Вы находитесь на странице: 1из 178

Espírito Santo

Economia e Política

Cafeicultura e
Grande Indústria
A TRANSIÇÃO NO ESPÍRITO SANTO • 1955-1985

Haroldo Corrêa Rocha e Angela Maria Morandi


Haroldo Corrêa Rocha
Angela Maria Morandi

Cafeicultura e
Grande Indústria
A TRANSIÇÃO NO ESPÍRITO SANTO • 1955-1985

2ª edição

Vitória
Espírito Santo em Ação
2012
© 2012 Haroldo Corrêa Rocha, Angela Maria Morandi

ESPÍRITO SANTO EM AÇÃO


Alexandre Nunes Theodoro Presidente
José Armando de Figueiredo Campos Presidente do Conselho Deliberativo
Mario Amaro da Silveira Vice-Presidente Operacional
José Teófilo de Oliveira Vice-Presidente
Luiz Wagner Chieppe Vice-Presidente

ASSESSORIAS
Orlando Caliman Assessor de Planejamento e Gestão
Eugênio Fonseca Assessor de Comunicação
Pedro Amaral Oliveira Assessor de Segurança

Rua José Alexandre Buaiz, 190. Ed. Master Tower – Sala 1414 – Enseada do Suá – Vitória/ES.
CEP: 29050-918 Tel: 3024-7700, Fax: 3024-7709 – www.espiritosantoemacao.org.br

José Augusto Carvalho Revisão


Bios Projeto Gráfico e Editoração
GSA Gráfica e Editora Impressão

1ª edição, 1991

Série
Espírito Santo : Economia e Política

Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP)


(Isabel Cristina Louzada Carvalho, ES, Brasil – gestao.info@terra.com.br)

R672c Rocha, Haroldo Corrêa, 1956-


Cafeicultura e grande indústria : a transição no Espírito Santo 1955-1985 /
Haroldo Corrêa Rocha; Angela Maria Morandi . – 2. ed. – Vitória : Espírito Santo
em Ação, 2012.
173 p. : 23 cm. – (Espírito Santo : Economia e Política ; v. 1)

ISBN 978-85-64243-03-3 (impresso)

1. Espírito Santo (Estado) – Condicões econônmicas. 2. Café – Aspectos


econômicos – Espírito Santo (Estado). 3. Indústrias – Aspectos econômicos
– Espírito Santo (Estado). Café – Espírito Santo (Estado) – História. I. Morandi,
Angela Maria, 1953. II. Título. III. Série.

CDD: 338.1737098152
CDU: 338.45 (815.2)

Todos os direitos autorais estão reservados pelo Certificado de Registro nº 583.470,


de 26/11/2012, emitido pelo Escritório de Direitos Autorais (EDA) da Biblioteca Nacional.
Sua reprodução, no todo ou em parte, constitui violação à Lei nº 9.610/1988.

Realização Patrocínio
Espírito Santo • Economia e Política 3

Agradecimentos
constantes da 1ª edição

Este livro resultou do trabalho, apoio e incentivo de muitas pessoas


e instituições, como sempre acontece com qualquer produção científica.
Resultou, em primeiro lugar, do esforço que desenvolvemos juntamente
com outros colegas da Ufes – Hildo Meirelles de Souza Filho, José Antonio
Buffon, Sinésio Pires Ferreira e Sonia Dalcomuni dos Santos – e do Instituto
Jones dos Santos Neves – Maria da Penha Cossetti e Ana Luzia Fregonassi
Botecchia –, ao longo da década de 1980, no sentido de ampliar o conhe-
cimento da história econômica do Espírito Santo.

Resultou, ainda, do incentivo e da orientação metodológica do pro-


fessor Wilson Cano, da Unicamp, que muito contribuiu para a formação
de nossa visão sobre a dinâmica regional da economia brasileira.

Resultou, também, da clareza com que Ricardo Ferreira dos Santos,


Odilon Borges Junior e Orlando Calimam sempre encararam a necessidade
de melhor conhecer a realidade econômica e social do Espírito Santo. Quan-
do na direção do Geres, do Bandes e do IJSN, respectivamente, apoiaram
iniciativas de estudos sobre a realidade regional e, em particular, deposita-
ram confiança nas equipes de pesquisa do Departamento de Economia da
Universidade Federal do Espírito Santo.

Este texto, que agora é levado ao público, foi elaborado em condições


muito particulares. Sua primeira versão integrou um trabalho mais amplo,
4 Cafeicultura & Grande Indústria

intitulado Avaliação do sistema de incentivos fiscais do DL-880, reali-


zado em 1985, pelo Geres e Bandes, com colaboração do IJSN e da Ufes. A
coordenação geral do trabalho ficou a cargo do economista William Galvão
Lopes, do Bandes, que nos solicitou a elaboração do segundo capítulo, in-
titulado “Antecedentes e evolução recente da economia capixaba”. Nesse
capítulo desenvolvemos uma análise das origens do sistema de incentivos
fiscais no Espírito Santo e abordamos o desenvolvimento econômico capi-
xaba do período de 1956 a meados dos anos 1980. Nesse texto não tivemos
a pretensão de realizar uma análise teórica definitiva, mas, tão somente,
a de recuperar as grandes linhas das transformações econômicas recentes
do Espírito Santo.

Após a conclusão do trabalho, o referido capítulo dois foi reproduzido


pelo Geres/Bandes em volume independente. A partir daí, esse volume
teve circulação também independente e passou a ser usado e reproduzido
por pesquisadores, por estudantes e pelos professores do Departamento de
Economia da Ufes que lecionaram a disciplina Economia Capixaba para o
curso de Ciências Econômicas.

Desta cada vez mais ampla utilização e circulação do texto original,


surgiu a ideia de publicá-lo sob a forma de livro para facilitar o acesso dos
leitores. Assim, passamos a empreender um trabalho de revisão geral do
texto com vistas à publicação.

No verão de 1988, revisamos os três primeiros capítulos, atualizamos


todos os dados estatísticos das tabelas e acrescentamos algumas notas ex-
plicativas; em fevereiro de1990, concluímos a revisão com a reelaboração
do capítulo quatro, o que deu origem a um texto quase integralmente novo.

Durante todo esse período, contamos com a colaboração dos técnicos


do IJSN, que foram incansáveis no trabalho de revisão ortográfica, dati-
lografia e normalização bibliográfica. Sob pena de não mencionar todos
os envolvidos neste trabalho, queremos agradecer especialmente a Carlos
Alberto Feitosa Perim, Fernando Lima Sanchotene, Djalma José Vazzoler,
Terezinha Côgo Lodi, Clarisse Silva de Freitas, Francisca Proba Soares, Maria
Cristina Dadalto Perez, Lastênio Scopel, Eliane Rezende, Eugênio Flores
Herkenhoff e Maria da Conceição Lopes.
Espírito Santo • Economia e Política 5

Também prestou importante colaboração a colega, professora do De-


partamento de Biblioteconomia da Ufes, Maria Luiza Loures Rocha Perota,
que nos auxiliou no trabalho de normalização bibliográfica.

A etapa final do empreendimento foi cumprida após a decisão da


FCAA de editar o livro e o apoio financeiro da Viação Águia Branca e da
Aracruz Celulose, que compreenderam a importância da circulação mais
ampla deste texto.

Destacamos também a colaboração dos nossos ex-estagiários e atual-


mente colegas economistas, Enilce Leite Mello e Helder Gomes, que tiveram
uma participação muito especial na elaboração deste trabalho, pois foram
responsáveis pelo levantamento dos dados estatísticos e pela elaboração
da maior parte das tabelas que são apresentados no livro. Eles são, de uma
forma ou de outra, coautores, embora não devam ser responsabilizados por
eventuais erros ou equívocos que o texto possa apresentar.

Finalmente, queremos agradecer de forma muito especial e particular


o permanente apoio, incentivo, e, porque não dizer, a cumplicidade dos
nossos familiares com a nossa prática intelectual. Queremos, também,
pedir perdão a Cristina, André, Vítor, Rodrigo e Renata pelas muitas horas
de saudável convívio que lhes roubamos, o que é quase sempre inevitável
nos momentos mais intensos de produção intelectual.

Vitória-ES, outubro de 1991

Haroldo Corrêa Rocha


Angela Maria Morandi
Espírito Santo • Economia e Política 7

Prefácio à 2ª edição

Merece louvor a iniciativa do Espírito Santo em Ação de reeditar uma


obra tão influente como foi e ainda é esta que o leitor tem agora em mãos.
Pois, antes mesmo de sua primeira edição definitiva, que ocorreu em 1991,
ela já era utilizada de forma muito intensa desde a década anterior por alu-
nos e professores de nossa Universidade Federal, e continua assim até hoje.
Nela eles encontravam um conjunto bem-organizado de dados a respeito
da evolução econômica do Espírito Santo e uma consistente interpretação
deles, constituindo-se assim em um sólido apoio para suas pesquisas e
reflexões a respeito da trajetória socioeconômica recente do Estado.

Ela mostra de forma convincente e plenamente articulada que, entre


a década de 1960 e a de 1980 a economia e a estrutura social do Espíri-
to Santo sofreram uma inflexão extraordinária: com a implantação dos
chamados “grandes projetos”, entrou em pauta de forma definitiva a tão
acalentada diversificação de sua estrutura econômica até então assentada
quase exclusivamente na cafeicultura.

A mobilização social decorrente da mudança econômica gerou um


processo de urbanização e de concentração populacional na Grande Vi-
tória que assumiu proporções inéditas, redesenhando completamente sua
configuração urbanística.

Mas essas transformações não poderiam deixar de se refletir também


no campo cultural e intelectual e foram elas mesmas o principal tema da-
8 Cafeicultura & Grande Indústria

quilo que se pode chamar a “redescoberta” do Espírito Santo, pelos próprios


capixabas, da qual este livro é um marco significativo.

Depois do primeiro levantamento econômico realizado pela Capes em


1959, os primeiros diagnósticos sobre o Espírito Santo foram feitos ainda
na década de 1960: um sob a coordenação do economista cearense Jacy
Magalhães, da Confederação Nacional da Indústria, e os outros dois pelo
sociólogo carioca José Arthur Rios, divulgador no Brasil da metodologia de
pesquisa do padre dominicano francês Louis-Josef Lebret. Arregimentados
por iniciativa da Findes, então liderada por Américo Buaiz e pelo Governo
do Estado, chefiado por Carlos Lindenberg, foram eles que orientaram as
ações pioneiras dos governos daquela época para a promoção do desenvolvi-
mento regional, para a atração de investimentos públicos e privados para o
Espírito Santo e para a criação de fundos de incentivo ao desenvolvimento.
Mas esses diagnósticos ainda foram efetuados por profissionais “de fora”,
que não possuíam vínculos mais efetivos com o Estado.

Na sequência, a federalização da Universidade, - que tinha sido criada


ainda na década de 1950 por Jones dos Santos Neves, - e sua ampliação
nas décadas seguintes, propiciaram a oportunidade para o surgimento no
próprio Espírito Santo de uma jovem geração de competentes pesquisado-
res, da qual fazem parte Haroldo Rocha e Angela Morandi, cuja produção
científica iria se manifestar de forma acentuada nas década de 1980 e
de 1990, de forma concomitante com o amadurecimento das mudanças
socioeconômicas mencionadas anteriormente. Orientados por eminentes
pesquisadores de universidades de ponta do país, - como foi o caso deste
trabalho, orientado inicialmente por Wilson Cano da Unicamp, - eles for-
maram um núcleo informal de pesquisas que deu início à autonomização
do Espírito Santo nesse campo científico.

A produção de inúmeras teses e monografias no campo das ciências


econômicas e sociais e da própria história, aprofundou a construção de
um amplo e consistente diagnóstico a respeito da trajetória regional: temas
como o desenvolvimento da cafeicultura e sua relação com a indústria, a
urbanização e o crescimento populacional, o coronelismo, a construção e a
evolução do estado regional, o desenvolvimento da atividade portuária e a
integração na economia nacional e internacional, a imigração estrangeira,
o transporte ferroviário, e muitos outros, foram explorados e pesquisados
Espírito Santo • Economia e Política 9

de uma forma pioneira. Criou-se, a partir desses trabalhos, um núcleo re-


gional de produção acadêmica que inseriu o Espírito Santo nas discussões
nacionais e revelou a especificidade de nossa formação.

Esses estudos, entre os quais esta obra se destaca, acabaram se con-


vertendo em verdadeiros paradigmas e constituem até hoje referência
obrigatória. Alguns deles foram publicados mas já se encontram hoje
completamente esgotados, e muitos outros nem sequer chegaram a sê-lo,
dada a precariedade e a incipiência de nossa produção editorial, influen-
ciada negativamente por uma série de fatores. E é por causa disso que se
torna urgente hoje a publicação dos trabalhos mais significativos que foram
produzidos naquela época.

Aproveitando o ensejo desta reedição, e tendo em vista a conjuntura


que estamos atravessando, marcada por desafios inesperados como a ex-
tinção do Fundap - que tinha sido um dos propulsores do desenvolvimento
estadual na etapa estudada inicialmente neste livro - e a ameaça de perda
de parte significativa dos royalties do petróleo, Haroldo Rocha e Angela
Morandi brindaram-nos com um excelente posfacio em que traçaram
um amplo quadro das transformações mais recentes que afetaram nossa
economia e sociedade, complementando assim sua análise dos últimos 50
anos de nossa evolução.

Neste último diagnóstico, redigido quase trinta anos depois do primei-


ro, mas coerente com ele, os autores encararam de forma engajada,mais
uma vez, a tarefa que eles mesmos se propuseram de “fornecer inspiração
e pistas estratégicas para o enfrentamento dos novos desafios que se apre-
sentam aos capixabas”.

Eles reconheceram claramente que, a partir dos desenvolvimentos que


se tinham dado anteriormente, o Espírito Santo deparou no começo século
XXI com um cenário de amplas possibilidades de crescimento, apresentan-
do, entretanto, ao mesmo tempo, um quadro de graves desigualdades, com
problemas sociais e precárias condições de vida, afetando grande parte de
sua população, principalmente a urbana.

Mas eles reconheceram também, com grande coragem, a prevalência


entre nós, até aquela altura, de uma condição política que pouco ajudava
no equacionamento desses problemas: ou seja, como eles disseram, o
10 Cafeicultura & Grande Indústria

“domínio das instituições públicas pelo chamado crime organizado e por


relações corrompidas entre agentes públicos e privados, que drenavam
os crescentes recursos públicos para alimentar os canais da corrupção,
reduzindo a capacidade do setor público de realização de investimentos
em infraestrutura e de provimento à população de baixa renda de serviços
públicos essenciais de qualidade, sobretudo saneamento básico, saúde,
educação e segurança pública”.

De lá para cá, no entanto, superada aquela condição política desabo-


nadora dos valores republicanos, que incapacitava o Estado regional para
o cumprimento de suas obrigações sociais, baixava nossa autoestima e
projetava uma imagem extremamente negativa do Espírito Santo, e apesar
dos novos obstáculos, Haroldo Rocha e Angela Morandi mostram-se final-
mente esperançosos de que o Estado, “saneado financeira e eticamente,
responderá por um lado aos desafios do novo momento de crescimento,
garantindo a modernização da máquina pública, os investimentos em in-
fraestrutura, a oferta de serviços sociais básicos de qualidade. E, por outro
lado, pela utilização de diversas ferramentas de regulação, o desenvolvimento
será distribuído de forma mais equitativa regionalmente, menos agressivo
ao meio ambiente e com melhores condições de reduzir as desigualdades
sociais, pela promoção da melhoria da distribuição de renda”.

Por tudo isso, reafirmamos a opinião de que a reedição desta importante


obra hoje constitui um marco significativo de nossa história intelectual.

Estilaque Ferreira dos Santos


Historiador/Professor da Universidade Federal do Espírito Santo
Espírito Santo • Economia e Política 11

Prefácio à 1ª edição

Este texto que tenho o prazer de prefaciar constitui importante con-


tribuição para os estudos da economia capixaba, possibilitando um acesso
mais detalhado aos estudiosos do Estado do Espírito Santo. Essa análise,
cobrindo o período de 1955-1985, completa exame de importante período de
expansão da economia do Estado do Espírito Santo, que tem suas raízes por
volta de 1850, quando da primeira fase da expansão cafeeira nessa região.

Com esse trabalho não é exagero dizer que o Estado do Espírito Santo
passa a ser um dos mais bem estudados em termos da evolução de sua
economia.

Desde o pioneiro estudo da Capes (1959), seguido mais tarde pelo


coordenado por José A. Rios (1966), passaram-se quase duas décadas para
que se constituísse um produtivo grupo de pesquisadores na Ufes e no IJSN,
em Vitória, no qual se sobressaíram Angela Maria Morandi, Haroldo Corrêa
Rocha, Hildo Meirelles de Souza Filho, Maria da Penha Cossetti, Sinésio
Pires Ferreira e José Antônio Buffon, que deram excelente continuidade
e profundidade àqueles estudos. Tive inclusive a satisfação de orientar
alguns desses trabalhos, acompanhando de perto a evolução intelectual
desse grupo. Destaco, entre seus principais trabalhos, o de Rocha e Cossetti
(1983), que, seguindo de perto os rumos teóricos e metodológicos que
usei em meus estudos sobre a economia paulista e regional, produziram
o já clássico local Dinâmica cafeeira e constituição de indústrias no
Espírito Santo – 1850/1930.
12 Cafeicultura & Grande Indústria

Esses estudos continuaram, entre outros, com o de Morandi e outros


(1984), abarcando o período 1930-1970; e com o de Ferreira (1987), es-
tudando a integração do Espírito Santo no mercado nacional entre 1940-
1960, trabalho completado pelo presente texto.

Deve-se ainda acrescentar a esse conjunto bibliográfico sobre o Espírito


Santo a importante tese de Almada (1984), que discute o escravismo no
período 1850-1888, e também um pequeno ensaio que fiz (CANO, 1985c)
sobre “Padrões diferenciados das principais regiões cafeeiras 1850-1930”
onde, tomando por base alguns dos principais trabalhos acima citados, pude
fazer algumas considerações sobre as diferenças marcantes que a economia
cafeeira de São Paulo apresentou em relação às do Rio de Janeiro, Minas
Gerais e Espírito Santo.

O estudo agora apresentado ao público analisa o período mais recen-


te, mostrando não só os efeitos de uma política regional de incentivos de
várias modalidades, mas também a culminância da integração do mercado
nacional, particularmente no período da atípica década de 1970, a do “Mi-
lagre Brasileiro”. O texto inova em relação aos demais, com um capítulo
breve sobre as relações entre o crescimento econômico, a urbanização e o
setor terciário, traço metodológico importante e necessário em trabalhos
dessa natureza.

Como acontece com todo trabalho intelectual sério e relevante, es-


peramos que alguns de seus leitores e/ou seus próprios autores que deem
continuidade a este esforço.

Wilson Cano2

2 Wilson Cano é economista pela PUC-SP, tem curso de pós-graduação pela Cepal e pelo Ilpes e doutorado pela Unicamp-SP,
onde é também professor livre-docente, dando aulas no Curso de Pós-Graduação em Economia (Mestrado e Doutora-
do). Autor de vários trabalhos, entre os quais Raízes da Concentração Industrial em São Paulo e Desequilíbrios
Regionais e Concentração Industrial no Brasil – 1930/1970. Conferencista, assessor, consultor e conselheiro de
organismo e instituições nacionais e internacionais.
Sumário

Lista de Tabelas........................................................................................ 15

Apêndice Estatístico................................................................................ 17

Lista de Siglas e Acrônimos..................................................................... 18

Apresentação........................................................................................ 21

Introdução............................................................................................ 23

Espírito Santo nos anos 1960 e 2010.............................. 27


1. Introdução................................................................................... 27

2. A crise dos anos 1960 e as estratégias


de enfrentamento adotadas pelos capixabas............................... 28

3. As mudanças sociais e econômicas


de cinco décadas – 1960/2010.................................................... 33

4. A superação dos problemas trazidos pela urbanização


acelerada, o crescimento industrial e o controle do
estado pelo crime organizado...................................................... 41

5. As ameaças e as oportunidades nos próximos


anos e décadas – Espírito Santo 2030......................................... 44

Referências......................................................................................... 50
Capítulo 1

O Espírito Santo e a política


de desenvolvimento regional............................................ 51
1.1 O problema das desigualdades regionais
no Brasil e o sistema de incentivos fiscais.................................. 51

1.2 Origem dos incentivos fiscais no Espírito Santo......................... 59

Capítulo 2

Antecedentes: crise agrícola


e industrialização 1955/75..................................................... 71
2.1 Auge e crise da cafeicultura......................................................... 73

2.2 Política econômica e crescimento industrial.............................. 98

2.3 A construção de infraestrutura................................................. 108

Capítulo 3

Expansão recente: desenvolvimento


econômico e hegemonia do
grande capital – 1975/85..........................................................113
3.1 Crescimento e modernização da agricultura.............................116

3.2 Grande capital e diversificação da estrutura industrial............ 133

Capítulo 4

Crescimento econômico, urbanização


e dinamização do setor terciário...............................147

Apêndice Estatístico...................................................................161

Referências...........................................................................................167
Espírito Santo • Economia e Política 15

Lista de Tabelas

Tabela 1 Distribuição regional da renda interna e da população


residente, Brasil e Espírito Santo, 1949-1980, em %.................... 54

Tabela 2 Preço médio de exportação do café (verde e solúvel),


Brasil, 1945-1987 (US$/sacas de 60 kg)....................................... 61

Tabela 3 Número de cafeeiros plantados, Espírito Santo, 1940-1987......... 75

Tabela 4 Produção de café beneficiado (média trienal), Espírito Santo,


1942/44-1987 (sacas de 60 kg).................................................... 76

Tabela 5 Resultado da execução do Programa de Erradicação


dos Cafezais, 1962-1967................................................................ 78

Tabela 6 Participação relativa por estado no Programa


de Erradicação dos Cafezais........................................................... 79

Tabela 7 Percentual da população cafeeira e da área


cultivada com café atingidas pela erradicação............................... 79

Tabela 8 Estimativa do desemprego de mão de obra ocasionado


pelo Programa de Erradicação dos Cafezais,
Espírito Santo, 1962/67................................................................ 81

Tabela 9 Diversificação agrícola nas áreas liberadas pela execução


do Programa de Erradicação dos Cafezais, Jun/62 – Ago/66........ 83

Tabela 10 Lenha e madeira em toros extraídas de florestas nativas,


Espírito Santo, 1952/54 – 1987 (média trienal)........................... 87

Tabela 11 Índice de crescimento das exportações de madeira


segundo destino, Espírito Santo, 1935/37 – 1965........................ 87

Tabela 12 Participação relativa dos principais estados importadores


no total das exportações de madeira, Espírito Santo,
1935/37 – 1965............................................................................. 87

Tabela 13 Efetivo bovino e taxa anual de crescimento do


rebanho, Espírito Santo, 1950-1985............................................. 89

Tabela 14 Área e taxa anual de crescimento das pastagens,


Espírito Santo, 1950/1985............................................................ 89

Tabela 15 Atividades econômicas predominantes nos


estabelecimentos rurais, Espírito Santo, 1960/1985..................... 93

Tabela 16 Quantidade produzida das principais culturas agrícolas (média


trienal), Espírito Santo, 1945/47 – 1987/88 (toneladas)............. 94
16 Cafeicultura & Grande Indústria

Tabela 17 Área colhida1 das principais culturas agrícolas (média trienal),


Espírito Santo, 1945/47 – 1987/88 (hectares)............................. 94

Tabela 18 Rendimento médio das principais culturas agrícolas,


Espírito Santo, 1945/47 – 1987/88 (toneladas)........................... 95

Tabela 19 Taxa anual de crescimento do valor da produção da indústria


de produtos alimentares, Espírito Santo, 1959 – 1980............... 101

Tabela 20 Aplicações dos recursos do IBC/Gerca do Programa de


Diversificação Econômica das Regiões Cafeeiras,
Espírito Santo, 1967/70..............................................................104

Tabela 21 Indústria extrativa mineral por subgênero, Espírito Santo,


1949 -1980.................................................................................. 107

Tabela 22 Área de matas naturais e de reflorestamento,


Espírito Santo, 1960-1985........................................................... 119

Tabela 23 Área reflorestada incentivada por empresa


reflorestadora, Espírito Santo, 1989............................................120

Tabela 24 Produção de leite de vaca por região, Espírito Santo,


1975 – 1985 (mil litros)..............................................................126

Tabela 25 Preço médio da carne bovina, Espírito Santo, 1973 – 1989........126

Tabela 26 Evolução do número de máquinas agrícolas,


Espírito Santo, 1970 – 1985........................................................129

Tabela 27 Taxa anual de crescimento do número de tratores


e arados, Espírito Santo, 1960 – 1985.........................................129

Tabela 28 Evolução do uso de fertilizantes e defensivos agrícolas,


Espírito Santo, 1960-1985...........................................................129

Tabela 29 Estrutura fundiária – percentual de participação por


estrato de área no total, Espírito Santo, 1950-1985.................... 132

Tabela 30 Taxa anual de crescimento do valor da produção da indústria


de transformação, Espírito Santo, 1949 – 1980.......................... 134

Tabela 31 Participação relativa dos principais gêneros na formação


do valor bruto da produção da indústria de
transformação, Espírito Santo, 1949 – 1980............................... 135

Tabela 32 Indústria extrativa mineral e de transformação,


Espírito Santo, 1949 – 1980........................................................ 145

Tabela 33 População urbana e rural – comparação


Espírito Santo e Brasil, 1950 – 1980........................................... 150
Espírito Santo • Economia e Política 17

Tabela 34 População urbana e rural estimada,


Espírito Santo, 1980 – 1990........................................................ 151

Tabela 35 População urbana e rural estimada, Grande Vitória,


1980 – 1990................................................................................. 152

Tabela 36 População Economicamente Ativa por setores e


ramos de atividade, Espírito Santo, 1950 – 1980........................ 154

Tabela 37 Novos empregos criados, segundo setor e ramo


de atividade, Espírito Santo, 1950 – 1980................................... 155

Tabela 38 Taxas anuais de crescimento da PEA, Espírito Santo,


1950 – 1980................................................................................. 156

Tabela 39 PEA por setor e ramos de atividades, segundo


Microrregiões Homogêneas, Espírito Santo,
1970 – 1980 (Em porcentagem)................................................. 159

Apêndice Estatístico

TABELA 1 Quantidade produzida de algumas culturas agrícolas


emergentes - Espírito Santo – 1970 - 1988 (toneladas).............. 161

TABELA 2 Área de colheita de algumas culturas agrícolas


emergentes Espírito Santo – 1970 – 1988 (hectares).................. 162

TABELA 3 Rendimento médio de algumas culturas agrícolas


emergentes Espírito Santo – 1970 - 1988.................................... 162

TABELA 4 Relação das cinco principais indústrias mecânicas


produtoras de máquinas e equipamentos -
Espírito Santo – 1986.................................................................. 163

TABELA 5 Relação das oito principais indústrias de confecções -


Espírito Santo – 1986.................................................................. 163

Tabela 6 Usinas de álcool hidratado/anidro implantadas no


Espírito Santo – Dados gerais - 1986........................................... 164

Tabela 7 Usinas de pelotização de minério de ferro


existentes no Espírito Santo - Dados gerais................................. 165
18 Cafeicultura & Grande Indústria

Lista de Siglas e Acrônimos

Bandes – Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S/A


BNCC – Banco Nacional de Crédito Cooperativo S/A
Capes – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior
CBF – Companhia Brasileira de Ferro
Cepa-ES – Comissão Estadual de Planejamento Agrícola-ES
Cepal – Comissão Econômica para a América Latina
Civit – Centro Industrial de Vitória
Cobraice – Companhia Brasileira de Indústria e Comércio
Codes – Companhia de Desenvolvimento Econômico do Espírito Santo
Cofavi – Companhia Ferro e Aço de Vitória
Comleste – Comissão de Desenvolvimento Econômico do Médio-Leste
Coopnorte – Cooperativa Agropecuária do Norte do Espírito Santo
CST – Companhia Siderúrgica de Tubarão
CVRD – Companhia Vale do Rio Doce
DEE – Departamento Estadual de Estatística do Espírito Santo
DER-ES – Departamento de Estradas de Rodagem do Espírito Santo
DNOCS – Departamento Nacional de Obras Contra as Secas
Eletrobras – Centrais Elétricas Brasileiras S/A
Emater – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Espírito Santo
Emcapa – Empresa Capixaba de Pesquisas Agropecuárias
Escelsa – Espírito Santo Centrais Elétricas S/A
Findes – Federação das Indústrias do Espírito Santo
Frinorte – Frigorífico do Norte do Espírito Santo
Frisa – Frigorífico Rio Doce S/A
Fundec – Fundo de Diversificação Econômica da Cafeicultura
Funres – Fundo de Recuperação Econômica do Espírito Santo
Gerca – Grupo Executivo de Racionalização da Cafeicultura
Geres – Grupo Executivo para a Recuperação Econômica do Espírito Santo
Espírito Santo • Economia e Política 19

Ibama – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis


IBC – Instituto Brasileiro do Café
IBGE – Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Ideies – Instituto de Desenvolvimento Industrial do Espírito Santo
Logasa – Louças Gaggiato S/A
Petrobras – Petróleo Brasileiro S/A
Portobras – Portos Brasileiros S/A
Proálcool – Programa Nacional do Álcool
Probor – Programa da Borracha
Samarco – Samarco Mineração S/A
Sima-ES – Serviço de Informação do Mercado Agrícola
SNCR – Sistema Nacional de Crédito Rural
SPVEA – Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia
SPVERFSP – Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Região da
Fronteira Sudoeste do País
Sudam – Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia
Sudeco – Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste
Sudene – Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste
Sudhevea – Superintendência do Desenvolvimento da Borracha
Suframa – Superintendência do Desenvolvimento da Zona Franca de Manaus
Usiminas – Usina Siderúrgica Minas Gerais S/A
Espírito Santo • Economia e Política 21

Apresentação

Em nove anos de história, o Espírito Santo em Ação tem oferecido à


sociedade capixaba o resultado de todo o seu esforço, empenho e dedica-
ção. São projetos e ações que promovem o desenvolvimento do Estado, o
fortalecimento das instituições capixabas, a formação de novas lideranças
e, principalmente, que estimulam, em nós, o orgulho de viver no Espírito
Santo.

Hoje, você tem em suas mãos mais um fruto do nosso trabalho.


Trata-se do primeiro volume da coleção, um conjunto de estudos sobre um
importante período da história desenvolvimentista do nosso Estado. São
trabalhos profundos, produzidos e publicados por pesquisadores e acadê-
micos, sobretudo nas décadas de 1980-90, que serviram de referência para
a construção do pensamento político e econômico acerca da modernização
do nosso estado.

Nosso objetivo ao reeditar este primeiro volume - obra de dois im-


portantes economistas do nosso estado - é promover uma reflexão sobre o
processo de industrialização do Espírito Santo, seus impactos e as oportu-
nidades que surgiram a partir deste processo.

Na década de sessenta, com a erradicação dos cafezais, a economia


capixaba sofreu um enorme abalo. Como sabemos, o Estado tinha perdido
grande parte de sua principal atividade econômica e não havia alternativa
imediata para sua substituição. O Espírito Santo estava em crise. Vivíamos
22 Cafeicultura & Grande Indústria

um verdadeiro desastre econômico, fenômeno que ensejou uma reação em


busca de alternativas mais sólidas e sustentáveis para o seu desenvolvimento.

Foi este preocupante cenário que levou os empreendedores e as au-


toridades políticas capixabas a perceberam que, somente com as ações
articuladas e coordenadas, o Estado encontraria uma saída para a crise.
Daí surgiram os novos planos para o desenvolvimento do Espírito Santo,
sendo a atividade industrial o foco principal.

Os resultados desse novo modelo de desenvolvimento todos nós


sabemos: nossa economia cresceu, diversificou e se integrou fortemente
ao restante do Brasil. O Espírito Santo, hoje, é uma das economias que
mais cresce no país e é, sem dúvida, a economia mais internacionalizada
comparativamente aos demais estados brasileiros - se levarmos em conta
as entradas e saídas para o mercado mundial.

Muitas vezes, quem vive neste cenário moderno e atrativo, desconhe-


ce os fatos históricos que conduziram o Espírito Santo a um futuro tão
promissor, mas também desafiador. Esses acontecimentos, que têm suas
bases no processo de colonização brasileira, deixaram marcas claras no
desenvolvimento do Estado.

Ao ler este livro, você vai entender as profundas transformações vi-


vidas pela sociedade capixaba, a partir da década de 1960, e vai perceber
que a história que o Espírito Santo escreveu é marcada por desafios. Aliás,
esta é uma peculiaridade do nosso povo: vencer a falta de oportunidades e
transformar as ameaças em benefícios.

Boa leitura.

Alexandre Nunes Theodoro


Espírito Santo • Economia e Política 23

Introdução

A economia capixaba apresenta atualmente uma estrutura produtiva


bastante diversificada e predominantemente industrial. Essa é uma nova
realidade surgida e consolidada nas três últimas décadas, período em que
se verificou um vigoroso processo de expansão econômica e modernização
capitalista. As transformações econômicas decorrentes desse processo
conformaram uma economia com um novo perfil produtivo e alteraram
radicalmente o quadro de extrema dependência da atividade cafeeira, que
caracterizou a economia capixaba durante mais de um século.2

Efetivamente, desde meados do século XIX, a cafeicultura, em função


das vantagens econômicas que apresentava, tornou-se absorvedora dos re-
cursos econômicos disponíveis e assumiu a posição de principal atividade
produtiva da economia estadual. A expansão da cafeicultura e a consequente
inibição de outras lavouras submeteram a economia capixaba a elevado
nível de especialização e de dependência em relação à lavoura cafeeira.

Inicialmente, a cafeicultura se desenvolveu em grandes proprieda-


des, com base no trabalho escravo, e, embora tenha havido significativa
expansão da lavoura, as condições econômicas locais não permitiram que
a atividade tivesse grande dinamicidade, como ocorreu em outras regiões
cafeeiras do país.

2 O desenvolvimento da cafeicultura e a dinâmica da estrutura produtiva da agricultura no Espírito Santo no período de


1850 a 1960 foi tema de vários trabalhos nos últimos anos. Entre eles recomendamos, por seguirem a mesma linha
metodológica, os seguintes: de Rocha e Cossetti (1983); Morandi et al. (1984); Ferreira (1987); e de Almada (1984).
24 Cafeicultura & Grande Indústria

Após o fim da escravidão, a estrutura produtiva local transitou para


um sistema de pequena propriedade e de trabalho familiar. A cafeicultura
manteve o seu papel preponderante e passou a ser desenvolvida em pequena
escala de produção, de acordo com a disponibilidade de força de trabalho
das famílias dos pequenos proprietários e dos parceiros. A unidade pro-
dutiva era praticamente autossuficiente e tinha no café a sua quase única
cultura mercantil.

As condições em que operava a economia cafeeira tornavam relati-


vamente lento o ritmo de expansão da lavoura e travavam a acumulação
de capital, uma vez que as relações mercantis eram pouco desenvolvidas,
e a rentabilidade bastante reduzida, o que não possibilitava um nível ra-
zoável de concentração de capitais. Assim, embora a cafeicultura tenha
se expandido e mantido sua importância na economia estadual, ela não
provocou grandes transformações na estrutura produtiva local, dadas as
especificidades de sua dinâmica. Nos momentos de crise de superprodu-
ção e de queda dos preços do café, a economia capixaba, ao contrário do
que acontecia na região cafeeira de São Paulo, não apresentava mudanças
estruturais, nem realizava movimentos significativos de substituição de
culturas. As unidades produtoras, a despeito da brutal redução do nível de
renda advinda da queda dos preços do café, mantinham a lavoura cafeeira
e reforçavam a produção de subsistência de forma a compensar a redução
da compra de determinados produtos que adquiriam no mercado. Assim,
as unidades produtoras tornavam-se ainda mais autossuficientes, os fluxos
de comércio se reduziam e o processo de acumulação estagnava.

Essa estrutura produtiva e essa dinâmica muito particulares fizeram


com que, desde que se introduziu a cafeicultura no Espírito Santo (em me-
ados do século XIX), até a década de 1950, a economia capixaba não tivesse
grande dinamismo e se apresentasse altamente dependente da cafeicultura,
sem vislumbrar nenhuma alternativa de diversificação econômica.

O círculo vicioso e a situação de extrema dependência do café que ca-


racterizavam nossa economia só foram alterados durante a última grande
crise de superprodução e de preços, que afetou a cafeicultura nacional. Na
segunda metade da década de 1950, a sequência de supersafras determinou
a queda acentuada de preço, tal como já havia ocorrido em diversas ocasiões.
Contudo a política governamental de enfrentamento dessa crise cafeeira foi
Espírito Santo • Economia e Política 25

radicalmente diferente das que já haviam sido utilizadas nas crises anteriores.
Os órgãos federais responsáveis pela política cafeeira decidiram erradicar os
cafezais até que a capacidade produtiva e as safras colhidas se equiparassem
às necessidades do mercado consumidor. E, para viabilizar essa política, foi
estabelecida uma considerável indenização por cova erradicada.

Essa política, embora tenha causado uma grave crise social, resultou
numa significativa injeção de recursos na economia estadual, que buscou
aplicações alternativas. Associaram-se a isso outras políticas de incentivos
e financiamentos a atividades específicas, que possibilitaram viabilizar o
início de um processo de diversificação econômica.

Assim, a partir da crise cafeeira foi dada a partida num processo de


transformações econômicas que viria alterar profundamente a estrutura
produtiva da economia capixaba.

As três últimas décadas que foram palco dessas mudanças devem ser
subdivididas em dois subperíodos.

No primeiro, que cobre aproximadamente duas décadas, de meados


dos anos 1950 a meados dos anos 1970, o processo de acumulação foi
comandado pelos pequenos capitais locais, que, ajudados pelas políticas
estatais, lograram um bom nível de crescimento. Embora a cafeicultura tenha
enfrentado uma grave crise de preços e uma grande redução de capacidade
produtiva, a pecuária e a extração vegetal, ao lado dos gêneros tradicionais
da indústria de transformação, apresentaram grande dinamismo e elevadas
taxas de crescimento.

A fase recente do desenvolvimento econômico capixaba, que se verificou


a partir de 1974/75, caracterizou-se pela hegemonia do grande capital, que,
com raríssimas exceções, não era capixaba, mas nacional ou estrangeiro.
Nesse período, o setor agrícola estadual foi dominado por um intenso pro-
cesso de modernização capitalista decorrente do avanço da empresa rural
e das relações de assalariamento. O setor, em conjunto, apresentou uma
retomada do crescimento, particularmente derivada da expansão do café,
da cana-de-açúcar e da atividade de reflorestamento. Da mesma forma, o
setor industrial recebeu grandes investimentos, o que determinou alterações
substantivas na sua estrutura, com o surgimento e expansão de gêneros
mais dinâmicos e complexos.
26 Cafeicultura & Grande Indústria

Este trabalho analisa a economia capixaba justamente nessas três úl-


timas décadas, procurando mostrar de forma detalhada as mudanças que
conformaram a sua nova “face” e sua nova forma de inserção na economia
brasileira. No primeiro capítulo procura-se resgatar as transformações no
nível político-institucional, especialmente os determinantes da criação
do sistema de incentivos fiscais do Funres. O segundo capítulo trata da
crise da economia cafeeira e do desenvolvimento industrial no período de
1955/75. O terceiro capítulo corresponde ao período mais recente, cujas
características centrais estão na modernização da agricultura e diversifica-
ção da estrutura industrial comandada pelo grande capital. E, por fim, no
capítulo quatro, abordam-se, de forma breve, as relações existentes entre
o crescimento econômico havido no período considerado neste trabalho
e o processo acelerado de urbanização verificado nesse mesmo período no
Espírito Santo, e, relacionam-se ainda esses dois processos com a dinami-
zação do setor terciário.
Espírito Santo • Economia e Política 27

Espírito Santo
nos anos 1960 e 2010

1. INTRODUÇÃO

A reedição deste livro, Cafeicultura e Grande Indústria: a transição no


Espírito Santo 1955-1985, foi um sonho acalentado há vários anos, desde
que se esgotou sua primeira e única edição. À medida que os anos foram
passando, foi sendo reforçada a necessidade de uma nova edição, pois foi
crescente o uso do texto, especialmente em cursos universitários que mi-
nistram disciplinas sobre a realidade capixaba. Não faltaram palavras de
estímulo de professores, pesquisadores, empresários e políticos para essa
realização.

Isso veio a se tornar viável a partir do momento em que o Espírito


Santo em Ação, sob a inspiração de João Gualberto de Vasconcellos e do
ex-Governador Paulo Hartung, e sob a competente coordenação de Altier
Moulin, Gerente de Comunicação, decidiu implementar uma nova linha
editorial denominada Espírito Santo: economia e política.

Cafeicultura e Grande Indústria foi um dos títulos selecionados para


compor a nova coleção e recebeu o privilégio de ser o texto inaugural,
lançado no primeiro semestre de 2013.
28 Cafeicultura & Grande Indústria

O critério de escolha teve como base o conteúdo do livro, que examina


em detalhe os impactos da política nacional de erradicação dos cafezais e as
alternativas de desenvolvimento geradas nos anos 1960, e o momento con-
juntural que passa o Espírito Santo marcado por várias ameaças econômicas
a partir de decisões originárias do contexto econômico e político nacional.

Há semelhanças e diferenças entre os dois momentos conjunturais.


Um olhar sobre a história capixaba neste momento pode ser muito útil no
sentido de fornecer inspiração e pistas estratégicas para o enfrentamento
dos novos desafios que se apresentam aos capixabas.

Pode-se resgatar dos anos 1960, como elementos positivos do enfren-


tamento da crise econômica, social e política, quatro linhas de ação, que
foram por demais evidenciadas: a união de esforços das elites política e
empresarial em nível estadual; a mobilização para a implantação e a mo-
dernização da infraestrutura econômica adequada a novos investimentos;
a criação/modernização das instituições públicas voltadas para o apoio ao
desenvolvimento; e a criação de fundos de financiamento do setor público
e dos investimentos privados (Funres e Fundap).

Como forma de colocar em evidência as semelhanças e as diferenças


entre os dois momentos históricos, resolvemos elaborar este texto espe-
cificamente para a 2ª edição. Esperamos, assim, contribuir para elevar a
autoestima dos capixabas e para identificar novos caminhos para o desen-
volvimento estadual nas próximas décadas.

2. A CRISE DOS ANOS 1960 E AS ESTRATÉGIAS


DE ENFRENTAMENTO ADOTADAS PELOS
CAPIXABAS

É interessante frisar, de antemão, que ao longo da história do Espírito


Santo, os capixabas foram confrontados, em alguns momentos cruciais,
por fatores externos e alheios à sua dinâmica interna, sem que estivesse
preparado para recebê-los, que provocaram verdadeiras mudanças no rumo
da economia e da sociedade.
Espírito Santo • Economia e Política 29

Nos três séculos do período colonial, o Espírito Santo foi mantido à


margem do desenvolvimento brasileiro, tendo, inclusive, perdido grande
parte do seu território original e isolado, ao longo do século XVIII, dos
possíveis impactos positivos da mineração no Estado de Minas Gerais por
orientação da Coroa Portuguesa a seus representantes no Brasil, que impediu
a abertura de vias de transporte ligando o Espírito Santo a Minas Gerais.
Dessa forma, todo o fluxo de minerais destinado à Metrópole europeia foi
direcionado para o Rio de Janeiro.

Ao longo do período imperial, no século XIX, e da primeira república,


no século XX, a realidade de profundo atraso econômico foi sendo gra-
dativamente alterada com o povoamento realizado em grandes unidades
produtivas escravocratas e em pequenas propriedades familiares constituídas
a partir da colonização europeia. A cafeicultura, atividade econômica de
maior relevância nacional, propiciou a formação de uma base econômica
no Espírito Santo, em contínua, ainda que lenta, expansão.

A marcha do café, ao longo de um século, foi gradativamente ocu-


pando o solo capixaba, do sul para o norte, criando centros urbanos em
seu interior, construindo uma infraestrutura adequada à atividade cafeeira,
como as estradas de ferro e o porto de Vitória, e moldando uma estrutura
produtiva de comércio e de serviços que serviam como apoio à dinâmica
do café.

Assim, o estado chegou aos meados do século XX com forte dependên-


cia da atividade cafeeira. Em 1960, o PIB estadual apresentava a seguinte
composição: 41,8% gerado pela agropecuária e pesca, 5,3% pelo setor
industrial e 52,9% pelo setor terciário. Neste mesmo ano, a cafeicultura
empregava 55% da população economicamente ativa capixaba e gerava 22%
da renda estadual. Por outro lado, o beneficiamento de café representava,
aproximadamente, 17% do valor da produção industrial e o ICMS café
respondia por 62% da receita pública estadual. Além desta atividade, as
pequenas propriedades rurais, que se tornaram predominantes, e os parceiros
desenvolviam outras atividades rurais produtoras de alimentos básicos, tais
como milho, feijão, pecuária leiteira, criação de pequenos animais, etc. O
comércio exterior tinha como base as exportações de café e de minério de
ferro, esta última atividade iniciada em 1945 e com boas perspectivas de
expansão a partir da inauguração do Porto de Tubarão, em 1966.
30 Cafeicultura & Grande Indústria

A infraestrutura de estradas de rodagem era muito precária e o abas-


tecimento energético insuficiente para suportar um processo de desenvol-
vimento mais complexo, com base no crescimento das cidades e do setor
industrial. Em 1960, quase ¾ (71,6%) da população capixaba ainda vivia
e trabalhava no campo.

De qualquer forma, a sociedade e a economia estadual se transforma-


vam de forma lenta e em condições de relativo equilíbrio.

Um problema nacional e a sua política de enfrentamento vieram al-


terar profundamente as condições de funcionamento e de reprodução da
economia e da sociedade capixabas.

Os preços do café, principal produto gerador de divisas para o país,


sofreram forte redução no mercado internacional, gerando grave desequi-
líbrio no balanço de pagamentos. Os preços médios do café verde e solúvel
passaram de U$S 86,83, em 1954, para U$S 38,27, em 1963, representando
uma redução de 56%. O governo federal, a partir de um diagnóstico de
queda dos preços por excesso de oferta, decidiu implementar uma política
cafeeira jamais adotada em qualquer outra época, em mais de um século
de desenvolvimento da cafeicultura brasileira. Assim, o Instituto Brasileiro
do Café - IBC - adotou, como um dos pilares dessa política, a erradicação
dos cafezais antieconômicos ou de menor produtividade, e criou um órgão
específico para implementá-la, o Grupo Executivo de Racionalização da
Cafeicultura - Gerca.

