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Libras
É com satisfação que a Unisa Digital oferece a você, aluno(a), esta apostila de Libras, parte integran-
te de um conjunto de materiais de pesquisa voltado ao aprendizado dinâmico e autônomo que a educa-
ção a distância exige. O principal objetivo desta apostila é propiciar aos(às) alunos(as) uma apresentação
do conteúdo básico da disciplina.
A Unisa Digital oferece outras formas de solidificar seu aprendizado, por meio de recursos multidis-
ciplinares, como chats, fóruns, aulas web, material de apoio e e-mail.
Para enriquecer o seu aprendizado, você ainda pode contar com a Biblioteca Virtual: www.unisa.br,
a Biblioteca Central da Unisa, juntamente às bibliotecas setoriais, que fornecem acervo digital e impresso,
bem como acesso a redes de informação e documentação.
Nesse contexto, os recursos disponíveis e necessários para apoiá-lo(a) no seu estudo são o suple-
mento que a Unisa Digital oferece, tornando seu aprendizado eficiente e prazeroso, concorrendo para
uma formação completa, na qual o conteúdo aprendido influencia sua vida profissional e pessoal.
A Unisa Digital é assim para você: Universidade a qualquer hora e em qualquer lugar!
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................................................................ 5
1 MOVIMENTO HISTÓRICO DA LÍNGUA DE SINAIS........................................................... 7
1.1 Resumo do Capítulo........................................................................................................................................................9
1.2 Atividade Proposta...........................................................................................................................................................9
4 LÍNGUA E LINGUAGEM..................................................................................................................... 27
4.1 Resumo do Capítulo.....................................................................................................................................................30
4.2 Atividade Proposta........................................................................................................................................................30
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................................ 53
RESPOSTAS COMENTADAS DAS ATIVIDADES PROPOSTAS...................................... 55
REFERÊNCIAS.............................................................................................................................................. 59
INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a),
Esta apostila busca apresentar a você, aluno(a) do curso de graduação em Pedagogia e Licencia-
turas da Unisa, na modalidade a distância, os fundamentos da Língua Brasileira de Sinais (Libras). Nesta
disciplina, temos como objetivos: refletir acerca das diferenças entre a Língua Brasileira de Sinais (Libras) e
o Português; entender a importância da Língua Brasileira de Sinais para os surdos; conhecer e respeitar a
diferença linguística entre surdos e ouvintes; e capacitar futuros educadores na Libras.
Discutiremos aspectos fundamentais sobre língua e linguagem, a diferença entre as línguas orais-
-auditivas e visuais-espaciais, a estruturação da língua, assim como aspectos diferenciados da gramática
da Libras. Desenvolveremos a competência e habilidade de percepção visual e observação, aprendendo
a diferenciar a estrutura linguística das línguas orais e a de sinais, e percebendo as características dos
sinais a partir dos seus parâmetros. Iremos estudar, também, o alfabeto datilológico, a composição dos
sinais e sua legitimidade enquanto língua.
Lembramos que o conteúdo apresentado é introdutório e que, portanto, ninguém, ao término des-
te curso, terá proficiência em Libras, mas o foco desta disciplina é propor questionamentos e apontar
possibilidades de trabalho com alunos surdos, em relação à sua língua materna. Não há respostas pron-
tas em relação à língua, mas temos a certeza de que cada conteúdo aqui discutido irá beneficiar a sua
reflexão e o trabalho com seu(sua) aluno(a). Bem-vindo ao mundo das línguas visuais.
Bom trabalho!
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MOVIMENTO HISTÓRICO DA LÍNGUA
1 DE SINAIS
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Marcia Regina Zemella Luccas
Como você já deve saber, os conhecimen- Parágrafo único. Entende-se como Lín-
tos que compõem a sociedade são transmitidos gua Brasileira de Sinais – LIBRAS a forma
de comunicação e expressão, em que o
pela classe dominante e esta acaba por “ditar” as
sistema lingüístico de natureza visual-
normas através das quais os seres humanos serão -motora, com estrutura gramatical pró-
julgados. Muitas vezes, a sociedade vê no cidadão pria, constituem um sistema lingüístico
surdo apenas um ser com um limite na audição de transmissão de idéias e fatos, oriundos
e nega reconhecer nessa pessoa um ser de direi- de comunidades de pessoas surdas do
Brasil.
tos e deveres, com uma língua e cultura próprias.
A conquista e o reconhecimento da Libras como Art. 2º Deve ser garantido, por parte do
poder público em geral e empresas con-
língua, e a modificação da visão do surdo como
cessionárias de serviços públicos, formas
uma pessoa que não possui uma deficiência, mas institucionalizadas de apoiar o uso e difu-
uma diferença no modo de aprender e apreen- são da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS
der o mundo, ainda são tímidos, mas já houve como meio de comunicação objetiva e
resultados significativos, como, por exemplo, a de utilização corrente das comunidades
surdas do Brasil.
aprovação da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro
de 2000, que prevê a formação de intérpretes Art. 3º As instituições públicas e empre-
sas concessionárias de serviços públicos
de língua de sinais para possibilitar aos surdos o de assistência à saúde devem garantir
acesso à informação (BRASIL, 2000). Com a Lei nº atendimento e tratamento adequado aos
10.436/02, que institui a Libras como língua ma- portadores de deficiência auditiva, de
terna dos surdos, o que passa a existir é a possibi- acordo com as normas legais em vigor.
lidade de uma mudança de comportamento e de Art. 4º O sistema educacional federal e
visão da sociedade em relação a essa população. os sistemas educacionais estaduais, mu-
nicipais e do Distrito Federal devem ga-
rantir a inclusão nos cursos de formação
de Educação Especial, de Fonoaudiologia
Dicionário e de Magistério, em seus níveis médio e
Lei: (do verbo latino ligare, que significa “aquilo
superior, do ensino da Língua Brasileira
que liga”, ou legere, que significa “aquilo que se de Sinais – LIBRAS, como parte integran-
lê”) é uma norma ou conjunto de normas jurídi- te dos Parâmetros Curriculares Nacionais
cas criadas através dos processos próprios do ato – PCNs, conforme legislação vigente.
normativo e estabelecidas pelas autoridades com-
Parágrafo único. A Língua Brasileira de
petentes para o efeito.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Lei.
Sinais – LIBRAS não poderá substituir a
modalidade escrita da Língua Portugue-
sa.
Art. 5º Esta Lei entra em vigor na data de
Preste atenção agora! sua publicação.
Brasília, 24 de abril de 2002; 181º da Inde-
Lei nº 10.436, de 24 de Abril de 2002. pendência e 114º da República.
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2º: “Considera-se pessoa surda aquela que, por formação de professores para o exercício do ma-
ter perda auditiva, compreende e interage com gistério, em nível médio e superior, e nos cursos
o mundo por meio de experiências visuais, mani- de Fonoaudiologia. Assim, todos os cursos de li-
festando sua cultura principalmente pelo uso da cenciatura nas diferentes áreas do conhecimento
Língua Brasileira de Sinais-LIBRAS.” (BRASIL, 2005). também deverão oferecer essa disciplina.
Atenção
Dicionário
A Lei nº 10.436 aponta um grande avanço na
Decreto: refere-se a atos meramente administrati-
questão do reconhecimento dos surdos enquan-
vos da competência dos chefes dos poderes exe-
to sujeitos de direito, bem como o reconheci-
cutivos (presidente, governadores e prefeitos). Um
mento da sua comunicação enquanto uma cul-
decreto é usualmente utilizado pelo chefe do po-
tura diferenciada.
der executivo para fazer nomeações e regulamen-
tações de leis (como para lhes dar cumprimento
efetivo, por exemplo), entre outras coisas.
Neste capítulo, observamos a dificuldade que os surdos tiveram para que pudessem ser reconhe-
cidos como pessoas que têm uma cultura diferenciada e principalmente uma língua própria. A Lei nº
10.436/2002 e o Decreto nº 5.626/2005 modificam a perspectiva dessa comunidade surda e suas possi-
bilidades de interação social.
