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1
Os conceitos de seca e estiagem são diferentes. Estiagem é um período sem a presença de chuva, ausência
de pluviosidade, enquanto seca é uma estiagem prolongada, nesta são reduzidos consideravelmente os
índices de água no solo, atmosfera e corpos hídricos.
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Uma das causas da contradição temporal da água nas cidades grandes e médias, que ora sofrem pelo
excesso ora pela deficiência de água, é resultado da falta de planejamento ambiental, em especial dos
recursos hídricos (poluição dos corpos de água pelo descarte de resíduos sólidos e efluentes etc.) e do uso
da terra (ocupação de áreas suscetíveis a inundações, impermeabilização excessiva do solo etc.).
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A distribuição temporal decorrente de variação na distribuição sazonal de chuva, estação chuvosa e seca.
A distribuição espacial da dinâmica climática mundial, que condiciona maiores e menores precipitações
em determinadas regiões da Terra.
Nenhuma região do mundo está livre das pressões sobre os recursos
hídricos (UNICEF/OMS, 2012). Na Europa, estima-se que 120 milhões de
cidadãos não têm acesso à água potável. Em certas partes do continente, os
cursos de água podem chegar a perder até 80% de seu volume no verão. Na
África, tem-se uma taxa média de aumento populacional maior que a média
mundial, a necessidade por água aumenta, assim como a deterioração de seus
recursos hídricos.
Na América Latina e no Caribe, a taxa de extração de água no século
XX foi duplicada, devido ao crescimento demográfico e à ampliação da
atividade industrial.
As fontes de água são diversas. No Brasil, 47% dos municípios são abastecidos
exclusivamente por mananciais superficiais, 39% por águas subterrâneas e 14% pelos
dois tipos de mananciais (abastecimento misto) (ANA, 2011).
A Ásia e o Pacífico dispõem de apenas 36% dos recursos hídricos
mundiais, mas abrigam 60% da população do mundo. De acordo com a
UNESCO (2012), cerca de 480 milhões de pessoas não tinham acesso, em
2008, a uma fonte de água de qualidade, e 1,9 bilhão não tinham infraestrutura
sanitária adequada naquela região do Globo. No Oriente Médio, pelo menos
doze países sofrem de escassez completa de água.
Numa economia mundial cada vez mais integrada , uma das alternativas
dos países deficitários em água é o comércio internacional de grãos . Por
exemplo, em média, para produzir uma tonelada de grãos são necessárias mil
toneladas de água, assim, a importação de grãos é uma solução para os países
deficitários em água, uma forma de importarem água indiretamente 4.
A escassez de água no mundo é agravada em virtude da desigualdade social e da
falta de manejo e usos sustentáveis dos recursos naturais. De acordo com os números
apresentados pela ONU - Organização das Nações Unidas - fica claro que controlar o uso
da água significa deter poder.
No Brasil, as principais pressões existentes ou potenciais sobre as qualidades das
águas superficiais de acordo com a ANA (2012) são: no ambiente urbano - esgotos
4
O comércio indireto de água, por meio de produtos e serviços, é denominado de água virtual.
domésticos, poluição industrial, resíduos sólidos e poluição difusa5 em áreas urbanas; e
no ambiente rural - desmatamento e manejo inadequado do solo, fertilizantes,
agrotóxicos, aquicultura, criação intensiva de animais, mineração e garimpos, acidentes
ambientais, salinização, reservatórios, eventos críticos e a introdução de espécies
exóticas.
Habitualmente definida como recurso infinito e renovável, a água deve ser
considerada também como recurso econômico6, e sua escassez vem alertando a sociedade
sobre os riscos do desequilíbrio entre sua disponibilidade e demanda.
O abastecimento de água é o maior desafio para os próximos anos. A demanda
de água tem aumentado em função do crescimento populacional, industrial e da elevação
do consumo per capita. Assim como que o planejamento ambiental e o manejo do solo e
da terra considerem a dinâmica dos processos hidrológicos, numa perspectiva sistêmica.
