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Processo: 447.12.0PBCTB.P1
Jurisdição: Criminal
Ref. 5862/2014
Sumário
cujus.
herança, levanta dinheiro da conta bancária do de cujus, transferindo-o para uma conta sua,
M.B.
Disposições aplicadas
DL n.º 400/82, de 23 de Setembro (Código Penal) (Ref. 10/1982) art. 47.2; art. 71
O Ministério Público junto do T. J. de Espinho acusou, em processo comum com Tribunal Singular,
o arguido:
[...]
A) Condeno o arguido [A], pela prática, em autoria material, de um crime de abuso de confiança
agravado, p. e p. pelo art. 205º, nº 1 e 4, al. a) do C.P., na pena de 200 (duzentos) dias de
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multa, à taxa diária de € 9,00 (nove euros), perfazendo o montante de € 1.800,00 (mil e
oitocentos euros);
C) Julgo procedente, por provado, o pedido de indemnização cível deduzido pela demandante [B],
e, por consequência, condeno o arguido [A] a pagar-lhe os danos patrimoniais cujo montante se
relega para liquidação em execução de sentença.
[...]
[...]
A Digna Magistrada do MP veio deduzir douta resposta ao recurso, defendendo, em suma, a sua
total improcedência, com a consequente confirmação da sentença recorrida.
Idêntica atitude processual assumiu o Ilustre Procurador-Geral Adjunto, por via do douto Parecer
que emitiu.
Cumprido que legalmente se mostra o disposto no art. 417º nº 2, do CPP verifica-se que não foi
deduzida qualquer resposta pela voz da Exmª Mandatária do arguido.
[...]
"1 - Quem ilegitimamente se apropriar de coisa móvel que lhe tenha sido entregue por título não
translativo da propriedade é punido com pena de prisão até 3 anos ou com pena de multa.
2 - A tentativa é punível.
a) De valor elevado, o agente é punido com pena de prisão até 5 anos ou com pena de multa até
600 dias;
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5 - Se o agente tiver recebido a coisa em depósito imposto por lei em razão de ofício, emprego
ou profissão, ou na qualidade de tutor, curador ou depositário judicial, é punido com pena de
prisão de 1 a 8 anos."
O crime de abuso de confiança pressupõe uma relação fiduciária, i.e., uma relação de confiança
em função da qual se procede a uma entrega lícita de uma coisa móvel por título que não implique
transferência de propriedade nem justifique a apropriação, mas antes obrigue à restituição ou a
um uso ou fim determinado [Eduardo Correia, in Revista de Direito e Estudos Sociais" VII, n° 1,
pág. 64. No mesmo sentido se pronunciou Beleza dos Santos na Revista de Legislação e de
Jurisprudência,Ano 82º, pág. 17].
Essa entrega tanto pode ser efectuada por parte do proprietário como do legítimo detentor da
coisa e dela resulta nítida a diferença entre o furto, a burla e o abuso de confiança. No primeiro,
a coisa passa por subtracção, isto é, sem a vontade do detentor, para o poder do agente; nos
dois últimos, a coisa não é subtraída, mas entregue: é confiada ou posta à disposição do agente
do crime, por vontade do detentor.
A consumação do crime verifica-se com a apropriação, isto é com a inversão do título da posse,
situação que ocorre quando, estando a coisa em causa na posse ou na detenção do agente por
modo legítimo embora a título não translativo de propriedade, ele se apropria da mesma,
actuando como seu dono. Deste modo, para aferir da existência de tal acto de apropriação, não
basta que se verifique a intenção correspondente mas também que essa intenção de apropriação
se manifeste exteriormente através da prática de actos materiais que demonstrem que o agente
passou a actuar como se a coisa fosse sua.
A nível subjectivo basta a verificação do dolo genérico traduzido na vontade de o agente inverter
o título de posse, de passar de possuidor em nome alheio a possuidor em nome próprio.
