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Complexidade, Caos e Auto-organização

Luiz Antônio Moro Palazzo

Universidade Católica de Pelotas

Escola de Informática

lpalazzo@atlas.ucpel.tche.br

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Resumo
Este artigo introduz um conjunto de conceitos provenientes de estudos teóricos e
empíricos na ciência do caos e da complexidade com ampla aplicação na modelagem
de sistemas computacionais adaptativos, evolutivos de simulação e de otimização em
geral. Tais sistemas são aqui considerados sob o ponto de vista de sua organização e
dos fenômenos que a provocam e sustentam. Os conceitos de auto-organização,
sistemas complexos adaptativos, criticalidade, fronteira do caos e evolução são
comentados, destacando-se o modo como estão relacionados na formação de um
padrão estrutural coerente observado freqüentemente na natureza. Aborda-se também
o emprego desses conceitos na modelagem de sistemas computacionais e suas
perspectivas de aplicação como um paradigma para a construção de sistemas
complexos de informação.

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1 Introdução
O estudo de sistemas complexos cresceu muito nos últimos anos, não obstante
ser o próprio conceito de complexidade definido muito vagamente e segundo
diversas teorias alternativas [KOL65] [CHA75] [CRU94]. O termo
“complexidade” vem do latim, complexus, que
significa entrelaçado ou torcido junto. Isto pode ser interpretado da seguinte
maneira: para se ter um sistema complexo é necessário (1) duas ou mais
diferentes partes ou componentes e (2) estes componentes devem estar de
algum modo interligados formando uma estrutura estável [HEY88]. Aqui se
encontra a dualidade básica entre partes que são ao mesmo tempo distintas e
interconectadas. Um sistema complexo não pode então ser analisado ou
separado em um conjunto de elementos independentes sem ser destruído. Em
conseqüência não é possível empregar métodos reducionistas para a sua
interpretação ou entendimento. Se um determinado domínio é complexo ele
será, por definição, resistente à análise.

A consciência da existência de fenômenos que não podem ser reduzidos às


suas partes em separado conduziu ao holismo, que pode ser visto como uma
corrente de pensamento oposta ao reducionismo. O holismo propõe a
observação de um fenômeno complexo como um todo, ao invés de como uma
coleção de partes. Esta visão, entretanto, também negligencia um importante
aspecto das entidades complexas: o fato de que elas são compostas de partes
distintas, mesmo que essas partes se encontrem em estreito relacionamento.

Considerar um fenômeno como um todo porém significa identificá-lo


com uma unidade, isto é, fundamentalmente simples. Na construção de uma
ciência da complexidade deve-se portanto buscar uma visão capaz de
transcender a polarização entre holismo e reducionismo, permitindo a
modelagem de sistemas que apresentam simultaneamente a característica
da distinção (sendo portanto separáveis do todo em uma forma abstrata) e
da conexão (sendo portanto indissociáveis do todo sem a perda de parte do
significado original).

Uma forma simples de modelo que satisfaz simultaneamente esses dois


requisitos aparentemente contraditórios é o conceito matemático de rede. Uma
rede consiste de nodos e de conexões ou arcos entre os nodos. Estes podem
ser vistos como partes de um sistema complexo, enquanto que as conexões
irão corresponder às relações que estabelecem entre si. Esta visão tem a
propriedade de ser reversível, isto é, pode-se também ver os nodos como
conexões entre os arcos, que então são tomados como os elementos
componentes.

Assim a abordagem reducionista pode ser pensada simplesmente como um


método que tenta eliminar tanto quanto possível as conexões, enfatizando a
individualidade dos nodos, enquanto que a abordagem holística elimina tanto
quanto possível as distinções entre os nodos. Neste sentido, ambos os métodos
“reduzem” um fenômeno complexo a uma representação basicamente mais
simples (um conjunto solto de nodos diferenciados ou uma massa de conexões
entre nodos iguais), negligenciando uma parte essencial das características do
fenômeno.

2 Ordem e Caos
O termo complexidade é por vezes também tomado como um sinônimo
de desordem ou caos. Entretanto, somente a noção de desordem não é
suficiente para definir complexidade. É necessário também entender o
conceito de ordem. Exemplos simples de ordem são estruturas simétricas
(p.ex: reticulados cristalinos). A simetria é definida matematicamente como a
invariância sob um conjunto de operações ou transformações (não
necessariamente um grupo). A principal característica de um sistema ordenado
é a sua previsibilidade (espacial ou temporal). Não é necessário conhecer o
sistema como um todo para reconstruí-lo ou prever sua estrutura: o sistema é
redundante.

Levada ao limite esta definição, na tentativa de produzir um sistema em


ordenação máxima, obtém-se um sistema caracterizado pelo fato de ser
invariável sob qualquer possível transformação. A única estrutura possível
para tal sistema se caracteriza por total homogeneidade: deve ser possível
mapear o sistema de uma parte qualquer para outra sem que nenhuma
modificação ocorra. Além disso o sistema deve possuir uma extensão infinita,
porque de outro modo se poderia imaginar transformações que mapeassem de
uma parte do sistema para algum elemento fora de seus limites. Em outras
palavras, um sistema de ordenação máxima iria corresponder a um vácuo
clássico, isto é, a uma substância estendida ao infinito na qual nenhuma parte,
componente ou estrutura interna pode ser distinguida. Tal sistema é
claramente o oposto do que se tomou como um sistema complexo, que se
caracteriza justamente por possuir uma estrutura interna diferenciada.

A desordem, por outro lado, é caracterizada pela ausência de invariância, isto


é, pela ausência de transformações (não triviais) que não teriam qualquer
efeito distinguível sobre o sistema. No limite isto significa que qualquer parte
do sistema, por insignificante que seja, deve ser diferente ou independente de
qualquer outra parte. Um exemplo aproximado de tal sistema seria um gás
perfeito: em geral a velocidade de duas moléculas diferentes seriam distintas e
independentes, não havendo qualquer coordenação sobre as diferentes
moléculas. Observado mais de perto entretanto o fenômeno de um gás perfeito
apresenta diversas invariâncias: o movimento de uma molécula de gás é
contínuo durante o curto intervalo de tempo em que ela não colide com outras
moléculas, caracterizado pela conservação de momento. Além disso o espaço
entre as moléculas pode ser visto com um vácuo clássico, que como se viu é
ordenado.

