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Processo: 3404/06
Jurisdição: Criminal
Colectânea de Jurisprudência
Ref. 3549/2009
Sumário
dano.
arguidos que pintaram num viaduto urbano em betão vulgar, sobre uma
21 de Maio, V.N. GAIA, JCP", sendo que se não mostra referido nos autos que
passagem aérea sobre outra via, em forma de ponte, em betão vulgar, nem
H.A.S.L
Disposições aplicadas
art. 212
I. Relatório
2- A douta sentença erra quando considera que não estamos perante meios
amovíveis de propaganda, na medida em que a Lei n.º 97/88, de 17 de Agosto,
com as alterações introduzidas pela Lei n.º 23/2000, de 23 de Agosto, condicionou
a propaganda à utilização de materiais biodegradáveis - estamos perante meios
amovíveis de propaganda.
4- O viaduto público onde foi feita a inscrição mural e propriedade pública e não
está classificado entre os imóveis em que não se podem fazer inscrições murais
(cfr. n.º 3 do artigo 4º da Lei n.º 97/88, de 17 de Agosto, na redacção actual).
5- No local havia já outros cartazes e inscrições, pelo que não pôde deixar de ser
uma discriminação da ABC... a atitude de deter, identificar e apreender pinturas
dos jovens arguidos.
10- O Tribunal violou a Lei n.º 97/88 de 17 de Agosto, com a redacção que lhe foi
dada pela Lei 23/2000 de 23 de Agosto, o artigo 3º, n.º 1, o artigo 4º n.ºs 2 e 3 e
o artigo 6º.
11- Acresce que o entendimento que o Tribunal deu ao artigo 212º n.º1 do Código
Penal assenta numa interpretação inconstitucional que como tal deve ser
declarada.
Termos em que, bem como em todos os demais, de direito, aplicáveis, deve a douta
sentença sob censura ser revogada, absolvendo-se os arguidos da prática de um
crime de dano simples, previsto e punido pelo artigo 212º, n.º1, do Código Penal,
mais se absolvendo os arguidos do pagamento da indemnização civil peticionada
Câmara Municipal de Viseu e do pagamento das custas.
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Respondeu o digno magistrado do MºPº junto do tribunal recorrido desenvolvendo
douta e proficuamente a questão do conflito e perspectivas de
superação/harmonização desse conflito, entre o direito à liberdade de expressão e
propaganda e o direito à integridade dos espaços, conclui pela verificação dos
pressupostos do crime e pela consequente improcedência do recurso.
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II. Fundamentação
**
A) Factos provados:
9. Vive com a companheira em casa arrendada, não sendo, contudo o arguido quem
paga a renda de casa;
Não se provaram quaisquer outros factos para além ou em contradição com os que
foram dados por assentes.
C) Motivação
- J..., funcionário da Câmara Municipal de Viseu que esclareceu o modo como foi
retirada a pintura do Viaduto e os custos que a Câmara teve com esse serviço e
que computou em cerca de EUR 100,00.
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3. Apreciação
Está assim em causa, o preenchimento, pela actuação dos arguidos, dos elementos
do tipo objectivo e do tipo subjectivo do crime de dano, numa interpretação
conforme à Constituição, no confronto com o direito à livre expressão na vertente
da livre afixação de mensagens de propaganda de natureza política.
3.2.Nos termos do artigo 212º/1 do Código Penal, pratica o crime de dano "Quem
destruir no todo ou em parte, danificar, desfigurar ou tornar não utilizável coisa
alheia (...)".
Não pode todavia relevar como desfiguração constitutiva do crime toda e qualquer
acção de modificação da aparência, designadamente os actos sem a dignidade
penal suposta pela destruição ou inutilização da função previstas no art. 212º.
Com efeito o princípio da dignidade penal constitui "um momento não escrito do
tipo, que dá expressão aos princípios da proporcionalidade, dignidade penal e
subsidiariedade, segundo o qual o direito penal só deve intervir contra factos de
inequívoca danosidade social" - cfr. Costa Andrade, Comentário Conimbricence ao
Código Penal, em anotação ao citado art. 212º. Sobre a dignidade e a carência de
tutela penal como referências de uma doutrina teleológico-racional do crime veja-
se, o mesmo autor, desenvolvidamente, na RPCC, 1992, p. 173º a 205, cuja lição
procuraremos seguir, bem como Figueiredo Dias, Direito Penal, Parte Geral,
Coimbra Editora, 2004, p. 621.
Sabendo-se que ao direito penal está reservada a tutela subsidiária do núcleo mais
restrito de bens jurídicos indispensáveis à vivência em sociedade, definidores do
chamado mínimo ético essencial. Ainda na perspectiva da unidade do sistema e da
ultima ratio da intervenção da lei penal.
