Вы находитесь на странице: 1из 13

Ciências & Cognição 2008; Vol 13: 101-113 <http://www.cienciasecognicao.

org> © Ciências & Cognição


Submetido em 1º/02/2008 | Revisado em 28/03/2008 | Aceito em 28/03/2008 | ISSN 1806-5821 – Publicado on line em 31 de março de 2008

Artigo Científico

Propriedades psicométricas de um instrumento para avaliação da


motivação de universitários
Psychometric properties of an instrument for assessing the motivation of university

Sueli Édi Rufini Guimarães e José Aloyseo Bzuneck

Universidade Estadual de Londrina (UEL), Londrina, Paraná, Brasil

Resumo

A motivação dos estudantes é um problema educacional que atinge todos os níveis de ensino. A pro-
moção da motivação autônoma dos estudantes tem se revelado uma estratégia promissora. Com base
na Teoria da Autodeterminação, a pesquisa teve por objetivo levantar as propriedades psicométricas
de uma versão brasileira da Escala de Motivação Acadêmica (EMA), com um grupo de universitários
da região do norte do estado do Paraná. Foi realizada Análise Fatorial, com extração dos componentes
principais, análises de consistência interna, estatísticas descritivas e correlação de Pearson. Os sete fa-
tores encontrados revelaram boa consistência interna, com exceção da avaliação da motivação extrín-
seca por regulação identificada. As correlações entre as variáveis apoiaram a proposição de um conti-
nuum de autodeterminação para os tipos de regulação do comportamento. Os resultados indicam a ne-
cessidade de continuidade nos estudos para a utilização da escala como instrumento de coleta de in-
formação acerca da motivação de estudantes universitários brasileiros. © Ciências & Cognição 2008;
Vol. 13: 101-113.

Palavras-chave: teoria da autodeterminação; motivação intrínseca; motivação ex-


trínseca; ensino superior.

Abstract

The motivation of the students is a problem that affects all educational levels of education. The pro-
motion of self motivation of the students has shown a promising strategy. Based on the Self-
Determination Theory, the survey aimed to raise the psychometric properties of a Brazilian version of
the Scale of Academic Motivation (EMA), with a group of academics from the region of the northern
state of Parana. Factor Analysis was performed with extraction of the principal components, analysis
of internal consistency, descriptive statistics and the Pearson correlation. The seven factors found
showed good internal consistency, with the exception of the evaluation of the extrinsic motivation by
identified regulation. The correlations between variables supported the proposition of a continuum of
self-determination for the regulation of the types of behavior. The results indicate the need for conti-
nuity in studies for the use of scale as a tool for collecting information about the motivation of college
students Brazilians. © Ciências & Cognição 2008; Vol. 13: 101-113.

Key words: self-determination theory; intrinsic motivation; extrinsic motivation;


higher education.

1. Introdução A compreensão dos motivos subjacen-


tes aos comportamentos humanos tem sido
uma busca constante na psicologia. Especifi-

101
Ciências & Cognição 2008; Vol 13: 101-113 <http://www.cienciasecognicao.org> © Ciências & Cognição
Submetido em 1º/02/2008 | Revisado em 28/03/2008 | Aceito em 28/03/2008 | ISSN 1806-5821 – Publicado on line em 31 de março de 2008

camente na área da psicologia educacional, o vamente, a qualidade e a criatividade da reali-


foco de investigação concentrou-se nas per- zação, além de uma diminuição da motivação
cepções e pensamentos vinculados à motiva- intrínseca em relação àquela atividade. Foi na
ção, mais do que nos seus aspectos inatos, o tentativa de descrever e explicar o problema
que tem produzido importantes avanços no que teve início a Teoria da Autodeterminação
conhecimento (Fernandes e Vasconcelos- (Deci e Ryan, 1985; 2000; 2004; Ryan e Deci,
Raposo, 2005). 2000a; 2000b), a qual tem procurado abarcar
Na primeira metade do século XX, os os aspectos qualitativos e os determinantes da
estudos sobre motivação convergiam para os motivação humana.
efeitos de contingências instrumentais extrín- A Teoria da Autodeterminação postula
secas, as quais vinculavam o acesso a um re- que todo ser humano é dotado de uma pro-
forçador arbitrário à apresentação de um de- pensão natural para alcançar o desenvolvi-
terminado comportamento. Uma série de mento saudável e a auto-regulação. Para isto,
questionamentos acerca da abrangência desse desde o nascimento, as pessoas envolvem-se
modelo explicativo da aprendizagem humana em atividades que lhes possibilitem a satisfa-
emergiu na segunda metade do mesmo século ção de três necessidades psicológicas básicas:
e, conseqüentemente, diversas teorias passa- competência, autonomia e vínculo. As intera-
ram a focalizar a definição e a identificação ções no contexto social como, por exemplo,
da motivação intrínseca (Lepper e Hender- aquelas realizadas no ambiente de sala de au-
long, 2000). la, podem frustrar, satisfazer total ou parcial-
Hunt (1960, apud Lepper, Henderlong, mente tais necessidades das quais a motivação
2000) foi o primeiro autor a utilizar o termo autônoma é contingente (Guimarães e Boru-
motivação intrínseca, destacando em sua aná- chovitch, 2004; Hagger, Chatzisarantis, Har-
lise a necessidade do exercício do controle ris, 2006; Reeve, Deci e Ryan, 2004; Ryan e
pessoal como um importante motivador natu- Deci, 2000a; 2000b).
ral. O contraste entre os dois tipos de motiva- Tradicionalmente, segundo Deci e
ção, a extrínseca, explorada na tradição com- Ryan (2000), a motivação era concebida co-
portamentalista, e a intrínseca, proposta re- mo um constructo unitário, variando apenas
cente naquele período, passou a despertar o em sua quantidade. Entre as primeiras tentati-
interesse de pesquisadores. As investigações vas de investigação acerca da qualidade da
buscavam, preferencialmente, descobrir os motivação (Deci e Ryan 1991; Ryan e Deci,
possíveis efeitos aditivos entre elas. 2000a) destaca-se a diferenciação entre a mo-
Uma importante e controversa desco- tivação intrínseca e extrínseca sendo, no pri-
berta, no início dos anos 70, chamou a aten- meiro caso, o comportamento motivado pela
ção e suscitou pesquisas, debates e polêmicas atividade em si, pela simples satisfação ou
que se estenderam até o século XXI. Três in- prazer de realizá-la. Na motivação extrínseca,
vestigações diferentes (em termos de idade e em contraposição, a atividade é percebida
nível de escolaridade dos participantes, pro- como meio instrumental para alcançar eventos
cedimentos, tipos de recompensas, de contin- externos desejáveis ou escapar de outros inde-
gências e de atividades solicitadas), realizadas sejáveis. Nessa perspectiva, estudos empíricos
em laboratórios localizados em diferentes par- associaram melhores resultados em termos de
tes do mundo, resultaram na diminuição da aprendizagem, desempenho, criatividade, en-
motivação intrínseca em relação a uma ativi- tre outros, à motivação intrínseca. A motiva-
dade após ter sido oferecida uma recompensa ção extrínseca, menos elaborada, geralmente
(Lepper e Henderlong, 2000). contraposta à motivação intrínseca, foi asso-
Evidenciou-se, a partir daí, uma ques- ciada a efeitos mais restritos sobre os compor-
tão básica extraída desses e de centenas de tamentos.
outros estudos que os seguiram: oferecer uma De acordo com Vansteenkiste e cola-
recompensa a uma pessoa por algo que ela boradores (2006), a dicotomia entre os tipos
faria de qualquer modo influenciaria, negati- de motivação autônomo (intrínseca) e con-

