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“Frankenstein, ou o moderno Prometeu” de Mary Shelley

O mito da Criação: Prometeu, Lúcifer e Adão

José Eustáquio Diniz Alves, ENCE/IBGE - 06/03/2018


Geração iluminista e feminista
Final do século XVIII
(Antes de Napoleão)

Livros mais influentes:


O senso comum (1776)
Direitos do Homem (1791)
O Império da Razão e a Perfectibilidade Humana
• “O iluminismo é a saída do ser humano de sua menoridade, da qual é
o próprio culpado. A menoridade é a incapacidade de se servir de seu
entendimento sem a direção de outrem” (Kant);
• A chave do progresso é o predomínio da razão e sua vitória sobre o
preconceito, o fatalismo, as crenças e as superstições;
• O ser humano é indefinidamente perfectível;
• A Revolução Social levaria a uma sociedade democrática e científica;
• Eliminação das desigualdades entre as nações;
• Progressos nacionais da igualdade e do bem-estar;
• Aperfeiçoamento real da cidadania (saúde, educação, moradia, etc.);
• Contra escravidão e o colonialismo;
• Pelos direitos iguais entre os sexos (equidade de gênero), etc.
Família Godwin – tipo Mosaico

Casamento Casamento
Dezembro 1797 Dezembro 1801
Geração pós-iluminista e romântica - Início do século XIX (Depois de Napoleão)
Allegra Byron (1817-1822)
Elena A. Shelley (1818-1820)

Meias-
irmãs

“Clara” (1815 –1815);


William Shelley (1816 - 1819);
Clara E. Shelley (1817-1818) Eliza Shelley (1813-1876)
Percy F. Shelley (1819- 1889) Charles Shelley (1814-1826)
Família Wollstonecraft - Godwin
A vida na casa de William Godwin tornou-se cada vez mais tensa devido às dívidas e às péssimas relações
entre Mary Godwin e a madrasta. Quando Mary fugiu com Shelley em julho de 1814, Claire Clairmont foi
com eles. A mãe de Clairmont seguiu o grupo para uma pousada em Calais, mas não conseguiu fazer com
que Clairmont fosse para casa com ela. Godwin precisava da assistência financeira que a aristocrática
Shelley poderia fornecer. Os três jovens atravessaram a França devastada pela guerra e para a Suíça,
imaginando-se como personagens em uma novela romântica, como Mary Shelley recordou mais tarde, mas
sempre lendo amplamente, escrevendo e discutindo o processo criativo. Na jornada, Clairmont leu
Rousseau, Shakespeare, e as obras da mãe de Mary, Mary Wollstonecraft. Mary (Shelley) voltou grávida e
não foi morar com o pai e a madrasta. Claire Clairmont foi morar com a meia irmã e o cunhado. Parece
Claire se relacionava com Percy.
Claire Clairmont teve um curto romance com Lord Byron em (que tinha se separado de Anne Isabella
Byron com quem teve a filha Ada Lovelace (10/12/1815) – quem se tornaria grande matemática e criadora
do primeiro algoritmo computacional). Desse caso amoroso nasceu Clara Allegra Byron (1817-1822) que
morreu precocemente na infância na Itália. Clara Clairmont acusou Lord Byron pela morte da filha e no fim
da vida fez um testamento chamando-o de monstro. Sentindo-se abandonada pelas meias-irmãs, Fanny (a
primeira filha de Mary Wollstonecraft) se suicidou em 9 de outubro de 1816.
Em maio de 1816, atendendo um desejo de Claire Clairmont de ir atrás de Lord Byron, Mary Wollstonecraft
Godwin - com apenas 18 anos de idade (e com filho pequeno) – acompanhada do seu futuro marido
partiram para a Suíça para encontrar com Lord Byron (1788-1824) que estava acompanhado do o médico e
escritor John Polidori (1795-1821). Eles ficaram em casas separadas (Percy, Mary e Claire) de Lord Byron e
Polidori, nas cercanias do lago Genebra. Lord Byron não queria contato com Claire e nem sabia que ela
estava grávida, Clara Allegra Byron (12/01/1817 – 20/041822). O livro Frankenstein foi publicado em
01/01/1818. Em março de 1818 o trio (Percy, Mary e Claire) foi para Milão e várias cidades da Itália atrás de
Lord Byron que não quis saber de Claire, mas recebeu Allegra e a pôs em um orfanato, onde ela morreu em
1821. Claire acusou Byron pela morte. A menina Elena Adelaide Shelley (dez/1818-junho 2020) nasceu em
Nápoles e pode ser filha de Percy e Claire. O 4º filho de Percy e Mary nasceu em Florença: Percy Florence
Shelley (12/11/1819- 05/12/1889). Em 8/07/1822 Percy Shelley morreu afogado em Pisa, na Itália
Principais obras de Mary Shelley