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Como observa FIGUEIREDO DIAS (Comentário Conimbricence Ao Código Penal, p. 103 e p. 104,
na anotação feita ao crime de abuso de confiança) "a apropriação traduz-se sempre, no contexto
do crime de abuso de confiança, precisamente na inversão do título de posse ou detenção (...) o
agente que recebeu a coisa uti alieno, passa, em momento posterior, a comportar-se em relação
a ela utidominus. (...) Sob que forma deva concretamente manifestar-se a apropriação, é em
definitivo indiferente: necessário é apenas que, como acima se disse, se revele por actos
concludentes que o agente inverteu o título de posse e passou a comportar-se como perante a
coisa como proprietário".
Com efeito ali se diz (e resulta provado) que, o arguido dispôs do dinheiro da herança levantando-
o da conta bancária do "de cujus", transferindo-o para uma conta sua, dispondo dele com
"animus" de domínio o que se projecta também no elemento subjectivo do crime em causa.
Na verdade, apesar de se ter aventado que o arguido efectuou alguns pagamentos relativos a
encargos de bens da herança, não se demonstrou em que montantes concretos tal utilização se
deu e não se demonstrou que este tivesse legalmente investido de poderes para esse efeito.
Mesmo tendo a qualidade de herdeiro enquanto não se proceder à adjudicação de bens, cabe-lhe
apenas o direito, em abstracto, a uma quota-parte da herança. Que não a este ou aquele bem
específico que só virá a acontecer depois de compostos e adjudicados os quinhões. E ainda que
a apropriação da quantia em causa possa vir, no futuro, a não afectar a composição dos quinhões
dos restantes herdeiros, tal não significa que ele não se tenha apropriado do dinheiro da herança,
ilegitimamente, invertendo sobre ele o título da posse.
Não é questionável também a verificação dos elementos do tipo subjectivo - consciência de que
se tratava de bem da herança e que o arguido actuou querendo fazê-lo coisa sua, como
efectivamente fez, dispondo dele.
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Temos assim que estão verificados os pressupostos do crime por que o arguido vem acusado: a
inversão do título de posse sobre o dinheiro da herança, sabendo o arguido que o dinheiro lhe
não pertencia e actuava contra a vontade da outra herdeira.
A dosimetria penal:
No que toca a dosimetria das penas, é sabido que, nos termos do artigo 71º, nº2 do Código Penal,
a determinação da medida da pena deve respeitar os limites impostos por lei, é feita em função
da culpa do agente e das exigências da prevenção, consideradas as finalidade das penas indicada
no artigo 40º, do mesmo diploma legal, e há que atender a todas as circunstâncias que, não
fazendo parte do tipo do crime, possam depor a favor do agente ou depor contra ele.
Assim, será de ponderar na determinação concreta da pena, além do mais, os graus de culpa e
ilicitude, a intensidade dolosa, as consequências gravosas do acto, o comportamento anterior e
posterior ao facto, as condições pessoais do agente, as exigências de reprovação e prevenção
criminal (artigo 71º nº2 do Código Penal).
O art. 70º, do CP do C. Penal preceitua que " Se ao crime forem aplicáveis, em alternativa, pena
privativa e pena não privativa da liberdade, o Tribunal dá preferência à segunda sempre que esta
realizar de forma adequada e suficiente as finalidades da punição".
O art. 40º ns. 1 e 2, do C. Penal refere que a aplicação das penas visa a protecção de bens
jurídicos e a reintegração do agente na sociedade e que em caso algum a pena pode ultrapassar
a medida da culpa.
Por sua vez, o art. 71º, do C. Penal estabelece que a determinação da medida da pena é feita em
função da culpa do agente e das exigências de prevenção, devendo, ainda, conforme o nº 2 deste
preceito legal, atender-se às circunstâncias que deponham a favor do agente ou contra ele,
nomeadamente, as aí enumeradas
- o grau de ilicitude do facto, modo de execução deste e a gravidade das suas consequências,
bem como o grau de violação de deveres impostos ao agente;
- intensidade do dolo;
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- a falta de preparação para manter uma conduta lícita, manifestada no facto, quando essa falta
deva ser censurada através da aplicação da pena.