102
Ciências & Cognição 2008; Vol 13: 101-113 <http://www.cienciasecognicao.org> © Ciências & Cognição
Submetido em 1º/02/2008 | Revisado em 28/03/2008 | Aceito em 28/03/2008 | ISSN 1806-5821 – Publicado on line em 31 de março de 2008

trolado (extrínseca) limita a compreensão do refere-se ao processo proativo pelo qual as


problema, pois, grande parte das atividades regulações externas, que são as práticas e
que realizamos são reguladas por razões ex- prescrições culturais, são transformadas em
trínsecas e, mesmo assim, pode haver grande auto-regulações, ou seja, tornam-se valores,
envolvimento e resultados semelhantes aos crenças e compreensões pessoais.
obtidos com atividades motivadas intrinseca- É proposto um continuum de autode-
mente. A qualidade da motivação dependeria terminação (Figura 1) que diferencia seis ti-
do nível de internalização das regulações ex- pos de motivação, os quais variam qualitati-
ternas, sendo que, quanto maior o nível de vamente de acordo com o sucesso na interna-
autodeterminação do comportamento melhor lização das regulações externas para o com-
a qualidade motivacional. A internalização portamento.

Continuum de Autodeterminação

Ausência Autodeterminação
de Autodeterminação

Desmotivação Regulação Regulação Reglação Regulação Motivação


Externa Introjetada Identificada Integrada Intrínseca

Regulações por Motiva-


çãoExtrínseca

Figura 1 - Continuum de desenvolvimento da autodeterminação do comportaneto.

Nessa perspectiva, a qualidade da mo- sua conseqüência ou nos benefícios decorren-


tivação de uma pessoa para a realização de tes. Na motivação extrínseca por regulação
determinada tarefa diferencia-se em desmoti- integrada está presente não somente a identi-
vação, caracterizada pelas ausências de inten- ficação com a importância do comportamen-
ção e de comportamento proativo. Em tal si- to, mas, também a integração de tal identifi-
tuação, observa-se desvalorização da ativida- cação com outros aspectos do self. É a forma
de e falta de percepção de controle pessoal. A mais autônoma de motivação extrínseca, en-
regulação externa é a forma mais básica e volvendo escolha e valorização pessoal da
menos autônoma de motivação extrínseca, na atividade. No entanto, apesar do estilo autô-
qual a pessoa age para obter ou evitar conse- nomo de regulação do comportamento, na re-
qüências externas. Na motivação extrínseca gulação integrada o foco ainda está nos bene-
por regulação introjetada as conseqüências fícios pessoais advindos da realização da ati-
contingentes são administradas pela própria vidade. Finalmente, na motivação intrínseca,
pessoa, como resultado de pressões internas a atividade é vista como um fim em si mesma.
como culpa, ansiedade ou a busca de reco- É o estilo perfeito de autodeterminação por
nhecimento social. A motivação extrínseca reunir em si seus três componentes: (1) locus
por regulação identificada ocorre em situa- interno, a percepção de que o comportamento
ções de reconhecimento e valorização subja- intencional teve origem e regulação pessoal;
centes ao comportamento. É mais autônoma (2) liberdade psicológica, que se refere à von-
do que os dois estilos de regulação descritos tade da pessoa de executar um comportamen-
anteriormente, mas a importância da realiza- to quando ele é coerente e alinhado com seus
ção do comportamento ainda é centrada na interesses, preferências e necessidades; (3)

103
Ciências & Cognição 2008; Vol 13: 101-113 <http://www.cienciasecognicao.org> © Ciências & Cognição
Submetido em 1º/02/2008 | Revisado em 28/03/2008 | Aceito em 28/03/2008 | ISSN 1806-5821 – Publicado on line em 31 de março de 2008

percepção de escolha, que reflete a flexibili- dicaram algumas inconsistências, destacadas