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2 UM POUCO DA HISTÓRIA DOS SURDOS
Caro(a) aluno(a), vamos conhecer agora um mento do ponto de vista histórico dos movimen-
pouco sobre o percurso histórico da educação tos dos surdos e dos intérpretes da Libras no Bra-
dos surdos. sil e seu reconhecimento no país.
Os surdos, ao longo da nossa história, foram Há pessoas surdas em todas as partes do
considerados deficientes e, assim como estes, fi- Brasil, porém muitos surdos são invisíveis à socie-
caram “escondidos” da sociedade. Este trabalho dade.
irá trazer alguns fatos que subsidiarão o conheci-
Saiba mais
“Em décadas passadas, existiam famílias ouvintes que ‘escondiam’ os filhos surdos pela ‘vergonha’ de terem concebido uma
criança fora dos padrões considerados normais; e por isso os surdos quase não saíam de casa ou sempre ficavam acompa-
nhados dos pais. A comunicação dos pais com os filhos surdos era muito complexa, pois esses não sabiam a Língua de Sinais
e também não a aceitavam; achavam que era ‘feio’ fazer ‘gesto’ ou ‘mímica’ (não Língua de Sinais) como forma de comunicação
com sua criança e, consequentemente, não aceitavam a língua de sinais como a primeira língua dos surdos. Os filhos surdos,
por sua vez, sentiam-se ‘isolados’ e sem comunicação alguma. Desse modo, muitas vezes criavam ‘complexos’ e/ou ficavam
‘nervosos’. Por muitos anos, os próprios surdos não compreenderam a importância da comunicação através da Língua de
Sinais para o processo de construção de sua Identidade Cultural, bem como para o desenvolvimento de sua cognição e
linguagem. Consequentemente, o bloqueio no desenvolvimento da Língua de Sinais causou problemas sociais, emocionais
e intelectuais na aquisição da linguagem nos surdos.
Além disso, esses indivíduos também não conseguiam alcançar suas metas e seus objetivos devido ao preconceito e à mar-
ginalização existentes, na sociedade, em relação à Língua de Sinais e à construção da Identidade e Cultura Surda Brasileira. A
sociedade ignorava as comunidades surdas brasileiras, que eram ‘isoladas’ e ‘discriminadas’.
Ultimamente, observa-se um processo de mudança significativa do olhar da sociedade em relação à questão do surdo, sua
língua e cultura. Entretanto, esse é ainda um processo muito lento dentro das políticas educacionais da sociedade brasileira.
Até poucos anos atrás, a Língua de Sinais Brasileira era ainda vista como ‘tabu’, pois não havia sido atribuída a língua de sinais
o status de língua. Essa era apenas considerada como ‘Linguagem’ e não ‘Língua’.” (MONTEIRO, 2006, p. 279).
A língua que conhecemos hoje como Libras Na história da nossa civilização e cultura, os
não é a língua de sinais como sua forma mais an- surdos e sua comunicação aparecem pela primei-
tiga. Como muitas das línguas faladas, a língua de ra vez no registro de dois grandes filósofos, Platão
sinais, em sua forma mais antiga, não foi preserva- e Aristóteles. Infelizmente, o pensamento de Aris-
da. Por meio de pesquisas, foi possível estabelecer tóteles (século IV a.C.) reflete-se até hoje no modo
algumas circunstâncias entre as quais a educa- como algumas pessoas encaram o surdo.
ção e a instrução formal de uma língua sinalizada
aconteceu.
A audição contribui para a maior parte
Como vimos anteriormente, apesar da es- do pensamento, porque a linguagem é a
cassez de informações sobre as línguas antigas, causa da instrução. Compõe-se, com efei-
acreditar que pessoas surdas não possuíam uma to, (a linguagem) de palavras e cada uma
língua sinalizada para sua comunicação, seria um das palavras é um signo. É por isso, que
equivocado. entre os homens privados congenita-
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A mudança na vida dos surdos! O Congresso de Martha’s Vineyard é uma ilha a cinco milhas da
Milão costa sudeste de Massachusetts. De 1690 até a
metade do século XX, uma elevada taxa de sur-
“O debate sobre a melhor forma de educar os surdos, dez genética aparecia entre a população da ilha.
se através da fala ou dos sinais, foi ganhando novos
Martha’s Vineyard é um exemplo de uma comu-
adeptos e culminou com a vitória do método oral,
em 1880, no Congresso de Milão. Como conclusão do nidade surda... O primeiro educador surdo que
Congresso, decidiu-se que: lá chegou com sua esposa e família em 1692 era
1- Dada a superioridade incontestável da fala sobre os fluente em algum tipo de língua sinalizada. Mui-
sinais para reintegrar os surdos-mudos na vida social tas das famílias que habitaram a ilha provinham
e para dar-lhes maior facilidade de linguagem, o con- da área de Boston e, antes disso, muitas outras
gresso declara que o método de articulação deve ter haviam imigrado de uma região da Inglaterra co-
preferência sobre o de sinais na instrução e educação nhecida como Weald, no interior de Kent... Com o
dos surdos-mudos. florescimento da comunidade surda, consolidou-
2- O método oral puro deve ser preferido, porque o -se também a sua língua... essa língua se expan-
uso simultâneo de sinais e fala tem a desvantagem
diu por toda a ilha, e quase todos os habitantes
de prejudicar a fala, a leitura oro-facial e a precisão de
idéias.” (LANE, 1989 apud SACKS, 1990, p. 394). da ilha, surdos ou não, foram capazes de utilizar
a língua de sinais... A surdez não era vista como
uma incapacidade. Naquela ilha, os surdos parti-
cipavam, integralmente, em todos os aspectos da
vida social. (GROCE, 1985 apud WILCOX; WILCOX,
2005, p. 36).
A modificação histórica que acabamos de
verificar reflete as consequências devastadoras
que o Congresso de Milão trouxe. Vários autores,
entre eles Coutinho (2008), apontam que o que E no Brasil?
aconteceu no ensino de surdos foi “um autêntico
desastre educacional [que] resultou do uso da lin-
guagem oral, falada ou escrita, para instruir crian- Um pouco da História da Educação dos Surdos
ças surdas.” Desde então, foram excluídas todas no Brasil
as possibilidades de uso das línguas de sinais na
educação desses sujeitos. Atualmente, os surdos Como você pôde observar, a história dos
educados por esse método falam dos horrores e surdos no mundo não foi simples! Como será que
das perseguições que sofreram ao usarem a lín- se deu então a educação dos surdos aqui n Brasil?
gua de sinais. Bem, podemos iniciar nossa história em
Depois de quase um século de trabalho ora- 1856, que foi quando chegou ao Brasil o professor
lista, na década de 1960, nos Estados Unidos, ini- Eduard Huet, surdo francês que trouxe o alfabe-
cia-se a implementação de uma nova filosofia de to manual francês e alguns sinais para o Brasil. Os
ensino chamada Comunicação Total e, nos anos surdos brasileiros, que já utilizavam um sistema
1980, há um retorno ao bilinguismo como me- de sinais próprio, em contato com a Língua de
lhor forma de ensino para pessoas surdas. O Brasil Sinais Francesa (LSF), produziram a Língua de
seguiu com alguns anos de atraso essas mesmas Sinais Brasileira. No ano seguinte, no dia 26 de
tendências e, hoje, procura o caminho do bilin- setembro de 1857, foi fundado o Imperial Institu-
guismo. to dos Surdos-Mudos do Rio de Janeiro e deno-
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minado o atual Instituto Nacional de Educação de 1895, teve o declínio do número de professores
Surdos (INES). surdos nas escolas para surdos e aumentou o nú-
É interessante ressaltar que esse Instituto mero de professores ouvintes.
era ligado ao governo central e possuía uma co-
missão de alto nível, formada por juristas, minis- Curiosidade
tros e sacerdotes, que deveriam supervisionar os
trabalhos. Fica claro que essa e outras instituições Outra escola que é importante na história dos
surdos é o Instituto Santa Terezinha, em São Pau-
para deficientes da mesma época só foram cria-
lo, fundado em 1925 e dedicado à educação de
das porque houve a intermediação de pessoas moças surdas. Nessa época, as surdas comunica-
influentes que possuíam interesse nessas escolas. vam-se somente fora das salas de aulas utilizan-
Essas pessoas importantes da época procuraram do sinais. Dentro das salas de aula, era utilizado
transmitir ensinamentos especializados aceitos principalmente o oralismo, visando ao desenvol-
vimento da fala.
como fundamentais e ficaram diretamente liga-
das à administração pública de tais instituições.