19/02/1823 02/1837

01/01/1818 23/01/1826
Percy Shelley lutou contra a monarquia, a tirania, o militarismo, a religião, a
escravidão, a ignorância, as injustiças e as desigualdades de todos os tipos;
Ele era a favor da democracia, da liberdade de expressão, da anarquia, do ateísmo,
do vegetarianismo, do amor livre e de uma sociedade melhor e mais justa. Com sua
ideologia social-libertária, defendeu o direito das pessoas se levantarem contra os
governos, mas por meio da não-violência. Seu poema “Prometeu Liberto” exalta a
perfectibilidade humana de acordo com o pensamento iluminista.
• Percy Shelley casou-se com Harriet Westbrook (1795-1816) e teve duas crianças:
Elizabeth Esdaile Shelley, conhecida como Eliza (1813-1876) e Charles Bysshe Shelley
(1814-1826). Harriet Westbrook suicidou-se em novembro de 1816
• Percy Shelley abandonou Harriet ainda enquanto ela estava gravida e, em
28/07/1814, viajou para a França e a Suíça com Mary Wollstonecraft Godwin e sua
irmã Claire Clairmont – ambas com 16 anos. Nesta viagem Mary ficou grávida.
Eles tiveram 4 crianças: - “Clara” (22/02/1815 – 03/1815);
• William Shelley (24/01/1816 - 07/06/1819);
• Clara Everina Shelley (14/05/1817-24/09/1818)
• Percy Florence Shelley (12/11/1819- 05/12/1889)
Percy Shelley morreu afogado em 8/07/1822
Roteiro das duas viagens de Percy Shelley - Mary Shelley - Claire Clairmont
O Castelo Frankenstein localiza-se no estado de Hesse, na Alemanha,
construído pela família "Von Frankenstein".
O alquimista Johann Conrad Dippel (1673-
1734) residiu neste castelo, sendo-lhe
atribuída, por uma tradição local, a
destruição da torre por uma violenta
explosão, fruto do manuseio
de nitroglicerina, após o que teria sido
expulso da região pela população enfurecida.
Outra lenda pretende que Dippel desenvolvia
pesquisas com cadáveres, na tentativa de
trazê-los de volta à vida, e que algumas vezes
assinava o seu nome nos cadáveres como
"von Frankenstein", mesmo não sendo
descendente da família.
Mary Shelley (1797-1851) esteve com a
família na região alguns meses antes de
escrever a obra que a eternizaria,
"Frankenstein". Acredita-se que tenha ouvido
este folclore e nele se inspirado para criar o
enredo da obra, embora jamais tenha feito
menção a isso.
George Gordon Byron, (Londres, 22/01/1788 – 19/04/1824), conhecido como Lord Byron.
Entre 1809 e 1811, Byron fez uma grande viagem pelo mediterrâneo (evitando as guerras
napoleônicas) começando por Portugal - que estava ocupado pelas tropas napoleônicas -
(chamou Sintra de “Éden glorioso”), depois foi para Sevilha, Jerez de la Frontera, Cádiz até
chegar a Malta e Athenas. Como resultado da experiência Byron publicou "Peregrinação de
Childe Harold" (1812) e conquistou muitos fãs e se tornou uma celebridade.
Ele publicou vários poemas e se envolveu em muitos relacionamentos. Ele teve três filhas:
Elizabeth Medora Leigh (15/04/1814 – 28/08/1849) foi a terceira filha de Augusta Leigh,
que era meia-irmã de Lord Byron (filha do pai de Lord Byron, John “Mad Jack” Byron);
Ada Augusta King (10/12/1815 – 27/11/1852), Condessa de Lovelace e conhecida como
Ada Lovelace. Foi a única filha legítima de Lord Byron, com a esposa Anne Isabella
"Anabella" Byron (1792-1860).
Clara Allegra Byron (12/01/1817 – 20/04/1822) filha de Claire Clairmont (1798-1879)
Ele se separou de "Anabella" Byron em janeiro de 1816 e deve ter engravidado Maire
Clairmont em abril de 1816. O escândalo da separação, os diversos casos amorosos (com
mulheres e homens) e dívidas cada vez maiores influenciaram para deixar a Inglaterra em
abril de 1816 e nunca mais voltou.
Ele passou o verão em Genebra na Suíça (onde se encontrou com Claire, Mary e Percy
Shelley), sendo que em junho de 1816 nasceu a ideia do Frankenstein. Depois Byron foi
para a Itália (para onde foram Claire, Mary e Percy Shelley em 1818 e Percy morreu em
1822). Em julho de 1823, Byron deixou a Itália e foi para a Grécia lutar ao lado do gregos
contra o Império Otomano. Ele morreu em Mesolóngi, em 19/04/1824.
Around two hundred years ago, in
May 1816, a small group of English
travellers checked into the Hotel
d’Angleterre, a large three-storey
stone building facing the Alps on the
north side of Lake Geneva. In the
group was the 23-year-old poet Percy
Shelley, his mistress, Mary
Wollstonecraft Godwin, still only 18
years old, and their four-month-old
son William. (Mary was to marry
Percy in December that year, just two
weeks after hearing about the
suicide of his abandoned wife
Harriet.) The final member of the
company was Mary’s step-sister Clare
Clairmont, eight months her junior—
“the type of young woman who
today would be known as ‘arty,’” in
Muriel Spark’s tart summary.