dade nas tomadas de decisão sobre o que fa- por Fairchild e colaboradores (2005).
zer, como fazer ou até a possibilidade de não Considerando a existência do conti-
fazer. Emoções positivas como prazer, satis- nuum crescente de autodeterminação, na ava-
fação e divertimento são resultados da reali- liação dos tipos de motivação seriam espera-
zação da própria atividade (Bzuneck e Gui- dos índices mais altos de correlação entre os
marães,2008). resultados de avaliação daqueles mais próxi-
Deci e Ryan (2000) ressaltam que a mos, comparados com os índices de correla-
introjeção é a forma mais elementar e imper- ção entre os tipos mais distantes no conti-
feita de internalização, em comparação com nuum. Em outras palavras, haveria maior cor-
as formas progressivamente mais acabadas, relação entre a desmotivação, motivação por
que são a regulação por identificação, integra- regulação externa e introjetada. Estas deveri-
ção e a motivação intrínseca. Conclui-se, des- am ser correlacionadas de modo positivo e
se modo, que mover-se ao longo do conti- significativo, o mesmo sendo esperado para as
nuum de motivação extrínseca significa ter o correlações entre os resultados das avaliações
envolvimento mais semelhante ao de motiva- da motivação extrínseca por identificação,
ção intrínseca, o tipo mais autodeterminado integração e motivação intrínseca. Nessa
de motivação. mesma lógica, correlações negativas entre os
Diversas pesquisas, nessa perspectiva extremos opostos do continuum deveriam ser
teórica, têm descoberto associações entre os encontradas (Ryan e Deci, 2000a). No entan-
tipos autônomos de motivação extrínseca e a to, no estudo de Vallerand e colaboradores
motivação intrínseca com resultados positivos (1993) foram descobertas correlações mais
de aprendizagem, com o uso de estratégias de altas entre a regulação introjetada e a motiva-
processamento profundo de informações, a- ção intrínseca do que entre a regulação identi-
lém de bem-estar psicológico (Grolnick e ficada e motivação intrínseca. Além disso,
Ryan, 1989; Miserandino, 1996; Ryan e Deci, não foram encontradas correlações negativas
2000a; Sheldon e Kasser, 1998). No entanto, entre a desmotivação e a motivação intrínse-
como assinalam Fairchild e colaboradores ca. Resultados semelhantes também foram
(2005), para reconhecer tais descobertas é descobertos no estudo de Cokley (2000) no
preciso ter confiança nos instrumentos utili- qual os índices de correlação negativa entre a
zados para o levantamento das informações desmotivação e a motivação extrínseca por
analisadas nesses estudos. A validade dos ins- regulação identificada foram mais altos do
trumentos de avaliação deve ser buscada com que entre a desmotivação e motivação intrín-
a integração de múltiplas origens de evidên- seca. A motivação intrínseca, além disso, foi
cias, extraídas em contextos e em momentos mais correlacionada à motivação extrínseca
diferentes. por regulação introjetada, do que com a re-
Em relação à Teoria da Autodetermi- gulação identificada. Apesar de não confir-
nação, pesquisas buscaram apoio para suas mado pelas análises de correlação, um modelo
proposições, tendo sido desenvolvida por Val- hipotético de sete fatores foi apoiado pela
lerand e colaboradores (1992) uma escala de análise confirmatória realizada por Fairchild e
avaliação, extensamente empregada em inves- colaboradores (2005). Cockley (2000) tam-
tigações de diversos domínios, a Escala de bém encontrou apoio para um modelo de sete
Motivação Acadêmica (EMA). Suas proprie- fatores, no entanto, em estudo posterior (Coc-
dades psicométricas foram levantadas em al- kley e colaboradores, 2001) não descobriram
guns estudos (Fairchild e colaboradores, correlação entre os tipos de motivação e os
2005; Mullan e colaboradores, 1997; Valle- desempenhos na avaliação do auto-conceito e
rand e colaboradores, 1992; 1993, entre ou- em testes padronizados de desempenho aca-
tros). Os resultados das pesquisas que objeti- dêmico. Estes resultados não confirmaram as
varam a validação do instrumento (EMA) in- relações teoricamente previstas, levando os
autores à conclusão de que se deva ter cautela

104
Ciências & Cognição 2008; Vol 13: 101-113 <http://www.cienciasecognicao.org> © Ciências & Cognição
Submetido em 1º/02/2008 | Revisado em 28/03/2008 | Aceito em 28/03/2008 | ISSN 1806-5821 – Publicado on line em 31 de março de 2008

na interpretação dos resultados da aplicação 2.1. Participantes


da escala, indicando a necessidade de novos
estudos. Participaram do estudo 388 estudantes
Outro aspecto interessante, relaciona- universitários de três instituições de ensino
do às pesquisas com a escala, é a falta de itens superior do norte do Paraná, sendo 159
elaborados para a avaliação da regulação in- (40,97%) homens e 226 (58,245) mulheres. A
tegrada, o tipo mais autodeterminado de mo- distribuição por faixas de idade foi: 109
tivação extrínseca, nos diversos estudos que (20,09%) até 19 anos, 233 (60,05%) entre 20
utilizaram os constructos. Em trabalho recen- e 25 anos, 25 (6,44%) entre 26 e 30 e 17
te, Vansteenkiste, Lens, Deci e colaboradores (4,38%) acima de 31 anos de idade. A varia-
(2006) conceituam a regulação identificada ção do número de participantes nas distribui-
como sendo o tipo mais autodeterminado, não ções de idade e gênero deve-se ao fato de que
justificando ou esclarecendo a retirada da re- alguns deixaram de responder às questões re-
gulação integrada como o tipo mais internali- lativas aos dados pessoais.
zado de motivação extrínseca.
No Brasil, uma adaptação da EMA foi 2.2. Instrumento
utilizada por Sobral (2003) em um estudo a-
cerca da motivação de estudantes do Curso de A escala original é composta de 28 i-
Medicina, embora não tenham sido realizadas tens, sendo cada ponto do continuum de auto-
análises de sua validade como instrumento de determinação avaliado por um conjunto de
medida. Os resultados do estudo de Alonso quatro itens, com exceção da motivação ex-
(2006), com universitários paraguaios, apoia- trínseca por regulação integrada que não foi
ram a validade de constructo da escala, sendo contemplada na avaliação. Ao participante é
que o autor assinalou a necessidade de revisão apresentada uma questão inicial "Por que eu
dos itens elaborados, além de se buscar a venho à Universidade?", seguida de 28 afir-
comprovação da estrutura fatorial do instru- mativas, colocadas em escala likert de 7 pon-
mento em outros contextos latino americanos. tos (1 nada verdadeiro a 7 totalmente verda-
A validade de um instrumento de ava- deiro).
liação deve ser buscada continuamente, com Para a construção da versão brasileira
diferentes amostras em diferentes momentos. do instrumento, oito juízes (participantes do
Além disso, no caso de uma proposta teórica grupo de pesquisas sobre Motivação no Con-
recente, como a Teoria da Autodeterminação, texto Escolar - CNPq/UEL) receberam a defi-
a validade de constructo, alcançada pela aná- nição teórica para cada tipo de motivação,
lise do instrumento, pode levar a um aprimo- constante no continuum, e um conjunto de
ramento teórico. Segundo Cronbach (1996), itens para que pudessem escolher, entre eles,
quando um teste é elaborado para avaliar um aqueles que mais se aproximassem do concei-
constructo bem aceito, o teste corre mais ris- to. Esses itens apresentados foram elaborados
cos do que o constructo, no entanto, as evi- a partir da teoria ou retirados do próprio ins-
dências que emergem da validação de um tes- trumento original, traduzido e adaptado por
te podem orientar a revisão do constructo para Sobral (2003).
o qual foi planejado. Dessa escala foram excluídos os oito
Este estudo teve como objetivo levan- itens que vinculavam a vinda para a universi-
tar as propriedades psicométricas de uma ver- dade com alguma meta apontada para o futu-
são brasileira da EMA, elaborada a partir da ro. Isto se justificou pelo fato de que um ins-
escala original (Vallerand e colaboradores, trumento de avaliação de metas futuras foi
1993), sendo incluídos novos itens de avalia- elaborado pelo grupo e utilizado em pesquisa
ção. com universitários (Alcará e Guimarães,
2007). Desse modo, tendo em vista que a ava-
2. Metodologia liação da motivação extrínseca por regulação
externa e identificada, na escala original, ba-