Como você sabe, antigamente, diferente-
mente de agora, as pessoas estudavam em in-
ternatos; e com os surdos acontecia o mesmo. A Importância da Convivência entre Pessoas
Os surdos vindos de outras cidades do Brasil dor- da mesma Cultura
miam na escola, que era um internato. Os surdos
que viviam no INES aprendiam por meio da língua Como você sabe, é fundamental para que
de sinais, mas nessa época não existia a Libras, en- possamos desenvolver uma língua o convívio com
tão eles utilizavam a Língua de Sinais Francesa e pessoas que a utilizem, certo? Quando pessoas de
a Língua de Sinais Brasileira antiga. Esse fato foi uma mesma cultura convivem, elas desenvolvem
importante, pois dessa instituição partiram os lí- uma linguagem própria. Com as pessoas surdas
deres surdos que têm divulgado, durante muitos não é diferente, elas desenvolveram uma lingua-
anos, a língua de sinais em todo o país. gem própria, visual-motora, chamada língua de
Sabemos que grande número de crianças sinais.
surdas são filhas de pais ouvintes, mas algumas Muitas pessoas perguntam: a Língua de Si-
famílias que possuem a surdez pela hereditarieda- nais é universal?
de transmitem a seus filhos a Libras como forma Não!
de comunicação efetiva. Esse fato fez com que a
Existe, no mundo, um grande número de
língua de sinais, mesmo com o oralismo imperan-
línguas de sinais, diferente do que muitas pessoas
do durante muitos anos na educação dos surdos,
ouvintes pensam. Quando falamos em língua de
não se extinguisse e criou resistências significati-
sinais, não estamos falando de alguma forma de
vas, as quais acabaram por refletir na sociedade o
comunicação manual do Português ou, mesmo,
crescente movimento que hoje se dá através da
de um Português sinalizado, mas de uma língua,
aprendizagem da língua de sinais por ouvintes e
com gramática e léxico próprios, expressiva, elo-
surdos.
quente e graciosa.
É importante saber que a primeira icono-
Podemos dizer que os seres humanos pos-
grafia dos sinais realizada aqui no Brasil foi em
suem uma capacidade inata de adquirir lingua-
1873, de autoria do aluno surdo Flausino José
gem, seja a fala ou o sinal.
de Gama, que estudava no Imperial Instituto dos
Surdos-Mudos.
Em 1881, a história narra o fato de a língua
de sinais ter sido proibida no INES e em todo o
Brasil. Como consequência dessa proibição, em
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linguística. David Wood, em seu estudo, de longo mo que este lhe forneça poucas pistas. Vygotsky
prazo, de crianças surdas, escreve: aponta que a comunicação é a percepção de um
mundo e essa percepção leva a um mundo con-
Imaginem um bebê surdo com pouca ceitual. Ele fala de um “salto da sensação para o
ou nenhuma consciência do som. [...] pensamento”; isso envolve não somente a fala,
Quando olha para um objeto ou evento, mas o tipo certo de fala, um diálogo rico em in-
não recebe nada da ‘música de clima’ que tenção comunicativa. Para que a criança possa
acompanha a experiência social do bebê
auditivo. Vamos supor que desvie os realizar esse “salto” com sucesso,
olhos de um objeto que atrai sua atenção
para um adulto que está partilhando sua não importa essencialmente se a comu-
experiência com ele, e o adulto fala sobre nicação, o diálogo entre mãe e filho, é
o que o bebê acabou de olhar. Será que pela fala ou sinal, o que importa é a in-
o bebê sequer percebe que está ocorren- tenção comunicativa. Essa intenção pode
do uma comunicação? Para descobrir os estar na direção saudável de promover
relacionamentos entre uma palavra e seu seu crescimento, autonomia e expansão
referente, o bebê surdo precisa lembrar da mente. Mas o uso de sinais torna clara-
alguma coisa que acabou de observar e mente a comunicação mais fácil no início
relacionar essa lembrança com outra ob- da vida, porque os bebês surdos espon-
servação [...] o bebê surdo precisa fazer taneamente absorvem os sinais, mas não
mais, precisa ‘descobrir’ os relacionamen- podem absorver a fala da mesma forma.
tos entre duas experiências visuais muito (SACKS, 1990, p. 84).
diferentes que estão deslocadas no tem-
po. Essas e outras importantes considera-
ções, eles acham, podem causar graves Vários estudos foram realizados nos últimos
problemas de comunicação muito antes
do desenvolvimento da linguagem. As
anos em relação à surdez e à aprendizagem da
crianças surdas filhas de pais surdos tem língua de sinais por surdos.
boas possibilidades de serem poupadas A partir dos aspectos apontados, entende-
dessas dificuldades interacionais, pois -se que um surdo que tenha acesso à convivência
os pais sabem muito bem, por sua pró-
pria experiência, que toda comunicação com falantes de sua própria língua irá se desenvol-
e todos os jogos devem ser visuais e que ver sem atrasos e dificuldades. Significa dizer que
a ‘conversa de bebê’, em particular, deve as crianças surdas possuem muito mais que um
se realizar em termos visuais e gestuais. O diagnóstico médico apontando uma “deficiência”,
corolário de tudo isso é que se a comuni-
mas, na verdade, o que ocorre é um fenômeno
cação não se tornar significativa, afetará
o crescimento intelectual, o intercambio cultural, no qual os padrões sociais, emocionais e
social, o desenvolvimento da linguagem linguísticos estão intrinsecamente ligados.
e as atitudes emocionais, tudo ao mesmo
tempo, de forma simultânea e insepará-
vel. Isso é o que normalmente acontece
quando uma criança nasce surda. (SACKS,
1990, p. 79-80).
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Saiba mais
McCleary (2000, p. 672-681) destaca: “Natissurdos, por não terem acesso ao som da fala, não podem adquirir a fala natural-
mente, através dos processos com que toda criança adquire língua desde sua infância, na interação com falantes da língua,
com o processamento cognitivo dos inputs lingüísticos auditivos. Quando aprendem a língua oral, o fazem através de um
processo de ensino e treinamento mais artificial do que qualquer programa de ensino de língua estrangeira, e a língua que
acabam falando carrega as marcas desse processo. O quadro ideal para o desenvolvimento lingüístico de uma criança surda
é o de crescer dentro de uma família fluente em língua de sinais, para não sofrer nenhum atraso de aquisição de linguagem.
Mas isso ocorre apenas com os cerca de 10% de surdos que nascem em famílias de surdos. A grande maioria de natissurdos
nasce em famílias de pais ouvintes. No melhor dos cenários, os pais descobrem logo que o filho é surdo, começam a aprender
língua de sinais para poderem se comunicar com o filho e colocam o filho em contato com surdos fluentes na língua. Isso
raramente acontece. Na maioria dos casos, os pais não têm informações sobre a língua de sinais, ou, tendo, rejeitam-na por
preconceito e por medo de o filho ser ‘diferente’ e excluído. Na pior das hipóteses, os pais rejeitam o filho e interagem mini-
mamente com ele.
Dessa forma, muitos surdos crescem até a idade escolar essencialmente sem língua, com apenas alguns sinais ‘caseiros’ (quan-
do há), estabelecidos na comunicação com os familiares. Existem evidências de que esse atraso até o limite da ‘idade crítica’
de aquisição de linguagem (cerca de cinco anos) pode causar seqüelas lingüísticas, cognitivas e psicológicas.
Por outro lado, crianças (surdas e ouvintes) expostas a uma língua de sinais nos primeiros anos de vida adquirem essa língua
com tanta naturalidade, como acontece com frequência, então, que surdos começam a adquirir sua primeira língua já em
idade escolar, ou até em idade mais avançada, quando começam a ter contato com outras pessoas surdas. Existem relatos de
indivíduos surdos adultos que experimentam um ‘segundo nascimento’ ao descobrir o mundo surdo e sua língua totalmente
acessível e expressiva.