Indagando até que ponto a ilicitude do caso não foi "esgotada" pelo legislador na
tutela não penal da factualidade imputada aos arguidos na acusação, delimitadora
do objecto do processo e do âmbito da vinculação temática do tribunal.
Artigo 1º:
Artigo 4º:
Artigo 6º:
3.3. No caso em apreço, está a pintura pelos recorrentes dos seguintes dizeres,
num viaduto urbano: "8º CONGRESSO-TRANSFORMAR O SONHO EM VIDA, 20 E
21 DE MAIO, V.N. GAIA, ABC...".
Ora a coisa onde foi efectuada a pintura da frase constitui um viaduto urbano sobre
uma estrada (Estrada da Circunvalação - ponto 1 da matéria provada).
Sem que a acusação faça qualquer referência a algum aspecto especial de interesse
urbanístico ou paisagístico do referido viaduto.
Alega o MºPº, com relevo neste âmbito, na resposta, que os arguidos não provaram
que a tinta utilizada fosse biodegradável. Significando que aos arguidos competia
provar a inexistência do dano.
Ora da acusação não resulta (porque assim não sucede) que o viaduto tenha
qualquer componente ou interesse visual ou arquitectónico relevante, para além
do vulgar viaduto em betão. Nem que a pintura da frase ocupe, sequer, mais
espaço um espaço tal que altere a fisionomia do viaduto - e o viaduto é uma
estrutura com paredes e pavimento inferior e superior.
3.4. Acresce que se o legislador punir a conduta com sanções de natureza menos
grave que a penal - prevendo a conduta na sua globalidade, redondamente,
esgotando a ilicitude da acção - não pode, sob pena de se defraudar a valoração
subjacente à lei, a mesma conduta ser punida (sem qualquer elemento adicional
de densificação da conduta que o previsto no ilícito menor, por exemplo de mera
ordenação social) ainda como crime, dentro da mesma dimensão valorativa dos
bens jurídicos subjacentes a uma e outra.
Ora, no caso dos autos, o viaduto onde foi efectuada a inscrição da frase, não se
integra em qualquer das situações descritas artigo 4º, n.º3 da citada lei: -
"monumentos nacionais, edifícios religiosos, sedes de órgão de soberania, de
regiões autónomas ou de autarquias locais, sinais de trânsito, placas de sinalização
rodoviárias, interior de repartições ou edifícios públicos, estabelecimentos
comerciais ou centros históricos, como tal declarados ao abrigo da competente
regulação urbanística".
Nem, por ultimo, no art. 3º, n.º2 - afixação em espaços de propriedade particular.
O que, por contraponto com a acusação deduzida nos autos, evidencia que a
procedência da acusação, no caso vertente, equivale a sancionar como crime de
dano uma conduta a que o legislador nem sequer atribuiu relevância suficiente para
a sancionar como contra-ordenação, tal como fez em relação, designadamente às
condutas violadoras do artigo (publicidade em monumentos nacionais, edifícios
religiosos, sedes de órgão de soberania, sinais de trânsito, placas de sinalização
rodoviárias, interior de repartições ou edifícios públicos).
Ou seja, equivaleria a sancionar de forma mais gravosa (como crime) por via
indirecta do crime de dano, uma conduta menos grave do que aquelas que, no
âmbito da actividade em que foi levada a cabo, não teve sequer dignidade contra-
ordenacional, para o legislador, quando valorou as infracções ao regime da
actividade de afixação de publicidade/propaganda.
Ora, no caso, não sendo o acto objectivo da pintura da frase, com a dimensão,
local, motivação e meios utilizado, no contexto em que foi escrita, em termos de
normalidade e senso e comum, uma acção comum de dano, falece a racionalidade
da inferência.
Pelo que sempre haveria que ter como não provada a intenção danosa, faltando
assim também os pressupostos do tipo subjectivo.
3.7. No que toca à responsabilidade civil conexa com a criminal, pode sustentar-se
que caindo a responsabilidade criminal cai a civil que tem por base os mesmos
pressupostos, sendo certo que não existe preceito que consagre a responsabilidade
objectiva.
Bem como os meios de reacção contra a afixação ilegal em espaços públicos (como
é o caso dos autos), nos artigos 5º, 6º e 9º.
Por último o legislador imputa os custos de remoção, ainda quando efectivada pelos
serviços públicos, à entidade responsável pela afixação - cfr. art. 9º.
E no caso não foi, manifestamente, concedida aquela faculdade, condição sine qua
non para o passo seguinte.
***
III. Decisão
Sem custas.