A disputa pelo acesso aos recursos hídricos e a pressão (demanda)
sobre eles tendem a aumentar consideravelmente neste novo séc ulo. Vivemos
em um mundo em que a água se torna um desafio cada vez maior, acima de
tudo, uma questão ética e política.
A água é um elemento carregado de simbolismo e de sentido em todas
as religiões e em todas as crenças. “Nas três religiões monoteístas, Moíses,
Jesus e Mohamed fazem milagres relacionados à água” (BOUGUERRA, 2004,
p. 32). A água 7 é o elemento purificador por excelência, tanto do corpo quanto
do espírito, e foi da água criada todas as formas vivas 8 (ALCORÃO
SAGRADO, 21ª Surata, Versículo 30).
Atualmente, aproximadamente 80% das águas residuais globais não são
tratadas, acabam nos corpos d'água ou se infiltram no subsolo, o que causa a
deterioração do meio ambiente e prejuízos a saúde da população (ONU, 2012).
Dados da UNICEF/OMS (2012) afirmam que 35% da população mundial
(um bilhão e 200 milhões de pessoas) não tem acesso à água tratada e 43% da
5
A poluição difusa se caracteriza pelo carreamento, por meio da água das chuvas, de poluentes depositados
na superfície urbana, como por exemplo, óleos e graxas, resíduos sólidos, sedimentos, resíduos de animais
domésticos, resíduos da construção civil e agrotóxicos.
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Toda a água que possui valor econômico (valor de commodity) é um recurso hídrico. Assim, nem toda
água é um recurso hídrico, como também uma água que não possua parâmetros de potabilidade aceitável
ao consumo humano pode ser um recurso hídrico se for utilizada, por exemplo, para arrefecimento de uma
termoelétrica ou para a geração de energia hidráulica.
7
A palavra mais curta da língua árabe é água – m’â.
8
“Não vêem, acaso, os incrédulos, que os céus e a terra eram uma só massa, que desagregamos, e que
criamos todos os seres vivos da água? Não crêem ainda?” [Grifo nosso] (ALCORÃO SAGRADO, 2010,
p. 197)
população mundial (um bilhão e 800 milhões de pessoas) não dispõe de
serviços adequados de saneamento básico. Os dados também apontam que
cerca de dez milhões de pessoas morrem anualmente em decorrência de
doenças intestinais transmitidas pela água.
A água é o elemento mais dinâmico da paisagem, sendo o que permeia os demais
elementos do meio natural, de modo a regular o ritmo dos processos no sistema ambiental.
A água é um dos principais elementos do sistema ambiental, essencial à existência
humana e grande modeladora das paisagens tropicais e subtropicais. Os processos de
desagregação das rochas e o transporte de materiais pela água são influenciados por
atividades bióticas e antrópicas, que podem aumentar ou diminuir a quantidade desses
processos e os materiais na água, bem como o regime do fluxo de água que afeta diversos
habitats.
Atualmente, pode-se dizer que grande parte dos problemas socioambientais está,
de alguma forma, relacionada com o uso da água, não excluindo aqui os problemas
socioeconômicos inerentes ao processo de apropriação e uso da mesma. Um dos
paradigmas atuais tem sido: a água como direito humano universal versus a água como
mercadoria.
Além de problemas associados ao recurso hídrico, a água, existem os relacionados
à dinâmica dos processos hidrológicos (movimento da água), tais como: desastres naturais
decorrentes do aumento das áreas de inundação e de alagamentos9, perda de fertilidade
do solo (erosão hídrica), doenças (transmitidas por vetores que se utilizam da água ou
associadas a padrão de potabilidade), obstrução de entradas etc.
Os dados apontam que o número de pessoas que correm risco de sofrer
com inundações tende a aumentar nos próximos anos. Até 2050, dois bilhões
de indivíduos no mundo estarão expostos a inundações, principalmente devido
ao aumento da população residindo em áreas suscetíveis a inundações
periódicas. A ONU estimou, em 2011, que 90% dos desastres naturais estão
relacionados à água.