Em um sistema de máxima desordem deve-se ter partículas com qualquer


momento físico aparecendo e desaparecendo em qualquer instante no tempo e
qualquer posição no espaço. Um exemplo de tal sistema é o vácuo como é
visto pela teoria quântica. As flutuações quânticas do vácuo continuamente
criam e destroem partículas virtuais, assim denominadas porque são tão
instáveis que em princípio são impossíveis de observar. Na prática isto
significa que o vácuo quântico não pode ser distinguido do vácuo clássico.
Isso conduz à conclusão de que tanto a perfeita ordem quanto a perfeita
desordem no limite correspondem ao vazio, isto é, à ausência de qualquer
forma de complexidade.

3 Dinâmica
O passo seguinte no estudo da complexidade corresponde à análise de como
um sistema complexo evolui, isto é, como ele se modifica ao longo do tempo.
A invariância limitada postulada na seção anterior não se aplica somente a
transformações geométricas ou espaciais, mas também a transformações
temporais ou dinâmicas. Isto significa que certas partes ou estruturas do
sistema serão conservadas durante uma certa evolução de tempo enquanto que
outras irão se modificar. Até aqui esta descrição parece bastante trivial: uma
parte do sistema se modifica enquanto que outra permanece sem
modificações. É necessário entretanto algum método para identificar quais os
subsistemas que irão mudar e quais os que irão permanecer inalterados.

A evolução de sistemas complexos, de acordo com esta visão, é caracterizada


por um intrincado emaranhado de ordem ou invariância e desordem ou
variação. Suponha-se que haja uma subestrutura relativamente invariante (isto
é, não afetada por um certo conjunto de transformações) em um sistema
complexo. Isto significa que enquanto os processos internos do sistema
pertencerem a esta categoria de transformação a subestrutura irá permanecer
invariável. Na evolução biológica o agente de seleção é o ambiente, que
demanda uma certa forma de adaptação do sistema, que de outro modo não irá
sobreviver. No estudo da complexidade entretanto, sem fazer uma distinção a
priori entre um sistema e seu ambiente externo não é possível empregar tal
critério. A distinção entre o sistema que tenta sobreviver e seu ambiente, que
pode permitir ou dificultar esta sobrevivência, é por si só uma característica
dos sistemas complexos em geral. Discorrer sobre a sobrevivência de um
subsistema em um todo maior implica em que se deve ter alguma maneira de
reconhecer tais subsistemas invariantes inseridos em ambientes em evolução.
Em outras palavras os subsistemas estáveis devem ser distinguidos
como indivíduos. A dinâmica de variação-restrição é o princípio sobre o qual
se baseia a invariância relativa das distinções em sistemas complexos.

O princípio da variação e retenção seletiva [HEY88] foi elaborado a partir


deste ponto de vista. Por definição um sistema complexo consiste em um certo
número de subestruturas distintas submetidas à variação. Como a variação não
é absoluta ou completa, essas subestruturas deverão apresentar alguma
invariância ou estabilidade. Isto significa que as subestruturas não irão mudar
todas ao mesmo tempo. Há alguma forma de inércia ou continuidade que
limita a mudança. Isto permite considerar uma subestrutura como possuindo
uma identidade estável durante um certo (talvez infinitesimal) espaço de
tempo. O que pode então mudar durante este intervalo? Tanto as relações ou
conexões entre a subestrutura considerada e as demais quanto a organização
interna das partes da subestrutura mudam. O primeiro processo pode ser
denominado (re)combinação e o segundo mutação.

4 Auto-organização
Outra questão fundamental é: “De onde vem a ordem?” Segundo as leis gerais
da termodinâmica parece que os processos dinâmicos tendem a seguir os
caminhos de menor consumo de energia até que o sistema encontre um ponto
de equilíbrio onde permanecerá enquanto não sofrer perturbação. Há diversos
exemplos na natureza de sistemas e organismos que apresentam elevada
energia e organização internas em aparente desafio às leis da física. Alguns
deles são:

 Partículas de limalha de ferro que se alinham segundo as linhas de força


do campo magnético a que são submetidas;
 Partículas d’água que suspensas no ar formam nuvens;
 Formigas ou abelhas que crescem a partir de um zigoto até formar um
complexo sistema de células que então por sua vez participa de uma
sociedade altamente estruturada e hierarquizada.

A organização surge espontaneamente a partir da desordem e não parece ser


dirigida por leis físicas conhecidas. De alguma forma a ordem surge das
múltiplas interações entre as unidades componentes e as leis que podem
governar este comportamento não são bem conhecidas. A perspectiva
comportamental de um sistema auto-organizável poderia revelar como
padrões espaciais e temporais - tais como caminhos, limites, ciclos e
sucessões - poderiam surgir em comunidades heterogêneas complexas. O
entendimento dos mecanismos de auto-organização pode conduzir à
construção de modelos mais informativos e precisos. Os primeiros modelos de
formação de padrões utilizados baseavam-se em uma abordagem top-down
onde os parâmetros descreviam os níveis mais altos dos sistemas. Segundo
este enfoque a dinâmica das populações é representada também em seus
níveis mais elevados e não como resultado da atividade que ocorre ao nível
mais baixo dos indivíduos.

A abordagem top-down viola dois princípios básicos dos fenômenos


populacionais, que são individualidade e localidade [KAW94].
A individualidade tenta levar em conta as diferenças entre os indivíduos. Tais
diferenças, ainda que muito pequenas, podem conduzir a resultados
radicalmente diferentes na evolução das populações ao longo do tempo.
Por localidade pretende-se significar que cada evento possui uma localização
e um escopo de influência. Ignorar a localidade dos eventos obscurece fatores
que poderiam contribuir para uma visão mais clara da dinâmica espaço-
temporal dos sistemas.

