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" Digamos, pois, que a maioria da intelectualidade portuguesa se torna ordeira, colaborando
para a criação da paz social prometida pelo regime regenerador e instalando-se a pouco e
pouco nos lugares da administração pública que, a pretexto da reorganização do Estado, se vai
multiplicando."1
"O fosso entre a consciência colectiva vai-se cavando mais e mais e os escritores embalam-se
numa temática plangente, sentimentalista, pessimista e por vezes idílica, da qual só despertam
para conquistarem um lugar ao sol dentro do regime"2.
A autora refere, ainda, que além destes intelectuais , podemos encontrar outro tipo, o
especialista, "de formação técnica , saído das escolas politécnicas criadas pela burguesia
setembrista, comprometida com o projecto dos «melhoramentos materiais»3.
"A Regeneração não será, já o sabemos, a concretização dessa nova forma de democracia, será
apenas, isso sim, uma «nova forma de governo» do sistema constitucional já então sentido
1
Idem, p.291.
2
Idem, p.292.
3
Idem, p.294. A autora refere como exemplo: "É o caso, por exemplo, de Andrade Corvo, Latino Coelho
ou Bulhão Pato: todos três passaram pela Escola Politécnica e os dois primeiros atingiram lugares de
deputado, ministro e par do reino." Idem, p.294.
4
Idem, p.295.
como gasto pelos espíritos socialistas, daí que estes últimos só possam ter face dela uma
atitude critica.5
É de destacar a capacidade de manutenção do regime que fez com que a quase totalidade dos
intelectuais desistissem da defesa dos novos ideias,
"À medida que a década de 60 se aproxima, boa parte deles resignar-se-á a uma atitude de
passividade ou acabará por apoiá-lo em nome da melhoria das condições de vida da
população, alardeada pelo programa dos «melhoramentos medievais».6
Caberá à «Geração de 70» inverter o caminho do marasmo que se vivia, por altura da
Regeneração.,
"À paz regeneradora, dizíamos, responde o marasmo ideológico, à ordem responde o desdém
ou a imbecilidade"7.
"Com efeito, uma boa parte da jovem inteligência nacional começara, havia alguns anos, a
reagir ao imobilismo ideológico e literário , que como vimos, se apossara aos poucos da
cultura portuguesa. O centro irradiador dessa reacção foi Coimbra, aberta à Europa desde que,
em 1863, se havia concluído a linha de leste."8
Além dos jovens universitários sensíveis às novas ideias que começam a por em causa a ordem
ideológica, vamos ter outro tipo de reação intelectual, a nível político e social, que vão
perturbar a paz regeneradora9.
É neste contexto que vamos ver a ação inspiradora e intervencionista da Geração de 70, que
carateriza a atividade dos intelectuais . Como primeiro momento, a autora destaca a Questão
Coimbrã, que teve entre outros intervenientes Antero de Quental e Teófilo Braga, contribuiu
para criar o desejo de ação.10
"Desde muito cedo a Geração de 70 se reconhece como uma geração cultural, como uma elite
intelectual que impõe a si mesma uma missão, mas também desde muito cedo, talvez mesmo
excessivamente cedo, a Geração de 70 vislumbra a senda da desilusão e do falhanço que lhe
estarão destinados. E curiosamente será um dos seus membros, que viu a sua carreira literária
e profissional coroada de êxito, Eça de Queirós, quem mais cedo pressentirá a dispersão e o
sentimento de desilusão que dela se apossará."11
5
Idem, p. 295, 296.
6
Idem, 297.
7
Idem, p.298.
8
Idem, p. 298.
9
A este propósito a autora refere vários tumultos e levantamentos, sobretudo a norte do país.
10
Introduzem uma nova conceção de arte, essencialmente mais individualista, contrária à prática
literária alheada da realidade, inspirada por um «arcadismo neoclássico».
11
Idem, p.318.
A este respeito, a autora salienta o autodesignado grupo «Vencidos da Vida», que irá suscitar
na sociedade lisboeta comentários da mais diversa natureza, originado referências mais ou
menos jocosas na imprensa12,
"...composto, como é sobejamente sabido, por Eça, Ramalho, Oliveira Martins, e Guerra
Junqueiro, nomes maiores da Geração de 70, e por mais alguns literatos, jornalistas e dândis: o
conde Ficalho, o conde de Sabugosa, Bernardo Pindela - futuro conde de Arnoso, Luís de
Soveral - futuro marquês de Soveral, todos titulares pertencentes à nobreza hereditária, Lobo
de Ávila - filho de um titular constitucional (o conde de Valbom), António Cândido e Carlos
Mayer"13.
Embora as abordagens quanto à sua natureza e objetivos, possam ter várias interpretações,
representam, de acordo com a autora revela,
12
"A motivação da constituição do grupo não se esgotava na futilidade daqueles jantares; por caminhos
com certeza muito particulares, mas que, no caso sobretudo dos que vinham do Cenáculo e das
Conferências do Casino, se encontravam pontualmente, aquela era a maneira colectiva, embora talvez
não inteiramente consciente, de viver a crise que se abatia de um modo cada vez mais evidente sobre
Portugal às portas do Ultimatum.... era a atitude de desistentes, que não acreditando já na
possibilidade de qualquer intervenção eficaz enquanto intelligentzia, no sentido de renovação mental
do País e da sua visibilidade como nação próspera,..."Idem, p. 333.
13
Idem, p.327,328.
14
Idem, p.332.