https://www.prospectmagazine.co.uk/arts-and-books/sumer-1816-frankenstein-shelley-byron-villa-diodati
Congresso de Viena (1815) e a Pax Britannica
A estratégia de centrar o livro Frankenstein nas questões familiares e
falando dos mitos de Prometeu e Lúcifer tem a ver com a retomada do
poder das monarquias europeias (de “origem divina”) aliadas ao poder
das Igrejas, como a volta dos Bourbon em Nápoles, Espanha e França, a
dinastia de Orange na Holanda, dos Bragança em Portugal, dos Saboia
no Piemonte, etc...
Mary Shelley sabia das dificuldades em defender ideias republicanas e
revolucionárias na vitoriosa Inglaterra, depois do Congresso de Viena,
de 1815, e usou os conflitos familiares como metáfora dos fracassos da
Revolução Francesa e a derrota dos ideias de “Liberdade, Igualdade e
Fraternidade”
Mary Shelley questiona também a “perfectibilidade humana” e a
dominação da natureza “possessível e explorável”!
Victor Frankenstein desafia “Deus” e a “Natureza”!
A Família Frankenstein.
Alphonse Frankenstein era um cidadão suíço de classe média alta, exerceu
várias funções públicas, morador de Genebra (parte de língua francesa), que
casou-se mais velho com a filha de um grande amigo, comerciante
arruinado, que morreu na miséria. Caroline Beaufort acompanhou o pai até
o leito de morte, “com vontade incomum e capacidade de suportar toda a
adversidade”. Ela aceitou a ajuda e a oferta de casamento, tornando-se a
senhora Frankenstein. Eles tiveram 3 filhos: o primogênito Victor, Ernest,
sete anos mais novo do que Victor e William, o caçula. Quando David tinha 5
anos, Alphonse e Caroline adotaram uma menina que era filha de um nobre
de Milão que lutava pela independência da Itália, mas ficou na pobreza (mais
ou menos como William Godwin) e uma mãe alemã que morreu ao dar à luz
(como Mary Shelley), mas estava sendo criada por uma família muito pobre.
Elizabeth Lavenza era linda “uma rosa entre sarças negras” e foi adotada pela
família, era uma filha adotiva que chamavam de “prima”, mas estava
prometida para ser esposa de David Frankenstein (Lembra a relação
incestuosa de Lord Byron com a meia-irmã Augusta Leigh, 1783-1851, que
resultou no nascimento de Elizabeth Medora Leigh ,15 April 1814 – 28
August 1849). Outra pessoa que se junta à família é Justine Moritz, a
governanta que veio de uma família monoparental feminina pobre (a mãe
era viúva com 4 filhos) – “feminização da pobreza” – e que a partir da morte
da mãe e dos 3 irmãos, passou a morar com os Frankensteins.
Ordem de nascimento ‘(‘ e morte ‘)’ dos personagens