No Brasil, entre junho de 1962 e maio de 1967, foram erradicados


32,0% dos cafeeiros existentes e 30,5% da área ocupada com plantações
de café. O Espírito Santo foi o estado mais atingido, pois teve 53,8% dos
cafeeiros erradicados e 71,0% da área plantada liberada. No meio rural ca-
pixaba esta política resultou no desemprego direto de aproximadamente 60
mil pessoas e na precarização das condições de vida de 240 mil capixabas,
aproximadamente 25% da população rural de 1960. Nos outros setores da
economia, como comércio, serviços de exportação, atividade industrial,
receita pública, etc., o impacto deu-se de dupla forma, tanto pela queda dos
preços como pela redução de volume do café produzido e comercializado.

A economia estadual foi profundamente abalada com a política federal


de erradicação dos cafezais, pela forma radical e pela rapidez de sua imple-
Espírito Santo • Economia e Política 31

mentação. É importante destacar que já se formava uma consciência política


regional de que a extrema dependência da cafeicultura tornava a economia
capixaba vulnerável e sem perspectivas de crescimento e diversificação. Em
1952, o Governador Jones dos Santos Neves advertia que os galhos dos
cafezais eram frágeis demais para sustentar nossos sonhos de progresso.

Pois bem, entre 1966 e 1967, realizou-se o grande movimento de


destruição da capacidade produtiva da agricultura cafeeira. Mas até aquele
momento não haviam sido desenvolvidas outras atividades econômicas,
seja no meio rural ou na área industrial, capazes de compensar a regressão
do café e abrir outras frentes de desenvolvimento.

O Espírito Santo encontrava-se numa encruzilhada. Havia perdido


boa parte de sua principal atividade econômica e não tinha atividades
substitutas com a mesma capacidade de geração de emprego e renda. A
pergunta que se fazia era: como superar a grave crise?

Algumas respostas fundamentais foram dadas naquela conjuntura.


Por um lado, tornou-se claro para as elites políticas e empresariais que a
gravidade da crise demandava união política e ação coordenada. Assim
foi que, o Governo do Estado, a Federação das Indústrias e a Federação do
Comércio, somaram esforços, numa ação conjunta, para a elaboração de
diagnósticos precisos da situação econômica e social e, ao mesmo tempo,
para a formulação de novas estratégias de desenvolvimento. Concluiu-se,
acompanhando a grande tendência da economia brasileira, pela priorização
do desenvolvimento da atividade industrial no Espírito Santo. Mas havia
obstáculos a serem inicialmente superados.

O primeiro era a precária infraestrutura que não condizia com as


necessidades que seriam derivadas das atividades industriais, ligadas espe-
cialmente aos meios de transporte e às fontes energéticas. O segundo era
a quase inexistência de capitais privados acumulados ao longo dos anos
anteriores, passíveis de serem investidos nas atividades industriais, e a falta
de uma estrutura bancária capaz de aportar recursos a custos competitivos
para investimentos produtivos de longo prazo de maturação. Havia, por
assim dizer, uma deficiente infraestrutura de transportes e energia e uma
escassez de poupança para financiar os investimentos industriais a serem
realizados.
32 Cafeicultura & Grande Indústria

O desafio da infraestrutura já vinha sendo enfrentado desde o período


do Plano de Metas, principalmente a partir de investimentos públicos em
produção e distribuição de energia elétrica e nas principais vias de trans-
porte, as BR’s 101 e 262 e o Porto de Vitória. Nos anos que se seguiram
importantes obras foram concluídas.

O segundo desafio enfrentado foi a estruturação de fontes de financia-


mento para viabilizar os investimentos industriais. Naquela época era difícil
pensar em fontes privadas, a não ser de origem externa, pois a economia
brasileira não havia criado ainda as condições objetivas de viabilidade de
financiamento de longo prazo por parte dos bancos privados. Assim, passou-
-se a estruturar fontes públicas de financiamento voltadas para o apoio aos
investimentos privados em agroindústrias e na indústria em geral.

Inicialmente, como forma de compensação aos estados produtores


de café, foi criado, na esfera federal e implementado pelo IBC/Gerca, no
período 1967/1969, o Programa de Diversificação Econômica das Regiões
Cafeeiras, com o objetivo de apoiar com financiamento subsidiado a im-
plantação e/ou ampliação de agroindústrias e a formação de infraestrutura,
de forma a criar as condições para a diversificação econômica. Para gerir
os recursos deste fundo, o Governo Estadual criou, em 1967, a Companhia
de Desenvolvimento Econômico do Espírito Santo – Codes.

Paralelamente, as elites políticas e empresariais locais desenvolveram


várias ações visando a estruturar fontes de financiamento duradouras a
partir da constituição de fundos compostos com recursos oriundos de re-
núncia fiscal federal e, principalmente, estadual. Depois de muitas gestões
e negociações políticas mal sucedidas junto ao Governo Federal, enfim,
em 1969 foi constituído o Grupo Executivo de Recuperação Econômica do
Espírito Santo - Geres - e o Fundo de Recuperação Econômica do Espírito
Santo - Funres, o primeiro como órgão gestor do segundo, que era um
fundo de incentivos fiscais, composto com deduções do Imposto de Renda
e do Imposto de Circulação de Mercadorias. Os recursos do Funres eram
destinados à aplicação, sob a forma de participação societária, em novos
investimentos, sobretudo industriais. Em sequência à criação do Funres,
foi constituído, em 1970, em nível estadual, o Fundo de Desenvolvimento
das Atividades Portuárias – Fundap, fundo de financiamento composto por
recursos do ICMS oriundos de atividades de importações não tradicionais.
Espírito Santo • Economia e Política 33

Este fundo visava a dinamizar o comércio exterior e a otimizar o uso da


infraestrutura portuária, que até então era usada apenas para realização de
exportações e passaria a ser utilizada também no incremento das impor-
tações, gerando, assim, movimentação de cargas, empregos e renda, além
de novos investimentos em logística.

A implementação destes dois fundos financeiros, um destinado à


participação societária em novos empreendimentos e outro a financiar as
atividades de comércio exterior, exigiu que a Codes fosse transformada no
Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S/A – Bandes, estrutura mais
complexa e adequada à operacionalização dos dois fundos.

Portanto, à crise de preços do café e à política federal de erradicação


dos cafezais, o Espírito Santo reagiu com a união de ações das elites políticas
e empresariais, com a captação de recursos federais na área de logística e
de energia, com a modernização da estrutura de gestão pública estadual,
especialmente com a criação da Codes/Bandes, e com a constituição de
dois fundos financeiros voltados para o apoio aos investimentos privados
nas atividades agroindustriais, industriais e de comércio exterior.

Nas cinco décadas que se seguiram o Espírito Santo passou por uma
grande transformação econômica e social. A sociedade e a economia estadual
do início da segunda década do século XXI são completamente diferentes
do Espírito Santo de meio século atrás. Neste mesmo período, realizou-se,
também, o processo de globalização, suportado, sobretudo, pela evolução
e aplicação das tecnologias da microeletrônica em todas as atividades hu-
manas, pela multiplicação das relações financeiras e pela revolução nos
meios de transportes e nos sistemas de logística. O Espírito Santo mudou, o
Brasil mudou e o mundo mudou. Os desafios de hoje são qualitativamente
diferentes dos desafios de cinco décadas atrás.

3. AS MUDANÇAS SOCIAIS E ECONÔMICAS


DE CINCO DÉCADAS – 1960/2010

Os dados populacionais fornecem uma primeira visão da magnitude


da transformação porque passou o Espírito Santo. De 1960 para 2010, a
34 Cafeicultura & Grande Indústria

população cresceu 147,8%, tendo passado de 1.418.348 para 3.514.952. A


população rural foi reduzida em 45,5%, tendo sido de 1.014.887, em 1960,
e 583.480, em 2010. A população urbana, por outro lado, teve um cresci-
mento explosivo de 626,6%, tendo passado de 403.461 para 2.931.472. Se
em 1960 a população rural constituía a ampla maioria, 71,6%, em 2010
este quadro se inverteu completamente, representando a população urbana
83,4% da população total.

TABELA 1 - E
 spírito Santo: População Residente por Situação de Domicílio e
Metropolitana - 1960-2010
1960 1970 1980 1991 2000 2010
População total 1.418.348 1.599.324 2.023.338 2.600.618 3.097.232 3.514.952
Urbana % 28,4 45,1 66,8 74,0 79,5 83,4
Rural % 71,6 54,9 33,2 26,0 20,5 16,6
Região Metropolitana da Grande Vitória
População total 216.274 418.273 753.959 1.136.842 1.438.596 1.687.704
% no ES 15,2 26,2 37,3 43,7 46,4 48,0
Municípios
Vila Velha 55.587 123.742 203.401 265.586 345.965 414.586
Serra 9.192 17.286 82.568 222.158 321.181 409.267
Cariacica 39.608 101.422 189.099 274.532 324.285 348.738
Vitória 83.351 133.019 207.736 258.777 292.304 327.801
Guarapari 14.861 24.105 38.500 61.719 88.400 105.286
Viana 6.565 10.529 23.440 43.866 53.452 65.001
Fundão 7.110 8.170 9.215 10.204 13.009 17.025
Fonte: IBGE (1949-1980, 1951, 1967, 1973, 1991, 2000, 2010).

Esta dinâmica demográfica, como reflexo das mudanças econômicas


ocorridas ao longo das cinco décadas, gerou um intenso processo de con-
centração populacional na Região Metropolitana da Grande Vitória, cujas
taxas médias geométricas de crescimento anual foram sistematicamente
superiores à média estadual e com diferenças marcantes. Segundo dados do
IBGE e cálculos do IJSN, entre 1960 e 1970, a população da RMGV cresceu
à taxa de 6,8% ao ano, contra 2,1% para o Espírito Santo. Entre 1970 e
1980, esses índices foram de 6,07% e de 2,38%, respectivamente. Nas três
décadas seguintes houve substancial redução das taxas de crescimento da
população metropolitana, mas ainda assim se mantiveram superiores às
taxas médias estaduais. Entre 1980 e 1991 as taxas de crescimento foram,
respectivamente, de 3,8% e 2,31%. No período 1991/2000 se reduziram
para 2,65% e 1,96% e na última década (2000/2010) passaram a 1,61%
Espírito Santo • Economia e Política 35

e 1,27%. Estes dados revelam uma situação animadora que é o menor


ritmo de crescimento populacional do estado e principalmente da Região
Metropolitana, havendo uma tendência de convergência de suas taxas. De
qualquer forma o crescimento da população nas últimas cinco décadas fez
com que a RMGV, que abrigava 15,2% da população estadual, em 1960,
passasse, em 2010, a 48,0% da população total do estado. Estamos assim
diante de uma metrópole de tamanho médio que apresenta problemas
urbanos e sociais de significativa complexidade.

De fato, o projeto de desenvolvimento formulado nos anos 1960 de


diversificação/modernização econômica sob a liderança do setor industrial
foi muito bem sucedido. O PIB capixaba ao longo de cinco décadas cresceu
acima do PIB brasileiro.

TABELA 2 - T
 axa média de crescimento do PIB, ES e BR - 1960-2009
1960/70 1970/80 1980/90 1990/00 2000/06 2002/09
Espírito Santo 8,1 11,5 2,9 3,9 5,3 3,8
Brasil 7,7 10,3 2,0 2,4 3,7 3,4
Fonte: Elaboração de Sávio Caçador a partir de dados do Ipeadata (2009b) e IJSN.

A composição do PIB estadual evidencia o tamanho da transformação.


O setor primário (agropecuária e pesca) respondia por 41,8% do PIB, em
1960, e, em 2009, passou a 6,8%. O setor secundário (indústria) passou
de 5,3 para 29,8%. O setor terciário (comércio e serviços) passou de 52,9%
para 63,5%.

TABELA 3 - E
 spírito Santo: Composição Setorial do PIB - 1960-2009
Setores 1960 1970 1980 1990 2000 2002 2009
Agropecuária e pesca 41,8 20,8 14,7 6,0 8,8 8,2 6,8
Indústria 5,3 13,2 36,2 36,4 37,1 31,8 29,8
Comércio e serviços 52,9 66,1 49,1 57,6 54,1 60,1 63,5
Fonte: Elaboração de Sávio Caçador a partir de dados do Ipeadata e IJSN (2002 e 2009).

O Espírito Santo teve, portanto, uma forte mudança estrutural. Transi-


tou de uma sociedade rural/agrícola para uma sociedade urbana/industrial.

O setor primário teve sua participação reduzida em função do forte


crescimento industrial e dos serviços. Mas a agropecuária estadual não
andou para trás, ao contrário, passou por dinâmico processo de diversifica-
ção de culturas e de melhoria de produtividade. O café continua sendo sua
36 Cafeicultura & Grande Indústria

principal atividade, pois superada a crise dos anos 1960 houve a retomada
do plantio, sobretudo do café conilon, e sucederam-se safras recordes, res-
pondendo, atualmente por 41% do PIB agrícola estadual. O Espírito Santo,
no início dos anos 1960, era o quarto maior produtor nacional, tendo tido
como safra recorde 2,3 milhões de sacas. Nos últimos anos, o Espírito Santo
ascendeu ao posto de segundo maior produtor e em 2011 respondeu por
27% da produção nacional, tendo tido a maior safra de sua história, 11,5
milhões de sacas, sendo 2,7 milhões de sacas de café arábica (1 milhão de
sacas de café de alta qualidade) e 8,8 milhões de sacas de conilon. Em 1965,
a área ocupada com café era de aproximadamente 420 mil/ha e, em 2011,
a área foi ampliada para 450 mil/ha, o que indica que a produtividade teve
um aumento de 400%, tendo passado de 5,5 para 25,5 sacas por hectare.
Esta evolução se deu principalmente em função do desenvolvimento, pelo
Incaper, de espécies mais produtivas e da disseminação de tecnologia junto
aos produtores rurais.

O café no Espírito Santo sempre foi uma atividade em expansão,


com a única exceção dos anos sessenta quando houve a erradicação dos
cafezais e a consequente queda das safras subsequentes. Desde meados
da década de 1840, quando se iniciou o plantio de café no Espírito
Santo, até os dias atuais, a cafeicultura sempre se expandiu, uma vez
que se constitui em uma das melhores fontes de renda para os pequenos
produtores rurais.

Também a tradicional pecuária estadual, leiteira e de corte, passou


um processo de modernização, embora em menor escala que a cafeicultu-
ra. Outras atividades foram introduzidas e desenvolvidas, como é o caso
da cana de açúcar, fruticultura (abacaxi, banana, coco, goiaba, manga,
maracujá, morango, uva, etc.), avicultura e silvicultura, principalmente o
plantio de eucalipto.

O setor industrial foi onde ocorreu a maior mudança. Foi significati-


vo o crescimento da indústria extrativa (extração de rochas ornamentais,
pelotização de minério de ferro e extração de petróleo e gás natural), dos
serviços industriais de utilidade pública (energia elétrica e abastecimento
d’água/saneamento) e da indústria da construção civil. Na indústria de
transformação, tanto os segmentos tradicionais, processadores de matérias
primas locais e produtores de bens de consumo, como novos segmentos
Espírito Santo • Economia e Política 37

produtores de commodities para exportação, apresentaram forte crescimen-


to. O Espírito Santo se especializou, no contexto nacional, na produção e
exportação de commodities, a saber: café verde, rochas ornamentais, placas
e chapas de aço, minério de ferro, pellets de minério de ferro, celulose de
eucalipto e, nos últimos anos, em óleo bruto de petróleo.

O setor terciário (comércio e serviços) também ampliou sua parti-


cipação no PIB basicamente por dois motivos. O acelerado processo de
urbanização levou ao crescimento destas atividades nos meios urbanos para
atendimento direto à população consumidora e também se desenvolveram
os serviços ligados ao comércio exterior, tais como os serviços portuários,
transportes de cargas, serviços financeiros, etc.

Nos anos 1960 e 1970, o sistema de incentivos fiscais administra-


do pelo Geres teve importante papel na viabilização dos investimentos
industriais dos segmentos industriais tradicionais. Mas, paralelamente a
isto, foram realizados os investimentos nas grandes plantas industriais
com capitais oriundos do Estado brasileiro e de grupos internacionais,
cabendo destacar a implantação das unidades de pelotização da Vale, em
associação com empresas estrangeiras; a planta de celulose da Fíbria,
controlada por grandes grupos nacionais; das unidades de pelotização da
Samarco, controlada pela Vale e por um grupo estrangeiro; e da unidade
de placas e chapas de aço da ArcelorMittal Brasil, controlada pelo maior
grupo siderúrgico do mundo.

O Sistema Fundap teve um desempenho modesto nas décadas de 1970


e 1980, pois as importações no Brasil ainda eram submetidas a rigoroso
controle administrativo e a elevadas tarifas, mecanismos de proteção ado-
tados com forma de garantir o mercado doméstico à produção nacional.
Nos anos 70 a média de arrecadação anual do sistema foi de 20,7 milhões
de dólares, valor que pouco se expandiu na década de 80 quando foi de
23,7 milhões de dólares.

Nas duas últimas décadas o sistema Fundap apresentou um signi-


ficativo crescimento e as importações assumiram um papel grande rele-
vância no desenvolvimento estadual, com a multiplicação das atividades
de comércio exterior e a construção de uma rede logística de suporte às
suas operações.
38 Cafeicultura & Grande Indústria

TABELA 4 - E
 spírito Santo: Arrecadação de ICMS Fundap (Importações) - 1971/2000
(US$ mil)
Ano Valor Ano Valor Ano Valor
1971 1.336,8 1981 45.531,7 1991 50.938,0
1972 7.308,7 1982 33.063,5 1992 55.933,2
1973 13.737,2 1983 18.513,0 1993 59.616,3
1974 19.624,9 1984 16.766,5 1994 245.649,6
1975 9.344,2 1985 8.069,0 1995 535.280,9
1976 13.516,8 1986 8.923,2 1996 431.606,2
1977 13.773,6 1987 19.625,6 1997 658.912,9
1978 16.705,6 1988 19.899,8 1998 521.505,3
1979 41.890,9 1989 32.229,9 1999 301.755,0
1980 70.570,8 1990 34.419,5 2000 380.165,4
Média Anual 20.781,0 Média Anual 23.704,2 Média Anual 324.136,3
Fonte: Os valores do ICMS - FUNDAP, no período 1971-1993, foram extraídos Pereira (1998). Os demais
dados foram calculados por Sindicato do Comércio de Exportação e Importação do Estado do Espírito
Santo [2000?].

Na década de 1990 o valor anual médio da arrecadação do Fundap


passou a 324,1 milhões de dólares, quase treze vezes maior que na década
anterior. O bom desempenho no período mais recente se deu em função
de mudanças na política econômica e nas relações da economia brasileira
com a economia global, que possibilitaram uma significativa expansão do
comércio exterior brasileiro (exportações e importações), cabendo desta-
car: a partir de 1990, a abertura econômica e a liberalização comercial; de
1994 a 1999 com o Plano Real e a paridade cambial de R$ 1 por US$ 1; e
nos anos mais recentes, a valorização do Real frente ao dólar em virtude
da boa performance da economia brasileira numa realidade global de ex-
pansão acelerada dos países emergentes e crise dos países desenvolvidos.
Nestes três momentos conjunturais, as condições econômicas brasileiras
foram amplamente favoráveis às importações, o que possibilitou um ex-
traordinário crescimento das operações realizadas com o apoio do sistema
Fundap, que financiava as empresas importadoras e viabilizou o aumento
em grande escala do volume de transações através dos portos capixabas.
Estima-se que o complexo de comércio exterior instalado no Espírito Santo
seja constituído por 500 empresas operadoras, que empregam de forma di-
reta aproximadamente 50 mil trabalhadores, sendo muitos especializados,
e responda pela geração de 7% do PIB estadual.

Na primeira década do século XXI, a atividade de prospecção, extra-


ção e processamento de petróleo e gás natural, que foi iniciada no Espírito
Espírito Santo • Economia e Política 39

Santo em 1957 e teve a descoberta de seu primeiro campo com produção


comercial em 1969, sofreu um grande impulso com novas descobertas na
plataforma continental, inclusive na camada do pré-sal. Segundo a Agência
Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis - ANP as reservas
totais de petróleo no Brasil atingiram, em fins de 2010, um total de 28,5
bilhões de barris, sendo que as do Espírito Santo atingiram 2,7 bilhões, o
equivalente a 9,5% do total e a segunda maior reserva brasileira, só superada
pelo Rio de Janeiro, que responde por 82,9% das reservas com 23,6 bilhões
de barris. Também em gás natural, o Espírito Santo tem uma posição de
destaque, pois detém a terceira maior reserva (13% das reservas nacionais),
atrás do Rio de Janeiro e do Amazonas.

O Espírito Santo já se destaca também na produção de hidrocarbone-


tos, ocupando a segunda posição em petróleo e em gás natural. Segundo
a ANP, em fevereiro de 2012 o Rio de Janeiro produziu 74,6% do total
nacional de 2,2 milhões de barris por dia, enquanto o Espírito Santo, em
segundo lugar, produziu 10,8% ou 343 mil barris/dia. Em gás natural, o
estado produziu 10,8 milhões de m³, o equivalente a 16,1% da produção
nacional de 67,1 milhões de m³.

A indústria do petróleo e gás é uma nova realidade emergente, que


apresenta boas perspectivas de crescimento nas próximas décadas, consti-
tuindo-se no mais importante vetor de crescimento da economia estadual.

Esta mudança estrutural que passou a sociedade e a economia do


Espírito Santo no curto espaço de tempo de cinco décadas, se por um lado
mostrou grande dinamismo econômico, por outro foi causadora de graves
problemas sociais.

O acelerado crescimento e a grande movimentação de população, por


meio de fluxos migratórios do interior e dos estados vizinhos para o espaço
urbano, formaram rapidamente um grande centro urbano marcado por sérios
problemas sociais e urbanos. A Região Metropolitana da Grande Vitória,
composta pelos municípios de Cariacica, Fundão, Guarapari, Serra, Viana,
Vila Velha e Vitória, teve sua população aumentada em 950% entre 1960
e 2010, pois passou de 169.647 para 1.687.704 habitantes, representando
48% da população estadual em 2010. Do meio rural e de cidades do interior
capixaba veio aproximadamente um terço do contingente populacional da
40 Cafeicultura & Grande Indústria

Grande Vitória e de outros estados brasileiros também se formaram fluxos


migratórios de relevância, que se dirigiram ao estado, atraídos pela possi-
bilidade de emprego nos grandes empreendimentos industriais.

Assim, constituiu-se uma metrópole de porte médio num curto espaço


de tempo, criando-se uma aglomeração de pessoas que deixaram as suas
raízes sociais nos seus locais de origem, no interior do estado ou em outras
localidades de estados vizinhos, especialmente, Minas Gerais, Bahia e Rio
de Janeiro. O afastamento de suas raízes e a inserção em novas regiões de
domicílio da Região da Grande Vitória levou à formação de uma nova so-
ciedade sem relações estruturadas e de baixa solidariedade social. Somava-se
a isto a falta de emprego para todos e as carências sociais decorrentes da
falta de renda mínima para suportar as necessidades básicas de cada família.
Destas condições resultaram vários problemas sociais, tais como: habitações
inadequadas, condições precárias de saneamento, de transporte coletivo e
de atendimento à saúde, além da educação pública com oferta insuficiente e
de baixa qualidade. Instalou-se, também, um ambiente propício à violência
e ao comércio e consumo de drogas de forma descontrolada e disseminada.

Ao longo das décadas de 1960, 1970 e 1980, o conglomerado urbano


foi se expandindo e os problemas sociais se multiplicando. Com o resta-
belecimento da democracia no país, a partir de 1982, e com as eleições de
governadores e de prefeitos em 1984, formou-se o ambiente propício para
que, por meio do voto popular, indivíduos e redes criminosas pudessem
acessar o Poder Político no Executivo e principalmente no Legislativo. A
partir da ocupação estratégica destas posições, os tentáculos do crime or-
ganizado foram expandidos para o Poder Judiciário, o Ministério Público
e o Tribunal de Contas. Na década de 1990 até 2002 o Espírito Santo teve
suas instituições públicas submetidas ao crime organizado e mergulhado
nos desmandos e na corrupção. Foram anos difíceis e de muita angústia
para a população.

As instituições públicas foram desestruturadas e perderam eficácia


em suas ações e a qualidades dos serviços públicos essenciais, de saúde,
educação e segurança pública, foram deterioradas penalizando a maioria
da população de baixa renda, que deles é usuária.
Espírito Santo • Economia e Política 41

As rápidas mudanças econômicas e sociais trouxeram também im-


pactos negativos para o meio ambiente. Os serviços de saneamento básico
(drenagem, abastecimento de água e coleta/tratamento de esgoto) não
acompanharam a urbanização, áreas de risco com alta declividade e de
proteção ambiental e os mangues foram ocupados com submoradias, a
poluição do ar por partículas em suspensão se tornou um problema coti-
diano de grandes dimensões e a coleta e disposição dos resíduos sólidos se
tornaram desafios de crescente magnitude.

4. A SUPERAÇÃO DOS PROBLEMAS TRAZIDOS


PELA URBANIZAÇÃO ACELERADA, O
CRESCIMENTO INDUSTRIAL E O CONTROLE
DO ESTADO PELO CRIME ORGANIZADO

A abertura do século XXI se deu com um cenário de amplas possi-


bilidades de crescimento das principais atividades econômicas estaduais,
mas que, por outro lado, apresentava graves problemas sociais e precárias
condições de vida de significativo contingente da população, sobretudo
população localizada na periferia dos centros urbanos. Agregava-se a este
cenário dual o domínio das instituições públicas pelo chamado crime
organizado e por relações corrompidas entre agentes públicos e privados,
que drenavam os crescentes recursos públicos para alimentar os canais
da corrupção, reduzindo a capacidade do setor público de realização de
investimentos em infraestrutura e de provimento à população de baixa
renda de serviços públicos essenciais de qualidade, sobretudo saneamento
básico, saúde, educação e segurança pública.

O desânimo da população era muito grande. A autoestima do capixaba


encontrava-se em baixa. Parecia impossível superar aquele estado de coisas,
especialmente o domínio do aparelho de Estado pelo crime organizado.
Mas, a sociedade capixaba, mais uma vez, deu mostras de sua capacidade
de superar dificuldades. Apenas que, nesta conjuntura, se tratava de supe-
rar problemas de natureza política e social, pois a economia desde quatro
décadas anteriores vinha demonstrando capacidade continuada de cresci-
42 Cafeicultura & Grande Indústria

mento e o cenário para a primeira década do século XXI era extremamente


animador, sobretudo tendo em vista o crescimento dos países emergentes,
grandes importadores de commodities, e a descoberta e exploração de
petróleo e gás natural.

A tarefa primeira a ser realizada era o resgate do aparelho de Estado


do controle do crime organizado e a consequente adoção de critérios éticos
na gestão pública. Assim, seria possível restabelecer o controle sobre as
finanças públicas, resgatar a capacidade de investimento, estruturar polí-
ticas sociais em favor da população de menor nível de renda, retomar os
investimentos em infraestrutura e estabelecer um ambiente ético e favorável
ao investimento privado.

Esta superação dependia de amplo pacto social e político que unifi-


casse as ações das mais diversas forças sociais, ou seja, lideranças políticas
comprometidas com a ética, lideranças empresariais, lideranças religiosas,
lideranças dos trabalhadores e lideranças populares. Vale dizer, era preciso
uma ampla união da população estadual.

Este pacto foi sendo construído gradativamente nos primeiros anos do


século XXI e em 2002 foi consolidado na eleição de governador. Conquis-
tado o Governo, ao longo da década foi posta em prática uma estratégia
gradual e continuada de resgate dos órgãos públicos para uma gestão ética
e eficaz na prestação de serviços à população. Assim, foi possível reforçar
as relações de confiança da população no Governo e nos diversos órgãos
públicos. Por outro lado, num processo combinado de acelerado crescimen-
to econômico, a partir de volumosos investimentos públicos e privados, e
de mecanismos de melhoria da distribuição de renda, como o Programa
Bolsa Família, a recuperação do valor do salário mínimo e a expansão da
oferta e melhoria da qualidade dos serviços públicos essenciais, foi possível
reduzir os níveis de indigência e de pobreza de ampla parcela da população.
Houve significativa redução das desigualdades sociais como decorrência do
aumento da renda familiar em todos os segmentos sociais, sendo que entre
2003e 2009 o índice de indigência no estado se reduziu de 9,1% para 3,6%
e o índice de pobreza de 29,4% para 15,0%.

A capacidade de investimento do setor público é outra importante con-


quista dos últimos anos. Segundo dados da Secretaria Estadual da Fazenda
Espírito Santo • Economia e Política 43

em 2003 o estado investiu R$ 108,9 milhões, o equivalente a 2,1% do seu


orçamento, e em 2010 houve R$ 1.593,1 bilhão de investimento, o que
representou 13,4% da receita estadual. Da mesma forma e em proporções
semelhantes os municípios tiveram suas receitas e capacidades de investi-
mentos ampliadas. Segundo a revista Finanças dos Municípios Capixabas
(Aequus, 2004 e 2010), o investimento do conjunto dos municípios passou
de R$ 274,7 milhões em 2003, equivalente a 12,9 da receita total, para R$
1.013,5 bilhões em 2010, correspondendo a 15% da receita total.

TABELA 5 - E
 volução dos investimentos públicos estaduais - 2003/2011
(R$ milhão)
Anos Receita estadual¹ Investimentos %
2003 5.258,7 109,9 2,1
2004 6.305,4 192,3 3,0
2005 7.810,9 434,3 5,6
2006 8.556,8 727,1 8,5
2007 10.006,0 757,8 7,6
2008 11.102,6 911,3 8,2
2009 10.888,8 1.178,0 10,8
2010 11.928,8 1.593,1 13,4
2011 14.079,2 1.206,1 8,6
Fonte: Espírito Santo (2011).
¹ Receita estadual= receita corrente+receita de capital

Por outro lado, a recuperação da ética na gestão pública criou o am-


biente favorável à atração de investidores privados que passaram a perceber
melhores condições de acolhimento e segurança jurídica aos seus empreen-
dimentos. O Espírito Santo tornou-se um dos estados mais atrativos para
investimentos nos mais diversos segmentos de negócios. A previsão do IJSN
para investimentos superiores a R$ 1 milhão para o período de 2010/2015
é da ordem de R$ 98,8 bilhões, sendo que aproximadamente 48,5% destes
investimentos serão concentrados na área de energia.

Ao se abrir a segunda década do século XXI, o Espírito Santo se apre-


senta com um cenário de crescimento muito promissor, orientado por um
planejamento de longo prazo consubstanciado no Plano de Desenvolvimento
do Espírito Santo – ES 2025. A percepção social geral é de que nos próxi-
mos anos o crescimento deve se concretizar nos mais diversos segmentos
econômicos. O Estado, saneado financeira e eticamente, responderá aos
desafios do novo momento de crescimento, garantindo a modernização da
44 Cafeicultura & Grande Indústria

máquina pública, os investimentos em infraestrutura, a oferta de serviços


sociais básicos de qualidade. E, por outro lado, pela utilização de diversas
ferramentas de regulação, o desenvolvimento será distribuído de forma
mais equitativa regionalmente, menos agressivo ao meio ambiente e com
melhores condições de reduzir as desigualdades sociais, pela promoção da
melhoria da distribuição renda.

5. AS AMEAÇAS E AS OPORTUNIDADES NOS


PRÓXIMOS ANOS E DÉCADAS – ESPÍRITO
SANTO 2030

O ano de 2011 teve início com várias ameaças ao desenvolvimento


capixaba, algumas oriundas do ambiente global e outras de decisões políticas
e macroeconômicas brasileiras.

No ambiente global a ameaça principal foi a crise fiscal e financeira


dos países da zona do euro, especialmente Grécia, Portugal, Itália e Espanha,
que poderia ter evoluído para uma crise global de consequências imprevi-
síveis. Previa-se que até mesmo as economias emergentes, China, Índia,
Rússia, África do Sul e Brasil, poderiam ser arrastadas para um processo
recessivo, o que teria impacto negativo sobre os preços das commodities
e, portanto, sobre a economia estadual, especializada em exportações de
produtos semi-elaborados.

No âmbito interno duas mudanças envolvendo a distribuição de


recursos financeiros entre os entes federados se constituíram em objeto
de grande preocupação pelo impacto econômico e fiscal que poderiam ter
sobre o Espírito Santo: a redistribuição entre os estados e municípios dos
royalties do petróleo, inclusive das áreas com exploração já contratadas,
e a redução da alíquota interestadual de ICMS de produtos importados.

A crise global, que poderia advir da desintegração da zona do euro, foi


evitada momentaneamente a partir da mobilização da União Europeia e da
adoção de políticas ativas de financiamento dos Governos e Instituições
Financeiras envolvidas na crise. Estas políticas foram relativamente eficazes
ao propiciar um período de transição e ajuste financeiro e fiscal dos países
Espírito Santo • Economia e Política 45

mais fortemente endividados. O cenário mais severo de forte recessão global


foi afastado, mas projeta-se um ambiente de crescimento econômico global
mais modesto e sujeito a várias mudanças no sistema produtivo industrial,
nas políticas macroeconômicas e nos fluxos financeiros e comerciais.

TABELA 6 - E
 xportações e importações do Espírito Santo - 1989-2011
(US$ milhão)
Anos Exportações Importações Saldo Comercial
1989 1.697,90 591,89 1.106,01
1990 1.414,73 595,79 818,94
1991 1.694,22 763,99 930,23
1992 1.657,51 794,10 863,41
1993 1.748,11 1.205,19 542,92
1994 2.301,55 1.938,37 363,18
1995 2.748,71 3.718,67 - 969,96
1996 2.454,26 3.168,40 - 714,14
1997 2.547,07 4.286,61 - 1.739,54
1998 2.408,53 3.468,79 - 1.060,26
1999 2.447,10 2.620,56 - 173,46
2000 2.791,32 2.507,87 283,45
2001 2.429,26 2.448,12 - 18,86
2002 2.597,07 2.019,55 577,52
2003 3.535,43 2.156,73 1.378,70
2004 4.055,55 3.011,00 1.044,55
2005 5.593,06 4.088,64 1.504,42
2006 6.721,78 4.896,13 1.825,65
2007 6.871,95 6.638,51 233,44
2008 10.099,37 8.606,60 1.492,77
2009 6.510,24 5.484,25 1.025,99
2010 11.954,30 7.595,37 4.358,93
2011 15.158,50 10.737,63 4.420,87
Fonte: MDIC

A redistribuição dos royalties do petróleo encontra-se em tramitação


no Congresso Nacional. Há forte pressão dos estados e municípios não
produtores para que haja a redistribuição a seu favor, em prejuízo dos
estados e municípios produtores. O mais provável é que seja mantida a
regra atual de distribuição dos royalties para os contratos que se encon-
tram em vigor, que beneficia os estados e municípios produtores. Mas, por
outro lado, devem ser adotadas novas regras de distribuição para os novos
contratos de exploração da camada do pré-sal, beneficiando os estados e
municípios não produtores em prejuízo dos produtores. Espera-se, assim,
que no Espírito Santo, estado e municípios tenham perdas de receita apenas
46 Cafeicultura & Grande Indústria

em relação aos futuros contratos a serem firmados pela Agência Nacional


de Petróleo. É importante observar que esta mudança só afetará as receitas
públicas futuras, não subtraindo as receitas já previstas derivadas de áreas
de exploração já concedidas e contratadas e nem afetando os investimen-
tos das empresas exploradoras de petróleo e gás natural. Trata-se de perdas
apenas de natureza fiscal e não de perdas econômicas de renda e emprego
das atividades produtivas.

A redução da alíquota de ICMS sobre produtos importados, ao con-


trário da redistribuição dos royalties, afetará tanto as receitas do Estado
e dos municípios como a atividade econômica gerada pelo complexo de
comércio exterior que dá sustentação às operações de importação. O Sistema
Fundap cresceu muito nos últimos anos acompanhando o crescimento
da economia brasileira e a valorização do real, fatores determinantes do
incremento das importações. Na tabela 6 pode-se ver que as importações
no período 1992/2001 cresceram 200% e no período 2002/2011 foram
ampliadas em 440%. As importações pelos portos capixabas, que em 1970,
quando foi criado o Fundap, eram irrelevantes, passaram a 10,7 bilhões
de dólares em 2011. A Resolução nº 13/2012, já aprovada no Senado Fe-
deral por determinação expressa do Governo Federal, estabelece alíquota
interestadual única de 4 por cento de ICMS para produtos importados
a partir de janeiro de 2013. Na prática esta nova alíquota, sendo a atual
de 12%, inviabiliza o sistema Fundap, que é estruturado com base em
financiamento das empresas importadoras em valores equivalentes a 8%
do ICMS arrecadado. Deixando de existir o financiamento, que suporta
os custos logísticos de deslocamento das importações até os locais de
consumo em outros estados brasileiros, o negócio fica inviabilizado, as
importações deixarão de ser realizadas pelos portos do Espírito Santo e
deverão ser realizadas por outros portos, especialmente de São Paulo e Rio
de Janeiro. Estima-se, caso seja reduzido a zero o movimento de importa-
ção pelos portos capixabas, que haja o desemprego de aproximadamente
50 mil pessoas que trabalham no complexo importador, que a maioria
das empresas operadoras encerre suas atividades e uma parte delas passe
a operar em outros estados. Haverá, assim, uma perda econômica de
significativas proporções para a economia estadual, podendo ocorrer a
redução de 7% no PIB regional.
Espírito Santo • Economia e Política 47

Tabela 7 - Espírito Santo: Arrecadação de IMCS Fundap (Importações) - 1994-2011


(R$ 1000 correntes)
Arrecadação e distribuição de ICMS Fundap
Anos
Total Municípios Estado
1994 150.391,42 37.597,86 21.550,47
1995 495.708,52 123.927,13 56.654,08
1996 435.697,90 108.924,48 71.365,19
1997 713.162,82 178.290,71 119.046,50
1998 607.538,48 151.884,62 106.462,42
1999 681.016,51 170.254,13 115.548,62
2000 647.829,71 161.957,43 105.958,01
2001 767.981,79 191.995,45 125.974,16
2002 672.177,19 168.044,30 115.002,49
2003 780.581,90 195.145,48 121.607,66
2004 1.153.477,74 288.309,44 206.123,85
2005 1.408.245,38 352.061,35 262.185,79
2006 1.550.593,72 387.648,43 299.089,04
2007 1.864.301,09 466.075,27 340.895,38
2008 2.127.900,26 531.975,07 400.570,82
2009 1.832.662,69 458.165,67 311.523,25
2010 1.641.098,02 410.274,50 254.907,43
2011 2.389.252,17 597.313,04 342.991,42
Fonte: Espírito Santo (2011); Sindicato do Comércio de Exportação e Importação do Estado do Espirito Santo
[2000?].

Também as receitas públicas serão fortemente afetadas, principalmente


as receitas municipais. Em 2011 houve o maior nível de importações des-
de que o Fundap foi criado em 1970 e, por conseguinte, o maior valor de
arrecadação de ICMS, que atingiu R$ 2,39 bilhões. Deste valor, coube aos
municípios o total de R$ 597 milhões e ao Estado R$ 342 milhões. Este é
o tamanho da perda anual de receitas públicas previstas para os próximos
anos. Também o Bandes, banco operador do sistema Fundap, deverá ter
perda de aproximadamente 40% de sua receita, o que coloca em risco a
própria sobrevivência da instituição e de seus programas de crédito aos
pequenos produtores rurais e aos microempreendedores.

O Governo Federal, surpreendentemente, não admitiu a adoção de


um período de transição na implementação da Resolução 72 e nem adotou
medidas compensatórias das perdas econômicas e fiscais. No curto prazo
não há compensação possível, pois o sistema Fundap se estrutura a partir
de relações de comércio, que diante da inviabilidade econômica se deses-
trutura de forma imediata. Daí porque as perdas econômicas e fiscais se
farão sentir em curtíssimo espaço de tempo.
48 Cafeicultura & Grande Indústria

É certo, portanto, que o Espírito Santo será negativamente afetado pela


mudança de alíquota interestadual de ICMS sobre produtos importados. É
certo também que as perdas se farão sentir em curto espaço de tempo, já
mesmo no ano de 2012, pois para muitos produtos importados as decisões
de importação são tomadas com até seis meses de antecedência. Contudo,
não é possível prever com segurança e certeza absoluta o nível de redução
das importações pelos portos do Espírito Santo.

O Espírito Santo encontra-se, mais uma vez, diante de uma ação federal
que atrapalha o seu desenvolvimento. Efeito semelhante teve a política de
erradicação dos cafezais adotada na década de 1960.

Nos anos que se seguiram à erradicação dos cafezais, o Espírito San-


to soube superar as dificuldades e se estruturar de forma a viabilizar um
vigoroso e continuado progresso econômico e social. Neste período, o PIB
capixaba cresceu sistematicamente acima do PIB brasileiro.

Quatro ações estruturadoras foram decisivas para o sucesso das


décadas seguintes: a união das forças políticas locais, líderes políticos e
empresariais, em torno de um projeto de desenvolvimento que tinha como
eixo central a expansão industrial; a cobrança junto ao Governo Federal
de ações voltadas ao desenvolvimento regional em termos de política de
incentivos ao investimento privado e melhoria da infraestrutura logís-
tica; a reestruturação/modernização das instituições estaduais de apoio
ao desenvolvimento econômico; e a criação de fundos de financiamento
dos investimentos para suprir a deficiência de poupança e financiamento
privado.

O sucesso obtido pode ser comprovado pelo significativo crescimento


do PIB desde a década de 1960 até 2010 e pelo aumento da expressividade
do Espírito Santo no cenário nacional. Em 2008, ocupando apenas 0,54%
do território nacional e com 1,84% da população brasileira, o Espírito Santo
contribuiu com 2,3% do PIB brasileiro, sendo 2,5% com o PIB agropecuá-
rio e 2,8% com o PIB industrial. O elevado grau de abertura da economia
capixaba, que representa a soma das exportações e das importações em
relação ao PIB, que chegou a 50%, é comprovado pela sua participação no
comércio exterior do país, registrando 5,0% para as importações e 5,1%
para as exportações.
Espírito Santo • Economia e Política 49

Figura 1 – Participação do Espírito Santo no Brasil, 2008, em %

6,00
5,10
4,98
5,00
4,00
2,78
3,00 2,30 2,49
1,84
2,00
1,00 0,54

0,00
Área População PIB PIB PIB Valor das Valor das
agropecuário industrial importações exportações
Fonte: Ipeadata.

O momento atual guarda alguma semelhança com os anos 1960,


pois estamos diante de uma nova perda econômica e fiscal imposta de
fora. Contudo, a estrutura econômica atual do Espírito Santo é muito mais
diversificada do que a daquele período, sendo as perdas atuais, embora ex-
pressivas, muito menos significativas proporcionalmente que as ocorridas
com a erradicação dos cafezais.

De qualquer forma, quando há perdas é preciso que haja esforço de


superação. As empresas, o Estado e os municípios terão de adotar medidas
saneadoras e de reestruturação de suas atividades operacionais. Será preciso
adequar as despesas, sobretudo de custeio, para garantir a continuidade
dos investimentos que impulsionam o progresso.

Devemos, também, revisitar as ações bem sucedidas dos anos 1960 e


adotar ações semelhantes, devidamente atualizadas e contextualizadas ao
atual momento de desenvolvimento e globalização.

Nesta conjuntura de perdas e de esforço de superação, é fundamen-


tal manter a união política das mais diversas forças sociais. É preciso
unificar as ações, não só de agentes políticos e empresariais, mas também
de líderes religiosos, sindicais, populares, e, enfim, da opinião pública em
geral. A partir desta unidade deve-se definir um eixo central a orientar o
desenvolvimento do estado nos próximos anos: diversificação produtiva a
partir de forte componente inovador.

Buscar e conseguir junto ao Governo Federal ações concretas de


construção/reconstrução da infraestrutura logística do estado e de
incentivo ao investimento produtivo público e privado.
50 Cafeicultura & Grande Indústria

Reestruturação/modernização das instituições públicas voltadas


para o apoio ao desenvolvimento econômico sustentável (SEDES, SEPE,
SUPPIN, BANDES, ASPE, SEAMA/IEMA, IPEM e outros), de forma a apoiar
a ampliação dos investimentos produtivos, em infraestrutura e sociais.

Criação de Fundo de Investimento a partir de recursos estaduais e


federais (ICMS, Royalties, Tesouro Nacional, etc.) para garantir poupança
e financiamento adequado a investimentos público e privado.

As mudanças instabilizadoras da atual conjuntura não podem de-


sorganizar o setor público estadual. Ao contrário, as mudanças devem
encorajar a implementação de medidas saneadoras e reforçar o papel do
planejamento de longo prazo e da gestão estratégica. Do ponto de vista
estritamente financeiro é preciso fazer um esforço de poupar para investir
em ações estruturadoras de forma a garantir um estado mais desenvolvido
econômica e socialmente às futuras gerações.

O Espírito Santo vive um momento de perda. Mas também um mo-


mento promissor e de muitas oportunidades. O sucesso no futuro depende
das ações estratégicas que serão adotadas no presente.

Referências

1. ESPÍRITO SANTO (Estado). Secretaria da Fazenda. Balanço geral.


[Vitória], 2011.

2. IBGE. Censo demográfico do Brasil. Rio de Janeiro, 1949-2010.

3. PEREIRA, Guilherme Henrique. Política industrial e localização de


investimentos. Vitória: EDUFES, 1998.

4. SINDICATO DO COMÉRCIO DE EXPORTAÇÃO E IMPORTAÇÃO DO


ESTADO DO ESPIRITO SANTO. [Cadernos do Sindiex 3]. [Vitória,
2000?].
Espírito Santo • Economia e Política 51

Capítulo
1

O Espírito Santo
e a política de
desenvolvimento
regional

1.1 O problema das desigualdades


regionais no Brasil e o sistema de
incentivos fiscais

A partir do início da década de 1950 desenvolve-se, em nível nacional,


um processo de discussão que coloca em evidência a questão das desigual-
dades regionais no país e que resulta num elenco de políticas econômicas
claramente discriminatórias em favor das regiões mais atrasadas. É impor-
tante resgatar, em linhas gerais, os determinantes desse processo, a fim de
se entender a forma específica de inserção do Espírito Santo no bojo dessas
políticas de âmbito regional.