9
O termo alagamento é a concentração de água em um determinado ponto/local decorrente de obra(s) de
infraestrutura. A inundação é o processo de trasbordamento da água dos rios, para além de seu leito, para
as planícies de inundação, áreas planas próximas aos rios. O termo cheia refere-se ao aumento do nível de
água (cota) no leito do rio, de forma que ele fica cheio, porém sem haver o transbordamento da água para
além de seu leito.
O entendimento científico do ciclo hidrológico, em seus diferentes sistemas
ambientais, está longe de ser satisfatório. No Brasil10, seu conhecimento é ainda mais
importante, devido à extensão e heterogeneidade dos ambientes, conforme destacam
Kobiyama et al. (1998).
Neste contexto, a água permeia vários conteúdos do Ensino Fundamental e Médio,
basicamente em todas as disciplinas. Dentre elas, mais diretamente associada a assuntos
das disciplinas de história (cultura de povos e civilizações – forma de tratamento e uso da
água – água como valor sagrado), geografia (política, economia, hidrologia, localização
de indústrias, atividades rurais, uso do solo urbano, distribuição dos seres vivos no Globo,
tipos de climas, hidrografia etc.), química (propriedade e parâmetros químicos da água),
física (propriedades físicas da água), e biologia (importância da água aos seres vivos e a
habitats). Apesar de a Hidrologia ser a ciência específica que estuda a água da Terra, sua
ocorrência, circulação e distribuição no planeta, suas propriedades físicas e químicas e
sua interação com o ambiente físico e biológico, incluindo suas respostas para a atividade
humana. (UNESCO, 1964).
A melhor compreensão da dinâmica dos processos hídricos pela sociedade pode
viabilizar soluções para as divergências existentes de uso da água, de conflitos de uso da
terra e manejo de resíduos sólidos e efluentes, em prol de um bem comum.
OS PROCESSOS HIDROLÓGICOS
“[...] a água é para o mundo, o mesmo que o sangue é para o nosso corpo e,
sem dúvida, mais: ela circula segundo regras fixas,
tanto no interior quanto no exterior da Terra,
ela cai em chuva e neve, ela surge do solo, corre em rios, e
depois retornam aos vastos reservatórios que são os oceanos e
mares que nos cercam por todos os lados [ ...]”
Leonardo da Vinci
10
O Brasil possui 12% da disponibilidade de água doce superficial do mundo (ANA, 2012).
Figura 2 – Principais componentes do ciclo hidrológico
Figura 1 - Ciclo Hidrológico (fonte PEDRAZZI, 2004).
Fonte: PEDRAZZI (2004).
11
No presente texto, apenas os conceitos básicos dos componentes principais serão abordados. Um
detalhamento dos conceitos, fatores intervenientes, causas e consequências entre os componentes devem
ser buscados em literatura complementar. Para entendimento dos impactos dos diversos tipos de uso da
terra no ciclo hidrológico, recomenda-se a leitura do Capítulo “A água” do livro “Processos Interativos
Homem-Meio Ambiente”, de autoria de David Drew (DREW, 1994).
12
A chuva é um tipo de precipitação, e seu termo sinônimo é pluviosidade. Enquanto precipitação é o
fenômeno de transferência de água da atmosfera para a superfície terrestre.
(neve, granizo ou saraiva), assim como a água que passa da atmosfera para o globo
terrestre por condensação do vapor de água (orvalho) ou por congelação daquele vapor
(geada) e por intercepção das gotas de água dos nevoeiros (nuvens que tocam no solo ou
mar) (AYOADE, 1991).
De acordo com Bertoni e Tucci (2000), a precipitação na hidrologia é entendida
como toda a água proveniente do meio atmosférico que atinge a superfície terrestre, sendo
a mais comum à chuva. Ela varia localmente e temporalmente e suas características são:
quantidade, intensidade, duração e distribuição espacial e temporal.
Ward e Trimble (1995) destacam que existem três principais tipos de chuvas: 1)
convectivas (ascensão vertical do ar); 2) ciclônicas ou frontais (encontro de uma massa
de ar frio com uma de ar quente); e 3) orográficas ou de relevo (deslocamento horizontal
do ar, que, ao entrar em contato com regiões elevadas, serras e montanhas, sofre
condensação e consequente precipitação).