Curiosidade
• os Natissurdos pré-linguais: ficaram surdos antes de aprender a falar (têm muita dificul-
dade em aprender a falar);
• os Ensurdecidos ou pós-linguais: Ficaram surdos após terem adquirido a linguagem
falada.
Fonte: http://www.asgfsurdos.org.br/?page_id=17.
Aprendemos neste capítulo sobre a história da língua de sinais, suas raízes e como ela se mantém
até os dias atuais em nossa sociedade. Pudemos analisar o percurso realizado no Brasil, a criação da pri-
meira escola para surdos e como ela era restrita em seu atendimento.
Estudamos também a importância da comunicação e da interlocução na língua materna dos sur-
dos, a língua de sinais (Libras), para que este sujeito possa ter um desenvolvimento cognitivo e linguístico
significativo e equivalente aos das crianças ouvintes.
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Libras
1. Quem é a personagem histórica que modifica o percurso da educação dos surdos, passando a
utilizar a linguagem gestual no ensino?
2. Complete:
3. Os surdos, quando têm acesso na primeira infância à língua de sinais, terão um desenvolvi-
mento similar aos ouvintes?
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AS TENDÊNCIAS NA EDUCAÇÃO DOS
3 SURDOS
Caro(a) aluno(a), neste capítulo você irá Na abordagem oralista, a linguagem fala-
conhecer mais sobre as metodologias de ensino da é tida como forma prioritária de comunicação
para alunos surdos. com os surdos e a aquisição da linguagem oral
Como vimos nos capítulos anteriores, as como fundamental para o desenvolvimento glo-
tendências de educação escolar para pessoas bal da criança surda. Dentro do processo da orali-
com surdez concentram-se basicamente em dois zação, ficam proibidos os usos de sinais ou gestos
polos: a inserção dos alunos em escolas comuns e do alfabeto datilológico.
ou em escolas especiais para surdos. Existem di- Como você pode ir percebendo, a via sen-
versos métodos de ensino para surdos, porém os sorial priorizada, nessa abordagem educacional,
mais importantes ao longo da nossa história po- é a oral, sendo enfatizadas as habilidades audi-
dem ser delimitados basicamente a três tendên- tivas (restos auditivos) e a leitura orofacial como
cias educacionais: a oralista, a comunicação total pré-requisitos para o desenvolvimento da lingua-
e a abordagem bilinguista. gem.
As escolas comuns ou especiais que utili- A abordagem dominou a educação de sur-
zam o oralismo visam à capacitação da pessoa dos tanto na Europa quanto nas Américas desde
com surdez para utilizar a língua na modalida- 1880, quando ocorreu o Congresso Internacio-
de oral, como única possibilidade linguística, de nal para Surdos em Milão, no qual foi aprovada a
modo que se utilize a voz e a leitura labial, tanto obrigatoriedade do uso exclusivo da linguagem
na vida social quanto na escola. oral na educação de surdos. Diversos autores dis-
O oralismo não conseguiu alcançar resul- correram sobre as abordagens do oralismo: há
tados muito positivos, pois, de acordo com Sá métodos de ensino unissensoriais, em que o indi-
(1999), ocasiona déficits cognitivos e legitima a víduo só se utilizaria de restos auditivos; e os mul-
manutenção do fracasso escolar, provocando di- tissensoriais, nos quais diversos canais (sensoriais,
ficuldades no relacionamento familiar. Este méto- táteis e visuais) são utilizados como pistas para o
do não aceita o uso da língua de sinais e discrimi- surdo acessar a informação.
na a cultura surda. Como vimos anteriormente, com a dissemi-
nação do oralismo, a imagem social dos surdos foi
O Oralismo sendo progressivamente danificada, sendo que
passaram a ser tratados apenas como deficien-
tes. Como consequência do método oralista e a
forte ênfase que era dada à oralização, observou-
Atenção -se uma dificuldade significativa de aprendiza-
gem desses sujeitos e, ao invés de os educado-
A tendência educacional do oralismo fundamen-
ta-se na perspectiva de aquisição da linguagem res questionarem o método de ensino, que dava
oral como requisito básico para que o surdo seja ênfase somente ao canal sensorial que faltava ao
integrado à sociedade, que é ouvinte.
surdo, passou-se a questionar a possibilidade de
cognição dos surdos. Capovilla (2000) observa
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que, na Inglaterra, foi analisado que, após anos de linguagem, desenvolvido no Oralismo,
escolaridade especial, dos alunos com 15/16 anos procura-se ‘ensinar’ linguagem através de
atividades estruturais sistemáticas. (DOR-
somente 25% conseguiam articular-se de modo
ZIAT, 2008).
inteligível aos seus professores e que menos de
10% desses alunos tinha nível de leitura apropria-
do à sua idade. Você deve ter percebido que são utilizados
Apesar de todas as críticas a esse método, para o desenvolvimento da linguagem oral em
vamos explicitar alguns dos aspectos práticos crianças surdas aparelhos de amplificação sonora,
para que possa ser desenvolvida a aprendizagem treinamento auditivo, entre outras técnicas. Todas
dos surdos através do método oralista (ressalta- elas, segundo Goés (1999), tem o propósito tera-
mos que ainda hoje ele é muito utilizado). pêutico de tratar e reduzir os déficits auditivos, ou
seja, ela assume o surdo como um deficiente au-
ditivo, alguém a quem falta um dos sentidos, a au-
Atenção dição, mas que pode, através de tratamento, rea-
lizar de forma compensatória a leitura orofacial.
Os aspectos que devem ser desenvolvidos com o
aluno deficiente auditivo são: Ainda, a educação oralista vê no surdo alguém
que precisa ser reabilitado, entendendo a língua
• diagnóstico precoce (anterior aos dois anos de oral como meta e objetivo final de compreensão
idade): este é um dos aspectos fundamentais
e, de certa forma, determinante até os dias de e de possibilidade de inserção desses sujeitos na
hoje para que o surdo possa desenvolver fala; sociedade ouvinte.
• adaptação de Aparelho de Amplificação Sono-
ra Individual (AASI), nos dois ouvidos, logo após Você conseguiu perceber a dificuldade dos
o diagnóstico de deficiência auditiva; surdos em desenvolver a língua oral? Pois é, mas
• estimulação auditiva precoce (até os cinco houve mudanças ao longo dos anos, apesar de in-
anos de idade);
• desenvolvimento da fala através de feedback felizmente podermos dizer que ainda muitas fa-
auditivo; mílias apostam nessa aprendizagem, bem como
• desenvolvimento de leitura orofacial: discrimi- médicos, terapeutas e professores.
nação e identificação dos movimentos orais do
emissor;
• treinamento para o desenvolvimento de pistas
Comunicação Total
visuais, auditivas e táteis;
• treinamento auditivo, que seria a estimulação
auditiva (com a utilização de próteses), para
reconhecimento e discriminação de ruídos e
Vamos agora conhecer outro tipo de ensino,
sons ambientais; a Comunicação Total! Depois de quase um século
• treinamento e desenvolvimento da fala: emis- envolta em um ensino oralista os surdos puderam
são e recepção de fonemas utilizando exercí-
cios, mobilidade e tonicidade dos músculos da
ter acesso a outra forma de aprendizagem. Esta
face; era composta de oralização e também de sinais.
• exercícios de relaxamento e respiração para co-
Vamos conhecê-la um pouco mais.
locação dos fonemas.
A Comunicação Total envolve o uso de todas
as modalidades possíveis de comunicação: língua
Para o máximo aproveitamento auditivo, de sinais, alfabeto digital, amplificação sonora
o Oralismo tem como princípio a indica- com AASI, fala, leitura orofacial, leitura e escrita,
ção de prótese individual, que amplifica expressão facial, mímica e gestos; todos esses re-
os sons, admitindo a existência de resí- cursos podem ser utilizados a fim de potencializar
duo auditivo em qualquer tipo de surdez,
as interações sociais e possibilitar um melhor de-
mesmo na profunda. Esse método procu-
ra assim, reeducar auditivamente a crian- senvolvimento da competência linguística.
