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Isabel Pires de Lima, As máscaras do desengano: Para uma abordagem sociológica de «Os

Maias» de Eça de Queirós, Editorial Caminho, Lisboa, 1987.

Relativamente à análise sociológica do período que corresponde à vida e obra de Eça de


Queirós, destacamos o trabalho de Isabel Pires de Lima refere que, por um lado, a nível
político de uma adesão ao programa de conciliação da «intelligentzia nacional» aos valores da
Regeneração, garantindo assim, a estabilidade política e social, por outro, o surgimento de um
conjunto de intelectuais preocupados com as questões humanitárias e socializantes mais
virados paro os aspetos do dia-a-dia:

" Digamos, pois, que a maioria da intelectualidade portuguesa se torna ordeira, colaborando
para a criação da paz social prometida pelo regime regenerador e instalando-se a pouco e
pouco nos lugares da administração pública que, a pretexto da reorganização do Estado, se vai
multiplicando."1

A estes intelectuais que vão ocupando os lugares na administração e no governo, tornam-se,


de acordo com a autora, porta-vozes do poder e autores de literatura ao serviço do governo
instalado:

"O fosso entre a consciência colectiva vai-se cavando mais e mais e os escritores embalam-se
numa temática plangente, sentimentalista, pessimista e por vezes idílica, da qual só despertam
para conquistarem um lugar ao sol dentro do regime"2.

A autora refere, ainda, que além destes intelectuais , podemos encontrar outro tipo, o
especialista, "de formação técnica , saído das escolas politécnicas criadas pela burguesia
setembrista, comprometida com o projecto dos «melhoramentos materiais»3.

Contudo, salienta, logo a partir da década de cinquenta, o confronto entre os apoiantes do


regime e um conjunto de intelectuais contestatários,

"Eram jovens idealistas espíritos socializantes, acreditando na possibilidade da fraternidade


universal, da felicidade humana, da construção do Reino dos Ceus na Terra, agora que vapor e
a máquina multiplicavam a produção,, permitindo finalmente a distribuição da riqueza por
todos"4.

Estes jovens socialistas sugerem um projeto de sociedade oposto ao da Regeneração,


dependente de um novo conceito de democracia. Mas, de como salienta a autora,

"A Regeneração não será, já o sabemos, a concretização dessa nova forma de democracia, será
apenas, isso sim, uma «nova forma de governo» do sistema constitucional já então sentido

1
Idem, p.291.
2
Idem, p.292.
3
Idem, p.294. A autora refere como exemplo: "É o caso, por exemplo, de Andrade Corvo, Latino Coelho
ou Bulhão Pato: todos três passaram pela Escola Politécnica e os dois primeiros atingiram lugares de
deputado, ministro e par do reino." Idem, p.294.
4
Idem, p.295.
como gasto pelos espíritos socialistas, daí que estes últimos só possam ter face dela uma
atitude critica.5

É de destacar a capacidade de manutenção do regime que fez com que a quase totalidade dos
intelectuais desistissem da defesa dos novos ideias,

"À medida que a década de 60 se aproxima, boa parte deles resignar-se-á a uma atitude de
passividade ou acabará por apoiá-lo em nome da melhoria das condições de vida da
população, alardeada pelo programa dos «melhoramentos medievais».6

Caberá à «Geração de 70» inverter o caminho do marasmo que se vivia, por altura da
Regeneração.,

"À paz regeneradora, dizíamos, responde o marasmo ideológico, à ordem responde o desdém
ou a imbecilidade"7.

De acordo com a autora, algo de novo se vai verificar,

"Com efeito, uma boa parte da jovem inteligência nacional começara, havia alguns anos, a
reagir ao imobilismo ideológico e literário , que como vimos, se apossara aos poucos da
cultura portuguesa. O centro irradiador dessa reacção foi Coimbra, aberta à Europa desde que,
em 1863, se havia concluído a linha de leste."8

Além dos jovens universitários sensíveis às novas ideias que começam a por em causa a ordem
ideológica, vamos ter outro tipo de reação intelectual, a nível político e social, que vão
perturbar a paz regeneradora9.

É neste contexto que vamos ver a ação inspiradora e intervencionista da Geração de 70, que
carateriza a atividade dos intelectuais . Como primeiro momento, a autora destaca a Questão
Coimbrã, que teve entre outros intervenientes Antero de Quental e Teófilo Braga, contribuiu
para criar o desejo de ação.10

"Desde muito cedo a Geração de 70 se reconhece como uma geração cultural, como uma elite
intelectual que impõe a si mesma uma missão, mas também desde muito cedo, talvez mesmo
excessivamente cedo, a Geração de 70 vislumbra a senda da desilusão e do falhanço que lhe
estarão destinados. E curiosamente será um dos seus membros, que viu a sua carreira literária
e profissional coroada de êxito, Eça de Queirós, quem mais cedo pressentirá a dispersão e o
sentimento de desilusão que dela se apossará."11

5
Idem, p. 295, 296.
6
Idem, 297.
7
Idem, p.298.
8
Idem, p. 298.
9
A este propósito a autora refere vários tumultos e levantamentos, sobretudo a norte do país.
10
Introduzem uma nova conceção de arte, essencialmente mais individualista, contrária à prática
literária alheada da realidade, inspirada por um «arcadismo neoclássico».
11
Idem, p.318.
A este respeito, a autora salienta o autodesignado grupo «Vencidos da Vida», que irá suscitar
na sociedade lisboeta comentários da mais diversa natureza, originado referências mais ou
menos jocosas na imprensa12,

"...composto, como é sobejamente sabido, por Eça, Ramalho, Oliveira Martins, e Guerra
Junqueiro, nomes maiores da Geração de 70, e por mais alguns literatos, jornalistas e dândis: o
conde Ficalho, o conde de Sabugosa, Bernardo Pindela - futuro conde de Arnoso, Luís de
Soveral - futuro marquês de Soveral, todos titulares pertencentes à nobreza hereditária, Lobo
de Ávila - filho de um titular constitucional (o conde de Valbom), António Cândido e Carlos
Mayer"13.

Embora as abordagens quanto à sua natureza e objetivos, possam ter várias interpretações,
representam, de acordo com a autora revela,

"em termos coletivos, o pessimismo e a decadência em relação ao idealismo intervencionista


da juventude, fechando-se consequentemente num elitismo que já contém em si algumas
características do espírito decadentista do fim do século14.

12
"A motivação da constituição do grupo não se esgotava na futilidade daqueles jantares; por caminhos
com certeza muito particulares, mas que, no caso sobretudo dos que vinham do Cenáculo e das
Conferências do Casino, se encontravam pontualmente, aquela era a maneira colectiva, embora talvez
não inteiramente consciente, de viver a crise que se abatia de um modo cada vez mais evidente sobre
Portugal às portas do Ultimatum.... era a atitude de desistentes, que não acreditando já na
possibilidade de qualquer intervenção eficaz enquanto intelligentzia, no sentido de renovação mental
do País e da sua visibilidade como nação próspera,..."Idem, p. 333.
13
Idem, p.327,328.
14
Idem, p.332.

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