5 Pré-condições da Auto-organização
É necessário a um sistema satisfazer diversas pré-condições e valer-se de
vários mecanismos para promover a auto-organização [NIC89] [FOR94]. Tais
mecanismos são de certa forma redundantes e pouco definidos, entretanto
permitem avaliar intuitivamente o potencial de auto-organização dos sistemas.
São eles:
 Abertura Termodinâmica: Em primeiro lugar o sistema (uma unidade
reconhecível, tal como um órgão, um organismo ou uma população)
deve trocar energia e/ou massa com o seu ambiente. Em outras
palavras, deve haver um fluxo não-nulo de energia através do sistema.
 Comportamento Dinâmico: Se um sistema não está em equilíbrio
termodinâmico, a única opção que resta para o seu comportamento é
assumir algum tipo de dinâmica, significando que o sistema encontra-se
em contínua mudança.
 Interação Local: Uma vez que todos os sistemas naturais apresentam
inerentemente interações locais, esta condição parece ser um
importante mecanismo para a auto-organização e como tal deve ser
incorporada aos modelos que a representam.
 Dinâmica Não-Linear: Um sistema com laços de feedback positivo e
negativo é modelado com equações não-lineares. A auto-organização
pode ocorrer quando existem laços de feedback entre as partes
componentes do sistema e entre estes componentes e as estruturas que
emergem em níveis hierárquicos mais altos.
 Grande Número de Componentes Independentes: Uma vez que a
origem da auto-organização recai nas conexões, interações e laços de
feedback entre as partes dos sistemas, torna-se claro que sistemas auto-
organizáveis devem possuir um grande número de componentes.
 Comportamento geral independente da estrutura interna dos
componentes: Isto quer dizer que não importa do que ou como são
feitos os componentes do sistema, desde que eles façam as mesmas
coisas. Em outras palavras, isto significa, que a mesma propriedade
emergente irá surgir em sistemas completamente diferentes.
 Emergência: A emergência é provavelmente a noção menos conhecida
dentre as que se relacionam com auto-organização [CRU94]. A Teoria
da Emergência diz que o todo é maior do que a soma das partes e o
todo exibe padrões e estruturas que surgem espontaneamente do
comportamento das partes..
 Comportamento geral organizado e bem definido: Desconsiderando a
estrutura interna de um sistema complexo e observando-o apenas como
um fenômeno emergente constata-se que seu comportamento é bastante
preciso e regular.
 Efeitos em Múltiplas Escalas: A emergência também aponta para
interações e efeitos entre múltiplas escalas nos sistemas auto-
organizáveis. As interações em pequena escala produzem as estruturas
em grande escala as quais por sua vez modificam a atividade na
pequena escala.
6 Estruturas de Feedback
Uma estrutura de feedback é um laço causal, uma cadeia de causas e efeitos
que forma um anel. Dentre essas estruturas, a mais simples é o feedback de
reforço, também conhecido como efeito bola-de-neve ou ciclo vicioso. A
principal característica do feedback de reforço é ser auto-amplificador. Quanto
mais complexo um sistema (seres vivos, por exemplo) maior o número de
estruturas de feedback que apresenta. Tem sido observado que sistemas que
apresentam feedback tendem a desenvolver propriedades completamente
novas. Este fenômeno, como já se viu, denomina-se emergência e as novas
propriedades do sistema são ditas propriedades emergentes.

A metáfora da bola que rola e cresce ao mesmo tempo em que aumenta a


velocidade ladeira abaixo além de representar muito bem o fenômeno
demonstra também dois modos completamente diferentes de perceber o
processo. A bola de neve apresenta dois movimentos diferentes: quando se
acompanha a bola com os olhos, verifica-se que ela possui um movimento
circular de rotação sobre si própria. Por outro lado, quando se observa a bola
rolando ladeira abaixo vê-se que sua trajetória descreve uma linha reta. Os
dois movimentos correspondem a duas formas fundamentalmente diversas de
perceber o tempo.

Na tradição científica ocidental adota-se em geral a visão linear. O tempo é


visto como passado, presente e futuro dispostos sobre uma linha. O presente é
um ponto sobre esta linha, movendo-se em direção ao futuro e deixando o
traço do passado atrás de si. Na visão linear as causas estão sempre atrás dos
efeitos. Isto entretanto não é o caso na visão circular, onde causa e efeito estão
conectados em um ciclo. Não faz sentido falar em “na frente de” ou “atrás”
em uma trajetória circular onde qualquer ponto está ao mesmo tempo na frente
e atrás de outro ponto. A verdade é que cada uma dessas visões necessita da
outra, pois correspondem a duas diferentes perspectivas de um mesmo
fenômeno. A metáfora da bola de neve mostra claramente como estas duas
perspectivas podem ser combinadas: um feedback é uma estrutura circular
rolando sobre um tempo linear.
Figura 1

Duas visões complementares para estruturas de feedback

7 O Efeito Dominó
A onda é um padrão muito comum, considerado por alguns como emergente.
Um dos exemplos que melhor descrevem uma onda é o efeito dominó. Causa
grande impressão observar dominós cairem sucessivamente, derrubados pela
queda de seus antecessores, produzindo assim uma onda. Entretanto, se este é
um padrão emergente, deve haver um ciclo em algum lugar. Observando
cuidadosamente o efeito dominó pode-se considerar o mesmo comparável ao
efeito produzido por uma esfera invisível, rolando sobre os dominós e
derrubando-os em seqüência. Visto desta maneira, o efeito dominó lembra em
muito o efeito bola de neve anteriormente citado. A esfera invisível possui o
mesmo movimento e, como a bola de neve, deixa um rastro: os dominós
tombados atrás de si. A visão circular do fenômeno é vista na Figura 2. Apesar
das grandes diferenças, o efeito bola de neve e o efeito dominó compartilham
a mesma estrutura subjacente e resultam portanto bastante similares. Esta
similaridade, entretanto, permanece invisível a menos que se adote também a
visão circular do fenômeno. No caso do efeito dominó, a representação
adotada pode parecer estranha, tomando o efeito (a onda) pela causa imaterial
(a esfera invisível), no entanto não se deve esquecer que ambos representam
apenas diferentes visões de uma mesma estrutura de feedback.