ça surda, através da amplificação dos
sons juntamente com técnicas específi-
cas de oralidade. Quanto ao trabalho de
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Multimídia
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Caro(a) aluno(a), pudemos verificar neste capítulo as diferentes metodologias de ensino para os
surdos ao longo da história, porém ainda hoje há muita controversa quanto à melhor forma de ensinar o
surdo. Sabe-se por meio de pesquisas que o bilinguismo tende a ser a melhor metodologia, pois a criança
irá desenvolver em primeiro lugar a comunicação em sinais e depois irá aprender a língua escrita de seu
país como segunda língua. Apesar desse fato, ainda há muitas famílias e profissionais da medicina que
apostam no oralismo.
1. Descreva brevemente:
a) Oralismo.
b) Comunicação Total.
c) Bilinguismo.
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4 LÍNGUA E LINGUAGEM
Querido(a) aluno(a), pudemos discutir até Os linguistas possuem várias definições so-
o presente momento a importância da aprendi- bre língua. Neste curso estamos partindo dos en-
zagem e desenvolvimento de língua, vimos a im- sinamentos de Quadros (2002), que com base em
portância do ensino bilíngue para pessoas com Saussure (1995), que define língua como a parte
surdez e as dificuldades que vivem para aprende- determinada da linguagem, essencial a ela. A lín-
rem. gua é, ao mesmo tempo, um produto social da
A linguagem é o canal para o desenvolvi- faculdade da linguagem e um conjunto de con-
mento dos seres humanos, reafirma a pessoa venções que são necessárias para o exercício da
humana e a sua humanidade. Sim, é a linguagem comunicação entre os indivíduos. Ele lembra que
que nos diferencia dos outros animais! a faculdade – natural ou não – de articular palavras
É por meio da linguagem que nós, indiví- não se exerce senão com a ajuda de instrumento
duos, armazenamos informações (o nosso mun- criado e fornecido pela coletividade. Para esse au-
do interior, o mundo ao nosso redor, o mundo tor, é a língua que faz a unidade da linguagem.
com o qual sonhamos). É também utilizando a lin- Como vimos, a partir da definição de Saus-
guagem que a humanidade pode transmitir seus sure, outros linguistas também consideram as
valores, sua história, sua cultura. línguas um produto das convenções e dos valo-
res sociais, do qual derivam as regras que tornam
compreensíveis as intercomunicações dos indiví-
Língua
duos e asseguram a sobrevivência e coesão das
sociedades. Portanto, as línguas naturais não são
Atenção um decalque nem uma rotulação da realidade;
elas delimitam aspectos de experiências vividas
Definição de Língua - “É um sistema de signos
compartilhado por uma comunidade linguística por cada povo e essas experiências, como as lín-
comum. A fala ou os sinais são expressões de di- guas, não coincidem, necessariamente, de uma
ferentes línguas. A língua é um fato social, ou seja, região para outra. Do mesmo modo que as lín-
um sistema coletivo de uma determinada comu-
nidade linguística. A língua é a expressão linguís- guas diferem na análise da realidade, elas diferem
tica que é tecida em meio a trocas sociais, cul- também entre si, por possuírem sons típicos (fo-
turais e políticas. As línguas naturais apresentam nemas). Os fonemas de que se valem os falantes
propriedades específicas da espécie humana: são
recursivas (a partir de um número reduzido de de diferentes idiomas para se expressar são seme-
regras, produz-se um número infinito de frases lhantes, mas não absolutamente iguais.
possíveis), são criativas (ou seja, independentes
de estímulo), dispõem de uma multiplicidade de Outros linguistas, entre eles Bakhtin (1992
funções (função argumentativa, função poética, apud KOBER, 2008), filósofo da linguagem e de-
função conotativa, função informativa, função fensor de uma concepção sócio-histórica de lín-
persuasiva, função emotiva, etc.) e apresentam
dupla articulação (as unidades são decomponí- gua, criticam essa visão saussuriana de língua que
veis e apresentam forma e significado).” (QUA- coloca o sistema de formas fonéticas, gramaticais
DROS, 2002, p. 8). e lexicais da língua como o centro organizador de
todos os fatos da língua, independentemente de
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todos os atos de criação individual. Para eles, a lín- mais diversos. Ele é comumente empregado para
gua está colocada fora do fluxo da comunicação designar, indiferentemente, fenômenos tão afas-
verbal. Nesse sentido, Bakhtin (1992 apud KOBER, tados como a linguagem dos animais, a lingua-
2008) argumenta que, na prática viva da língua, a gem falada, a linguagem escrita, a linguagem das
consciência linguística do locutor e do receptor artes e a linguagem dos gestos.
nada tem a ver com um sistema abstrato de for- É comum a observação de que os animais
mas normativas, mas apenas com a linguagem no são capazes de exteriorizar (comunicar) o medo,
sentido de conjunto dos contextos possíveis de o prazer, a cólera etc. por meio de determinados
uso de cada forma particular. O essencial na tare- sons ou gestos (comunicar aqui se toma no sen-
fa de decodificação não consiste em reconhecer tido de influenciar o comportamento de outros
a forma utilizada, mas em compreendê-la num animais que presenciarem tais manifestações).
contexto preciso, compreender sua significação Pode-se chamar esse tipo de comunicação
numa enunciação particular. de linguagem?
Na verdade, apesar de muito preciso e “en-
[...] os indivíduos não recebem a língua
genhoso”, esse sistema de comunicação entre as
pronta para ser usada; eles penetram na
corrente da comunicação verbal; ou me- abelhas ou outro tipo qualquer de sistema de co-
lhor, somente quando mergulham nessa municação utilizado pelos animais não constitui,
corrente é que sua consciência desperta para Lopes, ainda uma linguagem, pelo menos
e começa a operar [...] Os sujeitos não ad-
no sentido em que utilizamos o termo quando
quirem sua língua materna; é nela e por
falamos da linguagem humana. Em primeiro lu-
meio dela que ocorre o primeiro desper-
tar da consciência. (BAKHTIN apud KO- gar, porque a linguagem dos animais não é um
BER, 2008, p. 163). produto cultural (a cultura é tipicamente huma-
na). Essa linguagem não é senão um componente
da organização físico-biológica das abelhas (por
Então, você está acompanhando a discus-
exemplo), herdada com a programação genética
são? Podemos dizer então que a língua não está
da espécie. A linguagem humana, por seu lado,
pronta, mas se desenvolve no processo de inter-
não é herdada: o homem aprende a sua língua.
locução.
Em segundo lugar, a linguagem dos animais é
Outro pesquisador importante, Geraldi invariável, no tempo e no espaço. Ela fornece
(1997), que atua principalmente na área de en- sempre, ao mesmo grupo, o mesmo tipo de infor-
sino da Língua Portuguesa, fundamenta-se em mação (alimento, por exemplo). Por outro lado,
uma concepção sócio-histórica que, como a pro- a linguagem dos animais é composta de índices,
posta por Bakhtin, considera que a língua não isto é, de um dado físico ligado a outro dado físico
está de antemão pronta, dada como um sistema por uma causalidade natural; ela não se compõe,
de que o sujeito se apropria para ao contrário da
usá-la, mas que o próprio proces- nossa, de signos
Atenção
so de interlocução, na atividade que nascem das
de linguagem, está sempre e a Definição de Linguagem – “É utilizada num sen- convenções feitas
cada vez se “reconstruindo”. tido mais abstrato do que língua, ou seja, refere-
-se ao conhecimento interno dos falantes-ouvin-
pelo homem.
tes de uma língua. Também pode ser entendida
Linguagem num sentido mais amplo, ou seja, incluindo qual-
quer tipo de manifestação de intenção comuni-
cativa, como, por exemplo, a linguagem animal e
todas as formas que o próprio ser humano utiliza
Diversos autores apontam para comunicar e expressar ideias e sentimentos
que o termo “linguagem” apre- além da expressão linguística (expressões corpo-
senta uma notável flutuação de rais, mímica, gestos etc.). (QUADROS, 2002, p. 8).
sentido, prestando-se aos usos
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Libras
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Atenção
Você se lembra de tudo que vimos neste capítulo? Vamos então recordar: a linguagem é fator fun-
damental para o desenvolvimento do ser humano, é ela que nos diferencia dos outros animais. O texto
nos propõe a reflexão da importância da interação e interlocução para que a linguagem seja significada.