* Há personagens
que não morrem
como a família de
“refugiados” (De
Lacey/cego, Ágata,
Félix e Safie) e os
professores de LECERCLE, Jean-Jacques. Frankenstein: Mito e Filosofia. José Olympio Ed. 1991
http://postllc.fflch.usp.br/sites/postllc.fflch.usp.br/files/A_contradicao_subjetiva_Frankenstein_e_a_fantasia.pdf
Ingolstadt
Criador e Criatura
Victor Frankenstein, desde criança, tinha paixão pelas ciências naturais e
estudava as obras dos alquimistas medievais – Albertus Magnus (1200-1280),
Cornelius Agrippa (1486-1535) e Paracelso (1493-1541). Aos 17 anos, por
incentivo dos pais, foi estudar química na universidade de Ingolstadt, na
Alemanha. Imbuído da ideia de fazer algo memorável para a humanidade, se
dedicou com afinco à bibliografia e à tecnologia mais avançada da época.
Com ajuda do seu professor Waldman, Victor Frankenstein passou dois anos
totalmente dedicados ao seu objetivo de entender “o princípio da vida”.
Após incrível esforço, ele conseguiu decifrar, sozinho, a fórmula da criação.
Sua autoconfiança lhe deu a certeza de que era capaz de “dar a vida a um
animal tão complexo e maravilhoso quanto o ser humano”. Ele juntou partes
de cadáveres e montou um corpo largo e de 2,40 metros de altura. Numa
noite sombria com a chuva batendo tristemente na janela, tomou os
instrumentos que estavam à sua volta e infundiu “a centelha de vida na coisa
inerte que jazia aos seus pés”. Victor viu a sua criatura abrir o “olho amarelo”
e “respirar com dificuldade”. Assustado, Frankenstein observa: “Ele era feio,
porém, quando aqueles músculos e articulações passaram a se mover, ele se
tornou uma coisa que nem Dante poderia ter concebido”. Alto e forte, o
monstro criado por Frankenstein se assemelha a um titã, que a mitologia
descreve como um ser de estatura gigante e de força física descomunal.
Illuminati da Baviera - Ingolstadt
Os Illuminati (plural de illuminatus, "iluminados") é,
historicamente, o nome que se refere aos Illuminati
da Baviera, uma sociedade secreta da época do
Iluminismo fundada em 1 de maio de 1776, em
Ingolstadt. Também chamados de “perfectibilistas”
ou "perfeccionistas“. Os objetivos da sociedade
eram opor-se à superstição, ao obscurantismo, à
influência religiosa sobre a vida pública e aos abusos
de poder do estado. "A ordem do dia," escreveram
em seus estatutos gerais, "é colocar fim às
maquinações dos perpetradores da injustiça,