Figura 2

Visão circular do efeito dominó


8 Meta-balanceamento
Freqüentemente comportamentos muito organizados surgem em
sistemas de extrema complexidade. Exemplos óbvios disto são os organismos
vivos. Bilhões de células interagem apresentando um comportamento
notavelmente organizado. Ainda que os diversos fenômenos emergentes que
ali ocorrem sejam muito diferentes uns dos outros, eles possuem algo em
comum. Um conceito muito importante que conecta todos os fenômenos
emergentes é o meta-balanceamento. Este é um conceito considerado chave
para o entendimento da emergência. Um sistema meta-balanceado é um
sistema que pode ser visto de duas diferentes perspectivas. A nível de detalhe
o sistema está completamente desbalanceado, entretanto, de uma perspectiva
global, o sistema parece ser estável e ordenado. O curioso aqui é que o
sistema precisa estar desbalanceado internamente para produzir ordem global.

Este é talvez um dos aspectos menos intuitivos da teoria dos sistemas.


Corresponde a afirmar que a maneira de produzir estabilidade emergente em
um sistema é conduzi-lo internamente a um estado desbalanceado. O conceito
entretanto é fácil de demonstrar. Tanto o efeito bola de neve quanto o efeito
dominó são fenômenos meta-estáveis. No efeito dominó, por exemplo, há um
comportamento claramente estável e ordenado no sistema - a onda. Mesmo
assim o comportamento observado individualmente em cada dominó é de
desequilíbrio. A esfera invisível é formada pelos dominós que caem e rola
exatamente no ponto em que estes tombam, desbalanceados.

Um sistema dito balanceado ou em balanço é um sistema que não dispende


energia. Consequentemente um sistema está desbalanceado quando dispende
energia. Assim, para provocar o surgimento de fenômenos emergentes nos
sistemas é necessário fazê-los dispender energia. Além disso deve-se
continuamente alimentá-los com novos componentes e energia para sustentar
o meta-balanceamento. Assim o efeito dominó somente pode ser mantido
enquanto houver um novo dominó em pé na frente do que está caindo. Em
outras palavras, é necessário alimentar-se constantemente a esfera invisível
com novos dominós para mantê-la desbalanceada. Da mesma forma como a
bola de neve precisa ser alimentada com mais neve para manter-se crescendo.
Deste modo, ao contrário dos sistemas estáveis, sistemas meta-estáveis
consomem muita energia. Em resumo, o conceito de meta-balanceamento é
uma propriedade universal de todos os fenômenos emergentes.

9 Sobrevivência e Uniformidade
Quando se observa a onda de dominós (ou uma onda no oceano ou qualquer
outra onda) tem-se a sensação que ela de algum modo sobrevive de um
momento para o seguinte, isto é, a onda se apresenta como sendo única e de
duração prolongada no tempo. A questão é que quando a onda se auto-
reproduz, avançando para o momento seguinte, ela o faz a partir de
componentes diferentes. Assim, se a onda emergente for observada da
perspectiva dos dominós ela não será a mesma onda. Isto é verdadeiro para
todos os fenômenos emergentes.

Na esfera dos seres humanos tem-se a sensação de sobreviver de um instante


para outro, no entanto o que realmente ocorre é um contínuo processo de
substituição de componentes. Nova energia e novas moléculas fluem
continuamente no organismo humano, onde o ciclo de substituição ao nível
molecular dura cerca de sete anos. Este é o período em que todas as moléculas
do corpo humano são substituídas por novas. No efeito dominó o ciclo dura
apenas uma fração de segundo. Assim, quando se fala em sobrevivência e
uniformidade deseja-se referir a estrutura do sistema. Ainda que todos os
componentes do sistema serem substituídos por novos,
sua estrutura permanece fundamentalmente a mesma. Ficam assim evidentes
as razões pelas quais os conceitos discutidos acima precisam ser considerados
em conjunto, conforme a Tabela 1.
Tabela 1

Conceitos complementares segundo diferentes visões

Visão Circular Visão Linear

Estrutura Padrão

Perspectiva Global Perspectiva do Componente

Meta-balanceamento Desbalanceamento

Esfera Invisível Onda

10 Sistemas Complexos
A teoria da complexidade se relaciona muito de perto com a teoria dos
sistemas. Ambas por sua vez estão relacionadas com a teoria do caos e com a
cibernética. A grosso modo esse relacionamento pode ser resumido como se
apresenta na Tabela 2
Tabela 2

Objetos de diferentes teorias

Sistemas Comportamento
Teoria dos Sistemas simples simples

Teoria da Complexidade complexos simples

Teoria do Caos simples complexo

Cibernética complexos complexo

A teoria dos sistemas e a teoria da complexidade se sobrepõem e são baseadas


nos mesmos princípios. Qual seria então a necessidade de duas disciplinas
distintas? A razão principal parece ser o fato de que ambas pertencem a duas
diferentes tradições científicas, entretanto há certamente outros motivos. Nem
todos os sistemas são tão simples como a galinha e o ovo. Em um sistema
constituído por milhões de componentes seria quase impossível projetar uma
estrutura circular descrevendo todos os possíveis laços de feedback. Somente
é possível esquematizar o feedback de uma forma muito geral, como é
mostrado na Figura 3.

Figura 3

Feedback em sistemas complexos

Como o diagrama sugere, há um relacionamento circular entre a


estrutura global do sistema e as interações locais entre os componentes. A
estrutura global pode ser definida como a rede de todos os relacionamentos
locais, que é produzida e mantida em um dado momento pelo total de
interações que ocorrem neste momento. Cada um e todos os componentes do
sistema interagem com seus vizinhos imediatos, modificando assim a estrutura
global. Uma vez que cada componente responde à estrutura global, então o
comportamento de cada indivíduo é determinado pelo todo. Ao mesmo tempo
a resposta independente de todos os componentes em um dado momento
produz o todo do momento seguinte. Um exemplo de sistema complexo é uma
sociedade. Uma sociedade consiste em muitos componentes independentes
interagindo localmente. O estado corrente da sociedade é a estrutura global.
Cada um e todos os indivíduos respondem ao estado corrente e portanto criam
o novo estado da sociedade no momento seguinte e assim por diante. Assim
um sistema complexo pode ser definido como sendo constituído por muitos
componentes independentes que interagem localmente produzindo um
comportamento geral organizado e bem definido independente da estrutura
interna dos componentes.