O adulto é o coautor no processo de constituição da linguagem, aquele que atribui significado aos com-
portamentos comunicativos.
Multimídia
O Garoto Selvagem
O Milagre de Anne Sullivan
1. Complete:
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5 LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS (LIBRAS)
Então o que você achou até aqui? Está gos- dade humana para a linguagem e porque surgem
tando de aprofundar seus conhecimentos sobre da mesma necessidade específica das línguas
as questões da língua? orais, ou seja, a necessidade de os seres humanos
Agora, nós vamos conhecer mais sobre a utilizarem um sistema linguístico que é transmiti-
língua de sinais, lembrando que essa língua pos- do através de gerações para expressarem ideias,
sui uma modalidade visomotora. sentimentos e ações.
As pessoas estão acostumadas a relacionar Quadros (1999) observa que, até recente-
língua com fala. “Assim, quando falamos em lín- mente, as pessoas acreditavam que as línguas
gua de sinais, que exige uma associação de língua de sinais eram representações miméticas, total-
com sinais, normalmente as pessoas apresentam mente icônicas e sem nenhuma estrutura for-
concepções equivocadas.” (QUADROS, 1997, p. mativa. No entanto, várias pesquisas vêm sendo
46). realizadas e apontam que essas línguas são sis-
temas abstratos de regras gramaticais. Apesar de
Atenção apresentarem formas icônicas, elas são altamente
complexas e apresentam mecanismos sintáticos
As línguas de sinais apresentam-se em uma mo- espaciais, evidenciando os recursos e sua comple-
dalidade diferente da das línguas orais.
xidade. Assim, como em qualquer outra língua, é
possível produzir e reproduzir expressões meta-
Elas são línguas espaço-visuais, ou seja, a fóricas (poemas, expressões idiomáticas, piadas
realização dessas línguas não é estabelecida atra- etc.) utilizando a língua de sinais.
vés de canais orais-auditivos, mas através da visão
e da utilização do espaço. Dicionário
Preste atenção!!! Mimético: que imita algo ou outrem; reproduz
algo ou um comportamento de modo idêntico.
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ciais, captando as experiências visuais das pessoas utilizada pelos índios Urubus-Kaapor, na Floresta
surdas. Elas vêm mostrando que são comparáveis Amazônica. Muitas pessoas acreditam, também,
às línguas orais no que diz respeito à expressão de que a Libras é o Português feito com as mãos,
ideias e à sutileza que as caracteriza. Os usuários que os sinais substituem as palavras dessa língua
das línguas de sinais, no caso do Brasil, da Libras, e que ela é uma mímica e só consegue expressar
podem discutir Filosofia, sonhos, ideias, política, conceitos concretos.
declamar poesias etc., ou seja, podem expressar
todas as funções que o Português realiza. As Relações Espaciais e as Línguas de Sinais
Como toda língua, a língua de sinais é viva,
dessa forma, ao longo do tempo, vão sendo in-
Bem, caro(a) aluno(a), como estamos po-
corporados novos vocábulos/sinais a ele; assim,
dendo observar, a Libras é uma língua que pos-
quando há a necessidade, surge um novo sinal e,
sibilita uma comunicação completa, porém sua
desde que se torne aceito pela comunidade, será
característica é diversa do oralismo. A língua de
aceito e incorporado à língua.
sinais Libras utiliza o espaço para a sua comuni-
Você acha que a língua de sinais é universal? cação e, para que haja uma organização desses
Pois não é. Esta é uma fantasia corrente, sinais, ela possui parâmetros para a sua utilização.
principalmente entre ouvintes, que a língua de Como estamos verificando, as relações es-
sinais seja universal. Assim como as línguas orais, paciais nas línguas de sinais são muito complexas.
cada localidade possui a sua língua. Podemos ci- Na Libras, assim como verificado na Língua Ameri-
tar o exemplo de países que utilizam a mesma lín- cana de Sinais (American Sign Language – ASL), as
gua de sinais, Estados Unidos e Canadá. Embora relações gramaticais são especificadas através da
cada língua de sinais seja diferente e possua a sua manipulação dos sinais no espaço. As sentenças
estrutura gramatical, é inegável que surdos de ocorrem dentro de um espaço definido, na frente
países diferentes comunicam-se com maior facili- do corpo, em uma área limitada pelo topo da ca-
dade uns com os outros, mesmo que não conhe- beça e que se estende até os quadris. Além disso,
çam a outra língua, diferentemente do que ocorre o final de uma sentença, em Libras, é indicado por
na oralidade. uma pausa. A Figura 1 ilustra o espaço de realiza-
Para você saber, no Brasil, as comunidades ção dos sinais na Libras, conforme Langevin e Fer-
surdas utilizam a Libras, mas, além dela, há di- reira Brito (1998).
versos registros de outra língua de sinais, que é
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Libras
Então, como vimos, os sinais são formados Ponto de articulação: é aquela área no
a partir da combinação do movimento das mãos corpo, no espaço de articulação defini-
em um determinado local e de uma determinada do pelo corpo ou perto do qual o sinal
forma são chamados de parâmetros. é articulado. Na Libras, o espaço onde
Portanto, o que é denominado palavra ou o sinal é realizado é uma área que con-
item lexical nas línguas orais-auditivas é deno- tém todos os pontos dentro do raio de
minado sinal nas línguas de sinais. Os sinais são alcance das mãos. Dentro desse espaço
formados a partir da combinação do movimento de enunciação, que seria cabeça e tron-
das mãos com um determinado formato em um co, pode-se determinar um número li-
determinado lugar, podendo esse lugar ser uma mitado de lugares, sendo alguns mais
parte do corpo ou um espaço em frente ao corpo. exatos, como, por exemplo, a ponta do
Essas articulações das mãos, que podem ser com- nariz, e outros mais abrangentes, como
paradas aos fonemas e, às vezes, aos morfemas, a frente do tórax. Em algumas situações,
são chamadas parâmetros. a localização do sinal será reposiciona-
Para realizarmos então os sinais, precisamos da, pois o sinal pode estar vindo de ou-
utilizar os parâmetros. Nas línguas de sinais, de tro interlocutor; por exemplo: B faz sinal
acordo com o MEC (2007), podem ser encontra- para A. Nesse caso, a localização deve
dos os seguintes parâmetros: levar em consideração as localizações
dos interlocutores, na enunciação ideal;
Agora, preste muita atenção!
Movimento: os sinais podem ter um
movimento ou não. Ferreira Brito (1990)
Configuração das mãos: são formas
menciona que os movimentos podem
das mãos, que podem ser da datilologia
estar nas mãos, pulsos ou antebraço e
(alfabeto manual) ou formas feitas pela
ser unidirecionais (para cima, para bai-
mão predominante ou pelas duas mãos
xo, para a direita, para a esquerda, para
do sinalizador. A Libras apresenta 46
fora, para dentro, para a lateral inferior
configurações de mãos; são elas:
esquerda ou direita, para a lateral su-
perior esquerda ou direita) ou bidire-
Figura 2 – Configuração de mãos. cionais (para cima e para baixo, para a
esquerda e para a direita, para dentro e
para fora, para laterais opostas – supe-
rior e inferior direita ou esquerda);
Orientação/direcionalidade: os sinais
têm uma direção com relação aos parâ-
metros citados. Assim, os verbos ir e vir
se opõem em relação à direcionalidade,
como os verbos. Na Libras, temos seis ti-
pos de orientações da palma das mãos:
para cima, para baixo, para o corpo, para
frente, para a direita e para a esquerda;
Expressão facial e/ou corporal: mui-
tos sinais, além dos quatro parâmetros
Fonte: Brito (2006). mencionados, em sua configuração
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também têm como traço diferenciador celhas franzidas, cabeça projetada para
a expressão facial e/ou corporal, como trás e olhos arregalados.