Como refere o Prof. Figueiredo Dias (cfr. Lições ao 5º ano da Faculdade de Direito de Coimbra,
1988, pag. 255), " Culpa e prevenção são os dois termos do binómio com auxílio do qual há-de
ser construído o modelo de medida (em sentido estrito, ou de "determinação concreta"...) da
pena. E mais adiante: "As finalidades da aplicação de uma pena residem primordialmente na
tutela de bens jurídicos e, na medida do possível, na reinserção do agente na comunidade. A
pena, por outro lado, não pode ultrapassar em caso algum a medida da culpa" (ob. cit., pag.
279).
Como decidiu o Supremo Tribunal de Justiça - cfr. Ac. de 28/04/2010 - in www.dgsi.pt., (...)...nos
termos do art. 71º, nº 1, do CP, a determinação da medida da pena, dentro dos limites definidos
na lei, é feita em função da culpa do agente e das exigências de prevenção. Toda a pena tem,
como suporte axiológico-normativo uma culpa concreta, não havendo pena sem culpa -
nullapoena sine culpa.
Mas, por outro lado, a culpa constitui também o limite máximo da pena (cf. Ac STJ de 26-10-
2000, Proc. nº 2528/00 - 3.ª Secção): "a culpa jurídico-penal traduz-se num juízo de censura
que funciona, a um tempo, como um fundamento e um limite inultrapassável da medida da pena".
Com o recurso à prevenção geral busca-se dar satisfação aos anseios comunitários da punição do
caso concreto, tendo em atenção de igual modo a necessidade premente da tutela dos bens e
valores jurídicos. Com o apelo à prevenção especial aspira-se em conceder resposta às exigências
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da socialização (ou ressocialização) do agente delitivo em ordem a uma sua integração digna no
meio social - cf. Ac. STJ, supra citado.
O Caso Concreto:
O crime praticado tem um universo penal abstracto, em termos da moldura penal que oscila, para
a pena de prisão, de 1 mês a 5 anos (arts. 41º nº 1 e 205º nºs 1 e 2, al. a), ambos do C. Penal.
A pena de multa varia entre 10 e 600 euro; o quantum diário varia entre os 5 e os 500 euro - cfr.
arts. 47º ns. 1 e 2 e art. 205º acabado de citar, todos do C. Penal.
Quanto aos factos alegados no libelo acusatório o arguido declarou não pretender prestar
declarações, o que não o beneficiando, também não o pode prejudicar em sede probatória;
prestou declarações consideradas credíveis no que concerne à sua situação sócio-económica, a
qual aliás foi tomado em conta para os efeitos do disposto no art. 47º nº 2, do C. Penal.
O arguido não tem antecedentes criminais; vive sozinho e aufere, como funcionário público, a
salário de 980 euro mensais.
A medida da culpa é mediana, o dolo é directo; as exigências de prevenção geral são medianas
e não têm intensidade relevante exigências de prevenção especial face, "prime faciae" a
primodelinquência do arguido.
Mostra-se acertada a opção por pena de multa; a sua fixação em 200 dias (1/3 do limite máximo
aplicável) mostra-se acertado e respeita os aludidos critérios referenciados no art. 71º, do C.
Penal.
Com efeito, tendo-se por provada apropriação dos valores quantificados nos pontos 4 e 5, não
ficou demonstrado, por prova inequívoca que a quantia de 15.159,93 euro existente na conta
bancária do "de cujus" fosse o único bem da herança e, já consequentemente, a "quota" daquele
montante a repartir posteriormente, mas sempre perspectivando a universalidade da herança.
Daqui concluímos que o recurso é totalmente improcedente e a sentença recorrida merece total
confirmação.