11 Vórtices
Redemoinhos em águas revoltas e tornados em céus turbulentos são exemplos
perfeitos de vórtices. O curioso sobre os vórtices é que parece haver alguma
força em seus centros sugando grandes massas a partir de um ponto impreciso.
Isto entretanto é apenas uma ilusão ocasionada pelo movimento das massas
em círculo. Se estas forem removidas do vórtice não resta absolutamente
nada. É como remover as cascas de uma cebola esperando encontrar algo em
seu interior. Entretanto, observando-se os vórtices, fica claro que existe uma
força em algum lugar. Onde está ela? A resposta é talvez uma das mais
importantes noções da ciência da complexidade: ela vem de dentro do
sistema. Ainda que na aparência uma força externa esteja organizando o
vórtice, são as próprias massas em movimento circular que animam o
fenômeno. Uma das razões pela qual este conhecimento é tão importante é
que ele encerrou a longa disputa entre o vitalismo e o materialismo. Os
vitalistas defendiam a idéia de que a existência da vida depende de uma força
vital, enquanto que os materialistas acreditavam não ser necessária nenhuma
força externa para produzir vida. O estudo dos vórtices mostra que ambas as
visões estão corretas. Os vitalistas, bastante acertadamente, identificaram
uma força vital, que corresponde à força de sucção ilusória existente no centro
do vórtice. A visão materialista é também correta, uma vez que tal força vital
emerge do interior do sistema. Nada do exterior está organizando o vórtice. A
força vital é real, mas não existe no sentido usual de existência, possuindo o
que se denomina uma hiper-existência. Para que ocorra a hiper-existência é
necessário satisfazer as seguintes condições:

1. O fenômeno emergente deve estar incorporado,


2. Os componentes do sistema devem estar desbalanceados, e
3. Deve haver feedback no sistema.

Todas essas três condições são satisfeitas pelos vórtices: (1) Um vórtice
não pode emergir no vácuo, ele necessita estar incorporado em um meio
físico. Isto corresponde à primeira parte da definição de um sistema
complexo: um sistema complexo consiste em muitos componentes
independentes. (2) Um vórtice não pode emergir a menos que as massas de ar
ou água que o compõem estejam em movimento (desbalanceadas).
Finalmente, (3) um vórtice é por si próprio uma estrutura circular,
possiblilitando a ocorrência de feedback. Quando essas três condições são
satisfeitas, a força ilusória de sucção emerge no centro do vórtice.

12 Ressonância
Além do efeito bola-de-neve, do efeito dominó e do vórtice, há um quarto
fenômeno emergente que deve ser observado: a ressonância. Como se verá a
seguir a ressonância possui exatamente as mesmas propriedades das três
outras estruturas. Além disso, enfatiza outras importantes propriedades dos
sistemas complexos. No sentido usual com que a palavra é empregada,
ressonância é um som prolongado por um processo repetitivo. Pode ser
produzida pelo uivo do vento, por um apito, por uma guitarra elétrica ou um
órgão tubular. A definição técnica de ressonância é basicamente a mesma,
exceto que não está restrita a ondas sonoras, generalizando a idéia para
qualquer tipo de onda. O que se denominou processo repetitivo é exatamente
algum tipo de feedback. Na Figura 4 apresenta-se um tipo de ressonância
sonora que é um problema comum entre os músicos.

Figura 4

Ressonância sonora
O som captado pelo microfone é amplificado e retorna ao ambiente através do
alto-falante. Daí este som amplificado passa a ser também captado pelo
microfone e a bola de neve começa a rolar novamente. O resultado audível é
um som muito agudo e alto que pode inclusive danificar equipamentos mais
sensíveis. Uma análise do espectro deste som mostra a evolução emergente de
um pico senoidal, que cresce e se torna cada vez mais alto, terminando em
uma única freqüência, como é mostrado na Figura 5. Este é o padrão
característico de desenvolvimento de uma onda de ressonância A novidade
aqui é aredução de informação: o som original, composto de muitas
freqüências, termina em uma única freqüência.

Figura 5

Ressonância como um redutor de informação

Em outras palavras, a ressonância age como um filtro emergente. Sua


estrutura de feedback filtra todas as freqüências deixando apenas uma. Mas,
além de filtrar todas as outras freqüências, ela amplifica a freqüência restante.
Por esta razão a ressonância é considerada um filtro ativo na teoria dos filtros.
Deve-se notar aqui a similaridade entre o vórtice e a ressonância. No vórtice
há uma força ativa no centro que suga a matéria em sua direção. Na
ressonância um sistema de freqüências é sugado e aprisionado em um único
padrão.
13 Evolução
Viu-se então que as estruturas de feedback podem atuar como filtros
emergentes, caracterizando processos de redução de informação. Este
processo pode ser entendido como uma forma de seleção. Há cerca de 150
anos atrás, o grande biólogo Charles Darwin descobriu que o mecanismo de
evolução biológica correspondia exatamente a um processo de seleção, que
ele denominou seleção natural, e que este processo nada mais era do que a
sobrevivência do melhor adaptado. Os organismos que não se adaptaram ao
longo da cadeia evolutiva foram extintos, isto é, filtrados para fora do
processo. Darwin viu os organismos como se fossem máquinas perpétuas,
atravessando um processo de filtragem natural. Somente as verdadeiramente
perpétuas conseguiam atravessar o filtro. O significado de uma máquina
perpétua no contexto da complexidade é o de mecanismos capazes de
perpetuar sua execução e de se reproduzir. Os organismos vivos caem
exatamente na categoria das máquinas perpétuas.

Os organismos agem como se imbuídos da seguinte missão: manter-se em


funcionamento por tempo suficiente para produzir cópias de si próprios. Para
manter-se em funcionamento necessitam de um contínuo fluxo de energia e
matéria através de si próprios. Em outras palavras, necessitam comer. Em
comparação se poderia dizer que um carro mantém-se em
movimento comendo gasolina. Isto não significa, evidentemente, que o carro
esteja vivo. O problema é que o carro não faz nenhum esforço de moto
próprio para obter mais gasolina. Os organismos deveriam ao menos usar a
energia proveniente de seu alimento para obter mais alimento e então
reproduzir-se. Analogamente, na seleção natural, os que não forem capazes de
obter alimento e reproduzir-se (isto é, os inadequados) serão retidos pelo
filtro.