Em nível teórico, a questão das desigualdades ganha espaço a partir


do desenvolvimento do pensamento da Comissão Econômica para a Amé-
rica Latina – Cepal – nas décadas de 40 e 50. A concepção cepalina acerca
52 Cafeicultura & Grande Indústria

do desenvolvimento econômico fundamenta-se sobretudo no progresso


técnico incorporado aos diversos setores produtivos, ou seja, no aumento
da dotação de capital por homem ocupado. Quanto maior a densidade de
capital, mais desenvolvido será um país, o que, em última instância, se
expressa no aumento do bem-estar material, normalmente refletido pela
elevação da renda real por habitante (RODRIGUEZ, 1981).

A novidade introduzida pela Cepal está na percepção de que o desen-


volvimento econômico não se processa de maneira uniforme em todos os
países. Pelo contrário, a divisão internacional do trabalho reserva a uns o
papel primordial de exportadores de produtos primários e importadores
de bens manufaturados e serviços. A outro bloco de países, cuja estrutura
econômica é mais diversificada e cujos setores todos incorporam uma
progressiva produtividade do trabalho, cabe a importação dos produtos
primários e a exportação de bens manufaturados e serviços.

Assim, a noção de desenvolvimento procura elucidar as características


que o processo de acumulação e o progresso técnico assumem ao se difundir a
forma capitalista de produção no âmbito de um sistema econômico mundial
composto por centro e periferia (RODRIGUEZ, 1981). A estrutura produtiva
da periferia caracteriza-se pela especialização do setor exportador de produtos
primários, enquanto que os demais setores apresentam uma produtividade
muito aquém da que se encontra nas atividades similares das economias
centrais. Estas, por sua vez, apresentam uma estrutura produtiva, ao mesmo
tempo diversificada e homogênea, no sentido de que a produtividade do
trabalho ou o progresso técnico se propaga para todos os setores produtivos.

O processo de crescimento da economia capitalista tende a aprofun-


dar essas desigualdades, verificando-se continuamente uma deterioração
dos termos de intercâmbio, em prejuízo da periferia, ou seja, o poder de
compra dos bens primários de exportação em relação aos bens industriais
se reduz com o passar do tempo.

Do ponto de vista dinâmico, para Rodriguez (1981, p. 38),


[...] considera-se o progresso técnico mais acelerado no centro do que
na periferia, admite-se, ainda, que os incrementos da produtividade do
trabalho – consequência da incorporação do progresso técnico ao processo
produtivo – são mais intensos na indústria do centro do que nos setores
primário-exportadores da periferia, fato que, por sua vez, se reflete na
Espírito Santo • Economia e Política 53

disparidade dos ritmos de aumento das respectivas produtividades mé-


dias; e, finalmente, aceita-se que a renda média cresça também de forma
díspar, a taxas mais elevadas nos países centrais do que nas economias
menos desenvolvidas.

A partir desse diagnóstico sobre as economias periféricas, especialmente


dos países da América Latina, e com a constatação de que a condição do sub-
desenvolvimento em relação aos países centrais tenderia a se ampliar ainda
mais, a Cepal identificou na industrialização o único caminho viável para que
as nações periféricas se tornassem independentes, “senhoras de seu próprio
destino”, e capazes de realizar um desenvolvimento voltado “para dentro”.
No entanto, a industrialização da periferia teria algumas especificidades e
dificuldades e, nem de longe, poderia assemelhar-se à industrialização dos
países centrais, nos quais o crescimento paulatino da produtividade, do
mercado e da poupança foi compatível com o da população. Ao contrário,
a industrialização periférica enfrentaria problemas específicos, que, grosso
modo, poderiam se resumir a um único, segundo Mello (1982, p. 22):
[...] a ausência de uma indústria de bens de produção num momento
em que o centro conformou uma estrutura industrial permeada por uma
tecnologia extremamente avançada. Exatamente porque a industrialização
latino-americana é problemática (e específica), a resolução das dificuldades
não pode ser entregue ao livre jogo das forças de mercado, mas há de ser
objeto de uma intervenção consciente na realidade, que é apreendida pela
ideia da planificação.

Em linhas gerais, as ideias desenvolvidas pela Cepal serviram para


ampliar o nível de conscientização política sobre as desigualdades regio-
nais no Brasil. Em primeiro lugar, devido à semelhança existente entre a
análise do desenvolvimento do capitalismo mundial feita pela Cepal e o
desenvolvimento interno da economia brasileira, que também apresenta-
va desigualdades regionais do tipo centro-periferia, consubstanciadas no
desenvolvimento dos estados do Centro-Sul (especialmente São Paulo) e
no atraso econômico das demais regiões. Em segundo lugar, essa consta-
tação serviu como alerta para as regiões periféricas, integrantes da nação
brasileira, que, nessa condição, estariam progressivamente mais atrasadas
em relação aos estados desenvolvidos.
54 Cafeicultura & Grande Indústria

Duas ideias básicas, formuladas pela Cepal, foram adaptadas à questão


regional. A primeira, a ideia de que seria imprescindível que a “periferia”
desenvolvesse um processo de industrialização capaz de criar as condições
necessárias para o crescimento autossustentado, ou seja, reduzir a dependência
com a região polo, ampliar o nível de renda média e, consequentemente,
reduzir o estado de extrema miséria de sua população. A segunda ideia era
de que somente com a intervenção estatal, mediante políticas econômicas
específicas, seria possível promover o desenvolvimento das regiões atrasa-
das, porque o “livre jogo do mercado” levava, na prática, à concentração
industrial no Centro-Sul.3

A publicação das contas nacionais no início da década de 1950, com


dados por região desde 1939, foi também um fato importante, que serviu
para fomentar as discussões acerca das desigualdades regionais, uma vez que
permitiu o confronto entre os níveis e os ritmos de crescimento regional
dentro do país. Pôde-se comprovar, por exemplo, que a região Sudeste, a
mais desenvolvida no país, detinha, em 1949, 66,5% da renda nacional e
43,4% da população total, enquanto o nordeste, com 34,7% da popula-
ção, ficava com apenas 14,1% da renda nacional. Era evidente, portanto,
a diferença entre as duas regiões no tocante à renda per capita (tabela 1).

Tabela 1 – D
 istribuição regional da renda interna e da população residente, Brasil e
Espírito Santo, 1949-1980, em %
1949 1959 1970 1975 1980
População

População

População

População

População
PIB a.c.f.

PIB a.c.f.

PIB a.c.f

Regiões
Renda

Renda

Norte 3,6 1,7 3,7 2 3,9 2,2 3,9 2,1 4,9 3,1
Nordeste 34,7 14,1 31,6 14,1 30,3 11,7 29,9 11,3 29,3 12
Sudeste 43,4 66,5 43,8 64,1 42,6 65,5 42,3 64,3 43,6 62,4
Espírito Santo 1,7 1,4 1,5 1,1 1,7 1,2 1,6 1,1 1,7 1,5
Sul 15 15,9 16,7 17,4 17,7 16,7 18 18,1 15,9 17
Centro-Oeste 3,3 1,8 4,2 2,4 5,5 3,9 5,9 4,2 6,3 5,5
Brasil 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100
Fontes: IBGE (1949-1980); Instituto Brasileiro de Economia (1987).

Nota: A
 partir de 1970, utilizou-se o PIB ao custo de fatores, por serem as únicas informações regionais publi-
cadas pela FGV nas contas nacionais.

3 Essa teoria sobre as desigualdades regionais sofreu contundentes críticas por parte de alguns autores que se ocupam da
questão regional no Brasil. Veja-se especialmente Cano (1985a) e Oliveira (1981).
Espírito Santo • Economia e Política 55

O nordeste vinha recebendo tratamento específico devido ao proble-


ma das secas desde 1909, com a criação da Inspetoria Federal de Obras
contra as Secas, que foi transformada posteriormente no Departamento
Nacional de Obras Contra as Secas – DNOCS. Além disso, a Constituição
Federal de 1946 destinava 3% da receita tributária federal para o combate
às secas nordestinas.

Em 1952 foi criado o Banco do Nordeste do Brasil e, em 1959, foi insti-


tuída a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste - Sudene -, com a
finalidade de “[...] coordenar as diversas repartições federais e estaduais que
operam nesta região e formular um programa de desenvolvimento regional”
(HIRSCHMAN, 1967, p. 5). Do primeiro Plano Diretor da Sudene resultou
a concepção de um sistema de incentivos fiscais como forma de fomentar o
desenvolvimento econômico da região, por meio da atração do capital privado
para investimentos no nordeste. A propagação desse mecanismo para outras
regiões e setores não tardou a acontecer.

O sistema de incentivos fiscais constitui, na verdade, um instrumento


de política econômica do Governo Federal que possibilita estimular a ativi-
dade econômica em determinadas regiões ou promover o desenvolvimento
de alguns setores considerados prioritários em nível nacional. O Estado
cria, mediante a política fiscal, alguns mecanismos que exercem o papel de
orientar capitais privados para investimentos produtivos em determinadas
regiões, nas quais o livre jogo do mercado não é suficiente para determinar
a localização de projetos industriais e/ou agropecuários.

O sistema pode ser composto por vários tipos de incentivos fiscais,


tais como: isenção total ou parcial, por determinado período, do Imposto
de Renda e/ou do ICM - Imposto sobre Circulação de Mercadorias -, para
empresas que se instalem ou ampliem sua planta original na região bene-
ficiada; isenção do Imposto de Importação para equipamentos, etc. Mas o
mais forte e decisivo incentivo instituído para promover o desenvolvimento
da região nordeste ficou conhecido como o Sistema 34/18. Esse sistema
inaugurou a era dos incentivos fiscais para o desenvolvimento regional e
serviu de modelo para outras regiões e setores. O artigo 34 estabeleceu que
as pessoas jurídicas de capital totalmente nacional poderiam deduzir até
50% do Imposto de Renda devido em favor do nordeste, para serem apli-
cados em investimentos industriais ou agropecuários; o artigo 18 estendeu
56 Cafeicultura & Grande Indústria

esses mesmos benefícios às empresas constituídas por capital estrangeiro


que operavam no país.4

De um lado, o Governo abre mão de parte de sua receita oriunda do


Imposto de Renda das pessoas jurídicas em favor das empresas privadas
de todo o país, que obrigatoriamente destinam esses recursos, por meio
da Sudene, para empreendimentos produtivos no nordeste, na forma de
participação societária. Por outro lado, o investidor que decide instalar,
ampliar ou modernizar um determinado projeto industrial ou agropecuário,
na região, encontra um mercado de capitais “cativo”, advindo dos deposi-
tantes que receberam o incentivo fiscal para aplicação no nordeste. Assim,
os investidores encontram, com certa facilidade, recursos financeiros que,
em conjunto com o capital próprio, viabilizam a execução de seus projetos.
O grau de competição para acesso ao capital de terceiros é muito menor, se
comparado ao mercado normal de capitais. Além disso, outras vantagens
são reservadas a esses investidores, uma vez que, juntamente com o mercado
cativo de capital, o Governo cria outros incentivos fiscais, que aumentam a
rentabilidade do projeto, como, por exemplo, isenção de Imposto de Renda
por um determinado prazo depois do início de funcionamento da planta
industrial ou agropecuária.

Não resta dúvida de que essa política tende a incrementar o investi-


mento do setor privado na região, especialmente em projetos industriais nas
áreas urbanas, o que, certamente, contribui para criar empregos, ampliar
a renda gerada, expandir alguns ramos da indústria até então pouco signi-
ficativos, e, ainda, dinamizar o setor terciário (área financeira, comércio
em geral, serviços, etc.).5

Há que se ressaltar que a intervenção do Estado nesse processo foi


bastante significativa. Primeiro, na concepção do sistema, pois decide-se
por liberar para as empresas privadas recursos públicos, sem nenhum ônus,
para realização de investimentos numa determinada região; segundo, no
direcionamento da aplicação dos recursos, uma vez que os projetos devem

4 O Sistema 34/18 refere-se ao fixado no artigo 34 da Lei nº 3.995, de 14-12-61, que aprovou o primeiro Plano Diretor da
Sudene, e no artigo 18 da Lei nº 4.239, de 27-06-83, que sancionou o programa da Sudene para o período 1963/65.
5 A avaliação dos resultados do Sistema 34/18 para o nordeste foi realizada em vários trabalhos de vários autores, destacando-
-se os de Goodman e Albuquerque (1974), de Hirschman (1967) e de Magalhães (1978).
Espírito Santo • Economia e Política 57

ser aprovados pelo Governo, por meio das suas instituições responsáveis,
dentro dos programas considerados prioritários.

Assim, no âmbito da questão regional, o nordeste passou a ser encarado


como área prioritária para intervenção estatal. Entretanto esse privilégio
concedido inicialmente ao nordeste fez com que surgissem reclamos de
setores sociais de outras regiões igualmente consideradas atrasadas em
relação ao polo paulista ou ao Centro-Sul. A Amazônia e, em menor grau,
a região Centro-Oeste, passariam a receber também maiores atenções por
parte do Governo Federal. Nesse jogo político em busca das benesses estatais,
as próprias regiões, como estabelecidas na geografia de então, tiveram seus
contornos redefinidos: o Centro-Sul (estados litorâneos do Espírito Santo
ao Rio Grande do Sul, mais os estados de Minas Gerais, Mato Grosso e
Goiás) foi desmembrado em sudeste (MG, SP, RJ, ES), Sul (RS, SC e PR) e
centro-oeste (MT, GO, acrescido de Rondônia); e o nordeste antigo (CE,
RN, PB, PE, AL, SE e BA) incorporou a região meio-norte (MA e PI). Em
regionalização anterior, a Bahia já havia sido classificada dentro da região
leste, ao lado dos estados da atual região sudeste, com exceção de São Paulo,
então incluído na região sul. Nessas redefinições regionais, vale notar que
o Espírito Santo não conseguiu, em nenhum momento, se desvencilhar
de sua inserção na região mais dinâmica do país, ficando à margem dos
contornos regionais periféricos.

Dessa forma, ocorreu uma verdadeira onda de criação de órgãos de


apoio ao desenvolvimento regional, durante as décadas de 50 e 60. Segundo
Cano (1985a, p. 25),
Em 1953 já fora criada a SPVEA – Superintendência do Plano de Valori-
zação Econômica da Amazônia – transformada em 1966 na Sudam. Em
1956, era criada a SPVERFSP – Superintendência do Plano de Valorização
Econômica da Região da Fronteira Sudoeste do país – transformada em 1967
na Sudesul; em 1961, criava-se a Codeco – Comissão de Desenvolvimento
do Centro-Oeste – em 1967 transformada na SUDECO e, finalmente,
também em 1967, criava-se a Suframa, instituindo-se a Zona Franca de
Manaus. O sistema de incentivos fiscais, basicamente centrado na isenção
total ou parcial do imposto sobre a renda, para subsidiar investimento
privado no nordeste, a partir da criação da Sudene, seria estendido, em
1963, à região amazônica, tutelada pela Sudam.
58 Cafeicultura & Grande Indústria

Posteriormente, também os setores de pesca, turismo e reflorestamento


foram integrados ao sistema de incentivos fiscais, com deduções do Imposto
de Renda devido, até 25%, 8% e 35%, respectivamente.

O Espírito Santo, como integrante da região Sudeste, ao lado de estados


como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, permaneceu totalmente
à margem da política regional empreendida pelo Governo Federal. Sua se-
melhança com esses estados não passava da mera proximidade geográfica,
pois seus indicadores econômicos, tais como renda per capita, distribui-
ção setorial do produto, nível de urbanização, etc., estavam muito mais
próximos da situação dos estados periféricos, o que lhe valeu a alcunha
“nordeste sem Sudene”.

Os indicadores de renda interna revelavam a disparidade entre a


economia capixaba e a economia da região Sudeste. Em 1965 registrava-se
para o Espírito Santo uma renda per capita equivalente a 33,7% e 58%
da renda per capita da região Sudeste e brasileira, respectivamente. Por
outro lado, a composição setorial da renda interna estadual revelava
uma base econômica radicalmente diferente daquela dos demais estados
da região Sudeste, onde o setor industrial se encontrava já plenamente
desenvolvido.

A política de desenvolvimento regional implementada pelo Governo


Federal elegeu as regiões norte e nordeste como as mais atrasadas do país;
por isso, essas regiões mereceram condições especiais para deslanchar
um processo de desenvolvimento. Assim, o estado do Espírito Santo foi
duplamente afetado: de um lado, embora pertencendo à região mais de-
senvolvida do país, contava com uma estrutura produtiva que pouco ou
nada tinha em comum com sua economia – era um “desigual” dentro da
região; por outro lado, comparava-se, sob muitos aspectos, aos estados do
nordeste, porém não podia participar dos benefícios advindos da política
de incentivos fiscais dessa região.

Assim, essa política adversa fez com que, durante um bom tempo, a
economia capixaba ficasse de fora da política regional brasileira.

No entanto, passados quase dez anos do início da concessão de


incentivos fiscais para o nordeste, o Espírito Santo foi “agraciado” com o
DL 880, do Governo Federal, que concedia incentivos fiscais semelhantes
Espírito Santo • Economia e Política 59

ao Sistema 34/18. Isso coloca duas questões importantes a responder.


Em primeiro lugar, se já era “desigual”, por que não participou do sis-
tema de incentivos fiscais à época de sua criação, juntamente com os
estados nordestinos? Em segundo, se não participou antes, por que o
conseguiu tempos depois? A resposta à primeira questão está ligada à
rigidez da divisão regional. A resposta à segunda, no entanto, decorre
de uma história peculiar, de uma situação conjuntural e muito parti-
cular que ocorreu no estado durante os anos 1960. É o que se pretende
elucidar a seguir.

1.2 ORIGEM DOS INCENTIVOS FISCAIS NO


ESPÍRITO SANTO

Os anos da década de 1960 foram dramáticos para a economia do


Espírito Santo: o aprofundamento da crise cafeeira, com a consequente
desestruturação desse setor, devido à política de erradicação implemen-
tada pelo Governo Federal; a falta de perspectivas do setor agrícola no
sentido de encontrar culturas substitutivas do café, que recuperassem
o nível de renda e emprego; a debilidade do setor industrial e das de-
mais atividades tipicamente urbanas, incapazes de suplantar a queda
da atividade econômica advinda da crise cafeeira; todos esses fatores,
somados aos poucos recursos públicos estaduais, que minguavam cada
vez mais, configuravam uma situação sem precedentes na história do
Espírito Santo.

É sobejamente conhecida a importância que teve a cultura cafeeira para


a economia capixaba. De meados do século XIX até a década de 1950, os
ciclos econômicos estaduais estiveram umbilicalmente ligados à atividade
cafeeira. A própria ocupação do território capixaba coincidiu, em grande
parte, com “a marcha do café”, que, em sua expansão, ia derrubando matas,
criando vilas, abrindo estradas, povoando o estado...

Em épocas de crise, provadas por queda dos preços do café ou por


retração do mercado consumidor, a renda monetária dos produtores se
reduzia, comprimindo sua capacidade de consumo. Porém essa situação
pouco afetava a estrutura produtiva estabelecida, uma vez que algumas de
60 Cafeicultura & Grande Indústria

suas especificidades favoreciam a superação da crise sem grandes trans-


formações estruturais para a economia capixaba. Uma dessas especifici-
dades era o caráter familiar da produção cafeeira, realizada em pequenas
propriedades, cuja força de trabalho resultava de uma conjugação da mão
de obra familiar e dos parceiros. Assim, o tamanho da lavoura de cada uni-
dade produtiva mantinha uma relação direta com o reduzido número de
trabalhadores disponíveis, o que determinava uma expansão relativamente
lenta da produção do café.

O café era quase sempre a única fonte de renda monetária das pequenas
propriedades e o meio de acesso aos produtos não gerados no seu interior.
Uma parte dos recursos disponíveis (incluindo mão de obra) destinava-se
à produção de subsistência para as famílias, o que era reforçado em mo-
mentos de crise, possibilitando a sobrevivência das pequenas propriedades
numa conjuntura desfavorável para os preços do café.

A década de 1950 apresentou as duas faces do ciclo econômico:


expansão e retração da atividade cafeeira. Durante a primeira metade da
década, verificou-se um aumento dos preços do café (tabela 2), que pro-
vocou uma vertiginosa expansão da cultura, elevando a área plantada de
243 mil há, em 1950, para 328 mil há, em 1960, e expandindo o número
de cafeeiros em cerca de 25%. Vale notar que 75% dos estabelecimentos
rurais tinham no café sua principal atividade, ocupando 14,6% da área
total desses estabelecimentos. A composição da renda interna estadual,
em 1950, mostra o peso do produto na economia: cerca de 50,4% da
renda total derivada do setor agrícola; dessa percentagem, 64,2% eram
geradas diretamente pelo café, o que significava 32,4% da renda estadual.
Sem falar que, indiretamente, o café era responsável por grande parte do
produto industrial, por intermédio de seu beneficiamento, como também
de algumas atividades do setor terciário, tais como: comércio, atividades
portuárias, bancos, etc.6

6 Os dados referentes à área plantada foram retirados de IBGE (1940 – 1989) e os da renda interna extraídos de Univer-
sidade Federal do Espírito Santo (1982).
Espírito Santo • Economia e Política 61

Tabela 2 - P
 reço médio de exportação do café (verde e solúvel), Brasil, 1945-1987
(US$/sacas de 60 kg)
Ano Preço Ano Preço Ano Preço   Ano Preço
1945 16,18   1956 61,27   1967 42,29   1978 182,81
1946 22,41   1957 59,05   1968 41,88   1979 193,81
1947 28,17   1958 53,36   1969 43,11   1980 182,21
1948 28,05   1959 41,98   1970 57,46   1981 110,25
1949 32,61   1960 42,37   1971 44,68   1982 123,6
1950 58,34   1961 41,86   1972 55,01   1983 131,33
1951 62,79   1962 39,24   1973 67,83   1984 145,56
1952 66,07   1963 38,27   1974 73,81   1985 136,82
1953 70,05   1964 50,83   1975 63,96   1986 234,72
1954 86,83   1965 52,4   1976 153,7   1987 117,46
1955 61,61   1966 45,41   1977 259,19    
Fonte: Anuário estatístico do café (1977).

Na segunda metade da década de 1950 verificou-se uma queda abrupta


dos preços do produto, provocando uma redução da renda interna, não só
no setor agrícola, o mais diretamente atingido, mas também nos demais
setores da economia. Em virtude dos baixos preços, a participação do café
em 1960, na renda da agricultura e na renda total, reduziu-se para 48,8%
e 22,1% respectivamente, iniciando-se uma fase recessiva na economia
capixaba, tal sua dependência da cultura cafeeira.

Essa crise aparentemente não se diferenciava das ocorridas anterior-


mente: queda dos preços, retração do mercado consumidor, aumento dos
estoques, diminuição de renda monetária dos cafeicultores, etc. No entanto,
a política implementada pelo Governo Federal, especificamente para solu-
cionar a crise cafeeira, inaugurou um novo modo de intervenção no setor.
A partir de 1961, ficou a cargo do Grupo Executivo de Racionalização da
Cafeicultura – Gerca – a definição da política cafeeira.
Em agosto de 1962, o Gerca apresentou o seu primeiro plano diretor,
que previa a erradicação de 2 bilhões de pés de café antieconômicos, a
diversificação de cultura nas áreas liberadas e a renovação racional das
lavouras cafeeiras em proporção conveniente. Previa-se, também, como
elemento complementar, mas indispensável ao êxito do plano, um programa
de estímulo à industrialização e de aparelhamento da infraestrutura das
regiões produtores (LAZZARINI, [1969?], p. 49).

O programa de erradicação, executado entre junho/62 e maio/67,


atingiu mais da metade do cafezal capixaba, liberando 71% da área plantada
62 Cafeicultura & Grande Indústria

com café e deixando praticamente 60 mil pessoas sem emprego na área


rural. As consequências desse programa foram, de imediato, uma profunda
crise social, devido principalmente ao problema do desemprego no setor
agrícola, que provocou êxodo de famílias para as cidades, especialmente
para a região da Grande Vitória, que não dispunha de infraestrutura urbana
suficiente para abrigar o número elevado de pessoas que se deslocaram,
nem, muito menos, oferecia empregos para essa massa de trabalhadores
desempregados.

Para o setor agrícola colocou-se um problema da maior relevância:


qual atividade poderia substituir, com êxito, a cultura cafeeira? Quais as
perspectivas para os agricultores? Não se tratava de uma “simples” queda dos
preços de seu principal produto, mas da erradicação e “desaparecimento”
da lavoura cafeeira, tão arraigada, até então, na vida do agricultor. Devia-
-se, assim, buscar um novo rumo, fazer uma tentativa de transformar a
estrutura produtiva.

Naquela conjuntura extremamente desfavorável, o Governo Estadual,


juntamente com lideranças políticas e empresariais locais, iniciou um longo
processo reivindicatório de políticas específicas para o Espírito Santo, junto
aos órgãos federais. Pretendia-se recuperar a trajetória de crescimento da
economia estadual e criar condições propícias para atrair capitais privados
para os seus setores produtivos.

Aliás, havia algum tempo, aquelas lideranças já demonstravam pre-


ocupação quanto à extrema dependência da economia capixaba à cultura
do café e se manifestavam a respeito da necessidade de diversificação da
estrutura produtiva. Em 1952, em discurso pronunciado em Colatina, o
governador Jones dos Santos Neves advertia que “[...] os galhos dos cafezais
eram frágeis demais para sustentar nossos sonhos de progresso” (ESPÍRITO
SANTO, 1979, p. 2).

Evidentemente, a tão propalada diversificação da economia capixaba


deveria fundamentar-se no desenvolvimento do setor industrial, uma vez que
um processo de industrialização não só representa expansão do produto e
do emprego industrial, mas também amplia as possibilidades de crescimento
dos demais setores da economia. Isso ocorre no setor agrícola, tanto pelo
aumento da demanda por alimentos da crescente população urbana, quanto
Espírito Santo • Economia e Política 63

pelo fornecimento de matérias-primas para a transformação industrial. O


desenvolvimento do setor terciário está, também, estreitamente vinculado
ao processo de industrialização e urbanização, que gera crescentes demandas
por serviços especializados e comércio em geral.

Essas questões foram amplamente analisadas num minucioso diagnós-


tico, elaborado por Rios (1966) sobre a economia capixaba. Esse estudo não
se deteve apenas na constatação da situação de retrocesso econômico que
vinha se manifestando nos últimos anos, mas, principalmente, procurou
sugerir possíveis soluções de curto e médio prazos. Sua principal conclusão
foi de que a retomada do crescimento deveria necessariamente orientar-se
pelo desenvolvimento do setor industrial, sobretudo naqueles ramos que
ofereciam amplas possibilidades de crescimento e de que o Espírito Santo
estava potencialmente dotado de capacidade de expansão.

Ressaltavam-se, em especial, as atividades ligadas ao minério de ferro


e siderurgia, que eram dotadas de dinamismo suficiente para a criação de
um polo de crescimento, o que mudaria a performance e as relações da
economia capixaba com as áreas mais desenvolvidas do país. Assim, o Espí-
rito Santo poderia representar um novo papel na divisão inter-regional do
trabalho, e seu crescimento teria como base um novo padrão de acumulação,
o que significaria “[...] a abertura da Economia Espírito-Santense para os
principais centros dinâmicos do país” (RIOS, 1966, p. 151).

Promover o crescimento industrial do Espírito Santo exigiria, antes de


tudo, a atração do capital privado (local ou nacional) para investir no setor.
Para tanto, o Governo Estadual teria que enfrentar, de início, dois desafios da
maior importância. Primeiramente havia necessidade de se criar infraestrutura
básica, cuja disponibilidade era insuficiente para atender à demanda, nos
setores de transporte, comunicações, energia, etc., e infraestrutura urbana
para atender ao intenso crescimento das cidades, principalmente na região
da Grande Vitória. Em segundo lugar, era mister modernizar a administração
pública, torná-la mais eficiente, mais ágil e mais objetiva.

Assim, a proposta básica do estudo foi a criação de um órgão de pla-


nejamento responsável pela elaboração do orçamento do Governo Estadual,
bem como a criação de instituições capazes de captar recursos financeiros
e destiná-los a um programa de desenvolvimento estadual.
64 Cafeicultura & Grande Indústria

Várias tentativas foram feitas no sentido de sensibilizar o Governo


Federal para a situação crítica que atravessava o Espírito Santo, objetivando,
com isso, conseguir o apoio necessário e imprescindível para a recuperação
econômica.

Primeiramente, o Governo Estadual pleiteou a inclusão do Espírito


Santo, no todo ou em parte, na área de abrangência da Sudene, especial-
mente para receber os benefícios do Sistema 34/18, transformando-se numa
área opcional para os investidores com acesso aos recursos financeiros dos
incentivos fiscais. Tentou-se mostrar, por meio das estatísticas econômicas,
que o Espírito Santo se assemelhava mais aos estados subdesenvolvidos
do norte e nordeste do que aos seus vizinhos da região sudeste. O então
governador Christiano Dias Lopes Filho sustentou, ainda, que o critério
para a escolha da região subdesenvolvida do país resultou em uma injustiça
inexplicável para o Espírito Santo, que sofria um autêntico achatamento
econômico. De nada, porém, adiantaram esses argumentos: o Governo
Federal negou peremptoriamente, apoiando-se no argumento de que outros
estados poderiam reivindicar igualmente esses benefícios, o que perderia o
caráter de exclusividade do norte e nordeste.

A partir de então, a solução passou a ser atribuir um caráter especí-


fico para o Espírito Santo. Assim, já em 1965, os empresários do estado7
encaminharam ao então ministro extraordinário para Assuntos de Plane-
jamento, Roberto Campos, um projeto de lei destinado a criar um órgão
de desenvolvimento regional: Comissão de Desenvolvimento Econômico
do Médio-Leste – Comleste –, abrangendo todo o estado do Espírito Santo,
o norte do Rio de Janeiro e o leste de Minas Gerais. Essa comissão estaria
ligada diretamente à Presidência da República e teria dotação orçamentária da
ordem de 1% da receita tributária da União. A Comleste teria como objetivos:
propor um Plano de Desenvolvimento para o Médio-Leste; integrar a ação
dos vários órgãos públicos nessa região; criar um Fundo de Investimento
(Fidemleste) destinado a integralizar o capital de empresas com projetos
considerados prioritários para a região; e financiar pesquisa, exploração
e industrialização dos recursos agropecuários e minerais do Médio-Leste.

7 O empresariado local foi representado pela Associação Comercial de Vitória e pelas Federações das Indústrias, do Comércio
e das Associações Rurais do Estado do Espírito Santo.
Espírito Santo • Economia e Política 65

A Comleste criaria, ainda, outros atrativos para empresas ou pessoas


físicas: isenção de impostos e taxas para importação de equipamentos sem
similares nacionais; redução de 25% do Imposto de Renda e adicionais não
restituíveis para as empresas até o ano de 1973; dedução de 25% a 50% do
Imposto de Renda devido pelas pessoas jurídicas; e abatimento na renda
bruta das pessoas físicas para investimentos na área.

Talvez por ser uma reivindicação pouco realista, pois envolvia uma série
de ônus para o orçamento federal, o projeto de lei não passou de projeto.

E registrou-se mais uma tentativa frustrada...

No entanto, o IBC-Gerca, órgão que promoveu a erradicação, reco-


nheceu a necessidade premente de intervenção na economia capixaba,
porque o programa de diversificação e substituição do cafezal erradicado
não estava surtindo os efeitos esperados. Foi, então, realizado pelo Instituto
Brasileiro do Café um estudo específico sobre o Espírito Santo (INSTITUTO
BRASILEIRO DO CAFÉ, 1967), do qual resultou o acordo IBC-Gerca/Go-
verno do estado do Espírito Santo, assinado em dezembro/66, segundo o
qual aquele organismo se comprometia a alocar recursos financeiros para
a reativação econômica do estado. Nesse estudo, o IBC admitia:
Por analogia, assim como o IBC indeniza o cafeicultor pela erradicação,
assim também o estado, que vê reduzida a sua renda, e o Governo, que
perde parcela apreciável de sua arrecadação, fazem igualmente jus a uma
compensação financeira. Entretanto, da mesma forma que, no atual
programa, a indenização ao cafeicultor está vinculada à diversificação, de
modo a gerar atividades substitutivas, a contribuição financeira do IBC
à economia estadual deverá compor um fundo, vinculado à promoção de
investimentos reprodutivos, vedando sua aplicação para custeio público
que extinguiria o recurso alegado, sem gerar novas riquezas (INSTITUTO
BRASILEIRO DO CAFÉ, 1967, p. 3.5/1).

O acordo com o IBC-Gerca trouxe um novo alento e representou um


direcionamento da intervenção estatal, passando o Governo Estadual a ter, a
partir de então, uma resposta concreta aos reclamos do setor privado local:
dispunha de recursos não só para realizar as obras de infraestrutura, mas
também para financiar a atividade produtiva, embora ainda não fosse nos
moldes requeridos pela iniciativa privada, que reiterava, a todo momento,
uma solução via sistema de incentivos fiscais.
66 Cafeicultura & Grande Indústria

Assim, o acordo com o IBC-Gerca ajudou, de um lado, a consolidar


algumas tendências já latentes na economia capixaba e, de outro, a sair do
“sufoco” imediato da crise, propiciando um espaço de tempo para recompor
as forças perdidas.

Estabeleceu-se, em primeiro lugar, como questão de fundo, que seria


importante fomentar o crescimento da indústria, em especial dos ramos
mais diretamente ligados ao setor agrícola (as agroindústrias), uma vez que
não havia produto, ou grupo de produtos, capaz de substituir a atividade
cafeeira. Esse princípio orientava a política proposta pelo IBC-Gerca para
o estado.

Em segundo lugar, tratou-se de criar o aparelhamento institucional


necessário à implementação do acordo. O IBC-Gerca criou o Fundo de
Diversificação Econômica da Cafeicultura – Fundec –, com recursos fi-
nanceiros específicos para infraestrutura básica e para o financiamento
à agroindústria. Para administrar esse fundo, o Governo Estadual criou
a Companhia de Desenvolvimento Econômico do Espírito Santo – Codes
–, que tinha ainda outros objetivos, pois deveria, segundo o relatório do
Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo,
[...] dotar o Estado de um instrumento capaz de planejar e coordenar a
mobilização e aplicação de recursos locais, nacionais e externos, visando
à aceleração de seu processo de desenvolvimento econômico. [...]. A Codes
surgiu como tentativa válida para cobrir uma lacuna que perdurou por
longo tempo, agravando a situação do Espírito Santo em relação a outras
unidades federadas que cuidaram de aparelhar-se para captar e aplicar
recursos em programas de desenvolvimento (BANCO DE DESENVOL-
VIMENTO DO ESPÍRITO SANTO, [1970?a], p. 2/2).

Assim, no primeiro ano de operação da Codes (1967), os recursos do


IBC-Gerca representaram a quase totalidade da sua disponibilidade financeira.
O montante daqueles recursos foi bastante significativo, e, relativamente, o
Espírito Santo foi o estado produtor de café mais beneficiado, assim como,
não há dúvida, foi também o estado que sofreu mais fortemente com o
programa de erradicação. Do total erradicado no Brasil, 22% situavam-se
no Espírito Santo, que possuía apenas 13% da população cafeeira nacional.
Do total de recursos para indenização direta dos produtores, 28% vieram
para o Espírito Santo, e dos recursos para o Programa de Diversificação
Espírito Santo • Economia e Política 67

Econômica das Regiões Cafeeiras, 24% foram destinados ao estado, que


também ficou com 38% dos recursos para agroindústrias.

Por último, vale ressaltar que a intervenção desse importante órgão


federal serviu como ponto de partida para o reconhecimento oficial da
situação crítica da economia estadual nos anos 1960 e começou a romper
a forte resistência existente, até então, por parte do Governo Federal, à
discussão e criação de um sistema de incentivos fiscais para o Espírito Santo.

Em que pese à contribuição financeira do IBC-Gerca, o reaparelha-


mento institucional do governo do estado e outros fatores que elevaram a
confiança do empresariado local na recuperação econômica e superação
da crise social, o poder político capixaba não cessou suas gestões junto à
União com vistas a transformar o Espírito Santo numa região merecedora
dos tão almejados incentivos fiscais.

O primeiro passo importante nessa direção foi a criação de um Grupo


de Trabalho (Decreto nº 62.197 de 30-01-68) com atribuições para proceder
à elaboração de um diagnóstico da situação socioeconômica do Espírito
Santo, bem como para definir algumas propostas para a sua recuperação.

Apesar da inoperância desse Grupo de Trabalho, dada, principalmen-


te, a sua composição (envolvendo vários ministérios, órgãos federais e
o Governo Estadual), conseguiram-se alguns resultados importantes. O
diagnóstico socioeconômico foi concluído sem nenhuma novidade. Mais
uma vez afirmava-se que a situação recessiva da economia advinha do
abalo no setor cafeeiro nos anos 1960, sem que se evidenciasse nenhuma
outra atividade de igual dinamismo, o que provocou “conjunturalmen-
te” queda do nível de renda e de emprego. Sua principal contribuição
refere-se às propostas apresentadas para a recuperação econômica: de
um lado, apontava o setor industrial como o único capaz de soerguer a
economia capixaba, com destaque para siderurgia, atividades florestais,
indústrias produtoras de insumos básicos para a construção civil, indús-
tria de café solúvel, além de frigoríficos; por outro lado, concluiu que
o livre jogo das forças de mercado não seria suficiente para provocar a
recuperação. A ação do Estado teria um papel primordial, principalmente
com a criação de um mercado de capitais “cativo”, ou seja, do sistema
de incentivos fiscais.
68 Cafeicultura & Grande Indústria

Entretanto a formulação desse sistema deveria obedecer a algumas


regras básicas sem as quais não seria possível contar com a aquiescência
do Governo Federal. Em primeiro lugar, não deveria representar mais ônus
para a União, ou seja, deveria fazer parte dos recursos que o Governo Cen-
tral já dispensava às políticas de desenvolvimento regional. Em segundo
lugar, não poderia prejudicar o fluxo de recursos carreados para as grandes
“regiões-problemas” do país – o norte e o nordeste – oriundos, em sua quase
totalidade, dos estados mais desenvolvidos, especialmente São Paulo e Rio
de Janeiro, mantendo, assim, a exclusividade dos estímulos já estabelecidos
para essas regiões.

O então governador Christiano Dias Lopes foi enfático em ressaltar


essas premissas, e realmente foi apresentada uma solução plausível para a
política local de incentivos fiscais. Na apresentação da proposta, dirigiu-se
ao então ministro do Planejamento nos seguintes termos:
O Espírito Santo compreende e aceita a inviabilidade de ser, a esta altu-
ra, incluído na área da Sudene. Também compreende que é do mais alto
interesse nacional que não se altere a legislação de incentivos destinados
à execução da política de desenvolvimento do nordeste. Igualmente já não
deseja nenhum tratamento que signifique drenar para seu território recursos
de outras áreas que seriam destinados ao nordeste. Hoje, o que o Espírito
Santo vem pedir ao Governo Federal é que, pelo menos, os recursos gerados
no Espírito Santo sejam retidos aqui, para nos ajudar no esforço imenso
de superação da crise. A fórmula é simples e irrespondível: o contribuinte
do Imposto de Renda, pessoa física ou jurídica, residente ou sediado no
Espírito Santo, poderá aplicar em projetos considerados de interesse para
o desenvolvimento do estado (ESPÍRITO SANTO, 1979, p. 20).

Assim, finalmente foi colocado um ponto final na luta reivindicatória


para distinguir o Espírito Santo com uma política específica de desenvolvi-
mento regional, consubstanciada no Decreto-Lei 880, de 18 de setembro de
1969, que conferiu aos contribuintes do imposto sobre a renda, pessoas física
e jurídica, domiciliados no Espírito Santo, o direito de aplicar as deduções
do imposto relativas ao Decreto-Lei 221 (pesca), Decreto-Lei 55 (turismo)
e Decreto-Lei 157 (compra de ações) em outros empreendimentos agrícolas
e industriais localizados em território capixaba.
Espírito Santo • Economia e Política 69

Esse mesmo Decreto-Lei criou também o Fundo de Recuperação


Econômica do Espírito Santo – Funres –, constituído pelos recursos de-
correntes dos incentivos fiscais, além de diversas dotações orçamentárias
federais e estaduais, com a finalidade de “[...] prestar assistência financeira,
sob a forma de participação acionária e de operações de crédito, a empre-
endimentos industriais e agropecuários localizados no estado do Espírito
Santo” (Decreto-Lei 880, art. 2º). Ficou instituído o Grupo Executivo para
Recuperação Econômica do Espírito Santo – Geres – para administrar e
disciplinar os recursos e incentivos criados pelo DL-880.

E, assim, encerra-se uma parte da história capixaba para dar início ao


processo de industrialização, característico dos anos mais recentes.
Espírito Santo • Economia e Política 71

Capítulo
2

Antecedentes:
crise agrícola e
industrialização
1955/75

O início da primeira fase de expansão recente da economia capixaba


situa-se em meados dos anos 1950, devido basicamente a dois importantes
acontecimentos.

O primeiro foi a implementação, a partir de 1956, do arrojado e


ambicioso Plano de Metas. Esse plano, que deu prosseguimento à política
desenvolvimentista do período anterior, objetivava aumentar o nível
de integração vertical da estrutura industrial brasileira. Verificou-se a
implantação, num curto espaço de tempo, de um conjunto de projetos
ligados à indústria de base e à efetivação de pesados investimentos es-
tatais no setor de energia elétrica e no sistema de transportes.8 Embora
os investimentos programados no Plano se tenham concentrado no
eixo Rio-São Paulo, alguns projetos industriais prioritários foram im-
plantados no território capixaba. Esses projetos, mesmo não sendo de
grandes dimensões, quando confrontados com a indústria e a economia
nacional, determinaram significativa expansão da indústria capixaba,

8 Sobre o Plano de Metas do Governo Juscelino Kubitschek ver o trabalho de Lessa (1982).
72 Cafeicultura & Grande Indústria

particularmente nos gêneros de metalurgia, minerais não metálicos e


produtos alimentares.

O segundo acontecimento foi o início da crise de preços inter-


nacionais do café, em 1955. A queda contínua dos preços do produto,
decorrente da sequência de supersafras verificadas na segunda metade
da década de 1950, teve seu momento mais crítico em 1962/63, quando
os preços atingiram o menor nível do período.9 Nos anos subsequentes
verificou-se ligeira recuperação dos preços, que, contudo, se mantiveram
em baixa até 1975. Somente a partir do segundo semestre desse ano,
iniciou-se retomada segura do crescimento dos preços. Assim, durante
aproximadamente vinte anos, a cafeicultura viveu uma grave crise de
preços, seguida de uma substancial redução de capacidade produtiva,
decorrente da erradicação dos cafezais patrocinada pela política do
IBC-Gerca.

Essa crise afetou profundamente o desempenho da agricultura estadual,


visto que a cafeicultura tinha grande relevância, e as demais atividades não
se constituíam em alternativas rentáveis para sua substituição. Apenas a
pecuária bovina apresentou boa performance e teve taxas elevadas de cres-
cimento, principalmente entre 1970 e 1975. Entretanto, a pecuária não se
constituiu em perfeita substituta da cafeicultura, tendo-se verificado um
desempenho sofrível da agricultura estadual no período de 1960/75, em
termos tanto de emprego quanto de renda.

O setor industrial, ao contrário da agricultura, apresentou, nessa


primeira fase, um grande dinamismo. Embora na década de 1950 seu
crescimento tenha sido negativo, devido à crise de preço do café, cujo
beneficiamento tinha significativo peso na estrutura industrial, na década
seguinte a expansão industrial teve grande vitalidade, determinada pelos
seguintes fatores: o início da operação dos projetos implantados pelo
Plano de Metas; a implantação de expansão de vários projetos que foram
viabilizados pela política de financiamento a agroindústrias instituída
pelo IBC-Gerca; a instituição da política de incentivos fiscais, que colocou

9 Sobre a política e a crise cafeeira nos anos 1950 e 1960 ver Guarnieri (1979).
Espírito Santo • Economia e Política 73

à disposição dos investidores nova massa de recursos;10 e, finalmente, a


retomada do crescimento da economia brasileira no período 1967/1973,
que possibilitou a expansão da indústria local, principalmente dos gêneros
madeira e produtos alimentares.

Por outro lado, as próprias transformações ocorridas na economia


capixaba, em particular na agricultura, possibilitaram um alargamento
considerável do mercado consumidor urbano local, o que, sem dúvida,
assumiu papel decisivo na viabilização de vários projetos dos gêneros tra-
dicionais da indústria de transformação.

Assim, nessa primeira fase, verificou-se uma crise agrícola profun-


da e de graves consequências sociais, ao mesmo tempo em que foram
criadas condições altamente favoráveis à industrialização, e imprimiu-se
um ritmo acelerado ao processo de urbanização. No âmbito desse am-
plo processo de transformação, todas as políticas adotadas pelo Estado,
principalmente a política de erradicação dos cafezais, vieram favorecer
a acumulação privada dos grupos econômicos locais, que lideraram e
comandaram o processo de crescimento industrial até o início da dé-
cada de 1970.

2.1 AUGE E CRISE DA CAFEICULTURA

A cafeicultura no Espírito Santo, desde sua implantação, em meados


do século XIX, sempre teve expressiva participação na agricultura e na
economia estadual. Sua importância, entretanto, foi acentuada a partir de
fins da década de 1940, devido ao extraordinário crescimento dos preços
internacionais e do plantio do produto.