Pelo exposto, acordam os Juízes desta Relação em negar provimento ao recurso, confirmando
integralmente a sentença recorrida.
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Processo: 447.12.0PBCTB.P1
Jurisdição: Criminal
Ref. 5862/2014
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cujus.
herança, levanta dinheiro da conta bancária do de cujus, transferindo-o para uma conta sua,
M.B.
Disposições aplicadas
DL n.º 400/82, de 23 de Setembro (Código Penal) (Ref. 10/1982) art. 47.2; art. 71
O Ministério Público junto do T. J. de Espinho acusou, em processo comum com Tribunal Singular,
o arguido:
[...]
A) Condeno o arguido [A], pela prática, em autoria material, de um crime de abuso de confiança
agravado, p. e p. pelo art. 205º, nº 1 e 4, al. a) do C.P., na pena de 200 (duzentos) dias de
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multa, à taxa diária de € 9,00 (nove euros), perfazendo o montante de € 1.800,00 (mil e
oitocentos euros);
C) Julgo procedente, por provado, o pedido de indemnização cível deduzido pela demandante [B],
e, por consequência, condeno o arguido [A] a pagar-lhe os danos patrimoniais cujo montante se
relega para liquidação em execução de sentença.
[...]
[...]
A Digna Magistrada do MP veio deduzir douta resposta ao recurso, defendendo, em suma, a sua
total improcedência, com a consequente confirmação da sentença recorrida.
Idêntica atitude processual assumiu o Ilustre Procurador-Geral Adjunto, por via do douto Parecer
que emitiu.
Cumprido que legalmente se mostra o disposto no art. 417º nº 2, do CPP verifica-se que não foi
deduzida qualquer resposta pela voz da Exmª Mandatária do arguido.
[...]
"1 - Quem ilegitimamente se apropriar de coisa móvel que lhe tenha sido entregue por título não
translativo da propriedade é punido com pena de prisão até 3 anos ou com pena de multa.
2 - A tentativa é punível.
a) De valor elevado, o agente é punido com pena de prisão até 5 anos ou com pena de multa até
600 dias;
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5 - Se o agente tiver recebido a coisa em depósito imposto por lei em razão de ofício, emprego
ou profissão, ou na qualidade de tutor, curador ou depositário judicial, é punido com pena de
prisão de 1 a 8 anos."
O crime de abuso de confiança pressupõe uma relação fiduciária, i.e., uma relação de confiança
em função da qual se procede a uma entrega lícita de uma coisa móvel por título que não implique
transferência de propriedade nem justifique a apropriação, mas antes obrigue à restituição ou a
um uso ou fim determinado [Eduardo Correia, in Revista de Direito e Estudos Sociais" VII, n° 1,
pág. 64. No mesmo sentido se pronunciou Beleza dos Santos na Revista de Legislação e de
Jurisprudência,Ano 82º, pág. 17].
Essa entrega tanto pode ser efectuada por parte do proprietário como do legítimo detentor da
coisa e dela resulta nítida a diferença entre o furto, a burla e o abuso de confiança. No primeiro,
a coisa passa por subtracção, isto é, sem a vontade do detentor, para o poder do agente; nos
dois últimos, a coisa não é subtraída, mas entregue: é confiada ou posta à disposição do agente
do crime, por vontade do detentor.
A consumação do crime verifica-se com a apropriação, isto é com a inversão do título da posse,
situação que ocorre quando, estando a coisa em causa na posse ou na detenção do agente por
modo legítimo embora a título não translativo de propriedade, ele se apropria da mesma,
actuando como seu dono. Deste modo, para aferir da existência de tal acto de apropriação, não
basta que se verifique a intenção correspondente mas também que essa intenção de apropriação
se manifeste exteriormente através da prática de actos materiais que demonstrem que o agente
passou a actuar como se a coisa fosse sua.
A nível subjectivo basta a verificação do dolo genérico traduzido na vontade de o agente inverter
o título de posse, de passar de possuidor em nome alheio a possuidor em nome próprio.