A cobertura vegetal intercepta parte da precipitação pelo armazenamento de água
nas copas arbóreas e/ou arbustivas, que é perdida para a atmosfera por evaporação durante
e após as chuvas. Excedendo a capacidade de armazenar água na superfície dos vegetais
ou por ação dos ventos, a água interceptada pode precipitar-se sobre o solo (SILVEIRA,
2000; COELHO NETTO, 1995).
“A natureza da cobertura vegetal (tipo, forma, densidade e declividade da
superfície), assim como as características físicas das chuvas, constitui (sic) importante
variável-controle do processo de intercepção”, salienta Coelho Netto (1995).
A infiltração “é a passagem de água da superfície para o interior do solo. Portanto,
é um processo que depende fundamentalmente da água disponível para infiltrar, da
natureza do solo, do estado da sua superfície e das quantidades de água e ar, inicialmente
presentes no seu interior” (SILVEIRA et al., 2000, p. 335).
Segundo Hornberger et al. (1998), o escoamento pode resultar de quatro caminhos
de fluxos diferentes: 1) precipitação direta sobre canais de escoamento; 2) escoamento
superficial; 3) escoamento subsuperficial; e 4) escoamento subterrâneo.
Neste contexto, a topografia da bacia é a característica mais importante no
controle do fluxo de água, por exercer uma grande influência, não só no movimento de
água subterrânea, mas também na água de superfície, como destaca Santos (2001).
O escoamento superficial, como o escoamento subterrâneo, irá alimentar os
cursos de água que deságuam nos lagos e nos oceanos ou alimenta, diretamente, os
últimos.
O escoamento superficial constitui uma resposta rápida à precipitação e cessa
pouco tempo depois dela. Por seu turno, o escoamento subterrâneo, em especial quando
se dá através de meios porosos, ocorre com grande lentidão e continua a alimentar o curso
de água, por longo tempo, após ter terminado a precipitação que o originou. Assim, os
cursos de água alimentados por aquíferos apresentam regimes de caudal mais regulares
(SILVEIRA, 2000, p. 37).
A vazão em uma bacia hidrográfica, “ou volume escoado por unidade de tempo,
é a principal grandeza que caracteriza um escoamento”, afirma VILLELA e MATTOS
(1975, p.103). É expressa pelo hidrograma13, enquanto a precipitação pelo heitograma.
“A distribuição da vazão no tempo é resultado da interação de todos os
componentes do ciclo hidrológico” e os vários aspectos da bacia hidrográfica (os mais
importantes são: relevo, cobertura da bacia, modificações artificiais no rio, distribuição,
duração e intensidade da precipitação, e tipo de solo), “entre a ocorrência da precipitação
e a vazão na exutória da bacia hidrográfica” (TUCCI, 2000, p. 391).
O movimento vertical da água sob a superfície terrestre, após a mesma se infiltrar,
está condicionado à condutividade hidráulica e ao gradiente de potencial formado pela
gravidade e pela tensão de umidade, sendo este movimento denominado de percolação.
De acordo com Heath (1983), toda a água sob a superfície da terra é referida como
água do subsolo (ou água subsuperficial) e ocorre em duas zonas diferentes: a zona
insaturada ou de aeração e a saturada.
A zona insaturada ocorre na maioria das áreas imediatamente sob a superfície
terrestre e contém água e ar (ou vapor de água). Esta zona é dividida em três partes: a
zona do solo, a zona intermediária e a parte superior da franja capilar.
Na zona saturada, todos os espaços vazios encontram-se completamente ocupados
pela água. As fontes, os poços e as correntes efluentes têm origem na zona saturada. A
água presente na zona saturada é designada de água subterrânea. A recarga da zona
saturada ocorre por percolação da água de superfície através da zona insaturada.