controlá-los sem dominá-los". Os lluminati foram
proibidas por um édito do soberano bávaro Carlos
Teodoro, com o encorajamento da Igreja Católica.
Muitos intelectuais influentes e políticos
progressistas se consideraram membros. Atraiu
literários como Johann Wolfgang von Goethe e
Johann Gottfried Herder e duques reinantes de
Gotha e Weimar. (Wikipedia)
Lição de anatomia do Dr. van der Meer, Quadro de van Mierevelt, 1617. Museu de Delft
Willian Godwin defendia a ideia de que o
aprimoramento do homem só poderia ser alcançado
por meio a criação de uma “nova raça”, criada e
controlada, a partir de um processo que ele chamou de
“engenharia social”, na qual o método natural de
concepção deveria ser totalmente abolido.
O Monstro
Na genealogia de Foucault, o monstro “É o misto de dois reinos, o reino
animal e o reino humano: o homem com cabeça de boi, o homem com pés
de ave – monstros. É a mistura de duas espécies: o porco com cabeça de
carneiro é um monstro. É o misto de dois indivíduos: o que tem duas cabeças
e um corpo, o que tem dois corpos e uma cabeça, é um monstro. É o misto
de dois sexos: quem é ao mesmo tempo homem e mulher é um monstro”
(FOUCAULT, Michel. Os anormais. 2001, p.79)
Mas o monstro de Mary Shelley não é obra de uma aberração da natureza.
Não é uma besta de várias cabeças e nem um hermafrodita. Ele é um
monstro 100% produzido pela “genialidade humana” que usa partes de
defuntos humanos e os transforma em um “titã” (era largo e de 2,4 metros)
por meio do galvinismo, que era praticado por Erasmus Darwin (Avô de
Charles Darwin) e Alexander Von Humboldt, dentre outros.
O monstro foi produzido de forma assexuada, quase como uma clonagem.
O Monstro
• De “nascença”, era bom e ingênuo (tábula rasa);
• Era vegetariano
• Aprendeu a sobreviver pela experiência;
• Aprendeu a falar observando (escondido) o convívio de uma família;
• Aprendeu a ler (em francês) no livro “Paraíso Perdido” de Milton
• Refletiu sobre a sua infelicidade e exclusão social e solicitou justiça,
demandando uma “Eva”;
• Entrou em conflito com o seu criador que não quis atender seu pedido de
criar uma companheira feita de forma assexuada;
• Ameaçou acabar com a noite de núpcias (matar a esposa) para que o
Criador não concebesse outra criatura de forma sexuada;
• O monstro não matou Victor diretamente, mas levou-o à exaustão e morte.
A criação de uma outra criatura feminina como companheira do monstro