os sinais alegre e triste. Há sinais reali- Tronco: para frente, para trás; balancea-
zados somente com a bochecha, como mento alternado dos ombros; balan-
ceamento simultâneo dos ombros. Ba-
ladrão e ato sexual; sinais feitos com a
lanceamento único ombro. (QUADROS;
mão e a expressão facial, como bala, e, KARNOPP, 2004, p. 61).
ainda, sinais em que sons e expressões
faciais complementam os traços ma-
nuais, como os sinais de helicóptero e Como apontamos anteriormente, portanto,
moto. “falar com as mãos” não é simplesmente fazer mí-
micas ou indicar algo, mas é a utilização de uma
combinação de elementos que produzirá sinais,
Atenção
os quais, combinados, formarão frases em um
São cinco parâmetros: configuração de mãos, contexto. É importante lembrar que a Libras vai
ponto de articulação, movimento, orientação e transmitir todas as informações necessárias, utili-
direcionalidade e expressão facial e/ou corporal.
zando os sinais, porém é preciso que se tenha em
mente que:
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Neste capítulo pudemos conhecer melhor as características das línguas de sinais, sua modalidade,
ou seja, é uma língua visomotora, diferente da língua oral que é de modalidade oral-auditiva. Conhece-
mos o espaço onde são realizados e os parâmetros que devem ser levados em consideração para que os
sinais sejam realizados de forma correta.
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6 A LIBRAS E SUA GRAMÁTICA
Fonte: valpimentinha.blogspot.com.
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Figura 4 – Números.
Fonte: eeblmlibras.blogspot.com.
Fonte: aprendendoporlibras.zip.net.
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Você aprendeu neste capítulo o alfabeto datilológico ou manual e sua importância na língua de
sinais. Pudemos entender como são utilizados os pronomes pessoais, demonstrativos e os pronomes
possessivos. Entendemos que os surdos utilizam a digitação, ou soletração somente em algumas situa-
ções específicas, como para designar o nome de uma pessoa, ou lugar, ou ainda quando não há sinal
específico para a palavra, então digitamos a mesma e explicamos seu significado.
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1. Complete:
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7 ESTRUTURA LINGUÍSTICA DA LIBRAS
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Aspecto Verbal
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ONTEM ANTEONTEM
VIAJAR (pontual) VIAJAR (interativo)
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Quantificação e Intensidade
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[...] como algumas línguas orais e como tuguês. Realmente, no que diz respeito à ordem
várias línguas de sinais, a LIBRAS pos- das palavras, há uma diferença, pois o Português
sui classificadores, um tipo de morfema
é uma língua de base sujeito-verbo-predicado,
gramatical que é afixado a um morfema
lexical ou sinal para mencionar a classe a enquanto que a Libras é uma língua do tipo tópi-
que pertence o referente desse sinal, para co comentário.
descrevê-lo quanto à forma e tamanho, Quadros e Karnopp (2004) mencionam dois
ou para descrever a maneira como esse
trabalhos que mostram a flexibilidade na ordem
referente é segurado ou se comporta na
ação verbal. das frases na Libras. Para eles, Felipe e Ferreira
Brito apontam que há várias possibilidades de
ordenação das palavras nas sentenças, mas que,
Em Libras, os classificadores são incorpo- apesar da flexibilidade, há uma ordenação bási-
rados ao sinal e têm como característica atribuir ca, que seria sujeito-verbo-objeto. Todas as frases
uma qualidade a um objeto, pessoa, animal. Por que utilizam essa organização são gramaticais.
exemplo: se queremos demonstrar que o “copo
Veja alguns exemplos de possibilidades de
é quadrado”, utilizaremos os classificadores para
frases em Libras, retirados de Quadros e Karnopp
designar a forma e o tamanho do copo.
(2004, p. 140-143):
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Uma possível explicação para a flexibilida- pronominais para marcar as pessoas no discurso.
de da ordem das frases na língua de sinais está Os desenhos e texto citados são da Professora Ro-
relacionada à topicalização, que está associada à nice Quadros em seu estudo sobre Linguística da
marcação não manual. Libras (1997, p. 49-64).
A seguir, você poderá verificar o estudo de
Quadros e Karnopp (2004) a respeito das formas
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Libras
Como você pode observar, o sinalizador Vamos mostrar, agora, alguns mecanismos
não distribui os locais referentes aleatoriamente. utilizados para estabelecer referentes no espaço.
Os referentes somente serão arbitrários, segun- São eles:
do Lilo-Martin e Klima (1990), se forem referentes
abstratos (parlamentarismo, presidencialismo) ou a) fazer o sinal em uma localização parti-
para referentes descritos individualmente não in- cular (se a forma do sinal permitir);
teragindo com outros (diferentes turmas dentro b) apontar um substantivo em uma locali-
de uma escola). Os locais devem distribuídos no zação particular;
espaço, de forma que possam ser diferenciados,
c) direcionar a cabeça e os olhos (e talvez
ou seja, que não gere confusão nos interlocuto-
o corpo) em direção a uma localização
res. É importante, também, ressaltar a importân-
particular, fazendo o sinal de um subs-
cia do olhar do sinalizador, pois, se o sinalizador
tantivo ou apontando para o substanti-
estiver olhando para o interlocutor A (exemplo a
vo;
seguir), ele estará se referindo a “você\tu”.
d) usar um pronome antes de um sinal
para um referente;
Figura 7 – Pronome de 2ª pessoa: VOCÊ/TU.
e) usar um pronome numa localização
particular quando é óbvio o referente;
f) usar um classificador (que representa
aquele referente) em uma localização
particular;
g) usar um verbo direcional quando é ób-
vio o referente. (QUADROS, 1997, p. 53).
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A autora aponta ainda que, segundo Pad- do discurso é uma pessoa não presente, mas diz
den, a primeira pessoa do discurso é sempre fixa algo ao sinalizador, que é a segunda pessoa do
e que a segunda e a terceira podem ter infinitas discurso.
possibilidades a partir da localização que ocu- No quadro C, a primeira pessoa é alguém
pam. Assim, a concordância do verbo se dará a não presente, nomeado como “c”, que diz algo
partir do movimento e orientação do sinal. para “a”, que também é um referencial não pre-
No exemplo anterior, com dizer, no primei- sente. No quadro D, a primeira pessoa é o sinaliza-
ro quadro, o sujeito é o próprio sinalizador. A per- dor, que diz algo a todos os interlocutores desse
sonagem está dizendo algo a alguém; sabemos diálogo.
disso pela orientação e pelo movimento do sinal Podemos observar o mesmo fenômeno
(ele sai dela, sinalizador, para outra pessoa). No descrito com o verbo ‘dizer’ nos exemplos a se-
quadro B, a sinalização se inicia em outro local guir:
marcado no espaço, portanto a primeira pessoa
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Libras
DAR:
AJUDAR e OLHAR:
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Após todos os exemplos apontados, pode- Quando pensamos então em uma aborda-
mos dizer: gem de ensino bilíngue, que é a proposta de ensi-
no aos surdos no Brasil, cabe a nós, profissionais,
adquirirmos e desenvolvermos proficiência nessa
Libras é uma língua, não uma linguagem, e possui re- língua, para que a interação com o aluno ocorra
cursos infinitos para designar quaisquer que sejam os verdadeiramente.
assuntos a serem discutidos.
Este capítulo foi longo e por meio dele pudemos compreender aspectos da gramática da língua de
sinais. Observamos novamente a importância dos parâmetros dos sinais em comparação com a língua
portuguesa e sua característica dos sinais serem espaciais. Os pares mínimos que são elementos da lín-
gua de sinais e são caracterizados quando há a alteração de somente um dos parâmetros modificando
assim o sinal seu significado e significante.
Outros aspectos da língua de sinais que pode ser observado também na língua portuguesa oral e
escrita são as palavras por derivação, ou seja, quando uma modificação no parâmetro modifica a palavra
inicial, por exemplo cadeira e sentar.