Desta forma, o ciclo hidrológico, "embora possa parecer um mecanismo contínuo,
com a água se movendo de uma forma permanente e com uma taxa constante, é, na
realidade, bastante diferente, pois o movimento da água em cada uma das fases do ciclo
é feito de um modo bastante aleatório, variando tanto no espaço como no tempo"
(VILLELA; MATTOS, 1975). É um agente modelador da crosta terrestre, condiciona a
13
O hidrograma é a relação gráfica da vazão no tempo (série contínua de vazões) e o hietograma, a relação
gráfica da pluviosidade no tempo.
cobertura vegetal e, de modo mais genérico, a vida na Terra por meio da erosão, transporte
e deposição de sedimentos por via hidráulica.
Neste contexto, a Bacia Hidrográfica é o recorte espacial ideal para o estudo da
dinâmica dos processos hidrológicos, hidrossedimentológicos, hidrogeomorfológicos, do
fluxo de matéria e de nutrientes, assim como para o planejamento ambiental e para o
manejo do uso do solo e da terra.
BACIA HIDROGRÁFICA
14
A bacia hidrográfica é definida a partir de divisores de água superficiais, pelas porções mais elevadas do
relevo que dividem a água da chuva para caminhos/direções diferentes. Porém, em determinadas regiões,
o caminho a ser percorrido pela água é condicionado por divisores de água subsuperficias e/ou subterrâneos,
decorrentes basicamente da natureza das rochosas constituintes.
15
Exutória é o ponto para onde todo o fluxo de água em uma bacia hidrográfica converge. Enquanto, foz é
o local da desembocadura e deságue de um curso d'água em outro corpo de água. Em muitos estudos, por
conveniência e diante de obstáculos operacionais (dificuldade de acesso, inexistência de estação
fluviométrica etc.), a exutória é escolhida a montante da foz.
16
No presente, a identificação e a delimitação de bacia hidrográfica não serão tradadas, por existir, na
literatura, vários trabalhos que tratam das mesmas. Porém, destaca-se que tanto a delimitação em sala de
aula pelos alunos, utilizando cartas topográficas ou modelo digitais do terreno (maquetes do relevo), como
atividade de campo são fundamentais para o entendimento do conceito e a compreensão das causas e dos
efeitos de ações isoladas em uma bacia hidrográfica ou de drenagem.
Na literatura, observa-se a utilização dos termos: bacia hidrográfica, sub-bacia
hidrográfica e microbacia. Apesar de não existir um critério claro para esta divisão, pois
ambos constituem uma área da superfície terrestre na qual o movimento da água, o fluxo
de água tende a convergir para um único ponto, sendo comum encontrarmos a utilização
dos termos mencionados para representar a mesma coisa.
De um modo geral, o termo sub-bacia hidrográfica é empregado para áreas
presentes dentro de uma bacia hidrográfica, enquanto, o termo microbacia para “pequena”
bacia hidrográfica, área na qual um extensionista consiga percorrê-la em um dia de campo
(visitada, atendida, avaliada – aproximadamente 20 hectares).
O termo microbacia, no Brasil, ganha impulso quando o Decreto nº 94.076 de 05
de março de 1987, institui o Programa Nacional de Microbacias Hidrográficas, visando à
promoção de um adequado aproveitamento agropecuário de microbacias hidrográficas,
mediante a adoção de práticas de utilização racional dos recursos naturais renováveis,
pelo Ministério da Agricultura (BRASIL, 1987). Nele, a unidade de manejo é a
microbacia hidrográfica:
[...] entendida como uma área fisiográfica drenada por curso d’água ou
por um sistema de cursos de água conectados e que convergem, direta
ou indiretamente, para um leito ou para um espelho d’água,
constituindo uma unidade ideal para o planejamento integrado do
manejo dos recursos naturais no meio ambiente por ela definido.
(BRASIL, 1987, p. 8)
Bacia Hidrográfica
É a área que drena as águas de chuvas por ravinas, canais e
tributários, para um curso principal, com vazão efluente convergindo
para uma única saída e desaguando diretamente no mar ou em um
grande lago.
As Bacias Hidrográficas não têm dimensão definidas.
Sub-bacia Hidrográfica
O conceito é o mesmo de Bacia Hidrográfica, acrescido do
enfoque de que o deságue se dá diretamente em outro rio. As Sub-bacias
Hidrográficas têm demissões superficiais que variam entre 20.000 ha a
300.000 ha. Essas áreas podem variar de acordo com a região do país.