Victor Frankenstein percebe que daria início a uma nova raça que colocaria a
humanidade em perigo.

(Adão) e Eva (primeira mulher) como a responsável pela queda de Adão e do


Pecado Original;

(Prometeu) e Pandora (primeira mulher) - que está associada à origem dos


grandes males que assolam a humanidade;

- Os males surgem quando o homem e a mulher se unem contra a “tirania” dos


céus e ousam sair da ignorância e da obediência
Livro Polissêmico:

A riqueza da obra de Mary Shelley é que o livro é polissêmico e o monstro,


composto por partes inertes e não harmoniosas, pode ser fruto de inúmeros
conflitos e significar muitas coisas: pode representar os conflitos individuais ou
familiares, a tirania do governos absolutistas, a revolução social, as
consequências não antecipadas de uma ciência arrogante, os erros e danos
inesperados das tecnologias, os problemas da reprodução assexuada, o
desrespeito às leis da natureza, ou das “leis divinas”, etc.
- Mito da criação;
- Édipo;
- Feminismo;
- Homossexualismo;
- Etc.
Prometeu e o Iluminismo
O Prometheus (1773) de Goethe aborda o mito prometeico sob uma perspectiva
criadora, pois Prometeu instrui as pessoas ao difundir o fogo do conhecimento, mas
ensina também sobre os sentimentos, o amor e a construção de uma sociedade mais
justa, recusando a violência e as guerras de conquista. Além disto, Prometeu
representa o poder criador e inovador do artista, capaz de dar vida a qualquer coisa.
Dessa forma, como observou Alegrette (2010): “Goethe utiliza-se do mito de
Prometeu para exaltar a imaginação e a criatividade dos autores românticos” (p. 50).
No poema “Prometeu libertado”, de Percy Shelley (O marido de Mary começou a
trabalhar o poema, que foi publicado em 1820, em 1815, antes da concepção do
Frankenstein) o mito de Prometeu é uma exaltação à perfectibilidade humana, a
razão e ao desenvolvimento científico, ideais que estão presentes nas obras de
William Godwin e Mary Wollstonecraft.
De fato, o iluminismo, no século XVIII, ousou assumir a tocha de Prometeu e colocou
a razão como força dominante do progresso, da busca da felicidade e do bem-estar
humanos. O livro “Prometeu Desacorrentado”, de David S. Landes, mostra que o
Homo faber, da Revolução Industrial e Energética, se tornou um Prometeu
desacorrentado, que utilizou a ciência e a tecnologia para promover um dinamismo
econômico desenfreado e que desencadeou um aumento exponencial do padrão de
produção e consumo da população mundial (com os consequentes efeitos negativos
sobre as mudanças climáticas e a degradação dos ecossistemas).
O Mito Prometeu
Na mitologia grega, Prometeu é o personagem que roubou o fogo aos deuses do
Olimpo e o deu ao ser humano, o que lhe assegurou o status de “ser racional” e a
superioridade sobre os demais animais da Terra. O fogo representa o conhecimento e o
poder que era posse exclusiva dos deuses. Como castigo pela desobediência e ousadia
de se comparar aos seres superiores do Olimpo, Zeus ordenou que Prometeu fosse
acorrentado no cume do monte Cáucaso, onde todos os dias uma águia dilacerava seu
fígado que, logo em seguida, se regenerava. Ou seja, o fogo que Prometeu deu aos
humanos (racionalidade) tem lhes proporcionado importantes conquistas, mas, em
contrapartida, também derrotas e sofrimento.
Já o Prometeu iluminista conseguiu repassar o conhecimento aos humanos e não
prestou obediência a Zeus, como explica Wolfgang von Goethe no famoso poema
“Prometheus”, escrito antes da Independência dos Estados Unidos e da Revolução
Francesa (1774).
Porém, no livro de Mary Shelley, o moderno Prometeu (Victor Frankenstein) não foi
punido por Zeus e nem foi acorrentado no Cáucaso, mas foi punido pela sua própria
ousadia e pelo resultado de sua criação, já que ficou acorrentado ao monstro por
correntes imaginárias, psicológicas e de vinganças. O conflito de Victor Frankenstein
com o seu monstro é uma metáfora do conflito do “monstro” da Revolução Francesa
(Terror e Napoleão) contra os revolucionários que foram mortos na guilhotina e os