A seleção natural não é somente um filtro, ela é também uma ressonância que
amplifica os organismos adequados enquanto que os inadequados vão sendo
retirados de cena. Entretanto, para ser realmente criativa a seleção natural
precisa estar desbalanceada. Como desbalancear um sistema biológico? A
resposta é: levar os organismos a competir por recursos limitados. Quando os
organismos competem eles tornam a própria adequação instável. O que hoje é
adequado pode não o ser amanhã. Um cenário de adequação dinâmica é fonte
de novos fenômenos emergentes que tornam a seleção natural mais do que um
mero processo de filtragem passiva. A adequação dinâmica
produz criatividade e inteligência. Este é o fenômeno emergente mais
importante de todos, porque abre o caminho para a evolução da evolução. Isto
pode ser constatado na seleção natural, na evolução da mente e na evolução
cultural dos povos.
Sistemas complexos são todos constituídos de outros todos. Um relógio, por
exemplo, não é um sistema complexo por ser constituído de partes e não de
todos. A remoção de uma mola traz conseqüências fatais para o relógio, que
simplesmente deixa de funcionar. Um sistema complexo, por outro lado, não é
criticamente dependente de seus componentes, que por sua vez são
outros todos. Se uma célula morre ou uma formiga se perde isto tem pouco
efeito sobre o sistema ao qual pertencem. Para estar em meta-balanceamento
um sistema complexo precisa estar desbalanceado ao nível dos componentes.
Como colocar sistemas complexos em desbalanceamento? Simplesmente
dando independência e liberdade a seus componentes. Sistemas complexos
são meta-estáveis porque são constituídos de todos independentes que
interagem. Quanto mais liberdade possuem os componentes, mais
desbalanceado se torna o sistema e isto é fonte de mais meta-estabilidade
global. Tudo isto traz claras evidências de que a natureza de alguma forma
oscila entre o caos e a ordem.

14 A Fronteira do Caos
Sistemas auto-organizáveis apresentam freqüentemente uma forma altamente
complexa de organização. As colmeias, por exemplo, tem padrões óbvios e
regularidades mas não são estruturas simples. Elementos estocásticos afetam a
estrutura e a dinâmica de uma colmeia obtendo respostas variáveis e não
determinísticas. Da mesma forma as nuvens, padrões climáticos, correntes nos
oceanos, assembléias comunitárias, economias e sociedades, todos exibem
formas complexas de auto-organização.

Não há uma definição geral apropriada para complexidade, apesar desta ser
considerada de muitas formas. Intuitivamente a complexidade encontra-se em
algum lugar entre a ordem e o caos, entre a superfície espelhada de um lago e
a turbulência de um maremoto. A complexidade tem sido medida através de
entropia métrica, profundidade lógica, conteúdo de informação e outras
técnicas semelhantes. Estas medidas são adequadas a aplicações específicas da
química e da física mas nenhuma delas descreve completamente as
características da auto-organização.

Uma forma de abordar o estudo da complexidade, considerando a ausência de


uma definição satisfatória, é descrever um certo espaço, compreendido entre a
ordem e o caos, denominado a fronteira do caos [PAC88, LAN90, KAU91,
KAU93]. Em 1990 Chris Langton [LAN90] conduziu um experimento
empregando autômatos celulares (AC), onde tentava descobrir sob que
condições um AC simples poderia suportar primitivas computacionais, tais
como transmissão, armazenamento e modificação de informações. Em seu
experimento um AC unidimensional é composto por 128 células conectadas
em círculo. Cada célula apresenta quatro possíveis estados internos e recebe
todos os seu inputs das demais células em sua região, denominada
sua vizinhança. A vizinhança definida por Langton era constituída por cinco
células. Cada célula é considerada membro de sua própria vizinhança,
juntamente com suas duas células vizinhas de cada lado. O estado interno das
células no momento seguinte é determinado pelo estado de sua vizinhança e
alguma função de transição que descreve qual o novo estado que a célula
deve assumir para um dado estado de sua vizinhança. Assim o estado da
vizinhança é associado com a transmissão, o estado interno do autômato com
o armazenamento e a função de transição com a modificação da informação.

Para determinar como a ordem e o caos afetavam a computação,


Langton formulou um valor lambda que descrevia a probabilidade de uma
dada vizinhança produzir em uma célula um determinado estado interno
particular, denominado estado quiescente. Quando lambda assumia o valor
zero, todas as vizinhanças moviam uma célula para o estado quiescente e o
sistema era imediatamente organizado. Por outro lado, quando lambda
assumia o valor 1 nenhuma vizinhança se movia para o estado quiescente e o
sistema mantinha-se desordenado.

O experimento de Langton mostrou a existência de um valor crítico para


lambda, correspondendo a pontos de transição de fase, em cuja proximidade a
organização computada pelo sistema é máxima. Por outro lado, caso esse
valor fosse ultrapassado, o caos surgia muito rapidamente. Segundo Langton,
devido a associação da computação com tal valor crítico, um sistema auto-
organizado precisaria manter-se na fronteira do caos para conseguir computar
a própria organização.

As transições de fase nem sempre ocorrem de forma brusca como quebra entre
dois estágios. Por exemplo, a passagem de um líquido do ponto de
congelamento para o de ebulição se dá de forma gradual entre um estado e
outro. Entretanto, a transformação do estado líquido para o gasoso nas
vizinhanças de temperatura de ebulição se dá num espaço muito estreito entre
os dois estados. Após um aquecimento gradual ocorre uma mudança brusca
para o estado de gás, de forma que as duas fases são claramente distintas,
separadas por uma estreita região que apresenta as condições de transição de
fase. O estudo de tais regiões é normalmente muito útil para a previsão das
propriedades do sistema ou substância em diferentes condições.