105
Ciências & Cognição 2008; Vol 13: 101-113 <http://www.cienciasecognicao.org> © Ciências & Cognição
Submetido em 1º/02/2008 | Revisado em 28/03/2008 | Aceito em 28/03/2008 | ISSN 1806-5821 – Publicado on line em 31 de março de 2008

seava-se na perspectiva de tempo futuro, no- denominadas de latentes ou de fatores, em


vos itens para as duas subescalas foram cria- geral, obtidos como função das variáveis ori-
dos para o presente estudo. Além disso, com ginais. Descobertos os fatores por meio da
base no conceito de motivação extrínseca por análise fatorial, é possível identificar o quanto
regulação integrada foram criados itens para cada fator está associado a cada variável e o
sua avaliação. Para avaliação da motivação quanto o conjunto de fatores encontrados ex-
intrínseca permaneceram apenas os itens que plica a variabilidade dos resultados obtidos
afirmavam emoções positivas relativas à vin- por aquela amostra, “expressa através da so-
da do estudante para a universidade. ma das variâncias das variáveis originais”
Após análises prévias, feitas individu- (Artes, 1998). Em suma, um campo complexo
almente por cada participante do grupo de de investigação pode ser simplificado quando
pesquisa, em uma reunião os itens foram sele- se descobrem quais são as variáveis importan-
cionados por consenso e, em seguida, foi rea- tes (Kline, 1994).
lizada uma aplicação piloto com a participa- Tendo a organização dos itens com o
ção de 30 estudantes para descobrir alguma resultado da análise fatorial, foram realizadas
inadequação da escala. A versão final da esca- as estatísticas descritivas referentes a variá-
la passou a conter 31 itens. veis avaliadas, como a média (M) e desvio
padrão (DP). A análise da simetria da distri-
2.3. Procedimentos buição das freqüências (normalidade) foi efe-
tuada mediante a utilização do skewness (as-
Os participantes responderam ao ques- simetria) e kurtosis (achatamento). Finalmen-
tionário em sala de aula, após a autorização te, para conhecer a associação linear (relação)
do professor e de assinarem um termo de con- entre diferentes variáveis, foi calculado o coe-
sentimento esclarecido. Na apresentação, os ficiente de correlação de Pearson.
alunos foram informados dos objetivos do
estudo, foi assegurados o sigilo das informa- 3. Resultados
ções e a liberdade de não responderem ao
questionário, caso não o quisessem. A análise fatorial exploratória foi rea-
lizada sobre os 31 itens que compuseram o
2.4. Análises dos dados instrumento de avaliação. Mediante o Método
de Análise dos Componentes Principais, fo-
Inicialmente, a análise fatorial explo- ram indicados inicialmente 31 fatores, corres-
ratória foi realizada tendo em vista a simplifi- pondentes ao número de questões contidas no
cação do conjunto de dados obtidos com a teste, com auto valor acima de um. Deste pro-
aplicação do instrumento. O objetivo princi- cedimento surgiram 7 fatores, que explicaram
pal do emprego dessa técnica é descrever ou 56,49% da variabilidade total dos dados, co-
representar um grande número de variáveis mo está demonstrado na Tabela 1.
criando-se um conjunto menor de variáveis

Auto valor % total Acumulado Acumulada


Valor variância Autovalor %
1 5,67 18,28 5,67 18,28
2 4,91 15,85 10,58 34,13
3 1,69 5,44 12,27 39,58
4 1,46 4,71 13,73 44,28
5 1,38 4,44 15,10 48,73
6 1,21 3,92 16,32 52,64
7 1,19 3,84 17,51 56,49
Tabela 1 - Resumo da explicação dos fatores da Análise Fatorial, com autovalor maior do que
1,00, obtida a partir da Análise dos Componentes Principais, aplicada aos itens da escala EMA.

106
Ciências & Cognição 2008; Vol 13: 101-113 <http://www.cienciasecognicao.org> © Ciências & Cognição
Submetido em 1º/02/2008 | Revisado em 28/03/2008 | Aceito em 28/03/2008 | ISSN 1806-5821 – Publicado on line em 31 de março de 2008

A figura 2 representa os auto valores e da inclinação da reta o ponto de rotação de


os componentes principais, representando ca- cada fator encontrado.

6,5

6,0

5,5

5,0

4,5

4,0

3,5
Valor

3,0

2,5

2,0

1,5

1,0

0,5

0,0
Número de auto v alores

Figura 2 - Auto valores e componentes principais.

Na presente análise, para que um item um valor aceitável, dado que explicaria pelo
do questionário pudesse carregar num fator, menos 9% da variância total. Na tabela 2 po-
estabeleceu-se como critério o valor de corte de-se visualizar mais nitidamente a locação de
de 0,30. De acordo com Kline (1994), este é cada item nos respectivos fatores.