Os preços médios de exportação do café passaram de US$ 16,18 por


saca de 60 Kg, em 1945, para US$ 58,34 e US$ 86,83 em 1950 e 1954,
respectivamente. Portanto, no período de dez anos, os preços aumentaram

10 A política de incentivos fiscais foi instituída pelo Decreto-Lei nº 880, de 18-09-1969, e pela Lei estadual nº 2469, de
28-11-1969. Os recursos gerados a partir desta legislação, no primeiro caso, oriundos do Imposto de Renda (IR); e, no
segundo, do Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICM), constituíram o Fundo de Recuperação Econômica do Estado
do Espírito Santo – Funres – administrado pelo Grupo Executivo pela Recuperação Econômica do Estado do Espírito
Santo – Geres – ambos criados pelo Decreto-Lei 880.
74 Cafeicultura & Grande Indústria

4,3 vezes. Isso, evidentemente, fomentou a expansão do plantio de novas


lavouras, o que elevou o número de cafeeiros, de 257,2 milhões de pés em
1940 para 359,2 e 447,6 milhões em 1950 e 1960, respectivamente. Dessa
forma, entre 1940 e 1960, houve um crescimento de 74% no número total
de cafeeiros. Também a produção cafeeira teve significativa expansão, tendo
as safras médias aumentado de 1,5 milhão de sacas no triênio 1942/44
para 2,3 milhões no triênio 1960/62, correspondendo a um crescimento
de 53% (tabelas de 2 a 4).

Essa expansão da cafeicultura acentuou seu peso específico na econo-


mia estadual, o que pode ser confirmado por três indicadores relevantes:

• Em 1960, verificou-se que 68,1% da População Economicamente Ativa


(PEA) estadual estava empregada no setor agrícola, e a lavoura cafeeira
era responsável pelo emprego de aproximadamente 80% da população
ocupada nesse setor (ESPÍRITO SANTO, 1968, p. 2/4).

• No mesmo ano, 22,1% da renda interna estadual era gerada diretamente


pelo café. Contudo esse percentual já se apresentava bastante reduzido
face à queda dos preços do produto ocorrida a partir de 1955. No ano
de 1950 essa participação fora bem mais significativa, tendo atingido o
percentual de 32,4% (UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO,
1982).

• Também a indústria de transformação era bastante influenciada pelo


café. Em 1949 o subgênero beneficiamento, torrefação e moagem de
produtos alimentares, composto basicamente pelo beneficiamento de
café, representava 60,9% do total do valor da produção da indústria
de transformação. Na década de 1950, com a redução dos preços do
produto, verificou-se uma queda acentuada do valor da produção desse
subgênero, assim como do gênero de produtos alimentares e do próprio
setor industrial como um todo, que apresentou uma taxa negativa de
crescimento de 1,2%. Assim, a participação de beneficiamento do café
reduziu-se para 16,6%, em 1959, o que, embora fosse bem menor que
a participação de 1949, era ainda bastante elevado.11

11 Dados básicos dos Censos Industriais de 1950 e 1960 compatibilizados pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas – NEP – se-
gundo o Censo de 1960 e publicados em MORANDI (1984, tabelas 36 e 37).
Espírito Santo • Economia e Política 75

Esses indicadores evidenciam a elevada dependência da economia


capixaba em relação à atividade cafeeira, que foi acentuada no bojo
do boom cafeeiro da primeira metade dos anos 1950. O aumento do
peso relativo da cafeicultura na economia estadual, entretanto, não
constituía, em si, um problema, tanto mais porque ocorrera devido à
expansão da lavoura.

Contudo o boom cafeeiro não se circunscreveu aos limites geográficos


do Espírito Santo, mas atingiu todas as regiões cafeeiras do país. Nos demais
estados a cafeicultura atingiu os seus mais expressivos índices de expan-
são.12 Com isso, ampliou-se de forma significativa a capacidade produtiva,
e verificou-se a ocorrência de extraordinárias safras anuais, cujas produções
eram bem superiores à capacidade de absorção do mercado consumidor.
A superprodução converteu o boom em grave crise, e os preços interna-
cionais do produto tiveram quedas espetaculares a partir de 1955. Nesse
ano, registrou-se uma queda de 29%; e em 1959, de 51,7%, em relação ao
preço médio de 1954.

Tabela 3 - N
 úmero de cafeeiros plantados, Espírito Santo, 1940-1987
Número de cafeeiros plantados
Ano
Total Em produção Novos
1940 257.272.755 212.997.130 44.275.625
1950 359.238.801 247.146.325 85.092.476
1960 447.645.103 360.431.122 87.213.981
1970 234.845.114 202.613.200 32.231.914
1975 247.165.671 193.756.765 53.408.906
1980 447.114.159 298.598.296 148.515.863
1985 645.214.793 485.175.737 160.039.056
1987 672.147.000 543.004.000 138.143.000
Fontes: Instituto Brasileiro do Café (1987); IBGE (1974a; 1979a; 1983a; 1987).

Essa crise de superprodução e preços, pela qual a cafeicultura capixaba


teve pequena responsabilidade, pois representava pouco mais de 10% da
produção nacional, afetou de forma profunda toda a economia estadual. A
manifestação mais evidente da crise foi, sem dúvida, a redução acentuada
da renda monetária das atividades diretamente ligadas ao café (produção,
financiamento, comercialização interna, exportação, beneficiamento, etc.)

12 Para verificação da expansão da cafeicultura nos outros estados brasileiros vide Anuário estatístico do Brasil (1940-1989)
e Anuário estatístico do café (1977).
76 Cafeicultura & Grande Indústria

e também daquelas que dependiam indiretamente do comportamento da


cafeicultura, principalmente o comércio de importação.

A queda dos preços do café afetou de forma particular a economia


capixaba, uma vez que se tratava de uma estrutura produtiva fundamentada
na pequena produção familiar. Numa economia “tipicamente capitalista”,
como a de São Paulo, deveria ocorrer intenso processo de substituição de
culturas, quando a lucratividade da cafeicultura atingisse um nível bastante
baixo, capaz de tornar essa atividade antieconômica.

Tabela 4 - P
 rodução de café beneficiado (média trienal), Espírito Santo, 1942/44-1987
(sacas de 60 kg)
Anos Produção de café   Anos Produção de café
1942/44 1.467.166   1966/68 1.373.225
1945/47 1.768.050   1969/71 1.157.617
1948/50 1.523.542   1972/74 1.126.558
1951/53 1.487.608   1975/77 1.020.392
1954/56 1.751.575   1978/80 2.339.317
1957/59 2.356.817   1981/83 3.426.492
1960/62 2.316.808   1984/86 4.233.656
1963/65 2.084.167   1987 3.708.275
Fontes: Anuário estatístico do Espírito Santo (1973); IBGE (1940-1989). Cálculos dos autores.
Notas:
1. A partir de 1947, os dados que se apresentavam em toneladas foram convertidos para sacas de 60 kg.
2. A partir de 1959, os dados referentes a café em coco foram transformados para café beneficiado com o
seguinte critério: 2 kg de café em coco = 1 kg de café beneficiado.

Na economia capixaba, ao contrário, a tendência era que se preser-


vasse a capacidade produtiva do café, uma vez que, apesar do baixo preço,
esse produto representava para os cafeicultores quase que a única fonte
de renda. Por outro lado, a unidade produtora dependia muito pouco
do café para sua subsistência, pois produzia a parte fundamental dos
produtos básicos de alimentação e poderia alterar hábitos de consumo
com a substituição de produtos comprados no mercado por outros de
sua própria produção.

Assim a economia capixaba apresentava-se altamente resistente à


crise e à desestruturação de sua base produtiva. Embora devesse ocorrer
expansão da produção de outros produtos agrícolas tradicionais, deve-
ria preservar-se tanto a capacidade produtiva da cafeicultura quanto a
própria unidade básica de produção, a pequena propriedade familiar. É
Espírito Santo • Economia e Política 77

evidente, contudo, que os setores capitalistas que dependiam do excedente


cafeeiro para alimentar seu processo de acumulação – particularmente
as atividades de beneficiamento e comercialização do produto – enfren-
tariam sérios obstáculos, dada a redução substancial da renda gerada
pela cafeicultura e o não surgimento de atividades substitutas capazes
de compensá-las.

Portanto, dadas essas condições particulares em que operava a eco-


nomia capixaba, esperava-se que, não havendo interferências exógenas,
ocorresse apenas redução da renda interna estadual, que redundaria em
retardamento do processo de acumulação.

No entanto, devido à enorme repercussão da crise cafeeira sobre


o balanço de pagamentos e a economia nacional, o Estado não poderia
manter-se afastado do setor cafeeiro em termos de política econômica.
Adotou-se, no início dos anos 1960, uma nova orientação para a política
cafeeira. No âmbito dessa nova política foi criado o Grupo Executivo de
Recuperação Econômica da Cafeicultura – Gerca – cuja tarefa fundamental
era executar o planejamento da produção cafeeira com o objetivo principal
de redução das supersafras.

Em 1962 foi elaborado o Plano Diretor do Gerca, com três diretrizes


básicas: promoção da erradicação dos cafezais antieconômicos, diversificação
das áreas erradicadas com outras culturas e renovação de parcela dos cafe-
zais. A promoção da erradicação foi a mais bem-sucedida, tendo, inclusive,
se transformado na peça básica da nova política cafeeira (GUARNIERI,
1979). As demais diretrizes não chegaram a ter consequências significativas,
enquanto a primeira se tornou um instrumento de grande importância
na intervenção do Estado no setor cafeeiro. Essa interferência, de caráter
exógeno, veio modificar tanto os efeitos da crise quanto a própria estrutura
produtiva da economia capixaba.

O programa de erradicação foi implementado em duas fases: a primei-


ra, no período de julho/62 a julho/66, durante o qual foram erradicados
723,5 milhões de pés; a segunda, entre agosto/66 e maio/67, atingindo
656 milhões de pés (tabela 5).
78

Tabela 5 - Resultado da execução do Programa de Erradicação dos Cafezais, 1962-1967


Cafeicultura & Grande Indústria

Cafeeiros erradicados Área liberada Valor pago aos cafeicultores


(1000 pés) (ha) (Cr$ 1.000 de ago/1966)
Estados
1ª fase 2ª fase Total 1ª fase 2ª fase Total 1ª fase 2ª fase Total

São Paulo 244.420 54.944 299.364 304.762 62.135 366.897 17.729 21.420 39.149

Minas Gerais 230.564 133.139 363.703 241.538 111.596 353.134 11.609 35.671 47.280

Paraná 125.712 124.185 249.957 161.062 146.000 304.062 7.429 52.538 59.967

Espírito Santo 67.903 235.272 303.175 60.429 239.000 299.429 3.707 66.547 70.254

Outros 54.887 108.257 163.144 50.726 115.000 165.726 2.198 31.980 34.178

Total 723.546 655.797 1.379.343 818.517 673.731 1.492.248 42.672 208.156 250.828

Fonte: Instituto Brasileiro do Café (1968).

Nota: 1
 ª Fase (de junho de 1962 a agosto de 1966).
2ª Fase (de agosto de 1966 a maio de 1967).
Espírito Santo • Economia e Política 79

O programa atingiu todas as áreas produtoras do país, mas algumas


tiveram proporcionalmente um número maior de pés erradicados, como foi
o caso do Espírito Santo. Neste estado foram erradicados 53,8% do cafezal,
que ocupava 71,0% da área total cultivada com café. Nos demais estados
cafeeiros – Minas Gerais, São Paulo e Paraná – essas proporções foram,
respectivamente, de 33,0, 26,0 e 28,4% dos cafeeiros e 41,2, 26,5 e 19,8%
das áreas cultivadas. Por isso, embora a cafeicultura capixaba possuísse,
em 1961, apenas 13% do número total de cafeeiros existentes no Brasil,
a erradicação realizada no Espírito Santo representou 22,0% do total de
cafeeiros e 20,1% da área cultivada (tabelas 6 e 7).

Tabela 6 - P
 articipação relativa por estado no Programa de Erradicação dos Cafezais
Valor pago aos
Cafeeiros erradicados Área liberada
cafeicultores Ago/1966
Estados (%) (%)
(%)
1ª fase 2ª fase Total 1ª fase 2ª fase Total 1ª fase 2ª fase Total
São Paulo 33,8 8,4 21,7 37,2 9,1 24,5 41,6 10,3 15,6
Minas Gerais 31,9 20,3 26,4 29,5 16,6 23,7 27,2 17,1 18,9
Paraná 17,4 18,9 18,1 19,7 21,7 20,6 17,4 25,8 23,9
Espírito Santo 9,4 35,9 22,0 7,4 35,5 20,1 8,7 32,0 28,0
Outros 7,5 16,5 11,8 6,2 17,1 11,1 5,1 15,4 13,6
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: Tabela 5.

Tabela 7 - Percentual da população cafeeira e da área cultivada com café atingidas pela
erradicação
Nº de cafeeiros erradicados/nº de Área liberada pela erradicação/área
Estados
cafeeiros existentes em 1961 (%) com cafeeiros em 1961 (%)
São Paulo 26,0 26,5

Paraná 28,4 19,8

Minas Gerais 33,0 41,2

Espírito Santo 53,8 71,0

Outros 29,4 29,9

Brasil 32,0 30,5

Fontes: Anuário estatístico do café (1977); Instituto Brasileiro do Café (1968).

Isso evidenciava claramente que a economia capixaba foi a mais


profundamente atingida pelo programa de erradicação, o que pode ser
explicado basicamente pelo fato de a cafeicultura estadual apresentar bai-
xo nível de produtividade e ser, em sua maior parte, antieconômica. Isso
80 Cafeicultura & Grande Indústria

se verificava porque as condições gerais em que se realizava a cafeicultura


eram extremamente precárias, devido tanto às condições naturais de clima
e relevo, que eram pouco favoráveis, quanto à pequena capitalização e quase
inexistente aplicação de técnicas modernas de cultivo e beneficiamento do
produto. Dessa forma, obtinham-se baixos níveis de produtividade e tipos
baixos de café, que não eram muito próprios à exportação (INSTITUTO
BRASILEIRO DO CAFÉ, 1963).

Assim, pareceria natural, até certo ponto, que o Espírito Santo sofresse
uma erradicação proporcionalmente maior, na medida em que a política
visava exatamente a erradicar os cafeeiros antieconômicos.

Por outro lado, e este parece ser o aspecto mais relevante, a significativa
indenização oferecida pelo Gerca por cova erradicada diante da pequena
produtividade e lucratividade da cafeicultura deve ter assumido aos olhos
dos cafeicultores o papel de um negócio mais atraente e rentável do que a
manutenção da planta e a colheita do produto. Segundo o Instituto Bra-
sileiro do Café (1963) o rendimento do café no Espírito Santo era de 308
kg/ha, enquanto em São Paulo era de 446 kg/ha e na Colômbia de 523
kg/ha. Devido a isso,
[...] com a queda dos preços do café, (...) o produtor capixaba foi toma-
do pelo desânimo, e a nossa cafeicultura revelou-se totalmente inviável.
Assim, quando o IBC ofereceu, no curso dos dois programas, de 400 a
700 cruzeiros velhos (Cr$ 0,40 e Cr$ 0,70 moeda atual) por pé que se
extirpasse, houve uma verdadeira corrida pela erradicação, porque
a produção da maioria das lavouras, por mil pés, aos preços vigorantes
(em torno de 15 cruzeiros velhos por saco), representava remuneração
sensivelmente inferior (ESPÍRITO SANTO, 1979, p. 2).

Considerando-se que no Espírito Santo se tinha em média 1.333 pés


de café por hectare e que se produziam 5,1 sacas de 60 kg/ha, obtinha-se
uma receita de Cr$ 769.995,00 com a colheita. Por outro lado, com a er-
radicação poder-se-ia obter uma receita que variava entre Cr$ 533.200,00
e Cr$ 933.100,00. Isso, portanto, demonstra o quanto era atrativo aos
cafeicultores o preço pago pelo IBC por cova erradicada. Comprova tam-
bém esse fato a declaração de José Maria Ferraz, presidente da Coopera-
tiva Central dos Lavradores de Café do Estado de São Paulo, constante
Espírito Santo • Economia e Política 81

no artigo “Opiniões contraditórias acerca da erradicação”, do jornal O


Estado de São Paulo, de 06-08-1966, citada por Guarnieri (1979, p. 2).
A medida do IBC é desastrosa já que provocará a erradicação quase total
dos cafezais em virtude dos incentivos muito grandes à erradicação. Mesmo
os cafezais produtivos serão agora erradicados, já que o preço médio de
Cr$ 450,00/cafeeiro arrancado oferecido pelo IBC dá um total de Cr$ 1
milhão ou Cr$ 1,2 milhão por alqueire, o que equivale quase ao próprio
valor do alqueire de terra.

O resultado foi que a política de erradicação implementada com o


objetivo de controlar a crise cafeeira de superprodução afetou de forma
profunda a economia capixaba num duplo sentido. Por um lado, criou
uma crise social de grandes proporções, e, por outro, veio “libertar” ou
“desimobilizar” os ativos representados pelos cafeeiros, que assumiram
forma líquida, mediante a indenização financeira do Gerca.

A crise social gerada pela erradicação é o aspecto mais ressaltado e se


expressou de forma dramática na substancial redução de renda e de empre-
go, o que provocou o empobrecimento econômico e um vigoroso processo
de “expulsão” da população do campo para as áreas urbanas. Estima-se o
desemprego de aproximadamente 60 mil pessoas, o que, considerando-se
uma taxa média de dependência de 3 por 1, mostra ter sido afetado um
total aproximado de 240 mil pessoas, sendo que boa parte migrou para as
cidades (tabela 8).

Tabela 8 - E
 stimativa do desemprego de mão de obra ocasionado pelo Programa de
Erradicação dos Cafezais, Espírito Santo, 1962/67
Fatores de desemprego e reocupação 1ª fase 2ª fase Total
1. Mão de obra liberada pela erradicação 14.827 58.643 73.470
2. Reocupação por atividades alternativas 2.639 10.437 13.076
2.1 Pastagens 1.949 7.708 9.657
2.2 Milho 475 1.878 2.353
2.3 Arroz 8 31 39
2.4 Algodão 28 112 140
2.5 Feijão 109 432 541
2.6 Mamona 40 159 199
2.7 Café 30 117 147
Saldo de desempregados 12.188 48.206 60394
Fontes: 1
 ª Fase: Estimativa de Guarnieri (1979).
2ª Fase: Estimativa dos autores com base nos Quadros III.9 a III.13 do citado trabalho de Guarnieri
(1979).
82 Cafeicultura & Grande Indústria

Essa crise era prevista pelos órgãos executores do programa de


erradicação, motivo pelo qual foram desenvolvidos simultaneamente
programas de estímulo à diversificação da produção agrícola e à reali-
zação de novos plantios nas áreas liberadas. A diversificação objetivava
principalmente ocupar a força de trabalho desempregada e aumentar a
produção de alimentos.

Entretanto, como foi colocado anteriormente, não se obteve sucesso


em termos de diversificação, o que pode ser atribuído à inexistência de
uma política mais ampla, capaz de garantir bons níveis de rentabilidade à
produção de alimentos. Em praticamente todos os estados cafeeiros a diver-
sificação agrícola foi pouco significativa, tendo sido, ao contrário, relevante
a ocupação das áreas liberadas por pastagens/pecuária, principalmente nas
regiões onde predominava a pequena produção familiar.

No caso de São Paulo, cuja agricultura capitalista já apresentava


significativa diversificação e vitalidade, foi mais acentuada a expansão de
outras lavouras, tendo a pastagem/pecuária ocupado apenas 26,8% da área
total liberada. Porém, no Espírito Santo, as pastagens/pecuária ocuparam
70,1% da área, o que, sem dúvida, muito contribuiu para agravar a crise
social, uma vez que essa atividade absorve contingente pouco expressivo
de força de trabalho (tabela 9).

Do ponto de vista da geração de renda, a situação também se tornou


dramática, pois, de uma safra média de 2,3 milhões de sacas de café no
período 1957/62, verificou-se a redução para 1,1 milhão de sacas no pe-
ríodo de 1969/74.

Ao se concluir a segunda fase do programa de erradicação, em maio


de 1967, o IBC-Gerca já tinha avaliado a nova política cafeeira instituída
a partir de 1962 e havia verificado que, enquanto as metas de erradicação
foram facilmente superadas, a diretriz de diversificação agrícola cafeeira
tinha fracassado quase que totalmente. Devido a esse fato, adotou-se, no
período 1967/69, o Programa de Diversificação Econômica das Regiões
Cafeeiras, cujo objetivo fundamental era apoiar, com financiamento fa-
vorecido, a implantação e ampliação de agroindústrias e a formação de
infraestrutura, de forma a criar condições de diversificação econômica
(GUARNIERI, 1979).
Tabela 9 - Diversificação agrícola nas áreas liberadas pela execução do Programa de Erradicação dos Cafezais, Jun/62 – Ago/66

Culturas São Paulo Minas Gerais Paraná Espírito Santo Outros estados Brasil
Substitutivas Área (ha) % Área (ha) % Área (ha) % Área (ha) % Área (ha) % Área (ha) %

Pastagem 81.676 26,8 160.623 66,5 65.069 40,4 42.361 70,1 17.095 33,7 366.824 44,8

Milho 78.019 35,6 34.298 14,2 17.878 11,1 5.680 9,4 15.218 30,0 151.093 18,5

Arroz 51.809 17,0 3.865 1,6 2.738 1,7 60 0,1 6.087 12,0 64.559 7,9

Algodão 22.248 7,3 – – 25.770 16,0 242 0,4 152 0,3 48.412 5,9

Feijão 6.400 2,1 18.115 7,5 7.731 4,8 1.088 1,8 3.500 6,9 36.834 4,5

Cana-de-açúcar 19.505 6,4 4.831 2,0 2.255 1,4 1.269 2,1 964 1,9 28.824 3,5

Mandioca 4.267 1,4 4.106 1,7 3.382 2,1 6.405 10,6 1.522 3,0 19.682 2,4

Amendoim 16.762 5,5 – – 1.772 1,1 – – 51 0,1 18.585 2,3

Mamona 4.267 1,4 – – 4.671 2,9 363 0,6 761 1,5 10.062 1,2

Café 3.047 1,0 966 0,4 483 0,3 121 0,2 101 0,2 4.718 0,6

Reflorestamento 1.524 0,5 1.691 0,7 805 0,5 181 0,3 – – 4.201 0,5

Outras Culturas 15.238 5,0 13.043 5,4 28.372 17,7 2.659 4,4 5.275 10,4 64.723 7,9

Total 304.762 100,0 241.538 100,0 161.062 100,0 60,429 100,0 50.726 100,0 818.517 100,0

Fonte: Dados do IBC citados em Guarnieri (1979, p. 120).


Espírito Santo • Economia e Política
83
84 Cafeicultura & Grande Indústria

Em 1969 foi constatado que a cafeicultura nacional havia reduzido


sua capacidade produtiva além do necessário e que as safras eram insufi-
cientes para o atendimento do mercado externo e nacional, o que obrigou
o IBC a utilizar seus estoques. Essa constatação levou o órgão a instituir, a
partir de 1969, vários programas de financiamento à expansão do plantio
de café na década de 1970.13

Entretanto, mesmo a adoção dessa política de expansão do plantio


não chegou a alterar substancialmente a situação da cafeicultura capixaba
até meados dos anos 1970. Tanto a capacidade produtiva quanto as safras
do produto não sofreram grandes alterações, tendo-se mantido em níveis
bastante reduzidos comparativamente ao período pré-erradicação. O número
de cafeeiros, que fora de 447,6 milhões de pés em 1960, reduziu-se para
234,8 milhões em 1970 e apresentou um pequeno crescimento de 5,2%
até 1975, quando alcançou 247,1 milhões de pés. Por outro lado, também a
produção média anual, que tinha sido de 2,3 milhões de sacas entre 1960 e
1962, reduziu-se para 1,1 milhão entre 1969 e 1971 e manteve essa mesma
média entre 1972 e 1974 (tabelas 3 e 4).

Essa situação, evidentemente, estava ligada, de um lado, à erradicação


que reduziu a capacidade produtiva em 53% e, de outro, à insuficiência
do estímulo ao plantio que se verificou a partir de 1970. Embora o IBC
tenha fornecido financiamento favorecido, os preços internacionais do
produto, que consistiam no principal fator estimulante, não apresenta-
ram comportamento favorável, tendo-se mantido de US$ 38 a US$ 70
a saca de 60 kg (tabela 2). Assim, os novos plantios foram suficientes
para repor a capacidade produtiva, reduzida anualmente em função
do próprio ciclo natural do café, ou seja, observou-se basicamente o
plantio de reposição.

Em resumo, o primeiro sentido em que a política de erradicação afetou


a economia capixaba redundou em grave crise social, que não se resolveu
com a retomada da expansão da cafeicultura, e foi representada pela re-
dução do emprego agrícola e significativo fluxo migratório da população

13 Conforme Carvalho Filho (1975), foram instituídos o Programa Global de 1969 e o Plano de Emergência com meta
de plantio de 100 milhões de pés, tendo sido realizado o plantio de 39 milhões de pés com financiamento nos anos de
1969 e 1970. No início dos anos 70, foram adotados outros Planos de Renovação e Revigoramento de Cafezais, tendo
sido financiadas 87 milhões de mudas e realizado o plantio de 120 milhões de pés.
Espírito Santo • Economia e Política 85

rural para as áreas urbanas. Mas a erradicação afetou a economia estadual


também de uma outra forma, pois, mediante a indenização por cova erra-
dicada, possibilitou a “libertação” do capital ou a “desimobilização” dos
ativos representados pelos cafeeiros. Assim, os cafeeiros assumiram liquidez
plena, tendo a massa de recursos da indenização atingido no Espírito Santo
a cifra de 70 milhões de cruzeiros a preços de agosto de 1966 (tabela 5), a
maior entre todos os estados produtores de café.

Esses recursos, inicialmente, devem ter sido distribuídos de forma


pulverizada entre milhares de pequenos proprietários, que procederam à
erradicação de seus cafezais. Porém, posteriormente, devem ter-se concen-
trado em poder de poucos capitalistas, que eram favorecidos pelos diversos
mecanismos de centralização do capital (estruturas do comércio, sistema
bancário, etc.) existentes na economia.

De qualquer forma, estando em mãos de pequenos ex-agricultores


ou de capitalistas, os recursos certamente foram aplicados em atividades
alternativas, tanto na agricultura quanto nos demais setores da economia,
principalmente em pequenos negócios comerciais e industriais. Assim,
a política de erradicação veio possibilitar a expansão de atividades alter-
nativas à cafeicultura, não só porque forneceu uma parcela de capital
necessário mas também porque fomentou o crescimento do mercado
consumidor urbano local.

Dentre as muitas atividades que se expandiram durante a crise da


cafeicultura, destacaram-se, pela grande importância que assumiram, a
extração madeireira e a pecuária bovina. Ambas tiveram como suporte um
intenso processo de apropriação e ocupação das terras devolutas existentes
na região norte do estado. A ocupação dessa região, que se iniciou na década
de 1920 e continuou lentamente até meados dos anos 1950, acelerou-se na
década de 1960, devido, certamente, ao incremento do mercado de terras
verificado com a injeção dos recursos de indenização do IBC-Gerca.14

A existência, na década de 1960, de grande disponibilidade de terras


ainda cobertas por florestas naturais, na região norte do estado, tornava

14 A região norte do Espírito Santo tem uma área de 2.373.800ha, o que corresponde a 52,1% da área total do estado. Em
1920 apenas 5,6% dessa área era apropriada, aumentando para 37,9%, em 1950, e 49,7%, em 1960. Na década de 1960
foram ocupados 801.667ha nessa região o que representou 21,3% da área total do estado. Com isso 83,4% das terras
apropriadas daquela região já estavam apropriadas em 1970 (MORANDI et al., 1984).
86 Cafeicultura & Grande Indústria

o preço da terra bastante baixo, o que facultava o acesso até a pequenos


lavradores. A apropriação de terras, provavelmente, foi facilitada também
pela disponibilização de capital, que passou a existir com a erradicação
dos cafezais. Por outro lado, a exploração madeireira deveria apresentar-se
como um negócio altamente rentável, devido ao acelerado crescimento
urbano do país, principalmente nos estados vizinhos do Rio de Janeiro e
Minas Gerais, que deveria exigir uma quantidade significativa de madeira,
tanto para a indústria de mobiliário, quanto para o setor da construção
civil. Diante do quase esgotamento das reservas florestais desses estados,
o Espírito Santo apresentava-se como a alternativa de abastecimento mais
viável, por sua posição estratégica em termos de proximidade do mercado
consumidor.

A extração madeireira já tinha uma certa importância antes da cri-


se cafeeira. Porém foi após meados dos anos 1950 que ela se expandiu
de forma significativa, principalmente entre a época da erradicação dos
cafezais e meados da década de 1970. A produção média de madeira em
toros, que no triênio 1952/54 foi de 79,6 mil m3, passou a 169,4 mil m3;
em 1955/57, com um crescimento de 112,8%. Em 1967/69 atingiu 344,1
mil m3 e em 1973/75, 317,2 mil m3, a partir de quando entrou em franco
declínio. Da mesma forma se comportou a produção de lenha, que passou
de 357,9 mil m3 no triênio 1952/54 para 1.068,3 mil m3 em 1952/57. No
triênio 1967/69, atingiu 1.696,2 mil m3, tendo declinado rapidamente a
partir de 1976/77 (tabela 10).

A aceleração do crescimento da atividade madeireira é evidenciada


também pelos dados de exportação, pois, de um índice de 100 em 1935/37,
passou a 128,8 em 1953/55, e a 161,0 em 1956/58. No período subsequente
as exportações cresceram mais ainda, com índice de 236,7 no triênio de
1959/61; 270,7 em 1962/64; e 272,6 em 1965 (tabelas 11 e 12).

A extração da madeira, portanto, constituiu-se em importante al-


ternativa de emprego da força de trabalho e do capital, “liberados” pela
erradicação dos cafezais. Além disso, possibilitou o desenvolvimento da
atividade de beneficiamento da madeira, que teve importante repercussão
no setor industrial.
Espírito Santo • Economia e Política 87

Tabela 10 - L
 enha e madeira em toros extraídas de florestas nativas, Espírito Santo,
1952/54 – 1987 (média trienal)
Madeiras em toros Índice de Índice de
Anos Lenha (m3)
(m3) crescimento crescimento
1952/54 79.692,7 100,0 357.999,3 100,0
1955/57 169.409,7 212,6 1.068.391,3 298,4
1958/60 247.349,3 310,4 1.628.790,0 455,0
1961/63 282.370,3 354,3 1.866.598,3 521,4
1964/66 349.176,7 438,2 1.760.137,0 491,7
1967/69 344.120,7 431,8 1.696.232,7 437,8
1970/72 274.830,3 344,9 1.453.966,3 406,1
1973/75 317.200,0 398,0 1.416.768,7 395,7
1976/77 206.339,5 258,9 674.471,5 188,4
1978/80 120.598,0 151,3 508.239,4 142,0
1981/83 208.968,0 262,2 470.710,7 131,5
1984/86 182.303,7 228,8 394.092,0 110,1
1987 161.303,7 203,0 339.860,0 94,9
Fontes: Anuário estatístico do Espírito Santo (1955-1987); IBGE (1940-1989).

Tabela 11 - Í ndice de crescimento das exportações de madeira segundo destino, Espírito


Santo, 1935/37 – 1965
Anos Rio de Janeiro Minas Gerais Outros Total
1935/37 100,0 100,0 100,0 100,0
1938/40 107,0 363,6 230,8 126,3
1941/43 110,8 181,7 57,0 113,2
1944/46 85,7 165,9 109,4 91,8
1947/49 108,7 230,2 1.258,6 167,4
1950/52 93,7 129,2 447,7 112,5
1953/55 100,0 480,0 306,4 128,8
1956/58 113,8 979,3 207,1 161,0
1959/61 170,1 1.162,9 544,0 236,7
1962/64 180,0 1.324,7 926,7 270,7
1965 174,3 976,3 1.460,3 272,6
Fonte: Anuário estatístico do Espírito Santo (1955-1987).
Nota: Cálculos dos autores.

Tabela 12 - P
 articipação relativa dos principais estados importadores no total das
exportações de madeira, Espírito Santo, 1935/37 – 1965
Anos Rio de Janeiro Minas Gerais Outros Total
1935/37 92,0 4,7 4,4 100,0
1938/40 78,0 13,8 8,2 100,0
1942/43 90,1 7,7 2,3 100,0
1944/46 86,0 8,7 5,3 100,0
1947/49 59,8 6,6 33,7 100,0
1950/52 76,7 5,5 17,8 100,0
1953/55 71,5 17,9 10,6 100,0
1956/58 65,1 29,2 5,8 100,0
1959/61 66,2 23,6 10,3 100,0
1962/64 61,2 23,5 15,3 100,0
1965 58,9 17,2 24,0 100,0
Fonte: Anuário estatístico do Espírito Santo (1955-1987).
Nota: Cálculos dos autores.
88 Cafeicultura & Grande Indústria

Outra atividade com grande expansão durante o período da crise


cafeeira foi a pecuária bovina, em particular a pecuária de corte. Essa ativi-
dade, sem dúvida, tal como a exploração da madeira, teve seu crescimento
ligado à expansão do mercado urbano, tanto dos estados vizinhos quanto
do próprio estado do Espírito Santo.

Parece ser relevante, também, para explicar o crescimento da pecuária,


o fato de ser uma das formas menos onerosas de ocupar extensas e/ou
pequenas áreas de terras, uma vez que emprega relativamente pouca força
de trabalho, e os animais se reproduzem naturalmente.15

Essa atividade, até 1950, tinha pouca importância para a economia


capixaba, apresentando-se mais como produção de subsistência. Naquele
ano contava apenas com um total de 464 mil cabeças – uma média de 10,5
cabeças por estabelecimento – e uma área de pastagens correspondente a
23,1% da área total dos estabelecimentos rurais. Entretanto, já na década
de 1950, observou-se uma aceleração da expansão da área de pastagens
e do rebanho bovino. Em 1960, a área de pastagens passou a representar
29,2% da área dos estabelecimentos rurais, e o rebanho bovino aumentou
para 653,8 mil cabeças, tendo crescido à taxa de 3,5% para o conjunto do
estado e à taxa de 7,8% na região norte – fronteira em expansão – onde
se processava a ocupação das terras e a exploração madeireira (tabela 13).
Essa tendência registrada na década de 1950 foi mantida entre 1960 e 1975,
tendo, inclusive, acelerado ainda mais o crescimento da pastagem/pecuária.

Na década de 1960, a área de pastagens aumentou de 842,6 mil ha para


1.829,9 mil ha, o equivalente a 48,7% da área total dos estabelecimentos
(tabela 14). É importante destacar que, nesse período, houve a incorpo-
ração de 870 mil ha de novas terras, que correspondiam, principalmente,
aos novos estabelecimentos da região norte do estado.16 Por outro lado, a
erradicação dos cafezais liberou, no período, uma área total de 299,4 mil
ha, cuja maior parcela (70,1%) foi ocupada por pastagens (tabela 5 e 9).
Assim, as pastagens, além de ocuparem a maior parte da área liberada pela
erradicação, ocuparam também uma área equivalente a 89,3% das novas
terras de fronteiras incorporadas.

15 Sobre o papel da pecuária na ocupação de terras esgotadas, modalidades predatórias de cultivo e de terras ainda não
esgotadas, cujos fazendeiros têm mais como reserva de valor que como recurso produtivo, ver Szmrecsányi (1981).
16 Dados básicos do IBGE (1974a). Cálculos do NEP/Ufes.
Tabela 13 - E
 fetivo bovino e taxa anual de crescimento do rebanho, Espírito Santo, 1950-1985

Efetivo de bovinos Taxa anual de crescimento (%)


Regiões
1950 1960 1970 1975 1980 1985 50/60 60/70 70/75 60/75 75/80 80/85

Centro 132.725 166.099 221.770 326.563 290.744 285.743 2,3 2,9 8,0 4,6 (-2,3) (-0,3)

Sul 201.366 269.559 385.439 516.514 488.131 463.568 3,0 3,6 6,0 4,4 (-1,1) (-1,0)

Norte 103.372 218.232 779.600 1.261.082 1.065.150 1.010.512 7,8 16,6 10,1 12,4 (-3,3) (-1,0)

Total 437.463 653.890 1.386.809 2.104.159 1.844.025 1.759.823 3,5 7,8 8,7 8,1 (-2,6) (-0,9)

Fontes: IBGE (1974a; 1979a; 1983a; 1985).


Nota: Taxas de crescimento calculadas pelos autores.
Os parênteses indicam que as taxas de crescimento são negativas.

Tabela 14 - Área e taxa anual de crescimento das pastagens, Espírito Santo, 1950/1985

Área de pastagens (ha) Taxa anual de crescimento (%)


Regiões
1950 1960 1970 1975 1980 1985 50/60 60/70 70/75 75/80 80/85

Centro 171.909 227.141 329.264 387.561 351.859 320.501 2,83 3,78 3,31 (1,91) (1,8)

Sul 253.803 326.940 463.532 507.484 473.738 433.926 2,56 3,55 1,83 (1,37) (1,7)

Norte 158.073 288.575 1.037.187 1.235.513 1.153.148 1.125.174 6,20 13,65 3,56 (1,37) (0,5)

Total 583.785 842.656 1.829.983 2.130.558 1.978.745 1.879.617 3,74 8,06 3,09 (1,47) (1,0)

Fontes: IBGE (1974a; 1979a; 1983a; 1985).

Nota: T
 axas de crescimento calculadas pelos autores.
Os parênteses indicam que as taxas de crescimento são negativas.
Espírito Santo • Economia e Política
89
90 Cafeicultura & Grande Indústria

Da mesma maneira comportou-se a pecuária, pois a taxa anual de


crescimento do rebanho aumentou de 3,5%, na década anterior, para 7,8%,
na década de 1960, tendo novamente a região norte apresentado um ex-
traordinário crescimento, com uma taxa de 16,6% (tabela 13).

No período entre 1970 e 1975, reduziu-se substancialmente o ritmo


de crescimento da incorporação de novas terras, mas a expansão da área
de pastagens prosseguiu crescendo, mesmo que a um ritmo mais lento,
tendo representado, no final do período, 55,5% da área total dos esta-
belecimentos rurais. A pecuária, ao contrário, teve o rebanho ampliado
a taxas mais elevadas em todas as regiões. Para o conjunto do estado, a
taxa de crescimento foi de 8,7%; na região norte foi de 10,1% e nas do
centro e do sul – que haviam sido, na década anterior, de 2,9% e 3,6 %–
passaram a 8,0% e a 6,0%. Com isso, a pecuária bovina tornou-se mais
intensiva, tendo aumentado para 34,5 a relação de cabeças de gado por
estabelecimento (tabela 13). No conjunto, entre 1960 e 1975, a área de
pastagens cresceu 152,8%, enquanto a área de lavouras foi reduzida em
11,3%.

Essa extraordinária expansão da pecuária pode ser explicada por uma


multiplicidade de fatores.

Em primeiro lugar, deve-se lembrar que a agricultura estadual


apresentava um ciclo histórico natural: procedia-se ao desmatamento
seguido do plantio do café, que, após o seu período de vida produtiva,
era substituído por pastagens/pecuária. Assim, formava-se o ciclo “mata-
-café-pastagens”, determinado, por um lado, pela grande disponibili-
dade de terras que garantia à cafeicultura áreas virgens e férteis para
sua reposição e ampliação, e, por outro lado, pelos métodos arcaicos e
depredadores utilizados na lavoura cafeeira, que exauriam com grande
rapidez os elementos orgânicos e a fertilidade natural do solo, tornando-
-o pouco apto a novos plantios. Isso, sem dúvida, constituiu um fator
natural de expansão da pecuária, uma vez que a atividade, diante do
esgotamento do solo, se apresentava praticamente como a única alter-
nativa de substituição.
Espírito Santo • Economia e Política 91

Em segundo lugar, teve grande importância o crescimento do mercado


consumidor urbano no Espírito Santo e nos estados vizinhos ocorrido nas
décadas de 50 e 60.17

Por outro lado, a crise de preços do café e a própria política de erra-


dicação trouxeram em seu bojo mecanismos que estimularam a pecuária.
A redução dos preços do café desestimulava a expansão da cafeicultura e,
na medida em que outras lavouras não se apresentavam como alternativas
lucrativas, devido a seus baixos preços, a pecuária aparecia como a ativi-
dade menos onerosa e certamente mais rentável. No mesmo sentido veio
influenciar a erradicação dos cafezais com a liberação de grande área de
café, que foi majoritariamente ocupada por pastagens. Isso, inclusive, foi
facilitado pela política de diversificação do IBC-Gerca, que, na segunda
fase do programa de erradicação, forneceu estímulos financeiros para a
formação de pastagens destinadas à pecuária leiteira e de corte.

Veio, também, favorecer a expansão da pecuária, a partir de 1967, a


prioridade que o IBC-Gerca estabeleceu para a indústria do abate de bovinos
e de laticínios na aplicação dos seus recursos alocados para financiamento,
o que possibilitou a ampliação da capacidade de processamento industrial.

Deve-se lembrar, ainda, o Programa de Desenvolvimento da Pecuária de


Corte, que abrangeu áreas contíguas dos estados de Minas Gerais, Espírito
Santo e Bahia e foi implementado no início dos anos 1970. No Espírito
Santo, beneficiou cerca de 20 municípios, incluindo toda a região norte, e
envolveu a aplicação de aproximadamente 23 bilhões de cruzeiros a preços
da época, conforme Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo [1970?a].

É interessante observar que, nesse período em análise, se verificou o


rompimento do tradicional ciclo da agricultura capixaba “mata-café-pastagens”.
Nesse ciclo, o elemento determinante era o café, cujas necessidades de reposição
e expansão forçavam o desmatamento de áreas virgens para o seu plantio. O
novo ciclo instituído tornou-se mais curto, ou seja, “mata-pastagens”, sendo
que o fator determinante nas novas condições não era mais o café, mas a
atividade de extração de madeira. A imensa área de novas terras apropriadas,

17 No Espírito Santo, segundo dados dos Censos Demográficos do IBGE, a população urbana na década de 1940 cresceu à taxa
de 2,4% ao ano, enquanto nas décadas 1950 e 1960 cresceu, respectivamente, 7,4% e 5,8% ao ano. Em 1950 apenas quatro
municípios (Vitória, Cachoeiro de Itapemirim, Vila Velha e Colatina) tinham população urbana superior a 10 mil habitantes,
somando 111 mil habitantes, ou 55,5% da população urbana do estado. Em 1960, esse número aumentou para oito municípios
(Vitória, Vila Velha, Colatina, Cachoeiro de Itapemirim, São Mateus, Cariacica, Conceição da Barra e Alegre), que somaram
315 mil habitantes, ou 76,9% da população urbana estadual. No ano de 1970, eram 13 os municípios com mais de 10 mil
habitantes, somando um total de 629 mil habitantes, ou 87,3% da população urbana do Espírito Santo, conforme Celin (1982).
92 Cafeicultura & Grande Indústria

na região norte do estado, não teve no café o fator determinante, visto que
o produto vivia uma grande crise de preços e não se apresentava como ativi-
dade rentável. A exploração madeireira, no entanto, aparecia como um dos
mais rentáveis negócios, passando a ser atividade principal e determinante do
desmatamento. E, uma vez realizado o desmatamento, a terra encontrava-se
nua, sem que a lavoura cafeeira a ocupasse. Nessas condições, mesmo que
não permitisse bom nível e lucratividade, a pecuária apresentava-se como a
melhor forma de ocupação da terra, pois não exigia grande imobilização nem
grande investimento em manutenção do rebanho e da mão de obra. Ademais,
tradicionalmente, a pecuária extensiva constituiu-se numa forma bastante
eficiente de ocupar e “reservar” a terra, principalmente devido à reprodução
natural do rebanho e às grandes áreas que demanda.

A extraordinária expansão da pecuária bovina, ao mesmo tempo em


que a cafeicultura vivia prolongada crise, foi de grande importância para
economia capixaba, tendo a atividade passado por um processo de moder-
nização, tornando-se mais especializada e menos extensiva.

Em 1960, apenas 5,9% dos estabelecimentos rurais, que ocupavam


11,5% da área total, tinham a pecuária como atividade predominante. No
ano de 1975, esse quadro apresentava-se bastante modificado, com 26,5%
dos estabelecimentos, que ocupavam 48,1% da área total (tabela 15).

De forma diversa, o café, que em 1960 era atividade predominante


em 69,9% dos estabelecimentos rurais, que ocupavam 67,4% da área total,
reduziu a sua participação no ano de 1975, sendo atividade predominante
em apenas 34,7% do número de estabelecimentos que representavam 25,6%
da área dos estabelecimentos rurais (tabela 15).

Além da pecuária, outras culturas apresentaram tendências de cresci-


mento, embora não tenham assumido grande peso relativo na agricultura
estadual. Deve-se registrar também o surgimento de novas atividades, o
que propiciou uma relativa diversificação.

Tomando-se, por exemplo, as sete principais lavouras da agricultura capi-


xaba, com exceção do café, verifica-se que, no período analisado, todas tiveram
expansão da área cultivada e do volume de produção; pode-se observar, também,
que essas lavouras não apresentaram aumento relevante de produtividade. O
rendimento médio por hectare manteve-se praticamente estagnado na maioria
das lavouras, tendo, inclusive, declinado em algumas (tabela 16 a 18).
Tabela 15 - Atividades econômicas predominantes nos estabelecimentos rurais, Espírito Santo, 1960/1985

1960 1970 1975 1980 1985

Atividades

Nº de
estabelecimentos
Área (ha)
Área média (ha)
Nº de
estabelecimentos
Área (ha)
Área média (ha)
Nº de
estabelecimentos
Área (ha)
Área média (ha)
Nº de
estabelecimentos
Área (ha)
Área média (ha)
Nº de
estabelecimentos
Área (ha)
Área média (ha)

Agricultura 46.720 2.297.517 49,2 48.810 1.951.505 40,0 43.217 1.770.196 41,0 44.748 1.997.074 44,6 54.285 2.316.197 42,7

. Arroz 930 41.141 44,2 2.002 102.306 51,1 1.984 79.911 40,3 1.154 53.789 46,6 1.572 66.970 42,6

. Banana 465 12.149 26,1 3.031 84.934 28,0 3.508 115,165 32,8 3.673 120.501 32,8 3.708 107.611 29,0

. Cacau 465 64.022 137,7 514 65.843 128,1 520 78.336 150,6 574 76.990 134,1 589 65.357 110,9

. Café 35.468 1.819.721 51,3 22.374 993.286 44,4 21.042 981.972 46,7 25.609 1.220.711 47,7 36.506 1.527.477 41,8

. Cana-de-açúcar 448 44.581 99,5 975 40.383 41,4 830 29.618 35,7 779 47.636 61,2 1.056 119.752 113,4

. Feijão 2.073 71.743 34,6 2.146 73.262 34,1 3.775 147.568 39,1 2.826 141.265 50,0

. Milho 3.913 115.098 29,4 9.534 293.585 30,8 5.387 153.208 28,4 2.972 112.220 37,8 2.559 87.363 34,1

Pecuária 2.995 310.096 103,5 13.866 1.408.761 101,6 16.080 1.847.831 114,9 13.072 1.528.546 116,9 13.851 1.347.855 97,3

Hortifloricultura 37 533 14,4 274 5.098 18,6 489 10.682 21,8 473 10.883 23,0 150 7.463 49,7

Silvicultura 9 398 44,2 64 53.242 831,9 74 142.239 1.922,1 48 197.044 4.105,1 46 198.914 4.324,2

Avicultura 39 920 23,6 195 7.895 40,5 232 8.846 38,1 689 20.702 30,0 737 15.861 21,5

Estrativa vegetal 213 20.248 95,1 554 66.983 120,9 485 58.870 121,4 343 43.839 127,8 20 7.333 366,7

Total 50.752 2.700.722 53,2 65.252 3.599.440 55,2 60.585 3.838.842 63,4 59.380 3.798.228 64,0 69.140 3.895.428 56,3

Fonte: IBGE (1974a; 1979a; 1983a; 1985).