ideais de “Liberdade, Igualdade, Fraternidade” que foram desfigurados e corrompidos.
A utopia de Frankenstein virou distopia.
Frankenstein e Lúcifer
O nome Lúcifer significa "estrela da manhã", "o que brilha", ou "o que traz luz". De
acordo com o velho testamento, no segundo dia da criação, Deus criou o céu e
nesse mesmo dia, surgiram os anjos. Um deles, que impressionava por sua beleza,
era Lúcifer. Ele teria, já no sexto dia da criação, recusado um pedido do Todo
Poderoso para louvar a nova criatura, o homem, feito à imagem e semelhança de
Deus. Adão exige a Deus uma companhia e o Todo Poderoso, “da costela de Adão”
fez uma mulher, que foi chamada Eva. Adão e Eva mandavam em todas as criaturas
do mundo e viviam felizes e obedientes no Jardim do Paraíso.
Mas o clima de paz e tranquilidade foi quebrado. Lúcifer argumenta que Deus
governava o céu como um tirano e que os anjos deveriam ter mais poderes. Assim,
Lúcifer convenceu cerca de um terço dos anjos a apoiá-lo na batalha pelo controle
do paraíso. Mas a rebelião fracassou. Os perdedores (“anjos caídos”) foram
enviados para o inferno, onde deveriam arder no fogo por toda a eternidade.
Lúcifer pagou o preço maior e foi transformado no horrendo Satanás.
De acordo com o poema de John Milton - Paraíso Perdido - Satã não se deu por
vencido e, disse a sua famosa frase: "Melhor reinar no Inferno do que obedecer no
Céu”. Ele jurou vingança, prometendo destruir a raça humana. Como manteve seu
poder angelical de mudar de aparência, se disfarçou de serpente, entrou no Jardim
do Éden e convenceu Eva a provar o fruto da árvore proibida (do conhecimento) e
dividi-lo com Adão. Como consequência, o casal foi expulso do paraíso (a queda do
ser humano) e toda sua descendência (a humanidade) herdou a imperfeição
humana, o sofrimento e a existência do mal, em decorrência do Pecado Original.
Frankenstein, Lúcifer e Adão
No livro de Mary Shelley, o ser criado por Victor Frankenstein – o monstro – é uma mistura de
Lúcifer e Adão. Isto fica claro nas próprias palavras da criatura que depois de explicar o que
aprendeu nos livros Vidas Ilustres e As tristezas de Werther, explica o que aprendeu com John
Milton:
“Mas ‘O paraíso perdido’ provocou-me sensações ainda mais diversas e profundas. Li-o, como li os
outros volumes que me haviam caído às mãos, como se fosse uma história verídica. Ele agitava
todos os sentimentos de maravilha e amor que o quadro de um Deus onipotente, guerreando com
suas criaturas, seria capaz de despertar. Não raro, eu encarava aquelas situações como semelhantes
à minha. Como Adão, aparentemente eu não possuía liame algum com qualquer criatura viva; a
situação dele, porém, sob todos os outros pontos de vista, era muito diferente da minha. Ele saíra
das mãos de um Deus, como criatura perfeita, feliz e próspera, protegida com especial carinho por
seu Criador. Podia conversar com seres de uma natureza superior e adquirir conhecimento deles,
mas eu era um desgraçado, impotente, que estava só. Muitas vezes considerei Satanás como o
emblema que mais se adaptava à minha situação, pois não raro, como ele, quando via a alegria de
meus protetores, sentia dentro de mim o gosto amargo da inveja” (p. 139).
O monstro solicita a Frankenstein: “O que lhe estou pedindo é moderado e razoável: desejo uma
criatura do sexo oposto, mas tão horrorosa quanto eu... Iremos para as florestas sem fim da
América do Sul” (p. 156). Ou seja, ele solicita uma Eva, mas se Victor não lhe der uma companheira,
então ele será como Lúcifer e se voltará contra o seu Criador. A epigrafe do livro é: “Pedi eu, ó
criador, que do barro/Me fizesses homem? Pedi para que/Me arrancasses das Trevas?” (O Paraíso
Perdido, X, 743-45).
O monstro foi criado de maneira assexuada como Adão, mas não teve uma Eva e muito menos um
Jardim do Éden. Ele não comeu do fruto da “árvore proibida” e nem desobedeceu ao Senhor, no
entanto foi execrado pela humanidade. Ele era realmente a vítima. Uma vítima da discriminação
pessoal e social que se revoltou contra a sua situação de isolamento e abandono.
Frankenstein e a Revolução Francesa