As palavras em sinais podem ser formadas a partir do processo de composição, ou seja, dois sinais
diferentes juntos possuem um significado diferente, por exemplo casa + estudar = escola.
A intensidade do sinal também pode modificar sua característica inicial. A organização das frases
em Libras é diferenciada do português e finalmente pudemos aprender sobre os classificadores, que são
aspectos importantes na comunicação dos surdos.
Responda:
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8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Prezado(a) aluno(a),
Temos a certeza de que a aprendizagem da Libras está apenas começando e que, nesta apostila,
não esgotamos o assunto. O importante é que este momento tenha servido para reflexão acerca do ou-
tro diverso, do diferente e do quanto temos a aprender com ele; isso já foi válido.
Nossa posição, enquanto professores, não é dizer o que é certo ou errado, mas entender que não
existe uma única realidade. O mundo não é nem ouvinte nem surdo, mas é da forma como o criamos,
mediante nossa percepção, disposição e possibilidade de relação.
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RESPOSTAS COMENTADAS DAS
ATIVIDADES PROPOSTAS
Caro(a) aluno(a),
CAPÍTULO 1
1. Como vimos no decorrer do capítulo, o Decreto nº 5.626, considera surdo a pessoa que, por
ter perda auditiva, interage e compreende o mundo utilizando-se de experiências visuais e
manifestando sua cultura, principalmente, pela Libras. Nessa legislação, não se leva em consi-
deração somente a perda auditiva, mas principalmente a utilização da cultura surda por meio
da língua.
CAPÍTULO 2
1. O personagem mais importante na educação dos surdos foi o Abade L’Epèe, pois ele modifi-
cou a visão da educação dos surdos em sua época e possibilitou o acesso ao conhecimento
historicamente acumulado dessa população. Como você pôde perceber ao longo da apostila,
várias pessoas tentaram educar os surdos utilizando recursos de gestos, mas somente o Aba-
de L’Epèe é quem conseguiu reconhecimento.
3. Espero que sua resposta tenha sido Sim. As crianças surdas que aprendem a língua de sinais
na primeira infância e têm acesso a falantes nativos da língua terão um desenvolvimento sem
atrasos, de forma similar às crianças ouvintes, porém em uma língua de modalidade visomo-
tora. É importantíssimo que, para que se desenvolva a língua, as crianças tenham vivência
com pessoas proficientes; o que irá modificar sua forma de aprendizagem e de apreensão do
mundo que a cerca.
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CAPÍTULO 3
1. Descreva brevemente:
a) Como pudemos verificar durante nossos estudos, o oralismo foi a forma de ensino empre-
gada após o Congresso de Milão. Ele visa ao desenvolvimento da fala como objetivo pri-
mordial. Utiliza-se de próteses de amplificação sonora, pistas visuais, treinamento e desen-
volvimento da fala, emissão e recepção de fonemas. Essa forma de ensino perdura até os
dias de hoje, porém não necessariamente traz benefícios para a aprendizagem dos surdos.
b) Veja: a Comunicação Total é uma metodologia de ensino desenvolvida após quase um sé-
culo de fracasso na educação dos surdos, que buscou alternativas para sua aprendizagem.
A Comunicação Total tem como objetivo estimular o desenvolvimento linguístico, utilizan-
do-se de todas as modalidades possíveis de comunicação, como: língua oral sinalizada,
utilização de AASI, fala, leitura orofacial, leitura e escrita. Considera o desenvolvimento da
língua oral imprescindível para o surdo. Além disso, a Comunicação Total foi importantís-
sima historicamente, pois trouxe nova luz sobre a educação dos surdos após tantos anos
utilizando o oralismo, mas hoje não é mais utilizada.
c) Conforme discutimos, o bilinguismo é a forma mais completa de ensino para pessoas sur-
das, ele possibilita a aprendizagem de duas línguas, a primeira de sinais e a segunda prin-
cipalmente na modalidade escrita. Bilinguismo: é a utilização da língua de sinais como pri-
meira língua na primeira infância e o ensino da língua escrita e oral do país como segunda
língua. Essa metodologia de ensino é hoje considerada a melhor forma de proporcionar
acesso ao conhecimento.
CAPÍTULO 4
1. Conforme estudamos, a língua e a linguagem são aspectos fundamentais para o desenvolvi-
mento dos seres humanos. A grande diferenciação dos seres humanos em relação aos ani-
mais é o potencial de desenvolvimento da língua e linguagem.
a) Atenção: refere-se ao conhecimento interno dos falantes-ouvintes de uma língua. Também
pode ser entendida num sentido mais amplo, ou seja, incluindo qualquer tipo de manifes-
tação de intenção comunicativa. Estamos falando sobre a Linguagem.
b) Observe atentamente: é um sistema de signos compartilhado por uma comunidade lin-
guística comum. A fala ou os sinais são expressões de diferentes línguas. A língua é um fato
social, ou seja, um sistema coletivo de uma determinada comunidade linguística.
CAPÍTULO 5
1. Você deve observar que os parâmetros na língua de sinais são fundamentais, pois é por meio
deles que os sinais podem ser realizados. São cinco os parâmetros que formam os sinais: confi-
guração de mãos, ponto de articulação, movimento, orientação e direcionalidade, e expressão
facial e corporal.
2. Espera-se que sua resposta tenha sido negativa. Muitas vezes as pessoas confundem a mímica
ou outras formas de gestos cotidianos com a comunicação em Libras, mas elas são absolu-
tamente diferentes. As línguas de sinais, como a Libras, são a utilização de uma combinação
de elementos que produzirá sinais, os quais, combinados, formarão frases em um contexto.
É importante lembrar que, como a Libras é uma língua, vai transmitir todas as informações
necessárias, utilizando os sinais.
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Libras
CAPÍTULO 6
1. Conforme observamos, o alfabeto datilológico tem uma função importantíssima na língua
de sinais, porém utilizá-lo não quer dizer comunicar-se em Libras. Lembre-se que o alfabeto é
utilizado somente em algumas situações, mas a maioria das vezes a comunicação em Libras é
realizada em sinais.
a) O alfabeto datilológico é utilizado quando precisamos apresentar o nome de uma pessoa
ou designar uma palavra que não possui um sinal próprio.
CAPÍTULO 7
1. Lembre-se que para realizarmos os sinais, é fundamental levarmos em consideração onde,
como e com quais movimentos eles devem ser realizados. Para isso existem os parâmetros da
língua de sinais, que são: configuração de mãos, movimento, ponto de articulação, orientação
e simetria.
2. Espera-se que você tenha respondido que os pares mínimos ocorrem quando temos um dos
critérios do sinal modificado; quando se dá esse fato temos um outro sinal. Essa modificação é
chamada de pares mínimos. Na língua de sinais, acontece quando temos um dos parâmetros
dos sinais modificados, transformando-o em outro sinal. Por exemplo: no sinal de educar, a
configuração da mão direita em “L” e, no sinal de acostumar, a configuração d da mão direita é
“aberta”. Os outros parâmetros são os mesmos.
4. Você deve ter se lembrado de que a apontação é um fenômeno que ocorre somente nas
línguas de sinais, nas línguas orais ela não existe, pois não nos utilizamos do espaço para
manifestar uma ideia. A apontação pode designar um lugar, objeto ou pessoa. Esse ponto, no
espaço, refere-se àquele nominal do discurso. Esse recurso na língua de sinais é fundamental,
pois a língua é espacial e, portanto, marca no espaço onde estão os personagens do diálogo
ou narrativa.
5. Espero que você tenha se lembrado de que os classificadores são ferramentas importantíssi-
mas na língua de sinais, é por meio deles que designamos informações. São por meio deles
que podemos expressar uma ideia utilizando formas inequívocas de compreensão, por exem-
plo, para expressar o termo “lavar louça”, o sinal será realizado mostrando de forma icônica o
lavar um prato, por exemplo, que será diferente de quando vamos lavar o chão. Os classifica-
dores são a atribuição de qualidades ao objeto animal ou pessoa. Utilizamos os classificadores
quando queremos designar forma, tamanho ou características particulares ao objeto.
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REFERÊNCIAS
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outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 20 dez. 2000.
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