Espírito Santo • Economia e Política
93
94 Cafeicultura & Grande Indústria

Tabela 16 - Q
 uantidade produzida das principais culturas agrícolas (média trienal),
Espírito Santo, 1945/47 – 1987/88 (toneladas)
Culturas
Anos Arroz em Banana Cacau Café Cana-de- Feijão Mandio-
Milho
Casca (1) Amêndoa em Coco -açúcar em grão ca
1945/47 19.970 97.585 1.596 211.166 464.875 19.964 360.855 69.287
1948/50 24.944 118.285 2.935 182.825 439.438 24.941 303.228 70.107
1951/53 26.532 139.725 3.642 178.513 462.891 21.929 298.522 76.464
1954/56 23.565 176.320 3.433 201.189 493.750 26.270 387.971 79.727
1957/59 34.168 203.540 5.366 283.818 581.113 31.784 463.846 129.891
1960/62 45.026 240.610 5.564 278.017 595.433 38.267 425.623 151.334
1963/65 62.028 328.315 4.225 250.100 714.260 35.869 520.027 155.988
1966/68 57.345 387.230 5.603 164.787 704.730 41.073 570.900 216.533
1969/71 73.333 486.090 6.043 138.914 732.337 41.742 778.943 233.091
1972/74 81.492 475.642 7.368 135.187 620.009 45.715 632.891 244.931
1975/77 64.018 393.425 7.522 122.447 807.943 38.280 768.777 203.655
1978/80 64.468 232.455 11.593 280.718 978.449 39.982 688.889 213.554
1981/83 67.873 271.675 11.310 411.179 1.444.459 46.933 476.414 199.452
1984/86 101.797 325.265 12.192 508.039 2.687.074 48.235 528.841 231.221
1987/88 112.858 338.370 8.123 444.993 2.838.568 61.337 306.856 237.009
Fontes: Anuário estatístico do Espírito Santo (1973); IBGE (1940-1989).
Notas: (1) A produção de banana foi convertida em tonelada de acordo com a seguinte relação: um cacho é igual a 15Kg.

Tabela 17 - Á
 rea colhida1 das principais culturas agrícolas
(média trienal), Espírito Santo, 1945/47 – 1987/88 (hectares)
Arroz Cana-
Cacau Café Feijão Man-
Anos em Banana de- Milho Total
Amêndoa em Coco em grão dioca
Casca açúcar
1945/47 15.493 4.589 4.034 226.250 16.170 30.968 25.570 82.941 413.202
1948/50 16.796 5.243 7.255 225.069 15.667 37.043 22.262 80.086 417.917
1951/53 18.283 6.407 10.898 238.691 15.834 35.380 20.587 86.333 445.994
1954/56 19.294 7.321 11.543 269.069 17.242 39.754 24.023 96.410 495.063
1957/59 22.972 7.753 16.014 300.839 19.495 49.295 26.672 143.913 597.628
1960/62 28.616 9.735 19.108 300.301 21.686 61.672 27.141 168.163 646.704
1963/65 46.883 14.360 24.438 327.884 26.097 60.403 38.733 167.585 717.072
1966/68 46.000 17.698 22.329 244.622 23.873 74.302 43.131 219.519 701.859
1969/71 55.858 19.957 24.004 209.235 25.360 87.870 48.387 235.031 720.269
1972/74 54.744 24.273 22.101 196.871 19.859 85.139 49.868 221.840 702.383
1975/77 47.910 29.975 21.157 192.362 26.063 85.087 54.985 188.589 668.698
1978/80 38.890 28.217 21.349 274.403 30.611 81341 47.486 167.204 705.433
1981/83 29.700 23.378 20.391 337.630 28.754 92.269 28.820 130.264 699.923
1984/86 35.488 28.068 21.010 409.115 44.346 101.683 31.186 130.869 801.765
1987/88 36.886 27.741 21.587 438.5862  50.996 83.685 18.766 123.326 801.573
Fontes: Anuário estatístico do Espírito Santo (1973); IBGE (1940-1989).
Notas: (1) Até 1965 a informação refere-se à área cultivada.
(2) O dado é referente apenas ao ano de 1987.
Espírito Santo • Economia e Política 95

Tabela 18 - R
 endimento médio das principais culturas agrícolas, Espírito Santo, 1945/47
– 1987/88 (toneladas)
Arroz Cacau Café Cana-de- Feijão
Anos Banana Mandioca Milho
em Casca Amêndoa em Coco -açúcar em grão
1945/47 1,3 21,3 0,4 0,9 28,7 0,6 14,1 0,8
1948/50 1,5 22,6 0,4 0,8 28,0 0,7 13,6 0,9
1951/53 1,5 21,8 0,3 0,7 29,2 0,6 14,5 0,9
1954/56 1,2 24,1 0,3 0,8 28,6 0,7 16,2 0,8
1957/59 1,5 26,3 0,3 0,9 29,8 0,6 17,4 0,9
1960/62 1,6 24,7 0,3 0,9 27,5 0,6 15,7 0,9
1963/65 1,3 22,9 0,2 0,8 27,4 0,6 13,4 0,9
1966/68 1,2 21,9 0,3 0,7 29,5 0,6 13,2 1,0
1969/71 1,3 24,4 0,3 0,7 28,9 0,5 16,1 1,0
1972/74 1,5 19,6 0,3 0,7 31,2 0,5 12,7 1,1
1975/77 1,3 13,1 0,4 0,6 31,0 0,5 14,0 1,1
1978/80 1,7 8,2 0,5 1,0 32,0 0,5 14,5 1,3
1981/83 2,3 11,6 0,6 1,2 50,2 0,5 16,5 1,5
1984/86 2,9 11,6 0,6 1,2 60,6 0,5 17,0 1,8
1987/88 3,1 12,2 0,4 1,0 55,7 0,7 16,4 1,9
Fontes: Tabelas 16 e 17.
Cálculos dos autores.

O milho e a mandioca, depois da pecuária, foram os produtos que


ocuparam maior parcela da área liberada pelo café. O milho teve sua pro-
dução média anual aumentada de 79,7 mil toneladas no triênio 1954/56
para 244,9 mil toneladas em 1972/74, o que corresponde a 207%. A área
cultivada com o produto nesse mesmo período, por sua vez, cresceu 130%,
o que demonstra ter havido um aumento de produtividade de 37,5%.

A cultura de mandioca teve um desempenho menos favorável, tendo


aumentado sua área em 107,6%; e a produção, em apenas 63,1%, com
redução de produtividade.

O arroz teve sua área média cultivada aumentada em 183,7%; e a


produção, em 254,8%, enquanto a produtividade sofreu variações e apre-
sentou tendência crescente.

O feijão, como a mandioca, apresentou um crescimento menos sig-


nificativo. Sua área cultivada expandiu-se em 114,2%; e a produção, 74%.
A produtividade dessa lavoura apresentou um decréscimo de aproximada-
mente 20%.

Esses quatro produtos eram tradicionais na agricultura capixaba, pois


são itens básicos da alimentação. Em geral, eram cultivados em pequena
96 Cafeicultura & Grande Indústria

escala, principalmente para atender às necessidades das famílias dos agri-


cultores. O milho, sem dúvida, sempre foi o produto mais importante dos
quatro, tendo chegado a ocupar, em alguns anos, área superior à ocupada
pelo café.

Entretanto, em que pese ao crescimento havido no período, nenhum


desses produtos se tornou isoladamente significativo, nem passou a ser
produzido em grande escala. Mantiveram-se como atividade de subsistência,
cujo pequeno excedente era comercializado.

A cana-de-açúcar, cuja produção era destinada à fabricação de açúcar,


manteve-se praticamente estagnada. Sua área cultivada cresceu apenas
15,2%; e a produção, somente 25,7%. Registrou-se um pequeno crescimento
de produtividade, mas a atividade não apresentou dinamicidade suficiente
nem sequer para suprir o abastecimento do mercado local.

A cultura do cacau teve um crescimento modesto e praticamente


nenhum ganho de produtividade. A banana, ao lado do arroz e do milho,
foi uma cultura que teve expressiva expansão da produção, equivalente a
169,8%.

Entretanto mesmo essas culturas, que tiveram grande expansão, não


chegaram a assumir participação expressiva na agricultura capixaba, prin-
cipalmente em termos de geração de renda. O café, apesar da queda de
preços e da erradicação, manteve a posição de principal lavoura.

Outras atividades surgiram ao longo da década de 1960, dentre as quais


se deve destacar a horticultura, a avicultura e a silvicultura. A horticultura,
em 1960, era atividade predominante em apenas 37 estabelecimentos, que
ocupavam uma área de 533 ha. Em 1975, o número de estabelecimentos
aumentou para 489; e a área para 10.682 ha, o que correspondia a 0,3%
da área total dos estabelecimentos existentes no Espírito Santo. Da mesma
forma, a avicultura passou de atividade predominante em 39 estabeleci-
mentos, que ocupavam 920 ha, para 232 estabelecimentos, cuja área era
de 8.846 ha, em 1975. Essas duas atividades, sem dúvida, tiveram seu
crescimento ligado ao incremento da população urbana que se verificou a
partir de 1960 (tabela 15).

A silvicultura, ao contrário, estava ligada ao processo de crescimento


industrial, pois a produção de madeira destinava-se à fabricação de celu-
Espírito Santo • Economia e Política 97

lose e de carvão vegetal. Em 1960, essa atividade era predominante em


apenas nove estabelecimentos, que ocupavam 398 ha. No ano de 1975, o
número de estabelecimentos aumentou para 74; e a área, para 142.239 ha,
um crescimento de 35.638% (tabela 15). O reflorestamento foi iniciado
no estado a partir de 1967, por intermédio da Aracruz Florestal S/A e da
CVRD, que se valeram do incentivo fiscal baseado no Imposto de Renda,
instituído em fins de 1966.18

Pode-se concluir, portanto, que, no período de aproximadamente 20


anos (1955/1975) – quando a cafeicultura capixaba viveu a crise mais dra-
mática de sua história –, verificaram-se algumas mudanças na agricultura
estadual. A mais relevante, sem dúvida, foi a extraordinária expansão da
pecuária bovina e da área de pastagens, que tanto substituíram majori-
tariamente o café erradicado, quanto ocuparam a maior parte das novas
áreas incorporadas à exploração agrícola. Aproximadamente 25% da área
atual dos estabelecimentos rurais foi apropriada entre 1960 e 1975, sendo
que a quase totalidade dessa área (950.175 ha) após o desmatamento foi
ocupada por pastagens e pela pecuária bovina. Além dessa atividade, deve-
-se destacar o surgimento da horticultura, avicultura e silvicultura, que
assumiram uma importância crescente.

Entretanto, no que diz respeito aos produtos tradicionais da lavoura,


não se verificaram alterações substanciais, pois, embora tenha havido ex-
pansão de área cultivada e de produção de praticamente todos os produtos,
não se registrou aumento significativo de produtividade. O café, apesar
da prolongada crise, manteve o seu nível de elevada importância para a
agricultura e a economia estadual, principalmente em termos de geração
de emprego e de renda.

18 A atividade de reflorestamento desenvolveu-se no Espírito Santo a partir da Lei 5.106, de 02-09-1966, que permitiu a
dedução de até 50% do Imposto de Renda (IR) devido para aplicação em florestamento; e da Portaria 784, de 24-01-
1969, do IBDF, que tornou obrigatório o plantio de novas essências florestais às empresas que utilizavam madeira como
matéria-prima. Assim, instalou-se em 1967 a Aracruz Florestal S/A, empresa que em 1969 tomou um empréstimo na
Codes correspondente a uma dotação específica do IBC-Gerca para reflorestamento. Deve-se mencionar também a
Docemade (atual Florestas Rio Doce S/A), subsidiária da CVRD, que iniciou um grande projeto de reflorestamento em
1969, e outras oito empresas de pequeno porte que, em 1970, já realizavam reflorestamento no Espírito Santo (BANCO
DE DESENVOLVIMENTO DO ESPÍRITO SANTO, [1970?a]).
98 Cafeicultura & Grande Indústria

2.2 POLÍTICA ECONÔMICA E CRESCIMENTO


INDUSTRIAL

A indústria capixaba, ao iniciar-se a crise da cafeicultura, em meados


dos anos 1950, apresentava-se, ainda, muito dependente da atividade de
beneficiamento de café. Por outro lado, sua participação na formação da
renda interna estadual era muito pouco expressiva, apenas 8% em 1950
(UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, 1982).

Relativamente à indústria nacional, sua contribuição era também


pouco relevante, pois, em 1949, o valor da produção da indústria de trans-
formação do Espírito Santo representou apenas 0,7% do valor da produção
da indústria de transformação nacional (MORANDI et al., 1984).

Em 1949, o parque industrial capixaba tinha reduzidas proporções


e era muito pouco diversificado. Os quatro principais gêneros – produtos
alimentares, madeira, têxtil e minerais não metálicos – representavam
92,2% do valor da produção da indústria de transformação. Além disso, o
gênero de produtos alimentares, isoladamente, era responsável por 76,7%
do valor da produção da indústria (tabela 31). O subgênero beneficiamento,
torrefação e moagem de cereais, no qual se destacava o beneficiamento do
café, contribuía com 60,9% para a formação do valor da produção do setor
industrial (MORANDI et al., 1984).

A indústria de transformação caracterizava-se pela predominância de


pequenos estabelecimentos, cujo tamanho médio (número de operários por
estabelecimentos), em 1949, era de apenas 4,6, enquanto que para o Brasil
atingiu 12,8, praticamente o triplo (MORANDI et al., 1984).

Essa estrutura industrial, inevitavelmente, teria de ser atingida de


forma profunda pela crise de preços que se abateu sobre a cafeicultura.
Assim, tal como ocorreu no setor agrícola, verificou-se uma substancial
redução do valor da produção do gênero de produtos alimentares, refletin-
do diretamente sobre o valor da produção do próprio setor industrial. Na
década de 1950, os produtos alimentares apresentaram taxa anual negativa
de crescimento de 6,6%. O setor industrial como um todo também teve
uma taxa de crescimento negativa, que, entretanto, foi bem mais reduzida
(1,3%). Essa queda menos acentuada do setor deveu-se ao bom desempenho
Espírito Santo • Economia e Política 99

da quase totalidade dos demais gêneros (tabela 30). Em 1959, o subgênero


beneficiamento, torrefação e moagem de cereais apresentou uma participa-
ção relativa na produção industrial bastante reduzida, em torno de 16,6%,
enquanto havia sido, em 1949, de 60,9%. Isso, sem dúvida, deveu-se quase
que exclusivamente à queda acentuada dos preços do café, que afetou o
desempenho do setor industrial como um todo (MORANDI et al., 1984).

É interessante observar que, na década de 1950, o setor industrial, apesar


de afetado pela crise de preços do café, passou a receber impactos positivos
do início da implantação de importantes projetos industriais, instalados
sob a orientação do Plano de Metas. Assim, o início da crise da cafeicultura
coincidiu com o novo ciclo de expansão do investimento industrial em nível
nacional, realizado entre 1956 e 1961. Essa política desenvolvimentista, que
objetivava a consolidação da base produtiva da indústria nacional, acabou
tendo repercussões positivas no parque industrial capixaba.

Entretanto, os dois principais projetos implantados só vieram a ter


reflexos sobre o crescimento da produção industrial na década de 1960, pois
a nova planta da Companhia Ferro e Aço de Vitória – Cofavi – começou
a operar em 1963, e a da Itabira Agroindustrial S/A (fábrica de cimento)
também só entrou em operação na primeira metade dos anos 1960. Ambos
os projetos estavam ligados ao setor produtor de bens intermediários, uma
das áreas prioritárias de investimentos do Plano de Metas.

A Cofavi, empresa constituída em 1942, operou, até 1962, um alto-


-forno que produzia 12 mil toneladas/ano de ferro-gusa. Em 1962/63
foi construída uma nova usina com capacidade de laminação de 130 mil
toneladas/ano, com controle acionário do Governo Federal através do
BNDE.19 Essa nova unidade industrial, devido ao seu tamanho, teve grande
repercussão na indústria capixaba, pois determinou significativa expansão

19 A Cofavi foi fundada em 1942 por um grupo de empreendedores capixabas. A sua unidade industrial começou a operar
em 1945 e compunha-se de um pequeno alto-forno a carvão vegetal com capacidade de produção de 40 toneladas por
dia ou 12 mil toneladas/ano de ferro-gusa. Esse alto-forno funcionou até 1962, quando foi paralisado, no mesmo local
onde atualmente está instalada a Cofavi, no bairro Jardim América, em Cariacica. Em 1959, no âmbito do Plano de
Metas do Governo Kubitschek, a Cofavi elaborou e foi aprovado pelo Governo Federal, através do BNDE, o seu plano de
expansão, que consistiu, em sua primeira etapa, na instalação de uma unidade de laminação para perfis leves e médio,
com capacidade de produção de 130 mil t/ano. Em 31 de outubro de 1963 foi inaugurada essa unidade, que passou a
operar utilizando lingotes de aço produzidos pela Usiminas, pois esta sua 1ª etapa foi conjugada com o projeto daquela
empresa. A nova Cofavi contou com o apoio decisivo do BNDE, que, além de garantir os recursos de financiamento
para sua instalação, se tornou também o seu principal acionista, detendo 95% de suas ações. Foi de grande importância
também a participação da empresa alemã Ferrostaal A.G. que, como maior acionista privada, teve a responsabilidade
do financiamento e fornecimento de todo o material e equipamento importado (CAPES, 1959; COMPANHIA FERRO E
AÇO DE VITÓRIA, 1962, [19--a], [19--b]).
100 Cafeicultura & Grande Indústria

do gênero metalurgia, que, em 1959, representava apenas 3,1% do valor


da produção industrial e, em 1970, passou a 10,0%, com uma taxa de
crescimento de 27,6% ao ano, uma das mais elevadas do período, bem su-
perior à taxa de crescimento do setor industrial em conjunto. Com isso, o
gênero metalurgia, que ocupava o sexto lugar em valor da produção, subiu
para a terceira posição, sendo superado apenas por produtos alimentares
e madeira (tabela 31).

A fábrica de cimento era também de tamanho significativo, mas não


teve o mesmo impacto que a Cofavi, pois o seu gênero era mais diversificado
e desde 1939 já figurava entre os quatro principais da indústria capixaba.
O gênero minerais não metálicos, além do cimento, engloba a produção
de vários outros produtos – em geral destinados à indústria da construção
civil –, e teve uma significativa expansão, devido à acelerada urbanização
verificada na década de 1960. Assim, de 7,4% do valor da produção indus-
trial em 1959, sua participação aumentou para 9,8% em 1970, em função
da taxa de crescimento de 17,8% ao ano (tabela 31).

Portanto esses dois gêneros, que ocupavam a terceira e a quarta


posições na estrutura da indústria local em 1970 e respondiam por
aproximadamente 20% do valor da produção industrial, apresentaram
elevadas taxas de crescimento, devido, em parte, à operação desses
grandes projetos.

Por outro lado, os outros dois mais importantes gêneros, que, tanto
em 1959 quanto em 1970, apareceram em primeiro e segundo lugares em
valor da produção, também apresentaram elevadas taxas de crescimento,
mas tiveram sua expansão determinada mais diretamente por políticas
específicas de apoio à industrialização implementadas a partir de 1967,
após a erradicação dos cafezais.

O gênero madeira, que sempre esteve entre os quatro principais,


apresentou, na década de 1960, uma taxa de crescimento de 15,1% ao
ano, elevando sua participação relativa para 21,2% do valor da produção
do setor industrial. Esse gênero, o segundo mais importante em valor da
produção, detinha o primeiro lugar em geração de emprego, tendo, em
1959, empregado ¼ do total de operários da indústria de transformação,
o que, em 1970, se elevou para 33% (tabelas 30 e 31).
Espírito Santo • Economia e Política 101

O outro gênero – produtos alimentares – sempre deteve o primeiro


lugar em valor da produção, com elevada participação da atividade de bene-
ficiamento de café. Em função disso, apresentou uma taxa de crescimento
negativa (6,6% a.a.) na década de 1950, quando se registrou acentuada
queda do preço. A década de 1960, no entanto, contrastou, de forma pro-
funda, com a década anterior, tanto porque a taxa anual de crescimento
do gênero foi positiva e elevada (14,0%) quanto porque se verificou uma
grande diversificação no seu interior, com a consequente redução do peso
relativo do beneficiamento de café.

Um exame mais detalhado desse gênero evidencia o seguinte: a) o


subgênero beneficiamento de cereais, apesar do baixo preço do café du-
rante toda a década de 1960, expandiu-se à taxa anual de 12,4%, tendo o
número de estabelecimentos aumentado de 267 para 908; b) o subgênero
açúcar apresentou uma taxa de crescimento de 9,6%, que, embora eleva-
da, foi inferior à do gênero, tal como aconteceu com o beneficiamento de
cereais; c) os dois subgêneros – abate de animais e laticínios –, processa-
dores de produtos animais, apresentaram desempenho semelhante. Suas
taxas de crescimento foram superiores à apresentada pelo gênero produtos
alimentares. O abate de animais teve uma taxa anual de crescimento de
25,6%, enquanto a de laticínios foi de 16,4% (tabela 19). Com isso suas
participações relativas no gênero aumentaram de 7,5% e 13,8% em 1959,
para 21,7 e 17,3% em 1970, respectivamente.

Tabela 19 - T
 axa anual de crescimento do valor da produção da indústria de produtos
alimentares, Espírito Santo, 1959 – 1980
Subgêneros 1959/70 1959/75 1970/75 1975/80
Beneficiamento, torrefação e moagem de produtos
alimentares 12,4 10,1 5,3 16,1
Abate de animais e preparo de conservas de carne e
banha de porco 25,6 24,1 20,8 0,0
Laticínios (indústria pasteurização de leite) 16,4 18,2 22,3 3,1
Açúcar 9,6 10,1 11,0 18,6
Balas, caramelos, gomas de mascar, bombom, chocolate
e doce de leite 6,3 8,7 14,2 20,2
Produtos de padarias, confeitarias, pastelarias e sorvetes 7,9 6,8 4,4 0,0
Outros produtos alimentares 10,4 10,6 11,1 19,9
Total 14,0 14,1 14,1 10,4
Fontes: IBGE (1966b, 1974b, 1979b, 1984b).
Notas:
1. “Outros produtos alimentares” equivale ao valor de produção total do gênero excluídos os três primeiros subgêneros.
2. Taxas de crescimento calculadas pelos autores.
102 Cafeicultura & Grande Indústria

Além desses quatro gêneros citados, que representavam, em 1970,


81,4% da indústria de transformação, deve-se destacar também outros seis
gêneros, cujas contribuições individuais para o produto industrial eram
bem menos significativas, mas superavam 2%.

Esse conjunto, constituído pelos gêneros tradicionais – bebidas, têx-


til, mobiliário e vestuário e calçados – e por dois outros não tradicionais
– material de transporte e química – que apenas começavam a surgir no
Espírito Santo, somados aos quatro maiores representavam 96% do valor
da produção do setor industrial.

Os gêneros tradicionais, com exceção do têxtil, eram constituídos


por pequenos estabelecimentos e tiveram, no período, taxas anuais de
crescimento superiores a 11%. O têxtil, que cresceu à taxa de 6,2%, era
formado por grandes fábricas, e sua produção não se destinava apenas ao
atendimento do mercado local como os demais.

Material de transporte e química, gêneros não tradicionais, que, pra-


ticamente, surgiram na década de 1960, apresentaram as elevadíssimas
taxas anuais de crescimento de 43,4% e 51,0%, respectivamente. No pri-
meiro, destacava-se a atividade de reparo de máquinas ferroviárias, navais
e de terraplanagem, enquanto no segundo aparecia a produção de rações
balanceadas e fertilizantes.

Em resumo, a indústria de transformação no Espírito Santo apresen-


tou uma grande vitalidade na década de 1960, o que se refletiu na elevada
taxa anual de crescimento de 14,9%. Foi significativo também o fato de o
crescimento acelerado ter-se verificado em, praticamente, todos os gêneros,
tanto nos tradicionais quanto nos que surgiram durante a década. Entre-
tanto, apesar da grande expansão, foram pouco expressivas as alterações da
estrutura industrial, pois os pequenos estabelecimentos continuaram a ser
predominantes. O tamanho médio dos estabelecimentos praticamente não
se modificou, tendo passado de 4,6 para 4,8 operários por estabelecimento
(MORANDI et al., 1984).

Por outro lado, a diversificação industrial também foi pouco relevante.


A rigor, verificou-se a expansão dos gêneros tradicionais e o surgimento de
novos gêneros, que não chegaram a assumir papel de destaque durante a
Espírito Santo • Economia e Política 103

década de 1960. Em 1959, os seis principais gêneros representavam 86,9%


do valor da produção do setor industrial, e, em 1970, os mesmos seis gê-
neros representavam 87,3%, praticamente a mesma composição nos dois
momentos, tendo-se apenas verificado grande perda de participação relativa
do gênero têxtil e uma extraordinária expansão da metalurgia, decorrente
da instalação da nova unidade de laminação da Cofavi.

Este grande dinamismo da indústria capixaba verificado na década


de 1960 esteve associado a diversos fatores determinantes. O primeiro foi
a implementação da política desenvolvimentista do Plano de Metas, com
importantes repercussões no nível do investimento industrial. Em segundo
lugar, foi relevante o fato de que a decadência da cafeicultura tornou a
atividade pouco atrativa e abriu espaço para a expansão de atividades alter-
nativas, principalmente a exploração de madeira e a pecuária bovina, que
tiveram desdobramentos em termos da industrialização de seus produtos.
O terceiro fator foi a acelerada expansão dos mercados consumidores ur-
banos do Espírito Santo e dos estados vizinhos, o que possibilitou aumento
significativo da demanda de bens industriais de consumo produzidos pela
indústria local.

Além desses fatores, foi decisivo o apoio financeiro a agroindústrias,


que o IBC-Gerca e o governo do estado instituíram a partir de 1967, com
a criação da Companhia de Desenvolvimento do Espírito Santo – Codes –,
cujos recursos se somaram aos da indenização da erradicação dos cafezais já
injetados na economia capixaba pelo IBC-Gerca, possibilitando a formação
de um montante de capital capaz de viabilizar importantes investimentos
industriais.

Nos três anos de existência da Codes (1967/69), foram intermedia-


dos recursos de várias fontes, dentre as quais se destacaram o IBC-Gerca,
com 72,0% do total; o Governo Estadual, com 13,4%; e o BNDE, com
8,1%. A supremacia do IBC-Gerca no fornecimento dos recursos deveu-
-se à prioridade dada ao Espírito Santo por aquele órgão, que alocou no
estado 24% do total de recursos do Programa de Diversificação Econômica
das Regiões Cafeeiras (BANCO DE DESENVOLVIMENTO DO ESPÍRITO
SANTO, [1970?a]).
104 Cafeicultura & Grande Indústria

A Codes financiou um total de 37 projetos industriais, sendo que 26


eram projetos de ampliação de fábricas já existentes e 11 eram de instala-
ção de novas plantas industriais. Dentre estes últimos destacaram-se, pelo
elevado valor do investimento, os projetos da Realcafé Solúvel do Brasil S/A
e do Frigorífico Rio Doce S/A – Frisa (BANCO DE DESENVOLVIMENTO
DO ESPÍRITO SANTO, [1970?a]).

Os gêneros industriais mais beneficiados com os financiamentos da


Codes foram exatamente os tradicionais: produtos alimentares, madeira e
mobiliário. Os recursos do IBC-Gerca foram alocados da seguinte forma:
produtos alimentares, 59,8%, sendo 23,9% para a indústria de carne, 17,1%
para a indústria de café e 16,2% para a de açúcar; madeira e mobiliário,
11,1%; e a atividade de reflorestamento, que, embora não se tratasse de
empreendimento industrial, recebeu 12,8% dos recursos (tabela 20).

Tabela 20 - A
 plicações dos recursos do IBC/Gerca do Programa de Diversificação
Econômica das Regiões Cafeeiras, Espírito Santo, 1967/70
Finalidades CR$ %
1. Projetos agroindustriais
1.1. Indústria de Leite 0,1 0,9
1.2. Indústria de Carne 2,8 23,9
1.3. Indústria de Mandioca 0,2 1,7
1.4. Indústria de Ração 0,2 1,7
1.5. Indústria de Madeira 0,7 6,0
1.6. Indústria de Açúcar 1,9 16,2
1.7. Indústria de Sizal 0,2 1,7
1.8. Indústria de Algodão 0,4 3,4
1.9. Indústria de Móveis 0,6 5,1
1.10. Indústria de Vestiário 0,1 0,9
1.11. Indústria de Latas 0,6 5,1
1.12. Indústria de Avícola 0,2 1,7
1.13. Reflorestamento 1,5 12,8
1.14. Indústria de Café 2,0 17,1
Total 11,7 100,0
Fonte: IBC-Gerca publicados em Guarnieri (1979).

A partir de 1970, com a operação do Bandes e do Geres/Funres, o setor


industrial passou a contar também com o apoio do sistema de incentivos
fiscais, criado pelo DL-880 e pela Lei 2.469, que aportava recursos sob a
forma de participação societária e financiamento. O Geres, entre 1970 e
1974, apoiou 40 projetos industriais (10 de ampliação e 30 de implantação),
Espírito Santo • Economia e Política 105

concentrados principalmente nos gêneros produtos alimentares, minerais


não metálicos, metalurgia e têxtil – cujas participações relativas no total
aplicado, até 1973, foram, respectivamente, de 37,8; 20,7; 7,5; e 7,4% .20

Entre 1970 e 1975, a indústria de transformação confirmou uma


elevada taxa anual de crescimento, da ordem de 17,7%, e sua expansão
manteve, basicamente, as mesmas tendências e características verificadas
na década anterior.

O gênero produtos alimentares, embora tenha crescido à mesma taxa


da década de 1960, perdeu participação relativa, uma vez que os demais
gêneros cresceram a taxas bem mais elevadas. No seu interior persistiu a
tendência de queda de participação relativa do subgênero beneficiamento
e moagem de cereais e de aumento do peso relativo de abate de animais e
laticínios, o que refletia a enorme vitalidade da pecuária bovina.

A metalurgia repetiu a elevada taxa de crescimento da década ante-


rior, tornando-se o segundo mais importante gênero, com participação
de 17,4% no valor da produção industrial. Sua grande expansão deveu-
-se, basicamente, à instalação e operação de algumas pequenas usinas
siderúrgicas produtoras de ferro-gusa,21 de várias serralherias e da Aciaria
I da Cofavi.22

A indústria de madeira, refletindo o início do esgotamento das florestas


naturais capixabas e do sul da Bahia, teve crescimento mais moderado, o
que reduziu a sua contribuição relativa à formação do valor da produção
industrial.

O grande crescimento urbano (que fomentava a expansão da cons-


trução civil) e a consolidação do mercado e da indústria de mármore

20 Grupo Executivo para a Recuperação Econômica do Espírito Santo ([1974?], [1977?]).


21 Foram implantadas duas usinas de ferro-gusa: a Companhia Brasileira de Ferro – CBF -, que entrou em operação em
01-09-74, com capacidade de produção de 45 mil t/ano de ferro-gusa localizada no município de Cariacica; e a Cimetal
Siderúrgica S/A, no município de Ibiraçu, que iniciou suas atividades em setembro de 1972 (FEDERAÇÃO DAS INDÚS-
TRIAS DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO, 1986).
22 A partir de abril de 1971, com a inauguração do forno elétrico nº 1 da Aciaria I, a Cofavi começou a produzir o seu
próprio aço, utilizando sucata de ferro. No dia 14 de junho de 1973, foi inaugurado o segundo forno elétrico da Aciaria
I e a primeira unidade de lingotamento contínuo. Com esses dois fornos instalados, a capacidade de produção de aço da
Cofavi situou-se um pouco acima das 100 mil t/ano. Por outro lado, a capacidade de laminação, em 1974, atingiu 200
mil t/ano, o que exigia que a empresa complementasse suas necessidades com a aquisição de aço de terceiros. Em abril
de 1975, foi inaugurada a segunda unidade de lingotamento contínuo, com o que o lingotamento convencional ficou
como opção de reserva (COMPANHIA FERRO E AÇO DE VITÓRIA, [198-?a], [198-?b].
106 Cafeicultura & Grande Indústria

possibilitaram a manutenção de elevadas taxas de crescimento do gênero


de minerais não metálicos.

A maioria dos demais gêneros apresentou expressiva taxa anual de


crescimento, devendo-se destacar os de material de transporte (35,7%),
vestuário e calçados (23,8%) e mecânica (111,1%), que ampliaram de
forma substancial seu peso relativo no setor industrial.

Entretanto, em que pese à grande expansão de alguns gêneros não


tradicionais e ao próprio aumento do tamanho médio dos estabelecimen-
tos industriais, não ocorreram modificações significativas em termos de
diferenciação da estrutura industrial. Entre os seis principais gêneros, no
período 1970/75, a única alteração verificada foi a inclusão de material de
transporte e a expansão do mobiliário (tabela 31).

Em síntese, a indústria de transformação, que apresentou taxa ne-


gativa de crescimento na década de 1950, principalmente devido à crise
do café, alterou completamente seu desempenho entre 1959 e 1975. Sua
taxa anual de crescimento foi superior a 15%, tendo ocorrido grande ex-
pansão de praticamente todos os gêneros, embora não se tenha verificado
substantiva diferenciação da estrutura industrial. É importante destacar,
também, que essa expansão industrial foi comandada pelos pequenos
capitais locais, que se utilizaram largamente dos benefícios da política
oficial de apoio do setor.

Finalmente, há que se ressaltar o grande dinamismo da indústria


extrativa mineral no período 1959/1975, que cresceu à taxa anual de
26,3% (tabela 21), devido principalmente ao crescimento da atividade
de extração de mármore e à implantação e operação das duas primeiras
usinas de pelotização de minério de ferro da CRVD (CVRD I e CVRD II).
Essas usinas, com capacidade nominal de produção de 2 e 3 milhões de
toneladas/ano de pellets, foram inauguradas, respectivamente, em 1969 e
1973, tendo representado investimentos globais de 70 milhões de dólares
(DESENVOLVIMENTO..., 1979).
Tabela 21 - Indústria extrativa mineral por subgênero, Espírito Santo, 1949 -1980

Participação relativa no valor da produção Taxa anual de crescimento


Subgêneros
1949 1959 1970 1975 1980 1949/59 1959/70 1959/75 1970/75 1975/80

Extração de minerais metálicos – – – – 0,0 – – – – –

Extração de minerais não-metálicos 96,1 – 19,7 7,9 1,6 – – – –5,4 13,2

Extração de minerais radioativos – – 0,3 – 0,0 – – – – –

Pelotização e sinterização de minerais – – 79,9 92,1 98,3 – – – 17,0 56,9

Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 11,2 32,5 26,3 13,7 54,9

Fontes: IBGE (1966b, 1974b, 1979b, 1984b).


Espírito Santo • Economia e Política
107
108 Cafeicultura & Grande Indústria

2.3 A construção de infraestrutura

Ao lado da extraordinária expansão do setor industrial, verificou-se


também, nesse período, um enorme volume de investimentos em infra-
estrutura . Tanto o Governo Federal quanto o Estadual fizeram grandes
investimentos, objetivando afastar os entraves ao crescimento industrial
representados pela precariedade dos sistemas de transporte, de abasteci-
mento energético e de comunicações.

Já na década de 1950, com a execução do Plano de Metas, foram


construídas duas importantes usinas de geração de energia elétrica. A de
Rio Bonito, iniciada em 1952, somente teve sua construção tornada irre-
versível a partir de 1954, quando o BNDE assumiu o financiamento. Foi
também decisiva para a agilização das suas obras a criação da Escelsa, em
06 de setembro de 1956. A usina foi inaugurada em 1960, com capacida-
de de geração de 16.800 kw, o que representou um aumento de 240% na
capacidade geradora do estado (BITTENCOURT, 1984).

No mesmo ano foram iniciadas as obras da Usina de Suíça, concluída


em 1965, com capacidade de 30.000 kw, representando, na época, um
aumento de mais de 100% na capacidade de geração estadual (BITTEN-
COURT, 1984).

Ainda na década de 1960, foi tomada outra medida de grande alcance


na área de energia elétrica. Em meados de 1968, a Escelsa foi federalizada,
tendo passado ao controle da Eletrobrás, que detinha 95% do seu capital. A
nova Escelsa viabilizou a construção da mais importante unidade de geração
de energia, a Usina Hidrelétrica de Mascarenhas, inaugurada em março de
1974. Essa nova usina acrescentou 115.500 kw à capacidade geradora da
empresa, o que equivaleu a um aumento de 191% (BITTENCOURT, 1984).

Na primeira metade dos anos 1970, foi concluído o programa de


conversão de frequência para 60 Hz e iniciada a interligação do sistema
elétrico do Espírito Santo com o da Região Sudeste, concluído até o final
da década (BITTENCOURT, 1984).

A construção dessas três unidades proporcionou ao Espírito Santo


a autossuficiência até meados da década. A interligação, por outro lado,
Espírito Santo • Economia e Política 109

resolveu de forma definitiva o problema de abastecimento de energia


elétrica, já que tornou possível o fornecimento de outras fontes gera-
doras do país.

No que diz respeito ao sistema de transporte, é importante observar


que, em meados da década de 1950, o Espírito Santo se encontrava em con-
dições de quase total isolamento das demais regiões do país. Havia grande
precariedade das rodovias, que não eram pavimentadas, e das ferrovias,
que eram obsoletas.

Entretanto, já em 1960, encontrava-se construído e pavimentado o


trecho da BR-101, da divisa com o estado do Rio de Janeiro até a capital
do Espírito Santo, cobrindo uma distância de 166 Km. Em 1966, a pavi-
mentação atingiu 178 Km, estando o restante da rodovia BR-101, em solo
capixaba (Vitória – divisa ES/BA), já construído, embora não pavimentado.
A pavimentação foi concluída; e a rodovia, inaugurada, em 1969 (INSTI-
TUTO BRASILEIRO DO CAFÉ, 1963; RIOS, 1966).

A segunda grande rodovia, a BR-262, que corta o Espírito Santo no


sentido leste-oeste e liga Vitória à capital do estado de Minas Gerais, tinha,
em 1966, 45 Km de leito pavimentado e outros pequenos trechos em obras
de terraplanagem. Suas obras também foram concluídas em fins dos anos
1960 (RIOS, 1966).

A terceira rodovia, a BR-259, tem o mesmo sentido da BR-262 e liga a


BR-101 (João Neiva), passando por Colatina, à BR-040, em Minas Gerais.
Foi construída também em fins dos anos 1960 e início da década de 1970
e é de grande importância econômica, pois atravessa uma das principais
regiões cafeeiras do estado (RIOS, 1966).

O grande crescimento das rodovias federais pavimentadas foi acom-


panhado por significativa expansão das rodovias estaduais. O governo do
estado investiu no desenvolvimento do sistema viário estadual entre 1967
e 1969, aproveitando-se do financiamento do IBC-Gerca, que alocou re-
cursos financeiros para a criação de infraestrutura . Esses recursos foram
usados para financiar a construção de estradas vicinais, por intermédio do
DER-ES, e para a aquisição de motoniveladoras pelo próprio DER e por 14
prefeituras municipais (BANCO DE DESENVOLVIMENTO DO ESPÍRITO
SANTO, [1970?a]).
110 Cafeicultura & Grande Indústria

Entretanto, em que pese à relevância das estradas vicinais, o que se


tornou decisivo para o desenvolvimento econômico capixaba foram as
três grandes rodovias federais. Em primeiro lugar, porque o Espírito Santo
se integrou, de forma definitiva, às demais regiões do país. Em segundo
lugar, porque essas estradas possibilitaram a integração das mais impor-
tantes regiões econômicas do estado com a sua capital, que possui boa
infraestrutura portuária. Assim, a BR-101 tornou mais efetiva a atração de
Vitória sobre a região sul, que tem grande representatividade na economia
capixaba, e sobre a região norte, possibilitando o desenvolvimento da vasta
região litorânea, que, até aquele momento, convivia com precaríssimas
vias de transporte. A BR-262, por seu lado, abriu amplas perspectivas de
desenvolvimento para a região central do estado até a fronteira com Minas
Gerais. A BR-259, embora tivesse quase o mesmo trajeto da Estrada de Ferro
Vitória-Minas, veio reforçar a ligação da nova e dinâmica região cafeeira
de Colatina com a capital.

Portanto, com essas ligações, todas as regiões do estado passaram a


dispor de eficientes vias de transporte rodoviário, que possibilitavam fácil
acesso à infraestrutura portuária existente em Vitória. Esta, por sua vez, já
havia tido um grande impulso expansivo no período recente. Em 1960, era
composta basicamente pelo porto de Vitória com seus três cais. Um deles,
situado na ilha de Vitória, era destinado à carga geral, e os outros dois,
situados no continente, eram cais especializados – Paul e Atalaia – operados
pela CVRD e Usiminas, para exportação de minério de ferro e importação
de carvão mineral (RIOS, 1966).

No início dos anos 1960, o cais destinado à exportação de minério


de ferro teve sua capacidade máxima utilizada, o que levou a CVRD a dar
início, em 1963, à construção de um novo porto especializado na exportação
de minério e importação de carvão mineral. O porto de Tubarão entrou
em operação em abril de 1966, e representou um grande avanço para a
infraestrutura portuária, pois aumentou significativamente a capacidade
de movimentação de cargas, já que foi construído em águas de grande
profundidade.23

23 Companhia Vale do Rio Doce (1982).


Espírito Santo • Economia e Política 111

Portanto, em meados da década de 1970, a economia capixaba havia


atingido um nível de maturidade que a qualificava para receber grandes
investimentos produtivos. Por um lado, dispunha de uma facilidade natural,
que era sua posição geográfica estratégica, e encontrava-se muito bem dotada
em termos de infraestrutura portuária, de transportes e de abastecimento
energético. Por outro lado, as transformações econômicas recentes haviam
constituído um mercado consumidor urbano e um parque industrial de
significativas proporções, que, concentrados na Grande Vitória, conferiam
a essa região um papel de destaque na economia capixaba, principalmente
em termos de atração de novos investimentos.

Assim, estavam dadas as principais condições para um novo ciclo de


expansão econômica, que, no entanto, iria apresentar significativas dife-
renças em relação ao ciclo expansivo realizado nos anos anteriores.
Espírito Santo • Economia e Política 113

Capítulo
3
Expansão recente:
desenvolvimento
econômico e
hegemonia do
grande capital –
1975/85

Nos anos 1970, especialmente a partir de meados da década, a eco-


nomia capixaba iniciou a segunda fase do seu desenvolvimento recente,
caracterizada por uma nova dinâmica do processo de acumulação. O grande
capital liderou a expansão econômica, pois dominou praticamente todos
os setores de atividade e imprimiu-lhes um ritmo acelerado de crescimen-
to.24 Dessa forma, foram se processando profundas alterações na estrutura
produtiva da economia e foi se delineando o seu novo perfil.

Essa segunda fase contrasta com a primeira em vários aspectos. Na


anterior, a hegemonia do processo de crescimento coube ao capital local,
em geral de pequeno porte, que cresceu apoiado em financiamento e incen-
tivos fiscais proporcionados pelo Estado. As atividades que apresentaram

24 Na literatura, sobretudo oficial, e no meio intelectual capixaba foi consagrada a expressão “Grandes Projetos” como
qualificadora das grandes indústrias hoje existentes no Estado e que na década de 1970 ainda se encontravam em fase
de projeto. Essa expressão, do nosso ponto de vista, tem um significado bastante limitado, uma vez que se refere apenas
a um conjunto determinado de projetos industriais, que, aliás, não são mais projetos, mas empreendimentos em fun-
cionamento. Assim, a expressão não abrange os projetos e os empreendimentos dos diversos setores de atividade que,
mesmo não sendo de grande porte, são controlados por grandes grupos econômicos. Devido a essas limitações adotamos
neste trabalho o conceito de grande capital, que nos parece mais adequado para qualificar o novo padrão de crescimento
econômico vigente no Espírito Santo a partir de meados dos anos 1970. Grande capital não é empregado aqui com
referência apenas aos grandes empreendimentos industriais, mas a todos os projetos/empreendimentos dos diversos
setores de atividade, mesmo aqueles de pequeno porte, desde que sejam controlados por grandes grupos econômicos.
114 Cafeicultura & Grande Indústria

grande dinamicidade foram as mais tradicionais, tendo sido quase nula a


diversificação econômica. Na segunda fase, ao contrário, exacerbou-se o
processo de diversificação econômica e modernização capitalista, com o
surgimento e o desenvolvimento de várias atividades não tradicionais. Esse
processo foi comandado pelo grande capital, que, com algumas exceções,
não era de origem local, mas, em sua maioria, de grandes grupos estatais
e privados, tanto nacionais como estrangeiros.

Com isso, a economia capixaba tornou-se um novo espaço de repro-


dução do grande capital, integrando-se de forma definitiva à dinâmica da
economia brasileira e assumindo um caráter complementar, particularmente
no setor industrial.

É interessante observar que a hegemonia do grande capital não elimina


a participação do capital local no processo de acumulação. Na primeira
fase de expansão, os grupos econômicos locais encontravam-se protegidos,
por vários fatores, da concorrência do grande capital, e assim tiveram
chance de acumular, de se diversificar e até mesmo, em alguns casos, de
se tornarem grandes, com atuação no mercado nacional, especialmente
na área mercantil.