Slavoj Zizek (2011), por exemplo, não aceita certa interpretação crítica marxista de
que o romance de Mary Shelley se concentra unicamente em uma densa rede da
família e da sexualidade e obnubila as verdadeiras referências históricas que são os
conflitos revolucionários gerados pelo desenvolvimento do capitalismo industrial
que teve impacto em todas as formas de relacionamento social. Focando nos
conflitos familiares, a autora consegue atrair a atenção do público, enquanto
mantém mais ou menos invisível o seu verdadeiro tema.
Segundo Sizek (2011): “É fácil mostrar que o verdadeiro foco de Frankenstein é a
“monstruosidade” da Revolução Francesa, sua degeneração em terror e ditadura.
Mary e Percy Shelley eram estudiosos ardentes da literatura e das polêmicas
relativas à Revolução Francesa. Victor cria seu monstro em Ingolstadt, a mesma
cidade que Barruel – historiador conservador da Revolução cujo livro Mary leu
repetidas vezes – cita como fonte da Revolução Francesa (foi em Ingolstadt que a
sociedade secreta dos Illuminati planejou a revolução). A monstruosidade da
Revolução Francesas foi descrita por Edmund Burke exatamente nos termos de um
Estado morto e revivido como um monstro (...) Além disso, Frankenstein é dedicado
a William Godwin, pai de Mary conhecido pelas ideias utópicas a respeito da
regeneração da raça humana. Godwin alimentou esperanças milenares em Na
Enquiry Concerning the Principles of Politicasl Justice (1793), em que exulta com
nada mais, nada menos que o surgimento de uma nova raça humana. Essa raça,
que surgiria assim que a superpopulação fosse cientificamente controlada, seria
produzida por engenharia social, não por intercurso sexual” (p. 94).
• Frankenstein, Cyborgs e Blade Runner
• O monstro rejeitado, a meio caminho entre o humano e o inumano,
empreende sua brutal vingança contra a humanidade que a um só
passo o cria e o exclui, serviu de referência para uma longa linhagem de
personagens: o androide, o robô, o zumbi.
• A disjunção entre criatura-criador na teoria genealógica de Frankenstein
pode ser atualizada no imaginário atual e reforçando a velha oposição
entre cultura e natureza, como no caso do colapso ambiental provocado
pelas emissões de gases de efeito estufa que geram o aquecimento
global (o monstro que pode destruir a civilização);
• No filme Blade Runner, de Ridley Scott (1982), o tenente Deckard é
designado para caçar e eliminar um grupo de “replicantes” (criaturas
super-humanas) produzidos geneticamente para o trabalho análogo ao
escravo, mas que se revoltam contra seus criadores, como no caso
entre Frankenstein e sua criatura.
Considerações finais
A possibilidade de criação de um novo ser vivo por meio da tecnologia
científica representava o cume da racionalidade científica e a maioridade do
ser humano. Como disse Kant: “O iluminismo é a saída do ser humano de sua
menoridade, da qual é o próprio culpado. A menoridade é a incapacidade de
se servir de seu entendimento sem a direção de outrem”
Mary Shelley usou o monstro como uma metáfora das consequências não
antecipadas do desenvolvimento racional e científico (utopia da razão
iluminista) e da revolução social que prometia uma sociedade democrática e
justa (utopia da reforma social iluminista). Escrevendo em 1816 e 1817 ela já
refletia sobre os fracassos da Revolução Francesa e distopia da restauração
da monarquia europeia e do autoritarismo. A monstruosidade é humana.
Mary Shelley quis mostrar no livro que a racionalidade humana – tão
decantada pelos revolucionários iluministas do século XVIII, em especial os
seus pais – poderia não gerar sempre bons frutos. Ao invés de alcançar a
“perfectibilidade do ser humano”, ela realça a imperfectibilidade. O
retrocesso, ao invés do progresso. O colapso e não a abundância fáustica.
Enfim, em vez de um novo ser humano, monstros.
No século XXI, o livro “Frankenstein” serve de alerta contra os novos
monstros: Inteligência Artificial, robôs sapiens assassinos e transumanos.
Bibliografia
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