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Pneumonite por hipersensibilidade engloba um conjunto de Não existem critérios definidos para o diagnóstico da pneu-
doenças de acometimento pulmonar com predomínio dos acha- monite por hipersensibilidade. Na prática, a correlação entre his-
dos histopatológicos (infiltrado inflamatório linfocitário, granulo- tória clínica e funcional compatível, exposição identificada, linfo-
mas não caseosos e focos de bronquiolite obliterante, além de fi- citose acentuada no lavado broncoalveolar, biópsia compatível e
brose nas fases mais crônicas)(1–3) predominantemente distribuí- achados sugestivos na tomografia computadorizada de alta reso-
dos em torno das pequenas vias aéreas, conforme demonstrado lução do tórax são fundamentais(1,3,7).
no excelente artigo de correlação publicado por Torres et al.(4) neste O afastamento do antígeno é decisivo para o tratamento da
número da Radiologia Brasileira. Esta localização dos achados pneumonite por hipersensibilidade. Alguns autores têm tentado
reflete resposta à inalação repetida de diversas substâncias anti- chamar a atenção para a importância da exposição a mofo no
gênicas, usualmente orgânicas, como fungos, bactérias termofíli- ambiente doméstico, causa de PH certamente subestimada uni-
cas e penas de pássaros(1,2). Pulmão do fazendeiro e pulmão dos versalmente. Uma inspeção detalhada do ambiente é a etapa mais
criadores de pássaros são formas consagradas de pneumonite por importante para a determinação da localização específica da ex-
hipersensibilidade, no entanto, a cada dia novas e curiosas expo- posição e para o desenvolvimento de estratégias de controle.
sições são descritas, como o pulmão do saxofonista, que ocorre Desta forma, a abordagem multidisciplinar é definitiva para o
com a exposição a fungos residentes no bocal deste instrumento. diagnóstico desta doença, conforme muito bem frisado por Torres
Clinicamente, a doença pode se apresentar nas formas aguda, et al.(4), sendo fundamental a correlação entre as características
subaguda ou crônica. Formas aguda e subaguda apresentam sin- clínicas, nexo causal de exposição, achados tomográficos e as-
tomas sistêmicos, simulando um quadro gripal ou asmático. A pectos histopatológicos.
forma crônica ocorre nos indivíduos com maior reexposição anti- Neste contexto, a tomografia computadorizada exerce papel
gênica e cursa com fibrose intersticial mais acentuada, dispneia, fundamental na demonstração de achados sugestivos da doença.
hipoxemia, baqueteamento digital e restrição funcional pulmonar. Embora não patognomônicos, devem sugerir a possibilidade de
Esta forma geralmente está associada à falta de identificação do pneumonite por hipersensibilidade no diagnóstico diferencial, e o
antígeno e inclui-se no diagnóstico diferencial com outras pneumo- radiologista, atento e conhecedor desses achados, deve sempre
patias intersticiais idiopáticas(1,5), sendo muitas vezes impossível buscar história compatível de exposição respiratória. Sobretudo
esta diferenciação, mesmo com estudo histopatológico. na fase aguda/subaguda da doença, a presença de nódulos centro-
Os estudos epidemiológicos internacionais de pneumonite por lobulares em vidro fosco e o padrão de atenuação em mosaico
hipersensibilidade são muito variáveis. No Brasil, estima-se uma sem redistribuição vascular devem levantar a suspeita de pneu-
ocorrência de 3% a 13% entre as doenças intersticiais pulmona- monite por hipersensibilidade. No primeiro caso, o principal diag-
res(3). Estudo realizado em São Paulo, SP, com 99 casos confir- nóstico diferencial é com a bronquiolite respiratória dos fuman-
mados por biópsia pulmonar, aponta para a exposição a fungos tes, o que facilita o raciocínio, uma vez que a pneumonite por
domésticos e pássaros como agentes causadores mais frequen- hipersensibilidade raramente ocorre em tabagistas. No segundo
tes(6). Também em nossa experiência em Santa Catarina encon- caso, o principal diagnóstico diferencial é com a pneumonia in-
tramos a doença mais frequentemente ocorrendo com a exposi- tersticial não específica, que também costuma ter associação com
ção antigênica a fungos, com destaque para mofo domiciliar, e dados clínicos diversos da pneumonite por hipersensibilidade.
em criadores de pássaros. Conforme também discutido no artigo de Torres et al.(4), a pre-
sença de hiperinflação focal de lóbulos pulmonares secundários de
1. Doutores, Professores Adjuntos de Radiologia e Pneumologia do Departa- permeio a alterações pulmonares difusas reforça a suspeição de
mento de Clínica Médica da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Flo-
rianópolis, SC, Brasil. pneumonite por hipersensibilidade, traduzindo bronquiolite celular
Autor correspondente: Dr. Luiz Felipe Nobre. E-mail: luizfelipenobresc@gmail.com. ou constritiva, secundária às alterações bronquiolocêntricas. Esta