15 Criticalidade Auto-organizada
Em um estudo pioneiro, Per Bak e seus colaboradores. [BAK88] investigaram
o comportamento de sistemas dinâmicos espacialmente estendidos
empregando simulações em computadores de um modelo que haviam
desenvolvido e denominado “monte de areia”. Neste modelo grãos de areia
vão sendo continuamente depositados sobre uma mesa. Em um certos
momentos o monte está tão alto quanto possível para sua base e então a areia
escorrega pela encosta aumentando a base e permitindo ao monte continuar
crescendo. O monte de areia é muito sensível a perturbações (se a mesa for
sacudida mais areia cai pelas encostas) mas os valores obtidos para a
inclinação máxima do monte de areia, apesar de não se apresentarem
absolutamente regulares, flutuam dependendo das condições iniciais e da
perturbação exercida sobre o sistema. Devido a este equilíbrio estável, ainda
que precário, Bak e sua equipe concluíram que o sistema se apresentava em
estado crítico. Além disso notaram que o sistema se auto-organizava em
direção ao estado crítico sem necessidade de nenhum ajuste ou sintonia:
quaisquer que fossem as condições iniciais o sistema tendia sempre ao estado
crítico. Este fenômeno recebeu a denominação decriticalidade auto-
organizada. Especula-se que este conceito possa ser fundamental para a
escalabilidade espacial e temporal em sistemas dissipativos em desequilíbrio.

Sole e Manrubia [SOL95] usaram a teoria de Bak para examinar se o


desenvolvimento de florestas exibia criticalidade auto-organizada. Sabendo
que a queda de árvores e formação de clareiras é vital para a dinâmica das
florestas tropicais eles propuseram que a distribuição e abundância de
clareiras seria um indicativo do estado organizacional da floresta. Testando
esta hipótese eles propuseram que as clareiras da floresta existente na ilha de
Barro Colorado iriam apresentar uma distribuição auto-similar em
multiescala. Esta hipótese foi sustentada tanto por dados empíricos quanto por
simulações em computadores denominadas o jogo da floresta. Além disso as
florestas simuladas também apresentaram propriedades fractais. Uma
abordagem semelhante foi empregada no estudo de colônias de formigas do
gênero leptothorax onde se verificou que a existência de uma densidade
crítica de indivíduos que possibilita a informação máxima da colônia. Quando
esta densidade é atingida, a colônia desenvolve pulsos de atividade que
exibem auto-similaridade.

16 Sistemas Complexos Adaptativos


Em sistemas bióticos, um elemento importante na lista de mecanismos e
condições que caracterizam a auto-organização é a habilidade que os agentes
apresentam de se adaptar ao meio em que se encontram. Isto significa que os
agentes são capazes de alterar suas funções internas de processamento de
informações. Sistemas que apresentam tal característica são
denominados sistemas complexos adaptativos (SCA) [HOR95]. No modelo de
Langton as células seriam capazes de sintonizar suas regras de transição (e
conseqüentemente seus valores lambda) ao longo do espectro entre o caos e a
ordem. Em colônias de formigas leptothorax isto significa que as formigas
que inicialmente não respondiam à modificações na densidade da colônia, ou
o faziam de maneira adversa, acabariam por adaptar suas respostas de modo a
conduzir à criticalidade auto-organizada. Ao se considerar a adaptação, uma
série de novas questões sobre sistemas auto-organizados surgem: Quais são os
mecanismos da adaptação? Sob que condições eles são possíveis? Este
movimento se dá sempre na direção da criticalidade auto-organizada?

Em termos evolutivos a criticalidade auto-organizada seria obtida através das


condições para a evolução (variação fenotípica individual, reprodução em
excesso e herança de características genéticas). Uma população seria capaz de
adaptar-se através da herança de variações genéticas introduzidas por mutação
e recombinação. A causa da criticalidade auto-organizada seria a seleção
natural. Uma população poderia evoluir na direção de um estado crítico
porque a seleção natural removeria as variantes do sistema que se afastassem
do estado crítico.

Stuart Kauffman [KAU91, KAU93, KAU95] desenvolveu uma rede


booleana para a modelagem de SCA. Em seu modelo N unidades, cada uma
das quais capaz de assumir A estados e conectada a K outros agentes são
mapeadas em um panorama K-dimensional que expressa topograficamente
todos os estados possíveis do sistema. Kauffman associou valores de
adequação a cada um dos A estados assumidos por uma unidade de modo que
quando os estados do sistema eram calculados através das K conexões entre N
agentes, apareciam picos de adequação no panorama, representando estados
ótimos do sistema. No modelo de Kauffman é possível obter panoramas em
um sistema adaptativo para representar agentes, genomas, populações, etc.
Sobrepondo diversos destes panoramas para estudar a co-evolução, Kauffman
descobriu que K é um dos principais determinantes do grau de organização
dinâmica de um sistema complexo.

17 Aplicações de Sistemas Auto-organizáveis


Apesar de exigir ainda um grande esforço de pesquisa na construção de uma
teoria unificada, o conceito de auto-organização apresenta excelentes
perspectivas de aplicação em simulação, modelagem científica e otimização
[DEC97].. Mecanismos encontrados em sistemas auto-organizáveis tem sido
identificados com possíveis fontes de auto-organização em diversas áreas da
física, química, biologia, economia, sociologia, comunicação, informação,
educação, etc. [BRO94, HIE94].

Diversos tipos de modelos baseados em indivíduos foram desenvolvidos e


pesquisados, incluindo redes de autômatos celulares (AC) [CAS91, LAN94],
sistemas de vida artificial (A-Life) [KAW94] e modelos de clareiras em
florestas [SHU92]. O interesse em tais modelos reside na possibilidade de
aplicar suas propriedades estatísticas em modelos análogos do mundo real.
18 Estudo de Caso: Auto-organização na WWW
O principal atrativo da Internet é a facilidade que oferece à distribuição e
comunicação de idéias e conhecimento. Sua estrutura, baseada no princípio da
descentralização de operações e controle, possibilita uma interação muito mais direta
entre produtores e consumidores de informações do que ocorre por exemplo na área de
publicações, na televisão ou na indústria cinematográfica. A World Wide Web (WWW
ou simplesmente Web) é o serviço da Internet que maior crescimento apresentou nos
últimos anos. Seu maior apelo é oferecer aos seus usuários um interface agradável e
relativamente eficiente para o acesso ao conhecimento desejado. Isto é obtido com o uso
do protocolo HTTP (Hyper Text Transfer Protocol), que permite integrar a informação e
seu interface com o usuário em uma única representação.

