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+ BONECOS NO QUADRO
Referência grega que continua a estar presente, por exemplo, sempre que se
fala em ícone ou iconologia. O conceito mais antigo que se pensou sobre a
imagem refere-se ao termo eikon.
Questão central: com este termo, a cultura ocidental quis dizer muito mais
do que a imagem ser da ordem do visível. Seria lógico que a primeira
referência à imagem fosse que ela é visível.
A relação mais importante da noção de eikon é mais a relação com o
domínio do invisível do que do visível. Não só não é possível definir
imagem como algo visível, como parece mais importante na noção de
imagem, para a definir, a sua relação com o que não se vê, com o que é
invisível.
Este par mostra que eikon só existe para os gregos na relação, ligado, com o
indizível, a que se chamou, nas sociedades ocidentais, ideia, forma,
arquétipo, espécie, etc. Eikon é uma noção que surge no interior de uma
teoria do indizível que nós herdámos sob o nome de metafísica. Surge no
interior da metafísica ocidental, de uma teoria do invisível. Imagem é uma
noção da metafísica e só é possível dentro do conjunto de relações que a
metafísica estabelece entre o que é visível e invisível, surgindo no âmbito
dessa discussão.
Neste par, o que é importante não é, por exemplo, dizer que eidos é o
conceito que os gregos davam ao invisível. Não é isto o mais importante,
mas sim que eikon dá conta de uma determinada relação com o mundo
que parte do princípio que a sua essência é invisível. Assim, todo o
visível é duplo, reflexão, desdobramento de qualquer coisa.
Para Platão, a verdade do mundo está contida nas ideias, mais real por
isso que todos os fenómenos sensíveis. E todo o mundo visível não é
senão imagem, reflexo.
O que esta economia metafísica nos diz é que tudo aquilo que é visível é
imagem e não diz que tudo o que é imagem é visível o facto de ser
imagem caracteriza o que é visível. Não diz que as imagens são visíveis
mas sim que o visível é imagem.
De certa forma, é uma ideia estranha, a de haver uma omnipresença da
imagem vinda dos gregos, de tudo o que se vê ser imagem. É um todo que
está a ser definido como imagem pelos pós-socráticos: “tudo aquilo que aqui
vês é imagem”.
Significa que tudo o que se vê, o mundo todo, tudo aquilo que nos rodeia, é
um duplo, desdobramento, reflexo de qualquer coisa, ou seja, é uma enorme
fantasmagoria, daí que esta frase, entendida em todo o seu sentido, seja algo
aterrador, como o cenário alegórico que Platão criou para explicar isto, este
processo. Para os gregos, pré-socráticos, era a noção de imagem que
servia para definir o visível, e não o oposto. Enquanto entidades visíveis,
são cópia, reprodução.
Também não é por acaso que a metáfora das sombras e do reflexo é uma das
primeiras que aparece para dizer esta duplicidade inerente ao conceito de
eikon e não a de cópia ou duplo, que só aparece posteriormente, com um
âmbito mais compreensível, muito menos aterrador, e implicam uma raiz
comum, como a de um artesão que as fabricou à imagem de qualquer coisa,
articulando-se com a noção de artefacto. Daí os artesãos, artistas, estarem
implicados em toda esta questão do eikon (a copia, o duplo).