O limite inferior (20.000 ha) refere-se à área máxima que uma
equipe de campo pode e deve trabalhar em um Manejo Integrado ou em
um Gerenciamento.
Esse dado é válido para o Sul do Brasil, Uruguai e Norte da
Argentina, e é proveniente da experiência de campo.
O limite superior (300.000 ha) restringe-se ao fato de ser uma
área facilmente manuseável no sistema cartográfico brasileiro do Sul do
país: Cartas com escala 1:50.000.
Microbacias Hidrográficas
O conceito é o mesmo de Bacia Hidrográfica, acrescido de que o
deságue se dá também em outro rio, porém a dimensão superficial da
Microbacia é menor que 20.000 ha. Pode haver Microbacia até de 10,
20, 50, 100, 500 ha etc. (ROCHA, 1997, p. 73)
Outras tentativas para definir os termos foram realizadas, porém sem muito
sucesso, uma vez que a natureza é complexa e diversa e, em alguns casos, confusa. Por
exemplo, os rios da Costa Leste da Serra do Mar Paranaense, que deságuam diretamente
no mar e possuem áreas de drenagem, com dimensões inferiores entre 20.000 ha e
300.000 ha, comporiam uma Bacia Hidrográfica simplesmente por desaguar no mar.
Neste contexto, o importante é definir o termo utilizado, bacia hidrográfica, sub-bacia
hidrográfica ou microbacia hidrográfica, e especificar as razões de adotar-se tal
terminologia, uma vez que o importante é que a bacia, sub-bacia ou microbacia é um
sistema natural, na qual os processos estão inter-relacionados, basicamente, pelo fluxo da
água.
O manejo ambiental de uma bacia hidrográfica deve buscar a ocupação racional
do espaço rural e/ou urbano, de forma integrada, no sentido de concretizar e manter o
equilíbrio dos processos hidrossedimentológicos (hidrológico e sedimentológico), da
diversidade biológica e das atividades produtivas, além de promover a elevação dos níveis
de renda e a obtenção da melhoria das condições de vida da população. Portanto, deve
haver um equilíbrio no desenvolvimento de atividades no espaço físico da bacia e, para
que isto aconteça, há que se trabalhar com o zoneamento17. O rio principal funciona como
um “termômetro” do bom ou do mau uso da bacia hidrográfica.
Uma bacia hidrográfica bem manejada depende de profissionais de todas as
ciências que possam trabalhar de forma integrada e interdisciplinar. A visão cartesiana de
abordagem produz também soluções cartesianas (ou compartimentalizadas) como, por
exemplo, achar que a conservação dos solos (agricultura) ou conservação apenas das
matas ciliares possam resolver problemas de contaminação dos rios. Podemos ter bacias
hidrográficas com bom manejo de solos e contaminação difusa por agrotóxicos de solos
e rios, como também bacias com boa conservação das matas ciliares, com contaminação
por efluentes urbanos e industriais de rios, de forma pontual.
Nas paisagens tropicais e subtropicais, a pluviosidade (chuva) é a principal
propulsora das inter-relações no sistema Bacia Hidrográfica. A água proveniente da chuva
é a responsável por um conjunto de processos físicos e químicos no sistema Bacia
Hidrográfica.
A água que precipita nos continentes pode tomar vários destinos. Uma parte é
devolvida diretamente à atmosfera, por evaporação; a outra, origina escoamento à
superfície do terreno, escoamento superficial, que se concentra em sulcos, cuja reunião
dá lugar aos cursos de água. A parte restante infiltra-se, isto é, penetra no interior do solo,
subdividindo-se numa parcela que se acumula na sua parte superior e pode voltar à
atmosfera por evapotranspiração e noutra que caminha em profundidade até atingir os
lençóis aqüíferos (ou simplesmente aqüíferos) e vai constituir o escoamento subterrâneo
(LENCASTRE; FRANCO, 1984).