Na segunda fase o processo torna-se bem mais complexo, pois o


grande capital tanto desenvolve atividades inexistentes anteriormente,
quanto se apropria de outras cujo capital local era hegemônico. Assim,
nota-se um duplo movimento, pois, ao mesmo tempo em que abre
espaço para o crescimento do capital local pela complementariedade,
reduz o espaço desse capital que é submetido à implacável concorrência.
O problema se resolve mediante a concentração, com o desaparecimen-
to de alguns grupos locais e a consolidação de outros, que se tornam
“grandes e nacionais”. Dessa forma, praticamente todos os setores da
economia estadual vão sendo dinamizados e integrados sob a égide do
grande capital.

Nessas condições, as decisões de investimento passam a depender


menos da dinâmica da economia estadual e mais da dinâmica da economia
brasileira e do planejamento estratégico dos grandes grupos privados e esta-
tais. Suas decisões são baseadas em macro políticas e procuram sancionar
os objetivos e diretrizes da política econômica federal.
Espírito Santo • Economia e Política 115

É à luz desse novo marco fundamental – a hegemonia do grande ca-


pital – que se pode compreender as transformações econômicas ocorridas
em, praticamente, todos os setores de atividades da economia capixaba.

No setor agrícola verificou-se intenso processo de crescimento


econômico e de modernização, derivado da transformação capitalista do
campo. A expansão da empresa rural e a disseminação do uso de novas
técnicas de cultivo e de insumos industriais modernos possibilitaram à
atividade agropecuária maiores níveis de produtividade e um caráter bem
mais dinâmico. Ao lado disso, verificaram-se o aumento da concentra-
ção da posse de terra, a disseminação das relações de assalariamento e a
consequente perda de importância das tradicionais relações de produção
familiar e de parceria.

O setor industrial apresentou as alterações mais significativas, pois


constituiu-se no “lócus” principal da expansão capitalista, e, por conse-
guinte, o lugar onde se concentraram os investimentos do grande capital.
A estrutura da indústria de transformação passou por intenso processo
de diversificação a partir do surgimento e expansão acelerada de gêneros
industriais modernos, que tiveram pouca expressão na fase anterior. A
metalurgia, a mecânica, a química e material de transporte lideraram o
crescimento industrial e foram os gêneros mais dinâmicos e representativos
em termos de valor da produção. Também a indústria extrativa mineral,
com a exploração do mármore e com a pelotização de minério de ferro, e
a indústria da construção civil apresentaram boa performance.

Da mesma forma, no setor terciário verificou-se crescimento acelerado


liderado pelo grande capital, que ocupou o espaço criado pela expansão
industrial e pela rápida urbanização. Particularmente o seu segmento
moderno (supermercados, lojas de departamento, transporte coletivo e de
cargas, intermediação financeira, serviços pessoais e industriais, hotelaria,
etc.) tornou-se bastante atrativo ao grande capital. Nesse setor foi mais
implacável a concorrência dos grandes grupos econômicos nacionais com
os grupos locais, ficando os últimos na contingência de ser absorvidos pelos
primeiros ou de realizar um brutal esforço de sobrevivência, transformando-
-se também em grandes grupos. Nesse processo, a maioria dos grupos locais
sucumbiu, e apenas alguns conseguiram sobreviver.
116 Cafeicultura & Grande Indústria

3.1 CRESCIMENTO E MODERNIZAÇÃO DA


AGRICULTURA

A agricultura capixaba, que tinha sido profundamente abalada pela


crise de preços e pelos programas de erradicação do café, voltou-se inicial-
mente para o desenvolvimento da extração da madeira, para a pecuária
e para lavouras tradicionais, como milho, feijão e mandioca. Entretanto,
nenhuma dessas atividades apresentou dinamismo suficiente para substituir
o café como fonte geradora de emprego e renda. Apenas a pecuária, devido
à sua extraordinária expansão, chegou a assumir importância significativa,
embora não fosse uma atividade substituta ideal, principalmente devido ao
seu pequeno potencial de geração de emprego. A lavoura cafeeira, mesmo
tendo sido bastante reduzida em sua dimensão, manteve seu papel prepon-
derante na agricultura e na economia capixaba.

De qualquer forma, pode-se dizer que, de meados dos anos 1960 a


meados da década de 1970, verificaram-se algumas alterações estruturais
na agricultura estadual, que decorreram, entre outros fatores, de um efi-
ciente sistema de financiamento previamente estabelecido: Programa de
Diversificação Econômica das Regiões Cafeeiras e Programa de Desenvol-
vimento da Pecuária.

Esses programas constituíram uma pequena amostra de um conjunto


maior da política agrícola que se estruturou a partir de meados da década
de 1960 e teve como base a política de crédito rural. Em 1965, foi criado o
Sistema Nacional de Crédito Rural – SNCR – que foi, sem dúvida, o prin-
cipal instrumento do capitalismo brasileiro na execução da “modernização
conservadora” do campo. Basicamente, a função do sistema de crédito foi
possibilitar à agricultura o acesso e o consumo em larga escala dos insumos
agrícolas modernos, tais como: adubos, herbicidas, máquinas e tratores.25

No setor cafeeiro, onde mais se desenvolveram as instituições e os


instrumentos de política agrícola, passou-se a usar de facilidades creditícias
para incentivar a erradicação e fomentar a expansão de culturas substituti-
vas. Posteriormente, a partir de 1969/70, passou-se a usar o financiamento

25 Sobre o Sistema Nacional de Crédito Rural, ver Paiva et al. (1976).


subsidiado para incentivar o plantio de café, uma vez que a erradicação
e a geada de 1969 tinham diminuído a produção a ponto de torná-la in-
suficiente para o abastecimento do mercado consumidor e a formação de
estoques (GUARNIERI, 1979).

Efetivamente, a partir de 1970, com o Plano de Emergência e o


Plano de Renovação e Revigoramento dos Cafezais, a diretriz básica
do planejamento da cafeicultura passou a ser a expansão do plantio
em áreas ecologicamente favoráveis, seguindo uma rigorosa orienta-
ção técnica que visava a obter melhores níveis de produtividade. Essa
diretriz, executada mediante o fornecimento de crédito, com taxas de
juros subsidiados e prazos dilatados de amortização, visava ao plantio,
à formação de mudas, à recepagem, à formação de infraestrutura, bem
como à compra de fertilizantes, defensivos e equipamentos agrícolas
(GUARNIERI, 1979). No Espírito Santo, essa nova política do IBC-
-Gerca não chegou a ter grande sucesso até 1975. Os plantios, embora
tenham incorporado novas técnicas de cultivo e se baseado no novo
“pacote” tecnológico, não apresentaram grande expansão, tendo sido
suficientes apenas para repor a capacidade produtiva anteriormente
eliminada. O número de cafeeiros passou de 234,8 milhões de pés, em
1970, para 247,1 milhões, em 1975 (tabela 3). Esse pequeno nível de
expansão deveu-se, basicamente, à manutenção dos preços do produto
em patamar bastante baixo, o que, de certa forma, anulou o estímulo
representado pelo crédito subsidiado.

A partir de 1975, contudo, com a ocorrência da grande geada que atingiu


a totalidade dos cafezais do Paraná e parte dos cafezais de São Paulo, Mato
Grosso e Minas Gerais, os preços internacionais do café experimentaram
um crescimento espetacular (GUARNIERI, 1979). Em 1976, foi 2,5 vezes
maior que a média de preços do quinquênio anterior, e, em 1977, 4,2 vezes.
No triênio 1978/80, os preços se mantiveram elevados, embora menores
que os de 1977. Nos anos de 1981 a 1987, sofreram uma queda acentuada,
mas ainda assim mantiveram-se, em média, duas vezes maiores que os do
quiquenio 1971/75 (tabela 2).

A elevação substancial dos preços foi o estímulo que faltava aos ca-
feicultores para a realização de novos plantios. Estímulo esse que, aliado
118 Cafeicultura & Grande Indústria

ao apoio creditício do Gerca,26 possibilitou a ampliação da capacidade


produtiva da cafeicultura capixaba em 80%, no período de 1975 a 1980.
O efetivo de cafeeiros aumentou de 247 milhões para 447 milhões de pés,
sendo que, desse total, 33,2% eram cafeeiros novos, que ainda não estavam
em produção. Mas, mesmo assim, o ano de 1980 produziu 2,7 milhões de
sacas, superando a até então maior safra de toda a história da cafeicultura
capixaba que foi de 2,5 milhões de sacas em 1958 (tabelas 3 e 4).

Ao longo da década de 1980, verificou-se um menor nível de preços


do produto, com o que se arrefeceu o ritmo da expansão do plantio, que,
apesar de tudo, aumentou 50% em relação a 1980, o que elevou o número
de cafeeiros para 610 e 672 milhões de pés em 1983 e 1987, respectivamente
(AGRICULTURA..., 1986; CAFÉ..., 1983).
Assim, com o início da produção dos novos cafeeiros registrou-se,
a partir de 1980, uma sucessão de safras recordes, que atingiram 4,6 mi-
lhões de sacas nos anos de 1983 e 1985.27 Essa extraordinária expansão da
cafeicultura, que quase triplicou o número de cafeeiros plantados e quin-
tuplicou a produção, reconduziu a cafeicultura ao papel já desempenhado
anteriormente no setor agrícola do Espírito Santo, tanto em geração de
emprego quanto de renda.

É importante salientar que essa expansão se realizou, em grande


medida, no interior das pequenas propriedades rurais onde predominava
o trabalho familiar e/ou o sistema de parceria. Entretanto deve-se registrar
que a cafeicultura passou a ser realizada, também, de forma crescente, por
empresas rurais capitalistas com trabalho assalariado e grande escala de
produção.

A principal característica da nova cafeicultura foi que tanto a pequena


produção familiar quanto a grande produção capitalista passaram a utilizar
os mais modernos insumos e técnicas de produção no cultivo e benefi-
ciamento do produto. A modernização resultou em maior produtividade
e melhor qualidade do produto; a produtividade, que no triênio 1972/74

26 Entre 1970 e 1974 o IBC-Gerca concedeu financiamento apenas para o plantio de café arábica, o tipo tradicionalmente
plantado no Brasil e no Espírito Santo. A partir de 1975 passou a financiar também o plantio do café conillon (Robusta),
tipo africano, cuja cultura se expandiu aceleradamente, tendo assumido um papel de destaque na cafeicultura estadual
na década de 80 (CAFÉ..., 1983).
27 Cf. IBGE (1985 e 1986).
Espírito Santo • Economia e Política 119

fora de 0,7 tonelada de café em coco por ha, passou a 1,2 t/ha no triênio
1984/86, com um crescimento de 71% (tabela 18).

Portanto a cafeicultura capixaba passou por um novo ciclo expansivo


a partir de 1975, que trouxe consigo uma nova base técnica de cultivo e
beneficiamento do produto, e ainda possibilitou a retomada da importância
da lavoura cafeeira para a agricultura estadual.

A silvicultura, ou reflorestamento, também apresentou expressiva


expansão na década de 1970. Essa atividade, que era pouco significativa em
1960, quando existiam apenas 25,3 mil ha de florestas plantadas, manteve-
-se praticamente estagnada nessa década, tendo a área reflorestada atin-
gido 25,1 mil ha em 1970 (tabela 22). Entretanto, naquela década, foram
criadas as condições necessárias para que o reflorestamento se tornasse
atividade rentável e em expansão. Em fins de 1966, os incentivos fiscais já
instituídos para o desenvolvimento regional foram estendidos à atividade
de reflorestamento.

A partir de 1967, iniciou-se no Espírito Santo o plantio de florestas


com utilização de incentivos fiscais. A expansão, até 1970, não apresentou
índices relevantes, mas a partir daí tornou-se bastante intensa, tendo a
área plantada aumentado para 98,3 mil e 143,1 mil ha, respectivamente,
em 1975 e 1980 (tabela 22).

Tabela 22 - Á
 rea de matas naturais e de reflorestamento, Espírito Santo, 1960-1985
Anos Naturais Reflorestamento
1960 858.141 25.296
1970 654.929 25.119
1975 439.628 98.388
1980 438.174 143.148
1985 399.274 156.785
Fontes: IBGE (1974a, 1979a, 1984a, 1983a, 1987).

No período subsequente, o ritmo de crescimento do plantio de flo-


restas provavelmente tenha arrefecido, pois os mais importantes projetos
de reflorestamento foram sendo concluídos. Em 1985, a área reflorestada
total foi de 156,7 mil ha, tendo tido, portanto, pequeno crescimento em
relação ao ano de 1980. Não se dispõe de dados conclusivos sobre a área
reflorestada atual, mas informações parciais do Ibama referentes às em-
presas reflorestadoras incentivadas, cujas atividades são controladas pelo
120 Cafeicultura & Grande Indústria

órgão, indicam uma área de 132,1 mil ha para o ano de 1989. Esse dado
pode ser tomado como indicativo de certa estabilidade da área plantada,
pois, embora não se refira à totalidade da área reflorestada, corresponde à
área reflorestada das principais empresas reflorestadoras.

Do total reflorestado em 1989, segundo os dados do Ibama, 58,1%


são referentes a uma única empresa, e 35,6% correspondem a três outras
empresas. Essas quatro maiores são responsáveis por 93,8% da área reflo-
restada. Esses dados evidenciam a elevada concentração da atividade de
reflorestamento em nível de empresa.

As duas maiores empresas reflorestadoras desenvolvem a atividade


com a finalidade de produção de celulose branqueada. A primeira, Ara-
cruz Florestal S/A, é responsável por 58,1% da área total plantada, o que
corresponde a 76,8 mil ha; a outra, Florestas Rio Doce S/A, possui uma
área plantada de 35,1 mil ha, o que corresponde a 26,4% do total. As
demais empresas registradas no Ibama são, em sua maioria, siderúrgicas
que operam com carvão vegetal, tendo, por isso, área própria de reflores-
tamento. (tabela 23).

Tabela 23 - Área reflorestada incentivada por empresa reflorestadora, Espírito Santo, 1989
Empresas Total executado (ha) % Sobre o total
Aracruz Florestal S/A 76.817,26 58,17
Florestas Rio Doce S/A 35.189,99 26,42
Acesita Energética S/A 7.470,77 5,7
Cia. Brasileira de Ferro - CBF 4.362,98 3,5
Cia. Siderúrgica Belgo Mineira 2.542,14 1,9
Inonubrás – Inoculantes e Ferro-Ligas Nipo Brasileiros S.A 1.903,55 1,65
Cia. Siderúrgica Barbará 407,17 0,32
Mucuri Agroflorestal Ltda. 380 0,03
Outras 3.119,93 2,31

Eucalipto 13.0025,84 98,36


Nativas 1.082,83 0,82
Pinos 970,12 0,73
Palmito 115 0,09
Total 13.2193,79 100
Fonte: IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis.

É importante salientar que a extraordinária expansão do reflorestamento


deveu-se basicamente ao apoio dos benefícios fiscais instituídos a partir
de 1967, que abriu amplo espaço para o surgimento de empresas rurais
Espírito Santo • Economia e Política 121

reflorestadoras que realizam a atividade segundo modernos métodos e


técnicas de cultivo.

Os padrões que orientaram a expansão da atividade, embora tenham


possibilitado o rápido crescimento da área plantada, apresentaram alguns
desdobramentos indesejáveis sobre a região norte do Estado. Deve-se mencio-
nar a efetiva contribuição da atividade para a concentração da propriedade da
terra, cujo exemplo mais evidente é o fato de uma única empresa, a Aracruz
Florestal S/A, ser proprietária de 100 mil ha de terras.28 Essa concentração
foi o resultado da incorporação de vários pequenos estabelecimentos ru-
rais o que, sem dúvida nenhuma, deve ter contribuído para a redução da
produção de alimentos da região, como deve ter também expulsado para as
áreas urbanas vizinhas um bom contingente de população desempregada.

As lavouras tradicionais da agricultura estadual apresentaram, a par-


tir de 1975, comportamentos bastante diversos (tabela 16, 17 e 18). De
acordo com seus respectivos desempenhos, podem-se dividir essas lavouras
em dois grupos.

O primeiro grupo, das lavouras temporárias, engloba os quatro


produtos alimentícios básicos (arroz, feijão, milho e mandioca), que, em
grande parte, são lavouras de subsistência. Esses quatro produtos tiveram
sua área colhida e seu volume de produção afetados por vários fatores.
O principal foi, sem dúvida, a expansão da cafeicultura, da silvicultura
e da lavoura de cana-de-açúcar, que passou a ocupar área crescente de
terras e a atrair capitais e força de trabalho rural, que podiam ser em-
pregados na cultura daqueles produtos. Particularmente a expansão da
cafeicultura teve papel decisivo nesse processo, uma vez que se trata de
atividade altamente intensiva em mão de obra e que se expandiu a taxas
elevadíssimas a partir de 1975.

O arroz, entre os triênios 1972/74 e 1987/88, teve uma redução de


33,0% da área média colhida e um aumento de 38,5% da produção média.
Isso evidencia um significativo aumento de produtividade, que passou, no
mesmo período, de 1,5 t/ha para 3,1 t/ha, apresentando um crescimento de

28 A Aracruz Florestal S/A possui 100 mil ha de terra, dos quais 80 mil reflorestados com eucaliptos. O restante é ocupado
com áreas de estradas, reservatórios de água, área de preservação, áreas industriais e bairro residencial (ARACRUZ CE-
LULOSE, [1987?]).
122 Cafeicultura & Grande Indústria

106,6%, devido, basicamente, à política de recuperação dos vales úmidos,


que envolve o uso de sistemas modernos de drenagem, irrigação e preparo
do solo, assim como a aplicação de adubagem adequada.29

O feijão, como cultura em geral associada à do café, apresentou um


desempenho até certo ponto atípico. Entre 1972/74 e 1978/80, tanto a área
colhida quanto a produção foram reduzidas, embora em pequena escala.
Essa tendência foi revertida na primeira metade dos anos 1980, tendo-se
verificado no triênio 1984/86 em relação a 1978/80 um crescimento da área
colhida e da produção de 25,0% e 20,6%, respectivamente. Essa inversão
de tendência pode ser explicada pelos bons preços do produto registrados
no início dos anos 1980 em decorrência da insuficiência de oferta interna,
pela adoção de sementes melhoradas da Emcapa e pela plantação em terras
irrigadas na região norte do estado. A produtividade, no entanto, não se
alterou, mantendo-se estável e bastante baixa, em torno de 0,5 t/ha, o que
sugere que a lavoura continuou sendo, predominantemente, de subsistência.

A lavoura do milho, a segunda mais importante em área colhida, só


superada pela cafeicultura, apresentou um desempenho singular. Sua área
colhida média foi reduzida em 44,4%; e o volume produzido, em 3,2%. Isso
evidencia um crescimento de produtividade de 72,7%, com o aumento de
rendimento de 1,1 para 1,9 t/ha, o que pode ser associado, principalmente,
ao uso de novas espécies de sementes mais produtivas.30 Deve-se salientar
que a redução da área colhida de milho é, também, bastante significativa em
termos absolutos, pois representa aproximadamente 98 mil ha, liberados entre
1972/74 e 1987/88, e provavelmente ocupados pela expansão da cafeicultura.

A lavoura de mandioca, por sua vez, apresentou uma substancial re-


dução, tanto da área colhida quanto da produção, correspondente a 62,4
e 51,5%, respectivamente. O nível de produtividade apresentou tendência
de crescimento, passando de 12,7 t/há, no triênio 1972/74, para 16,4 t/
há, em 1987/88.

29 De 1981, quando teve início, até 1985, o programa de recuperação dos vales úmidos, Provárzeas, recuperou 28 mil ha,
que, em sua maior parte, se destinou ao plantio do arroz. Aproximadamente 60% do arroz do Espírito Santo é produzido
nas áreas recuperadas através do Provárzeas. (AGRICULTURA..., 1986).
30 Esta melhoria substantiva do rendimento médio da cultura do milho deve ser creditada ao uso de sementes selecionadas
e híbridas que possibilitaram maior produtividade. Segundo os técnicos da Secretaria de Agricultura do Estado do Espírito
Santo, 80% dos produtores já usam sementes híbridas em suas lavouras do produto. Ainda segundo os mesmos técnicos,
o milho, apesar da maior produtividade, continua sendo uma lavoura que é realizada em pequena escala e voltada ma-
joritariamente para atender a própria subsistência da propriedade onde é produzido, sendo que 70% da produção não
chega a sair dos seus municípios e é consumida no mesmo local de produção (AGRICULTURA..., 1986).
Espírito Santo • Economia e Política 123

O segundo grupo é composto por três produtos: banana, cacau e


cana-de-açúcar. Esses, ao contrário dos anteriores, não são destinados à
subsistência dos produtores, mas ao mercado consumidor em geral e ao
processamento industrial. O comportamento de cada uma dessas culturas
apresentou características bastante particulares.

A cultura da banana enfrentou uma grave crise no período 1975/83,


tendo-se verificado uma redução de 39% do volume produzido, o que de-
terminou uma enorme queda de rendimento. Esse desempenho pode ser
atribuído à praga chamada mal do panamá, que afetou a bananicultura
capixaba a partir de meados dos anos 1970. A crise apresentou maior gra-
vidade no início dos anos 1980, mas, já no triênio de 1984/86, verificou-se
a recuperação da cultura, tendo expandido a área colhida em 20,0% e o
volume produzido em 19,7%.31

A cana-de-açúcar e o cacau, que, diferentemente da banana, são


cultivados em grandes propriedades e em larga escala, sob a organização
de empresa rural, tiveram extraordinário crescimento de produtividade.

O cacau apresentou o maior aumento de produtividade entre todas as


lavouras, tendo passado de 0,3 para 0,6 t/ha. Embora a área colhida tenha
sido reduzida em aproximadamente 5%, o volume produzido aumentou
em 65,5% entre 1972/74 e 1984/86.

A cana-de-açúcar, cultura mais tradicional da agricultura capixaba,


após um longo período de decadência e estagnação reverteu essa tendência
e logrou, no período recente, significativa expansão da área colhida, da
produção e, principalmente, da produtividade. Entre 1972/74 e 1987/88,
a área média colhida cresceu 156,8%; a produção, 357,8%; e a produti-
vidade aumentou em 78,5%, passando de 31,2 para 55,7 t/ha. Esse fato
se explica, basicamente, pelo deslanchamento do Programa Nacional do
Álcool – Proálcool – a partir de 1979, que possibilitou a implantação de
várias usinas de álcool no Espírito Santo.32

31 O Espírito Santo em 1985 ocupava a posição de 10º estado produtor de banana. A produção foi suficiente para atender a
demanda estadual, sendo que a totalidade da banana prata ofertada pela Ceasa-ES naquele ano foi originária do próprio
estado. Além disso, foram exportadas aproximadamente 62 mil t do produto, sendo 50,6 mil t para o Rio de Janeiro; 8,6
mil t para Minas Gerais; e 2,4 mil t para São Paulo. (AGRICULTURA..., 1986).
32 Até 1979 só existia no Espírito Santo uma usina de açúcar e álcool (Usina Paineiras S/A), localizada no sul do estado,
com aproximadamente 20 mil ha de cana-de-açúcar, que representavam cerca de 80% da área cultivada com o produto.
Com o Proálcool, foram instaladas outras 6 destilarias autônomas na região norte do estado, o que exigiu a duplicação
da área plantada de cana-de-açúcar, que atingiu 50 mil ha em 1988 (PROÁLCOOL..., 1985; IBGE, 1989).
124 Cafeicultura & Grande Indústria

Além dessas, deve-se ressaltar a expansão de outras atividades agro-


pecuárias que incrementaram o processo de diversificação da agricultura
estadual na última década, como é o caso da avicultura e da hortifloricultura.
A avicultura experimentou grande transformação em fins dos anos 1970
e início dos anos 1980, quando a atividade passou a ser crescentemente
voltada para a criação em cativeiro, desenvolvida como atividade empresa-
rial e não como produção de subsistência. Em 1960, apresentava-se como
atividade dominante em 39 estabelecimentos, que ocupavam apenas 920
ha. Já em 1975, era dominante em 232 estabelecimentos, que ocupavam
8,8 mil ha; e em 1980, o número de estabelecimentos cresceu para 689,
e a área aumentou para 20,7 mil ha (tabela 15), o que corresponde a um
crescimento de 134% em apenas cinco anos. Já em 1985 o número de esta-
belecimentos onde a avicultura era dominante atingiu 737, o que evidencia
um crescimento mais lento.33

A horticultura apresentou uma tendência de crescimento um pou-


co diferente, pois seu grande crescimento deu-se na primeira metade da
década de 1970, tendo-se mantido praticamente estagnada entre 1975 e
1980. Em 1960, a atividade era dominante em apenas 37 estabelecimentos,
que ocupavam 533 ha. Durante a década de 1960, verificou-se expressivo
crescimento, passando para 274 estabelecimentos e 5 mil ha. Entretanto
foi entre 1970 e 1975 que a atividade se tornou realmente expressiva na
agricultura estadual, com o aumento do número e da área dos estabeleci-
mentos para 489 e 10,6 mil ha respectivamente. Na segunda metade dos
anos 1970, verificou-se, por esses dados, uma quase estagnação da ativi-
dade, e no início dos anos 1980 a atividade sofreu grande retração, tendo
reduzido o número de estabelecimentos para 150 e a área para 1,4 mil ha.
Podem-se considerar dois conjuntos de fatores relevantes na determinação
do comportamento mais recente da atividade. De um lado, a estabilidade
dos preços dos seus produtos e a concorrência imposta pela cafeicultura,
que certamente bloquearam a expansão da hortifloricultura. De outro
lado, como condição favorável ao seu crescimento, o acelerado processo de
urbanização e expansão do mercado consumidor local, que possibilitou o

33 O número de granjas chegou a ser de 306 em 1978/79, mas, a partir desse período, houve uma relativa concentração
no setor, tendo-se reduzido a 255 granjas em 1984. Isto se deu, em grande medida, devido a dificuldades financeiras dos
pequenos avicultores e de problemas de abastecimento de milho das granjas (AGRICULTURA..., 1986).
Espírito Santo • Economia e Política 125

início de desenvolvimento de algumas culturas em escala empresarial com


sensíveis ganhos de produtividade.34

Deve-se analisar, também, o comportamento da pecuária bovina, que,


após um longo período de grande vitalidade, entrou em franco declínio
com a redução tanto do rebanho quanto da própria área de pastagens.
Entre 1975 e 1980, a área de pastagens reduziu-se em 7,1%, e o rebanho
apresentou uma taxa anual de crescimento negativa de 2,6. Na região norte
do estado, onde se localizam aproximadamente 60% do rebanho estadual,
verificou-se a queda mais acentuada do número de bovinos, sendo a taxa
média anual de -3,3. No período 1980/85, a área de pastagens reduziu-se
em 5%, e o rebanho teve uma redução menor que a do quinquênio anterior,
pois decresceu à taxa média anual de -0,9 (tabelas 13 e 14).

Se se considerar que na região norte a pecuária de corte foi sempre


predominante e que em todas as regiões do estado houve aumento da
produção de leite, pelo menos até o ano de 1983,35 pode-se afirmar que
a redução do rebanho foi concentrada sobre o gado de corte (tabela 24).

Essa crise da pecuária pode ser explicada tanto pela concorrência imposta
pelo café quanto pelo comportamento dos preços do leite e da carne. Entre

34 A hortifloricultura envolve vários produtos agrícolas, em geral lavouras temporárias, que, no Espírito Santo, são desenvolvidas
em pequenas propriedades familiares. Assim, a atividade convive sempre com o impacto das flutuações dos preços dos
seus produtos, que, ao atingirem agricultores pouco capitalizados, determinam grande irregularidade no desempenho do
setor. Os produtos hortifrutigranjeiros podem ser divididos em dois grupos, sendo o Espírito Santo muito dependente de
importações. Em 1985, dos produtos comercializados na Ceasa/ES, 67,7% eram oriundos do Espírito Santo. Para alguns
produtos selecionados foram verificados os seguintes percentuais de produção local:
GRUPO I GRUPO II
Cebola – 0,7% Melancia – 1,2%
Batata inglesa – 12,1% Laranja – 28,7%
Abóbora – 28,2% Banana prata – 99,9%
Alho – 80,2%
Tomate – 97,5%
Observe no grupo I que no caso da cebola, batata inglesa e abóbora a dependência é quase total, e no caso do alho e
tomate tem-se a autossuficiência, havendo inclusive excedentes exportáveis. A produção de alho sofreu um grande
impulso a partir de 1980/81, com o I Plano Nacional de Produção e Abastecimento de Alho, tendo a área colhida e
a produção aumentado de 215 ha e 1 mil t, em 1980, para 238 ha e 4,1 mil t, em 1988, respectivamente. O tomate,
produto relativamente tradicional no Espírito Santo, não teve um bom desempenho nos primeiros anos da década de
1980, mas recuperou-se a partir de 1983, tendo atingido, em 1988, 1,3 mil ha de área colhida e 67,1 mil t de produ-
ção. Tanto o alho quanto o tomate têm sua produção concentrada na região serrana, especialmente no município de
Santa Leopoldina.
No grupo das frutas o Espírito Santo é autossuficiente em banana prata e abacaxi, mas vem desenvolvendo esforços no
sentido de expandir a produção de outras frutas através do Programa Estadual de Fruticultura de Clima Temperado, que
foi implantado em 1984 e até julho de 1986 já tinha apoiado vários produtos: videira (25 ha), pêssego (8,3 ha), figo
(10,8 ha), ameixa (3 ha), caqui (0,8 ha), morango e marmelo. Deve-se destacar ainda a cultura do mamão e da manga
realizada em escala empresarial em algumas fazendas no Espírito Santo, que são inclusive bem-sucedidas em termos de
exportação desses produtos para a Europa. Sobre esse assunto consultar Agricultura... (1986); IBGE 1940-1989).
35 Segundo dados do IBGE, a produção de leite no Espírito Santo foi sempre crescente entre 1974 e 1983, tendo passado de
186,6 milhões para 340,3 milhões de litros. A partir de 1984, em função do baixo nível de preços do produto, verificaram-
-se quedas de produção, certamente devido ao desestímulo dos produtores que devem ter-se voltado mais para a pecuária
criatória e de corte do que para a pecuária leiteira. Entre 1983 e 1985 verificou-se uma redução de 21,4% na produção
de leite.
126 Cafeicultura & Grande Indústria

1973 e 1977, o preço médio real da arroba de boi caiu 31%. Nos anos de
1978 e 1979, houve recuperação, e, a partir de 1980 até 1989, houve uma
redução de 46,4% (tabela 25). Observa-se que, durante a maior parte do
tempo, os preços se mantiveram em queda, contribuindo para desestimular
a atividade e reduzir o rebanho. Assim, a partir de 1975 o rebanho bovino
entrou em franco declínio, reduzindo-se de 2,1 para 1,7 milhão de cabeças
em 1985, uma queda de 16,4% (tabela 25).

Tabela 24 - P
 rodução de leite de vaca por região, Espírito Santo, 1975 – 1985 (mil litros)
Variação Percentual
Anos / Regiões 1975 1980 1985
1980/75 1985/80
Sul 110.027 126.613 112.634 15,07 (11,04)
Norte 123.346 154.035 118.412 24,88 (23,13)
Centro 38.661 45.454 50.358 17,57 (10,79)
Total 272.034 326.102 281.412 19,87 (13,70)
Fontes: IBGE (1974a, 1979a, 1984a, 1983a, 1987).
Nota: Os parênteses indicam que a variação percentual foi negativa.

Tabela 25 - P
 reço médio da carne bovina, Espírito Santo, 1973 – 1989
Boi em Pé Vaca em Pé
Anos
(Cr$/Arroba) (Cr$/Arroba)
1973 116,98 –
1974 105,89 –
1975 93,05 –
1976 85,23 –
1977 81,1 63,94
1978 103,76 93,51
1979 143,15 128,29
1980 128,73 114,6
1981 85,83 74,95
1982 74,38 62,63
1983 85,55 76,96
1984 94,07 85,97
1985 82,3 74,05
1986 81,7 75,07
1987 84,63 75,46
1988 46,63 41,51
1989 69,07 60,16
Fontes: Dados de 1973 a 1984 fornecidos por Cepa/ES e Emater/ES.
Dados de 1988 a 1989 fornecidos por Sima/ES.

Notas:
1. Preço pago aos produtores pelos matadouros frigoríficos sob inspeção federal (Sima/ES).
2. Dados deflacionados pelo IGP – disponibilidade interna da FGV.
Espírito Santo • Economia e Política 127

Por fim, deve-se obs ervar que, nos últimos anos, surgiram no Espírito
Santo novas culturas não tradicionais, viabilizadas através de benefícios
fiscais e creditícios. É o caso da pimenta-do-reino, que conta com um pro-
grama de financiamento do Geres,36 da seringueira, cuja plantação passou
a ser estimulada a partir de 1979, mediante o Programa da Borracha;37 e a
suinocultura, financiada tanto pelo Geres quanto pelo Banco Nacional de
Crédito Cooperativo S.A – BNCC.38

Em síntese, podemos concluir que a agricultura estadual, no período


de 1975 a 1985, superou o estado de estagnação vigente na década de 1960
e início dos anos 1970, tendo apresentado grande dinamismo e elevados
índices de crescimento em várias atividades. Por outro lado, verificou-se
uma substancial redução do rebanho bovino e das lavouras tradicionais
de alimentos básicos (feijão, mandioca e milho). Registrou-se, ainda, uma
extraordinária expansão das lavouras de exportação, tais como cacau, café
e cana-de-açúcar, e de outras atividades emergentes, como reflorestamento,
seringueira, avicultura, suinocultura e da cultura da pimenta-do-reino.

Além da expansão e do incremento do processo de diversificação de


culturas, a agricultura estadual passou por um vigoroso processo de trans-
formações estruturais e modernização capitalista, fomentado e apoiado
por amplo sistema de crédito e de incentivos fiscais.

Quatro aspectos caracterizadores dessas transformações merecem


ser destacados. O primeiro aspecto relevante é que a agricultura se tem
tornado uma atividade cada vez mais capitalizada. A estrutura empresarial
tem-se expandido largamente, e grandes grupos econômicos, apoiados

36 A pimenta-do-reino consolidou-se como cultura alternativa na região norte do Espírito Santo a partir de 1978/79 tendo
a sua área colhida crescido de 153 há, em 1978, para 1,2 mil há, em 1988. No mesmo período a produção passou de 167
para 2,7 mil t, o que indica crescimento de 101,8% na produtividade (1,09 t/ha para 2,2 t/ha). Cf. IBGE (1940-1989).
37 A plantação de seringueira no Espírito Santo teve início em 1979, em decorrência do apoio da Superintendência do
Desenvolvimento da Borracha (Sudhevea) que, através dos Programas da Borracha (Probor I e II) financiou o plantio
com crédito subsidiado e de longo prazo. Assim, em 1986 já existiam no estado 10 mil ha de seringueira, sendo que as
plantações mais antigas já estavam em idade produtiva, com 7 anos (AGRICULTURA..., 1986).
38 A criação de suínos sempre foi uma atividade de subsistência nas pequenas propriedades. Com as transformações ocorridas
a partir de fins da década de 1970, as pequenas propriedades vêm se especializando em determinadas atividades, como
é o caso da suinocultura, que tem se tornado uma atividade cada vez mais empresarial, onde o suíno é confinado e de
espécie própria para a produção de carne. Assim, observou-se uma transformação qualitativa da suinocultura estadual,
embora do ponto de vista quantitativo se tenha verificado a redução do rebanho, de 711 milhões de cabeças, em 1976,
para 433 milhões, em 1985. A atividade criatória tornou-se ligada direta ou indiretamente à agroindústria (frigorífico,
produção de filhotes e de ração), como é o caso do complexo da Cooperativa Agropecuária do norte do Espírito Santo –
Coopnorte – (Nova Venécia), que envolve o Projeto de Integração da Suinocultura do Norte do Espírito Santo – Suinorte
– com uma unidade produtora de rações e concentrados e uma de cria de filhotes com 1.200 matrizes. Também faz parte
desse complexo o Frigorífico do Norte do Espírito Santo – Frigonorte – que tem capacidade de abate de 240 suínos e 240
bovinos por dia. Esse complexo Suinorte/Frinorte começou a ser construído em 1980 com o apoio do sistema Geres/
Bandes, sendo um projeto integrado de cria, recria/engorda, abate e produção de rações (AGRICULTURA..., 1986).
128 Cafeicultura & Grande Indústria

pelo crédito subsidiado e pelo sistema de incentivos fiscais, têm-se vol-


tado para a agricultura, onde realizam volumosos investimentos. Por
outro lado, os próprios pequenos proprietários rurais, ainda predomi-
nantes na agricultura estadual, tendem a se transformar em pequenos
empresários, pois são cada vez mais envolvidos pelo sistema de crédito,
pela venda de insumos por parte da indústria e pela concorrência dos
grandes produtores. Isso os obriga à especialização da produção com
opção por produtos mais rentáveis e de maior rendimento por unida-
de de área cultivada, embora os torne prisioneiros de um sistema que
determina uma estrutura de custos cada vez mais elevada, inflexível e
fora do seu controle.

O segundo aspecto modernizante da expansão recente pode ser


verificado pelo extraordinário crescimento do número de tratores, de
projetos de irrigação, da eletrificação rural e do consumo de fertilizantes
e defensivos agrícolas. Os dados disponíveis não permitem uma avaliação
muito precisa, mas demonstram uma tendência clara de crescente moder-
nização. Essa tendência tornou-se mais evidente na primeira metade da
década de 1980, quando se verificaram os movimentos mais significativos
de expansão de importantes produtos agrícolas, principalmente do café
e da cana-de-açúcar.

O número de tratores, que, em 1960, era de apenas 508, passou para


1.131 e 1.940, respectivamente, em 1970 e 1975. Verificaram-se, portanto,
nesses subperíodos, taxas anuais de crescimento de 8,3% e 11,4%. No quin-
quênio seguinte, a taxa anual de crescimento praticamente foi duplicada,
tendo passado a 22,4%, o que elevou o número de tratores, em 1980, para
5.334. Esse número elevou-se para 9.079 em 1985, tendo crescido à taxa
anual de 11,2%, (tabela 26 e 27).

O consumo de fertilizantes também aumentou significativamente,


a partir de 1975. O adubo químico foi o fertilizante cujo uso mais se
expandiu. O adubo orgânico somente teve expansão significativa do con-
sumo na primeira metade dos anos 1980, e o calcário teve seu uso menos
difundido. Em 1960, apenas 275 estabelecimentos rurais usavam adubo
químico, número que aumentou para 2.864 em 1970 e 10.394 em 1975.
Nos cinco anos seguintes esse número foi triplicado, passando para 30.143,
o que representava 50,8% do total de estabelecimentos rurais. Em 1985 o
Espírito Santo • Economia e Política 129

número de estabelecimentos que usaram adubo químico aumentou para


39.905, o que corresponde a 57,7% do total de estabelecimentos. O uso de
adubo orgânico, que em 1980 se limitava a 27,1% dos estabelecimentos,
aumentou para 62,6% em 1985; e o de calcário, ao contrário, em 1985,
era de apenas 11,4% nos estabelecimentos rurais (tabela 28).

Tabela 26 - E
 volução do número de máquinas agrícolas, Espírito Santo, 1970 – 1985
Tratores Arados
Anos Total Menos de De 50 cv Tração Tração
50 cv e mais animal mecânica
1960 508 445 63 1.905 587
1970 1.131 744 387 6.790 931
1975 1.940 869 1.071 6.886 1.475
1980 5.334 2.285 3.049 5.774 4.000
1985 9.079 5.172 3.907 4.901 6.328
Fontes: IBGE (1974a, 1979a, 1984a, 1983a, 1987).

Tabela 27 - T
 axa anual de crescimento do número de tratores e arados, Espírito Santo,
1960 – 1985
Arados
Anos Tratores
Tração animal Tração mecânica
1960/70 8,3 13,6 4,7
1970/75 11,4 0,3 9,6
1975/80 22,4 (3,5) 22,1
1980/85 11,2 (3,2) (9,6)
Fonte: Tabela 26.
Nota: Os parênteses indicam que a taxa de crescimento é negativa.

Tabela 28 - Evolução do uso de fertilizantes e defensivos agrícolas, Espírito Santo, 1960-1985


Estabelecimentos Informantes
Fertilizantes
Anos

Adubos
Calcário Total Animal Vegetal
Total Químicos Orgânicos
Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº %
1960 2.914 5,3 275 0,5 2.861 5,3 97 0,2 – – – – – –
1970 9.454 13,4 2.864 4,1 8.110 11,5 515 0,7 – – – – – –
1975 14.478 23,9 10.394 17,2 9.871 16,3 2.228 3,7 45.157 74,5 35.656 58,9 25.347 41,8
1980 33.919 57,1 30.143 50,8 16.116 27,1 6.754 11,4 48.539 81,7 32.107 54,1 34.001 57,3
1985 43.636 63,1 39.905 57,7 43.298 62,6 9.019 13,0 48.037 69,5 31.024 44,9 33.065 47,8

Fontes: IBGE (1974a, 1979a, 1984a, 1983a, 1987).

Por outro lado, o governo do estado vem desenvolvendo, nos últimos


anos, uma política ativa de eletrificação rural e de irrigação, que tem cau-
130 Cafeicultura & Grande Indústria

sado importantes modificações nos níveis de produtividade da agricultura


estadual.39

Os números aqui apresentados devem ser considerados modestos se


forem confrontados com dados referentes a agriculturas mais modernas,
como a paulista ou a paranaense. Entretanto o que parece ser significativo
é o acelerado ritmo de crescimento do uso desses insumos, verificado nos
últimos anos em praticamente toda a agricultura estadual, e até mesmo nas
pequenas propriedades, que no passado eram caracterizadas como unidades
típicas de produção de subsistência de baixa produtividade.

O terceiro aspecto caracterizador da transformação da agricultura estadual


refere-se às mudanças ocorridas na estrutura da propriedade da terra. Houve
inicialmente um movimento de concentração decorrente da própria expansão
de atividades que eram realizadas em larga escala e exigiam grandes áreas de
terra. O crescimento da concentração tornou-se preocupante, pois implica
deslocamento de pequenos proprietários, visto que a fronteira agrícola estadual
já se encontrava esgotada desde o início dos anos 1970, estando a área total dos
estabelecimentos praticamente estagnada.40 A concentração fundiária tem um
significado bastante profundo, pois modifica uma das principais características
da agricultura estadual, qual seja, a apresentação de um dos menores índices
de concentração da propriedade da terra entre todos os estados brasileiros.

Entre 1970 e 1975, houve um forte movimento de concentração, haja


vista que o número de pequenos estabelecimentos (até 100 ha) foi reduzido
em 9.978, e sua participação relativa na área total caiu de 49,8% para 43,0%.
Ao mesmo tempo, o número de estabelecimentos com mais de 1.000 ha
aumentou de 165 para 225, e a área do estrato passou de 8,9% para 13,3%
da área total. No quinquênio seguinte manteve-se a mesma tendência à
concentração, embora num ritmo mais lento. A participação relativa dos
estratos de área de 0 a 100 ha e mais de 1.000 ha apresentaram compor-
tamento diverso, sendo que o primeiro decresceu para 40,2% e o segundo
aumentou para 16,5% da área total. Na primeira metade dos anos 1980

39 A eletrificação rural no Espírito Santo foi intensificada a partir de 1975, quando existiam apenas 943 estabelecimentos
eletrificados. Até 1980 foram eletrificados 6.814 estabelecimentos. A partir de 1981, com a junção de esforços da Escelsa,
do Governo Estadual e do Geres, o Programa de Eletrificação Rural sofreu grande impulso, graças ao qual, em fevereiro
de 1986, o Espírito Santo passou a ter 21.326 estabelecimentos rurais eletrificados. Isso representava aproximadamente
30% do total de estabelecimentos rurais do Espírito Santo (ELETRIFICAÇÃO..., 1986).
40 Para maiores detalhes sobre a expansão da fronteira agrícola ver Morandi e outros (1984).
Espírito Santo • Economia e Política 131

verificou-se a reversão da tendência concentradora, visto que o estrato até


100 ha teve sua participação na área total ampliada para 41,9%, enquanto
o de mais de 1.000 ha manteve sua participação em 16,5% (tabela 29).
Esse movimento de desconcentração pode ser explicado, por um lado, pelo
represamento da força de trabalho no setor rural, devido à crise econômica
do período 1981/83 e, por outro lado, pela expansão da lavoura cafeeira,
que é uma atividade altamente absorvedora de mão de obra.41

A quarta modificação relevante é a alteração das relações de trabalho.


Entre 1975 e 1980, o trabalho familiar reduziu-se, tanto em termos absolutos
quanto relativos, o que parece ser reflexo da absorção da pequena propriedade
pelo grande capital. Por outro lado, o regime de parceria apresentou cresci-
mento absoluto e relativo, o que certamente deve estar associado à extraor-
dinária expansão da cafeicultura, atividade na qual esse regime de trabalho
é perfeitamente adaptável e funcional. Entretanto, a mais significativa foi
a expansão das relações de assalariamento temporário e permanente. Essas
duas categorias de assalariados, que em 1970 representavam 12,3% do total
do pessoal ocupado na agricultura, tiveram sua participação elevada para
18,2% e 28,3%, respectivamente, em 1975 e 1980.42 Na primeira metade
dos anos 1980 essas mesmas tendências foram confirmadas, tendo havido
significativo crescimento da parceria e redução da participação relativa da
mão de obra familiar no total do pessoal ocupado. O trabalho assalariado
permanente e temporário apresentou um crescimento mais moderado, o que
levou, inclusive, à redução de sua participação relativa para 26,7% em 1985.

Finalizando, deve-se ressaltar que a expansão, diversificação e moder-


nização da agricultura estadual estão profundamente ligadas às condições
de investimento, altamente favorecidas, de que se vem utilizando o grande
capital, que comanda e hegemoniza todo o processo de crescimento eco-
nômico recente da economia capixaba.