Desm Integr Exter Introj Externa Identif Intr


(0,79) ( 0,72) ( 0,70 ( 0,78) ( 0,61) ( 0,71)
1. Sinceramente, eu não sei por que 0,49
venho à universidade
7. Eu realmente sinto que estou per- 0,64
dendo meu tempo na universidade
9. Eu já tive boas razões para vir à uni- 0,65
versidade, mas, agora, tenho dúvidas
sobre continuar
13. Eu não vejo por que devo vir à u- 0,77
niversidade
16 Eu não sei, eu não entendo o que 0,78
estou fazendo na universidade
19 Eu não vejo que diferença faz vir à 0,68
universidade
12. Porque a educação é um privilégio 0,51
18 Porque o acesso ao conhecimento 0,56
se dá na universidade
26 Porque estudar amplia os horizontes 0,73
27 Venho à universidade porque é isso 0,71
que escolhi para mim
2. Venho à universidade porque acho 0,70
que a freqüência deve ser obrigatória

107
Ciências & Cognição 2008; Vol 13: 101-113 <http://www.cienciasecognicao.org> © Ciências & Cognição
Submetido em 1º/02/2008 | Revisado em 28/03/2008 | Aceito em 28/03/2008 | ISSN 1806-5821 – Publicado on line em 31 de março de 2008

3. Venho à universidade para não rece- 0,81


ber faltas

11. Venho à universidade porque a 0,76


presença é obrigatória
14. Venho à universidade para conse- 0,36
guir o diploma
25 Caso a freqüência não fosse obriga- 0,38
tória poucos alunos assistiriam às aulas
5. Venho à universidade para provar a 0,72
mim mesmo que sou capaz de comple-
tar meu curso
8. Venho porque é isso que esperam de 0,59
mim
10. Para mostrar a mim mesmo que 0,75
sou uma pessoa inteligente
15 Venho à universidade porque quan- 0,66
do eu sou bem sucedido me sinto im-
portante
20 Porque quero mostrar a mim mes- 0,69
mo que posso ser bem sucedido nos
meus estudos
23 Quero evitar que as pessoas me ve- 0,35
jam como um aluno relapso
6. Venho à universidade para não ficar 0,50
em casa
29 Venho à universidade porque en- 0,71
quanto estiver estudando não preciso
trabalhar
30 Ver meus amigos é o principal mo- 0,68
tivo pelo qual venho à universidade
22 Por que acho que a cobrança de 0,69
presença é necessária para que os alu-
nos levem o curso a sério
24 Venho à universidade porque a fre- 0,62
qüência nas aulas é necessária para a
aprendizagem
4. Pelo prazer que tenho quando me 0,70
envolvo em debates com professores
interessantes
17 Porque para mim a universidade é 0,70
um prazer
21 Porque gosto muito de vir à univer- 0,69
sidade
31 Venho à universidade porque meus 0,31 -0,30 0,50 -0,32
pais me obrigam
Tabela 2 - Locação dos itens com saturação > 0,30 em cada um dos seis fatores e os índices de con-
sistência interna (alfa de Cronbach).

108
Ciências & Cognição 2008; Vol 13: 101-113 <http://www.cienciasecognicao.org> © Ciências & Cognição
Submetido em 1º/02/2008 | Revisado em 28/03/2008 | Aceito em 28/03/2008 | ISSN 1806-5821 – Publicado on line em 31 de março de 2008

Analisando-se o conteúdo dos itens torno do Fator 5 foram elaborados para a ava-
que se agruparam em torno de cada um dos liação da regulação externa e têm seus conte-
sete fatores encontrados, considera-se que o údos relacionados a três tipos de interação
Fator 1 corresponde à avaliação da Desmoti- social: em casa, no trabalho e com amigos.
vação, o Fator 2 à Regulação Integrada, o Fa- Como todos os itens que se agruparam nesses
tor 3 à Regulação Externa por freqüência às dois fatores afirmam a vinda à universidade
aulas, o Fator 4 à Regulação Introjetada, o pela freqüência ou para estar com pessoas ou
Fator 5 à Regulação Externa por recompensas em situações sociais, eles foram aqui denomi-
sociais, no Fator 6 carregaram itens de avalia- nados de regulação externa pela freqüência e
ção da Regulação Identificada e, por último, por interações sociais.
no Fator 7 carregaram os itens de avaliação da Os índices de consistência interna de
Motivação Intrínseca. O item 31 apresentou cada um dos sete fatores encontrados, avalia-
carga fatorial aceitável em relação a quatro dos pelo alfa de Cronbach, são considerados
fatores sendo excluído da escala. aceitáveis. Uma exceção foi em relação ao
Ressalta-se que os itens relativos à a- índice de consistência para a escala de avalia-
valiação da motivação extrínseca por regula- ção da Regulação Identificada que, pela ex-
ção externa bipartiram-se, agrupando-se em clusão de itens que não alcançaram a carga
torno dos Fatores 3 e 5. No Fator 3, além dos fatorial estipulada ou que carregaram em ou-
itens originalmente elaborados para esta ava- tros fatores, ficou reduzida a dois itens, im-
liação, carregaram dois itens de avaliação da possibilitando a análise.
motivação extrínseca por regulação identifi- Tendo a composição de cada subesca-
cada (itens 2 e 25). No entanto, observa-se la, de acordo com o resultado da análise fato-
que todos os itens desse fator fazem alusão à rial, foram calculadas as médias de desempe-
freqüência nas aulas como a razão para vir à nho dos participantes nas sete subescalas de
universidade. Os itens que se agruparam em avaliação, como mostra a tabela 3.

Variável N Média Mínimo Máximo Dp Skewness Kurtosis


desmotivação 379 1,50 1,00 6,33 0,82 2,73 9,54
externa freq 381 2,97 1,00 7,00 1,28 0,35 -0,50
Externa soc 383 2,03 1,00 7,00 1,17 1,51 2,61
Introjetada 371 3,13 1,00 7,00 1,35 0,37 -0,53
Identificada 385 4,01 1,00 7,00 1,64 0,00 -0,81
integrada 381 5,43 1,00 7,00 1,26 -1,07 1,05
Intrínseca 383 4,44 1,00 9,33 1,41 -0,27 -0,31
Tabela 3 - Número de participantes e desempenho na avaliação dos tipos de motivação.

