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Decisão
interlocutória - trânsito em julgado.
Registro de Imóveis - Decisão judicial de antecipação dos efeitos da tutela que determinou o bloqueio da matrícula - Comprovação do
trânsito em julgado - Desnecessidade - Recurso Provido
Registro de Imóveis - Decisão judicial de antecipação dos efeitos da tutela que determinou o bloqueio da matrícula -
Comprovação do trânsito em julgado - Desnecessidade - Recurso Provido
Inconformado com a r. decisão de fls. 43/50 que manteve a recusa do 1º Oficial de Registro de Imóveis, Títulos e Documentos e Civil de
Pessoa Jurídica de Jundiaí em averbar o bloqueio judicial determinado por decisão que antecipou os efeitos da tutela em ação
anulatória de partilha, recorre VAGNER FERNANDES.
É o relatório.
Opino.
Observe-se, de início, que a apelação deve ser conhecida como recurso administrativo, na forma do art. 246, do Decreto-lei
Complementar Estadual nº 3/69, aplicando-se o princípio da fungibilidade.
O recorrente ajuizou ação anulatória de partilha com pedido de antecipação dos efeitos da tutela. O MM. Juízo deferiu a liminar e
determinou que o Oficial de Registro de Imóveis impedisse "qualquer tentativa de transmissão sobre a quota parte no imóvel constante
da matrícula nº 37.474" (fl. 24).
O registrador recusou a averbação do bloqueio aos argumentos de que o título judicial também se submete à qualificação judicial e que
inexiste prova do trânsito em julgado.
Esse entendimento foi prestigiado pela decisão recorrida e, ainda, pela ilustrada Procuradoria Geral de Justiça.
É certo que, conforme antiga e pacífica jurisprudência desta Corregedoria Geral e do C. Conselho Superior da Magistratura, o título
judicial é passível de qualificação.
Apesar de se tratar de título judicial, está ele sujeito à qualificação registrária. O fato de tratar-se o título de mandado judicial não o torna
imune à qualificação registrária, sob o estrito ângulo da regularidade formal. O exame da legalidade não promove incursão sobre o
mérito da decisão judicial, mas à apreciação das formalidades extrínsecas da ordem e à conexão de seus dados com o registro e a sua
formalização instrumental.
É preciso, no entando, distinguir título judicial de ordem judicial, uma vez que o caminho registral a ser seguido é completamente
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diferente.
Em artigo publicado na obra "Títulos Judiciais e o Registro de Imóveis"[1], o MM. Juiz Marcelo Fortes Barbosa Filho, esclarece que:
Todo título judicial resguarda, como antecedente necessário, uma declaração emitida por um órgão do Estado-Juiz e referente à
presença de um título legitimário, de direito material, capaz de dar respaldo causal à mutação jurídico-patrimonial a ser operada pelo ato
de registro.
Cuida-se de um comando dirigido ao registrador e derivado da atividade jurisdicional, como resposta, especialmente, a situações de
urgência e que, dotadas de provisoriedade, demandam certa elasticidade na conformação da decisão judicial.
Tais ordens ostentam uma aparência externa idêntica à de um título judicial, mas não ostentam conteúdo semelhante.
Mais adiante, pontua que o exame qualificador do registrador é mais limitado, de sorte que só poderá recusar o cumprimento ao
comando recepcionado quando restar caracterizada hipótese de absoluta impossibilidade. Cita, como exemplos, o caso em que se
determina indisponibilidade de bens que não é titular ou no que há contradição intrínseca entre e o documento instrumentalizador da
ordem não corresponde ao seu teor (p. 232).
A exigência de comprovação do trânsito em julgado da decisão que deu origem ao mandado recusado é indevida. Ora, não há o menor
sentido em se exigir comprovação de trânsito em julgado de decisão interlocutória que defere liminar para bloquear o imóvel.
Primeiro, porque sequer existe certificação do ofício judicial nesse sentido; segundo, porque a ordem judicial restaria completamente
esvaziada caso se esperasse algum tipo de comprovação nesse sentido.
Se os destinatários das ordens judiciais proferidas em caráter de urgência pudessem exigir o trânsito em julgado para cumpri-las, todo o
sistema estaria comprometido.
Contra decisão interlocutória proferido no âmbito do processo judicial, há recurso previsto no ordenamento jurídico. Assim, enquanto o
registrador não tiver notícia de eventual revogação, pela instância superior, da decisão de primeiro grau, deve cumpri-la sem qualquer
exigência de trânsito em julgado.
A lógica do cancelamento de registro prevista no art. 250, da Lei nº 6.015/73, não guarda nenhuma similitude com o presente caso.
Não se pretende, aqui, cancelar registro, mas apenas averbar o bloqueio parcial da matrícula.
Além disso, os precedentes citados pelo registrador cuidam de títulos e não de ordens judiciais. Daí a inaplicabilidade deles.
Verifica-se por conseguinte que a exigência da comprovação trânsito em julgado para a averbação do bloqueio determinado em tutela
de urgência não se sustenta.
Diante do exposto, o parecer que respeitosamente submeto à elevada apreciação de Vossa Excelência é no sentido de que seja dado
provimento ao recurso.
Sub censura.
CONCLUSÃO
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Aprovo o parecer do MM. Juiz Assessor da Corregedoria e, por seus fundamentos, que adoto, dou provimento ao recurso.
Publique-se.
[1]
Diego Selhane Pérez (coordenador) - Rio de Janeiro: Instituto de Registro Imobiliário do Brasil, 2005, p.228/229.
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