41 Essas hipóteses foram levantadas por Muller (1987), que ainda mostra que, dos 10.056 estabelecimentos que surgiram no
Espírito Santo no período de 1980/85, 55,3% (5.562) tinham área inferior a 10 ha, o que é apresentado como evidência
de que houve represamento de mão de obra. Adicionalmente observou-se também que o crescimento do pessoal ocupado
foi significativamente maior no estrato de estabelecimentos com menos de 10 ha, certamente devido ao crescimento do
número de parceiros e ocupantes.
42 Os dados dos censos agropecuários evidenciam a redução absoluta e relativa da mão de obra familiar, embora em 1980
essa modalidade ainda representasse 50,7% do total do pessoal empregado no setor agrícola. Essa tendência, associada à
expansão (absoluta e relativa) das relações de assalariamento e parceria, deve estar relacionada às transformações ocorridas
na agricultura estadual, onde várias culturas se desenvolvem sob a forma de ativida de empresarial e o café se expande,
certamente, com base no sistema de parceria. Na primeira metade da década de 1980 essas tendências se confirmaram,
tendo havido, contudo, em função da desconcentração da propriedade da terra, um aumento absoluto da mão de obra
familiar, o que constitui uma inversão de tendência relativamente ao ocorrido na década de 1970.
132
Cafeicultura & Grande Indústria

Tabela 29 - Estrutura fundiária – percentual de participação por estrato de área no total, Espírito Santo, 1950-1985

Número de Estabelecimentos (%) Área total dos estratos (%)


Estrato de área
1950 1960 1970 1975 1980 1985 1950 1960 1970 1975 1980 1985

0 a 100 ha 87,8 89,6 89,5 87,0 87,4 89,3 52,5 54,7 49,7 42,6 40,2 41,9

100 a 500 ha 11,4 9,7 9,6 11,7 11,2 9,6 33,4 31,4 33,0 34,5 33,4 32,4

500 a 1000 ha 0,6 0,5 0,7 0,9 0,9 0,7 6,6 6,1 8,4 9,4 9,9 9,2

+ 1000 ha 0,2 0,2 0,2 0,4 0,4 0,4 7,5 7,7 8,9 13,5 16,5 16,5

Total 44.169 54.795 70.711 60.585 59.380 69.140 2.524.873 2.888.667 3.759.360 3.838.842 3.798.228 3.895.428

Fontes: IBGE (1974a, 1979a, 1984a, 1983a, 1987).


Espírito Santo • Economia e Política 133

3.2 GRANDE CAPITAL E DIVERSIFICAÇÃO DA


ESTRUTURA INDUSTRIAL

A indústria de transformação no Espírito Santo, no período 1959/75,


apresentou elevadas taxas de crescimento do investimento e do produto, o
que possibilitou um aumento significativo de sua participação na geração
da renda e do emprego estadual. A taxa média anual de crescimento da
produção (15,8%) evidencia a grande dinamicidade do setor e sugere a
extensão das alterações em suas dimensões, que de 1.600 estabelecimentos
e 7.300 operários, em 1959, passou a 2.796 estabelecimentos e 28.681
operários em 1975.

Em que pese a essas evidências, deve-se destacar outra característica do


crescimento industrial do período, que foi a quase inexistente diversificação
da estrutura industrial. Em 1959, os quatro principais gêneros (produtos
alimentares, madeira, têxtil e minerais não metálicos) representavam 80,1%
do valor da produção industrial. Em 1975, essa participação se mantinha em
78,4%, o que demonstra a pequena diversificação. A única exceção se deve
à metalurgia, que teve no período grande expansão e acabou substituindo,
desde 1970, o têxtil no grupo dos quatro principais gêneros. Os três outros,
embora com pesos relativos alterados, mantiveram-se no grupo dos quatro
principais gêneros (tabela 31).

Assim, a industrialização capixaba, entre 1959 e 1975, caracterizou-se


por significativa expansão dos gêneros tradicionais, sob o comando do
capital local, que encontrou condições altamente favoráveis, em termos
tanto de crescimento do mercado consumidor, quanto de disponibili-
dade de incentivos fiscais e financeiros ofertados pelo setor público. A
indústria manteve também o seu perfil quanto à estrutura de tamanho,
embora tenha havido crescimento do tamanho médio dos estabeleci-
mentos, medido pelas relações do número de operários e do valor da
produção nacional. Isso significa que a indústria capixaba manteve a
sua estrutura baseada principalmente em pequenos e médios estabele-
cimentos, o que, aliás, era compatível com o nível de concentração e de
acumulação do capital local.
134 Cafeicultura & Grande Indústria

Tabela 30 - T
 axa anual de crescimento do valor da produção da indústria de
transformação, Espírito Santo, 1949 – 1980
Gêneros / Anos 1949/59 1959/70 1970/75 1975/80
1. Minerais Não Metálicos 7,05 17,75 19,7 11,0
2. Metalurgia 6,78 27,59 31,6 0,6
3. Mecânica 1,35 7,72 111,1 33,3
4. Mat.Elétrico e de Comunicação – 63,68 29,3 17,0
5. Material de Transporte 16,20 43,40 35,7 1,0
6. Madeira 7,89 15,10 11,1 (3,3)
7. Mobiliário 15,25 11,26 13,4 8,0
8. Papel e Papelão 19,75 (4,71) 12,1 190,0
9. Borracha – 0,31 37,0 (4,2)
10. Couros e Peles 6,10 0,15 9,8 13,6
11. Química 33,63 51,09 14,4 34,0
12. Prod.Farmacêuticos e Veterinários (0,22) 18,81 12,1 (22,2)
13. Perfumaria 6,19 (3,69) 20,0 16,7
14. Matéria Plástica – – 53,3 30,8
15. Têxtil 7,19 6,24 13,2 9,6
16. Vest. e Calçados 12,42 13,39 23,8 18,3
17. Produtos Alimentares (6,62) 14,03 14,1 10,4
18. Bebidas (3,13) 18,34 1,6 32,2
19. Fumo – – – –
20. Editorial e Gráfica 10,14 10,42 14,8 18,0
21. Diversos 14,02 22,93 134,1 8,5
Total (1,25) 14,89 17,7 11,5
Fontes: IBGE (1974a, 1979a, 1984a, 1983a, 1987).
Taxas anuais de crescimento calculados pelo Núcleo de Estudos e Pesquisa do Departamento de Economia da Ufes.
Nota: Os parênteses indicam que a taxa de crescimento é negativa.

Os gêneros mais dinâmicos, produtores de bens de consumo duráveis,


intermediários e de capital, embora também tenham apresentado altas
taxas de crescimento, não chegaram a causar alterações significativas na
estrutura industrial, uma vez que eram pouco desenvolvidos e tinham
inexpressiva participação no valor da produção. Nesses gêneros, era muito
fraca a presença do capital local, devido às insuperáveis barreiras à entrada
e à concorrência dos maiores capitais dos estados mais industrializados.

Nessas condições, não era de se esperar que esses gêneros mais dinâ-
micos viessem a se tornar representativos no setor industrial, exceção feita
à metalurgia, que recebeu pesados investimentos estatais nos anos 1960
e 70, com a construção da nova planta industrial da Companhia Ferro
e Aço de Vitória – Cofavi. Foram também instalados outros projetos de
menor porte, em geral por capitais privados de outros estados, tais como:
Companhia Brasileira de Ferro S/A e Cimetal Siderúrgica S/A.
Tabela 31 - Participação relativa dos principais gêneros na formação do valor bruto da produção da indústria de transformação, Espírito Santo, 1949 – 1980

1949 1959 1970 1975 1980

Gêneros % Gêneros % Gêneros % Gêneros % Gêneros %

Prod. Alimentares 76,79 Prod. Alimentares 43,94 Prod. Alimentares 40,44 Prod. Alimentares 34,62 Prod. Alimentares 32,94

Madeira 8,58 Madeira 20,79 Madeira 21,21 Metalurgia 17,42 Papel e Papelão 11,54

Têxtil 3,50 Têxtil 7,94 Metalurgia 9,96 Madeira 15,90 Metalurgia 10,41

Min. Não Metálicos 3,32 Min. Não Metálicos 7,44 Min. Não Metálicos 9,75 Min. Não Metálicos 10,61 Min. Não Metálicos 10,37

Bebidas 2,00 Mobiliário 3,67 Têxtil 3,35 Mat. de Transporte 4,40 Madeira 7,81

Metalurgia 1,44 Metalurgia 3,14 Mobiliário 2,58 Têxtil 2,76 Química 4,92

Perfumaria 1,12 Edit. e Gráfica 2,65 Bebidas 2,28 Vest. e Calçados 2,61 Mecânica 3,62

Edit. e Gráfica 0,89 Vest. e Calçados 2,34 Química 2,27 Mobiliário 2,14 Vest. e Calçados 3,50

Mobiliário 0,79 Perfumaria 2,31 Mat. de Transporte 2,18 Química 1,96 Mat. de Transporte 2,68

Vest. e Calçados 0,64 Bebidas 1,65 Vest. e Calçados 2,13 Edit. e Gráfica 1,51 Bebidas 2,55

Total 99,07 95,87 96,15 Total 93,93 90,34

Fontes: IBGE (1974a, 1979a, 1984a, 1983a, 1987).


Nota: Dados compatibilizados pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas do Departamento de Economia da Ufes.
Espírito Santo • Economia e Política
135
136 Cafeicultura & Grande Indústria

Portanto, até 1975 foi pequena a diversificação da estrutura indus-


trial, em que pese à expansão da metalurgia realizada sob o comando do
grande capital, o que, de certa forma, já antecipava o que viria caracterizar
a expansão industrial pós-75. A partir de 1975, apesar da diminuição de
ritmo, o índice de crescimento da produção industrial manteve-se elevado.
Isso foi acompanhado pelo crescimento do investimento privado e estatal,
cujas decisões haviam sido tomadas no período do milagre econômico e
mesmo após iniciada a crise de 1973, quando o Estado propôs o II Plano
Nacional de Desenvolvimento – II PND.43

O grande capital privado (nacional e estrangeiro) e o estatal, no


auge cíclico, chamado “milagre econômico”, aproveitaram-se das condi-
ções favoráveis de localização industrial no Espírito Santo (existência de
infraestrutura de transportes, comunicações e energia elétrica; sistema de
incentivos fiscais e de financiamento; estrutura econômica razoavelmente
desenvolvida, etc.) e decidiram por implantar vários projetos industriais
no estado, o que veio a ocorrer nos anos subsequentes a 1975. Todo esse
processo foi, sem dúvida, ajudado pela agressiva política do Governo Esta-
dual referente à divulgação de oportunidades de investimento e de atração,
para o Espírito Santo, dos investimentos das empresas estatais e dos capitais
privados nacionais e estrangeiros.44

Dessa forma, abriu-se a possibilidade de expansão de gêneros não


tradicionais do setor industrial e, portanto, da maior diversificação da
estrutura da indústria de transformação.

Entre 1975 e 1980, a indústria de transformação cresceu à taxa mé-


dia anual de 11,5%. O gênero que mais apresentou variação foi papel e
papelão, que, em 1975, tinha o peso irrelevante de 0,1% no valor total da
produção industrial, e, em 1980, aumentou para 11,5%, tornando-se o se-
gundo mais importante, só superado por outros produtos alimentares, com
32,9% (tabela 31). Esse extraordinário crescimento deveu-se, basicamente,
à implantação da fábrica de celulose branqueada, da Aracruz Celulose S/A,

43 Para uma análise crítica do II Plano Nacional de Desenvolvimento, ver o trabalho Lessa (1978).
44 Especialmente no governo de Arthur Carlos Gerhardt Santos, de março de 1971 a março de 1975, adotou-se uma política
de atração de investidores nacionais e estrangeiros para o Espírito Santo. Isso se efetivou através de encontros, no Brasil
e no Exterior, do Governo do Estado com empresários e da publicação de vários folhetos publicitários onde se procurou
divulgar as vantagens econômicas apresentadas pelo estado, especialmente em termos de infraestrutura e de incentivos
fiscais/financeiros.
Espírito Santo • Economia e Política 137

que entrou em operação no ano de 1979. Trata-se de uma grande indústria,


cuja capacidade nominal de produção é de 475 mil t/ano, e que destina
aproximadamente 80% da sua produção ao mercado externo.45

O gênero produtos alimentares continuou a ter a maior participação


relativa no valor da produção e manteve um bom desempenho, tendo
crescido à taxa anual de 10,4%. No entanto esse comportamento global
esconde as alterações ocorridas nos subgêneros que o compõem. Assim, o
subgênero beneficiamento, torrefação e moagem, que havia crescido à taxa
anual de 5,3% entre 1970 e 1975, aumentou para 16,1%, como reflexo, de
certa forma, da recuperação e expansão dos preços e do plantio do café. Por
outro lado, os subgêneros abate de animais e laticínios, cujas taxas anuais de
crescimento haviam sido superiores a 20%, reduziram-se, respectivamente,
às taxas de zero e 3,1%. Essa mudança radical deveu-se, sem dúvida, à crise
que afetou a pecuária bovina de corte a partir de 1975, quando houve uma
substancial redução do rebanho. Os demais subgêneros, considerados em
conjunto, haviam crescido à taxa média anual de 11,1% e tiveram seu cres-
cimento acelerado com uma taxa de 19,9%, em decorrência, basicamente,
da entrada em operação de uma nova indústria de cacau, a Chocolates
Vitória S/A, cuja produção se destina, majoritariamente, à exportação.46

Metalurgia e minerais não metálicos eram os outros dois mais impor-


tantes gêneros em valor da produção e, somados a produtos alimentares e
papel e papelão, perfaziam 65,3% da produção industrial, o que evidencia
a diversificação da estrutura industrial, uma vez que os quatro principais
gêneros, em 1975, representavam 78,5% do valor da produção da indústria
de transformação. O gênero minerais não metálicos apresentou uma taxa

45 A fábrica da Aracruz Celulose S/A começou a operar em 1979, com uma capacidade nominal de produção de 400 mil
t/ano de celulose branqueada (fibra curta) de eucalipto. Naquele ano foram produzidas 290,5 mil t (65% exportadas)
e em 1980 a produção atingiu 361,2 mil t (90,3% da capacidade instalada), tendo sido exportadas 287,7 mil t, ou seja,
79,6% do total produzido. Nos anos subsequentes foram realizados investimentos complementares na planta industrial,
ampliando-se a capacidade produtiva para 500 mil t/ano. Em 1986 atingiu-se a plena capacidade, com uma produção
de 491,7 mil toneladas, das quais 384,9 mil foram exportadas (ARACRUZ CELULOSE, [1981], [1987]).
46 A unidade industrial da Chocolates Vitória S/A, instalada no Município de Viana, foi inaugurada em 13 de dezembro
de 1974, mas entrou em operação efetiva em novembro de 1975, quando empregava 85 funcionários, produzia 7,5 mil
t de produtos/ano e consumia 125 mil sacas de cacau. Inicialmente produzia produtos acabados (bombons, tabletes
recheados, crocantes e ovos de páscoa) que eram destinados ao mercado nacional, e semiacabados (licor, manteiga e torta
de cacau) para exportação. Posteriormente, em face das dificuldades de competir no mercado interno com as grandes
indústrias de produtos acabados – Nestlé, Garoto e Lacta – foi desativada a produção de acabados, concentrando-se a
produção nos semiacabados e nos chocolates em barra. Após sucessivas ampliações de capacidade produtiva, a fábrica
apresentava em 1986 uma capacidade instalada de processamento de 1 milhão de sacas de cacau por ano, o equivalente
a 8 vezes a capacidade inicial. Em 1985 foram industrializadas 560 mil sacas, tendo sido exportadas aproximadamente
75% dessa produção, o que resultou numa receita de exportação de 75 milhões de dólares. A previsão para 1986 era de
processamento de 720 mil sacas de cacau (INDÚSTRIA..., 1975; VITÓRIA..., 1986).
138 Cafeicultura & Grande Indústria

de crescimento (11,0%) mais moderada que a verificada entre 1970 e 1975


(19,7%). Metalurgia constitui uma grande surpresa, pois seu crescimento
foi de apenas 0,6%, o que contrastou com a elevada taxa de crescimento
do período anterior, da ordem de 31,6%.

O gênero madeira, que sempre esteve entre os quatro principais,


teve seu comportamento completamente invertido, pois, de uma taxa de
crescimento de 11,1% entre 1970 e 1975, passou a uma taxa negativa de
3,3%. A partir de 1975, esse gênero começa a entrar em decadência, o que
deve ser atribuído, principalmente, ao esgotamento e à total devastação
das florestas naturais do norte do Espírito Santo e sul da Bahia. Entretanto,
em que pese a essas evidências da derrocada da indústria madeireira, ela
ainda manteve, em 1980, uma participação relativa bastante significativa,
sendo o quinto gênero por ordem decrescente, com 7,8% do valor total da
produção industrial.

O maior nível de diversificação da estrutura industrial pode ser evi-


denciado, ainda, pelas elevadas taxas de crescimento dos gêneros mecânica,
química e bebidas.

A mecânica desenvolveu-se no estado a partir dos anos 1960 e cres-


ceu rapidamente durante a década de 1970, com taxas médias anuais de
111,1% entre 1970 e 1975, e de 33,3% no período de 1975 a 1980. Esse
gênero, por ser de capital mais concentrado em nível nacional e de maior
complexidade tecnológica, apresenta-se pouco acessível ao capital local, e
em geral predomina entre os seus empreendedores, capitais estrangeiros e de
outros estados brasileiros. A participação do gênero no valor da produção,
em 1980, foi de 3,6%.47

A indústria química também começou a se desenvolver no Espírito


Santo nos anos 1960, expandindo-se bastante na década seguinte, quando
apresentou taxas de crescimento de 14,4% entre 1970 e 1975, e de 34,0%
entre 1975 e 1980. Com isso, passou a representar 4,9% do valor da pro-
dução industrial, em 1980, sendo o sexto mais importante gênero. Na sua

47 A indústria mecânica no Espírito Santo desenvolveu-se principalmente a partir dos investimentos de grande porte e de
atividades específicas como a exploração do mármore e a cafeicultura. Em 1980 era bastante relevante, dentro do gênero
mecânica, o peso dos serviços de retífica de motores. Isso, entretanto, tinha tendência a ser modificado à medida que a
produção de máquinas e peças fosse se desenvolvendo. Veja na tabela 4 do apêndice estatístico as principais fábricas que
vêm despontando na mecânica estadual e que estão mais voltadas para a produção de máquinas.
Espírito Santo • Economia e Política 139

composição, destacam-se as indústrias de rações balanceadas e de adubos e


fertilizantes, fornecedoras para o setor agrícola, e a indústria carboquímica.48

A indústria de material de transporte, na primeira metade da década


de 1970, teve uma grande expansão (taxa anual de crescimento de 35,7%),
devido, basicamente, à expansão do subgênero equipamentos ferroviários,
referente a uma unidade de reparo de máquinas ferroviárias da CVRD.49 Entre
1975 e 1980, o gênero apresentou a pequena taxa de crescimento de 1,0%,
reduzindo sua participação relativa de 4,4% em 1975 para 2,7% em 1980.

Além desses três gêneros emergentes, deve-se fazer referência a dois outros
tradicionais que, ao longo do tempo, se vêm expandindo de forma bastante
acelerada, e que, particularmente no período 1975/80, apresentaram ótimo
desempenho: em primeiro lugar, o gênero bebidas, com uma taxa anual de
crescimento de 32,2%, que passou a representar 2,6% do valor da produção
industrial, devido, basicamente, à entrada em operação de uma fábrica de
cerveja em 1978;50 em segundo lugar, o gênero vestuário, calçados e artefatos
de tecidos, principalmente no subgênero vestuário e confecções, cuja taxa
anual de crescimento foi de 18,3%, e a participação relativa, de 3,5%.51

Assim, parece lícito concluir que, a partir de 1975, o setor industrial


no Espírito Santo ganhou novos contornos e características, passando sua
expansão a ser comandada por capitais externos, que se concentraram nos
gêneros mais dinâmicos, tendo desencadeado um processo crescente de
diversificação da estrutura industrial.

48 A carboquímica no Espírito Santo era representada por apenas uma empresa, a Carboindustrial S/A, instalada no Centro
Industrial de Vitória – Civit – na Serra. A empresa foi criada em 1973, e sua planta industrial começou a operar em 01-
01-1976, tendo produzido naquele ano 26 mil t de produtos, embora sua capacidade fosse de 45 mil t/ano. O principal
produto da Carboindustrial é a pasta eletródica soderberg, que se destina às indústrias siderúrgicas e de alumínio. Além
dessa pasta, produz-se o antracito calcinado e a pasta de revestimento. O principal insumo dessa indústria deriva do
alcatrão de carvão mineral. Inicialmente os seus acionistas eram os seguintes: o grupo nacional Olivind Lorentzen que
detinha 37,5% das ações; o grupo norueguês Elken Spigerverket, com igual percentual; e o Geres, com os 25% restantes
do controle acionário (ESPÍRITO SANTO..., 1977; FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO,
1986; REALIDADE..., 1983).
49 Companhia Vale do Rio Doce (1982).
50 Trata-se da fábrica da Indústria de Bebidas Antárctica do Espírito Santo S.A, do Grupo Antárctica, que foi constituída
em 19 de outubro de 1973. Essa fábrica surgiu a partir de um projeto elaborado pela empresa Vick Bier do Brasil S/A,
constituída em 1971. A Companhia Antárctica Paulista associou-se inicialmente àquela empresa e, posteriormente, em
junho de 1975, comprou a totalidade de suas ações, assumindo o controle do empreendimento. A fábrica foi inicial-
mente dimensionada para a produção de 600 mil hl/ano de cervejas, tendo sido inaugurada em 18 de maio de 1978.
Em dezembro de 1981, foi concluído um amplo projeto de expansão que elevou consideravelmente sua capacidade de
produção. Em 1983 a empresa empregava cerca de 700 funcionários (REALIDADE..., 1983).
51 A indústria do vestuário (confecções) no Espírito Santo teve uma grande expansão a partir dos anos 1970. Os dados do
Ideies indicam que 91,7% das empresas existentes em 1986 surgiram após 1974. A maior concentração de indústrias
encontra-se nos municípios de Colatina, Vila Velha e Vitória. As mais importantes empresas são apresentadas na tabela
5 do apêndice estatístico. A indústria de calçados compõe-se de número reduzido de empresas, destacando-se dentre elas
a Calçados Itapuã S/A, localizada em Cachoeiro de Itapemirim, que foi fundada em 17 de maio de 1956. Sua fábrica é
de grande porte, tendo produzido aproximadamente 3 milhões de pares de calçados e empregado 1.700 trabalhadores
em 1982 (REALIDADE..., 1983).
140 Cafeicultura & Grande Indústria

Embora não se disponha de dados censitários, pode-se inferir, utilizando-


-se outras informações, que a tendência à diversificação e ao comando do
grande capital persistiram ao longo dos anos 1980. O gênero metalurgia,
que manteve praticamente estagnada sua produção entre 1975 e 1980 e
aparecia como o terceiro mais importante em valor da produção em 1980,
realizou grande expansão do investimento, da capacidade produtiva e da
produção no período subsequente. Dadas as grandes dimensões dos projetos
implantados e expandidos no início dos anos 1980, pode-se afirmar que
a metalurgia deve ter-se tornado o mais importante gênero da indústria
capixaba, devendo, certamente, ter superado o de produtos alimentares,
que sempre ocupou essa posição.

Essa conclusão baseia-se nos seguintes fatos: a Companhia Siderúrgica


de Tubarão – CST – iniciou a sua construção em junho de 1979, tendo,
depois de certo atraso nas obras, entrado em operação em dezembro de
1983; essa usina envolveu investimento da ordem de 3 bilhões de dólares
e possui uma capacidade produtiva de 3 milhões t/ano. Sua importância
pode ser mais bem avaliada quando confrontada com a Cofavi (única usina
até então existente no Espírito Santo), cuja capacidade produtiva era de
apenas 200 mil t/ano, sendo, portanto, a da CST 15 vezes maior. A CST,
em 1985, já utilizava 88,8% de sua capacidade e empregava diretamente
um total aproximado de 6,3 mil trabalhadores.52

A Cofavi, cuja capacidade das unidades de laminação é de 360 mi t/


ano, produzia, na Aciaria I, 200 mil t/ano de aço e, por isso, construiu,
em 1985/86, a Aciaria II, com capacidade de produção de 300 mil t/ano,
o que a tornou autossuficiente.53

É importante, ainda, dentro desse gênero, a produção independente


de ferro-gusa (exclusive CST e Cofavi), que atravessou uma grave crise
em 1982/83, derivada da crise do mercado internacional do aço. Voltou

52 A Companhia Siderúrgica de Tubarão – CST – é uma usina integrada que produz placas de aço. Em 1984, seu primeiro
ano de operação, foram produzidos 2 milhões t de placas. No ano seguinte a produção atingiu 2,6 milhões t e já no
terceiro ano de operação a usina atingiu a plena capacidade em todas as suas unidades (coqueria, sinterização, alto-forno
e aciaria), tendo produzido 3 milhões t de placas (COMPANHIA SIDERÚRGICA DE TUBARÃO, [1985?], [1987?], 1986).
53 Em 1978 entrou em operação o 3º forno elétrico da Aciaria I da Cofavi, o que elevou sua capacidade de produção a 200
mil t/ano. Por outro lado, a capacidade de laminação, após várias etapas de modernização, situava-se em torno de 300
mil t/ano, o que levou a Cofavi a realizar a 2ª etapa de expansão com a construção da Aciaria II, que tem capacidade
para produção de 300 mil t/ano de aço. Assim, a capacidade global das Aciarias da Cofavi passou a 500 mil t/ano. A
Aciaria II foi inaugurada e entrou em operação em 06 de março de 1987, e estava em fase de planejamento a 3ª etapa de
expansão que deverá elevar sua capacidade para 1 milhão de t/ano, com a ampliação da Aciaria II e instalação de outra
linha de laminação (COMPANHIA FERRO E AÇO DE VITÓRIA, [198-?a]).
Espírito Santo • Economia e Política 141

a se recuperar a partir de 1984, juntamente com o mercado externo, e


encontra-se em processo de crescimento acelerado. Existiam inicialmente
duas usinas de porte médio, cuja capacidade produtiva total era de 260
mil t/ano: a Cimental, com três altos-fornos a carvão vegetal, produz 150
mil t/ano, e a Companhia Brasileira de Ferro – CBF, que começou a ope-
rar seu segundo alto-forno em outubro de 1984, elevando sua capacidade
produtiva para 110 mil t/ano.

A produção de gusa ampliou-se com a implantação de dois outros


projetos de empresários mineiros: a Companhia Metalúrgica Vetorial, com
capacidade de 60 mil t/ano, que entrou em operação em setembro/85, e
a Ferroeste Industrial S/A, com capacidade de 100 mil t/ano, que entrou
em operação em 1986.54

Na metalurgia destaca-se, ainda, o subgênero estruturas metálicas,


que tem várias empresas importantes e se expandiu muito nos últimos
anos, devido, em parte, à crescente demanda de galpões, advinda do setor
cafeeiro, dada a dificuldade de aquisição de madeira.55

Portanto, devido a essa grande expansão da metalurgia, esse gênero


deverá apresentar a maior contribuição para a formação do valor da pro-
dução industrial capixaba nos anos 1980. Produtos alimentares deverá
perder a liderança do setor, mas certamente ainda será um dos mais im-
portantes, visto que, no primeiro quinquênio dos anos 1980, continuou
apresentando bons níveis de crescimento, particularmente nos segmentos
de beneficiamento do café e industrialização do cacau.

A indústria de papel e papelão deverá também ampliar a sua participação


no setor industrial, visto que, em 1980, a sua principal fábrica, a Aracruz
Celulose S/A, ainda não operava em plena capacidade. Nesse ano, produziu
361,2 mil t, enquanto em 1985 a produção alcançou a utilização plena de
capacidade e a marca de 470.100 t, 30,1% maior que no ano de 1980.56

54 O setor produtor de ferro-gusa independente apresenta uma capacidade produtiva global de 420 mil t/ano e emprega
aproximadamente 800 trabalhadores (COMPLEXO..., 1986).
55 As mais importantes fábricas de estruturas metálicas surgiram e se desenvolveram nos anos 1970, especialmente a partir
da segunda metade da década. Destacam-se, dentre elas, a Gaggiato Const. e Inst. Ltda., a Hitachi Zosen Metalmecânica
Ltda., Saveli Const. Metalúrgica Ltda. e a Metalúrgica Carapina Ltda. Para maiores detalhes vide: Federação das Indústrias
do Estado do Espírito Santo (1986); Espírito Santo..., 1985a).
56 Aracruz Celulose ([1987]).
142 Cafeicultura & Grande Indústria

O gênero minerais não metálicos, que desde 1939 figurava entre os


quatro mais importantes em valor da produção, teve seu desempenho
afetado pela crise da construção civil imobiliária dos anos 1980, em
especial entre 1983 e 1985, quando praticamente foram paralisadas as
construções o que, consequentemente implicou uma substancial redução
da demanda de telhas, tijolos, artefatos de cimento, cimento, britamento,
aparelhamento de pedras, etc. Entretanto deve ser ressalvada a possível
expansão da indústria de cal e de cimento. A primeira, porque fornece o
produto para as usinas de pelotização de minério de ferro e para a usina
siderúrgica, que o usa como material complementar ao processo indus-
trial de transformação; a segunda, devido à implantação de uma nova
unidade produtora de cimento a partir da escória do alto-forno da CST,
pertencente ao grupo Cimento Paraíso.57

A indústria da madeira continuou sua derrocada nos anos 1980,


devido à escassez de matéria-prima, que tem motivado a transferência de
várias serrarias para outros estados do país (Bahia, Rondônia e Paraná),
e, ainda, à própria crise da construção civil, pois a construção imobiliá-
ria é grande consumidora de madeira. A crise de 1981/83 afetou de tal
forma o setor, que duas grandes fábricas foram obrigadas a entrar em
concordata no ano de 1983: a Serraria Barbados S/A, em Colatina, e a
Cia. Brasileira de Indústria e Comércio – Cobraice –, em Conceição da
Barra. Essa tendência à derrocada tem sido acompanhada de relativa con-
centração no setor, com o desaparecimento de muitas pequenas serrarias
e a consolidação de grandes fábricas, especialmente duas de laminados
e quatro de compensados.58

A indústria química, que despontou na última década, expandiu-se


significativamente nos anos 1980, uma vez que a produção alcooleira foi
incrementada a partir de 1982/83, e algumas grandes indústrias possuem
unidades de produtos químicos para uso próprio.

57 A Companhia de Cimento Portland Paraíso iniciou suas atividades no Espírito Santo em setembro de 1982, quando começou
a ser construída sua unidade, que entrou em operação em julho de 1984. A unidade instalada não é propriamente uma
fábrica de cimento, porque é constituída apenas pela fase de moagem, possuindo um moinho com capacidade de 32 mil
t/mês. A empresa adquire seus insumos de outras indústrias, sendo a escória de alto-forno da CST (Vitória), o clinker de
uma fábrica do mesmo grupo empresarial (Cantagalo-RJ), gesso mineral (Pernambuco), gesso sintético da Bayer (Rio
de Janeiro) e gesso calcinado da Logasa S/A (Vitória). A fábrica envolveu um investimento de US$ 25 milhões, emprega
aproximadamente 150 funcionários e desde a sua inauguração tem operado com grande capacidade ociosa, estando no
início de 1988 usando apenas 25% de sua capacidade, ou seja, produzindo em média 8 mil t/mês. Cf. A Gazeta, 10-10-
86; e informações prestadas por funcionários da empresa.
58 Realidade... (1983).
Espírito Santo • Economia e Política 143

Se em 1980 era irrisória a capacidade de produção de álcool na única


destilaria existente (anexa à Usina Paineiras S/A), em 1985 o Espírito Santo
atingiu a capacidade nominal de produção de 1 milhão de litros/dia, em
suas sete usinas em operação, o que representou uma produção anual, na
safra de 1985/86, de 185 milhões de litros.59

Por outro lado, as grandes indústrias têm no seu parque industrial


unidades de produtos químicos com seus subprodutos o que possibilita a
instalação de unidades independentes de processamento.

O grupo Aracruz possui uma fábrica de clorato de sódio com capa-


cidade de 15,8 mil t/ano e uma fábrica de clorossoda que produz 16,7
mil t/ano de soda cáustica e 14,9 mil t/ano de cloro, todos produtos
químicos básicos usados no cozimento da madeira e branqueamento da
celulose. A fábrica de clorossoda só entrou em operação em novembro
de 1980, estando, assim, fora das estatísticas industriais daquele ano.60 A
CST possui uma fábrica de oxigênio e gera vários subprodutos que podem
ser industrializados, tais como: alcatrão, amônia, óleo enriquecido com
naftaleno, etc.61

Devem, ainda, ser consideradas as indústrias de adubos e fertilizantes,


que certamente se expandiram significativamente nos anos 1980, devido
à expansão e modernização da cafeicultura e de outras lavouras, que au-
mentaram substancialmente a demanda desses produtos.

A indústria mecânica também deve ter-se ampliado, uma vez que tende
a expandir em conjunto com o setor industrial, num primeiro momento,
através de unidades de reparo e, posteriormente, através da produção de
peças e máquinas de maior complexidade tecnológica.

O gênero produtor de material de transporte, que sempre esteve muito


ligado à reparação de veículos ferroviários, ganhou uma nova e importante

59 No Espírito Santo existem sete destilarias de álcool combustível, sendo seis destilarias autônomas, todas localizadas na
região norte e uma destilaria anexa à Usina Paineiras S/A, localizada no sul do estado. Na tabela 6 do apêndice estatístico
são apresentadas as principais características dessas destilarias.
60 Aracruz Celulose ([1981], [1989]).
61 Foi inaugurada, em março/88, uma unidade de destilação do alcatrão (Carboderivados S/A), cujos acionistas principais
são os grupos Carboindustrial S/A e Norquisa S/A, com investimento inicial de 20 milhões de dólares e capacidade de
processamento de 70 mil t/ano de alcatrão, fornecido pela CST (COMPANHIA SIDERÚRGICA DE TUBARÃO, [1981]).
144 Cafeicultura & Grande Indústria

unidade produtiva, em 1982, a fábrica de ônibus pertencente ao Grupo


Itapemirim.62

Além da indústria de transformação e dos seus principais gêneros,


deve ser destacada também a indústria extrativa mineral (tabela 32), que
congrega as atividades de extração de mármore de Cachoeiro de Itapemirim
e de pelotização de minério de ferro.63 Essa classe de indústria não se revestiu
de grande importância até 1969, quando foi inaugurada a primeira usina
de pelotização da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD-I).

Em 1959, a indústria extrativa mineral era equivalente a apenas 1,9%


do valor da produção da indústria de transformação. Entretanto, com a
implantação de mais cinco usinas de pelotização na década de 1970, essa
atividade passou a ter expressiva participação no setor industrial do Espí-
rito Santo. As usinas implantadas envolveram um investimento global de
1 bilhão de dólares, tendo capacidade de produção de 22 milhões de t/ano
de pellets de minério de ferro.

Assim, a indústria extrativa, em 1970, tornou-se equivalente a 9,4%


da indústria de transformação, o que foi mantido em 1975, quando aquele
percentual foi de 7,8%. Na segunda metade dos anos 1970, quando foram
instaladas quatro das seis usinas existentes, a capacidade produtiva au-
mentou 3,6 vezes, tendo sido a indústria extrativa equivalente, em 1980, a
40,3% do valor da produção da indústria de transformação. Nesse mesmo
ano, a pelotização de minerais representou 98,3% do valor da produção da
indústria extrativa, o que a colocava como a principal atividade industrial
do estado, suplantando em valor da produção até mesmo o gênero produtos
alimentares (tabela 32).

62 Os grupos Itapemirim e Mercedes Bens são os únicos no país autorizados a produzir carrocerias e o conjunto mecânico
de ônibus. Com base nessa autorização, em 1982 foi inaugurado o parque industrial do Grupo Itapemirim, para recu-
peração e fabricação de ônibus. Fabrica-se a linha “Tribus”, ônibus moderno, confortável e eficiente com três eixos. Em
1983 previa-se a produção de 40 veículos por mês ou 480 por ano, o que empregaria um total de 1.200 operários. A
produção destina-se majoritariamente ao atendimento das necessidades da própria empresa, embora se realize também
a comercialização de parcela dos veículos recuperados (REALIDADE..., 1983).
63 A pelotização de minério de ferro é feita por seis usinas, sendo cinco delas controladas pela CVRD e a sexta controlada
pelo grupo Samitri. A capacidade nominal do conjunto das usinas é de 22 milhões de t/ano de pellets. Veja na tabela 7
do apêndice estatístico as principais características dessas usinas.
Espírito Santo • Economia e Política 145

Tabela 32 - Indústria extrativa mineral e de transformação, Espírito Santo, 1949 – 1980


Valor da Produção (Cr$ Correntes)
Classes/Gêneros
1949 1959 1970 1975 1980
1. EXTRATIVA MINERAL (A) 4.394 59.564 60.403 385.079 30.534.603
Pelotização de Minerais (B) – – – – 30.021.878
2. TRANSFORMAÇÃO (C) 757.059 3.099.378 643.383 4.927.693 75.733.289
A/C 0,6 1,9 9,4 7,8 40,3
A/A + C 0,5 1,8 8,5 7,2 28,7
C/A + C 99,5 98,2 91,5 92,8 71,3
Fontes: IBGE (1974a; 1979a; 1983a; 1985).
Espírito Santo • Economia e Política 147

Capítulo
4

Crescimento
econômico,
urbanização e
dinamização do
setor terciário

Nos capítulos anteriores deste trabalho não se dedicou a devida aten-


ção à análise da dinâmica do setor terciário. Isso, aliás, tem acontecido na
quase totalidade dos trabalhos de economia que têm sido feitos no Brasil, e
se deve, de um lado, à visão metodológica de que o terciário é dependente e
caudatório dos setores produtores, e de outro lado, à precariedade das infor-
mações disponíveis sobre o setor. Assim, são poucos os trabalhos analíticos
disponíveis sobre o terciário no Brasil, o que, por sua vez, também dificulta
a realização de outros trabalhos e a melhoria do conhecimento sobre o setor.

Em que pese a esse fato, decidiu-se fazer breves comentários acerca da


evolução do setor terciário no Espírito Santo durante o período abordado
neste trabalho, tendo-se como base as análises já realizadas sobre os se-
tores primário e secundário e as informações disponíveis sobre a situação
geográfica e os tipos de atividades da população.

Inicialmente deve-se observar que o setor terciário apresenta elevado


nível de complexidade, pois é composto de grande variedade de atividades
(comércios, serviços, etc.) dotadas de muitas particularidades. Em geral,
são classificadas no setor todas as atividades que não se enquadram nos
148 Cafeicultura & Grande Indústria

dois setores produtores, sendo-lhes apenas auxiliares e/ou complementares.


Assim, o setor envolve múltiplas atividades e especificidades.

Metodologicamente adota-se a ideia de que o terciário é induzido tanto


pelos setores da produção material da economia, o primário e o secundário,
quanto pelo próprio processo de urbanização.64 O desenvolvimento capitalista
tem evidenciado que é no espaço urbano que se verifica a integração e o pleno
desenvolvimento dos diversos setores de atividade da economia. O fenômeno
da urbanização e da aglomeração de grandes contingentes populacionais pro-
picia o surgimento e a expansão de grande variedade de atividades essenciais,
tanto para o bom desempenho dos setores produtores quanto para o regular
funcionamento do organismo social urbano. Dessa forma, a dinamização do
setor terciário resulta, de um lado, da expansão dos setores primário e secun-
dário; e de outro lado, do próprio processo de urbanização. Mas o terciário
não é um mero reflexo, pois integra-se à globalidade econômica e social de
forma dialética, ou seja, constitui-se no suporte que propicia a continuidade
da expansão dos setores produtores e da aglomeração da população no espaço
urbano. Alguns segmentos específicos do terciário assumem, inclusive, im-
portante papel indutor de atividades produtoras, como foi o caso dos serviços
portuários no Espírito Santo, que foi um dos principais fatores determinantes
da localização de grandes indústrias exportadoras no estado.65

No Espírito Santo, só a partir da década de 1960 o setor terciário


começou a assumir um papel mais relevante, pois a economia estadual
até a década anterior ainda se apresentava predominantemente agrícola,
tendo na cultura do café a sua principal atividade. Correspondentemente a
este quadro verificava-se que a população também se concentrava no meio
rural. Em 1950 a população rural representava 79,6% da população esta-
dual. Durante a década esta situação se alterou muito pouco, pois em 1960
ainda vivia no campo 71,6% da população capixaba. Essa queda relativa da
população rural deveu-se, entretanto, à extraordinária expansão da popu-
lação urbana, cuja taxa anual de crescimento foi de 7,3% naquela década.

64 Para maiores detalhes sobre a proposta metodológica de análise de uma economia urbana ver Cano (1985b).
65 Na década de 1980 o Espírito Santo dispunha de sete portos em sua costa. Dois para movimentação de carga geral controlados
pela Portobras S/A, os portos de Vitória e de Capuaba. Os outros cinco são portos privativos de grandes empresas destina-
dos à movimentação de cargas específicas do interesse dessas empresas: o porto de Tubarão, da CVRD, para exportação de
minério de ferro; o de Praia Mole, da CST, para exportação de placas de aço e importação de carvão siderúrgico; o de Barra
do Riacho, da Aracruz Celulose S/A, para exportação de celulose; o de Ponta de Ubú, da Samarco S/A, para exportação de
pellets de minério de ferro; e o Terminal de Regência, da Petrobras, para embarque de petróleo bruto.
Espírito Santo • Economia e Política 149

A população rural, em termos absolutos, apresentou uma taxa anual de


crescimento de 3%, o que pode ser atribuído à boa performance da cultura
do café verificada nos anos 1950. Nesse contexto – de uma população e
uma economia predominantemente rural – a importância do setor terciário
era bastante reduzida (tabela 33).

Mas a década de 1950 foi a última de absoluta supremacia da atividade


cafeeira na economia estadual. Na década seguinte, como já visto anteriormente,
em função da crise da cafeicultura e do esforço de industrialização empreendido
no Brasil, e em particular no Espírito Santo, a economia capixaba iniciou uma
fase de transição de uma economia agroexportadora para uma economia de
base predominantemente ubano-industrial. Essa fase de transição ainda não
se completou, mas já em fins dos anos 1980 dava mostras da consolidação do
perfil essencialmente urbano-industrial da economia estadual.

Em função das transformações econômicas desencadeadas a partir da


década de 1960, a população rural do Espírito Santo vem se reduzindo con-
tinuamente, tanto em termos relativos quanto absolutos. Naquela década
verificou-se uma taxa anual de crescimento negativa de -1,5%, o mesmo tendo
ocorrido na década seguinte, quando a população rural decresceu à taxa anual
de -2,6%. Nos anos 1980 estima-se que a população rural tenha continuado a
decrescer à taxa anual de -1,5%. Assim, de 1.014.887, em 1960, a população
rural deve ter-se reduzido para 576.931 pessoas em 1990 (tabela 34).

Na década de 1960 a migração rural-urbana esteve ligada a dois fa-


tores fundamentais. O primeiro decorria da própria natureza da pequena
propriedade familiar, que, ao saturar a sua capacidade de absorção do
crescimento da família, acabava expulsando parte dela para o meio ur-
bano. O segundo fator determinante foi a crise de preços do café, a qual
esteve associada à política de erradicação das lavouras. A cafeicultura era
a grande empregadora de força de trabalho e respondia pelo emprego de
aproximadamente 67% da População Economicamente Ativa do setor pri-
mário, motivo pelo qual foi bastante expressivo o fluxo de emigrantes do
meio rural. O significativo impacto da erradicação dos cafezais em termos
de redução do emprego no meio rural não foi compensado por outras cul-
turas, uma vez que a atividade que mais se expandiu foi a pecuária bovina
de criação extensiva, empregadora de reduzido número de trabalhadores,
embora ocupasse grandes extensões territoriais.
150
Tabela 33 - População urbana e rural – comparação Espírito Santo e Brasil, 1950 – 1980

População Urbana População Rural População Total


Espírito Santo
Brasil
1950 1960 1970 1980 1950 1960 1970 1980 1950 1960 1970 1980

Brasil (Nº) 18.782.891 32.004.817 52.904.744 80.436.409 33.161.506 38.987.526 41.603.810 38.566.597 51.944.397 70.992.343 94.508.554 119.002.706

ES (Nº) 199.186 403.461 721.916 1.351.646 758.052 1.014.887 877.417 671.694 957.238 1.418.348 1.599.333 2.023.340
Cafeicultura & Grande Indústria

Grande Vitória (Nº) 82.827 169.647 332.483 694.322 28.104 28.618 53.515 11.941 110.931 198.265 385.998 706.263

ES/Brasil 1,06 1,26 1,36 1,68 2,29 2,60 2,11 1,74 1,84 2,00 1,69 1,70

Grande Vitória/ES 41,58 42,05 46,05 51,37 3,71 2,82 6,10 1,78 11,59 13,98 24,13 34,90

Brasil (%) 36,16 45,08 55,98 67,59 63,84 54,92 44,02 32,41 100 100 100 100

ES (%) 20,81 28,45 45,14 66,80 79,19 71,55 54,86 33,20 100 100 100 100

Grande Vitória (%) 74,67 85,57 86,14 98,31 25,33 14,43 13,86 1,69 100 100 100 100

Taxa de Crescimento 1950/1960 1960/1970 1970/1980 1950/1960 1960/1970 1970/1980 1950/1960 1960/1970 1970/1980

Brasil1 5,5 5,2 4,3 1,6 0,7 (0,8) 3,2 2,9 2,3

ES2 7,3 6,0 6,5 3,0 (1,5) (2,6) 4,0 1,2 2,4

Grande Vitória 7,4 7,0 7,6 0,2 6,5 (13,9) 6,0 6,9 6,2
1 2
Fontes: Gonçalves (1989). Rodrigues (1987a).
Espírito Santo • Economia e Política 151

Tabela 34 - P
 opulação urbana e rural estimada, Espírito Santo, 1980 – 1990

População Urbana População Rural População Total


Anos
Nos Absolutos % Nos Absolutos % Nos Absolutos
1980 1.351.646 66,8 671.694 33,2 2.023.340
1985 1.664.714 72,9 619.945 27,1 2.284.659
1990 2.029.457 77,9 576.931 22,1 2.606.388
TAXA DE CRESCIMENTO – 1980-90 4,1 (1,5) 2,6
Fonte: Rodrigues (1987b).