Pode-se observar que os universitários volvimento da autodeterminação, os resulta-


participantes do estudo apresentaram um per- dos de desempenho dos participantes em cada
fil de motivação autodeterminada, sendo a avaliação foram correlacionados. Como pode
maior média obtida na avaliação da motiva- ser observado na matriz de correlação apre-
ção extrínseca por regulação integrada, segui- sentada na tabela 4, foram encontradas corre-
da da motivação intrínseca e da regulação i- lações positivas e significativas entre os itens
dentificada. As médias mais baixas foram al- alocados proximamente no continuum e corre-
cançadas na avaliação da regulação introjeta- lações negativas entre os itens das extremida-
da e da desmotivação. des opostas.
Procurando evidências para a proposi-
ção da existência de um continuum de desen-

Variável Desmotivação Externa. Externa Introjetada Identificada Integrada Motivação


Freqüência Social Intrínseca

109
Ciências & Cognição 2008; Vol 13: 101-113 <http://www.cienciasecognicao.org> © Ciências & Cognição
Submetido em 1º/02/2008 | Revisado em 28/03/2008 | Aceito em 28/03/2008 | ISSN 1806-5821 – Publicado on line em 31 de março de 2008

Desmotivação 1,00 0,32*** 0,42*** 0,05 -0,11 -0,31*** -0,36***


Externa. 1,00 0,35*** 0,42*** 0,22*** 0,05 -0,12*
Freqüência
Externa 1,00 0,15** -0,04 -0,10* -0,16**
Social
Introjetada 1,00 0,35*** 0,37*** 0,29***
Identificada 1,00 0,41*** 0,29***
Integrada 1,00 0,51**
Intrínseca 1,00
Tabela 4 - Correlações entre os resultados da avaliação dos tipos de motivação. *** p 0,0001; **
p 0,001; * p 0,01.

4. Discussão de aula. No entanto, como assinala Brophy


(1999) “o embasamento empírico para tal re-
A motivação dos estudantes é um pro- comendação permite uma sólida confiança de
blema de destaque no contexto educacional. A que o uso das estratégias sugeridas levará a
literatura da área tem revelado que o avanço maioria dos alunos individualmente, e até a
nas séries escolares é acompanhado de um classe como um todo, a chegar mais próximo
declínio motivacional (Harter, 1981; Lepper, de um padrão ótimo de motivação do que se
Handerlong, 2000; Lepper e colaboradores, tiverem sido usadas outras estratégias” (Bro-
2005). Especificamente no ensino superior phy, 1999:145).
observam-se aspectos interessantes do pro- De acordo com Bzuneck (2005), ainda
blema. De modo genérico, os estudantes, por são poucos os estudos brasileiros que se dedi-
volta do final do ensino médio, com a idade caram à motivação de estudantes no ensino
entre dezessete e vinte anos (no presente estu- superior. O autor enfatiza a necessidade de
do 81% estão nessa faixa de idade), optam por continuidade nas temáticas investigadas para
um curso superior por afinidade com a profis- que se chegue a um corpo de conhecimentos
são, por influência dos pais ou, até, por falta sólido. Nesse sentido, um dos fatores que
de opção. Chegando à universidade, têm ex- promovem o desenvolvimento de uma área de
pectativas de que as disciplinas que compõem conhecimentos é a disponibilidade de instru-
a grade curricular de seu curso devem contri- mentos confiáveis para coleta de informações.
buir para sua formação e aos professores ca- Os estudos sob a perspectiva da Teoria
berá demonstrar como será essa contribuição. da Autodeterminação têm revelado as conse-
As aulas devem ser interessantes, quem sabe qüências positivas de um envolvimento autô-
divertidas, os professores devem explicar os nomo dos estudantes nas situações de apren-
conteúdos de modo claro e as exigências de- dizagem e procurado descobrir as variáveis
vem ser moderadas. Assim, muitos deles contextuais relacionadas à sua promoção. Tais
comportam-se como expectadores passivos. descobertas têm sido respaldadas nos dados
Os professores, por sua vez, esperam contar obtidos mediante escalas de auto-relato, como
com alunos auto-regulados, auto- é o caso da EMA.
disciplinados, com espírito investigativo, que O propósito deste estudo foi descobrir
saibam e estejam dispostos a estudar, pois são as propriedades psicométricas de uma versão
universitários. Assim, os alunos podem deixar brasileira da EMA, já utilizada em sua versão
de se envolver com os conteúdos por conside- original no Brasil com estudantes de medicina
rarem as aulas chatas e sem significado e os (Sobral, 2003). Procurou-se, também, elabo-
professores, por outro lado, não se esmerarem rar novos itens que contemplassem os tipos de
no planejamento das atividades para alunos motivação extrínseca, propostos pela Teoria
tão desinteressados (Bzuneck, 2005; Tollef- da Autodeterminação.
son, 2000). Destaca-se como importante contribu-
O conhecimento derivado de pesquisas ição a elaboração de novos itens para avalia-
empíricas não oferece ao professor receitas ção da motivação extrínseca por regulação
infalíveis para solução dos problemas de sala integrada que se agruparam em torno de um

110
Ciências & Cognição 2008; Vol 13: 101-113 <http://www.cienciasecognicao.org> © Ciências & Cognição
Submetido em 1º/02/2008 | Revisado em 28/03/2008 | Aceito em 28/03/2008 | ISSN 1806-5821 – Publicado on line em 31 de março de 2008