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Como observa FIGUEIREDO DIAS (Comentário Conimbricence Ao Código Penal, p. 103 e p. 104,
na anotação feita ao crime de abuso de confiança) "a apropriação traduz-se sempre, no contexto
do crime de abuso de confiança, precisamente na inversão do título de posse ou detenção (...) o
agente que recebeu a coisa uti alieno, passa, em momento posterior, a comportar-se em relação
a ela utidominus. (...) Sob que forma deva concretamente manifestar-se a apropriação, é em
definitivo indiferente: necessário é apenas que, como acima se disse, se revele por actos
concludentes que o agente inverteu o título de posse e passou a comportar-se como perante a
coisa como proprietário".
Com efeito ali se diz (e resulta provado) que, o arguido dispôs do dinheiro da herança levantando-
o da conta bancária do "de cujus", transferindo-o para uma conta sua, dispondo dele com
"animus" de domínio o que se projecta também no elemento subjectivo do crime em causa.
Na verdade, apesar de se ter aventado que o arguido efectuou alguns pagamentos relativos a
encargos de bens da herança, não se demonstrou em que montantes concretos tal utilização se
deu e não se demonstrou que este tivesse legalmente investido de poderes para esse efeito.
Mesmo tendo a qualidade de herdeiro enquanto não se proceder à adjudicação de bens, cabe-lhe
apenas o direito, em abstracto, a uma quota-parte da herança. Que não a este ou aquele bem
específico que só virá a acontecer depois de compostos e adjudicados os quinhões. E ainda que
a apropriação da quantia em causa possa vir, no futuro, a não afectar a composição dos quinhões
dos restantes herdeiros, tal não significa que ele não se tenha apropriado do dinheiro da herança,
ilegitimamente, invertendo sobre ele o título da posse.
Não é questionável também a verificação dos elementos do tipo subjectivo - consciência de que
se tratava de bem da herança e que o arguido actuou querendo fazê-lo coisa sua, como
efectivamente fez, dispondo dele.
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Temos assim que estão verificados os pressupostos do crime por que o arguido vem acusado: a
inversão do título de posse sobre o dinheiro da herança, sabendo o arguido que o dinheiro lhe
não pertencia e actuava contra a vontade da outra herdeira.
A dosimetria penal:
No que toca a dosimetria das penas, é sabido que, nos termos do artigo 71º, nº2 do Código Penal,
a determinação da medida da pena deve respeitar os limites impostos por lei, é feita em função
da culpa do agente e das exigências da prevenção, consideradas as finalidade das penas indicada
no artigo 40º, do mesmo diploma legal, e há que atender a todas as circunstâncias que, não
fazendo parte do tipo do crime, possam depor a favor do agente ou depor contra ele.
Assim, será de ponderar na determinação concreta da pena, além do mais, os graus de culpa e
ilicitude, a intensidade dolosa, as consequências gravosas do acto, o comportamento anterior e
posterior ao facto, as condições pessoais do agente, as exigências de reprovação e prevenção
criminal (artigo 71º nº2 do Código Penal).
O art. 70º, do CP do C. Penal preceitua que " Se ao crime forem aplicáveis, em alternativa, pena
privativa e pena não privativa da liberdade, o Tribunal dá preferência à segunda sempre que esta
realizar de forma adequada e suficiente as finalidades da punição".
O art. 40º ns. 1 e 2, do C. Penal refere que a aplicação das penas visa a protecção de bens
jurídicos e a reintegração do agente na sociedade e que em caso algum a pena pode ultrapassar
a medida da culpa.
Por sua vez, o art. 71º, do C. Penal estabelece que a determinação da medida da pena é feita em
função da culpa do agente e das exigências de prevenção, devendo, ainda, conforme o nº 2 deste
preceito legal, atender-se às circunstâncias que deponham a favor do agente ou contra ele,
nomeadamente, as aí enumeradas
- o grau de ilicitude do facto, modo de execução deste e a gravidade das suas consequências,
bem como o grau de violação de deveres impostos ao agente;
- intensidade do dolo;
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deva ser censurada através da aplicação da pena.
