-feira, 9 de Maio de 2016


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 Licenças maternidade e “Não queremos nenhuma regalia, e

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