Nas duas décadas seguintes a migração rural-urbana esteve mais asso-


ciada às transformações tecnológicas e estruturais verificadas na agricultura
estadual e à própria atração exercida pela expansão industrial do estado,
sobretudo daquela concentrada na região da Grande Vitória.

No meio rural expandiu-se o sistema empresarial com o que se


disseminaram as relações de assalariamento, ao mesmo tempo em que
aumentou de forma significativa a intensidade tecnológica da agricultu-
ra, tanto nas novas culturas introduzidas, sobretudo na região litorânea
norte, quanto na já tradicional lavoura cafeeira. Essa transformação
tecnológico-estrutural do campo teve, de um lado, efeitos positivos sobre
a economia, pois aumentou a produtividade, diversificou as atividades
e ampliou significativamente o mercado de insumos agrícolas. Mas, por
outro lado, na medida em que foi crescentemente poupadora e liberadora
da força de trabalho, reduziu relativamente o nível de emprego e ainda
possibilitou o surgimento da figura do “boia-fria”, o trabalhador do campo
que habita a periferia das cidades.

Esse processo de transformações do meio rural no Espírito Santo


encontra-se ainda em curso, e, na medida em que a fronteira agrícola es-
tadual já está praticamente esgotada, pode-se prever que deverá continuar
a se desenvolver o processo de “desruralização” da população. De qualquer
forma, registre-se o efeito benéfico desse processo, que é o estreitamento
das relações do meio rural com o meio urbano e o consequente aumento
da complexidade das relações econômicas locais, sobretudo em termos das
atividades do setor terciário.

A consequência mais visível desse processo de expulsão da população


do meio rural é a explosiva taxa de urbanização do estado. A população
urbana, segundo as estimativas de que se dispõe, aumentou em 8,4 vezes,
tendo passado de 199.186 para 1.664.714 pessoas, entre 1950 e 1985. No
mesmo período, a população total aumentou em apenas 2,4 vezes. Com
isso a taxa de urbanização estadual passou de 20,8% em 1950 para 72,9%
em 1985.

A crescente urbanização da população vem ocorrendo de forma gene-


ralizada em todas as regiões do estado, mas tem-se concentrado sobretudo
na Grande Vitória. Essa região detinha, em 1950, apenas 11,6% da popu-
lação estadual, sendo 74,6% de população urbana. Em 1985 ela passou
a concentrar o expressivo percentual de 39,6% da população estadual,
sendo praticamente toda ela população urbana, pois a taxa de urbanização
atingiu 99%. Nesse mesmo ano, de 1985, a região concentrava um total
aproximado de 900.000 pessoas nos cinco municípios que a compõem, e
para 1990 estima-se que o seu número de habitantes atingirá 1.150.000
pessoas (tabela 35).

Tabela 35 - P
 opulação urbana e rural estimada, Grande Vitória, 1980 – 1990
População Urbana População Rural População Total
Anos
Nos Absolutos % Nos Absolutos % Nos Absolutos
1980 694.322 98,31 11.941 1,69 706.263
1985 894.724 99,02 8.855 0,98 903.579
1990 1.148.824 99,38 7.167 0,62 1.155,991
TAXA ANUAL DE
5,2 (5,0) 5,1
CRESCIMENTO – 1980-90
Fonte: Rodrigues (1987b).

Esse intenso processo de urbanização do Espírito Santo vem ocor-


rendo num momento histórico especial da economia nacional, e tem
apresentado certa defasagem em relação ao processo de urbanização do
Brasil, que se iniciou num momento anterior e foi, em grande medida,
influenciado pelo ocorrido nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro.
Enquanto no Espírito Santo a taxa de urbanização em 1950 era de 20,8%,
no Brasil ela já atingia a 36,2%. Em todos os períodos subsequentes
as taxas de crescimento da população urbana do Espírito Santo foram
superiores às taxas do Brasil, mas apenas em 1980 as suas taxas de ur-
banização foram igualadas.

Não resta dúvida de que o processo de urbanização do estado foi muito


influenciado pelas transformações havidas no campo, que crescentemen-
Espírito Santo • Economia e Política 153

te liberaram força de trabalho que migrou para as cidades, mas deve-se


considerar também que a própria dinâmica urbana, que se desenvolveu
a partir de fins dos anos 1960, teve grande influência e exerceu grande
atração tanto de capitais quanto de população, oriundos de outras regi-
ões. Por um lado, as condições naturais e a posição estratégica do estado
facilitaram a formação de boa infraestrutura portuária, de transportes,
de serviços de comunicações e de abastecimento energético, que se cons-
tituíram em importantes fatores determinantes da localização em solo
capixaba de grandes plantas industriais voltadas para a exportação. Por
outro lado, a expansão dos diversos serviços e a implantação de grandes
unidades industriais foram fatores de atração de população, não só do
interior do estado, mas também de outras regiões do país, sobretudo dos
estados vizinhos.

Os dados referentes à ocupação da População Economicamente Ativa


(PEA) refletem de forma bastante evidente a dinâmica econômica estadual,
além de mostrar a crescente urbanização da população e o papel cada vez
mais relevante do setor terciário na geração de empregos.

A PEA do setor primário, em 1950, ainda representava 74,2% da PEA


total do estado, e durante a década apresentou um crescimento relevante,
tendo sido responsável por 44,5% dos novos empregos criados, o que é
explicável pela grande expansão da cafeicultura havida durante os anos
1950. Nas duas décadas seguintes a dinâmica da agricultura estadual so-
freu grande alteração, com o que a PEA primária se manteve praticamente
estagnada em termos absolutos, tendo sua participação relativa se reduzido
de 67,85 em 1960 para 34,15 em 1980 (tabela 36 e 37).

O setor secundário, na década de 1950, teve um desempenho sofrí-


vel, pois foi responsável pela criação de apenas 5,9% do total de empregos
gerados e manteve a sua participação relativa no total da PEA em 6%. O
setor terciário, ao contrário, já deu mostras do importante papel que viria
a ter na economia estadual, pois, embora tenha aumentado sua participa-
ção na PEA em apenas seis pontos percentuais (19,6% em 1950 e 25,6%
em 1960), foi o responsável por 47,6% dos novos empregos gerados na
década, destacando-se os segmentos de prestação de serviços, transportes
e comunicações e comércio de mercadorias.
154
Tabela 36 - População Economicamente Ativa por setores e ramos de atividade, Espírito Santo, 1950 – 1980
1950 1960 1970 1980
Setores e Ramos de Atividade
Nos Absolutos % Nos Absolutos % Nos Absolutos % Nos Absolutos %
SETOR PRIMÁRIO 205.215 74,17 238.936 67,78 240.383 52,51 242.241 34,09
. Agricultura, Pecuária, Silvicultura 202.654 73,24 234.369 66,49 234.288 51,20 235.822 33,19
. Extração Vegetal 1.094 0,40 2.485 0,71 3.102 0,68 2.999 0,42
. Caça e Pesca 1.467 0,53 2.082 0,59 2.993 0,65 3.420 0,48
Setor Secundário 16.796 6,07 21.250 6,03 62.264 13,60 151.578 21,33
Cafeicultura & Grande Indústria

. Extração Mineral ¹ 1.067 0,39 1.289 0,36 3.982 0,87 10.906 1,53
. Ind. de Transformação 8.865 3,20 10.190 2,89 28.167 6,15 68.025 9,57
. Ind. de Construção 6.364 2,30 9.040 2,56 28.008 6,12 65.598 9,23
. Serv. Ind. de Utilidade Pública 500 0,18 731 0,21 2.107 0,46 7.049 0,99
SETOR TERCIÁRIO 25.306 19,63 90.367 25,64 147.758 32,28 297.305 41,84
. Comércio de Mercadorias 12.203 4,41 18.363 5,21 29.689 6,49 61.975 8,72
. Prestação de Serviços² 18.579 6,71 31.575 8,96 49.142 10,73 104.200 14,66
. Transp. Comum. e Armazenagem 10.081 3,64 17.211 4,88 22.474 4,91 34.648 4,88
. Atividades Sociais 5.531 2,00 10.189 2,89 25.470 5,56 47.927 6,74
. Administração Pública 4.140 1,50 5.548 1,57 10.332 2,26 20.447 2,88
. Defesa Nacional e Seg.Pública 2.101 0,76 3.207 0,91 3.632 0,79 7.535 1,06
. Inst. de Crédito, Seguros, Capital e Com. de Imóveis e Valores 766 0,28 1.607 0,46 3.507 0,77 12.284 1,73
. Outros 905 0,33 2.667 0,76 3.512 0,77 8.289 1,17
. Outras Atividades³ 372 0,13 1.923 0,55 7.382 1,61 19.481 2,74
Total 276.689 100,00 352.476 100,00 457.787 100,00 710.605 100,00
Fontes: IBGE (1951, 1967, 1973, 1983b).
Notas:
1. A extração mineral nos censos de 1950 e 1960 foi classificada no setor primário. Nos censos de 1970 e 1980 passou a ser classificada no setor secundário em função de envolver
atividades de processamento industrial.
2. Em 1950 “Prestação de Serviços” engloba os “serviços de abastecimento de água e esgoto”. Com base na sua participação relativa em 1960, calculamos sua participação em 1950 e o
retiramos deste ramo para acrescentá-lo ao de “Serviços Ind. de Utilidade Pública”.
3. Em “Outras Atividades” estão classificadas as “atividades não compreendidas nos demais ramos”, “atividades mal definidas e não declaradas” e o pessoal que se encontrava “procurando
emprego pela 1ª vez” – em 1970, 2.102 e em 1980, 14.459.
4. Os dados de 1950 e 1960 não incluem as informações referentes à área em litígio da Serra dos Aimorés, onde a PEA deveria ser predominantemente do setor primário.
Espírito Santo • Economia e Política 155

Tabela 37 - N
 ovos empregos criados, segundo setor e ramo de atividade, Espírito Santo,
1950 – 1980
Década de 1950 Década de 1960 Década de 1970
Setores e Ramos
de Atividade Nos Nos Nos
% % %
Absolutos Absolutos Absolutos
SETOR PRIMÁRIO 33.721 44,49 1.447 0,14 1.858 0,77
. Agricultura, Pecuária, Silvicultura 31.715 41,85 -81 -0,08 1.534 0,64
. Extração Vegetal 1.391 1,84 617 0,60 -103 -0,04
. Caça e Pesca 615 0,81 911 0,88 427 0,18
Setor Secundário 4.454 5,86 41.014 39,74 89.314 37,14
. Extração Mineral 222 0,29 2.693 2,61 6.924 2,88
. Ind. de Transformação 1.325 1,75 17.977 17,42 39.858 16,58
. Ind. de Construção 2.676 3,53 18.968 18,38 37.590 15,63
. Serv. Ind. de Utilidade Pública 213 0,30 1.376 1,33 4.942 2,05
SETOR TERCIÁRIO 36.061 47,58 57.391 55,61 149.547 62,19
. Comércio de Mercadorias 6.160 8,13 11.326 10,97 32.286 13,43
. Prestação de Serviço 12.996 17,15 17.567 17,02 55.058 22,90
. Transp. Comum. e Armazenagem 7.130 9,41 5.263 5,10 12.174 5,06
. Atividades Sociais 4.658 6,15 15.281 14,81 22.457 9,34
. Administração Pública 1.408 1,86 4.784 4,64 10.115 4,21
. Defesa Nacional e Seg. Pública 1.106 1,46 425 0,41 3.903 1,62
. Inst. de Crédito, Seguros, Capital e
841 1,11 1.900 1,84 8.777 3,65
Com. de Imóveis e Valores
. Outros 1.762 2,32 845 0,82 4.777 1,98
. Outras Atividades¹ 1.551 2,05 3.357 3,25 -258 -0,11
TOTAL 75.787 100,00 103.209 100,00 240.461 100,00
Fonte: Tabela 36.
Nota: 1 Nos anos de 1970 e 1980 foram excluídas do cálculo as pessoas da condição “procurando emprego pela 1ª vez”.

Nas duas décadas seguintes, estando o setor primário praticamente


estagnado em termos de geração de novos empregos, coube aos setores
secundário e terciário o papel dinâmico. O setor industrial teve um de-
sempenho excepcional, tendo a sua PEA crescido a taxas anuais de 11,3% e
9,3%, respectivamente, nas décadas de 60 e 70, com o que sua participação
relativa na PEA total se ampliou para 21,3% em 1980. O setor terciário,
igualmente, teve um desempenho, embora tenha apresentado taxas anuais
de crescimento da PEA bem menores. Na década de 1960 cresceu 5,0%
a.a. e na de 70 cresceu 7,2% a.a., tendo ampliado sua participação relativa
na PEA para 41,8% em 1980 (tabelas 36, 37 e 38). Assim, nesse período,
o crescimento do emprego no estado foi concentrado nesses dois setores,
que, juntos responderam por mais de 95% dos novos empregos gerados nas
duas décadas. Isso, sem dúvida, reflete o intenso processo de urbanização
da população ocorrido no período, do qual resultou a própria urbanização
156 Cafeicultura & Grande Indústria

do emprego, que em 1980 já representava 63% do total da PEA, se somados


os setores secundário e terciário.

Esses dados evidenciam o fato de que o setor secundário, embora


tenha apresentado as maiores taxas de crescimento da PEA entre 1960 e
1980, dado o próprio perfil da industrialização, baseada em grandes plantas
de alta intensidade de capital, não apresentou capacidade de absorver a
totalidade dos trabalhadores que migraram para as áreas urbanas estaduais.

O papel de maior relevo na geração de novos empregos coube ao setor


terciário, que foi responsável por 55,6% dos empregos gerados na década
de 1960 e por 66,2% dos empregos gerados nos anos 1970. Isso tornou-se
possível porque o próprio crescimento acelerado da população urbana,
associado ao crescimento industrial criou as condições necessárias ao sur-
gimento e expansão de várias atividades urbanas do setor terciário, sobre-
tudo nos segmentos de comércio e prestação de serviços. O setor terciário,
enfim, ampliou-se e diversificou-se com a expansão do mercado urbano
e da demanda criada para o comércio, os serviços pessoais, as atividades
financeiras, os serviços públicos, os serviços portuários, etc.

Tabela 38 - T
 axas anuais de crescimento da PEA, Espírito Santo, 1950 – 1980
Setor de Atividade 1960-50 1970-60 1980-70 1980-50
POPULAÇÃO TOTAL 4,0 1,2 2,4 2,5
POPULAÇÃO URBANA 7,3 6,0 6,5 6,6
POPULAÇÃO ECONOMICAMENTE ATIVA 2,5 2,6 4,5 3,2
- Setor Primário 1,5 0,1 0,1 0,6
- Setor Secundário 2,4 11,3 9,3 7,6
. Indústria de Transformação 1,4 10,7 9,2 7,0
. Indústria de Construção 3,6 12,0 8,9 8,1
- Setor Terciário 5,2 5,0 7,2 5,8
. Prestação de Serviços² 5,4 4,5 7,8 5,9
. Comércio de Mercadorias 4,2 4,9 7,7 5,6
. Transp. Comum. e Armazenagem 5,5 2,7 4,4 4,2
. Atividades Sociais 6,3 9,6 6,5 7,5
Fontes: Tabelas 33 e 36.

É importante ressaltar que o crescimento do setor terciário tem apre-


sentado duplo aspecto.

Por um lado, as atividades mais dinâmicas do setor experimentaram


um processo simultâneo de crescimento, modernização e concentração de
Espírito Santo • Economia e Política 157

capital. Nesses segmentos, excetuando-se aqueles serviços que são monopólio


estatal (distribuição de energia elétrica, abastecimento de água, telefonia, etc.)
e os serviços industriais altamente especializados, que são monopolizados
pelo grande capital nacional, resta um elenco diversificado de atividades nas
quais o capital local encontra condições favoráveis à sua reprodução. Os
grupos econômicos locais têm-se voltado principalmente para as atividades
do setor terciário (comércio, serviços, transportes, etc.), pois essas, além
de inicialmente não exigirem mobilização de grandes volumes de capital
e não serem muito especializadas e complexas como é o setor industrial,
comportam manobras especulativas que, em geral, rendem bons lucros.
Tem-se, desta forma, a combinação de menor risco com boa rentabilida-
de. Devido a isso, praticamente todos os grupos locais, que atualmente já
diversificaram suas atividades, tiveram origem em segmentos diversos do
setor terciário, tais como: comércio e exportação de café (Dadalto, Coser,
Tristão, etc.); transporte de passageiros (Itapemirim, Águia Branca, etc.);
transporte de cargas (Cheim, Colatinense, etc.); supermercados (Neffa,
Boa Praça, etc.); hotelaria (João Dalmácio, Neffa, etc.).

Entretanto, mesmo nesses segmentos, onde o capital local encontra


condições mais favoráveis ao seu crescimento, o grande capital, que atua
no mercado nacional e tem origem nos maiores centros econômicos do
país, tem se colocado numa posição frontal de concorrência e absorção
dos grupos locais. Isso tem sido verificado sobretudo nos segmentos que,
em âmbito nacional, já atingiram elevado nível de concentração, como
é o caso de supermercados (Grupo Bom Preço), lojas de departamentos
(Mesbla, Americanas, C&A e Arapuã), sistema bancário (todos os grandes
conglomerados financeiros nacionais), hotelaria (Novotel, Senac), etc.
Diante da concorrência desses grupos externos, têm-se apresentado aos
grupos locais as seguintes alternativas: ou eles fazem um esforço de ex-
pansão e diversificação para adquirirem porte de competição no mercado
local e em outras regiões do país, ou sucumbem diante da concorrência
e acabam tendo suas atividades absorvidas pelo grande capital nacional.

O setor terciário, por outro lado, abriga um número significativo de


trabalhadores que adotam como estratégia de sobrevivência o desenvolvi-
mento de atividades do setor, sem manter vínculos regulares com o mercado
de trabalho tipicamente capitalista. Trata-se do chamado setor informal, no
158 Cafeicultura & Grande Indústria

qual estão incluídos os trabalhadores que desenvolvem pequenos negócios


e prestam uma grande variedade de serviços, cuja remuneração, em geral,
é bastante baixa e insuficiente para a sua própria manutenção. Além disso,
essas atividades não se submetem a nenhum tipo de controle por parte do
fisco estatal.

Para finalizar, é interessante observar como a PEA se distribuiu re-


gionalmente no Espírito Santo em 1980. Nesse ano a região da Grande
Vitória detinha apenas 2,9% da PEA do setor primário estadual, enquanto
as demais microrregiões concentravam os restantes 97,1%. Por outro
lado, a Grande Vitória concentrava 54,3% da PEA do setor industrial e
52,8% da PEA do setor terciário. Portanto, a principal região urbana do
estado, a Grande Vitória, concentrava 36,1% da PEA estadual, sendo que
98,2% da sua PEA era representada pelos setores secundário e terciário
(tabela 39). Esses dados evidenciam como a atividade econômica e a
urbanização nas últimas décadas vêm se concentrando cada vez mais na
região da Grande Vitória.
Tabela 39 - PEA por setor e ramos de atividades, segundo Microrregiões Homogêneas, Espírito Santo, 1970 – 1980 (Em porcentagem)
Setor Primário Setor Secundário Setor Terciário
Ativ. Agropecuárias Indust. Ind. Comércio de
Microrregiões Homogêneas Outros Total Prestação de Serviços
Ext. Vegetal e Pesca Trasfor. Constr. Mercadorias
1970 1980 1980 1980 1980 1970 1980 1970 1980 1970 1980
GRANDE VITÓRIA 2,96 2,93 48,60 57,95 62,24 41,86 54,86 46,51 51,93 44,77 53,11
TOTAL DEMAIS MICRORREGIÕES 97,04 97,07 51,40 42,05 37,76 58,14 45,74 53,49 48,07 55,23 46,89
. Alto São Mateus 6,90 4,67 1,35 0,95 0,79 2,06 1,11 3,17 1,45 2,93 1,32
. Colatina 25,10 25,98 14,45 9,45 7,59 14,99 11,48 15,96 3,88 15,84 10,50
. Baixada Espírito-Santense 16,77 17,77 12,18 8,86 6,11 11,79 10,02 9,34 10,80 8,23 9,78
. Colonial Serrana 16,94 18,30 5,06 3,28 2,81 5,62 4,02 4,80 3,94 3,99 4,05
. Vertente Oriental do Caparaó 8,51 9,64 1,37 2,60 2,40 2,56 2,03 2,52 2,55 2,47 2,36
. Cach. Itapemirim 15,58 13,7 13,46 9,68 14,16 16,45 11,91 14,16 12,31 18,08 13,46
. Litoral Sul 7,24 7,02 3,52 7,23 3,89 4,67 5,17 3,53 5,07 3,70 5,43
Total Espírito Santo 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

(Em porcentagem)
Setor Terciário
Transportes e Administração
Microrregiões Homogêneas Atividades Sociais Outras Total Total da Pea
Comunicações Pública
1970 1980 1970 1980 1970 1980 1970 1980 1970 1980 1970 1980
GRANDE VITÓRIA 50,43 49,14 43,57 49,78 61,16 58,35 50,39 56,68 47,72 52,77 23,42 36,10
TOTAL DEMAIS MICRORREGIÕES 49,57 50,86 56,43 50,22 38,84 41,65 49,61 43,32 52,28 47,23 76,58 63,90
. Alto São Mateus 1,18 0,71 1,91 1,86 1,23 1,74 2,28 2,38 2,34 1,50 4,70 2,50
. Colatina 12,95 10,61 14,89 12,20 12,65 10,06 15,54 9,74 14,97 10,94 20,29 16,18
. Baixada Espírito-Santense 9,51 11,27 7,98 8,37 5,13 6,98 9,67 9,51 8,44 9,65 13,27 12,50
. Colonial Serrana 6,61 5,76 7,50 6,14 4,91 4,78 3,53 4,11 5,14 4,60 11,40 9,15
. Vertente Oriental do Caparaó 1,37 1,74 3,60 2,91 2,11 2,21 1,49 2,80 2,38 2,44 5,63 4,81
. Cach. Itapemirim 14,48 15,99 16,67 14,07 10,24 12,09 14,30 10,29 15,52 13,16 15,68 13,08
. Litoral Sul 3,46 4,78 3,89 4,67 2,56 3,78 2,79 4,50 3,48 4,94 5,61 5,70
Total Espírito Santo 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00
Espírito Santo • Economia e Política

Fonte: IBGE (1973, 1983b).


159
Espírito Santo • Economia e Política 161

Apêndice
Estatístico

TABELA 1 - Q
 uantidade produzida de algumas culturas agrícolas emergentes - Espírito
Santo – 1970 - 1988 (toneladas)
Culturas
Anos Abacate Abacaxi Batata- Laranja Mamão Pimenta-
Alho Tomate
(*) (*) inglesa (*) (*) do-reino
1970 15.549 16.196 616 5.072 212.142 – 68 11.047
1971 14.526 18.143 557 5.548 205.151 – 68 11.430
1972 15.893 16.872 589 5.623 222.950 – 67 11.906
1973 14.278 21.559 111 5.753 223.945 3.506 134 17.167
1974 14.479 21.078 298 4.822 175.000 2.487 122 20.734
1975 17.667 41.460 290 4.820 402.500 2.715 150 31.500
1976 17.230 20.550 241 7.364 424.005 3.540 149 31.840
1977 17.402 14.400 245 4.003 424.005 1.988 151 29.100
1978 13.635 14.740 687 2.770 207.000 1.955 167 43.750
1979 13.144 14.740 645 1.402 207.000 4.603 187 50.159
1980 12.935 14.300 1.034 2.628 132.750 6.275 471 35.391
1981 12.502 20.400 1.197 3.647 132.729 12.835 483 36.971
1982 12.252 18.856 2.256 4.672 120.211 33.195 1.166 37.387
1983 12.854 25.300 1.800 4.536 136.221 60.305 1.402 43.849
1984 11.722 36.679 1.190 8.646 176.591 150.942 2.072 49.003
1985 11.360 26.563 1.945 5.887 160.295 87.776 1.974 51.915
1986 10.432 21.823 4.504 7.146 161.067 93.102 2.298 53.779
1987 9.844 30.762 6.732 12.092 171.389 69.927 2.994 53.515
1988 – 34.381 4.124 17.124 176.425 – 2.758 67.134
Fontes: Anuário estatístico do Espírito Santo (1955-1987); IBGE (1940-1989).
Nota: (*) Dados em 1.000 frutos.
162 Cafeicultura & Grande Indústria

TABELA 2 - Á
 rea de colheita de algumas culturas agrícolas emergentes Espírito Santo –
1970 – 1988 (hectares)
Culturas
Batata- Pimenta-
Anos Abacate Abacaxi Alho Laranja Mamão Tomate Total
inglesa do-reino
1970 470 1.417 349 546 4.253 – 70 797 7.902
1971 491 1.576 349 604 4.327 – 70 864 8.281
1972 500 1.775 385 636 4.464 – 70 877 8.707
1973 490 1.235 79 702 3.249 374 119 806 7.054
1974 487 1.195 198 747 3.500 236 68 825 7.256
1975 505 2.764 177 629 3.500 252 84 700 8.611
1976 509 1.337 35 1.026 3.687 254 82 796 7.726
1977 518 800 35 564 3.687 144 82 582 6.412
1978 444 670 131 364 1.800 159 153 875 4.596
1979 435 670 150 230 1.800 230 208 1.093 4.816
1980 433 650 215 292 1.500 252 221 753 4.316
1981 427 930 257 350 1.500 400 230 756 4.850
1982 432 569 547 419 1.584 535 488 819 5.393
1983 461 961 425 411 1.678 1.168 660 1.004 6.768
1984 409 1.221 254 757 2.116 1.632 782 976 8.147
1985 382 946 393 529 1.946 1.306 795 1.050 7.347
1986 366 819 902 649 1.971 1.220 917 1.134 7.978
1987 261 1.161 1.372 1.025 2.119 1.102 1.126 1.086 9.352
1988 – 1.425 738 1.288 2.183 – 1.221 1.330 8.205
Fontes: Anuário estatístico do Espírito Santo (1955-1987); IBGE (1940-1989).

TABELA 3 - Rendimento médio de algumas culturas agrícolas emergentes Espírito Santo –


1970 - 1988
Abacate Abacaxi Batata- Laranja Mamão Pimenta-
Alho Tomate
Anos (1.000 (1.000 inglesa (1.000 (1.000 do-reino
(toneladas) (toneladas)
Frutos) Frutos) (toneladas) Frutos) Frutos) (toneladas)
1970 33,08 11,43 1,77 9,29 49,88 – 0,97 11,72
1971 29,58 11,51 1,60 9,19 47,41 – 0,97 13,23
1972 31,79 9,51 1,53 8,84 49,94 – 0,95 13,58
1973 29,14 17,46 1,41 8,20 68,93 9,37 1,13 21,30
1974 29,73 17,64 1,51 6,46 50,00 10,54 1,79 25,13
1975 34,98 15,00 1,64 7,66 115,00 10,77 1,79 45,00
1976 33,85 15,37 6,89 7,18 115,00 13,94 1,82 40,00
1977 33,59 18,00 7,00 7,10 115,00 13,81 1,84 50,00
1978 30,71 22,00 5,24 7,61 115,00 12,30 1,09 50,00
1979 30,22 22,00 4,30 6,10 115,00 20,01 0,90 45,89
1980 29,87 22,00 4,81 9,00 88,50 24,90 2,13 47,00
1981 29,28 22,00 4,66 10,42 88,49 32,09 2,10 48,90
1982 28,36 33,14 4,12 11,15 75,89 62,05 2,39 46,65
1983 27,88 26,33 4,24 11,04 81,18 51,63 2,12 43,67
1984 28,66 30,04 4,69 11,42 83,46 92,49 2,68 50,21
1985 29,74 28,08 4,95 11,13 82,37 67,21 2,48 49,44
1986 28,50 26,65 4,99 11,01 81,72 76,31 2,51 47,42
1987 27,27 26,50 4,91 11,80 80,88 63,45 2,66 49,28
1988 – 24,13 5,59 13,20 80,82 – 2,26 49,73
Fontes: Tabelas 1 e 2.
Espírito Santo • Economia e Política 163

TABELA 4 - Relação das cinco principais indústrias mecânicas produtoras de máquinas e


equipamentos - Espírito Santo – 1986
Início de
Empresa Localização Produtos
Atividades
. Secadores de café
Cibramaq – Cia Brasileira de
Cariacica . Máquinas de beneficiamento de café e 11.10.79
Máquinas Agrícolas Ltda.
cereais.
Mecânica Industrial . Bloqueteiras, usinagem e calderaria
Vitória 18.03.77
Servimaq Ltda. . Peças para máquinas
. Máquina para polimento e corte de
Cachoeiro de mármore.
Cimef Metalúrgica S/A 29.08.69
Itapemirim
. Equipamento para trituração de calcário
Metalúrgica Carapina
Vitória . Calderaria e máquinas (empilhadeira). 03.05.74
Indústria e Comércio Ltda.
Brashol Ind. Mecânica Ltda. Vitória . Peças em geral e máquinas diversas. 05.05.65
Fonte: Federação das Indústrias do Estado do Espírito Santo (1986).

TABELA 5 - R
 elação das oito principais indústrias de confecções - Espírito Santo – 1986
Empresa Localização Início de Atividades
. Cherne Ind. do Vestuário Ltda Colatina 23.04.74
. Confecções Merpa São Paulo Ltda. Colatina 01.07.71
. Comercial e Distribuidora Paulista Ltda. Colatina 23.04.74
. Confecções Otto Ltda. Colatina 23.02.65
. Confecções Guritex – Com. Imp.E Exp.Ltda. Vitória 27.06.68
. Rizk Ind.e Com. de Confecções Ltda. Vila Velha 16.09.75
. Papilon – Ind. e Com. de Confecções Ltda. Cachoeiro de Itapemirim 09.02.77
. Incopel – Ind. E Com. de Confecções Ltda. São Gabriel da Palha 02.08.78
Fonte: Federação das Indústrias do Estado do Espírito Santo (1986).
164

Tabela 6 - Usinas de álcool hidratado/anidro implantadas no Espírito Santo – Dados gerais - 1986

Área Própria Capacidade Nº de Empregos Gerados


Grupo Acionista Ano de Início Plantada com Nominal de
Empresas Localização
Controlador de Operação Cana-de-Açúcar Produção
Indústria Lavoura
(ha) (Litros/Dia)
Cafeicultura & Grande Indústria

1. Usina Paineiras S/A Ataliba Carvalho Brito Itapemirim 1980 20.091 300.000 400 1.100

Sta.Terezinha/Gepar
2. Linhares Agroindustrial S.A (Lasa) Linhares 1982 3.800 160.000 365 950
(SP) – Marim/Gama – (ES)

3. Cristal Destilaria Autônoma de


Aracruz Pedro Canário 1978 8367 245.000 500 1.500
Álcool S/A(Cridasa)

4. Destilaria Itaúnas S/A (Disa) Donato - RJ Com. da Barra 1982 2.140 240.00 300 800

5. Álcooleira Mateense S/A (Almasa) Coser São Mateus 1982 2.300 60.000 120 300

6. Companhia de Álcool de Dalla Bernardina


Con. da Barra 1985 1.625 60.000 120 500
Conceição da Barra + 29 acionistas

7. Álcooleira Boa Esperança S.A Amaro Covre


Boa Esperança 1985 60.000 180 400
(Albasa) + 48 acionistas

Total – – – 38.323 1.125.000 1.985 5.550

Fonte: Proálcool... (1985).


Nota:
1. A capacidade nominal de produção em 1985, considerando-se a média de 165 dias de safra, era de aproximadamente 185 milhões de litros. Em 1990, segundo informações da
Associação dos Produtores de Álcool e Açúcar do Espírito Santo, a produção de álcool foi de apenas 90 milhões, o que revela as dimensões da crise enfrentada pelo setor.
2. As usinas produtoras de álcool da Almasa e da Albesa encontram-se desativadas por falta de matéria-prima.
Tabela 7 - Usinas de pelotização de minério de ferro existentes no Espírito Santo - Dados gerais

Capacidade
Investimento Número de Início de
Usina Localização Produtiva Acionistas
(US$ Milhões) Empregados Atividades
(Milhões T/Ano)

CVRD – I Ponta Tubarão/Vitória 20 2 280 1969 Cia Vale do Rio Doce

CVRD – II Ponta Tubarão/Vitória 50 3 360 1973 Cia Vale do Rio Doce

Cia. Ítalo -Brasileira de CVRD – 51%


Ponta Tubarão/Vitória 100 13 360 1976
Pelotização FINSIDER – 49%

Nibrasco - Cia. Nipo-Brasileira CVRD – 51%


Ponta Tubarão/Vitória 186 6 537 1978
de Pelotização Nippon Stell, Kawas Ki Stell e outros - 49%

Hispanobrás - Cia. Hispano- CVRD - 51%


Ponta Tubarão/Vitória 110 3 360 1979
Brasileira de Pelotização Inst. Nacional de Indústria - 49%

SAMITRI - 51%
Samarco Mineração S/A UBU – Anchieta 593 5 450 1978
Marcona Internacional - 49%

Total – 1.059 22 2.347 – –

Fonte: Desenvolvimento... (1979).


Espírito Santo • Economia e Política
165
Espírito Santo • Economia e Política 167

Referências

1. AGRICULTURA e pecuária no Espírito Santo. A Gazeta, Vitória, 31


jul. 1986. Suplemento especial.

2. ALMADA, Vilma Paraíso Ferreira de. Escravismo e transição: o


Espírito Santo (1850/1888). Rio de Janeiro: Graal, 1984.

3. ANUÁRIO estatístico do café, 1927/1977. Rio de Janeiro: IBC, 1977.


4. ANUÁRIO estatístico do Espírito Santo – 1955-1987. Vitória: Depar-
tamento Estadual de Estatística, [1955-1987]. v. 1-23.

5. ARACRUZ CELULOSE. Relatório anual, 1980. Rio de Janeiro, [1981].


6. ______. Relatório anual, 1986. Rio de Janeiro, [1987].
7. ______. Relatório anual, 1988. Rio de Janeiro, [1989].
8. ______. [Material de divulgação]. [S.l., 1987?]
9. BANCO DE DESENVOLVIMENTO DO ESPÍRITO SANTO. Relatório:
3 anos de Companhia de Desenvolvimento Econômico do Espírito
Santo, 1967 – 1969. Vitória, [1970?a].

10. ______. Alguns indicadores econômicos e sociais do Espírito


Santo, 1969. Vitória, [1970?b]

11. BITTENCOURT, Gabriel Augusto de Mello. Espírito Santo: a indústria


de energia elétrica, 1889/1978. 2. ed. Vitória: IHGES, 1984.

12. CAFÉ capixaba. A Gazeta, Vitória, 28 nov. 1983. Suplemento especial.


168 Cafeicultura & Grande Indústria

13. CANO, Wilson. Desequilíbrios regionais e concentração industrial


no Brasil (1930 – 1970). São Paulo: Global, 1985a.

14. ______. Dinâmica da economia urbana de São Paulo: uma proposta de


investigação. Revista Administração de Empresas, Rio de Janeiro,
v. 25, n. 1, p. 15-25, jan./mar. 1985b.

15. ______. Padrões diferenciados das principais regiões cafeeiras (1850-


1930). Estudos Econômicos, São Paulo, v. 15, n. 2, p. 291-306,
maio/ago. 1985c.

16. CAPES. Estudos de desenvolvimento regional – Espírito Santo.


Rio de Janeiro: 1959. (Levantamento e análises, 14).

17. CARVALHO FILHO, José Juliano de. Política cafeeira do Brasil, seus
instrumentos, 1961 – 1971. São Paulo: USP/IPE, 1975.

18. CELIN, Marilza Ferreira. Migração interna no Espírito Santo: 1940


– 1980. 1982. Dissertação (Mestrado em Economia) – Universidade
Federal de Minas Gerais, 1982.

19. COMPANHIA FERRO E AÇO DE VITÓRIA. Programa de expansão.


Vitória, 1962.

20. ______. Companhia Ferro e Aço de Vitória. Vitória, [198-?a]. Fo-


lheto publicitário.

21. COMPANHIA FERRO E AÇO DE VITÓRIA. 1963/1983: XX anos


de laminação. Vitória, [198-?b].

22. ______. O que é a Ferro e Aço. Vitória, [19--a].


23. ______. Assim é a Ferro e Aço. Vitória, [19--b].
24. COMPANHIA SIDERÚRGICA DE TUBARÃO. Assessoria de Comuni-
cação Social. Perfil da empresa. Serra, 1981.

25. ______. Assessoria de Planejamento Empresarial. Informações esta-


tísticas CST. Vitória, 1986.

26. ______. Relatório anual da administração de 1984. [Serra, 1985?].


27. ______. Relatório anual da administração de 1986. [Serra, 1987?].
Espírito Santo • Economia e Política 169

28. COMPANHIA VALE DO RIO DOCE. Companhia Vale do Rio Doce


– 40 anos. [S.l.], 1982.

29. COMPLEXO industrial do Espírito Santo. A Gazeta, Vitória, 29 dez.


1986. Suplemento especial.

30. DESENVOLVIMENTO industrial do Espírito Santo. A Gazeta, Vitória,


18 set. 1979. Suplemento especial.

31. ELETRIFICAÇÃO rural no Espírito Santo. A Gazeta, Vitória, 10 abr.


1986. Suplemento especial.

32. ESPÍRITO Santo: indústria. A Gazeta, Vitória, 2 dez. 1977. Suplemento


especial.

33. ESPÍRITO Santo: realidade industrial. A Gazeta, Vitória, 31 jul. 1985a.


Suplemento especial.

34. ESPÍRITO SANTO (Estado). Secretaria da Agricultura. Plano articu-


lado do governo do Espírito Santo: projeto PAGES 01; renovação
da cafeicultura capixaba. Vitória, 1968.

35. ESPÍRITO SANTO (Estado). Secretaria Extraordinária de Execução de


Projetos Especiais. Estudo para reformulação e reorientação do
sistema estadual de incentivos fiscais e financeiros. Vitória, 1979.

36. FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO;


INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL DO ESPÍRITO
SANTO. Cadastro industrial do Espírito Santo, 1985/86. Vitória,
1986.

37. FERREIRA, Sinésio Pires. Espírito Santo: dinâmica cafeeira e integra-


ção do mercado nacional – 1940/1960. 1987. Dissertação (Mestrado
em Ciências Econômicas) – Universidade Federal do Rio de Janeiro,
1987.

38. FURTADO, Celso. Nordeste: o tempo perdido. Ciência Hoje, Rio de


Janeiro, v. 3, n. 18, p. 18-24, maio/jun. 1985.

39. GRUPO EXECUTIVO PARA A RECUPERAÇÃO ECONÔMICA DO


ESPÍRITO SANTO. Atividades 1970/73. Vitória, [1974?].

40. ______. Atividades 1970/76. Vitória, [1977?].


170 Cafeicultura & Grande Indústria

41. GONÇALVES, Maria Flora. Mudanças na composição setorial do


emprego. In: A INTERIORIZAÇÃO do desenvolvimento econômico no
Estado de São Paulo, 1920 – 1980. São Paulo: SEADE, 1989. p. 5-60.
(Coleção economia paulista, v. 1, n. 3).

42. GOODMAN, David Edwin; ALBUQUERQUE, Roberto Cavalcanti de.


Incentivos à industrialização e ao desenvolvimento do Nordeste.
Rio de Janeiro: IPEA/INPES, 1974.

43. GUARNIERI, Laura Corrêa. Alguns aspectos socioeconômicos do


planejamento da cafeicultura. 1979. Dissertação (Mestrado em
Ciências Econômicas) – Universidade Estadual de Campinas, 1979.

44. HIRSCHMAN, Albert O. Desenvolvimento industrial no Nordeste


brasileiro e o mecanismo de crédito fiscal do artigo 34/18. Revista
Brasileira de Economia, Rio de Janeiro, v. 21, n. 4, p. 5-34, dez.
1967.

45. INSTITUTO BRASILEIRO DO CAFÉ. Departamento de Assistência à


Cafeicultura. Programa de diversificação no Espírito Santo. Vitória,
1967.

46. ______. Relatório do IBC-Gerca. Rio de Janeiro, 1968.


47. ______. Departamento Econômico. Cafeicultura no Espírito Santo.
Vitória, 1963.

48. ______. Anuário estatístico do café. Rio de Janeiro, 1987.


49. INSTITUTO BRASILEIRO DE ECONOMIA. Contas nacionais, 1975 a
1980. Conjuntura Econômica, Rio de Janeiro, v. 41, n. 5, p. 57-72,
maio 1987.

50. IBGE. Anuário estatístico do Brasil, 1939/40-1989. Rio de Janeiro,


1940-1989. v. 5-49.

51. ______. Censo agropecuário do Espírito Santo 1970. Rio de Janeiro,


1974a. (8. Recenseamento geral. Série regional, v. 3, t. 15).

52. ______. Censo agropecuário: Brasil – 1980. Rio de Janeiro, 1984a.


(9. Recenseamento geral do Brasil, v. 2, t. 3, n. 1).
Espírito Santo • Economia e Política 171

53. IBGE. Censo agropecuário: Espírito Santo. Rio de Janeiro, 1979a.


(Censos econômicos de 1975. Série regional, v. 1, t. 15).

54. ______. Censo agropecuário: Espírito Santo. Rio de Janeiro, 1983a.


(9. Recenseamento geral do Brasil, 1980, v. 2, t. 3, n. 17).

55. ______. Censo demográfico de 1960: Espírito Santo. Rio de Janeiro,


1967. (Recenseamento geral do Brasil, 1960. Série regional, v. 1, t. 10,
pt. 1 e 2).

56. ______. Censo demográfico do Brasil. Rio de Janeiro, 1949-1980.


57. ______. Censo demográfico, censos econômicos – 1950: Espírito
Santo. Rio de Janeiro, 1951.

58. ______. Censo demográfico: Espírito Santo – 1970. Rio de Janeiro,


1973. (8. Recenseamento geral do Brasil, v. 1, t. 15).

59. ______. Censo demográfico: mão de obra, Espírito Santo. Rio de Janeiro,
1983b. (9. Recenseamento geral do Brasil, 1980, v. 1, t. 5, n. 17).

60. ______. Censo industrial de 1960: Espírito Santo, Rio de Janeiro,


Guanabara. Rio de Janeiro, 1966b. (7. Recenseamento geral do Brasil,
1960. Série regional, v. 3, t. 5).

61. ______. Censo industrial: dados gerais, Espírito Santo. Rio de Janeiro,
1984b. (9. Recenseamento geral do Brasil, 1980, v. 3, t. 2, n. 17, pt. 1).

62. ______. Censo industrial: Espírito Santo. Rio de Janeiro, 1974b. (8.
Recenseamento geral do Brasil, 1970, v. 4, t. 15).

63. ______. Censo industrial: Espírito Santo. Rio de Janeiro, 1979b.


(Censos econômicos de 1975. Série regional, v. 2, t. 15).

64. ______. Sinopse preliminar do censo agropecuário: Região sudeste.


Rio de Janeiro, 1987. (Censos econômicos, 1985, v. 4, n. 3).

65. INDÚSTRIA capixaba. Vitória, v. 6, n. 80, set. 1975.


66. LAZZARINI. Walter. Programa de racionalização da cafeicultura bra-
sileira. In: SIMPÓSIO SOBRE DESENVOLVIMENTO DO ESTADO
DO ESPÍRITO SANTO, 1., 1968, Vitória. Anais... Vitória, [1969?]. v.
1, p. 47-59.
172 Cafeicultura & Grande Indústria

67. LESSA, Carlos. Quinze anos de política econômica. São Paulo:


Brasiliense, 1982.

68. ______. A estratégia de desenvolvimento 1974/1976: sonho e


fracasso. Rio de Janeiro: UFRJ/FEA, 1978.

69. MAGALHÃES, Antônio Rocha. Considerações sobre o sistema de


incentivos fiscais para o desenvolvimento do Nordeste. [S.l.: s.n.,
1978].

70. MELLO, João Manoel Cardoso de. O capitalismo tardio. São Paulo:
Brasiliense, 1982.

71. MORANDI, Angela Maria et al. Alguns aspectos do desenvolvi-


mento econômico do Espírito Santo, 1930 – 1970. Vitória: UFES,
Departamento de Economia, NEP, 1984.

72. OLIVEIRA, Francisco de. Elegia para uma re(li)gião. 3. ed. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1981.

73. PAIVA, Rui Miller et. al. Setor agrícola no Brasil. São Paulo: Forense
Universitária, 1976.

74. PROÁLCOOL no Espírito Santo. A Gazeta, Vitória, 19 jun. 1985.


Suplemento Especial.

75. REALIDADE industrial do Espírito Santo. A Gazeta, Vitória, 31 maio


1983. Suplemento especial.

76. RIOS, José Arthur (Coord.). Diagnóstico para o planejamento


econômico do Espírito Santo. Vitória: INED/FINDES, 1966.

77. ROCHA, Haroldo Corrêa; COSSETTI, Maria da Penha. Dinâmica ca-


feeira e constituição de indústrias no Espírito Santo, 1850/1930.
Vitória: UFES, Departamento de Economia, NEP, 1983.

78. RODRIGUES, Antônio Celso Dias. A dinâmica demográfica do Espírito


Santo entre 1940 e 1980; o potencial demográfico no Espírito Santo de
1980 a 2010. In: ESPÍRITO Santo século 21. [Vitória: s.n.], 1987a.
(Documentos básicos: série recursos humanos; RH 01 – dinâmica
demográfica).
Espírito Santo • Economia e Política 173

79. ______. Evolução e distribuição demográfica no Espírito Santo, 1980-


2010. In: ESPÍRITO Santo século 21. [Vitória: s.n.], 1987b. (Do-
cumentos básicos: série recursos humanos; RH 02 – distribuição
demográfica).

80. RODRIGUEZ, Octávio. Teoria do subdesenvolvimento da Cepal.


Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1981.

81. SZMRECSÁNYI, Tamás. O desenvolvimento da produção agro-


pecuária, 1930 – 1970. Campinas: UNICAMP/IFCH/DEPE, 1981.
(Texto para discussão, n. 9).

82. UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO. Centro de Ciências


Jurídicas e Econômicas. Departamento de Economia. Núcleo de Es-
tudos e Pesquisas. Aperfeiçoamento e atualização de indicadores
econômicos para o Espírito Santo: partes II e IV. Vitória: UFES,
1982.

83. VITÓRIA fatura US$ 100 milhões com chocolate. A Gazeta, Vitória,
11 maio 1986.

Вам также может понравиться