O balanço hídrico, afirmam Lencastre e Franco (1984, p. 329), "relaciona as
entradas e saídas de água (afluências e efluências), ocorridas num determinado espaço e
durante certo período de tempo, com a variação do volume do mesmo líquido no interior
desse espaço, durante o intervalo de tempo referido". O balanço hídrico tem sido utilizado
para resolver inúmeros problemas, tais como o intervalo de irrigação, o planejamento dos
17
Zoneamento é a regulamentação dos tipos de uso e ocupação da terra, por meio da divisão do território
em parcelas, nas quais poderá ser autorizada ou vetada, total ou parcialmente, a realização de determinadas
atividades, a partir de estudos integrados e participativos, considerando as características bióticas e
abióticas e os possíveis e diferentes níveis de usos e atividades. Sua utilização é uma ferramenta importante
no planejamento ambiental. Trata-se de um exemplo de limitação administrativa ao direito de propriedade,
cujo solo deve ser utilizado, com base no Princípio da Função Social da Propriedade, sempre obedecendo
ao interesse da coletividade. O zoneamento ambiental é um dos instrumentos da Política Nacional do Meio
Ambiente e deve ser realizado considerando o conceito de bacia hidrográfica.
recursos hídricos, a previsão de rendimentos das culturas, a classificação climática, entre
outros.
O ciclo hidrológico pode ser quantificado no conjunto da superfície terrestre. O
balanço hídrico terrestre possibilita a identificação da quantidade e o trajeto percorrido
pela água nos seus diferentes estágios (Figura 4).
PRECIPITAÇÃO
18
Os pluviômetros são equipamentos que medem a quantidade de chuva, o volume, enquanto os
pluviográfos medem a quantidade e intensidade da chuva, a chuva em relação ao tempo. Em alguns estudos
é necessário saber a quantidade de chuva que caiu em um minuto, dez minutos, uma hora etc.
19
Por exemplo, parte da água, escoada nos cursos, é proveniente do escoamento superficial. O descartes de
resíduos sólidos (lixo) na área da bacia e o lançamento de efluentes tendem a serem careados os cursos de
água, e consequentemente, comprometer a qualidade da água, o recurso hídrico. Utilizar-se de observação
junto a córregos para identificar pontos de lançamento de esgotos, indicadores ou bioindicadores da
qualidade da água, como odor, presença de resíduos sólidos, ausência de peixes, etc.
20
O conceito de bacia hidrográfica deve ser trabalhado, teoricamente e na prática, a partir de reconhecimento
em campo.
pluviômetro e o monitoramento de chuva diária com o acompanhamento dos alunos, a
fim de explicar e padronizar procedimentos de instalação e monitoramento.
2. Plotar em um mapa, uma planta da cidade, bairro (pode ser de lista telefônica
ou de endereços) ou no Google Earth os pontos a partir dos endereços dos alunos (ou
utilizando-se do Sistema de Posicionamento Global21, para obter a posição de cada posto
com o auxílio de um GPS - Global Positioning System) onde os pluviômetros serão
instalados (escolha do local).
3. Recortar o fundo da garrafa PET, com um estilete, de forma que tenhamos
uma circunferência exata.
4. Encaixar a luva no pedaço de cano.
5. Escolher a posição, na qual o pluviômetro será instalado em cada um dos
locais escolhidos. O local deve estar livre de obstáculos que possam interferir na captação
da chuva, como casas, edifícios e árvores. Ele deve ficar, se possível, protegido, em
terreno plano e a uma distância mínima do obstáculo igual ao dobro de sua altura (Figura
5).
6. Fixar a estaca ao chão, enterrando-a em torno de 50 cm, uma vez que a área
de captação do pluviômetro (a boca) deve ficar a uma altura de um metro e meio do chão22.
7. Fixar, com a borracha, o pedaço de cano à estaca (amarrar o pedaço de cano
de 100 mm à estaca), introduzir a luva na parte superior e a parte da garrafa PET sobre
ele para a captação da chuva (Figura 6).
21
Neste caso, outros assuntos podem ser abordados como sistema de coordenadas geográficas.
22
Essa altura de um metro e meio é um padrão internacional estabelecido para medição de chuva.
Figura 6 – Pluviômetro instalado – (A) pluviômetro realizado com garrafa PET, exemplificado
neste texto; e (B) pluviômetro com graduações facilmente adquirido em lojas agropecuárias.