A WWW adota o princípio da distribuição na representação de conhecimento, o


que significa que este é armazenado como uma rede de nodos e links. Os nodos podem
conter qualquer combinação de texto, imagens, som, vídeo, etc. Os links conectam os
itens individuais de um nodo para outro de acordo com a preferência de seus autores,
formando algo assim uma rede de conceitos conectados através de relacionamentos
informais. Os usuários navegam nesta rede perseguindo os links que lhes são
significativos entre um nodo e outro. Neste processo empregam uma forma de
julgamento associativo que visa conduzir a partir de uma certa posição inicial ao nodo
ou nodos que contém a informação desejada.

Assim a organização material da WWW é produzida por seus projetistas que


usam suas idéias intuitivas de estruturação do conhecimento e semântica na construção
de nodos e sub-redes. Estas contribuições individuais são integradas gradualmente a
corpos mais amplos de conhecimento preexistentes na WWW, assim expandindo o
conhecimento da rede como um todo. Diversos elementos influenciam neste processo
de organização de conhecimento, inclusive fatores psicológicos, lingüísticos, sociais e
culturais, interesses e motivações dos autores e usuários das páginas WWW.

Esta organização uma vez materializada na rede assume uma representação


dinâmica, objetiva e em geral de duração prolongada. Os novos nodos e links
introduzidos modificam-se relativamente pouco ao longo do tempo. As modificações
que ocorrem na rede são fruto de procedimentos de atualização, remoção e
principalmente adição de conhecimento, sob a forma de nodos e links. Tais
procedimentos produzem modificações concretas na rede e em geral são controlados
pelos próprios produtores da informação. Eventuais inconsistências decorrentes de
modificações materiais na rede, como links para nodos inexistentes ou nodos com
features não suportadas por certos browsers, não possuem ainda uma solução
satisfatória.

Por outro lado, o que se poderia denominar organização virtual da rede é


produzida pelo processo dinâmico de navegação, o qual decorre da percepção semântica
associativa dos usuários, ativando determinados links, que lhes parecem mais
promissores ou interessantes em detrimento de outros que o são menos. No atual estágio
tecnológico da WWW o conhecimento produzido pelo processo de navegação não é
registrado sistematicamente, sendo portanto desperdiçado. No entanto - e este é o foco
deste artigo - poderia ser empregado na construção de modelos auto-organizáveis de
aprendizado associativo, em um sentido muito próximo ao proposto por Bollen em
[BOL96], onde a WWW é vista como uma memória associativa de grandes dimensões.

Francis Heylighen [HEY96] propõe que o primeiro passo para tornar uma
memória associativa mais eficiente é permitir que ela própria descubra a melhor
organização possível para si própria. Na mente humana, conhecimento e significado se
desenvolvem mediante um processo de aprendizado associativo: os conceitos que são
mais freqüentemente usados juntos se tornam mais fortemente conectados. É possível
implementar mecanismos similares na WWW criando associações com base nos
caminhos percorridos pelos usuários através da rede de links. O princípio é
simplesmente este: os caminhos percorridos por mais usuários se tornam mais fortes,
enquanto que links raramente usados se tornam mais fracos.

Uma heurística simples pode então propor possíveis candidatos para novos links:
Se um usuário navega de A para B e de B para C, é provável que exista não somente
uma relação entre A e B mas também entre A e C (transitividade) e entre B e A
(simetria). Desta forma novos links potenciais seriam continuamente gerados
(variedade) mas somente aqueles que obtivessem determinada força seriam retidos e
tornados visíveis ao usuário (restrição), enquanto que aqueles que não atingissem
tal limiar de visibilidade seriam mantidos ocultos. Um experimento realizado sobre um
sistema hipertexto adaptativo [BOL96] comprovou a exeqüibilidade desta idéia.

Uma das principais vantagens deste modelo de aprendizado associativo reside no


fato de que ele funciona localmente (é necessário armazenar informações sobre nodos
que estão no máximo dois passos adiante), mas a auto-organização que ele produz é
global. Com tempo suficiente, nodos que se encontrassem a um número arbitrário de
passos de distância poderiam se tornar diretamente conectados caso um número
suficiente de usuários percorrer o caminho entre eles. O resultado esperado deste
processo de aprendizado associativo é que os nodos que mais provavelmente serão
utilizados em conjunto estarão também situados mais próximos na topologia da WWW.

Se tais algoritmos de aprendizado pudessem ser generalizados na WWW como


um todo, o conhecimento ali existente poderia estruturar-se em uma rede associativa em
permanente aprendizado. Cada vez que um novo nodo fosse introduzido seus links
iniciariam imediatamente a adaptar-se ao padrão de seu uso e novos links não previstos
pelo autor poderiam nele surgir se o seu potencial ultrapassasse um determinado limiar.
Uma vez que tal mecanismo de certa forma assimilaria o conhecimento coletivo de
todos os usuários da WWW, supõe-se que os resultados obtidos viriam a ser muito mais
úteis, abrangentes e confiáveis do que qualquer sistema de indexação concebido
segundo os interesses de indivíduos ou grupos. A mesma idéia também se aplica a
contextos onde a organização da rede se daria a partir de um determinado ponto de
partida - um servidor ou uma rede de servidores em uma organização - espalhando-se
sem limites por toda a Web. A rede formada segundo tal principio certamente se
aproximaria muito da semântica informal do grupo de usuários considerado, que
poderia ser caracterizado sob muitos aspectos a partir desta representação.

O estudo das redes produzidas por auto-organização decorrente da


observação da atividade de navegação na WWW pode levar ainda à
identificação de estruturas e construções semânticas básicas, capazes de serem
recombinadas na formação de representações mais complexas com múltiplas
finalidades, tais como a otimização de redes de informações, mapeamento e
representação do conhecimento compartilhado por especialistas, o provimento
de um padrão para a identificação de idéias, etc.

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