mesmo fator e com adequada consistência regras, valores ou demanda externas, um pa-
interna (0,72). Apesar de proposta teorica- drão simples de correlações apoiaria a propo-
mente, esta qualidade motivacional não havia sição do continuum. A ordenação esperada
sido testada em estudos empíricos e, em tra- entre as variáveis deveria indicar correlações
balho recente (Vansteenkiste, Lens e colabo- mais altas entre os tipos de motivação adja-
radores, 2006), a regulação identificada foi centes, correlações enfraquecendo conforme
apontada como a forma mais autodeterminada seu distanciamento no continuum e correla-
de motivação extrínseca, sendo desconsidera- ções negativas entre os extremos, ou seja, en-
da a regulação integrada, proposta anterior- tre desmotivação e motivação intrínseca. Es-
mente em diversos estudos teóricos. Essa fa- tudos anteriores com a escala original não
lha já havia sido apontada por Fairchild e co- confirmaram um padrão simples de interação
laboradores (2005) que indicaram a necessi- entre as variáveis do continuum, com correla-
dade de se contemplar a subescala em novos ções mais altas e positivas entre as variáveis
estudos. próximas e menores ou negativas entre os ex-
A consistência entre os itens das sub- tremos. Nesta versão, o modelo teórico foi
escalas, encontrada no presente estudo (0,70 a confirmado, como podem ser observados os
0,79), assemelha-se aos resultados de pesqui- resultados das correlações realizadas entre as
sas anteriores (Alonso, 2006, Cokley e cola- variáveis. Este é um resultado relevante, pois
boradores, 2001; Fairchild e colaboradores, confirma a proposta teórica e demonstra que
2005; Vallerand e colaboradores, 1992, as subescalas correspondem aos constructos
1993), que têm variado de 0,71 a 0,86. A con- para os quais foram elaborados os itens de
sistência interna da subescala de motivação avaliação.
extrínseca por regulação identificada, compa- O desmembramento da escala de ava-
rada com as demais, foi a mais baixa encon- liação da Motivação Extrínseca por Regula-
trada nesses estudos. Observando-se o con- ção Externa em dois fatores distintos foi outra
junto de itens que têm sido utilizados para a descoberta importante desta pesquisa. No
sua avaliação, fica evidente a relação com contexto universitário o aluno pode ter seu
metas futuras, ir à universidade pela busca de comportamento regulado por pressões concre-
emprego, carreira ou orientação profissional. tas, como a freqüência, ou ser impelido a
No presente estudo, procurou-se criar itens comparecer às aulas em busca de interações
que mostrassem a identificação dos estudantes sociais ou para evitar outras, como o trabalho,
com as exigências da vida acadêmica. No en- por exemplo. Outros estudos poderiam anali-
tanto, estes carregaram em torno de outros sar com mais profundidade esse resultado,
fatores, restando apenas dois para avaliação investigando quais são as pressões ou recom-
da regulação identificada. Estes dois itens car- pensas típicas desse ambiente que atuam co-
regaram no fator 6 (0,61 e 0,61) aludindo à mo reguladores das ações dos alunos.
concordância do estudante a respeito da exi-
gência de freqüência às aulas. De acordo com 5. Considerações finais
a proposição teórica, a motivação extrínseca
por regulação identificada reflete uma valori- A motivação dos estudantes para a a-
zação consciente de um objetivo comporta- prendizagem é um fenômeno complexo, mul-
mental ou regulação, de tal modo que a ação é tideterminado que pode apenas ser inferido,
aceita ou assumida como pessoalmente im- mediante a observação do comportamento,
portante. Os dois itens elaborados neste estu- seja em situações reais de desempenho ou de
do parecem bem representativos do constructo auto-relato. É comum, entre educadores e es-
e indicam um caminho para a elaboração de tudiosos do tema, a valorização do ambiente
outros. escolar como importante promotor da motiva-
Em relação à existência de uma dife- ção e da aprendizagem. No entanto, as inter-
renciação progressiva dos tipos de motivação, venções para um problema de tal magnitude
dependentes do processo de internalização de

111
Ciências & Cognição 2008; Vol 13: 101-113 <http://www.cienciasecognicao.org> © Ciências & Cognição
Submetido em 1º/02/2008 | Revisado em 28/03/2008 | Aceito em 28/03/2008 | ISSN 1806-5821 – Publicado on line em 31 de março de 2008

não podem ser baseadas no senso comum ou Bzuneck, J.A. e Guimarães, S.É.R. (2008). A
em diretrizes que careçam de respaldo teórico. promoção da autonomia como estratégia mo-
A validação de instrumentos para co- tivacional na escola: uma análise teórica e
leta de informações representa uma pequena empírica. (no prelo).
contribuição para a compreensão dos fenôme- Cokley, K.O. (2000). Examining the validity
nos psicológicos. Conhecer e compreender os of the academic motivation scale by compar-
estilos de regulação do comportamento dos ing scale construction to self-determination
universitários brasileiros pode ser um impor- theory. Psychological Reports, 86, 560–564.
tante passo para a intervenção nesse ambiente Cokley, K.O.; Bernard N.; Cunningham, D. e
educacional, visando a promoção da motiva- Motoike, J. (2001) A psychometric investiga-
ção autônoma. A EMA é um instrumento que tion of the academic motivation scale using a
ainda carece de revisões, principalmente no United States sample. Measurement and
sentido de elaboração de novos itens de avali- Evaluation in Counseling and Development,
ação de alguns estilos de regulação. Este es- 34, 109-119.
tudo indicou alguns caminhos para novas in- Cronbach, L.J. (1996). Fundamentos da tes-
vestigações que finalizem na apresentação de tagem psicológica. Porto Alegre: Artes Médi-
uma escala psicometricamente válida e confi- cas.
ável para uso em pesquisas na área da moti- Deci, E.L. e Ryan, R.M. (1985). Intrinsic mo-
vação para a aprendizagem. tivation and self-determination in human be-
havior. New York: Plenum Press.
6. Referências bibliográficas Deci, E.L. e Ryan, R.M. (1991). A Motiva-
tional Approach to Self: Integration in Per-
Alcará, A.R. e Guimarães, S.É.R. (2007). Re- sonality. Nebraska Symposium on Motivation,
lações entre a perspectiva de tempo futuro e 1990. (Vol. 38): Perspectives in Motivation.
motivação de alunos universitários. Em: Pon- Lincoln e London: University of Nebraska
tifícia Universidade Católica do Paraná – Press, 237-288.
PUCPR (Org.), Anais, VII Educere V Encon- Deci, E.L. e Ryan, R.M. (2000). The “what”
tro Nacional de Atendimento ao Escolar Hos- and “why” of goal pursuits: Human needs
pitalar (pp.1-8). Curitiba: Pontifícia Univer- and self-determination of behavior. Psycho-
sidade Católica do Paraná – PUCPR. logical Inquiry, 11(4), 227-268.
Alonso, J.L.N. (2006). Validación de la Esca- Deci, E.L. e Ryan, R.M. (2004). Handbook of
la de Motivación Educativa (EME) en Para- Self-Determination Research. New York: The
guay. Revista Interamericana de Psicolo- University Rochester Press.
gía/Interamerican Journal of Psychology, Fairchild, A.J.; Horst, S.J.; Finney, S.J. e Bar-
40(2), 185-192. ron, K.E. (2005). Evaluating existing and new
Artes, R. (1998). Aspectos estatísticos da aná- validity evidence for the Academic Motiva-
lise fatorial de escalas de avaliação. Revista tion Scale. Contemporary Educational Psy-
de Psiquiatria Clínica, 25(5), 223-228. chology, 30, 331–358.
Brophy, J. (1999). Research on motivation in Fernandes, H.M. e Vasconcelos-Raposo, J.
education: past, present and future. Em: Ur- (2005). Continuum de Auto-Determinação:
dan, T.C.; Maehr,M. e Pintrich, P.R. (Ed.). validade para a sua aplicação no contexto
Advances in motivation and achievement. desportivo. Estudos de Psicologia, 10(3),
(vol. 11, pp. 1-44). Greenwich: Jai Press. 385-395.
Bzuneck, J.A. (2005). A motivação dos alu- Grolnick, W.S., e Ryan, R.M. (1989). Parent
nos em cursos superiores. Em: Joly, styles associated with children’s self-
M.C.R.A.; Santos, A.A.A. e Sisto, F.F. (Ed.). regulation and competence in school. Journal
Questões do CotidianoUniversitário, pp.217- of Educational Psychology, 81, 143–154.
237, São Paulo SP: Casa do Psicólogo Livra- Guimarães, S.É.R.e Boruchovitch, E. (2004).
ria e Editora Ltda. O Estilo Motivacional do Professor e a Moti-
vação Intrínseca dos estudantes: Uma Pers-