Fotografia: Leandro Redin Vestena, 2005.
23
Nos noticiários, diz-se que choveu 100 mm sobre uma determinada área, cidade, bairro etc., contudo, a
chuva apresenta certa variabilidade, e, tecnicamente, existem métodos para se determinar a chuva média de
uma região, os métodos da média aritmética, de Thiessen e das isoietas, que não serão abordados neste
momento.
24
Na realidade, a chuva é simplesmente a relação entre volume e área de captação, o número dez na equação
(1), deve-se para transformação de unidade, do cm para o mm.
25
Um ml (mililitro) é igual a um cm3 (centímetro cúbico).
sendo, A é a área de captação em cm2, 𝜋 o pi, com valor de 3,1416, e r o raio da
circunferência da área de captação do pluviômetro em cm.
REGISTRO DE PLUVIÔMETRO
Estação/Posto:......................................................................... Responsável:………......………………………………
Localização:.............................................................................................................................................................. Ano:..................
Latitude:............................................. Longitude:..................................... Altitude:.....…………
DIA JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31
Total
Média
10. Tabulação dos dados de chuva por evento, dia ou mês (para tal, pode-se
utilizar da mesma planilha de registro do pluviômetro, após obter-se a chuva
em milímetros).
11. No mapa do bairro da cidade, os valores de chuva medidos em cada ponto,
em um determinado período de tempo, por exemplo, dia(s) – evento de chuva, mês,
estação sazonal ou ano e, a partir disso, podem-se traçar as isoietas, linhas que unem
pontos de mesma pluviosidade. Nesta etapa, será possível avaliar a variabilidade espacial
da chuva26 e os possíveis fatores intervenientes nestas condições atmosféricas
(temperatura, pressão, umidade e vento) e condições da superfície (relevo).
12. Em atividade de campo, os alunos podem identificar/reconhecer, na
paisagem, o caminho da água da chuva, por meio de uma visita aos divisores de água27; e
a um curso de água, por meio de caminhamentos a montante e jusante 28 de pontos do
curso fluvial (pré-definidos pelos professores), no curso superior e inferior de bacia
hidrográfica e dos impactos29 associados a sua dinâmica na bacia hidrográfica.
26
No Sul do Brasil, as chuvas de verão apresentam maior variabilidade por serem chuvas de origem
convectivas.
27
Divisor de águas é a linha no terreno, na qual a água é dividida dentre bacias hidrográficas ou sub-bacias
hidrográficas. No terreno, são as cumeeiras dos morros e serras, espigões, topos de morros, área mais
elevada, onde duas vertentes se encontram e a partir das quais o fluxo das águas converge para a exutória.
28
A montante é dirigir-se a rio acima e a jusante, a rio abaixo, independente da porção do rio em que se
encontra.
29
Observar a presença ou ausência de mata ciliar, de resíduos sólidos no rio e em suas margens que possam
ser careados até o rio, pontos de lançamento de efluentes (esgotos) diretamente no rio, a qualidade da água
do rio (cor, odor, e cheiro), de sedimentos no leito fluvial e em bueiros, erosão de margens etc.
Para evitar situações como as descritas por uma criança de Tel Aviv, Israel,
quando perguntada sobre o que é um rio, respondeu: “é um canal que fede quando você
passa ao lado” ou como a descrita pelo escritor cubano Pedro Huan Gutiérrez “Quando
criança eu estava convencido de que todos os rios eram cheios de merda. A primeira vez
em que eu vi um em que a água corria, não acreditei nos meus olhos e perguntei onde eles
colocavam a merda e a sujeira, para que o rio fosse tão limpo” (BOUGUERRA, 2004, p.
41-42).
O estudo da água na paisagem, de forma integrada, é fundamental para que os
alunos possam entender a essência de muitos dos problemas socioambientais, e não de
forma simplista como resultado de ações isoladas.
Uma conscientização cada vez mais crescente é necessária, para que ações no
espaço sejam de forma a conceber à valorização e à valoração dos seus recursos naturais.
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