Como refere o Prof. Figueiredo Dias (cfr. Lições ao 5º ano da Faculdade de Direito de Coimbra,
1988, pag. 255), " Culpa e prevenção são os dois termos do binómio com auxílio do qual há-de
ser construído o modelo de medida (em sentido estrito, ou de "determinação concreta"...) da
pena. E mais adiante: "As finalidades da aplicação de uma pena residem primordialmente na
tutela de bens jurídicos e, na medida do possível, na reinserção do agente na comunidade. A
pena, por outro lado, não pode ultrapassar em caso algum a medida da culpa" (ob. cit., pag.
279).
Como decidiu o Supremo Tribunal de Justiça - cfr. Ac. de 28/04/2010 - in www.dgsi.pt., (...)...nos
termos do art. 71º, nº 1, do CP, a determinação da medida da pena, dentro dos limites definidos
na lei, é feita em função da culpa do agente e das exigências de prevenção. Toda a pena tem,
como suporte axiológico-normativo uma culpa concreta, não havendo pena sem culpa -
nullapoena sine culpa.
Mas, por outro lado, a culpa constitui também o limite máximo da pena (cf. Ac STJ de 26-10-
2000, Proc. nº 2528/00 - 3.ª Secção): "a culpa jurídico-penal traduz-se num juízo de censura
que funciona, a um tempo, como um fundamento e um limite inultrapassável da medida da pena".
Com o recurso à prevenção geral busca-se dar satisfação aos anseios comunitários da punição do
caso concreto, tendo em atenção de igual modo a necessidade premente da tutela dos bens e
valores jurídicos. Com o apelo à prevenção especial aspira-se em conceder resposta às exigências
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O Caso Concreto:
O crime praticado tem um universo penal abstracto, em termos da moldura penal que oscila, para
a pena de prisão, de 1 mês a 5 anos (arts. 41º nº 1 e 205º nºs 1 e 2, al. a), ambos do C. Penal.
A pena de multa varia entre 10 e 600 euro; o quantum diário varia entre os 5 e os 500 euro - cfr.
arts. 47º ns. 1 e 2 e art. 205º acabado de citar, todos do C. Penal.
Quanto aos factos alegados no libelo acusatório o arguido declarou não pretender prestar
declarações, o que não o beneficiando, também não o pode prejudicar em sede probatória;
prestou declarações consideradas credíveis no que concerne à sua situação sócio-económica, a
qual aliás foi tomado em conta para os efeitos do disposto no art. 47º nº 2, do C. Penal.
O arguido não tem antecedentes criminais; vive sozinho e aufere, como funcionário público, a
salário de 980 euro mensais.
A medida da culpa é mediana, o dolo é directo; as exigências de prevenção geral são medianas
e não têm intensidade relevante exigências de prevenção especial face, "prime faciae" a
primodelinquência do arguido.
Mostra-se acertada a opção por pena de multa; a sua fixação em 200 dias (1/3 do limite máximo
aplicável) mostra-se acertado e respeita os aludidos critérios referenciados no art. 71º, do C.
Penal.
Com efeito, tendo-se por provada apropriação dos valores quantificados nos pontos 4 e 5, não
ficou demonstrado, por prova inequívoca que a quantia de 15.159,93 euro existente na conta
bancária do "de cujus" fosse o único bem da herança e, já consequentemente, a "quota" daquele
montante a repartir posteriormente, mas sempre perspectivando a universalidade da herança.
Daqui concluímos que o recurso é totalmente improcedente e a sentença recorrida merece total
confirmação.
Pelo exposto, acordam os Juízes desta Relação em negar provimento ao recurso, confirmando
integralmente a sentença recorrida.
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