112
Ciências & Cognição 2008; Vol 13: 101-113 <http://www.cienciasecognicao.org> © Ciências & Cognição
Submetido em 1º/02/2008 | Revisado em 28/03/2008 | Aceito em 28/03/2008 | ISSN 1806-5821 – Publicado on line em 31 de março de 2008

pectiva da Teoria da Autodeterminação. Psi- framework for understand sociocultural influ-


cologia Reflexão e Crítica, Rio Grande do ences on student motivation. Em: McInerney,
Sul, 17(2), 143-150. D.M. e van Etten, S. (Eds.) Big Theories Re-
Hagger, M.S.; Chatzisarantis, N.L.D. e Harris, visited (pp.31-58). Connecticut: Age Publish-
J. (2006). From Psychological Need Satisfac- ing.
tion to Intentional Behavior: Testing a Moti- Ryan, R.M. e Deci, E. (2000a). Self-
vational Sequence in Two Behavioral Con- determination theory and the facilitation of
texts. Personality and Social Psychology Bul- intrinsic motivation, social development, and
letin, 32(2), 131-148. well-being. American Psychologist, 55(1), 68-
Harter, S. (1981) A new self-report scale of 78.
intrinsic vs. extrinsic orientation in the class- Ryan, R.M. e Deci, E.L. (2000b). Intrinsic
room: Motivational and informational com- and Extrinsic Motivations: Classic Definitions
ponents. Developmental Psychology, 17, and New Directions. Contemporary Educa-
300-312. tional Psychology, 25, 54-67.
Kline, P. (1994). An easy guide to factor Sheldon, K.M., e Kasser, T. (1998). Pursuing
analysis. New York: Routledge. personal goals: Skills enable progress, but not
Lepper, M.R. e Henderlong, J. (2000). Turn- all progress is beneficial. Personality and So-
ing “play” into “work” and “work” into cial Psychology Bulletin, 24, 1319–1331.
“play”: 25 years of research on intrinsic ver- Sobral, D.T. (2003). Motivação do Aprendiz
sus extrinsic motivation. Em: Sansone, C. e de Medicina: Uso da Escala de Motivação
Harackiewicz, J.M. (EDS.) Intrinsic and Ex- Acadêmica. Psicologia: Teoria e Pesquisa,
trinsic Motivation: The search for optimal 19(1), 25-31.
motivation and performance. San Diego, Tollefson, N. (2000). Classroom Applications
Academic Press. of Cognitive Theories of Motivation. Educa-
Lepper, M.R.; Henderlong, J. e Iyengar, S.S. tional Psychology Review, 12(1), 63-83.
(2005). Intrinsic and Extrinsic Motivational Vallerand, R.J.; Pelletier, L.G.; Blais, M.R.;
Orientations in the Classroom: Age Differ- Brière, N.M.; Senécal, C. e Vallières, E.F.
ences and Academic Correlates. Journal of (1992). The academic motivation scale: A
Educational Psychology, 97(2), 184–196. measure of intrinsic, extrinsic, and amotiva-
Miserandino, M. (1996). Children who do tion in education. Educational and Psycho-
well in school: Individual diVerences in per- logical Measurement, 52, 1003–1017.
ceived competence and autonomy in above Vallerand, R.J.; Pelletier, L.G.; Blais, M.R.;
average children. Journal of Educational Psy- Brière, N.M.; Senécal, C. e Vallières, E.F.
chology, 88, 203–214. (1993). On the assessment of intrinsic, extrin-
Mullan, E.; Markland, D. e Ingledew, D.K. sic, and amotivation in education: Evidence
(1997). A graded conceptualisation of self- on the concurrent and construct validityof the
determination in the regulation of exercise Academic Motivation Scale. Educational and
behaviour: Development of a measure using Psychological Measurement, 53, 159-172.
conWrmatory factor analytic procedures. Per- Vansteenkiste, M.; Lens, W. e Deci, E.L.
sonality and Individual Diferences, 23, 745– (2006). Intrinsic Versus Extrinsic Goal Con-
752. tents in Self-Determination Theory: Another
Reeve, J.; Deci, E.L. e Ryan, R. M. (2004). Look at the Quality of Academic Motivation.
Self-determination theory. A dialectical Educational Psychologist, 41, 19-31.

 - S.É.R. Guimarães é Doutora em Educação pela UNICAMP, docente do Programa de Pós-Graduação em Educa-
ção (UEL), coordenadora do Grupo de Pesquisas Motivação no Contexto Escolar/CNPq. Endereço para correspondên-
cia: Rua Rangel Pestana, n. 340, apt.1301, Londrina, Paraná, 86062020. E-mail para correspondência: sueli.rufini@
pesquisador.cnpq.br.

113

Вам также может понравиться